Capítulo 12
— Oh, olhe quem está chamando — diz Angelica. — Ficamos imaginando se saberíamos alguma coisa sobre você em breve. Permita-me expressar minhas mais profundas condolências pela sua perda. Ou ainda não aconteceu?
Ela sabe. Ela sabe exatamente o que as bruxas fizeram com Victoria. — Eu vou despedaçar você — eu digo entre os dentes cerrados.
— Ah, então já aconteceu. E acredito que você já tentou a coisa de despedaçar uma vez — ela acrescenta com diversão, — e desistiu para correr atrás do meu filho. Como foi essa experiência para você?
Eu a odeio tanto que posso sentir o gosto. — Eu mencionei que desperdício desprezível de magia e ar você é?
— Eu acredito que você pode ter mencionado.
— De quem é a vida que você pretende negociar em seguida? Você usou seu próprio filho para sair da prisão, então quem será para Amon? Quem você vai trocar por ele?
— Amon pode ficar onde ele está.
Eu balanço minha cabeça. — Você é uma vadia. Ele orquestrou todo esse plano, e agora que você está livre, vai deixá-lo apodrecendo na prisão?
Ela inclina a cabeça. — Você deveria estar feliz. Um inimigo a menos fugindo para você se preocupar.
— Me lembre de lhe agradecer quando eu terminar de esfaquear você com as minhas unhas.
Ela ri. — Oh, é divertido brincar com as pessoas novamente. Uma das muitas vantagens de ser livre.
— Não por muito tempo — murmuro.
Ela arqueia uma sobrancelha. — Você planeja me colocar de volta na minha jaula... Calla? — Ela diz meu nome como se fosse uma provocação. — Eu gostaria de ver você tentar.
— Saia do seu esconderijo e podemos providenciar isso.
— Eu acho que não. — Ela se afasta, fora de vista, e uma cabeça toma seu lugar.
— Você chamou? — A bruxa diz, um sorriso preguiçoso se espalhando por seus lábios. Ela é a mais nova das bruxas que conheci no Subterrâneo. Foi com ela que fiz as negociações.
— O que você fez? — Eu exijo, meus dedos tremendo enquanto aperto o espelho. — Que feitiço você deu a Zed? Como você pode matar uma criança inocente assim?
— Zed? — Ela pergunta inocentemente.
— Você sabe — eu digo, sarcasmo escorrendo da minha voz, — foi para ele que você deu o feitiço da doença de dragão. Aquele que deve ter ficado muito bravo quando descobriu que você vendeu uma cura para mim.
Ela acena com a mão. — Nós resolvemos isso. Ele conseguiu entender porque eu te vendi aquela cura. Apenas negócios, claro.
— E então você o ajudou a matar uma criança! — Eu grito. — Seu pedaço de lixo nojento! Que feitiço você deu a ele?
— Não grite comigo sobre coisas que você não entende — diz a bruxa. — Você não deveria estar se preocupando com uma criança que está morta. Oh, não, querida menina de cabelos dourados. — Sua voz se torna baixa e ameaçadora. — Você deveria estar se preocupando com você agora.
— Você pode me ameaçar o quanto quiser, mas isso não vai me impedir de fazer você pagar pelo que fez.
Aquele sorriso preguiçoso arrasta-se em seu rosto mais uma vez. — Você será a única que vai pagar.
— O quê?
— Um passarinho prateado me contou tudo sobre sua magia especial. Sua Habilidade Griffin, como a Guilda chama.
Um calafrio rasteja pela minha espinha. — E daí? Você pode continuar sonhando se acha que vai colocar as mãos no meu poder.
Ela ri. — Eu não preciso sonhar. Não quando já conjurei o feitiço que me permitirá tomar o seu poder para mim.
Um arrepio me percorre. — Você não pode fazer isso.
— Oh, mas eu posso e fiz. A maldição já foi executada.
Eu odeio o tremor na minha voz quando pergunto — O que, o que você quer dizer?
— Foi bastante complexo. Estou muito orgulhosa de mim mesma por ter completado. — Ela se regozija. — O efeito é simples: quanto mais você usa sua habilidade especial, mais fraca você se torna.
Eu balanço minha cabeça. — Isso é ridículo. Toda a magia se reabastece após o uso.
— Não mais — ela sussurra, aproximando-se do espelho. — Você e eu estamos ligadas agora, e sinto isso toda vez que você usa esse poder especial. Sua magia central se enfraquecerá ao longo do tempo, e no momento em que a vida finalmente desaparecer do seu corpo, a única magia que permanecerá, a única mágica que me interessa - sua Habilidade Griffin - fluirá do seu corpo para dentro do meu.
Ainda estou balançando a cabeça. — Isso não é possível. Você não pode fazer isso.
— Você não sabe nada sobre o que eu posso e não posso fazer com a magia das bruxas.
— Eu sei que você pode tentar me assustar com mentiras - que é o que você está, sem dúvida, fazendo agora.
Um sorriso predatório repousa sobre os lábios dela. — Você sabe que eu falo a verdade. Você já sentiu isso. Você sentiu no momento em que a maldição foi colocada sobre você.
Uma imagem do meu pesadelo passa pela minha mente. Seus olhos negros, suas unhas arranhando. — C-como?
Ela inclina a cabeça. — Você não se lembra do sangue que você me deu?
— Mas... mas o frasco quebrou. Você não pode ter usado o meu sangue.
Ela ri. — Oh, sua menina boba. Você acha que sangue derramado não pode ser recuperado? Eu não preciso que ele esteja limpo, se é isso que você está pensando. Os pedaços de vidro não faziam diferença. Pelo contrário. Eles provavelmente adicionarão um belo pico de dor aos efeitos da maldição, uma dor de cabeça sempre que você usar sua magia.
Eu engulo. Minhas mãos estão tremendo agora. Como isso aconteceu? Como esse confronto escapou tão rapidamente do meu controle? Era para ser sobre Victoria - sobre descobrir o que a bruxa fez com ela e descobrir uma maneira de fazer todos os envolvidos pagarem - e agora é sobre... uma maldição colocada em mim?
Com um grito sem palavras, eu arremesso o espelho através da sala. Ele se quebra em centenas de pedaços, cintilando na luz encantada. Medo e ódio lutam dentro de mim. Eu escolho o ódio. Eu odeio, odeio, odeio essa bruxa mais do que jamais acreditei ser possível.
Elizabeth corre para a sala, olhando em volta. — O que aconteceu? Por que você quebrou meu espelho?
Eu a ignoro enquanto levanto. Eu grito novamente, inclinando a cabeça para trás e mostrando meus dentes para o teto. Minha orbita de luz se quebra, enviando flashes de luz ao redor da sala antes de desaparecer. Na escuridão que se segue, eu cerro os dentes e falo. — Eu decidi há muito tempo que nunca vou matar ninguém, mas... aquela bruxa... eu quero matá-la. Eu quero matá-la! Vou procurar em todos os desertos do mundo, se for preciso, e depois farei com que ela sofra como minha família está sofrendo.
Elizabeth dá outro passo para dentro da sala e cruza os braços sobre o peito. — Isso é... bastante extremo.
— Alguém morreu por causa de sua magia.
— Oh, bem, é claro que você deve matá-la então. — Ela acena com a mão para confusão de vidro quebrado, fazendo com que ele se varra em uma pequena pilha. — Tenho certeza que vai fazer você se sentir muito melhor, e você não vai acabar se arrependendo.
— Não me proteja com seu sarcasmo — eu cuspo. — Você não tem ideia do que estou passando.
— Não, mas eu sei o que o Chase passou. Eu sei que tipo de pessoa ele se transformou porque estava disposto a se vingar, e eu não recomendaria esse caminho para ninguém.
— Isso é diferente — murmuro.
Com um estalar de dedos, os cacos de vidro e a moldura vazia desaparecem. — Você quer machucar alguém que machucou você. Não é diferente de jeito nenhum.
É, eu digo a mim mesma. Eu não estou tentando deixar o mundo inteiro de joelhos apenas para punir alguém que me machucou. Eu simplesmente quero que qualquer pessoa que tenha causado a mim e minha família qualquer dor pague por seus crimes e sofra tanto quanto nós sofremos. — Apenas... não — eu digo para Elizabeth, passando por ela enquanto me dirijo para a porta. — Eu não quero ouvir o que você tem a dizer. Sua opinião não importa para mim. Talvez se você se importasse um pouco mais com Chase do que você aparenta, mas suas palavras não têm sentido se...
— Não se atreva a questionar o quanto eu me importo com ele.
— Você tem uma maneira engraçada de demonstrar isso — eu digo com uma risada sem graça, olhando por cima do ombro para ela. — Você nem se ofereceu para ajudar com o plano de resgate.
Seus olhos se estreitam. — Que plano de resgate?
***
Elizabeth entra no escritório de Gaius, onde ele está inclinado sobre um desenho com Ana. — Como você pode não me dizer?
Ele olha para cima, assustado. — Elizabeth - oi. E Calla! Você está de volta! — Ele está prestes a falar mais comigo quando Elizabeth bate com o punho na mesa dele.
— Chase está nas garras da Corte Seelie, e você não me contou? — Ela exige.
Os olhos de Gaius vão de mim para Elizabeth. Ele levanta as mãos em um gesto apaziguador. — Olha, você não é a pessoa mais fácil de encontrar, e estamos preocupados com os planos de resgate. Você nunca quis fazer parte da equipe, então que bem teria feito informá-la?
— É do Chase que estamos falando! É claro que quero fazer parte de qualquer plano de resgate que você esteja planejando!
Ana coloca as mãos nos quadris. — Você não pode simplesmente entrar aqui e...
— Eu faço parte dessa missão de resgate. Não se atreva a me deixar fora de nada.
— Bem, então — diz Gaius. — Suponho que isso esteja resolvido. Agora, Calla, estou morrendo de vontade de saber se você foi capaz de...
— Eu não fui. Eu não pude. Algo... Victoria... — Eu respiro profundamente para esconder o soluço que sobe e estremece através do meu ser. Eu empurro para baixo. Abaixo, abaixo, dentro daquele núcleo duro de ódio e culpa. — Ela morreu. Durante a noite.
Silêncio. Elizabeth olha para o chão. O rosto de Ana fica simpático. Então, Gaius se apressa em torno da mesa, dizendo, — Oh, minha querida, eu sinto muito. — Ele me abraça e esfrega as minhas costas, e eu gostaria que ele não fizesse isso, porque fica ainda mais difícil não chorar. — Seu pobre irmão — ele murmura. — E a esposa dele. Eu não consigo... Eu simplesmente não consigo imaginar.
Eles me odeiam. Eles nunca me perdoarão. — Podemos... apenas ... focar em pegar Chase de volta? — Minha voz é estranhamente aguda e trêmula. Eu tusso.
— Sim, claro. — Gaius dá uma tapinha nas minhas costas uma última vez antes de voltar para sua mesa. — Certo então. Precisamos de um novo plano para chegar a Corte Seelie. — Ele pega uma chave de fenda e bate no desenho que estava examinando quando entramos aqui. — Que tal encontrarmos alguém que tenha um convite para a festa da princesa, e Calla possa segui-lo na noite do evento, depois voltar para o resto de nós quando souber para onde ela está indo? Embora... — ele bate a chave de fenda no queixo. — Se for uma longa jornada, não haverá tempo para isso.
— Precisamos saber o local antes disso, — diz Ana. — Seria um curto período de tempo.
Eu me movo para a borda da sala, tentando respirar, tentando esquecer, tentando me concentrar em outra coisa senão Victoria e Ryn e Vi.
— Você deve conhecer alguém, Gaius — diz Elizabeth enquanto ela se senta em uma cadeira em frente à mesa e cruza uma perna sobre a outra. — Você conhece todo mundo, não é?
— Estou lisonjeado em você achar que estou tão bem conectado, Elizabeth, mas não. Eu não conheço todos os faes reais, nobres e da alta sociedade convidadas para este evento.
— Oh, e quanto ao Trian Hared, o músico? — Diz Ana. — Lembra que recuperamos o dragão dele quando alguém o roubou? Porque ele não tinha permissão, então ele não poderia envolver a Guilda? Ele definitivamente conta como uma celebridade, então ele poderia ter sido convidado.
Gaius aponta a chave de fenda para Ana. — Ele pode ter sido. — Então ele franze a testa. — Agora que penso nisso, como a Rainha Seelie manteria a localização de seu palácio como um segredo se ela realizasse eventos para os quais muitos fae que não moram lá são convidados. Eu me pergunto se talvez nenhuma dessas pessoas realmente saiba para onde elas estão indo. Talvez os guardas sejam enviados para as casas dos convidados para acompanhá-los ao palácio.
— Nesse caso, os guardas são os únicos que sabem onde é — diz Elizabeth. — Isso faria mais sentido em termos de segurança.
— Bem, eu vou falar com Trian de qualquer maneira — diz Ana, caminhando para a porta. — Espero que ele se lembre de mim.
— Enquanto isso — continua Gaius, — agora temos um desenho do que o meu amigo lembra das masmorras sob o Palácio Seelie. Eu só preciso perguntar ao Chase se ele pode ver qualquer coisa da sua cela para que possamos tentar descobrir exatamente onde ele está sendo mantido. — Ele olha para mim.
— Oh, certo. — Eu mexo no meu bolso de trás para pegar anel de telepatia e o entrego a Gaius. Eu penso na maneira como eu gritei - silenciosamente - para Chase mais cedo, e a dor no meu peito lateja mais dolorosamente. Depois de um momento, Gaius remove o anel e o deixa em sua mesa. — Sem resposta. Deve estar dormindo. Eu tentarei novamente mais tarde. Calla, se você precisa estar com sua família agora, eu entendo completamente. Não há mais nada para você fazer aqui no momento.
Eu concordo e saio da sala, mas não volto para Creepy Hollow. Eu não posso encarar Ryn e sei que sou a última pessoa que ele quer ver. Eu desço as escadas, pretendendo ir ao ginásio para deixar meus sentimentos em um saco de pancadas, mas me vejo continuando indo mais abaixo. Um saco de pancadas não vai ajudar. Treinamento não vai ajudar. Nenhum exercício pode distrair minha mente da dor em meu peito e da besta da culpa perseguindo meus pensamentos. A única verdadeira distração é a única coisa que eu nunca quero encarar: minha fobia.
Capítulo 13
Eu esqueço Victoria. Eu esqueço da suposta maldição. Eu esqueço os três objetivos muito firmes que tenho agora: resgatar Chase, impedir que Angelica rasgue o véu e garantir que Zed e as bruxas paguem pelo que fizeram.
Eu entro na sala de pedra na parte inferior das escadas da montanha e olho para o espaço estreito no canto. Eu não vejo nada além de escuridão. Eu recuo, balanço meus braços e pulo para cima e para baixo algumas vezes enquanto me preparo para isso. Eu me forço a respirar lentamente quando fecho meus olhos. Imediatamente, tudo o que tentei bloquear ameaça voltar correndo. Eu me visualizo rolando toda preocupação e pensamento como uma grande rocha. Uma rocha que eu empurro para a borda dos meus pensamentos onde eu não posso mais me concentrar nela.
Então, imagino meu lago. Meu lugar calmo e pacífico. A água cutuca a grama na margem e uma brisa refrescante passa pela minha pele. Eu respiro devagar. Eu abro meus olhos e enfrento a fenda na parede. Eu dou um passo em sua direção, respiro novamente, abraço o pânico crescente e corro para a escuridão. O túnel é infinito. Na escuridão total, tenho que levantar minhas mãos para sentir as paredes - as paredes que estão cada vez mais próximas - para que eu não tropece. Um grito se eleva na parte de trás da minha garganta, escapando em uma respiração ofegante quando eu finalmente vejo a luz à frente. Eu me empurro mais rápido... mais rápido... e então estou livre.
Eu paro e olho em volta, em estado de choque, quando me lembro de como respirar. Eu estou em um espaço cavernoso mais vasto do que qualquer coisa que eu já imaginei quando imaginei essa área. Como um zoológico, é dividido em diferentes seções. Uma parte é selva, outra parte nada mais é que rochas, e em intervalos ao longo das paredes há aberturas para cavernas menores. Ao longe, vejo um pedaço de deserto, de um lado, uma coleção de torres e torretas de aço desgastadas pelo tempo. Movimentos preenchem o espaço. Gárgulas e dragões e - aquilo é uma nascryl? Enquanto meus olhos se movem ao redor, observo a característica mais importante: nenhuma uma única cerca ou cercado à vista.
— Tuuuuudo bem — eu respiro, recuando e me achatando contra a parede. Ao som de um rugido, movo a cabeça para o lado. Um dragão me notou. Um dragão coberto de escamas verdes e roxas brilhantes, e com mandíbulas suficientemente largas para abranger todo o meu corpo. O dragão dá um passo em minha direção, seu pé gigante com garras, fazendo o chão rochoso estremecer. O silêncio desce sobre a caverna. Todas as criaturas olham na minha direção. Por um único batimento cardíaco, nada se move. Então o dragão mergulha em minha direção, junto com pelo menos vinte outras criaturas.
Eu corro para o túnel, que parece com segurança agora, em vez de uma ameaça, e corro ao longo dele, esperando sentir as garras me rasgando a qualquer segundo. Eu alcanço o outro lado e me agarro contra o corrimão da escada. Subo os primeiros degraus antes de me virar para observar o túnel, esperando com respirações ofegantes que algo atravesse o caminho.
Nada acontece. Depois de vários longos momentos, minhas pernas trêmulas me abaixam em um degrau. Eu engulo e fecho meus olhos enquanto a adrenalina lentamente sai do meu sistema. Correr naquela caverna sem saber o que esperar, provavelmente não foi a coisa mais sensata que já fiz, mas definitivamente afastou meus pensamentos da mágoa do dia anterior.
Mágoa que está retornando lentamente.
Eu me arrasto de volta para cima. Eu acho que na breve ausência da minha dor, estou realmente com fome. Está chegando a hora do jantar, mas eu não quero sentar em uma mesa com outras pessoas e ter que conversar. Vasculho a comida disponível e encontro algo pequeno para comer, que consumo enquanto subo lentamente para a estufa de Gaius. Pego algumas folhas de uma erva que vi minha mãe incorporar em muitas de suas poções para dormir. De volta ao meu quarto, eu as esfrego no travesseiro antes de me deitar na cama. O cheiro por si só não será tão eficaz quanto tomar uma poção, mas espero que seja forte o suficiente para me levar ao esquecimento por algumas horas. Se eu tiver sorte, estarei drogada demais para ter que enfrentar meus pesadelos.
***
O cheiro da erva se foi pela manhã, mas não me lembro dos meus sonhos, então deve ter feito o seu trabalho. Me inclinando para pegar o âmbar antigo ao lado da minha cama, estou cheia de pavor e alívio quando vejo uma mensagem na superfície áspera do âmbar. Mesmo que Ryn me odeie, pelo menos ele não parou de se comunicar. Eu esfrego meus olhos e leio a mensagem - e descubro que não é dele.
A cerimônia para Victoria será realizada esta noite ao lado das Cataratas do Infinito. Zinnia.
Ótimo. Ryn definitivamente não quer saber sobre mim se ele deu o âmbar para sua mãe. Eu saio da cama e automaticamente chamo o nome de Chase antes de lembrar que não estou com o anel. O silêncio permeia os andares superiores da montanha, então presumivelmente Gaius ainda está dormindo. Eu ando para seu escritório e recupero o anel de sua mesa. Eu falo o nome de Chase várias vezes enquanto uso a sala de banho e me visto, mas ele deve estar dormindo.
Conforme as horas do dia passam e a cerimônia de Victoria se aproxima, minha mente é continuamente recebida pelo silêncio. — Eu ainda não consigo conversar com ele — digo a Gaius, lutando contra o pânico tentando se envolver em volta do meu peito e espremer todo o ar de dentro de mim. — E se... e se ele estiver...
— Deixe o anel comigo — diz Gaius suavemente, acariciando meu braço. — Está na hora de você ir, e você não deve se preocupar com isso enquanto estiver com sua família.
— Você sabe que eu vou me preocupar com isso de qualquer...
— Não. — Ele pega minha mão e tira o anel. — Tire isso da sua mente agora. Você pode falar com Chase na hora que você quiser quando voltar mais tarde.
Se ele ainda estiver vivo, acrescento silenciosamente.
Eu afasto o pensamento aterrorizante enquanto desço as escadas. Em menos de um minuto, estou passando pela casa do lago, pelos caminhos das fadas e caminhando sob o sol da tarde perto do Rio Neverending. Eu olho para o céu, me perguntando como o sol pode ousar mostrar seu rosto em um momento tão triste quanto esse. Deveria estar chovendo. Toda a natureza deveria estar derramando suas lágrimas, lamentando essa tragédia.
Eu me aproximo do grupo de faes reunidos nas margens do rio, mas permaneço fora de vista entre as árvores. Eu não quero chamar a atenção de nenhum dos membros da Guilda que estão aqui. Eu poderia usar minha Habilidade Griffin para me esconder e chegar mais perto da procissão, mas as palavras da bruxa soam claramente em minha mente: Quanto mais você usa sua habilidade especial, mais fraca você se torna. Eu não sei quanta força eu vou precisar para a missão no Palácio Seelie quando chegar a hora de resgatar Chase, mas não quero gastar nada dessa força se eu não precisar. Eu digo a mim mesma que essa é uma das minhas razões para não me aproximar de Ryn - junto com a possibilidade de me revelar acidentalmente e colocá-lo em apuros - mas sei que a única razão real é o medo. Estou com medo do que ele pode me dizer. Aterrorizada que suas palavras podem confirmar o quanto ele me culpa pela morte de sua filha.
Não consigo ver o rosto de Violet quando colocam o bebê completamente embrulhado em uma pequena canoa. Tudo que ouço são soluços e fungadas dos fae reunidos enquanto colocam a canoa na água e a observam flutuar magicamente rio acima em direção às Cataratas do Infinito. Natesa, a amiga reptiliana de Vi, se agarra ao marido e sussurra como é injusto que algo tão horrível possa acontecer com pessoas tão maravilhosas. Perto dali, Zinnia murmura para outra pessoa que, quando chegou em casa ontem, o bebê nem parecia mais com Victoria. Que havia algo grotesco e não natural no pequeno corpo deixado para trás no rastro de qualquer magia que a levou. Eu me movo mais para longe das árvores, minha mente evocando imagens horripilantes que atormentarão meus pesadelos mais tarde.
Ninguém fica parado por muito tempo depois que a cerimônia acaba. Todos eles estão indo para a casa de Zinnia, com base nos murmúrios que ouvi. Eu também poderia ir para lá. Eu poderia me manter escondida até que fosse seguro falar com Ryn e Vi. Mas sei que terei muito medo de dizer qualquer palavra para eles.
Eu me encolho quando uma leve pressão toca meu ombro, mas, virando a cabeça para o lado, não encontro nada mais ameaçador do que uma pequena forma peluda sentada ali. — Oi, Filigree — eu sussurro. — O que você está fazendo aqui? — Eu levanto sua pequena forma de rato do meu ombro e o coloco no galho de árvore mais próximo. — Eu estou indo para casa agora - minha casa, não a sua - então você precisa voltar para Vi. — Ele balança a cabecinha peluda e dá um salto voador de volta para o meu ombro. — Qual é o problema? É... — eu engulo. — É muito triste lá? — Ele se aninha no meu pescoço. — Olha, eu não sei o que dizer. Eu não posso te levar de volta comigo. Você não pertence a mim, você - Ow! — Suas pequenas patinhas arranham minha orelha. — Então... você quer vir comigo? É isso? — Ele não se move. — Certo, tudo bem. Eu só tenho que enviar uma mensagem a Ryn para lhe dizer onde você está. — Filigree, é claro, não diz nada sobre isso.
Eu volto à montanha com a determinação renovada para encontrar as bruxas. Ou Zed. Talvez eu possa arriscar fazer uma ilusão forte o suficiente e aterrorizante o suficiente para conseguir a sua localização de alguém que trabalha no Clube Deviant. Ou posso ir até Elizabeth e perguntar se ela conhece algum feitiço que possa localizar as bruxas. Eu não me importo que seja perigoso ir atrás deles. Se for algo que pode compensar, mesmo uma parte pequena, pelo que fiz ao meu irmão, vou arriscar.
Com Filigree ainda no meu ombro, olho o escritório de Gaius. Está vazio, no entanto, e eu não vejo o anel de telepatia em sua mesa. Eu ando pelo corredor. Quando chego ao meu quarto, um zumbido baixo chega aos meus ouvidos. Eu volto e olho em volta da porta com uma carranca. Não pode ser o âmbar. É tão antigo que sequer - Oh, o espelho. Claro.
Eu corro para o meu quarto e pego o pequeno espelho que Perry me deu alguns dias atrás. Filigree pula do meu ombro para a cama quando eu toco a superfície do espelho e vejo o rosto sorridente de Perry entrando em foco. Ele mexe as sobrancelhas e diz, — Quer saber o que o círculo secreto do Conselho da Guilda está fazendo? Traga sua bunda para a Guilda agora mesmo, e você pode ver por si mesma.
Capítulo 14
Não estou entusiasmada para entrar na Guilda, mas a descoberta de Perry parece muito importante para perder. Eu pego uma peruca preta e rosa que vai até os ombros do armário e caminho até a biblioteca da Guilda o mais rápido possível, ciente de cada segundo que uso a minha Habilidade Griffin. Eu libero minha ilusão no momento em que alcanço a parte de trás da biblioteca onde Perry está esperando.
— Eu sinto muito — são as primeiras palavras sussurradas de sua boca. — Eu sinto muito. Eu não sabia sobre sua sobrinha até agora, quando Gemma me contou. Eu não deveria ter chamado você. Se você precisa estar com a família agora ou...
— Não. Eu... — Eu posso estar precisando da minha família, mas eles certamente não me querem por perto no momento. — Está tudo bem. Eu não... Eu realmente não quero pensar sobre isso, então a distração será boa.
— Você tem certeza?
— Sim. Então, qual era a urgência? O que você quer que eu veja?
— Oh, certo. Vamos lá. — Ele faz um gesto para eu segui-lo até uma porta que nunca notei na parte de trás da biblioteca. — Eu fiquei preso com o dever de reorganizar o depósito na tarde de sexta-feira por causa de alguma lição de casa que eu não terminei. — Ele abre a porta e me leva para dentro de uma sala escura, fechando a porta antes que eu possa dar uma boa olhada no que está dentro. Ele estala os dedos e levanta uma única chama acima da palma da sua mão. À luz bruxuleante, vejo mesas e mesas empilhadas em cima umas das outras e prateleira após prateleira cheia de caixas de papelão.
— Você organizou tudo isso? — Eu pergunto.
— Sim. E eu não tinha permissão para usar magia. Ah, e não faça barulho no chão, ok? Na ponta dos pés. — Ele me leva entre as mesas em direção ao fundo da sala. — De qualquer forma — ele continua em um sussurro. — Eu estava procurando minhas gotas sonoras esta tarde e não consegui encontrá-las. Eu as usei pela última vez enquanto estava arrumando aqui, então vim procurá-las e... — Ele se agacha. — Você ouviu isso?
Eu me agacho no chão e escuto. — Vozes? Debaixo de nós?
— Sim — ele sussurra. — E se você olhar para trás e para a direita, você verá um buraco que leva direto para a sala abaixo.
Eu me viro e vejo um feixe de luz brilhando de um buraco circular. Eu rastejo em direção a isso e abaixo meu rosto até quase tocar o chão. — De jeito nenhum, — eu sussurro, olhando para o grupo de guardiões reunidos em uma sala pequena, mas confortavelmente mobiliada abaixo. Eu conto dez pessoas sentadas em círculo ao redor de uma mesa de centro, mas reconheço apenas três delas: o Conselheiro Chefe Bouchard, da Guilda Francesa, Conselheiro Merrydale, e Olive, minha ex-mentora. Os outros sete são guardiões - assumindo que são guardiões; alguns deles cobriram seus pulsos, então não consigo ver se eles têm marcas de guardiões - devem ser de outras Guildas.
— ...instale e coloque para funcionar, não teremos que nos preocupar com incidentes como esse novamente — diz o conselheiro Merrydale ao grupo.
— Espero que não — Conselheiro Chefe Bouchard disse naquele tom preciso e acentuado de que me lembro quando tive a infelicidade de encontrá-lo no meu primeiro dia oficial aqui. — É angustiante pensar que você pode ter uma faerie Dotada invisível andando pela Guilda sem ser vista. Quem sabe o que tal pessoa pode fazer?
Droga, eles estão falando de mim.
— Você disse que não viu o rosto da pessoa? — Pergunta uma mulher com o cabelo raspado tão perto do couro cabeludo que mal posso distinguir as duas cores diferentes.
— Infelizmente, não. Eu revisei a gravação depois que não consegui encontrar o intruso. A pessoa definitivamente era mulher, mas não consegui ver o rosto dela.
— E se não for um intruso? — A mulher sugere. — Pode ser que um dos seus guardiões daqui seja uma pessoa Dotada não registrada.
— Isso também é uma possibilidade — diz o Conselheiro Merrydale. — Na verdade, nós provavelmente temos mais de um faerie Dotado não registrado trabalhando aqui, assim como o resto de vocês em suas várias Guildas.
— É uma vergonha pensar nisso — diz alguém, balançando a cabeça. — Guardiões trabalhando pela lei enquanto a quebram todos os dias. Você pensaria que eles não conseguiriam viver consigo mesmo enquanto mentem para nós assim.
— Bem, eles vivem — diz Olive com um suspiro entediado. — Por isso o trabalho que está acontecendo no andar de baixo. — Ela se inclina para trás em sua cadeira e cruza uma perna sobre a outra. — Podemos passar para o próximo item, Conselheiro Chefe?
Seu desrespeito me atordoa, mas o Conselheiro Chefe Bouchard não parece notar. Ele consulta um pergaminho na mão. — Hmm. Bem, há, é claro, a questão sobre Lorde Draven, mas como foi o caso com nossas últimas reuniões, a Rainha Seelie não compartilhou nenhuma informação nova.
Um choque de surpresa passa por mim. Foram esses os membros da Guilda com quem Angelica negociou.
— Provavelmente, é uma coisa boa — a mulher do cabelo raspado murmura com um arrepio. — Até onde eu sei, ele pode ficar preso debaixo do chão do palácio pelo resto de sua vida.
Acenos concordando vêm do resto do grupo, e um homem que ainda não falou ainda diz — Eu ainda não consigo acreditar que ele...
— É melhor não insistir nesse item, — interrompe Olive, — já que não temos nada novo para discutir.
— Sim, provavelmente é melhor — concorda o Conselheiro Bouchard. — Então, o item final, como sempre, é o excesso de visões dos Videntes desta semana.
— Eu coletei todas elas — o Conselheiro Merrydale diz, inclinando-se para frente e pegando uma grande pilha de papéis. — Incluindo as que Meira se esqueceu de trazer na semana passada. — Do outro lado da mesa, a mulher com a cabeça raspada acena com a cabeça.
— Elas foram verificadas? — O Conselheiro Bouchard pergunta. — Alguma coisa vai acontecer?
— Não, todas elas expiraram. Eu verifiquei cada uma delas.
— Bem, você sabe o que fazer com elas — diz o Conselheiro Bouchard com um aceno desdenhoso da mão.
O Conselheiro Merrydale se levanta e vai até a lareira, e eu assisto com horror enquanto ele joga as dezenas de visões dos Videntes nas chamas. Enquanto o Conselheiro Chefe Bouchard encerra a reunião, afasto a cabeça do olho mágico. — Eu já vi o suficiente — eu sussurro para Perry. Nós saímos do depósito e voltamos para a biblioteca.
— Ele queimou aquelas visões? — Perry me pergunta imediatamente. — Eu sei que havia uma lareira lá, mas eu não quero assumir...
— Sim. Ele queimou. Você, hum, ouviu tudo? — Você ouviu falar sobre Lorde Draven, é o que eu realmente quero perguntar.
— Pedaços aqui e ali — diz ele, — mas não tudo. Eu ouvi aquela última parte sobre o excesso de visões dos Videntes. — Ele faz aspas no ar com os dedos. — Você acredita nisso? Eles realmente descartaram as visões. Era a pilha de papéis sobre a mesa? — Concordo com a cabeça e ele solta um assobio baixo. — É muito. Não posso acreditar que eles saibam que muitas coisas estão dando errado e que simplesmente não se incomodam em consertar.
— Sim. — Eu mordo meu lábio e olho em volta, mantendo meus olhos abertos procurando insetos de vigilância. — Se Zed sabia sobre isso, então eu posso entender por que ele não gosta muito do sistema da Guilda.
— Zed é o cara responsável pela doença de dragão?
— Sim. Ele estava tentando me dizer que o sistema da Guilda é uma bagunça e que eles não ajudam o máximo de pessoas que podem. Ele queria saber como eles decidem quem vale a pena salvar e quem não vale.
— Provavelmente é aleatório — diz Perry com desgosto. — Eu duvido que eles pensem sobre isso mais do que isso.
— Olha, eu concordo que isso está errado, mas de modo algum desculpa as coisas que Zed fez. Ele é desprezível, sem valor...
— O quê? Não, claro que não. Eu não estou desculpando nada. — Perry parece horrorizado. — Matar todos os guardiões não é o jeito de fazer isso. A Guilda deveria estar treinando mais guardiões. Deixar não-faeries entrar. Ou enviar todas essas visões extras para o Instituto de Protetores Reptilianos. Não ignorar e depois queimar.
Eu aceno, olhando para o chão enquanto minha mente procura por possíveis soluções. — Eu me pergunto onde eles mantêm esse excesso de visões antes de trazê-las para sua reunião secreta a cada semana.
— Por quê? O que você está pensando?
— Não é uma solução a longo prazo para o problema da Guilda, mas... bem, eu tenho um amigo - um grupo de amigos - que pode garantir que essas visões sejam vistas em vez de desperdiçadas. Nós teríamos que encontrar as visões primeiro e copiá-las.
— Eu vou ver o que posso descobrir. Eu posso até ter que falar com... ugh. Com o garoto bonito, qual é o nome dele?
— Eu suponho que você está se referindo a Rick — eu digo. O Vidente aprendiz por quem Gemma tem uma queda, e Perry também está ciente disso.
— Mm hmm — diz Perry, parecendo que está sentindo um gosto ruim em sua boca.
— Bem, eu devo ir antes de ser pega. Muito obrigada por me mostrar isso. Não tenho certeza se teria acreditado se não tivesse visto por mim mesma.
— Eu sei. Oh, espere. Eu tenho que te contar algumas outras coisas.
Eu olho em volta da estante, então puxo minha cabeça para trás e me afasto ainda mais para as sombras. — O que é?
— Aqueles dois nomes que você me deu para procurar, os dois estão na Lista Griffin. Então, o que quer que eles estejam fazendo lá embaixo com essas pessoas em caixas está relacionado com as Habilidades Griffin.
Eu concordo. — A conversa que acabei de ouvir confirmou isso. Acho que eles estão tentando encontrar uma maneira de testar as Habilidades Griffin. Eu suponho que será obrigatório que todos sejam testados.
— Isso demoraria muito tempo.
— Agora que penso nisso — eu digo, — eu me pergunto por que eles não fizeram um teste há anos atrás. Eles sabem que não podem confiar em todos serem honestos o suficiente para se registrarem ou a seus filhos.
— Eles provavelmente estão tentando há muito tempo e ainda não conseguiram.
— Provavelmente. — Eu olho em volta da estante novamente. — Tudo bem, então eu preciso...
— Espere, só mais uma coisa. — Ele agarra meus ombros como se para me impedir de fugir. — Eu sei que você me disse para parar de bisbilhotar as coisas de Olive depois que você descobriu quem realmente armou para você por matar Saskia, e eu parei - mais ou menos – mas, depois me deparei com algo ontem. Lembra que eu te disse que encontramos pergaminhos com selos que não eram da Guilda no escritório de Olive? — Sem esperar pela minha resposta, ele continua. — Eu descobri a quem o selo pertence. Ninguém mais que — ele bate nos meus ombros como se estivesse batendo em um tambor — a Rainha Seelie.
— A... o quê? Você tem certeza?
— Sim. Eu vi o selo em um livro no outro dia.
— Olive? Minha ex-mentora mal-humorada está recebendo correspondência diretamente da Rainha Seelie?
— Parece que sim.
— Talvez ela esteja entregando os pergaminhos para outra pessoa. Alguém como o Conselheiro Chefe Bouchard.
— Por que esses pergaminhos precisam passar por Olive então? Por que não diretamente ao Conselheiro Bouchard?
— É... uma boa pergunta. — Eu coloco minhas mãos nos meus quadris enquanto eu considero.
— E outra coisa estranha sobre Olive é que ela desaparece periodicamente durante um dia ou mais vezes.
— Como você sabe disso?
— O escritório do meu mentor é perto. Eu noto as coisas.
— Tudo bem, mas isso pode não ter absolutamente nada a ver com os pergaminhos da Rainha Seelie. — Por outro lado, acrescento silenciosamente para mim mesma, pode ter tudo a ver com esses pergaminhos. Eu não quero ficar muito animada ainda, mas definitivamente vale a pena seguir Olive por um dia ou dois para ver se talvez, apenas talvez, o lugar para onde ela desaparece seja a Corte Seelie.
***
A invisibilidade me leva em segurança para fora da Guilda sem incidentes. Eu examino de perto o meu nível de fadiga quando volto para a montanha, mas não me sinto mais cansada do que o habitual. Poderia ser possível que a bruxa estivesse mentindo sobre sua maldição? Eu não posso esquecer aquele sonho, no entanto. O sonho que terminou com uma dor muito real que apunhalou meu peito quando acordei. Talvez eu não tenha usado bastante minha Habilidade Griffin hoje para sentir os efeitos da maldição.
Uma luz quente ilumina a entrada da sala de estar junto com as sombras bruxuleantes de um fogo dançante. Entro na sala e encontro Gaius em uma poltrona. — Oi, — eu digo. — Eu possivelmente posso ter encontrado um jeito de chegar a Corte Seelie. Não tenho certeza, mas vou investigar amanhã.
Ele olha para mim. — Oh, isso é bom. Excelente. Bom trabalho. — Embora ele esteja sorrindo, seu tom não tem seu entusiasmo habitual.
— Qual é o problema? Está tudo... Você falou com Chase? — Eu ando em direção a ele e estendo minha mão para pegar o anel. Já faz muito tempo desde que ouvi sua voz.
— Calla — diz Gaius lentamente, retirando o anel do dedo mindinho e o colocando na palma da minha mão. — Eu não consegui contatá-lo. Já faz mais de um dia e ele não respondeu. Nós não sabemos o que isso significa, e não podemos presumir o pior, mas precisamos estar preparados para... bem, para qualquer coisa.
Um frio se instala em meus ossos enquanto eu me permito um vislumbre de um futuro sombrio em que não há Victoria, sem irmão que me ame incondicionalmente, e agora sem Chase. Eu fujo da imagem com um tremor quando envolvo meus braços firmemente em volta do meu peito e pressiono meus lábios juntos. Eu não acho que posso falar, então simplesmente aceno quando Gaius estende a mão e aperta meu braço. Tentando me confortar, sem dúvida, mas quando olho em seus olhos, tudo que vejo é o mesmo desespero que sinto.
Capítulo 15
Você não está morto, eu sussurro em silêncio na manhã seguinte enquanto me visto. Você não está morto, você não está morto e eu vou te encontrar. Apesar do fato de eu não obter uma resposta, digo a mim mesma que de alguma forma Chase pode me ouvir.
O aviso da bruxa ecoa na parte de trás da minha mente enquanto entro na Guilda sob a cobertura da invisibilidade. Eu sei que vai me enfraquecer me esconder, mas esta é uma oportunidade muito importante para deixar passar. Com a festa no Palácio Seelie daqui a quatro dias, essa pode ser nossa última chance de encontrar um caminho para chegar lá. Usando uma peruca preta e laranja e uma jaqueta bege emprestada de Lumethon no lugar da preta que eu sempre uso, eu subo as escadas para o escritório de Olive. A pequena forma de Filigree é um calor reconfortante no meu bolso. Pensei em mandá-lo voltar para o meu quarto quando o encontrei escondido na jaqueta mais cedo, mas enfrentar um dia inteiro de acampamento em território inimigo parecia mais fácil com um cúmplice ao meu lado - até mesmo um cúmplice tão pequeno quanto Filigree.
O escritório de Olive fica perto do final de um corredor, onde um monte de cadeiras e uma mesa formam uma pequena área de espera. Passo pela porta dela, pego um livro aleatório da mesa e me acomodo em uma das cadeiras. Enquanto levanto o livro para esconder meu rosto, guardo minha ilusão. Minha imaginação está mais uma vez escondida atrás de uma fortaleza mental, e estou completamente visível agora. Meu coração acelera com o pensamento da minha vulnerabilidade. Qualquer pessoa pode me ver sentada aqui! Mas tenho que conservar minha força. Eu preciso de tudo para a missão na Corte Seelie, e não tenho ideia de quando a maldição da bruxa vai começar a me afetar.
Eu ouço passos e a voz de Olive. Eu engulo e aperto meus dedos ao redor do livro aberto. Ela provavelmente não vai me notar sentada aqui, mas se acontecer de ela ver meu rosto, ela vai me reconhecer. Eu vejo seus pés sob a borda inferior do livro. Ela continua em direção ao seu escritório, indo na minha direção, mas vira para outro escritório antes de chegar ao fim do corredor. Eu me forço a respirar e relaxar o aperto no livro. Eu não vou ser pega, digo a mim mesma. E mesmo se eu for pega, posso lutar para sair daqui. Eu fiz isso uma vez antes, então certamente posso fazer isso de novo.
Durante a próxima hora, observo Olive entrando e saindo de seu escritório. Por um momento aterrorizante, tenho certeza de que estou prestes a ser descoberta quando um mentor que reconheço vagamente para na minha frente e pergunta por que estou aqui há muito tempo. Eu tento imaginar o rosto de Gemma em vez do meu antes de abaixar meu livro e dizer que meu mentor me encarregou de memorizar dois capítulos antes que ela me pergunte sobre eles. Felizmente, o mentor que está na minha frente parece aceitar isso. Depois de me desejar sorte, ele continua seu caminho. Antes de levantar meu livro mais uma vez, vejo Olive fechando a porta do escritório e indo embora com um aprendiz a seu lado. Esta é minha chance.
Eu me certifico de que ninguém esteja observando antes de me imaginar invisível mais uma vez. Eu ando até a porta de Olive, tento a maçaneta e a encontro destrancada. Olhando em volta para ter certeza de que estou realmente sozinha, abro a porta e entro. Sem perder nenhum segundo, vou em direção a mesa. Olive pode estar fazendo treinamento agora, mas quem sabe quando ela vai perder a paciência, desistir de seu aprendiz, e voltar para o andar de cima. Eu procuro pela superfície desarrumada da mesa, procurando por estes supostos pergaminhos com o selo da Rainha Seelie. Não encontrando nada, eu me movo em direção as gavetas. Eu as abro e fecho, revirando o conteúdo confuso dentro. Nada. Em seguida, vou para o armário. Acabo de fechar a gaveta de cima quando a maçaneta da porta gira.
Corro para me esconder e prendo a respiração quando Olive abre a porta e entra no escritório. Ela caminha até a mesa, franze as sobrancelhas ao olhar para ela, depois pega a stylus saindo de uma caneca suja antes de se virar. Quando a porta fecha, eu lentamente solto minha respiração.
Eu procuro no resto do escritório de Olive - com a ajuda de Filigree, embora eu não tenha certeza se ele me entende quando digo a ele o que estou procurando - e não encontro nada. Eu me pergunto se Perry deixou sinais de sua busca aqui. Sinais que levantariam a suspeita de Olive e a faria esconder os pergaminhos em outro lugar.
Eu volto para a área de espera, escolhendo uma cadeira diferente e um livro diferente desta vez, e fico de olho em Olive. No final do dia, a única coisa remotamente interessante que ela fez foi ficar no corredor e gritar com Ling – a supostamente aprendiz perfeita do quinto ano - por não conseguir ficar entre os cinco primeiros na competição de arremesso de facas pelo que entendi, que com base em suas palavras, foi realizado no sábado. Ela acrescenta que tanto ela quanto Ling passarão a noite toda no centro de treinamento aperfeiçoando sua técnica e que ela não poderia se importar menos com o fato de que os pais de Ling terão que jantar sem ela.
Eu estou supondo que isso significa que Olive não vai a lugar nenhum nesta excitante noite, então quando outros mentores trancam seus escritórios e descem as escadas, eu me junto ao fluxo de pessoas deixando a Guilda. Minha inquietação aumenta quando penso no meu completo desperdício de um dia. Um dia que eu poderia ter gasto procurando Zed ou as bruxas. Um dia que eu poderia ter passado me esgueirando para a Guilda Francesa, prendendo o Conselheiro Chefe Bouchard, e forçando uma poção de verdade em sua garganta, para que ele me contasse tudo o que sabe sobre a Corte Seelie.
Gaius parece completamente alarmado com a minha sugestão quando eu conto para ele naquela noite. — Não — diz ele. — Absolutamente não. Capturar o Conselheiro Chefe está fora de questão.
— Estamos ficando sem tempo, Gaius! Se alguém na Guilda sabe alguma coisa sobre a Corte Seelie, seria ele, certo? Ele pode ser nossa única opção.
Gaius dá um tapinha cauteloso no meu braço como se acalmasse uma criatura selvagem. — Seguir sua antiga mentora parece muito mais sensato, Calla. Dê mais um dia, ok? Então vamos reavaliar.
Então eu dei mais um dia.
Eu não posso mais ficar na área de espera sem chamar atenção, e eu não quero projetar uma ilusão por horas a fio, então entro no escritório de Olive enquanto ela está ocupada falando com um mentor no corredor e me escondo embaixo da mesa dela. Eu fico lá pelo resto do dia, observando-a. Eu me escondo quando preciso, mas principalmente, confio na velha mesa para me esconder. Eu estava preocupada que ela pudesse me chutar ao sentar na cadeira, mas ela acumula tantas coisas em sua cadeira ao longo do dia, que ela não se senta nela com tanta frequência.
À medida que a tarde chega ao fim e meu corpo começa a doer de ficar agachada na mesma posição por tanto tempo, começo a considerar o plano do Conselheiro Chefe novamente. Preciso roubar uma poção da verdade de algum lugar. É o tipo de poção que seria mantida em uma sala trancada ou armário junto com outras substâncias perigosas, mas enquanto eu não for vista por um dispositivo de vigilância, eu provavelmente conseguirei uma.
Eu espero Olive sair de novo antes de sair de debaixo de sua mesa. Estou prestes a ficar de pé quando a porta dela se abre e ela entra de novo. Minha projeção de invisibilidade se fecha sobre mim imediatamente, mas sua atenção está no âmbar em sua mão, então duvido que ela teria notado se eu tivesse demorado um pouco para me esconder. Resmungando baixinho, ela coloca o âmbar no bolso. Ela volta para a porta e para do lado de fora, se inclinando no escritório ao lado do dela. — Algo aconteceu — diz ela. — Eu não posso trabalhar hoje à noite, e só voltarei no meio da manhã de amanhã.
— Sério? — Vem a resposta da pessoa perto de Olive. — Outra das suas emergências aleatórias? Eu não posso te cobrir toda vez que você tem que sair em outra viagem.
Outra viagem? Uma viagem a Corte Seelie, espero. Eu saio na ponta dos pés quando Olive diz, — Eu vou te recompensar. — Ela volta para o seu escritório, pega sua jaqueta e uma pequena bolsa na gaveta de cima e tranca a porta do escritório. Antecipação me atravessa enquanto eu a sigo escada abaixo, praticando as palavras dos caminhos das fadas em minha mente. Graças a Deus, Gaius me fez memorizá-las. Elas estão rabiscadas em um pedaço de papel enfiado em um dos meus bolsos, mas seria uma grande distração na minha ilusão de invisibilidade ter que tirar o papel e lê-lo. Eu consigo repetir o trava-língua duas vezes quando chegamos à pequena sala ao lado do saguão, onde Olive vai sair pelos caminhos das fadas. Percebo que nunca perguntei a Gaius se o feitiço funcionaria se as palavras não fossem pronunciadas em voz alta, mas felizmente está barulhento aqui com dois guardas flertando com uma aprendiz. Eu espero Olive levantar sua stylus para escrever na parede. No momento em que ela começa a escrever as palavras para abrir uma porta, começo a sussurrar as palavras. A porta se abre. Enquanto ela caminha para a escuridão, corro atrás dela, continuando com o feitiço o mais silenciosamente possível.
Eu digo a última palavra. A escuridão me cerca e não tenho ideia se funcionou. Não faço ideia se estou presa aqui. Então, à frente, a luz aparece com a silhueta de Olive emoldurada contra ela. Eu quase rio de alívio quando corro atrás dela. Eu me encontro na margem de um rio largo com a água mais limpa que já vi. O leito do rio está coberto de areia tão branca que parece refletir o brilho prateado da lua. Criaturas luminosas semelhantes a peixes zunem aqui e ali pela água. A lua está baixa no céu, mas não sei dizer se está subindo ou declinando. Eu vou descobrir em breve, então vamos saber a que hora do dia temos que sair da montanha na quinta-feira.
Eu me lembro de permanecer escondida enquanto presto muita atenção ao que me rodeia. As árvores esguias e elegantes e os arbustos luminosos de flores roxas e folhas azuis. Vou pensar nisso quando precisarmos voltar aqui na quinta-feira. Retorno minha atenção para o rio quando um barco branco com a cabeça de um cavalo-marinho se eleva da proa e desliza silenciosamente em direção a margem. Deve ter aparecido magicamente enquanto eu não estava observando, e já que ninguém está dentro, assumo que a magia é o que o guia. Ele para de se mover quando chega a margem e balança suavemente sobre a água. Eu observo Olive cuidadosamente e me certifico de subir no barco ao mesmo tempo que ela. Ela escolhe um dos bancos paralelos e eu pego o banco mais longe dela.
Quando o balanço do barco diminui, ele começa a deslizar para longe da margem. Com sua expressão usual de tédio, Olive olha as mensagens em seu âmbar. Eu, no entanto, mantenho meus olhos abertos, observando os galhos salientes, a vegetação exuberante nas duas margens, o padrão das estrelas salpicadas acima de nós. Eu preciso me lembrar de tudo, só para prevenir.
Em pouco tempo, o barco para em outra margem. Eu me movo ao mesmo tempo que Olive se move, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho na margem quando eu piso nela. Minhas botas formam pegadas na grama. Eu poderia estender minha ilusão para esconder as pegadas também, mas a atenção de Olive está apontada para o outro lado. Eu sigo seu olhar e vejo uma carruagem fechada puxada por quatro pégasos brancos.
— Oi — ela diz para o guarda que sai da carruagem. Eles trocam cumprimentos de uma maneira familiar que sugere que eles se conhecem. Ambos entram na carruagem quando considero a melhor maneira de segui-los. A porta da carruagem fecha.
Droga. Bem, sentar dentro da carruagem com eles durante uma viagem que pode durar horas provavelmente não seria uma boa ideia de qualquer maneira. Corro até a carruagem e subo em suas costas. Eu provavelmente não deveria tentar me segurar aqui o caminho todo, então isso me deixa... com a parte de cima? Se eu fosse bastante corajosa, consideraria sentar em um dos pégasos, mas eu não quero perturbar nenhum deles, e não quero ficar invisível pelo resto da viagem. Eu já estou sentindo a dor do cansaço no limite da minha mente.
Me mantenho o mais quieta possível e subo no topo da carruagem. Quando ela rola para frente com um solavanco, tiro meu cinto e rapidamente o alongo. Amarro uma extremidade do cinto às esculturas de madeira decorativas no lado esquerdo da parte superior da carruagem, o enrolo em volta da minha cintura e, em seguida, amarro a outra extremidade ao lado direito. Eu deito de bruços e direciono um fluxo de magia para uma ponta do cinto para apertar ainda mais. Então, quando o estrondo sob as rodas desaparece e a carruagem começa a se inclinar para trás, eu me seguro e tento me convencer de que essa não é a pior ideia que já tive.
Capítulo 16
Estou voando. O vento leva minha peruca e as árvores encolhem conforme avançamos pelo céu em direção às estrelas. Ainda bem que a minha fobia não tem nada a ver com altura. Conforme meus olhos ficam úmidos e voamos rapidamente antes que possa tentar respirar, eu levanto minhas mãos e coloco um escudo na frente do meu rosto. Uma camada invisível começando na borda do teto da carruagem na minha frente, subindo por cima da minha cabeça e terminando na parte de trás do meu pescoço. É flexível, se move conforme eu me movo, então fico sobre os cotovelos e dou uma boa olhada para baixo de mim. Eu memorizo cada ponto de referência que consigo ver. Um rio sinuoso; uma colina ali e outra deste lado; um lago que deságua em um lago menor, que deságua em um lago ainda menor, as três superfícies tão lisas quanto o vidro.
Quando a lua sobe mais e o tempo passa, tomo consciência de uma dor lenta nas minhas têmporas. Estou cansada demais para me segurar agora, então abaixo minha cabeça nos meus braços cruzados enquanto olho para frente. Minha dor de cabeça piora. Eu suponho que seja por causa da maldição e do fato de que eu projetei mais ilusões hoje do que normalmente faria, mesmo que a maioria delas tenha sido rápida. Um nó apertado de medo toma forma dentro de mim, mas eu tento não me concentrar nele. Agora que resolvi o problema de localização da Corte Seelie, resta pouca coisa para fazer antes da quinta-feira. Eu posso descansar durante o dia todo amanhã se precisar. E mesmo que não consiga recuperar minhas forças - você ficará cada vez mais fraca, disse a bruxa, não vou ficar pior desde que eu não projete nada. Pelo menos espero que seja assim.
A viagem continua e continua. As horas passam, embora eu não tenha certeza de quantas horas. Estou cansada e dolorida e com frio quando finalmente a carruagem começa a descer. Eu pisco e olho em volta procurando o palácio. Deve estar em algum lugar abaixo, mas não vejo nada. Um glamour, provavelmente, impedindo que seja visto. Quando as rodas da carruagem atingem o chão, libero meu escudo. Uma faísca de magia em cada mão corta ambas as extremidades do meu cinto. Sento devagar, deixando o cinto prender na minha cintura, mas encurto as pontas para que elas...
Mas que...
Eu suspiro quando o teto da carruagem desaparece debaixo de mim. Eu forço uma projeção instantaneamente quando caio no chão da carruagem entre os dois assentos. O guarda, que estava rindo um momento antes, fica tenso e franze a testa para o chão.
— O que foi isso? — Olive pergunta, inclinando-se para frente e apertando os olhos para o local onde estou deitada.
Droga, droga, droga. Consciente de que estou fazendo barulho, eu me movo para trás sobre as mãos e rastejo até que eu bato na porta da carruagem. Eu levanto e pulo. O guarda levanta com magia crepitando na ponta dos dedos, mas eu já saí da carruagem. Meus pés batem no chão e tropeço para frente, conseguindo permanecer em pé e invisível.
— Pare! — Grita o guarda, e os pégasos param imediatamente.
Eu viro para encará-lo e congelo. Droga, droga! Eu não posso ser pega agora. Não quando estamos tão perto de consertar essa bagunça com Chase. Eu não corro porque sei que o guarda vai me ouvir. Apesar das batidas na minha cabeça, eu me concentro intensamente em fazê-lo não ver nada além do ar. A quietude nos rodeia quando ficamos sob as estrelas em uma avenida arborizada. O único movimento vem das flores que flutuam ocasionalmente para o chão. Com as mãos levantadas na sua frente, o guarda se move lentamente em minha direção. Olive fica em pé e, como último recurso, imagino um som estridente vindo do chão da carruagem. Ela se assusta e olha para baixo. — Quantos anos têm essa coisa? — Ela pergunta.
O guarda abaixa os braços e olha por cima do ombro. — Você acha que foi a carruagem que fez esse barulho?
Olive pula para cima e para baixo e fecho os olhos para poder imaginar o som de madeira rangendo e gemendo. — Parece que sim. Você provavelmente deveria substituir essa coisa em algum momento.
— Provavelmente. Acho que não vamos usar esta na quinta-feira à noite. Não queremos que os convidados caíam do céu, não é mesmo. — O guarda se inclina para dentro da carruagem - acrescento outro som rangendo enquanto ele pisa - e estala os dedos. — Felizmente — acrescenta ele, enquanto os pégasos começam a avançar, — temos muito mais.
Eu não libero minha ilusão. Eu não me movo. Eu mal respiro enquanto os vejo se dirigindo em direção a um arco com uma cachoeira. Olive levanta uma pequena forma escura acima da sua cabeça e a sacode. Algo brilha no ar antes de flutuar para baixo e desaparecer. Momentos depois, a carruagem e seus dois ocupantes dirigem-se sob o arco, a água se abrindo como uma cortina para deixá-los passar.
Eu respiro mais facilmente uma vez que eles desapareceram, mas apesar da minha exaustão crescente e da dor latejante na minha cabeça, eu não libero minha ilusão. Eu estou em uma estrada que leva diretamente ao Palácio Seelie, então eu não vou me enganar ao pensar que não há guardas nessas árvores. Existem provavelmente dezenas deles, escondidos fora de vista. De jeito nenhum eu vou me revelar para eles.
Sabendo o quão perto estou de Chase, é quase impossível me afastar do palácio. Só o conhecimento de que eu não seria capaz de tirá-lo sozinha me faz ir embora. Eu me movo o mais cuidadosamente e silenciosamente que consigo, colocando minhas mãos frias nos bolsos da jaqueta de Lumethon para aquecer meus dedos. Quando toco algo quente e peludo no bolso esquerdo, tiro minha mão com medo. Mas é apenas Filigree, claro. Ele estava tão quieto o caminho todo até aqui que esqueci completamente dele. Quando eu o tiro do meu bolso, ele se transforma em algo maior. Um arminho? Eu o abraço no meu peito enquanto continuo me afastando do palácio, minhas pálpebras fechando e minhas pernas parecendo como se minhas botas estivessem cheias de areia.
Quando estou longe o bastante da avenida com árvores, paro de me arrastar para frente e me permito sentar. Eu tento abrir um portal para os caminhos das fadas, mas, como eu suspeitava, os caminhos são inacessíveis aqui. Se fosse possível abrir um portal, não haveria necessidade dessa longa viagem pelo ar. Eu abaixo a minha stylus e olho através do meu ambiente estrelado. Por quanto tempo terei que viajar antes de chegar a um lugar onde os caminhos sejam acessíveis? Todo o caminho de volta até aquele rio? Provavelmente. O pensamento me faz querer chorar, mas não choro, porque felizmente eu tenho algo melhor para viajar do que os meus pés.
— Filigree? Qual é a maior criatura alada em que você pode se transformar?
***
Eu cambaleio através da porta das fadas nas primeiras horas da manhã e me sento no chão do saguão de entrada da montanha. Eu realmente usei bastante minha Habilidade Griffin durante todo o dia? Se estou tão fraca depois de algumas horas simplesmente me escondendo, o quão fraca eu ficarei depois de horas de ilusões complexas? Eu afasto o pensamento, com muito medo de considerá-lo certo. Eu permaneço no chão por um tempo, esperando me sentir um pouco mais forte antes de tentar subir as escadas, mas minha força não parece voltar e minha cabeça continua a doer. Eventualmente, quando sinto que consigo, ando com as pernas trêmulas subindo as escadas, segurando o corrimão o tempo todo.
Espero que Gaius esteja dormindo, mas ouço vozes altas vindo da direção de seu escritório quando chego ao topo da escada. Ele acordou excepcionalmente cedo ou ele ainda não dormiu.
— ... tudo sobre o desenho daquela masmorra, mas nem sabemos se ele ainda está lá.
— O que mais podemos fazer, Elizabeth? — Responde Gaius, soando frustrado. — Não podemos entrar em contato com ele. Nós simplesmente temos que seguir em frente com o plano.
Eu chego à porta a tempo de vê-la jogar as mãos para cima. — Certo, este elaborado plano que depende de nós chegarmos a um lugar no qual nenhum de nós jamais esteve...
— Eu sei como chegar lá — eu anuncio, me apoiando contra a moldura da porta.
Gaius faz uma pausa com as mãos no meio do caminho para puxar seu cabelo. — Você... você sabe?
— Eu sei. Minha ex-mentora entrou em contato com a Rainha Seelie por razões que eu não sei. Ela foi convocada para lá ontem à tarde, então eu a segui. O palácio é inacessível a partir dos caminhos das fadas por quilômetros em todas as direções, então nós tivemos que viajar ao ar livre para chegar lá. É... uma longa viagem. Eu provavelmente não precisei ir até o final porque... — Eu pisco e me forço a permanecer em pé. — Porque, hum, acho que só precisamos chegar ao começo - ao rio - e barcos aparecerão. E depois do rio, haverá carruagens com guardas e pégasos para nos levar o resto do caminho. Mas eu... eu sei como a maior parte da viagem é, apenas no caso.
— Isso é brilhante — diz Gaius com um largo sorriso. — Isso é maravilhoso. Viu, minha querida Elizabeth? Nem tudo está perdido. Agora, Calla, parece que você poderia dormir um pouco. Por que você não descansa por algumas horas e organizarei uma última reunião para esta noite. Precisamos ter certeza de que tudo está planejado até o mais ínfimo detalhe.
— Hum, hmm. Boa noite. — Eu me afasto do batente da porta. Consigo chegar ao meu quarto sem precisar me encostar à parede. Fecho a porta e me dirijo para a cama.
Sem aviso, a porta se abre. Eu me viro - o que exige muito mais esforço do que deveria - e encontro Elizabeth na porta. — O que há de errado com você? — Ela exige.
— O quê? Estou apenas... apenas cansada. — Eu alcanço o dossel da cama quando minhas pernas finalmente cedem abaixo de mim. Eu me inclino contra a beira da cama.
— Apenas cansada? — Ela repete enquanto fecha a porta. — Gaius pode está completamente alheio, mas eu não estou. Fale a verdade.
— Vá... embora — Eu murmuro enquanto solto o dossel da cama e coloco a metade superior do meu corpo sobre a cama. Parece muito esforço levantar minhas pernas também.
— Fale — Elizabeth manda. — Você está doente? É outra coisa? Vai ser você quem vai entrar e sair do Palácio Seelie, então se algo está errado com você, precisamos saber.
Com um grande esforço, consigo colocar o resto do corpo sobre a cama. Eu rastejo em direção aos travesseiros e desmorono contra eles. Ficar na horizontal, meu corpo tem desejado isso por horas agora, me dá a energia para abrir meus olhos e me concentrar em Elizabeth. De pé na ponta da minha cama com os braços cruzados, ela parece preocupada com a minha saúde. O que me faz decidir contar a verdade. — Como... como você quebra a maldição de uma bruxa?
Ela franze a testa, depois vai para o lado da cama e se senta. — Uma bruxa amaldiçoou você?
Eu concordo. — A mesma bruxa que está trabalhando com Amon e Angelica. A bruxa que você me ajudou a entrar em contato. Ela sabe da minha Habilidade Griffin e a quer para si mesma. Essa maldição... aparentemente vou enfraquecer toda vez que usar minha habilidade. Meu núcleo mágico ficará lentamente esgotado até que não haja mais magia para me manter viva. Quando eu morrer, a única magia que restará será a minha Habilidade Griffin, e ela fluirá do meu corpo para o da bruxa.
A carranca de Elizabeth aumenta. — Bem. Isso poderia potencialmente estragar nossos planos para resgatar Chase.
— Exatamente. Então, como me livrar dessa maldição?
— Ou a bruxa deve tirá-la, ou... — Ela hesita, depois suspira. — Ou a bruxa deve ser morta.
— Como se eu precisasse de outro motivo para querer matar essa mulher — murmuro.
— Por que você não contou a ninguém sobre isso?
— Você sabe por quê. Nosso plano depende de eu ser capaz de criar uma ilusão suficientemente forte para entrar e sair do Palácio Seelie sem ser pega. Se Gaius souber sobre a maldição e que isso pode me enfraquecer ao ponto de... Bem, morrer... Então ele pode querer pensar em um plano diferente, e nós não temos tempo para isso.
— E você não acha que eu possa querer pensar em um plano diferente agora que sei que isso pode matá-la?
— Não. Eu sei que você se importa muito mais com Chase do que comigo. Você sabe que esta é a única maneira de pegá-lo, então você não vai mudar todos os nossos planos.
— Verdade. Mas sei que Chase talvez nunca me perdoe se eu deixar você morrer no processo de resgatá-lo. Ele nunca se perdoaria também.
— Ele superaria isso eventualmente — digo a ela. O pensamento dói, mas espero que seja verdade.
— E se você morrer no meio da missão? Isso vai estragar tudo.
Eu ignoro suas palavras insensíveis e digo, — Eu não vou morrer no meio da missão. Eu estou fraca, mas não estou na porta da morte - ainda. Então só preciso não usar minha Habilidade Griffin entre hoje e amanhã à noite, e devo ficar forte o suficiente para conseguir passar durante todo o evento.
— Deve?
— Estarei. Eu ficarei forte.
Elizabeth sacode a cabeça e suspira pelo nariz. Ela fica de pé. — Me dê dez minutos.
Adormeço quando ela vai embora, então não sei quanto tempo se passou quando ela retorna com vários ingredientes, uma tigela, um frasco e um livro antigo. — Eu não posso tirar a maldição, mas sei o suficiente sobre magia de bruxa para poder aliviar os efeitos por um tempo limitado. — Ela coloca tudo na mesa. Ao meu olhar questionador, ela acrescenta — Eu não posso misturar um tônico lá no laboratório de Gaius se você não quer que ninguém saiba para que serve. Pode estar no meio da noite, mas ele ainda está arrumando quem sabe o quê. — Ela pega o livro, que parece ser o mesmo que ela usou quando contatou as bruxas. Letras estranhas desbotadas percorrem a espinha surrada, me lembrando do grande livro encadernado de couro que estava em exposição na loja das bruxas no Subterrâneo.
— Isso é um livro de feitiços de bruxa? — Eu pergunto.
— Sim. — Elizabeth abre o livro e examina o conteúdo, mantendo-se de costas para mim.
— Que tipo de feitiços estão nele?
— Muita magia baseada em elementos. Alguns feitiços clássicos - invocação e magia changeling - além de alguns feitiços negros. Criação de quimeras, rituais de energia, maldições antigas. Esse tipo de coisas.
— Como você o conseguiu?
Seu olhar penetrante pousa em mim enquanto ela olha por cima do ombro. — Você quer que eu responda perguntas à noite toda ou faça este tônico?
— Desculpe — murmuro. Minhas pálpebras se fecham. Acho que adormeço de novo porque a próxima coisa de que tenho consciência é de Elizabeth sentada na beira da cama com uma colher, uma garrafa com um líquido marrom e um copo do que parece ser água. Ela coloca tudo na mesa de cabeceira enquanto eu sento. — Dilua uma colher disso em um copo de água sempre que tiver usado sua habilidade e se sentir esgotada — ela me diz, seguindo suas próprias instruções e adicionando uma colherada do líquido marrom ao copo. — Isso irá reabastecer suas forças.
Eu pego o copo dela e tomo o conteúdo, me preparando para provar um sabor horrível. Não é tão ruim assim: doce com um aroma de ervas. Eu engulo o resto da bebida e, para minha surpresa, começo a me sentir melhor em segundos. Eu olho para o copo vazio em minhas mãos. — Suponho que isso não funcionará indefinidamente.
— Não. Eu não sei quanto tempo vai manter os efeitos da maldição na baía. Dias, semanas, não tenho certeza. Continue usando até que pare de funcionar.
Não é o melhor plano, mas suponho que não posso pedir muito mais neste momento. — Obrigada, Elizabeth.
— De nada. — Então, quando meus olhos se fecham, ela acrescenta, — Agora não se atreva a estragar a missão de amanhã à noite.
Capítulo 17
Eu acordo mais tarde me sentindo quase normal, o que é um grande alívio. Eu sei que estou apenas adiando os efeitos inevitáveis da maldição, mas não me importo neste momento. Eu simplesmente preciso passar pela amanhã até a noite sem entrar em colapso. Se eu sobreviver, vou me preocupar em me livrar da maldição depois - esperançosamente, me livrar daquela bruxa ao mesmo tempo.
No final da tarde, o restante da equipe - que agora inclui Elizabeth - se reúne na sala de reuniões na montanha para revisar uma última vez o plano.
— Problema — Ana anuncia no momento em que entra. Nenhum de nós está sentado, e Lumethon ainda nem chegou. — Eu falei com o Trian Hared. Ele...
— Quem? — Darius pergunta.
— O músico. Ele...
— Oh, aquele cara por quem você ficou toda caidinha?
— Darius! — Ana soca o braço dele antes de continuar. — Trian não foi convidado para esta festa, mas já esteve em um evento no palácio antes. Ele disse que não se lembra onde a viagem começou, mas foi ridiculamente longa. Três ou quatro horas, pelo menos, e o convite dele foi checado por alguém em três pontos diferentes durante a viagem, ele também deveria ter algum tipo de feitiço especial para fazê-lo passar pela entrada.
— Que feitiço? — Pergunta Gaius.
— Há uma cachoeira de algum tipo na entrada do palácio. Se você não tiver esse feitiço enquanto passa por ela, a água se solidifica e expulsa você de sua carruagem. Os guardas quase prenderam Trian, porque ele não abriu o convite corretamente. Aparentemente, quando a pessoa ou as pessoas a quem o convite é endereçado o abrem primeiro, é lançado um feitiço que permite a passagem dessas pessoas por baixo desta cachoeira.
— Oh, Deus — murmura Gaius, seguido por um xingamento elaborado de Elizabeth. — Nós não temos esse feitiço.
— Eu sei — diz Ana. — O barão e sua filha teriam recebido. — Ela cai em uma das cadeiras ao redor da mesa oval e enterra o rosto nas mãos. — Pooooorque tudo tem que ser tão difícil?
— O que é tão difícil? — Lumethon pergunta quando ela entra, parecendo alarmada.
— Não temos o feitiço que nos permitirá passar pela entrada do Palácio Seelie, — diz Kobe.
— Espere — eu digo, levantando minhas mãos enquanto minha última lembrança de Olive vem à mente. — A pessoa que eu segui até o palácio ontem à noite borrifou algo sobre ela mesma antes que se dirigisse para debaixo daquela cachoeira. Algo que ela mantinha em uma bolsa em sua mesa na Guilda. Talvez seja a mesma coisa. Algo que permite que ela passe pela água.
— E se não for? — Ana diz enquanto olha para mim entre os dedos abertos. — E se for algo totalmente não relacionado?
— Então por que ela se incomodaria em borrifar sobre ela antes de entrar no palácio?
— Seja o que for, temos que tentar — diz Gaius, sentando-se à mesa. — Calla, você pode pegar essa bolsa do escritório dela?
Meus olhos encontram Elizabeth do outro lado da mesa. Nós duas sabemos que eu não deveria estar projetando nenhuma ilusão antes de amanhã à noite, mas isso tem que ser feito. — Claro. Eu irei assim que esta reunião terminar.
— Excelente. Vamos analisar tudo então.
Os que ainda estão de pé sentam-se à mesa e Gaius começa dizendo a todos para estarem aqui ao meio-dia de amanhã. Nós nos prepararemos - máscaras, armas, magias relevantes e feitiços - e deixaremos a montanha no final da tarde, o que significa que devemos chegar ao palácio a tempo da festa à noite.
Duas ou três horas depois, quando analisamos nosso plano detalhadamente e falamos sobre todos os obstáculos possíveis que podemos encontrar, Gaius encerra a reunião. Ele convida todos a ficar para o jantar, mas digo a ele que vou comer quando voltar. Quero pegar aquela bolsa da mesa de Olive antes que ela tranque seu escritório durante a noite.
Estou cansada das perucas - elas coçam minha cabeça - mas eu sei que elas me ajudam a me misturar muito mais facilmente do que se eu estivesse usando um capuz. Eu uso uma preta e rosa na altura dos ombros novamente e uso a minha jaqueta preta normal.
Espero que a Guilda esteja vazia, já que é noite e o treinamento deve ter terminado. Qualquer um que trabalhe durante a noite deve estar no andar de cima em um escritório ou em campo em uma missão, mas em vez disso eu encontro um burburinho no saguão. O Conselheiro Merrydale está lá, falando com outros dois guardiões enquanto bate o pé e olha sobre o ombro de vez em quando. Olive está presente, assim como vários outros guardiões que reconheço. Aliviada por estar coberta pela invisibilidade, ando com confiança pelo saguão e subo a grande escadaria.
O escritório de Olive está destrancado, então eu entro sem problemas. Corro para a mesa dela e abro a gaveta de cima. A bolsa, claro, não está lá. Porque, como Ana apontou, tudo nessa missão é difícil. Resmungando sob a minha respiração, eu puxo a segunda gaveta aberta - e lá está ela. — Ok, nada disso — eu sussurro para mim mesma. Nem tudo é tão difícil. Pego a bolsa e encontro um símbolo - a insígnia da Rainha Seelie, eu imagino - estampada no tecido. Fechando a gaveta com o quadril, abro a bolsa e olho para dentro. O pó brilha com a luz dos insetos-brilhantes presos ao teto de Olive. — Isso tem que funcionar — murmuro enquanto puxo a corda para fechar a bolsa. Abro a jaqueta e coloco a bolsa no bolso interno - exatamente quando ouço passos soando no corredor do lado de fora.
... agora?
Eu não estou aqui. Não me veja, não me veja.
— Sim. Não mais de um minuto. Eu a vi...
A porta se abre e Olive se aproxima com uma expressão furiosa. — Quem está se escondendo aqui? — Ela exige, seus olhos se movendo ao redor. Ela marcha em direção a mesa. Eu afasto para o outro lado enquanto ela puxa a cadeira para trás e olha por baixo da mesa. — Você não a viu sair do escritório? — Ela pergunta ao guarda parado na porta.
— Não, mas posso ter perdido alguma coisa enquanto estava a caminho daqui. Teríamos que voltar para a segurança e perguntar se um dos outros guardas viram...
— A mulher estava usando um capuz? — Olive pergunta enquanto eu ando em torno da borda da sala.
— Não. Ela era uma faerie. Rosa e preto. Ou marrom escuro. Eu não consegui distinguir do...
— Entre aqui e feche a porta — Olive retruca.
Não, não, não! Eu respiro fundo e seguro meu fôlego enquanto passo pelo guarda. — Sim, claro — diz ele, entrando na sala e fechando a porta.
Mas eu vou sair. Vou sair e correr. Não é a melhor ideia porque chamará a atenção, mas se os guardas estiverem me observando, eles vão me ver de qualquer maneira, não importa em que velocidade eu esteja me movendo. E eles mandarão pessoas atrás de mim. Saia, meus instintos me dizem. Saia o mais rápido possível. Corredor, escadas, saguão. Está quase vazio agora, permitindo que eu corra direto sem ter que me esquivar de ninguém. Pela entrada da sala de entrada, vejo o Conselheiro Merrydale. Mas ele está conversando com os guardas, então será fácil abrir um caminho para os caminhos das fadas sob a capa da invisibilidade e sair daqui. Eu corro para a sala...
E algo se choca contra mim. Eu não consigo me mexer. Estou presa na porta. O que... estou visível. Estou brilhando. O Conselheiro Merrydale recua, levantando a mão para a boca, surpreso, enquanto olha diretamente para mim. — Oh, funcionou. — Em um instante, sua surpresa desaparece. — Agarre-a antes que ela fuja — ele grita.
Eu me liberto da magia me restringindo da porta e tropeço para trás. O guarda se lança pela porta e me joga no chão. Eu chuto e me contorço e saio do seu aperto. Lutando para me afastar e consciente de pelo menos cinco guardiões correndo em minha direção, eu procuro uma ilusão adequada. Minha mente desesperada começa a gritar - e gritos são o que eu ouço em voz alta. Os gritos horrorizados que encheram a casa de Ryn e Vi, aumentam e ecoam pelo grande saguão. O som faz minha pele arrepiar enquanto meus perseguidores olham em volta, procurando pela fonte. Armas brilhantes aparecem ao meu redor. Eu levanto e percebo que apesar dos gritos ensurdecedores de desespero, todo guardião ainda corre em minha direção.
Fogo, o mais quente que eu possa imaginar, vai em direção deles. Eles se afastam das chamas, me dando tempo para correr para a saída. Eu mergulho passando pela porta e estou presa novamente. — Argh! — Eu me contorço e grito e tento imaginar chamas consumindo o saguão atrás de mim e...
Uma força pesada me bate para dentro sala. Uma pessoa forte e feroz e prendendo meus braços atrás de mim. — Peguei você — uma voz rosna no meu ouvido quando ela arranca a peruca da minha cabeça.
Olive.
— Solte-a imediatamente! — Minha projeção grita, e embora eu nunca tenha visto a Rainha Seelie pessoalmente, penso em seu retrato na biblioteca no andar de cima e a imagino com o vestido mais opulento que minha imaginação pode criar, junto com uma expressão de fúria e um dedo apontado em comando.
— Sua - sua majestade?
Aproveito a confusão momentânea de Olive e empurro meu cotovelo para trás o mais forte que posso. Ela grunhe de dor e seu aperto se solta. Repito a ação, empurrando-a ainda mais para trás. Eu me afasto, me viro e forço um impulso de magia diretamente no peito de Olive. Com um grito, ela voa para trás e bate na parede.
— O que significa isso? — Minha rainha imaginária grita enquanto se move em direção à porta. Eu levanto, eu me atrapalho para pegar minha stylus, e rabisco através da parede.
— Não é real! — Alguém grita do outro lado da rainha.
Um portal de espaço escuro se materializa na minha frente. Eu dou meu primeiro passo e Olive se joga ao redor das minhas pernas. Eu caio na escuridão dos caminhos das fadas com a metade inferior do meu corpo ainda do lado de fora. — Ugh, solte! — Eu grito, me contorcendo e atirando faíscas de magia dos meus dedos.
— Você não vai fugir disso...
— Sim, eu vou! — Eu sento, me inclino para frente e balanço meu punho em seu rosto. Surpresa, mais do que tudo, é provavelmente o que a faz soltar. Eu dou-lhe um bom chute e me contorço para dentro da escuridão quando a minha porta se fecha atrás de mim. Eu me levanto na escuridão e entro desajeitadamente na casa do lago do outro lado dos caminhos. — Droga, isso doeu — murmuro, segurando minha mão dolorida. E agora, no silêncio da casa do lago, enquanto a fadiga e a dor de cabeça me alcançam mais uma vez, minha mente finalmente tem um momento para compreender o que aconteceu.
Um feitiço. Para detectar Dotados. Era isso o que aquela mulher estava testando lá embaixo. Ela deve ter colocado na porta da sala de entrada depois que eu já estava dentro da Guilda. É por isso que havia mais pessoas do que o habitual no saguão. Eles colocaram o feitiço e todos foram para casa, provavelmente nunca suspeitando que teriam a chance de vê-lo em ação tão cedo. E a maldita coisa funciona, o que significa que cada Dotado que...
Ryn. Merda. Eu tenho que avisar Ryn.
Estou prestes a ir direto para a casa dele quando me lembro do outro feitiço que eu deveria estar evitando. Guilda estúpida e seus feitiços de detecção estúpidos. Quais eram as palavras para o feitiço protetor que Gemma e Perry fizeram? Era muito mais simples do que o feitiço para os caminhos das fadas que era um trava-língua, mas droga, eu não posso me dar ao luxo de errar.
Eu destranco a porta das fadas e corro. Então, no saguão de entrada, passo a sala de estar, e...
— Oh, Calla, você...
— Sim, consegui! — Eu grito enquanto corro para as escadas. Gaius pode examinar o conteúdo da bolsa mais tarde, se quiser. Eu encontro a página com o feitiço de Perry ao lado da minha cama. Corro para a sala de banho, fico em frente ao espelho enquanto seguro uma mão acima da cabeça e leio o feitiço. Olhando para o espelho, me certifico de que o pó brilhante se forma e se instala sobre mim. — Feito — murmuro para mim mesma enquanto deixo a página na cama. Eu desço as escadas de volta e, apenas um minuto depois, estou saindo dos caminhos das fadas para a sala de estar de Ryn.
Escura, silenciosa e bolorenta, a única luz da sala vem da porta aberta que leva à cozinha. Eu dou um passo cuidadoso para frente, e depois outro, com medo de perturbar a quietude. A sala está arrumada, com tudo em seu lugar, exceto pelos livros abertos sobre a mesa de café e a garrafa ao lado deles. Uma garrafa contendo algum tipo de álcool, a julgar pela sua forma. Álcool humano, percebo, quando me aproximo. Do tipo que derruba faeries depois de apenas alguns goles. Não está aberta, no entanto, o que me dá algum alívio.
— O que você quer?
Com um sobressalto, percebo que Ryn está sentado em um dos sofás. Tão quieto e silencioso que eu não o notei lá. Eu aperto minhas mãos enquanto minha dor de cabeça se intensifica. — Eu... eu sei que você provavelmente não quer me ver, mas eu preciso avisá-lo sobre algo. A Guilda colocou um feitiço na entrada que detecta aqueles com Habilidades Griffin.
Ele não diz nada, seus olhos permanecem treinados no chão.
— Eu sei que você pode não voltar ao trabalho por um tempo, mas quando voltar, precisará descobrir como entrar sem ativar o detector.
Ainda assim, ele não diz nada.
— Bem, eu não estou dizendo que você tem que descobrir como — acrescento rapidamente. — Eu tenho um amigo que provavelmente pode dar um jeito nisso. Assim que ele descobrir, eu aviso você.
Nada.
— Ryn... — Eu engulo. — Eu sei que sou responsável por isso. Eu não estou negando isso. Mas a magia - o feitiço que fez isso - veio de bruxas. Eu sei quem elas são, e eu juro que vou encontrá-las. Elas... Elas devem parar. Elas não devem ser capazes de fazer isso com mais ninguém.
Espero alguma reação de Ryn, mas é como falar com uma sala vazia. Eu não aguento mais a conversa unilateral, ou a escuridão ou o abafamento. O desejo desesperado de consertar as coisas me prende quando eu entro na cozinha. Eu procuro algo para fazer. Algo que ajude. O centro da mesa da cozinha está cheio de envelopes e recados dobrados. Esse é o lugar onde a correspondência se materializa quando chega a essa casa, o que significa que Ryn não tocou em nada disso. Eu recolho tudo e classifico da melhor maneira possível em duas pilhas, uma para correspondência de trabalho e outra para pessoal. A pilha pessoal é muito maior. Condolências, sem dúvida. Deixo-as no balcão onde Ryn as verá quando ele vier à cozinha.
Alguns pratos sujos estão na pia, então eu coloco um feitiço para limpá-los enquanto preparo uma bebida quente para Ryn. Apesar do fato de ser a favorita dele, ele provavelmente não vai beber. Ele pode jogá-la em mim em uma explosão de raiva - agora que eu considero isso, seria preferível ao silêncio mortal que ele dirigiu a mim até agora. Eu volto para a sala de estar e deixo a caneca na mesa de café ao seu alcance, mas ele ainda não se move. Se não fosse pelo piscar ocasional e a lenta subida e descida de seu peito, ele poderia se passar por uma estátua.
Em seguida, subo as escadas. Silenciosamente, para que eu não perturbe Violet. A porta do quarto está aberta. Espero vê-la dormindo na cama, ou talvez olhando para o nada, mas o quarto está vazio. Depois de olhar brevemente para os outros quartos no andar de cima, fica claro que ela não está aqui. Eu arrumo tudo o que eu posso, mas não há muita bagunça para começar, então não demora muito para eu voltar para o andar de baixo.
Ryn não se mexeu. O vapor gira preguiçosamente no ar acima da caneca na mesa de café. Eu envolvo meus braços em volta do meu peito e engulo. — Onde está Vi?
Ele não diz nada por tanto tempo que eu suponho que ele ainda está me ignorando, mas, com uma voz rouca, ele diz, — Ela foi embora.
— Tudo bem. Hum... — Eu procuro algo para dizer. — Quando ela irá voltar?
A respiração que ele dá é apenas um suspiro, e estremece ao sair. — Eu não sei se ela vai voltar.
De alguma forma, o silêncio parece se intensificar quando eu entendo o que ele quis dizer com ‘foi embora’. — Você quer dizer... Tipo...
— Sim. Tipo como ela não foi apenas embora de casa, ela também me deixou.
— Ryn...
— Vá — ele diz baixinho.
Eu fecho meus olhos e uma lágrima escorre pela minha bochecha. Quando eu consigo engolir a culpa e a dor o suficiente para falar, eu sussurro, — Eu te amo e me desculpe.
Então me viro para sair. Meu olhar permanece na bebida - devo levá-la comigo? - e noto novamente os livros ao lado. Livros com fotos, um deles com a letra de Vi rabiscada na margem. Faço uma pausa, olhando a escuridão, e desta vez vejo algo que reconheço: uma pirâmide com uma segunda pirâmide menor em cima da primeira. Meu coração se acalma um pouco antes de pular para ação. Eu pego o livro, olhando para Ryn para ver se ele está prestes a se opor. Seu olhar fixo está apontado para outro lugar, por isso fecho o livro e o levo comigo enquanto saio com a determinação renovada.
Eu finalmente, sei onde as bruxas estão.
Capítulo 18
A besta da culpa circula meus pensamentos quando entro na montanha com o livro de Vi debaixo do meu braço. Comida é a coisa mais distante na minha mente, mas Gaius sai da sala e aponta para a cozinha. — Eu guardei comida para você, — diz ele com um sorriso. — Você precisa está forte para amanhã à noite.
Força. Suas palavras me fazem lembrar o cansaço sobrecarregando meu corpo e a dor latejante em minha cabeça. Eu não preciso de comida. Eu preciso de um pouco daquele tônico ao lado da minha cama. Mas Gaius já está pegando meu braço e me levando para a cozinha, então eu decido que é mais fácil não lutar. — Você disse que conseguiu pegar aquela bolsa do escritório da sua antiga mentora? — Ele pergunta enquanto eu me sento à mesa da cozinha.
— Hmm? Ah, sim. — Retiro a bolsa do bolso e entrego a Gaius. Depois de acenar com a mão brevemente ao fogão para aquecer o que está na panela, ele pega a bolsa.
— Muito interessante — ele murmura, olhando dentro dela.
— Gaius — eu digo, abrindo o livro de Vi para a página com as pirâmides. Eu cubro sua caligrafia com uma mão enquanto aponto para as fotos. — Você conhece esse lugar?
Ele desvia a atenção do conteúdo da bolsa de Olive. — Hum... Deserto Mitallahn. — Ele lê o nome lentamente, como se não tivesse certeza de como pronunciá-lo corretamente. — Sim, eu ouvi falar dele.
O nome é familiar, mas não me lembro por quê. — Você sabe alguma coisa sobre?
— Sim, eu me lembro de Chase dizendo algo sobre isso há vários meses. Foi... oh, sim, surgiu em sua pesquisa sobre Amon. Foi nesse lugar que Amon cresceu.
Claro. É por isso que o nome é familiar. Eu li sobre nas anotações de Chase. Eu fecho o livro e o coloco no meu colo.
— Mais pesquisas sobre Amon? — Elizabeth pergunta da porta.
Eu olho para cima para encontrá-la me observando de perto. — Hum, sim. Ah, obrigada, Gaius, — acrescento quando ele coloca um prato de comida na minha frente. — Eu vou comer no andar de cima, tudo bem?
— Oh, tudo bem. Sim, suponho que todos nós devamos dormir cedo.
— Sim, devemos — diz Elizabeth, ainda me observando. Seu olhar permanece sobre mim todo o caminho até as escadas.
Eu fecho a porta do meu quarto e sento na cama. Eu empurro o prato para um lado, coloco o livro na minha frente e volto para a página do Deserto Mitallahn. Eu me inclino para frente para olhar mais atentamente. Eu definitivamente já vi essa pirâmide antes, na parte de trás do espelho, quando falei com a bruxa. Ela e a outra bruxa e Angelica ainda poderiam estar lá agora? É onde elas estão ficando? Possivelmente, se estão trabalhando para Amon e este é o lugar onde Amon costumava viver. Eu acho que ele ainda não sabe que Angelica decidiu deixá-lo na prisão.
Eu viro o livro de lado e leio as anotações de Vi. Feitiço V colocado por Z. Os feitiços pertencem a Z. Siga o feitiço, localize Z. Pirâmides. MAS ELE NÃO ESTAVA LÁ!
Eu suponho que V é Victoria e Z é Zed. Então Vi obviamente está procurando por Zed. Com sua Habilidade Griffin que permite que ela encontre alguém desde que toque em algo que pertence a essa pessoa, não deve ser muito difícil, exceto que ela não tem nada que pertença a Zed.
Oh. O feitiço. A magia que lentamente matou Victoria. Essa seria a única coisa que Vi teria acesso que pertence a Zed. Eu me encolho com a imagem de Vi tocando o corpo sem vida de sua filha na esperança de encontrar o homem que a matou.
MAS ELE NÃO ESTAVA LÁ!
Suas palavras me encaram, gritando silenciosamente. Claro que ele não estava lá, eu percebo. Porque o feitiço ou maldição ou o que quer que seja que ele colocou em Victoria não pertencia a ele. As bruxas fizeram isso. Pertence muito mais a elas do que a Zed. Então, quando Vi tocou Victoria e viu imagens de pirâmides no deserto, ela estava vendo a localização das bruxas.
O que combina com o que vi no espelho de Elizabeth.
Fecho o livro e vou para a minha sala de banho buscar um copo de água. Depois de misturar uma colherada de tônico de Elizabeth na água, bebo devagar, ouvindo Gaius andando pelo corredor até o quarto dele. Todos nós devemos dormir cedo. Espero que ele esteja seguindo seu próprio conselho. Eu, no entanto, não vou.
Eu amarro meu cabelo para trás, coloco armas no meu corpo, fecho minha jaqueta e escuto atrás da porta por um minuto ou mais. Quando não ouço mais nenhum som, saio e desço as escadas. A besta da culpa, aquela sombra sempre presente da verdade sombria e terrível, me segue. Espero que, quando esta noite acabar, essa criatura feia e fedorenta não me atormente mais.
Eu paro na frente da porta das fadas. Quando minha mão alcança a maçaneta, ouço passos atrás de mim. — Olhe para você — diz Elizabeth em uma voz melódica, passando por mim e colocando-se entre mim e a porta das fadas, — me fazendo ir contra a minha natureza egoísta, a fim de fazer a coisa certa.
Minhas palavras são quase um grunhido. — Saia da minha frente.
— Não. Eu sei para onde você está indo, Calla, o que infelizmente significa que sou eu quem tem que parar você.
— Você não sabe de nada.
— Não sei? ‘Eu procurarei em todos os desertos do mundo se for preciso’. Não foi isso que você disse sobre a bruxa?
Meu olhar de raiva se intensifica. — Bravo. Então você sabe para onde estou indo. Que inteligente você é.
— Você não vai — diz ela.
— Olha, se você está preocupada com a missão, não fique. Eu voltarei a tempo.
— Eu não estou preocupada com a missão. Bem, eu estou um pouco, mas principalmente - acredite ou não - estou preocupada com você.
— Mova-se — digo a ela.
Ela sacode a cabeça. — Você sabe que não vai fazer isso.
— Elizabeth...
— Você não vai. Você pode planejar. Você pode pensar que vai. Mas no fim, você não vai matar essas bruxas. Você não é assim.
— Você não sabe nada sobre quem eu sou.
— Oh, mas eu sei. Chase me contou muito sobre você. E não - não fique brava com ele por isso. Ele e eu somos... tipo como uma família. Contamos tudo um ao outro e guardamos os segredos um do outro por anos. Então, é assim que eu sei que você é muito mais forte do que qualquer um de nós. Nós dois éramos novos neste mundo e não sabíamos o que fazer com o poder com o qual nos encontrávamos. Eu era fraca e deixei outros me controlarem; Chase estava com medo, irritado e quebrado, e isso o levou a um caminho terrível.
Eu cerro meu punho e pressiono contra o meu peito. A emoção faz minha voz tremer. — E se eu estiver com medo e com raiva e quebrada também?
— Você pode estar, mas também é corajosa, honesta e otimista. Você suportou coisas que ninguém deveria ter que suportar, e você fez a coisa certa no final, ao contrário de alguns de nós.
Eu fecho meus olhos e balanço minha cabeça. — Pare. Eu não posso ser nenhuma dessas coisas agora. Eu não quero ser nenhuma dessas coisas. Eu tenho que fazer isso.
— Por quê?
— Porque meu irmão nunca vai me perdoar!
Abrindo meus olhos, vejo o rosto dela confuso pela primeira vez. — O que você quer dizer?
— Eu deixei isso acontecer! E ele... E se ele nunca... — Minha garganta se contrai e eu mal posso respirar. Tudo o que eu posso ver é Ryn sentado sozinho no escuro, recusando-se a olhar para mim, seu coração ficou para sempre frio para mim. — Você não entende como... Como ele sempre esteve lá por mim... Sempre. E agora...
Elizabeth toca meu ombro. — Se seu irmão te considera responsável ou não, você realmente acha que matar as bruxas cuja magia fez isso deixará tudo certo?
Eu mal posso forçar um som quando eu sussurro, — Eu só quero odiar alguém que não seja eu mesma.
— Calla — ela diz gentilmente, mais gentil do que eu já a ouvi. — Se você fizer isso, isso só fará você se odiar ainda mais.
Eu cubro meus olhos com minhas mãos enquanto as lágrimas caem. Talvez ela esteja certa, mas não posso não fazer nada. Eu não posso deixar Ryn sentado na escuridão perpétua e não fazer nada. Eu fungo e enxugo minhas lágrimas. — Tudo bem — eu digo. — Tudo bem. Eu não vou matá-las. Mas eu vou capturá-las e deixá-las amarradas do lado de fora da Guilda. E vou fazê-las me dizer onde Zed está para que eu possa capturá-lo também. Vou deixar um recado com as bruxas explicando que elas são as responsáveis pela doença do dragão. A Guilda vai interrogá-las com a poção da verdade, e elas vão...
— Calla — interrompe Elizabeth. — Não é o momento certo para isso. Você sabe o quão importante amanhã à noite...
— Claro que eu sei — eu digo. — Mas eu posso fazer as duas coisas. Posso surpreender as bruxas, amarrá-las e levá-las até a Guilda. E então, Ryn saberá que as pessoas responsáveis pela morte de Victoria serão devidamente punidas.
— Calla! Esta é a nossa única chance de resgatar Chase. Você precisa dormir esta noite em vez de lutar contra as bruxas, e precisa estar pronta para sair junto com o resto de nós amanhã à tarde. Você não pode arriscar não estar aqui quando partirmos. — Ela agarra minhas duas mãos e as aperta. — Eu sei que você quer fazer isso por seu irmão, então ele irá parar de culpá-la. E eu sei que você quer resgatar Chase. Mas você não pode. Fazer. As Duas Coisas.
Eu não posso fazer as duas coisas. A realização me deixa fraca. — Eu não posso fazer as duas coisas — eu sussurro. Pelo menos não hoje à noite. E não amanhã a noite. Na noite seguinte, as bruxas podem ter ido embora, mas eu vou procurá-las de qualquer maneira. Eu procurarei para sempre se for preciso. Um dia, eu vou fazê-las pagar.
Capítulo 19
Elizabeth claramente não confia em mim para ficar no meu quarto a noite toda, então ela conjura uma corda mágica e brilhante, amarra nossos pulsos e dorme ao meu lado. Quando acordo de manhã, ela se foi.
Eu passo a primeira parte do dia com o Gaius procurando no guarda-roupa e escolhendo roupas para todos. Ele e Ana estarão posando como o barão e sua filha Brynn. Se tudo correr conforme o planejado, eles serão os únicos que serão vistos hoje à noite. Lumethon e Elizabeth estarão debaixo do chão do palácio, procurando por Chase e mantendo-se fora de vista. Mas se alguém ver algum deles, eles precisam estar vestidos adequadamente para fingir que são festeiras intrometidas que queriam explorar o palácio e acabaram se perdendo. Kobe e Darius, que também estarão procurando por Chase, estarão vestidos como guardas do palácio. Eles podem fingir levar as senhoritas embriagadas de volta ao andar de cima, se necessário. Gaius e eu modificamos dois uniformes da Guilda - não pergunto de onde ele tirou - mudando a cor para azul meia-noite e adicionando a insígnia da Rainha Seelie ao topo de cada braço, usando minha projeção do guarda que vi na outra noite como referência.
Eu sou a única que não vai precisar usar roupas de festa. Eu estarei escondida do lado de fora do salão de baile, permanecendo em contato constante com a equipe, manipulando ilusões e, essencialmente, interpretando a mestre de marionetes. Minha roupa será tão escura e discreta quanto as sombras em que eu pretendo me esconder.
Nós colocamos toda a roupa formal e máscaras na mesa da sala de reuniões, enquanto o resto da equipe começa a chegar. Lumethon, quem eu não consigo imaginar usando um vestido, pega a roupa menos frívola, alonga com um simples feitiço de moldar roupa e passa a Darius e Kobe seus uniformes de guarda. Gaius, já vestido, faz ajustes em sua máscara.
— Se é isso que a realeza tem que vestir — diz Darius, olhando a roupa de Gaius, — então eu estou feliz de ser uma das pessoas comuns.
— Ha! — Ana diz enquanto entra. — Você seria comum mesmo se fosse da realeza.
— É um traje formal tradicional de faerie — explica Gaius a Darius. — Eu nunca enviei você para um evento formal em uma de nossas missões?
— Não. Você sempre faz Kobe ir para essas coisas.
— Eu não me importo — diz Kobe com um encolher de ombros.
— De jeito nenhum — exclama Ana quando Lumethon lhe entrega um vestido roxo. — Você quer que eu use isso?
— Agora, quem é comum? — Darius sussurra em voz alta em seu ouvido antes de sair da sala com seu uniforme.
— Eu tenho que usar essa coisa ridícula? — Ana geme. Ela se vira para mim. — Eu não posso usar algo normal e então, você imagina esse vestido fofo em mim?
— Acho que devemos deixá-la aqui — diz Elizabeth. Eu olho por cima do meu ombro e a encontro encostada à parede, fixando Ana com um olhar nada impressionado. Seu vestido vermelho brilhante é dela. Nada do guarda-roupa para ela.
— Não vou passar a noite inteira imaginando seu vestido para você — digo a Ana. — Você e Gaius são próximos o suficiente para parecer como o barão e sua filha. Uma vez que você estiver dentro e colocarem as máscaras, não vou desperdiçar mais energia para disfarçar vocês.
— Isso é por Chase, lembra? — Lumethon diz baixinho, acariciando o braço de Ana enquanto ela passa com seu vestido.
Com um suspiro, Ana pega o vestido e sai para procurar outra sala para se trocar.
Eu olho em volta para Gaius e Elizabeth. — Bem, se vocês precisarem de mim, eu vou estar no andar de cima me preparando.
— Não esqueça de uma peruca — acrescenta Elizabeth. — Você não ficará escondida por muito tempo com esse cabelo dourado brilhando por aí.
— Existe uma alternativa mais fácil? — Pergunto. — Um feitiço de tinta para cabelo ou algo assim? Essas perucas são desconfortáveis. Eu não quero estar pensando na minha cabeça coçando quando eu deveria estar imaginando uma ilusão.
Elizabeth olha para Gaius. — Você tem espinho de obsidiana?
— O arbusto com as bagas pretas? Sim, acredito que sim.
Com um suspiro, Elizabeth se afasta da parede. — Ótimo. Eu vou esmagar algumas bagas enquanto você se veste, Calla.
Eu volto para o meu quarto e troco de roupa. Minha roupa é exatamente o que eu usaria se fosse uma guardiã em uma missão: preto da cabeça aos pés, apertado e fácil de se mexer. Minhas botas também são pretas, exceto pelos cadarços azuis e minha jaqueta de todos os dias. Que claro, também é preta.
Enquanto espero por Elizabeth, diluo um pouco do tônico que ela fez em uma garrafa de água pequena o suficiente para caber em um bolso interno da minha jaqueta. Eu coloco um pouco mais do que ela sugeriu, sabendo que eu quase certamente precisarei de um impulso em algum momento esta noite. Eu fecho a tampa com força, enfio no bolso e fecho a jaqueta. A garrafa não é a única coisa escondida na minha roupa. Eu lutei com alguns feitiços para moldar a roupa mais cedo até que pude adicionar várias tiras e bolsos extras dentro da jaqueta para colocar um espelho, algumas shurikens e outros itens úteis.
Estou prestes a me afastar da cama quando noto Filigree sentado em forma de gato entre meus travesseiros. Ele avança, para na beira da cama e olha para mim com olhos arregalados e tristonhos. — Não — eu digo com firmeza. — Este é um passeio que você não pode vir junto. Estou falando sério, Filigree. Sem se esgueirar para os meus bolsos. — Ele se deita, abaixa a cabeça nas patas e continua me olhando com olhos tristes.
Elizabeth bate e entra carregando uma tigela com líquido preto. — Pronta? — Ela pergunta.
— Sim. Obrigada. Desculpe fazer você fazer isso. Espero que você não tenha espirrado suco no seu vestido.
— Oh, eu realmente não esmaguei a baga. É para isso que magia serve.
— Certo. Isso é verdade. Então... preciso me inclinar sobre a piscina?
— Sim. — Ela passa por mim para entrar na sala de banho. — Bem, você não precisa, mas pode ser mais limpo assim.
Eu me ajoelho na grama encantada ao lado da piscina e puxo meus cabelos dourados sobre a água. — Eu preciso molhar meu cabelo?
— Não importa. Magia está envolvida, então você não precisa fazer nada.
Eu sinto o líquido frio sendo derramado na minha cabeça, mas posso ver Elizabeth encostada na parede, o que significa que ela está controlando tudo à distância. Sua mão se move para o lado de vez em quando, movendo meu cabelo ou a tintura, mas principalmente ela permanece relaxada contra a parede. Um fluxo de água sobe e lava meu cabelo sem molhar o resto de mim, e quando eu sento, ar quente sopra através do meu cabelo e o seca em poucos minutos. — Você é realmente muito boa nisso — eu admito quando ela me diz para ficar de pé.
— Eu sei — diz ela. — Lembra quando você e eu nos conhecemos? Eu te disse que eu era a cabeleireira de Chase, e você não acreditou em mim.
— Claro que não.
— Bem, agora você sabe quem o ajuda com seu disfarce com o cabelo de duas cores dos faeries para que ele não se pareça um halfling.
Eu aceno com a cabeça devagar enquanto ando até o espelho. Meus olhos se arregalam ao ver o cabelo tão escuro em cima da minha cabeça. — Parece muito legal, na verdade. Quanto tempo vai durar?
— Só até você lavar o cabelo. Presumi que você não queria uma alteração permanente, e foi por isso que optei pela opção de suco das bagas.
— Legal. — Eu puxo meu cabelo para trás em um rabo de cavalo alto, o prendo firmemente e digo, — Tudo bem, vamos.
— Maquiagem? — Pergunta Elizabeth.
Eu paro. — O quê que tem?
— Você vai passar? Seu rosto está tão pálido quanto uma lua em um céu sem estrelas contra todo esse preto. Você dificilmente vai se misturar nas sombras dessa maneira.
Bem, por mais poético que isso soasse, não era um elogio. Eu cruzo meus braços. — O que você quer que eu faça? Pinte todo o meu rosto de preto?
— Não todo o seu rosto, mas poderíamos colocar uma sombra preta em torno de seus olhos, no mínimo.
Eu levanto uma sobrancelha. — Uma sombra?
Quando Elizabeth termina, parece que algum tipo de cisne negro foi pintado na metade superior do meu rosto. Na verdade não parece tão ruim. Elizabeth acena em aprovação. — Muito foda. Definitivamente não é meu estilo, mas foda mesmo assim.
Foda. Eu gosto do som disso. Nós vamos para a porta, mas eu paro depois de abri-la e olho para ela. — Eu não quero falar muito sobre isso, mas é possível que eu realmente... morra hoje à noite.
— Oh, não seja tão dramática — diz ela, passando por mim.
— Eu estou sendo realista, Elizabeth. — E eu estou tentando não deixar o medo da morte me consumir. — Essa maldição não é piada. Se o seu tônico parar de funcionar e eu usar muito a minha Habilidade Griffin - o que é altamente provável, dado tudo o que planejamos - essa noite pode ser à noite em que eu vou ficar fraca demais para continuar. Então, se eu não conseguir ver Chase de novo, você vai...
— Honestamente, Calla, você precisa parar de se preocupar com isso — diz ela, continuando ao longo do corredor, me fazendo correr para alcançá-la. — Concentre-se em não fazer besteira hoje à noite, e podemos lidar com a maldição depois. Se você fosse morrer em breve, Luna não teria visto você no futuro do Chase.
Meus passos param. Um arrepio eriça os pêlos dos meus braços. — O quê?
Alguns passos à minha frente, Elizabeth congela. Ela não olha para mim, mas eu a ouço xingar sob sua respiração. — Eu esqueci que ele nunca mencionou isso para você — ela murmura.
Eu fecho a distância entre nós e seguro seu braço. — Do que você está falando? O que Luna Viu?
— Eu... não tenho certeza absoluta. Você terá que perguntar ao Chase.
— Você está mentindo. Se você e Chase realmente contam tudo um ao outro, então ele teria contado sobre isso.
— Olha, Calla — diz ela, retirando a minha mão do seu braço. — Não sou eu quem tem que te contar, e sinceramente não me lembro de nenhum detalhe além das palavras 'a mulher dourada' A visão era sobre você e Chase, e se ele decidiu não contar a você, ele deve ter tido um bom motivo. Eu deveria ter mantido minha boca fechada, e me desculpe. — Ela se afasta.
— Então é isso? — Eu falo atrás dela. — Eu tenho que ir para esta missão agora e esquecer completamente o que você acabou de dizer?
— É exatamente isso.
Com um grande esforço, eu guardo minhas perguntas, dizendo a mim mesma que se tudo correr bem esta noite, não demorará muito para que eu possa perguntar a Chase exatamente o que Luna Viu. Eu provavelmente ficarei muito feliz em tê-lo de volta, porém, e questões como essa dificilmente serão importantes. Eu sorrio com o pensamento, minhas entranhas se enchendo de calor quando eu imagino finalmente ser capaz de tocar e ver e ouvi-lo novamente. Eu me dou uma última palestra silenciosa enquanto sigo Elizabeth: Eu não vou morrer, não importa o que Luna Viu, e todo pensamento precisa estar focado em nossa missão agora.
Lá embaixo, encontro o resto da equipe reunida no saguão de entrada. — Todo mundo pronto? — Gaius pergunta, eu sinto uma pontada de nervosismo. Todos concordam, então eu também aceno. Eu estou pronta, digo a mim mesma. É só com a maldição que estou um pouco preocupada. — Vamos fazer o feitiço de comunicação? — Gaius acrescenta.
— Vai durar bastante tempo? — Lumethon pergunta.
— Geralmente dura cerca doze horas, eu acho. No entanto, não temos outra chance de fazer, então tem que ser agora. — Gaius passa um pedaço de papel para nos lembrar das palavras. Cada um de nós pega uma stylus e escreve em alguma parte da nossa pele. Então, a parte tediosa: cada um de nós tem que marcar a pele um do outro para que todos nós tenhamos contato um com o outro.
— Tem que haver um jeito mais fácil do que isso — Darius murmura. — Isso é magia, certo? A magia não deve tornar nossas vidas mais fáceis?
— Confie em mim — diz Elizabeth. — Isso é mais fácil do que os pequenos aparelhos que os humanos colocam em seus ouvidos.
— Certo — diz Gaius quando terminamos. — Calla, você quer testar a ilusão que você vai usar a maior parte do caminho até lá?
Eu aceno e me afasto do grupo para que eu possa visualizar a cena corretamente. Gaius e Ana serão o Barão Westhold e sua filha, e o resto de nós não estará lá. Eu fecho meus olhos e imagino isso. O barão, Brynn, e ninguém mais.
— Uau, isso é estranho — comenta Darius. — Olhar para baixo e não me vendo.
Eu solto a imagem e coloco a parede de volta à minha mente.
— Maravilhoso — diz Gaius. — Vamos.
***
Eu coloco toda a minha concentração na ilusão a partir do momento em que saímos dos caminhos das fadas e entramos na margem ao lado do rio limpo. Estou ciente de que há outros faes vestidos com togas e máscaras em pé no que poderia ser uma fila, e que mais de um barco branco está flutuando ao longo do rio, mas eu tento não prestar atenção em nada, exceto na minha ilusão.
Gaius e Ana se juntam ao final da fila, e o resto de nós fica de lado, de mãos dadas. Parece bobo, mas não podemos nos ver, então pelo menos sabemos onde estão estamos. Uma conversa silenciosa enche a área, mas nem Gaius nem Ana se juntam. Antes de sairmos da montanha, eu instruí todos a ficarem de boca fechada. — Se eu precisar que o barão ou sua filha diga alguma coisa, vou imaginar isso acontecendo.
Na frente da fila, antes de entrar em um barco, cada convidado deve apresentar seu convite para o guarda da Corte Seelie de pé na margem.
Quando é a vez de Gaius entregar sua rosa cor de champanhe, o guarda olha a lista de convidados em seu tablet âmbar e franze a testa. — Sua resposta indicou que você não iria participar.
— Oh? Eu sinto muito — imagino o Barão Westhold dizendo. — Eu pensei que tinha contatado o palácio para mudar isso.
— Receio que você não mudou.
— Bem, estamos aqui agora — diz o barão, com uma risada que parece tão nervosa como eu me sinto. — Podemos entrar no barco?
— Espere. — O guarda abaixa o seu tablet âmbar, e a imagem de um rosto aparece em cima dele. — Por favor, remova sua máscara, Barão Westhold. — Eu prendo a respiração e me concentro mais ferozmente quando Gaius tira sua máscara. O guarda olha para trás e para frente entre Gaius e a imagem do rosto do barão. Satisfeito, ele concorda. Então, ele se vira para Ana e repete o processo, mostrando uma imagem da filha do barão. Ele acena novamente e devolve o convite de rosa a Gaius. Ele estende a mão em direção ao barco e diz — Obrigado pela sua paciência. Tenha uma viagem agradável.
Gaius e Ana entram no barco, e o resto de nós se apressa para fazer o mesmo, fazendo esguichar um pouco demais. Com mais cinco pessoas que ninguém consegue ver, nosso barco fica bem mais baixo na água do que qualquer um dos outros. O guarda está ocupado com o próximo convite, e ninguém mais parece notar.
Eu respiro mais facilmente quando estamos nos movendo, mas não ouso soltar a ilusão. Eu estou ciente de um cansaço crescente nos limites da minha mente, e me assusta saber a rapidez com que os efeitos da maldição estão funcionando agora. Definitivamente, mais rápido que antes. Eu acaricio a frente da minha jaqueta e sinto a borda reconfortante da garrafa enfiada no bolso interno.
Quando a viagem de barco chega ao fim, saímos e encontramos uma fileira de carruagens puxadas por pégasos. O guarda que encontra Gaius e Ana verifica seu convite, mas não há confusão desta vez sobre se eles deveriam estar aqui ou não. A mensagem deve ter sido passada de alguma forma. Gaius e Ana entram na carruagem, mas quando o guarda se move como se fosse subir atrás deles, imagino o barão virando-se e segurando a mão dele. — Eu gosto da minha privacidade. Minha filha e eu nos sentaremos sozinhos.
O guarda abre a boca, mas hesita, como se não estivesse preparado para essa situação.
— Certamente você tem um assento na frente da carruagem? — Barão Westhold pergunta.
— Hum, sim, senhor. Eu tenho. Mas os pégasos dirigem sozinhos, então... Mas tudo bem, senhor. Eu sentarei na frente. Faça uma viagem agradável. — Ele se curva e caminha até a frente da carruagem.
Quando o resto de nós entra, percebo o quão apertado ficará. Eu não considerei essa parte. O guarda notará o esforço extra necessário para que os pégasos nos tirem do chão? Eu mordo meu lábio quando a carruagem se move e continuo mordendo quando aceleramos. Felizmente, esses pégasos parecem ser muito mais fortes do que eu acreditei. Com um pequeno chiado, estamos no ar.
Finalmente, libero a ilusão. Eu acho que estamos seguros pelas próximas horas. Gaius e Lumethon sussurram um para o outro, e Kobe observa o pôr do sol através da janela da carruagem. Ana e Darius brigam por espaço, acotovelando-se repetidamente até que Lumethon pede para eles pararem. Elizabeth inclina a cabeça para trás e fecha os olhos. Pelo jeito que ela continua perfeitamente imóvel, posso dizer que ela não está dormindo. Eu olho para a janela e finjo que Chase ainda pode ouvir meus pensamentos. Nós estamos chegando, eu sussurro em silêncio. Estamos quase lá.
***
Horas depois, sou acordada do meu estado adormecido quando alguém toca meu joelho. — Estamos descendo — diz Gaius. Ele estende a bolsa que eu roubei de Olive. — Espero que isso nos deixe passar em segurança pela entrada. — Ele passa pela carruagem, e nos revezamos borrifando um pouco do pó sobre nossas cabeças.
— Eu realmente espero que isso funcione — murmura Ana.
— Vai funcionar — diz Gaius.
Momentos depois, as rodas da carruagem tocam o chão. Lembro que o telhado desapareceu neste momento da última vez, então rapidamente imagino as pessoas que deveriam estar dentro dessa carruagem: o barão, Brynn, ninguém mais. Segundos depois, o teto da carruagem desaparece. Sem olhar muito de perto, percebo o que nos rodeia. As árvores que se alinham em ambos os lados da avenida estão cheias de pequenas luzes, e o delicado aroma das flores caindo no chão enche o ar.
À frente, outra carruagem ressoa em direção ao arco. Ela alcança a cachoeira, atravessa e desaparece de vista quando a água recua sobre o espaço como uma cortina. Eu fico tensa quando nossa carruagem se aproxima do arco. Minhas mãos se apertam em torno uma da outra e eu me preparo para ser jogada para trás por uma parede de água sólida. Estamos tão perto agora. Quase lá, quase lá...
E então nós passamos. Meu suspiro de alívio não é o único. Eu fortaleço minha ilusão mais uma vez quando entramos em um pátio cheio das mesmas árvores floridas de rosa e laranja que se alinham na avenida. Nós circulamos ao redor da borda antes que os pégasos parem. Olhando para cima e ao redor, vejo pilares brancos e torres, escadas em espiral e varandas elegantes.
Não, pare, concentre-se.
Eu não posso me dar ao luxo de me distrair, não importa o quão bonito o ambiente seja. Gaius e Ana - o barão e a filha - saem da carruagem. O resto de nós segue logo atrás, pegando as mãos um do outro novamente quando estamos fora da carruagem. O guarda os leva a um segundo arco, onde seu convite é verificado pela terceira vez e imagens flutuantes de seus rostos são novamente comparados. — Ande pela fonte em direção à porta aberta do outro lado do pátio — diz o guarda, apontando através do arco. — Aquele é o salão de baile. Você não pode perder. — Gaius e Ana caminham abaixo do arco, e com muito cuidado, o resto de nós passa atrás eles.
Nós conseguimos. Estamos dentro do Palácio Seelie.
Capítulo 20
A porta aberta do outro lado da fonte nos dá um vislumbre de um salão de baile cheio de faes mascarados, dançarinos girando, vestidos magníficos e pratos flutuantes com iguarias exóticas. — Boa sorte a todos — diz Gaius, sua voz tão clara no meu ouvido como se ele estivesse de pé ao meu lado. — E lembre-se, se alguma coisa der errado, saiam daqui. Podemos reavaliar do lado de fora e fazer outro plano, mas somos inúteis se todos forem pegos dentro do palácio. — Ele e Ana colocam suas máscaras sobre os rostos e desaparecem no salão lotado. Solto a ilusão disfarçando-os, me concentrando agora em manter o resto de nós invisíveis.
— Precisamos entrar — diz Lumethon. — Encontrar essa passagem com a tapeçaria de unicórnio. — A pessoa invisível na minha frente - Elizabeth, presumo, dado que estou segurando uma mão com luva - vira para a esquerda em direção a outra sala que leva a este pátio. Está aberto e arejado, com corrimões em forma de galhos na escada e cenas de criaturas mágicas esculpidas nos pilares dos dois lados da sala. Olhando para a direita, vejo relva e roseiras, estátuas e fontes e o lado do salão de baile. Nenhum vidro cobre as janelas altas e sons de risos, música e conversas chegam aos nossos ouvidos. — Nós provavelmente deveríamos ir por essa passagem primeiro — diz Lumethon. Eu não sei para onde ela está olhando, mas há apenas uma passagem que saí desta sala, do outro lado da escada.
— Eu concordo — diz Kobe. — É improvável que a entrada esteja no andar de cima, considerando que a prisão está abaixo de nós.
Eu agarro a mão de Elizabeth e deixo ela me guiar através de passagens, por cantos e pátios enquanto continuo focada no pensamento do espaço vazio onde quer que estejamos caminhando. Quando o amigo de Gaius foi levado para as masmorras daqui, ele foi levado por uma entrada externa longe do palácio real. Mas quando chegou a hora de partir, os guardas que o acompanhavam estavam com pressa. Eles o trouxeram através de uma porta dentro do próprio palácio. Uma porta escondida atrás de uma tapeçaria com um unicórnio em um corredor com estrelas e luas pintados nas paredes.
— Nada ainda? — Pergunta Gaius. — Meu amigo disse que passou pelo salão de baile ao sair, então imagino que vocês não tenham que ir tão longe.
— Nada ainda — diz Lumethon. — Tudo bem no salão de baile?
— A Rainha ainda não está aqui — Ana nos diz, — mas eu vi a Princesa Audra agora. Ela estava dançando com alguém e pelo menos seiscentos guardas estavam na ponta dos pés, tentando mantê-la em suas miras.
— Exageros — murmura Gaius.
— Bem, isso é completamente entediante. Eu gostaria que também estivéssemos procurando pelo Chase.
— Todo mundo tem um papel a desempenhar hoje à noite, Ana — Lumethon diz, — e esse é o seu. Então pare de reclamar e preste atenção no que está acontecendo no salão de baile.
— Shh, aqui está — diz Elizabeth. Olho em volta quando saímos de uma pequena sala de estar e entramos em uma passagem pintada de azul-escuro e salpicada de estrelas e luas. As estrelas são manchas de luz amarela cintilante e as luas brilham brancas prateadas, possivelmente pintadas com o próprio luar. A passagem se curva, nos impedindo de ver mais do que alguns passos adiante.
— Eu vou virar no canto e olhar — diz Lumethon. Eu ouço e não vejo nada, mas suponho que ela está indo embora. Alguns momentos depois, ela diz, — Voltei. Eu vi a tapeçaria. Um guarda está ao lado dela, então podemos precisar de uma ilusão para distraí-lo. Talvez o desmaio do qual discutimos.
— Deixe-me tentar primeiro — diz Elizabeth. — Se eu não conseguir convencê-lo a deixar seu posto, então Calla pode projetar algo em sua mente.
— Você já foi incapaz de persuadir alguém? — Darius pergunta.
— Hmm. — Elizabeth solta minha mão. — Chase tem sido alheio aos meus poderes por anos, mas os homens em geral não têm a força mental necessária para resistir à minha persuasão.
— Brilhante — Darius murmura. — Vou tentar me lembrar de nunca te chatear.
— Um movimento sábio — ela sussurra, tornando-se visível enquanto eu ajusto a imagem que estou vendo na minha cabeça. Ela caminha ao redor da curva na parede, balançando os quadris e lentamente tirando uma luva.
— Não o machuque — Lumethon murmura quando Elizabeth desaparece da nossa vista.
— Apenas uma precaução — ela responde sussurrando. Segundos de silêncio passam. Então eu ouço sua voz sensual como se ela estivesse bem ao meu lado, e uma voz masculina mais profunda, distante e difícil de entender. Ela diz a ele como os jardins estão lindos hoje à noite. Ela diz que ele quer encontrar a janela mais próxima e olhar para fora até o sol nascer amanhã de manhã. Então ela diz, — Tudo certo.
Eu olho em volta para ter certeza de que ainda estamos sozinhos antes de deixar cair a ilusão para que fiquemos todos visíveis mais uma vez. — Você vai se esconder em algum lugar aqui fora, Calla? — Lumethon diz para mim.
— Sim. — Eu não quero, claro. Eu quero ir para as masmorras com eles. Eu quero desesperadamente estar lá no momento em que eles finalmente libertarem Chase. Mas todos concordaram durante os estágios de planejamento desta missão que eu deveria me esconder em algum lugar sozinha, mantendo a mente livre de distrações e pronta para forçar uma ilusão em alguém a qualquer momento. — Se você precisar de mim para imaginar algo, me dê o máximo de detalhes possível. — Ela balança a cabeça. — E tenha cuidado, por favor. Todos vocês.
Lumethon, Darius e Kobe se apressam para virar a esquina. Eu sigo apenas o suficiente para ver a tapeçaria e vejo os membros da minha equipe a puxarem para o lado e passar pela porta atrás dela.
Quando a tapeçaria desliza de volta ao lugar, eu me inclino contra a parede repleta de estrelas e fecho os olhos. A exaustão se instala em mim. Membros pesados e pensamentos lentos. É apavorante a rapidez com que está acontecendo agora. Com os dedos tremendo, eu alcanço dentro da minha jaqueta para pegar a garrafa. Eu tomo um gole, me dou outro minuto ou dois, depois me afasto da parede. Embora minha cabeça doa de imaginar isso, eu me concentro mais uma vez quando volto para o salão de baile, os comentários sussurrados de meus colegas de equipe enchendo meus ouvidos.
— Oh, cara, o cheiro é ruim.
— Por que não há mais guardas aqui embaixo?
— Eu acho que não é o tipo de lugar do qual você consegue se libertar. Eles provavelmente não precisam de muitos guardas.
— Se você se deparar com um guarda do sexo masculino — diz Gaius, — Elizabeth deve tentar obter informações sobre Chase dele.
— Eu sei, Gaius. Eu estava na reunião de planejamento.
— Oh, inferno, há um cara vindo em minha direção com a mão estendida — diz Ana. — Calla, faça ele ir embora!
— Sério? — Eu pergunto, parando na sala com a escada.
— Sim! Eu não posso... Uh... Olá, olá. Não, não obrigada. Eu... eu não danço.
A gargalhada de Darius enche meus ouvidos.
— Você pode calar a boca? — Elizabeth sussurra ferozmente. — Você pode ver onde estamos agora? Você não deveria estar rindo.
Enquanto atravesso o gramado em direção à parede externa do salão de baile, Lumethon descreve a masmorra em sussurros baixos. Escura, fria e feita de tijolos de pedra irregulares. Portões de metal pesado e correntes. O ar denso com o fedor de urina, sangue e fezes. Algumas celas estão vazias, enquanto outras contêm faes ensanguentados e torturados, alguns gemendo e chorando, outros silenciosos e quase sem respirar. É o tipo de lugar que eu esperaria encontrar abaixo da Prisão Velazar ou talvez do Palácio Unseelie, não aqui embaixo das flores desabrochando, fontes borbulhantes e conversa fiada da Corte Seelie.
— Nenhum sinal de Chase? — Pergunta Gaius.
— Ainda não — diz Lumethon.
— A Rainha ainda não está aqui — acrescenta Gaius. — Parece estranho. Por que ela perderia a festa de aniversário de sua própria filha?
— Você não acha que ela está aqui embaixo, não é? — Darius diz.
— Se ela gostar de testemunhar a tortura, ela pode muito bem estar — murmura Elizabeth.
A equipe fica em silêncio por um tempo. Eu me sento à sombra de uma roseira sob uma das janelas do salão de baile. Com um suspiro de alívio, solto minha invisibilidade. Eu envolvo meus braços em volta dos meus joelhos e ouço a música e os risos. Quando uma dor de cabeça começa a latejar perto das minhas têmporas, eu considero tomar outro gole da minha garrafa. Eu provavelmente devo guardar, no entanto. Se eu já estou fraca, vou precisar de um grande impulso antes de partirmos...
— Oh, não — resmunga Gaius. — Alguém acabou de me reconhecer. Uma antiga cliente nossa. Ela está vindo para cá. Calla, você pode... Oh, olá, Madame Marlize. — Gaius ri nervosamente. — No entanto, você me reconheceu sob essa monstruoso máscara brilhante? — Enquanto Gaius faz uma pausa para a resposta de Madame Marlize - que obviamente eu não consigo ouvir - levanto e espio por cima do parapeito da janela para dentro o salão de baile. Meus olhos lançam-se sobre um vestido de cachoeira, um arco-íris flutuando acima da cabeça de alguém, uma saia coberta inteiramente de rosas vermelhas e dezenas de outras roupas antes que eu consiga localizar Gaius. — Ah, sim, bem, eu tive alguns negócios com a Corte Seelie, acredite ou não, — diz ele para a mulher grande com o vestido adornado de penas amarelas em pé na frente dele. — Tudo confidencial, é claro, mas vamos apenas dizer que consegui um convite com meus serviços excepcionais. — Ele acrescenta outra risada desajeitada, ficando quieto enquanto ouve Madame Marlize, agora apontando para algum lugar atrás dela. — A princesa? — Diz Gaius. — Isso é muito gentil da sua parte oferecer. Eu realmente não fui apresentado a ela ainda. Eu temo que eu esteja um pouco... distraído desde que cheguei aqui hoje à noite.
Certo. Uma distração. É pra isso que eu estou aqui. Eu ignoro minha cabeça latejante enquanto me concentro nas penas penduradas na parte de baixo do vestido de Madame Marlize. Imagino-as pegando fogo, as chamas se espalhando rapidamente pela saia. — Oh, meu Deus — diz Gaius, afastando-se apressadamente. Madame Marlize pode estar no meio do barulhento salão de baile, mas não tenho problema em ouvi-la gritar no momento em que percebe as chamas. Ela pega uma bebida da mão do convidado mais próximo e joga em si mesma. Solto a ilusão da chama e vejo a fumaça subindo das penas.
— Com licença? — Diz Ana. — O que você quer dizer? Claro que estou na lista. Foi você quem me deixou entrar aqui.
Oh, não. Eu procuro na multidão, mas não consigo ver Ana.
— O que está acontecendo? — Gaius pergunta, girando ao redor.
— Shh — eu digo. — Não entre em pânico. Eu vou consertar isso.
— Ir com você para onde? — Ana exige, e finalmente eu a encontro. Ela está de pé perto da porta dos fundos em frente ao guarda que nos conduziu através do arco em direção ao salão de baile.
— Não entre em pânico — digo novamente. — Estou pensando, estou pensando... — E minha cabeça está latejando e a única coisa que meu corpo quer fazer é deitar.
Foco! Eu grito para mim mesma. — Tudo bem, eu já sei — eu digo.
É perigoso, terrivelmente perigoso, mas imagino a Princesa Audra. Ela desliza pelo salão de baile através da porta atrás do guarda e agarra o braço de Ana. — Aí está você! — Ela diz. — Estou tão feliz que você pode vir. Parece que faz muito tempo desde a última vez que vi você.
O guarda se endireita imediatamente, com os braços rígidos ao lado do corpo. Ele se inclina para frente em uma rápida reverência, depois diz alguma coisa para a princesa imaginária. Algo que eu, claro, não consigo ouvir.
— Ela é rápida, ela é assim — Ana diz com uma risada, respondendo a qualquer pergunta que o guarda deve ter dirigido à Princesa Audra.
Outra voz soa no meu ouvido - Lumethon, eu acho - mas estou muito focada para prestar atenção nela. — Eu tenho que ser — minha princesa imaginária diz, — se eu espero cumprimentar a todos esta noite. E nós temos muito o que conversar. — Ela sorri para Ana, em seguida, envia um olhar um pouco irritado na direção do guarda. — Isso é tudo, obrigada.
Ele se curva novamente antes de marchar apressadamente para longe. Em vez de desaparecer de repente do nada, imagino a princesa saindo pela porta antes de soltar a ilusão dela.
— Isso foi incrível — diz Ana. — Eu pensei que ia ser levada para uma sala escondida e nunca mais ser vista.
— De nada — murmuro enquanto fico de joelhos nas sombras, meus olhos se fechando.
— Lumethon, algum problema? — Pergunta Gaius. — Você chamou o nome de Calla agora.
Droga, eu consegui estragar tudo?
— Tudo bem, fizemos um plano.
— Um guarda viu todos nós — diz Darius, — mas agora ele está preso em um abraço íntimo com nossa cúmplice meio-siren. Acho que ele... Ah, o abraço íntimo chegou ao fim.
— Cale a boca — Kobe rosna.
— Você sabe o que eu ouvi? — Elizabeth ronrona, presumivelmente para o guarda que ela acabou de seduzir. — Ouvi dizer que havia um prisioneiro muito especial sendo mantido aqui. Um prisioneiro muito importante para a rainha mais do que qualquer outro. Você sabe de quem eu estou falando? — O silêncio enche meus ouvidos enquanto espero as próximas palavras de Elizabeth. — Sim, é exatamente isso que eu quero dizer. Você poderia talvez considerar me contar tudo sobre ele? Eu adoraria ouvir tudo o que você sabe.
O silêncio se prolonga depois disso enquanto esperamos que Elizabeth repasse o que o guarda está lhe dizendo. Eu me inclino contra a parede, ouvindo a tagarelice e as risadas, o farfalhar de vestidos de baile e a alegre melodia da música. Com meus olhos fechados e a atração irresistível da exaustão me puxando para dormir, eu mal estou consciente quando Elizabeth grita alto em meu ouvido. — Chase não está aqui.
Suas palavras me chocam, me fazendo sentar. — O quê? Onde ele está?
— Esse guarda inútil não sabe. Ele disse que ninguém esteve perto de Chase por quase duas semanas. Então, alguns dias atrás, a Rainha... ela... — a voz de Elizabeth vacila. — Eles começaram a torturá-lo. — Náusea me oprime. — Ele foi transferido hoje ou ontem. O guarda não sabe porque ontem foi o seu dia de folga, e ele só começou a rondar as masmorras hoje à noite.
Eu respiro profundamente após a náusea. — Você acha... que estamos atrasados?
— Ele deve estar aqui em algum lugar — diz Lumethon, sua voz oscilando um pouco. — Precisamos encontrar as salas de tortura.
— Continue procurando — diz Gaius. — Ainda temos tempo. Esta festa vai durar a noite toda.
— Eu vou ajudar — eu digo, me ocultando com outra ilusão antes de levantar. — Eu não posso...
— Não, Calla, precisamos de você focada — diz Gaius.
— Estou focada em resgatar o Chase! Todos nós deveríamos estar no subsolo procurando por ele. Por que precisamos de vocês no salão de baile de qualquer maneira? Vocês estão apenas...
— Alguma coisa está acontecendo — diz Ana, falando assim que a música muda. — Eu acho que a Rainha está aqui.
Eu olho de novo pela janela. Com certeza, todo mundo para de dançar e se vira para o palco. É uma plataforma ampla com vários tronos. O trono central é, claro, o maior, e é para esse trono que a mulher que sai de uma porta lateral se dirige. Ela para em frente a ele e permanece em pé, olhando em volta para os vários membros da realeza que saem da multidão e se sentam nos tronos menores. Então ela encara o resto do salão de baile. Um sorriso sereno se instala em seu rosto. Seu vestido - renda preta sobre o tecido verde - é requintado e seu cabelo está trançado em um elegante nó. Sua guarda pessoal - homens e mulheres vestidos com uma versão cor de ameixa escura do uniforme de guarda Seelie - se alinham em um arco atrás do trono.
A Rainha abre os braços para os convidados e fala. — Bem-vindos. É uma honra tê-los reunidos aqui esta noite para celebrar o aniversário da minha filha. — Ela olha para direita onde a Princesa Audra está sentada em um dos tronos menores. — Eu tenho um presente para você, minha querida filha. — Virando novamente para seus convidados, ela continua. — Tem havido rumores nos últimos anos, sussurros de tempestades encantadas e um poder que deveria ter terminado há uma década. Esta noite, eu vou fazer esses rumores morrerem. Ela faz uma pausa antes de entregar sua declaração final chocante. — Lorde Draven não morreu há dez anos. — Suspiros e sussurros atravessam o aglomerado como ondas. — Mas — a Rainha acrescenta, sua voz soando acima dos murmúrios, — Eu estou com ele em minhas garras, e meu presente para você, querida filha — ela estende a mão em direção à porta pela qual entrou — é a cabeça dele em uma bandeja.
O mundo se inclina. Minhas pernas enfraquecem. Eu pisco e agarro a borda da janela para não cair. As vozes de meus membros da equipe colidem contra meus ouvidos, mas meu cérebro não entende o sentido de suas palavras enquanto eu me esforço para descobrir o que isso significa. Ela não... ela não iria... mas nós não soubemos de nada dele em dias, então...
— Aqui, para todos verem — grita a Rainha, — aqui está o outrora poderoso Lorde Draven.
Eu o vejo então, finalmente, não uma cabeça em uma bandeja, mas uma pessoa inteira. Sujo, sangrento e preso com correntes, mas vivo, no entanto. Meu alívio total e intenso se choca com o horror do estado em que ele está, fazendo minha cabeça girar mais uma vez. Os guardas o arrastam para o salão de baile e o jogam no estrado. Todos os membros da realeza, exceto a Rainha e a Princesa Audra, saem da plataforma.
— Calla! CALLA! Você pode me ouvir? — Eu finalmente me dou conta do sussurro feroz de Gaius no meu ouvido. — Você tem que fazer alguma coisa. Eu não sei o que, apenas alguma coisa. Distraia a Rainha enquanto tentamos alcançar o Chase. Traga um dragão voando para cá se for preciso, mas...
— Você pode ver o Chase? — Elizabeth pergunta.
— Calla! — Gaius repete. — Você pode...
— Eu estou aqui, — eu sussurro. — Estou pensando. Eu estou...
— Ele não ameaçará mais nosso governo — diz a Rainha. — Ele sumirá para sempre e, um dia, quando chegar à hora, você, minha filha, subirá com segurança ao trono.
Pense, eu digo a mim mesma. PENSE! Mas estou tão cansada e chocada e...
— Não tão rápido, mãe querida. — Eu assumo no princípio que é a voz da Princesa Audra soando, mas ela está parecendo confusa - olhando para cima - e os guardas estão gritando - e um flash de prata está caindo do teto abobadado - caindo de uma corda - aterrissando no trono - guinchando e balançando uma poderosa espada e...
‘um spray de sangue’
‘um grito de horror’
Um momento de silêncio absoluto.
A cabeça da Rainha Seelie atinge o chão de mármore. Seu corpo se enruga. Sua coroa cravejada de esmeraldas rola de sua cabeça, para e encolhe até o tamanho de uma pulseira.
— Caramba, Calla — Ana sussurra. — Isso foi uma ilusão.
— Eu... eu — estou tão horrorizada que mal consigo falar. — Eu... não fui eu.
— O que está acontecendo? — Elizabeth exige.
Um grito penetrante sai da boca da Princesa Audra. Os guardas vestidos de ameixa, no entanto, estão congelados como estátuas. A princesa Angelica salta do trono e gira ao redor, sua espada cortando o ar e depois através do pescoço da irmã, parando o grito em um segundo. Uma mulher aparece ao lado direito do estrado e outra à esquerda. Parecem quase deslizar em seus vestidos que ondulam e se enrolam como fumaça. Mesmo sem estar perto o suficiente para ver seus profundos olhos negros, sei exatamente quem são. Enquanto todos os guardas restantes no salão de baile correm em direção ao estrado, as bruxas estendem a mão. Uma luz brilhante e ofuscante preenche o salão por um momento. Quando ela desaparece, uma camada translúcida, brilhando fracamente prateada, envolve o estrado e aqueles sobre ele.
Angelica se curva e pega a coroa. Ao seu toque, ela se expande para o tamanho original. Com força mágica, ela enfia a espada na plataforma e a deixa ali de pé. Ela levanta a coroa com as duas mãos e a coloca sobre a cabeça. — Contemplem, — ela grita — sua nova rainha.
A loucura que se segue é quase cômica. Os gritos, a corrida, Gaius e quase todos os outros membros da minha equipe gritando para eu projetar alguma coisa! Salve o Chase!
Mas a fadiga é finalmente demais para eu suportar. Talvez a última ilusão tenha me levado ao limite, ou talvez seja a minha proximidade com as bruxas, mas é tudo que posso fazer para permanecer consciente. Quando minhas pernas cedem e eu caio de lado atrás da roseira, me atrapalho com o zíper da minha jaqueta. Meus dedos trêmulos encontram a garrafa com o tônico de Elizabeth. Eu abro a tampa quando o mundo ao meu redor começa a ficar embaçado e a risada maligna de Angelica ecoa em meus ouvidos. Eu levanto a garrafa em direção a minha boca, e acho que estou bebendo o conteúdo, mas não posso dizer porque estou caindo, caindo, caindo na escuridão...
Capítulo 21
Eu estou sendo puxada lentamente em direção à consciência pela dor crescente no meu pescoço. Meus olhos abrem uma fração, revelando um padrão manchado de luz e escuridão, antes de se fechar novamente. Eu tento me esticar para sair da posição dolorosa que eu pareço estar deitada, mas uma pontada dolorosa obstrui meus membros. Eu me dou conta do cheiro do solo e da textura da terra dura debaixo da minha bochecha, e é quando todos os detalhes horripilantes da festa do Palácio Seelie se debatem dentro de mim.
A Rainha está morta.
Princesa Audra está morta.
A princesa Angelica reivindicou a coroa.
E na última vez que vi Chase, ele estava deitado imóvel sobre o estrado, seu corpo golpeado, sangrando e quebrado.
Minha cabeça gira quando eu sento. Eu pisco algumas vezes antes de poder me concentrar em qualquer coisa. Através das folhas da roseira, vejo o sol da manhã saindo por trás de nuvens cor de lavanda-pêssego. Eu me movo para que eu possa ver além do arbusto. Os jardins do Palácio Seelie espalham-se diante de mim, serenos e imóveis, com a luz rosa da manhã. Contra esta beleza, a noite passada parece nada mais que um pesadelo.
Enquanto eu me levanto, usando a parede para me ajudar, eu piso em algo duro. Olhando para baixo, eu encontro a pequena garrafa que meus dedos tremendo estavam segurando enquanto tudo escurecia na noite passada. Está vazia. Isso, combinado com o fato de eu não me sentir completamente exaurida e esgotada, deve significar que eu consegui beber tudo antes de desmaiar - e que ainda é eficaz o suficiente para manter a maldição sob controle.
Eu viro e olho pela janela do salão de baile. Está tão quieto e silencioso quanto os jardins, mas congelado em um desastre. Vidro quebrado e pratos de comida; máscaras espalhadas; penas, lantejoulas e sapatos estranhos jogados aqui e ali. Meus olhos se movem para o estrado, para os dois corpos ainda ali. A visão deles revira meu estômago, então eu olho para longe e percebo os guardas congelados no lugar atrás do trono. Eles estão mortos? É um feitiço que os prende no lugar? E onde estão todos os outros? Os outros guardas, a realeza restante, o resto da minha equipe.
— Gaius? — Eu sussurro. — Lumethon? — Eu puxo a manga da minha jaqueta e descubro que as palavras que eu escrevi lá desapareceram. O feitiço de comunicação desapareceu.
Eu volto a encarar o jardim. Sem a menor ideia de onde os membros da minha equipe estão ou se ainda estão vivos, parece haver apenas um coisa que tenho que fazer: completar a missão por conta própria.
Eu ando ao redor da roseira e atravesso a grama em direção à sala aberta com os pilares decorativos. Existem muitas incertezas, não sei por onde começar minha busca por Chase. Se Angelica saísse do palácio, ela levaria Chase com ela? Se não, ela o teria mandado de volta para a masmorra? Ela teria... matado ele? Não. Não se ela planeja usar o poder dele para derrubar o véu. Ele não pode estar morto. Eu me recuso a considerar a possibilidade. Eu procurarei e vou encontrá-lo.
Começo voltando para a passagem pintada de azul-escuro decorada com estrelas e luas. Nenhum guarda está ao lado da tapeçaria de unicórnio, e a porta, descubro quando puxo a tapeçaria para o lado, não está trancada. Ir além da porta é como entrar em outro mundo: deixo para trás uma arquitetura delicada, acabamentos em mármore branco e o ar fresco, e entro em um mundo de pedras frias, lâmpadas tremeluzindo na escuridão e o cheiro - o cheiro. Darius mencionou que era ruim, mas eu mal posso respirar conforme desço as escadas.
Não encontro guardas no final. Eu continuo passando por celas de pedra e metal. Aquelas que estão vazias, as correntes se arrastam através de manchas escuras e secas. Eu começo a chamar o nome de Chase. Prisioneiros olham para cima ao som da minha voz. Alguns estendem as mãos através das barras em minha direção, mas nenhum deles é o Chase. Eu passo por salas de tortura entre as celas, parando apenas tempo o suficiente para garantir que Chase não esteja dentro de nenhuma delas antes de me afastar das estacas, chicotes, instrumentos e mais manchas de sangue.
É ridículo quanto tempo demora para chegar ao outro extremo da masmorra. Porque a Corte Seelie precisa de tantas celas? A maioria dos criminosos não acaba em prisões normais, e não aqui embaixo? E eu não consigo fazer uma varredura rápida na área. Eu preciso procurar em todos os espaços, apenas no caso do Chase estar no próximo. Quando finalmente me vejo no final da masmorra sem nenhum outro lugar para ir, eu me viro e corro todo o caminho de volta, ciente de que o tempo está passando.
O sol se moveu substancialmente quando volto para o palácio, indicando que fiquei no escuro por horas. Droga! Como isso aconteceu? Um feitiço? Algum tipo de magia me fazendo vagar pelas masmorras por muito mais tempo do que eu pensava? Eu continuo minha caça com fervor renovado. Enquanto procuro através de intermináveis salões vazios, quartos, salas de banhos e mais, começo a perder meu senso de direção junto com meu senso de tempo. Eu já estive aqui? Aquela namoradeira sob a pintura de um fauno parece terrivelmente familiar.
Eu subo para o próximo andar e continuo. Por que esse palácio tem que ser tão grande? Por quê? Eu me encontro em uma área sem janelas para o lado de fora, e não importa o caminho que eu vire ou por qual corredor eu corra, eu não consigo sair. O pânico aumenta com a certeza irracional de que as paredes estão se fechando, me prendendo, me sufocando.
Pare.
Eu me forço a ficar parada no meio de uma sala e fecho meus olhos. Respirando instavelmente, imagino a voz de Lumethon. Eu imagino meu lago. Estou perdendo tempo com esse exercício bobo, mas não tenho nenhuma utilidade para ninguém em estado de pânico, então fico parada, respirando e expirando. Quando finalmente me acalmo, abro os olhos e continuo. Vários minutos depois, chego a um corredor onde posso mais uma vez ver o lado de fora. Observo a luz da tarde e me instruo com firmeza para não enlouquecer por quanto tempo passou. Tudo bem, eu digo a mim mesma. Você vai encontrá-lo. Apenas continue procurando.
Entro em outra sala e fico assustada ao ver uma figura vestida de preto do outro lado da sala. Eu congelo - e o mesmo acontece com a figura. Demora outro segundo para eu perceber que estou olhando para um espelho alto e vendo meu próprio reflexo. Eu quase rio. Eu tinha esquecido da minha maquiagem preta tipo-uma-máscara, cabelos negros como carvão, e até as tatuagens em minhas mãos. Elizabeth estava certa. Eu pareço totalmente foda e nada como eu mesma.
Eu olho em volta da sala desocupada. Estou prestes a sair quando ouço vozes. Girando ao redor, olho em direção ao som. Uma porta aberta ao lado do espelho leva a uma varanda. Eu corro em direção a ela, me abaixo e entro. Espiando entre os balaústres, eu as vejo: as duas bruxas e Angelica. Ela anda confiante com a coroa sobre a cabeça, parando para olhar para o céu. Eu sigo seu olhar e vejo algo que ou não estava lá esta manhã, ou que era menos visível à luz do nascer do sol: uma grande cúpula prateada sobre o palácio e parte do terreno. Translúcida, como a camada de magia que protegia o estrado na noite passada, mas não invisível como a magia de um escudo normal. Ainda assim, tenho quase certeza de que é algum tipo de escudo.
As bruxas param para admirar os arbustos cortados em formas parecidas com criaturas aladas. Uma delas estende a mão para tocar as pétalas vermelhas das pequenas flores escondidas entre as criações topiárias. Meu ódio por essas mulheres queima de novo. Enquanto elas andam por aí, livres e despreocupadas, meu irmão senta em casa no escuro, lamentando a perda de uma criança que nunca crescerá para conhecer a beleza deste mundo, e a esposa que nunca mais voltará para ele. As bruxas consideraram isso quando venderam o feitiço que mataria uma criança? O pensamento chegou a fluir em suas mentes? Eu duvido.
Mas apesar do meu ódio por elas, não posso matá-las. A imagem da ex-rainha decapitada está muito fresca em minha mente. Muito horripilante. Talvez eu tenha entretido a fantasia das mortes das bruxas. Eu posso ter tentado abraçar a parte escura da minha alma que ansiava por vingança. Mas testemunhar o fim violento de uma vida foi um lembrete chocante de que eu não quero fazer isso. Eu vou alegremente surpreende-las com magia de atordoamento e jogá-las nas mãos da Guilda, no entanto. O problema é que eu só posso atordoar uma delas. Eu não tenho tempo para reunir energia suficiente para atordoar a segunda, e há Angelica com quem tenho que me preocupar também. Eu certamente posso ferir as duas que eu não atordoar - eu tenho uma faca em cada bota e várias shurikens dentro da minha jaqueta - mas com sua magia, as duas ainda podem me derrotar.
— Quanto tempo você pode manter isso no lugar? — Pergunta Angelica, ainda olhando contra o sol do meio-dia enquanto olha para a camada prateada.
— Uma semana — diz uma bruxa. — Talvez mais.
— Sem ficar fraco?
— Sim. Nós nos preparamos para isso antes de sair de Creepy Hollow, lembra? Juntas, temos a energia mágica de pelo menos cinquenta homens.
Cinquenta homens? Que tipo de magia poderia lhes dar tanto poder?
— Maravilha. Se você — Nesse ponto, um guarda se aproxima dela. O primeiro guarda que vi desde a noite passada, além dos guardas ainda congelados no salão de baile. Qualquer esperança que eu tenha tido desse guarda correndo em direção a Angelica para atacá-la, para pegar de volta a coroa que ela roubou, morre quando o vejo baixar a cabeça.
— Você me pediu para mantê-la atualizada, Sua Majestade. Vários guardas confirmaram que seu irmão e sobrinho e o resto da família real fugiram em uma das carruagens ontem à noite enquanto os convidados estavam fugindo.
Angelica aperta o punho e dá um soco no ar quando solta um grito de raiva. Um dos topiários pega fogo. — Eu deveria tê-los matado antes que eles saíssem do estrado — ela resmunga. — E vocês deveriam ter trabalhado mais rápido para colocar o escudo. — Ela direciona sua fúria para as bruxas por um momento. Depois de respirar fundo, ela vira para o guarda. — Bem, não há mais sentido em guardar o túnel. — Ela cruza os braços. — Onde todo mundo está se escondendo?
— Os funcionários do palácio estão em seus aposentos, Sua Majestade.
— E os guardas que não são leais a mim ainda estão sob controle?
— Sim, Sua Majestade. Na cozinha. Uma vez que atordoamos todos eles, eles serão levados para a masmorra.
— Bom. — Ela solta um longo suspiro. — Agora, suponho que vou ter que caçar o resto da minha família.
— Deixe isso para depois da lua cheia — uma bruxa sugere.
— Sim, pode esperar até lá. — Angelica libera o guarda. Para as bruxas, ela diz, — Façam o que quiser por aqui para passar o tempo. Estarei ocupada pelas próximas horas.
Eu me animo com as palavras dela. Se as duas bruxas forem deixadas aqui, posso arriscar pegá-las. Atordoar uma e imobilizar a outra com ilusões, magia e facas. Se eu tiver forças suficientes, posso até colocá-las em uma cela na masmorra. Elas podem esperar lá pela Guilda - que eu suponho que esteja mandando guardiões para cá o mais rápido possível - para encontrá-los.
Quando Angelica se vira para ir embora, começo a reunir magia acima da palma da minha mão. — Onde você estará se precisarmos de você? — Pergunta a bruxa mais velha.
Não se incomodando em olhar para trás, Angelica diz — Com meu filho.
Três simples palavras e meu plano evapora.
Chase. Ele está vivo e ela está indo até ele agora. Eu tenho que segui-la. Mas... meus olhos se voltam para as bruxas, para a magia rodopiante que se forma acima da minha palma, e depois para Angelica mais uma vez, desaparecendo em um canto agora.
Droga!
Eu me cubro com a invisibilidade e salto sobre a varanda, pousando tão leve e silenciosamente quanto um gato com a ajuda da magia que acabei de reunir. Eu sigo Angelica de uma distância segura, pisando levemente e permanecendo invisível no caso de outro guarda aparecer ou ela olhar por cima do ombro. Enquanto andamos pelo palácio, começo a acreditar que deve ser maior por dentro do que por fora. Finalmente, depois de subir outros três andares, atravessando um grande corredor e atravessando uma parede oca entre dois cômodos, Angelica chega ao final de uma passagem. Parando em uma porta aberta, ela olha para baixo. Eu me movo para o lado para que eu possa ver além dela. Aos seus pés, há uma escada em espiral que desce até uma sala circular. No nível da porta, uma varanda rodeia a sala.
Angelica desce as escadas. Quando me movo para a porta, a sala abaixo fica à vista: cortinas ricamente bordadas penduradas em ambos os lados da janela, um pedestal segurando uma tigela de frutas e...
E Chase. Deitado no chão sobre seu lado, seus pulsos e tornozelos ainda presos às correntes e sua pele um padrão marcado com cortes e retalhos. Silencioso e imóvel.
Capítulo 22
Eu agarro o corrimão da varanda para me manter firme enquanto olho para Chase. Eles torturaram todas as partes dele, mas suas costas são definitivamente as piores partes. Eu tenho que desviar o olhar da bagunça de pele rasgada, para não vomitar. Eu avanço ao longo da varanda, mal respirando quando Angelica alcança a base das escadas. Ela cutuca o braço de Chase com o pé. Ele não se move. — As bruxas me disseram para deixar alguém vigiando você — diz ela, — ou pelo menos prender essas correntes na parede. Mas eu sabia que você não ia a lugar nenhum. Eu deixei a tigela de frutas aqui para provar isso a elas. Para mostrar que, mesmo que você esteja passando fome e, sem dúvida, desesperado por comida, você não consegue se mexer nem um centímetro. Fico feliz em ver que eu estava certa. — Ela se inclina contra a balaustrada, girando algo ao redor de seu dedo: uma chave em uma corda. — Eu ainda não decidi o que fazer com você. Eu não estava contando com sua querida avó morta, revelando sua existência para todos. Eu pensei que ela iria torturá-lo em particular e depois se livrar de você em vez de admitir ao mundo que seus preciosos guardiões não conseguiram derrotar o grande Lorde Draven há uma década. — Ela se abaixa e agarra o queixo dele entre os dedos, virando o rosto dele para ela.
Na varanda, solto meu aperto dolorido do corrimão, viro minhas mãos e começo a reunir magia acima das palmas das minhas mãos. Paciência, eu me instruo. Não aja cedo demais. Você só terá uma chance.
— O reino das fadas provavelmente está em uma onda de pânico agora — diz Angelica. — A morte da Rainha Seelie e o retorno de Lorde Draven - tudo em uma noite! Qual é a próxima coisa? Outra Destruição? Outro inverno? — Ela dá uma tapinha na bochecha dele e deixa a cabeça dele cair para o lado novamente. — Eu suponho que possa ser como outra Destruição quando o véu cair. Quem sabe? A única coisa que sei é que o caos reinará quando nossos dois mundos se fundirem em um só, e eu serei aquela a assumir o comando em meio a este caos. — Chase não responde. Angelica se levanta e cruza os braços. — Sabe, eu olho para o estado em que você está agora e me pergunto se eu deveria me sentir mal. Você é meu filho, afinal. Eu não deveria sentir algo por você? Mas então eu lembro que você nunca foi meu filho, e nunca fui realmente sua mãe, e então não me sinto mal de jeito nenhum.
Ela ri - na verdade gargalha. Eu cerro os dentes, dizendo a mim mesma para esperar um pouco mais, reunir um pouco mais de magia.
— Na verdade — acrescenta ela, — considerando que você me deixou para passar os séculos remanescentes na Prisão Velazar, eu não acho que teria me incomodado em absoluto em testemunhar sua tortura. — Ela bate o pé com força nos dedos dele, nas unhas que já estão rachadas e sangrando. Ele se afasta - o primeiro sinal de vida que ele mostra - gemendo de dor.
Meu coração grita com o som e jogo tudo que tenho em Angelica. Minha magia a atinge no peito e a joga através da sala. Não é o suficiente para aturdi-la, mas é o suficiente para deixá-la em uma pilha gemendo no chão. Minha ilusão se vai, eu pulo por cima do corrimão e aterrisso agachada, levantando imediatamente quando todo o treinamento que eu já tive entra em ação. Magia em forma de chamas atravessa a sala, mas vou para o lado, afastando Angelica de Chase. Minha mão dispara, faíscas chiando deixando meus dedos e batendo na parede logo acima da cabeça de Angelica. Ela grita algo quando rola para longe e fica de pé. Eu avanço sobre ela, imaginando uma névoa espessa entre nós para cegá-la segundos antes de me jogar sobre ela. Eu a jogo contra a parede, mas ela revida com um forte soco de magia no meu estômago. Eu tropeço para trás, ofegante, e bato no pedestal. Ele balança e cai. A tigela com frutas quebra, fazendo laranjas e maçãs rolarem pelo chão. Eu danço ao redor das frutas, me esquivando novamente quando Angelica corre em minha direção. Sua magia se transforma em centenas de minúsculas pedras afiadas, mas eu as afasto com um movimento de poder. Eu giro e chuto. Ela cai de costas contra a parede, o silencioso som de uma chave de metal batendo no chão a acompanham quando ela ofega. Eu me abaixo, agarro o pedestal, libero magia para me ajudar a içá-lo e jogá-lo com todas as minhas forças. Ele bate em seu peito e a joga para trás mais uma vez. O barulho da cabeça dela contra a parede é audível, e quando ela cai no chão dessa vez, ela não se mexe.
Depois de me arrastar até a janela, puxo o laço cor de ouro pendurado na cortina, o rasgo ao meio com uma faísca de magia e uso para amarrar os pulsos e tornozelos de Angelica. Sua magia provavelmente pode queimar essas cordas em segundos, mas se ela acordar logo, esses segundos pode ser tudo que eu preciso para lutar contra ela novamente.
Com Angelica presa, posso finalmente voltar minha atenção para Chase. Meus olhos disparam pelo chão, procurando pela chave que Angelica deixou cair. Lá! O metal enferrujado é maçante contra o piso de mármore brilhante. Eu corro pela sala, pego a chave e caio de joelhos ao lado do Chase. Inclinando-me por cima do seu braço, examino a braçadeira de metal em volta do pulso dele. Este metal é do tipo que bloqueia magia, mas não está preso à sua pele como o anel da Prisão Velazar ficou no meu dedo. Está frouxo o suficiente para se mover e deixar sua pele em carne crua - o que, espero, signifique que somente a chave seja necessária e não o feitiço especial que o guarda de Velazar usou para remover o anel.
Eu coloco a chave no buraco da fechadura e viro. É preciso mais força do que eu esperava, mas eventualmente o metal solta e cai do pulso de Chase. Eu gentilmente levanto o braço dele e empurro as correntes para o lado. Antes de me permitir olhá-lo direito, removo as outras três algemas. Eu as chuto para longe e corro de volta para o lado dele, as lágrimas picando atrás dos meus olhos. Por duas semanas e meia, desejei estar perto o suficiente para tocá-lo, mas agora que ele está ao meu lado e posso ver o dano causado ao seu corpo, eu tenho medo que qualquer toque o machuque. Minhas mãos pairam acima de seus braços, seu torso, seu pescoço. Muito machucado. Muito sangue seco. Eu não sei o que fazer ou por onde começar, e é tão esmagador que eu não posso evitar que as lágrimas enchem meus olhos.
Suas pálpebras vibram e um gemido baixo escapa dele. — Chase? — Eu gentilmente pego seu rosto entre as minhas mãos, meus polegares esfregando a barba áspera ao longo de sua mandíbula. — Você pode me ouvir? — Seus lábios se movem, mas nenhum som sai. Seus olhos giram, piscando, mas parecendo não se concentrar em nada. — Sou eu, Calla. Por favor... por favor, diga alguma coisa. — Eu inclino minha cabeça e fecho meus olhos quando as lágrimas molham meu rosto. — Por favor, por favor, por favor, — murmuro. Por favor. Por favor, lembre-se de mim, por favor, fique bem, por favor, me diga como te salvar.
Um sussurro rouco rompe o silêncio. — Cachinhos Dourados. — Minha respiração para. — O que você fez com o seu cabelo?
Eu abro meus olhos, o riso se mistura com minhas lágrimas quando o alívio me atinge. — Você... você está bem — eu consigo dizer. Ele levanta um braço como se para me tocar, mas seu rosto se contorce de dor. É o suficiente para forçar meu cérebro a entrar em ação. — Hum, está bem. Eu removi as algemas. Seu corpo deve ser capaz de se curar agora. Mas isso pode demorar um pouco. Você... você não está nada bem.
— Eu sei — ele fala entre os dentes cerrados, fechando os olhos e mexendo-se um pouco como se ele pudesse de alguma forma se afastar da dor.
— Não role sobre suas costas. Está mau. Eu - eu não sei se precisa ser tratado de alguma forma antes que sua magia feche as feridas. Eu não tenho nenhuma poção comigo.
— Minha magia será... será o suficiente. Eu sou mais forte do que você sabe.
Eu olho por cima do ombro para Angelica. Ela ainda não se moveu, mas ela pode acordar a qualquer momento. Eu viro para Chase. Eu sei que a magia dele é forte - eu o vi reunir magia para atordoar em segundos e conjurar uma nevasca em quase um instante – então não duvido que ele possa se curar sem ajuda. Minha preocupação é quanto tempo vai demorar. Eu considero transferir parte da minha magia para o corpo dele - o único tipo de cura que sei fazer - mas o efeito seria mínimo, dada a extensão de seus ferimentos. Provavelmente seria melhor usar minha magia para subir as escadas e sair da vista de Angelica, em vez de tentar curá-lo aqui.
— Chase? — Eu digo. Enquanto ele se esforça para abrir os olhos novamente, eu me afasto, pego duas maçãs e volto para o lado dele. — Nós temos que sair desta sala antes que Angelica acorde. Não podemos fugir do palácio, mas podemos nos esconder até que a ajuda chegue. Eu não sei o que aconteceu com Gaius e o resto da equipe, mas sei que eles não nos deixarão aqui.
Chase engole antes de falar. — Túneis — diz ele. — Túneis para saída de emergência para a família real. Foi assim que Angelica entrou.
— Túneis para saída de emergência? — Era sobre isso que Angelica estava falando com o guarda. — Perfeito. Você sabe onde eles estão?
— Estufa. Eu acho. Uma bruxa mencionou isso.
— Tudo bem. Eu não sei onde é, mas podemos encontrar.
— Eu sei onde é. A rosa. Eu já estive aqui antes.
— Tudo bem. Ótimo. — Eu coloco uma maçã no bolso direito e a outra no esquerdo. — Vou usar magia para levitar você até o..
— Eu consigo levantar — diz Chase, com o rosto retorcido de novo, enquanto ele tenta se levantar. Ele desliza para trás agora, ofegante pelo esforço e pela dor.
— Está doido? Apenas me deixe fazer isso.
— Sério — diz ele. — Eu consigo... levantar. Apenas me ajude. Meus braços... eu não sei... Eles estão difíceis de mover. Mas minhas pernas estão bem. Machucadas, não quebradas.
Eu balanço minha cabeça, mas pego seu ombro de qualquer maneira. Usando um pouco de magia para me ajudar, eu consigo levantá-lo. Uma vez em pé, ele se inclina para frente, mas o pego antes que ele caia. — Repensando o plano de levitação?
— Não. Isso deixaria você... muito... exausta.
Eu quase rio. — Meu cansaço em potencial realmente não é uma preocupação agora. É com você que eu estou preocupada. Além disso, estou usando magia de qualquer maneira para ajudar a manter você de pé.
— Não tanto quanto a levitação exigiria.
Eu olho por cima do ombro para Angelica. Uma de suas mãos amarradas se contorce, mas seus olhos ainda estão fechados. — Tudo bem — eu sussurro para Chase, colocando seu braço cuidadosamente sobre os meus ombros. — Nós faremos isso do seu jeito. Nós vamos alcançar as escadas, e vamos fazer isso rapidamente.
Um sopro que ele pode ter pretendido ser uma risada passa pela minha orelha. — Eu senti falta do seu otimismo, Senhorita Cachinhos Dourados.
Eu sorrio para mim mesma. O calor se expande em meu peito e o desejo de puxá-lo para os meus braços e dizer a ele todas as coisas que eu senti falta dele é quase irresistível. Mais tarde, prometo a mim mesma. Dê o fora daqui primeiro.
Nossa jornada até as escadas é dolorosamente lenta. Eu mantenho meu braço ao redor das costas de Chase, mas com um amortecedor de magia entre nós, para me impedir de roçar suas feridas e ajudar a empurrá-lo para as escadas. Eu olho para a varanda quando chegamos ao topo. Angelica está começando a se mexer.
— Depressa — eu sussurro, arrastando Chase para fora da sala. Ele tropeça ao meu lado, muito mais devagar do que eu gostaria. — Vire aqui. — Nós pegamos um corredor que Angelica não percorreu em sua jornada até aqui. — Eu não sei se devemos — Um rugido de raiva ecoa de algum lugar atrás de nós. — Merda, ela acabou de acordar. Ela quebrará a corda em segundos. Onde podemos - Oh, um elevador! — Dirijo Chase em direção a ele, tentando ignorar seus gemidos de agonia. Eu dou uma olhada por cima do meu ombro enquanto esperamos a porta desaparecer. No momento em que acontece, corremos para dentro. Quando a porta reaparece, viro para o painel semicircular. No lugar dos números, existem símbolos. — Isso significa alguma coisa para você?
— Não. Apenas vá para baixo.
Eu movo o ponteiro para a esquerda do painel e espero que não haja nada confuso sobre este elevador. No começo ele se move para cima, mas quando estou prestes a entrar em pânico, ele se move para a direita, para baixo, para a esquerda e para baixo novamente. Ele continua indo para baixo, para baixo, até que para suavemente e a porta desaparece. Eu olho para fora antes de nos movermos para qualquer lugar e encontrarmos um pátio vazio. — Estamos do lado de fora, então funcionou. — Nós nos movemos pelo pátio e olhamos para os jardins mais além. — Ei, há uma estufa bem ali. — Eu aponto para frente para a estrutura de vidro, incapaz de acreditar em nossa sorte.
— Não. Não é essa. Precisamos da estufa de rosas.
Tudo bem, acho que não somos tão sortudos assim. — Você tem certeza?
— Sim. A bruxa reclamou sobre todas as rosas que haviam crescido sobre o alçapão do túnel. Elas a arranharam quando ela subiu. — Ele olha além de mim. — Hum... Deixe-me pensar... Sim, por aqui. — Ele faz um movimento para a direita.
Enquanto nos movemos nessa direção, mantendo-se perto do lado do palácio, eu pego uma maçã do meu bolso. — Aqui. Você parece um pouco menos ofegante agora, então espero que você consiga comer sem muita dificuldade.
— Obrigado. Você não tem três refeições no bolso, não é?
— Infelizmente, não. Sua segunda refeição será outra maçã. — Nós contornamos uma cerca e do outro lado, enquanto eu olho para cima para ter certeza de que ainda estamos sozinhos, vejo uma estátua não muito longe. Uma estátua com um tridente erguendo-se de ondas violentas e tempestuosas, montada sobre uma base cilíndrica.
— O que aconteceu? — Chase pergunta quando eu paro de me mover.
— O monumento. — Eu aponto para frente. — O monumento necessário para o feitiço de destruição do véu. Está aqui.
— Ela vai fazer o feitiço aqui — murmura Chase.
— O que devemos fazer? Nós não podemos levar conosco. Nós vamos passar por um túnel. Além disso, não temos ideia de que tipo de magia é necessária para movê-lo.
— Nós... nós temos que deixar aqui. Pelo menos agora sabemos onde Angelica fará o feitiço. Nós podemos voltar. — Ele acena passando da estátua. — É lá. Essa é a estufa certa.
Tão rápido quanto Chase pode se mover, nos apressamos em direção à pequena estufa em forma de cúpula montada com vitrais de cores diferentes. O perfume requintado de rosas nos saúda quando entramos. — Então procuramos por um alçapão?
— Sim. Eu acho que nós vamos ter que olhar embaixo de todos os arbustos.
Eu solto Chase – então tropeço para trás quando alguém em um uniforme cor de ameixa sai dos arbustos. Eu penso em uma ilusão para nos esconder, mas é tarde demais. Então eu vejo quem é que está de pé na frente de nós com o uniforme que a marca como um membro da guarda pessoal da Rainha Seelie, e estou tão chocada que provavelmente teria abandonado qualquer ilusão que eu tivesse feito.
Olive.
Capítulo 23
— Senhorita Larkenwood, — diz Olive. Uma espada de guardião se forma em uma mão e uma faca na outra enquanto ela balança a cabeça. — Do lado errado da lei mais uma vez, vejo. No entanto, você conseguiu encontrar uma maneira de entrar na Corte Seelie?
— Foi tudo graças a você. Você me levou até aqui.
Ela estreita os olhos. — Ainda uma mentirosa, vejo.
— Já que estamos no assunto sobre mentirosos — eu digo enquanto me movo lentamente para frente de Chase, — o que você está fazendo usando o uniforme de outra pessoa?
— Este é meu — Olive retruca. — Eu faço parte da guarda pessoal da Rainha Seelie há mais de três décadas.
— Se isso é verdade, por que você não está congelada no estrado com o resto dos guardas que deveriam estar protegendo a ex-rainha na noite passada?
— Não que eu precise responder a você, mas voltei do meu dever em Creepy Hollow ontem à noite. Parece que perdi as festividades.
— Então você é... o quê? A espiã da Rainha? Você fica de olho em tudo o que está acontecendo na Guilda e depois relata a ela?
— Sim. Existe um em cada Guilda. Total perda de tempo tendo que lidar com os negócios da Guilda e aprendizes inúteis, mas é isso que a Rainha quer. Bem, queria, dado que ela não está mais conosco.
— Ei, pelo menos você tem uma aprendiz inútil a menos para desperdiçar seu tão precioso tempo agora.
Ela aponta sua espada para mim quando ela se aproxima. — Sabe, Calla, é uma pena que você seja uma Dotada Griffin e uma assassina. Você seria um excelente guardiã se não fosse por essas duas manchas bastante grandes em seu registro.
— Claro que eu seria. Tudo graças aos seus métodos de treinamento excepcionais, tenho certeza.
— Qual é a sua Habilidade Griffin de qualquer maneira? — Ela pergunta. — Eu ainda não sei.
— Não lute comigo, e vou considerar contar a você.
Ela fica em silêncio, me observando. Eu a encaro, esperando. Eu sei que está prestes a começar. A questão é, quem fará o primeiro movimento.
Ela arremessa a faca para frente. Instantaneamente, eu levanto meus braços, um escudo brilhando um pouco além deles. A faca bate no meu escudo e desaparece. Eu empurro Chase de lado nas rosas e corro em direção a Olive. Eu ouço seu grito quando ele cai, mas tento não me sentir mal. Em vez disso, terá alguns arranhões enquanto ele pousa entre os espinhos ao invés de uma faca de guardião na cabeça. Olive corta a espada no ar, mas eu mudo de direção no último segundo e pulo para fora do alcance. Ela joga outra faca de guardião. Eu me abaixo, deixando a faca voar sobre a minha cabeça e – ali no canto está um alçapão de metal no chão?
Eu me arrasto através dos arbustos, puxando uma faca da minha bota e gritando — Por que você está perdendo tempo lutando comigo? Você deveria estar lutando contra Angelica.
— Eu vou pegá-la, não se preocupe. Enquanto isso, preciso impedir que Lorde Draven e sua cúmplice assassina fujam. Felizmente, o ex-Lorde já está perto da morte, e você — os arbustos à minha frente farfalham em protesto quando Olive pula na minha frente — está prestes a se encontrar em um estado semelhante.
— Eu acho que não. — Uma versão imaginária de Chase - inteiro, saudável e poderoso - aparece atrás de Olive. Ela gira ao som de sua voz, e em seu momento de confusão, eu enfio minha faca em seu pé e tiro.
Seu grito de dor é interrompido um segundo depois, quando uma bola de magia voa pela estufa e atinge seu abdômen. A joga no ar e sobre os arbustos. Ela pousa no caminho de cascalho que corre ao longo do centro da estufa e não se levanta. Eu fico em pé, olho em volta, e vejo Chase - o verdadeiro Chase, quase irreconhecível sob uma mistura de sangue e sujeira - ofegando levemente enquanto ele observa minha ex mentora caída.
— Você a atordoou? — Eu exijo.
— Sim.
— Mas... — Em vez de lembrá-lo de que ele deveria se curar e não desperdiçar grandes quantidades de magia, corro para o lado dele para ajudá-lo. — Eu acho que vi o alçapão enquanto estava rastejando pelo chão. — Eu limpo minha lâmina na minha calça e empurro de volta para a bainha na minha bota. Ignorando o arranhão dos espinhos, afasto os arbustos até encontrar o quadrado de metal no chão. — Deve ser isso. — Eu aponto magia para a argola em um lado da quadrado e puxo de volta para mim. Nada acontece.
— Você está tentando abrir? — Chase pergunta enquanto ele se afasta instável de mim. — Só a realeza pode fazer isso. O túnel é para eles, afinal de contas.
Eu lentamente abaixo minha mão para o meu lado enquanto suas palavras afundam em meu cérebro. — O quê?
Ele fica de joelhos com alguma dificuldade. — O alçapão só pode ser aberto por alguém da linhagem real.
Eu olho para ele. — Você me diz isso agora? Como vamos abri-lo?
Ele levanta uma sobrancelha. Uma careta que poderia se passar por um sorriso puxa seus lábios enquanto ele espera que eu chegue à resposta.
— Oh. Certo. — Eu pressiono minhas mãos no meu rosto e gemo. — Eu sou uma idiota. Por que eu continuo esquecendo que você é, na verdade, um príncipe?
— Eu não me importo — diz ele enquanto abro minhas mãos. — Pelo menos, eu não tenho que me preocupar que você esteja atrás de mim só pelo meu título. — Ele está sorrindo totalmente agora enquanto me observa. Ele envolve a mão na argola de metal e diz, — Pronta para puxar?
Eu estendo minha magia novamente e puxo. Desta vez, o alçapão se eleva. Chase solta à argola enquanto eu abro totalmente o alçapão, permitindo que ele caia em uma roseira já parcialmente achatada. Eu olho para a escuridão e vejo escadas. Com um último olhar sobre o ombro para o corpo de Olive, desço cuidadosamente as escadas. Paro depois de vários passos e estendo a mão para Chase. Ele pega minha mão, usando-a para se manter firme enquanto desce as escadas.
Nós alcançamos o final juntos. Eu olho para cima para o alçapão e envio magia para fechar. A escuridão completa nos rodeia. Então, sem aviso, a luz resplandece, brilhando debaixo do chão do túnel. — Você fez alguma coisa? — Pergunto a Chase.
— Eu usei a parede para me segurar. Você acha que isso conta?
— Possivelmente. Talvez seja o seu toque real.
— Talvez. — Chase se afasta da parede. Com todo o sangue seco espalhado pelo corpo dele, é difícil dizer se seus machucados estão cicatrizando. Mas ele não está tão encurvado quanto quando chegamos pela primeira vez no jardim, e sua expressão não é mais tensa de agonia. Ele deve estar ficando cada vez mais forte. — Você está bem em estar aqui embaixo? — Ele pergunta. — É um pouco mais estreito que os túneis no Subterrâneo pelos quais viajamos em Creepy Hollow.
Eu olho ao redor, percebendo que eu nem percebi a proximidade das paredes do túnel. Os exercícios de dessensibilização de Lumethon devem ter feito mais diferença do que eu pensava. — Sim, estou bem, na verdade. Comparado ao túnel da gárgula, isso é como estar ao ar livre. — Eu deslizo meu braço ao redor de suas costas. — Você pode correr? Se Angelica descobrir que viemos para cá, ela vai vir atrás de nós em pouco tempo.
— Quase. Ainda estou fraco, mas a maior parte da dor desapareceu. Você corre. Vou tentar acompanhar.
Eu ando em um ritmo acelerado, segurando a mão de Chase e correndo um pouco a cada poucos passos. Com seu passo mais longo, Chase me acompanha. — Você sabia sobre os túneis para saída de emergência antes de ouvir Angelica mencioná-los? — Eu pergunto.
— Sim. Pelo menos, eu ouvi histórias sobre eles. Mas este palácio não me interessava muito quando eu era Lorde Draven, então nunca me preocupei em aprender mais. Não pensei nos túneis novamente até que ouvi Angelica e suas bruxas companheiras falarem sobre eles.
— Suponho que não teria nos ajudado se soubéssemos que existiam. Nós não saberíamos onde o outro lado está, e não teríamos sido capazes de abrir — Paro quando um eco ecoando nos alcança. — Você ouviu isso? — Eu sussurro.
Chase para e ouve quando o eco nos alcança novamente. — Talvez Olive já tenha acordado e esteja tentando passar pelo alçapão.
— Ela vai tentar por um longo tempo se a realeza são os únicos que podem abri-lo. Pelo menos, sabemos que ela não vai contar para Angelica, já que ela planeja ir atrás dela também. — Eu olho para Chase enquanto continuamos nos movendo ao longo do túnel sinuoso. — Por que alguns dos guardas estão felizes em servir Angelica? Ela falou sobre os guardas que não são leais a ela, o que implica que existem alguns que são.
— Eu não tenho certeza. Pode ser os guardas que estão aqui há muito tempo, aqueles que estavam por perto quando Angelica estava crescendo e viam a maneira como sua mãe a tratava. Eles podem ter sentido pena dela, e talvez alguns até desejassem que ela fosse à herdeira em vez de sua irmã mais velha.
— Eu suponho que possa ser isso. — Enquanto Chase se move mais rápido ao meu lado, eu apresso minha caminhada para uma corrida. Meu cérebro se esforça para compreender o quão rápido seu corpo conseguiu se curar. Se eu estivesse como ele estava quando o encontrei, meu corpo levaria dias, não horas, para se recuperar.
— Parece que é... o fim, — diz Chase, soando um pouco sem fôlego. Ele se dobra quando paramos na frente de outra escada.
— Isso foi mais rápido do que eu esperava. — Eu olho por cima do meu ombro, mais por paranoia do que por qualquer outra coisa, depois para o alçapão. Eu levanto minhas mãos e empurro o ar com magia. — Eu acho que você precisa tocá-lo, — eu digo quando o alçapão não se move. Chase sobe as escadas e ergue a mão para o quadrado de metal acima de sua cabeça. Eu empurro novamente, e desta vez se move.
Saindo do túnel, nos encontramos em uma floresta banhada pela luz pálida do começo da noite. Embora, eu me pergunte brevemente como demorei o dia inteiro para encontrar Chase, estou feliz por termos saído do palácio. As árvores altas que atingem elegantemente o céu e as cores levemente luminosas que nos rodeiam me lembram o rio e a floresta no início da jornada para a Corte Seelie. Eu olho para trás de mim. Através das árvores, paredes brancas e torres se erguem à distância, separadas de nós por uma camada translúcida cor de prata. O escudo das bruxas. — Ainda parece que estamos muito perto do palácio, — eu digo quando fecho o alçapão. — Vamos ficar o mais longe possível.
— Eu não vou discutir com... Cuidado! — Chase estende a mão em minha direção. Uma onda de ar me bate para trás - para fora do caminho de uma flecha. Eu bato no chão sobre minhas costas. Sem fôlego e lutando para respirar, eu me forço a sentar, olhando descontroladamente ao redor.
Um centauro galopa através das árvores em direção a Chase, seu arco levantado. E outro ali - e outro! Eu solto a parede mental em volta da minha mente em um instante. Imagino a Rainha Seelie - a antiga rainha, mãe de Angelica - levantando-se do chão como se tivesse acabado de sair do túnel. Eu estou invisível; Chase está invisível; Não há ninguém aqui além dela. Enquanto a vejo levantar as mãos e gritar um comando, a fadiga me atinge, imediata e inflexível. Eu sinto isso drenar minha energia, mais rápido do que nunca. Eu não posso parar, no entanto. Eu preciso dessa ilusão para nos tirar daqui.
Os centauros, pelo menos uma dúzia deles, alguns com evidências de uma luta recente, emergem entre as árvores. Embora alguns pareçam confusos com o nosso desaparecimento súbito, todos abaixam a metade da frente de seus corpos e inclinam a cabeça para a projeção da Rainha. Eu levanto tremulamente quando algo esbarra em mim, quase me derrubando de novo. É Chase, agarrando meu braço, minha mão. Nós rastejamos lentamente através das árvores, pendurados um no outro enquanto eu mantenho meu olhar focado por cima do meu ombro, observando a Rainha instruir os centauros a ficarem de guarda na entrada do túnel enquanto ela escapa de seus inimigos. — Os inimigos que vocês deixaram entrar neste túnel! — Acrescento às suas palavras. É um palpite, mas suponho que essa seja a razão pela qual esses centauros estão aqui: para proteger a entrada do túnel de um traidor real como Angelica.
Os centauros se reúnem ao redor do alçapão enquanto minha projeção da Rainha desliza através das árvores e Chase e eu nos afastamos mais. Eu paro de imaginá-la, mas eu não paro de pensar em nós invisíveis. Mesmo quando estamos longe dos centauros, e mesmo que o esforço esteja me esgotando, eu não solto a ilusão. A visão de um centauro é nítida e eu não quero que nenhum de nós acabe com uma flecha nas nossas costas.
Começamos a correr quando acho que eles não podem mais nos ouvir. Chase engasga ao meu lado com o esforço, e eu estou sem fôlego pelos efeitos da maldição, mas continuamos correndo. Finalmente, quando chegamos ao limite da área florestal, onde uma formação de múltiplas rochas circunda uma pequena piscina, solto a ilusão. Nós escalamos uma rocha, contornamos algumas menores e caímos no chão. Eu me inclino para trás contra a superfície da pedra áspera, respirando profundamente e esperando que minha exaustão passe. Chase se mexe para me encarar e descansa seu lado contra a rocha. Seus olhos estão fechados enquanto ele ofega, — me desculpe, eu estou apenas... um pouco tonto.
Embora o cansaço tenha se apoderado de mim como um cobertor pesado que eu não consigo tirar, respirar é pelo menos mais fácil agora que estou sentada. Eu alcanço a mão do Chase. Apesar de estar manchada de sangue e sujeira, sua pele está lisa. Curada e inteira. Eu deslizo meus dedos entre os dele. — Nós conseguimos — eu sussurro. — Nós realmente saímos vivos.