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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


OS SOMBRAS
OS SOMBRAS

 

 

 

                                                            Irmandade da "Adaga Negra"                                                                 

 

 

 

 

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

CONTINUA

Capítulo CINQUENTA E NOVE
Trez voltou ao mundo da maneira cambaleante e ruidosa que era a única coisa questionavelmente positiva sobre ter as enxaquecas. Após a grande tempestade de dor
e náusea, havia sempre um período de pós-agonia flutuante, quando ficava tão fodidamente grato por não ter mais aquele machado invisível enterrado em seu cérebro,
que só queria abraçar o mundo.
Abrindo os olhos, piscou algumas vezes e olhou para a porta aberta do banheiro. Onde estava...
- Está acordado?
Ao som da voz de Selena atrás de si, ele ergueu o torso do colchão e virou a cabeça. - Ei.
Ela estava na chaise, lendo em um Kindle, o brilho da tela iluminava seu rosto com uma luz suave.
- Como se sente? - Ela colocou o aparelho de lado e se aproximou dele.
- Melhor. - Mais ou menos. Agora estava preocupado com ela de novo. - Como você está?
Será que nada havia mudado enquanto ele esteve apagado? Por quanto tempo ele...
- Não, nada mudou. E você esteve apagado por oito horas.
Ah, então ele falara em voz alta.
Ele pegou a mão dela e tentou ser sutil sobre o modo como testava os movimentos dos dedos e pulsos, conforme ela se sentava no colchão ao seu lado.
- Tem algum motivo específico por você estar evitando me olhar nos olhos? - Perguntou ele.
- Está com fome?
- Não, especialmente quando você está evitando minha pergunta.
Ele estava sendo direto demais, mas, amenidades sociais e baboseira não estavam no topo de suas habilidades até em suas melhores noites.
- Eu, ah, fui ver a Dra. Jane.
Agora o sangue dele ficou gelado nas veias. - Por quê?
- Eu só queria que ela me examinasse.
- E?
- Ela fez uns exames e...
Naquele ponto, sua audição pareceu ter chegado ao fim da capacidade e ele não conseguiu ouvir. - Desculpe, pode repetir?
Talvez se ela repetisse as palavras, as coisas de alguma forma pudessem atravessar os alarmes que dispararam em seu crânio.
- ... Quando estivéssemos prontos para ir vê-la.
Trez sentou-se totalmente. Esfregou o rosto. Olhou para ela, enquanto ela olhava para o tapete. - Descer até a clínica, quer dizer?
- E encontrar a ambos. Manny também vai estar lá.
- Está bem. Sim. - Ele olhou para o banheiro. - Preciso de um banho primeiro.
- Não tem pressa.
Certo, mas não era isso que ele sentia. Ele saiu da cama, foi ao banheiro, ligou o chuveiro, usou a privada, e pôs-se sob o jato. Mãos rápidas com o xampu e
o sabonete e nem se preocupou com barbear-se.
Saiu. Secou-se. Voltou ao quarto com uma toalha ao redor da cintura.
Ela ainda estava sentada no mesmo lugar.
Quando passou por ela para ir ao closet embutido, a mão dela agarrou-lhe o pulso.
Quando ela finalmente ergueu os olhos para ele, seu olhar era firme como uma rocha, mas, intenso o bastante para queimar um buraco em sua nuca. E por alguma
razão, a combinação o aterrorizou.
- Preciso falar com você antes. - Disse ela.
Fechando os olhos brevemente, Trez caiu de joelhos em frente a ela, e no fundo de sua mente, pensou, Não, não, eu não quero ouvir. Seja lá o que for, não quero
ouvir...
As mãos dela, aquelas belas mãos, se ergueram para o rosto dele e traçaram as sobrancelhas, bochechas, mandíbula. Quando um de seus polegares se esfregou no
lábio inferior dele, ele beijou-o.
- Luchas perdeu a cabeça esta noite.
Trez franziu o cenho e balançou a cabeça. - Desculpe... O que?
- Na clínica. Ele só... Perdeu a cabeça. Eles cortaram um pedaço da perna dele para salvá-lo... Acho que ele vai sobreviver. Mas, não está feliz com isto.
- Oh. Está bem. Sim.
Mesmo sendo cruel, tudo o que podia pensar era: "E daí, Selena?".
- Ele queria morrer. Ele ficou tão bravo porque não o deixaram morrer.
O que isto tem a ver conosco, ele gritou dentro de sua cabeça. Que merda isto importa...
- Eu não quero ir, - ela disse. - Não quero te deixar. Ou em algum nível, nem mesmo sei como... Digo, quando minha hora chegar, literalmente não consigo imaginar.
Trez engoliu em seco através de uma garganta tão apertada quanto um torno.
Antes que pudesse responder, ela sussurrou. - Estou com medo.
- Oh, minha rainha...
- Por você. - Quando Trez recuou, porque era a última coisa que esperava que ela dissesse, ela tomou seu rosto entre as mãos. - Ver aquele ódio em Luchas, aquela
ira contra o mundo e contra todos... Me preocupa que depois que eu me vá, você se sinta daquela forma.
Forçando-se a manter-se calmo, ele disse, - Ouça, eu...
- Não minta para mim ou para si mesmo. Seja lá o que vá dizer aqui, precisa ser verdade.
Bem, aquilo o calou na hora.
- Imaginar que você vai sentir tal fúria me assusta mais do que qualquer coisa que possa acontecer a meu corpo ou alma. Mesmo que haja vida eterna ou que não
haja nada no final, o que me preocupa de verdade é você. - Os olhos dela se afundaram nos dele. - Eu quero que você me prometa... Quero que me jure pelo seu coração
e pelo meu.. que vai continuar. Que ficará aqui com iAm e os Irmãos e deixará que eles cuidem de você. Que não vai deixar esta ira te destruir. Não consigo... Não
vou conseguir te ajudar, então você terá de deixá-los cuidar de você.
- Selena, primeiro de tudo, você não vai a lugar algum...
- Minhas mãos começaram a enrijecer. Meus pés e tornozelos também. Acho que não temos muito tempo, Trez.
Enquanto falava, Selena acariciava as sobrancelhas de Trez quando ameaçavam se franzir. Ela havia ensaiado as palavras por horas em sua mente, tentando encontrar
a combinação certa, de forma que ele não rejeitasse a mensagem.
Era muito importante. Ela tinha de dizer aquelas coisas, ele precisava ouvi-las.
- Vai ser muito mais difícil eu passar por tudo isto se estiver preocupada com você.
Ela podia sentir as emoções dominando-o, e não foi com surpresa que viu os olhos negros dele brilharem verdes em seu rosto escuro, e ela queria infernalmente
poupá-lo disto, mas não podia.
- Preciso que jure para mim, - ela disse, - aqui e agora, que não vai se afastar do mundo, que você vai...
Trez ficou rapidamente em pé e começou a perambular, mãos nos quadris, cabeça baixa, como se tivesse tentando se controlar um pouco.
- Trez, quero que continue a viver depois que eu partir. - Quando ele começou a negar com a cabeça, ela cortou. - Porque é a única coisa que vai me ajudar a
enfrentar tudo isto.
Ele ergueu as mãos - Tudo bem, está bem. Eu vou continuar vivendo. Agora, posso me vestir para podermos descer à clínica...
- Trez. Não minta para mim.
Ele parou e virou na direção dela, seu corpo magnífico cheio de tensão, os músculos das coxas e ombros ondulado sob sua pele suave e sem pelos. - O que quer
que eu diga?
- Que vai aceitar a ajuda das pessoas. Você vai precisar... Eu precisaria se fosse você.
- E vou! Chega! Eu vou até mesmo procurar Mary... Vou usar a porra de uma placa no peito escrito "em processo de luto", pelo amor da porra. Está satisfeita?
Agora podemos parar de falar sobre esse maldito assunto?
Diante dos gritos, ela fechou os olhos em exaustão. - Trez...
- Você diz que não consegue imaginar-se partindo, certo? Bem, não consigo nem mesmo pensar nisto. Eu não penso a respeito... Me recuso a construir isto em minha
mente, - ele apontou o dedo para a cabeça, - uma realidade onde você não vai estar aqui. Então, eu não somente não consigo projetar que porra vou sentir, mas, certo
como o inferno, não posso jurar sobre uma hipótese.
- É melhor que comece a pensar sobre isto, - ela disse asperamente. - É melhor começar a se preparar. Estou te dizendo agora que o fim do jogo está chegando.
Ele pareceu murchar na frente dela, mesmo que continuasse com a mesma altura e peso. - Não fale assim.
- E quero que encontre outra fêmea, em algum momento no futuro. Eu quero que você... - diante disto, sua voz se partiu com uma dor tão grande que seria capaz
de jurar que deixaria uma mancha de sangue no centro de sua blusa. - Não quero que passe mais novecentos anos dormindo sozinho.
Quando ele permaneceu em silêncio, a devastação nele era tão grande, que recuou uns passos e caiu na chaise.
- Eu achei que me amasse... - ele disse em uma voz que não parecia dele.
- Eu amo. Com todo o meu...
Ele esfregou o peito. - Então é disto que se trata. Por que quer que eu saia e encontre outra fêmea...
- Trez, me ouça, - mas ele se foi, havia se retraído para algum lugar em sua mente que ela não podia alcançar. - Trez, eu te amo mesmo, e este é o ponto...
- Então porque você alguma vez me pediria para encontrar outra? - Os olhos dele estavam despedaçados ao se voltarem para ela. - Porque você iria querer isto?
Alguma vez? É uma violação de tudo o que eu pensei que sentíamos um pelo outro.
- Trez...
- Eu me vinculei a você. Você sabe disto. Por que alguma vez diria a um macho vinculado que ele tem de sair e fazer sexo com outra pessoa?
- Você está perdendo o ponto...
Merda, não era assim que era para ser. Ele devia lhe dar seu juramento... E levar sua permissão junto ao coração para que, daqui um zilhão de anos, quando seguisse
adiante dela e quando tudo o que significavam um para o outro não estivesse tão cru, não se sentisse culpado se encontrasse alguém para ser feliz.
Era a coisa certa a fazer.
- Talvez você devesse ir embora, - ele disse, em uma voz entorpecida.
- O que?
Ele esfregou os olhos. - Apenas saia. Saia daqui de vez. - Ele indicou a porta. - Eu estava preparado para enfrentar absolutamente tudo com você, mas, isto não.
Você não quer o meu amor, tudo bem. Entendo. Foram noites doidas para você, e grandes emoções parecem ter um jeito de contaminar tudo o mais, e fazer as coisas parecerem
mais importantes do que são na verdade. Mas, não pode mais ficar aqui comigo.
Ela balançou a cabeça, como se talvez isto fizesse as palavras dele terem sentido. - Do que está falando?
- Não te culpo. A Dra. Jane te disse que salvei sua vida, então você deve ter sentido um bocado de gratidão, que pode ter confundido com amor. Entendo...
- Espere, o que... Não entendo o que está dizendo.
- Mas, não posso ficar perto de você. Você diz que não quer que eu me destrua? Tudo bem, então, um bom começo seria sair agora.
Selena foi tomada por um pânico oscilante que fez sua nuca formigar. - Trez, você não ouviu o que eu disse. Você está entendendo tudo errado. Eu te amo...
- Não diga isto, - ele cortou. - Não ouse dizer isto para mim de novo...
- Eu vou dizer o que quiser, - ela cortou de novo. - É com sua audição que estaria preocupada se fosse você.
- Ah, meus ouvidos estão funcionando perfeitamente, querida. É só que a fêmea que eu amo e idolatro mais do que qualquer coisa no mundo inteiro me disse que
quer que eu saia para foder com outras. Talvez, antes de morrer, você devesse escrever ao Hallmark para sugerir esta merda como mensagem de cartão do dia dos namorados,
é realmente romântico pra caralho.
Agora foi ela quem se levantou. - Eu não quero isto! Não quero nada disto! - Sua voz se elevou a um tom histérico, mas não pode evitar. - Pensa que estou feliz
em dizer estas coisas, pensar estas coisas? Só Deus sabe quantas noites tenho de vida e passei esta noite aqui, sentada nesta porra de poltrona, olhando para alguma
bosta de livro que não estive realmente lendo, imaginando você enforcando-se no banheiro depois que eu morrer! Ou se embebedando e batendo o carro em uma árvore!
Ou voltando à vida de fodas sem sentido, não por mais uma década, mas, um século!
Ela circulou um dedo próximo à cabeça. - Estes pensamentos... Eu não os quero! Você acha que quero dizer isto a você? Jesus Cristo, Trez, eu te amo! Não quero
que você jamais fique com outra fêmea, nunca! Quero que você se sente em um canto e lamente a minha morte até a sua própria morte... Não quero que jamais veja o
sol ou a lua, ou que desfrute de uma refeição, ou que tenha um dia de bom sono! Quero te assombrar pelo resto de sua vida, até que qualquer lugar que você vá e qualquer
pessoa com quem fale, tudo o que possa ver seja o meu fantasma... Porque então saberei que não vai me esquecer!
Ele ergueu as mãos - Selena, eu...
- Você quer saber o que a morte é? Eu te digo o que é... A morte é quando os vivos se esquecem de você! Se esquecem de seu cheiro e aparência, do som de sua
voz, da sua risada! Mesmo que haja uma vida após a morte, minha morte vai ser você seguir adiante, sem mim, até que não consiga mais se lembrar da cor de meus olhos
ou dos meus cabelos...
E no fim, foi ela que acabou dando uma de Luchas.
De repente, sua visão ficou branca e ela perdeu o controle sobre a forma como se inclinou para o abajur mais próximo, derrubou-o da mesa de cabeceira, e arremessou-o
do outro lado do quarto, direto à fileira de janelas, enviando-o com tanta força que a cúpula de seda, atingiu o lustre que se dependurava do teto.
Tudo quebrou, cacos de vidro voaram para todos os lados, de forma que Trez teve de erguer o braço para proteger os olhos.
Ela explodiu em prantos. - Não quero que siga em frente sem mim.
Enquanto sua alma se partia em duas, ele pulou em pé e se aproximou. Quando tentou abraçá-la, ela lutou contra ele, esmurrando-o com os punhos fechados.
- Você vai encontrar outra pessoa, - ela gemeu. - Você vai se apaixonar por outra pessoa e ela lhe dará um filho e te abraçará quanto tiver sonhos maus e te
fará jantares. - As lágrimas caíam tão fortes e tão pesadas, que ela não podia respirar. - E ela vai ser melhor que eu porque ela vai... - Selena se jogou contra
ele, - ela vai ser sortuda o bastante por estar viva.
Trez a abraçou contra o peito e acariciou suas costas.
Lá estava. A verdade nua e crua. O mal que ela tinha tentado esconder e maquiar, por que queria ser uma fêmea de valor ao invés da patética maldição pegajosa
que na verdade era.
E, ainda assim, ele estava com ela. Alma-a-alma, corpo-a-corpo, destemido e totalmente determinado a amá-la através daquilo tudo.
Eventualmente, ela tomou consciência da batida do coração dele.
Bum. Bum. Bum.
Tão firme e forte.
Respirando fundo, ela recuou. Quando ele secou as lágrimas dela com os polegares, ela disse roucamente, - Uau, me saí bem, hein?
Capítulo SESSENTA
Quando Selena falou, Trez riu. E ela sorriu.
Ambos estavam uma bagunça, o rosto dela inchado e vermelho vivo pelos gritos e pelo choro, o antebraço dele sangrava dos cacos de vidro que o atingiram, seus
corpos tremiam ao ficar parados próximos um ao outro.
- Você ensaiou tudo aquilo? - Ele perguntou, acariciando o cabelo dela para trás.
- Ah sim. Tipo, por horas.
Ele guiou-a para a cama e ambos se sentaram, antes que caíssem em cima dos cacos de vidro que cobriam o tapete. - E em sua mente, como as coisas se desenrolavam?
Selena se inclinou em busca da caixa de lenços de papel que havia perto do despertador. Ela lhe ofereceu um lenço, e então pegou um para ela.
Depois de ambos assuarem o nariz, ela respirou fundo de novo. - Em minha mente tudo ia tão bem. Você ficava emocionado pela minha magnanimidade. Se sentia humilde
pela pureza de meu amor. E, então, eu ficava toda lacrimosa, estilo Sintonia de Amor... Nada assim.
Quando ela indicou o próprio rosto, ele inclinou-se para ela e beijou-a. - Você está mais linda do que nunca para mim.
Ela revirou os olhos. - Ah, vamos lá, fale a verdade. Eu acabei de te dizer que quero que adote o celibato por minha causa pelo resto de sua vida.
- E nada me faria mais feliz.
- Trez, seja realista. Isto foi totalmente mesquinho de minha parte.
- Acha que eu penso diferente? - Ele estremeceu - E se fosse eu a morrer? Eu não ia querer que você sequer olhasse para outro macho, imagine ficar nua com ele.
- Ele não conseguiu evitar um gesto de desgosto ao tentar imaginar aquele pesadelo. - Oh, merda, não. De jeito nenhum. Hum-hum.
- Sério?
- Cem por cento sério. Definitivamente sério.
Quando ela olhou para o tapete, o sorriso mais bonito iluminou seu rosto.
Cara, era bom falar a mesma língua.
Mas, então a expressão dela se desvaneceu.
Eles ficaram quietos por um tempo estranhamente longo. E, então, ele sentiu que sabia no que ela estava pensando.
- A vida pode ser muito longa, - ela disse. Como se estivesse imaginando o tempo que havia diante dele... E como as coisas podiam mudar.
- Sim, pode ser. - Ele sentiu como se tivesse vivido três vidas somente nas duas últimas noites. - Mas, minha memória é mais forte do que o tempo. Quando se
trata de você, minha memória será a minha parte imortal.
- Se isto passar, - ela pigarreou, - se você realmente encontrar outra pessoa, quero que saiba... Eu jamais usaria isto contra você. Te amo demais para culpá-lo
disto.
- Não vai acontecer.
Selena pegou outro lenço de papel, mas, não usou. Ela só dobrou o frágil quadrado de papel ao meio. E então de novo. E uma terceira vez.
- Não quero que congele em um cemitério que você mesmo construiu. - Ela finalmente disse. - Acho que nisto resume tudo o que estou tentando dizer. Meu maior
medo é ficar presa em meu próprio corpo para sempre? Trancada? Temo por você, pela sua dor, também. Sim, claro, há uma parte de mim que quer que você abaixe a cabeça
e deixe os anos passar, mas uma parte ainda maior de mim não quer este tipo de prisão para você. Eu acho... O que estou tentando dizer é que se você se sentir mal,
sabe, em algum ponto, porque algo aconteceu e você achou engraçado ou se comer uma boa refeição e gostar... Se houver um filme que queira ver ou se ficar feliz com
um presente que alguém te der, somente saiba que eu te amo naquele momento. Talvez você possa até fingir que são presentes meus, do outro lado. - Ela sorriu tristemente,
- um beijo meu para você.
Oh merda, agora ele sentia-se enlouquecendo de novo.
- Pode me prometer isto, Trez? Que deixará as boas coisas acontecerem, mesmo depois que eu partir? - Ela correu os dedos pelo rosto dele. - Mesmo que estas coisas
ocorram porque outra fêmea está ao teu lado? A única coisa pior do que eu morrer, seria se nós dois morrêssemos, ainda que este seu coração grande e forte continue
a bater em seu peito.
Ele fechou os olhos. - Não quero falar sobre isto.
- Nem eu.
No silêncio que se seguiu, ele foi novamente confrontado pela realidade de que não havia nada pelo que lutar, ninguém contra quem gritar, ninguém a quem pudesse
esfaquear com uma adaga para parar tudo aquilo.
- Você quer descer para ver a Dra. Jane agora? - Disse ele.
- Eu preferiria que você me respondesse.
Trez juntou as mãos dela entre as suas. - Se isto lhe traz paz à mente, sim, está bem. Eu prometo que... - Okay, ele não conseguia dizer aquilo na realidade.
- Eu vou seguir em frente.
Ele beijou-a suavemente, e então se levantou e entrou no closet. Ele não fazia ideia do que havia vestido, mas cobriu o que tinha de cobrir e se lembrou até
de passar desodorante. Quando saiu, seu estômago parecia ter sido dragado.
- Está pronta para ir à clínica?
Ela olhou ao redor do quarto como se buscasse por alguma coisa. Ou talvez só quisesse adiar o inevitável por mais um pouquinho.
- Sinto muito pela janela, - ela exalou.
- Está bem. A persiana continua no lugar, para impedir que o vento e o frio entrem.
- E o abajur.
- Como se eu me importasse.
Ela anuiu e se levantou. Ela usava justas calças jeans pretas e uma blusa branca larga.. e ele se sentiu impactado pelo modo como ela ficava linda em roupas
normais, sem toda aquela formalidade de Escolhida. E era engraçado, o linguajar dela também relaxava, se tornando mais coloquial.
Maldição, ele pensou... Ele realmente adoraria poder ter filhos com ela.
A viagem até a clínica pareceu infinita, e Selena não tinha certeza se isto era bom ou ruim. Por um lado, estava pronta para receber as notícias para poder lidar
com elas, fossem quais fossem. Por outro, ficaria contente em viver na zona da ignorância mais um pouquinho.
Trez segurou sua mão o caminho todo até o Centro de Treinamento, sem soltá-la nem mesmo ao digitar as várias senhas ou quando passaram pelo depósito de suprimentos.
Descendo pelo corredor até a sala da Dra. Jane, ela pensou em todas as portas nas quais poderiam entrar ao invés daquela a qual estavam destinados.
Quando chegaram ao consultório, ela olhou para ele. - Eu não poderia fazer isto sem você.
Ele se inclinou e tocou a boca dela com a sua. - A parte boa é que não será preciso.
Juntos, entraram no consultório. Instantaneamente, Selena sentiu dificuldades de respirar, aquele aroma químico e todo aquele brilho afetaram-na novamente. E
a sufocante sensação piorou quando a Dra. Jane e Manny se endireitaram da tela do computador na mesa e compuseram idênticos sorrisos profissionais.
- As notícias são ruins, então? - Disse ela. Quando ambos os médicos começaram a negar, ela os interrompeu. - Por favor. Respeitem a mim e a meu tempo o suficiente
para não desperdiçar palavras tentando amenizar tudo isto. Diga-me o que meu corpo lhes disse.
- Nós detectamos algumas alterações nas articulações - Dra. Jane recuou uns passos - Em todas as radiografias que tiramos.
Bem... E não é que aquilo a afetou? Mesmo que ela não esperasse resposta diferente.
Os dois médicos se alternaram em explicações, e Trez anuía como se entendesse tudo da conversa. Ela, no entanto, estava focada na tela do computador, onde havia
duas imagens lado a lado, uma que havia sido tirada após a ocorrência do último episódio... E a outra que havia sido tirada há algumas horas. Separadas por meros
dois dias... As articulações exibiam uma névoa cinzenta nos espaços entre os ossos.
- Como se estivessem se inflamando, - a Dra. Jane disse. - Talvez seu corpo esteja reagindo contra a doença?
- Quanto tempo? - Trez perguntou.
- Não temos ideia. - Manny reajustou o contraste do monitor, como se buscando por algo. - Gostaríamos de sugerir que viesse para tirarmos mais radiografias a
cada seis horas a partir de amanhã. Deste jeito poderíamos mapear as alterações.
- Está sentindo dor agora? - Dra. Jane perguntou.
- Não.
- Porque podemos aliviá-la, se for preciso.
Trez falou em voz alta. - Não existem medicações que possamos tentar?
Querida Virgem Escriba, o cérebro dela parecia ter travado.
- Bem, conversamos sobre isto, - Manny olhou para Jane. - E estamos em um dilema.
Dra. Jane assumiu. - Uma das coisas que pensamos em usar foi anti-inflamatórios. Esteróides orais podem ser problemáticos, porque suprimem o sistema imunológico
e não está bem claro qual extensão um episódio está sendo impedido precisamente pelas defesas do próprio corpo dela.
- Sua contagem de células brancas no sangue está alta demais, - Manny interrompeu. - Então, definitivamente algo está acontecendo neste momento.
- E injeções de esteróides nas articulações, mesmo que somente nas maiores de seu corpo, não passariam de soluções parciais. - Jane correu uma mão pelos cabelos
curtos. - Parece lógico começar com NSAIDs... Pensei em prescrever Motrin.
- Não há muitos efeitos colaterais, - Manny completou.
- Eles aliviariam a dor até certo ponto, mas, também funcionam como anti-inflamatórios que não afetariam o sistema imunológico.
Selena fechou os olhos e desejou estar em outro lugar. Desejou ser outra pessoa.
Pensar que o Complexo inteiro estava cheio de pessoas que não tinham medo de não acordarem no próximo pôr-do-sol.
Não que ela quisesse tirar deles aquela benção. Não mesmo.
Ela só queria fazer parte daquele clube.
Houve um pouco mais de conversa, mas seu cérebro havia partido do consultório e daquela discussão clínica. Ao invés disto, estava de volta ao quarto de Trez,
revivendo a briga, que em última instância o aproximaram ainda mais.
Trez tinha razão. Eles haviam vivido uma vida inteira nas últimas quarenta e oito horas.
- ... O que acha? - Ele perguntou a ela.
- Desculpe? - Ela murmurou.
- O que acha? Gostaria de tentar as pílulas? - Quando ela permaneceu em silêncio, ele se inclinou. - Você está bem? Precisa de um pouco de tempo?
- Eu preciso fazer um jantar para você, - ela disse. Então estremeceu. - Sinto muito, sim, claro. Tentarei o que quiserem me dar. Mas, depois de eu começar a
tomar as pílulas... Quero fazer um jantar para você ao anoitecer. No Grande Acampamento. Sem mais ninguém em volta.
Trez sorriu um pouco. - Está bem. Quer planejar o encontro de hoje, por mim está ótimo, minha rainha.
Ela respirou fundo e acenou para os médicos. - É o que quero fazer. E depois, quero o meu passeio de barco.
Ambos os médicos disseram tudo bem, cuidando das coisas, estendendo as mãos e tocando as mãos dela, seus ombros... E ela realmente apreciou o contato. Fazia-a
sentir-se como se não fosse alguma máquina que estavam consertando à distância, mas, alguém a quem eles amavam e com quem se importavam. Alguns minutos depois, um
frasco cor de laranja com tampa branca foi posto em sua mão e instruções foram dadas, instruções as quais ela não escutou.
Mais acenos. Mais agradecimentos. Então, ela e Trez saíram.
Ela esperou a porta se fechar atrás deles. - Você entendeu o que eles disseram? Como eu devo tomar isto? - As pílulas emitiram um ruído ao chacoalharem dentro
do frasco e ela olhou para baixo. - Oh, tem um rótulo.
- Eu me lembro de tudo, - ele disse, passando o braço ao redor dos ombros dela. - Vamos.
Ele levou-a de volta ao escritório. Passaram pelo depósito. De volta ao enorme túnel que cheirava umidade.
- Posso dizer uma coisa?
Ela olhou para ele. - É claro. E prometo que não vou jogar mais abajures... Bem, não que haja algum por aqui agora, mas, ainda assim.
- Você pode jogar o que quiser. - Ele parou e virou-a para encará-lo, acariciando o cabelo dela para trás. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Ela riu em uma explosão. - Está bem, pare de fazer piadas sobre o defunto, está certo?
- Falo sério. E não diga isto.
- Você vive com a Irmandade. Eles são os seres mais corajosos da raça.
- Não, - ele sussurrou.
Quando baixou os olhos para ela, a admiração que seu rosto expressava era... Simplesmente devastadora. Mas, ainda estava errado. - Trez, estou aterrorizada com
tudo isto. - Ela ergueu as pílulas, - estou assustada em tomar isto. Estou com medo de ir dormir...
- Você é muito corajosa...
- Estou com medo de te fazer o jantar, - ela ergueu o dedo indicador, - e para sua informação, você também deveria estar. Eu não consigo fazer nem torradas.
Que é só pão. Em uma torradeira. Quão difícil é isso?... E ainda assim, queimei pacotes e mais pacotes da coisa.
Ele balançou a cabeça. - Coragem não significa não ter medo. - Ele baixou a boca para a dela e a beijou. - Deus, eu te amo tanto. Te amo tão profundamente. Te
amo para sempre.
Enlaçando os braços ao redor dele, ela abraçou-o com força, e talvez tenha aproveitado para secar algumas lágrimas na camisa dele. - Está bem, você acha que
eu sou corajosa... Bem, você é o macho mais romântico que já conheci, vi, ou ouvi falar.
Agora foi ele quem riu, e o som profundo soou tão bem contra o ouvido dela - É. Hã-hã. Certo.
Colando o corpo contra o dele, ela disse, - Não há nada mais romântico no planeta do que amar alguém com todo o seu coração, mesmo quando sabe que ela está partindo.
Ele parou. - De que outra maneira um macho poderia amar uma fêmea de valor como você, além de completamente? Totalmente. E sem um único arrependimento?
Enquanto estavam naquele túnel, a meio caminho do Complexo e meio caminho da casa principal, ela pensou ser apropriado que para ambos os lados o caminho parecesse
infinito. Eles só tinham aquele ponto central do aqui e agora, e tinham de fazer valer a pena.
- Não preciso de uma cerimônia de emparelhamento, - ela disse.
- Não?
- Estamos vivendo nossos votos neste exato momento.
- Então está dizendo que não vai se emparelhar comigo?
- Está pedindo? - Ela provocou.
- Quer que eu peça de joelhos?
Caindo ao chão, ele tomou as mãos dela. - Selena, você aceita ser minha shellan? Minha única e eterna? Não tenho um anel, mas te levo para comprar um, é o que
os humanos fazem. Além disto, não sei, meio que quero te comprar algo caro.
O primeiro instinto dela foi o que ela havia sido treinada a ter... Deferimento e recato diante daquela atenção, do prazer.
Mas, como Trez diria, "Que se foda".
- Eu adoraria isto. Eu adoraria tudo, uma cerimônia, um anel, a coisa toda. - Abrindo totalmente seu coração, ela deixou o amor entrar. - Tudo!
- Esta é minha rainha, - murmurou ele. - É disto que estou falando.
E foi assim que ela acabou... Noiva.
Quando se abaixou para beijá-lo, parecia completamente bizarro que os dois continuassem indo e voltando entre tais emoções incrivelmente opostas. Mas, esta situação
parecia amplificar os altos e baixos, afunilando sentimentos e experiências através de um megafone até que tudo fosse grande demais para ser contido.
- Então, um anel? - Ela disse contra a boca dele.
- Sim, um anel.
Ele correu as mãos em volta das coxas dela e acariciou para cima e para baixo. - E talvez um pouco de algo que não se pode comprar em uma loja.
- E o que isto seria? - Ela murmurou.
- Oh, você sabe. Vou ter de te mostrar lá em cima...
Capítulo SESSENTA E UM
- É, eu ouvi a discussão de vocês durante o dia.
Enquanto falava, iAm olhava pelo espelho da pia de seu banheiro. Seu irmão estava atrás dele, na porta que saía para o quarto, todo vestido de preto, parecia
ter saído de uma revista.
Certamente pronto para levar sua fêmea para um novo passeio.
- Pareceu uma discussão séria. - iAm sondou.
- Foi séria no começo, - Trez entrou e sentou-se na beira da Jacuzzi, - mas superamos. Eu a pedi em emparelhamento.
- Parabéns.
- Obrigado.
Pegando a lata de espuma de barbear, iAm apertou o botão e espalhou-a pelo rosto e queixo. - E como ela está?
- Bem.
iAm sabia que o macho estava mentindo. Os indícios estavam por todos os lados, mas, sobretudo, no modo como o irmão não o olhava nos olhos.
- No que está pensando, Trez?
Trez estalou os nós dos dedos um a um. - Ela não quer que seus restos fiquem... Tipo, junto de suas irmãs, lá em cima. Ele apontou para o teto, mas, querendo
dizer o paraíso lá em cima. - Então, sabe, quando chegar a hora, estou pensando em...
Quando a profunda voz se partiu e não conseguiu continuar, iAm esqueceu a lâmina de barbear e se virou, ajeitando a toalha presa no quadril e sentou-se ao lado
do irmão. - Merda.
Trez esfregou o rosto. - É, isto resume tudo. De qualquer forma, estou pensando em construir uma pira funerária para ela. O povo de Rehv faz isto. Deste jeito,
ela estará... - pigarreou, - ela estará livre. Ela quer ser livre no final. Sabe.
iAm meneou a cabeça. - Odeio que isto esteja acontecendo com você.
- Eu também. Acho que nasci sob o signo errado em mais de uma forma.
- Há algo que eu possa fazer?
- Não, nada. Apenas me ouça e me perdoe se eu disser a coisa errada ou ficar puto. O estresse está me deixando fodidamente louco.
Eles ficaram sentados lado a lado em silêncio; porque às vezes aquilo era só o que se podia fazer por alguém a quem se amava: Certos caminhos precisavam ser
trilhados sozinhos. E aquilo era uma merda.
Ele queria perguntar quanto tempo. Mas, aquela era a pergunta de um milhão de dólares, a que ninguém tinha a resposta.
- Vai ter uma cerimônia? - iAm perguntou.
- Acho que ela não ia querer. Não sei direito como as Escolhidas fazem seus funerais...
- Eu estava falando do emparelhamento.
- Oh, é. Ah, sim. Eu acho. - Trez deu um tapa no joelho e se levantou. - Tenho de ir. Vou levá-la para sair esta noite e comprar-lhe uma aliança. Quero colocar
uma estrela do céu no dedo dela. Então ela vai me preparar um jantar no norte, na casa de Rehv.
- Parece ótimo, - iAm olhou para o irmão. - Ouça, sei que não é da minha conta...
- Tudo é da sua conta. Você é meu irmão de sangue.
- Selena sabe o que está acontecendo no s'Hisbe? Sobre sua... Situação com a Princesa?
Trez deu de ombros. - Eu lhe contei. Já faz um tempo. Mas, não vou pensar nisto agora.
Deus, só faltavam algumas noites para o fim do período de luto. E então...
Um pesadelo por vez, iAm pensou. Seu irmão estava certo.
- Ouça, - iAm disse. - Estou à um telefonema de distância. Se precisar de qualquer coisa, me chame.
- Obrigado, cara.
Eles fizeram um cumprimento, e Trez deu-lhe um sorriso morto. - Você está parecendo o Papai Noel.
Depois disto, o irmão saiu.
iAm ficou sentado lá por um tempo, a beira irregular da banheira e a moldura de mármore fazia seu traseiro parecer como se alguém estivesse espancando-o repetidas
vezes.
E o mais triste era Trez estar mais preocupado com o funeral do que com a cerimônia de emparelhamento.
Por um momento, ele considerou cancelar seu próprio... Encontro. Ou o que quer que fosse ter com maichen. Mas ele poderia facilmente esperar o telefonema na
companhia dela.
Na companhia dela nua.
Ao se levantar e se aproximar das pias, pegou sua Gillette de oito lâminas e começou a des-papainoel-izar a si mesmo. A culpa que sentia por se afastar para
algumas horas de sexo, enquanto seu irmão sofria assim, era suficiente para fazê-lo ter vontade de vomitar.
Sua vida inteira havia sido a serviço do macho, e pensar em si mesmo e no que queria para sua própria merda, era como exercitar um membro que ficara imobilizado
por décadas: parecia desconfortável, inseguro, improvável de poder sustentar qualquer peso.
Mas, ele se sentia um pouco como Trez... Como se houvesse um tempo limitado para aproveitar o que podia, antes que tudo mudasse e nada para melhor.
Trez podia não querer pensar nisto. Mas, seu tempo de ser reclamado pelo s'Hisbe chegaria, quer ele quisesse ou não. Seus pais haviam sido destituídos de sua
posição e de seu sustento ganho essencialmente por vender Trez à Rainha. Não havia alavancas a serem puxadas naquela frente; mesmo se sua mãe e pai fossem torturados
e mortos? Se fosse isto o que tivesse sido trazido à tona há nove meses? Não teria sido motivador para Trez ou para ele. E o s'Hisbe deve ter percebido, porque não
fizera nenhuma ameaça naquela linha a eles.
Impossível se importar por duas pessoas que haviam permitido que você passasse a vida inteira enjaulado; só para que eles pudessem subir de posição para Principais
na corte.
Uma coisa que ele tinha certeza? Quando a hora do ritual de emparelhamento chegasse, a Rainha levaria as coisas à um outro nível. O que significava que ambos,
ele e Trez, teriam de proteger um ao outro.
Provavelmente seria uma boa ideia encorajar que qualquer encontro futuro fosse feito nas cercanias de casa. Ou, preferencialmente, no próprio Complexo da Irmandade.
Merda, Trez ia odiar aquilo.
- Hmmmm.
Quando Trez ronronou, Selena girou no closet. Ele havia se materializado por trás dela, os braços cruzados sobre o peito, o corpo inclinado contra o batente
da porta.
- Bem, olá, - disse ela.
- Eu adorei o que está vestindo.
- Eu ainda não me vesti.
- Exatamente.
Ele se aproximou, virando-a de frente e puxando-a para perto. - Me dê.
Seu beijo foi forte, os quadris impulsionando-se contra ela, sua ereção, um indicador muito bom de que corriam o risco de perder a hora.
Ela riu e empurrou o peito sólido dele. - Não deveríamos estar na joalheira em meia hora?
- Quem se importa?
Como se ela fosse dizer não?
Enlaçando os braços em volta de seu pescoço, ela deixou-se relaxar. Ou... Relaxar o máximo que conseguia. Mesmo com as pílulas, as quais já tomara duas doses,
suas juntas doíam, a batalha em seu corpo chegara ao ponto onde sua mente estava afetada, as sensações deixaram de ser uma ficção paranóica, mas um verdadeiro e
insistente arrastar.
As boas novas? O desejo que sentia era tão grande e penetrante que se sobrepunha a tudo o mais.
Trez pegou-a no colo e carregou-a de volta à cama. Deitou-a de costas, beijou-a profundamente, as mãos acariciando os seios e brincando com os polegares sobre
os mamilos, esfregando a pelve. Quando ela começou a se contorcer sob seu peso, ele abandonou seus lábios e começou a descer lentamente pelo seu corpo, parando para
lamber e sugar, em direção ao seu sexo.
Ela gritou o nome dele ao contato, abrindo-se toda para ele, absorvendo as sensações da boca molhada em seu núcleo. O orgasmo foi uma linda série de contrações,
o prazer vibrava através dela, preenchendo-a por dentro.
E o tempo todo, ele a observava, seus olhos voltados para cima de onde estava, as mãos espalmando seus seios.
Ela esperava que ele parasse, para ela ter tempo para se vestir.
Não. Ele continuou, lambendo o topo de seu sexo, circulando a língua em volta da área, dando-lhe toda oportunidade de ver o que fazia com ela, exibindo-se ao
lambê-la, a língua rosada movendo-se rápido...
Golpeando os travesseiros, ela contraiu-se contra o calor e as sensações dele.
E ele ainda continuou.
Em algum lugar, no fundo de sua mente, ela percebeu que ele não estava somente lhe dando prazer, mas armazenando lembranças em sua mente: o olhar dele não saía
de cima dela, seu brilho iridescente captando o rosto dela, a garganta, os seios, a barriga.
- Trez... - ela gemeu, arqueando o corpo.
Quando finalmente abandonou seu núcleo, ele ergueu-se sobre seu corpo e rasgou as próprias roupas. Quando a camisa caiu no chão e as calças foram tratadas sem
preocupação nenhuma ao arrancá-la, ela sorriu.
Ela estava tão pronta para ele.
Ele trouxe os joelhos dela para cima com as mãos escuras, dobrando suas pernas e movendo-as gentilmente para os lados. E então, agarrou sua ereção e trouxe a
cabeça junto ao centro da necessidade dela. Acariciando-a, subiu e desceu, umedecendo-se enquanto fitava o ponto onde os dois estavam prestes a se unir.
Pressionando, recuou e voltou a ela de novo, as mãos fazendo o serviço mais do que os quadris. E, a cada vez que saía, mordia o lábio inferior, as presas comprimindo
a carne que havia cultuado.
Por algum motivo, ela pensou em seu treinamento como ehros. Ela havia sido preparada para seu dever, tinha tido até curiosidade sobre o ato, mas, estas experiências
com ele, a escolha de tê-lo, a alegria de entregar-se não por alguma obrigação a que fora treinada, mas porque o amava e somente a ele, era tão maior e mais gloriosa
do que qualquer coisa que seu status poderia tê-la preparado a vivenciar.
Eventualmente o controle dele falseou e ele gemeu, enterrando-se nela até a base. Apoiando-se nas mãos, moveu-se sobre ela, os olhos traçando o rosto dela até
baixar a cabeça e beijá-la.
Logo, seus movimentos se tornaram rápidos e fortes, e ela estendeu os braços, acariciando a parte baixa das costas dele, seu traseiro, os quadris.
Quando ele começou a gozar, ela ficou imóvel e sentiu-o gozando.
Durou o maior dos tempos, a respiração arfante, seus grunhidos, o som de seu nome sendo arrancado dele como se sua alma se despedaçasse. E, ainda assim, seus
quadris se moveram e seu sexo golpeou, e então de novo ela estava gozando com ele.
Quando caiu sobre ela, enroscou os braços em volta dele. Ele era tão grande, que ela mal conseguia enlaçar suas costas, muito menos juntar as mãos em suas costas.
Ele estava arfando nos cabelos dela. Na garganta.
- Eu te amo tanto. - Foi tudo o que ele disse.
Capítulo SESSENTA E DOIS
Maichen espiou dentro da câmara ritual e verificou a mãe antes de tentar deixar o palácio de novo. A Rainha estava sentada imóvel, em posição de luto, suas vestes
agora vermelhas, após terem sido trocadas pelos criados, diferentes das que usara na noite anterior.
Tudo parecia bem para outra escapada.
Andando pelo mármore nas pontas dos pés, ela se dirigiu ao armário no canto, abriu a porta e...
- Você acha que eu não saberia que é você, - ouviu as palavras no dialeto Sombra.
maichen congelou.
- Você enganou a todos, mas, não a mim. Conheço minha própria carne.
Fechando a porta do armário, maichen caiu em postura de saudação, posicionando ambas as mãos nos ombros, de forma que os braços se cruzassem sobre o peito, e
então se abaixou de joelhos e prostrou o torso.
- Minha Rainha.
- Eu te concedi liberdade dentro palácio.
- Obrigada, minha Rainha, - disse ela, para o chão de mármore.
- Não abuse de minha bondade.
- Não abusarei, minha Rainha.
- Eu acho que já abusou.
- Minha devoção, como os meus serviços, são seus e somente seus.
- Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos.
A cabeça da mãe virou-se para ela, as vestes vermelhas esvoaçando ao seu redor, como se ela fosse um tipo de criatura maligna. E então, AnsLai, o Sumo Sacerdote,
e o Chefe Astrólogo, entraram no quarto através de uma porta oculta, do outro lado do cômodo.
Por baixo de suas vestes, maichen começou a tremer, e para sua autopreservação, bloqueou sua mente repetindo a palavra maichen vezes sem conta em pensamentos.
Se sua mãe ou aqueles dois conselheiros entrassem em sua mente em busca de memórias recentes, temia não somente por sua própria vida, mas pela vida de iAm.
Como sua mãe havia descoberto?
- Devo pedir licença e continuar a idolatria, Vossa Santidade, - disse ela, como se não passasse de uma criada.
- Faça isto. E reflita sobre a fragilidade da vida enquanto estiver em estado de reverência.
maichen saiu do quarto sagrado e se esgueirou pelos corredores até sua própria cela. Ao se fechar lá dentro, respirava com dificuldade, os pulmões ardiam e sentia
as mãos tremendo ao tirar o capuz da cabeça.
Ela fora poupada, percebeu, somente porque sua mãe achava mais valiosa a aparência de propriedade do que a punição da filha que havia saído para passear: se
soubesse que a Princesa havia se comprometido ao interagir com pessoas comuns, ou mesmo os Primaries, a Rainha não gostaria nada.
Por um momento, maichen contemplou ficar em seus aposentos, mas, não ia conseguir mais noites como aquela. O luto acabaria logo, com uma cerimônia s'Hisbe onde
os Primaries e a população geral se juntaria à "dor", até agora particular, da Rainha.
Depois daquilo? Especialmente dado que sua mãe sabia de suas perambulações pelo palácio e o fato de que ela estava para se emparelhar? Sair do Território seria
impossível.
Provavelmente, ela acharia difícil até mesmo sair de seu quarto.
Ela tinha de ir ver iAm, especialmente se fosse a última vez.
Apagando a luz do teto, tirou as joias de sua garganta e pulsos e deixou-os em sua cama. Como na noite anterior, ela informara aos criados que precisava de privacidade
e os convocaria quando precisasse.
Então, tinha algum tempo.
Fechando os olhos, ela...
... Se desmaterializou, encontrando as frestas de ventilação e usando-as para ganhar acesso ao exterior.
Ela não desconhecia onde ficava Caldwell. Ela havia visto mapas. Mas, a realidade de encontrar a cidade e localizar uma moradia específica lhe pareceu loucura.
Mas, então, ela se concentrou no eco dentro de si mesma, seu próprio sangue. Estava muito mais alto do que esperara, um verdadeiro farol que a guiava pelos densos
prédios da metrópole, aqueles altos pináculos de vidro e aço, que eram uma floresta construída pela humanidade, em meio a uma paisagem de asfalto e tijolos e algumas
restritas áreas verdes.
Seguindo o sinal, viu-se se dirigindo a certo terraço entre muitos outros, em uma as construções mais altas; e à sua chegada, não reassumiu forma. Continuou
como uma Sombra na varanda, por trás de uma parede de vidro.
Mais além, dentro do espaço de morar, iAm pareceu instantaneamente consciente da sua presença. Adiantando-se, ele abriu um dos pesados painéis, deslizando-o
para o lado.
- Você veio, - disse ele.
Elevando-se de um amontoado solto de moléculas, ela tornou-se corpórea. Foi somente ali que a fria brisa do rio, vinda de mais abaixo, penetrou suas vestes,
esvoaçando-as para frente e para trás enquanto a gelava até os ossos.
- Entre. - Ele lhe disse. - Vamos esquentá-la.
Ela não sabia o que responder ao cruzar a soleira e os ventos serem extintos quando ele fechou-os lá dentro juntos.
- Qual o problema? - Perguntou ele.
Como ele podia interpretá-la tão bem, mesmo usando a malha, ela não sabia.
E de fato... Precisava lhe contar a verdade. Mesmo que fosse estragar tudo entre eles, como poderia não estragar? Ela havia o seduzido e havia sido ele a tomá-la
primeiro, não o irmão. Ela também era a fêmea que, ele mesmo admitira, odiava há tanto tempo, a razão pela ruína da vida de seu irmão.
- maichen?
Ela estudou-o por um longo tempo, tentando achar as palavras. Como ela começaria? E porque perderia as horas do dia fantasiando sobre ele, quando devia estar
se preparando para revelar-se?
Ele precisava de mais um momento para pensar.
- Não é nada, - disse ela, mantendo a voz baixa ao começar a andar em volta. - Que lugar lindo.
Pelo menos isto era verdade. Tudo era ouro e cor de mel no chão e branco por todo o resto, os móveis discretos no grande espaço aberto, a vista expansiva e espetacular.
- Você está com fome? - Ele perguntou, de muito perto.
Pulando, ela olhou por sobre o ombro. Ele estava parado atrás dela, o corpo dele parecendo preparado para algo.
Para sexo.
Mas não, ela disse a si mesma. Eles precisavam conversar. Ela tinha de se revelar para ele; do contrário a paixão, pelo lado dele, seria uma manipulação insincera
da qual ela seria culpada.
- Você está... - ele grunhiu suavemente ao colar-se contra seu corpo, - com fome?
Por baixo do capuz, ela umedeceu os lábios.
Os quadris dele ondularam contra suas vestes, o que era sem dúvida uma ereção muito dura e muito grossa empurrou pelo tecido que separava seus corpos.
Haveria tempo mais tarde, disse a si mesma. Ela lhe contaria tudo depois.
A culpa era forte. O desejo era mais forte ainda.
- Estou, - ela sussurrou, - mas não de comida.
Como se ele tivesse lido sua mente, a luz que vinha do teto se apagou, efetivamente eclipsando-os de quaisquer observadores exteriores.
- Eu vou tirar isto, - ele falou por entredentes, como se odiasse seu capuz.
Subitamente, ela estava livre para respirar, ver, cheirar.
O som ronronado que saiu do peito dele foi como o de um animal, mas suas mãos foram suaves ao tocar a veste externa dela. E lá se foi o peso, o capuz acima,
e o tecido mais leve que usava por baixo também desapareceu.
E ela ficou nua na frente dele.
Suas mãos a cultuaram quando ele passou-a sobre os ombros dela e desceram para os seios. Juntando-os e elevando-os, provou um mamilo e o outro, lambendo, sugando...
E oh, foi tão bom. As pernas dela ficaram bambas, e como se pressentindo isto, ele tomou-a nos braços e carregou-a para fora da sala iluminada e arejada, passando
por um corredor, e dentro de um quarto com um colchão grande e elevado que se provou tão suave como uma nuvem.
- Era assim que eu queria passar a noite passada, - disse ele ao deitá-la.
Havia uma luz vindo de um cômodo menor, talvez com instalações sanitárias, e graças à iluminação indireta, ela podia se deleitar com a natureza obsessiva da
expressão dele: Ele a olhava com concentração tão extasiada, que ela se sentiu linda sem ele ter precisado dizer uma palavra sobre isto.
Suas mãos grandes varreram as pernas dela. - Eu quero conhecê-la inteira.
- Eu ofereço meu corpo a você, - disse ela, roucamente. - Faça o que quiser comigo.
Rhage estava a meio caminho do Rio Hudson, dirigindo-se ao outro lado de Caldwell em seu GTO, quando aquela sensação de sufocação e cabeça zonza o atingiu como
uma tonelada de tijolos.
Engolindo de volta um jato de bile, abriu a janela e desligou o aquecedor. Não ajudou. Cerca de um quilômetro e meio depois, quase teve de parar no acostamento
da estrada.
- Controle-se, imbecil.
Fodido marica. Que diabos havia de errado com ele? Ele não estava ferido, não via a hora de encerrar o caso com Assail e os primos idênticos, e a caminho de
ver sua amada shellan em seu carro favorito. A vida não poderia estar melhor.
Ele só precisava se controlar.
Tentando isto, apertou o agarre no volante e começou a batucar seu coturno livre, aquele que não estava pisando no acelerador.
Tão perto agora. Ele estava tão perto.
Talvez ele só precisasse abraçar sua Mary por um tempinho.
A clínica de Havers havia sido transferida para este novo local, novinho em folha, e Rhage só havia estado ali duas vezes: uma, quando teve um ferimento abdominal
que não dava para esperar chegar à clínica da Irmandade. Outra, quando Mary havia precisado de uma carona após atender uma fêmea e seu filho pequeno. Talvez uma
terceira vez. Não conseguia se lembrar.
Quando finalmente pegou o desvio, praguejou pela sua dificuldade de respirar. Do jeito que estava indo? Ia precisar de tratamento.
Talvez fosse um vírus. Vampiros não pegavam os vírus humanos, ou câncer, graças a Deus, mas, podiam ser infectados por gripes e resfriados que afetavam membros
da espécie.
Sim, devia ser isto.
Tinha de ser.
Quando os faróis do GTO finalmente cruzaram uma estrutura de concreto pequena, despretensiosa e maçante, ele sentiu aquilo amainar, o que foi uma surpresa bem-vinda.
Pelo menos não teria de encontrar sua Mary todo esquisito.
Saindo, deu a volta e abriu o porta-malas do carro roxo escuro.
A visão da sacola de ginástica de Mary, que ele havia preparado, trouxe de volta os sintomas: sua cabeça girou e as mãos suaram, como se não estivesse em pé
no vento gelado com nada além de calças de couro e uma regata.
- Chega desta besteira, - ele pegou as alças e ergueu a sacola; então voltou a fechar o carro. - Você precisa ficar frio.
Aproximando-se do prédio baixo, ele entrou em uma ante-sala nada especial e identificou-se. Um momento depois, o elevador se abriu para ele. Como muitas coisas
que tinham de operar nas horas diurnas, por necessidade, as novas instalações de Havers eram completamente subterrâneas, a parte superior não passava de um cenário
para manter visitantes casuais longe de problemas potenciais.
Como humanos. Lessers.
Descendo Terra adentro, saiu para uma sala de espera. Ao emergir em uma área de recepção, se perguntou como ia encontrá-la...
- Oh, Deus, você está aqui.
Sua Mary veio até ele como se estivesse sendo perseguida, e quando ela pulou em seus braços, ele deixou a maldita sacola cair, fechou os olhos e abraçou-a tão
forte que era de se admirar que ela ainda conseguisse respirar. Mas, como ela havia dito: oh, Deus...
O cheiro dela, seu toque, seu corpo, o jeito que os braços dela se enroscaram em volta de seu pescoço e apertavam extremamente forte, era como água no deserto,
preenchendo-o, ensopando-o da nutrição que ele dolorosamente sentira falta, devolvendo-lhe sua força e poder.
- Senti tanto sua falta, - ela disse em seu ouvido. - Tanto, tanto, tanto.
Sem querer colocá-la no chão, ele se curvou e pegou a sacola dela; então a carregou e a sacola de roupas para o canto oposto, longe dos olhos da recepcionista.
Que estavam focados neles como se a fêmea estivesse escrevendo diálogos românticos em sua mente.
Que fosse, ele não ia se irritar com isto, mas também não queria exatamente espalhar esta reunião aos quatro ventos.
Sentando sua Mary no colo, correu as mãos pelos seus braços e então a buscou para um beijo, fundindo sua boca com a dela, como se tentando solidificar a reconexão.
Mas, ele não confiava em si mesmo, então interrompeu o beijo cedo demais.
Mais contato boca-a-boca e ele poderia montar nela ali mesmo, em público.
Oh, eeeeeei, Havers, como vai?
Sua Mary sorriu e correu os dedos pelos cabelos dele. - Eu sinto como se não te visse há um ano.
- Eu também, mas, para mim pareceu uma década.
É, e daí que ele fosse um cãozinho carente por ela. Foda-se.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- Não, estou longe de estar bem. Não como. Não durmo e sinto como se tivessem colocado pó de mico no meu protetor esportivo.
Ela riu. - Ruim assim? Céus, eu não deveria me sentir lisonjeada, deveria?
Inclinando-se, ele disse suavemente. - Eu estou com tendinite na mão esquerda.
- De fazer o que? - Ela murmurou.
- O que você acha? - Ele acariciou o pescoço dela com o nariz. Mordiscou sua veia. - Eu tive de fazer algo para me ocupar em nosso leito conjugal. E no chuveiro.
E uma vez na despensa.
- Na despensa? Lá embaixo?
- Fizeram batatas baby para a Última Refeição. Elas me fizeram lembrar de você nua.
Mais daquela risada e ele fechou os olhos, deixando a alegria ressoar em seu crânio oco.
- Como é possível? - Ela perguntou.
- Elas parecem peitos.
- Não parecem!
- Eu não disse que parecem bons peitos. - Ele beijou sua clavícula. - Ou os seus peitos, que, entre parênteses, são os mais perfeitos que eu já vi. Na minha
vida. Ou no pós vida. Ou no que quer que venha depois dele.
- Você está tão desesperado porque está cheio de carboidratos.
- Elas não são amido? Na verdade, me masturbei duas vezes na despensa. Porque depois que cuidei das coisas da primeira vez, percebi que estava perto das latas
de pêssego em calda... - ele rapidamente subiu a mão pela coxa dela. - E você pode imaginar do que elas me fizeram lembrar.
Ohhhhhhh, é, ele pensou, ao sentir o aroma dela mudar, sua excitação sobrecarregando o ar ao redor deles.
Subitamente, ele recuou. - Ei, você tem um minuto?
Ela pigarreou como se sentasse recuperar o foco. - Sim, claro. Há algo errado?
- Eu só quero te mostrar algo no carro.
- Você está com o GTO?
- Eu tinha de trazer suas coisas, então quis levá-lo para passear.
- Que gentil. - Levantando-se, ela se espreguiçou de um jeito que o fez ter vontade de espalmar seus seios. - Na verdade, eu adoraria tomar um pouco de ar fresco
por uns segundos. Posso fazer um intervalo.
Ao passarem pela recepção, ele colocou a sacola no balcão. - Tudo bem se deixarmos isto aqui por uns dez minutos?
Quando a recepcionista anuiu, parecia que algo havia lhe tirado a voz. E aparentemente seu equilíbrio, porque quando foi se sentar de novo, quase caiu da cadeira.
Já no elevador, Mary sussurrou para ele. - Acho que ela gosta de você.
- Quem?
- A recepcionista?
Inclinando-se, ele disse de volta. - Ela bem podia ser um aspirador de pó, pelo que me consta. E eu digo isto com todo o respeito.
Quando as portas se abriram, aquele pequeno sorriso secreto no rosto de sua Mary lhe pareceu um presente de Deus.
Eles subiram e logo que chegaram lá fora ele abrigou-a com seu corpo ao colocar o braço em volta dela e guiá-la até o GTO. Por um golpe de absoluta sorte, havia
estacionado o carro em uma área escura, longe das luzes de segurança, e aquilo era perfeito.
Abrindo a porta do motorista, ele puxou o banco para frente e apontou para o banco traseiro.
Mary franziu o cenho, mas se abaixou e se arrastou para o banco. Ao se juntar a ela, fechou a porta e ficou realmente contente dos vidros terem sido recentemente
filmados.
- O que é isto? - Ela perguntou. - O que está acontecendo?
Pegando a mão dela, ele colocou-a sobre sua rígida ereção. - Isto.
- Rhage! - Ela riu um pouco mais. - Você me trouxe aqui só para...
Ele começou a beijar a boca dela e colocou a mão na cintura dela. - Engenharia de resultados. Você sabia disto quando se emparelhou comigo.
Quando ela correspondeu ao beijo, ele e sua Besta ficaram ambos em clima de "graças-a-Deus-porra", e ele se moveu rápido, porque não queria que fossem pegos;
não porque tivesse algo contra sexo em locais semi-públicos, mas porque não queria ter de rasgar a garganta de algum inocente filho da puta que estivesse por ali
em busca de um simples curativo e acabou tendo uma visão plena do que estavam fazendo.
Por falar em peitos.
Ele baixou as calças folgadas dela pelas pernas e puxou-a para seu colo esfregando-a em seu quadril.
E então era hora.
Quando ele ondulou com força, Mary soltou uma súplica, quando a cabeça bateu no teto do carro.
- Oh, merda, desculpe, - ele gemeu.
- Como se eu me importasse! - Disse ela, tomando a boca dele com a sua. - Eu preciso tanto de você.
Capítulo SESSENTA E TRÊS
Trez estacionou o Porsche de Manny em frente à joalheria Marcus Reinhardt. Era a joalheria mais antiga da cidade, e já esteve nas páginas do New York Times,
e até no Robb Report, pelo seu amplo estoque.
E vasta variedade de quilates.
Olhando para Selena, ele disse, - Está pronta?
- Eu nunca tive um anel.
- Sério?
Ela meneou a cabeça. - Existiam joias no Tesouro... - ela interrompeu-se. - Existem joias no Tesouro, mas, como uma Escolhida, não nos adornávamos exceto por
uma pérola... Que nem era nossa de verdade.
Destravando a porta, ele disse por sobre o ombro, - Acho que isto é outra pena.
Mas, ele ia consertar isto esta noite. Saindo na frente, abriu a porta dela, e quando a bela mão dela se estendeu, ele a tomou e cedeu à urgência de se inclinar
e beijá-la. Então, puxou-a cuidadosamente em pé e ofereceu seu cotovelo.
Quando ela aceitou, teve a sensação de que ambos estavam tentando ignorar como o gesto não era somente o mais longe possível de cavalheirismo educado, mas algo
que necessário.
Ela não estava mais andando muito bem.
Antes de chegarem à porta, a coisa emoldurada em ferro abriu-se. - Sr. Latimer, saudações.
O homem estava vestido em um terno formal e tinha cabelos bem arrumados na cabeça, assim como barba perfeitamente feita. Junto com seu sotaque aristocrático,
e o fato de que tinha um bolso quadrado de três pontos, ele era mais ou menos o elenco central do local especializado em anéis de noivados que custavam de seis a
sete dígitos.
- Obrigado por nos esperar. - Trez disse, ao cumprimentá-lo. - Esta é minha noiva, Selena.
- É um prazer. Senhora.
Está bem, era de admirar aquela reverência.
Dentro, tudo estava preparado para uma demonstração particular e, Trez de repente se sentiu fodidamente bem sobre tudo aquilo. Os estojos com os conteúdos de
pedras preciosas brilhavam sob luzes especiais, como se estivessem aplaudindo a chegada de Selena. O champanhe gelava em um balde prateado de gelo, e um par de taças
de cristal aguardava ao lado.
- Posso te oferecer um pouco de Veuve Clicquot? - Perguntaram à ele.
- Acho que por enquanto não, - disse ele. - Selena?
Ela ergueu o queixo como se determinada a divertir-se. - Eu aceito um pouco, por favor.
- Para mim também. - Tez emendou.
Pop! Fizz! Serviram e entregaram.
Ele juntou as taças. - Vamos em frente.
O Sr. Reinhardt levou-os para uma sala privada que tinha uma câmera de vídeo montada no canto do teto. - O Sr. Perlmutter nos deu suas especificações, e tomei
a liberdade de preparar uma bandeja com algumas opções.
Eeee... Lá vieram os gelos.
Em fendas aveludadas, anéis de diamantes estavam pousados como garotos bonzinhos, ansiosos por serem escolhidos para responder uma pergunta.
A inalação de Selena foi como uma carícia nas costas dele.
- Vê algo de que goste? - Trez perguntou.
Ela experimentou cada um deles, colocando os anéis no dedo e virando o pulso de um lado para o outro sob a luz. O golpe de misericórdia foi ela colocar anéis
em toooodos eles, seus dez dedos ornados com cerca de vinte pedras espetaculares.
- Quanto custa todos eles? - Perguntou indolentemente ao bebericar seu champanhe.
- Alguns milhões, - disse o Sr. Reinhardt.
Ao ouvir isto, Selena empalideceu e baixou as mãos. - O que?
- Alguns milhões, - o joalheiro repetiu.
- Quanto custa este daqui? - Ela perguntou. E, então, quando ele lhe informou o preço do quadrado em seu mindinho, ela exclamou, - Querida Virgem Escriba.
Houve um momento desconfortável onde Trez desejou fazer Selena calar a boca. - Não estou preocupado com o preço...
- Deveria estar! - Ela começou a tirar os anéis em um ritmo furioso. - Não passei muito tempo aqui deste lado, mas, aprendi uma coisa ou duas sobre o dinheiro
humano...
- Pode nos dar um momento? - Trez disse, suavemente. - E pode levar os anéis, se estiver preocupado com a segurança.
- Suas credenciais foram bem verificadas, Sr. Latimer. - O homem ficou em pé. - Fique o tempo que precisarem.
No segundo em que a porta se fechou atrás do cara, Selena se virou para ele. - Trez, não quero que você gaste todo este dinheiro comigo.
- Por que não?
- É um desperdício. Não é como se eu fosse usar a coisa por séculos.
Ele exalou como se tivesse levado um chute no peito. - É... Uau. Você realmente não está entendendo direito as coisas, se acha que estou levando o tempo em consideração,
- ele segurou as mãos dela. - Eu quero te fazer feliz. Eu quero... Só quero esta experiência com você, está bem? Aqui, agora, - ele se moveu em volta da mesa, -
este é o nosso infinito. Está acontecendo aqui, agora. Então vamos te comprar a maior porra de anel deste lugar e um par de brincos para combinar. Vamos só mandar
o fato de você estar morrendo para o inferno, está bem?
Ela piscou rápido. - Oh, Trez...
Ele pegou um dos anéis que ela havia jogado de volta à bandeja de veludo e encaixou-o pela unha de seu dedo anelar. - Vamos lá, diga comigo.
- Diga o que?
- Foda-se, morte.
- Trez, não seja ridículo...
- Ei, na longínqua chance do Grande Ceifador estar ouvindo, acho que ele precisa saber o quanto a gente odeia a bunda dele. Vamos, minha rainha, diga comigo.
"Foda-se, morte".
Ela ergueu a mão livre para esconder um sorriso escandalizado - Você está louco.
- Diga algo que eu não sei, e pare de enrolar. "Foda-se, morte!" - Quando ela apenas murmurou as palavras, ele meneou a cabeça. - Não. Mais alto. "Foda-se, morte!"
Selena começou a rir. - Isto não é engraçado.
- Não poderia concordar mais. - Ele sorriu e acenou para ela, com o anel ainda encaixado no topo do dedo dela. - Juntos agora... Como se ele pudesse ouvi-la.
- Foda-se, morte! - Ela falou. Então, começou a sorrir largamente. - Foda-se, morte!
Ele deslizou o anel para o lugar certo e se sentou, observando o brilho. - Sabe, eu gostei mesmo deste aqui.
Selena olhou a própria mão e viu a pedra preciosa do tamanho de uma uva, em formato de pêra. - Oh... Cara. É tão grande.
- É o que ela diz.
Quando ambos começaram a rir, ele puxou-a pela nuca e beijou-a. - Quer experimentar mais alguns?
Ela negou com a cabeça. - Não, este é perfeito. Eu quero este.
Estendendo sua linda mão, ela fez o que as fêmeas fazem com anéis, mordiscando os lábios e sorrindo para si mesma.
Deus, eu a amo, ele pensou, você é uma perfeita, perfeita fêmea de valor.
- Tem certeza que não é caro demais? - Disse ela.
- Não importa o preço, - ele beijou-a de novo, - é seu.
iAm despiu-se verdadeiramente rápido. Assim que estava como veio ao mundo, quis cair de boca em maichen... Mesmo que não fizesse a mais remota ideia do que fazer
com uma fêmea da cintura para baixo, ele estava totalmente disposto a descobrir.
Não aconteceu.
A questão foi que, ao chegar perto dela, seu sexo esfregando-se contra ela ao se posicionar sobre ela...
Foi mais ou menos só até onde conseguiu ir.
- Preciso de você, - ele gemeu, quando ela correu as mãos pelas suas costas e desceu pelas laterais.
- Então me tome.
iAm forçou-se a parar. - Mas, você está bem? Depois da noite passada?
Deus, ele não podia ter o suficiente dos olhos amendoados, e daqueles cabelos pretos cacheados dela espalhados pela fronha do travesseiro, e sua pele resplandecente.
Ela era uma revelação constante, uma que o chocava de todas as maneiras certas, cada vez que olhava para ela.
- Estou bem, - disse ela. - E estou forte, graças à sua veia generosa.
Ele realmente amava o sotaque dela, o dialeto falado no Território tingia seu Inglês com sons de lar...
Não, não lar, lembrou a si mesmo. Caldwell era lar.
Enfiando a mão entre eles, posicionou seu pau e impulsionou lentamente com o quadril, querendo certificar-se de não forçar nada.
Em resposta, as unhas dela se afundaram em sua pele, e ela arqueou, os seios, as pontas tesas, - iAm...
Seu quadril assumiu controle, entrando e saindo, a fricção subindo-lhe à cabeça como se tivesse passado a noite bebendo. Mais duro, mais rápido... Até ela gozar,
se contorcendo contra ele, tencionando sob ele, uma de suas mãos batendo na cama e agarrando o edredom com força.
Ele só continuou a se mover, gozando uma vez atrás da outra. E então, saiu dela e acariciou a si mesmo, gozando em cima do sexo dela, barriga, seios.
Então quando estava entregue, fazendo aquilo, uma parte dele se recusava a reconhecer o significado.
Ele não estava marcando sua fêmea.
Ele só... Não, não estava.
Porque se estivesse marcando-a, se isto fosse algo mais do que somente uma intensa sessão com uma fêmea que por acaso ele estava fodida e verdadeiramente atraído?
Então isto podia colocá-lo em uma situação muito difícil. Especialmente quando seu irmão se recusaria a retornar e cumprir seu dever no Território, e iAm então
teria de fugir para evitar o machado que cairia sobre a cabeça do único familiar que lhe importava.
Mas, de novo, disse a si mesmo ao cair contra o corpo nu dela, ele não estava marcando-a, nem nada assim.
Não.
Nem a pau.
Capítulo SESSENTA E QUATRO
Eles voltaram para casa de mãos dadas.
Enquanto dirigia o Porsche de volta ao Complexo da Irmandade, Trez manteve contato com sua rainha, acariciando a mão dela com o polegar, brincando com o novo
anel dela, puxando sua mão para um beijo.
- Todo mundo tem sido tão gentil, - ela murmurou, a cabeça recostada no encosto do banco, as luzes chamejantes dos postes nas junções da rodovia lançavam um
toque azulado em seu rosto.
- Sim. Boas pessoas.
Pensou em seu irmão. Rhage. Rehvenge. E até mesmo recebera uma mensagem de texto de Tohr... Que havia trilhado um caminho diferente do seu. E então, havia a
Dra. Jane. Manny. Ehlena.
- Todos tentando tanto ajudar, - disse ela.
- É.
- Dra. Jane e Manny estão trabalhando todas as horas do dia, tentando encontrar soluções.
- É, - ele beijou a sua mão de novo, - estão mesmo.
- E Rehvenge foi até o seu povo.
- Foi.
- E iAm que foi ao Território...
Trez virou a cabeça para ela. - O que?
Ela virou a cabeça para encará-lo, os olhos sonolentos e de pálpebras pesadas. - iAm foi aos Sombras... - Subitamente ela franziu o cenho. - Ai, isto dói.
Balançando-se, ele soltou o agarre. - Desculpe. Eu... O que você disse?
Quando ela repetiu pela terceira fodida vez, seu coração começou a trovejar. Mantendo a voz deliberadamente calma, ele perguntou, - Você sabe quando ele foi?
- Não, a Dra. Jane só mencionou de passagem quando fui vê-la. Você estava com enxaqueca. Trez, o que há de errado?
- Nada. - Ele ergueu a mão dela para outro beijo. - Nada demais.
O resto da viagem foi uma experiência meio Sybil12, uma parte dele conectada com Selena, a outra metade caçando iAm e gritando na cara do macho algo como "Que
porra estava pensando, seu filho da puta, arriscando-se assim?"
Ou algo assim.
- ... Trocar antes de irmos para lá?
- Desculpe? - Ele entrou à direita, pela saída que subia a montanha. - O que você disse?
- Eu queria mudar de roupa. Esta coisa de cozinhar vai fazer uma sujeira.
- Você poderia cozinhar nua. Só estou dizendo... Limpar-se depois seria fácil, porque eu poderia te levar direto para o chuveiro. Além disto, eu poderia lamber
os respingos que caíssem... Sabe, em qualquer lugar.
Ela riu. - Pode fazer frio.
- Então eu poderia manter minhas mãos em você o tempo todo.
- Eu não passaria nenhum tempo cozinhando.
- Não subestime o poder do delivery, - ele se inclinou e beijou seu ombro, - mas, tudo bem. O que quiser.
Quando a grande mansão cinzenta apareceu, ele estacionou o carro na frente dos degraus como Manny havia pedido, e então deu a volta para abrir a porta de sua
fêmea. Quando ela estendeu a mão, o diamante refletiu as luzes de segurança da casa e brilhou como um arco-íris.
- Eu adorei tanto ele, - ela disse.
- Que bom. Esta era a intenção.
Uma vez lá dentro, levou Selena para o quarto deles. Fritz e os doggens haviam trazido roupas dela para o seu closet, e ele tinha de admitir que amava as coisas
dela misturadas às suas.
Graças a Deus ela precisava se trocar, ele pensou, enquanto agia tão despreocupadamente quanto conseguia.
- Então, ouça, vou ao quarto ao lado, - ele disse, mantendo a voz regular. - Por um segundo. Sabe, falar com iAm.
- Está bem, - ela disse, sorrindo.
No instante em que saiu das vistas dela, ele alongou as presas e mandou para o inferno o fingimento de que estava tudo bem. À porta do irmão, não se incomodou
em bater; simplesmente abriu-a.
- iAm! - Rosnou ele, mesmo que duvidasse que o cara estivesse ali.
Sem esperar por uma resposta, tirou o celular e ligou para o cara. Um toque, dois toques...
- Sim? Trez? Qual o problema?
- Que porra você estava pensando?
Houve uma pausa. - Como é que é?
- Você foi à porra do Território? - Tentou manter a voz calma. - Estava louco, caralho?
- Trez...
- Que porra está fazendo?
- Não vou discutir isto por telefone.
- Então arraste seu traseiro para casa agora.
Ele desligou e andou ao redor. Então, forçando-se a se controlar, acalmou-se e voltou ao quarto. - Ei, Selena?
- Sim? - Ela disse, do closet.
- Eu vou demorar um pouquinho. Não muito. Se quiser, pode ir na frente, e vou em seguida?
Ele sabia, no fundo de sua mente, que não estava pensando direito; ela não podia ficar sozinha, mas, ele via tudo vermelho, seu cérebro estava travado pelo movimento
idiota do irmão.
Colocando a cabeça para fora do closet, ela sorriu e disse algo que ele não entendeu. Pelo seu sinal de anuência, no entanto, ela ia mesmo na frente. Ele se
aproximou e beijou-a, então fechou-se no quarto de iAm.
Pareceu passar uma hora até seu irmão aparecer, mas devem ter sido cinco ou dez minutos. E quando o cara entrou no quarto, Trez percebeu vagamente um aroma estranho
nele: era uma fêmea. Tanto faz.
- Que inferno, iAm? - Ele exigiu. - Como se eu não tivesse problemas suficientes?
- Você precisa se acalmar. Eu fui lá porque queria ver se havia algum registro do Aprisionamento nos diários dos curadores. Foi só uma viagem rápida...
- Como. Com quem você fez um trato?
- Sozinho.
- Mentira.
- Trez, sem ofensa, mas porque está perdendo tempo com isto? Eu consegui voltar...
- Foi com s'Ex? Você usou s'Ex? - Quando iAm não respondeu, ele ergueu as mãos. - Ah, vamos lá! Só pode ser brincadeira.
- Acalme-se...
- Me acalmar?! Você não pensou que seria uma verdadeira fodida insanidade se entregar ao carrasco da Rainha? A quem passei os últimos nove meses subornando com
toneladas de prostitutas? Isto não lhe pareceu irresponsável, considerando que eles me queriam de volta?
- Quer saber? Não vou fazer entrar nesta. Não vou...
- O caralho que não vai! Você nos expôs ao ir lá! Eles poderiam ter te usado como refém...
- Não usaram...
- ... Para me carregar de volta para lá e servir à porra da Princesa! Você me disse que eu tinha até o fim do período de luto... Só faltam três dias e tenho
merda demais para lidar aqui! Não preciso que você dê uma de maluco...
- Trez, sei que você está atarefado com Selena. Eu entendo. Mas, seu tempo está acabando...
- Acabando? E se eles te prendessem lá? E se AnsLai tivesse vindo a mim tipo, "estou com seu irmão, hora de emparelhar"? Pensou por um momento em que tipo de
posição me colocaria? Entre você e uma vida de fodas obrigadas... Ou não estar aqui para Selena no fim da vida dela! Que caralho...
Por alguma razão, a mudança abrupta na expressão de iAm se registrou: o macho congelou no lugar e estava olhando acima do ombro de Trez, sua expressão instantaneamente
empalidecendo.
Trez se calou e fechou os olhos. Mesmo antes de se virar, soube o que encontraria na porta do quarto.
É. Selena havia aberto a porta e estava parada na soleira, pálida como um fantasma.
- Você vai se emparelhar? - disse ela, em uma voz fraca. - Em três dias?
iAm praguejou em voz baixa. Isto não precisava ter acontecido.
E, pior, quando Selena se aproximou, seu andar estava estranho, como se seus joelhos ou talvez o quadril a incomodassem.
- O que você... - ela parou na frente de Trez. - Você vai emparelhar com aquela fêmea em três dias?
Hora de ir, iAm pensou. Isto definitivamente só dizia respeito aos dois...
- Não, - Selena disse quando ele ia passar por ela. - Fique.
Como se ela o quisesse por perto, para confrontar as insinceridades que seu macho pudesse ter para com ela.
- O que está acontecendo? - Ela exigiu.
Embora Trez estivesse descontrolado há apenas alguns minutos, o cara parecia agora tão composto quanto um objeto inanimado: - Não é importante.
- Não foi o que ouvi. E, antes que me acuse de estar bisbilhotando, os dois gritavam tão alto, que consegui ouvir no quarto ao lado.
Trez esfregou seu cabelo curto e perambulou em volta. - Selena...
- Você vai se emparelhar?
- Isto não nos afeta.
- É claro que afeta.
Quando houve um silêncio tenso, iAm decidiu "foda-se". - Ele foi vendido pelos nossos pais quando éramos crianças para a Rainha do Território, como um companheiro
para o trono. Foi decretado pelo seu mapa astrológico. Ele fez tudo o que pôde para escapar, e a razão de ele estar bravo comigo é porque sou seu calcanhar de Aquiles.
Ele só está desesperado porque foi por pouco, provavelmente porque a coisa real pela qual ele se preocupa é você, e não pode fazer nada sobre isto.
Quando ambos olharam para ele, ele deu de ombros. - Que é? Andei assistindo ao programa do Dr. Phil com Lass lá embaixo, quando não conseguia dormir.
- Isto é verdade? - Selena perguntou.
- Sim. - Trez se aproximou e sentou-se na cama. - Eu não te contei porque, honestamente e como ele disse, não importa o que eles façam em três dias, não vou
emparelhar com alguma fêmea que não conheço e não vou me importar para lhe dar o sucessor na linha do trono. Não vai acontecer, e isto seria verdade mesmo que você
não estivesse em minha vida, e se você fosse ou não viver mais cem dias ou milhares de anos.
Ele bateu as mãos como se estivesse fechando uma porta. - E é isto.
Selena ficou quieta por um tempo. - Você deveria ter me dito.
- Eu não gosto de pensar nisto.
iAm revirou os olhos. - Verdade.
- E, Selena, estou falando sério. Não vou fazer isto nem em setenta e duas horas ou em sete milhões. - Trez desviou o olhar. - Você viu nossos pais enquanto
estava lá?
iAm meneou a cabeça. - Eu só estive no palácio, - em uma cela, - e eles perderam sua posição, de forma que estão do outro lado daqueles muros. Eu, certo como
a merda, que não ia procurar por eles. Estão mortos para mim. Não ligo a mínima para eles.
- Eu também. - Trez olhou de volta para Selena. - Esta é minha vida aqui. Aqui é minha vida... Estas pessoas, este lugar, meus negócios... Sobretudo você. Não
vou deixar ninguém tirar isto de mim, especialmente porque algum astrólogo olhou para as estrelas no céu e decidiu que elas significavam algo.
Selena envolveu os braços ao redor de si. - Eu realmente queria que tivesse me contado.
- Eu teria contado, se fosse importante.
- E seus negócios... Você ainda vende fêmeas por lá?
iAm olhou para a porta. Começou a recuar para ela.
- Elas vendem a si mesmas, - Trez explicou. - Eu lhes proporciono um meio de fazer isto, então elas são responsáveis por si próprias. Elas escolhem quem, quanto,
por quanto tempo. Meu trabalho é mantê-las a salvo.
- Enquanto ganha dinheiro em cima delas.
- Elas pagam ao clube.
- Mas, você é dono do clube.
- iAm, - Trez disse, cortante. - Eu quero que fique.
Ele fechou os olhos. - Não é o que quero.
- Não. - Selena falou. - Se ele não tem nada a esconder, deixe-o dizer em frente a uma platéia.
Ótimo. Bem o que ele estava querendo. Nota A para ele como mediador.
Não.
E maichen continuava no condomínio.
- Na verdade, eu tenho de ir. - iAm olhou de um para outro. - Eu jamais tive um relacionamento, então não tenho nenhum conselho para dar a vocês. Mas, Selena,
acho que precisa saber de duas coisas: Um, a vida inteira dele foi definida pela sua revolta contra o s'Hisbe e nosso pais. E dois, ele não esteve com mais nenhuma
fêmea desde que ficou com você, ano passado. Ele foi fiel a você, mesmo quando não estavam mais juntos. Então, não o crucifique por achar que as mulheres humanas
que trabalham para ele estão de alguma forma com ele. Estou fora.
Ele não lhes deu chance de puxá-lo de volta para seu drama. Ele já tinha o bastante de drama próprio. Ele deixara maichen nua em pelo em sua cama e se preocupava
de que fosse embora antes que ele voltasse.
Correndo para o saguão, disparou pelo vestíbulo, saiu para a noite, e se desmaterializou para o Commodore.
Quando reassumiu forma no terraço, puxou de volta a porta de vidro e correu pelo corredor para os quartos.
- maichen! - Ele chamou.
Bem quando dobrou a porta do quarto, ela disse, - Sim?
Ele respirou fundo quando a viu reclinada contra os travesseiros, seus ombros nus emergiram da cobertura do edredom.
- Oh, graças à porra, - ele disse.
- Você está bem? - Ela sentou-se. - iAm?
Chutando seus sapatos, ele não respondeu. Não conseguiu. Havia muita coisa a dizer sobre coisas que não podia mudar e odiava.
Em vez disto, afastou os lençóis e se enfiou na cama, totalmente vestido. O corpo dela estava quente, nu e dócil quando ele se posicionou coração a coração.
Quando os braços o enlaçaram e ela lhe acariciou a nuca, ele estremeceu, e percebeu que, em todos os anos que vivera naquele planeta, esta era a primeira vez
que tinha um lugar para ir ao sentir que o mundo era um lugar de merda, e que não havia nada além que tortura a ser enfrentada.
Isso era tão melhor até do que fazer sexo.
Este momento onde ele buscava e encontrava refúgio? Fazia-o entender porque os Irmãos se iluminavam cada vez que suas shellans entravam na sala, e porque aqueles
machos dariam suas vidas por aquelas fêmeas.
- Obrigado, - ele ouviu-se dizer.
- Por quê? - maichen sussurrou.
- Por estar aqui.
- Selena não está bem? - Ela perguntou. Porque havia contado o porquê de precisar sair.
- Não muito. Mas, ela e meu irmão estão brigando.
- Por quê?
- Não há nada como sua noiva descobrir que você está comprometido com outra, enquanto ela está morrendo. É uma conversa tão maravilhosa para se ter.
maichen ficou imóvel. - Isto precisa acabar.
- A merda com Trez e a fodida da Princesa? Concordo... Se tiver alguma ideia a respeito... Me conte. - Ele disse, cruamente.
Capítulo SESSENTA E CINCO
Foi fácil demais escapar de sua própria casa.
Assail simplesmente abriu a janela do andar superior e partiu de suas instalações com toda a pompa e circunstância do ar escapando pela noite.
Ele andara rastreando os movimentos dos Irmãos em sua floresta com as câmeras de visão noturna, as formas imensas dos machos se moviam como Tiranossauros Rex
pela propriedade, suas presenças escondendo-se por entre as árvores.
Depois que o sol se pôs, ele havia mantido as proteções ilusórias no lugar, efetivamente preservando a vaga aparência de seu interior como esteve à luz do dia.
Daria aos Irmãos algo para fazer quando tentassem entender onde e quando haveria a reaparição noturna dele e dos primos.
Que não ocorreria até ele cumprir uma missão específica.
Com entusiasmo, viajou ao leste, a um local previamente arranjado em um shopping abandonado aproximadamente oito quilômetros distante da área do centro da cidade.
O carro de aluguel da Hertz estava estacionado nos fundos de um prédio que tinha uma placa apagada que dizia BLUEBELL'S BIRTHDAY BOUTIQUE, SOMENTE ENTREGAS pendurada
acima de uma reforçada porta com a pintura descascada.
Ehric baixou a janela do motorista quando Assail retomou forma. - Vai dirigir?
- Sim.
Quando o primo saiu e Assail assumiu o lugar do macho atrás do volante, Evale falou do banco do passageiro, - O que quer que a gente faça?
- Nada.
Ele engatou o carro e avançou, movendo-se com velocidade, mas obedecendo as leis de trânsito. Havia avançado poucos quilômetros quando a cocaína que havia inalado
duas horas antes começou a perder o efeito.
Mas, ele não ia tomar outra dose. Precisava estar focado o suficiente para se desmaterializar, se fosse necessário.
Ele levou os três e o trivial Ford Taurus através dos subúrbios espalhados e mais além da área do metrô, na área rural que formava uma orla em volta das Montanhas
Adirondack. Conforme avançava, as estradas se estreitavam, a linha amarela no meio e as linhas brancas nos ombros cresciam mais débeis, os faróis falhavam em iluminá-las.
E, ainda assim, ele continuou em frente, sem ninguém atrás dele, sem carros ou caminhões em seu encalço.
Alguns quilômetros adiante, chegou à fazenda de gado leiteiro que procurava. Como a Bluebell's Birthday Boutique, ela também era abandonada, e o sedã sacolejou
pelo caminho enquanto transitava do asfalto para uma estrada de terra que avançava pelos campos de mato alto. Cruzando pelas sarças e pés de milho emaranhados, dirigiu
todo o caminho até a beira da floresta e encontrou abrigo entre as bétulas e bordos que retinham poucas de suas folhas. Com círculos rápidos, ele virou o carro alugado
de forma que encarasse o caminho de volta e esperou, deixando o carro ligado. Ele odiava que os faróis permanecessem acesos, mas não havia nada que pudesse fazer.
A presença dos Irmãos tornara impossível sair com o Range Rover.
- Ele está atrasado. - Ehric disse, um pouco depois.
- Ele virá, - havia muito a perder para que o Forelesser não aparecesse. - Ele não vai falhar conosco.
E realmente, momentos depois, uma forma escura se aproximou pelo campo, seguindo seu caminho. Sem faróis. Então ele soube que era aquele a quem aguardavam.
- Vocês sabem aonde ir, - disse suavemente, ao abrir alguns centímetros a janela de trás.
Dito isto, os primos se desmaterializaram para fora do banco de trás... E o Forelesser chegou, parando o carro. Como sempre, Assail e seu sócio baixaram as janelas
ao mesmo tempo.
- Onde está o seu Range Rover, vampiro?
- Na loja.
- Fala sério, porra. Está sendo seguido?
- De certa forma.
O lesser franziu o cenho, as sobrancelhas escuras caíram sobre os olhos escuros. Por um momento, Assail sentiu falta do Antigo Continente, onde era possível
reconhecer um lesser não só pelo cheiro, mas porque estavam na Sociedade Lessening tempo suficiente para sua cor ter empalidecido. Não no Novo Mundo. Não, aqui na
cultura descartável dos humanos americanos, os mortos-vivos não duravam tempo suficiente para seus pigmentos clarearem.
- ATF?13 - O lesser exigiu. - Ou Departamento de Polícia?
Como se durante seus anos como humano, ele frequentemente fosse incomodado por estas duas organizações.
- Pela Irmandade da Adaga Negra. E o Rei Cego, Wrath.
O morto-vivo jogou a cabeça para trás e riu. - Que seja, meu amigo, problema seu.
- Não, receio que o problema seja seu, parceiro.
Sem aviso, Assail inclinou-se para fora de sua janela e esfaqueou o lesser no olho, usando a adaga que mantinha discretamente posicionada na coxa. Quando o Forelesser
gritou, Assail torceu a faca para soltá-la e cortou sua garganta. Sons gorgolejantes e copiosa quantidade de sangue negro encheu o interior do SUV do lesser, e Assail
foi forçado a recuar de forma esquisita a parte superior de seu corpo, para não ser atingido pela sujeira.
Ehric se rematerializou com seu primo e fizeram um trabalho rápido ao executar uma busca no veículo enquanto Assail vigiava em volta, certificando-se de que
não houvesse testemunhas. Quando o lesser engasgou e agarrou a segunda boca que havia sido rasgada em seu pescoço, Ehric emergiu com três AKs e muita munição. Sem
conversa, as armas e munição foram colocadas no porta-malas do Taurus, os primos abriram as duas portas de trás e entraram no veículo.
Assail esticou a mão pela janela e puxou um dos braços do Forelesser. Encontrando um pedaço não manchado na manga, limpou sua adaga, voltou a guardá-la no coldre...
E extraiu uma faca de caça serrada de seu cinto.
Foi rápido arrancar completamente a cabeça.
Ele deixou o corpo onde estava, atrás do volante do SUV, as mãos e pés ainda se movendo, a mão direita se levantando para agarrar o volante.
Ia ser meio difícil dirigir, considerando que não havia cérebro e nem visão para direcionar as coisas.
Não, ele carregava a CPU pelo cabelo.
Dando a volta para o banco do passageiro na frente, abriu a porta e colocou a cabeça ainda piscando, ainda se movendo, na caixa de papelão da Amazon.com que
havia sido forrada com sacolas para não vazar.
Então ele voltou para trás do volante do Taurus. Antes das luzes interiores se extinguirem totalmente, espiou pela aba da caixa e encontrou os olhos revirados,
chocados.
- Você era um bom parceiro, - Assail murmurou. - É uma pena termos de cortar relações.
Com isto, ligou o sedã e se pôs na estrada de novo.
Capítulo SESSENTA E SEIS
Trez se deixou cair para trás na cama de seu irmão, seus braços caídos para os lados, os olhos focados no teto acima. Porra, essa sua maldita maldição nunca
iria parar de persegui-lo. Ali estava ele, tentando fazer o certo por uma fêmea que sempre tinha importado para ele... E essa merda s'Hisbe estava, como sempre,
como uma corda em seu pescoço.
- Você esteve... Sem uma fêmea? - Selena perguntou. - Desde...
Ele levantou a cabeça e olhou fixamente através do quarto vazio para ela. - Por que eu estaria com uma? Desde que eu tive você? Ninguém era interessante.
Houve uma longa pausa. - Realmente?
- Realmente.
Ela colocou as mãos ao rosto. - Isso é... - Ela balançou a cabeça. - Consideravelmente fantástico, na verdade.
Empurrando contra o colchão, ele se apoiou nos cotovelos e olhou para ela. - Você se lembra do que me disse? Depois... Bem, você sabe, quando estivemos lá em
baixo na clínica pela primeira vez? Que estava preocupada que você era apenas outra obsessão para eu mergulhei dentro?
- Sim.
- Bem, se você era? Mergulhei em você antes mesmo de nos ligarmos. Você provavelmente não se lembra disso, mas... - Ele balançou a cabeça. - Eu costumava esperar
por você no hall de entrada todas as noites.
- O que?
- Sim, patético. Eu sei. Mas veja, você vinha aqui para alimentar V ou Rhage, ou Luchas, e eu ficava na porta da frente apenas no caso de você subir do Centro
de Treinamento, ou descer a ele de outro lugar na casa. Uma noite, merda, posso me lembrar claramente como qualquer coisa, você finalmente fez uma aparição. Corri
para baixo da grande escadaria, você estava, tipo, no hall de entrada quando ganhei sua atenção. Olhei para você, e pensei... "Esta é a fêmea mais incrível que eu
já vi". - Ele deu de ombros e sentou, se endireitando. - Você me pegou ali e desde então, minha rainha. Eu estava obcecado por você, para o bom ou o não tão bom,
muuuito antes que eu soubesse que você estava doente.
Ela sorriu um pouco. - Eu não fazia ideia. Quer dizer, eu sabia que, quando estivemos juntos em cima na casa de Rehv e você... Bem, eu sabia que... Hum, você
gostava de mim.
Ele piscou e a viu nua, naquela cama dela, no Acampamento. - Sim, eu estava afim de você na época. Bem afim. - Fazendo uma careta, ele disse: - Olha, não tenho
lidado muito bem com tudo isso. Eu devia ter lhe contado os detalhes do lance do s'Hisbe, mas fiquei preocupado que isso fosse enlouquecê-la e fazer com que não
quisesse ter nada comigo. Eu perdi anos da minha vida aprisionado naquele palácio, e arruinei toda a existência do iAm... E, ainda por cima, eu não ia perder a chance
de tentar algo com você por causa de toda essa porcaria. E, quanto aos meus negócios? Eles não são legais, de acordo com as leis humanas, mas eu sempre acreditei
que as pessoas têm o direito de ganhar a vida da maneira que quiserem, contanto que não façam mal a ninguém. É por isso que, ao contrário de Rehv, eu não permito
que sejam vendidas nas minhas instalações. As mulheres humanas são protegidas quando estão sob o meu teto, elas praticam sexo seguro, e ficam com noventa por cento
do que recebem. Os dez por cento que eu pego vão para o pagamento de minhas contas de energia elétrica e dos seguranças. Então, bem... É assim que eu vejo as coisas.
Ela respirou fundo. - Estou muito feliz que você está sendo honesto.
- Há mais alguma coisa você queira saber? Como eu disse antes, não falo sobre os meus pais, porque eles não são nada, além de biologia para mim e iAm. Eles nunca
se importaram com o nosso bem-estar. Eles nunca estiveram lá para nós. Durante todo o tempo, foi só iAm e eu, e isso foi o suficiente para nós dois. E, é por isso
que eles não significam nada.
Selena se aproximou, hesitante, e caiu de joelhos ao seu lado no chão. - Obrigada.
Seus olhos estavam tão claros, tão azuis quando olharam fixamente nele.
- Pelo que, - disse ele com a voz rouca. - Eu não gosto de lhe mostrar debilidade. Odeio isso.
- Isso só me faz te amar mais. - Ela sorriu. - Na verdade, essa honestidade nesse momento? É a coisa mais atraente sobre você.
Ah, merda. Ela iria fazê-lo precisar de Kleenex desse jeito.
- Eu te amo tanto. - Quando sua voz quebrou, ele a clareou. - Mais do que até mesmo meu irmão.
- Isto é algum tipo de garantia.
- Sim, é.
Ficaram assim por um longo tempo, ele olhando para baixo, ela olhando para cima, e, no silêncio, ele percebeu que tinham atingido a parte muito mais real do
que eram como indivíduos e que estavam juntos. Era o núcleo de base deles, suas falhas, entendidas e reais, sobre a mesa, nada escondido, nem a doença, nem tudo
o que ele não queria que ela soubesse... E sua eternidade ainda estava intacta.
O amor deles só havia sido reforçado.
- Você tem sido, - ela sussurrou, - a melhor parte da minha vida. Você é um milagre, quase compensa minha doença.
- Eu não sou essa enorme bênção.
- Sim, você é.
Ele acariciou a bochecha dela com os nós dos dedos. Roçou os lábios dela com os seus. - Então... Você quer ir cozinhar meu jantar?
Ela assentiu com a cabeça, e quando ele ofereceu a palma da mão para ajudá-la a se erguer, ela colocou a mão na sua, aquela com o diamante nela.
Sua mão bonita, com seus longos dedos finos e seu pequeno pulso.
No início, ele não entendeu por que, quando se levantou e foi puxar, seu agarre soltou. - Oh, desculpe, que desleixado...
Ela não estava se movendo. Selena estava exatamente na mesma posição de quando colocou a mão na sua, seu antebraço para cima, a cabeça inclinada para que ela
pudesse encontrar seus olhos, seu corpo sobre os joelhos.
A única coisa que mudou era o terror em seus olhos.
- Oh, não... - disse ele. - Não, não, não agora...
Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas ela não virou a cabeça para ele. Em vez disso, seu corpo começou a tombar para o lado como se estivesse sólido, caindo, caindo...
- Não! - Ele gritou.
A próxima coisa que Trez soube, estava na clínica.
Ele não tinha ideia de como tinha chegado lá com Selena em seus braços, mas, de alguma forma ele deve tê-la pegado do chão no quarto de iAm e passou por todas
as escadas e através do túnel e para fora do armário de abastecimento.
Ele estava vagamente consciente de pessoas em sua passagem. Lassiter, que provavelmente tinha saído da sala de bilhar. Tohr, que estivera atrás da mesa no escritório.
Outro irmão que estava mancando.
Mas, nada disso importava.
Dando as costas para a porta na sala de exame, ele invadiu o local sem bater, seu coração trovejando, o seu ouvido disparando, seu cérebro atolado com aquela
palavra que ele repetia uma e outra vez para si mesmo.
Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão...
Isso não poderia estar acontecendo agora, depois de terem tido esse momento transcendental. Não agora, quando eles deveriam ir e, junto dele, a teria dançando
nua em volta da cozinha de Rehv. Não agora, sem ele ter levado ela para aquele passeio de barco.
Era muito cedo, muito cedo...
De repente, se deu conta que Dra. Jane estava em pé na frente dele, seus olhos verde-floresta trancados nos seus, sua boca se movendo.
- Não posso te ouvir, - ele disse a ela. Ou, pelo menos, ele pensou que era isso o que disse.
Porra, este zumbido em seus ouvidos não estava ajudando. Quando a médica apontou para a mesa de exame, ele pensou, Certo, tudo bem. Ele colocaria Selena lá.
Movendo-se através do piso de cerâmica, se aproximou do lugar que precisava chegar e se abaixou, com a intenção de endireitá-la. Exceto, não... Seu corpo não
mudou para acomodar o reposicionamento.
Quase o matou colocá-la de lado.
Agachando-se para que ela pudesse vê-lo, ele pegou sua mão, aquela que ainda estava estendida para ele, a única com o seu anel nela. - Está tudo bem, minha rainha.
Está tudo bem, você saiu dessa da última vez, você vai fazer isso de novo. Você vai sair dessa.
Ele nunca olhou para longe de seus olhos apavorados. Nem quando as máquinas foram conectadas nela, e o IV iniciou, e os raios-X foram tirados. Nem enquanto os
dois médicos e Ehlena trabalharam intensamente, administrando medicamentos e tomando-lhe o pulso e a pressão arterial. Nem quando ela começou a chorar, gotas de
cristais formando e deslizando na ponta do seu nariz e ao lado de seu rosto.
- Estou com você, minha rainha. Eu não estou indo a lugar nenhum. Fique comigo. Você saiu disso muitas vezes antes, e a mesma coisa vai acontecer hoje à noite.
Acredite em mim, vamos lá... Você tem de acreditar em mim...
Ele teve de abrir a boca, porque estava respirando com tanta força que o nariz não podia acompanhar as demandas. E ele continuava tendo de engolir, era isso
ou correr o risco de precisar se inclinar para o lado e vomitar no azulejo.
Este não pode ser o fim, pensou.
Eu não estou preparado.
Eu não posso dizer adeus.
Eu não posso deixá-la ir hoje à noite.
Este não pode ser o fim...
Capítulo SESSENTA E SETE
Assim que Rhage olhou para a casa de vidro de Assail, seus instintos lhe disseram que aquilo estava completamente errado. Mesmo nada tendo mudado desde que ele
e V tinham chegado. Na parte interna, fosse a cozinha, aquela sala de estar do tamanho de um campo de futebol, ou o escritório, tudo estava exatamente igual; exceto
pelo fato de que não havia ninguém por ali.
- Talvez Assail esteja fazendo as unhas, no andar de baixo, - Rhage murmurou. - Talvez um lilás. Ou vermelho cereja.
- Mais cedo ou mais tarde, - V resmungou, - se ele continuar no negócio, terá de sair de carro. Você não consegue transportar a quantia de dinheiro ou drogas
com a qual ele lida sendo um fantasma.
- A menos que todos tenham tomado uma overdose juntos.
Ambos tinham que assumir que Assail e seus rapazes estiveram entrando e saindo desde o anoitecer, e não havia nada que pudessem fazer para impedir. Entretanto,
V tinha instalado pequenas câmeras antes que partissem ao amanhecer, e não houve atividade durante o dia; nenhuma mochila deixada para ser pega lá fora, nada entregue.
Então, como V disse, não havia como eles estarem movendo algum produto. Como se tivessem coreografado, ele e seu irmão pegaram os celulares ao mesmo tempo.
AH911
De Phury.
Sem hesitar, ambos se desmaterializaram, voltando e atravessando o rio e tomando forma, novamente, na porta dos fundos na casa de audiência. V digitou o código
e ambos adentraram a cozinha, assustando o doggen que estava perto do forno.
O fato de que a governanta de Paradise, Vuchie, não parecia alarmada era um bom sinal. Também não havia nenhum apito alto sinalizando que o alarme tivesse sido
disparado.
No entanto, eles sacaram as armas e marcharam para a sala de jantar, empurrando a porta de vai-e-vem, no canto dos fundos... Bem a tempo de ver Assail tirar
uma cabeça de uma caixa de papelão, segurando-a pelos cabelos.
- Achei que vocês gostariam de participar da festa, - Phury sussurrou pelo canto da boca, - ele acaba de aparecer.
- Eu deveria apresentá-los, - Assail estava dizendo, - para meu sócio. Meu Ex-sócio.
Os olhos castanhos do morto-vivo vaguearam pela sala, os lábios negros, manchados de sangue ofegavam vagarosamente como um peixe que tivesse sido deixado ao
sol, no fundo de um barco.
Vários Irmãos, em pé por ali, xingaram.
E, assim que George rosnou perto da cadeira de Wrath, o Rei se abaixou e confortou o cão. - Como sabemos que não é só outro assassino fora das ruas?
- Porque estou dizendo à vocês.
- Sua credibilidade não é algo pelo que alguém juraria a vida.
- Mas, eu juro. - Assail guardou a cabeça e depositou a caixa no chão. - Eu sei onde todos os lessers estão.
Todos ficaram em silêncio.
Wrath se inclinou para frente, na cadeira, seus óculos focados no traficante. - Jura?
- Sim.
As narinas de Wrath flamejaram conforme ele captava o odor do macho. - Ele está dizendo a verdade, rapazes.
As sobrancelhas do traficante se enrugaram em concordância. - Claro que estou. Você me informou de que não era para eu fazer negócios com a Sociedade Lessening.
E é o que tenho feito: obedecer sua ordem. Se a Irmandade for e erradicá-los de onde eles estão, não precisarei mais provar que concordei com suas ordens enquanto
eu continuar com minhas coisas. Portanto, temos os mesmos interesses, e se você precisa de fortes reforços para lutar lado-a-lado, eu, aqui, me voluntario, assim
como meus primos.
- Estou tocado por sua magnanimidade.
- Não tem nada a ver com você. Como eu disse, sou um homem de negócios. Não há nada que não faria para proteger meu empreendimento e está muito claro para mim
que você e os aqui reunidos são capazes de acabar com o que é precioso para mim. Entretanto, tomei as medidas necessárias para garantir que eu possa continuar, apesar
de isso estar se tornando uma grande inconveniência e meu fluxo de caixa sofrer enquanto sou forçado a restabelecer minha rede, nas ruas.
Conforme o ar da sala se enchia de sussurros, Rhage passou o olhar por seus Irmãos. Ele estava tão fodidamente pronto para uma bela guerra, para uma chance de
se vingar daqueles bastardos mortos-vivos pelo que eles fizeram durante os ataques.
Esta era uma benção inesperada.
- Pelo que eu entendo, - Assail apontou para a caixa, - aquele que é o Forelesser. Ninguém me viu atacá-lo e, propositalmente, não o devolvi para seu Criador.
Ainda temos um tempo, antes que sua ausência seja notada.
V falou. - Então, onde fica esse antro de perversidade?
- Brownswick Escola para Moças. Seu campus foi abandonado há algum tempo e eles estão vivendo nos dormitórios.
- E tentando aprender como fazer longas contas de divisão, - alguém murmurou.
- Ou tentando escrever a versão de Our Bodies, Ourselves, na visão de um caça-vampiros, - outro alguém disse.
Assail interrompeu aquele papo-furado. - Soube da localização deles muitos, muitos meses atrás. Afinal de contas, é importante que alguém saiba das particularidades
da vida de seu parceiro de negócios. Meus primos investigaram os arredores esta noite e confirmaram que ainda estão no lugar. Imagino que vocês desejarão fazer
um bom reconhecimento da propriedade antes de coordenar qualquer ação.
Imediatamente, todos os Irmãos começaram a falar, voluntariando-se para o serviço; mas, Wrath levantou a mão, silenciando-os.
- Vai nos deixar ficar com isso, - ele perguntou, acenando em direção à caixa. - Ou é uma lembrança a ser colocada no console de sua lareira?
- Assim como a informação que forneci, é seu para fazer o que quiser.
- Onde está o resto do corpo?
- Na Estrada 149. Há uma fazenda de leite abandonada. Caminhe pelos pastos ao sul, para a floresta, e vocês encontrarão o resto do corpo e sua SUV lá.
Wrath se recostou e cruzou suas longas pernas, apoiando o tornozelo sobre o joelho da outra perna. - Este é um desfecho muito melhor do que se tivéssemos de
matar você.
- Não estou satisfeito com isso.
- É melhor do que um caixão, - Rhage disse.
O traficante olhou ao redor. - Isso é verdade. - Com isso, Assail girou sobre os calcanhares e se dirigiu à porta. - Você sabe onde me encontrar caso queira
outras informações ou necessite de apoio para a ação.
Butch deixou o macho sair, acompanhando-o até a porta da frente da casa.
Ninguém disse nada até que o Irmão tivesse voltado e reunido com todos novamente.
- Se esse for o Forelesser, - Wrath disse, - o Ômega saberá instantaneamente.
- Mas, ele os substitui a cada quinze minutos, - V disse. - E não foi nenhum de nós a matá-lo. Talvez ele simplesmente eleja o próximo e pronto.
- Talvez. - Wrath assentiu em direção à caixa. - Livrem-se disso quando forem verificar os restos do corpo.
- Eu posso ir, - Butch ofereceu. - E tirá-lo do jogo de maneira permanente.
V balançou a cabeça. - Você não pode se desmaterializar. Muito perigoso...
De uma só vez, todos os celulares dos presentes tocaram, os pings, bongs coletivos, e zunidos como se alguém tivesse colocado um episódio do Vila Sésamo para
rodar.
Conforme cada um alcançava seus bolsos, Rhage se perguntou sobre o que diabos podia ser. Tohr estava fora de serviço, em casa. Rehv detestava celulares. E Lassiter
tinha sido forçado a desistir das mensagens de texto em grupo, depois que V tinha desabilitado a função no Samsung do idiota. Além disso, teria havido um coral da
canção de Denis Leary, "I'm an Asshole", já que este era o toque que todos tinham atribuído ao anjo.
- Oh, merda! - Alguém disse.
Rhage teve de ler duas vezes o que fora enviado. Então, ele deixou cair os braços ao lado do corpo e fechou os olhos.
- É melhor alguém me dizer que merda está acontecendo... O porquê de toda essa gemeção, - Wrath disse bruscamente.
- É Selena, - Rhage se ouviu dizendo. - Ela está paralisada.
Sentado na cama desarrumada em seu apartamento no Commodore, iAm se encontrou verificando a túnica de maichen, à procura de qualquer coisa que estivesse fora
do lugar, enrugado ou torto. Ele não a enviaria de volta para o Território parecendo como se ela tivesse tido um bom sexo.
Mesmo que ela tenha, de fato, tido.
- Amanhã à noite...
- Sim.
- Ótimo. - Merda, ele não tinha certeza se iria esperar tanto tempo. - Isso vai ser apertado.
Fazendo sinal para ela vir mais perto, ele arranjou o capuz em suas mãos para que o colocasse sobre a cabeça dela, a malha indo para o lugar certo. Ele odiava
cobrir suas feições mais uma vez. Era como se ele estivesse a aprisionando, embora ela fosse livre para ir e vir quando quisesse.
Relativamente livre, nesse tempo.
- Até amanhã, - ela disse, sua bela voz abafada.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Ele pretendia apertá-la e deixá-la ir, mas se encontrou não sendo capaz de liberar seu aperto.
- maichen. - Ele respirou fundo. - O que você diria se eu lhe oferecesse um lugar aqui? Aqui em Caldwell, quero dizer. Se eu cuidasse de você e a mantivesse
segura aqui na cidade.
Isso definitivamente não seria neste condomínio, com toda a certeza; s'Ex, sem dúvida, vai voltar a usar as quatro paredes e o teto como um fodido palácio assim
que o luto acabasse.
Oh espere. Isso era quando eles iriam querer Trez.
Que Seja.
Seria em outro lugar.
Conforme ela hesitou, ele disse, - Você não teria que servir ninguém. Você poderia ser livre.
Você poderia ficar comigo, pensou.
O que era, claro, loucura, mas o tempo parecia malditamente curto, ultimamente, e ele simplesmente não queria esperar por nada. Especialmente por algo que estava
na tabela do sinta-se-bem ao invés da você-está-ferrado.
- Você estaria segura, - ele repetiu. - Por minha vida, vou te proteger. E há um mundo inteiro aqui fora, com coisas para você fazer e lugares para explorar,
escolas para participar. Os seres humanos são na sua maioria idiotas, mas eles te deixam sozinho.
Em um piscar de olhos, a fantasia girou para fora como uma linha de ouro, imagens dele cozinhando para ela no Sal's, apresentando-a com orgulho aos seus garçons,
talvez levá-la para a Mansão para uma refeição.
Ele ignorou a coisa toda de correndo-pra-longe-do-s'Hisbe.
- iAm, - ela sussurrou.
Merda. Aquele tom dela disse tudo.
E ele não iria ouvi-lo. - Você pode ter uma vida real aqui fora. Você é muito melhor do que apenas uma empregada para outras pessoas. Você poderia realmente
viver.
Comigo, ele terminou para si mesmo.
Oh, Deus, ele estava perdido por causa dela. E, ao mesmo tempo em que ele tinha finalmente conseguido transar, era muito mais que isso. Em sua alma, ele, de
alguma maneira, a conhecia.
Na mesa do quarto, o seu telefone apitou com um texto.
- Pense nisso, - disse ele. - Eu sei que é muito... Por isso não me dê qualquer tipo de resposta no momento. Vá para casa, e esteja segura. Vejo você amanhã.
Ele a acompanhou para fora da sala de estar e passaram pelas portas deslizantes de vidro. Um momento depois, ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado
ali, e por um momento, ele se perguntou se não estava imaginando tudo isso.
Parecia apenas surreal.
Ele realmente se apaixonou aqui?
Fechando as portas, tinha a intenção de voltar para o quarto e sua cama, principalmente para que se s'Ex aparecesse, não houvesse um monte de sentimentos estranhos.
Em vez disso, ele apenas ficou ali, encostado nas portas deslizantes, olhando para a noite, seu cérebro meditando sobre todos os "e se" e "talvez".
O som de seu telefone tocando no quarto o reorientou, e ele caminhou para a coisa, indo até o final do corredor e passando pela porta, foi para a mesa de cabeceira,
estendendo a mão para a tela brilhante.
Pegando o celular, aceitou a chamada. - Rhage? Está tudo bem?
- Trez precisa de você. Agora.
- É sobre...
- É. Ela está na clínica.
iAm fechou os olhos. - Diga-lhe que estou a caminho.
Quando desligou, ele saiu da fodida cama bagunçada e correu para as portas de vidro. Depois de sair no ar frio, ele tentou se desmaterializar, mas seu coração
batendo forte e suas emoções dispersas ficaram no caminho de seu foco.
Foi apenas por imaginar Trez sozinho tendo de lidar com uma tragédia que ele foi capaz de juntar sua merda, e um momento depois, ele estava nos degraus da frente
da mansão da Irmandade. Estourando no vestíbulo, demorou o que pareceu uma eternidade para um doggen atender a porta, e iAm mal disse duas palavras para o macho
quanto ele começou a correr.
Foi um caso de completa inclinação para baixo, para o Centro de Treinamento, e quando ele finalmente saltou para fora do armário e atravessou o escritório...
iAm derrapou até parar no corredor.
Devia haver... Umas quarenta pessoas do lado de fora da sala de exame, alguns sentados no piso duro, outros andando por aí. V estava fumando enquanto Butch estava
batendo um pé como se alguém tivesse ligado o tornozelo em uma tomada. Phury estava ofegando como um louco; Z estava completamente imóvel. Bella estava balançando
Nalla em seus braços. Payne estava embaralhando cartas incessantemente. John Matthew estava de mãos dadas com Xhex. Qhuinn tinha o braço em torno de Blay. Autumn
estava segurando Tohr ao redor de sua cintura como se ela fosse a única coisa mantendo-o de cair no chão de concreto. Rhage estava sozinho, em pé, distante dos outros.
Mesmo Wrath estava lá com Beth e P.W. e George.
Todas as Escolhidas estavam presentes. Cada uma delas, incluindo Amalya.
E Rehvenge estava mais próximo da porta, dentro do espaço da clínica.
iAm fechou os olhos. Não conseguia acreditar que todos tinham aparecido.
Quando ele começou a andar em frente, as pessoas o abraçaram, pegavam suas mãos, apertavam seus ombros. Ele fez o seu melhor para responder e agradecê-los, mas
sua cabeça estava girando. Quando chegou à Rehv, ele apenas balançou a cabeça.
- O que aconteceu?
- Ela entrou em colapso, ou o que você quiser chamar isso, há cerca de 20 minutos atrás. Eles estão trabalhando nela. Ele está chamando por você.
Naqueles olhos de ametista tinha um brilho de vermelho neles.
iAm poderia ter tido um minuto para se recompor, mas ele já tinha perdido quanto? Só Deus sabia o que estava acontecendo lá dentro, e só havia uma maneira de
descobrir.
Caminhando para dentro, ele se encolheu. Selena estava sobre a mesa, mais uma vez, mas vê-la toda contorcida foi uma facada no coração.
Trez estava à direita dela, na sua cabeceira, seus olhos olhando para os dela. Seus lábios se moviam enquanto ele falava com ela suavemente de encontro a um
cenário de equipamentos médicos apitando e fios e tubos. As roupas que ela estava usando foram cortadas, e um fino lençol branco estava espalhado sobre ela.
Acenando para Ehlena, Jane, e Manny, iAm se aproximou e se agachou. Trez pulou e, em seguida, olhou em volta, como se tivesse esquecido que havia mais alguém
no quarto.
- Você está aqui, - o macho disse.
- Sim, eu estou.
Trez se virou para Selena. - Olha quem está aqui, é iAm.
Aquela voz normalmente forte estava débil e sufocada, como se fosse canalizada através de um sintetizador.
- Oi, Selena, - iAm disse.
Quando os olhos dela se encontraram com os seus, se forçou a sorrir contra uma maré de tristeza e medo. Ela estava apavorada. Totalmente apavorada.
Por que ela não estaria.
Trez começou a murmurar novamente e iAm olhou para Manny, levantando uma sobrancelha questionando. O curador sacudiu lentamente a cabeça.
Merda.
Capítulo SESSENTA E OITO
Trez esperou por um milagre.
Durante as próximas seis a oito horas, ele esperou e orou e falou até que perdeu a voz. Ele até cobriu sua amada com sua energia não uma, mas, duas vezes. E,
ainda assim, ela permanecia onde estava, presa dentro de seu corpo congelado, seus sinais vitais enfraquecendo lentamente... Os olhos começando a fechar de vez em
quando.
Só para que eles se abrissem em um estalo e seu suspiro passasse através de seus lábios cada vez mais pálidos.
Mais tarde, ele iria se lembrar desse momento em que alcançaram o ponto sem volta.
Foi quando a equipe médica desativou os alarmes que, haviam no início apitado com advertência de vez em quando, mas que tinha posteriormente começado a apagar
constantemente.
- Agora é... - Quando sua voz falhou, ele limpou a garganta, - ... O momento para mais exames de raios-X?
Jane parou ao lado dele e falou em voz baixa. - Trez, gostaria de conversar com você.
Manny concordou. - Talvez no corredor.
- Não, não vou deixá-la. - Ele alisou o cabelo de sua amada para trás e ficou aliviado quando seus olhos se focaram nos dele. - Eu não vou deixar você, minha
rainha.
iAm se inclinou e disse em seu ouvido: - Você quer que eles conversem comigo?
Passou um tempo antes de Trez responder. Ele não queria ouvir o que eles iriam dizer. Mesmo que em seu coração, ele já soubesse... Ele sabia que as coisas não
estavam mudando desta vez... Ele só não queria as palavras pronunciadas no ar.
Mas, aquela rotina de sobressalto e medo que continuava a acontecer com ela o estava desgastando.
- Sim, por favor, - ele disse educadamente. - Obrigado.
O grupo, incluindo Ehlena, foi para o quarto ao lado.
E se deu conta que ele e Selena estavam sozinhos um com o outro. Inclinando-se para ela, ele acariciou seus cabelos e roçou sua boca com a dele.
Merda, seus lábios estavam tão frios.
Ele queria fechar os olhos dele, mas estava apavorado que perderia alguma coisa. Em vez disso, deixou passar algumas batidas do coração.
"Eu quero ser livre. A coisa que mais me assusta é ficar presa no meu corpo."
- Selena, - disse ele em uma voz que era tão fina quanto sua pele. - Selena, você pode se concentrar em mim? Você pode me ouvir?
Ela piscou duas vezes, que era o código que tinham estabelecido para "sim".
- Eu preciso saber... - Ele engoliu em seco. - Eu preciso saber se você quer ir... Você quer partir?
Em resposta, os olhos... Os magníficos olhos azuis dela... Se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar também. Com um sentimento de profunda dor, levantou
a sua mão livre e roçou a umidade do nariz e da bochecha dela. Ele deixou as lágrimas dele aonde estavam.
- Minha rainha, é a hora de você partir? Me diga se for.
Seu olhar nunca deixou o dele.
Ela piscou uma vez. E depois... Outra vez.
Oh, Deus.
- Será que eu entendi corretamente? - Disse. - Você quer que isso... Termine?
Os dois estavam chorando para valer agora. E ela não teria que piscar novamente, porque ele sabia em seu coração e alma o que ela queria, e ainda assim, ele
esperou o sinal mais uma vez. Este era um daqueles momentos em que se tinha de fazer tudo corretamente.
Ou ele nunca seria capaz de viver consigo mesmo.
- Está na hora? - Ele sussurrou.
Ela piscou uma vez... E, em seguida, novamente.
Nesse momento ele fechou os olhos e percebeu que seu corpo balançava como se um peso enorme tivesse sido colocado sobre seus ombros, e não estivesse bem equilibrado.
Quando abriu os olhos, iAm e os médicos estavam de volta no quarto. Um olhar para o rosto austero de seu irmão, e ele sabia que o que tinha sido dito não tinha
sido marcado por nenhum otimismo.
Conforme iAm se aproximou, o macho teve o cuidado de saudar e sorrir para Selena, o que Trez realmente apreciou. Em seguida, ele se inclinou e sussurrou: - Não
há nada que possam fazer. Os anti-inflamatórios não estão funcionando, e os últimos raios-X exibiram uma mudança que o primeiro episódio não teve. As articulações,
ou o que deveriam ser as articulações, estão aparecendo branco brilhante nas chapas, com o tipo de intensidade que o metal teria. Esse não era o caso de antes. Seus
sinais vitais não estão bons e ficam cada vez piores, mesmo quando eles usam suas coisas para ajudar com a respiração e o coração lento. O sentimento deles é que...
Isso é o fim.
Trez assentiu, e depois levou um momento para apreciar o rosto de Selena. - Ela está pronta para ir, - ele engasgou. - Ela me disse isso. Existe alguma coisa
que... Nós possamos...
Manny o interrompeu. - Nós podemos ajudá-la. Se ela tem certeza.
- Ela tem.
iAm inclinou-se perto novamente e sussurrou algo mais.
Trez respirou fundo. - Selena, você quer ver suas irmãs? Phury? A Directrix? Estão todos aqui. Eles estão lá fora.
Em resposta, ela fechou os olhos. Uma vez. E, em seguida, os manteve dessa maneira até que ele sentiu uma nova espiral de pânico atravessar por ele.
Mas, ela os abriu novamente. Ela ainda estava com ele.
Agora, as lágrimas dela estavam vindo cada vez mais rápido, e ele desejou que pudesse se concentrar o suficiente para tentar entrar em sua mente, mas, ele não
podia. Ele estava muito torcido, muito emocional, muito cheio de dor. E ele entendeu o que ela queria de qualquer maneira.
- Você não quer que eles te vejam desta forma. - Piscar. - Você os ama, no entanto, e quer que eles saibam que você vai sentir a falta deles. - Piscar. Piscar.
- Você quer que eu diga adeus por você.
Piscar. Piscar
- Certo, minha rainha.
Em seguida, houve esta estranha pausa.
Mais tarde, quando ele obsessivamente revisasse cada coisa que aconteceu, cada hora que passou durante a crise, cada detalhe do quarto e das pessoas, cada contração
do rosto dela e cada palavra que falou para ela, ele iria insistir nesse momento. Foi, ele imaginava, um pouco como olhar para o cano de uma arma pouco antes de
você levar um tiro.
- Eu te amo, - disse ele. - Eu te amo para sempre.
Ternamente, ele acariciou o rosto dela e rezou para que ela pudesse sentir o seu toque. Ele não sabia se ela podia ou não; havia um alarmante aspecto cinzento
se infiltrando em sua pele.
Alternando as mãos, de modo que sua direita estava segurando a dela, ele bateu levemente no ar em torno dele, procurando por...
iAm como sempre, estava bem ali, agarrando a palma da sua mão com força, o firmando.
Ele não iria fazer isto, a menos que seu irmão estivesse o segurando fora do chão.
- Ok, - Trez disse para quem estava escutando, - estamos prontos.
Manny foi até a mangueira do soro, uma seringa cheia de líquido na mão. - A primeira dose é um sedativo.
Trez sentou para frente na cadeira que ele tinha recebido. Colocando a boca junto à orelha dela, ele disse: - Eu vou te amar para sempre...
Ele repetiu as palavras, até que não tinha certeza de quantas vezes ele havia dito elas. Ele só queria que fossem a última coisa que ela ouvisse.
- Esta é a última dose, - disse alguém. Talvez fosse Manny, talvez não.
Trez começou a dizer as palavras mais rápido. E mais rápido.
- Eu te amo para sempre euteamoparasempreeuteamoparasempre...
Momentos depois, ele parou.
Ele não tinha certeza de como soube isso exatamente.
Mas, ela se foi.
Recostando na cadeira, ele olhou em seus olhos ainda abertos. Eles estavam tão bonitos como sempre tinham sido... Mas, não havia vida neles, no entanto.
Aquela faísca mística que a animava tinha ido embora.
E sua alma, já não possuindo um lar viável, tinha partido com ela.
O silêncio e quietude da morte era um vazio por si só, um buraco negro que sugava nele tudo e todos ao seu redor, e tão poderosa era a atração, que as vidas
dos outros ficaram suspensas também, momentaneamente prejudicada por essa tremenda força contagiosa.
Trez abaixou o rosto na mesa de exame e libertou as duas mãos que o tinham sustentado, a dela e a do seu irmão. Em seguida, passou os braços em volta de seu
amor, e chorou sobre ela com tanta dor, que todo o vidro no quarto explodiu, as portas dos armários de aço estilhaçaram, soltando-se de suas estruturas... Até mesmo
a tela do computador e o lustre médico acima racharam, transformando-se em cacos.
Inconscientemente, ele tinha se preparado para este terrível momento desde que a tinha encontrado do lado de fora do cemitério, no Santuário, preparando-se,
experimentando a dor como se testasse o quão quente um queimador do fogão era ou o quanto um cheiro era tóxico.
A realidade era indescritivelmente pior do que ele havia previsto, mesmo em seus momentos mais pessimistas.
Na realidade, ele era apenas mais um pedaço de vidro no quarto.
Totalmente quebrado, além do conserto.
Capítulo SESSENTA E NOVE
Bem, agora ele sabia como era ver alguém que você ama ser atropelado por um carro, iAm pensou enquanto observava seu irmão soluçar.
As emoções de Trez deixaram a clínica em um gelo profundo, o ar tão frio, que a respiração saia da boca das pessoas em uma névoa e fazia com que o que estivessem
vestindo se transformasse em trapos metafóricos. Olhando para cima, iAm notou que os três profissionais médicos estavam igualmente em extremos. Muitos esfregavam
os olhos com os dedos. Ehlena estava tirando um lenço do bolso de seu uniforme. Jane estava secando o rosto com a palma das mãos.
iAm se sentou ajoelhado e massageou as costas de seu irmão. Ele não tinha certeza se o contato era irritante ou o ajudava, o mais provável era que fosse um nem-aqui-nem-ali
que não tenha sido sequer notado.
Eventualmente, Trez deu um suspiro trêmulo e se recostou.
Havia uma mesa ao alcance do seu braço, e sobre ela, tinha uma pilha de toalhas dobradas brancas e azuis. Pegando uma, ele estendeu em direção a seu irmão.
Trez estava fora de qualquer capacidade de Kleenex neste momento.
O cara esfregou o rosto e tomou uma série de respirações profundas. Depois, se recostou na cadeira que estava usando e olhou fixamente para frente.
- Eu quero fazer os preparativos, - disse ele com a voz rouca.
- Você terá isso, - iAm respondeu. À medida que a equipe médica deu um levantar coletivo de sobrancelhas, ele disse, - Tenho tudo o que ele precisa. Coloquei
no vestiário dois dias atrás.
Isso havia sido algo que tinha feito antes de ir para o Território, apenas no caso de não voltar.
Apesar de que foi meio estúpido. Se tivesse sido capturado e mantido lá, ele não teria sido capaz de dizer a ninguém onde encontrar a merda.
- Está tudo bem para ele usar esse quarto? - Perguntou iAm, mesmo que isso não fosse realmente um pedido.
- Absolutamente, - disse Jane. - Ele pode ter certeza de privacidade.
- Obrigado. - iAm bateu levemente no joelho de seu irmão. - Eu já volto, tudo bem? Estou indo buscar o material.
- Obrigado, cara. - Trez disse sombriamente.
iAm ficou em pé, e, quando os seus joelhos estalaram, ele percebeu que tinha passado um bom tempo agachado no chão de azulejo.
Ele não podia suportar olhar para Selena. Era malditamente difícil demais.
Indo para Manny, ele abraçou o cara de uma maneira vigorosa, e em seguida, deu a Jane e Ehlena algo mais suave.
- Obrigado por cuidar tão bem deles.
Manny apenas balançou a cabeça. - O resultado teria sido diferente se tivéssemos conseguido fazer isso.
- Algumas coisas... - iAm deu de ombros. - Não há nada que você possa fazer. - Indo para a porta, ele a empurrou... E franziu a testa quanto lascas de tinta
saíram em suas mãos. Jesus, o aço tinha entortado, o ajuste na moldura não estava mais no lugar.
Do lado de fora, não havia, como dizia o ditado, um olho seco na casa.
- O que podemos fazer? - Perguntou o Rei, dando um passo para frente e colocando sua mão para cima no ar.
Se aproximando de Wrath, iAm deu sacudida na mão que foi oferecia, em seguida, ficou surpreso ao se encontrar sendo puxado de encontro àquele incrivelmente enorme
peito. Por um momento, ele se permitiu ceder em toda a força do corpo do rei, até o ponto onde ele estava certo de que Wrath o estava segurando em pé.
Mas, então, ele precisava se endireitar. Havia aspectos práticos que tinham de ser tratados.
Quando ele se afastou, viu o grupo de Escolhidas em suas vestes oficiais, e sentiu uma afinidade especial com elas, como um irmão mesmo.
- Trez vai dizer a vocês mais tarde, - disse ele, - mas ela queria que vocês soubessem que ela as amava demais. Foi difícil, no final... Ela realmente não podia
se comunicar. O amor por todas vocês estava lá, no entanto. - Ele enfocou nos olhos amarelos de Phury. - E por você também.
- Ela era uma fêmea de grande valor, - disse o Primale no Idioma Antigo. - Um crédito para a sua tradição e deveres e também uma pessoa de importância por seus
próprios dons especiais. Existe um lugar no Fade aberto para ela esta noite e para sempre.
iAm concordou, assentindo com a cabeça, porque ele simplesmente não podia suportar a ideia de que a vida da fêmea estava simplesmente acabada. Em um momento,
a pessoa estava em seu corpo e então... Puf!... Ela tinha partido como se nunca tivesse existido para os outros, nada mais do que lembranças translúcidas, desaparecendo
para sempre para testemunhar que ela de fato, tinha nascido e vivido.
- Eu tenho de pegar algo para ele. No vestiário. - Deus, ele sentia como se estivesse falando através do melaço. - É para a nossa maneira de providenciar o...
Ele deixou o resto da frase apenas balançando na brisa.
Quando passou por Tohr, ele parou. O macho estava branco como uma folha e tremendo nos seus shitkickers, seus escuros olhos azuis transbordando de sofrimento.
- Eu lamento muito, - iAm se encontrou sussurrando.
- Jesus, por que você diz isso? - O Irmão engasgou.
- Não sei. Eu não tenho nenhuma ideia.
Ele abraçou o macho apertado, e sentiu uma conexão mais profunda com ele. Em seguida, se afastou, apertou o ombro de Autumn, e pensou: Cara, iriam ser algumas
longas noites para o casal até Tohr processar seu TEPT.
O Irmão sabia exatamente onde Trez estava neste momento.
Rhage era o último do alinhamento, e estranhamente, ele parecia estar em piores condições. Pelo menos Mary estava ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem, - iAm mentiu.
A verdade era que ele não sabia o que diabos iria acontecer a seguir.
- Você tem de me dar alguma coisa para fazer, - Hollywood disse com seus dentes cerrados. - Eu tenho de... Eu tenho de fazer alguma coisa.
- Você está aqui. É o suficiente.
iAm abraçou o cara e, em seguida, continuou indo até a entrada do vestiário. Se empurrando para dentro, ele se acalmou e apenas respirou por alguns momentos.
Em seguida, foi até os armários logo à direita.
Havia quatro bolsas Nike em quatro unidades separadas, e ele as tirou uma após a outra. Passando as alças de duas em cada lado dos ombros, ele ergueu os pesos
pesados e se apertou de volta para fora através da porta.
Na tradição dos Sombras, os restos mortais eram purificados com minerais sagrados e água purificada vezes e vezes seguidas, enquanto um rosário de orações era
dito para a frente e ao contrário. Em seguida, haveria um processo de envolvimento do corpo com tecido perfumado, seguido de cera que tinha de ser fundida em cima.
Ele estava prestes a passar por Rhage novamente quando parou e franziu a testa.
Olhando para o Irmão, ele disse, - Que horas são?
Rhage checou seu telefone. - Cinco de manhã.
- Na verdade, há algo que você pode fazer, - ele murmurou. - Ao anoitecer.

 

 

CONTINUA