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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


THE FAERIE CURSE / Rachel Morgan
THE FAERIE CURSE / Rachel Morgan

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Maldição de uma bruxa. Uma profecia do fim do mundo. Uma missão de resgate ousada. Não perca o final da história de Calla!
Fugindo da Guilda dos Guardiões, Calla Larkenwood e sua equipe de colegas fora-da-lei planejam uma ousada operação de resgate na própria Corte Seelie. Como se isso não bastasse para mantê-los ocupados, a famigerada Princesa Angelica começou os preparativos para um horrível feitiço profetizado que mudará para sempre os reinos mágicos e os não-mágicos.
Quando Calla é pega de surpresa por uma tragédia indescritível antes que o resgate possa ser realizado, ela se esforça para permanecer focada em sua missão. Ela acredita que alcançou seu ponto mais baixo - até que uma bruxa revela o golpe final: ela amaldiçoou a magia de Calla. Com o tempo se esgotando, Calla pode salvar a pessoa que ama e impedir que a profecia seja realizada antes que a maldição reivindique sua vida?

 

 

 

 

 

 

Capítulo 1

A areia da praia cintila sob minhas botas enquanto ando de mãos dadas com uma faerie de cinco anos em direção ao palmeiral que esconde a casa de seu pai. É tarde da noite, e um milhão de estrelas espalhadas iluminam nosso caminho até a praia e longe das ondas. A dor dispara no meu tornozelo direito – o resultado de escorregar em um deque molhado enquanto sou perseguida por um bando de piratas – me fazendo mancar, e o corte abaixo da minha orelha está, sem dúvida, escorrendo sangue no meu cabelo dourado.

Infelizmente, não é a missão de resgate que eu gostaria que fosse. Chase - o homem que já foi Lorde Draven; o homem pelo qual eu me apaixonei apesar das coisas que ele fez - ainda está acorrentado em uma masmorra secreta sob o Palácio Seelie. Sua própria mãe fez um acordo com a Guilda, trocando sua vida por sua liberdade. Já faz uma semana - uma torturante semana - desde que ele foi levado, e não estamos mais perto de invadir o Palácio Seelie. A missão desta noite, no entanto, vai mudar isso.

Elsie puxa minha mão e diz — É aqui que você joga a joia.

Eu sorrio para ela. — Obrigada por lembrar. — Do bolso da minha jaqueta, eu tiro a pedra preciosa vermelha que me foi dada mais cedo. Eu a jogo entre as árvores à nossa frente enquanto continuamos andando. Camadas de magia de glamour começam a descascar. As palmeiras desaparecem, a areia é filtrada do chão quando uma grama exuberante e pequenas flores tomam seu lugar, e um caminho de pedra cravejado de rubi aparece sob nossos pés. No final do caminho está à grandiosa casa do Barão Westhold. Elsie se abaixa e arranca uma flor amarela em forma de estrela do chão. Ela gira entre os dedos enquanto nos dirigimos para a casa.

Agora que esta parte da missão acabou, pensamentos perturbadores circulam na minha mente: Chase desaparecendo no céu noturno em uma carruagem do Palácio Seelie, o julgamento da mamãe terminando esta noite, a horrível visão de um feitiço que rasgará o véu que separa o nosso mundo do mundo humano. Foi essa visão a razão pela qual minha mãe fugiu da Guilda anos atrás. É a razão pela qual ela está sendo julgada. Da magia das profundezas à magia das alturas, com sangue de um lado e sangue do outro. Junto com o maior poder que a natureza pode oferecer, vamos rasgar este véu.

Eu afasto a memória dessas palavras perturbadoras e direciono meus pensamentos com firmeza em uma direção diferente. A missão desta noite ainda não está completa e não posso me permitir distrações.

Os dois guardas na entrada da casa do barão ficam um pouco mais eretos quando Elsie e eu caminhamos sob o arco de pilares e em direção à porta da frente. Suas expressões vazias nunca vacilaram mais cedo hoje, quando me levaram para ver o barão, mas agora, enquanto seus olhos caem sobre a garota ao meu lado, eles não conseguem esconder seu alívio. O guarda mais jovem abre a porta e recua quando entramos na casa. — Por aqui — diz Elsie, me puxando além da estátua da sereia e ao longo de um largo corredor de mármore, sem saber que eu já sabia para onde ir.

Nós mal damos cinco passos quando ouço uma comoção à frente. Algo caindo, passos apressados e depois uma voz gritando, — Elsie?

Ao virar o canto no final do corredor, com as roupas amarrotadas e o cabelo despenteado, aparece o Barão Westhold. Um gemido de alívio escapa dele antes que corra a distância final em direção a sua filha e a pegue em seus braços. Ele a abraça com força no seu peito enquanto ela dá uma tapinha no alto da cabeça dele e diz, — Estou bem, Pai. Eu estava com seu amigo, o capitão. Ele disse que você queria que eu fizesse ouro para ele.

— Querida Rainha Seelie — murmura o Barão Westhold. — Elsie, esse homem não era meu amigo.

Uma garota mais velha corre em torno do canto, quase derrapando em suas pantufas roxas de unicórnio, mas não chega a colocar os braços ao redor do pai e da irmã. Em vez disso, ela aperta as mãos e as coloca sob o queixo enquanto sua testa franze. — Eu sinto muito, Elsie. Eu sinto muito. Eu só desviei o olhar por um momento, e então...

— Já chega, Brynn — diz o barão. Ele coloca Elsie no chão e se endireita. Ele pisca e pigarreia antes de se virar para sua filha mais velha. — Leve Elsie para cima.

— Eu sinto muito, Pai. Você sabe que eu nunca quis que isso...

— Conversamos depois.

Eu dou alguns passos discretos para trás, me distanciando do drama familiar. Enquanto Brynn tenta defender seu caso, eu me abaixo, envolvo minha mão em torno do meu tornozelo e libero mais magia na área, na esperança de ajudar no processo de cura. Minha mente alcança automaticamente Chase, para atualizá-lo sobre o que está acontecendo, antes de eu lembrar que não estou usando o anel de telepatia. Gaius pegou de mim antes da missão começar.

— Por favor, não me deixe de castigo — implora Brynn. — Elsie está segura agora, e eu prometo que nunca vou perdê-la novamente.

— Brynn — diz o barão, lento e preciso, o nome dela um aviso em seus lábios. — Conversaremos mais tarde.

Brynn concorda, os olhos baixos, e pega a mão de Elsie. A menina olha para mim e diz — Obrigada. — Ela estende a mão para mim, então eu dou um passo para frente e aceito. A flor que ela ainda está segurando faz cócegas na minha pele, então parece ficar... mais pesada. Ela puxa a mão - e uma flor de ouro sólido está na minha palma.

Ouro. Ouro de verdade. Isso não é magia normal. Minha mente corre para preencher as lacunas que faltam do resumo que me deram esta manhã. No momento em que eu tiro meus olhos da palma da minha mão, Elsie está saltando à frente de sua irmã enquanto elas desaparecem no canto. Eu olho para o Barão Westhold e o vejo olhando para a flor de ouro. Ele dá uma respiração instável, se vira e diz — Siga-me.

Eu coloco a flor cuidadosamente no bolso escondido do lado de dentro da minha jaqueta e corro atrás do barão, meu coxear quase se foi agora. Nós saímos do corredor, atravessamos um átrio com uma fonte no seu centro e seguimos por outro corredor em direção ao escritório em que conheci o barão nesta manhã. É ricamente decorado com pinturas em molduras douradas, um tapete marrom e dourado e prateleiras de madeira escura forradas com livros encadernados de couro. Um vaso de vidro cheio de líquido que brilha dourado e marrom fica em um canto. Chamas cintilam e crepitam em uma lareira, aquecendo o ar frio do oceano que entra pela porta da varanda. As cortinas se elevam suavemente com a brisa noturna, me dando um vislumbre das ondas trombando na praia.

O barão caminha até sua mesa e destranca a gaveta de cima com uma stylus. Ele pega uma caixa retangular feita de madeira. — Este pagamento não chega perto de expressar minha gratidão — ele diz enquanto me entrega a caixa. — Meus guardas me disseram que seria impossível recuperar minha filha das garras do pirata. Eu não sabia se eu a veria novamente.

Lembro das palavras do barão para mim esta manhã — Quantos anos você tem, afinal? Tem certeza de que pode fazer isso? — e consegui manter minha resposta educada ao aceitar o caso. — Somos especializados no impossível. Por isso você nos contratou.

— Sim. — Ele faz uma pausa por um momento, me observando atentamente, depois acrescenta, — E por total confidencialidade.

— Claro.

— Se a Guilda descobrir o que minha filha pode fazer...

— Eles não vão. Não de nós. Entendemos a necessidade de sigilo, especialmente quando se trata de Habilidades Griffin.

O barão recua quando eu uso essas duas palavras simples. Palavras que ele deixou de fora de suas instruções esta manhã. Palavras que ele provavelmente está tentando negar desde que descobriu o que sua filha pode fazer. Ele deve ter estado em posse de um dos discos griffin quando sua filha foi concebida. Exceto... não havia discos griffin há cinco anos atrás. Eles perderam sua magia depois que Draven os usou para destravar o baú que mantinha o poder de Tharros. Então como...

Eu afasto minha confusão e pigarreio. Sem distrações, eu me lembro. — Além disso — acrescento, — se não pudéssemos ser confiáveis, ninguém jamais nos contrataria. Contamos com o boca a boca, o que significa que precisamos de clientes felizes. Confie em mim, Barão Westhold. Nós não queremos fazer você infeliz.

O barão me considera por um segundo. — Suponho que não.

Eu deslizo a caixa de madeira no bolso com a flor de ouro. — Se isso é tudo...

— Sim, obrigado, isso é tudo.

— Eu encontro a saída.

— Bom.

Eu aceno educadamente, então me viro e saio. Com passos rápidos, volto ao saguão de entrada. Os guardas precisam me ver sair, apenas no caso de o barão perguntar a eles, então eu abro a pesada porta de madeira. Em vez de sair, libero meu controle sobre a fortaleza imaginária em volta da minha mente e deixo minha Habilidade Griffin livre. Eu me vejo saindo na noite, e é exatamente isso que eu vejo. A versão imaginária de mim continua ao longo do caminho, e os guardas a observam partir. — Como diabos ela passou por todos os homens do Capitão Nuvareed naquele navio? — Um murmura para o outro.

O outro balança a cabeça enquanto se move para fechar a porta. — Gostaria de ter estado lá para ver.

Sorrio para mim mesma quando a porta se fecha com um baque pesado. Fecho os olhos e imagino meu eu imaginário ainda se movendo ao longo do caminho. Quando eu a imagino indo longe o suficiente na noite que os guardas mal conseguem vê-la, eu deixo essa ilusão e envolvo uma diferente em torno de mim. A ilusão da invisibilidade. Então viro para encarar a estátua da sereia e me concentro na verdadeira razão pela qual me deram essa missão: um convite para uma festa.

Quando Gaius, um dos membros da equipe de Chase, foi chamado aqui ontem à noite, ele testemunhou uma conversa entre o barão e sua filha adolescente. Brynn estava perturbada, mal conseguindo falar através das lágrimas enquanto explicava como Elsie havia desaparecido. Furioso por Brynn ter deixado a irmã mais nova fora de sua vista, o barão gritou — Você está de castigo pelo resto do ano. Pelo o resto da sua vida.

Com as lágrimas parando, Brynn foi capaz de falar com mais facilmente. — O quê? Mas a festa. Eu tenho que ir. Este não é o tipo de convite para o qual você diz não.

— Você não vai ficar perto do Palácio Seelie - ou em qualquer outro lugar - se não tivermos sua irmã de volta.

E esse foi o momento em que Gaius ficou muito mais interessado em todo o assunto. Com Chase confinado sob o Palácio Seelie por uma semana, e o resto de sua equipe não estando perto de descobrir como chegar lá, este convite era a melhor pista até agora. Apesar do fato de que era extraordinariamente não profissional, Gaius perguntou — Que festa é essa?

O barão o ignorou - muito provavelmente porque a questão não tinha relevância para a situação atual - e mandou Brynn para o quarto dela. Em seguida, ele discutiu os detalhes da missão de resgate com Gaius, que prometeu que selecionaria o melhor membro de sua equipe para o trabalho, e não houve mais nenhuma menção ao Palácio Seelie.

Dada a facilidade com que posso me esgueirar sem ser vista, Gaius me escolheu para essa missão. Sem pressão, eu penso, lembrando que esta é a nossa única chance de entrar no Palácio Seelie. Sem pressão, afinal. Envolta em segurança na invisibilidade, começo minha busca pelo quarto de Brynn. Eu olho em vários quartos desocupados no andar de cima antes de encontrar o certo. A porta está entreaberta e eu ouço uma fungada lá dentro. Eu me imagino como o Barão Westhold, em seguida, bato na porta e a abro - e tenho que me impedir de piscar de surpresa ao brilho roxo que cobre quase todas as superfícies. Foco! Eu ordeno a mim mesma.

Brynn, que estava deitada de bruços com o rosto enterrado nos braços quando entrei, olha para cima com olhos esperançosos. — Pai?

— Eu decidi que você não vai — digo a ela em uma voz que soa como a do pai dela.

Seu rosto desmorona quando ela se senta. — Mas é rude recusar o convite.

— Não me diga que você se importa com educação. Eu sei que você só quer ir por causa daquele garoto. — Eu não tenho ideia se isso é verdade, é claro, mas imagino que seja algo que um pai furioso possa dizer.

— O que - que garoto? — Pergunta Brynn, mas suas mãos se retorcendo e a maneira como ela olha para baixo, em vez de segurar meu olhar, contam uma história diferente.

— Onde está o convite? — Pergunto.

Ela olha para cima, estreitando os olhos em confusão. — O convite para a festa?

— Sim, claro. Que outro convite eu estaria falando? Eu não quero ter você se esgueirando sozinha para participar deste evento.

Sua carranca se aprofunda. — Mas você sabe que eu não posso chegar lá sozinha. E você não tem o convite? Foi endereçado a você, não a mim. Eu nem sei como se parece.

Merda. Eu esperava que isso fosse tão fácil quanto pegar o convite de Brynn e ir embora. Como eu devo fazer que o barão me dê? Eu me concentro bastante em manter a imagem do barão me cobrindo tão completamente quanto uma segunda pele. Eu permito que meus braços cruzados caiam ao meu lado enquanto eu digo, — Eu ainda não estou feliz com você, Brynn, mas agora é tarde, então vamos conversar amanhã.

— Tudo bem, mas por favor, pense sobre...

— Amanhã, Brynn. — Saio do quarto e fecho a porta. Eu libero a imagem do Barão Westhold e volto para a invisibilidade enquanto desço as escadas para seu escritório, esperando que ele ainda não tenha ido para a cama. Alcançando a porta do escritório, o vejo parado em uma das cortinas abertas de costas para mim, olhando para a noite. Eu me afasto da porta e me pressiono contra a parede ao lado, me dando um segundo para limpar minha mente. Preciso ter mais cuidado ao enganar o barão do que com sua filha adolescente consternada.

Eu me concentro bastante em imaginar Brynn, em vê-la em meu lugar. Eu não me movo até que eu olho para baixo e vejo suas pantufas em vez das minhas botas. Então digo a mim mesma que sou Brynn e entro no escritório do pai dela. — Pai? — Eu digo, aliviada que a voz que eu ouço soa mais como a dela do que a minha.

Ele se vira e franze a testa para mim. — Você deveria estar na cama, Brynn.

— Eu sei, mas eu só queria perguntar se você mudou de ideia sobre... sobre a festa.

— Nós não precisamos discutir isso agora — diz ele, voltando para sua mesa e afundando na cadeira de couro.

— Mas... não dissemos que iríamos participar? Se você mudou de ideia, precisamos avisar o palácio.

— Bem. Eu informarei o palácio amanhã.

Eu me permito parecer apropriadamente devastada. — Por favor, por favor, não faça isso. Eu estou ansiosa por isso há tanto tempo. Isto foi apenas um erro, e nunca acontecerá novamente.

O barão coloca uma mão sobre a outra e se inclina para frente. — Você permitiu que sua irmã fosse sequestrada por um pirata. Não foi apenas um erro, Brynn. Você pode começar a imaginar o quão devastada sua mãe ficaria se ela ainda estivesse viva? Não, minha decisão é final. Nós não vamos participar dessa festa.

Eu tremo meu maxilar inferior antes de pressionar meus lábios firmemente juntos. Imagino as lágrimas se formando nos olhos de Brynn. — Posso pelo menos ter o convite como uma lembrança?

— Você não precisa de uma lembrança de um evento do qual não vai participar.

Eu mordo meu lábio, cerro os punhos e me preparo para uma birra adolescente. — Você sabe o quê? Eu te odeio. Eu te odeio por arruinar minha vida assim! Eu vou encontrar esse convite quando você não estiver por perto, e eu vou para aquela festa sem você. Eu não me importo que eu não consiga encontrar o palácio sozinha. Eu vou encontrar alguém que saiba como chegar lá.

O Barão Westhold parece atordoado. Eu me viro e saio da sala antes que ele possa responder. Eu paro do lado de fora. Imaginando-me como um espaço vazio, em vez de Brynn, olho mais uma vez para o escritório. O barão balança a cabeça lentamente, claramente chocado com o desabafo de Brynn. Ele se inclina para trás em sua cadeira com um suspiro cansado, cobrindo a testa com uma mão. Começo a considerar que ilusão posso usar para que ele saia da sala, mas então ele abre uma de suas gavetas e tira uma rosa da cor de champanhe. Ele a coloca na mesa e as pétalas se abrem lentamente. Palavras cor de ouro aparecem no ar acima da rosa. Entro na ponta dos pés para dar uma olhada mais de perto, mas o barão esfrega a mão contra as pétalas, fazendo com que as palavras desapareçam e as pétalas se fechem mais uma vez. Ele fica de pé, leva a rosa até a lareira e...

Não! Minha mão se estica automaticamente, mas estou do outro lado da sala e a rosa já está no fogo. Não, não, não! Eu preciso de uma distração - algo - um barulho...

O primeiro som que vem à mente é o grito de uma criança. Eu continuo, me agarrando desesperadamente à minha invisibilidade quando o grito atravessa a noite silenciosa. A cabeça do barão gira ao redor. — Elsie? — Ele sai da sala enquanto eu vou para a lareira. Eu caio de joelhos, enfio a mão nas chamas e agarro a flor. Respiro bruscamente contra a dor repentina e ardente, levanto e enfio a mão no vaso alto. Eu procuro na sala com os olhos desesperados e rápidos pela minha fuga. Eu preciso de uma saída, preciso pensar, e o conteúdo do vaso não está fornecendo alívio suficiente para a minha mão em chamas. Eu fecho meus olhos e seguro o gemido de dor que eu realmente gostaria de liberar.

Ao som de passos correndo, meus olhos se abrem. Eu tiro meu braço do vaso e corro para a varanda, arrastando gotas de água atrás de mim enquanto minha mão queima COMO UM MALDITO INFERNO. Abaixo, a areia branca brilha a luz das estrelas. Não é uma distância muito grande até o chão, então eu devo ficar bem se pular. Eu não quero esmagar a rosa, então eu formo uma bolha de magia de escudo ao redor dela. Respirando pesadamente contra a dor, faço a bolha ir para o ar e a vejo cair na direção da areia. Então...

— ...não imaginei — diz uma voz de algum lugar dentro da casa. Distante, mas ficando rapidamente mais alta. — Se nenhuma das minhas filhas gritou, significa que outra pessoa gritou. Procure em todos os lugares.

Subo apressadamente na sacada da varanda. Eu olho por cima do meu ombro, e quando as cortinas se mexem e uma figura escura entra na sala, eu pulo. Eu bato no chão um segundo depois, rolo e paro. A areia se desloca ao meu redor quando eu levanto, me deixando mais lenta e desajeitada do que deveria ser. Felizmente, meu tornozelo torcido está quase completamente curado. Eu me imagino invisível e olho para trás, esperando não encontrar ninguém olhando da varanda. Eu não encontro. Na verdade, não vejo nenhuma varanda. O glamour está mais uma vez escondendo a enorme casa, e tudo o que posso ver são várias palmeiras e tufos de grama grossa aqui e ali, entre a areia. O que significa que alguém poderia estar me observando e eu não saberia. Melhor me manter escondida.

Rangendo meus dentes contra a dor que ameaça me distrair da minha ilusão, eu olho em volta procurando uma superfície para escrever. Meus olhos pousam na palmeira mais próxima. Eu seguro a bolha com a minha mão não queimada e corro o mais rápido que a areia permite. Eu quase alcanço a árvore quando algo atinge a parte de trás da minha bota direita. Eu tropeço para o lado e olho para trás. Uma centelha de magia dispara em minha direção, quase acertando meu braço enquanto me esquivo de seu caminho.

Minhas pegadas, percebo. Alguém deve ter notado a areia movendo-se enquanto eu corria em direção à árvore. Mais magia voa em minha direção, e então de repente - gritos chegam aos meus ouvidos e três figuras aparecem quase exatamente onde eu acabei de chegar.

— Merda. — Mantendo-me escondida, corro para a palmeira. Areia voa ao meu redor quando faíscas atingem o chão. Eu giro ao redor do lado da árvore e recupero minha stylus com minha mão queimando. Eu me instruo - inutilmente - a ignorar a dor e o pânico enquanto escrevo um feitiço de portal no tronco da árvore. A superfície áspera se dissolve, revelando um espaço escuro largo o suficiente para eu passar. Mantendo o pensamento da casa à beira do lago de Chase em minha mente, eu me jogo nos caminhos das fadas.


Capítulo 2

 

Segundos depois, corro pela sala da casa do lago até a porta das fadas, puxando a chave de um dos meus bolsos. DROGA, MINHA MÃO ESTÁ QUEIMANDO. Então eu estou em outro espaço escuro, e depois através de uma porta em um saguão, e finalmente estou de volta na casa da montanha de Gaius. Minha casa na montanha, visto que nenhum outro lugar é seguro para mim. Eu fugi da Guilda depois que eles descobriram minha Habilidade Griffin, e eles têm observado as casas da minha família e amigos desde então.

Eu corro para o escritório de Gaius - queimando, queimando, minha mão está queimando - e o encontro curvado sobre uma geringonça parecida com uma aranha que parece estar atirando teia de uma pata fina e esguichando tinta de outra. — Missão número um completa — eu anuncio, marchando pela sala e conseguindo me sentir imensamente satisfeita comigo mesma apesar da dor horrenda queimando toda a minha mão.

— Você conseguiu! — Gaius exclama, levantando-se tão rapidamente que sua cadeira cai atrás dele.

Apesar da minha dor, uma risada escapa dos meus lábios. — Eu consegui.

— E ouro? Você disse que ela fazia? E... a sua mão. Isso parece terrível.

— Tudo bem, vou tratar daqui a pouco. Abra o convite para que possamos ver...

— Você ainda não abriu? — Gaius pergunta enquanto ele vasculha uma das gavetas e pega um kit de emergência.

— Não, eu tive que sair de lá sem ser pega. Eu não queria estragar a boa reputação que você e Chase trabalharam arduamente para construir entre certos círculos fae.

— Ah, sim, provavelmente é uma boa ideia. — Gaius pega um pequeno tubo de gel para queimadura e me entrega. — Aqui está. Conserte sua mão enquanto abro essa coisa.

Enquanto Gaius abre um espaço em sua mesa para colocar a rosa, eu pego um pouco de gel do tubo e coloco na minha mão. O alívio é instantâneo quando a magia do gel diminui a queimação para apenas um pingo de dor. Com a minha atenção totalmente no convite agora, eu me inclino sobre a mesa e observo atentamente. Gaius toca uma pétala com um dedo que balança levemente. As pétalas começam a se desdobrar. — É isso — ele respira. — Nosso convite para dentro do Palácio Seelie.

— Bem, se pudermos descobrir como realmente chegar lá — eu o lembro.

— Detalhes — diz Gaius com um aceno de mão. — Nós vamos descobrir essa parte. — Ele olha para as letras douradas que aparecem no ar acima da flor. — Cordialmente convidado... blah, blah, blah, — ele lê. — Aniversário da princesa Audra... baile de máscaras... no décimo quarto dia de... oh, Deus, isso é...

— Daqui a nove dias — eu digo, meu coração afundando. — Nove dias inteiros. Como Chase deve durar tanto tempo?

Gaius olha para o convite, mordendo o lábio inferior. — Bem, esta é a nossa única opção, a menos que você saiba como entrar e sair do palácio em um dia normal sem ser pega.

— Minha habilidade...

— Pode não ser suficiente. Este é o lugar mais bem guardado em nosso mundo. Haverá proteção mágica em todos os lugares. A maneira mais fácil é durante um evento como este. A segurança ainda será alta, é claro, mas não impossível para nós passarmos.

Eu agarro a borda da mesa. — Bem. Mas se... se houver alguma pista de que alguma coisa aconteça a Chase antes desta festa, então temos que ir imediatamente.

— Claro. O que significa que precisamos nos apressar e encontrar alguém que saiba como chegar lá.

— Sim. — Isso é algo que outra pessoa na equipe terá que descobrir, porque meu único contato em potencial é alguém que parece nunca sair da Corte Seelie. Eu levanto minha mão rapidamente curada. — Posso ter o anel de volta? Precisamos atualizar o Chase. — E preciso ouvir a voz dele. Eu passei um dia inteiro sem ouvi-lo, e parece que um pedaço de mim está faltando.

— Sim, claro. — Gaius tira um livro de uma de suas estantes e abre. De um espaço esculpido no centro das páginas, ele pega o anel de telepatia que eu tenho usado para me comunicar com Chase desde que ele foi preso. Um anel imbuído de uma Habilidade Griffin que alguém não queria. Felizmente, Chase estava usando o anel correspondente quando foi capturado. — Desculpe-me por pegar, mas eu não queria que você se distraísse com nada hoje.

— Eu entendo, mas gostaria que você tivesse confiado em mim para simplesmente deixar o anel no meu quarto. Você não precisava escondê-lo de mim.

— Não é que eu não confie em você, Calla. Eu só queria ter certeza de que você não levaria com você.

Eu arqueio uma sobrancelha quando Gaius coloca o anel, uma faixa prateada simples com uma pedra verde, na minha palma. — Então, você não confia em mim.

Ele bagunça seu cabelo já despenteado. — Bem. Eu sinto muito. Era sua primeira missão conosco e... bem, era muito importante.

— Estou plenamente ciente disso, Gaius. Eu quero tirar Chase das garras da Rainha Seelie tanto quanto você.

— Claro, eu sei, me desculpe. Eu prometo que vou confiar em você na próxima vez. Ah, você provavelmente também quer seu âmbar de volta.

— Você escondeu meu âmbar também? — Eu exijo, enrolando minha mão em torno do anel.

— Era uma distração em potencial.

— É antigo e super grande e a única pessoa que posso contatar é Ryn, então eu definitivamente não estava planejando levar comigo. Você sabe disso.

— Apenas tomando cuidado — diz Gaius, me entregando o pedaço antigo de âmbar com um sorriso culpado. — O que eu entendo agora que era desnecessário. Não vai acontecer de novo.

Eu balanço a cabeça com frustração enquanto clico na superfície do âmbar. A letra cor de ouro desaparece. Eu digo a mim mesma que vou olhar somente depois de falar com o Chase, mas vejo as palavras ‘mãe’ e ‘o julgamento acabou’ e não consigo parar de ler. Um arrepio corre pela minha pele. Sinto-me fraca, como se o sangue tivesse sido drenado de uma só vez da minha cabeça. — O julgamento acabou — eu sussurro, afastando os olhos da mensagem do meu irmão e olhando para Gaius. — Eles... eles estão enviando minha mãe para a prisão.

***

Chase, você está aí?

Eu chamo o nome dele mais uma vez quando entro na Guilda pouco antes da meia-noite. Eu tenho tentado contatá-lo desde que saí da montanha, mas tudo que eu posso ouvir são meus próprios pensamentos. Eu digo a mim mesma para não me preocupar. Ele está dormindo, isso é tudo. Ele está bem. Bem, ele não está bem. Ele está aprisionado em uma cela escura e suja com correntes que bloqueiam magia presas aos braços e pernas. Mas ele não está morto. Ele não pode estar. A Rainha Seelie não iria mantê-lo vivo durante uma semana apenas para matá-lo sem nenhuma fanfarra. Não, ela está mantendo-o vivo por um motivo, o que significa que ele está apenas dormindo. Você está apenas dormindo, certo? Eu sussurro em minha mente.

Eu engulo em seco, tentando me livrar da náusea em meu estômago, e ando com confiança pelo grande saguão da Guilda. Mover-me sob a ilusão da invisibilidade tornou-se uma segunda natureza para mim. Ainda assim, é um risco vir até aqui tão tarde da noite, quando não há mais ninguém por perto, e um dispositivo de vigilância - que não é um ser vivo e não pode ser influenciado por minhas projeções - poderia facilmente me identificar. Eu casualmente puxo meu capuz sobre a minha cabeça. Eu posso parecer suspeita para qualquer um que me veja em uma orbita de gravação agora, mas ninguém jamais suspeitaria que eu seja Calla Larkenwood, a faerie Superdotada que supostamente matou um de seus colegas de classe antes de deixar metade da Guilda doente com uma Habilidade Griffin que causa doenças.

Subo as escadas até o escritório de Ryn, mas passo direto pela porta fechada dele. Paro perto do final do corredor e me inclino contra a parede. Eu levanto minha mão, como se estivesse examinando minhas unhas enquanto espero por alguém ou algo assim. Na realidade, eu estou vasculhando o corredor com os olhos procurando por qualquer sinal de um inseto de vigilância. Eu recuo quando a porta ao meu lado se abre, mas minha projeção está intacta, e o guardião que sai não faz nada mais do que trancar o escritório e sair com uma bolsa pendurada no ombro.

Eu examino o corredor por mais alguns minutos. Quando não vejo nenhum movimento e não ouço nenhum zumbido, me afasto da parede e caminho de volta para a porta de Ryn. Eu abro, entro e fecho a porta. — Eles estão mandando-a para a prisão? — Eu digo quando caio na cadeira vazia ao lado do meu pai e em frente a Ryn. — Isso é um absurdo. Ela era apenas uma criança quando quebrou o contrato e fugiu da Guilda. O que aconteceu com eles multando e deixando desse jeito?

Papai, que parece mais doente do que eu me sinto, balança a cabeça e cobre o rosto com as duas mãos.

Eu me viro para Ryn. — Ela recebeu uma multa — diz ele. — Por fabricar poções de alta resistência sem permissão. Por quebrar seu contrato de Vidente, a Guilda levou em conta a seriedade da visão que ela escolheu não contar. Eles também parecem querer fazê-la de exemplo para que outros Videntes não quebrem seus contratos, razão pela qual ela acabou com seis meses de prisão, em vez de uma segunda multa.

— Seis meses? Sua mensagem dizia dois anos.

— O resto é pela outra acusação: guardar segredo da sua Habilidade. Considerando a bagunça na Guilda recentemente - o assassinato, a doença do dragão e a grande exibição que você fez quando fugiu - eles estão levando o fracasso em registrar pessoas superdotadas muito a sério. Aparentemente, nós devemos ser gratos que eles só lhe deram um ano e meio por isso.

— Mas... isso é — Eu me esforço para colocar meus pensamentos em uma frase coerente. — A bagunça na Guilda era minha, não dela. Ela não tinha controle sobre como eu poderia usar minha habilidade. E papai também não me registrou, mas eles não estão jogando-o na prisão.

— Eles abriram uma investigação sobre mim — papai diz baixinho. — E não se trata apenas de não registrar você. É... bem, eles querem saber como mantivemos isso em silêncio por tanto tempo. Dadas as histórias em torno da saida de todas as escolas em que você esteve, eles acham difícil acreditar que ninguém mais soubesse sobre você.

Uma apreensão gelada enche minhas veias. Se o pai está sob investigação, não há como ele continuar a esconder o que ele fez. — Eles vão descobrir, eles vão, — eu sussurro. — Eles vão descobrir sobre os subornos.

Papai se afasta um pouco quando a confusão enruga sua testa. — Como você sabe sobre isso?

— Eu ouvi você e Ryn conversando. — Eu deixo de fora o fato de que essa escuta ocorreu durante uma viagem acidental ao passado, enquanto eu estava usando uma pulseira que viaja no tempo.

Papai me observa por vários segundos antes de dizer — Você entende o quanto isso é sério?

— Sim. O que você vai fazer?

Papai respira fundo. — Bem, como sua mãe disse anteriormente, é hora de enfrentar as consequências do que fizemos.

Minha garganta aperta enquanto tento segurar as lágrimas. — Foi isso que ela disse?

— Sim e ela está certa. Nós quebramos a lei. Eu, especialmente, infringi a lei. Sua mãe nem sabe o quanto eu fiz para manter seu nome fora da lista.

— Pai, eu sinto muito por...

— Eu quebrei a lei, Calla — diz ele com firmeza. — Eu fiz isso. Se eu tiver que enfrentar as consequências, então eu vou.

— Mas...

— Nós nem sabemos ainda o que vai acontecer comigo. Agora, nossa preocupação deve ser pela sua mãe. É ela que está sendo levada para a prisão de Barton amanhã.

— Amanhã? — Eu suspiro. — Onde ela está agora? Eu posso vê-la?

— Não, é claro que você não pode vê-la! — Ele diz, sua voz aumentando. — Ela está na área de detenção no andar de baixo. Sua Habilidade vai fazer você passar por todos esses guardas? Provavelmente não. E então você vai acabar na cela ao lado dela quando for pega.

A falta de fé do meu pai nas minhas habilidades machuca, mas agora não é hora de discutir. Não quando ele está claramente perto de perder a cabeça com a pressão do julgamento da mamãe e as notícias devastadoras de sua sentença.

— Eu... eu preciso de um pouco de espaço — diz papai, levantando. — Estarei lá fora na floresta. — Ele coloca a mão no meu ombro e acrescenta, — Você se encontrou em situações de risco de vida suficientes recentemente. Eu só quero que você fique segura agora.

A porta se fecha atrás de papai e eu puxo meus pés para cima da cadeira. Eu envolvo meus braços ao redor das minhas pernas e pressiono meu rosto contra os meus joelhos, enquanto o peso do que eu fiz com meus pais se torna quase demais para suportar. — Isso é tudo minha culpa.

— Calla...

— Você sabe que é. — Eu levanto a cabeça e olho para Ryn. — Papai nunca teria que quebrar a lei se não fosse por mim. E mamãe... bem, a Guilda ainda poderia tê-la castigado por fugir no meio de seu treinamento, mas não seria tão ruim assim. É por minha causa que eles estão fazendo isso com ela. Eu estou à solta em vez de sob custódia por supostamente assassinar Saskia, e eles estão descontando sua frustração com o fracasso deles na mamãe. Eles não podem me fazer pagar, então eles estão fazendo ela pagar.

Ryn esfrega o rosto. Ele fecha os olhos e balança a cabeça lentamente. — Eu não sei, Cal. Você provavelmente está certa, mas não há nada que possamos fazer sobre isso.

— E se... — Meus pés escorregam para o chão e eu me sento um pouco mais ereta. — E se eu me entregar? Você acha que isso faria diferença?

— O quê? — Os olhos de Ryn abrem. — Não! Está maluca? Claro que não faria diferença. Você acabaria na prisão junto com sua mãe. Você não pode melhorar esta situação.

Eu me inclino para trás na cadeira. — Então devemos apenas deixar acontecer? Deixá-la ir para a prisão pelos próximos anos?

Ryn dá de ombros, impotente. — Qual é a alternativa? Ajudá-la a escapar para que ela possa fugir pelo resto de sua vida? A prisão de Barton não é tão ruim assim. Não como Velazar. Talvez seja melhor se ela apenas passar o tempo. Talvez... eu não sei. — Ele esfrega as duas mãos no rosto dessa vez. — Eu não tenho todas as respostas, Calla.

Eu olho mais de perto para ele. Ele parece mais cansado do que eu o vi em muito tempo. — Você está bem?

Ele suspira. — Sim. Eu só... tenho muita coisa em mente. Eu folguei o resto da semana passada depois que Victoria nasceu, então ontem foi meu primeiro dia de volta. Tantas coisas a fazer. Minha equipe começou a investigar esse grupo chamado de Odiadores de Guardiões logo depois que Zed tentou sequestrar Victoria. Eu lhes disse para interrogar o dono do Clube Deviant, como você sugeriu.

— Ah, mesmo? Eles descobriram alguma coisa?

— Descobriram, na verdade. Alguém de minha equipe o reconheceu como alguém que escapou da cena de um crime anterior. Eles o prenderam e revistaram seu clube. Eles encontraram poções ilegais que o ligam a outro grupo que estamos tentando derrubar há algum tempo. Talvez eles fazem parte desse grande grupo de odiadores de guardiões. De qualquer forma, nada disso prova que ele tenha alguma coisa a ver com a doença do dragão ou com o plano de ferir Victoria, e é claro que ele diz que não sabe nada sobre um faerie chamado Zed. Mas pedimos permissão para usar uma poção da verdade, então, se esse pedido for aceito, em breve saberemos mais. — Ryn reprime um bocejo antes de acrescentar, — Ah, e nós tivemos um pico de desaparecimentos em Creepy Hollow recentemente. Esse não é o meu departamento, é claro, mas eu sei que Vi pode ajudar com sua Habilidade Griffin. Então eu tenho tentado discretamente colocar minhas mãos em alguns dos pertences daqueles que desapareceram para que Vi possa tentar encontrá-los. No meio de todo o meu próprio trabalho, é claro. — Ele se inclina sobre a mesa e pisca para mim, como se tentasse se levantar. — Como está, hum, o Chase?

— Oh. — Eu automaticamente giro o anel em volta do meu dedo. — A situação ainda é a mesma — eu digo com cuidado. Eu contei a Ryn sobre os anéis de telepatia e que sabemos onde Chase está sendo mantido prisioneiro, mas eu não disse a ele o que estamos fazendo sobre isso. Acho que é melhor que ele não saiba que estamos tentando invadir o Palácio Seelie. Ele pode se sentir obrigado a tentar nos impedir.

— Eu ainda não soube nada sobre ele — diz Ryn. — Nem mesmo um sussurro. Presumo que deve haver alguém no Conselho - o Conselheiro Chefe, no mínimo - que saiba sobre a captura de Draven, mas talvez eu esteja errado. Talvez Angelica tenha negociado diretamente com a Rainha Seelie por sua liberdade.

— Ela mencionou a Guilda, no entanto. — Eu continuo girando o anel de telepatia, franzindo a testa enquanto me lembro daquele momento ao lado dos Rios Wishbone quando percebi exatamente o que Angelica tinha feito - trocar seu próprio filho por sua liberdade.

— Você o ama?

Minhas mãos congelam e o sangue corre para acender um fogo em minha pele. — O quê?

— Depois que ele foi levado — diz Ryn, — você me disse que se importa muito com ele. Eu não questionei isso na época porque você estava tão chateada, mas... bem, você mencionou anteriormente que eu não tinha nada com o que me preocupar quando se tratava de seus sentimentos por ele, mas algo obviamente mudou desde então. — Ele se inclina para frente e me observa de perto.

— Não faça isso — eu digo, apontando para ele. — Não sinta o que estou sentindo.

— Ei. — Ele levanta as mãos. — Você sabe que eu não tenho controle sobre isso. Além disso, a única coisa que posso sentir é sua completa mortificação. É impossível sentir algo além disso.

— Bom. Você pode continuar se sentindo mortificado.

— Então... você realmente sente isso fortemente por ele?

Eu sento de volta na cadeira e cruzo meus braços. — Você está perguntando por que você tem um interesse legítimo em saber, ou porque você gostaria de me lembrar que acha que ele é velho demais para mim?

— Bem... ele é.

Eu reviro meus olhos para o teto antes de retorná-los ao meu irmão. — Você se sentiria melhor se ele fosse um vampiro de cem anos de idade? Porque o resto da sociedade parece estar bem com isso.

Ryn inclina a cabeça. — Do que você está falando?

Eu levanto um ombro. — Não tenho a menor ideia. Chase me disse para dizer isso se você falasse na diferença de idade novamente.

— Certo...

— De qualquer forma, de volta a Angelica.

Ele suspira. — Se você insiste.

— Eu não entendo porque a Rainha Seelie concordou com essa barganha em primeiro lugar. Eu não posso vê-la querendo que sua filha traidora esteja solta no mundo.

Ryn apoia os cotovelos na mesa. — Presumivelmente, ela concordou porque vê Draven como uma ameaça muito maior. Ela deve ter decidido que a troca valeu a pena. Eu só queria que o Conselho não estivesse nos mantendo no escuro sobre isso. Isso me faz imaginar quais outros segredos eles estão escondendo.

Eu franzo a testa. — Tipo?

Ele balança a cabeça de leve. — Não tenho certeza. Pensei em descobrir mais depois de ser convidado para o Conselho, mas parece que há segredos até mesmo dentro do Conselho. Segredos como Draven e... o que quer que esteja acontecendo no andar de baixo.

— Andar de baixo? — Minha mente voa sobre os vários andares abaixo do solo da Guilda. — A área de detenção?

— Não. Alguns dos laboratórios mais abaixo. Eu estava acompanhando uma missão um dia - uma amostra de uma poção que precisava ser testada - e percebi que não tenho acesso a algumas das salas lá embaixo. Quando questionei, recebi respostas vagas que não fazem sentido para mim. Eu tentei descobrir mais desde então, mas não consegui.

— Então você acha que eles estão escondendo algo nesses laboratórios?

— É possível. — Ele solta um longo suspiro. — Sabe, há uma grande parte de mim que quer deixar a Guilda. Quero dizer, eles fazem o bem aqui, mas nem tudo parece ser totalmente transparente. Não sei se quero fazer parte disso.

Suas palavras me lembram das acusações de Zed contra a Guilda. É uma ideia nobre, mas há muita coisa errada com o sistema. Obviamente, ele não deveria ter plantado um feitiço mortal de doença de dragão que quase destruiu a Guilda. E ele não deveria ter tentado matar o bebê de Ryn e Vi para puni-los por deixarem ele e dezenas de outros fae Superdotados na masmorra do Príncipe Marzell anos atrás. Mas talvez ele estivesse certo sobre certas coisas.

— De qualquer forma — diz Ryn, levantando e massageando um ombro com a mão. — Está tarde. Você deve voltar para onde quer que esteja agora. Não há como você ver sua mãe hoje à noite - ou amanhã - mas você pode entrar na Prisão Barton assim que ela estiver lá. Se você se mantiver invisível o tempo todo. Mesmo assim, seria perigoso. Qualquer um que esteja assistindo a gravações de vigilância pode ver você.

— Eu vou assumir o risco. Eu não posso ficar dois anos inteiros sem vê-la. Eu nem disse adeus. — Ryn acena com a cabeça, mas sua resposta se perde em um bocejo. — Você deveria ir para casa também — digo a ele. — Você parece terrível.

Ele me dá um meio sorriso. — Você não parece bem.

Eu dou de ombros. — Eu estive ocupada.

Ele arqueia ambas as sobrancelhas. — Eu provavelmente deveria perguntar o que você anda fazendo, mas acho que é melhor se eu não souber.

— É definitivamente melhor se você não souber. — Ele anda ao redor da mesa e levanta a jaqueta do encosto da cadeira que papai estava sentado quando eu acrescento, — Ei, hum, você vai me avisar se ouvir qualquer conversa sobre um prisioneiro perigoso sendo mantido pela Corte Seelie?

— Claro.

— Obrigado. — Eu me viro para sair, mas ele agarra meu ombro antes de eu abrir a porta.

— Não faça isso — diz ele.

— Fazer o quê?

— O que quer que você esteja planejando fazer agora com sua mãe. Esgueirando-se para baixo para vê-la, ou tentando soltá-la. Não vale a pena ser pega.

— Estou cansada, Ryn. Eu mal tenho energia suficiente para me concentrar na invisibilidade necessária para me tirar da Guilda e muito menos para toda a segurança entre aqui e a cela de detenção da mamãe. E eu não vou tentar tirá-la de lá. Se ela disse ao papai que está pronta para enfrentar as consequências de suas ações, então... eu acho que tenho que respeitar isso.

Os olhos de Ryn se estreitam. — Você não está mentindo para mim, não é?

Eu o olho diretamente nos olhos e digo — Não. Eu não vou lá esta noite.


Capítulo 3

 

Eu não estava mentindo para Ryn. Na verdade, não. Ele me disse para não fazer nada arriscado na noite passada, e eu prometi a ele que não faria nada. Mas esta manhã é completamente diferente. Eu acordo cedo, depois de apenas algumas horas de sono, e volto para a Guilda. Eu preciso ver a mamãe antes que eles a levem embora. Preciso que ela saiba como estou arrependida, porque não importa quais razões a Guilda tenha dado a todos, sei que a duração de sua sentença é totalmente minha culpa.

Eu vou direto para o corredor que leva à área de detenção. Paro do lado de fora e olho para dentro, observando os homens que guardam o portão no meio do caminho. Invisibilidade não vai funcionar aqui, já que tenho que passar pelo portão. Eu preciso projetar uma ilusão de outra pessoa. Papai seria a melhor opção, já que ele tem mais motivos para estar aqui, e se alguém mencionar isso a ele mais tarde, ele vai perceber o que eu fiz e concordar. Qualquer outra pessoa - qualquer guardião ou conselheiro - negaria isso, e isso levantaria suspeitas, o que levaria as pessoas a observarem mais de perto as gravações de vigilância.

Eu me imagino como meu pai e caminho confiante pelo corredor em direção aos guardas e ao portão. Um guarda olha incerto para o outro, mas antes que qualquer um deles possa dizer qualquer coisa, abro a boca - imaginando a voz do papai - e digo, — Estou aqui para ver minha esposa.

— Claro, Sr. Larkenwood, é só que...

— Linden?

Consigo evitar vacilar quando alguém atrás de mim chama o nome do papai. Eu olho em volta e encontro um dos membros do Conselho da Guilda se aproximando de mim com uma carranca franzindo sua testa. — Você chegou um pouco cedo, não é? Nós deveríamos nos encontrar em meia hora.

Encontrar... o quê? Um alarme dispara dentro da minha cabeça, mas eu me forço a ficar parada em vez de empurrar esse homem e correr o mais rápido que posso. Não entre em pânico. Mantenha a ilusão. DIGA ALGO, DROGA! — Uh, bem, você pode me culpar?

O Conselheiro me lança um olhar estranho, e me pergunto se a voz do papai soa tão estranha para ele quanto para mim. — Eu suponho que não — diz ele eventualmente. — Toda esta situação deve ser muito... difícil para você. Eu sinto por você, Linden. Mas regras são regras, então você precisa esperar até estarmos prontos para a transferência. Vou avisar você então.

Se eu fosse mesmo papai, provavelmente ficaria furioso com a perspectiva de ser avisado como um aprendiz, mas neste momento, não quero nada além de sair daqui para o caso de meu pai realmente aparecer cedo. Dou um breve aceno ao homem, então me viro e ando ao longo do corredor, lutando contra o desejo de correr a cada passo que dou. Uma vez no saguão, eu me dirijo para a grande escadaria e me escondo atrás dela antes de voltar para uma projeção de invisibilidade. Eu me inclino contra a parede ao lado do elevador, mantendo a cabeça baixa e permitindo que meu batimento cardíaco retorne ao normal. Não tenho mais esperança de ver minha mãe antes de ela ir para a prisão de Barton. Eu não percebi que iria acontecer tão cedo. Eu deveria ter acordado mais cedo e...

Senhorita Cachinhos Dourados?

Eu fico tensa com a voz inesperada na minha cabeça. Então eu me inclino contra a parede mais uma vez quando o alívio me enche de calor. Você ainda está aí, eu digo para o Chase.

Sim. Acorrentado dentro de uma cela em um calabouço, lembra? Eu não vou a lugar nenhum.

Você sabe o que eu quero dizer. Eu olho além da escada em direção à sala de entrada do outro lado do saguão. Dois guardiões saem, seguidos segundos depois por outro. Eu decido ficar por enquanto. Com todo mundo começando a chegar para trabalhar, seria muito fácil alguém acidentalmente esbarrar em mim naquela pequena sala. Eu tentei falar com você na noite passada e esta manhã, mas você não respondeu. Eu fiquei um pouco preocupada.

Eu sinto muito. Eu acho que dormi por mais tempo que o normal. Eu devo estar me acostumando com esses arredores encantadores.

Dormir é bom. Eu tento não pensar no ambiente não encantador que Chase me contou. Eu fico espantada que ele consiga dormir.

Eu suponho que você queria conversar na noite passada para que pudesse me dizer como a sua primeira missão foi espetacular, Chase diz enquanto eu ando pela escada para onde os degraus levam para baixo ao invés de para cima.

Como você sabe que tudo correu bem? Vários aprendizes passam pela escada e vão em direção ao elevador - na minha direção. Embora eu saiba que eles não podem me ver, fico nervosa demais para ficar ao lado deles enquanto esperam o elevador. Eu me afasto da parede e paro no topo das escadas que levam para baixo.

Você é uma pessoa altamente determinada, diz Chase. Eu não posso imaginar você saindo da casa do barão sem o convite.

Minha mão aperta o corrimão enquanto eu desço as escadas. Sim, bem, poderia ter sido uma missão bem-sucedida, mas no caso de eu estar tendo alguma dúvida sobre o universo não cooperar, eu estava mais uma vez errada na noite passada.

O que aconteceu? A pergunta de Chase pisca na minha cabeça depois de apenas um segundo de pausa.

Você tem que sobreviver por mais nove dias até a festa, e a Guilda está mandando minha mãe para a prisão por dois anos.

Seus pensamentos se silenciam, mas sinto seu ânimo esmorecendo. Eventualmente, ele diz, Sinto muito pela sua mãe.

Sinto muito por você. Eu bufo. Eu não posso ficar parada, então começo a descer as escadas. Cada dia que passa nos aproxima de qualquer destino que a Rainha Seelie planejou para você. Não temos ideia de quando ela vai agir. Pode ser hoje à noite, pode ser amanhã. Eu paro antes que as garras do desespero possam apertar demais meu coração. Eu sinto muito. Isso não é útil. É só... nove dias parecem uma eternidade quando a sua vida está na balança.

Tudo vai ficar bem, Calla.

Vai? Eu continuo descendo as escadas, meus dedos traçando levemente os padrões esculpidos no corrimão. Eu realmente não pensei sobre para onde estou indo, mas as suspeitas de Ryn cutucam o fundo da minha mente, despertando a minha curiosidade sobre o que está acontecendo por trás de portas trancadas por aqui.

Sim. Eu acredito que vai. Claramente, seu espírito otimista passou para mim.

Eu quero rir disso porque meu otimismo parece ter desaparecido agora. E por mais confiante que Chase soe, eu sei que é apenas uma fachada. Eu posso senti-lo se distanciando emocionalmente, tentando evitar comunicar o que ele está sentindo de verdade. Hesito nas escadas enquanto o pensamento silencioso entra em minha mente, como sempre acontece em algum momento durante nossas discussões mentais: O que eles estão fazendo com você aí?

Nada que eu não aguente.

Você sempre diz isso.

E sempre é verdade.

Eu balanço minha cabeça enquanto continuo a descer. Você vai me contar alguma vez?

Talvez, mas não agora. Eu não quero me afogar nos detalhes desse inferno sombrio e sem esperança. Eu prefiro me imaginar em seus arredores em vez disso. Você está na montanha?

Hum, não. Eu chego ao andar que abriga os laboratórios onde eu tinha aulas de poções quando era uma aprendiz e continuo, minhas botas silenciosas sobre o tapete verde esmeralda cobrindo as escadas.

Você parece culpada, diz Chase. O que você está fazendo?

Apenas... uma investigação particular. Eu paro no próximo andar abaixo e olho ao redor.

Sobre?

Eu não tenho certeza, na verdade. Eu estou na Guilda. Eu cheguei cedo na esperança de ver a mamãe para pedir desculpas por ser a Pior Filha do Mundo...

Não é verdade.

...mas eu não cheguei a tempo. E tenho certeza de que não há muitas filhas no mundo que fizeram com que suas mães recebessem penas de prisão, então eu definitivamente me qualifico nesse rótulo. De qualquer forma, agora estou me esgueirando pelos andares mais baixos da Guilda tentando descobrir o que está acontecendo por trás de portas trancadas.

Que portas trancadas?

Eu não sei. Eu corro ao longo do corredor, olhando as portas claras e simples. Grande parte da Guilda é intrincadamente padronizada e ricamente decorada, e é estranho encontrar uma seção dela tão rígida. Algumas das portas nem têm maçaneta. Ryn disse que se deparou com salas das quais ele não tem acesso, o que o deixou desconfiado. Considerando que ele está no Conselho, ele pensou que deveria saber sobre tudo o que acontece aqui, mas aparentemente não.

Tenha cuidado, Chase adverte. Você não quer acabar presa em qualquer lugar.

Eu sei, eu sei. Eu prendo a respiração quando um guardião com uma prancheta na mão e uma stylus colocada atrás da orelha sai de uma sala à frente e vem em minha direção. Enquanto ela passa, eu relaxo - e então seus passos param. Aterrorizada, eu a encontro me encarando, e lentamente olho por cima do meu ombro. Mas ela está de frente para uma porta - uma das portas sem maçaneta - e franzindo a testa para a prancheta. Depois de acenar para si mesma várias vezes, ela pega sua stylus e a enfia na porta. Com um breve flash de luz, a porta desaparece. Ela anda para frente. Sem parar para pensar, viro e corro através da porta atrás dela para dentro de uma sala iluminada por uma luz azul fraca. Eu olho para trás quando um segundo flash é registrado na borda da minha visão. A porta reapareceu.

O que está acontecendo? Chase pergunta. Sem dúvida, ele sentiu a explosão de pânico que inundou meu peito ao ver aquela porta fechar.

Então... eu estou dentro de uma sala da qual não posso sair, digo a ele, mas tudo bem. Eu não estou presa. Vou esperar aqui até que alguém saia ou entre. Então eu dou minha primeira olhada apropriada através da sala - e um pânico genuíno aperta meu peito. Quatro caixas de vidro retangulares estão suspensas no ar ao nível dos olhos, e dentro de cada uma delas está uma pessoa. Eles estão imóveis, com os olhos fechados, e o vidro está tão perto - tão perto - de seus rostos, que quase os está tocando. Eu pressiono minha mão contra a minha boca e fecho meus olhos e me lembro de que Não sou eu que está dentro da caixa. E eu não estou dentro de uma jaula. Eu estou livre. Será fácil sair desta sala.

O lago. Pense no lago. O silêncio da água e a brisa quente e suave e a grama macia e exuberante entre seus dedos. A lembrança da voz suave de Lumethon leva meu pânico a um nível administrável em segundos. Eu abro meus olhos para a sala iluminada de azul mais uma vez e lembro como respirar.

Calla? Chase chama. Você está bem?

Sim. Desculpa. Eu estava apenas... lutando contra uma memória ruim. Eu ando na ponta dos pés até a caixa de vidro mais próxima, descrevendo tudo o que vejo enquanto ando. A mulher dentro é uma faerie, a julgar pelo seu cabelo de duas cores. Seus pulsos sem marcação me dizem que ela não é uma guardiã. Na borda inferior da caixa, uma pequena placa me diz que seu nome é N. Thornbough.

— Tudo bem — a mulher com prancheta murmura para ninguém em particular. Ela está do outro lado da sala, parada em um balcão vazio, exceto por uma bandeja com pequenas esferas que brilham fracamente. — Vamos tentar de novo. — Ela passa o dedo pela prancheta e depois seleciona uma esfera da bandeja. Ela se aproxima do outro lado da caixa da N. Thornbough. Depois de acenar com a mão ao lado do vidro, um buraco se materializa, semelhante ao modo como os portais dos caminhos das fadas se fundem para existir. Ela coloca a esfera dentro da caixa, onde flutua sem se mexer enquanto ela fecha o buraco. Com outro aceno de sua mão, a esfera cai e bate ao lado do braço da mulher. Nada mais parece acontecer.

A mulher suspira e volta para a prancheta. Ela faz uma anotação antes de selecionar outra esfera. Quando ela volta para a caixa de N. Thornbough, ando em silêncio e leio o nome na próxima caixa. J. Monkswood. Também não é membro da Guilda, e...

Eu fico tensa ao som de algo batendo na porta. — Estou entrando — grita uma voz. Um segundo depois, a porta desaparece e o conselheiro Merrydale corre para dentro da sala, olhando em volta. — Onde ela está? A pessoa encapuzada.

Eu congelo ao lado da caixa de J. Monkswood quando a Mulher da Prancheta fecha o segundo buraco que ela acabou de abrir. — Que pessoa encapuzada?

— Os guardas na sala de vigilância viram uma pessoa encapuzada seguir você aqui alguns minutos atrás. Uma mulher.

Ela balança a cabeça. — Eu não vi ninguém. Tem certeza de que você está na sala certa?

— Claro. Nós dois sabemos que você é a única trabalhando nisso no momento, então foi você quem ela seguiu.

Merda, merda, merda. Eu dou um passo cuidadoso ao redor da caixa enquanto o Conselheiro Merrydale se aproxima mais da sala, examinando o chão, as paredes, o teto com os olhos.

O que foi? Chase pergunta. Eu não respondo.

— Ela ainda está aqui — murmura o Conselheiro Merrydale. — Apenas alguns de nós tem acesso a esta sala, então ela não pode ter saído a menos que você a deixe sair. — Ele abre os braços e se aproxima, a magia explodindo das pontas dos seus dedos quando ele sente o ar. — Feche a porta — diz ele à Mulher da Prancheta.

MERDA! Eu pulo em torno dele, me pressionando brevemente contra a borda do balcão - as esferas balançam de forma audível em sua bandeja - e corro em direção à porta. Enquanto o Conselheiro Merrydale se dirige para o balcão, e a Mulher da Prancheta corre para a porta, eu deslizo para fora a tempo.

E então eu corro. Nenhum ponto em andar casualmente se as pessoas na sala de vigilância já estão observando esta passagem.

Calla, por favor, me diga o que está acontecendo.

Apenas fazendo uma saída precipitada, isso é tudo.

Suba, suba, suba as escadas. Eu ainda estou invisível, então ninguém no saguão me vê enquanto eu passo por eles. Quem estiver observando do outro lado de uma sala de vigilância será tarde demais para me pegar. Eu me esquivo para o lado para não correr sobre o aprendiz que acabou de sair da sala de entrada. Quando corro para a sala e escrevo na parede com a stylus, a imagem que projeto no guarda é uma de uma parede em branco. Segundos depois, estou dentro da segurança dos caminhos das fadas, muito antes que qualquer guardião possa vir atrás de mim.

Consegui, eu digo ao Chase.

Me sentindo imensamente aliviada, saio da escuridão para a casa à beira do lago de Chase no reino humano. Eu dou apenas dois passos pela cozinha de plano aberto e sala de estar antes de perceber a figura de pé ao lado da ampla janela da cozinha. Eu levanto as duas mãos, automaticamente levantando um escudo de magia - mas então eu vejo as mechas roxas no cabelo e os cobertores nos braços da mulher quando ela se vira para mim.

— Vi? O que você está...

— Eu preciso de ajuda — diz ela, abraçando a filha com mais força ao peito. — Tem algo errado com a Victoria.


Capítulo 4

 

— O que aconteceu? — Eu pergunto imediatamente, correndo para o lado de Violet e colocando uma mão cuidadosa nas costas de Victoria. — Ela está doente? Precisamos levá-la a um instituto de cura?

— Não, não desse jeito. Não é algo imediatamente fatal. É... eu não posso explicar. Ela só parece diferente desde... você sabe.

Eu abaixo minha mão lentamente para o meu lado. — Desde que Zed a pegou. — Podemos conversar mais tarde? Eu adiciono silenciosamente a Chase.

Claro. Não vou a lugar nenhum, lembra?

— Eu provavelmente estou apenas imaginando coisas — diz Vi em voz baixa, provavelmente para não acordar Victoria. — É isso o que Ryn pensa. Ele diz que nós não a conhecemos tempo suficiente antes do incidente com Zed para dizer se há realmente uma diferença agora. E os curandeiros a examinaram horas depois de Zed levá-la, e eles disseram que ela estava bem.

— Mas? — Eu incentivo.

— Eu não sei. Eu acho que algo está diferente. Nada visível, embora eu ache que a marca de nascença dela está mais clara do que antes. — Vi se inclina contra o balcão da cozinha. — É mais... a personalidade dela? Ela parece mais inquieta. Ela chora muito mais. Eu não consigo... eu não consigo fazê-la feliz. Eu falo com ela e canto para ela e a abraço, mas isso só piora as coisas.

Eu arqueio uma sobrancelha. — Você canta?

Ela estreita os olhos para mim. — Isso não importa.

— Desculpe, desculpe. — Eu dou-lhe um sorriso encorajador. — Os bebês não deveriam chorar muito? Isso é normal, não é?

— Sim, mas é normal que eu não consiga confortá-la? Ela parecia responder a mim antes, mas agora não responde. Eu finalmente consegui que ela dormisse, mas acho que foi mais a exaustão de todo o seu choro do que qualquer conforto que eu forneci.

— Bem... não sei. Há algo que eu possa fazer para ajudar?

— Sim. É por isso que procurei por você. — Ela olha ao redor da casa. — Não é onde você mora agora, é? Pensei que você estivesse em algum lugar escondido de mim, mas fiquei pensando em você esta manhã e, de repente, este lugar apareceu.

Mantendo os detalhes vagos para que ela não seja capaz de dar nada se a Guilda interrogá-la, eu digo — Não, eu não moro aqui. Esta casa é meio que... um caminho.

— Entendo. Bem, o amigo que está hospedando você - aquele que pode tirar as Habilidades Griffin - é um botânico, correto? Eu acho que você mencionou isso?

— Sim.

— Farah me contou sobre um tipo de baga que é usada para neutralizar feitiços prejudiciais. Ela disse que costumava ser um ingrediente em muitas poções de cura, mas os curandeiros pensaram que se tornou ineficaz ao longo dos séculos, então eles pararam de usá-la. Mas ela acredita que ainda pode ajudar contra certos feitiços, e não tem efeitos colaterais negativos, então eu pensei que deveria tentar. — Victoria se contorce em seu sono, e Vi suavemente acaricia suas costas. — Farah não sabe onde encontrar já que não é mais usada comumente, mas achei que seu amigo pudesse.

Eu observo as estranhas expressões faciais que Victoria está fazendo em seu sono intermitente. — Ele talvez tenha. Sua estufa está transbordando com centenas de plantas diferentes.

— Você pode perguntar a ele se ele tem língua de fogo?

Eu olho para cima. — Você quer dar a um bebê algo chamado língua de fogo?

— Aparentemente, as folhas queimam sua boca se você a comer, mas Farah diz que as bagas não são tão ruins.

— Espero que ela esteja certa sobre isso. Bem, se você não quer saber nada sobre onde estou indo, você precisa esperar do lado de fora.

— Certo, claro. — Ela olha ao redor. — Você tem uma chave para a porta da frente, ou... não importa. — Ela abre um portal para os caminhos da fada com uma stylus e aparece na varanda um segundo depois.

Eu volto para a montanha através da porta das fadas. Corro para o andar de cima e subo novamente para o andar com a estufa encantada. Gaius já está lá, cavando através da sujeira no canto mais distante para plantar algo novo. Ele balança a cabeça quando pergunto sobre a língua do fogo e acrescenta que ele ainda a usa ocasionalmente em suas próprias poções. Ele me aponta na direção do arbusto certo. Pego um punhado de bagas, depois paro nas prateleiras de metal enferrujadas perto da entrada e escolho um pote de vidro vazio da coleção. Largo as bagas dentro e volto para a casa do lago.

Eu encontro Vi sentada na escadinha da varanda do lado de fora, banhada pela mistura crepuscular de luz laranja e lavanda. Eu ainda não sei onde no mundo humano esta casa é, mas é uma tempo diferente de Creepy Hollow e da montanha. — O que você vai fazer com as bagas? — Eu pergunto enquanto entrego o frasco a ela.

— Não tenho certeza. Eu acho que Farah vai fazer algum tipo de suco com elas.

Ela se move como se quisesse ficar de pé e eu rapidamente pergunto — Posso segurá-la antes de você ir? Só um pouquinho.

— Oh, sim, claro. Tenho que esperar mais uma hora antes de poder me encontrar com Farah de qualquer maneira.

Me sento ao lado de Vi na escadinha e ela coloca Victoria dormindo em meus braços. Um pequeno punho cerrado se solta do cobertor que a envolve. Eu corro meu dedo gentilmente sobre ele, depois através de seu cabelo fino e escuro. — Você já tem alguma pista sobre a cor com a qual ela vai ficar?

Vi apoia os cotovelos nos joelhos e o queixo nas mãos enquanto observa a filha dormindo. — Ainda não. Os olhos dela estão muito escuros para distinguir a cor deles na maior parte do tempo, e o cabelo dela... parece mudar de castanho claro para escuro, mas não vi outra cor nos últimos dias, o que também tem me preocupado.

— Aconteceu rapidamente com você, não foi?

— Sim. Meus pais não tinham certeza sobre a cor do meu cabelo, mas meus olhos eram de um profundo azul-roxo desde o começo.

Eu concordo. — De qual marca de nascença você falou?

— Oh, é essa marca rosa escura em seu ombro esquerdo. — Vi levanta Victoria e a segura contra o peito. Ela cuidadosamente puxa o cobertor e a roupa na parte de trás do pescoço. — Viu, parece uma flor. É quase uma marca perfeita.

— Isso é tão fofo.

— Eu sei. Ficou mais clara nos últimos dias e estou triste que possa desaparecer completamente.

— Eu acho que não importa as marcas que ela tenha ou não acabe tendo, desde que ela seja saudável.

Vi concorda e beija a cabeça de Victoria. — Eu só quero que ela tenha uma vida segura e normal. Eu posso entender completamente agora porque sua mãe nunca quis que você se juntasse a Guilda — ela acrescenta com um sorriso de desculpas. — É assustador imaginar minha filha nos tipos de situações perigosas que enfrentamos.

— Sim, eu acho que sim. — Olhando para Victoria, eu sinto o mesmo. — Bem, pelo menos ela não terá que se preocupar em manter em segredo uma Habilidade Griffin. Não é possível — Eu me interrompo quando aquele fragmento de informação que eu empurrei para a parte de trás da minha mente, enquanto estava na casa do barão, subitamente se move para frente dos meus pensamentos. — A menos que... hmm. — Eu me sento ereta. — A menos que seja possível. A menos que nossa compreensão sobre as Habilidades Griffin nunca foram completas.

Em vez de parecer surpresa, Vi assente. — Essa é a questão, não é?

— Você já considerou isso?

— Eu considerei. Sempre nos disseram que os Dotados nasceram daqueles que usaram um disco griffin. O aumento de poder que essas pessoas possuíram ao usar um disco foi de alguma forma transferido para seus filhos. Mas esses discos perderam sua magia depois que liberaram o poder de Tharros do baú que estava preso, e isso foi há mais de uma década.

— Certo — eu digo. — Mas e se esse não for o único jeito? E se... talvez... dois Dotados possam produzir uma criança que também é Dotada.

— Exatamente. Eu me perguntei sobre isso desde que eu descobri que estava grávida, mas não há registro disso na Lista Griffin. Se há outros casais Dotados por aí que tiveram filhos na última década, eles mantiveram suas habilidades escondidas, assim como nós fizemos. — Ela olha para o lago, ficando mais e mais escuro à medida que a noite se aproxima. — Sem provas, só podemos especular se isso é possível ou não.

— Eu acho que tenho a prova.

Seu olhar volta para mim. — Você tem?

— Ontem à noite, eu resgatei uma criança faerie Dotada cujo toque pode transformar objetos em ouro. Isso não é magia normal, e seu pai não negou que era uma Habilidade Griffin. Ela tinha apenas cinco anos de idade.

Os olhos de Vi se arregalam. Ela abraça Victoria para mais perto, enquanto ela murmura — Então deve ser possível.

— Olha, nós não sabemos o suficiente sobre isso para saber se Victoria é Dotada. E mesmo que ela se torne como nós, isso é uma coisa tão ruim? Quero dizer, todos nós conseguimos lidar com nossas habilidades.

Vi fecha os olhos e geme. — Essa coisa da maternidade me deu muito mais coisas para me preocupar. Eu não... Oh. — Ela entrega Victoria de volta para mim para que ela possa tirar o âmbar de seu bolso. Um pequeno punho bate no meu queixo enquanto Victoria continua a se contorcer e fazer sons sem sentido em seu sono.

— Ela realmente não gosta de dormir, não é? — Eu murmuro enquanto Vi lê uma mensagem em seu âmbar.

— Oh, finalmente — ela exclama, seu rosto se abrindo em um sorriso. — Meu pai vem me visitar na sexta-feira.

Enquanto suas palavras afundam em meu cérebro, tenho que segurar um suspiro de excitação. O pai de Vi - a única pessoa que conheço que trabalha no Palácio Seelie - estará em Creepy Hollow na sexta à noite. Lembrando de continuar agindo normalmente, eu pergunto — Ele ainda não conheceu Victoria?

— Ele conheceu, recebeu cerca de vinte minutos de folga no dia em que ela nasceu. Mas agora ele poderá passar a noite toda conosco.

— Isso é maravilhoso. — Por mais razões do que uma. Eu não sei como vou fazer isso, mas eu tenho que descobrir a localização da Corte Seelie do pai de Vi, e essa provavelmente será minha única chance.

Os sonolentos ruídos de protesto de Victoria ficam mais altos e seus olhos estão meio abertos agora. — Aqui vamos nós de novo — Vi resmunga. — Eu provavelmente deveria ir antes que ela comece a gritar a plenos pulmões.

Eu olho por cima do ombro e verifico à hora no relógio no lado de dentro. — Eu tenho que ir também, na verdade. Eu tenho uma reunião.

— Uma reunião? — Vi pergunta enquanto pega Victoria de mim e levanta. — Você sabe que eu estou curiosa, mas não vou perguntar.

— Provavelmente é melhor. — Eu prefiro que ela não saiba que estamos prestes a discutir os planos para invadir o Palácio Seelie.


Capítulo 5

 

Eu corro para a sala de reuniões em um dos andares mais baixos da montanha e me sento em uma cadeira, observando que sou a última pessoa a chegar. Os outros cinco membros da equipe do Chase já estão sentados. Hora da reunião, eu digo ao Chase. Caso você queira adicionar alguma coisa.

— Atrasada de novo — a garota elfa com o cabelo espetado resmunga do outro lado da mesa. — Você sabe que alguns de nós tem empregos de verdade para estar em dez minutos, certo?

Abro a boca para perguntar o quanto cheguei atrasada, mas Gaius fala primeiro. — Oh, você encontrou um novo emprego, Ana? Que maravilha!

Ela distraidamente gira um dos piercings em sua orelha esquerda. — Sim, bem, podemos estar ocupados preparando a maior missão de nossas vidas, mas eu ainda tenho contas para pagar.

— Você sabe que é bem-vinda para ficar aqui se você...

— Obrigada, mas não — Ana interrompe. — Eu gosto do meu próprio espaço. Além disso, Chase me ensinou bem, então não foi muito difícil encontrar trabalho.

— Ah, você também é uma tatuadora? — Eu pergunto, me esforçando para manter meu tom educado.

— Claro que sou tatuadora. Você achou que eu era apenas a recepcionista?

Darius, o faerie de olhos azuis curvado na cadeira ao lado de Ana, bufa. — Recepcionista — ele resmunga divertido. Ela bate no braço dele com um dedo tatuado.

— Talvez devêssemos começar — sugere Lumethon, focando seu olhar em Gaius. Com seu cabelo perfeitamente branco e olhos sem cor, um forte contraste contra sua pele escura, ela pode ser uma faerie com uma cor particularmente exótica ou totalmente diferente. Eu acho muito indecoroso perguntar.

Ao meu lado, o homem drakoni chamado Kobe, que nunca diz muito, acena.

— Certo — diz Gaius. — Atualizações rápidas.

Eu te disse que Ana não gosta de mim, eu digo para Chase quando eu cruzo meus braços e me concentro em Gaius.

Dê tempo a ela. Ela demora um pouco para se acostumar com novas pessoas.

A engenhoca parecida com uma aranha que notei na mesa de Gaius ontem à noite sobe na mesa. Lumethon tira a mão do caminho quando o dispositivo que é feito de engrenagens, rodas, vários pedaços de metal, magia e gravetos finos como patas passa por ela em direção a Gaius. Uma pata fina segura um pergaminho e outra segura uma pena. — Excelente, muito bom — Gaius murmura com um sorriso.

Ana balança a cabeça e sussurra — Ridículo.

A aranha levanta o pergaminho e permite que ele se desenrole, a borda inferior do papel bate na mesa e se desenrola mais alguns centímetros. Gaius se inclina para frente para ler o que está escrito no pergaminho. — Todos os outros projetos chegaram ao fim, por isso agora estamos nos concentrando apenas em Chase, na Corte Seelie e na visão terrível que Amon e Angelica estão tão interessados. — Ele olha em volta da mesa. — Vocês ficaram felizes em saber que encontrei algumas informações sobre a prisão sob o palácio. A maioria das pessoas nem sabe que ela existe, mas acontece que um velho amigo meu teve um irmão preso lá em algum momento, e ele foi autorizado a visitá-lo, hum, antes de cumprir a sentença. E antes que vocês perguntem — acrescenta Gaius rapidamente, — ele não sabe como chegar lá. Ele estava atordoado e com os olhos vendados.

— Parece excessivo — comenta Darius.

— De fato. De qualquer forma, este meu amigo concordou em fazer alguns desenhos de tudo o que ele lembra. Podemos examinar profundamente os desenhos assim que eu os tiver.

— Próximo... — Gaius examina o pergaminho novamente. — Darius e Kobe se encontraram com o Rei Mer noite passada e confirmaram que o monumento envolvido no feitiço do véu está sob guarda pesada. O rei ainda está se recusando a movê-lo, e destruí-lo está fora de questão, além de aparentemente ser impossível também.

— Eu gostaria que ele pelo menos nos deixasse tentar — diz Darius. — Isso seria divertido.

Kobe franze a testa, seus olhos de réptil se estreitam em Darius. Eu vejo um movimento de sua língua bifurcada quando ele diz — Você não tem respeito?

— Você sabe que eu não tenho...

— O que há de tão mágico nesse monumento de tridente? — Pergunta Ana. — Eu sei que a bruxa na visão disse algo sobre a magia das alturas e a magia das profundezas. E todos nós sabemos que a lua cheia pode ter uma influência poderosa nos feitiços, então essa é a parte da altura. Obviamente, a estátua do Mer é para a parte da profundeza, mas o que há de tão especial nisso?

— Como o nome sugere — diz Gaius, — tem existido desde o tempo do primeiro Rei Mer. Isso foi... oh, séculos e séculos atrás. Todos os reis e rainhas desde então adicionaram sua magia ao monumento de alguma forma. Isso faz com que seja uma estátua muito poderosa. Provavelmente, o objeto mais poderoso abaixo da superfície do oceano.

— Tudo bem. — Ana senta de volta. — Eu acho que isso faz sentido.

— Certo, então — diz Gaius. — Por fim, agora temos um convite para a festa de aniversário da Princesa Audra no Palácio Seelie, então é assim que vamos entrar. Estamos a nove dias, incluindo hoje, o que significa que ainda temos tempo de descobrir como chegar lá. Ana e Lumethon, alguma sorte com isso?

— Nada ainda — diz Lumethon enquanto Ana balança a cabeça. — Como todos sabemos, é um segredo bem guardado.

— Eu acho que posso ajudar — eu digo timidamente. A atenção de todos se concentra em mim. — Conheço alguém que trabalha para a Rainha Seelie.

A mão de Ana bate na mesa enquanto fica boquiaberta. — Você não pensou em mencionar isso antes?

Paciência, eu me lembro. Ela é amiga do Chase e preciso fazer um esforço com ela. — Pensei — explico ao grupo, — mas decidi que não adiantava mencioná-lo, pois ele quase nunca deixa a Corte Seelie. Faz meses desde a última vez que o vi e não temos esse tipo de tempo quando Chase está em risco. Mas acabei de descobrir que ele estará visitando meu irmão e minha cunhada na noite de sexta-feira, então, até lá, temos que encontrar uma maneira de tirar dele o local da Corte Seelie.

— Você não pode simplesmente perguntar a ele? — Darius diz.

Eu tento manter minha frustração. — Ele é um conselheiro próximo da Rainha Seelie. Estou cem por cento certa de que ele não vai aprovar um grupo de foras da lei invadindo o palácio para resgatar o homem que escravizou nosso mundo a uma década atrás.

— Eu não estava sugerindo que você dissesse isso a ele — diz Darius. — Apenas, você sabe, diga que você está curiosa.

Eu arqueio uma sobrancelha. — Curiosa?

— Tudo bem, você tem razão — admite Darius. — Ele definitivamente não vai apenas contar a você.

— Eu me pergunto se seria possível segui-lo — diz Lumethon. — Você pode se manter invisível, então ele não vai saber.

— Eu poderia, mas e os caminhos das fadas? Eu suponho que eles estariam envolvidos por pelo menos parte da jornada, então eu teria que tocá-lo para acabar no mesmo destino do outro lado. Como vou escapar disso sem que ele perceba?

Lumethon olha para Gaius. — Há maneiras de segui-lo sem estar em contato físico.

Gaius concorda e eu me lembro de Ryn me dizendo algo semelhante uma vez. — Sim, há magia que permite que você o siga pelos caminhos sem tocá-lo. Um desses feitiços instáveis que depende da enunciação precisa de cada palavra - e, se bem me lembro, há muitas palavras envolvidas. Pode facilmente dar errado, e é por isso que não é ensinado nas escolas. Eu vou ter que procurar. — Ele acena para a sua engenhoca, que levanta a pena com uma pata fina e faz uma anotação no pergaminho.

— Chase tem alguma coisa que queira acrescentar a esta reunião? — Ana pergunta, olhando através da mesa para mim. — A situação dele ainda é a mesma? Você poderia nos dizer se alguma coisa mudou?

— Claro que eu diria a você. Por que eu não diria?

— Você parece ser muito possessiva com esse anel que sequer pertence a você. Eu só espero que você não esteja escondendo nada de nós.

Respirando profundamente, eu consigo evitar me arrastar pela mesa e dar um soco em Ana. Em vez disso, tiro o anel e o jogo girando pela mesa. Ela coloca sua mão sobre isso, olha para mim por mais um segundo, depois pega e gira sua cadeira para encarar a parede.

Eu olho para Gaius e murmuro — O que eu fiz de errado?

Ele encolhe os ombros. — Bem, isso é tudo por agora. Alguns de vocês têm compromissos de trabalho, e Lumethon e Calla têm uma sessão de treinamento. Vejo todos vocês amanhã de manhã, a menos que algo aconteça antes disso.

Todos, exceto Ana, levantam e se dirigem para a porta. Darius reclama de seu trabalho chato e Kobe diz a ele para superar sua preguiça. Então, eles concordam em se encontrar mais tarde para uma sessão de treinamento na sala de treinamento ao lado. Lumethon me cumprimenta na porta, mas antes que ela possa dizer mais alguma coisa, Ana empurra a mão entre nós, o anel na palma da mão aberta. — Ele disse que você não deveria usá-lo durante o treinamento — ela me diz enquanto eu pego o anel dela. — Ele não quer distrair você. — Sem esperar por uma resposta, ela passa por mim e sai da sala.

— Eu sei que ela pode ser... difícil — diz Lumethon, — mas dê a ela uma chance. Ela teve uma vida difícil até agora e não confia facilmente.

Eu empurro o anel no meu bolso de trás. — O que aconteceu, ou não devo perguntar?

— Bem, não é um segredo — diz Lumethon quando saímos da sala de reuniões. — Ela perdeu toda a família um ano ou dois antes Da Destruição em um incêndio acidental. Ela viveu com amigos por um tempo, mas... bem, eu não vou entrar em detalhes, mas não era uma situação saudável. Alguns anos após a derrota de Draven, aos onze anos, ela fugiu. Ela sobreviveu por conta própria por três anos, tornando-se particularmente hábil em roubar e ainda mais habilidosa em evitar os guardiões. Quando alguém finalmente a pegou, Chase a resgatou e lhe deu uma escolha: juntar-se ao seu time ou enfrentar a Guilda.

— E ela escolheu vocês, é claro.

— Sim. Ela morou comigo por alguns anos, depois anunciou em seu décimo sétimo aniversário no ano passado que queria um lugar só para ela. — Subimos as escadas em direção ao saguão de entrada da montanha. — Eu estava um pouco preocupada no começo de que ela simplesmente fugiria — continua Lumethon, — mas ela tem sido ferozmente leal a nós desde o momento que Chase a acolheu. E uma adição valiosa para a equipe. Excepcionalmente furtiva. Os lugares em que ela entrou te enlouqueceria.

Certo, e aqui estou eu usando a invisibilidade para entrar em lugares. Não admira que Ana olhe para mim com tanto desdém. — Então, ela teria feito um ótimo trabalho com a missão da noite passada.

— Sim, ela provavelmente teria feito isso se você não tivesse se juntado a nós, mas já que a missão da noite passada envolvia o roubo de um dos nossos clientes, precisávamos ter certeza absoluta de que quem fosse enviado não seria pego. Enfim, chega disso — ela diz enquanto atravessamos o saguão de entrada e paramos na porta das fadas. — É hora da dessensibilização.

Eu estremeço interiormente com o pensamento da dessensibilização sistemática que eu fui forçada a suportar todos os dias desde que admiti para o resto da minha equipe que tenho uma fobia com lugares confinados. — Sim, eu sei. Vamos acabar com isso. Para onde vamos desta vez?

— Vamos para Rosenhill Manor Art Gallery.

— Oh, eu amo lá.

Lumethon sorri. — É por isso que estamos voltando.

Eu a sigo através da porta das fadas para a casa do lago, onde coloco minha mão em seu ombro enquanto ela escreve um feitiço na parede. Momentos depois, estamos nos jardins requintados do Rosenhill Estate. Grama verde, roseiras e estátuas desgastadas pelo tempo nos cercam enquanto andamos em direção à antiga casa senhorial que já foi à casa de um lorde da Corte Seelie. Agora abriga sala após sala de artes magníficas.

Luna, a velha elfa que salvou Chase de sua própria miséria e desespero nos meses depois que ele deixou de ser Draven, sabia sobre esse lugar. Ela nunca teve a oportunidade de visitar a mansão sozinha, mas ouviu contos sobre a arte de tirar o fôlego e contou a Chase tudo sobre isso. Depois que ela morreu e Chase encontrou-se com sua habilidade artística, ele vinha aqui para se inspirar.

Lumethon e eu andamos pela grande entrada da mansão e pagamos cada uma por um ingresso. Tábuas de madeira rangem sob nossos pés enquanto caminhamos em direção ao primeiro cômodo. Um caleidoscópio de cor escorre de cada centímetro de todas as quatro paredes, o padrão mudando continuamente à medida que a pintura encantada muda de novo e de novo para uma série aparentemente interminável de desenhos. É hipnotizante, mas não exatamente relaxante. Esta não é a sala pela qual viemos.

Passamos por uma sala com esculturas que se movem fluidamente de uma forma para outra e, em seguida, uma sala cheia de esferas de vidro flutuantes, cada uma contendo cenas em miniatura construídas inteiramente a partir de pedaços de sucata. Outra sala parece que vai queimar a qualquer momento, enquanto as chamas lambem cada tela. Mas é uma pintura encantada - tinta que tive a sorte de usar uma vez - para que as telas permaneçam intactas.

Acabamos na sala que o tema é água - minha favorita e a mais adequada para nossos propósitos. Um fluxo de água brilhante e prateada flui diagonalmente pelo chão de um canto da sala até o outro, onde desaparece na parede. Pedras redondas e planas flutuam acima da superfície que permitem que os visitantes saltem de um lado para o outro. As telas nas paredes retratam cenas de lagos, cachoeiras e oceanos com tinta d’água encantada cintilante, torcendo e correndo, mas nunca deixando nenhuma tela. Lumethon e eu usamos as pedras para chegar ao outro lado da corrente onde um tronco de árvore deitado de lado serve como assento. — Você está pronta para começar? — Ela pergunta enquanto me sento.

— Sim. — Eu tento limpar minha mente de todas as preocupações e pensamentos inquietantes enquanto fecho meus olhos.

— Respire pelo nariz — instrui Lumethon. — Sinta o ar correndo sobre seu corpo, sinta enchendo seus pulmões e expandindo seu peito. Agora exale, lentamente, pela boca, liberando toda a tensão enquanto você faz isso. E novamente, ouvindo o movimento suave da água, inspire lentamente. Concentre-se no ar que entra no seu corpo, enchendo-o de novo. Agora, solte o fôlego e imagine seu lago, o lugar de relaxamento que você escolheu.

Eu alcanço meu ambiente imaginário e pacífico rapidamente, agora que fiz isso várias vezes. É uma versão do lago do lado de fora da casa de Chase no reino humano. Uma grande extensão de água se estende diante de mim, ondas suaves batem nas margens do lago, um tapete de grama exuberante é maravilhosamente macio abaixo de mim e um céu azul claro termina a imagem.

— Agora que você atingiu um estado de relaxamento — diz Lumethon, — pense em sua lista. Estamos nos encaminhando para um cenário que produz um nível médio de ansiedade. Imagine-se nessa situação o máximo que puder.

Fazendo o meu melhor para manter meu senso de calma, eu me imagino de pé e me afastndo do lago. A cena some para revelar o andar mais baixo da casa na montanha de Gaius. O andar onde as gárgulas e outras criaturas são mantidas. Começa com uma pequena sala com paredes de pedra ásperas e uma fenda estreita em um canto. Um túnel tão estreito que eu nunca fui corajosa o suficiente para passar. Eu dou outro suspiro lento enquanto me imagino aproximando daquele túnel horrivelmente estreito. Meu batimento cardíaco aumenta um pouco, mas me concentro nos sons reconfortantes da água enquanto continuo avançando.

Respire, eu me lembro. Pelo nariz, pela boca. Eu me aproximo mais. Eu coloco minhas mãos na parede em ambos os lados do espaço escuro e olho para ele. O túnel é estreito o suficiente para que possa tocar meus ombros se eu entrasse, e é tão escuro que não tenho como ver o outro lado. Mas apesar do fato de que meu coração está batendo mais rápido do que o normal, não me sinto superada pelo pânico. Eu dou um passo em direção do túnel, depois outro. A escuridão cresce ao meu redor, me pressionando, e é quando eu balanço a cabeça, estremeço e abro os olhos.

— Eu ainda não posso entrar no túnel — digo a Lumethon, olhando em volta e encontrando-a encostada na parede entre duas pinturas. — Eu estava quase lá. Eu planejava entrar e o pensamento não me assustou, mas eu realmente não consegui.

— Eu sei. Você estava projetando novamente. Eu vi tudo.

— De novo não — eu digo com um gemido. — Eu te disse que isso seria um problema. Eu não consigo controlar minha habilidade porque estou relaxada demais.

— Tudo bem, Calla. O ponto aqui é superar sua ansiedade. Quando chegar a esse ponto, você poderá enfrentar esse tipo de situação, mantendo o controle de suas projeções. E você já mostrou melhora — acrescenta ela com um sorriso. — Quando fizemos isso há dois dias, você não queria nem se aproximar do túnel.

Eu concordo. — Verdade. Está ficando um pouco mais fácil.

— Bom. Agora feche os olhos, restabeleça um estado mental relaxado e passe pelo processo novamente, imaginando a mesma situação.

— Tudo bem, mas você vai observar a porta, certo? Quer dizer, no caso de eu projetar novamente, o que provavelmente vou fazer.

— Eu coloquei um escudo na porta o tempo todo. Você não precisa se preocupar com ninguém entrando aqui.

Eu repito o exercício, me aproximando do túnel mais rápido desta vez, minha ansiedade só aumentando quando estou realmente dentro do espaço escuro e apertado. Eu tento me esforçar mais, permanecer no túnel por mais de dois ou três segundos, mas o medo de algo pressionando em torno de mim - me tocando, me sufocando - torna-se insuportável muito rapidamente.

— Muito bem — diz Lumethon quando eu abro meus olhos e contorço meus ombros como se para afastar o medo. — Você está definitivamente chegando lá. Agora, como você se sente fazendo um teste na vida real?

— Vida real?

— O tronco em que você está sentada é oco. Você acha que pode rastejar dentro dele de um lado para o outro?

Levanto, ando até o final do tronco de árvore e olho para baixo. Acontece que é oco. Eu poderia rastejar dentro dele? É uma tarefa ridiculamente simples, que praticamente qualquer outra pessoa poderia realizar facilmente, e ainda assim... — Eu não tenho muita certeza sobre isso.

— Por que não tentar? — Lumethon sugere, afastando-se da parede. — Estamos em uma situação não ameaçadora. O tronco é grande o suficiente para que ele não toque nas suas costas enquanto você rasteja e você pode ver o outro lado.

Eu concordo. Ser capaz de ver o outro lado e saber com que rapidez isso vai acabar definitivamente ajuda. Eu fico de quatro e olho através disso. Lumethon se agacha do outro lado e acena com a mão. Eu olho o interior áspero da árvore e solto uma risada nervosa. — Vai ser um ajuste muito apertado. Mesmo que não toque minha cabeça nem minhas costas, eu sei que está bem aqui.

— Não pense nisso. Olhe para mim e pense no espaço aberto. Diga a si mesma que você está rastejando na grama ao lado do lago e não há nada acima de você, a não ser quilômetros de ar fresco.

Eu imagino - o céu azul e o espaço infinito - e, lentamente, cuidadosamente começo a rastejar. A casca áspera coça as palmas das mãos e Lumethon sorri encorajadora à frente. Eu penso no espaço ao meu redor. Espaço, espaço, espaço e... o interior da árvore ao meu redor. Fechando sobre mim. Eu respiro fundo e rastejo mais rápido. Mais rápido, mais rápido até finalmente sair do outro lado. Eu pego a mão de Lumethon e a deixo me levantar. — Ufa. Tudo bem, isso não foi tão ruim. Mas, como você disse, esta é uma situação não ameaçadora, então eu tive tempo de me colocar em um estado de espírito relaxado primeiro. Nem sempre é o caso.

— É verdade, mas continuaremos praticando até que o estado mental relaxado seja automático e você não veja mais um espaço confinado como causa de ansiedade. Você está fazendo um bom progresso, Calla.

— Eu sei, eu só... me sinto tão ridícula celebrando algo tão simples. É um medo tão bobo. Eu sei que é, e ainda assim, quando o pânico toma conta, todo pensamento racional foge da minha mente.

— Fobias não são racionais. — Lumethon se move para se sentar no tronco. — E você tem uma razão inteiramente legítima para desenvolver essa fobia específica.

— Sim — eu murmuro, pensando na gaiola pendurada em que eu estava trancada quando criança na masmorra do Príncipe Unseelie. A água preta e os prisioneiros lamentando-se e o fedor de suor e terror. Eu estremeço. Esse cenário está definitivamente no topo da minha hierarquia de ansiedade. Eu vou deixar esse por último.

— Tenho cerca de vinte minutos até que precise começar a trabalhar — diz Lumethon, — então vamos seguir para o treinamento de ilusão.

— Mais treinamento. Certo. — Eu passo minhas mãos pelo meu cabelo. — Sim, está bem. Vamos fazer isso.

As sobrancelhas de Lumethon arqueiam. — Algo errado? Você já cansou das nossas sessões de treinamento?

— Não, não. Eu sou muito grata por todo o tempo que você passou me ajudando, e eu sei que isso é importante. É só... você nunca se sentiu tão dominada pela impaciência que quer arrancar os cabelos? — Eu puxo meu cabelo de novo, como se ela precisasse de uma ilustração. — Quero dizer, nós treinamos todos os dias, e todo mundo vai para o trabalho como normalmente faria, e toda noite vamos para a cama, e o tempo todo Chase está trancado em uma masmorra onde alguém poderia matá-lo a qualquer momento. Eu sei que estamos fazendo tudo o que podemos, mas ainda parece nada.

— Eu entendo sua frustração — uma voz inesperada diz, e eu olho através da sala para encontrar Gaius parado na porta. — Sinto que deveríamos estar ativamente procurando a Corte Seelie neste exato momento, não poupando um segundo para dormir ou descansar. Tenho que me lembrar continuamente de que nunca encontraríamos dessa maneira e, mesmo que encontrássemos, nunca entraríamos. — Ele entra na sala, admirando a pintura de água jorrando para cima, colidindo em uma espuma silenciosa no topo da tela, em vez de ser embaixo. — Galeria de arte adorável, a propósito. Eu nunca estive aqui. — Ele pula em uma das pedras flutuantes e pula para o nosso lado do riacho onde ele se senta no tronco ao lado de Lumethon. — Então. Pronta para enganar minha mente com a sua ilusão mais recente?

— Você está aqui por causa do meu treinamento? Eu pensei que Lumethon estava fazendo isso.

— Nós dois estamos — ela diz para mim. — Hoje nós vamos tentar a única coisa que você continua me dizendo que é impossível.

Maravilha. Inclino a cabeça para trás com um gemido e resmungo — Ilusões simultâneas.


Capítulo 6

 

Perry solta uma gargalhada gigante quando eu saio dos caminhos das fadas nas antigas ruínas da Guilda no final da tarde. — O que é isso na sua cabeça?

— Hum... cabelo? — Eu digo, fingindo confusão.

— Está azul! E curto!

— Eu gosto — diz Gemma, inclinando-se para trás sobre suas mãos e examinando o meu elegante cabelo azul.

— Não é de verdade, é?

— Não, é uma peruca. Eu a encontrei no – hum, lugar onde estou agora. — Acontece que a equipe de Chase tem um guarda-roupa inteiro de itens para disfarçar a aparência, já que a maioria dos seres mágicos é imune ao glamour. Gaius apontou o guarda roupa para mim esta manhã depois da minha tentativa frustrada de projetar múltiplas ilusões simultâneas. — Eu pensei que seria uma boa ideia esconder meu cabelo dourado revelador — eu digo, — Já que quase fui pega na Guilda hoje de manhã.

— Você o quê? — Gemma diz com um pequeno suspiro, cobrindo a boca com a mão.

— Eu estava invisível para todos ao meu redor, é claro, mas um inseto de vigilância deve ter passado perto, então alguém observando as orbitas daquele departamento me viu. Eu tive que fugir.

Gemma deixa a mão cair no seu colo. — Essa foi por pouco. Você não deveria fazer isso de novo.

— Sim, provavelmente não. Eu estava me esgueirando pelos andares mais baixos.

— Parece divertido — diz Perry, esfregando as mãos. — O que você estava procurando?

— Você não gostaria de saber — eu digo com um sorriso malicioso. Sento ao lado dele e de Gemma, à sombra de uma alcova de mármore rachada e coberta de trepadeiras que outrora fazia parte da antiga Guilda de Creepy Hollow. A Guilda que Chase destruiu quando ele estava possuído pelo poder que não era dele. O pensamento de seu passado não retorce minhas entranhas com náuseas como antes. Chase não é nada como a pessoa que ele era quando governou como Lorde Draven. Eu me concentro nos papéis e livros espalhados no chão ao redor de Perry. — Você está agindo anormalmente estudioso — digo a ele. — Isso é lição de casa?

— Não. Algo muito mais interessante. Eu vou falar sobre a minha quebra de regras, se você me contar sobre a sua.

Eu reviro meus olhos, mas já sei que vou contar a eles o que vi naquela sala azul. Eles sabem muito, como a minha Habilidade Griffin e o fato de que foi Zed quem matou Saskia, e espalhou a doença de dragão e armou para mim nas duas coisas. Eu não disse a eles quem Chase era, e eles não sabem nada sobre o meu relacionamento com ele ou que ele foi capturado. Eles sabem sobre a profecia que detalha a destruição do véu entre o nosso mundo e o humano. Com o julgamento da mamãe ocorrendo nos últimos dias, achei que eles poderiam ouvir sussurros sobre profecia de qualquer maneira. Melhor contar a eles a verdadeira história em vez de deixá-los acreditar em rumores.

Eu cruzo minhas pernas e me inclino para trás sobre minhas mãos enquanto eu lhes digo tudo o que vi naquela sala horrível com as caixas de vidro esta manhã. — Eu não tenho ideia do que se tratava, mas duvido que seja legal se eles tiverem que fazer isso por trás de uma porta trancada que apenas algumas pessoas podem entrar.

— Ugh, isso soa tão assustador — diz Gemma, fazendo uma careta. — Mas você disse que foi o Conselheiro Merrydale quem entrou na sala? Ele não estaria envolvido em nada ilegal, estaria?

— Ok, talvez não seja ilegal, mas... você sabe. Algo que não seria aprovado se todos soubessem disso. E isso me faz pensar se talvez... é algo a ver com Habilidades Griffin.

— Você acha que aquelas pessoas eram faeries Dotadas nas caixas? — Perry pergunta.

— Eu não sei. — Eu puxo um dos pergaminhos para perto e escrevo os nomes N. Thornbough e J. Monkswood. — Estes são os dois nomes que eu vi. Estou preocupada em voltar para dentro da Guilda se não for necessário. Você poderia procurar na Lista Griffin e ver se esses nomes estão nela?

Perry acena e pega o pergaminho de mim, colocando muito mais distância entre ele e Gemma do que o necessário, enquanto ele se inclina ao redor dela. Ele coloca o pergaminho em sua bolsa. — Isso é confuso — acrescenta ele. — Nós devemos ser os mocinhos, não é? Não os caras que colocam pessoas em caixas e fazem experiências nelas.

— Bem, não todos nós — diz Gemma, olhando para mim em vez de Perry, apesar do fato de que é com ele com quem ela está falando. — Apenas alguns guardiões.

— Você sabe o que eu quis dizer — ele murmura, virando para os livros espalhados na frente dele, um dos quais se parece com um manual da Guilda com as palavras Feitiços de Segurança na frente e o nome de outra pessoa em um adesivo. — De qualquer forma, acho que estou chegando perto de descobrir isso.

— O feitiço de detecção? — Eu pergunto, me referindo à magia colocada nas casas de todos próximos de mim depois que eu escapei da Guilda. Perry me disse que tinha certeza de que deveria haver uma maneira de contorná-lo.

— Sim, este manual - que foi convenientemente deixado em um banco no refeitório da Guilda por um guarda que eu definitivamente não estava distraindo na época - explica como remover o feitiço. Infelizmente, tem que ser feito pelos guardiões que lançaram o feitiço de detecção, para que não funcione. Mas eu acho que posso colocar algo em você para... proteger você de ser detectada.

— Se isso funcionar, vai ser incrível.

— Hum, então estou apenas descobrindo... se... — Ele coloca sua stylus contra o lado de sua cabeça enquanto vira uma página. — Onde estava aquela seção sobre...

Ao som de passos se movendo através das ervas daninhas, minha cabeça vira. Eu rapidamente me imagino invisível enquanto alguém caminha ao redor do canto da parede que a alcova está presa. — Oh, é só você — diz Gemma para Ned, colocando uma mão aliviada em seu peito.

Estou prestes a me libertar da ilusão da invisibilidade quando Ned franze a testa para Gemma, olha ao redor e diz — Ela está aqui, não é.

— Ei, Ned. — Eu reapareço e dou-lhe um aceno amigável.

Em vez de retornar a saudação, Ned franze a testa enquanto seus olhos percorrem meu cabelo azul. Ele abaixa a voz e diz para Gemma — Eu te disse que não deveríamos fazer isso.

— Fazer o quê? — Pergunto, mas já estou me lembrando do que Gemma me disse no dia em que pintamos o quarto de hóspedes com balões de tinta. Ned não queria me ver por algum motivo, e ela me disse que ele simplesmente precisava de tempo para se acostumar comigo. Mas talvez fosse mais que isso. Talvez a verdadeira razão fosse que a Guilda já me havia suspendido naquele momento.

Com a voz baixa, Ned diz — Eu simplesmente não me sinto confortável em sair com criminosos.

Bem. Para alguém que normalmente não fala mais de cinco palavras em uma conversa inteira, eu não esperava uma honestidade tão direta. — Eu não sou uma criminosa, Ned. Eu não fiz nada de errado.

Ele encontra meus olhos por um segundo antes de desviar o olhar. — Você é obrigada por lei a adicionar seu nome à Lista Griffin. Se não fez isso, você infringiu a lei.

— Ned... — diz Perry.

Ned balança a cabeça e se afasta. — Eu não vou fazer isso — diz ele, voltando pelo caminho de onde veio.

— Ned, vamos lá — Gemma fala.

— Eu vou atrás dele — diz Perry, levantando e correndo atrás de Ned.

Eu passo meus dedos pela peruca azul, imaginando se preciso sair daqui imediatamente. — Você acha que... ele voltaria a Guilda e diria a alguém que estou aqui agora?

Gemma balança a cabeça. — Acho que não. Ele é um defensor das leis, mas acho que ele não iria tão longe. Mas nós provavelmente não devemos deixá-lo saber da próxima vez que nos encontrarmos com você.

Eu puxo meus joelhos para cima e envolvo meus braços ao redor deles. — Eu não quero que você tenha que mentir para um de seus amigos por minha causa.

— Então eu acho que vamos apenas... omitir informações em vez de mentir diretamente.

— Isso não é a mesma coisa?

— Na verdade, não. E você sabe como me sinto sobre a Lista Griffin, então a única lei que você quebrou é uma que não deveria existir.

— Sim. — Eu olho em volta para a luz da tarde se deslocando através das ruínas cobertas de vegetação antes de retornar meu olhar para Gemma. — Então, o que está acontecendo entre você e Perry? Vocês estão agindo muito estranho perto um do outro.

— O quê? — Gemma ri sem jeito. — Não, não estamos.

— Gemma.

Ela pisca para mim, depois geme e cobre o rosto. — Tudo bem. — Ela abaixa as mãos e arranca uma folha da videira mais próxima. Ela gira entre os dedos enquanto seu rosto, ficando cada vez mais rosado, permanece firmemente virado para o seu colo. — Lembra quando eu fiquei doente? Da doença de dragão?

— Sim?

— Bem... Perry meio que me disse... queelemeama.

— Oh, finalmente! — Eu bato minhas mãos juntas quando a cabeça de Gemma voa para cima.

— Você sabia? — Ela exige.

— Claro que eu sabia. Qualquer pessoa que passou algum tempo com vocês dois poderia perceber isso.

— Eu sou tão idiota. — Ela deixa cair a folha e bate as duas mãos contra a testa.

— Então, o que você disse a ele?

— Eu estava meio que morrendo no momento em que ele disse isso — ela murmura, — então, hum, eu não respondi.

— Ok, e depois que você se recuperou?

— Hum... eu ainda não disse nada.

— Ah. Bem, não é de se admirar que as coisas estejam estranhas.

— Eu sei! Mas o que eu deveria dizer? Quero dizer, isso veio do nada, e eu sou apaixonada por outra pessoa, e Perry é... ele é Perry. Meu amigo. O cara que me provoca, não o cara que derruba uma porta magicamente trancada para me dar uma cura, enquanto me diz que não posso morrer porque ele me ama.

Eu descanso meu queixo sobre meus joelhos. — Isso foi muito heroico e romântico, na verdade. — Pensamentos sobre Chase enchem minha mente junto com um desejo desesperado de sentir seus braços em volta de mim, um desejo tão forte que eu não tenho dúvida de que ele sentiria se eu estivesse usando o anel agora. Felizmente, não estou. Alguns sentimentos provavelmente não devem ser compartilhados ainda. Sentimentos que ainda não tive tempo para examinar adequadamente.

— É heroico e romântico — admite Gemma, — mas eu ainda não sei como me sinto sobre ele. É por isso que não disse nada. Estou apenas confusa. E há tantas outras coisas importantes para me concentrar. Missões, e todas as coisas que você tem nos contado - a doenças de dragão e grupos de odiadores de guardiões e uma terrível profecia que algum ex-espião de Draven quer colocar em ação. E agora os guardiões estão fazendo testes estranhos em faeries inconscientes. Além de tudo isso, entender minha vida amorosa parece completamente trivial.

— Eu sei — eu digo com um suspiro. — Eu entendo. — Eu estou tentando resolver todos os mesmos problemas, enquanto no fundo da minha mente a memória daquele beijo no rio dourado me provoca, tentando me desviar de tudo o que é importante em que eu deveria estar focando. — Mas talvez você deva dizer alguma coisa para Perry. Só para que ele saiba que você está pensando em coisas ao invés de deixá-lo esperando depois de sua declaração de amor eterno por você.

— Ugh, eu sei. Você está certa. É tudo tão — Ela para quando um portal dos caminhos das fadas abre perto e Perry sai. — E, hum, então Olive disse, 'Você está brincando comigo? Você não pode nem fazer um mortal triplo? Quem diabos deixou você entrar no quinto ano?’ E Lily começou a chorar ali mesmo. Você pode imaginar como Olive ficou impressionada com isso.

Eu balanço minha cabeça, sorrindo em diversão na brusca mudança de assunto de Gemma. Eu me pergunto se a história é verdadeira ou se ela inventou isso em desespero na hora. Olhando além dela, pergunto — Você falou com Ned?

Perry acena enquanto retoma ao seu lugar no chão do outro lado de Gemma. — Ele diz que entende que você não é uma pessoa ruim, mas que existem leis por uma razão e nós devemos segui-las, quer concordemos ou não com elas. — Ele abre um pergaminho em branco e pega uma pena. — De qualquer forma, é impossível argumentar com ele, então, depois de ter certeza de que ele não estava prestes a relatar seu paradeiro para a Guilda neste exato momento, deixei por isso mesmo.

— Tem certeza de que ele não vai dizer nada?

— Ele sabe que você não é a responsável pela morte de Saskia e pelo feitiço da doença, então ele não disse nada porque obviamente não quer que você seja presa por isso. Ele acha que seu nome deveria estar na Lista Griffin, no entanto.

— Bem, agora que toda a Guilda sabe que sou Superdotada — digo, com uma pitada de amargura na minha voz, — tenho certeza de que meu nome foi adicionado à lista.

— Foi o que eu disse. Ele ainda pensa que você deveria ter confessado isso em vez de esperar ser descoberta, mas... tanto faz. — Perry move dois livros abertos um ao lado do outro e puxa o pergaminho para mais perto. — Tudo bem. Vamos ver se conseguimos criar um feitiço de escudo especificamente direcionado contra esse feitiço de detecção. Há um feitiço aqui para um escudo de corpo inteiro — ele se inclina para frente e passa um dedo pela página do primeiro livro antes de se mover para o outro ao lado — e este manual detalha as palavras exatas para o feitiço de detecção. Então eu acho que se pegarmos as palavras de um e inseri-las no outro feitiço, poderíamos fazer isso funcionar. Eu não estou completamente certo de onde colocá-las. E não há outra coisa que deveria ser adicionada quando você mistura feitiços?

Eu cutuco o ombro de Gemma. — Você é realmente boa em feitiços, não é? Você e Perry deveriam estar trabalhando nisso juntos. — Ela olha para mim com os olhos arregalados, provavelmente tentando comunicar que se aproximar de Perry é a última coisa que ela quer fazer. Eu reviro meus olhos e murmuro, Ele não vai morder.

Depois de enviar um olhar raivoso para mim, Gemma passa por cima das videiras e galhos e pega o manual do feitiço de segurança. — Ok, você não precisa incluir todo esse feitiço. Apenas pegue este pedaço aqui — ela abaixa o manual e aponta para algo — e coloca no feitiço de escudo aqui, entre essas duas palavras. E você está certo. Tem aquele feitiço extra que precisa ser entrelaçado quando você está misturando duas mágicas. — Ela puxa outro livro para mais perto.

Eu endireito minhas pernas e me inclino para trás enquanto procuro através da minha memória os milhões de feitiços que estudei antes que a Guilda me permitisse me matricular como uma aprendiz do quinto ano. — É isso que você está pensando? — Pergunto a Gemma antes de recitar as palavras que me vêm à mente.

— Sim, é — diz Gemma, folheando as páginas. — Mas devemos provavelmente verificar para ter certeza de que... ah, aqui está.

Ela e Perry terminam de escrever as palavras para o novo feitiço em questão de minutos. — Legal, vamos testá-lo — diz Perry, rapidamente guardando todos os seus livros e papéis.

— Agora? — Eu pergunto.

— Você tem algum momento melhor em mente? — Ele se levanta e levanta sua bolsa pesada no ar com um aceno de sua mão. Ela flutua ao lado dele.

— Eu acho que não. Onde você quer testá-lo? — Gemma e eu nos levantamos, limpando as folhas e a sujeira de nossas roupas.

— Minha casa? — Perry sugere.

— E se isso não funcionar? Você vai ter guardiões correndo para dentro de sua casa para procurar por mim.

— Então, você vai ficar invisível e sair pelos caminhos das fadas.

— E você vai ter problemas com a Guilda.

— Por quê? Eu direi apenas que não tinha ideia de que você estava vindo me visitar. Na verdade, não. Eu vou dizer a eles que o feitiço bobo de detecção está com defeito, porque se você não está lá, quem ativou?

Arqueando minhas sobrancelhas, eu digo — Você realmente vai acabar com problemas se disser aos guardas da segurança da Guilda que seus feitiços são bobos.

— Olha, o feitiço vai funcionar, então eu não sei por que estamos discutindo isso. Gemma e eu fazemos uma ótima equipe, então não tem como esse feitiço de escudo estar errado. — Um rubor aparece nas bochechas de Gemma mais uma vez, e Perry se apressa em acrescentar — Uma ótima equipe de trabalho. Obviamente.

— Tudo bem, vamos tentar.

— Brilhante. Venha aqui. — Perry segura o pergaminho na frente dele e levanta uma mão logo acima da minha cabeça. Enquanto ele lê as palavras, sinto algo se movendo no ar acima de mim. Eu olho para cima e encontro uma nuvem de poeira brilhante girando ao redor da mão de Perry. Quando ele lê a última palavra, a poeira desce rapidamente sobre mim, cobrindo cada centímetro do meu corpo. Com um flash final, a poeira brilhante desaparece.

— Deveria fazer isso? — Eu pergunto.

— Não sei — diz Perry com um encolher de ombros quando ele dobra o pergaminho e o coloca no bolso. — Vamos descobrir se funcionou. — Ele se inclina sobre a alcova e escreve um feitiço de porta no mármore rachado. — Depois de vocês, Senhoritas — diz ele quando um espaço escuro se materializa. Gemma pega minha mão e caminha para frente. Eu a sigo, pegando a mão de Perry. Não escapa à minha percepção que Gemma me colocou entre os dois. Eu não posso deixar de suspirar quando entro na escuridão e tento esvaziar minha mente para não interferir no destino que Gemma está pensando.

Luzes se formam à frente. O nada sob meus pés se transforma em terra firme quando eu entro em uma cozinha limpa. Eu fico tensa e solto a mão de Gemma, olhando em volta como se os guardiões pudessem aparecer a qualquer momento. — Um alarme deve soar? — Eu sussurro.

— Não aqui — diz Gemma. — Esse manual que Perry roubou disse que um alarme vai disparar no departamento de segurança da Guilda se o feitiço de detecção for violado.

— Eu deveria me esconder — digo imediatamente. — Apenas no caso de os guardiões estarem a caminho daqui.

— Eu não roubei o manual — murmura Perry. — Alguém deixou para trás e aconteceu de eu pegá-lo. E qual é o ponto de se esconder agora? Eles ainda terão que bater na porta e esperar que eu a abra antes que eles mostrem o pergaminho de permissão e entrem aqui.

Eu pressiono meus dedos nas minhas têmporas. — Ugh, seus pais ficarão tão furiosos se os guardiões entrarem aqui.

— Meus pais muitas vezes estão com raiva de mim — diz Perry, balançando sua bolsa flutuante em direção à mesa da cozinha. — É a configuração padrão quando estou por perto.

— Isso porque sua configuração padrão é ultrapassar limites, violar leis e incomodar sua mãe — observa Gemma.

No passado, Perry provavelmente teria rido de um comentário como esse, mas agora ele resmunga algo em voz baixa e sai da cozinha.

Gemma olha para mim com olhos suplicantes. — Me ajude! — Ela sussurra. — Eu estou cansada dessas coisas. Eu só quero que tudo seja normal novamente entre nós. Eu até aceitaria sua constante provocação ao invés desse constrangimento.

— Você poderia ir atrás dele agora e conversar — eu sugiro. — Eu vou ficar aqui e me preparar para desaparecer ao primeiro sinal dos guardiões.

Gemma parece aterrorizada com o pensamento. — Talvez não agora — ela guincha.

— Vocês vêm? — Perry fala, como se sua saída da cozinha fosse totalmente normal e nós deveríamos segui-lo. — Traga um lanche.

— Viu? — Gemma diz para mim quando abre um armário e olha dentro. — Agora não é um bom momento. Eu vou... falar com ele no final da semana.

— Certo — eu digo, minha voz cheia de ceticismo. A julgar pelo fato de que ela nunca disse ao aprendiz Vidente Rick que ela tem uma paixão gigantesca por ele, eu não espero que essa conversa com Perry aconteça tão cedo.

Gemma tira um saco de doces arco-íris efervescente do armário. Eu a sigo para a sala ao lado, onde Perry está descansando em uma poltrona enquanto digita em um tablet âmbar. — Nenhum guardião ainda — diz ele, colocando o tablet no braço da cadeira e pegando o doce arco-íris que Gemma jogou em sua direção. — Eu te disse que o feitiço iria funcionar.

— Claro — eu digo quando me sento no sofá em frente a Perry. — Porque vocês dois são muito bons em fazer mágica juntos.

Gemma parece totalmente mortificada com minhas palavras e Perry engasga com o doce que acabou de colocar em sua boca. Enquanto ele se inclina para frente, tossindo e batendo em seu peito, eu escondo meu sorriso atrás da minha mão e dou a Gemma um olhar de inocência com os olhos arregalados. Ela tira outro doce arco-íris do saco e joga em mim antes de se sentar na cadeira mais afastada de Perry.

Depois de mais meia hora de conversa ociosa e nenhum guardião aparecendo, Perry diz — Bem, acho que podemos chamar isso de sucesso, Calla. Alguém definitivamente teria aparecido até agora se achassem que uma perigosa assassina Superdotada Griffin estivesse se escondendo aqui.

— Sim. Uau, isso é incrível — eu digo quando a nova realidade da minha situação me atinge. — Eu realmente poderia ir para casa agora, se quisesse. — É um pensamento estranho. Eu me acostumei com a casa da montanha de Gaius muito rapidamente. — Quero dizer, eu provavelmente não irei no caso de ser o tipo de feitiço que desaparece rapidamente, e eu não gostaria de colocar meu pai em mais problemas do que ele já está. Mas pelo menos, posso visitar minha família agora. — Eu olho para Gemma, depois para Perry. — Obrigada. Eu sou muito grata a vocês dois.

Perry encolhe os ombros. — Não foi nada. — Apesar de seu tom indiferente, ele parece bastante satisfeito consigo mesmo.

— Eu deveria ir antes que seus pais cheguem em casa — eu digo, levantando. — Não quero assustá-los.

— Você poderia simplesmente tirar sua peruca — diz Perry. — Eu duvido que eles te reconheçam. Eles só sabem o que a Guilda contou a eles quando enviaram guardiões para colocar o feitiço em nossa casa.

— Eu preciso ir também — diz Gemma. — Eu deveria estar fazendo o jantar hoje à noite.

Perry se levanta e pesca no bolso o pergaminho dobrado. — Aqui está o feitiço, Calla. Sinta-se à vontade para visitar sempre que quiser.

— Obrigada. — Eu pego o pergaminho dele. — Eu posso executar o feitiço em mim mesma?

— Eu acho que sim. Não há nada sobre esse feitiço de escudo em particular que diz que outra pessoa tem que lançá-lo. Ah, uma outra coisa — acrescenta ele. — Tenho certeza que a Guilda ainda está monitorando nossos âmbares, então fiz outro plano. — Ele vai até o aparador e abre uma gaveta. — Esses espelhos são novos, então eles devem estar seguros. — Ele pega dois pequenos espelhos circulares, e fecha a gaveta com o quadril e entrega um para mim.

— Legal, obrigada.

— Ei, como você entrou em contato com a sua família? A Guilda deve manter uma vigilância extra em todos os seus dispositivos.

— Nós fomos cuidadosos. Você conhece aqueles âmbares realmente antigos? Eles vêm em pares e só podem se comunicar uns com os outros?

— Eles não pertencem a nenhum lugar fora de um museu?

— Sim. Meu irmão e eu temos usado eles.

Perry concorda. — Retrô. Contanto que funcione, ei.

— Sim. De qualquer forma, obrigado por isso. — Deslizo o espelho e o feitiço no bolso da minha jaqueta. Com um suspiro, acrescento, — É ridículo o quanto a Guilda ainda quer me encontrar.

— Bem, você sabe, você supostamente é uma assassina e tudo isso.

Eu balanço minha cabeça. — Descobriremos uma maneira de descobrir a verdade um dia. — Um dia, quando não estiver focada em resgatar Chase e impedir que a visão que separa os véus se torne realidade.

— Podemos fazer disso nossa próxima missã — diz Perry. — Ou — ele corrige quando vê que estou prestes a protestar, — você pode esperar até nos formarmos no final do ano e conseguir empregos como guardiões de verdade, e então eu vou conseguir permissão oficial para reabrir este caso. Então, você não poderá reclamar que vou acabar em apuros por enfiar meu nariz onde ele não pertence.

Eu sorrio. — Parece um plano.


Capítulo 7

 

Estou confusa ao ver Ana na cozinha quando volto para a montanha. — O quê? — Ela pergunta quando eu paro na porta com uma expressão confusa.

— Nada. — Eu tiro a peruca azul e a vejo mexendo algo em uma panela no fogão. — Você não estava nos dizendo hoje de manhã o quanto gosta do seu próprio espaço?

— Sim, e daí? Eu gosto do meu próprio espaço. Não significa que não posso jantar aqui quando Gaius prolonga o convite.

— Ele faz isso com frequência? — Eu pergunto enquanto ando até a cozinha e me inclino contra a longa mesa.

Ana encolhe os ombros, mantendo as costas viradas para mim. — Eu acho que sim.

— Suponho que vocês sejam como uma família para ele.

— Sim. Mais ou menos. Ou éramos até que uma estranha se meteu — ela acrescenta baixinho, apenas alto o suficiente para eu ouvir.

Eu decido que essa coisa de animosidade foi longe demais. Eu agarro as costas de uma cadeira e pergunto — Por que você não gosta de mim, Ana?

Ela olha por cima do ombro para mim com uma careta. — O quê?

— É dolorosamente claro que você não gosta de mim. Eu só estou me perguntando por quê.

Ela não faz nada além de voltar para a panela e continuar mexendo.

— É algo que eu fiz? É sobre Chase? — Droga, talvez ela tenha sentimentos por ele e ela me vê como aquela que interferiu e arruinou tudo para ela. Exceto... ela tem sido desagradável desde o momento em que entrei pela primeira vez na loja de tatuagem do Chase.

— Não, não é sobre Chase — ela murmura sem olhar em volta.

— Então, o que é? Por favor, me diga qual é o problema para que eu possa fazer algo sobre isso. Eu não vou a lugar algum, então você e eu vamos poder resolver isso.

— Tudo bem. — Ela coloca a tampa na panela e vira. — Esse time é tudo que eu tenho, ok? Eles não são apenas a família de Gaius, eles são minha família. Sou muito protetora com eles e não gosto de pessoas de fora. Somos apenas nós há anos, e pensei que seria assim até... eu não sei. Para sempre, eu acho. E então você invadiu como se pertencesse aqui, e Chase não fez nada sobre isso, como se ele não tivesse ideia de que talvez o resto de nós pudesse querer dar uma opinião sobre o assunto. Então, sim. Eu não me senti exatamente bem com você.

— Tuuudo bem — eu digo devagar. Eu acho que posso ver como isso poderia aborrecê-la. — Mas isso não explica por que você não gostou de mim na primeira vez que nos conhecemos. Você não me conhecia quando eu entrei pela primeira vez na Wickedly Inked. Eu poderia ser uma cliente em potencial, e você foi totalmente rude.

Ela coloca as mãos nos quadris. — Sim, bem, eu nunca gostei de garotas bonitas.

Essa é a última coisa que eu esperava. — O quê?

— As garotas bonitas são geralmente as mais malvadas. — Ela passa os dedos delicadamente pelo cabelo espetado. — Garotas bonitas sempre me importunaram, e hoje em dia, simplesmente não tenho tempo para elas.

Eu me vejo lentamente balançando a cabeça. — Eu... nem sei como responder a essa lógica.

— Está tudo bem — ela diz com um aceno desdenhoso da mão, movendo-se mais ao longo do balcão para onde uma pilha de legumes picados está ao lado de uma travessa vazia. — Eu decidi que você não é tão bonita assim. É apenas o cabelo dourado e os olhos. Meio deslumbrante e avassalador no começo.

— Então... isso significa que você decidiu que eu não sou tão má assim, afinal?

Ela balança a mão e os legumes pulam na travessa. — Sim.

— Mas você ainda não gosta de mim.

Ela encolhe os ombros, faz outro giro no ar com a mão e observa a travessa com verduras indo para o forno. — Eu estou superando essa parte.

— Mesmo? — Sento na cadeira e cruzo os braços. — Não parece, eu posso te dizer isso.

— Nossa, apenas me dê um pouco de tempo, ok?

— Bem. Mas por enquanto, seria ótimo se você pudesse guardar seus comentários maliciosos para si mesma. Eu não quero ser a única fazendo um esforço para ser amigável.

Ela se vira, se inclina contra o balcão e me considera. — Eu acho que eu posso tentar.

— Obrigada — eu digo, olhando para ela com cautela. Eu não esperava que ela concordasse com isso. Ela continua me observando. Depois de vários momentos desconfortáveis, pergunto — E agora? Você está segurando todos os comentários que realmente gostaria de me falar?

Ela inclina a cabeça. — Você completou sua primeira missão na noite passada, certo?

— Sim — eu digo incerta. — A filha do barão e o convite.

Ela concorda lentamente. — Alguém te contou sobre a tradição da tatuagem?

— Tradição da tatuagem?

— Cada um de nós fez uma tatuagem para comemorar nossa primeira missão completa depois que nos juntamos à equipe.

— Gaius tem uma tatuagem? E Lumethon?

O canto da boca dela se curva no que quase poderia passar por um sorriso. — Elas estão em locais mais discretos. Então, o que você diz? — Ela caminha até a mesa e envolve seus dedos nas costas de uma cadeira. — Pronta para essa primeira tatuagem? Você não é propriamente um membro da equipe até que fazer isso.

— Então... você está se oferecendo para me tatuar?

— Hum hum — diz ela, balançando a cabeça lentamente, como se eu fosse idiota.

Eu pensei que minha primeira tatuagem viria de Chase. A fênix que ele desenhou. Mas se isso é uma tradição da equipe, eu não quero perder, e posso deixar a fênix para Chase. A menos que... a menos que isso seja um truque e Ana esteja planejando tatuar alguma imagem horrível e permanente em meu corpo, como o crânio de um ogro. — Hum... — Eu perguntaria ao Chase, mas eu não estou com o anel no momento, e Ana saberá exatamente o que estou fazendo se eu o colocar agora. Ela sabe que eu não confio nela e posso me despedir desse frágil primeiro passo em direção a uma amizade que ela está me oferecendo - se é isso o que é.

— Então? — ela pergunta. — Eu não tenho toda a noite. O jantar estará pronto em quarenta minutos.

— Tudo bem — eu digo a ela, decidindo por uma parte do meu corpo que eu posso ficar de olho enquanto ela trabalha.

— Maravilha. O que você quer?

***

Mais tarde naquela noite, com a dor persistente das minhas tatuagens recém-tatuadas me distraindo de dormir, eu tento esquecer as preocupações que assolam minha mente e, em vez disso, me acalmo com técnicas relaxantes de respiração e a imagem do meu pacífico lago.

Não funciona. Quando eu derivo, eventualmente, para a inconsciência, meus sonhos se enchem de fumaça, olhos negros e dentes pontiagudos pingando sangue sobre lábios estranhos e sorridentes. Estou trancada em uma gaiola novamente. Uma mão atravessa as barras e as unhas afiadas raspam minha pele enquanto tento me afastar. As barras desaparecem. Eu estou de costas, meu corpo incapacitado enquanto a fumaça se aproxima. Eu uso toda a minha força tentando fazer meus braços e pernas se moverem, mas uma força invisível me prende. A bruxa se inclina sobre mim, seu cabelo loiro caindo sobre seus olhos negros e sua antiga e gelada risada fragmentando o sonho em mil pedaços de vidro que perfuram meu peito com uma repentina e afiada...

Eu suspiro e tusso enquanto acordo e rolo de lado, pressionando minha mão contra a dor no meu peito. Conforme a dor desaparece e meu coração se aproxima de um ritmo normal, eu me sento. Chase? Eu chamo silenciosamente dentro da minha cabeça, porque geralmente é a primeira coisa que faço quando acordo, não importa que horas sejam. Ele não responde.

Eu olho através do quarto em direção às minhas janelas encantadas. Depois de desembalar a maioria dos meus pertences e me mudar para cá apropriadamente, perguntei a Gaius se poderia pintar as paredes do meu quarto. Pode ser divertido viver dentro de uma montanha, mas eu sinto falta de poder ver o lado de fora. Entre treinar e tentar descobrir como resgatar Chase, eu passei horas lendo partes de meus livros sobre arte, ensinando a mim mesma como pintar as janelas com paisagens que refletissem a hora do dia e o tempo lá fora. Eventualmente, eu consegui. Agora, quando olho para as janelas e desejo poder abri-las para permitir que uma brisa refrescante entre, vejo estrelas cintilando como joias em um céu azul escuro. A manhã ainda não chegou.

Eu chuto as cobertas para longe de mim e saio da cama. Não é o suficiente agora simplesmente ver o lado de fora. Eu preciso respirar o ar fresco. Depois de pegar um cobertor da cama e envolvê-lo em torno de mim, eu visto minhas botas e abro a porta do meu quarto. Minhas botas se amarram conforme eu desço as escadas. Uma roupa estranha, tenho certeza, mas não pretendo que ninguém me veja a essa hora. Eu destranco a porta das fadas no saguão de entrada e caminho até a casa do lago. Eu fico confusa por um momento pela luz que me saúda quando entro na sala de estar, mas é claro; já é manhã aqui. O tamborilar da chuva me saúda enquanto me movo mais para dentro da casa. Eu localizo a chave da porta da frente e caminho para a varanda. Eu respiro longamente, saboreando o cheiro de terra molhada e folhas úmidas. Sento com as costas contra a porta, puxo o cobertor mais apertado em volta dos ombros e penso em todos os pensamentos que estão determinados a me manter acordada.

Amon ainda está preso na Prisão Velazar. Angelica está à solta e seu paradeiro é desconhecido. O mesmo para Zed, que desapareceu depois de tentar matar Victoria. Eu não sei se ainda devemos nos preocupar com ele e seu grupo de odiadores de guardiões. A equipe de Ryn vai conseguir derrotá-los antes de eles tentarem algo contra a Guilda? E então, há a profecia que vai rasgar o véu. Essa visão horrível que minha mãe Viu a muitos anos atrás de bruxas derramando sangue sobre um monumento com tridente sob a lua cheia e usando um grande relâmpago para rasgar o véu. A lua cheia está perto - apenas dois dias depois da festa no Palácio Seelie - mas o Monumento ao Primeiro Rei Mer ainda está seguro, e se pudermos resgatar Chase durante a festa, então ninguém poderá forçá-lo a produzir aquele relâmpago. Estaremos a salvos por mais um mês enquanto tentamos encontrar Angelica.

Eu levanto minhas mãos e olho para os padrões pretos que agora marcam o topo dos meus dedos. Elas curaram enquanto eu dormia. Apenas uma é permanente - a flor que escolhi para o quarto dedo da mão direita; um símbolo da minha primeira missão - enquanto o resto das tatuagens são temporárias. Eu gosto muito delas, no entanto. Padrões simples formados de linhas e pontos. Talvez eu faça permanentemente...

Senhorita Cachinhos Dourados?

Eu sorrio para mim mesma quando a voz de Chase me enche de calor. Oi

Ainda não tenho muita noção do tempo aqui embaixo nesta cela escura. É manhã aí?

Eu inclino minha cabeça contra a porta. Sim e não. Ainda não é de manhã na montanha, mas é na casa do lago. Pesadelos me acordaram. Estou sentada na varanda vendo a chuva agora.

Com o que você estava sonhando?

Bruxas. Fumaça. Sangue.

As coisas agradáveis de sempre, hein?

Eu rio baixinho. Sim. Observo o pesado céu cinzento e as milhares de gotas de chuva que batem na superfície do lago e começo a imaginar uma cena diferente. Eu começo no alto onde as nuvens estão, usando um pincel imaginário para pintar faixas azuis no céu. Deixando de lado a fortaleza em volta da minha mente, vejo a pintura tomando forma, cobrindo a cena do mundo real diante dos meus olhos. Eu termino o céu com vários tons de azul. Eu pinto o lago com prata cintilante. Eu encho o chão com salpicos de verde esmeralda para a grama e magenta e açafrão para as flores. Quando minha criação termina, lembro de quando a vida era tão simples quanto fazer arte, em vez de me preocupar com vilões e o possível fim de nosso mundo. Embora eu não deseje ter essa vida novamente, sinto falta da simplicidade.

A Rainha Seelie veio me ver hoje, diz Chase, interrompendo minha obra de arte. Em um piscar de olhos, acabou.

O quê?

A Rainha Seelie. Minha avó. Eu nunca a vi antes. Ela se foi no momento em que assumi a corte quando eu era Draven. Você sabe, vivo no mundo mágico há mais de dez anos, mas ainda acho estranho associar a palavra ‘avó’ para alguém que não parece mais velha do que eu.

Ela falou com você? Ela... machucou você?

Ela não chegou perto. Ela me observou por um longo tempo. Por fim, ela disse, ‘Veja como você está impotente agora’. Então, ela foi embora.

Como ela sabe que você não é um halfling aleatório com quem Angelica decidiu negociar? Se ela nunca conheceu Draven cara a cara, então ela não sabe como ele é.

Existem outros que confirmaram isso para ela. Alguns dos seus guardas que foram capturados e marcados durante o meu reinado. Eles estavam lá quando fomos emboscados ao lado do monumento Mer. À noite em que eles me levaram. Suponho que a rainha quisesse confirmar que estava realmente pegando o Lorde Draven antes de concordar em libertar sua filha traidora.

Pelo menos você ainda está com o anel.

Sim. Se ela viu, ela não pensou nada suspeito sobre ele.

Eu me pergunto por que ela veio ver você agora. Eu me pergunto se ela está... Visões de todas as coisas terríveis que a rainha pode ter reservado para Chase correm através da minha mente. Eu tento parar meus pensamentos antes que ele possa ouvi-los, mas já estão na superfície. E se chegarmos tarde demais? E se ela estiver planejando fazer algo com você agora antes da festa e nós - Pare. Não. Desculpe. Eu balanço minha cabeça e pressiono minhas mãos contra a minha testa. Eu sinto muito. Eu deveria estar enchendo sua cabeça com pensamentos positivos, não negativos. Nós vamos fazer isso funcionar. Nós vamos tirar você daí. Não tem alternativa porque você significa muito para mim e eu não posso considerar um futuro sem você. Eu respiro fundo e forço meus pensamentos a PARAR antes que eles possam se revelar. Antes que eu possa sobrecarregar Chase como eu me sinto por ele. Podemos conversar sobre tudo isso quando ele estiver em segurança em casa. Podemos falar sobre aqueles últimos momentos no rio de ouro. Aqueles momentos em que mostrei meu coração para ele debaixo de uma chuva de gotículas misturadas com magia antes que um redemoinho nos mergulhasse em uma realidade fria onde tudo deu errado.

Como? Chase pergunta depois de vários momentos de silêncio. Como você conseguiu superar todas as coisas terríveis que eu já fiz e ver a pessoa que eu gostaria de ser?

Ou podemos falar sobre isso agora. Meu coração aperta e acelera um pouco mais rápido, me preparando para compartilhar meus pensamentos mais íntimos. Porque você é essa pessoa agora, eu digo a ele. Não é apenas um desejo. Seu passado fez de você o que você é, e meu coração escolheu essa pessoa. Meu coração escolheu tudo em você.

Senhorita Cachinhos Dourados... Sua voz é um sussurro em minha mente. Meus sonhos deveriam ser preenchidos com o horror desse lugar. A escuridão perpétua, os gritos ecoantes, o raspar metálico das correntes na pedra. Mas em vez disso, eu sonho em beijar você.

Um arrepio percorre meus braços e desejo tanto tê-lo ao meu lado que dói. Sinto meu rosto se contorcer enquanto afasto a dor e escolho pensamentos positivos. Eu tenho que dizer, isso soa como a opção mais agradável, até onde vão os sonhos.

É, ele diz. Eu continuo me lembrando que eles não terão que ser sonhos por muito mais tempo.

Calor se espalha pelo meu pescoço em direção ao meu rosto. Eu gosto do som disso.

Eu, sonolentamente, reinicio minha pintura, pintando o céu de laranja desta vez, antes de Chase dizer, Será que Gaius fez algo mais a respeito de impedir que a profecia aconteça?

O laranja se afasta, misturando-se à chuva antes de desaparecer. Não muito. Nosso foco está em tirar você do Palácio Seelie no momento.

Embora eu seja grato por isso, vocês provavelmente deveriam colocar mais energia em descobrir o que Angelica está fazendo. Ela não perderá tempo agora que está livre.

Provavelmente não. Uma brisa gelada balança meu cabelo. Eu me encolho mais no cobertor. Eu continuo voltando para o porquê, no entanto. Por que ela quer que o véu seja rasgado? Qual seria a vantagem em não ter barreira entre os mundos mágico e não-mágico? Eu ainda não consigo imaginar para quê. Eu sei que existem vários lugares no mundo onde existem... aberturas de algum tipo. Onde fae podem atravessar do nosso reino para o deles e vice-versa. Mas isso é diferente, certo? Se o véu se for... ficaremos com apenas um reino?

Eu não sei o que vai acontecer, diz Chase, mas acho que entendo a motivação de Angelica. Ignorada desde o dia em que nasceu, a filha mais nova de uma rainha sem tempo para ninguém além de seu herdeiro, Angelica sempre quis poder e atenção. Ela foi informada de que ela era um desperdício de sangue real, e ela vem tentando provar a todo mundo que eles estão errados desde então. Ela começou a caçar discos griffin enquanto ainda era uma guardiã aprendiz. Foi ela quem finalmente encontrou o baú contendo o poder de Tharros Mizreth. Eu consumi esse poder no final, e ela fingiu estar satisfeita quando eu governava tudo, mas ela não estava. Ela preferiria ter sido ela na posição de poder do que seu filho. Agora, com a mãe de volta ao trono Seelie, ela tem a oportunidade de passar para outro mundo e governar aquele em vez desse. Eu acredito que é o plano dela.

Eu inclino minha cabeça para trás contra a porta. E Amon? Por que ele quer que isso aconteça? Ele parecia tão quieto e despretensioso. Se ele tinha ambições de poder, por que passou tantos anos como bibliotecário?

Amon... Isso é mais difícil de responder. Eu não tenho certeza se descobri. Comecei a juntar coisas sobre ele depois que percebi que tipo de visitantes ele estava recebendo em Velazar. Essa informação está toda na montanha agora, se você quiser lê-la. Procure no meu quarto em uma das gavetas da escrivaninha. Você encontrará uma pilha de papéis amarrados. Minhas anotações sobre Amon e Angelica.

Obrigada, eu definitivamente... Meus pensamentos param quando eu sinto o barulho de passos se movendo pela casa. Eu me endireito.

Calla? Chase pergunta.

Espere. Eu me imagino como um espaço vazio enquanto rapidamente levanto e me movo para uma das janelas. Espreitando, vejo uma figura ao lado da porta das fadas. Uma figura virando levemente, enfiando a mão no bolso... Eu dou um suspiro de alívio quando o reconheço. É o Kobe, eu digo a Chase quando deixo minha ilusão e abro a porta. — Kobe?

Ele fica tenso quando se vira. — Oh, é você, Calla. — Seus ombros relaxam.

— O que você está fazendo aqui tão cedo? Aconteceu algo?

— Sim — diz ele gravemente. — Acabei de falar com o nosso contato sereiano. O Monumento ao Primeiro Rei Mer se foi.


Capítulo 8

 

— Como diabos alguém roubou essa coisa? — Darius pergunta. — Ele era protegido por magia e pelos sereianos.

— Sem dúvida foi roubado com magia também — resmunga Gaius enquanto caminha pela sala de estar. É quinta-feira de manhã cedo e o resto do time - vários dos quais ainda parecem estar meio adormecidos - estão agora presentes após serem alertados sobre a situação por Kobe.

— Angelica está obviamente por trás disso — eu digo, atravessando a sala até a lareira e levantando minhas mãos em direção ao seu calor. — Ela provavelmente está esperando pela próxima lua cheia.

— Que é daqui a uma semana e meia — diz Gaius, — nos dando pouco tempo depois de resgatar Chase para impedi-la.

— Precisamos informar a Guilda — diz Lumethon. — Uma mensagem anônima. Eu posso enviar agora.

— A Guilda já sabe — diz Kobe. — Meu contato mencionou que vários de seus guardiões estavam envolvidos na proteção da estátua.

— Isso faz sentido — eu digo. — A Guilda sabe tudo sobre a profecia agora por causa da minha mãe. Eles também sabem que a razão pela qual ela foi sequestrada foi porque alguém queria descobrir exatamente o que ela Viu. Ela disse a eles que acreditava ser Amon, já que foi ele quem testemunhou minha mãe e as outras duas aprendizes Videntes quando as visões as atingiram a muito tempo atrás. Eu não sei se eles acreditam nela, mas pelo menos sabem que alguém está tentando rasgar o véu.

— Nós ainda precisamos fazer algo sobre isso, então? — Ana pergunta através de outro bocejo. — Há centenas, senão milhares, de guardiões que podem caçar a pessoa que fez isso - Angelica, obviamente - e pará-la. Eles não precisam que nos envolvamos. Na verdade, nós provavelmente não deveríamos. Somos criminosos aos olhos da Guilda.

Darius aponta um olhar cético em sua direção. — Você realmente acha que esses guardiões são espertos o suficiente para descobrir onde Angelica deixou esta estátua?

— Ei, guardiões não são inúteis — digo a ele. — A maioria deles é realmente muito bom no que fazem.

— Uh huh. É por isso que acabamos deixando faes que quebram a lei em sua porta? Porque são eles que estão fazendo o trabalho deles?

— Não exagere — diz Lumethon. — Nós quase nunca precisamos fazer isso.

— Nossa prioridade ainda é resgatar Chase — diz Gaius, — considerando que a festa vai acontecer antes da lua cheia. Como Ana salientou, talvez nem precisemos nos envolver nessa coisa de profecia. Podemos reavaliar quando tivermos Chase de volta.

— O que nos deixará com apenas dois dias antes da lua cheia — lembra Kobe.

— Sim, mas nos preparamos para missões em muito menos tempo do que isso. Tudo vai ficar bem.

— Então... podemos tomar café da manhã agora? — Ana pergunta. — Ou eu preciso voltar para casa para comer alguma comida antes de ir trabalhar?

— Não, não, há muita comida aqui — diz Gaius, acenando para todos em direção à porta. — Vamos preparar alguma coisa.

Conforme o resto da equipe sai da sala de estar, Gaius faz sinal para eu ficar para trás. — Da próxima vez que você entrar na Guilda — ele diz, — ou talvez amanhã à noite, quando você estiver na casa do seu irmão, veja se consegue descobrir o que a Guilda sabe sobre o monumento. Se eles conseguiram localizar seu paradeiro, seria útil se nós soubermos, caso precisemos agir.

— Sim, claro.

— Oh, e quase me esqueci — acrescenta ele brilhantemente. — Eu descobri o feitiço dos caminhos das fadas.

***

O feitiço que me permitirá seguir o pai de Vi, Kale, através dos caminhos das fadas sem tocá-lo, é um trava-língua. Eu entendo agora por que eles não ensinam nas escolas, já que errar significa vagar potencialmente pela escuridão dos caminhos das fadas por dias, semanas ou até mais. As pessoas saem loucas do outro lado, Gaius diz, enquanto outras nunca saem.

Maravilha. E agora eu tenho menos de dois dias para aperfeiçoar.

Depois de tentar por quase três horas memorizar perfeitamente o feitiço, decido que é hora de um intervalo. Lembrando o que Chase me contou sobre suas anotações sobre Amon, eu saio do meu quarto e caminho até o de Chase para encontrar a pilha de papéis. Depois de pegá-los de uma gaveta, subo as escadas até a estufa no próximo andar. Está chovendo na casa do lago, então esta sala gigante com sua encantada luz do sol filtrada através do teto de vidro encantado é a próxima melhor opção.

Encontro uma velha cadeira enferrujada e a mesa do outro lado da estufa e transformo uma das almofadas sujas e achatadas que Gaius gosta de se ajoelhar em algo mais limpo e fofo. Então me sento, levanto as pernas sobre a mesa e me inclino para trás para ler sobre o cara que parece tão decidido a unir nosso mundo com o humano.

De acordo com as anotações de Chase - eu passo alguns segundos correndo meus dedos, memorizando sua caligrafia antes de ler as palavras - Amon cresceu no Deserto Mitallahn. Ele era estudioso, gostava de ler e aprender, e sua família era muito rica. Seu pai possuía vastas quantidades de terra deserta e mantinha escravos humanos? Eu trago a página para perto do meu rosto para ter certeza de que estou decifrando a caligrafia de Chase corretamente. Sim, definitivamente diz ‘escravos humanos’. Uau, pensei que muitos séculos se passaram desde que alguém fizera isso. Amon viveu uma vida fácil e confortável com sua família no deserto até sua partida abrupta, não planejada, em seus vinte e poucos anos. Ao lado, Chase escreveu ‘PORQUE’, seguido por inúmeros pontos de interrogação. Eu abaixo a página enquanto penso. Talvez Amon se opusesse à ideia de escravizar os humanos, e foi por isso que ele acabou trabalhando em uma Guilda, uma instituição que os protege. Mas por que ele se tornou um espião de Zell, um Príncipe Unseelie que não se importava com humanos?

Eu continuo lendo. As próximas páginas estão repletas de viagens e atividades de Amon antes que começasse a trabalhar em uma Guilda - antes de ficar sem dinheiro, essencialmente. Ele começou como assistente de bibliotecário e avançou para o cargo de bibliotecário-chefe depois de três anos. Chase menciona a inexplicável morte do antigo bibliotecário-chefe com uma nota ‘SUSPEITO’. No entanto, ninguém em Creepy Hollow suspeitava de Amon, já que eles o promoveram e até mesmo o enviavam a outras Guildas para compartilhar seus conhecimentos e habilidades. Uma dessas visitas de trabalho ocorreu na Guilda Estra. Verifico a data, conto o ano em que mamãe deve ter sido uma aprendiz Vidente do primeiro ano e descubro que os anos batem. Deve ter sido onde Amon testemunhou a mamãe Vendo sua visão horrível.

As próximas páginas contêm respostas baseadas no interrogatório de Elizabeth a várias faeries da Corte Unseelie. Presumivelmente, Chase não os questionou porque eles o teriam reconhecido. Eles foram capazes de contar a Elizabeth o ano aproximado em que Amon começou a trabalhar para o Príncipe Zell, e os tipos de informação que Amon passava para ele. Acontece que Amon tinha algum tipo de espião ajudante dentro da Guilda. Uma videira com inteligência mágica chamada Nigel. Eu olho para a página. — Sério? — Eu murmuro. — Ele nomeou uma videira?

Passo para a última página sobre Amon, onde a anotação final de Chase diz, — Feliz em seguir os outros. Nunca mostrou muita inclinação pelo poder. Por que agora? — Por que agora, de fato. Talvez Amon simplesmente se cansou de nunca estar no topo.

A próxima página começa com as anotações de Chase sobre Angelica. Acabo de começar a examinar os detalhes, a maioria dos quais já sei, quando Gaius entra na estufa. Ele se aproxima e me entrega um pedaço de papel com palavras para um pequeno feitiço escrito nele. — Me faça um favor, sim? Escreva essas palavras em algum lugar do seu corpo - em qualquer lugar, não importa - e me fale se você consegue me ouvir falando enquanto estou em outra sala.

— Uh, com certeza. — Encontro minha stylus entre as páginas sobre a mesa e escrevo as palavras no meu braço. Gaius então pega sua stylus e adiciona uma pequena marca ao lado da última palavra. — O que é isso? — Eu pergunto.

— É um feitiço para ouvir a minha voz em oposição a de qualquer outra pessoa. — Ele escreve o mesmo feitiço nas costas da sua mão, em seguida, me pede para adicionar uma marca no final com a minha stylus.

— Perfeito. — Ele sai. Eu me levanto e estico meus braços acima da minha cabeça, então me inclino para tocar meus dedos dos pés. Preciso fazer uso da sala de treinamento no andar de baixo. Com meu treinamento de ilusão e dessensibilização por fobia, passei menos tempo em treinamento físico do que eu...

— Calla, você consegue me ouvir?

Eu me assusto com o som das palavras de Gaius nos meus ouvidos. Eu estava esperando ouvi-lo da mesma maneira que ouço Chase - pensamentos silenciosos dentro da minha mente - mas suas palavras são de alguma forma audíveis. — Sim, eu consigo — eu digo em voz alta. — Você consegue me ouvir?

— Sim. Maravilha. Tudo bem, o experimento acabou. — Ele corre de volta para a estufa e me mostra como remover o feitiço do meu braço. — Você pode voltar ao trabalho agora.

Eu leio as anotações restantes - que detalham o quão ambiciosa Angelica sempre esteve em sua busca por poder - antes de retornar meus esforços para memorizar o feitiço dos caminhos das fadas. Repito várias vezes enquanto entro e saio das várias partes da montanha. A cozinha e a sala de estar, o depósito cheio de móveis antigos, armas quebradas e outros pedaços, a sala de reuniões no andar de baixo, o laboratório de Gaius no andar de cima.

Depois de mais algumas horas, quando a tarde chega ao fim, entro no escritório de Gaius, seguro o livro atrás da costas e recito para ele. — Muito bom, — ele diz quando eu termino. — Quase perfeito. Houve alguma hesitação aqui e ali, que você deve tentar evitar, e algumas palavras que você não pronunciou corretamente. — Ele pega o livro de mim e aponta as palavras que eu pronunciei mal. Ele as enuncia lentamente, me fazendo repetir cada uma até que eu as acerte.

— Você já usou o feitiço antes? — Eu pergunto.

— Um punhado de vezes, há muito tempo. É assim que sei a pronúncia.

— Você já ficou preso dentro dos caminhos?

— Felizmente, não. E você também não vai. — Ele me dá um sorriso encorajador.

— Por que eu tenho que memorizar isso? Como vou ficar invisível, não posso simplesmente ler em voz baixa enquanto sigo o pai de Vi pelos caminhos?

— Humm. — Gaius parece pensativo, como se não tivesse considerado isso antes. — Sim, suponho que você possa ler. Mas se você está invisível, o livro não ficará invisível também? E se você estiver em uma situação em que não tem as palavras com você, é claro que seria útil se você as memorizasse.

— Suponho que sim.

— De qualquer maneira — ele diz enquanto volta sua atenção para o pergaminho que ele estava escrevendo quando eu entrei — será bom para o seu cérebro jovem praticar um exercício para a memória.

Eu arqueio uma sobrancelha. — Meu cérebro jovem?

Ele olha para cima de novo. — Desculpe, isso soou um pouco paternalista, não é?

— Só um pouco. Mas acho que meu cérebro é muito mais jovem que o seu. E na maioria das vezes, você me trata como uma adulta, então... obrigada por isso. Meus pais e meu irmão ainda pensam em mim como uma criança na maior parte do tempo, por isso é revigorante ser tratada de forma diferente.

Gaius arqueia as sobrancelhas. — Como uma criança? Mas seus pais e irmão sabem melhor do que ninguém as coisas pelas quais você passou desde foi levada pelo Príncipe Marzell. E o fardo da sua Habilidade Griffin e ter que começar tudo de novo depois de cada... como você disse que sua mãe os chamava? Incidentes? — Eu concordo. — Diante de tudo isso — continua Gaius, — Eu teria pensado que sua família entenderia isso... bem, você provavelmente deixou de ser criança há muito tempo.

Eu aceno devagar. — Sim. Sempre me senti um pouco assim. — Mas, como não faz sentido insistir no fato de que perdi uma infância normal, afasto minha tristeza momentânea e volto a praticar as palavras do feitiço.

Ana se junta a nós para o jantar novamente, e depois que nós comemos, Gaius me lembra que não fiz nenhum treinamento de ilusão hoje. Nós trabalhamos na distância primeiro, empurrando os limites de quão longe eu posso enviar uma projeção. Quando Gaius e eu tentamos pela primeira vez, eu era capaz de ficar na sala de estar e projetar todo o caminho até a estufa e descendo até a caverna com as gárgulas. Desde então, consegui me esforçar um pouco mais a cada vez.

Nós deixamos a montanha e vamos para a casa do lago. A chuva cessou, mas agora está completamente escuro, com as nuvens cobrindo a luz das estrelas. Gaius e Ana andam pelo lago, usando magia para iluminar o caminho. Uma vez que eles se tornam pequenos pontos à distância, eu forço meus pensamentos neles. Imagens de flocos de neve caindo e humanos patinando e girando em cima de um lago congelado.

Quando começo a me sentir esgotada, voltamos para casa. Eu suponho que terminei por essa noite, mas Gaius sugere que eu tente ilusões simultâneas novamente. Sento na sala de estar e tento com cada partícula da minha concentração dirigir uma imagem imaginária em Gaius e outra sobre Ana, mas é como dividir minha mente pela metade. Eu não consigo imaginar duas cenas separadas ao mesmo tempo. Gaius e Ana acabam vendo a mesma coisa, ou veem algo diferente, mas as imagens são tão obscuras que nenhum deles consegue descobrir o que estou tentando mostrar.

Depois de mais ou menos uma hora, caio de costas contra as almofadas da poltrona enquanto a exaustão me consome. — Por favor, podemos parar agora — eu digo, soando um pouco sem fôlego, apesar do fato de que eu não tenho me movimentado. Eu pressiono uma mão contra a minha cabeça latejando.

— Sim, claro — diz Gaius. — Peço desculpas. Eu não percebi que isso estava drenando sua energia. — Eu descarto suas palavras, tentando dizer a ele que está tudo bem sem precisar usar as palavras na verdade. — Você está indo bem — ele acrescenta. — É a primeira vez que você conseguiu projetar duas imagens diferentes, mesmo que elas estejam confusas e sem forma.

— Não tenho certeza se isso conta — murmuro de olhos fechados. O uso extensivo da minha Habilidade Griffin normalmente me deixa cansada, mas isso é pior do que o normal. Provavelmente, porque eu usei muito poder cerebral na memorização complexa de feitiços hoje.

— Conta sim — garante Gaius. — E você continuará melhorando conforme praticar.

O pensamento de praticar mais ainda faz minha cabeça querer explodir, então eu digo boa noite para Gaius e Ana. Enquanto me arrasto para cima, percebo que na verdade não perguntei a Ryn se eu posso ir amanhã à noite. Eu me jogo na minha cama e pego meu antigo âmbar e stylus. Eu rabisco as palavras, Posso me juntar a vocês amanhã à noite quando o pai de Vi vir visitar? Perry encontrou uma maneira de me proteger do feitiço de detecção que a Guilda colocou em sua casa.

Meus olhos se fecham e estou quase dormindo quando o âmbar formiga na minha mão. Eu abro um olho e leio a resposta de Ryn, Tem certeza de que é seguro?

Nós testamos na casa do Perry. Nenhum guardião apareceu.

Isso é ótimo. Sim, você pode vir. Fique se quiser.

Eu não respondo a última mensagem. Se tudo correr conforme o planejado, vou seguir Kale até a Corte Seelie em vez de dormir na casa de Ryn.


Capítulo 9

 

Repito o feitiço dos caminhos das fadas mais uma vez antes de levantar a aldrava na árvore de Ryn e bater nela algumas vezes. Uma porta se funde com Ryn de pé do outro lado. Seu olhar passa por mim, examina a floresta antes de voltar para mim. — Tem certeza de que é seguro cruzar esse limite?

— Eu não arriscaria colocar você e sua família em problemas, então sim. Eu tenho certeza. — Eu fiquei na frente de um espelho na montanha alguns minutos atrás, observando a nuvem de poeira brilhante girar acima da minha cabeça e depois descer sobre o meu corpo.

Ryn recua. — Entre.

Eu entro e paro por um segundo, apenas no caso de ter feito algo errado com o feitiço de escudo. Mas se ativei o alarme, não saberemos até que um guardião bata na porta aqui, então eu posso relaxar por enquanto. Eu tiro meu capuz e caminho pelo corredor até a sala de estar.

— O que é isso em seus dedos? — Ryn pergunta enquanto me segue.

— Hmm? Oh. Tatuagens. — Eu quase acrescento que é uma tradição - que essas marcas significam minha primeira missão concluída com sucesso - mas Ryn não deve saber nada sobre o que a equipe de Chase está fazendo. — Agora sou amiga de mais de um tatuador, então decidi que era hora de umas tatuagens — digo em vez disso. Eu levanto minhas mãos e mostro meus dedos. — Você gostou?

— Eu gosto, na verdade. Elas são muito legais. Olhe para você, minha irmãzinha, durona e tatuada. — Ele coloca o braço em volta dos meus ombros e me dá um abraço de lado enquanto caminhamos para a sala onde Vi está andando lentamente com uma Victoria dormindo pressionada contra o seu peito.

— Como ela está? — Eu pergunto enquanto Vi coloca Victoria em meus braços e se dirige para a cozinha.

— Melhor, eu acho — ela fala para mim através da porta aberta. — Ela mal chorou desde que Farah deu a ela aquela mistura de frutas. Não sei se eu deveria estar preocupada com a ausência de choro agora...

Eu olho para Ryn e ele dá de ombros e balança a cabeça. — Ela se preocupa com tudo agora — ele sussurra.

— O que você quer beber? — Vi pergunta. — Temos maçã com mel e frutas espelhadas brilhantes.

— Maçã com mel, por favor. — Ryn olha seu âmbar enquanto eu me sento no sofá e descanso meu braço em uma almofada estofada. Filigree voa para o sofá como uma coruja e se transforma na forma de esquilo antes de rastejar pelos meus ombros, pulando atrás de mim, e se aninhando contra o meu lado. — Oi, Fili, — eu sussurro para ele. — Você não está recebendo atenção suficiente hoje em dia? — Eu coço sua cabeça peluda antes de retornar meu olhar para Victoria. Eu a observo franzindo a testa em seu sono, sua testa se enrugando enquanto ela inconscientemente faz as expressões mais estranhas.

— Aqui está — diz Vi, voltando para a sala e colocando um copo de suco verde e dourado em camadas na mesa baixa antes de se sentar ao meu lado. — Eu provavelmente não precisava dar a você uma escolha. Você sempre escolhe maçã com mel.

— Ei, talvez um dia eu te surpreenda — eu digo com um sorriso.

— Eu sinto muito — diz Ryn, guardando seu âmbar. — Eu tenho que voltar a trabalhar um pouco.

— O quê? — Vi se inclina para frente. — Mas meu pai estará aqui em breve. Eu pensei que você tinha certeza que iria folgar esta noite.

— Eu achei que sim, mas isso não foi planejado. Espero que seja rápido. É... — Ele olha para mim, depois de volta para Vi. — Falo sobre isso quando eu voltar. — Ele sai através de um portal, e Vi se inclina contra o sofá, observando Victoria com um sorriso cansado.

— Então, você realmente acha que ela está melhorando? — Eu pergunto.

— Bem, ela está muito mais calma agora. — Ela hesita. — Calma demais na verdade.

Algo em seu tom me faz perguntar — Calma demais?

Vi geme. — Eu não sei. É como se ela agora estivesse mole e letárgica em vez de se contorcendo e infeliz. Eu continuo dizendo a mim mesma que em algum momento eu tenho que parar de me preocupar tanto. É só que... eu nunca pensei que amaria alguém tanto quanto eu amo Ryn - e não é como se isso fosse diminuir. É como se meu coração se expandisse e minhas prioridades mudassem e agora tudo gira em torno dela. — Ela cutuca os pezinhos de Victoria através de seu cobertor. — Nada nunca significou tanto para mim. Ela é o foco, e eu ainda estou tentando descobrir como colocar todas as outras partes da minha vida ao seu redor.

— Bem, pelo menos você não é mais uma workaholic — eu brinco.

— Sim, cura instantânea — diz ela com uma risada. Sua expressão lentamente se torna séria mais uma vez. — Ainda me pergunto sobre a cor dela. Nós não vimos nenhuma mudança em dias. Mas então, algumas fadas têm castanho como sua cor secundária. É raro, mas talvez seja assim com ela.

— Talvez — eu digo, pensando no cabelo cor de ébano e castanho de Gemma. — E a marca de nascença?

— Desaparecendo um pouco mais a cada dia. — Na mesa ao lado da minha bebida, seu âmbar vibra. Ela se inclina para frente e lê a mensagem. — Oh, brilhante — ela geme, descansando a cabeça nas mãos. — Esta noite fica melhor e melhor.

— O que aconteceu?

— Meu pai não vem mais.

Meu coração despenca enquanto nosso precário plano sobre a Corte Seelie desmorona. — Por que não?

— Ele tem estado tão ocupado ultimamente com alguma coisa que deveria terminar hoje, mas aparentemente está demorando mais do que o esperado. Ele disse que pode chegar aqui amanhã de manhã.

— Oh, tudo bem. — Então eu ainda posso ter a minha chance. Ainda bem que Ryn disse que eu poderia ficar por aqui se quisesse.

— De qualquer forma, agora temos esse maravilhoso jantar e só nós duas aqui para comê-lo. — Ela pega sua stylus da mesa, senta-se contra as almofadas e escreve em toda a superfície do âmbar. — Também posso convidar outras pessoas.

Vinte minutos depois, os amigos de Vi, Flint e Raven, chegam com seu filho Dash. — Isso foi rápido — diz Vi enquanto ela os deixa entrar.

— Você mencionou comida — diz Flint, — então eu não perdi tempo.

Raven revira os olhos. — Você juraria que ele nunca come. Ah, oi, Calla. — Ela atravessa a sala e se junta a mim no sofá com Dash, que deve estar perto de cinco meses agora. — Eu pensei que você não poderia entrar nesta casa sem ativar algum tipo de alarme na Guilda. Eles removeram esse feitiço?

— Não, mas um amigo meu criou um contra-feitiço. Então, aqui estou continuando a quebrar a lei.

— Oh, que maravilha. Não quebrar a lei, é claro. É maravilhoso poder visitar sua família enquanto a Guilda descobre quem realmente causou essa bagunça da doença de dragão.

— Sim. Enfim, o que Dash acha de Victoria?

— Uh, ele bateu no rosto dela algumas vezes — diz Raven com um olhar culpado na direção de Vi. — Mas foi acidental, eu prometo. Ele só queria ficar mais perto dela.

— Eu sei — diz Vi com um sorriso, observando os dois bebês.

— Acidental, minha bunda — comenta Flint enquanto caminha pela sala com uma enorme bolsa de bebê sendo arrastada pelo ar atrás dele. — Você sabe como os meninos são. Sempre provocando as garotas que eles gostam.

Raven joga a cabeça para trás e ri. — Um pouco cedo para isso, não é?

— Só um pouco — diz Vi. — Dê-lhes mais alguns anos antes de você começar a brincar de casamenteiro, Flint.

— Ele definitivamente é fascinado por ela, no entanto — Raven diz, permitindo que o garotinho suba e desça em seu colo enquanto ele ri e alcança seu rosto. — Ela estava se contorcendo dormindo no outro dia e Dash olhou para ela por muito tempo.

— É porque minha princesinha é muito bonita — diz Vi, rindo enquanto se inclina para tirar Victoria de mim. — Os meninos não conseguem não olhar para ela.

— Deve ser isso — diz Raven.

Vi se move para as escadas. — Vou colocá-la na cama agora. Ela está dormindo muito bem, apesar de toda a nossa tagarelice, então espero que ela durma enquanto jantamos.

— Eu preciso colocar esse pequenino também — diz Raven, levantando e seguindo Vi. — Pode ser um desafio. Posso colocá-lo no escritório aqui embaixo? Eu não quero que ele acorde Victoria se começar a chorar.

— Sim, tudo bem — diz Vi.

— Boa sorte — eu falo para Raven enquanto ela sai da sala com a bolsa de bebê flutuando atrás dela.

Flint e eu vamos para a sala de jantar e preparamos a mesa para o jantar. Filigree se transforma em forma de gato e me segue, esfregando-se contra as minhas pernas toda vez que fico parada. — Eu sinto que devo estar colocando você em uma posição difícil — eu digo para Flint. — Sendo um guardião da Guilda, você provavelmente está lutando contra o desejo de me prender.

— Criminosos são os únicos fae que eu tenho vontade de prender, e você não se encaixa nessa categoria. — Ele coloca o último garfo na mesa e recua. — Eu nunca concordei com a Lista Griffin, então eu entendo perfeitamente por que você não adicionou seu nome a ela, e sei que você não matou sua colega de classe e espalhou uma doença mortal por toda a Guilda.

Eu sorrio para ele. — Obrigada.

Vi volta para o andar de baixo. Quando Raven eventualmente se junta a nós, começamos o jantar. Estamos na metade da refeição quando Ryn volta para casa. Ele se senta à mesa sem pegar comida na cozinha, balançando a cabeça quando Vi pergunta se ela pode servir para ele. — Más notícias — diz ele. Ele se concentra em mim e acrescenta, — Notícias muito ruins.

Eu solto meu garfo enquanto minhas entranhas se contorcem de apreensão. — O quê? O que aconteceu?

— Papai... foi preso.

— O que? A Guilda só iniciou sua investigação há dois dias.

Raven cobre sua boca e Flint xinga sob sua respiração. — Eles descobriram os subornos — diz Ryn. — Eles o prenderam imediatamente enquanto continuam a investigação. Você sabe o quão rigorosos eles são sobre qualquer coisa relacionada à Lista Griffin. Muito rigorosos, em minha opinião, mas... essa é a lei.

Eu empurro meu prato para longe e pressiono as palmas das minhas mãos sobre os olhos. Eu balanço minha cabeça. — Isso é tudo...

— Pare — diz Ryn. — Então... Sim, sabemos que ele fez isso por você, mas ainda era uma escolha dele. Você nunca pediu a ele para fazer nada.

— Não, mas eu ainda tenho que viver sabendo que ele está na prisão por minha causa. — Eu abaixo minhas mãos. — Eu enviei meu próprio pai para a prisão.

Ninguém responde, provavelmente porque todos sabem que é verdade. Eu olho para o meu prato, me sentindo mal ao pensar em tentar terminar a comida.

— Ele será mantido na área de detenção da Guilda por enquanto — diz Ryn calmamente.

— Se as notícias vazarem sobre por que ele foi preso, pode haver protestos anti Lista Griffin novamente — diz Vi. — Assim como nos últimos tempos.

— Talvez — diz Ryn. — Ou talvez não. Se todos acreditarem que a pessoa Dotada que o papai estava protegendo é a responsável pela doença de dragão que ameaçou tantas vidas, aqueles que estão lutando contra a lista provavelmente ficarão quietos.

Eu empurro minha cadeira para trás, surpreendendo Filigree, que deve ter ficado deitado nas minhas pernas por debaixo da mesa. Ele se torna um pardal e sai da sala enquanto eu levanto e começo a andar. Minha garganta aperta quando seguro as lágrimas. Papai está na prisão, eu digo para o Chase. Mamãe está na prisão. Você está na prisão - bem, pior; mais como uma câmara de tortura. Eu sei que deveria pensar positivo, mas está ficando muito difícil.

Sem resposta. Eu suponho que ele deve estar dormindo, mas então eu ouço sua voz. Nada disso vai durar para sempre.

Eu acho que não, mas isso não me faz sentir melhor.

Eu sei. Não me faz sentir melhor também.

Eu alcanço a borda da sala e me viro novamente. Eu cerro meus punhos e solto um gemido. Por que tudo tem que dar errado ao mesmo tempo?

— Cal, por favor, sente-se — diz Ryn calmamente. — Você andando não está ajudando.

O restante do jantar é acompanhado por conversas artificiais, e quando Dash começa a chorar, Raven diz que é provavelmente melhor que eles voltem para casa. Depois que eles vão embora, eu caio no sofá e fecho os olhos. Eu tento acreditar que tudo acabará bem. Ryn se joga contra as almofadas ao meu lado e envolve um braço em volta dos meus ombros. — Eu não vou tentar convencê-la de que a vida não é ruim agora, porque sei que isso acontece. Por vários motivos. Você quer ficar aqui hoje à noite?

Eu inclino minha cabeça contra seu ombro e concordo. — Sim. Obrigada. — Eu preciso me concentrar no feitiço dos caminhos das fadas e no fato de que eu posso ter a chance de usá-lo amanhã de manhã. Eu posso não ser capaz de ajudar mamãe e papai, mas com certeza vou poder ajudar Chase.

Esse é o espírito, Chase diz baixinho em minha mente.

Um meio sorriso encontra o caminho em meus lábios. Meus pensamentos estão escapando de novo?

Você está cansada, ele diz. Você sempre fica menos cautelosa quando está cansada.

Vi chama Ryn para ajudá-la com alguma coisa. Ele sobe as escadas enquanto eu pego cobertores e travesseiros do armário no corredor. Eu costumava dormir no quarto de hóspedes no andar de cima quando eu ficava aqui, mas aquele quarto é o berçário da Victoria agora. Depois de usar a sala de banho, eu me aconchego no sofá debaixo dos cobertores e penso no meu plano para amanhã. Se Kale vier visitá-los - e ele tem que vir, já que não temos outra maneira de chegar a Corte Seelie - eu ficarei por aqui até ele ir embora. Eu não sei quanto tempo à jornada até o palácio demorará, mas vou segui-lo por todo o caminho. Uma vez feito, vou considerar arriscar visitar meu pai ou não. Na semana passada eu não teria hesitado, mas estou muito mais cautelosa agora que fui flagrada em um dispositivo de vigilância.

Adormeço com uma série de imagens da Guilda e do Papai e de um palácio que eu apenas imaginei passando pela minha cabeça.

***

Em uma hora indefinida da noite, um grito de cortar o coração rasga o ar. Eu acordo com um solavanco, meu coração batendo no meu peito. O grito continua e continua, coagulando meu sangue como nada que eu já tenha ouvido antes. Eu me jogo do sofá e subo as escadas enquanto um terror gelado fecha seu punho em volta do meu coração.


Capítulo 10

 

Ela morreu dormindo. Os curandeiros dizem que ela não sentiu nenhuma dor, mas como eles podem saber se nem sabem o que causou a morte dela? Eu sei, no entanto... no fundo da minha mente, a verdade sobre o que aconteceu com Victoria está lá, escondida e espreitando como uma fera horrível e terrível esperando por mim para enfrentá-la, para reconhecê-la.

Eu me recuso a olhar.

Horas depois de acontecer, à luz pálida da manhã, quando membros da família e amigos próximos começam a chegar, eu ainda estou encolhida atrás da porta da cozinha, fora de vista e tentando manter o horror à distância. Ainda posso ouvir o grito de Violet. É um som que eu nunca vou esquecer, não até o dia que eu morrer. Arrepia os cabelos nos meus braços toda vez que penso nisso. A cena horrível continua se repetindo na minha cabeça: Violet ajoelhada no chão do berçário, os gritos aterrorizados de Ryn - Peça ajuda! Peça ajuda agora! Estou correndo para o quarto deles e procurando o espelho mais próximo, fazendo uma ligação de emergência e não me importando com quem via meu rosto. Então tropeçando para o andar de baixo para a cozinha e me escondendo com a ilusão de invisibilidade enquanto os curandeiros corriam para dentro da casa. Ryn gritando com eles em uma fúria de partir o coração para saírem de uma vez quando ficou claro que eles não podiam fazer nada por Victoria.

Mais uma vez, a cena é reproduzida do começo ao fim. De novo e de novo e de novo.

Vi ficou em silêncio desde o momento em que parou de gritar. Eu tenho mordido meus punhos, permitindo que minhas lágrimas caiam em silêncio, esperando pelos sons do luto. Lamentos, gemidos, choros, alguma coisa. Mas eu não escuto nada.

O silêncio é pior.

A primeira voz que ouço pertence à Zinnia, mãe de Ryn. Eu ouço a de Ryn também, então, e o som de seus soluços de partir o coração. Eu mordo mais meus punhos, saboreando a dor enquanto meus dentes machucam a pele. Ryn fica quieto quando Flint e Raven chegam. É a vez de Raven chorar. Então eu ouço Jamon, outro amigo próximo de Vi e Ryn, e por último Kale, o pai de Vi. Eu deveria... Eu deveria estar... Mas não consigo nem pensar em segui-lo pelos caminhos das fadas quando ele vai embora. Não quando tudo o que posso pensar é naquele corpo minúsculo e sem vida no andar de cima.

Ninguém mais chega. Meu pai deveria estar aqui também, é claro, se a Guilda não o tivesse prendido na noite passada. Pessoas estúpidas e odiosas. Eles não sabem o que aconteceu? Eles não se importam? Mas talvez seja melhor que ele não esteja aqui. Ele e Kale mal conseguem ficar na mesma sala hoje em dia, e a situação provavelmente é tensa o suficiente com Zinnia e Kale aqui. A mãe de Ryn e o pai de Vi. Eles ficaram juntos por um tempo depois Da Destruição - algo que eu era jovem demais para perceber na época - mas não durou. E agora três pessoas que foram amigas durante anos, que eram avós de Victoria e que deveriam estar se ajudando durante esse período, mal conseguem suportar a presença umas das outras.

As vozes ficam mais altas. Discussões sobre o que poderia ter acontecido com ela e o que fazer agora. Começo a desejar o silêncio novamente porque tudo isso - toda essa tagarelice - parece irrelevante de alguma forma. É claro que eu não sou a única que se sente assim, porque eventualmente eu ouço a voz de Ryn, aumentando, mas tão frágil quanto se estivesse prestes a quebrar. — Todo mundo. Para. Fora.

As vozes se calam e Zinnia diz baixinho — Ryn...

— Saia! — Ele grita. — Eu não posso fazer isso agora!

Eu ouço murmúrios e pés sendo arrastados, e as coisas estão quase quietas mais uma vez quando uma voz que não reconheço diz, — Uh, bom dia, Sr. Larkenwood. Lamento fazer isso com você, mas recebemos a notícia de que sua irmã, uma fugitiva da Guilda, foi vista aqui...

— SAIA DA MINHA CASA!

Meu corpo se assusta quando algo bate contra a parede. Algo que quebra e chove no chão em milhares de pedaços tilintantes.

Então silêncio.

Mais silêncio.

Eventualmente, eu solto a respiração que não sabia que estava segurando. Eu me forço a continuar respirando enquanto levanto lentamente. Meu corpo dói de ficar sentado na mesma posição por tanto tempo. Eu passo em silêncio pela porta da cozinha e olho para a sala de estar. Ryn está sentado no braço de um sofá, olhando para o chão.

— Ryn? — Eu digo com cuidado enquanto dou alguns passos para dentro da sala.

Silêncio.

Eu continuo andando, como se estivesse me aproximando de um animal perigoso. Quando chego ao seu lado, ele continua olhando para o chão e diz, — Pedi a todos que saíssem, Calla. Isso inclui você.

— Eu sei... eu só...

Suas mãos se fecham em punhos de repente em seus joelhos enquanto ele fala suas próximas palavras. — Eu estou realmente tentando não lembrar de sua parte em tudo isso.

— M-minha parte? — A besta circula mais perto. Meu peito se contrai. Eu acho que nunca me senti tão doente.

— Todos nós sabemos quem fez isso e todos sabemos que ele ainda estaria atrás das grades se você não o tivesse libertado.

Suas palavras são o último golpe esmagador que me força a ficar de joelhos na frente da besta. Eu estou olhando diretamente para seus insondáveis olhos negros, cheios de nada além da verdade sombria e horrível do que fiz. — Ryn, eu, eu sin — Minhas palavras alcançam as lágrimas que eu estou tentando segurar. — Eu sin, sin...

— VÁ! — Ele grita. — Eu não quero sentir sua culpa! Eu não quero sentir nada!

Eu acabo na floresta, caindo cegamente através de folhas e trepadeiras e sobre raízes e galhos caídos, como se pudesse escapar do monstro na minha cabeça. Mas há cada passo do caminho, uma sombra da qual nunca vou poder me livrar, um lembrete pelo resto da minha vida do sofrimento indescritível que eu causei.


Capítulo 11

 

Cerca de uma hora depois, estou enrolada em um canto escuro da sala de estar da casa do lago, as lágrimas continuam molhando minhas bochechas como uma torneira que não pode ser fechada. Eu não voltei para a montanha. Eu não posso enfrentar e explicar o que aconteceu e ter que dizer a todos que a nossa única chance de encontrar um caminho para a Corte Seelie desapareceu. Mas Chase... é mais fácil de explicar para ele porque eu não tenho que dizer nenhuma palavra. Então, quando ele acorda em sua cela escura e chama meu nome, eu me encolho ainda mais em meu canto escuro e deixo cada pensamento agonizante sair da minha mente e entrar na sua.

Eu gostaria de poder estar aí para você, ele diz quando eu termino. Eu gostaria de poder te abraçar e beijar seu cabelo e te dizer que entendo o tipo de dor que você está sentindo.

Eu balanço minha cabeça porque eu desejo por isso também, sei que não mereço qualquer conforto. Meu irmão sempre fez tudo o que pode por mim - até arriscou sua vida por mim - e como eu paguei? Fazendo sua filha ser morta. Ele nunca me perdoará por isso.

Ele vai. Pode demorar um tempo, mas um dia ele...

Ele não vai. E ele não deveria. Isso não é algo pelo que eu deveria ser perdoada.

Não diga isso. Não foi você quem fez isso.

Eu posso muito bem ter feito!

Pare com isso. Você não pode se odiar para sempre. Isso só leva a...

PARE! Eu puxo o anel e o arremesso através da sala, o que me faz me odiar ainda mais. Chase está apenas tentando ajudar, e agora eu provavelmente o machuquei também. Eu limpo minhas lágrimas, me levanto e pego o anel do outro lado da sala. Ele fica na palma da minha mão por mais alguns instantes enquanto eu luto com a besta que fede a culpa em uma gaiola nos lugares mais distantes na minha mente. Então eu coloco o anel no meu bolso.

Eu olho cegamente para o assoalho, minhas mãos fechadas em punhos ao meu lado enquanto meu cérebro começa a funcionar novamente. Se eu deveria me odiar ou não, é discutível, mas há outra pessoa que eu definitivamente posso odiar: Zed. Ele me enganou me fazendo pensar que não fez nada com Victoria. Ela está bem, eu juro, foi o que ele disse. Mas ele estava mentindo. Ele fez alguma coisa, realizou algum tipo de feitiço ou lhe deu uma poção ou a amaldiçoou. Algo que a enfraqueceu lentamente e causou sua morte. Ele deve ter tido ajuda, no entanto. Zed não fez nada recentemente sem a ajuda de alguém mais poderoso.

Primeiro, ele estava com Amon, porque sabia que o ex-braço direito e espião de Draven odiaria a Guilda tanto quanto ele. Mas Amon estava trancado atrás das grades e não podia ajudar Zed diretamente, então ele deve ter enviado Zed para as bruxas. Eu sei que foram elas que deram a Zed o feitiço da doença de dragão, o que significa que elas provavelmente o ajudaram com qualquer feitiço que causou a morte lenta de Victoria.

Zed sumiu e não tenho ideia de como encontrá-lo, mas as bruxas... as bruxas fizeram essa mágica, e eu sei exatamente onde elas estão. Talvez não consiga fazer Zed pagar pelo que ele fez, mas vou me certificar de que aquelas bruxas se arrependam do dia em que decidiram ajudá-lo.

 

***

Eu vou para a montanha e me armo com várias armas antes de ir para o Subterrâneo. É perigoso naqueles túneis para uma faerie que se parece com uma guardiã, mas não me importo. Na verdade, dou boas-vindas para o possível perigo. Tente alguma coisa, eu sussurro em minha mente para o par de homens reptilianos que estreitam os olhos para mim quando eu passo. Para o homem de capuz com os olhos vermelhos brilhantes. Tente alguma coisa. Eu desafio você. Mas eu chego à área dos túneis onde a Wickedly Inked ficava uma vez, onde as bruxas agora têm sua loja, sem incidentes. Eu ando corajosamente até a entrada...

E encontro uma sala escura e vazia.

Meu grito de frustração é quase um grunhido. É claro que isso não será tão fácil quanto eu esperava, mas me recuso a ser derrotada. Alguém deve saber para onde aquelas duas bruxas foram. Alguém deve ter visto ou ouvido alguma coisa. Começo minha busca pelos túneis amplos e sinuosos, entrando em cada bar, em cada loja, em cada área que não parece uma residência particular. Não descubro nada e, em vários lugares, acabo lutando para sair com a ajuda de uma ilusão. No meu atual estado de espírito, no entanto, não me importo particularmente. Socos e chutes parecem excelentes saídas para minha dor reprimida.

Eventualmente, eu chego ao Clube Deviant, o lugar de propriedade do drakoni que a equipe de Ryn prendeu recentemente. O drakoni que conhece Zed. Ele pode não estar por perto para eu interrogar, mas talvez quem quer que esteja gerenciando este lugar agora talvez tenha informações que eu possa usar. O clube está quase vazio, devido ao fato de que é meio dia. Uma fumaça paira no ar, no entanto. Eu duvido que ela saía. Eu ando até a área do bar e me sento. O elfo encostado no balcão atrás do bar abre um olho sonolento e olha para mim. — Mm? — Ele resmunga.

— Estou aqui para ver quem está no comando.

— Eu duvido que ele queira ver você — o elfo diz, fazendo um esforço para abrir ambos os olhos para que possa arrastá-los para baixo sobre o meu corpo e voltar para cima. — Ou talvez ele queira. Volte hoje à noite e você descobrirá.

— Eu não vou voltar hoje à noite. Estou procurando informações sobre um cara chamado Zed e quero agora.

O elfo se inclina para frente sobre o balcão, perto o suficiente para que eu possa ver o brilho cintilante em seu cabelo preto liso. — Você quer agora? Oh, bem, se você quer, então é claro que você pode conseguir. É assim que o mundo funciona, certo?

— Eu não tenho tempo para o seu sarcasmo.

Com a velocidade da luz, sua mão pisca para frente e agarra meu braço. — E eu não tenho tempo para o seu direito de faerie. Acha que pode entrar aqui e exigir o que quiser? Pense de novo, querida. Ninguém - e eu quero dizer absolutamente ninguém - neste clube vai lhe dar qualquer informação sobre qualquer coisa. E antes que eu te expulse daqui, vou te ensinar um...

— O que está acontecendo aqui? — Pergunta uma voz sensual. Uma mão feminina serpenteia ao redor do antebraço do elfo. Seu aperto em mim se solta imediatamente. Ele respira fundo e tenta se mover para trás, mas a mulher ao meu lado - a mulher que agora reconheço – o puxa para mais perto. Enquanto ele se inclina para longe do bar, ofegante, ela sussurra — Você não quer nenhum problema, quer, Lucimar?

— Não, não, cla... claro que não. — Ele balança a cabeça e ela o solta. Ele cai para trás, agarrando sua garganta e quase derrubando uma fileira de garrafas coloridas para trás do balcão.

— Você não quer estar aqui — a mulher que é parte sereia diz a ele.

— Eu... eu não quero estar aqui. — Ele se empurra para longe do balcão e cambaleia por um corredor até as salas dos fundos no clube.

A mulher gira em sua cadeira para me encarar e cruza uma perna sobre a outra. Vestindo um vestido justo, um casaco comprido e saltos, ela está tão glamorosa hoje quanto em todas as outras vezes que a vi. — Procurando problemas, Calla?

— Elizabeth — eu digo uniformemente. — Ou Scarlett? Eu nunca perguntei qual nome devo usar.

Ela levanta um ombro. — Não importa. Eu respondo a ambos os nomes hoje em dia.

— Bem, Elizabeth. — Eu levanto. — Sim, estou à procura de problemas e até agora não consegui encontrar. Então, conforme eu aprecio você interferindo em uma situação que eu estava completamente controlando, preciso continuar procurando.

Ela ri enquanto me afasto. — Que maneira divertida de passar o tempo. Talvez eu possa participar da sua busca por problemas. Chase provavelmente não gosta da ideia de você caçando sozinha.

Chase não sabe, eu admito silenciosamente. — Não, a menos que você possa me ajudar a encontrar um faerie chamado Zed ou as bruxas que desapareceram do Subterrâneo em algum momento na semana passada. — Se ela não passou na montanha ainda para oferecer sua ajuda com o plano de resgatar Chase, então eu duvido que ela queira me ajudar. Eu não trabalho bem com outros, ela disse uma vez para Chase.

— Bruxas? — Elizabeth repete, colocando uma luva em sua mão nua. — Desde quando há bruxas por aqui? Elas sabem que não são bem-vindas nesta parte do mundo.

— Eu não sei — eu digo enquanto me afasto. — Eu só preciso encontrá-las.

— Ei — ela fala atrás de mim. — Você sabe seus nomes?

Eu paro e olho para ela. — Não.

Ela desliza do banquinho e caminha em minha direção. — Felizmente para você e seus problemas de caça, eu ainda posso ser capaz de ajudá-la. — Eu a sigo para fora do clube para um túnel escuro onde ela me pede para dizer a ela onde eu vi as bruxas pela última vez. Quando menciono que elas tinham uma loja aqui onde vendiam suas mercadorias, ela parece satisfeita. — Se elas ocuparam esse espaço por mais de algumas horas, elas definitivamente deixaram vestígios de sua magia. — Ela me diz para encontrá-la lá em meia hora. Ela desaparece nos caminhos das fadas e eu me viro para vagar de volta pelos túneis. Eu poderia ir direto para a loja pelos caminhos, é claro, mas então eu teria que esperar por Elizabeth. E esperar significa que teria que ocupar minha mente com alguma coisa – alguma coisa que, sem dúvida, seria engolida pela besta da culpa que se concentra na gaiola em que minha mente a trancou.

Eu me concentro intensamente em tudo que vejo e em todos por quem passo enquanto ando pelos túneis. Qualquer coisa para me impedir de ceder à culpa que quer me consumir. No final, chego à sala vazia no Subterrâneo apenas um minuto ou dois antes de Elizabeth. Eu acabo de terminar de lançar uma orbita de luz quando ouço seus passos do lado de fora. Eu envio a luz flutuante até o teto enquanto ela para na porta com um livro debaixo do braço e olha em volta. — Muito vazia — ela murmura. — Eu sabia que Chase saiu daqui depois que você descobriu sua verdadeira identidade. Ele mencionou um encontro breve e desagradável com o novo ocupante deste espaço, mas esqueceu de mencionar que era uma bruxa.

— Foi uma surpresa desagradável encontrar essas mulheres aqui — eu digo, lembrando do dia em que vim procurar por Chase.

Elizabeth entra na sala e caminha pela borda, passando a mão pelas paredes de pedra. Perto do fundo da sala, ao lado de uma porta que leva a uma segunda sala menor, ela faz uma pausa, passando os dedos por sulcos fracos que mal consigo ver. — Sim — ela sussurra. — Elas definitivamente deixaram traços de si aqui.

Ela se vira e vai para o centro da sala, tira seus sapatos de salto altos e se senta no chão. Apesar de seu vestido apertado, ela consegue parecer graciosa e elegante enquanto enfia as pernas por baixo do corpo. Ela coloca o livro no chão em frente a ela, remove um anel adornado de um compartimento entalhado nas páginas de trás e vira para uma página específica. Então remove um espelho do bolso do casaco. — Devo me sentar? — Eu pergunto enquanto ela lentamente aumenta o espelho, persuadindo-o a um tamanho grande o suficiente para mostrar uma cabeça e os ombros.

— Sim. Sente-se ali — ela diz, acenando para o espaço do outro lado do livro. Ela coloca o espelho ao lado dele, tira uma das luvas e coloca o anel. Quando me sento com as pernas cruzadas debaixo de mim, ela começa a ler o livro. As palavras não soam como nenhuma magia das fadas que eu já ouvi antes. Elas soam... mais ríspidas de alguma forma. Enquanto ela fala, agita os braços em movimentos circulares em direção às paredes. Algo que parece poeira se separa das paredes e flutua em correntes invisíveis. Fluxos dessa poeira se enroscam e dançam pelo ar antes de se projetar e mergulhar no espelho. O próprio espelho começa a ficar embaçado. Quando Elizabeth termina seu feitiço, uma neblina ondulante enche a superfície de vidro.

— Se as bruxas estiverem em qualquer lugar perto de um espelho, elas vão sentir que estão sendo chamadas — diz ela, levantando-se. — Por mais curiosa que eu esteja em saber por que você está tão desesperada para falar com elas, eu lhe darei um pouco de privacidade. — Ela coloca os sapatos de volta e sai para o túnel.

Eu pego o espelho e o equilibro nas minhas pernas cruzadas. A superfície enevoada começa a clarear lentamente, revelando formas se movendo. Uma forma em particular - a forma de uma pessoa - cresce e fica imóvel. O fundo entra em foco primeiro. Dunas de areia sem fim e, à distância, uma estrutura que se parece com uma pirâmide com uma segunda pirâmide menor, em cima de seu ápice. Quando eventualmente uma mulher aparece, não é a que eu esperava. Sem olhos escuros e dentes pontiagudos, mas cabelos prateados e um sorriso que quero arrancar com minhas próprias mãos.

 

 

 

CONTINUA