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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


THE FAERIE PRINCE
THE FAERIE PRINCE

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Capítulo 11

 

 

No meu sonho, estou em um parque lutando contra um goblin. É a mesma tarefa que fiz há algumas semanas, mas o tempo está diferente. Um relâmpago divide o céu em pedaços irregulares, e um trovão ensurdecedor faz com que o chão estremeça. O vento chicoteia mechas de cabelo em meu rosto quando corto o goblin com minha espada. Uma trilha de faíscas segue a lâmina. Eu sei que eu deveria matá-lo com a espada - lembro-me disso, mas por algum motivo, eu decido fazer algo diferente agora.

Eu solto a espada e ela desaparece. As chamas começam a dançar e a tremer em minhas palmas abertas. Elas não deveriam me queimar, porque são minhas chamas, mas elas queimam. Eu corro em direção ao goblin, gritando com raiva e por causa da dor em minhas mãos. Enrolo meus dedos ardentes em volta do pescoço do goblin. Ele é forte e deve poder lutar contra mim, mas os sonhos não funcionam do mesmo jeito que a realidade, e, em vez disso, eu o encontro se debatendo sob meu controle. Eu consigo forçá-lo para o chão, minhas mãos nunca deixando o seu pescoço até que ele fica quieto.

Eu dou um passo para trás, as chamas ainda queimando nas minhas palmas, e de repente o goblin não é mais um goblin. Agora, Nate está deitado aos meus pés, seus olhos sem vida olhando fixamente para o céu tempestuoso. Mas não é mais um céu tempestuoso. É um túnel. O túnel onde eu matei Nate. Não, não Nate. Eu matei o metamorfo que assumiu a forma de Nate. Então, quem está deitado aos meus pés agora? Acabei de matar o verdadeiro Nate?

Não, não, não! O que eu fiz? Eu puxo meu cabelo com angústia. As chamas estão sobre mim agora, queimando mais e mais brilhante, e machucando tanto que mal posso...

Eu acordo com um sobressalto, minhas mãos ardendo tanto na realidade como estavam no meu sonho.

— Ei, você está bem? — Ryn se aproxima de mim e pega meu braço. Seus dedos estão frios contra minha pele.

— Apenas um sonho... — Eu digo, sentando e olhando minhas mãos. A luz cinzenta do amanhecer revela a ausência de chamas, mas a queimadura é definitivamente real. — Minhas mãos. Eu posso senti-las queimando. Veja o quão vermelho está à pele...

— Acalme-se, — diz Ryn, mas ele se apressa a abrir a bolsa e pegar o kit de primeiros socorros. — Agora, qual eu usei na noite passada?

— Cara, essa falta da magia de cura realmente não é legal.

— Aqui. — Ryn pega uma das minhas mãos e aperta rapidamente o gel sobre ela. O alívio que sinto é imediato. — Melhor? — Ele pergunta.

— Eu ainda posso sentir alguma dor, mas definitivamente está muito melhor.

— Vê? O material humano funciona em você. — Ele espalha uma camada grossa de gel sobre minhas mãos e pulsos enquanto eu pisco algumas vezes na tentativa de acordar minha cabeça tonta. Não estou acostumada a sentir este cansaço; A magia dentro de mim geralmente reabastece minha energia muito rapidamente. Ryn se move para a minha outra mão. — Você os vê em seus sonhos? — Ele pergunta calmamente.

— Quem? — Eu ecoo.

— Os que você matou. De suas tarefas passadas.

Oh. Eles. Não quero responder. Nunca gostei de falar sobre as criaturas que tive que matar, apesar do fato de Tora me forçar a uma sessão de aconselhamento sempre que isso acontece. Eu prefiro colocar todos os meus sentimentos na caixa de Coisas Que Eu Não Quero Pensar na minha cabeça e deixá-las lá.

— Eu penso, — diz Ryn. — Não sempre, mas de vez em quando.

Depois de um momento, eu digo, — Eu também. — Ele está fazendo um esforço para ser sincero comigo sobre alguma coisa, então eu acho que eu deveria corresponder. — Eu tento não pensar, mas eles geralmente aparecem em meus sonhos.

— Sim, é uma droga, — diz ele. Ele coloca a tampa de volta no tubo. — Espero que suas mãos comecem a curar em breve porque não há muito disso.

Parece que nossa conversa sobre matar coisas acabou. Obrigado Senhor.

Ryn tira o livro como mapa e localiza a estrada em que estamos. Bem, um de nós estava prestando atenção aos nomes das ruas em vez de apenas vomitar sobre elas. Eu deixo minhas tendências maníacas por controle e deixo Ryn descobrir o caminho de casa enquanto eu repouso minha cabeça sobre os meus joelhos. É um novo sentimento, confiar em alguém para fazer algo que me afeta diretamente, mas agora eu gosto disso.

— Tudo bem, parece que deve demorar cerca de dois dias para chegar ao ponto em que esse reino encontra o reino das fadas, — diz Ryn depois de examinar algumas páginas.

— Então, é quarta-feira de manhã, o que significa... Vamos chegar lá amanhã à noite. Ótimo, isso é antes do tempo final.

— E então teremos que atravessar a floresta para a Guilda.

— Ok, mas ainda devemos alcançar a Guilda antes do final da tarde de sexta-feira, certo?

— Sim, se você não nos atrasar, — diz Ryn com uma piscadela. Ele arruma o cobertor e o kit de primeiros socorros enquanto eu permaneço inutilmente com as mãos pegajosas e cobertas com o gel. — Próxima coisa, eu vou ter que alimentá-la porque você não pode segurar sua própria barra energética, — ele diz.

— Não vai acontecer. Prefiro ficar com fome até que este material em gel esteja seco.

***

Nós andamos. Ao longo das ruas, através dos parques, e depois dos centros comerciais. Eu me sinto horrivelmente vulnerável, não só porque estou com os pés descalços e vestindo pouco mais do que um vestido rasgado, mas porque, sem minha magia, não tenho glamour para me esconder do mundo humano. Eu me pergunto o que as pessoas devem pensar de nós enquanto dirigem seus carros. Eles provavelmente dão uma olhada no sangue manchado na camisa de Ryn e pisam em seus aceleradores.

Nós comemos as barras energéticas no café da manhã e almoço - aquela com o chocolate escuro ao redor do lado de fora é definitivamente a minha favorita - e continuamos caminhando após escurecer para compensar meu ritmo lento. Eu quero me forçar a continuar caminhando a noite toda, mas quando chegamos em um bairro tranquilo, Ryn decide que devemos parar. Depois de ter uma briga com um cachorro no primeiro jardim que tentamos entrar, encontramos uma propriedade livre de animais de estimação.

— Como você está se sentindo? — Ryn pergunta enquanto nos sentamos atrás de um galpão de ferramentas pequeno.

— Cansada, dolorida, com fome e muito brava com a pessoa que melhorou essas faixas que bloqueiam magia. A última vez que eu tive uma, consegui forçar alguma magia. Foi incrivelmente doloroso, mas funcionou. Agora isso já não é possível.

— Oh, eu não pensei em tentar isso. — Ryn senta-se mais ereto. — Talvez...

— Não. — Eu balanço minha cabeça cansada. — Quando estávamos em seu calabouço, Zell me disse que ele melhorou as faixam para que elas agora bloqueiem completamente a magia.

— E você acreditou nele? — Ryn olha para o braço, sua expressão se torna intensa. A pele ao redor de sua faixa de metal fica vermelha e inflamada, e eu juro que posso ouvir chiar.

— Pare! — Eu pego seu braço com a minha ainda macia, mas não tão queimada mão. — Não seja um idiota, você está se machucando.

— Merda, isso foi bastante doloroso, — diz Ryn, soando um pouco sem fôlego. — Por que você não me impediu mais cedo?

Fecho meus olhos e balanço minha cabeça antes de me inclinar para trás. — Eu não tenho energia para discutir com você.

— Nesse caso, você precisa de outra barra energética. — Parecendo esquecer sua dor, Ryn alcança a bolsa e a abre. — Então você estará pronta para discutir a noite toda.

Eu gemo. — Outra barra energética? Essa é a única comida que você conseguiu encontrar naquela cozinha?

— Havia uma caixa deles no balcão. Eu apenas peguei quantos eu pude. Se você preferir não comer nada, isso definitivamente poderia ser arranjado.

Eu mostro minha língua para ele. Sim, minha língua. Porque é o quanto eu me importo em ser madura agora.

Ryn tira duas barras da bolsa. — Tudo bem, você quer a de nozes ou a de chocolate?

Apesar do fato de que obviamente quero a de chocolate, eu digo, — Não me importo. Tanto faz.

— Apenas escolha, V.

— Não, não me importo. Sério. Eu gosto das duas.

— Aqui. Eu sei que você quer essa. — Ele me entrega a de chocolate com um sorriso.

— Você não sabe disso. — Mas eu pego a barra de sua mão estendida.

— Sim, eu sei. Eu conheço você muito melhor do que você pensa, V.

— Tanto faz. — Eu coloco minhas pernas debaixo de mim. — Você perdeu oito anos da minha vida e quer me dizer que me conhece?

Ryn puxa os joelhos para cima e coloca os cotovelos sobre eles. — Eu sei quando é seu aniversário. Eu sei que você deixa o Filigree dormir na sua cama quando está com frio. Eu sei que você odeia receber presentes roxos, e sei que você tem um hábito estranho de torcer o cabelo ao redor do dedo quando está nervosa.

Fico boquiaberta. — Como isso é um hábito estranho?

Ele encolhe os ombros. — Talvez porque não é algo que eu possa me imaginar fazendo.

— Porque você é um cara. Isso seria estranho. E como você sabe que eu ainda deixo Filigree dormir na minha cama?

— Você deixa? — Ele pergunta.

Eu estreito meus olhos para ele. — Bem. Bem, eu sei que você nunca namorou nenhuma garota da Guilda porque você acha que é muito bom para elas, e sei que você tem um ‘hábito estranho’. — Eu faço aspas no ar — pressionar sua mão contra seu peito de vez em quando como se você tivesse indigestão ou algo assim.

Ele parece assustado por um momento, depois vira o rosto para longe e não consigo mais ver a expressão dele.

— O que foi? Eu disse algo errado? Deveria ser um segredo que você se acha bom demais para qualquer menina em treinamento?

Ele volta seu olhar para mim como se nada de estranho tivesse acontecido. — De modo nenhum.

— Então, é verdade? Você realmente se acha bom demais para aquelas garotas?

Seus olhos não se movem dos meus. — Não exatamente. É mais como se estivesse tentando evitar confusão.

— Confusão?

— Sim. — Ele desembrulha sua barra energética. — Você tem alguma ideia de como são as meninas? Muito emocional, o tempo todo.

— Uh, eu na verdade sou uma menina, Ryn. E não, eu realmente não sabia disso.

Ele termina de mastigar e diz, — Bem, é porque você não é como as outras garotas.

Não é como as outras garotas? Um silêncio embaraçoso cresce entre nós. — Uau, obrigado, Ryn. A próxima coisa que você vai me dizer é que eu sou como um garoto.

Ele suspira. — Eu não quis dizer isso como...

— Tanto faz. — Levanto uma mão. — Eu não estou ofendida, confie em mim. Eu já ouvi coisa muito pior de você no passado.

Ele sorri. — Você vê o que quero dizer? Você não exagera demais nas coisas. Na verdade, você provavelmente é mais como um garoto do que um...

— Tudo bem, você deve parar de falar agora antes de realmente se complicar.

Ele termina sua barra energética e então diz, — Não é como se eu tivesse zero relacionamento, no entanto. Subterrâneos são muito legais. Eu conheço alguns deles bastante bem, e acredite ou não, nem todos eles querem nos matar.

— Subterrâneos? — Ele concorda. — Como... não-faeries que ficam na parte super perigosa de Creepy Hollow conhecida como Subterrâneo?

— Esse mesmo lugar. Havia uma garota realmente gostosa - bem, mulher, na verdade - que tinha lindas escamas verdes em seus braços e uma língua de serpente. Cara, a língua era espantosamente maravi...

— OK, obrigada, — eu interrompo alto. — Eu não sei se você está fazendo isso para me assustar ou se você realmente saiu com uma mulher cobra, mas de qualquer forma, eu não preciso saber.

Com um sorriso que eu não consigo decifrar, Ryn se deita na grama. — Já que estamos no assunto de relacionamentos...

Ah, não. Por favor, não torne essa conversa sobre mim.

— O garoto halfling é o único namorado que você já teve, certo?

Nate.

É a primeira vez que pensei nele o dia todo. Isso deve ser um recorde. — Sim, por quê?

— Você nunca namorou um faerie?

— Não. — Eu começo a me sentir desconfortável. — E daí?

— Você nunca beijou um faerie?

— Não acho que seja da sua conta, Oryn.

Ele ergue a cabeça e olha para mim. Seus olhos brilham com alegria. — Como eu disse antes, você está perdendo.

Antes? Do que ele está falando? Ele não oferece nenhuma explicação, e não vou pedir a ele; eu prefiro que essa conversa termine agora.

— Talvez você deva dar outra chance.

Ou talvez eu devesse ter mudado de assunto quando tive a chance.

— Tem que haver um faerie lá fora, que apreciará sua combinação única de habilidade de guardiã, natureza competitiva e atitude teimosa.

— Mesmo que haja, não vai acontecer.

— Qual é, você nunca saberá o que está perdendo se não mergulhar seu dedo do pé da lagoa do namoro.

Lagoa do namoro? Conte com Ryn para encontrar uma analogia idiota assim. — Eu tentei, lembra? Depois de anos longe da ‘lagoa’, mergulhei meu dedo e quase afundei toda minha perna por um peixe atraente que acabou por ser uma serpente do mar disfarçada.

Ryn ri. — Tenho certeza de que aparecerá um cara que vai impressionar você.

— Bem, terá que ser um golpe seriamente impressionante para me convencer de que ele vale a pena.

— Como o quê? Morrer por você? Porque isso acabaria rapidamente com o relacionamento.

— Não, Ryn, não como morrer por mim. — Quando eu não continuo, ele olha para mim com as sobrancelhas arqueadas, como se estivesse esperando por uma resposta. — Jeez, eu não sei, Ryn. Como um gazilhão de insetos brilhantes iluminando o céu noturno com suas pequenas pontas incandescentes ou algo assim.

— Pontas incandescentes? — Ryn explode de rir. — Quando eu encontrar uma garota que seja digna de acrobacias impressionantes, será mais como um passeio em um tapete mágico para assistir o pôr do sol do que um monte de pequenos insetos brilhantes no ar.

— Sim, bem, talvez seja uma coisa minha. — Ou não. Não tenho ideia de onde veio o comentário de ‘pontas incandescentes’. Embora possa ser realmente bonito agora que eu penso nisso. — E tapetes mágicos não existem, — acrescento.

Ryn inclina a cabeça para olhar para o céu. — É por isso que será tão impressionante.

***

Minhas mãos não parecem ruins no dia seguinte, o que abre espaço para a dor no meu braço. Ryn mudou o curativo e a atadura antes de dormirmos ontem à noite e a ferida não parecia boa. Ainda não me incomoda muito. Voltarei à Guilda amanhã, e depois que a faixa de metal for removida, meu braço vai curar rapidamente.

Caminhamos ainda mais devagar do que ontem e, quando a lua cresce no céu e estamos cansados e doloridos demais para continuar, ainda não alcançamos o ponto de cruzamento para o reino das fadas.

— Se continuarmos no mesmo ritmo, levará pelo menos mais quatro horas, — diz Ryn enquanto examina o mapa.

— Ok. — Eu me levanto. — Vamos. Nós podemos fazer isso.

— Não seja boba. — Ryn fecha o livro e coloca a bolsa no chão. — Nós podemos fazer pela manhã.

— Não. A manhã é para atravessarmos a floresta para a Guilda. Você se esqueceu dessa parte?

— V, você vai cair em breve, o que significa que eu vou ter que carregá-la, e apesar de quão forte e musculoso pareço, não estou exatamente me sentindo assim no momento. — Ele me puxa para baixo para a grama, e eu percebo que estou cansada demais para me levantar de volta.

***

A manhã de sexta-feira chega, e estou desesperada. Cada passo que damos, eu posso imaginar o relógio acelerando. Todos os outros provavelmente já estão de volta, e aqui estamos nós, os dois melhores formandos da nossa classe, incapazes de usar nossa própria magia.

Ao redor de meio dia, as casas começam a se separar. Quando finalmente chegamos em uma área florestada e Ryn diz, — É isso, — eu poderia chorar de felicidade. Com força renovada, nos apressamos através das árvores.

— Se os humanos andassem por aqui, — eu digo, — eles simplesmente continuariam até chegarem ao outro lado, certo?

— Sim. Apenas faeries podem cruzar para o outro reino enquanto estão nesta floresta.

Parte de mim se pergunta se eu poderei dizer quando não estaremos mais no domínio humano, mas no momento em que acontece, eu sei. Não apenas porque sente e parece diferente, mas por causa do aguaceiro súbito em que nos encontramos.

Estamos em casa.

Finalmente.

E a tempestade mágica que começou há uma semana ainda destrói.


Capítulo 12

 

 

— Você deve estar brincando comigo, — eu grito acima do rugido da chuva. Um relâmpago em forma de garfo rasga o céu e atinge a árvore do nosso lado. Com um estrondo e um gemido, um enorme ramo cai no chão. Nós mergulhamos para fora do caminho, batendo no chão e deslizando pela lama. Sento-me e limpo a sujeira marrom do meu rosto.

Fan-tás-ti-co.

— Nós não podemos atravessar com isso, — Ryn grita para mim.

— Temos que conser. De que outra forma vamos voltar?

— Vamos esperar um pouco. — Ele me põe de pé e me guia alguns passos para trás. Um segundo depois, estamos de pé na floresta tranquila do reino humano, sem nada perturbando a paz, exceto por alguns pássaros chilreantes.

Eu coloco minhas mãos sobre o meu rosto. — Por que isso está acontecendo?

— As coisas poderiam ser piores, V. — Eu ouço Ryn sentar. — Nós poderíamos estar mortos, sabe. Quantas outras pessoas lutaram contra a Rainha Unseelie e viveram para se gabar disso?

— Eu não me importo, — eu gemo.

— Pare de ser um bebê e sente-se. Vamos esperar meia hora para ver se o tempo está bom.

Eu me jogo no chão e começo a limpar a lama e gosma do meu vestido. — Eu não consigo acreditar nisso. Devíamos ter voltado para a Guilda há dias! E aqui estamos, dormindo na sujeira, deslizando pela lama e cheirando a merda.

Ryn dá um riso abafado. — Oh, baby, adoro quando você fala sujo.

Eu empurro um punhado de folhas enlameadas na sua boca rindo. — Aí. — Eu sorrio docemente. — Agora você também pode falar sujo.

Ele cuspiu e balbuciou. — Ok — ele limpa mais algumas folhas de sua língua — você sabe que eu vou ter que descontar isso em algum momento, certo?

— Eu não entendo por que você não está chateado com isso. — Eu atiro minhas mãos para cima. — Você é tão competitivo quanto eu. Não te incomoda estarmos prestes a perder muitos pontos?

— Violet. Você e eu estamos tão à frente de todos os outros no ranking que, mesmo se conseguíssemos um grande zero nessa tarefa, o que não acontecerá, ainda assim será você ou eu nos formando no topo da turma.

Eu tiro os cabelos molhados do meu rosto e me inclino contra uma árvore com um suspiro. Eu acho que Ryn está certo. Nós dois lutamos pela primeira posição desde que começamos a treinar; ninguém mais realmente teve uma chance. No entanto, o pensamento não me faz sentir muito melhor. Eu não quero saber se será um de nós dois. Quero saber que será eu.

— Por que você quer tanto? — Ryn pergunta, me observando de perto.

Eu balanço minha cabeça. Nunca contei minha razão a ninguém, e não vou contar agora.

— Se eu adivinhar corretamente, você vai me dizer?

Eu movo minha cabeça para que eu possa vê-lo. — Você nunca adivinharia.

Com um sorriso, ele diz, — Desafio aceito. Ok, vamos ver. Não pode ser algo tão simples como dinheiro. Eu sei que seus pais deixaram você bem abastecida. — Ele me observa de perto; eu mantenho minha expressão neutra. — Certo. Então, é porque a única coisa que você sempre quis na vida é ver seu nome escrito no Salão de Honra? — Ele hesita. Se ele está esperando uma sugestão de mim, não vai acontecer. — Não, eu acho que não, — ele continua. — E não pode ser a visita a Corte Seelie porque duvido que você quer conhecer a... — Ele se afasta e inclina a cabeça para o lado. — Não, espere, é isso. Você quer ir a Corte Seelie.

Eu sinto certa inquietação mexendo dentro de mim, mas mantenho minha voz plana quando eu digo, — E como você percebeu isso? Eu pisquei do jeito errado?

— Isso é interessante, — diz Ryn, ignorando minha pergunta. — Eu sempre assumi que teria mais a ver com sua mãe do que qualquer outra - Aha! — Ele aponta para mim. — É isso! Isso é algo a ver com sua mãe e a Corte Seelie.

A menos que ele possa ouvir a batida instável do meu coração de onde ele está sentado, o que eu sei que ele não pode, ele nunca deveria ter conseguido descobrir isso. Minha expressão permanece neutra enquanto eu olho para ele por vários momentos, tentando pensar em outra história. Mas ele parece tão seguro de si mesmo que sei que ele nunca vai acreditar em uma mentira. — Como você adivinhou? — Eu pergunto eventualmente.

— Eu sou muito bom em ler pessoas. Isso é algo que você pode não saber sobre mim, V.

Pressiono meus lábios juntos e olho para o chão. Espero que ele não consiga saber o quanto me perturba que ele descobriu meu segredo. Quem teria pensado que ele era tão bom em adivinhar?

— Então você vai me contar o resto dos detalhes, ou simplesmente me deixar esperando?

Pela primeira vez, considero por que nunca disse a ninguém. Porque não é da conta de mais ninguém, é claro, mas acho que temo que outras pessoas pensem que é bobo. E várias semanas atrás, Ryn teria sido a última pessoa na terra com quem eu teria compartilhado esse segredo, mas eu conheço o outro lado dele agora. Eu vi seus medos, testemunhei sua tristeza. Algo me diz que se alguém vai entender por que isso é tão importante para mim, Ryn irá.

— Tudo bem, — eu digo. — Mas se você rir de mim, juro que vou fazer você sentir tanta dor que você nunca mais irá querer rir novamente.

— Tudo bem, — ele diz devagar. — Você é um pouco assustadora às vezes, V. Não se preocupe, vou ter certeza de manter todo o riso guardado.

— Ok. — Eu dobro meus braços. — Então, não é segredo que eu gosto muito de ser a melhor formanda do nosso ano e gostaria de ser recompensada por isso, mas, como você adivinhou, há outro motivo que torna isso ainda mais importante para mim. — Eu respiro fundo. — Aparentemente, quando nossos pais estavam treinando na Guilda, todos queriam visitar a Corte Seelie. Essa era, tipo, a coisa mais legal sobre ser a formanda principal. E minha mãe... Bem, eu acho que ela era uma pessoa impressionante e divertida, e quando se formou no topo de sua turma, ela queria tirar proveito de sua visita a Corte Seelie. Então, de acordo com meu pai, ela levou um monte de coisas dela com ela e as escondeu em algum lugar. Ela pensou que seria divertido se alguém nos anos futuros encontrasse suas coisas, e se ninguém as encontrasse, ainda seria divertido porque ela deixou sua marca lá, como os seres humanos que esculpem suas iniciais em árvores. — Paro para respirar.

— Como ela saberia se alguém achou suas coisas? — Pergunta Ryn.

— Bem, meu pai disse que ela deixou uma mensagem no espelho gravada lá, pedindo que seu livro favorito fosse devolvido à Guilda com uma mensagem para ela. Eu não ouvi falar disso, então estou assumindo que seus pertences ainda estão escondidos. Apenas pense nisso, Ryn. Eu podia vê-la no espelho, falando comigo! E eu poderia finalmente ter algo dela! Sua primeira joia, uma história que ela escreveu na escola secundária, a vela que ela queimou no seu décimo oitavo aniversário - qualquer outra coisa que ela deixou lá. Se eu pudesse encontrar todas essas coisas, então eu finalmente saberia algo sobre ela. Quero dizer, em casa há roupas e livros, mas o que isso me diz? Além do fato de que ela adora ler poesia, mal conheço qualquer coisa. E eu quero conhecê-la. Quero saber como ela era quando tinha a minha idade. Eu quero sentir algum tipo de conexão com essa pessoa com a qual não tenho lembranças.

Quando finalmente paro de falar, Ryn apenas olha para mim. O que ele está pensando? Ele está pensando em algo? Por tudo o que sei, ficou aborrecido e dormiu enquanto eu falava. Ou talvez ele esteja mordendo a língua para segurar seu riso.

De repente, me arrependo de contar. — Você acha que é bobo. Eu sei, são apenas coisas, certo? Como é que isso deveria me fazer sentir...

Ele se inclina para frente e pega minha mão. — Não é bobo, V.

Espero que ele diga mais alguma coisa, mas ele não fala. Ele também não desvia o olhar. Ou solta minha mão. Minha pele ainda está bastante sensível da queimadura da videira, de modo que seu aperto dobra as dores. Mas também é uma maneira sensacional de pele formigando, coração-disparado, cabeça-disparada.

Insana. Isso é o que eu sou. Definitivamente insana.

Eu puxo suavemente minha mão e pego a jaqueta de Ryn. Estou começando a ficar com frio. — Bem, de qualquer maneira, essa é minha triste história. Agora é a sua vez. — Eu cruzo meus braços, tendo cuidado para não bater na ferida realmente dolorosa escondida debaixo da atadura. — Você tem que me dizer algo pessoal, algo anteriormente fora dos limites.

Ryn junta os dedos e parece pensativo. — Ok, lembra quando tivemos um dos nossos principais confrontos recentemente sobre Reed, e você gritou para eu ‘superar’?

— Uh, sim. — Eu me sinto culpada por isso agora; eu fui bastante malvada.

— Bem, eu estou tentando. — Ele olha para o chão. — Não é fácil com minha mãe ao redor. Ela está triste o tempo todo e eu sei que é porque ela sente falta dele. E há lembretes dele em toda a nossa casa. Como todas as coisas em seu quarto, e o alvo que ele criou no final da passagem.

— Sua mãe ficou muito brava quando ele fez isso, — eu digo, lembrando disso claramente. — Ela disse que era muito perigoso jogar facas dentro da casa.

— Mas Reed implorou para deixá-lo manter lá. Ele prometeu ter cuidado.

— E ninguém poderia dizer não a Reed.

— Não. — O sorriso de Ryn está triste. — E então há o fato de que meu pai não está por perto. Ele nos deixou porque ele e minha mãe simplesmente não conseguiam lidar com a morte de Reed. Eles deveriam estar sofrendo juntos, sabe, mas de alguma forma eles sempre acabaram brigando em vez disso. Então ele foi embora. E agora, sua ausência é um constante lembrete de que Reed também não está mais.

Um tremor atravessa o meu corpo, e eu aperto a jaqueta ainda mais ao meu redor. — Mas sua mãe não se importa de ter Calla ao redor?

Ryn balança a cabeça. — É estranho, eu sei. Eu pensei que ela teria um problema com isso, e na primeira vez que eu trouxe Calla, a minha mãe manteve distância. Mas desde então ela parece amá-la.

— Talvez seja porque Calla é uma criança tão adorável que sua mãe pode olhar além de sua ascendência.

— Provavelmente, — diz Ryn. Ele respira profundamente e olha ao redor. — Uh, devemos verificar a situação do clima em Creepy Hollow?

— Sim! — Eu pulo, horrorizada por ter conseguido esquecer a urgência de nossa situação. Minha cabeça gira e o mundo à minha volta parece mover. Quando consigo me endireitar, me encontro encostada a uma árvore com Ryn segurando meu braço livre da ferida.

— Levantar-se tão rápido claramente não é uma boa ideia para você, — diz ele.

— Eu estou... apenas... — Eu agito minha cabeça. — Um pouco tonta.

— É seu braço? — Ele se move para empurrar a jaqueta do meu ombro.

— Não. — Eu paro sua mão. — Nós dois sabemos que provavelmente está pior do que a última vez que verificamos, então vamos voltar para a Guilda o mais rápido que pudermos. Estarei bem depois que a faixa de metal for removida.

Ryn olha para onde minha mão está tocando a dele. — Sua pele está realmente quente, V. — Ele coloca a mão na minha testa. Eu tento agir como se não me incomodasse em tê-lo de pé tão perto e me tocando. Porque não. De modo nenhum. — Você está definitivamente queimando, — diz ele.

— Bem, é algo que nunca experimentei antes.

— Você está mais doente do que você pensa, V. Nós realmente precisamos nos mover.

— Obrigado, isso é realmente reconfortante, Ryn. — Eu passo por ele. — Não era eu que queria sentar e esperar o tempo melhorar, lembra? — Um trovão cumprimenta meus ouvidos quando cruzamos a divisão invisível entre os reinos. Meu cabelo, que acabou de começar a secar, fica encharcado em segundos. — Por que decidimos esperar de qualquer maneira? Não é como se a chuva fosse nos matar.

— Sim, mas as árvores caindo podem, — Ryn grita para mim. — Por isso esperamos.

— Bem, não podemos mais esperar. — Eu parto para a tempestade, então lembro de que nunca viajei por essa rota antes, e não tenho certeza de qual caminho seguir.

— Você gostaria que eu lhe mostrasse o caminho? — Ryn pergunta enquanto ele passa para mim, um olhar superior em seu rosto. Ele gosta demais quando encontra algo que não posso fazer. Eu o sigo sem uma palavra.

Andamos ao longo do chão do bosque encharcado, esquivando-se de galhos que caem ocasionalmente. Raios nos cegam e trovoes fazem a floresta toda estremecer. A metade inferior do meu vestido se agarra às minhas pernas. Eu afasto a chuva dos meus olhos e puxo o vestido para cima e para fora do caminho. Eu não deixarei um pedaço de tecido estúpido me atrasar.

Não demora muito para eu ficar exausta. Meu coração está batendo muito rápido, e eu não consigo parar de tremer. E mesmo que seja provavelmente apenas o vento, continuo pensando que posso ouvir alguém chamando meu nome. Meu pé prende debaixo de uma raiz, e antes que eu possa descobrir como me salvar de cair, desembarco na lama.

Tão embaraçoso. Eu não sou o tipo de pessoa que caí sobre as coisas! Eu deveria ser coordenada e ágil e - quem continua chamando meu nome? Eu me viro e olho para a floresta sombria. — Quem está aí?

Sinto a mão de alguém em meu braço, e eu olho para cima para ver Ryn. Esquisito. Eu esqueci que ele também estava aqui. Ele me levanta e coloco o meu braço em volta do pescoço dele. Ótimo, agora ele acha que preciso de ajuda para andar.

Violet.

Eu me esforço para olhar por cima do meu ombro. Definitivamente, alguém está me chamando. E é a forma de uma pessoa que posso ver se mover entre as árvores? — Espere, Ryn, alguém continua chamando meu nome. Você não pode ouvir?

— Apenas continue andando, V. Não há ninguém lá.

Não sei o porquê, mas eu o escuto em vez da voz. Provavelmente porque seu braço é tão forte ao redor de mim que eu não teria esperança de lutar livremente.

Nós continuamos nos movendo. Passo após passo após passo. Eu nunca estive tão cansada. Estou tão cansada, de fato, que estou sonhando enquanto ando. Eu sei que estou acordada e em movimento, mas minha mente está perdida em uma confusão de imagens confusas. Estou flutuando, deixando-os me levar como um rio. Pessoas, memórias, cores, pedaços misturados de conversas.

Da próxima vez que eu fico consciente do ambiente ao meu redor, estamos de pé na entrada da Guilda, e Ryn está se desculpando com o guarda por algo. — Desculpe, foi a única maneira que eu pude pensar para chamar sua atenção. Sem magia, lembra? — Ele empurra o pulso com o metal para frente como prova. — Se quiser ver meu pingente, aqui está. — Ele alcança seu pescoço e puxa uma corrente de baixo da camisa. — Mas como eu já lhe disse, Basil, ela não está usando a dela. E ela não pode conseguir para você, porque ela precisaria de magia para fazer isso, e ela atualmente não possui nenhuma. Agora deixe-nos entrar.

— Eu passei por isso antes com você, Ryn, — Basil diz com paciência. — Você conhece as regras. Ela não pode entrar aqui sem antes me mostrar o pingente. Se isso for impossível, então eu vou ter que enviar um guarda com...

— Não me importo se você tem que enviar uma centena de guardas comigo, essa garota está morrendo e preciso levá-la ao seu mentor agora!

Morrendo? Do que ele está falando?

As coisas ficam um pouco confusas. Eu acho que há mais gritos, e estou vagamente consciente de ser arrastada por uma escada. Quando Ryn abre um portal e vejo uma mulher com cabelos loiros e verdes sentada atrás de uma mesa, minha cabeça clareia um pouco.

— Aí estão vocês! — Exclama Tora. — Eu esperava que vocês tivessem voltado há anos. — Seu rosto vacila, e ela está de pé rapidamente. — O que aconteceu? Qual o problema?

— Nós conseguimos, Tora. — Eu digo fracamente. — Nós terminamos a tarefa. Lutamos com a Rainha Unseelie. Roubamos o colar. Chegamos em casa antes do tempo final. — Nós conseguimos? Não tenho certeza sobre isso. Enrolo meus dedos em volta do meu grosso colar, tentando e falhando em puxá-lo para que eu possa dar a Tora. Então, assim como todas as garotas bobas em todas as histórias de donzela em sofrimento que eu sempre desprezei, eu me encosto contra Ryn e desmaio.


PARTE II


Capítulo 13

 

 

Não sei porquê, mas espero ver o rosto de Ryn quando eu acordo. Ele não está lá, no entanto. Tora está. E esse é o quarto que costumava ser meu quando eu morava com ela.

— Bom dia, — diz ela, levantando os olhos de um conjunto de papéis em sua mão. Ela os coloca na mesa de cabeceira e se inclina para frente em sua cadeira. — Pronta para enfrentar o mundo de novo?

Eu olho para baixo e vejo uma cicatriz estreita cercando meu pulso onde estava a faixa de metal. Meu olhar se move para o topo do meu braço; A pele está perfeitamente curada. — Sim, acho que sim. Flint tirou a faixa?

— Sim. Não consegui encontrar mais quem soubesse, embora haja outros na Guilda que já conheceram este metal antes.

Eu me sento e tento passar minhas mãos pelo meu cabelo, mas a lama seca deixa os fios grudados e faz com que seja difícil. Pelo menos não estou usando o escasso vestido de festa rasgado. As roupas que eu estou vestindo são de Tora.

— Desculpe, pensei que seria um pouco difícil lavar seu cabelo enquanto você estava inconsciente, — diz Tora. — Você terá que cuidar disso.

— Certo. Hum, então voltamos a tempo, certo? Para a nossa tarefa, quero dizer.

— Sim. — Tora junta as mãos. — E Ryn fez o relatório verbal da volta com Bran e eu depois que Flint conseguiu tirar a faixas de vocês dois. Você deveria tecnicamente estar lá para isso, mas você não estava exatamente em estado para falar. Ou ficar de pé.

Eu fecho meus olhos e gemo, sentindo o calor subir nas minhas bochechas enquanto lembro do quão patéticas foram minhas últimas vinte e quatro horas. — Desculpe-me sobre a coisa de desmaiar. Tão constrangedor. Não vai acontecer novamente. — Eu coloco minhas pernas sobre o lado da cama e estico meus braços.

— Você tem certeza de que está bem? — Os olhos de Tora estão arregalados com preocupação.

— Sim, estou mais do que bem. Eu me sinto completamente bem. Eu sabia que Ryn estava exagerando quando chegamos à Guilda ontem.

— Exagerando?

— Sim, ele disse algo a Basil sobre eu estar morrendo.

— Bem, eu hesitei em te contar isso porque sei como você se sente sobre Ryn estar certo — ela me dá um olhar de que sabe das coisas, e eu finjo não ter ideia do que ela está falando — mas você estava realmente perto de morrer. Havia uma infecção em sua ferida que se espalhou rapidamente pelo sangue. Se você estivesse lá fora por conta própria, não acho que você teria voltado a Guilda a tempo.

— Oh. — Ótimo, então eu devo minha vida a Ryn de novo?

— E eu estava esperando que você voltasse dias atrás - quero dizer, não era exatamente uma tarefa complicada - então eu fiquei realmente preocupada quando chegamos sexta-feira à tarde e você ainda não tinha aparecido. Eu sei que não deveria entrar em contato com você, mas eu estava me preparando para quebrar essa regra. — Tora funga e limpa os olhos. — Você sabe que eu nunca gostei exatamente de Ryn, mas ficarei para sempre grata por ele ter te trazido aqui viva.

— Tudo bem, não fique chateada, Tora. Estou bem, vê? — Eu subo na cama, faço algumas estrelinhas, depois envolvo meus braços ao redor de seu pescoço.

Ela ri no meu cabelo enquanto dobra seus braços em volta de mim e aperta. — Você sempre será minha formanda favorita. Mesmo depois de ter orientado muitos outros formandos incríveis, você ainda será minha favorita.

— Bem, sua formanda favorita precisa ir e escrever um relatório incrível para que ela possa marcar muitos pontos e conseguir a posição de primeira na graduação que ela sempre quis. Ah, e o que aconteceu com a estranha tempestade magia? — Eu escuto com atenção e percebo uma ausência de trovão, chuva e vento uivante. — Finalmente acabou?

— Eu acho que sim. Esteve indo e vindo desde a última sexta-feira – é a tempestade mais longa que já presenciei – mas parece que finalmente está claro agora. Ainda não temos ideia de onde ou de quem veio, ou se está ligada ao assassinato na última noite de sexta-feira.

Talvez agora seja um bom momento para contar a Tora sobre Nate e como ele pode ser o responsável pela tempestade. Ou não. Eu preciso pensar corretamente sobre isso, planejar o que vou dizer.

— Oh, antes de esquecer, — diz Tora, — você tem uma reunião com a Conselheira Starkweather assim que estiver pronta.

— O quê? Estou com problemas?

— De modo nenhum. Ela está extremamente satisfeita com você e Ryn. Mas o item que você recuperou ainda está escondido dentro do seu colar. — Ela aponta para a joia robusta que está ao lado da minha stylus na mesa de cabeceira. — Você e Ryn precisam entregá-lo e responder todas as perguntas que ela possa ter para vocês dois.

— Oh, tudo bem. — Eu tinha esquecido o colar da eternidade e o resto dos meus pertences em miniatura. — Bem, é melhor eu chegar na Guilda imediatamente. — Pego o colar e a stylus e me dirijo para a porta.

— Espere, mais uma coisa. — Tora aponta para a outra porta que conduz para fora do quarto. — Banho. Agora.

*

Ryn já está esperando no escritório da Conselheira Starkweather quando eu chego lá.

— Oi.

— Oi.

Bem, isso não é estranho afinal. — Hum, obrigado por me ter trazido aqui ontem.

— Certo. As conversas que você teve com suas alucinações foram divertidas de ouvir.

Oh, diabos, eu estava falando o tempo todo que eu estava alucinando?

— Brincadeira, — ele diz, um lado de sua boca subindo. — Elas eram realmente muito chatas.

Fantástico, agora não tenho ideia se eu estava falando ou não.

— Vamos entrar? — Ryn pergunta.

— Sim. A menos que você gostaria de me envergonhar ainda mais?

Ele finge pensar sobre isso. — Talvez depois. — Ele ergue o punho e bate na porta. Depois de vários segundos de silêncio, nos pedem para entrar.

A Conselheira Starkweather, com os cabelos brancos e cinza, puxados apertadamente em um coque na parte de trás da sua cabeça, vem em direção à porta para nos cumprimentar. Eu sei que ela tem vários séculos de idade, mas, assim como todas as outras fadas adultas, seu rosto é perfeito e sem rugas.

Ela nos faz entrar, então aperta minha mão, seguida da de Ryn. — Eu gostaria de parabenizar vocês dois por uma tarefa bem-sucedida.

— Bem-sucedida? — Eu digo antes que eu possa me parar. — Pelo menos dois humanos morreram. Eu não chamaria exatamente de sucesso.

Ela arqueia uma sobrancelha. — Apenas dois humanos morreram, — ela corrige. — Nós enviamos guardiões lá ontem para avaliar a situação. Parece que ninguém testemunhou nenhuma atividade mágica, o que é muito afortunado. As autoridades humanas estão assumindo que o incêndio foi um acidente e o que causou a morte do Sr. Hart e seu filho.

— E o que eles acharam do porão cheio de objetos mágicos?

— Eles não encontraram nenhum objeto mágico. Estamos assumindo que alguém da Corte Unseelie os removeu. — Ela recua e se inclina contra a borda de sua mesa. Ryn e eu permanecemos em pé. — Não foi culpa de vocês que duas pessoas morreram. Ninguém sabia que a Rainha Unseelie apareceria. Os dois foram simplesmente convidados a descobrir o que estava acontecendo na casa do Hart e a trazer de volta o item que foi dado ao Sr. Hart na semana passada. Como vocês gerenciaram essas duas tarefas, espero que vocês recebam pontos altos por essa tarefa.

— Bem, isso é ótimo, mas não parece exatamente certo de ter muitos pontos quando duas pessoas morreram. — Ok, por que estou discutindo com a chefe do Conselho da Guilda?

— Violet, — diz Ryn calmamente. — Eu pensei que você queria muito isso.

— Eu quero, mas somente quando eu mereço.

— Você merece, — A Conselheira Starkweather diz. — Mas se você se sentir tão fortemente contra sobre isso, ficarei feliz em pedir que seus pontos sejam reduzidos.

— Isso não será necessário, — diz Ryn, colocando uma mão no meu braço e me mostrando um olhar que diz claramente, cale-se AGORA.

— Excelente. Então, tudo o que resta é vocês entregarem o item. Bran disse algo sobre um colar especial?

— Sim. — Eu percebo a Conselheiro Starkweather batendo seu sapato enquanto eu recupero o colar do meu bolso; Nós estamos obviamente ocupando muito do seu tempo. — Eles chamaram de colar da eternidade, e o Príncipe Unseelie disse que nunca mais o devolveria a sua mãe porque ela não merece ser imortal. Então estamos assumindo que ele concede imortalidade.

— Sim, eu ouvi falar disso, — a Conselheiro Starkweather diz, pegando-o com cuidado, quase com reverência. Ela o segura na luz, e o pingente em forma de lágrima de pedra branca brilha com um brilho perolado. — Ninguém sabe como foi feito ou quem foi seu criador, mas está na posse da Corte Unseelie há muitos séculos. — Ela coloca em sua mesa e olha para nós. — Devo enviar isso para a Rainha Seelie imediatamente; ela ficará satisfeita em tê-lo. Isso é tudo. Vocês podem sair agora.

Ok, isso foi abrupto. Ryn e eu viramos em direção à porta e, em uma demonstração pouca característica de um cavalheiro, ele a abre para mim. — Isso foi um pouco estranho, — eu sussurro depois que ele fecha a porta atrás de nós.

— Ela está mentindo, — ele diz calmamente.

— Sobre o quê? — Nós nos dirigimos pelo corredor e longe dos escritórios dos Conselheiros.

— Não tenho certeza exatamente, mas ela não estava sendo verdadeira. Se eu tivesse que adivinhar, eu diria que ela não está planejando dar esse colar à Rainha Seelie.

— Ryn, você não pode saber se ela estava mentindo ou não.

— Sim, eu posso. Sou bom em ler pessoas, lembra? E você também pegou uma vibração estranha dela.

— Sim, mas não sei o que significa essa vibração. E o que você pode fazer sobre isso? — Nós alcançamos a escada principal e começamos a descer. — Agora está fora de nossas mãos, então precisamos confiar que ela fará tudo o que ela deveria fazer com isso.

*

Filigree está na sua fase de porco em miniatura. Ele também conseguiu comer quase todos os potes de nixles assados na cozinha. Somente os potes de insetos verdes permaneceram; Eles são claramente a sua cor menos favorita. E claro, eu vou ter que ir às compras neste fim de semana.

Eu me inclino para trás na cadeira da cozinha e olho as notas que fiz até agora. Eu acaricio Filigree distraidamente - em forma de gato, enrolado no meu colo – atrás das orelhas enquanto eu tento lembrar de tudo o que aconteceu durante nossa tarefa. Eu provavelmente deveria verificar alguns detalhes com Ryn antes de escrever toda a coisa na íntegra.

Filigree se estica e salta para fora do meu colo graciosamente. Aproveito a minha liberdade para me dirigir a um dos armários e pego uma colher de chá e um frasco chamado de Chocolate e LadyFair Blossom Sauce. Deveria ser servido como sobremesa, mas eu prefiro comer diretamente do pote. Eu sento, mergulho a colher no pote e lambo a doçura do chocolate dela. Isso acontece várias vezes enquanto eu releio minhas anotações novamente e marco todos os lugares onde preciso verificar os fatos com Ryn.

Quando eu começo a me sentir cansada, eu coloco a tampa de volta, junto meus papéis e subo as escadas para encontrar minhas botas. Depois de passar vários dias com os pés descalços em um vestido rasgado, estou gostando de usar calças e botas de novo. E tops, obviamente. Ao contrário de Ryn, eu prefiro não caminhar de topless. Antes de abrir um portal para os caminhos das fadas, olho rapidamente a minha aparência no espelho no meu quarto. Então eu balanço minha cabeça e me viro. Quem se importa como eu pareço? É apenas Ryn que vou ver.

Com uma pequena bolsa pendurada no meu ombro, eu me apresso para os caminhos e saio na frente da árvore de Ryn. Eu bato e depois aguardo alguns minutos.

Eu bato novamente.

Estou prestes a retirar o meu âmbar para perguntar onde ele está quando a casca se abre. Zinnia está na porta aberta, os olhos pesados e a pele enrugada.

— Oh, sinto muito, — digo. — Eu acordei você? — Ainda é cedo, mas os guardiões mantém horários estranhos as vezes.

— Não, não se preocupe, eu estaria acordando de qualquer jeito. — Zinnia sorri enquanto ela dobra seus braços sobre o peito. — Eu acho que você está procurando Ryn?

— Sim, ele está aqui?

— Receio que não, e não sei onde ele está ou quando voltará.

— Oh, tudo bem. — Eu dou um passo atrás. — Bem, obrigada de qualquer maneira.

— Espere, Vi. — Ela coloca alguns cachos atrás de sua orelha. — Estou realmente preocupada com ele. Chegou em casa esta tarde, com o cabelo todo desalinhado, uma contusão no queixo e um lábio sangrando. E é domingo, então ele não teve treinamento ou tarefas. Ele diz que tudo está bem, é claro, mas ainda estou preocupada.

— Oh. — Lembro do olho ferido de Ryn no início desta semana. Provavelmente não deveria contar a Zinnia sobre isso; Isso só aumentará sua ansiedade. — Bem, eu vou perguntar a ele sobre isso. Talvez ele me conte.

Ela acena com a cabeça e sorri, então passa sua mão pelo espaço entre nós para fechar a porta. Fecho os olhos, respiro profundamente e faço algo que não faço há anos: procuro Ryn.


Capítulo 14

 

 

No começo, não tenho certeza se vai funcionar - não estou segurando nada que pertença a Ryn - mas eu o encontro facilmente. Eu acho que faça sentido. Nós passamos muito tempo juntos recentemente, então já existe algum tipo de conexão entre nós. O que me surpreende é a localização dele; Eu pensei que era a única que ia lá hoje em dia.

Saio dos caminhos das fadas em um grande galho. Cores torcem e se arrastam preguiçosamente debaixo da casca, iluminando ligeiramente cada vez que dou um passo. Uma criatura noturna – semelhante a um gato, com impetuosas asas laranjas – mostra seus dentes para mim antes de se afastar. Eu caminho com cuidado ao longo do galho, andando ao redor dos insetos brilhantes. Eu escalo outro galho, e depois outro. Estou perto do dossel agora, e posso ver claramente o céu através das folhas dos galhos mais altos. Estrelas dispersas cintilam entre nuvens iluminadas com cores noturnas: azul claro, roxo e cinza.

É lindo.

E é bom estar em casa.

— Eu estava pensando se você iria me encontrar aqui, — diz uma voz nas proximidades.

Eu pulo levemente no vazio criado onde os braços gigantes da gargan se encontram. — Desculpe interromper seu tempo sozinho. Eu preciso verificar algumas coisas sobre nossa tarefa.

Ryn olha para mim. — Violet Fairdale está pedindo minha ajuda?

Coloco minhas mãos nos meus quadris. — Eu não iria tão longe dizendo isso.

Ele dá uma tapinha no espaço vazio no cobertor ao lado dele, o que, penso, significa que ele está me convidando para sentar. — Acontece, — diz ele, — que eu também deveria terminar meu relatório agora.

— Perfeito. — Eu me sento em frente dele e cruzo minhas pernas. Eu retiro minhas notas e alguns papéis em branco da minha bolsa, enquanto Ryn faz o mesmo de uma bolsa que estava descansando atrás dele.

— Você trouxe uma mesa para trabalhar? — Ele pergunta.

— Bem, não. Pensei que estava a caminho da sua casa, não para uma árvore.

Ele remove um pequeno bloco de madeira de sua bolsa e a coloca no cobertor entre nós. — Bom, um de nós veio preparado. — Ele escreve algo no bloco com a stylus, depois puxa o braço para trás quando o bloco se transforma rapidamente em uma mesa baixa. É legal demais, eu acho, mas minha atenção é capturada pela cicatriz que acabei de notar ao redor de seu pulso. Uma cicatriz que coincide com a minha.

— Você deveria ficar impressionada com a mesa, V, e não com meu braço, — ele diz, observando meu olhar. — Embora — ele flexiona seus músculos, — é um braço impressionante.

— Eu estava olhando sua cicatriz, idiota.

— Oh. Sim. — Ele segura o braço e examina a estreita tira de pele que é um pouco mais pálida do que o resto do braço. — Esquisito, não é. Eu pensei que era impossível que ficássemos com cicatriz, mas Flint disse que há algo estranho no metal do qual as faixas são feitas.

— Sim. — Eu continuo olhando por alguns instantes, depois pisquei e olho para minhas páginas. — De qualquer forma, eu não sabia que você ainda vinha aqui.

— Às vezes, — diz ele. — Eu evitei por alguns anos após a morte de Reed, mas não mais.

— Eu trouxe Nate aqui, — eu digo antes de parar para pensar se é uma boa ideia compartilhar esse pouco de informação com Ryn.

— O quê? — Sua voz é baixa, mas seus olhos estão estreitados e suas sobrancelhas se juntam com raiva. — Você trouxe aquele halfling traiçoeiro até aqui?

Por que você não consegue manter sua boca fechada, Violet? — Eu não sabia que ele era um halfling, ou que ele ia me trair.

— Então você trouxe um humano aleatório aqui?

Olho para baixo, não mais capaz de encará-lo. — Olha, este lugar é realmente especial para mim, e na época eu queria compartilhá-lo com...

— É especial para mim também, V, e eu não quero saber que você trouxe algum cara aleatório aqui para fazer – seja lá o que for. Este é o nosso lugar, de ninguém mais. Você acha que eu trouxe alguns dos meus namoricos do Subterrâneo aqui? Não. Porque tenho mais respeito por esse lugar do que isso.

— Me desculpe, tudo bem! — Eu bato meu punho na mesa quando a raiva, a culpa e o arrependimento surgem dentro de mim. Eu espalho minha mão aberta enquanto eu dou um profundo e calmante respiro. — Se isso te faz sentir melhor, gostaria de nunca ter compartilhado este lugar com ele. E para sua informação, não aconteceu seja lá o que for. — Minhas bochechas queimam com o pensamento. Não tenho certeza do que Ryn quis dizer com ‘seja lá o que for,’ mas posso adivinhar. — Agora, você vai parar de gritar comigo antes que isso se transforme em outra briga em que ambos acabam ameaçando se machucar?

Ele não diz nada por vários minutos, e quando eu levanto os olhos, eu o vejo me observando. — Essa foi realmente uma briga incrível, — ele diz calmamente.

— Foi.

Depois de mais alguns momentos de estranheza, ele coloca suas páginas na mesa magicamente erguida à sua frente. — Então, o que você queria verificar comigo?

Parece que a discussão acabou.

Eu começo a relaxar quando Ryn e eu discutimos os detalhes de nossa tarefa e a melhor forma de reportá-los. Quando acabo de rabiscar mais notas, volto para as folhas em branco e começo a escrever o relatório completo desde o início. O silêncio enche o espaço entre nós, já que ambos estamos absorvidos em nosso trabalho. É, porém, um silêncio confortável. Isso me lembra do jeito como costumávamos fazer a lição de casa juntos na escola secundária.

E é quando me atinge: de alguma forma, depois de passar anos nos odiando, recuperamos nossa amizade. Não consigo identificar quando aconteceu, mas aconteceu. Ryn não é apenas o cara que eu costumava conhecer, ou o cara com quem eu tinha que ficar durante nossa tarefa final. Ele é alguém de quem eu realmente gosto de estar por perto. Alguém com quem posso gritar e brigar e voltar tudo ao normal em apenas alguns minutos.

Eu sorrio pra mim mesma e continuo trabalhando.

Eu chego na parte da tarefa onde eu estava pendurada impotente em um teto e sento com um gemido. — Eu não posso acreditar o quão patética eu estava na semana passada. — Eu coloco minha stylus, atualmente no modo caneta, contra a mesa. — Sinto que perdi alguns pontos importantes no departamento de chutar bundas.

Ryn olha para cima com um sorriso. — V, não seja tão dura consigo mesma. Não era o que eu chamaria de patética. Mais... carinhosa, talvez.

— Carinhosa? — Eu olho para ele com descrença. — Agora quem está sendo patético?

Ele colocou a caneta para baixo. — Você vai me odiar por dizer isso.

— Então não diga.

Ele se inclina para frente com um sorriso. — Foi bom ver um lado mais suave de você.

Eu finjo vomitar. — Oh, você não disse isso sobre mim. Por que não me insultar corretamente e me chamar de fraca?

— Porque não era fraqueza, V. Era...

— Carinhosa. Certo. Entendi. Nunca mais vamos falar sobre isso. — Com o calor subindo do meu pescoço em direção ao meu rosto, pego minha caneta e continuo escrevendo. Eu trabalho rapidamente até que começo a descrever nossa jornada através do domínio humano. Isso é quando eu fico entediada e minha mente começa a vagar. Continua vagando quando termino de escrever o relatório, e quando chego ao fim, tenho uma pergunta para Ryn. — Algum de seus pais já mencionou alguém chamado Angelica? Uma guardiã com quem eles foram para a escola?

Ryn enrola seu relatório final. — Não, acho que não. Por quê?

— Ela é a mãe de Nate.

— O garoto Halfling? — Ryn coloca o pergaminho na mesa e se inclina para trás sobre suas mãos. — A mãe dele esteve na Guilda com nossos pais? No mesmo ano?

— Yup.

— Uau. Então, uma pessoa com a qual nossos pais treinou acaba por ser a mãe de uma de suas tarefas, quem você no final acabou namorando.

— Sim. É improvável, mas aconteceu. De qualquer forma, estava pensando se seus pais alguma vez a mencionaram, porque parece que ela odiava minha mãe e meu pai.

— Espere, como você sabe disso? Você a conheceu?

Com um suspiro, eu digo, — Eu acho que devo contar algumas coisas.

Ryn senta-se para frente. — Coisas foras dos limites?

— Sim.

— Incrível. — Ele esfrega as mãos. — Conta.

Então eu conto. Eu volto ao começo e falo a ele sobre ser sequestrada por Zell e Drake e sobre decidir não dar a poção Esquecer a Nate. Eu conto a ele sobre o nosso tempo no labirinto, sobre encontrar Angelica e a tatuagem de olhos nas costas de Nate. Então há Scarlet e o metamorfo que eu matei e meu encontro com Nate, onde ele acabou me entregando a Zell, e todas as coisas que Zell me disse em seu calabouço enquanto resgatávamos Calla. Digo tudo a Ryn.

Tudo exceto o poder de Nate sobre o tempo.

Eu quero muito tirar tudo do meu peito, mas não posso dizer a Ryn isso. Ele assumiria imediatamente que Nate é o responsável pela tempestade magia, e ele falaria a sua mãe porque ela faz parte da investigação do assassinato. Então, Tora, obviamente, descobriria, e eu só posso imaginar o quão irritada ela ficaria que eu mantive tudo isso escondido dela.

— Uau, — Ryn diz quando eu termino de falar. Ele escreve algo sobre a mesa e ela encolhe de volta para uma pequena caixa de madeira, deixando minhas páginas terminadas flutuando sobre o cobertor. — Você contou a Tora tudo isso?

— Não, e você não pode dizer a ela, Ryn. Você não pode contar a ninguém.

— Olha, eu entendo que você não quer que ela fique brava com você, mas isso é importante. Parece que Zell está tentando acumular um exército de fadas com habilidades especiais. Você não acha que quem o investiga há anos gostaria de saber sobre isso?

— Eles sabem sobre isso. Eu disse a Conselheira Starkweather tudo o que vimos no calabouço de Zell, lembra? Tenho certeza de que ela chegou à mesma conclusão que você acabou de chegar.

Ryn suspira. — Ok, então eu acho que você realmente não precisa dizer a Tora nada disso. — Ele olha para mim. — Exceto pela parte em que você não pode dormir à noite porque a culpa de mentir para ela está corroendo você.

Eu estreito meus olhos para ele. — Obrigada, Oryn. Isso realmente ajuda.

Ele me dá um sorriso inocente. — Eu falei sério. De qualquer forma, o que você diz a Tora depende de você, mas já que você está compartilhando seus segredos comigo, talvez eu compartilhe um dos meus com você. — Eu arqueio uma sobrancelha quando ele rola sobre um lado para que possa alcançar seu outro bolso. Ele tira uma corrente de prata com um pingente em forma de lágrima branca e diz, — Eu posso ter roubado algo da Guilda.

— Ryn! — Oscilando na mão de Ryn está outro senão o colar da eternidade. — Tudo bem, você não pode me preocupar em manter segredos da minha mentora quando você roubou algo importante da Guilda! O que você estava pensando?

— Eu não confio na Silver Starky, lembra? E ela mentiu para nós. Ela disse que mandaria o colar para a Rainha Seelie de imediato, mas quando cheguei em seu escritório esta manhã, o achei enterrado sob alguns papéis em uma de suas gavetas.

— E por que você sentiu a necessidade de entrar no escritório dela e procurá-lo?

Ryn dá de ombros. — Para ver se ela estava mentindo para nós. — Ele empurra o colar de volta ao bolso. — Eu não acho que ela tenha planejado dar à Rainha Seelie. Ela provavelmente queria manter para si mesma.

— Ou talvez ela simplesmente não tivesse conseguido enviá-lo ainda.

— Ou talvez — Ryn levanta uma sobrancelha conspiradora — ela seja o espião que Zell mencionou para você. Talvez ela tenha assassinado aquele vidente na semana passada. Talvez seja por isso que ela foi tão insistente que nós nos esquecêssemos do que vimos no calabouço de Zell. Ela não quer que saibamos que ela está envolvida.

— Não, não, não. — Eu balanço a cabeça. — A ideia de que a chefe do Conselho da Guilda poderia estar trabalhando com a Corte Unseelie é também muito absurda e assustadora para contemplar, então eu vou continuar com a minha reação inicial: ela ainda não tinha conseguido enviar o colar para a Rainha Seelie.

Ryn deita de volta coloca as mãos atrás da cabeça. — Então, você acha que eu deveria colocar o colar de volta?

Eu hesito antes de responder. E se o espião for a Conselheira Starkweather? Ela vai entregar o colar de volta a Zell, e então todos nos lutaremos contra uma faerie poderosa e imortal. — Eu não sei, Ryn. — Eu junto minhas páginas cuidadosamente e as enrolo. — Você decide. Afinal, foi você quem pegou. — Eu guardo o pergaminho e fecho minha bolsa. Eu poderia sair agora, já que meu relatório está concluído, mas na verdade eu não quero isso. E há outra coisa sobre a qual eu deveria perguntar a Ryn. — Sua mãe está preocupada com você, — eu digo quando puxo meus joelhos para o meu peito e abraço eles.

— Ela é minha mãe. Ela deveria se preocupar comigo.

— Você sabe do que eu estou falando.

— Acredite ou não, não consigo ler mentes, — diz Ryn, — então não tenho ideia do que você está falando.

Eu reviro meus olhos. — O fato de você ter chegado em casa mais cedo parecendo que ter acabado de brigar? O que, aparentemente, você já fez antes, e o que você fez no início desta semana enquanto estávamos na casa dos Harts.

— Oh, isso. — Ele dá de ombros. — É apenas algo que eu preciso cuidar para um amigo.

Eu o observo de perto enquanto tento descobrir no que ele se envolveu. Não adianta tentar adivinhar, no entanto; poderia ser qualquer coisa. — Ok, apenas me diga: sua mãe deve ficar preocupada com você ou não?

— Não, — diz ele. — Eu parei de brigar com pessoas até a formatura.

— Formatura. Ok. — Eu descanso meu queixo no meu joelho esquerdo. — Seu amigo tem sorte de ter você, sabe, se você é tão disposto a ser espancado por ele.

— Sim, — ele diz calmamente, me observando de sua posição confortável no cobertor. Seus olhos parecem mais azuis do que o normal na luz lançada pelos insetos brilhantes que nos cercam. Eles são perigosos, esses olhos, porque eu continuo me encontrando cativada por eles, mesmo que eu realmente não tenha nenhum negócio em ser cativada por qualquer coisa sobre Ryn. No entanto, não posso evitar agora. Algo sobre o modo como ele está me observando faz com que o calor se espalhe pela parte mais baixa da minha barriga para...

Amigo, amigo, amigo, lembro-me rapidamente. Eu desvio meu olhar exatamente quando um som sibilante soa perto. Eu levanto, pronta para encarar a ameaça, e encontro um galho ardente com chamas azuis e verdes acima da cabeça de Ryn.

— Uau! — Ryn rola e pula, uma faca brilhante na mão. O fogo desaparece, deixando fios de fumaça subindo e se curvando no ar. Os olhos de Ryn dançam enquanto ele procura na floresta. — Não posso sentir a magia de ninguém exceto a nossa, — diz ele.

— Eu também. — Meus músculos, tensos e prontos para lutar, começam a relaxar. — Então de onde essas chamas vieram?

Ryn deixa sua faca desaparecer antes de passar uma mão pelos cabelos. — Provavelmente apenas Creepy Hollow sendo arrepiante.

De repente me sinto estúpida por pensar que era algo mais do que isso. Coisas mágicas estranhas aconteciam o tempo todo em Creepy Hollow. Estou apenas no limite por causa do louco e perverso faerie Unseliee que está atrás de mim. — Sim, provavelmente era apenas uma criatura estranha e piromaníaca escondida nas árvores.

Eu retomo minha posição no cobertor, e Ryn fica perto de mim com as costas contra um dos enormes galhos da gargan. — Então, falando na formatura... — ele diz.

Deslizo minha mão para o topo da minha bota e removo minha stylus. — Nós estávamos falando sobre a formatura?

— Estávamos. E estava me perguntando qual formando afortunado vai passar a noite com você.

Eu desenho padrões aleatórios e preguiçosos no ar, observando uma trilha fraca na cor prata atrás da minha stylus. — O que você quer dizer?

— Você não se esqueceu do baile, não é?

Minha mão congela e o padrão de prata em loop desaparece. O baile. Droga. Eu passei tanto tempo focando na cerimônia de graduação em si que eu realmente consegui esquecer do baile que eu deveria participar depois. — Caramba, — eu murmuro.

Ryn ri. — Você deve ser a única garota que negligenciou a parte onde você se veste e se diverte.

— E com quem você está indo, Ryn? Não vejo ninguém fazendo fila para convidá-lo.

— Isso é porque a combinação da minha boa aparência e charme é tão deslumbrante que a maioria das meninas prefere me admirar de longe.

— Certo. — Eu retomo meu desenho de padrão aleatório. — Ou pode ser porque você age como um idiota total na frente da maioria das pessoas.

— Eu amo, — diz Ryn, — como sua necessidade de honestidade completa anula qualquer preocupação que você possa ter com os meus sentimentos.

— Espere, você tem sentimentos? — Eu permito que minha boca fique aberta com horror fingido. — Uau, desculpe, eu não fazia ideia.

— Eu sei muito mais sobre sentimentos do que você pensa.

— Bem, você certamente sabe como machucá-los. — No momento em que as palavras saem da minha boca eu sei que fui longe demais. — Desculpe, desculpe, isso tudo está no passado, eu sei.

Depois de uma pausa, Ryn diz, — Sim, tanto faz. — Ele pega a stylus e transforma meu padrão de prata em gotas flutuantes de água. — Sentimentos de lado, eu estava pensando que talvez você e eu pudéssemos ir juntos, porque nenhum de nós está interessado o suficiente no baile para se preocupar com o estresse de tentar encontrar um par.

Eu cruzo meus braços. — E o que faz você pensar que eu quero ir ao baile com um idiota?

— Porque ninguém mais está fazendo fila para convidá-la?

— Legal, Ryn. Como eu poderia dizer não a um convite como esse?

— Você não pode. — Ele gira as gotas de água em um mini tornado no ar. — Quando alguém tão encantador como eu a convida a um baile, é impossível para você fazer qualquer coisa, apenas levantar sua mão delicadamente para sua testa enquanto você desmaia, pronunciando a palavra ‘sim’.

Olho para ele. — Meus dias de desmaios acabaram, então não conte com isso acontecendo de novo.

— Oh, mas você era tão boa nisso, — ele diz com uma risada. Eu aponto minha stylus para ele, e ele apressadamente diz, — Tudo bem, está bem. Tudo o que preciso é uma resposta simples para uma pergunta simples: você será meu par?

— Bem. Podemos ir juntos ao baile. Mas não é um encontro.

— Não. Claro que não. É simplesmente um arranjo conveniente que convém a nós dois.

— Sim. — Eu observo o redemoinho girando por alguns momentos antes de fechar meus olhos e gemer. — Ugh, eu realmente queria que não tivéssemos que comparecer a essa parte.

— Por quê? Essa deveria ser a parte divertida, V. — Ele me cutuca com o ombro dele.

— Talvez para alguns, mas para mim... Bem, não é uma coisa minha. Vestido bonito, decorar meu cabelo, pintar meu rosto com feitiços de maquiagem extravagantes. — Eu suspiro. — Eu posso chutar a bunda de cada um em um exercício no centro de treinamento, mas não posso chutar bundas lá. Em um salão de baile. — A palavra quase tem um gosto ruim. — Isso é para garotas bonitas como Aria e Jasmine.

Ryn gira as gotas para uma bola de água. — Você fez um bom trabalho na festa de coquetel dos Harts.

— Isso fazia parte de uma tarefa. É claro que eu poderia fazer isso.

— E no baile de máscaras de Zell.

— Mais uma vez, era como uma tarefa.

Ryn suspira e balança a cabeça.

— O quê?

— Não importa o que eu diga, você não concordará comigo, então é aqui que terminam meus comentários.

— Bom.

— Mas há outra coisa. — Ele acena a bola de água em minha direção até que ela está pairando sobre minha cabeça. Com um toque de sua stylus, o líquido girando cai através do ar.

Eu suspiro quando a água fria bate no meu pescoço e viaja pelas minhas costas. — Que merda, Ryn?

O sorriso dele é largo quando ele diz, — Eu disse a você que me vingaria.


Capítulo 15

 

 

— Raven! — Eu paro na ponta dos pés e aceno quando Raven se vira, seu cabelo castanho e magenta deslizando sobre seu ombro. Ela atravessa a multidão de pessoas que enchem a pista principal do Creepy Hollow Shoppers Clearing. Eu grito seu nome de novo. Quando ela me vê, ela sorri e acena. Eu corro através de altas barracas abertas, lojas construídas na frente de árvores e faeries ocupadas recebendo suas compras. — Ei, obrigado por esperar.

— Claro. — Ela me cumprimenta com um abraço. — Não costumo ver você aqui. Você não deveria estar batendo em um saco de pancadas ou praticando mortais para trás ou algo assim?

— Entreguei meu relatório final. Meu treinamento está oficialmente terminado.

— Parabéns! — Raven me dá outro abraço, então me puxa para o lado para ficarmos fora do caminho. — Você deve estar entediada agora.

Ha, ela me conhece tão bem. — Sim, tipo isso, — eu digo com um sorriso. — De qualquer forma, eu vim procurá-la porque eu, hum, preciso da sua ajuda.

Raven enfia o polegar ao redor da alça da bolsa de compras sobre o ombro dela. — Oh, querida. Outra emergência de moda?

— Sim. Eu meio que esqueci que há um baile após a cerimônia de graduação, e eu não tenho exatamente nada para usar. — Eu junto minhas mãos e faço minha melhor imitação dos olhos de gatinho de Filigree. — Você vai fazer um vestido para mim?

— Vi, não seja boba. — Raven ri e meu estômago afunda. — Eu comecei a projetar seu vestido de formatura há meses.

Meu estômago interrompe sua descida. — Você fez? Oh. Uau, obrigada.

— Claro. É uma das ocasiões mais importantes da sua vida. Você tem que ficar bonita. — Ela encaixa o seu braço através do meu e me conduz pela estrada. — Vai ficar absolutamente perfeito em você, Vi.

Oh céus. Isso não soa bem. — Hum, não é roxo, não é?

Ela sorri. — Eu sei como você se sente sobre coisas roxas, então não. Não é roxo.

— Tudo bem, e não é nada grande e fofo, certo? Eu não quero andar com cinco mil camadas de tecido.

— Não será grande.

— E sem fendas excessivamente reveladoras. O vestido de festa que eu usei na festa dos Harts também tinha...

— Vi. — Ela para e coloca as mãos nos meus ombros. — Confie em mim. Eu sei que você geralmente é indiferente quando se trata de moda, mas mesmo você vai adorar esse vestido quando ele estiver pronto.

A árvore para a qual nos dirigimos tem um arco cortado na casca e um sinal acima que diz Tecidos Fabulosos da Farrow. Caminhamos por baixo do arco e entramos em uma sala gigantesca cheia de rolo sobre rolo de todo material imaginável. Há coisas comuns, como cores, padrões e texturas que não fazem nada além de ficarem quietos. Depois, há coisas legais, como tecido feito de gotas de carvalho, chamas ou fumaça, ou escamas de serpente que mudam de cor. Essa deve ser a ideia de Raven do céu.

— Oh, isso é perfeito para o cliente que conheci ontem! — Ela corre em direção a um tecido brilhante que brilha com todas as cores do arco-íris. Eu que não ficaria no caminho dela. — Vou pegar o rolo inteiro, — diz ela ao dono da loja.

— Raven? — Ela se vira para me olhar como se tivesse esquecido que eu estava lá. — Eu preciso fazer a minhas compras, então, se você não precisa da minha ajuda para carregar nada...

— Oh, claro, vá fazer o seu trabalho. — Ela dá uma tapinha na sua bolsa de compras encolhendo. — Minhas coisas entrarão facilmente aqui.

*

As próximas duas semanas se aproximam, mas, finalmente, depois de cinco anos de treinamento, estudo, tarefas e, praticamente me acabando, chegou o dia.

Formatura.

As borboletas imaginárias batem suas asas furiosamente dentro do meu estômago quando eu fico na frente de um espelho na casa de Tora. Raven deve estar aqui a qualquer momento com meu vestido e em cerca de duas horas - porque, aparentemente, é o tempo que demora em se preparar - Ryn estará aqui para me levar. Não, para me encontrar; não é um encontro.

Eu olho para longe do espelho e para as minhas mãos. O tokehari do meu pai, o anel com a pedra roxa de ouro, está na minha mão direita. Quando papai morreu, herdei automaticamente todos os seus pertences, mas o anel é especial. É o item que ele reservou especificamente para mim no caso de sua morte. O item pelo qual eu deveria me lembrar dele. Eu tenho apenas outra joia que significa tanto para mim - os brincos em forma de flecha que foram um presente de Reed antes de morrer - e eles estão nas minhas orelhas agora.

Meu olhar se move para meus pulsos nus. Até o final da noite, as marcas permanentes circulariam a pele ali, para sempre me marcando como guardiã. É tudo o que eu sempre quis. Bem, isso e ser a melhor guardiã. Mas agora que estou de pé aqui com o meu objetivo à vista e meu futuro se espalhando diante de mim como um pergaminho sem fim, eu não estou inteiramente certa do que fazer a seguir. Estou quase com um cargo garantido com a Guilda, se eu quiser, então o que seria lógico seria contar a eles sobre minha capacidade de encontrar e trabalhar com o Departamento de Faeries Desaparecidos. Mas eu tenho medo que, uma vez que eles saibam o que posso fazer, nunca me deixarão ir embora. Eu poderia ficar presa na Guilda pelo resto da minha vida profissional.

— Vi, você está aqui?

Giro ao som da voz de Raven. — Sim, o quarto no final da passagem.

Ela se atrapalha através da porta com uma bolsa grande e plana sobre o ombro e uma caixa quadrada menor escondida debaixo do braço. Eu dou alguns passos rápidos em direção a porta para ajudá-la. — Obrigado, — diz ela. Eu coloco a caixa sobre a cama enquanto ela baixa cuidadosamente a bolsa grande. — Ok, não vou mostrar o vestido até que esteja realmente em você. Dessa forma, você terá o efeito total.

— Efeito total? — Isso parece preocupante.

— Sim. — Ela vira os clipes no estojo quadrado e puxa a tampa para trás. — Aqui, eu fiz este sutiã para você. Vá colocá-lo enquanto eu tiro o vestido.

Ela remove um sutiã acolchoado entre os grampos e potes coloridos no estojo e me entrega. Ele é coberto por renda branca e é muito mais bonito do que qualquer roupa intima que eu já tive. Mas há algo diferente nele. Seguro, dando-lhe um suspiro suspeito. — Há magia nessa coisa?

Raven mantém os olhos afastados enquanto procura no estojo sabe Deus o que. — Hum, possivelmente.

— Sério, Raven? — Eu jogo o sutiã em cima da bolsa de roupa. — Roupa íntima encantada?

— Vi. — Ela se detém na beira da cama e pega a ofensiva roupa íntima. — Apesar do que você foi criada para acreditar, a magia não é apenas útil para atacar pessoas. Você também pode usá-la para... melhorar certos recursos naturais. — Eu olho para ela até ela suspirar e dizer com incisivamente, — E você poderia usar alguma ajuda no departamento do colo.

Com um revirar de olhos e um gemido, eu tiro o sutiã de suas mãos. — Bem. Eu vou vesti-lo. — Eu vou para o canto do quarto para trocar minhas calças pretas e camisa regata. O sutiã se encaixa perfeitamente, o que não é surpreendente; Raven sempre foi boa em seu trabalho. Eu olho para o meu colo melhorado e percebo um aroma agradável. — A próxima coisa que você vai me dizer é que há algum tipo de feitiço afrodisíaco no tecido desta roupa íntima.

— Só um pouco.

— Raven!

— Brincadeira, — ela diz com uma risada. — É apenas um feitiço de perfume. Ele produzirá o aroma mais atraente para você ou, se você estiver perto de alguém que você achar atraente, seja qual for o cheiro mais atraente para ele.

— Como o sutiã saberá se eu achar alguém atraente? E se ele gostar de um perfume que eu não gosto? E se for alguém que eu simplesmente acho atraente, mas não estou realmente interessada nele e não quero que ele me cheire?

— Hum ...

— Eu posso ver muitas falhas neste projeto, Raven.

— Olha, esse tipo de roupa íntima ainda está em fase de experimentação, ok. Agora fique com os olhos erguidos enquanto eu trago o vestido.

Eu faço conforme instruído e tento não cair quando Raven guia meus pés em um círculo sobre o tecido e levanta o vestido ao meu redor. Ela corre o dedo rapidamente pelo centro das minhas costas, e o vestido se fecha enquanto ela dá uma volta para ficar na minha frente. Ela sorri e diz, — Eu estava certa. O decote em forma de coração definitivamente combina com você, especialmente porque agora você tem um pouco de peito. E a linha do império também foi uma boa escolha. Muito elegante.

— Tudo bem, parou com o jargão de moda. Posso olhar agora? — Ela sai do caminho e eu ando até o espelho. Eu olho por um longo momento antes de sussurrar, — Uau.

— Você gostou? — Raven pergunta, suas mãos juntas debaixo do queixo dela.

— Raven, é maravilhoso. Você estava certa. É perfeito para mim.

O vestido é simples e sem alças e parece leve e confortável. O decote de coração que atravessa meu peito é de uma cor de bronze profundo, com minúsculos cristais costurados ao longo da borda. Eles brilham na cor bronze, preto e cinza, como se cada um tivesse um pequeno fogo aceso dentro dele. Do meu busto até meus dedos dos pés, o vestido - que de algum modo é fofo – é de uma cor quase branca. A camada superior é completa com pequenas flores que parecem reais espalhadas pela superfície. As flores, como cristais, atravessam vários tons de bronze e preto. Por fim, várias linhas com pérolas e cristais ficam penduradas no centro do meu busto, fazendo um loop graciosamente ao redor do lado esquerdo do vestido, e presos em algum lugar no alto na parte de trás.

— Oh, uau, — Tora diz da porta. — Raven, você fez um trabalho incrível.

— Obrigada. — Raven coloca suas mãos nos quadris e examina seu trabalho. — Muitas meninas vão elegantes e com grandes vestidos para parecerem mais adequadas para um salão de baile humano na época vitoriana. Eu queria voltar às raízes das fadas com este vestido.

— É perfeito, — Tora diz fungando. — Eu acho que eu posso chorar.

— Não aqui. — Raven aponta para a porta. — Por favor, leve o seu choro para outro lugar.

— Tudo bem, — diz Tora com uma risada que parece mais uma fungada. — Chame quando estiverem prontas e tentarei manter as minhas lágrimas sob controle.

— Ela chora muito fácil, — eu digo a Raven, logo que Tora saiu da sala.

— Você pode culpá-la? — Raven puxa uma cadeira na frente do espelho e me faz sentar. — Este é um grande dia para ela também, Vi. Você é sua primeira estagiária, para não mencionar que ela também é como sua mãe e sua irmã de aluguel também. Você deve permitir-lhe algumas lágrimas.

— Ei, você foi quem a expulsou do quarto, — ressalto.

— Sim, bem, eu não quero lágrimas em você. — No espelho, eu a vejo alcançar seu estojo de maquiagem procurando por algo. Ela começa a esfregar uma esponja sobre o meu rosto.

— Por que você não está usando feitiços de maquiagem? — Eu pergunto, pensando em todas as vezes que a escutei murmurar algumas palavras rápidas e vi uma camada de pó em sua palma, ou o batom sair da ponta de seu dedo.

— Feitiços de maquiagem são mais para retocar, — explica ela. — Se você quer fazer as coisas de forma adequada, você precisa do material verdadeiro.

Oops. Eu acho que não fiz um bom trabalho no baile de máscara de Zell e no coquetel dos Harts.

Raven trabalha rapidamente, colorindo meus lábios com uma sombra neutra e minhas pálpebras com algo escuro e esfumaçado. Algumas escovas de iluminador melhoram a forma das minhas maçãs do rosto, e um giro de sua stylus alonga meus cílios. Eu odeio quando tenho que admitir que não sou boa em algo, mas definitivamente não consigo fazer o que ela acabou de fazer.

— Tudo bem, vamos ver se podemos domesticar sua juba, — ela diz enquanto deixa o pote de iluminador no estojo.

— Minha juba? Na verdade, Raven, não há necessidade de exagerar.

— Não tenho certeza de que seja um exagero, Vi. Seu cabelo já foi apresentado a uma escova de cabelo?

— Eu não preciso escovar meu cabelo! — Eu protesto. — Eu gosto de como parece bagunçado, ondulado e não escovado.

— Sim. Eu posso ver isso. — Raven torça um fio de seu próprio cabelo liso ao redor de seu dedo enquanto ela examina minha cabeça. — Bem, eu digo para irmos com algo simples. Ondulado, alguns fios presos, com pequenas flores presas aqui e ali.

— Hum, claro. Você é a especialista.

Enquanto ela aquece seus dedos e enrola algumas mechas do meu cabelo ao redor deles, eu tomo coragem para fazer uma pergunta que eu queria fazer a alguém desde que eu fiquei com Nate em uma arvore e um galho espontaneamente quebrou e quase caiu sobre minha cabeça.

Tudo bem, aqui vai. — Hum, posso te perguntar uma coisa, Raven?

— Uh huh. — Ela solta algumas mechas de cabelo, e cachos perfeitos se colocam sobre meu ombro.

— Quando você está beijando um cara, e você se sente realmente, uh... atraída por ele, é normal, hum... — Seus dedos param de se mover no meu cabelo e ela encontra meu olhar no espelho. Ela levanta uma sobrancelha. Limpo minha garganta. — É normal... — Maldita seja, ela sabe exatamente o que eu estou perguntando; eu posso ver em seus brilhantes olhos magenta. — Uh, você sabe, perder o controle de sua magia? E... coisas estranhas acontecerem?

Uma expressão sorridente aparece nos seus lábios. — Oh, sim. Definitivamente é normal.

— Mas isso não pode durar para sempre, pode? Quero dizer, as coisas estariam explodindo por todo o lado se as pessoas não pudessem se controlar a cada vez que eles se beijassem ou fizessem... bem, outras coisas.

Ela ri e balança a cabeça. — Não dura para sempre, não se preocupe. Você aprende a controlar depois de um tempo. Bem, com beijos de qualquer maneira. É um pouco mais difícil controlar com as ‘outras coisas’, como você diz. — Seu sorriso se torna malicioso. — Você deveria ter visto a primeira vez que Flint e eu...

— Ok, — eu interrompo alto. — Eu acho que isso cai na categoria de Informação Demais.

— Bem, de qualquer maneira. — Ela continua enrolando meu cabelo. — Agora eu tenho que perguntar: que menino você já beijou? — Ela estreita seus olhos para mim no espelho. — É possível estarmos falando sobre Ryn?

— O quê? Não! Definitivamente não. Havia... esse outro cara.

— Outro cara? — Raven parece cética. — E como é que nenhuma de nós sabia sobre esse outro cara?

Eu suspiro. — Honestamente? Você não o teria aprovado. Ele não era realmente o tipo de cara que eu deveria estar vendo. Quero dizer, acabou agora, não se preocupe, — asseguro-lhe. — Eu só... Eu gostei dele, ele me machucou e eu aprendi a minha lição.

— Oh, Vi, eu sinto...

— Por favor. — Levanto uma mão. — Não fique sentimental por mim. Eu totalmente superei isso, eu prometo. — E eu percebo, quando digo as palavras, que elas são verdadeiras. Ainda penso em Nate de vez em quando, mas não causa tanta dor no meu peito como antes. E desde que eu terminei minha tarefa final, sequer passou pela minha cabeça vigiar sua janela no meio da noite. Estive visitando Tora, irritando Ryn, limpando minha casa de cima a baixo - exceto o quarto dos meus pais - e usando a floresta como meu centro de treinamento para exercícios aleatórios.

Raven acaba de enrolar meu cabelo, coloca alguns grampos e, magicamente, coloca pequenas flores aqui e ali. — Aí, — ela diz, parando atrás de mim. — Perfeito. Ah, deixei seus sapatos lá embaixo. Espere, vou buscá-los.

Fico parada na frente do espelho, com medo durante vários momentos ridículos de que, se eu me mexer, eu possa bagunçar algo. Então faço algo bobo e feminino que eu possivelmente nunca senti a necessidade de fazer antes: giro em um círculo, observando a forma como o tecido flutua ao redor do meu corpo, antes de parar para admirar a parte de trás do vestido.

Quando eu escuto uma batida na porta, me preparo para mais lágrimas de Tora. Quando olho, no entanto, vejo uma cabeça de cachos pretos e azuis olhando da porta.

— Zin... Sra. Larkenwood, — eu digo, alisando minhas mãos sobre minhas coxas. — O que você está fazendo aqui?

Ela sorri enquanto entra no quarto. — Você costumava me chamar de Zinnia quando era jovem. Desejo que você ainda me chame assim.

— Hum, tudo bem.

— Ryn me disse que você estaria se preparando aqui e... Bem, eu queria ver você toda vestida. — Ela pressiona as mãos juntas e senta na beira da cama. — E também preciso me desculpar por algo. Bem, por várias coisas, na verdade.

Confusa, sento na beira da cama ao lado dela. Não consigo imaginar o que Zinnia pode ter que pedir desculpas.

— Eu... Desculpe-me, eu não estava lá para apoiar você quando seu pai morreu. Eu queria ter estado. Eu deveria ter estado. — Ela respira fundo. — Você sabia que você deveria morar conosco?

Meus olhos se arregalam enquanto eu balanço minha cabeça.

— Linden e eu... quando ainda estávamos juntos... tínhamos um acordo com seus pais que, se alguma coisa acontecesse conosco, eles cuidariam de Reed e Ryn, e se alguma coisa acontecesse com seus pais, nós cuidaríamos de você. No entanto, dadas as circunstâncias no momento da morte do seu pai... Bem, Linden tinha nos deixado recentemente, Ryn estava bravo com tudo e todos em sua vida, especialmente você, e eu sei que ele teria tornado sua vida muito difícil se você tivesse ido viver conosco. Então, Tora e eu organizamos para você ficar com ela por um tempo. Ela era sua mentora por quase um ano até então, e vocês duas ficaram bem juntas. Ela cuidava de você mais do que você sabia, e ela estava feliz em fazer isso.

Zinnia para de falar, e me pergunto se eu deveria responder agora. Não consigo imaginar quão diferente - quão horrível teria sido a minha vida se eu tivesse morado com Ryn e Zinnia há cinco anos. Zinnia teria sido boa o suficiente, tenho certeza disso, mas Ryn, sem dúvida, tentaria tornar a minha vida tão miserável quanto possível. Ou talvez nós tivéssemos nos confrontado muito mais cedo, percebendo o mal-entendido em relação à morte de Reed e voltaríamos a ser amigos anos atrás. Os últimos cinco anos teriam sido completamente diferentes.

— De qualquer forma, eu só quero que você saiba disso... Sempre pensei em você como uma filha, — continua Zinnia. — Eu nunca parei de cuidar de você ou de checar com Tora para ver como você estava indo. O comportamento de Ryn em relação a você nos anos desde a morte de Reed foi imperdoável, e eu tenho que me desculpar por isso. — Ela estende a mão e pega minha. — Eu não sei por que ou como aconteceu, mas eu sei que vocês dois finalmente se entenderam, e eu estou tão agradecida por isso. Eu só queria ter feito algo para que isso acontecesse mais cedo.

Eu aperto sua mão. — Você realmente não precisa se desculpar por ele, Zinnia. Não foi sua culpa. — Eu lhe dou um sorriso reconfortante antes de me levantar.

— Espere, Vi, há outra coisa. — Ela põe a cabeça nas mãos por um momento e geme, então empurra o cabelo para trás e olha para mim. — Este é o grande porquê do realmente ser minha culpa. Hum... — Ela corre suas mãos para cima e para baixo ao longo de suas coxas. — Antes que sua mãe morresse, ela me deu uma coisa. Uma caixa de madeira trancada com seu nome nela. Ela me pediu para manter segura até o dia em que você se formasse. Se ela ainda estivesse viva, então, claro, eu iria devolver para que ela pudesse dar a você. Mas se ela não estivesse mais viva, então eu devia dar a você.

Com meu coração batendo mais rápido no meu peito, eu digo lentamente, — Ok.

— Eu escondi a caixa, eu a observava ocasionalmente para ter certeza de que ainda estava lá. Com o passar dos anos, parei de verificar. A caixa estava segura, afinal de contas. Quem iria querer pegá-la?

Pressiono uma mão nos meus lábios, sabendo sem dúvida que esta história não ia ter um final feliz.

— Depois que seu pai morreu, lembrei da caixa e fui verificar se ainda estava lá. — Zinnia olha para o chão. — Sumiu. Eu não sei quando, ou como, mas sumiu. Perguntei a Linden sobre isso - ele era a única outra pessoa que sabia onde a escondi, mas ele jurou que nunca tinha tocado. E o que ele iria querer com ela, afinal? Ele estava vivendo uma vida feliz fora de Creepy Hollow com sua nova esposa e filha.

Eu aceno com a cabeça, apesar de não ter certeza do porquê. Parte de mim deseja que Zinnia nunca tivesse me dito nada disso. Agora vou sempre me perguntar o que era que minha mãe queria me dar. Solto minha mão da minha boca. — Por quê... Por que ela não deu ao meu pai?

— Eu acho que ela temia que ele não estivesse vivo nem até o momento em que você se formasse. Os dois sempre gostaram de assumir as tarefas mais perigosas. — Ela balança a cabeça, piscando as lágrimas. — Parece que ela estava certa.

Giro minhas costas para Zinnia para que ela não visse a umidade nos meus olhos. Eu geralmente não choro sobre meus pais, mas é porque eu tento não pensar muito neles. A história de Zinnia trouxe-os de volta a minha mente, me lembrando de que nenhum deles está aqui para compartilhar esta ocasião incrivelmente importante comigo.

Ugh, o que estou fazendo? Eu vou me fazer chorar se eu continuar tendo pensamentos como esse. Meus pais não iriam querer que eu chorasse no dia da minha formatura, não é? Eu acho que não sei o que a minha mãe diria, mas sei que meu pai não gostaria que eu chorasse. Ele viu o quão duro eu trabalhei em cada tarefa. Ele ficaria ridiculamente excitado e orgulhoso se ele estivesse aqui hoje; Ele não iria querer que eu chorasse por uma caixa.

— Este deveria ser um dia feliz, — digo, virando para Zinnia. — É um dia de celebração. Não devemos estar chorando. Sim, uma caixa importante foi perdida, e nunca saberemos o que estava dentro dela, mas não podemos fazer nada sobre isso.

Ela fica sentada e olha fixamente para mim. — Você... tem uma força incrível.

Eu olho para longe. Não tenho certeza se as suas palavras são verdadeiras. Na maioria das vezes, eu tento não pensar em todas as coisas que doem; isso provavelmente tem muito mais a ver com fraqueza do que força.

Ela coloca os braços com cuidado em volta dos meus ombros e me abraça. — Realmente sinto muito, — ela sussurra no meu ouvido. — E eu estou muito orgulhosa de você. — Ela se afasta e reorganiza alguns cachos sobre meu ombro. — Bem, eu preciso ir para casa e me trocar para algo adequado para uma cerimônia de graduação. Espero que Ryn esteja logo aqui para encontrá-la.

Com um sorriso final, ela sai do quarto. Depois de verificar minha aparência mais uma vez no espelho, pego o estojo de maquiagem de Raven e a bolsa de roupa vazia e desço as escadas. Tora continua a falar sobre como pareço bonita e adulta enquanto Raven me dá sapatos de salto alto e os nervos começam a voltar ao meu estômago mais uma vez.

Nós ficamos ao redor, Raven e Tora tagarelando sobre algo, enquanto esperamos por Ryn. E esperamos. E esperamos um pouco mais. Após meia hora, meus níveis de frustração atingem um novo nível. Eu pego meu âmbar das tiras de um sapato e minha stylus das outras tiras, e anuncio, — Eu vou embora agora.

— Oh. — Raven olha em volta como se ela não tivesse ideia de quanto tempo passou. — Mas Ryn ainda não está aqui.

— Bem, a cerimônia deve começar em dez minutos, e, embora Ryn não se importe se ele faltar na sua própria formatura, eu certamente não sinto o mesmo.


Capítulo 16

 

 

Eu olho através das portas duplas ornamentadas e examino o salão lotado procurando o cara que vai ter grandes problemas quando eu o encontrar. Meus olhos examinam os grupos de pais, mentores e aprendizes, mas não vejo Ryn em qualquer lugar. Onde diabos ele está?

Volto para o corredor e me inclino contra a parede. Uma parte de mim se preocupa com ele, mas outra, uma parte muito maior, definitivamente ainda está furiosa. Todo mundo deveria ter um par para essa coisa, e agora eu tenho que entrar sozinha.

Eu faço o meu melhor para parecer invisível quando um grupo de meus colegas de turma passa por mim. Meninos de ternos e meninas — assim como Raven previu, com grandes vestidos fofos. Eu não acho que eles me notaram de pé ali. — Eu estou apostando, — diz um deles apenas meio que passando pela porta. — Quem vai ganhar o seu dinheiro? Ryn ou Vi?

Sim, eles definitivamente não me notaram.

— Essas são as únicas escolhas? — Pergunta uma garota. Aria, eu acho.

— Bem, todos nós sabemos que será um ou outro.

— E quanto a Asami? — Pergunta alguém. — Eu ouvi o mentor dele dizer ao meu mentor que ele estava alcançando o primeiro lugar nas últimas tarefas antes da nossa tarefa final.

— Você quer dizer nas poucas semanas desde que não fomos autorizados a ver os rankings?

— Sim. E na sua tarefa final ele foi muito bem, então é definitivamente possível que ele tenha avançado.

Oh, que inferno, você está brincando comigo? Eu inclino minha cabeça de volta contra a parede e fecho meus olhos. Agora estou sem par e estou perdendo a minha posição inicial para alguém que eu nunca pensei ser uma ameaça? Eu bato minha cabeça contra a parede, o que dói um pouco mais do que eu esperava. — Isso foi estúpido, — eu murmuro.

Com uma profunda respiração, mantenho minha cabeça erguida e passo pelos meus colegas de classe, pelo corredor central e em direção às dezesseis cadeiras reservadas na frente e a esquerda do salão. Eu não olho para cima enquanto procuro meu nome. Eu acho que está na segunda fila de oito e pego meu assento. Um minuto depois, o tilintar de um sino diz a todos que ainda estão de pé para colocar suas bundas em uma cadeira.

A cerimônia está prestes a começar.

Para ser sincera, não escuto muito do blá, blá, blá que continua desde o início. A Conselheira Principal Starkweather fala por um tempo, seguida de um orador convidado que tenta nos inspirar com contos emocionantes das aventuras exóticas em que ele esteve. No entanto, não consigo me concentrar em nada, porque continuo olhando para trás para ver se Ryn está de pé na parte de trás do salão. Eu vejo Tora, Raven e Flint, que deve ter recebido o dever da noite como guarda para que ele pudesse participar. Eu vejo Zinnia, ansiosa e, mais adiante, o pai de Ryn. Todo mundo que deveria estar aqui está aqui - exceto Ryn.

Sem perceber, a Conselheira Starkweather está chamando a primeira turma de formandos até o palco para receber suas marcações.

Ok, ONDE RYN ESTÁ!

Meus colegas de classe vão ao palco em ordem alfabética, cada um demorando cerca de três minutos para recitar o Juramento do Guardião e receber suas marcações do único membro do Conselho da Guilda que é permitido desenhá-las. Quando chega a minha vez - meu grande momento! - Ainda estou enlouquecendo com o fato de que Ryn está sumido. Sua cadeira vazia não incomoda mais ninguém? Isso acontece todos os anos, alguém decide não aparecer?

Pare, digo a mim mesma severamente. Ryn tomou sua decisão, e não há nada que você possa fazer sobre isso. Não o deixe arruinar este momento para você. Levanto com cuidado. O meu vestido pode não ser pesado e em camadas, mas ainda não quero tropeçar. A curta jornada da minha cadeira para os degraus ao lado do palco parece ter demorado para sempre. Levanto meu vestido e subo as escadas, desejando não tropeçar nos meus saltos altos. Eu atravesso o palco e paro em frente a Conselheira Starkweather. Com o meu lado direito de frente para o público, repito as palavras do juramento depois dela, mal me ouvindo sobre o rugido de sangue que bombeia pelos meus ouvidos. Eu sei o que eu deveria dizer - algo sobre jurar proteger quem precisar ser protegido, seja humano ou faerie - mas se eu não tivesse alguém para repetir depois, eu provavelmente apenas ficaria aqui gritando. É isso, é isso, é isso!

Quando o juramento chega ao fim, passo pela Conselheira Starkweather e me ajoelho na frente da mesa onde o artista que faz as marcas se senta. Levanto minhas mãos e as coloco, presas, sobre a mesa. O artista mergulha sua stylus especialmente afiada em uma panela de tinta preta e começa a desenhar o padrão de ondulação na minha pele. Pica um pouco, mas todos nós fomos avisados para esperar por isso. Enquanto ele trabalha, ele sussurra as palavras do feitiço que transferirá os encantamentos de proteção do meu pingente para a tinta embutida na minha pele.

Com um aceno de cabeça para indicar que ele acabou, o artista das marcas se afasta. A Conselheira Starkweather limpa a garganta, se vira para frente do palco e pronuncia as palavras que eu tenho trabalhado cinco anos para ouvir: — Você é agora membro da Guilda dos Guardiões.

Eu paro e me viro, vagamente consciente das palmas batendo, enquanto olho para o mar dos rostos. Eu vejo os olhos reluzentes de Tora, e então meu olhar é atraído para a parte de trás do salão. Eu o vejo de pé, as mãos nos bolsos de suas calças, me observando com uma expressão que não consigo descobrir. Eu deveria estar gritando onde diabos você esteve, mas, em vez disso, estou tão cheia de alegria e emoção que tudo o que eu quero fazer é arremessar meus braços ao redor dele e fazer um monte de guinchos incomuns. E beijar.

Não. Eu não quero beijar Ryn.

Eu cuidadosamente faço meu caminho para o outro lado do palco e de volta à minha cadeira. Depois que mais dois aprendizes recebem suas marcações, a Conselheira Starkweather chama o nome de Ryn. Ele atravessa o salão como se fosse completamente aceitável ele ter aparecido tarde em uma das mais importantes ocasiões de sua vida. Eu percebo então que minha frustração anterior com ele definitivamente não desapareceu.

No momento em que ele se senta, removo furtivamente meu âmbar e stylus das tiras ao redor dos meus tornozelos. Escrevo uma mensagem rápida e a envio para ele. Você é um péssimo encontro.

Do canto do meu olho, eu o vejo escorregar a mão dentro de seu paletó. Um momento depois meu âmbar vibra. Eu pensei que isso não era um encontro.

Oh, então isso lhe dá o direito de me deixar esperando por horas na casa de Tora? Pressionando meus lábios juntos, escrevo outra mensagem. Você ainda tem que aparecer na hora, idiota! Eu parecia uma idiota chegando sozinha.

Ele se inclina para frente e olha além dos dois aprendizes entre nós. Seus olhos viajam do meu rosto até meus sapatos antes de voltar e escrever outra mensagem. Uma idiota é uma coisa com a qual eu tenho certeza que você NÃO parece.

Eu não sei como responder a isso, então eu coloco meu âmbar e stylus de volta. Mantenho meus olhos direcionados para frente enquanto os últimos aprendizes em nossa turma vão para receber suas marcas. À medida que o programa se aproxima do maior anúncio da noite, meu coração bate em um padrão errático e eu começo a me sentir doente. Eu quero tanto isso, não sei o que farei se essa posição de primeira não for minha. Eu vou ter de aguentar e aceitar como uma grande garota, é claro, mas meu coração ficará quebrado em milhões de pedaços, e não sei como vou lidar com isso.

— A competição entre certos membros da turma da graduação deste ano tem sido feroz desde o primeiro dia de treinamento deles há cinco anos, — diz a Conselheira Starkweather. Não tenho certeza de como ela sabe disso, considerando que ela não esteve presente em um único dia de treinamento. Suponho que ela deva ter ouvido histórias dos mentores. — Eles trabalharam notavelmente com dificuldade, e tenho certeza de que estão desesperados para conhecer o destinatário do cobiçado primeiro lugar cobiçado.

Aperto minhas mãos no meu colo. Por favor, que seja eu.

— Então, sem mais demora, — ela desenrola um pergaminho na mão, o que deve ser para o show, porque certamente ela já sabe quem é o vencedor — o melhor formando deste ano é...

Porfavorporfavorporfavor.

— Oryn Larkenwood.

Descrença. QUE...

— E Violet Fairdale.

Pausa. Certo, o quê?

— Como é o caso de apenas outra turma de graduação na história desta Guilda, temos dois aprendizes cujas performances estelares conseguiram ganhar o mesmo número de pontos. Parabéns à Srta. Fairdale e ao Sr. Larkenwood.

O pergaminho em sua mão desaparece com um sopro de fumaça, e os aplausos entram em erupção ao meu redor. Eu sinto uma mão na minha e vejo Ryn me alcançar sobre as duas pessoas entre nós para me levantar. Ele me deixa andar na frente dele até o palco onde ambos nos ajoelhamos mais uma vez na frente do artista das marcas e recebemos o pequeno floreio extra em cada um dos nossos pulsos.

Os últimos minutos da cerimônia passam em um borrão vertiginoso. Antes de perceber, todos estão de pé, e Flint está me levantando do chão para me girar enquanto Raven e Tora pulam para cima e para baixo como Calla com excesso de açucar. Eu rio. Devidamente. Mais do que ri em anos. E meu sorriso é tão amplo que ameaça machucar meu rosto.

Tudo está perfeito.

*

O salão de baile faz parte da Guilda, mas a decoração faz com que pareça estar do lado de fora. As paredes estão cobertas de hera na cor prata, flores e pequenos insetos brilhantes, e estrelas encantadas brilham no teto escuro. Os flocos de neve flutuam no chão, mas desaparecem antes de tocar qualquer coisa. Eu acho que deveria parecer um tipo de país das maravilhas no inverno. Interessante, já que, na realidade, estamos entrando no verão.

As mesas redondas formam um anel externo ao redor da sala, enquanto o centro é ocupado por uma pista de dança. No meio de cada mesa está uma árvore esculpida de gelo que não derrete com várias iguarias comestíveis penduradas em cada galho. Taças de vidro que brilham quando pegam luz estão espalhadas em cada mesa.

É bonito, mas em vez de admirar a sala com Tora, Raven e Flint, estou procurando por Ryn. Nosso "castigo" por ter conseguido o primeiro lugar é que temos que abrir a pista de dança - outro requisito horrível do qual eu tinha me esquecido sobre a preparação da graduação.

Eu quase faço um círculo completo ao redor da sala quando ouço uma voz atrás de mim. Uma voz que consegue fazer meu interior enrolar de felicidade um segundo e queimar de raiva no próximo. — Ei, Sexy Pixie. — Giro. Ryn parece divertido enquanto pergunta, — Procurando por alguém?

Definitivamente ardendo de raiva.

Sem dizer uma palavra, pego o seu braço e o arrasto para sob um arco cortinado em uma das muitas salas pequenas que levam ao salão de baile. Eu não sei o que as pessoas deveriam fazer aqui – limpar o nariz, ou dar uns amassos, talvez – mas seria ótimo para o confronto que Ryn e eu estávamos para ter.

— Onde você esteve? — Exijo. — Você se esqueceu de que deveria me encontrar na casa de Tora? Você esqueceu que você ia se formar?

— Violet, não há como qualquer pessoa que passou os últimos dias ao seu redor poder ter esquecido sobre a formatura. Eu não me esqueci de nada, acabei ficando preso no Subterrâneo.

— Subterrâneo?

— Sim, eu tive que buscar algo.

— Você teve que buscar algo? — Eu não posso acreditar o quão indiferente ele está. — Subterrâneo?

Ryn assente. — Tenho certeza de que é o que eu disse.

Eu balanço minha cabeça. — O que poderia ser tão importante que você arriscaria perder sua vida e... o mais importante... perder a graduação?

Ryn mostra o punho e abre os dedos. Uma corrente de ouro desliza e prende-se entre o seu polegar e o indicador. Pendurado no fim da corrente está uma chave dourada. Uma chave de ouro com pequenas asas abertas.

O tokehari que minha mãe deixou para mim.

Tenho certeza de que meu coração chega a uma parada completa antes de entrar em uma ação furiosa. Arrepios correm pela minha pele e respirar de repente torna-se difícil. — Onde você conseguiu? — Eu sussurro.

— Subterrâneo.

Umidade enche meus olhos e distorce minha visão. — Mas... quando... Como você achou?

— Demorou um pouco. — Ryn vai para trás de mim e coloca o colar sobre minha cabeça. O metal é frio contra minha pele. — Eu voltei para o lugar onde eu joguei o colar todos esses anos e comecei lá. Uma linda joia como esta sempre deixa uma trilha, especialmente no Subterrâneo. — Seus dedos escovam meu pescoço, permanecendo por um momento enquanto ele prende o fecho. — Não foi fácil rastrear, mas achei que valia a pena o esforço.

Minha cabeça gira quando Ryn vem para minha frente. — Então... Toda vez que você aparecia com um olho machucado ou um lábio sangrento nas últimas semanas, é porque você foi ao Subterrâneo procurar por meu colar?

Ele levanta um ombro, sorri de uma maneira que faz coisas estranhas no meu estômago, e diz simplesmente, — Eu pensei que era hora de consegui-lo de volta por você.

Meu peito sobe e desce anormalmente rápido. O merda, oh merda, oh merda, por que sinto vontade de fazer algo completamente, totalmente louco, como pressionar Ryn contra a parede e correr os meus lábios ao longo...

Amigo, amigo, amigo, retumbando na parte sensível do meu cérebro como um alarme de segurança interno. Aperto meus olhos e sacudo um pouco a cabeça. Está certo. Ryn é apenas meu amigo. Qualquer coisa mais do que isso quase definitivamente acabaria em desastre, um coração partido e mais uma pessoa me deixando.

Então, em vez de me envergonhar, abro meus olhos e digo, — Obrigada.

Ryn gesticula em direção ao arco. — Bem, agora que você me perdoou por ser um par tão terrível - mas não sendo, realmente, um encontro, devemos fazer essa coisa de dançar?


Capítulo 17

 

 

Voltamos para o salão de baile e encontramos a mesa com nossos nomes. Honey e o namorado Vidente estão na mesma mesa, e Honey coloca os braços ao redor do meu pescoço enquanto me diz que sempre soube que eu seria a melhor formanda. Eu fico rígida antes de acariciar suas costas; tenho certeza de que nunca nos abraçamos antes.

Depois que Honey me solta, Dale e uma menina que não é da Guilda se juntam à nossa mesa. Dale olha para mim antes de dizer a Ryn, — Cara, eu pensei que você estava brincando.

Ryn envolve os dedos vagamente, mas de alguma maneira protetora, ao redor do meu pulso. Honey olha entre nós dois, aparentemente tão confusa quanto Dale. — Obviamente, não, — diz Ryn. — Eu disse que eu estaria aqui com Violet, e eu falei sério.

— Mas... — Os olhos de Dale deslizam sobre mim, então de volta para Ryn. — Você nem gosta dela. É você quem sempre está falando para todos as coisas erradas sobre ela.

— Bem, acho que preciso dizer outra coisa agora, — Ryn diz antes que eu possa lembrar a Doofus Dale que eu estou aqui. — Eu... estava errado. Eu não deveria ter dito nenhuma daquelas coisas.

Todos na mesa olham fixamente para Ryn, inclusive eu. Oryn Larkenwood acabou de admitir estar errado em relação a alguma coisa? Sua mão ainda agarra meu pulso, e seu polegar se move levemente contra minha pele. É quase imperceptível, apenas um pequeno movimento, e tenho certeza de que ele nem sabe que fez isso, mas envia um tremor correndo pelo meu braço.

Eu olho para nossas mãos juntas, no momento em que a Conselheiro Starkweather aparece ao nosso lado e diz, — Eu não vou fazer nenhum anúncio sobre a primeira dança. Quando a música trocar, esse é o sinal. — E com isso ela vai embora, o vestido preto simples que ela estava usando já havia sido substituído por um vestido vermelho esvoaçante. Todo mundo no salão de baile parece estar pegando seus lugares, como se soubessem que algo está prestes a acontecer. Não querendo ser a última deixada de pé, eu puxo meu braço do aperto de Ryn e alcanço a parte de trás da minha cadeira.

Ryn me impede. — A música está trocando, — diz ele. — Você não vai conseguir sentar até que tenha realizado o seu dever de dançar.

Oh droga oh droga oh droga. Ok, posso fazer isso. Siga em frente. Não tropece. Apenas relaxe e permita que o feitiço da música guie seus pés através da dança. Fácil assim.

— Interessante, — Ryn murmura enquanto nos dirigimos lentamente para nossa desgraça.

Do jeito que ele diz, eu sei que ele quer que eu pergunte. — O quê?

— Você está nervosa de verdade.

— Não estou, — respondo imediatamente.

— Seu pulso está pulando no pescoço. Suas mãos estão suadas.

Eu me movo para limpar minhas mãos contra a minha saia. — Não. — Ryn pega uma das minhas mãos. — Você não quer que todos saibam que você está nervosa, não é? — Ele passa meu braço através do dele e me leva ao centro do salão de baile. Ele mantém a cabeça erguida, e posso praticamente sentir a confiança escorrendo dele.

— Você está gostando disso, — eu sussurro.

— O que, ser o centro das atenções, ou saber que você está nervosa?

— Ambos.

Depois de uma pausa, ele diz, — Talvez apenas um pouco.

Chegamos ao centro da sala horrivelmente enorme e viro para encarar Ryn. Eu certamente não consigo secar as minhas mãos suadas agora, mas não quero que Ryn tenha que tocá-las. Eu murmuro apressadamente o feitiço que Aria e Jasmine sempre usam para se secar após o treinamento. A música muda mais uma vez, e posso sentir na magia que estamos a poucos minutos de ter que começar a dança. O pânico surge no meu peito e ameaça escapar pela minha garganta.

Eu. Não. Danço.

— Eu não sei porque você está entrando em pânico, — diz Ryn, colocando minha mão esquerda em seu ombro e segurando minha mão direita. — Você dançou perfeitamente bem no baile de máscaras de Zell.

— Se eu me lembro corretamente, você me puxou para a pista de dança sem o meu consentimento. — Eu engulo, tentando empurrar o pânico para baixo. — E eu não tinha todo um salão de baile de pessoas me observando.

Oh, querida Rainha Seelie, eu vou tropeçar nesses saltos e cair de bunda no chão e meu vestido vai rasgar pela metade e todos verão minha roupa intima encantada e ridícula...

— V, você tem que estar um pouco mais perto de mim se quiser que isso funcione, — diz Ryn, interrompendo meus pensamentos em pânico.

— Certo, — eu sussurro. Eu sinto o feitiço da música se envolver ao meu redor enquanto eu fico mais perto de Ryn. Meus pés se preparam para se mover, e certamente espero que eles saibam o que fazer, porque tudo o que posso pensar agora é o quão perto do peito de Ryn e o meu está. Perto o suficiente para sentir o calor dele. Perto o suficiente para cheirar o seu...

E então eu estou dançando, varrida pela música e pela magia e os braços de Ryn que me guiam. Giramos círculos graciosos ao redor do chão. Ryn me solta e eu giro sob seu braço, rindo ao mesmo tempo. Eu não sou assim, e ainda acho que estou realmente gostando.

— Vê? — Ryn diz. — É fácil. E você pode se divertir.

A magia me guia quando saio dos braços de Ryn, giro atrás das suas costas e pego sua mão. — Você pode estar certo.

Ele me põe de volta à posição. — Ah, eu me esqueci de te contar uma coisa, — diz ele. Ele se inclina para frente e seus lábios escovam minha orelha enquanto ele sussurra, — Você está mais bonita do que qualquer outra garota nesta sala.

Um arrepio brota pela minha coluna e através dos meus braços, e com isso, o muro que construí para esconder todos os sentimentos de apenas-amigos que eu tinha por Ryn racha. Talvez seja a pressa de ganhar, ou a alegria inesperada de girar ao redor de uma pista de dança, ou a vertigem produzida pelas palavras sussurradas de Ryn, mas de repente não aguento mais. Uma barragem de emoções - aquelas estúpidas, estúpidas coisas que eu faço o meu melhor para me afastar - cai através da parede e encobre tudo o que eu tento não sentir.

Em vez de lutar contra isso, fecho meus olhos e me deixo ir. Sinto os músculos do seu ombro debaixo da minha mão. O quadro que seus braços criam é forte, seguro, mas eu quero esses braços mais apertados ao redor de mim. Muito mais apertado, muito mais perto. Quero que não haja nenhum espaço entre nós.

Eu. O. Quero. Tanto.

Eu quero beijá-lo, rir com ele, chorar com ele, compartilhar todos os momentos horríveis da minha vida com ele porque não importa quantas coisas terríveis ele tenha feito no passado, não consigo afastar o sentimento inegável de que, quando seus braços estão ao meu redor, estou em casa.

Eu também estou ferrada porque nunca vou lhe contar nada disso.

Com um suspiro trêmulo, eu olho para cima para encontrá-lo me observando. Um sorriso ergue no canto de sua boca enquanto ele se inclina para frente e sussurra, — Eu sabia. — Por um segundo momento de parar o coração, estou certa de que, de alguma forma, ele sabe de tudo o que estou pensando e sentindo, mas depois acrescenta, — Eu sempre soube que Bran tinha uma queda por aquela assistente de biblioteca com os cabelos loiros e roxos. Vê ele ali, conversando com ela? — Ele me gira sob seu braço, e eu vislumbro o mentor de Ryn com o braço ao redor dos ombros da assistente da biblioteca da Guilda.

— Oh, sim. — Eu rio, principalmente porque estou tão aliviada que Ryn estava falando sobre Bran e não o tumulto das emoções me percorrendo.

A pista de dança começa a lotar enquanto outros casais se juntam a nós. — Isso está ficando chato, — diz Ryn. — Vamos dar aos mais velhos algo sobre o que falar, vamos? — E com isso ele me afasta dele. Giro, paro com a mão ainda presa a dele, depois giro de volta. Ele me pega antes que minhas costas alcancem o peito dele e me mergulha para baixo e eu posso ver todo o salão de baile de cabeça para baixo. Ele me joga, meu cabelo escovando o chão, depois me puxa, me gira uma vez mais e me pega pela minha cintura. Ele me levanta no ar e grita, — Woohoo!

— Ryn! — Eu suspiro. A Conselheira Starkweather está com uma mão cobrindo a boca e ela não é a única. Metade do salão de baile está olhando para nós em choque, e a outra metade parece estar reprimindo a risada. — Você está louco?

Ele me coloca suavemente sobre meus pés, assim que a música se transforma em uma nova dança. — Louco o suficiente para perguntar se você vai dançar uma segunda dança comigo.

Inclino minha cabeça para o lado, considerando. — Aparentemente estou louca o suficiente para concordar.

O sorriso deslumbrante de Ryn coloca borboletas no meu estômago. Ele dá um passo em minha direção e ergue as mãos, palmas diante de mim. O feitiço da música me impulsiona a fazer o mesmo. Nossas mãos se tocam, e não tenho certeza se o formigamento que sinto é real ou imaginado. Meu olhar está preso ao dele enquanto nos movemos devagar, ritmicamente, no tempo da música.

Para trás, para frente, giro abaixo.

Meu rosto está quente. Provavelmente vermelho, mas não é como se eu pudesse fazer nada sobre isso. Não consigo nem convencer meus olhos a desviar dos olhos dele. Eu me pergunto o que ele está pensando. Ele provavelmente ficaria horrorizado se soubesse que eu queria me jogar em cima dele e tirar sua camiseta. Estou horrorizada.

Passo para a direita, passo para a esquerda, giro abaixo.

Ele olha para baixo por um segundo, e eu me pergunto se ele está olhando a chave dourada descansando contra meu peito, ou, bem, para o meu sutiã que ‘aumenta’. Minha pele fica ainda mais vermelha enquanto meu olhar se move para seus lábios. Eu quero saber se eles são tão suaves quanto parecem. Eu quero prová-los.

Para trás, para frente...

Clique.

Uma percepção súbita me atinge. Algo tão óbvio, não sei por que não pensei nisso há horas atrás. Ryn me levanta e percebo que parei de me mover.

— O que foi? — Ele pergunta, me puxando para a borda da pista de dança e para fora do caminho.

— A chave, — eu digo, tocando-a e olhando cegamente sobre seu ombro.

— Sim, o foi?

— Eu sei o que ela abre, — digo. Estou de repente ofegante de excitação, meus olhos dançando sobre seu rosto.

Ryn franziu o cenho. — Eu pensei que você disse que não abria nada.

— Isso é o que meu pai sempre me disse, mas esta noite, enquanto eu estava me preparando, sua mãe veio me visitar na casa de Tora. Ela disse que minha mãe lhe deu uma caixa fechada para ela guardar até eu me formar, mas que desapareceu anos atrás. E você me disse que o motivo pelo qual Reed estava tão desesperado para me visitar no dia em que ele morreu foi porque ele queria me dar uma caixa que ele achou importante por algum motivo.

O aperto de Ryn aumenta em meus braços. — É a mesma caixa.

Eu concordo. — Reed deve tê-la encontrado, viu meu nome e decidiu devolver para mim. Agora temos que descobrir onde está.

— Mas como? O Guardião que liderou a investigação nunca mencionou uma caixa.

— Bem, talvez tenha sido mantido de você por algum motivo, ou talvez nunca tenha sido encontrada.

Ryn franziu o cenho. — Você não pensa honestamente que ainda estaria lá fora, na floresta onde Reed morreu, não é?

Cruzo meus braços e levanta meus ombros. — Eu não sei. Eu acho que não. Mas onde mais começaríamos?

Ryn inclina seu quadril contra a mesa ao lado. Está vazia, todos os seus ocupantes atualmente se divertindo na pista de dança. — No escritório do Guardião que liderou a investigação?

— Ok. Talvez possamos encontrar o relatório que foi escrito depois, sabe, que eles encontraram Reed. — Eu preciso seguir com cuidado aqui. Eu não quero chatear Ryn. — Hum, você pode entrar no escritório?

— Claro. — Ryn me dá um olhar que me diz que eu deveria saber disso. Ele se inclina sobre a mesa e puxa uma maçã prateada da árvore. Ele morde e mastiga por vários segundos. Ele engole. — Você quer ir agora?

Idiota. Ele sabe muito bem que eu quero ir agora. — Não, Ryn, pensei que deveríamos ficar aqui comendo comidas de prata e esperarmos até que todos estejam em seus escritórios na manhã de segunda-feira antes de tentar entrar.

— Hmm. Isso não soa como o melhor plano que você já teve. — Ele coloca a maçã parcialmente comida no prato de alguém e se dirige para as portas principais do salão de baile. — Vamos.

Eu me apresso atrás dele. A música e o riso ficam fracos enquanto caminhamos por um corredor em direção ao saguão principal da Guilda. Eu ouço um estrondo indistinto e, por hábito, eu olho para o teto abobadado do saguão. Eu congelo quando vejo as nuvens turbulentas e cintilantes na cor laranja e vermelho. O medo aperta o meu estômago.

— O que foi? — Pergunta Ryn. Ele me observa do outro lado do saguão, uma mão pressionada em seu peito naquele estranho hábito que ele tem.

— Os encantamentos de proteção, — eu sussurro enquanto eu volto o meu olhar para o teto. — Eles estão na cor errada.


PARTE III


Capítulo 18

 

 

Por um único momento que parece durar para sempre, Ryn e eu nos encaramos através do saguão, medo crescendo, aumentando, preenchendo o espaço entre nós.

Então o relâmpago atinge.

Ele atinge em algum lugar acima de nós com tanta força que o chão de mármore do saguão estremece sob nossos pés. Ryn grita meu nome, mas a explosão do teto abobadado engole sua voz. Um pedaço de luz despedaça do ar e atinge o chão entre nós, criando uma enorme fenda em ziguezague através do mármore. Um segundo depois, pedaços quebrados de teto começam a chover sobre nós.

Eu me jogo para fora do caminho. O mármore é muito mais duro do que qualquer outra coisa na qual eu aterrissei recentemente, e meu ombro grita em protesto. Eu rolo pelo chão, fico de joelhos e jogo meu braço em direção ao corredor do qual acabamos de sair. O brilho da magia que deixa minha mão é vermelho brilhante. Se alguém no salão de baile tiver dúvidas sobre a origem da explosão, eles saberão qual caminho seguir agora.

Eu levanto com o meu salto alto para procurar Ryn, mas, em vez disso, vejo figuras negras caindo do teto aberto. Chuva borrifa no meu rosto, e o vento enrola meus cachos. O medo dá lugar à adrenalina, pois a emoção de uma luta iminente corre por minhas veias.

Fico firme enquanto meu arco e flecha ganham forma entre meus braços estendidos. Eu puxo para trás, solto e vejo a flecha se aproximar do alvo, as faíscas voam em seu caminho. Um faerie, vestido todo de preto, completo com uma capa, pelo amor de Deus, cai com um grito quando a flecha se incorpora nas suas costas. Puxo para trás, solto. Puxo para trás, solto. Uma nova flecha se materializa no momento em que a anterior é solta.

Uma pedra é arremessada em minha direção, junto com as faíscas de magia. Eu esquivo a magia, mas a borda da pedra pega no meu ombro. Eu acerto o chão mais uma vez, meu arco e flecha desaparecendo no momento em que eu os solto. Rolando sobre minhas costas, eu alcanço a tira do meu sapato direito. Eu o solto - meu âmbar desliza no chão – no momento em que um faerie se lança em cima de mim. Levanto o sapato e empurro o salto no pescoço dele. Ele aperta a garganta, e eu mando meu punho em seu estômago. Ele se dobra. O sangue se espalha no meu rosto. Com um impulso, eu o afasto.

Eu tiro meu outro sapato, coloco minha stylus entre meu peito aumentado e me preparo para lutar contra o próximo faerie que quiser me escolher. Parece que estou sem adversários, no entanto. O saguão está cheio de guardas, mentores e guardiões - incluindo aqueles que acabaram de se formar - e as únicas figuras negras que vejo são aquelas mortas no chão.

Ryn. Ele está bem?

Eu viro para os detritos no centro do saguão, afastando o cabelo molhado do meu rosto. Um chicote brilhante brilha no ar e desaparece antes de vê-lo. Ele sai de uma rocha, salta sobre a rachadura que agora separa o saguão em dois, e caminha em minha direção. — Bem, — ele diz, — esse foi um final emocionante para a formatura.

 

***

— Idiotas, — diz Adair, um guardião sênior, enquanto ele atravessa o escritório da Conselheira Starkweather. — Por que eles escolheram invadir a Guilda durante a formatura? É certo que havia menos guardas de plantão do que o normal, mas todos estavam aqui por causa da cerimônia. Nós tínhamos centenas de guardiões prontos para lutar, e esses invasores idiotas contaram com menos de vinte. Eles são realmente arrogantes o suficiente para pensar que poderiam matar todos nós?

Olho para Ryn. Nós dois estamos de pé, molhados, na frente da mesa da Conselheira Starkweather. Ela nos convocou para um encontro privado com ela e Adair, uma vez que ficou claro que a Guilda não estava mais sendo atacada. Eu penso na suspeita de Ryn de que ela possa ser o espião de Zell dentro da Guilda. Improvável, já que matou dois dos faeries invasores.

Ela bate no queixo. — Pode ser que eles não soubessem que a formatura estava acontecendo hoje à noite?

Eu balanço a minha cabeça. — Eles devem saber. Eles têm espiões na Guilda, não tem? — Ryn limpa a garganta, mas eu o ignoro. — O objetivo deste ataque, obviamente, não era tomar controle da Guilda.

Adair para de andar e estreita os olhos para mim. — Por que esses dois estão aqui?

— Eles tiveram contato íntimo com membros da Corte Unseelie, — diz a Conselheira Starkweather. — Sua contribuição pode ser útil.

— Nós sabemos se foi um ataque da Corte Unseelie? — Pergunta Adair. — Eles não estavam usando as insígnias da Rainha.

— Eles eram definitivamente faeries Unseelie, — diz Ryn. — Eu podia sentir a escuridão fria por trás de sua magia.

— Mas eles podem ter agido não sob as ordens da rainha, — Adair rebate.

— Não, eles provavelmente agiam sob as de Zell. O Príncipe Unseelie que vocês estão investigando há muito tempo. — Eu assumo que Adair seja parte dessa investigação ou ele não estaria neste escritório agora. — Depois do que Ryn e eu ouvimos em nossa tarefa, sabemos que ele está trabalhando contra sua mãe e o que vimos em seu calabouço sugere que ele está formando algum tipo de super exército. Ele deve ter encontrado um faerie que pode criar tempestades capazes de superar nossos encantamentos de proteção.

Ryn limpa a garganta novamente, mas eu me recuso a nomear Nate. Isso me levaria a um monte de problemas, e não vejo o ponto em dizer sobre ele quando já é óbvio que Zell está usando alguém que tem poder sobre o tempo.

— Talvez tenha sido um teste, — a Conselheira Starkweather diz. — Um teste para ver com que facilidade eles podem entrar e sair.

— Possivelmente. — Adair retoma a andar. — O que significa que a finalidade do primeiro raio há várias semanas provavelmente era apenas ver se era possível romper os encantamentos. Mas isso ainda não explica por que um Vidente foi assassinado na mesma noite.

— Nós não conseguimos capturar nenhum faerie hoje, não é? — Ryn pergunta.

— Não, — diz Adair. — A maioria deles conseguiu sair do jeito que entraram — através do teto do saguão. Os poucos que ficaram para trás estão mortos.

— Então não podemos nem torturar para conseguir informação de ninguém, — a Conselheira Starkweather diz.

A palavra ‘torturar’ me faz lembrar de mais uma coisa que está em minha mente por um tempo. — Conselheira Starkweather, — eu digo com cuidado. — Eu estava pensando se você conseguiu entrar na casa de Zell e resgatar os prisioneiros que encontramos.

Ela pressiona os lábios juntos antes de responder. — Não tenho a liberdade de discutir essa investigação com você, Senhorita Fairdale. E você sabe que não deveria estar ‘pensando’ sobre nada disso.

Abaixo meu olhar para o chão. Se eu tivesse que adivinhar, eu diria que era um ‘não’, o que significava que aquelas pessoas ainda estão presas nas gaiolas. O pensamento faz meu pulso acelerar e meu sangue aquecer. Eu entendo que a Guilda não pode simplesmente entrar na casa do Príncipe Unseelie e exigir ver o calabouço, mas sério? Eles não conseguiram descobrir nada até agora?

A Conselheira Starkweather belisca a ponte do nariz. — Eu deveria saber que algo estava acontecendo no momento em que a árvore na mesa ao lado da nossa explodiu mais cedo.

— Desculpe, — diz Ryn. — Uma árvore explodiu?

— Sim, enquanto vocês dois estavam dançando. A maldita coisa ficou em chamas de repente.

Enquanto estávamos dançando... Penso na "explosão" de emoções que senti depois que Ryn sussurrou no meu ouvido e a conversa que tive com Raven sobre perder o controle da magia. Isso não poderia ter sido eu, não é?

— Tenho certeza de que não estava relacionado, — diz Adair. — Provavelmente apenas alguns dos graduados que estavam se divertindo.

— Bem, de qualquer maneira, — diz a Conselheira Starkweather. — Eu preciso entrar em contato com a Corte Unseelie, e vocês dois precisam se preparar para a visita a Corte Seelie. Vocês vão sair amanhã à noite.

— Isso ainda vai acontecer? — Pergunto. Eu estava esperando que Ryn e eu tivéssemos tempo de procurar a caixa que Reed pegou.

— Claro que ainda vai acontecer. Nós não queremos dar a ninguém a impressão de que essa pequena invasão perturbou a maneira como a Guilda opera, não é?

Pequena invasão? Encantamentos fortes o suficiente para proteger a Guilda durante séculos foram quebrados, e ela chama isso de pequena? — Hum, não, senhora. Suponho que não.

***

Eu coloco xarope de chocolate em minhas bagas e passo o frasco para Ryn. Tora me convidou para almoçar junto com Raven e Flint, e eu fui estúpida o suficiente para pedir a Ryn para se juntar a nós. Estúpida, porque mal consigo olhar para ele nos olhos, com todos os sentimentos loucos zumbindo através de mim. Estúpida porque estava tão desesperada em estar perto dele que eu mal podia esperar até hoje à noite quando vamos partir para a Corte Seelie.

— Já ouvi dizer que ela pode ser meio amável às vezes, — diz Raven, verificando os cabelos na superfície reflexiva de uma baga de espelho antes de cobrir com xarope de chocolate.

— Somente se você disser algo errado para ela, — diz Tora. — Como qualquer outra pessoa.

— Mas, ao contrário de qualquer outra pessoa, — acrescenta Ryn, — se você incomodar a Rainha Seelie, ela pode começar a gritar, ‘Cortem as cabeças!’ — Nós quatro olhamos para ele. Ele olha para de volta. — O quê? Está... em um livro. Deixa pra lá.

— Mas como vou saber se estou prestes a dizer é errado? — Pergunto. — Como eu deveria saber o que perturba a Rainha Seelie?

— Bem, aqui é o que ouvi ao longo dos anos, — diz Flint. Ele termina as últimas bagas da tigela antes de descansar os cotovelos na mesa. — Não a olhe nos olhos ao falar com ela; ela não gosta disso. Não fale sobre pólo de pégaso, ela realmente fica com raiva se você torcer contra seus times favoritos e... bem, as coisas ficarão desconfortáveis para você. Ah, e nunca, nunca mencionem a princesa fugitiva. Isso provavelmente a faria cortar sua cabeça.

— Princesa fugitiva? — Ryn pergunta.

— Oh, sim, lembro de ler em algum lugar. — Pego o jarro de molho no centro da mesa. — A atual Rainha Seelie tem três filhos: uma filha - que obviamente está em linha de sucessão para se tornar a próxima rainha - um filho e outra filha. E cerca de duas ou três décadas atrás, a filha mais nova fugiu. — Eu coloco molho na minha colher e enfio a colher na minha boca.

— Eu acho que eles nunca encontraram essa princesa fugitiva? — Ryn pergunta.

— Eu acho que não, — digo ao redor da colher, — considerando que a Rainha fica chateada se você trazer isso à tona. — Eu olho para Flint para confirmar.

— Não, eles nunca a encontraram, — diz ele. — Os rumores dos guardas do palácio eram que a rainha nunca teve um bom relacionamento com sua filha mais nova. Todos pensaram que ela estava secretamente feliz por se livrar dela.

— Isso é horrível, — diz Tora, — querer se livrar de sua própria filha.

Encho minha colher com mais molho. — Só porque você joga no time dos ‘bons’ não significa que você precisa ser uma pessoa legal.

— Ok, então sabemos o que não podemos falar, — diz Ryn. — Sobre o que podemos falar?

O restante do almoço é gasto discutindo tópicos ‘seguros’. Tenho que admitir que estou meio que ouvindo, porque toda a minha atenção está focada em como vou encontrar o lugar secreto onde minha mãe escondeu seus pertences. E não em quão perto a perna de Ryn está da minha. Muito perto. Perto o suficiente para eu alcançar e descansar minha mão sobre ela.

Droga, Violet, você é demais. Estranha. Louca. Você devia parar de pensar nisso.

Eu levanto abruptamente, empilho os pratos sujos em cima uns dos outros, e os mando através do ar na minha frente quando eu vou para a cozinha. — Vou limpar, — eu digo sobre meu ombro.

— Eu ajudo, — diz Ryn.

Eu fecho meus olhos quando meu estômago dá algumas cambalhotas. Ok, seja normal. Seja totalmente, completamente normal.

— Ei, V, você está se sentindo bem?

Dirijo os pratos para a pia e coloco o feitiço de limpeza antes de virar para olhar para Ryn. Ele está encostado no batente da porta, com as mãos empurradas nos bolsos. Uma camiseta simples nunca pareceu tão sexy em alguém.

Não é um pensamento útil, V.

Limpo minha garganta e torço uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo. — Sim, estou bem, por quê?

Ele me observa de perto. — É apenas...

Meu coração bate em um terror súbito. Estou tão pronta para que Ryn descubra como me sinto sobre ele. Na verdade, nunca vou estar pronta. Eu prefiro que sejamos amigos para sempre do que tê-lo rindo na minha cara - ou pior, me dizer que ele sente o mesmo só para acabar quebrando meu coração um dia. — Apenas o quê, Ryn?

Ele balança a cabeça. — Nada.

Volto para a pia para ter certeza de que minha magia está funcionando.

— Oh, ei, eu tenho uma coisa para você, — diz ele. Eu viro para vê-lo tirando algo do bolso. — Novo âmbar. Você mencionou que perdeu o seu antigo na luta ontem. Achei que era necessário substituir de qualquer maneira; provavelmente tinha feitiços da Idade da Pedra.

Coloco minhas mãos nos meus quadris, relaxando agora que estamos de volta ao território familiar. — Não há nada de errado com os feitiços da Idade da Pedra. Eles funcionam.

— Oh, Violet. — Ele suspira e balança a cabeça. — Você não faz ideia das coisas incríveis que esse âmbar pode fazer.

— Não preciso de um novo âmbar extravagante, Ryn. Eu só quero algo simples no qual eu possa enviar mensagens.

— Você pode enviar mensagens aqui. — Ele sorri enquanto acena com a parte retangular do âmbar para mim. — E muito mais.

— Tudo bem. — Estou começando a perceber que, quando ele sorrir assim para mim, farei praticamente tudo por ele. — O que eu devo a você por isso?

— Nada. É um presente. — Ele coloca o âmbar na mesa da cozinha.

Levanto minha sobrancelha. — ‘Outro’ presente de aniversário precoce?

— Claro, podemos chamar assim. — Ele puxa uma cadeira e senta-se. — Quer que eu mostre como usá-lo?

Meu coração traidor pula com a chance de se sentar perto dele novamente. — Sim, porque não.


Capítulo 19

 

 

Mais tarde, naquela noite, Ryn e eu nos reunimos no escritório da Conselheira Starkweather junto com os quatro guardas que nos acompanharão para a Corte Seelie – para nos mostrar o caminho e para garantir que não façamos nenhuma traquinagem na viagem. A Conselheira Starkweather inspeciona os uniformes preto e dourado dos guardas da Guilda enquanto dão a mim e a Ryn algumas instruções de despedida. Então ela abre um amplo portal dos caminhos das fadas na parede. Ela se afasta quando nós seis ligamos os braços - dois guardas na frente, dois atrás, e Ryn e eu no meio.

— Você não pode simplesmente nos dizer para qual parte do mundo vamos? — Ryn diz aos guardas quando estamos atravessando a escuridão dos caminhos das fadas. — Você não precisa nos dar instruções ou qualquer coisa.

Sua pergunta é respondida com silêncio.

— Você não pensou honestamente que teria uma resposta, não é? — Eu digo a Ryn. — É um dos maiores segredos do reino das fadas. Eles não vão lhe dizer.

O braço de Ryn se move contra o meu. Imagino-o encolhendo os ombros. — Vale a pena tentar.

Saímos para nos encontrar entre árvores ao lado de um rio largo que fluia suavemente. As árvores são mais magras e menos enrugadas e de alguma forma mais... elegantes do que as árvores em Creepy Hollow. Tudo aqui parece estar iluminado por dentro, trazendo a floresta tranquila para uma vida brilhante e luminosa. Musgo verde, flores roxas, folhas azuis e areia branca no fundo do rio perfeitamente claro.

— Os caminhos das fadas não podem nos levar para mais longe, — um dos guardas diz. — Usaremos o rio daqui e depois o céu. — Ele gesticula para a água. Um barco branco com uma cabeça de cavalo-marinho levantando-se do arco está deslizando em nossa direção. A magia deve estar dirigindo porque não há ninguém dentro. O barco chega à margem e balança com as ondas suaves.

O guarda sobe no barco e estende a mão. — Senhorita Fairdale, — diz ele. Embora eu tenha certeza de poder entrar sem ajuda, pego sua mão e entro no barco. O interior é simples, com quatro bancos corridos paralelos cobertos de almofadas. Eu subo sobre eles e pego o banco mais próximo da popa.

Ryn e os outros guardas sobem. Sem comando de ninguém, o barco começa a se mover. Sem remos, nada. Ele desliza silenciosamente, pacificamente, através da água. Eu deito de costas com meus ombros contra a borda do barco e olho para o céu através dos galhos. A lua é a maior que eu já vi até hoje, e as estrelas parecem mais próximas do que o normal.

— Ei, olhe, V, — diz Ryn. Eu me sento. Ele está inclinado sobre o lado do barco, apontando para algo. Agarro a borda do barco e espreito a água. Uma mulher com longos cabelos verdes e uma cauda de peixe perolada e iridescente tece engenhosamente entre as rochas no fundo do rio.

— Uau, — eu sussurro. — Nunca vi uma sereia na vida real.

— Elas não gostam de Creepy Hollow, — diz o guarda sentado ao lado de Ryn. — Elas preferem ficar perto da Corte Seelie.

Passo o restante da viagem de barco assistindo as sereias, sereias homens e outras criaturas de água deslizando pela água. Penso em tudo que deve estar debaixo da superfície. Nada para preencher seus ouvidos, apenas um silêncio pacífico, e tudo se movendo graciosamente em câmera lenta.

— Hora de sair, — diz um guarda, interrompendo meus pensamentos. O barco bate fracamente contra a margem. O rio desaparece ao redor de um canto, e um som silencioso e apressado sinaliza uma cachoeira em algum lugar longe. — Vamos viajar o resto do caminho pelo ar.

Saímos, caminhamos um pouco pelas árvores e paramos em frente a uma carruagem fechada, puxada por quatro pégasos brancos.

— Yeah! — Ryn exclama. — Não tenho montado em um pégasos há anos.

— Sr. Larkenwood, você está ciente de que estará andando na carruagem, não no pégasos?

Com um suspiro, Ryn diz, — Tudo bem. Se tiver que ser assim.

É um pouco apertado com nós seis dentro da carruagem, e não estou muito satisfeita por me encontrar presa entre Ryn e um guarda. Bem, parte de mim está ridiculamente extasiada por ter meu braço direito e perna pressionados contra Ryn, mas definitivamente não estou satisfeito por ter o meu lado esquerdo invadido.

— Nós estaremos viajando durante a noite, — diz o guarda invadido o meu lado esquerdo, — então vocês podem querer dormir um pouco.

Oh, ótimo. Temos que nos sentar assim durante a noite toda? Eu tento esquecer o guarda invasor do meu espaço pessoal e me concentro na mão esquerda de Ryn, que está descansando em sua perna direita, ao lado da minha. Tão perto, se eu esticasse meus dedos, eu estaria tocando a mão dele. É ridículo o quanto eu quero estender a mão e pegar a dele. Nunca pensei que desejaria tanto o toque de alguém, mas eu quero. Apenas pensar em suas mãos na minha pele me faz sentir quente por toda parte.

Com um empurrão, a carruagem avança, então acelera rapidamente. Momentos depois, o ruído sob as rodas desaparece quando a carruagem se inclina ligeiramente para trás.

Estamos no ar.

A emoção de voar é suficiente para me deixar esquecer momentaneamente meu desejo por Ryn. Olho passando por ele e para fora da janela da carruagem. Está escondido parcialmente por uma cortina, mas eu posso ver as copas das árvores desaparecendo abaixo de nós enquanto disparamos pelo céu em direção às estrelas. Isso faz minha cabeça girar.

Inclino minha cabeça para trás e fecho meus olhos. Eu deveria estar tentando me lembrar de tudo o que meu pai uma vez me contou sobre a visita da minha mãe a Corte Seelie, e em vez disso eu estou obcecada por Ryn. Junto minhas mãos no meu colo para que meus dedos não se entrelacem acidentalmente com os de Ryn e reordeno meus pensamentos. Lembro das pistas que o meu pai me deu sobre o esconderijo secreto da minha mãe.

***

Meu pescoço está rígido. Eu mexo minhas pálpebras e pisco várias vezes contra a luz da manhã antes de me lembrar de onde eu estou - uma carruagem - e no que eu estou dormindo - Ryn.

OH, O MAIOR CONSTRANGIMENTO DE TODOS OS CONSTRANGIMENTOS. Há quanto tempo eu dormi no ombro de Ryn? Eu falei durante o sono? Eu me aconcheguei nele? Eu babei nele?

Esse último pensamento me faz sentar apressadamente e dar uma palmadinha na minha boca.

Ok. Sem baba.

Ryn esfrega uma mão sobre os olhos e depois através de seus cabelos. Torço para que ele também estivesse dormindo. Espero que ele não tenha ideia de que eu acabei de usá-lo como travesseiro.

Ele olha para mim com confusão em seus olhos. — O quê? — Pergunto, com um pouco mais de defesa na minha voz do que o necessário. — Algum problema?

— Não. — Ele franze a testa. — Algum problema com você?

— Não.

Ele pega o meu braço para me impedir de deslizar do banco quando a carruagem desacelera de repente. Nosso passeio termina com um solavanco quando as rodas do batem no chão. Ryn solta meu braço e se afasta de mim para olhar pela janela. Minha pele parece estranhamente fria na ausência de seu toque.

— Chegamos, — diz o guarda invasor do espaço pessoal, alcançando uma alavanca ao lado do seu banco. A parte superior da carruagem desaparece. O ar fresco e o cheiro delicado de flores flutuam sobre mim. A carruagem desliza para frente enquanto viajamos por um largo caminho alinhado por ambos os lados por árvores carregadas de flores na cor rosa e laranja. Os galhos alcançam ambos os lados para se encontrar, nos sombreando do sol da manhã. As flores flutuam no chão como confetes.

— Então... Alguém pode simplesmente andar por aqui? — Ryn pergunta. — Eu não vi um portão.

— Não há necessidade de um portão, — diz o guarda em frente à Ryn. — Este lugar é protegido por fortes encantamentos e vigiado por centenas de guardas escondidos.

Depois de examinar as árvores e sem sorte de encontrar os guardas, direciono meus olhos mais uma vez para frente. Eu não quero perder um único detalhe do palácio no qual estamos prestes a entrar. No final da calçada há uma arcada branca com uma cascata de água correndo pela abertura, impedindo que vejamos. À medida que passamos por baixo do arco, a água divide-se como uma cortina. Nós entramos em um pátio cheio com as mesmas árvores de flores rosa e laranja. Os pégasos param. Através das árvores, pego vislumbres de paredes e pilares brancos, mas antes que eu possa olhar de perto, um novo par de guardas - com as insígnias da Rainha Seelie em seus uniformes - vem à frente para nos encontrar. Eles se curvam, esperam que Ryn e eu desçamos da carruagem e nos guiam pelo caminho com passos rápidos e controlados.

Passamos por debaixo de outro arco e entramos em um segundo pátio. Embora tenhamos deixado a floresta lá fora, é difícil ver onde a natureza termina e o palácio começa. Talvez não haja início e final. Talvez uma floresta de árvores brancas tenha sido persuadida a crescer e a se fundir em uma estrutura de salas, torres, pilares e escadas em espiral, e este palácio é tão vivo quanto à floresta que a rodeia.

Eu vejo pessoas aqui e ali, alguns se inclinando nas varandas e outros caminhando ao longo de corredores abertos. Vejo suas roupas ricamente detalhadas e me sinto muito malvestida com minha roupa preta de todos os dias. Tora me assegurou que eu não precisava trazer roupas elegantes, então espero que não haja necessidade de entrar em pânico por estar vestida de forma inadequada.

Ryn e eu seguimos os guardas através de uma vasta sala aberta com uma fonte de água em seu centro - três sereias atingindo o céu enquanto águas brotam de suas mãos. Subimos por uma escada sinuosa, ao longo de um corredor, e finalmente chegamos aos nossos quartos. Eu não sei como é o quarto de Ryn, mas o meu é, claro, muito mais elegante do que qualquer coisa em que eu já sonhei dormir: cama com dossel, chaise longue, espelho ornamentado no piso, varanda. Uma empregada está parada ao lado do quarto com um pergaminho na mão.

Com a minha mente ainda um pouco abobalhada, eu escuto apenas metade enquanto a mulher lê nosso cronograma no pergaminho. Ela me diz quando nos mostrarão o terreno, com quem vamos almoçar, a que horas jantaremos com a Rainha e quando estaremos observando o treinamento da Guarda Real.

A Guarda Real. Certo. Essa é a verdadeira razão pela qual recebemos esse "prêmio" de visitar a Corte Seelie - assim a Rainha pode verificar os últimos formandos e ver se ela quer laçar qualquer um para trabalhar aqui como seus guardiões pessoais.

— Hoje à noite e a noite de amanhã, alguém virá ao seu quarto antes do jantar para vestir você, — acrescenta a empregada. — E seus guardas da Guilda estarão aqui de manhã, dentro de dois dias, para acompanhá-la de volta para casa. Você tem alguma pergunta, Senhorita Fairdale?

— Hum, não.

Ela faz uma reverência e sai do quarto. Pergunto-me o que eu deveria fazer agora. Eu tento me lembrar do início do seu discurso, mas só posso pensar que ela me disse que minha bolsa foi entregue no quarto antes de eu chegar aqui.

Talvez eu possa relaxar, então. Eu ando até a cama que provavelmente está coberta de lençóis com milhões de fios de algodão, me jogo e tento não pensar em Ryn dormindo apenas uma parede de distância de mim esta noite.


Capítulo 20

 

 

É estranho ser vestida por alguém que eu não conheço. Também é estranho usar algo que eu nunca escolheria para mim. O vestido, que aparentemente chamava de champanhe, é brilhante demais para o meu gosto, aperta todo o meu corpo e até meus joelhos, onde ele abre apenas o suficiente para eu mover minhas pernas. Acaba no chão, a poucos metros atrás de mim. As mangas também são ridiculamente longas, em forma de sino penduradas ao longo das pontas dos meus dedos. Tenho certeza de que elas vão encontrar seu caminho na minha sopa ou sobremesa.

A conjuradora de roupa gira sobre mim, fazendo pequenos ajustes no vestido. — Tudo bem, acho que acabamos aqui. — Ela recua para me examinar, olha a chave de ouro ao redor do meu pescoço e abre a boca. — Eu não vou tirar, — eu digo antes que ela possa me dizer que não combina com o meu vestido ou algo assim.

— Tudo bem. Bem, se você não precisa mais de mim, tenho outras garotas para vestir.

— Ótimo, eu acho que posso lidar daqui para frente. — Eu não preciso que ela prenda meu cabelo apressadamente em algum penteado ridículo.

— Você se lembra onde fica a sala do trono?

— Sim. — Foi-nos dito exatamente onde nos reunir antes do jantar enquanto fazíamos nosso passeio pelo palácio mais cedo. Nós até recebemos uma lição rápida na sala de jantar sobre que talheres usar para cada prato.

A conjuradora de roupas acena com a cabeça e sai para encontrar as outras guardiãs graduadas que precisam de ajuda para se vestir. Não sei por que não pensei nisso antes de chegarmos aqui, mas, obviamente, todas as Guildas se formam ao mesmo tempo e enviam os seus melhores graduados para cá. Faz sentido para a Corte Seelie receber todos ao mesmo tempo.

Certo. Hora do jantar.

Eu vou em direção a porta, curvando os dedos dos pés no tapete espesso. A única coisa que gostei desta roupa é a ausência de sapatos. Apesar da elegância de suas roupas, parece que a tendência por aqui é ficar descalço.

Abro a porta para encontrar Ryn esperando. Eu esperava que ele estivesse vestindo um terno, mas parece que alguém foi enviado para vesti-lo também. Suas calças são brancas, assim como a longa túnica que atinge suas coxas. O topo da túnica é coberta de bordados e pérolas pequenas, e há um cachecol cintilante pendurada ao redor do seu pescoço que atinge os lados do seu joelho.

— Uau, — ele diz quando me vê. — Você parece realmente... brilhante.

— Eu sei. Você provavelmente poderia me ver da lua. — Eu fecho a porta atrás de mim. — Mas você não pode falar exatamente isso porque você não está muito atrás no departamento de brilho.

Ryn ajusta seu cachecol. — Sim, eu não sou fã da vestimenta formal das faeries tradicionais. Eu acho que a realeza precisa se mover para a era moderna.

— Você poderia sugerir isso para a rainha esta noite. Tenho certeza de que seria uma conversa ótima para o jantar.

— Logo após ela cortar a minha cabeça. — Ele estende o braço para mim, e eu sinto uma emoção quando aceito.

Uma emoção? Ugh, o que eu me tornei? Eu costumava usar as minhas emoções para lutar contra criaturas perigosas; agora eu as uso quando toco no braço de Ryn. Respiro fundo e tento o meu melhor para lembrar o sentimento de apenas amigos com Ryn.

— Então, sua visita a Corte Seelie está à altura das suas expectativas? — Ele pergunta enquanto descemos as escadas.

— Ainda não. A festa do chá no jardim esta tarde interferiu com meus planos de exploração.

— Ah, sim. Beber chá com a filha da rainha e vinte e poucos outros graduados. Eu posso ver como isso não seria realmente o seu, uh, lance.

Eu reviro meus olhos. — Ha - Fantástico - Ha.

— Fala sério, você riu por dentro, — ele diz enquanto me cutuca.

Nós seguimos as instruções que nos foram dadas anteriormente e encontramos nosso caminho para um corredor largo fora da sala do trono. Vários outros graduados já estão vestidos e esperavam lá. Uma menina alta com cabelos e olhos tão pretos como a obsidiana olha Ryn de cima para baixo antes de lhe dar um sorriso deslumbrante. Quando ele acena com a cabeça em sua direção, o ciúme queima quente e repentino no fundo do meu estômago. Aparentemente, ela entende como um convite porque ela se aproxima e começa a conversar com ele sobre de onde ela é. Ele puxa o braço para longe do meu e se inclina contra a parede, exalando confiança enquanto fala sobre a Guilda de Creepy Hollow.

Eu acho que eu poderia tentar me juntar à conversa em vez de ficar parada embaraçosamente, mas qual seria o ponto? Eles claramente não estão interessados em conversar com mais ninguém. O ciúme ainda me cutuca maldosamente, e odeio que dói assistir Ryn flertar com outra pessoa. É exatamente por isso que eu não deveria ter sentimentos mais do que apenas amigos por ele. Eu sei que só acabarei me machucando porque sempre haverá outra garota mais excitante e exótica do que eu.

Eu me afasto, balançando meus braços ao meu lado e tentando fingir que não me sinto rejeitada. Olho em volta e percebo que um dos caras graduados está me observando. Outro dá um sorriso na minha direção. Eu olho para longe rapidamente, apertando minhas mãos atrás das minhas costas. Esquisitos.

As grandes portas da sala do trono gravadas com padrões de folhas e galhos curvados lentamente começam a abrir. Um homem uniformizado vem através delas e fica em frente a nós. Todas as conversas entre os graduados cessam. — A Rainha Seelie irá recebê-los agora, — diz ele. — Vocês entrarão na sala do trono quando for anunciado. Mantenham seus olhos baixos, curvados ou em reverência, e se ela falar com você, responda com ‘minha senhora’. Ela irá descartá-los com um aceno, depois do qual você vai deixar a sala pela porta à esquerda e tomar seu lugar na sala de jantar.

As portas estão totalmente abertas agora, e o guarda volta a ficar de pé lá dentro, em frente a outro guarda. Quando ele chama o primeiro nome - Opal Briarstone - a menina de cabelos negros de pé ao lado de Ryn anda para frente. Eu fico nas pontas dos pés e estico o meu pescoço para tentar vislumbrar a sala e a Rainha, mas depois de um olhar severo do guarda chamando os nomes, eu volto ao normal.

Eu não sei qual o tipo de ordem que estão usando para chamar os nomes, mas apenas quatro de nós ficaram no corredor quando Ryn e eu somos chamados. Avançamos para a sala, quase o suficiente para segurar mãos. Azulejos de mármore gigantes - surpreendentemente, não tão frio sob meus pés - formam um padrão de mosaico de círculos concêntricos pelo chão. As formas se movem sob a superfície dos azulejos, e lembro por um segundo da câmara onde encontrei Angelica, a mãe de Nate. Eu empurro para longe da minha mente. Estou prestes a conhecer a própria Rainha Seelie; não preciso de distrações.

Chegamos a uma marcação no chão e paramos. Ryn se inclina e eu tento fazer uma reverência com o meu vestido super-apertado. Levanto meus olhos, alto o suficiente para ver a bainha da saia da rainha, que parece ter sido lançada de uma cachoeira verde em cascata.

— Ah, sim, — diz a rainha. — A Guilda que conseguiu produzir dois melhores graduados em vez de um. Isso não acontece desde o reinado da minha mãe. — Ela pausa, mas eu não vejo sua mão se mover, então eu fico exatamente onde estou. — Vocês dois vêm de uma longa linhagem de guardiões, não é?

— Sim, minha senhora, — diz Ryn, respondendo por nós dois.

Outra pausa. — Tão infeliz, Senhorita Fairdale, o que aconteceu com os seus pais.

Minhas entranhas parecem congelar e queimar ao mesmo tempo. — Infeliz, minha senhora? — Eu levanto meus olhos. Eu sei que não deveria, mas já é tarde demais. Eu vejo uma mulher com longos cabelos pretos entrelaçados com fios de prata. Suas tranças grossas deslizam sobre seus ombros nus. Seus brilhantes olhos prateados me perfuram, mas ainda não consigo desviar o olhar. Ela tem muitos séculos de idade, mas, é claro, seu rosto é impecável. E algo sobre esse rosto e a maneira como ela inclina o queixo enquanto olha para mim parece familiar. — Se você está se referindo ao fato de que ambos os meus pais foram assassinados ao executar seu dever guardião, eu prefiro pensar que é trágico em vez de simplesmente infeliz.

Do canto do meu olho, vejo as mãos de Ryn apertadas em punhos. Se eu pudesse ouvir seus pensamentos, eles provavelmente seriam algo como você está tentando ter sua cabeça cortada? Agora seria um bom momento para apontar meus olhos firmemente para baixo, mas não consigo afastá-los do olhar prateado da rainha. Por vários momentos intermináveis, estamos presas no que parece um concurso de encarar. Então ela levanta a mão e nos libera com um rápido aceno em direção à porta à esquerda.

 

***

 

— Maldita bunda goblin, V, eu pensei que ela iria te matar com os olhos.

Eu ri quando me balancei ao redor de um pilar fora da sala com a fonte de água. Nosso jantar com a Rainha acabou e nós estamos voltando para nossos quartos. — Eu também. Eu não tenho ideia do que aconteceu comigo; acabei me irritando quando ela se referiu às mortes de meus pais como ‘infelizes’. Queria ter dito que infeliz foi a filha caçula dela ter fugido.

— Então ela realmente teria acabado com você, — diz Ryn. — É até estranho ela conhecer seus pais. Você acha que ela lê algum tipo de bio para cada um de nós antes de chegarmos aqui? — Ele se inclina e passa a mão pela base da fonte de água enquanto passamos, espirrando água nas minhas costas.

— Ei! — Eu grito, então cubro minha boca quando dois graduados nas escadas viram e franzem a testa para nós. — Eu não sei. Ela provavelmente tem alguém que lhe fornece magicamente os destaques sobre cada um de nós enquanto entramos na sala.

— Provavelmente. — Subimos a escada. — Sabe, eu sempre imaginei que jantar com a Rainha fosse ser um evento muito mais informal. Eu estava esperando por algumas discussões aprofundadas, e em vez disso, estávamos sentados tão longe que não podíamos ouvi-la.

— Bem, você parecia ter muita coisa para conversar com a garota sentada ao seu lado, — eu digo enquanto eu corro minha mão no corrimão. — E eu não estou falando de mim.

Ryn para, e eu viro para olhar para ele do degrau acima dele. Ele abaixa a cabeça para o lado enquanto diz, — É ciúme que escuto em sua voz, Sexy Pixie?

— Não. — A palavra deixa minha boca muito rápido. — E não me chame de Sexy Pixie. É quase tão ruim quanto Pixie Sticks.

— Quase. — Ele continua subindo as escadas. — Mas não tanto.

Chegamos primeiro ao meu quarto, e paro com a mão contra a porta. — Tenho tentado descobrir uma coisa toda a noite. A rainha parece familiar para mim, mas sei que nunca a conheci antes.

Ryn arqueia as sobrancelhas. — Você sabe que o retrato dela está pendurado na biblioteca na Guilda, certo?

— Oh, sim, eu tinha me esquecido disso. — Então eu balanço minha cabeça. — Mas nunca sento no final da biblioteca. Passaram-se anos desde que vi esse retrato... — Eu encolho os ombros e me inclino para abrir minha porta. — De qualquer forma, te vejo em cinco minutos?

— Sim, — diz Ryn, me dando um aceno.

Eu fecho minha porta e retiro o vestido. Eu visto calças pretas e um top e prendo o meu cabelo. Devo adicionar minhas botas? Não, estou gostando de estar com os pés descalços demais. Mas isso me deixa com o problema de onde colocar minha stylus. Depois de pensar, eu torço meu cabelo e coloco minha stylus através dele para mantê-lo no lugar. Perfeito. Por que não tentei isso antes?

— Você está pronta? — Ryn chama do outro lado da porta.

— Sim, entre. — Inclino para frente para um rápido olhar no espelho do chão; aparentemente, ainda me importo como pareço na frente de Ryn. O meu reflexo mostra a luz do teto dos insetos brilhantes que brilham sobre a chave de ouro ao redor do meu pescoço. Levanto meus dedos para tocá-lo, um gesto que rapidamente se torna um hábito para mim. — Oh, eu queria te perguntar uma coisa. — Eu olho para Ryn no espelho. — Você trouxe o colar da eternidade? Esta visita parece ser a oportunidade perfeita para dar à Rainha.

Ryn balança a cabeça e empurra as mãos nos bolsos.

Eu viro. — Por que não?

Ele soltou um longo suspiro antes de responder. — Pense nisso, V. Algum monarca tem o direito de viver para sempre? Eles já conseguem governar por centenas de anos; não é o suficiente? Não parece certo ter a mesma rainha para sempre. Não parece certo para qualquer um viver para sempre.

Olho para as minhas mãos, considerando suas palavras. Eu nunca pensei nisso antes, mas acho que ele está certo. — Bem, o que você vai fazer com o colar?

— Eu não sei. Destruir, eu acho.

— E o que, — digo gentilmente, — faz você pensar que você tem o direito de destruí-lo?

Ele desvia os olhos, esfregando o polegar contra a moldura da porta. Quando seu olhar retorna para mim, há humor nos olhos dele. — Alguém já perguntou se as calças que você usa cortam a circulação de sangue para a metade inferior do seu corpo?

A mudança súbita no assunto me deixa zonza. Olho para ele, me perguntando se a pergunta ridícula é uma piada. Ele olha para trás. Aparentemente não. — Não, não posso dizer que eu já tenha sido perguntada sobre isso.

— Oh. — Seus olhos se movem para baixo, escovando meu corpo antes de voltar para cima. — É só que sempre pensei que elas pareciam um pouco apertadas.

Meu rosto se aquece com o pensamento de Ryn examinando minhas pernas. Eu pego meu vestido brilhante da cama e o afasto para pendurá-lo sobre a parte de trás da chaise longue. — Elas não são apertadas, Ryn, eles são super elásticas. É por isso que eu as uso o tempo todo; Elas são ótimas para treinar e lutar. — Eu volto para ele com os braços cruzados sobre meu peito. — E como exatamente isso é importante?

— Não é. — Ele se afasta da moldura da porta. — Vamos começar com a Missão: Exploração?

— Sim, por favor, vamos começar. — Eu passo por ele para o corredor enquanto ele fecha minha porta. Estive desesperada para procurar pelo palácio o dia todo, e não vou dormir até encontrar o esconderijo da minha mãe. — Se alguém perguntar, estamos apenas dando um passeio noturno.

— Certo, — diz Ryn, — porque ninguém disse que não fomos autorizados a fazer isso.

— Exatamente.

— Então, você tem até a menor ideia por onde começar a procurar?

— Sim, mais ou menos. — Nós descemos as escadas. — Meu pai lembrou de que minha mãe dizia algo sobre um lago ou piscina que possui uma estrutura de pedra construída perto. Ele disse que ela aprendeu um feitiço de arquitetura e criou uma pequena sala escondida na pedra. Sabe, como a nossa casa está escondida dentro das árvores? E ela deixou algum tipo de sinal ou símbolo próximo que ajudaria uma pessoa a abrir.

— Certo, essa informação seria útil se não fosse pelo fato de que passamos por cerca de quinhentas piscinas em nosso passeio pelo palácio hoje.

— Isso tudo? Tenho certeza de que contei seiscentos. — Eu rio e me esquivo do caminho quando Ryn pega a água derramando das mãos das sereias e tenta espirrar em mim pela segunda vez.

— Tudo bem, talvez exagerei apenas um pouquinho. — Ele sacode as mãos, enquanto seus olhos deslizam sobre meu ombro e se arregalam. Eu viro para ver o que ele está olhando. Um faerie, com a cabeça inclinada como se estivesse pensando profundamente, vem até nós através de um dos muitos arcos do lado aberto da vasta sala. Ele olha, encontra o meu olhar e congela. Toda a cor drena de seu rosto.

Se eu pudesse ver meu próprio rosto, provavelmente encontraria um olhar semelhante de choque. Não posso me mover. Não consigo respirar. Não consigo nem mesmo pensar corretamente. Porque o homem de pé embaixo da arcada, o homem com olhos amarelo-ouro e mechas da mesma cor que atravessam seu cabelo castanho, é o meu pai.


Capítulo 21

 

 

Um momento de silêncio congelado passa entre nós. Então ele se vira e corre para os fundos, desaparecendo na escuridão da noite.

— Espere! — Eu grito. Eu corro atrás dele, mas Ryn agarra minha camisa e me puxa de volta.

— O que você está... me solta!

— Pare, Violet. Pense nisso por um segundo.

— O que há para pensar? É o meu pai! — Eu grito. — Me solta!

— Como? — Ryn grita, me sacudindo. — Como pode ser seu pai? Você viu o corpo dele. Você o observou flutuar debaixo nas Cataratas do Infinito. Eu também.

Eu me apoio contra Ryn em derrota quando percebo a verdade. Claro que não é meu pai. Não é possível. Mas, por um momento minúsculo, queria tanto acreditar que era. — Metamorfo, — eu sussurro. Essa é a única explicação. Algum metamorfo assumiu a forma do meu pai.

— Deve ser, — diz Ryn calmamente. — Desculpe, V. Eu não queria que você fugisse atrás dele e que seu coração fosse quebrado de novo. — Ele aperta meus braços em um gesto reconfortante, depois esfrega as mãos para cima e para baixo.

Ryn está certo. O homem não é meu pai. Mas isso não significa que eu não quero saber quem diabos ele é e por que ele não pode usar sua própria maldita forma para andar por aí. Respiro profundamente, bato o meu calcanhar fortemente no pé de Ryn e tiro as suas mãos.

— Violet, pare!

Mas eu já estou correndo pela grama atrás da sombra do homem. Ele corre por uma colina, salta sobre as cadeiras acolchoadas no pequeno pavilhão carregado de flores, onde tomamos chá mais cedo e nos dirigimos para um bosque. Eu me apresso atrás dele, mas percebo que uma vez que estou cercada por árvores que não há nenhum caminho a seguir, e não posso mais vê-lo.

— Onde você está? — Eu grito. — Do que você tem medo? Saia e me enfrente, metamorfo de duas caras! — Eu procuro na escuridão, me virando ao redor enquanto ando no meio das árvores para me certificar de que eu não perca uma única sombra ou movimento. Mas quando chego ao outro lado do bosque, não encontro ninguém. O terreno espalhado ao meu redor está quietos e calmos. Ele não pode ter desaparecido através dos caminhos das fadas porque portais não podem ser abertos aqui na Corte Seelie. Então, ele deve ser realmente bom em se esconder. E correr.

Minhas mãos parecem estar tremendo. Eu balanço-as em punhos enquanto ando de volta através das árvores, atravessando a grama e subindo a colina. Eu queria nunca o ter visto. Sim, é suspeito que haja um cara correndo por aí fingindo ser meu pai, mas se eu não o tivesse visto, não teria todas essas memórias nadando dolorosamente na minha mente. Eu ficaria feliz e ignorante em minha própria pequena missão de exploração em vez de me sentir como - oh, como eu simplesmente o tivesse perdido de novo.

Eu me vejo em pé na frente da porta do meu quarto piscando as lágrimas para longe. Coloco minha mão contra a parede e respiro fundo e estremeço. Toda a dor que senti quando ele morreu está ameaçando ressurgir, e eu não quero isso. Eu não queria sentir naquele momento, e não quero sentir agora.

Abro a porta e vejo Ryn sentado na beira da minha cama. Eu cruzo meus braços sobre o meu peito enquanto ele se levanta. — Ele fugiu porque você não me soltou. — Minha voz é silenciosa, mas posso ouvir a raiva ferver logo abaixo da superfície. Meia hora atrás eu queria fazer coisas estúpidas, como correr meu dedo sobre os lábios de Ryn; agora eu nem quero olhar para ele.

— Eu estava apenas tentando fazer você pensar de forma sensata por um momento.

— Eu odeio você agora.

— Não, não odeia.

Eu não odeio, mas odeio que ele tenha tanta certeza de si mesmo. Odeio que ele esteja certo. Olho para o chão enquanto digo, — Eu gostaria que você fosse embora agora.

Ele vem em minha direção. — Por favor, não me afaste, V. Quero estar aqui por você.

Eu levanto a minha mão para impedir que ele se aproxime. — Não há necessidade de você estar aqui. Ok, então há um cara aleatório por aí fingindo ser meu pai, e eu não sei por quê. Mas é apenas isso. Nada demais. Não é como se alguém tivesse morrido. — Oh, inferno, oh inferno, é como se ele tivesse acabado de morrer de novo. Uma dor aguda apunhala o núcleo do meu ser e ameaça me fazer dobrar.

— Pare de mentir, Violet. Eu sei que não é o que você está sentindo, então por que você não diz o que realmente está acontecendo na sua cabeça?

— O que você é, meu maldito conselheiro? — Eu viro de costas para ele, apertando meus braços ao redor do meu meio. — Eu não falo com Tora sobre meus sentimentos, e também não vou falar com você.

— Tudo bem, não fale com ninguém, mas pelo menos, admita que está sentindo algo em vez de continuar como se não fosse grande coisa.

— Estou sentindo algo! Estou chateada com você!

— E?

— E saia! — Eu aponto para a porta aberta.

— Não.

— SAIA!

Ele se aproxima e fecha a porta. — Não. Não vou deixar você sozinha assim.

— Sim, você vai! Você não entendeu? Todos partem. Minha mãe, Reed, Cecy, você, meu pai, e você vai me deixar de novo! Eu fui estúpida o suficiente para me permitir me importar com Tora, mas é isso. Então você precisa sair agora. Vá!

Ele balança a cabeça.

— Eu disse para SAIR, Ryn! — Eu o empurro fortemente em direção à porta, e quando ele ainda não faz nenhum movimento para sair, eu começo a bater em seu peito com meus punhos.

Ele agarra meus pulsos e detém meus braços longe de seu corpo enquanto eu faço o meu melhor para acertá-lo um pouco mais. Por que ele não está revidando, maldição? — Isso aí, — ele diz, como se esse fosse o tipo de reação que ele esperava.

Furiosa, afasto meus braços para fora de seu alcance. Depois de um último empurrão em seu peito, atravesso o quarto para o banheiro privativo e me tranco dentro. As lágrimas já estão caindo quando eu me jogo na grama encantada ao lado da piscina e enterro minha cabeça em minhas mãos. Um tremor passa por mim. Minha garganta queima. Soluços começam a tremer meu corpo.

Meu pai. Parecia exatamente ele. Ele estava parado bem na minha frente, tão perto que ele poderia me envolver em seu abraço forte e caloroso, como costumava fazer quando eu tinha medo de uma tempestade ou quando as crianças na escola eram ruins comigo.

Mas não era ele. Ele ainda está morto.

E agora, eu sinto muita falta dele.

— Violet?

Ugh, por que Ryn ainda está aqui? Por que não tranquei a porta? Eu me enrolo ainda mais em mim, envolvendo meus braços ao redor da minha cintura e torcendo para que Ryn fique assustado pelas lágrimas. Os meninos não gostam de meninas chorando, certo? Esta devia ser sua sugestão para sair.

Em vez disso, eu o sinto se ajoelhar ao meu lado. — Eu não estava lá por você quando realmente aconteceu, — ele diz calmamente. — Por que você não pode me deixar estar aqui por você agora?

Não choro na frente das pessoas. Eu não, eu não, eu não. No entanto, aqui estou eu, violando as minhas próprias regras.

— Ok, bem, você não está mais me batendo, então vou aceitar isso como um bom sinal.

Não. Sem bater. Mas não consigo parar de chorar, e não consigo ver nada, exceto o contorno borrado dos meus dedos na frente do meu rosto. O que Ryn planeja fazer exatamente? Sentar-se aqui até eu parar de chorar? Se ele ainda espera que eu vou me abrir e contar todos os pensamentos e sentimentos que estão me torturando, ele vai esperar por muito tempo.

— Desculpe, V, — diz Ryn. — Quando a Rainha Unseelie nos trancou dentro da minha cabeça e eu fiquei cara a cara com Reed, isso realmente bagunçou com a minha cabeça. Eu posso imaginar que ver seu pai deve estar fazendo o mesmo com você.

Bagunçou com a minha cabeça. Essa é uma maneira de colocar isso.

Sinto que o corpo de Ryn se aproxima do meu. Seu braço desliza em volta dos meus ombros. Suponho que ele esteja esperando para ver se eu vou me afastar e dar um soco na sua cara, porque depois de alguns momentos sentados congelados na mesma posição, ele envolve o outro braço ao meu redor e me puxa gentilmente contra o seu peito.

Eu não luto contra ele.

Ninguém me segurou assim quando meu pai morreu. Suponho que Tora teria feito se eu tivesse deixado, mas eu não deixei. Quando bati a porta e gritei para que ela me deixasse em paz, ela ouviu. Não foi como Ryn, que se recusou a me deixar desligar minha dor como sempre fiz.

Inclino-me nele e tomo a decisão de parar de lutar contra essa batalha perdida contra as lágrimas. Em vez disso, como quando eu tropecei para longe da casa em chamas dos Harts me sentindo doente, tonta e com dor, eu deixei ir e confiei em Ryn para me pegar.

***

Uma nuvem branca fofa de colcha de cama me envolve. Deliciosamente suave. Estendo-me sob as cobertas e rolo sobre minhas costas. A luz da manhã filtra através da cortina transparente que cobre a cama com dossel e envolve tudo em um brilho dourado e suave. Lembro de lágrimas secando sobre as minhas bochechas quando adormeci ontem à noite, mas a manhã trouxe uma espécie de quietude dentro de mim.

Eu me viro para o meu outro lado — e congelo.

Ryn, em toda a sua glória perfeita, está dormindo a apenas alguns centímetros do meu rosto. Debaixo da minha colcha. Na minha cama. Cachos escuros de cabelo caem sobre sua testa, e seus lábios estão separados um pouco. Ele parece tão pacífico quanto eu senti um segundo atrás. Suas pálpebras flutuam, e eu me afasto dele. No momento em que o seu olhar piscando vem descansar sobre mim, estou deitada bem na beira da cama. — Hum, o que você ainda está fazendo aqui?

Ele pisca uma vez mais e diz, — Bem, eu disse que não iria embora, não é? Então você me disse que eu iria e, bem, eu tinha que provar que você estava errada.

Ele remove um braço de baixo da colcha e me dá o tipo de sorriso que me derrete por dentro. Ugh, como ele sempre consegue parecer tão gostoso, até mesmo na primeira hora da manhã? Especialmente na primeira hora da manhã. Eu deveria pedir-lhe para sair agora, mas não posso arrancar meus olhos de seu olhar azul penetrante. Sem aviso, estou inundada mais uma vez por tudo o que sinto por ele. Não consigo esconder isso. É muito mais do que eu nunca pensei que sentiria por qualquer pessoa e isso ameaça me dominar. Não consigo entender por que esses sentimentos não estão explodindo de todos os poros do meu corpo e banhando a sala com calor, alegria e vertigem.

— Violet, — diz Ryn calmamente, sua expressão mudando para uma que eu não consigo ler. Seus olhos procuram meu rosto quando ele se aproxima um pouco mais de mim. Meu coração começa a saltar de forma errática. — Eu preciso dizer...

— VioletVioletVioletVioletViolet.

Eu pulo de susto e olho em volta. Colidindo pelo chão do quarto está meu pequeno espelho roxo. Ele fica no chão embaixo de mim, gritando meu nome e pulando para cima e para baixo sobre as pernas tão pequenas que não tem nenhuma esperança de subir na cama.

— Que merda é essa? — Diz Ryn.

Abaixo e agarro o espelho; O rosto de Tora é visível na superfície brilhante. Eu toco no vidro. — Bom dia, bela adormecida, — diz ela. — Eu acordei você?

— Hum, mais ou menos. — Não exatamente.

Tora empurra o cabelo da testa. — Eu convenci Raven a ir correr comigo cedo de manhã em Creepy Hollow. Ela mal pode falar agora, então pensei que deveria checar você no lugar dela.

De algum lugar atrás de Tora, Raven diz, — Apenas... recuperando... o fôlego.

Ao lado de mim, Ryn cai de volta no travesseiro. — Merda, essa coisa quase me deu um ataque cardíaco.

Tora me dá um olhar curioso. — Foi Ryn que acabei de ouvir?

— Não. — Inclino o espelho para longe de Ryn para ter certeza de que ele não pode ser visto.

Raven com seu rosto suado e suas bochechas coradas, enfia a cabeça sobre o ombro de Tora. — O que Ryn está fazendo no seu quarto, de manhã cedo?

— Não era ninguém, — digo enquanto empurro Ryn para a borda da cama com o pé. — E eu pensei que você deveria estar recuperando o fôlego.

— Recuperei.

— Eu odeio ter que ser a figura parental aqui, — diz Tora, — mas não acho apropriado que você e Ryn compartilhem a cama.

Ryn bufa. Eu dou um chute nele. Raven se afasta e olha para Tora. — Certo, como se você realmente tivesse moral para falar disso.

Um momento estranho passa antes de eu dizer, — Do que você está falando, Raven?

— Oh, Tora não falou sobre o cara da Guilda de Londres? O cara com quem ela passou tanto tempo quando...

— Ok, isso realmente não é importante neste momento, Raven, — interrompe Tora. Mas é claro que é porque suas bochechas estão ficando coradas enquanto ela não olha para mim.

— Tora, você está falando sério? — Pergunto. — Você esteve saindo com um cara? Isso é ótimo. Eu não acho que eu já soube de você...

— Tudo bem, como eu já disse, realmente não é grande coisa, e não precisamos falar sobre isso agora. Eu só queria verificar e ver como você está na Corte Seelie, e obviamente você está bem, então Raven — ela olha para Raven antes de olhar para mim — e eu vamos embora agora. Ok? Divirta-se.

— Espere, queria te perguntar sobre...

— Tchau!

— a Guilda, — eu termino. Mas ela se foi. Sua imagem desaparece do espelho, e eu me vejo em vez disso, completa com cabelos e uma expressão confusa. O espelho dobra seus minúsculos braços sobre sua superfície de vidro e ainda está na minha palma. Bem, não tenho certeza sobre o que se tratava, mas Tora definitivamente fará um interrogatório quando eu chegar em casa.

— Então, — diz Ryn. — Um espelho que a persegue até você responder. E aqui eu pensando que a única tecnologia das fadas em que você estava interessada era um âmbar da Idade da Pedra.

Eu dou-lhe um olhar mordaz. — Foi um presente, Ryn.

Ele abre a boca para responder, mas uma batida na porta o silencia. — Senhorita Fairdale? — A pessoa que está fora da porta chama. Parece ser a empregada que leu minha agenda ontem. — Estou apenas verificando se você está acordada e pronta para o café da manhã.

— Oh, sim, obrigada, — grito de volta. Para Ryn, eu digo, — Apresse-se e saia daqui. Vamos nos atrasar.

— Você precisa de ajuda, senhorita Fairdale? — A maçaneta da porta se move.

— Não, não, estou bem, obrigada, — grito apressadamente. Eu duvido que a Corte Seelie aprove Ryn estar na minha cama mais do que Tora aprova.


CONTINUA

Capítulo 11

 

 

No meu sonho, estou em um parque lutando contra um goblin. É a mesma tarefa que fiz há algumas semanas, mas o tempo está diferente. Um relâmpago divide o céu em pedaços irregulares, e um trovão ensurdecedor faz com que o chão estremeça. O vento chicoteia mechas de cabelo em meu rosto quando corto o goblin com minha espada. Uma trilha de faíscas segue a lâmina. Eu sei que eu deveria matá-lo com a espada - lembro-me disso, mas por algum motivo, eu decido fazer algo diferente agora.

Eu solto a espada e ela desaparece. As chamas começam a dançar e a tremer em minhas palmas abertas. Elas não deveriam me queimar, porque são minhas chamas, mas elas queimam. Eu corro em direção ao goblin, gritando com raiva e por causa da dor em minhas mãos. Enrolo meus dedos ardentes em volta do pescoço do goblin. Ele é forte e deve poder lutar contra mim, mas os sonhos não funcionam do mesmo jeito que a realidade, e, em vez disso, eu o encontro se debatendo sob meu controle. Eu consigo forçá-lo para o chão, minhas mãos nunca deixando o seu pescoço até que ele fica quieto.

Eu dou um passo para trás, as chamas ainda queimando nas minhas palmas, e de repente o goblin não é mais um goblin. Agora, Nate está deitado aos meus pés, seus olhos sem vida olhando fixamente para o céu tempestuoso. Mas não é mais um céu tempestuoso. É um túnel. O túnel onde eu matei Nate. Não, não Nate. Eu matei o metamorfo que assumiu a forma de Nate. Então, quem está deitado aos meus pés agora? Acabei de matar o verdadeiro Nate?

Não, não, não! O que eu fiz? Eu puxo meu cabelo com angústia. As chamas estão sobre mim agora, queimando mais e mais brilhante, e machucando tanto que mal posso...

Eu acordo com um sobressalto, minhas mãos ardendo tanto na realidade como estavam no meu sonho.

— Ei, você está bem? — Ryn se aproxima de mim e pega meu braço. Seus dedos estão frios contra minha pele.

— Apenas um sonho... — Eu digo, sentando e olhando minhas mãos. A luz cinzenta do amanhecer revela a ausência de chamas, mas a queimadura é definitivamente real. — Minhas mãos. Eu posso senti-las queimando. Veja o quão vermelho está à pele...

— Acalme-se, — diz Ryn, mas ele se apressa a abrir a bolsa e pegar o kit de primeiros socorros. — Agora, qual eu usei na noite passada?

— Cara, essa falta da magia de cura realmente não é legal.

— Aqui. — Ryn pega uma das minhas mãos e aperta rapidamente o gel sobre ela. O alívio que sinto é imediato. — Melhor? — Ele pergunta.

— Eu ainda posso sentir alguma dor, mas definitivamente está muito melhor.

— Vê? O material humano funciona em você. — Ele espalha uma camada grossa de gel sobre minhas mãos e pulsos enquanto eu pisco algumas vezes na tentativa de acordar minha cabeça tonta. Não estou acostumada a sentir este cansaço; A magia dentro de mim geralmente reabastece minha energia muito rapidamente. Ryn se move para a minha outra mão. — Você os vê em seus sonhos? — Ele pergunta calmamente.

— Quem? — Eu ecoo.

— Os que você matou. De suas tarefas passadas.

Oh. Eles. Não quero responder. Nunca gostei de falar sobre as criaturas que tive que matar, apesar do fato de Tora me forçar a uma sessão de aconselhamento sempre que isso acontece. Eu prefiro colocar todos os meus sentimentos na caixa de Coisas Que Eu Não Quero Pensar na minha cabeça e deixá-las lá.

— Eu penso, — diz Ryn. — Não sempre, mas de vez em quando.

Depois de um momento, eu digo, — Eu também. — Ele está fazendo um esforço para ser sincero comigo sobre alguma coisa, então eu acho que eu deveria corresponder. — Eu tento não pensar, mas eles geralmente aparecem em meus sonhos.

— Sim, é uma droga, — diz ele. Ele coloca a tampa de volta no tubo. — Espero que suas mãos comecem a curar em breve porque não há muito disso.

Parece que nossa conversa sobre matar coisas acabou. Obrigado Senhor.

Ryn tira o livro como mapa e localiza a estrada em que estamos. Bem, um de nós estava prestando atenção aos nomes das ruas em vez de apenas vomitar sobre elas. Eu deixo minhas tendências maníacas por controle e deixo Ryn descobrir o caminho de casa enquanto eu repouso minha cabeça sobre os meus joelhos. É um novo sentimento, confiar em alguém para fazer algo que me afeta diretamente, mas agora eu gosto disso.

— Tudo bem, parece que deve demorar cerca de dois dias para chegar ao ponto em que esse reino encontra o reino das fadas, — diz Ryn depois de examinar algumas páginas.

— Então, é quarta-feira de manhã, o que significa... Vamos chegar lá amanhã à noite. Ótimo, isso é antes do tempo final.

— E então teremos que atravessar a floresta para a Guilda.

— Ok, mas ainda devemos alcançar a Guilda antes do final da tarde de sexta-feira, certo?

— Sim, se você não nos atrasar, — diz Ryn com uma piscadela. Ele arruma o cobertor e o kit de primeiros socorros enquanto eu permaneço inutilmente com as mãos pegajosas e cobertas com o gel. — Próxima coisa, eu vou ter que alimentá-la porque você não pode segurar sua própria barra energética, — ele diz.

— Não vai acontecer. Prefiro ficar com fome até que este material em gel esteja seco.

***

Nós andamos. Ao longo das ruas, através dos parques, e depois dos centros comerciais. Eu me sinto horrivelmente vulnerável, não só porque estou com os pés descalços e vestindo pouco mais do que um vestido rasgado, mas porque, sem minha magia, não tenho glamour para me esconder do mundo humano. Eu me pergunto o que as pessoas devem pensar de nós enquanto dirigem seus carros. Eles provavelmente dão uma olhada no sangue manchado na camisa de Ryn e pisam em seus aceleradores.

Nós comemos as barras energéticas no café da manhã e almoço - aquela com o chocolate escuro ao redor do lado de fora é definitivamente a minha favorita - e continuamos caminhando após escurecer para compensar meu ritmo lento. Eu quero me forçar a continuar caminhando a noite toda, mas quando chegamos em um bairro tranquilo, Ryn decide que devemos parar. Depois de ter uma briga com um cachorro no primeiro jardim que tentamos entrar, encontramos uma propriedade livre de animais de estimação.

— Como você está se sentindo? — Ryn pergunta enquanto nos sentamos atrás de um galpão de ferramentas pequeno.

— Cansada, dolorida, com fome e muito brava com a pessoa que melhorou essas faixas que bloqueiam magia. A última vez que eu tive uma, consegui forçar alguma magia. Foi incrivelmente doloroso, mas funcionou. Agora isso já não é possível.

— Oh, eu não pensei em tentar isso. — Ryn senta-se mais ereto. — Talvez...

— Não. — Eu balanço minha cabeça cansada. — Quando estávamos em seu calabouço, Zell me disse que ele melhorou as faixam para que elas agora bloqueiem completamente a magia.

— E você acreditou nele? — Ryn olha para o braço, sua expressão se torna intensa. A pele ao redor de sua faixa de metal fica vermelha e inflamada, e eu juro que posso ouvir chiar.

— Pare! — Eu pego seu braço com a minha ainda macia, mas não tão queimada mão. — Não seja um idiota, você está se machucando.

— Merda, isso foi bastante doloroso, — diz Ryn, soando um pouco sem fôlego. — Por que você não me impediu mais cedo?

Fecho meus olhos e balanço minha cabeça antes de me inclinar para trás. — Eu não tenho energia para discutir com você.

— Nesse caso, você precisa de outra barra energética. — Parecendo esquecer sua dor, Ryn alcança a bolsa e a abre. — Então você estará pronta para discutir a noite toda.

Eu gemo. — Outra barra energética? Essa é a única comida que você conseguiu encontrar naquela cozinha?

— Havia uma caixa deles no balcão. Eu apenas peguei quantos eu pude. Se você preferir não comer nada, isso definitivamente poderia ser arranjado.

Eu mostro minha língua para ele. Sim, minha língua. Porque é o quanto eu me importo em ser madura agora.

Ryn tira duas barras da bolsa. — Tudo bem, você quer a de nozes ou a de chocolate?

Apesar do fato de que obviamente quero a de chocolate, eu digo, — Não me importo. Tanto faz.

— Apenas escolha, V.

— Não, não me importo. Sério. Eu gosto das duas.

— Aqui. Eu sei que você quer essa. — Ele me entrega a de chocolate com um sorriso.

— Você não sabe disso. — Mas eu pego a barra de sua mão estendida.

— Sim, eu sei. Eu conheço você muito melhor do que você pensa, V.

— Tanto faz. — Eu coloco minhas pernas debaixo de mim. — Você perdeu oito anos da minha vida e quer me dizer que me conhece?

Ryn puxa os joelhos para cima e coloca os cotovelos sobre eles. — Eu sei quando é seu aniversário. Eu sei que você deixa o Filigree dormir na sua cama quando está com frio. Eu sei que você odeia receber presentes roxos, e sei que você tem um hábito estranho de torcer o cabelo ao redor do dedo quando está nervosa.

Fico boquiaberta. — Como isso é um hábito estranho?

Ele encolhe os ombros. — Talvez porque não é algo que eu possa me imaginar fazendo.

— Porque você é um cara. Isso seria estranho. E como você sabe que eu ainda deixo Filigree dormir na minha cama?

— Você deixa? — Ele pergunta.

Eu estreito meus olhos para ele. — Bem. Bem, eu sei que você nunca namorou nenhuma garota da Guilda porque você acha que é muito bom para elas, e sei que você tem um ‘hábito estranho’. — Eu faço aspas no ar — pressionar sua mão contra seu peito de vez em quando como se você tivesse indigestão ou algo assim.

Ele parece assustado por um momento, depois vira o rosto para longe e não consigo mais ver a expressão dele.

— O que foi? Eu disse algo errado? Deveria ser um segredo que você se acha bom demais para qualquer menina em treinamento?

Ele volta seu olhar para mim como se nada de estranho tivesse acontecido. — De modo nenhum.

— Então, é verdade? Você realmente se acha bom demais para aquelas garotas?

Seus olhos não se movem dos meus. — Não exatamente. É mais como se estivesse tentando evitar confusão.

— Confusão?

— Sim. — Ele desembrulha sua barra energética. — Você tem alguma ideia de como são as meninas? Muito emocional, o tempo todo.

— Uh, eu na verdade sou uma menina, Ryn. E não, eu realmente não sabia disso.

Ele termina de mastigar e diz, — Bem, é porque você não é como as outras garotas.

Não é como as outras garotas? Um silêncio embaraçoso cresce entre nós. — Uau, obrigado, Ryn. A próxima coisa que você vai me dizer é que eu sou como um garoto.

Ele suspira. — Eu não quis dizer isso como...

— Tanto faz. — Levanto uma mão. — Eu não estou ofendida, confie em mim. Eu já ouvi coisa muito pior de você no passado.

Ele sorri. — Você vê o que quero dizer? Você não exagera demais nas coisas. Na verdade, você provavelmente é mais como um garoto do que um...

— Tudo bem, você deve parar de falar agora antes de realmente se complicar.

Ele termina sua barra energética e então diz, — Não é como se eu tivesse zero relacionamento, no entanto. Subterrâneos são muito legais. Eu conheço alguns deles bastante bem, e acredite ou não, nem todos eles querem nos matar.

— Subterrâneos? — Ele concorda. — Como... não-faeries que ficam na parte super perigosa de Creepy Hollow conhecida como Subterrâneo?

— Esse mesmo lugar. Havia uma garota realmente gostosa - bem, mulher, na verdade - que tinha lindas escamas verdes em seus braços e uma língua de serpente. Cara, a língua era espantosamente maravi...

— OK, obrigada, — eu interrompo alto. — Eu não sei se você está fazendo isso para me assustar ou se você realmente saiu com uma mulher cobra, mas de qualquer forma, eu não preciso saber.

Com um sorriso que eu não consigo decifrar, Ryn se deita na grama. — Já que estamos no assunto de relacionamentos...

Ah, não. Por favor, não torne essa conversa sobre mim.

— O garoto halfling é o único namorado que você já teve, certo?

Nate.

É a primeira vez que pensei nele o dia todo. Isso deve ser um recorde. — Sim, por quê?

— Você nunca namorou um faerie?

— Não. — Eu começo a me sentir desconfortável. — E daí?

— Você nunca beijou um faerie?

— Não acho que seja da sua conta, Oryn.

Ele ergue a cabeça e olha para mim. Seus olhos brilham com alegria. — Como eu disse antes, você está perdendo.

Antes? Do que ele está falando? Ele não oferece nenhuma explicação, e não vou pedir a ele; eu prefiro que essa conversa termine agora.

— Talvez você deva dar outra chance.

Ou talvez eu devesse ter mudado de assunto quando tive a chance.

— Tem que haver um faerie lá fora, que apreciará sua combinação única de habilidade de guardiã, natureza competitiva e atitude teimosa.

— Mesmo que haja, não vai acontecer.

— Qual é, você nunca saberá o que está perdendo se não mergulhar seu dedo do pé da lagoa do namoro.

Lagoa do namoro? Conte com Ryn para encontrar uma analogia idiota assim. — Eu tentei, lembra? Depois de anos longe da ‘lagoa’, mergulhei meu dedo e quase afundei toda minha perna por um peixe atraente que acabou por ser uma serpente do mar disfarçada.

Ryn ri. — Tenho certeza de que aparecerá um cara que vai impressionar você.

— Bem, terá que ser um golpe seriamente impressionante para me convencer de que ele vale a pena.

— Como o quê? Morrer por você? Porque isso acabaria rapidamente com o relacionamento.

— Não, Ryn, não como morrer por mim. — Quando eu não continuo, ele olha para mim com as sobrancelhas arqueadas, como se estivesse esperando por uma resposta. — Jeez, eu não sei, Ryn. Como um gazilhão de insetos brilhantes iluminando o céu noturno com suas pequenas pontas incandescentes ou algo assim.

— Pontas incandescentes? — Ryn explode de rir. — Quando eu encontrar uma garota que seja digna de acrobacias impressionantes, será mais como um passeio em um tapete mágico para assistir o pôr do sol do que um monte de pequenos insetos brilhantes no ar.

— Sim, bem, talvez seja uma coisa minha. — Ou não. Não tenho ideia de onde veio o comentário de ‘pontas incandescentes’. Embora possa ser realmente bonito agora que eu penso nisso. — E tapetes mágicos não existem, — acrescento.

Ryn inclina a cabeça para olhar para o céu. — É por isso que será tão impressionante.

***

Minhas mãos não parecem ruins no dia seguinte, o que abre espaço para a dor no meu braço. Ryn mudou o curativo e a atadura antes de dormirmos ontem à noite e a ferida não parecia boa. Ainda não me incomoda muito. Voltarei à Guilda amanhã, e depois que a faixa de metal for removida, meu braço vai curar rapidamente.

Caminhamos ainda mais devagar do que ontem e, quando a lua cresce no céu e estamos cansados e doloridos demais para continuar, ainda não alcançamos o ponto de cruzamento para o reino das fadas.

— Se continuarmos no mesmo ritmo, levará pelo menos mais quatro horas, — diz Ryn enquanto examina o mapa.

— Ok. — Eu me levanto. — Vamos. Nós podemos fazer isso.

— Não seja boba. — Ryn fecha o livro e coloca a bolsa no chão. — Nós podemos fazer pela manhã.

— Não. A manhã é para atravessarmos a floresta para a Guilda. Você se esqueceu dessa parte?

— V, você vai cair em breve, o que significa que eu vou ter que carregá-la, e apesar de quão forte e musculoso pareço, não estou exatamente me sentindo assim no momento. — Ele me puxa para baixo para a grama, e eu percebo que estou cansada demais para me levantar de volta.

***

A manhã de sexta-feira chega, e estou desesperada. Cada passo que damos, eu posso imaginar o relógio acelerando. Todos os outros provavelmente já estão de volta, e aqui estamos nós, os dois melhores formandos da nossa classe, incapazes de usar nossa própria magia.

Ao redor de meio dia, as casas começam a se separar. Quando finalmente chegamos em uma área florestada e Ryn diz, — É isso, — eu poderia chorar de felicidade. Com força renovada, nos apressamos através das árvores.

— Se os humanos andassem por aqui, — eu digo, — eles simplesmente continuariam até chegarem ao outro lado, certo?

— Sim. Apenas faeries podem cruzar para o outro reino enquanto estão nesta floresta.

Parte de mim se pergunta se eu poderei dizer quando não estaremos mais no domínio humano, mas no momento em que acontece, eu sei. Não apenas porque sente e parece diferente, mas por causa do aguaceiro súbito em que nos encontramos.

Estamos em casa.

Finalmente.

E a tempestade mágica que começou há uma semana ainda destrói.


Capítulo 12

 

 

— Você deve estar brincando comigo, — eu grito acima do rugido da chuva. Um relâmpago em forma de garfo rasga o céu e atinge a árvore do nosso lado. Com um estrondo e um gemido, um enorme ramo cai no chão. Nós mergulhamos para fora do caminho, batendo no chão e deslizando pela lama. Sento-me e limpo a sujeira marrom do meu rosto.

Fan-tás-ti-co.

— Nós não podemos atravessar com isso, — Ryn grita para mim.

— Temos que conser. De que outra forma vamos voltar?

— Vamos esperar um pouco. — Ele me põe de pé e me guia alguns passos para trás. Um segundo depois, estamos de pé na floresta tranquila do reino humano, sem nada perturbando a paz, exceto por alguns pássaros chilreantes.

Eu coloco minhas mãos sobre o meu rosto. — Por que isso está acontecendo?

— As coisas poderiam ser piores, V. — Eu ouço Ryn sentar. — Nós poderíamos estar mortos, sabe. Quantas outras pessoas lutaram contra a Rainha Unseelie e viveram para se gabar disso?

— Eu não me importo, — eu gemo.

— Pare de ser um bebê e sente-se. Vamos esperar meia hora para ver se o tempo está bom.

Eu me jogo no chão e começo a limpar a lama e gosma do meu vestido. — Eu não consigo acreditar nisso. Devíamos ter voltado para a Guilda há dias! E aqui estamos, dormindo na sujeira, deslizando pela lama e cheirando a merda.

Ryn dá um riso abafado. — Oh, baby, adoro quando você fala sujo.

Eu empurro um punhado de folhas enlameadas na sua boca rindo. — Aí. — Eu sorrio docemente. — Agora você também pode falar sujo.

Ele cuspiu e balbuciou. — Ok — ele limpa mais algumas folhas de sua língua — você sabe que eu vou ter que descontar isso em algum momento, certo?

— Eu não entendo por que você não está chateado com isso. — Eu atiro minhas mãos para cima. — Você é tão competitivo quanto eu. Não te incomoda estarmos prestes a perder muitos pontos?

— Violet. Você e eu estamos tão à frente de todos os outros no ranking que, mesmo se conseguíssemos um grande zero nessa tarefa, o que não acontecerá, ainda assim será você ou eu nos formando no topo da turma.

Eu tiro os cabelos molhados do meu rosto e me inclino contra uma árvore com um suspiro. Eu acho que Ryn está certo. Nós dois lutamos pela primeira posição desde que começamos a treinar; ninguém mais realmente teve uma chance. No entanto, o pensamento não me faz sentir muito melhor. Eu não quero saber se será um de nós dois. Quero saber que será eu.

— Por que você quer tanto? — Ryn pergunta, me observando de perto.

Eu balanço minha cabeça. Nunca contei minha razão a ninguém, e não vou contar agora.

— Se eu adivinhar corretamente, você vai me dizer?

Eu movo minha cabeça para que eu possa vê-lo. — Você nunca adivinharia.

Com um sorriso, ele diz, — Desafio aceito. Ok, vamos ver. Não pode ser algo tão simples como dinheiro. Eu sei que seus pais deixaram você bem abastecida. — Ele me observa de perto; eu mantenho minha expressão neutra. — Certo. Então, é porque a única coisa que você sempre quis na vida é ver seu nome escrito no Salão de Honra? — Ele hesita. Se ele está esperando uma sugestão de mim, não vai acontecer. — Não, eu acho que não, — ele continua. — E não pode ser a visita a Corte Seelie porque duvido que você quer conhecer a... — Ele se afasta e inclina a cabeça para o lado. — Não, espere, é isso. Você quer ir a Corte Seelie.

Eu sinto certa inquietação mexendo dentro de mim, mas mantenho minha voz plana quando eu digo, — E como você percebeu isso? Eu pisquei do jeito errado?

— Isso é interessante, — diz Ryn, ignorando minha pergunta. — Eu sempre assumi que teria mais a ver com sua mãe do que qualquer outra - Aha! — Ele aponta para mim. — É isso! Isso é algo a ver com sua mãe e a Corte Seelie.

A menos que ele possa ouvir a batida instável do meu coração de onde ele está sentado, o que eu sei que ele não pode, ele nunca deveria ter conseguido descobrir isso. Minha expressão permanece neutra enquanto eu olho para ele por vários momentos, tentando pensar em outra história. Mas ele parece tão seguro de si mesmo que sei que ele nunca vai acreditar em uma mentira. — Como você adivinhou? — Eu pergunto eventualmente.

— Eu sou muito bom em ler pessoas. Isso é algo que você pode não saber sobre mim, V.

Pressiono meus lábios juntos e olho para o chão. Espero que ele não consiga saber o quanto me perturba que ele descobriu meu segredo. Quem teria pensado que ele era tão bom em adivinhar?

— Então você vai me contar o resto dos detalhes, ou simplesmente me deixar esperando?

Pela primeira vez, considero por que nunca disse a ninguém. Porque não é da conta de mais ninguém, é claro, mas acho que temo que outras pessoas pensem que é bobo. E várias semanas atrás, Ryn teria sido a última pessoa na terra com quem eu teria compartilhado esse segredo, mas eu conheço o outro lado dele agora. Eu vi seus medos, testemunhei sua tristeza. Algo me diz que se alguém vai entender por que isso é tão importante para mim, Ryn irá.

— Tudo bem, — eu digo. — Mas se você rir de mim, juro que vou fazer você sentir tanta dor que você nunca mais irá querer rir novamente.

— Tudo bem, — ele diz devagar. — Você é um pouco assustadora às vezes, V. Não se preocupe, vou ter certeza de manter todo o riso guardado.

— Ok. — Eu dobro meus braços. — Então, não é segredo que eu gosto muito de ser a melhor formanda do nosso ano e gostaria de ser recompensada por isso, mas, como você adivinhou, há outro motivo que torna isso ainda mais importante para mim. — Eu respiro fundo. — Aparentemente, quando nossos pais estavam treinando na Guilda, todos queriam visitar a Corte Seelie. Essa era, tipo, a coisa mais legal sobre ser a formanda principal. E minha mãe... Bem, eu acho que ela era uma pessoa impressionante e divertida, e quando se formou no topo de sua turma, ela queria tirar proveito de sua visita a Corte Seelie. Então, de acordo com meu pai, ela levou um monte de coisas dela com ela e as escondeu em algum lugar. Ela pensou que seria divertido se alguém nos anos futuros encontrasse suas coisas, e se ninguém as encontrasse, ainda seria divertido porque ela deixou sua marca lá, como os seres humanos que esculpem suas iniciais em árvores. — Paro para respirar.

— Como ela saberia se alguém achou suas coisas? — Pergunta Ryn.

— Bem, meu pai disse que ela deixou uma mensagem no espelho gravada lá, pedindo que seu livro favorito fosse devolvido à Guilda com uma mensagem para ela. Eu não ouvi falar disso, então estou assumindo que seus pertences ainda estão escondidos. Apenas pense nisso, Ryn. Eu podia vê-la no espelho, falando comigo! E eu poderia finalmente ter algo dela! Sua primeira joia, uma história que ela escreveu na escola secundária, a vela que ela queimou no seu décimo oitavo aniversário - qualquer outra coisa que ela deixou lá. Se eu pudesse encontrar todas essas coisas, então eu finalmente saberia algo sobre ela. Quero dizer, em casa há roupas e livros, mas o que isso me diz? Além do fato de que ela adora ler poesia, mal conheço qualquer coisa. E eu quero conhecê-la. Quero saber como ela era quando tinha a minha idade. Eu quero sentir algum tipo de conexão com essa pessoa com a qual não tenho lembranças.

Quando finalmente paro de falar, Ryn apenas olha para mim. O que ele está pensando? Ele está pensando em algo? Por tudo o que sei, ficou aborrecido e dormiu enquanto eu falava. Ou talvez ele esteja mordendo a língua para segurar seu riso.

De repente, me arrependo de contar. — Você acha que é bobo. Eu sei, são apenas coisas, certo? Como é que isso deveria me fazer sentir...

Ele se inclina para frente e pega minha mão. — Não é bobo, V.

Espero que ele diga mais alguma coisa, mas ele não fala. Ele também não desvia o olhar. Ou solta minha mão. Minha pele ainda está bastante sensível da queimadura da videira, de modo que seu aperto dobra as dores. Mas também é uma maneira sensacional de pele formigando, coração-disparado, cabeça-disparada.

Insana. Isso é o que eu sou. Definitivamente insana.

Eu puxo suavemente minha mão e pego a jaqueta de Ryn. Estou começando a ficar com frio. — Bem, de qualquer maneira, essa é minha triste história. Agora é a sua vez. — Eu cruzo meus braços, tendo cuidado para não bater na ferida realmente dolorosa escondida debaixo da atadura. — Você tem que me dizer algo pessoal, algo anteriormente fora dos limites.

Ryn junta os dedos e parece pensativo. — Ok, lembra quando tivemos um dos nossos principais confrontos recentemente sobre Reed, e você gritou para eu ‘superar’?

— Uh, sim. — Eu me sinto culpada por isso agora; eu fui bastante malvada.

— Bem, eu estou tentando. — Ele olha para o chão. — Não é fácil com minha mãe ao redor. Ela está triste o tempo todo e eu sei que é porque ela sente falta dele. E há lembretes dele em toda a nossa casa. Como todas as coisas em seu quarto, e o alvo que ele criou no final da passagem.

— Sua mãe ficou muito brava quando ele fez isso, — eu digo, lembrando disso claramente. — Ela disse que era muito perigoso jogar facas dentro da casa.

— Mas Reed implorou para deixá-lo manter lá. Ele prometeu ter cuidado.

— E ninguém poderia dizer não a Reed.

— Não. — O sorriso de Ryn está triste. — E então há o fato de que meu pai não está por perto. Ele nos deixou porque ele e minha mãe simplesmente não conseguiam lidar com a morte de Reed. Eles deveriam estar sofrendo juntos, sabe, mas de alguma forma eles sempre acabaram brigando em vez disso. Então ele foi embora. E agora, sua ausência é um constante lembrete de que Reed também não está mais.

Um tremor atravessa o meu corpo, e eu aperto a jaqueta ainda mais ao meu redor. — Mas sua mãe não se importa de ter Calla ao redor?

Ryn balança a cabeça. — É estranho, eu sei. Eu pensei que ela teria um problema com isso, e na primeira vez que eu trouxe Calla, a minha mãe manteve distância. Mas desde então ela parece amá-la.

— Talvez seja porque Calla é uma criança tão adorável que sua mãe pode olhar além de sua ascendência.

— Provavelmente, — diz Ryn. Ele respira profundamente e olha ao redor. — Uh, devemos verificar a situação do clima em Creepy Hollow?

— Sim! — Eu pulo, horrorizada por ter conseguido esquecer a urgência de nossa situação. Minha cabeça gira e o mundo à minha volta parece mover. Quando consigo me endireitar, me encontro encostada a uma árvore com Ryn segurando meu braço livre da ferida.

— Levantar-se tão rápido claramente não é uma boa ideia para você, — diz ele.

— Eu estou... apenas... — Eu agito minha cabeça. — Um pouco tonta.

— É seu braço? — Ele se move para empurrar a jaqueta do meu ombro.

— Não. — Eu paro sua mão. — Nós dois sabemos que provavelmente está pior do que a última vez que verificamos, então vamos voltar para a Guilda o mais rápido que pudermos. Estarei bem depois que a faixa de metal for removida.

Ryn olha para onde minha mão está tocando a dele. — Sua pele está realmente quente, V. — Ele coloca a mão na minha testa. Eu tento agir como se não me incomodasse em tê-lo de pé tão perto e me tocando. Porque não. De modo nenhum. — Você está definitivamente queimando, — diz ele.

— Bem, é algo que nunca experimentei antes.

— Você está mais doente do que você pensa, V. Nós realmente precisamos nos mover.

— Obrigado, isso é realmente reconfortante, Ryn. — Eu passo por ele. — Não era eu que queria sentar e esperar o tempo melhorar, lembra? — Um trovão cumprimenta meus ouvidos quando cruzamos a divisão invisível entre os reinos. Meu cabelo, que acabou de começar a secar, fica encharcado em segundos. — Por que decidimos esperar de qualquer maneira? Não é como se a chuva fosse nos matar.

— Sim, mas as árvores caindo podem, — Ryn grita para mim. — Por isso esperamos.

— Bem, não podemos mais esperar. — Eu parto para a tempestade, então lembro de que nunca viajei por essa rota antes, e não tenho certeza de qual caminho seguir.

— Você gostaria que eu lhe mostrasse o caminho? — Ryn pergunta enquanto ele passa para mim, um olhar superior em seu rosto. Ele gosta demais quando encontra algo que não posso fazer. Eu o sigo sem uma palavra.

Andamos ao longo do chão do bosque encharcado, esquivando-se de galhos que caem ocasionalmente. Raios nos cegam e trovoes fazem a floresta toda estremecer. A metade inferior do meu vestido se agarra às minhas pernas. Eu afasto a chuva dos meus olhos e puxo o vestido para cima e para fora do caminho. Eu não deixarei um pedaço de tecido estúpido me atrasar.

Não demora muito para eu ficar exausta. Meu coração está batendo muito rápido, e eu não consigo parar de tremer. E mesmo que seja provavelmente apenas o vento, continuo pensando que posso ouvir alguém chamando meu nome. Meu pé prende debaixo de uma raiz, e antes que eu possa descobrir como me salvar de cair, desembarco na lama.

Tão embaraçoso. Eu não sou o tipo de pessoa que caí sobre as coisas! Eu deveria ser coordenada e ágil e - quem continua chamando meu nome? Eu me viro e olho para a floresta sombria. — Quem está aí?

Sinto a mão de alguém em meu braço, e eu olho para cima para ver Ryn. Esquisito. Eu esqueci que ele também estava aqui. Ele me levanta e coloco o meu braço em volta do pescoço dele. Ótimo, agora ele acha que preciso de ajuda para andar.

Violet.

Eu me esforço para olhar por cima do meu ombro. Definitivamente, alguém está me chamando. E é a forma de uma pessoa que posso ver se mover entre as árvores? — Espere, Ryn, alguém continua chamando meu nome. Você não pode ouvir?

— Apenas continue andando, V. Não há ninguém lá.

Não sei o porquê, mas eu o escuto em vez da voz. Provavelmente porque seu braço é tão forte ao redor de mim que eu não teria esperança de lutar livremente.

Nós continuamos nos movendo. Passo após passo após passo. Eu nunca estive tão cansada. Estou tão cansada, de fato, que estou sonhando enquanto ando. Eu sei que estou acordada e em movimento, mas minha mente está perdida em uma confusão de imagens confusas. Estou flutuando, deixando-os me levar como um rio. Pessoas, memórias, cores, pedaços misturados de conversas.

Da próxima vez que eu fico consciente do ambiente ao meu redor, estamos de pé na entrada da Guilda, e Ryn está se desculpando com o guarda por algo. — Desculpe, foi a única maneira que eu pude pensar para chamar sua atenção. Sem magia, lembra? — Ele empurra o pulso com o metal para frente como prova. — Se quiser ver meu pingente, aqui está. — Ele alcança seu pescoço e puxa uma corrente de baixo da camisa. — Mas como eu já lhe disse, Basil, ela não está usando a dela. E ela não pode conseguir para você, porque ela precisaria de magia para fazer isso, e ela atualmente não possui nenhuma. Agora deixe-nos entrar.

— Eu passei por isso antes com você, Ryn, — Basil diz com paciência. — Você conhece as regras. Ela não pode entrar aqui sem antes me mostrar o pingente. Se isso for impossível, então eu vou ter que enviar um guarda com...

— Não me importo se você tem que enviar uma centena de guardas comigo, essa garota está morrendo e preciso levá-la ao seu mentor agora!

Morrendo? Do que ele está falando?

As coisas ficam um pouco confusas. Eu acho que há mais gritos, e estou vagamente consciente de ser arrastada por uma escada. Quando Ryn abre um portal e vejo uma mulher com cabelos loiros e verdes sentada atrás de uma mesa, minha cabeça clareia um pouco.

— Aí estão vocês! — Exclama Tora. — Eu esperava que vocês tivessem voltado há anos. — Seu rosto vacila, e ela está de pé rapidamente. — O que aconteceu? Qual o problema?

— Nós conseguimos, Tora. — Eu digo fracamente. — Nós terminamos a tarefa. Lutamos com a Rainha Unseelie. Roubamos o colar. Chegamos em casa antes do tempo final. — Nós conseguimos? Não tenho certeza sobre isso. Enrolo meus dedos em volta do meu grosso colar, tentando e falhando em puxá-lo para que eu possa dar a Tora. Então, assim como todas as garotas bobas em todas as histórias de donzela em sofrimento que eu sempre desprezei, eu me encosto contra Ryn e desmaio.


PARTE II


Capítulo 13

 

 

Não sei porquê, mas espero ver o rosto de Ryn quando eu acordo. Ele não está lá, no entanto. Tora está. E esse é o quarto que costumava ser meu quando eu morava com ela.

— Bom dia, — diz ela, levantando os olhos de um conjunto de papéis em sua mão. Ela os coloca na mesa de cabeceira e se inclina para frente em sua cadeira. — Pronta para enfrentar o mundo de novo?

Eu olho para baixo e vejo uma cicatriz estreita cercando meu pulso onde estava a faixa de metal. Meu olhar se move para o topo do meu braço; A pele está perfeitamente curada. — Sim, acho que sim. Flint tirou a faixa?

— Sim. Não consegui encontrar mais quem soubesse, embora haja outros na Guilda que já conheceram este metal antes.

Eu me sento e tento passar minhas mãos pelo meu cabelo, mas a lama seca deixa os fios grudados e faz com que seja difícil. Pelo menos não estou usando o escasso vestido de festa rasgado. As roupas que eu estou vestindo são de Tora.

— Desculpe, pensei que seria um pouco difícil lavar seu cabelo enquanto você estava inconsciente, — diz Tora. — Você terá que cuidar disso.

— Certo. Hum, então voltamos a tempo, certo? Para a nossa tarefa, quero dizer.

— Sim. — Tora junta as mãos. — E Ryn fez o relatório verbal da volta com Bran e eu depois que Flint conseguiu tirar a faixas de vocês dois. Você deveria tecnicamente estar lá para isso, mas você não estava exatamente em estado para falar. Ou ficar de pé.

Eu fecho meus olhos e gemo, sentindo o calor subir nas minhas bochechas enquanto lembro do quão patéticas foram minhas últimas vinte e quatro horas. — Desculpe-me sobre a coisa de desmaiar. Tão constrangedor. Não vai acontecer novamente. — Eu coloco minhas pernas sobre o lado da cama e estico meus braços.

— Você tem certeza de que está bem? — Os olhos de Tora estão arregalados com preocupação.

— Sim, estou mais do que bem. Eu me sinto completamente bem. Eu sabia que Ryn estava exagerando quando chegamos à Guilda ontem.

— Exagerando?

— Sim, ele disse algo a Basil sobre eu estar morrendo.

— Bem, eu hesitei em te contar isso porque sei como você se sente sobre Ryn estar certo — ela me dá um olhar de que sabe das coisas, e eu finjo não ter ideia do que ela está falando — mas você estava realmente perto de morrer. Havia uma infecção em sua ferida que se espalhou rapidamente pelo sangue. Se você estivesse lá fora por conta própria, não acho que você teria voltado a Guilda a tempo.

— Oh. — Ótimo, então eu devo minha vida a Ryn de novo?

— E eu estava esperando que você voltasse dias atrás - quero dizer, não era exatamente uma tarefa complicada - então eu fiquei realmente preocupada quando chegamos sexta-feira à tarde e você ainda não tinha aparecido. Eu sei que não deveria entrar em contato com você, mas eu estava me preparando para quebrar essa regra. — Tora funga e limpa os olhos. — Você sabe que eu nunca gostei exatamente de Ryn, mas ficarei para sempre grata por ele ter te trazido aqui viva.

— Tudo bem, não fique chateada, Tora. Estou bem, vê? — Eu subo na cama, faço algumas estrelinhas, depois envolvo meus braços ao redor de seu pescoço.

Ela ri no meu cabelo enquanto dobra seus braços em volta de mim e aperta. — Você sempre será minha formanda favorita. Mesmo depois de ter orientado muitos outros formandos incríveis, você ainda será minha favorita.

— Bem, sua formanda favorita precisa ir e escrever um relatório incrível para que ela possa marcar muitos pontos e conseguir a posição de primeira na graduação que ela sempre quis. Ah, e o que aconteceu com a estranha tempestade magia? — Eu escuto com atenção e percebo uma ausência de trovão, chuva e vento uivante. — Finalmente acabou?

— Eu acho que sim. Esteve indo e vindo desde a última sexta-feira – é a tempestade mais longa que já presenciei – mas parece que finalmente está claro agora. Ainda não temos ideia de onde ou de quem veio, ou se está ligada ao assassinato na última noite de sexta-feira.

Talvez agora seja um bom momento para contar a Tora sobre Nate e como ele pode ser o responsável pela tempestade. Ou não. Eu preciso pensar corretamente sobre isso, planejar o que vou dizer.

— Oh, antes de esquecer, — diz Tora, — você tem uma reunião com a Conselheira Starkweather assim que estiver pronta.

— O quê? Estou com problemas?

— De modo nenhum. Ela está extremamente satisfeita com você e Ryn. Mas o item que você recuperou ainda está escondido dentro do seu colar. — Ela aponta para a joia robusta que está ao lado da minha stylus na mesa de cabeceira. — Você e Ryn precisam entregá-lo e responder todas as perguntas que ela possa ter para vocês dois.

— Oh, tudo bem. — Eu tinha esquecido o colar da eternidade e o resto dos meus pertences em miniatura. — Bem, é melhor eu chegar na Guilda imediatamente. — Pego o colar e a stylus e me dirijo para a porta.

— Espere, mais uma coisa. — Tora aponta para a outra porta que conduz para fora do quarto. — Banho. Agora.

*

Ryn já está esperando no escritório da Conselheira Starkweather quando eu chego lá.

— Oi.

— Oi.

Bem, isso não é estranho afinal. — Hum, obrigado por me ter trazido aqui ontem.

— Certo. As conversas que você teve com suas alucinações foram divertidas de ouvir.

Oh, diabos, eu estava falando o tempo todo que eu estava alucinando?

— Brincadeira, — ele diz, um lado de sua boca subindo. — Elas eram realmente muito chatas.

Fantástico, agora não tenho ideia se eu estava falando ou não.

— Vamos entrar? — Ryn pergunta.

— Sim. A menos que você gostaria de me envergonhar ainda mais?

Ele finge pensar sobre isso. — Talvez depois. — Ele ergue o punho e bate na porta. Depois de vários segundos de silêncio, nos pedem para entrar.

A Conselheira Starkweather, com os cabelos brancos e cinza, puxados apertadamente em um coque na parte de trás da sua cabeça, vem em direção à porta para nos cumprimentar. Eu sei que ela tem vários séculos de idade, mas, assim como todas as outras fadas adultas, seu rosto é perfeito e sem rugas.

Ela nos faz entrar, então aperta minha mão, seguida da de Ryn. — Eu gostaria de parabenizar vocês dois por uma tarefa bem-sucedida.

— Bem-sucedida? — Eu digo antes que eu possa me parar. — Pelo menos dois humanos morreram. Eu não chamaria exatamente de sucesso.

Ela arqueia uma sobrancelha. — Apenas dois humanos morreram, — ela corrige. — Nós enviamos guardiões lá ontem para avaliar a situação. Parece que ninguém testemunhou nenhuma atividade mágica, o que é muito afortunado. As autoridades humanas estão assumindo que o incêndio foi um acidente e o que causou a morte do Sr. Hart e seu filho.

— E o que eles acharam do porão cheio de objetos mágicos?

— Eles não encontraram nenhum objeto mágico. Estamos assumindo que alguém da Corte Unseelie os removeu. — Ela recua e se inclina contra a borda de sua mesa. Ryn e eu permanecemos em pé. — Não foi culpa de vocês que duas pessoas morreram. Ninguém sabia que a Rainha Unseelie apareceria. Os dois foram simplesmente convidados a descobrir o que estava acontecendo na casa do Hart e a trazer de volta o item que foi dado ao Sr. Hart na semana passada. Como vocês gerenciaram essas duas tarefas, espero que vocês recebam pontos altos por essa tarefa.

— Bem, isso é ótimo, mas não parece exatamente certo de ter muitos pontos quando duas pessoas morreram. — Ok, por que estou discutindo com a chefe do Conselho da Guilda?

— Violet, — diz Ryn calmamente. — Eu pensei que você queria muito isso.

— Eu quero, mas somente quando eu mereço.

— Você merece, — A Conselheira Starkweather diz. — Mas se você se sentir tão fortemente contra sobre isso, ficarei feliz em pedir que seus pontos sejam reduzidos.

— Isso não será necessário, — diz Ryn, colocando uma mão no meu braço e me mostrando um olhar que diz claramente, cale-se AGORA.

— Excelente. Então, tudo o que resta é vocês entregarem o item. Bran disse algo sobre um colar especial?

— Sim. — Eu percebo a Conselheiro Starkweather batendo seu sapato enquanto eu recupero o colar do meu bolso; Nós estamos obviamente ocupando muito do seu tempo. — Eles chamaram de colar da eternidade, e o Príncipe Unseelie disse que nunca mais o devolveria a sua mãe porque ela não merece ser imortal. Então estamos assumindo que ele concede imortalidade.

— Sim, eu ouvi falar disso, — a Conselheiro Starkweather diz, pegando-o com cuidado, quase com reverência. Ela o segura na luz, e o pingente em forma de lágrima de pedra branca brilha com um brilho perolado. — Ninguém sabe como foi feito ou quem foi seu criador, mas está na posse da Corte Unseelie há muitos séculos. — Ela coloca em sua mesa e olha para nós. — Devo enviar isso para a Rainha Seelie imediatamente; ela ficará satisfeita em tê-lo. Isso é tudo. Vocês podem sair agora.

Ok, isso foi abrupto. Ryn e eu viramos em direção à porta e, em uma demonstração pouca característica de um cavalheiro, ele a abre para mim. — Isso foi um pouco estranho, — eu sussurro depois que ele fecha a porta atrás de nós.

— Ela está mentindo, — ele diz calmamente.

— Sobre o quê? — Nós nos dirigimos pelo corredor e longe dos escritórios dos Conselheiros.

— Não tenho certeza exatamente, mas ela não estava sendo verdadeira. Se eu tivesse que adivinhar, eu diria que ela não está planejando dar esse colar à Rainha Seelie.

— Ryn, você não pode saber se ela estava mentindo ou não.

— Sim, eu posso. Sou bom em ler pessoas, lembra? E você também pegou uma vibração estranha dela.

— Sim, mas não sei o que significa essa vibração. E o que você pode fazer sobre isso? — Nós alcançamos a escada principal e começamos a descer. — Agora está fora de nossas mãos, então precisamos confiar que ela fará tudo o que ela deveria fazer com isso.

*

Filigree está na sua fase de porco em miniatura. Ele também conseguiu comer quase todos os potes de nixles assados na cozinha. Somente os potes de insetos verdes permaneceram; Eles são claramente a sua cor menos favorita. E claro, eu vou ter que ir às compras neste fim de semana.

Eu me inclino para trás na cadeira da cozinha e olho as notas que fiz até agora. Eu acaricio Filigree distraidamente - em forma de gato, enrolado no meu colo – atrás das orelhas enquanto eu tento lembrar de tudo o que aconteceu durante nossa tarefa. Eu provavelmente deveria verificar alguns detalhes com Ryn antes de escrever toda a coisa na íntegra.

Filigree se estica e salta para fora do meu colo graciosamente. Aproveito a minha liberdade para me dirigir a um dos armários e pego uma colher de chá e um frasco chamado de Chocolate e LadyFair Blossom Sauce. Deveria ser servido como sobremesa, mas eu prefiro comer diretamente do pote. Eu sento, mergulho a colher no pote e lambo a doçura do chocolate dela. Isso acontece várias vezes enquanto eu releio minhas anotações novamente e marco todos os lugares onde preciso verificar os fatos com Ryn.

Quando eu começo a me sentir cansada, eu coloco a tampa de volta, junto meus papéis e subo as escadas para encontrar minhas botas. Depois de passar vários dias com os pés descalços em um vestido rasgado, estou gostando de usar calças e botas de novo. E tops, obviamente. Ao contrário de Ryn, eu prefiro não caminhar de topless. Antes de abrir um portal para os caminhos das fadas, olho rapidamente a minha aparência no espelho no meu quarto. Então eu balanço minha cabeça e me viro. Quem se importa como eu pareço? É apenas Ryn que vou ver.

Com uma pequena bolsa pendurada no meu ombro, eu me apresso para os caminhos e saio na frente da árvore de Ryn. Eu bato e depois aguardo alguns minutos.

Eu bato novamente.

Estou prestes a retirar o meu âmbar para perguntar onde ele está quando a casca se abre. Zinnia está na porta aberta, os olhos pesados e a pele enrugada.

— Oh, sinto muito, — digo. — Eu acordei você? — Ainda é cedo, mas os guardiões mantém horários estranhos as vezes.

— Não, não se preocupe, eu estaria acordando de qualquer jeito. — Zinnia sorri enquanto ela dobra seus braços sobre o peito. — Eu acho que você está procurando Ryn?

— Sim, ele está aqui?

— Receio que não, e não sei onde ele está ou quando voltará.

— Oh, tudo bem. — Eu dou um passo atrás. — Bem, obrigada de qualquer maneira.

— Espere, Vi. — Ela coloca alguns cachos atrás de sua orelha. — Estou realmente preocupada com ele. Chegou em casa esta tarde, com o cabelo todo desalinhado, uma contusão no queixo e um lábio sangrando. E é domingo, então ele não teve treinamento ou tarefas. Ele diz que tudo está bem, é claro, mas ainda estou preocupada.

— Oh. — Lembro do olho ferido de Ryn no início desta semana. Provavelmente não deveria contar a Zinnia sobre isso; Isso só aumentará sua ansiedade. — Bem, eu vou perguntar a ele sobre isso. Talvez ele me conte.

Ela acena com a cabeça e sorri, então passa sua mão pelo espaço entre nós para fechar a porta. Fecho os olhos, respiro profundamente e faço algo que não faço há anos: procuro Ryn.


Capítulo 14

 

 

No começo, não tenho certeza se vai funcionar - não estou segurando nada que pertença a Ryn - mas eu o encontro facilmente. Eu acho que faça sentido. Nós passamos muito tempo juntos recentemente, então já existe algum tipo de conexão entre nós. O que me surpreende é a localização dele; Eu pensei que era a única que ia lá hoje em dia.

Saio dos caminhos das fadas em um grande galho. Cores torcem e se arrastam preguiçosamente debaixo da casca, iluminando ligeiramente cada vez que dou um passo. Uma criatura noturna – semelhante a um gato, com impetuosas asas laranjas – mostra seus dentes para mim antes de se afastar. Eu caminho com cuidado ao longo do galho, andando ao redor dos insetos brilhantes. Eu escalo outro galho, e depois outro. Estou perto do dossel agora, e posso ver claramente o céu através das folhas dos galhos mais altos. Estrelas dispersas cintilam entre nuvens iluminadas com cores noturnas: azul claro, roxo e cinza.

É lindo.

E é bom estar em casa.

— Eu estava pensando se você iria me encontrar aqui, — diz uma voz nas proximidades.

Eu pulo levemente no vazio criado onde os braços gigantes da gargan se encontram. — Desculpe interromper seu tempo sozinho. Eu preciso verificar algumas coisas sobre nossa tarefa.

Ryn olha para mim. — Violet Fairdale está pedindo minha ajuda?

Coloco minhas mãos nos meus quadris. — Eu não iria tão longe dizendo isso.

Ele dá uma tapinha no espaço vazio no cobertor ao lado dele, o que, penso, significa que ele está me convidando para sentar. — Acontece, — diz ele, — que eu também deveria terminar meu relatório agora.

— Perfeito. — Eu me sento em frente dele e cruzo minhas pernas. Eu retiro minhas notas e alguns papéis em branco da minha bolsa, enquanto Ryn faz o mesmo de uma bolsa que estava descansando atrás dele.

— Você trouxe uma mesa para trabalhar? — Ele pergunta.

— Bem, não. Pensei que estava a caminho da sua casa, não para uma árvore.

Ele remove um pequeno bloco de madeira de sua bolsa e a coloca no cobertor entre nós. — Bom, um de nós veio preparado. — Ele escreve algo no bloco com a stylus, depois puxa o braço para trás quando o bloco se transforma rapidamente em uma mesa baixa. É legal demais, eu acho, mas minha atenção é capturada pela cicatriz que acabei de notar ao redor de seu pulso. Uma cicatriz que coincide com a minha.

— Você deveria ficar impressionada com a mesa, V, e não com meu braço, — ele diz, observando meu olhar. — Embora — ele flexiona seus músculos, — é um braço impressionante.

— Eu estava olhando sua cicatriz, idiota.

— Oh. Sim. — Ele segura o braço e examina a estreita tira de pele que é um pouco mais pálida do que o resto do braço. — Esquisito, não é. Eu pensei que era impossível que ficássemos com cicatriz, mas Flint disse que há algo estranho no metal do qual as faixas são feitas.

— Sim. — Eu continuo olhando por alguns instantes, depois pisquei e olho para minhas páginas. — De qualquer forma, eu não sabia que você ainda vinha aqui.

— Às vezes, — diz ele. — Eu evitei por alguns anos após a morte de Reed, mas não mais.

— Eu trouxe Nate aqui, — eu digo antes de parar para pensar se é uma boa ideia compartilhar esse pouco de informação com Ryn.

— O quê? — Sua voz é baixa, mas seus olhos estão estreitados e suas sobrancelhas se juntam com raiva. — Você trouxe aquele halfling traiçoeiro até aqui?

Por que você não consegue manter sua boca fechada, Violet? — Eu não sabia que ele era um halfling, ou que ele ia me trair.

— Então você trouxe um humano aleatório aqui?

Olho para baixo, não mais capaz de encará-lo. — Olha, este lugar é realmente especial para mim, e na época eu queria compartilhá-lo com...

— É especial para mim também, V, e eu não quero saber que você trouxe algum cara aleatório aqui para fazer – seja lá o que for. Este é o nosso lugar, de ninguém mais. Você acha que eu trouxe alguns dos meus namoricos do Subterrâneo aqui? Não. Porque tenho mais respeito por esse lugar do que isso.

— Me desculpe, tudo bem! — Eu bato meu punho na mesa quando a raiva, a culpa e o arrependimento surgem dentro de mim. Eu espalho minha mão aberta enquanto eu dou um profundo e calmante respiro. — Se isso te faz sentir melhor, gostaria de nunca ter compartilhado este lugar com ele. E para sua informação, não aconteceu seja lá o que for. — Minhas bochechas queimam com o pensamento. Não tenho certeza do que Ryn quis dizer com ‘seja lá o que for,’ mas posso adivinhar. — Agora, você vai parar de gritar comigo antes que isso se transforme em outra briga em que ambos acabam ameaçando se machucar?

Ele não diz nada por vários minutos, e quando eu levanto os olhos, eu o vejo me observando. — Essa foi realmente uma briga incrível, — ele diz calmamente.

— Foi.

Depois de mais alguns momentos de estranheza, ele coloca suas páginas na mesa magicamente erguida à sua frente. — Então, o que você queria verificar comigo?

Parece que a discussão acabou.

Eu começo a relaxar quando Ryn e eu discutimos os detalhes de nossa tarefa e a melhor forma de reportá-los. Quando acabo de rabiscar mais notas, volto para as folhas em branco e começo a escrever o relatório completo desde o início. O silêncio enche o espaço entre nós, já que ambos estamos absorvidos em nosso trabalho. É, porém, um silêncio confortável. Isso me lembra do jeito como costumávamos fazer a lição de casa juntos na escola secundária.

E é quando me atinge: de alguma forma, depois de passar anos nos odiando, recuperamos nossa amizade. Não consigo identificar quando aconteceu, mas aconteceu. Ryn não é apenas o cara que eu costumava conhecer, ou o cara com quem eu tinha que ficar durante nossa tarefa final. Ele é alguém de quem eu realmente gosto de estar por perto. Alguém com quem posso gritar e brigar e voltar tudo ao normal em apenas alguns minutos.

Eu sorrio pra mim mesma e continuo trabalhando.

Eu chego na parte da tarefa onde eu estava pendurada impotente em um teto e sento com um gemido. — Eu não posso acreditar o quão patética eu estava na semana passada. — Eu coloco minha stylus, atualmente no modo caneta, contra a mesa. — Sinto que perdi alguns pontos importantes no departamento de chutar bundas.

Ryn olha para cima com um sorriso. — V, não seja tão dura consigo mesma. Não era o que eu chamaria de patética. Mais... carinhosa, talvez.

— Carinhosa? — Eu olho para ele com descrença. — Agora quem está sendo patético?

Ele colocou a caneta para baixo. — Você vai me odiar por dizer isso.

— Então não diga.

Ele se inclina para frente com um sorriso. — Foi bom ver um lado mais suave de você.

Eu finjo vomitar. — Oh, você não disse isso sobre mim. Por que não me insultar corretamente e me chamar de fraca?

— Porque não era fraqueza, V. Era...

— Carinhosa. Certo. Entendi. Nunca mais vamos falar sobre isso. — Com o calor subindo do meu pescoço em direção ao meu rosto, pego minha caneta e continuo escrevendo. Eu trabalho rapidamente até que começo a descrever nossa jornada através do domínio humano. Isso é quando eu fico entediada e minha mente começa a vagar. Continua vagando quando termino de escrever o relatório, e quando chego ao fim, tenho uma pergunta para Ryn. — Algum de seus pais já mencionou alguém chamado Angelica? Uma guardiã com quem eles foram para a escola?

Ryn enrola seu relatório final. — Não, acho que não. Por quê?

— Ela é a mãe de Nate.

— O garoto Halfling? — Ryn coloca o pergaminho na mesa e se inclina para trás sobre suas mãos. — A mãe dele esteve na Guilda com nossos pais? No mesmo ano?

— Yup.

— Uau. Então, uma pessoa com a qual nossos pais treinou acaba por ser a mãe de uma de suas tarefas, quem você no final acabou namorando.

— Sim. É improvável, mas aconteceu. De qualquer forma, estava pensando se seus pais alguma vez a mencionaram, porque parece que ela odiava minha mãe e meu pai.

— Espere, como você sabe disso? Você a conheceu?

Com um suspiro, eu digo, — Eu acho que devo contar algumas coisas.

Ryn senta-se para frente. — Coisas foras dos limites?

— Sim.

— Incrível. — Ele esfrega as mãos. — Conta.

Então eu conto. Eu volto ao começo e falo a ele sobre ser sequestrada por Zell e Drake e sobre decidir não dar a poção Esquecer a Nate. Eu conto a ele sobre o nosso tempo no labirinto, sobre encontrar Angelica e a tatuagem de olhos nas costas de Nate. Então há Scarlet e o metamorfo que eu matei e meu encontro com Nate, onde ele acabou me entregando a Zell, e todas as coisas que Zell me disse em seu calabouço enquanto resgatávamos Calla. Digo tudo a Ryn.

Tudo exceto o poder de Nate sobre o tempo.

Eu quero muito tirar tudo do meu peito, mas não posso dizer a Ryn isso. Ele assumiria imediatamente que Nate é o responsável pela tempestade magia, e ele falaria a sua mãe porque ela faz parte da investigação do assassinato. Então, Tora, obviamente, descobriria, e eu só posso imaginar o quão irritada ela ficaria que eu mantive tudo isso escondido dela.

— Uau, — Ryn diz quando eu termino de falar. Ele escreve algo sobre a mesa e ela encolhe de volta para uma pequena caixa de madeira, deixando minhas páginas terminadas flutuando sobre o cobertor. — Você contou a Tora tudo isso?

— Não, e você não pode dizer a ela, Ryn. Você não pode contar a ninguém.

— Olha, eu entendo que você não quer que ela fique brava com você, mas isso é importante. Parece que Zell está tentando acumular um exército de fadas com habilidades especiais. Você não acha que quem o investiga há anos gostaria de saber sobre isso?

— Eles sabem sobre isso. Eu disse a Conselheira Starkweather tudo o que vimos no calabouço de Zell, lembra? Tenho certeza de que ela chegou à mesma conclusão que você acabou de chegar.

Ryn suspira. — Ok, então eu acho que você realmente não precisa dizer a Tora nada disso. — Ele olha para mim. — Exceto pela parte em que você não pode dormir à noite porque a culpa de mentir para ela está corroendo você.

Eu estreito meus olhos para ele. — Obrigada, Oryn. Isso realmente ajuda.

Ele me dá um sorriso inocente. — Eu falei sério. De qualquer forma, o que você diz a Tora depende de você, mas já que você está compartilhando seus segredos comigo, talvez eu compartilhe um dos meus com você. — Eu arqueio uma sobrancelha quando ele rola sobre um lado para que possa alcançar seu outro bolso. Ele tira uma corrente de prata com um pingente em forma de lágrima branca e diz, — Eu posso ter roubado algo da Guilda.

— Ryn! — Oscilando na mão de Ryn está outro senão o colar da eternidade. — Tudo bem, você não pode me preocupar em manter segredos da minha mentora quando você roubou algo importante da Guilda! O que você estava pensando?

— Eu não confio na Silver Starky, lembra? E ela mentiu para nós. Ela disse que mandaria o colar para a Rainha Seelie de imediato, mas quando cheguei em seu escritório esta manhã, o achei enterrado sob alguns papéis em uma de suas gavetas.

— E por que você sentiu a necessidade de entrar no escritório dela e procurá-lo?

Ryn dá de ombros. — Para ver se ela estava mentindo para nós. — Ele empurra o colar de volta ao bolso. — Eu não acho que ela tenha planejado dar à Rainha Seelie. Ela provavelmente queria manter para si mesma.

— Ou talvez ela simplesmente não tivesse conseguido enviá-lo ainda.

— Ou talvez — Ryn levanta uma sobrancelha conspiradora — ela seja o espião que Zell mencionou para você. Talvez ela tenha assassinado aquele vidente na semana passada. Talvez seja por isso que ela foi tão insistente que nós nos esquecêssemos do que vimos no calabouço de Zell. Ela não quer que saibamos que ela está envolvida.

— Não, não, não. — Eu balanço a cabeça. — A ideia de que a chefe do Conselho da Guilda poderia estar trabalhando com a Corte Unseelie é também muito absurda e assustadora para contemplar, então eu vou continuar com a minha reação inicial: ela ainda não tinha conseguido enviar o colar para a Rainha Seelie.

Ryn deita de volta coloca as mãos atrás da cabeça. — Então, você acha que eu deveria colocar o colar de volta?

Eu hesito antes de responder. E se o espião for a Conselheira Starkweather? Ela vai entregar o colar de volta a Zell, e então todos nos lutaremos contra uma faerie poderosa e imortal. — Eu não sei, Ryn. — Eu junto minhas páginas cuidadosamente e as enrolo. — Você decide. Afinal, foi você quem pegou. — Eu guardo o pergaminho e fecho minha bolsa. Eu poderia sair agora, já que meu relatório está concluído, mas na verdade eu não quero isso. E há outra coisa sobre a qual eu deveria perguntar a Ryn. — Sua mãe está preocupada com você, — eu digo quando puxo meus joelhos para o meu peito e abraço eles.

— Ela é minha mãe. Ela deveria se preocupar comigo.

— Você sabe do que eu estou falando.

— Acredite ou não, não consigo ler mentes, — diz Ryn, — então não tenho ideia do que você está falando.

Eu reviro meus olhos. — O fato de você ter chegado em casa mais cedo parecendo que ter acabado de brigar? O que, aparentemente, você já fez antes, e o que você fez no início desta semana enquanto estávamos na casa dos Harts.

— Oh, isso. — Ele dá de ombros. — É apenas algo que eu preciso cuidar para um amigo.

Eu o observo de perto enquanto tento descobrir no que ele se envolveu. Não adianta tentar adivinhar, no entanto; poderia ser qualquer coisa. — Ok, apenas me diga: sua mãe deve ficar preocupada com você ou não?

— Não, — diz ele. — Eu parei de brigar com pessoas até a formatura.

— Formatura. Ok. — Eu descanso meu queixo no meu joelho esquerdo. — Seu amigo tem sorte de ter você, sabe, se você é tão disposto a ser espancado por ele.

— Sim, — ele diz calmamente, me observando de sua posição confortável no cobertor. Seus olhos parecem mais azuis do que o normal na luz lançada pelos insetos brilhantes que nos cercam. Eles são perigosos, esses olhos, porque eu continuo me encontrando cativada por eles, mesmo que eu realmente não tenha nenhum negócio em ser cativada por qualquer coisa sobre Ryn. No entanto, não posso evitar agora. Algo sobre o modo como ele está me observando faz com que o calor se espalhe pela parte mais baixa da minha barriga para...

Amigo, amigo, amigo, lembro-me rapidamente. Eu desvio meu olhar exatamente quando um som sibilante soa perto. Eu levanto, pronta para encarar a ameaça, e encontro um galho ardente com chamas azuis e verdes acima da cabeça de Ryn.

— Uau! — Ryn rola e pula, uma faca brilhante na mão. O fogo desaparece, deixando fios de fumaça subindo e se curvando no ar. Os olhos de Ryn dançam enquanto ele procura na floresta. — Não posso sentir a magia de ninguém exceto a nossa, — diz ele.

— Eu também. — Meus músculos, tensos e prontos para lutar, começam a relaxar. — Então de onde essas chamas vieram?

Ryn deixa sua faca desaparecer antes de passar uma mão pelos cabelos. — Provavelmente apenas Creepy Hollow sendo arrepiante.

De repente me sinto estúpida por pensar que era algo mais do que isso. Coisas mágicas estranhas aconteciam o tempo todo em Creepy Hollow. Estou apenas no limite por causa do louco e perverso faerie Unseliee que está atrás de mim. — Sim, provavelmente era apenas uma criatura estranha e piromaníaca escondida nas árvores.

Eu retomo minha posição no cobertor, e Ryn fica perto de mim com as costas contra um dos enormes galhos da gargan. — Então, falando na formatura... — ele diz.

Deslizo minha mão para o topo da minha bota e removo minha stylus. — Nós estávamos falando sobre a formatura?

— Estávamos. E estava me perguntando qual formando afortunado vai passar a noite com você.

Eu desenho padrões aleatórios e preguiçosos no ar, observando uma trilha fraca na cor prata atrás da minha stylus. — O que você quer dizer?

— Você não se esqueceu do baile, não é?

Minha mão congela e o padrão de prata em loop desaparece. O baile. Droga. Eu passei tanto tempo focando na cerimônia de graduação em si que eu realmente consegui esquecer do baile que eu deveria participar depois. — Caramba, — eu murmuro.

Ryn ri. — Você deve ser a única garota que negligenciou a parte onde você se veste e se diverte.

— E com quem você está indo, Ryn? Não vejo ninguém fazendo fila para convidá-lo.

— Isso é porque a combinação da minha boa aparência e charme é tão deslumbrante que a maioria das meninas prefere me admirar de longe.

— Certo. — Eu retomo meu desenho de padrão aleatório. — Ou pode ser porque você age como um idiota total na frente da maioria das pessoas.

— Eu amo, — diz Ryn, — como sua necessidade de honestidade completa anula qualquer preocupação que você possa ter com os meus sentimentos.

— Espere, você tem sentimentos? — Eu permito que minha boca fique aberta com horror fingido. — Uau, desculpe, eu não fazia ideia.

— Eu sei muito mais sobre sentimentos do que você pensa.

— Bem, você certamente sabe como machucá-los. — No momento em que as palavras saem da minha boca eu sei que fui longe demais. — Desculpe, desculpe, isso tudo está no passado, eu sei.

Depois de uma pausa, Ryn diz, — Sim, tanto faz. — Ele pega a stylus e transforma meu padrão de prata em gotas flutuantes de água. — Sentimentos de lado, eu estava pensando que talvez você e eu pudéssemos ir juntos, porque nenhum de nós está interessado o suficiente no baile para se preocupar com o estresse de tentar encontrar um par.

Eu cruzo meus braços. — E o que faz você pensar que eu quero ir ao baile com um idiota?

— Porque ninguém mais está fazendo fila para convidá-la?

— Legal, Ryn. Como eu poderia dizer não a um convite como esse?

— Você não pode. — Ele gira as gotas de água em um mini tornado no ar. — Quando alguém tão encantador como eu a convida a um baile, é impossível para você fazer qualquer coisa, apenas levantar sua mão delicadamente para sua testa enquanto você desmaia, pronunciando a palavra ‘sim’.

Olho para ele. — Meus dias de desmaios acabaram, então não conte com isso acontecendo de novo.

— Oh, mas você era tão boa nisso, — ele diz com uma risada. Eu aponto minha stylus para ele, e ele apressadamente diz, — Tudo bem, está bem. Tudo o que preciso é uma resposta simples para uma pergunta simples: você será meu par?

— Bem. Podemos ir juntos ao baile. Mas não é um encontro.

— Não. Claro que não. É simplesmente um arranjo conveniente que convém a nós dois.

— Sim. — Eu observo o redemoinho girando por alguns momentos antes de fechar meus olhos e gemer. — Ugh, eu realmente queria que não tivéssemos que comparecer a essa parte.

— Por quê? Essa deveria ser a parte divertida, V. — Ele me cutuca com o ombro dele.

— Talvez para alguns, mas para mim... Bem, não é uma coisa minha. Vestido bonito, decorar meu cabelo, pintar meu rosto com feitiços de maquiagem extravagantes. — Eu suspiro. — Eu posso chutar a bunda de cada um em um exercício no centro de treinamento, mas não posso chutar bundas lá. Em um salão de baile. — A palavra quase tem um gosto ruim. — Isso é para garotas bonitas como Aria e Jasmine.

Ryn gira as gotas para uma bola de água. — Você fez um bom trabalho na festa de coquetel dos Harts.

— Isso fazia parte de uma tarefa. É claro que eu poderia fazer isso.

— E no baile de máscaras de Zell.

— Mais uma vez, era como uma tarefa.

Ryn suspira e balança a cabeça.

— O quê?

— Não importa o que eu diga, você não concordará comigo, então é aqui que terminam meus comentários.

— Bom.

— Mas há outra coisa. — Ele acena a bola de água em minha direção até que ela está pairando sobre minha cabeça. Com um toque de sua stylus, o líquido girando cai através do ar.

Eu suspiro quando a água fria bate no meu pescoço e viaja pelas minhas costas. — Que merda, Ryn?

O sorriso dele é largo quando ele diz, — Eu disse a você que me vingaria.


Capítulo 15

 

 

— Raven! — Eu paro na ponta dos pés e aceno quando Raven se vira, seu cabelo castanho e magenta deslizando sobre seu ombro. Ela atravessa a multidão de pessoas que enchem a pista principal do Creepy Hollow Shoppers Clearing. Eu grito seu nome de novo. Quando ela me vê, ela sorri e acena. Eu corro através de altas barracas abertas, lojas construídas na frente de árvores e faeries ocupadas recebendo suas compras. — Ei, obrigado por esperar.

— Claro. — Ela me cumprimenta com um abraço. — Não costumo ver você aqui. Você não deveria estar batendo em um saco de pancadas ou praticando mortais para trás ou algo assim?

— Entreguei meu relatório final. Meu treinamento está oficialmente terminado.

— Parabéns! — Raven me dá outro abraço, então me puxa para o lado para ficarmos fora do caminho. — Você deve estar entediada agora.

Ha, ela me conhece tão bem. — Sim, tipo isso, — eu digo com um sorriso. — De qualquer forma, eu vim procurá-la porque eu, hum, preciso da sua ajuda.

Raven enfia o polegar ao redor da alça da bolsa de compras sobre o ombro dela. — Oh, querida. Outra emergência de moda?

— Sim. Eu meio que esqueci que há um baile após a cerimônia de graduação, e eu não tenho exatamente nada para usar. — Eu junto minhas mãos e faço minha melhor imitação dos olhos de gatinho de Filigree. — Você vai fazer um vestido para mim?

— Vi, não seja boba. — Raven ri e meu estômago afunda. — Eu comecei a projetar seu vestido de formatura há meses.

Meu estômago interrompe sua descida. — Você fez? Oh. Uau, obrigada.

— Claro. É uma das ocasiões mais importantes da sua vida. Você tem que ficar bonita. — Ela encaixa o seu braço através do meu e me conduz pela estrada. — Vai ficar absolutamente perfeito em você, Vi.

Oh céus. Isso não soa bem. — Hum, não é roxo, não é?

Ela sorri. — Eu sei como você se sente sobre coisas roxas, então não. Não é roxo.

— Tudo bem, e não é nada grande e fofo, certo? Eu não quero andar com cinco mil camadas de tecido.

— Não será grande.

— E sem fendas excessivamente reveladoras. O vestido de festa que eu usei na festa dos Harts também tinha...

— Vi. — Ela para e coloca as mãos nos meus ombros. — Confie em mim. Eu sei que você geralmente é indiferente quando se trata de moda, mas mesmo você vai adorar esse vestido quando ele estiver pronto.

A árvore para a qual nos dirigimos tem um arco cortado na casca e um sinal acima que diz Tecidos Fabulosos da Farrow. Caminhamos por baixo do arco e entramos em uma sala gigantesca cheia de rolo sobre rolo de todo material imaginável. Há coisas comuns, como cores, padrões e texturas que não fazem nada além de ficarem quietos. Depois, há coisas legais, como tecido feito de gotas de carvalho, chamas ou fumaça, ou escamas de serpente que mudam de cor. Essa deve ser a ideia de Raven do céu.

— Oh, isso é perfeito para o cliente que conheci ontem! — Ela corre em direção a um tecido brilhante que brilha com todas as cores do arco-íris. Eu que não ficaria no caminho dela. — Vou pegar o rolo inteiro, — diz ela ao dono da loja.

— Raven? — Ela se vira para me olhar como se tivesse esquecido que eu estava lá. — Eu preciso fazer a minhas compras, então, se você não precisa da minha ajuda para carregar nada...

— Oh, claro, vá fazer o seu trabalho. — Ela dá uma tapinha na sua bolsa de compras encolhendo. — Minhas coisas entrarão facilmente aqui.

*

As próximas duas semanas se aproximam, mas, finalmente, depois de cinco anos de treinamento, estudo, tarefas e, praticamente me acabando, chegou o dia.

Formatura.

As borboletas imaginárias batem suas asas furiosamente dentro do meu estômago quando eu fico na frente de um espelho na casa de Tora. Raven deve estar aqui a qualquer momento com meu vestido e em cerca de duas horas - porque, aparentemente, é o tempo que demora em se preparar - Ryn estará aqui para me levar. Não, para me encontrar; não é um encontro.

Eu olho para longe do espelho e para as minhas mãos. O tokehari do meu pai, o anel com a pedra roxa de ouro, está na minha mão direita. Quando papai morreu, herdei automaticamente todos os seus pertences, mas o anel é especial. É o item que ele reservou especificamente para mim no caso de sua morte. O item pelo qual eu deveria me lembrar dele. Eu tenho apenas outra joia que significa tanto para mim - os brincos em forma de flecha que foram um presente de Reed antes de morrer - e eles estão nas minhas orelhas agora.

Meu olhar se move para meus pulsos nus. Até o final da noite, as marcas permanentes circulariam a pele ali, para sempre me marcando como guardiã. É tudo o que eu sempre quis. Bem, isso e ser a melhor guardiã. Mas agora que estou de pé aqui com o meu objetivo à vista e meu futuro se espalhando diante de mim como um pergaminho sem fim, eu não estou inteiramente certa do que fazer a seguir. Estou quase com um cargo garantido com a Guilda, se eu quiser, então o que seria lógico seria contar a eles sobre minha capacidade de encontrar e trabalhar com o Departamento de Faeries Desaparecidos. Mas eu tenho medo que, uma vez que eles saibam o que posso fazer, nunca me deixarão ir embora. Eu poderia ficar presa na Guilda pelo resto da minha vida profissional.

— Vi, você está aqui?

Giro ao som da voz de Raven. — Sim, o quarto no final da passagem.

Ela se atrapalha através da porta com uma bolsa grande e plana sobre o ombro e uma caixa quadrada menor escondida debaixo do braço. Eu dou alguns passos rápidos em direção a porta para ajudá-la. — Obrigado, — diz ela. Eu coloco a caixa sobre a cama enquanto ela baixa cuidadosamente a bolsa grande. — Ok, não vou mostrar o vestido até que esteja realmente em você. Dessa forma, você terá o efeito total.

— Efeito total? — Isso parece preocupante.

— Sim. — Ela vira os clipes no estojo quadrado e puxa a tampa para trás. — Aqui, eu fiz este sutiã para você. Vá colocá-lo enquanto eu tiro o vestido.

Ela remove um sutiã acolchoado entre os grampos e potes coloridos no estojo e me entrega. Ele é coberto por renda branca e é muito mais bonito do que qualquer roupa intima que eu já tive. Mas há algo diferente nele. Seguro, dando-lhe um suspiro suspeito. — Há magia nessa coisa?

Raven mantém os olhos afastados enquanto procura no estojo sabe Deus o que. — Hum, possivelmente.

— Sério, Raven? — Eu jogo o sutiã em cima da bolsa de roupa. — Roupa íntima encantada?

— Vi. — Ela se detém na beira da cama e pega a ofensiva roupa íntima. — Apesar do que você foi criada para acreditar, a magia não é apenas útil para atacar pessoas. Você também pode usá-la para... melhorar certos recursos naturais. — Eu olho para ela até ela suspirar e dizer com incisivamente, — E você poderia usar alguma ajuda no departamento do colo.

Com um revirar de olhos e um gemido, eu tiro o sutiã de suas mãos. — Bem. Eu vou vesti-lo. — Eu vou para o canto do quarto para trocar minhas calças pretas e camisa regata. O sutiã se encaixa perfeitamente, o que não é surpreendente; Raven sempre foi boa em seu trabalho. Eu olho para o meu colo melhorado e percebo um aroma agradável. — A próxima coisa que você vai me dizer é que há algum tipo de feitiço afrodisíaco no tecido desta roupa íntima.

— Só um pouco.

— Raven!

— Brincadeira, — ela diz com uma risada. — É apenas um feitiço de perfume. Ele produzirá o aroma mais atraente para você ou, se você estiver perto de alguém que você achar atraente, seja qual for o cheiro mais atraente para ele.

— Como o sutiã saberá se eu achar alguém atraente? E se ele gostar de um perfume que eu não gosto? E se for alguém que eu simplesmente acho atraente, mas não estou realmente interessada nele e não quero que ele me cheire?

— Hum ...

— Eu posso ver muitas falhas neste projeto, Raven.

— Olha, esse tipo de roupa íntima ainda está em fase de experimentação, ok. Agora fique com os olhos erguidos enquanto eu trago o vestido.

Eu faço conforme instruído e tento não cair quando Raven guia meus pés em um círculo sobre o tecido e levanta o vestido ao meu redor. Ela corre o dedo rapidamente pelo centro das minhas costas, e o vestido se fecha enquanto ela dá uma volta para ficar na minha frente. Ela sorri e diz, — Eu estava certa. O decote em forma de coração definitivamente combina com você, especialmente porque agora você tem um pouco de peito. E a linha do império também foi uma boa escolha. Muito elegante.

— Tudo bem, parou com o jargão de moda. Posso olhar agora? — Ela sai do caminho e eu ando até o espelho. Eu olho por um longo momento antes de sussurrar, — Uau.

— Você gostou? — Raven pergunta, suas mãos juntas debaixo do queixo dela.

— Raven, é maravilhoso. Você estava certa. É perfeito para mim.

O vestido é simples e sem alças e parece leve e confortável. O decote de coração que atravessa meu peito é de uma cor de bronze profundo, com minúsculos cristais costurados ao longo da borda. Eles brilham na cor bronze, preto e cinza, como se cada um tivesse um pequeno fogo aceso dentro dele. Do meu busto até meus dedos dos pés, o vestido - que de algum modo é fofo – é de uma cor quase branca. A camada superior é completa com pequenas flores que parecem reais espalhadas pela superfície. As flores, como cristais, atravessam vários tons de bronze e preto. Por fim, várias linhas com pérolas e cristais ficam penduradas no centro do meu busto, fazendo um loop graciosamente ao redor do lado esquerdo do vestido, e presos em algum lugar no alto na parte de trás.

— Oh, uau, — Tora diz da porta. — Raven, você fez um trabalho incrível.

— Obrigada. — Raven coloca suas mãos nos quadris e examina seu trabalho. — Muitas meninas vão elegantes e com grandes vestidos para parecerem mais adequadas para um salão de baile humano na época vitoriana. Eu queria voltar às raízes das fadas com este vestido.

— É perfeito, — Tora diz fungando. — Eu acho que eu posso chorar.

— Não aqui. — Raven aponta para a porta. — Por favor, leve o seu choro para outro lugar.

— Tudo bem, — diz Tora com uma risada que parece mais uma fungada. — Chame quando estiverem prontas e tentarei manter as minhas lágrimas sob controle.

— Ela chora muito fácil, — eu digo a Raven, logo que Tora saiu da sala.

— Você pode culpá-la? — Raven puxa uma cadeira na frente do espelho e me faz sentar. — Este é um grande dia para ela também, Vi. Você é sua primeira estagiária, para não mencionar que ela também é como sua mãe e sua irmã de aluguel também. Você deve permitir-lhe algumas lágrimas.

— Ei, você foi quem a expulsou do quarto, — ressalto.

— Sim, bem, eu não quero lágrimas em você. — No espelho, eu a vejo alcançar seu estojo de maquiagem procurando por algo. Ela começa a esfregar uma esponja sobre o meu rosto.

— Por que você não está usando feitiços de maquiagem? — Eu pergunto, pensando em todas as vezes que a escutei murmurar algumas palavras rápidas e vi uma camada de pó em sua palma, ou o batom sair da ponta de seu dedo.

— Feitiços de maquiagem são mais para retocar, — explica ela. — Se você quer fazer as coisas de forma adequada, você precisa do material verdadeiro.

Oops. Eu acho que não fiz um bom trabalho no baile de máscara de Zell e no coquetel dos Harts.

Raven trabalha rapidamente, colorindo meus lábios com uma sombra neutra e minhas pálpebras com algo escuro e esfumaçado. Algumas escovas de iluminador melhoram a forma das minhas maçãs do rosto, e um giro de sua stylus alonga meus cílios. Eu odeio quando tenho que admitir que não sou boa em algo, mas definitivamente não consigo fazer o que ela acabou de fazer.

— Tudo bem, vamos ver se podemos domesticar sua juba, — ela diz enquanto deixa o pote de iluminador no estojo.

— Minha juba? Na verdade, Raven, não há necessidade de exagerar.

— Não tenho certeza de que seja um exagero, Vi. Seu cabelo já foi apresentado a uma escova de cabelo?

— Eu não preciso escovar meu cabelo! — Eu protesto. — Eu gosto de como parece bagunçado, ondulado e não escovado.

— Sim. Eu posso ver isso. — Raven torça um fio de seu próprio cabelo liso ao redor de seu dedo enquanto ela examina minha cabeça. — Bem, eu digo para irmos com algo simples. Ondulado, alguns fios presos, com pequenas flores presas aqui e ali.

— Hum, claro. Você é a especialista.

Enquanto ela aquece seus dedos e enrola algumas mechas do meu cabelo ao redor deles, eu tomo coragem para fazer uma pergunta que eu queria fazer a alguém desde que eu fiquei com Nate em uma arvore e um galho espontaneamente quebrou e quase caiu sobre minha cabeça.

Tudo bem, aqui vai. — Hum, posso te perguntar uma coisa, Raven?

— Uh huh. — Ela solta algumas mechas de cabelo, e cachos perfeitos se colocam sobre meu ombro.

— Quando você está beijando um cara, e você se sente realmente, uh... atraída por ele, é normal, hum... — Seus dedos param de se mover no meu cabelo e ela encontra meu olhar no espelho. Ela levanta uma sobrancelha. Limpo minha garganta. — É normal... — Maldita seja, ela sabe exatamente o que eu estou perguntando; eu posso ver em seus brilhantes olhos magenta. — Uh, você sabe, perder o controle de sua magia? E... coisas estranhas acontecerem?

Uma expressão sorridente aparece nos seus lábios. — Oh, sim. Definitivamente é normal.

— Mas isso não pode durar para sempre, pode? Quero dizer, as coisas estariam explodindo por todo o lado se as pessoas não pudessem se controlar a cada vez que eles se beijassem ou fizessem... bem, outras coisas.

Ela ri e balança a cabeça. — Não dura para sempre, não se preocupe. Você aprende a controlar depois de um tempo. Bem, com beijos de qualquer maneira. É um pouco mais difícil controlar com as ‘outras coisas’, como você diz. — Seu sorriso se torna malicioso. — Você deveria ter visto a primeira vez que Flint e eu...

— Ok, — eu interrompo alto. — Eu acho que isso cai na categoria de Informação Demais.

— Bem, de qualquer maneira. — Ela continua enrolando meu cabelo. — Agora eu tenho que perguntar: que menino você já beijou? — Ela estreita seus olhos para mim no espelho. — É possível estarmos falando sobre Ryn?

— O quê? Não! Definitivamente não. Havia... esse outro cara.

— Outro cara? — Raven parece cética. — E como é que nenhuma de nós sabia sobre esse outro cara?

Eu suspiro. — Honestamente? Você não o teria aprovado. Ele não era realmente o tipo de cara que eu deveria estar vendo. Quero dizer, acabou agora, não se preocupe, — asseguro-lhe. — Eu só... Eu gostei dele, ele me machucou e eu aprendi a minha lição.

— Oh, Vi, eu sinto...

— Por favor. — Levanto uma mão. — Não fique sentimental por mim. Eu totalmente superei isso, eu prometo. — E eu percebo, quando digo as palavras, que elas são verdadeiras. Ainda penso em Nate de vez em quando, mas não causa tanta dor no meu peito como antes. E desde que eu terminei minha tarefa final, sequer passou pela minha cabeça vigiar sua janela no meio da noite. Estive visitando Tora, irritando Ryn, limpando minha casa de cima a baixo - exceto o quarto dos meus pais - e usando a floresta como meu centro de treinamento para exercícios aleatórios.

Raven acaba de enrolar meu cabelo, coloca alguns grampos e, magicamente, coloca pequenas flores aqui e ali. — Aí, — ela diz, parando atrás de mim. — Perfeito. Ah, deixei seus sapatos lá embaixo. Espere, vou buscá-los.

Fico parada na frente do espelho, com medo durante vários momentos ridículos de que, se eu me mexer, eu possa bagunçar algo. Então faço algo bobo e feminino que eu possivelmente nunca senti a necessidade de fazer antes: giro em um círculo, observando a forma como o tecido flutua ao redor do meu corpo, antes de parar para admirar a parte de trás do vestido.

Quando eu escuto uma batida na porta, me preparo para mais lágrimas de Tora. Quando olho, no entanto, vejo uma cabeça de cachos pretos e azuis olhando da porta.

— Zin... Sra. Larkenwood, — eu digo, alisando minhas mãos sobre minhas coxas. — O que você está fazendo aqui?

Ela sorri enquanto entra no quarto. — Você costumava me chamar de Zinnia quando era jovem. Desejo que você ainda me chame assim.

— Hum, tudo bem.

— Ryn me disse que você estaria se preparando aqui e... Bem, eu queria ver você toda vestida. — Ela pressiona as mãos juntas e senta na beira da cama. — E também preciso me desculpar por algo. Bem, por várias coisas, na verdade.

Confusa, sento na beira da cama ao lado dela. Não consigo imaginar o que Zinnia pode ter que pedir desculpas.

— Eu... Desculpe-me, eu não estava lá para apoiar você quando seu pai morreu. Eu queria ter estado. Eu deveria ter estado. — Ela respira fundo. — Você sabia que você deveria morar conosco?

Meus olhos se arregalam enquanto eu balanço minha cabeça.

— Linden e eu... quando ainda estávamos juntos... tínhamos um acordo com seus pais que, se alguma coisa acontecesse conosco, eles cuidariam de Reed e Ryn, e se alguma coisa acontecesse com seus pais, nós cuidaríamos de você. No entanto, dadas as circunstâncias no momento da morte do seu pai... Bem, Linden tinha nos deixado recentemente, Ryn estava bravo com tudo e todos em sua vida, especialmente você, e eu sei que ele teria tornado sua vida muito difícil se você tivesse ido viver conosco. Então, Tora e eu organizamos para você ficar com ela por um tempo. Ela era sua mentora por quase um ano até então, e vocês duas ficaram bem juntas. Ela cuidava de você mais do que você sabia, e ela estava feliz em fazer isso.

Zinnia para de falar, e me pergunto se eu deveria responder agora. Não consigo imaginar quão diferente - quão horrível teria sido a minha vida se eu tivesse morado com Ryn e Zinnia há cinco anos. Zinnia teria sido boa o suficiente, tenho certeza disso, mas Ryn, sem dúvida, tentaria tornar a minha vida tão miserável quanto possível. Ou talvez nós tivéssemos nos confrontado muito mais cedo, percebendo o mal-entendido em relação à morte de Reed e voltaríamos a ser amigos anos atrás. Os últimos cinco anos teriam sido completamente diferentes.

— De qualquer forma, eu só quero que você saiba disso... Sempre pensei em você como uma filha, — continua Zinnia. — Eu nunca parei de cuidar de você ou de checar com Tora para ver como você estava indo. O comportamento de Ryn em relação a você nos anos desde a morte de Reed foi imperdoável, e eu tenho que me desculpar por isso. — Ela estende a mão e pega minha. — Eu não sei por que ou como aconteceu, mas eu sei que vocês dois finalmente se entenderam, e eu estou tão agradecida por isso. Eu só queria ter feito algo para que isso acontecesse mais cedo.

Eu aperto sua mão. — Você realmente não precisa se desculpar por ele, Zinnia. Não foi sua culpa. — Eu lhe dou um sorriso reconfortante antes de me levantar.

— Espere, Vi, há outra coisa. — Ela põe a cabeça nas mãos por um momento e geme, então empurra o cabelo para trás e olha para mim. — Este é o grande porquê do realmente ser minha culpa. Hum... — Ela corre suas mãos para cima e para baixo ao longo de suas coxas. — Antes que sua mãe morresse, ela me deu uma coisa. Uma caixa de madeira trancada com seu nome nela. Ela me pediu para manter segura até o dia em que você se formasse. Se ela ainda estivesse viva, então, claro, eu iria devolver para que ela pudesse dar a você. Mas se ela não estivesse mais viva, então eu devia dar a você.

Com meu coração batendo mais rápido no meu peito, eu digo lentamente, — Ok.

— Eu escondi a caixa, eu a observava ocasionalmente para ter certeza de que ainda estava lá. Com o passar dos anos, parei de verificar. A caixa estava segura, afinal de contas. Quem iria querer pegá-la?

Pressiono uma mão nos meus lábios, sabendo sem dúvida que esta história não ia ter um final feliz.

— Depois que seu pai morreu, lembrei da caixa e fui verificar se ainda estava lá. — Zinnia olha para o chão. — Sumiu. Eu não sei quando, ou como, mas sumiu. Perguntei a Linden sobre isso - ele era a única outra pessoa que sabia onde a escondi, mas ele jurou que nunca tinha tocado. E o que ele iria querer com ela, afinal? Ele estava vivendo uma vida feliz fora de Creepy Hollow com sua nova esposa e filha.

Eu aceno com a cabeça, apesar de não ter certeza do porquê. Parte de mim deseja que Zinnia nunca tivesse me dito nada disso. Agora vou sempre me perguntar o que era que minha mãe queria me dar. Solto minha mão da minha boca. — Por quê... Por que ela não deu ao meu pai?

— Eu acho que ela temia que ele não estivesse vivo nem até o momento em que você se formasse. Os dois sempre gostaram de assumir as tarefas mais perigosas. — Ela balança a cabeça, piscando as lágrimas. — Parece que ela estava certa.

Giro minhas costas para Zinnia para que ela não visse a umidade nos meus olhos. Eu geralmente não choro sobre meus pais, mas é porque eu tento não pensar muito neles. A história de Zinnia trouxe-os de volta a minha mente, me lembrando de que nenhum deles está aqui para compartilhar esta ocasião incrivelmente importante comigo.

Ugh, o que estou fazendo? Eu vou me fazer chorar se eu continuar tendo pensamentos como esse. Meus pais não iriam querer que eu chorasse no dia da minha formatura, não é? Eu acho que não sei o que a minha mãe diria, mas sei que meu pai não gostaria que eu chorasse. Ele viu o quão duro eu trabalhei em cada tarefa. Ele ficaria ridiculamente excitado e orgulhoso se ele estivesse aqui hoje; Ele não iria querer que eu chorasse por uma caixa.

— Este deveria ser um dia feliz, — digo, virando para Zinnia. — É um dia de celebração. Não devemos estar chorando. Sim, uma caixa importante foi perdida, e nunca saberemos o que estava dentro dela, mas não podemos fazer nada sobre isso.

Ela fica sentada e olha fixamente para mim. — Você... tem uma força incrível.

Eu olho para longe. Não tenho certeza se as suas palavras são verdadeiras. Na maioria das vezes, eu tento não pensar em todas as coisas que doem; isso provavelmente tem muito mais a ver com fraqueza do que força.

Ela coloca os braços com cuidado em volta dos meus ombros e me abraça. — Realmente sinto muito, — ela sussurra no meu ouvido. — E eu estou muito orgulhosa de você. — Ela se afasta e reorganiza alguns cachos sobre meu ombro. — Bem, eu preciso ir para casa e me trocar para algo adequado para uma cerimônia de graduação. Espero que Ryn esteja logo aqui para encontrá-la.

Com um sorriso final, ela sai do quarto. Depois de verificar minha aparência mais uma vez no espelho, pego o estojo de maquiagem de Raven e a bolsa de roupa vazia e desço as escadas. Tora continua a falar sobre como pareço bonita e adulta enquanto Raven me dá sapatos de salto alto e os nervos começam a voltar ao meu estômago mais uma vez.

Nós ficamos ao redor, Raven e Tora tagarelando sobre algo, enquanto esperamos por Ryn. E esperamos. E esperamos um pouco mais. Após meia hora, meus níveis de frustração atingem um novo nível. Eu pego meu âmbar das tiras de um sapato e minha stylus das outras tiras, e anuncio, — Eu vou embora agora.

— Oh. — Raven olha em volta como se ela não tivesse ideia de quanto tempo passou. — Mas Ryn ainda não está aqui.

— Bem, a cerimônia deve começar em dez minutos, e, embora Ryn não se importe se ele faltar na sua própria formatura, eu certamente não sinto o mesmo.


Capítulo 16

 

 

Eu olho através das portas duplas ornamentadas e examino o salão lotado procurando o cara que vai ter grandes problemas quando eu o encontrar. Meus olhos examinam os grupos de pais, mentores e aprendizes, mas não vejo Ryn em qualquer lugar. Onde diabos ele está?

Volto para o corredor e me inclino contra a parede. Uma parte de mim se preocupa com ele, mas outra, uma parte muito maior, definitivamente ainda está furiosa. Todo mundo deveria ter um par para essa coisa, e agora eu tenho que entrar sozinha.

Eu faço o meu melhor para parecer invisível quando um grupo de meus colegas de turma passa por mim. Meninos de ternos e meninas — assim como Raven previu, com grandes vestidos fofos. Eu não acho que eles me notaram de pé ali. — Eu estou apostando, — diz um deles apenas meio que passando pela porta. — Quem vai ganhar o seu dinheiro? Ryn ou Vi?

Sim, eles definitivamente não me notaram.

— Essas são as únicas escolhas? — Pergunta uma garota. Aria, eu acho.

— Bem, todos nós sabemos que será um ou outro.

— E quanto a Asami? — Pergunta alguém. — Eu ouvi o mentor dele dizer ao meu mentor que ele estava alcançando o primeiro lugar nas últimas tarefas antes da nossa tarefa final.

— Você quer dizer nas poucas semanas desde que não fomos autorizados a ver os rankings?

— Sim. E na sua tarefa final ele foi muito bem, então é definitivamente possível que ele tenha avançado.

Oh, que inferno, você está brincando comigo? Eu inclino minha cabeça de volta contra a parede e fecho meus olhos. Agora estou sem par e estou perdendo a minha posição inicial para alguém que eu nunca pensei ser uma ameaça? Eu bato minha cabeça contra a parede, o que dói um pouco mais do que eu esperava. — Isso foi estúpido, — eu murmuro.

Com uma profunda respiração, mantenho minha cabeça erguida e passo pelos meus colegas de classe, pelo corredor central e em direção às dezesseis cadeiras reservadas na frente e a esquerda do salão. Eu não olho para cima enquanto procuro meu nome. Eu acho que está na segunda fila de oito e pego meu assento. Um minuto depois, o tilintar de um sino diz a todos que ainda estão de pé para colocar suas bundas em uma cadeira.

A cerimônia está prestes a começar.

Para ser sincera, não escuto muito do blá, blá, blá que continua desde o início. A Conselheira Principal Starkweather fala por um tempo, seguida de um orador convidado que tenta nos inspirar com contos emocionantes das aventuras exóticas em que ele esteve. No entanto, não consigo me concentrar em nada, porque continuo olhando para trás para ver se Ryn está de pé na parte de trás do salão. Eu vejo Tora, Raven e Flint, que deve ter recebido o dever da noite como guarda para que ele pudesse participar. Eu vejo Zinnia, ansiosa e, mais adiante, o pai de Ryn. Todo mundo que deveria estar aqui está aqui - exceto Ryn.

Sem perceber, a Conselheira Starkweather está chamando a primeira turma de formandos até o palco para receber suas marcações.

Ok, ONDE RYN ESTÁ!

Meus colegas de classe vão ao palco em ordem alfabética, cada um demorando cerca de três minutos para recitar o Juramento do Guardião e receber suas marcações do único membro do Conselho da Guilda que é permitido desenhá-las. Quando chega a minha vez - meu grande momento! - Ainda estou enlouquecendo com o fato de que Ryn está sumido. Sua cadeira vazia não incomoda mais ninguém? Isso acontece todos os anos, alguém decide não aparecer?

Pare, digo a mim mesma severamente. Ryn tomou sua decisão, e não há nada que você possa fazer sobre isso. Não o deixe arruinar este momento para você. Levanto com cuidado. O meu vestido pode não ser pesado e em camadas, mas ainda não quero tropeçar. A curta jornada da minha cadeira para os degraus ao lado do palco parece ter demorado para sempre. Levanto meu vestido e subo as escadas, desejando não tropeçar nos meus saltos altos. Eu atravesso o palco e paro em frente a Conselheira Starkweather. Com o meu lado direito de frente para o público, repito as palavras do juramento depois dela, mal me ouvindo sobre o rugido de sangue que bombeia pelos meus ouvidos. Eu sei o que eu deveria dizer - algo sobre jurar proteger quem precisar ser protegido, seja humano ou faerie - mas se eu não tivesse alguém para repetir depois, eu provavelmente apenas ficaria aqui gritando. É isso, é isso, é isso!

Quando o juramento chega ao fim, passo pela Conselheira Starkweather e me ajoelho na frente da mesa onde o artista que faz as marcas se senta. Levanto minhas mãos e as coloco, presas, sobre a mesa. O artista mergulha sua stylus especialmente afiada em uma panela de tinta preta e começa a desenhar o padrão de ondulação na minha pele. Pica um pouco, mas todos nós fomos avisados para esperar por isso. Enquanto ele trabalha, ele sussurra as palavras do feitiço que transferirá os encantamentos de proteção do meu pingente para a tinta embutida na minha pele.

Com um aceno de cabeça para indicar que ele acabou, o artista das marcas se afasta. A Conselheira Starkweather limpa a garganta, se vira para frente do palco e pronuncia as palavras que eu tenho trabalhado cinco anos para ouvir: — Você é agora membro da Guilda dos Guardiões.

Eu paro e me viro, vagamente consciente das palmas batendo, enquanto olho para o mar dos rostos. Eu vejo os olhos reluzentes de Tora, e então meu olhar é atraído para a parte de trás do salão. Eu o vejo de pé, as mãos nos bolsos de suas calças, me observando com uma expressão que não consigo descobrir. Eu deveria estar gritando onde diabos você esteve, mas, em vez disso, estou tão cheia de alegria e emoção que tudo o que eu quero fazer é arremessar meus braços ao redor dele e fazer um monte de guinchos incomuns. E beijar.

Não. Eu não quero beijar Ryn.

Eu cuidadosamente faço meu caminho para o outro lado do palco e de volta à minha cadeira. Depois que mais dois aprendizes recebem suas marcações, a Conselheira Starkweather chama o nome de Ryn. Ele atravessa o salão como se fosse completamente aceitável ele ter aparecido tarde em uma das mais importantes ocasiões de sua vida. Eu percebo então que minha frustração anterior com ele definitivamente não desapareceu.

No momento em que ele se senta, removo furtivamente meu âmbar e stylus das tiras ao redor dos meus tornozelos. Escrevo uma mensagem rápida e a envio para ele. Você é um péssimo encontro.

Do canto do meu olho, eu o vejo escorregar a mão dentro de seu paletó. Um momento depois meu âmbar vibra. Eu pensei que isso não era um encontro.

Oh, então isso lhe dá o direito de me deixar esperando por horas na casa de Tora? Pressionando meus lábios juntos, escrevo outra mensagem. Você ainda tem que aparecer na hora, idiota! Eu parecia uma idiota chegando sozinha.

Ele se inclina para frente e olha além dos dois aprendizes entre nós. Seus olhos viajam do meu rosto até meus sapatos antes de voltar e escrever outra mensagem. Uma idiota é uma coisa com a qual eu tenho certeza que você NÃO parece.

Eu não sei como responder a isso, então eu coloco meu âmbar e stylus de volta. Mantenho meus olhos direcionados para frente enquanto os últimos aprendizes em nossa turma vão para receber suas marcas. À medida que o programa se aproxima do maior anúncio da noite, meu coração bate em um padrão errático e eu começo a me sentir doente. Eu quero tanto isso, não sei o que farei se essa posição de primeira não for minha. Eu vou ter de aguentar e aceitar como uma grande garota, é claro, mas meu coração ficará quebrado em milhões de pedaços, e não sei como vou lidar com isso.

— A competição entre certos membros da turma da graduação deste ano tem sido feroz desde o primeiro dia de treinamento deles há cinco anos, — diz a Conselheira Starkweather. Não tenho certeza de como ela sabe disso, considerando que ela não esteve presente em um único dia de treinamento. Suponho que ela deva ter ouvido histórias dos mentores. — Eles trabalharam notavelmente com dificuldade, e tenho certeza de que estão desesperados para conhecer o destinatário do cobiçado primeiro lugar cobiçado.

Aperto minhas mãos no meu colo. Por favor, que seja eu.

— Então, sem mais demora, — ela desenrola um pergaminho na mão, o que deve ser para o show, porque certamente ela já sabe quem é o vencedor — o melhor formando deste ano é...

Porfavorporfavorporfavor.

— Oryn Larkenwood.

Descrença. QUE...

— E Violet Fairdale.

Pausa. Certo, o quê?

— Como é o caso de apenas outra turma de graduação na história desta Guilda, temos dois aprendizes cujas performances estelares conseguiram ganhar o mesmo número de pontos. Parabéns à Srta. Fairdale e ao Sr. Larkenwood.

O pergaminho em sua mão desaparece com um sopro de fumaça, e os aplausos entram em erupção ao meu redor. Eu sinto uma mão na minha e vejo Ryn me alcançar sobre as duas pessoas entre nós para me levantar. Ele me deixa andar na frente dele até o palco onde ambos nos ajoelhamos mais uma vez na frente do artista das marcas e recebemos o pequeno floreio extra em cada um dos nossos pulsos.

Os últimos minutos da cerimônia passam em um borrão vertiginoso. Antes de perceber, todos estão de pé, e Flint está me levantando do chão para me girar enquanto Raven e Tora pulam para cima e para baixo como Calla com excesso de açucar. Eu rio. Devidamente. Mais do que ri em anos. E meu sorriso é tão amplo que ameaça machucar meu rosto.

Tudo está perfeito.

*

O salão de baile faz parte da Guilda, mas a decoração faz com que pareça estar do lado de fora. As paredes estão cobertas de hera na cor prata, flores e pequenos insetos brilhantes, e estrelas encantadas brilham no teto escuro. Os flocos de neve flutuam no chão, mas desaparecem antes de tocar qualquer coisa. Eu acho que deveria parecer um tipo de país das maravilhas no inverno. Interessante, já que, na realidade, estamos entrando no verão.

As mesas redondas formam um anel externo ao redor da sala, enquanto o centro é ocupado por uma pista de dança. No meio de cada mesa está uma árvore esculpida de gelo que não derrete com várias iguarias comestíveis penduradas em cada galho. Taças de vidro que brilham quando pegam luz estão espalhadas em cada mesa.

É bonito, mas em vez de admirar a sala com Tora, Raven e Flint, estou procurando por Ryn. Nosso "castigo" por ter conseguido o primeiro lugar é que temos que abrir a pista de dança - outro requisito horrível do qual eu tinha me esquecido sobre a preparação da graduação.

Eu quase faço um círculo completo ao redor da sala quando ouço uma voz atrás de mim. Uma voz que consegue fazer meu interior enrolar de felicidade um segundo e queimar de raiva no próximo. — Ei, Sexy Pixie. — Giro. Ryn parece divertido enquanto pergunta, — Procurando por alguém?

Definitivamente ardendo de raiva.

Sem dizer uma palavra, pego o seu braço e o arrasto para sob um arco cortinado em uma das muitas salas pequenas que levam ao salão de baile. Eu não sei o que as pessoas deveriam fazer aqui – limpar o nariz, ou dar uns amassos, talvez – mas seria ótimo para o confronto que Ryn e eu estávamos para ter.

— Onde você esteve? — Exijo. — Você se esqueceu de que deveria me encontrar na casa de Tora? Você esqueceu que você ia se formar?

— Violet, não há como qualquer pessoa que passou os últimos dias ao seu redor poder ter esquecido sobre a formatura. Eu não me esqueci de nada, acabei ficando preso no Subterrâneo.

— Subterrâneo?

— Sim, eu tive que buscar algo.

— Você teve que buscar algo? — Eu não posso acreditar o quão indiferente ele está. — Subterrâneo?

Ryn assente. — Tenho certeza de que é o que eu disse.

Eu balanço minha cabeça. — O que poderia ser tão importante que você arriscaria perder sua vida e... o mais importante... perder a graduação?

Ryn mostra o punho e abre os dedos. Uma corrente de ouro desliza e prende-se entre o seu polegar e o indicador. Pendurado no fim da corrente está uma chave dourada. Uma chave de ouro com pequenas asas abertas.

O tokehari que minha mãe deixou para mim.

Tenho certeza de que meu coração chega a uma parada completa antes de entrar em uma ação furiosa. Arrepios correm pela minha pele e respirar de repente torna-se difícil. — Onde você conseguiu? — Eu sussurro.

— Subterrâneo.

Umidade enche meus olhos e distorce minha visão. — Mas... quando... Como você achou?

— Demorou um pouco. — Ryn vai para trás de mim e coloca o colar sobre minha cabeça. O metal é frio contra minha pele. — Eu voltei para o lugar onde eu joguei o colar todos esses anos e comecei lá. Uma linda joia como esta sempre deixa uma trilha, especialmente no Subterrâneo. — Seus dedos escovam meu pescoço, permanecendo por um momento enquanto ele prende o fecho. — Não foi fácil rastrear, mas achei que valia a pena o esforço.

Minha cabeça gira quando Ryn vem para minha frente. — Então... Toda vez que você aparecia com um olho machucado ou um lábio sangrento nas últimas semanas, é porque você foi ao Subterrâneo procurar por meu colar?

Ele levanta um ombro, sorri de uma maneira que faz coisas estranhas no meu estômago, e diz simplesmente, — Eu pensei que era hora de consegui-lo de volta por você.

Meu peito sobe e desce anormalmente rápido. O merda, oh merda, oh merda, por que sinto vontade de fazer algo completamente, totalmente louco, como pressionar Ryn contra a parede e correr os meus lábios ao longo...

Amigo, amigo, amigo, retumbando na parte sensível do meu cérebro como um alarme de segurança interno. Aperto meus olhos e sacudo um pouco a cabeça. Está certo. Ryn é apenas meu amigo. Qualquer coisa mais do que isso quase definitivamente acabaria em desastre, um coração partido e mais uma pessoa me deixando.

Então, em vez de me envergonhar, abro meus olhos e digo, — Obrigada.

Ryn gesticula em direção ao arco. — Bem, agora que você me perdoou por ser um par tão terrível - mas não sendo, realmente, um encontro, devemos fazer essa coisa de dançar?


Capítulo 17

 

 

Voltamos para o salão de baile e encontramos a mesa com nossos nomes. Honey e o namorado Vidente estão na mesma mesa, e Honey coloca os braços ao redor do meu pescoço enquanto me diz que sempre soube que eu seria a melhor formanda. Eu fico rígida antes de acariciar suas costas; tenho certeza de que nunca nos abraçamos antes.

Depois que Honey me solta, Dale e uma menina que não é da Guilda se juntam à nossa mesa. Dale olha para mim antes de dizer a Ryn, — Cara, eu pensei que você estava brincando.

Ryn envolve os dedos vagamente, mas de alguma maneira protetora, ao redor do meu pulso. Honey olha entre nós dois, aparentemente tão confusa quanto Dale. — Obviamente, não, — diz Ryn. — Eu disse que eu estaria aqui com Violet, e eu falei sério.

— Mas... — Os olhos de Dale deslizam sobre mim, então de volta para Ryn. — Você nem gosta dela. É você quem sempre está falando para todos as coisas erradas sobre ela.

— Bem, acho que preciso dizer outra coisa agora, — Ryn diz antes que eu possa lembrar a Doofus Dale que eu estou aqui. — Eu... estava errado. Eu não deveria ter dito nenhuma daquelas coisas.

Todos na mesa olham fixamente para Ryn, inclusive eu. Oryn Larkenwood acabou de admitir estar errado em relação a alguma coisa? Sua mão ainda agarra meu pulso, e seu polegar se move levemente contra minha pele. É quase imperceptível, apenas um pequeno movimento, e tenho certeza de que ele nem sabe que fez isso, mas envia um tremor correndo pelo meu braço.

Eu olho para nossas mãos juntas, no momento em que a Conselheiro Starkweather aparece ao nosso lado e diz, — Eu não vou fazer nenhum anúncio sobre a primeira dança. Quando a música trocar, esse é o sinal. — E com isso ela vai embora, o vestido preto simples que ela estava usando já havia sido substituído por um vestido vermelho esvoaçante. Todo mundo no salão de baile parece estar pegando seus lugares, como se soubessem que algo está prestes a acontecer. Não querendo ser a última deixada de pé, eu puxo meu braço do aperto de Ryn e alcanço a parte de trás da minha cadeira.

Ryn me impede. — A música está trocando, — diz ele. — Você não vai conseguir sentar até que tenha realizado o seu dever de dançar.

Oh droga oh droga oh droga. Ok, posso fazer isso. Siga em frente. Não tropece. Apenas relaxe e permita que o feitiço da música guie seus pés através da dança. Fácil assim.

— Interessante, — Ryn murmura enquanto nos dirigimos lentamente para nossa desgraça.

Do jeito que ele diz, eu sei que ele quer que eu pergunte. — O quê?

— Você está nervosa de verdade.

— Não estou, — respondo imediatamente.

— Seu pulso está pulando no pescoço. Suas mãos estão suadas.

Eu me movo para limpar minhas mãos contra a minha saia. — Não. — Ryn pega uma das minhas mãos. — Você não quer que todos saibam que você está nervosa, não é? — Ele passa meu braço através do dele e me leva ao centro do salão de baile. Ele mantém a cabeça erguida, e posso praticamente sentir a confiança escorrendo dele.

— Você está gostando disso, — eu sussurro.

— O que, ser o centro das atenções, ou saber que você está nervosa?

— Ambos.

Depois de uma pausa, ele diz, — Talvez apenas um pouco.

Chegamos ao centro da sala horrivelmente enorme e viro para encarar Ryn. Eu certamente não consigo secar as minhas mãos suadas agora, mas não quero que Ryn tenha que tocá-las. Eu murmuro apressadamente o feitiço que Aria e Jasmine sempre usam para se secar após o treinamento. A música muda mais uma vez, e posso sentir na magia que estamos a poucos minutos de ter que começar a dança. O pânico surge no meu peito e ameaça escapar pela minha garganta.

Eu. Não. Danço.

— Eu não sei porque você está entrando em pânico, — diz Ryn, colocando minha mão esquerda em seu ombro e segurando minha mão direita. — Você dançou perfeitamente bem no baile de máscaras de Zell.

— Se eu me lembro corretamente, você me puxou para a pista de dança sem o meu consentimento. — Eu engulo, tentando empurrar o pânico para baixo. — E eu não tinha todo um salão de baile de pessoas me observando.

Oh, querida Rainha Seelie, eu vou tropeçar nesses saltos e cair de bunda no chão e meu vestido vai rasgar pela metade e todos verão minha roupa intima encantada e ridícula...

— V, você tem que estar um pouco mais perto de mim se quiser que isso funcione, — diz Ryn, interrompendo meus pensamentos em pânico.

— Certo, — eu sussurro. Eu sinto o feitiço da música se envolver ao meu redor enquanto eu fico mais perto de Ryn. Meus pés se preparam para se mover, e certamente espero que eles saibam o que fazer, porque tudo o que posso pensar agora é o quão perto do peito de Ryn e o meu está. Perto o suficiente para sentir o calor dele. Perto o suficiente para cheirar o seu...

E então eu estou dançando, varrida pela música e pela magia e os braços de Ryn que me guiam. Giramos círculos graciosos ao redor do chão. Ryn me solta e eu giro sob seu braço, rindo ao mesmo tempo. Eu não sou assim, e ainda acho que estou realmente gostando.

— Vê? — Ryn diz. — É fácil. E você pode se divertir.

A magia me guia quando saio dos braços de Ryn, giro atrás das suas costas e pego sua mão. — Você pode estar certo.

Ele me põe de volta à posição. — Ah, eu me esqueci de te contar uma coisa, — diz ele. Ele se inclina para frente e seus lábios escovam minha orelha enquanto ele sussurra, — Você está mais bonita do que qualquer outra garota nesta sala.

Um arrepio brota pela minha coluna e através dos meus braços, e com isso, o muro que construí para esconder todos os sentimentos de apenas-amigos que eu tinha por Ryn racha. Talvez seja a pressa de ganhar, ou a alegria inesperada de girar ao redor de uma pista de dança, ou a vertigem produzida pelas palavras sussurradas de Ryn, mas de repente não aguento mais. Uma barragem de emoções - aquelas estúpidas, estúpidas coisas que eu faço o meu melhor para me afastar - cai através da parede e encobre tudo o que eu tento não sentir.

Em vez de lutar contra isso, fecho meus olhos e me deixo ir. Sinto os músculos do seu ombro debaixo da minha mão. O quadro que seus braços criam é forte, seguro, mas eu quero esses braços mais apertados ao redor de mim. Muito mais apertado, muito mais perto. Quero que não haja nenhum espaço entre nós.

Eu. O. Quero. Tanto.

Eu quero beijá-lo, rir com ele, chorar com ele, compartilhar todos os momentos horríveis da minha vida com ele porque não importa quantas coisas terríveis ele tenha feito no passado, não consigo afastar o sentimento inegável de que, quando seus braços estão ao meu redor, estou em casa.

Eu também estou ferrada porque nunca vou lhe contar nada disso.

Com um suspiro trêmulo, eu olho para cima para encontrá-lo me observando. Um sorriso ergue no canto de sua boca enquanto ele se inclina para frente e sussurra, — Eu sabia. — Por um segundo momento de parar o coração, estou certa de que, de alguma forma, ele sabe de tudo o que estou pensando e sentindo, mas depois acrescenta, — Eu sempre soube que Bran tinha uma queda por aquela assistente de biblioteca com os cabelos loiros e roxos. Vê ele ali, conversando com ela? — Ele me gira sob seu braço, e eu vislumbro o mentor de Ryn com o braço ao redor dos ombros da assistente da biblioteca da Guilda.

— Oh, sim. — Eu rio, principalmente porque estou tão aliviada que Ryn estava falando sobre Bran e não o tumulto das emoções me percorrendo.

A pista de dança começa a lotar enquanto outros casais se juntam a nós. — Isso está ficando chato, — diz Ryn. — Vamos dar aos mais velhos algo sobre o que falar, vamos? — E com isso ele me afasta dele. Giro, paro com a mão ainda presa a dele, depois giro de volta. Ele me pega antes que minhas costas alcancem o peito dele e me mergulha para baixo e eu posso ver todo o salão de baile de cabeça para baixo. Ele me joga, meu cabelo escovando o chão, depois me puxa, me gira uma vez mais e me pega pela minha cintura. Ele me levanta no ar e grita, — Woohoo!

— Ryn! — Eu suspiro. A Conselheira Starkweather está com uma mão cobrindo a boca e ela não é a única. Metade do salão de baile está olhando para nós em choque, e a outra metade parece estar reprimindo a risada. — Você está louco?

Ele me coloca suavemente sobre meus pés, assim que a música se transforma em uma nova dança. — Louco o suficiente para perguntar se você vai dançar uma segunda dança comigo.

Inclino minha cabeça para o lado, considerando. — Aparentemente estou louca o suficiente para concordar.

O sorriso deslumbrante de Ryn coloca borboletas no meu estômago. Ele dá um passo em minha direção e ergue as mãos, palmas diante de mim. O feitiço da música me impulsiona a fazer o mesmo. Nossas mãos se tocam, e não tenho certeza se o formigamento que sinto é real ou imaginado. Meu olhar está preso ao dele enquanto nos movemos devagar, ritmicamente, no tempo da música.

Para trás, para frente, giro abaixo.

Meu rosto está quente. Provavelmente vermelho, mas não é como se eu pudesse fazer nada sobre isso. Não consigo nem convencer meus olhos a desviar dos olhos dele. Eu me pergunto o que ele está pensando. Ele provavelmente ficaria horrorizado se soubesse que eu queria me jogar em cima dele e tirar sua camiseta. Estou horrorizada.

Passo para a direita, passo para a esquerda, giro abaixo.

Ele olha para baixo por um segundo, e eu me pergunto se ele está olhando a chave dourada descansando contra meu peito, ou, bem, para o meu sutiã que ‘aumenta’. Minha pele fica ainda mais vermelha enquanto meu olhar se move para seus lábios. Eu quero saber se eles são tão suaves quanto parecem. Eu quero prová-los.

Para trás, para frente...

Clique.

Uma percepção súbita me atinge. Algo tão óbvio, não sei por que não pensei nisso há horas atrás. Ryn me levanta e percebo que parei de me mover.

— O que foi? — Ele pergunta, me puxando para a borda da pista de dança e para fora do caminho.

— A chave, — eu digo, tocando-a e olhando cegamente sobre seu ombro.

— Sim, o foi?

— Eu sei o que ela abre, — digo. Estou de repente ofegante de excitação, meus olhos dançando sobre seu rosto.

Ryn franziu o cenho. — Eu pensei que você disse que não abria nada.

— Isso é o que meu pai sempre me disse, mas esta noite, enquanto eu estava me preparando, sua mãe veio me visitar na casa de Tora. Ela disse que minha mãe lhe deu uma caixa fechada para ela guardar até eu me formar, mas que desapareceu anos atrás. E você me disse que o motivo pelo qual Reed estava tão desesperado para me visitar no dia em que ele morreu foi porque ele queria me dar uma caixa que ele achou importante por algum motivo.

O aperto de Ryn aumenta em meus braços. — É a mesma caixa.

Eu concordo. — Reed deve tê-la encontrado, viu meu nome e decidiu devolver para mim. Agora temos que descobrir onde está.

— Mas como? O Guardião que liderou a investigação nunca mencionou uma caixa.

— Bem, talvez tenha sido mantido de você por algum motivo, ou talvez nunca tenha sido encontrada.

Ryn franziu o cenho. — Você não pensa honestamente que ainda estaria lá fora, na floresta onde Reed morreu, não é?

Cruzo meus braços e levanta meus ombros. — Eu não sei. Eu acho que não. Mas onde mais começaríamos?

Ryn inclina seu quadril contra a mesa ao lado. Está vazia, todos os seus ocupantes atualmente se divertindo na pista de dança. — No escritório do Guardião que liderou a investigação?

— Ok. Talvez possamos encontrar o relatório que foi escrito depois, sabe, que eles encontraram Reed. — Eu preciso seguir com cuidado aqui. Eu não quero chatear Ryn. — Hum, você pode entrar no escritório?

— Claro. — Ryn me dá um olhar que me diz que eu deveria saber disso. Ele se inclina sobre a mesa e puxa uma maçã prateada da árvore. Ele morde e mastiga por vários segundos. Ele engole. — Você quer ir agora?

Idiota. Ele sabe muito bem que eu quero ir agora. — Não, Ryn, pensei que deveríamos ficar aqui comendo comidas de prata e esperarmos até que todos estejam em seus escritórios na manhã de segunda-feira antes de tentar entrar.

— Hmm. Isso não soa como o melhor plano que você já teve. — Ele coloca a maçã parcialmente comida no prato de alguém e se dirige para as portas principais do salão de baile. — Vamos.

Eu me apresso atrás dele. A música e o riso ficam fracos enquanto caminhamos por um corredor em direção ao saguão principal da Guilda. Eu ouço um estrondo indistinto e, por hábito, eu olho para o teto abobadado do saguão. Eu congelo quando vejo as nuvens turbulentas e cintilantes na cor laranja e vermelho. O medo aperta o meu estômago.

— O que foi? — Pergunta Ryn. Ele me observa do outro lado do saguão, uma mão pressionada em seu peito naquele estranho hábito que ele tem.

— Os encantamentos de proteção, — eu sussurro enquanto eu volto o meu olhar para o teto. — Eles estão na cor errada.


PARTE III


Capítulo 18

 

 

Por um único momento que parece durar para sempre, Ryn e eu nos encaramos através do saguão, medo crescendo, aumentando, preenchendo o espaço entre nós.

Então o relâmpago atinge.

Ele atinge em algum lugar acima de nós com tanta força que o chão de mármore do saguão estremece sob nossos pés. Ryn grita meu nome, mas a explosão do teto abobadado engole sua voz. Um pedaço de luz despedaça do ar e atinge o chão entre nós, criando uma enorme fenda em ziguezague através do mármore. Um segundo depois, pedaços quebrados de teto começam a chover sobre nós.

Eu me jogo para fora do caminho. O mármore é muito mais duro do que qualquer outra coisa na qual eu aterrissei recentemente, e meu ombro grita em protesto. Eu rolo pelo chão, fico de joelhos e jogo meu braço em direção ao corredor do qual acabamos de sair. O brilho da magia que deixa minha mão é vermelho brilhante. Se alguém no salão de baile tiver dúvidas sobre a origem da explosão, eles saberão qual caminho seguir agora.

Eu levanto com o meu salto alto para procurar Ryn, mas, em vez disso, vejo figuras negras caindo do teto aberto. Chuva borrifa no meu rosto, e o vento enrola meus cachos. O medo dá lugar à adrenalina, pois a emoção de uma luta iminente corre por minhas veias.

Fico firme enquanto meu arco e flecha ganham forma entre meus braços estendidos. Eu puxo para trás, solto e vejo a flecha se aproximar do alvo, as faíscas voam em seu caminho. Um faerie, vestido todo de preto, completo com uma capa, pelo amor de Deus, cai com um grito quando a flecha se incorpora nas suas costas. Puxo para trás, solto. Puxo para trás, solto. Uma nova flecha se materializa no momento em que a anterior é solta.

Uma pedra é arremessada em minha direção, junto com as faíscas de magia. Eu esquivo a magia, mas a borda da pedra pega no meu ombro. Eu acerto o chão mais uma vez, meu arco e flecha desaparecendo no momento em que eu os solto. Rolando sobre minhas costas, eu alcanço a tira do meu sapato direito. Eu o solto - meu âmbar desliza no chão – no momento em que um faerie se lança em cima de mim. Levanto o sapato e empurro o salto no pescoço dele. Ele aperta a garganta, e eu mando meu punho em seu estômago. Ele se dobra. O sangue se espalha no meu rosto. Com um impulso, eu o afasto.

Eu tiro meu outro sapato, coloco minha stylus entre meu peito aumentado e me preparo para lutar contra o próximo faerie que quiser me escolher. Parece que estou sem adversários, no entanto. O saguão está cheio de guardas, mentores e guardiões - incluindo aqueles que acabaram de se formar - e as únicas figuras negras que vejo são aquelas mortas no chão.

Ryn. Ele está bem?

Eu viro para os detritos no centro do saguão, afastando o cabelo molhado do meu rosto. Um chicote brilhante brilha no ar e desaparece antes de vê-lo. Ele sai de uma rocha, salta sobre a rachadura que agora separa o saguão em dois, e caminha em minha direção. — Bem, — ele diz, — esse foi um final emocionante para a formatura.

 

***

— Idiotas, — diz Adair, um guardião sênior, enquanto ele atravessa o escritório da Conselheira Starkweather. — Por que eles escolheram invadir a Guilda durante a formatura? É certo que havia menos guardas de plantão do que o normal, mas todos estavam aqui por causa da cerimônia. Nós tínhamos centenas de guardiões prontos para lutar, e esses invasores idiotas contaram com menos de vinte. Eles são realmente arrogantes o suficiente para pensar que poderiam matar todos nós?

Olho para Ryn. Nós dois estamos de pé, molhados, na frente da mesa da Conselheira Starkweather. Ela nos convocou para um encontro privado com ela e Adair, uma vez que ficou claro que a Guilda não estava mais sendo atacada. Eu penso na suspeita de Ryn de que ela possa ser o espião de Zell dentro da Guilda. Improvável, já que matou dois dos faeries invasores.

Ela bate no queixo. — Pode ser que eles não soubessem que a formatura estava acontecendo hoje à noite?

Eu balanço a minha cabeça. — Eles devem saber. Eles têm espiões na Guilda, não tem? — Ryn limpa a garganta, mas eu o ignoro. — O objetivo deste ataque, obviamente, não era tomar controle da Guilda.

Adair para de andar e estreita os olhos para mim. — Por que esses dois estão aqui?

— Eles tiveram contato íntimo com membros da Corte Unseelie, — diz a Conselheira Starkweather. — Sua contribuição pode ser útil.

— Nós sabemos se foi um ataque da Corte Unseelie? — Pergunta Adair. — Eles não estavam usando as insígnias da Rainha.

— Eles eram definitivamente faeries Unseelie, — diz Ryn. — Eu podia sentir a escuridão fria por trás de sua magia.

— Mas eles podem ter agido não sob as ordens da rainha, — Adair rebate.

— Não, eles provavelmente agiam sob as de Zell. O Príncipe Unseelie que vocês estão investigando há muito tempo. — Eu assumo que Adair seja parte dessa investigação ou ele não estaria neste escritório agora. — Depois do que Ryn e eu ouvimos em nossa tarefa, sabemos que ele está trabalhando contra sua mãe e o que vimos em seu calabouço sugere que ele está formando algum tipo de super exército. Ele deve ter encontrado um faerie que pode criar tempestades capazes de superar nossos encantamentos de proteção.

Ryn limpa a garganta novamente, mas eu me recuso a nomear Nate. Isso me levaria a um monte de problemas, e não vejo o ponto em dizer sobre ele quando já é óbvio que Zell está usando alguém que tem poder sobre o tempo.

— Talvez tenha sido um teste, — a Conselheira Starkweather diz. — Um teste para ver com que facilidade eles podem entrar e sair.

— Possivelmente. — Adair retoma a andar. — O que significa que a finalidade do primeiro raio há várias semanas provavelmente era apenas ver se era possível romper os encantamentos. Mas isso ainda não explica por que um Vidente foi assassinado na mesma noite.

— Nós não conseguimos capturar nenhum faerie hoje, não é? — Ryn pergunta.

— Não, — diz Adair. — A maioria deles conseguiu sair do jeito que entraram — através do teto do saguão. Os poucos que ficaram para trás estão mortos.

— Então não podemos nem torturar para conseguir informação de ninguém, — a Conselheira Starkweather diz.

A palavra ‘torturar’ me faz lembrar de mais uma coisa que está em minha mente por um tempo. — Conselheira Starkweather, — eu digo com cuidado. — Eu estava pensando se você conseguiu entrar na casa de Zell e resgatar os prisioneiros que encontramos.

Ela pressiona os lábios juntos antes de responder. — Não tenho a liberdade de discutir essa investigação com você, Senhorita Fairdale. E você sabe que não deveria estar ‘pensando’ sobre nada disso.

Abaixo meu olhar para o chão. Se eu tivesse que adivinhar, eu diria que era um ‘não’, o que significava que aquelas pessoas ainda estão presas nas gaiolas. O pensamento faz meu pulso acelerar e meu sangue aquecer. Eu entendo que a Guilda não pode simplesmente entrar na casa do Príncipe Unseelie e exigir ver o calabouço, mas sério? Eles não conseguiram descobrir nada até agora?

A Conselheira Starkweather belisca a ponte do nariz. — Eu deveria saber que algo estava acontecendo no momento em que a árvore na mesa ao lado da nossa explodiu mais cedo.

— Desculpe, — diz Ryn. — Uma árvore explodiu?

— Sim, enquanto vocês dois estavam dançando. A maldita coisa ficou em chamas de repente.

Enquanto estávamos dançando... Penso na "explosão" de emoções que senti depois que Ryn sussurrou no meu ouvido e a conversa que tive com Raven sobre perder o controle da magia. Isso não poderia ter sido eu, não é?

— Tenho certeza de que não estava relacionado, — diz Adair. — Provavelmente apenas alguns dos graduados que estavam se divertindo.

— Bem, de qualquer maneira, — diz a Conselheira Starkweather. — Eu preciso entrar em contato com a Corte Unseelie, e vocês dois precisam se preparar para a visita a Corte Seelie. Vocês vão sair amanhã à noite.

— Isso ainda vai acontecer? — Pergunto. Eu estava esperando que Ryn e eu tivéssemos tempo de procurar a caixa que Reed pegou.

— Claro que ainda vai acontecer. Nós não queremos dar a ninguém a impressão de que essa pequena invasão perturbou a maneira como a Guilda opera, não é?

Pequena invasão? Encantamentos fortes o suficiente para proteger a Guilda durante séculos foram quebrados, e ela chama isso de pequena? — Hum, não, senhora. Suponho que não.

***

Eu coloco xarope de chocolate em minhas bagas e passo o frasco para Ryn. Tora me convidou para almoçar junto com Raven e Flint, e eu fui estúpida o suficiente para pedir a Ryn para se juntar a nós. Estúpida, porque mal consigo olhar para ele nos olhos, com todos os sentimentos loucos zumbindo através de mim. Estúpida porque estava tão desesperada em estar perto dele que eu mal podia esperar até hoje à noite quando vamos partir para a Corte Seelie.

— Já ouvi dizer que ela pode ser meio amável às vezes, — diz Raven, verificando os cabelos na superfície reflexiva de uma baga de espelho antes de cobrir com xarope de chocolate.

— Somente se você disser algo errado para ela, — diz Tora. — Como qualquer outra pessoa.

— Mas, ao contrário de qualquer outra pessoa, — acrescenta Ryn, — se você incomodar a Rainha Seelie, ela pode começar a gritar, ‘Cortem as cabeças!’ — Nós quatro olhamos para ele. Ele olha para de volta. — O quê? Está... em um livro. Deixa pra lá.

— Mas como vou saber se estou prestes a dizer é errado? — Pergunto. — Como eu deveria saber o que perturba a Rainha Seelie?

— Bem, aqui é o que ouvi ao longo dos anos, — diz Flint. Ele termina as últimas bagas da tigela antes de descansar os cotovelos na mesa. — Não a olhe nos olhos ao falar com ela; ela não gosta disso. Não fale sobre pólo de pégaso, ela realmente fica com raiva se você torcer contra seus times favoritos e... bem, as coisas ficarão desconfortáveis para você. Ah, e nunca, nunca mencionem a princesa fugitiva. Isso provavelmente a faria cortar sua cabeça.

— Princesa fugitiva? — Ryn pergunta.

— Oh, sim, lembro de ler em algum lugar. — Pego o jarro de molho no centro da mesa. — A atual Rainha Seelie tem três filhos: uma filha - que obviamente está em linha de sucessão para se tornar a próxima rainha - um filho e outra filha. E cerca de duas ou três décadas atrás, a filha mais nova fugiu. — Eu coloco molho na minha colher e enfio a colher na minha boca.

— Eu acho que eles nunca encontraram essa princesa fugitiva? — Ryn pergunta.

— Eu acho que não, — digo ao redor da colher, — considerando que a Rainha fica chateada se você trazer isso à tona. — Eu olho para Flint para confirmar.

— Não, eles nunca a encontraram, — diz ele. — Os rumores dos guardas do palácio eram que a rainha nunca teve um bom relacionamento com sua filha mais nova. Todos pensaram que ela estava secretamente feliz por se livrar dela.

— Isso é horrível, — diz Tora, — querer se livrar de sua própria filha.

Encho minha colher com mais molho. — Só porque você joga no time dos ‘bons’ não significa que você precisa ser uma pessoa legal.

— Ok, então sabemos o que não podemos falar, — diz Ryn. — Sobre o que podemos falar?

O restante do almoço é gasto discutindo tópicos ‘seguros’. Tenho que admitir que estou meio que ouvindo, porque toda a minha atenção está focada em como vou encontrar o lugar secreto onde minha mãe escondeu seus pertences. E não em quão perto a perna de Ryn está da minha. Muito perto. Perto o suficiente para eu alcançar e descansar minha mão sobre ela.

Droga, Violet, você é demais. Estranha. Louca. Você devia parar de pensar nisso.

Eu levanto abruptamente, empilho os pratos sujos em cima uns dos outros, e os mando através do ar na minha frente quando eu vou para a cozinha. — Vou limpar, — eu digo sobre meu ombro.

— Eu ajudo, — diz Ryn.

Eu fecho meus olhos quando meu estômago dá algumas cambalhotas. Ok, seja normal. Seja totalmente, completamente normal.

— Ei, V, você está se sentindo bem?

Dirijo os pratos para a pia e coloco o feitiço de limpeza antes de virar para olhar para Ryn. Ele está encostado no batente da porta, com as mãos empurradas nos bolsos. Uma camiseta simples nunca pareceu tão sexy em alguém.

Não é um pensamento útil, V.

Limpo minha garganta e torço uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo. — Sim, estou bem, por quê?

Ele me observa de perto. — É apenas...

Meu coração bate em um terror súbito. Estou tão pronta para que Ryn descubra como me sinto sobre ele. Na verdade, nunca vou estar pronta. Eu prefiro que sejamos amigos para sempre do que tê-lo rindo na minha cara - ou pior, me dizer que ele sente o mesmo só para acabar quebrando meu coração um dia. — Apenas o quê, Ryn?

Ele balança a cabeça. — Nada.

Volto para a pia para ter certeza de que minha magia está funcionando.

— Oh, ei, eu tenho uma coisa para você, — diz ele. Eu viro para vê-lo tirando algo do bolso. — Novo âmbar. Você mencionou que perdeu o seu antigo na luta ontem. Achei que era necessário substituir de qualquer maneira; provavelmente tinha feitiços da Idade da Pedra.

Coloco minhas mãos nos meus quadris, relaxando agora que estamos de volta ao território familiar. — Não há nada de errado com os feitiços da Idade da Pedra. Eles funcionam.

— Oh, Violet. — Ele suspira e balança a cabeça. — Você não faz ideia das coisas incríveis que esse âmbar pode fazer.

— Não preciso de um novo âmbar extravagante, Ryn. Eu só quero algo simples no qual eu possa enviar mensagens.

— Você pode enviar mensagens aqui. — Ele sorri enquanto acena com a parte retangular do âmbar para mim. — E muito mais.

— Tudo bem. — Estou começando a perceber que, quando ele sorrir assim para mim, farei praticamente tudo por ele. — O que eu devo a você por isso?

— Nada. É um presente. — Ele coloca o âmbar na mesa da cozinha.

Levanto minha sobrancelha. — ‘Outro’ presente de aniversário precoce?

— Claro, podemos chamar assim. — Ele puxa uma cadeira e senta-se. — Quer que eu mostre como usá-lo?

Meu coração traidor pula com a chance de se sentar perto dele novamente. — Sim, porque não.


Capítulo 19

 

 

Mais tarde, naquela noite, Ryn e eu nos reunimos no escritório da Conselheira Starkweather junto com os quatro guardas que nos acompanharão para a Corte Seelie – para nos mostrar o caminho e para garantir que não façamos nenhuma traquinagem na viagem. A Conselheira Starkweather inspeciona os uniformes preto e dourado dos guardas da Guilda enquanto dão a mim e a Ryn algumas instruções de despedida. Então ela abre um amplo portal dos caminhos das fadas na parede. Ela se afasta quando nós seis ligamos os braços - dois guardas na frente, dois atrás, e Ryn e eu no meio.

— Você não pode simplesmente nos dizer para qual parte do mundo vamos? — Ryn diz aos guardas quando estamos atravessando a escuridão dos caminhos das fadas. — Você não precisa nos dar instruções ou qualquer coisa.

Sua pergunta é respondida com silêncio.

— Você não pensou honestamente que teria uma resposta, não é? — Eu digo a Ryn. — É um dos maiores segredos do reino das fadas. Eles não vão lhe dizer.

O braço de Ryn se move contra o meu. Imagino-o encolhendo os ombros. — Vale a pena tentar.

Saímos para nos encontrar entre árvores ao lado de um rio largo que fluia suavemente. As árvores são mais magras e menos enrugadas e de alguma forma mais... elegantes do que as árvores em Creepy Hollow. Tudo aqui parece estar iluminado por dentro, trazendo a floresta tranquila para uma vida brilhante e luminosa. Musgo verde, flores roxas, folhas azuis e areia branca no fundo do rio perfeitamente claro.

— Os caminhos das fadas não podem nos levar para mais longe, — um dos guardas diz. — Usaremos o rio daqui e depois o céu. — Ele gesticula para a água. Um barco branco com uma cabeça de cavalo-marinho levantando-se do arco está deslizando em nossa direção. A magia deve estar dirigindo porque não há ninguém dentro. O barco chega à margem e balança com as ondas suaves.

O guarda sobe no barco e estende a mão. — Senhorita Fairdale, — diz ele. Embora eu tenha certeza de poder entrar sem ajuda, pego sua mão e entro no barco. O interior é simples, com quatro bancos corridos paralelos cobertos de almofadas. Eu subo sobre eles e pego o banco mais próximo da popa.

Ryn e os outros guardas sobem. Sem comando de ninguém, o barco começa a se mover. Sem remos, nada. Ele desliza silenciosamente, pacificamente, através da água. Eu deito de costas com meus ombros contra a borda do barco e olho para o céu através dos galhos. A lua é a maior que eu já vi até hoje, e as estrelas parecem mais próximas do que o normal.

— Ei, olhe, V, — diz Ryn. Eu me sento. Ele está inclinado sobre o lado do barco, apontando para algo. Agarro a borda do barco e espreito a água. Uma mulher com longos cabelos verdes e uma cauda de peixe perolada e iridescente tece engenhosamente entre as rochas no fundo do rio.

— Uau, — eu sussurro. — Nunca vi uma sereia na vida real.

— Elas não gostam de Creepy Hollow, — diz o guarda sentado ao lado de Ryn. — Elas preferem ficar perto da Corte Seelie.

Passo o restante da viagem de barco assistindo as sereias, sereias homens e outras criaturas de água deslizando pela água. Penso em tudo que deve estar debaixo da superfície. Nada para preencher seus ouvidos, apenas um silêncio pacífico, e tudo se movendo graciosamente em câmera lenta.

— Hora de sair, — diz um guarda, interrompendo meus pensamentos. O barco bate fracamente contra a margem. O rio desaparece ao redor de um canto, e um som silencioso e apressado sinaliza uma cachoeira em algum lugar longe. — Vamos viajar o resto do caminho pelo ar.

Saímos, caminhamos um pouco pelas árvores e paramos em frente a uma carruagem fechada, puxada por quatro pégasos brancos.

— Yeah! — Ryn exclama. — Não tenho montado em um pégasos há anos.

— Sr. Larkenwood, você está ciente de que estará andando na carruagem, não no pégasos?

Com um suspiro, Ryn diz, — Tudo bem. Se tiver que ser assim.

É um pouco apertado com nós seis dentro da carruagem, e não estou muito satisfeita por me encontrar presa entre Ryn e um guarda. Bem, parte de mim está ridiculamente extasiada por ter meu braço direito e perna pressionados contra Ryn, mas definitivamente não estou satisfeito por ter o meu lado esquerdo invadido.

— Nós estaremos viajando durante a noite, — diz o guarda invadido o meu lado esquerdo, — então vocês podem querer dormir um pouco.

Oh, ótimo. Temos que nos sentar assim durante a noite toda? Eu tento esquecer o guarda invasor do meu espaço pessoal e me concentro na mão esquerda de Ryn, que está descansando em sua perna direita, ao lado da minha. Tão perto, se eu esticasse meus dedos, eu estaria tocando a mão dele. É ridículo o quanto eu quero estender a mão e pegar a dele. Nunca pensei que desejaria tanto o toque de alguém, mas eu quero. Apenas pensar em suas mãos na minha pele me faz sentir quente por toda parte.

Com um empurrão, a carruagem avança, então acelera rapidamente. Momentos depois, o ruído sob as rodas desaparece quando a carruagem se inclina ligeiramente para trás.

Estamos no ar.

A emoção de voar é suficiente para me deixar esquecer momentaneamente meu desejo por Ryn. Olho passando por ele e para fora da janela da carruagem. Está escondido parcialmente por uma cortina, mas eu posso ver as copas das árvores desaparecendo abaixo de nós enquanto disparamos pelo céu em direção às estrelas. Isso faz minha cabeça girar.

Inclino minha cabeça para trás e fecho meus olhos. Eu deveria estar tentando me lembrar de tudo o que meu pai uma vez me contou sobre a visita da minha mãe a Corte Seelie, e em vez disso eu estou obcecada por Ryn. Junto minhas mãos no meu colo para que meus dedos não se entrelacem acidentalmente com os de Ryn e reordeno meus pensamentos. Lembro das pistas que o meu pai me deu sobre o esconderijo secreto da minha mãe.

***

Meu pescoço está rígido. Eu mexo minhas pálpebras e pisco várias vezes contra a luz da manhã antes de me lembrar de onde eu estou - uma carruagem - e no que eu estou dormindo - Ryn.

OH, O MAIOR CONSTRANGIMENTO DE TODOS OS CONSTRANGIMENTOS. Há quanto tempo eu dormi no ombro de Ryn? Eu falei durante o sono? Eu me aconcheguei nele? Eu babei nele?

Esse último pensamento me faz sentar apressadamente e dar uma palmadinha na minha boca.

Ok. Sem baba.

Ryn esfrega uma mão sobre os olhos e depois através de seus cabelos. Torço para que ele também estivesse dormindo. Espero que ele não tenha ideia de que eu acabei de usá-lo como travesseiro.

Ele olha para mim com confusão em seus olhos. — O quê? — Pergunto, com um pouco mais de defesa na minha voz do que o necessário. — Algum problema?

— Não. — Ele franze a testa. — Algum problema com você?

— Não.

Ele pega o meu braço para me impedir de deslizar do banco quando a carruagem desacelera de repente. Nosso passeio termina com um solavanco quando as rodas do batem no chão. Ryn solta meu braço e se afasta de mim para olhar pela janela. Minha pele parece estranhamente fria na ausência de seu toque.

— Chegamos, — diz o guarda invasor do espaço pessoal, alcançando uma alavanca ao lado do seu banco. A parte superior da carruagem desaparece. O ar fresco e o cheiro delicado de flores flutuam sobre mim. A carruagem desliza para frente enquanto viajamos por um largo caminho alinhado por ambos os lados por árvores carregadas de flores na cor rosa e laranja. Os galhos alcançam ambos os lados para se encontrar, nos sombreando do sol da manhã. As flores flutuam no chão como confetes.

— Então... Alguém pode simplesmente andar por aqui? — Ryn pergunta. — Eu não vi um portão.

— Não há necessidade de um portão, — diz o guarda em frente à Ryn. — Este lugar é protegido por fortes encantamentos e vigiado por centenas de guardas escondidos.

Depois de examinar as árvores e sem sorte de encontrar os guardas, direciono meus olhos mais uma vez para frente. Eu não quero perder um único detalhe do palácio no qual estamos prestes a entrar. No final da calçada há uma arcada branca com uma cascata de água correndo pela abertura, impedindo que vejamos. À medida que passamos por baixo do arco, a água divide-se como uma cortina. Nós entramos em um pátio cheio com as mesmas árvores de flores rosa e laranja. Os pégasos param. Através das árvores, pego vislumbres de paredes e pilares brancos, mas antes que eu possa olhar de perto, um novo par de guardas - com as insígnias da Rainha Seelie em seus uniformes - vem à frente para nos encontrar. Eles se curvam, esperam que Ryn e eu desçamos da carruagem e nos guiam pelo caminho com passos rápidos e controlados.

Passamos por debaixo de outro arco e entramos em um segundo pátio. Embora tenhamos deixado a floresta lá fora, é difícil ver onde a natureza termina e o palácio começa. Talvez não haja início e final. Talvez uma floresta de árvores brancas tenha sido persuadida a crescer e a se fundir em uma estrutura de salas, torres, pilares e escadas em espiral, e este palácio é tão vivo quanto à floresta que a rodeia.

Eu vejo pessoas aqui e ali, alguns se inclinando nas varandas e outros caminhando ao longo de corredores abertos. Vejo suas roupas ricamente detalhadas e me sinto muito malvestida com minha roupa preta de todos os dias. Tora me assegurou que eu não precisava trazer roupas elegantes, então espero que não haja necessidade de entrar em pânico por estar vestida de forma inadequada.

Ryn e eu seguimos os guardas através de uma vasta sala aberta com uma fonte de água em seu centro - três sereias atingindo o céu enquanto águas brotam de suas mãos. Subimos por uma escada sinuosa, ao longo de um corredor, e finalmente chegamos aos nossos quartos. Eu não sei como é o quarto de Ryn, mas o meu é, claro, muito mais elegante do que qualquer coisa em que eu já sonhei dormir: cama com dossel, chaise longue, espelho ornamentado no piso, varanda. Uma empregada está parada ao lado do quarto com um pergaminho na mão.

Com a minha mente ainda um pouco abobalhada, eu escuto apenas metade enquanto a mulher lê nosso cronograma no pergaminho. Ela me diz quando nos mostrarão o terreno, com quem vamos almoçar, a que horas jantaremos com a Rainha e quando estaremos observando o treinamento da Guarda Real.

A Guarda Real. Certo. Essa é a verdadeira razão pela qual recebemos esse "prêmio" de visitar a Corte Seelie - assim a Rainha pode verificar os últimos formandos e ver se ela quer laçar qualquer um para trabalhar aqui como seus guardiões pessoais.

— Hoje à noite e a noite de amanhã, alguém virá ao seu quarto antes do jantar para vestir você, — acrescenta a empregada. — E seus guardas da Guilda estarão aqui de manhã, dentro de dois dias, para acompanhá-la de volta para casa. Você tem alguma pergunta, Senhorita Fairdale?

— Hum, não.

Ela faz uma reverência e sai do quarto. Pergunto-me o que eu deveria fazer agora. Eu tento me lembrar do início do seu discurso, mas só posso pensar que ela me disse que minha bolsa foi entregue no quarto antes de eu chegar aqui.

Talvez eu possa relaxar, então. Eu ando até a cama que provavelmente está coberta de lençóis com milhões de fios de algodão, me jogo e tento não pensar em Ryn dormindo apenas uma parede de distância de mim esta noite.


Capítulo 20

 

 

É estranho ser vestida por alguém que eu não conheço. Também é estranho usar algo que eu nunca escolheria para mim. O vestido, que aparentemente chamava de champanhe, é brilhante demais para o meu gosto, aperta todo o meu corpo e até meus joelhos, onde ele abre apenas o suficiente para eu mover minhas pernas. Acaba no chão, a poucos metros atrás de mim. As mangas também são ridiculamente longas, em forma de sino penduradas ao longo das pontas dos meus dedos. Tenho certeza de que elas vão encontrar seu caminho na minha sopa ou sobremesa.

A conjuradora de roupa gira sobre mim, fazendo pequenos ajustes no vestido. — Tudo bem, acho que acabamos aqui. — Ela recua para me examinar, olha a chave de ouro ao redor do meu pescoço e abre a boca. — Eu não vou tirar, — eu digo antes que ela possa me dizer que não combina com o meu vestido ou algo assim.

— Tudo bem. Bem, se você não precisa mais de mim, tenho outras garotas para vestir.

— Ótimo, eu acho que posso lidar daqui para frente. — Eu não preciso que ela prenda meu cabelo apressadamente em algum penteado ridículo.

— Você se lembra onde fica a sala do trono?

— Sim. — Foi-nos dito exatamente onde nos reunir antes do jantar enquanto fazíamos nosso passeio pelo palácio mais cedo. Nós até recebemos uma lição rápida na sala de jantar sobre que talheres usar para cada prato.

A conjuradora de roupas acena com a cabeça e sai para encontrar as outras guardiãs graduadas que precisam de ajuda para se vestir. Não sei por que não pensei nisso antes de chegarmos aqui, mas, obviamente, todas as Guildas se formam ao mesmo tempo e enviam os seus melhores graduados para cá. Faz sentido para a Corte Seelie receber todos ao mesmo tempo.

Certo. Hora do jantar.

Eu vou em direção a porta, curvando os dedos dos pés no tapete espesso. A única coisa que gostei desta roupa é a ausência de sapatos. Apesar da elegância de suas roupas, parece que a tendência por aqui é ficar descalço.

Abro a porta para encontrar Ryn esperando. Eu esperava que ele estivesse vestindo um terno, mas parece que alguém foi enviado para vesti-lo também. Suas calças são brancas, assim como a longa túnica que atinge suas coxas. O topo da túnica é coberta de bordados e pérolas pequenas, e há um cachecol cintilante pendurada ao redor do seu pescoço que atinge os lados do seu joelho.

— Uau, — ele diz quando me vê. — Você parece realmente... brilhante.

— Eu sei. Você provavelmente poderia me ver da lua. — Eu fecho a porta atrás de mim. — Mas você não pode falar exatamente isso porque você não está muito atrás no departamento de brilho.

Ryn ajusta seu cachecol. — Sim, eu não sou fã da vestimenta formal das faeries tradicionais. Eu acho que a realeza precisa se mover para a era moderna.

— Você poderia sugerir isso para a rainha esta noite. Tenho certeza de que seria uma conversa ótima para o jantar.

— Logo após ela cortar a minha cabeça. — Ele estende o braço para mim, e eu sinto uma emoção quando aceito.

Uma emoção? Ugh, o que eu me tornei? Eu costumava usar as minhas emoções para lutar contra criaturas perigosas; agora eu as uso quando toco no braço de Ryn. Respiro fundo e tento o meu melhor para lembrar o sentimento de apenas amigos com Ryn.

— Então, sua visita a Corte Seelie está à altura das suas expectativas? — Ele pergunta enquanto descemos as escadas.

— Ainda não. A festa do chá no jardim esta tarde interferiu com meus planos de exploração.

— Ah, sim. Beber chá com a filha da rainha e vinte e poucos outros graduados. Eu posso ver como isso não seria realmente o seu, uh, lance.

Eu reviro meus olhos. — Ha - Fantástico - Ha.

— Fala sério, você riu por dentro, — ele diz enquanto me cutuca.

Nós seguimos as instruções que nos foram dadas anteriormente e encontramos nosso caminho para um corredor largo fora da sala do trono. Vários outros graduados já estão vestidos e esperavam lá. Uma menina alta com cabelos e olhos tão pretos como a obsidiana olha Ryn de cima para baixo antes de lhe dar um sorriso deslumbrante. Quando ele acena com a cabeça em sua direção, o ciúme queima quente e repentino no fundo do meu estômago. Aparentemente, ela entende como um convite porque ela se aproxima e começa a conversar com ele sobre de onde ela é. Ele puxa o braço para longe do meu e se inclina contra a parede, exalando confiança enquanto fala sobre a Guilda de Creepy Hollow.

Eu acho que eu poderia tentar me juntar à conversa em vez de ficar parada embaraçosamente, mas qual seria o ponto? Eles claramente não estão interessados em conversar com mais ninguém. O ciúme ainda me cutuca maldosamente, e odeio que dói assistir Ryn flertar com outra pessoa. É exatamente por isso que eu não deveria ter sentimentos mais do que apenas amigos por ele. Eu sei que só acabarei me machucando porque sempre haverá outra garota mais excitante e exótica do que eu.

Eu me afasto, balançando meus braços ao meu lado e tentando fingir que não me sinto rejeitada. Olho em volta e percebo que um dos caras graduados está me observando. Outro dá um sorriso na minha direção. Eu olho para longe rapidamente, apertando minhas mãos atrás das minhas costas. Esquisitos.

As grandes portas da sala do trono gravadas com padrões de folhas e galhos curvados lentamente começam a abrir. Um homem uniformizado vem através delas e fica em frente a nós. Todas as conversas entre os graduados cessam. — A Rainha Seelie irá recebê-los agora, — diz ele. — Vocês entrarão na sala do trono quando for anunciado. Mantenham seus olhos baixos, curvados ou em reverência, e se ela falar com você, responda com ‘minha senhora’. Ela irá descartá-los com um aceno, depois do qual você vai deixar a sala pela porta à esquerda e tomar seu lugar na sala de jantar.

As portas estão totalmente abertas agora, e o guarda volta a ficar de pé lá dentro, em frente a outro guarda. Quando ele chama o primeiro nome - Opal Briarstone - a menina de cabelos negros de pé ao lado de Ryn anda para frente. Eu fico nas pontas dos pés e estico o meu pescoço para tentar vislumbrar a sala e a Rainha, mas depois de um olhar severo do guarda chamando os nomes, eu volto ao normal.

Eu não sei qual o tipo de ordem que estão usando para chamar os nomes, mas apenas quatro de nós ficaram no corredor quando Ryn e eu somos chamados. Avançamos para a sala, quase o suficiente para segurar mãos. Azulejos de mármore gigantes - surpreendentemente, não tão frio sob meus pés - formam um padrão de mosaico de círculos concêntricos pelo chão. As formas se movem sob a superfície dos azulejos, e lembro por um segundo da câmara onde encontrei Angelica, a mãe de Nate. Eu empurro para longe da minha mente. Estou prestes a conhecer a própria Rainha Seelie; não preciso de distrações.

Chegamos a uma marcação no chão e paramos. Ryn se inclina e eu tento fazer uma reverência com o meu vestido super-apertado. Levanto meus olhos, alto o suficiente para ver a bainha da saia da rainha, que parece ter sido lançada de uma cachoeira verde em cascata.

— Ah, sim, — diz a rainha. — A Guilda que conseguiu produzir dois melhores graduados em vez de um. Isso não acontece desde o reinado da minha mãe. — Ela pausa, mas eu não vejo sua mão se mover, então eu fico exatamente onde estou. — Vocês dois vêm de uma longa linhagem de guardiões, não é?

— Sim, minha senhora, — diz Ryn, respondendo por nós dois.

Outra pausa. — Tão infeliz, Senhorita Fairdale, o que aconteceu com os seus pais.

Minhas entranhas parecem congelar e queimar ao mesmo tempo. — Infeliz, minha senhora? — Eu levanto meus olhos. Eu sei que não deveria, mas já é tarde demais. Eu vejo uma mulher com longos cabelos pretos entrelaçados com fios de prata. Suas tranças grossas deslizam sobre seus ombros nus. Seus brilhantes olhos prateados me perfuram, mas ainda não consigo desviar o olhar. Ela tem muitos séculos de idade, mas, é claro, seu rosto é impecável. E algo sobre esse rosto e a maneira como ela inclina o queixo enquanto olha para mim parece familiar. — Se você está se referindo ao fato de que ambos os meus pais foram assassinados ao executar seu dever guardião, eu prefiro pensar que é trágico em vez de simplesmente infeliz.

Do canto do meu olho, vejo as mãos de Ryn apertadas em punhos. Se eu pudesse ouvir seus pensamentos, eles provavelmente seriam algo como você está tentando ter sua cabeça cortada? Agora seria um bom momento para apontar meus olhos firmemente para baixo, mas não consigo afastá-los do olhar prateado da rainha. Por vários momentos intermináveis, estamos presas no que parece um concurso de encarar. Então ela levanta a mão e nos libera com um rápido aceno em direção à porta à esquerda.

 

***

 

— Maldita bunda goblin, V, eu pensei que ela iria te matar com os olhos.

Eu ri quando me balancei ao redor de um pilar fora da sala com a fonte de água. Nosso jantar com a Rainha acabou e nós estamos voltando para nossos quartos. — Eu também. Eu não tenho ideia do que aconteceu comigo; acabei me irritando quando ela se referiu às mortes de meus pais como ‘infelizes’. Queria ter dito que infeliz foi a filha caçula dela ter fugido.

— Então ela realmente teria acabado com você, — diz Ryn. — É até estranho ela conhecer seus pais. Você acha que ela lê algum tipo de bio para cada um de nós antes de chegarmos aqui? — Ele se inclina e passa a mão pela base da fonte de água enquanto passamos, espirrando água nas minhas costas.

— Ei! — Eu grito, então cubro minha boca quando dois graduados nas escadas viram e franzem a testa para nós. — Eu não sei. Ela provavelmente tem alguém que lhe fornece magicamente os destaques sobre cada um de nós enquanto entramos na sala.

— Provavelmente. — Subimos a escada. — Sabe, eu sempre imaginei que jantar com a Rainha fosse ser um evento muito mais informal. Eu estava esperando por algumas discussões aprofundadas, e em vez disso, estávamos sentados tão longe que não podíamos ouvi-la.

— Bem, você parecia ter muita coisa para conversar com a garota sentada ao seu lado, — eu digo enquanto eu corro minha mão no corrimão. — E eu não estou falando de mim.

Ryn para, e eu viro para olhar para ele do degrau acima dele. Ele abaixa a cabeça para o lado enquanto diz, — É ciúme que escuto em sua voz, Sexy Pixie?

— Não. — A palavra deixa minha boca muito rápido. — E não me chame de Sexy Pixie. É quase tão ruim quanto Pixie Sticks.

— Quase. — Ele continua subindo as escadas. — Mas não tanto.

Chegamos primeiro ao meu quarto, e paro com a mão contra a porta. — Tenho tentado descobrir uma coisa toda a noite. A rainha parece familiar para mim, mas sei que nunca a conheci antes.

Ryn arqueia as sobrancelhas. — Você sabe que o retrato dela está pendurado na biblioteca na Guilda, certo?

— Oh, sim, eu tinha me esquecido disso. — Então eu balanço minha cabeça. — Mas nunca sento no final da biblioteca. Passaram-se anos desde que vi esse retrato... — Eu encolho os ombros e me inclino para abrir minha porta. — De qualquer forma, te vejo em cinco minutos?

— Sim, — diz Ryn, me dando um aceno.

Eu fecho minha porta e retiro o vestido. Eu visto calças pretas e um top e prendo o meu cabelo. Devo adicionar minhas botas? Não, estou gostando de estar com os pés descalços demais. Mas isso me deixa com o problema de onde colocar minha stylus. Depois de pensar, eu torço meu cabelo e coloco minha stylus através dele para mantê-lo no lugar. Perfeito. Por que não tentei isso antes?

— Você está pronta? — Ryn chama do outro lado da porta.

— Sim, entre. — Inclino para frente para um rápido olhar no espelho do chão; aparentemente, ainda me importo como pareço na frente de Ryn. O meu reflexo mostra a luz do teto dos insetos brilhantes que brilham sobre a chave de ouro ao redor do meu pescoço. Levanto meus dedos para tocá-lo, um gesto que rapidamente se torna um hábito para mim. — Oh, eu queria te perguntar uma coisa. — Eu olho para Ryn no espelho. — Você trouxe o colar da eternidade? Esta visita parece ser a oportunidade perfeita para dar à Rainha.

Ryn balança a cabeça e empurra as mãos nos bolsos.

Eu viro. — Por que não?

Ele soltou um longo suspiro antes de responder. — Pense nisso, V. Algum monarca tem o direito de viver para sempre? Eles já conseguem governar por centenas de anos; não é o suficiente? Não parece certo ter a mesma rainha para sempre. Não parece certo para qualquer um viver para sempre.

Olho para as minhas mãos, considerando suas palavras. Eu nunca pensei nisso antes, mas acho que ele está certo. — Bem, o que você vai fazer com o colar?

— Eu não sei. Destruir, eu acho.

— E o que, — digo gentilmente, — faz você pensar que você tem o direito de destruí-lo?

Ele desvia os olhos, esfregando o polegar contra a moldura da porta. Quando seu olhar retorna para mim, há humor nos olhos dele. — Alguém já perguntou se as calças que você usa cortam a circulação de sangue para a metade inferior do seu corpo?

A mudança súbita no assunto me deixa zonza. Olho para ele, me perguntando se a pergunta ridícula é uma piada. Ele olha para trás. Aparentemente não. — Não, não posso dizer que eu já tenha sido perguntada sobre isso.

— Oh. — Seus olhos se movem para baixo, escovando meu corpo antes de voltar para cima. — É só que sempre pensei que elas pareciam um pouco apertadas.

Meu rosto se aquece com o pensamento de Ryn examinando minhas pernas. Eu pego meu vestido brilhante da cama e o afasto para pendurá-lo sobre a parte de trás da chaise longue. — Elas não são apertadas, Ryn, eles são super elásticas. É por isso que eu as uso o tempo todo; Elas são ótimas para treinar e lutar. — Eu volto para ele com os braços cruzados sobre meu peito. — E como exatamente isso é importante?

— Não é. — Ele se afasta da moldura da porta. — Vamos começar com a Missão: Exploração?

— Sim, por favor, vamos começar. — Eu passo por ele para o corredor enquanto ele fecha minha porta. Estive desesperada para procurar pelo palácio o dia todo, e não vou dormir até encontrar o esconderijo da minha mãe. — Se alguém perguntar, estamos apenas dando um passeio noturno.

— Certo, — diz Ryn, — porque ninguém disse que não fomos autorizados a fazer isso.

— Exatamente.

— Então, você tem até a menor ideia por onde começar a procurar?

— Sim, mais ou menos. — Nós descemos as escadas. — Meu pai lembrou de que minha mãe dizia algo sobre um lago ou piscina que possui uma estrutura de pedra construída perto. Ele disse que ela aprendeu um feitiço de arquitetura e criou uma pequena sala escondida na pedra. Sabe, como a nossa casa está escondida dentro das árvores? E ela deixou algum tipo de sinal ou símbolo próximo que ajudaria uma pessoa a abrir.

— Certo, essa informação seria útil se não fosse pelo fato de que passamos por cerca de quinhentas piscinas em nosso passeio pelo palácio hoje.

— Isso tudo? Tenho certeza de que contei seiscentos. — Eu rio e me esquivo do caminho quando Ryn pega a água derramando das mãos das sereias e tenta espirrar em mim pela segunda vez.

— Tudo bem, talvez exagerei apenas um pouquinho. — Ele sacode as mãos, enquanto seus olhos deslizam sobre meu ombro e se arregalam. Eu viro para ver o que ele está olhando. Um faerie, com a cabeça inclinada como se estivesse pensando profundamente, vem até nós através de um dos muitos arcos do lado aberto da vasta sala. Ele olha, encontra o meu olhar e congela. Toda a cor drena de seu rosto.

Se eu pudesse ver meu próprio rosto, provavelmente encontraria um olhar semelhante de choque. Não posso me mover. Não consigo respirar. Não consigo nem mesmo pensar corretamente. Porque o homem de pé embaixo da arcada, o homem com olhos amarelo-ouro e mechas da mesma cor que atravessam seu cabelo castanho, é o meu pai.


Capítulo 21

 

 

Um momento de silêncio congelado passa entre nós. Então ele se vira e corre para os fundos, desaparecendo na escuridão da noite.

— Espere! — Eu grito. Eu corro atrás dele, mas Ryn agarra minha camisa e me puxa de volta.

— O que você está... me solta!

— Pare, Violet. Pense nisso por um segundo.

— O que há para pensar? É o meu pai! — Eu grito. — Me solta!

— Como? — Ryn grita, me sacudindo. — Como pode ser seu pai? Você viu o corpo dele. Você o observou flutuar debaixo nas Cataratas do Infinito. Eu também.

Eu me apoio contra Ryn em derrota quando percebo a verdade. Claro que não é meu pai. Não é possível. Mas, por um momento minúsculo, queria tanto acreditar que era. — Metamorfo, — eu sussurro. Essa é a única explicação. Algum metamorfo assumiu a forma do meu pai.

— Deve ser, — diz Ryn calmamente. — Desculpe, V. Eu não queria que você fugisse atrás dele e que seu coração fosse quebrado de novo. — Ele aperta meus braços em um gesto reconfortante, depois esfrega as mãos para cima e para baixo.

Ryn está certo. O homem não é meu pai. Mas isso não significa que eu não quero saber quem diabos ele é e por que ele não pode usar sua própria maldita forma para andar por aí. Respiro profundamente, bato o meu calcanhar fortemente no pé de Ryn e tiro as suas mãos.

— Violet, pare!

Mas eu já estou correndo pela grama atrás da sombra do homem. Ele corre por uma colina, salta sobre as cadeiras acolchoadas no pequeno pavilhão carregado de flores, onde tomamos chá mais cedo e nos dirigimos para um bosque. Eu me apresso atrás dele, mas percebo que uma vez que estou cercada por árvores que não há nenhum caminho a seguir, e não posso mais vê-lo.

— Onde você está? — Eu grito. — Do que você tem medo? Saia e me enfrente, metamorfo de duas caras! — Eu procuro na escuridão, me virando ao redor enquanto ando no meio das árvores para me certificar de que eu não perca uma única sombra ou movimento. Mas quando chego ao outro lado do bosque, não encontro ninguém. O terreno espalhado ao meu redor está quietos e calmos. Ele não pode ter desaparecido através dos caminhos das fadas porque portais não podem ser abertos aqui na Corte Seelie. Então, ele deve ser realmente bom em se esconder. E correr.

Minhas mãos parecem estar tremendo. Eu balanço-as em punhos enquanto ando de volta através das árvores, atravessando a grama e subindo a colina. Eu queria nunca o ter visto. Sim, é suspeito que haja um cara correndo por aí fingindo ser meu pai, mas se eu não o tivesse visto, não teria todas essas memórias nadando dolorosamente na minha mente. Eu ficaria feliz e ignorante em minha própria pequena missão de exploração em vez de me sentir como - oh, como eu simplesmente o tivesse perdido de novo.

Eu me vejo em pé na frente da porta do meu quarto piscando as lágrimas para longe. Coloco minha mão contra a parede e respiro fundo e estremeço. Toda a dor que senti quando ele morreu está ameaçando ressurgir, e eu não quero isso. Eu não queria sentir naquele momento, e não quero sentir agora.

Abro a porta e vejo Ryn sentado na beira da minha cama. Eu cruzo meus braços sobre o meu peito enquanto ele se levanta. — Ele fugiu porque você não me soltou. — Minha voz é silenciosa, mas posso ouvir a raiva ferver logo abaixo da superfície. Meia hora atrás eu queria fazer coisas estúpidas, como correr meu dedo sobre os lábios de Ryn; agora eu nem quero olhar para ele.

— Eu estava apenas tentando fazer você pensar de forma sensata por um momento.

— Eu odeio você agora.

— Não, não odeia.

Eu não odeio, mas odeio que ele tenha tanta certeza de si mesmo. Odeio que ele esteja certo. Olho para o chão enquanto digo, — Eu gostaria que você fosse embora agora.

Ele vem em minha direção. — Por favor, não me afaste, V. Quero estar aqui por você.

Eu levanto a minha mão para impedir que ele se aproxime. — Não há necessidade de você estar aqui. Ok, então há um cara aleatório por aí fingindo ser meu pai, e eu não sei por quê. Mas é apenas isso. Nada demais. Não é como se alguém tivesse morrido. — Oh, inferno, oh inferno, é como se ele tivesse acabado de morrer de novo. Uma dor aguda apunhala o núcleo do meu ser e ameaça me fazer dobrar.

— Pare de mentir, Violet. Eu sei que não é o que você está sentindo, então por que você não diz o que realmente está acontecendo na sua cabeça?

— O que você é, meu maldito conselheiro? — Eu viro de costas para ele, apertando meus braços ao redor do meu meio. — Eu não falo com Tora sobre meus sentimentos, e também não vou falar com você.

— Tudo bem, não fale com ninguém, mas pelo menos, admita que está sentindo algo em vez de continuar como se não fosse grande coisa.

— Estou sentindo algo! Estou chateada com você!

— E?

— E saia! — Eu aponto para a porta aberta.

— Não.

— SAIA!

Ele se aproxima e fecha a porta. — Não. Não vou deixar você sozinha assim.

— Sim, você vai! Você não entendeu? Todos partem. Minha mãe, Reed, Cecy, você, meu pai, e você vai me deixar de novo! Eu fui estúpida o suficiente para me permitir me importar com Tora, mas é isso. Então você precisa sair agora. Vá!

Ele balança a cabeça.

— Eu disse para SAIR, Ryn! — Eu o empurro fortemente em direção à porta, e quando ele ainda não faz nenhum movimento para sair, eu começo a bater em seu peito com meus punhos.

Ele agarra meus pulsos e detém meus braços longe de seu corpo enquanto eu faço o meu melhor para acertá-lo um pouco mais. Por que ele não está revidando, maldição? — Isso aí, — ele diz, como se esse fosse o tipo de reação que ele esperava.

Furiosa, afasto meus braços para fora de seu alcance. Depois de um último empurrão em seu peito, atravesso o quarto para o banheiro privativo e me tranco dentro. As lágrimas já estão caindo quando eu me jogo na grama encantada ao lado da piscina e enterro minha cabeça em minhas mãos. Um tremor passa por mim. Minha garganta queima. Soluços começam a tremer meu corpo.

Meu pai. Parecia exatamente ele. Ele estava parado bem na minha frente, tão perto que ele poderia me envolver em seu abraço forte e caloroso, como costumava fazer quando eu tinha medo de uma tempestade ou quando as crianças na escola eram ruins comigo.

Mas não era ele. Ele ainda está morto.

E agora, eu sinto muita falta dele.

— Violet?

Ugh, por que Ryn ainda está aqui? Por que não tranquei a porta? Eu me enrolo ainda mais em mim, envolvendo meus braços ao redor da minha cintura e torcendo para que Ryn fique assustado pelas lágrimas. Os meninos não gostam de meninas chorando, certo? Esta devia ser sua sugestão para sair.

Em vez disso, eu o sinto se ajoelhar ao meu lado. — Eu não estava lá por você quando realmente aconteceu, — ele diz calmamente. — Por que você não pode me deixar estar aqui por você agora?

Não choro na frente das pessoas. Eu não, eu não, eu não. No entanto, aqui estou eu, violando as minhas próprias regras.

— Ok, bem, você não está mais me batendo, então vou aceitar isso como um bom sinal.

Não. Sem bater. Mas não consigo parar de chorar, e não consigo ver nada, exceto o contorno borrado dos meus dedos na frente do meu rosto. O que Ryn planeja fazer exatamente? Sentar-se aqui até eu parar de chorar? Se ele ainda espera que eu vou me abrir e contar todos os pensamentos e sentimentos que estão me torturando, ele vai esperar por muito tempo.

— Desculpe, V, — diz Ryn. — Quando a Rainha Unseelie nos trancou dentro da minha cabeça e eu fiquei cara a cara com Reed, isso realmente bagunçou com a minha cabeça. Eu posso imaginar que ver seu pai deve estar fazendo o mesmo com você.

Bagunçou com a minha cabeça. Essa é uma maneira de colocar isso.

Sinto que o corpo de Ryn se aproxima do meu. Seu braço desliza em volta dos meus ombros. Suponho que ele esteja esperando para ver se eu vou me afastar e dar um soco na sua cara, porque depois de alguns momentos sentados congelados na mesma posição, ele envolve o outro braço ao meu redor e me puxa gentilmente contra o seu peito.

Eu não luto contra ele.

Ninguém me segurou assim quando meu pai morreu. Suponho que Tora teria feito se eu tivesse deixado, mas eu não deixei. Quando bati a porta e gritei para que ela me deixasse em paz, ela ouviu. Não foi como Ryn, que se recusou a me deixar desligar minha dor como sempre fiz.

Inclino-me nele e tomo a decisão de parar de lutar contra essa batalha perdida contra as lágrimas. Em vez disso, como quando eu tropecei para longe da casa em chamas dos Harts me sentindo doente, tonta e com dor, eu deixei ir e confiei em Ryn para me pegar.

***

Uma nuvem branca fofa de colcha de cama me envolve. Deliciosamente suave. Estendo-me sob as cobertas e rolo sobre minhas costas. A luz da manhã filtra através da cortina transparente que cobre a cama com dossel e envolve tudo em um brilho dourado e suave. Lembro de lágrimas secando sobre as minhas bochechas quando adormeci ontem à noite, mas a manhã trouxe uma espécie de quietude dentro de mim.

Eu me viro para o meu outro lado — e congelo.

Ryn, em toda a sua glória perfeita, está dormindo a apenas alguns centímetros do meu rosto. Debaixo da minha colcha. Na minha cama. Cachos escuros de cabelo caem sobre sua testa, e seus lábios estão separados um pouco. Ele parece tão pacífico quanto eu senti um segundo atrás. Suas pálpebras flutuam, e eu me afasto dele. No momento em que o seu olhar piscando vem descansar sobre mim, estou deitada bem na beira da cama. — Hum, o que você ainda está fazendo aqui?

Ele pisca uma vez mais e diz, — Bem, eu disse que não iria embora, não é? Então você me disse que eu iria e, bem, eu tinha que provar que você estava errada.

Ele remove um braço de baixo da colcha e me dá o tipo de sorriso que me derrete por dentro. Ugh, como ele sempre consegue parecer tão gostoso, até mesmo na primeira hora da manhã? Especialmente na primeira hora da manhã. Eu deveria pedir-lhe para sair agora, mas não posso arrancar meus olhos de seu olhar azul penetrante. Sem aviso, estou inundada mais uma vez por tudo o que sinto por ele. Não consigo esconder isso. É muito mais do que eu nunca pensei que sentiria por qualquer pessoa e isso ameaça me dominar. Não consigo entender por que esses sentimentos não estão explodindo de todos os poros do meu corpo e banhando a sala com calor, alegria e vertigem.

— Violet, — diz Ryn calmamente, sua expressão mudando para uma que eu não consigo ler. Seus olhos procuram meu rosto quando ele se aproxima um pouco mais de mim. Meu coração começa a saltar de forma errática. — Eu preciso dizer...

— VioletVioletVioletVioletViolet.

Eu pulo de susto e olho em volta. Colidindo pelo chão do quarto está meu pequeno espelho roxo. Ele fica no chão embaixo de mim, gritando meu nome e pulando para cima e para baixo sobre as pernas tão pequenas que não tem nenhuma esperança de subir na cama.

— Que merda é essa? — Diz Ryn.

Abaixo e agarro o espelho; O rosto de Tora é visível na superfície brilhante. Eu toco no vidro. — Bom dia, bela adormecida, — diz ela. — Eu acordei você?

— Hum, mais ou menos. — Não exatamente.

Tora empurra o cabelo da testa. — Eu convenci Raven a ir correr comigo cedo de manhã em Creepy Hollow. Ela mal pode falar agora, então pensei que deveria checar você no lugar dela.

De algum lugar atrás de Tora, Raven diz, — Apenas... recuperando... o fôlego.

Ao lado de mim, Ryn cai de volta no travesseiro. — Merda, essa coisa quase me deu um ataque cardíaco.

Tora me dá um olhar curioso. — Foi Ryn que acabei de ouvir?

— Não. — Inclino o espelho para longe de Ryn para ter certeza de que ele não pode ser visto.

Raven com seu rosto suado e suas bochechas coradas, enfia a cabeça sobre o ombro de Tora. — O que Ryn está fazendo no seu quarto, de manhã cedo?

— Não era ninguém, — digo enquanto empurro Ryn para a borda da cama com o pé. — E eu pensei que você deveria estar recuperando o fôlego.

— Recuperei.

— Eu odeio ter que ser a figura parental aqui, — diz Tora, — mas não acho apropriado que você e Ryn compartilhem a cama.

Ryn bufa. Eu dou um chute nele. Raven se afasta e olha para Tora. — Certo, como se você realmente tivesse moral para falar disso.

Um momento estranho passa antes de eu dizer, — Do que você está falando, Raven?

— Oh, Tora não falou sobre o cara da Guilda de Londres? O cara com quem ela passou tanto tempo quando...

— Ok, isso realmente não é importante neste momento, Raven, — interrompe Tora. Mas é claro que é porque suas bochechas estão ficando coradas enquanto ela não olha para mim.

— Tora, você está falando sério? — Pergunto. — Você esteve saindo com um cara? Isso é ótimo. Eu não acho que eu já soube de você...

— Tudo bem, como eu já disse, realmente não é grande coisa, e não precisamos falar sobre isso agora. Eu só queria verificar e ver como você está na Corte Seelie, e obviamente você está bem, então Raven — ela olha para Raven antes de olhar para mim — e eu vamos embora agora. Ok? Divirta-se.

— Espere, queria te perguntar sobre...

— Tchau!

— a Guilda, — eu termino. Mas ela se foi. Sua imagem desaparece do espelho, e eu me vejo em vez disso, completa com cabelos e uma expressão confusa. O espelho dobra seus minúsculos braços sobre sua superfície de vidro e ainda está na minha palma. Bem, não tenho certeza sobre o que se tratava, mas Tora definitivamente fará um interrogatório quando eu chegar em casa.

— Então, — diz Ryn. — Um espelho que a persegue até você responder. E aqui eu pensando que a única tecnologia das fadas em que você estava interessada era um âmbar da Idade da Pedra.

Eu dou-lhe um olhar mordaz. — Foi um presente, Ryn.

Ele abre a boca para responder, mas uma batida na porta o silencia. — Senhorita Fairdale? — A pessoa que está fora da porta chama. Parece ser a empregada que leu minha agenda ontem. — Estou apenas verificando se você está acordada e pronta para o café da manhã.

— Oh, sim, obrigada, — grito de volta. Para Ryn, eu digo, — Apresse-se e saia daqui. Vamos nos atrasar.

— Você precisa de ajuda, senhorita Fairdale? — A maçaneta da porta se move.

— Não, não, estou bem, obrigada, — grito apressadamente. Eu duvido que a Corte Seelie aprove Ryn estar na minha cama mais do que Tora aprova.

 

 


CONTINUA