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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


OS SOMBRAS
OS SOMBRAS

 

 

 

                                                            Irmandade da "Adaga Negra"                                                                 

 

 

 

 

Capítulo VINTE E NOVE
- Você achou que ninguém iria perceber?
Ao sair da cela, maichen congelou. A voz por trás dela era tão profunda, tão baixa que as palavras eram rosnadas ao invés de faladas, e era a última coisa que
estava esperando.
Som de passos, de um macho com o dobro de seu tamanho e três vezes o seu peso, rodearam o seu corpo e, através da malha que cobria seu rosto, ela olhou para
cima, beeem para cima.
O rosto de s'Ex também estava coberto, mas, no carrasco era uma cota de malha, elos de prata nada delicados, que escondiam a expressão de seu rosto, mas não
sua identidade.
O temor invadiu o seu peito, e uma sensação de vazio interno trouxe suor para suas axilas e ao vale entre seus seios bem formados.
- E você estava o alimentando?
Quando ela nem confirmou, nem negou a pergunta, o carrasco fez um gesto de frustração com as mãos, mas foi cuidadoso em não tocá-la ou em qualquer coisa que,
mesmo indiretamente, estivesse em contato com o corpo dela, inclusive a bandeja, tudo o que ela continha, bem como suas vestes e até mesmo o piso de mármore onde
pisava.
Era proibido a qualquer macho entrar em contato com ela, punível com a morte pelas mãos de s'Ex, o que significaria que ele, provavelmente, teria de cometer
suicídio.
- Diga, - ele exigiu. - Você o envenenou?
- Não! Ele já estava sem comer há mais de doze horas...
- Desde quando você começou a se preocupar com os meus prisioneiros?
- Ele não é um prisioneiro comum, - ela ergueu o queixo - E você não está cuidando dele direito.
- Há milhares de outras pessoas para cuidar disto.
- Eu não sou uma destas milhares de pessoas que vivem aqui?
Ele se inclinou. - Não comece com isto de novo.
maichen removeu a malha tão rápido, que ele não desviou o olhar a tempo. Quando ele engasgou e se virou, escondendo o rosto atrás das dobras de sua manga, a
voz dela se igualou à sua em autoridade.
- Você não pode me dizer aonde posso ou não posso ir.
- Coloque a máscara! - Ele gritou.
- Não coloco. Não aceito ordens de você. - Ela arrancou a manga dele para que não pudesse mais cobrir os olhos. - Entendeu?
O carrasco fechou os olhos com tanta força que a expressão de seu rosto inteiro se distorceu. - Você vai nos matar...
- Não há ninguém aqui. Agora, ordeno que me olhe nos olhos.
Foi tal a reviravolta, que ele se acovardou e demorou a entreabrir as pálpebras, como se seu rosto não quisesse obedecer às ordens de sua mente.
Quando finalmente olhou direito para ela, foi a primeira vez na vida que um macho viu seu rosto, e, por um segundo, o coração dela bateu tão forte que ficou
de cabeça zonza. Mas, ao lembrar-se do prisioneiro, lutou contra a perturbação.
- Ele, - ela estendeu o dedo na direção da porta da cela, - não deve ser ferido de forma alguma. Compreende?
- Não é você quem decide...
- Ele é um inocente. Aquele é o irmão do Consagrado, não é dele o dever de servir ao trono. Eu vi a tatuagem...
- Você olhou para o corpo dele! - Uma série de palavras explodiu da boca de s'Ex, palavras desconhecidas que soavam como "Maldição do Caralho".
Não sabia o que significavam. Ela só conhecia o inglês formal.
s'Ex se inclinou na sua direção, e baixou a voz, - Ouça, fique fora disto. Você não sabe o que está acontecendo aqui.
- Eu sei que é injusto fazer um inocente pagar por algo que não foi responsável.
- Eu não vou arriscar minha vida por você. Estamos de acordo? E não vou alterar o curso de minhas ações para apaziguar qualquer dilema moral que você esteja
alimentando neste momento.
- Sim, você irá. - Agora foi ela que se inclinou, e apesar do tamanho dele, s'Ex recuou. - Você sabe muito bem o poder que eu tenho. Você não vai ficar no meu
caminho neste ou em qualquer outro desejo que eu tiver... E quando eu trouxer a próxima refeição, você e seus machos irão me deixar passar em paz. Não confio o bastante
em você para alimentá-lo adequadamente... Ou em segurança. E não diga a ele quem sou eu.
Com isto, ela voltou a colocar a malha sobre o rosto e começou a se afastar.
- Qual é o seu jogo? - s'Ex exigiu.
Ela fez uma pausa. Olhou por sobre o ombro. - Eu não sei o que quer dizer.
- O que você vai fazer? Mantê-lo aqui como um bichinho de estimação?
maichen estreitou os olhos por baixo da malha. - Não é da sua conta. Sua única preocupação é de que nada aconteça a ele. E traga-lhe uma cama apropriada.
Pelo menos ele esperaria com um mínimo de conforto enquanto ela planejava um jeito de libertar o pobre homem.
maichen dobrou o corredor e saiu do raio de visão dele antes de começar a tremer... Antes de precisar se apoiar na parede para conseguir se manter em pé.
Fechou os olhos e tudo o que pode ver foi o macho aprisionado, saindo pelo biombo, após se lavar.
O corpo dele era... De tirar o fôlego, sua forma nua prendia o seu olhar, seus pensamentos, sua respiração. Ombros largos, peito musculoso, tórax impressionante,
parecia esculpido por um artista, ao invés de nascido de uma mortal.
E também havia as outras partes de seu corpo. As quais a faziam enrubescer tão ferozmente, que se preocupou que a malha derretesse em seu rosto.
Disse a si mesma que ela só ia ajudá-lo, e era verdade. Era.
Mas seria tolice ignorar esta ardente curiosidade. Talvez fosse até mesmo perigoso.
Pelas estrelas do céu, o que ela estava fazendo?
Quando Trez pulou na mesa de exames, sua cabeça quase bateu na luminária, e enquanto ele se abaixava para criar algum espaço, a Dra. Jane se aproximou.
- Aqui, me deixe tirar as luzes do caminho.
Com aquele probleminha resolvido, ele agarrou o colchão fino que jazia sob sua bunda, como se a ponto de iniciar uma descida de montanha russa.
E ele odiava montanhas-russas.
Dra. Jane trouxe um banquinho rolante e sentou-se, puxando as duas partes de seu jaleco branco para juntá-las e pousando as mãos nos joelhos. Olhando-o, parecia
preparada para esperar o tempo que fosse necessário para ele reorganizar seus pensamentos.
Pigarreando, ele anunciou, - Ela não virá. Não quer ser examinada, já que está se sentindo bem.
- Dá para entender.
Ele esperou por mais, e lembrou a si próprio de ser civilizado porque ela era a shellan de V.
Quando a boa doutora não continuou, ele franziu o cenho, - Só isto?
- O que quer que eu diga? Que Manny e eu vamos forçá-la a vir? Não posso fazer isso... Não quero fazer isto.
Sem sentir nenhum alívio na declaração, Trez percebeu que queria que a Dra. Jane forçasse Selena a descer.
Hipocrisia demais? Não era uma postura pró-livre-arbítrio de verdade, não é?
- Como posso saber que ela vai ficar bem esta noite? - Ele disse, tenso.
- Sem um episódio do aprisionamento?
- Sim.
- Não dá para saber. - Dra. Jane jogou o cabelo curto para trás. - Mesmo se a examinasse agora, não daria para dizer quando é que o próximo surto irá ocorrer.
Eu não sei muito sobre esta doença, mas pelo que vi, isto faz parte do problema. Não há estágio prodromal.
- O que é isto?
- Você tem enxaquecas, certo? - Diante de seu movimento de concordância, apontou para seus próprios olhos. - E você sente uma aura, cerca de vinte ou trinta
minutos antes do ataque de dor, certo? Bem, às vezes, pessoas que sofrem, sentem formigamento ou dormência em braços ou pernas; outros têm anomalias sensoriais,
tais como sentir cheiro de coisas que não estão lá ou ouvir coisas. Com a doença de Selena, não há sinal de alerta de que uma fase aguda está prestes de acontecer.
O congelamento parece ocorrer de repente.
- Você falou com o babaca do Havers?
- Na verdade, ele nunca ouviu falar de tal doença. O mais próximo que chegou disto, foram sintomas relacionados com artrites. - Ela balançou a cabeça. - Me pergunto
se tivéssemos como fazer uma análise de DNA das Escolhidas, haveria algum gene recessivo escondido em algum lugar. Com uma população procriativa exclusiva, como
elas sempre foram, é de se esperar encontrar exatamente este tipo de conjunto de doenças. Ela deu de ombros. - Mas, voltando à Selena, eu queria poder te dizer quando
é que vai acontecer de novo, ou mesmo os sinais aos quais ficar alerta. Mas não posso. Eu fiz um hemograma completo nela, e sua contagem de células brancas está
ligeiramente mais elevado junto com os marcadores de inflamações... Mais nada além disto. Tudo normal. Tudo o que posso dizer é que, se ela está em pé e se movendo,
teoricamente, suas juntas estão funcionando bem e elas darão sinais evidentes quando não estiverem.
Ele estalou os dedos, um a um. - Há algo que possamos fazer por ela?
- Não, pelo que sabemos até agora. Um dos desafios é não entendermos o mecanismo da doença. Minha suspeita é que, após o crescimento ósseo ser desencadeado por
sabe-se lá Deus o que, o sistema imunológico dela, de alguma forma, reage e ataca o material ofensor, destruindo-o como se fosse um vírus ou uma infecção. E o mecanismo
de defesa do corpo dela sabe quando parar, já que o esqueleto original permanece intacto após o ataque. Provavelmente há algo inato diferente sobre o crescimento
ósseo, mas, não saberemos até fazer uma biópsia.
- Então porque ela tem de... - Merda, cada vez que ele piscava, via Selena deitada na maca, o corpo naquela maldita contorção. - Porque ela continua combatendo
a coisa e se recuperando?
- Minha aposta é que o sistema imunológico falha. Analisando, é uma série extraordinária de eventos a nível celular. Ao ver as primeiras radiografias, jamais
teria imaginado que o corpo dela pudesse voltar a funcionar novamente.
Ele ficou quieto, olhando para o piso. - Eu quero levá-la para sair esta noite. Sabe, um encontro. - Quando a médica permaneceu em silêncio, ele ergueu os olhos.
- Não é uma boa ideia, é?
Dra. Jane cruzou o braço sobre o peito e empurrou a cadeira para frente e para trás nas rodinhas, a versão sentada de uma marcha.
Porra. Ele devia ter tido esta conversa antes de sugerir a saída...
- Você quer que eu seja bem franca? - A médica perguntou.
Trez teve uma imagem do perfil com cavanhaque de Vishous delineado sob a luz do teto externo do corredor. - Preciso saber exatamente onde estamos.
Mesmo que isto o matasse.
Passou-se um minuto ou dois antes da Dra. Jane responder, e ele achou que ela estava imaginando cenários em sua mente.
- O caminho mais prudente seria ela ficar no complexo, para fazermos uma checagem total nela, envolvendo múltiplas biópsias, uma tomografia computadorizada,
uma ressonância magnética no mundo humano e consultas com médicos, através dos contatos de Manny. E então nós provavelmente teríamos de iniciá-la no uso massivo
de esteróides... Mesmo que seja mais palpite do que certeza, é de se imaginar que o processo inflamatório tenha algo a ver com isto. Poderia haver drogas a testar,
talvez alguns procedimentos, mas, é difícil adivinhar de antemão. - Ela correu os dedos pelos cabelos curtos até a coisa se espetar em picos louros. - Teríamos de
ser rápidos porque não sabemos quanto tempo nos resta, e tudo seria na base de tentativa e erro, provavelmente, mais com o objetivo de sobrevida do que cura. Embora,
de novo, seja só um palpite, nada concreto.
Ele fechou os olhos e tentou imaginar-se dizendo à sua rainha que, ao invés de irem àquele restaurante pelo qual ela estava tão excitada, teriam de...
- Mas, não é o que eu faria, se fosse ela.
Trez ergueu as sobrancelhas e olhou para a médica - Então há outro jeito.
Dra. Jane deu de ombros. - Sabe, no final das contas, acho que a qualidade de vida deve ser considerada. Não sei o quanto conseguiríamos tratar ou desvendar
desta doença, mesmo se examinássemos ela inteira. Me baseio no fato de que ela é, para usar um termo clínico, a "paciente zero" para nós. Ninguém jamais ouviu falar,
apesar de uma minoria de suas irmãs padecerem deste mal há gerações. Há uma série muito complexa de coisas acontecendo, e eu só... Há muito a tentar entender. E
para que? Você quer arruinar as últimas noites dela...
- Noites? - Ele exclamou. - Jesus Cristo, é só isto o que temos?
- Eu não sei. - Ela ergueu as mãos. - Ninguém sabe e este é o ponto. Você iria... Ela iria... Preferir passar o tanto de tempo que lhe resta vivendo, ou somente
esperando por morrer? Eu lhe digo, se fosse minha escolha, eu escolheria viver. É por isto que não vou forçá-la a descer aqui, ou fazê-la sentir-se mal por não estar
com pressa de se deitar em minha maca.
Trez exalou um fôlego que não estava consciente de estar prendendo. - Rehvenge foi para o Norte. Para as colônias. Ver se há alguma coisa na tradição Symphath
que possa ajudar.
- Eu sei, Ehlena me disse. Estamos esperando ouvir notícias dele em breve.
Ele podia dizer pelo tom profissional na voz da fêmea que ela não estava botando muita fé. - O que acontece se Selena entrar... Em situação... E estivermos fora,
no jantar?
- Então você nos chama. Eu já te mostrei o brinquedo novo de Manny?
- Como é que é?
Ela se levantou e deu um tapinha na perna, - Venha comigo.
Dra. Jane a levou para fora da sala de exames, pelo corredor, e então para baixo, baixo, mais baixo, passando por salas de aula sem uso até a pesada porta de
aço da garagem. Abrindo-a completamente, ela indicou a área além da porta com o braço.
- Ta-da.
Trez entrou em um ambiente onde o ar era mais frio, mais úmido. A enorme ambulância era tão brilhante quanto uma moeda nova, retangular como um LEGO, maior do
que o Hummer de Qhuinn. Maior inclusive que as ambulâncias humanas que ele vira por aí em Caldwell.
Era um maldito trailer, um RV.
- Isto é merda séria, - ele disse.
- É. Uma das coisas que tem preocupado Manny e eu...
As portas traseiras do veículo se abriram, e o parceiro humano da Dra. Jane pulou para fora. - Achei mesmo ter ouvido vozes. - O homem soou grave assim que viu
Trez, - Ei, cara, como está indo?
Os dois se cumprimentaram e Trez indicou o veículo. - Então vocês conseguiram isto, huh.
- Venha ver a parte de dentro.
Trez enfiou as mãos nos bolsos dos jeans e deu a volta para a traseira. Através das portas duplas ele viu... Uma ilha grande central com duas macas, uma ao lado
da outra, rodeada por todo o tipo de equipamento médico armazenado em gabinetes envidraçados, que se alinhavam nas paredes laterais como prateleiras de livros com
esteróides.
- É como uma sala de operações em miniatura, - Trez murmurou.
Manny anuiu e voltou a subir. - Este é o plano. Queremos ser capazes de tratar com rapidez ferimentos de campo potencialmente mortais. Às vezes, trazer os pacientes
de volta para cá ou para o Havers é arriscado demais.
O médico começou a abrir e fechar armários e balcões, mostrando uma série de instrumentos esterilizados, curativos estéreis, mesmo um microscópio em um braço
extensor que podia girar para qualquer uma das macas.
Ele acariciou o instrumento como se fosse um bichinho de estimação. - Este bebê aqui também é uma máquina portátil de raio-x, e temos tecnologia de ultrassom.
Oh, e como um bônus, o RV é blindado.
- Contribuição de meu marido. - Dra. Jane olhou para o parceiro. - Então ouça, Trez vai levar Selena para jantar fora em um encontro esta noite.
- É uma grande ideia. Aonde vocês vão?
Trez fez um movimento circular com o dedo indicador. - Aquele no céu. Que fica rodando e rodando.
- Oh, sim, sei qual é, - o cara disse, - no hospital, chamamos de Central do Noivado, porque é onde os médicos levavam as namoradas para pedi-las em casamento.
Muito romântico.
- É.
Trez olhou para a extensão da sala de operações móvel, tentando decidir se o fazia sentir-se aliviado ou deprimido como a merda. O lado bom, ele achava, era
que com as luzes externas do veículo e o lendário pé de chumbo de Manny, eles conseguiriam chegar ao centro da cidade em dez minutos, especialmente com pouco trânsito.
Mas, e se não fosse tempo suficiente? E se Selena precisasse...
- Trez? - O médico disse.
Ele forçou-se a sair de seu estado de pânico - Sim?
- Que tal se eu for com vocês? Não, não como chofer, - ele completou quando Trez recuou. - Posso ficar estacionado nos fundos do prédio e só ficar por perto,
caso precisem de nós. Esta coisa tem emblemas falsificados nas portas, no capô e na traseira, e tenho todo o tipo de documentação. Ninguém irá me incomodar, e eu
posso levar um Irmão comigo caso precise me livrar de alguns humanos.
Trez piscou. - Deus, não posso pedir isso...
- Você não pediu. Eu ofereci.
Trez olhou para a ambulância novinha em folha. Ele não podia acreditar no que o cara estava pronto para...
- Trez? - Manny disse. - Ei, Trez, olhe para mim.
Trez virou os olhos de volta para o humano. Manny era bem formado para um não-vampiro, com um físico atlético que continuava a manter após emparelhar a irmã
de V, Payne. Mas, a coisa mais impressionante nele? Sua confiança. Treinado no mundo humano, o antigo Chefe de Departamento de Cirurgia do Hospital St. Francis do
centro da cidade, irradiava o tipo de atitude "ou-dá-ou-desce" que significava que ele se encaixava perfeitamente com os Irmãos.
- Deixa comigo, - o cara disse, com gravidade. - Eu cuido de vocês dois.
Manny estendeu a mão, e por um momento, tudo o que Trez pode fazer foi piscar. Mas então, aceitou o que lhe estava sendo oferecido.
A voz de Trez saiu entrecortada. - Não sei como posso te pagar.
- Simplesmente saia e aproveite sua mulher. É só o que me importa.
Quando Jane colocou a mão em seu ombro, Trez sentiu-se humilde diante do apoio. E esperançoso também de que Rehvenge pudesse aparecer com alguma novidade do
território Symphath.
Após agradecer novamente a ambos, ele voltou ao Centro de Treinamento, a Dra. Jane manteve-se atrás com o parceiro, como se soubesse que ele precisava de um
minuto para se recompor.
Deus, a cabeça dele estava a mil.
E era engraçado, ele não tinha nenhum impulso de beber até esquecer a raiva. Nenhum. Também não sentia necessidade de sair e foder centenas de mulheres desconhecidas.
Tampouco tinha interesse em investigar aqueles pacotes de drogas que encontraram com aquele lesser. Ele nem mesmo queria subir até o terceiro andar da mansão para
acordar o irmão e atualizar iAm da situação.
Ele estava curiosamente neutro. E aquilo o assustava.
Esta noite era para ser especial para sua rainha.
Tinha de ser.
Capítulo TRINTA
Foi por volta das seis da noite quando Selena saiu do chuveiro no banheiro de Trez. Ela dormira como um bebê durante o dia todo e noite adentro, apenas ciente
de Trez entrando e verificando-a de vez em quando. Como consequência, se sentiu melhor desde...
Santa Virgem Escriba, ela não soube por quanto tempo.
Enrolando-se na toalha, ela enrolou seu cabelo para cima e colocou o robe preto de Trez. O peso volumoso encolheu o seu corpo, caindo para o chão, o laço tão
longo terminava quase emaranhando em seus pés. Mas se sentia tão bem em ter a coisa nela, o cheiro dele embrulhando-se ao redor dela como um abraço, as dobras oferecendo
calor.
Em cima das pias duplas, ela pegou uma toalha de mão e enxugou a condensação no espelho. Debaixo das luzes, sua pele estava brilhando, um rubor em suas bochechas
e uma vermelhidão em sua boca, todo o resultado do sexo que compartilharam.
E haveria mais hoje à noite. Ela sabia disso porque toda vez que Trez entrava no quarto, aquela especiaria sombria dele tinha sido uma promessa intensa do que
estava por vir.
Desenrolando a toalha em sua cabeça, deixou seu cabelo escuro solto, os fios molhados pingando em suas costas. Ela fez o melhor que pôde para deixar os fios
quase secos, esfregando a tolha em cima de tudo que podia alcançar sem se esforçar demais. Então chegou a hora de usar o secador de cabelo, exceto...
Sem secador de cabelo.
Procurando, ela verificou os armários debaixo das pias, mas, só achou uma carga inteira de papel higiênico, sabonete, xampu e condicionador. Navalhas. Toalhas
de mão e de banho. Movendo-se para a área de armazenamento na parede, ela encontrou... Mais toalhas. As quais pareciam caras e tão suaves quanto pão fresco, mas,
não fariam por ela o que precisava.
Completamente seco era o seu objetivo final. Agora, ligeiramente úmido, era sua segunda escolha.
Certo, ela podia estar em apuros aqui. Eles sairiam às sete e trinta e seu cabelo, sozinho, levava mais ou menos oitocentas horas para secar...
Uma batida no lado de fora da porta a fez levantar a cabeça. - Oi?
- Isto é um "entre"? - Uma voz feminina perguntou do corredor.
- Sim? Por favor? - Apertando mais o robe de Trez, ela saiu do quarto adequadamente, depois parou assim que os painéis pesados se abriram. - Oh, oi... Ah...
Beth, a Rainha, entrou no quarto de Trez. E com ela Marissa, Autumn, Mary... Ehlena e Cormia. Bella. Payne. Também Xhex, que, com seu cabelo curto e seus couros,
parecia um pouco fora de lugar no grupo.
Ou talvez fosse por causa de sua postura estranha, como se estivesse insegura sobre o que ela estava fazendo com o grupo.
- Há algo que precisa? - Ela perguntou para Rainha. E para as outras.
Embora estivesse ciente que apenas Cormia e Layla a visitaram, era um palpite justo que todos na casa estavam informados sobre suas dificuldades, ela realmente
esperava que as fêmeas não fizeram essa viagem para oferecer condolências antes que realmente morresse.
Felizmente, Beth sorriu, em oposição às questões. - Precisamos que nos permita arrumá-la.
Selena levantou suas sobrancelhas e olhou para seus pés. - Sinto muito. Estou inadequada e não sei?
- Bem, nós ouvimos pela videira...
Marissa falou claramente. - Na verdade, meu hellren me disse. E ele ouviu de Vishous.
- Que você irá a um encontro, - Beth terminou. - E nós pensamos que você poderia gostar de um pouco de embelezamento.
Cormia colocou suas palmas para fora. - Não que você não seja bonita o suficiente.
Naquele momento, houve muitos oh, não, completamente bonita, e só se você quiser, e tudo que Selena pôde fazer foi colocar as mãos em suas bochechas. - Eu só
iria colocar um vestido e arrumar meu cabelo.
- Chato. - Xhex disse. Visto que todas as meninas lhe lançaram um olhar, ela jogou as mãos. - Eu te disse que não sou boa nessas coisas! Deus, por que me fez
subir aqui?
Beth se virou. - Selena, você sempre parece adorável, mas temos algumas roupas contemporâneas para você considerar, umas que talvez sejam um pouco mais...
- Você se parecerá com algo diferente de uma cortina de janela. - Xhex rolou os olhos. - Eu sei, eu sei, me calarei de agora em diante. Mas é a verdade.
- Pareço com uma cortina? - Selena disse, olhando para as peças nas janelas que acabaram de se fechar sozinhas. - Isso é ruim?
Beth avançou e tomou suas mãos, apertando-as. - Você confia em nós?
- Oh, claro, minha Rainha, é só que... Não sei, não consigo achar um secador de cabelo, e...
Marissa deu um passo à frente com uma bolsa de lona cheia com... Toda maquiagem concebível e utensílios de cabelo, o que quer que seja. - Não se preocupe, eu
tenho toda a solução.
E foi assim que Selena acabou sentando em um tamborete no meio do banheiro de Trez com um grupo de fêmeas circulando-a com secadores, escovas de cabelo, algo
chamado mousse, e modeladores de cachos.
No meio da maquiagem, seus olhos se encheram d'água.
- Oh, estou muito perto. - Autumn disse sobre o barulho dos secadores.
Selena levou uma mão para cima, na esperança de esconder suas lágrimas. A generosidade era tão inesperada. Literalmente sentiu como se a casa inteira estivesse
a apoiando e seu macho.
Xhex, a intransigente, foi a pessoa que trouxe a caixa de Kleenex. E quando a mão de Selena tremeu tanto que derrubou o lenço que pegara, Xhex foi quem cumpriu
a tarefa, retirando outro quadrado branco macio e enxugando levemente sob os olhos que vazavam.
Selena olhou em direção àquele olhar fixo de bronze e murmurou, - Obrigada.
Xhex apenas assentiu e continuou enxugando discretamente, seu toque gentil em desacordo com aquele rosto severo, traje masculino e a arma que usava no coldre
em sua cintura apesar do fato que estavam todos seguros no complexo.
Selena não tinha nenhum pensamento em sua cabeça, apenas emoções muito grandes para manter em seu coração.
Quando os secadores foram finalmente silenciados, ela soube que estava na hora de recuperar sua compostura. Todo aquele som e fúria enquanto seu cabelo era soprado
por toda parte ofereceu uma espécie de proteção para se esconder, ainda que todas a viram chorar.
- Seu cabelo está tão adorável. - Cormia disse conforme corria seus dedos pelas ondas. - Acho que devíamos deixar solto...
- Obrigada a todas. - Selena revelou. - Obrigada por isso.
Beth se ajoelhou na frente dela. - O prazer é nosso.
Uma mão pousou sobre o ombro de Selena. Outra em seu antebraço. Mais em suas costas. E Xhex estava exatamente ao lado dela com aquela caixa de Kleenex.
Olhando no espelho, ela se viu cercada pelas fêmeas da casa, e nenhuma delas sentia pena dela, pelo que estava muitíssimo agradecida. Ao invés, elas estavam
apoiando-a, fazendo o que podiam para mostrá-la que ela importava.
E por alguma razão, isso parecia indescritivelmente importante.
Provavelmente porque ficou claro para ela, pela primeira vez, que seria lembrada por estas pessoas depois que fosse embora, e ser lamentada por pessoas boas
era o melhor legado que alguém poderia deixar para trás.
- Solto? - Ela se ouviu dizer. - Realmente? Acha que eu deveria usar meu cabelo solto?
- Permita-me apresentar-lhe meu pequeno amigo. - Com isso, Marissa mostrou uma varinha de prata que estava plugada na parede por uma corda preta. - E agora a
guerra deve começar.
Selena teve de rir. Olhando para Xhex, disse - Você já...?
- Usei um desses? - A fêmea empurrou seu cabelo curto. - Como se pudesse. Mas acho que devia fazer o que elas dizem. Você está olhando para o cérebro confiante
da espécie quando se trata de estar gostosa.
- Então irei ceder. - Selena se encontrou iluminando-se com a ideia de uma transformação. - Faça o que desejar comigo.
Beth sorriu. - Acha que isso vai ser bom? Espere até ver o vestido.
- Sinto muito. Eu tentei.
Quando Rehvenge se desculpou por nada que era sua culpa, e nada que era realmente uma surpresa, Trez sacudiu a cabeça. Eles estavam em pé no grande hall da mansão,
seus pés plantados na representação de mosaico de uma macieira florescente.
Ele colocou sua mão no ombro vestido de pele do macho. - Seriamente, Rehv. Obrigado por dar a isso uma chance.
Rehv colocou sua bengala vermelha no chão e caminhou ao redor. - Olhei em todos os lugares em nossos registros. Perguntei às pessoas...
- Rehv, escute, eu aprecio o seu esforço. Mas, honestamente, eu não esperava alguma resposta mágica. - Merda, sabia que estava acostumado à notícias ruins a
essa altura. - Então não ataque a si mesmo em relação a isso.
Aquela pele longa alargando-se atrás do macho enorme conforme ele continuava a andar a passos largos ao redor. Eventualmente, ele parou sem energia. - Lembra-se
da noite em que nos conhecemos?
- Como se eu pudesse esquecer.
- Sempre senti que era para acontecer. - O macho olhou fixamente para baixo em seus sapatos de pele de avestruz. - Eu não quero... Isso para você. Especialmente
considerando o que mais está esperando por você.
Rehv era um do poucos que sabia que ele era o Consagrado de volta ao s'Hisbe.
Deus, Trez pensou. Aquela bagunça no Território não estava nem ao mínimo em seu radar. Selena era o grande desinfetante de todas as suas outras preocupações,
não só limpando sua ficha, mas purificando sua merda bruta.
- Irei ajudar Selena. - Ele se ouviu dizer. - Não irei a qualquer lugar enquanto ela está... Você sabe.
- Qualquer coisa que precisar, você tem. - Rehv veio. - Eu apenas...
Foi perturbador ver um macho tão grande, que era conhecido por sua arrogância impertinente, parecer tão derrotado.
Trez teve de cortar a compaixão ou isso iria deixá-lo para baixo. - Olha, você não tem de dizer mais nada. Francamente, prefiro que não faça. Não por nada, eu
preciso ficar focado onde estou agora, Selena descerá aqueles degraus e não posso ficar frustrado em minha mente hoje à noite.
- Compreendido. Mas vou te abraçar.
- Por favor não, oh, não, qual é, homem...
Quando foi envolto em pele, ele endureceu, e se sentiu como um idiota. Porra, o cara só estava sendo verdadeiro, mas, maldição, tudo que Trez queria fazer era
correr para a sala de bilhar. Talvez bater ele mesmo em sua cabeça com um taco de bilhar.
Até a maldita coisa quebrar.
Sua cabeça, não o taco.
- Uau, essa coisa é suave, - ele disse, acariciando o casaco.
Rehv recuou. - Irei subir para o quarto de hóspedes. Estou exausto e Ehlena esteve acordada o dia todo com Luchas. Acho que nós vamos dormir a noite inteira.
- Soa como o céu para mim.
Momento. Estranho.
- Você precisa parar de olhar para mim assim. - Trez esfregou seu rosto. - Ela não está morta ainda.
- Eu sei, eu sei. Desculpe. Deixarei você sozinho.
Rehv bateu-lhe nas costas e, em seguida, foi em direção à escadaria principal, subindo com a ajuda daquela bengala. E visto que Trez ficou onde estava, ele percebeu
por que não caçara seu irmão para conversar sobre as coisas. Normalmente, ele e iAm já teriam se falado oito vezes, e ainda eram só sete horas da noite.
Mas, se Rehv sendo um bom sujeito conseguiu entrar em sua pele, Trez realmente não seria capaz de lidar com essa merda com seu irmão de sangue agora. Ele mal
estava se segurando, um olhar nos olhos negros de iAm?
Ele tinha medo que não poderia colocar as coisas de volta nos escombros.
Às vezes, a honestidade era muito...
Oh, foda-se. Ele seriamente estava citando Muzak dos anos setenta agora?
Andando, andando, andando. Ele e Selena combinaram de sair às sete e trinta, e ele planejara ajudá-la até o carro. Isso tinha sido um grande estúpido não, no
entanto: Uma boa hora atrás, ele foi até o terceiro andar para verificá-la, mas Xhex barrara sua entrada e informou-o que ele não era bem-vindo em seu próprio quarto.
Então a guerreira lhe jogou um dos seus ternos pretos, junto com uma camisa preta de botão, sapatos pretos e meias de seda, e seu relógio Audemars Piguet todo preto.
E bateu a porta em seu rosto.
Fêmeas. Honestamente.
Mas, ele trocara suas roupas. Como um bom menino. E desceu até aqui para esperar.
Assim que a figura decorada de Rehv desapareceu acima, Trez tirou seu telefone e verificou suas mensagens. Esperava encontrar algo de iAm, mas, típico do seu
irmão, o cara sabia quando ele precisava de espaço e estava lhe dando isso.
Ele disparou uma atualização rápida para o macho, contando-o que estava saindo com Selena e que ele apareceria na base mais tarde quando voltassem. Então, entrou
em contato com Big Rob e Silent Tom, e informou-os para encaminhar tudo que tivesse a ver com os clubes à Xhex, assumindo que ela poderia se livrar da coisa da maquiagem
exagerada acontecendo em seu quarto. Ele estava quase guardando o telefone, quando viu que faltou uma mensagem.
De Rhage.
O Irmão alcançou e...
- Ei, estamos prontos para ir? Onde está a sua fêmea?
Falando em Hollywood. O Irmão em questão veio correndo abaixo a escadaria principal, as armas chiando como sinos de Natal humano nos vários coldres que ele ainda
tinha amarrado em seu corpo.
- Acabei de ver sua mensagem, - Trez disse. - Desculpe por não ter respondido.
- Você tem merda em sua mente. Tá tudo bem.
Os dois bateram as palmas. Reviradas em cima. Ombros batidos. Recuaram.
- Olhe para você. - Rhage andou ao redor. - Parece ótimo.
Trez estalou fora seus punhos franceses. - Eu não posso envergonhar a fêmea.
- Parecendo assim, ela será sortuda em estar ao seu lado. - Rhage parou na frente dele. - Veja, isso é o que digo à minha Mary. Ela quer que eu adicione cor
no meu guarda-roupa, tem sido uma coisa, tipo, pelos últimos dois anos.
Quando o Irmão estremeceu como se sua shellan tivesse sugerido que vestisse calcinhas debaixo de seus couros, Trez começou a sorrir.
- Você tem interesse no negro, Hollywood? - Ele disse.
- Ela quer combinar com os meus olhos. - Rhage apontou para os seus olhos inacreditavelmente azul-petróleo. - Tipo, seriamente. Digo, eu já tenho água em mim
o tempo todo com essas coisas. Por que precisamos de redundância.
- Então o quanto de cor tem em seu armário?
- Não quero conversar sobre isso. Muito deprimente...
Lassiter enfiou sua cabeça para fora da sala de bilhar. - Ei! Menino dragão, Project Runway está passando se você quiser vir assistir. Talvez pegar algumas dicas
sobre suas tendências.
O olhar de Rhage estreitou, mas se recusou a olhar para o anjo. - Não há uma maratona de "Uma galera do barulho" que você tenha de assistir?
- Não odeie o Zack. Ele é como seu maldito irmão pequeno, rainha da beleza. - Lassiter vagueou, o ouro que ele tinha criava uma aura ao redor da sua cabeça loira-e-preta
e seu corpo longo, ou talvez o brilho fosse realmente uma aura. - Então, para onde vamos? Seu clube, Sombra?
- Não.
- No baile do embalsamador, então? Com todo esse preto, é como se você estivesse interessado nas artes fúnebres...
Rhage moveu-se tão rápido que era impossível localizar. Em um momento, ele estava friccionando seus dentes ao lado de Trez; no próximo, ele estava cara a cara
com o anjo, sua mão trancada na garganta de Lassiter.
Palavras foram ditas muito suavemente, Trez não podia segui-las, mas um momento depois o espertinho drenou o rosto e a atitude do anjo.
Rhage soltou o aperto e se afastou. - Então isso aconteceu, - ele murmurou quando voltou e começou a se recuperar. - Poderia muito bem continuar com essa merda.
Estou montando espingarda com Manny hoje à noite.
- Oh, sim. - Trez respirou fundo. - Ei, obrigado por fazer...
- Mas, só porque ele me prometeu bife.
Trez arqueou uma sobrancelha. - Desculpe?
- Bife? Sabe, vaca? Carne? Paraíso em um prato? Eu sei que comeu algum antes.
- Estou familiarizado com isso, sim. Mas você virá para ajudar...
- O consumo de bife. É por isso que irei.
Houve uma pausa estranha. Durante a qual Rhage simplesmente olhou-o fixamente, como se estivesse fazendo uma declaração de que ele não seria uma zona de drama.
E, Jesus, essa era provavelmente a coisa mais útil que o Irmão poderia ter feito. Era como uma tábua de salvação saindo da zona sentimental de merda, e Trez
se agarrou nisso.
- Bife, huh. Você irá pedir o serviço de entrega do Circle the World?
Rhage recuou como se tivesse sido estapeado. - Então, certo, claramente você não está ciente disso, o que é um lapso atordoante em sua educação formal, mas a
melhor steakhouse em Caldie, a 518, é exatamente do outro lado da rua do arranha-céu que está o seu restaurante. Meu plano? Enquanto você e sua garota estão lá em
cima se divertindo e andando em círculos, eu estarei no térreo comendo, tipo, um filet mignon, um rosbife enorme, um hambúrguer de carne Kobe, uma carne de corte
nova iorquino.
- Parece bom. Qual deles você comerá? Já decidiu?
Rhage franziu a testa. - Todos eles. Com uma porção de purê de batatas. Veja, você tem de ter a proporção purê-carne correta. Faz toda diferença. E então há
os pãezinhos. Conseguirei três cestas entregues.
Trez levantou seu dedo indicador. - Sabe o que você precisa? Uma refeição no Sal's. Você deveria ir comer na taberna do meu irmão.
- É italiana?
- Sim. Estou falando sobre o melhor na cidade...
- Merda, por que eu não...
- Puta... Que pariu...
Com a maldição que Lassiter latiu, Trez e Rhage olharam para o anjo. O imbecil não os notou, porém, seus olhos extraordinariamente coloridos focados para cima,
como se a Segunda Vinda de Cristo tivesse chegado ao topo da escadaria principal.
Só então, um perfume revelador alcançou o nariz de Trez e disparou através do seu sangue, o impacto deturpando sua cabeça e seu corpo...
Diante disso, ele perdeu todos os pensamentos. Toda respiração. E toda sua alma.
Selena permaneceu no topo dos degraus com o carpete vermelho-sangue, sua mão adorável descansando no corrimão folheado a ouro, seu corpo mantinha-se rígido,
como se ela não estivesse certa sobre seus sapatos, ou seu vestido, ou talvez até mesmo o seu cabelo.
Não havia absolutamente nada para se preocupar.
A menos que ela tenha um problema em ser uma arma de sedução.
Seu cabelo escuro longo descia ao redor dos seus ombros, caindo para baixo em suas costas. Enrolado da ponta até a base, era uma glória tão feminina, tão avassalador
com o seu peso e o seu brilho, que ele empunhou suas mãos e soltou porque queria tocá-lo, acariciá-lo, cheirá-lo. Mas, isso não era a metade de tudo. Seu rosto era
a única coisa que poderia possivelmente envergonhar as coisas, sua pele radiante, seus olhos cintilantes, seus lábios carnudos vermelhos como sangue.
E então existia o maldito vestido.
Preto. Corte simples. Com um corpete decotado e uma saia que terminava no meio da coxa.
Muito quente. No meio da coxa.
Selena estendeu um pé, um delicadamente calçado, em salto alto que estava conectado a um tornozelo pequenino e uma panturrilha perfeitamente curvilínea que o
fez ranger os dentes.
Ele teve de engolir em seco quando ela começou a descer lentamente, cada passo que ela dava levava-a para mais perto dele poder tocá-la, beijá-la... Tomá-la.
Homem, aquele vestido era um knockout absoluto, nada além de um revestimento que seguia os contornos dos seus quadris, sua cintura, e seus seios, com um ajuntamento
fora de um lado no meio dela e um segundo em seus ombros. Ela não usava joia de modo algum, mas por que usaria? Não existia nenhum diamante, nenhuma esmeralda, nenhum
rubi, nenhuma safira que poderia chegar perto da sua perfeição devastadora.
Quando alcançou a parte inferior dos degraus, ela hesitou, olhando para a esquerda e direita, provavelmente para Lassiter e Rhage, eles estavam ainda no hall
com ele? Quem sabia. Porra, quem se importava?
Selena alisou o... Isso era seda? Lã? Tafetá?
Papel de alumínio? Saco de papel?
Ela estendeu a mão e empurrou o cabelo. Em seguida, fez uma careta. - Você não gosta, né. Posso mudar. Eu iria vestir...
Algo o bateu na lateral.
- ... Vestido tradicional. Mas as meninas acharam que... - Ela olhou por cima do seu ombro para as fêmeas que permaneceram no topo dos degraus. - Eu posso mudar...
Lassiter amaldiçoou. - Caralho não. Não ouse. Você parece...
O lábio superior de Trez enrolou em suas presas baixas. Então ele estalou sua mandíbula na direção do anjo caído, como um Pastor alemão. Ou talvez um tubarão-touro
fazendo um teste de mordida antes de atacar como uma motosserra a sua presa.
Lassiter pôs as mãos para cima. - Qual é, cara, eu iria dizer que ela parece um caso de caridade. Um árbitro de futebol. Uma imitadora de Martha Stewart. Você
quer que eu continue? Eu poderia começar com os personagens idiotas da Disney. Há muitos deles.
Aquela cotovelada em sua costela veio novamente. Então Rhage se inclinou. - Trez, - o Irmão silvou. - Você tem de dizer alguma merda aqui.
Trez clareou a garganta. - Eu... Eu... Eu...
Ele estava vagamente ciente das fêmeas no segundo andar estourando em altos "toca aqui" e gritos de "acertamos em cheio". Mas, sua rainha permaneceu preocupada.
Certo, ele precisava se recompor, antes que o cotovelo de Rhage o acertasse no fígado novamente e Selena disparasse de volta para o seu quarto. - Você está...
Eu estou...
Ele puxou a gola de sua camisa de seda, mesmo que a coisa estivesse escancarada.
- Você gosta? - Ela disse.
Tudo que podia fazer era acenar com a cabeça. Ele era literalmente nada, além de hormônios em um terno preto. Ela era bonita assim para ele.
- Realmente?
Mais movimentos com a cabeça. - Uh-huh. Realmente.
Selena começou a sorrir. Então ela olhou de volta para as fêmeas, que pulavam para cima e para baixo e ofereciam seus dedos polegares para cima.
Sua rainha se virou para ele. Aproximou-se. Tomou suas mãos e esticou-se para sussurrar em sua orelha - A única coisa que elas não me deram foi roupa íntima.
Nua.
Ela estava n-n-n-n-ua debaixo disso.
Capítulo TRINTA E UM
Sem dormir.
Paradise conseguiu absolutamente, positivamente não dormir nada na bonita casa. A princípio foi porque ficou muito emocionada ao percorrer o lugar, cada sala,
quarto e banheiro, maravilhada com a arte, o mobiliário, a decoração... Duas vezes. Então precisou escolher um quarto subterrâneo (escolheu o da esquerda) e desfazer
as malas, desfazer e desfazer.
Sua amada doggen, Vuchie, desenhou uma plataforma no curto corredor de paredes de pedras entre as duas suítes subterrâneas, mas Paradise insistiu com sua acompanhante
para ir pelo outro lado e se instalar no quarto real. Isto deu lugar a uma serie de protestos, que terminou com sua empregada presa entre uma ordem direta e seu
incômodo em permanecer em tal luxo; quase teve um ataque de nervos.
Por fim, no entanto, e como de costume, Paradise conseguiu sair-se com a sua.
Neste momento, ela havia se retirado ao "seu" quarto, colocou um pijama e descobriu felizmente que o wi-fi não requeria uma senha. Deitando sobre o edredom de
veludo, verificou o Twitter, Facebook, alguns blogs, o New York Post e o Daily News, e continuou ignorando as mensagens de texto de Peyton. Quando suas pálpebras
finalmente começaram a cair, colocou o telefone de lado e arrastou o edredom pela parte superior de seu corpo, a camiseta da Universidade de Siracusa e uma calça
de yoga com os quais dormiu muitas e muitas vezes.
Eeeee foi quando a coisa de não-dormir chegou com força.
Apesar de ter fechado os olhos, sua mente continuava zumbindo com o que seu pai disse que estaria fazendo ao cair da noite para ajudar o Rei.
E logo estava o fato deste primo perdido há muito tempo, sozinho com seu pai de volta em sua casa. O que aconteceria se machucasse seu pai?
Assim, então, pensou enquanto ficava em pé diante do espelho do banheiro. Não fechar os olhos... Mesmo quando suas pálpebras descerem.
A boa notícia era que a espera terminou. E seu pai lhe enviou mensagens de textos dizendo que chegaria em quinze minutos, tão claramente que lhe fez passar o
dia bem.
Era curioso, estava surpresa pelo tanto que queria vê-lo. Depois de tantos anos de rezar por um pouco de liberdade, encontrou que a experiência real foi marcada
por um pouco de nostalgia.
- Mas, agora irei começar a trabalhar.
Virando-se de lado, pegou seu casaco azul marinho. Depois puxou sua blusa branca. Brincou com seu colar de perolas.
Quando deu um passo atrás, decidiu que parecia uma aeromoça da PanAm em 1960. Como aquelas em "Prenda-me se for capaz".
- Ah vamos. - Ela arrancou o laço, prendeu o cabelo para trás com ele e guardou suas coisas. - Oh sim. Agora está bem diferente.
Não.
Soltar o cabelo talvez melhorasse a situação. Mas, de que iria adiantar, a quem queria impressionar de qualquer forma?
Bom, má pergunta para se fazer quando estava a ponto de começar em seu primeiro trabalho e não se tratava apenas de seu pai, mas do Rei de toda a Raça e sua
guarda pessoal de assassinos.
Era o suficiente para fazer uma oração à Virgem Escriba.
Ao sair de seu...
- Por favor, senhora. Permita-me preparar algo para que possa comer.
Vuchie estava em pé justo dentro do quarto, vestida com seu uniforme cinza e branco, balançando peso entre seus sapatos bege. A doggen tinha o cabelo castanho,
os olhos marrons e a pele branca como porcelana, bonita a sua maneira e provavelmente uns cinquenta anos mais velha que Paradise. As duas se conheciam desde que
Parry podia se lembrar, como acontecia com muitas filhas de pais aristocratas a relação patroa/empregada delas tinha sido cultivada formando vínculos por toda vida.
Em muitos casos, uma empregada era a coisa mais importante levada para a nova casa quando se vinculavam à um macho de privilégio ou criação similar.
Era seu vínculo com o passado. Sua lucidez. E muitas vezes, a única pessoa em quem se poderia confiar.
Cara, ela preferia muito mais essa realocação com sua empregada; por causa de um novo emprego e não algum antigo hellren.
- Estou bem, Vuchie. - Ela tentou sorrir. - Você está com fome?
- Senhora, você não teve sua Última Refeição ontem, também.
Parry não tinha intenção de dizer a verdade claramente, um amassado ou uma rusga, não deixaria nada interferir em sua nova postura de aeromoça. Este tipo de
franqueza apenas levaria a uma briga que acabaria com ela de repouso na cama e, provavelmente, Vuchie chamaria seu pai pedindo reforço.
- Sabe o que eu gostaria? - Parry forçou um sorriso. - Que preparasse algo para mim e levasse ao escritório. - Ela se aproximou e segurou o braço de Vuchie.
- Sim, vamos, vamos, faça isto.
- Mas... Mas... Mas...
- Estou tão feliz que concorde. Adoro quando estamos em sintonia.
Foi até a parte superior da escada curva de pedra, era muito bem decorada, atravessaram um retrato de tamanho natural de uma da família real francesa até onde
estava o vestíbulo.
- É tão tranquilo. - Disse Paradise, mais calma.
O lugar, como resto da casa, estava muito bem decorado, antiguidades por toda parte, setas e veludo nas paredes e pisos, inclusive as cadeiras eram cobertas
por ricos tecidos. Lembrou-a de artigos que leu na revista Vogue e Vanity Fair sobre Babe Paley e Slim Keith, os móveis eram perfeitos, os objetos de arte pequenos
caprichos de jade, ouro e bronze, cores sóbrias, mas não fracas.
- Suponho que meu pai não está aqui, no entanto.
Como se fosse um sinal, as persianas automáticas se moveram por todas as janelas, o zumbido sutil fazendo-a saltar.
- Vou até a cozinha. - Disse Vuchie. - Preparar seu café da manhã.
Quando sua empregada saiu, Paradise quase chamou a mulher de volta. Pelo amor de deus, a doggen não era uma manta de segurança.
Decidida a enfrentar o que fosse sozinha, apesar de que não sabia o que iria fazer, se aproximou e sentou-se atrás da mesa do escritório e... Brincou com o mouse,
o que a levou a uma tela protegida com senha que nem se incomodou em decifrar.
O wi-fi no subterrâneo era outra coisa. O computador ali? Era bloqueado e teria algo mais. Uma por uma ela abriu as gavetas, sem encontrar nada além de artigos
de papelaria e artigos de papelaria... E sim, mais artigos de papelaria.
Ouviu vozes pela primeira vez. Profunda. Rouca. Muito masculina.
Então a porta se abriu. E ali estava um coro de muitos, muitos pés pesados calçados com botas cruzando o umbral.
O primeiro pensamento de Paradise foi se esconder debaixo da mesa.
Os membros da Irmandade da Adaga Negra estavam na casa, todos eles vestidos de couro negro, cada um deles armados brutalmente.
Eram maiores do que se lembrava das apresentações na noite anterior. E ela não os enquadraria na categoria de zero a esquerda de forma alguma.
- ... Bombeou algumas vezes sua cabeça. - Disse um deles.
Foi como uma derrapagem de pneus quando eles pararam em seco e a olharam. Graças a Deus que estava sentada. A mesa era uma espécie de barreira entre ela e todos
os guerreiros.
- Ei. - Disse um deles, um com o sotaque de Ben Affleck. - Sua primeira noite, verdade?
Quando começou a assentir com a cabeça, seu pai passou pela porta aberta.
- Estou aqui, estou aqui! - Seu pai abriu caminho através do grupo. - Paradise, como está você?
Ocorreu-lhe que deveria ficar em pé e abraçá-lo com força. Podia fazer isto, disse a si mesma. Poderia absolutamente e positivamente fazê-lo.
De verdade.
Honestamente.
Deus havia vários homens na casa.
Gêmeos. Ela teria gêmeos.
Enquanto Layla estava na maca, esfregou seu ventre com a mão livre, a que não estava dentro do gesso que ia até acima de seu cotovelo direito. As dores de sua
queda haviam desaparecido e o osso quebrado que Manny cuidou já estava colado novamente. O gesso iria desaparecer logo. Gêmeos.
Apesar de que teve todo o dia para se acostumar as notícias, ainda estava aturdida, e para piorar as coisas, ela e Qhuinn realmente não conversaram sobre isto.
Estava mais interessado na roupa que ela iria vestir. No momento que ela entrou na camisola de flanela e seu robe rosa favorito, dormiu. Foi bom o suficiente
para colocar seu manto sobre ela e deixá-la sozinha.
Estava irritado com ela? Pensava que ela estava mentindo sobre onde ia de carro em seus passeios?
Maldição, como diriam os Irmãos...
Uma batida na porta a fez levantar a cabeça. - Sim?
Como se houvesse lido sua mente, Qhuinn colocou o torso forte no quarto.
- Ei. Apenas queria vê-la antes de sair esta noite. Como se sente?
Layla respirou fundo e tentou manter o rosto em branco.
- Estou bem. E você?
- Bem.
Uma longa pausa. Isso fez com que seu coração acelerasse.
- Então, obrigada pelo manto. - Ela acariciou o tecido. - Realmente apreciei. Acabo de acordar, mas vou devolvê-lo.
Depois de um momento ele entrou, apoiando-se na porta fechada. Seus olhos diferentes subiram por seu corpo algumas vezes, sutilmente.
- Então, como está? - Disse. - Você sabe, com a coisa dos gêmeos.
- Bem. Quero dizer, foi um choque... - Ela encolheu os ombros. - Mas, estou me ajustando. Estou feliz. Dois, uma benção. Claro.
- Bom. Sim. Uh, hum.
Silêncio. Que foi preenchido por ele colocando as mãos nos bolsos de couro e ela brincando com a ponta do maldito manto.
Além de romper em suor frio sob os lençóis de hospital.
- Há algo que precisa me dizer? - Perguntou Qhuinn.
Os golpes nos ouvidos eram tão fortes, que tinha quase certeza que ela respondeu com um grito. - Sobre o que?
- O que estava fazendo à noite?
Obrigou-se a segurar seu olhar. - Fui dar uma volta.
- Porque suas roupas estavam cobertas de folhas?
- Desculpe?
- Sua roupa. À noite. Quando as peguei, estavam sujas e havia folhas sobre elas. Se estava caminhando pelo pátio e caiu, porque estariam assim?
Ela abaixou os olhos apesar de fazê-la parecer culpada. Por outra parte, ela era culpada.
- Layla? - Ele amaldiçoou em voz baixa. - Olhe, é uma mulher adulta. Apesar de estar carregando meu filho, não tenho nenhum direito sobre sua vida ou o que esta
fazendo, exceto em coisas relacionadas com a gravidez. Apenas quero me assegurar que esteja a salvo. Por seu bem. Pelas crianças.
Merda.
Agora era o momento, pensou. Agora... Tinha de ser o momento.
- Sinto-me presa. - Ouviu-se dizer.
Entre Xcor e a Irmandade. Entre o perigo e a segurança. Entre o desejo e a condenação.
- Imaginei isto. - Qhuinn assentiu. - Está dirigindo. Para longe.
- Caminho.
- Onde?
- Fora. - Em sua cabeça, ela tentou uma variedade de confissões, com substantivos e verbos, tentando encontrar uma maneira para descrever o que estava fazendo
sem lançar merda para todo lugar. - Fora... Pelo campo.
Qhuinn cruzou o quarto e se endireitou de frente a uma pintura de salgueiro. - As pessoas fazem isto o tempo todo. Em suas cabeças. - Disse.
Nisto tem razão, pensou.
Queridíssima Virgem Escriba queria lhe dizer. Realmente queria... Mas a revelação ficou presa em sua garganta.
Pela primeira vez, começou a ficar irritada. Consigo mesma. Com Xcor. Com toda maldita coisa.
- Tropeçou e caiu enquanto estava caminhando? - Disse.
- Sim. - Ela respirou fundo. - Fui estúpida. Caí sobre uma raiz.
Tão perto da verdade. Estava ficando irritada.
Cara, isto estava matando-a.
- A maioria das mulheres... - Qhuinn foi para os pés da cama, colocou as mãos nos quadris estreitos e olhou para seus pés. - A maioria das mulheres tem alguém
com quem passar por isto. Quero ser ele para você. Blay também quer. Nós não queremos defraudá-la.
Genial, agora sentia as lágrimas por ele duvidar que pudesse ser um apoio. - Você é incrível. Os dois são. Você é absolutamente incrível. É apenas que... Não
há muito o que fazer.
Ao menos isto não era uma mentira.
- Mas, agora com gêmeos. - Ele negou com a cabeça. - Gêmeos... Pode acreditar?
- Não. - Ela esfregou o ventre. - Não sei como vão encaixar. Já me sinto enorme e ainda tenho quantos meses?
- Ouça, por favor, estou contigo. Estou aqui para você, com tudo o que precisar.
Um estridente alarme começou a soar ao lado, os dois franziram o cenho ao mesmo tempo e olharam ao redor procurando o ruído.
- Vem do quarto de Luchas? - Perguntou. - Oh Deus meu, será que...?
Ouviu-se um grito no corredor. Vários passos. A voz de Jane dando ordens.
- Merda, tenho de ir ver. - Disse Qhuinn enquanto girava e se lançava para a porta. - Tenho de ir ajudar...
Quando ele correu para o quarto de seu irmão, Layla sentou-se. Ficou em pé. Estabilizou-se. O que estava acontecendo ao lado era ruim. E ela estaria condenada
se Qhuinn iria enfrentá-lo sozinho.
Capítulo TRINTA E DOIS
Ao sentar-se no banco de trás do gigante Mercedes, aquele que Fritz dirigia e estava, de fato, dirigindo, Selena sorria tão largamente que suas bochechas estavam
insensíveis e sua mandíbula doía.
À frente do sedã, os arranha-céus de Caldwell brilhavam como as sentinelas míticas de algum reino de fantasia e ela se inclinou para a janela, tentando ver aquele
para o qual se dirigiam, o mais alto dos gigantes, o ápice de todos.
- Mal posso esperar para ver a vista lá de cima, - ela se virou para Trez. - Estou tão excitada.
Quando ele não respondeu, mas só continuou a encará-la, ela sorriu ainda mais. O macho não desviara o olhar desde que ela descera as escadas, os olhos vagando,
sempre vagando, nos lábios dela, nos seios, as coxas e pernas, de volta ao cabelo, rosto, garganta.
A excitação dele estava saliente à frente das calças pretas. E mesmo que ele tentasse, repetidas vezes, colocar o paletó, o braço ou uma mão no colo de forma
casual, ela conseguia sentir o sexo dele tão claramente como se ele estivesse nu.
Ela se inclinou, se aproximando. - Me beija?
- Não confio em mim esmo.
- Que terrível. - Esticando-se, ela mordiscou o lóbulo da orelha dele, - Perigoso...
O grunhido que vibrou pelo peito dele foi a coisa mais erótica que ela já havia ouvido.
- Talvez devêssemos cuidar disto? - Quando ela pousou a mão sobre seu sexo, ele pulou e praguejou. - Isto é um "sim"?
Enquanto ele se apoiava no banco e jogava os quadris ao encontro da mão dela, ela olhou para a frente do carro, que, dado o tamanho, parecia estar em outro código
postal. Fritz estava concentrado na estrada, seu rosto velho e enrugado, preocupado. Talvez pudessem...
Sem tirar aqueles olhos escuros dela, Trez remexeu com a mão na porta. Um segundo depois, houve um som de whhhrrrring e uma partição opaca se elevou, isolando-os
do gentil chofer.
- Não temos muito tempo, - ela disse, ao afastar o braço dele.
- Não será preciso muito tempo.
Do bolso sobre seu peito, ele tirou um lenço branco dobrado e, com um rápido chacoalhar, liberou-o de seu rigor engomado.
Ao mesmo tempo em que ela liberou sua ereção.
Ela estava em meio a decisão de cair de boca nele, mas ele segurou seu rosto entre as mãos e beijou-a, a língua penetrando fundo, encontrando a dela.
Ele estava duro e quente, aveludado e grosso, e ela deslizou um agarre em volta de seu pau, bombeando. Quanto mais acariciava, mais doido o beijo se tornava,
até a pélvis dele estar convulsionando contra ela, e seu peito arfando, e ela estava respirando com tanta dificuldade quanto ele.
Quando ele gozou, gritou o nome dela e baixou aquele lenço para conter sua explosão... E ela estava tão excitada, tão tonta com a sensação da boca dele sobre
a sua e os movimentos de sobe e desce, sobe e desce da sua mão contra o sexo dele, que sentiu um intumescimento entre suas próprias coxas, uma resposta do próprio
corpo ao que ela estava fazendo nele... Que era tão pouco perto do que realmente queriam.
Seu próprio orgasmo foi uma surpresa, e ela se entregou, absorvendo as garras afiadas do prazer, tornando-as mais fortes ao apertar as coxas uma contra a outra
e esfregar. Enquanto isto, ela continuava as carícias rítmicas, apertando a ponta, trabalhado sua extensão.
Quando acabou, Trez caiu contra o banco, pálpebras baixas, lábios entreabertos, cabeça caída para o lado como se não tivesse força para endireitá-la.
- É isto o que chamam de rapidinha? - Ela sussurrou ao pressionar os seios contra o peito dele para beijá-lo.
Antes que ele pudesse responder, ela correu a língua ao longo de seu lábio inferior, então sugou-o. Afastando-se, ela disse, - Hmm? É?
- Cuidado, fêmea, eu posso arrancar este vestido que está usando.
- Isso seria ruim?
- Se outro macho te vir nua, sim. - Ele sorriu e correu uma das presas pelo lábio inferior. - Eu sou possessivo.
- Você ainda está duro, não está?
Com um rápido agarre na nuca dela, ele puxou-a para perto e beijou-a violentamente. Embora ela estivesse no controle da primeira parte, agora ele assumiu o controle,
dominando o corpo dela, enfiando uma mão entre os joelhos, e acima para a...
Ela gozou contra os dedos dele assim que eles a penetraram, seu núcleo explodindo em ondas após ondas de prazer.
- Esta é minha rainha, - ela ouviu-o dizer através de uma vasta distância. - Goze para mim...
Ela perdeu as contas do quanto ele a provocou com aquele toque talentoso, mas eventualmente, ela tomou consciência do carro fazendo uma curva longa que a fez
escorregar no assento. Focando seus olhos vidrados pela janela escurecida, ela viu que saíam da rodovia, prontos para entrar nas complicadas artérias asfaltadas
que levavam à incontáveis arranha-céus.
- Eu arruinei o seu batom, - ele disse com satisfação, enquanto se ajeitava. - Você trouxe mais?
Agora foi a vez dela se sair com huh-quê? - Deixa eu ver se tem algo aqui. - Ela remexeu na pequena bolsa preta que Marissa havia lhe dado. - Sim, elas pensaram
nisto.
Como se as fêmeas soubessem exatamente em que tipo de problema ela provavelmente se meteria, havia um pacotinho de lenços de papel, o delineador labial que haviam
lhe ensinado a usar, e o fabuloso batom vermelho que havia passado.
- Tem um espelho ali. - Trez estendeu o braço e puxou alguma coisa do teto. - Ele acende.
Ela verificou seu reflexo e teve de rir, - É, você realmente arruinou o batom.
Um lencinho cuidou da mancha e então era caso de cuidadosamente fazer uma linha contornando sua boca, bem na hora em que o carro passou por um buraco na estrada
que era quase, mas não completamente, regular.
- Droga, - ela disse, pegando outro lenço por ter acabado com uma linha cor de rosa no nariz. - Deixa eu tentar...
Trez segurou a mão dela e a baixou. Quando ela olhou para ele, os olhos dele, seus comoventes olhos pretos pareciam estar memorizando cada detalhe dela.
- Você não precisa disto, - ele disse, - gosto mais sem.
Selena sorriu timidamente. - Sim?
- Sim. - O olhar dele desceu para o seu corpo. E voltou a subir. - Isto é maravilhoso. Você está fantástica. É a fêmea mais linda na cidade hoje, e quando entrarmos
no restaurante, os garçons vão derrubar as bandejas. Mas, quer saber o que eu mais gosto em sua aparência?
Quando ele pausou, ela se viu engolindo em seco. - O quê? - Sussurrou.
- Você mesma, minha rainha, a aparência com a qual nasceu. Pelo que me consta, a perfeição não pode ser melhorada, nem pelos homens, nem por Deus. Inclinando-se,
ele beijou-a suavemente. - Só pensei que você gostaria de saber o que o seu macho está pensando quando olha para você.
Selena começou a sorrir, especialmente ao perceber que, às vezes, "eu te amo" pode ser expressado sem necessariamente usar estas três palavrinhas juntas.
- Vê? - Ela disse suavemente, - eu disse que esta ia ser a melhor noite da minha vida.
De carona na ambulância de Manny, Rhage comia Doritos direto do pacote, e discordava totalmente do médico. - Não, eu não sou um fã de Cool Ranch. Só como Original.
- Você está perdendo. - Manny deu seta para sair da rodovia. - Não acredito que você, dentre todo mundo, pode ser tão mente fechada quanto ao sabor de seus salgadinhos.
- Mas, este é o ponto. Por que melhorar uma dádiva de Deus?
Virando o pacote, ele olhou dentro e quis praguejar. Estava chegando ao fim dos grandes, restando nada mais do que os quebrados e aquele cósmico pozinho laranja.
Não que ele não fosse comer tudo, jogando a coisa direto do saco em sua boca aberta. Mas esta era a parte não-divertida da experiência, a que não envolvia a destreza
dos dedos.
Mastigando, ele voltou a focar na traseira do carro de ditador do terceiro mundo de Fritz. Aquele Mercedes era tão grande, tão preto e tão completamente escuro,
que chamava mais atenção ao passar do que seria esperado. Só de brincadeira, Rhage imaginou o que os humanos pensariam se soubessem que havia vampiros no banco de
trás.
E que a coisa estava sendo guiada por um mordomo centenário com um pé que faria o piloto Jeff Gordon ter um ataque de ciúme.
- Viramos aqui? - Rhage perguntou ao se aproximarem da intersecção.
- É contramão.
- Como eu disse, viramos?
Manny olhou para ele. - Não, se não quisermos ser presos.
- Estamos em uma ambulância.
- Sim, mas eles não.
Oh, certo. Droga. - Sabe, eu realmente queria ligar as luzes desta merda.
Só que, no instante em que disse isto, sua costela afundou ao redor dos pulmões e ele acabou tendo de baixar a janela um pouquinho para deixar entrar um pouco
de ar.
- Você sujou minha porta de nachos?
Rhage esfregou a mancha alaranjada com o antebraço - Não.
Eles continuaram grudados no pára-lama de Fritz igual a um selo em um envelope, virando a esquerda, afastando-se do rio, indo diretamente para o coração do distrito
financeiro. Sem becos escuros. Sem caçambas de lixo. Sem lama, mesmo nos meses chuvosos. E sem o cheiro nojento dos restos apodrecidos de restaurantes xexelentos.
Aquela era a parte chique da cidade, onde pessoas vestiam ternos e corriam por todo canto, canalizados como gado no curral, a seus lugares de Trabalho Urgente
e Importante.
O prédio que abrigava o restaurante onde eles estavam indo havia sido concluído um par de anos antes, e seus construtores alardeavam a enorme ascensão vertical
como o prédio mais alto em Caldwell. Abarrotado com os quartéis-generais de grandes negócios, para ele, não passava de um gabinete cheio de humanos, cada um guardado
em pequenos compartimentos.
Enfadonho.
- Você está bem?
Rhage olhou para o médico - Huh?
- Qual o problema?
- Nada.
- Então porque parou de comer? O pacote ainda não está vazio.
Rhage olhou para baixo. Verdade, ele deixara os restos onde estavam... E não tinha vontade nenhuma de terminar. - Ahhh...
- Está cuidando do peso?
- Sim. É isso.
Quando amassou o pacote, deixou manchas alaranjadas por todo o rótulo e embalagem, até a coisa parecer cheia de hematomas por maus tratos.
Então viu que a sua própria mão estava laranja. - Merda, não tenho como limpar.
- Tá brincando? - Manny jogou uma gaze para ele. - Podemos limpar e polir metade desta cidade com o que tenho aqui.
Rhage abriu o pacote e limpou-se; então jogou tudo na lixeira que havia entre os assentos.
Manny desacelerou ao chegarem ao prédio de vidro, então estacionou do outro lado da rua quando Fritz parou completamente diante da entrada iluminada, os faróis
traseiros do Mercedes brilhando vermelhos.
Um momento depois, Trez saiu e deu a volta no sedã, o vento forte tremulando seu paletó antes de ele se abotoar, exibindo as .40 gêmeas que havia colocado no
suporte sob seus dois braços.
Com um movimento galante, ele abriu a porta para sua fêmea, e Selena emergiu da traseira, os cabelos incríveis oscilando como uma bandeira negra para lá e para
cá.
- Casal bonito. - Manny disse baixinho.
- Ela nem parece doente.
- Eu sei.
Trez enganchou o braço no dela, e acompanhou-a pelos degraus de granito acima e, quando outro casal saiu pela porta giratória, ambos os humanos pararam e os
encararam.
- Manny.
- Sim?
- Você tem de fazer alguma coisa, cara. Você precisa descobrir que merda é essa e resolver isto para eles.
Manny ligou o motor, e o motor turbinado do RV acelerou, levando-os adiante, para contornar até os fundos do prédio.
- Você me ouviu? - Rhage exigiu.
- Sim, ouvi. - Manny respirou fundo - Sabe o que é o mais difícil de se aprender na medicina?
- Bioquímica?
- Não.
- Anatomia humana? Porque é nojento.
A seta fazia um som de nuk-nuk-nuk quando o médico anunciava ao mundo, ou pelo menos a esta rua, que virariam à esquerda de novo, em torno da base do arranha-céu.
- O mais difícil é entender que há situações onde não há nada que se possa fazer.
Rhage esfregou os olhos. Algo de seu subconsciente estava voltando a ele, algo que não queria.
- Rhage?
- Huh?
- Você fez um som engraçado aí.
Quando Manny voltou ao compartimento de serviços, ele executou uma elegante manobra em K de modo que a traseira do veículo ficasse colada ao prédio. Desligando
as coisas, ele se virou no assento.
- Tem certeza que está bem?
- Oh, sim. Uh-huh.
- Você não parece bem. E veja só o que eu estou usando: jaleco. Sabe o que isto significa.
- Que você gosta de sair de pijamas em seus passeios?
- Que eu sou um médico e sei do que estou falando.
- Deixe de paranóia, grandão.
Houve um intervalo ínfimo de silêncio. Então Manny disse, - Não há nada que eu não faria para ajudá-los. Nada.
Agora foi a vez de Rhage virar-se. - É o que eu precisava ouvir, Dr.
- Só não coloque sua fé em milagres, Hollywood. É uma aposta perigosa.
- Aconteceu para mim e Mary. Na hora em que precisamos, um milagre aconteceu.
Manny olhou para fora, através do pára-brisa... E não pareceu estar vendo nada da rua escura à frente. - Eu não sou Deus. E nem a Jane.
Rhage voltou a encostar-se a seu assento. - É preciso ter fé. Eles só precisam ter fé.
Capítulo TRINTA E TRÊS
Quando a porta da cela voltou a se abrir, iAm virou-se. Mas, ainda não era s'Ex. E não era mais uma cama. Nem mais livros que ele não iria ler, ou cobertas que
não usaria, ou travesseiros para os quais, não ligava a mínima.
Era a serviçal com outra refeição.
- Ah, qual é! - Exclamou ele, meneando a mãos. - Onde, caralho, está s'Ex?!
A fêmea não disse nada; simplesmente avançou com aquela sua bandeja enquanto a porta deslizava de novo para seu lugar, isolando-os juntos.
Quando ela se ajoelhou, ele quis gritar. E gritou.
- Eu não vou comer porra nenhuma! Jesus Cristo, qual o problema de vocês?
A única coisa que o impedia de marchar até ela, pegar aquela porra de comida e jogá-la do outro lado do quarto, era o fato de não ser culpa da maichen. A traição
de s'Ex não tinha nada a ver com ela, e aterrorizar a maldita serviçal não ia deixá-lo nem um pouco mais próximo da liberdade ou de seu retorno para Trez.
Ela era uma vítima inocente, pega no meio desta merda, do mesmo jeito que ele.
Exalando em um rompante, ele baixou a cabeça. Levou-lhe alguns momentos até recobrar um mínimo de controle. - Desculpe.
Diante daquilo, a cabeça dela ergueu-se um pouco, e por um momento, especialmente quando seu aroma o atingiu, ele desejou poder ver os olhos dela.
Qual será o formato deles? Como seriam os cílios? Seriam as íris tão escuras quanto às dele...
Por que caralho ele estava pensando nisto?
Afastando-se dela, começou a perambular. - Eu tenho de sair daqui. O tempo está acabando.
Quando ela inclinou a cabeça para o lado, em sinal de questionamento, ele pensou, Não. Não vou fazer isto.
Ele indicou a bandeja. - Se quiser, deixe a comida aí que eu jogo na privada, para que não se encrenque por não me alimentar.
E foi quando ela falou - Não está envenenada.
Sem nenhum bom motivo, aquelas três palavras, em nada especiais, o fizeram congelar. A voz dela era mais profunda do que ele havia imaginado; toda a subserviência
dela parecia combinar melhor com algum tom super feminino de alta oitava. E havia aquela tonalidade baixa e rouca... Que o fazia pensar em sexo.
Sexo rude. Do tipo que deixava as fêmeas roucas de tanto gritar o nome de seu amante.
iAm piscou.
De repente, sentiu vontade de cobrir o corpo nu. Que era, tipo, besteira, não era? Ele sabia que ela era uma fêmea o tempo todo e, não era como se jamais tivesse
usado roupas na frente dela.
Cedendo ao impulso, ele foi para trás do biombo, na direção da pilha de toalhas que ficava perto da banheira embutida. Ao enrolar uma em volta dos quadris, sentiu-se
como se desculpando por ter ousado andar com o pau ao vento.
Quando ele voltou, ela novamente provava a sopa e o pão.
- Pode parar. - Ele disse. - Não vou comer.
- Por quê?
De novo, aquela voz. Mesmo em poucas palavras desta vez.
- Tenho de sair daqui, - murmurou ele. Por uma muitos motivos. - Eu tenho de sair.
- Tem algo a sua espera?
Ele pensou em Trez e Selena. - Só morte. Sabe, não é nenhum fodido grande problema ou coisa assim.
- Como é?
- Ouça, preciso que vá embora. E não volte até trazer s'Ex com você.
- Quem?
Eeeee ele parou de novo. Serviçais jamais eram imperativas, mas era assim que ela soava. Então, de novo, as emoções dele estavam tão elevadas, que ele se sentia
capaz de interpretar praticamente qualquer coisa agora... E pular para a conclusão errada.
- Eu voltei aqui para procurar ajuda, está bem? - Ele ergueu as mãos. - s'Ex me disse que me ajudaria a entrar no palácio, para que eu pudesse pesquisar nos
registros dos curandeiros.
- Ajuda para quem?
- Para a companheira de meu irmão.
A cabeça da serviçal se ergueu argutamente. - Mas ele não é o companheiro da Princesa aqui? Ouvi dizer que ele era O Consagrado.
- Ele se apaixonou. - iAm deu de ombros - Acontece. Ou é o que dizem.
- E é ela quem está morrendo?
- Ela não está bem.
Ele voltou a perambular, podia sentir os olhos por trás daquela malha seguindo-o. - Então é por isto que eu preciso sair. Meu irmão precisa de ajuda.
- Ele está na cerimônia de luto. O carrasco.
iAm desviou o olhar e, então, voltou a andar pela cela. - Sim, eu sei, mas ele disse que teria liberdade suficiente para me encontrar no exterior. A viagem seria
mais curta, agora que estou dentro do próprio palácio.
- Mas, esta é a questão. Ele partiu e ninguém sabe para onde ele foi. O palácio queria que ele participasse. O palácio... Insistiu que ele atendesse à Rainha.
Ele está com ela agora.
Que sorte a dele. - Mas há intervalos nos rituais, não há? Não pode procurá-lo durante estes intervalos?
- Bem... Talvez eu possa te levar aos registros?
iAm voltou lentamente sua cabeça, - O que você disse?
Mais. Longa. Viagem. De. Elevador. Da. Vida. Dele.
Enquanto Trez permanecia em pé, ao lado de Selena em uma câmera de tortura de paredes envidraçadas, encarava resolutamente as portas fechadas... E rezava para
que algum tipo de fenda do tempo estilo Dr. Who, o tirasse daquela maldição naquela porra de minuto.
Com os globos oculares grudados na fileira iluminada de números acima das portas cromadas, ele queria vomitar.
... 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50...
O "44" ainda estava por ser iluminado, porque eles estavam na parte super-hiper-mega-expressa-e-rápida daquele alegre passeio.
- Oh, você precisa ver isto! - Selena disse, virando na direção do fornecedor gratuito de vertigem. - Isto é tão divertido!
Um rápido olhar por sobre o ombro e ele quase gritou. Sua linda rainha não tinha apenas se aproximado do vidro, mas estava com as palmas das mãos apoiadas nele,
e se inclinava para a vista cada vez mais alta.
Trez virou-se novamente. - Quase lá. Estamos quase no topo.
- Podemos descer e voltar a subir? Fico imaginando como é a descida.
Na verdade, talvez eles devessem voltar ao saguão. Ele tinha quase certeza que sua masculinidade havia ficado lá quando esta subida de foguete se iniciou.
- Trez! - toc, toc, toc em seu antebraço, - Olhe para isto.
- Ah, é... É incrível... Sim. Absolutamente.
Eles jamais chegariam aos quatrocentos e quarenta e quatro andares. Muito menos no nível cinco mil porrilhões onde o caralho do restaurante ficava.
McDonald's, ele pensou. Por que ela não queria ir ao Mickey D. ou ao Pizza Hut, ao Inferno do Taco Bell...
Bip!
Diante do som, ele preparou-se para um momento Duro de Matar onde algum supervilão em um elegante terno inglês explodiria o prédio todo.
Não. Bip! Quarenta e cinco. Bip! Quarenta e seis.
E, mais boas novas vieram quando aquela viagem aos céus se tornou mais lenta.
- Trez?
- Mmm?
- Tem algo errado?
- Só estou faminto. Oh, meu Deus, não posso esperar para chegar lá.
Ela enfiou o braço sob o dele e encostou a cabeça contra seu tríceps. - Você realmente sabe como tratar uma fêmea.
Claro que ele sabia. Por exemplo, tinha certeza absoluta de que não seria considerado nada romântico se deitar em posição fetal e sugar o dedão porque era um
covarde em se tratando de altura.
Bing! E as portas se abriram.
Obrigado, menino Jesus, para usar uma frase de Butch.
Agora, ele disse a si mesmo, controle-se, seu covarde e concentre-se na sua fêmea.
Exibindo à sua rainha um sorriso Cary Grant cheio de presas, ele acompanhou Selena para fora da armadilha da morte, para um lobby de mármore que, por uma fração
de segundos, levou-o de volta ao seu pesadelo no s'Hisbe: havia pedras pretas brilhantes demais nas paredes, chão e teto, com luzes embutidas no teto e nada mais.
- Trez?
Estremecendo, ele sorriu para ela - Está pronta?
- Oh sim.
Uma discreta placa em preto sobre preto, com uma seta indicava o caminho para o restaurante, mas seus sentidos aguçados de audição e olfato já havia lhe dado
aquela informação, obrigado. Ao se dirigirem para lá, um casal humano passou apressadamente por eles, os saltos altos da fêmea como um "Foda-se" expressado a cada
passo que ela dava.
- ... Sem reserva? - Ela sibilou - Como pode não fazer a reserva?
O homem próximo a ela olhava para frente. Com o olhar de alguém preso perto de uma criança de três anos em um ônibus.
- Não acredito que não fez a reserva. E tivemos de sair deste jeito. Na frente de todo mundo...
Enquanto ela continuava marchando naquele mesmo tema, os olhos do homem se fixaram em Selena... E o pobre bastardo recuou em admiração como se um anjo vivo tivesse
aparecido em sua frente.
Depois de Trez afirmar ao seu macho vinculado interior que uma entrada apropriada não incluía Filé ao Molho de Fodido Intrometido, lembrou que também ele, havia
se esquecido de ligar antes para fazer a reserva. Merda. Ele se esquecera totalmente de pedir a Fritz para fazer a maldita ligação. E controle de mente funcionava
em humanos, inclusive nos esnobes maitres, mas, isso não resolvia o fator indisponibilidade de assentos vazios.
Ahh...
- Sabe, eu ouvi que a comida aqui não é tudo isso, - ele disse, entorpecido.
- Tudo bem, estou aqui mais pela vista.
A entrada do Circle the World não era indicada por nenhum letreiro, como se, caso fosse necessário perguntar, você não devia estar ali. Tudo o que havia era
um par de portas de vidro escuro, tão largas e altas como uma casa térrea.
Segurando as maçanetas negras, ele empurrou uma das portas e deixou Selena entrar.
Restrição total.
Aquela foi a primeira impressão do lugar: preto brilhante em todos os cantos, das mesas e cadeiras geométricas aos suportes quadrados que apoiavam o teto. Sem
flores. Sem velas. Nada espalhafatoso. E a noite escura além de todas aquelas janelas? Também preta, de forma que não parecia haver divisão entre o céu e o interior.
O único toque de extravagância? As luzes LED ondulantes que se dependuravam daquele teto aberto em cabos negros, sua luz cintilante refletindo todo aquele alto
brilho.
Oh, e havia uma soprano cantando em um canto, sua voz doce espalhando-se por todo o lugar.
- Eu nunca vi nada disto, - Selena suspirou, - é como se houvessem estrelas por todo os lados.
Ele olhou em volta - É.
Está bem, cadê o cavalheiro em roupa de pinguim encarregado de mandar embora um monte de gente cheia de grana? Não havia nenhum maitre à entrada. Só nove metros
de tapete preto levando à primeira fileira de mesas minimalistas.
- Estão olhando para nós.
Diante das palavras sussurradas, ele franziu o cenho e encarou os frequentadores. Bem, quem diria. Cada um dos humanos às mesas parecia haver parado de comer
e olhavam na direção deles...
De repente, uma mulher se aproximou. Como a decoração, ela estava toda de preto, e mesmo o seu cabelo era um capacete liso e molhado de alto brilho.
- Como vão, - ela disse, com um sorriso amplo. - Bem-vindos ao Circle the World.
E agora iremos nos autodestruir em três... Dois... - É... Eu não liguei antes...
- Oh, Sr. Latimer, sim, ligou. Seu representante, Sr. Perlmutter nos avisou que nos agraciaria com sua presença. Temos imenso prazer em acomodá-los perto das
janelas.
Pooooooorra.
Obrigado, obrigado, Fritz, mordomo salva-vidas supremo... Que havia claramente cuidado das coisas.
Quando sua rainha ficou radiante, a mulher indicou o caminho através do salão aberto... E quando a seguiram, Trez percebeu que eles haviam entrado em um vasto
prato que girava lentamente: o restaurante inteiro se movia em volta do eixo central do elevador e do que devia ser o espaço da cozinha.
Eles foram diretamente à beira. A uma mesa para dois que tinha uma das suas generosas laterais diretamente contra o vidro.
Sob o qual a cidade de Caldwell inteira se estendia, cerca de cento e vinte mil metros abaixo.
Hora de sentar, ele pensou, rezando para que seu ataque de nervosismo não fizesse seus joelhos fraquejarem antes dele acomodar apropriadamente a sua rainha.
Ajudando Selena a se sentar, ele manteve os olhos afastados ao ir para o outro lado da mesa e desabar em uma cadeira dura como pedra.
A maitre estendeu a mão pálida acima da mesa, em direção às malditas janelas. - Este será o tempero de sua refeição esta noite.
Não, o tempero será a náusea, queridinha.
Ela se voltou para o resto do local. - O interior foi desenvolvido para a noite ser o plano de fundo perfeito para saborear o que o chef servirá para seu prazer.
Quando estavam sozinhos, Selena moveu-se para perto da janela - É... Incrível. As luzes dos prédios. São como estrelas cadentes.
Trez limpou as palmas suadas no guardanapo. Preparando-se, ele olhou para lá e viu que, bem, sim, era tão ruim quanto ele imaginara. Espiar pelo vidro absolutamente
transparente, era como se nada o separasse de uma queda mortal, a ausência de bordas transformando mesmo uma fração de segundo de contato visual, em um passo aterrorizante
para dentro do abismo.
Hora de levar o guardanapo à sobrancelha.
- Trez? - Ela olhou para ele - Você está bem?
Controlando-se, ele estendeu a mão e tomou a dela.
- Já te disse como elas são lindas? - Ele murmurou.
O sorriso dela foi radiante. - Sim, mas eu nunca me canso de ouvir.
- Tão lindas, - passou suas palmas sobre as dela. Então se inclinou e pousou um beijo em sua pele. - Longas e adoráveis. Fortes também.
Quando finalmente olhou para cima, foi diretamente nos olhos dela, e foi quando as coisas melhoraram. Um momento depois, não estava mais preocupado com seu medo
de altura, nem pensava sobre os humanos ao redor, e não dava a mínima para a vista iluminada que sutilmente os rodeava.
Com a mão dela nas suas e aquele lindo rosto encarando-o, foi transportado para longe de tudo aquilo.
- Eu te amo. - Ele disse, esfregando seu polegar na parte interna do pulso dela. - Ninguém poderia fazer isto comigo.
- Fazer o que?
- Me fazer esquecer meu medo.
Ela enrubesceu. - Eu não queria perguntar, mas porque não me disse que não gosta de altura? Eu achei que ia pular para fora da pele no elevador. Podíamos ter
ido a outro lugar.
- Mas era aqui que você queria vir. Como se eu não fosse aguentar por você?
- Eu gostaria que nós dois aproveitássemos a noite.
Ele semicerrou as pálpebras - Eu me diverti no carro. Já estou imaginando a viagem de volta.
Quando o aroma dela se acendeu, ela exalou um som semelhante a um ronronar.
Mais tarde, muito mais tarde, ele se lembraria daquele momento entre eles... Do jeito que parecia que duraria para sempre, se esticando no divino infinito. Todos
os detalhes permaneceriam com ele, também, do brilho nos olhos dela, ao brilho de seus cabelos, do jeito que ela sorria para ele ao rubor nas faces.
As lembranças eram especialmente preciosas, quando eram tudo o que restava de um ser amado, para se apegar.
Capítulo TRINTA E QUATRO
- O que foi? O que... O que é este alarme?
Layla estava bem atrás de Qhuinn quando ele entrou de supetão no quarto onde o irmão estava internado e começou a falar. Por cima do ombro dele, viu a Dra. Jane
em pé, ao lado da cama, e Luchas deitado imóvel, com o camisolão do hospital erguido até a cintura, as cobertas afastadas do corpo rígido, os travesseiros caídos
no chão.
Um dos equipamentos médicos foi empurrado até a cama e enquanto Ehlena digitava algo no teclado, a Dra. Jane aplicava um par de placas diretamente sobre o peito
de Luchas.
Houve um som espremido seguido de uma pequena explosão, e na cama, seu torso convulsionou para cima.
E ainda assim, o alarme continuava soando, uma nota única, o equivalente mecânico a um grito.
- Luchas! - Qhuinn gritou. - Luchas!
Layla achou melhor detê-lo, então passou os braços ao redor do tórax largo, pressionando sua barriga contra ele. - Fique aqui, - disse ela, em um resmungo. -
Deixe-as fazerem...
- Afastar! - Dra. Jane gritou.
A cama balançou quando o tórax de Luchas convulsionou novamente, e quando voltou a cair, o coração da própria Layla trovejou. Ela não podia acreditar que estava
novamente presenciando aquilo. Ontem foi Selena, agora era...
Bip. Bip. Bip.
- Consegui uma pulsação. - Dra. Jane largou o que estava em suas mãos, jogando as placas na direção da máquina. - Preciso que você...
Ehlena obedeceu imediatamente aos comandos, à medida que a médica falava, entregando seringas cheias de medicação uma após outra, antes de encaixar uma máscara
de oxigênio sobre o rosto de Luchas e ajustar ainda mais equipamentos.
Cerca de dez minutos, ou podem ter sido dez horas, mais tarde, Dra. Jane se aproximou:
- Preciso falar com você. - Indicou o corredor mais adiante, - aqui fora, por favor.
Ao saírem do quarto, a Dra. Jane fechou rapidamente a porta, antes que esta se fechasse sozinha:
- Qhuinn, não tenho como amenizar isto. Para ele sobreviver, vou ter de amputar parte da perna, e tem de ser agora. A infecção está acabando com ele e é a fonte
dos problemas. Inferno, mesmo se eu cortar abaixo do joelho, já pode ser tarde demais. Mas, se quiser lhe dar uma chance, é o que temos de fazer.
Qhuinn nem piscou. Não praguejou. Não discutiu. - Está bem. Pode cortar a maldita perna.
Layla fechou os olhos e pousou a mão na a base da garganta, em angústia.
- Está bem. Quero que fique fora daqui. Não precisa assistir a cirurgia. - Quando Qhuinn abriu a boca, a doutora o interrompeu. - Não, não é uma escolha, se
o pior acontecer, eu te deixo entrar para se despedir. Fique fora.
Desta vez a porta se fechou sozinha, se encaixando no lugar.
Fechando brevemente os olhos, Layla não conseguia imaginar o que estavam fazendo lá dentro. Mas havia uma porção de equipamentos cirúrgicos com eles, como se
a Dra. Jane já estivesse preparada para isto.
E dada a velocidade da resposta de Qhuinn, ele também.
- Ele vai me matar, - disse ele, rudemente. - Se sobreviver.
- Você não tinha escolha.
- Eu podia deixá-lo morrer.
- Poderia viver com sua consciência se fizesse isso?
- Não.
- Então não havia escolha. - Ela colocou as mãos no rosto e tentou visualizar, em sua mente, Luchas naquela cama. - Deus, como isto foi acontecer?
- Talvez eu deva dizer a ela para parar.
- E então o que?
- Não sei. Não sei de porra nenhuma.
Eles ficaram no corredor por uma eternidade, e Layla tentou não ouvir os sons do outro lado daquela porta, especialmente quando houve um sutil whrrrring que
se parecia muito com uma serra elétrica em miniatura, sendo ligado. Ao passo que ela permanecia imóvel, Qhuinn perambulava para frente e para trás, cabeça baixa,
olhos grudados nas botas, mãos nos quadris. Depois de um tempo, ele parou e olhou para ela.
- Obrigado. Sabe, por não me deixar sozinho.
Aproximando-se dele, ela abriu bem os braços e ele se aproximou, inclinando-se para pousar a cabeça no ombro dela. Enquanto esperavam juntos, ela o abraçou porque
era tudo o que podia fazer.
Mas, não parecia suficiente.
Aproximadamente dez quarteirões à frente e cinquenta andares abaixo do Circle the World, Xcor estava em pé, rente a uma úmida parede de tijolos.
O lesser que ele e Balthazar haviam rastreado estava atrás e à esquerda de onde estava, o fedor do corpo dele subia em ondas, ao sabor de uma brisa que carregava
um forte cheiro de resíduos industriais, misturado à sujeira.
Seu corpo ansiava por uma briga, tudo o que acontecera com Layla na noite anterior, fizera os seus demônios interiores atormentarem-no tanto, e deixaram-no em
um humor tão insuportável, que os seus soldados o largaram no porão, sozinho durante as horas do dia.
Era melhor arriscar-se à luz do sol do que lidar com o mau-humor dele.
Pelo menos ele tinha ali a expectativa de uma boa matança.
Ao seu sinal, Balthazar se desmaterializou acima do asfalto úmido, se tornando uma das sombras do prédio, do outro lado da rua. A noite estava clara acima, mas
a luz do luar adicional era uma complicação desnecessária. O centro de Caldwell já tinha iluminação suficiente para ler um livro, mesmo ali onde estava, naquele
beco estreito.
Caso ele se tornasse magicamente alfabetizado.
Permanecer nas sombras não era somente parte do mito vampírico, mas uma realidade muito prudente para todos eles. Com movimentos praticados, sacou a foice de
seu suporte, liberando a arma da tira que a prendia às suas costas. Balthazar, por outro lado, que preferia armas mais convencionais, trazia uma adaga dupla, e as
lâminas pálidas iluminaram-se enquanto ele as mantinha próximas às coxas.
Ouviram sons de passos passando por eles. Rápidos, múltiplos, mas não correndo.
Dois machos humanos, com as mãos nos bolsos, pés se movendo rapidamente, desceram o beco. Eles não prestaram atenção ao passarem, e, provavelmente isto foi o
que lhes salvou as vidinhas inúteis.
E então foi questão de esperar.
Um som de passos únicos agora, em uma velocidade muito maior. Acompanhado do fedor que precedia os mortos-vivos.
Quando o lesser apareceu, dobrando uma esquina e entrando no beco onde estavam, também não prestava atenção neles. Tinha dinheiro nas mãos, soma pela qual parecia
obcecado, contando, recontando, enquanto andava.
Xcor saiu de seu esconderijo. - Quantos paus teve de chupar para receber essa grana?
O lesser rodopiou, enfiando o dinheiro em um casaco folgado. Antes que pudesse responder, Balthazar saiu de sua posição, saltando no ar e chegando ao chão com
as adagas já nas mãos. O assassino gritou quando aquelas lâminas o penetraram no ombro e garganta, provando que, embora não possuísse alma ou coração, o sistema
nervoso central dos bastardos registrava dor de forma bem eficiente.
E foi quando as balas começaram a voar.
Xcor estava se virando, preparado para lançar sua adorada foice em um gesto largo assim que Balthazar se afastasse, quando um estouro soou próximo a ele. E então
outro.
E então vários deles.
As descargas eram rápidas demais até mesmo para automáticas.
O primeiro tiro que levou foi no ombro. O segundo na coxa. O terceiro raspou seu ouvido, deixando uma ardência que parecia um semáforo piscando em vermelho brilhante
na lateral de sua cabeça.
Balthazar também foi atingido.
Não restava alternativa além de correr e rezar. Seriam humanos? Improvável, mas não impossível. Não poderiam ser lessers; eles eram tão pobremente armados, que
o armamento mais pesado que traziam aos becos era nove milímetros, e ainda assim, muito poucas.
Um rápido movimento de esquiva à direita e ele e Balthazar entraram em uma rua mais estreita, temporariamente fora da área do massacre. Aquilo mudaria tão logo
o atirador, ou atiradores, aparecesse na esquina por onde tinham vindo.
- Esquerda! - Balthazar comandou.
Precisamente, havia mais uma alternativa no labirinto de ruas para escolher, e eles se desmaterializaram no beco seguinte, ironicamente ultrapassando o par de
humanos que haviam visto antes. Os dois homens também estavam indo o mais rápido que podiam, obviamente haviam ouvido o tiroteio. Mas a velocidade deles era bem
mais lenta.
Então, quando a metralhadora dobrou a esquina, eles já tinham uma boa cobertura.
Gritos, do fundo da garganta e cheios de terror, explodiram quando a próxima rodada de fogo se abateu sobre eles, a maioria dos impactos atingindo os humanos.
- Esquerda! - Xcor disse, liderando a fuga.
Sua coxa estava ficando entorpecida, mas não perdeu tempo olhando para baixo para medir o dano. Faria aquilo mais tarde, se sobrevivesse.
Outra bala passou perto, o som assobiando em seu ouvido, alto o bastante para se sobrepor até mesmo a seu fôlego entrecortado e o trovejar de seus passos.
Balthazar estava ao seu lado, o grande corpo em uma corrida desenfreada.
Mais disparos atingiram uma caçamba de lixo, quando passaram por ela. O muro. O asfalto. De vez em quando havia pausas, como se a arma ou armas estivessem sendo
recarregadas... Ou talvez houvesse dois deles trabalhando juntos, um recarregando enquanto o outro atirava.
Continuar a correr. Era tudo o que podiam fazer.
Nenhum dos becos por onde passavam oferecia um lugar relevante para se esconder; de fato, não havia nem portas para arrombar.
Era estritamente questão de esperar até acabar a munição que os atiradores tinham. Supondo que ele e seu guerreiro não fossem derrubados antes.
Quando as rodadas seguintes chegaram a eles, ele soube, sem olhar para trás que deviam ser lessers, e não humanos que os perseguiam.
Somente lessers podiam correr tão rápido, por tanto tempo... E aparentar ter energia suficiente para continuar a ir.
Era possível, notou no fundo da mente, que ele e seu soldado estivessem em problemas.
Capítulo TRINTA E CINCO
- A conta já está paga.
Trez parou em meio ao processo de tirar a carteira do bolso.
- Como é?
- Já está paga. - O garçom sorriu e fez uma reverência. - Foi um prazer servi-los.
Jesus, se ele não soubesse que o cara era humano, acharia que alguém da equipe de Fritz os seguira até ali. O serviço fora fenomenal a noite inteira.
- Aproveitem seus cappuccinos.
Trez olhou para Selena. Seus olhos estavam fixos na paisagem de novo, mas ela já não sorria. Seu perfil perfeito estava vincado de linhas sombrias.
Esticando a mão, tomou as mãos dela entre as suas, sentindo um pico de medo crescer em seu peito. - Você está bem?
Sem pensar, enfiou a mão por dentro do casaco e segurou o celular.
- Oh sim. - Só que ela não olhou para ele.
O ruído suave de conversa ao redor deles havia diminuído e os passos largos dos garçons haviam desaparecido de sua proximidade.
- Selena, o que há?
- Eu não quero que acabe.
- Nós podemos vir aqui outras vezes.
- Sim. - Ela apertou a mão dele. - É claro.
Enquanto o restaurante continuava a girar, girar e girar, os fundos do Commodore tornou-se novamente visível, a imensa altura do prédio salpicada por luzes aleatórias,
incluindo algumas na cobertura.
Provavelmente Rehv já estava lá.
Trez baixou o olhar para o café no qual não tocara. O creme estava temperado com canela, da qual ele jamais fora muito fã. Ele o pedira somente porque sua rainha
não parecia querer ir embora.
- Foi muito gentil da parte deles, - ela murmurou, - pagar pelo jantar.
- Eu vou cuidar disto quando chegar em casa.
- Você devia aceitar a gentileza.
Trez procurou o que podia ver do corpo dela, buscando por sinais de que estivesse tendo problemas que requereriam uma ligação rápida para Manny e Rhage, que
aguardavam lá embaixo.
- Selena?
Ela assustou e olhou para ele. - Desculpe?
- Quer pedir outra sobremesa?
- Não. - Ela deu mais um leve aperto na mão dele, antes de soltá-lo e dobrar seu guardanapo antes de pousá-lo na mesa - Vamos?
Ele afastou a cadeira para ajudá-la, tão rápido que os quatro pés arranharam o chão brilhoso. - Aqui, deixe-me...
Mas sua rainha se levantou sozinha com um movimento elegante, o corpo perfeitamente estável, perfeitamente tranquilo. Pelo menos fisicamente. Ele podia sentir
o peso em seu humor.
Acompanhando-a para fora, ele tomou consciência dos olhares ao redor, novamente em cima deles, comentários sussurrados sendo feitos por trás de bordas de taças
de vinhos e quadrados de guardanapos, enquanto os humanos tentavam reconhecê-los como celebridades. Havia certa satisfação no fato de que a galera da primeira fila
jamais conseguiria.
Junto às grandes portas de vidro, ele abriu um dos lados para ela, e quando ela atravessou, parou e olhou por cima do ombro, como se temesse se esquecer de alguma
nuance da aparência, cheiro ou som do lugar.
- Nós sempre poderemos voltar, - ele repetiu.
- Oh, sim.
- Ela lhe deu um sorriso e continuou indo para aquele espaço aberto minimalista onde os elevadores ficavam. Adiantando-se, ele apertou o botão e esperou ao lado
dela, colocando a mão em sua cintura.
- Então aonde quer ir em seguida? - Ele perguntou.
- Quer dizer, hoje? Estou meio cansada...
- Não, amanhã à noite.
Ela olhou para ele. - Eu...
- Vamos. Dê-me um próximo destino para que eu tenha como organizar as coisas para amanhã.
As portas dos elevadores se abriram, e ele levou-a para dentro... E ele estava tão focado nela que mal notou aquela horrível parede de vidro que se abria para
o lobby. Pressionando o botão do térreo, ele acariciou o ombro de Selena.
- Então...? - Quando ela não respondeu, ele se inclinou e beijou a lateral de sua garganta. - Esta não é a única noite que vamos ter.
- Como pode saber? - Ela encontrou o olhar dele. - Eu não quero arruinar tudo, mas como você sabe?
- Porque eu não vou aceitar de outra forma.
Virando-a para encará-lo, ele deliberadamente pressionou os quadris contra o corpo dela e cobriu os lábios dela com os seus. - A menos que esteja enjoada de
mim. Ou seriamente nada-impressionada por eu ser um covarde vertical.
Os olhos dela pareciam muito azuis e muito assustados ao encontrar os dele - Barco.
Ele havia esperado outra coisa. - Como é?
- Eu, ah, eu quero sair em um passeio de barco no rio.
- Rápido ou lento?
- Ambos?
- Você vai ter.
- Simples assim? - Ela sussurrou. - Você pode realizar qualquer coisa?
Ele encostou a boca no ouvido dela e sussurrou. - Volte para o meu quarto e vou te mostrar como sou talentoso.
Enquanto o aroma dela mudava, ele acariciou-a com o nariz, beijando-lhe o pescoço, mordiscando lhe a veia. Ele não estava sendo justo, é claro. Sabia que ela
estava sendo praticamente distraída, e ele queria mesmo que estivesse. Na verdade, ele não podia garantir a noite de amanhã ou mesmo o próximo amanhecer, mas, como
memórias eternas, a ilusão deles tendo todo aquele tempo teria de durar pelo resto de tempo que tivessem.
Beijando-a, abraçando-a e sentindo o corpo dela contra o seu, ele discretamente tirou o celular e ergueu-o às suas costas. O texto para Manny e Rhage foi curto
e grosso: Ipc obr.
Indo para casa. Obrigado.
O elevador chegou ao térreo direitinho, e os beijos ajudaram-no também a se distrair. E então saíram do prédio, para a fria e tempestuosa noite de outono. Fritz
estava com o Mercedes do outro lado da rua, e o doggen trouxe o carro para frente do prédio assim que os viu.
Sem demora o mordomo saiu e abriu a porta.
Trez queria ter aberto a porta para ela.
No momento em que ela deslizou para o interior cálido, o último som que ele esperava ouvir na presença dela, captou sua atenção:
Pop-pop-pop.
Tiros.
Porra.
Trez pulou no sedã com ela, se levantando entre os assentos. - Tire-nos daqui! Agora!
Fritz não hesitou. Engatou a ré e acelerou tanto que Trez quase acabou dando uma de odorizador no para-brisa traseiro. Recobrando-se rápido, cobriu Selena com
seu corpo, para prender o cinto de segurança dela. Puxando a faixa sobre ela, ele tinha acabado de encaixar o troço quando a força centrífuga o jogou contra o lado
oposto do banco, batendo a cabeça, mas ele não ligou a mínima. Apoiando o pé no vão dos pneus, a mão no teto e na porta, equilibrou-se para não cair sobre Selena
enquanto terminavam a manobra que os colocaria no lado correto do caminho.
O que os deixava na contramão da rua de mão-única pela qual haviam vindo.
- Vamos em frente. - Fritz gritou acima do ruído dos pneus.
O rugido do motor do Mercedes-Benz e a explosão que se seguiu, lembrou a Trez a decolagem de um avião. Enquanto seu corpo era sugado contra o banco, ele olhou
para Selena.
Os olhos dela estavam arregalados. - Qual o problema? O que está havendo?
Os prédios de ambos os lados da rua de três vias eram aço, vidro e concreto pálido e começaram a piscar, mais rápido, mais rápido, mais rápido. Olhando para
cima e adiante, Trez verificou que na rua, os pára-choques dos carros estacionados os encaravam como pais desaprovadores, enquanto iam na direção errada.
- Nada aconteceu! - Ele gritou acima de todo aquele barulho. - Eu só estou realmente ansioso para vê-la nua...
As sobrancelhas de Selena se ergueram ainda mais, - Trez, eu ouvi alguma coisa..
- ... Porque estou desesperado para te possuir!
- ... Que pareceu um tiro!
Ambos gritavam acima do motor, alternando as falas, enquanto Fritz fugia como um morcego do poço do inferno para longe das balas.
E então a diversão começou de verdade.
Eles haviam passado por dois quarteirões, quando as viaturas de polícia começaram a aparecer. E diferente do Benz? Os carros azuis e brancos com o giroflex estavam
do lado certo da rua.
- Eu vou pela calçada, - Fritz gritou - Vai sacolejar um pouquinho...
Aquele mordomo maluco filho da puta, virou o volante à esquerda e subiu o meio-fio, colidindo com um hidrante, que prontamente explodiu à sua passagem, enviando
um jorro de água a elevar-se no ar. E então, pela graça de Deus, o Benz pousou como um cavalheiro, seus amortecedores de primeira qualidade, suavizando o que sem
dúvida teria sido um baque e tanto.
Virando-se, Trez olhou pelo para-brisa traseiro. As viaturas manobravam e desembestavam atrás deles quando Fritz bateu em uma parede de expositores de jornais,
mandando caixas plásticas vermelhas, amarelas e verdes pelos ares à passagem deles. As coisas frágeis se quebraram quando bateram na calçada, folhas de papel flutuaram
como pombas libertadas de gaiolas.
Quando se voltou para Selena, preparou-se, tentando pensar em um jeito de tranquilizá-la...
Ao contrário.
Selena vibrava de excitação, suas presas visíveis, graças ao enorme riso que borbulhava dela ao se apoiar na porta.
- Mais rápido! - Ela gritou para Fritz. - Vamos vai rápido!
- Como quiser, ama!
Um novo rugido daquele pedaço massivo de engenharia alemã sob o capô enviou-os inclinando não só calçada abaixo, mas diretamente aos limites das leis da física.
Selena olhou para ele. - Esta é a melhor noite do mundo!
- Está bem, hora de ir.
Rhage meneou a cabeça para Manny. - Me pergunto o que eles comeram no jantar. - Ele verificou o celular de novo e desejou realmente ter ido à churrascaria. Ele
só mentira a respeito para tranquilizar Trez. - Ele não disse nada sobre entrada ou sobremesa. Digo, vamos lá, ele podia ter dado alguns detalhes. Só recebemos oito
letras do cara.
- Na verdade, foram seis.
- Foi o que eu disse.
Os Doritos haviam deixado de fazer efeito há uma hora. Mas também, às vezes ele podia dizer o mesmo de uma refeição completa com três pratos.
Manny ligou o RV e guiou, a ambulância passou por cima de um buraco, e então ganhou velocidade. - É melhor eu correr. Fritz tem o pé pesado.
- Tipo, eles comeram rosbife? Eu vi, em uma revista, uma foto de um prato de rosbife que servem lá em cima...
Bum!
Bem na hora em que se depararam com uma encruzilhada de becos, algo grande apareceu na frente deles e caiu sobre o capô. Quando Manny pisou no freio, um peso
massivo rolou.
- Jesus Cristo, era um cervo? - O médico gritou.
- Talvez um alce.
Rhage sacou ambas as armas e estava a ponto de pular quando a chuva de balas começou. Sons altos e metálicos de "pings" ricochetearam no RV e racharam o espesso
vidro.
- Oh, pelo amor da porra, - Manny exclamou. Então gritou através do para-brisa para os atiradores. - Eu acabei de comprar esta coisa!
Rhage tateou a maçaneta da sua porta, mas não conseguiu abrir. - Me deixe sair!
Ping-ping-ping. - De jeito nenhum, você vai acabar se matando!
- Somos um alvo fácil aqui.
- Não somos não.
Repentinamente, cerca de doze centímetros de placas de metal cobriram cada centímetro quadrado de vidro que lá havia no RV. Instantaneamente, o som dos tiros
foi abafado até uma batida distante.
Rhage observou em relativo silêncio. - Você é um gênio.
- Harold Ramis é.
- Quem?
- Você nunca viu Recrutas da Pesada? Meu filme favorito de todos os tempos. Eu baseei esta coisa no veículo de Bill Murray.
- Eu sabia que gostava de você. - Rhage olhou rapidamente para o telefone. Não havia Irmãos nos arredores, o que era bom, dado o tiroteio. - Só há um problema...
Não podemos ficar parados aqui. A polícia humana logo vai cercar...
Uma tela de LED do tamanho de uma TV se ergueu verticalmente do painel, ocupando a maior parte do espaço, agora bloqueado, do para-brisa. E em sua superfície
lisa havia uma reprodução esverdeada em HD da rua em que estavam... Então, tiveram uma imagem muito boa dos atiradores enquanto a dupla de dedos de chumbo correram
diante de seus faróis. Os dois ostentavam armas de canos longos, aparentemente AKs, cada descarga causava um brilho súbito na boca dos canos enquanto continuavam
a atirar.
Eles não pararam ao passar pelo veículo de Manny.
- Aqueles são lessers, - Rhage murmurou. - Correm rápido demais para humanos. Além disto, só lessers seriam tolos o bastante para fazer este tipo de balbúrdia.
Deixe-me sair daqui, porra.
- Você não vai atrás deles...
Rhage estendeu a mão e agarrou a frente da camisa do homem, puxando-o para o espaço entre os assentos. - Me. Deixe. Sair.
Manny manteve seu olhar. Praguejou. - Você vai se matar.
- Não vou.
- Como pode estar tão certo?
- Eu tenho truques que ninguém supera. - Ele indicou a janela - Abra-a e eu poderei me desmaterializar por entre as frestas das placas de metal. A menos que
você tenha malha de aço em algum lugar.
Manny começou a murmurar todo tipo de coisas vis ao procurar pelo botão requisitado e o pequeno pedaço de vidro transparente desceu uns cinco centímetros.
- Assim que eu sair, acelere. - Rhage demandou. - Precisamos de você no rabo de Trez. Sem brincadeira.
Fechando os olhos, ele se concentrou e...
... Se desmaterializou para fora, retomando forma ao lado do RV e então dando uma batida na porta. Os atiradores passaram por eles, no encalço de sua presa,
o que o punha em posição perfeita. Quando o motor foi ligado, e a pequena clínica portátil de Manny se afastou, começou a correr. O cheiro no ar lhe dizia que estava
certo; era uma dupla de lessers com alguns brinquedos bem caros... algo que não tinham visto há quanto tempo?
Não desde que Lash, aquele bastardo, era o Forelesser.
Com coxas bombeando e armas a postos, ele diminuía a distância quando as sirenes surgiram às suas costas. De repente, foi iluminado por trás, e não de uma maneira
boa. Com duas automáticas nas mãos, eles pensariam que ele era o maldito problema, ao invés da solução que tentava acertar as contas com os inimigos.
Certamente, uma voz de macho projetou-se de um falante de alta resolução vinda do beco. - Departamento de Polícia de Caldwell! Pare! Parado ou atiro!
Deus! Maldição.
Humanos: o remédio da natureza para um momento que de outra forma, seria bom.
Capítulo TRINTA E SEIS
De volta à sua cela no palácio, iAm ocupava-se traçando um caminho no chão de mármore polido, indo para frente e para trás entre a nova plataforma de dormir
e a prateleira de livros.
Quanto mais tempo era deixado sozinho, mais se tornava convencido de que a maichen havia feito a oferta de levá-lo aos escritos dos curandeiros guiada somente
por um ímpeto impotente de compaixão. Mas, inferno, mesmo que ela estivesse falando sério, e surgisse de novo com algum tipo de plano, não era como se ele fosse
aceitar a sua ajuda. Já havia tanta gente enfiada naquela bagunça e ele não tinha certeza de que ela sabia ao que estava se voluntariando: ele era prisioneiro do
carrasco, o que significava que, mesmo que muitos tivessem acesso a ele, só havia um filho da puta com as chaves de sua fuga.
E não era aquela humilde fêmea.
E se fosse sério? Mesmo que não o estivesse ajudando a sair para o mundo exterior, mas à biblioteca? O sistema de monitoramento logo entregaria os dois... E
então a morte súbita seria o melhor que ela poderia esperar.
O mais provável era um longo e sofrido período de tortura, durante o qual ela rezaria para estar...
Quando a porta abriu, ele verificou se seu sexo estava coberto antes de se virar.
Era a serva, e ela trazia roupas nas mãos. Quando a porta deslizou de volta para o lugar, ela enfiou algo perto do batente para impedi-la de se fechar totalmente
e foi na direção dele.
- Vista isto. Não temos tempo...
- Espere, o que...
- Vista! A equipe de segurança está mudando de turno e é exigido que eles façam uma prece obrigatória de tristeza e recordação pela criança. Tenho de te levar
pelo corredor agora...
- Não posso deixá-la fazer isto...
- Você quer ajuda, certo. Para a amada de seu irmão, certo.
iAm cerrou os dentes. Cruz, conheça a caldeirinha. - Porra!
- Eu não sei o que esta palavra significa.
Ele aceitou o que ela oferecia, mas continuou a discutir enquanto vestia as peças. - E como vamos voltar?
- Eu vou distraí-los. Você vai precisar de um pouco de tempo na biblioteca... A menos que saiba exatamente o que está buscando?
O manto pesado cobriu as pernas dele, - Que tal aqui?
Sem aviso, as luzes se apagaram. - Eu ativei o sistema circadiano.
Ah sim, a alternação entre luz e escuridão sem a qual não é possível dormir.
Clique!
Uma pequena lanterna iluminou o caminho até a plataforma de dormir, e ela rapidamente arrumou os travesseiros e cobertas de forma que parecesse haver alguém
ali. Então, ela correu de volta e espirrou algo no rosto dele.
Ele tossiu quando o forte cheiro de lavanda misturado a algo cítrico inundou lhe o nariz. - O que infernos...
Mais spray. - Este é um uniforme de serviçal. Ninguém questionará, mesmo se nos encontrarem juntos, mas seu cheiro é muito másculo. Isto deve encobrir o suficiente
para passarmos. Agora, encurve-se... Você é grande demais para o manto. Não podemos deixar seu pé aparecer ou eles vão descobrir. Vamos lá.
Ele seguiu-a até a porta, mas antes que ela abrisse, ele agarrou-lhe o braço a fez voltar-se.
- Você não deveria estar fazendo isto.
- Não temos tempo...
- Vai acabar sendo morta.
- Seu irmão precisa de ajuda. Para a companheira dele. Você tem outra solução para sair daqui e ver aqueles escritos?
Quando ela tentou se virar, ele puxou-a de volta. - Qual o seu nome?
- maichen.
- Não, esta é sua casta. Qual o seu nome?
- É este. Agora, venha... Chega de falar. - Ela disse, com urgência. - E não se esqueça de se encurvar.
Com isto, ele saiu da cela e foi para o corredor. Ao olhar para a direita e para esquerda, ela cutucou-o com a lateral do cotovelo.
- Se abaixe, - ela sibilou, - por aqui.
Dobrando os joelhos, ele curvou os ombros e a seguiu, tentando imitar cada um dos movimentos dela. Ela era rápida e decisiva pelos corredores, virando esquerdas
e direitas em uma sequência que o deixou tão confuso que ele se sentiu perdido em um labirinto. Inacreditavelmente, não encontraram ninguém, mas aquela era a natureza
do luto para o s'Hisbe. Todos se trancavam.
Talvez ela pudesse só levá-lo a uma saída pelos fundos depois de tudo isto?
É, mas o que aconteceria a ela?
- As fitas de segurança, - ele disse.
- Cale-se.
- Quando voltarmos, precisa cuidar dos arquivos de vídeo de monitoramento ou eles saberão o que fez.
Ela não respondeu, só se apressou, levando-o por vários corredores.
De acordo com a tradição s'Hisbe, de que a simplicidade elevava a alma, havia pequenas sinalizações em todos os lugares no palácio, nada além de placas sutis
sobre os umbrais, para ilustrar o acesso à várias salas, depósitos e saídas. Gradualmente, seus anos no palácio lhe voltaram e ele ficou surpreso ao ver que sabia
onde estavam: Ela estava levando-o para a biblioteca pelo caminho mais longo, mas era esperta. Ali eram os fundos do palácio, onde, caso encontrassem alguém, provavelmente
seria um serviçal.
O que, considerando o seu disfarce, tornava a rota bem melhor.
- Por aqui, - ela disse, pegando a última direita e parando em um dos quadrados do piso de mármore, cujo veio corria ao contrário da direção prevalecente de
todos os outros. Colocando a mão na parede, ela acionou a porta, que deslizou prontamente.
Quando entraram na escuridão, luzes sensíveis a movimentos se acenderam, iluminando pilhas sobre pilhas de volumes encapados em couro. O ar era seco e vagamente
empoeirado, mas a biblioteca estava um brinco, o chão polido a um brilho de espelho, as prateleiras brilhando. Não havia cadeiras ou mesas se alguém quisesse ler
alguma coisa... Era esperado que você pegasse o volume de seu interesse, e o levasse aos seus aposentos para ler por lá.
Merda, como eles iriam encontrar qualquer coisa ali?
- Os registros medicinais foram transferidos, - ela sussurrou, movendo-se para a frente.
Ele seguiu-a de novo, e não se incomodou em tentar encolher sua estatura: não havia ninguém em volta para vê-lo, e esta parte do palácio não era monitorada.
O sistema de catalogação, tal como era, estava anotado em numerais pretos nas laterais das prateleiras. Mas, de novo, era vago, e presumia que você já saberia
onde encontrar o que buscava.
Eventualmente, ela parou e indicou uma fileira de pilhas. - Foram realocados para cá.
Franzindo o cenho, ele se aproximou. O sistema de numeração nas lombadas não ajudava porra nenhuma, então ele tirou um dos volumes aleatoriamente e abriu a capa.
Quando finalmente entendeu algumas palavras do Idioma Antigo no dialeto Sombra, descobriu que era um tratado sobre fratura em ossos.
Descendo uma fileira, ele tirou outro tomo aleatório. Algo sobre visão.
Mais além, chegou em gravidez e parto.
- Doenças, - ele murmurou. - Estou procurando por doenças. Ou defeitos congênitos. Ou... Genes recessivos...
- Eu te ajudo. - maichen começou a tirar os volumes. - O que pode me dizer sobre esta doença?
- A chamam de Aprisionamento. Elas congelam... Elas ficam... É como se os seus ossos crescessem espontaneamente... Supostamente é fatal...
Deus, ele não sabia o suficiente sobre o que estava falando.
Enquanto os dois percorriam seu caminho prateleira abaixo, as categorias e organização dos volumes começaram a se tornar mais claras. Como todos os vampiros,
os Sombras não tinham de lidar com vírus humanos ou câncer, mas havia muitas outras coisas que os atingia... Embora não tanto quanto as que os Homo sapiens tinham
de combater. Com cada livro aberto, ele se conscientizava da passagem do tempo, e ficava mais preocupado com a maichen ser pega do que com qualquer coisa que pudesse
acontecer com ele mesmo.
Rápido, mais rápido com a leitura, a devolução, o pegar outro da prateleira.
Tinha de haver algo aqui, ele pensou. Tinha de haver.
O corpo inteiro de Trez estava rígido ao manter-se apoiado contra o interior do Benz. Fritz ainda prosseguia pela calçada... O que seria ótimo se o doggen fosse
um mero pedestre. Espremendo o sedã do tamanho de um iate que singra oceanos, em uma alameda de concreto construída para acomodar quatro ou cinco pessoas lado a
lado?
Não era tão ótimo...
Selena exclamou uma espécie de yeeee-haw! Quando viraram outra esquina e mandaram pelos ares outro conjunto de caixas do Caldwell Courier Journal.
Ele estava honestamente feliz de que ela estava se divertindo.
Ele só fodidamente desejava que estivessem assistindo este filme de ação, em vez de atuando nele.
- Fritz! - Gritou acima do som do ronco do motor. - Vai na direção do rio.
- Como desejar, amo!
Sem aviso, Fritz jogou o carro para a esquerda e mandou-os voando na direção de um calçadão que contornava outro dos arranha-céus. O Benz subiu os degraus como
um homem usando gesso nos joelhos, a subida desarticulada, empurrada e sacolejada sendo o tipo de coisa que fazia dos dentes bater e os rins pedirem misericórdia.
Mas daí eles estavam novamente na área plana, que dava às pessoas todo o tipo de escolha, como por exemplo, para qual dos quatro diferentes pontos de entrada usar
como acesso.
Fritz, naturalmente, escolheu a rota mais reta.
Através da porra do lobby.
Painéis de vidro explodiram quando o S600 chocou-se contra uma parede envidraçada, estilhaços voaram adiante e para os lados, antes de pousarem no chão escorregadio
e costearem a distância como neve pela superfície congelada de um lago.
Pela janela oposta, Trez deu uma boa olhada no vigia noturno que pulava em pé, atrás de uma fileira de mesas no lobby. Parecia falta de educação não cumprimentar
o pobre bastardo, então Trez deu uma de Rainha Elizabeth e acenou com a mão quando cruzaram o interior e saíram do outro lado.
Esmaga!
O segundo turno com o vidro foi tão escandaloso quanto o primeiro, quando foi estilhaçado pela lataria do Benz ao explodirem de volta para a noite.
- Acho que devemos ir pelo ar. - Fritz disse. - Segurem-se.
Pode crer, grandalhão.
Trez enrijeceu ao se aproximarem da beira da escada e então...
Gravidade zero, ou tão próximo disto quanto era possível sem fazer uma manobra acentuada a nove mil metros de altura, aconteceu quando se elevaram, a viagem
se tornou super suave e relativamente quieta, nada além do ruído do motor atingia seus ouvidos.
Tudo isto mudou ao passarem voando pela calçada e pousarem na rua asfaltada. A suspensão absorveu tanto do impacto quanto foi possível, mas fagulhas se espalharam
quando a carroceria do carro raspou no asfalto.
- Por favor, me desculpem. - Fritz disse, olhando pelo espelho retrovisor e falando diretamente a ele. - Amo, sinto terrivelmente, mas preciso retornar para
casa...
- Fritz! Se concentra a estrada, camarada.
- Oh, sim, amo...
Guinchaaaaaaando quando o mordomo corrigiu o curso e evitou, por pouco, bater na lateral de uma fila de carros estacionados.
- Como eu dia dizendo, amo, preciso retornar para casa. - O mordomo continuou sem perder tempo. - A preparação da Última Refeição precisa ser supervisionada.
Como se aquilo fosse somente uma partida de vídeo game que se pudesse pausar? - Ah, Fritz...
De repente, o Mercedes apagou as luzes interiores e exteriores, ficando em escuridão total. Naquele momento específico, do alto do céu, uma luz flamejante cortou
pela estrada, brilhando sobre eles por uma fração de segundos.
- Helicóptero, - Trez murmurou. - Fantástico.
Virando-se no assento, olhou pelo para-brisa traseiro. Luzes azuis e vermelhas piscavam e se aproximavam rapidamente, mas os policiais estavam cruzando o caminho
deles, ao invés de segui-los... O que lhes daria vantagem por somente um quarteirão antes que o Departamento de Polícia mudasse a rota.
Merda, como iriam escapar desta?
Antes que se desse conta, Fritz levava-os para o rio, mas não pela estrada. Ao invés de tomar uma das rotas legais, ele pulou outro meio-fio e saltou diretamente
abaixo da rodovia elevada. Pilastras do tamanho de carvalhos corriam pelas janelas, o doggen brincando de se esquivar, jogando para a esquerda e direita como um
maratonista em uma corrida de obstáculos.
Não havia ninguém atrás deles, mas não conseguiriam manter esta fuga indefinidamente. A Northway, que estava agora acima de suas cabeças, ia voltar a ficar plana...
E claro, a descida começou a acontecer, e naquela velocidade, Trez se convenceu de que eles iriam virar purê na fusão horizontal do asfalto.
Só que, não. Fritz moveu o carro bruscamente por baixo, percorrendo uma beira da calçada até as estradas que corriam paralelas ao rio Hudson. De alguma forma,
ele conseguiu fazê-los passar por uma brecha entre as grades de segurança e então, simples assim, eles estavam em uma rampa de desvio que os levaria à autoestrada
na direção correta.
Na direção contrária a da cidade.
Trez esperou por uma fila de viaturas com as luzes brilhando como no Quatro de Julho vir atrás deles.
Em vez disto, viu uma frota daqueles caras de azul indo para o outro lado da Northway, na direção do lugar onde havia acontecido toda a ação.
Fritz desacelerou e voltou a acender as luzes. Postou-se na fila de tráfego. Flutuou para longe, a modestos cento e dez quilômetros por hora.
- Como diabos fez isto? - Trez disse, com verdadeiro respeito.
- Humanos são fáceis de serem despistados. Tendem a perseguir luzes, como gatos perseguem um laser. Sem luz? Dá uma vantagem séria... Bem, isto e possuir o dobro
da potência que eles.
Trez virou-se para sua rainha. - Você está bem?
Selena estendeu a mão e ergueu a boca para um beijo. E outro. - Que noite! Esta foi a coisa mais excitante que já aconteceu comigo!
Adrenalina rapidamente transformou-se em luxúria quando ele correspondeu ao seu beijo e pressionou-a contra o assento. Lambendo-a na boca, ele acariciou um dos
seus seios com a mão.
- Devemos pedir a ele para acelerar de novo? - Trez murmurou contra sua boca - Porque eu não acho que posso esperar...
- Chegaremos logo, - ela murmurou, sorrindo. - E eu gosto de antecipação. Estou faminta por você desde que começamos a rodar.
Trez grunhiu no fundo da garganta ao tocar o botão para erguer a partição - Fritz?
- Sim, amo?
- Um pouco mais rápido, se não se importa.
- Com todo o prazer, senhor!

 

CONTINUA

Capítulo VINTE E NOVE
- Você achou que ninguém iria perceber?
Ao sair da cela, maichen congelou. A voz por trás dela era tão profunda, tão baixa que as palavras eram rosnadas ao invés de faladas, e era a última coisa que
estava esperando.
Som de passos, de um macho com o dobro de seu tamanho e três vezes o seu peso, rodearam o seu corpo e, através da malha que cobria seu rosto, ela olhou para
cima, beeem para cima.
O rosto de s'Ex também estava coberto, mas, no carrasco era uma cota de malha, elos de prata nada delicados, que escondiam a expressão de seu rosto, mas não
sua identidade.
O temor invadiu o seu peito, e uma sensação de vazio interno trouxe suor para suas axilas e ao vale entre seus seios bem formados.
- E você estava o alimentando?
Quando ela nem confirmou, nem negou a pergunta, o carrasco fez um gesto de frustração com as mãos, mas foi cuidadoso em não tocá-la ou em qualquer coisa que,
mesmo indiretamente, estivesse em contato com o corpo dela, inclusive a bandeja, tudo o que ela continha, bem como suas vestes e até mesmo o piso de mármore onde
pisava.
Era proibido a qualquer macho entrar em contato com ela, punível com a morte pelas mãos de s'Ex, o que significaria que ele, provavelmente, teria de cometer
suicídio.
- Diga, - ele exigiu. - Você o envenenou?
- Não! Ele já estava sem comer há mais de doze horas...
- Desde quando você começou a se preocupar com os meus prisioneiros?
- Ele não é um prisioneiro comum, - ela ergueu o queixo - E você não está cuidando dele direito.
- Há milhares de outras pessoas para cuidar disto.
- Eu não sou uma destas milhares de pessoas que vivem aqui?
Ele se inclinou. - Não comece com isto de novo.
maichen removeu a malha tão rápido, que ele não desviou o olhar a tempo. Quando ele engasgou e se virou, escondendo o rosto atrás das dobras de sua manga, a
voz dela se igualou à sua em autoridade.
- Você não pode me dizer aonde posso ou não posso ir.
- Coloque a máscara! - Ele gritou.
- Não coloco. Não aceito ordens de você. - Ela arrancou a manga dele para que não pudesse mais cobrir os olhos. - Entendeu?
O carrasco fechou os olhos com tanta força que a expressão de seu rosto inteiro se distorceu. - Você vai nos matar...
- Não há ninguém aqui. Agora, ordeno que me olhe nos olhos.
Foi tal a reviravolta, que ele se acovardou e demorou a entreabrir as pálpebras, como se seu rosto não quisesse obedecer às ordens de sua mente.
Quando finalmente olhou direito para ela, foi a primeira vez na vida que um macho viu seu rosto, e, por um segundo, o coração dela bateu tão forte que ficou
de cabeça zonza. Mas, ao lembrar-se do prisioneiro, lutou contra a perturbação.
- Ele, - ela estendeu o dedo na direção da porta da cela, - não deve ser ferido de forma alguma. Compreende?
- Não é você quem decide...
- Ele é um inocente. Aquele é o irmão do Consagrado, não é dele o dever de servir ao trono. Eu vi a tatuagem...
- Você olhou para o corpo dele! - Uma série de palavras explodiu da boca de s'Ex, palavras desconhecidas que soavam como "Maldição do Caralho".
Não sabia o que significavam. Ela só conhecia o inglês formal.
s'Ex se inclinou na sua direção, e baixou a voz, - Ouça, fique fora disto. Você não sabe o que está acontecendo aqui.
- Eu sei que é injusto fazer um inocente pagar por algo que não foi responsável.
- Eu não vou arriscar minha vida por você. Estamos de acordo? E não vou alterar o curso de minhas ações para apaziguar qualquer dilema moral que você esteja
alimentando neste momento.
- Sim, você irá. - Agora foi ela que se inclinou, e apesar do tamanho dele, s'Ex recuou. - Você sabe muito bem o poder que eu tenho. Você não vai ficar no meu
caminho neste ou em qualquer outro desejo que eu tiver... E quando eu trouxer a próxima refeição, você e seus machos irão me deixar passar em paz. Não confio o bastante
em você para alimentá-lo adequadamente... Ou em segurança. E não diga a ele quem sou eu.
Com isto, ela voltou a colocar a malha sobre o rosto e começou a se afastar.
- Qual é o seu jogo? - s'Ex exigiu.
Ela fez uma pausa. Olhou por sobre o ombro. - Eu não sei o que quer dizer.
- O que você vai fazer? Mantê-lo aqui como um bichinho de estimação?
maichen estreitou os olhos por baixo da malha. - Não é da sua conta. Sua única preocupação é de que nada aconteça a ele. E traga-lhe uma cama apropriada.
Pelo menos ele esperaria com um mínimo de conforto enquanto ela planejava um jeito de libertar o pobre homem.
maichen dobrou o corredor e saiu do raio de visão dele antes de começar a tremer... Antes de precisar se apoiar na parede para conseguir se manter em pé.
Fechou os olhos e tudo o que pode ver foi o macho aprisionado, saindo pelo biombo, após se lavar.
O corpo dele era... De tirar o fôlego, sua forma nua prendia o seu olhar, seus pensamentos, sua respiração. Ombros largos, peito musculoso, tórax impressionante,
parecia esculpido por um artista, ao invés de nascido de uma mortal.
E também havia as outras partes de seu corpo. As quais a faziam enrubescer tão ferozmente, que se preocupou que a malha derretesse em seu rosto.
Disse a si mesma que ela só ia ajudá-lo, e era verdade. Era.
Mas seria tolice ignorar esta ardente curiosidade. Talvez fosse até mesmo perigoso.
Pelas estrelas do céu, o que ela estava fazendo?
Quando Trez pulou na mesa de exames, sua cabeça quase bateu na luminária, e enquanto ele se abaixava para criar algum espaço, a Dra. Jane se aproximou.
- Aqui, me deixe tirar as luzes do caminho.
Com aquele probleminha resolvido, ele agarrou o colchão fino que jazia sob sua bunda, como se a ponto de iniciar uma descida de montanha russa.
E ele odiava montanhas-russas.
Dra. Jane trouxe um banquinho rolante e sentou-se, puxando as duas partes de seu jaleco branco para juntá-las e pousando as mãos nos joelhos. Olhando-o, parecia
preparada para esperar o tempo que fosse necessário para ele reorganizar seus pensamentos.
Pigarreando, ele anunciou, - Ela não virá. Não quer ser examinada, já que está se sentindo bem.
- Dá para entender.
Ele esperou por mais, e lembrou a si próprio de ser civilizado porque ela era a shellan de V.
Quando a boa doutora não continuou, ele franziu o cenho, - Só isto?
- O que quer que eu diga? Que Manny e eu vamos forçá-la a vir? Não posso fazer isso... Não quero fazer isto.
Sem sentir nenhum alívio na declaração, Trez percebeu que queria que a Dra. Jane forçasse Selena a descer.
Hipocrisia demais? Não era uma postura pró-livre-arbítrio de verdade, não é?
- Como posso saber que ela vai ficar bem esta noite? - Ele disse, tenso.
- Sem um episódio do aprisionamento?
- Sim.
- Não dá para saber. - Dra. Jane jogou o cabelo curto para trás. - Mesmo se a examinasse agora, não daria para dizer quando é que o próximo surto irá ocorrer.
Eu não sei muito sobre esta doença, mas pelo que vi, isto faz parte do problema. Não há estágio prodromal.
- O que é isto?
- Você tem enxaquecas, certo? - Diante de seu movimento de concordância, apontou para seus próprios olhos. - E você sente uma aura, cerca de vinte ou trinta
minutos antes do ataque de dor, certo? Bem, às vezes, pessoas que sofrem, sentem formigamento ou dormência em braços ou pernas; outros têm anomalias sensoriais,
tais como sentir cheiro de coisas que não estão lá ou ouvir coisas. Com a doença de Selena, não há sinal de alerta de que uma fase aguda está prestes de acontecer.
O congelamento parece ocorrer de repente.
- Você falou com o babaca do Havers?
- Na verdade, ele nunca ouviu falar de tal doença. O mais próximo que chegou disto, foram sintomas relacionados com artrites. - Ela balançou a cabeça. - Me pergunto
se tivéssemos como fazer uma análise de DNA das Escolhidas, haveria algum gene recessivo escondido em algum lugar. Com uma população procriativa exclusiva, como
elas sempre foram, é de se esperar encontrar exatamente este tipo de conjunto de doenças. Ela deu de ombros. - Mas, voltando à Selena, eu queria poder te dizer quando
é que vai acontecer de novo, ou mesmo os sinais aos quais ficar alerta. Mas não posso. Eu fiz um hemograma completo nela, e sua contagem de células brancas está
ligeiramente mais elevado junto com os marcadores de inflamações... Mais nada além disto. Tudo normal. Tudo o que posso dizer é que, se ela está em pé e se movendo,
teoricamente, suas juntas estão funcionando bem e elas darão sinais evidentes quando não estiverem.
Ele estalou os dedos, um a um. - Há algo que possamos fazer por ela?
- Não, pelo que sabemos até agora. Um dos desafios é não entendermos o mecanismo da doença. Minha suspeita é que, após o crescimento ósseo ser desencadeado por
sabe-se lá Deus o que, o sistema imunológico dela, de alguma forma, reage e ataca o material ofensor, destruindo-o como se fosse um vírus ou uma infecção. E o mecanismo
de defesa do corpo dela sabe quando parar, já que o esqueleto original permanece intacto após o ataque. Provavelmente há algo inato diferente sobre o crescimento
ósseo, mas, não saberemos até fazer uma biópsia.
- Então porque ela tem de... - Merda, cada vez que ele piscava, via Selena deitada na maca, o corpo naquela maldita contorção. - Porque ela continua combatendo
a coisa e se recuperando?
- Minha aposta é que o sistema imunológico falha. Analisando, é uma série extraordinária de eventos a nível celular. Ao ver as primeiras radiografias, jamais
teria imaginado que o corpo dela pudesse voltar a funcionar novamente.
Ele ficou quieto, olhando para o piso. - Eu quero levá-la para sair esta noite. Sabe, um encontro. - Quando a médica permaneceu em silêncio, ele ergueu os olhos.
- Não é uma boa ideia, é?
Dra. Jane cruzou o braço sobre o peito e empurrou a cadeira para frente e para trás nas rodinhas, a versão sentada de uma marcha.
Porra. Ele devia ter tido esta conversa antes de sugerir a saída...
- Você quer que eu seja bem franca? - A médica perguntou.
Trez teve uma imagem do perfil com cavanhaque de Vishous delineado sob a luz do teto externo do corredor. - Preciso saber exatamente onde estamos.
Mesmo que isto o matasse.
Passou-se um minuto ou dois antes da Dra. Jane responder, e ele achou que ela estava imaginando cenários em sua mente.
- O caminho mais prudente seria ela ficar no complexo, para fazermos uma checagem total nela, envolvendo múltiplas biópsias, uma tomografia computadorizada,
uma ressonância magnética no mundo humano e consultas com médicos, através dos contatos de Manny. E então nós provavelmente teríamos de iniciá-la no uso massivo
de esteróides... Mesmo que seja mais palpite do que certeza, é de se imaginar que o processo inflamatório tenha algo a ver com isto. Poderia haver drogas a testar,
talvez alguns procedimentos, mas, é difícil adivinhar de antemão. - Ela correu os dedos pelos cabelos curtos até a coisa se espetar em picos louros. - Teríamos de
ser rápidos porque não sabemos quanto tempo nos resta, e tudo seria na base de tentativa e erro, provavelmente, mais com o objetivo de sobrevida do que cura. Embora,
de novo, seja só um palpite, nada concreto.
Ele fechou os olhos e tentou imaginar-se dizendo à sua rainha que, ao invés de irem àquele restaurante pelo qual ela estava tão excitada, teriam de...
- Mas, não é o que eu faria, se fosse ela.
Trez ergueu as sobrancelhas e olhou para a médica - Então há outro jeito.
Dra. Jane deu de ombros. - Sabe, no final das contas, acho que a qualidade de vida deve ser considerada. Não sei o quanto conseguiríamos tratar ou desvendar
desta doença, mesmo se examinássemos ela inteira. Me baseio no fato de que ela é, para usar um termo clínico, a "paciente zero" para nós. Ninguém jamais ouviu falar,
apesar de uma minoria de suas irmãs padecerem deste mal há gerações. Há uma série muito complexa de coisas acontecendo, e eu só... Há muito a tentar entender. E
para que? Você quer arruinar as últimas noites dela...
- Noites? - Ele exclamou. - Jesus Cristo, é só isto o que temos?
- Eu não sei. - Ela ergueu as mãos. - Ninguém sabe e este é o ponto. Você iria... Ela iria... Preferir passar o tanto de tempo que lhe resta vivendo, ou somente
esperando por morrer? Eu lhe digo, se fosse minha escolha, eu escolheria viver. É por isto que não vou forçá-la a descer aqui, ou fazê-la sentir-se mal por não estar
com pressa de se deitar em minha maca.
Trez exalou um fôlego que não estava consciente de estar prendendo. - Rehvenge foi para o Norte. Para as colônias. Ver se há alguma coisa na tradição Symphath
que possa ajudar.
- Eu sei, Ehlena me disse. Estamos esperando ouvir notícias dele em breve.
Ele podia dizer pelo tom profissional na voz da fêmea que ela não estava botando muita fé. - O que acontece se Selena entrar... Em situação... E estivermos fora,
no jantar?
- Então você nos chama. Eu já te mostrei o brinquedo novo de Manny?
- Como é que é?
Ela se levantou e deu um tapinha na perna, - Venha comigo.
Dra. Jane a levou para fora da sala de exames, pelo corredor, e então para baixo, baixo, mais baixo, passando por salas de aula sem uso até a pesada porta de
aço da garagem. Abrindo-a completamente, ela indicou a área além da porta com o braço.
- Ta-da.
Trez entrou em um ambiente onde o ar era mais frio, mais úmido. A enorme ambulância era tão brilhante quanto uma moeda nova, retangular como um LEGO, maior do
que o Hummer de Qhuinn. Maior inclusive que as ambulâncias humanas que ele vira por aí em Caldwell.
Era um maldito trailer, um RV.
- Isto é merda séria, - ele disse.
- É. Uma das coisas que tem preocupado Manny e eu...
As portas traseiras do veículo se abriram, e o parceiro humano da Dra. Jane pulou para fora. - Achei mesmo ter ouvido vozes. - O homem soou grave assim que viu
Trez, - Ei, cara, como está indo?
Os dois se cumprimentaram e Trez indicou o veículo. - Então vocês conseguiram isto, huh.
- Venha ver a parte de dentro.
Trez enfiou as mãos nos bolsos dos jeans e deu a volta para a traseira. Através das portas duplas ele viu... Uma ilha grande central com duas macas, uma ao lado
da outra, rodeada por todo o tipo de equipamento médico armazenado em gabinetes envidraçados, que se alinhavam nas paredes laterais como prateleiras de livros com
esteróides.
- É como uma sala de operações em miniatura, - Trez murmurou.
Manny anuiu e voltou a subir. - Este é o plano. Queremos ser capazes de tratar com rapidez ferimentos de campo potencialmente mortais. Às vezes, trazer os pacientes
de volta para cá ou para o Havers é arriscado demais.
O médico começou a abrir e fechar armários e balcões, mostrando uma série de instrumentos esterilizados, curativos estéreis, mesmo um microscópio em um braço
extensor que podia girar para qualquer uma das macas.
Ele acariciou o instrumento como se fosse um bichinho de estimação. - Este bebê aqui também é uma máquina portátil de raio-x, e temos tecnologia de ultrassom.
Oh, e como um bônus, o RV é blindado.
- Contribuição de meu marido. - Dra. Jane olhou para o parceiro. - Então ouça, Trez vai levar Selena para jantar fora em um encontro esta noite.
- É uma grande ideia. Aonde vocês vão?
Trez fez um movimento circular com o dedo indicador. - Aquele no céu. Que fica rodando e rodando.
- Oh, sim, sei qual é, - o cara disse, - no hospital, chamamos de Central do Noivado, porque é onde os médicos levavam as namoradas para pedi-las em casamento.
Muito romântico.
- É.
Trez olhou para a extensão da sala de operações móvel, tentando decidir se o fazia sentir-se aliviado ou deprimido como a merda. O lado bom, ele achava, era
que com as luzes externas do veículo e o lendário pé de chumbo de Manny, eles conseguiriam chegar ao centro da cidade em dez minutos, especialmente com pouco trânsito.
Mas, e se não fosse tempo suficiente? E se Selena precisasse...
- Trez? - O médico disse.
Ele forçou-se a sair de seu estado de pânico - Sim?
- Que tal se eu for com vocês? Não, não como chofer, - ele completou quando Trez recuou. - Posso ficar estacionado nos fundos do prédio e só ficar por perto,
caso precisem de nós. Esta coisa tem emblemas falsificados nas portas, no capô e na traseira, e tenho todo o tipo de documentação. Ninguém irá me incomodar, e eu
posso levar um Irmão comigo caso precise me livrar de alguns humanos.
Trez piscou. - Deus, não posso pedir isso...
- Você não pediu. Eu ofereci.
Trez olhou para a ambulância novinha em folha. Ele não podia acreditar no que o cara estava pronto para...
- Trez? - Manny disse. - Ei, Trez, olhe para mim.
Trez virou os olhos de volta para o humano. Manny era bem formado para um não-vampiro, com um físico atlético que continuava a manter após emparelhar a irmã
de V, Payne. Mas, a coisa mais impressionante nele? Sua confiança. Treinado no mundo humano, o antigo Chefe de Departamento de Cirurgia do Hospital St. Francis do
centro da cidade, irradiava o tipo de atitude "ou-dá-ou-desce" que significava que ele se encaixava perfeitamente com os Irmãos.
- Deixa comigo, - o cara disse, com gravidade. - Eu cuido de vocês dois.
Manny estendeu a mão, e por um momento, tudo o que Trez pode fazer foi piscar. Mas então, aceitou o que lhe estava sendo oferecido.
A voz de Trez saiu entrecortada. - Não sei como posso te pagar.
- Simplesmente saia e aproveite sua mulher. É só o que me importa.
Quando Jane colocou a mão em seu ombro, Trez sentiu-se humilde diante do apoio. E esperançoso também de que Rehvenge pudesse aparecer com alguma novidade do
território Symphath.
Após agradecer novamente a ambos, ele voltou ao Centro de Treinamento, a Dra. Jane manteve-se atrás com o parceiro, como se soubesse que ele precisava de um
minuto para se recompor.
Deus, a cabeça dele estava a mil.
E era engraçado, ele não tinha nenhum impulso de beber até esquecer a raiva. Nenhum. Também não sentia necessidade de sair e foder centenas de mulheres desconhecidas.
Tampouco tinha interesse em investigar aqueles pacotes de drogas que encontraram com aquele lesser. Ele nem mesmo queria subir até o terceiro andar da mansão para
acordar o irmão e atualizar iAm da situação.
Ele estava curiosamente neutro. E aquilo o assustava.
Esta noite era para ser especial para sua rainha.
Tinha de ser.
Capítulo TRINTA
Foi por volta das seis da noite quando Selena saiu do chuveiro no banheiro de Trez. Ela dormira como um bebê durante o dia todo e noite adentro, apenas ciente
de Trez entrando e verificando-a de vez em quando. Como consequência, se sentiu melhor desde...
Santa Virgem Escriba, ela não soube por quanto tempo.
Enrolando-se na toalha, ela enrolou seu cabelo para cima e colocou o robe preto de Trez. O peso volumoso encolheu o seu corpo, caindo para o chão, o laço tão
longo terminava quase emaranhando em seus pés. Mas se sentia tão bem em ter a coisa nela, o cheiro dele embrulhando-se ao redor dela como um abraço, as dobras oferecendo
calor.
Em cima das pias duplas, ela pegou uma toalha de mão e enxugou a condensação no espelho. Debaixo das luzes, sua pele estava brilhando, um rubor em suas bochechas
e uma vermelhidão em sua boca, todo o resultado do sexo que compartilharam.
E haveria mais hoje à noite. Ela sabia disso porque toda vez que Trez entrava no quarto, aquela especiaria sombria dele tinha sido uma promessa intensa do que
estava por vir.
Desenrolando a toalha em sua cabeça, deixou seu cabelo escuro solto, os fios molhados pingando em suas costas. Ela fez o melhor que pôde para deixar os fios
quase secos, esfregando a tolha em cima de tudo que podia alcançar sem se esforçar demais. Então chegou a hora de usar o secador de cabelo, exceto...
Sem secador de cabelo.
Procurando, ela verificou os armários debaixo das pias, mas, só achou uma carga inteira de papel higiênico, sabonete, xampu e condicionador. Navalhas. Toalhas
de mão e de banho. Movendo-se para a área de armazenamento na parede, ela encontrou... Mais toalhas. As quais pareciam caras e tão suaves quanto pão fresco, mas,
não fariam por ela o que precisava.
Completamente seco era o seu objetivo final. Agora, ligeiramente úmido, era sua segunda escolha.
Certo, ela podia estar em apuros aqui. Eles sairiam às sete e trinta e seu cabelo, sozinho, levava mais ou menos oitocentas horas para secar...
Uma batida no lado de fora da porta a fez levantar a cabeça. - Oi?
- Isto é um "entre"? - Uma voz feminina perguntou do corredor.
- Sim? Por favor? - Apertando mais o robe de Trez, ela saiu do quarto adequadamente, depois parou assim que os painéis pesados se abriram. - Oh, oi... Ah...
Beth, a Rainha, entrou no quarto de Trez. E com ela Marissa, Autumn, Mary... Ehlena e Cormia. Bella. Payne. Também Xhex, que, com seu cabelo curto e seus couros,
parecia um pouco fora de lugar no grupo.
Ou talvez fosse por causa de sua postura estranha, como se estivesse insegura sobre o que ela estava fazendo com o grupo.
- Há algo que precisa? - Ela perguntou para Rainha. E para as outras.
Embora estivesse ciente que apenas Cormia e Layla a visitaram, era um palpite justo que todos na casa estavam informados sobre suas dificuldades, ela realmente
esperava que as fêmeas não fizeram essa viagem para oferecer condolências antes que realmente morresse.
Felizmente, Beth sorriu, em oposição às questões. - Precisamos que nos permita arrumá-la.
Selena levantou suas sobrancelhas e olhou para seus pés. - Sinto muito. Estou inadequada e não sei?
- Bem, nós ouvimos pela videira...
Marissa falou claramente. - Na verdade, meu hellren me disse. E ele ouviu de Vishous.
- Que você irá a um encontro, - Beth terminou. - E nós pensamos que você poderia gostar de um pouco de embelezamento.
Cormia colocou suas palmas para fora. - Não que você não seja bonita o suficiente.
Naquele momento, houve muitos oh, não, completamente bonita, e só se você quiser, e tudo que Selena pôde fazer foi colocar as mãos em suas bochechas. - Eu só
iria colocar um vestido e arrumar meu cabelo.
- Chato. - Xhex disse. Visto que todas as meninas lhe lançaram um olhar, ela jogou as mãos. - Eu te disse que não sou boa nessas coisas! Deus, por que me fez
subir aqui?
Beth se virou. - Selena, você sempre parece adorável, mas temos algumas roupas contemporâneas para você considerar, umas que talvez sejam um pouco mais...
- Você se parecerá com algo diferente de uma cortina de janela. - Xhex rolou os olhos. - Eu sei, eu sei, me calarei de agora em diante. Mas é a verdade.
- Pareço com uma cortina? - Selena disse, olhando para as peças nas janelas que acabaram de se fechar sozinhas. - Isso é ruim?
Beth avançou e tomou suas mãos, apertando-as. - Você confia em nós?
- Oh, claro, minha Rainha, é só que... Não sei, não consigo achar um secador de cabelo, e...
Marissa deu um passo à frente com uma bolsa de lona cheia com... Toda maquiagem concebível e utensílios de cabelo, o que quer que seja. - Não se preocupe, eu
tenho toda a solução.
E foi assim que Selena acabou sentando em um tamborete no meio do banheiro de Trez com um grupo de fêmeas circulando-a com secadores, escovas de cabelo, algo
chamado mousse, e modeladores de cachos.
No meio da maquiagem, seus olhos se encheram d'água.
- Oh, estou muito perto. - Autumn disse sobre o barulho dos secadores.
Selena levou uma mão para cima, na esperança de esconder suas lágrimas. A generosidade era tão inesperada. Literalmente sentiu como se a casa inteira estivesse
a apoiando e seu macho.
Xhex, a intransigente, foi a pessoa que trouxe a caixa de Kleenex. E quando a mão de Selena tremeu tanto que derrubou o lenço que pegara, Xhex foi quem cumpriu
a tarefa, retirando outro quadrado branco macio e enxugando levemente sob os olhos que vazavam.
Selena olhou em direção àquele olhar fixo de bronze e murmurou, - Obrigada.
Xhex apenas assentiu e continuou enxugando discretamente, seu toque gentil em desacordo com aquele rosto severo, traje masculino e a arma que usava no coldre
em sua cintura apesar do fato que estavam todos seguros no complexo.
Selena não tinha nenhum pensamento em sua cabeça, apenas emoções muito grandes para manter em seu coração.
Quando os secadores foram finalmente silenciados, ela soube que estava na hora de recuperar sua compostura. Todo aquele som e fúria enquanto seu cabelo era soprado
por toda parte ofereceu uma espécie de proteção para se esconder, ainda que todas a viram chorar.
- Seu cabelo está tão adorável. - Cormia disse conforme corria seus dedos pelas ondas. - Acho que devíamos deixar solto...
- Obrigada a todas. - Selena revelou. - Obrigada por isso.
Beth se ajoelhou na frente dela. - O prazer é nosso.
Uma mão pousou sobre o ombro de Selena. Outra em seu antebraço. Mais em suas costas. E Xhex estava exatamente ao lado dela com aquela caixa de Kleenex.
Olhando no espelho, ela se viu cercada pelas fêmeas da casa, e nenhuma delas sentia pena dela, pelo que estava muitíssimo agradecida. Ao invés, elas estavam
apoiando-a, fazendo o que podiam para mostrá-la que ela importava.
E por alguma razão, isso parecia indescritivelmente importante.
Provavelmente porque ficou claro para ela, pela primeira vez, que seria lembrada por estas pessoas depois que fosse embora, e ser lamentada por pessoas boas
era o melhor legado que alguém poderia deixar para trás.
- Solto? - Ela se ouviu dizer. - Realmente? Acha que eu deveria usar meu cabelo solto?
- Permita-me apresentar-lhe meu pequeno amigo. - Com isso, Marissa mostrou uma varinha de prata que estava plugada na parede por uma corda preta. - E agora a
guerra deve começar.
Selena teve de rir. Olhando para Xhex, disse - Você já...?
- Usei um desses? - A fêmea empurrou seu cabelo curto. - Como se pudesse. Mas acho que devia fazer o que elas dizem. Você está olhando para o cérebro confiante
da espécie quando se trata de estar gostosa.
- Então irei ceder. - Selena se encontrou iluminando-se com a ideia de uma transformação. - Faça o que desejar comigo.
Beth sorriu. - Acha que isso vai ser bom? Espere até ver o vestido.
- Sinto muito. Eu tentei.
Quando Rehvenge se desculpou por nada que era sua culpa, e nada que era realmente uma surpresa, Trez sacudiu a cabeça. Eles estavam em pé no grande hall da mansão,
seus pés plantados na representação de mosaico de uma macieira florescente.
Ele colocou sua mão no ombro vestido de pele do macho. - Seriamente, Rehv. Obrigado por dar a isso uma chance.
Rehv colocou sua bengala vermelha no chão e caminhou ao redor. - Olhei em todos os lugares em nossos registros. Perguntei às pessoas...
- Rehv, escute, eu aprecio o seu esforço. Mas, honestamente, eu não esperava alguma resposta mágica. - Merda, sabia que estava acostumado à notícias ruins a
essa altura. - Então não ataque a si mesmo em relação a isso.
Aquela pele longa alargando-se atrás do macho enorme conforme ele continuava a andar a passos largos ao redor. Eventualmente, ele parou sem energia. - Lembra-se
da noite em que nos conhecemos?
- Como se eu pudesse esquecer.
- Sempre senti que era para acontecer. - O macho olhou fixamente para baixo em seus sapatos de pele de avestruz. - Eu não quero... Isso para você. Especialmente
considerando o que mais está esperando por você.
Rehv era um do poucos que sabia que ele era o Consagrado de volta ao s'Hisbe.
Deus, Trez pensou. Aquela bagunça no Território não estava nem ao mínimo em seu radar. Selena era o grande desinfetante de todas as suas outras preocupações,
não só limpando sua ficha, mas purificando sua merda bruta.
- Irei ajudar Selena. - Ele se ouviu dizer. - Não irei a qualquer lugar enquanto ela está... Você sabe.
- Qualquer coisa que precisar, você tem. - Rehv veio. - Eu apenas...
Foi perturbador ver um macho tão grande, que era conhecido por sua arrogância impertinente, parecer tão derrotado.
Trez teve de cortar a compaixão ou isso iria deixá-lo para baixo. - Olha, você não tem de dizer mais nada. Francamente, prefiro que não faça. Não por nada, eu
preciso ficar focado onde estou agora, Selena descerá aqueles degraus e não posso ficar frustrado em minha mente hoje à noite.
- Compreendido. Mas vou te abraçar.
- Por favor não, oh, não, qual é, homem...
Quando foi envolto em pele, ele endureceu, e se sentiu como um idiota. Porra, o cara só estava sendo verdadeiro, mas, maldição, tudo que Trez queria fazer era
correr para a sala de bilhar. Talvez bater ele mesmo em sua cabeça com um taco de bilhar.
Até a maldita coisa quebrar.
Sua cabeça, não o taco.
- Uau, essa coisa é suave, - ele disse, acariciando o casaco.
Rehv recuou. - Irei subir para o quarto de hóspedes. Estou exausto e Ehlena esteve acordada o dia todo com Luchas. Acho que nós vamos dormir a noite inteira.
- Soa como o céu para mim.
Momento. Estranho.
- Você precisa parar de olhar para mim assim. - Trez esfregou seu rosto. - Ela não está morta ainda.
- Eu sei, eu sei. Desculpe. Deixarei você sozinho.
Rehv bateu-lhe nas costas e, em seguida, foi em direção à escadaria principal, subindo com a ajuda daquela bengala. E visto que Trez ficou onde estava, ele percebeu
por que não caçara seu irmão para conversar sobre as coisas. Normalmente, ele e iAm já teriam se falado oito vezes, e ainda eram só sete horas da noite.
Mas, se Rehv sendo um bom sujeito conseguiu entrar em sua pele, Trez realmente não seria capaz de lidar com essa merda com seu irmão de sangue agora. Ele mal
estava se segurando, um olhar nos olhos negros de iAm?
Ele tinha medo que não poderia colocar as coisas de volta nos escombros.
Às vezes, a honestidade era muito...
Oh, foda-se. Ele seriamente estava citando Muzak dos anos setenta agora?
Andando, andando, andando. Ele e Selena combinaram de sair às sete e trinta, e ele planejara ajudá-la até o carro. Isso tinha sido um grande estúpido não, no
entanto: Uma boa hora atrás, ele foi até o terceiro andar para verificá-la, mas Xhex barrara sua entrada e informou-o que ele não era bem-vindo em seu próprio quarto.
Então a guerreira lhe jogou um dos seus ternos pretos, junto com uma camisa preta de botão, sapatos pretos e meias de seda, e seu relógio Audemars Piguet todo preto.
E bateu a porta em seu rosto.
Fêmeas. Honestamente.
Mas, ele trocara suas roupas. Como um bom menino. E desceu até aqui para esperar.
Assim que a figura decorada de Rehv desapareceu acima, Trez tirou seu telefone e verificou suas mensagens. Esperava encontrar algo de iAm, mas, típico do seu
irmão, o cara sabia quando ele precisava de espaço e estava lhe dando isso.
Ele disparou uma atualização rápida para o macho, contando-o que estava saindo com Selena e que ele apareceria na base mais tarde quando voltassem. Então, entrou
em contato com Big Rob e Silent Tom, e informou-os para encaminhar tudo que tivesse a ver com os clubes à Xhex, assumindo que ela poderia se livrar da coisa da maquiagem
exagerada acontecendo em seu quarto. Ele estava quase guardando o telefone, quando viu que faltou uma mensagem.
De Rhage.
O Irmão alcançou e...
- Ei, estamos prontos para ir? Onde está a sua fêmea?
Falando em Hollywood. O Irmão em questão veio correndo abaixo a escadaria principal, as armas chiando como sinos de Natal humano nos vários coldres que ele ainda
tinha amarrado em seu corpo.
- Acabei de ver sua mensagem, - Trez disse. - Desculpe por não ter respondido.
- Você tem merda em sua mente. Tá tudo bem.
Os dois bateram as palmas. Reviradas em cima. Ombros batidos. Recuaram.
- Olhe para você. - Rhage andou ao redor. - Parece ótimo.
Trez estalou fora seus punhos franceses. - Eu não posso envergonhar a fêmea.
- Parecendo assim, ela será sortuda em estar ao seu lado. - Rhage parou na frente dele. - Veja, isso é o que digo à minha Mary. Ela quer que eu adicione cor
no meu guarda-roupa, tem sido uma coisa, tipo, pelos últimos dois anos.
Quando o Irmão estremeceu como se sua shellan tivesse sugerido que vestisse calcinhas debaixo de seus couros, Trez começou a sorrir.
- Você tem interesse no negro, Hollywood? - Ele disse.
- Ela quer combinar com os meus olhos. - Rhage apontou para os seus olhos inacreditavelmente azul-petróleo. - Tipo, seriamente. Digo, eu já tenho água em mim
o tempo todo com essas coisas. Por que precisamos de redundância.
- Então o quanto de cor tem em seu armário?
- Não quero conversar sobre isso. Muito deprimente...
Lassiter enfiou sua cabeça para fora da sala de bilhar. - Ei! Menino dragão, Project Runway está passando se você quiser vir assistir. Talvez pegar algumas dicas
sobre suas tendências.
O olhar de Rhage estreitou, mas se recusou a olhar para o anjo. - Não há uma maratona de "Uma galera do barulho" que você tenha de assistir?
- Não odeie o Zack. Ele é como seu maldito irmão pequeno, rainha da beleza. - Lassiter vagueou, o ouro que ele tinha criava uma aura ao redor da sua cabeça loira-e-preta
e seu corpo longo, ou talvez o brilho fosse realmente uma aura. - Então, para onde vamos? Seu clube, Sombra?
- Não.
- No baile do embalsamador, então? Com todo esse preto, é como se você estivesse interessado nas artes fúnebres...
Rhage moveu-se tão rápido que era impossível localizar. Em um momento, ele estava friccionando seus dentes ao lado de Trez; no próximo, ele estava cara a cara
com o anjo, sua mão trancada na garganta de Lassiter.
Palavras foram ditas muito suavemente, Trez não podia segui-las, mas um momento depois o espertinho drenou o rosto e a atitude do anjo.
Rhage soltou o aperto e se afastou. - Então isso aconteceu, - ele murmurou quando voltou e começou a se recuperar. - Poderia muito bem continuar com essa merda.
Estou montando espingarda com Manny hoje à noite.
- Oh, sim. - Trez respirou fundo. - Ei, obrigado por fazer...
- Mas, só porque ele me prometeu bife.
Trez arqueou uma sobrancelha. - Desculpe?
- Bife? Sabe, vaca? Carne? Paraíso em um prato? Eu sei que comeu algum antes.
- Estou familiarizado com isso, sim. Mas você virá para ajudar...
- O consumo de bife. É por isso que irei.
Houve uma pausa estranha. Durante a qual Rhage simplesmente olhou-o fixamente, como se estivesse fazendo uma declaração de que ele não seria uma zona de drama.
E, Jesus, essa era provavelmente a coisa mais útil que o Irmão poderia ter feito. Era como uma tábua de salvação saindo da zona sentimental de merda, e Trez
se agarrou nisso.
- Bife, huh. Você irá pedir o serviço de entrega do Circle the World?
Rhage recuou como se tivesse sido estapeado. - Então, certo, claramente você não está ciente disso, o que é um lapso atordoante em sua educação formal, mas a
melhor steakhouse em Caldie, a 518, é exatamente do outro lado da rua do arranha-céu que está o seu restaurante. Meu plano? Enquanto você e sua garota estão lá em
cima se divertindo e andando em círculos, eu estarei no térreo comendo, tipo, um filet mignon, um rosbife enorme, um hambúrguer de carne Kobe, uma carne de corte
nova iorquino.
- Parece bom. Qual deles você comerá? Já decidiu?
Rhage franziu a testa. - Todos eles. Com uma porção de purê de batatas. Veja, você tem de ter a proporção purê-carne correta. Faz toda diferença. E então há
os pãezinhos. Conseguirei três cestas entregues.
Trez levantou seu dedo indicador. - Sabe o que você precisa? Uma refeição no Sal's. Você deveria ir comer na taberna do meu irmão.
- É italiana?
- Sim. Estou falando sobre o melhor na cidade...
- Merda, por que eu não...
- Puta... Que pariu...
Com a maldição que Lassiter latiu, Trez e Rhage olharam para o anjo. O imbecil não os notou, porém, seus olhos extraordinariamente coloridos focados para cima,
como se a Segunda Vinda de Cristo tivesse chegado ao topo da escadaria principal.
Só então, um perfume revelador alcançou o nariz de Trez e disparou através do seu sangue, o impacto deturpando sua cabeça e seu corpo...
Diante disso, ele perdeu todos os pensamentos. Toda respiração. E toda sua alma.
Selena permaneceu no topo dos degraus com o carpete vermelho-sangue, sua mão adorável descansando no corrimão folheado a ouro, seu corpo mantinha-se rígido,
como se ela não estivesse certa sobre seus sapatos, ou seu vestido, ou talvez até mesmo o seu cabelo.
Não havia absolutamente nada para se preocupar.
A menos que ela tenha um problema em ser uma arma de sedução.
Seu cabelo escuro longo descia ao redor dos seus ombros, caindo para baixo em suas costas. Enrolado da ponta até a base, era uma glória tão feminina, tão avassalador
com o seu peso e o seu brilho, que ele empunhou suas mãos e soltou porque queria tocá-lo, acariciá-lo, cheirá-lo. Mas, isso não era a metade de tudo. Seu rosto era
a única coisa que poderia possivelmente envergonhar as coisas, sua pele radiante, seus olhos cintilantes, seus lábios carnudos vermelhos como sangue.
E então existia o maldito vestido.
Preto. Corte simples. Com um corpete decotado e uma saia que terminava no meio da coxa.
Muito quente. No meio da coxa.
Selena estendeu um pé, um delicadamente calçado, em salto alto que estava conectado a um tornozelo pequenino e uma panturrilha perfeitamente curvilínea que o
fez ranger os dentes.
Ele teve de engolir em seco quando ela começou a descer lentamente, cada passo que ela dava levava-a para mais perto dele poder tocá-la, beijá-la... Tomá-la.
Homem, aquele vestido era um knockout absoluto, nada além de um revestimento que seguia os contornos dos seus quadris, sua cintura, e seus seios, com um ajuntamento
fora de um lado no meio dela e um segundo em seus ombros. Ela não usava joia de modo algum, mas por que usaria? Não existia nenhum diamante, nenhuma esmeralda, nenhum
rubi, nenhuma safira que poderia chegar perto da sua perfeição devastadora.
Quando alcançou a parte inferior dos degraus, ela hesitou, olhando para a esquerda e direita, provavelmente para Lassiter e Rhage, eles estavam ainda no hall
com ele? Quem sabia. Porra, quem se importava?
Selena alisou o... Isso era seda? Lã? Tafetá?
Papel de alumínio? Saco de papel?
Ela estendeu a mão e empurrou o cabelo. Em seguida, fez uma careta. - Você não gosta, né. Posso mudar. Eu iria vestir...
Algo o bateu na lateral.
- ... Vestido tradicional. Mas as meninas acharam que... - Ela olhou por cima do seu ombro para as fêmeas que permaneceram no topo dos degraus. - Eu posso mudar...
Lassiter amaldiçoou. - Caralho não. Não ouse. Você parece...
O lábio superior de Trez enrolou em suas presas baixas. Então ele estalou sua mandíbula na direção do anjo caído, como um Pastor alemão. Ou talvez um tubarão-touro
fazendo um teste de mordida antes de atacar como uma motosserra a sua presa.
Lassiter pôs as mãos para cima. - Qual é, cara, eu iria dizer que ela parece um caso de caridade. Um árbitro de futebol. Uma imitadora de Martha Stewart. Você
quer que eu continue? Eu poderia começar com os personagens idiotas da Disney. Há muitos deles.
Aquela cotovelada em sua costela veio novamente. Então Rhage se inclinou. - Trez, - o Irmão silvou. - Você tem de dizer alguma merda aqui.
Trez clareou a garganta. - Eu... Eu... Eu...
Ele estava vagamente ciente das fêmeas no segundo andar estourando em altos "toca aqui" e gritos de "acertamos em cheio". Mas, sua rainha permaneceu preocupada.
Certo, ele precisava se recompor, antes que o cotovelo de Rhage o acertasse no fígado novamente e Selena disparasse de volta para o seu quarto. - Você está...
Eu estou...
Ele puxou a gola de sua camisa de seda, mesmo que a coisa estivesse escancarada.
- Você gosta? - Ela disse.
Tudo que podia fazer era acenar com a cabeça. Ele era literalmente nada, além de hormônios em um terno preto. Ela era bonita assim para ele.
- Realmente?
Mais movimentos com a cabeça. - Uh-huh. Realmente.
Selena começou a sorrir. Então ela olhou de volta para as fêmeas, que pulavam para cima e para baixo e ofereciam seus dedos polegares para cima.
Sua rainha se virou para ele. Aproximou-se. Tomou suas mãos e esticou-se para sussurrar em sua orelha - A única coisa que elas não me deram foi roupa íntima.
Nua.
Ela estava n-n-n-n-ua debaixo disso.
Capítulo TRINTA E UM
Sem dormir.
Paradise conseguiu absolutamente, positivamente não dormir nada na bonita casa. A princípio foi porque ficou muito emocionada ao percorrer o lugar, cada sala,
quarto e banheiro, maravilhada com a arte, o mobiliário, a decoração... Duas vezes. Então precisou escolher um quarto subterrâneo (escolheu o da esquerda) e desfazer
as malas, desfazer e desfazer.
Sua amada doggen, Vuchie, desenhou uma plataforma no curto corredor de paredes de pedras entre as duas suítes subterrâneas, mas Paradise insistiu com sua acompanhante
para ir pelo outro lado e se instalar no quarto real. Isto deu lugar a uma serie de protestos, que terminou com sua empregada presa entre uma ordem direta e seu
incômodo em permanecer em tal luxo; quase teve um ataque de nervos.
Por fim, no entanto, e como de costume, Paradise conseguiu sair-se com a sua.
Neste momento, ela havia se retirado ao "seu" quarto, colocou um pijama e descobriu felizmente que o wi-fi não requeria uma senha. Deitando sobre o edredom de
veludo, verificou o Twitter, Facebook, alguns blogs, o New York Post e o Daily News, e continuou ignorando as mensagens de texto de Peyton. Quando suas pálpebras
finalmente começaram a cair, colocou o telefone de lado e arrastou o edredom pela parte superior de seu corpo, a camiseta da Universidade de Siracusa e uma calça
de yoga com os quais dormiu muitas e muitas vezes.
Eeeee foi quando a coisa de não-dormir chegou com força.
Apesar de ter fechado os olhos, sua mente continuava zumbindo com o que seu pai disse que estaria fazendo ao cair da noite para ajudar o Rei.
E logo estava o fato deste primo perdido há muito tempo, sozinho com seu pai de volta em sua casa. O que aconteceria se machucasse seu pai?
Assim, então, pensou enquanto ficava em pé diante do espelho do banheiro. Não fechar os olhos... Mesmo quando suas pálpebras descerem.
A boa notícia era que a espera terminou. E seu pai lhe enviou mensagens de textos dizendo que chegaria em quinze minutos, tão claramente que lhe fez passar o
dia bem.
Era curioso, estava surpresa pelo tanto que queria vê-lo. Depois de tantos anos de rezar por um pouco de liberdade, encontrou que a experiência real foi marcada
por um pouco de nostalgia.
- Mas, agora irei começar a trabalhar.
Virando-se de lado, pegou seu casaco azul marinho. Depois puxou sua blusa branca. Brincou com seu colar de perolas.
Quando deu um passo atrás, decidiu que parecia uma aeromoça da PanAm em 1960. Como aquelas em "Prenda-me se for capaz".
- Ah vamos. - Ela arrancou o laço, prendeu o cabelo para trás com ele e guardou suas coisas. - Oh sim. Agora está bem diferente.
Não.
Soltar o cabelo talvez melhorasse a situação. Mas, de que iria adiantar, a quem queria impressionar de qualquer forma?
Bom, má pergunta para se fazer quando estava a ponto de começar em seu primeiro trabalho e não se tratava apenas de seu pai, mas do Rei de toda a Raça e sua
guarda pessoal de assassinos.
Era o suficiente para fazer uma oração à Virgem Escriba.
Ao sair de seu...
- Por favor, senhora. Permita-me preparar algo para que possa comer.
Vuchie estava em pé justo dentro do quarto, vestida com seu uniforme cinza e branco, balançando peso entre seus sapatos bege. A doggen tinha o cabelo castanho,
os olhos marrons e a pele branca como porcelana, bonita a sua maneira e provavelmente uns cinquenta anos mais velha que Paradise. As duas se conheciam desde que
Parry podia se lembrar, como acontecia com muitas filhas de pais aristocratas a relação patroa/empregada delas tinha sido cultivada formando vínculos por toda vida.
Em muitos casos, uma empregada era a coisa mais importante levada para a nova casa quando se vinculavam à um macho de privilégio ou criação similar.
Era seu vínculo com o passado. Sua lucidez. E muitas vezes, a única pessoa em quem se poderia confiar.
Cara, ela preferia muito mais essa realocação com sua empregada; por causa de um novo emprego e não algum antigo hellren.
- Estou bem, Vuchie. - Ela tentou sorrir. - Você está com fome?
- Senhora, você não teve sua Última Refeição ontem, também.
Parry não tinha intenção de dizer a verdade claramente, um amassado ou uma rusga, não deixaria nada interferir em sua nova postura de aeromoça. Este tipo de
franqueza apenas levaria a uma briga que acabaria com ela de repouso na cama e, provavelmente, Vuchie chamaria seu pai pedindo reforço.
- Sabe o que eu gostaria? - Parry forçou um sorriso. - Que preparasse algo para mim e levasse ao escritório. - Ela se aproximou e segurou o braço de Vuchie.
- Sim, vamos, vamos, faça isto.
- Mas... Mas... Mas...
- Estou tão feliz que concorde. Adoro quando estamos em sintonia.
Foi até a parte superior da escada curva de pedra, era muito bem decorada, atravessaram um retrato de tamanho natural de uma da família real francesa até onde
estava o vestíbulo.
- É tão tranquilo. - Disse Paradise, mais calma.
O lugar, como resto da casa, estava muito bem decorado, antiguidades por toda parte, setas e veludo nas paredes e pisos, inclusive as cadeiras eram cobertas
por ricos tecidos. Lembrou-a de artigos que leu na revista Vogue e Vanity Fair sobre Babe Paley e Slim Keith, os móveis eram perfeitos, os objetos de arte pequenos
caprichos de jade, ouro e bronze, cores sóbrias, mas não fracas.
- Suponho que meu pai não está aqui, no entanto.
Como se fosse um sinal, as persianas automáticas se moveram por todas as janelas, o zumbido sutil fazendo-a saltar.
- Vou até a cozinha. - Disse Vuchie. - Preparar seu café da manhã.
Quando sua empregada saiu, Paradise quase chamou a mulher de volta. Pelo amor de deus, a doggen não era uma manta de segurança.
Decidida a enfrentar o que fosse sozinha, apesar de que não sabia o que iria fazer, se aproximou e sentou-se atrás da mesa do escritório e... Brincou com o mouse,
o que a levou a uma tela protegida com senha que nem se incomodou em decifrar.
O wi-fi no subterrâneo era outra coisa. O computador ali? Era bloqueado e teria algo mais. Uma por uma ela abriu as gavetas, sem encontrar nada além de artigos
de papelaria e artigos de papelaria... E sim, mais artigos de papelaria.
Ouviu vozes pela primeira vez. Profunda. Rouca. Muito masculina.
Então a porta se abriu. E ali estava um coro de muitos, muitos pés pesados calçados com botas cruzando o umbral.
O primeiro pensamento de Paradise foi se esconder debaixo da mesa.
Os membros da Irmandade da Adaga Negra estavam na casa, todos eles vestidos de couro negro, cada um deles armados brutalmente.
Eram maiores do que se lembrava das apresentações na noite anterior. E ela não os enquadraria na categoria de zero a esquerda de forma alguma.
- ... Bombeou algumas vezes sua cabeça. - Disse um deles.
Foi como uma derrapagem de pneus quando eles pararam em seco e a olharam. Graças a Deus que estava sentada. A mesa era uma espécie de barreira entre ela e todos
os guerreiros.
- Ei. - Disse um deles, um com o sotaque de Ben Affleck. - Sua primeira noite, verdade?
Quando começou a assentir com a cabeça, seu pai passou pela porta aberta.
- Estou aqui, estou aqui! - Seu pai abriu caminho através do grupo. - Paradise, como está você?
Ocorreu-lhe que deveria ficar em pé e abraçá-lo com força. Podia fazer isto, disse a si mesma. Poderia absolutamente e positivamente fazê-lo.
De verdade.
Honestamente.
Deus havia vários homens na casa.
Gêmeos. Ela teria gêmeos.
Enquanto Layla estava na maca, esfregou seu ventre com a mão livre, a que não estava dentro do gesso que ia até acima de seu cotovelo direito. As dores de sua
queda haviam desaparecido e o osso quebrado que Manny cuidou já estava colado novamente. O gesso iria desaparecer logo. Gêmeos.
Apesar de que teve todo o dia para se acostumar as notícias, ainda estava aturdida, e para piorar as coisas, ela e Qhuinn realmente não conversaram sobre isto.
Estava mais interessado na roupa que ela iria vestir. No momento que ela entrou na camisola de flanela e seu robe rosa favorito, dormiu. Foi bom o suficiente
para colocar seu manto sobre ela e deixá-la sozinha.
Estava irritado com ela? Pensava que ela estava mentindo sobre onde ia de carro em seus passeios?
Maldição, como diriam os Irmãos...
Uma batida na porta a fez levantar a cabeça. - Sim?
Como se houvesse lido sua mente, Qhuinn colocou o torso forte no quarto.
- Ei. Apenas queria vê-la antes de sair esta noite. Como se sente?
Layla respirou fundo e tentou manter o rosto em branco.
- Estou bem. E você?
- Bem.
Uma longa pausa. Isso fez com que seu coração acelerasse.
- Então, obrigada pelo manto. - Ela acariciou o tecido. - Realmente apreciei. Acabo de acordar, mas vou devolvê-lo.
Depois de um momento ele entrou, apoiando-se na porta fechada. Seus olhos diferentes subiram por seu corpo algumas vezes, sutilmente.
- Então, como está? - Disse. - Você sabe, com a coisa dos gêmeos.
- Bem. Quero dizer, foi um choque... - Ela encolheu os ombros. - Mas, estou me ajustando. Estou feliz. Dois, uma benção. Claro.
- Bom. Sim. Uh, hum.
Silêncio. Que foi preenchido por ele colocando as mãos nos bolsos de couro e ela brincando com a ponta do maldito manto.
Além de romper em suor frio sob os lençóis de hospital.
- Há algo que precisa me dizer? - Perguntou Qhuinn.
Os golpes nos ouvidos eram tão fortes, que tinha quase certeza que ela respondeu com um grito. - Sobre o que?
- O que estava fazendo à noite?
Obrigou-se a segurar seu olhar. - Fui dar uma volta.
- Porque suas roupas estavam cobertas de folhas?
- Desculpe?
- Sua roupa. À noite. Quando as peguei, estavam sujas e havia folhas sobre elas. Se estava caminhando pelo pátio e caiu, porque estariam assim?
Ela abaixou os olhos apesar de fazê-la parecer culpada. Por outra parte, ela era culpada.
- Layla? - Ele amaldiçoou em voz baixa. - Olhe, é uma mulher adulta. Apesar de estar carregando meu filho, não tenho nenhum direito sobre sua vida ou o que esta
fazendo, exceto em coisas relacionadas com a gravidez. Apenas quero me assegurar que esteja a salvo. Por seu bem. Pelas crianças.
Merda.
Agora era o momento, pensou. Agora... Tinha de ser o momento.
- Sinto-me presa. - Ouviu-se dizer.
Entre Xcor e a Irmandade. Entre o perigo e a segurança. Entre o desejo e a condenação.
- Imaginei isto. - Qhuinn assentiu. - Está dirigindo. Para longe.
- Caminho.
- Onde?
- Fora. - Em sua cabeça, ela tentou uma variedade de confissões, com substantivos e verbos, tentando encontrar uma maneira para descrever o que estava fazendo
sem lançar merda para todo lugar. - Fora... Pelo campo.
Qhuinn cruzou o quarto e se endireitou de frente a uma pintura de salgueiro. - As pessoas fazem isto o tempo todo. Em suas cabeças. - Disse.
Nisto tem razão, pensou.
Queridíssima Virgem Escriba queria lhe dizer. Realmente queria... Mas a revelação ficou presa em sua garganta.
Pela primeira vez, começou a ficar irritada. Consigo mesma. Com Xcor. Com toda maldita coisa.
- Tropeçou e caiu enquanto estava caminhando? - Disse.
- Sim. - Ela respirou fundo. - Fui estúpida. Caí sobre uma raiz.
Tão perto da verdade. Estava ficando irritada.
Cara, isto estava matando-a.
- A maioria das mulheres... - Qhuinn foi para os pés da cama, colocou as mãos nos quadris estreitos e olhou para seus pés. - A maioria das mulheres tem alguém
com quem passar por isto. Quero ser ele para você. Blay também quer. Nós não queremos defraudá-la.
Genial, agora sentia as lágrimas por ele duvidar que pudesse ser um apoio. - Você é incrível. Os dois são. Você é absolutamente incrível. É apenas que... Não
há muito o que fazer.
Ao menos isto não era uma mentira.
- Mas, agora com gêmeos. - Ele negou com a cabeça. - Gêmeos... Pode acreditar?
- Não. - Ela esfregou o ventre. - Não sei como vão encaixar. Já me sinto enorme e ainda tenho quantos meses?
- Ouça, por favor, estou contigo. Estou aqui para você, com tudo o que precisar.
Um estridente alarme começou a soar ao lado, os dois franziram o cenho ao mesmo tempo e olharam ao redor procurando o ruído.
- Vem do quarto de Luchas? - Perguntou. - Oh Deus meu, será que...?
Ouviu-se um grito no corredor. Vários passos. A voz de Jane dando ordens.
- Merda, tenho de ir ver. - Disse Qhuinn enquanto girava e se lançava para a porta. - Tenho de ir ajudar...
Quando ele correu para o quarto de seu irmão, Layla sentou-se. Ficou em pé. Estabilizou-se. O que estava acontecendo ao lado era ruim. E ela estaria condenada
se Qhuinn iria enfrentá-lo sozinho.
Capítulo TRINTA E DOIS
Ao sentar-se no banco de trás do gigante Mercedes, aquele que Fritz dirigia e estava, de fato, dirigindo, Selena sorria tão largamente que suas bochechas estavam
insensíveis e sua mandíbula doía.
À frente do sedã, os arranha-céus de Caldwell brilhavam como as sentinelas míticas de algum reino de fantasia e ela se inclinou para a janela, tentando ver aquele
para o qual se dirigiam, o mais alto dos gigantes, o ápice de todos.
- Mal posso esperar para ver a vista lá de cima, - ela se virou para Trez. - Estou tão excitada.
Quando ele não respondeu, mas só continuou a encará-la, ela sorriu ainda mais. O macho não desviara o olhar desde que ela descera as escadas, os olhos vagando,
sempre vagando, nos lábios dela, nos seios, as coxas e pernas, de volta ao cabelo, rosto, garganta.
A excitação dele estava saliente à frente das calças pretas. E mesmo que ele tentasse, repetidas vezes, colocar o paletó, o braço ou uma mão no colo de forma
casual, ela conseguia sentir o sexo dele tão claramente como se ele estivesse nu.
Ela se inclinou, se aproximando. - Me beija?
- Não confio em mim esmo.
- Que terrível. - Esticando-se, ela mordiscou o lóbulo da orelha dele, - Perigoso...
O grunhido que vibrou pelo peito dele foi a coisa mais erótica que ela já havia ouvido.
- Talvez devêssemos cuidar disto? - Quando ela pousou a mão sobre seu sexo, ele pulou e praguejou. - Isto é um "sim"?
Enquanto ele se apoiava no banco e jogava os quadris ao encontro da mão dela, ela olhou para a frente do carro, que, dado o tamanho, parecia estar em outro código
postal. Fritz estava concentrado na estrada, seu rosto velho e enrugado, preocupado. Talvez pudessem...
Sem tirar aqueles olhos escuros dela, Trez remexeu com a mão na porta. Um segundo depois, houve um som de whhhrrrring e uma partição opaca se elevou, isolando-os
do gentil chofer.
- Não temos muito tempo, - ela disse, ao afastar o braço dele.
- Não será preciso muito tempo.
Do bolso sobre seu peito, ele tirou um lenço branco dobrado e, com um rápido chacoalhar, liberou-o de seu rigor engomado.
Ao mesmo tempo em que ela liberou sua ereção.
Ela estava em meio a decisão de cair de boca nele, mas ele segurou seu rosto entre as mãos e beijou-a, a língua penetrando fundo, encontrando a dela.
Ele estava duro e quente, aveludado e grosso, e ela deslizou um agarre em volta de seu pau, bombeando. Quanto mais acariciava, mais doido o beijo se tornava,
até a pélvis dele estar convulsionando contra ela, e seu peito arfando, e ela estava respirando com tanta dificuldade quanto ele.
Quando ele gozou, gritou o nome dela e baixou aquele lenço para conter sua explosão... E ela estava tão excitada, tão tonta com a sensação da boca dele sobre
a sua e os movimentos de sobe e desce, sobe e desce da sua mão contra o sexo dele, que sentiu um intumescimento entre suas próprias coxas, uma resposta do próprio
corpo ao que ela estava fazendo nele... Que era tão pouco perto do que realmente queriam.
Seu próprio orgasmo foi uma surpresa, e ela se entregou, absorvendo as garras afiadas do prazer, tornando-as mais fortes ao apertar as coxas uma contra a outra
e esfregar. Enquanto isto, ela continuava as carícias rítmicas, apertando a ponta, trabalhado sua extensão.
Quando acabou, Trez caiu contra o banco, pálpebras baixas, lábios entreabertos, cabeça caída para o lado como se não tivesse força para endireitá-la.
- É isto o que chamam de rapidinha? - Ela sussurrou ao pressionar os seios contra o peito dele para beijá-lo.
Antes que ele pudesse responder, ela correu a língua ao longo de seu lábio inferior, então sugou-o. Afastando-se, ela disse, - Hmm? É?
- Cuidado, fêmea, eu posso arrancar este vestido que está usando.
- Isso seria ruim?
- Se outro macho te vir nua, sim. - Ele sorriu e correu uma das presas pelo lábio inferior. - Eu sou possessivo.
- Você ainda está duro, não está?
Com um rápido agarre na nuca dela, ele puxou-a para perto e beijou-a violentamente. Embora ela estivesse no controle da primeira parte, agora ele assumiu o controle,
dominando o corpo dela, enfiando uma mão entre os joelhos, e acima para a...
Ela gozou contra os dedos dele assim que eles a penetraram, seu núcleo explodindo em ondas após ondas de prazer.
- Esta é minha rainha, - ela ouviu-o dizer através de uma vasta distância. - Goze para mim...
Ela perdeu as contas do quanto ele a provocou com aquele toque talentoso, mas eventualmente, ela tomou consciência do carro fazendo uma curva longa que a fez
escorregar no assento. Focando seus olhos vidrados pela janela escurecida, ela viu que saíam da rodovia, prontos para entrar nas complicadas artérias asfaltadas
que levavam à incontáveis arranha-céus.
- Eu arruinei o seu batom, - ele disse com satisfação, enquanto se ajeitava. - Você trouxe mais?
Agora foi a vez dela se sair com huh-quê? - Deixa eu ver se tem algo aqui. - Ela remexeu na pequena bolsa preta que Marissa havia lhe dado. - Sim, elas pensaram
nisto.
Como se as fêmeas soubessem exatamente em que tipo de problema ela provavelmente se meteria, havia um pacotinho de lenços de papel, o delineador labial que haviam
lhe ensinado a usar, e o fabuloso batom vermelho que havia passado.
- Tem um espelho ali. - Trez estendeu o braço e puxou alguma coisa do teto. - Ele acende.
Ela verificou seu reflexo e teve de rir, - É, você realmente arruinou o batom.
Um lencinho cuidou da mancha e então era caso de cuidadosamente fazer uma linha contornando sua boca, bem na hora em que o carro passou por um buraco na estrada
que era quase, mas não completamente, regular.
- Droga, - ela disse, pegando outro lenço por ter acabado com uma linha cor de rosa no nariz. - Deixa eu tentar...
Trez segurou a mão dela e a baixou. Quando ela olhou para ele, os olhos dele, seus comoventes olhos pretos pareciam estar memorizando cada detalhe dela.
- Você não precisa disto, - ele disse, - gosto mais sem.
Selena sorriu timidamente. - Sim?
- Sim. - O olhar dele desceu para o seu corpo. E voltou a subir. - Isto é maravilhoso. Você está fantástica. É a fêmea mais linda na cidade hoje, e quando entrarmos
no restaurante, os garçons vão derrubar as bandejas. Mas, quer saber o que eu mais gosto em sua aparência?
Quando ele pausou, ela se viu engolindo em seco. - O quê? - Sussurrou.
- Você mesma, minha rainha, a aparência com a qual nasceu. Pelo que me consta, a perfeição não pode ser melhorada, nem pelos homens, nem por Deus. Inclinando-se,
ele beijou-a suavemente. - Só pensei que você gostaria de saber o que o seu macho está pensando quando olha para você.
Selena começou a sorrir, especialmente ao perceber que, às vezes, "eu te amo" pode ser expressado sem necessariamente usar estas três palavrinhas juntas.
- Vê? - Ela disse suavemente, - eu disse que esta ia ser a melhor noite da minha vida.
De carona na ambulância de Manny, Rhage comia Doritos direto do pacote, e discordava totalmente do médico. - Não, eu não sou um fã de Cool Ranch. Só como Original.
- Você está perdendo. - Manny deu seta para sair da rodovia. - Não acredito que você, dentre todo mundo, pode ser tão mente fechada quanto ao sabor de seus salgadinhos.
- Mas, este é o ponto. Por que melhorar uma dádiva de Deus?
Virando o pacote, ele olhou dentro e quis praguejar. Estava chegando ao fim dos grandes, restando nada mais do que os quebrados e aquele cósmico pozinho laranja.
Não que ele não fosse comer tudo, jogando a coisa direto do saco em sua boca aberta. Mas esta era a parte não-divertida da experiência, a que não envolvia a destreza
dos dedos.
Mastigando, ele voltou a focar na traseira do carro de ditador do terceiro mundo de Fritz. Aquele Mercedes era tão grande, tão preto e tão completamente escuro,
que chamava mais atenção ao passar do que seria esperado. Só de brincadeira, Rhage imaginou o que os humanos pensariam se soubessem que havia vampiros no banco de
trás.
E que a coisa estava sendo guiada por um mordomo centenário com um pé que faria o piloto Jeff Gordon ter um ataque de ciúme.
- Viramos aqui? - Rhage perguntou ao se aproximarem da intersecção.
- É contramão.
- Como eu disse, viramos?
Manny olhou para ele. - Não, se não quisermos ser presos.
- Estamos em uma ambulância.
- Sim, mas eles não.
Oh, certo. Droga. - Sabe, eu realmente queria ligar as luzes desta merda.
Só que, no instante em que disse isto, sua costela afundou ao redor dos pulmões e ele acabou tendo de baixar a janela um pouquinho para deixar entrar um pouco
de ar.
- Você sujou minha porta de nachos?
Rhage esfregou a mancha alaranjada com o antebraço - Não.
Eles continuaram grudados no pára-lama de Fritz igual a um selo em um envelope, virando a esquerda, afastando-se do rio, indo diretamente para o coração do distrito
financeiro. Sem becos escuros. Sem caçambas de lixo. Sem lama, mesmo nos meses chuvosos. E sem o cheiro nojento dos restos apodrecidos de restaurantes xexelentos.
Aquela era a parte chique da cidade, onde pessoas vestiam ternos e corriam por todo canto, canalizados como gado no curral, a seus lugares de Trabalho Urgente
e Importante.
O prédio que abrigava o restaurante onde eles estavam indo havia sido concluído um par de anos antes, e seus construtores alardeavam a enorme ascensão vertical
como o prédio mais alto em Caldwell. Abarrotado com os quartéis-generais de grandes negócios, para ele, não passava de um gabinete cheio de humanos, cada um guardado
em pequenos compartimentos.
Enfadonho.
- Você está bem?
Rhage olhou para o médico - Huh?
- Qual o problema?
- Nada.
- Então porque parou de comer? O pacote ainda não está vazio.
Rhage olhou para baixo. Verdade, ele deixara os restos onde estavam... E não tinha vontade nenhuma de terminar. - Ahhh...
- Está cuidando do peso?
- Sim. É isso.
Quando amassou o pacote, deixou manchas alaranjadas por todo o rótulo e embalagem, até a coisa parecer cheia de hematomas por maus tratos.
Então viu que a sua própria mão estava laranja. - Merda, não tenho como limpar.
- Tá brincando? - Manny jogou uma gaze para ele. - Podemos limpar e polir metade desta cidade com o que tenho aqui.
Rhage abriu o pacote e limpou-se; então jogou tudo na lixeira que havia entre os assentos.
Manny desacelerou ao chegarem ao prédio de vidro, então estacionou do outro lado da rua quando Fritz parou completamente diante da entrada iluminada, os faróis
traseiros do Mercedes brilhando vermelhos.
Um momento depois, Trez saiu e deu a volta no sedã, o vento forte tremulando seu paletó antes de ele se abotoar, exibindo as .40 gêmeas que havia colocado no
suporte sob seus dois braços.
Com um movimento galante, ele abriu a porta para sua fêmea, e Selena emergiu da traseira, os cabelos incríveis oscilando como uma bandeira negra para lá e para
cá.
- Casal bonito. - Manny disse baixinho.
- Ela nem parece doente.
- Eu sei.
Trez enganchou o braço no dela, e acompanhou-a pelos degraus de granito acima e, quando outro casal saiu pela porta giratória, ambos os humanos pararam e os
encararam.
- Manny.
- Sim?
- Você tem de fazer alguma coisa, cara. Você precisa descobrir que merda é essa e resolver isto para eles.
Manny ligou o motor, e o motor turbinado do RV acelerou, levando-os adiante, para contornar até os fundos do prédio.
- Você me ouviu? - Rhage exigiu.
- Sim, ouvi. - Manny respirou fundo - Sabe o que é o mais difícil de se aprender na medicina?
- Bioquímica?
- Não.
- Anatomia humana? Porque é nojento.
A seta fazia um som de nuk-nuk-nuk quando o médico anunciava ao mundo, ou pelo menos a esta rua, que virariam à esquerda de novo, em torno da base do arranha-céu.
- O mais difícil é entender que há situações onde não há nada que se possa fazer.
Rhage esfregou os olhos. Algo de seu subconsciente estava voltando a ele, algo que não queria.
- Rhage?
- Huh?
- Você fez um som engraçado aí.
Quando Manny voltou ao compartimento de serviços, ele executou uma elegante manobra em K de modo que a traseira do veículo ficasse colada ao prédio. Desligando
as coisas, ele se virou no assento.
- Tem certeza que está bem?
- Oh, sim. Uh-huh.
- Você não parece bem. E veja só o que eu estou usando: jaleco. Sabe o que isto significa.
- Que você gosta de sair de pijamas em seus passeios?
- Que eu sou um médico e sei do que estou falando.
- Deixe de paranóia, grandão.
Houve um intervalo ínfimo de silêncio. Então Manny disse, - Não há nada que eu não faria para ajudá-los. Nada.
Agora foi a vez de Rhage virar-se. - É o que eu precisava ouvir, Dr.
- Só não coloque sua fé em milagres, Hollywood. É uma aposta perigosa.
- Aconteceu para mim e Mary. Na hora em que precisamos, um milagre aconteceu.
Manny olhou para fora, através do pára-brisa... E não pareceu estar vendo nada da rua escura à frente. - Eu não sou Deus. E nem a Jane.
Rhage voltou a encostar-se a seu assento. - É preciso ter fé. Eles só precisam ter fé.
Capítulo TRINTA E TRÊS
Quando a porta da cela voltou a se abrir, iAm virou-se. Mas, ainda não era s'Ex. E não era mais uma cama. Nem mais livros que ele não iria ler, ou cobertas que
não usaria, ou travesseiros para os quais, não ligava a mínima.
Era a serviçal com outra refeição.
- Ah, qual é! - Exclamou ele, meneando a mãos. - Onde, caralho, está s'Ex?!
A fêmea não disse nada; simplesmente avançou com aquela sua bandeja enquanto a porta deslizava de novo para seu lugar, isolando-os juntos.
Quando ela se ajoelhou, ele quis gritar. E gritou.
- Eu não vou comer porra nenhuma! Jesus Cristo, qual o problema de vocês?
A única coisa que o impedia de marchar até ela, pegar aquela porra de comida e jogá-la do outro lado do quarto, era o fato de não ser culpa da maichen. A traição
de s'Ex não tinha nada a ver com ela, e aterrorizar a maldita serviçal não ia deixá-lo nem um pouco mais próximo da liberdade ou de seu retorno para Trez.
Ela era uma vítima inocente, pega no meio desta merda, do mesmo jeito que ele.
Exalando em um rompante, ele baixou a cabeça. Levou-lhe alguns momentos até recobrar um mínimo de controle. - Desculpe.
Diante daquilo, a cabeça dela ergueu-se um pouco, e por um momento, especialmente quando seu aroma o atingiu, ele desejou poder ver os olhos dela.
Qual será o formato deles? Como seriam os cílios? Seriam as íris tão escuras quanto às dele...
Por que caralho ele estava pensando nisto?
Afastando-se dela, começou a perambular. - Eu tenho de sair daqui. O tempo está acabando.
Quando ela inclinou a cabeça para o lado, em sinal de questionamento, ele pensou, Não. Não vou fazer isto.
Ele indicou a bandeja. - Se quiser, deixe a comida aí que eu jogo na privada, para que não se encrenque por não me alimentar.
E foi quando ela falou - Não está envenenada.
Sem nenhum bom motivo, aquelas três palavras, em nada especiais, o fizeram congelar. A voz dela era mais profunda do que ele havia imaginado; toda a subserviência
dela parecia combinar melhor com algum tom super feminino de alta oitava. E havia aquela tonalidade baixa e rouca... Que o fazia pensar em sexo.
Sexo rude. Do tipo que deixava as fêmeas roucas de tanto gritar o nome de seu amante.
iAm piscou.
De repente, sentiu vontade de cobrir o corpo nu. Que era, tipo, besteira, não era? Ele sabia que ela era uma fêmea o tempo todo e, não era como se jamais tivesse
usado roupas na frente dela.
Cedendo ao impulso, ele foi para trás do biombo, na direção da pilha de toalhas que ficava perto da banheira embutida. Ao enrolar uma em volta dos quadris, sentiu-se
como se desculpando por ter ousado andar com o pau ao vento.
Quando ele voltou, ela novamente provava a sopa e o pão.
- Pode parar. - Ele disse. - Não vou comer.
- Por quê?
De novo, aquela voz. Mesmo em poucas palavras desta vez.
- Tenho de sair daqui, - murmurou ele. Por uma muitos motivos. - Eu tenho de sair.
- Tem algo a sua espera?
Ele pensou em Trez e Selena. - Só morte. Sabe, não é nenhum fodido grande problema ou coisa assim.
- Como é?
- Ouça, preciso que vá embora. E não volte até trazer s'Ex com você.
- Quem?
Eeeee ele parou de novo. Serviçais jamais eram imperativas, mas era assim que ela soava. Então, de novo, as emoções dele estavam tão elevadas, que ele se sentia
capaz de interpretar praticamente qualquer coisa agora... E pular para a conclusão errada.
- Eu voltei aqui para procurar ajuda, está bem? - Ele ergueu as mãos. - s'Ex me disse que me ajudaria a entrar no palácio, para que eu pudesse pesquisar nos
registros dos curandeiros.
- Ajuda para quem?
- Para a companheira de meu irmão.
A cabeça da serviçal se ergueu argutamente. - Mas ele não é o companheiro da Princesa aqui? Ouvi dizer que ele era O Consagrado.
- Ele se apaixonou. - iAm deu de ombros - Acontece. Ou é o que dizem.
- E é ela quem está morrendo?
- Ela não está bem.
Ele voltou a perambular, podia sentir os olhos por trás daquela malha seguindo-o. - Então é por isto que eu preciso sair. Meu irmão precisa de ajuda.
- Ele está na cerimônia de luto. O carrasco.
iAm desviou o olhar e, então, voltou a andar pela cela. - Sim, eu sei, mas ele disse que teria liberdade suficiente para me encontrar no exterior. A viagem seria
mais curta, agora que estou dentro do próprio palácio.
- Mas, esta é a questão. Ele partiu e ninguém sabe para onde ele foi. O palácio queria que ele participasse. O palácio... Insistiu que ele atendesse à Rainha.
Ele está com ela agora.
Que sorte a dele. - Mas há intervalos nos rituais, não há? Não pode procurá-lo durante estes intervalos?
- Bem... Talvez eu possa te levar aos registros?
iAm voltou lentamente sua cabeça, - O que você disse?
Mais. Longa. Viagem. De. Elevador. Da. Vida. Dele.
Enquanto Trez permanecia em pé, ao lado de Selena em uma câmera de tortura de paredes envidraçadas, encarava resolutamente as portas fechadas... E rezava para
que algum tipo de fenda do tempo estilo Dr. Who, o tirasse daquela maldição naquela porra de minuto.
Com os globos oculares grudados na fileira iluminada de números acima das portas cromadas, ele queria vomitar.
... 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50...
O "44" ainda estava por ser iluminado, porque eles estavam na parte super-hiper-mega-expressa-e-rápida daquele alegre passeio.
- Oh, você precisa ver isto! - Selena disse, virando na direção do fornecedor gratuito de vertigem. - Isto é tão divertido!
Um rápido olhar por sobre o ombro e ele quase gritou. Sua linda rainha não tinha apenas se aproximado do vidro, mas estava com as palmas das mãos apoiadas nele,
e se inclinava para a vista cada vez mais alta.
Trez virou-se novamente. - Quase lá. Estamos quase no topo.
- Podemos descer e voltar a subir? Fico imaginando como é a descida.
Na verdade, talvez eles devessem voltar ao saguão. Ele tinha quase certeza que sua masculinidade havia ficado lá quando esta subida de foguete se iniciou.
- Trez! - toc, toc, toc em seu antebraço, - Olhe para isto.
- Ah, é... É incrível... Sim. Absolutamente.
Eles jamais chegariam aos quatrocentos e quarenta e quatro andares. Muito menos no nível cinco mil porrilhões onde o caralho do restaurante ficava.
McDonald's, ele pensou. Por que ela não queria ir ao Mickey D. ou ao Pizza Hut, ao Inferno do Taco Bell...
Bip!
Diante do som, ele preparou-se para um momento Duro de Matar onde algum supervilão em um elegante terno inglês explodiria o prédio todo.
Não. Bip! Quarenta e cinco. Bip! Quarenta e seis.
E, mais boas novas vieram quando aquela viagem aos céus se tornou mais lenta.
- Trez?
- Mmm?
- Tem algo errado?
- Só estou faminto. Oh, meu Deus, não posso esperar para chegar lá.
Ela enfiou o braço sob o dele e encostou a cabeça contra seu tríceps. - Você realmente sabe como tratar uma fêmea.
Claro que ele sabia. Por exemplo, tinha certeza absoluta de que não seria considerado nada romântico se deitar em posição fetal e sugar o dedão porque era um
covarde em se tratando de altura.
Bing! E as portas se abriram.
Obrigado, menino Jesus, para usar uma frase de Butch.
Agora, ele disse a si mesmo, controle-se, seu covarde e concentre-se na sua fêmea.
Exibindo à sua rainha um sorriso Cary Grant cheio de presas, ele acompanhou Selena para fora da armadilha da morte, para um lobby de mármore que, por uma fração
de segundos, levou-o de volta ao seu pesadelo no s'Hisbe: havia pedras pretas brilhantes demais nas paredes, chão e teto, com luzes embutidas no teto e nada mais.
- Trez?
Estremecendo, ele sorriu para ela - Está pronta?
- Oh sim.
Uma discreta placa em preto sobre preto, com uma seta indicava o caminho para o restaurante, mas seus sentidos aguçados de audição e olfato já havia lhe dado
aquela informação, obrigado. Ao se dirigirem para lá, um casal humano passou apressadamente por eles, os saltos altos da fêmea como um "Foda-se" expressado a cada
passo que ela dava.
- ... Sem reserva? - Ela sibilou - Como pode não fazer a reserva?
O homem próximo a ela olhava para frente. Com o olhar de alguém preso perto de uma criança de três anos em um ônibus.
- Não acredito que não fez a reserva. E tivemos de sair deste jeito. Na frente de todo mundo...
Enquanto ela continuava marchando naquele mesmo tema, os olhos do homem se fixaram em Selena... E o pobre bastardo recuou em admiração como se um anjo vivo tivesse
aparecido em sua frente.
Depois de Trez afirmar ao seu macho vinculado interior que uma entrada apropriada não incluía Filé ao Molho de Fodido Intrometido, lembrou que também ele, havia
se esquecido de ligar antes para fazer a reserva. Merda. Ele se esquecera totalmente de pedir a Fritz para fazer a maldita ligação. E controle de mente funcionava
em humanos, inclusive nos esnobes maitres, mas, isso não resolvia o fator indisponibilidade de assentos vazios.
Ahh...
- Sabe, eu ouvi que a comida aqui não é tudo isso, - ele disse, entorpecido.
- Tudo bem, estou aqui mais pela vista.
A entrada do Circle the World não era indicada por nenhum letreiro, como se, caso fosse necessário perguntar, você não devia estar ali. Tudo o que havia era
um par de portas de vidro escuro, tão largas e altas como uma casa térrea.
Segurando as maçanetas negras, ele empurrou uma das portas e deixou Selena entrar.
Restrição total.
Aquela foi a primeira impressão do lugar: preto brilhante em todos os cantos, das mesas e cadeiras geométricas aos suportes quadrados que apoiavam o teto. Sem
flores. Sem velas. Nada espalhafatoso. E a noite escura além de todas aquelas janelas? Também preta, de forma que não parecia haver divisão entre o céu e o interior.
O único toque de extravagância? As luzes LED ondulantes que se dependuravam daquele teto aberto em cabos negros, sua luz cintilante refletindo todo aquele alto
brilho.
Oh, e havia uma soprano cantando em um canto, sua voz doce espalhando-se por todo o lugar.
- Eu nunca vi nada disto, - Selena suspirou, - é como se houvessem estrelas por todo os lados.
Ele olhou em volta - É.
Está bem, cadê o cavalheiro em roupa de pinguim encarregado de mandar embora um monte de gente cheia de grana? Não havia nenhum maitre à entrada. Só nove metros
de tapete preto levando à primeira fileira de mesas minimalistas.
- Estão olhando para nós.
Diante das palavras sussurradas, ele franziu o cenho e encarou os frequentadores. Bem, quem diria. Cada um dos humanos às mesas parecia haver parado de comer
e olhavam na direção deles...
De repente, uma mulher se aproximou. Como a decoração, ela estava toda de preto, e mesmo o seu cabelo era um capacete liso e molhado de alto brilho.
- Como vão, - ela disse, com um sorriso amplo. - Bem-vindos ao Circle the World.
E agora iremos nos autodestruir em três... Dois... - É... Eu não liguei antes...
- Oh, Sr. Latimer, sim, ligou. Seu representante, Sr. Perlmutter nos avisou que nos agraciaria com sua presença. Temos imenso prazer em acomodá-los perto das
janelas.
Pooooooorra.
Obrigado, obrigado, Fritz, mordomo salva-vidas supremo... Que havia claramente cuidado das coisas.
Quando sua rainha ficou radiante, a mulher indicou o caminho através do salão aberto... E quando a seguiram, Trez percebeu que eles haviam entrado em um vasto
prato que girava lentamente: o restaurante inteiro se movia em volta do eixo central do elevador e do que devia ser o espaço da cozinha.
Eles foram diretamente à beira. A uma mesa para dois que tinha uma das suas generosas laterais diretamente contra o vidro.
Sob o qual a cidade de Caldwell inteira se estendia, cerca de cento e vinte mil metros abaixo.
Hora de sentar, ele pensou, rezando para que seu ataque de nervosismo não fizesse seus joelhos fraquejarem antes dele acomodar apropriadamente a sua rainha.
Ajudando Selena a se sentar, ele manteve os olhos afastados ao ir para o outro lado da mesa e desabar em uma cadeira dura como pedra.
A maitre estendeu a mão pálida acima da mesa, em direção às malditas janelas. - Este será o tempero de sua refeição esta noite.
Não, o tempero será a náusea, queridinha.
Ela se voltou para o resto do local. - O interior foi desenvolvido para a noite ser o plano de fundo perfeito para saborear o que o chef servirá para seu prazer.
Quando estavam sozinhos, Selena moveu-se para perto da janela - É... Incrível. As luzes dos prédios. São como estrelas cadentes.
Trez limpou as palmas suadas no guardanapo. Preparando-se, ele olhou para lá e viu que, bem, sim, era tão ruim quanto ele imaginara. Espiar pelo vidro absolutamente
transparente, era como se nada o separasse de uma queda mortal, a ausência de bordas transformando mesmo uma fração de segundo de contato visual, em um passo aterrorizante
para dentro do abismo.
Hora de levar o guardanapo à sobrancelha.
- Trez? - Ela olhou para ele - Você está bem?
Controlando-se, ele estendeu a mão e tomou a dela.
- Já te disse como elas são lindas? - Ele murmurou.
O sorriso dela foi radiante. - Sim, mas eu nunca me canso de ouvir.
- Tão lindas, - passou suas palmas sobre as dela. Então se inclinou e pousou um beijo em sua pele. - Longas e adoráveis. Fortes também.
Quando finalmente olhou para cima, foi diretamente nos olhos dela, e foi quando as coisas melhoraram. Um momento depois, não estava mais preocupado com seu medo
de altura, nem pensava sobre os humanos ao redor, e não dava a mínima para a vista iluminada que sutilmente os rodeava.
Com a mão dela nas suas e aquele lindo rosto encarando-o, foi transportado para longe de tudo aquilo.
- Eu te amo. - Ele disse, esfregando seu polegar na parte interna do pulso dela. - Ninguém poderia fazer isto comigo.
- Fazer o que?
- Me fazer esquecer meu medo.
Ela enrubesceu. - Eu não queria perguntar, mas porque não me disse que não gosta de altura? Eu achei que ia pular para fora da pele no elevador. Podíamos ter
ido a outro lugar.
- Mas era aqui que você queria vir. Como se eu não fosse aguentar por você?
- Eu gostaria que nós dois aproveitássemos a noite.
Ele semicerrou as pálpebras - Eu me diverti no carro. Já estou imaginando a viagem de volta.
Quando o aroma dela se acendeu, ela exalou um som semelhante a um ronronar.
Mais tarde, muito mais tarde, ele se lembraria daquele momento entre eles... Do jeito que parecia que duraria para sempre, se esticando no divino infinito. Todos
os detalhes permaneceriam com ele, também, do brilho nos olhos dela, ao brilho de seus cabelos, do jeito que ela sorria para ele ao rubor nas faces.
As lembranças eram especialmente preciosas, quando eram tudo o que restava de um ser amado, para se apegar.
Capítulo TRINTA E QUATRO
- O que foi? O que... O que é este alarme?
Layla estava bem atrás de Qhuinn quando ele entrou de supetão no quarto onde o irmão estava internado e começou a falar. Por cima do ombro dele, viu a Dra. Jane
em pé, ao lado da cama, e Luchas deitado imóvel, com o camisolão do hospital erguido até a cintura, as cobertas afastadas do corpo rígido, os travesseiros caídos
no chão.
Um dos equipamentos médicos foi empurrado até a cama e enquanto Ehlena digitava algo no teclado, a Dra. Jane aplicava um par de placas diretamente sobre o peito
de Luchas.
Houve um som espremido seguido de uma pequena explosão, e na cama, seu torso convulsionou para cima.
E ainda assim, o alarme continuava soando, uma nota única, o equivalente mecânico a um grito.
- Luchas! - Qhuinn gritou. - Luchas!
Layla achou melhor detê-lo, então passou os braços ao redor do tórax largo, pressionando sua barriga contra ele. - Fique aqui, - disse ela, em um resmungo. -
Deixe-as fazerem...
- Afastar! - Dra. Jane gritou.
A cama balançou quando o tórax de Luchas convulsionou novamente, e quando voltou a cair, o coração da própria Layla trovejou. Ela não podia acreditar que estava
novamente presenciando aquilo. Ontem foi Selena, agora era...
Bip. Bip. Bip.
- Consegui uma pulsação. - Dra. Jane largou o que estava em suas mãos, jogando as placas na direção da máquina. - Preciso que você...
Ehlena obedeceu imediatamente aos comandos, à medida que a médica falava, entregando seringas cheias de medicação uma após outra, antes de encaixar uma máscara
de oxigênio sobre o rosto de Luchas e ajustar ainda mais equipamentos.
Cerca de dez minutos, ou podem ter sido dez horas, mais tarde, Dra. Jane se aproximou:
- Preciso falar com você. - Indicou o corredor mais adiante, - aqui fora, por favor.
Ao saírem do quarto, a Dra. Jane fechou rapidamente a porta, antes que esta se fechasse sozinha:
- Qhuinn, não tenho como amenizar isto. Para ele sobreviver, vou ter de amputar parte da perna, e tem de ser agora. A infecção está acabando com ele e é a fonte
dos problemas. Inferno, mesmo se eu cortar abaixo do joelho, já pode ser tarde demais. Mas, se quiser lhe dar uma chance, é o que temos de fazer.
Qhuinn nem piscou. Não praguejou. Não discutiu. - Está bem. Pode cortar a maldita perna.
Layla fechou os olhos e pousou a mão na a base da garganta, em angústia.
- Está bem. Quero que fique fora daqui. Não precisa assistir a cirurgia. - Quando Qhuinn abriu a boca, a doutora o interrompeu. - Não, não é uma escolha, se
o pior acontecer, eu te deixo entrar para se despedir. Fique fora.
Desta vez a porta se fechou sozinha, se encaixando no lugar.
Fechando brevemente os olhos, Layla não conseguia imaginar o que estavam fazendo lá dentro. Mas havia uma porção de equipamentos cirúrgicos com eles, como se
a Dra. Jane já estivesse preparada para isto.
E dada a velocidade da resposta de Qhuinn, ele também.
- Ele vai me matar, - disse ele, rudemente. - Se sobreviver.
- Você não tinha escolha.
- Eu podia deixá-lo morrer.
- Poderia viver com sua consciência se fizesse isso?
- Não.
- Então não havia escolha. - Ela colocou as mãos no rosto e tentou visualizar, em sua mente, Luchas naquela cama. - Deus, como isto foi acontecer?
- Talvez eu deva dizer a ela para parar.
- E então o que?
- Não sei. Não sei de porra nenhuma.
Eles ficaram no corredor por uma eternidade, e Layla tentou não ouvir os sons do outro lado daquela porta, especialmente quando houve um sutil whrrrring que
se parecia muito com uma serra elétrica em miniatura, sendo ligado. Ao passo que ela permanecia imóvel, Qhuinn perambulava para frente e para trás, cabeça baixa,
olhos grudados nas botas, mãos nos quadris. Depois de um tempo, ele parou e olhou para ela.
- Obrigado. Sabe, por não me deixar sozinho.
Aproximando-se dele, ela abriu bem os braços e ele se aproximou, inclinando-se para pousar a cabeça no ombro dela. Enquanto esperavam juntos, ela o abraçou porque
era tudo o que podia fazer.
Mas, não parecia suficiente.
Aproximadamente dez quarteirões à frente e cinquenta andares abaixo do Circle the World, Xcor estava em pé, rente a uma úmida parede de tijolos.
O lesser que ele e Balthazar haviam rastreado estava atrás e à esquerda de onde estava, o fedor do corpo dele subia em ondas, ao sabor de uma brisa que carregava
um forte cheiro de resíduos industriais, misturado à sujeira.
Seu corpo ansiava por uma briga, tudo o que acontecera com Layla na noite anterior, fizera os seus demônios interiores atormentarem-no tanto, e deixaram-no em
um humor tão insuportável, que os seus soldados o largaram no porão, sozinho durante as horas do dia.
Era melhor arriscar-se à luz do sol do que lidar com o mau-humor dele.
Pelo menos ele tinha ali a expectativa de uma boa matança.
Ao seu sinal, Balthazar se desmaterializou acima do asfalto úmido, se tornando uma das sombras do prédio, do outro lado da rua. A noite estava clara acima, mas
a luz do luar adicional era uma complicação desnecessária. O centro de Caldwell já tinha iluminação suficiente para ler um livro, mesmo ali onde estava, naquele
beco estreito.
Caso ele se tornasse magicamente alfabetizado.
Permanecer nas sombras não era somente parte do mito vampírico, mas uma realidade muito prudente para todos eles. Com movimentos praticados, sacou a foice de
seu suporte, liberando a arma da tira que a prendia às suas costas. Balthazar, por outro lado, que preferia armas mais convencionais, trazia uma adaga dupla, e as
lâminas pálidas iluminaram-se enquanto ele as mantinha próximas às coxas.
Ouviram sons de passos passando por eles. Rápidos, múltiplos, mas não correndo.
Dois machos humanos, com as mãos nos bolsos, pés se movendo rapidamente, desceram o beco. Eles não prestaram atenção ao passarem, e, provavelmente isto foi o
que lhes salvou as vidinhas inúteis.
E então foi questão de esperar.
Um som de passos únicos agora, em uma velocidade muito maior. Acompanhado do fedor que precedia os mortos-vivos.
Quando o lesser apareceu, dobrando uma esquina e entrando no beco onde estavam, também não prestava atenção neles. Tinha dinheiro nas mãos, soma pela qual parecia
obcecado, contando, recontando, enquanto andava.
Xcor saiu de seu esconderijo. - Quantos paus teve de chupar para receber essa grana?
O lesser rodopiou, enfiando o dinheiro em um casaco folgado. Antes que pudesse responder, Balthazar saiu de sua posição, saltando no ar e chegando ao chão com
as adagas já nas mãos. O assassino gritou quando aquelas lâminas o penetraram no ombro e garganta, provando que, embora não possuísse alma ou coração, o sistema
nervoso central dos bastardos registrava dor de forma bem eficiente.
E foi quando as balas começaram a voar.
Xcor estava se virando, preparado para lançar sua adorada foice em um gesto largo assim que Balthazar se afastasse, quando um estouro soou próximo a ele. E então
outro.
E então vários deles.
As descargas eram rápidas demais até mesmo para automáticas.
O primeiro tiro que levou foi no ombro. O segundo na coxa. O terceiro raspou seu ouvido, deixando uma ardência que parecia um semáforo piscando em vermelho brilhante
na lateral de sua cabeça.
Balthazar também foi atingido.
Não restava alternativa além de correr e rezar. Seriam humanos? Improvável, mas não impossível. Não poderiam ser lessers; eles eram tão pobremente armados, que
o armamento mais pesado que traziam aos becos era nove milímetros, e ainda assim, muito poucas.
Um rápido movimento de esquiva à direita e ele e Balthazar entraram em uma rua mais estreita, temporariamente fora da área do massacre. Aquilo mudaria tão logo
o atirador, ou atiradores, aparecesse na esquina por onde tinham vindo.
- Esquerda! - Balthazar comandou.
Precisamente, havia mais uma alternativa no labirinto de ruas para escolher, e eles se desmaterializaram no beco seguinte, ironicamente ultrapassando o par de
humanos que haviam visto antes. Os dois homens também estavam indo o mais rápido que podiam, obviamente haviam ouvido o tiroteio. Mas a velocidade deles era bem
mais lenta.
Então, quando a metralhadora dobrou a esquina, eles já tinham uma boa cobertura.
Gritos, do fundo da garganta e cheios de terror, explodiram quando a próxima rodada de fogo se abateu sobre eles, a maioria dos impactos atingindo os humanos.
- Esquerda! - Xcor disse, liderando a fuga.
Sua coxa estava ficando entorpecida, mas não perdeu tempo olhando para baixo para medir o dano. Faria aquilo mais tarde, se sobrevivesse.
Outra bala passou perto, o som assobiando em seu ouvido, alto o bastante para se sobrepor até mesmo a seu fôlego entrecortado e o trovejar de seus passos.
Balthazar estava ao seu lado, o grande corpo em uma corrida desenfreada.
Mais disparos atingiram uma caçamba de lixo, quando passaram por ela. O muro. O asfalto. De vez em quando havia pausas, como se a arma ou armas estivessem sendo
recarregadas... Ou talvez houvesse dois deles trabalhando juntos, um recarregando enquanto o outro atirava.
Continuar a correr. Era tudo o que podiam fazer.
Nenhum dos becos por onde passavam oferecia um lugar relevante para se esconder; de fato, não havia nem portas para arrombar.
Era estritamente questão de esperar até acabar a munição que os atiradores tinham. Supondo que ele e seu guerreiro não fossem derrubados antes.
Quando as rodadas seguintes chegaram a eles, ele soube, sem olhar para trás que deviam ser lessers, e não humanos que os perseguiam.
Somente lessers podiam correr tão rápido, por tanto tempo... E aparentar ter energia suficiente para continuar a ir.
Era possível, notou no fundo da mente, que ele e seu soldado estivessem em problemas.
Capítulo TRINTA E CINCO
- A conta já está paga.
Trez parou em meio ao processo de tirar a carteira do bolso.
- Como é?
- Já está paga. - O garçom sorriu e fez uma reverência. - Foi um prazer servi-los.
Jesus, se ele não soubesse que o cara era humano, acharia que alguém da equipe de Fritz os seguira até ali. O serviço fora fenomenal a noite inteira.
- Aproveitem seus cappuccinos.
Trez olhou para Selena. Seus olhos estavam fixos na paisagem de novo, mas ela já não sorria. Seu perfil perfeito estava vincado de linhas sombrias.
Esticando a mão, tomou as mãos dela entre as suas, sentindo um pico de medo crescer em seu peito. - Você está bem?
Sem pensar, enfiou a mão por dentro do casaco e segurou o celular.
- Oh sim. - Só que ela não olhou para ele.
O ruído suave de conversa ao redor deles havia diminuído e os passos largos dos garçons haviam desaparecido de sua proximidade.
- Selena, o que há?
- Eu não quero que acabe.
- Nós podemos vir aqui outras vezes.
- Sim. - Ela apertou a mão dele. - É claro.
Enquanto o restaurante continuava a girar, girar e girar, os fundos do Commodore tornou-se novamente visível, a imensa altura do prédio salpicada por luzes aleatórias,
incluindo algumas na cobertura.
Provavelmente Rehv já estava lá.
Trez baixou o olhar para o café no qual não tocara. O creme estava temperado com canela, da qual ele jamais fora muito fã. Ele o pedira somente porque sua rainha
não parecia querer ir embora.
- Foi muito gentil da parte deles, - ela murmurou, - pagar pelo jantar.
- Eu vou cuidar disto quando chegar em casa.
- Você devia aceitar a gentileza.
Trez procurou o que podia ver do corpo dela, buscando por sinais de que estivesse tendo problemas que requereriam uma ligação rápida para Manny e Rhage, que
aguardavam lá embaixo.
- Selena?
Ela assustou e olhou para ele. - Desculpe?
- Quer pedir outra sobremesa?
- Não. - Ela deu mais um leve aperto na mão dele, antes de soltá-lo e dobrar seu guardanapo antes de pousá-lo na mesa - Vamos?
Ele afastou a cadeira para ajudá-la, tão rápido que os quatro pés arranharam o chão brilhoso. - Aqui, deixe-me...
Mas sua rainha se levantou sozinha com um movimento elegante, o corpo perfeitamente estável, perfeitamente tranquilo. Pelo menos fisicamente. Ele podia sentir
o peso em seu humor.
Acompanhando-a para fora, ele tomou consciência dos olhares ao redor, novamente em cima deles, comentários sussurrados sendo feitos por trás de bordas de taças
de vinhos e quadrados de guardanapos, enquanto os humanos tentavam reconhecê-los como celebridades. Havia certa satisfação no fato de que a galera da primeira fila
jamais conseguiria.
Junto às grandes portas de vidro, ele abriu um dos lados para ela, e quando ela atravessou, parou e olhou por cima do ombro, como se temesse se esquecer de alguma
nuance da aparência, cheiro ou som do lugar.
- Nós sempre poderemos voltar, - ele repetiu.
- Oh, sim.
- Ela lhe deu um sorriso e continuou indo para aquele espaço aberto minimalista onde os elevadores ficavam. Adiantando-se, ele apertou o botão e esperou ao lado
dela, colocando a mão em sua cintura.
- Então aonde quer ir em seguida? - Ele perguntou.
- Quer dizer, hoje? Estou meio cansada...
- Não, amanhã à noite.
Ela olhou para ele. - Eu...
- Vamos. Dê-me um próximo destino para que eu tenha como organizar as coisas para amanhã.
As portas dos elevadores se abriram, e ele levou-a para dentro... E ele estava tão focado nela que mal notou aquela horrível parede de vidro que se abria para
o lobby. Pressionando o botão do térreo, ele acariciou o ombro de Selena.
- Então...? - Quando ela não respondeu, ele se inclinou e beijou a lateral de sua garganta. - Esta não é a única noite que vamos ter.
- Como pode saber? - Ela encontrou o olhar dele. - Eu não quero arruinar tudo, mas como você sabe?
- Porque eu não vou aceitar de outra forma.
Virando-a para encará-lo, ele deliberadamente pressionou os quadris contra o corpo dela e cobriu os lábios dela com os seus. - A menos que esteja enjoada de
mim. Ou seriamente nada-impressionada por eu ser um covarde vertical.
Os olhos dela pareciam muito azuis e muito assustados ao encontrar os dele - Barco.
Ele havia esperado outra coisa. - Como é?
- Eu, ah, eu quero sair em um passeio de barco no rio.
- Rápido ou lento?
- Ambos?
- Você vai ter.
- Simples assim? - Ela sussurrou. - Você pode realizar qualquer coisa?
Ele encostou a boca no ouvido dela e sussurrou. - Volte para o meu quarto e vou te mostrar como sou talentoso.
Enquanto o aroma dela mudava, ele acariciou-a com o nariz, beijando-lhe o pescoço, mordiscando lhe a veia. Ele não estava sendo justo, é claro. Sabia que ela
estava sendo praticamente distraída, e ele queria mesmo que estivesse. Na verdade, ele não podia garantir a noite de amanhã ou mesmo o próximo amanhecer, mas, como
memórias eternas, a ilusão deles tendo todo aquele tempo teria de durar pelo resto de tempo que tivessem.
Beijando-a, abraçando-a e sentindo o corpo dela contra o seu, ele discretamente tirou o celular e ergueu-o às suas costas. O texto para Manny e Rhage foi curto
e grosso: Ipc obr.
Indo para casa. Obrigado.
O elevador chegou ao térreo direitinho, e os beijos ajudaram-no também a se distrair. E então saíram do prédio, para a fria e tempestuosa noite de outono. Fritz
estava com o Mercedes do outro lado da rua, e o doggen trouxe o carro para frente do prédio assim que os viu.
Sem demora o mordomo saiu e abriu a porta.
Trez queria ter aberto a porta para ela.
No momento em que ela deslizou para o interior cálido, o último som que ele esperava ouvir na presença dela, captou sua atenção:
Pop-pop-pop.
Tiros.
Porra.
Trez pulou no sedã com ela, se levantando entre os assentos. - Tire-nos daqui! Agora!
Fritz não hesitou. Engatou a ré e acelerou tanto que Trez quase acabou dando uma de odorizador no para-brisa traseiro. Recobrando-se rápido, cobriu Selena com
seu corpo, para prender o cinto de segurança dela. Puxando a faixa sobre ela, ele tinha acabado de encaixar o troço quando a força centrífuga o jogou contra o lado
oposto do banco, batendo a cabeça, mas ele não ligou a mínima. Apoiando o pé no vão dos pneus, a mão no teto e na porta, equilibrou-se para não cair sobre Selena
enquanto terminavam a manobra que os colocaria no lado correto do caminho.
O que os deixava na contramão da rua de mão-única pela qual haviam vindo.
- Vamos em frente. - Fritz gritou acima do ruído dos pneus.
O rugido do motor do Mercedes-Benz e a explosão que se seguiu, lembrou a Trez a decolagem de um avião. Enquanto seu corpo era sugado contra o banco, ele olhou
para Selena.
Os olhos dela estavam arregalados. - Qual o problema? O que está havendo?
Os prédios de ambos os lados da rua de três vias eram aço, vidro e concreto pálido e começaram a piscar, mais rápido, mais rápido, mais rápido. Olhando para
cima e adiante, Trez verificou que na rua, os pára-choques dos carros estacionados os encaravam como pais desaprovadores, enquanto iam na direção errada.
- Nada aconteceu! - Ele gritou acima de todo aquele barulho. - Eu só estou realmente ansioso para vê-la nua...
As sobrancelhas de Selena se ergueram ainda mais, - Trez, eu ouvi alguma coisa..
- ... Porque estou desesperado para te possuir!
- ... Que pareceu um tiro!
Ambos gritavam acima do motor, alternando as falas, enquanto Fritz fugia como um morcego do poço do inferno para longe das balas.
E então a diversão começou de verdade.
Eles haviam passado por dois quarteirões, quando as viaturas de polícia começaram a aparecer. E diferente do Benz? Os carros azuis e brancos com o giroflex estavam
do lado certo da rua.
- Eu vou pela calçada, - Fritz gritou - Vai sacolejar um pouquinho...
Aquele mordomo maluco filho da puta, virou o volante à esquerda e subiu o meio-fio, colidindo com um hidrante, que prontamente explodiu à sua passagem, enviando
um jorro de água a elevar-se no ar. E então, pela graça de Deus, o Benz pousou como um cavalheiro, seus amortecedores de primeira qualidade, suavizando o que sem
dúvida teria sido um baque e tanto.
Virando-se, Trez olhou pelo para-brisa traseiro. As viaturas manobravam e desembestavam atrás deles quando Fritz bateu em uma parede de expositores de jornais,
mandando caixas plásticas vermelhas, amarelas e verdes pelos ares à passagem deles. As coisas frágeis se quebraram quando bateram na calçada, folhas de papel flutuaram
como pombas libertadas de gaiolas.
Quando se voltou para Selena, preparou-se, tentando pensar em um jeito de tranquilizá-la...
Ao contrário.
Selena vibrava de excitação, suas presas visíveis, graças ao enorme riso que borbulhava dela ao se apoiar na porta.
- Mais rápido! - Ela gritou para Fritz. - Vamos vai rápido!
- Como quiser, ama!
Um novo rugido daquele pedaço massivo de engenharia alemã sob o capô enviou-os inclinando não só calçada abaixo, mas diretamente aos limites das leis da física.
Selena olhou para ele. - Esta é a melhor noite do mundo!
- Está bem, hora de ir.
Rhage meneou a cabeça para Manny. - Me pergunto o que eles comeram no jantar. - Ele verificou o celular de novo e desejou realmente ter ido à churrascaria. Ele
só mentira a respeito para tranquilizar Trez. - Ele não disse nada sobre entrada ou sobremesa. Digo, vamos lá, ele podia ter dado alguns detalhes. Só recebemos oito
letras do cara.
- Na verdade, foram seis.
- Foi o que eu disse.
Os Doritos haviam deixado de fazer efeito há uma hora. Mas também, às vezes ele podia dizer o mesmo de uma refeição completa com três pratos.
Manny ligou o RV e guiou, a ambulância passou por cima de um buraco, e então ganhou velocidade. - É melhor eu correr. Fritz tem o pé pesado.
- Tipo, eles comeram rosbife? Eu vi, em uma revista, uma foto de um prato de rosbife que servem lá em cima...
Bum!
Bem na hora em que se depararam com uma encruzilhada de becos, algo grande apareceu na frente deles e caiu sobre o capô. Quando Manny pisou no freio, um peso
massivo rolou.
- Jesus Cristo, era um cervo? - O médico gritou.
- Talvez um alce.
Rhage sacou ambas as armas e estava a ponto de pular quando a chuva de balas começou. Sons altos e metálicos de "pings" ricochetearam no RV e racharam o espesso
vidro.
- Oh, pelo amor da porra, - Manny exclamou. Então gritou através do para-brisa para os atiradores. - Eu acabei de comprar esta coisa!
Rhage tateou a maçaneta da sua porta, mas não conseguiu abrir. - Me deixe sair!
Ping-ping-ping. - De jeito nenhum, você vai acabar se matando!
- Somos um alvo fácil aqui.
- Não somos não.
Repentinamente, cerca de doze centímetros de placas de metal cobriram cada centímetro quadrado de vidro que lá havia no RV. Instantaneamente, o som dos tiros
foi abafado até uma batida distante.
Rhage observou em relativo silêncio. - Você é um gênio.
- Harold Ramis é.
- Quem?
- Você nunca viu Recrutas da Pesada? Meu filme favorito de todos os tempos. Eu baseei esta coisa no veículo de Bill Murray.
- Eu sabia que gostava de você. - Rhage olhou rapidamente para o telefone. Não havia Irmãos nos arredores, o que era bom, dado o tiroteio. - Só há um problema...
Não podemos ficar parados aqui. A polícia humana logo vai cercar...
Uma tela de LED do tamanho de uma TV se ergueu verticalmente do painel, ocupando a maior parte do espaço, agora bloqueado, do para-brisa. E em sua superfície
lisa havia uma reprodução esverdeada em HD da rua em que estavam... Então, tiveram uma imagem muito boa dos atiradores enquanto a dupla de dedos de chumbo correram
diante de seus faróis. Os dois ostentavam armas de canos longos, aparentemente AKs, cada descarga causava um brilho súbito na boca dos canos enquanto continuavam
a atirar.
Eles não pararam ao passar pelo veículo de Manny.
- Aqueles são lessers, - Rhage murmurou. - Correm rápido demais para humanos. Além disto, só lessers seriam tolos o bastante para fazer este tipo de balbúrdia.
Deixe-me sair daqui, porra.
- Você não vai atrás deles...
Rhage estendeu a mão e agarrou a frente da camisa do homem, puxando-o para o espaço entre os assentos. - Me. Deixe. Sair.
Manny manteve seu olhar. Praguejou. - Você vai se matar.
- Não vou.
- Como pode estar tão certo?
- Eu tenho truques que ninguém supera. - Ele indicou a janela - Abra-a e eu poderei me desmaterializar por entre as frestas das placas de metal. A menos que
você tenha malha de aço em algum lugar.
Manny começou a murmurar todo tipo de coisas vis ao procurar pelo botão requisitado e o pequeno pedaço de vidro transparente desceu uns cinco centímetros.
- Assim que eu sair, acelere. - Rhage demandou. - Precisamos de você no rabo de Trez. Sem brincadeira.
Fechando os olhos, ele se concentrou e...
... Se desmaterializou para fora, retomando forma ao lado do RV e então dando uma batida na porta. Os atiradores passaram por eles, no encalço de sua presa,
o que o punha em posição perfeita. Quando o motor foi ligado, e a pequena clínica portátil de Manny se afastou, começou a correr. O cheiro no ar lhe dizia que estava
certo; era uma dupla de lessers com alguns brinquedos bem caros... algo que não tinham visto há quanto tempo?
Não desde que Lash, aquele bastardo, era o Forelesser.
Com coxas bombeando e armas a postos, ele diminuía a distância quando as sirenes surgiram às suas costas. De repente, foi iluminado por trás, e não de uma maneira
boa. Com duas automáticas nas mãos, eles pensariam que ele era o maldito problema, ao invés da solução que tentava acertar as contas com os inimigos.
Certamente, uma voz de macho projetou-se de um falante de alta resolução vinda do beco. - Departamento de Polícia de Caldwell! Pare! Parado ou atiro!
Deus! Maldição.
Humanos: o remédio da natureza para um momento que de outra forma, seria bom.
Capítulo TRINTA E SEIS
De volta à sua cela no palácio, iAm ocupava-se traçando um caminho no chão de mármore polido, indo para frente e para trás entre a nova plataforma de dormir
e a prateleira de livros.
Quanto mais tempo era deixado sozinho, mais se tornava convencido de que a maichen havia feito a oferta de levá-lo aos escritos dos curandeiros guiada somente
por um ímpeto impotente de compaixão. Mas, inferno, mesmo que ela estivesse falando sério, e surgisse de novo com algum tipo de plano, não era como se ele fosse
aceitar a sua ajuda. Já havia tanta gente enfiada naquela bagunça e ele não tinha certeza de que ela sabia ao que estava se voluntariando: ele era prisioneiro do
carrasco, o que significava que, mesmo que muitos tivessem acesso a ele, só havia um filho da puta com as chaves de sua fuga.
E não era aquela humilde fêmea.
E se fosse sério? Mesmo que não o estivesse ajudando a sair para o mundo exterior, mas à biblioteca? O sistema de monitoramento logo entregaria os dois... E
então a morte súbita seria o melhor que ela poderia esperar.
O mais provável era um longo e sofrido período de tortura, durante o qual ela rezaria para estar...
Quando a porta abriu, ele verificou se seu sexo estava coberto antes de se virar.
Era a serva, e ela trazia roupas nas mãos. Quando a porta deslizou de volta para o lugar, ela enfiou algo perto do batente para impedi-la de se fechar totalmente
e foi na direção dele.
- Vista isto. Não temos tempo...
- Espere, o que...
- Vista! A equipe de segurança está mudando de turno e é exigido que eles façam uma prece obrigatória de tristeza e recordação pela criança. Tenho de te levar
pelo corredor agora...
- Não posso deixá-la fazer isto...
- Você quer ajuda, certo. Para a amada de seu irmão, certo.
iAm cerrou os dentes. Cruz, conheça a caldeirinha. - Porra!
- Eu não sei o que esta palavra significa.
Ele aceitou o que ela oferecia, mas continuou a discutir enquanto vestia as peças. - E como vamos voltar?
- Eu vou distraí-los. Você vai precisar de um pouco de tempo na biblioteca... A menos que saiba exatamente o que está buscando?
O manto pesado cobriu as pernas dele, - Que tal aqui?
Sem aviso, as luzes se apagaram. - Eu ativei o sistema circadiano.
Ah sim, a alternação entre luz e escuridão sem a qual não é possível dormir.
Clique!
Uma pequena lanterna iluminou o caminho até a plataforma de dormir, e ela rapidamente arrumou os travesseiros e cobertas de forma que parecesse haver alguém
ali. Então, ela correu de volta e espirrou algo no rosto dele.
Ele tossiu quando o forte cheiro de lavanda misturado a algo cítrico inundou lhe o nariz. - O que infernos...
Mais spray. - Este é um uniforme de serviçal. Ninguém questionará, mesmo se nos encontrarem juntos, mas seu cheiro é muito másculo. Isto deve encobrir o suficiente
para passarmos. Agora, encurve-se... Você é grande demais para o manto. Não podemos deixar seu pé aparecer ou eles vão descobrir. Vamos lá.
Ele seguiu-a até a porta, mas antes que ela abrisse, ele agarrou-lhe o braço a fez voltar-se.
- Você não deveria estar fazendo isto.
- Não temos tempo...
- Vai acabar sendo morta.
- Seu irmão precisa de ajuda. Para a companheira dele. Você tem outra solução para sair daqui e ver aqueles escritos?
Quando ela tentou se virar, ele puxou-a de volta. - Qual o seu nome?
- maichen.
- Não, esta é sua casta. Qual o seu nome?
- É este. Agora, venha... Chega de falar. - Ela disse, com urgência. - E não se esqueça de se encurvar.
Com isto, ele saiu da cela e foi para o corredor. Ao olhar para a direita e para esquerda, ela cutucou-o com a lateral do cotovelo.
- Se abaixe, - ela sibilou, - por aqui.
Dobrando os joelhos, ele curvou os ombros e a seguiu, tentando imitar cada um dos movimentos dela. Ela era rápida e decisiva pelos corredores, virando esquerdas
e direitas em uma sequência que o deixou tão confuso que ele se sentiu perdido em um labirinto. Inacreditavelmente, não encontraram ninguém, mas aquela era a natureza
do luto para o s'Hisbe. Todos se trancavam.
Talvez ela pudesse só levá-lo a uma saída pelos fundos depois de tudo isto?
É, mas o que aconteceria a ela?
- As fitas de segurança, - ele disse.
- Cale-se.
- Quando voltarmos, precisa cuidar dos arquivos de vídeo de monitoramento ou eles saberão o que fez.
Ela não respondeu, só se apressou, levando-o por vários corredores.
De acordo com a tradição s'Hisbe, de que a simplicidade elevava a alma, havia pequenas sinalizações em todos os lugares no palácio, nada além de placas sutis
sobre os umbrais, para ilustrar o acesso à várias salas, depósitos e saídas. Gradualmente, seus anos no palácio lhe voltaram e ele ficou surpreso ao ver que sabia
onde estavam: Ela estava levando-o para a biblioteca pelo caminho mais longo, mas era esperta. Ali eram os fundos do palácio, onde, caso encontrassem alguém, provavelmente
seria um serviçal.
O que, considerando o seu disfarce, tornava a rota bem melhor.
- Por aqui, - ela disse, pegando a última direita e parando em um dos quadrados do piso de mármore, cujo veio corria ao contrário da direção prevalecente de
todos os outros. Colocando a mão na parede, ela acionou a porta, que deslizou prontamente.
Quando entraram na escuridão, luzes sensíveis a movimentos se acenderam, iluminando pilhas sobre pilhas de volumes encapados em couro. O ar era seco e vagamente
empoeirado, mas a biblioteca estava um brinco, o chão polido a um brilho de espelho, as prateleiras brilhando. Não havia cadeiras ou mesas se alguém quisesse ler
alguma coisa... Era esperado que você pegasse o volume de seu interesse, e o levasse aos seus aposentos para ler por lá.
Merda, como eles iriam encontrar qualquer coisa ali?
- Os registros medicinais foram transferidos, - ela sussurrou, movendo-se para a frente.
Ele seguiu-a de novo, e não se incomodou em tentar encolher sua estatura: não havia ninguém em volta para vê-lo, e esta parte do palácio não era monitorada.
O sistema de catalogação, tal como era, estava anotado em numerais pretos nas laterais das prateleiras. Mas, de novo, era vago, e presumia que você já saberia
onde encontrar o que buscava.
Eventualmente, ela parou e indicou uma fileira de pilhas. - Foram realocados para cá.
Franzindo o cenho, ele se aproximou. O sistema de numeração nas lombadas não ajudava porra nenhuma, então ele tirou um dos volumes aleatoriamente e abriu a capa.
Quando finalmente entendeu algumas palavras do Idioma Antigo no dialeto Sombra, descobriu que era um tratado sobre fratura em ossos.
Descendo uma fileira, ele tirou outro tomo aleatório. Algo sobre visão.
Mais além, chegou em gravidez e parto.
- Doenças, - ele murmurou. - Estou procurando por doenças. Ou defeitos congênitos. Ou... Genes recessivos...
- Eu te ajudo. - maichen começou a tirar os volumes. - O que pode me dizer sobre esta doença?
- A chamam de Aprisionamento. Elas congelam... Elas ficam... É como se os seus ossos crescessem espontaneamente... Supostamente é fatal...
Deus, ele não sabia o suficiente sobre o que estava falando.
Enquanto os dois percorriam seu caminho prateleira abaixo, as categorias e organização dos volumes começaram a se tornar mais claras. Como todos os vampiros,
os Sombras não tinham de lidar com vírus humanos ou câncer, mas havia muitas outras coisas que os atingia... Embora não tanto quanto as que os Homo sapiens tinham
de combater. Com cada livro aberto, ele se conscientizava da passagem do tempo, e ficava mais preocupado com a maichen ser pega do que com qualquer coisa que pudesse
acontecer com ele mesmo.
Rápido, mais rápido com a leitura, a devolução, o pegar outro da prateleira.
Tinha de haver algo aqui, ele pensou. Tinha de haver.
O corpo inteiro de Trez estava rígido ao manter-se apoiado contra o interior do Benz. Fritz ainda prosseguia pela calçada... O que seria ótimo se o doggen fosse
um mero pedestre. Espremendo o sedã do tamanho de um iate que singra oceanos, em uma alameda de concreto construída para acomodar quatro ou cinco pessoas lado a
lado?
Não era tão ótimo...
Selena exclamou uma espécie de yeeee-haw! Quando viraram outra esquina e mandaram pelos ares outro conjunto de caixas do Caldwell Courier Journal.
Ele estava honestamente feliz de que ela estava se divertindo.
Ele só fodidamente desejava que estivessem assistindo este filme de ação, em vez de atuando nele.
- Fritz! - Gritou acima do som do ronco do motor. - Vai na direção do rio.
- Como desejar, amo!
Sem aviso, Fritz jogou o carro para a esquerda e mandou-os voando na direção de um calçadão que contornava outro dos arranha-céus. O Benz subiu os degraus como
um homem usando gesso nos joelhos, a subida desarticulada, empurrada e sacolejada sendo o tipo de coisa que fazia dos dentes bater e os rins pedirem misericórdia.
Mas daí eles estavam novamente na área plana, que dava às pessoas todo o tipo de escolha, como por exemplo, para qual dos quatro diferentes pontos de entrada usar
como acesso.
Fritz, naturalmente, escolheu a rota mais reta.
Através da porra do lobby.
Painéis de vidro explodiram quando o S600 chocou-se contra uma parede envidraçada, estilhaços voaram adiante e para os lados, antes de pousarem no chão escorregadio
e costearem a distância como neve pela superfície congelada de um lago.
Pela janela oposta, Trez deu uma boa olhada no vigia noturno que pulava em pé, atrás de uma fileira de mesas no lobby. Parecia falta de educação não cumprimentar
o pobre bastardo, então Trez deu uma de Rainha Elizabeth e acenou com a mão quando cruzaram o interior e saíram do outro lado.
Esmaga!
O segundo turno com o vidro foi tão escandaloso quanto o primeiro, quando foi estilhaçado pela lataria do Benz ao explodirem de volta para a noite.
- Acho que devemos ir pelo ar. - Fritz disse. - Segurem-se.
Pode crer, grandalhão.
Trez enrijeceu ao se aproximarem da beira da escada e então...
Gravidade zero, ou tão próximo disto quanto era possível sem fazer uma manobra acentuada a nove mil metros de altura, aconteceu quando se elevaram, a viagem
se tornou super suave e relativamente quieta, nada além do ruído do motor atingia seus ouvidos.
Tudo isto mudou ao passarem voando pela calçada e pousarem na rua asfaltada. A suspensão absorveu tanto do impacto quanto foi possível, mas fagulhas se espalharam
quando a carroceria do carro raspou no asfalto.
- Por favor, me desculpem. - Fritz disse, olhando pelo espelho retrovisor e falando diretamente a ele. - Amo, sinto terrivelmente, mas preciso retornar para
casa...
- Fritz! Se concentra a estrada, camarada.
- Oh, sim, amo...
Guinchaaaaaaando quando o mordomo corrigiu o curso e evitou, por pouco, bater na lateral de uma fila de carros estacionados.
- Como eu dia dizendo, amo, preciso retornar para casa. - O mordomo continuou sem perder tempo. - A preparação da Última Refeição precisa ser supervisionada.
Como se aquilo fosse somente uma partida de vídeo game que se pudesse pausar? - Ah, Fritz...
De repente, o Mercedes apagou as luzes interiores e exteriores, ficando em escuridão total. Naquele momento específico, do alto do céu, uma luz flamejante cortou
pela estrada, brilhando sobre eles por uma fração de segundos.
- Helicóptero, - Trez murmurou. - Fantástico.
Virando-se no assento, olhou pelo para-brisa traseiro. Luzes azuis e vermelhas piscavam e se aproximavam rapidamente, mas os policiais estavam cruzando o caminho
deles, ao invés de segui-los... O que lhes daria vantagem por somente um quarteirão antes que o Departamento de Polícia mudasse a rota.
Merda, como iriam escapar desta?
Antes que se desse conta, Fritz levava-os para o rio, mas não pela estrada. Ao invés de tomar uma das rotas legais, ele pulou outro meio-fio e saltou diretamente
abaixo da rodovia elevada. Pilastras do tamanho de carvalhos corriam pelas janelas, o doggen brincando de se esquivar, jogando para a esquerda e direita como um
maratonista em uma corrida de obstáculos.
Não havia ninguém atrás deles, mas não conseguiriam manter esta fuga indefinidamente. A Northway, que estava agora acima de suas cabeças, ia voltar a ficar plana...
E claro, a descida começou a acontecer, e naquela velocidade, Trez se convenceu de que eles iriam virar purê na fusão horizontal do asfalto.
Só que, não. Fritz moveu o carro bruscamente por baixo, percorrendo uma beira da calçada até as estradas que corriam paralelas ao rio Hudson. De alguma forma,
ele conseguiu fazê-los passar por uma brecha entre as grades de segurança e então, simples assim, eles estavam em uma rampa de desvio que os levaria à autoestrada
na direção correta.
Na direção contrária a da cidade.
Trez esperou por uma fila de viaturas com as luzes brilhando como no Quatro de Julho vir atrás deles.
Em vez disto, viu uma frota daqueles caras de azul indo para o outro lado da Northway, na direção do lugar onde havia acontecido toda a ação.
Fritz desacelerou e voltou a acender as luzes. Postou-se na fila de tráfego. Flutuou para longe, a modestos cento e dez quilômetros por hora.
- Como diabos fez isto? - Trez disse, com verdadeiro respeito.
- Humanos são fáceis de serem despistados. Tendem a perseguir luzes, como gatos perseguem um laser. Sem luz? Dá uma vantagem séria... Bem, isto e possuir o dobro
da potência que eles.
Trez virou-se para sua rainha. - Você está bem?
Selena estendeu a mão e ergueu a boca para um beijo. E outro. - Que noite! Esta foi a coisa mais excitante que já aconteceu comigo!
Adrenalina rapidamente transformou-se em luxúria quando ele correspondeu ao seu beijo e pressionou-a contra o assento. Lambendo-a na boca, ele acariciou um dos
seus seios com a mão.
- Devemos pedir a ele para acelerar de novo? - Trez murmurou contra sua boca - Porque eu não acho que posso esperar...
- Chegaremos logo, - ela murmurou, sorrindo. - E eu gosto de antecipação. Estou faminta por você desde que começamos a rodar.
Trez grunhiu no fundo da garganta ao tocar o botão para erguer a partição - Fritz?
- Sim, amo?
- Um pouco mais rápido, se não se importa.
- Com todo o prazer, senhor!

 

CONTINUA

Capítulo VINTE E NOVE
- Você achou que ninguém iria perceber?
Ao sair da cela, maichen congelou. A voz por trás dela era tão profunda, tão baixa que as palavras eram rosnadas ao invés de faladas, e era a última coisa que
estava esperando.
Som de passos, de um macho com o dobro de seu tamanho e três vezes o seu peso, rodearam o seu corpo e, através da malha que cobria seu rosto, ela olhou para
cima, beeem para cima.
O rosto de s'Ex também estava coberto, mas, no carrasco era uma cota de malha, elos de prata nada delicados, que escondiam a expressão de seu rosto, mas não
sua identidade.
O temor invadiu o seu peito, e uma sensação de vazio interno trouxe suor para suas axilas e ao vale entre seus seios bem formados.
- E você estava o alimentando?
Quando ela nem confirmou, nem negou a pergunta, o carrasco fez um gesto de frustração com as mãos, mas foi cuidadoso em não tocá-la ou em qualquer coisa que,
mesmo indiretamente, estivesse em contato com o corpo dela, inclusive a bandeja, tudo o que ela continha, bem como suas vestes e até mesmo o piso de mármore onde
pisava.
Era proibido a qualquer macho entrar em contato com ela, punível com a morte pelas mãos de s'Ex, o que significaria que ele, provavelmente, teria de cometer
suicídio.
- Diga, - ele exigiu. - Você o envenenou?
- Não! Ele já estava sem comer há mais de doze horas...
- Desde quando você começou a se preocupar com os meus prisioneiros?
- Ele não é um prisioneiro comum, - ela ergueu o queixo - E você não está cuidando dele direito.
- Há milhares de outras pessoas para cuidar disto.
- Eu não sou uma destas milhares de pessoas que vivem aqui?
Ele se inclinou. - Não comece com isto de novo.
maichen removeu a malha tão rápido, que ele não desviou o olhar a tempo. Quando ele engasgou e se virou, escondendo o rosto atrás das dobras de sua manga, a
voz dela se igualou à sua em autoridade.
- Você não pode me dizer aonde posso ou não posso ir.
- Coloque a máscara! - Ele gritou.
- Não coloco. Não aceito ordens de você. - Ela arrancou a manga dele para que não pudesse mais cobrir os olhos. - Entendeu?
O carrasco fechou os olhos com tanta força que a expressão de seu rosto inteiro se distorceu. - Você vai nos matar...
- Não há ninguém aqui. Agora, ordeno que me olhe nos olhos.
Foi tal a reviravolta, que ele se acovardou e demorou a entreabrir as pálpebras, como se seu rosto não quisesse obedecer às ordens de sua mente.
Quando finalmente olhou direito para ela, foi a primeira vez na vida que um macho viu seu rosto, e, por um segundo, o coração dela bateu tão forte que ficou
de cabeça zonza. Mas, ao lembrar-se do prisioneiro, lutou contra a perturbação.
- Ele, - ela estendeu o dedo na direção da porta da cela, - não deve ser ferido de forma alguma. Compreende?
- Não é você quem decide...
- Ele é um inocente. Aquele é o irmão do Consagrado, não é dele o dever de servir ao trono. Eu vi a tatuagem...
- Você olhou para o corpo dele! - Uma série de palavras explodiu da boca de s'Ex, palavras desconhecidas que soavam como "Maldição do Caralho".
Não sabia o que significavam. Ela só conhecia o inglês formal.
s'Ex se inclinou na sua direção, e baixou a voz, - Ouça, fique fora disto. Você não sabe o que está acontecendo aqui.
- Eu sei que é injusto fazer um inocente pagar por algo que não foi responsável.
- Eu não vou arriscar minha vida por você. Estamos de acordo? E não vou alterar o curso de minhas ações para apaziguar qualquer dilema moral que você esteja
alimentando neste momento.
- Sim, você irá. - Agora foi ela que se inclinou, e apesar do tamanho dele, s'Ex recuou. - Você sabe muito bem o poder que eu tenho. Você não vai ficar no meu
caminho neste ou em qualquer outro desejo que eu tiver... E quando eu trouxer a próxima refeição, você e seus machos irão me deixar passar em paz. Não confio o bastante
em você para alimentá-lo adequadamente... Ou em segurança. E não diga a ele quem sou eu.
Com isto, ela voltou a colocar a malha sobre o rosto e começou a se afastar.
- Qual é o seu jogo? - s'Ex exigiu.
Ela fez uma pausa. Olhou por sobre o ombro. - Eu não sei o que quer dizer.
- O que você vai fazer? Mantê-lo aqui como um bichinho de estimação?
maichen estreitou os olhos por baixo da malha. - Não é da sua conta. Sua única preocupação é de que nada aconteça a ele. E traga-lhe uma cama apropriada.
Pelo menos ele esperaria com um mínimo de conforto enquanto ela planejava um jeito de libertar o pobre homem.
maichen dobrou o corredor e saiu do raio de visão dele antes de começar a tremer... Antes de precisar se apoiar na parede para conseguir se manter em pé.
Fechou os olhos e tudo o que pode ver foi o macho aprisionado, saindo pelo biombo, após se lavar.
O corpo dele era... De tirar o fôlego, sua forma nua prendia o seu olhar, seus pensamentos, sua respiração. Ombros largos, peito musculoso, tórax impressionante,
parecia esculpido por um artista, ao invés de nascido de uma mortal.
E também havia as outras partes de seu corpo. As quais a faziam enrubescer tão ferozmente, que se preocupou que a malha derretesse em seu rosto.
Disse a si mesma que ela só ia ajudá-lo, e era verdade. Era.
Mas seria tolice ignorar esta ardente curiosidade. Talvez fosse até mesmo perigoso.
Pelas estrelas do céu, o que ela estava fazendo?
Quando Trez pulou na mesa de exames, sua cabeça quase bateu na luminária, e enquanto ele se abaixava para criar algum espaço, a Dra. Jane se aproximou.
- Aqui, me deixe tirar as luzes do caminho.
Com aquele probleminha resolvido, ele agarrou o colchão fino que jazia sob sua bunda, como se a ponto de iniciar uma descida de montanha russa.
E ele odiava montanhas-russas.
Dra. Jane trouxe um banquinho rolante e sentou-se, puxando as duas partes de seu jaleco branco para juntá-las e pousando as mãos nos joelhos. Olhando-o, parecia
preparada para esperar o tempo que fosse necessário para ele reorganizar seus pensamentos.
Pigarreando, ele anunciou, - Ela não virá. Não quer ser examinada, já que está se sentindo bem.
- Dá para entender.
Ele esperou por mais, e lembrou a si próprio de ser civilizado porque ela era a shellan de V.
Quando a boa doutora não continuou, ele franziu o cenho, - Só isto?
- O que quer que eu diga? Que Manny e eu vamos forçá-la a vir? Não posso fazer isso... Não quero fazer isto.
Sem sentir nenhum alívio na declaração, Trez percebeu que queria que a Dra. Jane forçasse Selena a descer.
Hipocrisia demais? Não era uma postura pró-livre-arbítrio de verdade, não é?
- Como posso saber que ela vai ficar bem esta noite? - Ele disse, tenso.
- Sem um episódio do aprisionamento?
- Sim.
- Não dá para saber. - Dra. Jane jogou o cabelo curto para trás. - Mesmo se a examinasse agora, não daria para dizer quando é que o próximo surto irá ocorrer.
Eu não sei muito sobre esta doença, mas pelo que vi, isto faz parte do problema. Não há estágio prodromal.
- O que é isto?
- Você tem enxaquecas, certo? - Diante de seu movimento de concordância, apontou para seus próprios olhos. - E você sente uma aura, cerca de vinte ou trinta
minutos antes do ataque de dor, certo? Bem, às vezes, pessoas que sofrem, sentem formigamento ou dormência em braços ou pernas; outros têm anomalias sensoriais,
tais como sentir cheiro de coisas que não estão lá ou ouvir coisas. Com a doença de Selena, não há sinal de alerta de que uma fase aguda está prestes de acontecer.
O congelamento parece ocorrer de repente.
- Você falou com o babaca do Havers?
- Na verdade, ele nunca ouviu falar de tal doença. O mais próximo que chegou disto, foram sintomas relacionados com artrites. - Ela balançou a cabeça. - Me pergunto
se tivéssemos como fazer uma análise de DNA das Escolhidas, haveria algum gene recessivo escondido em algum lugar. Com uma população procriativa exclusiva, como
elas sempre foram, é de se esperar encontrar exatamente este tipo de conjunto de doenças. Ela deu de ombros. - Mas, voltando à Selena, eu queria poder te dizer quando
é que vai acontecer de novo, ou mesmo os sinais aos quais ficar alerta. Mas não posso. Eu fiz um hemograma completo nela, e sua contagem de células brancas está
ligeiramente mais elevado junto com os marcadores de inflamações... Mais nada além disto. Tudo normal. Tudo o que posso dizer é que, se ela está em pé e se movendo,
teoricamente, suas juntas estão funcionando bem e elas darão sinais evidentes quando não estiverem.
Ele estalou os dedos, um a um. - Há algo que possamos fazer por ela?
- Não, pelo que sabemos até agora. Um dos desafios é não entendermos o mecanismo da doença. Minha suspeita é que, após o crescimento ósseo ser desencadeado por
sabe-se lá Deus o que, o sistema imunológico dela, de alguma forma, reage e ataca o material ofensor, destruindo-o como se fosse um vírus ou uma infecção. E o mecanismo
de defesa do corpo dela sabe quando parar, já que o esqueleto original permanece intacto após o ataque. Provavelmente há algo inato diferente sobre o crescimento
ósseo, mas, não saberemos até fazer uma biópsia.
- Então porque ela tem de... - Merda, cada vez que ele piscava, via Selena deitada na maca, o corpo naquela maldita contorção. - Porque ela continua combatendo
a coisa e se recuperando?
- Minha aposta é que o sistema imunológico falha. Analisando, é uma série extraordinária de eventos a nível celular. Ao ver as primeiras radiografias, jamais
teria imaginado que o corpo dela pudesse voltar a funcionar novamente.
Ele ficou quieto, olhando para o piso. - Eu quero levá-la para sair esta noite. Sabe, um encontro. - Quando a médica permaneceu em silêncio, ele ergueu os olhos.
- Não é uma boa ideia, é?
Dra. Jane cruzou o braço sobre o peito e empurrou a cadeira para frente e para trás nas rodinhas, a versão sentada de uma marcha.
Porra. Ele devia ter tido esta conversa antes de sugerir a saída...
- Você quer que eu seja bem franca? - A médica perguntou.
Trez teve uma imagem do perfil com cavanhaque de Vishous delineado sob a luz do teto externo do corredor. - Preciso saber exatamente onde estamos.
Mesmo que isto o matasse.
Passou-se um minuto ou dois antes da Dra. Jane responder, e ele achou que ela estava imaginando cenários em sua mente.
- O caminho mais prudente seria ela ficar no complexo, para fazermos uma checagem total nela, envolvendo múltiplas biópsias, uma tomografia computadorizada,
uma ressonância magnética no mundo humano e consultas com médicos, através dos contatos de Manny. E então nós provavelmente teríamos de iniciá-la no uso massivo
de esteróides... Mesmo que seja mais palpite do que certeza, é de se imaginar que o processo inflamatório tenha algo a ver com isto. Poderia haver drogas a testar,
talvez alguns procedimentos, mas, é difícil adivinhar de antemão. - Ela correu os dedos pelos cabelos curtos até a coisa se espetar em picos louros. - Teríamos de
ser rápidos porque não sabemos quanto tempo nos resta, e tudo seria na base de tentativa e erro, provavelmente, mais com o objetivo de sobrevida do que cura. Embora,
de novo, seja só um palpite, nada concreto.
Ele fechou os olhos e tentou imaginar-se dizendo à sua rainha que, ao invés de irem àquele restaurante pelo qual ela estava tão excitada, teriam de...
- Mas, não é o que eu faria, se fosse ela.
Trez ergueu as sobrancelhas e olhou para a médica - Então há outro jeito.
Dra. Jane deu de ombros. - Sabe, no final das contas, acho que a qualidade de vida deve ser considerada. Não sei o quanto conseguiríamos tratar ou desvendar
desta doença, mesmo se examinássemos ela inteira. Me baseio no fato de que ela é, para usar um termo clínico, a "paciente zero" para nós. Ninguém jamais ouviu falar,
apesar de uma minoria de suas irmãs padecerem deste mal há gerações. Há uma série muito complexa de coisas acontecendo, e eu só... Há muito a tentar entender. E
para que? Você quer arruinar as últimas noites dela...
- Noites? - Ele exclamou. - Jesus Cristo, é só isto o que temos?
- Eu não sei. - Ela ergueu as mãos. - Ninguém sabe e este é o ponto. Você iria... Ela iria... Preferir passar o tanto de tempo que lhe resta vivendo, ou somente
esperando por morrer? Eu lhe digo, se fosse minha escolha, eu escolheria viver. É por isto que não vou forçá-la a descer aqui, ou fazê-la sentir-se mal por não estar
com pressa de se deitar em minha maca.
Trez exalou um fôlego que não estava consciente de estar prendendo. - Rehvenge foi para o Norte. Para as colônias. Ver se há alguma coisa na tradição Symphath
que possa ajudar.
- Eu sei, Ehlena me disse. Estamos esperando ouvir notícias dele em breve.
Ele podia dizer pelo tom profissional na voz da fêmea que ela não estava botando muita fé. - O que acontece se Selena entrar... Em situação... E estivermos fora,
no jantar?
- Então você nos chama. Eu já te mostrei o brinquedo novo de Manny?
- Como é que é?
Ela se levantou e deu um tapinha na perna, - Venha comigo.
Dra. Jane a levou para fora da sala de exames, pelo corredor, e então para baixo, baixo, mais baixo, passando por salas de aula sem uso até a pesada porta de
aço da garagem. Abrindo-a completamente, ela indicou a área além da porta com o braço.
- Ta-da.
Trez entrou em um ambiente onde o ar era mais frio, mais úmido. A enorme ambulância era tão brilhante quanto uma moeda nova, retangular como um LEGO, maior do
que o Hummer de Qhuinn. Maior inclusive que as ambulâncias humanas que ele vira por aí em Caldwell.
Era um maldito trailer, um RV.
- Isto é merda séria, - ele disse.
- É. Uma das coisas que tem preocupado Manny e eu...
As portas traseiras do veículo se abriram, e o parceiro humano da Dra. Jane pulou para fora. - Achei mesmo ter ouvido vozes. - O homem soou grave assim que viu
Trez, - Ei, cara, como está indo?
Os dois se cumprimentaram e Trez indicou o veículo. - Então vocês conseguiram isto, huh.
- Venha ver a parte de dentro.
Trez enfiou as mãos nos bolsos dos jeans e deu a volta para a traseira. Através das portas duplas ele viu... Uma ilha grande central com duas macas, uma ao lado
da outra, rodeada por todo o tipo de equipamento médico armazenado em gabinetes envidraçados, que se alinhavam nas paredes laterais como prateleiras de livros com
esteróides.
- É como uma sala de operações em miniatura, - Trez murmurou.
Manny anuiu e voltou a subir. - Este é o plano. Queremos ser capazes de tratar com rapidez ferimentos de campo potencialmente mortais. Às vezes, trazer os pacientes
de volta para cá ou para o Havers é arriscado demais.
O médico começou a abrir e fechar armários e balcões, mostrando uma série de instrumentos esterilizados, curativos estéreis, mesmo um microscópio em um braço
extensor que podia girar para qualquer uma das macas.
Ele acariciou o instrumento como se fosse um bichinho de estimação. - Este bebê aqui também é uma máquina portátil de raio-x, e temos tecnologia de ultrassom.
Oh, e como um bônus, o RV é blindado.
- Contribuição de meu marido. - Dra. Jane olhou para o parceiro. - Então ouça, Trez vai levar Selena para jantar fora em um encontro esta noite.
- É uma grande ideia. Aonde vocês vão?
Trez fez um movimento circular com o dedo indicador. - Aquele no céu. Que fica rodando e rodando.
- Oh, sim, sei qual é, - o cara disse, - no hospital, chamamos de Central do Noivado, porque é onde os médicos levavam as namoradas para pedi-las em casamento.
Muito romântico.
- É.
Trez olhou para a extensão da sala de operações móvel, tentando decidir se o fazia sentir-se aliviado ou deprimido como a merda. O lado bom, ele achava, era
que com as luzes externas do veículo e o lendário pé de chumbo de Manny, eles conseguiriam chegar ao centro da cidade em dez minutos, especialmente com pouco trânsito.
Mas, e se não fosse tempo suficiente? E se Selena precisasse...
- Trez? - O médico disse.
Ele forçou-se a sair de seu estado de pânico - Sim?
- Que tal se eu for com vocês? Não, não como chofer, - ele completou quando Trez recuou. - Posso ficar estacionado nos fundos do prédio e só ficar por perto,
caso precisem de nós. Esta coisa tem emblemas falsificados nas portas, no capô e na traseira, e tenho todo o tipo de documentação. Ninguém irá me incomodar, e eu
posso levar um Irmão comigo caso precise me livrar de alguns humanos.
Trez piscou. - Deus, não posso pedir isso...
- Você não pediu. Eu ofereci.
Trez olhou para a ambulância novinha em folha. Ele não podia acreditar no que o cara estava pronto para...
- Trez? - Manny disse. - Ei, Trez, olhe para mim.
Trez virou os olhos de volta para o humano. Manny era bem formado para um não-vampiro, com um físico atlético que continuava a manter após emparelhar a irmã
de V, Payne. Mas, a coisa mais impressionante nele? Sua confiança. Treinado no mundo humano, o antigo Chefe de Departamento de Cirurgia do Hospital St. Francis do
centro da cidade, irradiava o tipo de atitude "ou-dá-ou-desce" que significava que ele se encaixava perfeitamente com os Irmãos.
- Deixa comigo, - o cara disse, com gravidade. - Eu cuido de vocês dois.
Manny estendeu a mão, e por um momento, tudo o que Trez pode fazer foi piscar. Mas então, aceitou o que lhe estava sendo oferecido.
A voz de Trez saiu entrecortada. - Não sei como posso te pagar.
- Simplesmente saia e aproveite sua mulher. É só o que me importa.
Quando Jane colocou a mão em seu ombro, Trez sentiu-se humilde diante do apoio. E esperançoso também de que Rehvenge pudesse aparecer com alguma novidade do
território Symphath.
Após agradecer novamente a ambos, ele voltou ao Centro de Treinamento, a Dra. Jane manteve-se atrás com o parceiro, como se soubesse que ele precisava de um
minuto para se recompor.
Deus, a cabeça dele estava a mil.
E era engraçado, ele não tinha nenhum impulso de beber até esquecer a raiva. Nenhum. Também não sentia necessidade de sair e foder centenas de mulheres desconhecidas.
Tampouco tinha interesse em investigar aqueles pacotes de drogas que encontraram com aquele lesser. Ele nem mesmo queria subir até o terceiro andar da mansão para
acordar o irmão e atualizar iAm da situação.
Ele estava curiosamente neutro. E aquilo o assustava.
Esta noite era para ser especial para sua rainha.
Tinha de ser.
Capítulo TRINTA
Foi por volta das seis da noite quando Selena saiu do chuveiro no banheiro de Trez. Ela dormira como um bebê durante o dia todo e noite adentro, apenas ciente
de Trez entrando e verificando-a de vez em quando. Como consequência, se sentiu melhor desde...
Santa Virgem Escriba, ela não soube por quanto tempo.
Enrolando-se na toalha, ela enrolou seu cabelo para cima e colocou o robe preto de Trez. O peso volumoso encolheu o seu corpo, caindo para o chão, o laço tão
longo terminava quase emaranhando em seus pés. Mas se sentia tão bem em ter a coisa nela, o cheiro dele embrulhando-se ao redor dela como um abraço, as dobras oferecendo
calor.
Em cima das pias duplas, ela pegou uma toalha de mão e enxugou a condensação no espelho. Debaixo das luzes, sua pele estava brilhando, um rubor em suas bochechas
e uma vermelhidão em sua boca, todo o resultado do sexo que compartilharam.
E haveria mais hoje à noite. Ela sabia disso porque toda vez que Trez entrava no quarto, aquela especiaria sombria dele tinha sido uma promessa intensa do que
estava por vir.
Desenrolando a toalha em sua cabeça, deixou seu cabelo escuro solto, os fios molhados pingando em suas costas. Ela fez o melhor que pôde para deixar os fios
quase secos, esfregando a tolha em cima de tudo que podia alcançar sem se esforçar demais. Então chegou a hora de usar o secador de cabelo, exceto...
Sem secador de cabelo.
Procurando, ela verificou os armários debaixo das pias, mas, só achou uma carga inteira de papel higiênico, sabonete, xampu e condicionador. Navalhas. Toalhas
de mão e de banho. Movendo-se para a área de armazenamento na parede, ela encontrou... Mais toalhas. As quais pareciam caras e tão suaves quanto pão fresco, mas,
não fariam por ela o que precisava.
Completamente seco era o seu objetivo final. Agora, ligeiramente úmido, era sua segunda escolha.
Certo, ela podia estar em apuros aqui. Eles sairiam às sete e trinta e seu cabelo, sozinho, levava mais ou menos oitocentas horas para secar...
Uma batida no lado de fora da porta a fez levantar a cabeça. - Oi?
- Isto é um "entre"? - Uma voz feminina perguntou do corredor.
- Sim? Por favor? - Apertando mais o robe de Trez, ela saiu do quarto adequadamente, depois parou assim que os painéis pesados se abriram. - Oh, oi... Ah...
Beth, a Rainha, entrou no quarto de Trez. E com ela Marissa, Autumn, Mary... Ehlena e Cormia. Bella. Payne. Também Xhex, que, com seu cabelo curto e seus couros,
parecia um pouco fora de lugar no grupo.
Ou talvez fosse por causa de sua postura estranha, como se estivesse insegura sobre o que ela estava fazendo com o grupo.
- Há algo que precisa? - Ela perguntou para Rainha. E para as outras.
Embora estivesse ciente que apenas Cormia e Layla a visitaram, era um palpite justo que todos na casa estavam informados sobre suas dificuldades, ela realmente
esperava que as fêmeas não fizeram essa viagem para oferecer condolências antes que realmente morresse.
Felizmente, Beth sorriu, em oposição às questões. - Precisamos que nos permita arrumá-la.
Selena levantou suas sobrancelhas e olhou para seus pés. - Sinto muito. Estou inadequada e não sei?
- Bem, nós ouvimos pela videira...
Marissa falou claramente. - Na verdade, meu hellren me disse. E ele ouviu de Vishous.
- Que você irá a um encontro, - Beth terminou. - E nós pensamos que você poderia gostar de um pouco de embelezamento.
Cormia colocou suas palmas para fora. - Não que você não seja bonita o suficiente.
Naquele momento, houve muitos oh, não, completamente bonita, e só se você quiser, e tudo que Selena pôde fazer foi colocar as mãos em suas bochechas. - Eu só
iria colocar um vestido e arrumar meu cabelo.
- Chato. - Xhex disse. Visto que todas as meninas lhe lançaram um olhar, ela jogou as mãos. - Eu te disse que não sou boa nessas coisas! Deus, por que me fez
subir aqui?
Beth se virou. - Selena, você sempre parece adorável, mas temos algumas roupas contemporâneas para você considerar, umas que talvez sejam um pouco mais...
- Você se parecerá com algo diferente de uma cortina de janela. - Xhex rolou os olhos. - Eu sei, eu sei, me calarei de agora em diante. Mas é a verdade.
- Pareço com uma cortina? - Selena disse, olhando para as peças nas janelas que acabaram de se fechar sozinhas. - Isso é ruim?
Beth avançou e tomou suas mãos, apertando-as. - Você confia em nós?
- Oh, claro, minha Rainha, é só que... Não sei, não consigo achar um secador de cabelo, e...
Marissa deu um passo à frente com uma bolsa de lona cheia com... Toda maquiagem concebível e utensílios de cabelo, o que quer que seja. - Não se preocupe, eu
tenho toda a solução.
E foi assim que Selena acabou sentando em um tamborete no meio do banheiro de Trez com um grupo de fêmeas circulando-a com secadores, escovas de cabelo, algo
chamado mousse, e modeladores de cachos.
No meio da maquiagem, seus olhos se encheram d'água.
- Oh, estou muito perto. - Autumn disse sobre o barulho dos secadores.
Selena levou uma mão para cima, na esperança de esconder suas lágrimas. A generosidade era tão inesperada. Literalmente sentiu como se a casa inteira estivesse
a apoiando e seu macho.
Xhex, a intransigente, foi a pessoa que trouxe a caixa de Kleenex. E quando a mão de Selena tremeu tanto que derrubou o lenço que pegara, Xhex foi quem cumpriu
a tarefa, retirando outro quadrado branco macio e enxugando levemente sob os olhos que vazavam.
Selena olhou em direção àquele olhar fixo de bronze e murmurou, - Obrigada.
Xhex apenas assentiu e continuou enxugando discretamente, seu toque gentil em desacordo com aquele rosto severo, traje masculino e a arma que usava no coldre
em sua cintura apesar do fato que estavam todos seguros no complexo.
Selena não tinha nenhum pensamento em sua cabeça, apenas emoções muito grandes para manter em seu coração.
Quando os secadores foram finalmente silenciados, ela soube que estava na hora de recuperar sua compostura. Todo aquele som e fúria enquanto seu cabelo era soprado
por toda parte ofereceu uma espécie de proteção para se esconder, ainda que todas a viram chorar.
- Seu cabelo está tão adorável. - Cormia disse conforme corria seus dedos pelas ondas. - Acho que devíamos deixar solto...
- Obrigada a todas. - Selena revelou. - Obrigada por isso.
Beth se ajoelhou na frente dela. - O prazer é nosso.
Uma mão pousou sobre o ombro de Selena. Outra em seu antebraço. Mais em suas costas. E Xhex estava exatamente ao lado dela com aquela caixa de Kleenex.
Olhando no espelho, ela se viu cercada pelas fêmeas da casa, e nenhuma delas sentia pena dela, pelo que estava muitíssimo agradecida. Ao invés, elas estavam
apoiando-a, fazendo o que podiam para mostrá-la que ela importava.
E por alguma razão, isso parecia indescritivelmente importante.
Provavelmente porque ficou claro para ela, pela primeira vez, que seria lembrada por estas pessoas depois que fosse embora, e ser lamentada por pessoas boas
era o melhor legado que alguém poderia deixar para trás.
- Solto? - Ela se ouviu dizer. - Realmente? Acha que eu deveria usar meu cabelo solto?
- Permita-me apresentar-lhe meu pequeno amigo. - Com isso, Marissa mostrou uma varinha de prata que estava plugada na parede por uma corda preta. - E agora a
guerra deve começar.
Selena teve de rir. Olhando para Xhex, disse - Você já...?
- Usei um desses? - A fêmea empurrou seu cabelo curto. - Como se pudesse. Mas acho que devia fazer o que elas dizem. Você está olhando para o cérebro confiante
da espécie quando se trata de estar gostosa.
- Então irei ceder. - Selena se encontrou iluminando-se com a ideia de uma transformação. - Faça o que desejar comigo.
Beth sorriu. - Acha que isso vai ser bom? Espere até ver o vestido.
- Sinto muito. Eu tentei.
Quando Rehvenge se desculpou por nada que era sua culpa, e nada que era realmente uma surpresa, Trez sacudiu a cabeça. Eles estavam em pé no grande hall da mansão,
seus pés plantados na representação de mosaico de uma macieira florescente.
Ele colocou sua mão no ombro vestido de pele do macho. - Seriamente, Rehv. Obrigado por dar a isso uma chance.
Rehv colocou sua bengala vermelha no chão e caminhou ao redor. - Olhei em todos os lugares em nossos registros. Perguntei às pessoas...
- Rehv, escute, eu aprecio o seu esforço. Mas, honestamente, eu não esperava alguma resposta mágica. - Merda, sabia que estava acostumado à notícias ruins a
essa altura. - Então não ataque a si mesmo em relação a isso.
Aquela pele longa alargando-se atrás do macho enorme conforme ele continuava a andar a passos largos ao redor. Eventualmente, ele parou sem energia. - Lembra-se
da noite em que nos conhecemos?
- Como se eu pudesse esquecer.
- Sempre senti que era para acontecer. - O macho olhou fixamente para baixo em seus sapatos de pele de avestruz. - Eu não quero... Isso para você. Especialmente
considerando o que mais está esperando por você.
Rehv era um do poucos que sabia que ele era o Consagrado de volta ao s'Hisbe.
Deus, Trez pensou. Aquela bagunça no Território não estava nem ao mínimo em seu radar. Selena era o grande desinfetante de todas as suas outras preocupações,
não só limpando sua ficha, mas purificando sua merda bruta.
- Irei ajudar Selena. - Ele se ouviu dizer. - Não irei a qualquer lugar enquanto ela está... Você sabe.
- Qualquer coisa que precisar, você tem. - Rehv veio. - Eu apenas...
Foi perturbador ver um macho tão grande, que era conhecido por sua arrogância impertinente, parecer tão derrotado.
Trez teve de cortar a compaixão ou isso iria deixá-lo para baixo. - Olha, você não tem de dizer mais nada. Francamente, prefiro que não faça. Não por nada, eu
preciso ficar focado onde estou agora, Selena descerá aqueles degraus e não posso ficar frustrado em minha mente hoje à noite.
- Compreendido. Mas vou te abraçar.
- Por favor não, oh, não, qual é, homem...
Quando foi envolto em pele, ele endureceu, e se sentiu como um idiota. Porra, o cara só estava sendo verdadeiro, mas, maldição, tudo que Trez queria fazer era
correr para a sala de bilhar. Talvez bater ele mesmo em sua cabeça com um taco de bilhar.
Até a maldita coisa quebrar.
Sua cabeça, não o taco.
- Uau, essa coisa é suave, - ele disse, acariciando o casaco.
Rehv recuou. - Irei subir para o quarto de hóspedes. Estou exausto e Ehlena esteve acordada o dia todo com Luchas. Acho que nós vamos dormir a noite inteira.
- Soa como o céu para mim.
Momento. Estranho.
- Você precisa parar de olhar para mim assim. - Trez esfregou seu rosto. - Ela não está morta ainda.
- Eu sei, eu sei. Desculpe. Deixarei você sozinho.
Rehv bateu-lhe nas costas e, em seguida, foi em direção à escadaria principal, subindo com a ajuda daquela bengala. E visto que Trez ficou onde estava, ele percebeu
por que não caçara seu irmão para conversar sobre as coisas. Normalmente, ele e iAm já teriam se falado oito vezes, e ainda eram só sete horas da noite.
Mas, se Rehv sendo um bom sujeito conseguiu entrar em sua pele, Trez realmente não seria capaz de lidar com essa merda com seu irmão de sangue agora. Ele mal
estava se segurando, um olhar nos olhos negros de iAm?
Ele tinha medo que não poderia colocar as coisas de volta nos escombros.
Às vezes, a honestidade era muito...
Oh, foda-se. Ele seriamente estava citando Muzak dos anos setenta agora?
Andando, andando, andando. Ele e Selena combinaram de sair às sete e trinta, e ele planejara ajudá-la até o carro. Isso tinha sido um grande estúpido não, no
entanto: Uma boa hora atrás, ele foi até o terceiro andar para verificá-la, mas Xhex barrara sua entrada e informou-o que ele não era bem-vindo em seu próprio quarto.
Então a guerreira lhe jogou um dos seus ternos pretos, junto com uma camisa preta de botão, sapatos pretos e meias de seda, e seu relógio Audemars Piguet todo preto.
E bateu a porta em seu rosto.
Fêmeas. Honestamente.
Mas, ele trocara suas roupas. Como um bom menino. E desceu até aqui para esperar.
Assim que a figura decorada de Rehv desapareceu acima, Trez tirou seu telefone e verificou suas mensagens. Esperava encontrar algo de iAm, mas, típico do seu
irmão, o cara sabia quando ele precisava de espaço e estava lhe dando isso.
Ele disparou uma atualização rápida para o macho, contando-o que estava saindo com Selena e que ele apareceria na base mais tarde quando voltassem. Então, entrou
em contato com Big Rob e Silent Tom, e informou-os para encaminhar tudo que tivesse a ver com os clubes à Xhex, assumindo que ela poderia se livrar da coisa da maquiagem
exagerada acontecendo em seu quarto. Ele estava quase guardando o telefone, quando viu que faltou uma mensagem.
De Rhage.
O Irmão alcançou e...
- Ei, estamos prontos para ir? Onde está a sua fêmea?
Falando em Hollywood. O Irmão em questão veio correndo abaixo a escadaria principal, as armas chiando como sinos de Natal humano nos vários coldres que ele ainda
tinha amarrado em seu corpo.
- Acabei de ver sua mensagem, - Trez disse. - Desculpe por não ter respondido.
- Você tem merda em sua mente. Tá tudo bem.
Os dois bateram as palmas. Reviradas em cima. Ombros batidos. Recuaram.
- Olhe para você. - Rhage andou ao redor. - Parece ótimo.
Trez estalou fora seus punhos franceses. - Eu não posso envergonhar a fêmea.
- Parecendo assim, ela será sortuda em estar ao seu lado. - Rhage parou na frente dele. - Veja, isso é o que digo à minha Mary. Ela quer que eu adicione cor
no meu guarda-roupa, tem sido uma coisa, tipo, pelos últimos dois anos.
Quando o Irmão estremeceu como se sua shellan tivesse sugerido que vestisse calcinhas debaixo de seus couros, Trez começou a sorrir.
- Você tem interesse no negro, Hollywood? - Ele disse.
- Ela quer combinar com os meus olhos. - Rhage apontou para os seus olhos inacreditavelmente azul-petróleo. - Tipo, seriamente. Digo, eu já tenho água em mim
o tempo todo com essas coisas. Por que precisamos de redundância.
- Então o quanto de cor tem em seu armário?
- Não quero conversar sobre isso. Muito deprimente...
Lassiter enfiou sua cabeça para fora da sala de bilhar. - Ei! Menino dragão, Project Runway está passando se você quiser vir assistir. Talvez pegar algumas dicas
sobre suas tendências.
O olhar de Rhage estreitou, mas se recusou a olhar para o anjo. - Não há uma maratona de "Uma galera do barulho" que você tenha de assistir?
- Não odeie o Zack. Ele é como seu maldito irmão pequeno, rainha da beleza. - Lassiter vagueou, o ouro que ele tinha criava uma aura ao redor da sua cabeça loira-e-preta
e seu corpo longo, ou talvez o brilho fosse realmente uma aura. - Então, para onde vamos? Seu clube, Sombra?
- Não.
- No baile do embalsamador, então? Com todo esse preto, é como se você estivesse interessado nas artes fúnebres...
Rhage moveu-se tão rápido que era impossível localizar. Em um momento, ele estava friccionando seus dentes ao lado de Trez; no próximo, ele estava cara a cara
com o anjo, sua mão trancada na garganta de Lassiter.
Palavras foram ditas muito suavemente, Trez não podia segui-las, mas um momento depois o espertinho drenou o rosto e a atitude do anjo.
Rhage soltou o aperto e se afastou. - Então isso aconteceu, - ele murmurou quando voltou e começou a se recuperar. - Poderia muito bem continuar com essa merda.
Estou montando espingarda com Manny hoje à noite.
- Oh, sim. - Trez respirou fundo. - Ei, obrigado por fazer...
- Mas, só porque ele me prometeu bife.
Trez arqueou uma sobrancelha. - Desculpe?
- Bife? Sabe, vaca? Carne? Paraíso em um prato? Eu sei que comeu algum antes.
- Estou familiarizado com isso, sim. Mas você virá para ajudar...
- O consumo de bife. É por isso que irei.
Houve uma pausa estranha. Durante a qual Rhage simplesmente olhou-o fixamente, como se estivesse fazendo uma declaração de que ele não seria uma zona de drama.
E, Jesus, essa era provavelmente a coisa mais útil que o Irmão poderia ter feito. Era como uma tábua de salvação saindo da zona sentimental de merda, e Trez
se agarrou nisso.
- Bife, huh. Você irá pedir o serviço de entrega do Circle the World?
Rhage recuou como se tivesse sido estapeado. - Então, certo, claramente você não está ciente disso, o que é um lapso atordoante em sua educação formal, mas a
melhor steakhouse em Caldie, a 518, é exatamente do outro lado da rua do arranha-céu que está o seu restaurante. Meu plano? Enquanto você e sua garota estão lá em
cima se divertindo e andando em círculos, eu estarei no térreo comendo, tipo, um filet mignon, um rosbife enorme, um hambúrguer de carne Kobe, uma carne de corte
nova iorquino.
- Parece bom. Qual deles você comerá? Já decidiu?
Rhage franziu a testa. - Todos eles. Com uma porção de purê de batatas. Veja, você tem de ter a proporção purê-carne correta. Faz toda diferença. E então há
os pãezinhos. Conseguirei três cestas entregues.
Trez levantou seu dedo indicador. - Sabe o que você precisa? Uma refeição no Sal's. Você deveria ir comer na taberna do meu irmão.
- É italiana?
- Sim. Estou falando sobre o melhor na cidade...
- Merda, por que eu não...
- Puta... Que pariu...
Com a maldição que Lassiter latiu, Trez e Rhage olharam para o anjo. O imbecil não os notou, porém, seus olhos extraordinariamente coloridos focados para cima,
como se a Segunda Vinda de Cristo tivesse chegado ao topo da escadaria principal.
Só então, um perfume revelador alcançou o nariz de Trez e disparou através do seu sangue, o impacto deturpando sua cabeça e seu corpo...
Diante disso, ele perdeu todos os pensamentos. Toda respiração. E toda sua alma.
Selena permaneceu no topo dos degraus com o carpete vermelho-sangue, sua mão adorável descansando no corrimão folheado a ouro, seu corpo mantinha-se rígido,
como se ela não estivesse certa sobre seus sapatos, ou seu vestido, ou talvez até mesmo o seu cabelo.
Não havia absolutamente nada para se preocupar.
A menos que ela tenha um problema em ser uma arma de sedução.
Seu cabelo escuro longo descia ao redor dos seus ombros, caindo para baixo em suas costas. Enrolado da ponta até a base, era uma glória tão feminina, tão avassalador
com o seu peso e o seu brilho, que ele empunhou suas mãos e soltou porque queria tocá-lo, acariciá-lo, cheirá-lo. Mas, isso não era a metade de tudo. Seu rosto era
a única coisa que poderia possivelmente envergonhar as coisas, sua pele radiante, seus olhos cintilantes, seus lábios carnudos vermelhos como sangue.
E então existia o maldito vestido.
Preto. Corte simples. Com um corpete decotado e uma saia que terminava no meio da coxa.
Muito quente. No meio da coxa.
Selena estendeu um pé, um delicadamente calçado, em salto alto que estava conectado a um tornozelo pequenino e uma panturrilha perfeitamente curvilínea que o
fez ranger os dentes.
Ele teve de engolir em seco quando ela começou a descer lentamente, cada passo que ela dava levava-a para mais perto dele poder tocá-la, beijá-la... Tomá-la.
Homem, aquele vestido era um knockout absoluto, nada além de um revestimento que seguia os contornos dos seus quadris, sua cintura, e seus seios, com um ajuntamento
fora de um lado no meio dela e um segundo em seus ombros. Ela não usava joia de modo algum, mas por que usaria? Não existia nenhum diamante, nenhuma esmeralda, nenhum
rubi, nenhuma safira que poderia chegar perto da sua perfeição devastadora.
Quando alcançou a parte inferior dos degraus, ela hesitou, olhando para a esquerda e direita, provavelmente para Lassiter e Rhage, eles estavam ainda no hall
com ele? Quem sabia. Porra, quem se importava?
Selena alisou o... Isso era seda? Lã? Tafetá?
Papel de alumínio? Saco de papel?
Ela estendeu a mão e empurrou o cabelo. Em seguida, fez uma careta. - Você não gosta, né. Posso mudar. Eu iria vestir...
Algo o bateu na lateral.
- ... Vestido tradicional. Mas as meninas acharam que... - Ela olhou por cima do seu ombro para as fêmeas que permaneceram no topo dos degraus. - Eu posso mudar...
Lassiter amaldiçoou. - Caralho não. Não ouse. Você parece...
O lábio superior de Trez enrolou em suas presas baixas. Então ele estalou sua mandíbula na direção do anjo caído, como um Pastor alemão. Ou talvez um tubarão-touro
fazendo um teste de mordida antes de atacar como uma motosserra a sua presa.
Lassiter pôs as mãos para cima. - Qual é, cara, eu iria dizer que ela parece um caso de caridade. Um árbitro de futebol. Uma imitadora de Martha Stewart. Você
quer que eu continue? Eu poderia começar com os personagens idiotas da Disney. Há muitos deles.
Aquela cotovelada em sua costela veio novamente. Então Rhage se inclinou. - Trez, - o Irmão silvou. - Você tem de dizer alguma merda aqui.
Trez clareou a garganta. - Eu... Eu... Eu...
Ele estava vagamente ciente das fêmeas no segundo andar estourando em altos "toca aqui" e gritos de "acertamos em cheio". Mas, sua rainha permaneceu preocupada.
Certo, ele precisava se recompor, antes que o cotovelo de Rhage o acertasse no fígado novamente e Selena disparasse de volta para o seu quarto. - Você está...
Eu estou...
Ele puxou a gola de sua camisa de seda, mesmo que a coisa estivesse escancarada.
- Você gosta? - Ela disse.
Tudo que podia fazer era acenar com a cabeça. Ele era literalmente nada, além de hormônios em um terno preto. Ela era bonita assim para ele.
- Realmente?
Mais movimentos com a cabeça. - Uh-huh. Realmente.
Selena começou a sorrir. Então ela olhou de volta para as fêmeas, que pulavam para cima e para baixo e ofereciam seus dedos polegares para cima.
Sua rainha se virou para ele. Aproximou-se. Tomou suas mãos e esticou-se para sussurrar em sua orelha - A única coisa que elas não me deram foi roupa íntima.
Nua.
Ela estava n-n-n-n-ua debaixo disso.
Capítulo TRINTA E UM
Sem dormir.
Paradise conseguiu absolutamente, positivamente não dormir nada na bonita casa. A princípio foi porque ficou muito emocionada ao percorrer o lugar, cada sala,
quarto e banheiro, maravilhada com a arte, o mobiliário, a decoração... Duas vezes. Então precisou escolher um quarto subterrâneo (escolheu o da esquerda) e desfazer
as malas, desfazer e desfazer.
Sua amada doggen, Vuchie, desenhou uma plataforma no curto corredor de paredes de pedras entre as duas suítes subterrâneas, mas Paradise insistiu com sua acompanhante
para ir pelo outro lado e se instalar no quarto real. Isto deu lugar a uma serie de protestos, que terminou com sua empregada presa entre uma ordem direta e seu
incômodo em permanecer em tal luxo; quase teve um ataque de nervos.
Por fim, no entanto, e como de costume, Paradise conseguiu sair-se com a sua.
Neste momento, ela havia se retirado ao "seu" quarto, colocou um pijama e descobriu felizmente que o wi-fi não requeria uma senha. Deitando sobre o edredom de
veludo, verificou o Twitter, Facebook, alguns blogs, o New York Post e o Daily News, e continuou ignorando as mensagens de texto de Peyton. Quando suas pálpebras
finalmente começaram a cair, colocou o telefone de lado e arrastou o edredom pela parte superior de seu corpo, a camiseta da Universidade de Siracusa e uma calça
de yoga com os quais dormiu muitas e muitas vezes.
Eeeee foi quando a coisa de não-dormir chegou com força.
Apesar de ter fechado os olhos, sua mente continuava zumbindo com o que seu pai disse que estaria fazendo ao cair da noite para ajudar o Rei.
E logo estava o fato deste primo perdido há muito tempo, sozinho com seu pai de volta em sua casa. O que aconteceria se machucasse seu pai?
Assim, então, pensou enquanto ficava em pé diante do espelho do banheiro. Não fechar os olhos... Mesmo quando suas pálpebras descerem.
A boa notícia era que a espera terminou. E seu pai lhe enviou mensagens de textos dizendo que chegaria em quinze minutos, tão claramente que lhe fez passar o
dia bem.
Era curioso, estava surpresa pelo tanto que queria vê-lo. Depois de tantos anos de rezar por um pouco de liberdade, encontrou que a experiência real foi marcada
por um pouco de nostalgia.
- Mas, agora irei começar a trabalhar.
Virando-se de lado, pegou seu casaco azul marinho. Depois puxou sua blusa branca. Brincou com seu colar de perolas.
Quando deu um passo atrás, decidiu que parecia uma aeromoça da PanAm em 1960. Como aquelas em "Prenda-me se for capaz".
- Ah vamos. - Ela arrancou o laço, prendeu o cabelo para trás com ele e guardou suas coisas. - Oh sim. Agora está bem diferente.
Não.
Soltar o cabelo talvez melhorasse a situação. Mas, de que iria adiantar, a quem queria impressionar de qualquer forma?
Bom, má pergunta para se fazer quando estava a ponto de começar em seu primeiro trabalho e não se tratava apenas de seu pai, mas do Rei de toda a Raça e sua
guarda pessoal de assassinos.
Era o suficiente para fazer uma oração à Virgem Escriba.
Ao sair de seu...
- Por favor, senhora. Permita-me preparar algo para que possa comer.
Vuchie estava em pé justo dentro do quarto, vestida com seu uniforme cinza e branco, balançando peso entre seus sapatos bege. A doggen tinha o cabelo castanho,
os olhos marrons e a pele branca como porcelana, bonita a sua maneira e provavelmente uns cinquenta anos mais velha que Paradise. As duas se conheciam desde que
Parry podia se lembrar, como acontecia com muitas filhas de pais aristocratas a relação patroa/empregada delas tinha sido cultivada formando vínculos por toda vida.
Em muitos casos, uma empregada era a coisa mais importante levada para a nova casa quando se vinculavam à um macho de privilégio ou criação similar.
Era seu vínculo com o passado. Sua lucidez. E muitas vezes, a única pessoa em quem se poderia confiar.
Cara, ela preferia muito mais essa realocação com sua empregada; por causa de um novo emprego e não algum antigo hellren.
- Estou bem, Vuchie. - Ela tentou sorrir. - Você está com fome?
- Senhora, você não teve sua Última Refeição ontem, também.
Parry não tinha intenção de dizer a verdade claramente, um amassado ou uma rusga, não deixaria nada interferir em sua nova postura de aeromoça. Este tipo de
franqueza apenas levaria a uma briga que acabaria com ela de repouso na cama e, provavelmente, Vuchie chamaria seu pai pedindo reforço.
- Sabe o que eu gostaria? - Parry forçou um sorriso. - Que preparasse algo para mim e levasse ao escritório. - Ela se aproximou e segurou o braço de Vuchie.
- Sim, vamos, vamos, faça isto.
- Mas... Mas... Mas...
- Estou tão feliz que concorde. Adoro quando estamos em sintonia.
Foi até a parte superior da escada curva de pedra, era muito bem decorada, atravessaram um retrato de tamanho natural de uma da família real francesa até onde
estava o vestíbulo.
- É tão tranquilo. - Disse Paradise, mais calma.
O lugar, como resto da casa, estava muito bem decorado, antiguidades por toda parte, setas e veludo nas paredes e pisos, inclusive as cadeiras eram cobertas
por ricos tecidos. Lembrou-a de artigos que leu na revista Vogue e Vanity Fair sobre Babe Paley e Slim Keith, os móveis eram perfeitos, os objetos de arte pequenos
caprichos de jade, ouro e bronze, cores sóbrias, mas não fracas.
- Suponho que meu pai não está aqui, no entanto.
Como se fosse um sinal, as persianas automáticas se moveram por todas as janelas, o zumbido sutil fazendo-a saltar.
- Vou até a cozinha. - Disse Vuchie. - Preparar seu café da manhã.
Quando sua empregada saiu, Paradise quase chamou a mulher de volta. Pelo amor de deus, a doggen não era uma manta de segurança.
Decidida a enfrentar o que fosse sozinha, apesar de que não sabia o que iria fazer, se aproximou e sentou-se atrás da mesa do escritório e... Brincou com o mouse,
o que a levou a uma tela protegida com senha que nem se incomodou em decifrar.
O wi-fi no subterrâneo era outra coisa. O computador ali? Era bloqueado e teria algo mais. Uma por uma ela abriu as gavetas, sem encontrar nada além de artigos
de papelaria e artigos de papelaria... E sim, mais artigos de papelaria.
Ouviu vozes pela primeira vez. Profunda. Rouca. Muito masculina.
Então a porta se abriu. E ali estava um coro de muitos, muitos pés pesados calçados com botas cruzando o umbral.
O primeiro pensamento de Paradise foi se esconder debaixo da mesa.
Os membros da Irmandade da Adaga Negra estavam na casa, todos eles vestidos de couro negro, cada um deles armados brutalmente.
Eram maiores do que se lembrava das apresentações na noite anterior. E ela não os enquadraria na categoria de zero a esquerda de forma alguma.
- ... Bombeou algumas vezes sua cabeça. - Disse um deles.
Foi como uma derrapagem de pneus quando eles pararam em seco e a olharam. Graças a Deus que estava sentada. A mesa era uma espécie de barreira entre ela e todos
os guerreiros.
- Ei. - Disse um deles, um com o sotaque de Ben Affleck. - Sua primeira noite, verdade?
Quando começou a assentir com a cabeça, seu pai passou pela porta aberta.
- Estou aqui, estou aqui! - Seu pai abriu caminho através do grupo. - Paradise, como está você?
Ocorreu-lhe que deveria ficar em pé e abraçá-lo com força. Podia fazer isto, disse a si mesma. Poderia absolutamente e positivamente fazê-lo.
De verdade.
Honestamente.
Deus havia vários homens na casa.
Gêmeos. Ela teria gêmeos.
Enquanto Layla estava na maca, esfregou seu ventre com a mão livre, a que não estava dentro do gesso que ia até acima de seu cotovelo direito. As dores de sua
queda haviam desaparecido e o osso quebrado que Manny cuidou já estava colado novamente. O gesso iria desaparecer logo. Gêmeos.
Apesar de que teve todo o dia para se acostumar as notícias, ainda estava aturdida, e para piorar as coisas, ela e Qhuinn realmente não conversaram sobre isto.
Estava mais interessado na roupa que ela iria vestir. No momento que ela entrou na camisola de flanela e seu robe rosa favorito, dormiu. Foi bom o suficiente
para colocar seu manto sobre ela e deixá-la sozinha.
Estava irritado com ela? Pensava que ela estava mentindo sobre onde ia de carro em seus passeios?
Maldição, como diriam os Irmãos...
Uma batida na porta a fez levantar a cabeça. - Sim?
Como se houvesse lido sua mente, Qhuinn colocou o torso forte no quarto.
- Ei. Apenas queria vê-la antes de sair esta noite. Como se sente?
Layla respirou fundo e tentou manter o rosto em branco.
- Estou bem. E você?
- Bem.
Uma longa pausa. Isso fez com que seu coração acelerasse.
- Então, obrigada pelo manto. - Ela acariciou o tecido. - Realmente apreciei. Acabo de acordar, mas vou devolvê-lo.
Depois de um momento ele entrou, apoiando-se na porta fechada. Seus olhos diferentes subiram por seu corpo algumas vezes, sutilmente.
- Então, como está? - Disse. - Você sabe, com a coisa dos gêmeos.
- Bem. Quero dizer, foi um choque... - Ela encolheu os ombros. - Mas, estou me ajustando. Estou feliz. Dois, uma benção. Claro.
- Bom. Sim. Uh, hum.
Silêncio. Que foi preenchido por ele colocando as mãos nos bolsos de couro e ela brincando com a ponta do maldito manto.
Além de romper em suor frio sob os lençóis de hospital.
- Há algo que precisa me dizer? - Perguntou Qhuinn.
Os golpes nos ouvidos eram tão fortes, que tinha quase certeza que ela respondeu com um grito. - Sobre o que?
- O que estava fazendo à noite?
Obrigou-se a segurar seu olhar. - Fui dar uma volta.
- Porque suas roupas estavam cobertas de folhas?
- Desculpe?
- Sua roupa. À noite. Quando as peguei, estavam sujas e havia folhas sobre elas. Se estava caminhando pelo pátio e caiu, porque estariam assim?
Ela abaixou os olhos apesar de fazê-la parecer culpada. Por outra parte, ela era culpada.
- Layla? - Ele amaldiçoou em voz baixa. - Olhe, é uma mulher adulta. Apesar de estar carregando meu filho, não tenho nenhum direito sobre sua vida ou o que esta
fazendo, exceto em coisas relacionadas com a gravidez. Apenas quero me assegurar que esteja a salvo. Por seu bem. Pelas crianças.
Merda.
Agora era o momento, pensou. Agora... Tinha de ser o momento.
- Sinto-me presa. - Ouviu-se dizer.
Entre Xcor e a Irmandade. Entre o perigo e a segurança. Entre o desejo e a condenação.
- Imaginei isto. - Qhuinn assentiu. - Está dirigindo. Para longe.
- Caminho.
- Onde?
- Fora. - Em sua cabeça, ela tentou uma variedade de confissões, com substantivos e verbos, tentando encontrar uma maneira para descrever o que estava fazendo
sem lançar merda para todo lugar. - Fora... Pelo campo.
Qhuinn cruzou o quarto e se endireitou de frente a uma pintura de salgueiro. - As pessoas fazem isto o tempo todo. Em suas cabeças. - Disse.
Nisto tem razão, pensou.
Queridíssima Virgem Escriba queria lhe dizer. Realmente queria... Mas a revelação ficou presa em sua garganta.
Pela primeira vez, começou a ficar irritada. Consigo mesma. Com Xcor. Com toda maldita coisa.
- Tropeçou e caiu enquanto estava caminhando? - Disse.
- Sim. - Ela respirou fundo. - Fui estúpida. Caí sobre uma raiz.
Tão perto da verdade. Estava ficando irritada.
Cara, isto estava matando-a.
- A maioria das mulheres... - Qhuinn foi para os pés da cama, colocou as mãos nos quadris estreitos e olhou para seus pés. - A maioria das mulheres tem alguém
com quem passar por isto. Quero ser ele para você. Blay também quer. Nós não queremos defraudá-la.
Genial, agora sentia as lágrimas por ele duvidar que pudesse ser um apoio. - Você é incrível. Os dois são. Você é absolutamente incrível. É apenas que... Não
há muito o que fazer.
Ao menos isto não era uma mentira.
- Mas, agora com gêmeos. - Ele negou com a cabeça. - Gêmeos... Pode acreditar?
- Não. - Ela esfregou o ventre. - Não sei como vão encaixar. Já me sinto enorme e ainda tenho quantos meses?
- Ouça, por favor, estou contigo. Estou aqui para você, com tudo o que precisar.
Um estridente alarme começou a soar ao lado, os dois franziram o cenho ao mesmo tempo e olharam ao redor procurando o ruído.
- Vem do quarto de Luchas? - Perguntou. - Oh Deus meu, será que...?
Ouviu-se um grito no corredor. Vários passos. A voz de Jane dando ordens.
- Merda, tenho de ir ver. - Disse Qhuinn enquanto girava e se lançava para a porta. - Tenho de ir ajudar...
Quando ele correu para o quarto de seu irmão, Layla sentou-se. Ficou em pé. Estabilizou-se. O que estava acontecendo ao lado era ruim. E ela estaria condenada
se Qhuinn iria enfrentá-lo sozinho.
Capítulo TRINTA E DOIS
Ao sentar-se no banco de trás do gigante Mercedes, aquele que Fritz dirigia e estava, de fato, dirigindo, Selena sorria tão largamente que suas bochechas estavam
insensíveis e sua mandíbula doía.
À frente do sedã, os arranha-céus de Caldwell brilhavam como as sentinelas míticas de algum reino de fantasia e ela se inclinou para a janela, tentando ver aquele
para o qual se dirigiam, o mais alto dos gigantes, o ápice de todos.
- Mal posso esperar para ver a vista lá de cima, - ela se virou para Trez. - Estou tão excitada.
Quando ele não respondeu, mas só continuou a encará-la, ela sorriu ainda mais. O macho não desviara o olhar desde que ela descera as escadas, os olhos vagando,
sempre vagando, nos lábios dela, nos seios, as coxas e pernas, de volta ao cabelo, rosto, garganta.
A excitação dele estava saliente à frente das calças pretas. E mesmo que ele tentasse, repetidas vezes, colocar o paletó, o braço ou uma mão no colo de forma
casual, ela conseguia sentir o sexo dele tão claramente como se ele estivesse nu.
Ela se inclinou, se aproximando. - Me beija?
- Não confio em mim esmo.
- Que terrível. - Esticando-se, ela mordiscou o lóbulo da orelha dele, - Perigoso...
O grunhido que vibrou pelo peito dele foi a coisa mais erótica que ela já havia ouvido.
- Talvez devêssemos cuidar disto? - Quando ela pousou a mão sobre seu sexo, ele pulou e praguejou. - Isto é um "sim"?
Enquanto ele se apoiava no banco e jogava os quadris ao encontro da mão dela, ela olhou para a frente do carro, que, dado o tamanho, parecia estar em outro código
postal. Fritz estava concentrado na estrada, seu rosto velho e enrugado, preocupado. Talvez pudessem...
Sem tirar aqueles olhos escuros dela, Trez remexeu com a mão na porta. Um segundo depois, houve um som de whhhrrrring e uma partição opaca se elevou, isolando-os
do gentil chofer.
- Não temos muito tempo, - ela disse, ao afastar o braço dele.
- Não será preciso muito tempo.
Do bolso sobre seu peito, ele tirou um lenço branco dobrado e, com um rápido chacoalhar, liberou-o de seu rigor engomado.
Ao mesmo tempo em que ela liberou sua ereção.
Ela estava em meio a decisão de cair de boca nele, mas ele segurou seu rosto entre as mãos e beijou-a, a língua penetrando fundo, encontrando a dela.
Ele estava duro e quente, aveludado e grosso, e ela deslizou um agarre em volta de seu pau, bombeando. Quanto mais acariciava, mais doido o beijo se tornava,
até a pélvis dele estar convulsionando contra ela, e seu peito arfando, e ela estava respirando com tanta dificuldade quanto ele.
Quando ele gozou, gritou o nome dela e baixou aquele lenço para conter sua explosão... E ela estava tão excitada, tão tonta com a sensação da boca dele sobre
a sua e os movimentos de sobe e desce, sobe e desce da sua mão contra o sexo dele, que sentiu um intumescimento entre suas próprias coxas, uma resposta do próprio
corpo ao que ela estava fazendo nele... Que era tão pouco perto do que realmente queriam.
Seu próprio orgasmo foi uma surpresa, e ela se entregou, absorvendo as garras afiadas do prazer, tornando-as mais fortes ao apertar as coxas uma contra a outra
e esfregar. Enquanto isto, ela continuava as carícias rítmicas, apertando a ponta, trabalhado sua extensão.
Quando acabou, Trez caiu contra o banco, pálpebras baixas, lábios entreabertos, cabeça caída para o lado como se não tivesse força para endireitá-la.
- É isto o que chamam de rapidinha? - Ela sussurrou ao pressionar os seios contra o peito dele para beijá-lo.
Antes que ele pudesse responder, ela correu a língua ao longo de seu lábio inferior, então sugou-o. Afastando-se, ela disse, - Hmm? É?
- Cuidado, fêmea, eu posso arrancar este vestido que está usando.
- Isso seria ruim?
- Se outro macho te vir nua, sim. - Ele sorriu e correu uma das presas pelo lábio inferior. - Eu sou possessivo.
- Você ainda está duro, não está?
Com um rápido agarre na nuca dela, ele puxou-a para perto e beijou-a violentamente. Embora ela estivesse no controle da primeira parte, agora ele assumiu o controle,
dominando o corpo dela, enfiando uma mão entre os joelhos, e acima para a...
Ela gozou contra os dedos dele assim que eles a penetraram, seu núcleo explodindo em ondas após ondas de prazer.
- Esta é minha rainha, - ela ouviu-o dizer através de uma vasta distância. - Goze para mim...
Ela perdeu as contas do quanto ele a provocou com aquele toque talentoso, mas eventualmente, ela tomou consciência do carro fazendo uma curva longa que a fez
escorregar no assento. Focando seus olhos vidrados pela janela escurecida, ela viu que saíam da rodovia, prontos para entrar nas complicadas artérias asfaltadas
que levavam à incontáveis arranha-céus.
- Eu arruinei o seu batom, - ele disse com satisfação, enquanto se ajeitava. - Você trouxe mais?
Agora foi a vez dela se sair com huh-quê? - Deixa eu ver se tem algo aqui. - Ela remexeu na pequena bolsa preta que Marissa havia lhe dado. - Sim, elas pensaram
nisto.
Como se as fêmeas soubessem exatamente em que tipo de problema ela provavelmente se meteria, havia um pacotinho de lenços de papel, o delineador labial que haviam
lhe ensinado a usar, e o fabuloso batom vermelho que havia passado.
- Tem um espelho ali. - Trez estendeu o braço e puxou alguma coisa do teto. - Ele acende.
Ela verificou seu reflexo e teve de rir, - É, você realmente arruinou o batom.
Um lencinho cuidou da mancha e então era caso de cuidadosamente fazer uma linha contornando sua boca, bem na hora em que o carro passou por um buraco na estrada
que era quase, mas não completamente, regular.
- Droga, - ela disse, pegando outro lenço por ter acabado com uma linha cor de rosa no nariz. - Deixa eu tentar...
Trez segurou a mão dela e a baixou. Quando ela olhou para ele, os olhos dele, seus comoventes olhos pretos pareciam estar memorizando cada detalhe dela.
- Você não precisa disto, - ele disse, - gosto mais sem.
Selena sorriu timidamente. - Sim?
- Sim. - O olhar dele desceu para o seu corpo. E voltou a subir. - Isto é maravilhoso. Você está fantástica. É a fêmea mais linda na cidade hoje, e quando entrarmos
no restaurante, os garçons vão derrubar as bandejas. Mas, quer saber o que eu mais gosto em sua aparência?
Quando ele pausou, ela se viu engolindo em seco. - O quê? - Sussurrou.
- Você mesma, minha rainha, a aparência com a qual nasceu. Pelo que me consta, a perfeição não pode ser melhorada, nem pelos homens, nem por Deus. Inclinando-se,
ele beijou-a suavemente. - Só pensei que você gostaria de saber o que o seu macho está pensando quando olha para você.
Selena começou a sorrir, especialmente ao perceber que, às vezes, "eu te amo" pode ser expressado sem necessariamente usar estas três palavrinhas juntas.
- Vê? - Ela disse suavemente, - eu disse que esta ia ser a melhor noite da minha vida.
De carona na ambulância de Manny, Rhage comia Doritos direto do pacote, e discordava totalmente do médico. - Não, eu não sou um fã de Cool Ranch. Só como Original.
- Você está perdendo. - Manny deu seta para sair da rodovia. - Não acredito que você, dentre todo mundo, pode ser tão mente fechada quanto ao sabor de seus salgadinhos.
- Mas, este é o ponto. Por que melhorar uma dádiva de Deus?
Virando o pacote, ele olhou dentro e quis praguejar. Estava chegando ao fim dos grandes, restando nada mais do que os quebrados e aquele cósmico pozinho laranja.
Não que ele não fosse comer tudo, jogando a coisa direto do saco em sua boca aberta. Mas esta era a parte não-divertida da experiência, a que não envolvia a destreza
dos dedos.
Mastigando, ele voltou a focar na traseira do carro de ditador do terceiro mundo de Fritz. Aquele Mercedes era tão grande, tão preto e tão completamente escuro,
que chamava mais atenção ao passar do que seria esperado. Só de brincadeira, Rhage imaginou o que os humanos pensariam se soubessem que havia vampiros no banco de
trás.
E que a coisa estava sendo guiada por um mordomo centenário com um pé que faria o piloto Jeff Gordon ter um ataque de ciúme.
- Viramos aqui? - Rhage perguntou ao se aproximarem da intersecção.
- É contramão.
- Como eu disse, viramos?
Manny olhou para ele. - Não, se não quisermos ser presos.
- Estamos em uma ambulância.
- Sim, mas eles não.
Oh, certo. Droga. - Sabe, eu realmente queria ligar as luzes desta merda.
Só que, no instante em que disse isto, sua costela afundou ao redor dos pulmões e ele acabou tendo de baixar a janela um pouquinho para deixar entrar um pouco
de ar.
- Você sujou minha porta de nachos?
Rhage esfregou a mancha alaranjada com o antebraço - Não.
Eles continuaram grudados no pára-lama de Fritz igual a um selo em um envelope, virando a esquerda, afastando-se do rio, indo diretamente para o coração do distrito
financeiro. Sem becos escuros. Sem caçambas de lixo. Sem lama, mesmo nos meses chuvosos. E sem o cheiro nojento dos restos apodrecidos de restaurantes xexelentos.
Aquela era a parte chique da cidade, onde pessoas vestiam ternos e corriam por todo canto, canalizados como gado no curral, a seus lugares de Trabalho Urgente
e Importante.
O prédio que abrigava o restaurante onde eles estavam indo havia sido concluído um par de anos antes, e seus construtores alardeavam a enorme ascensão vertical
como o prédio mais alto em Caldwell. Abarrotado com os quartéis-generais de grandes negócios, para ele, não passava de um gabinete cheio de humanos, cada um guardado
em pequenos compartimentos.
Enfadonho.
- Você está bem?
Rhage olhou para o médico - Huh?
- Qual o problema?
- Nada.
- Então porque parou de comer? O pacote ainda não está vazio.
Rhage olhou para baixo. Verdade, ele deixara os restos onde estavam... E não tinha vontade nenhuma de terminar. - Ahhh...
- Está cuidando do peso?
- Sim. É isso.
Quando amassou o pacote, deixou manchas alaranjadas por todo o rótulo e embalagem, até a coisa parecer cheia de hematomas por maus tratos.
Então viu que a sua própria mão estava laranja. - Merda, não tenho como limpar.
- Tá brincando? - Manny jogou uma gaze para ele. - Podemos limpar e polir metade desta cidade com o que tenho aqui.
Rhage abriu o pacote e limpou-se; então jogou tudo na lixeira que havia entre os assentos.
Manny desacelerou ao chegarem ao prédio de vidro, então estacionou do outro lado da rua quando Fritz parou completamente diante da entrada iluminada, os faróis
traseiros do Mercedes brilhando vermelhos.
Um momento depois, Trez saiu e deu a volta no sedã, o vento forte tremulando seu paletó antes de ele se abotoar, exibindo as .40 gêmeas que havia colocado no
suporte sob seus dois braços.
Com um movimento galante, ele abriu a porta para sua fêmea, e Selena emergiu da traseira, os cabelos incríveis oscilando como uma bandeira negra para lá e para
cá.
- Casal bonito. - Manny disse baixinho.
- Ela nem parece doente.
- Eu sei.
Trez enganchou o braço no dela, e acompanhou-a pelos degraus de granito acima e, quando outro casal saiu pela porta giratória, ambos os humanos pararam e os
encararam.
- Manny.
- Sim?
- Você tem de fazer alguma coisa, cara. Você precisa descobrir que merda é essa e resolver isto para eles.
Manny ligou o motor, e o motor turbinado do RV acelerou, levando-os adiante, para contornar até os fundos do prédio.
- Você me ouviu? - Rhage exigiu.
- Sim, ouvi. - Manny respirou fundo - Sabe o que é o mais difícil de se aprender na medicina?
- Bioquímica?
- Não.
- Anatomia humana? Porque é nojento.
A seta fazia um som de nuk-nuk-nuk quando o médico anunciava ao mundo, ou pelo menos a esta rua, que virariam à esquerda de novo, em torno da base do arranha-céu.
- O mais difícil é entender que há situações onde não há nada que se possa fazer.
Rhage esfregou os olhos. Algo de seu subconsciente estava voltando a ele, algo que não queria.
- Rhage?
- Huh?
- Você fez um som engraçado aí.
Quando Manny voltou ao compartimento de serviços, ele executou uma elegante manobra em K de modo que a traseira do veículo ficasse colada ao prédio. Desligando
as coisas, ele se virou no assento.
- Tem certeza que está bem?
- Oh, sim. Uh-huh.
- Você não parece bem. E veja só o que eu estou usando: jaleco. Sabe o que isto significa.
- Que você gosta de sair de pijamas em seus passeios?
- Que eu sou um médico e sei do que estou falando.
- Deixe de paranóia, grandão.
Houve um intervalo ínfimo de silêncio. Então Manny disse, - Não há nada que eu não faria para ajudá-los. Nada.
Agora foi a vez de Rhage virar-se. - É o que eu precisava ouvir, Dr.
- Só não coloque sua fé em milagres, Hollywood. É uma aposta perigosa.
- Aconteceu para mim e Mary. Na hora em que precisamos, um milagre aconteceu.
Manny olhou para fora, através do pára-brisa... E não pareceu estar vendo nada da rua escura à frente. - Eu não sou Deus. E nem a Jane.
Rhage voltou a encostar-se a seu assento. - É preciso ter fé. Eles só precisam ter fé.
Capítulo TRINTA E TRÊS
Quando a porta da cela voltou a se abrir, iAm virou-se. Mas, ainda não era s'Ex. E não era mais uma cama. Nem mais livros que ele não iria ler, ou cobertas que
não usaria, ou travesseiros para os quais, não ligava a mínima.
Era a serviçal com outra refeição.
- Ah, qual é! - Exclamou ele, meneando a mãos. - Onde, caralho, está s'Ex?!
A fêmea não disse nada; simplesmente avançou com aquela sua bandeja enquanto a porta deslizava de novo para seu lugar, isolando-os juntos.
Quando ela se ajoelhou, ele quis gritar. E gritou.
- Eu não vou comer porra nenhuma! Jesus Cristo, qual o problema de vocês?
A única coisa que o impedia de marchar até ela, pegar aquela porra de comida e jogá-la do outro lado do quarto, era o fato de não ser culpa da maichen. A traição
de s'Ex não tinha nada a ver com ela, e aterrorizar a maldita serviçal não ia deixá-lo nem um pouco mais próximo da liberdade ou de seu retorno para Trez.
Ela era uma vítima inocente, pega no meio desta merda, do mesmo jeito que ele.
Exalando em um rompante, ele baixou a cabeça. Levou-lhe alguns momentos até recobrar um mínimo de controle. - Desculpe.
Diante daquilo, a cabeça dela ergueu-se um pouco, e por um momento, especialmente quando seu aroma o atingiu, ele desejou poder ver os olhos dela.
Qual será o formato deles? Como seriam os cílios? Seriam as íris tão escuras quanto às dele...
Por que caralho ele estava pensando nisto?
Afastando-se dela, começou a perambular. - Eu tenho de sair daqui. O tempo está acabando.
Quando ela inclinou a cabeça para o lado, em sinal de questionamento, ele pensou, Não. Não vou fazer isto.
Ele indicou a bandeja. - Se quiser, deixe a comida aí que eu jogo na privada, para que não se encrenque por não me alimentar.
E foi quando ela falou - Não está envenenada.
Sem nenhum bom motivo, aquelas três palavras, em nada especiais, o fizeram congelar. A voz dela era mais profunda do que ele havia imaginado; toda a subserviência
dela parecia combinar melhor com algum tom super feminino de alta oitava. E havia aquela tonalidade baixa e rouca... Que o fazia pensar em sexo.
Sexo rude. Do tipo que deixava as fêmeas roucas de tanto gritar o nome de seu amante.
iAm piscou.
De repente, sentiu vontade de cobrir o corpo nu. Que era, tipo, besteira, não era? Ele sabia que ela era uma fêmea o tempo todo e, não era como se jamais tivesse
usado roupas na frente dela.
Cedendo ao impulso, ele foi para trás do biombo, na direção da pilha de toalhas que ficava perto da banheira embutida. Ao enrolar uma em volta dos quadris, sentiu-se
como se desculpando por ter ousado andar com o pau ao vento.
Quando ele voltou, ela novamente provava a sopa e o pão.
- Pode parar. - Ele disse. - Não vou comer.
- Por quê?
De novo, aquela voz. Mesmo em poucas palavras desta vez.
- Tenho de sair daqui, - murmurou ele. Por uma muitos motivos. - Eu tenho de sair.
- Tem algo a sua espera?
Ele pensou em Trez e Selena. - Só morte. Sabe, não é nenhum fodido grande problema ou coisa assim.
- Como é?
- Ouça, preciso que vá embora. E não volte até trazer s'Ex com você.
- Quem?
Eeeee ele parou de novo. Serviçais jamais eram imperativas, mas era assim que ela soava. Então, de novo, as emoções dele estavam tão elevadas, que ele se sentia
capaz de interpretar praticamente qualquer coisa agora... E pular para a conclusão errada.
- Eu voltei aqui para procurar ajuda, está bem? - Ele ergueu as mãos. - s'Ex me disse que me ajudaria a entrar no palácio, para que eu pudesse pesquisar nos
registros dos curandeiros.
- Ajuda para quem?
- Para a companheira de meu irmão.
A cabeça da serviçal se ergueu argutamente. - Mas ele não é o companheiro da Princesa aqui? Ouvi dizer que ele era O Consagrado.
- Ele se apaixonou. - iAm deu de ombros - Acontece. Ou é o que dizem.
- E é ela quem está morrendo?
- Ela não está bem.
Ele voltou a perambular, podia sentir os olhos por trás daquela malha seguindo-o. - Então é por isto que eu preciso sair. Meu irmão precisa de ajuda.
- Ele está na cerimônia de luto. O carrasco.
iAm desviou o olhar e, então, voltou a andar pela cela. - Sim, eu sei, mas ele disse que teria liberdade suficiente para me encontrar no exterior. A viagem seria
mais curta, agora que estou dentro do próprio palácio.
- Mas, esta é a questão. Ele partiu e ninguém sabe para onde ele foi. O palácio queria que ele participasse. O palácio... Insistiu que ele atendesse à Rainha.
Ele está com ela agora.
Que sorte a dele. - Mas há intervalos nos rituais, não há? Não pode procurá-lo durante estes intervalos?
- Bem... Talvez eu possa te levar aos registros?
iAm voltou lentamente sua cabeça, - O que você disse?
Mais. Longa. Viagem. De. Elevador. Da. Vida. Dele.
Enquanto Trez permanecia em pé, ao lado de Selena em uma câmera de tortura de paredes envidraçadas, encarava resolutamente as portas fechadas... E rezava para
que algum tipo de fenda do tempo estilo Dr. Who, o tirasse daquela maldição naquela porra de minuto.
Com os globos oculares grudados na fileira iluminada de números acima das portas cromadas, ele queria vomitar.
... 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50...
O "44" ainda estava por ser iluminado, porque eles estavam na parte super-hiper-mega-expressa-e-rápida daquele alegre passeio.
- Oh, você precisa ver isto! - Selena disse, virando na direção do fornecedor gratuito de vertigem. - Isto é tão divertido!
Um rápido olhar por sobre o ombro e ele quase gritou. Sua linda rainha não tinha apenas se aproximado do vidro, mas estava com as palmas das mãos apoiadas nele,
e se inclinava para a vista cada vez mais alta.
Trez virou-se novamente. - Quase lá. Estamos quase no topo.
- Podemos descer e voltar a subir? Fico imaginando como é a descida.
Na verdade, talvez eles devessem voltar ao saguão. Ele tinha quase certeza que sua masculinidade havia ficado lá quando esta subida de foguete se iniciou.
- Trez! - toc, toc, toc em seu antebraço, - Olhe para isto.
- Ah, é... É incrível... Sim. Absolutamente.
Eles jamais chegariam aos quatrocentos e quarenta e quatro andares. Muito menos no nível cinco mil porrilhões onde o caralho do restaurante ficava.
McDonald's, ele pensou. Por que ela não queria ir ao Mickey D. ou ao Pizza Hut, ao Inferno do Taco Bell...
Bip!
Diante do som, ele preparou-se para um momento Duro de Matar onde algum supervilão em um elegante terno inglês explodiria o prédio todo.
Não. Bip! Quarenta e cinco. Bip! Quarenta e seis.
E, mais boas novas vieram quando aquela viagem aos céus se tornou mais lenta.
- Trez?
- Mmm?
- Tem algo errado?
- Só estou faminto. Oh, meu Deus, não posso esperar para chegar lá.
Ela enfiou o braço sob o dele e encostou a cabeça contra seu tríceps. - Você realmente sabe como tratar uma fêmea.
Claro que ele sabia. Por exemplo, tinha certeza absoluta de que não seria considerado nada romântico se deitar em posição fetal e sugar o dedão porque era um
covarde em se tratando de altura.
Bing! E as portas se abriram.
Obrigado, menino Jesus, para usar uma frase de Butch.
Agora, ele disse a si mesmo, controle-se, seu covarde e concentre-se na sua fêmea.
Exibindo à sua rainha um sorriso Cary Grant cheio de presas, ele acompanhou Selena para fora da armadilha da morte, para um lobby de mármore que, por uma fração
de segundos, levou-o de volta ao seu pesadelo no s'Hisbe: havia pedras pretas brilhantes demais nas paredes, chão e teto, com luzes embutidas no teto e nada mais.
- Trez?
Estremecendo, ele sorriu para ela - Está pronta?
- Oh sim.
Uma discreta placa em preto sobre preto, com uma seta indicava o caminho para o restaurante, mas seus sentidos aguçados de audição e olfato já havia lhe dado
aquela informação, obrigado. Ao se dirigirem para lá, um casal humano passou apressadamente por eles, os saltos altos da fêmea como um "Foda-se" expressado a cada
passo que ela dava.
- ... Sem reserva? - Ela sibilou - Como pode não fazer a reserva?
O homem próximo a ela olhava para frente. Com o olhar de alguém preso perto de uma criança de três anos em um ônibus.
- Não acredito que não fez a reserva. E tivemos de sair deste jeito. Na frente de todo mundo...
Enquanto ela continuava marchando naquele mesmo tema, os olhos do homem se fixaram em Selena... E o pobre bastardo recuou em admiração como se um anjo vivo tivesse
aparecido em sua frente.
Depois de Trez afirmar ao seu macho vinculado interior que uma entrada apropriada não incluía Filé ao Molho de Fodido Intrometido, lembrou que também ele, havia
se esquecido de ligar antes para fazer a reserva. Merda. Ele se esquecera totalmente de pedir a Fritz para fazer a maldita ligação. E controle de mente funcionava
em humanos, inclusive nos esnobes maitres, mas, isso não resolvia o fator indisponibilidade de assentos vazios.
Ahh...
- Sabe, eu ouvi que a comida aqui não é tudo isso, - ele disse, entorpecido.
- Tudo bem, estou aqui mais pela vista.
A entrada do Circle the World não era indicada por nenhum letreiro, como se, caso fosse necessário perguntar, você não devia estar ali. Tudo o que havia era
um par de portas de vidro escuro, tão largas e altas como uma casa térrea.
Segurando as maçanetas negras, ele empurrou uma das portas e deixou Selena entrar.
Restrição total.
Aquela foi a primeira impressão do lugar: preto brilhante em todos os cantos, das mesas e cadeiras geométricas aos suportes quadrados que apoiavam o teto. Sem
flores. Sem velas. Nada espalhafatoso. E a noite escura além de todas aquelas janelas? Também preta, de forma que não parecia haver divisão entre o céu e o interior.
O único toque de extravagância? As luzes LED ondulantes que se dependuravam daquele teto aberto em cabos negros, sua luz cintilante refletindo todo aquele alto
brilho.
Oh, e havia uma soprano cantando em um canto, sua voz doce espalhando-se por todo o lugar.
- Eu nunca vi nada disto, - Selena suspirou, - é como se houvessem estrelas por todo os lados.
Ele olhou em volta - É.
Está bem, cadê o cavalheiro em roupa de pinguim encarregado de mandar embora um monte de gente cheia de grana? Não havia nenhum maitre à entrada. Só nove metros
de tapete preto levando à primeira fileira de mesas minimalistas.
- Estão olhando para nós.
Diante das palavras sussurradas, ele franziu o cenho e encarou os frequentadores. Bem, quem diria. Cada um dos humanos às mesas parecia haver parado de comer
e olhavam na direção deles...
De repente, uma mulher se aproximou. Como a decoração, ela estava toda de preto, e mesmo o seu cabelo era um capacete liso e molhado de alto brilho.
- Como vão, - ela disse, com um sorriso amplo. - Bem-vindos ao Circle the World.
E agora iremos nos autodestruir em três... Dois... - É... Eu não liguei antes...
- Oh, Sr. Latimer, sim, ligou. Seu representante, Sr. Perlmutter nos avisou que nos agraciaria com sua presença. Temos imenso prazer em acomodá-los perto das
janelas.
Pooooooorra.
Obrigado, obrigado, Fritz, mordomo salva-vidas supremo... Que havia claramente cuidado das coisas.
Quando sua rainha ficou radiante, a mulher indicou o caminho através do salão aberto... E quando a seguiram, Trez percebeu que eles haviam entrado em um vasto
prato que girava lentamente: o restaurante inteiro se movia em volta do eixo central do elevador e do que devia ser o espaço da cozinha.
Eles foram diretamente à beira. A uma mesa para dois que tinha uma das suas generosas laterais diretamente contra o vidro.
Sob o qual a cidade de Caldwell inteira se estendia, cerca de cento e vinte mil metros abaixo.
Hora de sentar, ele pensou, rezando para que seu ataque de nervosismo não fizesse seus joelhos fraquejarem antes dele acomodar apropriadamente a sua rainha.
Ajudando Selena a se sentar, ele manteve os olhos afastados ao ir para o outro lado da mesa e desabar em uma cadeira dura como pedra.
A maitre estendeu a mão pálida acima da mesa, em direção às malditas janelas. - Este será o tempero de sua refeição esta noite.
Não, o tempero será a náusea, queridinha.
Ela se voltou para o resto do local. - O interior foi desenvolvido para a noite ser o plano de fundo perfeito para saborear o que o chef servirá para seu prazer.
Quando estavam sozinhos, Selena moveu-se para perto da janela - É... Incrível. As luzes dos prédios. São como estrelas cadentes.
Trez limpou as palmas suadas no guardanapo. Preparando-se, ele olhou para lá e viu que, bem, sim, era tão ruim quanto ele imaginara. Espiar pelo vidro absolutamente
transparente, era como se nada o separasse de uma queda mortal, a ausência de bordas transformando mesmo uma fração de segundo de contato visual, em um passo aterrorizante
para dentro do abismo.
Hora de levar o guardanapo à sobrancelha.
- Trez? - Ela olhou para ele - Você está bem?
Controlando-se, ele estendeu a mão e tomou a dela.
- Já te disse como elas são lindas? - Ele murmurou.
O sorriso dela foi radiante. - Sim, mas eu nunca me canso de ouvir.
- Tão lindas, - passou suas palmas sobre as dela. Então se inclinou e pousou um beijo em sua pele. - Longas e adoráveis. Fortes também.
Quando finalmente olhou para cima, foi diretamente nos olhos dela, e foi quando as coisas melhoraram. Um momento depois, não estava mais preocupado com seu medo
de altura, nem pensava sobre os humanos ao redor, e não dava a mínima para a vista iluminada que sutilmente os rodeava.
Com a mão dela nas suas e aquele lindo rosto encarando-o, foi transportado para longe de tudo aquilo.
- Eu te amo. - Ele disse, esfregando seu polegar na parte interna do pulso dela. - Ninguém poderia fazer isto comigo.
- Fazer o que?
- Me fazer esquecer meu medo.
Ela enrubesceu. - Eu não queria perguntar, mas porque não me disse que não gosta de altura? Eu achei que ia pular para fora da pele no elevador. Podíamos ter
ido a outro lugar.
- Mas era aqui que você queria vir. Como se eu não fosse aguentar por você?
- Eu gostaria que nós dois aproveitássemos a noite.
Ele semicerrou as pálpebras - Eu me diverti no carro. Já estou imaginando a viagem de volta.
Quando o aroma dela se acendeu, ela exalou um som semelhante a um ronronar.
Mais tarde, muito mais tarde, ele se lembraria daquele momento entre eles... Do jeito que parecia que duraria para sempre, se esticando no divino infinito. Todos
os detalhes permaneceriam com ele, também, do brilho nos olhos dela, ao brilho de seus cabelos, do jeito que ela sorria para ele ao rubor nas faces.
As lembranças eram especialmente preciosas, quando eram tudo o que restava de um ser amado, para se apegar.
Capítulo TRINTA E QUATRO
- O que foi? O que... O que é este alarme?
Layla estava bem atrás de Qhuinn quando ele entrou de supetão no quarto onde o irmão estava internado e começou a falar. Por cima do ombro dele, viu a Dra. Jane
em pé, ao lado da cama, e Luchas deitado imóvel, com o camisolão do hospital erguido até a cintura, as cobertas afastadas do corpo rígido, os travesseiros caídos
no chão.
Um dos equipamentos médicos foi empurrado até a cama e enquanto Ehlena digitava algo no teclado, a Dra. Jane aplicava um par de placas diretamente sobre o peito
de Luchas.
Houve um som espremido seguido de uma pequena explosão, e na cama, seu torso convulsionou para cima.
E ainda assim, o alarme continuava soando, uma nota única, o equivalente mecânico a um grito.
- Luchas! - Qhuinn gritou. - Luchas!
Layla achou melhor detê-lo, então passou os braços ao redor do tórax largo, pressionando sua barriga contra ele. - Fique aqui, - disse ela, em um resmungo. -
Deixe-as fazerem...
- Afastar! - Dra. Jane gritou.
A cama balançou quando o tórax de Luchas convulsionou novamente, e quando voltou a cair, o coração da própria Layla trovejou. Ela não podia acreditar que estava
novamente presenciando aquilo. Ontem foi Selena, agora era...
Bip. Bip. Bip.
- Consegui uma pulsação. - Dra. Jane largou o que estava em suas mãos, jogando as placas na direção da máquina. - Preciso que você...
Ehlena obedeceu imediatamente aos comandos, à medida que a médica falava, entregando seringas cheias de medicação uma após outra, antes de encaixar uma máscara
de oxigênio sobre o rosto de Luchas e ajustar ainda mais equipamentos.
Cerca de dez minutos, ou podem ter sido dez horas, mais tarde, Dra. Jane se aproximou:
- Preciso falar com você. - Indicou o corredor mais adiante, - aqui fora, por favor.
Ao saírem do quarto, a Dra. Jane fechou rapidamente a porta, antes que esta se fechasse sozinha:
- Qhuinn, não tenho como amenizar isto. Para ele sobreviver, vou ter de amputar parte da perna, e tem de ser agora. A infecção está acabando com ele e é a fonte
dos problemas. Inferno, mesmo se eu cortar abaixo do joelho, já pode ser tarde demais. Mas, se quiser lhe dar uma chance, é o que temos de fazer.
Qhuinn nem piscou. Não praguejou. Não discutiu. - Está bem. Pode cortar a maldita perna.
Layla fechou os olhos e pousou a mão na a base da garganta, em angústia.
- Está bem. Quero que fique fora daqui. Não precisa assistir a cirurgia. - Quando Qhuinn abriu a boca, a doutora o interrompeu. - Não, não é uma escolha, se
o pior acontecer, eu te deixo entrar para se despedir. Fique fora.
Desta vez a porta se fechou sozinha, se encaixando no lugar.
Fechando brevemente os olhos, Layla não conseguia imaginar o que estavam fazendo lá dentro. Mas havia uma porção de equipamentos cirúrgicos com eles, como se
a Dra. Jane já estivesse preparada para isto.
E dada a velocidade da resposta de Qhuinn, ele também.
- Ele vai me matar, - disse ele, rudemente. - Se sobreviver.
- Você não tinha escolha.
- Eu podia deixá-lo morrer.
- Poderia viver com sua consciência se fizesse isso?
- Não.
- Então não havia escolha. - Ela colocou as mãos no rosto e tentou visualizar, em sua mente, Luchas naquela cama. - Deus, como isto foi acontecer?
- Talvez eu deva dizer a ela para parar.
- E então o que?
- Não sei. Não sei de porra nenhuma.
Eles ficaram no corredor por uma eternidade, e Layla tentou não ouvir os sons do outro lado daquela porta, especialmente quando houve um sutil whrrrring que
se parecia muito com uma serra elétrica em miniatura, sendo ligado. Ao passo que ela permanecia imóvel, Qhuinn perambulava para frente e para trás, cabeça baixa,
olhos grudados nas botas, mãos nos quadris. Depois de um tempo, ele parou e olhou para ela.
- Obrigado. Sabe, por não me deixar sozinho.
Aproximando-se dele, ela abriu bem os braços e ele se aproximou, inclinando-se para pousar a cabeça no ombro dela. Enquanto esperavam juntos, ela o abraçou porque
era tudo o que podia fazer.
Mas, não parecia suficiente.
Aproximadamente dez quarteirões à frente e cinquenta andares abaixo do Circle the World, Xcor estava em pé, rente a uma úmida parede de tijolos.
O lesser que ele e Balthazar haviam rastreado estava atrás e à esquerda de onde estava, o fedor do corpo dele subia em ondas, ao sabor de uma brisa que carregava
um forte cheiro de resíduos industriais, misturado à sujeira.
Seu corpo ansiava por uma briga, tudo o que acontecera com Layla na noite anterior, fizera os seus demônios interiores atormentarem-no tanto, e deixaram-no em
um humor tão insuportável, que os seus soldados o largaram no porão, sozinho durante as horas do dia.
Era melhor arriscar-se à luz do sol do que lidar com o mau-humor dele.
Pelo menos ele tinha ali a expectativa de uma boa matança.
Ao seu sinal, Balthazar se desmaterializou acima do asfalto úmido, se tornando uma das sombras do prédio, do outro lado da rua. A noite estava clara acima, mas
a luz do luar adicional era uma complicação desnecessária. O centro de Caldwell já tinha iluminação suficiente para ler um livro, mesmo ali onde estava, naquele
beco estreito.
Caso ele se tornasse magicamente alfabetizado.
Permanecer nas sombras não era somente parte do mito vampírico, mas uma realidade muito prudente para todos eles. Com movimentos praticados, sacou a foice de
seu suporte, liberando a arma da tira que a prendia às suas costas. Balthazar, por outro lado, que preferia armas mais convencionais, trazia uma adaga dupla, e as
lâminas pálidas iluminaram-se enquanto ele as mantinha próximas às coxas.
Ouviram sons de passos passando por eles. Rápidos, múltiplos, mas não correndo.
Dois machos humanos, com as mãos nos bolsos, pés se movendo rapidamente, desceram o beco. Eles não prestaram atenção ao passarem, e, provavelmente isto foi o
que lhes salvou as vidinhas inúteis.
E então foi questão de esperar.
Um som de passos únicos agora, em uma velocidade muito maior. Acompanhado do fedor que precedia os mortos-vivos.
Quando o lesser apareceu, dobrando uma esquina e entrando no beco onde estavam, também não prestava atenção neles. Tinha dinheiro nas mãos, soma pela qual parecia
obcecado, contando, recontando, enquanto andava.
Xcor saiu de seu esconderijo. - Quantos paus teve de chupar para receber essa grana?
O lesser rodopiou, enfiando o dinheiro em um casaco folgado. Antes que pudesse responder, Balthazar saiu de sua posição, saltando no ar e chegando ao chão com
as adagas já nas mãos. O assassino gritou quando aquelas lâminas o penetraram no ombro e garganta, provando que, embora não possuísse alma ou coração, o sistema
nervoso central dos bastardos registrava dor de forma bem eficiente.
E foi quando as balas começaram a voar.
Xcor estava se virando, preparado para lançar sua adorada foice em um gesto largo assim que Balthazar se afastasse, quando um estouro soou próximo a ele. E então
outro.
E então vários deles.
As descargas eram rápidas demais até mesmo para automáticas.
O primeiro tiro que levou foi no ombro. O segundo na coxa. O terceiro raspou seu ouvido, deixando uma ardência que parecia um semáforo piscando em vermelho brilhante
na lateral de sua cabeça.
Balthazar também foi atingido.
Não restava alternativa além de correr e rezar. Seriam humanos? Improvável, mas não impossível. Não poderiam ser lessers; eles eram tão pobremente armados, que
o armamento mais pesado que traziam aos becos era nove milímetros, e ainda assim, muito poucas.
Um rápido movimento de esquiva à direita e ele e Balthazar entraram em uma rua mais estreita, temporariamente fora da área do massacre. Aquilo mudaria tão logo
o atirador, ou atiradores, aparecesse na esquina por onde tinham vindo.
- Esquerda! - Balthazar comandou.
Precisamente, havia mais uma alternativa no labirinto de ruas para escolher, e eles se desmaterializaram no beco seguinte, ironicamente ultrapassando o par de
humanos que haviam visto antes. Os dois homens também estavam indo o mais rápido que podiam, obviamente haviam ouvido o tiroteio. Mas a velocidade deles era bem
mais lenta.
Então, quando a metralhadora dobrou a esquina, eles já tinham uma boa cobertura.
Gritos, do fundo da garganta e cheios de terror, explodiram quando a próxima rodada de fogo se abateu sobre eles, a maioria dos impactos atingindo os humanos.
- Esquerda! - Xcor disse, liderando a fuga.
Sua coxa estava ficando entorpecida, mas não perdeu tempo olhando para baixo para medir o dano. Faria aquilo mais tarde, se sobrevivesse.
Outra bala passou perto, o som assobiando em seu ouvido, alto o bastante para se sobrepor até mesmo a seu fôlego entrecortado e o trovejar de seus passos.
Balthazar estava ao seu lado, o grande corpo em uma corrida desenfreada.
Mais disparos atingiram uma caçamba de lixo, quando passaram por ela. O muro. O asfalto. De vez em quando havia pausas, como se a arma ou armas estivessem sendo
recarregadas... Ou talvez houvesse dois deles trabalhando juntos, um recarregando enquanto o outro atirava.
Continuar a correr. Era tudo o que podiam fazer.
Nenhum dos becos por onde passavam oferecia um lugar relevante para se esconder; de fato, não havia nem portas para arrombar.
Era estritamente questão de esperar até acabar a munição que os atiradores tinham. Supondo que ele e seu guerreiro não fossem derrubados antes.
Quando as rodadas seguintes chegaram a eles, ele soube, sem olhar para trás que deviam ser lessers, e não humanos que os perseguiam.
Somente lessers podiam correr tão rápido, por tanto tempo... E aparentar ter energia suficiente para continuar a ir.
Era possível, notou no fundo da mente, que ele e seu soldado estivessem em problemas.
Capítulo TRINTA E CINCO
- A conta já está paga.
Trez parou em meio ao processo de tirar a carteira do bolso.
- Como é?
- Já está paga. - O garçom sorriu e fez uma reverência. - Foi um prazer servi-los.
Jesus, se ele não soubesse que o cara era humano, acharia que alguém da equipe de Fritz os seguira até ali. O serviço fora fenomenal a noite inteira.
- Aproveitem seus cappuccinos.
Trez olhou para Selena. Seus olhos estavam fixos na paisagem de novo, mas ela já não sorria. Seu perfil perfeito estava vincado de linhas sombrias.
Esticando a mão, tomou as mãos dela entre as suas, sentindo um pico de medo crescer em seu peito. - Você está bem?
Sem pensar, enfiou a mão por dentro do casaco e segurou o celular.
- Oh sim. - Só que ela não olhou para ele.
O ruído suave de conversa ao redor deles havia diminuído e os passos largos dos garçons haviam desaparecido de sua proximidade.
- Selena, o que há?
- Eu não quero que acabe.
- Nós podemos vir aqui outras vezes.
- Sim. - Ela apertou a mão dele. - É claro.
Enquanto o restaurante continuava a girar, girar e girar, os fundos do Commodore tornou-se novamente visível, a imensa altura do prédio salpicada por luzes aleatórias,
incluindo algumas na cobertura.
Provavelmente Rehv já estava lá.
Trez baixou o olhar para o café no qual não tocara. O creme estava temperado com canela, da qual ele jamais fora muito fã. Ele o pedira somente porque sua rainha
não parecia querer ir embora.
- Foi muito gentil da parte deles, - ela murmurou, - pagar pelo jantar.
- Eu vou cuidar disto quando chegar em casa.
- Você devia aceitar a gentileza.
Trez procurou o que podia ver do corpo dela, buscando por sinais de que estivesse tendo problemas que requereriam uma ligação rápida para Manny e Rhage, que
aguardavam lá embaixo.
- Selena?
Ela assustou e olhou para ele. - Desculpe?
- Quer pedir outra sobremesa?
- Não. - Ela deu mais um leve aperto na mão dele, antes de soltá-lo e dobrar seu guardanapo antes de pousá-lo na mesa - Vamos?
Ele afastou a cadeira para ajudá-la, tão rápido que os quatro pés arranharam o chão brilhoso. - Aqui, deixe-me...
Mas sua rainha se levantou sozinha com um movimento elegante, o corpo perfeitamente estável, perfeitamente tranquilo. Pelo menos fisicamente. Ele podia sentir
o peso em seu humor.
Acompanhando-a para fora, ele tomou consciência dos olhares ao redor, novamente em cima deles, comentários sussurrados sendo feitos por trás de bordas de taças
de vinhos e quadrados de guardanapos, enquanto os humanos tentavam reconhecê-los como celebridades. Havia certa satisfação no fato de que a galera da primeira fila
jamais conseguiria.
Junto às grandes portas de vidro, ele abriu um dos lados para ela, e quando ela atravessou, parou e olhou por cima do ombro, como se temesse se esquecer de alguma
nuance da aparência, cheiro ou som do lugar.
- Nós sempre poderemos voltar, - ele repetiu.
- Oh, sim.
- Ela lhe deu um sorriso e continuou indo para aquele espaço aberto minimalista onde os elevadores ficavam. Adiantando-se, ele apertou o botão e esperou ao lado
dela, colocando a mão em sua cintura.
- Então aonde quer ir em seguida? - Ele perguntou.
- Quer dizer, hoje? Estou meio cansada...
- Não, amanhã à noite.
Ela olhou para ele. - Eu...
- Vamos. Dê-me um próximo destino para que eu tenha como organizar as coisas para amanhã.
As portas dos elevadores se abriram, e ele levou-a para dentro... E ele estava tão focado nela que mal notou aquela horrível parede de vidro que se abria para
o lobby. Pressionando o botão do térreo, ele acariciou o ombro de Selena.
- Então...? - Quando ela não respondeu, ele se inclinou e beijou a lateral de sua garganta. - Esta não é a única noite que vamos ter.
- Como pode saber? - Ela encontrou o olhar dele. - Eu não quero arruinar tudo, mas como você sabe?
- Porque eu não vou aceitar de outra forma.
Virando-a para encará-lo, ele deliberadamente pressionou os quadris contra o corpo dela e cobriu os lábios dela com os seus. - A menos que esteja enjoada de
mim. Ou seriamente nada-impressionada por eu ser um covarde vertical.
Os olhos dela pareciam muito azuis e muito assustados ao encontrar os dele - Barco.
Ele havia esperado outra coisa. - Como é?
- Eu, ah, eu quero sair em um passeio de barco no rio.
- Rápido ou lento?
- Ambos?
- Você vai ter.
- Simples assim? - Ela sussurrou. - Você pode realizar qualquer coisa?
Ele encostou a boca no ouvido dela e sussurrou. - Volte para o meu quarto e vou te mostrar como sou talentoso.
Enquanto o aroma dela mudava, ele acariciou-a com o nariz, beijando-lhe o pescoço, mordiscando lhe a veia. Ele não estava sendo justo, é claro. Sabia que ela
estava sendo praticamente distraída, e ele queria mesmo que estivesse. Na verdade, ele não podia garantir a noite de amanhã ou mesmo o próximo amanhecer, mas, como
memórias eternas, a ilusão deles tendo todo aquele tempo teria de durar pelo resto de tempo que tivessem.
Beijando-a, abraçando-a e sentindo o corpo dela contra o seu, ele discretamente tirou o celular e ergueu-o às suas costas. O texto para Manny e Rhage foi curto
e grosso: Ipc obr.
Indo para casa. Obrigado.
O elevador chegou ao térreo direitinho, e os beijos ajudaram-no também a se distrair. E então saíram do prédio, para a fria e tempestuosa noite de outono. Fritz
estava com o Mercedes do outro lado da rua, e o doggen trouxe o carro para frente do prédio assim que os viu.
Sem demora o mordomo saiu e abriu a porta.
Trez queria ter aberto a porta para ela.
No momento em que ela deslizou para o interior cálido, o último som que ele esperava ouvir na presença dela, captou sua atenção:
Pop-pop-pop.
Tiros.
Porra.
Trez pulou no sedã com ela, se levantando entre os assentos. - Tire-nos daqui! Agora!
Fritz não hesitou. Engatou a ré e acelerou tanto que Trez quase acabou dando uma de odorizador no para-brisa traseiro. Recobrando-se rápido, cobriu Selena com
seu corpo, para prender o cinto de segurança dela. Puxando a faixa sobre ela, ele tinha acabado de encaixar o troço quando a força centrífuga o jogou contra o lado
oposto do banco, batendo a cabeça, mas ele não ligou a mínima. Apoiando o pé no vão dos pneus, a mão no teto e na porta, equilibrou-se para não cair sobre Selena
enquanto terminavam a manobra que os colocaria no lado correto do caminho.
O que os deixava na contramão da rua de mão-única pela qual haviam vindo.
- Vamos em frente. - Fritz gritou acima do ruído dos pneus.
O rugido do motor do Mercedes-Benz e a explosão que se seguiu, lembrou a Trez a decolagem de um avião. Enquanto seu corpo era sugado contra o banco, ele olhou
para Selena.
Os olhos dela estavam arregalados. - Qual o problema? O que está havendo?
Os prédios de ambos os lados da rua de três vias eram aço, vidro e concreto pálido e começaram a piscar, mais rápido, mais rápido, mais rápido. Olhando para
cima e adiante, Trez verificou que na rua, os pára-choques dos carros estacionados os encaravam como pais desaprovadores, enquanto iam na direção errada.
- Nada aconteceu! - Ele gritou acima de todo aquele barulho. - Eu só estou realmente ansioso para vê-la nua...
As sobrancelhas de Selena se ergueram ainda mais, - Trez, eu ouvi alguma coisa..
- ... Porque estou desesperado para te possuir!
- ... Que pareceu um tiro!
Ambos gritavam acima do motor, alternando as falas, enquanto Fritz fugia como um morcego do poço do inferno para longe das balas.
E então a diversão começou de verdade.
Eles haviam passado por dois quarteirões, quando as viaturas de polícia começaram a aparecer. E diferente do Benz? Os carros azuis e brancos com o giroflex estavam
do lado certo da rua.
- Eu vou pela calçada, - Fritz gritou - Vai sacolejar um pouquinho...
Aquele mordomo maluco filho da puta, virou o volante à esquerda e subiu o meio-fio, colidindo com um hidrante, que prontamente explodiu à sua passagem, enviando
um jorro de água a elevar-se no ar. E então, pela graça de Deus, o Benz pousou como um cavalheiro, seus amortecedores de primeira qualidade, suavizando o que sem
dúvida teria sido um baque e tanto.
Virando-se, Trez olhou pelo para-brisa traseiro. As viaturas manobravam e desembestavam atrás deles quando Fritz bateu em uma parede de expositores de jornais,
mandando caixas plásticas vermelhas, amarelas e verdes pelos ares à passagem deles. As coisas frágeis se quebraram quando bateram na calçada, folhas de papel flutuaram
como pombas libertadas de gaiolas.
Quando se voltou para Selena, preparou-se, tentando pensar em um jeito de tranquilizá-la...
Ao contrário.
Selena vibrava de excitação, suas presas visíveis, graças ao enorme riso que borbulhava dela ao se apoiar na porta.
- Mais rápido! - Ela gritou para Fritz. - Vamos vai rápido!
- Como quiser, ama!
Um novo rugido daquele pedaço massivo de engenharia alemã sob o capô enviou-os inclinando não só calçada abaixo, mas diretamente aos limites das leis da física.
Selena olhou para ele. - Esta é a melhor noite do mundo!
- Está bem, hora de ir.
Rhage meneou a cabeça para Manny. - Me pergunto o que eles comeram no jantar. - Ele verificou o celular de novo e desejou realmente ter ido à churrascaria. Ele
só mentira a respeito para tranquilizar Trez. - Ele não disse nada sobre entrada ou sobremesa. Digo, vamos lá, ele podia ter dado alguns detalhes. Só recebemos oito
letras do cara.
- Na verdade, foram seis.
- Foi o que eu disse.
Os Doritos haviam deixado de fazer efeito há uma hora. Mas também, às vezes ele podia dizer o mesmo de uma refeição completa com três pratos.
Manny ligou o RV e guiou, a ambulância passou por cima de um buraco, e então ganhou velocidade. - É melhor eu correr. Fritz tem o pé pesado.
- Tipo, eles comeram rosbife? Eu vi, em uma revista, uma foto de um prato de rosbife que servem lá em cima...
Bum!
Bem na hora em que se depararam com uma encruzilhada de becos, algo grande apareceu na frente deles e caiu sobre o capô. Quando Manny pisou no freio, um peso
massivo rolou.
- Jesus Cristo, era um cervo? - O médico gritou.
- Talvez um alce.
Rhage sacou ambas as armas e estava a ponto de pular quando a chuva de balas começou. Sons altos e metálicos de "pings" ricochetearam no RV e racharam o espesso
vidro.
- Oh, pelo amor da porra, - Manny exclamou. Então gritou através do para-brisa para os atiradores. - Eu acabei de comprar esta coisa!
Rhage tateou a maçaneta da sua porta, mas não conseguiu abrir. - Me deixe sair!
Ping-ping-ping. - De jeito nenhum, você vai acabar se matando!
- Somos um alvo fácil aqui.
- Não somos não.
Repentinamente, cerca de doze centímetros de placas de metal cobriram cada centímetro quadrado de vidro que lá havia no RV. Instantaneamente, o som dos tiros
foi abafado até uma batida distante.
Rhage observou em relativo silêncio. - Você é um gênio.
- Harold Ramis é.
- Quem?
- Você nunca viu Recrutas da Pesada? Meu filme favorito de todos os tempos. Eu baseei esta coisa no veículo de Bill Murray.
- Eu sabia que gostava de você. - Rhage olhou rapidamente para o telefone. Não havia Irmãos nos arredores, o que era bom, dado o tiroteio. - Só há um problema...
Não podemos ficar parados aqui. A polícia humana logo vai cercar...
Uma tela de LED do tamanho de uma TV se ergueu verticalmente do painel, ocupando a maior parte do espaço, agora bloqueado, do para-brisa. E em sua superfície
lisa havia uma reprodução esverdeada em HD da rua em que estavam... Então, tiveram uma imagem muito boa dos atiradores enquanto a dupla de dedos de chumbo correram
diante de seus faróis. Os dois ostentavam armas de canos longos, aparentemente AKs, cada descarga causava um brilho súbito na boca dos canos enquanto continuavam
a atirar.
Eles não pararam ao passar pelo veículo de Manny.
- Aqueles são lessers, - Rhage murmurou. - Correm rápido demais para humanos. Além disto, só lessers seriam tolos o bastante para fazer este tipo de balbúrdia.
Deixe-me sair daqui, porra.
- Você não vai atrás deles...
Rhage estendeu a mão e agarrou a frente da camisa do homem, puxando-o para o espaço entre os assentos. - Me. Deixe. Sair.
Manny manteve seu olhar. Praguejou. - Você vai se matar.
- Não vou.
- Como pode estar tão certo?
- Eu tenho truques que ninguém supera. - Ele indicou a janela - Abra-a e eu poderei me desmaterializar por entre as frestas das placas de metal. A menos que
você tenha malha de aço em algum lugar.
Manny começou a murmurar todo tipo de coisas vis ao procurar pelo botão requisitado e o pequeno pedaço de vidro transparente desceu uns cinco centímetros.
- Assim que eu sair, acelere. - Rhage demandou. - Precisamos de você no rabo de Trez. Sem brincadeira.
Fechando os olhos, ele se concentrou e...
... Se desmaterializou para fora, retomando forma ao lado do RV e então dando uma batida na porta. Os atiradores passaram por eles, no encalço de sua presa,
o que o punha em posição perfeita. Quando o motor foi ligado, e a pequena clínica portátil de Manny se afastou, começou a correr. O cheiro no ar lhe dizia que estava
certo; era uma dupla de lessers com alguns brinquedos bem caros... algo que não tinham visto há quanto tempo?
Não desde que Lash, aquele bastardo, era o Forelesser.
Com coxas bombeando e armas a postos, ele diminuía a distância quando as sirenes surgiram às suas costas. De repente, foi iluminado por trás, e não de uma maneira
boa. Com duas automáticas nas mãos, eles pensariam que ele era o maldito problema, ao invés da solução que tentava acertar as contas com os inimigos.
Certamente, uma voz de macho projetou-se de um falante de alta resolução vinda do beco. - Departamento de Polícia de Caldwell! Pare! Parado ou atiro!
Deus! Maldição.
Humanos: o remédio da natureza para um momento que de outra forma, seria bom.
Capítulo TRINTA E SEIS
De volta à sua cela no palácio, iAm ocupava-se traçando um caminho no chão de mármore polido, indo para frente e para trás entre a nova plataforma de dormir
e a prateleira de livros.
Quanto mais tempo era deixado sozinho, mais se tornava convencido de que a maichen havia feito a oferta de levá-lo aos escritos dos curandeiros guiada somente
por um ímpeto impotente de compaixão. Mas, inferno, mesmo que ela estivesse falando sério, e surgisse de novo com algum tipo de plano, não era como se ele fosse
aceitar a sua ajuda. Já havia tanta gente enfiada naquela bagunça e ele não tinha certeza de que ela sabia ao que estava se voluntariando: ele era prisioneiro do
carrasco, o que significava que, mesmo que muitos tivessem acesso a ele, só havia um filho da puta com as chaves de sua fuga.
E não era aquela humilde fêmea.
E se fosse sério? Mesmo que não o estivesse ajudando a sair para o mundo exterior, mas à biblioteca? O sistema de monitoramento logo entregaria os dois... E
então a morte súbita seria o melhor que ela poderia esperar.
O mais provável era um longo e sofrido período de tortura, durante o qual ela rezaria para estar...
Quando a porta abriu, ele verificou se seu sexo estava coberto antes de se virar.
Era a serva, e ela trazia roupas nas mãos. Quando a porta deslizou de volta para o lugar, ela enfiou algo perto do batente para impedi-la de se fechar totalmente
e foi na direção dele.
- Vista isto. Não temos tempo...
- Espere, o que...
- Vista! A equipe de segurança está mudando de turno e é exigido que eles façam uma prece obrigatória de tristeza e recordação pela criança. Tenho de te levar
pelo corredor agora...
- Não posso deixá-la fazer isto...
- Você quer ajuda, certo. Para a amada de seu irmão, certo.
iAm cerrou os dentes. Cruz, conheça a caldeirinha. - Porra!
- Eu não sei o que esta palavra significa.
Ele aceitou o que ela oferecia, mas continuou a discutir enquanto vestia as peças. - E como vamos voltar?
- Eu vou distraí-los. Você vai precisar de um pouco de tempo na biblioteca... A menos que saiba exatamente o que está buscando?
O manto pesado cobriu as pernas dele, - Que tal aqui?
Sem aviso, as luzes se apagaram. - Eu ativei o sistema circadiano.
Ah sim, a alternação entre luz e escuridão sem a qual não é possível dormir.
Clique!
Uma pequena lanterna iluminou o caminho até a plataforma de dormir, e ela rapidamente arrumou os travesseiros e cobertas de forma que parecesse haver alguém
ali. Então, ela correu de volta e espirrou algo no rosto dele.
Ele tossiu quando o forte cheiro de lavanda misturado a algo cítrico inundou lhe o nariz. - O que infernos...
Mais spray. - Este é um uniforme de serviçal. Ninguém questionará, mesmo se nos encontrarem juntos, mas seu cheiro é muito másculo. Isto deve encobrir o suficiente
para passarmos. Agora, encurve-se... Você é grande demais para o manto. Não podemos deixar seu pé aparecer ou eles vão descobrir. Vamos lá.
Ele seguiu-a até a porta, mas antes que ela abrisse, ele agarrou-lhe o braço a fez voltar-se.
- Você não deveria estar fazendo isto.
- Não temos tempo...
- Vai acabar sendo morta.
- Seu irmão precisa de ajuda. Para a companheira dele. Você tem outra solução para sair daqui e ver aqueles escritos?
Quando ela tentou se virar, ele puxou-a de volta. - Qual o seu nome?
- maichen.
- Não, esta é sua casta. Qual o seu nome?
- É este. Agora, venha... Chega de falar. - Ela disse, com urgência. - E não se esqueça de se encurvar.
Com isto, ele saiu da cela e foi para o corredor. Ao olhar para a direita e para esquerda, ela cutucou-o com a lateral do cotovelo.
- Se abaixe, - ela sibilou, - por aqui.
Dobrando os joelhos, ele curvou os ombros e a seguiu, tentando imitar cada um dos movimentos dela. Ela era rápida e decisiva pelos corredores, virando esquerdas
e direitas em uma sequência que o deixou tão confuso que ele se sentiu perdido em um labirinto. Inacreditavelmente, não encontraram ninguém, mas aquela era a natureza
do luto para o s'Hisbe. Todos se trancavam.
Talvez ela pudesse só levá-lo a uma saída pelos fundos depois de tudo isto?
É, mas o que aconteceria a ela?
- As fitas de segurança, - ele disse.
- Cale-se.
- Quando voltarmos, precisa cuidar dos arquivos de vídeo de monitoramento ou eles saberão o que fez.
Ela não respondeu, só se apressou, levando-o por vários corredores.
De acordo com a tradição s'Hisbe, de que a simplicidade elevava a alma, havia pequenas sinalizações em todos os lugares no palácio, nada além de placas sutis
sobre os umbrais, para ilustrar o acesso à várias salas, depósitos e saídas. Gradualmente, seus anos no palácio lhe voltaram e ele ficou surpreso ao ver que sabia
onde estavam: Ela estava levando-o para a biblioteca pelo caminho mais longo, mas era esperta. Ali eram os fundos do palácio, onde, caso encontrassem alguém, provavelmente
seria um serviçal.
O que, considerando o seu disfarce, tornava a rota bem melhor.
- Por aqui, - ela disse, pegando a última direita e parando em um dos quadrados do piso de mármore, cujo veio corria ao contrário da direção prevalecente de
todos os outros. Colocando a mão na parede, ela acionou a porta, que deslizou prontamente.
Quando entraram na escuridão, luzes sensíveis a movimentos se acenderam, iluminando pilhas sobre pilhas de volumes encapados em couro. O ar era seco e vagamente
empoeirado, mas a biblioteca estava um brinco, o chão polido a um brilho de espelho, as prateleiras brilhando. Não havia cadeiras ou mesas se alguém quisesse ler
alguma coisa... Era esperado que você pegasse o volume de seu interesse, e o levasse aos seus aposentos para ler por lá.
Merda, como eles iriam encontrar qualquer coisa ali?
- Os registros medicinais foram transferidos, - ela sussurrou, movendo-se para a frente.
Ele seguiu-a de novo, e não se incomodou em tentar encolher sua estatura: não havia ninguém em volta para vê-lo, e esta parte do palácio não era monitorada.
O sistema de catalogação, tal como era, estava anotado em numerais pretos nas laterais das prateleiras. Mas, de novo, era vago, e presumia que você já saberia
onde encontrar o que buscava.
Eventualmente, ela parou e indicou uma fileira de pilhas. - Foram realocados para cá.
Franzindo o cenho, ele se aproximou. O sistema de numeração nas lombadas não ajudava porra nenhuma, então ele tirou um dos volumes aleatoriamente e abriu a capa.
Quando finalmente entendeu algumas palavras do Idioma Antigo no dialeto Sombra, descobriu que era um tratado sobre fratura em ossos.
Descendo uma fileira, ele tirou outro tomo aleatório. Algo sobre visão.
Mais além, chegou em gravidez e parto.
- Doenças, - ele murmurou. - Estou procurando por doenças. Ou defeitos congênitos. Ou... Genes recessivos...
- Eu te ajudo. - maichen começou a tirar os volumes. - O que pode me dizer sobre esta doença?
- A chamam de Aprisionamento. Elas congelam... Elas ficam... É como se os seus ossos crescessem espontaneamente... Supostamente é fatal...
Deus, ele não sabia o suficiente sobre o que estava falando.
Enquanto os dois percorriam seu caminho prateleira abaixo, as categorias e organização dos volumes começaram a se tornar mais claras. Como todos os vampiros,
os Sombras não tinham de lidar com vírus humanos ou câncer, mas havia muitas outras coisas que os atingia... Embora não tanto quanto as que os Homo sapiens tinham
de combater. Com cada livro aberto, ele se conscientizava da passagem do tempo, e ficava mais preocupado com a maichen ser pega do que com qualquer coisa que pudesse
acontecer com ele mesmo.
Rápido, mais rápido com a leitura, a devolução, o pegar outro da prateleira.
Tinha de haver algo aqui, ele pensou. Tinha de haver.
O corpo inteiro de Trez estava rígido ao manter-se apoiado contra o interior do Benz. Fritz ainda prosseguia pela calçada... O que seria ótimo se o doggen fosse
um mero pedestre. Espremendo o sedã do tamanho de um iate que singra oceanos, em uma alameda de concreto construída para acomodar quatro ou cinco pessoas lado a
lado?
Não era tão ótimo...
Selena exclamou uma espécie de yeeee-haw! Quando viraram outra esquina e mandaram pelos ares outro conjunto de caixas do Caldwell Courier Journal.
Ele estava honestamente feliz de que ela estava se divertindo.
Ele só fodidamente desejava que estivessem assistindo este filme de ação, em vez de atuando nele.
- Fritz! - Gritou acima do som do ronco do motor. - Vai na direção do rio.
- Como desejar, amo!
Sem aviso, Fritz jogou o carro para a esquerda e mandou-os voando na direção de um calçadão que contornava outro dos arranha-céus. O Benz subiu os degraus como
um homem usando gesso nos joelhos, a subida desarticulada, empurrada e sacolejada sendo o tipo de coisa que fazia dos dentes bater e os rins pedirem misericórdia.
Mas daí eles estavam novamente na área plana, que dava às pessoas todo o tipo de escolha, como por exemplo, para qual dos quatro diferentes pontos de entrada usar
como acesso.
Fritz, naturalmente, escolheu a rota mais reta.
Através da porra do lobby.
Painéis de vidro explodiram quando o S600 chocou-se contra uma parede envidraçada, estilhaços voaram adiante e para os lados, antes de pousarem no chão escorregadio
e costearem a distância como neve pela superfície congelada de um lago.
Pela janela oposta, Trez deu uma boa olhada no vigia noturno que pulava em pé, atrás de uma fileira de mesas no lobby. Parecia falta de educação não cumprimentar
o pobre bastardo, então Trez deu uma de Rainha Elizabeth e acenou com a mão quando cruzaram o interior e saíram do outro lado.
Esmaga!
O segundo turno com o vidro foi tão escandaloso quanto o primeiro, quando foi estilhaçado pela lataria do Benz ao explodirem de volta para a noite.
- Acho que devemos ir pelo ar. - Fritz disse. - Segurem-se.
Pode crer, grandalhão.
Trez enrijeceu ao se aproximarem da beira da escada e então...
Gravidade zero, ou tão próximo disto quanto era possível sem fazer uma manobra acentuada a nove mil metros de altura, aconteceu quando se elevaram, a viagem
se tornou super suave e relativamente quieta, nada além do ruído do motor atingia seus ouvidos.
Tudo isto mudou ao passarem voando pela calçada e pousarem na rua asfaltada. A suspensão absorveu tanto do impacto quanto foi possível, mas fagulhas se espalharam
quando a carroceria do carro raspou no asfalto.
- Por favor, me desculpem. - Fritz disse, olhando pelo espelho retrovisor e falando diretamente a ele. - Amo, sinto terrivelmente, mas preciso retornar para
casa...
- Fritz! Se concentra a estrada, camarada.
- Oh, sim, amo...
Guinchaaaaaaando quando o mordomo corrigiu o curso e evitou, por pouco, bater na lateral de uma fila de carros estacionados.
- Como eu dia dizendo, amo, preciso retornar para casa. - O mordomo continuou sem perder tempo. - A preparação da Última Refeição precisa ser supervisionada.
Como se aquilo fosse somente uma partida de vídeo game que se pudesse pausar? - Ah, Fritz...
De repente, o Mercedes apagou as luzes interiores e exteriores, ficando em escuridão total. Naquele momento específico, do alto do céu, uma luz flamejante cortou
pela estrada, brilhando sobre eles por uma fração de segundos.
- Helicóptero, - Trez murmurou. - Fantástico.
Virando-se no assento, olhou pelo para-brisa traseiro. Luzes azuis e vermelhas piscavam e se aproximavam rapidamente, mas os policiais estavam cruzando o caminho
deles, ao invés de segui-los... O que lhes daria vantagem por somente um quarteirão antes que o Departamento de Polícia mudasse a rota.
Merda, como iriam escapar desta?
Antes que se desse conta, Fritz levava-os para o rio, mas não pela estrada. Ao invés de tomar uma das rotas legais, ele pulou outro meio-fio e saltou diretamente
abaixo da rodovia elevada. Pilastras do tamanho de carvalhos corriam pelas janelas, o doggen brincando de se esquivar, jogando para a esquerda e direita como um
maratonista em uma corrida de obstáculos.
Não havia ninguém atrás deles, mas não conseguiriam manter esta fuga indefinidamente. A Northway, que estava agora acima de suas cabeças, ia voltar a ficar plana...
E claro, a descida começou a acontecer, e naquela velocidade, Trez se convenceu de que eles iriam virar purê na fusão horizontal do asfalto.
Só que, não. Fritz moveu o carro bruscamente por baixo, percorrendo uma beira da calçada até as estradas que corriam paralelas ao rio Hudson. De alguma forma,
ele conseguiu fazê-los passar por uma brecha entre as grades de segurança e então, simples assim, eles estavam em uma rampa de desvio que os levaria à autoestrada
na direção correta.
Na direção contrária a da cidade.
Trez esperou por uma fila de viaturas com as luzes brilhando como no Quatro de Julho vir atrás deles.
Em vez disto, viu uma frota daqueles caras de azul indo para o outro lado da Northway, na direção do lugar onde havia acontecido toda a ação.
Fritz desacelerou e voltou a acender as luzes. Postou-se na fila de tráfego. Flutuou para longe, a modestos cento e dez quilômetros por hora.
- Como diabos fez isto? - Trez disse, com verdadeiro respeito.
- Humanos são fáceis de serem despistados. Tendem a perseguir luzes, como gatos perseguem um laser. Sem luz? Dá uma vantagem séria... Bem, isto e possuir o dobro
da potência que eles.
Trez virou-se para sua rainha. - Você está bem?
Selena estendeu a mão e ergueu a boca para um beijo. E outro. - Que noite! Esta foi a coisa mais excitante que já aconteceu comigo!
Adrenalina rapidamente transformou-se em luxúria quando ele correspondeu ao seu beijo e pressionou-a contra o assento. Lambendo-a na boca, ele acariciou um dos
seus seios com a mão.
- Devemos pedir a ele para acelerar de novo? - Trez murmurou contra sua boca - Porque eu não acho que posso esperar...
- Chegaremos logo, - ela murmurou, sorrindo. - E eu gosto de antecipação. Estou faminta por você desde que começamos a rodar.
Trez grunhiu no fundo da garganta ao tocar o botão para erguer a partição - Fritz?
- Sim, amo?
- Um pouco mais rápido, se não se importa.
- Com todo o prazer, senhor!

 

CONTINUA

Capítulo VINTE E NOVE
- Você achou que ninguém iria perceber?
Ao sair da cela, maichen congelou. A voz por trás dela era tão profunda, tão baixa que as palavras eram rosnadas ao invés de faladas, e era a última coisa que
estava esperando.
Som de passos, de um macho com o dobro de seu tamanho e três vezes o seu peso, rodearam o seu corpo e, através da malha que cobria seu rosto, ela olhou para
cima, beeem para cima.
O rosto de s'Ex também estava coberto, mas, no carrasco era uma cota de malha, elos de prata nada delicados, que escondiam a expressão de seu rosto, mas não
sua identidade.
O temor invadiu o seu peito, e uma sensação de vazio interno trouxe suor para suas axilas e ao vale entre seus seios bem formados.
- E você estava o alimentando?
Quando ela nem confirmou, nem negou a pergunta, o carrasco fez um gesto de frustração com as mãos, mas foi cuidadoso em não tocá-la ou em qualquer coisa que,
mesmo indiretamente, estivesse em contato com o corpo dela, inclusive a bandeja, tudo o que ela continha, bem como suas vestes e até mesmo o piso de mármore onde
pisava.
Era proibido a qualquer macho entrar em contato com ela, punível com a morte pelas mãos de s'Ex, o que significaria que ele, provavelmente, teria de cometer
suicídio.
- Diga, - ele exigiu. - Você o envenenou?
- Não! Ele já estava sem comer há mais de doze horas...
- Desde quando você começou a se preocupar com os meus prisioneiros?
- Ele não é um prisioneiro comum, - ela ergueu o queixo - E você não está cuidando dele direito.
- Há milhares de outras pessoas para cuidar disto.
- Eu não sou uma destas milhares de pessoas que vivem aqui?
Ele se inclinou. - Não comece com isto de novo.
maichen removeu a malha tão rápido, que ele não desviou o olhar a tempo. Quando ele engasgou e se virou, escondendo o rosto atrás das dobras de sua manga, a
voz dela se igualou à sua em autoridade.
- Você não pode me dizer aonde posso ou não posso ir.
- Coloque a máscara! - Ele gritou.
- Não coloco. Não aceito ordens de você. - Ela arrancou a manga dele para que não pudesse mais cobrir os olhos. - Entendeu?
O carrasco fechou os olhos com tanta força que a expressão de seu rosto inteiro se distorceu. - Você vai nos matar...
- Não há ninguém aqui. Agora, ordeno que me olhe nos olhos.
Foi tal a reviravolta, que ele se acovardou e demorou a entreabrir as pálpebras, como se seu rosto não quisesse obedecer às ordens de sua mente.
Quando finalmente olhou direito para ela, foi a primeira vez na vida que um macho viu seu rosto, e, por um segundo, o coração dela bateu tão forte que ficou
de cabeça zonza. Mas, ao lembrar-se do prisioneiro, lutou contra a perturbação.
- Ele, - ela estendeu o dedo na direção da porta da cela, - não deve ser ferido de forma alguma. Compreende?
- Não é você quem decide...
- Ele é um inocente. Aquele é o irmão do Consagrado, não é dele o dever de servir ao trono. Eu vi a tatuagem...
- Você olhou para o corpo dele! - Uma série de palavras explodiu da boca de s'Ex, palavras desconhecidas que soavam como "Maldição do Caralho".
Não sabia o que significavam. Ela só conhecia o inglês formal.
s'Ex se inclinou na sua direção, e baixou a voz, - Ouça, fique fora disto. Você não sabe o que está acontecendo aqui.
- Eu sei que é injusto fazer um inocente pagar por algo que não foi responsável.
- Eu não vou arriscar minha vida por você. Estamos de acordo? E não vou alterar o curso de minhas ações para apaziguar qualquer dilema moral que você esteja
alimentando neste momento.
- Sim, você irá. - Agora foi ela que se inclinou, e apesar do tamanho dele, s'Ex recuou. - Você sabe muito bem o poder que eu tenho. Você não vai ficar no meu
caminho neste ou em qualquer outro desejo que eu tiver... E quando eu trouxer a próxima refeição, você e seus machos irão me deixar passar em paz. Não confio o bastante
em você para alimentá-lo adequadamente... Ou em segurança. E não diga a ele quem sou eu.
Com isto, ela voltou a colocar a malha sobre o rosto e começou a se afastar.
- Qual é o seu jogo? - s'Ex exigiu.
Ela fez uma pausa. Olhou por sobre o ombro. - Eu não sei o que quer dizer.
- O que você vai fazer? Mantê-lo aqui como um bichinho de estimação?
maichen estreitou os olhos por baixo da malha. - Não é da sua conta. Sua única preocupação é de que nada aconteça a ele. E traga-lhe uma cama apropriada.
Pelo menos ele esperaria com um mínimo de conforto enquanto ela planejava um jeito de libertar o pobre homem.
maichen dobrou o corredor e saiu do raio de visão dele antes de começar a tremer... Antes de precisar se apoiar na parede para conseguir se manter em pé.
Fechou os olhos e tudo o que pode ver foi o macho aprisionado, saindo pelo biombo, após se lavar.
O corpo dele era... De tirar o fôlego, sua forma nua prendia o seu olhar, seus pensamentos, sua respiração. Ombros largos, peito musculoso, tórax impressionante,
parecia esculpido por um artista, ao invés de nascido de uma mortal.
E também havia as outras partes de seu corpo. As quais a faziam enrubescer tão ferozmente, que se preocupou que a malha derretesse em seu rosto.
Disse a si mesma que ela só ia ajudá-lo, e era verdade. Era.
Mas seria tolice ignorar esta ardente curiosidade. Talvez fosse até mesmo perigoso.
Pelas estrelas do céu, o que ela estava fazendo?
Quando Trez pulou na mesa de exames, sua cabeça quase bateu na luminária, e enquanto ele se abaixava para criar algum espaço, a Dra. Jane se aproximou.
- Aqui, me deixe tirar as luzes do caminho.
Com aquele probleminha resolvido, ele agarrou o colchão fino que jazia sob sua bunda, como se a ponto de iniciar uma descida de montanha russa.
E ele odiava montanhas-russas.
Dra. Jane trouxe um banquinho rolante e sentou-se, puxando as duas partes de seu jaleco branco para juntá-las e pousando as mãos nos joelhos. Olhando-o, parecia
preparada para esperar o tempo que fosse necessário para ele reorganizar seus pensamentos.
Pigarreando, ele anunciou, - Ela não virá. Não quer ser examinada, já que está se sentindo bem.
- Dá para entender.
Ele esperou por mais, e lembrou a si próprio de ser civilizado porque ela era a shellan de V.
Quando a boa doutora não continuou, ele franziu o cenho, - Só isto?
- O que quer que eu diga? Que Manny e eu vamos forçá-la a vir? Não posso fazer isso... Não quero fazer isto.
Sem sentir nenhum alívio na declaração, Trez percebeu que queria que a Dra. Jane forçasse Selena a descer.
Hipocrisia demais? Não era uma postura pró-livre-arbítrio de verdade, não é?
- Como posso saber que ela vai ficar bem esta noite? - Ele disse, tenso.
- Sem um episódio do aprisionamento?
- Sim.
- Não dá para saber. - Dra. Jane jogou o cabelo curto para trás. - Mesmo se a examinasse agora, não daria para dizer quando é que o próximo surto irá ocorrer.
Eu não sei muito sobre esta doença, mas pelo que vi, isto faz parte do problema. Não há estágio prodromal.
- O que é isto?
- Você tem enxaquecas, certo? - Diante de seu movimento de concordância, apontou para seus próprios olhos. - E você sente uma aura, cerca de vinte ou trinta
minutos antes do ataque de dor, certo? Bem, às vezes, pessoas que sofrem, sentem formigamento ou dormência em braços ou pernas; outros têm anomalias sensoriais,
tais como sentir cheiro de coisas que não estão lá ou ouvir coisas. Com a doença de Selena, não há sinal de alerta de que uma fase aguda está prestes de acontecer.
O congelamento parece ocorrer de repente.
- Você falou com o babaca do Havers?
- Na verdade, ele nunca ouviu falar de tal doença. O mais próximo que chegou disto, foram sintomas relacionados com artrites. - Ela balançou a cabeça. - Me pergunto
se tivéssemos como fazer uma análise de DNA das Escolhidas, haveria algum gene recessivo escondido em algum lugar. Com uma população procriativa exclusiva, como
elas sempre foram, é de se esperar encontrar exatamente este tipo de conjunto de doenças. Ela deu de ombros. - Mas, voltando à Selena, eu queria poder te dizer quando
é que vai acontecer de novo, ou mesmo os sinais aos quais ficar alerta. Mas não posso. Eu fiz um hemograma completo nela, e sua contagem de células brancas está
ligeiramente mais elevado junto com os marcadores de inflamações... Mais nada além disto. Tudo normal. Tudo o que posso dizer é que, se ela está em pé e se movendo,
teoricamente, suas juntas estão funcionando bem e elas darão sinais evidentes quando não estiverem.
Ele estalou os dedos, um a um. - Há algo que possamos fazer por ela?
- Não, pelo que sabemos até agora. Um dos desafios é não entendermos o mecanismo da doença. Minha suspeita é que, após o crescimento ósseo ser desencadeado por
sabe-se lá Deus o que, o sistema imunológico dela, de alguma forma, reage e ataca o material ofensor, destruindo-o como se fosse um vírus ou uma infecção. E o mecanismo
de defesa do corpo dela sabe quando parar, já que o esqueleto original permanece intacto após o ataque. Provavelmente há algo inato diferente sobre o crescimento
ósseo, mas, não saberemos até fazer uma biópsia.
- Então porque ela tem de... - Merda, cada vez que ele piscava, via Selena deitada na maca, o corpo naquela maldita contorção. - Porque ela continua combatendo
a coisa e se recuperando?
- Minha aposta é que o sistema imunológico falha. Analisando, é uma série extraordinária de eventos a nível celular. Ao ver as primeiras radiografias, jamais
teria imaginado que o corpo dela pudesse voltar a funcionar novamente.
Ele ficou quieto, olhando para o piso. - Eu quero levá-la para sair esta noite. Sabe, um encontro. - Quando a médica permaneceu em silêncio, ele ergueu os olhos.
- Não é uma boa ideia, é?
Dra. Jane cruzou o braço sobre o peito e empurrou a cadeira para frente e para trás nas rodinhas, a versão sentada de uma marcha.
Porra. Ele devia ter tido esta conversa antes de sugerir a saída...
- Você quer que eu seja bem franca? - A médica perguntou.
Trez teve uma imagem do perfil com cavanhaque de Vishous delineado sob a luz do teto externo do corredor. - Preciso saber exatamente onde estamos.
Mesmo que isto o matasse.
Passou-se um minuto ou dois antes da Dra. Jane responder, e ele achou que ela estava imaginando cenários em sua mente.
- O caminho mais prudente seria ela ficar no complexo, para fazermos uma checagem total nela, envolvendo múltiplas biópsias, uma tomografia computadorizada,
uma ressonância magnética no mundo humano e consultas com médicos, através dos contatos de Manny. E então nós provavelmente teríamos de iniciá-la no uso massivo
de esteróides... Mesmo que seja mais palpite do que certeza, é de se imaginar que o processo inflamatório tenha algo a ver com isto. Poderia haver drogas a testar,
talvez alguns procedimentos, mas, é difícil adivinhar de antemão. - Ela correu os dedos pelos cabelos curtos até a coisa se espetar em picos louros. - Teríamos de
ser rápidos porque não sabemos quanto tempo nos resta, e tudo seria na base de tentativa e erro, provavelmente, mais com o objetivo de sobrevida do que cura. Embora,
de novo, seja só um palpite, nada concreto.
Ele fechou os olhos e tentou imaginar-se dizendo à sua rainha que, ao invés de irem àquele restaurante pelo qual ela estava tão excitada, teriam de...
- Mas, não é o que eu faria, se fosse ela.
Trez ergueu as sobrancelhas e olhou para a médica - Então há outro jeito.
Dra. Jane deu de ombros. - Sabe, no final das contas, acho que a qualidade de vida deve ser considerada. Não sei o quanto conseguiríamos tratar ou desvendar
desta doença, mesmo se examinássemos ela inteira. Me baseio no fato de que ela é, para usar um termo clínico, a "paciente zero" para nós. Ninguém jamais ouviu falar,
apesar de uma minoria de suas irmãs padecerem deste mal há gerações. Há uma série muito complexa de coisas acontecendo, e eu só... Há muito a tentar entender. E
para que? Você quer arruinar as últimas noites dela...
- Noites? - Ele exclamou. - Jesus Cristo, é só isto o que temos?
- Eu não sei. - Ela ergueu as mãos. - Ninguém sabe e este é o ponto. Você iria... Ela iria... Preferir passar o tanto de tempo que lhe resta vivendo, ou somente
esperando por morrer? Eu lhe digo, se fosse minha escolha, eu escolheria viver. É por isto que não vou forçá-la a descer aqui, ou fazê-la sentir-se mal por não estar
com pressa de se deitar em minha maca.
Trez exalou um fôlego que não estava consciente de estar prendendo. - Rehvenge foi para o Norte. Para as colônias. Ver se há alguma coisa na tradição Symphath
que possa ajudar.
- Eu sei, Ehlena me disse. Estamos esperando ouvir notícias dele em breve.
Ele podia dizer pelo tom profissional na voz da fêmea que ela não estava botando muita fé. - O que acontece se Selena entrar... Em situação... E estivermos fora,
no jantar?
- Então você nos chama. Eu já te mostrei o brinquedo novo de Manny?
- Como é que é?
Ela se levantou e deu um tapinha na perna, - Venha comigo.
Dra. Jane a levou para fora da sala de exames, pelo corredor, e então para baixo, baixo, mais baixo, passando por salas de aula sem uso até a pesada porta de
aço da garagem. Abrindo-a completamente, ela indicou a área além da porta com o braço.
- Ta-da.
Trez entrou em um ambiente onde o ar era mais frio, mais úmido. A enorme ambulância era tão brilhante quanto uma moeda nova, retangular como um LEGO, maior do
que o Hummer de Qhuinn. Maior inclusive que as ambulâncias humanas que ele vira por aí em Caldwell.
Era um maldito trailer, um RV.
- Isto é merda séria, - ele disse.
- É. Uma das coisas que tem preocupado Manny e eu...
As portas traseiras do veículo se abriram, e o parceiro humano da Dra. Jane pulou para fora. - Achei mesmo ter ouvido vozes. - O homem soou grave assim que viu
Trez, - Ei, cara, como está indo?
Os dois se cumprimentaram e Trez indicou o veículo. - Então vocês conseguiram isto, huh.
- Venha ver a parte de dentro.
Trez enfiou as mãos nos bolsos dos jeans e deu a volta para a traseira. Através das portas duplas ele viu... Uma ilha grande central com duas macas, uma ao lado
da outra, rodeada por todo o tipo de equipamento médico armazenado em gabinetes envidraçados, que se alinhavam nas paredes laterais como prateleiras de livros com
esteróides.
- É como uma sala de operações em miniatura, - Trez murmurou.
Manny anuiu e voltou a subir. - Este é o plano. Queremos ser capazes de tratar com rapidez ferimentos de campo potencialmente mortais. Às vezes, trazer os pacientes
de volta para cá ou para o Havers é arriscado demais.
O médico começou a abrir e fechar armários e balcões, mostrando uma série de instrumentos esterilizados, curativos estéreis, mesmo um microscópio em um braço
extensor que podia girar para qualquer uma das macas.
Ele acariciou o instrumento como se fosse um bichinho de estimação. - Este bebê aqui também é uma máquina portátil de raio-x, e temos tecnologia de ultrassom.
Oh, e como um bônus, o RV é blindado.
- Contribuição de meu marido. - Dra. Jane olhou para o parceiro. - Então ouça, Trez vai levar Selena para jantar fora em um encontro esta noite.
- É uma grande ideia. Aonde vocês vão?
Trez fez um movimento circular com o dedo indicador. - Aquele no céu. Que fica rodando e rodando.
- Oh, sim, sei qual é, - o cara disse, - no hospital, chamamos de Central do Noivado, porque é onde os médicos levavam as namoradas para pedi-las em casamento.
Muito romântico.
- É.
Trez olhou para a extensão da sala de operações móvel, tentando decidir se o fazia sentir-se aliviado ou deprimido como a merda. O lado bom, ele achava, era
que com as luzes externas do veículo e o lendário pé de chumbo de Manny, eles conseguiriam chegar ao centro da cidade em dez minutos, especialmente com pouco trânsito.
Mas, e se não fosse tempo suficiente? E se Selena precisasse...
- Trez? - O médico disse.
Ele forçou-se a sair de seu estado de pânico - Sim?
- Que tal se eu for com vocês? Não, não como chofer, - ele completou quando Trez recuou. - Posso ficar estacionado nos fundos do prédio e só ficar por perto,
caso precisem de nós. Esta coisa tem emblemas falsificados nas portas, no capô e na traseira, e tenho todo o tipo de documentação. Ninguém irá me incomodar, e eu
posso levar um Irmão comigo caso precise me livrar de alguns humanos.
Trez piscou. - Deus, não posso pedir isso...
- Você não pediu. Eu ofereci.
Trez olhou para a ambulância novinha em folha. Ele não podia acreditar no que o cara estava pronto para...
- Trez? - Manny disse. - Ei, Trez, olhe para mim.
Trez virou os olhos de volta para o humano. Manny era bem formado para um não-vampiro, com um físico atlético que continuava a manter após emparelhar a irmã
de V, Payne. Mas, a coisa mais impressionante nele? Sua confiança. Treinado no mundo humano, o antigo Chefe de Departamento de Cirurgia do Hospital St. Francis do
centro da cidade, irradiava o tipo de atitude "ou-dá-ou-desce" que significava que ele se encaixava perfeitamente com os Irmãos.
- Deixa comigo, - o cara disse, com gravidade. - Eu cuido de vocês dois.
Manny estendeu a mão, e por um momento, tudo o que Trez pode fazer foi piscar. Mas então, aceitou o que lhe estava sendo oferecido.
A voz de Trez saiu entrecortada. - Não sei como posso te pagar.
- Simplesmente saia e aproveite sua mulher. É só o que me importa.
Quando Jane colocou a mão em seu ombro, Trez sentiu-se humilde diante do apoio. E esperançoso também de que Rehvenge pudesse aparecer com alguma novidade do
território Symphath.
Após agradecer novamente a ambos, ele voltou ao Centro de Treinamento, a Dra. Jane manteve-se atrás com o parceiro, como se soubesse que ele precisava de um
minuto para se recompor.
Deus, a cabeça dele estava a mil.
E era engraçado, ele não tinha nenhum impulso de beber até esquecer a raiva. Nenhum. Também não sentia necessidade de sair e foder centenas de mulheres desconhecidas.
Tampouco tinha interesse em investigar aqueles pacotes de drogas que encontraram com aquele lesser. Ele nem mesmo queria subir até o terceiro andar da mansão para
acordar o irmão e atualizar iAm da situação.
Ele estava curiosamente neutro. E aquilo o assustava.
Esta noite era para ser especial para sua rainha.
Tinha de ser.
Capítulo TRINTA
Foi por volta das seis da noite quando Selena saiu do chuveiro no banheiro de Trez. Ela dormira como um bebê durante o dia todo e noite adentro, apenas ciente
de Trez entrando e verificando-a de vez em quando. Como consequência, se sentiu melhor desde...
Santa Virgem Escriba, ela não soube por quanto tempo.
Enrolando-se na toalha, ela enrolou seu cabelo para cima e colocou o robe preto de Trez. O peso volumoso encolheu o seu corpo, caindo para o chão, o laço tão
longo terminava quase emaranhando em seus pés. Mas se sentia tão bem em ter a coisa nela, o cheiro dele embrulhando-se ao redor dela como um abraço, as dobras oferecendo
calor.
Em cima das pias duplas, ela pegou uma toalha de mão e enxugou a condensação no espelho. Debaixo das luzes, sua pele estava brilhando, um rubor em suas bochechas
e uma vermelhidão em sua boca, todo o resultado do sexo que compartilharam.
E haveria mais hoje à noite. Ela sabia disso porque toda vez que Trez entrava no quarto, aquela especiaria sombria dele tinha sido uma promessa intensa do que
estava por vir.
Desenrolando a toalha em sua cabeça, deixou seu cabelo escuro solto, os fios molhados pingando em suas costas. Ela fez o melhor que pôde para deixar os fios
quase secos, esfregando a tolha em cima de tudo que podia alcançar sem se esforçar demais. Então chegou a hora de usar o secador de cabelo, exceto...
Sem secador de cabelo.
Procurando, ela verificou os armários debaixo das pias, mas, só achou uma carga inteira de papel higiênico, sabonete, xampu e condicionador. Navalhas. Toalhas
de mão e de banho. Movendo-se para a área de armazenamento na parede, ela encontrou... Mais toalhas. As quais pareciam caras e tão suaves quanto pão fresco, mas,
não fariam por ela o que precisava.
Completamente seco era o seu objetivo final. Agora, ligeiramente úmido, era sua segunda escolha.
Certo, ela podia estar em apuros aqui. Eles sairiam às sete e trinta e seu cabelo, sozinho, levava mais ou menos oitocentas horas para secar...
Uma batida no lado de fora da porta a fez levantar a cabeça. - Oi?
- Isto é um "entre"? - Uma voz feminina perguntou do corredor.
- Sim? Por favor? - Apertando mais o robe de Trez, ela saiu do quarto adequadamente, depois parou assim que os painéis pesados se abriram. - Oh, oi... Ah...
Beth, a Rainha, entrou no quarto de Trez. E com ela Marissa, Autumn, Mary... Ehlena e Cormia. Bella. Payne. Também Xhex, que, com seu cabelo curto e seus couros,
parecia um pouco fora de lugar no grupo.
Ou talvez fosse por causa de sua postura estranha, como se estivesse insegura sobre o que ela estava fazendo com o grupo.
- Há algo que precisa? - Ela perguntou para Rainha. E para as outras.
Embora estivesse ciente que apenas Cormia e Layla a visitaram, era um palpite justo que todos na casa estavam informados sobre suas dificuldades, ela realmente
esperava que as fêmeas não fizeram essa viagem para oferecer condolências antes que realmente morresse.
Felizmente, Beth sorriu, em oposição às questões. - Precisamos que nos permita arrumá-la.
Selena levantou suas sobrancelhas e olhou para seus pés. - Sinto muito. Estou inadequada e não sei?
- Bem, nós ouvimos pela videira...
Marissa falou claramente. - Na verdade, meu hellren me disse. E ele ouviu de Vishous.
- Que você irá a um encontro, - Beth terminou. - E nós pensamos que você poderia gostar de um pouco de embelezamento.
Cormia colocou suas palmas para fora. - Não que você não seja bonita o suficiente.
Naquele momento, houve muitos oh, não, completamente bonita, e só se você quiser, e tudo que Selena pôde fazer foi colocar as mãos em suas bochechas. - Eu só
iria colocar um vestido e arrumar meu cabelo.
- Chato. - Xhex disse. Visto que todas as meninas lhe lançaram um olhar, ela jogou as mãos. - Eu te disse que não sou boa nessas coisas! Deus, por que me fez
subir aqui?
Beth se virou. - Selena, você sempre parece adorável, mas temos algumas roupas contemporâneas para você considerar, umas que talvez sejam um pouco mais...
- Você se parecerá com algo diferente de uma cortina de janela. - Xhex rolou os olhos. - Eu sei, eu sei, me calarei de agora em diante. Mas é a verdade.
- Pareço com uma cortina? - Selena disse, olhando para as peças nas janelas que acabaram de se fechar sozinhas. - Isso é ruim?
Beth avançou e tomou suas mãos, apertando-as. - Você confia em nós?
- Oh, claro, minha Rainha, é só que... Não sei, não consigo achar um secador de cabelo, e...
Marissa deu um passo à frente com uma bolsa de lona cheia com... Toda maquiagem concebível e utensílios de cabelo, o que quer que seja. - Não se preocupe, eu
tenho toda a solução.
E foi assim que Selena acabou sentando em um tamborete no meio do banheiro de Trez com um grupo de fêmeas circulando-a com secadores, escovas de cabelo, algo
chamado mousse, e modeladores de cachos.
No meio da maquiagem, seus olhos se encheram d'água.
- Oh, estou muito perto. - Autumn disse sobre o barulho dos secadores.
Selena levou uma mão para cima, na esperança de esconder suas lágrimas. A generosidade era tão inesperada. Literalmente sentiu como se a casa inteira estivesse
a apoiando e seu macho.
Xhex, a intransigente, foi a pessoa que trouxe a caixa de Kleenex. E quando a mão de Selena tremeu tanto que derrubou o lenço que pegara, Xhex foi quem cumpriu
a tarefa, retirando outro quadrado branco macio e enxugando levemente sob os olhos que vazavam.
Selena olhou em direção àquele olhar fixo de bronze e murmurou, - Obrigada.
Xhex apenas assentiu e continuou enxugando discretamente, seu toque gentil em desacordo com aquele rosto severo, traje masculino e a arma que usava no coldre
em sua cintura apesar do fato que estavam todos seguros no complexo.
Selena não tinha nenhum pensamento em sua cabeça, apenas emoções muito grandes para manter em seu coração.
Quando os secadores foram finalmente silenciados, ela soube que estava na hora de recuperar sua compostura. Todo aquele som e fúria enquanto seu cabelo era soprado
por toda parte ofereceu uma espécie de proteção para se esconder, ainda que todas a viram chorar.
- Seu cabelo está tão adorável. - Cormia disse conforme corria seus dedos pelas ondas. - Acho que devíamos deixar solto...
- Obrigada a todas. - Selena revelou. - Obrigada por isso.
Beth se ajoelhou na frente dela. - O prazer é nosso.
Uma mão pousou sobre o ombro de Selena. Outra em seu antebraço. Mais em suas costas. E Xhex estava exatamente ao lado dela com aquela caixa de Kleenex.
Olhando no espelho, ela se viu cercada pelas fêmeas da casa, e nenhuma delas sentia pena dela, pelo que estava muitíssimo agradecida. Ao invés, elas estavam
apoiando-a, fazendo o que podiam para mostrá-la que ela importava.
E por alguma razão, isso parecia indescritivelmente importante.
Provavelmente porque ficou claro para ela, pela primeira vez, que seria lembrada por estas pessoas depois que fosse embora, e ser lamentada por pessoas boas
era o melhor legado que alguém poderia deixar para trás.
- Solto? - Ela se ouviu dizer. - Realmente? Acha que eu deveria usar meu cabelo solto?
- Permita-me apresentar-lhe meu pequeno amigo. - Com isso, Marissa mostrou uma varinha de prata que estava plugada na parede por uma corda preta. - E agora a
guerra deve começar.
Selena teve de rir. Olhando para Xhex, disse - Você já...?
- Usei um desses? - A fêmea empurrou seu cabelo curto. - Como se pudesse. Mas acho que devia fazer o que elas dizem. Você está olhando para o cérebro confiante
da espécie quando se trata de estar gostosa.
- Então irei ceder. - Selena se encontrou iluminando-se com a ideia de uma transformação. - Faça o que desejar comigo.
Beth sorriu. - Acha que isso vai ser bom? Espere até ver o vestido.
- Sinto muito. Eu tentei.
Quando Rehvenge se desculpou por nada que era sua culpa, e nada que era realmente uma surpresa, Trez sacudiu a cabeça. Eles estavam em pé no grande hall da mansão,
seus pés plantados na representação de mosaico de uma macieira florescente.
Ele colocou sua mão no ombro vestido de pele do macho. - Seriamente, Rehv. Obrigado por dar a isso uma chance.
Rehv colocou sua bengala vermelha no chão e caminhou ao redor. - Olhei em todos os lugares em nossos registros. Perguntei às pessoas...
- Rehv, escute, eu aprecio o seu esforço. Mas, honestamente, eu não esperava alguma resposta mágica. - Merda, sabia que estava acostumado à notícias ruins a
essa altura. - Então não ataque a si mesmo em relação a isso.
Aquela pele longa alargando-se atrás do macho enorme conforme ele continuava a andar a passos largos ao redor. Eventualmente, ele parou sem energia. - Lembra-se
da noite em que nos conhecemos?
- Como se eu pudesse esquecer.
- Sempre senti que era para acontecer. - O macho olhou fixamente para baixo em seus sapatos de pele de avestruz. - Eu não quero... Isso para você. Especialmente
considerando o que mais está esperando por você.
Rehv era um do poucos que sabia que ele era o Consagrado de volta ao s'Hisbe.
Deus, Trez pensou. Aquela bagunça no Território não estava nem ao mínimo em seu radar. Selena era o grande desinfetante de todas as suas outras preocupações,
não só limpando sua ficha, mas purificando sua merda bruta.
- Irei ajudar Selena. - Ele se ouviu dizer. - Não irei a qualquer lugar enquanto ela está... Você sabe.
- Qualquer coisa que precisar, você tem. - Rehv veio. - Eu apenas...
Foi perturbador ver um macho tão grande, que era conhecido por sua arrogância impertinente, parecer tão derrotado.
Trez teve de cortar a compaixão ou isso iria deixá-lo para baixo. - Olha, você não tem de dizer mais nada. Francamente, prefiro que não faça. Não por nada, eu
preciso ficar focado onde estou agora, Selena descerá aqueles degraus e não posso ficar frustrado em minha mente hoje à noite.
- Compreendido. Mas vou te abraçar.
- Por favor não, oh, não, qual é, homem...
Quando foi envolto em pele, ele endureceu, e se sentiu como um idiota. Porra, o cara só estava sendo verdadeiro, mas, maldição, tudo que Trez queria fazer era
correr para a sala de bilhar. Talvez bater ele mesmo em sua cabeça com um taco de bilhar.
Até a maldita coisa quebrar.
Sua cabeça, não o taco.
- Uau, essa coisa é suave, - ele disse, acariciando o casaco.
Rehv recuou. - Irei subir para o quarto de hóspedes. Estou exausto e Ehlena esteve acordada o dia todo com Luchas. Acho que nós vamos dormir a noite inteira.
- Soa como o céu para mim.
Momento. Estranho.
- Você precisa parar de olhar para mim assim. - Trez esfregou seu rosto. - Ela não está morta ainda.
- Eu sei, eu sei. Desculpe. Deixarei você sozinho.
Rehv bateu-lhe nas costas e, em seguida, foi em direção à escadaria principal, subindo com a ajuda daquela bengala. E visto que Trez ficou onde estava, ele percebeu
por que não caçara seu irmão para conversar sobre as coisas. Normalmente, ele e iAm já teriam se falado oito vezes, e ainda eram só sete horas da noite.
Mas, se Rehv sendo um bom sujeito conseguiu entrar em sua pele, Trez realmente não seria capaz de lidar com essa merda com seu irmão de sangue agora. Ele mal
estava se segurando, um olhar nos olhos negros de iAm?
Ele tinha medo que não poderia colocar as coisas de volta nos escombros.
Às vezes, a honestidade era muito...
Oh, foda-se. Ele seriamente estava citando Muzak dos anos setenta agora?
Andando, andando, andando. Ele e Selena combinaram de sair às sete e trinta, e ele planejara ajudá-la até o carro. Isso tinha sido um grande estúpido não, no
entanto: Uma boa hora atrás, ele foi até o terceiro andar para verificá-la, mas Xhex barrara sua entrada e informou-o que ele não era bem-vindo em seu próprio quarto.
Então a guerreira lhe jogou um dos seus ternos pretos, junto com uma camisa preta de botão, sapatos pretos e meias de seda, e seu relógio Audemars Piguet todo preto.
E bateu a porta em seu rosto.
Fêmeas. Honestamente.
Mas, ele trocara suas roupas. Como um bom menino. E desceu até aqui para esperar.
Assim que a figura decorada de Rehv desapareceu acima, Trez tirou seu telefone e verificou suas mensagens. Esperava encontrar algo de iAm, mas, típico do seu
irmão, o cara sabia quando ele precisava de espaço e estava lhe dando isso.
Ele disparou uma atualização rápida para o macho, contando-o que estava saindo com Selena e que ele apareceria na base mais tarde quando voltassem. Então, entrou
em contato com Big Rob e Silent Tom, e informou-os para encaminhar tudo que tivesse a ver com os clubes à Xhex, assumindo que ela poderia se livrar da coisa da maquiagem
exagerada acontecendo em seu quarto. Ele estava quase guardando o telefone, quando viu que faltou uma mensagem.
De Rhage.
O Irmão alcançou e...
- Ei, estamos prontos para ir? Onde está a sua fêmea?
Falando em Hollywood. O Irmão em questão veio correndo abaixo a escadaria principal, as armas chiando como sinos de Natal humano nos vários coldres que ele ainda
tinha amarrado em seu corpo.
- Acabei de ver sua mensagem, - Trez disse. - Desculpe por não ter respondido.
- Você tem merda em sua mente. Tá tudo bem.
Os dois bateram as palmas. Reviradas em cima. Ombros batidos. Recuaram.
- Olhe para você. - Rhage andou ao redor. - Parece ótimo.
Trez estalou fora seus punhos franceses. - Eu não posso envergonhar a fêmea.
- Parecendo assim, ela será sortuda em estar ao seu lado. - Rhage parou na frente dele. - Veja, isso é o que digo à minha Mary. Ela quer que eu adicione cor
no meu guarda-roupa, tem sido uma coisa, tipo, pelos últimos dois anos.
Quando o Irmão estremeceu como se sua shellan tivesse sugerido que vestisse calcinhas debaixo de seus couros, Trez começou a sorrir.
- Você tem interesse no negro, Hollywood? - Ele disse.
- Ela quer combinar com os meus olhos. - Rhage apontou para os seus olhos inacreditavelmente azul-petróleo. - Tipo, seriamente. Digo, eu já tenho água em mim
o tempo todo com essas coisas. Por que precisamos de redundância.
- Então o quanto de cor tem em seu armário?
- Não quero conversar sobre isso. Muito deprimente...
Lassiter enfiou sua cabeça para fora da sala de bilhar. - Ei! Menino dragão, Project Runway está passando se você quiser vir assistir. Talvez pegar algumas dicas
sobre suas tendências.
O olhar de Rhage estreitou, mas se recusou a olhar para o anjo. - Não há uma maratona de "Uma galera do barulho" que você tenha de assistir?
- Não odeie o Zack. Ele é como seu maldito irmão pequeno, rainha da beleza. - Lassiter vagueou, o ouro que ele tinha criava uma aura ao redor da sua cabeça loira-e-preta
e seu corpo longo, ou talvez o brilho fosse realmente uma aura. - Então, para onde vamos? Seu clube, Sombra?
- Não.
- No baile do embalsamador, então? Com todo esse preto, é como se você estivesse interessado nas artes fúnebres...
Rhage moveu-se tão rápido que era impossível localizar. Em um momento, ele estava friccionando seus dentes ao lado de Trez; no próximo, ele estava cara a cara
com o anjo, sua mão trancada na garganta de Lassiter.
Palavras foram ditas muito suavemente, Trez não podia segui-las, mas um momento depois o espertinho drenou o rosto e a atitude do anjo.
Rhage soltou o aperto e se afastou. - Então isso aconteceu, - ele murmurou quando voltou e começou a se recuperar. - Poderia muito bem continuar com essa merda.
Estou montando espingarda com Manny hoje à noite.
- Oh, sim. - Trez respirou fundo. - Ei, obrigado por fazer...
- Mas, só porque ele me prometeu bife.
Trez arqueou uma sobrancelha. - Desculpe?
- Bife? Sabe, vaca? Carne? Paraíso em um prato? Eu sei que comeu algum antes.
- Estou familiarizado com isso, sim. Mas você virá para ajudar...
- O consumo de bife. É por isso que irei.
Houve uma pausa estranha. Durante a qual Rhage simplesmente olhou-o fixamente, como se estivesse fazendo uma declaração de que ele não seria uma zona de drama.
E, Jesus, essa era provavelmente a coisa mais útil que o Irmão poderia ter feito. Era como uma tábua de salvação saindo da zona sentimental de merda, e Trez
se agarrou nisso.
- Bife, huh. Você irá pedir o serviço de entrega do Circle the World?
Rhage recuou como se tivesse sido estapeado. - Então, certo, claramente você não está ciente disso, o que é um lapso atordoante em sua educação formal, mas a
melhor steakhouse em Caldie, a 518, é exatamente do outro lado da rua do arranha-céu que está o seu restaurante. Meu plano? Enquanto você e sua garota estão lá em
cima se divertindo e andando em círculos, eu estarei no térreo comendo, tipo, um filet mignon, um rosbife enorme, um hambúrguer de carne Kobe, uma carne de corte
nova iorquino.
- Parece bom. Qual deles você comerá? Já decidiu?
Rhage franziu a testa. - Todos eles. Com uma porção de purê de batatas. Veja, você tem de ter a proporção purê-carne correta. Faz toda diferença. E então há
os pãezinhos. Conseguirei três cestas entregues.
Trez levantou seu dedo indicador. - Sabe o que você precisa? Uma refeição no Sal's. Você deveria ir comer na taberna do meu irmão.
- É italiana?
- Sim. Estou falando sobre o melhor na cidade...
- Merda, por que eu não...
- Puta... Que pariu...
Com a maldição que Lassiter latiu, Trez e Rhage olharam para o anjo. O imbecil não os notou, porém, seus olhos extraordinariamente coloridos focados para cima,
como se a Segunda Vinda de Cristo tivesse chegado ao topo da escadaria principal.
Só então, um perfume revelador alcançou o nariz de Trez e disparou através do seu sangue, o impacto deturpando sua cabeça e seu corpo...
Diante disso, ele perdeu todos os pensamentos. Toda respiração. E toda sua alma.
Selena permaneceu no topo dos degraus com o carpete vermelho-sangue, sua mão adorável descansando no corrimão folheado a ouro, seu corpo mantinha-se rígido,
como se ela não estivesse certa sobre seus sapatos, ou seu vestido, ou talvez até mesmo o seu cabelo.
Não havia absolutamente nada para se preocupar.
A menos que ela tenha um problema em ser uma arma de sedução.
Seu cabelo escuro longo descia ao redor dos seus ombros, caindo para baixo em suas costas. Enrolado da ponta até a base, era uma glória tão feminina, tão avassalador
com o seu peso e o seu brilho, que ele empunhou suas mãos e soltou porque queria tocá-lo, acariciá-lo, cheirá-lo. Mas, isso não era a metade de tudo. Seu rosto era
a única coisa que poderia possivelmente envergonhar as coisas, sua pele radiante, seus olhos cintilantes, seus lábios carnudos vermelhos como sangue.
E então existia o maldito vestido.
Preto. Corte simples. Com um corpete decotado e uma saia que terminava no meio da coxa.
Muito quente. No meio da coxa.
Selena estendeu um pé, um delicadamente calçado, em salto alto que estava conectado a um tornozelo pequenino e uma panturrilha perfeitamente curvilínea que o
fez ranger os dentes.
Ele teve de engolir em seco quando ela começou a descer lentamente, cada passo que ela dava levava-a para mais perto dele poder tocá-la, beijá-la... Tomá-la.
Homem, aquele vestido era um knockout absoluto, nada além de um revestimento que seguia os contornos dos seus quadris, sua cintura, e seus seios, com um ajuntamento
fora de um lado no meio dela e um segundo em seus ombros. Ela não usava joia de modo algum, mas por que usaria? Não existia nenhum diamante, nenhuma esmeralda, nenhum
rubi, nenhuma safira que poderia chegar perto da sua perfeição devastadora.
Quando alcançou a parte inferior dos degraus, ela hesitou, olhando para a esquerda e direita, provavelmente para Lassiter e Rhage, eles estavam ainda no hall
com ele? Quem sabia. Porra, quem se importava?
Selena alisou o... Isso era seda? Lã? Tafetá?
Papel de alumínio? Saco de papel?
Ela estendeu a mão e empurrou o cabelo. Em seguida, fez uma careta. - Você não gosta, né. Posso mudar. Eu iria vestir...
Algo o bateu na lateral.
- ... Vestido tradicional. Mas as meninas acharam que... - Ela olhou por cima do seu ombro para as fêmeas que permaneceram no topo dos degraus. - Eu posso mudar...
Lassiter amaldiçoou. - Caralho não. Não ouse. Você parece...
O lábio superior de Trez enrolou em suas presas baixas. Então ele estalou sua mandíbula na direção do anjo caído, como um Pastor alemão. Ou talvez um tubarão-touro
fazendo um teste de mordida antes de atacar como uma motosserra a sua presa.
Lassiter pôs as mãos para cima. - Qual é, cara, eu iria dizer que ela parece um caso de caridade. Um árbitro de futebol. Uma imitadora de Martha Stewart. Você
quer que eu continue? Eu poderia começar com os personagens idiotas da Disney. Há muitos deles.
Aquela cotovelada em sua costela veio novamente. Então Rhage se inclinou. - Trez, - o Irmão silvou. - Você tem de dizer alguma merda aqui.
Trez clareou a garganta. - Eu... Eu... Eu...
Ele estava vagamente ciente das fêmeas no segundo andar estourando em altos "toca aqui" e gritos de "acertamos em cheio". Mas, sua rainha permaneceu preocupada.
Certo, ele precisava se recompor, antes que o cotovelo de Rhage o acertasse no fígado novamente e Selena disparasse de volta para o seu quarto. - Você está...
Eu estou...
Ele puxou a gola de sua camisa de seda, mesmo que a coisa estivesse escancarada.
- Você gosta? - Ela disse.
Tudo que podia fazer era acenar com a cabeça. Ele era literalmente nada, além de hormônios em um terno preto. Ela era bonita assim para ele.
- Realmente?
Mais movimentos com a cabeça. - Uh-huh. Realmente.
Selena começou a sorrir. Então ela olhou de volta para as fêmeas, que pulavam para cima e para baixo e ofereciam seus dedos polegares para cima.
Sua rainha se virou para ele. Aproximou-se. Tomou suas mãos e esticou-se para sussurrar em sua orelha - A única coisa que elas não me deram foi roupa íntima.
Nua.
Ela estava n-n-n-n-ua debaixo disso.
Capítulo TRINTA E UM
Sem dormir.
Paradise conseguiu absolutamente, positivamente não dormir nada na bonita casa. A princípio foi porque ficou muito emocionada ao percorrer o lugar, cada sala,
quarto e banheiro, maravilhada com a arte, o mobiliário, a decoração... Duas vezes. Então precisou escolher um quarto subterrâneo (escolheu o da esquerda) e desfazer
as malas, desfazer e desfazer.
Sua amada doggen, Vuchie, desenhou uma plataforma no curto corredor de paredes de pedras entre as duas suítes subterrâneas, mas Paradise insistiu com sua acompanhante
para ir pelo outro lado e se instalar no quarto real. Isto deu lugar a uma serie de protestos, que terminou com sua empregada presa entre uma ordem direta e seu
incômodo em permanecer em tal luxo; quase teve um ataque de nervos.
Por fim, no entanto, e como de costume, Paradise conseguiu sair-se com a sua.
Neste momento, ela havia se retirado ao "seu" quarto, colocou um pijama e descobriu felizmente que o wi-fi não requeria uma senha. Deitando sobre o edredom de
veludo, verificou o Twitter, Facebook, alguns blogs, o New York Post e o Daily News, e continuou ignorando as mensagens de texto de Peyton. Quando suas pálpebras
finalmente começaram a cair, colocou o telefone de lado e arrastou o edredom pela parte superior de seu corpo, a camiseta da Universidade de Siracusa e uma calça
de yoga com os quais dormiu muitas e muitas vezes.
Eeeee foi quando a coisa de não-dormir chegou com força.
Apesar de ter fechado os olhos, sua mente continuava zumbindo com o que seu pai disse que estaria fazendo ao cair da noite para ajudar o Rei.
E logo estava o fato deste primo perdido há muito tempo, sozinho com seu pai de volta em sua casa. O que aconteceria se machucasse seu pai?
Assim, então, pensou enquanto ficava em pé diante do espelho do banheiro. Não fechar os olhos... Mesmo quando suas pálpebras descerem.
A boa notícia era que a espera terminou. E seu pai lhe enviou mensagens de textos dizendo que chegaria em quinze minutos, tão claramente que lhe fez passar o
dia bem.
Era curioso, estava surpresa pelo tanto que queria vê-lo. Depois de tantos anos de rezar por um pouco de liberdade, encontrou que a experiência real foi marcada
por um pouco de nostalgia.
- Mas, agora irei começar a trabalhar.
Virando-se de lado, pegou seu casaco azul marinho. Depois puxou sua blusa branca. Brincou com seu colar de perolas.
Quando deu um passo atrás, decidiu que parecia uma aeromoça da PanAm em 1960. Como aquelas em "Prenda-me se for capaz".
- Ah vamos. - Ela arrancou o laço, prendeu o cabelo para trás com ele e guardou suas coisas. - Oh sim. Agora está bem diferente.
Não.
Soltar o cabelo talvez melhorasse a situação. Mas, de que iria adiantar, a quem queria impressionar de qualquer forma?
Bom, má pergunta para se fazer quando estava a ponto de começar em seu primeiro trabalho e não se tratava apenas de seu pai, mas do Rei de toda a Raça e sua
guarda pessoal de assassinos.
Era o suficiente para fazer uma oração à Virgem Escriba.
Ao sair de seu...
- Por favor, senhora. Permita-me preparar algo para que possa comer.
Vuchie estava em pé justo dentro do quarto, vestida com seu uniforme cinza e branco, balançando peso entre seus sapatos bege. A doggen tinha o cabelo castanho,
os olhos marrons e a pele branca como porcelana, bonita a sua maneira e provavelmente uns cinquenta anos mais velha que Paradise. As duas se conheciam desde que
Parry podia se lembrar, como acontecia com muitas filhas de pais aristocratas a relação patroa/empregada delas tinha sido cultivada formando vínculos por toda vida.
Em muitos casos, uma empregada era a coisa mais importante levada para a nova casa quando se vinculavam à um macho de privilégio ou criação similar.
Era seu vínculo com o passado. Sua lucidez. E muitas vezes, a única pessoa em quem se poderia confiar.
Cara, ela preferia muito mais essa realocação com sua empregada; por causa de um novo emprego e não algum antigo hellren.
- Estou bem, Vuchie. - Ela tentou sorrir. - Você está com fome?
- Senhora, você não teve sua Última Refeição ontem, também.
Parry não tinha intenção de dizer a verdade claramente, um amassado ou uma rusga, não deixaria nada interferir em sua nova postura de aeromoça. Este tipo de
franqueza apenas levaria a uma briga que acabaria com ela de repouso na cama e, provavelmente, Vuchie chamaria seu pai pedindo reforço.
- Sabe o que eu gostaria? - Parry forçou um sorriso. - Que preparasse algo para mim e levasse ao escritório. - Ela se aproximou e segurou o braço de Vuchie.
- Sim, vamos, vamos, faça isto.
- Mas... Mas... Mas...
- Estou tão feliz que concorde. Adoro quando estamos em sintonia.
Foi até a parte superior da escada curva de pedra, era muito bem decorada, atravessaram um retrato de tamanho natural de uma da família real francesa até onde
estava o vestíbulo.
- É tão tranquilo. - Disse Paradise, mais calma.
O lugar, como resto da casa, estava muito bem decorado, antiguidades por toda parte, setas e veludo nas paredes e pisos, inclusive as cadeiras eram cobertas
por ricos tecidos. Lembrou-a de artigos que leu na revista Vogue e Vanity Fair sobre Babe Paley e Slim Keith, os móveis eram perfeitos, os objetos de arte pequenos
caprichos de jade, ouro e bronze, cores sóbrias, mas não fracas.
- Suponho que meu pai não está aqui, no entanto.
Como se fosse um sinal, as persianas automáticas se moveram por todas as janelas, o zumbido sutil fazendo-a saltar.
- Vou até a cozinha. - Disse Vuchie. - Preparar seu café da manhã.
Quando sua empregada saiu, Paradise quase chamou a mulher de volta. Pelo amor de deus, a doggen não era uma manta de segurança.
Decidida a enfrentar o que fosse sozinha, apesar de que não sabia o que iria fazer, se aproximou e sentou-se atrás da mesa do escritório e... Brincou com o mouse,
o que a levou a uma tela protegida com senha que nem se incomodou em decifrar.
O wi-fi no subterrâneo era outra coisa. O computador ali? Era bloqueado e teria algo mais. Uma por uma ela abriu as gavetas, sem encontrar nada além de artigos
de papelaria e artigos de papelaria... E sim, mais artigos de papelaria.
Ouviu vozes pela primeira vez. Profunda. Rouca. Muito masculina.
Então a porta se abriu. E ali estava um coro de muitos, muitos pés pesados calçados com botas cruzando o umbral.
O primeiro pensamento de Paradise foi se esconder debaixo da mesa.
Os membros da Irmandade da Adaga Negra estavam na casa, todos eles vestidos de couro negro, cada um deles armados brutalmente.
Eram maiores do que se lembrava das apresentações na noite anterior. E ela não os enquadraria na categoria de zero a esquerda de forma alguma.
- ... Bombeou algumas vezes sua cabeça. - Disse um deles.
Foi como uma derrapagem de pneus quando eles pararam em seco e a olharam. Graças a Deus que estava sentada. A mesa era uma espécie de barreira entre ela e todos
os guerreiros.
- Ei. - Disse um deles, um com o sotaque de Ben Affleck. - Sua primeira noite, verdade?
Quando começou a assentir com a cabeça, seu pai passou pela porta aberta.
- Estou aqui, estou aqui! - Seu pai abriu caminho através do grupo. - Paradise, como está você?
Ocorreu-lhe que deveria ficar em pé e abraçá-lo com força. Podia fazer isto, disse a si mesma. Poderia absolutamente e positivamente fazê-lo.
De verdade.
Honestamente.
Deus havia vários homens na casa.
Gêmeos. Ela teria gêmeos.
Enquanto Layla estava na maca, esfregou seu ventre com a mão livre, a que não estava dentro do gesso que ia até acima de seu cotovelo direito. As dores de sua
queda haviam desaparecido e o osso quebrado que Manny cuidou já estava colado novamente. O gesso iria desaparecer logo. Gêmeos.
Apesar de que teve todo o dia para se acostumar as notícias, ainda estava aturdida, e para piorar as coisas, ela e Qhuinn realmente não conversaram sobre isto.
Estava mais interessado na roupa que ela iria vestir. No momento que ela entrou na camisola de flanela e seu robe rosa favorito, dormiu. Foi bom o suficiente
para colocar seu manto sobre ela e deixá-la sozinha.
Estava irritado com ela? Pensava que ela estava mentindo sobre onde ia de carro em seus passeios?
Maldição, como diriam os Irmãos...
Uma batida na porta a fez levantar a cabeça. - Sim?
Como se houvesse lido sua mente, Qhuinn colocou o torso forte no quarto.
- Ei. Apenas queria vê-la antes de sair esta noite. Como se sente?
Layla respirou fundo e tentou manter o rosto em branco.
- Estou bem. E você?
- Bem.
Uma longa pausa. Isso fez com que seu coração acelerasse.
- Então, obrigada pelo manto. - Ela acariciou o tecido. - Realmente apreciei. Acabo de acordar, mas vou devolvê-lo.
Depois de um momento ele entrou, apoiando-se na porta fechada. Seus olhos diferentes subiram por seu corpo algumas vezes, sutilmente.
- Então, como está? - Disse. - Você sabe, com a coisa dos gêmeos.
- Bem. Quero dizer, foi um choque... - Ela encolheu os ombros. - Mas, estou me ajustando. Estou feliz. Dois, uma benção. Claro.
- Bom. Sim. Uh, hum.
Silêncio. Que foi preenchido por ele colocando as mãos nos bolsos de couro e ela brincando com a ponta do maldito manto.
Além de romper em suor frio sob os lençóis de hospital.
- Há algo que precisa me dizer? - Perguntou Qhuinn.
Os golpes nos ouvidos eram tão fortes, que tinha quase certeza que ela respondeu com um grito. - Sobre o que?
- O que estava fazendo à noite?
Obrigou-se a segurar seu olhar. - Fui dar uma volta.
- Porque suas roupas estavam cobertas de folhas?
- Desculpe?
- Sua roupa. À noite. Quando as peguei, estavam sujas e havia folhas sobre elas. Se estava caminhando pelo pátio e caiu, porque estariam assim?
Ela abaixou os olhos apesar de fazê-la parecer culpada. Por outra parte, ela era culpada.
- Layla? - Ele amaldiçoou em voz baixa. - Olhe, é uma mulher adulta. Apesar de estar carregando meu filho, não tenho nenhum direito sobre sua vida ou o que esta
fazendo, exceto em coisas relacionadas com a gravidez. Apenas quero me assegurar que esteja a salvo. Por seu bem. Pelas crianças.
Merda.
Agora era o momento, pensou. Agora... Tinha de ser o momento.
- Sinto-me presa. - Ouviu-se dizer.
Entre Xcor e a Irmandade. Entre o perigo e a segurança. Entre o desejo e a condenação.
- Imaginei isto. - Qhuinn assentiu. - Está dirigindo. Para longe.
- Caminho.
- Onde?
- Fora. - Em sua cabeça, ela tentou uma variedade de confissões, com substantivos e verbos, tentando encontrar uma maneira para descrever o que estava fazendo
sem lançar merda para todo lugar. - Fora... Pelo campo.
Qhuinn cruzou o quarto e se endireitou de frente a uma pintura de salgueiro. - As pessoas fazem isto o tempo todo. Em suas cabeças. - Disse.
Nisto tem razão, pensou.
Queridíssima Virgem Escriba queria lhe dizer. Realmente queria... Mas a revelação ficou presa em sua garganta.
Pela primeira vez, começou a ficar irritada. Consigo mesma. Com Xcor. Com toda maldita coisa.
- Tropeçou e caiu enquanto estava caminhando? - Disse.
- Sim. - Ela respirou fundo. - Fui estúpida. Caí sobre uma raiz.
Tão perto da verdade. Estava ficando irritada.
Cara, isto estava matando-a.
- A maioria das mulheres... - Qhuinn foi para os pés da cama, colocou as mãos nos quadris estreitos e olhou para seus pés. - A maioria das mulheres tem alguém
com quem passar por isto. Quero ser ele para você. Blay também quer. Nós não queremos defraudá-la.
Genial, agora sentia as lágrimas por ele duvidar que pudesse ser um apoio. - Você é incrível. Os dois são. Você é absolutamente incrível. É apenas que... Não
há muito o que fazer.
Ao menos isto não era uma mentira.
- Mas, agora com gêmeos. - Ele negou com a cabeça. - Gêmeos... Pode acreditar?
- Não. - Ela esfregou o ventre. - Não sei como vão encaixar. Já me sinto enorme e ainda tenho quantos meses?
- Ouça, por favor, estou contigo. Estou aqui para você, com tudo o que precisar.
Um estridente alarme começou a soar ao lado, os dois franziram o cenho ao mesmo tempo e olharam ao redor procurando o ruído.
- Vem do quarto de Luchas? - Perguntou. - Oh Deus meu, será que...?
Ouviu-se um grito no corredor. Vários passos. A voz de Jane dando ordens.
- Merda, tenho de ir ver. - Disse Qhuinn enquanto girava e se lançava para a porta. - Tenho de ir ajudar...
Quando ele correu para o quarto de seu irmão, Layla sentou-se. Ficou em pé. Estabilizou-se. O que estava acontecendo ao lado era ruim. E ela estaria condenada
se Qhuinn iria enfrentá-lo sozinho.
Capítulo TRINTA E DOIS
Ao sentar-se no banco de trás do gigante Mercedes, aquele que Fritz dirigia e estava, de fato, dirigindo, Selena sorria tão largamente que suas bochechas estavam
insensíveis e sua mandíbula doía.
À frente do sedã, os arranha-céus de Caldwell brilhavam como as sentinelas míticas de algum reino de fantasia e ela se inclinou para a janela, tentando ver aquele
para o qual se dirigiam, o mais alto dos gigantes, o ápice de todos.
- Mal posso esperar para ver a vista lá de cima, - ela se virou para Trez. - Estou tão excitada.
Quando ele não respondeu, mas só continuou a encará-la, ela sorriu ainda mais. O macho não desviara o olhar desde que ela descera as escadas, os olhos vagando,
sempre vagando, nos lábios dela, nos seios, as coxas e pernas, de volta ao cabelo, rosto, garganta.
A excitação dele estava saliente à frente das calças pretas. E mesmo que ele tentasse, repetidas vezes, colocar o paletó, o braço ou uma mão no colo de forma
casual, ela conseguia sentir o sexo dele tão claramente como se ele estivesse nu.
Ela se inclinou, se aproximando. - Me beija?
- Não confio em mim esmo.
- Que terrível. - Esticando-se, ela mordiscou o lóbulo da orelha dele, - Perigoso...
O grunhido que vibrou pelo peito dele foi a coisa mais erótica que ela já havia ouvido.
- Talvez devêssemos cuidar disto? - Quando ela pousou a mão sobre seu sexo, ele pulou e praguejou. - Isto é um "sim"?
Enquanto ele se apoiava no banco e jogava os quadris ao encontro da mão dela, ela olhou para a frente do carro, que, dado o tamanho, parecia estar em outro código
postal. Fritz estava concentrado na estrada, seu rosto velho e enrugado, preocupado. Talvez pudessem...
Sem tirar aqueles olhos escuros dela, Trez remexeu com a mão na porta. Um segundo depois, houve um som de whhhrrrring e uma partição opaca se elevou, isolando-os
do gentil chofer.
- Não temos muito tempo, - ela disse, ao afastar o braço dele.
- Não será preciso muito tempo.
Do bolso sobre seu peito, ele tirou um lenço branco dobrado e, com um rápido chacoalhar, liberou-o de seu rigor engomado.
Ao mesmo tempo em que ela liberou sua ereção.
Ela estava em meio a decisão de cair de boca nele, mas ele segurou seu rosto entre as mãos e beijou-a, a língua penetrando fundo, encontrando a dela.
Ele estava duro e quente, aveludado e grosso, e ela deslizou um agarre em volta de seu pau, bombeando. Quanto mais acariciava, mais doido o beijo se tornava,
até a pélvis dele estar convulsionando contra ela, e seu peito arfando, e ela estava respirando com tanta dificuldade quanto ele.
Quando ele gozou, gritou o nome dela e baixou aquele lenço para conter sua explosão... E ela estava tão excitada, tão tonta com a sensação da boca dele sobre
a sua e os movimentos de sobe e desce, sobe e desce da sua mão contra o sexo dele, que sentiu um intumescimento entre suas próprias coxas, uma resposta do próprio
corpo ao que ela estava fazendo nele... Que era tão pouco perto do que realmente queriam.
Seu próprio orgasmo foi uma surpresa, e ela se entregou, absorvendo as garras afiadas do prazer, tornando-as mais fortes ao apertar as coxas uma contra a outra
e esfregar. Enquanto isto, ela continuava as carícias rítmicas, apertando a ponta, trabalhado sua extensão.
Quando acabou, Trez caiu contra o banco, pálpebras baixas, lábios entreabertos, cabeça caída para o lado como se não tivesse força para endireitá-la.
- É isto o que chamam de rapidinha? - Ela sussurrou ao pressionar os seios contra o peito dele para beijá-lo.
Antes que ele pudesse responder, ela correu a língua ao longo de seu lábio inferior, então sugou-o. Afastando-se, ela disse, - Hmm? É?
- Cuidado, fêmea, eu posso arrancar este vestido que está usando.
- Isso seria ruim?
- Se outro macho te vir nua, sim. - Ele sorriu e correu uma das presas pelo lábio inferior. - Eu sou possessivo.
- Você ainda está duro, não está?
Com um rápido agarre na nuca dela, ele puxou-a para perto e beijou-a violentamente. Embora ela estivesse no controle da primeira parte, agora ele assumiu o controle,
dominando o corpo dela, enfiando uma mão entre os joelhos, e acima para a...
Ela gozou contra os dedos dele assim que eles a penetraram, seu núcleo explodindo em ondas após ondas de prazer.
- Esta é minha rainha, - ela ouviu-o dizer através de uma vasta distância. - Goze para mim...
Ela perdeu as contas do quanto ele a provocou com aquele toque talentoso, mas eventualmente, ela tomou consciência do carro fazendo uma curva longa que a fez
escorregar no assento. Focando seus olhos vidrados pela janela escurecida, ela viu que saíam da rodovia, prontos para entrar nas complicadas artérias asfaltadas
que levavam à incontáveis arranha-céus.
- Eu arruinei o seu batom, - ele disse com satisfação, enquanto se ajeitava. - Você trouxe mais?
Agora foi a vez dela se sair com huh-quê? - Deixa eu ver se tem algo aqui. - Ela remexeu na pequena bolsa preta que Marissa havia lhe dado. - Sim, elas pensaram
nisto.
Como se as fêmeas soubessem exatamente em que tipo de problema ela provavelmente se meteria, havia um pacotinho de lenços de papel, o delineador labial que haviam
lhe ensinado a usar, e o fabuloso batom vermelho que havia passado.
- Tem um espelho ali. - Trez estendeu o braço e puxou alguma coisa do teto. - Ele acende.
Ela verificou seu reflexo e teve de rir, - É, você realmente arruinou o batom.
Um lencinho cuidou da mancha e então era caso de cuidadosamente fazer uma linha contornando sua boca, bem na hora em que o carro passou por um buraco na estrada
que era quase, mas não completamente, regular.
- Droga, - ela disse, pegando outro lenço por ter acabado com uma linha cor de rosa no nariz. - Deixa eu tentar...
Trez segurou a mão dela e a baixou. Quando ela olhou para ele, os olhos dele, seus comoventes olhos pretos pareciam estar memorizando cada detalhe dela.
- Você não precisa disto, - ele disse, - gosto mais sem.
Selena sorriu timidamente. - Sim?
- Sim. - O olhar dele desceu para o seu corpo. E voltou a subir. - Isto é maravilhoso. Você está fantástica. É a fêmea mais linda na cidade hoje, e quando entrarmos
no restaurante, os garçons vão derrubar as bandejas. Mas, quer saber o que eu mais gosto em sua aparência?
Quando ele pausou, ela se viu engolindo em seco. - O quê? - Sussurrou.
- Você mesma, minha rainha, a aparência com a qual nasceu. Pelo que me consta, a perfeição não pode ser melhorada, nem pelos homens, nem por Deus. Inclinando-se,
ele beijou-a suavemente. - Só pensei que você gostaria de saber o que o seu macho está pensando quando olha para você.
Selena começou a sorrir, especialmente ao perceber que, às vezes, "eu te amo" pode ser expressado sem necessariamente usar estas três palavrinhas juntas.
- Vê? - Ela disse suavemente, - eu disse que esta ia ser a melhor noite da minha vida.
De carona na ambulância de Manny, Rhage comia Doritos direto do pacote, e discordava totalmente do médico. - Não, eu não sou um fã de Cool Ranch. Só como Original.
- Você está perdendo. - Manny deu seta para sair da rodovia. - Não acredito que você, dentre todo mundo, pode ser tão mente fechada quanto ao sabor de seus salgadinhos.
- Mas, este é o ponto. Por que melhorar uma dádiva de Deus?
Virando o pacote, ele olhou dentro e quis praguejar. Estava chegando ao fim dos grandes, restando nada mais do que os quebrados e aquele cósmico pozinho laranja.
Não que ele não fosse comer tudo, jogando a coisa direto do saco em sua boca aberta. Mas esta era a parte não-divertida da experiência, a que não envolvia a destreza
dos dedos.
Mastigando, ele voltou a focar na traseira do carro de ditador do terceiro mundo de Fritz. Aquele Mercedes era tão grande, tão preto e tão completamente escuro,
que chamava mais atenção ao passar do que seria esperado. Só de brincadeira, Rhage imaginou o que os humanos pensariam se soubessem que havia vampiros no banco de
trás.
E que a coisa estava sendo guiada por um mordomo centenário com um pé que faria o piloto Jeff Gordon ter um ataque de ciúme.
- Viramos aqui? - Rhage perguntou ao se aproximarem da intersecção.
- É contramão.
- Como eu disse, viramos?
Manny olhou para ele. - Não, se não quisermos ser presos.
- Estamos em uma ambulância.
- Sim, mas eles não.
Oh, certo. Droga. - Sabe, eu realmente queria ligar as luzes desta merda.
Só que, no instante em que disse isto, sua costela afundou ao redor dos pulmões e ele acabou tendo de baixar a janela um pouquinho para deixar entrar um pouco
de ar.
- Você sujou minha porta de nachos?
Rhage esfregou a mancha alaranjada com o antebraço - Não.
Eles continuaram grudados no pára-lama de Fritz igual a um selo em um envelope, virando a esquerda, afastando-se do rio, indo diretamente para o coração do distrito
financeiro. Sem becos escuros. Sem caçambas de lixo. Sem lama, mesmo nos meses chuvosos. E sem o cheiro nojento dos restos apodrecidos de restaurantes xexelentos.
Aquela era a parte chique da cidade, onde pessoas vestiam ternos e corriam por todo canto, canalizados como gado no curral, a seus lugares de Trabalho Urgente
e Importante.
O prédio que abrigava o restaurante onde eles estavam indo havia sido concluído um par de anos antes, e seus construtores alardeavam a enorme ascensão vertical
como o prédio mais alto em Caldwell. Abarrotado com os quartéis-generais de grandes negócios, para ele, não passava de um gabinete cheio de humanos, cada um guardado
em pequenos compartimentos.
Enfadonho.
- Você está bem?
Rhage olhou para o médico - Huh?
- Qual o problema?
- Nada.
- Então porque parou de comer? O pacote ainda não está vazio.
Rhage olhou para baixo. Verdade, ele deixara os restos onde estavam... E não tinha vontade nenhuma de terminar. - Ahhh...
- Está cuidando do peso?
- Sim. É isso.
Quando amassou o pacote, deixou manchas alaranjadas por todo o rótulo e embalagem, até a coisa parecer cheia de hematomas por maus tratos.
Então viu que a sua própria mão estava laranja. - Merda, não tenho como limpar.
- Tá brincando? - Manny jogou uma gaze para ele. - Podemos limpar e polir metade desta cidade com o que tenho aqui.
Rhage abriu o pacote e limpou-se; então jogou tudo na lixeira que havia entre os assentos.
Manny desacelerou ao chegarem ao prédio de vidro, então estacionou do outro lado da rua quando Fritz parou completamente diante da entrada iluminada, os faróis
traseiros do Mercedes brilhando vermelhos.
Um momento depois, Trez saiu e deu a volta no sedã, o vento forte tremulando seu paletó antes de ele se abotoar, exibindo as .40 gêmeas que havia colocado no
suporte sob seus dois braços.
Com um movimento galante, ele abriu a porta para sua fêmea, e Selena emergiu da traseira, os cabelos incríveis oscilando como uma bandeira negra para lá e para
cá.
- Casal bonito. - Manny disse baixinho.
- Ela nem parece doente.
- Eu sei.
Trez enganchou o braço no dela, e acompanhou-a pelos degraus de granito acima e, quando outro casal saiu pela porta giratória, ambos os humanos pararam e os
encararam.
- Manny.
- Sim?
- Você tem de fazer alguma coisa, cara. Você precisa descobrir que merda é essa e resolver isto para eles.
Manny ligou o motor, e o motor turbinado do RV acelerou, levando-os adiante, para contornar até os fundos do prédio.
- Você me ouviu? - Rhage exigiu.
- Sim, ouvi. - Manny respirou fundo - Sabe o que é o mais difícil de se aprender na medicina?
- Bioquímica?
- Não.
- Anatomia humana? Porque é nojento.
A seta fazia um som de nuk-nuk-nuk quando o médico anunciava ao mundo, ou pelo menos a esta rua, que virariam à esquerda de novo, em torno da base do arranha-céu.
- O mais difícil é entender que há situações onde não há nada que se possa fazer.
Rhage esfregou os olhos. Algo de seu subconsciente estava voltando a ele, algo que não queria.
- Rhage?
- Huh?
- Você fez um som engraçado aí.
Quando Manny voltou ao compartimento de serviços, ele executou uma elegante manobra em K de modo que a traseira do veículo ficasse colada ao prédio. Desligando
as coisas, ele se virou no assento.
- Tem certeza que está bem?
- Oh, sim. Uh-huh.
- Você não parece bem. E veja só o que eu estou usando: jaleco. Sabe o que isto significa.
- Que você gosta de sair de pijamas em seus passeios?
- Que eu sou um médico e sei do que estou falando.
- Deixe de paranóia, grandão.
Houve um intervalo ínfimo de silêncio. Então Manny disse, - Não há nada que eu não faria para ajudá-los. Nada.
Agora foi a vez de Rhage virar-se. - É o que eu precisava ouvir, Dr.
- Só não coloque sua fé em milagres, Hollywood. É uma aposta perigosa.
- Aconteceu para mim e Mary. Na hora em que precisamos, um milagre aconteceu.
Manny olhou para fora, através do pára-brisa... E não pareceu estar vendo nada da rua escura à frente. - Eu não sou Deus. E nem a Jane.
Rhage voltou a encostar-se a seu assento. - É preciso ter fé. Eles só precisam ter fé.
Capítulo TRINTA E TRÊS
Quando a porta da cela voltou a se abrir, iAm virou-se. Mas, ainda não era s'Ex. E não era mais uma cama. Nem mais livros que ele não iria ler, ou cobertas que
não usaria, ou travesseiros para os quais, não ligava a mínima.
Era a serviçal com outra refeição.
- Ah, qual é! - Exclamou ele, meneando a mãos. - Onde, caralho, está s'Ex?!
A fêmea não disse nada; simplesmente avançou com aquela sua bandeja enquanto a porta deslizava de novo para seu lugar, isolando-os juntos.
Quando ela se ajoelhou, ele quis gritar. E gritou.
- Eu não vou comer porra nenhuma! Jesus Cristo, qual o problema de vocês?
A única coisa que o impedia de marchar até ela, pegar aquela porra de comida e jogá-la do outro lado do quarto, era o fato de não ser culpa da maichen. A traição
de s'Ex não tinha nada a ver com ela, e aterrorizar a maldita serviçal não ia deixá-lo nem um pouco mais próximo da liberdade ou de seu retorno para Trez.
Ela era uma vítima inocente, pega no meio desta merda, do mesmo jeito que ele.
Exalando em um rompante, ele baixou a cabeça. Levou-lhe alguns momentos até recobrar um mínimo de controle. - Desculpe.
Diante daquilo, a cabeça dela ergueu-se um pouco, e por um momento, especialmente quando seu aroma o atingiu, ele desejou poder ver os olhos dela.
Qual será o formato deles? Como seriam os cílios? Seriam as íris tão escuras quanto às dele...
Por que caralho ele estava pensando nisto?
Afastando-se dela, começou a perambular. - Eu tenho de sair daqui. O tempo está acabando.
Quando ela inclinou a cabeça para o lado, em sinal de questionamento, ele pensou, Não. Não vou fazer isto.
Ele indicou a bandeja. - Se quiser, deixe a comida aí que eu jogo na privada, para que não se encrenque por não me alimentar.
E foi quando ela falou - Não está envenenada.
Sem nenhum bom motivo, aquelas três palavras, em nada especiais, o fizeram congelar. A voz dela era mais profunda do que ele havia imaginado; toda a subserviência
dela parecia combinar melhor com algum tom super feminino de alta oitava. E havia aquela tonalidade baixa e rouca... Que o fazia pensar em sexo.
Sexo rude. Do tipo que deixava as fêmeas roucas de tanto gritar o nome de seu amante.
iAm piscou.
De repente, sentiu vontade de cobrir o corpo nu. Que era, tipo, besteira, não era? Ele sabia que ela era uma fêmea o tempo todo e, não era como se jamais tivesse
usado roupas na frente dela.
Cedendo ao impulso, ele foi para trás do biombo, na direção da pilha de toalhas que ficava perto da banheira embutida. Ao enrolar uma em volta dos quadris, sentiu-se
como se desculpando por ter ousado andar com o pau ao vento.
Quando ele voltou, ela novamente provava a sopa e o pão.
- Pode parar. - Ele disse. - Não vou comer.
- Por quê?
De novo, aquela voz. Mesmo em poucas palavras desta vez.
- Tenho de sair daqui, - murmurou ele. Por uma muitos motivos. - Eu tenho de sair.
- Tem algo a sua espera?
Ele pensou em Trez e Selena. - Só morte. Sabe, não é nenhum fodido grande problema ou coisa assim.
- Como é?
- Ouça, preciso que vá embora. E não volte até trazer s'Ex com você.
- Quem?
Eeeee ele parou de novo. Serviçais jamais eram imperativas, mas era assim que ela soava. Então, de novo, as emoções dele estavam tão elevadas, que ele se sentia
capaz de interpretar praticamente qualquer coisa agora... E pular para a conclusão errada.
- Eu voltei aqui para procurar ajuda, está bem? - Ele ergueu as mãos. - s'Ex me disse que me ajudaria a entrar no palácio, para que eu pudesse pesquisar nos
registros dos curandeiros.
- Ajuda para quem?
- Para a companheira de meu irmão.
A cabeça da serviçal se ergueu argutamente. - Mas ele não é o companheiro da Princesa aqui? Ouvi dizer que ele era O Consagrado.
- Ele se apaixonou. - iAm deu de ombros - Acontece. Ou é o que dizem.
- E é ela quem está morrendo?
- Ela não está bem.
Ele voltou a perambular, podia sentir os olhos por trás daquela malha seguindo-o. - Então é por isto que eu preciso sair. Meu irmão precisa de ajuda.
- Ele está na cerimônia de luto. O carrasco.
iAm desviou o olhar e, então, voltou a andar pela cela. - Sim, eu sei, mas ele disse que teria liberdade suficiente para me encontrar no exterior. A viagem seria
mais curta, agora que estou dentro do próprio palácio.
- Mas, esta é a questão. Ele partiu e ninguém sabe para onde ele foi. O palácio queria que ele participasse. O palácio... Insistiu que ele atendesse à Rainha.
Ele está com ela agora.
Que sorte a dele. - Mas há intervalos nos rituais, não há? Não pode procurá-lo durante estes intervalos?
- Bem... Talvez eu possa te levar aos registros?
iAm voltou lentamente sua cabeça, - O que você disse?
Mais. Longa. Viagem. De. Elevador. Da. Vida. Dele.
Enquanto Trez permanecia em pé, ao lado de Selena em uma câmera de tortura de paredes envidraçadas, encarava resolutamente as portas fechadas... E rezava para
que algum tipo de fenda do tempo estilo Dr. Who, o tirasse daquela maldição naquela porra de minuto.
Com os globos oculares grudados na fileira iluminada de números acima das portas cromadas, ele queria vomitar.
... 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50...
O "44" ainda estava por ser iluminado, porque eles estavam na parte super-hiper-mega-expressa-e-rápida daquele alegre passeio.
- Oh, você precisa ver isto! - Selena disse, virando na direção do fornecedor gratuito de vertigem. - Isto é tão divertido!
Um rápido olhar por sobre o ombro e ele quase gritou. Sua linda rainha não tinha apenas se aproximado do vidro, mas estava com as palmas das mãos apoiadas nele,
e se inclinava para a vista cada vez mais alta.
Trez virou-se novamente. - Quase lá. Estamos quase no topo.
- Podemos descer e voltar a subir? Fico imaginando como é a descida.
Na verdade, talvez eles devessem voltar ao saguão. Ele tinha quase certeza que sua masculinidade havia ficado lá quando esta subida de foguete se iniciou.
- Trez! - toc, toc, toc em seu antebraço, - Olhe para isto.
- Ah, é... É incrível... Sim. Absolutamente.
Eles jamais chegariam aos quatrocentos e quarenta e quatro andares. Muito menos no nível cinco mil porrilhões onde o caralho do restaurante ficava.
McDonald's, ele pensou. Por que ela não queria ir ao Mickey D. ou ao Pizza Hut, ao Inferno do Taco Bell...
Bip!
Diante do som, ele preparou-se para um momento Duro de Matar onde algum supervilão em um elegante terno inglês explodiria o prédio todo.
Não. Bip! Quarenta e cinco. Bip! Quarenta e seis.
E, mais boas novas vieram quando aquela viagem aos céus se tornou mais lenta.
- Trez?
- Mmm?
- Tem algo errado?
- Só estou faminto. Oh, meu Deus, não posso esperar para chegar lá.
Ela enfiou o braço sob o dele e encostou a cabeça contra seu tríceps. - Você realmente sabe como tratar uma fêmea.
Claro que ele sabia. Por exemplo, tinha certeza absoluta de que não seria considerado nada romântico se deitar em posição fetal e sugar o dedão porque era um
covarde em se tratando de altura.
Bing! E as portas se abriram.
Obrigado, menino Jesus, para usar uma frase de Butch.
Agora, ele disse a si mesmo, controle-se, seu covarde e concentre-se na sua fêmea.
Exibindo à sua rainha um sorriso Cary Grant cheio de presas, ele acompanhou Selena para fora da armadilha da morte, para um lobby de mármore que, por uma fração
de segundos, levou-o de volta ao seu pesadelo no s'Hisbe: havia pedras pretas brilhantes demais nas paredes, chão e teto, com luzes embutidas no teto e nada mais.
- Trez?
Estremecendo, ele sorriu para ela - Está pronta?
- Oh sim.
Uma discreta placa em preto sobre preto, com uma seta indicava o caminho para o restaurante, mas seus sentidos aguçados de audição e olfato já havia lhe dado
aquela informação, obrigado. Ao se dirigirem para lá, um casal humano passou apressadamente por eles, os saltos altos da fêmea como um "Foda-se" expressado a cada
passo que ela dava.
- ... Sem reserva? - Ela sibilou - Como pode não fazer a reserva?
O homem próximo a ela olhava para frente. Com o olhar de alguém preso perto de uma criança de três anos em um ônibus.
- Não acredito que não fez a reserva. E tivemos de sair deste jeito. Na frente de todo mundo...
Enquanto ela continuava marchando naquele mesmo tema, os olhos do homem se fixaram em Selena... E o pobre bastardo recuou em admiração como se um anjo vivo tivesse
aparecido em sua frente.
Depois de Trez afirmar ao seu macho vinculado interior que uma entrada apropriada não incluía Filé ao Molho de Fodido Intrometido, lembrou que também ele, havia
se esquecido de ligar antes para fazer a reserva. Merda. Ele se esquecera totalmente de pedir a Fritz para fazer a maldita ligação. E controle de mente funcionava
em humanos, inclusive nos esnobes maitres, mas, isso não resolvia o fator indisponibilidade de assentos vazios.
Ahh...
- Sabe, eu ouvi que a comida aqui não é tudo isso, - ele disse, entorpecido.
- Tudo bem, estou aqui mais pela vista.
A entrada do Circle the World não era indicada por nenhum letreiro, como se, caso fosse necessário perguntar, você não devia estar ali. Tudo o que havia era
um par de portas de vidro escuro, tão largas e altas como uma casa térrea.
Segurando as maçanetas negras, ele empurrou uma das portas e deixou Selena entrar.
Restrição total.
Aquela foi a primeira impressão do lugar: preto brilhante em todos os cantos, das mesas e cadeiras geométricas aos suportes quadrados que apoiavam o teto. Sem
flores. Sem velas. Nada espalhafatoso. E a noite escura além de todas aquelas janelas? Também preta, de forma que não parecia haver divisão entre o céu e o interior.
O único toque de extravagância? As luzes LED ondulantes que se dependuravam daquele teto aberto em cabos negros, sua luz cintilante refletindo todo aquele alto
brilho.
Oh, e havia uma soprano cantando em um canto, sua voz doce espalhando-se por todo o lugar.
- Eu nunca vi nada disto, - Selena suspirou, - é como se houvessem estrelas por todo os lados.
Ele olhou em volta - É.
Está bem, cadê o cavalheiro em roupa de pinguim encarregado de mandar embora um monte de gente cheia de grana? Não havia nenhum maitre à entrada. Só nove metros
de tapete preto levando à primeira fileira de mesas minimalistas.
- Estão olhando para nós.
Diante das palavras sussurradas, ele franziu o cenho e encarou os frequentadores. Bem, quem diria. Cada um dos humanos às mesas parecia haver parado de comer
e olhavam na direção deles...
De repente, uma mulher se aproximou. Como a decoração, ela estava toda de preto, e mesmo o seu cabelo era um capacete liso e molhado de alto brilho.
- Como vão, - ela disse, com um sorriso amplo. - Bem-vindos ao Circle the World.
E agora iremos nos autodestruir em três... Dois... - É... Eu não liguei antes...
- Oh, Sr. Latimer, sim, ligou. Seu representante, Sr. Perlmutter nos avisou que nos agraciaria com sua presença. Temos imenso prazer em acomodá-los perto das
janelas.
Pooooooorra.
Obrigado, obrigado, Fritz, mordomo salva-vidas supremo... Que havia claramente cuidado das coisas.
Quando sua rainha ficou radiante, a mulher indicou o caminho através do salão aberto... E quando a seguiram, Trez percebeu que eles haviam entrado em um vasto
prato que girava lentamente: o restaurante inteiro se movia em volta do eixo central do elevador e do que devia ser o espaço da cozinha.
Eles foram diretamente à beira. A uma mesa para dois que tinha uma das suas generosas laterais diretamente contra o vidro.
Sob o qual a cidade de Caldwell inteira se estendia, cerca de cento e vinte mil metros abaixo.
Hora de sentar, ele pensou, rezando para que seu ataque de nervosismo não fizesse seus joelhos fraquejarem antes dele acomodar apropriadamente a sua rainha.
Ajudando Selena a se sentar, ele manteve os olhos afastados ao ir para o outro lado da mesa e desabar em uma cadeira dura como pedra.
A maitre estendeu a mão pálida acima da mesa, em direção às malditas janelas. - Este será o tempero de sua refeição esta noite.
Não, o tempero será a náusea, queridinha.
Ela se voltou para o resto do local. - O interior foi desenvolvido para a noite ser o plano de fundo perfeito para saborear o que o chef servirá para seu prazer.
Quando estavam sozinhos, Selena moveu-se para perto da janela - É... Incrível. As luzes dos prédios. São como estrelas cadentes.
Trez limpou as palmas suadas no guardanapo. Preparando-se, ele olhou para lá e viu que, bem, sim, era tão ruim quanto ele imaginara. Espiar pelo vidro absolutamente
transparente, era como se nada o separasse de uma queda mortal, a ausência de bordas transformando mesmo uma fração de segundo de contato visual, em um passo aterrorizante
para dentro do abismo.
Hora de levar o guardanapo à sobrancelha.
- Trez? - Ela olhou para ele - Você está bem?
Controlando-se, ele estendeu a mão e tomou a dela.
- Já te disse como elas são lindas? - Ele murmurou.
O sorriso dela foi radiante. - Sim, mas eu nunca me canso de ouvir.
- Tão lindas, - passou suas palmas sobre as dela. Então se inclinou e pousou um beijo em sua pele. - Longas e adoráveis. Fortes também.
Quando finalmente olhou para cima, foi diretamente nos olhos dela, e foi quando as coisas melhoraram. Um momento depois, não estava mais preocupado com seu medo
de altura, nem pensava sobre os humanos ao redor, e não dava a mínima para a vista iluminada que sutilmente os rodeava.
Com a mão dela nas suas e aquele lindo rosto encarando-o, foi transportado para longe de tudo aquilo.
- Eu te amo. - Ele disse, esfregando seu polegar na parte interna do pulso dela. - Ninguém poderia fazer isto comigo.
- Fazer o que?
- Me fazer esquecer meu medo.
Ela enrubesceu. - Eu não queria perguntar, mas porque não me disse que não gosta de altura? Eu achei que ia pular para fora da pele no elevador. Podíamos ter
ido a outro lugar.
- Mas era aqui que você queria vir. Como se eu não fosse aguentar por você?
- Eu gostaria que nós dois aproveitássemos a noite.
Ele semicerrou as pálpebras - Eu me diverti no carro. Já estou imaginando a viagem de volta.
Quando o aroma dela se acendeu, ela exalou um som semelhante a um ronronar.
Mais tarde, muito mais tarde, ele se lembraria daquele momento entre eles... Do jeito que parecia que duraria para sempre, se esticando no divino infinito. Todos
os detalhes permaneceriam com ele, também, do brilho nos olhos dela, ao brilho de seus cabelos, do jeito que ela sorria para ele ao rubor nas faces.
As lembranças eram especialmente preciosas, quando eram tudo o que restava de um ser amado, para se apegar.
Capítulo TRINTA E QUATRO
- O que foi? O que... O que é este alarme?
Layla estava bem atrás de Qhuinn quando ele entrou de supetão no quarto onde o irmão estava internado e começou a falar. Por cima do ombro dele, viu a Dra. Jane
em pé, ao lado da cama, e Luchas deitado imóvel, com o camisolão do hospital erguido até a cintura, as cobertas afastadas do corpo rígido, os travesseiros caídos
no chão.
Um dos equipamentos médicos foi empurrado até a cama e enquanto Ehlena digitava algo no teclado, a Dra. Jane aplicava um par de placas diretamente sobre o peito
de Luchas.
Houve um som espremido seguido de uma pequena explosão, e na cama, seu torso convulsionou para cima.
E ainda assim, o alarme continuava soando, uma nota única, o equivalente mecânico a um grito.
- Luchas! - Qhuinn gritou. - Luchas!
Layla achou melhor detê-lo, então passou os braços ao redor do tórax largo, pressionando sua barriga contra ele. - Fique aqui, - disse ela, em um resmungo. -
Deixe-as fazerem...
- Afastar! - Dra. Jane gritou.
A cama balançou quando o tórax de Luchas convulsionou novamente, e quando voltou a cair, o coração da própria Layla trovejou. Ela não podia acreditar que estava
novamente presenciando aquilo. Ontem foi Selena, agora era...
Bip. Bip. Bip.
- Consegui uma pulsação. - Dra. Jane largou o que estava em suas mãos, jogando as placas na direção da máquina. - Preciso que você...
Ehlena obedeceu imediatamente aos comandos, à medida que a médica falava, entregando seringas cheias de medicação uma após outra, antes de encaixar uma máscara
de oxigênio sobre o rosto de Luchas e ajustar ainda mais equipamentos.
Cerca de dez minutos, ou podem ter sido dez horas, mais tarde, Dra. Jane se aproximou:
- Preciso falar com você. - Indicou o corredor mais adiante, - aqui fora, por favor.
Ao saírem do quarto, a Dra. Jane fechou rapidamente a porta, antes que esta se fechasse sozinha:
- Qhuinn, não tenho como amenizar isto. Para ele sobreviver, vou ter de amputar parte da perna, e tem de ser agora. A infecção está acabando com ele e é a fonte
dos problemas. Inferno, mesmo se eu cortar abaixo do joelho, já pode ser tarde demais. Mas, se quiser lhe dar uma chance, é o que temos de fazer.
Qhuinn nem piscou. Não praguejou. Não discutiu. - Está bem. Pode cortar a maldita perna.
Layla fechou os olhos e pousou a mão na a base da garganta, em angústia.
- Está bem. Quero que fique fora daqui. Não precisa assistir a cirurgia. - Quando Qhuinn abriu a boca, a doutora o interrompeu. - Não, não é uma escolha, se
o pior acontecer, eu te deixo entrar para se despedir. Fique fora.
Desta vez a porta se fechou sozinha, se encaixando no lugar.
Fechando brevemente os olhos, Layla não conseguia imaginar o que estavam fazendo lá dentro. Mas havia uma porção de equipamentos cirúrgicos com eles, como se
a Dra. Jane já estivesse preparada para isto.
E dada a velocidade da resposta de Qhuinn, ele também.
- Ele vai me matar, - disse ele, rudemente. - Se sobreviver.
- Você não tinha escolha.
- Eu podia deixá-lo morrer.
- Poderia viver com sua consciência se fizesse isso?
- Não.
- Então não havia escolha. - Ela colocou as mãos no rosto e tentou visualizar, em sua mente, Luchas naquela cama. - Deus, como isto foi acontecer?
- Talvez eu deva dizer a ela para parar.
- E então o que?
- Não sei. Não sei de porra nenhuma.
Eles ficaram no corredor por uma eternidade, e Layla tentou não ouvir os sons do outro lado daquela porta, especialmente quando houve um sutil whrrrring que
se parecia muito com uma serra elétrica em miniatura, sendo ligado. Ao passo que ela permanecia imóvel, Qhuinn perambulava para frente e para trás, cabeça baixa,
olhos grudados nas botas, mãos nos quadris. Depois de um tempo, ele parou e olhou para ela.
- Obrigado. Sabe, por não me deixar sozinho.
Aproximando-se dele, ela abriu bem os braços e ele se aproximou, inclinando-se para pousar a cabeça no ombro dela. Enquanto esperavam juntos, ela o abraçou porque
era tudo o que podia fazer.
Mas, não parecia suficiente.
Aproximadamente dez quarteirões à frente e cinquenta andares abaixo do Circle the World, Xcor estava em pé, rente a uma úmida parede de tijolos.
O lesser que ele e Balthazar haviam rastreado estava atrás e à esquerda de onde estava, o fedor do corpo dele subia em ondas, ao sabor de uma brisa que carregava
um forte cheiro de resíduos industriais, misturado à sujeira.
Seu corpo ansiava por uma briga, tudo o que acontecera com Layla na noite anterior, fizera os seus demônios interiores atormentarem-no tanto, e deixaram-no em
um humor tão insuportável, que os seus soldados o largaram no porão, sozinho durante as horas do dia.
Era melhor arriscar-se à luz do sol do que lidar com o mau-humor dele.
Pelo menos ele tinha ali a expectativa de uma boa matança.
Ao seu sinal, Balthazar se desmaterializou acima do asfalto úmido, se tornando uma das sombras do prédio, do outro lado da rua. A noite estava clara acima, mas
a luz do luar adicional era uma complicação desnecessária. O centro de Caldwell já tinha iluminação suficiente para ler um livro, mesmo ali onde estava, naquele
beco estreito.
Caso ele se tornasse magicamente alfabetizado.
Permanecer nas sombras não era somente parte do mito vampírico, mas uma realidade muito prudente para todos eles. Com movimentos praticados, sacou a foice de
seu suporte, liberando a arma da tira que a prendia às suas costas. Balthazar, por outro lado, que preferia armas mais convencionais, trazia uma adaga dupla, e as
lâminas pálidas iluminaram-se enquanto ele as mantinha próximas às coxas.
Ouviram sons de passos passando por eles. Rápidos, múltiplos, mas não correndo.
Dois machos humanos, com as mãos nos bolsos, pés se movendo rapidamente, desceram o beco. Eles não prestaram atenção ao passarem, e, provavelmente isto foi o
que lhes salvou as vidinhas inúteis.
E então foi questão de esperar.
Um som de passos únicos agora, em uma velocidade muito maior. Acompanhado do fedor que precedia os mortos-vivos.
Quando o lesser apareceu, dobrando uma esquina e entrando no beco onde estavam, também não prestava atenção neles. Tinha dinheiro nas mãos, soma pela qual parecia
obcecado, contando, recontando, enquanto andava.
Xcor saiu de seu esconderijo. - Quantos paus teve de chupar para receber essa grana?
O lesser rodopiou, enfiando o dinheiro em um casaco folgado. Antes que pudesse responder, Balthazar saiu de sua posição, saltando no ar e chegando ao chão com
as adagas já nas mãos. O assassino gritou quando aquelas lâminas o penetraram no ombro e garganta, provando que, embora não possuísse alma ou coração, o sistema
nervoso central dos bastardos registrava dor de forma bem eficiente.
E foi quando as balas começaram a voar.
Xcor estava se virando, preparado para lançar sua adorada foice em um gesto largo assim que Balthazar se afastasse, quando um estouro soou próximo a ele. E então
outro.
E então vários deles.
As descargas eram rápidas demais até mesmo para automáticas.
O primeiro tiro que levou foi no ombro. O segundo na coxa. O terceiro raspou seu ouvido, deixando uma ardência que parecia um semáforo piscando em vermelho brilhante
na lateral de sua cabeça.
Balthazar também foi atingido.
Não restava alternativa além de correr e rezar. Seriam humanos? Improvável, mas não impossível. Não poderiam ser lessers; eles eram tão pobremente armados, que
o armamento mais pesado que traziam aos becos era nove milímetros, e ainda assim, muito poucas.
Um rápido movimento de esquiva à direita e ele e Balthazar entraram em uma rua mais estreita, temporariamente fora da área do massacre. Aquilo mudaria tão logo
o atirador, ou atiradores, aparecesse na esquina por onde tinham vindo.
- Esquerda! - Balthazar comandou.
Precisamente, havia mais uma alternativa no labirinto de ruas para escolher, e eles se desmaterializaram no beco seguinte, ironicamente ultrapassando o par de
humanos que haviam visto antes. Os dois homens também estavam indo o mais rápido que podiam, obviamente haviam ouvido o tiroteio. Mas a velocidade deles era bem
mais lenta.
Então, quando a metralhadora dobrou a esquina, eles já tinham uma boa cobertura.
Gritos, do fundo da garganta e cheios de terror, explodiram quando a próxima rodada de fogo se abateu sobre eles, a maioria dos impactos atingindo os humanos.
- Esquerda! - Xcor disse, liderando a fuga.
Sua coxa estava ficando entorpecida, mas não perdeu tempo olhando para baixo para medir o dano. Faria aquilo mais tarde, se sobrevivesse.
Outra bala passou perto, o som assobiando em seu ouvido, alto o bastante para se sobrepor até mesmo a seu fôlego entrecortado e o trovejar de seus passos.
Balthazar estava ao seu lado, o grande corpo em uma corrida desenfreada.
Mais disparos atingiram uma caçamba de lixo, quando passaram por ela. O muro. O asfalto. De vez em quando havia pausas, como se a arma ou armas estivessem sendo
recarregadas... Ou talvez houvesse dois deles trabalhando juntos, um recarregando enquanto o outro atirava.
Continuar a correr. Era tudo o que podiam fazer.
Nenhum dos becos por onde passavam oferecia um lugar relevante para se esconder; de fato, não havia nem portas para arrombar.
Era estritamente questão de esperar até acabar a munição que os atiradores tinham. Supondo que ele e seu guerreiro não fossem derrubados antes.
Quando as rodadas seguintes chegaram a eles, ele soube, sem olhar para trás que deviam ser lessers, e não humanos que os perseguiam.
Somente lessers podiam correr tão rápido, por tanto tempo... E aparentar ter energia suficiente para continuar a ir.
Era possível, notou no fundo da mente, que ele e seu soldado estivessem em problemas.
Capítulo TRINTA E CINCO
- A conta já está paga.
Trez parou em meio ao processo de tirar a carteira do bolso.
- Como é?
- Já está paga. - O garçom sorriu e fez uma reverência. - Foi um prazer servi-los.
Jesus, se ele não soubesse que o cara era humano, acharia que alguém da equipe de Fritz os seguira até ali. O serviço fora fenomenal a noite inteira.
- Aproveitem seus cappuccinos.
Trez olhou para Selena. Seus olhos estavam fixos na paisagem de novo, mas ela já não sorria. Seu perfil perfeito estava vincado de linhas sombrias.
Esticando a mão, tomou as mãos dela entre as suas, sentindo um pico de medo crescer em seu peito. - Você está bem?
Sem pensar, enfiou a mão por dentro do casaco e segurou o celular.
- Oh sim. - Só que ela não olhou para ele.
O ruído suave de conversa ao redor deles havia diminuído e os passos largos dos garçons haviam desaparecido de sua proximidade.
- Selena, o que há?
- Eu não quero que acabe.
- Nós podemos vir aqui outras vezes.
- Sim. - Ela apertou a mão dele. - É claro.
Enquanto o restaurante continuava a girar, girar e girar, os fundos do Commodore tornou-se novamente visível, a imensa altura do prédio salpicada por luzes aleatórias,
incluindo algumas na cobertura.
Provavelmente Rehv já estava lá.
Trez baixou o olhar para o café no qual não tocara. O creme estava temperado com canela, da qual ele jamais fora muito fã. Ele o pedira somente porque sua rainha
não parecia querer ir embora.
- Foi muito gentil da parte deles, - ela murmurou, - pagar pelo jantar.
- Eu vou cuidar disto quando chegar em casa.
- Você devia aceitar a gentileza.
Trez procurou o que podia ver do corpo dela, buscando por sinais de que estivesse tendo problemas que requereriam uma ligação rápida para Manny e Rhage, que
aguardavam lá embaixo.
- Selena?
Ela assustou e olhou para ele. - Desculpe?
- Quer pedir outra sobremesa?
- Não. - Ela deu mais um leve aperto na mão dele, antes de soltá-lo e dobrar seu guardanapo antes de pousá-lo na mesa - Vamos?
Ele afastou a cadeira para ajudá-la, tão rápido que os quatro pés arranharam o chão brilhoso. - Aqui, deixe-me...
Mas sua rainha se levantou sozinha com um movimento elegante, o corpo perfeitamente estável, perfeitamente tranquilo. Pelo menos fisicamente. Ele podia sentir
o peso em seu humor.
Acompanhando-a para fora, ele tomou consciência dos olhares ao redor, novamente em cima deles, comentários sussurrados sendo feitos por trás de bordas de taças
de vinhos e quadrados de guardanapos, enquanto os humanos tentavam reconhecê-los como celebridades. Havia certa satisfação no fato de que a galera da primeira fila
jamais conseguiria.
Junto às grandes portas de vidro, ele abriu um dos lados para ela, e quando ela atravessou, parou e olhou por cima do ombro, como se temesse se esquecer de alguma
nuance da aparência, cheiro ou som do lugar.
- Nós sempre poderemos voltar, - ele repetiu.
- Oh, sim.
- Ela lhe deu um sorriso e continuou indo para aquele espaço aberto minimalista onde os elevadores ficavam. Adiantando-se, ele apertou o botão e esperou ao lado
dela, colocando a mão em sua cintura.
- Então aonde quer ir em seguida? - Ele perguntou.
- Quer dizer, hoje? Estou meio cansada...
- Não, amanhã à noite.
Ela olhou para ele. - Eu...
- Vamos. Dê-me um próximo destino para que eu tenha como organizar as coisas para amanhã.
As portas dos elevadores se abriram, e ele levou-a para dentro... E ele estava tão focado nela que mal notou aquela horrível parede de vidro que se abria para
o lobby. Pressionando o botão do térreo, ele acariciou o ombro de Selena.
- Então...? - Quando ela não respondeu, ele se inclinou e beijou a lateral de sua garganta. - Esta não é a única noite que vamos ter.
- Como pode saber? - Ela encontrou o olhar dele. - Eu não quero arruinar tudo, mas como você sabe?
- Porque eu não vou aceitar de outra forma.
Virando-a para encará-lo, ele deliberadamente pressionou os quadris contra o corpo dela e cobriu os lábios dela com os seus. - A menos que esteja enjoada de
mim. Ou seriamente nada-impressionada por eu ser um covarde vertical.
Os olhos dela pareciam muito azuis e muito assustados ao encontrar os dele - Barco.
Ele havia esperado outra coisa. - Como é?
- Eu, ah, eu quero sair em um passeio de barco no rio.
- Rápido ou lento?
- Ambos?
- Você vai ter.
- Simples assim? - Ela sussurrou. - Você pode realizar qualquer coisa?
Ele encostou a boca no ouvido dela e sussurrou. - Volte para o meu quarto e vou te mostrar como sou talentoso.
Enquanto o aroma dela mudava, ele acariciou-a com o nariz, beijando-lhe o pescoço, mordiscando lhe a veia. Ele não estava sendo justo, é claro. Sabia que ela
estava sendo praticamente distraída, e ele queria mesmo que estivesse. Na verdade, ele não podia garantir a noite de amanhã ou mesmo o próximo amanhecer, mas, como
memórias eternas, a ilusão deles tendo todo aquele tempo teria de durar pelo resto de tempo que tivessem.
Beijando-a, abraçando-a e sentindo o corpo dela contra o seu, ele discretamente tirou o celular e ergueu-o às suas costas. O texto para Manny e Rhage foi curto
e grosso: Ipc obr.
Indo para casa. Obrigado.
O elevador chegou ao térreo direitinho, e os beijos ajudaram-no também a se distrair. E então saíram do prédio, para a fria e tempestuosa noite de outono. Fritz
estava com o Mercedes do outro lado da rua, e o doggen trouxe o carro para frente do prédio assim que os viu.
Sem demora o mordomo saiu e abriu a porta.
Trez queria ter aberto a porta para ela.
No momento em que ela deslizou para o interior cálido, o último som que ele esperava ouvir na presença dela, captou sua atenção:
Pop-pop-pop.
Tiros.
Porra.
Trez pulou no sedã com ela, se levantando entre os assentos. - Tire-nos daqui! Agora!
Fritz não hesitou. Engatou a ré e acelerou tanto que Trez quase acabou dando uma de odorizador no para-brisa traseiro. Recobrando-se rápido, cobriu Selena com
seu corpo, para prender o cinto de segurança dela. Puxando a faixa sobre ela, ele tinha acabado de encaixar o troço quando a força centrífuga o jogou contra o lado
oposto do banco, batendo a cabeça, mas ele não ligou a mínima. Apoiando o pé no vão dos pneus, a mão no teto e na porta, equilibrou-se para não cair sobre Selena
enquanto terminavam a manobra que os colocaria no lado correto do caminho.
O que os deixava na contramão da rua de mão-única pela qual haviam vindo.
- Vamos em frente. - Fritz gritou acima do ruído dos pneus.
O rugido do motor do Mercedes-Benz e a explosão que se seguiu, lembrou a Trez a decolagem de um avião. Enquanto seu corpo era sugado contra o banco, ele olhou
para Selena.
Os olhos dela estavam arregalados. - Qual o problema? O que está havendo?
Os prédios de ambos os lados da rua de três vias eram aço, vidro e concreto pálido e começaram a piscar, mais rápido, mais rápido, mais rápido. Olhando para
cima e adiante, Trez verificou que na rua, os pára-choques dos carros estacionados os encaravam como pais desaprovadores, enquanto iam na direção errada.
- Nada aconteceu! - Ele gritou acima de todo aquele barulho. - Eu só estou realmente ansioso para vê-la nua...
As sobrancelhas de Selena se ergueram ainda mais, - Trez, eu ouvi alguma coisa..
- ... Porque estou desesperado para te possuir!
- ... Que pareceu um tiro!
Ambos gritavam acima do motor, alternando as falas, enquanto Fritz fugia como um morcego do poço do inferno para longe das balas.
E então a diversão começou de verdade.
Eles haviam passado por dois quarteirões, quando as viaturas de polícia começaram a aparecer. E diferente do Benz? Os carros azuis e brancos com o giroflex estavam
do lado certo da rua.
- Eu vou pela calçada, - Fritz gritou - Vai sacolejar um pouquinho...
Aquele mordomo maluco filho da puta, virou o volante à esquerda e subiu o meio-fio, colidindo com um hidrante, que prontamente explodiu à sua passagem, enviando
um jorro de água a elevar-se no ar. E então, pela graça de Deus, o Benz pousou como um cavalheiro, seus amortecedores de primeira qualidade, suavizando o que sem
dúvida teria sido um baque e tanto.
Virando-se, Trez olhou pelo para-brisa traseiro. As viaturas manobravam e desembestavam atrás deles quando Fritz bateu em uma parede de expositores de jornais,
mandando caixas plásticas vermelhas, amarelas e verdes pelos ares à passagem deles. As coisas frágeis se quebraram quando bateram na calçada, folhas de papel flutuaram
como pombas libertadas de gaiolas.
Quando se voltou para Selena, preparou-se, tentando pensar em um jeito de tranquilizá-la...
Ao contrário.
Selena vibrava de excitação, suas presas visíveis, graças ao enorme riso que borbulhava dela ao se apoiar na porta.
- Mais rápido! - Ela gritou para Fritz. - Vamos vai rápido!
- Como quiser, ama!
Um novo rugido daquele pedaço massivo de engenharia alemã sob o capô enviou-os inclinando não só calçada abaixo, mas diretamente aos limites das leis da física.
Selena olhou para ele. - Esta é a melhor noite do mundo!
- Está bem, hora de ir.
Rhage meneou a cabeça para Manny. - Me pergunto o que eles comeram no jantar. - Ele verificou o celular de novo e desejou realmente ter ido à churrascaria. Ele
só mentira a respeito para tranquilizar Trez. - Ele não disse nada sobre entrada ou sobremesa. Digo, vamos lá, ele podia ter dado alguns detalhes. Só recebemos oito
letras do cara.
- Na verdade, foram seis.
- Foi o que eu disse.
Os Doritos haviam deixado de fazer efeito há uma hora. Mas também, às vezes ele podia dizer o mesmo de uma refeição completa com três pratos.
Manny ligou o RV e guiou, a ambulância passou por cima de um buraco, e então ganhou velocidade. - É melhor eu correr. Fritz tem o pé pesado.
- Tipo, eles comeram rosbife? Eu vi, em uma revista, uma foto de um prato de rosbife que servem lá em cima...
Bum!
Bem na hora em que se depararam com uma encruzilhada de becos, algo grande apareceu na frente deles e caiu sobre o capô. Quando Manny pisou no freio, um peso
massivo rolou.
- Jesus Cristo, era um cervo? - O médico gritou.
- Talvez um alce.
Rhage sacou ambas as armas e estava a ponto de pular quando a chuva de balas começou. Sons altos e metálicos de "pings" ricochetearam no RV e racharam o espesso
vidro.
- Oh, pelo amor da porra, - Manny exclamou. Então gritou através do para-brisa para os atiradores. - Eu acabei de comprar esta coisa!
Rhage tateou a maçaneta da sua porta, mas não conseguiu abrir. - Me deixe sair!
Ping-ping-ping. - De jeito nenhum, você vai acabar se matando!
- Somos um alvo fácil aqui.
- Não somos não.
Repentinamente, cerca de doze centímetros de placas de metal cobriram cada centímetro quadrado de vidro que lá havia no RV. Instantaneamente, o som dos tiros
foi abafado até uma batida distante.
Rhage observou em relativo silêncio. - Você é um gênio.
- Harold Ramis é.
- Quem?
- Você nunca viu Recrutas da Pesada? Meu filme favorito de todos os tempos. Eu baseei esta coisa no veículo de Bill Murray.
- Eu sabia que gostava de você. - Rhage olhou rapidamente para o telefone. Não havia Irmãos nos arredores, o que era bom, dado o tiroteio. - Só há um problema...
Não podemos ficar parados aqui. A polícia humana logo vai cercar...
Uma tela de LED do tamanho de uma TV se ergueu verticalmente do painel, ocupando a maior parte do espaço, agora bloqueado, do para-brisa. E em sua superfície
lisa havia uma reprodução esverdeada em HD da rua em que estavam... Então, tiveram uma imagem muito boa dos atiradores enquanto a dupla de dedos de chumbo correram
diante de seus faróis. Os dois ostentavam armas de canos longos, aparentemente AKs, cada descarga causava um brilho súbito na boca dos canos enquanto continuavam
a atirar.
Eles não pararam ao passar pelo veículo de Manny.
- Aqueles são lessers, - Rhage murmurou. - Correm rápido demais para humanos. Além disto, só lessers seriam tolos o bastante para fazer este tipo de balbúrdia.
Deixe-me sair daqui, porra.
- Você não vai atrás deles...
Rhage estendeu a mão e agarrou a frente da camisa do homem, puxando-o para o espaço entre os assentos. - Me. Deixe. Sair.
Manny manteve seu olhar. Praguejou. - Você vai se matar.
- Não vou.
- Como pode estar tão certo?
- Eu tenho truques que ninguém supera. - Ele indicou a janela - Abra-a e eu poderei me desmaterializar por entre as frestas das placas de metal. A menos que
você tenha malha de aço em algum lugar.
Manny começou a murmurar todo tipo de coisas vis ao procurar pelo botão requisitado e o pequeno pedaço de vidro transparente desceu uns cinco centímetros.
- Assim que eu sair, acelere. - Rhage demandou. - Precisamos de você no rabo de Trez. Sem brincadeira.
Fechando os olhos, ele se concentrou e...
... Se desmaterializou para fora, retomando forma ao lado do RV e então dando uma batida na porta. Os atiradores passaram por eles, no encalço de sua presa,
o que o punha em posição perfeita. Quando o motor foi ligado, e a pequena clínica portátil de Manny se afastou, começou a correr. O cheiro no ar lhe dizia que estava
certo; era uma dupla de lessers com alguns brinquedos bem caros... algo que não tinham visto há quanto tempo?
Não desde que Lash, aquele bastardo, era o Forelesser.
Com coxas bombeando e armas a postos, ele diminuía a distância quando as sirenes surgiram às suas costas. De repente, foi iluminado por trás, e não de uma maneira
boa. Com duas automáticas nas mãos, eles pensariam que ele era o maldito problema, ao invés da solução que tentava acertar as contas com os inimigos.
Certamente, uma voz de macho projetou-se de um falante de alta resolução vinda do beco. - Departamento de Polícia de Caldwell! Pare! Parado ou atiro!
Deus! Maldição.
Humanos: o remédio da natureza para um momento que de outra forma, seria bom.
Capítulo TRINTA E SEIS
De volta à sua cela no palácio, iAm ocupava-se traçando um caminho no chão de mármore polido, indo para frente e para trás entre a nova plataforma de dormir
e a prateleira de livros.
Quanto mais tempo era deixado sozinho, mais se tornava convencido de que a maichen havia feito a oferta de levá-lo aos escritos dos curandeiros guiada somente
por um ímpeto impotente de compaixão. Mas, inferno, mesmo que ela estivesse falando sério, e surgisse de novo com algum tipo de plano, não era como se ele fosse
aceitar a sua ajuda. Já havia tanta gente enfiada naquela bagunça e ele não tinha certeza de que ela sabia ao que estava se voluntariando: ele era prisioneiro do
carrasco, o que significava que, mesmo que muitos tivessem acesso a ele, só havia um filho da puta com as chaves de sua fuga.
E não era aquela humilde fêmea.
E se fosse sério? Mesmo que não o estivesse ajudando a sair para o mundo exterior, mas à biblioteca? O sistema de monitoramento logo entregaria os dois... E
então a morte súbita seria o melhor que ela poderia esperar.
O mais provável era um longo e sofrido período de tortura, durante o qual ela rezaria para estar...
Quando a porta abriu, ele verificou se seu sexo estava coberto antes de se virar.
Era a serva, e ela trazia roupas nas mãos. Quando a porta deslizou de volta para o lugar, ela enfiou algo perto do batente para impedi-la de se fechar totalmente
e foi na direção dele.
- Vista isto. Não temos tempo...
- Espere, o que...
- Vista! A equipe de segurança está mudando de turno e é exigido que eles façam uma prece obrigatória de tristeza e recordação pela criança. Tenho de te levar
pelo corredor agora...
- Não posso deixá-la fazer isto...
- Você quer ajuda, certo. Para a amada de seu irmão, certo.
iAm cerrou os dentes. Cruz, conheça a caldeirinha. - Porra!
- Eu não sei o que esta palavra significa.
Ele aceitou o que ela oferecia, mas continuou a discutir enquanto vestia as peças. - E como vamos voltar?
- Eu vou distraí-los. Você vai precisar de um pouco de tempo na biblioteca... A menos que saiba exatamente o que está buscando?
O manto pesado cobriu as pernas dele, - Que tal aqui?
Sem aviso, as luzes se apagaram. - Eu ativei o sistema circadiano.
Ah sim, a alternação entre luz e escuridão sem a qual não é possível dormir.
Clique!
Uma pequena lanterna iluminou o caminho até a plataforma de dormir, e ela rapidamente arrumou os travesseiros e cobertas de forma que parecesse haver alguém
ali. Então, ela correu de volta e espirrou algo no rosto dele.
Ele tossiu quando o forte cheiro de lavanda misturado a algo cítrico inundou lhe o nariz. - O que infernos...
Mais spray. - Este é um uniforme de serviçal. Ninguém questionará, mesmo se nos encontrarem juntos, mas seu cheiro é muito másculo. Isto deve encobrir o suficiente
para passarmos. Agora, encurve-se... Você é grande demais para o manto. Não podemos deixar seu pé aparecer ou eles vão descobrir. Vamos lá.
Ele seguiu-a até a porta, mas antes que ela abrisse, ele agarrou-lhe o braço a fez voltar-se.
- Você não deveria estar fazendo isto.
- Não temos tempo...
- Vai acabar sendo morta.
- Seu irmão precisa de ajuda. Para a companheira dele. Você tem outra solução para sair daqui e ver aqueles escritos?
Quando ela tentou se virar, ele puxou-a de volta. - Qual o seu nome?
- maichen.
- Não, esta é sua casta. Qual o seu nome?
- É este. Agora, venha... Chega de falar. - Ela disse, com urgência. - E não se esqueça de se encurvar.
Com isto, ele saiu da cela e foi para o corredor. Ao olhar para a direita e para esquerda, ela cutucou-o com a lateral do cotovelo.
- Se abaixe, - ela sibilou, - por aqui.
Dobrando os joelhos, ele curvou os ombros e a seguiu, tentando imitar cada um dos movimentos dela. Ela era rápida e decisiva pelos corredores, virando esquerdas
e direitas em uma sequência que o deixou tão confuso que ele se sentiu perdido em um labirinto. Inacreditavelmente, não encontraram ninguém, mas aquela era a natureza
do luto para o s'Hisbe. Todos se trancavam.
Talvez ela pudesse só levá-lo a uma saída pelos fundos depois de tudo isto?
É, mas o que aconteceria a ela?
- As fitas de segurança, - ele disse.
- Cale-se.
- Quando voltarmos, precisa cuidar dos arquivos de vídeo de monitoramento ou eles saberão o que fez.
Ela não respondeu, só se apressou, levando-o por vários corredores.
De acordo com a tradição s'Hisbe, de que a simplicidade elevava a alma, havia pequenas sinalizações em todos os lugares no palácio, nada além de placas sutis
sobre os umbrais, para ilustrar o acesso à várias salas, depósitos e saídas. Gradualmente, seus anos no palácio lhe voltaram e ele ficou surpreso ao ver que sabia
onde estavam: Ela estava levando-o para a biblioteca pelo caminho mais longo, mas era esperta. Ali eram os fundos do palácio, onde, caso encontrassem alguém, provavelmente
seria um serviçal.
O que, considerando o seu disfarce, tornava a rota bem melhor.
- Por aqui, - ela disse, pegando a última direita e parando em um dos quadrados do piso de mármore, cujo veio corria ao contrário da direção prevalecente de
todos os outros. Colocando a mão na parede, ela acionou a porta, que deslizou prontamente.
Quando entraram na escuridão, luzes sensíveis a movimentos se acenderam, iluminando pilhas sobre pilhas de volumes encapados em couro. O ar era seco e vagamente
empoeirado, mas a biblioteca estava um brinco, o chão polido a um brilho de espelho, as prateleiras brilhando. Não havia cadeiras ou mesas se alguém quisesse ler
alguma coisa... Era esperado que você pegasse o volume de seu interesse, e o levasse aos seus aposentos para ler por lá.
Merda, como eles iriam encontrar qualquer coisa ali?
- Os registros medicinais foram transferidos, - ela sussurrou, movendo-se para a frente.
Ele seguiu-a de novo, e não se incomodou em tentar encolher sua estatura: não havia ninguém em volta para vê-lo, e esta parte do palácio não era monitorada.
O sistema de catalogação, tal como era, estava anotado em numerais pretos nas laterais das prateleiras. Mas, de novo, era vago, e presumia que você já saberia
onde encontrar o que buscava.
Eventualmente, ela parou e indicou uma fileira de pilhas. - Foram realocados para cá.
Franzindo o cenho, ele se aproximou. O sistema de numeração nas lombadas não ajudava porra nenhuma, então ele tirou um dos volumes aleatoriamente e abriu a capa.
Quando finalmente entendeu algumas palavras do Idioma Antigo no dialeto Sombra, descobriu que era um tratado sobre fratura em ossos.
Descendo uma fileira, ele tirou outro tomo aleatório. Algo sobre visão.
Mais além, chegou em gravidez e parto.
- Doenças, - ele murmurou. - Estou procurando por doenças. Ou defeitos congênitos. Ou... Genes recessivos...
- Eu te ajudo. - maichen começou a tirar os volumes. - O que pode me dizer sobre esta doença?
- A chamam de Aprisionamento. Elas congelam... Elas ficam... É como se os seus ossos crescessem espontaneamente... Supostamente é fatal...
Deus, ele não sabia o suficiente sobre o que estava falando.
Enquanto os dois percorriam seu caminho prateleira abaixo, as categorias e organização dos volumes começaram a se tornar mais claras. Como todos os vampiros,
os Sombras não tinham de lidar com vírus humanos ou câncer, mas havia muitas outras coisas que os atingia... Embora não tanto quanto as que os Homo sapiens tinham
de combater. Com cada livro aberto, ele se conscientizava da passagem do tempo, e ficava mais preocupado com a maichen ser pega do que com qualquer coisa que pudesse
acontecer com ele mesmo.
Rápido, mais rápido com a leitura, a devolução, o pegar outro da prateleira.
Tinha de haver algo aqui, ele pensou. Tinha de haver.
O corpo inteiro de Trez estava rígido ao manter-se apoiado contra o interior do Benz. Fritz ainda prosseguia pela calçada... O que seria ótimo se o doggen fosse
um mero pedestre. Espremendo o sedã do tamanho de um iate que singra oceanos, em uma alameda de concreto construída para acomodar quatro ou cinco pessoas lado a
lado?
Não era tão ótimo...
Selena exclamou uma espécie de yeeee-haw! Quando viraram outra esquina e mandaram pelos ares outro conjunto de caixas do Caldwell Courier Journal.
Ele estava honestamente feliz de que ela estava se divertindo.
Ele só fodidamente desejava que estivessem assistindo este filme de ação, em vez de atuando nele.
- Fritz! - Gritou acima do som do ronco do motor. - Vai na direção do rio.
- Como desejar, amo!
Sem aviso, Fritz jogou o carro para a esquerda e mandou-os voando na direção de um calçadão que contornava outro dos arranha-céus. O Benz subiu os degraus como
um homem usando gesso nos joelhos, a subida desarticulada, empurrada e sacolejada sendo o tipo de coisa que fazia dos dentes bater e os rins pedirem misericórdia.
Mas daí eles estavam novamente na área plana, que dava às pessoas todo o tipo de escolha, como por exemplo, para qual dos quatro diferentes pontos de entrada usar
como acesso.
Fritz, naturalmente, escolheu a rota mais reta.
Através da porra do lobby.
Painéis de vidro explodiram quando o S600 chocou-se contra uma parede envidraçada, estilhaços voaram adiante e para os lados, antes de pousarem no chão escorregadio
e costearem a distância como neve pela superfície congelada de um lago.
Pela janela oposta, Trez deu uma boa olhada no vigia noturno que pulava em pé, atrás de uma fileira de mesas no lobby. Parecia falta de educação não cumprimentar
o pobre bastardo, então Trez deu uma de Rainha Elizabeth e acenou com a mão quando cruzaram o interior e saíram do outro lado.
Esmaga!
O segundo turno com o vidro foi tão escandaloso quanto o primeiro, quando foi estilhaçado pela lataria do Benz ao explodirem de volta para a noite.
- Acho que devemos ir pelo ar. - Fritz disse. - Segurem-se.
Pode crer, grandalhão.
Trez enrijeceu ao se aproximarem da beira da escada e então...
Gravidade zero, ou tão próximo disto quanto era possível sem fazer uma manobra acentuada a nove mil metros de altura, aconteceu quando se elevaram, a viagem
se tornou super suave e relativamente quieta, nada além do ruído do motor atingia seus ouvidos.
Tudo isto mudou ao passarem voando pela calçada e pousarem na rua asfaltada. A suspensão absorveu tanto do impacto quanto foi possível, mas fagulhas se espalharam
quando a carroceria do carro raspou no asfalto.
- Por favor, me desculpem. - Fritz disse, olhando pelo espelho retrovisor e falando diretamente a ele. - Amo, sinto terrivelmente, mas preciso retornar para
casa...
- Fritz! Se concentra a estrada, camarada.
- Oh, sim, amo...
Guinchaaaaaaando quando o mordomo corrigiu o curso e evitou, por pouco, bater na lateral de uma fila de carros estacionados.
- Como eu dia dizendo, amo, preciso retornar para casa. - O mordomo continuou sem perder tempo. - A preparação da Última Refeição precisa ser supervisionada.
Como se aquilo fosse somente uma partida de vídeo game que se pudesse pausar? - Ah, Fritz...
De repente, o Mercedes apagou as luzes interiores e exteriores, ficando em escuridão total. Naquele momento específico, do alto do céu, uma luz flamejante cortou
pela estrada, brilhando sobre eles por uma fração de segundos.
- Helicóptero, - Trez murmurou. - Fantástico.
Virando-se no assento, olhou pelo para-brisa traseiro. Luzes azuis e vermelhas piscavam e se aproximavam rapidamente, mas os policiais estavam cruzando o caminho
deles, ao invés de segui-los... O que lhes daria vantagem por somente um quarteirão antes que o Departamento de Polícia mudasse a rota.
Merda, como iriam escapar desta?
Antes que se desse conta, Fritz levava-os para o rio, mas não pela estrada. Ao invés de tomar uma das rotas legais, ele pulou outro meio-fio e saltou diretamente
abaixo da rodovia elevada. Pilastras do tamanho de carvalhos corriam pelas janelas, o doggen brincando de se esquivar, jogando para a esquerda e direita como um
maratonista em uma corrida de obstáculos.
Não havia ninguém atrás deles, mas não conseguiriam manter esta fuga indefinidamente. A Northway, que estava agora acima de suas cabeças, ia voltar a ficar plana...
E claro, a descida começou a acontecer, e naquela velocidade, Trez se convenceu de que eles iriam virar purê na fusão horizontal do asfalto.
Só que, não. Fritz moveu o carro bruscamente por baixo, percorrendo uma beira da calçada até as estradas que corriam paralelas ao rio Hudson. De alguma forma,
ele conseguiu fazê-los passar por uma brecha entre as grades de segurança e então, simples assim, eles estavam em uma rampa de desvio que os levaria à autoestrada
na direção correta.
Na direção contrária a da cidade.
Trez esperou por uma fila de viaturas com as luzes brilhando como no Quatro de Julho vir atrás deles.
Em vez disto, viu uma frota daqueles caras de azul indo para o outro lado da Northway, na direção do lugar onde havia acontecido toda a ação.
Fritz desacelerou e voltou a acender as luzes. Postou-se na fila de tráfego. Flutuou para longe, a modestos cento e dez quilômetros por hora.
- Como diabos fez isto? - Trez disse, com verdadeiro respeito.
- Humanos são fáceis de serem despistados. Tendem a perseguir luzes, como gatos perseguem um laser. Sem luz? Dá uma vantagem séria... Bem, isto e possuir o dobro
da potência que eles.
Trez virou-se para sua rainha. - Você está bem?
Selena estendeu a mão e ergueu a boca para um beijo. E outro. - Que noite! Esta foi a coisa mais excitante que já aconteceu comigo!
Adrenalina rapidamente transformou-se em luxúria quando ele correspondeu ao seu beijo e pressionou-a contra o assento. Lambendo-a na boca, ele acariciou um dos
seus seios com a mão.
- Devemos pedir a ele para acelerar de novo? - Trez murmurou contra sua boca - Porque eu não acho que posso esperar...
- Chegaremos logo, - ela murmurou, sorrindo. - E eu gosto de antecipação. Estou faminta por você desde que começamos a rodar.
Trez grunhiu no fundo da garganta ao tocar o botão para erguer a partição - Fritz?
- Sim, amo?
- Um pouco mais rápido, se não se importa.
- Com todo o prazer, senhor!

 

CONTINUA

Capítulo VINTE E NOVE
- Você achou que ninguém iria perceber?
Ao sair da cela, maichen congelou. A voz por trás dela era tão profunda, tão baixa que as palavras eram rosnadas ao invés de faladas, e era a última coisa que
estava esperando.
Som de passos, de um macho com o dobro de seu tamanho e três vezes o seu peso, rodearam o seu corpo e, através da malha que cobria seu rosto, ela olhou para
cima, beeem para cima.
O rosto de s'Ex também estava coberto, mas, no carrasco era uma cota de malha, elos de prata nada delicados, que escondiam a expressão de seu rosto, mas não
sua identidade.
O temor invadiu o seu peito, e uma sensação de vazio interno trouxe suor para suas axilas e ao vale entre seus seios bem formados.
- E você estava o alimentando?
Quando ela nem confirmou, nem negou a pergunta, o carrasco fez um gesto de frustração com as mãos, mas foi cuidadoso em não tocá-la ou em qualquer coisa que,
mesmo indiretamente, estivesse em contato com o corpo dela, inclusive a bandeja, tudo o que ela continha, bem como suas vestes e até mesmo o piso de mármore onde
pisava.
Era proibido a qualquer macho entrar em contato com ela, punível com a morte pelas mãos de s'Ex, o que significaria que ele, provavelmente, teria de cometer
suicídio.
- Diga, - ele exigiu. - Você o envenenou?
- Não! Ele já estava sem comer há mais de doze horas...
- Desde quando você começou a se preocupar com os meus prisioneiros?
- Ele não é um prisioneiro comum, - ela ergueu o queixo - E você não está cuidando dele direito.
- Há milhares de outras pessoas para cuidar disto.
- Eu não sou uma destas milhares de pessoas que vivem aqui?
Ele se inclinou. - Não comece com isto de novo.
maichen removeu a malha tão rápido, que ele não desviou o olhar a tempo. Quando ele engasgou e se virou, escondendo o rosto atrás das dobras de sua manga, a
voz dela se igualou à sua em autoridade.
- Você não pode me dizer aonde posso ou não posso ir.
- Coloque a máscara! - Ele gritou.
- Não coloco. Não aceito ordens de você. - Ela arrancou a manga dele para que não pudesse mais cobrir os olhos. - Entendeu?
O carrasco fechou os olhos com tanta força que a expressão de seu rosto inteiro se distorceu. - Você vai nos matar...
- Não há ninguém aqui. Agora, ordeno que me olhe nos olhos.
Foi tal a reviravolta, que ele se acovardou e demorou a entreabrir as pálpebras, como se seu rosto não quisesse obedecer às ordens de sua mente.
Quando finalmente olhou direito para ela, foi a primeira vez na vida que um macho viu seu rosto, e, por um segundo, o coração dela bateu tão forte que ficou
de cabeça zonza. Mas, ao lembrar-se do prisioneiro, lutou contra a perturbação.
- Ele, - ela estendeu o dedo na direção da porta da cela, - não deve ser ferido de forma alguma. Compreende?
- Não é você quem decide...
- Ele é um inocente. Aquele é o irmão do Consagrado, não é dele o dever de servir ao trono. Eu vi a tatuagem...
- Você olhou para o corpo dele! - Uma série de palavras explodiu da boca de s'Ex, palavras desconhecidas que soavam como "Maldição do Caralho".
Não sabia o que significavam. Ela só conhecia o inglês formal.
s'Ex se inclinou na sua direção, e baixou a voz, - Ouça, fique fora disto. Você não sabe o que está acontecendo aqui.
- Eu sei que é injusto fazer um inocente pagar por algo que não foi responsável.
- Eu não vou arriscar minha vida por você. Estamos de acordo? E não vou alterar o curso de minhas ações para apaziguar qualquer dilema moral que você esteja
alimentando neste momento.
- Sim, você irá. - Agora foi ela que se inclinou, e apesar do tamanho dele, s'Ex recuou. - Você sabe muito bem o poder que eu tenho. Você não vai ficar no meu
caminho neste ou em qualquer outro desejo que eu tiver... E quando eu trouxer a próxima refeição, você e seus machos irão me deixar passar em paz. Não confio o bastante
em você para alimentá-lo adequadamente... Ou em segurança. E não diga a ele quem sou eu.
Com isto, ela voltou a colocar a malha sobre o rosto e começou a se afastar.
- Qual é o seu jogo? - s'Ex exigiu.
Ela fez uma pausa. Olhou por sobre o ombro. - Eu não sei o que quer dizer.
- O que você vai fazer? Mantê-lo aqui como um bichinho de estimação?
maichen estreitou os olhos por baixo da malha. - Não é da sua conta. Sua única preocupação é de que nada aconteça a ele. E traga-lhe uma cama apropriada.
Pelo menos ele esperaria com um mínimo de conforto enquanto ela planejava um jeito de libertar o pobre homem.
maichen dobrou o corredor e saiu do raio de visão dele antes de começar a tremer... Antes de precisar se apoiar na parede para conseguir se manter em pé.
Fechou os olhos e tudo o que pode ver foi o macho aprisionado, saindo pelo biombo, após se lavar.
O corpo dele era... De tirar o fôlego, sua forma nua prendia o seu olhar, seus pensamentos, sua respiração. Ombros largos, peito musculoso, tórax impressionante,
parecia esculpido por um artista, ao invés de nascido de uma mortal.
E também havia as outras partes de seu corpo. As quais a faziam enrubescer tão ferozmente, que se preocupou que a malha derretesse em seu rosto.
Disse a si mesma que ela só ia ajudá-lo, e era verdade. Era.
Mas seria tolice ignorar esta ardente curiosidade. Talvez fosse até mesmo perigoso.
Pelas estrelas do céu, o que ela estava fazendo?
Quando Trez pulou na mesa de exames, sua cabeça quase bateu na luminária, e enquanto ele se abaixava para criar algum espaço, a Dra. Jane se aproximou.
- Aqui, me deixe tirar as luzes do caminho.
Com aquele probleminha resolvido, ele agarrou o colchão fino que jazia sob sua bunda, como se a ponto de iniciar uma descida de montanha russa.
E ele odiava montanhas-russas.
Dra. Jane trouxe um banquinho rolante e sentou-se, puxando as duas partes de seu jaleco branco para juntá-las e pousando as mãos nos joelhos. Olhando-o, parecia
preparada para esperar o tempo que fosse necessário para ele reorganizar seus pensamentos.
Pigarreando, ele anunciou, - Ela não virá. Não quer ser examinada, já que está se sentindo bem.
- Dá para entender.
Ele esperou por mais, e lembrou a si próprio de ser civilizado porque ela era a shellan de V.
Quando a boa doutora não continuou, ele franziu o cenho, - Só isto?
- O que quer que eu diga? Que Manny e eu vamos forçá-la a vir? Não posso fazer isso... Não quero fazer isto.
Sem sentir nenhum alívio na declaração, Trez percebeu que queria que a Dra. Jane forçasse Selena a descer.
Hipocrisia demais? Não era uma postura pró-livre-arbítrio de verdade, não é?
- Como posso saber que ela vai ficar bem esta noite? - Ele disse, tenso.
- Sem um episódio do aprisionamento?
- Sim.
- Não dá para saber. - Dra. Jane jogou o cabelo curto para trás. - Mesmo se a examinasse agora, não daria para dizer quando é que o próximo surto irá ocorrer.
Eu não sei muito sobre esta doença, mas pelo que vi, isto faz parte do problema. Não há estágio prodromal.
- O que é isto?
- Você tem enxaquecas, certo? - Diante de seu movimento de concordância, apontou para seus próprios olhos. - E você sente uma aura, cerca de vinte ou trinta
minutos antes do ataque de dor, certo? Bem, às vezes, pessoas que sofrem, sentem formigamento ou dormência em braços ou pernas; outros têm anomalias sensoriais,
tais como sentir cheiro de coisas que não estão lá ou ouvir coisas. Com a doença de Selena, não há sinal de alerta de que uma fase aguda está prestes de acontecer.
O congelamento parece ocorrer de repente.
- Você falou com o babaca do Havers?
- Na verdade, ele nunca ouviu falar de tal doença. O mais próximo que chegou disto, foram sintomas relacionados com artrites. - Ela balançou a cabeça. - Me pergunto
se tivéssemos como fazer uma análise de DNA das Escolhidas, haveria algum gene recessivo escondido em algum lugar. Com uma população procriativa exclusiva, como
elas sempre foram, é de se esperar encontrar exatamente este tipo de conjunto de doenças. Ela deu de ombros. - Mas, voltando à Selena, eu queria poder te dizer quando
é que vai acontecer de novo, ou mesmo os sinais aos quais ficar alerta. Mas não posso. Eu fiz um hemograma completo nela, e sua contagem de células brancas está
ligeiramente mais elevado junto com os marcadores de inflamações... Mais nada além disto. Tudo normal. Tudo o que posso dizer é que, se ela está em pé e se movendo,
teoricamente, suas juntas estão funcionando bem e elas darão sinais evidentes quando não estiverem.
Ele estalou os dedos, um a um. - Há algo que possamos fazer por ela?
- Não, pelo que sabemos até agora. Um dos desafios é não entendermos o mecanismo da doença. Minha suspeita é que, após o crescimento ósseo ser desencadeado por
sabe-se lá Deus o que, o sistema imunológico dela, de alguma forma, reage e ataca o material ofensor, destruindo-o como se fosse um vírus ou uma infecção. E o mecanismo
de defesa do corpo dela sabe quando parar, já que o esqueleto original permanece intacto após o ataque. Provavelmente há algo inato diferente sobre o crescimento
ósseo, mas, não saberemos até fazer uma biópsia.
- Então porque ela tem de... - Merda, cada vez que ele piscava, via Selena deitada na maca, o corpo naquela maldita contorção. - Porque ela continua combatendo
a coisa e se recuperando?
- Minha aposta é que o sistema imunológico falha. Analisando, é uma série extraordinária de eventos a nível celular. Ao ver as primeiras radiografias, jamais
teria imaginado que o corpo dela pudesse voltar a funcionar novamente.
Ele ficou quieto, olhando para o piso. - Eu quero levá-la para sair esta noite. Sabe, um encontro. - Quando a médica permaneceu em silêncio, ele ergueu os olhos.
- Não é uma boa ideia, é?
Dra. Jane cruzou o braço sobre o peito e empurrou a cadeira para frente e para trás nas rodinhas, a versão sentada de uma marcha.
Porra. Ele devia ter tido esta conversa antes de sugerir a saída...
- Você quer que eu seja bem franca? - A médica perguntou.
Trez teve uma imagem do perfil com cavanhaque de Vishous delineado sob a luz do teto externo do corredor. - Preciso saber exatamente onde estamos.
Mesmo que isto o matasse.
Passou-se um minuto ou dois antes da Dra. Jane responder, e ele achou que ela estava imaginando cenários em sua mente.
- O caminho mais prudente seria ela ficar no complexo, para fazermos uma checagem total nela, envolvendo múltiplas biópsias, uma tomografia computadorizada,
uma ressonância magnética no mundo humano e consultas com médicos, através dos contatos de Manny. E então nós provavelmente teríamos de iniciá-la no uso massivo
de esteróides... Mesmo que seja mais palpite do que certeza, é de se imaginar que o processo inflamatório tenha algo a ver com isto. Poderia haver drogas a testar,
talvez alguns procedimentos, mas, é difícil adivinhar de antemão. - Ela correu os dedos pelos cabelos curtos até a coisa se espetar em picos louros. - Teríamos de
ser rápidos porque não sabemos quanto tempo nos resta, e tudo seria na base de tentativa e erro, provavelmente, mais com o objetivo de sobrevida do que cura. Embora,
de novo, seja só um palpite, nada concreto.
Ele fechou os olhos e tentou imaginar-se dizendo à sua rainha que, ao invés de irem àquele restaurante pelo qual ela estava tão excitada, teriam de...
- Mas, não é o que eu faria, se fosse ela.
Trez ergueu as sobrancelhas e olhou para a médica - Então há outro jeito.
Dra. Jane deu de ombros. - Sabe, no final das contas, acho que a qualidade de vida deve ser considerada. Não sei o quanto conseguiríamos tratar ou desvendar
desta doença, mesmo se examinássemos ela inteira. Me baseio no fato de que ela é, para usar um termo clínico, a "paciente zero" para nós. Ninguém jamais ouviu falar,
apesar de uma minoria de suas irmãs padecerem deste mal há gerações. Há uma série muito complexa de coisas acontecendo, e eu só... Há muito a tentar entender. E
para que? Você quer arruinar as últimas noites dela...
- Noites? - Ele exclamou. - Jesus Cristo, é só isto o que temos?
- Eu não sei. - Ela ergueu as mãos. - Ninguém sabe e este é o ponto. Você iria... Ela iria... Preferir passar o tanto de tempo que lhe resta vivendo, ou somente
esperando por morrer? Eu lhe digo, se fosse minha escolha, eu escolheria viver. É por isto que não vou forçá-la a descer aqui, ou fazê-la sentir-se mal por não estar
com pressa de se deitar em minha maca.
Trez exalou um fôlego que não estava consciente de estar prendendo. - Rehvenge foi para o Norte. Para as colônias. Ver se há alguma coisa na tradição Symphath
que possa ajudar.
- Eu sei, Ehlena me disse. Estamos esperando ouvir notícias dele em breve.
Ele podia dizer pelo tom profissional na voz da fêmea que ela não estava botando muita fé. - O que acontece se Selena entrar... Em situação... E estivermos fora,
no jantar?
- Então você nos chama. Eu já te mostrei o brinquedo novo de Manny?
- Como é que é?
Ela se levantou e deu um tapinha na perna, - Venha comigo.
Dra. Jane a levou para fora da sala de exames, pelo corredor, e então para baixo, baixo, mais baixo, passando por salas de aula sem uso até a pesada porta de
aço da garagem. Abrindo-a completamente, ela indicou a área além da porta com o braço.
- Ta-da.
Trez entrou em um ambiente onde o ar era mais frio, mais úmido. A enorme ambulância era tão brilhante quanto uma moeda nova, retangular como um LEGO, maior do
que o Hummer de Qhuinn. Maior inclusive que as ambulâncias humanas que ele vira por aí em Caldwell.
Era um maldito trailer, um RV.
- Isto é merda séria, - ele disse.
- É. Uma das coisas que tem preocupado Manny e eu...
As portas traseiras do veículo se abriram, e o parceiro humano da Dra. Jane pulou para fora. - Achei mesmo ter ouvido vozes. - O homem soou grave assim que viu
Trez, - Ei, cara, como está indo?
Os dois se cumprimentaram e Trez indicou o veículo. - Então vocês conseguiram isto, huh.
- Venha ver a parte de dentro.
Trez enfiou as mãos nos bolsos dos jeans e deu a volta para a traseira. Através das portas duplas ele viu... Uma ilha grande central com duas macas, uma ao lado
da outra, rodeada por todo o tipo de equipamento médico armazenado em gabinetes envidraçados, que se alinhavam nas paredes laterais como prateleiras de livros com
esteróides.
- É como uma sala de operações em miniatura, - Trez murmurou.
Manny anuiu e voltou a subir. - Este é o plano. Queremos ser capazes de tratar com rapidez ferimentos de campo potencialmente mortais. Às vezes, trazer os pacientes
de volta para cá ou para o Havers é arriscado demais.
O médico começou a abrir e fechar armários e balcões, mostrando uma série de instrumentos esterilizados, curativos estéreis, mesmo um microscópio em um braço
extensor que podia girar para qualquer uma das macas.
Ele acariciou o instrumento como se fosse um bichinho de estimação. - Este bebê aqui também é uma máquina portátil de raio-x, e temos tecnologia de ultrassom.
Oh, e como um bônus, o RV é blindado.
- Contribuição de meu marido. - Dra. Jane olhou para o parceiro. - Então ouça, Trez vai levar Selena para jantar fora em um encontro esta noite.
- É uma grande ideia. Aonde vocês vão?
Trez fez um movimento circular com o dedo indicador. - Aquele no céu. Que fica rodando e rodando.
- Oh, sim, sei qual é, - o cara disse, - no hospital, chamamos de Central do Noivado, porque é onde os médicos levavam as namoradas para pedi-las em casamento.
Muito romântico.
- É.
Trez olhou para a extensão da sala de operações móvel, tentando decidir se o fazia sentir-se aliviado ou deprimido como a merda. O lado bom, ele achava, era
que com as luzes externas do veículo e o lendário pé de chumbo de Manny, eles conseguiriam chegar ao centro da cidade em dez minutos, especialmente com pouco trânsito.
Mas, e se não fosse tempo suficiente? E se Selena precisasse...
- Trez? - O médico disse.
Ele forçou-se a sair de seu estado de pânico - Sim?
- Que tal se eu for com vocês? Não, não como chofer, - ele completou quando Trez recuou. - Posso ficar estacionado nos fundos do prédio e só ficar por perto,
caso precisem de nós. Esta coisa tem emblemas falsificados nas portas, no capô e na traseira, e tenho todo o tipo de documentação. Ninguém irá me incomodar, e eu
posso levar um Irmão comigo caso precise me livrar de alguns humanos.
Trez piscou. - Deus, não posso pedir isso...
- Você não pediu. Eu ofereci.
Trez olhou para a ambulância novinha em folha. Ele não podia acreditar no que o cara estava pronto para...
- Trez? - Manny disse. - Ei, Trez, olhe para mim.
Trez virou os olhos de volta para o humano. Manny era bem formado para um não-vampiro, com um físico atlético que continuava a manter após emparelhar a irmã
de V, Payne. Mas, a coisa mais impressionante nele? Sua confiança. Treinado no mundo humano, o antigo Chefe de Departamento de Cirurgia do Hospital St. Francis do
centro da cidade, irradiava o tipo de atitude "ou-dá-ou-desce" que significava que ele se encaixava perfeitamente com os Irmãos.
- Deixa comigo, - o cara disse, com gravidade. - Eu cuido de vocês dois.
Manny estendeu a mão, e por um momento, tudo o que Trez pode fazer foi piscar. Mas então, aceitou o que lhe estava sendo oferecido.
A voz de Trez saiu entrecortada. - Não sei como posso te pagar.
- Simplesmente saia e aproveite sua mulher. É só o que me importa.
Quando Jane colocou a mão em seu ombro, Trez sentiu-se humilde diante do apoio. E esperançoso também de que Rehvenge pudesse aparecer com alguma novidade do
território Symphath.
Após agradecer novamente a ambos, ele voltou ao Centro de Treinamento, a Dra. Jane manteve-se atrás com o parceiro, como se soubesse que ele precisava de um
minuto para se recompor.
Deus, a cabeça dele estava a mil.
E era engraçado, ele não tinha nenhum impulso de beber até esquecer a raiva. Nenhum. Também não sentia necessidade de sair e foder centenas de mulheres desconhecidas.
Tampouco tinha interesse em investigar aqueles pacotes de drogas que encontraram com aquele lesser. Ele nem mesmo queria subir até o terceiro andar da mansão para
acordar o irmão e atualizar iAm da situação.
Ele estava curiosamente neutro. E aquilo o assustava.
Esta noite era para ser especial para sua rainha.
Tinha de ser.
Capítulo TRINTA
Foi por volta das seis da noite quando Selena saiu do chuveiro no banheiro de Trez. Ela dormira como um bebê durante o dia todo e noite adentro, apenas ciente
de Trez entrando e verificando-a de vez em quando. Como consequência, se sentiu melhor desde...
Santa Virgem Escriba, ela não soube por quanto tempo.
Enrolando-se na toalha, ela enrolou seu cabelo para cima e colocou o robe preto de Trez. O peso volumoso encolheu o seu corpo, caindo para o chão, o laço tão
longo terminava quase emaranhando em seus pés. Mas se sentia tão bem em ter a coisa nela, o cheiro dele embrulhando-se ao redor dela como um abraço, as dobras oferecendo
calor.
Em cima das pias duplas, ela pegou uma toalha de mão e enxugou a condensação no espelho. Debaixo das luzes, sua pele estava brilhando, um rubor em suas bochechas
e uma vermelhidão em sua boca, todo o resultado do sexo que compartilharam.
E haveria mais hoje à noite. Ela sabia disso porque toda vez que Trez entrava no quarto, aquela especiaria sombria dele tinha sido uma promessa intensa do que
estava por vir.
Desenrolando a toalha em sua cabeça, deixou seu cabelo escuro solto, os fios molhados pingando em suas costas. Ela fez o melhor que pôde para deixar os fios
quase secos, esfregando a tolha em cima de tudo que podia alcançar sem se esforçar demais. Então chegou a hora de usar o secador de cabelo, exceto...
Sem secador de cabelo.
Procurando, ela verificou os armários debaixo das pias, mas, só achou uma carga inteira de papel higiênico, sabonete, xampu e condicionador. Navalhas. Toalhas
de mão e de banho. Movendo-se para a área de armazenamento na parede, ela encontrou... Mais toalhas. As quais pareciam caras e tão suaves quanto pão fresco, mas,
não fariam por ela o que precisava.
Completamente seco era o seu objetivo final. Agora, ligeiramente úmido, era sua segunda escolha.
Certo, ela podia estar em apuros aqui. Eles sairiam às sete e trinta e seu cabelo, sozinho, levava mais ou menos oitocentas horas para secar...
Uma batida no lado de fora da porta a fez levantar a cabeça. - Oi?
- Isto é um "entre"? - Uma voz feminina perguntou do corredor.
- Sim? Por favor? - Apertando mais o robe de Trez, ela saiu do quarto adequadamente, depois parou assim que os painéis pesados se abriram. - Oh, oi... Ah...
Beth, a Rainha, entrou no quarto de Trez. E com ela Marissa, Autumn, Mary... Ehlena e Cormia. Bella. Payne. Também Xhex, que, com seu cabelo curto e seus couros,
parecia um pouco fora de lugar no grupo.
Ou talvez fosse por causa de sua postura estranha, como se estivesse insegura sobre o que ela estava fazendo com o grupo.
- Há algo que precisa? - Ela perguntou para Rainha. E para as outras.
Embora estivesse ciente que apenas Cormia e Layla a visitaram, era um palpite justo que todos na casa estavam informados sobre suas dificuldades, ela realmente
esperava que as fêmeas não fizeram essa viagem para oferecer condolências antes que realmente morresse.
Felizmente, Beth sorriu, em oposição às questões. - Precisamos que nos permita arrumá-la.
Selena levantou suas sobrancelhas e olhou para seus pés. - Sinto muito. Estou inadequada e não sei?
- Bem, nós ouvimos pela videira...
Marissa falou claramente. - Na verdade, meu hellren me disse. E ele ouviu de Vishous.
- Que você irá a um encontro, - Beth terminou. - E nós pensamos que você poderia gostar de um pouco de embelezamento.
Cormia colocou suas palmas para fora. - Não que você não seja bonita o suficiente.
Naquele momento, houve muitos oh, não, completamente bonita, e só se você quiser, e tudo que Selena pôde fazer foi colocar as mãos em suas bochechas. - Eu só
iria colocar um vestido e arrumar meu cabelo.
- Chato. - Xhex disse. Visto que todas as meninas lhe lançaram um olhar, ela jogou as mãos. - Eu te disse que não sou boa nessas coisas! Deus, por que me fez
subir aqui?
Beth se virou. - Selena, você sempre parece adorável, mas temos algumas roupas contemporâneas para você considerar, umas que talvez sejam um pouco mais...
- Você se parecerá com algo diferente de uma cortina de janela. - Xhex rolou os olhos. - Eu sei, eu sei, me calarei de agora em diante. Mas é a verdade.
- Pareço com uma cortina? - Selena disse, olhando para as peças nas janelas que acabaram de se fechar sozinhas. - Isso é ruim?
Beth avançou e tomou suas mãos, apertando-as. - Você confia em nós?
- Oh, claro, minha Rainha, é só que... Não sei, não consigo achar um secador de cabelo, e...
Marissa deu um passo à frente com uma bolsa de lona cheia com... Toda maquiagem concebível e utensílios de cabelo, o que quer que seja. - Não se preocupe, eu
tenho toda a solução.
E foi assim que Selena acabou sentando em um tamborete no meio do banheiro de Trez com um grupo de fêmeas circulando-a com secadores, escovas de cabelo, algo
chamado mousse, e modeladores de cachos.
No meio da maquiagem, seus olhos se encheram d'água.
- Oh, estou muito perto. - Autumn disse sobre o barulho dos secadores.
Selena levou uma mão para cima, na esperança de esconder suas lágrimas. A generosidade era tão inesperada. Literalmente sentiu como se a casa inteira estivesse
a apoiando e seu macho.
Xhex, a intransigente, foi a pessoa que trouxe a caixa de Kleenex. E quando a mão de Selena tremeu tanto que derrubou o lenço que pegara, Xhex foi quem cumpriu
a tarefa, retirando outro quadrado branco macio e enxugando levemente sob os olhos que vazavam.
Selena olhou em direção àquele olhar fixo de bronze e murmurou, - Obrigada.
Xhex apenas assentiu e continuou enxugando discretamente, seu toque gentil em desacordo com aquele rosto severo, traje masculino e a arma que usava no coldre
em sua cintura apesar do fato que estavam todos seguros no complexo.
Selena não tinha nenhum pensamento em sua cabeça, apenas emoções muito grandes para manter em seu coração.
Quando os secadores foram finalmente silenciados, ela soube que estava na hora de recuperar sua compostura. Todo aquele som e fúria enquanto seu cabelo era soprado
por toda parte ofereceu uma espécie de proteção para se esconder, ainda que todas a viram chorar.
- Seu cabelo está tão adorável. - Cormia disse conforme corria seus dedos pelas ondas. - Acho que devíamos deixar solto...
- Obrigada a todas. - Selena revelou. - Obrigada por isso.
Beth se ajoelhou na frente dela. - O prazer é nosso.
Uma mão pousou sobre o ombro de Selena. Outra em seu antebraço. Mais em suas costas. E Xhex estava exatamente ao lado dela com aquela caixa de Kleenex.
Olhando no espelho, ela se viu cercada pelas fêmeas da casa, e nenhuma delas sentia pena dela, pelo que estava muitíssimo agradecida. Ao invés, elas estavam
apoiando-a, fazendo o que podiam para mostrá-la que ela importava.
E por alguma razão, isso parecia indescritivelmente importante.
Provavelmente porque ficou claro para ela, pela primeira vez, que seria lembrada por estas pessoas depois que fosse embora, e ser lamentada por pessoas boas
era o melhor legado que alguém poderia deixar para trás.
- Solto? - Ela se ouviu dizer. - Realmente? Acha que eu deveria usar meu cabelo solto?
- Permita-me apresentar-lhe meu pequeno amigo. - Com isso, Marissa mostrou uma varinha de prata que estava plugada na parede por uma corda preta. - E agora a
guerra deve começar.
Selena teve de rir. Olhando para Xhex, disse - Você já...?
- Usei um desses? - A fêmea empurrou seu cabelo curto. - Como se pudesse. Mas acho que devia fazer o que elas dizem. Você está olhando para o cérebro confiante
da espécie quando se trata de estar gostosa.
- Então irei ceder. - Selena se encontrou iluminando-se com a ideia de uma transformação. - Faça o que desejar comigo.
Beth sorriu. - Acha que isso vai ser bom? Espere até ver o vestido.
- Sinto muito. Eu tentei.
Quando Rehvenge se desculpou por nada que era sua culpa, e nada que era realmente uma surpresa, Trez sacudiu a cabeça. Eles estavam em pé no grande hall da mansão,
seus pés plantados na representação de mosaico de uma macieira florescente.
Ele colocou sua mão no ombro vestido de pele do macho. - Seriamente, Rehv. Obrigado por dar a isso uma chance.
Rehv colocou sua bengala vermelha no chão e caminhou ao redor. - Olhei em todos os lugares em nossos registros. Perguntei às pessoas...
- Rehv, escute, eu aprecio o seu esforço. Mas, honestamente, eu não esperava alguma resposta mágica. - Merda, sabia que estava acostumado à notícias ruins a
essa altura. - Então não ataque a si mesmo em relação a isso.
Aquela pele longa alargando-se atrás do macho enorme conforme ele continuava a andar a passos largos ao redor. Eventualmente, ele parou sem energia. - Lembra-se
da noite em que nos conhecemos?
- Como se eu pudesse esquecer.
- Sempre senti que era para acontecer. - O macho olhou fixamente para baixo em seus sapatos de pele de avestruz. - Eu não quero... Isso para você. Especialmente
considerando o que mais está esperando por você.
Rehv era um do poucos que sabia que ele era o Consagrado de volta ao s'Hisbe.
Deus, Trez pensou. Aquela bagunça no Território não estava nem ao mínimo em seu radar. Selena era o grande desinfetante de todas as suas outras preocupações,
não só limpando sua ficha, mas purificando sua merda bruta.
- Irei ajudar Selena. - Ele se ouviu dizer. - Não irei a qualquer lugar enquanto ela está... Você sabe.
- Qualquer coisa que precisar, você tem. - Rehv veio. - Eu apenas...
Foi perturbador ver um macho tão grande, que era conhecido por sua arrogância impertinente, parecer tão derrotado.
Trez teve de cortar a compaixão ou isso iria deixá-lo para baixo. - Olha, você não tem de dizer mais nada. Francamente, prefiro que não faça. Não por nada, eu
preciso ficar focado onde estou agora, Selena descerá aqueles degraus e não posso ficar frustrado em minha mente hoje à noite.
- Compreendido. Mas vou te abraçar.
- Por favor não, oh, não, qual é, homem...
Quando foi envolto em pele, ele endureceu, e se sentiu como um idiota. Porra, o cara só estava sendo verdadeiro, mas, maldição, tudo que Trez queria fazer era
correr para a sala de bilhar. Talvez bater ele mesmo em sua cabeça com um taco de bilhar.
Até a maldita coisa quebrar.
Sua cabeça, não o taco.
- Uau, essa coisa é suave, - ele disse, acariciando o casaco.
Rehv recuou. - Irei subir para o quarto de hóspedes. Estou exausto e Ehlena esteve acordada o dia todo com Luchas. Acho que nós vamos dormir a noite inteira.
- Soa como o céu para mim.
Momento. Estranho.
- Você precisa parar de olhar para mim assim. - Trez esfregou seu rosto. - Ela não está morta ainda.
- Eu sei, eu sei. Desculpe. Deixarei você sozinho.
Rehv bateu-lhe nas costas e, em seguida, foi em direção à escadaria principal, subindo com a ajuda daquela bengala. E visto que Trez ficou onde estava, ele percebeu
por que não caçara seu irmão para conversar sobre as coisas. Normalmente, ele e iAm já teriam se falado oito vezes, e ainda eram só sete horas da noite.
Mas, se Rehv sendo um bom sujeito conseguiu entrar em sua pele, Trez realmente não seria capaz de lidar com essa merda com seu irmão de sangue agora. Ele mal
estava se segurando, um olhar nos olhos negros de iAm?
Ele tinha medo que não poderia colocar as coisas de volta nos escombros.
Às vezes, a honestidade era muito...
Oh, foda-se. Ele seriamente estava citando Muzak dos anos setenta agora?
Andando, andando, andando. Ele e Selena combinaram de sair às sete e trinta, e ele planejara ajudá-la até o carro. Isso tinha sido um grande estúpido não, no
entanto: Uma boa hora atrás, ele foi até o terceiro andar para verificá-la, mas Xhex barrara sua entrada e informou-o que ele não era bem-vindo em seu próprio quarto.
Então a guerreira lhe jogou um dos seus ternos pretos, junto com uma camisa preta de botão, sapatos pretos e meias de seda, e seu relógio Audemars Piguet todo preto.
E bateu a porta em seu rosto.
Fêmeas. Honestamente.
Mas, ele trocara suas roupas. Como um bom menino. E desceu até aqui para esperar.
Assim que a figura decorada de Rehv desapareceu acima, Trez tirou seu telefone e verificou suas mensagens. Esperava encontrar algo de iAm, mas, típico do seu
irmão, o cara sabia quando ele precisava de espaço e estava lhe dando isso.
Ele disparou uma atualização rápida para o macho, contando-o que estava saindo com Selena e que ele apareceria na base mais tarde quando voltassem. Então, entrou
em contato com Big Rob e Silent Tom, e informou-os para encaminhar tudo que tivesse a ver com os clubes à Xhex, assumindo que ela poderia se livrar da coisa da maquiagem
exagerada acontecendo em seu quarto. Ele estava quase guardando o telefone, quando viu que faltou uma mensagem.
De Rhage.
O Irmão alcançou e...
- Ei, estamos prontos para ir? Onde está a sua fêmea?
Falando em Hollywood. O Irmão em questão veio correndo abaixo a escadaria principal, as armas chiando como sinos de Natal humano nos vários coldres que ele ainda
tinha amarrado em seu corpo.
- Acabei de ver sua mensagem, - Trez disse. - Desculpe por não ter respondido.
- Você tem merda em sua mente. Tá tudo bem.
Os dois bateram as palmas. Reviradas em cima. Ombros batidos. Recuaram.
- Olhe para você. - Rhage andou ao redor. - Parece ótimo.
Trez estalou fora seus punhos franceses. - Eu não posso envergonhar a fêmea.
- Parecendo assim, ela será sortuda em estar ao seu lado. - Rhage parou na frente dele. - Veja, isso é o que digo à minha Mary. Ela quer que eu adicione cor
no meu guarda-roupa, tem sido uma coisa, tipo, pelos últimos dois anos.
Quando o Irmão estremeceu como se sua shellan tivesse sugerido que vestisse calcinhas debaixo de seus couros, Trez começou a sorrir.
- Você tem interesse no negro, Hollywood? - Ele disse.
- Ela quer combinar com os meus olhos. - Rhage apontou para os seus olhos inacreditavelmente azul-petróleo. - Tipo, seriamente. Digo, eu já tenho água em mim
o tempo todo com essas coisas. Por que precisamos de redundância.
- Então o quanto de cor tem em seu armário?
- Não quero conversar sobre isso. Muito deprimente...
Lassiter enfiou sua cabeça para fora da sala de bilhar. - Ei! Menino dragão, Project Runway está passando se você quiser vir assistir. Talvez pegar algumas dicas
sobre suas tendências.
O olhar de Rhage estreitou, mas se recusou a olhar para o anjo. - Não há uma maratona de "Uma galera do barulho" que você tenha de assistir?
- Não odeie o Zack. Ele é como seu maldito irmão pequeno, rainha da beleza. - Lassiter vagueou, o ouro que ele tinha criava uma aura ao redor da sua cabeça loira-e-preta
e seu corpo longo, ou talvez o brilho fosse realmente uma aura. - Então, para onde vamos? Seu clube, Sombra?
- Não.
- No baile do embalsamador, então? Com todo esse preto, é como se você estivesse interessado nas artes fúnebres...
Rhage moveu-se tão rápido que era impossível localizar. Em um momento, ele estava friccionando seus dentes ao lado de Trez; no próximo, ele estava cara a cara
com o anjo, sua mão trancada na garganta de Lassiter.
Palavras foram ditas muito suavemente, Trez não podia segui-las, mas um momento depois o espertinho drenou o rosto e a atitude do anjo.
Rhage soltou o aperto e se afastou. - Então isso aconteceu, - ele murmurou quando voltou e começou a se recuperar. - Poderia muito bem continuar com essa merda.
Estou montando espingarda com Manny hoje à noite.
- Oh, sim. - Trez respirou fundo. - Ei, obrigado por fazer...
- Mas, só porque ele me prometeu bife.
Trez arqueou uma sobrancelha. - Desculpe?
- Bife? Sabe, vaca? Carne? Paraíso em um prato? Eu sei que comeu algum antes.
- Estou familiarizado com isso, sim. Mas você virá para ajudar...
- O consumo de bife. É por isso que irei.
Houve uma pausa estranha. Durante a qual Rhage simplesmente olhou-o fixamente, como se estivesse fazendo uma declaração de que ele não seria uma zona de drama.
E, Jesus, essa era provavelmente a coisa mais útil que o Irmão poderia ter feito. Era como uma tábua de salvação saindo da zona sentimental de merda, e Trez
se agarrou nisso.
- Bife, huh. Você irá pedir o serviço de entrega do Circle the World?
Rhage recuou como se tivesse sido estapeado. - Então, certo, claramente você não está ciente disso, o que é um lapso atordoante em sua educação formal, mas a
melhor steakhouse em Caldie, a 518, é exatamente do outro lado da rua do arranha-céu que está o seu restaurante. Meu plano? Enquanto você e sua garota estão lá em
cima se divertindo e andando em círculos, eu estarei no térreo comendo, tipo, um filet mignon, um rosbife enorme, um hambúrguer de carne Kobe, uma carne de corte
nova iorquino.
- Parece bom. Qual deles você comerá? Já decidiu?
Rhage franziu a testa. - Todos eles. Com uma porção de purê de batatas. Veja, você tem de ter a proporção purê-carne correta. Faz toda diferença. E então há
os pãezinhos. Conseguirei três cestas entregues.
Trez levantou seu dedo indicador. - Sabe o que você precisa? Uma refeição no Sal's. Você deveria ir comer na taberna do meu irmão.
- É italiana?
- Sim. Estou falando sobre o melhor na cidade...
- Merda, por que eu não...
- Puta... Que pariu...
Com a maldição que Lassiter latiu, Trez e Rhage olharam para o anjo. O imbecil não os notou, porém, seus olhos extraordinariamente coloridos focados para cima,
como se a Segunda Vinda de Cristo tivesse chegado ao topo da escadaria principal.
Só então, um perfume revelador alcançou o nariz de Trez e disparou através do seu sangue, o impacto deturpando sua cabeça e seu corpo...
Diante disso, ele perdeu todos os pensamentos. Toda respiração. E toda sua alma.
Selena permaneceu no topo dos degraus com o carpete vermelho-sangue, sua mão adorável descansando no corrimão folheado a ouro, seu corpo mantinha-se rígido,
como se ela não estivesse certa sobre seus sapatos, ou seu vestido, ou talvez até mesmo o seu cabelo.
Não havia absolutamente nada para se preocupar.
A menos que ela tenha um problema em ser uma arma de sedução.
Seu cabelo escuro longo descia ao redor dos seus ombros, caindo para baixo em suas costas. Enrolado da ponta até a base, era uma glória tão feminina, tão avassalador
com o seu peso e o seu brilho, que ele empunhou suas mãos e soltou porque queria tocá-lo, acariciá-lo, cheirá-lo. Mas, isso não era a metade de tudo. Seu rosto era
a única coisa que poderia possivelmente envergonhar as coisas, sua pele radiante, seus olhos cintilantes, seus lábios carnudos vermelhos como sangue.
E então existia o maldito vestido.
Preto. Corte simples. Com um corpete decotado e uma saia que terminava no meio da coxa.
Muito quente. No meio da coxa.
Selena estendeu um pé, um delicadamente calçado, em salto alto que estava conectado a um tornozelo pequenino e uma panturrilha perfeitamente curvilínea que o
fez ranger os dentes.
Ele teve de engolir em seco quando ela começou a descer lentamente, cada passo que ela dava levava-a para mais perto dele poder tocá-la, beijá-la... Tomá-la.
Homem, aquele vestido era um knockout absoluto, nada além de um revestimento que seguia os contornos dos seus quadris, sua cintura, e seus seios, com um ajuntamento
fora de um lado no meio dela e um segundo em seus ombros. Ela não usava joia de modo algum, mas por que usaria? Não existia nenhum diamante, nenhuma esmeralda, nenhum
rubi, nenhuma safira que poderia chegar perto da sua perfeição devastadora.
Quando alcançou a parte inferior dos degraus, ela hesitou, olhando para a esquerda e direita, provavelmente para Lassiter e Rhage, eles estavam ainda no hall
com ele? Quem sabia. Porra, quem se importava?
Selena alisou o... Isso era seda? Lã? Tafetá?
Papel de alumínio? Saco de papel?
Ela estendeu a mão e empurrou o cabelo. Em seguida, fez uma careta. - Você não gosta, né. Posso mudar. Eu iria vestir...
Algo o bateu na lateral.
- ... Vestido tradicional. Mas as meninas acharam que... - Ela olhou por cima do seu ombro para as fêmeas que permaneceram no topo dos degraus. - Eu posso mudar...
Lassiter amaldiçoou. - Caralho não. Não ouse. Você parece...
O lábio superior de Trez enrolou em suas presas baixas. Então ele estalou sua mandíbula na direção do anjo caído, como um Pastor alemão. Ou talvez um tubarão-touro
fazendo um teste de mordida antes de atacar como uma motosserra a sua presa.
Lassiter pôs as mãos para cima. - Qual é, cara, eu iria dizer que ela parece um caso de caridade. Um árbitro de futebol. Uma imitadora de Martha Stewart. Você
quer que eu continue? Eu poderia começar com os personagens idiotas da Disney. Há muitos deles.
Aquela cotovelada em sua costela veio novamente. Então Rhage se inclinou. - Trez, - o Irmão silvou. - Você tem de dizer alguma merda aqui.
Trez clareou a garganta. - Eu... Eu... Eu...
Ele estava vagamente ciente das fêmeas no segundo andar estourando em altos "toca aqui" e gritos de "acertamos em cheio". Mas, sua rainha permaneceu preocupada.
Certo, ele precisava se recompor, antes que o cotovelo de Rhage o acertasse no fígado novamente e Selena disparasse de volta para o seu quarto. - Você está...
Eu estou...
Ele puxou a gola de sua camisa de seda, mesmo que a coisa estivesse escancarada.
- Você gosta? - Ela disse.
Tudo que podia fazer era acenar com a cabeça. Ele era literalmente nada, além de hormônios em um terno preto. Ela era bonita assim para ele.
- Realmente?
Mais movimentos com a cabeça. - Uh-huh. Realmente.
Selena começou a sorrir. Então ela olhou de volta para as fêmeas, que pulavam para cima e para baixo e ofereciam seus dedos polegares para cima.
Sua rainha se virou para ele. Aproximou-se. Tomou suas mãos e esticou-se para sussurrar em sua orelha - A única coisa que elas não me deram foi roupa íntima.
Nua.
Ela estava n-n-n-n-ua debaixo disso.
Capítulo TRINTA E UM
Sem dormir.
Paradise conseguiu absolutamente, positivamente não dormir nada na bonita casa. A princípio foi porque ficou muito emocionada ao percorrer o lugar, cada sala,
quarto e banheiro, maravilhada com a arte, o mobiliário, a decoração... Duas vezes. Então precisou escolher um quarto subterrâneo (escolheu o da esquerda) e desfazer
as malas, desfazer e desfazer.
Sua amada doggen, Vuchie, desenhou uma plataforma no curto corredor de paredes de pedras entre as duas suítes subterrâneas, mas Paradise insistiu com sua acompanhante
para ir pelo outro lado e se instalar no quarto real. Isto deu lugar a uma serie de protestos, que terminou com sua empregada presa entre uma ordem direta e seu
incômodo em permanecer em tal luxo; quase teve um ataque de nervos.
Por fim, no entanto, e como de costume, Paradise conseguiu sair-se com a sua.
Neste momento, ela havia se retirado ao "seu" quarto, colocou um pijama e descobriu felizmente que o wi-fi não requeria uma senha. Deitando sobre o edredom de
veludo, verificou o Twitter, Facebook, alguns blogs, o New York Post e o Daily News, e continuou ignorando as mensagens de texto de Peyton. Quando suas pálpebras
finalmente começaram a cair, colocou o telefone de lado e arrastou o edredom pela parte superior de seu corpo, a camiseta da Universidade de Siracusa e uma calça
de yoga com os quais dormiu muitas e muitas vezes.
Eeeee foi quando a coisa de não-dormir chegou com força.
Apesar de ter fechado os olhos, sua mente continuava zumbindo com o que seu pai disse que estaria fazendo ao cair da noite para ajudar o Rei.
E logo estava o fato deste primo perdido há muito tempo, sozinho com seu pai de volta em sua casa. O que aconteceria se machucasse seu pai?
Assim, então, pensou enquanto ficava em pé diante do espelho do banheiro. Não fechar os olhos... Mesmo quando suas pálpebras descerem.
A boa notícia era que a espera terminou. E seu pai lhe enviou mensagens de textos dizendo que chegaria em quinze minutos, tão claramente que lhe fez passar o
dia bem.
Era curioso, estava surpresa pelo tanto que queria vê-lo. Depois de tantos anos de rezar por um pouco de liberdade, encontrou que a experiência real foi marcada
por um pouco de nostalgia.
- Mas, agora irei começar a trabalhar.
Virando-se de lado, pegou seu casaco azul marinho. Depois puxou sua blusa branca. Brincou com seu colar de perolas.
Quando deu um passo atrás, decidiu que parecia uma aeromoça da PanAm em 1960. Como aquelas em "Prenda-me se for capaz".
- Ah vamos. - Ela arrancou o laço, prendeu o cabelo para trás com ele e guardou suas coisas. - Oh sim. Agora está bem diferente.
Não.
Soltar o cabelo talvez melhorasse a situação. Mas, de que iria adiantar, a quem queria impressionar de qualquer forma?
Bom, má pergunta para se fazer quando estava a ponto de começar em seu primeiro trabalho e não se tratava apenas de seu pai, mas do Rei de toda a Raça e sua
guarda pessoal de assassinos.
Era o suficiente para fazer uma oração à Virgem Escriba.
Ao sair de seu...
- Por favor, senhora. Permita-me preparar algo para que possa comer.
Vuchie estava em pé justo dentro do quarto, vestida com seu uniforme cinza e branco, balançando peso entre seus sapatos bege. A doggen tinha o cabelo castanho,
os olhos marrons e a pele branca como porcelana, bonita a sua maneira e provavelmente uns cinquenta anos mais velha que Paradise. As duas se conheciam desde que
Parry podia se lembrar, como acontecia com muitas filhas de pais aristocratas a relação patroa/empregada delas tinha sido cultivada formando vínculos por toda vida.
Em muitos casos, uma empregada era a coisa mais importante levada para a nova casa quando se vinculavam à um macho de privilégio ou criação similar.
Era seu vínculo com o passado. Sua lucidez. E muitas vezes, a única pessoa em quem se poderia confiar.
Cara, ela preferia muito mais essa realocação com sua empregada; por causa de um novo emprego e não algum antigo hellren.
- Estou bem, Vuchie. - Ela tentou sorrir. - Você está com fome?
- Senhora, você não teve sua Última Refeição ontem, também.
Parry não tinha intenção de dizer a verdade claramente, um amassado ou uma rusga, não deixaria nada interferir em sua nova postura de aeromoça. Este tipo de
franqueza apenas levaria a uma briga que acabaria com ela de repouso na cama e, provavelmente, Vuchie chamaria seu pai pedindo reforço.
- Sabe o que eu gostaria? - Parry forçou um sorriso. - Que preparasse algo para mim e levasse ao escritório. - Ela se aproximou e segurou o braço de Vuchie.
- Sim, vamos, vamos, faça isto.
- Mas... Mas... Mas...
- Estou tão feliz que concorde. Adoro quando estamos em sintonia.
Foi até a parte superior da escada curva de pedra, era muito bem decorada, atravessaram um retrato de tamanho natural de uma da família real francesa até onde
estava o vestíbulo.
- É tão tranquilo. - Disse Paradise, mais calma.
O lugar, como resto da casa, estava muito bem decorado, antiguidades por toda parte, setas e veludo nas paredes e pisos, inclusive as cadeiras eram cobertas
por ricos tecidos. Lembrou-a de artigos que leu na revista Vogue e Vanity Fair sobre Babe Paley e Slim Keith, os móveis eram perfeitos, os objetos de arte pequenos
caprichos de jade, ouro e bronze, cores sóbrias, mas não fracas.
- Suponho que meu pai não está aqui, no entanto.
Como se fosse um sinal, as persianas automáticas se moveram por todas as janelas, o zumbido sutil fazendo-a saltar.
- Vou até a cozinha. - Disse Vuchie. - Preparar seu café da manhã.
Quando sua empregada saiu, Paradise quase chamou a mulher de volta. Pelo amor de deus, a doggen não era uma manta de segurança.
Decidida a enfrentar o que fosse sozinha, apesar de que não sabia o que iria fazer, se aproximou e sentou-se atrás da mesa do escritório e... Brincou com o mouse,
o que a levou a uma tela protegida com senha que nem se incomodou em decifrar.
O wi-fi no subterrâneo era outra coisa. O computador ali? Era bloqueado e teria algo mais. Uma por uma ela abriu as gavetas, sem encontrar nada além de artigos
de papelaria e artigos de papelaria... E sim, mais artigos de papelaria.
Ouviu vozes pela primeira vez. Profunda. Rouca. Muito masculina.
Então a porta se abriu. E ali estava um coro de muitos, muitos pés pesados calçados com botas cruzando o umbral.
O primeiro pensamento de Paradise foi se esconder debaixo da mesa.
Os membros da Irmandade da Adaga Negra estavam na casa, todos eles vestidos de couro negro, cada um deles armados brutalmente.
Eram maiores do que se lembrava das apresentações na noite anterior. E ela não os enquadraria na categoria de zero a esquerda de forma alguma.
- ... Bombeou algumas vezes sua cabeça. - Disse um deles.
Foi como uma derrapagem de pneus quando eles pararam em seco e a olharam. Graças a Deus que estava sentada. A mesa era uma espécie de barreira entre ela e todos
os guerreiros.
- Ei. - Disse um deles, um com o sotaque de Ben Affleck. - Sua primeira noite, verdade?
Quando começou a assentir com a cabeça, seu pai passou pela porta aberta.
- Estou aqui, estou aqui! - Seu pai abriu caminho através do grupo. - Paradise, como está você?
Ocorreu-lhe que deveria ficar em pé e abraçá-lo com força. Podia fazer isto, disse a si mesma. Poderia absolutamente e positivamente fazê-lo.
De verdade.
Honestamente.
Deus havia vários homens na casa.
Gêmeos. Ela teria gêmeos.
Enquanto Layla estava na maca, esfregou seu ventre com a mão livre, a que não estava dentro do gesso que ia até acima de seu cotovelo direito. As dores de sua
queda haviam desaparecido e o osso quebrado que Manny cuidou já estava colado novamente. O gesso iria desaparecer logo. Gêmeos.
Apesar de que teve todo o dia para se acostumar as notícias, ainda estava aturdida, e para piorar as coisas, ela e Qhuinn realmente não conversaram sobre isto.
Estava mais interessado na roupa que ela iria vestir. No momento que ela entrou na camisola de flanela e seu robe rosa favorito, dormiu. Foi bom o suficiente
para colocar seu manto sobre ela e deixá-la sozinha.
Estava irritado com ela? Pensava que ela estava mentindo sobre onde ia de carro em seus passeios?
Maldição, como diriam os Irmãos...
Uma batida na porta a fez levantar a cabeça. - Sim?
Como se houvesse lido sua mente, Qhuinn colocou o torso forte no quarto.
- Ei. Apenas queria vê-la antes de sair esta noite. Como se sente?
Layla respirou fundo e tentou manter o rosto em branco.
- Estou bem. E você?
- Bem.
Uma longa pausa. Isso fez com que seu coração acelerasse.
- Então, obrigada pelo manto. - Ela acariciou o tecido. - Realmente apreciei. Acabo de acordar, mas vou devolvê-lo.
Depois de um momento ele entrou, apoiando-se na porta fechada. Seus olhos diferentes subiram por seu corpo algumas vezes, sutilmente.
- Então, como está? - Disse. - Você sabe, com a coisa dos gêmeos.
- Bem. Quero dizer, foi um choque... - Ela encolheu os ombros. - Mas, estou me ajustando. Estou feliz. Dois, uma benção. Claro.
- Bom. Sim. Uh, hum.
Silêncio. Que foi preenchido por ele colocando as mãos nos bolsos de couro e ela brincando com a ponta do maldito manto.
Além de romper em suor frio sob os lençóis de hospital.
- Há algo que precisa me dizer? - Perguntou Qhuinn.
Os golpes nos ouvidos eram tão fortes, que tinha quase certeza que ela respondeu com um grito. - Sobre o que?
- O que estava fazendo à noite?
Obrigou-se a segurar seu olhar. - Fui dar uma volta.
- Porque suas roupas estavam cobertas de folhas?
- Desculpe?
- Sua roupa. À noite. Quando as peguei, estavam sujas e havia folhas sobre elas. Se estava caminhando pelo pátio e caiu, porque estariam assim?
Ela abaixou os olhos apesar de fazê-la parecer culpada. Por outra parte, ela era culpada.
- Layla? - Ele amaldiçoou em voz baixa. - Olhe, é uma mulher adulta. Apesar de estar carregando meu filho, não tenho nenhum direito sobre sua vida ou o que esta
fazendo, exceto em coisas relacionadas com a gravidez. Apenas quero me assegurar que esteja a salvo. Por seu bem. Pelas crianças.
Merda.
Agora era o momento, pensou. Agora... Tinha de ser o momento.
- Sinto-me presa. - Ouviu-se dizer.
Entre Xcor e a Irmandade. Entre o perigo e a segurança. Entre o desejo e a condenação.
- Imaginei isto. - Qhuinn assentiu. - Está dirigindo. Para longe.
- Caminho.
- Onde?
- Fora. - Em sua cabeça, ela tentou uma variedade de confissões, com substantivos e verbos, tentando encontrar uma maneira para descrever o que estava fazendo
sem lançar merda para todo lugar. - Fora... Pelo campo.
Qhuinn cruzou o quarto e se endireitou de frente a uma pintura de salgueiro. - As pessoas fazem isto o tempo todo. Em suas cabeças. - Disse.
Nisto tem razão, pensou.
Queridíssima Virgem Escriba queria lhe dizer. Realmente queria... Mas a revelação ficou presa em sua garganta.
Pela primeira vez, começou a ficar irritada. Consigo mesma. Com Xcor. Com toda maldita coisa.
- Tropeçou e caiu enquanto estava caminhando? - Disse.
- Sim. - Ela respirou fundo. - Fui estúpida. Caí sobre uma raiz.
Tão perto da verdade. Estava ficando irritada.
Cara, isto estava matando-a.
- A maioria das mulheres... - Qhuinn foi para os pés da cama, colocou as mãos nos quadris estreitos e olhou para seus pés. - A maioria das mulheres tem alguém
com quem passar por isto. Quero ser ele para você. Blay também quer. Nós não queremos defraudá-la.
Genial, agora sentia as lágrimas por ele duvidar que pudesse ser um apoio. - Você é incrível. Os dois são. Você é absolutamente incrível. É apenas que... Não
há muito o que fazer.
Ao menos isto não era uma mentira.
- Mas, agora com gêmeos. - Ele negou com a cabeça. - Gêmeos... Pode acreditar?
- Não. - Ela esfregou o ventre. - Não sei como vão encaixar. Já me sinto enorme e ainda tenho quantos meses?
- Ouça, por favor, estou contigo. Estou aqui para você, com tudo o que precisar.
Um estridente alarme começou a soar ao lado, os dois franziram o cenho ao mesmo tempo e olharam ao redor procurando o ruído.
- Vem do quarto de Luchas? - Perguntou. - Oh Deus meu, será que...?
Ouviu-se um grito no corredor. Vários passos. A voz de Jane dando ordens.
- Merda, tenho de ir ver. - Disse Qhuinn enquanto girava e se lançava para a porta. - Tenho de ir ajudar...
Quando ele correu para o quarto de seu irmão, Layla sentou-se. Ficou em pé. Estabilizou-se. O que estava acontecendo ao lado era ruim. E ela estaria condenada
se Qhuinn iria enfrentá-lo sozinho.
Capítulo TRINTA E DOIS
Ao sentar-se no banco de trás do gigante Mercedes, aquele que Fritz dirigia e estava, de fato, dirigindo, Selena sorria tão largamente que suas bochechas estavam
insensíveis e sua mandíbula doía.
À frente do sedã, os arranha-céus de Caldwell brilhavam como as sentinelas míticas de algum reino de fantasia e ela se inclinou para a janela, tentando ver aquele
para o qual se dirigiam, o mais alto dos gigantes, o ápice de todos.
- Mal posso esperar para ver a vista lá de cima, - ela se virou para Trez. - Estou tão excitada.
Quando ele não respondeu, mas só continuou a encará-la, ela sorriu ainda mais. O macho não desviara o olhar desde que ela descera as escadas, os olhos vagando,
sempre vagando, nos lábios dela, nos seios, as coxas e pernas, de volta ao cabelo, rosto, garganta.
A excitação dele estava saliente à frente das calças pretas. E mesmo que ele tentasse, repetidas vezes, colocar o paletó, o braço ou uma mão no colo de forma
casual, ela conseguia sentir o sexo dele tão claramente como se ele estivesse nu.
Ela se inclinou, se aproximando. - Me beija?
- Não confio em mim esmo.
- Que terrível. - Esticando-se, ela mordiscou o lóbulo da orelha dele, - Perigoso...
O grunhido que vibrou pelo peito dele foi a coisa mais erótica que ela já havia ouvido.
- Talvez devêssemos cuidar disto? - Quando ela pousou a mão sobre seu sexo, ele pulou e praguejou. - Isto é um "sim"?
Enquanto ele se apoiava no banco e jogava os quadris ao encontro da mão dela, ela olhou para a frente do carro, que, dado o tamanho, parecia estar em outro código
postal. Fritz estava concentrado na estrada, seu rosto velho e enrugado, preocupado. Talvez pudessem...
Sem tirar aqueles olhos escuros dela, Trez remexeu com a mão na porta. Um segundo depois, houve um som de whhhrrrring e uma partição opaca se elevou, isolando-os
do gentil chofer.
- Não temos muito tempo, - ela disse, ao afastar o braço dele.
- Não será preciso muito tempo.
Do bolso sobre seu peito, ele tirou um lenço branco dobrado e, com um rápido chacoalhar, liberou-o de seu rigor engomado.
Ao mesmo tempo em que ela liberou sua ereção.
Ela estava em meio a decisão de cair de boca nele, mas ele segurou seu rosto entre as mãos e beijou-a, a língua penetrando fundo, encontrando a dela.
Ele estava duro e quente, aveludado e grosso, e ela deslizou um agarre em volta de seu pau, bombeando. Quanto mais acariciava, mais doido o beijo se tornava,
até a pélvis dele estar convulsionando contra ela, e seu peito arfando, e ela estava respirando com tanta dificuldade quanto ele.
Quando ele gozou, gritou o nome dela e baixou aquele lenço para conter sua explosão... E ela estava tão excitada, tão tonta com a sensação da boca dele sobre
a sua e os movimentos de sobe e desce, sobe e desce da sua mão contra o sexo dele, que sentiu um intumescimento entre suas próprias coxas, uma resposta do próprio
corpo ao que ela estava fazendo nele... Que era tão pouco perto do que realmente queriam.
Seu próprio orgasmo foi uma surpresa, e ela se entregou, absorvendo as garras afiadas do prazer, tornando-as mais fortes ao apertar as coxas uma contra a outra
e esfregar. Enquanto isto, ela continuava as carícias rítmicas, apertando a ponta, trabalhado sua extensão.
Quando acabou, Trez caiu contra o banco, pálpebras baixas, lábios entreabertos, cabeça caída para o lado como se não tivesse força para endireitá-la.
- É isto o que chamam de rapidinha? - Ela sussurrou ao pressionar os seios contra o peito dele para beijá-lo.
Antes que ele pudesse responder, ela correu a língua ao longo de seu lábio inferior, então sugou-o. Afastando-se, ela disse, - Hmm? É?
- Cuidado, fêmea, eu posso arrancar este vestido que está usando.
- Isso seria ruim?
- Se outro macho te vir nua, sim. - Ele sorriu e correu uma das presas pelo lábio inferior. - Eu sou possessivo.
- Você ainda está duro, não está?
Com um rápido agarre na nuca dela, ele puxou-a para perto e beijou-a violentamente. Embora ela estivesse no controle da primeira parte, agora ele assumiu o controle,
dominando o corpo dela, enfiando uma mão entre os joelhos, e acima para a...
Ela gozou contra os dedos dele assim que eles a penetraram, seu núcleo explodindo em ondas após ondas de prazer.
- Esta é minha rainha, - ela ouviu-o dizer através de uma vasta distância. - Goze para mim...
Ela perdeu as contas do quanto ele a provocou com aquele toque talentoso, mas eventualmente, ela tomou consciência do carro fazendo uma curva longa que a fez
escorregar no assento. Focando seus olhos vidrados pela janela escurecida, ela viu que saíam da rodovia, prontos para entrar nas complicadas artérias asfaltadas
que levavam à incontáveis arranha-céus.
- Eu arruinei o seu batom, - ele disse com satisfação, enquanto se ajeitava. - Você trouxe mais?
Agora foi a vez dela se sair com huh-quê? - Deixa eu ver se tem algo aqui. - Ela remexeu na pequena bolsa preta que Marissa havia lhe dado. - Sim, elas pensaram
nisto.
Como se as fêmeas soubessem exatamente em que tipo de problema ela provavelmente se meteria, havia um pacotinho de lenços de papel, o delineador labial que haviam
lhe ensinado a usar, e o fabuloso batom vermelho que havia passado.
- Tem um espelho ali. - Trez estendeu o braço e puxou alguma coisa do teto. - Ele acende.
Ela verificou seu reflexo e teve de rir, - É, você realmente arruinou o batom.
Um lencinho cuidou da mancha e então era caso de cuidadosamente fazer uma linha contornando sua boca, bem na hora em que o carro passou por um buraco na estrada
que era quase, mas não completamente, regular.
- Droga, - ela disse, pegando outro lenço por ter acabado com uma linha cor de rosa no nariz. - Deixa eu tentar...
Trez segurou a mão dela e a baixou. Quando ela olhou para ele, os olhos dele, seus comoventes olhos pretos pareciam estar memorizando cada detalhe dela.
- Você não precisa disto, - ele disse, - gosto mais sem.
Selena sorriu timidamente. - Sim?
- Sim. - O olhar dele desceu para o seu corpo. E voltou a subir. - Isto é maravilhoso. Você está fantástica. É a fêmea mais linda na cidade hoje, e quando entrarmos
no restaurante, os garçons vão derrubar as bandejas. Mas, quer saber o que eu mais gosto em sua aparência?
Quando ele pausou, ela se viu engolindo em seco. - O quê? - Sussurrou.
- Você mesma, minha rainha, a aparência com a qual nasceu. Pelo que me consta, a perfeição não pode ser melhorada, nem pelos homens, nem por Deus. Inclinando-se,
ele beijou-a suavemente. - Só pensei que você gostaria de saber o que o seu macho está pensando quando olha para você.
Selena começou a sorrir, especialmente ao perceber que, às vezes, "eu te amo" pode ser expressado sem necessariamente usar estas três palavrinhas juntas.
- Vê? - Ela disse suavemente, - eu disse que esta ia ser a melhor noite da minha vida.
De carona na ambulância de Manny, Rhage comia Doritos direto do pacote, e discordava totalmente do médico. - Não, eu não sou um fã de Cool Ranch. Só como Original.
- Você está perdendo. - Manny deu seta para sair da rodovia. - Não acredito que você, dentre todo mundo, pode ser tão mente fechada quanto ao sabor de seus salgadinhos.
- Mas, este é o ponto. Por que melhorar uma dádiva de Deus?
Virando o pacote, ele olhou dentro e quis praguejar. Estava chegando ao fim dos grandes, restando nada mais do que os quebrados e aquele cósmico pozinho laranja.
Não que ele não fosse comer tudo, jogando a coisa direto do saco em sua boca aberta. Mas esta era a parte não-divertida da experiência, a que não envolvia a destreza
dos dedos.
Mastigando, ele voltou a focar na traseira do carro de ditador do terceiro mundo de Fritz. Aquele Mercedes era tão grande, tão preto e tão completamente escuro,
que chamava mais atenção ao passar do que seria esperado. Só de brincadeira, Rhage imaginou o que os humanos pensariam se soubessem que havia vampiros no banco de
trás.
E que a coisa estava sendo guiada por um mordomo centenário com um pé que faria o piloto Jeff Gordon ter um ataque de ciúme.
- Viramos aqui? - Rhage perguntou ao se aproximarem da intersecção.
- É contramão.
- Como eu disse, viramos?
Manny olhou para ele. - Não, se não quisermos ser presos.
- Estamos em uma ambulância.
- Sim, mas eles não.
Oh, certo. Droga. - Sabe, eu realmente queria ligar as luzes desta merda.
Só que, no instante em que disse isto, sua costela afundou ao redor dos pulmões e ele acabou tendo de baixar a janela um pouquinho para deixar entrar um pouco
de ar.
- Você sujou minha porta de nachos?
Rhage esfregou a mancha alaranjada com o antebraço - Não.
Eles continuaram grudados no pára-lama de Fritz igual a um selo em um envelope, virando a esquerda, afastando-se do rio, indo diretamente para o coração do distrito
financeiro. Sem becos escuros. Sem caçambas de lixo. Sem lama, mesmo nos meses chuvosos. E sem o cheiro nojento dos restos apodrecidos de restaurantes xexelentos.
Aquela era a parte chique da cidade, onde pessoas vestiam ternos e corriam por todo canto, canalizados como gado no curral, a seus lugares de Trabalho Urgente
e Importante.
O prédio que abrigava o restaurante onde eles estavam indo havia sido concluído um par de anos antes, e seus construtores alardeavam a enorme ascensão vertical
como o prédio mais alto em Caldwell. Abarrotado com os quartéis-generais de grandes negócios, para ele, não passava de um gabinete cheio de humanos, cada um guardado
em pequenos compartimentos.
Enfadonho.
- Você está bem?
Rhage olhou para o médico - Huh?
- Qual o problema?
- Nada.
- Então porque parou de comer? O pacote ainda não está vazio.
Rhage olhou para baixo. Verdade, ele deixara os restos onde estavam... E não tinha vontade nenhuma de terminar. - Ahhh...
- Está cuidando do peso?
- Sim. É isso.
Quando amassou o pacote, deixou manchas alaranjadas por todo o rótulo e embalagem, até a coisa parecer cheia de hematomas por maus tratos.
Então viu que a sua própria mão estava laranja. - Merda, não tenho como limpar.
- Tá brincando? - Manny jogou uma gaze para ele. - Podemos limpar e polir metade desta cidade com o que tenho aqui.
Rhage abriu o pacote e limpou-se; então jogou tudo na lixeira que havia entre os assentos.
Manny desacelerou ao chegarem ao prédio de vidro, então estacionou do outro lado da rua quando Fritz parou completamente diante da entrada iluminada, os faróis
traseiros do Mercedes brilhando vermelhos.
Um momento depois, Trez saiu e deu a volta no sedã, o vento forte tremulando seu paletó antes de ele se abotoar, exibindo as .40 gêmeas que havia colocado no
suporte sob seus dois braços.
Com um movimento galante, ele abriu a porta para sua fêmea, e Selena emergiu da traseira, os cabelos incríveis oscilando como uma bandeira negra para lá e para
cá.
- Casal bonito. - Manny disse baixinho.
- Ela nem parece doente.
- Eu sei.
Trez enganchou o braço no dela, e acompanhou-a pelos degraus de granito acima e, quando outro casal saiu pela porta giratória, ambos os humanos pararam e os
encararam.
- Manny.
- Sim?
- Você tem de fazer alguma coisa, cara. Você precisa descobrir que merda é essa e resolver isto para eles.
Manny ligou o motor, e o motor turbinado do RV acelerou, levando-os adiante, para contornar até os fundos do prédio.
- Você me ouviu? - Rhage exigiu.
- Sim, ouvi. - Manny respirou fundo - Sabe o que é o mais difícil de se aprender na medicina?
- Bioquímica?
- Não.
- Anatomia humana? Porque é nojento.
A seta fazia um som de nuk-nuk-nuk quando o médico anunciava ao mundo, ou pelo menos a esta rua, que virariam à esquerda de novo, em torno da base do arranha-céu.
- O mais difícil é entender que há situações onde não há nada que se possa fazer.
Rhage esfregou os olhos. Algo de seu subconsciente estava voltando a ele, algo que não queria.
- Rhage?
- Huh?
- Você fez um som engraçado aí.
Quando Manny voltou ao compartimento de serviços, ele executou uma elegante manobra em K de modo que a traseira do veículo ficasse colada ao prédio. Desligando
as coisas, ele se virou no assento.
- Tem certeza que está bem?
- Oh, sim. Uh-huh.
- Você não parece bem. E veja só o que eu estou usando: jaleco. Sabe o que isto significa.
- Que você gosta de sair de pijamas em seus passeios?
- Que eu sou um médico e sei do que estou falando.
- Deixe de paranóia, grandão.
Houve um intervalo ínfimo de silêncio. Então Manny disse, - Não há nada que eu não faria para ajudá-los. Nada.
Agora foi a vez de Rhage virar-se. - É o que eu precisava ouvir, Dr.
- Só não coloque sua fé em milagres, Hollywood. É uma aposta perigosa.
- Aconteceu para mim e Mary. Na hora em que precisamos, um milagre aconteceu.
Manny olhou para fora, através do pára-brisa... E não pareceu estar vendo nada da rua escura à frente. - Eu não sou Deus. E nem a Jane.
Rhage voltou a encostar-se a seu assento. - É preciso ter fé. Eles só precisam ter fé.
Capítulo TRINTA E TRÊS
Quando a porta da cela voltou a se abrir, iAm virou-se. Mas, ainda não era s'Ex. E não era mais uma cama. Nem mais livros que ele não iria ler, ou cobertas que
não usaria, ou travesseiros para os quais, não ligava a mínima.
Era a serviçal com outra refeição.
- Ah, qual é! - Exclamou ele, meneando a mãos. - Onde, caralho, está s'Ex?!
A fêmea não disse nada; simplesmente avançou com aquela sua bandeja enquanto a porta deslizava de novo para seu lugar, isolando-os juntos.
Quando ela se ajoelhou, ele quis gritar. E gritou.
- Eu não vou comer porra nenhuma! Jesus Cristo, qual o problema de vocês?
A única coisa que o impedia de marchar até ela, pegar aquela porra de comida e jogá-la do outro lado do quarto, era o fato de não ser culpa da maichen. A traição
de s'Ex não tinha nada a ver com ela, e aterrorizar a maldita serviçal não ia deixá-lo nem um pouco mais próximo da liberdade ou de seu retorno para Trez.
Ela era uma vítima inocente, pega no meio desta merda, do mesmo jeito que ele.
Exalando em um rompante, ele baixou a cabeça. Levou-lhe alguns momentos até recobrar um mínimo de controle. - Desculpe.
Diante daquilo, a cabeça dela ergueu-se um pouco, e por um momento, especialmente quando seu aroma o atingiu, ele desejou poder ver os olhos dela.
Qual será o formato deles? Como seriam os cílios? Seriam as íris tão escuras quanto às dele...
Por que caralho ele estava pensando nisto?
Afastando-se dela, começou a perambular. - Eu tenho de sair daqui. O tempo está acabando.
Quando ela inclinou a cabeça para o lado, em sinal de questionamento, ele pensou, Não. Não vou fazer isto.
Ele indicou a bandeja. - Se quiser, deixe a comida aí que eu jogo na privada, para que não se encrenque por não me alimentar.
E foi quando ela falou - Não está envenenada.
Sem nenhum bom motivo, aquelas três palavras, em nada especiais, o fizeram congelar. A voz dela era mais profunda do que ele havia imaginado; toda a subserviência
dela parecia combinar melhor com algum tom super feminino de alta oitava. E havia aquela tonalidade baixa e rouca... Que o fazia pensar em sexo.
Sexo rude. Do tipo que deixava as fêmeas roucas de tanto gritar o nome de seu amante.
iAm piscou.
De repente, sentiu vontade de cobrir o corpo nu. Que era, tipo, besteira, não era? Ele sabia que ela era uma fêmea o tempo todo e, não era como se jamais tivesse
usado roupas na frente dela.
Cedendo ao impulso, ele foi para trás do biombo, na direção da pilha de toalhas que ficava perto da banheira embutida. Ao enrolar uma em volta dos quadris, sentiu-se
como se desculpando por ter ousado andar com o pau ao vento.
Quando ele voltou, ela novamente provava a sopa e o pão.
- Pode parar. - Ele disse. - Não vou comer.
- Por quê?
De novo, aquela voz. Mesmo em poucas palavras desta vez.
- Tenho de sair daqui, - murmurou ele. Por uma muitos motivos. - Eu tenho de sair.
- Tem algo a sua espera?
Ele pensou em Trez e Selena. - Só morte. Sabe, não é nenhum fodido grande problema ou coisa assim.
- Como é?
- Ouça, preciso que vá embora. E não volte até trazer s'Ex com você.
- Quem?
Eeeee ele parou de novo. Serviçais jamais eram imperativas, mas era assim que ela soava. Então, de novo, as emoções dele estavam tão elevadas, que ele se sentia
capaz de interpretar praticamente qualquer coisa agora... E pular para a conclusão errada.
- Eu voltei aqui para procurar ajuda, está bem? - Ele ergueu as mãos. - s'Ex me disse que me ajudaria a entrar no palácio, para que eu pudesse pesquisar nos
registros dos curandeiros.
- Ajuda para quem?
- Para a companheira de meu irmão.
A cabeça da serviçal se ergueu argutamente. - Mas ele não é o companheiro da Princesa aqui? Ouvi dizer que ele era O Consagrado.
- Ele se apaixonou. - iAm deu de ombros - Acontece. Ou é o que dizem.
- E é ela quem está morrendo?
- Ela não está bem.
Ele voltou a perambular, podia sentir os olhos por trás daquela malha seguindo-o. - Então é por isto que eu preciso sair. Meu irmão precisa de ajuda.
- Ele está na cerimônia de luto. O carrasco.
iAm desviou o olhar e, então, voltou a andar pela cela. - Sim, eu sei, mas ele disse que teria liberdade suficiente para me encontrar no exterior. A viagem seria
mais curta, agora que estou dentro do próprio palácio.
- Mas, esta é a questão. Ele partiu e ninguém sabe para onde ele foi. O palácio queria que ele participasse. O palácio... Insistiu que ele atendesse à Rainha.
Ele está com ela agora.
Que sorte a dele. - Mas há intervalos nos rituais, não há? Não pode procurá-lo durante estes intervalos?
- Bem... Talvez eu possa te levar aos registros?
iAm voltou lentamente sua cabeça, - O que você disse?
Mais. Longa. Viagem. De. Elevador. Da. Vida. Dele.
Enquanto Trez permanecia em pé, ao lado de Selena em uma câmera de tortura de paredes envidraçadas, encarava resolutamente as portas fechadas... E rezava para
que algum tipo de fenda do tempo estilo Dr. Who, o tirasse daquela maldição naquela porra de minuto.
Com os globos oculares grudados na fileira iluminada de números acima das portas cromadas, ele queria vomitar.
... 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50...
O "44" ainda estava por ser iluminado, porque eles estavam na parte super-hiper-mega-expressa-e-rápida daquele alegre passeio.
- Oh, você precisa ver isto! - Selena disse, virando na direção do fornecedor gratuito de vertigem. - Isto é tão divertido!
Um rápido olhar por sobre o ombro e ele quase gritou. Sua linda rainha não tinha apenas se aproximado do vidro, mas estava com as palmas das mãos apoiadas nele,
e se inclinava para a vista cada vez mais alta.
Trez virou-se novamente. - Quase lá. Estamos quase no topo.
- Podemos descer e voltar a subir? Fico imaginando como é a descida.
Na verdade, talvez eles devessem voltar ao saguão. Ele tinha quase certeza que sua masculinidade havia ficado lá quando esta subida de foguete se iniciou.
- Trez! - toc, toc, toc em seu antebraço, - Olhe para isto.
- Ah, é... É incrível... Sim. Absolutamente.
Eles jamais chegariam aos quatrocentos e quarenta e quatro andares. Muito menos no nível cinco mil porrilhões onde o caralho do restaurante ficava.
McDonald's, ele pensou. Por que ela não queria ir ao Mickey D. ou ao Pizza Hut, ao Inferno do Taco Bell...
Bip!
Diante do som, ele preparou-se para um momento Duro de Matar onde algum supervilão em um elegante terno inglês explodiria o prédio todo.
Não. Bip! Quarenta e cinco. Bip! Quarenta e seis.
E, mais boas novas vieram quando aquela viagem aos céus se tornou mais lenta.
- Trez?
- Mmm?
- Tem algo errado?
- Só estou faminto. Oh, meu Deus, não posso esperar para chegar lá.
Ela enfiou o braço sob o dele e encostou a cabeça contra seu tríceps. - Você realmente sabe como tratar uma fêmea.
Claro que ele sabia. Por exemplo, tinha certeza absoluta de que não seria considerado nada romântico se deitar em posição fetal e sugar o dedão porque era um
covarde em se tratando de altura.
Bing! E as portas se abriram.
Obrigado, menino Jesus, para usar uma frase de Butch.
Agora, ele disse a si mesmo, controle-se, seu covarde e concentre-se na sua fêmea.
Exibindo à sua rainha um sorriso Cary Grant cheio de presas, ele acompanhou Selena para fora da armadilha da morte, para um lobby de mármore que, por uma fração
de segundos, levou-o de volta ao seu pesadelo no s'Hisbe: havia pedras pretas brilhantes demais nas paredes, chão e teto, com luzes embutidas no teto e nada mais.
- Trez?
Estremecendo, ele sorriu para ela - Está pronta?
- Oh sim.
Uma discreta placa em preto sobre preto, com uma seta indicava o caminho para o restaurante, mas seus sentidos aguçados de audição e olfato já havia lhe dado
aquela informação, obrigado. Ao se dirigirem para lá, um casal humano passou apressadamente por eles, os saltos altos da fêmea como um "Foda-se" expressado a cada
passo que ela dava.
- ... Sem reserva? - Ela sibilou - Como pode não fazer a reserva?
O homem próximo a ela olhava para frente. Com o olhar de alguém preso perto de uma criança de três anos em um ônibus.
- Não acredito que não fez a reserva. E tivemos de sair deste jeito. Na frente de todo mundo...
Enquanto ela continuava marchando naquele mesmo tema, os olhos do homem se fixaram em Selena... E o pobre bastardo recuou em admiração como se um anjo vivo tivesse
aparecido em sua frente.
Depois de Trez afirmar ao seu macho vinculado interior que uma entrada apropriada não incluía Filé ao Molho de Fodido Intrometido, lembrou que também ele, havia
se esquecido de ligar antes para fazer a reserva. Merda. Ele se esquecera totalmente de pedir a Fritz para fazer a maldita ligação. E controle de mente funcionava
em humanos, inclusive nos esnobes maitres, mas, isso não resolvia o fator indisponibilidade de assentos vazios.
Ahh...
- Sabe, eu ouvi que a comida aqui não é tudo isso, - ele disse, entorpecido.
- Tudo bem, estou aqui mais pela vista.
A entrada do Circle the World não era indicada por nenhum letreiro, como se, caso fosse necessário perguntar, você não devia estar ali. Tudo o que havia era
um par de portas de vidro escuro, tão largas e altas como uma casa térrea.
Segurando as maçanetas negras, ele empurrou uma das portas e deixou Selena entrar.
Restrição total.
Aquela foi a primeira impressão do lugar: preto brilhante em todos os cantos, das mesas e cadeiras geométricas aos suportes quadrados que apoiavam o teto. Sem
flores. Sem velas. Nada espalhafatoso. E a noite escura além de todas aquelas janelas? Também preta, de forma que não parecia haver divisão entre o céu e o interior.
O único toque de extravagância? As luzes LED ondulantes que se dependuravam daquele teto aberto em cabos negros, sua luz cintilante refletindo todo aquele alto
brilho.
Oh, e havia uma soprano cantando em um canto, sua voz doce espalhando-se por todo o lugar.
- Eu nunca vi nada disto, - Selena suspirou, - é como se houvessem estrelas por todo os lados.
Ele olhou em volta - É.
Está bem, cadê o cavalheiro em roupa de pinguim encarregado de mandar embora um monte de gente cheia de grana? Não havia nenhum maitre à entrada. Só nove metros
de tapete preto levando à primeira fileira de mesas minimalistas.
- Estão olhando para nós.
Diante das palavras sussurradas, ele franziu o cenho e encarou os frequentadores. Bem, quem diria. Cada um dos humanos às mesas parecia haver parado de comer
e olhavam na direção deles...
De repente, uma mulher se aproximou. Como a decoração, ela estava toda de preto, e mesmo o seu cabelo era um capacete liso e molhado de alto brilho.
- Como vão, - ela disse, com um sorriso amplo. - Bem-vindos ao Circle the World.
E agora iremos nos autodestruir em três... Dois... - É... Eu não liguei antes...
- Oh, Sr. Latimer, sim, ligou. Seu representante, Sr. Perlmutter nos avisou que nos agraciaria com sua presença. Temos imenso prazer em acomodá-los perto das
janelas.
Pooooooorra.
Obrigado, obrigado, Fritz, mordomo salva-vidas supremo... Que havia claramente cuidado das coisas.
Quando sua rainha ficou radiante, a mulher indicou o caminho através do salão aberto... E quando a seguiram, Trez percebeu que eles haviam entrado em um vasto
prato que girava lentamente: o restaurante inteiro se movia em volta do eixo central do elevador e do que devia ser o espaço da cozinha.
Eles foram diretamente à beira. A uma mesa para dois que tinha uma das suas generosas laterais diretamente contra o vidro.
Sob o qual a cidade de Caldwell inteira se estendia, cerca de cento e vinte mil metros abaixo.
Hora de sentar, ele pensou, rezando para que seu ataque de nervosismo não fizesse seus joelhos fraquejarem antes dele acomodar apropriadamente a sua rainha.
Ajudando Selena a se sentar, ele manteve os olhos afastados ao ir para o outro lado da mesa e desabar em uma cadeira dura como pedra.
A maitre estendeu a mão pálida acima da mesa, em direção às malditas janelas. - Este será o tempero de sua refeição esta noite.
Não, o tempero será a náusea, queridinha.
Ela se voltou para o resto do local. - O interior foi desenvolvido para a noite ser o plano de fundo perfeito para saborear o que o chef servirá para seu prazer.
Quando estavam sozinhos, Selena moveu-se para perto da janela - É... Incrível. As luzes dos prédios. São como estrelas cadentes.
Trez limpou as palmas suadas no guardanapo. Preparando-se, ele olhou para lá e viu que, bem, sim, era tão ruim quanto ele imaginara. Espiar pelo vidro absolutamente
transparente, era como se nada o separasse de uma queda mortal, a ausência de bordas transformando mesmo uma fração de segundo de contato visual, em um passo aterrorizante
para dentro do abismo.
Hora de levar o guardanapo à sobrancelha.
- Trez? - Ela olhou para ele - Você está bem?
Controlando-se, ele estendeu a mão e tomou a dela.
- Já te disse como elas são lindas? - Ele murmurou.
O sorriso dela foi radiante. - Sim, mas eu nunca me canso de ouvir.
- Tão lindas, - passou suas palmas sobre as dela. Então se inclinou e pousou um beijo em sua pele. - Longas e adoráveis. Fortes também.
Quando finalmente olhou para cima, foi diretamente nos olhos dela, e foi quando as coisas melhoraram. Um momento depois, não estava mais preocupado com seu medo
de altura, nem pensava sobre os humanos ao redor, e não dava a mínima para a vista iluminada que sutilmente os rodeava.
Com a mão dela nas suas e aquele lindo rosto encarando-o, foi transportado para longe de tudo aquilo.
- Eu te amo. - Ele disse, esfregando seu polegar na parte interna do pulso dela. - Ninguém poderia fazer isto comigo.
- Fazer o que?
- Me fazer esquecer meu medo.
Ela enrubesceu. - Eu não queria perguntar, mas porque não me disse que não gosta de altura? Eu achei que ia pular para fora da pele no elevador. Podíamos ter
ido a outro lugar.
- Mas era aqui que você queria vir. Como se eu não fosse aguentar por você?
- Eu gostaria que nós dois aproveitássemos a noite.
Ele semicerrou as pálpebras - Eu me diverti no carro. Já estou imaginando a viagem de volta.
Quando o aroma dela se acendeu, ela exalou um som semelhante a um ronronar.
Mais tarde, muito mais tarde, ele se lembraria daquele momento entre eles... Do jeito que parecia que duraria para sempre, se esticando no divino infinito. Todos
os detalhes permaneceriam com ele, também, do brilho nos olhos dela, ao brilho de seus cabelos, do jeito que ela sorria para ele ao rubor nas faces.
As lembranças eram especialmente preciosas, quando eram tudo o que restava de um ser amado, para se apegar.
Capítulo TRINTA E QUATRO
- O que foi? O que... O que é este alarme?
Layla estava bem atrás de Qhuinn quando ele entrou de supetão no quarto onde o irmão estava internado e começou a falar. Por cima do ombro dele, viu a Dra. Jane
em pé, ao lado da cama, e Luchas deitado imóvel, com o camisolão do hospital erguido até a cintura, as cobertas afastadas do corpo rígido, os travesseiros caídos
no chão.
Um dos equipamentos médicos foi empurrado até a cama e enquanto Ehlena digitava algo no teclado, a Dra. Jane aplicava um par de placas diretamente sobre o peito
de Luchas.
Houve um som espremido seguido de uma pequena explosão, e na cama, seu torso convulsionou para cima.
E ainda assim, o alarme continuava soando, uma nota única, o equivalente mecânico a um grito.
- Luchas! - Qhuinn gritou. - Luchas!
Layla achou melhor detê-lo, então passou os braços ao redor do tórax largo, pressionando sua barriga contra ele. - Fique aqui, - disse ela, em um resmungo. -
Deixe-as fazerem...
- Afastar! - Dra. Jane gritou.
A cama balançou quando o tórax de Luchas convulsionou novamente, e quando voltou a cair, o coração da própria Layla trovejou. Ela não podia acreditar que estava
novamente presenciando aquilo. Ontem foi Selena, agora era...
Bip. Bip. Bip.
- Consegui uma pulsação. - Dra. Jane largou o que estava em suas mãos, jogando as placas na direção da máquina. - Preciso que você...
Ehlena obedeceu imediatamente aos comandos, à medida que a médica falava, entregando seringas cheias de medicação uma após outra, antes de encaixar uma máscara
de oxigênio sobre o rosto de Luchas e ajustar ainda mais equipamentos.
Cerca de dez minutos, ou podem ter sido dez horas, mais tarde, Dra. Jane se aproximou:
- Preciso falar com você. - Indicou o corredor mais adiante, - aqui fora, por favor.
Ao saírem do quarto, a Dra. Jane fechou rapidamente a porta, antes que esta se fechasse sozinha:
- Qhuinn, não tenho como amenizar isto. Para ele sobreviver, vou ter de amputar parte da perna, e tem de ser agora. A infecção está acabando com ele e é a fonte
dos problemas. Inferno, mesmo se eu cortar abaixo do joelho, já pode ser tarde demais. Mas, se quiser lhe dar uma chance, é o que temos de fazer.
Qhuinn nem piscou. Não praguejou. Não discutiu. - Está bem. Pode cortar a maldita perna.
Layla fechou os olhos e pousou a mão na a base da garganta, em angústia.
- Está bem. Quero que fique fora daqui. Não precisa assistir a cirurgia. - Quando Qhuinn abriu a boca, a doutora o interrompeu. - Não, não é uma escolha, se
o pior acontecer, eu te deixo entrar para se despedir. Fique fora.
Desta vez a porta se fechou sozinha, se encaixando no lugar.
Fechando brevemente os olhos, Layla não conseguia imaginar o que estavam fazendo lá dentro. Mas havia uma porção de equipamentos cirúrgicos com eles, como se
a Dra. Jane já estivesse preparada para isto.
E dada a velocidade da resposta de Qhuinn, ele também.
- Ele vai me matar, - disse ele, rudemente. - Se sobreviver.
- Você não tinha escolha.
- Eu podia deixá-lo morrer.
- Poderia viver com sua consciência se fizesse isso?
- Não.
- Então não havia escolha. - Ela colocou as mãos no rosto e tentou visualizar, em sua mente, Luchas naquela cama. - Deus, como isto foi acontecer?
- Talvez eu deva dizer a ela para parar.
- E então o que?
- Não sei. Não sei de porra nenhuma.
Eles ficaram no corredor por uma eternidade, e Layla tentou não ouvir os sons do outro lado daquela porta, especialmente quando houve um sutil whrrrring que
se parecia muito com uma serra elétrica em miniatura, sendo ligado. Ao passo que ela permanecia imóvel, Qhuinn perambulava para frente e para trás, cabeça baixa,
olhos grudados nas botas, mãos nos quadris. Depois de um tempo, ele parou e olhou para ela.
- Obrigado. Sabe, por não me deixar sozinho.
Aproximando-se dele, ela abriu bem os braços e ele se aproximou, inclinando-se para pousar a cabeça no ombro dela. Enquanto esperavam juntos, ela o abraçou porque
era tudo o que podia fazer.
Mas, não parecia suficiente.
Aproximadamente dez quarteirões à frente e cinquenta andares abaixo do Circle the World, Xcor estava em pé, rente a uma úmida parede de tijolos.
O lesser que ele e Balthazar haviam rastreado estava atrás e à esquerda de onde estava, o fedor do corpo dele subia em ondas, ao sabor de uma brisa que carregava
um forte cheiro de resíduos industriais, misturado à sujeira.
Seu corpo ansiava por uma briga, tudo o que acontecera com Layla na noite anterior, fizera os seus demônios interiores atormentarem-no tanto, e deixaram-no em
um humor tão insuportável, que os seus soldados o largaram no porão, sozinho durante as horas do dia.
Era melhor arriscar-se à luz do sol do que lidar com o mau-humor dele.
Pelo menos ele tinha ali a expectativa de uma boa matança.
Ao seu sinal, Balthazar se desmaterializou acima do asfalto úmido, se tornando uma das sombras do prédio, do outro lado da rua. A noite estava clara acima, mas
a luz do luar adicional era uma complicação desnecessária. O centro de Caldwell já tinha iluminação suficiente para ler um livro, mesmo ali onde estava, naquele
beco estreito.
Caso ele se tornasse magicamente alfabetizado.
Permanecer nas sombras não era somente parte do mito vampírico, mas uma realidade muito prudente para todos eles. Com movimentos praticados, sacou a foice de
seu suporte, liberando a arma da tira que a prendia às suas costas. Balthazar, por outro lado, que preferia armas mais convencionais, trazia uma adaga dupla, e as
lâminas pálidas iluminaram-se enquanto ele as mantinha próximas às coxas.
Ouviram sons de passos passando por eles. Rápidos, múltiplos, mas não correndo.
Dois machos humanos, com as mãos nos bolsos, pés se movendo rapidamente, desceram o beco. Eles não prestaram atenção ao passarem, e, provavelmente isto foi o
que lhes salvou as vidinhas inúteis.
E então foi questão de esperar.
Um som de passos únicos agora, em uma velocidade muito maior. Acompanhado do fedor que precedia os mortos-vivos.
Quando o lesser apareceu, dobrando uma esquina e entrando no beco onde estavam, também não prestava atenção neles. Tinha dinheiro nas mãos, soma pela qual parecia
obcecado, contando, recontando, enquanto andava.
Xcor saiu de seu esconderijo. - Quantos paus teve de chupar para receber essa grana?
O lesser rodopiou, enfiando o dinheiro em um casaco folgado. Antes que pudesse responder, Balthazar saiu de sua posição, saltando no ar e chegando ao chão com
as adagas já nas mãos. O assassino gritou quando aquelas lâminas o penetraram no ombro e garganta, provando que, embora não possuísse alma ou coração, o sistema
nervoso central dos bastardos registrava dor de forma bem eficiente.
E foi quando as balas começaram a voar.
Xcor estava se virando, preparado para lançar sua adorada foice em um gesto largo assim que Balthazar se afastasse, quando um estouro soou próximo a ele. E então
outro.
E então vários deles.
As descargas eram rápidas demais até mesmo para automáticas.
O primeiro tiro que levou foi no ombro. O segundo na coxa. O terceiro raspou seu ouvido, deixando uma ardência que parecia um semáforo piscando em vermelho brilhante
na lateral de sua cabeça.
Balthazar também foi atingido.
Não restava alternativa além de correr e rezar. Seriam humanos? Improvável, mas não impossível. Não poderiam ser lessers; eles eram tão pobremente armados, que
o armamento mais pesado que traziam aos becos era nove milímetros, e ainda assim, muito poucas.
Um rápido movimento de esquiva à direita e ele e Balthazar entraram em uma rua mais estreita, temporariamente fora da área do massacre. Aquilo mudaria tão logo
o atirador, ou atiradores, aparecesse na esquina por onde tinham vindo.
- Esquerda! - Balthazar comandou.
Precisamente, havia mais uma alternativa no labirinto de ruas para escolher, e eles se desmaterializaram no beco seguinte, ironicamente ultrapassando o par de
humanos que haviam visto antes. Os dois homens também estavam indo o mais rápido que podiam, obviamente haviam ouvido o tiroteio. Mas a velocidade deles era bem
mais lenta.
Então, quando a metralhadora dobrou a esquina, eles já tinham uma boa cobertura.
Gritos, do fundo da garganta e cheios de terror, explodiram quando a próxima rodada de fogo se abateu sobre eles, a maioria dos impactos atingindo os humanos.
- Esquerda! - Xcor disse, liderando a fuga.
Sua coxa estava ficando entorpecida, mas não perdeu tempo olhando para baixo para medir o dano. Faria aquilo mais tarde, se sobrevivesse.
Outra bala passou perto, o som assobiando em seu ouvido, alto o bastante para se sobrepor até mesmo a seu fôlego entrecortado e o trovejar de seus passos.
Balthazar estava ao seu lado, o grande corpo em uma corrida desenfreada.
Mais disparos atingiram uma caçamba de lixo, quando passaram por ela. O muro. O asfalto. De vez em quando havia pausas, como se a arma ou armas estivessem sendo
recarregadas... Ou talvez houvesse dois deles trabalhando juntos, um recarregando enquanto o outro atirava.
Continuar a correr. Era tudo o que podiam fazer.
Nenhum dos becos por onde passavam oferecia um lugar relevante para se esconder; de fato, não havia nem portas para arrombar.
Era estritamente questão de esperar até acabar a munição que os atiradores tinham. Supondo que ele e seu guerreiro não fossem derrubados antes.
Quando as rodadas seguintes chegaram a eles, ele soube, sem olhar para trás que deviam ser lessers, e não humanos que os perseguiam.
Somente lessers podiam correr tão rápido, por tanto tempo... E aparentar ter energia suficiente para continuar a ir.
Era possível, notou no fundo da mente, que ele e seu soldado estivessem em problemas.
Capítulo TRINTA E CINCO
- A conta já está paga.
Trez parou em meio ao processo de tirar a carteira do bolso.
- Como é?
- Já está paga. - O garçom sorriu e fez uma reverência. - Foi um prazer servi-los.
Jesus, se ele não soubesse que o cara era humano, acharia que alguém da equipe de Fritz os seguira até ali. O serviço fora fenomenal a noite inteira.
- Aproveitem seus cappuccinos.
Trez olhou para Selena. Seus olhos estavam fixos na paisagem de novo, mas ela já não sorria. Seu perfil perfeito estava vincado de linhas sombrias.
Esticando a mão, tomou as mãos dela entre as suas, sentindo um pico de medo crescer em seu peito. - Você está bem?
Sem pensar, enfiou a mão por dentro do casaco e segurou o celular.
- Oh sim. - Só que ela não olhou para ele.
O ruído suave de conversa ao redor deles havia diminuído e os passos largos dos garçons haviam desaparecido de sua proximidade.
- Selena, o que há?
- Eu não quero que acabe.
- Nós podemos vir aqui outras vezes.
- Sim. - Ela apertou a mão dele. - É claro.
Enquanto o restaurante continuava a girar, girar e girar, os fundos do Commodore tornou-se novamente visível, a imensa altura do prédio salpicada por luzes aleatórias,
incluindo algumas na cobertura.
Provavelmente Rehv já estava lá.
Trez baixou o olhar para o café no qual não tocara. O creme estava temperado com canela, da qual ele jamais fora muito fã. Ele o pedira somente porque sua rainha
não parecia querer ir embora.
- Foi muito gentil da parte deles, - ela murmurou, - pagar pelo jantar.
- Eu vou cuidar disto quando chegar em casa.
- Você devia aceitar a gentileza.
Trez procurou o que podia ver do corpo dela, buscando por sinais de que estivesse tendo problemas que requereriam uma ligação rápida para Manny e Rhage, que
aguardavam lá embaixo.
- Selena?
Ela assustou e olhou para ele. - Desculpe?
- Quer pedir outra sobremesa?
- Não. - Ela deu mais um leve aperto na mão dele, antes de soltá-lo e dobrar seu guardanapo antes de pousá-lo na mesa - Vamos?
Ele afastou a cadeira para ajudá-la, tão rápido que os quatro pés arranharam o chão brilhoso. - Aqui, deixe-me...
Mas sua rainha se levantou sozinha com um movimento elegante, o corpo perfeitamente estável, perfeitamente tranquilo. Pelo menos fisicamente. Ele podia sentir
o peso em seu humor.
Acompanhando-a para fora, ele tomou consciência dos olhares ao redor, novamente em cima deles, comentários sussurrados sendo feitos por trás de bordas de taças
de vinhos e quadrados de guardanapos, enquanto os humanos tentavam reconhecê-los como celebridades. Havia certa satisfação no fato de que a galera da primeira fila
jamais conseguiria.
Junto às grandes portas de vidro, ele abriu um dos lados para ela, e quando ela atravessou, parou e olhou por cima do ombro, como se temesse se esquecer de alguma
nuance da aparência, cheiro ou som do lugar.
- Nós sempre poderemos voltar, - ele repetiu.
- Oh, sim.
- Ela lhe deu um sorriso e continuou indo para aquele espaço aberto minimalista onde os elevadores ficavam. Adiantando-se, ele apertou o botão e esperou ao lado
dela, colocando a mão em sua cintura.
- Então aonde quer ir em seguida? - Ele perguntou.
- Quer dizer, hoje? Estou meio cansada...
- Não, amanhã à noite.
Ela olhou para ele. - Eu...
- Vamos. Dê-me um próximo destino para que eu tenha como organizar as coisas para amanhã.
As portas dos elevadores se abriram, e ele levou-a para dentro... E ele estava tão focado nela que mal notou aquela horrível parede de vidro que se abria para
o lobby. Pressionando o botão do térreo, ele acariciou o ombro de Selena.
- Então...? - Quando ela não respondeu, ele se inclinou e beijou a lateral de sua garganta. - Esta não é a única noite que vamos ter.
- Como pode saber? - Ela encontrou o olhar dele. - Eu não quero arruinar tudo, mas como você sabe?
- Porque eu não vou aceitar de outra forma.
Virando-a para encará-lo, ele deliberadamente pressionou os quadris contra o corpo dela e cobriu os lábios dela com os seus. - A menos que esteja enjoada de
mim. Ou seriamente nada-impressionada por eu ser um covarde vertical.
Os olhos dela pareciam muito azuis e muito assustados ao encontrar os dele - Barco.
Ele havia esperado outra coisa. - Como é?
- Eu, ah, eu quero sair em um passeio de barco no rio.
- Rápido ou lento?
- Ambos?
- Você vai ter.
- Simples assim? - Ela sussurrou. - Você pode realizar qualquer coisa?
Ele encostou a boca no ouvido dela e sussurrou. - Volte para o meu quarto e vou te mostrar como sou talentoso.
Enquanto o aroma dela mudava, ele acariciou-a com o nariz, beijando-lhe o pescoço, mordiscando lhe a veia. Ele não estava sendo justo, é claro. Sabia que ela
estava sendo praticamente distraída, e ele queria mesmo que estivesse. Na verdade, ele não podia garantir a noite de amanhã ou mesmo o próximo amanhecer, mas, como
memórias eternas, a ilusão deles tendo todo aquele tempo teria de durar pelo resto de tempo que tivessem.
Beijando-a, abraçando-a e sentindo o corpo dela contra o seu, ele discretamente tirou o celular e ergueu-o às suas costas. O texto para Manny e Rhage foi curto
e grosso: Ipc obr.
Indo para casa. Obrigado.
O elevador chegou ao térreo direitinho, e os beijos ajudaram-no também a se distrair. E então saíram do prédio, para a fria e tempestuosa noite de outono. Fritz
estava com o Mercedes do outro lado da rua, e o doggen trouxe o carro para frente do prédio assim que os viu.
Sem demora o mordomo saiu e abriu a porta.
Trez queria ter aberto a porta para ela.
No momento em que ela deslizou para o interior cálido, o último som que ele esperava ouvir na presença dela, captou sua atenção:
Pop-pop-pop.
Tiros.
Porra.
Trez pulou no sedã com ela, se levantando entre os assentos. - Tire-nos daqui! Agora!
Fritz não hesitou. Engatou a ré e acelerou tanto que Trez quase acabou dando uma de odorizador no para-brisa traseiro. Recobrando-se rápido, cobriu Selena com
seu corpo, para prender o cinto de segurança dela. Puxando a faixa sobre ela, ele tinha acabado de encaixar o troço quando a força centrífuga o jogou contra o lado
oposto do banco, batendo a cabeça, mas ele não ligou a mínima. Apoiando o pé no vão dos pneus, a mão no teto e na porta, equilibrou-se para não cair sobre Selena
enquanto terminavam a manobra que os colocaria no lado correto do caminho.
O que os deixava na contramão da rua de mão-única pela qual haviam vindo.
- Vamos em frente. - Fritz gritou acima do ruído dos pneus.
O rugido do motor do Mercedes-Benz e a explosão que se seguiu, lembrou a Trez a decolagem de um avião. Enquanto seu corpo era sugado contra o banco, ele olhou
para Selena.
Os olhos dela estavam arregalados. - Qual o problema? O que está havendo?
Os prédios de ambos os lados da rua de três vias eram aço, vidro e concreto pálido e começaram a piscar, mais rápido, mais rápido, mais rápido. Olhando para
cima e adiante, Trez verificou que na rua, os pára-choques dos carros estacionados os encaravam como pais desaprovadores, enquanto iam na direção errada.
- Nada aconteceu! - Ele gritou acima de todo aquele barulho. - Eu só estou realmente ansioso para vê-la nua...
As sobrancelhas de Selena se ergueram ainda mais, - Trez, eu ouvi alguma coisa..
- ... Porque estou desesperado para te possuir!
- ... Que pareceu um tiro!
Ambos gritavam acima do motor, alternando as falas, enquanto Fritz fugia como um morcego do poço do inferno para longe das balas.
E então a diversão começou de verdade.
Eles haviam passado por dois quarteirões, quando as viaturas de polícia começaram a aparecer. E diferente do Benz? Os carros azuis e brancos com o giroflex estavam
do lado certo da rua.
- Eu vou pela calçada, - Fritz gritou - Vai sacolejar um pouquinho...
Aquele mordomo maluco filho da puta, virou o volante à esquerda e subiu o meio-fio, colidindo com um hidrante, que prontamente explodiu à sua passagem, enviando
um jorro de água a elevar-se no ar. E então, pela graça de Deus, o Benz pousou como um cavalheiro, seus amortecedores de primeira qualidade, suavizando o que sem
dúvida teria sido um baque e tanto.
Virando-se, Trez olhou pelo para-brisa traseiro. As viaturas manobravam e desembestavam atrás deles quando Fritz bateu em uma parede de expositores de jornais,
mandando caixas plásticas vermelhas, amarelas e verdes pelos ares à passagem deles. As coisas frágeis se quebraram quando bateram na calçada, folhas de papel flutuaram
como pombas libertadas de gaiolas.
Quando se voltou para Selena, preparou-se, tentando pensar em um jeito de tranquilizá-la...
Ao contrário.
Selena vibrava de excitação, suas presas visíveis, graças ao enorme riso que borbulhava dela ao se apoiar na porta.
- Mais rápido! - Ela gritou para Fritz. - Vamos vai rápido!
- Como quiser, ama!
Um novo rugido daquele pedaço massivo de engenharia alemã sob o capô enviou-os inclinando não só calçada abaixo, mas diretamente aos limites das leis da física.
Selena olhou para ele. - Esta é a melhor noite do mundo!
- Está bem, hora de ir.
Rhage meneou a cabeça para Manny. - Me pergunto o que eles comeram no jantar. - Ele verificou o celular de novo e desejou realmente ter ido à churrascaria. Ele
só mentira a respeito para tranquilizar Trez. - Ele não disse nada sobre entrada ou sobremesa. Digo, vamos lá, ele podia ter dado alguns detalhes. Só recebemos oito
letras do cara.
- Na verdade, foram seis.
- Foi o que eu disse.
Os Doritos haviam deixado de fazer efeito há uma hora. Mas também, às vezes ele podia dizer o mesmo de uma refeição completa com três pratos.
Manny ligou o RV e guiou, a ambulância passou por cima de um buraco, e então ganhou velocidade. - É melhor eu correr. Fritz tem o pé pesado.
- Tipo, eles comeram rosbife? Eu vi, em uma revista, uma foto de um prato de rosbife que servem lá em cima...
Bum!
Bem na hora em que se depararam com uma encruzilhada de becos, algo grande apareceu na frente deles e caiu sobre o capô. Quando Manny pisou no freio, um peso
massivo rolou.
- Jesus Cristo, era um cervo? - O médico gritou.
- Talvez um alce.
Rhage sacou ambas as armas e estava a ponto de pular quando a chuva de balas começou. Sons altos e metálicos de "pings" ricochetearam no RV e racharam o espesso
vidro.
- Oh, pelo amor da porra, - Manny exclamou. Então gritou através do para-brisa para os atiradores. - Eu acabei de comprar esta coisa!
Rhage tateou a maçaneta da sua porta, mas não conseguiu abrir. - Me deixe sair!
Ping-ping-ping. - De jeito nenhum, você vai acabar se matando!
- Somos um alvo fácil aqui.
- Não somos não.
Repentinamente, cerca de doze centímetros de placas de metal cobriram cada centímetro quadrado de vidro que lá havia no RV. Instantaneamente, o som dos tiros
foi abafado até uma batida distante.
Rhage observou em relativo silêncio. - Você é um gênio.
- Harold Ramis é.
- Quem?
- Você nunca viu Recrutas da Pesada? Meu filme favorito de todos os tempos. Eu baseei esta coisa no veículo de Bill Murray.
- Eu sabia que gostava de você. - Rhage olhou rapidamente para o telefone. Não havia Irmãos nos arredores, o que era bom, dado o tiroteio. - Só há um problema...
Não podemos ficar parados aqui. A polícia humana logo vai cercar...
Uma tela de LED do tamanho de uma TV se ergueu verticalmente do painel, ocupando a maior parte do espaço, agora bloqueado, do para-brisa. E em sua superfície
lisa havia uma reprodução esverdeada em HD da rua em que estavam... Então, tiveram uma imagem muito boa dos atiradores enquanto a dupla de dedos de chumbo correram
diante de seus faróis. Os dois ostentavam armas de canos longos, aparentemente AKs, cada descarga causava um brilho súbito na boca dos canos enquanto continuavam
a atirar.
Eles não pararam ao passar pelo veículo de Manny.
- Aqueles são lessers, - Rhage murmurou. - Correm rápido demais para humanos. Além disto, só lessers seriam tolos o bastante para fazer este tipo de balbúrdia.
Deixe-me sair daqui, porra.
- Você não vai atrás deles...
Rhage estendeu a mão e agarrou a frente da camisa do homem, puxando-o para o espaço entre os assentos. - Me. Deixe. Sair.
Manny manteve seu olhar. Praguejou. - Você vai se matar.
- Não vou.
- Como pode estar tão certo?
- Eu tenho truques que ninguém supera. - Ele indicou a janela - Abra-a e eu poderei me desmaterializar por entre as frestas das placas de metal. A menos que
você tenha malha de aço em algum lugar.
Manny começou a murmurar todo tipo de coisas vis ao procurar pelo botão requisitado e o pequeno pedaço de vidro transparente desceu uns cinco centímetros.
- Assim que eu sair, acelere. - Rhage demandou. - Precisamos de você no rabo de Trez. Sem brincadeira.
Fechando os olhos, ele se concentrou e...
... Se desmaterializou para fora, retomando forma ao lado do RV e então dando uma batida na porta. Os atiradores passaram por eles, no encalço de sua presa,
o que o punha em posição perfeita. Quando o motor foi ligado, e a pequena clínica portátil de Manny se afastou, começou a correr. O cheiro no ar lhe dizia que estava
certo; era uma dupla de lessers com alguns brinquedos bem caros... algo que não tinham visto há quanto tempo?
Não desde que Lash, aquele bastardo, era o Forelesser.
Com coxas bombeando e armas a postos, ele diminuía a distância quando as sirenes surgiram às suas costas. De repente, foi iluminado por trás, e não de uma maneira
boa. Com duas automáticas nas mãos, eles pensariam que ele era o maldito problema, ao invés da solução que tentava acertar as contas com os inimigos.
Certamente, uma voz de macho projetou-se de um falante de alta resolução vinda do beco. - Departamento de Polícia de Caldwell! Pare! Parado ou atiro!
Deus! Maldição.
Humanos: o remédio da natureza para um momento que de outra forma, seria bom.
Capítulo TRINTA E SEIS
De volta à sua cela no palácio, iAm ocupava-se traçando um caminho no chão de mármore polido, indo para frente e para trás entre a nova plataforma de dormir
e a prateleira de livros.
Quanto mais tempo era deixado sozinho, mais se tornava convencido de que a maichen havia feito a oferta de levá-lo aos escritos dos curandeiros guiada somente
por um ímpeto impotente de compaixão. Mas, inferno, mesmo que ela estivesse falando sério, e surgisse de novo com algum tipo de plano, não era como se ele fosse
aceitar a sua ajuda. Já havia tanta gente enfiada naquela bagunça e ele não tinha certeza de que ela sabia ao que estava se voluntariando: ele era prisioneiro do
carrasco, o que significava que, mesmo que muitos tivessem acesso a ele, só havia um filho da puta com as chaves de sua fuga.
E não era aquela humilde fêmea.
E se fosse sério? Mesmo que não o estivesse ajudando a sair para o mundo exterior, mas à biblioteca? O sistema de monitoramento logo entregaria os dois... E
então a morte súbita seria o melhor que ela poderia esperar.
O mais provável era um longo e sofrido período de tortura, durante o qual ela rezaria para estar...
Quando a porta abriu, ele verificou se seu sexo estava coberto antes de se virar.
Era a serva, e ela trazia roupas nas mãos. Quando a porta deslizou de volta para o lugar, ela enfiou algo perto do batente para impedi-la de se fechar totalmente
e foi na direção dele.
- Vista isto. Não temos tempo...
- Espere, o que...
- Vista! A equipe de segurança está mudando de turno e é exigido que eles façam uma prece obrigatória de tristeza e recordação pela criança. Tenho de te levar
pelo corredor agora...
- Não posso deixá-la fazer isto...
- Você quer ajuda, certo. Para a amada de seu irmão, certo.
iAm cerrou os dentes. Cruz, conheça a caldeirinha. - Porra!
- Eu não sei o que esta palavra significa.
Ele aceitou o que ela oferecia, mas continuou a discutir enquanto vestia as peças. - E como vamos voltar?
- Eu vou distraí-los. Você vai precisar de um pouco de tempo na biblioteca... A menos que saiba exatamente o que está buscando?
O manto pesado cobriu as pernas dele, - Que tal aqui?
Sem aviso, as luzes se apagaram. - Eu ativei o sistema circadiano.
Ah sim, a alternação entre luz e escuridão sem a qual não é possível dormir.
Clique!
Uma pequena lanterna iluminou o caminho até a plataforma de dormir, e ela rapidamente arrumou os travesseiros e cobertas de forma que parecesse haver alguém
ali. Então, ela correu de volta e espirrou algo no rosto dele.
Ele tossiu quando o forte cheiro de lavanda misturado a algo cítrico inundou lhe o nariz. - O que infernos...
Mais spray. - Este é um uniforme de serviçal. Ninguém questionará, mesmo se nos encontrarem juntos, mas seu cheiro é muito másculo. Isto deve encobrir o suficiente
para passarmos. Agora, encurve-se... Você é grande demais para o manto. Não podemos deixar seu pé aparecer ou eles vão descobrir. Vamos lá.
Ele seguiu-a até a porta, mas antes que ela abrisse, ele agarrou-lhe o braço a fez voltar-se.
- Você não deveria estar fazendo isto.
- Não temos tempo...
- Vai acabar sendo morta.
- Seu irmão precisa de ajuda. Para a companheira dele. Você tem outra solução para sair daqui e ver aqueles escritos?
Quando ela tentou se virar, ele puxou-a de volta. - Qual o seu nome?
- maichen.
- Não, esta é sua casta. Qual o seu nome?
- É este. Agora, venha... Chega de falar. - Ela disse, com urgência. - E não se esqueça de se encurvar.
Com isto, ele saiu da cela e foi para o corredor. Ao olhar para a direita e para esquerda, ela cutucou-o com a lateral do cotovelo.
- Se abaixe, - ela sibilou, - por aqui.
Dobrando os joelhos, ele curvou os ombros e a seguiu, tentando imitar cada um dos movimentos dela. Ela era rápida e decisiva pelos corredores, virando esquerdas
e direitas em uma sequência que o deixou tão confuso que ele se sentiu perdido em um labirinto. Inacreditavelmente, não encontraram ninguém, mas aquela era a natureza
do luto para o s'Hisbe. Todos se trancavam.
Talvez ela pudesse só levá-lo a uma saída pelos fundos depois de tudo isto?
É, mas o que aconteceria a ela?
- As fitas de segurança, - ele disse.
- Cale-se.
- Quando voltarmos, precisa cuidar dos arquivos de vídeo de monitoramento ou eles saberão o que fez.
Ela não respondeu, só se apressou, levando-o por vários corredores.
De acordo com a tradição s'Hisbe, de que a simplicidade elevava a alma, havia pequenas sinalizações em todos os lugares no palácio, nada além de placas sutis
sobre os umbrais, para ilustrar o acesso à várias salas, depósitos e saídas. Gradualmente, seus anos no palácio lhe voltaram e ele ficou surpreso ao ver que sabia
onde estavam: Ela estava levando-o para a biblioteca pelo caminho mais longo, mas era esperta. Ali eram os fundos do palácio, onde, caso encontrassem alguém, provavelmente
seria um serviçal.
O que, considerando o seu disfarce, tornava a rota bem melhor.
- Por aqui, - ela disse, pegando a última direita e parando em um dos quadrados do piso de mármore, cujo veio corria ao contrário da direção prevalecente de
todos os outros. Colocando a mão na parede, ela acionou a porta, que deslizou prontamente.
Quando entraram na escuridão, luzes sensíveis a movimentos se acenderam, iluminando pilhas sobre pilhas de volumes encapados em couro. O ar era seco e vagamente
empoeirado, mas a biblioteca estava um brinco, o chão polido a um brilho de espelho, as prateleiras brilhando. Não havia cadeiras ou mesas se alguém quisesse ler
alguma coisa... Era esperado que você pegasse o volume de seu interesse, e o levasse aos seus aposentos para ler por lá.
Merda, como eles iriam encontrar qualquer coisa ali?
- Os registros medicinais foram transferidos, - ela sussurrou, movendo-se para a frente.
Ele seguiu-a de novo, e não se incomodou em tentar encolher sua estatura: não havia ninguém em volta para vê-lo, e esta parte do palácio não era monitorada.
O sistema de catalogação, tal como era, estava anotado em numerais pretos nas laterais das prateleiras. Mas, de novo, era vago, e presumia que você já saberia
onde encontrar o que buscava.
Eventualmente, ela parou e indicou uma fileira de pilhas. - Foram realocados para cá.
Franzindo o cenho, ele se aproximou. O sistema de numeração nas lombadas não ajudava porra nenhuma, então ele tirou um dos volumes aleatoriamente e abriu a capa.
Quando finalmente entendeu algumas palavras do Idioma Antigo no dialeto Sombra, descobriu que era um tratado sobre fratura em ossos.
Descendo uma fileira, ele tirou outro tomo aleatório. Algo sobre visão.
Mais além, chegou em gravidez e parto.
- Doenças, - ele murmurou. - Estou procurando por doenças. Ou defeitos congênitos. Ou... Genes recessivos...
- Eu te ajudo. - maichen começou a tirar os volumes. - O que pode me dizer sobre esta doença?
- A chamam de Aprisionamento. Elas congelam... Elas ficam... É como se os seus ossos crescessem espontaneamente... Supostamente é fatal...
Deus, ele não sabia o suficiente sobre o que estava falando.
Enquanto os dois percorriam seu caminho prateleira abaixo, as categorias e organização dos volumes começaram a se tornar mais claras. Como todos os vampiros,
os Sombras não tinham de lidar com vírus humanos ou câncer, mas havia muitas outras coisas que os atingia... Embora não tanto quanto as que os Homo sapiens tinham
de combater. Com cada livro aberto, ele se conscientizava da passagem do tempo, e ficava mais preocupado com a maichen ser pega do que com qualquer coisa que pudesse
acontecer com ele mesmo.
Rápido, mais rápido com a leitura, a devolução, o pegar outro da prateleira.
Tinha de haver algo aqui, ele pensou. Tinha de haver.
O corpo inteiro de Trez estava rígido ao manter-se apoiado contra o interior do Benz. Fritz ainda prosseguia pela calçada... O que seria ótimo se o doggen fosse
um mero pedestre. Espremendo o sedã do tamanho de um iate que singra oceanos, em uma alameda de concreto construída para acomodar quatro ou cinco pessoas lado a
lado?
Não era tão ótimo...
Selena exclamou uma espécie de yeeee-haw! Quando viraram outra esquina e mandaram pelos ares outro conjunto de caixas do Caldwell Courier Journal.
Ele estava honestamente feliz de que ela estava se divertindo.
Ele só fodidamente desejava que estivessem assistindo este filme de ação, em vez de atuando nele.
- Fritz! - Gritou acima do som do ronco do motor. - Vai na direção do rio.
- Como desejar, amo!
Sem aviso, Fritz jogou o carro para a esquerda e mandou-os voando na direção de um calçadão que contornava outro dos arranha-céus. O Benz subiu os degraus como
um homem usando gesso nos joelhos, a subida desarticulada, empurrada e sacolejada sendo o tipo de coisa que fazia dos dentes bater e os rins pedirem misericórdia.
Mas daí eles estavam novamente na área plana, que dava às pessoas todo o tipo de escolha, como por exemplo, para qual dos quatro diferentes pontos de entrada usar
como acesso.
Fritz, naturalmente, escolheu a rota mais reta.
Através da porra do lobby.
Painéis de vidro explodiram quando o S600 chocou-se contra uma parede envidraçada, estilhaços voaram adiante e para os lados, antes de pousarem no chão escorregadio
e costearem a distância como neve pela superfície congelada de um lago.
Pela janela oposta, Trez deu uma boa olhada no vigia noturno que pulava em pé, atrás de uma fileira de mesas no lobby. Parecia falta de educação não cumprimentar
o pobre bastardo, então Trez deu uma de Rainha Elizabeth e acenou com a mão quando cruzaram o interior e saíram do outro lado.
Esmaga!
O segundo turno com o vidro foi tão escandaloso quanto o primeiro, quando foi estilhaçado pela lataria do Benz ao explodirem de volta para a noite.
- Acho que devemos ir pelo ar. - Fritz disse. - Segurem-se.
Pode crer, grandalhão.
Trez enrijeceu ao se aproximarem da beira da escada e então...
Gravidade zero, ou tão próximo disto quanto era possível sem fazer uma manobra acentuada a nove mil metros de altura, aconteceu quando se elevaram, a viagem
se tornou super suave e relativamente quieta, nada além do ruído do motor atingia seus ouvidos.
Tudo isto mudou ao passarem voando pela calçada e pousarem na rua asfaltada. A suspensão absorveu tanto do impacto quanto foi possível, mas fagulhas se espalharam
quando a carroceria do carro raspou no asfalto.
- Por favor, me desculpem. - Fritz disse, olhando pelo espelho retrovisor e falando diretamente a ele. - Amo, sinto terrivelmente, mas preciso retornar para
casa...
- Fritz! Se concentra a estrada, camarada.
- Oh, sim, amo...
Guinchaaaaaaando quando o mordomo corrigiu o curso e evitou, por pouco, bater na lateral de uma fila de carros estacionados.
- Como eu dia dizendo, amo, preciso retornar para casa. - O mordomo continuou sem perder tempo. - A preparação da Última Refeição precisa ser supervisionada.
Como se aquilo fosse somente uma partida de vídeo game que se pudesse pausar? - Ah, Fritz...
De repente, o Mercedes apagou as luzes interiores e exteriores, ficando em escuridão total. Naquele momento específico, do alto do céu, uma luz flamejante cortou
pela estrada, brilhando sobre eles por uma fração de segundos.
- Helicóptero, - Trez murmurou. - Fantástico.
Virando-se no assento, olhou pelo para-brisa traseiro. Luzes azuis e vermelhas piscavam e se aproximavam rapidamente, mas os policiais estavam cruzando o caminho
deles, ao invés de segui-los... O que lhes daria vantagem por somente um quarteirão antes que o Departamento de Polícia mudasse a rota.
Merda, como iriam escapar desta?
Antes que se desse conta, Fritz levava-os para o rio, mas não pela estrada. Ao invés de tomar uma das rotas legais, ele pulou outro meio-fio e saltou diretamente
abaixo da rodovia elevada. Pilastras do tamanho de carvalhos corriam pelas janelas, o doggen brincando de se esquivar, jogando para a esquerda e direita como um
maratonista em uma corrida de obstáculos.
Não havia ninguém atrás deles, mas não conseguiriam manter esta fuga indefinidamente. A Northway, que estava agora acima de suas cabeças, ia voltar a ficar plana...
E claro, a descida começou a acontecer, e naquela velocidade, Trez se convenceu de que eles iriam virar purê na fusão horizontal do asfalto.
Só que, não. Fritz moveu o carro bruscamente por baixo, percorrendo uma beira da calçada até as estradas que corriam paralelas ao rio Hudson. De alguma forma,
ele conseguiu fazê-los passar por uma brecha entre as grades de segurança e então, simples assim, eles estavam em uma rampa de desvio que os levaria à autoestrada
na direção correta.
Na direção contrária a da cidade.
Trez esperou por uma fila de viaturas com as luzes brilhando como no Quatro de Julho vir atrás deles.
Em vez disto, viu uma frota daqueles caras de azul indo para o outro lado da Northway, na direção do lugar onde havia acontecido toda a ação.
Fritz desacelerou e voltou a acender as luzes. Postou-se na fila de tráfego. Flutuou para longe, a modestos cento e dez quilômetros por hora.
- Como diabos fez isto? - Trez disse, com verdadeiro respeito.
- Humanos são fáceis de serem despistados. Tendem a perseguir luzes, como gatos perseguem um laser. Sem luz? Dá uma vantagem séria... Bem, isto e possuir o dobro
da potência que eles.
Trez virou-se para sua rainha. - Você está bem?
Selena estendeu a mão e ergueu a boca para um beijo. E outro. - Que noite! Esta foi a coisa mais excitante que já aconteceu comigo!
Adrenalina rapidamente transformou-se em luxúria quando ele correspondeu ao seu beijo e pressionou-a contra o assento. Lambendo-a na boca, ele acariciou um dos
seus seios com a mão.
- Devemos pedir a ele para acelerar de novo? - Trez murmurou contra sua boca - Porque eu não acho que posso esperar...
- Chegaremos logo, - ela murmurou, sorrindo. - E eu gosto de antecipação. Estou faminta por você desde que começamos a rodar.
Trez grunhiu no fundo da garganta ao tocar o botão para erguer a partição - Fritz?
- Sim, amo?
- Um pouco mais rápido, se não se importa.
- Com todo o prazer, senhor!

 

CONTINUA

Capítulo VINTE E NOVE
- Você achou que ninguém iria perceber?
Ao sair da cela, maichen congelou. A voz por trás dela era tão profunda, tão baixa que as palavras eram rosnadas ao invés de faladas, e era a última coisa que
estava esperando.
Som de passos, de um macho com o dobro de seu tamanho e três vezes o seu peso, rodearam o seu corpo e, através da malha que cobria seu rosto, ela olhou para
cima, beeem para cima.
O rosto de s'Ex também estava coberto, mas, no carrasco era uma cota de malha, elos de prata nada delicados, que escondiam a expressão de seu rosto, mas não
sua identidade.
O temor invadiu o seu peito, e uma sensação de vazio interno trouxe suor para suas axilas e ao vale entre seus seios bem formados.
- E você estava o alimentando?
Quando ela nem confirmou, nem negou a pergunta, o carrasco fez um gesto de frustração com as mãos, mas foi cuidadoso em não tocá-la ou em qualquer coisa que,
mesmo indiretamente, estivesse em contato com o corpo dela, inclusive a bandeja, tudo o que ela continha, bem como suas vestes e até mesmo o piso de mármore onde
pisava.
Era proibido a qualquer macho entrar em contato com ela, punível com a morte pelas mãos de s'Ex, o que significaria que ele, provavelmente, teria de cometer
suicídio.
- Diga, - ele exigiu. - Você o envenenou?
- Não! Ele já estava sem comer há mais de doze horas...
- Desde quando você começou a se preocupar com os meus prisioneiros?
- Ele não é um prisioneiro comum, - ela ergueu o queixo - E você não está cuidando dele direito.
- Há milhares de outras pessoas para cuidar disto.
- Eu não sou uma destas milhares de pessoas que vivem aqui?
Ele se inclinou. - Não comece com isto de novo.
maichen removeu a malha tão rápido, que ele não desviou o olhar a tempo. Quando ele engasgou e se virou, escondendo o rosto atrás das dobras de sua manga, a
voz dela se igualou à sua em autoridade.
- Você não pode me dizer aonde posso ou não posso ir.
- Coloque a máscara! - Ele gritou.
- Não coloco. Não aceito ordens de você. - Ela arrancou a manga dele para que não pudesse mais cobrir os olhos. - Entendeu?
O carrasco fechou os olhos com tanta força que a expressão de seu rosto inteiro se distorceu. - Você vai nos matar...
- Não há ninguém aqui. Agora, ordeno que me olhe nos olhos.
Foi tal a reviravolta, que ele se acovardou e demorou a entreabrir as pálpebras, como se seu rosto não quisesse obedecer às ordens de sua mente.
Quando finalmente olhou direito para ela, foi a primeira vez na vida que um macho viu seu rosto, e, por um segundo, o coração dela bateu tão forte que ficou
de cabeça zonza. Mas, ao lembrar-se do prisioneiro, lutou contra a perturbação.
- Ele, - ela estendeu o dedo na direção da porta da cela, - não deve ser ferido de forma alguma. Compreende?
- Não é você quem decide...
- Ele é um inocente. Aquele é o irmão do Consagrado, não é dele o dever de servir ao trono. Eu vi a tatuagem...
- Você olhou para o corpo dele! - Uma série de palavras explodiu da boca de s'Ex, palavras desconhecidas que soavam como "Maldição do Caralho".
Não sabia o que significavam. Ela só conhecia o inglês formal.
s'Ex se inclinou na sua direção, e baixou a voz, - Ouça, fique fora disto. Você não sabe o que está acontecendo aqui.
- Eu sei que é injusto fazer um inocente pagar por algo que não foi responsável.
- Eu não vou arriscar minha vida por você. Estamos de acordo? E não vou alterar o curso de minhas ações para apaziguar qualquer dilema moral que você esteja
alimentando neste momento.
- Sim, você irá. - Agora foi ela que se inclinou, e apesar do tamanho dele, s'Ex recuou. - Você sabe muito bem o poder que eu tenho. Você não vai ficar no meu
caminho neste ou em qualquer outro desejo que eu tiver... E quando eu trouxer a próxima refeição, você e seus machos irão me deixar passar em paz. Não confio o bastante
em você para alimentá-lo adequadamente... Ou em segurança. E não diga a ele quem sou eu.
Com isto, ela voltou a colocar a malha sobre o rosto e começou a se afastar.
- Qual é o seu jogo? - s'Ex exigiu.
Ela fez uma pausa. Olhou por sobre o ombro. - Eu não sei o que quer dizer.
- O que você vai fazer? Mantê-lo aqui como um bichinho de estimação?
maichen estreitou os olhos por baixo da malha. - Não é da sua conta. Sua única preocupação é de que nada aconteça a ele. E traga-lhe uma cama apropriada.
Pelo menos ele esperaria com um mínimo de conforto enquanto ela planejava um jeito de libertar o pobre homem.
maichen dobrou o corredor e saiu do raio de visão dele antes de começar a tremer... Antes de precisar se apoiar na parede para conseguir se manter em pé.
Fechou os olhos e tudo o que pode ver foi o macho aprisionado, saindo pelo biombo, após se lavar.
O corpo dele era... De tirar o fôlego, sua forma nua prendia o seu olhar, seus pensamentos, sua respiração. Ombros largos, peito musculoso, tórax impressionante,
parecia esculpido por um artista, ao invés de nascido de uma mortal.
E também havia as outras partes de seu corpo. As quais a faziam enrubescer tão ferozmente, que se preocupou que a malha derretesse em seu rosto.
Disse a si mesma que ela só ia ajudá-lo, e era verdade. Era.
Mas seria tolice ignorar esta ardente curiosidade. Talvez fosse até mesmo perigoso.
Pelas estrelas do céu, o que ela estava fazendo?
Quando Trez pulou na mesa de exames, sua cabeça quase bateu na luminária, e enquanto ele se abaixava para criar algum espaço, a Dra. Jane se aproximou.
- Aqui, me deixe tirar as luzes do caminho.
Com aquele probleminha resolvido, ele agarrou o colchão fino que jazia sob sua bunda, como se a ponto de iniciar uma descida de montanha russa.
E ele odiava montanhas-russas.
Dra. Jane trouxe um banquinho rolante e sentou-se, puxando as duas partes de seu jaleco branco para juntá-las e pousando as mãos nos joelhos. Olhando-o, parecia
preparada para esperar o tempo que fosse necessário para ele reorganizar seus pensamentos.
Pigarreando, ele anunciou, - Ela não virá. Não quer ser examinada, já que está se sentindo bem.
- Dá para entender.
Ele esperou por mais, e lembrou a si próprio de ser civilizado porque ela era a shellan de V.
Quando a boa doutora não continuou, ele franziu o cenho, - Só isto?
- O que quer que eu diga? Que Manny e eu vamos forçá-la a vir? Não posso fazer isso... Não quero fazer isto.
Sem sentir nenhum alívio na declaração, Trez percebeu que queria que a Dra. Jane forçasse Selena a descer.
Hipocrisia demais? Não era uma postura pró-livre-arbítrio de verdade, não é?
- Como posso saber que ela vai ficar bem esta noite? - Ele disse, tenso.
- Sem um episódio do aprisionamento?
- Sim.
- Não dá para saber. - Dra. Jane jogou o cabelo curto para trás. - Mesmo se a examinasse agora, não daria para dizer quando é que o próximo surto irá ocorrer.
Eu não sei muito sobre esta doença, mas pelo que vi, isto faz parte do problema. Não há estágio prodromal.
- O que é isto?
- Você tem enxaquecas, certo? - Diante de seu movimento de concordância, apontou para seus próprios olhos. - E você sente uma aura, cerca de vinte ou trinta
minutos antes do ataque de dor, certo? Bem, às vezes, pessoas que sofrem, sentem formigamento ou dormência em braços ou pernas; outros têm anomalias sensoriais,
tais como sentir cheiro de coisas que não estão lá ou ouvir coisas. Com a doença de Selena, não há sinal de alerta de que uma fase aguda está prestes de acontecer.
O congelamento parece ocorrer de repente.
- Você falou com o babaca do Havers?
- Na verdade, ele nunca ouviu falar de tal doença. O mais próximo que chegou disto, foram sintomas relacionados com artrites. - Ela balançou a cabeça. - Me pergunto
se tivéssemos como fazer uma análise de DNA das Escolhidas, haveria algum gene recessivo escondido em algum lugar. Com uma população procriativa exclusiva, como
elas sempre foram, é de se esperar encontrar exatamente este tipo de conjunto de doenças. Ela deu de ombros. - Mas, voltando à Selena, eu queria poder te dizer quando
é que vai acontecer de novo, ou mesmo os sinais aos quais ficar alerta. Mas não posso. Eu fiz um hemograma completo nela, e sua contagem de células brancas está
ligeiramente mais elevado junto com os marcadores de inflamações... Mais nada além disto. Tudo normal. Tudo o que posso dizer é que, se ela está em pé e se movendo,
teoricamente, suas juntas estão funcionando bem e elas darão sinais evidentes quando não estiverem.
Ele estalou os dedos, um a um. - Há algo que possamos fazer por ela?
- Não, pelo que sabemos até agora. Um dos desafios é não entendermos o mecanismo da doença. Minha suspeita é que, após o crescimento ósseo ser desencadeado por
sabe-se lá Deus o que, o sistema imunológico dela, de alguma forma, reage e ataca o material ofensor, destruindo-o como se fosse um vírus ou uma infecção. E o mecanismo
de defesa do corpo dela sabe quando parar, já que o esqueleto original permanece intacto após o ataque. Provavelmente há algo inato diferente sobre o crescimento
ósseo, mas, não saberemos até fazer uma biópsia.
- Então porque ela tem de... - Merda, cada vez que ele piscava, via Selena deitada na maca, o corpo naquela maldita contorção. - Porque ela continua combatendo
a coisa e se recuperando?
- Minha aposta é que o sistema imunológico falha. Analisando, é uma série extraordinária de eventos a nível celular. Ao ver as primeiras radiografias, jamais
teria imaginado que o corpo dela pudesse voltar a funcionar novamente.
Ele ficou quieto, olhando para o piso. - Eu quero levá-la para sair esta noite. Sabe, um encontro. - Quando a médica permaneceu em silêncio, ele ergueu os olhos.
- Não é uma boa ideia, é?
Dra. Jane cruzou o braço sobre o peito e empurrou a cadeira para frente e para trás nas rodinhas, a versão sentada de uma marcha.
Porra. Ele devia ter tido esta conversa antes de sugerir a saída...
- Você quer que eu seja bem franca? - A médica perguntou.
Trez teve uma imagem do perfil com cavanhaque de Vishous delineado sob a luz do teto externo do corredor. - Preciso saber exatamente onde estamos.
Mesmo que isto o matasse.
Passou-se um minuto ou dois antes da Dra. Jane responder, e ele achou que ela estava imaginando cenários em sua mente.
- O caminho mais prudente seria ela ficar no complexo, para fazermos uma checagem total nela, envolvendo múltiplas biópsias, uma tomografia computadorizada,
uma ressonância magnética no mundo humano e consultas com médicos, através dos contatos de Manny. E então nós provavelmente teríamos de iniciá-la no uso massivo
de esteróides... Mesmo que seja mais palpite do que certeza, é de se imaginar que o processo inflamatório tenha algo a ver com isto. Poderia haver drogas a testar,
talvez alguns procedimentos, mas, é difícil adivinhar de antemão. - Ela correu os dedos pelos cabelos curtos até a coisa se espetar em picos louros. - Teríamos de
ser rápidos porque não sabemos quanto tempo nos resta, e tudo seria na base de tentativa e erro, provavelmente, mais com o objetivo de sobrevida do que cura. Embora,
de novo, seja só um palpite, nada concreto.
Ele fechou os olhos e tentou imaginar-se dizendo à sua rainha que, ao invés de irem àquele restaurante pelo qual ela estava tão excitada, teriam de...
- Mas, não é o que eu faria, se fosse ela.
Trez ergueu as sobrancelhas e olhou para a médica - Então há outro jeito.
Dra. Jane deu de ombros. - Sabe, no final das contas, acho que a qualidade de vida deve ser considerada. Não sei o quanto conseguiríamos tratar ou desvendar
desta doença, mesmo se examinássemos ela inteira. Me baseio no fato de que ela é, para usar um termo clínico, a "paciente zero" para nós. Ninguém jamais ouviu falar,
apesar de uma minoria de suas irmãs padecerem deste mal há gerações. Há uma série muito complexa de coisas acontecendo, e eu só... Há muito a tentar entender. E
para que? Você quer arruinar as últimas noites dela...
- Noites? - Ele exclamou. - Jesus Cristo, é só isto o que temos?
- Eu não sei. - Ela ergueu as mãos. - Ninguém sabe e este é o ponto. Você iria... Ela iria... Preferir passar o tanto de tempo que lhe resta vivendo, ou somente
esperando por morrer? Eu lhe digo, se fosse minha escolha, eu escolheria viver. É por isto que não vou forçá-la a descer aqui, ou fazê-la sentir-se mal por não estar
com pressa de se deitar em minha maca.
Trez exalou um fôlego que não estava consciente de estar prendendo. - Rehvenge foi para o Norte. Para as colônias. Ver se há alguma coisa na tradição Symphath
que possa ajudar.
- Eu sei, Ehlena me disse. Estamos esperando ouvir notícias dele em breve.
Ele podia dizer pelo tom profissional na voz da fêmea que ela não estava botando muita fé. - O que acontece se Selena entrar... Em situação... E estivermos fora,
no jantar?
- Então você nos chama. Eu já te mostrei o brinquedo novo de Manny?
- Como é que é?
Ela se levantou e deu um tapinha na perna, - Venha comigo.
Dra. Jane a levou para fora da sala de exames, pelo corredor, e então para baixo, baixo, mais baixo, passando por salas de aula sem uso até a pesada porta de
aço da garagem. Abrindo-a completamente, ela indicou a área além da porta com o braço.
- Ta-da.
Trez entrou em um ambiente onde o ar era mais frio, mais úmido. A enorme ambulância era tão brilhante quanto uma moeda nova, retangular como um LEGO, maior do
que o Hummer de Qhuinn. Maior inclusive que as ambulâncias humanas que ele vira por aí em Caldwell.
Era um maldito trailer, um RV.
- Isto é merda séria, - ele disse.
- É. Uma das coisas que tem preocupado Manny e eu...
As portas traseiras do veículo se abriram, e o parceiro humano da Dra. Jane pulou para fora. - Achei mesmo ter ouvido vozes. - O homem soou grave assim que viu
Trez, - Ei, cara, como está indo?
Os dois se cumprimentaram e Trez indicou o veículo. - Então vocês conseguiram isto, huh.
- Venha ver a parte de dentro.
Trez enfiou as mãos nos bolsos dos jeans e deu a volta para a traseira. Através das portas duplas ele viu... Uma ilha grande central com duas macas, uma ao lado
da outra, rodeada por todo o tipo de equipamento médico armazenado em gabinetes envidraçados, que se alinhavam nas paredes laterais como prateleiras de livros com
esteróides.
- É como uma sala de operações em miniatura, - Trez murmurou.
Manny anuiu e voltou a subir. - Este é o plano. Queremos ser capazes de tratar com rapidez ferimentos de campo potencialmente mortais. Às vezes, trazer os pacientes
de volta para cá ou para o Havers é arriscado demais.
O médico começou a abrir e fechar armários e balcões, mostrando uma série de instrumentos esterilizados, curativos estéreis, mesmo um microscópio em um braço
extensor que podia girar para qualquer uma das macas.
Ele acariciou o instrumento como se fosse um bichinho de estimação. - Este bebê aqui também é uma máquina portátil de raio-x, e temos tecnologia de ultrassom.
Oh, e como um bônus, o RV é blindado.
- Contribuição de meu marido. - Dra. Jane olhou para o parceiro. - Então ouça, Trez vai levar Selena para jantar fora em um encontro esta noite.
- É uma grande ideia. Aonde vocês vão?
Trez fez um movimento circular com o dedo indicador. - Aquele no céu. Que fica rodando e rodando.
- Oh, sim, sei qual é, - o cara disse, - no hospital, chamamos de Central do Noivado, porque é onde os médicos levavam as namoradas para pedi-las em casamento.
Muito romântico.
- É.
Trez olhou para a extensão da sala de operações móvel, tentando decidir se o fazia sentir-se aliviado ou deprimido como a merda. O lado bom, ele achava, era
que com as luzes externas do veículo e o lendário pé de chumbo de Manny, eles conseguiriam chegar ao centro da cidade em dez minutos, especialmente com pouco trânsito.
Mas, e se não fosse tempo suficiente? E se Selena precisasse...
- Trez? - O médico disse.
Ele forçou-se a sair de seu estado de pânico - Sim?
- Que tal se eu for com vocês? Não, não como chofer, - ele completou quando Trez recuou. - Posso ficar estacionado nos fundos do prédio e só ficar por perto,
caso precisem de nós. Esta coisa tem emblemas falsificados nas portas, no capô e na traseira, e tenho todo o tipo de documentação. Ninguém irá me incomodar, e eu
posso levar um Irmão comigo caso precise me livrar de alguns humanos.
Trez piscou. - Deus, não posso pedir isso...
- Você não pediu. Eu ofereci.
Trez olhou para a ambulância novinha em folha. Ele não podia acreditar no que o cara estava pronto para...
- Trez? - Manny disse. - Ei, Trez, olhe para mim.
Trez virou os olhos de volta para o humano. Manny era bem formado para um não-vampiro, com um físico atlético que continuava a manter após emparelhar a irmã
de V, Payne. Mas, a coisa mais impressionante nele? Sua confiança. Treinado no mundo humano, o antigo Chefe de Departamento de Cirurgia do Hospital St. Francis do
centro da cidade, irradiava o tipo de atitude "ou-dá-ou-desce" que significava que ele se encaixava perfeitamente com os Irmãos.
- Deixa comigo, - o cara disse, com gravidade. - Eu cuido de vocês dois.
Manny estendeu a mão, e por um momento, tudo o que Trez pode fazer foi piscar. Mas então, aceitou o que lhe estava sendo oferecido.
A voz de Trez saiu entrecortada. - Não sei como posso te pagar.
- Simplesmente saia e aproveite sua mulher. É só o que me importa.
Quando Jane colocou a mão em seu ombro, Trez sentiu-se humilde diante do apoio. E esperançoso também de que Rehvenge pudesse aparecer com alguma novidade do
território Symphath.
Após agradecer novamente a ambos, ele voltou ao Centro de Treinamento, a Dra. Jane manteve-se atrás com o parceiro, como se soubesse que ele precisava de um
minuto para se recompor.
Deus, a cabeça dele estava a mil.
E era engraçado, ele não tinha nenhum impulso de beber até esquecer a raiva. Nenhum. Também não sentia necessidade de sair e foder centenas de mulheres desconhecidas.
Tampouco tinha interesse em investigar aqueles pacotes de drogas que encontraram com aquele lesser. Ele nem mesmo queria subir até o terceiro andar da mansão para
acordar o irmão e atualizar iAm da situação.
Ele estava curiosamente neutro. E aquilo o assustava.
Esta noite era para ser especial para sua rainha.
Tinha de ser.
Capítulo TRINTA
Foi por volta das seis da noite quando Selena saiu do chuveiro no banheiro de Trez. Ela dormira como um bebê durante o dia todo e noite adentro, apenas ciente
de Trez entrando e verificando-a de vez em quando. Como consequência, se sentiu melhor desde...
Santa Virgem Escriba, ela não soube por quanto tempo.
Enrolando-se na toalha, ela enrolou seu cabelo para cima e colocou o robe preto de Trez. O peso volumoso encolheu o seu corpo, caindo para o chão, o laço tão
longo terminava quase emaranhando em seus pés. Mas se sentia tão bem em ter a coisa nela, o cheiro dele embrulhando-se ao redor dela como um abraço, as dobras oferecendo
calor.
Em cima das pias duplas, ela pegou uma toalha de mão e enxugou a condensação no espelho. Debaixo das luzes, sua pele estava brilhando, um rubor em suas bochechas
e uma vermelhidão em sua boca, todo o resultado do sexo que compartilharam.
E haveria mais hoje à noite. Ela sabia disso porque toda vez que Trez entrava no quarto, aquela especiaria sombria dele tinha sido uma promessa intensa do que
estava por vir.
Desenrolando a toalha em sua cabeça, deixou seu cabelo escuro solto, os fios molhados pingando em suas costas. Ela fez o melhor que pôde para deixar os fios
quase secos, esfregando a tolha em cima de tudo que podia alcançar sem se esforçar demais. Então chegou a hora de usar o secador de cabelo, exceto...
Sem secador de cabelo.
Procurando, ela verificou os armários debaixo das pias, mas, só achou uma carga inteira de papel higiênico, sabonete, xampu e condicionador. Navalhas. Toalhas
de mão e de banho. Movendo-se para a área de armazenamento na parede, ela encontrou... Mais toalhas. As quais pareciam caras e tão suaves quanto pão fresco, mas,
não fariam por ela o que precisava.
Completamente seco era o seu objetivo final. Agora, ligeiramente úmido, era sua segunda escolha.
Certo, ela podia estar em apuros aqui. Eles sairiam às sete e trinta e seu cabelo, sozinho, levava mais ou menos oitocentas horas para secar...
Uma batida no lado de fora da porta a fez levantar a cabeça. - Oi?
- Isto é um "entre"? - Uma voz feminina perguntou do corredor.
- Sim? Por favor? - Apertando mais o robe de Trez, ela saiu do quarto adequadamente, depois parou assim que os painéis pesados se abriram. - Oh, oi... Ah...
Beth, a Rainha, entrou no quarto de Trez. E com ela Marissa, Autumn, Mary... Ehlena e Cormia. Bella. Payne. Também Xhex, que, com seu cabelo curto e seus couros,
parecia um pouco fora de lugar no grupo.
Ou talvez fosse por causa de sua postura estranha, como se estivesse insegura sobre o que ela estava fazendo com o grupo.
- Há algo que precisa? - Ela perguntou para Rainha. E para as outras.
Embora estivesse ciente que apenas Cormia e Layla a visitaram, era um palpite justo que todos na casa estavam informados sobre suas dificuldades, ela realmente
esperava que as fêmeas não fizeram essa viagem para oferecer condolências antes que realmente morresse.
Felizmente, Beth sorriu, em oposição às questões. - Precisamos que nos permita arrumá-la.
Selena levantou suas sobrancelhas e olhou para seus pés. - Sinto muito. Estou inadequada e não sei?
- Bem, nós ouvimos pela videira...
Marissa falou claramente. - Na verdade, meu hellren me disse. E ele ouviu de Vishous.
- Que você irá a um encontro, - Beth terminou. - E nós pensamos que você poderia gostar de um pouco de embelezamento.
Cormia colocou suas palmas para fora. - Não que você não seja bonita o suficiente.
Naquele momento, houve muitos oh, não, completamente bonita, e só se você quiser, e tudo que Selena pôde fazer foi colocar as mãos em suas bochechas. - Eu só
iria colocar um vestido e arrumar meu cabelo.
- Chato. - Xhex disse. Visto que todas as meninas lhe lançaram um olhar, ela jogou as mãos. - Eu te disse que não sou boa nessas coisas! Deus, por que me fez
subir aqui?
Beth se virou. - Selena, você sempre parece adorável, mas temos algumas roupas contemporâneas para você considerar, umas que talvez sejam um pouco mais...
- Você se parecerá com algo diferente de uma cortina de janela. - Xhex rolou os olhos. - Eu sei, eu sei, me calarei de agora em diante. Mas é a verdade.
- Pareço com uma cortina? - Selena disse, olhando para as peças nas janelas que acabaram de se fechar sozinhas. - Isso é ruim?
Beth avançou e tomou suas mãos, apertando-as. - Você confia em nós?
- Oh, claro, minha Rainha, é só que... Não sei, não consigo achar um secador de cabelo, e...
Marissa deu um passo à frente com uma bolsa de lona cheia com... Toda maquiagem concebível e utensílios de cabelo, o que quer que seja. - Não se preocupe, eu
tenho toda a solução.
E foi assim que Selena acabou sentando em um tamborete no meio do banheiro de Trez com um grupo de fêmeas circulando-a com secadores, escovas de cabelo, algo
chamado mousse, e modeladores de cachos.
No meio da maquiagem, seus olhos se encheram d'água.
- Oh, estou muito perto. - Autumn disse sobre o barulho dos secadores.
Selena levou uma mão para cima, na esperança de esconder suas lágrimas. A generosidade era tão inesperada. Literalmente sentiu como se a casa inteira estivesse
a apoiando e seu macho.
Xhex, a intransigente, foi a pessoa que trouxe a caixa de Kleenex. E quando a mão de Selena tremeu tanto que derrubou o lenço que pegara, Xhex foi quem cumpriu
a tarefa, retirando outro quadrado branco macio e enxugando levemente sob os olhos que vazavam.
Selena olhou em direção àquele olhar fixo de bronze e murmurou, - Obrigada.
Xhex apenas assentiu e continuou enxugando discretamente, seu toque gentil em desacordo com aquele rosto severo, traje masculino e a arma que usava no coldre
em sua cintura apesar do fato que estavam todos seguros no complexo.
Selena não tinha nenhum pensamento em sua cabeça, apenas emoções muito grandes para manter em seu coração.
Quando os secadores foram finalmente silenciados, ela soube que estava na hora de recuperar sua compostura. Todo aquele som e fúria enquanto seu cabelo era soprado
por toda parte ofereceu uma espécie de proteção para se esconder, ainda que todas a viram chorar.
- Seu cabelo está tão adorável. - Cormia disse conforme corria seus dedos pelas ondas. - Acho que devíamos deixar solto...
- Obrigada a todas. - Selena revelou. - Obrigada por isso.
Beth se ajoelhou na frente dela. - O prazer é nosso.
Uma mão pousou sobre o ombro de Selena. Outra em seu antebraço. Mais em suas costas. E Xhex estava exatamente ao lado dela com aquela caixa de Kleenex.
Olhando no espelho, ela se viu cercada pelas fêmeas da casa, e nenhuma delas sentia pena dela, pelo que estava muitíssimo agradecida. Ao invés, elas estavam
apoiando-a, fazendo o que podiam para mostrá-la que ela importava.
E por alguma razão, isso parecia indescritivelmente importante.
Provavelmente porque ficou claro para ela, pela primeira vez, que seria lembrada por estas pessoas depois que fosse embora, e ser lamentada por pessoas boas
era o melhor legado que alguém poderia deixar para trás.
- Solto? - Ela se ouviu dizer. - Realmente? Acha que eu deveria usar meu cabelo solto?
- Permita-me apresentar-lhe meu pequeno amigo. - Com isso, Marissa mostrou uma varinha de prata que estava plugada na parede por uma corda preta. - E agora a
guerra deve começar.
Selena teve de rir. Olhando para Xhex, disse - Você já...?
- Usei um desses? - A fêmea empurrou seu cabelo curto. - Como se pudesse. Mas acho que devia fazer o que elas dizem. Você está olhando para o cérebro confiante
da espécie quando se trata de estar gostosa.
- Então irei ceder. - Selena se encontrou iluminando-se com a ideia de uma transformação. - Faça o que desejar comigo.
Beth sorriu. - Acha que isso vai ser bom? Espere até ver o vestido.
- Sinto muito. Eu tentei.
Quando Rehvenge se desculpou por nada que era sua culpa, e nada que era realmente uma surpresa, Trez sacudiu a cabeça. Eles estavam em pé no grande hall da mansão,
seus pés plantados na representação de mosaico de uma macieira florescente.
Ele colocou sua mão no ombro vestido de pele do macho. - Seriamente, Rehv. Obrigado por dar a isso uma chance.
Rehv colocou sua bengala vermelha no chão e caminhou ao redor. - Olhei em todos os lugares em nossos registros. Perguntei às pessoas...
- Rehv, escute, eu aprecio o seu esforço. Mas, honestamente, eu não esperava alguma resposta mágica. - Merda, sabia que estava acostumado à notícias ruins a
essa altura. - Então não ataque a si mesmo em relação a isso.
Aquela pele longa alargando-se atrás do macho enorme conforme ele continuava a andar a passos largos ao redor. Eventualmente, ele parou sem energia. - Lembra-se
da noite em que nos conhecemos?
- Como se eu pudesse esquecer.
- Sempre senti que era para acontecer. - O macho olhou fixamente para baixo em seus sapatos de pele de avestruz. - Eu não quero... Isso para você. Especialmente
considerando o que mais está esperando por você.
Rehv era um do poucos que sabia que ele era o Consagrado de volta ao s'Hisbe.
Deus, Trez pensou. Aquela bagunça no Território não estava nem ao mínimo em seu radar. Selena era o grande desinfetante de todas as suas outras preocupações,
não só limpando sua ficha, mas purificando sua merda bruta.
- Irei ajudar Selena. - Ele se ouviu dizer. - Não irei a qualquer lugar enquanto ela está... Você sabe.
- Qualquer coisa que precisar, você tem. - Rehv veio. - Eu apenas...
Foi perturbador ver um macho tão grande, que era conhecido por sua arrogância impertinente, parecer tão derrotado.
Trez teve de cortar a compaixão ou isso iria deixá-lo para baixo. - Olha, você não tem de dizer mais nada. Francamente, prefiro que não faça. Não por nada, eu
preciso ficar focado onde estou agora, Selena descerá aqueles degraus e não posso ficar frustrado em minha mente hoje à noite.
- Compreendido. Mas vou te abraçar.
- Por favor não, oh, não, qual é, homem...
Quando foi envolto em pele, ele endureceu, e se sentiu como um idiota. Porra, o cara só estava sendo verdadeiro, mas, maldição, tudo que Trez queria fazer era
correr para a sala de bilhar. Talvez bater ele mesmo em sua cabeça com um taco de bilhar.
Até a maldita coisa quebrar.
Sua cabeça, não o taco.
- Uau, essa coisa é suave, - ele disse, acariciando o casaco.
Rehv recuou. - Irei subir para o quarto de hóspedes. Estou exausto e Ehlena esteve acordada o dia todo com Luchas. Acho que nós vamos dormir a noite inteira.
- Soa como o céu para mim.
Momento. Estranho.
- Você precisa parar de olhar para mim assim. - Trez esfregou seu rosto. - Ela não está morta ainda.
- Eu sei, eu sei. Desculpe. Deixarei você sozinho.
Rehv bateu-lhe nas costas e, em seguida, foi em direção à escadaria principal, subindo com a ajuda daquela bengala. E visto que Trez ficou onde estava, ele percebeu
por que não caçara seu irmão para conversar sobre as coisas. Normalmente, ele e iAm já teriam se falado oito vezes, e ainda eram só sete horas da noite.
Mas, se Rehv sendo um bom sujeito conseguiu entrar em sua pele, Trez realmente não seria capaz de lidar com essa merda com seu irmão de sangue agora. Ele mal
estava se segurando, um olhar nos olhos negros de iAm?
Ele tinha medo que não poderia colocar as coisas de volta nos escombros.
Às vezes, a honestidade era muito...
Oh, foda-se. Ele seriamente estava citando Muzak dos anos setenta agora?
Andando, andando, andando. Ele e Selena combinaram de sair às sete e trinta, e ele planejara ajudá-la até o carro. Isso tinha sido um grande estúpido não, no
entanto: Uma boa hora atrás, ele foi até o terceiro andar para verificá-la, mas Xhex barrara sua entrada e informou-o que ele não era bem-vindo em seu próprio quarto.
Então a guerreira lhe jogou um dos seus ternos pretos, junto com uma camisa preta de botão, sapatos pretos e meias de seda, e seu relógio Audemars Piguet todo preto.
E bateu a porta em seu rosto.
Fêmeas. Honestamente.
Mas, ele trocara suas roupas. Como um bom menino. E desceu até aqui para esperar.
Assim que a figura decorada de Rehv desapareceu acima, Trez tirou seu telefone e verificou suas mensagens. Esperava encontrar algo de iAm, mas, típico do seu
irmão, o cara sabia quando ele precisava de espaço e estava lhe dando isso.
Ele disparou uma atualização rápida para o macho, contando-o que estava saindo com Selena e que ele apareceria na base mais tarde quando voltassem. Então, entrou
em contato com Big Rob e Silent Tom, e informou-os para encaminhar tudo que tivesse a ver com os clubes à Xhex, assumindo que ela poderia se livrar da coisa da maquiagem
exagerada acontecendo em seu quarto. Ele estava quase guardando o telefone, quando viu que faltou uma mensagem.
De Rhage.
O Irmão alcançou e...
- Ei, estamos prontos para ir? Onde está a sua fêmea?
Falando em Hollywood. O Irmão em questão veio correndo abaixo a escadaria principal, as armas chiando como sinos de Natal humano nos vários coldres que ele ainda
tinha amarrado em seu corpo.
- Acabei de ver sua mensagem, - Trez disse. - Desculpe por não ter respondido.
- Você tem merda em sua mente. Tá tudo bem.
Os dois bateram as palmas. Reviradas em cima. Ombros batidos. Recuaram.
- Olhe para você. - Rhage andou ao redor. - Parece ótimo.
Trez estalou fora seus punhos franceses. - Eu não posso envergonhar a fêmea.
- Parecendo assim, ela será sortuda em estar ao seu lado. - Rhage parou na frente dele. - Veja, isso é o que digo à minha Mary. Ela quer que eu adicione cor
no meu guarda-roupa, tem sido uma coisa, tipo, pelos últimos dois anos.
Quando o Irmão estremeceu como se sua shellan tivesse sugerido que vestisse calcinhas debaixo de seus couros, Trez começou a sorrir.
- Você tem interesse no negro, Hollywood? - Ele disse.
- Ela quer combinar com os meus olhos. - Rhage apontou para os seus olhos inacreditavelmente azul-petróleo. - Tipo, seriamente. Digo, eu já tenho água em mim
o tempo todo com essas coisas. Por que precisamos de redundância.
- Então o quanto de cor tem em seu armário?
- Não quero conversar sobre isso. Muito deprimente...
Lassiter enfiou sua cabeça para fora da sala de bilhar. - Ei! Menino dragão, Project Runway está passando se você quiser vir assistir. Talvez pegar algumas dicas
sobre suas tendências.
O olhar de Rhage estreitou, mas se recusou a olhar para o anjo. - Não há uma maratona de "Uma galera do barulho" que você tenha de assistir?
- Não odeie o Zack. Ele é como seu maldito irmão pequeno, rainha da beleza. - Lassiter vagueou, o ouro que ele tinha criava uma aura ao redor da sua cabeça loira-e-preta
e seu corpo longo, ou talvez o brilho fosse realmente uma aura. - Então, para onde vamos? Seu clube, Sombra?
- Não.
- No baile do embalsamador, então? Com todo esse preto, é como se você estivesse interessado nas artes fúnebres...
Rhage moveu-se tão rápido que era impossível localizar. Em um momento, ele estava friccionando seus dentes ao lado de Trez; no próximo, ele estava cara a cara
com o anjo, sua mão trancada na garganta de Lassiter.
Palavras foram ditas muito suavemente, Trez não podia segui-las, mas um momento depois o espertinho drenou o rosto e a atitude do anjo.
Rhage soltou o aperto e se afastou. - Então isso aconteceu, - ele murmurou quando voltou e começou a se recuperar. - Poderia muito bem continuar com essa merda.
Estou montando espingarda com Manny hoje à noite.
- Oh, sim. - Trez respirou fundo. - Ei, obrigado por fazer...
- Mas, só porque ele me prometeu bife.
Trez arqueou uma sobrancelha. - Desculpe?
- Bife? Sabe, vaca? Carne? Paraíso em um prato? Eu sei que comeu algum antes.
- Estou familiarizado com isso, sim. Mas você virá para ajudar...
- O consumo de bife. É por isso que irei.
Houve uma pausa estranha. Durante a qual Rhage simplesmente olhou-o fixamente, como se estivesse fazendo uma declaração de que ele não seria uma zona de drama.
E, Jesus, essa era provavelmente a coisa mais útil que o Irmão poderia ter feito. Era como uma tábua de salvação saindo da zona sentimental de merda, e Trez
se agarrou nisso.
- Bife, huh. Você irá pedir o serviço de entrega do Circle the World?
Rhage recuou como se tivesse sido estapeado. - Então, certo, claramente você não está ciente disso, o que é um lapso atordoante em sua educação formal, mas a
melhor steakhouse em Caldie, a 518, é exatamente do outro lado da rua do arranha-céu que está o seu restaurante. Meu plano? Enquanto você e sua garota estão lá em
cima se divertindo e andando em círculos, eu estarei no térreo comendo, tipo, um filet mignon, um rosbife enorme, um hambúrguer de carne Kobe, uma carne de corte
nova iorquino.
- Parece bom. Qual deles você comerá? Já decidiu?
Rhage franziu a testa. - Todos eles. Com uma porção de purê de batatas. Veja, você tem de ter a proporção purê-carne correta. Faz toda diferença. E então há
os pãezinhos. Conseguirei três cestas entregues.
Trez levantou seu dedo indicador. - Sabe o que você precisa? Uma refeição no Sal's. Você deveria ir comer na taberna do meu irmão.
- É italiana?
- Sim. Estou falando sobre o melhor na cidade...
- Merda, por que eu não...
- Puta... Que pariu...
Com a maldição que Lassiter latiu, Trez e Rhage olharam para o anjo. O imbecil não os notou, porém, seus olhos extraordinariamente coloridos focados para cima,
como se a Segunda Vinda de Cristo tivesse chegado ao topo da escadaria principal.
Só então, um perfume revelador alcançou o nariz de Trez e disparou através do seu sangue, o impacto deturpando sua cabeça e seu corpo...
Diante disso, ele perdeu todos os pensamentos. Toda respiração. E toda sua alma.
Selena permaneceu no topo dos degraus com o carpete vermelho-sangue, sua mão adorável descansando no corrimão folheado a ouro, seu corpo mantinha-se rígido,
como se ela não estivesse certa sobre seus sapatos, ou seu vestido, ou talvez até mesmo o seu cabelo.
Não havia absolutamente nada para se preocupar.
A menos que ela tenha um problema em ser uma arma de sedução.
Seu cabelo escuro longo descia ao redor dos seus ombros, caindo para baixo em suas costas. Enrolado da ponta até a base, era uma glória tão feminina, tão avassalador
com o seu peso e o seu brilho, que ele empunhou suas mãos e soltou porque queria tocá-lo, acariciá-lo, cheirá-lo. Mas, isso não era a metade de tudo. Seu rosto era
a única coisa que poderia possivelmente envergonhar as coisas, sua pele radiante, seus olhos cintilantes, seus lábios carnudos vermelhos como sangue.
E então existia o maldito vestido.
Preto. Corte simples. Com um corpete decotado e uma saia que terminava no meio da coxa.
Muito quente. No meio da coxa.
Selena estendeu um pé, um delicadamente calçado, em salto alto que estava conectado a um tornozelo pequenino e uma panturrilha perfeitamente curvilínea que o
fez ranger os dentes.
Ele teve de engolir em seco quando ela começou a descer lentamente, cada passo que ela dava levava-a para mais perto dele poder tocá-la, beijá-la... Tomá-la.
Homem, aquele vestido era um knockout absoluto, nada além de um revestimento que seguia os contornos dos seus quadris, sua cintura, e seus seios, com um ajuntamento
fora de um lado no meio dela e um segundo em seus ombros. Ela não usava joia de modo algum, mas por que usaria? Não existia nenhum diamante, nenhuma esmeralda, nenhum
rubi, nenhuma safira que poderia chegar perto da sua perfeição devastadora.
Quando alcançou a parte inferior dos degraus, ela hesitou, olhando para a esquerda e direita, provavelmente para Lassiter e Rhage, eles estavam ainda no hall
com ele? Quem sabia. Porra, quem se importava?
Selena alisou o... Isso era seda? Lã? Tafetá?
Papel de alumínio? Saco de papel?
Ela estendeu a mão e empurrou o cabelo. Em seguida, fez uma careta. - Você não gosta, né. Posso mudar. Eu iria vestir...
Algo o bateu na lateral.
- ... Vestido tradicional. Mas as meninas acharam que... - Ela olhou por cima do seu ombro para as fêmeas que permaneceram no topo dos degraus. - Eu posso mudar...
Lassiter amaldiçoou. - Caralho não. Não ouse. Você parece...
O lábio superior de Trez enrolou em suas presas baixas. Então ele estalou sua mandíbula na direção do anjo caído, como um Pastor alemão. Ou talvez um tubarão-touro
fazendo um teste de mordida antes de atacar como uma motosserra a sua presa.
Lassiter pôs as mãos para cima. - Qual é, cara, eu iria dizer que ela parece um caso de caridade. Um árbitro de futebol. Uma imitadora de Martha Stewart. Você
quer que eu continue? Eu poderia começar com os personagens idiotas da Disney. Há muitos deles.
Aquela cotovelada em sua costela veio novamente. Então Rhage se inclinou. - Trez, - o Irmão silvou. - Você tem de dizer alguma merda aqui.
Trez clareou a garganta. - Eu... Eu... Eu...
Ele estava vagamente ciente das fêmeas no segundo andar estourando em altos "toca aqui" e gritos de "acertamos em cheio". Mas, sua rainha permaneceu preocupada.
Certo, ele precisava se recompor, antes que o cotovelo de Rhage o acertasse no fígado novamente e Selena disparasse de volta para o seu quarto. - Você está...
Eu estou...
Ele puxou a gola de sua camisa de seda, mesmo que a coisa estivesse escancarada.
- Você gosta? - Ela disse.
Tudo que podia fazer era acenar com a cabeça. Ele era literalmente nada, além de hormônios em um terno preto. Ela era bonita assim para ele.
- Realmente?
Mais movimentos com a cabeça. - Uh-huh. Realmente.
Selena começou a sorrir. Então ela olhou de volta para as fêmeas, que pulavam para cima e para baixo e ofereciam seus dedos polegares para cima.
Sua rainha se virou para ele. Aproximou-se. Tomou suas mãos e esticou-se para sussurrar em sua orelha - A única coisa que elas não me deram foi roupa íntima.
Nua.
Ela estava n-n-n-n-ua debaixo disso.
Capítulo TRINTA E UM
Sem dormir.
Paradise conseguiu absolutamente, positivamente não dormir nada na bonita casa. A princípio foi porque ficou muito emocionada ao percorrer o lugar, cada sala,
quarto e banheiro, maravilhada com a arte, o mobiliário, a decoração... Duas vezes. Então precisou escolher um quarto subterrâneo (escolheu o da esquerda) e desfazer
as malas, desfazer e desfazer.
Sua amada doggen, Vuchie, desenhou uma plataforma no curto corredor de paredes de pedras entre as duas suítes subterrâneas, mas Paradise insistiu com sua acompanhante
para ir pelo outro lado e se instalar no quarto real. Isto deu lugar a uma serie de protestos, que terminou com sua empregada presa entre uma ordem direta e seu
incômodo em permanecer em tal luxo; quase teve um ataque de nervos.
Por fim, no entanto, e como de costume, Paradise conseguiu sair-se com a sua.
Neste momento, ela havia se retirado ao "seu" quarto, colocou um pijama e descobriu felizmente que o wi-fi não requeria uma senha. Deitando sobre o edredom de
veludo, verificou o Twitter, Facebook, alguns blogs, o New York Post e o Daily News, e continuou ignorando as mensagens de texto de Peyton. Quando suas pálpebras
finalmente começaram a cair, colocou o telefone de lado e arrastou o edredom pela parte superior de seu corpo, a camiseta da Universidade de Siracusa e uma calça
de yoga com os quais dormiu muitas e muitas vezes.
Eeeee foi quando a coisa de não-dormir chegou com força.
Apesar de ter fechado os olhos, sua mente continuava zumbindo com o que seu pai disse que estaria fazendo ao cair da noite para ajudar o Rei.
E logo estava o fato deste primo perdido há muito tempo, sozinho com seu pai de volta em sua casa. O que aconteceria se machucasse seu pai?
Assim, então, pensou enquanto ficava em pé diante do espelho do banheiro. Não fechar os olhos... Mesmo quando suas pálpebras descerem.
A boa notícia era que a espera terminou. E seu pai lhe enviou mensagens de textos dizendo que chegaria em quinze minutos, tão claramente que lhe fez passar o
dia bem.
Era curioso, estava surpresa pelo tanto que queria vê-lo. Depois de tantos anos de rezar por um pouco de liberdade, encontrou que a experiência real foi marcada
por um pouco de nostalgia.
- Mas, agora irei começar a trabalhar.
Virando-se de lado, pegou seu casaco azul marinho. Depois puxou sua blusa branca. Brincou com seu colar de perolas.
Quando deu um passo atrás, decidiu que parecia uma aeromoça da PanAm em 1960. Como aquelas em "Prenda-me se for capaz".
- Ah vamos. - Ela arrancou o laço, prendeu o cabelo para trás com ele e guardou suas coisas. - Oh sim. Agora está bem diferente.
Não.
Soltar o cabelo talvez melhorasse a situação. Mas, de que iria adiantar, a quem queria impressionar de qualquer forma?
Bom, má pergunta para se fazer quando estava a ponto de começar em seu primeiro trabalho e não se tratava apenas de seu pai, mas do Rei de toda a Raça e sua
guarda pessoal de assassinos.
Era o suficiente para fazer uma oração à Virgem Escriba.
Ao sair de seu...
- Por favor, senhora. Permita-me preparar algo para que possa comer.
Vuchie estava em pé justo dentro do quarto, vestida com seu uniforme cinza e branco, balançando peso entre seus sapatos bege. A doggen tinha o cabelo castanho,
os olhos marrons e a pele branca como porcelana, bonita a sua maneira e provavelmente uns cinquenta anos mais velha que Paradise. As duas se conheciam desde que
Parry podia se lembrar, como acontecia com muitas filhas de pais aristocratas a relação patroa/empregada delas tinha sido cultivada formando vínculos por toda vida.
Em muitos casos, uma empregada era a coisa mais importante levada para a nova casa quando se vinculavam à um macho de privilégio ou criação similar.
Era seu vínculo com o passado. Sua lucidez. E muitas vezes, a única pessoa em quem se poderia confiar.
Cara, ela preferia muito mais essa realocação com sua empregada; por causa de um novo emprego e não algum antigo hellren.
- Estou bem, Vuchie. - Ela tentou sorrir. - Você está com fome?
- Senhora, você não teve sua Última Refeição ontem, também.
Parry não tinha intenção de dizer a verdade claramente, um amassado ou uma rusga, não deixaria nada interferir em sua nova postura de aeromoça. Este tipo de
franqueza apenas levaria a uma briga que acabaria com ela de repouso na cama e, provavelmente, Vuchie chamaria seu pai pedindo reforço.
- Sabe o que eu gostaria? - Parry forçou um sorriso. - Que preparasse algo para mim e levasse ao escritório. - Ela se aproximou e segurou o braço de Vuchie.
- Sim, vamos, vamos, faça isto.
- Mas... Mas... Mas...
- Estou tão feliz que concorde. Adoro quando estamos em sintonia.
Foi até a parte superior da escada curva de pedra, era muito bem decorada, atravessaram um retrato de tamanho natural de uma da família real francesa até onde
estava o vestíbulo.
- É tão tranquilo. - Disse Paradise, mais calma.
O lugar, como resto da casa, estava muito bem decorado, antiguidades por toda parte, setas e veludo nas paredes e pisos, inclusive as cadeiras eram cobertas
por ricos tecidos. Lembrou-a de artigos que leu na revista Vogue e Vanity Fair sobre Babe Paley e Slim Keith, os móveis eram perfeitos, os objetos de arte pequenos
caprichos de jade, ouro e bronze, cores sóbrias, mas não fracas.
- Suponho que meu pai não está aqui, no entanto.
Como se fosse um sinal, as persianas automáticas se moveram por todas as janelas, o zumbido sutil fazendo-a saltar.
- Vou até a cozinha. - Disse Vuchie. - Preparar seu café da manhã.
Quando sua empregada saiu, Paradise quase chamou a mulher de volta. Pelo amor de deus, a doggen não era uma manta de segurança.
Decidida a enfrentar o que fosse sozinha, apesar de que não sabia o que iria fazer, se aproximou e sentou-se atrás da mesa do escritório e... Brincou com o mouse,
o que a levou a uma tela protegida com senha que nem se incomodou em decifrar.
O wi-fi no subterrâneo era outra coisa. O computador ali? Era bloqueado e teria algo mais. Uma por uma ela abriu as gavetas, sem encontrar nada além de artigos
de papelaria e artigos de papelaria... E sim, mais artigos de papelaria.
Ouviu vozes pela primeira vez. Profunda. Rouca. Muito masculina.
Então a porta se abriu. E ali estava um coro de muitos, muitos pés pesados calçados com botas cruzando o umbral.
O primeiro pensamento de Paradise foi se esconder debaixo da mesa.
Os membros da Irmandade da Adaga Negra estavam na casa, todos eles vestidos de couro negro, cada um deles armados brutalmente.
Eram maiores do que se lembrava das apresentações na noite anterior. E ela não os enquadraria na categoria de zero a esquerda de forma alguma.
- ... Bombeou algumas vezes sua cabeça. - Disse um deles.
Foi como uma derrapagem de pneus quando eles pararam em seco e a olharam. Graças a Deus que estava sentada. A mesa era uma espécie de barreira entre ela e todos
os guerreiros.
- Ei. - Disse um deles, um com o sotaque de Ben Affleck. - Sua primeira noite, verdade?
Quando começou a assentir com a cabeça, seu pai passou pela porta aberta.
- Estou aqui, estou aqui! - Seu pai abriu caminho através do grupo. - Paradise, como está você?
Ocorreu-lhe que deveria ficar em pé e abraçá-lo com força. Podia fazer isto, disse a si mesma. Poderia absolutamente e positivamente fazê-lo.
De verdade.
Honestamente.
Deus havia vários homens na casa.
Gêmeos. Ela teria gêmeos.
Enquanto Layla estava na maca, esfregou seu ventre com a mão livre, a que não estava dentro do gesso que ia até acima de seu cotovelo direito. As dores de sua
queda haviam desaparecido e o osso quebrado que Manny cuidou já estava colado novamente. O gesso iria desaparecer logo. Gêmeos.
Apesar de que teve todo o dia para se acostumar as notícias, ainda estava aturdida, e para piorar as coisas, ela e Qhuinn realmente não conversaram sobre isto.
Estava mais interessado na roupa que ela iria vestir. No momento que ela entrou na camisola de flanela e seu robe rosa favorito, dormiu. Foi bom o suficiente
para colocar seu manto sobre ela e deixá-la sozinha.
Estava irritado com ela? Pensava que ela estava mentindo sobre onde ia de carro em seus passeios?
Maldição, como diriam os Irmãos...
Uma batida na porta a fez levantar a cabeça. - Sim?
Como se houvesse lido sua mente, Qhuinn colocou o torso forte no quarto.
- Ei. Apenas queria vê-la antes de sair esta noite. Como se sente?
Layla respirou fundo e tentou manter o rosto em branco.
- Estou bem. E você?
- Bem.
Uma longa pausa. Isso fez com que seu coração acelerasse.
- Então, obrigada pelo manto. - Ela acariciou o tecido. - Realmente apreciei. Acabo de acordar, mas vou devolvê-lo.
Depois de um momento ele entrou, apoiando-se na porta fechada. Seus olhos diferentes subiram por seu corpo algumas vezes, sutilmente.
- Então, como está? - Disse. - Você sabe, com a coisa dos gêmeos.
- Bem. Quero dizer, foi um choque... - Ela encolheu os ombros. - Mas, estou me ajustando. Estou feliz. Dois, uma benção. Claro.
- Bom. Sim. Uh, hum.
Silêncio. Que foi preenchido por ele colocando as mãos nos bolsos de couro e ela brincando com a ponta do maldito manto.
Além de romper em suor frio sob os lençóis de hospital.
- Há algo que precisa me dizer? - Perguntou Qhuinn.
Os golpes nos ouvidos eram tão fortes, que tinha quase certeza que ela respondeu com um grito. - Sobre o que?
- O que estava fazendo à noite?
Obrigou-se a segurar seu olhar. - Fui dar uma volta.
- Porque suas roupas estavam cobertas de folhas?
- Desculpe?
- Sua roupa. À noite. Quando as peguei, estavam sujas e havia folhas sobre elas. Se estava caminhando pelo pátio e caiu, porque estariam assim?
Ela abaixou os olhos apesar de fazê-la parecer culpada. Por outra parte, ela era culpada.
- Layla? - Ele amaldiçoou em voz baixa. - Olhe, é uma mulher adulta. Apesar de estar carregando meu filho, não tenho nenhum direito sobre sua vida ou o que esta
fazendo, exceto em coisas relacionadas com a gravidez. Apenas quero me assegurar que esteja a salvo. Por seu bem. Pelas crianças.
Merda.
Agora era o momento, pensou. Agora... Tinha de ser o momento.
- Sinto-me presa. - Ouviu-se dizer.
Entre Xcor e a Irmandade. Entre o perigo e a segurança. Entre o desejo e a condenação.
- Imaginei isto. - Qhuinn assentiu. - Está dirigindo. Para longe.
- Caminho.
- Onde?
- Fora. - Em sua cabeça, ela tentou uma variedade de confissões, com substantivos e verbos, tentando encontrar uma maneira para descrever o que estava fazendo
sem lançar merda para todo lugar. - Fora... Pelo campo.
Qhuinn cruzou o quarto e se endireitou de frente a uma pintura de salgueiro. - As pessoas fazem isto o tempo todo. Em suas cabeças. - Disse.
Nisto tem razão, pensou.
Queridíssima Virgem Escriba queria lhe dizer. Realmente queria... Mas a revelação ficou presa em sua garganta.
Pela primeira vez, começou a ficar irritada. Consigo mesma. Com Xcor. Com toda maldita coisa.
- Tropeçou e caiu enquanto estava caminhando? - Disse.
- Sim. - Ela respirou fundo. - Fui estúpida. Caí sobre uma raiz.
Tão perto da verdade. Estava ficando irritada.
Cara, isto estava matando-a.
- A maioria das mulheres... - Qhuinn foi para os pés da cama, colocou as mãos nos quadris estreitos e olhou para seus pés. - A maioria das mulheres tem alguém
com quem passar por isto. Quero ser ele para você. Blay também quer. Nós não queremos defraudá-la.
Genial, agora sentia as lágrimas por ele duvidar que pudesse ser um apoio. - Você é incrível. Os dois são. Você é absolutamente incrível. É apenas que... Não
há muito o que fazer.
Ao menos isto não era uma mentira.
- Mas, agora com gêmeos. - Ele negou com a cabeça. - Gêmeos... Pode acreditar?
- Não. - Ela esfregou o ventre. - Não sei como vão encaixar. Já me sinto enorme e ainda tenho quantos meses?
- Ouça, por favor, estou contigo. Estou aqui para você, com tudo o que precisar.
Um estridente alarme começou a soar ao lado, os dois franziram o cenho ao mesmo tempo e olharam ao redor procurando o ruído.
- Vem do quarto de Luchas? - Perguntou. - Oh Deus meu, será que...?
Ouviu-se um grito no corredor. Vários passos. A voz de Jane dando ordens.
- Merda, tenho de ir ver. - Disse Qhuinn enquanto girava e se lançava para a porta. - Tenho de ir ajudar...
Quando ele correu para o quarto de seu irmão, Layla sentou-se. Ficou em pé. Estabilizou-se. O que estava acontecendo ao lado era ruim. E ela estaria condenada
se Qhuinn iria enfrentá-lo sozinho.
Capítulo TRINTA E DOIS
Ao sentar-se no banco de trás do gigante Mercedes, aquele que Fritz dirigia e estava, de fato, dirigindo, Selena sorria tão largamente que suas bochechas estavam
insensíveis e sua mandíbula doía.
À frente do sedã, os arranha-céus de Caldwell brilhavam como as sentinelas míticas de algum reino de fantasia e ela se inclinou para a janela, tentando ver aquele
para o qual se dirigiam, o mais alto dos gigantes, o ápice de todos.
- Mal posso esperar para ver a vista lá de cima, - ela se virou para Trez. - Estou tão excitada.
Quando ele não respondeu, mas só continuou a encará-la, ela sorriu ainda mais. O macho não desviara o olhar desde que ela descera as escadas, os olhos vagando,
sempre vagando, nos lábios dela, nos seios, as coxas e pernas, de volta ao cabelo, rosto, garganta.
A excitação dele estava saliente à frente das calças pretas. E mesmo que ele tentasse, repetidas vezes, colocar o paletó, o braço ou uma mão no colo de forma
casual, ela conseguia sentir o sexo dele tão claramente como se ele estivesse nu.
Ela se inclinou, se aproximando. - Me beija?
- Não confio em mim esmo.
- Que terrível. - Esticando-se, ela mordiscou o lóbulo da orelha dele, - Perigoso...
O grunhido que vibrou pelo peito dele foi a coisa mais erótica que ela já havia ouvido.
- Talvez devêssemos cuidar disto? - Quando ela pousou a mão sobre seu sexo, ele pulou e praguejou. - Isto é um "sim"?
Enquanto ele se apoiava no banco e jogava os quadris ao encontro da mão dela, ela olhou para a frente do carro, que, dado o tamanho, parecia estar em outro código
postal. Fritz estava concentrado na estrada, seu rosto velho e enrugado, preocupado. Talvez pudessem...
Sem tirar aqueles olhos escuros dela, Trez remexeu com a mão na porta. Um segundo depois, houve um som de whhhrrrring e uma partição opaca se elevou, isolando-os
do gentil chofer.
- Não temos muito tempo, - ela disse, ao afastar o braço dele.
- Não será preciso muito tempo.
Do bolso sobre seu peito, ele tirou um lenço branco dobrado e, com um rápido chacoalhar, liberou-o de seu rigor engomado.
Ao mesmo tempo em que ela liberou sua ereção.
Ela estava em meio a decisão de cair de boca nele, mas ele segurou seu rosto entre as mãos e beijou-a, a língua penetrando fundo, encontrando a dela.
Ele estava duro e quente, aveludado e grosso, e ela deslizou um agarre em volta de seu pau, bombeando. Quanto mais acariciava, mais doido o beijo se tornava,
até a pélvis dele estar convulsionando contra ela, e seu peito arfando, e ela estava respirando com tanta dificuldade quanto ele.
Quando ele gozou, gritou o nome dela e baixou aquele lenço para conter sua explosão... E ela estava tão excitada, tão tonta com a sensação da boca dele sobre
a sua e os movimentos de sobe e desce, sobe e desce da sua mão contra o sexo dele, que sentiu um intumescimento entre suas próprias coxas, uma resposta do próprio
corpo ao que ela estava fazendo nele... Que era tão pouco perto do que realmente queriam.
Seu próprio orgasmo foi uma surpresa, e ela se entregou, absorvendo as garras afiadas do prazer, tornando-as mais fortes ao apertar as coxas uma contra a outra
e esfregar. Enquanto isto, ela continuava as carícias rítmicas, apertando a ponta, trabalhado sua extensão.
Quando acabou, Trez caiu contra o banco, pálpebras baixas, lábios entreabertos, cabeça caída para o lado como se não tivesse força para endireitá-la.
- É isto o que chamam de rapidinha? - Ela sussurrou ao pressionar os seios contra o peito dele para beijá-lo.
Antes que ele pudesse responder, ela correu a língua ao longo de seu lábio inferior, então sugou-o. Afastando-se, ela disse, - Hmm? É?
- Cuidado, fêmea, eu posso arrancar este vestido que está usando.
- Isso seria ruim?
- Se outro macho te vir nua, sim. - Ele sorriu e correu uma das presas pelo lábio inferior. - Eu sou possessivo.
- Você ainda está duro, não está?
Com um rápido agarre na nuca dela, ele puxou-a para perto e beijou-a violentamente. Embora ela estivesse no controle da primeira parte, agora ele assumiu o controle,
dominando o corpo dela, enfiando uma mão entre os joelhos, e acima para a...
Ela gozou contra os dedos dele assim que eles a penetraram, seu núcleo explodindo em ondas após ondas de prazer.
- Esta é minha rainha, - ela ouviu-o dizer através de uma vasta distância. - Goze para mim...
Ela perdeu as contas do quanto ele a provocou com aquele toque talentoso, mas eventualmente, ela tomou consciência do carro fazendo uma curva longa que a fez
escorregar no assento. Focando seus olhos vidrados pela janela escurecida, ela viu que saíam da rodovia, prontos para entrar nas complicadas artérias asfaltadas
que levavam à incontáveis arranha-céus.
- Eu arruinei o seu batom, - ele disse com satisfação, enquanto se ajeitava. - Você trouxe mais?
Agora foi a vez dela se sair com huh-quê? - Deixa eu ver se tem algo aqui. - Ela remexeu na pequena bolsa preta que Marissa havia lhe dado. - Sim, elas pensaram
nisto.
Como se as fêmeas soubessem exatamente em que tipo de problema ela provavelmente se meteria, havia um pacotinho de lenços de papel, o delineador labial que haviam
lhe ensinado a usar, e o fabuloso batom vermelho que havia passado.
- Tem um espelho ali. - Trez estendeu o braço e puxou alguma coisa do teto. - Ele acende.
Ela verificou seu reflexo e teve de rir, - É, você realmente arruinou o batom.
Um lencinho cuidou da mancha e então era caso de cuidadosamente fazer uma linha contornando sua boca, bem na hora em que o carro passou por um buraco na estrada
que era quase, mas não completamente, regular.
- Droga, - ela disse, pegando outro lenço por ter acabado com uma linha cor de rosa no nariz. - Deixa eu tentar...
Trez segurou a mão dela e a baixou. Quando ela olhou para ele, os olhos dele, seus comoventes olhos pretos pareciam estar memorizando cada detalhe dela.
- Você não precisa disto, - ele disse, - gosto mais sem.
Selena sorriu timidamente. - Sim?
- Sim. - O olhar dele desceu para o seu corpo. E voltou a subir. - Isto é maravilhoso. Você está fantástica. É a fêmea mais linda na cidade hoje, e quando entrarmos
no restaurante, os garçons vão derrubar as bandejas. Mas, quer saber o que eu mais gosto em sua aparência?
Quando ele pausou, ela se viu engolindo em seco. - O quê? - Sussurrou.
- Você mesma, minha rainha, a aparência com a qual nasceu. Pelo que me consta, a perfeição não pode ser melhorada, nem pelos homens, nem por Deus. Inclinando-se,
ele beijou-a suavemente. - Só pensei que você gostaria de saber o que o seu macho está pensando quando olha para você.
Selena começou a sorrir, especialmente ao perceber que, às vezes, "eu te amo" pode ser expressado sem necessariamente usar estas três palavrinhas juntas.
- Vê? - Ela disse suavemente, - eu disse que esta ia ser a melhor noite da minha vida.
De carona na ambulância de Manny, Rhage comia Doritos direto do pacote, e discordava totalmente do médico. - Não, eu não sou um fã de Cool Ranch. Só como Original.
- Você está perdendo. - Manny deu seta para sair da rodovia. - Não acredito que você, dentre todo mundo, pode ser tão mente fechada quanto ao sabor de seus salgadinhos.
- Mas, este é o ponto. Por que melhorar uma dádiva de Deus?
Virando o pacote, ele olhou dentro e quis praguejar. Estava chegando ao fim dos grandes, restando nada mais do que os quebrados e aquele cósmico pozinho laranja.
Não que ele não fosse comer tudo, jogando a coisa direto do saco em sua boca aberta. Mas esta era a parte não-divertida da experiência, a que não envolvia a destreza
dos dedos.
Mastigando, ele voltou a focar na traseira do carro de ditador do terceiro mundo de Fritz. Aquele Mercedes era tão grande, tão preto e tão completamente escuro,
que chamava mais atenção ao passar do que seria esperado. Só de brincadeira, Rhage imaginou o que os humanos pensariam se soubessem que havia vampiros no banco de
trás.
E que a coisa estava sendo guiada por um mordomo centenário com um pé que faria o piloto Jeff Gordon ter um ataque de ciúme.
- Viramos aqui? - Rhage perguntou ao se aproximarem da intersecção.
- É contramão.
- Como eu disse, viramos?
Manny olhou para ele. - Não, se não quisermos ser presos.
- Estamos em uma ambulância.
- Sim, mas eles não.
Oh, certo. Droga. - Sabe, eu realmente queria ligar as luzes desta merda.
Só que, no instante em que disse isto, sua costela afundou ao redor dos pulmões e ele acabou tendo de baixar a janela um pouquinho para deixar entrar um pouco
de ar.
- Você sujou minha porta de nachos?
Rhage esfregou a mancha alaranjada com o antebraço - Não.
Eles continuaram grudados no pára-lama de Fritz igual a um selo em um envelope, virando a esquerda, afastando-se do rio, indo diretamente para o coração do distrito
financeiro. Sem becos escuros. Sem caçambas de lixo. Sem lama, mesmo nos meses chuvosos. E sem o cheiro nojento dos restos apodrecidos de restaurantes xexelentos.
Aquela era a parte chique da cidade, onde pessoas vestiam ternos e corriam por todo canto, canalizados como gado no curral, a seus lugares de Trabalho Urgente
e Importante.
O prédio que abrigava o restaurante onde eles estavam indo havia sido concluído um par de anos antes, e seus construtores alardeavam a enorme ascensão vertical
como o prédio mais alto em Caldwell. Abarrotado com os quartéis-generais de grandes negócios, para ele, não passava de um gabinete cheio de humanos, cada um guardado
em pequenos compartimentos.
Enfadonho.
- Você está bem?
Rhage olhou para o médico - Huh?
- Qual o problema?
- Nada.
- Então porque parou de comer? O pacote ainda não está vazio.
Rhage olhou para baixo. Verdade, ele deixara os restos onde estavam... E não tinha vontade nenhuma de terminar. - Ahhh...
- Está cuidando do peso?
- Sim. É isso.
Quando amassou o pacote, deixou manchas alaranjadas por todo o rótulo e embalagem, até a coisa parecer cheia de hematomas por maus tratos.
Então viu que a sua própria mão estava laranja. - Merda, não tenho como limpar.
- Tá brincando? - Manny jogou uma gaze para ele. - Podemos limpar e polir metade desta cidade com o que tenho aqui.
Rhage abriu o pacote e limpou-se; então jogou tudo na lixeira que havia entre os assentos.
Manny desacelerou ao chegarem ao prédio de vidro, então estacionou do outro lado da rua quando Fritz parou completamente diante da entrada iluminada, os faróis
traseiros do Mercedes brilhando vermelhos.
Um momento depois, Trez saiu e deu a volta no sedã, o vento forte tremulando seu paletó antes de ele se abotoar, exibindo as .40 gêmeas que havia colocado no
suporte sob seus dois braços.
Com um movimento galante, ele abriu a porta para sua fêmea, e Selena emergiu da traseira, os cabelos incríveis oscilando como uma bandeira negra para lá e para
cá.
- Casal bonito. - Manny disse baixinho.
- Ela nem parece doente.
- Eu sei.
Trez enganchou o braço no dela, e acompanhou-a pelos degraus de granito acima e, quando outro casal saiu pela porta giratória, ambos os humanos pararam e os
encararam.
- Manny.
- Sim?
- Você tem de fazer alguma coisa, cara. Você precisa descobrir que merda é essa e resolver isto para eles.
Manny ligou o motor, e o motor turbinado do RV acelerou, levando-os adiante, para contornar até os fundos do prédio.
- Você me ouviu? - Rhage exigiu.
- Sim, ouvi. - Manny respirou fundo - Sabe o que é o mais difícil de se aprender na medicina?
- Bioquímica?
- Não.
- Anatomia humana? Porque é nojento.
A seta fazia um som de nuk-nuk-nuk quando o médico anunciava ao mundo, ou pelo menos a esta rua, que virariam à esquerda de novo, em torno da base do arranha-céu.
- O mais difícil é entender que há situações onde não há nada que se possa fazer.
Rhage esfregou os olhos. Algo de seu subconsciente estava voltando a ele, algo que não queria.
- Rhage?
- Huh?
- Você fez um som engraçado aí.
Quando Manny voltou ao compartimento de serviços, ele executou uma elegante manobra em K de modo que a traseira do veículo ficasse colada ao prédio. Desligando
as coisas, ele se virou no assento.
- Tem certeza que está bem?
- Oh, sim. Uh-huh.
- Você não parece bem. E veja só o que eu estou usando: jaleco. Sabe o que isto significa.
- Que você gosta de sair de pijamas em seus passeios?
- Que eu sou um médico e sei do que estou falando.
- Deixe de paranóia, grandão.
Houve um intervalo ínfimo de silêncio. Então Manny disse, - Não há nada que eu não faria para ajudá-los. Nada.
Agora foi a vez de Rhage virar-se. - É o que eu precisava ouvir, Dr.
- Só não coloque sua fé em milagres, Hollywood. É uma aposta perigosa.
- Aconteceu para mim e Mary. Na hora em que precisamos, um milagre aconteceu.
Manny olhou para fora, através do pára-brisa... E não pareceu estar vendo nada da rua escura à frente. - Eu não sou Deus. E nem a Jane.
Rhage voltou a encostar-se a seu assento. - É preciso ter fé. Eles só precisam ter fé.
Capítulo TRINTA E TRÊS
Quando a porta da cela voltou a se abrir, iAm virou-se. Mas, ainda não era s'Ex. E não era mais uma cama. Nem mais livros que ele não iria ler, ou cobertas que
não usaria, ou travesseiros para os quais, não ligava a mínima.
Era a serviçal com outra refeição.
- Ah, qual é! - Exclamou ele, meneando a mãos. - Onde, caralho, está s'Ex?!
A fêmea não disse nada; simplesmente avançou com aquela sua bandeja enquanto a porta deslizava de novo para seu lugar, isolando-os juntos.
Quando ela se ajoelhou, ele quis gritar. E gritou.
- Eu não vou comer porra nenhuma! Jesus Cristo, qual o problema de vocês?
A única coisa que o impedia de marchar até ela, pegar aquela porra de comida e jogá-la do outro lado do quarto, era o fato de não ser culpa da maichen. A traição
de s'Ex não tinha nada a ver com ela, e aterrorizar a maldita serviçal não ia deixá-lo nem um pouco mais próximo da liberdade ou de seu retorno para Trez.
Ela era uma vítima inocente, pega no meio desta merda, do mesmo jeito que ele.
Exalando em um rompante, ele baixou a cabeça. Levou-lhe alguns momentos até recobrar um mínimo de controle. - Desculpe.
Diante daquilo, a cabeça dela ergueu-se um pouco, e por um momento, especialmente quando seu aroma o atingiu, ele desejou poder ver os olhos dela.
Qual será o formato deles? Como seriam os cílios? Seriam as íris tão escuras quanto às dele...
Por que caralho ele estava pensando nisto?
Afastando-se dela, começou a perambular. - Eu tenho de sair daqui. O tempo está acabando.
Quando ela inclinou a cabeça para o lado, em sinal de questionamento, ele pensou, Não. Não vou fazer isto.
Ele indicou a bandeja. - Se quiser, deixe a comida aí que eu jogo na privada, para que não se encrenque por não me alimentar.
E foi quando ela falou - Não está envenenada.
Sem nenhum bom motivo, aquelas três palavras, em nada especiais, o fizeram congelar. A voz dela era mais profunda do que ele havia imaginado; toda a subserviência
dela parecia combinar melhor com algum tom super feminino de alta oitava. E havia aquela tonalidade baixa e rouca... Que o fazia pensar em sexo.
Sexo rude. Do tipo que deixava as fêmeas roucas de tanto gritar o nome de seu amante.
iAm piscou.
De repente, sentiu vontade de cobrir o corpo nu. Que era, tipo, besteira, não era? Ele sabia que ela era uma fêmea o tempo todo e, não era como se jamais tivesse
usado roupas na frente dela.
Cedendo ao impulso, ele foi para trás do biombo, na direção da pilha de toalhas que ficava perto da banheira embutida. Ao enrolar uma em volta dos quadris, sentiu-se
como se desculpando por ter ousado andar com o pau ao vento.
Quando ele voltou, ela novamente provava a sopa e o pão.
- Pode parar. - Ele disse. - Não vou comer.
- Por quê?
De novo, aquela voz. Mesmo em poucas palavras desta vez.
- Tenho de sair daqui, - murmurou ele. Por uma muitos motivos. - Eu tenho de sair.
- Tem algo a sua espera?
Ele pensou em Trez e Selena. - Só morte. Sabe, não é nenhum fodido grande problema ou coisa assim.
- Como é?
- Ouça, preciso que vá embora. E não volte até trazer s'Ex com você.
- Quem?
Eeeee ele parou de novo. Serviçais jamais eram imperativas, mas era assim que ela soava. Então, de novo, as emoções dele estavam tão elevadas, que ele se sentia
capaz de interpretar praticamente qualquer coisa agora... E pular para a conclusão errada.
- Eu voltei aqui para procurar ajuda, está bem? - Ele ergueu as mãos. - s'Ex me disse que me ajudaria a entrar no palácio, para que eu pudesse pesquisar nos
registros dos curandeiros.
- Ajuda para quem?
- Para a companheira de meu irmão.
A cabeça da serviçal se ergueu argutamente. - Mas ele não é o companheiro da Princesa aqui? Ouvi dizer que ele era O Consagrado.
- Ele se apaixonou. - iAm deu de ombros - Acontece. Ou é o que dizem.
- E é ela quem está morrendo?
- Ela não está bem.
Ele voltou a perambular, podia sentir os olhos por trás daquela malha seguindo-o. - Então é por isto que eu preciso sair. Meu irmão precisa de ajuda.
- Ele está na cerimônia de luto. O carrasco.
iAm desviou o olhar e, então, voltou a andar pela cela. - Sim, eu sei, mas ele disse que teria liberdade suficiente para me encontrar no exterior. A viagem seria
mais curta, agora que estou dentro do próprio palácio.
- Mas, esta é a questão. Ele partiu e ninguém sabe para onde ele foi. O palácio queria que ele participasse. O palácio... Insistiu que ele atendesse à Rainha.
Ele está com ela agora.
Que sorte a dele. - Mas há intervalos nos rituais, não há? Não pode procurá-lo durante estes intervalos?
- Bem... Talvez eu possa te levar aos registros?
iAm voltou lentamente sua cabeça, - O que você disse?
Mais. Longa. Viagem. De. Elevador. Da. Vida. Dele.
Enquanto Trez permanecia em pé, ao lado de Selena em uma câmera de tortura de paredes envidraçadas, encarava resolutamente as portas fechadas... E rezava para
que algum tipo de fenda do tempo estilo Dr. Who, o tirasse daquela maldição naquela porra de minuto.
Com os globos oculares grudados na fileira iluminada de números acima das portas cromadas, ele queria vomitar.
... 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50...
O "44" ainda estava por ser iluminado, porque eles estavam na parte super-hiper-mega-expressa-e-rápida daquele alegre passeio.
- Oh, você precisa ver isto! - Selena disse, virando na direção do fornecedor gratuito de vertigem. - Isto é tão divertido!
Um rápido olhar por sobre o ombro e ele quase gritou. Sua linda rainha não tinha apenas se aproximado do vidro, mas estava com as palmas das mãos apoiadas nele,
e se inclinava para a vista cada vez mais alta.
Trez virou-se novamente. - Quase lá. Estamos quase no topo.
- Podemos descer e voltar a subir? Fico imaginando como é a descida.
Na verdade, talvez eles devessem voltar ao saguão. Ele tinha quase certeza que sua masculinidade havia ficado lá quando esta subida de foguete se iniciou.
- Trez! - toc, toc, toc em seu antebraço, - Olhe para isto.
- Ah, é... É incrível... Sim. Absolutamente.
Eles jamais chegariam aos quatrocentos e quarenta e quatro andares. Muito menos no nível cinco mil porrilhões onde o caralho do restaurante ficava.
McDonald's, ele pensou. Por que ela não queria ir ao Mickey D. ou ao Pizza Hut, ao Inferno do Taco Bell...
Bip!
Diante do som, ele preparou-se para um momento Duro de Matar onde algum supervilão em um elegante terno inglês explodiria o prédio todo.
Não. Bip! Quarenta e cinco. Bip! Quarenta e seis.
E, mais boas novas vieram quando aquela viagem aos céus se tornou mais lenta.
- Trez?
- Mmm?
- Tem algo errado?
- Só estou faminto. Oh, meu Deus, não posso esperar para chegar lá.
Ela enfiou o braço sob o dele e encostou a cabeça contra seu tríceps. - Você realmente sabe como tratar uma fêmea.
Claro que ele sabia. Por exemplo, tinha certeza absoluta de que não seria considerado nada romântico se deitar em posição fetal e sugar o dedão porque era um
covarde em se tratando de altura.
Bing! E as portas se abriram.
Obrigado, menino Jesus, para usar uma frase de Butch.
Agora, ele disse a si mesmo, controle-se, seu covarde e concentre-se na sua fêmea.
Exibindo à sua rainha um sorriso Cary Grant cheio de presas, ele acompanhou Selena para fora da armadilha da morte, para um lobby de mármore que, por uma fração
de segundos, levou-o de volta ao seu pesadelo no s'Hisbe: havia pedras pretas brilhantes demais nas paredes, chão e teto, com luzes embutidas no teto e nada mais.
- Trez?
Estremecendo, ele sorriu para ela - Está pronta?
- Oh sim.
Uma discreta placa em preto sobre preto, com uma seta indicava o caminho para o restaurante, mas seus sentidos aguçados de audição e olfato já havia lhe dado
aquela informação, obrigado. Ao se dirigirem para lá, um casal humano passou apressadamente por eles, os saltos altos da fêmea como um "Foda-se" expressado a cada
passo que ela dava.
- ... Sem reserva? - Ela sibilou - Como pode não fazer a reserva?
O homem próximo a ela olhava para frente. Com o olhar de alguém preso perto de uma criança de três anos em um ônibus.
- Não acredito que não fez a reserva. E tivemos de sair deste jeito. Na frente de todo mundo...
Enquanto ela continuava marchando naquele mesmo tema, os olhos do homem se fixaram em Selena... E o pobre bastardo recuou em admiração como se um anjo vivo tivesse
aparecido em sua frente.
Depois de Trez afirmar ao seu macho vinculado interior que uma entrada apropriada não incluía Filé ao Molho de Fodido Intrometido, lembrou que também ele, havia
se esquecido de ligar antes para fazer a reserva. Merda. Ele se esquecera totalmente de pedir a Fritz para fazer a maldita ligação. E controle de mente funcionava
em humanos, inclusive nos esnobes maitres, mas, isso não resolvia o fator indisponibilidade de assentos vazios.
Ahh...
- Sabe, eu ouvi que a comida aqui não é tudo isso, - ele disse, entorpecido.
- Tudo bem, estou aqui mais pela vista.
A entrada do Circle the World não era indicada por nenhum letreiro, como se, caso fosse necessário perguntar, você não devia estar ali. Tudo o que havia era
um par de portas de vidro escuro, tão largas e altas como uma casa térrea.
Segurando as maçanetas negras, ele empurrou uma das portas e deixou Selena entrar.
Restrição total.
Aquela foi a primeira impressão do lugar: preto brilhante em todos os cantos, das mesas e cadeiras geométricas aos suportes quadrados que apoiavam o teto. Sem
flores. Sem velas. Nada espalhafatoso. E a noite escura além de todas aquelas janelas? Também preta, de forma que não parecia haver divisão entre o céu e o interior.
O único toque de extravagância? As luzes LED ondulantes que se dependuravam daquele teto aberto em cabos negros, sua luz cintilante refletindo todo aquele alto
brilho.
Oh, e havia uma soprano cantando em um canto, sua voz doce espalhando-se por todo o lugar.
- Eu nunca vi nada disto, - Selena suspirou, - é como se houvessem estrelas por todo os lados.
Ele olhou em volta - É.
Está bem, cadê o cavalheiro em roupa de pinguim encarregado de mandar embora um monte de gente cheia de grana? Não havia nenhum maitre à entrada. Só nove metros
de tapete preto levando à primeira fileira de mesas minimalistas.
- Estão olhando para nós.
Diante das palavras sussurradas, ele franziu o cenho e encarou os frequentadores. Bem, quem diria. Cada um dos humanos às mesas parecia haver parado de comer
e olhavam na direção deles...
De repente, uma mulher se aproximou. Como a decoração, ela estava toda de preto, e mesmo o seu cabelo era um capacete liso e molhado de alto brilho.
- Como vão, - ela disse, com um sorriso amplo. - Bem-vindos ao Circle the World.
E agora iremos nos autodestruir em três... Dois... - É... Eu não liguei antes...
- Oh, Sr. Latimer, sim, ligou. Seu representante, Sr. Perlmutter nos avisou que nos agraciaria com sua presença. Temos imenso prazer em acomodá-los perto das
janelas.
Pooooooorra.
Obrigado, obrigado, Fritz, mordomo salva-vidas supremo... Que havia claramente cuidado das coisas.
Quando sua rainha ficou radiante, a mulher indicou o caminho através do salão aberto... E quando a seguiram, Trez percebeu que eles haviam entrado em um vasto
prato que girava lentamente: o restaurante inteiro se movia em volta do eixo central do elevador e do que devia ser o espaço da cozinha.
Eles foram diretamente à beira. A uma mesa para dois que tinha uma das suas generosas laterais diretamente contra o vidro.
Sob o qual a cidade de Caldwell inteira se estendia, cerca de cento e vinte mil metros abaixo.
Hora de sentar, ele pensou, rezando para que seu ataque de nervosismo não fizesse seus joelhos fraquejarem antes dele acomodar apropriadamente a sua rainha.
Ajudando Selena a se sentar, ele manteve os olhos afastados ao ir para o outro lado da mesa e desabar em uma cadeira dura como pedra.
A maitre estendeu a mão pálida acima da mesa, em direção às malditas janelas. - Este será o tempero de sua refeição esta noite.
Não, o tempero será a náusea, queridinha.
Ela se voltou para o resto do local. - O interior foi desenvolvido para a noite ser o plano de fundo perfeito para saborear o que o chef servirá para seu prazer.
Quando estavam sozinhos, Selena moveu-se para perto da janela - É... Incrível. As luzes dos prédios. São como estrelas cadentes.
Trez limpou as palmas suadas no guardanapo. Preparando-se, ele olhou para lá e viu que, bem, sim, era tão ruim quanto ele imaginara. Espiar pelo vidro absolutamente
transparente, era como se nada o separasse de uma queda mortal, a ausência de bordas transformando mesmo uma fração de segundo de contato visual, em um passo aterrorizante
para dentro do abismo.
Hora de levar o guardanapo à sobrancelha.
- Trez? - Ela olhou para ele - Você está bem?
Controlando-se, ele estendeu a mão e tomou a dela.
- Já te disse como elas são lindas? - Ele murmurou.
O sorriso dela foi radiante. - Sim, mas eu nunca me canso de ouvir.
- Tão lindas, - passou suas palmas sobre as dela. Então se inclinou e pousou um beijo em sua pele. - Longas e adoráveis. Fortes também.
Quando finalmente olhou para cima, foi diretamente nos olhos dela, e foi quando as coisas melhoraram. Um momento depois, não estava mais preocupado com seu medo
de altura, nem pensava sobre os humanos ao redor, e não dava a mínima para a vista iluminada que sutilmente os rodeava.
Com a mão dela nas suas e aquele lindo rosto encarando-o, foi transportado para longe de tudo aquilo.
- Eu te amo. - Ele disse, esfregando seu polegar na parte interna do pulso dela. - Ninguém poderia fazer isto comigo.
- Fazer o que?
- Me fazer esquecer meu medo.
Ela enrubesceu. - Eu não queria perguntar, mas porque não me disse que não gosta de altura? Eu achei que ia pular para fora da pele no elevador. Podíamos ter
ido a outro lugar.
- Mas era aqui que você queria vir. Como se eu não fosse aguentar por você?
- Eu gostaria que nós dois aproveitássemos a noite.
Ele semicerrou as pálpebras - Eu me diverti no carro. Já estou imaginando a viagem de volta.
Quando o aroma dela se acendeu, ela exalou um som semelhante a um ronronar.
Mais tarde, muito mais tarde, ele se lembraria daquele momento entre eles... Do jeito que parecia que duraria para sempre, se esticando no divino infinito. Todos
os detalhes permaneceriam com ele, também, do brilho nos olhos dela, ao brilho de seus cabelos, do jeito que ela sorria para ele ao rubor nas faces.
As lembranças eram especialmente preciosas, quando eram tudo o que restava de um ser amado, para se apegar.
Capítulo TRINTA E QUATRO
- O que foi? O que... O que é este alarme?
Layla estava bem atrás de Qhuinn quando ele entrou de supetão no quarto onde o irmão estava internado e começou a falar. Por cima do ombro dele, viu a Dra. Jane
em pé, ao lado da cama, e Luchas deitado imóvel, com o camisolão do hospital erguido até a cintura, as cobertas afastadas do corpo rígido, os travesseiros caídos
no chão.
Um dos equipamentos médicos foi empurrado até a cama e enquanto Ehlena digitava algo no teclado, a Dra. Jane aplicava um par de placas diretamente sobre o peito
de Luchas.
Houve um som espremido seguido de uma pequena explosão, e na cama, seu torso convulsionou para cima.
E ainda assim, o alarme continuava soando, uma nota única, o equivalente mecânico a um grito.
- Luchas! - Qhuinn gritou. - Luchas!
Layla achou melhor detê-lo, então passou os braços ao redor do tórax largo, pressionando sua barriga contra ele. - Fique aqui, - disse ela, em um resmungo. -
Deixe-as fazerem...
- Afastar! - Dra. Jane gritou.
A cama balançou quando o tórax de Luchas convulsionou novamente, e quando voltou a cair, o coração da própria Layla trovejou. Ela não podia acreditar que estava
novamente presenciando aquilo. Ontem foi Selena, agora era...
Bip. Bip. Bip.
- Consegui uma pulsação. - Dra. Jane largou o que estava em suas mãos, jogando as placas na direção da máquina. - Preciso que você...
Ehlena obedeceu imediatamente aos comandos, à medida que a médica falava, entregando seringas cheias de medicação uma após outra, antes de encaixar uma máscara
de oxigênio sobre o rosto de Luchas e ajustar ainda mais equipamentos.
Cerca de dez minutos, ou podem ter sido dez horas, mais tarde, Dra. Jane se aproximou:
- Preciso falar com você. - Indicou o corredor mais adiante, - aqui fora, por favor.
Ao saírem do quarto, a Dra. Jane fechou rapidamente a porta, antes que esta se fechasse sozinha:
- Qhuinn, não tenho como amenizar isto. Para ele sobreviver, vou ter de amputar parte da perna, e tem de ser agora. A infecção está acabando com ele e é a fonte
dos problemas. Inferno, mesmo se eu cortar abaixo do joelho, já pode ser tarde demais. Mas, se quiser lhe dar uma chance, é o que temos de fazer.
Qhuinn nem piscou. Não praguejou. Não discutiu. - Está bem. Pode cortar a maldita perna.
Layla fechou os olhos e pousou a mão na a base da garganta, em angústia.
- Está bem. Quero que fique fora daqui. Não precisa assistir a cirurgia. - Quando Qhuinn abriu a boca, a doutora o interrompeu. - Não, não é uma escolha, se
o pior acontecer, eu te deixo entrar para se despedir. Fique fora.
Desta vez a porta se fechou sozinha, se encaixando no lugar.
Fechando brevemente os olhos, Layla não conseguia imaginar o que estavam fazendo lá dentro. Mas havia uma porção de equipamentos cirúrgicos com eles, como se
a Dra. Jane já estivesse preparada para isto.
E dada a velocidade da resposta de Qhuinn, ele também.
- Ele vai me matar, - disse ele, rudemente. - Se sobreviver.
- Você não tinha escolha.
- Eu podia deixá-lo morrer.
- Poderia viver com sua consciência se fizesse isso?
- Não.
- Então não havia escolha. - Ela colocou as mãos no rosto e tentou visualizar, em sua mente, Luchas naquela cama. - Deus, como isto foi acontecer?
- Talvez eu deva dizer a ela para parar.
- E então o que?
- Não sei. Não sei de porra nenhuma.
Eles ficaram no corredor por uma eternidade, e Layla tentou não ouvir os sons do outro lado daquela porta, especialmente quando houve um sutil whrrrring que
se parecia muito com uma serra elétrica em miniatura, sendo ligado. Ao passo que ela permanecia imóvel, Qhuinn perambulava para frente e para trás, cabeça baixa,
olhos grudados nas botas, mãos nos quadris. Depois de um tempo, ele parou e olhou para ela.
- Obrigado. Sabe, por não me deixar sozinho.
Aproximando-se dele, ela abriu bem os braços e ele se aproximou, inclinando-se para pousar a cabeça no ombro dela. Enquanto esperavam juntos, ela o abraçou porque
era tudo o que podia fazer.
Mas, não parecia suficiente.
Aproximadamente dez quarteirões à frente e cinquenta andares abaixo do Circle the World, Xcor estava em pé, rente a uma úmida parede de tijolos.
O lesser que ele e Balthazar haviam rastreado estava atrás e à esquerda de onde estava, o fedor do corpo dele subia em ondas, ao sabor de uma brisa que carregava
um forte cheiro de resíduos industriais, misturado à sujeira.
Seu corpo ansiava por uma briga, tudo o que acontecera com Layla na noite anterior, fizera os seus demônios interiores atormentarem-no tanto, e deixaram-no em
um humor tão insuportável, que os seus soldados o largaram no porão, sozinho durante as horas do dia.
Era melhor arriscar-se à luz do sol do que lidar com o mau-humor dele.
Pelo menos ele tinha ali a expectativa de uma boa matança.
Ao seu sinal, Balthazar se desmaterializou acima do asfalto úmido, se tornando uma das sombras do prédio, do outro lado da rua. A noite estava clara acima, mas
a luz do luar adicional era uma complicação desnecessária. O centro de Caldwell já tinha iluminação suficiente para ler um livro, mesmo ali onde estava, naquele
beco estreito.
Caso ele se tornasse magicamente alfabetizado.
Permanecer nas sombras não era somente parte do mito vampírico, mas uma realidade muito prudente para todos eles. Com movimentos praticados, sacou a foice de
seu suporte, liberando a arma da tira que a prendia às suas costas. Balthazar, por outro lado, que preferia armas mais convencionais, trazia uma adaga dupla, e as
lâminas pálidas iluminaram-se enquanto ele as mantinha próximas às coxas.
Ouviram sons de passos passando por eles. Rápidos, múltiplos, mas não correndo.
Dois machos humanos, com as mãos nos bolsos, pés se movendo rapidamente, desceram o beco. Eles não prestaram atenção ao passarem, e, provavelmente isto foi o
que lhes salvou as vidinhas inúteis.
E então foi questão de esperar.
Um som de passos únicos agora, em uma velocidade muito maior. Acompanhado do fedor que precedia os mortos-vivos.
Quando o lesser apareceu, dobrando uma esquina e entrando no beco onde estavam, também não prestava atenção neles. Tinha dinheiro nas mãos, soma pela qual parecia
obcecado, contando, recontando, enquanto andava.
Xcor saiu de seu esconderijo. - Quantos paus teve de chupar para receber essa grana?
O lesser rodopiou, enfiando o dinheiro em um casaco folgado. Antes que pudesse responder, Balthazar saiu de sua posição, saltando no ar e chegando ao chão com
as adagas já nas mãos. O assassino gritou quando aquelas lâminas o penetraram no ombro e garganta, provando que, embora não possuísse alma ou coração, o sistema
nervoso central dos bastardos registrava dor de forma bem eficiente.
E foi quando as balas começaram a voar.
Xcor estava se virando, preparado para lançar sua adorada foice em um gesto largo assim que Balthazar se afastasse, quando um estouro soou próximo a ele. E então
outro.
E então vários deles.
As descargas eram rápidas demais até mesmo para automáticas.
O primeiro tiro que levou foi no ombro. O segundo na coxa. O terceiro raspou seu ouvido, deixando uma ardência que parecia um semáforo piscando em vermelho brilhante
na lateral de sua cabeça.
Balthazar também foi atingido.
Não restava alternativa além de correr e rezar. Seriam humanos? Improvável, mas não impossível. Não poderiam ser lessers; eles eram tão pobremente armados, que
o armamento mais pesado que traziam aos becos era nove milímetros, e ainda assim, muito poucas.
Um rápido movimento de esquiva à direita e ele e Balthazar entraram em uma rua mais estreita, temporariamente fora da área do massacre. Aquilo mudaria tão logo
o atirador, ou atiradores, aparecesse na esquina por onde tinham vindo.
- Esquerda! - Balthazar comandou.
Precisamente, havia mais uma alternativa no labirinto de ruas para escolher, e eles se desmaterializaram no beco seguinte, ironicamente ultrapassando o par de
humanos que haviam visto antes. Os dois homens também estavam indo o mais rápido que podiam, obviamente haviam ouvido o tiroteio. Mas a velocidade deles era bem
mais lenta.
Então, quando a metralhadora dobrou a esquina, eles já tinham uma boa cobertura.
Gritos, do fundo da garganta e cheios de terror, explodiram quando a próxima rodada de fogo se abateu sobre eles, a maioria dos impactos atingindo os humanos.
- Esquerda! - Xcor disse, liderando a fuga.
Sua coxa estava ficando entorpecida, mas não perdeu tempo olhando para baixo para medir o dano. Faria aquilo mais tarde, se sobrevivesse.
Outra bala passou perto, o som assobiando em seu ouvido, alto o bastante para se sobrepor até mesmo a seu fôlego entrecortado e o trovejar de seus passos.
Balthazar estava ao seu lado, o grande corpo em uma corrida desenfreada.
Mais disparos atingiram uma caçamba de lixo, quando passaram por ela. O muro. O asfalto. De vez em quando havia pausas, como se a arma ou armas estivessem sendo
recarregadas... Ou talvez houvesse dois deles trabalhando juntos, um recarregando enquanto o outro atirava.
Continuar a correr. Era tudo o que podiam fazer.
Nenhum dos becos por onde passavam oferecia um lugar relevante para se esconder; de fato, não havia nem portas para arrombar.
Era estritamente questão de esperar até acabar a munição que os atiradores tinham. Supondo que ele e seu guerreiro não fossem derrubados antes.
Quando as rodadas seguintes chegaram a eles, ele soube, sem olhar para trás que deviam ser lessers, e não humanos que os perseguiam.
Somente lessers podiam correr tão rápido, por tanto tempo... E aparentar ter energia suficiente para continuar a ir.
Era possível, notou no fundo da mente, que ele e seu soldado estivessem em problemas.
Capítulo TRINTA E CINCO
- A conta já está paga.
Trez parou em meio ao processo de tirar a carteira do bolso.
- Como é?
- Já está paga. - O garçom sorriu e fez uma reverência. - Foi um prazer servi-los.
Jesus, se ele não soubesse que o cara era humano, acharia que alguém da equipe de Fritz os seguira até ali. O serviço fora fenomenal a noite inteira.
- Aproveitem seus cappuccinos.
Trez olhou para Selena. Seus olhos estavam fixos na paisagem de novo, mas ela já não sorria. Seu perfil perfeito estava vincado de linhas sombrias.
Esticando a mão, tomou as mãos dela entre as suas, sentindo um pico de medo crescer em seu peito. - Você está bem?
Sem pensar, enfiou a mão por dentro do casaco e segurou o celular.
- Oh sim. - Só que ela não olhou para ele.
O ruído suave de conversa ao redor deles havia diminuído e os passos largos dos garçons haviam desaparecido de sua proximidade.
- Selena, o que há?
- Eu não quero que acabe.
- Nós podemos vir aqui outras vezes.
- Sim. - Ela apertou a mão dele. - É claro.
Enquanto o restaurante continuava a girar, girar e girar, os fundos do Commodore tornou-se novamente visível, a imensa altura do prédio salpicada por luzes aleatórias,
incluindo algumas na cobertura.
Provavelmente Rehv já estava lá.
Trez baixou o olhar para o café no qual não tocara. O creme estava temperado com canela, da qual ele jamais fora muito fã. Ele o pedira somente porque sua rainha
não parecia querer ir embora.
- Foi muito gentil da parte deles, - ela murmurou, - pagar pelo jantar.
- Eu vou cuidar disto quando chegar em casa.
- Você devia aceitar a gentileza.
Trez procurou o que podia ver do corpo dela, buscando por sinais de que estivesse tendo problemas que requereriam uma ligação rápida para Manny e Rhage, que
aguardavam lá embaixo.
- Selena?
Ela assustou e olhou para ele. - Desculpe?
- Quer pedir outra sobremesa?
- Não. - Ela deu mais um leve aperto na mão dele, antes de soltá-lo e dobrar seu guardanapo antes de pousá-lo na mesa - Vamos?
Ele afastou a cadeira para ajudá-la, tão rápido que os quatro pés arranharam o chão brilhoso. - Aqui, deixe-me...
Mas sua rainha se levantou sozinha com um movimento elegante, o corpo perfeitamente estável, perfeitamente tranquilo. Pelo menos fisicamente. Ele podia sentir
o peso em seu humor.
Acompanhando-a para fora, ele tomou consciência dos olhares ao redor, novamente em cima deles, comentários sussurrados sendo feitos por trás de bordas de taças
de vinhos e quadrados de guardanapos, enquanto os humanos tentavam reconhecê-los como celebridades. Havia certa satisfação no fato de que a galera da primeira fila
jamais conseguiria.
Junto às grandes portas de vidro, ele abriu um dos lados para ela, e quando ela atravessou, parou e olhou por cima do ombro, como se temesse se esquecer de alguma
nuance da aparência, cheiro ou som do lugar.
- Nós sempre poderemos voltar, - ele repetiu.
- Oh, sim.
- Ela lhe deu um sorriso e continuou indo para aquele espaço aberto minimalista onde os elevadores ficavam. Adiantando-se, ele apertou o botão e esperou ao lado
dela, colocando a mão em sua cintura.
- Então aonde quer ir em seguida? - Ele perguntou.
- Quer dizer, hoje? Estou meio cansada...
- Não, amanhã à noite.
Ela olhou para ele. - Eu...
- Vamos. Dê-me um próximo destino para que eu tenha como organizar as coisas para amanhã.
As portas dos elevadores se abriram, e ele levou-a para dentro... E ele estava tão focado nela que mal notou aquela horrível parede de vidro que se abria para
o lobby. Pressionando o botão do térreo, ele acariciou o ombro de Selena.
- Então...? - Quando ela não respondeu, ele se inclinou e beijou a lateral de sua garganta. - Esta não é a única noite que vamos ter.
- Como pode saber? - Ela encontrou o olhar dele. - Eu não quero arruinar tudo, mas como você sabe?
- Porque eu não vou aceitar de outra forma.
Virando-a para encará-lo, ele deliberadamente pressionou os quadris contra o corpo dela e cobriu os lábios dela com os seus. - A menos que esteja enjoada de
mim. Ou seriamente nada-impressionada por eu ser um covarde vertical.
Os olhos dela pareciam muito azuis e muito assustados ao encontrar os dele - Barco.
Ele havia esperado outra coisa. - Como é?
- Eu, ah, eu quero sair em um passeio de barco no rio.
- Rápido ou lento?
- Ambos?
- Você vai ter.
- Simples assim? - Ela sussurrou. - Você pode realizar qualquer coisa?
Ele encostou a boca no ouvido dela e sussurrou. - Volte para o meu quarto e vou te mostrar como sou talentoso.
Enquanto o aroma dela mudava, ele acariciou-a com o nariz, beijando-lhe o pescoço, mordiscando lhe a veia. Ele não estava sendo justo, é claro. Sabia que ela
estava sendo praticamente distraída, e ele queria mesmo que estivesse. Na verdade, ele não podia garantir a noite de amanhã ou mesmo o próximo amanhecer, mas, como
memórias eternas, a ilusão deles tendo todo aquele tempo teria de durar pelo resto de tempo que tivessem.
Beijando-a, abraçando-a e sentindo o corpo dela contra o seu, ele discretamente tirou o celular e ergueu-o às suas costas. O texto para Manny e Rhage foi curto
e grosso: Ipc obr.
Indo para casa. Obrigado.
O elevador chegou ao térreo direitinho, e os beijos ajudaram-no também a se distrair. E então saíram do prédio, para a fria e tempestuosa noite de outono. Fritz
estava com o Mercedes do outro lado da rua, e o doggen trouxe o carro para frente do prédio assim que os viu.
Sem demora o mordomo saiu e abriu a porta.
Trez queria ter aberto a porta para ela.
No momento em que ela deslizou para o interior cálido, o último som que ele esperava ouvir na presença dela, captou sua atenção:
Pop-pop-pop.
Tiros.
Porra.
Trez pulou no sedã com ela, se levantando entre os assentos. - Tire-nos daqui! Agora!
Fritz não hesitou. Engatou a ré e acelerou tanto que Trez quase acabou dando uma de odorizador no para-brisa traseiro. Recobrando-se rápido, cobriu Selena com
seu corpo, para prender o cinto de segurança dela. Puxando a faixa sobre ela, ele tinha acabado de encaixar o troço quando a força centrífuga o jogou contra o lado
oposto do banco, batendo a cabeça, mas ele não ligou a mínima. Apoiando o pé no vão dos pneus, a mão no teto e na porta, equilibrou-se para não cair sobre Selena
enquanto terminavam a manobra que os colocaria no lado correto do caminho.
O que os deixava na contramão da rua de mão-única pela qual haviam vindo.
- Vamos em frente. - Fritz gritou acima do ruído dos pneus.
O rugido do motor do Mercedes-Benz e a explosão que se seguiu, lembrou a Trez a decolagem de um avião. Enquanto seu corpo era sugado contra o banco, ele olhou
para Selena.
Os olhos dela estavam arregalados. - Qual o problema? O que está havendo?
Os prédios de ambos os lados da rua de três vias eram aço, vidro e concreto pálido e começaram a piscar, mais rápido, mais rápido, mais rápido. Olhando para
cima e adiante, Trez verificou que na rua, os pára-choques dos carros estacionados os encaravam como pais desaprovadores, enquanto iam na direção errada.
- Nada aconteceu! - Ele gritou acima de todo aquele barulho. - Eu só estou realmente ansioso para vê-la nua...
As sobrancelhas de Selena se ergueram ainda mais, - Trez, eu ouvi alguma coisa..
- ... Porque estou desesperado para te possuir!
- ... Que pareceu um tiro!
Ambos gritavam acima do motor, alternando as falas, enquanto Fritz fugia como um morcego do poço do inferno para longe das balas.
E então a diversão começou de verdade.
Eles haviam passado por dois quarteirões, quando as viaturas de polícia começaram a aparecer. E diferente do Benz? Os carros azuis e brancos com o giroflex estavam
do lado certo da rua.
- Eu vou pela calçada, - Fritz gritou - Vai sacolejar um pouquinho...
Aquele mordomo maluco filho da puta, virou o volante à esquerda e subiu o meio-fio, colidindo com um hidrante, que prontamente explodiu à sua passagem, enviando
um jorro de água a elevar-se no ar. E então, pela graça de Deus, o Benz pousou como um cavalheiro, seus amortecedores de primeira qualidade, suavizando o que sem
dúvida teria sido um baque e tanto.
Virando-se, Trez olhou pelo para-brisa traseiro. As viaturas manobravam e desembestavam atrás deles quando Fritz bateu em uma parede de expositores de jornais,
mandando caixas plásticas vermelhas, amarelas e verdes pelos ares à passagem deles. As coisas frágeis se quebraram quando bateram na calçada, folhas de papel flutuaram
como pombas libertadas de gaiolas.
Quando se voltou para Selena, preparou-se, tentando pensar em um jeito de tranquilizá-la...
Ao contrário.
Selena vibrava de excitação, suas presas visíveis, graças ao enorme riso que borbulhava dela ao se apoiar na porta.
- Mais rápido! - Ela gritou para Fritz. - Vamos vai rápido!
- Como quiser, ama!
Um novo rugido daquele pedaço massivo de engenharia alemã sob o capô enviou-os inclinando não só calçada abaixo, mas diretamente aos limites das leis da física.
Selena olhou para ele. - Esta é a melhor noite do mundo!
- Está bem, hora de ir.
Rhage meneou a cabeça para Manny. - Me pergunto o que eles comeram no jantar. - Ele verificou o celular de novo e desejou realmente ter ido à churrascaria. Ele
só mentira a respeito para tranquilizar Trez. - Ele não disse nada sobre entrada ou sobremesa. Digo, vamos lá, ele podia ter dado alguns detalhes. Só recebemos oito
letras do cara.
- Na verdade, foram seis.
- Foi o que eu disse.
Os Doritos haviam deixado de fazer efeito há uma hora. Mas também, às vezes ele podia dizer o mesmo de uma refeição completa com três pratos.
Manny ligou o RV e guiou, a ambulância passou por cima de um buraco, e então ganhou velocidade. - É melhor eu correr. Fritz tem o pé pesado.
- Tipo, eles comeram rosbife? Eu vi, em uma revista, uma foto de um prato de rosbife que servem lá em cima...
Bum!
Bem na hora em que se depararam com uma encruzilhada de becos, algo grande apareceu na frente deles e caiu sobre o capô. Quando Manny pisou no freio, um peso
massivo rolou.
- Jesus Cristo, era um cervo? - O médico gritou.
- Talvez um alce.
Rhage sacou ambas as armas e estava a ponto de pular quando a chuva de balas começou. Sons altos e metálicos de "pings" ricochetearam no RV e racharam o espesso
vidro.
- Oh, pelo amor da porra, - Manny exclamou. Então gritou através do para-brisa para os atiradores. - Eu acabei de comprar esta coisa!
Rhage tateou a maçaneta da sua porta, mas não conseguiu abrir. - Me deixe sair!
Ping-ping-ping. - De jeito nenhum, você vai acabar se matando!
- Somos um alvo fácil aqui.
- Não somos não.
Repentinamente, cerca de doze centímetros de placas de metal cobriram cada centímetro quadrado de vidro que lá havia no RV. Instantaneamente, o som dos tiros
foi abafado até uma batida distante.
Rhage observou em relativo silêncio. - Você é um gênio.
- Harold Ramis é.
- Quem?
- Você nunca viu Recrutas da Pesada? Meu filme favorito de todos os tempos. Eu baseei esta coisa no veículo de Bill Murray.
- Eu sabia que gostava de você. - Rhage olhou rapidamente para o telefone. Não havia Irmãos nos arredores, o que era bom, dado o tiroteio. - Só há um problema...
Não podemos ficar parados aqui. A polícia humana logo vai cercar...
Uma tela de LED do tamanho de uma TV se ergueu verticalmente do painel, ocupando a maior parte do espaço, agora bloqueado, do para-brisa. E em sua superfície
lisa havia uma reprodução esverdeada em HD da rua em que estavam... Então, tiveram uma imagem muito boa dos atiradores enquanto a dupla de dedos de chumbo correram
diante de seus faróis. Os dois ostentavam armas de canos longos, aparentemente AKs, cada descarga causava um brilho súbito na boca dos canos enquanto continuavam
a atirar.
Eles não pararam ao passar pelo veículo de Manny.
- Aqueles são lessers, - Rhage murmurou. - Correm rápido demais para humanos. Além disto, só lessers seriam tolos o bastante para fazer este tipo de balbúrdia.
Deixe-me sair daqui, porra.
- Você não vai atrás deles...
Rhage estendeu a mão e agarrou a frente da camisa do homem, puxando-o para o espaço entre os assentos. - Me. Deixe. Sair.
Manny manteve seu olhar. Praguejou. - Você vai se matar.
- Não vou.
- Como pode estar tão certo?
- Eu tenho truques que ninguém supera. - Ele indicou a janela - Abra-a e eu poderei me desmaterializar por entre as frestas das placas de metal. A menos que
você tenha malha de aço em algum lugar.
Manny começou a murmurar todo tipo de coisas vis ao procurar pelo botão requisitado e o pequeno pedaço de vidro transparente desceu uns cinco centímetros.
- Assim que eu sair, acelere. - Rhage demandou. - Precisamos de você no rabo de Trez. Sem brincadeira.
Fechando os olhos, ele se concentrou e...
... Se desmaterializou para fora, retomando forma ao lado do RV e então dando uma batida na porta. Os atiradores passaram por eles, no encalço de sua presa,
o que o punha em posição perfeita. Quando o motor foi ligado, e a pequena clínica portátil de Manny se afastou, começou a correr. O cheiro no ar lhe dizia que estava
certo; era uma dupla de lessers com alguns brinquedos bem caros... algo que não tinham visto há quanto tempo?
Não desde que Lash, aquele bastardo, era o Forelesser.
Com coxas bombeando e armas a postos, ele diminuía a distância quando as sirenes surgiram às suas costas. De repente, foi iluminado por trás, e não de uma maneira
boa. Com duas automáticas nas mãos, eles pensariam que ele era o maldito problema, ao invés da solução que tentava acertar as contas com os inimigos.
Certamente, uma voz de macho projetou-se de um falante de alta resolução vinda do beco. - Departamento de Polícia de Caldwell! Pare! Parado ou atiro!
Deus! Maldição.
Humanos: o remédio da natureza para um momento que de outra forma, seria bom.
Capítulo TRINTA E SEIS
De volta à sua cela no palácio, iAm ocupava-se traçando um caminho no chão de mármore polido, indo para frente e para trás entre a nova plataforma de dormir
e a prateleira de livros.
Quanto mais tempo era deixado sozinho, mais se tornava convencido de que a maichen havia feito a oferta de levá-lo aos escritos dos curandeiros guiada somente
por um ímpeto impotente de compaixão. Mas, inferno, mesmo que ela estivesse falando sério, e surgisse de novo com algum tipo de plano, não era como se ele fosse
aceitar a sua ajuda. Já havia tanta gente enfiada naquela bagunça e ele não tinha certeza de que ela sabia ao que estava se voluntariando: ele era prisioneiro do
carrasco, o que significava que, mesmo que muitos tivessem acesso a ele, só havia um filho da puta com as chaves de sua fuga.
E não era aquela humilde fêmea.
E se fosse sério? Mesmo que não o estivesse ajudando a sair para o mundo exterior, mas à biblioteca? O sistema de monitoramento logo entregaria os dois... E
então a morte súbita seria o melhor que ela poderia esperar.
O mais provável era um longo e sofrido período de tortura, durante o qual ela rezaria para estar...
Quando a porta abriu, ele verificou se seu sexo estava coberto antes de se virar.
Era a serva, e ela trazia roupas nas mãos. Quando a porta deslizou de volta para o lugar, ela enfiou algo perto do batente para impedi-la de se fechar totalmente
e foi na direção dele.
- Vista isto. Não temos tempo...
- Espere, o que...
- Vista! A equipe de segurança está mudando de turno e é exigido que eles façam uma prece obrigatória de tristeza e recordação pela criança. Tenho de te levar
pelo corredor agora...
- Não posso deixá-la fazer isto...
- Você quer ajuda, certo. Para a amada de seu irmão, certo.
iAm cerrou os dentes. Cruz, conheça a caldeirinha. - Porra!
- Eu não sei o que esta palavra significa.
Ele aceitou o que ela oferecia, mas continuou a discutir enquanto vestia as peças. - E como vamos voltar?
- Eu vou distraí-los. Você vai precisar de um pouco de tempo na biblioteca... A menos que saiba exatamente o que está buscando?
O manto pesado cobriu as pernas dele, - Que tal aqui?
Sem aviso, as luzes se apagaram. - Eu ativei o sistema circadiano.
Ah sim, a alternação entre luz e escuridão sem a qual não é possível dormir.
Clique!
Uma pequena lanterna iluminou o caminho até a plataforma de dormir, e ela rapidamente arrumou os travesseiros e cobertas de forma que parecesse haver alguém
ali. Então, ela correu de volta e espirrou algo no rosto dele.
Ele tossiu quando o forte cheiro de lavanda misturado a algo cítrico inundou lhe o nariz. - O que infernos...
Mais spray. - Este é um uniforme de serviçal. Ninguém questionará, mesmo se nos encontrarem juntos, mas seu cheiro é muito másculo. Isto deve encobrir o suficiente
para passarmos. Agora, encurve-se... Você é grande demais para o manto. Não podemos deixar seu pé aparecer ou eles vão descobrir. Vamos lá.
Ele seguiu-a até a porta, mas antes que ela abrisse, ele agarrou-lhe o braço a fez voltar-se.
- Você não deveria estar fazendo isto.
- Não temos tempo...
- Vai acabar sendo morta.
- Seu irmão precisa de ajuda. Para a companheira dele. Você tem outra solução para sair daqui e ver aqueles escritos?
Quando ela tentou se virar, ele puxou-a de volta. - Qual o seu nome?
- maichen.
- Não, esta é sua casta. Qual o seu nome?
- É este. Agora, venha... Chega de falar. - Ela disse, com urgência. - E não se esqueça de se encurvar.
Com isto, ele saiu da cela e foi para o corredor. Ao olhar para a direita e para esquerda, ela cutucou-o com a lateral do cotovelo.
- Se abaixe, - ela sibilou, - por aqui.
Dobrando os joelhos, ele curvou os ombros e a seguiu, tentando imitar cada um dos movimentos dela. Ela era rápida e decisiva pelos corredores, virando esquerdas
e direitas em uma sequência que o deixou tão confuso que ele se sentiu perdido em um labirinto. Inacreditavelmente, não encontraram ninguém, mas aquela era a natureza
do luto para o s'Hisbe. Todos se trancavam.
Talvez ela pudesse só levá-lo a uma saída pelos fundos depois de tudo isto?
É, mas o que aconteceria a ela?
- As fitas de segurança, - ele disse.
- Cale-se.
- Quando voltarmos, precisa cuidar dos arquivos de vídeo de monitoramento ou eles saberão o que fez.
Ela não respondeu, só se apressou, levando-o por vários corredores.
De acordo com a tradição s'Hisbe, de que a simplicidade elevava a alma, havia pequenas sinalizações em todos os lugares no palácio, nada além de placas sutis
sobre os umbrais, para ilustrar o acesso à várias salas, depósitos e saídas. Gradualmente, seus anos no palácio lhe voltaram e ele ficou surpreso ao ver que sabia
onde estavam: Ela estava levando-o para a biblioteca pelo caminho mais longo, mas era esperta. Ali eram os fundos do palácio, onde, caso encontrassem alguém, provavelmente
seria um serviçal.
O que, considerando o seu disfarce, tornava a rota bem melhor.
- Por aqui, - ela disse, pegando a última direita e parando em um dos quadrados do piso de mármore, cujo veio corria ao contrário da direção prevalecente de
todos os outros. Colocando a mão na parede, ela acionou a porta, que deslizou prontamente.
Quando entraram na escuridão, luzes sensíveis a movimentos se acenderam, iluminando pilhas sobre pilhas de volumes encapados em couro. O ar era seco e vagamente
empoeirado, mas a biblioteca estava um brinco, o chão polido a um brilho de espelho, as prateleiras brilhando. Não havia cadeiras ou mesas se alguém quisesse ler
alguma coisa... Era esperado que você pegasse o volume de seu interesse, e o levasse aos seus aposentos para ler por lá.
Merda, como eles iriam encontrar qualquer coisa ali?
- Os registros medicinais foram transferidos, - ela sussurrou, movendo-se para a frente.
Ele seguiu-a de novo, e não se incomodou em tentar encolher sua estatura: não havia ninguém em volta para vê-lo, e esta parte do palácio não era monitorada.
O sistema de catalogação, tal como era, estava anotado em numerais pretos nas laterais das prateleiras. Mas, de novo, era vago, e presumia que você já saberia
onde encontrar o que buscava.
Eventualmente, ela parou e indicou uma fileira de pilhas. - Foram realocados para cá.
Franzindo o cenho, ele se aproximou. O sistema de numeração nas lombadas não ajudava porra nenhuma, então ele tirou um dos volumes aleatoriamente e abriu a capa.
Quando finalmente entendeu algumas palavras do Idioma Antigo no dialeto Sombra, descobriu que era um tratado sobre fratura em ossos.
Descendo uma fileira, ele tirou outro tomo aleatório. Algo sobre visão.
Mais além, chegou em gravidez e parto.
- Doenças, - ele murmurou. - Estou procurando por doenças. Ou defeitos congênitos. Ou... Genes recessivos...
- Eu te ajudo. - maichen começou a tirar os volumes. - O que pode me dizer sobre esta doença?
- A chamam de Aprisionamento. Elas congelam... Elas ficam... É como se os seus ossos crescessem espontaneamente... Supostamente é fatal...
Deus, ele não sabia o suficiente sobre o que estava falando.
Enquanto os dois percorriam seu caminho prateleira abaixo, as categorias e organização dos volumes começaram a se tornar mais claras. Como todos os vampiros,
os Sombras não tinham de lidar com vírus humanos ou câncer, mas havia muitas outras coisas que os atingia... Embora não tanto quanto as que os Homo sapiens tinham
de combater. Com cada livro aberto, ele se conscientizava da passagem do tempo, e ficava mais preocupado com a maichen ser pega do que com qualquer coisa que pudesse
acontecer com ele mesmo.
Rápido, mais rápido com a leitura, a devolução, o pegar outro da prateleira.
Tinha de haver algo aqui, ele pensou. Tinha de haver.
O corpo inteiro de Trez estava rígido ao manter-se apoiado contra o interior do Benz. Fritz ainda prosseguia pela calçada... O que seria ótimo se o doggen fosse
um mero pedestre. Espremendo o sedã do tamanho de um iate que singra oceanos, em uma alameda de concreto construída para acomodar quatro ou cinco pessoas lado a
lado?
Não era tão ótimo...
Selena exclamou uma espécie de yeeee-haw! Quando viraram outra esquina e mandaram pelos ares outro conjunto de caixas do Caldwell Courier Journal.
Ele estava honestamente feliz de que ela estava se divertindo.
Ele só fodidamente desejava que estivessem assistindo este filme de ação, em vez de atuando nele.
- Fritz! - Gritou acima do som do ronco do motor. - Vai na direção do rio.
- Como desejar, amo!
Sem aviso, Fritz jogou o carro para a esquerda e mandou-os voando na direção de um calçadão que contornava outro dos arranha-céus. O Benz subiu os degraus como
um homem usando gesso nos joelhos, a subida desarticulada, empurrada e sacolejada sendo o tipo de coisa que fazia dos dentes bater e os rins pedirem misericórdia.
Mas daí eles estavam novamente na área plana, que dava às pessoas todo o tipo de escolha, como por exemplo, para qual dos quatro diferentes pontos de entrada usar
como acesso.
Fritz, naturalmente, escolheu a rota mais reta.
Através da porra do lobby.
Painéis de vidro explodiram quando o S600 chocou-se contra uma parede envidraçada, estilhaços voaram adiante e para os lados, antes de pousarem no chão escorregadio
e costearem a distância como neve pela superfície congelada de um lago.
Pela janela oposta, Trez deu uma boa olhada no vigia noturno que pulava em pé, atrás de uma fileira de mesas no lobby. Parecia falta de educação não cumprimentar
o pobre bastardo, então Trez deu uma de Rainha Elizabeth e acenou com a mão quando cruzaram o interior e saíram do outro lado.
Esmaga!
O segundo turno com o vidro foi tão escandaloso quanto o primeiro, quando foi estilhaçado pela lataria do Benz ao explodirem de volta para a noite.
- Acho que devemos ir pelo ar. - Fritz disse. - Segurem-se.
Pode crer, grandalhão.
Trez enrijeceu ao se aproximarem da beira da escada e então...
Gravidade zero, ou tão próximo disto quanto era possível sem fazer uma manobra acentuada a nove mil metros de altura, aconteceu quando se elevaram, a viagem
se tornou super suave e relativamente quieta, nada além do ruído do motor atingia seus ouvidos.
Tudo isto mudou ao passarem voando pela calçada e pousarem na rua asfaltada. A suspensão absorveu tanto do impacto quanto foi possível, mas fagulhas se espalharam
quando a carroceria do carro raspou no asfalto.
- Por favor, me desculpem. - Fritz disse, olhando pelo espelho retrovisor e falando diretamente a ele. - Amo, sinto terrivelmente, mas preciso retornar para
casa...
- Fritz! Se concentra a estrada, camarada.
- Oh, sim, amo...
Guinchaaaaaaando quando o mordomo corrigiu o curso e evitou, por pouco, bater na lateral de uma fila de carros estacionados.
- Como eu dia dizendo, amo, preciso retornar para casa. - O mordomo continuou sem perder tempo. - A preparação da Última Refeição precisa ser supervisionada.
Como se aquilo fosse somente uma partida de vídeo game que se pudesse pausar? - Ah, Fritz...
De repente, o Mercedes apagou as luzes interiores e exteriores, ficando em escuridão total. Naquele momento específico, do alto do céu, uma luz flamejante cortou
pela estrada, brilhando sobre eles por uma fração de segundos.
- Helicóptero, - Trez murmurou. - Fantástico.
Virando-se no assento, olhou pelo para-brisa traseiro. Luzes azuis e vermelhas piscavam e se aproximavam rapidamente, mas os policiais estavam cruzando o caminho
deles, ao invés de segui-los... O que lhes daria vantagem por somente um quarteirão antes que o Departamento de Polícia mudasse a rota.
Merda, como iriam escapar desta?
Antes que se desse conta, Fritz levava-os para o rio, mas não pela estrada. Ao invés de tomar uma das rotas legais, ele pulou outro meio-fio e saltou diretamente
abaixo da rodovia elevada. Pilastras do tamanho de carvalhos corriam pelas janelas, o doggen brincando de se esquivar, jogando para a esquerda e direita como um
maratonista em uma corrida de obstáculos.
Não havia ninguém atrás deles, mas não conseguiriam manter esta fuga indefinidamente. A Northway, que estava agora acima de suas cabeças, ia voltar a ficar plana...
E claro, a descida começou a acontecer, e naquela velocidade, Trez se convenceu de que eles iriam virar purê na fusão horizontal do asfalto.
Só que, não. Fritz moveu o carro bruscamente por baixo, percorrendo uma beira da calçada até as estradas que corriam paralelas ao rio Hudson. De alguma forma,
ele conseguiu fazê-los passar por uma brecha entre as grades de segurança e então, simples assim, eles estavam em uma rampa de desvio que os levaria à autoestrada
na direção correta.
Na direção contrária a da cidade.
Trez esperou por uma fila de viaturas com as luzes brilhando como no Quatro de Julho vir atrás deles.
Em vez disto, viu uma frota daqueles caras de azul indo para o outro lado da Northway, na direção do lugar onde havia acontecido toda a ação.
Fritz desacelerou e voltou a acender as luzes. Postou-se na fila de tráfego. Flutuou para longe, a modestos cento e dez quilômetros por hora.
- Como diabos fez isto? - Trez disse, com verdadeiro respeito.
- Humanos são fáceis de serem despistados. Tendem a perseguir luzes, como gatos perseguem um laser. Sem luz? Dá uma vantagem séria... Bem, isto e possuir o dobro
da potência que eles.
Trez virou-se para sua rainha. - Você está bem?
Selena estendeu a mão e ergueu a boca para um beijo. E outro. - Que noite! Esta foi a coisa mais excitante que já aconteceu comigo!
Adrenalina rapidamente transformou-se em luxúria quando ele correspondeu ao seu beijo e pressionou-a contra o assento. Lambendo-a na boca, ele acariciou um dos
seus seios com a mão.
- Devemos pedir a ele para acelerar de novo? - Trez murmurou contra sua boca - Porque eu não acho que posso esperar...
- Chegaremos logo, - ela murmurou, sorrindo. - E eu gosto de antecipação. Estou faminta por você desde que começamos a rodar.
Trez grunhiu no fundo da garganta ao tocar o botão para erguer a partição - Fritz?
- Sim, amo?
- Um pouco mais rápido, se não se importa.
- Com todo o prazer, senhor!

 

 

CONTINUA