A Dra. Trisha Norbit está deitada de costas em uma cama de hospital, presa sob um macho Nova Espécie realmente grande. Apesar de drogado, fora de si, ele promete seu êxtase e está determinado a proporcioná-lo... Mas os funcionários do hospital intervêm. 215 é um homem que Trisha nunca vai esquecer. Mas, quando se encontra com ele de novo em Homeland... Ele nem se lembra dela!
A nova médica intrometida quer saber tudo sobre os hábitos de reprodução entre os seres humanos e Novas Espécies. Slade propõe uma educação na prática, mas ela não está interessada em um caso de uma noite. Ele não pode oferecer mais, porque é assombrado pela memória de uma mulher que ele já tentou reivindicar. Ele fica chocado quando percebe que elas são a mesma pessoa. Ele estragou tudo... Ela nunca vai dar a ele uma chance agora.
Um ano depois
Trisha sentou à sua mesa, lembrando-se de 215. Ele ainda a assombrava com seus incríveis olhos azuis, com o modo em que a havia prendido sob ele na cama do hospital, e quase... tinha lhe seduzido. Sabia que nunca se esqueceria dele, mas ele não se lembraria dela. Isso também a incomodava.
Tinha ouvido que os Novas Espécies, os sobreviventes dos centros de pesquisas da empresa farmacêutica que tinham sido resgatados, ganharam nomes escolhidos por eles mesmos ao invés dos números que as indústrias Mercile usaram para identificá-los. Ele tinha escolhido o nome Slade.
Combinava com ele. Era um filho da puta grandalhão, com um peitoral enorme, cabelo selvagem e comprido, e exalava uma atitude perigosa. Toda vez que exibia dentes afiados e anormalmente longos ao dar um sorriso, fazia-o parecer um predador. Quase parecia como se estivesse ameaçando alguém quando sorria. Também tinha que ser o homem mais sexy que já conheceu e as memórias daquela cama de hospital sempre a faziam ficar excitada.
Os Novas Espécies tinham conseguido um tipo de refúgio particular chamado de Homeland pelos sobreviventes dos complexos. O mundo não foi totalmente receptivo ante a noção da existência deles e eles precisavam viver sob alta proteção contra os grupos de ódio que acreditavam que eram aberrações.
Fanáticos religiosos os chamavam de demônios, antinaturais, e uma afronta a Deus porque foram criados dentro de tubos de ensaio por cientistas. Se não usavam a desculpa religiosa para odiá-los, diziam que os Novas Espécies eram animais de duas patas que não mereciam direitos humanos e não era mais que bichinhos treinados que imitavam pessoas.
Aquilo era ridículo. Trisha ficava irritada quando ouvia essas baboseiras de idiotas nos jornais. Os Novas Espécies eram vítimas, não uma praga jogada na humanidade, e definitivamente não eram as crias malignas de Satã. Também não eram animais de estimação com habilidade de falar.
Dois meses atrás tinha ouvido que um centro médico particular seria aberto em breve em Homeland. Imediatamente tinha enviado seu currículo, esperando garantir uma posição como uma das médicas que planejavam contratar. Nunca esqueceu como ficou surpresa quando dois dias atrás recebeu a ligação. Tinham-na escolhido entre todos os outros candidatos.
Todos na comunidade médica estavam fascinados com os Novas Espécies. O número total de sobreviventes era desconhecido, mas as Indústrias Mercile, uma gigante das empresas de pesquisas farmacêuticas, os usaram como cobaias vivas. Tinham introduzido DNA animal em seus genes. Diziam que os haviam criado para combater doenças que passavam de animais para humanos e para criar vacinas e remédios para combater doenças que os animais eram imunes em humanos. Depois disseram que a companhia estava pesquisando drogas que aumentavam a potência física de seres humanos, torná-los mais musculosos, e em melhor forma só tomando as pílulas que tinham criado.
A assombrava que outros médicos e cientistas tivessem vendido suas almas por dinheiro, mas obviamente vários fizeram coisas impensáveis aos homens e mulheres forçados a serem cobaias. O fato de alguém ter encontrado uma forma que tivesse êxito na combinação do DNA humano e animal para criar vida tinha causado um furor no mundo da medicina.
Porém, os Novas Espécies eram provas vivas disso. Trisha esperava que tivesse informações mais detalhadas sobre eles agora que tinha conseguido o trabalho, mas até o momento não tinham lhe dito muita coisa. Tinham mandado um arquivo para que desse uma olhada. Algumas das informações a impressionaram, mas estava pronta para qualquer desafio apresentado.
Infelizmente, parecia que só a contrataram para que bancasse a enfermeira dos empregados humanos já que nenhum dos Novas Espécies tinha pisado na clínica.
Ela escorou as costas na cadeira, colocou os pés na mesa, e revisou os fatos que havia aprendido. Novas Espécies escolheram nomes estranhos para si mesmos, normalmente algo que tinha algum significado para cada indivíduo. Tinham escolhido se chamarem de Novas Espécies porque muitos deles não eram alterados com o DNA de um mesmo animal. Soube que havia três tipos —espécies canina, felina e primata. Então havia algumas anotações documentadas sobre as diferenças físicas descobertas entre elas. Seus pensamentos se fixaram instantaneamente na razão de sua perturbação.
Slade não se lembra de mim. Ele praticamente me molestou, jurou fazer coisas obscenas com o meu corpo, e simplesmente... Esqueceu o que tinha feito? Ela gritou, surpresa por não sair fumaça de suas orelhas da raiva que queimava dentro dela. Tinha acabado de confrontá-lo e não tinha visto nem uma pitada de reconhecimento em seus olhos. Como ele pôde esquecer? Eu com certeza não pude e isso não é justo. Típico de homem. Excita uma mulher, a deixa doidinha e depois a esquece no segundo que ela vai embora. Filho da mãe! Tinha sido extremamente rude com ela, adicionando mais sal na ferida. Uma empregada completamente humana de Homeland e um Nova Espécie canino estavam vivendo juntos.
Trisha sabia que estavam transando, apesar de negarem, e queria estudar a vida sexual do casal. Slade tinha passado isso na sua cara, sido vulgar, e tido o desplante de chamá-la de intrometida!
Todos os detalhes sobre a vida sexual do casal poderiam ser importantes. Havia muita coisa desconhecida sobre os Novas Espécies. Eles eram ao menos sexualmente compatíveis com humanos? Trisha não tinha certeza da porcentagem de machos envolvidos, mas tinha sido documentado nos poucos relatórios entregues a ela que alguns dos homens inchavam na base do pênis bem antes de ejacularem.
Aquilo era doloroso para uma mulher? Essa era a pergunta que tinha desejado fazer a mulher vivendo com um Nova Espécie, mas Slade lhe ordenou que ficasse longe do casal.
Queria explorar a possibilidade de humanos e Espécies terem filhos. Disseram a ela que as Indústrias Mercille acasalaram Novas Espécies fêmeas e suas contrapartes masculinas por anos, esperando criar mais deles. Nunca conseguiram uma gravidez. Podia ser que nenhum Nova Espécie pudesse conceber filhos devido a algo simples que poderia ser tratado medicamente.
Poderia descobrir se alguém permitisse que ajudasse, mas isso não aconteceria se ninguém deixasse que conduzisse os testes.
— Dra. Norbit?
A voz tirou Trisha de seus pensamentos para olhar para Paul quando ele entrou na clínica para cobrir seu turno. Ele era o único enfermeiro e parecia muito agradável. Estava no começo dos quarenta e tinha mencionado um histórico militar.
— Um doce pelos seus pensamentos.
Trisha forçou um sorriso.
— Eles não valem isso tudo. Estou com pena de mim mesma. Eu queria essa posição para aprender mais sobre os Novas Espécies, mas só dou de cara com paredes de concreto.
— É. A ONE não é de falar muito. Estou aqui há mais tempo e ainda não sei muita coisa. Nós devíamos cuidar deles, mas eles não nos dizem nada sobre suas fisiologias que nos ajude a fazer isso.
— ONE?
— Organização das Novas Espécies. É como se chamam por aqui. Estou surpreso que não tenha visto os uniformes que alguns deles usam. Não acho que apreciam nossa segurança e criaram seus próprios times. Não os culpo. Você perdeu o ataque que aconteceu há não muito tempo atrás.
— Eu ouvi algo a respeito no noticiário.
Paul fez uma careta.
— Foi horrível. Aqueles manifestantes e os ativistas dos direitos humanos invadiram os portões e cerca de quinze caminhões cheios de idiotas armados entraram no complexo. Os prédios felizmente foram construídos para aguentarem ataques e a segurança conseguiu proteger a maior parte das pessoas quando os portões foram invadidos. Aqueles bastardos entraram aqui como se tivessem declarado que era temporada de caça aos Novas Espécies. Já esteve numa caçada de cervos?
— Não.
— Foi isso que o que aconteceu aqui me lembrou. Havia um total de dezessete mortes quando acabou. Foram os quarenta e poucos minutos mais longos da minha vida antes da ajuda aparecer. É por isso que quiseram contratar um médico. Eu fiquei cheio de ferimentos no dia e bem fora de mim.
— Dezessete mortes? Eu não sabia que os números eram tão altos assim. — A notícia horrorizou Trisha.
Ele encolheu os ombros.
— Alguns morreram depois de ferimentos a bala. A empresa que fazia a segurança era terrível. Os Novas Espécies se juntaram para acabar com eles quando apareceram aqui e impediram que alguns daqueles bastardos tentassem abrir as portas do hospital. Eu estava sozinho, achando que eles iriam entrar e me matar já que não discriminavam muito em quem atiravam. Se respirasse, era um alvo para aqueles imbecis. Os oficiais Novas Espécies usam uniformes pretos estilo SWAT com ONE escrito em letras brancas na frente.
Slade tinha usado um uniforme daqueles quando a impediu mais cedo.
— Então homens que os usam são seguranças da ONE?
— Eles se chamam de oficiais Novas Espécies, e sim. Não vai querer confusão com esses caras. Um deles me disse que era um protótipo de experiências no centro de pesquisas onde o mantinha preso. Dizem por aí que alguns deles foram treinados para lutar e matar só para demonstrar o que eram capazes de fazer e como eram rápidos. Eu ouvi que as Indústrias Mercile podiam ter um contrato com alguns países de terceiro mundo para vender suas drogas a quem pagasse mais. Os Novas Espécies negaram isso, mas quem vai saber qual é a verdade. De qualquer forma, eles são durões. Eles não negam o fato de que eram torturados regularmente e espancados para ver o que poderiam sobreviver e quanto conseguiam se curar. Já viu um deles de perto? Jesus! Eles são enormes e some isso ao fato de que são rápidos, tem audição, olfato e visão apurados e arrebentam com qualquer um que lhe atravessarem o caminho. Eu estive no Exército e tenho certeza que não queria me ver encarando alguns deles mesmo com a minha unidade inteira me dando cobertura.
Trisha olhou para o relógio no pulso. Não queria ouvir mais sobre como os Novas Espécies provavelmente eram maus e perigosos. Eles já a intimidavam bastante sem que escutasse a toda especulação. Também aprendeu, desde que conheceu Paul, que ele tinha uma tendência de falar por horas se tivesse chance.
— Eu vou indo. Acabou meu turno. Acho que vou para casa.
— O que acha das dependências? Não são ótimas? Eles me deram uma com dois quartos, no estilo chalé. Minha esposa adorou.
— Elas são ótimas. — concordou Trisha. Levantou-se, pegando a bolsa. — Vejo você amanhã. Ligue se precisar de mim. — Ela bateu no bolso. — Meu celular está ligado.
— Claro, Doutora... er, Trisha.
Trisha deixou o centro médico e andou pela rua. Sua casa ficava a apenas uma quadra de distância, dentro da área dos empregados humanos onde dúzias de casas estilo chalés tinham sido construídas. Eles lhe deram uma linda casinha azul. Ela espiou a lua, decidindo que era uma bela noite.
— É meio tarde para estar andando sozinha. — uma voz masculina rouca disse de trás dela.
Trisha ofegou quando se virou, tentando não mostrar sua surpresa ao ver Slade.
Ele usava seu uniforme preto e sua atenção se fixou em seu peito onde as letras ONE estavam impressas claramente em um quadrado pequeno. Seu olhar subiu para os olhos azuis mais que incríveis. Eram de um tom escuro que ela não podia evitar fitar.
Se ele era um oficial ONE, tinha que ser bem durão, um sobrevivente dos piores dos abusos, e possivelmente tinha sido treinado para lutar para ser um dos protótipos que filmavam para exibir as coisas horrendas que tinham feito ao seu corpo, se Paul estivesse correto. Aquilo significava que Slade podia ser altamente perigoso. Ela respirou profundamente, tentando acalmar seu coração acelerado.
— Eu não o vi nem escutei. — admitiu.
Ele lhe mostrou os dentes afiados quando sorriu.
— Foi exatamente o que eu quis dizer. Não devia estar aqui fora andando sozinha. Podia ser perigoso.
— Esse é um centro altamente protegido com guardas por todo lugar. — Ela franziu o cenho. — Acho que estou bem segura. — Exceto com você, adicionou mentalmente. Ele era atraente demais. Olha só aqueles olhos lindos e aquela boca. Pergunto-me como seria beijá-lo. Não pense nisso, ordenou mentalmente aos seus pensamentos. Ele não se lembra.
Ombros largos se encolheram.
— Ainda está interessada em aprender alguma coisa sobre a reprodução entre as nossas espécies?
Aquela pergunta fez o seu coração correr instantaneamente.
— Você falou com o Sr. Fury e com a Srta. Brower? Eles mudaram de ideia sobre me permitir acesso a eles?
Empolgação ante a ideia de conversar com o casal que vivia junto foi imediata e forte. Poderia aprender tanto com eles. Estaria fazendo algo real ao invés de se sentar atrás de uma mesa esperando que pessoas cortassem os dedos com papel e viessem procurá-la.
— Eu adoraria convencê-los a fazerem uns exames simples.
— Não. — Ele deu um passo em sua direção. — Eles ainda não estão interessados. Eu só estava me perguntando se ainda esperava estudar o processo reprodutivo entre as nossas espécies.
Sua empolgação morreu.
— Estou muito interessada. Há outro casal do qual eu não tenha ouvido? Eu gostaria de ter a oportunidade de falar com eles se houver.
Ele deu outro passo, parando a apenas alguns centímetros de Trisha, fazendo com que percebesse que ele era uns trinta centímetros mais alto que ela. Imediatamente se sentiu intimidada pela sua altura. Uma lembrança dele prendendo-a debaixo do seu corpo enorme na cama do hospital cruzou sua mente. Engoliu com dificuldade e tentou não permitir que a atração que sentia se mostrasse em suas feições.
— Eu poderia ir para a sua casa. — Ele piscou. — Você poderia me examinar o quanto quisesse, Doutora. — Sua atenção desceu e ele fitou seus seios antes de encontrar seus olhos de novo. — Eu ficaria mais do que feliz em me voluntariar para mostrar pessoalmente como poderíamos transar. Estou disposto a uma hora de sexo sem sentido.
Trisha recuou um passo, abismada. Sabia que não deveria estar, já que ele já havia falado coisas piores para ela. Ele não lembrava, mas ela sim. Feria seus sentimentos que estivesse lhe oferecendo tão pouco, algo tão trivial, quando tinha se tornado a fixação dos seus pensamentos.
— Não, obrigada.
A pele próxima aos seus olhos enrugou com divertimento quando ele deu de ombros outra vez.
— Azar o seu. Sabe onde me encontrar se mudar de ideia. Eu acompanho você até em casa.
— Não, obrigada.
— Vou escolta-la até em casa. — Ele manteve sua expressão divertida. — Então ande, Doutora. Ou podemos ficar aqui. De qualquer forma, ficou com você até que esteja em casa.
Trisha se virou e caminhou rapidamente pela calçada. Podia senti-lo atrás dela, mas ele não fez nenhum ruído. Para um homem grande, podia se mover muito silenciosamente. Ela virou a cabeça quando chegou ao seu pátio e ofegou pelo tão perto que ele estava de invadir seu espaço.
— Sã e salva. — sussurrou ele. — Tem certeza que não quer que eu entre, Doutora?
— Tenho certeza. — declarou Trisha com firmeza.
Suas mãos tremeram quando ela foi em direção a porta da frente. Ele tentaria entrar a força em sua casa? Pressionar a oferta de transar com ela? Destrancou a porta e se virou para dizer que fosse embora, mas ele havia desaparecido.
Trisha saiu pelo portão e olhou dos dois lados da calçada, mas ele não estava à vista. Franziu o cenho. Para onde ele desaparecia tão rápido? Ele a irritava imensamente. Ela se apressou para dentro e trancou a porta firmemente.
Jogou a bolsa na mesa de entrada quando foi em direção ao quarto.
Passou pelo desocupado quarto de hóspedes, lembrando que precisava comprar uma escrivaninha e algum armário para criar um escritório.
Olhou em volta do quarto. Odiava aquela cama enorme de colunas espessas de madeira que iam em direção ao teto. Ocupava espaço demais dentro do quarto. A casa tinha vindo mobiliada, mas nada tinha sido do seu agrado.
Tirou as roupas no caminho para o banheiro. Slade se lembra de mim? Ele poderia estar jogando algum joguinho doentio para ver se eu dizia alguma coisa. Simplesmente não tinha certeza. Ele era bem convincente se queria que acreditasse que nunca haviam se encontrado no passado.
Ligou o chuveiro e esperou alguns minutos para que a água esquentasse.
Entrou debaixo do jato de água quente com um suspiro. Por que estava atraída por ele? Não podia negar que ele exercia um forte apelo sobre ela. Talvez fosse curiosidade. Não tinha certeza dos seus motivos, mas toda vez que ele a olhava ela se lembrava da sensação brusca e quente de sua língua lhe provocando a garganta, do jeito que ele se movia contra ela com seu corpo enorme enquanto quase a fez gozar só esfregando o pênis nela, e a lembrança dos sons que fez. Os rosnados tinham sido sensuais.
— Lavagem cerebral. — suspirou.
Jogou a cabeça para trás e lavou o cabelo, raspou as pernas, e então saiu do chuveiro. Ouviu o ruído distinto. Sua calça estava zunindo dentro do quarto onde a havia largado quando tinha se despido. Trisha enrolou uma toalha no corpo para sair do banheiro. Abaixou-se, lutou com o tecido e tirou o celular de dentro do bolso.
— Dra. Norbit.
— Trisha, é Paul. Temos um problema. Você pode voltar?
— Estou indo. — Ela desligou e correu para a cama. Jogou o celular em cima dela e se virou. Deu um passo na direção do guarda-roupa antes de se chocar contra um corpo grande e sólido.
Trisha arfou. Duas mãos enormes agarraram os seus ombros nus quando levantou a cabeça. Ficou de boca aberta ante a expressão divertida de Slade. Seu corpo estava pressionado no dele, ele a segurava firmemente nos ombros, e seus lábios se curvaram em um sorriso.
— Não atendia ao telefone. Precisam de você no centro médico.
— Você entrou na minha casa. — ofegou.
— Eu tenho as chaves de todas as casas. Sou da segurança. Você devia atender o seu telefone se não quer que venham atrás de você. Seu enfermeiro vem ligando há cinco minutos e finalmente nos chamou.
— Eu estava tomando banho!
Ele baixou o olhar.
— Estou vendo. Você fica bonita de rosa, Doutora. Ficaria melhor se essa toalha estivesse no chão. — O corpo dele estremeceu um pouco contra o seu quando sua atenção foi para os seus ombros. — É uma tentação lamber todas essas gotinhas d’água.
Seu coração martelou de surpresa e provavelmente de um pouco de excitação com a ideia dele fazendo exatamente aquilo. A expressão em seu rosto fez com que engolisse em seco. Porém, ele a soltou repentinamente e se afastou.
— Estarei esperando na sala. Apresse-se, Doutora. Alguém está ferido e precisamos que volte ao centro imediatamente.
Trisha observou o alto Nova Espécie deixar o seu quarto e fechar a porta ao sair. Levou-lhe vários segundos para se recompor do choque de encontrar Slade dentro do seu quarto e dele tocá-la. Tinha entrado em sua casa e a viu quase nua. Ela olhou para a pequena toalha que mal cobria o topo dos seus seios e ia até o meio das coxas. Forçou as pernas a se mexerem para o closet para pegar roupas rápido.
Ele a esperava na porta da frente. Seu cabelo gotejava, mas ela não ligava. Não tinha tempo de secá-lo. Saiu e se voltou para o homem enorme próximo à porta, observando-a.
— A fim de uma corrida, Doutora?
Trisha assentiu e desceu os degraus da entrada. Virou-se na direção do centro médico, preparando-se para correr, mas ao invés disso ofegou de repente quando Slade a colocou nos braços. Ele teve a audácia de mostrar os dentes quando lhe deu um amplo sorriso e piscou.
— Segure firme, Doutora.
Ele começou a correr pela rua. Chocada, Trisha jogou os braços em volta do seu pescoço para se segurar. Não podia acreditar que ele a carregava como se ela não pudesse alcançar a clínica sozinha
— Quase lá, Doutora. Cale a boca e aproveite o passeio. — Ele nem estava sem fôlego quando alcançaram o prédio. Parou e a colocou de pé com cuidado ao lado da porta. Piscou outra vez antes de se virar. — Vejo você quando tiver terminado. — disse por cima do ombro.
Trisha ainda estava sofrendo com o choque de suas ações quando entrou no centro. Havia uma área de espera que tinha sido separada por uma enorme bancada. Ela viu Paul inclinado sobre alguém deitado em uma cama na área aberta. Trisha esqueceu seus pensamentos sobre Slade e sobre o que tinha acabado de acontecer. Moveu-se rapidamente.
— O que temos?
Paul se virou.
— Laceração severa. Ele vai precisar levar pontos, Trisha.
A meia hora seguinte foi bem ocupada. Um dos secretários humanos do diretor de Homeland tinha cortado a palma da mão acidentalmente com uma faca de cozinha enquanto tentava fazer o jantar. Trisha limpou o corte, deu dez pontos, e pôs um curativo em cima. Deu-lhe remédios para dor e uma antitetânica. O centro médico tinha o seu próprio estoque de medicamentos e ela simplesmente lhe entregou os remédios que iria precisar. Observou-o ir embora.
Paul terminou de limpar.
— Você fez um ótimo trabalho, Trisha. Duvido que ele vá ficar com uma cicatriz.
— Obrigada.
— Eu cuido do resto. Vá para casa. Preencho a papelada. Pode ir.
— Desculpa por não atender o telefone. Eu estava tomando banho.
Paul sorriu.
— Estou vendo. Você precisa pentear o cabelo. Está meio que um emaranhado de cachos molhados.
— Boa noite. — ela suspirou, saindo do prédio.
Ficou aliviada quando não viu Slade em lugar algum. Andou uns dez passos antes de sentir sua presença. Parou e se virou para vê-lo andar pela calçada, movendo-se na sua direção. Ele sorriu quando seus olhos se encontraram.
— Pronta para a minha escolta?
— Eu consigo achar o caminho sozinha, obrigada. Eu tenho trinta anos. Já sei chegar em casa.
— Nunca se é cuidadoso demais hoje em dia, Doutora. Nunca se sabe que tipos de animais estão rondando por aí.
Ela olhou para ele. Como você? Não disse isso em voz alta, mas ficou tentada. Continuou andando. Desta vez ele ficou ao seu lado. Ela teve que andar rápido para acompanhar suas pernas maiores.
Eles chegaram ao seu pátio e Trisha se virou para estudar o homem que a espiava. Destrancou a porta da frente e a abriu somente o suficiente para que o seu corpo passasse. Virou-se, encarou Slade e entrou na segurança de sua casa.
— Nunca mais entre na minha casa de novo. O que teria feito se eu ainda estivesse no chuveiro?
Ele sorriu.
— Entrado lá para lhe dizer que precisavam de você e lhe passaria uma toalha menor do que a que você estava. Talvez uma de rosto. — Seu olhar varreu seu corpo devagar e ele sorriu ainda mais. — Ou uma flanela.
Ela ficou tensa.
— Você gosta de me perturbar, não é?— Ele apenas deu de ombros, ainda sorrindo.
— Tem alguma razão em particular ou eu sou especial?
O sorriso se apagou.
— Talvez eu também esteja interessado em lhe mostrar como nossas espécies se reproduzem.
— Bem, ache outra pessoa para atazanar.
Ele encolheu os ombros.
— Por mim tudo bem. Se não está interessada, é só isso. Eu só estava procurando uma parceira de cama, mas não vou incomodá-la de novo. Devia ter aceitado minha oferta, Doutora. — Estreitou os olhos. — Eu só queria algumas horas de sexo para responder todas as perguntas que você tem. Você é bonita o bastante para eu achar que podia valer a pena meu tempo. Boa noite, Doutora.
Ele se virou em direção ao portão. Estava a meio caminho da calçada quando ela abriu a boca.
— Só algumas horas, é? E bonita? Da última vez você me chamou de linda.
Trisha permitiu que sua raiva fluísse.
— Da última vez ofereceu transar comigo por dias, 215. Eu devia me sentir insultada?
Ele se virou. Ela reconhecia choque quando o via e ele se espalhava pelos seus belos traços. Aquilo respondia a sua pergunta. Ele realmente não se lembrava dela. Olhou-o com raiva.
— Eu acho que gostava mais de você quando estava se recuperando no meu hospital. Era mais atraente meio morto do que é completamente saudável. É mesmo uma pena.
Ela bateu a porta com força no segundo que ele deu um passo em sua direção. Ela girou a fechadura, esmurrando o botão de travamento.
— Doutora? Abra a porta. — Ele rosnou as palavras do outro lado da porta.
— Boa noite, Sr. Slade.
Ele girou a maçaneta, mas a fechadura segurou. Ela ouviu barulho de chaves. Ele tentaria abrir sua porta? Mordeu o lábio.
— Eu vou chamar a segurança. — ameaçou. — Lembra-se deles? Eles foram bons contendo você antes mesmo que tenha dito que ninguém viria me salvar.
Ele murmurou um palavrão.
— Você é a médica do hospital, não é?
— Oh, então você lembra-se de mim. — Ela se inclinou na porta.
— Seu cabelo está diferente.
Ela tocou o cabelo molhado. Tinha tentado ser ruiva no ano anterior quando trabalhava no hospital onde haviam se conhecido. Agora tinha voltado à sua cor natural, um loiro mel.
— Essa é a minha cor natural. Eu decidi que não queria mais pintar de vermelho.
— Abra a porta e fale comigo. — Ele rugiu a ordem. Trisha ficou tensa quando somente o silêncio respondeu sua pergunta. Ele tentaria entrar na sua casa de outro jeito? Por que ele se importava se ela era a mesma mulher a quem tinha acossado um ano antes? Prestou atenção, mas não ouviu nada do outro lado da porta.
— Sr. Slade?
Ele não respondeu. Trisha finalmente saiu de perto da porta e correu pela casa para garantir que todas as janelas estivessem trancadas. Ela relaxou, certa de que ele foi embora, e não planejava importuná-la. Entrou no quarto e apagou a luz. Dormiu de calça de moletom só em caso dele voltar e decidir surpreendê-la com outra visita inesperada.
— Por que? Para que possa me insultar mais? Ser um pouco mais idiota?
Slade pressionou a cabeça na porta, os olhos fechados, e ouviu a doutora se afastar. Ainda estava chocado que a mulher que acabou de insultar e de irritar era a mesma que o atormentava todas as noites desde que o libertaram.
A Dra. Trisha Norbit havia mudado a cor do cabelo, deixado que crescesse. Estava bem drogado quando acordou dentro do hospital humano, mas deveria ter reconhecido seu cheiro ou identificado àqueles lindos olhos azuis dela assim que os viu outra vez. A lembrança deles o deixava com vontade de chutar o próprio traseiro por não ter feito a ligação.
As drogas deles realmente o afetaram tanto assim?
Em sua defesa, ele nunca soube o nome da mulher que tinha prendido debaixo de si na cama pequena do hospital, mas tudo mais nela permanecia intacto. Seu corpo curvilíneo preso sob o dele, o gosto da sua pele na sua língua, e o cheiro de sua excitação o atormentando. Teve certeza que ninguém viria salvá-la, que ela seria sua por quanto tempo quisesse, e que gozaria com a ideia de fazê-la desejá-lo tanto quanto a desejava. Então tudo tinha se transformado num inferno. Humanos invadiram o quarto, o drogado, e a levado embora.
Conteve um rosnado. Tinha fodido com tudo. Tarde da noite, antes de dormir, ele sempre pensava nela, na sua ruiva sensual. Tirou a cabeça da madeira fria, abriu os olhos e olhou com raiva para a casa em que ela se escondia. Tinha fantasiado em encontrá-la, colocá-la debaixo de si de novo, e terminar o que tinham começado. Planejou como encantá-la, estudado táticas românticas humanas na esperança de ganhá-la se esse dia alguma vez chegasse.
A dra. Trisha Norbit o odiava. Também não podia culpá-la. Tinha sido um filho da puta com ela de propósito, na maior parte do tempo. O irritou se sentir atraído por ela mesmo tendo a fantasia de uma mulher presa dentro da cabeça. Parecia quase uma traição à memória da sua ruiva de fantasia toda vez que seu corpo respondia à Dra. Norbit.
O destino sempre fazia piada com ele. Adentrou na escuridão. Tinha acabado de perder toda a esperança de alguma vez tê-la em sua cama. Parou para olhar outra vez para a casa. Sua raiva se transformou em tristeza. Fantasias eram para tolos. Aprenda a sua lição e fique bem longe dela. Laurann Dohnner Slade
Tenso. Era assim que Trisha descrevia a sua nova relação com o oficial ONE.
Slade patrulhava a seção humana de Homeland, a área em que ela vivia e trabalhava, e ele tinha que lidar com ele. Desde aquela noite eles mal se falavam. Quando o faziam, os dois pareciam chegar a um entendimento mútuo para não mencionarem nada pessoal. Dois meses tinham se passado assim.
O cara era agradável, mas ela queria que não fosse. Slade tinha um riso fácil, um afiado senso de humor, e toda vez que tinha que tratar com ele, a fizera sorrir.
Ele se certificava para que nunca ficassem sozinhos desde a noite em que lhe disse quem era. Estava bastante agradecida por esse fato.
Às vezes, quando ia para casa à noite, conseguia ver um vislumbre dele na rua escura. Podia sentir seu olhar e sabia que ele a seguia para garantir que chegasse com segurança em casa. Era o trabalho dele, lembrou-se. Arrependia-se de ter explodido com ele, mas tinha perdido a cabeça.
Havia algo de errado com ela. Chutava a si mesma mentalmente por ficar com muita raiva de um cara pelas razões que estava, sabendo que não era certo.
Tinha se sentido insultada por ele a ter esquecido. Só há um ano ele quis ficar dias com ela, a chamou de linda, e agora... Suspirou. Ele só achava que era bonita e lhe oferecia uma noite de sexo barata. Nem mesmo uma noite. Ele só me quer por algumas horas.
— Estúpida. — murmurou.
— O que?— Uma voz grossa falou suavemente detrás dela.
Trisha se assustou e virou na cadeira para fitar Slade.
Segurou o peito no lugar do coração.
— Não chegue perto de mim assim sem avisar de novo. Ia matá-lo fazer algum barulho ao andar?
As sobrancelhas dele arquearam e um sorriso curvou seus lábios cheios.
— Assim eu não conseguiria ter esse tipo de reação.
Ela suspirou.
— Estou feliz que pelo menos você ache isso engraçado. Eu com certeza não acho.
Ela olhou em volta da sala, percebeu que não tinha mais ninguém lá, e ficou instantaneamente tensa.
Uh-oh. Aquela era a primeira vez em que se lembrava deles estarem totalmente sozinhos desde a noite que a levou para casa. Tinham interagido um pouco quando ocorreram alguns problemas entre a humana, Ellie Brower, e o seu marido Nova Espécie. Fury foi baleado durante uma coletiva de imprensa onde alguns membros de um grupo de ódio haviam se infiltrado e durante sua recuperação uma enfermeira o drogou, tentando enlouquecê-lo. Eles tinham se visto naquela época, mas mantiveram a interação profissional.
— Do que precisa?
— Que bom que não perguntou o que eu quero. — Ele lhe sorriu, cruzando os braços sobre o peito largo. — Justice precisa viajar de carro e quer que você vá com ele. — Ele mexeu as sobrancelhas. — Disse que arrumasse a mala para dois dias. Eu não tinha ideia que você e Justice estavam dormindo juntos.
Trisha o olhou com raiva.
— Você sabe que o Sr. North e eu... Que não tem nada acontecendo entre nós. Ele é meu chefe e seu líder. Meus negócios com Justice são puramente profissionais.
A língua dele percorreu o lábio superior. Trisha a observou.
Levantou os olhos até os azuis dele, que a fitavam de volta.
— Eu sei, mas eu adoro ver você ficar toda rosinha quando fica com raiva. — Ele sorriu de repente. — Justice quer você pronta em uma hora.
— Mas...
— Uma hora. Não discuta comigo. Eu sou só o mensageiro.
— Mas para onde nós vamos? Estou de plantão hoje e amanhã. O que Justice quer comigo?
Ele deu de ombros, ainda sorrindo.
— Eu só passo as mensagens. Vejo você em uma hora, Doutora. Vou pegá-la em frente à sua casa.
Ela o viu deixar a clínica. Um palavrão passou pelos seus lábios antes que pudesse evitar.
Ele amava atormentá-la e tinha um verdadeiro talento para isso. Pegou o telefone para ligar para o Dr. Ted Treadmont, o segundo médico que contrataram por meio-período, para cobrir alguns dos seus turnos.
Eles realmente precisavam de uma equipe maior. Dois médicos e enfermeiros não eram o bastante.
Ela se lembrou de discutir aquilo outra vez com Justice quando falasse com ele. Ele dirigia os Novas Espécies, era o líder escolhido deles, e tomava a maioria das decisões em Homeland.
Ela olhou para o telefone, um pouco tentada a ligar para ele e dizer que não ia aonde quer que ele quisesse que fosse, mas mudou de ideia. Respeitava Justice e pela razão que fosse, ele precisava que fosse a algum lugar aonde teria que ficar por dois dias. Podia não querer ir, mas iria.
Trisha não tinha ideia do que levar. Soltou um palavrão e decidiu levar um pouco de tudo. Agarrou algumas calças jeans, umas de tecido, e algumas camisetas arrumadas junto com um vestido preto básico, só para garantir. Roupa íntima. Pegou um sapato de salto alto, um par de sandálias, e decidiu ir com os confortáveis tênis de corrida que calçava. Também colocou alguns suéteres para dormir.
Foi até o banheiro para arrumar a nécessaire. Maquiagem e itens pessoais iam dentro dela. Lembrou-se do xampu e do condicionador no caso de ficarem em um hotel. Odiava amostras. Seu cabelo era comprido demais para que elas servissem.
Um utilitário preto encostou-se em frente à sua casa. Trisha deu uma olhada no relógio e viu que ele tinha chegado quinze minutos mais cedo. Apertou os dentes. Slade realmente gostava de irritá-la. Ela pegou a bolsa, a maleta, e colocou uma mala estilo bolsa no ombro. O peso de toda a bagagem fez com que lutasse para sair pela porta da frente.
Ninguém veio ajuda-la. Olhou persistentemente para o guarda dirigindo o carro, mas ele só a observou enquanto fechava a porta e lutava com as chaves para trancar a fechadura. Um pouco da sua irritação passou já que o motorista não era Slade. Relaxou, respirou fundo, e se virou.
Tentou não grunhir enquanto ia pela calçada. Sua maleta era pesada e a bolsa machucava o seu ombro.
A porta de trás do veículo se abriu e Slade saltou de dentro. Ele lhe sorriu, olhando a sua bagagem. Sacudindo a cabeça, ele caminhou até a traseira do carro para abrir a mala. Saiu do seu caminho, riu, e lhe indicou onde colocasse suas coisas.
— Nossa, obrigada pela ajuda. — Ela o olhou com raiva.
— Eu disse que ficaríamos fora por dois dias, não duas semanas, Doutora. Acho que pode guardar suas próprias coisas se acha que vai poder vestir toda essa porcaria que enfiou nessas bolsas.
Ela de fato grunhiu quando levantou a mala para colocá-la na traseira do carro.
— Eu não sabia o que trazer e eu tive que colocar diferentes tipos de roupas. Economizaria bastante se alguém — ela o fulminou quando jogou a bolsa dentro — me dissesse para onde eu iria e do que isso se trata.
Ele fechou o compartimento traseiro.
— Vamos andando, Doutora. Não temos o dia todo para ficar aqui conversando.
Trisha estava fula. Agarrou a bolsa de mão com força. A porta de trás do utilitário ainda estava aberta, ela entrou antes que Slade pudesse entrar, sabendo onde ele estava sentado antes. Deu um sorriso maldoso a ele enquanto se aconchegava no banco ainda quente pelo seu traseiro. Ela fechou a porta e se virou para perguntar a Justice o que estava acontecendo. O carro estava vazio exceto pelo motorista e Slade, que abriu a porta do outro lado e entrou. A porta fechou.
— Vamos pegar Justice agora?— Ela odiava o tom esperançoso em sua voz.
Slade colocou o cinto de segurança.
— Aperte o cinto, Doutora. Não. Justice já foi. Vamos nos encontrar com ele em algumas horas.
Ela suspirou, travando o cinto.
— Para onde vamos?— Olhou para o guarda detrás do volante. — Eu sou a Dra. Trisha Norbit. Qual é o seu nome, motorista?
— Bart — ele disse com alegria. Encontrou o olhar de Trisha no retrovisor. — Nós vamos para o norte, para um resort particular.
Trisha franziu o cenho de forma desconfortável.
— Por que?
— Oh — Bart ligou o carro. — O Sr. North vem fazendo um monte de reuniões por lá. Eles acham que é remoto o bastante para deixar a imprensa bem desconfortável se quisessem tentar segui-lo até lá e acampar para descobrir o que está fazendo. Esperamos que eles não descubram até depois de tudo estiver resolvido.
Trisha ignorou Slade.
— Que tipo de reuniões? Você sabe?
— Oh, claro. — O rapaz era bem falante, o que agradou Trisha. — O Sr. North quer comprar umas terras por lá para os Novas Espécies. Ele marcou reuniões com todos os oficiais lá e com o cara que quer vender a propriedade. Eu ouvi que ele a quer presente caso alguém tenha perguntas sobre coisas médicas. — Ele pausou para respirar. — Ouviu esse rumores estúpidos sobre como as pessoas podem pegar parvo1 e coisas do tipo dos Novas Espécies, certo? Eu fiquei meio preocupado, mas Tiger jurou que era papo furado. Conhece Tiger, Dra. Norbit? Não é verdade, é? Não posso pegar uma doença de animais trabalhando com os Novas Espécies, posso? Porque isso seria algo que eu realmente odiaria. Acho que eles deviam nos dar um adicional de perigo se for verdade. Minha mãe diz que eu deveria procurar um veterinário e tomar algumas injeções só para garantir por...
1 Doença altamente contagiosa que causa febre em cães.
— Cala a boca!— rosnou Slade.
Trisha pulou com o tom da voz de Slade e Bart fechou a boca. Ela virou a cabeça para olhá-lo com raiva. Ele deu de ombros.
— Ele fala demais. Irrita-me.
Trisha tentou esconder seu desprezo.
— Eu lhe garanto que não pode pegar parvo dos Novas Espécies, Bart. Obrigada — ela acentuou as palavras — por me dizer aonde vamos e por que. — Ela deu uma outra olhada ferina para Slade. — Algumas pessoas não apreciam uma pessoa educada, mas eu com certeza o faço.
Slade se virou um pouco, encarou-a mais de sua posição no assento, e sorriu ao cruzar os braços. Ele olhou abertamente para os seus seios e manteve seu foco lá.
— Eu posso ser bem educado quando quero ser. Sei como estimular uma conversa. — Levantou o olhar e piscou para ela. — Sou muito bom com as minhas habilidade orais quando sou motivado.— Baixou os olhos para o seu colo e seu sorriso aumentou. — Sou muito bom com as minhas habilidades orais. Filho da puta. Trisha apertou os dentes, recusando-se a chamá-lo assim em voz alta. Ele não estava falando de conversas e ela sabia disso. Por que ele sempre tentava irritá-la? Talvez achasse que poderia envergonhá-la com as suas frases de duplo sentido sexual, mas ela era uma médica. Respirou fundo e forçou um sorriso. Tinha sido assediada por bêbados nas salas de emergência vezes demais para permiti-lo embaraçá-la.
— Habilidades orais são sempre algo maravilhoso de se ter, Sr. Slade. — Seu olhar desceu para o fecho da sua calça preta e se demorou por lá. Permitiu que seu olhar subisse lentamente pelo seu corpo para examinar cada pedacinho até estarem olhando um nos olhos do outro.
Ela viu que o seu sorriso tinha desaparecido, sabendo que foram suas ações que o tiraram daquele rosto convencido.
— Acho que pode dizer que eu tenho uma verdadeira fixação oral. — Sorriu mais, lambeu os lábios, deixando a língua passar lentamente por eles. A mandíbula dele apertou e ele se ajustou no banco. Notou seu interesse. — Uma boa conversa é muito importante, não acha? É tão estimulante e prazerosa quando feita do jeito certo. Como médica você pode se surpreender com o quanto se aprende sobre o assunto. Faz muito tempo que eu não tenho uma conversa realmente boa e às vezes quase me dói de vontade de querer alguém que consiga me estimular. — Estreitou os olhos. — Mas infelizmente ainda não conheci ninguém com quem realmente queira conversar. Só conheço imbecis que não têm sutileza alguma.
Ele rosnou para ela. Ela riu e virou o rosto do dele para fitar a janela e ver que deixavam Homeland. Os guardas no portão sinalizaram para que passassem. Trisha não se incomodou em olhar para Slade. Tinha medo que ainda estivesse olhando para ela. Virou-se na direção da janela e se ajeitou até encontrar uma posição confortável.
— Espero que não se importem, mas eu vou dar um cochilo.— Não conseguiu resistir. Virou a cabeça para encontrar o olhar de Slade. Ele ainda a observava e os seus incríveis olhos azuis a observavam sem divertimento. Ele parecia, de fato, irado.
— Tenha um ótimo cochilo, Dra. Norbit. Eu a acordo quando chegarmos — ofereceu Bart. — Se importa se eu ligar o rádio?
— De jeito nenhum. — Trisha se virou de volta para a janela, percebendo o quanto realmente estava cansada.
— Rápido. — urrou um homem. — Dirija mais rápido. Ele está bem na nossa cola.
Trisha acordou abruptamente quando bateu na janela. Grunhiu quando a dor explodiu em sua testa. Estava meio dormindo, desorientada, quando levantou a cabeça para olhar em volta do carro e saber o que estava acontecendo.
Slade estava inclinado entre os bancos e Bart ainda dirigia o carro. Trisha estudou o que os rodeava, vendo que estavam em uma área de floresta, numa pista dupla com árvores densas de cada lado. O sol tinha baixado no céu e logo seria noite. Ela segurou a testa onde ainda doía, mas tirou a mão para ver se havia sangue. Não havia.
— Pise mais fundo. — rosnou Slade. — Eles vão nos atingir de novo.
Quem vai nos atingir? Trisha virou a cabeça para olhar para trás. Viu um caminhão vermelho com uma grade de metal se aproximando da traseira do veículo. Sabia que sua boca abriu enquanto o caminhão chegava mais perto, pecebendo que iria bater neles. Ela ofegou baixo quando ele bateu no carro.
O utilitário desviou, ziguezagueando na estrada estreita. A cabeça de Trisha foi arremessada de novo nas costas do banco do passageiro. Seu cinto apertou dolorosamente seu colo quando ela percebeu que tinha tirado o cinto do ombro enquanto dormia.
— Oh meu Deus — Bart soava como se estivesse soluçando. — Eles estão tentando nos matar.
— Aperte o pé. — urrou Slade. — Nosso motor é melhor. Eles não bateriam em nós se você encontrasse seus colhões e acelerasse.
— Eu não consigo. — gritou Bart. — Vou perder o controle do carro. As curvas são muito fechadas.
— Da próxima vez, eu dirijo. — rosnou Slade.
Trisha experimentou medo quando observou os precipícios da estrada. Havia árvores por todo lado e um lado da pista era uma elevação rochosa alta enquanto que o outro, o que estava mais próximo deles, era um abismo com um vasto espaço de árvores. Olhou para baixo. Estavam subindo uma estrada que rodeava uma montanha.
— Chame ajuda. — disse, confusa e apavorada por acordar numa situação daquelas.
— Não tem sinal. — Slade rosnou as palavras, obviamente furioso.
Ele virou a cabeça, olhando para trás. Soltou um palavrão, jogando-se no banco próximo a Trisha. Ela ficou chocada ao ver a arma que tirou das costas. Era uma pistola preta.
— Ai, merda. — ofegou.
O caminhão bateu neles de novo. Trisha foi jogada contra a porta ao seu lado, mas desta vez conseguiu não bater com a cabeça. Ao invés da cabeça, sua mão foi esmagada entre seu corpo e a porta. Slade foi arremessado no banco do passageiro antes de se colocar de joelhos e se abaixar na parte de trás do carro. Apontou a arma.
— Tape os ouvidos, Doutora.
Tapou os ouvidos no momento em que Slade abriu fogo. Vidro explodiu. O som da arma disparando era de estourar os tímpanos. O carro desviava loucamente e quase ficou sobre duas rodas. Bart falou vários palavrões, dando uma curva rápido demais.
Trisha se virou para olhar para trás. Viu uma fumaça branca sair de debaixo do capô do pick-up vermelha, sem precisar ser informada que Slade tinha acertado o motor. Tinha que ter atingido o radiador ou outra coisa. O caminhão desacelerou e o carro se afastou. Slade parou de atirar. Praguejou quando largou o pente vazio e tirou outro cheio de dentro do bolso. Eles deram uma curva e o caminhão não estava mais atrás deles.
Trisha ficou de boca aberta. Seus olhos azuis olharam os seus.
— Você está bem, Doutora?
Ela conseguiu assentir.
— Quem eram aqueles?
Slade deu de ombros.
— Meu palpite é que não eram nossos amigos. — Ele se jogou no banco de lado, colocando a arma no assento entre eles. Tirou sua atenção dela para ver o dano à janela de trás. O vento entrava no carro pelo buraco. Ele tirou o celular do bolso. Abriu o aparelho, olhou para a tela por alguns segundos e disse um palavrão horrível.
— Ainda não tem sinal. — Seu olhar encontrou o dela. — Onde está o seu celular, Doutora?
— O meu também não vai ter se o seu não tem.
— Nunca se sabe. Nossas operadoras podem ser diferentes. Onde está? Não quero ficar aqui sentado debatendo isso. Prefiro tentar.
Ela fez menção de pegar a bolsa, mas não estava no lugar onde a havia deixado. Olhou para baixo e percebeu que havia caído no chão. Apontou para onde estava. Slade a pegou. Sua mão praticamente esmagou a bolsa quando a levantou. Em um segundo ele virou a bolsa, esvaziando todo o seu conteúdo no banco entre eles com algumas sacudidas bruscas.
Trisha teve que lutar contra a vontade de gritar com ele quando seu queixo caiu em choque.
Aquelas eram as suas coisas e ele simplesmente as jogou no assento como se fossem lixo. Enfiou a mão na bagunça que havia criado para encontrar o seu celular e abri-lo.
— Maldição. — rugiu. Jogou o celular no chão.
— O telefone é meu! Não o quebre.
Seu temperamento explodiu. Também estava assustada e com muita, muita, raiva. Desafivelou o cinto de segurança para se inclinar para frente e checar o seu celular. Slade a empurrou de volta no banco com a mão.
— Não vai funcionar mesmo. — rosnou, olhando-a com raiva.
— Jogue o seu telefone, não o meu. Isso é falta de educação.
— Me desculpe. Eu odiaria ser mal educado quando alguém acabou de tentar nos matar.
— Oi? — gritou Bart. — Tem outra caminhonete. Vocês podiam parar de brigar? Acho que temos outro problema. Parece que eles não estavam sozinhos!
Trisha virou a cabeça para fitar em horror para trás. Um segundo caminhão se aproximava rapidamente, esse uma pick-up azul que também tinha uma grade de metal, quase que idêntica a vermelha. Ela viu um homem se erguer na caçamba da caminhonete, um braço segurando a barra de metal acima da cabine para se manter de pé, e o outro braço erguido tentando mirar uma arma neles. Ela abriu a boca para gritar um alerta.
Slade segurou a camiseta de Trisha e a puxou para cima do banco. Seu corpo esmagou o dela, fazendo com que sua bolsa e os objetos dentro dela pressionassem seu estômago. Slade meteu a mão entre ela e o banco. Agarrou seu seio, apertou e tirou a mão. Ele achou a pistola e a tirou debaixo dela com nem um pouco de delicadeza. Um ruído alto soou, mas foi abafado já que as coxas de Slade estavam coladas em suas orelhas.
Minha cabeça no meio das coxas de Slade. Isso queria dizer que o peso em sua nuca... Apertou os dentes. Como Slade podia estar excitado quando alguém atirava neles? Ela lutou para sair do meio de suas pernas, mas seu peso maciço e esmagador a manteve quieta. Seus músculos apertaram de repente, quase esmagando a cabeça dela no processo.
— Fique quieta. — exigiu ele. — Está empurrando os meus ovos.
— Vá se foder. Saia de cima de mim. — gritou.
Uma mão larga de repente bateu com força no traseiro de Trisha, mandando uma explosão de dor ao seu cérebro, assustando-a.
— Meu rosto está bem aqui, Doutora. Não me machuque que eu não a machuco.
Trisha só gritou. Estava com raiva, com medo, e sua bunda doía onde ele tinha batido com sua palma enorme. Algo bateu com força no carro e fez Slade sair de cima de Trisha. Eles foram jogados para frente e o corpo dela deslizou com o dele. Os dois bateram nas costas dos bancos da frente juntos.
— Dirija. — ordenou Slade para Bart com brusquidão. — Mais uma batida dessas e... MERDA!
Merda? Trisha ficou alarmada com o tom de Slade. Um segundo depois o carro correu loucamente.
Ela e Slade de fato foram arremessados completamente do banco. Ouviu o grito de um homem.
Bart. Então bateu com força de volta no assento com todo o peso de Slade caindo sobre ela. Ouviu um barulho horrível quando tudo sacudiu, pulou e solavancou tão forte que se perguntou se também se quebraria ao meio. Uma explosão alta encheu o ar de repente um segundo depois do carro virar e ela ser arremessada de novo. Gritou em puro terror. Não sabia o que estava por cima nem por baixo. Não sentia nada além de dor, medo, e a sensação de movimento.
Mãos agarraram suas coxas, ala caiu no corpo de Slade de qualquer jeito, de forma impiedosa. Ouviu vidro se quebrando como se tivesse explodido. Metal rangia e batia ruidosamente, em um volume ensurdecedor. Trisha continuou a gritar, mas tudo parou de se mover de repente.
Ofegou, deitada em algo duro. Seu ombro, mão e ouvidos doíam. Tentou se acalmar e abrir os olhos, mas instantaneamente desejou que não tivesse aberto. Descobriu seu corpo espalhado pelo teto do carro. A janela traseira quebrada estava bem à sua direita, dizendo-lhe que de algum modo tinha sido arremessada para o compartimento de bagagem.
Ela olhou para a terra e a grama no chão, só a um braço de distância. Perto da traseira do carro havia um grosso tronco de árvore. Finalmente caiu a ficha em sua mente que o carro havia parado de cabeça para baixo.
Moveu-se, o que fez com que a dor explodisse da perna até o joelho. Gemeu.
Colocou as mãos no teto e tentou se levantar, mesmo com os ombros doendo, mas só conseguiu levantar um pouco a cabeça. Virou para a esquerda para ver Slade a alguns centímetros dela. Estava deitado de lado com as costas para ela, a cabeça perto do seu quadril. Ele moveu os braços quando tocou seu rosto.
— Merda. — grunhiu Slade. — Doutora? — Sua voz ficou mais grossa quando seu corpo inteiro se sacudiu. — DOUTORA?— Seu tom era mais forte em alarme.
— Estou atrás de você. Você está bem? — Trisha limpou a garganta. Sua voz falhou quando falou.
Slade virou a cabeça para olhá-la.
— Bem. Está muito ferida?
— Com dor, mas viva. Consegue ver Bart? Tudo o que eu vejo daqui é você e o banco de trás.
Slade se moveu um pouco e grunhiu quando levantou a cabeça.
— Eu o vejo. Está amarrado de cabeça para baixo, mas se mexendo. Consigo ouvi-lo respirando.
Um gemido de dor veio da frente do carro. Trisha lambeu os lábios secos, instantaneamente sentindo gosto de sangue. Começou a ir à direção da terra, na intenção de sair de dentro do carro.
Uma mão agarrou sua coxa.
— Não. — ordenou Slade.
— Eles tinham armas. Não sei o quanto capotamos, mas eles podem estar perto. Se você sair pode se tornar um alvo fácil.
— Oh, Deus. — soluçou Bart suavemente.
— Eu tenho que ajudá-lo. — Trisha encontrou o olhar de Slade.
Suas narinas dilataram.
— Ok. Passe por cima de mim para chegar até ele. Tem muito vidro quebrado debaixo de mim e eu não quero que se corte. Fique dentro do carro. Se não conseguir alcançá-lo do meio dos bancos, esqueça o assunto até eu sair e dar uma olhada primeiro. Preciso descobrir se estamos fora da linha de tiro deles.
— Quer que eu passe por cima de você? Mas...
— Vá logo, Doutora. Não estou brincando sobre os cacos de vidro. As janelas quebraram. Vidros reforçados uma ova. Isso é vidro temperado, mas tem partes afiadas. Passe por cima do meu corpo e vá até ele primeiro e eu vou sair para dar uma olhada onde estamos depois. Com sorte rolamos o bastante da colina para que eles não nos achem, mas podem estar descendo a pé para terminarem o trabalho. De qualquer forma, não quero ficar por aqui por muito tempo. Eles sabem onde estamos e podem nos encontrar muito facilmente. Tenho certeza que deixamos uma trilha para que sigam.
Trisha se virou de lado. Só tinha espaço suficiente para sair de baixo do banco de trás antes de encontrar o olhar de Slade. Ele lhe deu um sorriso que não alcançava seus olhos.
— Você sabe que quer vir para cima de mim, Doutora. Essa é a sua chance.
Trisha franziu o cenho.
— Você é um completo bundão.
Ele piscou.
— Não é com a minha bunda que me preocupo quando estiver em cima de mim. Cuidado com os seus cotovelos e joelhos, doçura.
Ela abriu a boca para lhe dizer que agora não era o momento para que começasse com as suas merdas, mas Bart soluçou na frente. O sorriso de Slade apagou.
— Ande, Doutora. Eles podem estar descendo para nos procurar e eu não quero ser furado que nem um peixe num barril.
Trisha estendeu os braços com cuidado para colocar as mãos dos lados da cabeça de Slade. Ele se moveu de repente, estendendo as mãos para ela.
— Coloque as mãos nas minhas. Tem vidro. Eu vou te levantar o máximo que puder. Depois coloque as mãos nas minhas pernas. Cuidado com os joelhos, Doutora. Falando sério.— Ele piscou.
— Por mais que queira ver o quanto eu sou grande, preferia que sentisse o tamanho com as mãos.
— Bastardo. — sussurrou Trisha, sem realmente falar sério.
Ela lhe deu um sorriso corajoso, sabendo que ele estava sendo um imbecil só para distraí-la. Estaria surtando com a situação em que se encontravam se não fosse por Slade. Despencaram parte de uma montanha, homens com armas poderiam estar a caminho do local do acidente, e Slade tentava fazer com que se concentrasse nele ao invés de no perigo.
— Obrigada. — sussurrou baixinho, colocando as mãos dentro das dele. Enroscou os dedos nos dele, as palmas juntas, quando Slade segurou seu peso.
Ele começou a puxá-la para cima do corpo. Trisha levantou o resto do corpo com os joelhos. Tentou não notar quando seus seios esfregaram o rosto de Slade e como seu estômago se aproximou o bastante para sentir sua respiração quente pelo tecido fino da camiseta.
— Talvez queira considerar fazer uma dieta se sobrevivermos a isso. — sugeriu Slade baixinho.
— Beije a minha bunda.
Ele riu.
— Não é a sua bunda que está em cima do meu rosto no momento, Doutora. Só consigo trazê-la até aqui. Por mais que eu goste de onde está, mexa-se, doçura.
Seus joelhos alcançaram os ombros dele. Ela agarrou suas coxas com as mãos, sabendo que ou teria que apoiar o corpo no dele e deslizar até os seus pés, ou passar por cima dele com os joelhos.
— Rápido, Doutora.
Ela cuidadosamente colocou o joelho em seu ombro. As mãos dele de repente agarraram o seu quadril quando levantou a parte inferior do seu corpo como se estivesse fazendo uma flexão. Empurrou-a para frente.
Trisha quase foi arremessada no meio dos bancos da frente, mas ao invés disso, foi só a sua cabeça que acabou entre eles com o painel acima dela. Apertou-se pelo espaço estreito. Conseguia ver Bart agora. Slade saiu de debaixo de suas pernas, que ainda estavam em cima dele.
— Não se mexa, Doutora. Eu vou sair. Foi bom te conhecer caso ouça tiros.
— Tenha cuidado. — ela alertou.
Trisha voltou o olhar para Bart, estudando-o. Ele ainda estava amarrado ao assento pelo cinto de segurança. Parecia estar inconsciente agora e suas mãos estavam penduradas, batendo no teto. Ela viu sangue cobrindo sua mão esquerda e a pegou com cuidado. Era difícil de ver já que ela estava do outro lado.
Praguejou mentalmente, percebendo que parecia ser um ferimento da batida. A pele estava rasgada e adivinhou que sua mão deve ter sido jogada pela janela que foi esmagada quando o carro capotou. Tocou sua palma com as pontas dos dedos, apalpando os ferimentos, e determinou que seu pulso também estava quebrado. Ele se ferrou ali, sem piada, já que a fratura não tinha sido exposta. Ele acordou.
— Bart? — Engoliu em eco. Sua voz continuava falhando. — Aonde mais dói além da parte do cinto de segurança e do seu braço?
— Minha perna — ofegou ele. Lágrimas escorriam dos seus olhos castanhos quando começou a chorar.
Droga. Trisha não podia ir mais além dentro da área do motorista já que o corpo dele estava no meio e o volante acima. Podia ver melhor se tivesse uma lanterna, uma vez que o sol estava se pondo, deixando o interior do veiculo escuro.
— Pode mexer os dois pés?
— Dói. — chorou ele baixinho.
— Mexa, Bart. — disparou. — Aqueles homens podem estar vindo atrás de nós. Mexa os seus pés. Preciso que me ajude aqui.
Ele gemeu de dor.
— Estou sentindo-os e acho que estão se mexendo.
Trisha assentiu, olhando para onde os pés dele estariam. Gotas de sangue não pingavam no teto onde ela estava aninhada. Outro bom sinal. Ela se forçou a permanecer calma e a pensar. Sua cabeça latejava, seu corpo estava dolorido e sentia dores. Ainda sentia gosto de sangue na boca e nem queria adivinhar a causa. Verificaria seus próprios ferimentos depois, mas no momento a prioridade era o jovem rapaz à sua frente.
— Me escute, Bart. Preciso que descubra se as suas pernas estão presas e se você pode sair daí. Preciso que mexa as pernas para ver se estão soltas. Está me entendendo?
— Dói. — choramingou.
Trisha apertou os dentes.
— Eu também estou com dor. Vamos. Ouviu quando eu falei dos caras que nos derrubaram aqui? Eles podem descer aqui e nos matar. Precisa me ajudar. Posso ajudá-lo mais se conseguirmos soltá-lo. Não posso fazer muita coisa por você agora já que não há espaço suficiente para tratá-lo no lugar onde está. Tenho que verificar seus ferimentos, mas preciso que saia desse banco para fazer isso.
— Ok. — chiou ele baixo. — Vou tentar.
Trisha lutou para ouvir algum sinal de Slade, mas não ouviu tiros.
Onde ele está? Experimentou um pouco de medo repentino. Ela e Bart não eram Novas Espécies.
Slade os deixaria para trás para salvar a própria pele? Realmente esperava que não. Talvez tenha ido atrás de ajuda, mas ele não avisaria primeiro? Simplesmente não sabia no que acreditar e isso realmente a incomodava.
— Eu consigo mexer as pernas. — Dor soava na voz de Bart.
— Fantástico. Eu sei que você só tem uma mão que dá para usar, mas você precisa usar o braço bom para tentar abrir a porta. Veja se ela abre.
— Não consigo.
Trisha se virou, olhando para o lado do passageiro. O porta-luvas se abriu e as coisas nele caíram. Foi rastejando até a pequena área debaixo do banco.
A janela permanecia inteira do lado do passageiro, mas estava rachada, como uma teia de aranha. Ela usou um papel que tinha caído do porta-luvas para cobrir os cacos de vidro que caiu no interior quando o carro capotou, para proteger o corpo.
Alcançou a maçaneta. Ela se movia, mas a porta não abria.
— Merda. — suspirou. Olhou e percebeu que a porta ainda estava trancada, e estendeu a mão.
Teve que se esforçar para alcançar o botão para destravar. Tentou a maçaneta de novo e desta vez ouviu um clique. Virou-se até ficar de costas e empurrou com uma mão enquanto agarrava a maçaneta. A porta abriu alguns centímetros antes de bater em algo do lado de fora.
— Duas vezes merda.
— Ei, Doutora. — Slade se abaixou para olhar dentro do veículo pela janela do passageiro. — Quer sair? Não vejo nenhum daqueles idiotas descendo atrás de nós por enquanto.
— Pode abrir a porta?
Slade levantou a cabeça para estudar a porta ao invés dela.
— Não sei. Vou ter que empurrar um pouco o carro de lado para ver se posso erguê-lo alguns centímetros porque a porta está presa na terra. — Ele parou. — Talvez. Prepare-se para balançar.
Ela entendeu o que ele pretendia fazer quando o viu se virar para plantar os pés ao lado da porta. Suas costas pressionavam do lado do utilitário. Ela abriu a boca para lhe dizer que ele não era forte o bastante para mover o carro nem mesmo um centímetro, mas então o veículo se mexeu um pouco debaixo de si. Ele empurrou o bastante para tirar o carro do chão.
— Empurre a porta. — grunhiu Slade. — Essa porra é pesada.
Trisha usou as duas mãos para empurrar com força a porta a uns bons centímetros do chão. Ela passou por cima da grama e da terra e abriu pela metade. Empurrou mais forte e conseguiu talvez mais alguns centímetros. O carro inclinou mais. Slade grunhiu e o utilitário caiu outra vez. A porta se enterrou na terra.
Slade se agachou próximo à porta aberta e colocou a cabeça para dentro.
— Me dê suas mãos que eu a puxo para fora.
A porta estava aberta pela metade, no máximo uns quarenta centímetros. Soltou um palavrão.
— Não acho que consigo passar.
— Eu estava brincando quando disse que precisava fazer uma dieta. Vamos tentar, doçura. Acho que você consegue. Vocês mulheres sempre acham que são maiores do que realmente são. Tem mais espaço do que você pensa. Saia de lado.
Trisha agarrou as duas mãos de Slade. Ele começou a puxá-la lentamente com ela virando de lado. Seus joelhos bateram no banco, mas quando ela se retorceu um pouco, conseguiu passa-lo. Slade a puxou de novo. Sua cabeça saiu pelo espaço apertado quando ela a colocou de lado e então seus seios e costas foram apertados.
Ela percebeu que estava presa. Seus seios a estavam prendendo.
— Isso não seria um problema se você não tivesse uns seios tão lindos. — riu Slade. — Uma mulher com pouco peito teria passado sem dificuldade.
Trisha o olhou com raiva enquanto o fitava.
— Me puxe logo! Isso não é muito confortável.
— Respire fundo e expire todo o ar. No três. Um. Dois. Três.
Trisha exalou até parecer que os seus pulmões estavam sendo esmagados dentro do peito. Slade a puxou. Ela ofegou enquanto Slade a puxava para longe do carro.
Ele soltou suas mãos antes de alcançá-la de novo aonde estava, deitada no chão.
Ele agarrou seus braços bem acima dos cotovelos e a ajudou a se levantar devagar. Estudou-a criticamente antes de encontrar seu olhar.
— Consegue ficar em pé?
Testando as pernas, Trisha assentiu.
— Estou bem.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Não diria isso se tivesse um espelho. Fique aqui e me deixe ver se eu consigo tirar Bocão do carro.
— A mão esquerda dele está esmagada e o pulso quebrado. — avisou Trisha. — Tente não tocá-la nem deixe que coloque peso nela.
Trisha baixou os olhos já que o seu joelho latejava e viu um rasgo em sua calça. Abaixou-se, lutou com um instante de tontura, mas passou. Tocou o tecido rasgado, manchado de sangue. Agarrou o tecido com os dedos e abriu mais o buraco. O som do tecido rasgando parecia alto para Trisha.
Olhou para o joelho de perto, encontrando vermelhidão e um pequeno corte que seus dedos testaram. Estava um pouco ensanguentado, mas não precisava de pontos. Ficou de pé para dar a volta no carro e sabia que tinha sofrido fortes hematomas.
O carro parecia acabado. Ela viu os painéis esmagados e o teto esburacado. A traseira tinha sofrido o pior. Havia uma abertura enorme perto da porta do motorista e a caixa do motor no canto da frente tinha sido destruída.
Ela a fitou enquanto Slade abria a porta. Parecia que tinham batido em algo de frente ao caírem. O palpite de Trisha era uma árvore, talvez até algumas delas tendo em vista o dano em toda parte frontal do veículo. Era um milagre que todos estivessem vivos. Laurann Dohnner Slade
Virou a cabeça e olhou a montanha. Não conseguia ver a pista de onde estava, mas podia ver o caminho que o carro percorreu antes dele desaparecer em meio às densas árvores. Cacos de vidro, pedaços arrancados do carro e algumas roupas estavam espalhados pelo caminho.
Viu sua maleta quebrada perto de uma árvore. Estava esmagada e partida ao meio, como se alguém a tivesse golpeado com um machado. Estremeceu. Podia ter sido ela ou Slade se algum dos dois tivesse sido arremessado do veículo.
— Não! — Gritou Bart.
— Seja homem. — rosnou Slade. — Não pode ficar pendurado aí o dia todo. No três eu vou cortar o seu cinto e tirar você daí. Seu traseiro vai cair, mas eu seguro a sua cabeça. Um. Dois...
— Não. — gritou Bart, soando em pânico.
— Três!
Slade cortou o cinto de segurança e arrastou um histérico Bart para fora do carro. Trisha mancou os passos que faltavam até o homem chorando no chão quando Slade o soltou e se afastou. O olhar que Slade deu a Trisha expressava puro desprezo. Ele sacudiu a cabeça, apertou os dentes, e foi embora.
— Você lida com ele. Eu vou salvar o que puder. Vai escurecer logo.
Trisha se ajoelhou para examinar Bart, que chorava baixinho. Ela se encheu de simpatia pelo rapaz que estava no começo dos vinte, mas que agia como se fosse bem mais novo. Entendia o quanto devia estar assustado. Suas mãos varreram seu corpo, fez o que podia fazer sem a sua maleta médica. Tudo o que tinha disponível era o seu toque e sua visão para determinar o que era emergencial.
Examinou seu quadril e suas mãos apalparam uma de suas coxas, descendo pela perna até o tornozelo. Não ia tirar o seu sapato para se certificar, sabendo que se ele tinha ossos quebrados ali o sapato os manteria imóveis e controlariam o inchaço por enquanto. Levantou-se e agarrou sua outra coxa, circulando a mão de cima a baixo.
— Querem um quarto?— suspirou Slade. — Se me tocar desse jeito eu espero que tenha um anel de casamento para me dar, Doutora.
— Estou vendo se encontro mais ossos quebrados.— Ela nem sequer olhou por cima do ombro para Slade. — Por enquanto nada.
Trisha se endireitou e franziu o cenho para Bart.
— Aonde dói?
— Minha mão.
Ela explorou seu estômago e sua cabeça até ter passado as mãos por todo lugar.
— Como estão o pescoço e as costas?
— Estão bem. Minha mão dói. — Bart chorou baixo com o braço aninhado no peito.
Trisha virou a cabeça para olhar Slade.
— Ele pode ter ferimentos internos, mas eu não saberei com certeza sem levá-lo a um hospital. Os únicos que tenho certeza são o pulso e a mão. Pode pegar algumas roupas na minha mala? Preciso delas.
Slade torceu os lábios.
— Você quer trocar de roupa? Dá um tempo, Doutora. Não pode ser tão soberba assim.
— Seu filho da puta imbecil. — explodiu Trisha, sua raiva crescendo instantaneamente. — Eu preciso rasgar roupas para enfaixar a mão dele. A alça da minha bolsa é do tipo que tem regulagem. Posso tirá-la e usá-la de tipoia para imobilizar o braço inteiro até a ponta dos dedos.
Slade corou um pouco.
— Vou pegar. Desculpe. — Ele se afastou.
Trisha suspirou, permitindo que sua raiva passasse. Todos eles estavam sob estresse. Slade voltou minutos depois. Usou uma faca para cortar suas melhores camisas em tiras. Trisha enfaixou a mão quebrada de Bart. Ele desmaiou quando o fez, o que era uma coisa boa porque Slade realmente parecia irado com o choro constante dele. Bart não chorava no momento enquanto estava desmaiado.
Trisha tirou vantagem disso e enfaixou sua mão ensanguentada e o firmou com a tipoia improvisada. Observou-o com cuidado, decidindo que se não o levassem a um hospital de trauma logo, ele perderia a mão inteira.
Declarou aquilo em voz baixa para Slade.
— Vou dar um jeito nisso. — Slade franziu o cenho. — Bem depois que eu criar asas e sair voando daqui. O que quer que eu diga? Estamos ferrados.
— Você poderia ir até a pista pedir ajuda ao invés de ficar aqui dizendo coisas inteligentes.
— E as duas caminhonetes lá em cima que tentaram nos tirar da pista, hein? Claro. Eles conseguiram e ainda podem voltar para garantir que estejamos mortos. Eles se dariam a esse trabalho para tentar nos matar. Eles também têm armas.
— Você não os viu descendo, certo?
A expressão de Slade endureceu de raiva.
— Eles podem ter voltado para pegar os idiotas da pick-up vermelha que eu enchi de furos. Possivelmente tem ainda mais deles vindo atrás de nós. Talvez eles queiram fazer uma festa. Podem estar vindo para cá neste momento. Vou checar enquanto você fica aqui. — Ele se virou e desapareceu do outro lado do carro.
Trisha se sentou. Sua cabeça doía e seu joelho latejava. Evitou mexer o seu ombro dolorido. Toda vez que estirava o braço direito tinha vontade de fazer careta.
Tocou-o com a mão esquerda e esfregou seu ombro machucado. Não estava deslocado e não sentia nada quebrado. Esperava que só fosse uma distensão muscular ou só um hematoma. Machucar cartilagens podia ser bem doloroso.
Bart acordou. Trisha sorriu para ele.
— Como está se sentindo?
— Com dor. Não quero mais esse trabalho.
Trisha assentiu.
— Não culpo você. Por que não tenta sentar?
— Eu não quero. Quando a ambulância vai chegar? Slade foi buscar ajuda?
— Ele foi se certificar que aquelas pessoas que nos tiraram da estrada não estejam vindo para cá nos procurar. Ele vai voltar e vamos sair daqui logo. Não se preocupe, Bart. Eu sou médica, lembra? Você está ótimo.
Slade ignorou seus ferimentos. A raiva o ajudava a subir o monte, cada um dos seus sentidos em alerta máximo. O cheiro de gasolina confundia o seu olfato, tornando difícil distinguir os cheiros. Ela tinha se derramado do carro por entre os escombros por onde atravessava e seu olhar ia para cima, procurando qualquer sinal de movimento estranho.
Trisha podia ter morrido. Consumiu-se de raiva ante a ideia. Definitivamente tinha se machucado. O cheiro do seu sangue ainda permeava sua memória, apesar do terrível cheiro de combustível. Meio que esperava que um ou dois dos imbecis que os atacaram tivessem descido. Adoraria matar os bastardos por a machucarem.
Uma enorme massa rochosa interrompeu o seu progresso quando ele se viu de frente a uma parede rochosa de uns sete metros de altura. O carro tinha caído dela. A visão fez com que percebesse o quanto eles tiveram sorte de ter sobrevivido. A frente do veículo tinha sofrido o maior dano, mas se tivessem batido de lado...Estremeceu. Trisha teria morrido.
A lembrança dele tentando agarrá-la, tentando proteger seu corpo com o seu durante a pior parte do acidente iria assombrá-lo. Ela foi arremessada dos seus braços no final, quando sua cabeça bateu em metal. Foi forte o bastante para fazer seu corpo ficar mole. Assustava-o perceber como ela por pouco foi arremessada quando a viu ir parar no compartimento traseiro do utilitário.
O macho humano ao volante devia ter sido mais forte, mais durão, e os conduzido em segurança. Ao invés disso, medo e pânico o haviam dominado até que perdesse o controle da situação e do veículo. Apertou os dentes.
Devia ter insistido em dirigir, mas Justice desejou um humano ao volante para atrair menos atenção. Os vidros fumês escondiam Slade dos carros que passavam na estrada. Jurou que era a última vez que cumpria uma ordem dessas. Seria ele quem ia dirigir se Trisha viajasse outra vez.
Uma sensação de gratidão o encheu por ter exigido que fosse com Trisha. A ideia de ela ser atacada sem ele por perto o deixava gelado por dentro. Continuou a vasculhar a área acima, observando por qualquer sinal dos seus atacantes. Humanos seguiriam o caminho destruído para localizá-los. Talvez pensassem que tinham morrido.
Relaxou. Seu pessoal perceberia que tiveram problemas quando não chegassem logo. Estaria escuro antes que a ajuda chegasse, mas ele poderia manter Trisha viva sem importar quanto demorassem para encontrá-los. Um som o alcançou e uma pequena leva de terra caiu à sua esquerda. Instantaneamente apurou os sentidos.
— Porra — disse uma voz masculina. — Preciso de luvas.
— Fique feliz por termos uma corda. Acha que eles morreram?
— Não vou me arriscar. — outra voz de homem declarou. — Precisamos acha os corpos para provar que matamos aquelas aberrações animais. Vamos tirar fotos com os celulares.
— Espero que isso aguente. Tem certeza que os nossos pesos juntos não vão torar as cordas? — O homem que falou tinha um leve sotaque. — Eles tinham que cair bem aqui? É um terreno bem difícil.
Slade fez a volta, moveu-se rápido, e se escondeu por trás das árvores para conseguir ouvir melhor o som que vinha de cima. Ele avistou seis homens, todos em vários estados de vestimentas, mas a coisa que tinham em comum era as armas presas às suas costas. Seus lábios se abriram, as presas apareceram, mas conteve o rugido que ameaçava explodir ante a visão de seus inimigos.
Poderia lutar com eles, sentar-se e esperar para atacar, mas e se perdesse? Tinha perdido a arma na queda. Não podia atirar em nenhum deles nem para diminuir a diferença de números. Isso deixaria Trisha indefesa contra eles se falhasse em matar todos antes que acabassem com ele com balas. Os humanos a teriam sob sua misericórdia.
Um rosnado baixo o deixou quando ele se virou para voltar rapidamente até ela. Não arriscaria de modo algum a sua vida. Bart não lhe parecia um macho durão o suficiente para caminhar com os ferimentos que tinha. Enquanto se movia com velocidade, mas em silêncio, para evitar alertar os homens acima de sua presença, chegou a uma amarga decisão.
Teria que deixar o segurança humano para trás se ele se recusasse a fugir. Trisha poderia protestar. Ela tinha um coração mole, mas não importava o que custasse, Slade a salvaria.
Mesmo se tivesse que apagá-la e carregá-la sobre o ombro. Determinação fez com que corresse mais rápido para alcança-la.
—Temos que sair daqui agora. — urrou Slade de repente de trás de Trisha.
Ela deu um pulo e virou a cabeça, fazendo uma careta. Seu ombro gritou em protesto pelo movimento repentino.
— Qual é o problema?
— Seis homens estão vindo atrás de nós. Eles têm cordas e armas com eles. Acho que foi isso que lhes custou tanto para descerem. Onde caímos é escarpado da estrada.
— Talvez seja ajuda. — Bart soava esperançoso.
— Com armas amarradas nas costas? — Disparou Slade. — Por favor. Chegarão aqui rápido. — Slade se virou. — Levante. Vou levar o que achar que seja útil para que sobrevivamos e já vamos. Vai escurecer em breve e isso vai nos ajudar a escapar deles.
Trisha lutou para se levantar e tentou fazer com que Bart segurasse sua mão para puxá-lo pelo seu braço bom. Ele sacudiu a cabeça com determinação.
— Não. Eu ficarei aqui. Tem que ser aquelas pessoas anti-Novas Espécies. Vou lhes dizer que sou humano e eles me arrumarão socorro.
— Ficou louco? — Ofegou Trisha. — Eles tentaram nos matar e acha que dizendo a eles que é humano vai importar para aqueles tipos?
— Eles odeiam os Novas Espécies e tenho certeza que foi por isso que nós fomos atacados. Talvez até achassem que estava transportando Justice North. Eles realmente o odeiam.
Slade voltou trazendo a bolsa de viagem de Trisha. Chegou perto dela e passou a alça por cima de sua cabeça e debaixo do braço, simulando uma tipoia sem lhe pedir permissão. Evitou colocar a alça em seu ombro dolorido. Surpreendeu-a que ele obviamente tivesse notado ela evitando aquele lado. Ele parecia furioso ao olhar para Bart.
— Estamos indo. Acho que eles vão mata-lo, então levante o seu traseiro daí e mexa-se se quiser viver. — Slade rosnou as palavras. — Vai morrer se ficar aqui, garoto. Não tenho tempo para segurar sua mão enquanto tenta achar seu cérebro. Não perderei a minha vida nem a dela ficando aqui tentando colocar juízo na sua cabeça. Fique de pé.
Bart retribuiu o olhar raivoso de Slade.
— Eu sou humano e eles não vão me machucar. Irão chamar uma ambulância.
— Você vai morrer, mas eu não tempo para discutir. Foi avisado. Eu tentei e é tudo que posso fazer por você. — Slade se virou e segurou o rosto de Trisha com uma mão larga, forçando-a a olhar para ele. Seu olhar intenso se encontrou com o dela. — Precisamos correr e ficar bem longe deles. Você está mancando e eu vou levá-la nas costas. Eu a colocaria na frente, mas o terreno é difícil e vou precisar das mãos livres. Não discuta comigo, Doutora. Eles estão vindo. Vamos morrer se ficarmos aqui.
Trisha tinha que concordar. Não tinha dúvida de que aqueles homens eram perigosos.
— Ok.
Slade virou as costas para ela e se agachou. Virou a cabeça para espiá-la e abriu os braços de lado.
— Suba.
Ela não passeava nas costas de alguém desde que era uma menininha. Não hesitou, contudo, quando subiu nas costas de Slade. Passou os braços num aperto folgado em volta do seu pescoço, garantindo que não ia estrangulá-lo e prendeu as coxas no seu quadril quando se levantou. Trisha olhou para Bart no chão.
— Venha com a gente. Por favor?
— Eles não vão me machucar. Ligarei para Homeland quando chegar no hospital. Vou lhes dizer o que aconteceu e eles mandarão ajuda para vocês.
— Última chance. — rugiu Slade ao se afastar do carro. — Venha conosco ou morra.
Ele se moveu rapidamente pelas densas árvores, sem esperar que Bart respondesse. Trisha se segurou.
Slade trocou o peso de Trisha levemente. Ela passou os braços por cima dos seus ombros, tentando sustentar seu peso e não deslizar pelas suas costas. Ele a tinha levantado mais alto em suas costas, enfiado os braços debaixo dos seus joelhos dobrados, e juntado as mãos na altura da cintura.
— Pode me colocar no chão. Eu posso andar. Meu joelho não está tão mau.
— Está ótimo. Quero andar mais uma milha antes do sol se pôr completamente. Vamos continuar enquanto estiver luz para que possas nos rastrear.
O céu se enchia de linhas rosadas acima deles enquanto o sol descia. O vento ganhava força e soprava frio detrás deles. Trisha estava com frio nas costas, mas estava superaquecida na frente do corpo onde este se pressionava a Slade. Seus braços doíam de segurá-lo e ela tentou ignorar os músculos doloridos entre suas coxas. Não estava acostumada a montar em algo por um bom período de tempo.
— Você deve estar ficando cansado, Slade. Vamos. Coloque-me no chão. Eu sou pesada. Sei que é forte, mas isso já é demais. Disse que já cobrimos algumas milhas. Ao menos diminua o passo. Vai acabar se esgotando.
— Cale a boca. — ordenou ele. — Estou tentando me concentrar dizendo a mim mesmo que não está aí. Você ferra isso toda vez que fala.
— Obrigada.
— Isso não foi um insulto, mas você não é tão leve quanto uma pena. Estou tentando esquecer que está aí para convencer meu cérebro que os meus músculos não estão doendo.
Mordeu o lábio.
— Desculpe.
— Calada. — suspirou ele.
Ela evitou falar quando deu uma olhada ao redor. Slade realmente conseguia correr, caminhando mais rápido do que conseguia fazer um cooper com suas longas pernas. Ele só diminuía o ritmo quando estavam subindo ou se tivesse que passar um tronco caído. Tiveram que fazer isso duas vezes.
BOOM! Pausa. BOOM! BOOM!
— O que foi isso? — O coração de Trisha acelerou.
Slade parou, inclinou a cabeça de leve, e ficou tenso.
— Eles devem ter encontrado Bart.
— Aquilo eram tiros, certo?
— Três tiros. É. — Slade voltou a andar. — Acho que no fim não se importaram se ele era completamente humano.
Trisha não pôde evitar as lágrimas que encheram seus olhos. Aqueles homens não atirariam em algo a não ser que quisessem matá-lo. Bart teve certeza que eles se importariam por ele não ser um Nova Espécie. Ele só era um garoto assustado que não merecia morrer.
— Não chore por ele, Doutora. — rosnou Slade. — Eu sei que é duro, mas sobreviva primeiro, lamente depois. Não pode fazer nada por ele agora.
Lutou contra a vontade de chorar, sabendo que Slade tinha um bom fundamento. Os dois morreriam se aqueles homens os alcançassem. Slade se moveu mais rápido e Trisha se agarrou a ele enquanto a escuridão caía devagar. Slade diminuiu o passo eventualmente, mas continuou andando.
— Como consegue enxergar?
Ele respirava pesado agora.
— Minha visão noturna é melhor que a sua. Não posso ver realmente bem, mas ainda não tropecei nem bati em nada.
— Precisa descansar.
Slade soltou um palavrão baixo quando parou. Seus braços saíram de debaixo dos seus joelhos. Trisha grunhiu quando ela a colocou no chão até os seus pés tocá-lo. Seus joelhos seguraram o seu peso e ela o soltou, mas estava um pouco instável. Estava tão escuro que nem conseguia vê-lo. Pulou quando suas mãos tocaram-lhe a cintura.
— Ande por aqui. Irei na frente. Vamos sentar um pouco e descansar. Eles ainda podem estar atrás de nós se tiverem lanternas, mas irão se atrasar bastante. Também andei por pedras o máximo que consegui para apagar o nosso rastro e eles não tinham cachorros farejadores com eles. Também estamos a favor do vento e será mais difícil para eles sentirem nosso cheiro. Foi por isso que vim nesta direção.
Ele a colocou no chão onde sentou na grama macia. Ela se moveu e bateu em algo duro com o cotovelo.
— Eles não podem sentir o nosso cheiro, Slade. Novas Espécies têm essa habilidade, mas humanos não.
— Eu vivo esquecendo isso. — Ele pausou. — Tem uma pequena árvore ao seu lado, então tenha cuidado para não bater nela.
— Obrigada. Eu mal posso ver minha mão na frente do meu rosto. — Trisha deu uma olhada no céu. — Nem mesmo vejo uma lua.
— Floresta demais no caminho. As árvores são enormes nesta área. Isso é bom para nós.
— Não devíamos desviar e tentar achar a estrada?
— Não. — Slade se mexeu, tocando-a. Seus dedos roçaram seus seios e ele retirou a mão instantaneamente. — Desculpe. Dê-me a bolsa.
Trisha tirou a bolsa e estendeu-a sem ver na direção que achava que estava. O peso da bolsa sumiu e ela a soltou, sabendo que a tinha agarrado. Ela ouviu o zíper antes de Slade pressionar algo duro em seu braço.
— É tudo o que temos, então só tome um gole. Espero que passemos em breve por água.
Trisha tirou a tampa da garrafa pelo tato e tomou um gole para aliviar sua garganta seca. Tomou outro golinho antes de pôr a tampa de volta.
— Obrigada. Aqui.
A mão dele roçou a sua quando pegou a garrafa. Ela o ouviu beber um pouco.
— Por que não devíamos procurar a estrada?
— Eles podem ter mais gente atrás de nós. Podem estar rodando a estrada esperando que apareçamos. Era isso o que eu faria se houvesse uma presa que quisesse caçar. Estamos mais seguros perdidos. Todos os nossos veículos têm sistema de rastreamento. Pode levar um tempo até o meu pessoal localizar o sinal já que não há recepção neste lugar, mas eles vão saber por onde procurar. Justice sabia a nossa trajetória. Agora já deve saber que algo aconteceu conosco. Devíamos ter chegado antes do anoitecer. Ele deve ter me ligado e quando eu não atendi, saberia que estamos com problemas. Vamos ficar por aqui. Com sorte o meu pessoal nos encontrará antes daqueles humanos.
— Acha que o seu pessoal nos achará amanhã?
Slade hesitou.
— Não sei, Doutora.
— Eu tenho um nome, você sabe. É Trisha. Mataria usá-lo?
Silêncio.
— Não me mataria.
Trisha respirou fundo. Tinha tido um dia infernal, não se sentia bem, seu corpo doía e a fome rasgava sua barriga. Seu nível de frustração aumentou.
— Mas não vai usar, não é? Por que se incomoda em ficar tentando me irritar? O que foi que eu lhe fiz?
Longos minutos de silêncio se passaram. Trisha sacudiu a cabeça, supondo que ele não iria responder. Uma mão tocou o seu braço e ela deu um pulo, assustada. Não tinha esperado aquilo.
— Vamos nos deitar. Devemos dormir algumas horas enquanto podemos.
— E se eles nos acharem? Devíamos nos revezar e um dormir enquanto o outro fica de guarda?
— Não. Estamos de costas para o vento. Eu sentiria o cheiro deles se eles se aproximassem o bastante para nos encontrar. Eu vou deitar ao seu lado. Pode me usar de travesseiro, Doutora. Precisa do calor do meu corpo para ficar aquecida.
— Não, obrigada.
Ela o ouviu ou bufar ou rir, mas não estava certa do quê.
— Está ficando bem frio e o chão é duro, Doutora. Quando se cansar dos dois pode vir para junto de mim. Boa noite.
A mão dele a deixou e ele se deitou ao lado dela porque seu corpo encostou em parte de sua coxa. Sua visão se ajustou um pouco até quase poder discernir sua forma no chão. O vento soprava mais frio com o passar do tempo. Trisha se deitou, movendo-se alguns centímetros pra longe de Slade. Virou-se de lado e usou o braço como travesseiro. A fome e a exaustão a perturbavam. Quando se deitou outro problema apareceu.
— Slade?
— O que foi?
— Preciso usar o banheiro.
Ele suspirou.
— Tudo bem. — Sentou-se. — Me dê sua mão que a levo a algum lugar mais longe na direção que estamos indo.
— Por quê?
Ele hesitou.
— Não quero sentir o cheiro de urina. E realmente não quero ficar contra o vento se for fazer mais do que isso.
— Oh. — Ela corou. Nunca tinha pensado nisso.
Ele puxou Trisha de pé com gentileza e ela o seguiu. Ele andou mais ou menos uns vinte passos antes de parar.
— Pode fazer bem aqui. Vou ficar a mais ou menos uns cinco metros daqui. Também vou poder mijar enquanto faz o mesmo.
— Como vou saber que não vai me espiar?
Ele riu de repente.
— Eu sou depravado, mas isso não faz o meu gênero, Doutora. Vou voltar bem rápido, então se apresse.
Fazia quinze anos desde que Trisha acampou pela última vez. Ela abriu a calça e a desceu junto com a calcinha. Estar cega não ajudava. Rezou para que Slade realmente não estivesse em algum lugar onde pudesse vê-la. Ouviu algo caindo e sorriu. Tinha inveja de ser um homem naquele momento. Terminou rapidamente e ajeitou as roupas. Andou alguns passos à frente e esperou.
— Espero que não tenha se enxugado com a mão. — bufou ele baixinho. — Me diga se fez isso para que eu não pegue na mão errada.
— Não fiz isso. — suspirou Trisha. — Você é simplesmente doente. Alguém já lhe disse isso? Quem faria isso?
Ele riu.
— Eu não sei, mas queria ter certeza.
Ele agarrou sua mão na dele e a levou de volta para o lugar onde dormiriam.
— Boa noite, Doutora.
— Pare de me chamar assim. É Trisha. Por que não diz o meu nome? O que foi que eu lhe fiz para que não goste de mim nem um pouquinho?
Silêncio.
A raiva aumentou.
— Vou continuar falando se não me responder. Achei que queria dormir um pouco.
— Não se atreveria. Eu salvei sua vida carregando-a por milhas nas costas hoje.
— Claro que me atreveria. Diga-me o que eu fiz para merecer que você nem mesmo diga o meu nome. Eu quero uma resposta. Não tem ideia do quanto isso é irritante. Vou começar a chamá-lo de 215 se não desembuchar logo isso ou ao menos me explicar porque sente a necessidade de me deixar fula da vida.
Um rosnado rompeu o silêncio da noite. Trisha instantaneamente soube que tinha ido longe demais. Soube disso no segundo em que as palavras passaram pelos seus lábios, mas era tarde demais para fazer algo a respeito. Leu em algum lugar que todos os Novas Espécies odiavam ser chamado pelos números que lhes deram. Não pretendeu realmente insultá-lo. Só achou que aquilo o irritaria do jeito que ele a irritava chamando-a de qualquer coisa, menos Trisha.
—Desculpe. Eu não quis angustiar você. — Sua voz suavizou. — Só quero saber por que se recusa a dizer o meu nome.
A dor perfurou Slade quando ele se lembrou do seu passado. Raiva rapidamente a seguiu. Era assim que ela o via toda vez que o olhava? Como uma vítima? Com a criatura metade selvagem que tinha sido quando acordou dentro do hospital assumindo que ela era nova o bastante no complexo para ser tola a ponto de deixá-lo desamarrado?
Normalmente, com aquela oportunidade, ele teria matado instantaneamente um macho humano, mas ela era fêmea. Nunca mataria uma fêmea. Ao invés disso, a agarrou. Nem tinha pensado em machucá-la. Assim que teve o seu corpo preso debaixo do dele, seu cheiro tinha enchido seu nariz, e ele viu aqueles olhos incríveis, os lábios em formato de bico, e seu corpo urrou de volta à vida. A desejou mais do que qualquer outra mulher que já havia tocado. Tinha desejado ficar com ela pelo maior tempo que pudesse.
Apreciar cada pedacinho dela e fazê-la arder com a paixão que sentia. Teria ficado dias sem comida e água só para poder conhecer o seu corpo. Para possuir algo tão maravilhoso e proibido. Qualquer castigo teria valido a pena o preço de encher os dois de prazer até que não conseguissem se mexer. Então e só então, a teria soltado de seus braços.
A lembrança do tempo que passaram poderia tê-lo feito durar anos quando sua mente ameaçava se fragmentar com a dor e a agonia que sofria regularmente. Claro que nada aconteceu do jeito que planejou. Tinha entrado em choque quando mais humanos entraram no quarto para imobilizá-lo, seus reflexos prejudicados pelas drogas em seu organismo, e acordou mais tarde para descobrir que seu mundo tinha mudado para sempre. Não estava mais preso dentro da cela, não estava mais acorrentado a uma parede, e os cheiros ao seu redor lhe garantiram que nada lhe era familiar. Eles o mantiveram amarrado, mas entendia por que isso foi necessário. Não teria os atacado, mas teria tentado fugir.
Quatro mulheres em uniformes entraram, encostadas às paredes do quarto do hospital para informá-lo que foi resgatado, seu povo liberto, e explicaram lentamente que precisava se acalmar. Mostraram-lhe vídeos em uma pequena máquina de mais de sua gente, a filmagem gravada do resgate, e jurado que nenhum mal lhe aconteceria. Levou tempo para que caísse a ficha de que estavam mesmo lhe dizendo a verdade. O choque o abalou. As mulheres não pretendiam lhe fazer mal, não trabalhavam para Mercile, e aquela vida não mais existia.
Tinha sido transferido do hospital para um motel em um lugar remoto no deserto com dúzias de sua gente. Todas as oficiais mulheres do exército foram designadas para protegê-los e garantir a segurança da locação. Os humanos logo perceberam que Novas Espécies não atacariam fêmeas humanas e tinham usado isso como meio de assegurar que não se sentissem ameaçados. Tinha funcionado. As fêmeas sequer levavam armas, a não ser as que faziam a patrulha do perímetro para manter os humanos afastados.
O governo dos Estados Unidos lhes prometeu um lugar próprio, onde seu pessoal poderia viver em segurança da imprensa e dos outros humanos que os viam como uma ameaça.
Tinham lido livros, assistido televisão, e falado com humanos que respondiam todas as suas perguntas. Os meses passados no deserto esperando que o tal lugar terminasse de ser construído os acalmaram, garantindo-lhes que tinham direitos humanos, e a sua nova vida tinha começado em Homeland. Ele foi de cobaia a homem. A Doutora obviamente não concordava. Para ela, sempre seria 215.
Aquilo machucava. Tudo que desejou era que o visse de uma forma sexual, como seu igual, e tinha ferrado isso para sempre a insultando, não a reconhecendo quando a encontrou de novo. Obviamente ela não tinha a capacidade de perdoar em seu coração. A dor se transformou em raiva rapidamente. Maldita. Se existe um homem que merece algum descanso, sou eu. A lembrança de tocá-la, de provar a sua pele, e do cheiro de sua excitação surgiu.
Podia não pensar nele como um homem, mas seu corpo poderia ser persuadido ao contrário. Luxúria e desejo o invadiram. Talvez só precisasse ser ensinada sem sua mente bagunçando a verdade. Moveu-se antes de conseguir dizer a si mesmo que a ideia era louca.
Duas mãos agarraram Trisha de repente pelos ombros. Slade a levou ao chão, de costas, e acabou em menos de um segundo em cima dela. Trisha lutou, mas não conseguiu que saísse de cima. Ele a prendia com o corpo. Ela abriu a boca, mas a mão dele a fechou.
— Vai gritar e dizer àqueles assassinos onde estamos? O som pode ser levado a uma boa distância.
Tinha planejado gritar com ele. Sacudiu a cabeça. A mão instantaneamente a libertou. Trisha empurrou Slade.
— Saia de cima de mim agora — sussurrou.
— Você quer saber por que eu não digo o seu nome, Trisha? — Ele falou baixo com ela, quase sussurrou. Ela engoliu em seco, surpresa que finalmente houvesse falado seu nome.
— Por quê?
— Por que isso a perturba do jeito que você me perturba todo tempo. Acho que é justo se eu a perturbo tanto quanto você me perturba.
— Como eu perturbo você? É você que sempre tem uma gracinha para dizer e quem sempre faz algum comentário rude de natureza sexual.
— É você quem eu morro por foder e quem me faz ficar todo doído. — Rugiu para ela. — É mais perturbador do que as minhas gracinhas, Doutora. Confie em mim. Não a deixo tão dura que se preocupa se vai acabar rasgando a calça. É isso o que faz comigo.
Suas palavras a deixaram sem fala. Nunca esperou aquela resposta dele nem em um milhão de anos. De todas as coisas que poderia ter dito, aquelas nem teriam entrado em sua lista.
Com a sua história traumática podia vê-lo odiando qualquer um na profissão médica. Também achou que ele podia achá-la esnobe porque as pessoas sempre a acusavam de ser metida a besta. Não era sua intenção ser, mas simplesmente não sabia como se relacionar com as pessoas.
— Nada a dizer, Doutora?
Não sabia o que dizer.
Slade rosnou.
— Você é uma megera fria, não é? Às vezes me pergunto se sente calor. — Ele fez uma pausa. — Sente um pouquinho de calor de vez em quando?
— Eu não sou fria.
— Sério? Consegue me enganar direitinho.
— Nem é justo de sua parte dizer isso. Não me conhece de verdade. Mal nos falamos a não ser para nos ofender ou dizer algo rude.
— Ummmm. — Ele se mexeu. — Fica quente para mim, Doutora.
Trisha ofegou quando Slade levantou a barriga do seu corpo. Sua mão deslizou entre eles e pegou sua camiseta. Ela tentou agarrá-la, mas Slade foi mais rápido. Ele puxou o tecido até seu pescoço e afastou suas mãos frenéticas. Seu dedo passou por baixo da alça do sutiã e deu um puxão. O seio de Trisha foi exposto ao ar frio que golpeou sua pele.
— Lindo. — Slade rugiu antes de baixar a boca.
Trisha empurrou desesperadamente o peito largo de Slade até que a boca dele se fechou em seu mamilo endurecido. Ofegou com a sensação chocante de lábios quentes e língua quente e áspera quando Slade sugou o bico do seu seio na boca. Ele rugiu, provocando vibrações. Trisha ficou imóvel, parando de lutar. Era uma sensação erótica, algo que nunca havia experimentado antes, e então Slade a sugou com fortes chupões.
O estômago de Trisha se agitou e ela não pôde evitar o gemido que passou pelos seus lábios entreabertos. A sensação do que ele fazia era incrível. Arqueou o torso contra seu rosto para lhe dar melhor acesso e o mesmo tempo percebeu que não estava mais empurrando seu peito. Ao invés disso, seus dedos agarraram o seu uniforme ONE para mantê-lo mais perto.
Slade sugava com força e seus dentes raspavam seu mamilo sensível. Trisha gemeu mais alto. Encontrou seu cabelo e enterrou os dedos em seu escalpo, segurando sua cabeça no lugar. Seu coração acelerou e sabia que o seu corpo respondia de uma forma chocante quando o desejo quase a queimava viva.
A outra mão de Slade empurrou sua coxa quando ele ergueu o corpo para deixar um pouco de espaço entre os dois. Empurrou suas coxas para abri-las mais. Ela ofegou quando ele a agarrou entre as pernas. Pressionou o polegar no centro de sua calça e esfregou com firmeza bem em cima do seu clitóris. Ela reagiu imediatamente quando a sensação se rasgou pelo seu corpo.
— Isso. — gemeu.
Slade ficou imóvel, seu corpo inteiro enrijecendo sobre o dela. Sua mão saiu do seu sexo na mesma hora em que soltou seu seio com a boca. O ar frio atingiu seu mamilo molhado quando ele se afastou dela. Os olhos de Trisha se abriram e ela tentou vê-lo no escuro, mas ele só era uma sombra escura acima dela.
— É, você fica quente, mesmo. — disse ele baixinho que quase não o ouviu.
— Slade? — Sua voz saiu estremecida e sem fôlego.
Ele soltou um palavrão pesado e rolou para longe de Trisha. Sua forma sombreada ficou de pé.
Ela se sentou, estremecendo com a dor repentina que rasgou seu ombro. Olhou em choque conforme sua forma seguia para longe dela. Mal se lembrava do seu seio exposto e rapidamente ajeitou o sutiã. Desceu a camisa para cobri-lo.
— Eu volto. — declarou ele de maneira brusca. — Vou me certificar que ninguém nos ouviu.
— Mas…
Trisha fechou a boca. Tremia e seu corpo doía. Aquele filho da puta.
Raiva se derramou dentro dela. Ele a excitou de propósito e dado o fora, deixando-a para que lidasse com sua rejeição. É isso exatamente que aquilo foi. Praticamente havia implorado para que a possuísse. Pode não ter dito as palavras, mas o seu corpo tinha falado por ela.
— Bastardo. — soltou.
Trisha voltou a se deitar. Seu corpo formigava em todos os lugares errados. Seus seios estavam inacreditavelmente pesados e o que ele tinha tocado ficou tão hipersensível que o sutiã contra ele quase doía. Apertou os dentes. Trocaria a calcinha se tivesse outra já que a que usava estava ensopada de desejo. Virou-se de lado e levantou os joelhos para abraçá-los junto ao corpo.
Aquele bastardo! Gritou em silêncio. A excitou só para ver se podia.
Ela tentou achar uma posição confortável no chão duro e frio. Devia ter vasculhado as roupas que se espalharam pelo local do acidente atrás de uma camisa de mangas longas, mas durante o dia tinha sido quente por ali. Estremeceu e se abraçou mais.
Horas pareceram passar e Slade não voltava. Eventualmente, ficou com medo. Ele tinha simplesmente me abandonado ali? Algo aconteceu com ele? Aqueles homens o encontraram? Lágrimas encheram os seus olhos, mas ela lutou contra elas, piscando rapidamente para conseguir. Com a minha sorte ele vai voltar bem em tempo de me ver chorando.
Ele odiava lágrimas. Tinha-o visto reagir à dor de Bart e tinha uma boa ideia de que a maioria dos Novas Espécies não tinha muita paciência com fraqueza. Eles viveram vidas muito difíceis e foram instigados em todos aqueles anos de cativeiro que aguentaram que fraqueza era algo ruim. Apostaria a própria vida que Slade nunca chorou. Laurann Dohnner Slade
Slade observou o lugar com a cara fechada. Os humanos estavam mais perto do que gostaria, mas longe o suficiente para que não os pegassem rapidamente. Continuaria andando durante a noite, mas Trisha não era uma Nova Espécie. Precisaria descansar com o seu corpo humano mais fraco.
Não havia reclamado, mas notou sua fadiga. Tinha que admitir sentir certa quantia de orgulho a como ela reagiu bem ao estresse da situação. Humanos não eram muito durões, mas ela tinha sido corajosa. Isso o fez querê-la ainda mais.
Seu pênis finalmente desinchou o suficiente para que andasse sem sentir dor. Apertou os dentes. Quase tinha possuído seu corpo no chão de terra. Teria se tornado o animal que ela provavelmente acreditava que era quando a fodesse como um no chão.
O gosto dos seus doces beijos e a sensação de suas curvas avantajadas contra o seu corpo o deixaram quase insano. Ela merecia mais do que uma cópula rápida no chão.
Podia ser parte animal, mas ela não. Fêmeas humanas esperavam certas coisas dos machos. Uma cama macia, um cenário romântico e talvez velas. Estaria condenado se permitisse que seus instintos e desejo o levassem a fazer algo do qual se arrependeria.
Precisava se controlar até que estivessem seguros. Assim que voltasse a Homeland, seduziria Trisha em uma cama, dentro de uma casa, em uma localização segura onde o perigo não espreitasse. Levaria tempo, tiraria suas roupas bem devagar, e exploraria cada pedacinho dela até que sua necessidade ficasse tão forte quanto a dele. Então faria amor com ela. Gentilmente, fazendo o seu melhor em fingir que poderia ser mais humano do que na verdade era, para o bem dela.
Farejou o ar, o cheiro de fumaça perto quase lhe provocando um espirro, e saiu devagar da área. Tinha deixado Trisha sozinha por mais tempo do que pretendia. Tinha que garantir que tinha seu desejo sob controle antes de tocá-la outra vez. Do contrário todas as suas boas intenções seriam esquecidas.
Foi um filho da mãe quando ela enroscou o corpo no dele. Controle não era sua qualidade mais forte, mas tinha tentado por ela. Ela merecia um homem que pudesse respeitar suas necessidades humanas. Essas sendo uma cama para transar e transar na hora certa.
Teriam que partir antes de amanhecer. Trisha correndo risco não era algo aceitável para ele. Justice já teria mandado equipes de busca atrás deles àquele ponto. Os humanos podiam ter que esperar até o sol nascer para montar uma missão de resgate, mas os Novas Espécies já estavam atrás deles. Sabia disso tão bem quanto conhecia o cheiro feminino tentador que seguiu de volta até Trisha.
Viu sua forma curvada no chão, um rosnado subiu em sua garganta que ele teve que conter para abafá-lo, não gostando do quanto parecia sentir frio. A deixou só tempo demais.
Havia alguma coisa que fazia certo quando dizia respeito a ela? Parecia que não. Seu passo aumentou em sua necessidade de aquecê-la e garantir que sobrevivesse aquela noite.
Acalme-se, ordenou ao seu corpo. Aja naturalmente para que não a assuste.
Algo fez um ruído, como folhas sendo arrastadas no chão. Trisha ficou tensa, mas não se mexeu enquanto ouvia. Só ouvia o vento nas árvores acima.
Seu medo a perfurou quando viu algo se mover para perto dela. Era grande, do tamanho de um homem, e chegava perto.
— Estamos bem. — anunciou Slade baixinho quando sentou ao seu lado.
Ela queria gritar por ele ter voltado, contente demais por tê-lo feito a salvo, e que não tivesse a abandonado. Engoliu um soluço. Piscou com força as lágrimas que nadavam em seus olhos. Slade deitou-se de costas ao seu lado, a poucos centímetros, e respirou fundo.·.
— Deite junto a mim. — exigiu ele. — Está frio.
Trisha não falou, com muito medo que algo em sua voz denunciasse o fato de que estava em um estado emocional. Apenas deitou ao lado dele, ouvindo a sua respiração.
— Ok, então, não se deite. — Ele tinha um tom irritado na voz. — Noite.
Minutos deviam ter passado quando ela ouviu sua respiração mudar, ficando lenta, e supôs que provavelmente dormia. Esperou mais alguns minutos para ter certeza antes de se aproximar, fechando a distância. Suas mãos estavam unidas detrás da cabeça para formar um travesseiro. Pressionou o corpo do lado do dele, encarando-o. Sua cabeça agora descansava em seu grosso braço musculoso.
Ele era muito quente. Estremeceu, enterrando-se mais perto até seu corpo pressionar o dele firmemente. Colocou uma mão em seu estômago. De repente o corpo debaixo do dela ficou tenso. Trisha ficou imóvel, o coração acelerado. A respiração dele tinha mudado.
— Frio, Doutora?
Ela hesitou.
— Estou congelando.
Ele suspirou.
— Vê quando eu digo o quanto você é irritante? — Ele desceu um braço e sua mão se fechou sobre a de Trisha, que estava em seu estômago. Então ele a empurrou mais para baixo. Sua palma acabou cobrindo um volume. — Sente isso?
Trisha tentou tirar a mão da calça dele, mas a dele impediu que fizesse isso. Ele empurrou sua palma com mais força contra si.
— Quer ficar quente, Doutora?
Ela apertou os dentes.
— Quer soltar a minha mão?
— Me esfrega.
— Vá se foder.
Ele riu.
— Eu a deixaria me foder, docinho. Mas tem alguns problemas nisso. Primeiro, você é barulhenta. Não posso tê-la gritando enquanto a estou fodendo já que estamos sendo caçados. Faria com que soubessem onde estamos. O segundo problema é que se quiser deitar-se contra mim e ficar quentinha durante o sono, eu também quero dormir. Não posso dormir com a ereção que você me provoca.
— Você é um cuzão.
— Também existe essa opção. — Ele riu. — Não acho que vá ser bom, Doutora. Prefiro ouvir você gritando de prazer que de dor. Mas ainda significa que haveriam gritos. Entregaria a nossa localização.
Entendeu o que queria dizer. Abriu a boca.
— Seu… seu…
—Não muito fã da porta de trás, hã? Boa coisa encontrarmos algo em que concordamos. Também não gosto disso. Humanos me asseguraram que é mais apertado, mas eu sou um homem de boceta. Agora, ou me esfregue ou se afaste.
— Solte a minha mão.
Ele não soltou. Moveu-a contra si.
— Vê? Não é ruim, é? Eu diria que não é dureza, mas realmente está bem duro, Doutora.
Trisha se encheu de fúria.
— Tudo bem. Quer que eu cuide do seu problema, Slade?
Ele hesitou.
— Se me machucar, Doutora, bem, não aconselharia isso. Eu a machucaria também.
A mão em cima da sua se levantou.
Trisha colocou a mão firmemente em cima do volume do seu pau grosso e duro, preso dentro da calça. Ele parecia impressionante em tamanho e largura. Ela se moveu, sentando-se, e estendeu a mão cegamente na frente de sua calça. O corpo dele endureceu ao lado dela.
— O que está fazendo, Doutora?
— Queria que eu o tocasse, certo? Bem, vou tocar, Slade. Preciso abrir sua calça para fazer isso.
— Me permita — disse ele suavemente. Sua voz parecia vazia de graça agora.
Trisha levantou as mãos. Slade se mexeu e ela ouviu um zíper. Mal conseguia visualizar sua forma. Ele levantou o quadril e empurrou a calça até o meio das coxas. Trisha não conseguiu ver, mas soube quando Slade libertou o pênis de dentro da calça.
Fixou naquele ponto, tentando vê-lo. Mal conseguia definir algumas coisas, mas parecia que ele não tinha nada do que se envergonhar, isso com certeza. Não havia como não notar aquela forma sombreada ereta e orgulhosa. Ele era grande e grosso, do jeito que tinha sentido nas mãos que era. Hesitou com a ideia daquilo dentro dela, com um pouco de medo se alguma vez os dois transassem. Ele era maior do que qualquer um com quem já esteve. O número de amantes que teve no passado não eram de se impressionar, só alguns, mas nenhum se comparava a ele.
— Doutora? Devíamos dormir um pouco antes de continuarmos a andar. — Sua voz era um rugido baixo. — Vou me vestir de novo. Não devia ter feito isso. Desculpe. Estou sendo um bastardo. Estava meio dormindo e um pouco cansado demais.
As mãos de Trisha tremeram um pouco quando ela se adiantou. Uma delas envolveu o pau de Slade antes que pudesse cobri-lo. Ouviu-o sorver o ar. Estava totalmente duro e quente. Sua pele era um veludo macio por cima de uma ereção dura como o aço. Deixou os dedos e a palma explorá-lo. A respiração de Slade ficou mais rápida.
— Isso é tão bom — grunhiu.
A raiva de Trisha passou. Ele a deixava excitada. Odiavada isso, mas era verdade. Gostava de tocá-lo. Mordeu o lábio e fechou a mão na base do pênis de Slade. Ele mexeu as pernas, tentando abri-las mais para que o explorasse. Soltou um palavrão baixinho quando sua calça presa nas coxas não lhe permitiram.
— Isso é bom, Doutora.
— Trisha — ordenou ela baixo. — Me chame pelo nome ou eu paro. — Agarrou seu membro com mais força, movendo a mão até a coroa para traçar a cabeça.
— Trisha — grunhiu. — Isso é tão bom.
— Queria ter um creme.
— Eu também, Doutora.
Tirou as mãos.
— Meu nome é Trisha. Use-o.
Slade se sentou.
— Quer que eu use o seu nome?
— Sim. Eu quero.
— Tudo bem. — Ele se afastou, empurrou a calça e a cueca pelas pernas e tornozelos, e se agachou em cima dela.
Trisha ofegou quando a agarrou. Ele a levantou de joelhos quando também se posicionou. As mãos deixaram os seus braços e agarraram seu quadril, erguendo-a, virando-a de costas para ele.
— O que está fazendo? — Empolgação e um pouco de medo se misturaram, mas ela não estava reclamando.
— Coloque as pernas no meio das minhas — rugiu ele em um tom brusco, abrindo as coxas para que ela pudesse enfiar as suas no meio.
Trisha virou a cabeça.
— Por quê?
— Faça — disse. — Agora, Trisha.
Seu curacao começou a martelar. Tinha uma ideia do que faria. Ele estava de joelhos e a colocou de costas para ele. Move-se e enfiou as duas pernas entre as dele, que estavam bem abertas. Seus pés se emaranharam na calça nos tornozelos dele, mas ele os levantou para que ficassem por cima do tecido. Uma das mãos deixou o seu quadril e a outra deslizou para frente do seu corpo.
Ficou tensa, a respiração mais rápida, quando ele abriu sua calça. O peito pressionou em suas costas quando ele abaixou a cabeça até sua respiração soprar em sua orelha.
— Eu vou foder você, Trisha. — Rosnou ao falar isso. — Vou afundar tão fundo na sua boceta que vai querer gritar o meu nome, mas não vai poder. Acha que consegue ficar calada? — Ele desceu sua calça. Sua calcinha também desceu até perto dos joelhos em seguida e as peças de roupa se amontoaram por lá.
A respiração de Trisha estava vacilante. Desejava Slade.
— Sim.
Ele fez outro som animalesco. Uma das mãos deslizou pela sua camisa e levantou seu sutiã. Ele agarrou seu seio nu e apertou com gentileza.
— Se agache para mim, Trisha. Eu vou te foder do jeito que quis desde que a vi. Vou entrar tão fundo dessa fendinha molhada que não vai saber onde eu termino e você começa. Aposto que vai ser tão apertada que vai estrangular o meu pau e eu vou ter que lutar para me mover dentro de você.
Ela colocou as mãos no chão. Nunca em um milhão de anos teria imaginado que transaria com um homem no meio da floresta de quatro.
Mas também, nunca tinha imaginado que desejaria alguém do jeito que desejava Slade. Seu corpo gritava para que ele entrasse em sua vagina e ela sabia que ele não ficaria desapontado com o que imaginava que suas carnes fariam ao redor do seu pênis. Ele era tão grande que o encaixe teria de ser bem apertado.
A mão dele a tocou firmemente entre as coxas, massageando primeiro seu clitóris e espalhando a umidade do seu desejo. Ela gemeu quando os dedos a exploraram do clitóris ao ânus. Ele colocou um dedo devagar em sua vagina, a sensação incrível quando seu dígito grosso empurrou-se fundo, e Trisha arqueou as costas quando o prazer a rasgou ao meio.
— Tão molhada, Trisha. Tão apertada também, porra. Eu sabia que seria. — Ele grunhiu baixo quando retirou o dedo e traçou sua vagina, antes de afastá-lo.
— Slade? — Ela temia que tivesse mudado de ideia, que parasse, e seu corpo doeu.
— Não posso esperar, preciso entrar em você para lhe estirar mais do que com o dedo. Perdão, mas eu tenho que te foder agora ou vou morrer. — Ele pressionou a coroa do pênis bem na abertura da sua vagina. Soltou o seu seio e agarrou seu quadril com as duas mãos. — Quieta, doçura. Fique bem quietinha. Vou pegar leve com você. Você é apertada demais que eu tenho medo de te machucar e não quero fazer isso.
Trisha mordeu o lábio quando Slade pressionou a cabeça grossa do pênis em sua vagina. Quase ofegou, querendo tanto que doía. O pênis dele entrou devagar quando ele deslizou mais uns centímetros, e depois colocou mais. O membro dele era largo e seu corpo estirou-se para acomodá-lo. Trisha queria mais e empurrou o quadril para trás na direção dele. Ele apertou seu quadril, moveu o corpo para encontrar os seus movimentos, mas não permitiu que o tomasse mais.
— Slade — implorou.
— Não se mexa. — ordenou ele. A mão soltou seu quadril e a apertou em volta do peito. Ele a puxou e ela levantou o tronco. Estavam de joelhos e suas costas se escoravam firmemente contra o peito dele outra vez. — Pronta, Trisha?
Ela abriu a boca para lhe dizer que estava, mas a mão agarrando seu quadril sumiu. A palma dele de repente cobriu sua boca bem na hora que ele arremeteu nela com força.
Trisha gritou de prazer.
A mão de Slade abafou o som. O quadril dele bombeava rápido, com força e fundo. Ele entrava e saía da sua vagina com um abandono louco que a deixou maluca. O prazer ficou ainda mais forte, quase insuportável, e ela sabia que ia gozar. O desejou por tanto tempo, sonhado em como seria e a realidade era muito melhor do que qualquer fantasia.
Só tê-lo arremetendo o pênis dentro dela era o suficiente para lhe arrancar um orgasmo.
A mão dele em volta do seu tronco deslizou pelo seu corpo e afundou entre suas coxas. Os dedos encontraram o lugarzinho mágico, esfregando seu clitóris furiosamente enquanto investia em sua vagina com força por trás. Ela gritou novamente na mão dele, ofegando, e seus músculos vaginais se apertaram em volta do membro grosso.
— Porra. — grunhiu ele baixinho. — Bom demais, caralho.
Trisha nem se importava com a mão de Slade em sua boca contanto que ele não tampasse seu nariz e a impedisse de respirar. Para falar a verdade, nem ligava se conseguia respirar ou não no momento. Nada já havia sido tão bom. A satisfação sexual se tornou mais intensa quando Slade bombeou mais rápido em seu corpo, com força o bastante para que quase saísse do chão, e ela deu um grito quando gozou.
Seu interior estava enlouquecendo, os músculos apertando e contraindo. Gritou de novo quando a pressão aumentou no seu sensível canal vaginal, enviando ainda mais êxtase dentro de si. Slade de repente mordeu seu ombro e um som abafado e medonho saiu dos lábios dele, que estavam selados em volta de sua pele. O quadril dele sacudiu com violência contra seu traseiro, esfregando-se nela, até que tudo parou, com exceção da respiração pesada de ambos. Trisha podia sentir algo quente se derramando dentro dela quando o sêmen quente dele a encheu.
Slade abriu a boca e liberou o ombro de Trisha de seus dentes. Ela quase se sentia sem ossos e não ligava que tivesse lhe mordido. Não doía mais do que um latejar de leve.
Estava mais sintonizada com a quentura que continuava a encher sua vagina, vindo de Slade. Ele tinha continuado a ejacular enquanto seus músculos vaginais se apertavam contra o pau dele, ainda enterrado em seu corpo acolhedor.
Sentia-se fundida a Slade devido ao modo que seus corpos pareciam conectados e de fato apreciava a sensação. Resistiu à vontade de desmoronar em cima dele e ficar assim por muito, muito tempo.
— Não se mexa, Trisha. — Slade finalmente controlou a respiração. — Vai doer se eu tentar tirar agora.
— Eu sei. — exalou. — Você incha durante o sexo. É uma coisa dos Novas Espécies.
— Todo cara incha durante o sexo. — Ele riu. — Nós inchamos na base do pênis bem antes de gozarmos e ficamos assim por alguns minutos depois.
Um pensamento horrível passou pela mente de Trisha.
— Você não tem espinhos, tem? Deus. Me diga que espinhos minúsculos não estão enfiados em mim e mantendo você no lugar. Alguns animais tem isso. Eu sei que você é canino, mas tem certeza que não o misturaram com mais alguma coisa?
Ele riu, fazendo o peito se sacudir contra suas costas.
— Vai me matar de rir. Não. Eu não tenho espinhos. Isso seria a coisa mais brochante do mundo, não seria?
Ela relaxou.
— Acho que sim.
A mão que segurava sua boca roçou pelo seu estômago. Ele meteu a mão debaixo da camiseta e roçou com a palma a pele de suas costelas.
— Eu amo ficar dentro de você.
Trisha virou a cabeça contra o peito dele.
— Eu amo que esteja. Uau, Slade. Uau.
— Não foi só eu.
Ele lambeu seu ombro. Trisha se assustou e virou a cabeça na direção da cabeça curvada dele.
— Por que está me lambendo? — A língua dele percorria sua pele sem cessar, criando uma sensação estranha, mas não desagradável. Só estranha.
— Eu passei da pele. Desculpa. Acho que devia me dar um sermão sobre ficar calado. Mordi você para evitar uivar. — Lambeu-a outra vez. — Você era tão gostosa e tão apertada que eu perdi a cabeça. Tive que lutar para não gozar antes de você. Foi bom demais, sentir a sua boceta me apertando. Seu gosto é uma delícia, também. Ummm.
— Acha que o meu sangue tem um gosto bom?
Ele riu e lambeu seu ombro.
— É um gosto que precisa ser adquirido. E sim, o seu é muito bom.
— Pare com isso. Você não está com vontade de me arrancar um pedaço meu, né?
Ela se afastou da boca dele. Ainda havia muita coisa que não sabia sobre os Novas Espécies. Sabia que podiam comer carne crua, que alguns deles continuavam a comer devido a anos de hábitos, por pedaços de carne crua terem sido jogados em suas celas. Eles tinham vontade de comer carne humana? Ficou com um pouco de medo ante a ideia.
— Parece divertido.
— Não come pessoas, come?
O som que Slade fazia ao rir era lindo.
— Não será o seu ombro que eu vou querer comer, Trisha. E com certeza também não doeria. — Seu riso morreu. — Acho que estou relaxado o suficiente agora para tentar nos separar. Precisamos mesmo dormir um pouco. Temos que escapar desses caras. Eu subi numa árvore e verifiquei o perímetro da nossa área um tempinho atrás. Eles estão a duas montanhas atrás. Os idiotas acenderam fogo. Eu lhes faria uma visita que eles não viveriam para lamentar se achasse que a deixar sozinha seria seguro.
— Mataria-os? — Não ficou surpresa com aquela declaração.
—Se incline, doçura. E relaxe os seus músculos.
Ele tinha ignorado sua pergunta. Ela assentiu e se abaixou, forçando o corpo a relaxar. Podia sentir cada pedacinho do seu pênis ainda ereto quando ele se retirou de sua vagina. Seu corpo estremeceu, ainda hipersensível. Slade riu quando se afastou dela.
Trisha se virou depois de ter ajustado as roupas e fechado a calça. Ouviu Slade subir o zíper depois de ter ajeitado a própria vestimenta. Ele estava deitado de costas no chão.
— Venha cá, doutora. Use o meu peito de travesseiro e se aninhe em mim. Vai te ajudar a ficar aquecida se colocar uma das pernas entre as minhas.
Ela suspirou quando engatinhou na direção dele e se deitou ao seu lado. Ele era grande e quente.
— Não pode me chamar de Trisha agora?
O corpo dele sacudiu debaixo do seu rosto quando ele riu. Um dos braços deslizou em volta da sua cintura.
— Não. Só vou te chamar de Trisha quando estiver dentro de você.
Ela sacudiu a cabeça.
— Babaca
Ele riu novamente.
Para o lixo com as boas intenções. Slade abraçava Trisha com força contra o corpo. Ela o tocou, todas as apostas tinham sido perdidas e ele não podia dizer que se arrependia de tê-la possuído. Envergonhava-o por se conter tão pouco no que dizia respeito à sexy doutora. Só a mão dela em seu estômago fazia seu pênis voltar à vida. O sangue tinha corrido de uma cabeça à outra. Tinha perdido a habilidade de pensar. A possuiu mais como um animal do que como um homem.
Passou a língua nas presas. O gosto do sangue dela ainda estava lá e ele ignorou seu pau endurecendo outra vez de desejo por ela. Virou a cabeça o bastante para roçar o nariz em seu cabelo. O cheiro dela o chamava e o deixava um pouco louco.
Sentimentos possessivos se agitaram dentro do seu peito e isso o assustava mais do que qualquer outra coisa que já tinha sentido. A marcou com a mordida e gozado tão forte, e com tanta intensidade dentro dela que a marcou também daquele modo. Nunca experimentou nada como aquilo quando ejetou enormes quantidades de sêmen dentro dela, o prazer tão forte que quase havia desabado devido puramente à sua força. Só a preocupação de que iria machucá-la o manteve de pé.
Ela era uma humana inteligente, uma médica por profissão, e o que ele tinha para lhe oferecer?
Sexo? Um humor dos brabos? Palavrões e um sexo animalesco? Apertou os olhos. Ela merecia mais do que apenas aquilo de um macho. Nunca poderia ser do tipo que ela teria orgulho por a ter reivindicado.
Maldição. Em boca fechada não entra mosca, deveria ser o ditado da minha vida. Mais uma vez provavelmente a fez acreditar que era um imbecil completo. Tinha merecido isso depois do modo que exigiu que o tocasse. Só estava morrendo de vontade de tê-la. Queria muito mais. E depois que a teve seu desejo de possuí-la novamente e continuar possuindo só ficou mais forte.
Sua respiração lhe assegurou que estava dormindo. Ao contrário, ficaria tentado para rolá-la, tirar sua roupa e fodê-la por horas. Realmente ansiava por tê-la nua debaixo de si, queria ter acesso a cada pedacinho de pele para lamber e provar. Explorar até conhecer seu corpo tão bem quando o próprio.
A ideia de abrir suas pernas e fazer um banquete de sua boceta fez com que babasse. Engoliu com força. O cheiro do desejo dela o tirava do sério, mas o sabor? Tê-la gritando o seu nome enquanto a lambia até gozar parecia o paraíso.
Seu pênis começou a doer. Estava duro que nem pedra de novo, como se ele não tivesse acabado de esvaziar sua semente dentro dela até se perguntar se ainda lhe restava alguma. Ela o afetava de maneira tal que ele não parecia ter força nem controle.
Prometeu que tentaria ser um homem melhor para ela. Mas primeiro, precisava mantê-la viva. Encheu-se de raiva ao pensar nos machos que ameaçavam sua fêmea. Minha?
Maldição. Estou mesmo caidinho pela doutora sexy. Só queria que ela sentisse o mesmo.
— Ei, hora de acordar, doçura.
Ainda estava escuro quando Trisha acordou e o corpo de Slade não estava pressionado mais ao seu lado. Uma mão pegou a sua e começou a levantá-la. Grunhiu baixo e levantou, ainda grogue. Não tinha certeza de quanto tinha dormido, mas não foi nem de perto o bastante.
— Ande uns dez passos nessa direção e vá fazer suas coisas. — Ele soltou sua mão e a virou.
— Minhas coisas?
— Xixi matinal — explicou ele. — Vá logo. Eu já usei a árvore dos meninos.
— Não consigo enxergar nada.
— Então que bom que esteja lhe indicando uma direção onde não vá dar de cara com algo. Acorde, Doutora. Falta mais ou menos uma hora para amanhecer. Precisamos colocar mais distância entre nós e eles. Eu já subi em uma árvore num lugar mais alto e vi que eles deixaram a fogueira apagar, mas ainda consigo sentir o cheiro da fumaça. Eles estão por lá. Quando estiver claro vai ser mais fácil nos encontrar. É por isso que temos que ir andando.
— Tá. — suspirou. — Acho que não tem nada para comer, não é?
— Desculpe, mas não.
Assentiu e deu um passo quando Slade a liberou. Caminhou uns dez metros antes de parar e descer a calça. Tinha que urinar, mas lhe levou um minuto para relaxar o bastante para se agachar. Não estava nem um pouco acordada. Mataria por um café gelado e até por um pedaço de pão comum. Seu estômago grunhiu quando pensou em comida. Não tinha comido nada desde o café da manhã do dia anterior.
Fechou a calça e voltou para a direção de Slade. Ouviu uma risada à direita antes de mãos segurá-la.
— Por aqui. Está indo na direção errada. Não é muito fã das manhãs, é?
— Não. Não sou.
— Acho que é uma daquelas mulheres que preferem ficar na cama e desligar o botão do alarme várias e várias vezes até o último minuto.
— O que tem de errado com isso? Eu fiquei desacostumada desde que deixei de dar plantões no hospital para trabalhar em Homeland. Eu durmo muito mais e não posso dizer que lamento esse fato.
Ele riu.
— Nenhum alarme vai tocar hoje.
— É. Só vamos correr um pouco para salvar a nossa pele.
— Isso é um bom resumo. — Ele respirou fundo. — Acha que consegue caminhar um pouco?
— Estou me sentindo melhor. Dolorida, mas melhor.
— Está dolorida do acidente ou por minha causa?
— Não fique se gabando. — Sorriu Trisha. — Você é enorme, mas ainda consigo andar muito bem.
— Pronta para ir, docinho?
— Claro, pirulito. — Sorriu, virando a cabeça para que ele não pudesse ver.
— Pirulito? — Ele quase soou insultado.
— Porque eu sinto vontade de lamber você. — respondeu docemente.
Ele urrou e agarrou seu braço.
— Só está dizendo isso porque sabe que temos que ir.
— Tem certeza?
— Vamos.
— Vá na frente.
Trisha não conseguia ver nada. Slade segurava firmemente seu braço, avisando-a quando passar por cima de alguma coisa pelo caminho. Ela tropeçou algumas vezes. Slade parou depois da quarta vez que ela quase caiu.
—Vou carregar você até amanhecer. Estamos indo devagar demais.
— Desculpe. — Falava sério. Ele poderia ir bem mais rápido se não estivesse com ele, sabendo muito bem que representava um perigo à sua sobrevivência.
— Sem problemas. Sei que tem suas limitações já que é apenas humana. — Sua voz estava cheia de graça.
Trisha levantou a outra mão e lhe estirou o dedo do meio.
— Consegue ver isso?
— Talvez depois, Doutora. Vou entender como uma oferta. Vou me virar para que suba nas minhas costas e aqui está a bolsa. Se eu tenho que te carregar, você tem que carregá-la. — Ele cuidadosamente colocou a alça da bolsa por cima da sua cabeça e debaixo do braço para que descansasse em suas costas. Moveu-se até que soube que a esperava à sua frente. Ele se agachou e ela subiu nas suas costas.
Ele a levantou quando agarrou seus ombros e começou a andar.
Finalmente, amanheceu e Trisha conseguia ver.
— Me coloque no chão.
Ele parou e soltou seus joelhos para que Trisha deslizasse. Estavam em uma funda ravina que se perdia de vista. Olhou para cima para os dois lados.
— Vamos ter que escalar se isso não acabar em algum lugar perto.
Olhos azuis escuros encontraram os seus.
— Esperei até que conseguisse ver, mas precisamos escalar agora. Quero sair daqui. É bom para levá-la nas costas, mas estamos melhor mais acima.
Tinha que abrir a boca, ela pensou, mas assentiu.
— Depois de você.
Ele sacudiu a cabeça.
— Você vai primeiro. Quero poder te segurar se cair.
Aquilo fazia sentido. Respirou fundo. Slade apontou e Trisha assentiu, virou-se e viu bastante arbusto dos dois lados. Agarrou uma raiz e começou a subir. O solo era rochoso em alguns lugares, mas ela continuou achando onde segurar-se na vegetação. Slade estava bem atrás dela. Seu pé deslizou uma vez e ele agarrou o calcanhar do seu sapato, impedindo-a de deslizar. Ela virou a cabeça.
— Obrigada.
— Continue subindo, docinho.
— Certo, pirulito.
— Pare com isso.
— Assim que você parar.
Voltou sua atenção para a subida e continuou escalando. Suas mãos doíam, mas tentou ignorar isso, sabendo que suas vidas estavam em jogo. A luz ficou mais forte conforme o sol subia e o ar frio se tornou uma manhã quente e cheia de sol, fazendo com que Trisha suasse. Sabia que seu alívio se mostrava quando alcançaram o topo e ela grunhiu.
Sentia como se tivessem escalado o dia todo. Uma mão de repente agarrou a parte de trás da sua calça e a puxou. Trisha ofegou quando caiu de joelhos. Slade se agachou do seu lado.
— Fique abaixada. — ordenou, olhando-a de forma irritada. — Estamos num lugar mais alto, mas fácil de ver, e seu cabelo loiro é muito visível.
— Desculpe. Esse negócio não é o meu forte.
— Infelizmente, é o meu. Descanse, fique abaixada, e quieta. Vou inspecionar a área.
— Claro. Faça isso. — Estava exausta quando simplesmente se deitou no chão, sem ligar quando ficou cheia de terra. Colocou o braço debaixo da cabeça. — Não vou me mexer.
Slade bufou.
— Mulheres.
— Homens.
— Convencida.
— Imbecil.
— Doutora, pare com isso.
— Enquanto estiver inspecionando será que poderia achar uma cafeteria e me trazer um café mocha gelado, podia? Talvez um brioche? Ou um donut?
Dentes brilharam quando ele sorriu de repente.
— Vou fazer o possível.
Trisha o viu partir. Ele ia abaixado. Ela estudou o céu, decidindo que ficaria bem quente quando o sol nascesse completamente. Podia sentir. Sentou alguns minutos depois e olhou ao redor com cuidado, vendo sulcos mais abaixo. Estavam mesmo em um lugar alto. Voltou a se deitar, esperando que Justice North tivesse mandado a Guarda Nacional resgatá-los. Queria um banho quente, roupas limpas, e comida. Bocejou.
Nao tinha dormido o suficiente. Era uma profissional em tirar cochilos de gato. Tinha feito isso desde a faculdade de medicina. Ser uma interna podia ser uma existência sem sono. Tinha aprendido a dormir sob condições extremas. Só esperava que o treinamento a ajudasse a sobreviver a tão pouco sono e ao ritmo cansativo que precisavam manter para ficarem à frente dos homens que os caçavam.
— Não faça nenhum som. — Algo cutucou com força o estômago de Trisha.
Seus olhos se abriram e ela encarou com medo o homem cabeludo usando roupas militares à sua frente. Sua arma empurrou mais em sua cintura, cutucando seu estômago, e seus pés estavam plantados um de cada lado dela. Ela olhou diretamente entre suas pernas abertas e não pôde deixar de notar que ele tinha um rasgo na calça que revelava um pouco de uma cueca vermelha.
— Cadê o animal?
Trisha encontrou o olhar do homem e seu coração começou a martelar de terror. Ele falava de Slade.
Obviamente os homens que tinham tentado matá-los eram anti-Novas Espécies. Respirou fundo, aterrorizada. Ele atiraria em suas tripas se apertasse o gatilho e aquela seria uma morte horrível. Se disparasse, esperava que atingisse artérias mais importantes para que fizesse com que morresse mais rápido. Com a arma pressionada em sua pele naquele ângulo, viu que o buraco que o tiro faria a mataria rapidamente.
— É surda, vadia? Cadê o homem-animal?
— Ele me abandonou. — mentiu. — Eu o atrasava demais.
O homem olhou seus seios com cobiça.
— Porra de animais burros. Eu teria ao menos fodido você primeiro. Levante devagar. Você é a médica, certo?
Conseguiu assentir apesar do choque de que soubesse alguma coisa a seu respeito.
— Sou a Doutora Trisha Norbit.
— É uma veterinária ou uma médica de verdade?
— Eu sou…
— Não importa — ele a interrompeu. — Levante o seu traseiro. Um dos meus garotos está ferido e é o seu dia de sorte. Normalmente matamos traidores do nosso país, mas preciso de você. Acho que não importa que tipo de médica seja contando que saiba colocar um osso no lugar e costurar a pele.
Traidores do país? Ficou de boca aberta. O cara obviamente era um fanático.
Ótimo. Ela sentou quando ele tirou a arma alguns centímetros e deu outro passo para trás. Levantou-se cuidadosamente e levantou os braços.
— Tem alguma arma além das suas tetas?
— Minhas… — Gaguejou e o olhou com raiva. — Não.
O homem mudou a posição da arma, deixou-a aninhada debaixo do braço, mas com a mira nela.
— Levante a sua camisa devagar e me mostre que não tem uma arma presa na calça.
Ela o fez, levantando a camisa até as costelas e virando devagar até que ele pudesse ver que não estava armada. Encontrou seu olhar quando tinha feito um círculo. Custou-lhe muito controle para não dar uma olhada em volta e ver se podia avistar Slade, mas não ousou. Rezou para que tivesse visto o homem armado e não voltasse para onde estava.
— Vamos. Bill? Tom? Ainda estão me dando cobertura?
— Sim, senhor. — um homem disse da esquerda.
— Com toda certeza, Sully. — A voz falou da direita.
Trisha olhou em volta, mas não viu ninguém além do homem armado à sua frente. Ele sorriu, revelando dentes amarelados e tortos.
— Alguns dos meus garotos estão comigo. Normalmente andamos em grupos de quatro. Será a última coisa que o animal vai fazer se ele decidir te salvar. Não vai voltar por sua causa, a não ser que sinta uma coceirinha no pau.
Trisha se impediu de entortar a boca de nojo. Ele era o mais baixo dos homens, em sua opinião. Pelo som de sua voz e pelas coisas que dizia, honestamente pensava muito mal de Slade. Ele nem o conhecia e tinha que ser seu preconceito contra todos os Novas Espécies que falava. Podia ser um idiota, mas infelizmente tinha uma arma apontada para ela.
— Ande.
Um plano se formou em sua mente. Ela deu um passo e mancou com dificuldade, arrastando o pé, e fazendo uma bela careta. O homem com a arma disse palavrões que a fizeram estremecer.
— Está ferida? Maldição! — Ele rugiu as palavras.
Trisha teve que resistir sorrir do idiota. Ele se preocupou que fizesse barulho, mas tinha acabado de gritar. Slade com certeza teria ouvido aquilo. Inferno, qualquer um a uma milha o ouviu, supôs. Mordeu o lábio com força e o observou quando parou de mancar.
— Aconteceu quando vocês bateram no carro.
Ele parecia furioso.
— Tom? Venha aqui.
Tom provavelmente nunca tinha se barbeado pela aparência de sua pele rosada e ele tinha o corpo magro de um pré-adolescente. Era quase tão baixo quanto Trisha. Segurava um revólver e uma faca enorme que estava presa em sua roupa de camuflagem, fazendo-o parecer um garoto de doze anos fantasiado de soldado no Dia das Bruxas. As linhas finas perto de sua boca eram os únicos sinais que entregavam sua verdadeira idade, colocando-o no começo dos vinte.
— Sim, senhor? — A voz de Tom saiu anormalmente rouca, provavelmente algo feito de propósito para soar mais masculina. Olhos verdes se fixaram em Trisha, desceram para os seus seios, e foi lá que sua atenção permaneceu.
Queria cruzar os braços por cima deles, mas tinha medo de se mexer e ser atingida. O imbecil a secava. Olhou-o com raiva, mas ele não parecia se importar já que provavelmente não tinha notado sua fúria. Não estava olhando para o seu rosto. Para isso teria que parar de fitar os seus seios.
— A que distância Pat está?
— Uma milha, Senhor. — Tom lambeu os lábios e esfregou a mão livre na coxa. — Essa é a amante do animal, Senhor? Aposto que ela trepou com ele.
— Cale a boca. — ordenou o homem no comando. — Dê uma olhada nela. Ela é linda. Não é uma baranga qualquer que não conseguiria encontrar homens de verdade como nós. Pegue o rádio e diga a ele que estamos indo devagar com ela, porque ela está mancando.
Tom finalmente tirou a atenção dos seios de Trisha para olhar o homem mais velho.
— Claro, Sully. — Tom não parecia nem um pouco feliz quando desapareceu no meio do denso arbusto.
— Vamos.
Trisha se lembrou dos seus nomes. Sully. Tom. Bill. Podia identificar dois deles até o momento se vivesse tempo suficiente para alcançar as autoridades. Realmente os queria presos.
Concentrou-se nesse plano silencioso enquanto foi andando devagar, propositalmente arrastou os pés, e fez uma cena de uma dor inexistente. Se os atrasasse isso daria a Slade mais tempo para escapar. Ele poderia ir atrás de ajuda e mandar a polícia atrás dela.
Passaram a maior parte do caminho descendo. Ela tropeçou algumas vezes, mas Sully nunca levantou um dedo para ajudá-la. Ele mantinha a arma presa nela, seguia atrás de perto, e não dizia uma palavra. Trisha supôs que se Slade não lhe conseguisse ajuda ela provavelmente não ficaria viva por muito mais tempo depois que costurasse o cara ferido. Provavelmente atirariam nela do jeito que fizeram com Bart quando não tivesse mais serventia.
Eles finalmente saíram da parte mais arborizada e ela avistou uma clareira com uma barraca montada e os restos frescos de uma pequena fogueira. Trisha sentiu cheiro de comida e o seu estômago roncou. Um bule de café estava em cima das cinzas da fogueira que haviam feito com pedras formando um círculo. Trisha fez uma pausa, virou a cabeça e encontrou os olhos castanhos cor de lama de Sully.
— Ele está dentro da barraca, então meta o seu traseiro lá e o ajude. Pat, chegamos e a doutora está entrando. Não estoure os miolos dela antes que ela possa tratá-lo.
Trisha mancou em direção à barraca, mas quase gritou de uma dor de verdade quando agarram seu cabelo por trás e puxaram seu corpo. Ela tropeçou e caiu de joelhos, forçando Sully a soltá-la. Lágrimas a cegaram por segundos quando segurou a cabeça, supondo que ele arrancou parte do seu cabelo. Ela olhou para Sully em choque quando conseguiu vê-lo por entre as lágrimas.
Ele tinha a arma apontada para a barraca.
— Pat? Responda agora.
Trisha voltou a atenção para a barraca quando ninguém respondeu. A porta estava fechada com zíper. Sully inclinou-se para frente e se abaixou. Ele abriu a barraca e pulou para trás, a arma apontada para dentro quando se afastou um pouco mais.
— Pat? Responda agora!
Silêncio.
— Bill? Tom? Respondam agora! — rugiu Sully.
— Aqui, senhor. — gritou Tom. Ele saiu da floreta a uns vinte pés de onde Trisha e Sully estavam. Outro homens, nos seus quarenta anos, careca, com uma barriga de chope, saiu da floresta até a clareira. Trisha supôs que aquele era Bill. Ele assentiu para Sully. Os três homens franziram o cenho em direção à barraca. Sully assentiu para Tom e sacudiu a cabeça para a barraca, mantendo a mira na abertura.
Tom se aproximou, enfiou a arma no coldre do ombro, e abriu o botão da bainha da enorme faca de caça em sua coxa. Agarrou-a com firmeza e se agachou do lado da tenda. Com a mão esquerda abriu um zíper de um puxão, abrindo para espiar dentro.
— Ele não está aqui. — arfou Tom.
— Não falou com ele pelo rádio? — Sully parecia fulo.
— Não, senhor. Ele não respondeu. Eu achei que ele poderia estar dormindo ou cagando. Ele ainda não consegue andar muito bem mesmo com o braço todo quebrado.
Sully se virou para apontar a arma para Trisha.
— Quando o animal a abandonou?
Ela engoliu a saliva.
— Ele foi embora à noite. Eu dormi com ele, mas quando acordei bem antes do sol nascer ele tinha me abandonado.
— Ele está longe daqui. — Bill tinha uma voz grossa com um sotaque que era texano ou talvez sulista. Era difícil de saber. — Assim que deixasse de carregá-la correria como o vento. Eles andam rápido, Sully. Ele provavelmente está a umas dez milhas no momento. Mas outra equipe vai pegá-lo, com certeza.
— Filho da puta. — Sully baixou a arma que levava. — Vamos nos espalhar e encontrar Pat. Acham que ele está delirando por aí? Estava com febre hoje de manhã.
Bill assentiu.
— Pode ser. Eu lhe disse que um de nós devia ficar com ele. Saímos desde o anoitecer e ele pode ter andado bastante. Um de nós terá que ficar com a mulher e ela pode cuidar dele quando o encontrarmos.
— Devíamos tê-lo levado. — murmurou Tom. — Eu disse que ele podia morrer. E se ele acabou se matando por aí?
— Eu não vou dispensar aquela recompensa de cinquenta mil porque Pat é um idiota que não sabe para onde vai. — O tom de Sully ficou brusco.
Bill assentiu e fitou Trisha onde ela estava, sentada no chão.
— Eu fico com a mulher enquanto vocês dois se dividem e procuram Pat. Eu acho que ele iria descer mais já que é mais fácil de andar assim. Talvez tenha entrado em pânico e esteja atrás de outra equipe, achando que alguém vá manda-lo embora ou talvez achou que pudesse chegar até a estrada para pedir carona.
— Porra! — Gritou Sully. — Por que não nos esquecemos dele, matamos a vadia, e vamos atrás do nosso animal? Eu quero aquela recompensa por um desses animais bastardos.
Trisha ficou quieta, mas vacilou de choque. Alguém tinha colocado um prêmio de cinquenta mil na cabeça de Slade? Quem faria isso? Por quê? Engoliu em seco. Esperava que esquecessem que existia. Odiava Sully por querer matá-la logo de cara.
— Você esquece — suspirou Bill — que Pat é o filho de Thomas. Se não encontrarmos aquele retardado, ele nunca vai nos dar dinheiro algum por um daqueles bastardos. Precisamos manter a mulher viva até que ela possa costurá-lo. Temos que achar o idiota e capturar o animal.
O animal está usando as ravinas e vai manter esse padrão. Vamos chegar nele rodeando o caminho. Olhe quanta distância fechamos com isso.
— Mas ele tinha a vadia atrasando-o. — Sully apertou os dentes e soltou um palavrão. — Ok. Vamos fazer isso. Bill e eu vamos nos dividir. Você vai em direção da estrada caso Pat tenha ido para lá. Eu irei atrás do animal e verei se consigo pegá-lo. Com sorte ele vai continuar lento e eu consiga chegar nele por cima. Tom pode ficar aqui com a vadia.
Bill sacudiu a cabeça.
— Olhe para o imbecil. Ele não consegue parar de olhar os peitos dela.
Trisha virou a cabeça para Tom. Ele estava de pé segurando a faca, olhando de boca aberta para os seus seios de novo. Ele sorriu.
— Ficarei feliz de ficar com ela.
— Viu? — praguejou Bill. — Queremos ela viva, imbecil. Eu ficarei com a mulher enquanto vocês dois se dividem e procuram. Tom, vá na direção da estrada.
— Tudo bem. — concordou Sully, fechando a cara para Tom. — É melhor que ache o idiota. Eu vou subir pelo oeste para chegar no animal mais rápido.
— Mas eu quero ficar com ela. — Tom não estava feliz e isso se mostrava em seu protesto estridente.
Sully engatilhou a arma.
— Isso não foi uma recusa de cumprir uma ordem, foi? Eu odeio porra de chorões. Seu pai não é o com o dinheiro nisso e ninguém dá a mínima se levar uma bala no traseiro.
O rosto de bebê de Tom se encheu de medo. Ele sacudiu a cabeça vigorosamente.
— Estou indo agora.
Trisha observou Sully e Tom juntar mantimentos e então os dois foram em direções diferentes. Isso deixava Bill para vigiá-la. Trisha estudou o homem que a encarava. Ele suspirou alto.
— Com fome? Sede?
— Por favor. — pediu Trisha baixo.
Bill foi até a barraca e voltou rapidamente. Trouxe uma soda e um saco ziplock com algum tipo de sanduiche dentro. Bill parou alguns centímetros dela.
— Pegue.
Ela estendeu as mãos. Ele lhe jogou a soda com cuidado. Trisha a pegou e a colocou no chão próximo aos joelhos. Estendeu as mãos de novo e ele jogou o sanduíche. Ela lhe deu um olhar grato.
— Muito obrigada.
— Cale a boca. — ordenou ele. — Eu odeio quando conheço coisas que tenho que matar depois. Só coma e fique calada.
Trisha odiava sanduíche de manteiga de amendoim, mas não reclamou enquanto mastigava. Estava morrendo de fome para se importar com o que comia. Abriu a tampa da soda e tomou vários goles. Tentou não esfarelar o sanduíche.
Sabia que Bill tinha sentado no chão a alguns metros dela e silenciosamente observava cada movimento seu. Terminou o sanduíche e tentou salvar o resto da soda.
Laurann Dohnner Slade
Não queria beber tudo em caso de Bill não ser tão generoso depois.
— Maldição. — grunhiu Slade baixinho observando os machos debaixo de um arbusto onde se escondia. Sua audição foi útil quando os ouviu traçar seus planos. Estavam com Trisha. Raiva o golpeou e ele lutou contra a vontade de pular dentro do campo e matar a todos eles.
Não eram os mesmos homens que os tiraram da estrada. Isso significava que mais humanos tinham se juntado à busca por ele e pela doutora. Preocupava-o não saber quantos eram. O acampamento montado também o alarmou. Tinham feito uma base em pouco tempo, o que queria dizer que eram organizados, e o perigo crescia exponencialmente.
— Calma. — ordenou sua mente em um sussurro baixo. Eles estavam em maior número, tinham mais armas do que ele, e a que conseguiu não seria muita coisa se um daqueles humanos usasse Trisha para fazê-lo derrubar sua arma e isso funcionaria. De jeito nenhum permitiria que atirassem nela sem que tentasse impedir. Mesmo se isso significasse se livrar da própria arma e enfrentá-los sem nada.
Não conseguiria alcançá-la a tempo para garantir que eliminasse todas as ameaças. A segurança dela era o mais importante para si. Teria que usar suas habilidades e matá-los um por um. Atacar o acampamento com todos eles em volta dela seria um último recurso. Tentaria salvá-la mesmo com todas as probabilidades desfavoráveis do seu lado se decidissem matá-la. Seria suicídio para ambos. Um último recurso.
Ouviu quando os homens planejaram ir atrás do humano ferido e dele. Um plano começou a se formar. O homem com olhos cheios de luxúria morreria primeiro se os outros o deixassem sozinho com sua mulher. Slade sabia que o homem tentaria tocar a doutora. Isso não iria acontecer. Não enquanto ainda respirasse.
Não encontrariam o homem que procuravam. Um sorriso curvou seus lábios quando decidiram que o homem não era confiável para não molestar Trisha. Isso mostrava que tinham alguma inteligência. Quando dois homens deixaram o acampamento ele se levantou, pronto para atacar, mas então parou, observando a cena abaixo.
O homem vigiando Trisha lhe deu comida e bebida. Não parecia ameaçador. Precisavam dela viva, acreditavam que suas habilidades como médica eram necessárias, e ela poderia ficar mais segura ali, ao lado dele do que ao seu lado enquanto ele eliminava as ameaças.
Ficou cheio de indecisão. Farejou o ar, mas não sentiu nenhum humano estranho na área. Não significava que não estivessem pertos, contudo, e que pudessem aparecer em breve.
O vento atormentava seu nariz com a poeira. Prendeu o olhar em Trisha. Ela comeu e bebeu com calma. O cara vigiando-a não era ameaçador nem olhava para o seu corpo de um jeito que indicasse alguma intenção maliciosa. Parecia esperar o bastante para saber que machucá-la quando precisavam dos seus talentos médicos não seria condizente. O imbecil que tinha puxado seu cabelo pagaria muito por feri-la. Queria matá-lo primeiro por aquela ofensa. Quanto mais cedo, melhor.
Por enquanto ela parecia a salvo e se outros humanos voltassem ao acampamento, o homem que a vigiava sabia do seu valor. Levaria um tempo antes que percebessem que não precisariam de um médico. Não podia escondê-la em algum lugar, deixá-la para ir atrás dos machos que se tornaram uma ameaça a ela, e não se preocupar se seria encontrada outra vez. Olhou com raiva para o que a vigiava.
O cara parecia entediado, mas também não parecia ávido para se mexer. Slade deslizou de volta para a terra, com cuidado de se manter baixo quando começou a seguir o homem mais velho que tinha ousado puxar o cabelo da doutora, e seu sangue ferveu de raiva. O macho pagaria por lhe causar dor. Pagaria um preço alto.
O silêncio ficou terrível. A brisa soprava e as árvores sussurravam no vento. Trisha ouviu pássaros à distância. Estava sentada sob o sol quente desejando uma sombra. Também precisava usar o banheiro. Quando sua bexiga estava prestes a explodir ela virou a cabeça e olhou para Bill.
— Tenho que usar o banheiro, por favor.
Ele piscou.
— Tudo bem. De qualquer jeito, você é pálida demais para ficar nesse sol. É muito fácil ficar desidratado se a sua pele queimar feio. Estava pensando em tirá-la daí.
— Posso levantar, então?
Ele assentiu.
— Vê a árvore ao lado da barraca? Faça detrás dela. Eu quebrarei suas pernas se tentar fugir de mim. Não é uma ameaça da boca para fora. Não precisa delas para costurar Pat. Vá atrás da árvore, faça o seu negócio, e pode ficar desse lado da árvore, debaixo da sombra. Fui claro o bastante?
— Como um cristal. Obrigada. — Trisha se colocou de pé. Seu corpo tinha ficado dormente em lugares que dolorosamente acordaram quando se lembrou de mancar em direção à árvore. Teve que se abaixar para passar por um dos galhos mais baixos e não havia muita privacidade, mas ela não tinha escolha. Abriu a calça, abaixou-se, e rapidamente fez o que tinha que fazer antes de se levantar. Caminhou de volta ao redor da árvore. Bill bloqueou seu caminho.
Não o tinha ouvido se mover em sua direção. Levantou os olhos. Bill era um homem fortão não muito alto. Tinha linhas duras no rosto de muitos anos no sol e sua pele era de um marrom claro envelhecido. Ele franziu o cenho.
— Eu estou cansado. Não consegui dormir muito essa noite então isso é o que vamos fazer. Volte para aquela árvore. Quero que fique com as costas nela.
Trisha o olhou com medo. O que ele ia fazer? Tinha um pressentimento que seria algo realmente ruim.
— Vou amarrá-la na árvore para poder dormir. Isso é tudo. Vou dormir a uma curta distância de você para poder ouvir qualquer barulho que fizer. Você acabou de comer, de usar o banheiro e de beber. Vai ficar na sombra e não está frio. Vai ficar bem. Agora volte antes que eu a leve à força.
Não era como se tivesse escolha. Bill era um homem bem maior. Ele parecia ser o tipo de imbecil que ninguém queria acabar enfrentando em uma briga de bar. Não era muito alto, mas tinha aquela aparência sinistra que dava a impressão de que cortaria a garganta de um homem em um segundo. Ela assentiu e recuou lentamente até a árvore para olhá-lo com medo.
— Estenda os braços e segure nos galhos, braços abertos.
— Não posso ficar sentada?
— Eu disse — ordenou ele baixo — estenda os braços e segure nos galhos. Não estava perguntando. Estou mandando e não vou me repetir. Pode fazer o que eu disse ou posso mudar seu modo de pensar. Seria uma lição dolorosa. Entende-me?
Ela levantou os braços para agarrar os galhos bem acima da cabeça. Viu o homem colocar a mão no bolso de trás e tirar uma bandana que provavelmente usava para limpar o suor do rosto. Aproximou-se bem perto dela. Usou a bandana para amarrar seu pulso, prendendo-o ao galho.
Ele fedia e precisava de um desodorante. Acima de tudo sentiu cheiro de álcool, misturado com o fedor nojento de tabaco mastigado. Prendeu o fôlego o máximo que podia enquanto ele amarrava algum tipo de pano áspero em seu outro pulso. Amarrou-o apertado. Ele recuou e finalmente o fedor horrível passou. Bill a encarou, assentiu, e então virou as costas e caminhou até a barraca. Trisha olhou para os braços presos. Ele tinha prendido duas bandanas diferentes em seus pulsos e nos galhos finos. Ela os puxou, mas pouco se moveram, provando que não havia jeito de que pudesse se libertar. Praguejou baixinho e repuxou as bandanas, tentando ver se ele havia deixado algum espaço para que pudesse deslizar a mão. Ele tinha amarrado muito forte.
Bill saiu da barraca carregando um saco de dormir e um travesseiro consigo. Ele a olhou antes de jogar o saco no chão a alguns metros de onde ela estava.
Ela achou que ele era ao menos decente já que lhe ofereceu comida e bebida, mas isso foi antes de amarrá-la, como um espantalho, em uma árvore. Depois de um tempo suas pernas ficariam bem cansadas.
Ele se esticou de costas em cima do saco de dormir, encarando-a, e colocou a arma sobre o peito. Ela avistou uma faca de caça saindo de uma bota quando ele cruzou as pernas. Ele empurrou o travesseiro detrás da cabeça e fechou os olhos.
Trisha trocou de posição. Suas pernas doíam e os braços pareciam que iam despencar. Ficou nas pontas dos pés para nivelas os braços com os ombros. Isso fez com que o sangue circulasse pelos seus membros superiores, mas os seus dedos doeriam e teria que voltar à posição que estava anteriormente. Girava a cabeça de vez em quando. Tentou dormir, mas toda vez que cochilava suas pernas cediam, fazendo com que seus braços doessem pelo peso em cima deles. O tempo se arrastava.
Algo fez barulho na floresta. Bill acordou instantaneamente, virou-se de barriga, e apontou a arma na direção que o som tinha vindo.
Chocada, Trisha o fitou. Um pássaro voou de uma árvore naquela direção. O homem sobre o estômago suspirou, rolou de volta ao lugar e a olhou com raiva.
— Tenho o sono leve. Pare de suspirar. Estou me cansando disso.
Ele fechou os olhos de novo e descansou a arma de volta no peito.
Não pode estar realmente dormindo. Trisha fitou o seu peito, observou-o se erguer e abaixar lentamente.
O som que o pássaro tinha feito era tão baixo que ela mal o ouviu, mas o homem aos seus pés saltou como se algo tivesse se lançado em cima dele. Ele até tinha apontado a arma na direção certa. Se ele fingia dormir então saberia qualquer som que fizesse. Sua fraca esperança foi para o brejo. Estaria bem melhor se tivessem deixado Tom com ela. Um homem babando em seus seios parecia uma melhora em comparação a ser amarrada a uma árvore.
A dor a despertou e ela grunhiu. Seu corpo pendurado, todo seu peso nos pulsos, e doía. Trisha lutou contra as lágrimas. Colocou todo o peso nos pés e ficou na ponta dos dedos. Isso aliviou toda a tensão de seus pulsos e o sangue voltou a circular pelos seus braços enquanto estudava o céu. Ficou amarrada à árvore a maior parte do dia. O sol tinha descido no céu. Ela olhou para o homem no chão para achá-lo encarando-a.
Não soube dizer ao certo, mas achou que sua atenção estava concentrada em seu estômago.
— Está acordado — disse baixinho. — Posso sentar agora? Por favor?
Ele sentou e observou o seu rosto, franzindo o cenho até abaixar a arma ao chão ao lado do saco de dormir e ficar de pé. Afastou-se dela e foi até a barraca.
Trisha levantou o queixo para fitar o céu. Bastardo. Tinha que saber que estava com dor e desconfortável. Precisava usar o banheiro de novo também. Ouviu-o voltar e olhou para o walkie-talkie que tinha em uma mão.
— Bill aqui. — falou. — Base?
— Ei, Bill — uma voz de homem respondeu. — Pode falar.
— Ainda não os encontramos. — Bill observou Trisha e colocou um dedo na boca indicando que ficasse quieta. — Estamos na seção vinte e dois. Alguém teve mais sorte?
— Não até agora — a voz estava cheia de estática. — Vocês são os que vão mais longe.
— Os outros não estão vindo?
— Não. Só vocês. Por que Tom não está ligando?
— Ele está com dor de barriga. O garoto está passando mal. Ligamos outra vez pela manhã. Câmbio e desligo. — Ele desligou o aparelho. — Não encontraram seu amigo animal ainda. — Ele jogou o walkie-talkie no travesseiro. — Já descansei e estou pronto para entrar em ação. Eu quis garantir que ninguém estivesse na área e agora tenho certeza que só somos nós dois.
O estômago de Trisha fritou quando ela engoliu. Não se sentiu confortável com o jeito que ele disse aquilo ou com o jeito que seu olhar varria o seu corpo. Sua expressão maliciosa subiu lentamente até encontrar a sua, temerosa.
— Você é uma linda mulher. É uma dessas vadias de coração grande e a favor dos direitos dos animais, não é? Ama os animais, garotinha? — Ele baixou as mãos e abriu o cinto, o olhar preso ao dela. — Não queria Tom com você porque o garoto não sabe o que fazer com uma mulher.
— Oh Deus — gemeu Trisha, observando-o tirar o cinto da calça enquanto agarrava a fivela na mão. Seu olhar foi ao dele. — O que quer que esteja pensando em fazer, por favor, não faça.
— Cale a boca ou lhe dou uma surra de cinto. Odeio gritos. Entende-me? Não precisa de uma língua para cuidar de Pat quando Tom arrastar o traseiro dele de volta aqui. Ele é um idiota e tenho certeza que temos algumas horas antes deles voltarem. Ele não conseguia achar a própria bunda sem que alguém apontasse. Eu corto sua língua se gritar.
Bill derrubou o cinto no saco de dormir e desceu a mão. Tirou uma enorme faca de caça da bota direita. Olhou para ela e deixou o dedo traçar um dos lados da lâmina de dois lados. O lado de trás tinha uma serra. A lâmina tinha que ter uns trinta centímetros. Trisha a fitou em horror. Ele a ergueu e lhe sorriu com frieza.
— Diga que é uma vadia de coração mole, uma idiota que luta pelos direitos dos animais. Exatamente assim.
Ela se sacudiu de terror. Abriu a boca, mas nada saiu. Puxou com força os pulsos, frenética, mas as bandanas seguraram. Tentou recuar, mas a árvore não cedia.
— Diga: “Eu sou uma amante dos animais, uma vadia de coração mole que é uma idiota” — exigiu baixinho. — Agora.
— Eu sou uma amante dos animais, uma vadia de coração mole que é uma idiota. — sussurrou Trisha.
Um sorriso rachou seus lábios.
— Boa garota. — ele deu um passo quando agarrou a faca no punho. Ele agarrou sua calça e levantou a cabeça. — Tire os sapatos.
— Preciso usar as mãos para tirá-los. — mentiu. Sua voz vacilava.
— Tire com os pés agora, ou… — Ele trouxe a lâmina mais perto até a ponta tocar seu seio e empurrou até encostar na área bem abaixo do seu mamilo.
— Oh meu Deus — ofegou Trisha, pânico total a envolvendo. — Tudo bem. — Usou um pé para tirar o sapato do outro. Este caiu. Mudou de posição, usando os dedos dos pés, e conseguiu tirar o segundo.
— Deus não está aqui garotinha.
Bill se moveu de repente, tirando a faca de seu seio e empurrando-a na direção do seu rosto. Ela viu a lâmina se aproximando e um grito rompeu de sua garganta. Jogou a cabeça para o lado. Esperava que a lâmina perfurasse seu rosto, mas não. A dor esperada não veio. Ouviu-o rir. Virou a cabeça para ver a faca presa no tronco da árvore ao lado do seu rosto. Sua orelha roçou no metal frio.
As mãos dele foram brutais quando puxaram a calça. Ele a abriu e a desceu bruscamente pelo seu corpo. Segurou sua calcinha com os dedos e desceu com ela pelas suas pernas. Quando chegou nos calcanhares simplesmente deu um puxão para removê-las. As pernas de Trisha foram levantadas quando ele fez isso e ela gritou de novo. A dor dilacerou seus ombros e pulsos quando todo o seu peso se concentrou neles.
Ele se levantou e a fitou enquanto lutava para ficar de pé de novo para aliviar um pouco da dor em seus braços. Estava nua da cintura para baixo e sabia que ele planejava estuprá-la. Virou a cabeça e rezou quando uma mão se fechou em seu cabelo.
— Olhe para mim, vadia adoradora de animais. — cuspiu ele.
Trisha choramingou da dor que a infligia. Ele virou sua cabeça puxando seu cabelo até que não tivesse escolha a não ser olhá-lo. Ele sorriu, o sorriso mais frio que já viu.
— Quando os garotos voltarem, isso nunca aconteceu. Eu mesmo a matarei se disser a eles e não será uma morte rápida. Entendeu? Não vou arriscar um desses imbecis bocões encherem a cara, soltarem essa e a minha esposa ficar sabendo. Eu vou dizer que você tentou fugir se não fizer o que eu mando e do jeito que eu mando. Vou te cortar inteira enquanto ainda respira. Ouviu-me, garotinha? Faça o que eu mando ou não vai viver até de manhã. Conte a algum deles o que estamos prestes a fazer e me implorará para morrer quando tiver acabado com você. — Piscou. — Inferno, se contar, eles também podem querer fazer o mesmo com você. — Ele soltou seu cabelo e riu. — Pensando bem, eles não vão poder abrir o bico se também fizerem. Podíamos dar uma festa com a vadia-amante-de-animais.
— Por favor, não. Eu tenho dinheiro. Posso pagar o que quiser. Só por favor...
Ele a bateu com força. Dor a golpeou quando explodiu da bochecha à mandíbula. Grunhiu. Seus ombros sofreram em agonia quando os joelhos cederam sobre o seu peso. Lutou para não ficar inconsciente e conseguiu. O mundo girava, contudo, e o gosto metálico de sangue enchia sua boca. Colocou o peso de volta nos pés.
Mãos estavam em seu peito. O imbecil puxou sua camiseta para cima e passou-a por sua cabeça. Ele a deixou em sua nuca, onde ficaria presa e longe do caminho. Não poderia tirá-la sem desamarrá-la ou cortá-la inteira. Suas mãos estavam muito presas para se soltarem quando desesperadamente tentou fazer exatamente isso. A camisa se moveu quando lutou e parte do tecido deslizou para frente, passando por trás da cabeça quando baixou o queixo. Bill praguejou e agarrou sua camisa de novo para juntá-la inteira em sua nuca e mantê-la lá. Mãos agarraram a frente do seu sutiã e puxaram com força, fazendo o material rasgar. Ele empurrou os bojos de lado.
— Você é mais bonita do que a minha esposa já foi antes da vadia ter seis filhos. — Ele agarrou sua cintura brutamente. — Aposto que é bem apertada também. Não tem nenhuma estria. Não teve filhos. Posso dizer pelos seus peitos.
A tontura passou. Trisha se recuperou lentamente do tapa. Cuspiu sangue nele. Iria estuprá-la de qualquer forma.
— Vá se foder, imbecil.
Ele agarrou sua garganta. Trisha só conseguiu fita-lo em horror enquanto sua mão lhe apertava dolorosamente o pescoço. Ele parecia absolutamente lívido quando foi se aproximando até que estavam com os narizes quase se tocando.
— Acha que é boa demais para mim, garotinha? Acha que pode chamar nomes comigo? Aposto que queria ter segurado a língua agora. — Ele respirou profundamente. — Quer respirar? Isso é bom. Está ficando azul, vadia. — Sua mão a soltou.
Trisha ofegou e engasgou. Olhou-o quando ele desceu a mão e desabotoou a calça devagar. Ele assentiu para ela e então a soltou até os tornozelos para revelar que usava uma cueca branca. Agarrou-a e também a deixou na altura dos tornozelos. Agarrou seu pênis ereto e começou a se masturbar devagar. Trisha se encheu de nojo.
— Vê o que vai ganhar, garotinha? Vou conhecer cada orifício seu. Cada um. Acha que pode chamar nomes comigo com essa boca? Tente chamar quando estiver enterrado na porra da sua garganta, vadia.
— Prefiro morrer. Mate-me logo! — Gritou para ele. — Você é uma porra de um perdedor. Não passa de um estuprador nojento. — Esperava que perdesse o controle e a matasse. Preferia morrer a ter que viver depois que a tocasse. — E isso é altamente patético, a propósito. Eu sou médica e já vi vários deles. — provocou-o. — Patético! — gritou.
O rosto dele ficou vermelho e ele urrou em fúria quando se jogou em cima dela. Trisha ficou tensa e só conseguiu apoiar as costas no tronco enquanto tentava chutá-lo com as duas pernas. Seus ombros e pulsos berravam de dor, mas conseguiu atingi-lo. Suas pernas se encheram de dor quando entrou em contato com o corpo dele. Estava mirando em sua virilha, mas bateu em suas coxas.
O homem furioso não caiu, mas deu uns quatro passos para trás, quase caindo por conta da calça em volta dos tornozelos, mas permaneceu em pé.
— Sua vadia maldita! — gritou ele. — Quer jogar duro? Acha que pode me chutar nos ovos e não pagar por isso? Vou te machucar tanto que vai me implorar para te matar e é isso que eu vou fazer.
Ele se jogou nela de novo. Viu-o levantar o punho e sabia que não poderia evitá-lo.
Seu último pensamento foi que ele podia feri-la o bastante para que apagasse e então não estaria consciente enquanto a estuprava. Se sobrevivesse. Duvidava que sobrevivesse. Só não queria estar acordada quando ele a ferisse e a matasse.
A pancada nunca veio. Trisha viu algo grande e rápido bater no homem que avançava quando este estava a poucos centímetros do seu corpo. Virou a cabeça para olhar de boca aberta para Slade, agora em cima do homem meio nu. Os dois rolaram e se separaram com um salto.
— Slade. — soluçou Trisha.
— Estou meio ocupado, Doutora. — Ele não olhou para ela. — Está bem? Ele a estuprou? — Rosnou as palavras, obviamente irado.
— Estava prestes a estuprar. — Lágrimas caíam livremente pelas bochechas de Trisha e um soluço se prendeu em sua garganta. Slade tinha vindo atrás dela.
— Porra de animal. — disparou Bill. Ele levantou a cueca e a calça, que estavam nos tornozelos, em um só movimento.
— Está me chamando de animal? — Rosnou Slade. — Isso tem muita valia vindo de um estuprador bandido que bate em mulheres. Quer me chamar de cruzamento entre homem e besta também, idiota, já que parece me chamar dos nomes que melhor se aplicam a você?
Bill tirou uma pequena faca de sua bota esquerda e a balançou entre seu corpo e Slade.
— Então você veio atrás da garotinha, não foi? Ela é a sua dona ou algo assim, Fido2?
2 Fido foi um cachorro italiano de rua que ganhou atenção pública em 1943 por causa de sua inabalável lealdade pelo o seu dono, já falecido.
— Acho que isso o torna realmente um bastardo doente se acha que ela é uma garotinha.
— Eu vou cortar a sua cabeça fora e pendurá-la em cima da minha lareira — provocou Bill. — Venha, Fido. Vou estripá-lo um pouco primeiro e se tiver sorte vou fazê-lo assistir enquanto a fodo para que veja como os humanos fazem.
Slade riu.
— Como se você soubesse como ser humano? E isso não é foder, cabeça cheia de merda. Isso se chama estupro. O único que precisa de uma lição é você. E sem querer mudar o assunto, mas a Doutora está certa. Da última vez que vi algo desse tamanho eu tinha uns oito anos e olhei para baixo. Você é altamente patético. Não é de se admirar que tenha que amarrar as mulheres em árvores e forçá-las. Uma mulher desamarrada iria morrer de rir quando mostrasse esse anãozinho. Parou de crescer aos oito? Eu com certeza não. Sou maior do que isso flácido e na água gelada.
— Ao menos posso ter filhos — gritou Bill. — Você não tem munição, animal. Nós rimos disso o tempo todo. Tudo o que temos que fazer é esperar até que todos vocês morram.
— Acha mesmo? — Os olhos de Slade estreitaram. — Podemos não ser capazes de gerar filhos, mas sabemos como tratar uma mulher.
Ele lutou contra a raiva dentro dele. O humano tocou em Trisha, tirado sua roupa, expondo seu corpo, e o cheiro do sangue dela pairava no ar. Ele se recusou a olhá-la, sabendo que ficaria louco se realmente visse algum dano de fato nela. Precisava esfriar a cabeça. Queria que o bastardo sofresse. Simplesmente rasgaria o filho da puta em dois se não se acalmasse. Ele morreria rápido demais. Bill balançou a faca outra vez.
— Estamos esperando que a sua expectativa de vida seja a de um patético cão. É isso que é, não é, animal? Não tem os olhos de gatinho que eu vi na televisão do bichinho que colocaram na frente das câmeras.
— É — rugiu Slade. — Eu sou canino. — Mostrou os dentes afiados. — E vou viver mais do que você.
— Nenhum de vocês vai viver por muito tempo. — Bill recuou um pouco e trocou a faca de mão, mexendo os dedos, indicando que Slade se aproximasse. — Nós vamos caçar cada um de vocês. Vão se transformar em um esporte. Teríamos que soltar uma bomba em cima de vocês se pudessem procriar antes que conseguissem gerar ninhadas de filhotes. — Seu olhar foi para Trisha por um instante e então ele sorriu. — Acha que ela quer você? Acha que mulheres humanas iriam querer alguém estéril, esfregando-se no cio nelas?
— Ao menos eu tenho o equipamento para dar prazer a uma mulher — rugiu Slade para ele. — Pode ter a habilidade de gerar filhos, mas tudo o que passa adiante é a sua ignorância e o pau pequeno.
— Eu vou te deixar sangrando no chão para me ver fodê-la e lhe mostrar como uma mulher gosta de foder um homem de verdade. Vou ter algo que só vai poder sonhar a respeito.
A raiva de Slade fervia, mas ele a controlou com firmeza. A vontade de fazê-lo sofrer diminuiu rapidamente, mais em favor de simplesmente matá-lo. Mostrou os dentes de novo, querendo que o humano viesse até ele. Daria-lhe a vantagem que precisava.
— Ela já é minha. Ela sabe o que é ter um homem de verdade dentro dela e quis que a fodesse. — Sorriu friamente. — Eu não tive que amarrá-la e ela não me chamou de patético. Ela me pertence.
Um gritou enfurecido saiu de Bill e ele se arremessou com a faca. Slade desviou do golpe da lâmina afiada. Jogou o braço e Bill gritou. Um pop alto soou. A faca caiu e Bill gritou de novo, pulando para longe.
Slade tinha atingido o braço de Bill que empunhava a fraca forte o bastante para quebrá-lo. Ele sorriu, mostrando os dentes afiados, e então fechou a distância. Agarrou a camisa de Bill, esmurrando-o no nariz. O humano gritou quando sangue jorrou de seu rosto enquanto olhava apavorado para Slade.
— Isso foi por bater na minha mulher. — urrou. — Vai sofrer e sentir dor antes de terminar com você. Nunca deveria ter se encostado nela. Vai conhecer cada segundo da dor dela. — Rosnou. — E então vai morrer.
— Não. — ofegou Bill, seu terror se mostrando nos olhos arregalados e no rosto ensanguentado.
Trisha assistiu em choque quando os homens rolaram em combate. O medo a envolveu de que Slade pudesse ser ferido, mas em segundos percebeu que ele tinha velocidade e força contra o seu oponente. Facilmente tomou o controle da luta.
Slade segurava a camisa de Bill enquanto levantou a perna e chutou o joelho direito do imbecil. O som horrível realmente pareceu alto quando a perna quebrou. A visão foi perturbadora quando o osso rompeu a pele, sangue jorrou, e Slade empurrou Bill no chão quando ele tropeçou de lado pelo fato da perna ceder sob o seu peso. Bill soluçava. Trisha estava impressionada.
Se agachou, descansando nos joelhos enquanto olhava a Bill com ódio. Sangue saía do nariz e da perna de Bill. O osso se projetava bem acima do joelho onde tinha irrompido até sua calça jeans. Slade continuou a observá-lo por um bom minuto.
— A dor e o terror que está sentindo agora foi o que fez minha mulher sentir. Ia machucá-la e estuprá-la. Então iria matá-la quando estivesse farto de usar o seu corpo. — Slade pausou. — Eu posso ser um animal, mas sou mais misericordioso do que você. Poderia deixá-lo aqui para que morresse lentamente. — Ficou de pé, virando as costas para o homem. Caminhou até a faca no chão, abaixou-se e a pegou. Parecia testar o peso dela. — Bill? Vá para o inferno — urrou Slade. — Nunca deveria ter tocado o que é meu.
Slade se virou e em um movimento fluido atirou a faca. Ela parou no peito de Bill. Choque e horror encheram o rosto horrível do homem quando ele abaixou a vista e viu sua própria arma enterrada fundo em seu corpo. Caiu para trás e não voltou a se mexer.
Trisha olhou o homem sem vida de boca aberta. Tinha certeza de que estava morto. Tinha gemido de dor pelos ferimentos que tinha até Slade enterrar a faca até o punho nele. Era preciso muita força e habilidade para arremessar uma arma daquelas e atingir o alvo.
Slade moveu em sua direção. Ela tirou o olhar do corpo e encontrou os olhos azuis escuros dele. Eram tudo o que podia ver enquanto se aproximava dela.
— Não me olhe assim. — ordenou Slade baixinho. Ele parou na sua frente e pegou um de seus pulsos. Rasgou a bandana. Um som de dor saiu rasgado dela quando o braço desceu porque realmente doeu. Experimentou aquela dor de milhares de agulhas e tachas fincadas na pele e na carne em seu braço e ombro quase que instantaneamente. Slade soltou o outro braço. Assim que a soltou, pegou-a nos braços.
—Está tremendo. Vamos, Doutora. Está a salvo. Estou com você e tudo está bem agora.
Slade foi até o saco de dormir e se abaixou com ela até que acabasse sentada em seu colo. Ele olhou para sua boca e tirou o braço de baixo dos seus joelhos.
Dedos gentis roçaram seu lábio. Ela estremeceu da dor. O olhar de Slade se estreitou.
— Maldição. Ele bateu com força o bastante para rachar seu lábio. Abra a boca para mim, Doutora. Vamos nos certificar que não tenha sofrido algo permanente.
Trisha abriu a boca e Slade tocou seus dentes. Seus olhos pareceram escurecer quando ele tirou o dedo e roçou a ponta na parte machucada de sua bochecha onde tinha levado a tapa.
— Tudo no lugar, mas vai ficar com um belo hematoma. — Seu olhar estudava sua mandíbula e bochecha.
— Vamos agradecer por ele não ter batido uns centímetros mais acima, senão ficaria com um olho preto de presente.
Seu choque passou e ela começou a pensar de novo.
— Temos que ir embora. Tem mais homens com ele e eles vão voltar.
Ele sacudiu a cabeça.
— Não. Não tem.
— Tem sim. Um deles está ferido e dois foram atrás dele e de você. Se o cara perdido aparecer eles podem chegar a qualquer momento. Temos que ir antes deles voltarem. Eles têm armas, Slade. Eles...
— Estão todos mortos. — Slade segurou o seu rosto com as duas mãos. — Eu os matei. Havia três e eles me bloquearam e chegaram em você antes de mim. Eu os ouvi dizer que a levariam para o acampamento. Você fez muito bem, doutora. Atrasou-os e me deu tempo de chegar aqui antes. Achei o primeiro dentro da barraca. Matei–o e carreguei o seu corpo para impedir que os outros o encontrassem.
— Mas... — Slade gentilmente pôs um dedo em seus lábios e ela fechou a boca.
— Eu sei que não iam machucá-la contanto que achassem que ele estava ferido e precisando da sua ajuda. Escondi o corpo, esperando que pensassem que ele tinha saído para mijar e se perdido. Segui o mais novo e o apaguei. Tive que rastrear o boca grande por horas. Ele era mais esperto e mais difícil de pegar. Então voltei aqui a tempo de ouvir o seu grito.
— Estão mesmo mortos? — Ela ficou em choque por Slade tê-los matado.
— Sim. Os homens com quem estavam mataram Bart e iam matar você. Teriam feito o mesmo comigo também. Confie em mim. Tentaram me matar quando os encontrei. Nunca teria deixado você sozinha se não achasse que estava segura. Sinto muito mesmo. Juro que nunca achei que fosse se machucar. Quando eu fui embora ele estava lhe dando de comer e de beber. Vi sinceridade em seus olhos.
— Eu também não esperava que ele me atacasse.
Slade pegou em seu rosto e estudou Trisha.
— Eu sinto muito mesmo, doçura. Você me perdoa?
Ela assentiu, ainda chocada por ele realmente ter matado aqueles homens para salvá-la.
Ele pegou seus pulsos e os olhou, franzindo o cenho.
— Vai ficar com um monte de hematomas. Está ferida em mais algum lugar? — Seu olhar encontrou o dela. — Me diga. Aquele bastardo a machucou mais?
— Não.
— Trisha. Diga-me. Ele fez algo com você além dos pulsos e do rosto? Ele a atacou sexualmente de alguma forma antes de eu chegar? Eu cheguei a tempo ou ele também a molestou antes?
Lágrimas a cegavam.
— Você chegou na hora.
— Então, por que as lágrimas? — Ele passou o polegar em algumas delas, olhando-as como se fossem algo totalmente estranho.
Trisha riu, parte de histeria e parte pela cara cômica que ele tinha.
— Você nunca chora, não é? — Fungou, sem rir mais. — Eu estava apavorada. Estou chorando por causa do que ele planejava fazer comigo.
— Não. Eu não choro.
Trisha não ficou surpresa com aquela confissão.
— Bem, eu sim. Merda. Estou nua. Vê em que estado estou no momento? Esqueci que não estou usando roupas. — Ela agarrou a camisa de trás do pescoço e a puxou para cobrir-se até o colo. Olhou em volta e achou o resto das suas coisas antes de olhar outra vez para Slade. — Eu vou me vestir.
— Não se mexa. Ainda está tremendo. — Ele colocou os braços em volta dela. — Relaxe, Doutora. Eles estão mortos e você a salvo. Não tem mais ninguém por milhas. Certifiquei-me disso.
Ela virou e relaxou contra Slade, colocando os braços em volta da sua cintura e simplesmente colando-se a ele. Lutou contra a vontade de chorar quando os braços dele a envolveram. Sabia que estaria passando por um inferno se não fosse por Slade abraçando-a. Ele fazia com que se sentisse melhor.
— A propósito, nunca mais faça aquilo. — Suspirou Slade.
— O quê? — Trisha levantou a cabeça, olhando aquela expressão intensa dele.
— Provocar um homem para que a machuque. — Slade sacudiu a cabeça um pouco. — E se eu tivesse chegado depois? Não chegaria em você antes que ele a matasse. Teria vindo resgatar o seu corpo da carcaça ensanguentada dele, doutora. Da próxima vez faça o possível para ficar viva. Pode sobreviver a qualquer coisa, contanto que continue respirando.
— Ele ia fazer coisas horrendas comigo. Eu prefiro morrer do que passar por aquilo.
Slade rosnou para Trisha, mostrando sua raiva.
— Não. Você sobrevive do jeito que puder, mas se prende à vida. Seria um inferno para você e iria doer muito, mas contanto que respire, ainda tem vida pela qual lutar.
— Você não entende. Aquele imbecil não o amarrou a uma árvore e não lhe disse que ia estuprar você de formas que o faria gritar de pavor.
Slade respirava com mais dificuldade agora, com raiva e olhou com toda essa raiva para Trisha. Apertou os seus braços, virando-a para que o encarasse.
— Eu sofri várias coisas horríveis, Doutora. Não tem ideia do tipo de dor e de agonia que passei durante a minha vida. Eu os vi matarem meus amigos e eles eram tudo o que tinha. Sofri dores que deixaria a maioria dos homens insanos, mas ainda estou aqui. Eu luto. Eu esperei na esperança que um dia eu pudesse ter um dia como o de hoje. Eu sou livre. Toda a dor e a agonia, todo o inferno, toda a indignidade e humilhação está no meu passado agora. Estou aqui sentado com você no meu colo e eu agradeço, Doutora. Entende? Você sobrevive do jeito que puder, mas não desiste. Nunca provoque um homem para que a mate outra vez. — Ele respirou com força e suas belas feições suavizaram. — Por favor. Não posso salvar um cadáver.
Trisha assentiu sua compreensão, sem mais raiva. Ele tinha sofrido e ela não tinha ideia da profundidade daquela angústia. Passou ano após ano sendo uma cobaia de laboratório.
Tinha visto várias pessoas com quem se importava serem torturadas até a morte. Só um dia de terror e pesadelo pelo qual teve que passar realmente empalidecia em comparação a toda a vida de Slade.
— Eu prometo.
A tensão no corpo dele aliviou.
— Ótimo. Vamos comer a comida deles, levar os mantimentos, e dar o fora daqui antes que alguém apareça para ver como estão. Tenho certeza que há equipes da minha gente na área procurando por nós.
— Mas aqueles homens têm grupos de caça por aí procurando por você, Slade. Estavam falando de uma recompensa de cinquenta mil dólares.
Slade soltou um palavrão.
— Para me capturar ou matar?
— Não sei, mas tenho certeza que não importa contando que o matem. Eles só disseram que era cinquenta mil. Mencionaram alguém chamado Thomas que não ia pagar nada a eles se algo acontecesse com o filho. Ele era o primeiro que você matou dentro da barraca.
Ela lhe deu um sorriso.
— Acho que Thomas não vai ficar feliz quando descobrir que o filho está morto.
— Azar o dele. — Slade encolheu os ombros. — Ele está definitivamente morto e eu espero que nenhum deles receba esse maldito dinheiro. Ouviu mais alguma coisa?
— Bill, o cara aí, usou um walkie-talkie para falar com o acampamento-base. Acho que eles ergueram alguns por aqui. Tem mais times aqui caçando você, mas acho que estamos a algumas milhas deles. Bill ficou de retornar a comunicação assim que amanhecesse.
Ele sorriu.
— Coisa que não vai fazer. Eles sabiam que eu era médica quando me encontraram.
— Suas coisas estavam no local do acidente. Provavelmente foi fácil descobrir quem você era e eles podem se comunicar e compartilhar informações. Tenho certeza que há uma busca por nós. Justice já deve ter divulgado as nossas fotos para ajudar a nos encontrar.
— Ah. Desculpa. Achei que pudesse ser importante.
— Bem, você é boa em detalhes. — Slade piscou para ela. — Com fome? Eu sim.
Ela assentiu.
— Tenho que fazer xixi primeiro.
— Encontre um lugar com privacidade enquanto eu procuro roupas limpas. Eles têm água. Estou vendo as garrafas daqui. Leve uma com você e se lave, Doutora. Vou cuidar do corpo e começar a juntar os mantimentos.
— Obrigada. — Trisha de repente segurou o rosto dele e se aproximou. — Você salvou a minha vida, Slade. Só… obrigada.
Um sorriso preguiçoso curvou os lábios dele.
— Já que eu salvei a sua vida isso significa que eu vou ter sorte hoje à noite?
Trisha riu. Não conseguiu evitar. Foi a expressão divertida no rosto dele.
— Não acredito que disse isso.
Ombros robustos se encolheram.
— Eu sempre a desejo, Doutora.
Ela saiu do seu colo e ficou de pé. Slade também se levantou. Seu corpo tremia pelo estresse e pelos músculos cansados, mas ignorou. Estava mais preocupada com o fato de que estava nua da cintura para baixo. Sabia que Slade não podia evitar notar isso quando se afastou dele. Pegou uma garrafa de água.
— Provocadora. — rosnou Slade quando ela se abaixou e pegou uma das garrafas para que se banhasse. Ela se endireitou e o olhou por cima do ombro. — Não devia estar procurando roupas limpas para mim ao invés de ficar vendo eu me abaixar?
— Estou fazendo os dois. — Ele foi até a barraca. — Quer se abaixar e pegar mais alguma coisa antes de eu entrar? Eu podia sair jogando as coisas para que tivesse que se abaixar de novo.
Ela riu, caminhando até os arbustos que lhe dariam privacidade.
— Não, obrigada. Estou bem.
Rapidamente atendeu suas necessidades mais imediatas e então removeu a camisa e o sutiã rasgado. Ficou nua à sombra quando tudo a atingiu de uma vez. Trisha lutou contra as lágrimas quando examinou seus pulsos. Sua boca doía e a bochecha latejava bem quente, doendo no local em que foi golpeada. Também se sentia muito, muito suja. Bill a tinha tocado e só o pensamento do que ele quis fazer com seu corpo a deixava com vontade de vomitar.
Agachou, tentando abrir a garrafa. Não estava forte o bastante para desenroscar a tampa e sua tremedeira não ajudava. Fez um som baixo, lutando contra a vontade de soluçar, e abraçou o corpo enquanto fitava a garrafa.
— Doutora? — A voz de Slade veio bem de trás dela. Não se moveu. Ficou como estava, de costas para ele. Enchia-lhe de vergonha desmoronar do jeito que estava e lembrou que ele não era fã de lágrimas. Sabia que se o olhasse ele saberia o quanto esteve perto de desabar.
— Achei roupas para você. — disse, sua voz suave quando se aproximou.
Ela se abraçou mais forte. A vontade de romper em soluços ficou mais forte. Os eventos das últimas vinte e quatro horas eram simplesmente demais. Não estava acostumada com pessoas tentando matá-la nem com homens atacando-a.
— Trisha? — Slade se agachou atrás dela e passou os braços em volta do seu corpo. — Tudo bem, docinho. Eu estou aqui. Está tremendo.
Lágrimas quentes desceram pelo seu rosto. Ela ouviu praguejar baixinho e então sentar no chão, puxando-a para os seus braços. Não olhou para ele. Passou os braços em volta do seu pescoço ao invés disso, abraçou-o com força, e enterrou o rosto em seu peito.
Os braços de Slade a abraçaram com mais força e os dedos se enterraram em seu cabelo. Ele a aninhou contra o peito e descansou o queixo em cima de sua cabeça.
— Você foi muito corajosa. — disse baixinho. — Eu tentei manter você falante e guerreira, mas foi demais, não foi?
Ela assentiu contra o peito dele.
— Você odeia lágrimas. Desculpe.
As mãos dele pararam de esfregar o seu escalpo e ele suspirou.
— Não odeio as suas lágrimas. Não se desculpe. Você merece chorar. Na verdade foram dois dias péssimos. Me perdoe por deixá-la aqui. Eu o teria matado primeiro se achasse que fosse machucá-la, mas eu cometi um erro. Tinha certeza que a trataria bem até que eu voltasse e achei que era melhor deixá-la aqui com ele no caso de mais deles aparecerem. Meu raciocínio foi que eles já tinham você e não a machucariam porque precisavam que tratasse do outro membro do time deles.
— Não foi culpa sua. — Trisha usou o braço para limpar as lágrimas. — Você me salvou. Obrigada, Slade. Eu sei que não tinha que arriscar sua vida lutando com aquele homem para me salvar. Você o matou por mim. Matou todos eles para me resgatar.
Os dedos dele roçaram seu cabelo novamente.
— Você é minha, Doutora. Lutaria contra qualquer um para pegá-la de volta e mataria qualquer homem que a tocasse.
As palavras dele fizeram sentido. Trisha levantou a cabeça, olhou para Slade. Olhos azuis encontraram os seus, chocados.
— Eu sou sua? Como assim?
Ele hesitou.
— Agora não é a hora, ok? Teremos essa discussão mais tarde quando estivermos em casa. Deixa eu te ajudar a se limpar. Vamos comer, pegar os suprimentos, e dar o fora daqui. Espero que amanhã já estejamos em Homeland.
Trisha o estudou.
— Ok. — Queria perguntar umas cem perguntas, mas deixou para lá. Por enquanto. Dele? Seu coração acelerou um pouco. Não se importaria em ser de Slade. Nem um pouco.
Ele tirou as mãos do seu cabelo.
— Levante e eu ajudo a se lavar. Então vamos nos apressar. Não quero ficar por aqui. O acampamento é conhecido dos outros homens e, além disso, odeio o cheiro deles. O acampamento fede a eles.
Slade ajudou Trisha a se levantar já que ela não estava muito estável. Ele molhou sua camisa e começou nas suas costas, esfregando sua pele. Trisha tirou o cabelo do caminho. As mãos de Slade eram gentis conforme a lavava e depois ordenou que se virasse de frente.
Trisha encontrou seu olhar firme. Estava nua na sua frente e observou Slade baixar lentamente o olhar pelo seu corpo. Ele fechou os lábios com força.
Parecia furioso. Mais lágrimas ameaçaram se derramaram e ela teve que contê-las.
— Por que está com raiva?
O olhar dele encontrou o seu.
— Ninguém devia tocar em você do jeito que eles tocaram. Está cheia de hematomas. Estou furioso. Qualquer um que deixar marcas na sua beleza me deixa fulo. Não estou com raiva de você. Só furioso por não ter te protegido melhor.
Ela entendia. Slade lavou seus braços e ombros, mas suas mãos hesitaram em seus seios. Então ele rapidamente e com muita eficácia os lavou. Seu corpo respondeu à água e ao ar e seus mamilos endureceram. Slade grunhiu e se ajoelhou na sua frente.
— Não me olhe assim. — Suspirou audivelmente. — Por favor.
— Assim, como?
Seu olhar estreitou quando levantou os olhos para ela.
— Você não tem ideia do quanto eu a desejo, Doutora. Está machucada e foi quase abusada sexualmente. Eu tentei fazê-la pensar em outra coisa quando perguntei se teria sorte mais tarde. Seu rosto é muito expressivo. Eu gosto de poder saber o que está pensando na maior parte do tempo, mas no momento estou tentando não fazer isso. Não me olhe quando eu a toco. Fico honrado que confie em mim o bastante para querer o meu toque depois do ataque. Significa muito saber que enfrentaria o seu medo por mim. — Ele respirou fundo. — Precisamos nos vestir e sair daqui. Quero você também, mas essa não é a hora.
Trisha corou ao saber o quanto seus pensamentos eram transparentes para ele. Realmente o desejava. Seu toque a faria esquecer o que quase tinha sido feito com ela. Ansiava para envolvê-lo nos braços e ficar o mais humanamente possível perto dele.
Ele lavou sua parte da frente, suas coxas até os pés, e se levantou. Seu olhar encontrou o dele e sabia que naquele momento precisava se sentir viva, tinha chegado perto da morte, e não iria se negar ao único homem que lhe fazia sentir.
Slade tentou esfriar seu corpo quente. Tocar Trisha sempre o deixava excitado, doído para possuí-la, mas agora não era o momento. Ela o olhou e de repente levantou os braço, depositando as mãos em seu peito. O ar congelou em seus pulmões.
— Me faça esquecer. Por favor? Eu quero você.
Ele teve que se forçar a respirar. Seu pênis respondeu instantaneamente, indo de semiereto a duro como pedra no espaço de alguns segundos. A sensação dos dedos dela deslizando até sua cintura fez com que contivesse um gemido. Apertou os punhos para se impedir de pular em cima dela, agarrar o seu corpo e tomar o que lhe oferecia.
Ela está traumatizada. Nunca vai e perdoar se eu tirar vantagem agora. Tentou ser lógico. Ela tinha acabado de passar por um trauma, quase tinha sido estuprada, e enquanto conseguia entender sua necessidade em se distrair, as repercussões daquilo poderiam arruinar qualquer futuro que pudesse ter com ela se mais tarde se arrependesse.
— Por favor, Slade? — Sua voz ficou baixa e rouca. — Eu sei o que eu quero e é você.
Ele apertou as mãos, agarrou sua cintura com gentileza, e amou a sensação macia de sua pele nua. Ao invés de olhar para o seu corpo tentador, manteve o olhar preso ao dela.
— Eu quero você, sempre, mas não tenho certeza se isso é a coisa mais aconselhável a fazer agora. Devia se acalmar primeiro.
Um sorriso curvando os lábios dela atraiu sua atenção para sua boca. Queria tanto beijá-la que de fato baixou o rosto, mas parou a centímetros de sua boca. Engoliu em seco e forçou o olhar a voltar ao dela.
— Eu sou uma médica que trabalhou na emergência por anos. Sei tudo sobre surtos de adrenalina e minha vida já foi colocada em risco antes. Eu enfrentei membros de gangue, idiotas malucos armados, e uma vez uma velha senhora com uma faca automática que não queria mesmo levar pontos. Eu quero viver o agora e quero fazer isso com você. Sobrevivi e agora quero celebrar isso. Não posso pensar em nada melhor do que tirar essa sua calça.
Para mim isso basta, pensou, sabendo que devia questionar mais, porém Trisha estava na sua frente, nua, e lhe oferecendo algo que ele queria desesperadamente. Sua boca desceu e tomou posse da dela. Abriu-se para ele, os lábios macios, e ele grunhiu quando suas línguas se encontraram. Ela era totalmente viciante e sua.
A sensação dela rasgando sua camisa, tirando-a da cintura da calça, e indo até o zíper dissipou qualquer hesitação que tinha. Ela precisava dele e lhe daria o que quer que procurava. Enxugaria suas lágrimas, abraçar-lhe-ia, ou usaria seu corpo para confortá-la. Nada poderia ser errado entre eles.
Suas mãos deslizaram no quadril dela, uma delas se enterrando entre as coxas para procurar o seu clitóris e massageá-lo. Trisha abriu sua calça desesperadamente, libertou seu pau, e fechou a mão no membro rijo. Teve que cair de joelhos na sua frente quando ela o acariciou com sua mão macia e tenra.
A dele não foi tão delicada quando localizou furiosamente o ponto que sabia que a deixaria queimando por ele.
Trisha gemia em sua língua agora, a mão em seu pênis apertando, e ele agarrou suas nádegas enquanto notava o quanto sua mão tinha se molhado do desejo dela, pelo jeito em que manipulava o feixe de nervos. Sorveu o aroma da excitação crescente dela, outro rosnado se prendendo no fundo da garganta, e a trouxe para mais perto do corpo.
Queria levantá-la, exigir que passasse as pernas em volta de sua cintura e empalá-la com seu pau. A imagem disso só o deixou mais insano. Não duraria muito, estava excitado demais, e sabia que teria que fazê-la gozar primeiro. Ajustou os dedos e dois deles brincaram com a fenda na entrada de sua vagina. Ela se retorceu contra ele, balançando o corpo, e a mão em seu peito levantou-se desesperadamente para agarrar seu ombro.
Trisha afastou a boca da sua, jogou o rosto em seu peito e gemeu. Colocou os dois dígitos dentro dela. A sensação incrivelmente macia e sedosa do canal dela apertando seus dedos com força quase desfez seu controle. Queria fodê-la rápido, com força e metendo-se bem fundo, e gozar tanto que sabia que seu cérebro explodiria. A sexy doutora conseguia fazer aquilo com ele.
Ela levantou o quadril, ajudou-o a introduzir os dedos mais a fundo, e ele teve inveja dos seus dedos malditos. Acariciou-a por dentro, pressionou o polegar em seu clitóris, e começou a esfregar em um ritmo certo e curto. Trisha gemendo seu nome o incitou. Ela quase não tinha fôlego para dizer que já estava no limite. Tirou a mão, caiu de joelhos na frente dela e sua boca voou a um mamilo.
O movimento tirou as mãos dela de seu pênis, que latejava dolorosamente, mas estava excitado demais. Não queria gozar em sua mão. Queria estar dentro dela, enterrado bem fundo, quando chegasse ao paraíso.
Trisha puxou seu cabelo, as unhas enterrando em seu escalpo quando o apertou mais perto do peito. Suas mãos agarraram seu traseiro e a colaram em seu corpo, exigindo que sentasse em seu colo. Ela obedeceu facilmente, deslizando por ele até ter alinhado suas coxas abertas em cima das suas. A coroa do seu pênis roçou a vagina dela, ensopada agora de necessidade, tão quente e pronta. Puxou-a mais para baixo, fazendo com que o tomasse enquanto a guiava para abriga-lo dentro de si.
Jogou a cabeça para trás, teve que soltar seu seio para evitar morder o mamilo, e rosnou quando os músculos de sua vagina apertaram com força em volta de seu membro. Porra, vou gozar. Pare. Ela é tão gostosa.
Os sons que fazia enquanto a enchia, dava-lhe seu pau inteiro, quase acabaram com ele. Sua bunda ficou tensa, respirou instavelmente, e começou a se mover, balançando o quadril. Um braço ficou em volta das costas dela para mantê-la contra o peito enquanto colocava a mão entre eles, localizava o broto inchado de seu clitóris, e furiosamente o tocava como a um piano de uma só tecla. Os músculos dela o apertaram e então ela gritou alto, conseguiu sentir seu orgasmo—um jorro quente de seu gozo banhando seu pênis e tremores na cabeça. Enterrou o rosto em seu pescoço quando puro êxtase fez o seu corpo estremecer. Suas bolas estavam bastante esticadas e o primeiro esguicho de sêmen explodindo nela quase o fez rugir. Apertou-a, abraçou-a com força, e experimentou do prazer dilacerador que o consumia.
Ela é tudo para mim. Seu abraço perdeu um pouco da força quando seu corpo começou a relaxar, o resultado de um sexo tão intenso começava a passar, e ele a abraçou com gentileza. Beijou sua pele, fungou do lado do seu rosto, e sorriu. Tinha conseguido se conter até ter certeza de que gozasse primeiro.
— Uau — ofegou ela.
Grunhiu baixinho.
— Se sente viva, doçura?
— Ah sim.
Faria qualquer coisa para protegê-la, para ter outro momento como esse que tinham compartilhado — ela em seu colo, seus corpos ligados, e os braços em volta dela. Ela brincou com seu cabelo, os dedos passando pelas madeixas, e ele quis poder levá-la para uma cama. Podia passar horas explorando seu corpo e fazendo com que gozasse várias vezes.
Seu pênis começou a endurecer, a necessidade de possuí-la voltando, e se forçou a contê-la. Ela estava em perigo. Precisava tirá-la do acampamento, colocá-la em algum lugar seguro. Minha para proteger e eu matarei qualquer um bobo o bastante para tentar tirá-la de mim. Segurou seu rosto, notou um pouco de sangue onde a cortou com um dos dentes durante o sexo, e usou o polegar para dissipá-lo. O corte era mínimo. A visão do sangue em seu polegar fez com que tivesse vontade de provar até mesmo ele, mas resistiu à vontade.
Não queria quebrar a conexão que tinham, odiava ter que trazê-la de volta a situação infeliz em que se encontravam, mas o inimigo não podia encontrá-los numa posição tão vulnerável. Levantou a cabeça e seus olhares se encontraram.
— Temos que ir, Doutora.
O sorriso doce no rosto dela sumiu e odiou ser a causa.
— Certo.
Recusava-se a soltá-la naquele momento, apertando-a para mantê-la no lugar.
— Faremos isso depois, mais demorado, e vou beijar cada machucado que sofreu. Assim que voltarmos a Homeland vou recompensá-la.
— Não tem nada pelo que recompensar. Obrigada.
Ele urrou, raiva acendeu um pouco pela distância que viu nos olhos lindos dela como se estivesse tentando erguer uma barreira emocional entre eles.
— Vamos falar disso depois. Agora precisamos vesti-la e partir.
— Ok.
Trisha permitiu que separasse seus corpos, lamentando que aquele momento houvesse passado. Ele a ajudou a ficar de pé, vestiu a calça, e olhou ao redor da clareira. Seu cabelo estava bagunçado por causa dos seus dedos e ela escondeu um sorriso, mais do que um pouco divertida pela sua aparência.
Slade tinha lutado e depois ainda parecia quase perfeito, mas sexo selvagem em seu colo o deixou todo descomposto e desarrumado.
— Fique bem aqui.
Slade achou uma calça jeans e usou uma faca para cortar parte das pernas para que coubesse melhor em Trisha, mas a cintura continuou bem folgada. Ele usou cadarços de uns sapatos como cinto para deixá-las no lugar, acima do seu quadril. Também achou uma camiseta preta que dava duas dela, mas estava agradecida por ser tão folgada, uma vez que seu sutiã já era.
Slade vasculhou os suprimentos dos homens e arrumou suas coisas recém-adquiridas dentro de uma mochila que um deles havia trazido. Levou um saco de dormir, comida, e ficou com as armas deles. Também levaram água e outras bebidas leves. Bem rapidamente, Slade estava pronto para ir. Trisha o estudou.
— Não vou mais brincar com eles. — Slade tinha uma expressão determinada no rosto. — Você se feriu. Não vou mais ser o caçado, Doutora. Vou encontrar um lugar seguro para você se esconder e vou acabar com o resto desses bastardos.
Trisha simplesmente o estudou. Sabia que podia ser perigoso e tinha a habilidade de matar. Tinha visto em primeira mão quando a salvou de ser estuprada. Assentiu.
— Tudo bem.
O sol estava baixo no céu quando Slade voltou a cabeça para trás e olhou para Trisha. Tinha encontrado uma área de terra dentro da lateral da montanha. Uma enorme rocha que uma vez ocupou aquele espaço, mas o tempo e a gravidade fizeram com que rolasse morro abaixo, até a ravina. Tinha sido realmente difícil chegar até a área. Era tão íngreme que Trisha quase havia caído três vezes, e se não fosse por Slade, teria. Ele escalava atrás dela, com uma mão nela, e a apanhou toda vez que escorregou o pé.
— Está salva aqui. — Slade se agachou à sua frente e roçou com a mão sua bochecha machucada. — Ouvirá qualquer um que venha de baixo e é muito instável mais acima para que usem cordas para tentarem escalar até aqui.
— Ok.
— Quero que espere aqui onde o meu pessoal pode encontrá-la se eu não voltar. Pode levar alguns dias, mas alguns dos machos que mandaram foram treinados comigo antes de sermos libertos. Eles sabem como eu penso e vão perceber que tipo de esconderijo eu procuraria para colocá-la. Não atire neles quando chegarem, Doutora. — Ele lhe deu um sorriso forçado. — É falta de educação ferir ou matar alguém tentando te resgatar.
Trisha não retribuiu o sorriso, sabendo que ele tentava usar o humor para neutralizar o estresse, mas estava preocupada demais com ele.
— Volte para mim.
Seu sorriso sumiu.
— Não posso garantir isso, Doutora. Não faço promessas que não posso cumprir.
— Então fique aqui comigo, onde estamos seguros. Por favor? Podíamos simplesmente esperar bem aqui juntos.
Slade hesitou.
— Eu não achei que havia tantos deles nos caçando, Doutora. Aqueles homens que eu matei não são os mesmos que nos seguiram na estrada quando caímos. Eles obviamente têm times diferentes por aí procurando por nós. Sabe disso porque os ouviu. Isso a coloca em extremo perigo e só há um jeito de lidar com essa situação. Preciso caçar os caçadores e virar o jogo contra eles. — Ele pausou outra vez, olhando intensamente para ela.
— Mas...
— Eles não vão esperar isso de mim e eles precisam perder a vantagem da quantia de homens. Pode levar algum tempo para o meu pessoal nos alcançar e eu preciso nos ajudar a sobreviver. Esses imbecis vão se confundir quando se virem sob ataque. Alguns vão fugir quando pessoas começarem a morrer. Isso vai eliminar os covardes dos realmente perigosos. Esses são os que precisam morrer. É a única forma de protegê-la, Doutora.
— Mas esse é um ótimo esconderijo. Fique aqui comigo, Slade. Por favor. Eu imploro se tiver que implorar. Estou morrendo de medo que eles o machuquem, ou coisa pior. Você é só um homem e tem muitos deles por aí. Palavras suas.
Slade inclinou levemente a cabeça e apertou a boca em uma linha firme.
— Não sou só um homem, Doutora. Sou uma coisa bem pior com uma vantagem, quer eles saibam ou não.
Ele hesitou.
— É isso que eu sou. Eu sou um Nova Espécie e tenho algo que considero importante para proteger. Mas isso não é só sobre eu e você e não quero que se sinta culpada se algo acontecer comigo. Minha gente está vindo e não quero que caiam em nenhuma armadilha, o que é uma possibilidade. Preciso eliminar o máximo que puder desses imbecis. Sou um predador por baixo da minha humanidade. Posso tentar esconder, mas não há como fugir. Também sou um sobrevivente que teve que matar no passado para continuar respirando. Mercile me treinou para lutar e exibir os remédios que fabricavam é uma lição pela qual estou grato neste momento.
— Não tem que lutar com eles. Não está mais preso em uma cela e podemos nos esconder. Pelo o que eu entendo, você nunca foi treinado para ser colocado em uma zona de guerra real, o que faz esse seu treinamento não valer de nada. Eles só o ensinaram o suficiente para que mostrasse o que podia fazer, mas isso é real, Slade. Eu não quero que morra.
Ele respirou fundo.
— Sempre foi real. Nem todos da minha gente sobreviveram os testes cruéis deles nem os shows que nos forçavam a dar para demonstrar os resultados das drogas. Eu sou perigoso, mesmo que nunca tenha desejado ser. Quer aceite isso ou não, é a verdade. Eles nos treinaram bem demais e nos tornaram menos do que inteiramente humanos. Não era intenção deles nos libertar um dia, mas isso aconteceu. Eu sou um Nova Espécie. Você é uma médica, mas só porque não está dentro de um hospital não quer dizer que tenha deixado de ser. Ajudaria qualquer pessoa ferida se pudesse sem levar em conta se está no horário de trabalho ou não, não ajudaria?
Trisha odiava a sua lógica.
— Sim, mas não quero que vá. Fique comigo. As chances são que quando seu pessoal chegar esses idiotas se assustem e vão embora. Tenho certeza que nunca imaginaram que haveria uma busca por nós.
— Não me tente, Doutora. Me meter com você nesse buraco por um dia ou dois… — Ele piscou. — Eu ia gostar muito de passar o tempo evitando que ficássemos entediados.
— Fique comigo. — Esperança brotou dentro de Trisha. Ela só o queria a salvo, com ela.
— O risco é muito grande se eu ficar com você e não fizer nada. Tem muitos deles e eles podem se espalhar para procurar em vários lugares. Se formos encontrados eles podem nos cercar. — Ele olhou ao redor da caverna e de volta para ela. — Poderia ser atingida por uma bala se houver um tiroteio. Tem muitas rochas nessas paredes onde as balas poderiam ricochetear e atingir você. Não vou permitir que isso aconteça. Também não temos balas o suficiente. Também podem começar um fogo e nos matar queimados. É melhor se for atrás deles do que arriscar que nos encurralem aqui. Vou garantir que qualquer um que chegue perto de você deixe de respirar.
Ela mordeu o lábio, esquecendo o machucado, e fez uma careta ante a dor instantânea. Slade roçou o dedo em sua boca, fitando-a.
— Vai precisar ficar abaixada, nada de se levantar ou se mover muito. Esse seu cabelo loiro pode chamar atenção e não se mistura à montanha. Lembre de ficar fora do campo de visão. Vou deixar as armas do acampamento com você caso algum deles passem por mim ou me eliminem.
Essa pistola é tudo o que preciso. Só dispare quando estiverem perto o bastante para que não erre e quando não tiver escolha. O barulho vai ressoar longe e atrair mais deles nesta direção. Isso seria péssimo.
Trisha fitou seus olhos quando encontraram os seus. Fez o que mais queria fazer. Inclinou-se para frente, segurou o rosto de Slade e viu surpresa atravessar suas feições um segundo antes de roçar a boca na dele. Testou a suave textura dos seus lábios carnudos, ouviu o som que fez no fundo da garganta, e então tomou o controle do beijo.
Ele o aprofundou, a língua encontrando a sua. Ela ignorou a dor no seu lábio cortado, até mesmo o gosto do seu sangue misturado ao gosto de Slade, só desejando, necessitando se perder naquele beijo. Seus braços circularam o pescoço dele e ele a levantou quando passou os dele em volta da sua cintura, agarrando seu quadril para aproximá-la, pressionando-os peito a peito. Slade de repente grunhiu e tirou a boca da sua, respirando com dificuldade.
— Trisha — grunhiu ele. — Está dificultando as coisas para mim e se sentasse no meu colo saberia o quanto está tornando tudo duro. Tenho que ir agora. Por favor, não piore as coisas. Isso precisa ser feito e tenho que ir enquanto ainda há luz suficiente para poder seguir com rapidez. Minha visão noturna não é tão boa como a que tenho durante o dia.
Ela sabia que tinha perdido na discussão e que ele estava determinado a caçar aqueles homens. Ele planejava sair por aí a fora e arriscar a vida tentando salvar a dela. Lágrimas ameaçaram escorrer de seus olhos, mas ela piscou rapidamente para contê-las.
— Ok. Mas volta para mim, Slade.
Um sorriso de repente curvou seus lábios.
— O que vai me dar quanto eu voltar, Doutora?
— O que quiser.
Ele arqueou as sobrancelhas e seu sorriso aumentou.
— Qualquer coisa?
—Qualquer coisa — repetiu firmemente. — Só não acabe morrendo.
Slade assentiu.
— Fique abaixada, quieta, e com as armas à mão. Use-as somente se tiver que usá-las e evite que se aproximem o máximo que puder. Eu vou ouvir se tiver que atirar contra alguém e vou voltar. Não provoque mais os imbecis para que acabem te matando. Lembre-se apenas de sobreviver para que eu tenha algo o que salvar. Você me prometeu isso, doçura. Vou contar com a sua promessa.
— Eu lembro e prometo. Jure-me que não vai se arriscar demais. Sobreviva, Slade.
Slade assentiu outra vez, estudou-a intensamente como se tentasse memorizar seu rosto, e então se afastou, soltando-a completamente. Ele se forçou a deixar de olhá-la antes de recolher alguns itens depressa e enfiá-los nos bolsos. Olhou-a outra vez bem rápido e começou a descer do lugar onde se escondia. Tinha desaparecido em segundos.
Trisha teve que conter o apelo de implorar que voltasse, certa de que o que quer que dissesse, não o faria mudar de ideia.
Desenrolou o saco de dormir na terra dura e imperdoável para se ocupar. O chão de terra estava repleto de pequenas pedras e pedaços de barro. Mesmo no saco de dormir ainda podia sentir o chão desconfortável debaixo do grosso material quando se sentou para verificar os objetos que possuía.
Slade tinha conseguido dois pares de binóculos e tinha deixado um para trás, em sua mochila. Encontrou-os e destampou as lentes. Usou-os e não demorou muito para avistar Slade. Ele se movia incrivelmente rápido sem ela.
Ela virou a direção dos binóculos, vasculhando a área, mas não avistou mais ninguém. Podia ver bem longe com a ajuda das poderosas lentes. Voltou sua atenção para Slade, soube quando alcançou o fundo da ravina à sua esquerda. Ele se voltou e examinou a área onde ela se escondia e então começou a correr. Trisha manteve o foco nele.
A escuridão estava a vir rápido demais para o gosto de Trisha. Tinha perdido Slade no meio das árvores, mas às vezes o avistava no meio da densa folhagem. Ele ia depressa, não mostrava sinais de cansaço, e parecia se dirigir a um destino certo. Perguntou-se se havia farejado alguém com seu olfato incrível.
Voltou a se afundar no buraco escuro e teve que ir tateando até encontrar o zíper da mochila. Tinha visto Slade levar toda a carne seca, mas ele lhe deixou as barras de cereal que tinham achado. Comeu duas e tomou uma soda antes de rastejar de volta à abertura. Deu uma olhada na escuridão abaixo e então ofegou. À distância avistou uma luz fraca que vinha da mesma direção para onde Slade ia.
Trisha podia ver que tinha de ser um acampamento. Chamas apareciam por entre árvores maciças, não mais do que chamas distantes, até mesmo com o binóculo. Tinha um pressentimento desconfortável que era para lá que Slade se dirigia.
Sentou e arrastou o saco de dormir para a beira, onde se sentia confortável, grata por ter ao menos um lugar para tentar vislumbrar Slade. Ele estava em algum lugar lá fora e ela se preocupava.
Se Slade conseguia sentir o cheiro da fogueira deles e planejava atacar, era ali que isso aconteceria. O tempo pareceu demorar uma eternidade para passar, mas nenhum som distante de luta chegou aos seus ouvidos.
Ficou mais confortável deitada no estômago e apoiada nos cotovelos em cima do saco de dormir enquanto continuava a avistar pedaços de chamas.
Mais tempo se passou e ficou deitada na mesma posição. Bocejou e lembrou-se do quanto estava exausta. Adormeceu até que um único disparo de arma a acordou.
Trisha tentou sentar ao mesmo tempo em que apontava os binóculos desesperadamente na direção da fogueira. Passou segundos procurando na escuridão até encontrar a luz vacilante.
Sua atenção permaneceu nela até que sumisse, desaparecendo na escuridão. Tiros não foram mais disparados. Isso lhe deu esperança de que ele poderia ter sobrevivido ao ataque ao acampamento.
Lutou contra a vontade de derramar lágrimas por Slade estar lá fora sozinho. Ele poderia morrer se algum deles tivesse sorte com o tiro. Tirou o saco de dormir da beira do buraco e se aconchegou em posição fetal em cima dele. Precisava dormir e não teria chance de ver Slade até que o sol nascesse.
Slade ficou abaixado, observando os quarto homens no acampamento com ódio. Podia ouvir suas palavras e isso fez com que o seu sangue fervesse. O cheiro do cervo que tinham caçado e cozinhado se espalhava junto com a fogueira que permitiram que fosse se apagando naturalmente.
— Acha que o animal vai implorar pela vida quando o encontrarmos? — O com a jaqueta jeans perguntou ao de camisa preta.
— Espero que sim. — Ele riu. — Eu trouxe a minha câmera para filmar tudo. Precisamos mostrar as pessoas de bem que eles não são homens.
O da jaqueta bufou.
— Malditos animais de duas patas. Não basta termos que proteger nosso país deles, mas também temos que proteger nossas mulheres. Primeiro eles vão querer ter direito a voto, depois vão querer o casamento. Se as mulheres deles se parecerem com os homens eles vão correr atrás das nossas irmãs e filhas. É simplesmente doentio. Acho que eles ocultam a aparência de suas mulheres por alguma maldita razão. Provavelmente são cruzamentos de mulas e têm cara de jumentas.
Um dos homens riu.
— Feias que nem um cu.
— Eles nunca deviam ter sido libertos. Não saímos por aí soltando macacos cobaias de testes. De jeito nenhum. — O homem de camisa preta escorou as costas no tronco, colocando as botas próximo ao fogo. — Eles são perigosos e provavelmente mais pirados que internos de manicômio.
O loiro que ficava calado franziu o cenho de repente.
— Tortas de fruta por acaso levam nozes também? Eu não como essa porcaria. São muito feias para se comer. — Ele fez uma pausa. — Eles usam mesmo macaquinhos fofinhos para testar aquelas merdas que as mulheres usam na cara? Macacos são legais. Eu sempre quis ter um macaco de estimação quando era criança.
— Sei lá. — O cara de camisa preta deu de ombros. — É o que dizem. O que estou querendo dizer é que eles devem ser completamente doidos. Você não solta animais enjaulados nem deixa que corram por aí. É perigoso e é por isso que todos eles precisam ser eliminados. Com certeza não são fofinhos e eu não queria ter um de estimação. Provavelmente iria querer trepar com a minha mulher.
O loiro riu.
— Já vi sua mulher. Duvido.
O cara de camisa preta jogou a caneca no amigo, atingindo seu braço.
— Vá se foder, Mark.
— Deixem disso — o que estava sentado mais longe da fogueira suspirou. — Ainda não achamos nosso alvo e a cada hora que passa ele tem mais chances de escapar da área de algum jeito. As estradas estão fechadas pelas nossas equipes. Estão presos na área, mas aquela mulher que está com ele é algum tipo de médica. Isso significa que ela é esperta e provavelmente está pensando por ele. Eles podem ter achado um buraco para se esconderem. É isso o que eu faria. Precisamos cruzar muito chão amanhã assim que amanhecer, encontrá-los e matá-los. Não vim até aqui para falar merda nem ofender ninguém. Eu quero a recompensa.
— Eu não vou pendurar a cabeça dele na minha parede. — O loiro estremeceu. — Eles são sinistros e simplesmente feios. Claro que seria ótimo mostrar uma peça assim para uma visita. Eu podia me exibir dizendo que o cacei.
Slade já tinha ouvido demais. Não permitiria que aqueles homens deixassem o acampamento. Estavam perto demais de Trisha e procuravam por prováveis abrigos. Ele deu a volta no acampamento e esperou até que os homens se preparassem para dormir. O loiro se levantou, espreguiçou-se e se afastou do lugar para urinar.
Ele não ouviu Slade vindo por trás até estar com as mãos nele. O homem menor só ofegou quando uma palma tapou sua boca, ele saiu do chão, e a faca presa à sua coxa foi retirada e pressionada em sua garganta.
— Calado — ordenou Slade.
O loiro respirou agitado, mas não tentou gritar.
— Tem mais de vocês por perto?
O cara hesitou antes de assentir devagar.
— Mais que os outros três do seu acampamento?
O loiro assentiu outra vez. As notícias enfureceram Slade. Precisava encontrar os outros acampamentos, eliminar a ameaça a Trisha, e pegar os telefones deles. Com sorte um funcionaria. Podia ligar para Homeland e ajudá-los a localizarem Trisha mais rápido. Ela precisava sair daquela confusão arriscada depressa.
— Eu vou amarrar você e ir atrás dos seus amigos. Se não lutar, não vou te matar. Vou deixar você aqui até o meu pessoal chegar. Entendeu-me?
O loiro assentiu. Slade queria os humanos mortos, mas não estava em Homeland. Não tinha certeza se a lei estava ao seu favor. Autodefesa era uma coisa, mas o homem que tinha nas mãos não apresentava nenhuma ameaça atual. Odiava-os, mas não era um assassino de sangue frio apesar da opinião baixa que tinham dos Novas Espécies.
Ele relaxou o braço e o loiro agiu repentinamente. O cara tentou se soltar e virou a cabeça. Ele sorveu ar para soltar um grito, mas Slade foi mais rápido.
Quebrou o pescoço do homem. O som do osso partindo o deixou enjoado quando deixou que o corpo caísse ao chão. Virou para olhar o acampamento, mas avistou um movimento repentino. Outro humano vinha até ele. O cara não parecia vê-lo no escuro até o último segundo.
O choque do humano foi aparente quando ele desesperadamente agarrou a arma presa ao peito em um coldre. Slade jogou a lâmina em sua mão e se arremessou para agarrar o braço e a garganta do homem. O humano caiu sem lutar muito. Colocou o homem morrendo no chão, fitando os olhos do seu inimigo.
— Vamos matar você e aquela vadia da sua dona — chiou o homem antes de morrer.
Slade o soltou, sua raiva aumentava pelo cheiro de sangue e morte. Seus instintos o comandavam com força. Proteja Trisha. Aqueles homens não sentiam compaixão. Não mereciam receber o que não possuíam. Estavam caçando uma mulher indefesa e um Espécie em um esporte mortal movido a dinheiro. Rosnou baixinho, liberando seu lado humano e abraçando os instintos do predador que fazia parte dele e que surgiam tão naturalmente.
Mate-os, tenha certeza de que não representam ameaça a minha mulher, e não mostre misericórdia. Lembranças dos anos que passou preso surgiram em sua mente. Aqueles homens eram tão maus quanto os que mantiveram os Espécies prisioneiros. Não enxergavam sua gente como nada além do que animais raivosos. Um rosnado baixo rasgou de sua garganta quando tirou a faca do corpo e se levantou. O único jeito de impedi-los de chegarem até a médica era matar cada um deles. Podia fazer isso. Faria qualquer coisa por Trisha.
Seu olhar foi em direção ao acampamento enquanto se movia furtivamente. Os humanos morreriam, mas Trisha não. Garantiria isso não importa quantos tivesse que matar.
Estava claro do lado de fora quando Trisha acordou novamente. Aproximou-se da abertura deitada sobre o estômago, agarrando o binóculo para vasculhar a área. Teve cuidado em se mover devagar e tentou usar um padrão para não passar batido nenhuma seção. Não viu ninguém nem nada. Desistiu finalmente depois de uma hora e tentou descansar mais um pouco no saco de dormir.
Bebeu metade de uma soda, guardou o resto, e comeu mais uma barra de cereal.
Preocupava-se com a possibilidade de Slade não voltar, sabendo que poderia ter morrido. Ficou ali deitada, com os olhos fechados, a imagem dele assombrando seus pensamentos. Não tinha certeza de que tipo de relacionamento teriam se sobrevivessem. Eles ao menos tinham um no momento? Ele a tinha chamado de sua. Isso tem que significar alguma coisa, decidiu. Deu-lhe esperança que teriam um futuro esperando por eles se evitassem serem assassinados.
Um som a despertou de um sono leve pouco tempo depois. Trisha ficou quieta escutando até ouvir o ruído de novo. Sentou-se, o coração martelando no peito, percebendo que aquilo parecia com... não tinha certeza, mas o som era familiar por alguma razão. Outra vez o ruído soou. Merda. Parecia que pedras ou algo tão pesado quanto estivessem caindo. Ela se moveu e agarrou a pistola, já que era a menor das armas, mais fácil de empunhar do que os dois rifles que Slade tinha lhe deixado.
Rastejou até a abertura com a barriga no chão para espiar embaixo e recuou bruscamente quanto viu alguém se mexer abaixo de onde estava. Recuou mais, ainda de bruços, e pegou também um dos rifles. Lutou contra o medo e se aproximou da abertura. Aproximou-se da beira, deitando o rifle do lado para mantê-lo ao alcance. Ficou o mais abaixada possível para espiar pela extremidade outra vez até que os viu. Dois homens estavam a uns oito metros abaixo dela, escalando a lateral do morro onde se escondia. Abaixou a cabeça.
Os dois usavam roupas verdes camufladas e iam diretamente ao lugar onde se escondia. Esperava que não a tivessem visto, assumiu que não, já que não tinham falado. Eles chegariam na abertura muito em breve se não fizesse alguma coisa. Perguntou-se como a encontraram e se eram Novas Espécies. Eles normalmente usavam uniformes pretos, mas eles também os vestiam fora de Homeland? Não sabia.
Podia ficar ali sentada esperando que a encontrassem ou poderia afastá-los. Não sabia o que fazer. Desejou desesperadamente que Slade não a tivesse deixado porque ele saberia como lidar com a situação. Ao menos Slade poderia farejá-los e dizer se eram sua gente ou inimigos.
A indecisão a dividia ao meio. Disse um palavrão baixinho e então decidiu que tinha que impedir que subissem mais. Se alcançassem a abertura não tinha certeza se poderia atirar neles antes que atirassem nela já que estavam em vantagem. Slade lhe disse para que os afastasse com as armas e ele ouviria os disparos. Imaginava como aqueles homens tinham passado por ele, mas realmente não importava, porque tinham passado. Moveu-se rapidamente de novo e pegou a última arma. Queria todas as três disponíveis.
Rastejou e espiou pela beira novamente, mas não conseguiu ver os seus rostos. Segurou a pistola e esperou até um deles levantar o rosto. Ele parecia ter por volta dos vinte e cinco. Trisha se inclinou mais para apontar a arma para ele. Seu olhar arregalou em surpresa quando a viu.
— Já chega — disse ela. — Não se mexam ou eu atiro. Quem são vocês?
O homem ao lado do primeiro levantou o queixo e ela também pôde ver o seu rosto. Era um pouco mais velho do que o seu companheiro, no começo dos trinta, com barba, e uma expressão fria.
Trisha continuou olhando de um para o outro. Estavam pendurados em uma área escarpada abaixo dela, ela se lembrou vividamente como tinha sido difícil escalar, e os dois tinham que se segurar para não caírem. Seria uma queda dolorosa se eles se soltassem, se não mortal. Eles estavam a uns bons quinze ou vinte metros de altura.
— Somos Novas Espécies — o mais jovem declarou firmemente. — Viemos resgatá-la, Dra. Norbit.
Ela mordeu o lábio, estudando suas feições. Ele parecia cem por cento humano, mas o outro também. A maioria dos Novas Espécies tinham anomalias faciais distintas similares as de Slade, com seu nariz achatado e maçãs do rosto acentuadas. Justice North tinha as mesmas anomalias e olhos de gato. Todo homem Nova Espécie que tinha visto tinha cabelos compridos que caíam pelo menos até os ombros, mas aqueles homens tinham cortes bem baixos.
— Não acredito em você. — Medo a encheu, sabendo que estavam tentando enganá-la.
— É verdade. Justice North nos mandou. — Ele sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos.
Merda. Como poderia dizer com certeza? Odiaria atirar nos homens errados, mas de repente uma ideia lhe veio.
— Sente cheiro de quê?
Ele piscou.
— Está muito longe para que consiga sentir o cheiro — respondeu ele depois de alguns segundos. — Somos Espécies Primatas.
Aqueles eram raros, ela só havia visto um, mas tinha conseguido dizer o que era por causa das anormalidades faciais consistentes com a de um primata—um nariz achatado e pálpebras arredondadas. Isso aumentou sua suspeita de que mentiam para ela. Contudo, estava disposta a atirar neles, com cem por cento de certeza de que estavam mentindo? Ainda não. Odiaria estar enganada já que só havia visto um Espécie primata.
Eu sou uma médica, lembrou a si mesma. Eu devia ser inteligente. Pensou por um segundo e então sorriu.
— Qual é a senha de hoje? Novas Espécies sabem da senha da vez e eu quero que me diga. — blefou.
Ele ficou levemente pálido.
— É laço.
Ele é bom. Concederia isso. Não tinha perdido tempo em achar uma resposta para lhe dar. Ela sorriu.
— Resposta errada.
— Foi trocada depois que vocês saíram da estrada — disse o outro homem rapidamente. — É laço hoje. Justice mudou a senha porque ficou com medo que fosse comprometida se seu homem fosse obrigado a falar.
Talvez eles de fato usassem senhas. Esse pensamento a fez hesitar. Trabalhou em palpites, mas seria razoável se usassem senhas ou códigos secretos. Estavam aprendendo com os humanos desde que tinham sido libertos. Decidiu que não era prova o bastante já que havia uma possibilidade. Precisava ter mais provas antes que pudesse ter certeza que estavam lhe enrolando ou falando a verdade. Seria horrível se atirasse em um Nova Espécie verdadeiro. Slade poderia nunca mais perdoá-la e ela jamais se recuperaria da culpa.
Tinha jurado salvar a vida deles, não tirá-las, quando tinha aceitado o emprego em Homeland.
— Se vocês são quem dizem que são então saberão o nome do homem que Justice mandou para me levar até onde ele queria que eu fosse. Digam-me o nome do Nova Espécie, não do motorista humano.
O segundo homem falou.
— Seu nome é Slade.
Ela vacilou um segundo, mas depois lembrou que Slade tinha lhe dito que Justice provavelmente publicaria seus nomes para anunciar que estavam perdidos na tentativa de juntar pessoas para ajudar a encontra-los. O nome de Slade podia estar na mídia junto ao seu. Desistiu daquela linha de interrogação.
Apertou o dedo no gatilho.
— Qual era a senha de ontem, então? — Queria saber até onde eles levariam aquilo.
Os homens se olharam de maneira nervosa. O mais novo olhou para cima.
— Ontem foi o meu dia de folga. Não tenho certeza, mas a de hoje é laço. Vamos subir para pegá-la, Dra. Norbit. Temos uma equipe a mais ou menos uma milha daqui e vamos levá-la de volta a Homeland. Está sendo resgatada.
Se havia um sistema de códigos, o cara saberia, especialmente desde que supostamente era um membro de um grupo de resgate indo atrás de um Nova Espécie sem contato com seu povo. Já que ele não sabia, percebeu que seu blefe havia funcionado.
— Não existe senha, imbecil.
Ela viu os dois olharem um para o outro, a preocupação clara em ambos. Um deles moveu a mão e colocou-a em algo à sua cintura.
— Vou pegar a minha identificação — avisou alto. — Realmente usamos senhas em Homeland. Todos os seguranças usam.
— Então vocês são os seguranças dos Novas Espécies? E são Novas Espécies? Segurança é o título do seu trabalho, então?
Os dois assentiram. Não podia acreditar como eles mentiam com tanta facilidade. Paul lhe disse que Novas Espécies nunca se chamavam de seguranças, ao invés disso, eles preferiam o título de oficiais. Odiavam o outro termo. Ela o observou enquanto removia algo de trás da calça. Imaginou se iria tirar a carteira e tentar enganá-la mostrando a carteira de motorista. Ao invés disso ele tirou uma arma.
Trisha entrou em pânico ao vê-la, colocou a pistola na direção dele e disparou.
Duas armas ensurdeceram seus ouvidos desprotegidos antes dele revidar. A bala dele atingiu a terra acima dela, fazendo com que chovesse em suas costas. A terceira bala que disparou, atingiu-o.
Ele gritou quando perdeu o prumo e caiu morro abaixo. Ela virou a arma para o outro homem que lutava para tirar algo do cinto, com uma mão só, enquanto tentava não tirar a outra da pedra em que se agarrava. Ela viu um metal preto quando sua mão reapareceu. Arma!
Trisha disparou e o acertou com um tiro só, melhorando a mira. Viu uma parte do seu rosto onde sua bochecha jorrava sangue e ele gritou.
Ele soltou a mão e caiu para trás. Ela ouviu um barulho horrível de queda quando ele chegou ao chão.
Trisha saiu mais da abertura para ver os dois homens caídos lá embaixo. Um deles tinha caído de lado e não se movia, cheio de líquido vermelho se espalhando no solo ao seu redor. O outro homem, o primeiro a cair, estava com o rosto para cima. Ele mexeu um braço e ela o ouviu gemer mesmo de onde estava. Sangue cobria o seu rosto e a área do ombro.
Ela o observou enquanto ficou lá deitado, movendo a perna, e então o viu pegar algo dentro do bolso. Quando ele tirou um walkie-talkie ela percebeu que ele iria revelar sua localização. Mais daqueles idiotas viriam se ainda não tivessem ouvido os disparos. Tinha que impedi-lo, sabendo que não conseguiria conter mais deles se todos aparecessem por lá. Rastejou mais até seu corpo ficar parcialmente pendurado na extremidade. Encheu-se de medo ao ver o quanto estava longe do chão. Poderia mergulhar em sua própria morte se deslizasse de onde se encontrava instavelmente pendurada e seria incapaz de evitar a queda. Apontou a arma e apertou o gatilho, vendo-o se sacudir quando a bala passou pelo seu peito. O rádio em sua palma caiu no chão. Ele a olhava com os olhos esbugalhados, mas ela soube que havia morrido quando não piscou, não se mexeu, depois de passar um bom minuto.
Trisha lutou contra a vontade de vomitar enquanto observava os dois, determinou que estavam obviamente mortos e que ela que os matou. Ergueu e empurrou a parte superior do corpo de volta à pequena caverna, ainda segurando a pistola dolorosamente com os dedos. Olhou para a arma e a soltou quando lágrimas a cegaram. A realidade do que tinha feito a atingiu com força.
O choque que experimentou a deixou se sentindo gelada por dentro. Quando se tornou uma médica jurou salvar vidas, mas tinha acabado de tirar duas. Foi autodefesa! Sua mente lhe gritou. Autodefesa. Eu não tive escolha. Nenhuma.
Forçou-se a respirar fundo com o intuito de se acalmar e se lembrou de Bill. O que ele tinha ameaçado a fazer com ela e como bateu nela não eram coisas que um dia se esqueceria. Aqueles homens faziam parte do grupo de Bill e também teriam feito coisas horríveis com ela.
Lembrou-se de como três daqueles homens só a tinham mantido viva para que cuidasse de seu amigo ferido. Não tinha dúvidas de que os homens em quem tinha atirado a teriam matado da mesma forma que mataram Bart. Forçou-se a respirar fundo, com calma, e finalmente readquiriu algum controle sobre suas emoções abaladas. Queria chorar, mas as palavras de Slade de quando tinham ouvido os tiros depois de terem deixado Bart no local do acidente soaram em sua mente.
— Sobreviva primeiro, chore depois — sussurrou em voz alta.
Trisha queria tanto que Slade estivesse com ela que isso acabou se transformando em uma dor que dolorosamente não passaria. Estaria a salvo com ele. Sabia que a abraçaria e diria algo que faria com que se sentisse melhor, que a distrairia da angústia que sofria. Esperava que estivesse voltando para ela ao invés de indo atrás de mais daqueles homens.
Olhou para a pistola que tinha derrubado e controlou suas emoções. Slade ordenaria que sobrevivesse e ela tinha lhe prometido que faria qualquer coisa, que sofreria qualquer coisa, para continuar viva até que ele conseguisse resgatá-la. Ele não queria que sentisse pena de si mesma. Esperava que usasse a cabeça.
— Acalme-se e pense — murmurou Trisha em voz alta. — Maravilha. Vou ser uma dessas pessoas que falam sozinhas quando tudo isso acabar.
Engatinhou até a mochila para recarregar a arma. Havia uma caixa cheia de balas que Slade trouxe do acampamento. Pegou o binóculo para estudar a área íngreme, atrás de qualquer movimento. Ficou abaixada. Os dois rifles estavam ao seu lado e a pistola a poucos centímetros dela, junto com a caixa de balas, caso precisasse delas.
Um movimento captou sua atenção à direita. Não sabia a que distância, mas não estava muito longe. Viu três homens e então um quarto marchando por entre as árvores. Estavam vestidos em um verde de camuflagem, similar em estilo ao dos homens que tinha acabado de matar, e pior, estavam vindo justo em sua direção.
Três deles tinham armas enormes nos braços ou penduradas nos ombros. Um deles tinha coldres no quadril e no peito, onde mantinha as pistolas. Merda. Estavam altamente armados. Não ficariam felizes quando encontrassem seus amigos mortos.
Vasculhou a área, procurando por Slade, mas não o avistou. Dez minutos depois viu mais movimento. Olhou para duas figuras que avançavam e sua esperança nasceu.
Nenhum deles era Slade, porém. Um dos homens tinha o cabelo ruivo enquanto o outro um negro absoluto, mas estavam vestidos totalmente de preto e andavam depressa. Slade tinha lhe dito que o seu pessoal viria e ela rezou para que eles fossem Novas Espécies. Tinham que ser os homens de Slade ou ela estaria totalmente ferrada, sabia disso.
Trisha voltou os binóculos para a área onde os quatro homens estavam. Eles tinham feito um bom progresso, pois os encontrou bem mais perto de onde esteve.
Virou os binóculos outra vez para os homens rápidos em preto. Parecia que se dirigiam diretamente para os caçadores. Mordeu o lábio ao tentar estimar se os dois possíveis Novas Espécies alcançariam os homens antes que chegassem onde estava escondida. As chances eram boas.
Os quatro homens que vinham até ela definitivamente conseguiriam encontrá-la. Os dois corpos espalhados no chão abaixo eram uma boa indicação de onde se escondia. Soltou um palavrão baixinho e rezou para que os Novas Espécies a alcançassem primeiro.
Ficou deitada completamente no chão, e mudou a posição dos binóculos para ver o progresso dos dois grupos. Rezou para que os dois Novas Espécies—se eles fossem Novas Espécies—soubessem da presença do grupo de caça de quatro homens e para que captassem o cheiro deles. Fariam isso, a não ser que estivessem a favor do vento.
Realmente desejava que aquele pensamento não tivesse lhe passado pela cabeça. Se aqueles dois homens fossem Novas Espécies tentando salvar Slade e ela, a última coisa que queria era assisti-los serem surpreendidos por um time de caça. Não pareciam tão bem armados como os seus oponentes.
A tensão dentro de Trisha aumentou tanto que suas mãos doíam de apertar o binóculo enquanto os via se aproximarem. Não se moviam tão rápido quanto os dois que gradualmente foi tendo a certeza de que eram Novas Espécies. Agora conseguia ver seus cabelos na altura dos ombros e seus uniformes pareciam os mesmos, embora estivessem muito longe para que conseguisse avistar as letras ONE se estivessem impressas na altura do peito.
Os quatro caçadores tinham quase alcançado os homens mortos abaixo de Trisha e ela sabia que logo os perderia de vista. Não estava disposta a sair mais de onde estava para que pudesse enxergar lá em baixo. Eles conseguiriam vê-la facilmente. Também não queria que começassem a atirar nem queria revelar sua localização exata.
Os dois Novas Espécies diminuíram o passo, já não corriam mais. Caminharam devagar em direção aos caçadores, obviamente cientes da presença deles pelo que indicava o comportamento cauteloso. Trisha se encheu de alívio quando viu a dupla fazer sinais com as mãos antes de se separarem. Um deles veio por detrás dos caçadores enquanto o outro se dirigiu para atacar do lado.
Vozes começaram a chegar até Trisha até que soube sem olhar que estavam terrivelmente perto. Continuou a usar o binóculo, esperando que estivesse abaixada o bastante na caverna para se tornar um alvo menor e mais difícil de ver com o queixo colado ao saco de dormir. Os quatro caçadores estavam quase fora do alcance de suas lentes.
— Eu sei que aqueles tiros vieram dessa direção. — declarou firmemente um homem com um sotaque.
— Buck e Joe Billy disseram que iam escalar e dar uma olhada. — A voz mais grossa tinha o mesmo sotaque sulista. — Acham que eles mataram aquele animal de duas patas?
— Eu não sei. — uma voz nova sem sotaque respondeu. — Mas eles não respondem no rádio. Procurem direito, rapazes. Aqueles animais têm as mentes como as nossas e certamente não são fáceis de pegar que nem alces. Animais selvagens não falam nem carregam armas como a gente.
— Porra, James. — riu outro homem sem sotaque. — Alce? Qual é. Vamos comparar ao menos com coisas mais similares. Talvez sejam mais próximos dos macacos. Eles pensam e andam em pé, não é? Muito provavelmente, Joe Billy e Buck estão é nos fodendo. Lembram daquela vez no ano passado quando eles nos encurralaram só para ver se um de nós mijava na calça? Aposto vinte pratas que eles vão nos dar um susto a qualquer momento.
— Tem razão. — disse e riu um homem sem sotaque.
Trisha tirou o binóculo dos quatro homens e espreitou onde tinha visto os Novas Espécies pela última vez, mas não conseguiu encontrar nenhum dos dois. Continuou a procurar até finalmente avistar um, mas ficou chocada com o lugar em que o achou.
Ele pulou de um galho alto de uma árvore em direção a outro. O Nova Espécie de cabelo negro a impressionou pelo seu senso de equilíbrio e graça. Ele parou praticamente em cima dos quatro caçadores que nem sequer percebiam que os observava do alto.
O coração de Trisha acelerou enquanto mantinha o binóculo colado no Nova Espécie de cabelo preto quando ele pulou de novo nos galhos do topo da árvore diretamente acima dos caçadores em movimento. Ele agarrou o tronco e pareceu estudar os homens que estavam abaixo.
Tirou uma pistola do coldre amarrado em seu peito. Cada fibra de seu corpo lhe dizia que iria atacar. Ele de repente desceu para um galho mais baixo. Era a coisa mais graciosa que Trisha já tinha visto. Ele obviamente o fez muito silenciosamente, porque os homens de baixo nem olharam para cima. Ele parou em outro galho mais baixo, andando por ele como se fosse uma barra de ginástica e seguiu com os homens. De repente saltou da árvore e aterrissou com força nos dois caçadores debaixo dele.
Trisha ofegou, mas manteve os binóculos nos três homens ao chão. Viu movimento quando os outros dois caçadores se viraram para olhar o que havia acontecido detrás deles.
Viu um flash de negro e o ruivo apareceu do nada, abordando os dois homes por trás. Ele saltou, derrubando-os como se fosse um jogador de futebol americano. Estava perto o bastante para ouvir claramente os grunhidos de dor. Em segundos, os quatro caçadores jaziam imóveis no chão e os dois Novos Espécies se levantaram silenciosamente.
Trisha deu uma boa olhada nos dois e teve certeza que definitivamente eram homens de Slade. Tinham as anormalidades faciais distintas que a maioria dos Novas Espécies tinha.
O de cabelo preto tinha um nariz menor que o da maioria e suas feições eram reveladoras. De repente teve o pressentimento de que tinha de ser parte primata. O ruivo tinha olhos de gato parecidos com os de Justice North, indicando que tinha de ser felino.
Os dois homens retiraram algo dos bolsos da calça que pareciam amarras de plástico grossas e prenderam as mãos dos homens às costas.
Quando eles algemaram todos os quatro prisioneiros levantaram seus tornozelos e os amarraram com mais amarras brancas até que todos ficassem imobilizados. O Espécie de cabelo preto levantou o polegar para o seu companheiro ruivo.
Um deles riu e Trisha se mexeu. Seu corpo estava dormente por estar na mesma posição por muito tempo, mas ela foi capaz de se levantar com cuidado. Inclinou-se um pouco, olhando para os homens que estavam a uns vinte metros da área onde os dois corpos estavam.
— Oi. — gritou.
Eles não pularam nem pareceram surpresos quando levantaram a cabeça para olhá-la. Tentou entender aquilo. Eles já sabiam onde eu estava? Decidiu que provavelmente sim.
Um deles, o ruivo, acenou para ela.
— Vamos pegá-la depois que nos livrarmos dos corpos. Os que você matou. — Ele indicou com a cabeça os dois homens bem abaixo dela. — Dois deles, certo? Sinto dois cheiros diferentes.
Chocada, Trisha só o fitou de boca aberta. Não tinha como terem visto os corpos de onde estavam. Teriam que passar por mais umas árvores e uma rocha imensa. Finalmente assentiu. O Espécie de cabelo preto tirou o cabelo do rosto ao olhar para Trisha.
— Onde está Slade? Sentimos o cheiro dele, mas ele se perdeu como se ele tivesse ausente há horas. Por que ele a deixou, doutora Norbit?
— Ele disse que havia muitos deles. — Calou-se. — Queria diminuir essa vantagem. Parecia certo de que se começasse a caçá-los alguns deles iriam se assustar e partiriam, mas já deveria ter voltado a essa hora. Ele disse que se eu atirasse ele ouviria e voltaria correndo.
O ruivo assentiu.
— Esse é um ótimo plano. É por isso que encontramos dois acampamentos com cheiro de sangue, mas sem homens.
Dois acampamentos? Perguntou-se se tinham encontrado o em que foi mantida refém ou o que Slade tinha atacado na noite passada. Não queria saber realmente. Só estava preocupada com Slade. Ele prometeu voltar se precisasse de ajuda e tinha que ter ouvido os disparos, mas ainda não havia chegado. Dois dos seus homens tiveram que resgatá-la invés disso. Está ferido? Morto? Talvez ainda esteja vindo.
— Tem algum modo de dizer se Slade está perto? — Trisha silenciosamente esperava que houvesse.
O ruivo levantou a cabeça e farejou o ar. Ele sacudiu a cabeça.
— Não sinto o cheiro dele, e se ele vem, está muito longe. Vamos tirá-la daí quando acabarmos. Fique sentada e espere. Está a salvo agora, Dra. Norbit. Nosso pessoal vai mandar um helicóptero para levá-la daqui e vamos achar Slade se ele não voltar em um período de tempo razoável. Temos equipes espalhados por milhas procurando vocês dois. Iria atrás do cheiro dele, mas prefiro esperar até que esteja segura no helicóptero. Você é a nossa principal preocupação já que Slade pode tomar conta de si mesmo.
Trisha ficou sem palavras quando lhe disse que era a principal preocupação dos Novas Espécies. Trabalhava para eles, claro, mas Slade era um deles. Entretanto, ficou grata pelo homem lá embaixo ter tanta confiança nas habilidades de Slade para cuidar de si mesmo. Ele deve ser mesmo bom em sobreviver. Slade lhe disse que havia treinado a maioria daqueles homens e eles tinham que conhecê-lo muito bem.
O Espécie de cabelo negro tirou algo do bolso traseiro. As calças que usavam pareciam ter uma infinidade de bolsos. Trisha ficou de cócoras, mas observou o que ele fez. Parecia um tipo de celular enorme e ele falava por ele. Viu seus lábios se mexerem, mas não ouviu suas palavras. Rapidamente percebeu que falava em um telefone via satélite. Tinha visto alguns deles uma ou duas vezes. Ele desligou e recolocou o telefone no bolso.
Trisha saiu da beirada, não querendo vê-los removerem os corpos lá de baixo. Imaginou o que fariam com eles, mas não perguntou. Sentou no saco de dormir e se abraçou, esperando.
— Cadê você, Slade?
O silêncio apertava o seu coração por não saber se ele estava bem ou se nunca mais voltaria para ela. Tinham algumas coisas para discutir se ambos saíssem dessa vivos. O que tinha acontecido entre eles significava alguma coisa ou foram só uns daqueles momentos induzidos pelas situações traumáticas? Soltou um palavrão. E se ele só tivesse dormido com ela e a tratado daquela forma por causa da situação em que estavam? Tentou afastar aqueles pensamentos. Eram dolorosos demais.
Slade farejou o ar, conseguiu sentir o cheiro dos de seu tipo, e uma raiva suprema o envolveu. Eles tinham impedido que matasse todos os humanos que queriam lhe fazer mal. Os sons distantes de tiros tinham vindo da direção de Trisha. Seu coração acelerou enquanto saltou um tronco caído, usou-o como alavanca e saltou sobre uma pequena ravina. Aterrissou com força, agachado, e se levantou.
— Calma — disse um macho. — Pare de correr.
Slade rosnou, levantou a cabeça, e avistou um rosto familiar de onde estava, no galho de uma árvore a uns vinte metros do chão.
— Ela corre perigo.
— Não, não corre. Smiley e Flame estão com ela. Eles viram o seu esconderijo e interceptaram os homens na vizinhança. Ela está muito bem cuidada. — O cara pulou, caiu em uma pilha de folhas mortas, e se endireitou. — Não pode ser visto pelos humanos no momento.
— Preciso ir até ela, Ascension.
— Ela está segura. Estamos com ela, meu amigo. — O olhar do outro macho percorreu o corpo de Slade antes de encontrar os seus olhos. — Está ensopado de sangue e entranhas. Vai mata-la de medo se aparecer assim. É uma visão bem terrível até mesmo para mim. Quantos matou?
— Muitos. — O corpo de Slade começou a relaxar. Trisha estaria segura se Flame e Smiley estivessem perto. Os dois eram muito bons. — Ela está a salvo? Tem certeza?
— Achou um local seguro para que ficasse. Nenhum humano a alcançaria antes de nós. Ela está a salvo. Calma. Posso me aproximar? Está ferido e selvagem no momento. Tem aquela expressão engaiolada que conhecemos bem.
Slade se agachou, respirou com dificuldade, e tentou recuperar o fôlego.
— Não vou atacar.
— Fico feliz em ouvir isso. Não tinha certeza de como estava ou se tinha realmente perdido a cabeça. — Ascension se aproximou, lentamente, e se agachou na frente dele até que poucos centímetros os separavam.
— Estou bem. — Slade olhou nos olhos do outro homem.
— Ótimo. Sabíamos que sobreviveria, mas não tínhamos certeza de como ficaria o seu estado mental se tivesse que matar. Encontramos algumas das zonas de matança. Por que simplesmente não ficou com a médica?
— Eles estavam chegando mais perto da gente, eram muitos, e um grupo a encontrou na primeira vez que a deixei sozinha. Ela não tem habilidades de sobrevivência e permitiu que a pegassem desprevenida. Tive que virar a mesa para garantir que mais nenhum pudesse lhe fazer mal.
Ascension o observou calado, com o cenho franzido.
— Eu sinto o cheiro dela em você. É difícil de detectar por causa do cheiro de sangue e morte, mas está presente.
Um rugido baixo saiu de Slade.
— E?
Ascension estendeu a mão e agarrou seu ombro.
— Ela é humana, frágil, e uma médica. Eles fazem juramentos para salvarem vidas. Não quero vê-lo magoado.
— Preciso ir até ela. — Slade tentou se erguer, mas a mão firme do outro macho o apertou mais.
— Me escute.
— O que foi?
— Está feral agora. Sua mente está mais calma do que temíamos, mas virou uma morte ambulante. Não tem um espelho. Suas feições e olhos estão com a aparência selvagem que eles ficam quando isso acontece. Ela não pode vê-lo desse jeito. Só a assustaria. Estou sob ordens de encontrá-lo e levá-lo de volta a Homeland. Permita que o leve para lá.
Slade urrou.
— Não. Eu não terminei aqui. Há mais deles.
— As ordens são...
— Eles a atacaram, um deles bateu nela e tentou estuprá-la. Ela poderia ter morrido quando tiraram o carro da estrada. Eles declararam guerra contra nós e eu quero terminar essa guerra. Qualquer um que escapar pode atacar de novo no futuro.
A mão o soltou.
— Não posso levá-lo se não tiver o encontrado. Eu entendo, mas precisa ficar longe dela até ganhar outra vez a habilidade de suprimir sua fúria. Ao menos se lave antes de se juntar a nós. Há um rio a leste. Posso sentir o cheiro dela em você e eles também vão sentir. Podem temer que tenha forçado sua submissão sexual em sua condição atual. Eu não acredito nisso. Eu o conheço muito bem e já o vi observando-a quando estava a serviço. Deve ter esfregado o cheiro dela de propósito em si para ficar com ele.
Slade se lembrou de morder Trisha e esfregado seu sangue na nuca. Não tinha planejado fazer isso na hora, mas reconheceu que também não tinha corrigido o ato. Ter o seu cheiro o manteve são enquanto matava para protegê-la.
— Termine o que começou se acredita que eles serão uma ameaça contínua para sua fêmea. Eu nunca o vi e essa conversa nunca aconteceu. Apenas jure que vai esperar vinte e quatro horas antes de se aproximar dela depois que estiver pronto para voltar. Há três dúzias dos nossos na floresta. Estamos passando um pente fino atrás dos humanos. Trouxemos cinco primatas, então preste atenção nas árvores. Sabia que não esperaria isso, então esperei lá em cima até encontra-lo.
— Esperto.
Ascension sorriu.
— Conheço você, meu amigo. Estamos há muito tempo juntos desde que nos libertaram. — Toda emoção se derramava de suas feições. — E não esqueça de achar o rio. Eu faria isso agora e depois continuaria com a caçada. Lave-se depois que encontrá-los para que não esteja coberto de sangue quando aparecer.
— Não vou me esquecer. Jura que ela está segura?
— Tem a minha palavra.
Era o suficiente para Slade.
— Quero matar todos eles por colocarem a vida dela em risco.
— Isso me faz temer. Encontre a humanidade dentro de você. Eu direi que vasculhei essa área e não tive resultados. — Ele se levantou. —Vá e observe as árvores de agora em diante. Não sou o único que vai pensar em se esconder nelas.
Slade levantou e saiu disparado pela floresta densa, mantendo a atenção no alto como também nos arredores. Primatas ficavam nos topos das árvores, e não queria ser encontrado até que diminuísse o número dos humanos que tinha tentado fazer mal a sua Trisha.
Encheu-se de pesar ao pensar nas palavras de Ascension. Trisha era humana, era emocionalmente frágil, e como médica, poderia odiá-lo pelas vidas que tirou. Depois pensaria nisso, mas por enquanto, tinha ameaças que precisavam ser aniquiladas.
— Estou subindo, Dra. Norbit. — um dos homens gritou mais ou menos uma hora depois.
Trisha se levantou e caminhou até a extremidade da caverna. A primeira coisa que notou foi que os dois corpos tinham sumido e que não conseguia nem mesmo ver sangue no chão. Parecia que alguém tinha derramado areia em cima das áreas manchadas ocultando completamente as mortes.
Trisha observou o Espécie de cabelo negro escalar facilmente em sua direção sem dificuldade em avançar pelo caminho íngreme. Quase sentiu inveja de sua agilidade e velocidade conforme se aproximava. Slade teve que empurrá-la o tempo todo para que conseguisse subir. Ele subia com tanta facilidade como se caminhasse calmamente por uma superfície plana.
Tinha que ter mais de um metro e oitenta e tinha os ombros largos. De perto, Trisha teve certeza que o homem era parte primata. Ele era realmente lindinho com suas feições mais suaves que o normal. Novas Espécies eram geralmente atraentes e belos do tipo “cara-durão”. Porém, pôde ver que ele tinha a estrutura musculosa e firme dos Novas Espécies quando ficou a sua frente. Seus traços eram quase adoráveis com os seus lindos olhos redondos e da cor de amêndoas e suas feições primatas—era um lindo primata.
— Eu sou Smile. Olá, Dra, Norbit. — sussurrou ele baixinho quando se agachou na abertura, se equilibrando nos calcanhares. Era alto demais para ficar de pé dentro do buraco. Sorriu para ela. — O helicóptero deve chegar aqui muito em breve. Eles andaram bem ocupados hoje transportando todos os humanos que capturamos. Tentamos não matar nenhum deles, mas… — Ele encolheu os ombros. — Alguns eram burros demais para viver. Como a doutora está?
— Estou bem. Tem alguma notícia de Slade?
Ele sacudiu a cabeça devagar.
— Sinto muito, mas não. Ele é um dos nossos melhores e não há necessidade de se preocupar com ele. Ele pode tomar conta de si mesmo em uma situação extrema. — Seu olhar varreu Trisha de cima a baixo, mas não havia nada sexual no jeito que a examinava detalhadamente.
— Quem bateu em você?
— Eu fui capturada ontem de manhã, mas Slade me resgatou. Infelizmente, antes disso, isso aconteceu. — Apontou para sua bochecha que ainda latejava e para o seu lábio rachado e inchado. A imagem de Slade beijando-a atravessou sua mente em um flash, mas ela repeliu a lembrança.
— Estou bem. Alguns cortes, uns hematomas e uns músculos distendidos foram o pior disso, além do que o que vê no meu rosto.
— Slade permitiu que fosse capturada? — Ele parecia se divertir bastante quando riu. — Estou chocado.
— Ele não me deixou. Ele se afastou de mim quando saiu para procurar um lugar como esse buraco aqui para me esconder. — Franziu o cenho. — Slade salvou a minha pele de todas as formas que possa imaginar. Por favor, não fique rindo disso. Ele matou homens para me salvar.
O sorriso dele sumiu instantaneamente.
— Eu peço desculpas. Não tem nada engraçado nisso. Deixe-me ajudá-la a descer para esperarmos pelo helicóptero. Você vai ser levada a um hospital para fazer um check-up e depois levada de volta para casa. Justice insistiu para que preservássemos sua segurança e lhe conseguíssemos tratamento médico antes de voltarmos para Homeland. Ele está esperando por você lá.
Trisha olhou em volta da pequena área, mas não viu nada que devesse levar consigo. Sua atenção pousou nas armas.
— Devemos levar as armas? Eu odiaria que crianças escalassem isso aqui e as achassem. Estão todas carregadas.
— Vamos cuidar disso. — Ele se virou, quase batendo a cabeça no teto de terra. — Vou ajudá-la a descer. Precisa que a carregue nas costas? Eu sou um ótimo escalador e lhe prometo que não vai cair.
— Acho que consigo se me ajudar. Slade teve que me pegar algumas vezes. Temo que não tenho tanta coordenação quanto vocês.
Ele assentiu, sorrindo. Trisha tinha uma boa ideia do por que seu nome era Smiley3. Ele parecia sorrir fácil e frequentemente.
3 Famoso desenho de uma carinha amarela sorridente.
— É um dom que temos.
Trisha caminhou devagar até ele e estudou o solo abaixo quando alcançou a beira. Não era muito fã de altura e era uma queda boa. Smiley se moveu, escalou para fora primeiro, e olhou para ela.
— Vire-se e comece a descer. Vou estar bem embaixo de você. Eu a pego se cair. — Ele piscou. — Eu sou forte. Prometo que não a solto.
Estava com medo, mas se virou e tentou não olhar para baixo. Descer foi bem pior do que subir. Ela escorregou duas vezes, mas as mãos de Smiley a seguraram, aprumaram, e finalmente chegaram ao chão. Trisha teve vontade de beijar o chão, mas resistiu para evitar que os seus salvadores acreditassem que havia enlouquecido.
O ruivo olhou para ela e acenou. Ela viu suas narinas se dilatarem e ele franzir o cenho. Ele chegou mais perto dela, farejou de novo e fechou a cara.
— Eu sou Flame. O que aconteceu com você?
Trisha o fitou, incerta do que exatamente ele queria perguntar. Ele tinha mais ou menos um metro e noventa, bem mais alto que ela, e obviamente um Nova Espécie com os ombros super largos e o corpo musculoso. Parecia alguém que conseguia acabar com vários homens de uma vez. Era mais aterrorizador ver suas maçãs do rosto acentuadas e os dentes afiados que seus lábios mal continham.
— Eu fui capturada e me bateram. Também estava no carro que desceu a encosta da montanha e batemos em algumas árvores pelo caminho. Têm sido dias difíceis para meu corpo.
Flame farejou outra vez.
— Você tem o cheiro de Slade, mas eu também cheiro dois machos humanos. Tem cheiro de sangue, medo e sexo. — Ele pareceu ainda mais perigoso. — Foi estuprada pelos humanos?
Seu queixo caiu, mas depois Trisha fechou a boca.
— Slade me salvou.
Estava um pouco abalada. Sabia que o olfato deles era incrível, mas era totalmente sinistro que o homem pudesse captar tanta coisa assim só a cheirando. Deixava-a altamente desconfortável saber que eles tinham sentidos apurados a esse nível.
— Eu vou atrás dos dois homens e os matarei. — Flame piscou. — Prometo isso a você. Eles não vão viver pelo o que fizeram.
O coração de Trisha martelou.
— Eles estão mortos. Slade cuidou disso.
Flame virou a cabeça rápido, desviando o olhar.
— Ótimo. Vou dar uma de babá dos quatro palhaços que capturamos, Smiley. Não deixe que ela saia de vista.
— Pode deixar. — Smiley se virou para Trisha e examinou seu rosto. — Por que não se senta? O helicóptero vai chegar logo.
Trisha sentou. Já estava coberta por uma camada espessa de poeira e não ligava se ficasse com mais.
— Onde ele vai aterrissar?
Ele hesitou.
— Não vai. Só vai planar. Vamos amarrá-la e eles irão puxar. As árvores nessa área são muito densas para uma aterrissagem e não vamos nos arriscar tirando você daqui a pé. Vai ser moleza.
— Maravilha. — Trisha se encheu de medo. — Eu falei que tenho medo de altura?
Smiley sorriu.
— É um ótimo modo de enfrentar o seu medo.
Maravilha mesmo. Pouco tempo depois ela ouviu um helicóptero à distância e o som ficou mais alto conforme se aproximava. Smiley ficou calado enquanto a observava, algo que tinha feito todo o tempo em que passou sentada ali. Ele finalmente virou o rosto e fitou o céu.
— Chegaram. Vai ficar bem barulhento. Eles vão descer as cordas e eu vou te amarrar. Você vai subir e alguém lá vai prendê-la em um assento. Você vai voar até o hospital e dois dos nossos homens ficarão com você até que chegue em casa. Agora sabe o que esperar.
— Obrigada por tudo. Podia agradecer em meu nome a Flame também?
Ele assentiu.
— Por nada, e eu falo por nós dois. Estamos felizes que esteja viva.
— Pode dizer a Slade para entrar em contato comigo assim que for encontrado? Estou preocupada com ele e não vou deixar de ficar até saber que ele está a salvo.
— Posso fazer isso. — O olhar de Smiley voltou ao céu quando ele virou as costas a Trisha. — Aqui vamos nós. Tampe os ouvidos. Essas coisas são muito barulhentas. Eles me dão dor de cabeça, mas certas coisas não podem ser evitadas.
Trisha se levantou quando o helicóptero pairou acima dos topos das árvores a uma distância suficiente para evitar bater em algo. O vento levantava o que estava no chão e as folhas dançavam em volta dela até forçá-la a cobrir os olhos. Ela entendeu completamente quando Smiley disse um palavrão—um alto e bem feio. Não estava mesmo ansiosa pelos próximos minutos.
Alguém tocou o seu braço. Smiley a agarrou e a levou para onde a corda foi jogada. Ele a empurrou gentilmente e indicou que colocasse os pés nas aberturas. Ele levantou a corda até suas pernas e dois cintos foram colocados em seus ombros, um último se fechando na altura de sua cintura. Smiley piscou antes de se afastar. Trisha agarrou o equipamento de segurança com força quando Smiley deu um sinal para o helicóptero com a mão. As cordas apertaram quando ela subiu e tirou os pés do chão.
Ela fechou os olhos com força e tentou não entrar em pânico quando o vento a balançou. Não os abriu até que alguém agarrou sua cintura. Olhou para baixo e viu que Smiley tinha coberto o rosto com o braço, sem olhar para cima. A pessoa segurando sua cintura a trouxe para dentro da aeronave até que não pudesse mais ver o chão.
Os dois homens na traseira do helicóptero eram Novas Espécies. Eram caninos e já tinha visto os dois em Homeland. Brass estava sério e ela não conseguia se lembrar do nome do outro. Eles a tiraram das amarras, fecharam a porta do helicóptero com força e a prenderam a um dos assentos. Brass lhe passou um par de protetor de ouvidos e apontou para os seus fones para mostrar como usá-los.
O barulho do helicóptero foi abafado. Ela acenou de forma agradecida para Brass, achando que aquele nome não combinava com ele. Ele tinha cabelo castanho, era enorme com os ombros largos, por volta de um metro e noventa, e tinha olhos bem escuros. O outro homem era um moreno de olhos escuros. Era quase um gêmeo de Brass. Brass sentou próximo a ela e o outro sentou no banco na frente deles.
O percurso não foi longo até o helicóptero pousar na pista de aterrissagem de um hospital. Uma equipe médica se apressou com uma maca e ela teve um flashback instantâneo da noite em que Slade tinha aterrissado em sua vida. Porém, estava muito melhor do que ele esteve na época.
Ela os deixou amarrá-la a uma maca sem protestar já que estava mais do que ciente dos procedimentos hospitalares. Sabia que médicos eram os piores pacientes, tendo tratado alguns, e tentou esquecer que era uma quando a equipe a apressou para dentro de uma sala de exames. Brass e o outro homem seguiram, permanecendo por perto.
O médico de plantão estava no final dos trinta, era atraente, e parecia, com seu bronzeado dourado, passar muito tempo em um campo de golfe. Ele sorriu para Trisha.
— Eu sou o Dr. Evan Tauras. Qual é o seu nome?
— Eu sou a Dra. Trisha Norbit. — Ela o viu estremecer e sorriu. — Juro que serei boazinha. Sofri um acidente rolando por uma encosta alguns dias atrás, sem cinto de segurança. É uma longa história. Eu sei que devia estar usando um e eu estava um minuto antes do acidente. Eu rolei dentro do carro, mas não fui arremessada. Então fui agredida ontem por um imbecil que me bateu no rosto algumas vezes. Não tenho dores nas costas nem no pescoço. Não aparento nenhum sinal de ferimentos internos. — Fez uma pausa. — Não tenho alergias e nenhum histórico médico tirando a remoção de amigdalas que fiz quando tinha dez anos. Não estou tomando medicamentos, não fumo, bebo nem uso drogas. Vou calar a boca agora e deixar que faça o seu trabalho.
O médico assentiu.
— Obrigado. Está tornando as coisas mais fáceis na verdade. Mostrou algum sintoma de concussão?
— Mais ou menos. Se eu tiver uma é mínima. Eu fiquei tonta depois do acidente e quando levei dois murros no rosto ontem. Mas nenhuma visão embaçada nem náusea.
— Eles pegaram o cara que fez isso com o seu rosto? — O médico examinou sua cabeça.
— Pode-se dizer que sim. Ele está morto.
O médico a estudou por um momento e assentiu.
— Você é a mulher dos jornais. Fico feliz que tenha sido encontrada.
Ele se mexeu e abriu a boca para Trisha. Ela abriu a sua imitando-o, sabendo o que queria que fizesse. Ele a examinou procurando ferimentos orais, então o seu rosto, apalpando a área machucada. Trisha estremeceu um pouco, mas ficou parada. O médico desceu mais enquanto ele e a enfermeira a examinavam visualmente. Ficou feliz por não a terem despido. Brass e o outro homem estavam dentro da sala de exame atentos a todo movimento feito já que a estavam protegendo.
O médico olhou de boca aberta para os Nova Espécies algumas vezes, parecendo levemente irritado e intimidado. Trisha entendia a razão e queria lhe assegurar que tudo estava bem.
— Atentaram contra a minha vida e eles precisam ficar aqui. Peço desculpas se lhe incomoda ter uma plateia.
O Dr. Evan Tauras assentiu.
— Sem problemas. É que eles são muito grandes. — A voz dele virou um sussurro. — Nunca os vi pessoalmente, mas eles parecem menores na televisão. São muito fortes.
Trisha sussurrou de volta.
— É. Eu sei. Eles também têm uma audição excepcional. Sussurre um “oi” pra eles.
O médico virou a cabeça para encarar os dois homens. Brass piscou para ele e estirou os músculos. O outro Nova Espécie tinha a cara fechada, mas acenou. Trisha teve que lutar para não rir quando o rosto do médico corou levemente antes dele voltar a atenção para a enfermeira e listar uma série de exames que queria que fizesse. Queria raios-x. Não achava que precisava, mas não protestou. Era a sala de exames dele, ele quem mandava, e não queria ser uma chata.
Duas horas depois eles a liberaram com uma prescrição de um anti-inflamatório para o joelho, alguns analgésicos para o rosto, e antibióticos porque tinha alguns cortes abertos.
Tinha considerado pedir por uma pílula do dia seguinte, mas não estava preocupada com o que aconteceu entre ela e Slade. Sem ajuda médica estava bem certa de que não poderia ter engravidado mesmo que não tivessem se protegido. Não tinha uma loja de conveniência por perto para comprar camisinhas e desde que Trisha não era sexualmente ativa não estava tomando pílula.
Brass e Hardley — esse era o nome do outro oficial ONE—a levaram até a farmácia do hospital para apanhar os remédios. O helicóptero os apanhou cinco minutos depois.
Ninguém tinha notícias de Slade. Trisha cochilou quando o analgésico fez efeito. Uma hora depois eles aterrissaram em Homeland e quando Brass a ergueu nos braços para carregá-la do helicóptero, ela acordou.
— Está a salvo. Relaxe.
Ela não pediu que a colocasse no chão. Ele parecia carregá-la sem esforço do jeito que Slade carregava. Eles eram muito fortes.
— Obrigada.
Justice North esperava em um jipe por perto. Ele deu uma olhada em Trisha e de fato fez uma careta. Brass se recusava a colocá-la no chão até deixá-la no assento do passageiro do jipe de Justice. Ele e Harley entraram atrás e Justice dirigiu em direção à sua casa.
— Nem sei como começar a me desculpar por tudo o que aconteceu, Trisha. Isso foi puramente um ataque contra os Novas Espécies e você foi envolvida por associação.
— Não é culpa sua. Você não é os idiotas que nos tiraram da estrada nem que decidiram que seria divertido nos caçar como se fôssemos cervos. Obrigada pelo helicóptero e por mandar Brass e Harley tomarem conta tão bem de mim. Tem alguma notícia de Slade?
Justice sacudiu a cabeça.
— Nossas equipes ainda estão por lá e cercaram mais oito daqueles imbe... homens que estavam lá atrás de vocês. Vamos entregá-los para as autoridades locais assim que os encontrarmos. Ficamos muito empolgados quando conseguimos a autorização para mandar nossas próprias equipes vasculhar a área.
Brass bufou.
— Eles ficaram bem felizes em nos mandar para lá ao invés de irem eles mesmos.
Justice assentiu.
— Foi assim. Éramos mais equipados para fazer buscas na área de floresta do que eles e com uma força efetiva bem menor.
— Eles não queriam aqueles fanáticos malucos atirando no traseiro deles. — disparou Harley.
— Eles nos deram jurisdição para entrar e limpar a bagunça. Não vamos ganhar nenhum crédito por isso, eles que vão levar, mas a força policial local não correu perigo.
Justice olhou para Trisha e franziu bastante quando aspirou o ar. Não disse uma palavra, mas Trisha notou quando ele aspirou de novo. Ele de repente pareceu muito bravo quando estacionou o jipe na entrada da sua casa. Ela viu um guarda de pé em seu portão, mas ele não era Nova Espécie.
— Fique aí — Justice lhe ordenou. — Eu o mandei na nossa frente porque sabia que você perdeu as chaves no acidente. Recuperamos suas chaves e bolsa. Vamos mandar o que pôde ser salvo para a sua casa. Suas roupas que não foram rasgadas ou estragadas foram lavadas. O que não pôde ser salvo será substituído às nossas expensas. — Justice rodeou o jipe e ergueu uma Trisha surpreendida nos braços, caminhando até a porta da frente. — Me relataram todos os ferimentos que você sofreu. O médico disse para descansar por pelo menos dois dias.
O guarda da segurança assentiu para Trisha enquanto abria a porta. Justice entrou na casa e gentilmente a colocou no sofá. Ele hesitou e se virou para estudar Brass e Harley. O guarda também tinha entrado na casa.
— Vocês poderiam nos dar um minuto? Eu gostaria de falar a sós com Trisha. Ela já passou por coisas demais para ter que lidar com outro trauma de ter que me dizer o que aconteceu com um monte de machos de plateia.
Os três homens saíram silenciosamente e a porta foi firmemente fechada. Justice foi para o sofá de dois lugares onde se sentou. Ele parecia tenso. Seus olhos de gato encontraram os de Trisha.
— Eu sinto cheiro de medo, terra, sangue e sexo em você. Não houve menção no relatório médico de um ataque sexual. Algum daqueles fanáticos abusou de você? Disseram-me que os machucados do seu rosto foram consequências de um daqueles imbe... — Ele limpou a garganta. — Fanáticos.
— Pode chamá-los de imbecis. Eu chamo. — Ela encontrou o olhar de Justice sem desviar o seu. — Eu não fui estuprada, mas foi por pouco. Não quero falar dos detalhes específicos, mas Slade chegou a tempo. Ele parou o cara antes que realmente pudesse me machucar. — Pausou. — Ele teve que matá-lo.
— Você transou com alguém antes de deixar Holemand? Não sabia que estava saindo com alguém.
Trisha franziu o cenho.
— A minha vida sexual não é da sua conta, Sr. North.
— Eu não quis ofender. Estou abordando o assunto de forma errada. Perdoe o meu pobre modo de me expressar, mas eu estou tentando descobrir se está mentindo sobre o estupro. Você trabalha e não sai de Homeland. Estou ciente de todos que entram e saem desses muros. Você fez sexo com alguém porque estou sentindo o cheiro. Claro que sinto o cheiro de Slade e de outros dois homens humanos. Você também tem o cheiro de Brass e o meu, mas ele está fraco porque só a carregamos nos braços. Eu sei que Smiley a tocou para ajudá-la a descer da montanha.
— Como diferencia entre humanos e Novas Espécies tão bem?
Ele a observou com cautela.
— Novas Espécies… É difícil de explicar. Simplesmente consigo saber a diferença. Um cheiro de macho é familiar. Eu só quero saber a verdade se você foi abusada sexualmente.
— Não fui. O cheiro familiar que pode estar sentindo é provavelmente do motorista do utilitário, Bart. Eu não sei o sobrenome. Ele foi ferido na queda e eu o toquei bastante para verificar seus ferimentos. Ele está morto, não é? Slade e eu ouvimos os tiros depois dele se recusar a deixar a cena do acidente. Ele achou que aqueles homens não o machucariam porque ele era humano. Tentamos dizer que eles iam matá-lo, mas ele se recusou a nos ouvir. Não tivemos escolha a não ser deixá-lo para trás.
— Ele está morto. — Assentiu Justice. — Ele foi baleado na virilha, barriga, e cabeça depois de ser amarrado e torturado. Assumimos que tentaram retirar informações dele sobre para onde você e Slade tinham ido. Seu corpo foi localizado próximo ao carro destruído. O legista declarou que ele morreu pouco tempo depois do acidente.
Trisha tinha suspeitado que Bart morreria, teve certeza disso quando ouvira os disparos, mas ouvir as palavras do que fizeram com ele a destruiu por dentro. O rosto dele apareceu em sua lembrança, o quanto estava com medo, e ele era só um garoto. Um com uma mãe que se preocupava com ele a ponto de querer que fosse a um veterinário tomar vacinas contra doenças de animais.
— Jesus — ofegou Trisha. — Na virilha?
Justice hesitou.
— O que fizeram foi terrível e cruel. Uma coisa é matar um homem a sangue frio, mas outra é castrá-lo antes da morte.
Seu estômago revirou um pouco.
— Castrar?
— Eles usaram uma arma de cano duplo à queima roupa. O legista nos disse que eles devem ter colado na virilha dele na posição certa antes de apertar o gatilho. Aqueles bastardos são os animais e ainda assim têm problemas conosco. Espécies nunca seriam tão desumanos assim.
Trisha ficou de pé de forma vacilante.
— Preciso de um banho. Sei que você tem perguntas, mas eu estou cansada, morrendo de fome e suja. — Ela mordeu o lábio e estremeceu de dor, esquecendo-se de como estava dolorido. Encontrou os olhos de Justice quando se levantou. — Provavelmente vou chorar também. Eu não fui estuprada, eu juro. Slade impediu meu agressor antes que ele conseguisse. Estou grata que se importe com o meu bem estar, mas a minha vida sexual é algo pessoal. Entretanto, eu tenho um favor para pedir.
— Qualquer coisa.
— Quando ouvir sobre Slade, não me importa que horas sejam, por favor, mande alguém me ligar para me dizer. Ele salvou a minha vida lá varias vezes. Não acho que vou descansar bem até saber o que aconteceu com ele.
— Vou pedir para Brass ficar aqui. Vou mandar que lhe tragam comida, ela estará aqui te aguardando assim que sair do chuveiro. Juro que quando souber de algo, ligo para Brass e peço para que lhe passe a informação. Vamos falar sobre o que aconteceu amanhã.
— Brass vai ficar aqui?
Justice assentiu.
— Sim. É só uma precaução. Parece que alguns dos imbecis morreram. Alguns deles estão bem fulos que eles tenham morrido ao invés de matado. Você terá proteção vinte e quatro horas até sentirmos que não há mais ameaça. Você já está familiarizada com Brass e já sofreu traumas demais. Ele vai ficar com o primeiro turno. Quero-o dentro da sua casa. Ele pode ficar no sofá se for aceitável. Estará aqui para receber a comida e passará toda informação que eu conseguir para você.
— Mas estamos em Homeland e é seguro aqui. Aqueles otários não podem passar pelos portões e alcançar a minha casa. Tenho certeza que...
— Alguém os informou sobre os nossos movimentos. — Justice a cortou. — Eles sabiam a rota que tínhamos planejado para o seu carro, o que nos diz que têm informações daqui de dentro. Só os nossos times de segurança humanos sabiam para onde estávamos indo, de que horas, e como chegaríamos lá. Você terá oficiais Novas Espécies para protegê-la vinte e quatro horas por dia até nos certificarmos que está segura e isso não vai acontecer até que a pessoa responsável seja encontrada. — Ele respirou fundo. — Eu tenho que ir, mas a comida chegará logo. Coma e durma.
Ficou chocada que alguém trabalhando em Homeland tivesse traído os Novas Espécies, mas acreditava em Justice e em sua expressão fechada.
— Não precisa me mandar comida. Eu posso fazer um sanduíche.
— Não. Você precisa de uma boa comida quente e caseira. Eu vou mandar trazerem agora. Eles vão lhe trazer alguns pratos. Vejo você de manhã. Ligue-me quando acordar.
— Obrigada. Por favor, não se esqueça de me contatar sobre Slade.
— Eu juro que não esqueço. Assim que eu souber, você fica sabendo. — Ele deixou a porta da frente aberta e Trisha o ouviu falar baixo com os homens lá fora.
Ela caminhou devagar até o quarto e pegou uma calça grande de malha confortável e uma enorme camiseta. Foi até o banheiro. Deu uma olhada no espelho e sentiu vontade de explodir em lágrimas. Parecia com algo que um gato tinha arrastado pelo quintal antes de jogar fora e achar outra coisa para estraçalhar.
Tinha um hematoma da orelha até abaixo da mandíbula que percorria centímetros de seu rosto. Seu lábio estava altamente inchado do lado onde a pele havia se partido. Estava vermelho e rechonchudo.
Seu cabelo loiro comprido estava sujo e emaranhado de um jeito que não dava para consertar. Acima de tudo isso, a terra cobria sua pele em uma fina camada.
As roupas que usava estavam na mesma situação. Ela as tirou e estremeceu mais com os machucados nos pulsos, onde tinha sido presa à árvore. Tinha mais deles nas costas, quadril e omoplatas do capotamento do carro e avistou outro hematoma enorme na coxa advindo do acidente. Sabia que tinha uma aparência terrível.
Trisha foi para debaixo do jato d’água e ficou lá parada por muito tempo, até começar a lavar sua pele machucada bem cuidadosamente. Doía apesar dos remédios. As lágrimas começaram a cair com força até ela sentar no chão do banheiro e cobrir o rosto com as mãos. Sabia que sua vida tinha mudado para sempre. Dois homens estavam mortos e ela tinha tirado suas vidas. Como poderia voltar a ser a pessoa que um dia foi? Não via nenhum modo.
Uma batida leve na porta finalmente fez Trisha parar de chorar.
— Eu saio em um minuto.
— Precisa de ajuda? — Reconheceu a voz de Brass. — Está a salvo comigo, Dra. Norbit. — Ele pausou. — Estou entrando.
Merda. Ela tentou se levantar, mas seu corpo se recusou a obedecer. Tinha o boxe para esconder seu corpo, mas ele era de vidro fosco. Conseguiu ver o contorno de Brass dentro do banheiro quando ele veio em sua direção.
— Dra. Norbit?
— Eu sentei e agora estou meio que presa. — admitiu. Odiava ser tão fraca assim e estar com tanta dor. — Eu vou levantar eventualmente, quando estiver me sentindo melhor. Você podia me jogar uma toalha? — Ela fechou o chuveiro. — Por favor?
Uma toalha enorme caiu por cima do boxe. Trisha a pegou e usou para se cobrir o máximo possível. Dois segundos depois Brass a chocou quando abriu a porta do boxe.
— Não vou olhá-la como mulher. Permita-me ajudar, Dra. Norbit. Eu nunca a machucaria de forma alguma. — Ele se abaixou, estendendo as mãos para ela. Suas mãos agarraram com cuidado suas costelas e a levantaram com gentileza. — Vamos colocá-la na cama. A comida chegou e eu também vou lhe dar mais um analgésico.
Humilhava-a um pouco saber que precisava da ajuda. Não lutou quando o homem enorme a guiou para fora do chuveiro. Seu braço a mantinha de pé e ela precisava do apoio. Agarrou a toalha em volta da frente do corpo, mas não havia como evitar suas costas ficarem completamente nuas. Trisha sabia que seu rosto devia estar da cor de um flamingo. Brass de repente agarrou sua toalha e a tirou de suas mãos.
Trisha ficou de queixo caído. Sua atenção foi para o homem segurando a toalha. Ele manteve o olhar preso ao dela. Soltou o seu braço e abriu a toalha para passá-la em volta do seu corpo e prendê-la firmemente antes de segurá-la outra vez. Simplesmente a colocou em seus braços fortes e gentilmente a colocou em cima da bancada da pia. Brass se virou, pegou outra toalha e sem uma palavra começou a secar seu cabelo.
— Obrigada.
Brass assentiu.
— Você foi muito forte. Para alguém tão pequeno, tem meu inteiro respeito, Dra. Norbit. Foi muito durona, mas agora é hora de deixar outra pessoa tomar conta de você.
— Por favor, me chame de Trisha.
Ele lhe sorriu.
— Eu vou pegá-la de novo agora que o seu cabelo não vai ensopar a cama e colocar você nela. Eu vejo que tem pijamas, mas eu já sofri suficientes machucados para lhe prevenir que vai ficar melhor sem nada enquanto se cura. Pronto.
Ele jogou a toalha de seu cabelo na pia e a levantou nos braços.
Brass a carregou com gentileza para fora do banheiro até a cama onde alguém já havia tirado os cobertores. Brass a colocou no colchão e removeu os braços de sua volta. Estendeu as mãos e fechou os olhos.
— Vou levar a toalha molhada para o banheiro e pendurá-la enquanto se cobre.
Trisha passou a toalha e trouxe o cobertor para o peito. Viu Brass voltar ao banheiro onde ficou por alguns minutos, limpando-o. Então ele saiu, desligou a luz atrás de si, e lhe deu um aceno antes de desaparecer do quarto. Ele voltou imediatamente, empurrando um carrinho de comida com três andares de vários pratos cobertos. Trisha ficou de boca aberta.
— Não pode ser tudo pra mim.
Ele deu de ombros.
— Justice não sabia o que você queria comer então ele pediu que preparassem seis pratos. O Conselho tem um chefe de cozinha pessoal. Justice ligou pedindo comida quando soube que estava chegando. Também tem sobremesas. De novo, ele não sabia o que você comeria, então ele fez com que mandassem várias.
Brass removeu uma enorme bandeja. Ele a colocou em cima do colo de Trisha e sorriu.
— Eu vou abrir as bandejas para mostrar suas opções.
— Vai me ajudar a comer tudo isso, certo?
Brass riu.
— Estava esperando que perguntasse. Estou morrendo de fome.
O estômago de Trisha roncou alto. Ela corou quando Brass riu de novo. Ele obviamente tinha ouvido. Ele começou a tirar as tampas enquanto listava a comida que foi preparada. Não tocou nas sobremesas.
— Vou ficar com a costela bovina e com o filé. Tudo bem?
Ele sorriu.
— Tudo bem. Fico feliz que não queira as de porco. Eu as vi e me deu água na boca. Está com fome, não está?
— Morrendo.
Brass colocou os dois pratos na bandeja de servir. Ele deixou o quarto e voltou minutos depois com alguns refrigerantes. Trisha pegou um com sabor de cereja. Mantinha três sabores diferentes na geladeira. Brass hesitou.
— Eu vou comer na sala. Chame se precisar de alguma coisa. — Ele pegou o prato com as costelas de porco.
— Pode sentar ali. — Ela apontou para a cadeira ao lado da cama. O criado-mudo não tinha nada em cima, então ele teria uma mesa onde comer. — Eu ia ligar a televisão. Desculpa não ter uma na sala. Eu planejava comprar algumas coisas para a casa, mas ainda não fiz nada. Pode ficar aqui e assistir e eu ainda lhe dou o controle se prometer que não vai colocar em canais de história nem de esportes.
Ele riu.
— Você escolhe o canal. — Brass sentou e colocou o prato no criado-mudo.
Ele abriu uma das latas.
— Obrigado. O que está planejando mudar? É uma linda casa.
— Eu odeio essa cama e quero transformar o quarto extra em um escritório. — Ela apontou para o canto, onde tinha uma escrivaninha montada. — Não quero o escritório no quarto. Preciso relaxar aqui e toda vez que eu olho pra ela, só consigo pensar em trabalho.
Brass voltou o olhar para ela.
— Qual é o problema com a cama? Eu gosto de camas grandes de colunas e essa parece bem firme.
— É grande demais. Eu me sinto como se tivesse cinco anos de idade toda vez que tenho que subir nisso aqui, e eu realmente preciso subir, quase escalar. — Olhou para o chão. — Vê aquele banquinho. — Deu de ombros.
Brass deu uma olhada para baixo e começou a rir. Ele tentou parar, mas parecia entretido demais para esconder.
— Você é pequena, em defesa da cama. É alguns centímetros mais baixa do que o normal para uma mulher.
— É, eu sei. — Ela cortou o filé e colocou o pedaço na boca. Gemeu. — Que delícia.
Brass engasgou com o refrigerante. Trisha virou a cabeça para vê-lo olhando para ela e batendo no peito.
— Tudo bem?
— Ótimo. — Ele assentiu. — Acho que com base nesse som que fez esteja gostando e que o chefe do Conselho vale o salário que lhe pagam?
— Ele vale cada centavo. — Ela cortou o filé e pôs na boca. Gemeu outra vez e sorriu. — Perfeito. Delicioso. Quase derrete na minha boca.
Brass a fitou.
— Quer experimentar um pouco? As porções são enormes.
— Não, obrigado. É tudo seu. Eu adoro as costelas. Posso cair de boca naquele rosbife depois que comer isso se não o quiser. Nós costumamos comer bastante.
— Fique à vontade. Nunca vou terminar tudo isso.
Eles comeram. Trisha encontrou um filme de ação que os dois concordaram em assistir. Brass conseguiu comer três pratos e ainda encontrou espaço onde enfiar a sobremesa. Ele lhe deu dois analgésicos. Em algum momento durante o filme ela caiu no sono.
— Trisha?
Ela acordou se sentindo confusa. Olhou para Brass, vendo seu rosto a poucos centímetros do dele no quarto pouco iluminado. Piscou para ele, deixando a memória voltar.
Ele estava em sua casa para protegê-la. Ele lhe sorriu.
— Aquelas drogas a derrubaram mesmo. Estou tentando te acordar a alguns minutos. Acabei de receber notícias de Slade.
Essas palavras afastaram todo o sono e ela tentou se sentar. Brass de repente a impediu. Suas mãos seguraram gentilmente seus ombros e ele sorriu.
— Cuidado com as cobertas, Trisha. Quase mostrou os seios. — Ele a soltou.
Merda. Tinha esquecido que não estava usando roupas. Agarrou o cobertor para mantê-lo no lugar.
— Desculpa. Ele está bem?
— Está ótimo. Estão trazendo ele agora aqui para Homeland. Ele cruzou com um dos nossos times a uns vinte minutos atrás. Ele foi baleado, mas foi só um ferimento superficial. Estão levando-o ao hospital para darem uma olhada, mas ele deve voltar para cá em algumas horas.
Lágrimas se amontoaram e ela as piscou ao ouvir as notícias de que Slade estava a salvo e vivo somente com um ferimento superficial. Tinha sido baleado. Tudo foi se registrando. Tinha visto em primeira mão como os Novas Espécies podiam ser durões e o quanto se curavam rápido. Não estava muito preocupada de o ferimento ter alguma gravidade se o esperavam de volta a Homeland tão em breve.
— Obrigada.
— Volte a dormir. Odiei ter que acordá-la, mas Justice disse que queria ficar sabendo ao mesmo tempo que ele. Tenho certeza que Slade virá aqui assim que voltar para checar pessoalmente como você está. Descanse. Precisa disso.
— Obrigada. — Sorriu para ele. — Pode dizer a Justice que eu agradeço por tudo?
— Claro. — Brass se afastou para voltar à sala.
Trisha estudou o quarto. Brass tinha fechado as persianas, mas uma luz fraca passava entre elas. Deu uma olhada no relógio, surpresa ao perceber que eram seis e cinco da manhã. Rolou na cama e os remédios fizeram com que caísse novamente no sono.
Slade está a salvo.
Slade não queria sentar na cadeira nem mesmo estar presente na reunião. Precisava ir até Trisha. Não se sentiria realmente calmo até que pudesse olhar nos seus olhos, inalar seu cheiro e abraçá-la. Planejava fazer bem mais que isso assim que a tocasse, mas se recusava a deixar que esses pensamentos fluíssem já que todos os machos amontoados no escritório de Justice sentiriam o cheiro da sua excitação.
— Estou muito feliz que esteja a salvo. — Justice sentou na beira da mesa, o olhar varrendo os quinze oficiais estufados na sala ou sentados ou de pé, e suspirou audivelmente. — Temos respostas. Os imbecis responsáveis por isso falaram com a polícia. Eu acabei de ter uma conferência pelo telefone com o detetive responsável pelo caso.
— Eles nos odeiam — declarou Tiger. — É por isso que fizeram isso. É por isso que viemos sendo atacados no passado e pela mesma razão eles farão o mesmo de novo.
Fury rugiu de sua posição, próximo à porta fechada, onde se inclinava contra a parede.
— Toda vez que acreditamos que a ameaça diminui, alguma coisa acontece.
— Calma — exigiu Justice, encontrando cada olhar. — É porque contratamos a médica e ficaram sabendo.
Choque enrijeceu a espinha de Slade.
— Por que se importariam especificamente com ela?
— Ela fez uma residência de dois anos em ginecologia. — Justice correu os dedos pelo cabelo solto. — Alguém imprimiu o currículo dela nos jornais. Aqueles imbecis meteram na cabeça que é por isso que a contratamos. — Ele se concentrou em Fury. — Eles acreditam que ela está aqui para ajudar a descobrir porque não podemos ter filhos. Eu dei uma declaração de que foi seus anos na emergência de traumas o fator decisivo para que a escolhêssemos ao invés dos outros interessados. Eu temo que eles não acreditaram na verdade. Estão certos de que estamos tentando achar um jeito de você engravidar sua companheira, Fury.
Ele rosnou.
— Ellie e eu não somos cobaias. Não tomamos nenhuma decisão ao respeito disso. Queremos um filho, mas nós dois sabemos que não vale a pena a agonia de permitir que médicos destruam as nossas vidas com as coletas de sangue, as seringas e os exames.
— Eu sei disso. — Justice mudou de posição na mesa. — Se Mercile não foi capaz de descobrir o que deu errado, tenho certeza de que não há como solucionar o problema. Eles tinham especialistas em fertilidade quase matando as nossas fêmeas de tanta tortura. Somos simplesmente inaptos a isso. Eu não teria contratado a Dra. Norbit por esse propósito mesmo se alguém estivesse disposto a se voluntariar para fazer os testes. Teria contratado outra pessoa que lidasse unicamente com esse campo da medicina.
— Eles colocaram um preço na minha cabeça. — Falou Slade.
— Foi assim que eles conseguiram fazer com que a maioria daqueles otários fossem atrás dela. — Justice encontrou os olhos de Slade. — Você era o incentivo para matá-la e eles ofereceram dinheiro também para o homem que levasse o seu corpo até o homem que os contratou. Eles sabem que é só uma questão de tempo antes que morramos de velhice e já que somos estéreis, estão confortados pelo fato de que os Espécies não vão vingar. — Raiva engrossava sua voz. — A ideia de estarmos com mulheres humanas também os deixam putos.
— Odeio humanos. — Flame resmungou. — Machos. Ele olhou se desculpando na direção de Fury. — As fêmeas são doces. Sua Ellie é uma mulher maravilhosa. Não desejo mal a ela, mas aqueles machos me enfurecem.
— Nem todos eles — corrigiu Fury. — Só aqueles que nos odeiam.
— A questão é — continuou Justice — a ideia de nós termos outra mulher humana em Homeland, uma médica, atiçou a fúria deles. Eu considerei contratar outra pessoa para substituir a Dra. Norbit, mas eu acredito que ela seja uma aquisição valiosa para nós. Ela é uma boa médica que pode lidar com qualquer coisa, como já vimos. — Ele encontrou o olhar de Fury. — Ela salvou sua vida. Ela não nos vê com maldade. Confio nela e isso vale a irritação adicional de nos fazer um alvo ainda maior por causa da experiência que ela possui. — Ele saiu da mesa. — Ainda bem que ela nunca ficou com nenhum dos nossos homens. Isso realmente deixaria aqueles lunáticos no extremo.
Slade ficou tenso e sua boca abriu. Antes que ele pudesse falar, Brass falou.
— Ela pode ficar com algum de nós. Ela é uma fêmea muito atraente.
— Qualquer homem que se importe com ela evitaria fazer isso — alertou Flame.
— Verdade — concordou Justice.
Flame falou de novo.
— Estamos tentando abrir um outro lar para o nosso povo. Vamos precisar que ela viaje com frequência para nos ajudar a instalar a unidade médica de lá e toda vez que ela sair pelos portões vai ser como pintar um alvo nas suas costas. Inferno, não podemos nem confiar nos humanos que trabalham aqui em Homeland. Alguém passou a agenda de viagem dela e a rota precisa. Temos Brass e Wager protegendo-a vinte e quatro horas. Não tem como os grupos hostis de humanos não a tornarem um alvo principal. Ela estaria correndo tanto perigo quanto Justice corre se ficasse com um dos nossos. Só faria que eles quisessem matá-la ainda mais do que já querem. Ela estaria nos mantendo vivos se precisássemos de um médico e estaria dormindo com um de nós. Eles entenderiam que ela faria da correção do nosso problema de fertilidade uma prioridade já que assumiriam que a maioria das mulheres deseja ter filhos.
Um medo gelado agarrou o coração de Slade. Justice recebia ameaças de morte diariamente. Tinha que ter uma equipe de segurança seguindo-o por todo canto. Ser o líder de sua gente o colocava em uma posição mortal. Só podia se misturar livremente com humanos confiáveis contados a dedo e mesmo assim havia um risco.
Trisha era a médica de Homeland que tratava qualquer humano que precisasse de sua ajuda. O traidor poderia simplesmente cortar a mão e ter acesso direto a ela. Ela morreria antes que alguém conseguisse alcançá-la, mesmo com seguranças por perto. Os homens que pertenciam àqueles grupos hostis eram insanos. Ele não tinha dúvida de que um deles aceitaria uma missão suicida para acabar com o inimigo. O inimigo seria a sua Trisha. E eles morreriam se tocassem nela.
— Verdade. — Justice sacudiu a cabeça. — É bom que nenhum dos nossos machos esteja interessado nela. Eu teria que despedi-la e contratar outro médico. Ela teria que ser tão protegida quanto Ellie. Ellie pode trabalhar com as nossas fêmeas porque elas não representam ameaça a ela.
Os olhos de Slade se fecharam e a dor dentro do seu peito se tornou mais aguda, uma agonia quase parecida com uma facada. Trisha amava o seu trabalho, ser uma médica era o que ela era, do mesmo jeito que ele era Nova Espécie. Isso não poderia mudar e tentar seria uma tarefa impossível.
Ela o odiaria se fizesse com que escolhesse a ele ao invés da vida que levava. Ficaria ressentida com o tempo. Ele nem tinha certeza se ela se importa o bastante com ele para sequer tentar se inclinar em sua direção se lhe fosse oferecida uma escolha.
— Vamos ter que apertar a segurança. Dra. Norbit terá proteção vinte e quatro horas até a ameaça diminuir. Precisamos achar o traidor. Com o tempo esses imbecis vão perceber que nada vai nos ajudar a procriar e eles vão parar de temer que nos reproduzamos e viverão do sonho de eventualmente nos ver morrer.
Justice continuou falando, mas Slade parou de ouvir. Ficar com Trisha poderia causar sua morte. Isso a colocaria em um perigo extremo. Ele controlou as emoções, com medo de que alguém conseguisse sentir sua dor forte, e sabia que lamentaria depois, sozinho. Não podia colocá-la num risco daqueles nem acabar com sua vida. Ela significava muito para ele.
Gotas de suor cobriam a testa de Trisha e ela se perguntou se acabaria ficando doente. Sentou-se de maneira nervosa na recepção do escritório de Justice North e lutou contra a vontade de vomitar. Deu uma olhada no relógio. Tinha chegado um pouco cedo e sido informada que ele estava ao telefone.
Tinha solicitado a reunião, mas não teve escolha, sabendo que tinha que se responsabilizar pela terrível situação. Não era só com seus problemas que tinha que lidar.
Seria uma coisa das grandes e tinha que fazer a coisa certa. Isso significava discutir o assunto com Justice. Isso envolvia os Novas Espécies e ele tinha o direito de saber. Só não havia esperado que seu estômago reagisse desse modo. A mulher alta atrás da mesa observava Trisha com atenção, parecendo levemente preocupada.
— Deseja um café ou uma água, Dra. Norbit? Está muito pálida.
— Estou bem. — Trisha forçou um sorriso. — São os nervos.
A mulher assentiu e se concentrou na tela do seu computador.
— Deve demorar só mais alguns minutos. Justice está numa chamada de longa distância com o pessoal da recém-adquirida Reserva dos Novas Espécies. Eles vão abrir em breve e as coisas estão bem agitadas aqui. Não foi para lá que se dirigia quando seu veículo foi atacado? Espero que tenha se recuperado.
— Estou completamente recuperada. Obrigada por perguntar. E sim, é para lá que viajávamos quando fomos atacados.
Trisha nunca tinha chegado a ver o lugar. Só sabia pelo o que via nos jornais. Brass lhe disse um pouco sobre o projeto. Quatrocentas milhas ao norte de uma área de floresta no norte da Califórnia, Justice comprou milhares de acres de terra — um antigo resort que fechou anos atrás e abandonado. O proprietário tinha vendido o lugar a um ótimo preço para ter que evitar pagar os impostos. Justice planejava transformá-lo em um lar para alguns dos Novas Espécies que não queriam “se dar bem com os outros”.
Um sorriso curvou os seus lábios ao lembrar-se de Brass lhe dizendo essas exatas palavras. Ele tinha explicado que alguns dos Novas Espécies tinham uma aparência menos humana do que os que via em Homeland. Eles não queriam ser reintegrados e conviver com os humanos, ao invés disso só queriam viver em paz em um lugar seguro. Eles atualmente residiam em um local desconhecido longe do contato humano, mas com os grupos de ódio, todos temiam sua segurança se alguém uma vez descobrisse onde foram colocados pelo governo.
Justice tinha comprado o velho resort para trazê-los para mais perto da sua própria espécie e para poder melhor protegê-los. Decidiram chamar o lugar de Reserva dos Novas Espécies. Tinham lhe garantido que era um título apropriado já que era tudo menos um lugar para se passar as férias. Seria administrado do mesmo modo que Homeland, totalmente regido pelas leis e sob o controle dos Novas Espécies. Também teria uma segurança de alto nível para proteger os Novas Espécies que escolhessem viver lá.
Brass tinha se tornado um ótimo amigo enquanto ficou em sua casa pelas primeiras duas semanas depois do que sofreu. Ele a fazia rir muito e se tornou importante para ela. Preocupava-se um pouco que ele pudesse estar meio atraído por ela, mas ele nunca tinha saído da linha. Quando a avaliação da ameaça de risco que sofria diminuiu, ela tinha de fato sentido falta das companhias constantes que a protegiam.
Brass ainda aparecia com frequência com alguns filmes de ação e um estoque de pipoca. Às vezes ele trazia alguns amigos com ele. Trisha conheceu alguns Novas Espécies assim. Eles a tratavam como se fosse uma irmã mais nova, como se fosse uma deles, e os agradecia por isso. Tinha evitado que se sentisse cheia de autocomiseração. Slade nunca tinha ligado nem aparecido para vê-la. Para ser mais específico, ele sumiu da face da terra pelo o que Trisha pôde perceber. Várias semanas atrás um dos homens mencionou que Tiger e Slade estavam trabalhando na Reserva. Ele nem estava mais vivendo em Homeland.
A mensagem implícita nas ações falava mais alto do que palavras e tinha sido transmitida bem claramente para Trisha.
O sexo que tiveram não foi nada mais do que casual para Slade. Essa realidade doía, mas ela estava se recuperando e estava determinada a fingir que nada tinha acontecido. Isso até aquela manhã. Estava com medo de vomitar de novo.
— Dra. Norbit? — Trisha levantou o olhar para a secretária. — Pode entrar agora.
— Obrigada.
Trisha se levantou mesmo que seus joelhos estivessem fracos. Sentia uma vontade de sair correndo.
Podia ir embora, pedir demissão do trabalho, e se mudar para outro estado só para evitar toda a confusão.
Ficou tentada a dar ouvidos àquela voz em pânico dentro da sua cabeça. Até hesitou quando seu olhar foi para a porta que dava para fora da recepção. Engoliu em seco, contudo, e forçou as pernas a caminharem em direção ao escritório de Justice. Eu sou uma médica e sei o que precisa ser feito apesar das consequências pessoais que estou enfrentando.
Justice usava sua calça jeans usual, uma regata e tinha os pés descalços. Sempre a divertia o fato do líder de uma raça inteira pudesse sempre ser tão casual quando não planejava aparecer na frente das câmeras. Nessas ocasiões ele vestia paletós escuros, colocava o cabelo comprido para trás, e até calçava sapatos.
Quando entrou em seu escritório, ele foi em direção a ela com um sorriso curvando os lábios generosos. Sempre tinha notado o quanto era bonito com o corpo em forma, as belas feições e aqueles olhos sexy de gato. O fato de ele ser genuinamente agradável só aumentava seu poder de atração. Ela forçou um sorriso.
— Bem-vinda, Trisha. Está quente hoje, não está?
Ela assentiu. Tinha vestido uma saia azul marinho longa e uma camisa formal cheia de botões, intencionalmente adotando a aparência profissional na tentativa de acalmar os nervos. Tinha até levado tempo para prender o cabelo no alto em um belo coque. Tinha lhe distraído da reunião iminente que havia solicitado com Justice assim que tivesse tempo para vê-la. Especificou a urgência da necessidade de falar com ele. Ele havia encontrado um tempo para ela.
— Então, o que é tão importante? Debra, minha secretária, me informou que precisava falar comigo imediatamente sobre algo. É para solicitar mais enfermeiros? Os dois que eu contratei não são suficientes? Precisa de mais equipamento médico? — Ele acenou para que sentasse em uma cadeira enquanto rodeava a mesa. — Sente-se.
Trisha desabou em uma cadeira acolchoada. Justice continuou sorrindo quando também sentou. Ele se inclinou para frente para se apoiar na mesa com os cotovelos, descansando o queixo nas mãos. Parecia divertido.
— Está tão séria. Não fique. Eu já lhe disse antes que estou muito disposto em conseguir o que quer que precise para o centro médico.
— Não é sobre isso. — Tinha que diminuir os batimentos cardíacos. — É sobre um assunto pessoal.
O sorriso dele sumiu e o olhar estreitou.
— Por favor, não me diga que veio pedir demissão. Precisamos de você.
Ele levantou a cabeça, tirou os cotovelos da mesa para escorar as costas na cadeira, e pareceu repentinamente tenso.
— Eu ficaria mais do que feliz de discutir valores com você se isso é uma questão salarial. Nós realmente queremos que continue a trabalhar conosco. Você é uma médica excelente e meu povo aprendeu a confiar em você. Não tem ideia do quanto isso a valoriza.
Ela sacudiu a cabeça.
— Não é sobre dinheiro e eu não quero perder meu emprego, nem me demitir, embora talvez não vá mais querer que eu trabalhe aqui depois do que tenho a dizer. — Respirou fundo estudando Justice. — Desculpe. Estou morrendo de medo.
— De mim? — Ele parecia surpreso.
— Da situação. Eu nem sei por onde começar. Aconteceu uma coisa e é bem séria. Se alguém entende o quanto isso é sério sou eu.
— Certo. — Justice respirou fundo. — Me fale qual é o problema.
— Me concederam acesso a uma porção de arquivos médicos que contêm algumas informações recuperadas das Indústrias Mercile. Eles tentaram procriar entre os homens e mulheres Novas Espécies e isso sempre falhou. Eles nunca tentaram uma reprodução entre Novas Espécies e pessoas completamente humanas.
— Não. Éramos considerados muito perigosos e eles tinham medo que matássemos qualquer um da equipe que tentasse fazer sexo conosco. Não pode nos culpar.
— Eu não culpo. — Hesitou.
— Eles abusavam de nós de maneiras extremas.
— Eu sei disso. Eu... aconteceu — declarou bem baixinho.
— Eu não entendo. Você encontrou um arquivo com essas informações sobre algum dos meus? Algum deles consentiu em transar com humanos enquanto estávamos presos?
Ela lutou contra a vontade de explodir em lágrimas.
— Não. Desculpe. Eu não fui muito clara. Alguém completamente humano concebeu um filho de um Nova Espécie.
Pronto. Falei. Observou o choque transformar o rosto de Justice. A boca dele abriu e então se fechou. Ele finalmente encontrou a voz.
— Isso… — Ele parecia atordoado. — Você tem certeza?
— Absoluta. Eu fiz os exames eu mesma esta manhã e realizei um ultrassom. O feto tem um batimento cardíaco forte, bem desenvolvido e parece perfeito. Não vou mentir. Essa gravidez não é normal. As batidas são de um feto em um estágio já mais avançado e as medidas dele são incomuns. Parece que a taxa de crescimento e o desenvolvimento do feto são bem maiores do os de uma gravidez típica. O bebê está crescendo mais rápido do que deveria e os sintomas da gravidez são prematuros pelo período de gestação.
Enterrou os dedos no estofado da cadeira.
— Pela primeira vez, pelo que eu sei, um Nova Espécie foi capaz de conceber uma criança. Eu sei que acreditavam que todos os seus machos era estéreis, mas ao menos um deles não é.
Justice levantou de repente. Virou-se para a janela e deu as costas a Trisha. Continuou calado. Trisha o observava com medo. Não tinha ideia de como reagiria. Tinha uma televisão, assistia a entrevistas com os grupos de ódio, e sabia que isso só daria mais problema aos Novas Espécies quando todos ficassem sabendo que eles não só podiam ter filhos, pelo menos um deles não era estéril, mas que a mãe não era uma Nova Espécie.
Um bando de idiotas acreditava que uma reprodução daquelas seria uma enorme ofensa. Eles iriam comparar isso com o cruzamento entre um ser humano e um animal. Seus preconceitos enojavam Trisha, mas ela não podia mudar suas mentes limitadas. Justice finalmente se virou com um grande sorriso.
— Isso é maravilhoso! — Ele caiu na cadeira. — E temos certeza que é mesmo uma reprodução entre um humano e um Nova Espécie?
— Cem por cento de certeza.
Ele riu. — Eu nunca pensei que seria capaz de ter filhos. Nenhum de nós pensou. — Ele se levantou outra vez e quase pulou por cima da mesa para agarrar uma Trisha assustada. Ele a tirou da cadeira, colocou-a nos braços e a abraçou. — Essa é melhor notícia que eu já recebi, Trisha. Você é um gênio! Você conseguiu!
Trisha o empurrou com gentileza até que ele a soltou. Levantou os olhos para o seu rosto sorridente com um pressentimento terrível. Ele obviamente achava que ela tinha feito algo como médica que resultou na gravidez. Sabia que precisava corrigi-lo imediatamente.
— Não foi algo que fiz de propósito. Não houve intervenção médica. Simplesmente aconteceu. Foi uma gravidez completamente não planejada e natural.
— Isso é ainda melhor! Você fez o meu dia. Inferno, meu ano. — Então seu sorriso apagou e ele ficou tenso. — Vamos ter que manter isso em sigilo. Vamos precisar proteger o casal. Pode haver uma tempestade de ameaças dirigida a nós se imprensa ficar sabendo e noticiar isso. Quem sabe?
— Até o momento, só eu e você.
— O casal não sabe?
Ela percebeu que ele não entendia o que tentava lhe dizer. Abriu a boca. Justice recuou.
— Sobre isso...
Ele a interrompeu.
— A imprensa vai ficar em cima de nós se descobrirem. Precisamos manter tudo em altíssimo sigilo. Você vai cuidar da fêmea grávida. Ninguém, e eu digo ninguém, pode ficar sabendo disso até depois que o bebê tiver nascido. Vamos esconder o casal para protegê-los e qualquer informação impressa que tiver sobre isso tem que ser destruída. Pode imaginar o que esses grupos terroristas farão e o quanto será perigoso quando eles souberem que podemos nos reproduzir com seres humanos? É uma das coisas que vêm usando para atrair mais idiotas para ingressarem na luta pela causa deles. Eles acreditam que é vil um Espécie tocar em alguém completamente humano e isso vai irritar profundamente os que não veem a hora de que desapareçamos da face da terra assim que a nossa geração morrer.
— Justice...
— Você e eu vamos trabalhar juntos para protegê-los a todos os custos, Trisha. Temos que manter isso em segredo total. Eu vou chamar um helicóptero imediatamente para tirá-los daqui em uma hora. A Reserva ainda não está funcionando completamente, mas é bem segura e o lugar mais seguro para colocá-los. Você também vai ter que ir para lá. — Ele a olhou. — Eu sei que sua vida é aqui, mas você precisa ser protegida. — Ele sorriu. — Isso é mais importante. Eu...
— Cale a boca! — Gritou finalmente Trisha.
Justice franziu o cenho.
— O quê...
— Silêncio — ordenou-o, abaixando a voz. — Eu estou tentando lhe dizer algo e você continua me interrompendo.
Ele assentiu.
— Vá em frente. Estou ouvindo.
El hesitou, olhando em seus olhos belos e exóticos.
— Eu sou a mãe. Sou eu, Justice. Eu sou a mulher carregando um bebê Nova Espécie. Não há nada registrado já que eu fiz todos os exames quando estava sozinha na clínica. Eu percebi que minha menstruação estava atrasada, mas eu pensei que era devido ao estresse. Então comecei a sentir enjoo matinal e fiz um teste quando acordei esta manhã. Deu positivo. Depois eu fui direto ao centro médico e fiz um ultrassom. — Piscou as lágrimas. — Existe definitivamente um bebê crescendo dentro de mim e ele cresce a um passo acelerado. A única explicação para essa anormalidade é talvez porque o bebê é metade Nova Espécie e a gravidez será mais curta devido ao DNA alterado do pai. — Ela descansou a mão na altura do estômago. — Eu sou a mãe — repetiu.
Justice a olhava de boca aberta, completamente impressionado. Despencou outra vez na cadeira enquanto lutava contra mais lágrimas. Era difícil, mas ela conseguiu não soluçar. Levantou o olhar e percebeu que Justice a olhava de queixo caído. Segundos pareceram se arrastar por uma eternidade entes dele recuperar a voz.
— Tem certeza que o pai é um Nova Espécie? Eu sei que estava saindo com alguém e eu acreditava que ele era humano.
— A última vez que eu transei foi há dois anos. Só transei uma vez desde essa época e foi com um dos seus homens. Não há dúvidas de que ele é o pai.
Justice sentou na beira da mesa.
— Certo. Isso é ótimo, Trisha. Você parece tão triste, mas não fique. Não tem ideia do que isso significa para o meu povo.
Ele lhe deu um sorriso triste.
— Podemos ter filhos, afinal. Se um de nós é capaz, talvez outros também possam. Eu sei que provavelmente está apavorada, mas isso vai dar certo de algum jeito. Vamos conseguir. Pode lidar com as suas necessidades médicas até que consigamos alguém em que possamos confiar para assumir? Obviamente não vai poder fazer o parto do seu filho.
Ela piscou mais lágrimas.
— Eu ainda estou em choque, mas quero o bebê. Estou mais com medo. Nunca pensei que seria mãe e sei que o meu filho está correndo perigo pelo simples fato de existir. Vai ser o primeiro bebê que é uma mistura entre as nossas raças. Estou com medo de que tipo de vida ele ou ela vai enfrentar. Eu fiz o ultrassom e tudo parece bem, mas é muito difícil de dizer nessa fase. Porém, estou preocupada com o tamanho do bebê porque ele já é bem maior do que deveria ser. Tenho que fazer uma série de exames. Algo pode estar errado com a gravidez. Não sabemos o que esperar porque isso nunca aconteceu antes. Estou apavorada.
— Vamos atravessar o que for juntos. Você nunca estará sozinha, Trisha. Considerávamos você uma de nós antes, mas agora você é verdadeiramente uma Nova Espécie. Seu filho é um de nós e como mãe desta criança, você é oficialmente uma parte do ONE, eu lhe passo todos os direitos como tal. Terá nosso apoio absoluto, vamos tomar conta de você muito bem, e terá proteção todas as horas. — Ele se levantou e rodeou a mesa, pegando o telefone. — Chame Brass aqui agora para o meu escritório.
Trisha relaxou. Aquilo poderia ter ido muito mal. Tinha esperado o pior, talvez ele explodindo ao ouvir a notícia. O bebê colocava sua gente em perigo.
Justice super empolgado e feliz por seu bebê era muitíssimo melhor do que qualquer coisa que havia imaginado.
— Vamos mandá-la com Brass para a Reserva. Ele vai protegê-la com a própria vida e vai ter bastante ajuda, Trisha. Eu sei o quanto você confia nele para te manter segura. Vou dizer a todos que quero uma médica lá e que você se voluntariou. Ninguém vai desconfiar disso. Era isso que eu planejava fazer antes do seu ataque. Eu queria você disponível quando o centro médico de lá fosse construído. Vou mandar alguns dos meus homens encaixotar suas coisas. Não quero que levante um dedo. — Ele riu. — Vai ser muito mimada, então se acostume a isso.
Justice sentou de novo em sua cadeira enquanto Trisha o observava discar um número. Ele disse ao telefone que tinha decidido que precisavam de um médico na Reserva e que Trisha tinha sido gentil o bastante para concordar em ir. Ele reservou um voo para ela em menos de uma hora e então ligou para a Reserva, para lhes avisar que um time se dirigia para lá. Alguém finalmente bateu à porta e Justice desligou o telefone.
— Entre — disse.
Brass entrou no escritório e fechou a porta. Obviamente estava a serviço já que usava o uniforme. Ele sorriu quando viu Trisha e piscou antes de fixar a atenção em Justice.
— Me disseram que precisava de mim.
Justice sorriu.
— Vou mandar você e Trisha para a Reserva. Estarão esperando vocês. Vou deixar que escolha dois dos seus amigos mais próximos para levar com você e ajudá-lo a protegê-la. — Justice se levantou e gargalhou. — Não é a melhor notícia de todas? Parabéns, Brass! — Justice se aproximou de repente e abraçou o homem estupefato. — Você vai ser pai!
Trisha sentiu um soco na boca do estômago lhe sugar todo o ar, mas não foi nada comparado a expressão no rosto de Brass. Seus olhos se arregalaram e seu queixo caiu.
— É, Justice?
Justice soltou Brass e sorriu para Trisha.
— Sim?
Ela sacudiu a cabeça.
— Não é ele.
— O que está acontecendo? — Brass tinha uma expressão confusa.
Justice o ignorou e continuou fitando Trisha quando seu sorriso morreu.
— Mas ele fica na sua casa à noite. Eu lhe disse que estava ciente do movimento de todos dentro de Homeland. Está namorando com ele.
— Somos só amigos platônicos que veem filmes juntos. Ele não é o pai do meu bebê. Eu nunca dormi com Brass.
— Bebê? — Ofegou Brass. Sua atenção voou para Trisha. — Está grávida?
Ela assentiu.
— Desculpe por isso. Eu achei que Justice tinha o chamado para ser o meu guarda-costas porque ele sabe que ficamos amigos. Nunca achei que ele pudesse acreditar que você é o pai do meu bebê.
— Você está grávida? — Brass de repente ficou furioso. Ele recuou e cruzou os braços enquanto fitava o chão.
Trisha notou sua reação violenta e isso a deixou sem palavras.
— É perigoso para ela e para todos nós — alertou Justice baixinho. — Você é o guarda-costas pessoal dela. Ninguém pode ficar sabendo da gravidez. Está claro, Brass? Isso vai ser um problema para você?
Brass encontrou o olhar de Justice.
— Eu a protegeria com a minha vida. Ninguém vai saber por mim. Quais são as minhas ordens?
— Um helicóptero parte com ela em uma hora. Escolha dois machos em quem confia a vida dela e diga a eles que fazem parte do time. Isso será uma missão sem previsão de encerramento. Não faça malas pequenas. Eu usarei a desculpa de que estou mandando-a para lá para supervisar o centro médico da Reserva por hora.
— Entendido. — Brass nem sequer olhou para Trisha quando saiu do escritório. A porta se fechou suavemente quando saiu. Confusa, Trisha franziu o cenho.
Justice a estudou.
— Não sabia que ele sentia algo por você? Pode ter pensado nele como um amigo, mas eu acho que ele a estava cortejando lentamente.
— Eu não sabia. — Aquilo a chocou. — Eu achei que ele pudesse gostar de mim, mas ele nunca me chamou para sair então eu desconsiderei a ideia.
— Às vezes somos difíceis de ler. Eu notei que com a sua espécie ou eles pulam em cima do que querem como pit bulls ou eles tentam se aproximar do que querem até se arremessarem para cima disso quando menos se espera.
Justice suspirou.
— Então, quem é o pai?
Trisha levantou o queixo em desafio.
— Eu não direi.
Justice estreitou os olhos.
— O quê?
— Foi só sexo. Não significou nada. O bebê é meu.
Justice parecia levemente zangado quando cruzou os braços.
— Quem é o pai do bebê, Trisha? Precisa confiar em mim. Sexo casual ou não, um Espécie iria querer saber se estivesse prestes a se tornar pai.
Ela mordeu o lábio.
— Eu acho que não.
Ele apertou os braços contra o peito.
— Você admitiu que fez sexo uma vez em dois anos. Eu senti o cheiro de sexo em você uma vez. — Ele estudou seu rosto com cuidado. — Você tinha o meu cheiro e eu sei que não sou o pai. Tinha o cheiro de Brass também, mas obviamente vocês não transaram. — Ele sorveu o ar. — Tinha o cheiro de Slade também. Era o mais forte, mas eu assumi que era porque tinha ficado a sós com ele por dias e... Claro. Slade é o pai.
Ela deixou a cabeça cair.
— Por favor, não conte a ele.
— Desculpe, Trisha. Eu devo. Ele iria querer saber. Ele tem o direito de proteger e cuidar de você já que está carregando o filho dele.
Ela permitiu que as lágrimas caíssem quando levantou os olhos.
— Ele nunca me contatou, nunca me ligou, nenhuma vez tentou me ver nas semanas que passou aqui depois que voltamos. Por favor, não diga a ele. Não posso vê-lo.
Justice praguejou baixinho.
— Você achou que o sexo era mais do que casual e as ações dele a magoaram.
Por que mentir? Assentiu.
— Sim. Por favor, Justice. Não posso impedi-lo se estiver decidido a contar a ele, mas mantenha-o longe de mim se puder. Por favor.
— Eu não entendo.
— Ele não quis mais ficar comigo depois que fomos resgatados e com certeza não o quero tentando passar um tempo comigo agora por causa da gravidez. Ele fez a escolha dele.
Ele a estudou por muito tempo.
— Eu entendo, mas tenho que contar a ele, Trisha. Vou deixar os seus sentimentos claros para ele e vou dizer que ele estragou tudo.
Ela enxugou as lágrimas.
— Isso. Essa é uma boa forma de expressar o que ele fez. — Levantou-se. — Obrigada por aceitar tão bem.
— Obrigado— Justice caminhou e abraçou uma Trisha surpresa. — Por estar grávida e dar a todos nós a esperança de ter filhos. Tenho certeza que tudo vai dar certo e que esse bebê vai nascer com saúde. Somos um pessoal forte e duro de matar. Esse bebê vai ser metade Nova Espécie.
Ela chorou quando Justice a abraçou. Retornou o abraço, admitindo que tinha precisado de alguém que a confortasse o dia inteiro, desde que tinha descoberto a gravidez. O choque foi grande demais. Justice passou as mãos nas suas costas e a trouxe mais para perto, consolando-a.
— Sinto pela dor que está passando. Slade devia saber o quanto você é especial e nunca ter abrido mão de você, Trisha. Não teria feito isso se você fosse minha. Essa deveria ser uma ocasião feliz e ele a magoou.
Ela fungou e se afastou dele. Ele a soltou enquanto ela enxugava as lágrimas de novo.
— Obrigada. Essa é a melhor coisa que poderia ter me dito. — Olhou para ele. — Tem mais uma coisa que eu queria lhe pedir.
— Qualquer coisa.
— Eu peço que diga a Ellie e Fury que eu estou grávida. Eles não conceberam, mas provavelmente podem. Eu sei que eles querem ter um filho. Pode ser só um simples problema de azoospermia ou Ellie só deve precisar de uma pequena ajuda na produção de óvulos. Uma tentativa com remédios de fertilidade pode ajudá-la a engravidar. Posso pedir exames dos quais tenho certeza que vão concordar em fazer assim que souberem. Saberão que têm esperança de conceber. Eles são o único casal humano e Nova Espécie e são os únicos que precisam dessa informação. Os dois são confiáveis.
Justice assentiu.
— Tudo bem. Farei isso. Não se preocupe. Vou cuidar de tudo e o Dr. Ted Treadmont vai fazer os exames. Eu sei que não é a área dele, mas ele pode fazer uns simples exames, certo?
— Ele é confiável. Sim, Ted pode cuidar disso.
— Ótimo. — Justice passou lenços para Trisha que ele tirou de uma de suas gavetas. — Tome. Assoe o nariz. Pode usar meu banheiro para se limpar. Não queremos ninguém suspeito e você sair chorando iria alertar que tem alguma coisa errada.
— Desculpe.
— Está emocionada. Ouvi falar que é normal na gravidez.
— Sim, é. Deus, odeio imaginar que tipo de doida varrida eu vou me tornar daqui a cinco, seis meses. — Sacudiu a cabeça. — Eu já sinto pena de quem vai fazer a minha segurança. — Ela foi até o banheiro e parou, virando-se. — Me sinto tão mal a respeito de Brass. Acha que ele ainda vai ser meu amigo?
— Sim. Ele ficou desapontado, mas eu não vi uma mágoa verdadeira nos olhos dele. Ele vai superar.
Esperava que sim. Entrou no banheiro e fechou a porta.
Justice ouviu água caindo. Humanos não tinham os sentidos afiados deles. Ele sempre tinha que se lembrar desse fato, tomando sua própria audição como comparação. Sentou-se na mesa. Experimentou alegria e tristeza sobre o fato de serem capazes de se reproduzir. Queria ter um filho um dia, mas o medo de como os humanos reagiriam se descobrissem fazia as suas tripas torcerem. Ligou para a central de comando da Reserva e pediu para falar com Slade.
— Oi, Justice. Na verdade me pegou dentro do escritório. Acabei de me reunir com um dos construtores. A cerca de segurança está terminada. Estará funcionando por inteiro no mês que vem com os sensores de movimento e a vigilância eletrônica. Eles chiaram com o prazo que demos para o clube, mas as obras estão em dia. Em dois meses devem terminar. Não há mais nada para dizer daqui.
— Na verdade, sou eu que tenho notícias para você.
— Ok.
— Estou mandando a Dra. Norbit para a Reserva.
Silêncio.
Justice mostrou os dentes, exibindo sua raiva. Slade obviamente não estava empolgado com a notícia. O som que ouviu em seguida confirmou suas suspeitas. Enfim, ouviu um suspiro.
— Certo. Ela vai ficar aqui por alguma razão?
— Sim. Essa linha é segura?
— Claro. Há razão para que precise ser? Alguma coisa aconteceu? Ela foi visada? Achei que tudo tinha se arrumado a essa altura. Sinto-me obrigado a lhe dizer que acho que ela ficaria muito mais segura aí se está mandando ela para cá porque recebeu mais ameaças. Há muito mais espaço aberto para alguém invadir a Reserva do que em Homeland.
— Tem pessoas demais aqui que vão cuidar dela. Acho que vai ser o melhor se for para aí. É remoto e mais fácil de se esconder do público. Ela está indo, então faça o que for preciso. Quero que a coloque em uma locação remota, mas confortável que seja extensivamente segura. Estou mandando três oficiais pessoais com ela pra protegê-la em todos os momentos.
— O perigo é tão grande assim? — A voz de Slade ficou tensa e seu tom virou um rugido. — Ela está bem? Atentaram contra a vida dela?
Justice sorriu de repente ao ver que Slade obviamente se importava. Ele mordeu o lábio.
— Ela está correndo um risco altíssimo. — Ele conseguiu manter o tom frio. — Ela está bem, mas um pouco adoentada. Estou mandando ela aí para sua própria proteção e para que tenha um descanso merecido.
— Eu cuido disso. Ninguém vai machucá-la aqui. — Slade rosnou as palavras.
— Tenho certeza que ela vai ficar bem. Eu preciso ir. Vou mandar o piloto avisar a hora exata em que chegarão.
— Vou providenciar para que tudo esteja pronto.
A fúria escorria dentro de Slade que nem lava quente até sua pele ficar toda suada. O escritório em que estava tinha ar-condicionado, mas não podia abrandar a reação de sua raiva. Tinha feito a coisa certa ao deixar Homeland para evitar a tentação de procurar Trisha.
Tinha sacrificado sua sanidade várias vezes para garantir que não corria perigo.
Ela teve que ser enviada a Reserva devido a uma ameaça. O fato de Justice ter sido tão vago no que impulsionou a mudança realmente o deixou em um péssimo humor. Alguém tinha de fato tentado machucá-la? Tinham sido só ameaças via telefone? Talvez uma quebra de segurança em Homeland? O humano que os traiu não tinha sido pego. Ele ou ela foi atrás de Trisha? Ele rosnou e atraiu a atenção de algumas pessoas dentro do escritório. Tiger levantou uma sobrancelha, curioso.
— O que foi? O pessoal no hotel rompeu outra linha d’água?
— Não. — Ele olhou para o único humano que trabalhava nos desenhos do projeto e deu ao seu amigo um sinal com a mão ao se levantar. — Devíamos checar como eles estão.
Tiger se levantou.
— Eu vou com você.
Eles caminharam uns vinte metros fora do escritório provisório antes de Tiger parar, encarando seu amigo.
— Qual é o problema?
— Foi Justice. Ele está mandando a Dra. Norbit pra cá. Ela está correndo perigo e ele a quer escondida.
— Merda. Ele não percebe o quanto isso vai ser difícil?
— Ele não pareceu se importar. Não pude discutir com ele, sabendo que tudo que eu dissesse seria ouvido.
— Verdade.
— Eu vou vê-la de novo.
Os olhos de gato de Tiger se arregalaram.
— Ainda não a esqueceu?
— Não. Penso nela o tempo todo.
— Você tem que ser forte. Já discutimos isso.
— Ela está em perigo e eu fiquei longe dela. Obviamente não funcionou.
— Ela correrá perigo de todas as formas. Ela trabalha pra nós, e alguns vão odiá-la só por essa ofensa. Se ela está com um de nós, com você, e eles ficam sabendo, qualquer nível de ameaça contra ela vai piorar. Você fez a coisa certa.
— Fiz? — o corpo de Slade ficou tenso. — Por que a coisa certa parece tão errada?
— Já sofremos o bastante. É melhor não tê-la do que arriscar que seja morta pelo fato de ser sua mulher.
A dor apunhalou o seu peito.
— Eu morreria por dentro se isso acontecesse. Não poderia viver com isso.
— E é por isso que fez a coisa certa. — Tiger trocou de posição. — Trabalhar é a cura. Temos bastante por aqui.
— Certo. Trabalho.
— Eu cuido dela. Não precisa falar com ela quando chegar.
— Não. — Ele sabia que seria estúpido, mas precisava vê-la. — Justice não deu detalhes do por que ela está em perigo, mas disse que estava doente. Vou dormir melhor à noite se puder vê-la com meus próprios olhos. Não vou descansar até ter certeza que está bem fisicamente.
— Masoquista.
— Cala a boca.
— Só estou dizendo que vai ser doloroso olhar pra ela e não poder tocá-la. Você vai sentir vontade.
— Eu sou forte. Posso lidar com isso. — Tiger o olhou de forma descrente. — Às vezes eu me pergunto por que somos amigos.
— Eu já lhe disse. Você é um masoquista. — Tiger riu.
Trisha saiu do banheiro de Justice. Tinha refeito a maquiagem e sabia que poderia passar por uma aparência normal. Pausou quando viu a expressão pensativa no rosto de Justice enquanto a observava.
— Eu decidi adiar em contar a Slade sobre o bebê. É você que tem que contar a ele. Vou lhe dar algum tempo.
Trisha se encheu de alívio.
— Obrigada.
— Não me agradeça ainda. Se não contar a ele nos próximos dias… — Ele deu de ombros. — Eu terei que contar. Ele está encarregado da Reserva e precisa saber o quanto é importante te proteger. Para fazer isso ele tem que estar ciente dos perigos. Acho que pelo jeito que reagiu quando achou que estava correndo perigo que poderia se importar mais do que você acredita. Foi isso que me incentivou a ver se vocês dois poderiam resolver o assunto antes que eu interfira.
Ela olhou com a cara fechada para Justice.
— Se ele se importasse, como você diz, ele teria vindo me ver. Teria ao menos ligado para garantir que eu estava bem emocionalmente depois do que nos aconteceu. Pelo o que eu ouvi, ele quase implorou pelo trabalho na Reserva para ir embora de Homeland, o que provavelmente quer dizer que queria ficar longe de mim.
— Ele não implorou pelo trabalho. Eu queria que Fury fosse, mas Ellie não podia deixar as nossas mulheres. Ela leva o trabalho no dormitório feminino muito a sério e sempre está sob ameaça como companheira de Fury. Meu próximo homem de confiança é Slade. Eu pedi e ele aceitou. Precisava de alguém em quem podia confiar lidando com tudo. Tenho muita coisa no meu prato por aqui para ficar indo e voltando. Estava ficando enjoado com os três voos de helicóptero que dava diariamente.
— Entendo.
— Espero que sim. Agora, Brass deve aparecer aqui a qualquer momento para pegá-la. Eu tenho uma reunião na sala de reuniões com o Conselho em alguns minutos. — Ele se levantou e suspirou. — Às vezes eles me enlouquecem.
— Boa sorte com isso. Vou esperar por ele no lobby.
— Fique aqui e relaxe. O sofá é confortável.
— Obrigada.
Ele sorriu quando olhou para a sua barriga.
— Estou muito empolgado com isso.
— Eu também, quando não estou assustada que nem uma idiota.
Justice apertou seu braço, tranquilizando-a, e saiu do escritório. Ele fechou a porta com firmeza ao fazê-lo.
Quinze minutos depois Brass entrou na sala. Trisha se levantou e o estudou. Ele parecia calmo agora, tranquilo e controlado.
— Eu sinto muito que Justice tenha entendido que você era o pai do meu filho.
Ele a estudou antes da sua atenção descer para a sua barriga.
— Está mesmo carregando um bebê de um Nova Espécie?
— Sim.
— Essa é uma notícia ótima.
Trisha notou que ele não parecia muito feliz.
— Tudo certo com a nossa amizade, Brass?
— Sim. Eu… eu queria tê-la conhecido antes que tivesse se envolvido com outro homem. Espero que isso não a ofenda. É só que eu fiquei mais atraído do que deveria ter me permitido ficar por você. Agora você pertence a outra pessoa, mas eu vou me conformar. Estamos bem, Trisha.
— Eu não pertenço a ninguém, Brass. O pai e eu não estamos juntos. — Ela se apressou antes que ele pudesse dizer alguma coisa, não querendo encorajá-lo, mas precisando ser clara que também não estava aberta aos seus avanços. — Eu tenho sentimentos por ele, mas ele obviamente não sente o mesmo. Vai levar algum tempo, mas com certeza vou superar isso.
Ele piscou.
— Você pertence a alguém. Não disse a ele sobre o bebê?
— Não. Justice me deu algum tempo para entrar em contato com ele e dar a notícia.
Ele assentiu.
— Eu achei que se ele soubesse já estaria ao seu lado. Você realmente é dele e ele vai fazer com que saiba disso no segundo que descobrir que está carregando o filho dele. Vamos. O helicóptero está pronto. Eu escolhi Harley e Moon para irem conosco.
O medo perfurou seu estômago. Ela realmente não queria que Slade descobrisse. Não era assim que o queria de volta em sua vida. Preferia nunca vê-lo de novo do que tê-lo atrás de si só porque tinham criado uma vida juntos. Ela merecia um cara que se importasse com ela, não um que queria ficar ao seu lado por algum senso de obrigação ou honra. Novas Espécies pareciam ter muito dos dois. Ela decidiu não mencionar isso para Brass. Temia que discutissem.
Trisha tinha conhecido Moon. Ele era um dos homens que apareceram com Brass e Harley na sua casa para assistir filmes. O homem alto não falava muito, mas tinha um senso de humor cáustico que ela apreciava quando ele decidia quebrar o silêncio.
— Obrigada.
Brass estendeu o braço para ela e Trisha prendeu os dedos nele. Ele sorriu genuinamente para ela e a levou para fora do escritório.
Trisha sabia que não chegaria a Reserva sem ficar completamente mortificada. Brass esfregou suas costas com gentileza enquanto ela sentava em seu colo. Ela lutou contra a vontade de vomitar no chão inteiro. Olhou tristemente para Moon e Harley.
Os dois lhe deram olhares de simpatia, sabiam de sua gravidez, e juraram segredo. Eles iriam protegê-la, vivendo com ela, e precisavam saber a verdade. Ela olhou para o chão e usou a mão para acenar para eles. Os dois rapidamente levantaram os pés. Moon sorriu.
— Vomitar em movimento não é engraçado! — gritou ela. Não tinha certeza se ele a escutou com o barulho alto do helicóptero e com o fone e protetor de ouvidos que usava para manter contato com os pilotos, mas Moon piscou em resposta, fazendo-a acreditar que tinha sim escutado.
— Estamos quase lá — disse Brass próximo ao seu ouvido. — Aguente mais um pouco, Trisha.
Ela assentiu miseravelmente. Seu estômago começou a surtar, mas não queria vomitar.
Sentir-se-ia humilhada se todos os três a vissem perder o café da manhã, sem mencionar os pilotos tendo que limpar o vômito depois que aterrissassem. Fechou os olhos, mas isso fez com que o enjoo só aumentasse. Conseguiu sentir o helicóptero descendo. Graças a Deus. Está quase acabando. O helicóptero aterrissou e o piloto começou a desligar os motores.
Moon se moveu primeiro quando abriu a porta lateral e pulou para fora. Harley saiu em seguida. Eles se separaram e ficaram de pé de cada lado da porta. Trisha tentou se levantar sozinha, mas seus joelhos tremiam tanto que vacilou no instante em que colocou o peso neles. Brass a colocou nos braços onde a aninhou contra o peito quando se abaixou para carregá-la para fora do helicóptero. Harley e Moon seguraram os dois braços de Brass e levantaram ele e Trisha até o chão. Isso impediu que Brass a sacudisse se tivesse que pular.
Trisha descansou a cabeça na curva do ombro largo de Brass. Ela o abraçou em volta do pescoço quando o mundo girou um pouco. Odiava sentir enjoo decorrente de movimento. Brass mudou sua posição, apertando-a mais forte contra o peito, para deixá-la mais confortável.
— Segure-se em mim — sussurrou ele. — Vamos deitá-la e eu vou colocar um pano frio molhado na sua testa. Vai se sentir cem vezes melhor.
— Obrigada — murmurou para Brass. — Você é o melhor.
Ele riu.
— Eu sei. É um karma difícil que estou disposto a carregar.
Ela sorriu, realmente grata por tê-lo como amigo. Ele sempre sabia como fazê-la sorrir. Ouviu Harley falando, mas não ousou levantar a cabeça do ombro de Brass para ver com quem falava, ainda lutando contra a vontade de vomitar.
— Ela está com enjoo. Vai ficar bem assim que a colocarmos em uma cama e lhe dar tempo para que se recupere.
— É mesmo? — A voz masculina soou furiosa e era uma que Trisha conhecia muito bem. Ela ficou tensa e levantou a cabeça, sem se importar com as consequências.
Slade estava a mais ou menos dois metros dela. Ele emitia faíscas quando olhou dela para Brass e de novo para ela. Trisha sabia que se olhares matassem estava nos últimos segundos de vida e essa reação dele a confundiu. Por que ele está com tanta raiva? Ele me odeia? Ele obviamente tinha problemas com sua presença próxima a ele. Seus olhares se encontraram e se prenderam.
Trisha notou que o cabelo de Slade tinha crescido um pouco desde a última vez que o viu. Ele usava o uniforme preto de costume do ONE, menos a camiseta. Ao invés de ONE estampado no peito da camisa, seu nome tinha sido impresso no espaço. Ele parecia em forma e lindo. Trisha até teria achado que parecia sexy se não fosse pela fúria homicida que viu em sua expressão. Seu coração deu uma cambalhota por estar outra vez perto dele.
— Trisha? — Surrurrou Brass em seu ouvido. — É ele, não é?
Ela virou a cabeça e encontrou seu olhar. Brass a fitou por um segundo e ficou tenso.
— Merda. — Ele assentiu. — Vamos colocá-la numa cama.
Brass se virou com Trisha e caminhou em direção a um Jipe. Slade bloqueou o caminho deles, ainda olhando para Trisha com raiva.
— Que bom te ver, Doutora.
— Olá. — disse.
Sua atenção saiu dela por uns segundos quando ele olhou para Brass, Harley e para Moon, depois olhando de novo para ela. Finalmente fulminou Brass com o olhar, sem desviar.
— Qual é o nível da ameaça que ela recebeu? Justice não foi claro e eu tive que ter cuidado com o que dizia porque havia um humano perto de mim na hora da conversa. Ele vive em reuniões desde então, e não pode retornar minhas ligações.
— Quatro. — Brass franziu o cenho. — Ela é a nossa maior prioridade, e de vocês também. Ninguém que não for Nova Espécie deve ter acesso a ela. Nenhum humano, sem exceção.
Aquela informação fez Slade empalidecer um pouco.
— Nenhum humano? Estamos no meio de uma enorme construção e temos humanos andando por toda a Reserva. Tenho centenas deles aqui vinte e quatro horas por dia para terminar todos os projetos que precisamos que terminem assim que possível. Estamos fazendo coisas em poucos meses que normalmente levariam um ano inteiro para terminar. Levou quase quatrocentos humanos em três semanas inteiras só para levantar aqueles muros de segurança para fechar a propriedade. Temo-os trabalhando em dois turnos o dia inteiro, sete dias por semana. Ainda estamos colocando arames nos muros por questões de segurança e eu tenho um hotel sendo reformado em ritmo acelerado. Vamos precisar das moradias terminadas para que a nossa gente não viva em barracas e um clube ainda está sendo construído. Temos outro projeto em andamento para os escritórios para impedir que fiquemos presos sempre em um trailer. Em qualquer dia, qualquer hora, haverá mais que quatrocentos humanos por aqui. Justice quer que eu pare tudo por aqui para que os trabalhos sejam interrompidos até que a ameaça acabe? Ele vem me pressionando para completar logo todas as obras.
— Não. — Começou Harley. — Ele só quer colocá-la em um lugar seguro onde humanos não podem entrar. Moon e eu revisamos as plantas e acreditamos que podemos escondê-la dentro do centro da zona selvagem. Nenhum humano ousaria ir até lá e a entrada deles naquela área é proibida. Eu sei que alguns dos nossos já foram relocados e isso torna tudo melhor já que nenhuma pessoa inteiramente humana passaria por eles.
— Isso não seria seguro para ela. Ela é completamente humana.
A raiva de Slade parecia aumentar.
— Com certeza nenhum humano seria estúpido o bastante para se aventurar por lá e sobreviver, mas isso seria como usá-la de isca. Acho que eles atacariam se a levassem até o território deles. Eles são muito instáveis. Assim que os relocamos, eles começaram a marcar o território e eles vêm sendo vigilantes em não deixar que nenhum humano o invada.
— Nós vamos protegê-la — prometeu Brass, sua voz firme. — Eles não vão atacá-la.
— Eles são loucos — rosnou Slade. — Alguns nunca irão se acalmar e eles odeiam humanos a um nível que vai além do que possa imaginar. Eles surtam só de sentir o cheiro de um. — Ele apontou para Trisha. — Ela está acostumada conosco, mas não com os fracassos. Não acha que vão matá-la de medo?
— Que fracassos? — Trisha olhou para os homens.
Slade a olhou com raiva.
— Nós parecemos quase humanos, mas nem todos dos nossos tiveram essa sorte. Alguns se parecem mais com animais. Temos uma meia dúzia que sobreviveu. Alguns dos nossos foram torturados até enlouquecerem ou ficarem com um ódio pelos humanos a ponto de matar um só de vê-lo. São esses que relocamos para cá. Não vai ficar segura dentro da zona selvagem. É onde colocamos os mais antissociais deles.
Brass se abaixou e colocou Trisha de pé quando ela indicou que era isso que queria. Ele segurou sua cintura até que conseguisse se equilibrar nas pernas que tremiam. Ele se afastou um pouco quando teve certeza que não cairia. Levantou o olhar para ele.
— O que você acha?
— Acho que a zona selvagem é o melhor. Eles não vão te machucar. Depois que fomos libertos, eles usaram fêmeas para ajudar a tratar dos Novas Espécies já que não a atacamos. Tenho certeza que isso também vale para os mais selvagens. Ficaremos com você e eles vão ficar na deles. Não podemos nos esconder mais do que isso, Trisha. Seria esperto colocá-la no centro do território já que eles o reclamaram. Eles são altamente protetores de seus domínios. Ajudarão a manter todos afastados.
— Maldição — rosnou Slade. — Eu controlo isso aqui, não você. Não vou permitir que ela entre, já que sei do que estou falando e você não. Fui eu quem passou tempo com eles. Eu sei que ela não ficará segura. Vamos colocá-la no hotel quando o último andar estiver terminado. Fecharemos todo o acesso e a deixaremos lá.
— Não. — Brass cruzou os braços. — Justice me colocou no comando quanto à segurança dela. Eu posso e vou passar por cima da sua autoridade nisso. Sem ofensa, mas eu quero onde nenhum humano possa chegar até ela, Slade. E se um desses imbecis terroristas decidir se passar como trabalhador e atear fogo no hotel? Nada pode acontecer a ela. A zona selvagem é a resposta. Há casas por lá? Estou ciente que temos alguns trailers por aqui e podíamos aceitar um. Seria apertado, mas funcionaria. Temos que mantê-la longe de qualquer um que não seja Nova Espécie.
Slade estava furioso. Ele abriu os lábios e mostrou os dentes afiados quando um rugido grosso ressoou de dentro dele.
— Ok. Podem ficar com a minha casa. Só tem três aposentos, mas tenho certeza que vão se virar. Fica longe de todos os outros prédios.
Slade praguejou e rosnou de novo. Seu olhar se prendeu ao de Trisha.
— Diga a ele que não. Escute-me. Aqueles homens lá não são estáveis e você é uma fêmea completamente humana. Além disso, é médica, duas coisas pelas quais vão querer te matar só pelo fato de existir. Você vai morrer se concordar com eles a levarem para lá. Os selvagens foram tratados por fêmeas quando fomos libertos, mas depois foram levados para lugares remotos sem a presença delas. Eles passaram meses sozinhos e não estou certo se eles ainda resistiriam a atacar uma mulher. Também não estou disposto a arriscar isso.
O medo subiu pela espinha de Trisha ao fitar Slade.
— Confie em mim, Trisha. Eu nunca a decepcionaria — prometeu Brass baixinho. — Eu sei o que estou fazendo. A zona selvagem é o lugar mais seguro para você ficar. Eles não vão te machucar e eu jamais permitiria que qualquer coisa que te fizesse mal acontecesse.
— Trisha? — Slade sacudiu a cabeça para ela, observando-a de perto. — Confie em mim. Diga para eles a instalarem na minha casa enquanto eu me mudo para o hotel.
Ela conseguiu evitar ume estremecimento. Podia ficar em sua casa, mas ele sairia dela.
— Brass? — Ela virou a cabeça e tirou os olhos de Slade. — Eu sei que você vai me proteger. O que achar melhor, para mim tudo bem. Você decide.
Brass sorriu.
— Vamos para a zona selvagem.
Slade rosnou com vontade e disse um palavrão.
— Trisha? Venha aqui agora. Vamos ter uma conversinha particular.
Ela ficou tensa e o encarou lentamente.
— Como é? Você sabia há semanas como me contatar se queria conversar comigo. Devia ter tentado me dizer bem antes se existe alguma coisa a dizer que eu precisava escutar. — Ela começou a caminhar em direção ao Jipe. Ouviu alguém rosnar e se virou em tempo de ver Brass se mover rapidamente quando Slade foi para cima dela. Brass ficou entre os dois e rosnou de volta para Slade. Slade parou. Os dois ficaram tensos enquanto se olhavam. Parecia que iam brigar a qualquer momento.
— Brass? Eu não me sinto muito bem mesmo — disse Trisha às pressas, não querendo que os dois partissem para a agressão. — Podemos ir? Obrigada pela sua preocupação, Sr. Slade, mas eu tenho total confiança em Brass, Moon e Harley para me protegerem.
— Então é assim — rosnou Slade. — Ótimo. Há uma cabana vazia naquela área. Podem ficar com ela. Vou mandar alguém com suprimentos imediatamente. Só tem um quarto, mas parece que vocês quatro não se importam em dividir uma cama. — Ele virou nos calcanhares e disparou em direção a um dos prédios.
Trisha o observou ir embora e lutou contra as lágrimas.
— Ele acabou de me chamar de vadia indiretamente?
Moon riu e mexeu as sobrancelhas.
— Eu queria que você fosse. Estaria disposto a dividir com eles se conseguisse ter você nua numa cama comigo.
Ela riu, sabendo que ele estava brincando. Moon sempre conseguia fazer com que se sentisse melhor.
— Continue querendo. Vocês vão ficar no chão se só tiver uma cama.
Brass relaxou e sorriu para Trisha.
— Sem problema. Você definitivamente fica com a cama. Vocês humanos fracotes nunca sobreviveriam dormir no chão duro. Nós machos não nos importamos em dormir em superfícies duras.
Harley riu.
— Fale por si mesmo. Eu amo camas então talvez pegue o turno da noite para dormir quando Trisha não estiver nela.
— Sou bom em dormir de conchinha. — Moon mexeu as sobrancelhas para Trisha de novo, fazendo-a sorrir. — Se ficar com frio basta me dizer que eu vou te aquecer. Até me comporto se não me fizer dormir no chão.
— Vou mandar que levem colchões — grunhiu Brass de forma brincalhona. — Quando vocês ficaram tão molengas?
— Quando nos dão escolha — disparou de volta Harley.
— Vamos dar o fora daqui antes que Slade volte para rosnar outra vez para você. Lidar com todos esses humanos deixou mesmo ele mal-humorado. Eu não sei o que se meteu no traseiro dele, mas espero que ele em breve faça uso de um papel higiênico.
— A gravidade com certeza vai ajudar — Moon riu baixo.
Trisha riu. Ela amava os rapazes. Tinha certeza que iria chorar depois do confronto com Slade se não fosse por eles. Brass a ajudou a entrar no Jipe enquanto Moon e Harley foram para o banco de trás. Brass sentou no do motorista. Ele olhou para o outro Jipe com um Nova Espécie aguardando com as malas. — Sabe de que cabana Slade falou?
Ele assentiu.
— Vá na frente — ofereceu ele. — Nós vamos seguir.
Harley passou o cinto de segurança para Trisha. Ela o colocou calada e lhe deu um sorriso. Ele assentiu.
— Sempre use o cinto.
— Sim, Senhor.
Trisha fitou o belo cenário ao passarem — uma grama rica, belas árvores e montes. Ela avistou um cervo próximo a algumas árvores. Era um lugar tão lindo que ela conseguiu afastar os pensamentos sobre Slade da mente. Era difícil, mas não queria irromper em lágrimas.
Slade andava de um lado para o outro na floresta do outro lado dos prédios, escondido de todos, e sabia que não tinha levado bem nem de longe a ocasião de ver Trisha outra vez. A visão dela nos braços de outro homem quase tinha lhe provocado uma fúria de ciúmes.
Brass a tinha levado nos braços, falado como se tivesse o direito de falar por ela, e ela permitiu. Um rosnado saiu de seus lábios. Tinha sacrificado sua sanidade para ficar longe dela, ido contra seus instintos para que ficasse perto, e ela o desafiou justamente quando tinha desejado protegê-la.
Endureceu, apertou os punhos, e parou de andar em círculos. A dor rasgou seu peito ao pensar que ela não o queria mais. Devia ter dito a ela por que a evitou, mas tinha acreditado que ela o convenceria a ignorar sua própria segurança se sentisse por ele um centésimo do que o que sentia por ela. Teria enfraquecido sua resolução, olhar nos olhos dela e se ela o tocasse, teria perdido a batalha.
Um barulho leve atraiu sua atenção e virou a cabeça para ver um Espécie procurando por ele.
— O que foi?
— O arquiteto quer falar com você. Tem algo errado com os desenhos de uma das modificações que pediu para o hotel.
A raiva queimava dentro dele. O trabalho havia consumido todas as suas horas. Ele mal dormia, mas isso afastava a maior parte dos pensamentos com relação a Trisha. Precisava ficar ocupado agora mais do que nunca. Senão pularia em um Jipe, dirigiria até a cabana e… rasgaria as roupas dela e a foderia até que ela soubesse que ainda é minha.
Afastou seus pensamentos, sabendo que não podia deixar o desejo controlar suas ações.
Ela estava pálida e doente. Preocupava-se com isso. Ela precisava descansar, obviamente, mas também… maldição! Pare de pensar em tirar a roupa dela e fazer com que perceba que é o macho certo para ela. Agora não é hora.
— Slade? Está tudo bem? — O Espécie macho inclinou a cabeça, olhando para ele com preocupação.
— Tudo bem — mentiu. — Vamos. Quanto mais rápido lidarmos com esses problemas, mais rápido o trabalho acaba.
Lidaria com a doutora mais tarde depois que tivesse tempo de pensar e avaliar a situação. Ela estar na Reserva mudava totalmente as coisas. De toda forma ela corria perigo, quer estivesse com ela ou não. Tinha que se acalmar antes que decidisse o que fazer. Não seria inteligente falar com ela até que controlasse seu ciúme.
A cabana compacta provavelmente havia sido construída por volta dos anos setenta se Trisha tivesse que adivinhar, baseado no interior. Fez uma careta ao ver o papel de parede da pequena cozinha e o velho carpete que cobria o chão da sala.
— Só está faltando uma bola de espelhos.
— Não entendi. — Harley a fitou.
— Bem-vindos aos anos setenta, senhores. Notam os acessórios verde abacate e o papel de parede laranja? Outra dica óbvia são os painéis de madeira e esse carpete peludo saiu de moda no fim da década. Mas o lugar parece ser bem construído e eu adorei aquela lareira.
— Não tem um quarto. Tem isso. — Brass apontou para uma escada.
— O quarto fica no sótão. — Trisha subiu as escadas e viu que o quarto na verdade era bem espaçoso. — É grande e, nossa, tem uma banheira ali. Que surpresa boa.
— A cama é muito pequena para caber nós quatro a não ser que façamos um montinho — declarou de repente Moon.
Trisha começou a rir. Voltou-se e sorriu para ele, vendo que os três a seguiram até em cima.
— Eu fico em cima, por favor. Assim não serei esmagada.
— Podíamos dormir como se fôssemos cachorros-quentes embalados para viagem — ofereceu Harley.
— Quando um de nós quiser se virar, podíamos gritar “virando” e fazer que nem aqueles nadadores sincronizados que se mexem ao mesmo tempo.
— Não daria certo. — Moon gargalhou. — A pessoa da beira da cama do lado para o qual virarmos acabaria de cara no chão.
— O que daria mais espaço para os outros três. — Brass piscou para Trisha. — Acho que devemos colocar Moon e Harley nas extremidades, só por precaução.
O sorriso de Moon morreu e ele levantou a cabeça. Virou-se, farejou, e quase saltou do topo da escada.
— Tem alguém por perto — alertou com um rosnado.
Brass agarrou Trisha e a colocou na cama.
— Sente. — Ele se apressou até a janela.
Harley desceu correndo a escada atrás de Moon. Trisha ouviu a porta da frente abrir. Virou-se para encarar Brass, lutando contra o medo. Ele tinha tirado a pistola do coldre em sua coxa. Abriu a cortina e ela o ouviu soltar um palavrão baixinho.
— O que foi? — sussurrou Trisha.
— Um dos residentes locais está lá fora. Merda. O que ele está fazendo aqui? Alguém devia ter me avisado que o tinham transferido. Ele deve ter sentido o seu cheiro de leve e vindo aqui para investigar. Moon está falando com ele e Harley está vigiando o andar de baixo.
Curiosa, Trisha saiu da cama e foi para trás de Brass. Sabia que ele tinha ciência de sua presença. Ele colocou a mão para trás e a depositou em seu quadril para mantê-la onde estava. Ela hesitou e deu uma olhada de lado. Ainda havia luz e ficou fácil para que avistasse o homem lá fora—ao menos era na maior parte um homem. A visão do seu cabelo e feições a chocou profundamente.
— Ele é...
— Shhh — ordenou Brass baixinho. — Ele provavelmente vai ouvir o que você disser. Eles têm uma audição melhor do que a maioria de nós.
O grande homem obviamente tinha sido alterado com genes felinos e tinha uma verdadeira juba de um loiro avermelhado. Seus olhos eram que nem de gato, aparentes mesmo à distância. Tinha um corpo enorme e musculoso. Mal estava vestido, só usando uma calça de algodão e nada mais.
Seus braços e peitoral eram gigantes, como se ele tivesse passado a vida inteira malhando. Seus traços eram mais animais do que humanos com seu nariz estranho e enormes maçãs do rosto.
Moon tinha parado a uns cinco metros do homem que permanecia muito quieto no começo da floresta. Ele levantou a cabeça de repente e seu olhar estranho pareceu imediatamente localizar Trisha. Parecia que ele de alguma forma sentia sua presença.
Um rugido irrompeu da boca do cara assustador quando ele a abriu. Era um som alto e chocante para Trisha, cem por cento não humano. O corpo inteiro dele ficou tenso e ele saiu em disparada em direção a casa. Moon pulou no seu caminho e abriu os braços para impedir que ele passasse. Moon falou rapidamente com o cara — ela ouvia sua voz, mas não conseguia entender o que falava. As ações de Moon não pararam o homem nem por um segundo.
Ela observou em horror quando o grandão atacou Moon, apenas estendendo uma mão, agarrando-o pela garganta, e jogou-o de lado tão facilmente como se fosse um boneco de pano.
O filho da puta corria rápido, direto para a casa, e rapidamente desapareceu.
Um rosnado terrível soou do andar de baixo e outro rugido surgiu. Um ruído estridente soou como se uma tora de madeira tivesse se partido ao meio, seguido por uma pancada horrível. Brass se virou, agarrou Trisha pela cintura, e rapidamente a colocou no canto do aposento.
Ele colocou o corpo na frente do seu, segurou-a atrás de si e encarou a escada quando levantou o braço para apontar a arma. Trisha se encheu de terror quando ouviu o cara subir os degraus.
— Pare, Valiant. — alertou Brass em voz alta. — Moon, Harley, fiquem aí embaixo. Eu o conheço.
— Trouxe um humano para cá? — rosnou o cara assustador. — Um humano? Justice me prometeu que nenhum deles viria aqui. Ela está no meu território. Meu. Porque é você, vou lhe dar um minuto para tirá-la daqui antes que a mate, Brass.
— Acalme-se. — Brass falava baixo agora, talvez tentando acalmar o macho fora de controle. — Ela está grávida de um de nós. Agora é uma dos nossos.
— Mentira. Não podemos procriar.
Trisha virou um pouco para a esquerda para espiar o macho aterrorizador no topo da escada. Ele tinha que ter quase dois metros de altura e seu cabelo era de um ruivo dourado incrível com mechas loiras mescladas. Caía bem abaixo dos seus ombros largos. Não pôde deixar de notar o quanto ele era bonito e exótico.
Pele bronzeada e músculos fortes cobriam seu corpo quase todo exposto. Ele tinha que ser o maior Nova Espécie que já tinha visto. Seus dentes afiados apareceram quando ele retraiu os lábios para rugir para ela. Seus olhos dourados de gato se estreitaram e ele rosnou mais forte. Trisha teria caído dura no chão se fosse dada a desmaios—devido a aparência e as ações ferozes.
Notou que seus dedos estavam tensos, como se fossem garras e suas unhas pareciam afiadas, como a dos animais.
— Ela está esperando um bebê Nova Espécie. — A voz de Brass ficou mais firme. — Isso a torna uma de nós. Justice a mandou para cá porque ela não está mais segura perto de humanos. Isso vai nos causar muito pesar se o mundo descobrir porque eles vão temer a ideia de procriarmos com eles. Ela foi trazida até aqui para ser protegida por nós.
— Mentira — rosnou ele.
— Verdade — rosnou Brass em retribuição. — Não me chame de mentiroso.
Valiant rugiu mais grosso dentro do peito. — Saia da frente, vou cheirá-la.
Brass não cedeu.
— Pode farejá-la se me prometer que não vai machucá-la. Ela está carregando um bebê Nova Espécie. Está só com um pouco mais de um mês de gravidez.
Valiant urrou de novo.
— Certo. Não vou machucar a mulher. Saia da frente para eu sentir o cheiro.
Brass virou a cabeça. Trisha fitou suas feições intensas. Não queria que Brass saísse de sua frente e com certeza não queria Valiant próximo a ela. Ele a matava de medo. O olhar de Brass suavizou.
— Ele só quer sentir o seu cheiro. Eu o conheço. Fomos criados na mesma unidade de testes e passamos um tempo juntos bem depois de sermos libertos antes que eles o mandassem e os outros como ele para longe dos humanos. Ele deu sua palavra, e vai mantê-la.
Trisha teve que lutar contra o pânico. Realmente confiava em Brass e ele não permitiria que a machucassem.
— Tudo bem.
Brass recuou um passo, deixando o caminho até ela livre. Ela se apoiou na parede, fitando o homem horripilantemente enorme que a encarava. Seus dentes afiados e de aparência perigosa apareceram e ele ainda parecia com raiva. O coração de Trisha martelou quando ele se aproximou, do jeito que um predador faria. Ele era um predador.
— Não a assuste, Valiant — disparou Brass. — Tudo bem, Trisha.
Ela assentiu, mas não tirou a atenção do homem que avançava lentamente em sua direção. Seus olhos eram mesmo lindos quando se aproximou mais, mas definitivamente não eram humanos. Eram olhos de gato, comparáveis talvez aos de um leão, porque ele com certeza não se parecia com nenhum gato doméstico que já tinha visto, claramente que não. Seus cílios eram de uma cor avermelhada que combinava com o seu cabelo, anormalmente longos e cheios. Ele deu outro passo. Ela endureceu, mas levantou o queixo. Tinha certeza que Brass lutaria para protegê-la se achasse que Valiant representasse uma ameaça.
Valiant de repente se abaixou com as mãos no chão. Pareceu estranho quando ele se aproximou mais, seu olhar intenso fixo no dela. Ele se aproximou tanto que podia sentir sua respiração quente pela camisa na altura do estômago.
Trisha levantou as mãos bem devagar e encostou as costas delas na parede para evitar entrar em contato com ele acidentalmente. Estava com medo de enfurecê-lo se isso acontecesse. Ele inalou quando veio mais perto e fungou seu estômago, enterrando o rosto na abertura entre sua camiseta e calça para alcançar sua pele. Ela fez um som ofegante, jamais esperando que ele fizesse aquilo.
— Vá com calma — disse Brass. — Está assustando-a e não ouse descer esse nariz.
O olhar chocado de Trisha voou para Brass. Ele deu de ombros.
— Alguns de nós… inferno, esqueça. Esteve com animais o suficiente para saber que alguns deles metem o nariz na virilha para conhecer as pessoas.
Valiant se afastou de repente e ficou de pé. O foco dele continuou em seu estômago enquanto franzia o cenho. Ele não parecia nem um pouco feliz.
— Ela tem um cheiro diferente.
— Como assim? — Brass parecia muito calmo.
— Não inteiramente humano, mas não muito parecido com o nosso. Você só nota cheirando a pele dela.
Brass hesitou antes de olhar para Trisha.
— Posso?
Trisha encolheu os ombros.
— Contanto que não fungue mais embaixo.
Ele riu.
— Você não é nada divertida, Trisha.
Seu sorriso morreu quando ele ficou na sua frente e abaixou a cabeça até colar o nariz em seu pescoço. Quando tocou sua pele inalou lentamente, então repetiu o processo. Ele levantou a cabeça, franziu o cenho, e ficou de joelhos. Ele pegou sua camiseta e a levantou um pouco para revelar sua barriga. Colocou o nariz ali e inalou três vezes até recuar e se levantar. Ele encarou Valiant.
— Você tem razão. Não dá para notar a não ser que cheire a pele da área da barriga. É bem fraco.
— Ela está mesmo grávida de um de nós? — Valiant parecia calmo agora. Sua voz estava grossa, meio que rouca, como se tivesse passado cem anos fumando ou danificando a garganta de outro modo, mas não estava mais rugindo.
— Está.
Valiant assentiu.
— Não posso acreditar que se emparelhou com uma humana. No que estava pensando? Elas são tão frágeis que eu estou surpreso por ela não ter se partido ao meio. Podia ao menos encontrar uma de tamanho normal e mais robusta. Devia mesmo se conter. Qual é o prazer de procriar se tem que se preocupar em machucar sua mulher?
Brass corou um pouco.
— O bebê não é meu. Eu nunca cruzei com ela. Sou amigo dela e sou um dos três que Justice pediu que a protegessem.
Valiant virou a cabeça em direção a Trisha e rosnou.
— Há um complexo para experimentos com reprodução? Ela se voluntariou para algum médico colocar nosso esperma dentro dela?
— Não. — Brass se moveu, colocando-se entre os dois de novo. — Eles procriaram naturalmente, de livre vontade. Foi uma surpresa para todos nós ela ficar grávida. Não achávamos possível.
Valiant suspirou.
— Pode sair da frente. Não vou machucá-la.
Brass se afastou de Trisha. Ela encontrou os olhos de Valiant. Ele a fitava, mas não parecia mais com raiva. Parecia levemente confuso. Ele suspirou outra vez.
— Você pode ficar, humana. Só você. Não traga nenhum dos seus amigos humanos nem família. Eu os comeria no jantar. — Ele virou o olhar para Brass. — Vou dizer a todos na zona para evitar que outros venham incomodá-la.
— Podia nos ajudar a protegê-la? Por favor, fique de olho em qualquer humano à espreita e garanta que não se aproxime dela.
Valiant sorriu, mostrando de novo seus dentes afiados.
— Seria um erro fatal da parte deles se qualquer humano for estúpido o bastante em vir para cá.
Brass relaxou visivelmente depois de Valiant descer a escada. Ele sorriu para Trisha, mas o sorriso pareceu um pouco forçado. Moon e Harley subiram os degraus às pressas segundos depois. Harley estava sangrando e segurava um pano molhado na testa. As roupas de Moon estavam rasgadas.
— Ninguém me avisou que Valiant estava aqui. Ele é o mais cruel e o mais mortal da nossa gente. Eu teria ido vê-lo antes de trazer você aqui se soubesse. Poderíamos lidar com qualquer outro, mas ele é… — Brass encolheu os ombros. — Um filho da puta e tanto.
Trisha se mexeu agora que o terror passou. Andou até Harley.
— Abaixe a cabeça e me deixe dar uma olhada nisso. — Olhou para Moon. — Está machucado?
— Vou viver. Eu sei como uma bola de futebol se sente agora e isso para mim acabou com o esporte. — Ele se virou e desceu a escada.
Harley se abaixou um pouco e tirou o pano molhado. Trisha examinou o ferimento e praguejou baixinho.
— Não vai precisar levar pontos, mas preciso limpar e fazer um curativo nisso.
— Porra. — Ele corou. — Quer dizer, droga.
Trisha riu.
— Fique à vontade. Eu teria dito coisa pior se alguém fizesse isso comigo. Ele bateu em você com o que?
— Com a porta. — Ele fixou o olhar em Brass. — Vai querer ligar e pedir uma nova. Valiant a arrancou das dobradiças e jogou em cima de mim. Eu tentei me desviar, mas a ponta da coisa bateu na minha testa. A mesa de café também não sobreviveu. O lado positivo é que não precisamos mais cortar madeira se Trisha quiser acender o fogo esta noite. Podemos usar os cinquenta pedaços da mesa que estão pelo chão.
Brass suspirou.
— Vou pedir um kit de primeiros-socorros para que Trisha possa fazer o curativo no seu dodói, Harley. Importa-se Trisha? Ainda não temos um médico na Reserva.
— Só me arrume o que eu preciso. Precisa que eu lhe dê uma lista de suprimentos?
— Não. — Brass não parecia feliz. — Tenho certeza que o que temos dentro dos nossos kits vai te ajudar em tudo o que possivelmente vá precisar. Acho que vou descer para avaliar os danos e depois, ligo para o escritório e os informo do que precisamos.
— Obrigada. — Trisha sorriu para ele. — Por tudo.
— Ei — grunhiu Harley. — Eu levei uma portada na cabeça. Onde está o meu “obrigada”?
Trisha riu e estendeu a mão para tocar o braço de Harley.
— Obrigada.
— Ela me tocou. — Harley estirou a língua para Brass, provocando-o, e fez Trisha rir.
— Não tem algo a fazer? — Eles podiam ser infantis, mas ela apreciava suas tendências brincalhonas.
— Estou indo. — Brass desceu a escada. Foi resmungando o caminho inteiro.
Trisha fez Harley sentar na cama.
— O que ele disse?
Harley sorriu.
— Algo sobre ter que passar vergonha quando ligar e Slade descobrir que já houve problemas assim que chegamos.
Trisha entrou no pequeno banheiro e pegou uma toalha de rosto. Voltou ao quarto para aplicar uma nova compressa na cabeça ensanguentada de Harley. Brass não era o único que temia como Slade reagiria quando descobrisse que já tinha ocorrido um incidente na cabana.
— Valiant?
Slade estava tão furioso que via tudo em vermelho. Estava de pé no portão da casa que tinha sido dada a Valiant. Ouviu uma porta bater e segundos depois um Valiant quase nu desceu casualmente os degraus da entrada da casa para se aproximar do portão.
— Slade. Por que está aqui? Podia ter ligado se precisava de alguma coisa.
— O que estava fazendo? — Slade abriu o portão e entrou. Estava pronto para brigar se Valiant ficasse puto com ele entrando no seu pátio sem permissão. — Me disseram que não machucou a mulher, mas eu juro por Deus que se tivesse, eu o mataria com as minhas próprias mãos. Não tinha por que ir atrás dela. — urrou.
Valiant cruzou os baços.
— Eu senti o cheiro de um humano. Aquela cabana não fica muito longe e eu fiquei irritado. Justice disse que nenhum humano era permitido por aqui.
— Bem, você passou por cima de dois dos nossos para alcançá-la, então sabia muito bem que ela tinha razões para estar aqui. Aquela cabana não fica no seu território pessoal. Não tinha autoridade para atacar nossa gente.
Valiant deu de ombros, dizendo nada.
— Eu mato você se chegar perto dela outra vez — ameaçou Slade com um rosnado. — Estamos claros? Eu sei que você é amigo de Tiger, mas maldição, não vou permitir que machuque aquela mulher. Fique longe dela e não se aproxime novamente. Entendeu-me? Não toque em um fio de cabelo dela.
— Não vou me aproximar dela. Já discuti isso com Brass. Ela é uma de nós no que me diz respeito.
Slade olhou para Valiant com raiva, levemente confuso pela declaração dele.
— Ela não é uma de nós, mas é uma ótima amiga dos Espécies. Ela trabalha para nós. Justice e eu confiamos nela.
— Ela é uma de nós agora, não é? Eu senti o cheiro dela pessoalmente. Ela foi muito corajosa e nem sequer gritou quando eu cheirei sua barriga.
— Você o quê? — Explodiu Slade. — Ficou perto assim dela? Tocou nela? — Avançou.
Valiant rugiu e se agachou.
— Pare ou nós vamos brigar.
Slade parou sua abordagem enfurecida, mas quase se sacudiu de fúria.
— Tocou nela?
— Eu mantive minha palavra a Brass e não a machuquei. Queria sentir o cheiro dela quando ele me deu a notícia, porque não acreditei nele. Os dois concordaram em me deixar me aproximar dela. Não foi um ataque.
— Ele permitiu que tocasse nela?
Slade encheria Brass de porrada quando fosse à sua próxima parada, a cabana. Valiant era instável e qualquer um com um cérebro não deveria deixá-lo se aproximar de Trisha. Se ele tivesse lá, teria matado o enorme Espécie por ao menos tentar.
— Eu não acreditei que ela estava grávida. Agora sei que está.
O choque rasgou Slade ao meio.
— O quê?
Valiant se levantou lentamente.
— Grávida. Ninguém lhe disse? A mulher está esperando um bebê. É por isso que Brass a trouxe para cá, para que ficasse a salvo... dos humanos.
A raiva fluiu para fora de Slade dando lugar a uma dor no peito. Trisha está grávida? Parecia que seus joelhos iriam ceder. Seu coração começou a martelar e a raiva começou a retornar. Ela está grávida! Uma onda de emoções o inundou, a maior parte homicidas, ao pensar que algum cara tinha tocado o que era seu. A ideia de qualquer um fazendo isso quase o deixou à beira da loucura.
— Justice ordenou que a trouxessem aqui para protegê-la de sua gente. Justice acha que quando os humanos descobrirem que ela está esperando um bebê que é uma mistura estre espécies vão querer lhe fazer mal. Eu tenho que concordar com ele. Humanos são instáveis e hostis por razões estúpidas. Tem algo no cheiro dela que a torna diferente. Deve ser o bebê dentro dela, mudando a química de seu corpo.
— O pai é um Nova Espécie? Tem certeza? — Slade cuspiu as palavras, sua amargura e raiva crescendo a passos largos.
— Cheire-a você mesmo. Seu cheiro é diferente. Humano e levemente nosso, mas o suficiente para eu ter certeza. Eu cheirei mulheres humanas grávidas quando os militares mandou um monte delas para nos levar comidas e suprimentos. Eles sabiam que não iríamos machucá-las se invadissem o território que nos deram. Nada é mais indefeso do que uma fêmea grávida. Eu conheço bem o cheiro de uma, mas essa cheira diferente. Não consegui detectar uma diferença até colocar meu nariz em sua pele. Deve ser porque sua gravidez ainda é recente. Quando os meses se passarem provavelmente vai ficar mais fácil de notar à distância.
Slade saiu em disparada dos portões em direção ao seu Jipe. Sua raiva não conhecia limites. Alguém devia ter lhe dito que Trisha tinha sido enviada para a Reserva porque carregava um bebê Nova Espécie. O motor do Jipe roncou e Slade pisou fundo. Os pneus cantaram em protesto, mas ele não se importou com o barulho. Agora as coisas faziam bem mais sentido. Estava louco de ódio.
— Alguém vem e rápido — gritou Moon em alerta. — É um dos nossos Jipes.
Brass deitou as cartas e sorriu para Trisha.
— Já estava na hora de mandarem o que pedimos. — Ele deu uma olhada no relógio. — Na verdade estão adiantados meia hora do que disseram que chegariam ao telefone.
— Estou morrendo de fome, tomara que tenham mandado comida.
— Tenho certeza que sim. — Harley lhe piscou. — Uma mamãe grávida tem que comer muita porcaria. Eu peço uma se eles mandarem alguma barra de chocolate. Eu amo aquelas coisas.
— Eu sou a grávida. — riu Trisha. — Isso quer dizer que eu tenho o direito a reivindicar qualquer coisa primeiro.
— Malvada — Harley estirou a língua, pôs as cartas na mesa e se levantou. — É melhor ajudar a trazer as coisas. Quanto mais rápido fizermos isso, mais rápido vamos poder ver o que mandaram.
— É Slade — gritou Moon segundos depois. — Está vindo bem rápido mesmo.
— Merda — suspirou Brass da porta. — Ele está puto. Consigo ver os dentes dele daqui.
— Por quê? — Trisha se encheu de confusão. — Não foi culpa nossa Valiant ter atacado.
Brass se virou.
— É melhor você subir, Trisha. Acho que as coisas vão ficar feias.
Trisha franziu o cenho e se levantou do sofá, caminhando até a porta ao invés do sugerido. Ela tirou Brass do caminho com o braço e saiu na varanda para ver o Jipe de Slade dar uma freada ao lado da cabana. Slade deixou marcas de pneus ao brecar.
Não precisava ter os sentidos elevados para sentir o cheiro de borracha queimada quando Slade desligou o motor do carro e pulou do assento do motorista. Ele chegou até Moon primeiro e rosnou para ele.
— Saia do caminho.
Moon não se moveu.
— Algum problema?
Slade se arremessou. Ele agarrou Moon pela camisa e o empurrou com força, para longe do seu caminho, e avançou. O medo cresceu instantaneamente em Trisha depois de perceber que Slade parecia mais que fulo. Ela de fato recuou e bateu na parede da cabana próxima a entrada. Brass se levantou repentinamente, indo até a entrada, e encontrou Slade de frente.
— Permitiu que Valiat tocasse nela? — gritou Slade. — Ele é instável e poderia tê-la matado. — Slade esmurrou Brass na cara com o punho.
Brass caiu de bunda no chão. Ele urrou e tentou se levantar, mas Slade se virou, dado um chute no peito dele. O chute derrubou Brass deitado na grama. Slade rosnou, mostrando os dentes, quando Harley se aproximou dele.
— Fique fora disso a não ser que também queira apanhar. Isso é entre nós.
Harley parou, levantou as mãos e recuou.
— Ok.
— Pare — exigiu Trisha. Ela tentou correr pela escadinha para alcançar Brass, preocupada que estivesse machucado gravemente, mas Harley segurou o seu braço para impedir que saísse da varanda.
— Fique de fora — ordenou Harley baixo. Ele fechou os braços gentilmente em volta da cintura de Trisha. — Pode se machucar. Às vezes nossos machos brigam para aliviar o estresse. Isso é uma questão de domínio e não devemos interferir.
Trisha estava perplexa. Aquilo não era são e com certeza não era algo que queria assistir. Eles precisavam parar. Alguém podia acabar se ferindo. Porém, Harley se recusava a soltá-la quando lutou.
Brass ficou de pé. Ele rugiu e jogou o corpo em cima de Slade. Em horror, Trisha observou os homens se enfrentarem. Nunca tinha visto uma briga de Novas Espécies antes. Parecia uma combinação entre uma briga de cães e uma luta sem regras de kickboxing. Ficou claro em minutos que Slade lutava melhor. Ele esmurrou Brass no rosto e deu um chute que o jogou no chão de bruços. Brass grunhiu, mas não levantou. Slade ofegava, obviamente ainda enfurecido.
— Achou que podia protegê-la? — Rosnou Slade. — Não consegue nem protegê-la de mim.
Brass levantou a cabeça, parecendo um pouco zonzo, e sangue manchava sua boca. Ele virou a cabeça para olhar Slade com raiva.
— Alguém tinha que tentar protegê-la.
— Bem, você não pode. — Slade marchou em direção à cabana. Moon tinha rodeado os lutadores até ficar de guarda na base dos poucos degraus, bloqueando o caminho de Slade até Trisha. Harley de repente soltou Trisha e pulou os degraus para ficar ao lado de Moon. Os dois pareciam tensos.
— Saiam da frente — rosnou Slade, parando a poucos centímetros dos dois.
— Por quê? Você está com raiva e não está agindo com a razão. — Harley manteve o tom de voz calmo.
— Você machucou Brass por estar puto com Valiant. Não sabíamos que ele estava aqui ou Brass teria ido falar com ele antes que ele farejasse um humano. Você é um dos nossos melhores lutadores e sabe que conseguiria vencer Brass sozinho. Podia vencer nós dois também, individualmente. Sabemos disso. Mas vai ter que passar por cima de nós dois ao mesmo tempo se o que deseja é perturbar Trisha. Sua briga não é com ela.
O olhar azulado escuro de Slade se prendeu ao de Trisha. Ele ofegava muito e parecia tão enfurecido que a assustava. Nunca achou que ficaria com medo de Slade, especialmente depois do tempo que passaram a sós na floresta, mas estava errada. Estava apavorada.
— Eu sabia que estava mais atraída por Justice do que admitia para mim. Eu não teria te evitado se soubesse que estava tão ávida para ter um macho Espécie em sua cama. Achei que estava te protegendo — urrou Slade. — Estar com um de nós a põe em perigo. Você passou por coisa demais e eu não queria que ficasse comigo por gratidão por ter salvado sua vida. Eu sabia que só o tempo poderia nos dar uma chance. — Ele sacudiu a cabeça. — Poderia matá-la. Eu lhe disse que você era minha. Minha! — rosnou. — Pode ficar aqui e ter o seu bastardo, mas é melhor que nunca a veja de novo. Você não tem permissão para deixar a cabana enquanto Justice esconde você e o seu filho adorado debaixo do meu nariz.
Slade se virou e foi embora. Trisha travou os joelhos para que não caísse na varanda. Slade achava que estava grávida de Justice? Seu queixo caiu.
— Slade?
Ele a ignorou completamente, como se nem tivesse falado, e pulou dentro do Jipe.
— Slade? — Elevou a voz.
Ele virou a cabeça e uma raiva pura apareceu em suas feições.
— Você está morta para mim, Doutora. Nunca mais diga o meu nome outra vez. Eu me arrependo de algum dia ter lhe dirigido a palavra e queria que nunca tivesse te tocado.
O Jipe rugiu e ele engatou a marcha ré.
— Slade? Precisa me escutar — gritou Trisha. — O bebê não é de Justice!
Ele pisou no freio e virou a cabeça para trás, entortando o lábio.
— Brass? Devia ter escolhido alguém mais forte, Doutora. Eu acabei com ele sem nem suar. Mas eu aposto que ele grita o seu nome, não grita?
Trisha conseguiu dar um passo e se segurar na cerca da varanda para continuar de pé. Estava enlouquecida de raiva agora.
— Também não é dele. É seu, seu filho da puta estúpido! — Gritou a informação para ele. — Pode ser capaz de dar uma surra em Brass, mas ao menos ele está aqui para mim. Ele nunca me abandonou quando eu mais precisei dele e não mente para mim jurando que vai voltar e ao invés disso foge como se fosse um grandessíssimo covarde do jeito que você fez. E esse bastardo que você se refere, é um ótimo jeito de chamar o próprio filho. Odeio você.
Ela viu a expressão dele mudar quando emoções cruzaram suas feições em rápida velocidade. Raiva, choque, e finalmente ele empalideceu antes de sua expressão voltar para aquela de fúria. Ele desligou o Jipe e desceu do veículo. Seus traços ficaram inescrutáveis quando ele veio em sua direção. Brass conseguiu voltar a se levantar e se colocou vacilante no caminho dele.
— Não.
Slade rosnou para ele.
— Saia da frente.
— Não faça isso — pediu Brass baixinho. — Quer angustiá-la a ponto de fazer com que perca o bebê? Ela já passou por muita coisa.
Slade olhou para Trisha.
— O bebê é mesmo meu?
— Não quer dizer o bastardo? Vá para o inferno, Slade. Sim, o bebê é seu no sentido biológico. Em todos os outros ele é meu e só meu. Mas não se preocupe. Nas últimas semanas eu aprendi exatamente o que esperar de você, então fique longe de mim do jeito que tem feito. Eu esperei uma semana para que ligasse ou viesse me ver. Quando não veio eu ainda fiquei esperando outra semana. Então você aceitou esse trabalho e nem sequer teve a decência de me dizer que estava indo embora. Simplesmente foi. Eu o odeio por isso, realmente odeio, e nunca vou te perdoar. Você mentiu para mim e simplesmente me descartou. Bem, eu também posso fazer isso. Deixe-me em paz e pare de bater nos meus amigos, porque eles se importam de verdade comigo. — Ela respirou com dificuldade, lutando contra a vontade de chorar. — Eles não me fazem chorar. Não me abandonam nem partem o meu coração.
Ela virou e correu para dentro da casa, em direção a escada. Mal conseguiu chegar ao banheiro antes de vomitar. Quando acabou, lavou o rosto, escovou os dentes, e finalmente teve a coragem de abrir a porta. Estava com medo de que Slade quisesse confrontá-la de novo, mas era Moon quem estava sentado na beira da cama.
Slade ficou no pátio em absoluto choque. Um bebê. Não era possível. Espécies não podiam engravidar fêmeas. Tinham garantido isso. Mercile tentou e muito. Mas Trisha não mentiria para ele. Sabia que não o enganaria com algo tão importante assim.
— Feliz, agora? — Brass cuspiu grama, varrendo a terra com a mão. — Você a deixou nervosa.
Slade fulminou o outro macho.
— Eu não sabia.
— Não estava presente para descobrir. Não ficou perto dela desde que ela foi resgatada. Foi nessa época que cruzou com ela?
Trisha está esperando meu filho. Ele tentou permitir que seu cérebro ainda chocado absorvesse a notícia.
— Você a teve e a abandonou. Eu já ouvi muitas coisas estúpidas antes, mas essa foi a pior. Pode ser capaz de me derrotar em uma briga, mas nunca entre numa luta de inteligências comigo. Eu acabaria com você — disse Brass antes de disparar em direção ao lado da cabana, atrás da mangueira de água.
Slade ficou ali se sentindo entorpecido, fitando a casa. Queria ir atrás dela, falar com ela, e teria até implorado o seu perdão pelas palavras duras que tinha dito, mas nem sabia por onde começar. Tinha chamado o seu filho de bastardo.
Por que eu sempre fodo tudo perto dela? Maldição! Baixou o queixo até o peito e se encheu de dor. Ele era o seu pior inimigo. Toda vez que abria a boca parecia afastar ainda mais a mulher que amava dizendo algo que a magoava.
Virou-se, tropeçando até o Jipe, sabendo que precisava se acalmar e pensar. Tinha que descobrir um jeito de consertar as coisas. Pulou no banco do motorista, mas suas mãos hesitaram. Não queria deixá-la. Não podia. Deixou a mão cair, mas depois alcançou outra vez a chave. Raiva e dor o dominavam. Não conseguia fazer nada direito quando se dizia respeito a Trisha. Talvez não a merecesse, mas a queria tanto que isso o fazia sentir um gosto amargo ante o prospecto de perdê-la para sempre.
Ligou o motor e foi embora devagar, mas voltaria. Tomaria um banho, trocaria as roupas e se acalmaria. Pensaria claramente e encontraria um modo de consertar aquela bagunça que o seu temperamento e o seu ciúme tinha criado.
Um filho. Trisha vai ter um filho meu. Um sentimento prazeroso se espalhou pelo seu peito.
— Ele já foi. — Moon lhe estudou. — Você está bem?
— Fiquei fora de controle.
Ele assentiu.
— Eu vi e ouvi.
— Como Brass está?
— Harley está lá fora, dando um banho de mangueira nele, mas ele vai ficar bem. Seu orgulho sofreu mais ao ser surrado, mas Slade é mesmo um dos nossos melhores lutadores. Eu disse a Brass que não havia vergonha em apanhar do melhor. Só deveria haver vergonha se você perdesse de alguém mais fraco.
— Eu peço desculpas por isso ter acontecido. — Trisha enxugou as lágrimas.
Moon ficou de pé e se aproximou lentamente dela.
— Não é culpa sua. Slade mereceu as suas palavras. Ele transou com você e desapareceu depois. Isso é vergonhoso para ele, não para você. Você é um dom, Trisha. Qualquer homem seria sortudo se você gostasse dele e permitisse que a tocasse do jeito que ele tocou, mas ele jogou isso fora. Foi estupidez dele fazer isso. Deite e descanse. Os suprimentos chegaram tem alguns minutos e já, já, vamos trazer o seu jantar. Pense no seu bebê e não se preocupe com Slade nem com nada mais. Vamos cuidar de você. Tenho certeza que assim que Slade se tranquilizar ele vai voltar e conversar com você com calma. Fizemos que ele visse a razão em deixá-la até que se acalme. Ele não queria, mas o cérebro dele começou a funcionar outra vez. Acho que ele foi um filho da puta em agir com tanto ciúme, acreditando que você havia permitido que outra pessoa a tocasse. Ele não seria um imbecil tão grande assim se não se importasse com você e ele deve se importar muito já que foi um dos maiores que eu já vi.
Trisha não protestou quando Moon a cobriu depois que ela se deitou e depois deu um beijo em sua testa. Trisha lhe sorriu.
— Obrigada. Estou impressionada, a propósito.
— Com o quê?
— Acho que foi a primeira vez que eu o ouvi falar tanto de uma vez.
Moon sorriu antes de descer a escada. Trisha tentou relaxar. Não foi fácil.
Ainda estava angustiada com o que tinha acontecido.
Bem, Slade sabe sobre o nosso filho agora. Tinha cumprido o pedido de Justice e tinha sido um desastre. Lutou contra as lágrimas. Não sonhou nem em um milhão de anos que acabaria gritando a notícia da paternidade de um homem cujo bebê ela esperava e tinha chamado nomes feios com ele, para completar. Simplesmente… uma merda!
Moon estava certo? Slade tinha sido extremamente imbecil. Se ele não ligasse não teria reagido tão violentamente à notícia da sua gravidez. Tinha realmente doído quando ele assumiu instantaneamente que tinha dormido com Justice. Talvez ele achasse que saía dormindo com vários homens regularmente. Não a conhecia nem um pouco se esse era o caso.
O negócio todo do “minha” permanecia colado dentro da sua cabeça. Ele disse que era sua quando tinha atacado Bill no acampamento onde quase havia sido estuprada. Então quando saíram ele tinha lhe gritado que ela sabia que era dele, mas se era assim que a considerava, por que a abandonou? Ele disse algo sobre protegê-la e isso ficou muito confuso quando tentou entender o que queria dizer. Ele quis lhe dar tempo?
Tinha dito que só o tempo poderia dar uma chance aos dois ou algo parecido com isso. Tempo para quê? Para que eu me sentisse usada e estúpida em pensar que algo com algum significado tinha acontecido entre nós?
Ela ouviu os degraus rangerem pouco tempo depois e enxugou as lágrimas. Harley subiu as escadas carregando um copo de leite e um pouco de comida consigo. Dava para ver uma colher dentro de uma tigela.
— Eu trouxe leite para o bebê e sopa para o seu estômago irritado. Moon me disse que vomitou o suficiente para perder toda sua última refeição. Eu trago biscoitos com gotas de chocolate se conseguir segurar tudo isso. Eles mandaram um saco enorme deles. Eu disse para os rapazes que deixassem ao menos um para você.
Trisha sorriu e sentou.
— Só um?
— Talvez dois. Está comendo por dois agora.
Harley lhe sorriu.
— Tenha cuidado com isso. Está quente. Não quero que se queime.
Trisha o fitou com gratidão.
— Obrigada por ser meu amigo.
— Amigo? Eu pensei que podíamos fugir para Vegas e ter um Elvis nos casando. — Seu olhar brilhava enquanto brincava. — Eu já tinha bolado tudo. Podíamos comprar um cachorro sarnento, um velho trailer enferrujado, e achar algum entulho para morarmos perto. Ouvi falar que é um ótimo lugar para se encontrar mobília.
Ele levantou o tecido da camisa de cima do braço e expôs seus grossos bíceps.
— Eu tinha escolhido um lugar aqui para tatuar o seu nome e achei que podia tatuar o meu na bunda. Desse jeito eu poderia dizer de fato que aquela parte era minha.
Trisha riu. Moon subiu a escada e sentou na beira da cama segurando um prato com alguns pedaços de torrada amanteigada. Ele o colocou na cama perto de Trisha para que pudesse alcança-lo com facilidade.
— Não é só no traseiro que vai querer colocar o seu nome, Harley. Vai tatuar no seu braço para que quando ela esquecer o seu nome, esteja visível para lembrar. Todos sabemos que você não é muito memorável. Ela teria que ser uma contorcionista para ver o seu nome no traseiro.
— Se ela é uma contorcionista — falou Brass da escada — então ela vai ter que se casar é comigo. E nunca vai querer que Elvis a case. Isso dá azar pelo o que eu sei. Todo mundo sabe que um casamento iniciado por um cara morto acaba em um casamento morto no fim. E falando nisso, ela é top de linha, não esqueça. Você não compra um trailer velho e enferrujado. Compra um trailer de viagem de cinco rodas e vive com estilo. Desse jeito pode atracar e não ter que remover o pátio toda vez que precisar ir a algum lugar.
Trisha teve vontade de se encolher quando viu o rosto de Brass. Tinha machucado as maçãs do rosto e a mandíbula, cortes por todo lado, e havia um inchaço próximo ao seu olho. Ele segurou o seu olhar preocupado e piscou.
— Ainda sou incrivelmente bonito.
Ela riu.
— Sim, é verdade.
Moon farejou de repente. Seu olhar se voltou para Brass e Harley. Eles tambem farejaram.
Três pares de olhos se voltaram para a janela antes de olharem para o outro lado.
Trisha ficou tensa.
— Sentiram cheiro do quê?
— Nada com o que se preocupar — murmurou Moon. — Só uma ameaça de tempestade.
— Oh. Espero que não tenha goteiras. — Trisha olhou para o alto, para as vigas inclinadas de madeira e de volta para os rapazes. — Mas a cabana parece bem sólida, mesmo que seja bem antiga por dentro.
— Tenho certeza que não vai vazar, Trisha.— Brass indicou sua comida. — Coma.
Trisha comia enquanto os homens continuavam provocando-a. Ela riu, ouvindo-os ficarem cada vez piores em imaginar cenários de casamentos. Viu quando olharam para a janela algumas vezes. Tinha ficado escuro lá fora. A janela continuava aberta, mas ela não viu nenhum brilho de relâmpagos nem ouviu chuva.
Trisha terminou toda a sopa, comeu as duas fatias de torrada, e terminou o leite.
Moon pegou os seus pratos.
— Vou trazer seus biscoitos e mais leite, mas vou dar uma corrida primeiro. Gosto de correr à noite. Pode esperar pelo lanche?
— Sim. Obrigada.
Ele sorriu para ela e desapareceu escada abaixo.
— Eu sei — riu Harley. — Podia casar comigo e podíamos ir morar com os seus pais. Ouvi dizer que humanos que vivem com os seus sogros têm um casamento duradouro.
Brass bateu na testa com a palma da mão.
— Onde ouviu essa merda retrógrada? Esse é um modo infalível de acabar com um casamento.
Trisha riu.
— Você sairia correndo ou coisa pior se uma vez conhecesse meus pais e provavelmente compraria uma arma para matá-los. Não quero casar com um cara que vai pegar mais de vinte anos de prisão.
— É. — Assentiu Brass seriamente. — Então ela teria que se divorciar de você por trai-la dentro da penitenciária.
— Trair? — Harley pareceu confuso por um segundo e fez uma careta.
— Isso é… totalmente mentira! Eu sinto atração por mulheres.
— Depende de a quem você pergunta. Eu já ouvi que alguns homens acharam o verdadeiro amor atrás das grades. — Brass piscou para Harley. — Você tem mesmo uma bunda bonita. Tenho certeza que não sou o único homem a ver isso.
— Nunca mais me agacho na sua frente. — Harley mostrou o dedo do meio para Brass. — E isso não é uma oferta. Meus padrões são bem mais elevados.
— Já chega — riu Trisha. — Vocês já estão fazendo a minha barriga doer. Por que não damos uma folga ao meu estômago e voltamos ao jogo de cartas? Eu estava acabando com vocês.
— Não estava, não. — Harley se levantou. — Eu pego as cartas. — Ele caminhou para a escada. — Estávamos deixando você ganhar.
— Ele é um péssimo perdedor. — sussurrou Brass.
— Eu ouvi isso!
Slade se virou quando Moon se aproximou sorrateiramente. O ventou aumentou. Slade enfiou os polegares nos bolsos da calça, tendo ido para casa e trocado de roupa antes de voltar.
Moon respirou fundo.
— Está gostando de ficar aqui fora nos ouvindo animá-la?
Slade não disse nada.
— Você a magoou mesmo quando fez aquelas acusações sujas. Ela nos trata como se fôssemos irmãos e eu posso lhe jurar que não há nada entre ela e Justice. Eu estive na equipe de segurança dela por semanas e ela só sai com a gente quando não está trabalhando. Eu sabia que ela estava triste, mas não sabia por que até hoje. — Ele fez uma pausa. — Você não devia tê-la abandonado do jeito que fez. Por que motivo faria isso? Ela é incrível.
Minutos se passaram.
— Eu temia que estar comigo a colocaria em perigo. Fez sentido na época, mas foi tudo por nada. Eu temia pela segurança dela mais do que me importava com o meu desejo de ficar com ela. Eu a coloquei em um perigo muito maior agora que está esperando meu filho. Ela será um alvo para os grupos de ódio e eu sem saber aumentei o risco que corria não estando presente quando precisava de mim. — A voz de Slade ficou mais suave. — Eu também queria lhe dar tempo para que tivesse certeza do que sentia por mim, mas eu também precisava disso. Ela sabe que eu estou aqui fora?
— Não. Nós dissemos que sentimos que vinha uma tempestade. É difícil querer tanto algo quando nós aprendemos que qualquer coisa que valorizamos é arrancada da gente. — Slade concordou em silêncio.
— Ela pensa que você a usou transando com ela e que não se importa com ela. Ela está esperando o seu filho e está magoada. Tem noção de que ela é um milagre?
Slade virou a cabeça para olhar o outro com raiva.
— Claro que eu sei, maldição.
— Mas você a abandonou.— Moon sacudiu a cabeça em desprezo. — Eu não permitiria que nada se pusesse no meu caminho para estar com ela se tivesse sorte o bastante de encontrar uma mulher parecida com ela que gostasse de mim, muito menos deixaria que esse obstáculo fosse o meu próprio medo. Eu sei como dá medo sentir qualquer coisa porque isso nos expõe a possibilidade de sofrermos uma dor profunda. — Ele respirou. — Eu arriscaria qualquer coisa pela mulher que amo.
— Ela foi atacada por causa da associação conosco. Eu acreditava que ficar comigo só aumentaria o perigo. Não era só o meu medo de ficar ligado a ela.
— Ela sabia dos riscos quando aceitou o trabalho. Ela é esperta, Slade. Homeland foi atacada antes que ela chegasse e isso podia acontecer de novo. Ela assiste televisão, vê as pessoas protestando e vomitando o seu ódio por nós para qualquer um que escute quando fazem as suas ameaças, mesmo assim ela veio até nós. Ela permitiu que você a tocasse sabendo o que Ellie e Fury enfrentaram e ainda enfrentam. Ela estava presente quando Fury recebeu as balas destinadas à sua companheira. Você pode acreditar que estava agindo com honra, mas estava errado. Ela ainda corre perigo e o grau de perigo não importa. O qeu importa é ter um macho forte ao seu lado para protegê-la se alguém tentar machucá-la. Você falhou nisso.
A dor rasgou Slade ao meio devido a verdade das palavras.
— Ela não vai me perdoar.
Moon olhou para a casa.
— Precisa a fazer entender o quanto se importa com ela e que aprendeu o significado que ela tem para você.
Slade olhou para a cabana.
— Alguma ideia de como fazer isso?
— Na verdade, sim. Eu vou entrar e falar com os rapazes. Tenho certeza que farão o que eu disser. Eles se importam com Trisha e querem que seja feliz. Acredito que possa fazer com que ela entenda o quanto eu suspeito que a ama. Isso pode não ser fácil com Brass, porque ele tem uma amizade muito próxima com ela. Pare de rosnar. Não há nada entre eles.
— O que tem em mente?
— Eu vou falar com eles e nós vamos acampar aqui fora esta noite depois que ela dormir. Você vai entrar e conseguir sua fêmea de volta quando ela estiver sozinha.
Trisha se virou na cama e se encontrou com um corpo morno. Suas mãos tocaram uma pele quente e nua. Ela ofegou quando abriu os olhos, mas estava escuro demais para enxergar alguma coisa. Tinha dormido a algum ponto e os rapazes tinham descido. Ela recuou. — Então o chão era muito duro para você? E melhor que esteja vestido da cintura para baixo — avisou ao cara dividindo sua cama. Queria ter o olfato apurado deles para saber com qual dos três falava.
— Mmmm — murmurou a voz baixinho. O corpo chegou mais perto e um braço deslizou pela sua cintura.
— Ei — protestou Trisha e empurrou seu peito. — Role para a beira da cama. Eu não me importo em dividir, mas não sou um travesseiro humano para vir se enroscar.
Ele não afastou.
— Estou tentando dormir, doçura. Está tornando isso impossível me empurrando assim.
Trisha arfou e tentou sentar, a mão tateando o abajur no criado-mudo.
O braço saiu de sua cintura e ela se afastou. Seus dedos tocaram na base do abajur e ela quase o derrubou com a pressa. Alcançou o interruptor e acendeu a lâmpada. A luz a cegou por alguns segundos.
Ela virou e fitou de boca aberta o peito nu de Slade. Pele bronzeada e musculosa foi revelada da cintura para cima onde o lençol descansava e cobria o resto dele. Não tinha certeza se ele usava uma calça e nem queria saber. O fato de que estivesse em sua cama a chocava.
— o que está fazendo? — Não podia acreditar que estava todo estendido em sua cama. — Como entrou aqui?
— Entrei pela porta da frente que ajudei a consertar depois que você adormeceu. — Slade descansava de lado. Ele apoiou a cabeça na palma da mão do braço curvado e sorriu para ela.
— Apague a luz. Está no meio da noite e eu quero te abraçar.
Trisha o olhava de queixo caído.
— Você me joga fora e agora quer me abraçar? Tem a ousadia de deitar na cama comigo? Você está falando sério?
— Sim.
— Ficou louco, foi? Eu não. Sai daqui!
— Venha cá, doçura.
Trisha tentou sair da cama, mas Slade a agarrou com gentileza, depositando-a de volta no colchão. Ele a prendeu debaixo do seu corpo grande e morno, com o cuidado de não machucá-la ao fazê-lo. Duas coisas instantaneamente se tornaram claras para Trisha. Uma era que Slade estava completamente nu. E a outra era que ele estava excitado já que conseguia sentir a ereção grossa e quente cutucar a parte interna de sua coxa. Eles estavam pele com pele no lugar em que sua camisola havia levantado. Ela arfou, mais do que chocada que ele ousasse fazer aquele tipo de brincadeira.
— Eu senti saudade. — Seu belo olhar estudou o dela e sua voz saiu rouca.
Eu quero odiá-lo por soar tão sexy e parecer tão atraente. Lembre-se: ele me abandonou. Isso não deu tesão nem foi sexy. Foi maldoso e frio.
— Sabia onde me encontrar. — Trisha colocou as mãos em seu peito, empurrando com toda a força que tinha. Apertou os dentes. — Eu vou gritar por socorro se não sair de cima de mim.
— Espero que tenha uma voz bem potente porque eu mandei os rapazes embora. Eu queria que estivéssemos sozinhos. Desta vez não quero ter que tampar com a mão os seus lábios.
A lembrança da última vez que ele tinha feito isso para mantê-la calada enquanto transava com ela foi instantânea. Seu corpo respondeu da mesma forma quando sua barriga estremeceu e ela odiou aquilo, querendo odiá-lo. Olhou-o com raiva.
— Você me deixou e agora me quer de volta? É isso que está dizendo? Por quanto tempo agora? Eu acordo de manhã e o quê? Não vejo mais você por semanas? Talvez meses? Não. Saia de cima de mim, Slade.
Ele trocou de posição para garantir que não esmagasse sua barriga e segurou o seu rosto.
— Eu estava com medo. Você me matou de medo e é essa a verdade.
— Com medo? — Ela respirou fundo, tentando se acalmar, e resistiu a vontade de dar um tapa nele. Estava tentada. — Então estava com medo? Do quê? Você tem quase meio metro a mais que eu e tem uns quarenta e cinco quilos a mais. Do que tinha medo?
— Ficar comigo a coloca em maior risco. Essa foi a razão principal para ficar longe de você. Você quase morreu na floresta, podia ter morrido quando o carro despencou, e eu não queria ser a causa de mais imbecis de olho em você.
Ela simplesmente o fitou, tentando entender suas palavras. Não importava, contudo, porque a magoou. Não ia permitir que fizesse isso outra vez.
— Mas foi mais do que isso. Eu tive muito tempo para pensar. Eu nunca ousei me permitir ficar ligado a algo ou a alguém. Vi muitos morrerem e muita dor. Nunca tive nada, nunca pude contar com ninguém para estivesse presente nem na hora nem no dia seguinte. Eles usariam isso contra mim, se aqueles imbecis que me mantinham prisioneiro descobrissem que eu me importava com outra pessoa no centro de pesquisas. Inferno, eles usaram isso contra todos nós para tentar nos controlar. Eu sei que você não pode realmente entender o que uma vida inteira disso faz com uma pessoa, mas posso lhe dizer que isso acabou comigo. Eu sou todo perturbado. Tinha medo do que eu queria de você e que você pudesse não sentir todas essas emoções fortes. Queria lhe dar tempo, mas era eu quem precisava disso. Achei que se fosse embora pararia de pensar em você e que você estaria a salvo sem mim. Eu disse que estaria melhor se não fizesse parte de sua vida. Não foi isso que aconteceu.
A honestidade dele a surpreendeu e um pouco de sua raiva passou. Não sabia como responder, mas seu coração derreteu um pouco ante o olhar sincero que lhe dava, a dor óbvia que soava em sua voz, e ele teve que conceder que o passado dele realmente tinha sido um dos piores.
Ele admitiu aquilo prontamente, reconheceu seus defeitos, e isso enfraqueceu sua determinação de continuar com raiva.
— Você me prometeu que voltaria, mas não voltou. Você me magoou, Slade. Nem sequer falou comigo. Como espera que eu deixe de me sentir ferida e com raiva?
— Eu planejava voltar para você logo assim que eu retornei para Homeland, mas tive que ir a uma reunião primeiro. Justice fez questão. Eu os ouvi dizerem o porquê de você ser alguém visado pelos humanos. Comecei a pensar como me sentiria se você fosse morta pelo fato de estarmos juntos. Eu surtei, Doutora.
— Pare de me chamar assim. Meu nome é Trisha. Use.
Os dedos dele roçaram sua bochecha.
— Eu lhe disse que só a chamaria de Trisha quando estivesse dentro de você. — Ele baixou a cabeça. — E eu quero ficar dentro de você da pior forma possível. Eu quero prova-la e senti-la. Tem tanta coisa que nunca tivemos oportunidade de fazer. Eu quero ouvir você gemer o meu nome e quero ouvi-la gritar de prazer. Eu preciso lhe mostrar o quanto você significa para mim e o quanto senti a sua falta. Por favor, me permita.
— Por favor, Slade. — Prendeu os olhos nos dele. — Não faça isso comigo. Você me magoou quando prometeu que voltaria, mas não voltou. Eu tive que matar dois homens e tinha fé que você viria me ajudar, mas você não veio. Dois outros tiveram que me salvar e ainda assim eu esperava que você fosse aparecer. Eu precisava de você. Eu fiquei morta de preocupação até eles me falarem que haviam encontrado você com vida. Eu esperei que você viesse quando me disseram que tinha voltado para Homeland, mas você me dispensou.
— Eu voltei sim para você quando atirou naqueles imbecis. Ouvi os tiros, mas percebi que Flame e Smiley tinham te alcançado antes de mim. Queria salvá-la, mas você já não precisava de mim. — Ele pausou. — Eu também não queria que você me visse como estava na época. Eu matei vários homens. Tinha medo que se visse todo o sangue fosse repensar em ficar com alguém capaz daquela quantidade de violência, e que não acreditaria que eu fosse encostar um dedo em você sem lhe causar dor. Eu não sou completamente humano e… — Ele parou, uma expressão de dor enchendo de linhas seu belo rosto. — Foi melhor que não tenha me visto. Confie em mim. Eu quero ser o macho que deseja, não um que teme.
Sua determinação enfraqueceu ainda mais. Ele é inseguro a respeito do que é e de como eu o vejo. Ele não é um filho da mãe tão grande, afinal. Respirou fundo.
— Slade, eu sei o que você é. Sei que não é totalmente humano, mas aceitei isso. Eu fiquei dilacerada por ter matado aqueles homens. Eu só queria e precisava de você depois daquilo. Você simplesmente foi embora como se eu não significasse nada. Não sei como pôde fazer isso se gostava de mim.
— Você estava segura. Era isso o que mais me importava. Eu tinha certeza que a assustaria no estado em que estava no momento que decidi voltar ao invés de encontrar os miseráveis e garantir que não fossem mais uma ameaça a você. Acreditei que era o certo a fazer na hora. Eu cometi um erro.
— Você me deu a sua palavra e mentiu para mim.
— Eu sinto muito mesmo. Parecia a decisão certa no momento. Eu também estava fora demais de controle para esconder a minha possessividade em relação a você. Qualquer um presente saberia que estávamos ligados.
— Então não queria que ninguém soubesse o que tinha acontecido entre nós? — Raiva e dor a rasgaram. — Bem, advinha? Agora alguns já sabem. Aposto que isso realmente humilha você. Eu sei, não é PC para Novas Espécies dormirem com humanos, não é?
— O que é PC?
— Politicamente correto. Alguns de vocês juraram nunca tocarem em um humano. É... Oh inferno, saia de cima de mim. Eu também odeio lhe dar essa notícia, mas seus amigos só precisavam cheirar o ar perto de mim para saber que eu tinha transado. No começo acharam que eu tinha sido estuprada. Eu não disse nada a eles, exceto que eu não tinha sido. Deixei o seu nome de fora mesmo depois de ter engravidado, mas Justice lembrou do meu cheiro naquela noite em que me levaram de volta a Homeland. A princípio ele achou que o pai era Brass, mas quando eu disse que nunca toquei nele sexualmente, Justice soube que era você. Você era o único cheiro forte que havia em mim.
— Não fale palavras que eu não disse e nem mesmo pensei. Não tenho vergonha de você, Doutora. Não ligo para o que é PC. Eu estava tentando proteger sua natureza humana. Eu sei que mulheres humanas são muito discretas sobre a sua vida sexual e ficar comigo a colocaria ainda em mais risco. Ellie e Fury são a prova disso. Também estava tentando te proteger do que Ellie e Fury passaram quando ficaram juntos. Todos os importunavam sobre a vida sexual que levavam e inferno, toda vez que Fury a tocava parecia que alguém iria acusá-lo de machucá-la. É por isso que não queria que aqueles homens adivinhassem o que tinha se passado entre nós e não tinha certeza se havia humanos envolvidos no resgate que nos testemunhariam juntos.
— Eu confiei em você uma vez e agora eu sei que não posso. Eu...
A boca de Slade desceu na sua e seus lábios roçaram os seus. Ele falou com a boca no lugar.
— Eu sou ruim com palavras, doçura, mas confie nisso. — Então ele forçou sua boca a abrir sob a dele.
Laurann Dohnner Slade
Trisha tentou não sentir nada, mas aquele era Slade que a beijava. Desejava e o amava apesar da dor que tinha lhe causado. Sempre soube que a atração que tinha por ele não seria nada fácil, ele sendo Nova Espécie e ela não. Eles eram de mundos diferentes, mas quando ele a tocava todas as diferenças pareciam desaparecer até que eram apenas eles dois.
Abriu as mãos em seu peito, apreciando a sensação morna de sua pele quando começou a retribuir o beijo. Abriu mais a boca, admitindo que sua avidez faminta a seduzisse até submetê-la. Um gemido escapou do fundo de sua garganta.
As mãos de Slade lhe acariciavam e ele virou o corpo, trocando também a posição dela, até ficarem de lado, de frente um para o outro. A boca dele nunca deixou a sua, a língua atiçando ainda mais sua paixão. Suas mãos agarraram sua camisola na cintura e o tecido rasgou. Ele libertou os seus seios para apalpá-los. Dedos fortes massageavam a carne macia.
Trisha interrompeu o beijo respirando com dificuldade.
— Slade?
— Não me diga para parar. Por favor. Eu preciso de você. Voce não tem ideia do quanto eu a quero, Trisha. Sentir tanto assim a sua falta acabou comigo. Estou morrendo de vontade de você.
Ele baixou a cabeça, passando a língua sobre o seu seio, e todo pensamento a deixou quando fechou a boca em seu mamilo. Ele sugava em chupões fortes que faziam o seu estômago se contrair, seu desejo queimar com mais força, e a mordia levemente com os dentes. O corpo inteiro de Trisha se sacudiu da intensa pontada de prazer que explodiu diretamente em seu cérebro como resultado.
Gemeu mais alto, correndo as mãos pelo seu peitoral e ombros, e enterrando as unhas na pele onde se curvavam. Sua mente o alertou para que o afastasse, mas ao invés disso o trouxe mais para perto.
Slade tirou a boca do seu seio. Trisha protestou com um choramingo. Doía de tanto deseja-lo e seus olhos se abriram para descobrirem Slade observando seu rosto com intensidade. A paixão no seu olhar ardente a excitou ainda mais. Ele parecia um pouco selvagem, lindo de uma forma bruta, e as presas apontando entre seus lábios entreabertos faziam coisas incríveis com ela.
— Você é tão linda. — Ele ficou de joelhos na cama, soltando-a, mas a tocou novamente como se não suportasse o fato de perder o contato com ela. — Eu não quero machucar o nosso bebê. — Ele sorriu. — Fico feliz que tenhamos gerado um, a propósito.
Trisha permitiu que ele a colocasse de joelhos. Slade facilmente virou o seu corpo em seus braços fortes só erguendo-a até que suas costas o pressionassem no peito. Ele tirou a camisola destruída, simplesmente jogando-a de lado. Suas mãos lhe traçaram os seios, antes de mordiscar seu pescoço. Os lábios, língua e dentes dele provocaram e atiçaram a pele sensível.
Trisha gemeu quando ele mordeu mais embaixo. Não estava rasgando a pele nem a machucando, mas a pontada da sua mordida era incrivelmente erótica. Sua língua acariciava a pele presa entre seus dentes antes que se movesse para outro ponto em seu pescoço, provocando-a levemente com delicadas mordidas.
As mãos dele desceram e pararam na curva do seu quadril. Houve um rasgão de tecido quando ele enfiou os polegares em sua calcinha. Slade rasgou a peça de seu corpo com facilidade e a jogou para longe da cama. Suas mãos viajaram mais abaixo em volta do interior de suas coxas até gentilmente segurá-las.
— Abra mais para mim, doçura. Quero tocar na sua boceta. Posso cheirar o quanto você está excitada e eu quero sentir também. A lembrança disso me atormentou e me deixou acordado toda noite que passei sem você. — Ele rosnou as palavras. Ela abriu mais os joelhos. Sorveu o ar e o prendeu quando as mãos de Slade subiram devagar pelas suas coxas, querendo que ele subisse bem mais. O desejou por muito tempo para que ele fosse devagar. Queria que o tocasse, precisava disso, doía-se para que fizesse amor com ela. Começou a respirar de forma ofegante e se perguntou se morreria se ele não a tocasse logo. Os dedos dele acharam seus lábios vaginais. Eles estavam escorregadios de desejo e ele os separou com dois dedos, esfregou em sua entrada, e fez círculos em seu inchado clitóris.
Trisha gemeu mais alto e empurrou a cabeça em seu ombro.
— Isso.
— Isso — grunhiu ele detrás dela, dando-lhe garantias de que não pretendia parar. — Nunca mais vou deixar que vá embora de novo, Trisha. Nunca. Você é minha.
Seus dedos se partiram o suficiente para capturar o broto sensível entre eles, esfregando e puxando com suavidade. Trisha gemeu mais alto, esfregou o traseiro em suas coxas e conseguiu sentir seu pênis pesado e duro pressionando o final de suas costas. Seus mamilos endureceram até doerem.
— Por favor. Eu preciso de você — sussurrou. — Faça isso, mas eu também quero você dentro de mim.
— É para já — grunhiu ele, sua voz rouca e animalesca.
A necessidade clara em sua voz só fez com que o quisesse mais. Aquele era o Slade que a excitava, o homem que queria e de quem tinha sentido falta. Ele se afastou um pouco, juntou os joelhos entre suas pernas abertas e grunhiu para ela de novo.
— Eu vou te foder, Trisha. Mas não quero te machucar. Vou me sentar e quero que me monte para que possa controlar até onde quer me tomar.
Slade abaixou devagar para se sentar nos calcanhares e a puxou devagar até que o montasse, sem ver, um dos braços dele guiou seu quadril enquanto a outra mão continuava a acariciar o seu clitóris até que ao invés disso segurasse o próprio membro.
Trisha olhou para baixo, a visão dele segurando a base da sua grossa ereção a deixou mais molhada e mais necessitada para tê-lo enterrado dentro de sua vagina. Ela segurou sua coxa para ajudá-la a se equilibrar, empinou o quadril e começou a descer enquanto ele guiava a cabeça do seu pênis para sua entrada. Trisha desceu em seu colo e Slade a penetrou lentamente.
Ela gritou do quanto era bom tê-lo invadindo sua vagina, o encaixe apertado dos seus corpos quando ela desceu mais, e a leve ardência de ser estirada por algo tão rígido. Trisha virou o rosto em seu pescoço e pressionou as costas em seu peito. Gemeu, sentindo seu pênis grosso e duro deslizando mais pela sua vagina molhada e ávida quando seu corpo sentou completamente em seu colo até sua bunda descansar em suas coxas. Estremeceu.
— Slade!
— Calma, amor. Vamos devagar, mesmo que me mate. — Ele tinha soltado o membro para permitir que se sentasse completamente nele e aquela mão deslizou pela sua coxa, retornando a brincar com o seu clitóris.
Ela choramingou, doendo-se para gozar.
— Tão quente, tão apertada — grunhiu ele. — Tão minha. — Ele roçou seu ombro com os lábios quando grunhiu de novo contra sua pele. Os dedos continuaram a provocar o seu clitóris enquanto ele lentamente começava a jogar o quadril para cima.
— Estou aqui, Trisha — disse rouco. Sua mão livre correu pelo seu estômago e segurou um seio para acariciar o seu mamilo sensível. — Rápido ou devagar? Diga-me o que quer.
— Mais rápido. — gemeu.
Slade arremeteu com mais força, tocando o feixe de nervos entre suas coxas mais rápido para manter o ritmo do seu quadril. Trisha gemeu mais alto. A sensação dele dentro de si ao mesmo tempo em que esfregava seu clitóris se tornou incrivelmente intensa. Ela agarrou suas coxas para ter algo ao qual se segurar enquanto ele investia e saía mais rápido e mais profundamente. Trisha quase gritou quando o clímax a atingiu, seus músculos vaginais se apertaram com força ao redor da rigidez do pênis dele. Ondas de prazer a golpearam quando ele começou a inchar dentro dela. Ele diminuiu suas arremetidas até ficarem curtas e violentas e seu corpo inteiro ficou tenso. A mão soltou o seu seio, o braço se prendeu em volta de sua cintura para prendê-la no colo, e o corpo dele se sacudiu violentamente debaixo dela quando gozou.
— Trisha — rosnou.
Eles ficaram imóveis e foi quando Trisha notou a sensação quente do seu sêmen se espalhar dentro dela enquanto continuava a gozar, enchendo-a com o seu gozo quente. Pareceu continuar por um minuto enquanto se agarravam. Seu corpo estremeceu quando as mãos de Slade saíram de onde estavam, as duas apertando sua cintura, prendendo-a ao seu colo mais firmemente. Ele deu um beijo em seu ombro. Os dois estavam ofegando.
— Eu senti saudades de você — ele soprou contra sua pele. — Nunca mais vou te deixar de novo. Nunca, Trisha. Eu preferia morrer do que ficar longe de você. Eu juro protegê-la com a minha vida e não vou estragar tudo novamente. Eu aprendi o quanto você significa para mim.
Ela soltou suas coxas para agarrar seus braços em sua cintura. Parte dela tinha medo de acreditar nele, mas realmente queria acreditar. Amava-o. Às vezes você tem que se arriscar. Nunca vai saber se recusar a dar a ele mais uma chance. Ela mordeu o lábio antes de exalar profundamente.
— Essa é a última chance que eu vou te dar. Eu falo sério. Não lhe darei outra se me magoar de novo. Desapareça outra vez e acabou. Eu saio da merda da sua vida para sempre.
Ele riu.
— Eu não vou. Vou ficar exatamente onde estou. Entre o sexo frequente e o inchaço de depois, vou ficar preso dentro de você o tempo todo. Podia ficar assim para sempre.
— Eu vou precisar comer, eventualmente.
Ele riu.
— Não vou matá-la de fome.
— Bom saber.
— Vai precisar de força.
Slade abraçou sua Trisha até o corpo dela começar a ficar mole e ele percebeu que ela estava prestes a dormir. O inchaço na base do seu membro tinha desaparecido. Ele ajustou os braços nela e cuidadosamente a tirou do colo, colocando-a de lado na cama. Seus olhos azuis encontraram os dele e ela lhe sorriu suavemente.
As emoções quase fizeram com que se engasgasse, deixando-o incapaz de falar. Ela era tão linda para ele e tão frágil. Carregava seu filho dentro do útero. Esse fato ainda o abismava e fazia com que se sentisse tão pequeno. Ela tinha lhe dado o maior dos presentes. Entregou a ele seu corpo e um futuro ao seu lado. Ele curvou os lábios para formar um sorriso e limpou a garganta.
— Vou desligar a luz. Precisa de muito descanso, Doutora.
— Trisha. — Ela fez biquinho, um pouco irritada.
— Desculpe, Trisha. — Sorriu. — É difícil vencer o hábito e em minha defesa, não estou mais dentro de você.
— Vai usar meu nome enquanto estiver na minha cama, a não ser que queira dormir no chão.
— Muito justo. — Divertimento e felicidade se misturavam dentro de Slade. Ela o aceitou de volta e perdoado, e não tinha certeza se merecia isso. Tinha armado a maior confusão.
Boas intenções de lado, arrependia-se de suas escolhas.
— Vou desligar a luz e nós vamos dormir.
Ela teria dito alguma coisa a ele, mas ao invés disso, quando seus lábios se abriram, o que saiu foi um bocejo. Ele desligou a luz e estendeu os braços para a sua mulher. Colocou seu corpo farto contra o próprio, o braço enlaçado em sua cintura e formou uma conchinha.
Não conseguia ficar suficientemente perto dela, não queria nem mesmo o mais ínfimo dos espaços entre seus corpos, e ela voluntariamente lhe permitiu que os colocasse de lado.
— Eu senti mesmo saudades de você — confessou baixinho contra o seu ombro, onde apoiou o queixo, sentindo o seu cheiro. — Pensava em você constantemente.
—Eu também senti saudades de você e não conseguia tirá-lo da cabeça. Odiei isso depois que me abandonou.
Ele estremeceu internamente com o tom doloroso de sua voz.
— Desculpa, doçura. Isso não vai acontecer de novo. Eu juro pela minha vida. Eu tomei uma decisão estúpida, mas não vou fazer o mesmo outra vez. Eu fiquei mais esperto.
Ela ficou imóvel em seus braços por um longo momento.
— Está ok com o bebê?
A incerteza que enlaçava a voz dela doía. Ele tinha causado aquilo, feito-a questionar a ligação que possuíam.
— Estou empolgadíssimo.
— Eu também, mas estou com medo.
— EU vou te proteger. — Uma onda de raiva se formou nele ao pensar nela correndo perigo. — Ninguém vai te machucar. Irão morrer se tentarem.
A mão pequena dela agarrou o braço que estava ao redor de sua cintura, os dedos traçando a pele.
— Não é disso que eu tenho medo. E se acontecer algo de errado com o bebê? Desde que o vi no ultrassom eu sabia que o queria, Slade. Tem tanta coisa que pode acontecer. Eu sou médica. Eu sei que...
— O bebê vai ficar bem. — Cortou-a. — É o nosso bebê, um milagre e a vida já foi cruel demais comigo. Eu me recuso a perder você e o nosso filho. O destino tem que nos dar uma folga.
O silêncio dela o preocupava, mas então ela suspirou.
— Pensamento positivo?
Ele fungou o seu pescoço.
— Sim. Pensamento positivo, Trisha. Estamos juntos e é isso que importa.
Ele soube quando ela adormeceu. Sua respiração mudou e os dedos pararam o movimento em sua pele. Ele a puxou mais de encontrou ao corpo, com o cuidado de não esmagá-la, mas queria se enroscar mais nela. A mulher em seus braços significava tudo para ele… vida e morte. Faria qualquer coisa para ficar com ela e mataria qualquer um que tentasse interpor-se entre eles.
— Não — rosnou Slade. Seus olhos brilhavam sua raiva. — Eu fico e a protejo. Você vai fazer o meu trabalho lá na construção.
Brass rosnou de volta.
— Eu não vou lidar com todos aqueles humanos.
Trisha sacudiu a cabeça para os dois que estavam prestes a brigar de novo. Suspirou.
— Rapazes? Podíamos por favor, não brigar na sala de estar? Já perdemos uma mesinha de café e eu gosto do sofá porque é confortável.
— Desista. — Riu Harley. — Eles vão brigar.
Moon tinha os braços cruzados, parecendo entediado. Ele assentiu para Trisha.
— Querem pipoca? — Harley se dirigiu à cozinha. — Adoro comer vendo uma boa briga.
— Eu aceito. — grunhiu Moon.
— Parem — suspirou Trisha. — Não vai ter briga na sala. Ao menos vão lá para fora se vocês dois estão determinados a surrar um ao outro. Slade? Ouviu-me? Brass? Qual é, rapazes. Não briguem dentro da cabana.
O olhar de Slade foi para Trisha.
— Eu não vou deixar você. Diga a ele para ir lidar com os projetos de Justice. Ele pode lidar com mandar em um monte de humanos para que construam as coisas a tempo tão bem quanto eu. Eles respondem bem quando rosnamos e mostramos os dentes. Isso os motiva a trabalharem mais rápido para ficarem longe de nós.
Brass praguejou.
— Eu não tenho ideia de que projetos precisam se feitos. Tudo o que disse foi que você poderia ir fazer o seu trabalho durante o dia e que poderia ficar com ela à noite.
— Ela é minha — urrou Slade. — Está me dizendo quando posso passar tempo com ela? Nem tente. Não tem voz quando se diz respeito à minha mulher.
— Estou lhe dizendo que posso cuidar dela enquanto você está trabalhando. Tem um emprego, lembra? Ela não precisa de nós quatro aqui sentados olhando para ela. Está segura na zona selvagem. Valiant prometeu falar com os outros e que ela seria protegida por todos eles. Ele me garantiu que nenhum humano se aproximaria dela.
Slade não parecia convencido.
— Precisa que eu mostre que posso protegê-la melhor? Quer que eu esfregue o chão com a sua cara outra vez?
— Já chega! — Gritou Trisha, finalmente perdendo a paciência. Ela percebia que eles não eram exatamente homens normais, mas a natureza dominante deles começava a irritá-la. Olhou com raiva para Slade. — Você, pare de bater no peito e de ameaçar os meus amigos. — Sua atenção então se fixou em Brass. — E você, pare de provocá-lo. — Suspirou, baixando a voz enquanto olhava para Slade. — Você tem um trabalho para fazer e eu estou bem aqui. Não vejo por que não possa ir trabalhar e voltar para mim no final do dia.
— Ótimo — rosnou Slade. — Escolha o seu amigo ao invés de mim.
Ele saiu a passos largos até a porta.
— Slade? Pare de pensar dessa forma. — grunhiu Trisha. — Não é isso. Por favor, só...
Slade se virou quando alcançou a porta.
— Eu vejo você à noite.
Saiu às pressas e bateu a porta com força. Trisha foi para o sofá e se jogou nele, dizendo um palavrão baixinho. Sentiu três pares de olhos em cima de si e olhou para cada um deles.
— Por que ele dizendo aquilo soou tão parecido com uma ameaça?
Moon lhe sorriu.
— Porque foi.
— É — concordou Harley. — Vai ter a confirmação hoje a noite.
Ele tirou a pipoca do micro-ondas.
— Mas eu duvido que ele nos deixe assistir o que quer que esteja planejando fazer com você para descontar o que fez. Mas eu realmente gosto de ver filmes pornôs. Aposto que vai ser um ótimo show. Que pena.
— Pornô? — Cuspiu Trisha, disparando um olhar fulminante para Harley. — Não tem graça.
— Ele não vai te machucar, mas… — Moon piscou para ela. — Aposto que ele vai pensar em algo bom para fazer com você. Ele vai querer te convencer a escolhê-lo a próxima vez se houver algo que fique ao seu critério de escolha.
Ela franziu o cenho.
— O que isso quer dizer?
Brass riu.
— Nós somos agressivos e competitivos. É a nossa natureza. Ele provavelmente vai fazer algo que acalme o seu orgulho.
— O orgulho dele? Não estava escolhendo você ao invés dele. O que acham que ele está planejando? Qual é, rapazes. Eu sou uma médica pelo amor de Deus. Parem de falar em enigmas. O que acham que ele vai fazer comigo?
— Quer o meu palpite? — Sorriu Moon. — Ele vai te excitar até que implore para que a foda. Vai querer te mostrar a quem o seu corpo pertence e por que ele é o seu macho. Então o seu orgulho vai se curar onde você o esmagou.
— Ele é canino. — Riu Harley. — Eu sei o que eu faria com uma mulher se quisesse lhe mostrar que estava no comando. Eu a montaria e...
— Harley! — Rosnou Brass, soltando faíscas. — Cale a boca.
— O que foi? Eu só ia dizer que a montaria até que não conseguisse mais se mexer. — Ele piscou para Trisha. — Nós cachorros somos mais cheios de tesão e podemos durar horas.
Brass grunhiu e fez uma expressão enojada quando olhou para Trisha.
— Nunca pergunte a um cachorro sua opinião sobre sexo. Grande erro.
Trisha riu.
— Estou com fome. Alguém mais está a fim de tomar café da manhã? — Ela ergueu uma sobrancelha para Harley e a sua pipoca. — Isso é nojento de se comer a essa hora.
— Café da manhã uma merda, eu fiquei com o turno da noite. Vou dormir depois que comer isso. Esse é o meu lanche da madrugada.
Slade fitou a mesa e teve certeza que Trisha tinha de estar tentando enlouquecê-lo.
Ele odiava ficar confinado, cercado por paredes, e o escritório temporário não era mais do que uma caixa retangular com rodas. O lugar inteiro cheirava a humanos e embora estivesse se ajustando ao aroma, não queria ficar perto de nenhum, sem confiar completamente neles. Ele virou a cabeça para observar quatro deles trabalhando em suas mesas.
Dois estavam ao telefone, um bebia café, e o último coçava a cabeça enquanto olhava os projetos abertos à sua frente.
— Algum problema, Richard?
O humano tirou os dedos da cabeça.
— Não, só estou tentando descobrir como vamos terminar esse clube a tempo. Eu continuo dizendo ao Sr. North que ninguém pode construir uma coisa desse tamanho em poucos meses. Já levantamos a base inteira, mas ainda há muito que se fazer.
— O que vai ser preciso? — suspirou Slade. Ele já sabia a resposta—mais dinheiro para contratar mais homens para trabalharem vinte e quatro horas por dia.
— Acho que vamos conseguir, mas reze para o tempo continuar bom. Uma tempestade grande e estamos ferrados. Vai nos atrasar.
— Então, qual é o problema?
O humano hesitou.
— Tivemos uns probleminhas de muito azar.
— Como? — Slade levantou a sobrancelha.
Richard mordeu o lábio.
— Alguém vem sabotando o lugar.
Slade ficou tenso com alarme.
— Que tipo de problemas? O que está havendo? Por que só estou ouvindo isso agora?
— No começo eu acreditei que as coisas dando errado eram apenas acidentais. As equipes estão trabalhando sete dias por semana em turnos de doze horas. Achei que talvez um deles tivesse errado porque estava cansado, mas continuou acontecendo. Estou começando a achar que não é tão inocente. Esta manhã um dos rapazes se machucou porque sabotaram uma das escadas. Ele está bem, mas tivemos sorte que ela se quebrou imediatamente. Ele poderia ter morrido se tivesse subido mais alto ou se estivesse trabalhando no terceiro andar. Eu inspecionei a escada e determinei que alguém a danificou de propósito.
— Devia ter me informado antes. — Slade levantou o telefone. — Vou mandar uns oficiais lá para ficarem de olho. Isso deve dissuadir qualquer um de querer causar mais danos.
— Obrigado.
Slade assentiu. Ele tinha medo que algo ruim acontecesse. Havia grupos lá fora que não gostariam de nada mais do que causar problemas. Ter centenas de humanos na Reserva dava uma forma para alguns deles entrarem na propriedade e terem a oportunidade de fazer algum mal.
— Vou ordenar mais segurança em todos os locais das construções. Não quero que ninguém acabe ferido ou morto. — Seu dedo mal tinha tocado os números quando a porta do escritório foi escancarada. Tiger correu para dentro.
— Slade? Temos um problema.
Slade estudou Tiger. Eles tinham se tornado bons amigos depois que foram libertos de seus cativeiros. Tinham vivido juntos por meses com outros machos em um motel em um lugar remoto no tempo que se seguiu até a Homeland dos Novas Espécies ser inaugurada.
— O que foi?
— Alguns humanos desapareceram.
— Quantos? — Slade agarrou seu rádio, largou o telefone e se levantou depressa.
— Há exatamente quatorze homens ausentes e duas caminhonetes de construção. Como você ordenou, nós contamos os trabalhadores todas as horas e desde a última, foi essa quantidade que desapareceu. Eu falei com os dois portões e eles não deixaram a propriedade. Ainda estão aqui em algum lugar.
— Puta que pariu — urrou Slade. — Atenção — demandou no rádio, correndo para a porta. — Temos quatorze humanos desaparecidos em duas caminhonetes. Encontrem-nos rápido.
Slade correu para um dos Jipes com Tiger seguindo-o.
— Aonde acha que eles foram?
— Eu não sei. — Tiger pulou no banco do passageiro. — Mas nós vamos encontrá-los.
— Slade? — falou a voz no rádio.
— Ele está comigo. — Tiger usou o próprio rádio para responder. — O que foi?
— Duas caminhonetes passaram pelos guardas há vinte minutos, dirigindo-se para a zona selvagem. Não foram questionados porque uma equipe tinha sido designada para trabalhar no sistema elétrico que segue os muros daquela área. Nós verificamos de novo e eles ainda não enviaram uma equipe lá. Quem quer que vá ali não deveria estar na área sem um segurança dos nossos, mas os guardas humanos não sabem disso.
— Merda — rugiu Slade. — Trisha está lá.
Tiger grunhiu.
— Por que ela estaria? Não é seguro. Você endoidou? Achei que tínhamos decidido colocá-la no ultimo andar do hotel e restringir o acesso.
— Os planos mudaram.
— Há uma razão para isso? Um humano não tem o que fazer ali. Os machos marcaram o território e não a recepcionariam com amabilidade apesar de ser fêmea.
Slade hesitou.
— Pode-se dizer que sim.
— O que ela está fazendo ali? Nenhum humano é permitido dentro da zona selvagem. Como os convenceu a permiti-la no território? Eles se tornaram muito territoriais e teriam sentido o cheiro dela rapidinho.
— Trisha está esperando meu filho. Está vivendo na cabana seis.
— Filho? — ofegou Tiger.
Slade assentiu, pisou fundo, e virou o volante com força.
— Está grávida de mim. Justice a mandou para cá para escondê-la dos humanos durante a gravidez. Pouquíssimos dos nossos sabem de sua condição.
— Puta que pariu. — Tiger parecia perplexo. — Então você vai ser papai. Merda. Você a engravidou. O que ela fez para isso acontecer?
— Foi natural.
— Merda — rugiu Tiger outra vez. — Podemos engravidá-las? Alguém devia ter nos dito isso. Acho que é melhor eu cancelar o meu encontrou com a mulher da cidade que inspeciona as construções. Definitivamente não quero ser papai. Minha vida já é dura o bastante comigo sozinho, mas uma companheira e um filho? — Ele sacudiu a cabeça. — Não estou interessado.
Slade o olhou com surpresa.
— Não sabia que sentia atração por humanas. Achei que pensava que eram frágeis demais.
— É, bem, algumas delas me acham realmente bonito. — Ele encolheu os ombros. — O que um cara bonito faria? Pensei em tentar. Elas são muito frágeis, mas deve ser divertido deixar que uma tenha o que quer de mim uma ou duas vezes.
— É melhor que os humanos que desapareceram não estejam perto de Trisha. Eu sim a quero e o nosso filho. Onde esses bastardos estão e o que estão fazendo?
— Eu não sei. — Tiger desabotoou o coldre para ganhar um acesso mais fácil a sua arma. — Mas nós vamos encontrá-los. — Ele colocou metade do corpo para fora na janela. — Você dirige e eu farejo. Vamos achá-los mais rápido.
— Vou checar como Trisha está primeiro. Temos homens o suficiente para procurarem por aqueles imbecis. Só quero garantir que esteja a salvo.
— Totalmente compreensível. Mesmo assim não darei folga ao meu nariz. Posso ao menos orientar os times via rádio se captar o cheiro deles.
— Trisha! — Gritou Brass.
Trisha pulou, quase escorregando na banheira molhada. Ela agarrou as torneiras e as fechou. A porta do banheiro foi arremessada contra a parede quando alguém a abriu com um chute. Uma Trisha assustada e nua ficou de boca aberta quando Brass de repente puxou a cortina do chuveiro. Ele a tirou de lá puxando-a pelo braço.
— Tem vários humanos vindo para cá. — Ele a soltou e empurrou suas roupas em seus braços. — Se vista agora. E seja rápida.
Brass a ignorou para subir na beira da banheira para espiar pela pequena janela.
Trisha tentou ignorar o fato de estar pingando e nua no diminuto banheiro com ele. Lutou para achar o jeito certo de vestir a camiseta e passou-a pela cabeça. O tecido grudava à sua pele encharcada. O medo a motivou a não reclamar sobre a invasão de privacidade. Ele nem pareceu ter notado que estava nua… além do fato de ordenar que se vestisse.
— O que está acontecendo? — Ela puxou o short de algodão. — Por que humanos estariam na zona selvagem? Tem certeza que está vindo alguém? Eles não são banidos?
— Eu vejo duas caminhonetes vindo com vários humanos dentro.
Ele saltou de onde estava e agarrou o braço de Trisha.
Trisha empurrou a camiseta para que cobrisse sua barriga enquanto Brass a arrastava para a sala. Moon e Harley tinham começado a fazer uma barricada na porta da frente com o sofá e pareciam realmente irados. Brass olhou em volta da sala e arrastou Trisha em direção à lareira. Ele se abaixou, segurou a grade de metal que a cobria e a tirou do caminho.
— Entre aí dentro.
Ela encarou de boca aberta a lareira imunda.
— Por quê? É muito sujo.
— A lareira parece ser feita de pedras sólidas e cimento. Ponha o seu traseiro ali dentro agora. Balas não devem passar por ela e é o melhor lugar que posso pensar em colocá-la. Nós fugiríamos com você, mas temo que seja tarde demais. Eles nos veriam e usariam os pick-ups para nos perseguirem. Proteger você e o seu bebê é a nossa prioridade. Entre aí agora e se proteja.
Trisha fez careta, mas se abaixou, apoiando-se com as mãos e os joelhos. Não era confortável, mas ela sentou o traseiro nas cinzas com os joelhos colados no peito. Sua testa descansava nos joelhos e ela passou os braços em volta de suas pernas dobradas. Não podia levantar a cabeça totalmente sem bater na chaminé. O interior da lareira não era alto o suficiente. Ela observou com medo crescente enquanto os três homens se preparavam para o pior.
O baú de cedro foi empurrado na frente da porta com o sofá. Para garantir, Moon empurrou mais uma mesa pesada contra ela. Harley correu até a mesa da cozinha e a virou de cabeça para baixo. As pernas foram quebradas com pouca ajuda de sua bota e mãos fortes. Ele levantou a tampa de madeira pesada e correu para a janela próxima à porta. Derrubou-a na frente do vidro então só centímetros de luz passava pelo topo. Empurrou o sofá de dois lugares para mantê-la no lugar.
Brass correu para a cozinha para tirar a geladeira do buraco onde ficava e empurrou-a na porta dos fundos. Ela bloqueou completamente a abertura e então ele pegou o forno.
— A mangueira de gás! — Gritou Trisha.
Brass congelou e olhou para ela.
— Obrigado. Eu não teria me lembrado. — Ele se inclinou detrás do enorme eletrodoméstico por alguns segundos para evitar o potencial problema antes de arrancar o fogão da parede. Ele o colou na geladeira.
— O andar de cima devia ser bloqueado — disse Moon.
— Não tem nada em volta alto o suficiente para que escalem ali e eles não podem saltar do jeito que primatas e felinos podem.
— Eu não tenho sinal. — Harley disse um palavrão sujo enquanto agarrava um celular.
— Partes da cabana parecem bloqueá-lo. — informou-o Brass. — Eu tenho que dar uma volta para conseguir. Tente na base da escada. Parece mais forte ali.
Algo quebrou dentro da cozinha.
Trisha viu quando Brass quebrou o armário, usando sua força para arrancar só uma parte, que ele colocou na janela da cozinha. Ele se virou, estudou a cozinha por um segundo, antes de voltar às pressas para a sala.
— Pegue a sua bolsa — ordenou a Moon. — Use o andar de cima para eliminar o máximo que conseguir deles. Está autorizado devido às circunstâncias atenuantes. Cabe a mim decidir e eu já decidi.
Moon assentiu seriamente e virou a cabeça para olhar para Trisha.
— Devo levá-la comigo?
— Não. Ela está mais segura aqui, melhor protegida de balas perdidas. Você vai atrair fogo quando começar a atirar naqueles terroristas. — Brass olhou pra Trisha e manteve o olhar. — Não mexa o traseiro, não importa o que aconteça. Entendeu-me? Se um de nós for atingido, médica ou não, não se mova um centímetro. Pense nesse bebê.
O medo a envolveu quando as caminhonetes chegaram perto o bastante para que seus ouvidos humanos distinguissem o som. Moon tirou uma bolsa de lona de dentro de um armário perto da porta e abriu-a. Não tinha arrumado roupas dentro da bolsa larga e comprida. Ao invés disso havia dois rifles e ele a agarrou pela alça, levando-a com ele enquanto subia correndo a escada.
Harley foi até a sua bolsa e Trisha o observou carregar armas e pegar mais munição. Ele olhou para Brass.
— Quer a posição da frente ou a dos fundos?
— Fico com a dos fundos. Os humanos sempre costumam pensar que podem nos surpreender. Acho que o ataque aos fundos vai ser bem pior e eu atiro melhor.
— Certo — bufou Harley. — Veremos quanto a isso. Aposto que eu consigo eliminar mais deles do que você.
— Tenho certeza que eles só estão perdidos — disse Trisha, esperando que esse fosse o caso. — Por favor, não atirem em ninguém a não ser que precisem.
Brass encontrou seu olhar.
— Há duas caminhonetes com humanos invadindo a zona selvagem e Slade nunca os mandaria para cá com você aqui. Eles teriam segurança de Novas Espécies e Slade teria nos alertado para sair daqui para não expô-la se tivessem permissão. Eles estão aqui para fazer o mal. Fique onde está.
Ele agarrou uma mesa de canto e jogou o abajur no chão onde o vidro quebrou e se espalhou. Ele empurrou a mesa para perto dela para bloquear a abertura e prendê-la lá.
— Saia daí e eu estouro a pele do seu traseiro com uma surra de cinto — Brass rugiu para ela. — Entendeu? Não vai sentar por uma semana.
Chocada, Trisha o fitou. Brass de repente sorriu e piscou.
— Sei o suficiente sobre crianças humanas para saber que essa é uma ameaça efetiva. — Seu sorriso morreu. — Eu falei sério. — Ele se virou, dirigindo-se para a parede de trás da cabana, para uma janela.
Trisha ouviu freios e motores desligarem, deixando-a saber que as pick-ups tinham parado do lado de fora. Ouviu vozes de homens. Isso tem que ser algum engano. Os rapazes estão só surtando e exagerando. Eles têm que estar. Ninguém sabe que eu estou na cabana e ninguém está vindo ferir a mim nem o meu bebê. É tudo só um grande mal entendido...
— Tem algum maldito animal aí dentro? — uma voz masculina gritou do lado de fora. — Saia e nos deixe dar um fim ao seu sofrimento.
Risada soou e Trisha ficou tensa. Ok. Não é um mal entendido. Estão aqui para fazer mal. Os homens lá fora não estavam procurando particularmente por ela, mas ao invés disso buscavam qualquer Nova Espécie que encontrassem. Ela prendeu o foco em Harley, na janela da frente, e soube que ele poderia vê-los melhor. Ele lhe parecia calmo. Ela sentia tudo, menos calma. Seu terror aumentou quando os segundos se passaram, rezando para que eles simplesmente fossem embora. Não queria que Brass nem os rapazes se ferissem protegendo-a.
— Vamos entrar e pegar uma pele de animal. — outro idiota riu.
— Vamos matá-los onde estão se aproximarem-se mais. Estamos altamente armados. — alertou Harley alto o bastante para que eles ouvissem a ameaça.
Vozes riram do lado de fora.
— Ouviram isso? Um dos animais pensa que permitiríamos que um cachorro ou um gato nos caçasse. Espalhem-se e atirem no filho da puta. Vamos mostrar quem é dono de quem.
Tiros ecoaram, os sons altos e horríveis. O olhar de Trisha voou para cima quando percebeu que Moon tinha aberto fogo. Trisha observou horrorizada quando Harley levantou a arma, apontou-a para fora da estreita abertura no topo da janela coberta pela mesa da cozinha e disparou sua arma. Ela levantou as mãos para cobrir os ouvidos. Ouviu múltiplos disparos e homens gritando do lado de fora, embora tentasse bloquear o som.
— Porra. — urrou Slade.
— Sabemos onde eles estão. — disparou Tiger, agarrando seu rádio. — Precisamos de ajuda na zona selvagem, cabana seis. Temos tiros. Nosso pessoal está sob ataque.
Slade rosnou para Tiger.
— Sente-se. — Foi todo aviso que deu antes de virar o volante com força e o Jipe saiu da estrada. Teve que girar o volante com violência outra vez segundos depois para evitar bater em uma árvore.
Tiger praguejou e agarrou tudo o que tinha disponível. Slade tinha deixado o asfalto e estava dirigindo em uma velocidade perigosa por dentro da floresta. O Jipe sacudia com força, o caminho quase assustador enquanto desviavam de obstáculos e escapavam por pouco de árvores. Tiger prendeu o fôlego algumas vezes, achando que o Jipe não passaria por entre as árvores em certos trechos. Um dos retrovisores não sobreviveu quando esbarrou em uma árvore, explodiu com o impacto e Tiger ouviu a tinta ser arranhada do lado da porta.
— Não dirija para o meio da confusão quando chegarmos lá. Vamos surpreendê-los. Não vão nos ouvir com todo esse barulho.
— Porra nenhuma. Espero atrai-los para longe dela.
Slade rosnou as palavras, irado demais para ligar para o que aconteceria com eles contanto que disparassem em sua direção e não na de Trisha.
— Quero que venham atrás de mim.
— Eles são humanos. — rugiu Tiger. — Eles não lutam assim. Não vamos atraí-los, ao menos não todos eles. Escute-me. Eu sei que está furioso, mas faça o que eu digo. Não está sendo racional.
Slade assentiu, sabia que o seu amigo falava a verdade, mas não conseguia ver além do seu medo de Trisha ferida ou morta. Sabia que tinha deixado sua racionalidade para trás no primeiro som de tiros quando saiu da estrada.
— Certo.
Trisha viu Harley estremecer, seu corpo ser jogado para trás e ele segurar o braço ensanguentado quando uma bala o atingiu. Entretanto, ele não parou de disparar a arma. Simplesmente agarrou o ferimento por alguns segundos antes de ignorá-lo.
Ela queria ajudá-lo, mas sabia que seria suicídio tentar chegar até ele. Balas atingiram a cabana repetidamente e buracos se abriram nas paredes num alvoroço repentino, mas Harley se jogou no chão no último segundo. Ele rastejou, praguejou, e foi para outro local. Levantou-se e começou a disparar de novo. Mais balas entraram na cabana quando os homens de fora devolveram os tiros. Uma foto emoldurada pendurada na parede perto de onde ficava o sofá despedaçou com uma bala, fazendo com que chovesse vidro no chão.
Trisha virou a cabeça para ver Brass, que estava escorado em um suporte grosso de madeira enquanto disparava. Ele obviamente tinha adivinhado de forma correta que alguns dos homens tentariam entrar pelos fundos. Trisha ouviu um barulho e olhou para a cozinha quando a prateleira do armário que Brass tinha escorado na janela caiu. Ela bateu na pia e deslizou para o chão. Trisha viu movimento quando o cano longo de uma arma entrou por onde alguém tinha conseguido abrir a janela.
— Janela da cozinha — gritou Trisha.
Brass mergulhou no chão e deslizou nele alguns metros de barriga até poder enxergar a cozinha. Ele se virou de lado, arma na mão, e mirou. Atirou no intruso na cabeça quando um homem apoiando-se no cano da arma entrava pela janela.
O corpo se sacudiu antes dele cair com metade do corpo pendurado em cima da pia. Brass virou e piscou para Trisha antes de descartar um pente vazio da arma e empurrar um novo. Ficou de pé para alcançar a sua posição anterior outra vez. Espiou pela janela que guardava.
— Diga se vir mais alguém, Trisha. — ordenou Brass. — Não vire o rosto. Você é os nosso olhos.
Trisha assentiu sem dizer anda, mas lembrou de que ele não estava olhando para ela.
— Estou de olho. — Sua voz saiu estremecida, mas ela sabia que ele a escutou quando não repetiu a ordem.
Ela olhou com horror para o corpo pendurado na janela. Sangue escorria pelo armário debaixo da pia e se juntava no chão. Ela forçou a atenção para longe da visão vermelha e grotesca do que sobrou da cabeça dele onde faltavam pedaços. Concentrou-se, ao invés disso, na janela aberta. Se alguém a usasse para entrar na cozinha essa pessoa seria capaz de atirar em Brass e em Harley. A atenção total deles tinha que estar do lado de fora.
O tiroteio parou de repente e Trisha prendeu o fôlego. Estava com medo de tirar os olhos da janela e não o fez. As vidas dos homens com quem se importava dependia que se mantivesse observante.
— Eles estão se reorganizando — rugiu Brass. — Como está, Harley?
— Dois tiros, mas só de raspão no braço e na perna. Nada que me impeça de continuar.
— Moon?
— Ainda aqui e bem. Eliminei seis deles e feri mais dois. Eles estão atrás das caminhonetes ou se embrenhando na mata para formar um círculo. No momento estão reunidos, provavelmente tentando formar um plano para nos atacar. Não tenho uma boa mira lá de trás. O telhado da varanda bloqueia a minha visão.
Brass baixou a voz para um sussurro.
— Munição?
— Estou bem — disse Moon de cima.
Harley hesitou.
— Pouca.
— Moon? Cubra a frente. — Brass manteve a voz baixa para evitar ser ouvido pelos homens lá fora.
— Entendido.
— Harley, troque de posição comigo depois que reabastecer. Fique com os fundos enquanto eu conserto o problema da cozinha.
Trisha viu Harley mancar até as bolsas no chão. Ele empurrou pentes dentro dos bolsos das pernas da calça. Ela olhou com preocupação a trilha de sangue que ele deixava enquanto caminhava. Queria tratá-lo. Brass hesitou dentro da cozinha, passou os olhos em volta dela e se agachou. Pegou o homem morto, segurou-o pelo colarinho e o puxou para dentro da cabana. Até gastou um segundo verificando se tinha pulso.
Empurrou o corpo onde o fogão uma vez ficava para tirá-lo do caminho.
Ele ficou abaixado quando agarrou a prateleira quebrada e a usou como escudo na frente do corpo quando se levantou e empurrou a pesada peça de volta à janela. Virou-se, examinando a cozinha. Brass se moveu, um som alto soou, e ela observou quando ele se virou, agarrou as prateleiras que guardavam os pratos e as arrancou da parede. Havia três delas fixas umas nas outras, mas ele derrubou todas na pia como se não pesassem nada. Ele as estudou antes de se virar para olhá-la.
— Como está? — Ele foi em sua direção.
— Estou bem. Posso dar uma olhada em Harley? Ele está perdendo muito sangue.
— Fique onde está. — Ele olhou para o chão manchado de sangue, levantou o olhar para onde Harley estava, na janela de trás e franziu o cenho. — Harley? Vá até Trisha. — Brass voltou o olhar para ela. — Pode tratá-lo de onde está. Não saia desse lugar.
Brass foi para a janela dos fundos. Harley mancou até Trisha. Ela tirou a mesa do caminho e se concentrou na área ensanguentada. Ele tinha sido ferido bem debaixo do joelho na parte externa da perna. Seus dedos estremeceram quando os colocou no tecido de sua calça onde a bala tinha rasgado e aumentou a abertura o suficiente para ver a pele cheia de sangue. A bala tinha passado de raspão, mas o corte era fundo. Harley tinha uma faca amarrada à coxa. Ela a olhou primeiro antes de encontrar o seu olhar. Ele a observou silenciosamente.
— Me passe a sua faca, por favor.
Ele não hesitou em lhe entregar, na direção do punho. Trisha olhou para o próprio corpo, percebendo que não tinha muita roupa. Agarrou o final da camiseta e começou a cortá-la. Tirou alguns centímetros e fez uma tira larga, levantando a faca da mesma forma que havia recebido, para Harley. Ele instantaneamente a pegou.
— Eu teria atirado em Moon se soubesse que iria cortar as roupas se um de nós fosse baleado.
— Eu ouvi — disse Moon lá de cima.
Trisha riu enquanto amarrava a tira em volta da perna dele e amarrava com firmeza.
— Isso deve segurar e diminuir o sangramento, mas vai precisar levar pontos.
— Já me sinto melhor.
— Me deixe ver o seu braço.
Harley se agachou e girou o corpo enorme para colocar o ombro em sua direção. Ela rapidamente rasgou o tecido fino de sua camiseta para ver o ferimento. Estava uma bagunça. Ela hesitou.
— Preciso apalpar para ver a profundidade disso e vai doer.
Ele assentiu, sem olhar para ela.
— Temos muita tolerância a dor. Vá fundo.
Mesmo que Trisha odiasse ter que fazer isso, ela colocou os dedos no ferimento rasgado que sangrava bastante e imediatamente sentiu uma coisa ali. Merda.
— Eu sinto uma bala. Achei que tinha dito que pegou só de raspão.
— Às vezes eu minto.
Trisha usou a ponta do dedo para desenterrar a bala depois de perceber que não tinha ido longe, sentindo-se sortuda pelo projétil ter atravessado a parede da cabana antes de atingir Harley. Isso desacelerou a bala de maneira significativa para impedir que atravessasse seu corpo. Temia que um vaso sanguíneo dos grandes tivesse sido perfurado pela quantidade de sangue que escorria pelo seu braço. Tinha que parar o sangramento e sabia que ele não ficaria deitado e imóvel para que aplicasse pressão no ferimento até que o socorro chegasse.
Podia tentar cauteriza-lo, mas descartou a ideia. Pediu por sua faca de novo e cortou mais da camiseta até o tecido cobrir pouco abaixo dos seus seios. Travou os dentes, odiando o quanto teria que machucá-lo.
— Eu vou enfaixar o ferimento e depois vou dar um nó. A pressão do enchimento vai parar ou diminuir amplamente o sangramento, mas vai doer.
— Faça isso, mas se apresse, Trisha. Eu preciso ficar de pé. Eles vão abrir fogo contra nós a qualquer momento. Não vão simplesmente embora por mais que quiséssemos que fossem.
Trisha pegou um pedacinho da camiseta e o enfiou no buraco. Era algo extremo, mas não tinha escolha. Ela o estudou, viu uma diminuição de sangramento, e passou uma faixa apertada em volta do braço dele, para manter o tecido no lugar, antes de amarrar. Longos segundos se passaram enquanto observava o curativo, mas o sangramento parecia ter passado.
— Tente manter esse braço imóvel o máximo que puder. Isso não é exatamente uma solução, é mais um curativo temporário de emergência.
Ele assentiu, levantou-se, e empurrou a mesa de canto de volta na frente dela para protegê-la de balas perdidas.
— Valeu.
Harley retomou sua posição na porta da frente enquanto Brass ficou na parede dos fundos.
De repente, Brass e Harley riram.
— O que é tão engraçado? — Trisha olhou entre eles, perguntando-se se o estresse da situação finalmente os havia atingido.
Brass parecia aliviado quando olhou em sua direção.
— Temos companhia. Os vizinhos estão a caminho para recepcionar os nossos convidados. Consigo captar o cheiro deles.
— Pelo menos quatro — inalou Harley. — E Valiant é um deles.
— Pobres bastardos — acrescentou Moon lá de cima. — Isso vai ser interessante.
Trisha só queria que aquilo acabasse. Queria poder ver o que acontecia do lado de fora, mas balas de repente atravessaram a cabana outra vez.
— Ataque completo pela frente — gritou Moon. — Eles estão vindo com uma das caminhonetes.
— Trisha — gritou Harley, correndo até ela. — Saia daí!
Trisha empurrou a mesa e a chutou de lado. Balas atingiram a parede próxima a Brass quando ele gritou um palavrão. Harley de repente agarrou o braço de Trisha quando ela lutou para ficar de pé e a puxou em direção à escada. Ele manteve o corpo entre o dela e a frente da cabana. Balas passavam pela sala vindas da frente, incrustando-se nas paredes e quebrando vidros.
— Suba para lá — rosnou Harley.
Ele soltou Trisha no início da escada. Ela correu e alcançou o topo antes de perceber que Harley não a seguia. Ela virou e o viu deitado no chão próximo ao começo dos degraus. Brass avançou até o homem caído, agarrou-o com as duas mãos, levantou-o e colocou-o sobre o ombro para subir correndo a escada.
— Trisha, deite na cama — rosnou Brass para ela, jogando o corpo mole de Harley nela primeiro.
— Fique atrás dele e permaneça deitada.
Trisha ouviu o som de um motor segundos antes de uma explosão de ruído rugir pela cabana tão alto que doeu seus ouvidos. Ela se jogou na cama ao lado de Harley. A cabana sacudiu como se um terremoto estivesse acontecendo—uma sacudida forte e rápida. Ela gritou, aterrorizada, quando a madeira quebrou e rangeu.
Mais vidro quebrava e caía de algum lugar abaixo deles no primeiro piso. O som do motor parecia super barulhento, como se estivesse ao lado de Trisha.
— Eles passaram pela porta da frente. — urrou Moon.
— Passaram um inferno. — rosnou Brass de volta. — A caminhonete está estacionada na sala agora.
Trisha viu Brass tomar posição no topo da escada onde ele jogou o corpo no chão. Ele começou a disparar contra algo lá embaixo e os disparos se tornaram ensurdecedores a ponto de Trisha cobrir as orelhas. Porém, não conseguia desviar os olhos do amigo, preocupada demais com ele.
— Abaixe a cabeça, Trisha — Moon gritou para ela.
O motor morreu e alguém gritou enquanto Brass continuava disparando. Ele jogou um pente vazio, encaixou outro e continuou a atirar depois de uma pausa de poucos segundos. Moon atirava pela janela.
O coração de Trisha batia acelerado. Aqueles homens tinham entrado com uma caminhonete na cabana. Balas perfuravam o chão em volta da cama onde Trisha via buracos aparecerem na madeira e seguirem atravessando o telhado. Detritos caíam. Trisha se voltou para a forma imóvel de Harley e se agarrou a ele até perceber que a mão que o apertava estava quente e molhada.
Sangue. Ele está sangrando. Ela abriu os olhos para olhar para Harley em choque, que estava deitado de costas. A mão que tinha em seu peito, em cima do seu coração levantou e estava coberta de sangue. Os portões do inferno se abriram em volta dela quando homens gritaram, armas foram disparadas e a cabana continuava a ser golpeada por balas. Trisha odiava se sentir inútil ao olhar para a mão ensanguentada, sabendo que se sentasse não seria de serventia alguma para ele com balas perfurando-a também.
Um rugido alto soou acima do tiroteio, da gritaria e da cabana sendo destroçada por balas. Trisha já tinha ouvido aquele rugido ensurdecedor antes. Parecia que Valiant entrou na cabana.
Trisha sentiu lágrimas quentes correndo pelo rosto quando o tiroteio cessou. Ela ouviu outro rugido, seguido de perto por algo similar a um uivo de lobo. Levantou a cabeça e viu Brass se levantar do chão. Moon estava na janela sorrindo.
— Devia ver isso. Tem uns dez dos nossos ali fora e já pegaram os imbecis. Um filho da puta está tentando fugir de Valiant. Ops. Ele achou que poderia fugir de Valiant. Agora ele está voando… ai. Estava imitando um pássaro, mas agora faz parte de uma árvore. Bem, era até cair no chão. Agora está morto. — Moon riu. — Isso deve doer. Parece que viu foi o tronco da árvore.
Trisha lutou para ficar de joelhos e fitar Harley, percebendo que ele não estava se movendo e instantaneamente tocou em seu pescoço. Um soluço saiu de sua garganta quando não encontrou um pulso. Agarrou a camiseta dele desesperadamente e a rasgou para examinar o ferimento aberto do lado esquerdo do seu peito.
— Oh não. — ofegou Brass.
Trisha se mexeu. Era difícil no colchão macio, mas ela ficou ao lado dele e inclinou a cabeça para ouvir suas vias aéreas. Trisha estava em cima dele, agarrando seu nariz com uma mão, apoiando-o com a mão detrás do seu pescoço, e cobriu sua boca para começar a respirar por ele. Soprou o ar, moveu os olhos para ver o peito dele subir e se sentou. Ela o soltou para apertar as mãos juntas em seu peito acima do ferimento. Contou em sua cabeça quando fez as compressões.
— Trisha? — Era a voz de Slade e ele estava perto.
— Chame o socorro — ofegou, sorvendo o ar e soprando na boca de Harley. Forçou o ar em seus pulmões outra vez. Fez mais compressões no peito. — Socorro aéreo. Do hospital de trauma mais próximo. Rápido.
— Trisha? — Slade estava muito perto, quase como se estivesse na cama atrás dela. — Ele está morto.
Trisha forçou o ar nos pulmões de Harley outra vez.
— Não! — recusava-se a desistir. Ele tinha usado o corpo para protegê-la até que chegasse a escada. Tinha tomado balas protegendo a ela e o seu bebê.
De jeito nenhum desistiria dele. Já tinha salvado pacientes com ferimentos piores. Continuou o que estava fazendo até parar, checar o seu pulso, e quase desmaiar de alívio.
— Há um batimento cardíaco. — Ela fitou o rosto dele para garantir que continuava respirando.
O alívio a invadiu quando ele respirou sozinho uma vez e então de novo. Seu pulso estava fraco, mas presente. Trisha estudou o seu peito e descobriu que era um ferimento que havia comprometido o seu pulmão.
— Alguém me arrume algo de plástico. Uma sacola, qualquer coisa. Rápido. O pulmão dele vai falhar.
Alguém lhe passou um saco de lixo novo e dobrado e ela se pôs a trabalhar enquanto Harley continuava respirando sozinho. Ela pôs pressão no ferimento. Tinha que ser cuidadosa e não colocar muito peso por medo de fazer o seu pulmão ferido falhar. Uma eternidade pareceu passar enquanto Trisha se ajoelhava ao lado dele até finalmente ouvir um helicóptero.
Braços a agarraram em volta da cintura.
— O socorro chegou. Eles não podem ver você, Doutora. Ninguém pode. Deixe-o. Moon vai segurar isso no lugar para você. — Slade a segurou, falando baixinho em seu ouvido. — Vamos, doçura. Já fez tudo o que podia fazer. Não são as nossas pessoas dentro daquele helicóptero, eles são que nem você, e se ficar aqui haverá muitas perguntas.
— Leve-a pela janela dos fundos — ordenou Brass baixinho.
Trisha virou a cabeça para encarar Slade.
— Eu sou a médica dos Novas Espécies e ele precisa de mim.
Slade a segurou com mais força contra o corpo.
— Pense no bebê, Trisha. Eles podem fazer o que você pode por ele.
Ele a levantou completamente da cama e se apressou até a janela de trás. Balas a tinham quebrado na maior parte, mas os cantos despedaçados tinham permanecido. Brass passou pela janela primeiro e foi para cima do telhado da varanda, somente para desaparecer, saltando a extremidade. Slade agarrou Trisha, virou-a dentro dos braços e se abaixou. Eles quase não passaram pela abertura, mas conseguiram chegar ao telhado. Slade foi até a beira para dar uma olhada em baixo.
— Harley precisa de mim. Coloque-me no chão, Slade. — Ela se revirava desesperadamente, tentando dar uma olhada na cama e viu um vislumbre do seu amigo deitado imóvel com Moon em cima dele. — Por favor. Eu sou uma médica!
Slade parecia ignorá-la quando falou com outra pessoa.
— Consegue segurá-la?
— Sim — urrou Valiant. — Jogue-a.
Jogar-me? Os olhos de Trisha se arregalaram quando olhou para Slade, retirada de sua necessidade desesperada de monitorar a situação de Harley. A expressão fechada de Slade não a tranquilizou.
— Fique quieta como está, doçura. — Ele a ergueu para longe do corpo na beira do teto e a soltou.
Trisha teve uma sensação terrível de queda e grunhiu quando dois braços fortes a pegaram nas costas e por trás dos joelhos. Slade a soltou de uns dois metros e meio nos braços de Valiant. Ela fitou em choque o feroz Nova Espécie. Ele se virou e saiu em disparada para a floresta com ela presa ao seu peitoral maciço. O pânico a atingiu fortemente quando ele saiu correndo com ela. Eles alcançaram uma parte mais densa da floresta longe da cabana, mas ele continuou seguindo.
— Estamos longe o bastante — declarou Brass, correndo ao lado deles.
— Me levem de volt, — exigiu Trisha. — Eu preciso ajudar Harley. Eu posso fazer coisas que um médico não pode durante o voo. — Ainda conseguia ouvir o som de um helicóptero.
Eles provavelmente teriam dificuldade em estabilizá-lo e ela não tinha certeza de onde ficava localizado o hospital de trauma mais próximo.
— Eu preciso monitorá-lo e...
— Cale a boca. — rosnou Valiant.
O medo de Trisha superou seu ultraje de ser levada para longe do seu paciente. Ela selou os lábios enquanto o cara continuava correndo com ela dentro dos seus braços enormes, levando-a para mais longe da cabana.
Valiant finalmente desacelerou e baixou o olhar para Trisha, franzindo o cenho.
— Devia comer. — Ele olhou em volta, espiando os arredores.
Trisha ficou emocionada em ver Slade sair correndo da floresta atrás deles. Ele riu.
— Rota de fuga limpa. — Ele se aproximou de Valiant e abriu os braços. — Eu fico com ela. Obrigado.
Trisha encontrou seu olhar.
— Harley precisa...
— Os humanos estão com ele e você não vai voltar lá.
Slade estreitou os olhos escuros.
— Pode discutir comigo, mas não vai mudar nada. Você o salvou e agora cabe a eles garantir que sobreviva. Nossa prioridade é você e o bebê. Harley sabia que seria perigoso quando aceitou o trabalho e os riscos.
Lágrimas rolavam pelas suas bochechas. Queria protestar, mas percebeu quando ouviu o helicóptero se distanciar que eles já o tinham levado. Não podia fazer mais nada por ele. Só tinha que esperar que a equipe do resgate fosse das melhores e que o pulmão dele não falhasse. Seu coração poderia parar de novo. Umas cem outras coisas que podiam dar errado começaram a aparecer em sua mente até ela afastar todas as hipóteses. Não podia fazer mais nada por ele e se preocupar com os “e se” não faria bem a ninguém. Era uma profissional e sabia que tinha de deixar para lá até que ouvisse notícias do hospital.
Valiant a transferiu para os braços de Slade.
— Aqueles homens destruíram o interior da minha casa. — Rugiu Valiant com raiva. — Eu estava fora caçando e senti o cheiro deles. Eles já tinham ido embora quando alcancei a minha casa, mas eu os segui nessa direção.
— Sinto muito. — Slade o observou. — Obrigado pela ajuda.
— Ela é uma de nós.
Slade assentiu.
— Minha, especificamente.
Valiant arqueou uma sobrancelha.
— Agora faz sentido por que ameaçou me matar por ter tocado nela. Deveria alimentá-la mais. Está muito magricela. Ao menos deveria emprenhar uma grande se vai montar uma humana. Posso sentir todos os ossos dela.
— Eu não sou magricela — protestou Trisha baixinho, usando uma mão para enxugar o rosto. Ela fungou e sua raiva aumentou. Deve ter sido o estresse e o trauma, mas ela se sentia ofendida. — Eu precisava perder quatro quilos antes de engravidar. Também como bastante. Está me fazendo sentir como se não cuidasse de mim mesma. Sou saudável a ponto de ter excesso de peso que posso perder.
Slade limpou a garganta.
— Onde? Eu sou favorável aos seus seios e amo o seu traseiro exatamente como é.
— Sabe que eu vou ficar maior, bem maior, em alguns meses, não sabe?
Slade assentiu.
— Mal posso esperar para te ver gorda.
— Eu não serei gorda — emitiu faíscas. — Grávida e gorda não são a mesma coisa.
— Para onde devíamos levá-la? — Brass se aproximou.
— Pode levá-la para a minha casa — suspirou Valiant. — Só por um dia. — Ele disparou um olhar de aviso para Slade. — Só um.
— Obrigado. Sua casa é a mais perto e eu preciso escondê-la até a noite cair. Quero levá-la para a minha casa sem que ninguém a veja. Vai haver uma confusão por lá agora depois do que aconteceu. Em algumas horas as coisas vão se acalmar. — Slade mudou a posição dela em seus braços. — Eu a quero escondida rápido.
Valiant assentiu.
— Melhor ainda. Vamos.
— Pode me colocar no chão — Trisha informou Slade.
Ele sacudiu a cabeça.
— Está descalça. Só passe os braços em volta do meu pescoço e relaxe. — De repente ele sorriu. — A não ser que queira que a coloque nas costas de novo.
Ela passou os braços em volta do pescoço dele, lembrando-se do tempo depois do acidente e como os músculos de suas coxas tinham doído por dias depois de ser carregada que nem um macaquinho por ele.
Valiant foi na frente com Slade seguindo e Brass atrás.
— Onde está Moon? — Trisha virou a cabeça, procurando, mas não o viu. — Ele está bem? Ele não foi baleado também, foi?
— Ele está ileso. Ele quis ficar com Harley. — Respondeu Brass. — Ele fará a guarda dele enquanto estiver dentro do hospital humano.
— Alguém vai nos dizer como Harley está? — Trisha encontrou o olhar de Slade. — Por favor. Vou me preocupar até saber se ele sobreviveu.
Ele assentiu.
— Eu vou garantir para que receba notícias assim que tiver informações de sua condição.
— Obrigada. — Sabia que ele manteria a palavra.
Valiant vivia em uma casa enorme de dois andares. Trisha a fitou, surpresa. Era uma casa antiga em estilo Vitoriano, em muito boas condições. Alguém tinha restaurado adoravelmente o lugar a não ser que tivesse sido construído para imitar uma casa antiga. De qualquer forma, parecia autêntica e esplêndida.
— Essa é a terra que compramos que ficava ao lado do antigo resort — explicou Slade. — Uma senhora vivia aqui, mas seu filho morreu. Ela ficou completamente sozinha e não estava muito bem. Agora está em um asilo particular com uma equipe cuidado vinte e quatro horas dela. Pudemos comprar um monte de propriedades na área que circulava o resort. Pagamos quase o dobro do valor de mercado a eles para deixá-los felizes.
Valiant caminhou pelos largos degraus da varanda. As portas duplas estavam quebradas e Trisha fez uma careta. Uma das portas com vitrais tinha sido destruída e Trisha sabia que seria impossível substituí-la. Brass usou o pé para tirar o vidro do caminho enquanto Valiant os apressava para dentro da casa.
Trisha fitou o belo trabalho de carpintaria dentro do hall de entrada e o corrimão cravado a mão que levava ao segundo piso. Suas dúvidas sobre a verdadeira idade da casa desapareceram. O bonito trabalho de madeira brilhava com amor e orgulho, trabalhos manuais que não existiam mais, a não ser para os extremamente ricos. Valiant os guiou pelas portas duplas até uma enorme sala de estar. Trisha a fitou em horror.
— Eles destruíram a maior parte da casa — urrou Valiant. Ele foi até o sofá virado e o colocou de pé. — Coloque-a aqui. Nós três podemos ser capazes de deixá-la mais confortável.
— Eu sinto muitíssimo — disse Slade com sinceridade. — Vamos ajudá-lo a substituir o que foi destruído. — Ele depositou Trisha gentilmente no sofá antes de se afastar.
Trisha observava quieta enquanto os homens endireitavam os móveis. Estava grata que ninguém tivesse rasgado a mobília com uma faca. Valiant saiu para pegar uma vassoura e um espanador. Não demorou muito para que os homens terminassem de limpar.
— Posso usar o seu telefone? — Slade olhou para Valiant.
— Eles não destruíram o da cozinha. Use-o. — Slade desapareceu. Brass levou o lixo para fora. Valiant estudou Trisha de cara fechada enquanto ela devolvia a observação.
— Eu vi o que você fez por Harley. Ouvi dizer que é médica.
Ela assentiu.
— Eu trabalho em Homeland.
— Já trabalhou para as Indústrias Mercile? — A raiva tornava os seus olhos de gato exóticos uma visão assustadora.
— Não. Eu nunca vi um Espécie até depois que vocês foram libertos. Slade foi levado para a minha sala de emergências diretamente do laboratório de onde o resgataram.
Ele relaxou.
— Você parece muito nova para ser uma médica.
— Eu comecei a faculdade com quatorze anos. Sempre fui meio inteligente.
— Realmente trabalha em Homeland?
— Sim.
Valiant sorriu, todos os sinais de sua raiva desaparecendo.
— Ficou atraída por Slade? Ele é meio bruto.
Ela sorriu.
— Ele tem os seus momentos.
— Ouvi que algumas das nossas mulheres são mantidas em Homeland. Você também cuida delas?
— Quando precisam de mim.
— Me faria um favor quando voltasse lá?
— Sim — concordou instantaneamente. Ele tinha ajudado a salvar sua vida.
Os olhos dourados de gato estreitaram.
— Não quer saber o que eu quero antes de concordar?
— Você ajudou a salvar a minha vida e eu devo isso a você. Do que precisa de mim?
Ele hesitou.
— Eu quero uma companheira. Você falará com as mulheres para ver se há alguma interessada? É solitário por aqui. Eu quero uma mulher grande, robusta. Eu prefiro uma Espécie felina, mas contando que ela seja durona não serei muito exigente. — Ele pausou. — Eu assusto a maioria da minha espécie. Nossas mulheres não se assustam fácil já que foram criadas nos laboratórios. Eu cruzei uma vez com uma felina em cativeiro e ela não gritou ao me ver nem implorou aos homens que a trouxeram até a minha cela para a levarem embora. Todas as outras me recusaram. Primatas especialmente ficavam aterrorizadas ao serem apresentadas a mim.
Trisha teve que engolir com dificuldade e se lembrar de manter a boca fechada. Ele queria que lhe achasse uma namorada? Engoliu outra vez.
— Posso falar com elas. Tem umas doze mulheres Novas Espécies vivendo nos dormitórios em Homeland. Não tenho certeza de quantas são felinas, mas já vi algumas.
Ele assentiu.
— Eu já ouvi falarem. Fale com elas por mim e diga a elas que não sou tão assustador quanto aparento. — Ele se levantou de repente. — Está com fome?
— Um pouco.
— Eu vou atrás de uma comida decente para você. Mulheres grávidas devem comer com frequência e você precisa disso mais que a maioria. Está magricela demais. — Ele saiu da sala.
Trisha abraçou a própria cintura e deixou a conversa fazer sentido. Valiant era um homem grande. Se alguém a levasse para sua cela e pedisse que transasse com ele, provavelmente também surtaria.
Ela sacudiu a cabeça em descrença. Ele parecia legal quando se acalmava e não estava rosnando. Talvez uma das Novas Espécies ficasse interessada nele, mas ela não invejava a mulher. Ele era grande e feroz demais. Não acreditava que ele machucasse a pessoa com quem estivesse, mas somente a visão dele enfurecido seria suficiente para matar de medo qualquer uma que o namorasse se ele perdesse a cabeça.
Slade voltou sozinho e sentou no sofá, a centímetros dela.
— Eu falei com Moon. Harley está em cirurgia e está aguentando. Todos os homens que atacaram você foram pegos, mas a maioria morreu. Os três que sobreviveram estão sendo entregues as autoridades humanas e serão interrogados. — Ele a estudou. — Como está, doçura? Desde que se envolveu com a minha gente sua vida não teve muitos momentos de tédio, teve?
Ela hesitou.
— Eu não trabalhava para os Novas Espécies quando o vi pela primeira vez. Você me deixou muito curiosa, eu mandei meu currículo para Justice, então eu culpo você.
Ele sorriu.
— Sério?
— Sim.
— O normal seria pensar o contrário. Eu a agarrei quando acordei e a trouxe para a cama. Prendi-a debaixo de mim e lhe disse o que planejava fazer com você.
Ela podia sentir as bochechas esquentarem.
— É, bem, talvez tenha sido isso que despertou meu interesse.
O sorriso de Slade se alargou e ele estendeu o braço. Sua mão deslizou pela sua coxa para esfregar sua perna.
— Que parte a interessou? Eu sei que tinha certeza que queria mantê-la debaixo de mim por dias.
— Essa parte me deixou acordada várias noites, pensando em como seria se você tivesse o que queria de mim.
Ele se aproximou mais.
— Eu ainda não tive a oportunidade de fazer isso, doçura. Quero passar dias com você debaixo de mim.
— Não vai montar nela no meu sofá. — urrou Valiant.
Slade saltou para trás e sua mão soltou Trisha. Ele sorriu para Valiant.
— Desculpe. Não ouvi você entrar na sala.
— Estava concentrado demais na fêmea. — Valiant passou um refrigerante para Trisha e um bolinho de banana e nozes. — Me surpreende o quanto a nossa espécie amoleceu depois que fomos libertos. Antes ninguém poderia surpreendê-lo antes que tivesse ciência de sua presença.
— Antes nós éramos acorrentados a paredes e dormíamos em tapetes no chão. Antes nós éramos prisioneiros. O antes já acabou.
Valiant assentiu.
— Verdade.
— Eu tenho que lidar com as consequências do que aconteceu. — Slade olhou de forma intensa para Valiant. — Tudo bem se eu deixá-la e Brass aqui com você?
— Tudo bem, mas lembre-se que disse que ia levá-la para casa à noite.
Slade se levantou e seu olhar encontrou o de Trisha.
— Está segura aqui e eu voltarei em algumas horas quando o sol se pôr. Vou levá-la para a minha casa. Descanse um pouco.
— Ok. Volte logo.
Slade sorriu.
— Eu volto. Voltarei para você em breve.
Trisha estremeceu. Ela o tinha ouvido dizer aquilo antes, mesmo assim ele nunca voltou. Ao invés disso a evitou aceitando um trabalho supervisionando a Reserva. Ela o observou ir embora, percebendo que tinha que aprender a confiar nele ou sempre teria medo cada vez que se afastasse dela. Não queria viver assim.
— Não fique tão temerosa. Está segura comigo. É magra demais para atrair meu interesse sexual, Slade já a reivindicou, e eu estou com muita raiva pelo o que fizeram com a minha casa para me excitar com o seu tentador aroma feminino. Ele vai voltar. — Valiant rosnou baixo. — Ele sabe que eu acabaria com ele se me deixasse com uma humana por mais de um dia. Eu tenho que limpar algumas coisas. Relaxe. Durma. Só não saia daqui. Há um banheiro perto da porta de entrada caso precise usá-lo. Os invasores que adentraram no meu domínio não o destruíram. Brass vai me ajudar a consertar tudo.
— Vou? — Brass estava de pé na entrada.
Valiant assentiu.
— Eu sou maior e digo que vai me ajudar.
— Funciona comigo. — Brass piscou para Trisha. — Eu vou ajudar o felino gigante a limpar.
— Ficarei bem aqui descansando e não ajudando. — provocou Trisha.
Brass riu antes de se virar e seguir Valiant para fora da sala. Trisha terminou seu bolinho e deitou no confortável sofá até perceber que suas mãos ainda estavam ensanguentadas pelos ferimentos de Harley. Tinha ficado tão distraída com tudo o que aconteceu que não notou antes.
Fitou o sangue seco e lutou contra a vontade de vomitar. Levantou-se e foi procurar o banheiro, sabendo que aquela batalha estava perdida. Seu estômago pesava e ela quase não chegou a tempo de perder seu lanche. Dez minutos depois ela se esticou no sofá. A exaustão a ajudou a cair no sono rapidamente.
— Fico feliz em ouvir isso. — Slade desligou o telefone, o olhar encontrando o de Tiger, e ele exalou profundamente. — Harley sobreviveu à cirurgia. Justice enviou uma equipe humana para ajudar Moon a fazer a segurança dele com mais alguns dos nossos. Ele vai ficar bem.
— Tivemos notícias das autoridades. Eles querem permissão para irem até a cena do crime, mas Justice está lidando com isso com a ajuda de Fury. Não podemos permitir que entrem na zona selvagem e eu mandei um dos nossos recolher todos os pertences da doutora. Não queremos deixar nenhum traço dela lá caso a polícia consiga convencer Justice a permitir que vejam o local em que o ataque aconteceu.
— Obrigado. — Slade se inclinou na cadeira. Ergueu uma mão e passou-a pelo cabelo. — Eu podia tê-la perdido. Outra vez.
— Mas não perdeu. É por isso que eu não o invejo por ter uma humana.
— Um dia pode encontrar uma da qual não consiga resistir.
— Não me rogue pragas — Tiger o olhou com raiva.
Um sorriso curvou os lábios de Slade.
— Não é tão ruim.
— Você vai ser pai. É parcial. Sua mulher lhe deu um milagre.
Aquela realidade continuava fazendo o coração de Slade acelerar.
— Eu vou, mas ela é a única para mim muito antes de eu saber do bebê que cresce dentro dela. Estou feliz, mas preocupado. Ela não é Espécie. Humanas não são tão duronas quanto as nossas fêmeas. Eu penso em todas as coisas que poderiam dar errado.
— Pare. Ela é uma mulher de mente forte, se não é de corpo. Isso importa.
— Ela é bem durona.
Tiger bufou.
— Devia ver o seu rosto.
— O que foi?
Laurann Dohnner Slade
— Nada. É muito óbvio que se importa muito com ela. Parece orgulhoso e feliz. — Tiger se levantou para andar pelo escritório. — Eles nunca vão nos deixar em paz e simplesmente nos permitir viver assim.
Slade sabia que Tiger falava dos humanos que os odiavam.
— Eu sei, mas podemos ter essa esperança. Disseram-me que as pessoas temem o que elas não compreendem. Talvez com o tempo eles aprendam mais sobre nós e vejam que não somos inimigos. Nós até segregamos nossas vidas das deles pela maior parte do tempo para garanti-los que estão seguros. Vários deles temem que sejamos instáveis ou que os atacaríamos sem provocação.
— Talvez esse seja o problema. Talvez estabelecendo nossos próprios ambientes não tenha sido o melhor caminho para fazê-los nos aceitar.
— Eu não sei, mas pense em todas as vidas que teriam sido tiradas se eles pudessem nos atacar e eliminar um por um. Pode não ser a melhor forma para fazer com que nos aceitem, mas é a melhor forma para que sobrevivamos. Eles não parecem prontos para serem nossos vizinhos no momento. Ao menos não todos eles. Precisamos aprender com o tempo como viver uns com os outros. Alguns Espécies odeiam humanos. Lembre-se da razão pela qual a Reserva é necessária. — Ele exalou forte. — Estou feliz por não ter o trabalho de Justice. O meu é terminar a Reserva, torná-la um refúgio seguro para o nosso povo e proteger Trisha. Tudo, além disso, é mais do que eu quero pensar no momento. Tentar lidar com o nosso pessoal já é difícil o bastante sem também ter que lidar com os humanos.
— Vamos ter que apertar a segurança outra vez. Eu não sei como vamos fazer isso. Nossos homens já estão cansados e exaustos de tanto trabalho. Nós estamos cheios de humanos que podem não estar aqui somente para trabalhar na construção. Aqueles homens que atacaram a cabana conseguiram trabalho de propósito procurando uma oportunidade para matar alguns de nós. Justice vai trocar alguns dos nossos para que possam descansar. Eu ficarei feliz quando estivermos funcionando cem por cento aqui e possamos fechar os portões para restringir a entrada de humanos.
— Não vai demorar muito.
— Eu sei. — Tiger se inclinou na parede. — Eu estou feliz que a sua doutora não tenha se ferido e que ela tenha conseguido salvar Harley. Aquilo foi incrível. Acabaria com você perdê-la e todos nós sofreríamos se o perdêssemos. Como está com toda essa questão de ser um perigo para ela? Ainda acredita que a reivindicando como sua vai colocar a vida dela ainda mais em risco?
— Eu entendi que ela está em perigo quer eu seja parte da vida dela ou não. Ela escolheu trabalhar para nós. Ela é dedicada. Estou feliz que tenha decidido me dar outra chance. Não vou decepcioná-la outra vez.
— Eu sei que não. — Um sorriso curvava as feições de Tiger. — Você já pensou que sua vida giraria ao redor de uma humana? Ou de uma mulher, para ser mais genérico?
— Não. — Slade devolveu o sorriso. — Mas desta vez estou feliz por ter estado errado. Essa é uma surpresa das boas que a vida jogou no meu caminho.
— Não jogue o trabalho todo em cima de mim. — Rugiu Tiger. — Eu sei que não vai querer sair do lado dela, mas Brass fez um ótimo trabalho protegendo-a e não posso terminar a Reserva sem você. Nós somos um time. Pode protege-la tanto quanto a nossa gente.
Slade assentiu.
— Aumentar a segurança da Reserva irá aumentar a dela. É tudo a mesma coisa agora.
— Doutora?
Trisha não teve que olhar para saber que era Slade quem esfregava seu braço. Ela abriu os olhos e sorriu.
— Oi. Tirou um bom cochilo?
Ela não pôde resistir e estendeu a mão para tocar o seu rosto. O cara a amolecia de todas as formas só de olhá-lo e apreciar seu apelo puramente masculino. Devolveu o sorriso.
— Teria sido melhor se você estivesse comigo e nós estivéssemos nus.
O sorriso de Slade ficou travesso.
— Eu não precisava ouvir isso — urrou Valiant.
— Merda — suspirou Trisha. — Não estamos sozinhos, estamos?
— Não — declarou Brass.
Trisha tirou a mão do rosto de Slade.
— Vou me sentar se me der espaço.
Slade se afastou, ficou de pé e estendeu a mão para ajudá-la a levantar.
— Já está escuro.
Ela olhou em volta da sala de estar, lembrando que estava na casa de Valiant. O proprietário estava sentado em uma cadeira não muito longe dela e Brass estava à vontade em uma espreguiçadeira no canto com suas pernas compridas esticadas. Slade a levantou.
— Obrigada pela hospitalidade e por ajudar a me salvar. — Dirigiu-se a Valiant.
— Eu diria quando precisar, mas ainda tenho muito que fazer até minha casa ficar habitável. —Ele realmente lhe sorriu. — Foi legal matar humanos.
Ela só conseguiu piscar.
— Fico feliz? — O que posso dizer àquela declaração? Não tinha certeza. Esperou que tivesse dado uma resposta adequada e percebeu que tinha quando Valiant pareceu divertido. Virou a cabeça e olhou para o rosto de Slade. — Estou pronta para ir.
Ele insistiu em carregá-la nos braços já que não tinha sapatos e Brass os seguiu até um utilitário estacionado do lado de fora. Brass abriu a porta de trás para Slade colocar Trisha no assento. Os dois foram na frente.
— Vai precisar ficar abaixada quando chegarmos perto das áreas principais — ordenou Slade baixinho. — Eu vou estacionar na garagem quando chegarmos à minha casa. Não pode ficar de nenhuma janela nem ir para fora assim que chegarmos. Ninguém pode te ver.
— Mas...
— Sem mas — rugiu Brass. — É para ficar escondida. Você nos confiou com a sua vida e ambos concordamos que seria o mais seguro. Ninguém pode saber onde você está.
— Ok — concedeu, abalada demais para argumentar. — Receberam alguma notícia de Harley?
— A condição dele é crítica, mas ele é durão e sobreviveu à cirurgia — informou-lhe Slade baixinho. — Moon tem certeza que ele aguenta. Você o salvou, Doutora.
— Bom trabalho, Trisha. Eu tinha certeza que ele já era. — Brass lhe deu um olhar agradecido. — Eu ficaria arrasado se perdesse o meu amigo. Ele é um irmão para mim em meu coração.
Trisha se inclinou no banco e relaxou, emocionada que seu amigo sobreviveria.
— Ele é durão e todos sabemos como vocês todos são durões. — Seu estômago escolheu aquele momento para roncar. Ela riu. — Estou morrendo de fome.
— Vamos alimentá-la quando chegarmos à casa de Slade.
Brass se virou no banco para continuar olhando para ela.
— Não vamos poder trazer suas roupas imediatamente. A cabana se perdeu completamente e me informaram que removeram suas coisas, mas ou estão destruídas ou sujas. Temo que terá que usar as roupas de Slade até arrumarmos outras ou lavarmos as suas.
— A perda é certa — suspirou Slade. — Tiger mandou um homem para retirar a caminhonete da sala e uma enorme porção do telhado desabou totalmente. A estrutura inteira está instável. Aqueles idiotas entrando com uma caminhonete daquele tamanho na cabana só me causaram mais pesadelos de construção. Vamos ter que demolir a estrutura e construir uma nova.
— Tem outro lugar onde vou ficar escondida ou vou ficar na sua casa por um tempo, Slade? — Trisha esperava que ele a mantivesse por perto.
— Você vai viver comigo. A casa é longe o suficiente da área do hotel e dos novos prédios sendo construídos que não há razão para ninguém aparecer por lá. Só não queremos você espiando pelas janelas nem saindo da casa, caso alguém dê uma de curioso. À noite podemos leva-la para caminhar para que não fique se sentindo confinada. Lembramos como é ansiar para sair. Brass vai ficar com você quando estiver trabalhando e Moon deve voltar nos próximos dias. Justice mandará um substituto para ficar no lugar dele no hospital. Não queríamos trazer um novo guarda para você já que quanto menos pessoas souberem da sua gravidez, melhor.
— Mas todos os meus guardas serão Novas Espécies, certo? Então isso é totalmente seguro. Eles não vazariam informação sobre o bebê.
— Verdade — concordou Brass. — Mas Justice está sendo cauteloso. Você é importante para nós, Trisha. Você é a primeira fêmea que concebeu com um de nós.
Ela franziu o cenho, não gostando do termo.
— Você me faz parecer uma égua.
Brass se virou para encarar a estrada. Resmungou alguma coisa que fez Slade rir.
— O que foi? Isso não é justo. Vocês sabem que eu não consegui ouvir! Qual é, rapazes, sejam bonzinhos comigo.
Slade limpou a garganta.
— Ele disse que com o tamanho dos nossos paus até que essa não é uma analogia ruim.
Brass riu. Trisha rolou os olhos e sacudiu a cabeça.
— Algumas pessoas são muito cheias de si.
Slade a olhou e seus dentes brilharam quando sorriu.
— Quer um lembrete quando chegarmos em casa? Talvez esteja esquecendo o meu tamanho e precise de um lembrete visual.
— Eu vi cavalos quando trabalhei em um hospital veterinário. Você não chegaria perto de mim se de fato se parecesse com um da cintura para baixo. — Ela fez uma pausa. — Mas você é maior do que qualquer um com quem já estive. Isso amansa o seu orgulho masculino?
Slade rosnou. Brass riu. Trisha sorriu do banco de trás até ser ordenada a se abaixar. Estava escuro lá fora, não via motivo para se esconder, mas não queria homens rosnando para ela, algo que os Novas Espécies pareciam adorar fazer quando estavam irritados ou emocionais. Slade entrou em sua garagem e ela ouviu o portão automático se fechar. Ele foi o primeiro a abrir a porta do passageiro.
— Vai dormir aí mesmo ou vai entrar na casa?
Ela o empurrou e sentou. Trisha olhou em volta da garagem. Era uma garagem dupla e havia um Jipe estacionado do lado do utilitário. Foi apertado para sair pela porta até Slade fechá-la e conduzir Trisha até a casa.
— Oh. Meu. Deus. — ofegou Trisha.
Slade virou para encará-la.
— O que foi?
Ela olhava a cozinha de boca aberta.
— Você é um porco!
Trisha fez cara feia para as pilhas de pratos sujos dos dois lados da pia. O fogão…
Forçou os olhos para longe dele, supondo que precisaria ser lavado com um jato de água. O chão… seus pés estavam descalços e ela conseguia sentir a sujeira. Seu olhar voou para o de Slade, percebendo que ele simplesmente a observava calado, franzindo o cenho.
— Você é mesmo um porco — grunhiu Brass baixo. — Já ouviu falar em sabão e água, cara?
— Eu venho trabalhando dezesseis horas por dia e dormindo seis desde as três semanas que estou aqui. Dê-me um desconto. — A irritação brilhou no rosto de Slade. — Não tem ninguém para chamar para limpar a minha casa. Não tenho dias de folga para limpar eu mesmo.
— Uau. Você fez isso tudo em só três semanas? — Trisha sacudiu a cabeça. — Mal posso esperar para ver o resto da casa.
Esperava que o seu sarcasmo não fosse muito óbvio.
— Pode dormir na floresta — provocou Slade. — Pelo menos não tem uma caminhonete estacionada na minha sala. Vocês só passaram o que na cabana? Vinte e quatro horas? Tem que ser demolida porque não tem mais salvação. Ao menos a minha casa só precisa de uma limpeza.
— Não me ferra. — Trisha mostrou a língua para ele.
Ele sorriu de repente e varreu seu corpo com o olhar.
— Eu adoraria, Doutora.
Ele lhe mostrou os dentes afiados.
Brass riu quando Trisha recuou.
— Mantenha esses bebês aí longe de mim. — Ela sacudiu a cabeça. — Não foi um pedido, na verdade.
— Não sei como dorme com humanas — riu Brass. — Frágeis demais. Uma das nossas mulheres adoraria ser mordida.
Slade assentiu, mas manteve o sorriso.
— Eu sei, mas ela é linda. O que posso fazer? Ela me queria muito.
— Acentue a palavra queria. — Trisha o fulminou com o olhar e passou por ele até a sala.
— Uh-oh — riu Brass. — Alguém vai passar a noite na casa do cachorro.
— Eu não tenho uma. — Riu Slade.
A sala de jantar obviamente não era um ambiente que Slade já tinha usado já que estava basicamente limpa, exceto pelo problema da poeira. A sala de estar era outra história. A mesinha de café podia ser bonita se conseguisse ver sua superfície, mas pratos sujos, latas vazias de cerveja e refrigerante e um cinzeiro cheio até a boca se empilhavam em cima dela. Ela franziu o cenho, estudando Slade.
— Você fuma?
Ele deu de ombros.
— Às vezes sim quando bebo algumas cervejas. Tentei tirar o gosto ruim deles. Para confraternizar com os humanos homens precisamos beber cerveja juntos e fumar também depois do trabalho.
— Bem, por favor, não fume enquanto estiver aqui. O cheiro do cigarro vai me fazer vomitar.
— Não fumarei dentro da casa.
— Garoto esperto. Faz muito mal a você.
Ela olhou para a sala antes de seguir adiante. O andar de baixo tinha um banheiro completo, uma sala de recreação familiar que não era usado e um escritório que era. Ela abriu a boca, mas fechou antes de notar que todas as superfícies estavam cobertas de papéis e restos de bebidas. Impressionava-a que o homem tivesse tanta louça de cozinha. Dirigiu-se para a escada quando a tour pelo piso inferior terminou.
— Vamos olhar todos os quartos? — Slade seguia atrás dela.
— Sim. Eu quero saber onde estou vivendo e com o que estou lidando. Já estou sentindo falta dos anos setenta.
Brass riu.
— O que isso quer dizer? — Slade olhou para os dois.
— Eu explico depois. — Bufou Brass.
Havia dois banheiros e três quartos no segundo piso. Um dos banheiros ficava no corredor. O segundo ficava na suíte. Era um quarto enorme com duas camas. Ela franziu o cenho quando viu o colchão pequeno e se virou para olhar para Slade, mas não disse nada. Checou os outros dois quartos em seguida. Um não tinha mais do que duas camas de solteiro iguais e uma cômoda.
Vários pesos e uma esteira ocupavam o último quarto. Ela fechou a porta e encontrou o olhar de Slade.
— Então, aonde vai dormir? Brass fica com o quarto extra e você só tem uma bicama. Eu não vou dormir no chão. Acho que você poderia dormir no sofá ou no banco em que levanta pesos. — Colocou as mãos nos quadris.
Slade piscou algumas vezes, uma expressão de confusão em suas feições. Brass riu e Slade o olhou com raiva antes de franzir o cenho para Trisha.
— Eu vou dormir no meu quarto, na minha cama e você vai dormir comigo. Eu sei que é pequena, mas nós vamos caber. Confie em mim.
Seu olhar varreu o corpo dele. Hesitou.
— Não vou dormir embaixo. O único jeito de dividirmos aquela cama é dormindo um em cima do outro. Você vai me esmagar.
Slade se moveu de repente.
— Deixe eu lhe mostrar como vai ser. Boa noite, Brass. Fique à vontade. Tem muita comida na geladeira.
— Ei — protestou Trisha quando Slade a agarrou. Ele ignorou a sua objeção quando a colocou nos braços. — E o jantar? Estou com fome.
Slade rugiu.
— Também estou com fome. — Ele entrou na sua suíte e chutou a porta para fechá-la atrás deles. Foi até a cama estreita e gentilmente deitou Trisha em cima dela.
Trisha viu quando Slade se abaixou, fitando-a. Amava a paixão que reluzia em seus olhos. Ele realmente parecia com fome, mas não de comida. Ele a queria. Ele jogou os sapatos e as meias de lado antes de passar a camiseta pela cabeça. O olhar de Trisha absorveu devagar a figura que ele fazia, apreciando seus braços musculosos e o peito largo.
Slade rugiu para ela de novo e puxou a frente da calça para abri-la.
— Podia tirar a roupa.
— Podia, mas perderia o espetáculo.
As mãos dele pararam por um instante, mas depois ele puxou a calça e chutou-a para fora do corpo. Ficou de pé usando sua cueca preta até tirar a última peça que cobria seu corpo. Trisha o observou descer o tecido e mordeu o lábio.
O pênis de Slade estava grosso, inchado de sangue em um tamanho impressionante que a maioria dos homens invejaria, e sua necessidade por ela era inconfundível.
Ele pegou no short de Trisha. Ela ouviu o tecido rasgar em sua pressa de puxá-lo pelo seu quadril e pernas. Ele o jogou por cima do ombro e simplesmente rasgou sua camiseta. Ela já tinha sido destruída quando tinha cortado pedaços para fazer faixas para os ferimentos de Harley. Não estava usando sutiã e isso fez um sorriso brotar nos traços duros de Slade.
— Sem roupa de baixo, Doutora? Estou chocado, mas muito excitado.
— Estava tomando banho quando aqueles homens chegaram. Brass me tirou do chuveiro e jogou essas peças para mim. Minha calcinha e sutiã não estavam na pilha que ele empurrou para os meus braços.
O sorriso de Slade morreu.
— Ele viu você nua? — Ele rosnou quando a sua raiva pareceu escurecer seus olhos.
— Ele estava salvando a minha vida. Tenho certeza que ele nem percebeu.
— Confie em mim quando eu digo que ele percebeu. — Slade agarrou seus tornozelos e a puxou pela cama até seu traseiro parar na extremidade. — Qualquer um notaria qualquer pedacinho de pele exposto de você.
— Obrigada. — Ela sorriu e tentou se sentar, querendo beijá-lo.
Ele usou a mão, colocou-a entre seus seios, e a empurrou de volta.
A mão deslizou por sua barriga, pelo quadril, e então as duas agarram suas coxas para puxa-las para cima. Ele as abriu amplamente para visualizar sua vagina. Ajoelhou-se no chão para ver melhor, lambeu os lábios e urrou baixinho. Trisha olhou para baixo para ver o pênis de Slade parado a centímetros de sua vagina.
— Não vai nem me beijar antes de entrar em mim?
— Sim, doçura. Vou beijá-la antes de te foder. — Ele abriu mais suas pernas e seu olhar excitado estudou o seu corpo estirado à frente dele. Trisha tentou não ficar envergonhada com o interesse intenso dele em cada pedacinho dela, especialmente quando ele se demorou fitando sua vagina exposta. Ele se sentou nos calcanhares e agarrou a parte interna de suas coxas para mantê-las abertas. Suas mãos mudaram de posição de um jeito que Trisha percebeu o que ele planejava fazer. A respiração era quente em sua coxa antes da língua provocar seu clitóris com lambidas fortes antes da boca se fechar no feixe de nervos, sugando com firmeza. Ela se despedaçou.
— Oh Deus — gemeu.
Ele retirou a boca de sua carne sensível.
— Eu disse que ia te beijar.
— Eu achei que miraria na minha boca.
Ele inclinou a cabeça, considerando-a.
— Quer que eu pare? Tenho que admitir que não quero. Eu andei morrendo de vontade de provar cada pedaço de você. Não me negue, doçura.
— Quer morrer? Isso é o que vai acontecer se você parar. Por favor, continue.
Ele riu um segundo antes de sua boca e língua retornarem. Trisha gemeu mais alto quando seus dedos se enterraram na colcha da cama só para ter algo no qual se segurar enquanto arqueava as costas. Achou que podia aguentar as sensações incrivelmente boas que ele criava pelo seu corpo com a boca. Isso foi até a língua dele começar a chicotear seu clitóris rapidamente e ele começar a urrar de uma forma que o fazia vibrar. Trisha ficou tensa, não tinha mais nem certeza se ainda estava respirando e gozou... gritando.
Slade levantou a cabeça rapidamente, agarrou o seu quadril e a puxou em sua direção. O pênis grosso pressionou em sua vagina e ele entrou nela devagar enquanto ela ainda estremecia com o orgasmo que ele tinha causado com a língua. Gemeu quando ele empurrou seu membro largo mais fundo, apreciando a sensação de ter o seu corpo estirado de um jeito delicioso que a deixava sentindo-se completa e tomada pelo homem que amava. Seu pênis enorme era incrivelmente gostoso em seu corpo ainda em clímax.
Slade investiu em Trisha fundo e com força, deixando-a a beira do paraíso outra vez em minutos e fazendo com que gritasse seu nome. Slade grunhiu roucamente, arremetendo-se nela mais rápido e jogando a cabeça para trás. Ela o viu expor seus dentes afiados quando começou a gozar dentro dela, inchando até um ponto de quase provocar dor, e ele gritou. Seu corpo estremeceu contra o dela enquanto derramava seu gozo quente em seu interior.
Trisha sorriu quando ele abriu os braços para Slade e ele desmoronou em cima dela.
Os dois ofegavam enquanto Trisha enroscava as pernas por trás das coxas dele e corria os dedos pelo seu cabelo sedoso onde a cabeça descansava entre seus seios. A respiração pesada fazia um pouco de cócegas na sua pele, mas ela amava abraçá-lo demais para reclamar ou pedir que ele virasse a cabeça e assim a sensação cessasse.
— Eu disse que uma cama só ia funcionar — ele riu.
— Com certeza está ótima para mim nesta posição, mas não tenho certeza de como vai dormir de joelhos desse jeito.
Slade virou a cabeça um pouco e se moveu. Ele passou a língua ao lado do seu seio, fazendo com que Trisha se arrepiasse. Seus seios responderam instantaneamente, os bicos ficando rijos.
Slade abriu a boca, cobriu o mamilo e permitiu que seus dentes afiados o raspassem. Trisha arqueou contra ele. A sensação erótica tinha engatado mais uma vez sua paixão. Ele soltou o mamilo e levantou a cabeça para lhe sorrir.
— Quer fazer de novo, Trisha?
— Quero, mas preciso comer. Que tal se comermos e viermos correndo para cá depois?
Slade riu.
— Deixe eu te preparar um banho. Você fica na banheira de molho enquanto eu faço alguma coisa para o jantar.
— Espere um pouco. Eu vi aquela cozinha. Talvez devêssemos pedir comida.
Slade se ergueu. Ele inclinou um pouco o quadril e isso levantou o traseiro de Trisha da cama. Sua mão deu um tapa bem ali com força suficiente para assustá-la, mas não foi doloroso.
— Não quero envenená-la e não temos delivery por perto da Reserva. Também não podemos confiar que nos façam a comida já que não temos certeza se nos são amigáveis. Eu tenho planos que envolvem você muito viva e saudável. — Sorriu. — Acho que posso sair sem te machucar agora que o inchaço diminuiu um pouco. Vamos, Doutora. Banheira e comida, nessa ordem.
Ela prendeu as pernas em volta do seu quadril quando ele tentou retirar o pênis de seu corpo. Olhou-o com raiva.
— Lembra-se da regra? Você está dentro de mim, então me chamar de Doutora não é aceitável. Qual é o meu nome, pirulito?
Ele sacudiu a cabeça, mas sorriu de modo tímido.
— Desculpe, Trisha.
— Pirulito? — Gritou Brass do corredor. Eles ouviram risadas.
As bochechas de Trisha ficaram quentes.
— Ele ouviu tudo o que dissemos e fizemos, não ouviu?
Slade deu de ombros.
— É a nossa audição, Trisha. — Ele acentuou seu nome. — Não é nossa culpa, embora ele devesse ter apenas sorrido sem fazer aquele comentário.
— Foi mal — gritou Brass do outro quarto. — Pirulito.
Slade grunhiu enquanto retirava o pênis de dentro de Trisha completamente e com gentileza. Ele se levantou e a ajudou a fazer o mesmo.
— Eu vou ter que matá-lo se ele continuar me chamando assim.
Trisha olhou em volta da cozinha quando Brass guardou o último prato limpo. Ela suspirou, esfregando a lombar dolorida com as mãos.
— Finalmente está limpa.
Brass franziu o cenho.
— Eu disse para se deitar duas horas atrás. Está esperando um bebê. Slade teria me ajudado a limpar isso depois que chegasse em casa hoje à noite se tivesse apenas esperado.
— Não consegui suportar — admitiu Trisha quando abriu a geladeira e pegou um refrigerante e um chá gelado, passando o refrigerante para Brass. — Olhe pelo lado bom. Ele vai ter uma surpresa quando chegar em casa.
— Ou me dar uma surra por ter deixado que trabalhasse tanto. Tínhamos que fazer a casa inteira em um dia? Precisa ter cuidado. Slade vai me culpar se alguma coisa acontecer com você ou com essa criança.
— Bem, você não podia cuidar de tudo sozinho e fez todo o trabalho pesado. Foi você quem esfregou tudo e levantou os móveis.
— Está com as mãos nas costas. Está doendo?
— Um pouco. — Ela se virou e de repente saiu correndo. Quase podia sentir Brass no seu encalce quando correu para o banheiro do andar de baixo. Fechou a porta com força, esperando que não o atingisse no rosto. Mal conseguiu ficar de joelhos antes que seu almoço retornasse.
A porta abriu detrás dela.
— Eu a avisei, mulher. Agora está doente.
Não conseguia falar enquanto suas vísceras a impediam. Brass segurou seu cabelo com gentileza e esfregou suas costas com a outra mão. Ela finalmente parou quando não havia mais nada no estômago.
— Não me siga para dentro do banheiro — grunhiu. — Isso é muito constrangedor.
— Você está esperando um filho. Enjoo matinal é normal.
— Não nessa altura.
— Talvez esteja passando mal porque trabalhou demais hoje. Não faça isso outra vez, Trisha. Eu a proíbo de levantar o dedo. Que isso sirva de lição.
— Isso ou eu talvez esteja passando por esse enjoo tão cedo porque nada nessa gravidez vai ser normal. Eu queria que algumas mulheres Novas Espécies tivessem dado à luz para que eu pudesse ter uma ideia do que esperar. Talvez seja normal ficar enjoada num estado tão inicial da gravidez quando se carrega um bebê Nova Espécie.
— Eu vou te ajudar. Já terminou?
Ela assentiu. — Preciso de uma escova e de pasta de dentes.
Brass a ajudou a se levantar sustentando seu peso.
— Eu vou buscar o que Slade comprou hoje de manhã pra você. Eu vi as duas coisas dentro de um dos sacos. Vai ficar bem enquanto vou pegá-las?
— Estou bem. Obrigada.
Ela se virou e estudou sua reflexão no espelho depois que Brass a deixou sozinha. Parecia pálida e esgotada. Talvez realmente tenha exagerado hoje. Tudo o que tinha desejado era limpar a casa.
Se não se conhecesse, quase pareceria que estava experimentando uma incontrolável síndrome do ninho, algo normal que algumas mulheres grávidas experimentavam. Também tinha o costume de limpar quando estava nervosa ou preocupada—emoções que estava sentindo ao mesmo tempo no momento.
Brass voltou e abriu a embalagem de uma escova de dentes nova e de um tubo de creme dental. Ele continuou lá, recusando-se a sair, enquanto Trisha escovava a boca inteira. Odiava vomitar.
Quando teve certeza que não estava com mau hálito nem com um cheiro remanescente de vômito, lavou o rosto. Brass lhe passou uma toalha, agindo como se fosse uma dama de companhia. Ela riu com aquele conceito divertido, secou o rosto, e passou a toalha de volta a Brass.
— Obrigada.
Ele assentiu, mas se abaixou de repente, colocou-a nos braços e se endireitou para caminhar com ela até a escada.
— Me coloque no chão. Eu posso andar.
— Você exagerou e eu quem estou no comando. Seguirá as minhas ordens.
— Não vou, não. Qual é, Brass. Eu estou bem.
— Calada.
— Beije o meu traseiro.
— Estou a fim de dar umas palmadas nele.
— Nunca toque o traseiro dela — rosnou Slade. — O que está acontecendo aqui? Por que está com ela nos braços?
Brass se virou com Trisha em seus braços, encarando Slade, que o olhava com raiva. Brass ficou tenso.
— Ela quis limpar a casa. Eu disse a ela que faria a limpeza sozinho, mas ela não deu ouvidos. Sentiu a necessidade de me ajudar. Acabou de ter um enjoo matinal e eu estou levando-a para o seu quarto, para que descanse.
A raiva de Slade passou e seu olhar suavizou quando encontrou o de Trisha.
— Você está bem?
— Estou ótima. Pode pedir para ele me colocar no chão? Ele não me escuta. Acha que não posso andar ou algo assim.
Slade largou a pasta que carregava e fechou a porta da frente com um chute. Aproximou-se de Trisha e abriu os braços.
— Eu fico com ela.
— Ela é toda sua. — Brass entregou Trisha.
— Como eu sou sortudo. — Riu Slade.
Trisha colocou os braços em volta do pescoço de Slade.
— Eu não sou de cristal, você sabe. Posso andar e tudo mais.
— Calada.
— Beije o meu traseiro.
— E foi aí que você entrou em casa — ironizou Brass. — Entende por que estava ameaçando lhe dar umas palmadas?
— Sim — disse Slade, assentindo, ainda fitando Trisha. — Eu vou dar umas palmadas no seu traseiro e uns beijinhos depois.
Ela riu, sem esperar que ele fosse brincalhão com ela. Estava feliz que não estivesse com raiva por ter limpado a casa e provavelmente exagerado na dose.
— Isso parece bem pervertido.
Ele sorriu e subiu os degraus.
— Brass, poderia, por favor, fazer o jantar?
— Claro.
— Eu vou colocá-la na banheira e tentar não afogá-la por ser tão teimosa.
— Boa sorte com isso. — Riu Brass.
Trisha olhou para Slade com raiva.
— Não teve graça.
— Claro que tem. — Ele entrou com ela no banheiro. Finalmente a colocou na bancada da pia. — E da próxima vez que decidir limpar a casa enquanto estiver grávida poderei não estar brincando quando disser que vou afogá-la.
Ela o observou abrir as torneiras, amando a banheira de Slade. Ele tinha uma banheira e um chuveiro separado. Slade testou a temperatura da água e se virou para ela enquanto a banheira enchia.
— Como foi seu dia, querido? — Trisha lhe bateu os cílios.
Ele sorriu.
— Bom, doçura. Eu perguntaria como foi o seu, mas eu já sei. Sente-se melhor agora que a casa está limpa?
— Imensamente, menos a parte de revirar minhas entranhas.
Ele fez uma careta.
— Não vou beijar você.
— Eu escovei os meus dentes.
Ele fitou a sua boca.
— Me deixe reformular. Não vou beijar sua boca. Vamos tirar essa calça se quiser ganhar um beijo. — Ele baixou os olhos. — Ela parece enorme em você. Está enrolada na cintura?
— Você é alto demais e não posso evitar se tem pernas enormes. Eu usaria o meu short, mas alguém o rasgou ontem à noite. — Ela ergueu a camiseta para mostrá-lo a cintura da calça que teve que manipular para que coubesse melhor em seu corpo.
Ele sorriu.
— Podia simplesmente ficar sem roupa.
Ela lhe sorriu de volta.
— Claro. Podia fazer isso. Mas é óbvio que Brass me veria por um lado totalmente novo. Por dois na verdade, frente e costas.
Ele estreitou os olhos e a boca ficou tensa, não gostando nem um pouco da ideia.
— Use qualquer roupa minha que quiser.
— Achei que diria isso. — Sorriu.
— Calça de moletom enrolada fica muito sexy em você. Na verdade, eu insisto que as use o tempo todo quando não estiver comigo dentro do quarto. Eu adoro mesmo quando usa as minhas roupas.
Slade a tirou da bancada até que ficasse de pé e levantou a enorme camiseta de seu corpo. As mãos roçaram seus seios, que instantaneamente responderam ao toque. Ele se ajoelhou à sua frente, sorriu, e agarrou a cintura da calça.
— Esperei o dia todo para ver isso. — Desceu-lhe a calça.
Trisha explodiu em risos com a expressão chocada do rosto de Slade segundos depois.
— Esperou o dia todo para me ver usando uma samba-canção sua?
Ele levantou as sobrancelhas.
— Está usando até cueca?
Dois dos dedos dele entraram pelo fecho da roupa íntima, tocando em sua pele.
— Acho que tem suas vantagens.
— Pare com isso. — Ela puxou a mão dele, tirando os dedos de lá. — Eu teria fechado isso se tivesse achado linha e agulha. Parece que você não tem nem uma nem outra.
Ele arregalou os olhos.
— Ela é minha. Não estrague as minhas cuecas. O que eu faria quando as usasse se tivesse costurado a abertura delas?
— Teria que abaixá-las para fazer xixi.
Ele riu, sacudindo a cabeça.
— Tenho que lhe comprar roupas.
— E eu achando que estava tentando me deixar nua.
Ele agarrou a samba-canção e a deslizou por suas pernas.
— Obrigado por me lembrar. Entre na banheira.
— Mas eu achei que haveria toques e beijos e…
Ele se levantou e segurou a própria camiseta.
— Vai haver, mas dentro da banheira.
Ela deu uma olhada na banheira e sorriu.
— Oooh!
Slade riu quando Trisha entrou na água morna enquanto a banheira enchia. Ela virou a cabeça e viu quando Slade começou a tirar as roupas. Amava vê-lo nu e apreciava assisti-lo tirar todas as roupas com um sorriso largo no rosto.
— Quer fechar as torneiras, Doutora? Vai transbordar logo, logo se não fechar.
Ela fechou as torneiras e teve que sair do lugar para dar espaço para Slade entrar na banheira. Ficou apertado quando ele sentou atrás dela. Slade abriu os joelhos e ergueu Trisha, puxando-a para trás até que ficasse sentada entre suas coxas. Ela se deitou em seu peito.
— Assim é ótimo, mas não é muito apropriado para beijos e outras coisas.
— Desculpe. Deixe-me consertar isso.
Ela virou a cabeça e o olhou para encontrá-lo sorrindo outra vez. Ele levantou o braço e pegou uma garrafa de óleo de bebê de uma prateleira embutida na parede.
— Óleo de bebê?
Ele riu.
— Normalmente passo na pele para deixá-la macia enquanto fico de molho na banheira. Eu fico cheio de calos nas mãos mesmo sem fazer nada de mais. — Ele mostrou os dedos. — Mas não é para isso que vou usá-lo agora.
Trisha o observou derramar o óleo nos dedos antes que os colocasse debaixo d’água. Ofegou quando deslizaram entre suas coxas abertas e gemeu quando a abriram, esfregando em seu clitóris. Um gemido alto a deixou quando ele parou para se aventurar em sua vagina com um dos dedos.
— Slade.
— Doutora.
Deu-lhe uma acotovelada.
Slade riu antes de acariciar o seu corpo com as mãos e segurar o seu quadril. Ergueu-a e ela mordeu o lábio quando ele a desceu em seu pênis ereto até encher sua vagina. Afundou mais quando seu corpo desceu totalmente, até ficar completamente sentada em seu colo.
— Melhor, Trisha?
— Você é um grandessíssimo cuzão.
Ele investiu nela.
— Você é médica. Reprovou na prova de anatomia? Não estou nessa parte.
— Vá se foder — gemeu.
— Não, Trisha. Foder é o que vou fazer com você.
Ele agarrou seu quadril e ergueu o dele com força e rápido. A água escorria pela beirada da banheira, mas Trisha ignorou aquilo enquanto gemia. Slade mudou a posição deles e agarrou seu quadril um pouco mais abaixo, provando sua força. Ele a levantava e descia nele, as mãos manipulando com facilidade o seu peso, e estabeleceu um ritmo mais veloz que a deixou num êxtase sem razão.
O corpo inteiro de Slade ficou tenso quando ele gozou e começou a se inchar dentro dela. Ela estava tão perto de gozar, mas Slade parou de levantá-la e baixá-la quando grunhiu de forma aterradora. Ele se sacudiu inteiro antes que seu corpo ficasse imóvel.
— Desculpa — Rosnou.
Merda. Trisha assentiu, sexualmente frustrada, quando Slade moveu as pernas de repente e forçou suas pernas a se abrirem mais. Seu corpo doía com a necessidade do orgasmo, mas ela tentou ignorar isso até que viu Slade pegar a loção outra vez. Ele a derramou nos dedos uma segunda vez e voltou a colocá-los na água. Trisha gemeu quando ele provocou seu clitóris.
— Me avise se eu a machucar — ordenou ele baixinho. — Eu ainda estou muito inchado.
Ela não se importava. O prazer se tornou abrasador demais pelo o que aqueles dedos faziam com seu broto inchado, esfregando círculos e incitando gemidos dela. Slade se movia dentro dela com gentileza, sem retirar muito, simplesmente fodendo-a mais a fundo. A pressão que experimentava de seu inchaço e a sensação dos seus dedos manipulando seu sexo fizeram com que gritasse seu nome quando jogou a cabeça para trás, contra seu peito. Um êxtase puro a rasgou no meio quando o clímax a envolveu. Slade rugiu.
— Esqueça o que disse sobre eu te machucar. — Ele agarrou seu quadril, mantendo-a imóvel. — Está me matando, doçura. Deus, está me apertando tão forte que dói. Isso vai me ensinar a te deixar gozar primeiro.
— Desculpa. — Não falava nem um pouco a sério.
Ele riu.
— É um bom começo. — Seus lábios lhe roçaram o pescoço. — Relaxe, Doutora.
Ela deu uma cotovelada nele.
— Está dentro de mim. Qual é a regra?
— Ai. Desculpa, Trisha.
— Pare de me chamar de Doutora.
— Mas é o que você é.
Trisha virou o suficiente para olhar para seu rosto e apertou os músculos. Slade fez uma careta.
— Eu me rendo. Vou parar de te chamar de Doutora. Está me apertando a ponto de me matar. Inchaço, lembra?
Ela sorriu e relaxou contra Slade.
— Agora você me abraça. Eu amo mesmo todo esse negócio de inchaço.
— Eu também até você quase me esmagar.
Trisha sorriu e pegou a esponja.
— Eu vou recompensá-lo.
Trisha não conseguia desviar os olhos de um Slade sorridente e sorriu de volta. Brass suspirou audivelmente.
— É assim que vai ser até o bebê nascer? Vocês vão me fazer perder esse delicioso sanduiche de peru. Eu sei que você está esfregando a coxa dela debaixo da mesa, Slade.
Trisha virou o olhar para Brass.
— Os sanduiches estão ótimos. Obrigada por fazê-los. Amei o bacon que você colocou.
— Sim — riu Slade. — Nós vamos transar muito até o bebê nascer e depois que ele nascer. Eu adoro tocá-la e planejo fazer isso muitas vezes.
O telefone tocou. Slade piscou para Trisha e se levantou para atender. Virou as costas para a mesa, falando baixinho.
— Está se sentindo melhor agora? Mais enjoo? — Brass lhe deu um olhar preocupado.
— Estou bem. — Ela mordeu o sanduíche. — Eu sinto enjoo mais às tardes.
— Eu achei que o enjoo era matinal.
Ela encolheu os ombros.
— Fale isso para o bebê.
Brass riu.
— Ele não me ouviria.
— Exatamente o que quis dizer.
Slade desligou e suspirou ao retornar para a mesa. O sorriso de Trisha morreu ao ver a expressão irritada que ele tinha.
— O que foi?
Slade sentou.
— Há mais problemas com os quais lidar. Mal posso esperar para fecharmos a Reserva para os operários e de fato segurá-la.
— Mais problemas? — Brass parou de comer. — Aconteceu outra coisa?
— Pode-se dizer que sim. — Slade se levantou outra vez e deixou a sala de jantar para entrar na cozinha. Segundos depois ele voltou com um refrigerante. Abriu a lata e deu um gole enquanto voltava para a cadeira. — Os três que nos atacaram ontem e sobreviveram estão alegando ser parte de um novo ramo de um grupo de ódio que juraram nos forçar a vender as terras e abandonarmos a área. Estão se gabando que ontem foi só o início dos problemas que vamos ter se ficarmos. Ainda temos muitas construções para terminar e precisamos que os operários as terminem. Qualquer um deles poderia ser membro desse grupo novo.
— A intenção deles ontem era matar alguns de nós ou o plano deles era mais do que apenas atacar a cabana? — Brass urrou as palavras.
— O objetivo deles, de acordo com um, era destruir qualquer estrutura que ficasse em lugares remotos e matar qualquer um de nossa espécie com quem cruzassem. Eles sabiam que seriam atacados se visassem construções maiores como o hotel, com todo o nosso pessoal fazendo a segurança. Sabemos que tiveram sucesso com a cabana. Um dos humanos conhecia a senhora que vivia na casa de Valiant. Acho que como Valiant nunca removeu os pertences da mulher, quando chegaram ao andar superior acharam que a senhora ainda devia morar lá e foram embora. De outra forma teriam ateado fogo no lugar. Foram impedidos antes que pudessem encontrar mais casas para atacarem.
— Aquela casa Vitoriana é tão linda. — Trisha sacudiu a cabeça. — Que idiotas.
— Estou mais irritado com o ataque que você sofreu. — Slade tinha uma aparência sinistra. — Eles podiam ter matado você. A cada hora nossos homens contavam os humanos, mas agora temos que fazer isso de meia em meia hora. Eles tiveram mais de vinte minutos para causarem problemas antes de notarmos que tinham sumido. Eu também vou ter que colocar rastreadores em todos os veículos que entram na Reserva para monitorá-los. Eles conseguiram passar com armas pela nossa segurança, o que também me alarma. Vemos muitos veículos entrarem com materiais de construção e ferramentas. Isso vai tornar as coisas mais lentas, já que vamos ter que checar cada centímetro de tudo que passar pelos portões agora. Nosso pessoal já está exausto.
— Diga a Justice que precisa de mais homens. — Soava muito simples para Trisha.
— Não temos mais. — Slade se inclinou nas costas da cadeira. — Ele colocou o máximo de homens que podia aqui sem enfraquecer as defesas de Homeland. Já estamos usando o dobro dos homens que de fato precisamos quando trabalhamos a toda porque temos que monitorar essa quantidade absurda de humanos.
Trisha estendeu a mão e acenou para conseguir a atenção deles.
— É, e as mulheres?
— As mulheres? — Slade a fitou com o cenho cerrado. — O que tem elas?
— Há pelo menos três dúzias de mulheres Novas Espécies que eu saiba em Homeland. Por que não as trazem para cá?
Slade sacudiu a cabeça.
— Elas precisam ser protegidas. Nossas fêmeas são poucas.
Ela franziu o cenho.
— Alguém perguntou o que elas queriam? Já viu algumas delas? Acho que são mais capazes para fazerem esse trabalho de contar os humanos e também fazer um pouco de segurança. Eu vi câmeras, então assumo que tenham uma sala de monitoramento? Quantos dos seus homens têm que fazer isso? Coloquem as mulheres lá se não as querem pelos portões ou tendo contato direto com os operários.
— É uma boa ideia — declarou Brass.
Slade hesitou.
— É uma ideia ótima. — Ele lhe sorriu. — Deixe-me ver se Justice concorda com isso e se as mulheres estariam interessadas em ajudar por aqui.
— E onde elas ficariam? — Brass fitou Slade. — Onde as colocaríamos?
— O último andar do hotel foi concluído. Há dez suítes lá com dois quartos em cada uma delas, então tem uns vinte no total.
— Seria seguro? — Trisha se lembrou que Brass não queria colocá-la lá quando Slade havia sugerido.
— Não vejo por que não seria. Aqueles homens não o atacaram antes devido a quantidade de pessoas presente e a nossa segurança reforçada próximo as estruturas maiores que estão em obras. — Slade fez uma pausa. — Não há outra opção.
— Eu não sei, — acrescentou Brass. — Atear fogo ao hotel seria uma ótima alternativa se os humanos quiserem causar furor. É a maior edificação da Reserva. Eu me preocupo que nossas fêmeas ficassem presas em um incêndio se colocássemos todas elas no último andar.
— Você tem razão. — Concordou Slade. — Foi uma boa ideia, mas não temos onde abrigá-las, Trisha. Não podemos colocá-las em perigo se houver algum risco. Por mais que precise da ajuda, não posso pedi-las exatamente que dividam o quarto com os homens.
— Poderiam trazer alguns motor homes. — Trisha deu de ombros. — Mulheres normalmente não se importam em dividir com outra e elas iriam trabalhar em turnos, certo? Talvez possa colocá-los na zona selvagem e pedir que Valiant e os outros fiquem de olho neles. Só risque a reconstrução da cabana. Desse jeito nenhum operário de construção teria alguma razão para entrar naquela área.
Slade lhe sorriu.
— Você quer o meu trabalho? Parece ser melhor nele do que eu. Eu nunca teria pensado em pedir a ajuda das nossas mulheres.
— Ela é médica — riu Brass. — Ela é muito mais inteligente do que nós.
— Sei não. — Slade sorriu para Brass. — Ela não conseguiu diferenciar um cu de uma...
— Cale a boca, — riu Trisha, interrompendo-o, e chutando sua canela debaixo da mesa. — Eu sei a diferença.
Os dois homens sorriram para ela enquanto Trisha sacudia a cabeça para eles.
— Não tem uns telefonemas para fazer, Slade? Devia pedir a Justice antes de ele ir dormir e lhe dar tempo para falar com as mulheres também antes que elas durmam. Quanto mais rápido a decisão for feita, mais depressa terão ajuda extra por aqui. — Ela lhe deu um sorriso.
Trisha olhou para o outro homem.
— E você, Brass. Tem roupa que precisa ser lavada. Você disse que queria fazer tudo sozinho para que eu não fizesse. Vamos! Ela não vai se lavar sozinha.
— Eu disse que limparia. Nunca disse nada sobre lavar roupa. — Brass ficou de pé. — Odeio dobrar e guardar roupas. — Grunhiu. — Mas vou fazer para que você não faça.
— Eu vou me deitar. Boa noite!
— Ela é tão mandona. — Riu Brass.
— Eu sei, mas ela tem uma bunda linda. — Slade também riu. — Quando ela grita comigo e começa a exigir as coisas, sempre vai embora depois. Eu fico vendo a bunda dela quando ela sai e não consigo mais me importar com o fato dela ser dominadora.
Trisha parou na escada e riu. Sacudiu a cabeça e escapou para o quarto.
Trisha tentou esconder sua reação chocada e horrorizada. Manteve firmemente um sorriso forçado na boca até que os músculos de suas bochechas doessem. A expressão altamente divertida de Brass era óbvia, mas ele não riu. Slade não mostrou nenhum controle quando se abaixou, segurou a barriga e gargalhou até lágrimas se juntarem nos cantos dos seus olhos.
Valiant rosnou.
— O que é tão engraçado.
— Eu não tenho ideia — mentiu Trisha. — Acho que às vezes ele tem dificuldades sociais.
Slade parou de rir instantaneamente quando seu olhar brilhou para ela e se estreitou perigosamente. Ele lhe deu um olhar que lhe prometia retribuição. Trisha desviou os olhos com um sorriso, esperando que ele tentasse lambê-la até que morresse, mas seu divertimento morreu rápido quando olhou outra vez para a mesa.
Tentou não deixar o queixo cair ao ver o enorme pedaço de carne crua envolvida em plástico filme que Valiant tinha acabado de depositar na mesa de jantar. Não tinha certeza de que era, mas parecia do tamanho de um corpo. Deus, tomara que seja um animal.
— Foi muito gentil de sua parte nos trazer… tanto assim. Isso vai durar uma semana inteira. — Ou um mês, adicionou mentalmente. Forçou a atenção para longe da carne embalada e sorriu mais para Valiant. — Qual é a ocasião?
— Slade me informou que foi você quem pensou em pedir que nossas mulheres viessem para cá. Vinte delas chegaram ontem. Eu vi algumas delas de longe e estou muito satisfeito com a seleção. Eu lhe pedi que me achasse uma fêmea, mas você trouxe várias delas para que eu conhecesse. Queria te agradecer. Eu sabia que seria feio trazer a carcaça inteira, então eu tirei a pele e as tripas para você. Eu até removi as patas e a cabeça. — Ele indicou a coisa enorme na mesa. — Passei o plástico pra evitar que caísse sangue no seu carpete.
— Isso foi muito gentil — disse Trisha, tentando com todas as forças ser educada, apesar do choque.
Aproximou-se dele, mas então parou.
— Posso te abraçar para agradecer?
Ele franziu o cenho.
— Por que iria querer me abraçar? Acabou de dizer obrigado.
— É uma coisa humana. — Sorriu Brass. — Eles parecem se abraçar. Aceite logo, Valiant. Ela me perturba se eu não a deixo que me abrace às vezes. É bom.
Valiant suspirou com força.
— Acho que devo me acostumar a ser tocado, já que desejo uma companheira. — Ele abriu os braços. — Vá em frente. — Parecia completamente enojado.
Slade sofreu outro ataque de risos, mas Trisha o ignorou. Ela teve que se esticar nas pontas dos pés para colocar os braços em volta do homem enorme. Valiant ficou imóvel enquanto Trisha o apertava de leve ao redor da cintura antes de se afastar.
— Não foi tão ruim, foi?
— Não. Você tem um cheiro bom. — Ele deu de ombros. — Não foi ruim.
— Obrigada. — Ela olhou para o pedaço embalado de carne antes de olhar para Slade. — Por que não fazemos um churrasco? Você e Brass podem cortar a carne, congelar o que não vamos usar, e teremos um pouco dela no jantar.
Slade sorriu para o homem grandão parecido com um leão.
— Para mim está ótimo. Obrigado, Valiant. Quer ficar para o jantar?
Valiant sacudiu a cabeça.
— Eu tenho mulheres para encontrar e uma companheira para achar. — Ele saiu correndo da casa.
Trisha apontou para o plástico manchado de sangue e sussurrou caso Valiant estivesse próximo e conseguisse ouvir.
— O que é isso?
— E eu sei lá. — Slade deu de ombros.
— Eu acho que é cervo — sussurrou Brass. — Tem uma porção deles por aqui. Bifes de cervo me parecem ótimos. — Ele se aproximou da mesa. — Vamos levar isso para a cozinha.
— Usem a varanda de trás, por favor — corrigiu instantaneamente Trisha. — Desse jeito vocês podem lavar o chão de lá com a mangueira depois que terminarem de cortar a carne.
— Isso mesmo. — Sorriu Slade. — Desse jeito pode lavar o chão depois que cortar a carne, Brass.
— Você vai ajudar — Brass rosnou para Slade. — Eu não sou um açougueiro.
— Nem eu.
— Bem, não olhem para mim. — Trisha franziu o cenho quando os dois homens viraram para olhá-la.
— Você é médica e devia ser boa cortando as coisas. — Slade lhe deu um sorriso esperançoso.
— De jeito nenhum. Negativo. Eu vomitaria. Eu sou a grávida aqui, lembram? Eu sinto enjoo só de pensar em fazer isso. — Colocou as mãos na barriga e bateu os cílios para Slade. — Você é o grande predador, afinal. Não é isso que sempre me diz? Então vamos lá… pegue uma faca e vá se ocupar.
— Mandona — grunhiu ele.
Trisha riu.
— Quer me ver de costas indo embora?
Brass riu.
— Você olha o traseiro dela e eu vou atrás de algumas facas afiadas e de potes para armazenar a carne.
Trisha se virou, presenteou Slade com sua visão de costas, e sorriu para ele por cima do ombro.
— Me chamem quando tiverem terminado. Eu vou tirar a roupa e tomar um banho. Obrigada!
— Provocadora.
Trisha caminhou até a escada.
— Entendeu bem. Chame-me quando o jantar estiver pronto. Você é o melhor.
— Continue andando — grunhiu Slade. — Balance um pouquinho, doçura.
Trisha entrou na suíte principal ainda se sentindo amplamente divertida. Algumas de suas roupas tinham sido devolvidas naquela manhã. Alguém as tinha recuperado na cabana destruída. Pegou um vestido de verão e lingerie da cômoda e foi para o banheiro.
Estudou seu corpo nu no espelho, vendo que já estava aparentando estar grávida, apesar do estágio tão inicial da gravidez. Isso a preocupava um pouco, ninguém realmente sabia o que esperar, e podia ser perigoso. Já tinha sofrido de enjoo, o que tornava a gravidez estranha desde o começo.
Slade a levou escondida no novo consultório médico naquele dia, antes de amanhecer, onde havia um aparelho de ultrassom. A instalação ainda não estava funcionando, mas o equipamento havia chegado. O bebê era maior que o normal. Fazia com que imaginasse o tamanho de um bebê Nova Espécie na época do parto. Ele também parecia estar se desenvolvendo em um ritmo acelerado. O jeito que Slade havia sorrido ao ver seu filho tinha amornado seu coração. Não tinha dúvidas de que ele queria o bebê tanto quanto ela.
Slade era uma mistura canina e seus ciclos de gravidez eram bem mais curtos do que os de um humano. Ela se preocupava que o bebê pudesse crescer e se desenvolver mais rápido com o DNA alterado de Slade. Tinha que ficar de olho no desenvolvimento do bebê para estimá-lo e calcular uma data para o parto. Tinha falado com Justice ao telefone e perguntado se ele podia conseguir mais equipamentos médicos para que fizesse exatamente aquilo. Ele concordou prontamente em arrumar o que quer que quisesse.
— Por que essa cara?
Slade tinha entrado no banheiro e andado para detrás dela. Suas mãos deslizaram em volta da sua cintura para envolver gentilmente sua barriga arredondada. Seus olhares se encontraram no espelho enquanto as mãos dele acariciavam seu estômago. Ele beijou o topo de sua cabeça.
— Que cara? — Ela se inclinou contra seu corpo.
— Está preocupada.
Ela sorriu.
— Um pouco. Eu não quero que nada aconteça com o nosso bebê nem que nada dê errado.
— Está com medo porque ele é maior do que deveria ser e está avançando as fases da gravidez mais rápido que o normal.
Ela assentiu. Eles tiveram essa conversa quando ela notou as descobertas na clínica.
— Sim. Pare de chamar o bebê de “ele”. E se for uma menina? Vai deixá-la complexada. Ainda não consegui definir o sexo.
Ele riu.
— Não vou deixar o nosso bebê complexado. Você só fica chateada quando digo que vamos ter um menino. É uma pena que as pernas dele estavam levantadas e juntas, e não tenha conseguido uma visão do sexo.
— Devia ser muito cedo para saber, mas o bebê já está quase do tamanho de uma gestação de doze semanas. Eu não me importo com o sexo contanto que o nosso bebê seja saudável.
— Eu também não. — Slade a abraçou contra o peito um pouco mais forte. — Vai ficar tudo bem, doçura. Você é uma médica incrível e Justice vai lhe dar tudo o que pedir. Ele está procurando por um médico confiável e excelente para assisti-la que seja especialista em gravidez de alto risco. Pode ter o melhor. Você declarou que o bebê parece perfeito e tem uma batida cardíaca forte apesar das anomalias de tamanho.
— Eu sei. Eu só me preocupo.
— Eu sei disso. — Slade sorriu. — Podia passar a próxima hora aqui ye distraindo.
Ela riu de repente.
— Você não devia estar ajudando Brass a cortar a carne?
— Eu subi para trocar de roupa, mas não ouvi a água correndo. Por favor, me permita distraí-la. Então posso dizer a Brass que você estava triste e que precisava de mim. — Ele piscou.
— Ele vai ficar preso cortando aquilo tudo.
Trisha rebolou e agarrou os braços em volta de sua cintura.
— Ah não. Ele vai rosnar para mim e queimar o meu jantar. Vá, Slade. Eu estou bem. Vou tomar um banho e você vai trocar de roupa.
Ele a virou dentro dos braços e seu sorriso morreu.
— Está mesmo bem, Trisha? Eu quero que sempre confie o que sente para mim. Quero estar presente quando precisar.
— Estou bem. Eu vou me preocupar, mas também vou ficar de olho no nosso bebê. Às vezes eu exagero.
— SLADE!
Trisha sorriu.
— Estão gritando atrás de você.
Ele grunhiu.
— Por favor, me deixe ficar.
Ela o empurrou.
— Vá ajuda-lo.
— Mas eu quero te beijar todinha e ficar dias em cima de você.
— Provocador.
— Não se eu fizer uma barricada na porta para impedir que Brass venha atrás de mim.
— Eu amo você, mas não vou te salvar de cortar toda aquela carne. Estou com fome e quero bife de cervo.
O sorriso de Slade morreu e seus belos olhos se arregalaram.
— Você me ama?
Ela olhou para ele.
— Você sabe que sim.
— Nunca me disse isso antes.
— Não? Bem… — Ela ficou nas pontas dos pés e passou os braços por trás do pescoço dele.
— Eu te amo, Slade. Amo com todo o meu coração.
Slade a levantou um pouco mais alto até seus rostos ficarem na mesma altura.
— Eu te amo também, doçura. Você é tudo para mim. Agora vamos ter que fazer amor. Que pena para Brass.
— Eu ouvi isso — gritou Brass. — Faça amor com ela depois. Só um idiota não saberia que vocês dois estão completamente apaixonados um pelo outro, então isso não deveria ser uma surpresa. Tire esse seu traseiro daí e me ajude com o cervo.
Trisha deixou o rosto cair no peito dele quando desceu pelo seu corpo e grunhiu em sua camiseta.
— Deus, mal posso esperar para que temos uma conversa sem ninguém escutando o que falamos.
Slade riu.
— Eu vou construir uma casa do cachorro onde ele possa dormir.
Ela sorriu, levantando a cabeça para encontrar seu olhar.
— Promete?
— Não faça isso — gritou Brass. — Não vou dormir numa casa de cachorro.
— É quase como se já tivéssemos um filho, não é? — grunhiu Slade enquanto a soltava um pouco.
— Quase. Ele grita nos piores momentos e nos impede de fazer amor porque quer atenção. — Ela riu. — É. É quase como se já fôssemos pais.
— Tome o seu banho. Eu vou lidar com o cervo e com Brass. Vamos comer em breve. — Seu olhar a varreu, permitindo que sua paixão aparecesse. — Então eu vou embebedá-lo até que ele desmaie e vamos ter certeza que não possa nos interromper de ter muito sexo esta noite.
— Parece um ótimo plano — gritou Brass.
Trisha se afastou e soltou um beijo para Slade. Virou as costas para ele, se abaixou e abriu a torneira. Ela ouviu um rosnado sexy e virou a cabeça para espiar o homem que amava por cima do ombro. Slade fitava a sua bunda nua.
Trisha apontou para a porta.
— Fora. Eu me abaixo para você depois. Prometo.
— Mandona.
— Mas tenho uma bunda bonita.
— Não, você tem uma bunda incrível.
— Você também.
— E eu também — gritou Brass. — Agora podemos cortar esse cervo?
Laurann Dohner
O melhor da literatura para todos os gostos e idades