Emerson Clarke pensou que magia poderia resolver todos os seus problemas. Acontece que a magia apenas tornou sua vida mais complicada. Sua mãe doente está em uma posição pior do que antes, e Em acabou de fazer um acordo arriscado com um Príncipe Unseelie: ele curará sua mãe se Em concordar com a aliança suprema - casamento.
Com a possibilidade de finalmente conseguir a única coisa que ela sempre quis, Em entra no mundo perigoso da Corte Unseelie. Ela aprenderá tudo o que for necessário sobre magia e etiqueta, a fim de seguir seu caminho pela vida do palácio, até que o príncipe Roarke cumpra sua parte na barganha.
Mas quando alguém inesperado aparece, trazendo à tona os segredos que Roarke e sua família estão escondendo dela, os planos de Em começam a se desvendar. Em breve, ela terá que decidir de uma vez por todas: até onde ela está disposta a ir para salvar sua mãe?
Prólogo
DASH
DASH ESTAVA EM SUA MESA NA GUILDA CREEPY HOLLOW POR dez minutos quando seu âmbar, deixado ao lado do relatório de sequestro de duendes em que estava trabalhando, vibrou e emitiu um chilrear. Palavras douradas brilhantes subiram à superfície do dispositivo retangular. Reconhecendo a caligrafia de Violet, Dash rapidamente puxou o âmbar para perto. Seus olhos dispararam para cima para verificar quem poderia estar perto o bastante de sua mesa para ver a mensagem. A área aberta do escritório estava cheia da agitação de atividade matinal: uma equipe de guardiões juniores voltando de uma missão noturna; dois aprendizes entregando pergaminhos; e sua própria companheira de equipe, Jewel, trabalhando duro em alguma coisa. Era altamente improvável que qualquer uma dessas pessoas soubesse de quem era a mensagem no âmbar de Dash, mas isso ainda o deixava nervoso ao se corresponder com os rebeldes Griffin, enquanto estava sob o teto da Guilda.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo sua expressão indiferente, e leu a mensagem: Você sabe onde está a Em? Eu não consigo encontrá-la. Gelo encheu as veias de Dash enquanto ele lutava para manter a expressão neutra. Se Vi não conseguia encontrar alguém, isso significava sérios problemas. Graças a sua Habilidade Griffin, ela é capaz de encontrar alguém que não tenha sido ocultado por algum tipo de magia. Em tinha uma Habilidade Griffin, no entanto, era uma história totalmente nova. Ela estava brincando? Testando se ela poderia se esconder? Dash estendeu a mão sobre a mesa, pegou sua stylus e escreveu uma resposta rápida em seu âmbar. Não. Tem certeza de que ela foi embora? Verifique as esferas.
A resposta de Vi chega segundos depois: Verificando agora.
Estou a caminho, Dash rabisca enquanto ele se afasta de sua mesa e se levanta.
— Já indo embora? — Jewel perguntou. Dash olha para cima enquanto ela se levanta e contorna sua mesa. — Você acabou de chegar.
— Eu preciso checar uma coisa. Um dos relatórios das testemunhas do caso de sequestro dos duendes. Alguns detalhes estão faltando. — Dash se encolheu internamente, odiando ter que mentir para uma de suas melhores amigas. — Vou pedir para um dos guardas no andar de baixo abrir um portal para mim, — ele acrescentou rapidamente. Como Jewel, ele não deveria mais ser capaz de abrir portais para os caminhos das fadas. Um aborrecimento que foi causado pela Habilidade Griffin de Em. Em, desde então, inverteu o efeito da magia em Dash, mas Jewel não sabia disso. A única coisa que Jewel sabia era que Em havia escapado das garras da Guilda e desaparecido.
— Você precisa que eu vá com você? — Jewel perguntou.
— Não, não se preocupe. Vai ser rápido. — Ele lhe deu um sorriso, que ele suspeita que não parece nada com o seu habitual sorriso descontraído.
— Tudo bem. Ei, está tudo bem? — Jewel segura seu braço antes que ele possa se virar. — Você normalmente não é tão sério logo de manhã cedo. — Sua mão demorou um momento a mais em seu braço, e a conversa que ele teve com Em veio à tona. Ela apontou que Jewel claramente queria ser mais do que apenas sua amiga, um fato que Dash de alguma forma ignorou até aquele momento. Como ele não viu? E por que Jewel nunca disse nada sobre seus sentimentos por ele? Ela deve ter um controle excepcional sobre eles. Ele não tinha notado nenhumas explosões mágicas aleatórias.
Isso não é importante agora, Dash lembrou a si mesmo. — Sim, tudo bem. Estou apenas... mais cansado do que o habitual. — Isso, pelo menos, era a verdade. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior, conversando com Chase, discutindo quando voltar ao Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills para examinar os registros que estavam arquivados com o nome da mãe de Em. Com essa magia desconhecida impedindo-a de acordar, ela não estava em posição de explicar por que ela e sua filha viveram por tanto tempo no mundo não-mágico, mascaradas como humanas. Esperançosamente, o pai de Em possa fornecer algumas respostas. Em disse que não sabia nada sobre ele, mas se era ele quem estava pagando as contas médicas de Daniela Clarke, o hospital certamente deveria ter seu nome e detalhes para contato.
— Tudo bem. Até mais tarde. — Jewel volta para sua cadeira.
Dash deveria ter indo embora então — ele queria ir embora — mas ele não podia ignorar o desejo de Jewel de ser mais que amiga agora que ele sabia disso. — Ei, você quer sair esta noite? — Ele pergunta antes que ele pudesse mudar de ideia. — Nós deveríamos conversar. — Sem dúvida, se transformaria na conversa mais estranha que eles já tiveram, mas ele precisava fazer isso. Não era justo da parte dele permitir que Jewel continuasse esperando por algo que nunca aconteceria.
— Sim, tudo bem. Ótimo.
— Legal. — Dash desceu correndo a escadaria principal da Guilda, atravessou o saguão e entrou na sala com paredes nuas usadas para acessar os caminhos das fadas. — Você se importa em abrir um portal para mim? — Ele perguntou para a mulher que estava de guarda do lado de dentro da sala.
— Ainda não encontrou aquela garota Dotada Griffin, hein?
— Não.
— Eu espero que encontre, — a mulher respondeu enquanto andava até a parede e levantava sua stylus. — Ouvi dizer que ela é perigosa.
— Sim, — Dash murmurou. — Extremamente perigosa. Eu pretendo encontrá-la.
A mulher deu um passo para trás quando parte da parede se afastou para revelar a escuridão dos caminhos das fadas além. Dash avançou. Depois que a luz desapareceu atrás dele, ele concentrou seus pensamentos no oásis escondido no meio de um deserto a milhares de quilômetros de distância.
Minutos depois, ele subiu apressadamente os degraus da varanda da casinha branca de um lado do oásis, passando por algumas portas fechadas e entrando na sala de vigilância. Uma fileira de esferas de vidro cobria três das quatro paredes, e dentro de cada esfera havia uma forma em miniatura de partes diferentes do oásis. Magia conecta cada esfera aos insetos enfeitiçados que voam do lado de fora, exibindo tudo que os insetos viam. Vi está curvada, olhando atentamente para uma das esferas, enquanto Calla e Chase sentam em frente um do outro. — O que você conseguiu ver? — Dash perguntou, sem se importar com uma saudação.
— Oh, Dash, oi, — Vi diz quando ela se virou para ele. — As esferas mostraram que Em saiu durante a noite. Logo depois da cúpula, ela abriu um portal para os caminhos e entrou.
— Ela deve ter pegado a stylus de alguém.
— Sim. Uma desapareceu de nossa cozinha esta manhã.
— Eu simplesmente não entendo, — Calla disse, passando o dedo repetidamente através da esfera na frente dela enquanto a move para voltar no tempo através das cenas exibidas. — Por que ela iria embora?
Vi sacode a cabeça conforme ela dá de ombros. — Várias possibilidades, eu suponho. Talvez ela quisesse ver um de seus velhos amigos. Ou talvez ela lembrou de algo que pudesse ajudar sua mãe. O que é mais preocupante é o fato de que eu não consigo encontrá-la. O que poderia estar protegendo ela?
— Nada de bom, — Chase murmurou.
— Dash, você nunca me contou o que aconteceu quando eu não consegui encontrar você e Em ontem, — continuou Vi. — Lembra, quando eu fui encontrar vocês dois na casa da tia dela?
— Oh, sim. — Dash xingou interiormente — com o tipo de palavras que sua mãe não aprovava — por ter esquecido, mais uma vez, de mencionar aquele lugar estranho e as pessoas que levaram ele e Em para lá. — Eu não sei onde estávamos, mas foi estranho. Tudo parecia drenado de cor, e partes dele estavam meio que... borradas. Obscuro ou sem forma. E nós não conseguíamos acessar os caminhos das fadas. Acabamos fugindo de alguma criatura sombria que eu nunca vi antes, e de alguma forma perto do perto do buraco no véu. Mas não do lado humano, e não do lado das fadas. Em algum lugar... eu não sei. Talvez nem fosse real. Talvez tenha sido algum tipo de alucinação. De qualquer forma, — ele continuou com uma respiração profunda, — nós estávamos lá por causa dos Unseelies. O príncipe e a princesa.
— Sério? — Chase olhou para longe da esfera que ele estava examinando.
— Sim. Aquela garota que esteve na Chevalier House por alguns dias — Aurora — é na verdade a princesa Unseelie.
— Então era isso que ela estava fazendo em Chevalier House, — uma nova voz disse da porta. Dash olhou em volta e viu Ryn parado ali. — Aurora queria que Em fugisse com ela. Ela estava obviamente planejando levar Em de volta a Corte Unseelie.
— Você não pensou em mencionar nada disso na noite passada? — Calla diz para Dash, um tom acusatório em sua voz.
— Para ser honesto, eu não pensei nisso. Em disse que ia me contar o que aconteceu mais tarde — já que eu, hum, fiquei atordoado e inconsciente por parte do tempo — mas então aquela fada de vidro apareceu, e nós quase morremos, e então corremos para pegar a mãe de Em, e... eu não pensei nos Unseelies novamente até mais tarde da noite passada quando cheguei em casa.
— Ótimo, então não temos ideia do que disseram a Em, — Calla diz, cruzando os braços e franzindo a testa para o chão.
Dash não disse nada. Era incomum Calla ficar tão irritada com ele, mas ele não podia culpá-la. Estava furioso consigo mesmo por não ter perguntado a Em sobre aquele estranho mundo sombrio da noite anterior. Ela parecia distante e infeliz, e, como um idiota, ele tentou distraí-la com a dança. Qual era o problema dele? Como ele poderia simplesmente esquecer que dois membros da família real Unseelie tinham transportado Em para um lugar estranho e, em seguida, misteriosamente a deixaram ir?
— Então... — Vi esfrega suas têmporas. — O fato de que não podemos encontrar Em agora pode ter algo a ver com os Unseelies.
— A menos que ela mesma não queira ser encontrada, — disse Chase. — Ela saiu voluntariamente. Ela pode ter usado sua Habilidade Griffin para se proteger de alguma forma.
— Seja qual for o motivo dela para ir embora, ela deve estar planejando voltar, — Ryn diz, entrando na sala e dando uma olhada em uma das esferas. — A mãe dela ainda está aqui, afinal de contas.
Dash balança a cabeça. — Ela pode ter ido embora por conta própria, mas e se os Unseelies a pegaram lá fora? Eles a deixaram ir ontem, mas eles definitivamente ainda a querem. Eles podem estar mantendo-a contra sua vontade agora.
— Então, o que fazemos? — Vi pergunta. — Esperar para ver se ela volta? E se sim, quanto tempo esperamos?
— Ela tem que voltar, — Calla murmura, mordendo a unha do polegar enquanto olhava sem ver o chão. — Ela tem que voltar.
Ryn olhou para o outro lado da sala. — Qual é o problema?
Calla baixa a mão e franze a testa para o irmão. — Não faça isso.
— Ei, eu não estou tentando sentir o que você está sentindo, — Ryn diz, levantando as mãos em defesa, — mas sua ansiedade está quase me dando um ataque de pânico. Eu tenho tentado ignorar isso, mas isso está praticamente me atacando.
— Ansiedade? — Chase se aproxima dela. — Sobre o quê?
— Caramba, pessoal, — Calla exclama. — Estou preocupada com outro caso. Está tudo bem. Podemos nos concentrar em como vamos descobrir onde Em está? Apenas no caso de ela ser prisioneira de alguém agora?
— Eu tenho alguns contatos Unseelie, — diz Chase. — Vou ver o que eu posso descobrir.
— Bom. Eu vou voltar a trabalhar em outras coisas, então, — diz Calla. Ela atravessa a sala e sai sem uma palavra, deixando vários momentos de silêncio constrangedor em seu rastro. Com uma careta, Chase a segue.
Dash pigarreia. — A Guilda também tem contatos Unseelie. Eu vou perguntar se alguém sabe alguma coisa. E também perguntarei dos nossos contatos Seelie. É possível que eles tenham encontrado Em, mas ainda não tenham informado a Guilda.
— Obrigada, — disse Vi.
— Avise assim que você descobrir alguma coisa, — acrescenta Ryn.
— Claro. — Dash se vira e sai da sala, já colocando a mão no bolso para pegar o âmbar e a stylus, para que ele possa contatar o contato Unseelie da Guilda. Ele para perto da porta da frente enquanto escreve uma mensagem rápida perguntando se o contato tinha recebido alguma notícia sobre uma garota Dotada Griffin.
... alguma coisa está acontecendo?
Ao som de vozes, Dash se inclina para o lado e olha pela janela. Calla anda de um lado para o outro na varanda. — Ela tem que voltar, Chase. Ela tem que voltar.
— Tudo bem, sério. — Chase pega o braço dela e a faz parar. — Conte o que está acontecendo.
Dash sabia que ele não deveria estar escutando, mas se era algo sobre Em...
Calla respira fundo. — Eu vi alguma coisa. Noite passada. Quando eu fui perguntar a Em se ela queria se juntar a nós esta manhã. Isso me fez ter esperança... que de alguma forma... — Ela sacode a cabeça. — Quero dizer, eu sei que é loucura mesmo pensar nisso. Meu cérebro ainda está repassando tudo o que aconteceu naquela época e como isso poderia ser possível. Mas se for verdade... — Ela agarra a frente da camiseta de Chase com ambos os punhos. — Chase, se for verdade, então temos que garantir que Em volte.
Chase pega as mãos de Calla entre as suas. — Você não está fazendo nenhum sentido. O que você viu?
— Você não pode contar a ninguém, ok? Não até saber se é verdade. Eu não quero ser responsável por mais corações partidos.
— Corações partidos? Quando você...
Ela se inclina para mais perto de Chase e sussurra, suas palavras muito baixas agora para Dash ouvir através da janela. Ele observa a testa de Chase se franzir ainda mais. — Não é possível, — diz ele quando Calla recua. — Ou é? Quando a vi pela primeira vez, pensei...
— Pensou o quê?
O olhar de Chase fica desfocado enquanto ele olha por cima do ombro de Calla por vários segundos, claramente perdido em pensamentos. Um pequeno sorriso estica seus lábios quando ele volta sua atenção para ela. — Eu acho que você pode estar certa.
Seu sorriso de resposta ilumina seu rosto. — Eu também acho. Mas eu não sei ao certo, e me recuso a ficar animada até confirmarmos isso. Eu conheço alguém que pode nos dizer sem sombra de dúvida, mas eu não sei onde ele está. Você precisa me ajudar a encontrá-lo.
— Vi pode ajudar se ela tiver... — As palavras de Chase somem conforme ele sacode a cabeça. — Mas você não quer que ela saiba.
— Não. Ainda não. — Calla pega o braço dele e o puxa para descer a escada com ela. — Primeiro precisamos descobrir se é verdade. — Sua voz fica mais fraca quando ela e Chase se afastam da casa, deixando Dash com mais perguntas e sem respostas. Ele tem seu próprio mistério para resolver, no entanto. Onde você está, Em? Ele se perguntou em silêncio enquanto abre a porta e entra na varanda.
Seu âmbar vibra em sua mão, e ele para para ler a resposta do contato Unseelie: Nenhuma informação recente dos Unseelies. Nada interessante de qualquer maneira. Claro que não. Os Unseelies nunca informariam a Guilda se eles possuíssem uma poderosa Dotada Griffin. Mas Dash tinha que verificar, apenas no caso do contato ter ouvido alguma coisa. Agora ele teria que entrar em contato com o contato Seelie. Depois disso, seria hora de seguir para canais não oficiais. — De alguma forma, Em, — ele murmura enquanto se afastava. — De alguma forma, eu vou encontrar você.
Capítulo 01
COISAS QUE EU NUNCA IMAGINEI: UM, ESCAPAR DA MISERÁVEL CIDADE DE Stanmeade muito antes que eu sonhasse que isso fosse possível. Dois, me tornar quase amiga do cara que eu odiei por anos. Três, subir pelo lado de fora de uma torre do palácio das fadas com uma stylus roubada no bolso para que eu possa me esconder no topo e abrir um portal para os caminhos das fadas com magia. Oh, sim. E nunca imaginei usar palavras como ‘torre do palácio’, ‘caminhos das fadas’ e ‘magia’ sem soar como uma paciente internada em um hospital psiquiátrico. Mas isso foi antes de eu descobrir que sou uma faerie e que existe um mundo oculto de magia ao lado do mundo onde eu cresci. Isso foi antes de eu chegar ao topo da lista dos mais procurados de todos por possuir um superpoder único e perigoso. E isso foi antes de eu assumir o maior risco da minha vida e concordar em me casar com um príncipe faerie da Corte Unseelie, na esperança de salvar minha mãe.
Então sim. Eu imagino coisas agora que a maioria das pessoas da minha antiga vida consideraria impossível. Como um buraco escuro de nada se materializando através das paredes de mármore com veias douradas no topo da torre que subi. Eu precisava me afastar dos olhos atentos dos guardas do palácio, e esta torre formando o ponto mais alto do Palácio Unseelie parecia um bom lugar. Infelizmente, o feitiço que tenho sussurrado e as palavras que escrevo repetidamente através da parede parecem não estar produzindo nada.
Solto um suspiro frustrado e aperto meus dedos ao redor da stylus incrustada de joias. Eu roubei do quarto de Aurora ontem. Apenas o melhor do melhor para uma princesa, então duvido que haja algo de errado com ela. O que significa... talvez minha magia seja o problema? Eu coloco a stylus no chão da torre e enlaço minhas mãos juntas, depois expiro lentamente e sinto o núcleo do poder dentro de mim. Quase instantaneamente, uma forma quase esférica branca brilhante e fragmentos etéreos pairam acima da minha mão. Parece quase fácil produzir magia agora, depois de ter praticado tanto nos últimos dias. Não há necessidade de apertar meus olhos, franzir minha testa e imaginar arrastar a magia para fora de mim como um rato puxando um caminhão.
Então, se a minha magia e a stylus não são o problema, e a magia em si está correta — o que eu tenho certeza que está, dado que eu usei para deixar o oásis — resta apenas uma resposta: os caminhos das fadas não são acessíveis a partir desta torre.
— Droga, — eu sussurro. Eu enfio a stylus de volta no bolso e olho através das terras sem fim de um verão perfeito. Relvados verdes e brilhantes, flores de todas as cores, fontes de água encantadas rodeadas por arbustos recortados em formas ornamentais e várias áreas para entretenimento: uma pérgula aqui, um mirante ali, o ancoradouro da rainha à direita, além daquela pequena ponte. E um pouco além dos terrenos do palácio, as torres das casas senhoriais pertencentes a nobres Unseelie se erguem acima das árvores.
E quase todos os lugares, de acordo com Aurora, não são acessíveis através dos caminhos das fadas. Ninguém sai deste palácio e ninguém chega, exceto pela entrada principal. — Não é como se você precisasse ir a outro lugar agora, — ela me disse quando perguntei sobre os caminhos das fadas. — Apenas relaxe e aproveite sua nova vida no palácio.
Relaxar? Acho que não. Se quase nenhuma parte deste palácio e seus terrenos podem ser acessados pelos caminhos das fadas, isso significa que deve haver algumas áreas onde os portais podem ser abertos. E se eu quiser fugir quando aprender tudo o que preciso saber sobre o Princpie Roarke, então eu tenho que encontrar pelo menos uma dessas áreas. Se eu não conseguir, vou ter que ser criativa com minha Habilidade Griffin. E isso exigirá descobrir como realmente usá-la.
— Minha senhora?
Meu corpo fica tenso ao som da voz inesperada. Eu viro, meu coração se debatendo no meu peito. Mas é apenas Clarina, a criada que Aurora me ‘ofereceu’ na minha chegada. Ela está ao lado do alçapão de ouro cravejado de rubi. O alçapão está aberto, tenho certeza que estava trancado até agora, porque encontrei meu caminho para o outro lado dele ontem à tarde e não consegui abri-lo. Eu não teria me incomodado em abrir uma das janelas baixas e escalar a parede de outra forma. Eu pigarreio e aperto minhas mãos juntas. — Hum, sim?
— Sua Alteza, Princesa Aurora, me enviou para buscar você, — diz Clarina, com os olhos fixos no chão perto dos meus pés. Eu disse a ela para não se preocupar em desviar o olhar dela quando falar comigo, mas não faz diferença. Assim como quando eu disse a ela que não sou ‘senhora’ e ela não precisa se referir a mim como tal. — Mas de que outra forma eu vou mostrar respeito por você, minha senhora? — Ela perguntou. — Eu não posso simplesmente chamar você pelo seu nome. — Eu disse a ela que é claro que ela podia, mas isso também não ocorreu bem.
— Como ela sabia que eu estava aqui em cima? — Eu pergunto.
— Um de seus guardas viu você de uma janela.
Eu limpo minhas mãos no meu jeans. — Será, hum, que soou para você que Aurora — Senhorita — Sua Alteza — Que droga esses títulos estúpidos. — Parecia que ela estava com raiva de mim por estar aqui em cima?
— Não, minha senhora, — diz Clarina. — Ela estava preocupada, mas não zangada. Ela lembrou a seus guardas que você é bem-vinda para explorar sua nova casa, mas que eles também devem mantê-la viva.
— Certo. Legal. Isso foi o que eu pensei. Quero dizer, sobre a parte de explorar. — Aurora me deu uma breve turnê quando cheguei há três dias, então me disse que eu poderia ir onde quer que eu quisesse, exceto as suítes ou câmaras privativas das pessoas ou seja lá como ela chamou. Desde então, eu vaguei por todo o palácio sob o disfarce da curiosidade, fazendo o meu melhor para fingir que estou à vontade em uma casa tão vasta e opulenta quanto este palácio. Eu tento ignorar os guardas que me observam e os membros da corte que sorriem educadamente antes de sussurrar um para o outro. E tento não tremer quando a atmosfera muda, como de vez em quando, se transforma em algo frio e inquietante.
— Hum, bem, acho que é melhor irmos então, — eu digo, percebendo que Clarina está esperando por mim para falar. Ela assente e pisa na escada abaixo do alçapão. Eu a sigo, vacilando quando o alçapão fecha sozinho atrás de mim. Juntas, descemos a escada em espiral até o térreo do palácio e entramos em um vasto corredor alinhado por colunas. Seus pisos de mármore preto são polidos até um brilho vítreo e as pedras preciosas embutidas no teto refletem nos candeeiros acesos em pedestais entre cada coluna. O resto do palácio é muito parecido com isso: bordas pretas brilhantes, enfeites de ouro e pedras brilhantes. Quartos grandes o suficiente para se perder dentro, e móveis tão luxuosos que eu provavelmente vomitaria se soubesse o quanto eles custam.
É impossível imaginar estar em casa aqui.
Subimos mais escadas, cruzamos mais corredores e passamos por mais fae vestidos como se pertencessem ao cenário de uma novela de época. Todos eles me dão olhares curiosos quando passo. Ao contrário de Clarina e Noraya — a outra criada de Aurora — nenhuma dessas pessoas sabe quem eu sou. Eles não têm ideia de que eu concordei em me casar com o seu príncipe. Como eles poderiam suspeitar que ele e eu temos algo a ver um com o outro quando Roarke se foi desde o momento em que ele me deixou aqui aos cuidados de sua irmã? Aurora disse que ele voltaria esta manhã, mas eu não vi ele. Estou começando a me perguntar se ele está planejando me evitar até o dia do nosso casamento — quando quer que seja.
Finalmente, Clarina e eu chegamos à ala que abriga os aposentos da família real. Eu nunca fui longe o suficiente para ver os quartos pertencentes ao rei e à rainha, mas passei pela suíte de Roarke, e eu estive no quarto de Aurora durante todos os dias desde que cheguei aqui. Eu olho por cima do meu ombro para a porta que leva aos quartos de Roarke enquanto eu passo. A porta está fechada e não há guardas do lado de fora, o que eu acho que significa que Roarke não está lá dentro.
— Droga, — eu murmuro, baixinho o suficiente para que Clarina não me ouça. Uma carranca franze minha testa enquanto eu olho para frente novamente. E então aquele estranho sentimento de mal-estar, aquele inexplicável senso de engano, invade os meus sentidos. Como se dedos frios e podres estivessem prestes a se estender das sombras para apertar a parte de trás do meu pescoço. Um lampejo de uma sombra corre através da borda da minha visão, mas quando eu olho por cima do meu ombro novamente, se foi. Assim como a sensação de desconforto.
— Lady Emerson? — Clarina diz. Eu olho para frente e a vejo esperando com uma das mãos apoiada na porta de Aurora. — Está tudo bem?
— Hum, sim. Eu estou bem. — Talvez eu continue imaginando esse sentimento estranho. Talvez seja esse o sentimento de saudade de casa. Talvez, por mais improvável que pareça, eu esteja realmente sentindo falta da casa decadente em que vivi com Chelsea e Georgia. De jeito nenhum, eu penso comigo mesma, quase rindo alto do pensamento improvável. Eu posso sentir saudade da minha melhor amiga Val, e toda a diversão que tivemos juntas, e a sensação libertadora de não ser caçada por vários membros do reino fae, mas eu certamente não sinto falta daquela casinha horrível e da minha rancorosa tia e prima.
Clarina abre a porta para a suíte de Aurora e fica de lado para me deixar entrar. Ela faz uma rápida reverência quando passo, depois fecha a porta atrás de mim. Eu ouço seus pés baterem no chão de mármore polido do lado de fora. Do outro lado na sala de estar, decorada em tons suaves e tecidos florais, a Princesa Aurora, filha adotiva do Rei e da Rainha Unseelie, está sentada em uma pequena mesa redonda. Na frente dela há uma variedade de comida, um bule de chá e duas xícaras de chá. Ela se inclina para trás em sua cadeira e me examina. — Sério, Em? Subindo pela parte externa da torre leste? Você está tentando escandalizar a corte inteira? Se você queria tanto ver a vista do topo, você poderia ter pedido a alguém para destrancar o alçapão em vez de arriscar sua vida.
Eu atravesso a sala e paro ao lado da cadeira no lado oposto do lugar dela. — Bem, você sabe. Era cedo. Eu não queria incomodar ninguém. E além disso, quase não havia risco envolvido. Eu posso lidar com uma parede simples. Esses grandes tijolos de mármore têm espaços entre eles perfeitos para as mãos e os pés.
Aurora coloca o cabelo — preto e azulado roxo — atrás de uma orelha e estende a mão para a xícara de chá. — E se você tivesse escorregado? Além do enorme problema que eu teria com Roarke e meu pai se você caísse e se matasse, simplesmente não é apropriado sair por aí escalando paredes. — Ela me dá um olhar aguçado por cima de sua xícara de chá. — Sabe, dada a sua futura posição neste palácio.
Eu escolho ignorar sua referência ao fato de que eu devo ser uma princesa em breve e cruzo os braços sobre o peito. Eu começo a andar de um lado para o outro da janela. — Onde está Roarke? Você disse que ele estaria de volta agora, mas eu não vi ninguém de guarda do lado de fora do quarto dele, então eu suponho que ele não esteja lá.
— Ele e papai devem demorar, isso é tudo. Eles têm negócios importantes para lidar no momento. Você não pode esperar que eles voltem simplesmente porque você está desesperada para ver seu prometido. — Ela sorri. Eu mostro minha língua para ela. Ela joga um morango em mim, depois ri quando eu me esquivo e continuo andando. — Eles vão voltar em breve, tenho certeza. E por favor, pare de andar. Você está me deixando nervosa. — Ela acena para a cadeira em frente à dela. — Sente-se. Você já tomou café da manhã?
— Não. — Eu caio na cadeira com os braços ainda cruzados. — Eu estava muito ocupada correndo riscos e escalando paredes, lembra?
— Você deve escolher o café da manhã da próxima vez. — Com um toque elegante de sua mão, um prato de massas em forma de borboleta se levanta e se move em minha direção. Ela ficaria feliz se eu usasse magia para levantar um dos doces e movê-lo para o meu próprio prato, mas esse tipo de coisa parece ser coisa de preguiçoso para mim. E eu não acho que eu poderia fazer isso sem derrubar o prato inteiro.
— Você sabe por que eu quero ver o Roarke, — eu digo a ela depois de colocar uma massa no meu prato, com a minha própria mão perfeitamente funcional. — Ele e eu temos um acordo, e ele não fez nada para cumprir sua parte ainda. — Acordo. Uma palavra tão simples. Não carrega tanto peso quanto a palavra ‘casamento’.
— É claro que ele ainda não cumpriu sua parte. Espero que você saiba que ele não planeja dar a você qualquer informação sobre como tirar sua mãe do coma enfeitiçado ou consertar sua doença mental até depois da cerimônia de união.
— Sim, — eu digo em voz baixa, ainda olhando para o meu prato. — Eu sei disso. — O que eu também sei é que eu não pretendo que essa cerimônia aconteça. Todo mundo precisa pensar que isso vai acontecer, mas eu pretendo descobrir tudo o que preciso saber antes do casamento acontecer. Claro, eu não tenho ideia de como vou fazer isso ainda, mas ter a posse de uma poderosa Habilidade Griffin — falar coisas e as tornar reais — pode vir a calhar. Se eu puder usá-la no momento certo e da maneira certa, eu devo poder sair daqui viva com todas as informações que preciso. Pigarreio e acrescento, — Eu sei, mas ele precisa provar para mim. Ele precisa me dizer algo, então eu vou saber que ele não está apenas mentindo para me casar com ele.
— Meu querido irmão nunca faria algo assim, — diz Aurora, direcionando mais alguns itens de comida para o seu prato.
Eu não a conheço bem o suficiente ainda para saber se ela está brincando ou se ela realmente acredita nisso. De qualquer maneira, não estou disposta a confiar em Roarke. Eu preciso do meu próprio plano, e isso envolve ter o controle sobre a minha Habilidade Griffin. Eu quebro um pedaço de massa e olho para ele por um segundo ou dois antes de dizer, — Como as paredes da torre não são apropriadas para escalar, talvez meu tempo fosse melhor gasto praticando minha Habilidade Griffin. Com o elixir, quero dizer, não apenas esperar por momentos aleatórios em que a minha magia escolhe ligar.
Ela sacode a cabeça e acaba de engolir outro gole de chá. — Sinto muito, Em, mas me disseram para não dar a você até que Roarke e meu pai retornem. Aqui, coma um pouco de citrullamyn. — Vários segmentos de uma fruta que parece uma versão vermelho sangue de uma laranja voam em um arco de seu prato para o meu.
— Hum, obrigada. — Eu lentamente mastigo uma enquanto tento descobrir o que posso dizer para mudar a decisão de Aurora. Eu preciso desse elixir para estimular minha Habilidade Griffin. O primeiro frasco que eu tinha foi esmagado em pedaços durante o meu encontro com Ada — a faerie extremamente desagradável que quase destruiu toda Stanmeade com sua magia de vidro — mas um dos rebeldes Griffin fez mais elixir para que eu pudesse acordar mamãe de seu coma enfeitiçado. Não funcionou, mas pelo menos eu tinha um pouco do elixir. Eu trouxe comigo, planejando secretamente consumir pequenas quantidades na esperança de ganhar o controle sobre minha Habilidade Griffin sem que os Unseelies soubessem. Mas fui revistada antes de entrar no palácio. Um guarda descobriu o elixir e Aurora o confiscou. Roarke, que não parecia interessado em ficar mais do que alguns minutos com sua noiva, já tinha saído durante esse momento.
— Mas Aurora, — digo a ela com a minha voz mais razoável, — não tenho utilidade para sua família se eu não conseguir descobrir como controlar minha Habilidade Griffin. Essa é a única razão pela qual Roarke está se casando comigo, lembra? Então eu preciso desse elixir para me ajudar a aprender como usá-la.
— Sim, mas você não precisa aprender agora neste momento. Você pode praticar sob supervisão quando Roarke e papai voltarem.
Eu a olho diretamente nos olhos. — Eles não confiam em você para me supervisionar? Eles acham que você não pode lidar comigo?
Ela inclina a cabeça para trás e ri. — Oh, minha querida Em. Se você vai tentar me manipular, você terá que ser muito mais sutil sobre isso. Essa foi uma tentativa terrível.
Eu deslizo mais para baixo na minha cadeira com um suspiro derrotado. — Isso tudo é uma perda de tempo, — murmuro. — Mamãe ainda está presa em algum tipo de coma do mal induzido por magia, e eu não estou absolutamente nem perto de descobrir como ajudá-la.
— Você não está perdendo tempo. Você está aprendendo a usar a magia do dia-a-dia e a viver como uma de nós, — diz Aurora. — Falando nisso, por favor, sente-se ereta. Minha mãe teria palpitações no coração se visse você se curvando desse jeito.
Mãe de Aurora. A própria Rainha Unseelie. Jantei com ela e Aurora na minha primeira noite aqui, com criados esperando por nós a noite inteira, enchendo nossas taças com bebidas estranhamente coloridas e nossos pratos com comida ainda melhor do que a comida que Azzy preparava na Chevalier House. Achei difícil desfrutar de alguma coisa, apesar da ansiedade que comprimia meu estômago e fazia meus dedos tremerem. Não era como se a Rainha Amrath fosse cruel ou hostil. Ela era educada, na verdade, mas eu sabia que ela estava me observando o tempo todo. Medindo. Esperando que eu me provasse completamente indigna de casar com o filho dela. A cada momento estranho que passava, eu me lembrava da minha valiosa Habilidade Griffin. Isso vai mantê-la viva e segura, continuei dizendo a mim mesma. Eles querem o seu poder mais do que eles querem uma princesa bem-educada.
— Em? — Aurora diz. — Você está me ouvindo?
Eu pigarreio e me empurro para cima, então estou mais ereta. Eu forço meus ombros para trás. — Desculpa. O que você disse?
— Eu disse que precisamos conversar sobre o que você está vestindo e também que você deveria experimentar o chá de mel. É bem revigorante. Noraya, venha colocar chá para Emerson.
Noraya, que estava tão imóvel perto da porta do quarto que eu não a notei antes, se aproxima da mesa. Com um breve aceno de mão, o bule se eleva no ar. — Oh, não se preocupe, — eu digo rapidamente, me inclinando para frente. — Eu posso servir o chá.
— Deixe-a fazer isso, Em, — Aurora diz.
— Mas é só chá, — eu argumento enquanto o bule de chá se inclina sobre o meu copo e um liquido escuro fumegante fluí de seu bico. — Eu posso colocar sozinha. — Não com magia, uma vez que isso provavelmente resultaria em salpicos de chá por toda a mesa, mas minhas próprias mãos fariam o trabalho muito bem.
— Não importa se você pode fazer isso ou não, — Aurora me diz. — O que importa é que, quando você é um membro da família real, é adequado que os criados esperem por você.
— Eu ainda não sou membro da família real. — E espero nunca ser.
— Também é apropriado que você use roupas apropriadas para a corte, — acrescenta Aurora, enquanto Noraya se afasta da mesa, — e essas — ela olha minha calça jeans e camisa com desaprovação — não são apropriadas. Clarina e eu vamos ter outra conversa. Ela claramente não entendeu suas instruções.
— O quê? Não, não é culpa da Clarina. Ela me dá um vestido novo todas às manhãs, assim como você disse a ela, mas eu não quero usar nenhum deles. Eles são ridículos. Centenas de camadas de tecido com espartilhos e penas e joias e... coisas. Não sou eu. — O jeans, a camisa e o moletom que tenho usado nos últimos dias são as roupas que eu usava quando cheguei aqui. Eu as jogo sobre uma cadeira no meu quarto todas as noites, e todas as manhãs as encontro dobradas e limpas, na mesma cadeira.
Aurora arqueia uma sobrancelha. — Ridículo, — ela repete. Percebo que posso tê-la ofendido, dada a saia longa, o corpete apertado e as mangas em forma de sino do vestido que ela está usando. — Receio que não importa o que você ou qualquer outra pessoa pense, pois é assim que minha mãe e meu pai desejam que os membros de sua corte se vistam.
— Bem, seus pais têm um senso de moda seriamente ultrapassado. Todos parecem estar se vestindo ou se preparando para filmar um filme steampunk.
Sua expressão fica séria. — Eu não diria coisas assim se fosse você. — Ela abaixa a voz, se inclina mais perto e acrescenta, — Meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares, e ele não apreciaria comentários como esse.
Um calafrio rasteja pela minha pele. Parece que não imaginei a sensação de estar sendo observada. Eu envolvo meus braços em volta de mim, me sentindo nua, apesar do fato de estar vestida. — Até mesmo nos quartos?
— Bem. — Aurora se inclina para trás. — Talvez apenas ouvidos nos quartos.
— Isso é apenas... errado, — eu sussurro.
Ela ri e novamente não posso dizer se ela está brincando sobre tudo isso. — Só se você tem algo a esconder, — diz ela. Ela morde outra fruta não identificável e me observa enquanto mastiga e engole. — Agora me diga: como você está com a magia que eu te ensinei até agora? Você já pode mover as coisas? Tente levantar seu prato e o mova no ar.
— Hum... — Eu começo a girar uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo indicador. — Tem certeza de que é uma boa ideia? E se eu derrubar?
— Então Noraya reunirá os pedaços quebrados e os jogará fora. Nada demais.
Meu olhar desliza para o cabelo enrolado em volta do meu dedo. Estou quase acostumada com a cor azul brilhante misturada com o marrom escuro. Faz parte do que me caracteriza como faerie. Como alguém que pertence a este mundo. Lentamente, eu abaixo minha mão. — Sim, tudo bem. Vou tentar.
Tirar magia de dentro de mim é fácil agora, mas mandá-la para o prato, persuadindo-a ao redor e para baixo e dizer para levantar alguma coisa, é uma história diferente. Muito lentamente, com as mãos cerradas no meu colo e os olhos quase furando buracos no prato, começa a subir. Ele balança um pouco, e as massas e os pedaços de frutas cítricas vermelhas escorregam para um lado. Eu tento endireitá-lo, acabo exagerando e todo o prato vira. A comida cai sobre a mesa com vários golpes suaves e o prato fica suspenso de cabeça para baixo no ar. Ele estremece e balança antes que eu imagine minha magia o abaixando com cuidado. Ele cai os poucos centímetros finais, pousando perfeitamente em cima do meu café da manhã.
Aurora bate as mãos. — Bem, isso foi divertido. Dificilmente perfeito, mas é um bom começo.
— Acho que sim. — Eu viro o prato e começo a limpar a minha bagunça.
— Em, você mal podia fazer nada quando chegou aqui há alguns dias. Isso é uma conquista. Ah, e eu tenho mais alguns livros para você. — Ela gesticula por cima do ombro, e uma pilha de livros sobre a mesa baixa entre os sofás e se eleva no ar antes de descer novamente, os livros individuais batendo em voz alta um no outro enquanto pousam. — Você pode carregá-los com magia agora mesmo.
— Claro. — Eu tento não descobrir quanto tempo vai demorar para voltar para meu quarto, se eu tiver que transportar magicamente uma pilha de livros por todo o caminho até lá. Espero que eu possa convencer um dos guardas que me seguem à distância para me ajudar quando eu estiver longe de Aurora.
Quando volto a comer minha bagunça do café da manhã, a porta se abre e Clarina entra no quarto. Ela se move silenciosamente para ficar ao lado de Noraya e, após um momento de pausa, começa a sussurrar para ela.
— O que está acontecendo? — Aurora pergunta em voz alta, não se incomodando em olhar para elas.
Clarina fica em silêncio, os olhos arregalados atravessando a sala em direção a sua senhora. Do outro lado da sala, vejo sua garganta oscilar conforme ela engole.
— Clarina. — Aurora empurra seu prato para longe e se vira na cadeira para encarar as criadas. — Parte do seu trabalho é relatar segredos para mim, não para sussurrá-los na minha vizinhança. Agora me diga o que está acontecendo.
Clarina sacode a cabeça. — Sim, Sua Majestade. Peço desculpas. É só que... é tão horrível.
— O que é tão horrível? O que aconteceu?
— Um dos guardas... — Os olhos de Clarina se movem para Noraya, cujo queixo estremece enquanto ela olha para o chão. Clarina pigarreia e volta a olhar para Aurora. — Um dos guardas foi encontrado morto no jardim, — diz ela em voz trêmula. — Estava cinza e enrugado e morto.
Capítulo 02
EU CAMINHO PELA SALA DE ESTAR DA MINHA SUÍTE — MENOR QUE A DE AURORA, mas não menos luxuosa — esperando que alguém venha e me diga o que está acontecendo. Aurora me mandou de volta para cá na companhia de vários guardas logo após as palavras assustadoras de Clarina sobre alguém cinza, enrugado e morto no jardim, mas não recebi nenhuma novidade desde então. Eu ando na minha varanda e olho para baixo mais uma vez, mas eu ainda não consigo ver nada de interessante. Esta morte deve ter acontecido do outro lado do palácio.
Volto para dentro de novo, entre as poltronas e ao redor da mesa. Sento na escrivaninha e tento ler um dos livros que deveria estudar, mas não consigo me concentrar. Pensamentos sobre mamãe e todos os rebeldes Griffin de onde eu fugi continuam escorregando pelas rachaduras da minha concentração. Culpa por desaparecer sem explicação. Tristeza por ter que deixar Bandit para trás. Estou começando a sentir saudades de Dash, de todas as pessoas. E depois há a avalanche de perguntas: Quem sou eu? Quem é mamãe? Como chegamos a viver no reino humano com nossa magia bloqueada? Apenas para citar algumas...
Eu abandono o livro e acabo deitada no divã, observando os insetos brilhantes que estão fixos no teto e, lentamente, levantando e abaixando almofadas com magia. É preciso que eu foque toda a atenção para conseguir essa manobra simples, o que significa que não há espaço em minha mente para perguntas e pensamentos que me distraem.
Sem aviso, a porta principal da minha suíte é aberta. Minhas duas almofadas levitando pousam no meu peito e caem no chão. Sento apressadamente, virando para a porta e encontro Aurora entrando na sala. Alguém fecha a porta atrás de mim enquanto eu fico em pé e pergunto, — Está tudo bem? Você descobriu o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, mas falei com as pessoas que encontraram o guarda morto. — Ela caminha até a varanda. Eu a sigo para o sol quente do meio da manhã. — Eu o vi, Em. Foi... — Ela respira fundo e balança a cabeça. — Horrível. A cor de seu cabelo desapareceu completamente e seu rosto... — Ela se vira e descansa as mãos na balaustrada da varanda. — Sua pele estava flácida e enrugada. Foi horrível. Isso não acontece com a nossa espécie, Em. Isso não acontece. Não naturalmente de qualquer maneira. E isso significa que — Ela para, apertando os dedos na balaustrada.
— Significa o quê? Que esse guarda foi atacado com magia? — Eu mentalmente me chuto por essa façanha inexpressiva de dedução. Obviamente, esse guarda foi atacado com magia.
— Sim. Algo assim. — Aurora balança a cabeça e retorna o olhar para mim. — De qualquer forma, recebi uma mensagem do Roarke. Ele disse que não deveríamos falar disso para ninguém. Apenas algumas pessoas sabem como estava o guarda e não queremos que todos saibam e se assustem.
Eu não posso evitar erguer minhas sobrancelhas. — Você acha que o resto deste palácio já não sabe? Alguém deve ter contado a Clarina, e certamente Clarina e Noraya contaram aos outros agora.
— Elas não disseram a ninguém. Clarina e Noraya estão comigo desde sempre — bem, Noraya está aqui desde sempre e Clarina está comigo há pelo menos três anos — então elas sabem como manter a boca fechada. Clarina estava com uma das criadas da minha mãe quando viu o guarda morto, e ela veio direto para cá depois. Alguns outros guardas o viram, mas eles também disseram que vão ficar calados.
Eu me inclino contra a balaustrada e olho através do jardim. Ao longe, dois grandes pássaros voam pelo céu. Pelo menos, eu suponho que são pássaros. Suas asas parecem um pouco grandes demais para seus corpos, no entanto. — Alguém sabe quem fez isso? — Eu pergunto, olhando para longe das criaturas voadoras. — Quero dizer, se é impossível entrar sorrateiramente neste palácio, então deve ser um convidado ou alguém que mora aqui.
Aurora exala e coloca um sorriso falso em seu rosto. — Nós não devemos mais falar sobre isso, Em. Esqueça isso agora.
— Esquecer? Isso é improvável. Você não quer saber mais?
— Não. Roarke e meu pai cuidarão disto quando retornarem. Que deve ser antes do jantar, aparentemente.
— Oh. — Meu desconforto se transforma em algo mais positivo. — Isso é ótimo.
— Sim. Agora, que outra magia eu estava mostrando ontem? — Ela esfrega as mãos e caminha de volta para dentro. — Você praticava coisas em movimento, e também havia...
— Fogo, — eu a lembro. — Bem, minúsculas chamas. Assim eu não queimo acidentalmente o palácio.
— Sim, está certo. Você fez alguma melhora?
Eu estalo meus dedos e abro a mão, com a palma para cima, esperando que o feitiço se torne instintivo o suficiente para que uma chama apareça automaticamente acima da minha mão. Minha palma, no entanto, permanece vazia. — Hum... aparentemente não.
— Sim, bem, você nem está tentando. — Ela senta-se afetadamente na beira do divã. — Você precisa se concentrar. Você ainda não está no ponto em que isso acontece automaticamente. Agora tente novamente.
Eu resmungo sob a minha respiração antes de abaixar minhas mãos para os meus lados, fechar os olhos e me dizer para relaxar. Eu preciso ser capaz de liberar magia, então me concentro totalmente no momento em que ela está pronta para mudar de algo cru e sem forma para qualquer outra coisa. Nesse ponto, eu tenho que moldá-la mentalmente em uma chama antes que ela desapareça. E tudo isso, aparentemente, acontecerá quase instantaneamente, uma vez que eu já tenha feito isso o suficiente. Acabo de chegar a um estado mental relaxado quando uma batida no outro lado da porta interrompe minha concentração.
— Entre, — Aurora diz.
Noraya entra e corre para o lado de Aurora. Ela se inclina e sussurra algo antes de se endireitar.
Aurora se levanta com um suspiro. — Claro. Eu irei agora. Desculpe, Em, mas minha mãe gostaria de me ver. Você deve continuar praticando, no entanto. E comece a ler esses livros. Você tem muito a aprender se vai se encaixar aqui.
Eu a observo sair antes de cair em uma poltrona e me apoiar contra as almofadas bordadas em ouro. Então eu me forço a me sentar e me concentrar em produzir uma chama. Não tenho intenção de me encaixar aqui — não a longo prazo — mas preciso pelo menos fingir que estou planejando ver essa união. Além disso, provavelmente precisarei usar magia para sair daqui. Eu também posso aproveitar esta oportunidade para aprender o máximo que puder.
Depois de tentar repetidamente produzir uma chama e ter sucesso em cerca de cinquenta por cento do tempo, eu me sossego com o menor livro da pilha que Aurora me deu esta manhã. É uma coleção sobre magias básicas que parecem ter sido escritas para um aluno da primeira série. Perfeito. Por mais embaraçoso que seja, esse é exatamente o tipo de coisa de que preciso.
Uma vez que consigo encolher uma almofada para cerca de metade do seu tamanho, depois aumentá-la e depois voltar ao normal, pego um livro diferente e me sento em uma poltrona. Contém relatos de histórias ainda mais antigas do que as histórias que aprendi em Chevalier House. A divisão inicial das cortes e as primeiras famílias Seelie e Unseelie. Eu não vou muito longe quando ouço um leve som de arranhar. Abaixo o livro e olho em volta, tentando descobrir de onde vem o arranhão, mas o que quer que tenha sido, parou. Com uma careta, volto a ler.
Mas o arranhar começa novamente. Da direção da mesa, talvez? Eu me levanto devagar, imaginando o que exatamente eu vou fazer se abrir uma das gavetas e uma criatura mágica desagradável se jogar sobre mim. Por alguma razão, minha imaginação evoca uma imagem de uma mão sem corpo, o que não ajuda em nada o meu batimento cardíaco acelerado.
Três batidas afiadas na porta fazem o livro escorregar dos meus dedos. Eu fecho meus olhos por um momento e respiro trêmula, quase rindo de mim mesma por estar tão nervosa. — Entre, — eu digo enquanto me inclino para pegar o livro.
— Seu almoço, Lady Emerson, — diz Clarina da porta.
Eu me endireito, deixo o livro na poltrona e empurro meu cabelo para longe do meu rosto. — Certo. Obrigada. — Eu tenho almoçado com Aurora todos os dias desde que cheguei aqui, mas ela obviamente tem outros assuntos para tratar hoje. Clarina leva a bandeja de comida para a mesa perto das portas da varanda enquanto eu me aproximo da mesa do outro lado da sala. Sentindo-me boba agora por ter tido medo de um simples som de arranhar, mas ainda um pouco desconfiada do que poderia estar causando isso, eu abro a gaveta do lado esquerdo e rapidamente recuo. A stylus roubada rola para a parte de trás da gaveta — e nada pula sobre mim. Fecho a gaveta e abro a da direita. Está cheio de pergaminhos em branco que estavam no topo da primeira pilha de livros que Aurora reuniu para mim.
— Está tudo bem, Lady Emerson? — Clarina pergunta.
Minhas bochechas coram quando olho por cima do meu ombro para ela. — Sim, desculpe. Eu pensei ter ouvido alguma coisa, mas... — Eu viro e olho para dentro da gaveta. — Mas não há nada aqui.
— Há muitas pequenas criaturas vivendo nos jardins daqui, — Clarina me conta. — Algumas delas vêm de vez em quando. A maioria delas é inofensiva.
— A maioria? — Eu repito.
Ela sorri fracamente para o chão, mas não detalha. — Você precisa de mais alguma coisa, minha senhora?
Eu pego o livro de história no meu caminho para a mesa. — Acho que não. Isso parece incrível. — Ela balança a cabeça e caminha de volta para a porta.
— Clarina? — Eu pergunto enquanto sento em uma cadeira.
Ela para e olha em volta, seus olhos encontrando os meus por apenas um segundo antes de se concentrar no chão. — Sim, Lady Emerson?
— O que faz de você uma faerie Unseelie?
Ela hesita antes de responder. — O que você quer dizer?
— Você é mesmo uma faerie Unseelie? Todos que vivem e trabalham no palácio são considerados Unseelie?
Ela franze a testa para o chão. — Sim, eu acredito que sim, minha senhora.
— O que te faz diferente de alguém que não é Unseelie? Estou tentando lembrar o que me disseram quando cheguei a este mundo, mas não foi muito. Eu acho que alguém disse que a magia aqui é um pouco diferente? Algo sobre magia negra?
— Qualquer mágica com a qual eles não concordam, chamam magia negra.
— Eles?
— Aqueles que não são Unseelie. Alguma parte da nossa magia é a mesma que a deles, — explica ela. — Como o poder que reside naturalmente dentro de todos nós, ou o poder que absorvemos dos elementos ou das plantas. Mas eles não gostam quando tomamos o poder de outros seres vivos — seres inferiores — e eles não gostam de alguns dos procedimentos envolvidos em certas magias. Então é aí que entra a divisão. Eu acho, — acrescenta ela, cruzando as mãos recatadamente na frente dela.
Meus olhos passam sobre a comida espalhada na mesa. É muito mais do que eu poderia comer em uma refeição. Eu gostaria de poder pedir a Clarina para sentar e comer comigo enquanto eu faço mais perguntas, mas sei que ela nunca concordaria com isso. — O que conta como um ser inferior? — Eu pergunto.
Mais uma vez, ela parece confusa. — Bem, tudo que não é faerie, é claro.
Um calafrio levanta os cabelos dos meus braços, apesar da brisa morna que entra pelas portas abertas da varanda. — Você faz isso com frequência? Tome o poder de outros seres vivos?
— Não, minha senhora. Eu nunca precisei. Eu já fui curada antes por feitiços que eram especificamente Unseelie, mas eu pessoalmente não absorvi o poder cru de outro ser.
— Tudo bem. Eu entendo. — Eu não tenho certeza do que mais dizer, além de dizer a ela que tomar o poder de alguém soa francamente assustador e simplesmente errado.
— Você tem alguma outra pergunta, minha senhora?
— Hum... não agora.
Ela se vira e depois acrescenta, — Você não precisa se incomodar com tudo isso, minha senhora. Não é familiar para você, eu sei, mas não é errado. É apenas diferente. E, bem, sempre me disseram que não devemos ter medo de algo só porque é diferente.
— Hum, sim, isso é verdade. Obrigada, Clarina. — Dou-lhe um sorriso que desaparece no momento em que a porta se fecha atrás dela. Eu sei que não deveria ter medo de algo simplesmente porque é diferente, mas se é diferente e está machucando alguém, não está certo. Talvez eu tenha entendido mal, no entanto. Talvez essa coisa de ‘tomar o poder’ não seja tão sinistro quanto parece. Pode ser apenas um pouco de poder, não o suficiente para matar alguém. E talvez eles só aceitem seres que estão dispostos.
Eu me sirvo de comida, reabro o livro e continuo lendo. Depois de apenas alguns minutos, um baque surdo vem da direção do meu quarto. Eu abaixo o sanduíche que estava a meio caminho da minha boca e coloco um garfo entre as páginas do livro para marcar onde estava. Eu silenciosamente levanto uma faca e me levanto da cadeira para encarar a porta entreaberta do quarto.
E então eu passo muito tempo congelada no lugar, imaginando se devo investigar sozinha ou arriscar parecer idiota pedindo a um guarda para ir ao meu quarto e caçar a coisa misteriosa que não fez nenhum som desde aquele primeiro baque. Eu decido no final arriscar parecer idiota. Melhor do que ser mastigada por uma das criaturas não inofensivas de fora ou por qualquer coisa que tenha matado aquele guarda esta manhã.
Abro a porta principal, coloco a cabeça para fora e encontro duas mulheres em uniforme de guarda do lado de fora. Elas passam pelo menos vinte minutos procurando cada centímetro do meu quarto enquanto eu finjo ler. E quando elas saem, não tendo encontrado nenhum sinal de ameaça, estou quase certa de que vejo uma revirando os olhos para a outra.
Capítulo 03
— A SUA HABILIDADE GRIFFIN APARECEU NOVAMENTE? — AURORA PERGUNTA À noite, enquanto nos retiramos para os sofás em sua sala de estar privada. É tarde, o jantar acabou, e Roarke ainda não voltou. Perguntar quando ele voltará é inútil, por isso desisti, mas ainda me sinto queimando de frustração toda vez que imagino mamãe dormindo permanentemente. Minhas mãos querem se enrolar em punhos sempre que penso em todos os minutos, horas e dias que passam.
— Eu a senti dormindo na noite passada, — eu digo a ela, removendo uma almofada de minhas costas e abraçando-a ao meu peito. É melhor apertar a almofada do que cavar minhas unhas continuamente nas palmas das minhas mãos. — Ela me acordou. No momento em que percebi o que estava acontecendo, o momento passou. Eu não consegui falar uma única palavra antes que a magia fosse embora.
— O que você teria dito?
Eu sacudo minha cabeça enquanto observo as chamas dançantes na lareira. Como é verão aqui, eu não teria achado necessário acender uma fogueira à noite, mas a sala está agradavelmente aconchegante e acolhedora. — Eu não sei. Eu estava meio adormecida e tentando pensar em algo, mas a sensação se foi antes de eu ter qualquer comando.
Ela me observa por algum tempo, enquanto eu continuo a olhar para ela e para as chamas. — Você realmente acha que o elixir vai ajudá-la?
Eu me concentro nela, meu humor se elevando instantaneamente. Ela poderia estar pensando em dar o elixir de volta para mim? — Claro que ele ajuda. Ele liga a habilidade então assim eu consigo usá-la.
— Sim, eu sei, mas você disse que o propósito do elixir é de alguma forma ensinar você a usar e controlar a habilidade por conta própria. É para te ajudar a reconhecer como é a sua magia Griffin, certo? Para que você possa invocar essa magia à vontade sem a ajuda do elixir?
— Sim, algo assim.
— Mas você já sabe como ela é.
Eu olho para os meus braços em volta da almofada. — Sim, eu sei.
— Então por que...
— Por que não consigo fazer isso sozinha? — Eu suspiro, minha excitação se dissipando. Ela não vai me dar o elixir. — Eu não sei. Eu tentei. Eu imagino o sentimento. Eu imagino tirar magia de dentro de mim, mas nada acontece. Talvez se eu tivesse esse elixir, eu poderia —
— Não, — diz ela. — Eu não vou te dar algo que se tornará uma muleta, especialmente porque não há muito dele, e quando acabar, não sabemos como fazer mais. Sem mencionar que é uma má ideia dar a você algo que irá imediatamente ativar uma habilidade perigosa que você poderia usar contra mim.
— Aurora, eu nunca —
— Sim, sim. — Ela revira os olhos. — Você fará parte da minha família em breve, então gostaria de poder confiar em você, mas ainda não chegamos lá. Não, a razão pela qual estou trazendo isso à tona é porque tenho pensado sobre como sua habilidade pode funcionar. — Ela inclina a cabeça para o lado e olha pensativamente através da sala para as cortinas que escondem as portas da varanda. — Talvez, por ser uma habilidade tão poderosa, ela meio que precise... se reabastecer. Isso explicaria porque você não pode usá-la o tempo todo.
— Tudo bem. Talvez. Alguns tipos de magia funcionam dessa maneira?
— Bem, toda a magia funciona dessa maneira, na verdade. — Ela muda de posição, dobra uma perna sobre a outra e me encara. — É que raramente usamos tudo de uma vez só, por isso não percebemos que ela está constantemente sendo reabastecida. Se você faz algo que é particularmente árduo com sua magia, como levantar algo muito pesado e segurá-lo no ar por um longo tempo, você acabará cansando. Magicamente, quero dizer. Então você precisa descansar enquanto sua magia se restaura.
— Tipo reabastecer as energias se você faz algo que é fisicamente desgastante? — Eu pergunto.
— Sim. Então eu me pergunto se talvez a sua Habilidade Griffin funcione de forma semelhante, mas em erupções rápidas, em vez de lentamente ao longo de um longo período de tempo.
Eu concordo. — Parece que isso pode fazer sentido. Sempre sinto como se isso acontecesse em mim de repente, quando imediatamente estou para falar qualquer coisa na hora, e então some.
— Ou acaba liberada em seu entorno sem nenhum propósito se você não disser nada. — Ela bate no queixo e franze os lábios. — Hmm. Gostaria de saber se você poderia segurá-la e usá-la depois, em vez de liberá-la sempre que for reabastecido.
— Hum... eu poderia tentar isso? — Eu sugiro, não tendo ideia de como eu realmente ‘seguraria’ esse meu poder indescritível.
— De qualquer forma, tudo isso é especulação neste momento, — continua Aurora. — Precisamos coletar algumas evidências reais. Tome nota de exatamente quando acontecer. O dia e a hora. E mantenha o controle de outras coisas, como se você usou uma quantidade anormalmente grande de sua magia normal em outra coisa. Porque nós não sabemos se a sua magia normal tem algum efeito na sua magia Griffin, ou se as duas são independentes uma da outra.
Eu aceno com a cabeça enquanto ela fala. — Basicamente, queremos descobrir se podemos prever quando vai acontecer.
— Sim. Você vai ter que ser muito cuidadosa, Em. Registre todos os detalhes que possam influenciar sua Habilidade Griffin.
— Sim, definitivamente. — Eu franzo a testa enquanto minha mente relembra todas as vezes que eu dei um comando mágico, tentando forçar os eventos em um padrão que faça sentido. Eu acabo balançando a cabeça. — Talvez estejamos erradas. Houve uma vez em que usei duas vezes em alguns minutos. Então, a teoria de reabastecer não faria sentido.
— Bem, talvez você não tenha usado tudo com a primeira coisa que você disse. Talvez você tenha guardado um pouco, mas não percebeu o que estava fazendo. É por isso que você ficou com um segundo comando, mas depois disso tudo acabou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Sim. Talvez.
— Ou talvez sua magia ainda esteja se estabelecendo, — sugere Aurora. — É isso o que acontece com os halflings se a magia deles aparecer mais tarde na vida. Muitas vezes vem e vai por um tempo antes de se tornar consistentemente presente. Talvez, uma vez que tenha passado um pouco mais de tempo, sua Habilidade Griffin aparecerá em intervalos regulares.
Eu passo uma mão pelo meu cabelo. — Tantas possibilidades e incógnitas.
— É por isso que você precisa começar a documentar tudo. Essa é a única maneira de descobrirmos se minha teoria está correta ou não.
Eu me levanto e jogo a almofada no sofá. Eu ando até a lareira e levanto o castiçal de prata da cornija. Eu pratiquei acendendo uma vela repetidamente antes do jantar, e consegui produzir uma chama com quase todas as tentativas. Eu estalo meus dedos ao lado do pavio — e uma chama acende.
— Bom trabalho. — Aurora bate as mãos de prazer. — Tudo bem. Agora que você conseguiu, o que eu vou te ensinar agora?
Em vez de respondê-la, pergunto, — É isso que você faz todas as noites? Janta sozinha no seu quarto? Ou você tem jantares familiares quando todos estão em casa?
Se ela ficou confusa com a minha mudança de assunto, ela não demonstra. — Bem, é sempre diferente, — diz ela com um encolher de ombros. — Às vezes usamos uma das salas de jantar menores e jantamos apenas nós quatro. Às vezes, membros da família se juntam a nós. Às vezes, entretemos os convidados, ou minha mãe entretém seus amigos, ou eu entretenho algumas das moças da corte. Se estou cansada de todos, então como sozinha aqui. — Ela inclina a cabeça. — Por que você pergunta?
— Estou apenas tentando imaginar como é sua vida normal. Clarina me disse que você tem damas de companhia, mas as mandou embora de férias. E eu não vi você interagir com ninguém além de sua mãe e um punhado de criados e guardas, então —
— Então você está se perguntando se eu sou uma solitária miserável? — Ela pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Não. Eu estou querendo saber se você está tentando me esconder de todo mundo que mora aqui.
Vários segundos passam antes que ela responda. — Eu não chamaria isso de esconder, mas suponho que é essencialmente isso. As pessoas vão fazer perguntas sobre você, Em. Eles já estão fazendo perguntas sobre essa minha estranha amiga que não parece pertencer aqui. É mais fácil se não nos colocamos em uma posição em que precisamos responder a alguém até o momento certo.
— E o momento certo será...?
— Quando você e Roarke fizerem um anúncio oficial sobre seu noivado. Ninguém vai questionar sua presença aqui então. Eles não ousariam.
As palavras ‘anúncio oficial’ enviam um calafrio através de mim. Então, apesar do fato de eu estar ao lado do fogo, o frio parece se tornar real. Arrepios se espalham pela minha pele e o ar frio sussurra na parte de trás do meu pescoço. Eu olho por cima do meu ombro, mas apesar do sentimento distinto de que alguém está me observando, eu não vejo mais ninguém na sala.
Com um clique silencioso, a porta se abre. Meu olhar se lança em direção a ela. Ela se abre devagar, e Roarke entra na sala. Ângulos acentuados, cabelos escuros perfeitamente no lugar e olhos da cor do vinho tinto. Seu intenso olhar varre a sala antes de pousar em mim. Seus lábios se curvam em meio sorriso quando um rubor aquece minha pele.
— Oh, olhe isso. — Aurora aperta as mãos juntas sob o queixo. — Ela está emocionada ao ver você, Roarke.
— De fato. — Quando a porta se fecha atrás de Roarke, ele caminha lentamente em minha direção, mãos atrás das costas. — Se ela está emocionada pelas razões certas e não porque está desesperada para me interrogar desde o momento em que ela chegou aqui.
Eu engulo antes de falar. — Estou feliz que você não tenha esquecido por que estou aqui.
Ele para na minha frente, perto o suficiente para que eu tenha que olhar para cima para encontrar seus olhos. Eu sabia que ele era alto, é claro, mas eu tinha esquecido o jeito como a presença dele o faz parecer ainda mais alto. Eu não vou dar um passo para trás, no entanto. Recuso-me a ser intimidada pelo cara com quem eu devo estar casando em breve, independentemente do fato de que eu não tenha real intenção de concordar com essa união.
O sorriso de Roarke aumenta um pouco mais e, por trás das suas costas, ele produz uma rosa. Uma rosa dourada e delicadamente formada, com um rubi no centro de suas pétalas de ouro maciço. — Minha senhora, — ele murmura, curvando-se um pouco quando ele entrega a rosa para mim. Eu hesito, então pego dele. Ele se inclina mais para frente, seu rosto de repente muito perto do meu, e seus lábios brevemente roçam minha bochecha. Um arrepio frio desliza pela minha pele e pelo meu pescoço. — Minhas desculpas por demorar tanto para voltar. Meu pai e eu não costumamos lidar com as questões pessoalmente, mas essa foi uma dessas ocasiões. Achamos melhor ficar onde estávamos até que o trabalho estivesse terminado.
— Hum... tudo bem. Obrigada por essa explicação enigmática.
— Logo, meu amor, você fará parte da família. Você conhecerá todos os nossos segredos.
— Seu amor? Sério? — Coloco a rosa de ouro sobre a cornija da lareira e cruzo os braços sobre o peito. — Eu acho que é um pouco cedo para isso, Roarke.
Roarke olha para Aurora com uma risada silenciosa. — Você tem ensinado a ela como bancar a difícil?
Aurora se estica do outro lado do sofá, endireitando as camadas da saia sobre as pernas. — Não. Parece que ela sabe como fazer isso sozinha.
Eu quase faço um comentário sobre como isso tudo é um jogo para eles, mas considerando que eu espero enganá-los e sair daqui viva, eu provavelmente deveria jogar junto. — Que tal nos conhecermos um pouco melhor antes de começar a falar as palavras ‘meu amor’ por aí? Você nem me levou a um encontro ainda.
— Um encontro? Bem, espero que você tenha algo um pouco mais bonito para usar do que isso — ele gesticula para meu jeans e blusa de moletom — se você está planejando ir a um encontro com um príncipe. E falando em roupas, você não recebeu roupas mais apropriadas?
— Recebi, mas eu prefiro usar o tipo de roupa que eu fico confortável.
— Recusou, — Aurora diz do outro lado da sala. — Ela recusou a usar qualquer um dos vestidos.
Eu respiro fundo pelo nariz. — Esses vestidos parecem que são de outro século. Eu sei que este é um palácio cheio de membros da realeza, mas vocês não podem se atualizar com os tempos no departamento de roupas? O resto do mundo fae parece usar praticamente o mesmo tipo de roupa que as pessoas usam no meu mundo.
— Este é o seu mundo, Em, — Aurora me lembra. — E se você se desse ao trabalho de olhar mais de perto o seu guarda-roupa, acho que descobriria que as roupas penduradas ali são da última moda. Moda fae formal, que pode não ser familiar para você, mas ainda assim. Apenas os designs mais recentes.
— Você está certa, — eu digo a ela, afastando-me de Roarke para me inclinar contra uma poltrona. — Eu não estou familiarizada com a moda formal fae.
— Chega de roupa, — diz Roarke. Ele se vira para me encarar, colocando as mãos nos bolsos de seu longo casaco, que é coberto por bordados de prata primorosamente detalhados e é, sem dúvida, o mais recente da ‘moda fae formal’. — Diga-me, meu amor — Ele se interrompe. — Desculpas, — acrescenta com um leve abaixar de sua cabeça. — Por favor, diga-me, minha senhora, o que você acha da sua nova casa.
— Já que você viu o interior da minha casa anterior, eu suponho que você pode descobrir meus sentimentos em relação a esta.
— Você amou? — Pergunta ele. — Você está completamente impressionada? Você está infinitamente grata por poder passar o resto da sua vida aqui?
— Não exatamente. É linda, eu vou falar. Não é bem o que eu esperava, mas definitivamente linda.
— Ah, agora estou intrigado. — Ele levanta a rosa de ouro da cornija e a gira entre os dedos. — O que você estava esperando?
Eu levanto meus ombros em um lento encolher de ombros enquanto tento colocar minhas expectativas iniciais em palavras. — Eu não sei. Vocês Unseelies são destinados a serem os vilões, certo? Então eu estava esperando algo... mais frio. Mais escuro. Uma floresta morta ao redor do palácio, ou inverno perpétuo ou algo assim. Mas, você sabe, tudo está ensolarado, quente e vivo. — Lá fora, pelo menos, acrescento silenciosamente. Não digo nada sobre o sentimento frio e opressivo que às vezes pressiona meus ombros quando estou dentro do palácio. O frio que sinto no ar agora.
Roarke inclina a cabeça para o lado. — Você não olhou para fora à noite, não é.
Eu volto a me concentrar nas três noites que passei aqui até agora. Todas as noites, quando volto ao meu quarto, as cortinas estão fechadas, as lâmpadas encantadas acesas e a pequena piscina no banheiro decorado como uma floresta cheia de água fervente e bolhas perfumadas. — Não, eu acho que não.
Ele passa por mim, coloca a rosa dourada na mesa em que Aurora e eu normalmente comemos, e acena com a mão nas cortinas. Quando elas se abrem, ele se vira e estende a mão para mim. — Deixe-me mostrar-lhe algo.
Relutantemente, coloco minha mão na dele. Ele abre as portas da varanda e me leva para fora. Eu respiro no ar inesperadamente frio. Então, quando chego à grade da sacada e olho para baixo, meus lábios se abrem em espanto ao ver a deslumbrante paisagem de inverno cobrindo todo o terreno do palácio. — Uau, — eu sussurro.
— Minha mãe gosta de verão, — Roarke diz, — mas meu pai gosta de inverno. A magia dela controla o dia e a magia dele controla a noite.
Meus olhos percorrem a topiaria coberta de neve, as fontes congeladas e os pingentes de gelo pendurados nas pontas dos dedos da estátua mais próxima. — Deve ser muito confuso para todas as plantas e criaturas que residem nesses jardins.
— Felizmente para eles, eles também são mágicos. Eles podem lidar com isso.
Um arrepio me percorre, e Roarke tira o casaco. — Que cavalheiro, — eu digo secamente quando ele coloca sobre meus ombros. — Embora eu esperasse que houvesse um feitiço que evitasse que as pessoas ficassem com frio.
— Há sim. Mas meus níveis mágicos estão um pouco baixos no momento. — Parado mais perto de mim agora, ele estende a mão e enfia meu cabelo atrás da minha orelha direita. Eu endureço imediatamente, olhando para algum lugar na região do pescoço dele, em vez de nos olhos dele, mas conforme seus dedos tocam o pequeno pedaço de metal em forma de moeda presa à pele atrás da minha orelha, eu relaxo um pouco. Ele não está tentando ser íntimo; ele está checando se o dispositivo de ocultação ainda está lá.
— Preocupado que eu poderia ter tirado? — Eu pergunto, satisfeita em ouvir que minha voz está firme.
— Não particularmente. Você não sabe a magia necessária para removê-lo.
— Mas você está checando assim mesmo. Apenas no caso.
— Claro. Eu seria um tolo em não checar. Você pode ter encontrado alguém neste palácio disposto a removê-lo para você, ou sua Habilidade Griffin pode ter surgido por tempo suficiente para você instruir este dispositivo que se retire.
— E por que eu faria isso?
— Segundas intenções sobre nosso acordo. Culpa, talvez. — Ele se inclina para o lado contra a balaustrada, inteiramente à vontade no ar frio da noite. — Você já começou a se sentir culpada, Emerson?
Começou? A culpa vem me comendo desde antes mesmo de eu chegar aqui. Eu dei a localização escondida da minha mãe para uma faerie perigosa que depois a colocou em um coma mágico. Eu fugi das pessoas que me ajudaram e não pediram nada em troca. Eu abandonei minha melhor amiga sem nem dizer adeus. Nada disso, no entanto, é da conta de Roarke. Então eu pigarreio e pergunto, — Por que eu estaria me sentindo culpada? Eu concordei com esse arranjo para ajudar alguém. Eu não deveria ter que me sentir culpada por isso.
— É verdade, mas talvez você tenha ficado com medo desde que chegou aqui. Talvez você queira que seus amigos — os rebeldes Griffin? — saibam onde você está afinal.
Eu não confirmei a suspeita de Roarke de que foram os rebeldes Griffin que me resgataram no dia em que fugi tanto da Guilda quanto dos Unseelies e caí da beira de um penhasco. Ele perguntou onde eu estava me escondendo, mas mesmo se eu quisesse, eu não poderia contar a ele sobre aquele lugar seguro encantado. Quando estou na companhia de outras pessoas, não consigo nem pensar nisso, quanto mais falar o nome do lugar ou a localização dele. Em vez disso, um espaço em branco aparece em minha mente, presumivelmente parte do feitiço de proteção que ajuda a manter o lugar seguro. Minha lembrança dele sempre volta quando estou sozinha, mas ainda é desconcertante toda vez que desaparece completamente da minha mente.
Recusando-me a desviar o olhar de Roarke, eu digo, — Eu não estou com medo, e não mudei de ideia. A última coisa que quero é que meus amigos apareçam aqui. Por que eu arriscaria com eles arruinando nosso acordo antes que você tivesse a chance de seguir com sua parte?
Seu sorriso é lento e cuidadoso. — Bom. Fico feliz em ouvir isso.
— O que me lembra, — acrescento. — Você ainda precisa provar que realmente tem informações úteis que podem ajudar minha mãe. Você não pode esperar que eu me case com você sem alguma garantia de que você está dizendo a verdade.
— Você está dizendo que não está totalmente comprometida com a união?
— Eu estou, — eu digo ferozmente, esperando que a mentira não apareça no meu rosto, — mas apenas se você estiver totalmente comprometido em curar completamente a minha mãe. Eu quero poder confiar em você, Roarke. Por favor, me dê uma razão para isso.
— Hmm. — Roarke estreita os olhos como se considerasse o meu pedido. — Vamos ver. Você —
— Emerson Clarke?
Eu olho para as portas da varanda ao som de uma voz masculina desconhecida. Na porta há um guarda que não reconheço. — Sim? — Eu pergunto.
— O Rei Unseelie deseja encontrá-la.
Capítulo 04
A JORNADA ATRAVÉS DO PALÁCIO PARA ENCONTRAR O REI PARECE AO MESMO TEMPO torturantemente longa e assustadoramente rápida. Tenho tempo suficiente para me arrumar completamente, mas não tenho tempo suficiente para me acalmar e me preparar.
— Meu pai não é tão gentil como eu sou, — Roarke me diz enquanto caminhamos por corredores de mármore brilhantes com duas faeries uniformizadas à nossa frente e duas atrás. — Ele quer manter você, não importa o quê. Nora ou prisioneira.
Maravilhoso. Isso não me faz querer vomitar.
— Eu não vou deixar isso acontecer, é claro, — Roarke acrescenta, — mas seria melhor se você não fizesse nenhum comentário de brincadeira sobre mudar de ideia ou não estar certa sobre a união. As coisas podem ficar... desagradáveis.
— Eu já disse a você que não vou mudar de ideia. — Em meu esforço para mascarar meu medo, minhas palavras saem mais alto do que eu pretendia. — Eu estou aqui, não estou? — Eu continuo em voz baixa. — E eu vim até você. Isso não prova quão séria eu estou sobre essa união?
— Tudo o que estou dizendo é que ele não gosta de piadas ou sarcasmo, então é de seu interesse ser educada. E você provavelmente deveria tirar meu casaco. Você parece muito estranha nele.
Eu tiro o casaco de Roarke e o entrego de volta para ele. — Talvez seja de seu interesse ser educado também, considerando o quanto minha Habilidade Griffin é valiosa para ele. Se ele me fizer prisioneira, nunca lhe darei o que ele quer.
Eu tento muito acreditar em minhas próprias palavras, mas as sobrancelhas levantadas e a expressão de pena de Roarke tornam isso impossível. Quando paramos do lado de fora de uma porta enorme e ricamente entalhada, ele me encara. — Você não precisa dar nada a ele, Emerson. Ele vai pegar o que quiser.
Um guarda abre a porta. O frio artificial no ar se intensifica, e a porta em si parece se estender mais como uma boca gigante se preparando para me engolir inteira. Eu sinto o cheiro de terra úmida e folhas podres. Meu coração bate mais rápido quando imagens de criaturas viscosas, crânios e besouros passam pela minha mente.
Então eu afasto as imagens imaginadas e descubro que a porta não mudou, e a sala para qual ela se abre não é uma boca escura, mas um grande escritório. Roarke pega meu braço e me direciona para frente, já que meus pés se esqueceram de como se mover por conta própria. — Lembre-se, eu estou do seu lado, — ele sussurra para mim. — Prove para meu pai que você está disposta a trabalhar conosco e vou me certificar de que você nunca será forçada a fazer nada.
Eu não respondo, minha atenção focada no interior do escritório do rei. À direita, há uma mesa grande o suficiente para que pelo menos uma dúzia de pessoas se sentem. Estranhamente, porém, tudo o que está em cima da mesa aparece borrado quando tento olhar bem de perto. Meu olhar se move para a esquerda — e fico ainda mais surpresa com o que vejo lá: nenhuma parede envolve o escritório daquele lado. Em vez disso, ele se estende para uma caverna subterrânea feita de rocha áspera e iluminada por luz pálida.
— Deixe-nos.
A voz profunda traz minha atenção para a mesa à nossa frente. A superfície é polida como qualquer outra superfície de mármore que enche este palácio. Do outro lado, uma cadeira alta que parece ser feita da mesma rocha áspera da caverna que está atrás de nós. A cadeira permanece imóvel enquanto os guardas saem da sala e fecham a porta. Então, apesar do fato de que deve pesar uma tonelada, a cadeira gira suavemente para nos encarar.
O Rei Savyon não parece nada com seu filho. Seu cabelo branco-loiro tem mechas pretas. Seus olhos são buracos negros que me perfuram. Sem falar, ele coloca uma mão em cima da outra na mesa à sua frente. Anéis de ouro com pedras multicoloridas brilham em cada dedo.
— Pai, esta é Emerson Clarke, — diz Roarke. Eu engulo e me forço a ficar mais ereta. Tenho certeza que essa é uma daquelas situações em que eu não deveria demonstrar medo, mas acho que estou prestes a falhar miseravelmente.
O rei se levanta, caminha até a frente de sua mesa e cruza os braços sobre o peito. Seus olhos viajam por todo o meu corpo e para cima novamente, seu olhar como um dedo frio e rastejante acariciando ao longo da minha pele. Seu olhar inexpressivo permanece na minha blusa de moletom, em seguida, viaja lentamente até o meu rosto, onde ele segura meu olhar por vários segundos aterrorizantes. Apesar da minha determinação de não ser intimidada, eu quase morro de alívio no momento em que seus olhos me deixam e me movo para perto de Roarke. Eu envolvo meus braços firmemente ao redor do meu corpo e olho para o chão bem na frente dos meus pés.
— Bem, — diz o Rei Savyon, sua voz um estrondo profundo que quase posso sentir em meu próprio peito. — Ela está muito longe da mulher com quem eu esperava que você um dia se uniria, Roarke. Ela mal se encaixa para ser uma criada nesta corte, muito menos uma princesa.
— Sério, pai? — Roarke arrastou. — Essa é a melhor coisa que você tem a dizer?
— O que você espera quando me apresenta uma perspectiva tão sombria para uma nora?
— Eu posso garantir-lhe, pai, que sua Habilidade Griffin mais do que compensa o que ela não tem em outras áreas.
Aqueles olhos negros se fixam em mim mais uma vez. — Eu certamente espero que sim. Eu gostaria de ver uma demonstração agora.
Eu abro minha boca, meus olhos correndo entre os dois. Não tenho certeza se posso falar, mas eles precisam saber que não posso fazer nada sob ordens. — Não se preocupe, Emerson, — Roarke diz antes que eu possa dizer qualquer coisa. Ele alcança dentro de seu casaco e produz um pequeno frasco. — Eu tenho seu precioso elixir aqui. Yokshin, nosso mestre de invenções, vem examinando, mas ainda há muito para que você possa usar.
Droga. Não foi assim que planejei usar o elixir. Eu devo ficar sozinha com Roarke quando ele me der para que eu possa instruí-lo a me contar tudo o que ele sabe sobre minha mãe e como consertá-la. Isso não vai funcionar agora a menos que eu possa dar uma instrução ao rei ao mesmo tempo. Para permanecer congelado no lugar, talvez. Assim ele não consegue interferir. Conforme Roarke se vira para mim, pensamentos correm loucamente pela minha cabeça. Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso? Se eu não fizer agora, terei outra chance? E se eu mandar nele agora, como vou passar por todos os guardas quando sair? Ordená-los também? Haverá tempo suficiente para dar a Roarke, seu pai e todos os guardas do palácio uma ordem antes que minha Habilidade Griffin se esgote?
— A poção de compulsão primeiro, — diz o rei. — Então a poção Griffin.
— Claro, — Roarke diz, removendo outra pequena garrafa de dentro de seu casaco.
— O... quê? — Eu pergunto.
— Poção de compulsão, — Roarke repete, removendo a tampa. — É exatamente o que parece. Você pode ser obrigada a fazer certas coisas enquanto estiver sob a influência desta poção. É só para ter certeza de que você se comportará enquanto usa sua Habilidade Griffin. Nós não queremos que você faça algo bobo ou irracional. — Ele ri. — Como dizer a todos nós para nos matar ou algo assim.
Toda minha esperança murcha. — Então — então você vai me forçar a dizer alguma coisa?
— Isto é apenas uma precaução, Emerson. Meu pai ainda não sabe se pode confiar em você.
Ele entrega a garrafa para mim e, como sei que não tenho absolutamente nenhuma escolha, a levo aos lábios. — Quanto? — Eu pergunto antes de incliná-la.
— Apenas um gole.
A poção tem gosto de algo familiar, mas não consigo identificar. Eu entrego a garrafa de volta para Roarke, assim quando eu percebo que essa coisa de compulsão soa muito como a Habilidade Griffin que todo mundo neste mundo tem tentado colocar suas mãos. Minha Habilidade Griffin. — Espere, mas — se vocês tem uma coisa como uma poção de compulsão, então qual é a importância da minha Habilidade Griffin? Vocês já podem dizer às pessoas para fazerem as coisas e elas as farão. Vocês não precisam — Percebo o que estou dizendo tarde demais. Vocês não precisam de mim. Não é algo que eu deveria estar dizendo quando minha Habilidade Griffin é a única vantagem que eu tenho.
— Nós não podemos forçar as pessoas a tomar uma poção e depois obrigá-las a dizer ou fazer certas coisas, — explica Roarke. — Não é a mesma coisa que dizer o chão para se separar e depois ver isso acontecer um momento depois. — Ele coloca o elixir da Habilidade Griffin na minha mão e dá um passo para trás para ficar ao lado de seu pai. Agora que eles estão próximos um do outro, posso ver a leve semelhança entre eles, apesar de suas diferenças dramáticas na cor dos cabelos e dos olhos. — Emerson, — Roarke diz. — Você não acha que seria divertido se começasse a chover aqui?
Embora seja uma sugestão estranha, eu me encontro concordando com ele. Seria a coisa mais maravilhosa do mundo se começasse a chover aqui mesmo nesta sala. — Sim, — eu digo a ele.
— Então você deve tomar um gole desse elixir e fazer chover.
Ele tem razão. Isso é exatamente o que devo fazer. Então eu retiro a tampa do frasco e despejo algumas gotas na minha língua. Então eu espero pelo formigamento familiar, a sensação de que a magia Griffin escondida em algum lugar dentro de mim está subindo de repente para a superfície. Eu olho para o teto e digo, — Comece a chover.
E começa.
Eu fico encharcada em segundos, ofegando e tensionando meus ombros contra a água gelada. Roarke e o rei permanecem completamente secos, como se guarda-chuvas invisíveis os protegessem do aguaceiro. — Diga para parar, — Roarke fala acima do rugido de gotas da chuva.
Eu não posso sentir se há algum poder Griffin na superfície da minha magia, e é impossível ouvir minha voz acima do barulho. Mas quando eu digo para a chuva parar, eu sinto as palavras ressoando na minha cabeça do jeito que elas fazem quando a minha Habilidade Griffin ganha vida, e eu sei que funcionou.
— Muito bem, — o rei diz enquanto eu fico ali tremendo. Ele olha para Roarke. — Yokshin é capaz de recriar o elixir? Se não, e a Habilidade Griffin for aleatória, a garota não será tão útil para nós como eu esperava.
— Ele não tem certeza sobre recriar, mas na última mensagem de Aurora para mim antes de retornarmos, ela disse que está trabalhando em algumas teorias sobre como a habilidade pode funcionar. Ela acha que pode se tornar mais previsível.
O rei acena com a cabeça. — Bem, então. Tem certeza de que quer ter essa união? Seria mais simples lidar com a garota como prisioneira.
— Sim, eu tenho certeza. Eu não quero que ela seja uma prisioneira. — Roarke olha para mim como se estivesse considerando uma compra que ele está prestes a fazer. — Eu realmente gosto dela. E mamãe e Aurora podem treiná-la nos caminhos da corte. Depois de algum tempo, parecerá que ela sempre pertenceu aqui. Ela se tornará uma de nós. Ela ficará feliz em nos ajudar sempre que precisarmos de sua Habilidade Griffin. Nós nem precisamos forçá-la. Certo, Emerson?
— Sim, — eu respondo.
Um uivo distante ecoa pela caverna.
— Bom, — o rei diz novamente, sem prestar atenção ao uivo. — Até lá, Roarke, você dará a ela uma poção de compulsão todos os dias e lhe dirá exatamente o que dizer se e quando sua Habilidade Griffin aparecer. — Toda a esperança que eu tive de usar minha Habilidade Griffin em Roarke desliza para longe como cinzas através dos meus dedos. — E você, Senhorita Clarke. — O rei dá um passo em minha direção, o que é cerca de mil vezes mais perto do que eu gostaria que ele estivesse. — Descubra se a teoria de Aurora — seja ela qual for — está correta. Faça tudo que puder para aprender como funciona sua Habilidade Griffin. Você será muito mais útil para nós dessa maneira, e pessoas úteis são menos propensas a morrer.
— Pai, — Roarke diz com um revirar de seus olhos. — Isso não é útil. Ela não entende seu senso de humor ainda.
A expressão do rei não muda nem um pouco. Ou ele é muito bom em manter uma cara séria, ou isso não era uma piada.
Outro uivo trespassa o silêncio, desta vez mais alto. O rei não olha para a caverna, então nem eu. Qualquer criatura ou pessoa que está fazendo esse som, eu não quero saber.
— Vamos anunciar a união na festa de aniversário da sua mãe em duas semanas, — o rei diz a Roarke. — Você tem até então para decidir quando a cerimônia de união ocorrerá.
Um terceiro uivo se transforma em soluços, gritos e sons de luta. Finalmente, o rei olha em direção à caverna, e embora eu não queira, eu sigo seu olhar. Dois guardas Unseelie estão arrastando um homem pelo chão desigual da caverna. Enquanto o homem luta, um dos guardas dispara uma faísca de magia em seu lado, e o homem se afasta e uiva em agonia.
Eu olho para Roarke, implorando com meus olhos para nós partirmos agora. Mas ele está observando o homem lutando com uma expressão ilegível.
— Ah, você o encontrou, — diz o rei. — Este é o último, eu presumo?
— Sim, Sua Graça.
— Muito bom. — Enquanto os dois guardas se afastam do homem, o Rei Savyon levanta a mão. O homem, que pareceu por um momento como se estivesse prestes a correr, engole e fecha os olhos. O rei aperta a mão com força ao redor do ar e vira o punho abruptamente para o lado. Do outro lado da sala, na beira da caverna, a cabeça do homem faz o mesmo, dobrando-se quase paralela ao ombro. É demais, minha mente grita. É demais, É DEMAIS!
Então um som nauseante. O choro do homem é cortado. O rei levanta a mão para cima. A cabeça do homem é arrancada inteiramente de seu corpo e ambas as partes caem no chão, espalhando sangue por toda parte.
Um suspiro estrangulado me escapa. Minha mão voa para cobrir minha boca. Eu fecho meus olhos, mas de jeito nenhum eu poderei não ver isso.
Como se de longe eu ouvisse a voz do rei. — Isso é tudo, Roarke. Leve a garota de volta para seus aposentos.
Uma mão agarra o meu braço. Eu pisco e forço meus olhos para longe do corpo morto quando Roarke me puxa para a porta. Ele abre e me deixa andar na frente dele. — E Roarke, — o rei acrescenta. — Encontre alguém que queime essas roupas hediondas que ela está usando. Eu não entendo porque isso ainda não foi feito.
— Ela se recusou a se separar delas, aparentemente.
Eu me atrevo a olhar para o rei. Ele não suspira. Ele não sorri. Ele mal se move quando diz, — As roupas serão queimadas. Cabe a Senhorita Clarke se ela ainda estará nelas quando isso acontecer.
A porta se move lentamente em nossa direção. No momento em que ela se fecha, começo a correr.
Capítulo 05
EU CORRO TODO O CAMINHO DE VOLTA PARA O MEU QUARTO, ABRO A PORTA, E A fecho. Eu dou alguns passos instáveis dentro para dentro do quarto, mal vendo ao meu redor. Tudo que vejo é o pescoço de um homem virado para o lado e o sangue esguichando de...
Eu me viro, piscando, como se eu pudesse de alguma forma desviar o olhar da memória. Ainda respirando pesadamente por causa da corrida, eu empurro meus dedos pelo meu cabelo. O que diabos eu estava pensando vindo a este lugar? Que eu realmente conseguiria fugir com as respostas que preciso, porque tenho uma poderosa Habilidade Griffin que posso usar contra as pessoas? Uma habilidade Griffin que não posso usar quando quero e que pode ser usada para atender aos propósitos de outra pessoa devido a uma poção que eu não sabia que existia. Que piada miserável. Eu deveria ter adivinhado, no entanto, que algo assim aconteceria. Há tanta coisa que eu não sei sobre esse mundo e sua magia, mas o que eu deveria saber era que era uma ideia idiota me colocar no meio de um bando de faeries poderosos que exercem magia negra.
De algum lugar atrás de mim, um baque suave chega aos meus ouvidos. Eu congelo. Eu sei que deveria correr. Eu deveria abrir a porta e continuar correndo até que este palácio esteja muito atrás de mim. Mas o medo gruda meus pés no chão. Muito lentamente, eu me viro e olho por cima do meu ombro. Do outro lado do quarto na mesa redonda, ao lado da bandeja de chá e macarons que Clarina deve ter deixado aqui há não muito tempo atrás, está uma pequena coruja. Enquanto observo, a coruja parece desabar sobre si mesma. Um instante depois, um gatinho preto aparece em seu lugar.
— Bandit? — Eu sussurro em descrença. Eu me viro totalmente para encarar a criatura que muda de forma. Ele treme sua orelha direita em resposta. Sem parar para pensar, eu corro através do quarto e o coloco em meus braços, lágrimas queimando em meus olhos. — Eu não sei como você chegou aqui ou onde você esteve se escondendo ou se é você que está fazendo barulhos estranhos na minha suíte, — eu sussurro, — mas eu estou muito, muito, muito feliz de ver você. — Eu pensei que o deixei dormindo no meu quarto quando escapei do oásis, mas ele deve ter mudado para algo menor e entrou em um dos meus bolsos. Não seria a primeira vez. — Por favor, não me deixe, — murmuro em seu pêlo, minhas palavras saindo apressadas. — Por favor, não me deixe aqui sozinha. Sinto muito pelas coisas que eu disse quando você apareceu pela primeira vez. Que eu não gosto de animais de estimação e que talvez eu pudesse vender você. Eu juro que não quis dizer nada disso. Eu tive um cachorrinho uma vez, mas ele fugiu e nunca mais voltou, e mamãe e eu procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo e chorei por dias. — Eu respiro fundo e abro meus braços o suficiente para olhar para baixo para ele sentado entre eles. Ele olha para cima com olhos de gatinho perfeitamente adoráveis. — Eu sei que você é mágico, mas provavelmente não entende uma palavra do que estou dizendo, não é? — Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para todos os lados como se estivesse tentando descobrir o que estou dizendo. — Sim, — eu sussurro, puxando-o para o meu peito novamente. — Então, só não desapareça, tudo bem? Este lugar não é seguro. Para nenhum de nós dois. Se você tivesse visto o que eu acabei de —
— Emerson? — A voz do Roarke do outro lado da porta me faz tremer. Eu não tenho ideia de como ele vai se sentir sobre a ideia de um animal de estimação metamorfo aparecendo aqui, então eu corro para o quarto e coloco Bandit na cama. — Fique aqui, — eu sussurro para ele antes de fechar a porta. Com os membros ainda tremendo, eu atravesso a sala de estar e abro a porta principal apenas o suficiente para espiar através da abertura para Roarke.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Outro breve lampejo de sangue e carne sendo rasgada cruza minha mente. Eu engulo, achatando uma mão no batente da porta e a outra na parte de trás da porta. Se recomponha, eu silenciosamente instruo. Você escolheu vir aqui. Você escolheu essa opção para ajudar sua mãe. Agora faça o trabalho. — Sim, obrigada. Eu vou ficar bem. Foi apenas um pouco de choque, só isso. Ver... isso. — Duvido que seja necessário elaborar exatamente o que estou me referindo.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Hum... tudo bem.
Nós nos sentamos lado a lado no divã com uma quantidade respeitável de espaço entre nós. Arrisco-me a olhar para a porta fechada que nos separa do quarto. Espero que Bandit seja inteligente o suficiente para saber que ele precisa permanecer escondido. — Eu sinto muito que você teve que ver isso, — diz Roarke. — Eu sei que deve ter parecido brutal e cruel, mas isso não aconteceu sem nenhum motivo. Aquele homem desobedeceu ao rei e a consequência foi à morte.
Eu respiro devagar. Já que Roarke parece estar esperando por uma resposta, eu digo, — Tudo bem.
— Eu só queria explicar porque eu não quero que você tenha medo de viver aqui. Esse homem era um criminoso. Ele e vários outros roubaram do meu pai. Ele mereceu a morte. Mas para aqueles de nós que seguem as regras, a vida aqui é boa.
Para aqueles de nós que seguem as regras. As garantias de Roarke só aumentam meu medo. Não estou planejando seguir as regras. Estou planejando roubar conhecimento e depois fugir para salvar a minha vida. — Eu sei, — eu digo baixinho. — Compreendo. Como eu disse, foi apenas um choque. Eu só estou aqui há alguns dias e tudo é muito... diferente. Eu ainda estou me acostumando com isso. — Eu engulo. — Eu acho que poderia ajudar a me deixar à vontade se eu soubesse com certeza que posso confiar em você. Se você pudesse me contar algumas coisas — sobre minha mãe, então eu sei que você pode realmente me ajudar.
Ele se inclina para trás sobre uma mão e me observa enquanto sua expressão séria se transforma em diversão. — Na verdade, você não é tão mal nisso quanto Aurora pensou. Ainda bastante transparente, mas estou impressionado que você esteja tentando.
Eu estreito meus olhos para ele. — Tentando o quê?
— Reverter esta situação ao seu favor. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Estou curioso. Essa cena com meu pai realmente a incomodou, ou toda a sua reação é um artifício para que você possa tentar manipular alguma informação de mim?
Minha boca cai aberta por conta própria. Fecho-a rapidamente e cerro os dentes enquanto respondo. — Claro que fiquei chateada com isso. Foi horrível. — Eu me inclino para longe dele. — Você ficou motivado por alguma preocupação genuína quando decidiu vir ao meu quarto, ou isso faz parte do jogo que você está jogando?
Ele sorri de novo, mas desta vez é mais suave. — Eu sinto muito. Parece que nós dois ainda estamos nos descobrindo. E sim, minha preocupação por você era genuína. Eu não sou tão cruel que não signifique nada para mim ver você chateada. Podemos estar prestes a formar uma das uniões menos românticas da história, mas isso não significa que eu não vou, pelo menos, tentar cuidar de você.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, me apertando mais forte que o normal. — Bem, no caso improvável de você estar dizendo a verdade, obrigada por tentar.
Ele me examina por mais alguns instantes. — O que posso dizer para convencê-lo de que estou sendo sincero?
— Você poderia começar com...
— Devo lhe falar sobre a pequena casa em que você cresceu? Número vinte e nove Phipton Way. Devo lhe falar sobre as rosas silvestres que sua mãe adorava cultivar no jardim? Ou sobre a amiga que costumava visitá-la às vezes? Aquela que sempre acabava discutindo com sua mãe. Aquela que você nunca conheceu, porque sempre lhe disseram para ir ao seu quarto. Ou que tal o momento em que sua mãe apareceu para buscá-la na escola uma hora mais cedo e ficou do lado de fora da cerca falando com coisas que não estavam lá? Contar a você sobre essas coisas é suficiente para provar a você que eu sei mais sobre sua mãe do que qualquer um que tenha tentado ajudá-la até agora?
Um arrepio percorre minha espinha. — Como você sabe dessas coisas?
Suas sobrancelhas se apertam levemente. — Você ainda não entende, não é? Você não entende como você é valiosa. Quando eu ouvi sobre a sua Habilidade Griffin, minha prioridade foi aprender tudo o que pudesse sobre você. Procurei sua tia, depois sua mãe e depois a única pessoa que ligava Daniela e Emerson Clarke a este mundo.
— Que pessoa?
— A pessoa que sabe quem você é. A pessoa que fez sua mãe do jeito que ela é.
Meu coração troveja perigosamente rápido. — Conte.
Ele simplesmente balança a cabeça. — Tudo será revelado depois da nossa união.
Eu sacudo minha cabeça, moendo as palavras entre os meus dentes. — E você quer que eu acredite que você não é cruel.
— Eu não sou, — ele diz baixinho. — É só que você não é a única pessoa que quer alguma coisa. Eu também quero algo, e não confio que você me dê a menos que eu retenha informações de você.
— Eu vou fazer esta união.
— Mesmo? Isso é honestamente o que você está planejando fazer?
Droga. Existe algum tipo de magia acontecendo aqui que diz a ele que estou mentindo? Aquela poção de compulsão ainda está funcionando? Mas ele não me obrigou especificamente a dizer a verdade. — Sim, — eu digo a ele, querendo acreditar que é a verdade. — É o que estou planejando fazer.
— E ainda assim você não pediu detalhes sobre como eu vou cumprir o meu lado do acordo uma vez que a união tenha acontecido. Como exatamente sua mãe será acordada e curada? Eu vou te ensinar os feitiços e deixar você ir até ela? Vou insistir em fazer isso sozinho? O que vai acontecer com sua mãe quando ela estiver bem?
Droga. Ele me pegou. — Eu tenho muitas perguntas para você, Roarke, mas você não está exatamente por perto para que eu faça. Você só voltou algumas horas e não tivemos muito tempo para conversar antes que seu pai quisesse me ver.
— Verdade. Bem, então, você quer perguntar como as coisas vão funcionar depois da união?
Eu inclino meu queixo para cima. — Como as coisas vão funcionar depois da união?
Ele suspira. — Por que você é tão resistente? Entendo que não é o ideal se casar com alguém que você acabou de conhecer, mas não é como se você estivesse tendo uma vida desapontadora em comparação com esse acordo. Eu estou te oferecendo tudo. Uma bela casa, uma família poderosa, riqueza além de qualquer imaginação. E não me diga que você não quer nada disso porque todo mundo quer isso. E não há nada de errado em querer isso. Você será uma das poucas sortudas que vai conseguir ter tudo.
— Você está certo, — eu digo baixinho, desdobrando meus braços e colocando minhas mãos no meu colo. — Eu sou muito sortuda.
— Então, quando estivermos casados, eu irei até sua mãe e —
— Não, — eu interrompo. — Você — eu vou. Eu vou buscá-la e trazê-la de volta para cá. — Eu paro. — Você não iria me impedir de fazer isso, não é? De ir buscá-la? Quero dizer, obviamente eu voltaria.
— Obviamente, — ele repete. — Mas isso não significa que meu pai ficaria feliz com você saindo. Se você não quer que eu busque sua mãe, e você não tem permissão para buscá-la também, entre em contato com quem quer que seja que a mantenha segura e marque uma reunião. Em um local neutro, que seus ‘amigos’ não precisem se preocupar serem descobertos. Vou mandar algumas pessoas buscarem sua mãe. Meus homens mais confiáveis.
Eu considero sua sugestão. — Bom. Se esse é o único jeito.
— Quando ela estiver aqui, eu vou acordá-la. Eu vou curar sua mente. Então ela vai poder dizer a verdade sobre tudo. Você pode finalmente ter todas as suas perguntas respondidas. Ela pode ficar aqui também, e você pode finalmente parar de se preocupar com ela. Parar de lutar, pare de se debater. A vida será boa para você, Emerson.
— Soa perfeito.
— Soa? Eu sei que você gosta de sarcasmo, então me perdoe por duvidar de você.
Eu reviro meus olhos. — Obviamente não é perfeito, mas é o mais próximo da perfeição que a vida poderia ser, então se casar com você é o único jeito de chegar lá, então eu farei isso.
— Mesmo?
— Sim.
Ele se inclina para frente e segura uma das minhas mãos. Ele olha atentamente para os meus olhos, e embora eu não me sinta diferente, não posso deixar de me perguntar se ele está tentando usar algum tipo de feitiço de discernimento mágico do qual não sei nada. — Você está mentindo para mim, Emerson?
Eu sacudo minha cabeça, desejando não desviar o olhar dele. — Não estou mentindo. Minha mãe é a pessoa mais importante do mundo para mim. Eu faria qualquer coisa para deixá-la melhor. — E percebo quando termino de falar que estou dizendo a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela — e isso inclui se casar com um príncipe que mal conheço. Então, se não houver saída para isso, se for impossível conseguir as informações que eu preciso de Roarke antes do casamento, então eu farei isso. Vou casar com ele. E mamãe finalmente será a mãe feliz e saudável que eu me lembro.
E então...
Um dia, não importa quanto tempo demore, não importa quanto tempo eu leve para descobrir exatamente como fazer isso, eu vou tirar nós duas daqui.
Capítulo 06
— SIM, MUITO BEM, — AURORA FALA PARA MIM ATRAVÉS DO TERRAÇO CONFORME eu balanço o braço do meu parceiro de dança, dou voltas, passo por trás dele, e volto à nossa posição inicial. Depois de aplaudir brevemente, Aurora acrescenta, — Você só estragou tudo uma vez desta vez.
— O quê? — Eu me afasto do jovem que tem sido meu parceiro. Primo de Aurora ou primo de segundo grau ou algo nesse sentido. Meu futuro marido é aparentemente muito importante ou ocupado demais para esse tipo de coisa. — Eu pensei que eu fiz tudo certo.
— Não, a parte no começo logo depois de você tocar as palmas das mãos? Você virou para o caminho errado.
Eu reviro meus olhos. — Você realmente acha que alguém vai notar?
— Sim. Em um salão de baile cheio de casais dançando, quando todo mundo se vira para um lado e você vira para o outro, isso certamente será perceptível.
— Tudo bem. Eu presumo que você vai me dizer para fazer de novo? — Eu tenho praticado por horas, mas sei que Aurora não vai ficar feliz até que eu esteja completamente certa.
— Sim, — diz ela com um aceno de cabeça.
Então eu encaro meu parceiro e tento não suspirar muito alto quando começamos de novo. Pelo menos minha roupa é bastante fácil de se mover. Depois do meu aterrorizante encontro com o rei, deixei de lado a minha teimosia e dei uma olhada no meu guarda-roupa — e descobri que não detestava as roupas tanto quanto esperava. Nem todas eram vestidos fofos, fiquei feliz em ver. São mais como combinações de calças e vestidos justos, alguns com longas mangas enfeitadas e pescoços altos, outros sem mangas e luvas cobrindo todo o braço. Com o passar dos dias, passei a apreciar os ricos detalhes e estilos exóticos usados pelos membros da Corte Unseelie. E quanto mais eu penso sobre isso, mais sentido faz em um mundo cheio de magia e encantamento, que a roupa seria tudo menos comum.
Ou talvez eu esteja simplesmente me acostumando a estar aqui, o que é um pensamento aterrorizante.
Nós dançamos a dança mais três vezes antes de Aurora finalmente nos deixar parar. Seu primo, que parecia que poderia se esfaquear se forçado a me girar mais uma vez, corre antes que Aurora consiga ordenar outra tarefa chata para ele. — Noraya, vamos tomar refrescos agora, — diz ela, acenando passando por mim para onde sua criada está esperando na porta da biblioteca.
Eu me junto a Aurora do outro lado do terraço e sento no banco balançando ao lado dela. É apenas uma única videira, e tenho um pouco de receio de colocar todo o meu peso no hemisfério oco. Mas Aurora continua me dizendo para não duvidar da magia, e seu banco está perfeitamente bem até agora. Depois de alguns momentos, relaxo contra as almofadas e levanto os pés para que eu possa balançar gentilmente para frente e para trás. Eu olho para o jardim, mas não há muita coisa acontecendo. O terraço da biblioteca fica em um lado mais silencioso do palácio.
— Então, agora que posso dançar sem errar, — digo a Aurora, balançando meu banco para encará-la, — podemos fazer algo mais emocionante esta tarde? Como arco e flecha? Eu estava começando há ficar um pouco menos que terrível em nossa última lição. Ou eu poderia te mostrar mais movimentos de parkour. Você poderia experimentar alguns deles desta vez, em vez de apenas me observar.
Ela ri e balança a cabeça para minha aparente tolice. — Você não acha que acabou as aulas de dança, não é? Você aprendeu uma dança, Em. Agora você precisa aprender o resto delas. E só temos três dias até o baile de aniversário de mamãe.
Meus pés caem no chão. — Sério? Eu tenho que aprender todas as danças?
— Sim. Vai ser bastante ruim quando as pessoas descobrirem que a futura princesa é alguém que passou toda a sua vida no reino humano e não sabia nada deste mundo até algumas semanas atrás. Se eles não virem você usando magia ou dançando todo tipo de dança, será ainda pior.
— Espere, você quer que eu use magia no baile? Na frente das pessoas?
— Claro. — Ela move a mão em um círculo, e seu banco começa a girar lentamente. — Deve estar tudo bem, não é? Você pode lidar com o básico agora.
— Sim, eu só não sabia que isso era esperado, só isso. Eu tentarei não esquecer.
— Essa é a coisa, Emerson. — Sua voz me alcança do outro lado do seu banco. — Você precisa chegar ao ponto em que não precisa se lembrar. Deve se tornar uma parte automática de sua vida diária, usando até mesmo para as tarefas mais simples.
— Soa um pouco como preguiça para mim.
— Você sabe o que é preguiça? — Ela faz seu banco parar quando ela está de frente para mim e toca distraidamente o pingente em volta do pescoço: uma forma oval prateada com uma pedra negra no centro. — Sentar em frente a uma tela brilhante e assistir sem pensar imagens em movimento.
Eu dou a ela o meu olhar nada impressionado. — Você está se referindo a TV e filmes? Porque isso não é preguiça. É entretenimento e faz parte da —
— Parte da vida humana. Assim como a magia faz parte da vida dos faeries. Faz parte da sua vida agora, Em, então se acostume com isso.
— Tantas coisas que tenho que me acostumar, — eu penso, olhando através do jardim novamente.
— Sim, como roupas bonitas, feriados exóticos, festas luxuosas e isso é o esperado pelo resto de sua vida.
— Eu estava me referindo mais a este mundo e sua política e geografia e história e criaturas e... tudo, — eu digo baixinho. — É tudo muito diferente da vida em que cresci.
— Verdade, — ela diz. — É por isso que você deve se concentrar com as coisas frívolas. É muito mais fácil se acostumar. O resto seguirá com o tempo.
Eu aceno, apesar do fato de que eu não concordo com ela. Eu não posso dizer a ela que ainda estou determinada a encontrar uma saída para tudo isso. Mesmo agora, depois de lições intermináveis de magia, etiqueta e dança, depois de longas discussões sobre os detalhes da cerimônia de união, eu ainda não consigo imaginar este casamento realmente acontecendo. Eu sei que provavelmente estou em negação. Eu sei que é improvável que Roarke me conte mais alguma coisa sobre minha mãe até nos casarmos. Mas eu não vou desistir até o momento em que a cerimônia de união começar.
Noraya retorna então com dois copos altos flutuando na frente dela. Ela é tão boa nessa coisa de levitação que nem precisa usar as mãos. Elas permanecem perfeitamente atrás das suas costas enquanto ela caminha para frente, os olhos apontados com firmeza à frente, em vez de observar os copos flutuantes. — Limonada, Sua Alteza, — diz ela quando nos alcança.
Eu me empurro para frente e fico de pé enquanto um dos copos se move em direção a Aurora. Eu envolvo minha mão em torno do outro. — Obrigada, Noraya. — Ela arrisca um olhar para mim, sorri, então olha apressadamente para longe.
— Você precisa superar isso, — Aurora me diz uma vez que Noraya caminha de volta para a porta da biblioteca. — Não há nada de errado em ser esperado.
Eu me acomodo com cuidado em meu banco sem derramar minha bebida. — Eu não gosto de relaxar e receber as coisas. Parece apenas... rude.
— É grosseiro impedi-la de fazer seu trabalho corretamente.
— Bem, de qualquer maneira, ela sorriu para mim, então eu acho que ela não se importou.
Aurora abaixa o copo e pisca. — Ela sorriu para você?
— Quero dizer, não para mim, — acrescento apressadamente, não querendo colocar Noraya em problemas. — Não de um jeito indelicado. De qualquer forma, queria perguntar a você sobre os vestidos para o baile de aniversário da sua mãe. Eu suponho que você vai me dizer o que eu devo vestir? Eu não acho que posso ser confiável para escolher o tipo certo de vestido.
Aurora estreita os olhos com a mudança abrupta de assunto, mas ela deixa passar. — Sim. Mamãe e eu mandamos fazer três vestidos para você. Nós decidiremos qual escolher quando soubermos o que Roarke estará usando.
— Certo. Claro. Porque seria terrível se as cores entrassem em confronto ou algo assim.
Ela revira os olhos e cutuca meu joelho com o sapato. — Seria terrível. Vocês dois precisam parecer o par perfeito.
— O que é bobo, porque nunca seremos um casal perfeito. Nós nem sequer — Oh. — Eu sento um pouco para frente. — Minha Habilidade Griffin. Eu posso senti-la chegando. — No tempo em que estou aqui, eu fiquei mais sintonizada com a sensação da minha magia. Ser forçada a manter registros intermináveis da magia comum que uso todos os dias, o quanto eu como, o quanto estou cansada ou energizada, e exatamente quando minha Habilidade Griffin aparece me tornou mais consciente de cada pequena mudança na minha magia.
— Ah, é quase na mesma hora que as últimas manhãs, certo? — Aurora diz. — Um pouco antes da hora do almoço?
— Sim. E eu usei muito mais a minha magia normal do que o habitual na noite passada tentando derreter aquela fonte, então provavelmente podemos dizer com certeza agora que níveis mágicos comuns não têm muita influência na minha magia Griffin.
— Excelente. Não se esqueça de adicionar isso ao seu caderno. Acho que temos uma ideia razoavelmente boa de como sua habilidade funciona agora, mas você provavelmente deve continuar acompanhando-a por mais algumas semanas. Só assim podemos ter certeza.
Eu achava que a minha Habilidade Griffin não fazia nenhum sentido quando se revelou pela primeira vez, mas talvez, como Aurora sugeriu, ainda estivesse ‘se estabelecendo’ durante os meus primeiros dias neste mundo. Desde então, meu excessivo registro revelou um padrão bastante regular: Minha Habilidade Griffin aparece duas vezes ao dia, com aproximadamente doze horas de diferença, mais ou menos uma ou duas horas. E durante esse tempo, não há nada que eu possa fazer — além de pegar o elixir, que agora está esgotado — que fará com que apareça. O que significa que é provável que a teoria de reabastecer de Aurora esteja correta.
Eu abaixo meu copo de limonada e sento na beira do meu banco. Eu fecho meus olhos e tento prever o momento exato antes de sentir aquela sensação de formigamento na minha espinha. — Eu imagino como se fosse um vulcão se preparando para entrar em erupção, — murmuro. — A pressão se acumula dentro de mim e, de repente, tudo corre para a superfície, pronto para explodir.
— O que Roarke obrigou você a dizer desta vez? — Aurora pergunta.
Assim como o rei instruiu, Roarke me dá uma poção de compulsão todos os dias — bem, duas vezes por dia, agora que descobrimos o padrão — e me diz exatamente o que dizer quando minha Habilidade Griffin está pronta para ser usada. — Ele me obrigou a tentar preservar o poder, se possível. Se não, então eu devo dizer para todas as rosas amarelas no jardim para ficarem azuis.
— Ugh, que comando estúpido. Ele realmente precisa encontrar alguns usos mais interessantes para sua magia. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja te deixando praticar. Você precisa aprender a dominá-la, Em.
— Sim. — Eu aperto minhas mãos e fecho minha boca enquanto a magia Griffin ondula através de mim, exigindo ser liberada. Segure-a, segure-a, segure-a, eu silenciosamente me instruo. E quando tenho certeza de que a magia está prestes a se libertar de mim, me forçando a falar às instruções que Roarke me deu, apenas... não. Lentamente, começa a parecer menos esforço segurá-la. Eu abro meus olhos, minhas mãos relaxando no meu colo. — Eu acho que eu consegui, — eu digo com um sorriso. — Eu ainda posso sentir o poder lá, como um zumbido estranho logo abaixo da minha pele. Eu me pergunto por quanto tempo eu posso —
O poder corre para fora de mim, tornando minha voz mais profunda e ressonante. — Toda rosa amarela no jardim ficará azul, — eu digo.
Aurora se senta um pouco para frente, olhando além de mim. Depois de um momento, ela diz, — Funcionou. Eu consigo ver apenas alguns arbustos de rosas amarelas daqui, mas elas ficaram azuis.
Eu caio de volta contra minhas almofadas, fazendo meu banco balançar com movimentos bruscos e oscilantes. — Merda, foi apenas um minuto.
— Bem, talvez você tenha se empolgado cedo demais. — Aurora se inclina para trás e toma um gole de sua limonada. — Tente por mais tempo na próxima vez antes de me dizer ‘consegui’. Tudo que você precisa é praticar.
— Maravilha. Outra coisa para praticar, — eu digo com um suspiro.
— Diga ao Roarke para obrigá-la a segurá-la, não apenas para tentar. E nada disso ‘Se você não conseguir, então é isso que você vai dizer.’ Ele basicamente está lhe dando permissão para falhar.
— Mm. — Eu estou esperando pelo dia em que Roarke estará ocupado o suficiente para esquecer de me obrigar. Esse é o dia em que vou me certificar de que eu esteja com ele exatamente no momento certo. Vou ordenar a ele que anote todos os feitiços necessários para acordar e curar minha mãe. Então, se restar alguma coisa da minha Habilidade Griffin, vou usá-la para sair daqui.
— Você não quer terminar sua limonada? — Aurora pergunta, levantando meu copo do chão com um simples aceno de sua mão. — Você precisa se manter hidratada, se quiser sobreviver ao resto das aulas de dança do dia.
Eu pego o copo do ar e tomo o restante da limonada. — Você vai ter que encontrar outro membro disposto em sua corte para ser meu parceiro, — eu a lembro, — e seu primo provavelmente já disse a todos para evitarem a mim e a minha dança terrível, então... Oh. Isso é uma ideia.
— O quê?
— Você acha que funcionaria se eu usasse minha Habilidade Griffin para dizer a mim mesma que eu posso dançar perfeitamente a dança das fadas?
— Uh... — A expressão de Aurora fica pensativa. — Hmm. Eu imagino. Quero dizer, como funciona a sua magia Griffin em primeiro lugar? Ela obedece às suas palavras exatas ou à sua intenção por trás das palavras? Funciona de acordo com o que você está imaginando quando ordena alguma coisa? Nesse caso, a coisa da dança não funcionaria porque você não sabe e, portanto, não consegue visualizar todos os passos das outras danças. E outra coisa, — acrescenta ela, batendo na lateral do copo com as unhas. — Se você me disser para fazer algo, mas a maneira que eu entendo seu comando não é da mesma maneira que você quis dizer, qual intenção a magia obedecerá? Sua ou a minha?
Eu inclino minha cabeça contra as almofadas. — Eu não tenho ideia, mas estou começando a desejar que esta Habilidade Griffin viesse com um manual de instruções.
— Experimentação, Em. Isso é tudo que requer.
— Claro, mas é frustrante quando tenho que esperar meio dia entre cada nova experiência.
— A menos que você possa se agarrar ao seu poder e usar um pouco de cada vez.
— Talvez. — Eu viro no meu banco para encarar as portas da biblioteca quando passos soam no terraço.
— Sua Alteza, — diz Clarina quando nos alcança. — Minha senhora, — acrescenta ela, direcionando suas palavras para mim antes de virar de volta para Aurora. — Phillyp está pronto para a sua aula.
— Oh, maravilha. — Aurora entrega seu copo de limonada pela metade para Clarina antes de se levantar.
— E sua mãe acabou de enviar uma mensagem para dizer que gostaria de discutir alguns detalhes do baile com você.
— Mamãe sempre escolhe fabulosamente o pior momento, não é? — Aurora diz com um suspiro. — Ela vai ter que esperar.
— Claro, Sua Alteza. Devo dizer a ela o habitual?
— Sim. Diga a ela que estou no meio da minha aula de arco e flecha. Eu vou direto para ela assim que terminar.
Clarina acena com a cabeça uma vez. — E devo escoltar Lady Emerson de volta para seus aposentos?
— Hum... não, na verdade. Em vem comigo desta vez. — Aurora me dá um sorriso perverso. — Eu confio em você agora para manter meus segredos.
Depois de uma rápida reverência, Clarina sai. — Poxa, — eu digo. — Estou chocada ao descobrir que a princesa perfeita está guardando segredos de sua própria mãe.
Ela dá no meu braço uma tapa brincalhona. — Não, você não está. Além disso, não é grande coisa. É apenas algo que minha mãe não aprova. — Em vez de voltar para dentro, ela sai do terraço para a grama.
— Sua mãe não aprova você treinar arco e flecha também, — aponto enquanto a sigo, — mas ela não impediu você de ter aulas.
— Sim, bem, eu disse a ela que era ou tiro com arco ou combate mágico, e não havia como ela permitir que sua pequena princesa aprendesse um combate mágico.
— Que é o quê, exatamente? — Eu me inclino quando uma borboleta prateada e uma lagartixa com asas — uma correndo atrás da outra — voam muito perto da minha cabeça.
— Você sabe como quando você se baseia em seu poder e, em sua forma mais básica, é apenas o poder cru em suas mãos? — Diz Aurora.
— Sim. — Foi essa a lição que recebi de Azzy na Chevalier House.
— Bem, tudo que você faz é jogar essa magia em alguém. Quero dizer, há mais do que isso. Aqueles que são treinados em combate mágico muitas vezes transformam sua magia em outras coisas. Pedras ou lâminas ou bandos de aves com bicos afiados. Algo que pode mais facilmente derrubar um adversário do que apenas algumas faíscas. Mas sua mente tem que ser muito rápida. Você tem que ser capaz de moldar sua magia mentalmente assim. — Ela estala os dedos. — Mais e mais, enquanto também se protege.
Eu olho em volta enquanto nos afastamos do palácio. Esta parte do jardim não me é familiar, e tudo o que posso ver à frente é um bosque de árvores. — Então a rainha não queria que você aprendesse essa habilidade?
— Não. Não é coisa de princesa. Temos guardas para lutar por nós, se necessário. Ela concordou com arco e flecha, porque tudo o que isso implica é atirar flechas em objetos inanimados que não atiram de volta em mim.
— Muito mais civilizado, — comento. — Mas isso claramente não era ousado o suficiente para você, então você teve que tentar outra coisa.
— Sim.
— Algo que sua mãe certamente não aprovaria.
— Exatamente.
— E o que é?
Um sorriso estende em seus lábios conforme alcançamos as árvores. — Montar em um dragão.
Capítulo 07
MEUS PASSOS PARAM. — ESPERE. — LEVANTO UMA MÃO. — Espere, espere, espere. Vocês têm dragões?
— Sim. — Aurora se vira para olhar para mim. — Você não os viu voando de vez em quando?
— Bem... eu vi alguma coisa no céu. Eu presumi que eram pássaros grandes, ou algum tipo de criatura voadora que ainda não conheci.
Ela cai na gargalhada. — Pássaros grandes? Mesmo?
— Eu só os vi de longe, — Eu digo defensivamente. — Era difícil julgar o tamanho.
— Bem, você está prestes a vê-los de perto.
Eu pisco. Meus pés ainda não se movem. — Caramba, — eu sussurro.
— O quê? Você não está com medo, não é?
— Não. Quero dizer, talvez. Provavelmente. Estou tendo apenas um daqueles momentos em que me pergunto se estou realmente sonhando. Estamos falando de dragões, Aurora. Eu cresci pensando que eles só existiam na ficção, e agora estou prestes a ver um? Meu cérebro não faz ideia de como reagir a isso.
— Vamos. — Ela pega meu braço e me puxa para frente. — Seu cérebro tem um minuto ou dois para entender as coisas. Os cercados dos dragões estão do outro lado dessas árvores.
— Dragões, — murmuro. — Você tem dragões. Dragões de verdade.
— Nós costumávamos ter gárgulas também, — acrescenta ela. — Bem, por 'nós' quero dizer a geração anterior da realeza. Gárgulas não são tão grandes quanto dragões, mas são assustadores, foi o que eu ouvi. Eles costumavam ficar de guarda no topo do palácio, mas todos desapareceram há algumas décadas.
— Sério? — Eu penso na criatura que Ryn estava montando quando ele me salvou de cair para a minha morte da beira de um precipício. Tenho certeza que era uma gárgula.
— Sim, meu pai tem sido rei por alguns anos, e as gárgulas nunca pareciam gostar dele. Um dia todos voaram para longe e ninguém os viu desde então.
— Que estranho, — eu digo devagar. Eu não mencionarei a Aurora que fui resgatada por um rebelde Griffin sobre uma gárgula, mas não posso deixar de me perguntar se é uma das gárgulas que moravam aqui.
Nós andamos além das árvores, mas ainda não vejo dragões. Ou cercados, por falar nisso. Eu olho para cima, mas também não há nada no céu. — Você terá que olhar para baixo, — Aurora me diz. — Ali.
Meu coração bate mais rápido quando nos aproximamos da borda de um buraco cavado no chão. Gradualmente, à medida que a borda fica visível, sou capaz de distinguir o tamanho desse buraco. O outro lado é de vários tamanhos de campos de esportes de distância. Paramos a uns trinta centímetros da beirada e olho para um ambiente exuberante e parecido com uma selva. Por um momento, eu me esforço para distinguir qualquer tipo de criatura entre as árvores e plantas coloridas, mas então algo se move. Um pescoço grosso e coberto de escamas. Uma cabeça gigantesca, subindo e girando lentamente para nos encarar até que esteja quase nivelada com o topo do poço.
— Em, — Aurora diz, — conheça Imperia.
O corpo do dragão brilha azul-verde e púrpura enquanto ela se move, e os enormes ferrões ao longo das suas costas são rosados e avermelhados. Sua cauda, terminando em forma da ponta de uma flecha verde, gira ao redor, derrubando facilmente uma fileira de arbustos. Então ela fica imóvel, inclina a cabeça um pouco para o lado e me observa com os olhos brilhando como brasas laranja ardentes.
— Ela é linda, não é? — Aurora diz.
Minha boca está aberta, minha língua está seca e meus pés estão enraizados no lugar — apesar do fato de que uma voz muito insistente no fundo da minha mente está gritando para eu fugir para salvar minha vida. — Incrível, — eu sussurro.
— Cada poço pertence a um dragão diferente. A Imperia sempre preferiu um ambiente tropical, mas o próximo poço está cheio de gelo. E o mais distante — que nos levaria algum tempo para caminhar — é profundo o suficiente para conter uma montanha.
— Uau. E eles podem voar para fora de seus poços sempre que quiserem? — Minhas pernas finalmente se lembram de como andar, e dou um passo trêmulo para trás conforme Imperia levanta a cabeça um pouco mais alto.
— Não, há um escudo invisível por cima. Os dragões não estão autorizados a menos que estejam com um cavaleiro.
— Tudo bem. — Eu engulo. — E percebo que não há paredes ao redor desses poços. O escudo pegaria alguém se caísse?
Aurora parece despreocupada quando ela diz, — Não.
— Mas... então...
— Se alguém for estúpido o suficiente para cair em um poço com dragão, então eles merecem ser comidos. Mas Imperia provavelmente não faria isso. Não com quem ela conhece, pelo menos. Ela é muito amigável. Então. — Ela se vira para mim. — Você quer montá-la?
Não tenho certeza de quanto tempo minha boca está aberta antes que eu finalmente responda. — Eu... na verdade... quero.
Aurora sorri para mim. — Eu gosto de você ainda mais agora. — Ela se abaixa e passa a mão ao longo da grama. Enquanto se endireita, uma linha cor de ouro forma um círculo perfeito ao nosso redor. Sem aviso, o chão estremece. O pedaço de terra circular em que estamos posicionadas se separa do chão e começa a descer.
— Uau. — Eu levanto minhas mãos e me firmo. — Então, estamos descendo para o poço?
— Sim.
— E, hum, eu estarei com alguém quando estiver montando esse dragão? Um profissional treinado?
— Você vai estar comigo.
— Mas... você ainda está aprendendo, não está? Clarina disse algo sobre... Phillyp estar pronto para a sua aula?
— Isso é apenas o que minhas criadas foram treinadas para me dizer quando Phillyp informa a uma delas que a barra está limpa para eu vir aqui. Sabe, quando não há ninguém por perto que possa dizer a minha mãe que eles viram a princesa nas costas de um dragão. Eu recebi lições no começo, é claro, mas elas terminaram há muito tempo. — Ela olha para mim. — Você não acredita que eu sei o que estou fazendo, Em?
— Hum... eu quero confiar em você. — Eu vejo a terra escura subindo rapidamente em torno de nós, em seguida, levanto os olhos para o pedaço circular do céu cada vez menor.
Aurora ri. — Bem, eu não vou forçar você, Em. Mas você sabe que vai se arrepender de ter ficado no chão assim que me ver voando no ar.
De alguma forma, sei que isso é verdade.
O elevador de terra mágico estremece silenciosamente até parar. Em poucos segundos, um túnel se forma à nossa frente, curto o suficiente para que eu possa ver a vegetação exuberante do outro lado. Eu sigo Aurora, hesitando na boca do túnel e olhando em volta procurando por Imperia. Através das árvores, vejo as escamas marinhas e roxas de uma de suas pernas.
— Oi, Phillyp, — Aurora diz, saindo direto do túnel e para a direita.
— Princesa, — diz uma voz masculina. — Estou feliz que você pôde vir. Imperia não voou por dois dias. Eu acho que ela está ansiosa para abrir suas asas corretamente.
Depois de outro olhar por cima do meu ombro em direção a Imperia, corro atrás de Aurora. Ela está falando com um homem magro encostado na porta de uma sala construída na lateral do poço. Sua cabeça está raspada, e a ferida brilhante em seu braço parece ter sido queimada recentemente. — Ooh, ai, — Aurora diz, inclinando-se para olhar seu braço. — Imperia fez isso?
— Sim. A culpa é toda minha, e você sabe que estou acostumado.
— Sim. E vai sumir em breve, tenho certeza, — Aurora diz enquanto se endireita. — Phillyp, esta é Em. Minha nova amiga. Ela vai montar comigo hoje, então, por favor, use a sela dupla.
Phillyp faz uma pausa por apenas um momento antes de inclinar a cabeça. — Claro, Sua Alteza. — Ele se vira e desaparece na sala.
— Ele não acha que é uma boa ideia, — murmuro para Aurora.
— Absurdo. Ele sabe que sou perfeitamente capaz de levar mais alguém comigo. É só que eu trouxe uma das minhas damas de companhia uma vez, e ela gritou o tempo todo que estávamos no ar. Imperia não ficou impressionada e nem Phillyp. — Ela estala os dedos perto da parte de baixo da saia e percebo um breve brilho antes que a faísca da sua magia desapareça. — Mas você não planeja gritar como uma garotinha, não é, Em?
Decido não perguntar a Aurora exatamente como ela sabe que Imperia não ficou impressionada. — Não. Obviamente, eu não pretendo gritar como uma garotinha.
Um conjunto de escadas, pairando a poucos centímetros acima do solo, desliza para fora da sala e passa por nós em direção a Imperia. Um momento depois, Phillyp corre atrás do que eu suponho ser a sela flutuando à sua frente.
— Ah, finalmente, — diz Aurora. Viro para encará-la enquanto sua saia cai no chão, revelando uma calça justa na mesma cor que seu espartilho. — O quê? — Ela pergunta em resposta às minhas sobrancelhas levantadas. — Eu não posso montar um dragão com um vestido.
— Eu acho que não. Ainda bem que já estou usando calça.
Com um aceno de mão, a saia voa para a sala. — Você vai querer manter o cabelo longe do seu rosto. — Aurora me diz enquanto nos dirigimos através das árvores. Ela acena com a mão perto do seu cabelo, e os grossos cabelos roxos e pretos prontamente se organizam em uma trança. Uma fita cor de prata aparece e se amarra no final de seu cabelo.
— Preguiçosa, — murmuro, estendendo a mão para trançar meu cabelo com as mãos.
— De jeito nenhum, — ela responde. — Você logo perceberá que qualquer feitiço que poupe tempo em se preparar e permita que você permaneça mais no ar nas costas de um dragão por mais tempo é um feitiço que vale a pena memorizar. — Ela para na beira de uma clareira e olha para cima, as mãos dela nos quadris. — Eu vou te ensinar mais tarde.
Minhas mãos continuam trançando por vários segundos, enquanto percebo o tamanho do dragão, admirando de boca aberta. O conjunto de escadas é alto o suficiente para alcançar suas costas, e Phillyp fica em cima, prendendo as correias e fivelas da sela com magia. Imperia solta um bufo alto, emitindo fumaça pelas narinas.
Eu engulo. Com os dedos tremendo, eu termino de prender minha trança. Rápido, Phillyp desce os degraus e Aurora sobe. Ela pega as correias, sobe nas costas de Imperia e balança a perna sobre o assento da frente da sela. — O que você está esperando? — Ela pergunta quando olha para mim. Em vez de responder, eu lambo meus lábios. — Vamos, Em, não enlouqueça. Isto vai ser divertido.
— Eu sei. — Minha voz soa rouca e um pouco mais alta do que o normal. Eu pigarreio. — Estou animada. Eu realmente estou. Eu por acaso estou um pouco assustada ao mesmo tempo. — Eufemismo, meu coração batendo descontroladamente grita para mim. Que gigantesco. Maldito. Eufemismo.
Mas isso não muda o fato de que eu quero fazer isso. Então eu forço minhas pernas a subir os degraus. Em cima, dou um último suspiro profundo antes de colocar a mão contra as escamas suaves de Imperia. Abaixo do meu toque, a cor ondula e brilha. Eu agarro duas das correias e me puxo para cima. Graças a todas as paredes que subi nos últimos anos, meus braços são bem fortes. Uma vez que me acomodo no meu assento, a escada escorrega para longe do corpo de Imperia.
— Coloque essa alça em volta da cintura, — Aurora diz, virando-se e apontando para uma alça solta pendurada em um dos lados da sela. Eu coloco através do meu corpo e prendo-a através do círculo de metal do outro lado.
Então finalmente, olho para baixo. Estamos mais longe do chão do que eu imaginava e ainda não decolamos. Não é que eu tenha medo de altura, e não é que eu tenha medo de correr riscos. Val e eu realizamos muitos saltos, cambalhotas e descidas que poderiam facilmente nos ter levado ao hospital. Mas eu estava sempre no controle do meu próprio corpo então. Agora, estou cem por cento à mercê de outra criatura — e é aterrorizante.
Aurora segura às rédeas. Imperia levanta as asas e seu corpo rola para um lado e depois para o outro enquanto ela avança alguns passos. Eu inalo bruscamente e agarro o cume da sela que se eleva entre o assento de Aurora e o meu. As pernas de Imperia se dobram ligeiramente. Eu seguro minha respiração. Então, com um grande impulso para baixo de suas asas, ela se eleva no ar. Eu sinto um solavanco enjoativo na região do meu estômago. As asas de dragão batem no ar, as copas das árvores balançam descontroladamente e o chão se afasta de nós. Eu imagino despencar em direção ao chão. Eu quase grito que quero sair, mas fecho a boca, agarro mais à sela e digo a mim mesma que não vou morrer.
Nós subimos rapidamente, o palácio ficando menor e o território Unseelie ao redor aparecendo. As asas de Imperia diminuem o ritmo. Ela se inclina um pouco para o lado e, em seguida, voa pelos limites do palácio. E em meros segundos, meu terror dá lugar à pura alegria.
***
— Essa foi a coisa mais incrível que já fiz, — digo a Aurora no momento em que os pés de Imperia tocam o chão em seu cercado.
— Eu disse a você, — ela responde com uma risada. A escada chega um momento depois e nós duas saímos de nossos assentos. Eu paro na parte inferior e estendo a mão contra o lado de Imperia. — Eu vou poder fazer isso de novo?
— Claro, — diz Aurora. Ela tira a fita cor de prata e empurra os dedos pelos cabelos para libertá-los da trança. — Você pode vir comigo sempre que quiser. Phillyp pode dar-lhe aulas e, em breve, passará a montar sozinha. Então podemos levar nossos dragões juntos. Vai ser perfeito.
Seria se eu estivesse planejando ficar aqui. Eu dou um passo para trás e olho melancolicamente enquanto Imperia se afasta. Eu envolvo meus braços em volta de mim e mordo meu lábio. É assustador admitir isso para mim mesma, mas acho que realmente posso gostar de viver aqui. As manhãs passando descansando em balanços, as tardes passando deslizando pelo céu nas costas de um dragão. E com minha mãe saudável ao meu lado. Tudo que eu preciso fazer é olhar para longe de quaisquer atos horríveis que acontecer de eu testemunhar o Rei Unseelie cometendo. E de alguma forma viver com a culpa de qualquer ato horrível que ele me obrigue a cometer.
Não, eu sussurro silenciosamente. Eu não posso viver com isso. — É apenas a realeza que tem dragões? — pergunto a Aurora enquanto Phillyp envia a escada portátil de volta ao depósito.
— Não, mas eles são muito caros, então apenas os muito ricos estão em posição de possuir um.
— Certo. — Então eu deveria aproveitar todas as oportunidades de montar em um dragão enquanto eu ainda moro aqui. Depois que eu for embora, nunca poderei pagar por isso.
— Felizmente, — Aurora continua, — você está prestes a se tornar membro de uma família extraordinariamente rica. Você pode ter quantos dragões quiser.
— Se eu soubesse que isso era tudo o que precisava para conquistar você, — uma voz diz atrás de nós, — eu teria trazido você aqui há muito tempo, Emerson.
— Roarke, — Aurora diz quando nos viramos para encará-lo. — Procurando por mim?
— Sim. Eu pensei que poderia te encontrar aqui. Você, no entanto... — Ele olha para mim. — Bem, nas costas de um dragão não é onde eu esperava encontrar você.
— Ela adorou, — Aurora diz, juntando as mãos e sorrindo.
— Eu ouvi, — Roarke diz com um sorriso divertido. — O que você disse exatamente? — Ele me pergunta. — Foi a coisa mais incrível que você já fez?
— Bisbilhotar é rude, — eu digo a ele.
— Assim como manter segredos da minha mãe, mas eu vou continuar escondendo também, não se preocupe, — acrescenta ele quando Aurora abre a boca para protestar. — Ela não precisa saber sobre o seu passatempo favorito.
— Onde você esteve à manhã toda? — Pergunto conforme voltamos para o fundo do poço. — Eu pensei que você poderia se juntar a mim para a minha aula de dança.
— Eu estava... organizando um presente para você, meu amor.
Eu arqueio uma sobrancelha cética. — Houve muita hesitação em sua voz para que isso seja verdade.
— É verdade, eu prometo. Eu só estava pensando se deveria te contar ou não.
O túnel se materializa à nossa frente quando nos aproximamos da parede. — Tudo bem, se esse presente é de verdade, então quando vou recebê-lo?
— Assim que Yokshin terminar.
— Yokshin? — Eu me lembro desse nome de algum lugar.
— Sim. Ele é nosso mestre de invenções. É ele que ira reproduzir o seu elixir da Habilidade Griffin.
— Então... ele conseguiu ter sucesso?
— Não. — Saímos do túnel e subimos no pedaço de terra que levita. — Este é um presente diferente. Você vai ver... em breve.
Eu pressiono meus lábios enquanto o chão começa a subir. Eu poderia fazer mais perguntas, mas ele continuará me dando apenas metade das respostas.
— Por que você estava procurando por mim? — Aurora pergunta a seu irmão.
— Oh, você e eu temos algumas coisas que precisamos ver.
Aurora acena e olha para cima, sem dizer nada.
— Mais segredos que você está mantendo de sua amada? — Eu pergunto.
Roarke me dá seu sorriso malicioso. — Assim que você for minha esposa, todos os segredos serão revelados.
Capítulo 08
À MEDIDA QUE À TARDE DO BAILE DE ANIVERSÁRIO DA RAINHA CHEGA, FICO na varanda e ensaio minha história. Esta noite é à noite em que o Príncipe Roarke vai anunciar que ele escolheu uma esposa. Ele me apresentará, ‘a nova amiga estranha’ da princesa Aurora, e de repente todo mundo vai querer saber cada detalhe de quem eu sou e de onde eu sou.
Roarke e sua mãe pensaram em uma ideia de inventar um passado completamente diferente para mim — um que não envolvesse o mundo humano — mas eles imaginaram que a verdade seria descoberta em breve. E nenhum deles parecia acreditar que eu seria capaz de manter os detalhes de uma história inventada, então a maior parte do que me disseram para compartilhar com as pessoas é a verdade: eu cresci pensando que eu era humana, minha magia se revelou, a Guilda se envolveu para que eles pudessem me aprisionar e garantir que eu nunca machucasse ninguém, e então Roarke e seus homens apareceram para me resgatar. Eles me levaram de volta ao seu palácio para que eu pudesse viver como um membro livre na corte deles. Roarke e eu logo nos apaixonamos loucamente um pelo outro, e o rei aceitou nosso pedido para formar uma união. Então, tudo até o resgate é essencialmente a verdade. Depois disso... bem, eu de alguma forma tenho que fazer essas pessoas acreditarem que eu estou obcecada pelo príncipe deles.
Eu me inclino contra a balaustrada da varanda e olho ansiosamente para as perfeitas nuvens fofas bem acima de mim. Eu prefiro estar subindo os céus nas costas de Imperia, em vez de me preparar para enfrentar uma multidão da nobreza Unseelie. Ou montando aquele outro dragão que Phillyp montou comigo ontem. Bralox, acho que era o nome dele. Ou dançar danças simples com Dash nas margens da praia encantada dos rebeldes Griffin, em vez de tentar lembrar cada passo de cada dança oficial das faeries — já que a minha Habilidade Griffin não fez para me ajudar nesse departamento.
Batem na minha porta tão ruidosamente que posso ouvi-la da varanda. Olho por cima do ombro para ver Aurora dançando do outro lado da sala de estar e vindo para a varanda. — Está na hora! — Ela canta.
— Para quê? — Ela não pode estar se referindo ao baile. Ainda falta horas.
— Hora de começar a se vestir, é claro. É um longo processo envolvendo cabelo, maquiagem, joias — e, claro, ainda não escolhemos o seu vestido dos três que foram feitos para você.
— Oh. Tudo bem.
Seu rosto fica triste. — Por que você não está mais empolgada?
— Eu estou. — Eu coloco um sorriso que não parece de verdade. — É apenas... festas não são realmente minhas coisas preferidas. Na última que participei, minha magia explodiu de dentro de mim e quase matou minha melhor amiga.
— Confie em mim, Em, — Aurora diz com o tipo de sorriso que faz seus olhos brilharem. — Esta festa não vai ser nada como você imagina. E se isso não faz você se sentir melhor, aqui está algo que vai. — Ela tira a mão de trás das costas e me oferece uma caixa quadrada um pouco maior que a palma da sua mão.
— O que é isso? — Eu pergunto enquanto eu pego dela.
— Lembra que Roarke disse que mandou fazer um presente para você?
— Sim.
— Bem, eu pensei que ele estava apenas dizendo isso para encobrir o que ele realmente estava fazendo naquele dia — eu geralmente posso dizer quando ele está mentindo — mas acontece que ele realmente conseguiu que Yokshin fizesse algo para você.
Eu tiro a tampa da caixa e encontro uma pulseira sobre uma pequena almofada preta. Correntes delicadas de metal prateado se envolvem umas às outras, com minúsculas folhas prateadas e flores brotando dos lados. No meio da pulseira está uma grande joia clara. — É lindo, — eu digo.
— É bonito e inteligente, — diz Aurora. — É como se fosse um relógio. Mas não mostra à hora, mostra o nível da sua magia Griffin. Então, no lugar dos ponteiros, tem um grande rubi. O rubi perde sua cor quando você usa todo o seu poder Griffin, e então a cor enche novamente lentamente na mesma velocidade que sua magia se repõe. Pelo menos, é assim que deve funcionar e, obviamente, você precisa usá-lo.
— Uau, isso é inteligente. — Eu pego a pulseira da caixa, abro-a o e coloco a forma rígida ao redor do meu pulso. O fecho se encaixa facilmente no lugar. Enquanto observo, uma fração de um lado do rubi fica vermelho. — Hum, acho que isso faz sentido. Foi pouco antes do meio-dia que a minha Habilidade Griffin apareceu, então isso foi cerca de... duas ou três horas atrás?
— Sim. Então, isso deve facilitar para você ver quando sua magia estiver pronta para ser usada. Sabe, no caso de variar um pouco se você estiver extremamente cansada ou se nem sempre conseguir senti-la.
— Legal. — Eu abaixo meu braço. — Então isso foi feito por... Yokshin? Esse é o nome dele?
— Sim, o mestre de invenções. Ele experimenta todos os tipos de magia. Feitiços, processos, dispositivos. — Ela se inclina contra a balaustrada, abre um largo sorriso e acena para dois jovens caminhando abaixo. — É uma linha fascinante de trabalho, — continua ela, virando para mim. — Eu costumava visitá-lo muito quando era mais nova, até que minha mãe me disse que não era apropriado passar tanto tempo com alguém de sua posição, especialmente quando ele às vezes me levava para a prisão para me mostrar alguns de seus experimentos.
— Prisão?
— Sim, uma pequena que temos aqui. De qualquer maneira, você gostou da pulseira?
— Sim. Como você falou, é bonita e inteligente. — Eu movo a pulseira de um lado para o outro, de modo que a pedra sem cor capture a luz. — Yokshin fez alguma joia enfeitiçada para você?
— Hum... algumas. — Eu olho para cima para vê-la brincando com o pingente pendurado em uma corrente em volta do seu pescoço. A corrente prateada com a pedra negra. Eu percebi que ela a usa mais do que muitas outras joias. — Eu falo sobre isso em outro momento, — acrescenta ela. — Por enquanto, precisamos começar a nos preparar.
— Sim, tudo bem. Onde está o Roarke? Ele não queria me dar este presente?
— Queria, mas você conhece os homens. Eles não querem atrapalhar enquanto as damas se vestem.
— Ou ele ainda está me evitando, — eu resmungo enquanto passo por ela para dentro da sala de estar.
— Evitando você? Que bobagem é essa? — Aurora me segue para dentro. — Ele vê você pelo menos duas vezes por dia quando lhe dá a poção de compulsão.
— Sim, essa é a única vez que ele me vê.
— Bem, ele está muito ocupado.
Ou ele está evitando estar perto de mim sempre que minha Habilidade Griffin está ativa — caso eu não consuma todo o meu poder para seja qual for o comando que ele me deu e eu possa usar o resto para obter informações dele. O que é exatamente o que eu teria feito se ele estivesse por perto. Eu tenho praticado segurar minha Habilidade Griffin. Eventualmente, eu tenho que deixar passar algumas coisas dizendo o que eu tenho sido obrigada a dizer, mas houve momentos em que eu posso sentir que ainda há poder sobrando. Eu tentei segurar até ver Roarke novamente, mas eu não consegui segurar tanto tempo ainda.
— Em?
— Mm? — Eu encaro Aurora, percebendo tardiamente que ela me fez uma pergunta.
— Eu perguntei se você está realmente começando a gostar do Roarke. É por isso que você está chateada por não vê-lo mais vezes?
— Oh. Hum. Talvez. — Eu acho que isso é uma razão melhor do que eu estar chateada porque eu não tive a chance de usar minha Habilidade Griffin nele.
Ela sacode a cabeça e suspira. — Você é muito ruim em mentir. Venha, vamos para o meu quarto. Seus vestidos chegaram mais cedo e a mamãe os mandou agora. — Ela liga seus braços aos meus. — Você pode ensaiar sua história de amor épica no caminho.
A caminhada até a suíte de Aurora é longa o suficiente para eu recitar minha ‘história de amor épica’ duas vezes. — Bom trabalho, — diz ela quando chegamos a sua sala de estar. — Você sabe os fatos de cor. Agora você só tem que trabalhar em parecer como se você realmente quisesse dizer a parte de apaixonar-se perdidamente.
— Eu vou ter certeza de fazer um trabalho melhor quando estiver mentindo para os fae de elite da sociedade Unseelie mais tarde.
— Maravilha.
Nós entramos em seu quarto, que é muito maior que o meu e inclui um closet do tamanho de uma garagem dupla. — Oh, aqui estão as joias que a mamãe selecionou para você. Eu pretendia te mostrar mais cedo enquanto estávamos tomando café da manhã. — Ela pega uma caixa da sua penteadeira e a abre para mostrar o conteúdo. — Colar e brincos. Adoráveis, não são?
‘Adoráveis’ provavelmente não é a palavra que eu usaria. Cada peça consiste inteiramente de pedras brilhantes e incolores. Os brincos são lágrimas do tamanho da minha unha do polegar, e o colar é uma fileira dupla de pedras que crescem gradualmente à medida que alcançam um pingente: outra grande lágrima facetada. — São... são de verdade? — Pergunto enquanto Aurora os retira da caixa.
Ela me conduz em direção ao assento em frente à penteadeira antes de me dar um olhar interrogativo no espelho. — O que você quer dizer? Eles não são um tipo de ilusão que desaparecerá quando a festa acabar, se é isso que você está imaginando.
— Não, eu quero dizer... são diamantes de verdade? — Ela parece querer que eu me sente, então eu sento. — Ou eles são falsos? Como vidro ou cristal ou algo assim.
Ela ri. — Claro que são diamantes de verdade. Por que nós usaríamos falsos? — Eu permaneço em silêncio enquanto ela prende os brincos nas minhas orelhas e coloca o colar em volta do meu pescoço. — Aí. Eu acho que eles combinam com você. Eles ficarão lindos, não importa qual vestido escolhermos.
Eu balanço minha cabeça para o meu reflexo. Eu puxo os brincos e retiro o colar. — Eu acho que eu não deveria usar isso. — Eu coloco os diamantes brilhantes cuidadosamente na mão de Aurora. — Aqui. Você pode devolvê-los à sua mãe.
— O quê? Porquê?
— Eu não posso usar algo tão valioso. E se o colar cair enquanto eu estiver dançando? E se eu perder os brincos depois de tirá-los e então —
— E então o quê? Não seja tão boba, Em. O colar não vai cair. — Ela abre a caixa e coloca as joias de volta na almofada aveludada. — E quem se importa se isso acontecer? Mamãe certamente não vai. Esta é provavelmente a joia menos valiosa que ela possui.
Eu tento não me sentir mal com suas palavras. — Aurora...
— Vamos, isso não é grande coisa.
— Mas isso é uma grande coisa, — eu digo. Ela dá um passo para trás, surpresa com a minha raiva. — Eu sinto muito. É só que... bem, eu não esperaria que você entendesse, — murmuro.
Ela cruza os braços. — E por quê? Porque eu não pareço colocar muita importância nas joias quanto você parece de repente?
Eu reviro meus olhos. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu aponto para a caixa. — Que esses muitos diamantes provavelmente valem mais do que... eu não sei. Toda a Stanmeade. Eu não consigo usar tanta riqueza em meu corpo, e você não entenderia isso porque nós viemos de origens muito diferentes.
— Sim, — diz ela, dando um olhar que claramente diz, Dã. — Nós viemos. Esta não é uma revelação novinha em folha, então por que, de repente, é uma coisa importante?
Eu não sei. Eu não posso dizer a ela por que essa joia com diamante trouxe de repente a diferença entre minha vida e a dela, ou porque eu estou de repente comparando minha mãe com a dela. A rainha é perfeitamente sã e está em posição de distribuir itens de imensa riqueza como se não custassem nada. Mamãe está perdida em algum lugar dentro de sua própria mente e não conseguiu me dar nada além do peso da responsabilidade por muito tempo. — Eu sinto muito, — eu murmuro, olhando para a maquiagem espalhada em cima da penteadeira. — Eu não posso usar essa joia. Isso só me faz pensar em tudo que eu nunca tive. Todas as coisas que minha mãe nunca pôde me dar. E eu não quero dizer as coisas caras, eu só quero dizer as coisas normais. E todas as coisas que ela não pode ser para mim quando ela começou a ficar louca.
— Em...
— Não, eu não estou procurando por sua piedade. Eu só estou dizendo... — Eu não sei mais o que estou dizendo. — Eu só... não quero usá-la, se estiver tudo bem?
Ela acena com a cabeça. — Tudo bem. Claro. Eu nunca iria querer deixar você desconfortável. Hum... — Ela se vira para as portas do seu closet. — Tenho certeza de que posso encontrar algo mais simples da minha coleção.
Eu me levanto, começando a me sentir ainda pior agora que ela está sendo tão compreensiva. — Eu sinto muito, Rora. Eu não quis parecer ingrata. Eu sou grata por tudo que você e sua mãe fizeram para me ajudar a se encaixar aqui. Eu ainda não sei como lidar com tudo... — Eu gesticulo vagamente com os dois braços. — Tudo isso.
Ela pega minha mão, aperta e sorri. — Está bem. Eu entendo. — Ela caminha até o closet, em seguida, faz uma pausa na porta e olha para trás. — Roarke costumava me chamar de Rora quando éramos mais jovens. Então ele cresceu e decidiu que era um nome bobo e infantil. Eu disse a ele que concordava, mas a verdade é que meio que sinto falta de ouvi-lo me chamar de Rora.
Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Eu... eu realmente não sei porque eu disse Rora. Apenas saiu dessa maneira. Eu sinto muito. Eu não quero deixar as coisas estranhas.
— Isso não é o que eu quero dizer. — Ela sorri novamente. — Você provavelmente esteve tão focada na ideia de conseguir um marido que nunca pensou no fato de que também está conseguindo uma irmã. Eu sei que nada disso é o que você queria para sua vida. Eu sei que você está passando por tudo isso pela sua mãe. Mas... bem, estou feliz que você seja minha irmã. Espero que um dia você possa ser feliz também.
Ela se dirige para o enorme closet antes que eu possa dizer qualquer outra coisa e, nesse momento, a porta da sala se abre. Espreito pela porta do quarto e vejo a rainha, vestida com um roupão e chinelos, atravessando a área de estar com três de suas criadas e uma mulher desconhecida a seguindo. Cada uma das servas levitando um vestido. — Sua Majestade, — eu digo para a rainha, inclinando a cabeça em respeito quando ela vem em minha direção.
— Emerson, olá. — Eu nunca a vi usando tão pouca maquiagem e com o cabelo dela — preto e borgonho como o de Roarke — tão simples. Ela se inclina e beija o ar de cada lado das minhas bochechas. — Pronta para o grande anúncio de hoje à noite?
— Sim, — eu digo com confiança e um largo sorriso, nenhum dos dois é genuíno.
— Aurora, amor, eu tenho os vestidos, — a rainha chama, passando por mim. — Ah, aí está você, — acrescenta ela, enquanto Aurora sai do closet.
— Ooh, excitante. — Aurora esfrega as mãos.
— Coloquem os vestidos ali, — a rainha diz a suas criadas, — e então vocês podem ir. — As criadas deixam os vestidos flutuando no ar acima da cama antes de se virar e sair silenciosamente da sala. A mulher que eu não reconheço tira algo da saia de um vestido e arranca um fio solto do outro.
Ando devagar ao redor da cama para ver os três vestidos de todos os ângulos. O primeiro tem uma saia cheia de tule rosa escuro com flores delicadas que crescem pelas costas da cintura até o pescoço. O segundo é a cor do champanhe. Sua saia de muitas camadas é coberta com flores de ouro, e o corpete apertado tem um decote sem mangas. A última opção é feita de tecido de ouro rosa com milhares de minúsculos cristais brilhando com a luz conforme o vestido balança suavemente no ar. A parte de cima do espartilho se encaixa na parte de trás, e embora a saia esteja um pouco amassada com um pouco de tecido extra sobre a bunda, ela não é tão fofa quanto às outras duas.
— Eles são lindos, — eu digo.
— Eles não são? — Aurora responde. — E aparentemente, eles são ainda mais lindos quando você os coloca. O rosa muda para frente e para trás entre rosa e roxo, e as pétalas nas costas se abrem lentamente à medida que a noite passa. O champanhe vem com um par de luvas longas feitas de um tecido translúcido que parece bolhas de champanhe subindo em seus braços. E o ouro rosa tem um efeito cintilante enfeitiçado que parece brasas brilhantes.
— Parece legal.
— Eles são criações da Rosewood Raven, — Aurora continua. — Mamãe e eu divulgamos para todos os principais designers que estávamos procurando algo espetacular para um evento muito importante. Nós sugerimos um potencial anúncio de noivado — sem usar essas palavras exatas, é claro — o que resultou em muitos rumores circulando por aí. Recebemos dezenas de designs, e minha mãe não estava muito interessada em que você usasse um vestido da Rosewood, visto que —
— Visto que ela vestiu alguns dos Seelies no passado, — a rainha continua. — Eu não queria você usando um de seus vestidos. Quando vi o nome dela do lado de fora do pergaminho, quase o joguei fora sem abri-lo.
— Mas havia algo sobre seus desenhos que continuávamos voltando, — diz Aurora. — Algo que apenas... nos cativou. — Um olhar sonhador aparece em seu rosto.
— Eles se tornaram muito adoráveis, — admite a rainha. — Eu posso ver porque essa mulher Rosewood se tornou popular nos últimos anos.
— Você enviou um convite para ela? — Aurora pergunta. — Eu quero conhecê-la.
— Claro que não, querida. Eu te disse que não era apropriado. Ela tem conexões com a Guilda e vestia os Seelies antes. Podemos ter decidido usar uma de suas criações, mas não me senti confortável em tê-la aqui. Pedi a Lemon para mandar alguém pegar os vestidos e ser discreta sobre isso.
— Oh, Em, está é Lemon, a propósito, — acrescenta Aurora, gesticulando para a mulher que entrou com as criadas. — Nossa criadora mestre de roupas. Ela provavelmente fez a maioria das roupas que você encontrou em seu guarda-roupa.
— Oh. Obrigada, Lemon. — Eu tento não rir do nome estranho. — Você fez um bom trabalho.
Ela acena para mim. — Obrigada, minha senhora. E sim, mandei Jefford buscar os vestidos hoje de manhã, e tive a certeza de passar a importância da discrição. Disse a ele que não queremos o constrangimento de ninguém saber que nos associamos a alguém que já trabalhou com os Seelies, mesmo que o trabalho dela seja bom.
— Que bobo, — Aurora resmunga. — As pessoas vão descobrir de qualquer maneira. Somos da realeza, pelo amor de Deus. É uma honra desenhar para nós, então tenho certeza de que Raven Rosewood vai falar para as pessoas.
— Ela vai? — A rainha pergunta. — Eu duvido que ela queira arriscar sua reputação com os Seelies.
— Ela não vai dizer nada, — diz Lemon. — Jefford deixou os vestidos no meu quarto com uma nota dizendo que tudo correu bem. A designer aceitou seu pagamento e alegremente concordou em ficar quieta sobre seu envolvimento.
— E quando as pessoas perguntarem esta noite? — Aurora diz. — Porque você sabe que algumas dessas mulheres vão querer saber quem vestiu a nova princesa. Tudo com o que eles se importam é com as últimas tendências e novidades, e assim que virem Em, em, digamos, luvas de bolhas de champanhe, todos eles estarão adicionando a mesma coisa para suas novas roupas.
— Sério? — Eu pergunto. — Isso é tão bobo.
— Esse é o tipo de influência que você tem como princesa, — Aurora diz com um sorriso de satisfação. — Uma vez eu usei sprites vivos pendurados em minhas orelhas, e na festa seguinte, eu vi pelo menos cinco outras garotas usando a mesma coisa.
— Pobres sprites, — murmuro, imaginando as criaturas que parecem pequenas pessoas aladas amarradas aos lóbulos das orelhas de Aurora.
— Se alguém perguntar pelo nome do designer, diga que é um segredo, — diz a rainha. — Diga a eles que nossa chefe criadora de roupas tem um aprendiz especialmente inventivo, e queremos mantê-lo em segredo conosco.
Aurora suspira. — Tudo bem. De qualquer forma, precisamos decidir qual deles usaremos para que todas nós possamos começar a nos preparar.
— Hum, eu pergunto ao Roarke o que ele decidiu usar? — Eu sugiro.
— Sim, — a rainha responde. — Aurora e eu vamos verificar se todos os ajustes para o novo vestido dela foram feitos corretamente, e então ela vai encontrá-la na suíte do Roarke.
Com um brilho nos olhos, Aurora acrescenta, — Mamãe não confia em você para relatar com precisão a roupa de Roarke sem minha ajuda.
— Aurora, — a rainha repreende. Então sua expressão se transforma em um sorriso de desculpas. — Bem, suponho que seja verdade. Desculpe, Emerson.
Eu dou de ombros, então congelo com meus ombros puxados para cima, lembrando que a rainha não gosta de encolher os ombros. — Está bem. Vejo você lá, Rora. — Eu saio correndo do quarto, esperando até que eu esteja fora da suíte antes de relaxar meus ombros.
O chão de mármore brilhante passa rapidamente sob meus pés enquanto eu me dirijo para a suíte de Roarke. Eu bato na porta dele, mas depois de esperar vários segundos, nem ele nem um de seus criados me chamam para entrar. Eu bato de novo e espero, mas ainda nada. A ausência de guardas fora de sua suíte me faz duvidar que Roarke esteja dentro, mas ele mencionou que às vezes seus guardas patrulham mais ao longo dos corredores do lado de fora desta ala do palácio. Eu abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça dentro. — Roarke?
Sem resposta. Sabendo que Aurora estará aqui em poucos minutos, decido esperar na sala de estar do Roarke até ela se juntar a mim. Fecho a porta e ando devagar pelos sofás, comparando a suíte com a de Aurora. Móveis semelhantes preenchem o espaço, embora em um estilo menos delicado, com madeira escura e acabamentos em preto brilhante. Eu ando até a janela e descubro que tenho uma excelente visão de uma escultura que eu nunca fui capaz de ver corretamente no chão: uma cobra gigante que se ergue em direção ao céu, cercada por arbustos de rosas negras. Assustador, penso quando me afasto da janela.
De canto do olho, noto movimento perto da porta do quarto. Algo escuro, como uma sombra deslizando pela parede. Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém lá — Roarke ou um de seus criados — mas ninguém está atrás de mim. Eu me viro para o local, meus olhos percorrendo cada centímetro da sala. Eu olho para a parede novamente, mas as sombras criadas pela mobília e decoração estão imóveis. Deve ter sido algo de fora. Um pássaro voando pela janela, talvez. Ainda assim, este é um palácio cheio de magia e encantamento, então é possível que eu tenha visto a sombra de algo que agora está se escondendo nesta sala comigo.
A ideia envia um arrepio no meu pescoço e no meu cabelo. Seja corajosa, eu me lembro. Esta é a sua casa agora. Você não pode ter medo em sua própria casa. Forçando minhas pernas a se mover, ando pela sala novamente. Eu me inclino e olho embaixo da mobília. Eu puxo as cortinas para longe da parede e olho atrás. Pelo o que posso dizer, estou sozinha nesta sala.
Mas este não é o único cômodo da suíte. Meus olhos deslizam para a porta que leva ao quarto. É lá, afinal, onde eu vi o movimento quase agora. Eu atravesso a sala e espio pela porta entreaberta. Eu vejo outra janela e parte de uma cama de dossel. Sem movimento ou som, então, depois de um momento, abro a porta o suficiente para entrar no quarto. O quarto que logo será meu também. A cama que logo será minha.
Uma imagem de Roarke e eu juntos nessa cama passa pela minha mente antes que eu possa pará-la. Eu engulo em desconforto e tento afastar a imagem. Eu evito pensar sobre essa parte específica do nosso acordo, mas agora que estou olhando para a cama que em breve pertencerá a nós dois, é impossível não pensar no que terá de acontecer nela.
Eu me afasto quando um arrepio sussurra através da minha pele. Eu ainda tenho tempo, eu me lembro. Hora de encontrar uma saída para todo esse acordo. O anúncio do noivado acontecerá hoje à noite, mas a cerimônia de união na verdade não acontecerá por mais algumas semanas.
Uma voz na sala de estar me assusta, mas é apenas o Roarke. — Sim, por favor, feche a porta, Marvyn, — diz ele. — Eu vou ter apenas alguns minutos. — Expirando e quase rindo de mim mesma por meus medos bobos, eu volto para a porta. Espero que Roarke não fique muito irritado depois que eu explicar por que estou em seu quarto.
Mas eu paro quando ouço uma segunda voz. Uma voz feminina.
— Ainda é seguro conversar aqui? — Ela pergunta.
— Sim, — Roarke responde. — Nós não seremos ouvidos.
Capítulo 09
MERDA. EU CUBRO MINHA BOCA COM MINHA MÃO E CONGELO.
— Você tem certeza? — Pergunta a mulher.
— Sim. Meu pai não tem controle sobre essa suíte. Meus homens vasculham diariamente por encantamentos e insetos espiões, e não encontraram nada em anos.
— Ainda assim, — a mulher diz enquanto seus passos atravessam a sala. — Alguém pode nos ver através da janela. — Sua voz soa familiar, mas eu não consigo descobrir de onde. Eu ouvi tantas mulheres da corte desde que cheguei aqui. Pode ser qualquer uma delas.
— Eu duvido. Estamos muito alto. E se alguém nos ver, e daí? Eu sou o príncipe e tenho o direito de falar com quem eu quiser.
Minha imaginação salta imediatamente para a pior conclusão. Raiva aquece minhas veias com o pensamento de Roarke me traindo. Que outro motivo ele encontraria uma mulher em particular em sua suíte? Uma mulher que não quer que ninguém veja os dois juntos? E não é como se eu estivesse com ciúmes, mas ele deve se casar comigo em algumas semanas! Eu alcanço a porta, prestes a abri-la completamente e exigir que esse tipo de coisa não continue depois que nossa união acontecer.
— Tudo bem, então, — diz a mulher. — Então, o que você está fazendo sobre as sombras?
Eu paro com minha mão levantada. Sombras? Eu não estava esperando isso.
— Você tem que controlá-los, Roarke. Não podemos tê-los aterrorizando este mundo. Ou o outro mundo. Nós não podemos viver lá até que eles tenham sido completamente erradicados.
— Está tudo bem. Meus homens estão cuidando disso.
— Como o guarda que apareceu morto? Enrugado e velho?
Roarke suspira. — Você me disse que não ficaria chateada com isso.
— Eu estive pensando nisso e decidi que tenho todo o direito de ficar chateada com algo assim. A mesma coisa poderia acontecer com a gente.
Eu inclino minha cabeça em direção à porta, desejando poder ver a linguagem corporal deles. Desejando descobrir a natureza do relacionamento de Roarke com essa mulher.
— A mesma coisa certamente não acontecerá com a gente, — assegura ele. — Aconteceu apenas com aquele guarda porque ele foi estúpido o suficiente para deixar uma sombra pegá-lo quando ele não estava usando seu amuleto. E ele deveria saber o feitiço certo para lutar contra, mas claramente ele era muito lento. O resto dos meus homens sabe o que estão fazendo.
— Bem, eles certamente estão demorando um pouco para fazer o trabalho. Todo esse tempo perdido. O edifício parou. O castelo e o terreno estão ali meio formados e...
— Relaxe. Leva tempo para preencher um mundo.
— Tempo em que outra pessoa poderia descobri-lo e reivindicá-lo como seu território.
— Quem vai reivindicá-lo? Ninguém mais sabe disso.
— Isso não é verdade agora que você deixou outras pessoas verem.
— Eu já disse a você, — diz Roarke. — Nem meu pai nem a Aurora têm algum interesse em reivindicar esse mundo como seu. Ele continua com as mesmas crenças que tinha no começo, e você sabe que Aurora está mais interessada em —
— Eu não quero dizer eles. — Há uma pausa em que eu me aproximo para ter certeza de que não estou perdendo as próximas palavras dela. — E a sua futura esposa? E o guardião que estava com ela? — Um arrepio passa por mim. Eu dou um passo silencioso para trás, como se eles pudessem de alguma forma sentir a minha presença se eu estiver muito perto da porta.
— Emerson não sabe o que viu, — Roarke diz, — e eu duvido que ela se importe. Ela provavelmente assumiu que era parte do mundo fae. Ela não sabe o suficiente sobre este reino para assumir que seria qualquer outra coisa. Quanto ao guardião... bem, duvido que ele tenha alguma pista do que viu também. Guardiões são treinados para lutar, não para pensar.
— Você não deveria subestimá-lo, — diz ela sombriamente.
— E você não deveria estar se preocupando.
— Tudo bem. Bem. Então não estamos com pressa. Mas ainda estou preocupada com as sombras. Como estão passando? E é só aqui no palácio, ou você acha que eles são capazes de chegar a qualquer parte deste mundo? Ou... — Ela faz uma pausa por um momento. — Eu me pergunto se eles são capazes de passar para o mundo humano.
— Se conseguirem, será problema da Guilda, não nosso.
— Verdade.
— E isso provavelmente não vai acontecer, porque meus homens estão garantindo que todas as sombras em breve estarão mortos.
— Bom. Bem, então eu posso pegar o manto que eu vim pegar? Marvyn pode ficar desconfiado se eu sair sem ele.
— Marvyn já está desconfiado, — Roarke diz com uma risada, — mas eu vou pegar o manto de qualquer maneira. — Seus passos se movem em direção ao quarto. Eu xingo sob minha respiração — o que envia uma imagem de Dash pela minha mente por apenas um segundo; ele não ficaria impressionado com a minha linguagem escolhida. Eu passo pela única outra porta e entro no banheiro de Roarke. Deslizando por trás da porta entreaberta, eu prendo a respiração.
E é quando vejo o que está na parede à minha esquerda.
Eu coloco minha mão sobre a minha boca para reprimir o meu suspiro assustado. Um grande círculo de magia cintilante e ondulante ocupa a maior parte da parede. Elétrico de uma cor azul, com pedaços escuros e finos subindo das bordas e desaparecendo, a magia gira preguiçosamente em forma de espiral que parece ser sugada para o centro.
Um portal?
Uma pequena parte de mim está curiosa para saber para onde isso leva — se é que é mesmo um portal — mas, na maioria das vezes, tenho pavor do que pode estar do outro lado. Eu me inclino o máximo que posso enquanto ainda permaneço escondida atrás da porta do banheiro. Felizmente, Roarke leva apenas alguns segundos em seu quarto. No momento em que eu o ouço sair, saio rapidamente do banheiro e fico perto da porta aberta do quarto.
— ... preocupado com Marvyn e essas suspeitas dele? — A mulher misteriosa pergunta.
— Não, não preocupado. Ele é pago bem o suficiente para manter suas suspeitas para si mesmo.
— Bom. Bem, vou deixar você se preparar para o seu anúncio de hoje à noite. Estou animada que esta união será finalmente oficial. Espero que a cerimônia aconteça em breve.
— Vai, — diz Roarke.
Vários momentos de silêncio seguem, em que começo a me sentir ainda mais confusa do que antes. Esta mulher quer esconder seus encontros com Roarke do jeito que uma amante secreta faria, mas está feliz que ele vai se casar comigo?
Eu ouço a porta principal da suíte abrir e fechar. Eu me pergunto se eles foram embora, mas então escuto os pés de Roarke — mais pesado que o da mulher — atravessarem a sala de estar. Apavorada que ele possa voltar ao seu quarto, eu começo a andar na ponta dos pés em direção ao banheiro. Mas o raspar de uma cadeira me diz que ele provavelmente está sentado agora. Eu me abaixo perto da cama de qualquer maneira, só no caso de eu ter que escorregar para debaixo dela rapidamente para me proteger.
Depois de vários minutos que parecem horas, ouço uma batida na porta. Então a voz de Aurora quando a porta abre: — Oh, onde está Em?
Droga.
— Como eu deveria saber? — Roarke pergunta. — Eu pensei que ela estava com você.
Droga, droga, droga.
Faço a única coisa em que consigo pensar: corro para a janela mais próxima, jogo minhas pernas sobre ela e me abaixo do outro lado. As pontas dos meus sapatos de cetim do tipo bailarina procuram pontos de apoio entre os tijolos de mármore. Os sapatos ficarão arranhados quando eu voltar para dentro, mas espero que ninguém perceba. Eu desço com cuidado, parando quando meu pé sente a abertura de uma janela próxima abaixo. Eu me movo para o lado, desço mais alguns tijolos e espio pela lateral da janela. Parece uma sala de estar privada. Cadeiras confortáveis, um armário cheio de bebidas, um espelho emoldurado a ouro repugnantemente ornamentado em uma parede e pinturas de mulheres seminuas nas outras. Mas o mais importante, não há ninguém nela.
Eu piso no peitoril da janela e pulo para dentro. Segundos depois, eu estou no corredor, andando o mais rápido que posso sem arriscar a atenção se por acaso eu passar por alguém. Eu rapidamente percorro algumas curvas até chegar à escada que leva à ala da família real. Eu corro para cima e quase colido com Aurora no topo.
— Oh, ai está você, — ela diz, alívio aparecendo em seu rosto. — Eu pensei que você estivesse indo para a suíte do Roarke. — Eu procuro em suas feições qualquer sinal de suspeita, mas tudo o que vejo é confusão.
— Ele não está lá, — digo a ela. — Uma das criadas disse que ela o viu perto da biblioteca, então fui procurá-lo. Perda de tempo, no entanto, já que ele não estava lá também. Tem certeza de que ele terminou com seja lá qual for o negócio importante com o qual ele estava lidando esta manhã?
— Sim, eu acabei de vê-lo em seus aposentos.
Eu reviro meus olhos e rio. — É isso o que acontece quando você mora em uma casa do tamanho de uma cidade pequena. Podemos passar o dia todo procurando um pelo outro e nunca nos encontrar.
— E isso, — Aurora diz quando ela pega meu braço e vira para a suíte, — é por isso que temos criados para procurarem por nós. De qualquer forma, eu vi a roupa de Roarke. Eu acho que vai combinar esplendidamente com o vestido rosa dourado. Você está feliz com isso?
Estou feliz com qualquer coisa que desvie a atenção de Aurora do fato de que eu não estava onde deveria estar. Espero que, se Roarke questionar meu paradeiro depois, ele acredite na minha história com a mesma facilidade. — Isso soa perfeito, — digo a ela. — O rosa dourado é meu favorito.
Eu a sigo de volta para sua suíte, onde uma enxurrada de atividades já começou. Cabeleireiros e maquiadores organizam seus instrumentos e feitiços. Lemon, a conjuradora de roupas, cuida de pequenas imperfeições em nossos vestidos. As criadas da rainha entram e saem com mensagens da mãe de Aurora sobre joias, enfeites de cabelo, lanches e outros assuntos triviais. E o tempo todo, minha mente está cheia da conversa que eu não deveria ouvir e da magia que eu não deveria ver.
Capítulo 10
QUANDO A NOITE CHEGA, O INVERNO SE ESTABELECE E O SALÃO DO BAILE ESTÁ VIVO com atividade. Mulheres em vestidos lindos e homens em trajes tradicionais de faeries — calças de terno e jaquetas com gola alta com ombros afiados — se misturam na pista de dança no centro do salão de baile. Dezenas de mesas redondas rodeiam a sala, cada uma com uma escultura de gelo de um dragão formando o coração das peças centrais. Do lustre de vidro no centro do teto, cordas de pequenas luzes cintilantes irradiam. E do próprio teto, flocos de neve brilhantes caem, desaparecendo em nada antes de alcançar a cabeça de qualquer pessoa.
Fico em um lado da sala com Aurora e duas damas de companhia que, ao que parece, tiveram permissão para voltar das férias para qual Aurora as enviou. Elas conversam sem parar, ocasionalmente enviando olhares curiosos na minha direção, enquanto eu tento fingir que estou interessada no que elas estão falando. A verdade é que minha mente não poderia estar mais longe dessa festa. Eu não consigo tirar o pensamento sobre as sombras da minha cabeça. Roarke e aquela mulher estavam obviamente falando sobre o lugar que ele e Aurora me levaram no dia em que me encontraram no meu antigo quarto na casa de Chelsea. O lugar de onde Dash e eu fugimos de uma criatura sombria e disforme — uma sombra? — e acabamos de volta ao mundo fae perto do buraco no véu. Com todas as coisas ocupando minha mente, eu mal pensei naquele incidente até esta tarde.
Meu olhar atravessa a multidão enquanto eu me pergunto qual delas estava no quarto de Roarke mais cedo. Pode ser qualquer —
— E o que te trás a Corte Unseelie, Em? — A pergunta vem de uma das companhias de Aurora. Mizza? Algum nome estranho assim.
Eu levo um segundo para colocar meu sorriso no lugar, mas Mizza não parece notar. — A Guilda queria me prender, mas alguns dos Unseelies — guardas pessoais do Principe Roarke, na verdade — me resgataram.
Ela solta um suspiro como uma dama e coloca uma mão contra o peito. — Oh, que emocionante. O príncipe estava com eles no momento? Ele é tão bonito, não acha?
— Por que a Guilda queria prendê-la? — A outra jovem dama pergunta.
O nome dela escapou completamente de mim. — Eu sou uma Dotada Griffin, então a Guilda achou que eu merecia ficar presa.
Ambas as damas ficam boquiabertas, mas eu mantenho meu sorriso sereno. Tenho permissão para começar a compartilhar a primeira parte da minha história agora — menos os detalhes da minha Habilidade Griffin. Ao mencionar o nome do Roarke ao falar do meu resgate, espero que as pessoas acreditem nele quando ele se levantar mais tarde e anunciar que eu sou o amor da sua vida.
— É uma história muito excitante, — acrescenta Aurora, — e prometo que vou contar tudo sobre isso depois. Mas agora, quero apresentar a Em para algumas outras pessoas.
— Não foi tão ruim, foi? — Ela pergunta baixinho conforme me leva para longe.
— Hum... eu não sei. Eu não escutei muito do que elas disseram.
— Em! — Ela bate no meu braço, mas seu horror zombeteiro logo se transforma em um sorriso. — Eu suponho que é tudo muito difícil para você, se você nunca esteve em um evento como este antes. Tantas distrações.
— Sim, — murmuro, observando um pégaso em miniatura passar. Erguendo os olhos, noto que há muitos deles no ar, cada um com um tom pastel diferente. Enquanto eu observo, uma mulher estende a mão, pega um e morde a cabeça.
— Oh, — eu suspiro, parando. — Isso é horrível.
— O quê? — Aurora segue meu olhar e começa a rir. — Oh, Em, é apenas um bolo voador. Eles não são criaturas reais. — Ela fica na ponta dos pés e agarra um. Ele luta em seu aperto, mas no momento em que ela puxa sua asa, ele para de se mover. — Vê? Apenas bolo e glacê. — Ela estende a asa para mim, e debaixo da camada externa rosa pastel, eu vejo um bolo cor de caramelo.
— Hum, não, obrigada, — eu digo quando ela tenta me fazer pegar parte da asa. — Isso é perturbador. — Eu olho para longe da mulher compartilhando o pégaso decapitado com sua amiga e me concentro em suavizar minha carranca. — Então, as pessoas sabem que há uma razão pela qual elas estão aqui, além do aniversário de sua mãe?
— Ninguém sabe ao certo, mas todos suspeitam de um anúncio de compromisso, — diz Aurora. — Eu ouvi as palavras ‘casamento’ e 'união' várias vezes enquanto passeava esta noite.
— E eu não devo confirmar suas suspeitas se alguém me perguntar?
— Não. Vamos deixar as pessoas imaginando por um pouco mais de tempo. Elas podem espalhar muitos rumores ao redor deste salão de baile o quanto quiserem até que Roarke faça o anúncio. Agora, vamos ver. — Ela toca no colar de pérolas negras apoiadas na base do pescoço, quando olha em volta. — A quem eu posso apresentar a você — Oh. Deixa pra lá. — Os músicos na plataforma elevada do outro lado do salão de baile pararam de tocar. Aurora olha em direção à porta maciça arqueada junto com todos os outros na sala. — Meus pais chegaram, — ela sussurra para mim.
Quando o Rei e a Rainha Unseelie são anunciados, todos os convidados no salão de baile se curvam ou fazem reverências. — Bem-vindos, — grita o rei Savyon enquanto todos nós nos levantamos. — Obrigado por se juntarem a nós enquanto celebramos o aniversário da Rainha Amrath. Hoje à noite, vocês se deliciarão com o melhor entretenimento, comerão os pratos mais exóticos e dançarão até o sol nascer. Que as celebrações comecem!
O lustre explode e o salão de baile se enche de guinchos e suspiros. Eu me abaixo e olho para cima, meus pensamentos se debatendo para descobrir o que está acontecendo. Um ataque externo? O rei está perdendo a cabeça e matando a todos nós? Mas quando a fumaça se dissipa, vejo centenas de objetos semelhantes a paraquedas flutuando em direção à multidão. Os murmúrios de medo se transformam em sussurros de espanto, depois em risadas e dedos apontando. Aurora pega dois paraquedas e entrega um para mim. Uma pequena caixa em forma de cubo pende de um dossel de pétalas. Quando coloco a caixa na palma da mão, os lados e o topo desaparecem, revelando uma rosa prateada dentro.
— Perfeito, — Aurora diz com um sorriso. — Eles saíram exatamente como a mãe queria que saíssem.
— O que é isso?
— Chocolate. — Ela ri. — E um feitiço que evita que você se canse até o sol nascer. Nós vamos festejar a noite toda. — Ela coloca a rosa em sua boca e gesticula para eu fazer o mesmo. Eu mastigo o chocolate amargo enquanto olho em volta para as pessoas pulando para pegar paraquedas, passando para seus amigos e comparando as rosas para ver se elas são todas iguais. Meu olhar cai sobre um homem olhando para mim — e meu coração quase para quando eu reconheço Dash.
Eu fico em choque quando ele olha para longe e duas mulheres pulando para pegar paraquedas o bloqueiam momentaneamente de ser visto. Não pode ser ele. É um truque da minha imaginação, minha mente transformando outro jovem em Dash. No entanto, eu pisco e espreito de mais de perto, uma parte de mim esperando que seja realmente ele. Mas não é. Seu cabelo está diferente, e seu braço, noto quando ele alcança um dos paraquedas caindo, está nu, sem as marcas de um guardião.
— Oh, olhe! — Aurora agarra meu braço e me puxa. Ela aponta para cima, enquanto a luz da sala escurece e pessoas em collant brilhantes descem pelo ar do teto. Eles deslizam graciosamente entre as cordas de luzes e ficam pendurados logo abaixo delas, girando lentamente e dando cambalhotas com movimentos coordenados para acompanhar a música misteriosa. Isso me lembra um pouco do nado sincronizado, ou tecido acrobático onde os acrobatas ficam pendurados em pedaços de tecido. Exceto que agora, não tem água para flutuar. Não há tecido para ficar pendurado. Esses artistas estão suspensos no ar por magia.
A noite continua com a dança — eu consigo não errar - comendo e bebendo, intercalada com várias formas mágicas de entretenimento extravagantes: malabaristas jogando bolas coloridas no ar, onde se transformam em doces de arco-íris que fazem sons de estalo e disparam doces em forma de estrela para todos; uma mulher soprando bolhas em qualquer forma que seu público solicite; um par de centauros que galopam e fazem uma dança dramática antes de galoparem para longe; e um homem que persuade sua magia em um dragão do tamanho de Imperia feito inteiramente de fogo.
Minha imaginação parece estar sobrecarregada de todas as coisas fantásticas que eu vi no espaço de apenas algumas horas, quando Roarke finalmente vem até mim. Eu o vi de longe esta noite, vestido de forma semelhante à maioria dos outros homens, mas com os punhos e gola alta de sua jaqueta feita de tecido em relevo dourado. Nós concordamos há alguns dias que não falaríamos ou dançaríamos juntos até depois do anúncio. Então, se ele está na minha frente agora, isso deve significar...
— Minha adorável Lady Emerson, acredito que temos um anúncio para fazer.
Eu engulo quando meu estômago se agita. — Oh. Que horas são? — Eu esperava adiar o maior tempo possível. De fato, parte de mim tem fingido a noite toda que se eu me recusasse a pensar sobre isso, isso nunca aconteceria.
— Não vamos deixar nossos convidados esperando por mais tempo. — Roarke coloca a mão nas minhas costas e me direciona para a plataforma elevada onde os músicos estão sentados. — Acho que elevamos o suspense por tempo suficiente. Todo mundo está se divertindo, mas agora não há um único convidado nesta sala que não esteja se perguntando qual é a bela dama que seu príncipe escolheu para ser sua esposa. Vamos afastar todas as suas especulações sussurradas.
Quanto mais nos aproximamos da plataforma, mais silenciosa a sala se torna. Finalmente, ao subirmos os três degraus que conduzem ao lado, os silêncios reinam, interrompidos apenas pelo sussurro ocasional e o farfalhar de saias. — Lembre-se de mostrar a todos como você está feliz, — Roarke murmura, seus lábios mal se movendo e seu sorriso continua no lugar.
Não tenho certeza se posso fingir estar feliz agora, mas posso pelo menos esconder meu medo. Enquanto Roarke encara a multidão e eu fico parada ao lado dele, eu tento imitar a maneira como ele se porta, empurrando meus ombros para trás, e levanto meu queixo levemente. Eu forço meus lábios em um sorriso que eu possa controlar.
Então eu cometo o erro de olhar para o salão de baile lotado. Centenas de rostos olham para mim com expressões que variam de curiosidade para aversão absoluta. Não mostre medo, não mostre medo. Eu pisco e estabeleço meu olhar na parede distante, logo acima da linha de pessoas. Não se mexa, permaneça equilibrada, continue sorrindo. Mas apesar da minha máscara de confiança, um rugido distante começa a encher meus ouvidos. Meu coração bate tão descontroladamente que temo que eu possa realmente ter uma parada cardíaca.
Roarke começa a falar, mas eu ouço apenas pedaços do que ele está dizendo: meu passado no reino humano, meu status de Dotada Griffin, meu resgate da Guilda. Eu ouço as palavras ‘uma corte rápida’ e 'profundamente apaixonado', e então, finalmente, Roarke olha para mim, pega minha mão na dele, e diz, — Eu nunca estive mais feliz do que no momento em que meu pai nos deu permissão para nos unirmos. — Ele encara a multidão novamente, segurando a minha mão. — E então, meus senhores e senhoras, eu apresento a vocês a mulher com quem estarei me unindo em exatamente doze dias: a linda, cativante e gentil Emerson.
Silêncio cumprimenta as palavras finais do príncipe. Ele paira, se expande, pressiona meus ouvidos e, finalmente, estoura. Gritos, brindes e aplausos preenchem meus ouvidos e, de repente, essa união parece real demais. Eu sei que eu concordei com isso, mas enquanto não era oficial, eu achava que encontraria uma saída. Mas agora que todo mundo sabe, parece quase impossível. Pela primeira vez, isso me atinge — realmente me atinge — que eu vou ter que fazer isso. Eu vou casar com um príncipe. Este palácio e essas pessoas vão se tornar minha vida. Tudo isso vai se tornar a vida da minha mãe também. Pelo tempo que for necessário para descobrir como vamos escapar.
— Vamos dançar agora, meu amor? — Roarke me pergunta.
Não confiando em mim para falar, eu simplesmente aceno. Ele me leva para baixo da plataforma e em direção ao centro do salão de baile enquanto a música recomeça. Minhas pernas começam a tremer com o pensamento de um salão de baile inteiro de pessoas nos assistindo dançar, mas Roarke levanta a voz e incentiva a todos a participarem. Com conversas animadas, eles correm para encontrar parceiros enquanto Roarke e eu nos encaramos e nos movemos para a posição inicial.
Já dancei várias vezes esta noite, mas agora é diferente. Ninguém se importava com quem eu era antes. Ninguém prestou atenção em mim. Mas agora, mesmo que todos estejam dançando também, sinto seus olhos em mim. Teria sido ótimo se minha Habilidade Griffin fosse capaz de me dar à habilidade de executar cada passo com perfeição, mas aparentemente minha Habilidade Griffin não sabia como fazer isso. Então, fico concentrada em todos os movimentos, em cada detalhe intrincado, em cada giro e pivô. Felizmente, com um parceiro especialista como Roarke, é fácil esconder o erro estranho e a hesitação.
Parceiros se movem ao nosso redor enquanto a música muda de novo e de novo, mas Roarke se agarra a mim para várias danças. Ele pressiona um beijo sob o meu ouvido em um ponto, e eu tenho que trabalhar fortemente para não me encolher. Eu digo a mim mesma para ficar grata por ele não beijar meus lábios. Eventualmente, ele me entrega a outro parceiro, e agora eu realmente tenho que me concentrar, minha atenção dividida entre ter uma conversa educada e seguir os passos.
O tempo passa. Eu continuo circulando a sala, mudando para um novo parceiro sempre que é apropriado. Embora eu esteja completamente fora da minha zona de conforto, a música me incita a continuar dançando. Ou é o chocolate encantado que comi antes?
Danço, converso, mudo de parceiro, repito. Começo a me perguntar por quanto tempo eu tenho que fazer isso antes que eu possa sair da pista de dança e dar um tempo de tudo. Eu giro ao redor e para os braços de outro parceiro. Um homem, que percebo com meu segundo choque da noite, que reconheço afinal de contas.
Dash.
Capítulo 11
MEUS PÉS TROPEÇAM EM UM IMPASSE. UMA COMBINAÇÃO ESTRANHA DE ALEGRIA E HORROR dispara através de mim. O cabelo de Dash está completamente diferente, como eu percebi anteriormente, e vários dias de barba para fazer melhoram seu disfarce. Mas é definitivamente ele.
— Não pare de dançar, — diz ele, me forçando a acompanhar a música. Então, depois de dar aos dançarinos em volta dele um sorriso agradável e totalmente falso, ele sussurra, — Qual diabos é o seu problema?
Outro segundo de choque passa antes que eu encontre minha voz. — Eu? Qual o seu problema? Como até mesmo você — o que você — você sabe o que Roarke e Aurora farão se reconhecerem você?
— Eles me viram por cinco segundos naquele dia. Eles não vão me reconhecer agora.
— Mas como você —
— O que você está fazendo aqui, Em? Por que você está aceitando essa charada de união estúpida? Eu esperava encontrar uma prisioneira e, em vez disso —
— Nós não vamos ter essa discussão aqui, — eu digo a ele com os dentes cerrados, meu sorriso completamente esquecido agora. — Encontre-me lá fora. — Eu me livro de seu aperto e viro. O homem que eu encontro parece assustado. Ele e a mulher com quem ele dança quase tropeçam. Mas, felizmente, depois de dois ou três segundos desastrosos, todos trocam de parceiros e, para qualquer um que esteja observando, parece que a quase-princesa acidentalmente tentou trocar alguns segundos antes. Felizmente entro nos braços do homem confuso e continuo dançando, tentando manter um sorriso sereno no lugar enquanto meu coração troveja no meu peito.
Ainda mal posso acreditar. Dash está aqui. Através da minha raiva e terror — porque esse é exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando evitar quando escolhi vir para cá, e agora ele está bagunçando tudo — eu estou dolorosamente feliz em vê-lo.
— Foi horrível crescer no reino não mágico? — Pergunta meu parceiro de dança.
— Hum, bem, eu não conhecia nada melhor, então eu não sabia o que estava perdendo.
— Deve ter sido emocionante ter descoberto que você pertence a este mundo em vez disso.
— Sim. Magia é... muito maravilhosa. — Estou distraída quando vislumbro Dash com outra parceira.
Quando a dança termina, consigo recusar educadamente a mulher que esperava ser minha próxima parceira. Deslizo por ela e saio da pista de dança, entre as mesas e cadeiras, e em direção à porta em arco que leva aos jardins. É estranho olhar e ver uma paisagem branca como a neve enquanto me sinto tão quente que estou quase suando. Deve haver um feitiço na porta aberta que mantém o ar frio do inverno lá fora.
Olhando para trás, vejo pelo menos duas mulheres vindo em minha direção com olhos brilhantes e sorrisos largos, provavelmente esperando conversar comigo. Maravilha. Agora que todo mundo sabe quem eu sou, eu nunca sairei desse salão sem ser notada. Eu procuro por uma distração, e na mesa mais próxima, vejo um dos doces do arco-íris estourando. Eu discretamente deixo cair no chão, levanto a saia e chuto para o lado. Ele gira para longe da multidão, zumbindo, estalando e atirando doces minúsculos em todos os lugares. Na comoção, encontro os olhos de Dash por um segundo. Então me viro e saio para a noite.
O frio me atinge no momento em que passo por baixo do arco, mas depois de toda aquela dança, o ar gelado é um alívio bem-vindo. Depois de descer correndo as escadas, viro à direita, saio do caminho e espero à sombra de uma árvore com maçãs prateadas, salpicadas de neve penduradas em seus galhos. Eu expiro longamente e devagar, mas minha ansiedade só aumenta quando os segundos passam e eu espero por Dash.
Eu fico tensa quando passos apressados descem as escadas. Dash olha ao redor, me vê, e com alguns passos rápidos ele está na minha frente. — Qual é o seu problema? — Ele exige imediatamente. — Andando por aí como se você pertencesse aqui. Participando dessa idiotice de união. Você não pode estar planejando —
— Você quer falar sobre idiotice? — Eu retruco. — Você é idiota. Por que veio aqui? Essas pessoas são seus inimigos. Você sabe o que farão com você se descobrirem o que você é e para quem você trabalha?
— Eles são seus inimigos também, Em, mas de alguma forma você os deixou manipular para se casar com um deles —
— Eu não fui manipulada coisa nenhuma, — eu digo, ainda tentando manter minha voz nada mais alto do que um sussurro irritado. — Eu escolhi estar aqui. Roarke apresentou uma solução — casamento em troca de curar minha mãe — me deu tempo para pensar sobre isso, e eu decidi aceitar sua oferta. A única pessoa que quer me forçar a fazer coisas é o rei, mas Roarke não o deixa. Ele quer uma esposa disposta. Ele não vai me manipular para fazer qualquer coisa contra a minha vontade, apesar do que você está pensando.
Dash parece que ele está prestes a ficar doente. — Você... você veio aqui voluntariamente? Ninguém te obrigou a isso?
— Sim. Ele ofereceu algo que eu queria e decidi que o preço valia à pena.
— O preço é um casamento, Em! Uma união! Você parou para pensar o quão sério é isso? Estamos falando do resto da sua vida. As uniões neste mundo não são como as do seu mundo. É um vínculo mágico que não é facilmente quebrado. E uniões reais? Eu nunca ouvi falar de uma união sendo quebrada. Se você continuar com isso, é para sempre.
Eu reviro meus olhos, mesmo quando o peso de suas palavras perfura meu núcleo e deixa minha pele mais fria do que há um momento atrás estava. — Agora você está sendo um idiota novamente. Eu não pretendo realmente que essa união aconteça. Eu tenho uma Habilidade Griffin, pelo amor de Deus. Uma extremamente poderosa. Quando for o momento certo, e quando eu tiver aprendido bastante controle sobre ela, eu vou pedir ao Roarke para me dizer tudo que eu preciso saber para curar minha mãe, e então eu vou escapar.
Dash ainda parece um pouco doente. — Sério? Esse é o seu plano? Você realmente acha que depois de tudo isso lá — ele acena genericamente na direção do salão de novo — eles vão deixar você escapar?
— Tudo bem, primeiro de tudo, ‘escapar’ implica que eu não vou pedir permissão. Eu vou embora. Então não importa se eles vão me deixar ou não. E em segundo lugar... — Eu lentamente respiro profundamente porque eu tenho que admitir que estou me sentindo tão doente quanto Dash parece. Em segundo lugar, percebo que escapar pode não ser possível. Eles podem me pegar e me forçar a participar desta...
— Você acha?
— ... apesar de tudo que Roarke diz sobre querer uma esposa disposta, — eu continuo, interrompendo Dash. — E se é assim que acaba, então que assim seja. Pelo menos eu vou pegar as informações que preciso, e então —
— Isso se Roarke realmente prosseguir com seu lado da barganha e dizer a você o que ele sabe — o que provavelmente não é nada, a propósito. Como ele pode saber mais sobre sua mãe do que o resto de nós? Mas quando você descobrir isso, será tarde demais para você. — Ele ergue as mãos e olha para o lado enquanto balança a cabeça. — Todo esse seu plano é totalmente inútil.
Um calafrio me percorre. Meu corpo esfria rapidamente, e o ar do inverno parece estar se infiltrando em meus ossos. Eu corro minhas mãos vigorosamente para cima e para baixo nos meus braços. — Não é inútil. Magia negra prendeu minha mãe em um coma permanente, e Roarke, como um membro da corte que usa esse tipo de magia, sabe como acordá-la. E, mais importante, ele sabe o que causou sua doença mental. Foi algo mágico, e ele sabe como consertar isso.
— Ele está mentindo, Em, — Dash diz com o tipo de tom que ele usaria conversando com uma criança ingênua. Distraidamente, ele move a mão em um movimento rápido e circular acima da minha cabeça, e eu imediatamente começo a me sentir mais quente. — Você realmente acha que um príncipe mimado sabe alguma coisa sobre doenças mentais mágicas? Ele diria qualquer coisa para você ficar e dar-lhe acesso total à sua Habilidade Griffin. Por que você não consegue ver isso?
— Ele não está mentindo. Ele sabe muito mais sobre o meu passado do que qualquer outro que eu tenha encontrado neste mundo. Ele já provou isso para mim. Ele é minha melhor chance de salvar a minha mãe.
— Mas... isso é só... — Dash se debate por um momento. Ele puxa seu cabelo, que eu percebo que é uma peruca quando se solta em sua mão, revelando seu próprio cabelo bagunçado por baixo. — Eu sei que você quer que sua mãe esteja melhor, — ele diz, seus olhos voltando aos meus, — mas por que sua saúde e felicidade têm que ser exclusivamente responsabilidade sua? Ela é realmente — Ele se interrompe, respirando pesadamente. Eu sei que isso vai me fazer soar como o cara mau. Eu não quero te perguntar se ela vale à pena, porque claramente —
— Como você pode pensar isso? — Eu arquejo.
— Eu não estou! É isso que eu estou dizendo. É claro que ela vale a pena. Ela é sua mãe, e claramente você a ama mais do que tudo em qualquer mundo, mas... — Seus olhos me imploram. — Ela quer que você faça isso? Ela quer que você jogue fora toda a sua vida no que é provavelmente uma tentativa fútil de salvar a dela?
— Eu não estou jogando fora toda a minha vida! — Eu grito. Então eu me lembro. Lembro das palavras de Aurora — meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares — e abaixo a voz novamente. É quase um sussurro agora. Meus lábios mal se movem enquanto eu falo. — Eles podem me forçar a um casamento, mas isso não significa que eu ficarei aqui para sempre. Minha Habilidade Griffin me faz mais poderosa que a maioria das pessoas neste mundo. Mamãe e eu vamos escapar um dia.
— Mesmo que isso seja possível, — diz Dash, — quantas coisas ruins eles vão te obrigar a cometer antes disso?
— Eu... eu... — Eu não tenho uma resposta para isso.
— Por que você acha que eles querem você, Em? Para que você possa deixar o trabalho sujo dele mais fácil, é por isso. — Ele pega meus ombros e me dá uma pequena sacudida. — Essas pessoas não são boas. Com certeza você sabe o tipo de coisas que elas vão fazer você fazer?
Eu me liberto de seu aperto. — Você está errado. Roarke não é assim, e Aurora também não. — Mas o rei é, uma voz silenciosa me lembra. Aquela cena no escritório do rei — a cena que continuo empurrando para fora dos meus pensamentos — aparece abruptamente na frente da minha mente. O rei com a mão apertando o ar, e a cabeça do homem sendo arrancada de sua —
Eu pisco e estremeço e desvio o olhar.
— Sério? — Dash diz. — Eles não são assim?
Eu posso dizer sem encontrar seus olhos que ele sabe que estou mentindo. Eu dou uma respiração trêmula. — Eu vi... alguma coisa. — Eu pisco de novo e balanço a cabeça, tentando forçar a memória para longe. Eu me concentro nos olhos verdes de Dash novamente, sabendo que não há sentido em tentar convencê-lo com mentiras que eu também mal acredito. Não há sentido em nada além da verdade. — Que outra escolha eu tinha, Dash? — Minha voz é um sussurro desesperado agora, tendo perdido seu tom defensivo. — Estas são as únicas pessoas que podem me ajudar.
— Você poderia ter confiado em nós! Eu e todo mundo no oásis. Queremos ajudar você, Em. Nós não fizemos nada, além de tentar ajudá-la desde que você chegou a este mundo, e isso não mudaria. Eu não entendo porque você simplesmente virou as costas para tudo isso e —
— É por isso, Dash! Foi por isso que eu tive que ir embora.
Ele faz uma pausa, as sobrancelhas subindo mais alto. — Isso deveria fazer sentido?
— Você e seus amigos não fizeram nada além de tentar me ajudar e isso quase matou vocês. Você virou uma estátua de vidro. Lembra disso? Você e Violet chegaram tão perto de morrer. Morrer, Dash! — Minha voz se eleva quando meu peito aperta com a lembrança daquele dia aterrorizante.
— Sim, mas não morremos. Não é grande coisa.
— Claro que foi importante! Você quase morreu porque tentou me ajudar. E Chelsea e Georgia realmente estavam mortas, e elas teriam ficado assim se minha Habilidade Griffin não tivesse feito uma aparição conveniente. Então, depois de tudo isso, eu decidi que não queria que ninguém mais fosse colocado em risco por minha causa e de minha mãe.
— Em —
— Sim, eu tinha tudo que queria no oásis. É lindo, é seguro, as pessoas são incríveis. Mas se eu tivesse ficado lá, alguém teria acabado ferido ou morto porque tentaram me ajudar. Isso é problema meu. Ela é minha mãe. Se há um preço envolvido em fazê-la voltar ao normal, sou eu quem devo pagar. Ninguém mais.
Dash fica em silêncio por muito tempo antes de dizer, — É tarde demais para isso.
Eu pisco, sentindo frio novamente, apesar do feitiço de calor de Dash ainda me cercando. — O que você quer dizer?
Ele balança a cabeça e olha para o outro lado. — Isso... não era assim que eu queria te contar. Eu queria te levar para longe daqui primeiro. De volta ao oásis.
— Antes de me dizer o quê? — Eu me aproximo e envolvo uma mão fria em torno de seu braço. — Me dizer o quê, Dash? O que aconteceu?
— Chelsea e Georgia... — Ele fecha os olhos e pressiona os lábios antes de continuar. — As duas... morreram.
Eu solto minha mão de seu braço tão rapidamente como se sua pele tivesse me queimado. — O quê?
— Aconteceu cerca de dois dias depois do incidente de vidro com Ada.
— Mas... elas não podem estar mortas. Minha Habilidade Griffin as trouxe de volta a vida.
— Elas eram humanas, Em, — ele diz gentilmente. — Sua Habilidade Griffin pode ter funcionado nelas, mas seus corpos não conseguiram lidar com a magia. No final, isso as matou.
— Mas... você tem certeza de que elas eram humanas? Quero dizer, ela é irmã da minha mãe e minha mãe é uma faerie. E sobre todos os remédios herbáceos que Chelsea fez? Eu pensei que talvez... talvez fosse realmente mágico.
Dash não oferece explicações; ele apenas balança a cabeça. — Eu sinto muito, Em.
— Elas... elas estão realmente mortas? — Eu sussurro. — Minha magia as matou. Eu pensei que isso as salvou, mas as matou.
— Em —
— Eu matei minha própria família.
— Não foi você quem as matou, — diz Dash, sua voz repentinamente feroz. — Ada fez isso com sua horrível magia de vidro. Ela as quebrou em milhares de pedaços. Você fez o que pôde para salvá-las, mas não foi o suficiente. Elas estavam condenadas desde o momento em que ela as tocou pela primeira vez.
Minhas pernas não conseguem me segurar. Eu caio no chão, sem um segundo pensamento sobre o vestido caro que eu provavelmente estou estragando. Respirações rápidas e superficiais me consomem enquanto olho para o jardim. Dash ainda está falando, mas não consigo mais ouvi-lo. Eu não sei como devo reagir a isso. Chelsea e Georgia não me amavam, e eu não as amava; Eu não posso fingir o contrário só porque elas estão mortas. Mas elas eram da família. Elas me acolheram, embora constantemente deixassem claro que eu era um peso para elas. E agora elas estão mortas e eu não consigo descobrir o que devo sentir além de me sentir culpada.
— Eu nunca quis nada disso, — eu consigo sussurrar. Eu cubro meu rosto com minhas mãos, desejando que eu pudesse apagar este outro mundo e sua magia que deixou minha vida completamente fora do meu controle. — Alguém pode simplesmente levar tudo isso embora? Por favor. Eu não quero essa magia. Eu não quero uma Habilidade Griffin. Eu não quero casar com um príncipe. Eu só quero voltar para aquela vida simples que mamãe e eu tivemos antes que a magia a deixasse louca e tudo começasse a desmoronar.
Eu sinto o braço de Dash no meu ombro e o sinto agachado ao meu lado. — Eu queria poder —
— Emerson?
Eu respiro fundo ao som da voz do Roarke. Lentamente, eu abaixo minhas mãos e o observo descer as escadas.
— O que está acontecendo? Por que você está no chão?
Dash se levanta para encará-lo.
— Você, — Roarke diz lentamente, reconhecimento em seus olhos. — Bem, agora. — Seu olhar se move para mim enquanto sua expressão se torna ilegível. — Se isso não é uma situação interessante.
Capítulo 12
EM MENOS DE UM MINUTO, EU ME ENCONTRO DE VOLTA DENTRO DO CALOR DO palácio em uma pequena sala de estar em algum lugar perto do salão de baile. Apesar do turbilhão de emoções me dominando, eu não ouso desobedecer Roarke quando ele proferiu — Siga-me. — em um tom mais frio do que o ar do inverno. Dash hesitou, mas logo nos alcançou. De volta ao salão de baile, ninguém parou o príncipe ou sua noiva. Ninguém sequer olhou em nossa direção. Eu suspeito que a magia de Roarke seja a responsável por isso.
A porta da sala de estar se fecha sozinha. Chamas ganham vida na lareira. — O que ele está fazendo aqui? — Roarke exige imediatamente, apontando para Dash sem olhar para ele.
— Eu... eu não... — Eu corro minhas mãos pelo meu rosto, tentando me concentrar nas palavras de Roarke e vendo apenas os olhos sem vida de Chelsea e Georgia. Seus corpos frios. Sozinhas em suas camas em sua pequena casa em Stanmeade. Eu pisco e olho para as chamas crepitantes dançando na lareira, na esperança de queimar a imagem brilhante e quente em minha mente. — Eu não sei, — eu digo finalmente, me afastando do fogo. — Fiquei tão chocada quanto você por vê-lo aqui. Essa coisa ainda está ligada a mim — Eu toco o pedaço de metal do tamanho de uma moeda atrás da minha orelha — então nenhuma mágica deveria ter sido capaz de me localizar.
Roarke atravessa a sala. Seus dedos envolvem o braço de Dash. — Onde estão suas marcas de guardião?
Dash puxa o braço para longe e solta uma risada curta. — Tem essa coisa que as garotas usam. É chamado de corretivo. Funciona muito bem para cobrir —
— E como você entrou no meu palácio?
Dash leva seu tempo cruzando os braços sobre o peito antes de encarar Roarke. — Sua mãe decidiu terceirizar o design do vestido de Em para esta noite. Quando um de seus empregados veio buscá-las, tive a certeza de estar lá, pronto para ocupar o lugar dele. Seu transporte me trouxe de volta aqui. Foi tudo incrivelmente fácil, na verdade.
— E como você sabia que Emerson estava aqui em primeiro lugar?
— Um palpite, acho que mais um processo de eliminação. Eu achei que poderiam ser vocês, os Seelies ou a Guilda que a prendiam. Perguntei por aí, e a Guilda e os Seelies ainda pareciam estar sob a impressão de que Em estava morta ou desaparecida. Sabe, desde o incidente no penhasco. — Dash dá de ombros. — Portanto, tinha que ser vocês.
— Então você contou aos seus superiores tudo sobre suas suspeitas, e eles te recompensaram deixando você entrar furtivamente em minha casa e meter seu nariz indesejado ao redor? Duvidoso. Você não parece estar na hierarquia mais alta da Guilda para ter uma missão tão importante quanto recuperar uma perigosa e poderosa faerie Dotada Griffin como Emerson.
O olhar de Dash se estreita um pouco. — Eu não estou aqui representando a Guilda.
— Ah. — Roarke acena com a cabeça. — Eu tive a sensação de que poderia ser algo nesse sentido. — Ele caminha até a cômoda do outro lado da sala e abre uma gaveta. — Você e Emerson pareciam estar ficando muito confortáveis quando Aurora e eu encontramos vocês dois juntos em seu antigo quarto. — Ele fecha a gaveta e se vira para nos encarar novamente. — Depois que ela escapou da Guilda. Quando você — um guardião — não deveria saber nada sobre o paradeiro dela. — Ele balança a cabeça e solta uma risada silenciosa. — Um traidor para sua própria espécie, eu vejo. Que decepcionante.
A expressão do Dash escurece. — Na verdade não. Acontece que eu discordo de marcar, rastrear e aprisionar Dotados Griffin.
— E você tem alguma marca em você, garoto guardião? Para que alguém possa convocá-lo ou determinar sua localização?
— Eu disse a você que não estou aqui em nome da Guilda, então por que eu seria estúpido o suficiente para deixar alguém me marcar?
— Bom. — Roarke se move em direção a Dash. — Mas apenas no caso ... — Sua mão gira e bate na lateral do pescoço de Dash.
Quase rápido demais para ver, Dash pega o braço de Roarke e o torce, girando o príncipe ao redor e prendendo o braço atrás das costas. — O que você acabou de fazer? — Dash sibila. O som de um chiado percorre o ar, e com um grito, Dash empurra Roarke para longe dele. — O que —
Roarke se endireita, rola os ombros e ajusta o colarinho de sua jaqueta. — Eu não gosto de ser maltratado.
Dash toca o lado do pescoço dele. — O que é isso? — Quando sua mão se afasta, vejo um pequeno círculo de metal como o atrás da minha orelha.
— Uma precaução, isso é tudo, — diz Roarke.
— Como você ousa —
— Você entra em minha casa e quer saber como eu ouso a —
— Parem! — Eu grito. Minha Habilidade Griffin ainda não está pronta para emitir um comando mágico, mas meu grito é suficiente para fazer Roarke e Dash pararem e olharem em minha direção. — Apenas ... apenas parem. — Minha voz vacila. — Minha tia e prima estão mortas, e vocês dois estão agindo como crianças mesquinhas.
Uma carranca puxa as sobrancelhas de Roarke para baixo. — Sua tia e prima? Com quem você viveu no mundo não-mágico?
Eu olho para trás em direção ao fogo enquanto eu aceno. — Dash me contou. Do lado de fora. É por isso que eu estava sentada no chão. Eu estava... eu simplesmente não consigo acreditar.
— Estas são as pessoas de quem você particularmente não gostava? — Roarke pergunta, seu tom não indelicado, apenas curioso. — Aquelas que te trataram mal desde que você se mudou para a cidade para viver com elas?
Eu concordo. — Mas elas ainda eram da família. Bem, eu não sei o que elas eram. Mamãe e Chelsea eram irmãs, mas mamãe é uma faerie e Chelsea era humana, então... elas não podem ter sido irmãs? Eu não sei. Eu não entendo. — Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas novamente e fecho meus olhos. — Mas eu morei com elas. Por anos. Eu pensei que elas eram da família, e agora elas morreram.
Eu ouço os passos silenciosos de Roarke se aproximando antes que ele coloque uma mão cuidadosamente contra as minhas costas. — Eu sinto muito, Emerson. Eu não posso imaginar como é isso. Mas posso prometer isto: você está prestes a ter uma família totalmente nova. E embora possa não ser óbvio do lado de fora, nós nos importamos um com o outro. Nós vamos cuidar de você também. Você será uma de nós e finalmente pertencerá a algum lugar. Você e sua mãe.
Do outro lado da sala, Dash bufa e resmunga algo em voz baixa. Eu quase faço o mesmo, porque é claro que o verdadeiro motivo de Roarke não tem nada a ver com o desejo de me dar uma nova família e um lugar para pertencer. Ele quer minha Habilidade Griffin. Mas talvez haja mais do que isso. Talvez ele realmente queira que essa união funcione. Talvez ele planeje cuidar de mim pelo resto de nossas vidas.
— Você vai ficar, é claro, — Roarke diz para Dash. — Para a cerimônia. Você é amigo de Emerson. Tenho certeza que ela vai querer que você esteja aqui.
— Sua cerimônia é daqui a duas semanas, — Dash diz antes que eu possa expressar minha própria opinião. — Eu não posso ficar aqui por tanto tempo. Eu tenho um emprego, lembra?
— Você também tem o desejo de parar esta união, — Roarke aponta. — O que significa que, se eu deixar você sair, você dirá à Guilda exatamente o que está acontecendo, e eles tentarão interromper nossos planos e recuperar Emerson. Ou matá-la.
— Dash não diria —
— Você não sabe com certeza, — Roarke diz para mim. — Se você quer que esta união aconteça, então não podemos correr o risco que a Guilda se envolva.
— A Guilda vai se perguntar onde estou, — diz Dash.
— Deixe-os se perguntar então. Eles não sabem que você está aqui.
Dash exala lentamente, seus olhos brilhantes nunca deixando Roarke. — Eu sei que isso não importa para você, mas eu tenho casos importantes —
— Você deveria ter considerado isso antes de invadir minha casa, — diz Roarke.
— Tudo bem. — Dash força seus punhos para trás de suas costas e dá a Roarke o sorriso mais obviamente falso que eu já vi. — Muito obrigada pelo convite, Sua Alteza Real. Eu ficarei feliz em ficar aqui e participar da sua cerimônia de união.
Roarke acena. — Bom. Apenas certifique-se de que as marcas em seu pulso permaneçam cobertas. Não posso garantir sua segurança se meu pai descobrir o que você é.
— Certamente. E vou manter meus lábios fechados e não fazer perguntas sobre nenhuma das leis que vocês Unseelies quebraram ultimamente, ou sobre, digamos, aquele lugar sombrio e sem cor onde eu acordei depois que você sequestrou Em e eu.
— Perfeito. Espero que você não se esqueça dessa promessa, — Roarke acrescenta em um tom ameaçador.
— Então ... Dash é um convidado? — Eu pergunto. — Ou um prisioneiro?
Roarke olha para mim. — Você gostaria que eu fizesse dele um prisioneiro?
— Claro que não.
— Então ele é nosso convidado. — Ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu só quero te fazer feliz, Emerson. Você recebeu algumas notícias chocantes esta noite e tenho certeza de que será um conforto ter seu amigo aqui.
Minha carranca se aprofunda. — Mas você não confia nele e não quer que ele vá embora. Então, por que você o deixaria vagar livremente pelo seu palácio?
— Não se preocupe, ele será observado onde quer que vá. Se ele sair da linha, eu me certificarei de que a Guilda descubra que ele sabe muito mais sobre os rebeldes Griffin do que deveria. Duvido que ele consiga manter o emprego depois disso. — Ele olha para Dash. — Parece justo?
Dash inclina a cabeça no menor dos acenos. — Perfeitamente justo, já que eu planejo estar no meu melhor comportamento, Real Principesco.
Um músculo na mandíbula de Roarke se contrai, mas, felizmente, ele decide não retaliar a última parte. — Mais importante, minha querida Emerson, — continua ele, virando para mim, — eu gostaria de mostrar a você que eu me importo com a sua felicidade. Se isso significa tratar seu amigo guardião como convidado em vez de prisioneiro, então eu faço.
Eu ainda não sei se acredito nele, mas acho que vou descobrir nos próximos dias. — Tudo bem, — eu digo com cautela. — Obrigada.
— Vamos voltar para o baile agora. Afaste sua tristeza, meu amor, e junte-se à alegria. Você logo se sentirá melhor.
Eu duvido que isso seja verdade, mas também duvido que tenha escolha. Eu acho que o meu pedido para sair da festa, subir na cama e puxar as cobertas sobre a minha cabeça não iria cair bem. Então eu sigo Roarke para fora da sala e de volta para a festa. Eu respiro profundamente e pressiono meus lábios para evitar que estremeçam. Eu tomo a primeira bebida que é oferecida e de uma só vez, esperando que o liquido seja suficiente para entorpecer meus sentidos pelo resto da noite.
Quando está perto da meia-noite e minha Habilidade Griffin vem à tona, eu digo às palavras que fui obrigada a dizer. Ninguém me ouve em meio ao barulho, mas todos gritam oohs e aahs em admiração aos seis arco-íris que se formam um após o outro do outro lado da sala, como se marcassem os doze pontos de um gigantesco relógio colorido. Eu gostaria de poder experimentar um pouco da admiração deles com a visão do que minha própria magia produziu, mas parece que as várias bebidas que eu consumi estão fazendo seu trabalho: eu não sinto mais nada.
Capítulo 13
QUANDO CLARINA ME ACORDA NA MANHÃ SEGUINTE, SINTO QUE alguém enfiou uma estaca no meu globo ocular. E uma chave de fenda no outro olho. Alguém deve ter também aumentado o brilho do sol; Eu só posso abrir meus olhos por cerca de meio segundo antes de ter que fechá-los novamente.
— Seu almoço está na sala de estar, minha senhora, — diz Clarina. — Todos estão comendo sozinhos hoje, conforme alguns ainda estão se recuperando da noite passada.
— Almoço? — Eu pergunto com uma voz rouca.
— Sim, é quase meio-dia, minha senhora. — Seus passos se aproximam e ela acrescenta, — A bebida ao lado de sua cama aliviará sua dor de cabeça.
Eu levanto lentamente e olho para o copo de cristal com um líquido claro. Quase pergunto como ela sabe sobre minha dor de cabeça, mas suponho que ela esteja aqui há tempo suficiente para ter plena consciência das muitas ressacas que se seguem de um evento como o baile da noite anterior.
— Sua piscina está cheia, — acrescenta ela.
— Obrigada. — Eu balanço minhas pernas sobre a borda da cama e olho para o chão por um tempo enquanto meu cérebro percorre os eventos da noite anterior. Eu lembro que Dash está aqui agora. Eu lembro que Chelsea e Georgia estão ... mortas.
Eu pego o copo e meus olhos caem sobre a roupa que Clarina escolheu para mim hoje, pendurada do lado de fora do guarda-roupa. Um casaco do tipo trespassado, na cor água-marinha com padrões de branco, verde e malva. As comemorações do aniversário da rainha continuam com um chá nos jardins esta tarde, então Clarina foi obviamente instruída a escolher algo apropriadamente festivo para mim. É bonito, mas não parece certo usar algo tão... vivo.
— Clarina? — Eu chamo, esperando que ela ainda esteja na sala ao lado.
— Sim, Lady Emerson? — Ela corre de volta para o quarto.
— Tudo bem se você escolher uma roupa preta para mim hoje? Ou cinza, talvez, se preto for deprimente demais para o chá da rainha?
— Hum, certamente, minha senhora. Isso deve estar bem. Eu acredito que há uma roupa na cor carvão com detalhes bordados de prata. Deve servir?
— Sim, obrigada.
Não sinto qualquer tipo de profunda tristeza pela perda de Chelsea e de Georgia. Eu ainda estou chocada, mal conseguindo acreditar que elas se foram, mas sei que não houve nenhum amor perdido entre nós. Ainda assim, parece errado simplesmente seguir em frente com a vida e esquecê-las. Eu preciso fazer alguma coisa, e se usar preto ou cinza é a única coisa que resta para mim, então é o que vou fazer.
***
A mistura no copo funciona notavelmente rápido, e minha dor de cabeça logo desaparece. Embora eu gostasse de mergulhar na piscina de bolhas roxas por muito mais tempo, eu provavelmente devo descobrir onde Dash está e ter certeza de que ele não se meteu em problemas.
Depois de me secar e me vestir, fecho os botões da minha roupa cor de carvão e ando descalço através da minha sala de estar em busca de um pouco de comida. Eu escolho o sanduíche mais normal e volto para o meu quarto para escolher um par de sapatos.
Ao ver uma figura sentada na beira da minha cama, eu congelo. Ele vira a cabeça - e percebo que é Dash.
— Caramba, Dash. Você está tentando me dar um ataque cardíaco? Como você chegou aqui?
Ele gesticula por cima do ombro para a janela onde a cortina ondula suavemente com a brisa morna. — Sua janela estava aberta. Eu subi por ela.
Eu quero dizer a ele que ele é tão ruim quanto eu, subindo pelas paredes do palácio, mas estou com medo de que alguém importante descubra que ele está no meu quarto. — Você não pode estar aqui, — eu sussurro. — Se Roarke ou o pai dele te encontrarem no meu quarto, de todos os lugares —
— Ninguém me viu, não se preocupe. Eu não saí do meu quarto pela porta, então qualquer um observando vai assumir que eu ainda estou lá dentro. E achei seu quarto com bastante facilidade. Não tive que procurar por muitos outros.
— Dash!
— O quê?
— E quem pode estar ouvindo agora? — Eu assobio.
Dash franze a testa. — Você está brincando certo?
Eu balanço minha cabeça. — Há olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Sim, mas no seu quarto? Isso é passar dos limites.
Eu me aproximo mais dele e abaixo minha voz ainda mais. — Depois de tudo que você me falou sobre essas pessoas, você realmente quer que eu acredite que há limites que eles não passaram?
Dash hesita. — Verdade.
— Quero dizer, eu não sei ao certo se alguém está ouvindo, mas Aurora me disse para ter cuidado com o que eu digo, não importa onde eu esteja.
Dash levanta o dedo para os lábios, indicando que eu deveria permanecer em silêncio. Ele começa a andar devagar pelo quarto, olhando, ouvindo, às vezes até cheirando. — A única outra magia que eu posso sentir neste quarto está vindo da sua cama, — ele sussurra. — O que é totalmente inapropriado, se você perguntar —
O edredom se move, uma forma desliza em direção à borda e um gato preto aterrissa no chão.
— Oh, — Dash diz, sua voz não mais que um sussurro. — É o Bandit?
Eu abro meus braços e Bandit pula para cima, mudando para um pássaro para ajudá-lo a ganhar altitude, e pousando em meus braços como um gato mais uma vez. — Sim. — Eu o abraço junto ao meu peito. — Eu queria que ele ficasse no — hum, onde estava seguro. Mas ele deve ter vindo comigo em uma forma pequena demais para eu notar.
Dash sorri e se aproxima para poder acariciar Bandit atrás das orelhas. — Jack ficará aliviado. Ele está muito preocupado com Bandit.
— Então você não acha que alguém está ouvindo? — Eu pergunto.
— Eu acho que não, mas mesmo que alguém esteja ouvindo, e daí? Não é como se eu estivesse agindo de forma inadequada em relação à futura princesa. Você e eu estamos apenas conversando. Se você preferir, podemos conversar na sua sala de estar, em vez de no seu quarto.
Eu reviro meus olhos. — Como se isso fizesse alguma diferença. Você ainda teria que explicar como passou pelos guardas do lado de fora da minha porta. E subir pela janela faz você parecer muito suspeito.
Ele solta um suspiro e senta-se na beira da cama novamente. — Eu só pensei que você poderia querer saber sobre... você sabe. O funeral.
O funeral.
Chelsea e Georgia.
Mortas.
— Você estava lá? — Eu pergunto.
Dash acena com a cabeça. — Sim. Você pode ou não lembrar que algumas das pessoas em Stanmeade eram realmente minhas amigas. Não amigos verdadeiros, é claro, já que eu nunca poderia ser totalmente honesta com ninguém, mas ... sim. Tenho amigos lá e senti que deveria estar no funeral. Só para apoiar alguém que fosse amigo da Georgia.
Eu aceno e murmuro, — Claro. Sim. Ainda não consigo acreditar que ela e Chelsea se foram. Elas sempre estavam lá, sabe? Minha horrível prima e tia de quem eu não podia esperar para fugir. Então eu finalmente consegui fugir, e agora ... — Eu balanço minha cabeça. Agora, porque Ada estava atrás de mim, ambos estão mortas. Dash pode tentar me convencer de que eu não deveria me culpar, mas sei que sou responsável. Indiretamente, talvez, mas ainda responsável.
Eu deixo Bandit pular para fora dos meus braços antes de caminhar até a cadeira no canto do meu quarto. É o tipo de cadeira elegante que ninguém quer realmente sentar - uma armação de madeira excessivamente embelezada com almofadas duras demais para serem confortáveis. No entanto, eu sento na borda e pigarreio. — Era, hum, havia muitas pessoas lá? No funeral?
— Sim. Quase todo mundo na cidade estava lá. Eu acho que Chelsea conhecia muita gente, já que ela administrava um dos únicos salões em Stanmeade.
Eu franzo a testa. — Ela era uma grande fã em espalhar fofocas e rumores e eu teria pensado que haveria muitas pessoas que não gostavam dela.
— Bem, você não precisa gostar de alguém para ir ao funeral.
Eu olho para ele. — As pessoas falaram coisas horríveis?
— Não. Apenas coisas boas foram ditas sobre ela. Sobre as duas. Foi tudo muito ... — Ele esfrega a mão no rosto. — Muito estranho. Muito trágico, por um lado, e ainda assim muito falso ouvir todas aquelas homenagens adoráveis sobre duas pessoas que eu testemunhei pessoalmente serem rancorosas em várias ocasiões. E parecia errado da minha parte pensar nessas coisas, mas como eu não poderia? Eu não poderia de repente transformar Chelsea e Georgia em outra coisa em minha memória só porque elas estão mortas.
— Eu ... apenas ... — Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei o que dizer ou pensar ou sentir. O que todos acham que foi a causa da morte?
— Um vazamento de gás.
— Eu suponho que a Guilda seja responsável por essa história?
— Sim. Foi à história mais fácil de inventar.
— Você acha... você sabe se ... — Eu hesito, imaginando se eu quero saber a resposta. — Elas sofreram? A magia em seus corpos as fez sofrer quando estavam morrendo?
— Eu não sei, Em. Eu sinceramente não sei. Espero que não.
Eu inclino meus cotovelos sobre meus joelhos. — Antes de você me contar o que aconteceu com elas, eu estava começando a pensar que todo esse tempo Chelsea também era uma espécie de faerie como eu e mamãe, e que os remédios herbáceos que ela fazia eram mágicos. Mas se elas continham magia, elas não teriam ajudado ninguém em Stanmeade. As pessoas teriam acabado doentes e possivelmente mortas, certo?
— Sim.
— Então Chelsea definitivamente era humana.
— Sim.
— O que significa que ela e minha mãe não podem ter sido irmãs.
Dash balança a cabeça.
— Eu me pergunto se Chelsea sabia. Eu me pergunto se minha mãe sabe, ou se ela acha que Chelsea era como ela. Alguém com magia que não pode ser acessada. — Eu esfrego meus dedos em movimentos circulares contra as minhas têmporas enquanto olho para o chão. — Eu ainda tenho muitas perguntas. Tantas lacunas na história da minha família que preciso que mamãe preencha para mim.
— Bem, espero que seu plano genial funcione e você tenha todas as respostas que procura.
Eu direciono uma careta para ele. — Isso não é apenas sobre respostas. Você sabe disso. Mesmo que mamãe não soubesse nada, eu ainda gostaria de acordá-la e curar sua mente.
— Sim, — ele diz baixinho. — Eu sei.
Eu o observo de perto por um tempo. — Por que você está aqui? Quer dizer, eu... — Eu afasto meu constrangimento conforme minhas bochechas esquentam. — Eu nunca fui legal com você. Certamente você não se importa o suficiente comigo para assumir o tipo de risco necessário para vir aqui.
Ele solta uma risada curta sem humor. — Não é uma questão de quanto eu posso ou não me importar com você. Isso não é apenas sobre você, Em. É sobre o que o Rei Unseelie vai fazer você fazer. Quantas vidas podem ser arruinadas porque você está sendo forçada a usar sua Habilidade Griffin contra sua vontade?
— Eu... eu não...
— E eu pensei que você fosse uma prisioneira aqui. Eu pensei que estava salvando você e todas as pessoas que você pode ser forçada a machucar no futuro. Eu nunca imaginei que você escolheu vir aqui. Que você se recusaria a ir embora assim que eu te encontrasse.
Eu olho para longe dele. — Eu sinto muito. Como eu disse ontem à noite, você não deveria me encontrar. Você deveria ficar longe e nunca se machucar novamente por minha causa.
— Isso nunca vai acontecer, Em. Eu não sou o tipo de pessoa para que fica sentado enquanto o Rei Unseelie põe as mãos na recente arma mais poderosa no reino das faeries. E eu não achei que você fosse o tipo de pessoa que simplesmente entregasse esse poder também.
Eu engulo a minha vergonha. — Bem, eu acho que sou, — eu digo em voz baixa, olhando para o chão. — Como quase todos os outros no mundo, estou apenas cuidando de mim mesma e das pessoas que amo. Eu não sou corajosa ou altruísta. Estou apenas fazendo o que tenho que fazer para sobreviver.
Do canto do meu olho, vejo Dash balançar a cabeça. — Você pode dizer a si mesma a mentira que quiser, mas eu sei que você é mais do que isso. Eu sei o que você fez em Stanmeade. Você parou o vidro de Ada de consumir a cidade inteira. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter mantido a localização da sua mãe em segredo e deixar aquele lugar se destruir. Mas você não fez.
— E que bem meu altruísmo fez então? — Eu exijo. — Eu dei a ela o que ela queria, mas ela parou seu ataque à cidade? Não. Eu tive que descobrir isso sozinha, e foi um acaso que a minha Habilidade Griffin apareceu no momento certo. Então, que diferença fará agora se eu me recusar a dar meu poder ao rei? Nada. Ele cometerá os mesmos atos malignos que ele planeja cometer. Pode demorar um pouco mais. — Me sinto doente com minhas próprias palavras. Eu não quero ajudar o rei a fazer nada. Mas realmente, o mundo é um lugar ruim e é assim que funciona. É assim que os dois mundos funcionam. A vida é uma merda e então você morre — assim como a velha música que Chelsea costumava ouvir às vezes. — Apenas algumas pessoas chegam a ser heróis, Dash, — digo em voz baixa. — E você pode ser uma dessas pessoas, mas eu não sou. Estou apenas tentando jogar a melhor mão das cartas que recebi.
Ele fica quieto por um momento, e tudo que consigo ver em seus olhos é tristeza. — Em algum momento, você vai perceber que isso — ele gesticula em torno dele — certamente não é sua melhor mão. Só espero que você descubra isso mais cedo do que tarde.
— E espero que você saia daqui mais cedo do que tarde. Não há necessidade de você se machucar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você sabe o que sou, certo? Machucar faz parte do trabalho.
E morrer? Eu quase pergunto. Mas eu não quero pensar nisso. Eu não quero falar sobre a morte quando ele já chegou tão perto disso. Não quando as mortes de Chelsea e Georgia ainda estão tão próximas.
— Além disso, — acrescenta ele. — Eu não acho que será tão fácil deixar este palácio como foi entrar.
Bandit pula de volta no meu colo. Eu acaricio seus pêlos negros e lustrosos e, em um esforço para desviar a conversa de assuntos tão pesados, pergunto, — Era verdade? A história que você contou a Roarke ontem à noite. Sobre entrar no palácio no lugar do empregado.
— Sim. Bem, principalmente. Não era eu que deveria vir para cá.
— Oh. — Eu olho para cima. — Quem deveria ser?
Dash me dá um olhar aguçado. — Eu prefiro não dizer o nome dela, apenas no caso. Mas eu tenho certeza que você pode descobrir, dado seu talento particular para... se ocultar.
Ah. Calla Eu concordo. — Eu acho que sei de quem você está falando.
— Teria sido muito mais fácil para ela se misturar. Mas o empregado chegou mais cedo do que o esperado para pegar o vestido no estúdio da minha mãe, então —
— Espere, sua mãe?
— Sim. Foi ela quem desenhou o seu vestido.
Minha mão continua nas costas de Bandit. — Sua mãe é Raven Rosewood?
— Sim. Eu te disse que ela é uma designer de moda, não foi?
— Sim, mas... eu nunca pensei... espera, seu sobrenome é Rosewood? — Isso não parece certo, mas agora não me lembro se eu soube o sobrenome de Dash.
— Não, é Blackhallow.
— Oh. Dash Blackhallow, — eu digo devagar, experimentando o nome.
— Dashiell Blackhallow, se formos técnicos. — Ele revira os olhos. — Muitos ls, eu sei. De qualquer forma, minha mãe ainda era Rosewood quando começou a desenhar. Esse é o nome que as pessoas a conhecem, então ela manteve.
— Então, dentre todos os designers deste mundo, a rainha acabou escolhendo sua mãe. Isso não pode ter sido uma coincidência.
Dash sorri. — Claro que não foi. Minha mãe ouviu que a Rainha Unseelie estava procurando um vestido especial. Não para ela, e nem para a filha. Os rumores sugeriam que uma nova jovem chegara ao Palácio Unseelie, e a rainha e a princesa tinham um interesse especial por ela. Normalmente minha mãe ficava longe de qualquer coisa a ver com os Unseelies, mas ela sabia que você desapareceu. Ela me contou sobre os rumores e essa ‘competição’ não oficial para desenhar o melhor vestido. Eu tinha quase certeza de que aquela garota era você, então eu disse à mamãe que um de seus vestidos tinha que ser escolhido, não importava o que acontecesse. Então nós encantamos seus desenhos. Um feitiço simples que fazia com que qualquer um que olhasse as páginas desejasse continuar voltando para elas. E funcionou. Ela foi escolhida.
Minha boca está aberta quando ele termina de falar. — Foi tão simples assim?
— Sim. E então o cara que veio pegar o vestido chegou muito cedo. Eu estava me escondendo, vendo minha mãe entregar o vestido sozinha, como ela havia sido instruída. Eu esperava que ela o mantivesse falando ou algo assim até que Ca — hum — até que nossa amiga chegasse, mas o empregado disse que ele estava com uma agenda apertada. Parecia bastante agitado por estar lá. Ele ficava olhando em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse naquele estabelecimento. Quando ele disse que sua carruagem estava encantada para dar meia-volta e sair em menos de cinco minutos, fiz a única coisa em que conseguia pensar: o fiz desmaiar e tomei o lugar dele.
— Então você pulou dentro de sua carruagem e tudo deu certo?
— Bem, eu vesti as roupas dele primeiro. E mamãe me encontrou uma peruca colorida apropriada de seus muitos recursos. E eu peguei a stylus dele e o âmbar, o que foi uma coisa boa, já que a porta da carruagem não abria até que eu segurasse a stylus contra ela, e eu estava quase sem tempo até lá. Ah, e havia dois guardas dentro da carruagem, mas eles estavam desinteressados o suficiente para que eles não notassem que meu rosto não era o mesmo do cara com quem eles estavam viajando.
— Mesmo? De jeito nenhum. Nenhum guarda é desatento aos detalhes. Eles devem ter percebido a diferença.
Dash hesita, um sorriso culpado esticando seus lábios. — Tudo bem, então eu posso ter discretamente borrifado alguma poção de contentamento quando entrei na carruagem.
— Poção?
— Minha mãe adiciona nos vestidos às vezes, a pedido de seus clientes. É estranho. Algumas dessas pessoas para quem ela desenha são super estressadas e tensas, e quando vão a esses eventos extravagantes, elas só querem relaxar um pouco. Fique contente e em paz, sabe? Eu estava com pressa, e o pequeno frasco de spray estava bem ali, então eu o peguei durante o caminho.
— E os guardas ficaram tão contentes que não perceberam que você não era o cara certo?
— Sim. Eu, talvez, tenha pulverizado um pouco demais. Felizmente, eu coloquei um escudo em volta de mim, caso contrário, eu provavelmente estaria tão contente que ainda estaria sentado naquela carruagem.
Eu pisco, incerta do que mais dizer sobre esse plano meio improvisado que realmente funcionou.
— Olha, não foi a minha operação secreta mais elegante, — admite Dash, — mas tudo correu bem. A carruagem me levou direto para o pátio do palácio e fui em direção de umas das portas. Levou um pouco de trabalho para descobrir para onde ir, mas não era nada que eu não pudesse lidar. Fingi estar um pouco tonto e confuso, elogiei uma das garotas que encontrei na cozinha e ela me mostrou para onde ir. Deixei o vestido com uma nota dizendo que o recolhimento correu bem e depois me escondi até o baile começar.
— Uau. Estou espantada por não ter dado tudo errado.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou bom em improvisar.
Minha mente recua para o início da sua história. — Então, eles — as pessoas com quem eu estava ficando — Eu não quero dizer as palavras ‘Rebeldes Griffin’ em voz alta — sabem que você está aqui?
— Sim.
Eu abaixo minha voz e me inclino para frente. — Você acha que eles virão aqui?
Dash hesita e diz em voz normal, — Não. Eles não sabem onde esse lugar fica. É por isso que um de nós precisava vir com o empregado. As Cortes Unseelie e Seelie estão escondidas, então muitas pessoas não sabem onde estão. — A maneira como ele está olhando para mim, seus olhos fixos nos meus, sugere fortemente que ele está mentindo. Também sugere que ele não está totalmente convencido de que alguém não está nos ouvindo.
— Merda, — eu sussurro para mim mesma. Os rebeldes Griffin provavelmente sabem como chegar a Corte Unseelie, e uma vez que eles perceberem que Dash não está voltando comigo, eles provavelmente virão direto para cá e farão tudo que puderem para levar nós dois. E, embora eu tenha certeza de que todos são incríveis lutadores mágicos, as chances são altas de que eles acabem feridos, mortos ou presos.
— Em? — Dash pergunta depois de vários momentos de silêncio da minha parte.
— É bom que eles não consigam encontrar este lugar, — eu digo em voz alta. Alta demais, provavelmente. Eu faço um esforço para parecer normal. — Eu sei que eles só estariam tentando ajudar, mas como eu disse a você ontem à noite, eu não estou precisando de ajuda.
Dash arqueia uma sobrancelha. — Se você não queria ajuda de ninguém, provavelmente deveria ter mencionado isso antes de fugir. Teríamos parado de trabalhar duro para descobrir o mistério que é a sua vida.
Um fragmento de culpa apunhala meu peito e gira. — Desculpe. Mas eu...
— Você pediu a nossa ajuda, lembra? Ou pelo menos ... — Linhas vincam sua testa enquanto ele a franze. — Nós oferecemos, e você disse sim. Algo parecido. Então você não pode nos culpar exatamente por investigar sua história familiar.
— Eu sei, eu só ia dizer que eu assumi que vocês iriam esquecer de mim quando eu fosse embora. Você tem muitas outras pessoas para ajudar, não é? E — espere, o que você disse sobre a história da minha família?
Ele suspira. — Nós tentamos descobrir sobre o seu pai. Como sua mãe não está acordada para esclarecer sua estranha situação, imaginamos que seu pai possa ajudar — se conseguirmos encontrá-lo. A única coisa que você mencionou sobre ele foi que ele pagou as contas médicas do hospital de sua mãe, então Chase foi lá para dar uma olhada nos registros. Ele é o único que sabe usar um computador, — acrescenta Dash com um revirar de olhos. — Ele cresceu em seu mundo, no caso de você não saber. De qualquer forma, ele disse que o arquivo de sua mãe tinha algum tipo de glamour nele. Ele podia ver os detalhes de Chelsea e todos os detalhes de sua mãe, mas qualquer coisa relacionada à pessoa que primeiro a checou e pagava todo mês estava... em branco. Os humanos que trabalham lá provavelmente veriam algo quando olhassem, mas Chase não conseguia ver nada.
— Então... ninguém estava realmente pagando por ela?
— Eu não sei. O ponto é que era um beco sem saída. Não conseguimos descobrir nada sobre o seu pai.
Meus ombros se curvam um pouco. — Está bem. É por isso que estou aqui, lembra? Esta união vai fazer a mente da minha mãe ser curada, e todas as respostas escondidas dentro dela serão finalmente desbloqueadas.
Passos atravessam a minha sala de estar. Eu agarro Bandit no meu peito e fico de pé abruptamente, bem quando Clarina para na porta. — Lady Emerson — Oh! — Ela olha fixamente para o chão. — Eu imploro seu perdão, minha senhora.
— Isso não é o que parece, — eu digo imediatamente. Eu não tenho certeza do que parece, mas não pode ser bom.
— Eu sinto muito, minha senhora. Eu bati na outra porta, mas —
— Eu não ouvi você, me desculpe.
— Eu não vou dizer nada, Lady Emerson.
— Não há nada a dizer, — asseguro com uma risada alta e ofegante. — Nós estávamos apenas conversando.
— Claro, — diz ela, balançando-se em uma breve reverência e mantendo os olhos no chão. — Por favor, me desculpe por interromper, mas o Príncipe Roarke gostaria de falar com você.
Meus dedos ficam tensos ao redor da forma de gato de Bandit. — Tudo bem. Obrigada. Onde devo encontrá-lo?
— Ele está esperando do lado de fora de seus aposentos por você, minha senhora.
— Oh. — Eu olho para Dash.
Ele sorri. — Bem, acho que vou sair do jeito que cheguei, então. Ainda bem que gosto de escalar.
Capítulo 14
EU ABRO A MINHA PORTA E ENCONTRO ROARKE DO LADO DE FORA. — Hum, bom dia. Boa tarde, quero dizer. Clarina disse que você queria conversar?
— Olá, meu amor. — Ele se inclina para frente e beija minha bochecha. Eu congelo e digo a mim mesma para não me afastar. — Você se recuperou das festividades da noite passada, eu vejo? — Ele adiciona.
Eu recuo para deixá-lo entrar. — Não há necessidade de se preocupar com o absurdo do ‘meu amor’. Ninguém mais está por perto para ouvir você, exceto Clarina.
— Oh, mas você é meu amor. — Roarke me dá um sorriso malicioso enquanto ele passa por mim para a sala. — Ou, pelo menos, eu espero que você seja um dia. — Ele acena brevemente para Clarina enquanto ela faz uma reverência e sai da sala. Ele se vira lentamente no local, olhando em volta, e quase espero que ele entre no quarto e comece a procurar por Dash. Mas então ele sorri serenamente e se senta à mesa ao lado da minha bandeja com o almoço.
E naquele momento, Bandit, que eu consegui manter escondido até agora, sai pulando do meu quarto na forma de um filhote de urso. Ele se transforma em lobo, pula no divã e voa para meus braços, pousando na forma de uma preguiça de cabelo azul. Eu permaneço imóvel, mas meu olhar pousa direto em Roarke. Pela primeira vez, ele parece totalmente sem palavras. Eu mordo meu lábio, esperando por sua resposta.
— Isso — é ... seu?
— Sim. É o Bandit. Ele veio quando você me trouxe para cá, embora ele deva ter estado em uma forma muito pequena para qualquer um de nós notar.
— Então ele esteve aqui com você — em seus aposentos — o tempo todo?
— Siiiim. — Minha voz é incerta, quase questionando. — Bem, eu não sabia que ele estava aqui nos primeiros dois ou três dias. Eu acho que ele pode ter ficado com medo do ambiente desconhecido, então ele permaneceu escondido por um tempo.
— Entendo. Que interessante.
Bandit se aconchega mais perto do meu peito e tenta enterrar a cabeça debaixo do meu braço. — Eu espero que você não desaprove, — eu digo com cuidado. — Eu gosto de tê-lo por perto. Ele... ele significa muito para mim. — O instinto me diz que eu não deveria revelar para o homem que eu ainda não confio que me importo com qualquer coisa. Ele pode optar por usar essa informação contra mim. Mas se Roarke se importa com a minha felicidade do jeito que ele alega, então ele não deve se importar com a presença de Bandit aqui.
— Bem, eu duvido que minha mãe aprovaria animais nos quartos, — Roarke diz, seu profundo olhar castanho-avermelhado fixo em Bandit, — mas ela não precisa saber. E se ela descobrir e tiver um problema com isso, lembrarei a ela como os Formattras são excepcionalmente raros e valiosos, e que se encaixaria uma princesa ter um como animal de estimação.
Eu concordo. — Legal. Obrigada. — Espero que Aurora sinta a mesma coisa e não surte quando conhecer Bandit.
— Qualquer coisa para fazê-la feliz, minha querida, — diz Roarke. — Agora, por que você não senta aqui para que possamos conversar? — Ele aponta para a cadeira ao lado dele na mesa.
— Hum, antes de conversarmos, posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele sorri para mim. — Minha futura esposa pode me perguntar qualquer coisa.
Eu atravesso a sala até a mesa e me sento. Eu levanto minha mão e toco o pequeno dispositivo circular atrás da minha orelha. — Eu sei que você colocou uma dessas coisas em Dash, mas e se ele conseguir tirar? E se a Guilda ou seus amigos descobrirem onde ele está e vierem atrás dele? Eu só não quero que ninguém mais interfira, lembra? — Para ser mais específica, não quero que ninguém acabe em algum calabouço Unseelie ou, pior ainda, enfrente o mesmo destino daquele homem que foi arrastado por uma caverna até o escritório do rei.
Roarke me examina de perto antes de responder. — Você realmente não tem nada a ver com o seu amigo aparecendo aqui, não é?
— O quê? Não, eu já te disse isso. Você achou que eu estava mentindo?
— Bem, eu seria um idiota em acreditar que você confia em mim. Talvez você tenha arranjado uma saída antes mesmo de chegar aqui.
— Eu não tenho. Eu disse a você que não queria que ninguém —
— Sim, eu sei. — Ele se inclina para trás. — Ainda assim, eu me perguntei se você poderia ser uma atriz muito convincente.
— Mas você não está mais se perguntando isso?
— Você ainda parece genuinamente preocupada com a possibilidade de os outros descobrirem que você está aqui. Então deixe-me tranquilizá-la, Emerson. Mesmo que alguém consiga localizar o paradeiro de Dash e, mesmo que cheguem ao local exato em que esperam encontrá-lo, não verão nenhum palácio. Somente se essa pessoa estiver na companhia de um de nossos guardas, será capaz de ver e entrar nos terrenos do palácio.
— Oh. Isso é... conveniente. — Parecido com... Não, sumiu. Eu quase consegui, uma imagem do lugar seguro pertencente aos rebeldes Griffin, mas é como tentar segurar fumaça. — Bem, me sinto melhor agora. Estou feliz que ninguém será capaz de interferir.
— Bom. — Roarke agita os dedos de uma mão pelo ar, e um pedaço de papel enrolado aparece em sua mão. — Agora, temos alguns preparativos para a cerimônia de união.
— Temos? — Eu nunca esperei ser consultada sobre os detalhes relacionados ao casamento. Eu assumi que a rainha e Aurora cuidariam de tudo isso. Como já foi dito muitas vezes, não faço ideia do que é apropriado e do que não é para eventos formais do mundo faerie.
— Você precisa memorizar os votos da união, — diz Roarke, colocando o papel sobre a mesa. — Tudo o que você precisa saber está neste pergaminho.
Eu quase comento como o uso de um pergaminho é antiquado — quero dizer, vamos lá. Certamente dobrar um pedaço de papel é mais simples e ocupa menos espaço — mas estou mais preocupada com o fato de ter que memorizar os votos. — Então, hum, eu não vou precisar repetir as palavras depois de alguém?
— Em parte dos votos, sim, mas as palavras estão em outro idioma, então você precisa praticar pronunciando-as corretamente. Há magia envolvida, então você não quer errar as palavras.
— Hum —
— E a outra parte da cerimônia são os votos privados que fazemos um ao outro sem que ninguém mais ouça. Você terá que memorizá-los.
— Oh. Por que eles são privados?
Sua expressão fica confusa. — Porque eles são apenas para os nossos ouvidos. — Por baixo da mesa, a mão dele desliza no meu joelho. — Coisas especiais e românticas que queremos dizer um ao outro.
— Oh. — Eu inclino um pouco para o lado, movendo minha perna para fora de seu alcance. — Mas... então por que precisamos dizê-las? Você e eu sabemos que não estamos entrando nessa união por nenhuma das razões tradicionais. Nós não precisamos entrar em detalhes românticos.
Se Roarke está incomodado pelo fato de eu não querer que ele toque minha perna, ele não demonstra. — Como eu disse há pouco, nossos votos envolvem magia. Nós não podemos simplesmente pular essa parte.
Eu franzo ainda mais o cenho. — Mas... tudo bem. Eu só... não entendo muito bem. Se essas palavras extras são uma parte padrão da união mágica, então por que elas são privadas? Eu realmente preciso memorizá-las?
Roarke simplesmente ri. — Emerson, é assim que a cerimônia é feita. Tem sido assim por muito tempo. Nós não podemos simplesmente mudá-la porque você não sente vontade de memorizar as palavras.
— Não é que eu não me sinta assim. — Eu enfio meu cabelo atrás das minhas orelhas. — Estou preocupada que eu possa esquecer alguma coisa ou cometer um erro. Se é tão importante acertar tudo, então, o que há de errado em repetir depois de outra pessoa ou ler as palavras de uma folha?
Roarke suspira. — Você não lerá as palavras de uma folha, Emerson. Não é assim que é feito.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu alcanço o pergaminho e puxo para mais perto. — Então, você vai me explicar o que todas essas palavras significam, ou devo recitar um absurdo que eu não entendo?
O canto da boca do Roarke se ergue. — É uma coisa boa que eu esteja te ensinando essas palavras. Qualquer outra pessoa ficaria muito ofendida.
Eu me inclino para trás e desenrolo o papel, revelando muito mais palavras estranhas do que me sinto confortável. — Aurora não ficaria ofendida.
— É verdade, mas Aurora só vai aprender as palavras particulares quando for à vez dela. Não é apropriado que ela as conheça ainda.
— Ah, mais impropriedade. — Eu solto um longo suspiro. — Eu perguntaria por que é inapropriado, já que essa é uma parte padrão de todas as cerimônias, mas você provavelmente vai me dizer ‘é assim que é feito’.
— Sim. Isso é exatamente o que eu vou te dizer. — Seus olhos enrugam nos cantos enquanto ele sorri. — Estou muito feliz em ver que você está aprendendo.
Eu me inclino para trás em minha cadeira e começo a ler os votos em voz alta, fazendo o melhor que posso com as combinações não familiares de letras. Depois de três palavras, estou ciente de que provavelmente estou massacrando o idioma faerie. Roarke espera até eu chegar ao final da primeira linha antes de me tirar da minha miséria. — Tudo bem. Eu vejo que isso vai demorar mais do que eu pensava. — Outro giro de seu pulso produz uma pena. Ele entrega para mim. — Vou pronunciar cada palavra e você pode escrever de qualquer maneira que faça sentido para você.
Nós chegamos na metade da parte pública dos votos antes de uma batida rápida nos interromper e minha porta ser aberta. — Irmã, querida! — Aurora grita para mim. — Oh, você está acordada. — Ela fica na porta e sorri. — Olha quem eu encontrei vagando pelos corredores. — Ela se aproxima e puxa Dash para aparecer.
— Eu disse que o convidei para ficar, não é? — Roarke diz para ela.
— Sim, mas eu não o vejo desde o dia em que o atordoamos no quarto de Em no reino humano. Eu não dei uma boa olhada nele naquele momento. Ele é mais bonito do que eu me lembro, — acrescenta ela com um sorriso provocante, deslizando o braço através do de Dash e puxando-o para mais perto.
— Obrigado. — Ele lhe dá um sorriso igualmente paquerador. Eu cruzo meus braços e dirijo uma carranca em sua direção, mas tudo o que ele faz quando vê minha expressão é encolher de ombros.
— Você lembra o que ele é? Roarke diz para Aurora com desaprovação em seu tom.
— Claro que eu lembro. E eu lembro, — ela acrescenta em um sussurro falso, — que é segredo.
— Nós estávamos realmente ocupados com algo antes de você tão rudemente invadir aqui, — comenta Roarke.
— Ooh, sim, memorizando os votos. Que romântico. Posso dar uma olhada?
Roarke pega a página de mim e prontamente a enrola antes que Aurora possa chegar mais perto. — Não, você não pode. Eu não quero estragar nada para você antes de chegar a sua vez.
— Como você é atencioso.
Roarke bate minha mão com o pergaminho. — Podemos tentar de novo mais tarde, minha querida prometida — quando tivermos um pouco mais de privacidade. — Ele gira o pergaminho em sua mão e ele desaparece.
— A razão por eu ter entrado aqui, — Aurora diz, — foi sugerir que todos nós descêssemos juntos para o chá. E eu queria verificar se Em ainda estava dormindo.
— Oh, já está hora? — Eu pergunto. — Eu pensei que o chá fosse mais tarde.
— Chá? — Dash pergunta.
— Sim, no caramanchão da rainha no jardim. Mamãe oferece para aqueles que ficaram aqui depois da festa.
Afasto-me da mesa e me levanto. — Esperem, eu preciso colocar os sapatos. — Aurora me acompanha até o quarto para me ajudar a selecionar sapatos apropriados. Eu coloco os chinelos prateados rapidamente, não querendo dar a Roarke e Dash nenhum segundo para acabarem brigando.
Uma vez que nós quatro estamos no corredor — com vários guardas caminhando na frente e atrás de nós — Roarke pergunta a Aurora se ele pode falar em particular com ela. Os dois seguem em frente enquanto eu ando ao lado de Dash. — Eu me pergunto como Jewel se sentiria, — eu digo a ele, — se ela soubesse o tipo de atenção que você estava recebendo da encantadora princesa Aurora.
Dash suspira. — Espero que ela entenda, considerando o fato de que tivemos uma conversa recentemente e eu disse a ela que não me sinto da mesma maneira que ela se sente.
— Oh. Hum ... bom trabalho.
— Sim. Não foi do jeito que eu esperava.
— Desculpe. Isso deve ter sido estranho. Ela ficou muito chateada?
— Na verdade, ela me convenceu a ir a um encontro com ela.
Eu quase tropeço quando olho para ele surpresa. — Sério? Você disse que não tinha sentimentos românticos por ela, e essa conversa terminou com vocês dois indo a um encontro?
Ele me dá um olhar divertido. — Há algo de errado com isso? Algo sobre a ideia de eu ir a um encontro com Jewel que a perturba, talvez?
— Não se iluda. Estou surpresa, isso é tudo. Você não parece o tipo de pessoa que deixa uma conversa tomar outro rumo.
— Eu não deixei. Eu simplesmente decidi dar a ela uma chance.
— Uma chance?
— Ela me pediu para lhe dar um encontro. Eu disse a ela que não entendia, que não queria levá-la e que tinha certeza dos meus sentimentos. Ela perguntou como eu poderia ter certeza se eu nunca dei uma chance a esses sentimentos. Então... — Ele suspira. — Eu pensei que se — e se — ela estivesse certa. Então eu concordei.
— E?
Ele olha de lado para mim quando chegamos ao fim de uma escada. — Você parece muito interessada no resultado.
— Só porque estou tentando descobrir se você realmente é o jogador que sempre achei que fosse. Se você está namorando Jewel enquanto também entretém os sentimentos de Aurora... bem, isso não é legal.
— Entretém os sentimentos de Aurora? — Ele repete. — Cara, você aprendeu alguma linguagem extravagante desde que morou com os Unseelies.
— Ah, cale a boca e me diga o que aconteceu no encontro.
— Eu não acho que posso calar a boca e dizer algo ao mesmo tempo.
Eu cruzo meus braços no meu peito. — Dash.
— Bem. Foi estranho. Realmente estranho. Passei a noite toda com medo de que ela tentasse me beijar no final e pensar que seria exatamente como beijar uma —
— irmã?
— Sim. E isso é errado. Então, antes que isso acontecesse, eu disse gentilmente a ela que isso nunca iria funcionar.
— Tudo bem. — Chegamos à outra grande escadaria que leva a outro grande corredor. — Bem, eu estou feliz que você não a enrolou durante todo esse tempo.
— Claro que não. Eu sou realmente um cara decente, lembra? — Ele abaixa a voz. — Ao contrário do príncipe com quem você escolheu tolamente se casar.
— Eu não o escolhi. Não é assim, de qualquer maneira. Eu escolhi este acordo e ele faz parte disso. E você não o conhece. Eu acho que ele pode ser mais decente do que você pensa.
Dash bufa. — Certo. Tanto faz o que você diz.
Eu fecho meus olhos por um momento e suspiro. — Podemos, por favor, não discutir mais sobre isso?
— Certo. Diga-me então: como você tem preenchido seu tempo nas últimas duas semanas e meia? Tem sido tudo festas e chás com a rainha e esperar sua criada pessoal?
— Sim, tem sido uma perfeição absoluta, — digo secamente. — Eu esperei a minha vida inteira para que alguém escolha minhas roupas, prepare meu banho, faça minha cama e prepare minha comida.
Dash aperta os olhos para mim. — Sério?
— Não! Eu não aguento isso. Eu sou perfeitamente capaz de fazer todas essas coisas sozinha.
— Olha, você teve uma vida ruim com a Chelsea, — Dash diz, levantando as mãos em defesa, — então me perdoe por pensar que você realmente gostaria de ter alguém fazendo todo o trabalho duro.
— Eu não quero. É estranho. E eu não passei todo o meu tempo em festas e chás, na verdade. Aurora tem me ensinado muita magia básica, junto com alguns de seus hobbies, como arco e flecha e montar em dragão.
Quando chegamos a uma porta larga que leva ao exterior ensolarado, Dash para. Ele olha mais de perto para mim. — Montar em dragão?
— Vocês dois podem esperar aqui? — Aurora pergunta. — Roarke precisa me mostrar algo rapidamente.
— Sim, tudo bem, — Eu respondo.
Eles desaparecem em um corredor e Dash se vira para mim novamente. — Você disse montar em um dragão?
— Eu disse.
— Sério? Então você é uma cavaleira de dragões agora, assim como uma futura princesa Unseelie?
— Ainda não, mas gostaria de ser. Há algo de errado com isso?
— Não, é só... — Ele balança a cabeça. — Eu sinto que eu realmente não te conheço mais. Você não está aqui há muito tempo e já mudou.
Suas palavras machucam mais do que eu poderia imaginar ser possível. — Mudou? O que você quer dizer?
— Bem, você... você aprendeu muito em pouco tempo. E você parece —
— Eu pareço?
— Como se pertencesse aqui.
Eu descarto suas palavras com um aceno casual, esperando que ele não tenha notado o quão profundamente elas me cortaram. — É apenas roupa.
— É? A maneira como você se portava na noite passada, na plataforma e enquanto dançava... você parecia a princesa que as pessoas esperam que você se torne.
Eu puxo meus ombros para trás um pouco, ignorando a dor no meu peito. — Bom. Pelo menos eu sei que estou fazendo bem a minha parte.
A expressão de Dash suaviza um pouquinho. — Contanto que seja apenas do lado de fora...
— É claro que é apenas do —
— Tudo bem, vocês estão prontos? — Aurora grita quando ela e Roarke reaparecem. — Vamos aparecer a este chá antes de chatearmos a mamãe com nosso atraso. E você — ela acrescenta, olhando para Dash — eu vou apresentar como um amigo meu. Por favor, não contradiga qualquer história que eu decidir contar.
— Oh, hum... — Dash para quando Aurora tenta nos levar para frente. — Eu estava pensando, — diz ele, — que talvez seja melhor se eu não participar dessa coisa de chá. Se minhas mangas subirem demais, e se a maquiagem sair dos meus pulsos, sua mãe pode ver minhas marcas. Ela vai saber o que eu sou.
— Isso é possível, — Aurora admite, — mas se você não vier ao chá, você quase certamente acabará perambulando pelo palácio por conta própria e corre o risco de inventar todos os tipos de travessuras.
Ele dá um sorriso malicioso. — E se eu prometer ficar no meu quarto como um bom menino? Se alguém perguntar sobre mim — o que duvido que alguém faça, já que ninguém me conhece — você pode dizer que não estou me sentindo bem.
— Se nós pudéssemos confiar em você sobre manter sua palavra, — Roarke diz, — e não sair do seu quarto para tentar desenterrar informações que possam ser úteis para a sua Guilda, então certamente. Estaria tudo bem. — O olhar de Roarke se move brevemente para o meu antes de se fixar em Dash. — Mas não confiamos em você. Mesmo que eu tenha postado guardas à sua porta, você pode sair pela sua janela.
Meus braços ficam tensos ao meu lado. Ele não pode estar insinuando que ele sabe que Dash entrou no meu quarto mais cedo, pode? Improvável. Ele teria ficado zangado quando ele entrou no meu quarto se ele tivesse acabado de descobrir que Clarina encontrou Dash no meu quarto.
— Sair pela janela, — diz Dash, uma expressão pensativa no rosto. — Agora tenho uma ideia. Eu posso ter que tentar depois que todos forem dormir. Eu não tinha pensado em tentar desenterrar qualquer informação útil — Em foi à única razão pela qual eu vim até aqui — mas agora que você mencionou isso, estou definitivamente desperdiçando uma valiosa oportunidade em não fazer mais para descobrir que tipos de leis você Unseelies estão quebrando descaradamente.
O sorriso plácido de Roarke nunca deixa seu rosto. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta das minhas costas. — Como você disse, Emerson é a única razão pela qual você veio aqui. Se você é de fato um verdadeiro amigo para ela, você se concentrará em confortá-la durante este período difícil, em vez de pensar em maneiras de derrubar sua futura família. — Seu polegar esfrega para cima e para baixo contra o meu braço, um gesto que provavelmente deveria ser carinhoso e terno, mas que de alguma forma parece ameaçador.
Dash olha a mão de Roarke no meu braço por um momento antes de levantar o olhar. Então seus olhos se estreitam enquanto ele se concentra em algo atrás de mim. Eu olho por cima do meu ombro. Uma mulher vestida de marrom escuro atravessa o corredor com passos tranquilos e confiantes. Ela faz uma pausa por um momento para nos olhar. Talvez seja a maneira como as sombras caem sobre seu rosto, mas seus olhos parecem completamente negros. Ela inclina a cabeça e manda um sorriso conhecedor em nossa direção, revelando dentes pontiagudos atrás de seus lábios vermelhos e cheios. Ela se vira e vai até a escada, deixando uma brisa fria de ar em seu rastro.
CONTINUA
Emerson Clarke pensou que magia poderia resolver todos os seus problemas. Acontece que a magia apenas tornou sua vida mais complicada. Sua mãe doente está em uma posição pior do que antes, e Em acabou de fazer um acordo arriscado com um Príncipe Unseelie: ele curará sua mãe se Em concordar com a aliança suprema - casamento.
Com a possibilidade de finalmente conseguir a única coisa que ela sempre quis, Em entra no mundo perigoso da Corte Unseelie. Ela aprenderá tudo o que for necessário sobre magia e etiqueta, a fim de seguir seu caminho pela vida do palácio, até que o príncipe Roarke cumpra sua parte na barganha.
Mas quando alguém inesperado aparece, trazendo à tona os segredos que Roarke e sua família estão escondendo dela, os planos de Em começam a se desvendar. Em breve, ela terá que decidir de uma vez por todas: até onde ela está disposta a ir para salvar sua mãe?
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Prólogo
DASH
DASH ESTAVA EM SUA MESA NA GUILDA CREEPY HOLLOW POR dez minutos quando seu âmbar, deixado ao lado do relatório de sequestro de duendes em que estava trabalhando, vibrou e emitiu um chilrear. Palavras douradas brilhantes subiram à superfície do dispositivo retangular. Reconhecendo a caligrafia de Violet, Dash rapidamente puxou o âmbar para perto. Seus olhos dispararam para cima para verificar quem poderia estar perto o bastante de sua mesa para ver a mensagem. A área aberta do escritório estava cheia da agitação de atividade matinal: uma equipe de guardiões juniores voltando de uma missão noturna; dois aprendizes entregando pergaminhos; e sua própria companheira de equipe, Jewel, trabalhando duro em alguma coisa. Era altamente improvável que qualquer uma dessas pessoas soubesse de quem era a mensagem no âmbar de Dash, mas isso ainda o deixava nervoso ao se corresponder com os rebeldes Griffin, enquanto estava sob o teto da Guilda.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo sua expressão indiferente, e leu a mensagem: Você sabe onde está a Em? Eu não consigo encontrá-la. Gelo encheu as veias de Dash enquanto ele lutava para manter a expressão neutra. Se Vi não conseguia encontrar alguém, isso significava sérios problemas. Graças a sua Habilidade Griffin, ela é capaz de encontrar alguém que não tenha sido ocultado por algum tipo de magia. Em tinha uma Habilidade Griffin, no entanto, era uma história totalmente nova. Ela estava brincando? Testando se ela poderia se esconder? Dash estendeu a mão sobre a mesa, pegou sua stylus e escreveu uma resposta rápida em seu âmbar. Não. Tem certeza de que ela foi embora? Verifique as esferas.
A resposta de Vi chega segundos depois: Verificando agora.
Estou a caminho, Dash rabisca enquanto ele se afasta de sua mesa e se levanta.
— Já indo embora? — Jewel perguntou. Dash olha para cima enquanto ela se levanta e contorna sua mesa. — Você acabou de chegar.
— Eu preciso checar uma coisa. Um dos relatórios das testemunhas do caso de sequestro dos duendes. Alguns detalhes estão faltando. — Dash se encolheu internamente, odiando ter que mentir para uma de suas melhores amigas. — Vou pedir para um dos guardas no andar de baixo abrir um portal para mim, — ele acrescentou rapidamente. Como Jewel, ele não deveria mais ser capaz de abrir portais para os caminhos das fadas. Um aborrecimento que foi causado pela Habilidade Griffin de Em. Em, desde então, inverteu o efeito da magia em Dash, mas Jewel não sabia disso. A única coisa que Jewel sabia era que Em havia escapado das garras da Guilda e desaparecido.
— Você precisa que eu vá com você? — Jewel perguntou.
— Não, não se preocupe. Vai ser rápido. — Ele lhe deu um sorriso, que ele suspeita que não parece nada com o seu habitual sorriso descontraído.
— Tudo bem. Ei, está tudo bem? — Jewel segura seu braço antes que ele possa se virar. — Você normalmente não é tão sério logo de manhã cedo. — Sua mão demorou um momento a mais em seu braço, e a conversa que ele teve com Em veio à tona. Ela apontou que Jewel claramente queria ser mais do que apenas sua amiga, um fato que Dash de alguma forma ignorou até aquele momento. Como ele não viu? E por que Jewel nunca disse nada sobre seus sentimentos por ele? Ela deve ter um controle excepcional sobre eles. Ele não tinha notado nenhumas explosões mágicas aleatórias.
Isso não é importante agora, Dash lembrou a si mesmo. — Sim, tudo bem. Estou apenas... mais cansado do que o habitual. — Isso, pelo menos, era a verdade. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior, conversando com Chase, discutindo quando voltar ao Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills para examinar os registros que estavam arquivados com o nome da mãe de Em. Com essa magia desconhecida impedindo-a de acordar, ela não estava em posição de explicar por que ela e sua filha viveram por tanto tempo no mundo não-mágico, mascaradas como humanas. Esperançosamente, o pai de Em possa fornecer algumas respostas. Em disse que não sabia nada sobre ele, mas se era ele quem estava pagando as contas médicas de Daniela Clarke, o hospital certamente deveria ter seu nome e detalhes para contato.
— Tudo bem. Até mais tarde. — Jewel volta para sua cadeira.
Dash deveria ter indo embora então — ele queria ir embora — mas ele não podia ignorar o desejo de Jewel de ser mais que amiga agora que ele sabia disso. — Ei, você quer sair esta noite? — Ele pergunta antes que ele pudesse mudar de ideia. — Nós deveríamos conversar. — Sem dúvida, se transformaria na conversa mais estranha que eles já tiveram, mas ele precisava fazer isso. Não era justo da parte dele permitir que Jewel continuasse esperando por algo que nunca aconteceria.
— Sim, tudo bem. Ótimo.
— Legal. — Dash desceu correndo a escadaria principal da Guilda, atravessou o saguão e entrou na sala com paredes nuas usadas para acessar os caminhos das fadas. — Você se importa em abrir um portal para mim? — Ele perguntou para a mulher que estava de guarda do lado de dentro da sala.
— Ainda não encontrou aquela garota Dotada Griffin, hein?
— Não.
— Eu espero que encontre, — a mulher respondeu enquanto andava até a parede e levantava sua stylus. — Ouvi dizer que ela é perigosa.
— Sim, — Dash murmurou. — Extremamente perigosa. Eu pretendo encontrá-la.
A mulher deu um passo para trás quando parte da parede se afastou para revelar a escuridão dos caminhos das fadas além. Dash avançou. Depois que a luz desapareceu atrás dele, ele concentrou seus pensamentos no oásis escondido no meio de um deserto a milhares de quilômetros de distância.
Minutos depois, ele subiu apressadamente os degraus da varanda da casinha branca de um lado do oásis, passando por algumas portas fechadas e entrando na sala de vigilância. Uma fileira de esferas de vidro cobria três das quatro paredes, e dentro de cada esfera havia uma forma em miniatura de partes diferentes do oásis. Magia conecta cada esfera aos insetos enfeitiçados que voam do lado de fora, exibindo tudo que os insetos viam. Vi está curvada, olhando atentamente para uma das esferas, enquanto Calla e Chase sentam em frente um do outro. — O que você conseguiu ver? — Dash perguntou, sem se importar com uma saudação.
— Oh, Dash, oi, — Vi diz quando ela se virou para ele. — As esferas mostraram que Em saiu durante a noite. Logo depois da cúpula, ela abriu um portal para os caminhos e entrou.
— Ela deve ter pegado a stylus de alguém.
— Sim. Uma desapareceu de nossa cozinha esta manhã.
— Eu simplesmente não entendo, — Calla disse, passando o dedo repetidamente através da esfera na frente dela enquanto a move para voltar no tempo através das cenas exibidas. — Por que ela iria embora?
Vi sacode a cabeça conforme ela dá de ombros. — Várias possibilidades, eu suponho. Talvez ela quisesse ver um de seus velhos amigos. Ou talvez ela lembrou de algo que pudesse ajudar sua mãe. O que é mais preocupante é o fato de que eu não consigo encontrá-la. O que poderia estar protegendo ela?
— Nada de bom, — Chase murmurou.
— Dash, você nunca me contou o que aconteceu quando eu não consegui encontrar você e Em ontem, — continuou Vi. — Lembra, quando eu fui encontrar vocês dois na casa da tia dela?
— Oh, sim. — Dash xingou interiormente — com o tipo de palavras que sua mãe não aprovava — por ter esquecido, mais uma vez, de mencionar aquele lugar estranho e as pessoas que levaram ele e Em para lá. — Eu não sei onde estávamos, mas foi estranho. Tudo parecia drenado de cor, e partes dele estavam meio que... borradas. Obscuro ou sem forma. E nós não conseguíamos acessar os caminhos das fadas. Acabamos fugindo de alguma criatura sombria que eu nunca vi antes, e de alguma forma perto do perto do buraco no véu. Mas não do lado humano, e não do lado das fadas. Em algum lugar... eu não sei. Talvez nem fosse real. Talvez tenha sido algum tipo de alucinação. De qualquer forma, — ele continuou com uma respiração profunda, — nós estávamos lá por causa dos Unseelies. O príncipe e a princesa.
— Sério? — Chase olhou para longe da esfera que ele estava examinando.
— Sim. Aquela garota que esteve na Chevalier House por alguns dias — Aurora — é na verdade a princesa Unseelie.
— Então era isso que ela estava fazendo em Chevalier House, — uma nova voz disse da porta. Dash olhou em volta e viu Ryn parado ali. — Aurora queria que Em fugisse com ela. Ela estava obviamente planejando levar Em de volta a Corte Unseelie.
— Você não pensou em mencionar nada disso na noite passada? — Calla diz para Dash, um tom acusatório em sua voz.
— Para ser honesto, eu não pensei nisso. Em disse que ia me contar o que aconteceu mais tarde — já que eu, hum, fiquei atordoado e inconsciente por parte do tempo — mas então aquela fada de vidro apareceu, e nós quase morremos, e então corremos para pegar a mãe de Em, e... eu não pensei nos Unseelies novamente até mais tarde da noite passada quando cheguei em casa.
— Ótimo, então não temos ideia do que disseram a Em, — Calla diz, cruzando os braços e franzindo a testa para o chão.
Dash não disse nada. Era incomum Calla ficar tão irritada com ele, mas ele não podia culpá-la. Estava furioso consigo mesmo por não ter perguntado a Em sobre aquele estranho mundo sombrio da noite anterior. Ela parecia distante e infeliz, e, como um idiota, ele tentou distraí-la com a dança. Qual era o problema dele? Como ele poderia simplesmente esquecer que dois membros da família real Unseelie tinham transportado Em para um lugar estranho e, em seguida, misteriosamente a deixaram ir?
— Então... — Vi esfrega suas têmporas. — O fato de que não podemos encontrar Em agora pode ter algo a ver com os Unseelies.
— A menos que ela mesma não queira ser encontrada, — disse Chase. — Ela saiu voluntariamente. Ela pode ter usado sua Habilidade Griffin para se proteger de alguma forma.
— Seja qual for o motivo dela para ir embora, ela deve estar planejando voltar, — Ryn diz, entrando na sala e dando uma olhada em uma das esferas. — A mãe dela ainda está aqui, afinal de contas.
Dash balança a cabeça. — Ela pode ter ido embora por conta própria, mas e se os Unseelies a pegaram lá fora? Eles a deixaram ir ontem, mas eles definitivamente ainda a querem. Eles podem estar mantendo-a contra sua vontade agora.
— Então, o que fazemos? — Vi pergunta. — Esperar para ver se ela volta? E se sim, quanto tempo esperamos?
— Ela tem que voltar, — Calla murmura, mordendo a unha do polegar enquanto olhava sem ver o chão. — Ela tem que voltar.
Ryn olhou para o outro lado da sala. — Qual é o problema?
Calla baixa a mão e franze a testa para o irmão. — Não faça isso.
— Ei, eu não estou tentando sentir o que você está sentindo, — Ryn diz, levantando as mãos em defesa, — mas sua ansiedade está quase me dando um ataque de pânico. Eu tenho tentado ignorar isso, mas isso está praticamente me atacando.
— Ansiedade? — Chase se aproxima dela. — Sobre o quê?
— Caramba, pessoal, — Calla exclama. — Estou preocupada com outro caso. Está tudo bem. Podemos nos concentrar em como vamos descobrir onde Em está? Apenas no caso de ela ser prisioneira de alguém agora?
— Eu tenho alguns contatos Unseelie, — diz Chase. — Vou ver o que eu posso descobrir.
— Bom. Eu vou voltar a trabalhar em outras coisas, então, — diz Calla. Ela atravessa a sala e sai sem uma palavra, deixando vários momentos de silêncio constrangedor em seu rastro. Com uma careta, Chase a segue.
Dash pigarreia. — A Guilda também tem contatos Unseelie. Eu vou perguntar se alguém sabe alguma coisa. E também perguntarei dos nossos contatos Seelie. É possível que eles tenham encontrado Em, mas ainda não tenham informado a Guilda.
— Obrigada, — disse Vi.
— Avise assim que você descobrir alguma coisa, — acrescenta Ryn.
— Claro. — Dash se vira e sai da sala, já colocando a mão no bolso para pegar o âmbar e a stylus, para que ele possa contatar o contato Unseelie da Guilda. Ele para perto da porta da frente enquanto escreve uma mensagem rápida perguntando se o contato tinha recebido alguma notícia sobre uma garota Dotada Griffin.
... alguma coisa está acontecendo?
Ao som de vozes, Dash se inclina para o lado e olha pela janela. Calla anda de um lado para o outro na varanda. — Ela tem que voltar, Chase. Ela tem que voltar.
— Tudo bem, sério. — Chase pega o braço dela e a faz parar. — Conte o que está acontecendo.
Dash sabia que ele não deveria estar escutando, mas se era algo sobre Em...
Calla respira fundo. — Eu vi alguma coisa. Noite passada. Quando eu fui perguntar a Em se ela queria se juntar a nós esta manhã. Isso me fez ter esperança... que de alguma forma... — Ela sacode a cabeça. — Quero dizer, eu sei que é loucura mesmo pensar nisso. Meu cérebro ainda está repassando tudo o que aconteceu naquela época e como isso poderia ser possível. Mas se for verdade... — Ela agarra a frente da camiseta de Chase com ambos os punhos. — Chase, se for verdade, então temos que garantir que Em volte.
Chase pega as mãos de Calla entre as suas. — Você não está fazendo nenhum sentido. O que você viu?
— Você não pode contar a ninguém, ok? Não até saber se é verdade. Eu não quero ser responsável por mais corações partidos.
— Corações partidos? Quando você...
Ela se inclina para mais perto de Chase e sussurra, suas palavras muito baixas agora para Dash ouvir através da janela. Ele observa a testa de Chase se franzir ainda mais. — Não é possível, — diz ele quando Calla recua. — Ou é? Quando a vi pela primeira vez, pensei...
— Pensou o quê?
O olhar de Chase fica desfocado enquanto ele olha por cima do ombro de Calla por vários segundos, claramente perdido em pensamentos. Um pequeno sorriso estica seus lábios quando ele volta sua atenção para ela. — Eu acho que você pode estar certa.
Seu sorriso de resposta ilumina seu rosto. — Eu também acho. Mas eu não sei ao certo, e me recuso a ficar animada até confirmarmos isso. Eu conheço alguém que pode nos dizer sem sombra de dúvida, mas eu não sei onde ele está. Você precisa me ajudar a encontrá-lo.
— Vi pode ajudar se ela tiver... — As palavras de Chase somem conforme ele sacode a cabeça. — Mas você não quer que ela saiba.
— Não. Ainda não. — Calla pega o braço dele e o puxa para descer a escada com ela. — Primeiro precisamos descobrir se é verdade. — Sua voz fica mais fraca quando ela e Chase se afastam da casa, deixando Dash com mais perguntas e sem respostas. Ele tem seu próprio mistério para resolver, no entanto. Onde você está, Em? Ele se perguntou em silêncio enquanto abre a porta e entra na varanda.
Seu âmbar vibra em sua mão, e ele para para ler a resposta do contato Unseelie: Nenhuma informação recente dos Unseelies. Nada interessante de qualquer maneira. Claro que não. Os Unseelies nunca informariam a Guilda se eles possuíssem uma poderosa Dotada Griffin. Mas Dash tinha que verificar, apenas no caso do contato ter ouvido alguma coisa. Agora ele teria que entrar em contato com o contato Seelie. Depois disso, seria hora de seguir para canais não oficiais. — De alguma forma, Em, — ele murmura enquanto se afastava. — De alguma forma, eu vou encontrar você.
Capítulo 01
COISAS QUE EU NUNCA IMAGINEI: UM, ESCAPAR DA MISERÁVEL CIDADE DE Stanmeade muito antes que eu sonhasse que isso fosse possível. Dois, me tornar quase amiga do cara que eu odiei por anos. Três, subir pelo lado de fora de uma torre do palácio das fadas com uma stylus roubada no bolso para que eu possa me esconder no topo e abrir um portal para os caminhos das fadas com magia. Oh, sim. E nunca imaginei usar palavras como ‘torre do palácio’, ‘caminhos das fadas’ e ‘magia’ sem soar como uma paciente internada em um hospital psiquiátrico. Mas isso foi antes de eu descobrir que sou uma faerie e que existe um mundo oculto de magia ao lado do mundo onde eu cresci. Isso foi antes de eu chegar ao topo da lista dos mais procurados de todos por possuir um superpoder único e perigoso. E isso foi antes de eu assumir o maior risco da minha vida e concordar em me casar com um príncipe faerie da Corte Unseelie, na esperança de salvar minha mãe.
Então sim. Eu imagino coisas agora que a maioria das pessoas da minha antiga vida consideraria impossível. Como um buraco escuro de nada se materializando através das paredes de mármore com veias douradas no topo da torre que subi. Eu precisava me afastar dos olhos atentos dos guardas do palácio, e esta torre formando o ponto mais alto do Palácio Unseelie parecia um bom lugar. Infelizmente, o feitiço que tenho sussurrado e as palavras que escrevo repetidamente através da parede parecem não estar produzindo nada.
Solto um suspiro frustrado e aperto meus dedos ao redor da stylus incrustada de joias. Eu roubei do quarto de Aurora ontem. Apenas o melhor do melhor para uma princesa, então duvido que haja algo de errado com ela. O que significa... talvez minha magia seja o problema? Eu coloco a stylus no chão da torre e enlaço minhas mãos juntas, depois expiro lentamente e sinto o núcleo do poder dentro de mim. Quase instantaneamente, uma forma quase esférica branca brilhante e fragmentos etéreos pairam acima da minha mão. Parece quase fácil produzir magia agora, depois de ter praticado tanto nos últimos dias. Não há necessidade de apertar meus olhos, franzir minha testa e imaginar arrastar a magia para fora de mim como um rato puxando um caminhão.
Então, se a minha magia e a stylus não são o problema, e a magia em si está correta — o que eu tenho certeza que está, dado que eu usei para deixar o oásis — resta apenas uma resposta: os caminhos das fadas não são acessíveis a partir desta torre.
— Droga, — eu sussurro. Eu enfio a stylus de volta no bolso e olho através das terras sem fim de um verão perfeito. Relvados verdes e brilhantes, flores de todas as cores, fontes de água encantadas rodeadas por arbustos recortados em formas ornamentais e várias áreas para entretenimento: uma pérgula aqui, um mirante ali, o ancoradouro da rainha à direita, além daquela pequena ponte. E um pouco além dos terrenos do palácio, as torres das casas senhoriais pertencentes a nobres Unseelie se erguem acima das árvores.
E quase todos os lugares, de acordo com Aurora, não são acessíveis através dos caminhos das fadas. Ninguém sai deste palácio e ninguém chega, exceto pela entrada principal. — Não é como se você precisasse ir a outro lugar agora, — ela me disse quando perguntei sobre os caminhos das fadas. — Apenas relaxe e aproveite sua nova vida no palácio.
Relaxar? Acho que não. Se quase nenhuma parte deste palácio e seus terrenos podem ser acessados pelos caminhos das fadas, isso significa que deve haver algumas áreas onde os portais podem ser abertos. E se eu quiser fugir quando aprender tudo o que preciso saber sobre o Princpie Roarke, então eu tenho que encontrar pelo menos uma dessas áreas. Se eu não conseguir, vou ter que ser criativa com minha Habilidade Griffin. E isso exigirá descobrir como realmente usá-la.
— Minha senhora?
Meu corpo fica tenso ao som da voz inesperada. Eu viro, meu coração se debatendo no meu peito. Mas é apenas Clarina, a criada que Aurora me ‘ofereceu’ na minha chegada. Ela está ao lado do alçapão de ouro cravejado de rubi. O alçapão está aberto, tenho certeza que estava trancado até agora, porque encontrei meu caminho para o outro lado dele ontem à tarde e não consegui abri-lo. Eu não teria me incomodado em abrir uma das janelas baixas e escalar a parede de outra forma. Eu pigarreio e aperto minhas mãos juntas. — Hum, sim?
— Sua Alteza, Princesa Aurora, me enviou para buscar você, — diz Clarina, com os olhos fixos no chão perto dos meus pés. Eu disse a ela para não se preocupar em desviar o olhar dela quando falar comigo, mas não faz diferença. Assim como quando eu disse a ela que não sou ‘senhora’ e ela não precisa se referir a mim como tal. — Mas de que outra forma eu vou mostrar respeito por você, minha senhora? — Ela perguntou. — Eu não posso simplesmente chamar você pelo seu nome. — Eu disse a ela que é claro que ela podia, mas isso também não ocorreu bem.
— Como ela sabia que eu estava aqui em cima? — Eu pergunto.
— Um de seus guardas viu você de uma janela.
Eu limpo minhas mãos no meu jeans. — Será, hum, que soou para você que Aurora — Senhorita — Sua Alteza — Que droga esses títulos estúpidos. — Parecia que ela estava com raiva de mim por estar aqui em cima?
— Não, minha senhora, — diz Clarina. — Ela estava preocupada, mas não zangada. Ela lembrou a seus guardas que você é bem-vinda para explorar sua nova casa, mas que eles também devem mantê-la viva.
— Certo. Legal. Isso foi o que eu pensei. Quero dizer, sobre a parte de explorar. — Aurora me deu uma breve turnê quando cheguei há três dias, então me disse que eu poderia ir onde quer que eu quisesse, exceto as suítes ou câmaras privativas das pessoas ou seja lá como ela chamou. Desde então, eu vaguei por todo o palácio sob o disfarce da curiosidade, fazendo o meu melhor para fingir que estou à vontade em uma casa tão vasta e opulenta quanto este palácio. Eu tento ignorar os guardas que me observam e os membros da corte que sorriem educadamente antes de sussurrar um para o outro. E tento não tremer quando a atmosfera muda, como de vez em quando, se transforma em algo frio e inquietante.
— Hum, bem, acho que é melhor irmos então, — eu digo, percebendo que Clarina está esperando por mim para falar. Ela assente e pisa na escada abaixo do alçapão. Eu a sigo, vacilando quando o alçapão fecha sozinho atrás de mim. Juntas, descemos a escada em espiral até o térreo do palácio e entramos em um vasto corredor alinhado por colunas. Seus pisos de mármore preto são polidos até um brilho vítreo e as pedras preciosas embutidas no teto refletem nos candeeiros acesos em pedestais entre cada coluna. O resto do palácio é muito parecido com isso: bordas pretas brilhantes, enfeites de ouro e pedras brilhantes. Quartos grandes o suficiente para se perder dentro, e móveis tão luxuosos que eu provavelmente vomitaria se soubesse o quanto eles custam.
É impossível imaginar estar em casa aqui.
Subimos mais escadas, cruzamos mais corredores e passamos por mais fae vestidos como se pertencessem ao cenário de uma novela de época. Todos eles me dão olhares curiosos quando passo. Ao contrário de Clarina e Noraya — a outra criada de Aurora — nenhuma dessas pessoas sabe quem eu sou. Eles não têm ideia de que eu concordei em me casar com o seu príncipe. Como eles poderiam suspeitar que ele e eu temos algo a ver um com o outro quando Roarke se foi desde o momento em que ele me deixou aqui aos cuidados de sua irmã? Aurora disse que ele voltaria esta manhã, mas eu não vi ele. Estou começando a me perguntar se ele está planejando me evitar até o dia do nosso casamento — quando quer que seja.
Finalmente, Clarina e eu chegamos à ala que abriga os aposentos da família real. Eu nunca fui longe o suficiente para ver os quartos pertencentes ao rei e à rainha, mas passei pela suíte de Roarke, e eu estive no quarto de Aurora durante todos os dias desde que cheguei aqui. Eu olho por cima do meu ombro para a porta que leva aos quartos de Roarke enquanto eu passo. A porta está fechada e não há guardas do lado de fora, o que eu acho que significa que Roarke não está lá dentro.
— Droga, — eu murmuro, baixinho o suficiente para que Clarina não me ouça. Uma carranca franze minha testa enquanto eu olho para frente novamente. E então aquele estranho sentimento de mal-estar, aquele inexplicável senso de engano, invade os meus sentidos. Como se dedos frios e podres estivessem prestes a se estender das sombras para apertar a parte de trás do meu pescoço. Um lampejo de uma sombra corre através da borda da minha visão, mas quando eu olho por cima do meu ombro novamente, se foi. Assim como a sensação de desconforto.
— Lady Emerson? — Clarina diz. Eu olho para frente e a vejo esperando com uma das mãos apoiada na porta de Aurora. — Está tudo bem?
— Hum, sim. Eu estou bem. — Talvez eu continue imaginando esse sentimento estranho. Talvez seja esse o sentimento de saudade de casa. Talvez, por mais improvável que pareça, eu esteja realmente sentindo falta da casa decadente em que vivi com Chelsea e Georgia. De jeito nenhum, eu penso comigo mesma, quase rindo alto do pensamento improvável. Eu posso sentir saudade da minha melhor amiga Val, e toda a diversão que tivemos juntas, e a sensação libertadora de não ser caçada por vários membros do reino fae, mas eu certamente não sinto falta daquela casinha horrível e da minha rancorosa tia e prima.
Clarina abre a porta para a suíte de Aurora e fica de lado para me deixar entrar. Ela faz uma rápida reverência quando passo, depois fecha a porta atrás de mim. Eu ouço seus pés baterem no chão de mármore polido do lado de fora. Do outro lado na sala de estar, decorada em tons suaves e tecidos florais, a Princesa Aurora, filha adotiva do Rei e da Rainha Unseelie, está sentada em uma pequena mesa redonda. Na frente dela há uma variedade de comida, um bule de chá e duas xícaras de chá. Ela se inclina para trás em sua cadeira e me examina. — Sério, Em? Subindo pela parte externa da torre leste? Você está tentando escandalizar a corte inteira? Se você queria tanto ver a vista do topo, você poderia ter pedido a alguém para destrancar o alçapão em vez de arriscar sua vida.
Eu atravesso a sala e paro ao lado da cadeira no lado oposto do lugar dela. — Bem, você sabe. Era cedo. Eu não queria incomodar ninguém. E além disso, quase não havia risco envolvido. Eu posso lidar com uma parede simples. Esses grandes tijolos de mármore têm espaços entre eles perfeitos para as mãos e os pés.
Aurora coloca o cabelo — preto e azulado roxo — atrás de uma orelha e estende a mão para a xícara de chá. — E se você tivesse escorregado? Além do enorme problema que eu teria com Roarke e meu pai se você caísse e se matasse, simplesmente não é apropriado sair por aí escalando paredes. — Ela me dá um olhar aguçado por cima de sua xícara de chá. — Sabe, dada a sua futura posição neste palácio.
Eu escolho ignorar sua referência ao fato de que eu devo ser uma princesa em breve e cruzo os braços sobre o peito. Eu começo a andar de um lado para o outro da janela. — Onde está Roarke? Você disse que ele estaria de volta agora, mas eu não vi ninguém de guarda do lado de fora do quarto dele, então eu suponho que ele não esteja lá.
— Ele e papai devem demorar, isso é tudo. Eles têm negócios importantes para lidar no momento. Você não pode esperar que eles voltem simplesmente porque você está desesperada para ver seu prometido. — Ela sorri. Eu mostro minha língua para ela. Ela joga um morango em mim, depois ri quando eu me esquivo e continuo andando. — Eles vão voltar em breve, tenho certeza. E por favor, pare de andar. Você está me deixando nervosa. — Ela acena para a cadeira em frente à dela. — Sente-se. Você já tomou café da manhã?
— Não. — Eu caio na cadeira com os braços ainda cruzados. — Eu estava muito ocupada correndo riscos e escalando paredes, lembra?
— Você deve escolher o café da manhã da próxima vez. — Com um toque elegante de sua mão, um prato de massas em forma de borboleta se levanta e se move em minha direção. Ela ficaria feliz se eu usasse magia para levantar um dos doces e movê-lo para o meu próprio prato, mas esse tipo de coisa parece ser coisa de preguiçoso para mim. E eu não acho que eu poderia fazer isso sem derrubar o prato inteiro.
— Você sabe por que eu quero ver o Roarke, — eu digo a ela depois de colocar uma massa no meu prato, com a minha própria mão perfeitamente funcional. — Ele e eu temos um acordo, e ele não fez nada para cumprir sua parte ainda. — Acordo. Uma palavra tão simples. Não carrega tanto peso quanto a palavra ‘casamento’.
— É claro que ele ainda não cumpriu sua parte. Espero que você saiba que ele não planeja dar a você qualquer informação sobre como tirar sua mãe do coma enfeitiçado ou consertar sua doença mental até depois da cerimônia de união.
— Sim, — eu digo em voz baixa, ainda olhando para o meu prato. — Eu sei disso. — O que eu também sei é que eu não pretendo que essa cerimônia aconteça. Todo mundo precisa pensar que isso vai acontecer, mas eu pretendo descobrir tudo o que preciso saber antes do casamento acontecer. Claro, eu não tenho ideia de como vou fazer isso ainda, mas ter a posse de uma poderosa Habilidade Griffin — falar coisas e as tornar reais — pode vir a calhar. Se eu puder usá-la no momento certo e da maneira certa, eu devo poder sair daqui viva com todas as informações que preciso. Pigarreio e acrescento, — Eu sei, mas ele precisa provar para mim. Ele precisa me dizer algo, então eu vou saber que ele não está apenas mentindo para me casar com ele.
— Meu querido irmão nunca faria algo assim, — diz Aurora, direcionando mais alguns itens de comida para o seu prato.
Eu não a conheço bem o suficiente ainda para saber se ela está brincando ou se ela realmente acredita nisso. De qualquer maneira, não estou disposta a confiar em Roarke. Eu preciso do meu próprio plano, e isso envolve ter o controle sobre a minha Habilidade Griffin. Eu quebro um pedaço de massa e olho para ele por um segundo ou dois antes de dizer, — Como as paredes da torre não são apropriadas para escalar, talvez meu tempo fosse melhor gasto praticando minha Habilidade Griffin. Com o elixir, quero dizer, não apenas esperar por momentos aleatórios em que a minha magia escolhe ligar.
Ela sacode a cabeça e acaba de engolir outro gole de chá. — Sinto muito, Em, mas me disseram para não dar a você até que Roarke e meu pai retornem. Aqui, coma um pouco de citrullamyn. — Vários segmentos de uma fruta que parece uma versão vermelho sangue de uma laranja voam em um arco de seu prato para o meu.
— Hum, obrigada. — Eu lentamente mastigo uma enquanto tento descobrir o que posso dizer para mudar a decisão de Aurora. Eu preciso desse elixir para estimular minha Habilidade Griffin. O primeiro frasco que eu tinha foi esmagado em pedaços durante o meu encontro com Ada — a faerie extremamente desagradável que quase destruiu toda Stanmeade com sua magia de vidro — mas um dos rebeldes Griffin fez mais elixir para que eu pudesse acordar mamãe de seu coma enfeitiçado. Não funcionou, mas pelo menos eu tinha um pouco do elixir. Eu trouxe comigo, planejando secretamente consumir pequenas quantidades na esperança de ganhar o controle sobre minha Habilidade Griffin sem que os Unseelies soubessem. Mas fui revistada antes de entrar no palácio. Um guarda descobriu o elixir e Aurora o confiscou. Roarke, que não parecia interessado em ficar mais do que alguns minutos com sua noiva, já tinha saído durante esse momento.
— Mas Aurora, — digo a ela com a minha voz mais razoável, — não tenho utilidade para sua família se eu não conseguir descobrir como controlar minha Habilidade Griffin. Essa é a única razão pela qual Roarke está se casando comigo, lembra? Então eu preciso desse elixir para me ajudar a aprender como usá-la.
— Sim, mas você não precisa aprender agora neste momento. Você pode praticar sob supervisão quando Roarke e papai voltarem.
Eu a olho diretamente nos olhos. — Eles não confiam em você para me supervisionar? Eles acham que você não pode lidar comigo?
Ela inclina a cabeça para trás e ri. — Oh, minha querida Em. Se você vai tentar me manipular, você terá que ser muito mais sutil sobre isso. Essa foi uma tentativa terrível.
Eu deslizo mais para baixo na minha cadeira com um suspiro derrotado. — Isso tudo é uma perda de tempo, — murmuro. — Mamãe ainda está presa em algum tipo de coma do mal induzido por magia, e eu não estou absolutamente nem perto de descobrir como ajudá-la.
— Você não está perdendo tempo. Você está aprendendo a usar a magia do dia-a-dia e a viver como uma de nós, — diz Aurora. — Falando nisso, por favor, sente-se ereta. Minha mãe teria palpitações no coração se visse você se curvando desse jeito.
Mãe de Aurora. A própria Rainha Unseelie. Jantei com ela e Aurora na minha primeira noite aqui, com criados esperando por nós a noite inteira, enchendo nossas taças com bebidas estranhamente coloridas e nossos pratos com comida ainda melhor do que a comida que Azzy preparava na Chevalier House. Achei difícil desfrutar de alguma coisa, apesar da ansiedade que comprimia meu estômago e fazia meus dedos tremerem. Não era como se a Rainha Amrath fosse cruel ou hostil. Ela era educada, na verdade, mas eu sabia que ela estava me observando o tempo todo. Medindo. Esperando que eu me provasse completamente indigna de casar com o filho dela. A cada momento estranho que passava, eu me lembrava da minha valiosa Habilidade Griffin. Isso vai mantê-la viva e segura, continuei dizendo a mim mesma. Eles querem o seu poder mais do que eles querem uma princesa bem-educada.
— Em? — Aurora diz. — Você está me ouvindo?
Eu pigarreio e me empurro para cima, então estou mais ereta. Eu forço meus ombros para trás. — Desculpa. O que você disse?
— Eu disse que precisamos conversar sobre o que você está vestindo e também que você deveria experimentar o chá de mel. É bem revigorante. Noraya, venha colocar chá para Emerson.
Noraya, que estava tão imóvel perto da porta do quarto que eu não a notei antes, se aproxima da mesa. Com um breve aceno de mão, o bule se eleva no ar. — Oh, não se preocupe, — eu digo rapidamente, me inclinando para frente. — Eu posso servir o chá.
— Deixe-a fazer isso, Em, — Aurora diz.
— Mas é só chá, — eu argumento enquanto o bule de chá se inclina sobre o meu copo e um liquido escuro fumegante fluí de seu bico. — Eu posso colocar sozinha. — Não com magia, uma vez que isso provavelmente resultaria em salpicos de chá por toda a mesa, mas minhas próprias mãos fariam o trabalho muito bem.
— Não importa se você pode fazer isso ou não, — Aurora me diz. — O que importa é que, quando você é um membro da família real, é adequado que os criados esperem por você.
— Eu ainda não sou membro da família real. — E espero nunca ser.
— Também é apropriado que você use roupas apropriadas para a corte, — acrescenta Aurora, enquanto Noraya se afasta da mesa, — e essas — ela olha minha calça jeans e camisa com desaprovação — não são apropriadas. Clarina e eu vamos ter outra conversa. Ela claramente não entendeu suas instruções.
— O quê? Não, não é culpa da Clarina. Ela me dá um vestido novo todas às manhãs, assim como você disse a ela, mas eu não quero usar nenhum deles. Eles são ridículos. Centenas de camadas de tecido com espartilhos e penas e joias e... coisas. Não sou eu. — O jeans, a camisa e o moletom que tenho usado nos últimos dias são as roupas que eu usava quando cheguei aqui. Eu as jogo sobre uma cadeira no meu quarto todas as noites, e todas as manhãs as encontro dobradas e limpas, na mesma cadeira.
Aurora arqueia uma sobrancelha. — Ridículo, — ela repete. Percebo que posso tê-la ofendido, dada a saia longa, o corpete apertado e as mangas em forma de sino do vestido que ela está usando. — Receio que não importa o que você ou qualquer outra pessoa pense, pois é assim que minha mãe e meu pai desejam que os membros de sua corte se vistam.
— Bem, seus pais têm um senso de moda seriamente ultrapassado. Todos parecem estar se vestindo ou se preparando para filmar um filme steampunk.
Sua expressão fica séria. — Eu não diria coisas assim se fosse você. — Ela abaixa a voz, se inclina mais perto e acrescenta, — Meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares, e ele não apreciaria comentários como esse.
Um calafrio rasteja pela minha pele. Parece que não imaginei a sensação de estar sendo observada. Eu envolvo meus braços em volta de mim, me sentindo nua, apesar do fato de estar vestida. — Até mesmo nos quartos?
— Bem. — Aurora se inclina para trás. — Talvez apenas ouvidos nos quartos.
— Isso é apenas... errado, — eu sussurro.
Ela ri e novamente não posso dizer se ela está brincando sobre tudo isso. — Só se você tem algo a esconder, — diz ela. Ela morde outra fruta não identificável e me observa enquanto mastiga e engole. — Agora me diga: como você está com a magia que eu te ensinei até agora? Você já pode mover as coisas? Tente levantar seu prato e o mova no ar.
— Hum... — Eu começo a girar uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo indicador. — Tem certeza de que é uma boa ideia? E se eu derrubar?
— Então Noraya reunirá os pedaços quebrados e os jogará fora. Nada demais.
Meu olhar desliza para o cabelo enrolado em volta do meu dedo. Estou quase acostumada com a cor azul brilhante misturada com o marrom escuro. Faz parte do que me caracteriza como faerie. Como alguém que pertence a este mundo. Lentamente, eu abaixo minha mão. — Sim, tudo bem. Vou tentar.
Tirar magia de dentro de mim é fácil agora, mas mandá-la para o prato, persuadindo-a ao redor e para baixo e dizer para levantar alguma coisa, é uma história diferente. Muito lentamente, com as mãos cerradas no meu colo e os olhos quase furando buracos no prato, começa a subir. Ele balança um pouco, e as massas e os pedaços de frutas cítricas vermelhas escorregam para um lado. Eu tento endireitá-lo, acabo exagerando e todo o prato vira. A comida cai sobre a mesa com vários golpes suaves e o prato fica suspenso de cabeça para baixo no ar. Ele estremece e balança antes que eu imagine minha magia o abaixando com cuidado. Ele cai os poucos centímetros finais, pousando perfeitamente em cima do meu café da manhã.
Aurora bate as mãos. — Bem, isso foi divertido. Dificilmente perfeito, mas é um bom começo.
— Acho que sim. — Eu viro o prato e começo a limpar a minha bagunça.
— Em, você mal podia fazer nada quando chegou aqui há alguns dias. Isso é uma conquista. Ah, e eu tenho mais alguns livros para você. — Ela gesticula por cima do ombro, e uma pilha de livros sobre a mesa baixa entre os sofás e se eleva no ar antes de descer novamente, os livros individuais batendo em voz alta um no outro enquanto pousam. — Você pode carregá-los com magia agora mesmo.
— Claro. — Eu tento não descobrir quanto tempo vai demorar para voltar para meu quarto, se eu tiver que transportar magicamente uma pilha de livros por todo o caminho até lá. Espero que eu possa convencer um dos guardas que me seguem à distância para me ajudar quando eu estiver longe de Aurora.
Quando volto a comer minha bagunça do café da manhã, a porta se abre e Clarina entra no quarto. Ela se move silenciosamente para ficar ao lado de Noraya e, após um momento de pausa, começa a sussurrar para ela.
— O que está acontecendo? — Aurora pergunta em voz alta, não se incomodando em olhar para elas.
Clarina fica em silêncio, os olhos arregalados atravessando a sala em direção a sua senhora. Do outro lado da sala, vejo sua garganta oscilar conforme ela engole.
— Clarina. — Aurora empurra seu prato para longe e se vira na cadeira para encarar as criadas. — Parte do seu trabalho é relatar segredos para mim, não para sussurrá-los na minha vizinhança. Agora me diga o que está acontecendo.
Clarina sacode a cabeça. — Sim, Sua Majestade. Peço desculpas. É só que... é tão horrível.
— O que é tão horrível? O que aconteceu?
— Um dos guardas... — Os olhos de Clarina se movem para Noraya, cujo queixo estremece enquanto ela olha para o chão. Clarina pigarreia e volta a olhar para Aurora. — Um dos guardas foi encontrado morto no jardim, — diz ela em voz trêmula. — Estava cinza e enrugado e morto.
Capítulo 02
EU CAMINHO PELA SALA DE ESTAR DA MINHA SUÍTE — MENOR QUE A DE AURORA, mas não menos luxuosa — esperando que alguém venha e me diga o que está acontecendo. Aurora me mandou de volta para cá na companhia de vários guardas logo após as palavras assustadoras de Clarina sobre alguém cinza, enrugado e morto no jardim, mas não recebi nenhuma novidade desde então. Eu ando na minha varanda e olho para baixo mais uma vez, mas eu ainda não consigo ver nada de interessante. Esta morte deve ter acontecido do outro lado do palácio.
Volto para dentro de novo, entre as poltronas e ao redor da mesa. Sento na escrivaninha e tento ler um dos livros que deveria estudar, mas não consigo me concentrar. Pensamentos sobre mamãe e todos os rebeldes Griffin de onde eu fugi continuam escorregando pelas rachaduras da minha concentração. Culpa por desaparecer sem explicação. Tristeza por ter que deixar Bandit para trás. Estou começando a sentir saudades de Dash, de todas as pessoas. E depois há a avalanche de perguntas: Quem sou eu? Quem é mamãe? Como chegamos a viver no reino humano com nossa magia bloqueada? Apenas para citar algumas...
Eu abandono o livro e acabo deitada no divã, observando os insetos brilhantes que estão fixos no teto e, lentamente, levantando e abaixando almofadas com magia. É preciso que eu foque toda a atenção para conseguir essa manobra simples, o que significa que não há espaço em minha mente para perguntas e pensamentos que me distraem.
Sem aviso, a porta principal da minha suíte é aberta. Minhas duas almofadas levitando pousam no meu peito e caem no chão. Sento apressadamente, virando para a porta e encontro Aurora entrando na sala. Alguém fecha a porta atrás de mim enquanto eu fico em pé e pergunto, — Está tudo bem? Você descobriu o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, mas falei com as pessoas que encontraram o guarda morto. — Ela caminha até a varanda. Eu a sigo para o sol quente do meio da manhã. — Eu o vi, Em. Foi... — Ela respira fundo e balança a cabeça. — Horrível. A cor de seu cabelo desapareceu completamente e seu rosto... — Ela se vira e descansa as mãos na balaustrada da varanda. — Sua pele estava flácida e enrugada. Foi horrível. Isso não acontece com a nossa espécie, Em. Isso não acontece. Não naturalmente de qualquer maneira. E isso significa que — Ela para, apertando os dedos na balaustrada.
— Significa o quê? Que esse guarda foi atacado com magia? — Eu mentalmente me chuto por essa façanha inexpressiva de dedução. Obviamente, esse guarda foi atacado com magia.
— Sim. Algo assim. — Aurora balança a cabeça e retorna o olhar para mim. — De qualquer forma, recebi uma mensagem do Roarke. Ele disse que não deveríamos falar disso para ninguém. Apenas algumas pessoas sabem como estava o guarda e não queremos que todos saibam e se assustem.
Eu não posso evitar erguer minhas sobrancelhas. — Você acha que o resto deste palácio já não sabe? Alguém deve ter contado a Clarina, e certamente Clarina e Noraya contaram aos outros agora.
— Elas não disseram a ninguém. Clarina e Noraya estão comigo desde sempre — bem, Noraya está aqui desde sempre e Clarina está comigo há pelo menos três anos — então elas sabem como manter a boca fechada. Clarina estava com uma das criadas da minha mãe quando viu o guarda morto, e ela veio direto para cá depois. Alguns outros guardas o viram, mas eles também disseram que vão ficar calados.
Eu me inclino contra a balaustrada e olho através do jardim. Ao longe, dois grandes pássaros voam pelo céu. Pelo menos, eu suponho que são pássaros. Suas asas parecem um pouco grandes demais para seus corpos, no entanto. — Alguém sabe quem fez isso? — Eu pergunto, olhando para longe das criaturas voadoras. — Quero dizer, se é impossível entrar sorrateiramente neste palácio, então deve ser um convidado ou alguém que mora aqui.
Aurora exala e coloca um sorriso falso em seu rosto. — Nós não devemos mais falar sobre isso, Em. Esqueça isso agora.
— Esquecer? Isso é improvável. Você não quer saber mais?
— Não. Roarke e meu pai cuidarão disto quando retornarem. Que deve ser antes do jantar, aparentemente.
— Oh. — Meu desconforto se transforma em algo mais positivo. — Isso é ótimo.
— Sim. Agora, que outra magia eu estava mostrando ontem? — Ela esfrega as mãos e caminha de volta para dentro. — Você praticava coisas em movimento, e também havia...
— Fogo, — eu a lembro. — Bem, minúsculas chamas. Assim eu não queimo acidentalmente o palácio.
— Sim, está certo. Você fez alguma melhora?
Eu estalo meus dedos e abro a mão, com a palma para cima, esperando que o feitiço se torne instintivo o suficiente para que uma chama apareça automaticamente acima da minha mão. Minha palma, no entanto, permanece vazia. — Hum... aparentemente não.
— Sim, bem, você nem está tentando. — Ela senta-se afetadamente na beira do divã. — Você precisa se concentrar. Você ainda não está no ponto em que isso acontece automaticamente. Agora tente novamente.
Eu resmungo sob a minha respiração antes de abaixar minhas mãos para os meus lados, fechar os olhos e me dizer para relaxar. Eu preciso ser capaz de liberar magia, então me concentro totalmente no momento em que ela está pronta para mudar de algo cru e sem forma para qualquer outra coisa. Nesse ponto, eu tenho que moldá-la mentalmente em uma chama antes que ela desapareça. E tudo isso, aparentemente, acontecerá quase instantaneamente, uma vez que eu já tenha feito isso o suficiente. Acabo de chegar a um estado mental relaxado quando uma batida no outro lado da porta interrompe minha concentração.
— Entre, — Aurora diz.
Noraya entra e corre para o lado de Aurora. Ela se inclina e sussurra algo antes de se endireitar.
Aurora se levanta com um suspiro. — Claro. Eu irei agora. Desculpe, Em, mas minha mãe gostaria de me ver. Você deve continuar praticando, no entanto. E comece a ler esses livros. Você tem muito a aprender se vai se encaixar aqui.
Eu a observo sair antes de cair em uma poltrona e me apoiar contra as almofadas bordadas em ouro. Então eu me forço a me sentar e me concentrar em produzir uma chama. Não tenho intenção de me encaixar aqui — não a longo prazo — mas preciso pelo menos fingir que estou planejando ver essa união. Além disso, provavelmente precisarei usar magia para sair daqui. Eu também posso aproveitar esta oportunidade para aprender o máximo que puder.
Depois de tentar repetidamente produzir uma chama e ter sucesso em cerca de cinquenta por cento do tempo, eu me sossego com o menor livro da pilha que Aurora me deu esta manhã. É uma coleção sobre magias básicas que parecem ter sido escritas para um aluno da primeira série. Perfeito. Por mais embaraçoso que seja, esse é exatamente o tipo de coisa de que preciso.
Uma vez que consigo encolher uma almofada para cerca de metade do seu tamanho, depois aumentá-la e depois voltar ao normal, pego um livro diferente e me sento em uma poltrona. Contém relatos de histórias ainda mais antigas do que as histórias que aprendi em Chevalier House. A divisão inicial das cortes e as primeiras famílias Seelie e Unseelie. Eu não vou muito longe quando ouço um leve som de arranhar. Abaixo o livro e olho em volta, tentando descobrir de onde vem o arranhão, mas o que quer que tenha sido, parou. Com uma careta, volto a ler.
Mas o arranhar começa novamente. Da direção da mesa, talvez? Eu me levanto devagar, imaginando o que exatamente eu vou fazer se abrir uma das gavetas e uma criatura mágica desagradável se jogar sobre mim. Por alguma razão, minha imaginação evoca uma imagem de uma mão sem corpo, o que não ajuda em nada o meu batimento cardíaco acelerado.
Três batidas afiadas na porta fazem o livro escorregar dos meus dedos. Eu fecho meus olhos por um momento e respiro trêmula, quase rindo de mim mesma por estar tão nervosa. — Entre, — eu digo enquanto me inclino para pegar o livro.
— Seu almoço, Lady Emerson, — diz Clarina da porta.
Eu me endireito, deixo o livro na poltrona e empurro meu cabelo para longe do meu rosto. — Certo. Obrigada. — Eu tenho almoçado com Aurora todos os dias desde que cheguei aqui, mas ela obviamente tem outros assuntos para tratar hoje. Clarina leva a bandeja de comida para a mesa perto das portas da varanda enquanto eu me aproximo da mesa do outro lado da sala. Sentindo-me boba agora por ter tido medo de um simples som de arranhar, mas ainda um pouco desconfiada do que poderia estar causando isso, eu abro a gaveta do lado esquerdo e rapidamente recuo. A stylus roubada rola para a parte de trás da gaveta — e nada pula sobre mim. Fecho a gaveta e abro a da direita. Está cheio de pergaminhos em branco que estavam no topo da primeira pilha de livros que Aurora reuniu para mim.
— Está tudo bem, Lady Emerson? — Clarina pergunta.
Minhas bochechas coram quando olho por cima do meu ombro para ela. — Sim, desculpe. Eu pensei ter ouvido alguma coisa, mas... — Eu viro e olho para dentro da gaveta. — Mas não há nada aqui.
— Há muitas pequenas criaturas vivendo nos jardins daqui, — Clarina me conta. — Algumas delas vêm de vez em quando. A maioria delas é inofensiva.
— A maioria? — Eu repito.
Ela sorri fracamente para o chão, mas não detalha. — Você precisa de mais alguma coisa, minha senhora?
Eu pego o livro de história no meu caminho para a mesa. — Acho que não. Isso parece incrível. — Ela balança a cabeça e caminha de volta para a porta.
— Clarina? — Eu pergunto enquanto sento em uma cadeira.
Ela para e olha em volta, seus olhos encontrando os meus por apenas um segundo antes de se concentrar no chão. — Sim, Lady Emerson?
— O que faz de você uma faerie Unseelie?
Ela hesita antes de responder. — O que você quer dizer?
— Você é mesmo uma faerie Unseelie? Todos que vivem e trabalham no palácio são considerados Unseelie?
Ela franze a testa para o chão. — Sim, eu acredito que sim, minha senhora.
— O que te faz diferente de alguém que não é Unseelie? Estou tentando lembrar o que me disseram quando cheguei a este mundo, mas não foi muito. Eu acho que alguém disse que a magia aqui é um pouco diferente? Algo sobre magia negra?
— Qualquer mágica com a qual eles não concordam, chamam magia negra.
— Eles?
— Aqueles que não são Unseelie. Alguma parte da nossa magia é a mesma que a deles, — explica ela. — Como o poder que reside naturalmente dentro de todos nós, ou o poder que absorvemos dos elementos ou das plantas. Mas eles não gostam quando tomamos o poder de outros seres vivos — seres inferiores — e eles não gostam de alguns dos procedimentos envolvidos em certas magias. Então é aí que entra a divisão. Eu acho, — acrescenta ela, cruzando as mãos recatadamente na frente dela.
Meus olhos passam sobre a comida espalhada na mesa. É muito mais do que eu poderia comer em uma refeição. Eu gostaria de poder pedir a Clarina para sentar e comer comigo enquanto eu faço mais perguntas, mas sei que ela nunca concordaria com isso. — O que conta como um ser inferior? — Eu pergunto.
Mais uma vez, ela parece confusa. — Bem, tudo que não é faerie, é claro.
Um calafrio levanta os cabelos dos meus braços, apesar da brisa morna que entra pelas portas abertas da varanda. — Você faz isso com frequência? Tome o poder de outros seres vivos?
— Não, minha senhora. Eu nunca precisei. Eu já fui curada antes por feitiços que eram especificamente Unseelie, mas eu pessoalmente não absorvi o poder cru de outro ser.
— Tudo bem. Eu entendo. — Eu não tenho certeza do que mais dizer, além de dizer a ela que tomar o poder de alguém soa francamente assustador e simplesmente errado.
— Você tem alguma outra pergunta, minha senhora?
— Hum... não agora.
Ela se vira e depois acrescenta, — Você não precisa se incomodar com tudo isso, minha senhora. Não é familiar para você, eu sei, mas não é errado. É apenas diferente. E, bem, sempre me disseram que não devemos ter medo de algo só porque é diferente.
— Hum, sim, isso é verdade. Obrigada, Clarina. — Dou-lhe um sorriso que desaparece no momento em que a porta se fecha atrás dela. Eu sei que não deveria ter medo de algo simplesmente porque é diferente, mas se é diferente e está machucando alguém, não está certo. Talvez eu tenha entendido mal, no entanto. Talvez essa coisa de ‘tomar o poder’ não seja tão sinistro quanto parece. Pode ser apenas um pouco de poder, não o suficiente para matar alguém. E talvez eles só aceitem seres que estão dispostos.
Eu me sirvo de comida, reabro o livro e continuo lendo. Depois de apenas alguns minutos, um baque surdo vem da direção do meu quarto. Eu abaixo o sanduíche que estava a meio caminho da minha boca e coloco um garfo entre as páginas do livro para marcar onde estava. Eu silenciosamente levanto uma faca e me levanto da cadeira para encarar a porta entreaberta do quarto.
E então eu passo muito tempo congelada no lugar, imaginando se devo investigar sozinha ou arriscar parecer idiota pedindo a um guarda para ir ao meu quarto e caçar a coisa misteriosa que não fez nenhum som desde aquele primeiro baque. Eu decido no final arriscar parecer idiota. Melhor do que ser mastigada por uma das criaturas não inofensivas de fora ou por qualquer coisa que tenha matado aquele guarda esta manhã.
Abro a porta principal, coloco a cabeça para fora e encontro duas mulheres em uniforme de guarda do lado de fora. Elas passam pelo menos vinte minutos procurando cada centímetro do meu quarto enquanto eu finjo ler. E quando elas saem, não tendo encontrado nenhum sinal de ameaça, estou quase certa de que vejo uma revirando os olhos para a outra.
Capítulo 03
— A SUA HABILIDADE GRIFFIN APARECEU NOVAMENTE? — AURORA PERGUNTA À noite, enquanto nos retiramos para os sofás em sua sala de estar privada. É tarde, o jantar acabou, e Roarke ainda não voltou. Perguntar quando ele voltará é inútil, por isso desisti, mas ainda me sinto queimando de frustração toda vez que imagino mamãe dormindo permanentemente. Minhas mãos querem se enrolar em punhos sempre que penso em todos os minutos, horas e dias que passam.
— Eu a senti dormindo na noite passada, — eu digo a ela, removendo uma almofada de minhas costas e abraçando-a ao meu peito. É melhor apertar a almofada do que cavar minhas unhas continuamente nas palmas das minhas mãos. — Ela me acordou. No momento em que percebi o que estava acontecendo, o momento passou. Eu não consegui falar uma única palavra antes que a magia fosse embora.
— O que você teria dito?
Eu sacudo minha cabeça enquanto observo as chamas dançantes na lareira. Como é verão aqui, eu não teria achado necessário acender uma fogueira à noite, mas a sala está agradavelmente aconchegante e acolhedora. — Eu não sei. Eu estava meio adormecida e tentando pensar em algo, mas a sensação se foi antes de eu ter qualquer comando.
Ela me observa por algum tempo, enquanto eu continuo a olhar para ela e para as chamas. — Você realmente acha que o elixir vai ajudá-la?
Eu me concentro nela, meu humor se elevando instantaneamente. Ela poderia estar pensando em dar o elixir de volta para mim? — Claro que ele ajuda. Ele liga a habilidade então assim eu consigo usá-la.
— Sim, eu sei, mas você disse que o propósito do elixir é de alguma forma ensinar você a usar e controlar a habilidade por conta própria. É para te ajudar a reconhecer como é a sua magia Griffin, certo? Para que você possa invocar essa magia à vontade sem a ajuda do elixir?
— Sim, algo assim.
— Mas você já sabe como ela é.
Eu olho para os meus braços em volta da almofada. — Sim, eu sei.
— Então por que...
— Por que não consigo fazer isso sozinha? — Eu suspiro, minha excitação se dissipando. Ela não vai me dar o elixir. — Eu não sei. Eu tentei. Eu imagino o sentimento. Eu imagino tirar magia de dentro de mim, mas nada acontece. Talvez se eu tivesse esse elixir, eu poderia —
— Não, — diz ela. — Eu não vou te dar algo que se tornará uma muleta, especialmente porque não há muito dele, e quando acabar, não sabemos como fazer mais. Sem mencionar que é uma má ideia dar a você algo que irá imediatamente ativar uma habilidade perigosa que você poderia usar contra mim.
— Aurora, eu nunca —
— Sim, sim. — Ela revira os olhos. — Você fará parte da minha família em breve, então gostaria de poder confiar em você, mas ainda não chegamos lá. Não, a razão pela qual estou trazendo isso à tona é porque tenho pensado sobre como sua habilidade pode funcionar. — Ela inclina a cabeça para o lado e olha pensativamente através da sala para as cortinas que escondem as portas da varanda. — Talvez, por ser uma habilidade tão poderosa, ela meio que precise... se reabastecer. Isso explicaria porque você não pode usá-la o tempo todo.
— Tudo bem. Talvez. Alguns tipos de magia funcionam dessa maneira?
— Bem, toda a magia funciona dessa maneira, na verdade. — Ela muda de posição, dobra uma perna sobre a outra e me encara. — É que raramente usamos tudo de uma vez só, por isso não percebemos que ela está constantemente sendo reabastecida. Se você faz algo que é particularmente árduo com sua magia, como levantar algo muito pesado e segurá-lo no ar por um longo tempo, você acabará cansando. Magicamente, quero dizer. Então você precisa descansar enquanto sua magia se restaura.
— Tipo reabastecer as energias se você faz algo que é fisicamente desgastante? — Eu pergunto.
— Sim. Então eu me pergunto se talvez a sua Habilidade Griffin funcione de forma semelhante, mas em erupções rápidas, em vez de lentamente ao longo de um longo período de tempo.
Eu concordo. — Parece que isso pode fazer sentido. Sempre sinto como se isso acontecesse em mim de repente, quando imediatamente estou para falar qualquer coisa na hora, e então some.
— Ou acaba liberada em seu entorno sem nenhum propósito se você não disser nada. — Ela bate no queixo e franze os lábios. — Hmm. Gostaria de saber se você poderia segurá-la e usá-la depois, em vez de liberá-la sempre que for reabastecido.
— Hum... eu poderia tentar isso? — Eu sugiro, não tendo ideia de como eu realmente ‘seguraria’ esse meu poder indescritível.
— De qualquer forma, tudo isso é especulação neste momento, — continua Aurora. — Precisamos coletar algumas evidências reais. Tome nota de exatamente quando acontecer. O dia e a hora. E mantenha o controle de outras coisas, como se você usou uma quantidade anormalmente grande de sua magia normal em outra coisa. Porque nós não sabemos se a sua magia normal tem algum efeito na sua magia Griffin, ou se as duas são independentes uma da outra.
Eu aceno com a cabeça enquanto ela fala. — Basicamente, queremos descobrir se podemos prever quando vai acontecer.
— Sim. Você vai ter que ser muito cuidadosa, Em. Registre todos os detalhes que possam influenciar sua Habilidade Griffin.
— Sim, definitivamente. — Eu franzo a testa enquanto minha mente relembra todas as vezes que eu dei um comando mágico, tentando forçar os eventos em um padrão que faça sentido. Eu acabo balançando a cabeça. — Talvez estejamos erradas. Houve uma vez em que usei duas vezes em alguns minutos. Então, a teoria de reabastecer não faria sentido.
— Bem, talvez você não tenha usado tudo com a primeira coisa que você disse. Talvez você tenha guardado um pouco, mas não percebeu o que estava fazendo. É por isso que você ficou com um segundo comando, mas depois disso tudo acabou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Sim. Talvez.
— Ou talvez sua magia ainda esteja se estabelecendo, — sugere Aurora. — É isso o que acontece com os halflings se a magia deles aparecer mais tarde na vida. Muitas vezes vem e vai por um tempo antes de se tornar consistentemente presente. Talvez, uma vez que tenha passado um pouco mais de tempo, sua Habilidade Griffin aparecerá em intervalos regulares.
Eu passo uma mão pelo meu cabelo. — Tantas possibilidades e incógnitas.
— É por isso que você precisa começar a documentar tudo. Essa é a única maneira de descobrirmos se minha teoria está correta ou não.
Eu me levanto e jogo a almofada no sofá. Eu ando até a lareira e levanto o castiçal de prata da cornija. Eu pratiquei acendendo uma vela repetidamente antes do jantar, e consegui produzir uma chama com quase todas as tentativas. Eu estalo meus dedos ao lado do pavio — e uma chama acende.
— Bom trabalho. — Aurora bate as mãos de prazer. — Tudo bem. Agora que você conseguiu, o que eu vou te ensinar agora?
Em vez de respondê-la, pergunto, — É isso que você faz todas as noites? Janta sozinha no seu quarto? Ou você tem jantares familiares quando todos estão em casa?
Se ela ficou confusa com a minha mudança de assunto, ela não demonstra. — Bem, é sempre diferente, — diz ela com um encolher de ombros. — Às vezes usamos uma das salas de jantar menores e jantamos apenas nós quatro. Às vezes, membros da família se juntam a nós. Às vezes, entretemos os convidados, ou minha mãe entretém seus amigos, ou eu entretenho algumas das moças da corte. Se estou cansada de todos, então como sozinha aqui. — Ela inclina a cabeça. — Por que você pergunta?
— Estou apenas tentando imaginar como é sua vida normal. Clarina me disse que você tem damas de companhia, mas as mandou embora de férias. E eu não vi você interagir com ninguém além de sua mãe e um punhado de criados e guardas, então —
— Então você está se perguntando se eu sou uma solitária miserável? — Ela pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Não. Eu estou querendo saber se você está tentando me esconder de todo mundo que mora aqui.
Vários segundos passam antes que ela responda. — Eu não chamaria isso de esconder, mas suponho que é essencialmente isso. As pessoas vão fazer perguntas sobre você, Em. Eles já estão fazendo perguntas sobre essa minha estranha amiga que não parece pertencer aqui. É mais fácil se não nos colocamos em uma posição em que precisamos responder a alguém até o momento certo.
— E o momento certo será...?
— Quando você e Roarke fizerem um anúncio oficial sobre seu noivado. Ninguém vai questionar sua presença aqui então. Eles não ousariam.
As palavras ‘anúncio oficial’ enviam um calafrio através de mim. Então, apesar do fato de eu estar ao lado do fogo, o frio parece se tornar real. Arrepios se espalham pela minha pele e o ar frio sussurra na parte de trás do meu pescoço. Eu olho por cima do meu ombro, mas apesar do sentimento distinto de que alguém está me observando, eu não vejo mais ninguém na sala.
Com um clique silencioso, a porta se abre. Meu olhar se lança em direção a ela. Ela se abre devagar, e Roarke entra na sala. Ângulos acentuados, cabelos escuros perfeitamente no lugar e olhos da cor do vinho tinto. Seu intenso olhar varre a sala antes de pousar em mim. Seus lábios se curvam em meio sorriso quando um rubor aquece minha pele.
— Oh, olhe isso. — Aurora aperta as mãos juntas sob o queixo. — Ela está emocionada ao ver você, Roarke.
— De fato. — Quando a porta se fecha atrás de Roarke, ele caminha lentamente em minha direção, mãos atrás das costas. — Se ela está emocionada pelas razões certas e não porque está desesperada para me interrogar desde o momento em que ela chegou aqui.
Eu engulo antes de falar. — Estou feliz que você não tenha esquecido por que estou aqui.
Ele para na minha frente, perto o suficiente para que eu tenha que olhar para cima para encontrar seus olhos. Eu sabia que ele era alto, é claro, mas eu tinha esquecido o jeito como a presença dele o faz parecer ainda mais alto. Eu não vou dar um passo para trás, no entanto. Recuso-me a ser intimidada pelo cara com quem eu devo estar casando em breve, independentemente do fato de que eu não tenha real intenção de concordar com essa união.
O sorriso de Roarke aumenta um pouco mais e, por trás das suas costas, ele produz uma rosa. Uma rosa dourada e delicadamente formada, com um rubi no centro de suas pétalas de ouro maciço. — Minha senhora, — ele murmura, curvando-se um pouco quando ele entrega a rosa para mim. Eu hesito, então pego dele. Ele se inclina mais para frente, seu rosto de repente muito perto do meu, e seus lábios brevemente roçam minha bochecha. Um arrepio frio desliza pela minha pele e pelo meu pescoço. — Minhas desculpas por demorar tanto para voltar. Meu pai e eu não costumamos lidar com as questões pessoalmente, mas essa foi uma dessas ocasiões. Achamos melhor ficar onde estávamos até que o trabalho estivesse terminado.
— Hum... tudo bem. Obrigada por essa explicação enigmática.
— Logo, meu amor, você fará parte da família. Você conhecerá todos os nossos segredos.
— Seu amor? Sério? — Coloco a rosa de ouro sobre a cornija da lareira e cruzo os braços sobre o peito. — Eu acho que é um pouco cedo para isso, Roarke.
Roarke olha para Aurora com uma risada silenciosa. — Você tem ensinado a ela como bancar a difícil?
Aurora se estica do outro lado do sofá, endireitando as camadas da saia sobre as pernas. — Não. Parece que ela sabe como fazer isso sozinha.
Eu quase faço um comentário sobre como isso tudo é um jogo para eles, mas considerando que eu espero enganá-los e sair daqui viva, eu provavelmente deveria jogar junto. — Que tal nos conhecermos um pouco melhor antes de começar a falar as palavras ‘meu amor’ por aí? Você nem me levou a um encontro ainda.
— Um encontro? Bem, espero que você tenha algo um pouco mais bonito para usar do que isso — ele gesticula para meu jeans e blusa de moletom — se você está planejando ir a um encontro com um príncipe. E falando em roupas, você não recebeu roupas mais apropriadas?
— Recebi, mas eu prefiro usar o tipo de roupa que eu fico confortável.
— Recusou, — Aurora diz do outro lado da sala. — Ela recusou a usar qualquer um dos vestidos.
Eu respiro fundo pelo nariz. — Esses vestidos parecem que são de outro século. Eu sei que este é um palácio cheio de membros da realeza, mas vocês não podem se atualizar com os tempos no departamento de roupas? O resto do mundo fae parece usar praticamente o mesmo tipo de roupa que as pessoas usam no meu mundo.
— Este é o seu mundo, Em, — Aurora me lembra. — E se você se desse ao trabalho de olhar mais de perto o seu guarda-roupa, acho que descobriria que as roupas penduradas ali são da última moda. Moda fae formal, que pode não ser familiar para você, mas ainda assim. Apenas os designs mais recentes.
— Você está certa, — eu digo a ela, afastando-me de Roarke para me inclinar contra uma poltrona. — Eu não estou familiarizada com a moda formal fae.
— Chega de roupa, — diz Roarke. Ele se vira para me encarar, colocando as mãos nos bolsos de seu longo casaco, que é coberto por bordados de prata primorosamente detalhados e é, sem dúvida, o mais recente da ‘moda fae formal’. — Diga-me, meu amor — Ele se interrompe. — Desculpas, — acrescenta com um leve abaixar de sua cabeça. — Por favor, diga-me, minha senhora, o que você acha da sua nova casa.
— Já que você viu o interior da minha casa anterior, eu suponho que você pode descobrir meus sentimentos em relação a esta.
— Você amou? — Pergunta ele. — Você está completamente impressionada? Você está infinitamente grata por poder passar o resto da sua vida aqui?
— Não exatamente. É linda, eu vou falar. Não é bem o que eu esperava, mas definitivamente linda.
— Ah, agora estou intrigado. — Ele levanta a rosa de ouro da cornija e a gira entre os dedos. — O que você estava esperando?
Eu levanto meus ombros em um lento encolher de ombros enquanto tento colocar minhas expectativas iniciais em palavras. — Eu não sei. Vocês Unseelies são destinados a serem os vilões, certo? Então eu estava esperando algo... mais frio. Mais escuro. Uma floresta morta ao redor do palácio, ou inverno perpétuo ou algo assim. Mas, você sabe, tudo está ensolarado, quente e vivo. — Lá fora, pelo menos, acrescento silenciosamente. Não digo nada sobre o sentimento frio e opressivo que às vezes pressiona meus ombros quando estou dentro do palácio. O frio que sinto no ar agora.
Roarke inclina a cabeça para o lado. — Você não olhou para fora à noite, não é.
Eu volto a me concentrar nas três noites que passei aqui até agora. Todas as noites, quando volto ao meu quarto, as cortinas estão fechadas, as lâmpadas encantadas acesas e a pequena piscina no banheiro decorado como uma floresta cheia de água fervente e bolhas perfumadas. — Não, eu acho que não.
Ele passa por mim, coloca a rosa dourada na mesa em que Aurora e eu normalmente comemos, e acena com a mão nas cortinas. Quando elas se abrem, ele se vira e estende a mão para mim. — Deixe-me mostrar-lhe algo.
Relutantemente, coloco minha mão na dele. Ele abre as portas da varanda e me leva para fora. Eu respiro no ar inesperadamente frio. Então, quando chego à grade da sacada e olho para baixo, meus lábios se abrem em espanto ao ver a deslumbrante paisagem de inverno cobrindo todo o terreno do palácio. — Uau, — eu sussurro.
— Minha mãe gosta de verão, — Roarke diz, — mas meu pai gosta de inverno. A magia dela controla o dia e a magia dele controla a noite.
Meus olhos percorrem a topiaria coberta de neve, as fontes congeladas e os pingentes de gelo pendurados nas pontas dos dedos da estátua mais próxima. — Deve ser muito confuso para todas as plantas e criaturas que residem nesses jardins.
— Felizmente para eles, eles também são mágicos. Eles podem lidar com isso.
Um arrepio me percorre, e Roarke tira o casaco. — Que cavalheiro, — eu digo secamente quando ele coloca sobre meus ombros. — Embora eu esperasse que houvesse um feitiço que evitasse que as pessoas ficassem com frio.
— Há sim. Mas meus níveis mágicos estão um pouco baixos no momento. — Parado mais perto de mim agora, ele estende a mão e enfia meu cabelo atrás da minha orelha direita. Eu endureço imediatamente, olhando para algum lugar na região do pescoço dele, em vez de nos olhos dele, mas conforme seus dedos tocam o pequeno pedaço de metal em forma de moeda presa à pele atrás da minha orelha, eu relaxo um pouco. Ele não está tentando ser íntimo; ele está checando se o dispositivo de ocultação ainda está lá.
— Preocupado que eu poderia ter tirado? — Eu pergunto, satisfeita em ouvir que minha voz está firme.
— Não particularmente. Você não sabe a magia necessária para removê-lo.
— Mas você está checando assim mesmo. Apenas no caso.
— Claro. Eu seria um tolo em não checar. Você pode ter encontrado alguém neste palácio disposto a removê-lo para você, ou sua Habilidade Griffin pode ter surgido por tempo suficiente para você instruir este dispositivo que se retire.
— E por que eu faria isso?
— Segundas intenções sobre nosso acordo. Culpa, talvez. — Ele se inclina para o lado contra a balaustrada, inteiramente à vontade no ar frio da noite. — Você já começou a se sentir culpada, Emerson?
Começou? A culpa vem me comendo desde antes mesmo de eu chegar aqui. Eu dei a localização escondida da minha mãe para uma faerie perigosa que depois a colocou em um coma mágico. Eu fugi das pessoas que me ajudaram e não pediram nada em troca. Eu abandonei minha melhor amiga sem nem dizer adeus. Nada disso, no entanto, é da conta de Roarke. Então eu pigarreio e pergunto, — Por que eu estaria me sentindo culpada? Eu concordei com esse arranjo para ajudar alguém. Eu não deveria ter que me sentir culpada por isso.
— É verdade, mas talvez você tenha ficado com medo desde que chegou aqui. Talvez você queira que seus amigos — os rebeldes Griffin? — saibam onde você está afinal.
Eu não confirmei a suspeita de Roarke de que foram os rebeldes Griffin que me resgataram no dia em que fugi tanto da Guilda quanto dos Unseelies e caí da beira de um penhasco. Ele perguntou onde eu estava me escondendo, mas mesmo se eu quisesse, eu não poderia contar a ele sobre aquele lugar seguro encantado. Quando estou na companhia de outras pessoas, não consigo nem pensar nisso, quanto mais falar o nome do lugar ou a localização dele. Em vez disso, um espaço em branco aparece em minha mente, presumivelmente parte do feitiço de proteção que ajuda a manter o lugar seguro. Minha lembrança dele sempre volta quando estou sozinha, mas ainda é desconcertante toda vez que desaparece completamente da minha mente.
Recusando-me a desviar o olhar de Roarke, eu digo, — Eu não estou com medo, e não mudei de ideia. A última coisa que quero é que meus amigos apareçam aqui. Por que eu arriscaria com eles arruinando nosso acordo antes que você tivesse a chance de seguir com sua parte?
Seu sorriso é lento e cuidadoso. — Bom. Fico feliz em ouvir isso.
— O que me lembra, — acrescento. — Você ainda precisa provar que realmente tem informações úteis que podem ajudar minha mãe. Você não pode esperar que eu me case com você sem alguma garantia de que você está dizendo a verdade.
— Você está dizendo que não está totalmente comprometida com a união?
— Eu estou, — eu digo ferozmente, esperando que a mentira não apareça no meu rosto, — mas apenas se você estiver totalmente comprometido em curar completamente a minha mãe. Eu quero poder confiar em você, Roarke. Por favor, me dê uma razão para isso.
— Hmm. — Roarke estreita os olhos como se considerasse o meu pedido. — Vamos ver. Você —
— Emerson Clarke?
Eu olho para as portas da varanda ao som de uma voz masculina desconhecida. Na porta há um guarda que não reconheço. — Sim? — Eu pergunto.
— O Rei Unseelie deseja encontrá-la.
Capítulo 04
A JORNADA ATRAVÉS DO PALÁCIO PARA ENCONTRAR O REI PARECE AO MESMO TEMPO torturantemente longa e assustadoramente rápida. Tenho tempo suficiente para me arrumar completamente, mas não tenho tempo suficiente para me acalmar e me preparar.
— Meu pai não é tão gentil como eu sou, — Roarke me diz enquanto caminhamos por corredores de mármore brilhantes com duas faeries uniformizadas à nossa frente e duas atrás. — Ele quer manter você, não importa o quê. Nora ou prisioneira.
Maravilhoso. Isso não me faz querer vomitar.
— Eu não vou deixar isso acontecer, é claro, — Roarke acrescenta, — mas seria melhor se você não fizesse nenhum comentário de brincadeira sobre mudar de ideia ou não estar certa sobre a união. As coisas podem ficar... desagradáveis.
— Eu já disse a você que não vou mudar de ideia. — Em meu esforço para mascarar meu medo, minhas palavras saem mais alto do que eu pretendia. — Eu estou aqui, não estou? — Eu continuo em voz baixa. — E eu vim até você. Isso não prova quão séria eu estou sobre essa união?
— Tudo o que estou dizendo é que ele não gosta de piadas ou sarcasmo, então é de seu interesse ser educada. E você provavelmente deveria tirar meu casaco. Você parece muito estranha nele.
Eu tiro o casaco de Roarke e o entrego de volta para ele. — Talvez seja de seu interesse ser educado também, considerando o quanto minha Habilidade Griffin é valiosa para ele. Se ele me fizer prisioneira, nunca lhe darei o que ele quer.
Eu tento muito acreditar em minhas próprias palavras, mas as sobrancelhas levantadas e a expressão de pena de Roarke tornam isso impossível. Quando paramos do lado de fora de uma porta enorme e ricamente entalhada, ele me encara. — Você não precisa dar nada a ele, Emerson. Ele vai pegar o que quiser.
Um guarda abre a porta. O frio artificial no ar se intensifica, e a porta em si parece se estender mais como uma boca gigante se preparando para me engolir inteira. Eu sinto o cheiro de terra úmida e folhas podres. Meu coração bate mais rápido quando imagens de criaturas viscosas, crânios e besouros passam pela minha mente.
Então eu afasto as imagens imaginadas e descubro que a porta não mudou, e a sala para qual ela se abre não é uma boca escura, mas um grande escritório. Roarke pega meu braço e me direciona para frente, já que meus pés se esqueceram de como se mover por conta própria. — Lembre-se, eu estou do seu lado, — ele sussurra para mim. — Prove para meu pai que você está disposta a trabalhar conosco e vou me certificar de que você nunca será forçada a fazer nada.
Eu não respondo, minha atenção focada no interior do escritório do rei. À direita, há uma mesa grande o suficiente para que pelo menos uma dúzia de pessoas se sentem. Estranhamente, porém, tudo o que está em cima da mesa aparece borrado quando tento olhar bem de perto. Meu olhar se move para a esquerda — e fico ainda mais surpresa com o que vejo lá: nenhuma parede envolve o escritório daquele lado. Em vez disso, ele se estende para uma caverna subterrânea feita de rocha áspera e iluminada por luz pálida.
— Deixe-nos.
A voz profunda traz minha atenção para a mesa à nossa frente. A superfície é polida como qualquer outra superfície de mármore que enche este palácio. Do outro lado, uma cadeira alta que parece ser feita da mesma rocha áspera da caverna que está atrás de nós. A cadeira permanece imóvel enquanto os guardas saem da sala e fecham a porta. Então, apesar do fato de que deve pesar uma tonelada, a cadeira gira suavemente para nos encarar.
O Rei Savyon não parece nada com seu filho. Seu cabelo branco-loiro tem mechas pretas. Seus olhos são buracos negros que me perfuram. Sem falar, ele coloca uma mão em cima da outra na mesa à sua frente. Anéis de ouro com pedras multicoloridas brilham em cada dedo.
— Pai, esta é Emerson Clarke, — diz Roarke. Eu engulo e me forço a ficar mais ereta. Tenho certeza que essa é uma daquelas situações em que eu não deveria demonstrar medo, mas acho que estou prestes a falhar miseravelmente.
O rei se levanta, caminha até a frente de sua mesa e cruza os braços sobre o peito. Seus olhos viajam por todo o meu corpo e para cima novamente, seu olhar como um dedo frio e rastejante acariciando ao longo da minha pele. Seu olhar inexpressivo permanece na minha blusa de moletom, em seguida, viaja lentamente até o meu rosto, onde ele segura meu olhar por vários segundos aterrorizantes. Apesar da minha determinação de não ser intimidada, eu quase morro de alívio no momento em que seus olhos me deixam e me movo para perto de Roarke. Eu envolvo meus braços firmemente ao redor do meu corpo e olho para o chão bem na frente dos meus pés.
— Bem, — diz o Rei Savyon, sua voz um estrondo profundo que quase posso sentir em meu próprio peito. — Ela está muito longe da mulher com quem eu esperava que você um dia se uniria, Roarke. Ela mal se encaixa para ser uma criada nesta corte, muito menos uma princesa.
— Sério, pai? — Roarke arrastou. — Essa é a melhor coisa que você tem a dizer?
— O que você espera quando me apresenta uma perspectiva tão sombria para uma nora?
— Eu posso garantir-lhe, pai, que sua Habilidade Griffin mais do que compensa o que ela não tem em outras áreas.
Aqueles olhos negros se fixam em mim mais uma vez. — Eu certamente espero que sim. Eu gostaria de ver uma demonstração agora.
Eu abro minha boca, meus olhos correndo entre os dois. Não tenho certeza se posso falar, mas eles precisam saber que não posso fazer nada sob ordens. — Não se preocupe, Emerson, — Roarke diz antes que eu possa dizer qualquer coisa. Ele alcança dentro de seu casaco e produz um pequeno frasco. — Eu tenho seu precioso elixir aqui. Yokshin, nosso mestre de invenções, vem examinando, mas ainda há muito para que você possa usar.
Droga. Não foi assim que planejei usar o elixir. Eu devo ficar sozinha com Roarke quando ele me der para que eu possa instruí-lo a me contar tudo o que ele sabe sobre minha mãe e como consertá-la. Isso não vai funcionar agora a menos que eu possa dar uma instrução ao rei ao mesmo tempo. Para permanecer congelado no lugar, talvez. Assim ele não consegue interferir. Conforme Roarke se vira para mim, pensamentos correm loucamente pela minha cabeça. Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso? Se eu não fizer agora, terei outra chance? E se eu mandar nele agora, como vou passar por todos os guardas quando sair? Ordená-los também? Haverá tempo suficiente para dar a Roarke, seu pai e todos os guardas do palácio uma ordem antes que minha Habilidade Griffin se esgote?
— A poção de compulsão primeiro, — diz o rei. — Então a poção Griffin.
— Claro, — Roarke diz, removendo outra pequena garrafa de dentro de seu casaco.
— O... quê? — Eu pergunto.
— Poção de compulsão, — Roarke repete, removendo a tampa. — É exatamente o que parece. Você pode ser obrigada a fazer certas coisas enquanto estiver sob a influência desta poção. É só para ter certeza de que você se comportará enquanto usa sua Habilidade Griffin. Nós não queremos que você faça algo bobo ou irracional. — Ele ri. — Como dizer a todos nós para nos matar ou algo assim.
Toda minha esperança murcha. — Então — então você vai me forçar a dizer alguma coisa?
— Isto é apenas uma precaução, Emerson. Meu pai ainda não sabe se pode confiar em você.
Ele entrega a garrafa para mim e, como sei que não tenho absolutamente nenhuma escolha, a levo aos lábios. — Quanto? — Eu pergunto antes de incliná-la.
— Apenas um gole.
A poção tem gosto de algo familiar, mas não consigo identificar. Eu entrego a garrafa de volta para Roarke, assim quando eu percebo que essa coisa de compulsão soa muito como a Habilidade Griffin que todo mundo neste mundo tem tentado colocar suas mãos. Minha Habilidade Griffin. — Espere, mas — se vocês tem uma coisa como uma poção de compulsão, então qual é a importância da minha Habilidade Griffin? Vocês já podem dizer às pessoas para fazerem as coisas e elas as farão. Vocês não precisam — Percebo o que estou dizendo tarde demais. Vocês não precisam de mim. Não é algo que eu deveria estar dizendo quando minha Habilidade Griffin é a única vantagem que eu tenho.
— Nós não podemos forçar as pessoas a tomar uma poção e depois obrigá-las a dizer ou fazer certas coisas, — explica Roarke. — Não é a mesma coisa que dizer o chão para se separar e depois ver isso acontecer um momento depois. — Ele coloca o elixir da Habilidade Griffin na minha mão e dá um passo para trás para ficar ao lado de seu pai. Agora que eles estão próximos um do outro, posso ver a leve semelhança entre eles, apesar de suas diferenças dramáticas na cor dos cabelos e dos olhos. — Emerson, — Roarke diz. — Você não acha que seria divertido se começasse a chover aqui?
Embora seja uma sugestão estranha, eu me encontro concordando com ele. Seria a coisa mais maravilhosa do mundo se começasse a chover aqui mesmo nesta sala. — Sim, — eu digo a ele.
— Então você deve tomar um gole desse elixir e fazer chover.
Ele tem razão. Isso é exatamente o que devo fazer. Então eu retiro a tampa do frasco e despejo algumas gotas na minha língua. Então eu espero pelo formigamento familiar, a sensação de que a magia Griffin escondida em algum lugar dentro de mim está subindo de repente para a superfície. Eu olho para o teto e digo, — Comece a chover.
E começa.
Eu fico encharcada em segundos, ofegando e tensionando meus ombros contra a água gelada. Roarke e o rei permanecem completamente secos, como se guarda-chuvas invisíveis os protegessem do aguaceiro. — Diga para parar, — Roarke fala acima do rugido de gotas da chuva.
Eu não posso sentir se há algum poder Griffin na superfície da minha magia, e é impossível ouvir minha voz acima do barulho. Mas quando eu digo para a chuva parar, eu sinto as palavras ressoando na minha cabeça do jeito que elas fazem quando a minha Habilidade Griffin ganha vida, e eu sei que funcionou.
— Muito bem, — o rei diz enquanto eu fico ali tremendo. Ele olha para Roarke. — Yokshin é capaz de recriar o elixir? Se não, e a Habilidade Griffin for aleatória, a garota não será tão útil para nós como eu esperava.
— Ele não tem certeza sobre recriar, mas na última mensagem de Aurora para mim antes de retornarmos, ela disse que está trabalhando em algumas teorias sobre como a habilidade pode funcionar. Ela acha que pode se tornar mais previsível.
O rei acena com a cabeça. — Bem, então. Tem certeza de que quer ter essa união? Seria mais simples lidar com a garota como prisioneira.
— Sim, eu tenho certeza. Eu não quero que ela seja uma prisioneira. — Roarke olha para mim como se estivesse considerando uma compra que ele está prestes a fazer. — Eu realmente gosto dela. E mamãe e Aurora podem treiná-la nos caminhos da corte. Depois de algum tempo, parecerá que ela sempre pertenceu aqui. Ela se tornará uma de nós. Ela ficará feliz em nos ajudar sempre que precisarmos de sua Habilidade Griffin. Nós nem precisamos forçá-la. Certo, Emerson?
— Sim, — eu respondo.
Um uivo distante ecoa pela caverna.
— Bom, — o rei diz novamente, sem prestar atenção ao uivo. — Até lá, Roarke, você dará a ela uma poção de compulsão todos os dias e lhe dirá exatamente o que dizer se e quando sua Habilidade Griffin aparecer. — Toda a esperança que eu tive de usar minha Habilidade Griffin em Roarke desliza para longe como cinzas através dos meus dedos. — E você, Senhorita Clarke. — O rei dá um passo em minha direção, o que é cerca de mil vezes mais perto do que eu gostaria que ele estivesse. — Descubra se a teoria de Aurora — seja ela qual for — está correta. Faça tudo que puder para aprender como funciona sua Habilidade Griffin. Você será muito mais útil para nós dessa maneira, e pessoas úteis são menos propensas a morrer.
— Pai, — Roarke diz com um revirar de seus olhos. — Isso não é útil. Ela não entende seu senso de humor ainda.
A expressão do rei não muda nem um pouco. Ou ele é muito bom em manter uma cara séria, ou isso não era uma piada.
Outro uivo trespassa o silêncio, desta vez mais alto. O rei não olha para a caverna, então nem eu. Qualquer criatura ou pessoa que está fazendo esse som, eu não quero saber.
— Vamos anunciar a união na festa de aniversário da sua mãe em duas semanas, — o rei diz a Roarke. — Você tem até então para decidir quando a cerimônia de união ocorrerá.
Um terceiro uivo se transforma em soluços, gritos e sons de luta. Finalmente, o rei olha em direção à caverna, e embora eu não queira, eu sigo seu olhar. Dois guardas Unseelie estão arrastando um homem pelo chão desigual da caverna. Enquanto o homem luta, um dos guardas dispara uma faísca de magia em seu lado, e o homem se afasta e uiva em agonia.
Eu olho para Roarke, implorando com meus olhos para nós partirmos agora. Mas ele está observando o homem lutando com uma expressão ilegível.
— Ah, você o encontrou, — diz o rei. — Este é o último, eu presumo?
— Sim, Sua Graça.
— Muito bom. — Enquanto os dois guardas se afastam do homem, o Rei Savyon levanta a mão. O homem, que pareceu por um momento como se estivesse prestes a correr, engole e fecha os olhos. O rei aperta a mão com força ao redor do ar e vira o punho abruptamente para o lado. Do outro lado da sala, na beira da caverna, a cabeça do homem faz o mesmo, dobrando-se quase paralela ao ombro. É demais, minha mente grita. É demais, É DEMAIS!
Então um som nauseante. O choro do homem é cortado. O rei levanta a mão para cima. A cabeça do homem é arrancada inteiramente de seu corpo e ambas as partes caem no chão, espalhando sangue por toda parte.
Um suspiro estrangulado me escapa. Minha mão voa para cobrir minha boca. Eu fecho meus olhos, mas de jeito nenhum eu poderei não ver isso.
Como se de longe eu ouvisse a voz do rei. — Isso é tudo, Roarke. Leve a garota de volta para seus aposentos.
Uma mão agarra o meu braço. Eu pisco e forço meus olhos para longe do corpo morto quando Roarke me puxa para a porta. Ele abre e me deixa andar na frente dele. — E Roarke, — o rei acrescenta. — Encontre alguém que queime essas roupas hediondas que ela está usando. Eu não entendo porque isso ainda não foi feito.
— Ela se recusou a se separar delas, aparentemente.
Eu me atrevo a olhar para o rei. Ele não suspira. Ele não sorri. Ele mal se move quando diz, — As roupas serão queimadas. Cabe a Senhorita Clarke se ela ainda estará nelas quando isso acontecer.
A porta se move lentamente em nossa direção. No momento em que ela se fecha, começo a correr.
Capítulo 05
EU CORRO TODO O CAMINHO DE VOLTA PARA O MEU QUARTO, ABRO A PORTA, E A fecho. Eu dou alguns passos instáveis dentro para dentro do quarto, mal vendo ao meu redor. Tudo que vejo é o pescoço de um homem virado para o lado e o sangue esguichando de...
Eu me viro, piscando, como se eu pudesse de alguma forma desviar o olhar da memória. Ainda respirando pesadamente por causa da corrida, eu empurro meus dedos pelo meu cabelo. O que diabos eu estava pensando vindo a este lugar? Que eu realmente conseguiria fugir com as respostas que preciso, porque tenho uma poderosa Habilidade Griffin que posso usar contra as pessoas? Uma habilidade Griffin que não posso usar quando quero e que pode ser usada para atender aos propósitos de outra pessoa devido a uma poção que eu não sabia que existia. Que piada miserável. Eu deveria ter adivinhado, no entanto, que algo assim aconteceria. Há tanta coisa que eu não sei sobre esse mundo e sua magia, mas o que eu deveria saber era que era uma ideia idiota me colocar no meio de um bando de faeries poderosos que exercem magia negra.
De algum lugar atrás de mim, um baque suave chega aos meus ouvidos. Eu congelo. Eu sei que deveria correr. Eu deveria abrir a porta e continuar correndo até que este palácio esteja muito atrás de mim. Mas o medo gruda meus pés no chão. Muito lentamente, eu me viro e olho por cima do meu ombro. Do outro lado do quarto na mesa redonda, ao lado da bandeja de chá e macarons que Clarina deve ter deixado aqui há não muito tempo atrás, está uma pequena coruja. Enquanto observo, a coruja parece desabar sobre si mesma. Um instante depois, um gatinho preto aparece em seu lugar.
— Bandit? — Eu sussurro em descrença. Eu me viro totalmente para encarar a criatura que muda de forma. Ele treme sua orelha direita em resposta. Sem parar para pensar, eu corro através do quarto e o coloco em meus braços, lágrimas queimando em meus olhos. — Eu não sei como você chegou aqui ou onde você esteve se escondendo ou se é você que está fazendo barulhos estranhos na minha suíte, — eu sussurro, — mas eu estou muito, muito, muito feliz de ver você. — Eu pensei que o deixei dormindo no meu quarto quando escapei do oásis, mas ele deve ter mudado para algo menor e entrou em um dos meus bolsos. Não seria a primeira vez. — Por favor, não me deixe, — murmuro em seu pêlo, minhas palavras saindo apressadas. — Por favor, não me deixe aqui sozinha. Sinto muito pelas coisas que eu disse quando você apareceu pela primeira vez. Que eu não gosto de animais de estimação e que talvez eu pudesse vender você. Eu juro que não quis dizer nada disso. Eu tive um cachorrinho uma vez, mas ele fugiu e nunca mais voltou, e mamãe e eu procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo e chorei por dias. — Eu respiro fundo e abro meus braços o suficiente para olhar para baixo para ele sentado entre eles. Ele olha para cima com olhos de gatinho perfeitamente adoráveis. — Eu sei que você é mágico, mas provavelmente não entende uma palavra do que estou dizendo, não é? — Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para todos os lados como se estivesse tentando descobrir o que estou dizendo. — Sim, — eu sussurro, puxando-o para o meu peito novamente. — Então, só não desapareça, tudo bem? Este lugar não é seguro. Para nenhum de nós dois. Se você tivesse visto o que eu acabei de —
— Emerson? — A voz do Roarke do outro lado da porta me faz tremer. Eu não tenho ideia de como ele vai se sentir sobre a ideia de um animal de estimação metamorfo aparecendo aqui, então eu corro para o quarto e coloco Bandit na cama. — Fique aqui, — eu sussurro para ele antes de fechar a porta. Com os membros ainda tremendo, eu atravesso a sala de estar e abro a porta principal apenas o suficiente para espiar através da abertura para Roarke.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Outro breve lampejo de sangue e carne sendo rasgada cruza minha mente. Eu engulo, achatando uma mão no batente da porta e a outra na parte de trás da porta. Se recomponha, eu silenciosamente instruo. Você escolheu vir aqui. Você escolheu essa opção para ajudar sua mãe. Agora faça o trabalho. — Sim, obrigada. Eu vou ficar bem. Foi apenas um pouco de choque, só isso. Ver... isso. — Duvido que seja necessário elaborar exatamente o que estou me referindo.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Hum... tudo bem.
Nós nos sentamos lado a lado no divã com uma quantidade respeitável de espaço entre nós. Arrisco-me a olhar para a porta fechada que nos separa do quarto. Espero que Bandit seja inteligente o suficiente para saber que ele precisa permanecer escondido. — Eu sinto muito que você teve que ver isso, — diz Roarke. — Eu sei que deve ter parecido brutal e cruel, mas isso não aconteceu sem nenhum motivo. Aquele homem desobedeceu ao rei e a consequência foi à morte.
Eu respiro devagar. Já que Roarke parece estar esperando por uma resposta, eu digo, — Tudo bem.
— Eu só queria explicar porque eu não quero que você tenha medo de viver aqui. Esse homem era um criminoso. Ele e vários outros roubaram do meu pai. Ele mereceu a morte. Mas para aqueles de nós que seguem as regras, a vida aqui é boa.
Para aqueles de nós que seguem as regras. As garantias de Roarke só aumentam meu medo. Não estou planejando seguir as regras. Estou planejando roubar conhecimento e depois fugir para salvar a minha vida. — Eu sei, — eu digo baixinho. — Compreendo. Como eu disse, foi apenas um choque. Eu só estou aqui há alguns dias e tudo é muito... diferente. Eu ainda estou me acostumando com isso. — Eu engulo. — Eu acho que poderia ajudar a me deixar à vontade se eu soubesse com certeza que posso confiar em você. Se você pudesse me contar algumas coisas — sobre minha mãe, então eu sei que você pode realmente me ajudar.
Ele se inclina para trás sobre uma mão e me observa enquanto sua expressão séria se transforma em diversão. — Na verdade, você não é tão mal nisso quanto Aurora pensou. Ainda bastante transparente, mas estou impressionado que você esteja tentando.
Eu estreito meus olhos para ele. — Tentando o quê?
— Reverter esta situação ao seu favor. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Estou curioso. Essa cena com meu pai realmente a incomodou, ou toda a sua reação é um artifício para que você possa tentar manipular alguma informação de mim?
Minha boca cai aberta por conta própria. Fecho-a rapidamente e cerro os dentes enquanto respondo. — Claro que fiquei chateada com isso. Foi horrível. — Eu me inclino para longe dele. — Você ficou motivado por alguma preocupação genuína quando decidiu vir ao meu quarto, ou isso faz parte do jogo que você está jogando?
Ele sorri de novo, mas desta vez é mais suave. — Eu sinto muito. Parece que nós dois ainda estamos nos descobrindo. E sim, minha preocupação por você era genuína. Eu não sou tão cruel que não signifique nada para mim ver você chateada. Podemos estar prestes a formar uma das uniões menos românticas da história, mas isso não significa que eu não vou, pelo menos, tentar cuidar de você.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, me apertando mais forte que o normal. — Bem, no caso improvável de você estar dizendo a verdade, obrigada por tentar.
Ele me examina por mais alguns instantes. — O que posso dizer para convencê-lo de que estou sendo sincero?
— Você poderia começar com...
— Devo lhe falar sobre a pequena casa em que você cresceu? Número vinte e nove Phipton Way. Devo lhe falar sobre as rosas silvestres que sua mãe adorava cultivar no jardim? Ou sobre a amiga que costumava visitá-la às vezes? Aquela que sempre acabava discutindo com sua mãe. Aquela que você nunca conheceu, porque sempre lhe disseram para ir ao seu quarto. Ou que tal o momento em que sua mãe apareceu para buscá-la na escola uma hora mais cedo e ficou do lado de fora da cerca falando com coisas que não estavam lá? Contar a você sobre essas coisas é suficiente para provar a você que eu sei mais sobre sua mãe do que qualquer um que tenha tentado ajudá-la até agora?
Um arrepio percorre minha espinha. — Como você sabe dessas coisas?
Suas sobrancelhas se apertam levemente. — Você ainda não entende, não é? Você não entende como você é valiosa. Quando eu ouvi sobre a sua Habilidade Griffin, minha prioridade foi aprender tudo o que pudesse sobre você. Procurei sua tia, depois sua mãe e depois a única pessoa que ligava Daniela e Emerson Clarke a este mundo.
— Que pessoa?
— A pessoa que sabe quem você é. A pessoa que fez sua mãe do jeito que ela é.
Meu coração troveja perigosamente rápido. — Conte.
Ele simplesmente balança a cabeça. — Tudo será revelado depois da nossa união.
Eu sacudo minha cabeça, moendo as palavras entre os meus dentes. — E você quer que eu acredite que você não é cruel.
— Eu não sou, — ele diz baixinho. — É só que você não é a única pessoa que quer alguma coisa. Eu também quero algo, e não confio que você me dê a menos que eu retenha informações de você.
— Eu vou fazer esta união.
— Mesmo? Isso é honestamente o que você está planejando fazer?
Droga. Existe algum tipo de magia acontecendo aqui que diz a ele que estou mentindo? Aquela poção de compulsão ainda está funcionando? Mas ele não me obrigou especificamente a dizer a verdade. — Sim, — eu digo a ele, querendo acreditar que é a verdade. — É o que estou planejando fazer.
— E ainda assim você não pediu detalhes sobre como eu vou cumprir o meu lado do acordo uma vez que a união tenha acontecido. Como exatamente sua mãe será acordada e curada? Eu vou te ensinar os feitiços e deixar você ir até ela? Vou insistir em fazer isso sozinho? O que vai acontecer com sua mãe quando ela estiver bem?
Droga. Ele me pegou. — Eu tenho muitas perguntas para você, Roarke, mas você não está exatamente por perto para que eu faça. Você só voltou algumas horas e não tivemos muito tempo para conversar antes que seu pai quisesse me ver.
— Verdade. Bem, então, você quer perguntar como as coisas vão funcionar depois da união?
Eu inclino meu queixo para cima. — Como as coisas vão funcionar depois da união?
Ele suspira. — Por que você é tão resistente? Entendo que não é o ideal se casar com alguém que você acabou de conhecer, mas não é como se você estivesse tendo uma vida desapontadora em comparação com esse acordo. Eu estou te oferecendo tudo. Uma bela casa, uma família poderosa, riqueza além de qualquer imaginação. E não me diga que você não quer nada disso porque todo mundo quer isso. E não há nada de errado em querer isso. Você será uma das poucas sortudas que vai conseguir ter tudo.
— Você está certo, — eu digo baixinho, desdobrando meus braços e colocando minhas mãos no meu colo. — Eu sou muito sortuda.
— Então, quando estivermos casados, eu irei até sua mãe e —
— Não, — eu interrompo. — Você — eu vou. Eu vou buscá-la e trazê-la de volta para cá. — Eu paro. — Você não iria me impedir de fazer isso, não é? De ir buscá-la? Quero dizer, obviamente eu voltaria.
— Obviamente, — ele repete. — Mas isso não significa que meu pai ficaria feliz com você saindo. Se você não quer que eu busque sua mãe, e você não tem permissão para buscá-la também, entre em contato com quem quer que seja que a mantenha segura e marque uma reunião. Em um local neutro, que seus ‘amigos’ não precisem se preocupar serem descobertos. Vou mandar algumas pessoas buscarem sua mãe. Meus homens mais confiáveis.
Eu considero sua sugestão. — Bom. Se esse é o único jeito.
— Quando ela estiver aqui, eu vou acordá-la. Eu vou curar sua mente. Então ela vai poder dizer a verdade sobre tudo. Você pode finalmente ter todas as suas perguntas respondidas. Ela pode ficar aqui também, e você pode finalmente parar de se preocupar com ela. Parar de lutar, pare de se debater. A vida será boa para você, Emerson.
— Soa perfeito.
— Soa? Eu sei que você gosta de sarcasmo, então me perdoe por duvidar de você.
Eu reviro meus olhos. — Obviamente não é perfeito, mas é o mais próximo da perfeição que a vida poderia ser, então se casar com você é o único jeito de chegar lá, então eu farei isso.
— Mesmo?
— Sim.
Ele se inclina para frente e segura uma das minhas mãos. Ele olha atentamente para os meus olhos, e embora eu não me sinta diferente, não posso deixar de me perguntar se ele está tentando usar algum tipo de feitiço de discernimento mágico do qual não sei nada. — Você está mentindo para mim, Emerson?
Eu sacudo minha cabeça, desejando não desviar o olhar dele. — Não estou mentindo. Minha mãe é a pessoa mais importante do mundo para mim. Eu faria qualquer coisa para deixá-la melhor. — E percebo quando termino de falar que estou dizendo a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela — e isso inclui se casar com um príncipe que mal conheço. Então, se não houver saída para isso, se for impossível conseguir as informações que eu preciso de Roarke antes do casamento, então eu farei isso. Vou casar com ele. E mamãe finalmente será a mãe feliz e saudável que eu me lembro.
E então...
Um dia, não importa quanto tempo demore, não importa quanto tempo eu leve para descobrir exatamente como fazer isso, eu vou tirar nós duas daqui.
Capítulo 06
— SIM, MUITO BEM, — AURORA FALA PARA MIM ATRAVÉS DO TERRAÇO CONFORME eu balanço o braço do meu parceiro de dança, dou voltas, passo por trás dele, e volto à nossa posição inicial. Depois de aplaudir brevemente, Aurora acrescenta, — Você só estragou tudo uma vez desta vez.
— O quê? — Eu me afasto do jovem que tem sido meu parceiro. Primo de Aurora ou primo de segundo grau ou algo nesse sentido. Meu futuro marido é aparentemente muito importante ou ocupado demais para esse tipo de coisa. — Eu pensei que eu fiz tudo certo.
— Não, a parte no começo logo depois de você tocar as palmas das mãos? Você virou para o caminho errado.
Eu reviro meus olhos. — Você realmente acha que alguém vai notar?
— Sim. Em um salão de baile cheio de casais dançando, quando todo mundo se vira para um lado e você vira para o outro, isso certamente será perceptível.
— Tudo bem. Eu presumo que você vai me dizer para fazer de novo? — Eu tenho praticado por horas, mas sei que Aurora não vai ficar feliz até que eu esteja completamente certa.
— Sim, — diz ela com um aceno de cabeça.
Então eu encaro meu parceiro e tento não suspirar muito alto quando começamos de novo. Pelo menos minha roupa é bastante fácil de se mover. Depois do meu aterrorizante encontro com o rei, deixei de lado a minha teimosia e dei uma olhada no meu guarda-roupa — e descobri que não detestava as roupas tanto quanto esperava. Nem todas eram vestidos fofos, fiquei feliz em ver. São mais como combinações de calças e vestidos justos, alguns com longas mangas enfeitadas e pescoços altos, outros sem mangas e luvas cobrindo todo o braço. Com o passar dos dias, passei a apreciar os ricos detalhes e estilos exóticos usados pelos membros da Corte Unseelie. E quanto mais eu penso sobre isso, mais sentido faz em um mundo cheio de magia e encantamento, que a roupa seria tudo menos comum.
Ou talvez eu esteja simplesmente me acostumando a estar aqui, o que é um pensamento aterrorizante.
Nós dançamos a dança mais três vezes antes de Aurora finalmente nos deixar parar. Seu primo, que parecia que poderia se esfaquear se forçado a me girar mais uma vez, corre antes que Aurora consiga ordenar outra tarefa chata para ele. — Noraya, vamos tomar refrescos agora, — diz ela, acenando passando por mim para onde sua criada está esperando na porta da biblioteca.
Eu me junto a Aurora do outro lado do terraço e sento no banco balançando ao lado dela. É apenas uma única videira, e tenho um pouco de receio de colocar todo o meu peso no hemisfério oco. Mas Aurora continua me dizendo para não duvidar da magia, e seu banco está perfeitamente bem até agora. Depois de alguns momentos, relaxo contra as almofadas e levanto os pés para que eu possa balançar gentilmente para frente e para trás. Eu olho para o jardim, mas não há muita coisa acontecendo. O terraço da biblioteca fica em um lado mais silencioso do palácio.
— Então, agora que posso dançar sem errar, — digo a Aurora, balançando meu banco para encará-la, — podemos fazer algo mais emocionante esta tarde? Como arco e flecha? Eu estava começando há ficar um pouco menos que terrível em nossa última lição. Ou eu poderia te mostrar mais movimentos de parkour. Você poderia experimentar alguns deles desta vez, em vez de apenas me observar.
Ela ri e balança a cabeça para minha aparente tolice. — Você não acha que acabou as aulas de dança, não é? Você aprendeu uma dança, Em. Agora você precisa aprender o resto delas. E só temos três dias até o baile de aniversário de mamãe.
Meus pés caem no chão. — Sério? Eu tenho que aprender todas as danças?
— Sim. Vai ser bastante ruim quando as pessoas descobrirem que a futura princesa é alguém que passou toda a sua vida no reino humano e não sabia nada deste mundo até algumas semanas atrás. Se eles não virem você usando magia ou dançando todo tipo de dança, será ainda pior.
— Espere, você quer que eu use magia no baile? Na frente das pessoas?
— Claro. — Ela move a mão em um círculo, e seu banco começa a girar lentamente. — Deve estar tudo bem, não é? Você pode lidar com o básico agora.
— Sim, eu só não sabia que isso era esperado, só isso. Eu tentarei não esquecer.
— Essa é a coisa, Emerson. — Sua voz me alcança do outro lado do seu banco. — Você precisa chegar ao ponto em que não precisa se lembrar. Deve se tornar uma parte automática de sua vida diária, usando até mesmo para as tarefas mais simples.
— Soa um pouco como preguiça para mim.
— Você sabe o que é preguiça? — Ela faz seu banco parar quando ela está de frente para mim e toca distraidamente o pingente em volta do pescoço: uma forma oval prateada com uma pedra negra no centro. — Sentar em frente a uma tela brilhante e assistir sem pensar imagens em movimento.
Eu dou a ela o meu olhar nada impressionado. — Você está se referindo a TV e filmes? Porque isso não é preguiça. É entretenimento e faz parte da —
— Parte da vida humana. Assim como a magia faz parte da vida dos faeries. Faz parte da sua vida agora, Em, então se acostume com isso.
— Tantas coisas que tenho que me acostumar, — eu penso, olhando através do jardim novamente.
— Sim, como roupas bonitas, feriados exóticos, festas luxuosas e isso é o esperado pelo resto de sua vida.
— Eu estava me referindo mais a este mundo e sua política e geografia e história e criaturas e... tudo, — eu digo baixinho. — É tudo muito diferente da vida em que cresci.
— Verdade, — ela diz. — É por isso que você deve se concentrar com as coisas frívolas. É muito mais fácil se acostumar. O resto seguirá com o tempo.
Eu aceno, apesar do fato de que eu não concordo com ela. Eu não posso dizer a ela que ainda estou determinada a encontrar uma saída para tudo isso. Mesmo agora, depois de lições intermináveis de magia, etiqueta e dança, depois de longas discussões sobre os detalhes da cerimônia de união, eu ainda não consigo imaginar este casamento realmente acontecendo. Eu sei que provavelmente estou em negação. Eu sei que é improvável que Roarke me conte mais alguma coisa sobre minha mãe até nos casarmos. Mas eu não vou desistir até o momento em que a cerimônia de união começar.
Noraya retorna então com dois copos altos flutuando na frente dela. Ela é tão boa nessa coisa de levitação que nem precisa usar as mãos. Elas permanecem perfeitamente atrás das suas costas enquanto ela caminha para frente, os olhos apontados com firmeza à frente, em vez de observar os copos flutuantes. — Limonada, Sua Alteza, — diz ela quando nos alcança.
Eu me empurro para frente e fico de pé enquanto um dos copos se move em direção a Aurora. Eu envolvo minha mão em torno do outro. — Obrigada, Noraya. — Ela arrisca um olhar para mim, sorri, então olha apressadamente para longe.
— Você precisa superar isso, — Aurora me diz uma vez que Noraya caminha de volta para a porta da biblioteca. — Não há nada de errado em ser esperado.
Eu me acomodo com cuidado em meu banco sem derramar minha bebida. — Eu não gosto de relaxar e receber as coisas. Parece apenas... rude.
— É grosseiro impedi-la de fazer seu trabalho corretamente.
— Bem, de qualquer maneira, ela sorriu para mim, então eu acho que ela não se importou.
Aurora abaixa o copo e pisca. — Ela sorriu para você?
— Quero dizer, não para mim, — acrescento apressadamente, não querendo colocar Noraya em problemas. — Não de um jeito indelicado. De qualquer forma, queria perguntar a você sobre os vestidos para o baile de aniversário da sua mãe. Eu suponho que você vai me dizer o que eu devo vestir? Eu não acho que posso ser confiável para escolher o tipo certo de vestido.
Aurora estreita os olhos com a mudança abrupta de assunto, mas ela deixa passar. — Sim. Mamãe e eu mandamos fazer três vestidos para você. Nós decidiremos qual escolher quando soubermos o que Roarke estará usando.
— Certo. Claro. Porque seria terrível se as cores entrassem em confronto ou algo assim.
Ela revira os olhos e cutuca meu joelho com o sapato. — Seria terrível. Vocês dois precisam parecer o par perfeito.
— O que é bobo, porque nunca seremos um casal perfeito. Nós nem sequer — Oh. — Eu sento um pouco para frente. — Minha Habilidade Griffin. Eu posso senti-la chegando. — No tempo em que estou aqui, eu fiquei mais sintonizada com a sensação da minha magia. Ser forçada a manter registros intermináveis da magia comum que uso todos os dias, o quanto eu como, o quanto estou cansada ou energizada, e exatamente quando minha Habilidade Griffin aparece me tornou mais consciente de cada pequena mudança na minha magia.
— Ah, é quase na mesma hora que as últimas manhãs, certo? — Aurora diz. — Um pouco antes da hora do almoço?
— Sim. E eu usei muito mais a minha magia normal do que o habitual na noite passada tentando derreter aquela fonte, então provavelmente podemos dizer com certeza agora que níveis mágicos comuns não têm muita influência na minha magia Griffin.
— Excelente. Não se esqueça de adicionar isso ao seu caderno. Acho que temos uma ideia razoavelmente boa de como sua habilidade funciona agora, mas você provavelmente deve continuar acompanhando-a por mais algumas semanas. Só assim podemos ter certeza.
Eu achava que a minha Habilidade Griffin não fazia nenhum sentido quando se revelou pela primeira vez, mas talvez, como Aurora sugeriu, ainda estivesse ‘se estabelecendo’ durante os meus primeiros dias neste mundo. Desde então, meu excessivo registro revelou um padrão bastante regular: Minha Habilidade Griffin aparece duas vezes ao dia, com aproximadamente doze horas de diferença, mais ou menos uma ou duas horas. E durante esse tempo, não há nada que eu possa fazer — além de pegar o elixir, que agora está esgotado — que fará com que apareça. O que significa que é provável que a teoria de reabastecer de Aurora esteja correta.
Eu abaixo meu copo de limonada e sento na beira do meu banco. Eu fecho meus olhos e tento prever o momento exato antes de sentir aquela sensação de formigamento na minha espinha. — Eu imagino como se fosse um vulcão se preparando para entrar em erupção, — murmuro. — A pressão se acumula dentro de mim e, de repente, tudo corre para a superfície, pronto para explodir.
— O que Roarke obrigou você a dizer desta vez? — Aurora pergunta.
Assim como o rei instruiu, Roarke me dá uma poção de compulsão todos os dias — bem, duas vezes por dia, agora que descobrimos o padrão — e me diz exatamente o que dizer quando minha Habilidade Griffin está pronta para ser usada. — Ele me obrigou a tentar preservar o poder, se possível. Se não, então eu devo dizer para todas as rosas amarelas no jardim para ficarem azuis.
— Ugh, que comando estúpido. Ele realmente precisa encontrar alguns usos mais interessantes para sua magia. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja te deixando praticar. Você precisa aprender a dominá-la, Em.
— Sim. — Eu aperto minhas mãos e fecho minha boca enquanto a magia Griffin ondula através de mim, exigindo ser liberada. Segure-a, segure-a, segure-a, eu silenciosamente me instruo. E quando tenho certeza de que a magia está prestes a se libertar de mim, me forçando a falar às instruções que Roarke me deu, apenas... não. Lentamente, começa a parecer menos esforço segurá-la. Eu abro meus olhos, minhas mãos relaxando no meu colo. — Eu acho que eu consegui, — eu digo com um sorriso. — Eu ainda posso sentir o poder lá, como um zumbido estranho logo abaixo da minha pele. Eu me pergunto por quanto tempo eu posso —
O poder corre para fora de mim, tornando minha voz mais profunda e ressonante. — Toda rosa amarela no jardim ficará azul, — eu digo.
Aurora se senta um pouco para frente, olhando além de mim. Depois de um momento, ela diz, — Funcionou. Eu consigo ver apenas alguns arbustos de rosas amarelas daqui, mas elas ficaram azuis.
Eu caio de volta contra minhas almofadas, fazendo meu banco balançar com movimentos bruscos e oscilantes. — Merda, foi apenas um minuto.
— Bem, talvez você tenha se empolgado cedo demais. — Aurora se inclina para trás e toma um gole de sua limonada. — Tente por mais tempo na próxima vez antes de me dizer ‘consegui’. Tudo que você precisa é praticar.
— Maravilha. Outra coisa para praticar, — eu digo com um suspiro.
— Diga ao Roarke para obrigá-la a segurá-la, não apenas para tentar. E nada disso ‘Se você não conseguir, então é isso que você vai dizer.’ Ele basicamente está lhe dando permissão para falhar.
— Mm. — Eu estou esperando pelo dia em que Roarke estará ocupado o suficiente para esquecer de me obrigar. Esse é o dia em que vou me certificar de que eu esteja com ele exatamente no momento certo. Vou ordenar a ele que anote todos os feitiços necessários para acordar e curar minha mãe. Então, se restar alguma coisa da minha Habilidade Griffin, vou usá-la para sair daqui.
— Você não quer terminar sua limonada? — Aurora pergunta, levantando meu copo do chão com um simples aceno de sua mão. — Você precisa se manter hidratada, se quiser sobreviver ao resto das aulas de dança do dia.
Eu pego o copo do ar e tomo o restante da limonada. — Você vai ter que encontrar outro membro disposto em sua corte para ser meu parceiro, — eu a lembro, — e seu primo provavelmente já disse a todos para evitarem a mim e a minha dança terrível, então... Oh. Isso é uma ideia.
— O quê?
— Você acha que funcionaria se eu usasse minha Habilidade Griffin para dizer a mim mesma que eu posso dançar perfeitamente a dança das fadas?
— Uh... — A expressão de Aurora fica pensativa. — Hmm. Eu imagino. Quero dizer, como funciona a sua magia Griffin em primeiro lugar? Ela obedece às suas palavras exatas ou à sua intenção por trás das palavras? Funciona de acordo com o que você está imaginando quando ordena alguma coisa? Nesse caso, a coisa da dança não funcionaria porque você não sabe e, portanto, não consegue visualizar todos os passos das outras danças. E outra coisa, — acrescenta ela, batendo na lateral do copo com as unhas. — Se você me disser para fazer algo, mas a maneira que eu entendo seu comando não é da mesma maneira que você quis dizer, qual intenção a magia obedecerá? Sua ou a minha?
Eu inclino minha cabeça contra as almofadas. — Eu não tenho ideia, mas estou começando a desejar que esta Habilidade Griffin viesse com um manual de instruções.
— Experimentação, Em. Isso é tudo que requer.
— Claro, mas é frustrante quando tenho que esperar meio dia entre cada nova experiência.
— A menos que você possa se agarrar ao seu poder e usar um pouco de cada vez.
— Talvez. — Eu viro no meu banco para encarar as portas da biblioteca quando passos soam no terraço.
— Sua Alteza, — diz Clarina quando nos alcança. — Minha senhora, — acrescenta ela, direcionando suas palavras para mim antes de virar de volta para Aurora. — Phillyp está pronto para a sua aula.
— Oh, maravilha. — Aurora entrega seu copo de limonada pela metade para Clarina antes de se levantar.
— E sua mãe acabou de enviar uma mensagem para dizer que gostaria de discutir alguns detalhes do baile com você.
— Mamãe sempre escolhe fabulosamente o pior momento, não é? — Aurora diz com um suspiro. — Ela vai ter que esperar.
— Claro, Sua Alteza. Devo dizer a ela o habitual?
— Sim. Diga a ela que estou no meio da minha aula de arco e flecha. Eu vou direto para ela assim que terminar.
Clarina acena com a cabeça uma vez. — E devo escoltar Lady Emerson de volta para seus aposentos?
— Hum... não, na verdade. Em vem comigo desta vez. — Aurora me dá um sorriso perverso. — Eu confio em você agora para manter meus segredos.
Depois de uma rápida reverência, Clarina sai. — Poxa, — eu digo. — Estou chocada ao descobrir que a princesa perfeita está guardando segredos de sua própria mãe.
Ela dá no meu braço uma tapa brincalhona. — Não, você não está. Além disso, não é grande coisa. É apenas algo que minha mãe não aprova. — Em vez de voltar para dentro, ela sai do terraço para a grama.
— Sua mãe não aprova você treinar arco e flecha também, — aponto enquanto a sigo, — mas ela não impediu você de ter aulas.
— Sim, bem, eu disse a ela que era ou tiro com arco ou combate mágico, e não havia como ela permitir que sua pequena princesa aprendesse um combate mágico.
— Que é o quê, exatamente? — Eu me inclino quando uma borboleta prateada e uma lagartixa com asas — uma correndo atrás da outra — voam muito perto da minha cabeça.
— Você sabe como quando você se baseia em seu poder e, em sua forma mais básica, é apenas o poder cru em suas mãos? — Diz Aurora.
— Sim. — Foi essa a lição que recebi de Azzy na Chevalier House.
— Bem, tudo que você faz é jogar essa magia em alguém. Quero dizer, há mais do que isso. Aqueles que são treinados em combate mágico muitas vezes transformam sua magia em outras coisas. Pedras ou lâminas ou bandos de aves com bicos afiados. Algo que pode mais facilmente derrubar um adversário do que apenas algumas faíscas. Mas sua mente tem que ser muito rápida. Você tem que ser capaz de moldar sua magia mentalmente assim. — Ela estala os dedos. — Mais e mais, enquanto também se protege.
Eu olho em volta enquanto nos afastamos do palácio. Esta parte do jardim não me é familiar, e tudo o que posso ver à frente é um bosque de árvores. — Então a rainha não queria que você aprendesse essa habilidade?
— Não. Não é coisa de princesa. Temos guardas para lutar por nós, se necessário. Ela concordou com arco e flecha, porque tudo o que isso implica é atirar flechas em objetos inanimados que não atiram de volta em mim.
— Muito mais civilizado, — comento. — Mas isso claramente não era ousado o suficiente para você, então você teve que tentar outra coisa.
— Sim.
— Algo que sua mãe certamente não aprovaria.
— Exatamente.
— E o que é?
Um sorriso estende em seus lábios conforme alcançamos as árvores. — Montar em um dragão.
Capítulo 07
MEUS PASSOS PARAM. — ESPERE. — LEVANTO UMA MÃO. — Espere, espere, espere. Vocês têm dragões?
— Sim. — Aurora se vira para olhar para mim. — Você não os viu voando de vez em quando?
— Bem... eu vi alguma coisa no céu. Eu presumi que eram pássaros grandes, ou algum tipo de criatura voadora que ainda não conheci.
Ela cai na gargalhada. — Pássaros grandes? Mesmo?
— Eu só os vi de longe, — Eu digo defensivamente. — Era difícil julgar o tamanho.
— Bem, você está prestes a vê-los de perto.
Eu pisco. Meus pés ainda não se movem. — Caramba, — eu sussurro.
— O quê? Você não está com medo, não é?
— Não. Quero dizer, talvez. Provavelmente. Estou tendo apenas um daqueles momentos em que me pergunto se estou realmente sonhando. Estamos falando de dragões, Aurora. Eu cresci pensando que eles só existiam na ficção, e agora estou prestes a ver um? Meu cérebro não faz ideia de como reagir a isso.
— Vamos. — Ela pega meu braço e me puxa para frente. — Seu cérebro tem um minuto ou dois para entender as coisas. Os cercados dos dragões estão do outro lado dessas árvores.
— Dragões, — murmuro. — Você tem dragões. Dragões de verdade.
— Nós costumávamos ter gárgulas também, — acrescenta ela. — Bem, por 'nós' quero dizer a geração anterior da realeza. Gárgulas não são tão grandes quanto dragões, mas são assustadores, foi o que eu ouvi. Eles costumavam ficar de guarda no topo do palácio, mas todos desapareceram há algumas décadas.
— Sério? — Eu penso na criatura que Ryn estava montando quando ele me salvou de cair para a minha morte da beira de um precipício. Tenho certeza que era uma gárgula.
— Sim, meu pai tem sido rei por alguns anos, e as gárgulas nunca pareciam gostar dele. Um dia todos voaram para longe e ninguém os viu desde então.
— Que estranho, — eu digo devagar. Eu não mencionarei a Aurora que fui resgatada por um rebelde Griffin sobre uma gárgula, mas não posso deixar de me perguntar se é uma das gárgulas que moravam aqui.
Nós andamos além das árvores, mas ainda não vejo dragões. Ou cercados, por falar nisso. Eu olho para cima, mas também não há nada no céu. — Você terá que olhar para baixo, — Aurora me diz. — Ali.
Meu coração bate mais rápido quando nos aproximamos da borda de um buraco cavado no chão. Gradualmente, à medida que a borda fica visível, sou capaz de distinguir o tamanho desse buraco. O outro lado é de vários tamanhos de campos de esportes de distância. Paramos a uns trinta centímetros da beirada e olho para um ambiente exuberante e parecido com uma selva. Por um momento, eu me esforço para distinguir qualquer tipo de criatura entre as árvores e plantas coloridas, mas então algo se move. Um pescoço grosso e coberto de escamas. Uma cabeça gigantesca, subindo e girando lentamente para nos encarar até que esteja quase nivelada com o topo do poço.
— Em, — Aurora diz, — conheça Imperia.
O corpo do dragão brilha azul-verde e púrpura enquanto ela se move, e os enormes ferrões ao longo das suas costas são rosados e avermelhados. Sua cauda, terminando em forma da ponta de uma flecha verde, gira ao redor, derrubando facilmente uma fileira de arbustos. Então ela fica imóvel, inclina a cabeça um pouco para o lado e me observa com os olhos brilhando como brasas laranja ardentes.
— Ela é linda, não é? — Aurora diz.
Minha boca está aberta, minha língua está seca e meus pés estão enraizados no lugar — apesar do fato de que uma voz muito insistente no fundo da minha mente está gritando para eu fugir para salvar minha vida. — Incrível, — eu sussurro.
— Cada poço pertence a um dragão diferente. A Imperia sempre preferiu um ambiente tropical, mas o próximo poço está cheio de gelo. E o mais distante — que nos levaria algum tempo para caminhar — é profundo o suficiente para conter uma montanha.
— Uau. E eles podem voar para fora de seus poços sempre que quiserem? — Minhas pernas finalmente se lembram de como andar, e dou um passo trêmulo para trás conforme Imperia levanta a cabeça um pouco mais alto.
— Não, há um escudo invisível por cima. Os dragões não estão autorizados a menos que estejam com um cavaleiro.
— Tudo bem. — Eu engulo. — E percebo que não há paredes ao redor desses poços. O escudo pegaria alguém se caísse?
Aurora parece despreocupada quando ela diz, — Não.
— Mas... então...
— Se alguém for estúpido o suficiente para cair em um poço com dragão, então eles merecem ser comidos. Mas Imperia provavelmente não faria isso. Não com quem ela conhece, pelo menos. Ela é muito amigável. Então. — Ela se vira para mim. — Você quer montá-la?
Não tenho certeza de quanto tempo minha boca está aberta antes que eu finalmente responda. — Eu... na verdade... quero.
Aurora sorri para mim. — Eu gosto de você ainda mais agora. — Ela se abaixa e passa a mão ao longo da grama. Enquanto se endireita, uma linha cor de ouro forma um círculo perfeito ao nosso redor. Sem aviso, o chão estremece. O pedaço de terra circular em que estamos posicionadas se separa do chão e começa a descer.
— Uau. — Eu levanto minhas mãos e me firmo. — Então, estamos descendo para o poço?
— Sim.
— E, hum, eu estarei com alguém quando estiver montando esse dragão? Um profissional treinado?
— Você vai estar comigo.
— Mas... você ainda está aprendendo, não está? Clarina disse algo sobre... Phillyp estar pronto para a sua aula?
— Isso é apenas o que minhas criadas foram treinadas para me dizer quando Phillyp informa a uma delas que a barra está limpa para eu vir aqui. Sabe, quando não há ninguém por perto que possa dizer a minha mãe que eles viram a princesa nas costas de um dragão. Eu recebi lições no começo, é claro, mas elas terminaram há muito tempo. — Ela olha para mim. — Você não acredita que eu sei o que estou fazendo, Em?
— Hum... eu quero confiar em você. — Eu vejo a terra escura subindo rapidamente em torno de nós, em seguida, levanto os olhos para o pedaço circular do céu cada vez menor.
Aurora ri. — Bem, eu não vou forçar você, Em. Mas você sabe que vai se arrepender de ter ficado no chão assim que me ver voando no ar.
De alguma forma, sei que isso é verdade.
O elevador de terra mágico estremece silenciosamente até parar. Em poucos segundos, um túnel se forma à nossa frente, curto o suficiente para que eu possa ver a vegetação exuberante do outro lado. Eu sigo Aurora, hesitando na boca do túnel e olhando em volta procurando por Imperia. Através das árvores, vejo as escamas marinhas e roxas de uma de suas pernas.
— Oi, Phillyp, — Aurora diz, saindo direto do túnel e para a direita.
— Princesa, — diz uma voz masculina. — Estou feliz que você pôde vir. Imperia não voou por dois dias. Eu acho que ela está ansiosa para abrir suas asas corretamente.
Depois de outro olhar por cima do meu ombro em direção a Imperia, corro atrás de Aurora. Ela está falando com um homem magro encostado na porta de uma sala construída na lateral do poço. Sua cabeça está raspada, e a ferida brilhante em seu braço parece ter sido queimada recentemente. — Ooh, ai, — Aurora diz, inclinando-se para olhar seu braço. — Imperia fez isso?
— Sim. A culpa é toda minha, e você sabe que estou acostumado.
— Sim. E vai sumir em breve, tenho certeza, — Aurora diz enquanto se endireita. — Phillyp, esta é Em. Minha nova amiga. Ela vai montar comigo hoje, então, por favor, use a sela dupla.
Phillyp faz uma pausa por apenas um momento antes de inclinar a cabeça. — Claro, Sua Alteza. — Ele se vira e desaparece na sala.
— Ele não acha que é uma boa ideia, — murmuro para Aurora.
— Absurdo. Ele sabe que sou perfeitamente capaz de levar mais alguém comigo. É só que eu trouxe uma das minhas damas de companhia uma vez, e ela gritou o tempo todo que estávamos no ar. Imperia não ficou impressionada e nem Phillyp. — Ela estala os dedos perto da parte de baixo da saia e percebo um breve brilho antes que a faísca da sua magia desapareça. — Mas você não planeja gritar como uma garotinha, não é, Em?
Decido não perguntar a Aurora exatamente como ela sabe que Imperia não ficou impressionada. — Não. Obviamente, eu não pretendo gritar como uma garotinha.
Um conjunto de escadas, pairando a poucos centímetros acima do solo, desliza para fora da sala e passa por nós em direção a Imperia. Um momento depois, Phillyp corre atrás do que eu suponho ser a sela flutuando à sua frente.
— Ah, finalmente, — diz Aurora. Viro para encará-la enquanto sua saia cai no chão, revelando uma calça justa na mesma cor que seu espartilho. — O quê? — Ela pergunta em resposta às minhas sobrancelhas levantadas. — Eu não posso montar um dragão com um vestido.
— Eu acho que não. Ainda bem que já estou usando calça.
Com um aceno de mão, a saia voa para a sala. — Você vai querer manter o cabelo longe do seu rosto. — Aurora me diz enquanto nos dirigimos através das árvores. Ela acena com a mão perto do seu cabelo, e os grossos cabelos roxos e pretos prontamente se organizam em uma trança. Uma fita cor de prata aparece e se amarra no final de seu cabelo.
— Preguiçosa, — murmuro, estendendo a mão para trançar meu cabelo com as mãos.
— De jeito nenhum, — ela responde. — Você logo perceberá que qualquer feitiço que poupe tempo em se preparar e permita que você permaneça mais no ar nas costas de um dragão por mais tempo é um feitiço que vale a pena memorizar. — Ela para na beira de uma clareira e olha para cima, as mãos dela nos quadris. — Eu vou te ensinar mais tarde.
Minhas mãos continuam trançando por vários segundos, enquanto percebo o tamanho do dragão, admirando de boca aberta. O conjunto de escadas é alto o suficiente para alcançar suas costas, e Phillyp fica em cima, prendendo as correias e fivelas da sela com magia. Imperia solta um bufo alto, emitindo fumaça pelas narinas.
Eu engulo. Com os dedos tremendo, eu termino de prender minha trança. Rápido, Phillyp desce os degraus e Aurora sobe. Ela pega as correias, sobe nas costas de Imperia e balança a perna sobre o assento da frente da sela. — O que você está esperando? — Ela pergunta quando olha para mim. Em vez de responder, eu lambo meus lábios. — Vamos, Em, não enlouqueça. Isto vai ser divertido.
— Eu sei. — Minha voz soa rouca e um pouco mais alta do que o normal. Eu pigarreio. — Estou animada. Eu realmente estou. Eu por acaso estou um pouco assustada ao mesmo tempo. — Eufemismo, meu coração batendo descontroladamente grita para mim. Que gigantesco. Maldito. Eufemismo.
Mas isso não muda o fato de que eu quero fazer isso. Então eu forço minhas pernas a subir os degraus. Em cima, dou um último suspiro profundo antes de colocar a mão contra as escamas suaves de Imperia. Abaixo do meu toque, a cor ondula e brilha. Eu agarro duas das correias e me puxo para cima. Graças a todas as paredes que subi nos últimos anos, meus braços são bem fortes. Uma vez que me acomodo no meu assento, a escada escorrega para longe do corpo de Imperia.
— Coloque essa alça em volta da cintura, — Aurora diz, virando-se e apontando para uma alça solta pendurada em um dos lados da sela. Eu coloco através do meu corpo e prendo-a através do círculo de metal do outro lado.
Então finalmente, olho para baixo. Estamos mais longe do chão do que eu imaginava e ainda não decolamos. Não é que eu tenha medo de altura, e não é que eu tenha medo de correr riscos. Val e eu realizamos muitos saltos, cambalhotas e descidas que poderiam facilmente nos ter levado ao hospital. Mas eu estava sempre no controle do meu próprio corpo então. Agora, estou cem por cento à mercê de outra criatura — e é aterrorizante.
Aurora segura às rédeas. Imperia levanta as asas e seu corpo rola para um lado e depois para o outro enquanto ela avança alguns passos. Eu inalo bruscamente e agarro o cume da sela que se eleva entre o assento de Aurora e o meu. As pernas de Imperia se dobram ligeiramente. Eu seguro minha respiração. Então, com um grande impulso para baixo de suas asas, ela se eleva no ar. Eu sinto um solavanco enjoativo na região do meu estômago. As asas de dragão batem no ar, as copas das árvores balançam descontroladamente e o chão se afasta de nós. Eu imagino despencar em direção ao chão. Eu quase grito que quero sair, mas fecho a boca, agarro mais à sela e digo a mim mesma que não vou morrer.
Nós subimos rapidamente, o palácio ficando menor e o território Unseelie ao redor aparecendo. As asas de Imperia diminuem o ritmo. Ela se inclina um pouco para o lado e, em seguida, voa pelos limites do palácio. E em meros segundos, meu terror dá lugar à pura alegria.
***
— Essa foi a coisa mais incrível que já fiz, — digo a Aurora no momento em que os pés de Imperia tocam o chão em seu cercado.
— Eu disse a você, — ela responde com uma risada. A escada chega um momento depois e nós duas saímos de nossos assentos. Eu paro na parte inferior e estendo a mão contra o lado de Imperia. — Eu vou poder fazer isso de novo?
— Claro, — diz Aurora. Ela tira a fita cor de prata e empurra os dedos pelos cabelos para libertá-los da trança. — Você pode vir comigo sempre que quiser. Phillyp pode dar-lhe aulas e, em breve, passará a montar sozinha. Então podemos levar nossos dragões juntos. Vai ser perfeito.
Seria se eu estivesse planejando ficar aqui. Eu dou um passo para trás e olho melancolicamente enquanto Imperia se afasta. Eu envolvo meus braços em volta de mim e mordo meu lábio. É assustador admitir isso para mim mesma, mas acho que realmente posso gostar de viver aqui. As manhãs passando descansando em balanços, as tardes passando deslizando pelo céu nas costas de um dragão. E com minha mãe saudável ao meu lado. Tudo que eu preciso fazer é olhar para longe de quaisquer atos horríveis que acontecer de eu testemunhar o Rei Unseelie cometendo. E de alguma forma viver com a culpa de qualquer ato horrível que ele me obrigue a cometer.
Não, eu sussurro silenciosamente. Eu não posso viver com isso. — É apenas a realeza que tem dragões? — pergunto a Aurora enquanto Phillyp envia a escada portátil de volta ao depósito.
— Não, mas eles são muito caros, então apenas os muito ricos estão em posição de possuir um.
— Certo. — Então eu deveria aproveitar todas as oportunidades de montar em um dragão enquanto eu ainda moro aqui. Depois que eu for embora, nunca poderei pagar por isso.
— Felizmente, — Aurora continua, — você está prestes a se tornar membro de uma família extraordinariamente rica. Você pode ter quantos dragões quiser.
— Se eu soubesse que isso era tudo o que precisava para conquistar você, — uma voz diz atrás de nós, — eu teria trazido você aqui há muito tempo, Emerson.
— Roarke, — Aurora diz quando nos viramos para encará-lo. — Procurando por mim?
— Sim. Eu pensei que poderia te encontrar aqui. Você, no entanto... — Ele olha para mim. — Bem, nas costas de um dragão não é onde eu esperava encontrar você.
— Ela adorou, — Aurora diz, juntando as mãos e sorrindo.
— Eu ouvi, — Roarke diz com um sorriso divertido. — O que você disse exatamente? — Ele me pergunta. — Foi a coisa mais incrível que você já fez?
— Bisbilhotar é rude, — eu digo a ele.
— Assim como manter segredos da minha mãe, mas eu vou continuar escondendo também, não se preocupe, — acrescenta ele quando Aurora abre a boca para protestar. — Ela não precisa saber sobre o seu passatempo favorito.
— Onde você esteve à manhã toda? — Pergunto conforme voltamos para o fundo do poço. — Eu pensei que você poderia se juntar a mim para a minha aula de dança.
— Eu estava... organizando um presente para você, meu amor.
Eu arqueio uma sobrancelha cética. — Houve muita hesitação em sua voz para que isso seja verdade.
— É verdade, eu prometo. Eu só estava pensando se deveria te contar ou não.
O túnel se materializa à nossa frente quando nos aproximamos da parede. — Tudo bem, se esse presente é de verdade, então quando vou recebê-lo?
— Assim que Yokshin terminar.
— Yokshin? — Eu me lembro desse nome de algum lugar.
— Sim. Ele é nosso mestre de invenções. É ele que ira reproduzir o seu elixir da Habilidade Griffin.
— Então... ele conseguiu ter sucesso?
— Não. — Saímos do túnel e subimos no pedaço de terra que levita. — Este é um presente diferente. Você vai ver... em breve.
Eu pressiono meus lábios enquanto o chão começa a subir. Eu poderia fazer mais perguntas, mas ele continuará me dando apenas metade das respostas.
— Por que você estava procurando por mim? — Aurora pergunta a seu irmão.
— Oh, você e eu temos algumas coisas que precisamos ver.
Aurora acena e olha para cima, sem dizer nada.
— Mais segredos que você está mantendo de sua amada? — Eu pergunto.
Roarke me dá seu sorriso malicioso. — Assim que você for minha esposa, todos os segredos serão revelados.
Capítulo 08
À MEDIDA QUE À TARDE DO BAILE DE ANIVERSÁRIO DA RAINHA CHEGA, FICO na varanda e ensaio minha história. Esta noite é à noite em que o Príncipe Roarke vai anunciar que ele escolheu uma esposa. Ele me apresentará, ‘a nova amiga estranha’ da princesa Aurora, e de repente todo mundo vai querer saber cada detalhe de quem eu sou e de onde eu sou.
Roarke e sua mãe pensaram em uma ideia de inventar um passado completamente diferente para mim — um que não envolvesse o mundo humano — mas eles imaginaram que a verdade seria descoberta em breve. E nenhum deles parecia acreditar que eu seria capaz de manter os detalhes de uma história inventada, então a maior parte do que me disseram para compartilhar com as pessoas é a verdade: eu cresci pensando que eu era humana, minha magia se revelou, a Guilda se envolveu para que eles pudessem me aprisionar e garantir que eu nunca machucasse ninguém, e então Roarke e seus homens apareceram para me resgatar. Eles me levaram de volta ao seu palácio para que eu pudesse viver como um membro livre na corte deles. Roarke e eu logo nos apaixonamos loucamente um pelo outro, e o rei aceitou nosso pedido para formar uma união. Então, tudo até o resgate é essencialmente a verdade. Depois disso... bem, eu de alguma forma tenho que fazer essas pessoas acreditarem que eu estou obcecada pelo príncipe deles.
Eu me inclino contra a balaustrada da varanda e olho ansiosamente para as perfeitas nuvens fofas bem acima de mim. Eu prefiro estar subindo os céus nas costas de Imperia, em vez de me preparar para enfrentar uma multidão da nobreza Unseelie. Ou montando aquele outro dragão que Phillyp montou comigo ontem. Bralox, acho que era o nome dele. Ou dançar danças simples com Dash nas margens da praia encantada dos rebeldes Griffin, em vez de tentar lembrar cada passo de cada dança oficial das faeries — já que a minha Habilidade Griffin não fez para me ajudar nesse departamento.
Batem na minha porta tão ruidosamente que posso ouvi-la da varanda. Olho por cima do ombro para ver Aurora dançando do outro lado da sala de estar e vindo para a varanda. — Está na hora! — Ela canta.
— Para quê? — Ela não pode estar se referindo ao baile. Ainda falta horas.
— Hora de começar a se vestir, é claro. É um longo processo envolvendo cabelo, maquiagem, joias — e, claro, ainda não escolhemos o seu vestido dos três que foram feitos para você.
— Oh. Tudo bem.
Seu rosto fica triste. — Por que você não está mais empolgada?
— Eu estou. — Eu coloco um sorriso que não parece de verdade. — É apenas... festas não são realmente minhas coisas preferidas. Na última que participei, minha magia explodiu de dentro de mim e quase matou minha melhor amiga.
— Confie em mim, Em, — Aurora diz com o tipo de sorriso que faz seus olhos brilharem. — Esta festa não vai ser nada como você imagina. E se isso não faz você se sentir melhor, aqui está algo que vai. — Ela tira a mão de trás das costas e me oferece uma caixa quadrada um pouco maior que a palma da sua mão.
— O que é isso? — Eu pergunto enquanto eu pego dela.
— Lembra que Roarke disse que mandou fazer um presente para você?
— Sim.
— Bem, eu pensei que ele estava apenas dizendo isso para encobrir o que ele realmente estava fazendo naquele dia — eu geralmente posso dizer quando ele está mentindo — mas acontece que ele realmente conseguiu que Yokshin fizesse algo para você.
Eu tiro a tampa da caixa e encontro uma pulseira sobre uma pequena almofada preta. Correntes delicadas de metal prateado se envolvem umas às outras, com minúsculas folhas prateadas e flores brotando dos lados. No meio da pulseira está uma grande joia clara. — É lindo, — eu digo.
— É bonito e inteligente, — diz Aurora. — É como se fosse um relógio. Mas não mostra à hora, mostra o nível da sua magia Griffin. Então, no lugar dos ponteiros, tem um grande rubi. O rubi perde sua cor quando você usa todo o seu poder Griffin, e então a cor enche novamente lentamente na mesma velocidade que sua magia se repõe. Pelo menos, é assim que deve funcionar e, obviamente, você precisa usá-lo.
— Uau, isso é inteligente. — Eu pego a pulseira da caixa, abro-a o e coloco a forma rígida ao redor do meu pulso. O fecho se encaixa facilmente no lugar. Enquanto observo, uma fração de um lado do rubi fica vermelho. — Hum, acho que isso faz sentido. Foi pouco antes do meio-dia que a minha Habilidade Griffin apareceu, então isso foi cerca de... duas ou três horas atrás?
— Sim. Então, isso deve facilitar para você ver quando sua magia estiver pronta para ser usada. Sabe, no caso de variar um pouco se você estiver extremamente cansada ou se nem sempre conseguir senti-la.
— Legal. — Eu abaixo meu braço. — Então isso foi feito por... Yokshin? Esse é o nome dele?
— Sim, o mestre de invenções. Ele experimenta todos os tipos de magia. Feitiços, processos, dispositivos. — Ela se inclina contra a balaustrada, abre um largo sorriso e acena para dois jovens caminhando abaixo. — É uma linha fascinante de trabalho, — continua ela, virando para mim. — Eu costumava visitá-lo muito quando era mais nova, até que minha mãe me disse que não era apropriado passar tanto tempo com alguém de sua posição, especialmente quando ele às vezes me levava para a prisão para me mostrar alguns de seus experimentos.
— Prisão?
— Sim, uma pequena que temos aqui. De qualquer maneira, você gostou da pulseira?
— Sim. Como você falou, é bonita e inteligente. — Eu movo a pulseira de um lado para o outro, de modo que a pedra sem cor capture a luz. — Yokshin fez alguma joia enfeitiçada para você?
— Hum... algumas. — Eu olho para cima para vê-la brincando com o pingente pendurado em uma corrente em volta do seu pescoço. A corrente prateada com a pedra negra. Eu percebi que ela a usa mais do que muitas outras joias. — Eu falo sobre isso em outro momento, — acrescenta ela. — Por enquanto, precisamos começar a nos preparar.
— Sim, tudo bem. Onde está o Roarke? Ele não queria me dar este presente?
— Queria, mas você conhece os homens. Eles não querem atrapalhar enquanto as damas se vestem.
— Ou ele ainda está me evitando, — eu resmungo enquanto passo por ela para dentro da sala de estar.
— Evitando você? Que bobagem é essa? — Aurora me segue para dentro. — Ele vê você pelo menos duas vezes por dia quando lhe dá a poção de compulsão.
— Sim, essa é a única vez que ele me vê.
— Bem, ele está muito ocupado.
Ou ele está evitando estar perto de mim sempre que minha Habilidade Griffin está ativa — caso eu não consuma todo o meu poder para seja qual for o comando que ele me deu e eu possa usar o resto para obter informações dele. O que é exatamente o que eu teria feito se ele estivesse por perto. Eu tenho praticado segurar minha Habilidade Griffin. Eventualmente, eu tenho que deixar passar algumas coisas dizendo o que eu tenho sido obrigada a dizer, mas houve momentos em que eu posso sentir que ainda há poder sobrando. Eu tentei segurar até ver Roarke novamente, mas eu não consegui segurar tanto tempo ainda.
— Em?
— Mm? — Eu encaro Aurora, percebendo tardiamente que ela me fez uma pergunta.
— Eu perguntei se você está realmente começando a gostar do Roarke. É por isso que você está chateada por não vê-lo mais vezes?
— Oh. Hum. Talvez. — Eu acho que isso é uma razão melhor do que eu estar chateada porque eu não tive a chance de usar minha Habilidade Griffin nele.
Ela sacode a cabeça e suspira. — Você é muito ruim em mentir. Venha, vamos para o meu quarto. Seus vestidos chegaram mais cedo e a mamãe os mandou agora. — Ela liga seus braços aos meus. — Você pode ensaiar sua história de amor épica no caminho.
A caminhada até a suíte de Aurora é longa o suficiente para eu recitar minha ‘história de amor épica’ duas vezes. — Bom trabalho, — diz ela quando chegamos a sua sala de estar. — Você sabe os fatos de cor. Agora você só tem que trabalhar em parecer como se você realmente quisesse dizer a parte de apaixonar-se perdidamente.
— Eu vou ter certeza de fazer um trabalho melhor quando estiver mentindo para os fae de elite da sociedade Unseelie mais tarde.
— Maravilha.
Nós entramos em seu quarto, que é muito maior que o meu e inclui um closet do tamanho de uma garagem dupla. — Oh, aqui estão as joias que a mamãe selecionou para você. Eu pretendia te mostrar mais cedo enquanto estávamos tomando café da manhã. — Ela pega uma caixa da sua penteadeira e a abre para mostrar o conteúdo. — Colar e brincos. Adoráveis, não são?
‘Adoráveis’ provavelmente não é a palavra que eu usaria. Cada peça consiste inteiramente de pedras brilhantes e incolores. Os brincos são lágrimas do tamanho da minha unha do polegar, e o colar é uma fileira dupla de pedras que crescem gradualmente à medida que alcançam um pingente: outra grande lágrima facetada. — São... são de verdade? — Pergunto enquanto Aurora os retira da caixa.
Ela me conduz em direção ao assento em frente à penteadeira antes de me dar um olhar interrogativo no espelho. — O que você quer dizer? Eles não são um tipo de ilusão que desaparecerá quando a festa acabar, se é isso que você está imaginando.
— Não, eu quero dizer... são diamantes de verdade? — Ela parece querer que eu me sente, então eu sento. — Ou eles são falsos? Como vidro ou cristal ou algo assim.
Ela ri. — Claro que são diamantes de verdade. Por que nós usaríamos falsos? — Eu permaneço em silêncio enquanto ela prende os brincos nas minhas orelhas e coloca o colar em volta do meu pescoço. — Aí. Eu acho que eles combinam com você. Eles ficarão lindos, não importa qual vestido escolhermos.
Eu balanço minha cabeça para o meu reflexo. Eu puxo os brincos e retiro o colar. — Eu acho que eu não deveria usar isso. — Eu coloco os diamantes brilhantes cuidadosamente na mão de Aurora. — Aqui. Você pode devolvê-los à sua mãe.
— O quê? Porquê?
— Eu não posso usar algo tão valioso. E se o colar cair enquanto eu estiver dançando? E se eu perder os brincos depois de tirá-los e então —
— E então o quê? Não seja tão boba, Em. O colar não vai cair. — Ela abre a caixa e coloca as joias de volta na almofada aveludada. — E quem se importa se isso acontecer? Mamãe certamente não vai. Esta é provavelmente a joia menos valiosa que ela possui.
Eu tento não me sentir mal com suas palavras. — Aurora...
— Vamos, isso não é grande coisa.
— Mas isso é uma grande coisa, — eu digo. Ela dá um passo para trás, surpresa com a minha raiva. — Eu sinto muito. É só que... bem, eu não esperaria que você entendesse, — murmuro.
Ela cruza os braços. — E por quê? Porque eu não pareço colocar muita importância nas joias quanto você parece de repente?
Eu reviro meus olhos. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu aponto para a caixa. — Que esses muitos diamantes provavelmente valem mais do que... eu não sei. Toda a Stanmeade. Eu não consigo usar tanta riqueza em meu corpo, e você não entenderia isso porque nós viemos de origens muito diferentes.
— Sim, — diz ela, dando um olhar que claramente diz, Dã. — Nós viemos. Esta não é uma revelação novinha em folha, então por que, de repente, é uma coisa importante?
Eu não sei. Eu não posso dizer a ela por que essa joia com diamante trouxe de repente a diferença entre minha vida e a dela, ou porque eu estou de repente comparando minha mãe com a dela. A rainha é perfeitamente sã e está em posição de distribuir itens de imensa riqueza como se não custassem nada. Mamãe está perdida em algum lugar dentro de sua própria mente e não conseguiu me dar nada além do peso da responsabilidade por muito tempo. — Eu sinto muito, — eu murmuro, olhando para a maquiagem espalhada em cima da penteadeira. — Eu não posso usar essa joia. Isso só me faz pensar em tudo que eu nunca tive. Todas as coisas que minha mãe nunca pôde me dar. E eu não quero dizer as coisas caras, eu só quero dizer as coisas normais. E todas as coisas que ela não pode ser para mim quando ela começou a ficar louca.
— Em...
— Não, eu não estou procurando por sua piedade. Eu só estou dizendo... — Eu não sei mais o que estou dizendo. — Eu só... não quero usá-la, se estiver tudo bem?
Ela acena com a cabeça. — Tudo bem. Claro. Eu nunca iria querer deixar você desconfortável. Hum... — Ela se vira para as portas do seu closet. — Tenho certeza de que posso encontrar algo mais simples da minha coleção.
Eu me levanto, começando a me sentir ainda pior agora que ela está sendo tão compreensiva. — Eu sinto muito, Rora. Eu não quis parecer ingrata. Eu sou grata por tudo que você e sua mãe fizeram para me ajudar a se encaixar aqui. Eu ainda não sei como lidar com tudo... — Eu gesticulo vagamente com os dois braços. — Tudo isso.
Ela pega minha mão, aperta e sorri. — Está bem. Eu entendo. — Ela caminha até o closet, em seguida, faz uma pausa na porta e olha para trás. — Roarke costumava me chamar de Rora quando éramos mais jovens. Então ele cresceu e decidiu que era um nome bobo e infantil. Eu disse a ele que concordava, mas a verdade é que meio que sinto falta de ouvi-lo me chamar de Rora.
Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Eu... eu realmente não sei porque eu disse Rora. Apenas saiu dessa maneira. Eu sinto muito. Eu não quero deixar as coisas estranhas.
— Isso não é o que eu quero dizer. — Ela sorri novamente. — Você provavelmente esteve tão focada na ideia de conseguir um marido que nunca pensou no fato de que também está conseguindo uma irmã. Eu sei que nada disso é o que você queria para sua vida. Eu sei que você está passando por tudo isso pela sua mãe. Mas... bem, estou feliz que você seja minha irmã. Espero que um dia você possa ser feliz também.
Ela se dirige para o enorme closet antes que eu possa dizer qualquer outra coisa e, nesse momento, a porta da sala se abre. Espreito pela porta do quarto e vejo a rainha, vestida com um roupão e chinelos, atravessando a área de estar com três de suas criadas e uma mulher desconhecida a seguindo. Cada uma das servas levitando um vestido. — Sua Majestade, — eu digo para a rainha, inclinando a cabeça em respeito quando ela vem em minha direção.
— Emerson, olá. — Eu nunca a vi usando tão pouca maquiagem e com o cabelo dela — preto e borgonho como o de Roarke — tão simples. Ela se inclina e beija o ar de cada lado das minhas bochechas. — Pronta para o grande anúncio de hoje à noite?
— Sim, — eu digo com confiança e um largo sorriso, nenhum dos dois é genuíno.
— Aurora, amor, eu tenho os vestidos, — a rainha chama, passando por mim. — Ah, aí está você, — acrescenta ela, enquanto Aurora sai do closet.
— Ooh, excitante. — Aurora esfrega as mãos.
— Coloquem os vestidos ali, — a rainha diz a suas criadas, — e então vocês podem ir. — As criadas deixam os vestidos flutuando no ar acima da cama antes de se virar e sair silenciosamente da sala. A mulher que eu não reconheço tira algo da saia de um vestido e arranca um fio solto do outro.
Ando devagar ao redor da cama para ver os três vestidos de todos os ângulos. O primeiro tem uma saia cheia de tule rosa escuro com flores delicadas que crescem pelas costas da cintura até o pescoço. O segundo é a cor do champanhe. Sua saia de muitas camadas é coberta com flores de ouro, e o corpete apertado tem um decote sem mangas. A última opção é feita de tecido de ouro rosa com milhares de minúsculos cristais brilhando com a luz conforme o vestido balança suavemente no ar. A parte de cima do espartilho se encaixa na parte de trás, e embora a saia esteja um pouco amassada com um pouco de tecido extra sobre a bunda, ela não é tão fofa quanto às outras duas.
— Eles são lindos, — eu digo.
— Eles não são? — Aurora responde. — E aparentemente, eles são ainda mais lindos quando você os coloca. O rosa muda para frente e para trás entre rosa e roxo, e as pétalas nas costas se abrem lentamente à medida que a noite passa. O champanhe vem com um par de luvas longas feitas de um tecido translúcido que parece bolhas de champanhe subindo em seus braços. E o ouro rosa tem um efeito cintilante enfeitiçado que parece brasas brilhantes.
— Parece legal.
— Eles são criações da Rosewood Raven, — Aurora continua. — Mamãe e eu divulgamos para todos os principais designers que estávamos procurando algo espetacular para um evento muito importante. Nós sugerimos um potencial anúncio de noivado — sem usar essas palavras exatas, é claro — o que resultou em muitos rumores circulando por aí. Recebemos dezenas de designs, e minha mãe não estava muito interessada em que você usasse um vestido da Rosewood, visto que —
— Visto que ela vestiu alguns dos Seelies no passado, — a rainha continua. — Eu não queria você usando um de seus vestidos. Quando vi o nome dela do lado de fora do pergaminho, quase o joguei fora sem abri-lo.
— Mas havia algo sobre seus desenhos que continuávamos voltando, — diz Aurora. — Algo que apenas... nos cativou. — Um olhar sonhador aparece em seu rosto.
— Eles se tornaram muito adoráveis, — admite a rainha. — Eu posso ver porque essa mulher Rosewood se tornou popular nos últimos anos.
— Você enviou um convite para ela? — Aurora pergunta. — Eu quero conhecê-la.
— Claro que não, querida. Eu te disse que não era apropriado. Ela tem conexões com a Guilda e vestia os Seelies antes. Podemos ter decidido usar uma de suas criações, mas não me senti confortável em tê-la aqui. Pedi a Lemon para mandar alguém pegar os vestidos e ser discreta sobre isso.
— Oh, Em, está é Lemon, a propósito, — acrescenta Aurora, gesticulando para a mulher que entrou com as criadas. — Nossa criadora mestre de roupas. Ela provavelmente fez a maioria das roupas que você encontrou em seu guarda-roupa.
— Oh. Obrigada, Lemon. — Eu tento não rir do nome estranho. — Você fez um bom trabalho.
Ela acena para mim. — Obrigada, minha senhora. E sim, mandei Jefford buscar os vestidos hoje de manhã, e tive a certeza de passar a importância da discrição. Disse a ele que não queremos o constrangimento de ninguém saber que nos associamos a alguém que já trabalhou com os Seelies, mesmo que o trabalho dela seja bom.
— Que bobo, — Aurora resmunga. — As pessoas vão descobrir de qualquer maneira. Somos da realeza, pelo amor de Deus. É uma honra desenhar para nós, então tenho certeza de que Raven Rosewood vai falar para as pessoas.
— Ela vai? — A rainha pergunta. — Eu duvido que ela queira arriscar sua reputação com os Seelies.
— Ela não vai dizer nada, — diz Lemon. — Jefford deixou os vestidos no meu quarto com uma nota dizendo que tudo correu bem. A designer aceitou seu pagamento e alegremente concordou em ficar quieta sobre seu envolvimento.
— E quando as pessoas perguntarem esta noite? — Aurora diz. — Porque você sabe que algumas dessas mulheres vão querer saber quem vestiu a nova princesa. Tudo com o que eles se importam é com as últimas tendências e novidades, e assim que virem Em, em, digamos, luvas de bolhas de champanhe, todos eles estarão adicionando a mesma coisa para suas novas roupas.
— Sério? — Eu pergunto. — Isso é tão bobo.
— Esse é o tipo de influência que você tem como princesa, — Aurora diz com um sorriso de satisfação. — Uma vez eu usei sprites vivos pendurados em minhas orelhas, e na festa seguinte, eu vi pelo menos cinco outras garotas usando a mesma coisa.
— Pobres sprites, — murmuro, imaginando as criaturas que parecem pequenas pessoas aladas amarradas aos lóbulos das orelhas de Aurora.
— Se alguém perguntar pelo nome do designer, diga que é um segredo, — diz a rainha. — Diga a eles que nossa chefe criadora de roupas tem um aprendiz especialmente inventivo, e queremos mantê-lo em segredo conosco.
Aurora suspira. — Tudo bem. De qualquer forma, precisamos decidir qual deles usaremos para que todas nós possamos começar a nos preparar.
— Hum, eu pergunto ao Roarke o que ele decidiu usar? — Eu sugiro.
— Sim, — a rainha responde. — Aurora e eu vamos verificar se todos os ajustes para o novo vestido dela foram feitos corretamente, e então ela vai encontrá-la na suíte do Roarke.
Com um brilho nos olhos, Aurora acrescenta, — Mamãe não confia em você para relatar com precisão a roupa de Roarke sem minha ajuda.
— Aurora, — a rainha repreende. Então sua expressão se transforma em um sorriso de desculpas. — Bem, suponho que seja verdade. Desculpe, Emerson.
Eu dou de ombros, então congelo com meus ombros puxados para cima, lembrando que a rainha não gosta de encolher os ombros. — Está bem. Vejo você lá, Rora. — Eu saio correndo do quarto, esperando até que eu esteja fora da suíte antes de relaxar meus ombros.
O chão de mármore brilhante passa rapidamente sob meus pés enquanto eu me dirijo para a suíte de Roarke. Eu bato na porta dele, mas depois de esperar vários segundos, nem ele nem um de seus criados me chamam para entrar. Eu bato de novo e espero, mas ainda nada. A ausência de guardas fora de sua suíte me faz duvidar que Roarke esteja dentro, mas ele mencionou que às vezes seus guardas patrulham mais ao longo dos corredores do lado de fora desta ala do palácio. Eu abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça dentro. — Roarke?
Sem resposta. Sabendo que Aurora estará aqui em poucos minutos, decido esperar na sala de estar do Roarke até ela se juntar a mim. Fecho a porta e ando devagar pelos sofás, comparando a suíte com a de Aurora. Móveis semelhantes preenchem o espaço, embora em um estilo menos delicado, com madeira escura e acabamentos em preto brilhante. Eu ando até a janela e descubro que tenho uma excelente visão de uma escultura que eu nunca fui capaz de ver corretamente no chão: uma cobra gigante que se ergue em direção ao céu, cercada por arbustos de rosas negras. Assustador, penso quando me afasto da janela.
De canto do olho, noto movimento perto da porta do quarto. Algo escuro, como uma sombra deslizando pela parede. Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém lá — Roarke ou um de seus criados — mas ninguém está atrás de mim. Eu me viro para o local, meus olhos percorrendo cada centímetro da sala. Eu olho para a parede novamente, mas as sombras criadas pela mobília e decoração estão imóveis. Deve ter sido algo de fora. Um pássaro voando pela janela, talvez. Ainda assim, este é um palácio cheio de magia e encantamento, então é possível que eu tenha visto a sombra de algo que agora está se escondendo nesta sala comigo.
A ideia envia um arrepio no meu pescoço e no meu cabelo. Seja corajosa, eu me lembro. Esta é a sua casa agora. Você não pode ter medo em sua própria casa. Forçando minhas pernas a se mover, ando pela sala novamente. Eu me inclino e olho embaixo da mobília. Eu puxo as cortinas para longe da parede e olho atrás. Pelo o que posso dizer, estou sozinha nesta sala.
Mas este não é o único cômodo da suíte. Meus olhos deslizam para a porta que leva ao quarto. É lá, afinal, onde eu vi o movimento quase agora. Eu atravesso a sala e espio pela porta entreaberta. Eu vejo outra janela e parte de uma cama de dossel. Sem movimento ou som, então, depois de um momento, abro a porta o suficiente para entrar no quarto. O quarto que logo será meu também. A cama que logo será minha.
Uma imagem de Roarke e eu juntos nessa cama passa pela minha mente antes que eu possa pará-la. Eu engulo em desconforto e tento afastar a imagem. Eu evito pensar sobre essa parte específica do nosso acordo, mas agora que estou olhando para a cama que em breve pertencerá a nós dois, é impossível não pensar no que terá de acontecer nela.
Eu me afasto quando um arrepio sussurra através da minha pele. Eu ainda tenho tempo, eu me lembro. Hora de encontrar uma saída para todo esse acordo. O anúncio do noivado acontecerá hoje à noite, mas a cerimônia de união na verdade não acontecerá por mais algumas semanas.
Uma voz na sala de estar me assusta, mas é apenas o Roarke. — Sim, por favor, feche a porta, Marvyn, — diz ele. — Eu vou ter apenas alguns minutos. — Expirando e quase rindo de mim mesma por meus medos bobos, eu volto para a porta. Espero que Roarke não fique muito irritado depois que eu explicar por que estou em seu quarto.
Mas eu paro quando ouço uma segunda voz. Uma voz feminina.
— Ainda é seguro conversar aqui? — Ela pergunta.
— Sim, — Roarke responde. — Nós não seremos ouvidos.
Capítulo 09
MERDA. EU CUBRO MINHA BOCA COM MINHA MÃO E CONGELO.
— Você tem certeza? — Pergunta a mulher.
— Sim. Meu pai não tem controle sobre essa suíte. Meus homens vasculham diariamente por encantamentos e insetos espiões, e não encontraram nada em anos.
— Ainda assim, — a mulher diz enquanto seus passos atravessam a sala. — Alguém pode nos ver através da janela. — Sua voz soa familiar, mas eu não consigo descobrir de onde. Eu ouvi tantas mulheres da corte desde que cheguei aqui. Pode ser qualquer uma delas.
— Eu duvido. Estamos muito alto. E se alguém nos ver, e daí? Eu sou o príncipe e tenho o direito de falar com quem eu quiser.
Minha imaginação salta imediatamente para a pior conclusão. Raiva aquece minhas veias com o pensamento de Roarke me traindo. Que outro motivo ele encontraria uma mulher em particular em sua suíte? Uma mulher que não quer que ninguém veja os dois juntos? E não é como se eu estivesse com ciúmes, mas ele deve se casar comigo em algumas semanas! Eu alcanço a porta, prestes a abri-la completamente e exigir que esse tipo de coisa não continue depois que nossa união acontecer.
— Tudo bem, então, — diz a mulher. — Então, o que você está fazendo sobre as sombras?
Eu paro com minha mão levantada. Sombras? Eu não estava esperando isso.
— Você tem que controlá-los, Roarke. Não podemos tê-los aterrorizando este mundo. Ou o outro mundo. Nós não podemos viver lá até que eles tenham sido completamente erradicados.
— Está tudo bem. Meus homens estão cuidando disso.
— Como o guarda que apareceu morto? Enrugado e velho?
Roarke suspira. — Você me disse que não ficaria chateada com isso.
— Eu estive pensando nisso e decidi que tenho todo o direito de ficar chateada com algo assim. A mesma coisa poderia acontecer com a gente.
Eu inclino minha cabeça em direção à porta, desejando poder ver a linguagem corporal deles. Desejando descobrir a natureza do relacionamento de Roarke com essa mulher.
— A mesma coisa certamente não acontecerá com a gente, — assegura ele. — Aconteceu apenas com aquele guarda porque ele foi estúpido o suficiente para deixar uma sombra pegá-lo quando ele não estava usando seu amuleto. E ele deveria saber o feitiço certo para lutar contra, mas claramente ele era muito lento. O resto dos meus homens sabe o que estão fazendo.
— Bem, eles certamente estão demorando um pouco para fazer o trabalho. Todo esse tempo perdido. O edifício parou. O castelo e o terreno estão ali meio formados e...
— Relaxe. Leva tempo para preencher um mundo.
— Tempo em que outra pessoa poderia descobri-lo e reivindicá-lo como seu território.
— Quem vai reivindicá-lo? Ninguém mais sabe disso.
— Isso não é verdade agora que você deixou outras pessoas verem.
— Eu já disse a você, — diz Roarke. — Nem meu pai nem a Aurora têm algum interesse em reivindicar esse mundo como seu. Ele continua com as mesmas crenças que tinha no começo, e você sabe que Aurora está mais interessada em —
— Eu não quero dizer eles. — Há uma pausa em que eu me aproximo para ter certeza de que não estou perdendo as próximas palavras dela. — E a sua futura esposa? E o guardião que estava com ela? — Um arrepio passa por mim. Eu dou um passo silencioso para trás, como se eles pudessem de alguma forma sentir a minha presença se eu estiver muito perto da porta.
— Emerson não sabe o que viu, — Roarke diz, — e eu duvido que ela se importe. Ela provavelmente assumiu que era parte do mundo fae. Ela não sabe o suficiente sobre este reino para assumir que seria qualquer outra coisa. Quanto ao guardião... bem, duvido que ele tenha alguma pista do que viu também. Guardiões são treinados para lutar, não para pensar.
— Você não deveria subestimá-lo, — diz ela sombriamente.
— E você não deveria estar se preocupando.
— Tudo bem. Bem. Então não estamos com pressa. Mas ainda estou preocupada com as sombras. Como estão passando? E é só aqui no palácio, ou você acha que eles são capazes de chegar a qualquer parte deste mundo? Ou... — Ela faz uma pausa por um momento. — Eu me pergunto se eles são capazes de passar para o mundo humano.
— Se conseguirem, será problema da Guilda, não nosso.
— Verdade.
— E isso provavelmente não vai acontecer, porque meus homens estão garantindo que todas as sombras em breve estarão mortos.
— Bom. Bem, então eu posso pegar o manto que eu vim pegar? Marvyn pode ficar desconfiado se eu sair sem ele.
— Marvyn já está desconfiado, — Roarke diz com uma risada, — mas eu vou pegar o manto de qualquer maneira. — Seus passos se movem em direção ao quarto. Eu xingo sob minha respiração — o que envia uma imagem de Dash pela minha mente por apenas um segundo; ele não ficaria impressionado com a minha linguagem escolhida. Eu passo pela única outra porta e entro no banheiro de Roarke. Deslizando por trás da porta entreaberta, eu prendo a respiração.
E é quando vejo o que está na parede à minha esquerda.
Eu coloco minha mão sobre a minha boca para reprimir o meu suspiro assustado. Um grande círculo de magia cintilante e ondulante ocupa a maior parte da parede. Elétrico de uma cor azul, com pedaços escuros e finos subindo das bordas e desaparecendo, a magia gira preguiçosamente em forma de espiral que parece ser sugada para o centro.
Um portal?
Uma pequena parte de mim está curiosa para saber para onde isso leva — se é que é mesmo um portal — mas, na maioria das vezes, tenho pavor do que pode estar do outro lado. Eu me inclino o máximo que posso enquanto ainda permaneço escondida atrás da porta do banheiro. Felizmente, Roarke leva apenas alguns segundos em seu quarto. No momento em que eu o ouço sair, saio rapidamente do banheiro e fico perto da porta aberta do quarto.
— ... preocupado com Marvyn e essas suspeitas dele? — A mulher misteriosa pergunta.
— Não, não preocupado. Ele é pago bem o suficiente para manter suas suspeitas para si mesmo.
— Bom. Bem, vou deixar você se preparar para o seu anúncio de hoje à noite. Estou animada que esta união será finalmente oficial. Espero que a cerimônia aconteça em breve.
— Vai, — diz Roarke.
Vários momentos de silêncio seguem, em que começo a me sentir ainda mais confusa do que antes. Esta mulher quer esconder seus encontros com Roarke do jeito que uma amante secreta faria, mas está feliz que ele vai se casar comigo?
Eu ouço a porta principal da suíte abrir e fechar. Eu me pergunto se eles foram embora, mas então escuto os pés de Roarke — mais pesado que o da mulher — atravessarem a sala de estar. Apavorada que ele possa voltar ao seu quarto, eu começo a andar na ponta dos pés em direção ao banheiro. Mas o raspar de uma cadeira me diz que ele provavelmente está sentado agora. Eu me abaixo perto da cama de qualquer maneira, só no caso de eu ter que escorregar para debaixo dela rapidamente para me proteger.
Depois de vários minutos que parecem horas, ouço uma batida na porta. Então a voz de Aurora quando a porta abre: — Oh, onde está Em?
Droga.
— Como eu deveria saber? — Roarke pergunta. — Eu pensei que ela estava com você.
Droga, droga, droga.
Faço a única coisa em que consigo pensar: corro para a janela mais próxima, jogo minhas pernas sobre ela e me abaixo do outro lado. As pontas dos meus sapatos de cetim do tipo bailarina procuram pontos de apoio entre os tijolos de mármore. Os sapatos ficarão arranhados quando eu voltar para dentro, mas espero que ninguém perceba. Eu desço com cuidado, parando quando meu pé sente a abertura de uma janela próxima abaixo. Eu me movo para o lado, desço mais alguns tijolos e espio pela lateral da janela. Parece uma sala de estar privada. Cadeiras confortáveis, um armário cheio de bebidas, um espelho emoldurado a ouro repugnantemente ornamentado em uma parede e pinturas de mulheres seminuas nas outras. Mas o mais importante, não há ninguém nela.
Eu piso no peitoril da janela e pulo para dentro. Segundos depois, eu estou no corredor, andando o mais rápido que posso sem arriscar a atenção se por acaso eu passar por alguém. Eu rapidamente percorro algumas curvas até chegar à escada que leva à ala da família real. Eu corro para cima e quase colido com Aurora no topo.
— Oh, ai está você, — ela diz, alívio aparecendo em seu rosto. — Eu pensei que você estivesse indo para a suíte do Roarke. — Eu procuro em suas feições qualquer sinal de suspeita, mas tudo o que vejo é confusão.
— Ele não está lá, — digo a ela. — Uma das criadas disse que ela o viu perto da biblioteca, então fui procurá-lo. Perda de tempo, no entanto, já que ele não estava lá também. Tem certeza de que ele terminou com seja lá qual for o negócio importante com o qual ele estava lidando esta manhã?
— Sim, eu acabei de vê-lo em seus aposentos.
Eu reviro meus olhos e rio. — É isso o que acontece quando você mora em uma casa do tamanho de uma cidade pequena. Podemos passar o dia todo procurando um pelo outro e nunca nos encontrar.
— E isso, — Aurora diz quando ela pega meu braço e vira para a suíte, — é por isso que temos criados para procurarem por nós. De qualquer forma, eu vi a roupa de Roarke. Eu acho que vai combinar esplendidamente com o vestido rosa dourado. Você está feliz com isso?
Estou feliz com qualquer coisa que desvie a atenção de Aurora do fato de que eu não estava onde deveria estar. Espero que, se Roarke questionar meu paradeiro depois, ele acredite na minha história com a mesma facilidade. — Isso soa perfeito, — digo a ela. — O rosa dourado é meu favorito.
Eu a sigo de volta para sua suíte, onde uma enxurrada de atividades já começou. Cabeleireiros e maquiadores organizam seus instrumentos e feitiços. Lemon, a conjuradora de roupas, cuida de pequenas imperfeições em nossos vestidos. As criadas da rainha entram e saem com mensagens da mãe de Aurora sobre joias, enfeites de cabelo, lanches e outros assuntos triviais. E o tempo todo, minha mente está cheia da conversa que eu não deveria ouvir e da magia que eu não deveria ver.
Capítulo 10
QUANDO A NOITE CHEGA, O INVERNO SE ESTABELECE E O SALÃO DO BAILE ESTÁ VIVO com atividade. Mulheres em vestidos lindos e homens em trajes tradicionais de faeries — calças de terno e jaquetas com gola alta com ombros afiados — se misturam na pista de dança no centro do salão de baile. Dezenas de mesas redondas rodeiam a sala, cada uma com uma escultura de gelo de um dragão formando o coração das peças centrais. Do lustre de vidro no centro do teto, cordas de pequenas luzes cintilantes irradiam. E do próprio teto, flocos de neve brilhantes caem, desaparecendo em nada antes de alcançar a cabeça de qualquer pessoa.
Fico em um lado da sala com Aurora e duas damas de companhia que, ao que parece, tiveram permissão para voltar das férias para qual Aurora as enviou. Elas conversam sem parar, ocasionalmente enviando olhares curiosos na minha direção, enquanto eu tento fingir que estou interessada no que elas estão falando. A verdade é que minha mente não poderia estar mais longe dessa festa. Eu não consigo tirar o pensamento sobre as sombras da minha cabeça. Roarke e aquela mulher estavam obviamente falando sobre o lugar que ele e Aurora me levaram no dia em que me encontraram no meu antigo quarto na casa de Chelsea. O lugar de onde Dash e eu fugimos de uma criatura sombria e disforme — uma sombra? — e acabamos de volta ao mundo fae perto do buraco no véu. Com todas as coisas ocupando minha mente, eu mal pensei naquele incidente até esta tarde.
Meu olhar atravessa a multidão enquanto eu me pergunto qual delas estava no quarto de Roarke mais cedo. Pode ser qualquer —
— E o que te trás a Corte Unseelie, Em? — A pergunta vem de uma das companhias de Aurora. Mizza? Algum nome estranho assim.
Eu levo um segundo para colocar meu sorriso no lugar, mas Mizza não parece notar. — A Guilda queria me prender, mas alguns dos Unseelies — guardas pessoais do Principe Roarke, na verdade — me resgataram.
Ela solta um suspiro como uma dama e coloca uma mão contra o peito. — Oh, que emocionante. O príncipe estava com eles no momento? Ele é tão bonito, não acha?
— Por que a Guilda queria prendê-la? — A outra jovem dama pergunta.
O nome dela escapou completamente de mim. — Eu sou uma Dotada Griffin, então a Guilda achou que eu merecia ficar presa.
Ambas as damas ficam boquiabertas, mas eu mantenho meu sorriso sereno. Tenho permissão para começar a compartilhar a primeira parte da minha história agora — menos os detalhes da minha Habilidade Griffin. Ao mencionar o nome do Roarke ao falar do meu resgate, espero que as pessoas acreditem nele quando ele se levantar mais tarde e anunciar que eu sou o amor da sua vida.
— É uma história muito excitante, — acrescenta Aurora, — e prometo que vou contar tudo sobre isso depois. Mas agora, quero apresentar a Em para algumas outras pessoas.
— Não foi tão ruim, foi? — Ela pergunta baixinho conforme me leva para longe.
— Hum... eu não sei. Eu não escutei muito do que elas disseram.
— Em! — Ela bate no meu braço, mas seu horror zombeteiro logo se transforma em um sorriso. — Eu suponho que é tudo muito difícil para você, se você nunca esteve em um evento como este antes. Tantas distrações.
— Sim, — murmuro, observando um pégaso em miniatura passar. Erguendo os olhos, noto que há muitos deles no ar, cada um com um tom pastel diferente. Enquanto eu observo, uma mulher estende a mão, pega um e morde a cabeça.
— Oh, — eu suspiro, parando. — Isso é horrível.
— O quê? — Aurora segue meu olhar e começa a rir. — Oh, Em, é apenas um bolo voador. Eles não são criaturas reais. — Ela fica na ponta dos pés e agarra um. Ele luta em seu aperto, mas no momento em que ela puxa sua asa, ele para de se mover. — Vê? Apenas bolo e glacê. — Ela estende a asa para mim, e debaixo da camada externa rosa pastel, eu vejo um bolo cor de caramelo.
— Hum, não, obrigada, — eu digo quando ela tenta me fazer pegar parte da asa. — Isso é perturbador. — Eu olho para longe da mulher compartilhando o pégaso decapitado com sua amiga e me concentro em suavizar minha carranca. — Então, as pessoas sabem que há uma razão pela qual elas estão aqui, além do aniversário de sua mãe?
— Ninguém sabe ao certo, mas todos suspeitam de um anúncio de compromisso, — diz Aurora. — Eu ouvi as palavras ‘casamento’ e 'união' várias vezes enquanto passeava esta noite.
— E eu não devo confirmar suas suspeitas se alguém me perguntar?
— Não. Vamos deixar as pessoas imaginando por um pouco mais de tempo. Elas podem espalhar muitos rumores ao redor deste salão de baile o quanto quiserem até que Roarke faça o anúncio. Agora, vamos ver. — Ela toca no colar de pérolas negras apoiadas na base do pescoço, quando olha em volta. — A quem eu posso apresentar a você — Oh. Deixa pra lá. — Os músicos na plataforma elevada do outro lado do salão de baile pararam de tocar. Aurora olha em direção à porta maciça arqueada junto com todos os outros na sala. — Meus pais chegaram, — ela sussurra para mim.
Quando o Rei e a Rainha Unseelie são anunciados, todos os convidados no salão de baile se curvam ou fazem reverências. — Bem-vindos, — grita o rei Savyon enquanto todos nós nos levantamos. — Obrigado por se juntarem a nós enquanto celebramos o aniversário da Rainha Amrath. Hoje à noite, vocês se deliciarão com o melhor entretenimento, comerão os pratos mais exóticos e dançarão até o sol nascer. Que as celebrações comecem!
O lustre explode e o salão de baile se enche de guinchos e suspiros. Eu me abaixo e olho para cima, meus pensamentos se debatendo para descobrir o que está acontecendo. Um ataque externo? O rei está perdendo a cabeça e matando a todos nós? Mas quando a fumaça se dissipa, vejo centenas de objetos semelhantes a paraquedas flutuando em direção à multidão. Os murmúrios de medo se transformam em sussurros de espanto, depois em risadas e dedos apontando. Aurora pega dois paraquedas e entrega um para mim. Uma pequena caixa em forma de cubo pende de um dossel de pétalas. Quando coloco a caixa na palma da mão, os lados e o topo desaparecem, revelando uma rosa prateada dentro.
— Perfeito, — Aurora diz com um sorriso. — Eles saíram exatamente como a mãe queria que saíssem.
— O que é isso?
— Chocolate. — Ela ri. — E um feitiço que evita que você se canse até o sol nascer. Nós vamos festejar a noite toda. — Ela coloca a rosa em sua boca e gesticula para eu fazer o mesmo. Eu mastigo o chocolate amargo enquanto olho em volta para as pessoas pulando para pegar paraquedas, passando para seus amigos e comparando as rosas para ver se elas são todas iguais. Meu olhar cai sobre um homem olhando para mim — e meu coração quase para quando eu reconheço Dash.
Eu fico em choque quando ele olha para longe e duas mulheres pulando para pegar paraquedas o bloqueiam momentaneamente de ser visto. Não pode ser ele. É um truque da minha imaginação, minha mente transformando outro jovem em Dash. No entanto, eu pisco e espreito de mais de perto, uma parte de mim esperando que seja realmente ele. Mas não é. Seu cabelo está diferente, e seu braço, noto quando ele alcança um dos paraquedas caindo, está nu, sem as marcas de um guardião.
— Oh, olhe! — Aurora agarra meu braço e me puxa. Ela aponta para cima, enquanto a luz da sala escurece e pessoas em collant brilhantes descem pelo ar do teto. Eles deslizam graciosamente entre as cordas de luzes e ficam pendurados logo abaixo delas, girando lentamente e dando cambalhotas com movimentos coordenados para acompanhar a música misteriosa. Isso me lembra um pouco do nado sincronizado, ou tecido acrobático onde os acrobatas ficam pendurados em pedaços de tecido. Exceto que agora, não tem água para flutuar. Não há tecido para ficar pendurado. Esses artistas estão suspensos no ar por magia.
A noite continua com a dança — eu consigo não errar - comendo e bebendo, intercalada com várias formas mágicas de entretenimento extravagantes: malabaristas jogando bolas coloridas no ar, onde se transformam em doces de arco-íris que fazem sons de estalo e disparam doces em forma de estrela para todos; uma mulher soprando bolhas em qualquer forma que seu público solicite; um par de centauros que galopam e fazem uma dança dramática antes de galoparem para longe; e um homem que persuade sua magia em um dragão do tamanho de Imperia feito inteiramente de fogo.
Minha imaginação parece estar sobrecarregada de todas as coisas fantásticas que eu vi no espaço de apenas algumas horas, quando Roarke finalmente vem até mim. Eu o vi de longe esta noite, vestido de forma semelhante à maioria dos outros homens, mas com os punhos e gola alta de sua jaqueta feita de tecido em relevo dourado. Nós concordamos há alguns dias que não falaríamos ou dançaríamos juntos até depois do anúncio. Então, se ele está na minha frente agora, isso deve significar...
— Minha adorável Lady Emerson, acredito que temos um anúncio para fazer.
Eu engulo quando meu estômago se agita. — Oh. Que horas são? — Eu esperava adiar o maior tempo possível. De fato, parte de mim tem fingido a noite toda que se eu me recusasse a pensar sobre isso, isso nunca aconteceria.
— Não vamos deixar nossos convidados esperando por mais tempo. — Roarke coloca a mão nas minhas costas e me direciona para a plataforma elevada onde os músicos estão sentados. — Acho que elevamos o suspense por tempo suficiente. Todo mundo está se divertindo, mas agora não há um único convidado nesta sala que não esteja se perguntando qual é a bela dama que seu príncipe escolheu para ser sua esposa. Vamos afastar todas as suas especulações sussurradas.
Quanto mais nos aproximamos da plataforma, mais silenciosa a sala se torna. Finalmente, ao subirmos os três degraus que conduzem ao lado, os silêncios reinam, interrompidos apenas pelo sussurro ocasional e o farfalhar de saias. — Lembre-se de mostrar a todos como você está feliz, — Roarke murmura, seus lábios mal se movendo e seu sorriso continua no lugar.
Não tenho certeza se posso fingir estar feliz agora, mas posso pelo menos esconder meu medo. Enquanto Roarke encara a multidão e eu fico parada ao lado dele, eu tento imitar a maneira como ele se porta, empurrando meus ombros para trás, e levanto meu queixo levemente. Eu forço meus lábios em um sorriso que eu possa controlar.
Então eu cometo o erro de olhar para o salão de baile lotado. Centenas de rostos olham para mim com expressões que variam de curiosidade para aversão absoluta. Não mostre medo, não mostre medo. Eu pisco e estabeleço meu olhar na parede distante, logo acima da linha de pessoas. Não se mexa, permaneça equilibrada, continue sorrindo. Mas apesar da minha máscara de confiança, um rugido distante começa a encher meus ouvidos. Meu coração bate tão descontroladamente que temo que eu possa realmente ter uma parada cardíaca.
Roarke começa a falar, mas eu ouço apenas pedaços do que ele está dizendo: meu passado no reino humano, meu status de Dotada Griffin, meu resgate da Guilda. Eu ouço as palavras ‘uma corte rápida’ e 'profundamente apaixonado', e então, finalmente, Roarke olha para mim, pega minha mão na dele, e diz, — Eu nunca estive mais feliz do que no momento em que meu pai nos deu permissão para nos unirmos. — Ele encara a multidão novamente, segurando a minha mão. — E então, meus senhores e senhoras, eu apresento a vocês a mulher com quem estarei me unindo em exatamente doze dias: a linda, cativante e gentil Emerson.
Silêncio cumprimenta as palavras finais do príncipe. Ele paira, se expande, pressiona meus ouvidos e, finalmente, estoura. Gritos, brindes e aplausos preenchem meus ouvidos e, de repente, essa união parece real demais. Eu sei que eu concordei com isso, mas enquanto não era oficial, eu achava que encontraria uma saída. Mas agora que todo mundo sabe, parece quase impossível. Pela primeira vez, isso me atinge — realmente me atinge — que eu vou ter que fazer isso. Eu vou casar com um príncipe. Este palácio e essas pessoas vão se tornar minha vida. Tudo isso vai se tornar a vida da minha mãe também. Pelo tempo que for necessário para descobrir como vamos escapar.
— Vamos dançar agora, meu amor? — Roarke me pergunta.
Não confiando em mim para falar, eu simplesmente aceno. Ele me leva para baixo da plataforma e em direção ao centro do salão de baile enquanto a música recomeça. Minhas pernas começam a tremer com o pensamento de um salão de baile inteiro de pessoas nos assistindo dançar, mas Roarke levanta a voz e incentiva a todos a participarem. Com conversas animadas, eles correm para encontrar parceiros enquanto Roarke e eu nos encaramos e nos movemos para a posição inicial.
Já dancei várias vezes esta noite, mas agora é diferente. Ninguém se importava com quem eu era antes. Ninguém prestou atenção em mim. Mas agora, mesmo que todos estejam dançando também, sinto seus olhos em mim. Teria sido ótimo se minha Habilidade Griffin fosse capaz de me dar à habilidade de executar cada passo com perfeição, mas aparentemente minha Habilidade Griffin não sabia como fazer isso. Então, fico concentrada em todos os movimentos, em cada detalhe intrincado, em cada giro e pivô. Felizmente, com um parceiro especialista como Roarke, é fácil esconder o erro estranho e a hesitação.
Parceiros se movem ao nosso redor enquanto a música muda de novo e de novo, mas Roarke se agarra a mim para várias danças. Ele pressiona um beijo sob o meu ouvido em um ponto, e eu tenho que trabalhar fortemente para não me encolher. Eu digo a mim mesma para ficar grata por ele não beijar meus lábios. Eventualmente, ele me entrega a outro parceiro, e agora eu realmente tenho que me concentrar, minha atenção dividida entre ter uma conversa educada e seguir os passos.
O tempo passa. Eu continuo circulando a sala, mudando para um novo parceiro sempre que é apropriado. Embora eu esteja completamente fora da minha zona de conforto, a música me incita a continuar dançando. Ou é o chocolate encantado que comi antes?
Danço, converso, mudo de parceiro, repito. Começo a me perguntar por quanto tempo eu tenho que fazer isso antes que eu possa sair da pista de dança e dar um tempo de tudo. Eu giro ao redor e para os braços de outro parceiro. Um homem, que percebo com meu segundo choque da noite, que reconheço afinal de contas.
Dash.
Capítulo 11
MEUS PÉS TROPEÇAM EM UM IMPASSE. UMA COMBINAÇÃO ESTRANHA DE ALEGRIA E HORROR dispara através de mim. O cabelo de Dash está completamente diferente, como eu percebi anteriormente, e vários dias de barba para fazer melhoram seu disfarce. Mas é definitivamente ele.
— Não pare de dançar, — diz ele, me forçando a acompanhar a música. Então, depois de dar aos dançarinos em volta dele um sorriso agradável e totalmente falso, ele sussurra, — Qual diabos é o seu problema?
Outro segundo de choque passa antes que eu encontre minha voz. — Eu? Qual o seu problema? Como até mesmo você — o que você — você sabe o que Roarke e Aurora farão se reconhecerem você?
— Eles me viram por cinco segundos naquele dia. Eles não vão me reconhecer agora.
— Mas como você —
— O que você está fazendo aqui, Em? Por que você está aceitando essa charada de união estúpida? Eu esperava encontrar uma prisioneira e, em vez disso —
— Nós não vamos ter essa discussão aqui, — eu digo a ele com os dentes cerrados, meu sorriso completamente esquecido agora. — Encontre-me lá fora. — Eu me livro de seu aperto e viro. O homem que eu encontro parece assustado. Ele e a mulher com quem ele dança quase tropeçam. Mas, felizmente, depois de dois ou três segundos desastrosos, todos trocam de parceiros e, para qualquer um que esteja observando, parece que a quase-princesa acidentalmente tentou trocar alguns segundos antes. Felizmente entro nos braços do homem confuso e continuo dançando, tentando manter um sorriso sereno no lugar enquanto meu coração troveja no meu peito.
Ainda mal posso acreditar. Dash está aqui. Através da minha raiva e terror — porque esse é exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando evitar quando escolhi vir para cá, e agora ele está bagunçando tudo — eu estou dolorosamente feliz em vê-lo.
— Foi horrível crescer no reino não mágico? — Pergunta meu parceiro de dança.
— Hum, bem, eu não conhecia nada melhor, então eu não sabia o que estava perdendo.
— Deve ter sido emocionante ter descoberto que você pertence a este mundo em vez disso.
— Sim. Magia é... muito maravilhosa. — Estou distraída quando vislumbro Dash com outra parceira.
Quando a dança termina, consigo recusar educadamente a mulher que esperava ser minha próxima parceira. Deslizo por ela e saio da pista de dança, entre as mesas e cadeiras, e em direção à porta em arco que leva aos jardins. É estranho olhar e ver uma paisagem branca como a neve enquanto me sinto tão quente que estou quase suando. Deve haver um feitiço na porta aberta que mantém o ar frio do inverno lá fora.
Olhando para trás, vejo pelo menos duas mulheres vindo em minha direção com olhos brilhantes e sorrisos largos, provavelmente esperando conversar comigo. Maravilha. Agora que todo mundo sabe quem eu sou, eu nunca sairei desse salão sem ser notada. Eu procuro por uma distração, e na mesa mais próxima, vejo um dos doces do arco-íris estourando. Eu discretamente deixo cair no chão, levanto a saia e chuto para o lado. Ele gira para longe da multidão, zumbindo, estalando e atirando doces minúsculos em todos os lugares. Na comoção, encontro os olhos de Dash por um segundo. Então me viro e saio para a noite.
O frio me atinge no momento em que passo por baixo do arco, mas depois de toda aquela dança, o ar gelado é um alívio bem-vindo. Depois de descer correndo as escadas, viro à direita, saio do caminho e espero à sombra de uma árvore com maçãs prateadas, salpicadas de neve penduradas em seus galhos. Eu expiro longamente e devagar, mas minha ansiedade só aumenta quando os segundos passam e eu espero por Dash.
Eu fico tensa quando passos apressados descem as escadas. Dash olha ao redor, me vê, e com alguns passos rápidos ele está na minha frente. — Qual é o seu problema? — Ele exige imediatamente. — Andando por aí como se você pertencesse aqui. Participando dessa idiotice de união. Você não pode estar planejando —
— Você quer falar sobre idiotice? — Eu retruco. — Você é idiota. Por que veio aqui? Essas pessoas são seus inimigos. Você sabe o que farão com você se descobrirem o que você é e para quem você trabalha?
— Eles são seus inimigos também, Em, mas de alguma forma você os deixou manipular para se casar com um deles —
— Eu não fui manipulada coisa nenhuma, — eu digo, ainda tentando manter minha voz nada mais alto do que um sussurro irritado. — Eu escolhi estar aqui. Roarke apresentou uma solução — casamento em troca de curar minha mãe — me deu tempo para pensar sobre isso, e eu decidi aceitar sua oferta. A única pessoa que quer me forçar a fazer coisas é o rei, mas Roarke não o deixa. Ele quer uma esposa disposta. Ele não vai me manipular para fazer qualquer coisa contra a minha vontade, apesar do que você está pensando.
Dash parece que ele está prestes a ficar doente. — Você... você veio aqui voluntariamente? Ninguém te obrigou a isso?
— Sim. Ele ofereceu algo que eu queria e decidi que o preço valia à pena.
— O preço é um casamento, Em! Uma união! Você parou para pensar o quão sério é isso? Estamos falando do resto da sua vida. As uniões neste mundo não são como as do seu mundo. É um vínculo mágico que não é facilmente quebrado. E uniões reais? Eu nunca ouvi falar de uma união sendo quebrada. Se você continuar com isso, é para sempre.
Eu reviro meus olhos, mesmo quando o peso de suas palavras perfura meu núcleo e deixa minha pele mais fria do que há um momento atrás estava. — Agora você está sendo um idiota novamente. Eu não pretendo realmente que essa união aconteça. Eu tenho uma Habilidade Griffin, pelo amor de Deus. Uma extremamente poderosa. Quando for o momento certo, e quando eu tiver aprendido bastante controle sobre ela, eu vou pedir ao Roarke para me dizer tudo que eu preciso saber para curar minha mãe, e então eu vou escapar.
Dash ainda parece um pouco doente. — Sério? Esse é o seu plano? Você realmente acha que depois de tudo isso lá — ele acena genericamente na direção do salão de novo — eles vão deixar você escapar?
— Tudo bem, primeiro de tudo, ‘escapar’ implica que eu não vou pedir permissão. Eu vou embora. Então não importa se eles vão me deixar ou não. E em segundo lugar... — Eu lentamente respiro profundamente porque eu tenho que admitir que estou me sentindo tão doente quanto Dash parece. Em segundo lugar, percebo que escapar pode não ser possível. Eles podem me pegar e me forçar a participar desta...
— Você acha?
— ... apesar de tudo que Roarke diz sobre querer uma esposa disposta, — eu continuo, interrompendo Dash. — E se é assim que acaba, então que assim seja. Pelo menos eu vou pegar as informações que preciso, e então —
— Isso se Roarke realmente prosseguir com seu lado da barganha e dizer a você o que ele sabe — o que provavelmente não é nada, a propósito. Como ele pode saber mais sobre sua mãe do que o resto de nós? Mas quando você descobrir isso, será tarde demais para você. — Ele ergue as mãos e olha para o lado enquanto balança a cabeça. — Todo esse seu plano é totalmente inútil.
Um calafrio me percorre. Meu corpo esfria rapidamente, e o ar do inverno parece estar se infiltrando em meus ossos. Eu corro minhas mãos vigorosamente para cima e para baixo nos meus braços. — Não é inútil. Magia negra prendeu minha mãe em um coma permanente, e Roarke, como um membro da corte que usa esse tipo de magia, sabe como acordá-la. E, mais importante, ele sabe o que causou sua doença mental. Foi algo mágico, e ele sabe como consertar isso.
— Ele está mentindo, Em, — Dash diz com o tipo de tom que ele usaria conversando com uma criança ingênua. Distraidamente, ele move a mão em um movimento rápido e circular acima da minha cabeça, e eu imediatamente começo a me sentir mais quente. — Você realmente acha que um príncipe mimado sabe alguma coisa sobre doenças mentais mágicas? Ele diria qualquer coisa para você ficar e dar-lhe acesso total à sua Habilidade Griffin. Por que você não consegue ver isso?
— Ele não está mentindo. Ele sabe muito mais sobre o meu passado do que qualquer outro que eu tenha encontrado neste mundo. Ele já provou isso para mim. Ele é minha melhor chance de salvar a minha mãe.
— Mas... isso é só... — Dash se debate por um momento. Ele puxa seu cabelo, que eu percebo que é uma peruca quando se solta em sua mão, revelando seu próprio cabelo bagunçado por baixo. — Eu sei que você quer que sua mãe esteja melhor, — ele diz, seus olhos voltando aos meus, — mas por que sua saúde e felicidade têm que ser exclusivamente responsabilidade sua? Ela é realmente — Ele se interrompe, respirando pesadamente. Eu sei que isso vai me fazer soar como o cara mau. Eu não quero te perguntar se ela vale à pena, porque claramente —
— Como você pode pensar isso? — Eu arquejo.
— Eu não estou! É isso que eu estou dizendo. É claro que ela vale a pena. Ela é sua mãe, e claramente você a ama mais do que tudo em qualquer mundo, mas... — Seus olhos me imploram. — Ela quer que você faça isso? Ela quer que você jogue fora toda a sua vida no que é provavelmente uma tentativa fútil de salvar a dela?
— Eu não estou jogando fora toda a minha vida! — Eu grito. Então eu me lembro. Lembro das palavras de Aurora — meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares — e abaixo a voz novamente. É quase um sussurro agora. Meus lábios mal se movem enquanto eu falo. — Eles podem me forçar a um casamento, mas isso não significa que eu ficarei aqui para sempre. Minha Habilidade Griffin me faz mais poderosa que a maioria das pessoas neste mundo. Mamãe e eu vamos escapar um dia.
— Mesmo que isso seja possível, — diz Dash, — quantas coisas ruins eles vão te obrigar a cometer antes disso?
— Eu... eu... — Eu não tenho uma resposta para isso.
— Por que você acha que eles querem você, Em? Para que você possa deixar o trabalho sujo dele mais fácil, é por isso. — Ele pega meus ombros e me dá uma pequena sacudida. — Essas pessoas não são boas. Com certeza você sabe o tipo de coisas que elas vão fazer você fazer?
Eu me liberto de seu aperto. — Você está errado. Roarke não é assim, e Aurora também não. — Mas o rei é, uma voz silenciosa me lembra. Aquela cena no escritório do rei — a cena que continuo empurrando para fora dos meus pensamentos — aparece abruptamente na frente da minha mente. O rei com a mão apertando o ar, e a cabeça do homem sendo arrancada de sua —
Eu pisco e estremeço e desvio o olhar.
— Sério? — Dash diz. — Eles não são assim?
Eu posso dizer sem encontrar seus olhos que ele sabe que estou mentindo. Eu dou uma respiração trêmula. — Eu vi... alguma coisa. — Eu pisco de novo e balanço a cabeça, tentando forçar a memória para longe. Eu me concentro nos olhos verdes de Dash novamente, sabendo que não há sentido em tentar convencê-lo com mentiras que eu também mal acredito. Não há sentido em nada além da verdade. — Que outra escolha eu tinha, Dash? — Minha voz é um sussurro desesperado agora, tendo perdido seu tom defensivo. — Estas são as únicas pessoas que podem me ajudar.
— Você poderia ter confiado em nós! Eu e todo mundo no oásis. Queremos ajudar você, Em. Nós não fizemos nada, além de tentar ajudá-la desde que você chegou a este mundo, e isso não mudaria. Eu não entendo porque você simplesmente virou as costas para tudo isso e —
— É por isso, Dash! Foi por isso que eu tive que ir embora.
Ele faz uma pausa, as sobrancelhas subindo mais alto. — Isso deveria fazer sentido?
— Você e seus amigos não fizeram nada além de tentar me ajudar e isso quase matou vocês. Você virou uma estátua de vidro. Lembra disso? Você e Violet chegaram tão perto de morrer. Morrer, Dash! — Minha voz se eleva quando meu peito aperta com a lembrança daquele dia aterrorizante.
— Sim, mas não morremos. Não é grande coisa.
— Claro que foi importante! Você quase morreu porque tentou me ajudar. E Chelsea e Georgia realmente estavam mortas, e elas teriam ficado assim se minha Habilidade Griffin não tivesse feito uma aparição conveniente. Então, depois de tudo isso, eu decidi que não queria que ninguém mais fosse colocado em risco por minha causa e de minha mãe.
— Em —
— Sim, eu tinha tudo que queria no oásis. É lindo, é seguro, as pessoas são incríveis. Mas se eu tivesse ficado lá, alguém teria acabado ferido ou morto porque tentaram me ajudar. Isso é problema meu. Ela é minha mãe. Se há um preço envolvido em fazê-la voltar ao normal, sou eu quem devo pagar. Ninguém mais.
Dash fica em silêncio por muito tempo antes de dizer, — É tarde demais para isso.
Eu pisco, sentindo frio novamente, apesar do feitiço de calor de Dash ainda me cercando. — O que você quer dizer?
Ele balança a cabeça e olha para o outro lado. — Isso... não era assim que eu queria te contar. Eu queria te levar para longe daqui primeiro. De volta ao oásis.
— Antes de me dizer o quê? — Eu me aproximo e envolvo uma mão fria em torno de seu braço. — Me dizer o quê, Dash? O que aconteceu?
— Chelsea e Georgia... — Ele fecha os olhos e pressiona os lábios antes de continuar. — As duas... morreram.
Eu solto minha mão de seu braço tão rapidamente como se sua pele tivesse me queimado. — O quê?
— Aconteceu cerca de dois dias depois do incidente de vidro com Ada.
— Mas... elas não podem estar mortas. Minha Habilidade Griffin as trouxe de volta a vida.
— Elas eram humanas, Em, — ele diz gentilmente. — Sua Habilidade Griffin pode ter funcionado nelas, mas seus corpos não conseguiram lidar com a magia. No final, isso as matou.
— Mas... você tem certeza de que elas eram humanas? Quero dizer, ela é irmã da minha mãe e minha mãe é uma faerie. E sobre todos os remédios herbáceos que Chelsea fez? Eu pensei que talvez... talvez fosse realmente mágico.
Dash não oferece explicações; ele apenas balança a cabeça. — Eu sinto muito, Em.
— Elas... elas estão realmente mortas? — Eu sussurro. — Minha magia as matou. Eu pensei que isso as salvou, mas as matou.
— Em —
— Eu matei minha própria família.
— Não foi você quem as matou, — diz Dash, sua voz repentinamente feroz. — Ada fez isso com sua horrível magia de vidro. Ela as quebrou em milhares de pedaços. Você fez o que pôde para salvá-las, mas não foi o suficiente. Elas estavam condenadas desde o momento em que ela as tocou pela primeira vez.
Minhas pernas não conseguem me segurar. Eu caio no chão, sem um segundo pensamento sobre o vestido caro que eu provavelmente estou estragando. Respirações rápidas e superficiais me consomem enquanto olho para o jardim. Dash ainda está falando, mas não consigo mais ouvi-lo. Eu não sei como devo reagir a isso. Chelsea e Georgia não me amavam, e eu não as amava; Eu não posso fingir o contrário só porque elas estão mortas. Mas elas eram da família. Elas me acolheram, embora constantemente deixassem claro que eu era um peso para elas. E agora elas estão mortas e eu não consigo descobrir o que devo sentir além de me sentir culpada.
— Eu nunca quis nada disso, — eu consigo sussurrar. Eu cubro meu rosto com minhas mãos, desejando que eu pudesse apagar este outro mundo e sua magia que deixou minha vida completamente fora do meu controle. — Alguém pode simplesmente levar tudo isso embora? Por favor. Eu não quero essa magia. Eu não quero uma Habilidade Griffin. Eu não quero casar com um príncipe. Eu só quero voltar para aquela vida simples que mamãe e eu tivemos antes que a magia a deixasse louca e tudo começasse a desmoronar.
Eu sinto o braço de Dash no meu ombro e o sinto agachado ao meu lado. — Eu queria poder —
— Emerson?
Eu respiro fundo ao som da voz do Roarke. Lentamente, eu abaixo minhas mãos e o observo descer as escadas.
— O que está acontecendo? Por que você está no chão?
Dash se levanta para encará-lo.
— Você, — Roarke diz lentamente, reconhecimento em seus olhos. — Bem, agora. — Seu olhar se move para mim enquanto sua expressão se torna ilegível. — Se isso não é uma situação interessante.
Capítulo 12
EM MENOS DE UM MINUTO, EU ME ENCONTRO DE VOLTA DENTRO DO CALOR DO palácio em uma pequena sala de estar em algum lugar perto do salão de baile. Apesar do turbilhão de emoções me dominando, eu não ouso desobedecer Roarke quando ele proferiu — Siga-me. — em um tom mais frio do que o ar do inverno. Dash hesitou, mas logo nos alcançou. De volta ao salão de baile, ninguém parou o príncipe ou sua noiva. Ninguém sequer olhou em nossa direção. Eu suspeito que a magia de Roarke seja a responsável por isso.
A porta da sala de estar se fecha sozinha. Chamas ganham vida na lareira. — O que ele está fazendo aqui? — Roarke exige imediatamente, apontando para Dash sem olhar para ele.
— Eu... eu não... — Eu corro minhas mãos pelo meu rosto, tentando me concentrar nas palavras de Roarke e vendo apenas os olhos sem vida de Chelsea e Georgia. Seus corpos frios. Sozinhas em suas camas em sua pequena casa em Stanmeade. Eu pisco e olho para as chamas crepitantes dançando na lareira, na esperança de queimar a imagem brilhante e quente em minha mente. — Eu não sei, — eu digo finalmente, me afastando do fogo. — Fiquei tão chocada quanto você por vê-lo aqui. Essa coisa ainda está ligada a mim — Eu toco o pedaço de metal do tamanho de uma moeda atrás da minha orelha — então nenhuma mágica deveria ter sido capaz de me localizar.
Roarke atravessa a sala. Seus dedos envolvem o braço de Dash. — Onde estão suas marcas de guardião?
Dash puxa o braço para longe e solta uma risada curta. — Tem essa coisa que as garotas usam. É chamado de corretivo. Funciona muito bem para cobrir —
— E como você entrou no meu palácio?
Dash leva seu tempo cruzando os braços sobre o peito antes de encarar Roarke. — Sua mãe decidiu terceirizar o design do vestido de Em para esta noite. Quando um de seus empregados veio buscá-las, tive a certeza de estar lá, pronto para ocupar o lugar dele. Seu transporte me trouxe de volta aqui. Foi tudo incrivelmente fácil, na verdade.
— E como você sabia que Emerson estava aqui em primeiro lugar?
— Um palpite, acho que mais um processo de eliminação. Eu achei que poderiam ser vocês, os Seelies ou a Guilda que a prendiam. Perguntei por aí, e a Guilda e os Seelies ainda pareciam estar sob a impressão de que Em estava morta ou desaparecida. Sabe, desde o incidente no penhasco. — Dash dá de ombros. — Portanto, tinha que ser vocês.
— Então você contou aos seus superiores tudo sobre suas suspeitas, e eles te recompensaram deixando você entrar furtivamente em minha casa e meter seu nariz indesejado ao redor? Duvidoso. Você não parece estar na hierarquia mais alta da Guilda para ter uma missão tão importante quanto recuperar uma perigosa e poderosa faerie Dotada Griffin como Emerson.
O olhar de Dash se estreita um pouco. — Eu não estou aqui representando a Guilda.
— Ah. — Roarke acena com a cabeça. — Eu tive a sensação de que poderia ser algo nesse sentido. — Ele caminha até a cômoda do outro lado da sala e abre uma gaveta. — Você e Emerson pareciam estar ficando muito confortáveis quando Aurora e eu encontramos vocês dois juntos em seu antigo quarto. — Ele fecha a gaveta e se vira para nos encarar novamente. — Depois que ela escapou da Guilda. Quando você — um guardião — não deveria saber nada sobre o paradeiro dela. — Ele balança a cabeça e solta uma risada silenciosa. — Um traidor para sua própria espécie, eu vejo. Que decepcionante.
A expressão do Dash escurece. — Na verdade não. Acontece que eu discordo de marcar, rastrear e aprisionar Dotados Griffin.
— E você tem alguma marca em você, garoto guardião? Para que alguém possa convocá-lo ou determinar sua localização?
— Eu disse a você que não estou aqui em nome da Guilda, então por que eu seria estúpido o suficiente para deixar alguém me marcar?
— Bom. — Roarke se move em direção a Dash. — Mas apenas no caso ... — Sua mão gira e bate na lateral do pescoço de Dash.
Quase rápido demais para ver, Dash pega o braço de Roarke e o torce, girando o príncipe ao redor e prendendo o braço atrás das costas. — O que você acabou de fazer? — Dash sibila. O som de um chiado percorre o ar, e com um grito, Dash empurra Roarke para longe dele. — O que —
Roarke se endireita, rola os ombros e ajusta o colarinho de sua jaqueta. — Eu não gosto de ser maltratado.
Dash toca o lado do pescoço dele. — O que é isso? — Quando sua mão se afasta, vejo um pequeno círculo de metal como o atrás da minha orelha.
— Uma precaução, isso é tudo, — diz Roarke.
— Como você ousa —
— Você entra em minha casa e quer saber como eu ouso a —
— Parem! — Eu grito. Minha Habilidade Griffin ainda não está pronta para emitir um comando mágico, mas meu grito é suficiente para fazer Roarke e Dash pararem e olharem em minha direção. — Apenas ... apenas parem. — Minha voz vacila. — Minha tia e prima estão mortas, e vocês dois estão agindo como crianças mesquinhas.
Uma carranca puxa as sobrancelhas de Roarke para baixo. — Sua tia e prima? Com quem você viveu no mundo não-mágico?
Eu olho para trás em direção ao fogo enquanto eu aceno. — Dash me contou. Do lado de fora. É por isso que eu estava sentada no chão. Eu estava... eu simplesmente não consigo acreditar.
— Estas são as pessoas de quem você particularmente não gostava? — Roarke pergunta, seu tom não indelicado, apenas curioso. — Aquelas que te trataram mal desde que você se mudou para a cidade para viver com elas?
Eu concordo. — Mas elas ainda eram da família. Bem, eu não sei o que elas eram. Mamãe e Chelsea eram irmãs, mas mamãe é uma faerie e Chelsea era humana, então... elas não podem ter sido irmãs? Eu não sei. Eu não entendo. — Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas novamente e fecho meus olhos. — Mas eu morei com elas. Por anos. Eu pensei que elas eram da família, e agora elas morreram.
Eu ouço os passos silenciosos de Roarke se aproximando antes que ele coloque uma mão cuidadosamente contra as minhas costas. — Eu sinto muito, Emerson. Eu não posso imaginar como é isso. Mas posso prometer isto: você está prestes a ter uma família totalmente nova. E embora possa não ser óbvio do lado de fora, nós nos importamos um com o outro. Nós vamos cuidar de você também. Você será uma de nós e finalmente pertencerá a algum lugar. Você e sua mãe.
Do outro lado da sala, Dash bufa e resmunga algo em voz baixa. Eu quase faço o mesmo, porque é claro que o verdadeiro motivo de Roarke não tem nada a ver com o desejo de me dar uma nova família e um lugar para pertencer. Ele quer minha Habilidade Griffin. Mas talvez haja mais do que isso. Talvez ele realmente queira que essa união funcione. Talvez ele planeje cuidar de mim pelo resto de nossas vidas.
— Você vai ficar, é claro, — Roarke diz para Dash. — Para a cerimônia. Você é amigo de Emerson. Tenho certeza que ela vai querer que você esteja aqui.
— Sua cerimônia é daqui a duas semanas, — Dash diz antes que eu possa expressar minha própria opinião. — Eu não posso ficar aqui por tanto tempo. Eu tenho um emprego, lembra?
— Você também tem o desejo de parar esta união, — Roarke aponta. — O que significa que, se eu deixar você sair, você dirá à Guilda exatamente o que está acontecendo, e eles tentarão interromper nossos planos e recuperar Emerson. Ou matá-la.
— Dash não diria —
— Você não sabe com certeza, — Roarke diz para mim. — Se você quer que esta união aconteça, então não podemos correr o risco que a Guilda se envolva.
— A Guilda vai se perguntar onde estou, — diz Dash.
— Deixe-os se perguntar então. Eles não sabem que você está aqui.
Dash exala lentamente, seus olhos brilhantes nunca deixando Roarke. — Eu sei que isso não importa para você, mas eu tenho casos importantes —
— Você deveria ter considerado isso antes de invadir minha casa, — diz Roarke.
— Tudo bem. — Dash força seus punhos para trás de suas costas e dá a Roarke o sorriso mais obviamente falso que eu já vi. — Muito obrigada pelo convite, Sua Alteza Real. Eu ficarei feliz em ficar aqui e participar da sua cerimônia de união.
Roarke acena. — Bom. Apenas certifique-se de que as marcas em seu pulso permaneçam cobertas. Não posso garantir sua segurança se meu pai descobrir o que você é.
— Certamente. E vou manter meus lábios fechados e não fazer perguntas sobre nenhuma das leis que vocês Unseelies quebraram ultimamente, ou sobre, digamos, aquele lugar sombrio e sem cor onde eu acordei depois que você sequestrou Em e eu.
— Perfeito. Espero que você não se esqueça dessa promessa, — Roarke acrescenta em um tom ameaçador.
— Então ... Dash é um convidado? — Eu pergunto. — Ou um prisioneiro?
Roarke olha para mim. — Você gostaria que eu fizesse dele um prisioneiro?
— Claro que não.
— Então ele é nosso convidado. — Ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu só quero te fazer feliz, Emerson. Você recebeu algumas notícias chocantes esta noite e tenho certeza de que será um conforto ter seu amigo aqui.
Minha carranca se aprofunda. — Mas você não confia nele e não quer que ele vá embora. Então, por que você o deixaria vagar livremente pelo seu palácio?
— Não se preocupe, ele será observado onde quer que vá. Se ele sair da linha, eu me certificarei de que a Guilda descubra que ele sabe muito mais sobre os rebeldes Griffin do que deveria. Duvido que ele consiga manter o emprego depois disso. — Ele olha para Dash. — Parece justo?
Dash inclina a cabeça no menor dos acenos. — Perfeitamente justo, já que eu planejo estar no meu melhor comportamento, Real Principesco.
Um músculo na mandíbula de Roarke se contrai, mas, felizmente, ele decide não retaliar a última parte. — Mais importante, minha querida Emerson, — continua ele, virando para mim, — eu gostaria de mostrar a você que eu me importo com a sua felicidade. Se isso significa tratar seu amigo guardião como convidado em vez de prisioneiro, então eu faço.
Eu ainda não sei se acredito nele, mas acho que vou descobrir nos próximos dias. — Tudo bem, — eu digo com cautela. — Obrigada.
— Vamos voltar para o baile agora. Afaste sua tristeza, meu amor, e junte-se à alegria. Você logo se sentirá melhor.
Eu duvido que isso seja verdade, mas também duvido que tenha escolha. Eu acho que o meu pedido para sair da festa, subir na cama e puxar as cobertas sobre a minha cabeça não iria cair bem. Então eu sigo Roarke para fora da sala e de volta para a festa. Eu respiro profundamente e pressiono meus lábios para evitar que estremeçam. Eu tomo a primeira bebida que é oferecida e de uma só vez, esperando que o liquido seja suficiente para entorpecer meus sentidos pelo resto da noite.
Quando está perto da meia-noite e minha Habilidade Griffin vem à tona, eu digo às palavras que fui obrigada a dizer. Ninguém me ouve em meio ao barulho, mas todos gritam oohs e aahs em admiração aos seis arco-íris que se formam um após o outro do outro lado da sala, como se marcassem os doze pontos de um gigantesco relógio colorido. Eu gostaria de poder experimentar um pouco da admiração deles com a visão do que minha própria magia produziu, mas parece que as várias bebidas que eu consumi estão fazendo seu trabalho: eu não sinto mais nada.
Capítulo 13
QUANDO CLARINA ME ACORDA NA MANHÃ SEGUINTE, SINTO QUE alguém enfiou uma estaca no meu globo ocular. E uma chave de fenda no outro olho. Alguém deve ter também aumentado o brilho do sol; Eu só posso abrir meus olhos por cerca de meio segundo antes de ter que fechá-los novamente.
— Seu almoço está na sala de estar, minha senhora, — diz Clarina. — Todos estão comendo sozinhos hoje, conforme alguns ainda estão se recuperando da noite passada.
— Almoço? — Eu pergunto com uma voz rouca.
— Sim, é quase meio-dia, minha senhora. — Seus passos se aproximam e ela acrescenta, — A bebida ao lado de sua cama aliviará sua dor de cabeça.
Eu levanto lentamente e olho para o copo de cristal com um líquido claro. Quase pergunto como ela sabe sobre minha dor de cabeça, mas suponho que ela esteja aqui há tempo suficiente para ter plena consciência das muitas ressacas que se seguem de um evento como o baile da noite anterior.
— Sua piscina está cheia, — acrescenta ela.
— Obrigada. — Eu balanço minhas pernas sobre a borda da cama e olho para o chão por um tempo enquanto meu cérebro percorre os eventos da noite anterior. Eu lembro que Dash está aqui agora. Eu lembro que Chelsea e Georgia estão ... mortas.
Eu pego o copo e meus olhos caem sobre a roupa que Clarina escolheu para mim hoje, pendurada do lado de fora do guarda-roupa. Um casaco do tipo trespassado, na cor água-marinha com padrões de branco, verde e malva. As comemorações do aniversário da rainha continuam com um chá nos jardins esta tarde, então Clarina foi obviamente instruída a escolher algo apropriadamente festivo para mim. É bonito, mas não parece certo usar algo tão... vivo.
— Clarina? — Eu chamo, esperando que ela ainda esteja na sala ao lado.
— Sim, Lady Emerson? — Ela corre de volta para o quarto.
— Tudo bem se você escolher uma roupa preta para mim hoje? Ou cinza, talvez, se preto for deprimente demais para o chá da rainha?
— Hum, certamente, minha senhora. Isso deve estar bem. Eu acredito que há uma roupa na cor carvão com detalhes bordados de prata. Deve servir?
— Sim, obrigada.
Não sinto qualquer tipo de profunda tristeza pela perda de Chelsea e de Georgia. Eu ainda estou chocada, mal conseguindo acreditar que elas se foram, mas sei que não houve nenhum amor perdido entre nós. Ainda assim, parece errado simplesmente seguir em frente com a vida e esquecê-las. Eu preciso fazer alguma coisa, e se usar preto ou cinza é a única coisa que resta para mim, então é o que vou fazer.
***
A mistura no copo funciona notavelmente rápido, e minha dor de cabeça logo desaparece. Embora eu gostasse de mergulhar na piscina de bolhas roxas por muito mais tempo, eu provavelmente devo descobrir onde Dash está e ter certeza de que ele não se meteu em problemas.
Depois de me secar e me vestir, fecho os botões da minha roupa cor de carvão e ando descalço através da minha sala de estar em busca de um pouco de comida. Eu escolho o sanduíche mais normal e volto para o meu quarto para escolher um par de sapatos.
Ao ver uma figura sentada na beira da minha cama, eu congelo. Ele vira a cabeça - e percebo que é Dash.
— Caramba, Dash. Você está tentando me dar um ataque cardíaco? Como você chegou aqui?
Ele gesticula por cima do ombro para a janela onde a cortina ondula suavemente com a brisa morna. — Sua janela estava aberta. Eu subi por ela.
Eu quero dizer a ele que ele é tão ruim quanto eu, subindo pelas paredes do palácio, mas estou com medo de que alguém importante descubra que ele está no meu quarto. — Você não pode estar aqui, — eu sussurro. — Se Roarke ou o pai dele te encontrarem no meu quarto, de todos os lugares —
— Ninguém me viu, não se preocupe. Eu não saí do meu quarto pela porta, então qualquer um observando vai assumir que eu ainda estou lá dentro. E achei seu quarto com bastante facilidade. Não tive que procurar por muitos outros.
— Dash!
— O quê?
— E quem pode estar ouvindo agora? — Eu assobio.
Dash franze a testa. — Você está brincando certo?
Eu balanço minha cabeça. — Há olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Sim, mas no seu quarto? Isso é passar dos limites.
Eu me aproximo mais dele e abaixo minha voz ainda mais. — Depois de tudo que você me falou sobre essas pessoas, você realmente quer que eu acredite que há limites que eles não passaram?
Dash hesita. — Verdade.
— Quero dizer, eu não sei ao certo se alguém está ouvindo, mas Aurora me disse para ter cuidado com o que eu digo, não importa onde eu esteja.
Dash levanta o dedo para os lábios, indicando que eu deveria permanecer em silêncio. Ele começa a andar devagar pelo quarto, olhando, ouvindo, às vezes até cheirando. — A única outra magia que eu posso sentir neste quarto está vindo da sua cama, — ele sussurra. — O que é totalmente inapropriado, se você perguntar —
O edredom se move, uma forma desliza em direção à borda e um gato preto aterrissa no chão.
— Oh, — Dash diz, sua voz não mais que um sussurro. — É o Bandit?
Eu abro meus braços e Bandit pula para cima, mudando para um pássaro para ajudá-lo a ganhar altitude, e pousando em meus braços como um gato mais uma vez. — Sim. — Eu o abraço junto ao meu peito. — Eu queria que ele ficasse no — hum, onde estava seguro. Mas ele deve ter vindo comigo em uma forma pequena demais para eu notar.
Dash sorri e se aproxima para poder acariciar Bandit atrás das orelhas. — Jack ficará aliviado. Ele está muito preocupado com Bandit.
— Então você não acha que alguém está ouvindo? — Eu pergunto.
— Eu acho que não, mas mesmo que alguém esteja ouvindo, e daí? Não é como se eu estivesse agindo de forma inadequada em relação à futura princesa. Você e eu estamos apenas conversando. Se você preferir, podemos conversar na sua sala de estar, em vez de no seu quarto.
Eu reviro meus olhos. — Como se isso fizesse alguma diferença. Você ainda teria que explicar como passou pelos guardas do lado de fora da minha porta. E subir pela janela faz você parecer muito suspeito.
Ele solta um suspiro e senta-se na beira da cama novamente. — Eu só pensei que você poderia querer saber sobre... você sabe. O funeral.
O funeral.
Chelsea e Georgia.
Mortas.
— Você estava lá? — Eu pergunto.
Dash acena com a cabeça. — Sim. Você pode ou não lembrar que algumas das pessoas em Stanmeade eram realmente minhas amigas. Não amigos verdadeiros, é claro, já que eu nunca poderia ser totalmente honesta com ninguém, mas ... sim. Tenho amigos lá e senti que deveria estar no funeral. Só para apoiar alguém que fosse amigo da Georgia.
Eu aceno e murmuro, — Claro. Sim. Ainda não consigo acreditar que ela e Chelsea se foram. Elas sempre estavam lá, sabe? Minha horrível prima e tia de quem eu não podia esperar para fugir. Então eu finalmente consegui fugir, e agora ... — Eu balanço minha cabeça. Agora, porque Ada estava atrás de mim, ambos estão mortas. Dash pode tentar me convencer de que eu não deveria me culpar, mas sei que sou responsável. Indiretamente, talvez, mas ainda responsável.
Eu deixo Bandit pular para fora dos meus braços antes de caminhar até a cadeira no canto do meu quarto. É o tipo de cadeira elegante que ninguém quer realmente sentar - uma armação de madeira excessivamente embelezada com almofadas duras demais para serem confortáveis. No entanto, eu sento na borda e pigarreio. — Era, hum, havia muitas pessoas lá? No funeral?
— Sim. Quase todo mundo na cidade estava lá. Eu acho que Chelsea conhecia muita gente, já que ela administrava um dos únicos salões em Stanmeade.
Eu franzo a testa. — Ela era uma grande fã em espalhar fofocas e rumores e eu teria pensado que haveria muitas pessoas que não gostavam dela.
— Bem, você não precisa gostar de alguém para ir ao funeral.
Eu olho para ele. — As pessoas falaram coisas horríveis?
— Não. Apenas coisas boas foram ditas sobre ela. Sobre as duas. Foi tudo muito ... — Ele esfrega a mão no rosto. — Muito estranho. Muito trágico, por um lado, e ainda assim muito falso ouvir todas aquelas homenagens adoráveis sobre duas pessoas que eu testemunhei pessoalmente serem rancorosas em várias ocasiões. E parecia errado da minha parte pensar nessas coisas, mas como eu não poderia? Eu não poderia de repente transformar Chelsea e Georgia em outra coisa em minha memória só porque elas estão mortas.
— Eu ... apenas ... — Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei o que dizer ou pensar ou sentir. O que todos acham que foi a causa da morte?
— Um vazamento de gás.
— Eu suponho que a Guilda seja responsável por essa história?
— Sim. Foi à história mais fácil de inventar.
— Você acha... você sabe se ... — Eu hesito, imaginando se eu quero saber a resposta. — Elas sofreram? A magia em seus corpos as fez sofrer quando estavam morrendo?
— Eu não sei, Em. Eu sinceramente não sei. Espero que não.
Eu inclino meus cotovelos sobre meus joelhos. — Antes de você me contar o que aconteceu com elas, eu estava começando a pensar que todo esse tempo Chelsea também era uma espécie de faerie como eu e mamãe, e que os remédios herbáceos que ela fazia eram mágicos. Mas se elas continham magia, elas não teriam ajudado ninguém em Stanmeade. As pessoas teriam acabado doentes e possivelmente mortas, certo?
— Sim.
— Então Chelsea definitivamente era humana.
— Sim.
— O que significa que ela e minha mãe não podem ter sido irmãs.
Dash balança a cabeça.
— Eu me pergunto se Chelsea sabia. Eu me pergunto se minha mãe sabe, ou se ela acha que Chelsea era como ela. Alguém com magia que não pode ser acessada. — Eu esfrego meus dedos em movimentos circulares contra as minhas têmporas enquanto olho para o chão. — Eu ainda tenho muitas perguntas. Tantas lacunas na história da minha família que preciso que mamãe preencha para mim.
— Bem, espero que seu plano genial funcione e você tenha todas as respostas que procura.
Eu direciono uma careta para ele. — Isso não é apenas sobre respostas. Você sabe disso. Mesmo que mamãe não soubesse nada, eu ainda gostaria de acordá-la e curar sua mente.
— Sim, — ele diz baixinho. — Eu sei.
Eu o observo de perto por um tempo. — Por que você está aqui? Quer dizer, eu... — Eu afasto meu constrangimento conforme minhas bochechas esquentam. — Eu nunca fui legal com você. Certamente você não se importa o suficiente comigo para assumir o tipo de risco necessário para vir aqui.
Ele solta uma risada curta sem humor. — Não é uma questão de quanto eu posso ou não me importar com você. Isso não é apenas sobre você, Em. É sobre o que o Rei Unseelie vai fazer você fazer. Quantas vidas podem ser arruinadas porque você está sendo forçada a usar sua Habilidade Griffin contra sua vontade?
— Eu... eu não...
— E eu pensei que você fosse uma prisioneira aqui. Eu pensei que estava salvando você e todas as pessoas que você pode ser forçada a machucar no futuro. Eu nunca imaginei que você escolheu vir aqui. Que você se recusaria a ir embora assim que eu te encontrasse.
Eu olho para longe dele. — Eu sinto muito. Como eu disse ontem à noite, você não deveria me encontrar. Você deveria ficar longe e nunca se machucar novamente por minha causa.
— Isso nunca vai acontecer, Em. Eu não sou o tipo de pessoa para que fica sentado enquanto o Rei Unseelie põe as mãos na recente arma mais poderosa no reino das faeries. E eu não achei que você fosse o tipo de pessoa que simplesmente entregasse esse poder também.
Eu engulo a minha vergonha. — Bem, eu acho que sou, — eu digo em voz baixa, olhando para o chão. — Como quase todos os outros no mundo, estou apenas cuidando de mim mesma e das pessoas que amo. Eu não sou corajosa ou altruísta. Estou apenas fazendo o que tenho que fazer para sobreviver.
Do canto do meu olho, vejo Dash balançar a cabeça. — Você pode dizer a si mesma a mentira que quiser, mas eu sei que você é mais do que isso. Eu sei o que você fez em Stanmeade. Você parou o vidro de Ada de consumir a cidade inteira. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter mantido a localização da sua mãe em segredo e deixar aquele lugar se destruir. Mas você não fez.
— E que bem meu altruísmo fez então? — Eu exijo. — Eu dei a ela o que ela queria, mas ela parou seu ataque à cidade? Não. Eu tive que descobrir isso sozinha, e foi um acaso que a minha Habilidade Griffin apareceu no momento certo. Então, que diferença fará agora se eu me recusar a dar meu poder ao rei? Nada. Ele cometerá os mesmos atos malignos que ele planeja cometer. Pode demorar um pouco mais. — Me sinto doente com minhas próprias palavras. Eu não quero ajudar o rei a fazer nada. Mas realmente, o mundo é um lugar ruim e é assim que funciona. É assim que os dois mundos funcionam. A vida é uma merda e então você morre — assim como a velha música que Chelsea costumava ouvir às vezes. — Apenas algumas pessoas chegam a ser heróis, Dash, — digo em voz baixa. — E você pode ser uma dessas pessoas, mas eu não sou. Estou apenas tentando jogar a melhor mão das cartas que recebi.
Ele fica quieto por um momento, e tudo que consigo ver em seus olhos é tristeza. — Em algum momento, você vai perceber que isso — ele gesticula em torno dele — certamente não é sua melhor mão. Só espero que você descubra isso mais cedo do que tarde.
— E espero que você saia daqui mais cedo do que tarde. Não há necessidade de você se machucar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você sabe o que sou, certo? Machucar faz parte do trabalho.
E morrer? Eu quase pergunto. Mas eu não quero pensar nisso. Eu não quero falar sobre a morte quando ele já chegou tão perto disso. Não quando as mortes de Chelsea e Georgia ainda estão tão próximas.
— Além disso, — acrescenta ele. — Eu não acho que será tão fácil deixar este palácio como foi entrar.
Bandit pula de volta no meu colo. Eu acaricio seus pêlos negros e lustrosos e, em um esforço para desviar a conversa de assuntos tão pesados, pergunto, — Era verdade? A história que você contou a Roarke ontem à noite. Sobre entrar no palácio no lugar do empregado.
— Sim. Bem, principalmente. Não era eu que deveria vir para cá.
— Oh. — Eu olho para cima. — Quem deveria ser?
Dash me dá um olhar aguçado. — Eu prefiro não dizer o nome dela, apenas no caso. Mas eu tenho certeza que você pode descobrir, dado seu talento particular para... se ocultar.
Ah. Calla Eu concordo. — Eu acho que sei de quem você está falando.
— Teria sido muito mais fácil para ela se misturar. Mas o empregado chegou mais cedo do que o esperado para pegar o vestido no estúdio da minha mãe, então —
— Espere, sua mãe?
— Sim. Foi ela quem desenhou o seu vestido.
Minha mão continua nas costas de Bandit. — Sua mãe é Raven Rosewood?
— Sim. Eu te disse que ela é uma designer de moda, não foi?
— Sim, mas... eu nunca pensei... espera, seu sobrenome é Rosewood? — Isso não parece certo, mas agora não me lembro se eu soube o sobrenome de Dash.
— Não, é Blackhallow.
— Oh. Dash Blackhallow, — eu digo devagar, experimentando o nome.
— Dashiell Blackhallow, se formos técnicos. — Ele revira os olhos. — Muitos ls, eu sei. De qualquer forma, minha mãe ainda era Rosewood quando começou a desenhar. Esse é o nome que as pessoas a conhecem, então ela manteve.
— Então, dentre todos os designers deste mundo, a rainha acabou escolhendo sua mãe. Isso não pode ter sido uma coincidência.
Dash sorri. — Claro que não foi. Minha mãe ouviu que a Rainha Unseelie estava procurando um vestido especial. Não para ela, e nem para a filha. Os rumores sugeriam que uma nova jovem chegara ao Palácio Unseelie, e a rainha e a princesa tinham um interesse especial por ela. Normalmente minha mãe ficava longe de qualquer coisa a ver com os Unseelies, mas ela sabia que você desapareceu. Ela me contou sobre os rumores e essa ‘competição’ não oficial para desenhar o melhor vestido. Eu tinha quase certeza de que aquela garota era você, então eu disse à mamãe que um de seus vestidos tinha que ser escolhido, não importava o que acontecesse. Então nós encantamos seus desenhos. Um feitiço simples que fazia com que qualquer um que olhasse as páginas desejasse continuar voltando para elas. E funcionou. Ela foi escolhida.
Minha boca está aberta quando ele termina de falar. — Foi tão simples assim?
— Sim. E então o cara que veio pegar o vestido chegou muito cedo. Eu estava me escondendo, vendo minha mãe entregar o vestido sozinha, como ela havia sido instruída. Eu esperava que ela o mantivesse falando ou algo assim até que Ca — hum — até que nossa amiga chegasse, mas o empregado disse que ele estava com uma agenda apertada. Parecia bastante agitado por estar lá. Ele ficava olhando em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse naquele estabelecimento. Quando ele disse que sua carruagem estava encantada para dar meia-volta e sair em menos de cinco minutos, fiz a única coisa em que conseguia pensar: o fiz desmaiar e tomei o lugar dele.
— Então você pulou dentro de sua carruagem e tudo deu certo?
— Bem, eu vesti as roupas dele primeiro. E mamãe me encontrou uma peruca colorida apropriada de seus muitos recursos. E eu peguei a stylus dele e o âmbar, o que foi uma coisa boa, já que a porta da carruagem não abria até que eu segurasse a stylus contra ela, e eu estava quase sem tempo até lá. Ah, e havia dois guardas dentro da carruagem, mas eles estavam desinteressados o suficiente para que eles não notassem que meu rosto não era o mesmo do cara com quem eles estavam viajando.
— Mesmo? De jeito nenhum. Nenhum guarda é desatento aos detalhes. Eles devem ter percebido a diferença.
Dash hesita, um sorriso culpado esticando seus lábios. — Tudo bem, então eu posso ter discretamente borrifado alguma poção de contentamento quando entrei na carruagem.
— Poção?
— Minha mãe adiciona nos vestidos às vezes, a pedido de seus clientes. É estranho. Algumas dessas pessoas para quem ela desenha são super estressadas e tensas, e quando vão a esses eventos extravagantes, elas só querem relaxar um pouco. Fique contente e em paz, sabe? Eu estava com pressa, e o pequeno frasco de spray estava bem ali, então eu o peguei durante o caminho.
— E os guardas ficaram tão contentes que não perceberam que você não era o cara certo?
— Sim. Eu, talvez, tenha pulverizado um pouco demais. Felizmente, eu coloquei um escudo em volta de mim, caso contrário, eu provavelmente estaria tão contente que ainda estaria sentado naquela carruagem.
Eu pisco, incerta do que mais dizer sobre esse plano meio improvisado que realmente funcionou.
— Olha, não foi a minha operação secreta mais elegante, — admite Dash, — mas tudo correu bem. A carruagem me levou direto para o pátio do palácio e fui em direção de umas das portas. Levou um pouco de trabalho para descobrir para onde ir, mas não era nada que eu não pudesse lidar. Fingi estar um pouco tonto e confuso, elogiei uma das garotas que encontrei na cozinha e ela me mostrou para onde ir. Deixei o vestido com uma nota dizendo que o recolhimento correu bem e depois me escondi até o baile começar.
— Uau. Estou espantada por não ter dado tudo errado.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou bom em improvisar.
Minha mente recua para o início da sua história. — Então, eles — as pessoas com quem eu estava ficando — Eu não quero dizer as palavras ‘Rebeldes Griffin’ em voz alta — sabem que você está aqui?
— Sim.
Eu abaixo minha voz e me inclino para frente. — Você acha que eles virão aqui?
Dash hesita e diz em voz normal, — Não. Eles não sabem onde esse lugar fica. É por isso que um de nós precisava vir com o empregado. As Cortes Unseelie e Seelie estão escondidas, então muitas pessoas não sabem onde estão. — A maneira como ele está olhando para mim, seus olhos fixos nos meus, sugere fortemente que ele está mentindo. Também sugere que ele não está totalmente convencido de que alguém não está nos ouvindo.
— Merda, — eu sussurro para mim mesma. Os rebeldes Griffin provavelmente sabem como chegar a Corte Unseelie, e uma vez que eles perceberem que Dash não está voltando comigo, eles provavelmente virão direto para cá e farão tudo que puderem para levar nós dois. E, embora eu tenha certeza de que todos são incríveis lutadores mágicos, as chances são altas de que eles acabem feridos, mortos ou presos.
— Em? — Dash pergunta depois de vários momentos de silêncio da minha parte.
— É bom que eles não consigam encontrar este lugar, — eu digo em voz alta. Alta demais, provavelmente. Eu faço um esforço para parecer normal. — Eu sei que eles só estariam tentando ajudar, mas como eu disse a você ontem à noite, eu não estou precisando de ajuda.
Dash arqueia uma sobrancelha. — Se você não queria ajuda de ninguém, provavelmente deveria ter mencionado isso antes de fugir. Teríamos parado de trabalhar duro para descobrir o mistério que é a sua vida.
Um fragmento de culpa apunhala meu peito e gira. — Desculpe. Mas eu...
— Você pediu a nossa ajuda, lembra? Ou pelo menos ... — Linhas vincam sua testa enquanto ele a franze. — Nós oferecemos, e você disse sim. Algo parecido. Então você não pode nos culpar exatamente por investigar sua história familiar.
— Eu sei, eu só ia dizer que eu assumi que vocês iriam esquecer de mim quando eu fosse embora. Você tem muitas outras pessoas para ajudar, não é? E — espere, o que você disse sobre a história da minha família?
Ele suspira. — Nós tentamos descobrir sobre o seu pai. Como sua mãe não está acordada para esclarecer sua estranha situação, imaginamos que seu pai possa ajudar — se conseguirmos encontrá-lo. A única coisa que você mencionou sobre ele foi que ele pagou as contas médicas do hospital de sua mãe, então Chase foi lá para dar uma olhada nos registros. Ele é o único que sabe usar um computador, — acrescenta Dash com um revirar de olhos. — Ele cresceu em seu mundo, no caso de você não saber. De qualquer forma, ele disse que o arquivo de sua mãe tinha algum tipo de glamour nele. Ele podia ver os detalhes de Chelsea e todos os detalhes de sua mãe, mas qualquer coisa relacionada à pessoa que primeiro a checou e pagava todo mês estava... em branco. Os humanos que trabalham lá provavelmente veriam algo quando olhassem, mas Chase não conseguia ver nada.
— Então... ninguém estava realmente pagando por ela?
— Eu não sei. O ponto é que era um beco sem saída. Não conseguimos descobrir nada sobre o seu pai.
Meus ombros se curvam um pouco. — Está bem. É por isso que estou aqui, lembra? Esta união vai fazer a mente da minha mãe ser curada, e todas as respostas escondidas dentro dela serão finalmente desbloqueadas.
Passos atravessam a minha sala de estar. Eu agarro Bandit no meu peito e fico de pé abruptamente, bem quando Clarina para na porta. — Lady Emerson — Oh! — Ela olha fixamente para o chão. — Eu imploro seu perdão, minha senhora.
— Isso não é o que parece, — eu digo imediatamente. Eu não tenho certeza do que parece, mas não pode ser bom.
— Eu sinto muito, minha senhora. Eu bati na outra porta, mas —
— Eu não ouvi você, me desculpe.
— Eu não vou dizer nada, Lady Emerson.
— Não há nada a dizer, — asseguro com uma risada alta e ofegante. — Nós estávamos apenas conversando.
— Claro, — diz ela, balançando-se em uma breve reverência e mantendo os olhos no chão. — Por favor, me desculpe por interromper, mas o Príncipe Roarke gostaria de falar com você.
Meus dedos ficam tensos ao redor da forma de gato de Bandit. — Tudo bem. Obrigada. Onde devo encontrá-lo?
— Ele está esperando do lado de fora de seus aposentos por você, minha senhora.
— Oh. — Eu olho para Dash.
Ele sorri. — Bem, acho que vou sair do jeito que cheguei, então. Ainda bem que gosto de escalar.
Capítulo 14
EU ABRO A MINHA PORTA E ENCONTRO ROARKE DO LADO DE FORA. — Hum, bom dia. Boa tarde, quero dizer. Clarina disse que você queria conversar?
— Olá, meu amor. — Ele se inclina para frente e beija minha bochecha. Eu congelo e digo a mim mesma para não me afastar. — Você se recuperou das festividades da noite passada, eu vejo? — Ele adiciona.
Eu recuo para deixá-lo entrar. — Não há necessidade de se preocupar com o absurdo do ‘meu amor’. Ninguém mais está por perto para ouvir você, exceto Clarina.
— Oh, mas você é meu amor. — Roarke me dá um sorriso malicioso enquanto ele passa por mim para a sala. — Ou, pelo menos, eu espero que você seja um dia. — Ele acena brevemente para Clarina enquanto ela faz uma reverência e sai da sala. Ele se vira lentamente no local, olhando em volta, e quase espero que ele entre no quarto e comece a procurar por Dash. Mas então ele sorri serenamente e se senta à mesa ao lado da minha bandeja com o almoço.
E naquele momento, Bandit, que eu consegui manter escondido até agora, sai pulando do meu quarto na forma de um filhote de urso. Ele se transforma em lobo, pula no divã e voa para meus braços, pousando na forma de uma preguiça de cabelo azul. Eu permaneço imóvel, mas meu olhar pousa direto em Roarke. Pela primeira vez, ele parece totalmente sem palavras. Eu mordo meu lábio, esperando por sua resposta.
— Isso — é ... seu?
— Sim. É o Bandit. Ele veio quando você me trouxe para cá, embora ele deva ter estado em uma forma muito pequena para qualquer um de nós notar.
— Então ele esteve aqui com você — em seus aposentos — o tempo todo?
— Siiiim. — Minha voz é incerta, quase questionando. — Bem, eu não sabia que ele estava aqui nos primeiros dois ou três dias. Eu acho que ele pode ter ficado com medo do ambiente desconhecido, então ele permaneceu escondido por um tempo.
— Entendo. Que interessante.
Bandit se aconchega mais perto do meu peito e tenta enterrar a cabeça debaixo do meu braço. — Eu espero que você não desaprove, — eu digo com cuidado. — Eu gosto de tê-lo por perto. Ele... ele significa muito para mim. — O instinto me diz que eu não deveria revelar para o homem que eu ainda não confio que me importo com qualquer coisa. Ele pode optar por usar essa informação contra mim. Mas se Roarke se importa com a minha felicidade do jeito que ele alega, então ele não deve se importar com a presença de Bandit aqui.
— Bem, eu duvido que minha mãe aprovaria animais nos quartos, — Roarke diz, seu profundo olhar castanho-avermelhado fixo em Bandit, — mas ela não precisa saber. E se ela descobrir e tiver um problema com isso, lembrarei a ela como os Formattras são excepcionalmente raros e valiosos, e que se encaixaria uma princesa ter um como animal de estimação.
Eu concordo. — Legal. Obrigada. — Espero que Aurora sinta a mesma coisa e não surte quando conhecer Bandit.
— Qualquer coisa para fazê-la feliz, minha querida, — diz Roarke. — Agora, por que você não senta aqui para que possamos conversar? — Ele aponta para a cadeira ao lado dele na mesa.
— Hum, antes de conversarmos, posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele sorri para mim. — Minha futura esposa pode me perguntar qualquer coisa.
Eu atravesso a sala até a mesa e me sento. Eu levanto minha mão e toco o pequeno dispositivo circular atrás da minha orelha. — Eu sei que você colocou uma dessas coisas em Dash, mas e se ele conseguir tirar? E se a Guilda ou seus amigos descobrirem onde ele está e vierem atrás dele? Eu só não quero que ninguém mais interfira, lembra? — Para ser mais específica, não quero que ninguém acabe em algum calabouço Unseelie ou, pior ainda, enfrente o mesmo destino daquele homem que foi arrastado por uma caverna até o escritório do rei.
Roarke me examina de perto antes de responder. — Você realmente não tem nada a ver com o seu amigo aparecendo aqui, não é?
— O quê? Não, eu já te disse isso. Você achou que eu estava mentindo?
— Bem, eu seria um idiota em acreditar que você confia em mim. Talvez você tenha arranjado uma saída antes mesmo de chegar aqui.
— Eu não tenho. Eu disse a você que não queria que ninguém —
— Sim, eu sei. — Ele se inclina para trás. — Ainda assim, eu me perguntei se você poderia ser uma atriz muito convincente.
— Mas você não está mais se perguntando isso?
— Você ainda parece genuinamente preocupada com a possibilidade de os outros descobrirem que você está aqui. Então deixe-me tranquilizá-la, Emerson. Mesmo que alguém consiga localizar o paradeiro de Dash e, mesmo que cheguem ao local exato em que esperam encontrá-lo, não verão nenhum palácio. Somente se essa pessoa estiver na companhia de um de nossos guardas, será capaz de ver e entrar nos terrenos do palácio.
— Oh. Isso é... conveniente. — Parecido com... Não, sumiu. Eu quase consegui, uma imagem do lugar seguro pertencente aos rebeldes Griffin, mas é como tentar segurar fumaça. — Bem, me sinto melhor agora. Estou feliz que ninguém será capaz de interferir.
— Bom. — Roarke agita os dedos de uma mão pelo ar, e um pedaço de papel enrolado aparece em sua mão. — Agora, temos alguns preparativos para a cerimônia de união.
— Temos? — Eu nunca esperei ser consultada sobre os detalhes relacionados ao casamento. Eu assumi que a rainha e Aurora cuidariam de tudo isso. Como já foi dito muitas vezes, não faço ideia do que é apropriado e do que não é para eventos formais do mundo faerie.
— Você precisa memorizar os votos da união, — diz Roarke, colocando o papel sobre a mesa. — Tudo o que você precisa saber está neste pergaminho.
Eu quase comento como o uso de um pergaminho é antiquado — quero dizer, vamos lá. Certamente dobrar um pedaço de papel é mais simples e ocupa menos espaço — mas estou mais preocupada com o fato de ter que memorizar os votos. — Então, hum, eu não vou precisar repetir as palavras depois de alguém?
— Em parte dos votos, sim, mas as palavras estão em outro idioma, então você precisa praticar pronunciando-as corretamente. Há magia envolvida, então você não quer errar as palavras.
— Hum —
— E a outra parte da cerimônia são os votos privados que fazemos um ao outro sem que ninguém mais ouça. Você terá que memorizá-los.
— Oh. Por que eles são privados?
Sua expressão fica confusa. — Porque eles são apenas para os nossos ouvidos. — Por baixo da mesa, a mão dele desliza no meu joelho. — Coisas especiais e românticas que queremos dizer um ao outro.
— Oh. — Eu inclino um pouco para o lado, movendo minha perna para fora de seu alcance. — Mas... então por que precisamos dizê-las? Você e eu sabemos que não estamos entrando nessa união por nenhuma das razões tradicionais. Nós não precisamos entrar em detalhes românticos.
Se Roarke está incomodado pelo fato de eu não querer que ele toque minha perna, ele não demonstra. — Como eu disse há pouco, nossos votos envolvem magia. Nós não podemos simplesmente pular essa parte.
Eu franzo ainda mais o cenho. — Mas... tudo bem. Eu só... não entendo muito bem. Se essas palavras extras são uma parte padrão da união mágica, então por que elas são privadas? Eu realmente preciso memorizá-las?
Roarke simplesmente ri. — Emerson, é assim que a cerimônia é feita. Tem sido assim por muito tempo. Nós não podemos simplesmente mudá-la porque você não sente vontade de memorizar as palavras.
— Não é que eu não me sinta assim. — Eu enfio meu cabelo atrás das minhas orelhas. — Estou preocupada que eu possa esquecer alguma coisa ou cometer um erro. Se é tão importante acertar tudo, então, o que há de errado em repetir depois de outra pessoa ou ler as palavras de uma folha?
Roarke suspira. — Você não lerá as palavras de uma folha, Emerson. Não é assim que é feito.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu alcanço o pergaminho e puxo para mais perto. — Então, você vai me explicar o que todas essas palavras significam, ou devo recitar um absurdo que eu não entendo?
O canto da boca do Roarke se ergue. — É uma coisa boa que eu esteja te ensinando essas palavras. Qualquer outra pessoa ficaria muito ofendida.
Eu me inclino para trás e desenrolo o papel, revelando muito mais palavras estranhas do que me sinto confortável. — Aurora não ficaria ofendida.
— É verdade, mas Aurora só vai aprender as palavras particulares quando for à vez dela. Não é apropriado que ela as conheça ainda.
— Ah, mais impropriedade. — Eu solto um longo suspiro. — Eu perguntaria por que é inapropriado, já que essa é uma parte padrão de todas as cerimônias, mas você provavelmente vai me dizer ‘é assim que é feito’.
— Sim. Isso é exatamente o que eu vou te dizer. — Seus olhos enrugam nos cantos enquanto ele sorri. — Estou muito feliz em ver que você está aprendendo.
Eu me inclino para trás em minha cadeira e começo a ler os votos em voz alta, fazendo o melhor que posso com as combinações não familiares de letras. Depois de três palavras, estou ciente de que provavelmente estou massacrando o idioma faerie. Roarke espera até eu chegar ao final da primeira linha antes de me tirar da minha miséria. — Tudo bem. Eu vejo que isso vai demorar mais do que eu pensava. — Outro giro de seu pulso produz uma pena. Ele entrega para mim. — Vou pronunciar cada palavra e você pode escrever de qualquer maneira que faça sentido para você.
Nós chegamos na metade da parte pública dos votos antes de uma batida rápida nos interromper e minha porta ser aberta. — Irmã, querida! — Aurora grita para mim. — Oh, você está acordada. — Ela fica na porta e sorri. — Olha quem eu encontrei vagando pelos corredores. — Ela se aproxima e puxa Dash para aparecer.
— Eu disse que o convidei para ficar, não é? — Roarke diz para ela.
— Sim, mas eu não o vejo desde o dia em que o atordoamos no quarto de Em no reino humano. Eu não dei uma boa olhada nele naquele momento. Ele é mais bonito do que eu me lembro, — acrescenta ela com um sorriso provocante, deslizando o braço através do de Dash e puxando-o para mais perto.
— Obrigado. — Ele lhe dá um sorriso igualmente paquerador. Eu cruzo meus braços e dirijo uma carranca em sua direção, mas tudo o que ele faz quando vê minha expressão é encolher de ombros.
— Você lembra o que ele é? Roarke diz para Aurora com desaprovação em seu tom.
— Claro que eu lembro. E eu lembro, — ela acrescenta em um sussurro falso, — que é segredo.
— Nós estávamos realmente ocupados com algo antes de você tão rudemente invadir aqui, — comenta Roarke.
— Ooh, sim, memorizando os votos. Que romântico. Posso dar uma olhada?
Roarke pega a página de mim e prontamente a enrola antes que Aurora possa chegar mais perto. — Não, você não pode. Eu não quero estragar nada para você antes de chegar a sua vez.
— Como você é atencioso.
Roarke bate minha mão com o pergaminho. — Podemos tentar de novo mais tarde, minha querida prometida — quando tivermos um pouco mais de privacidade. — Ele gira o pergaminho em sua mão e ele desaparece.
— A razão por eu ter entrado aqui, — Aurora diz, — foi sugerir que todos nós descêssemos juntos para o chá. E eu queria verificar se Em ainda estava dormindo.
— Oh, já está hora? — Eu pergunto. — Eu pensei que o chá fosse mais tarde.
— Chá? — Dash pergunta.
— Sim, no caramanchão da rainha no jardim. Mamãe oferece para aqueles que ficaram aqui depois da festa.
Afasto-me da mesa e me levanto. — Esperem, eu preciso colocar os sapatos. — Aurora me acompanha até o quarto para me ajudar a selecionar sapatos apropriados. Eu coloco os chinelos prateados rapidamente, não querendo dar a Roarke e Dash nenhum segundo para acabarem brigando.
Uma vez que nós quatro estamos no corredor — com vários guardas caminhando na frente e atrás de nós — Roarke pergunta a Aurora se ele pode falar em particular com ela. Os dois seguem em frente enquanto eu ando ao lado de Dash. — Eu me pergunto como Jewel se sentiria, — eu digo a ele, — se ela soubesse o tipo de atenção que você estava recebendo da encantadora princesa Aurora.
Dash suspira. — Espero que ela entenda, considerando o fato de que tivemos uma conversa recentemente e eu disse a ela que não me sinto da mesma maneira que ela se sente.
— Oh. Hum ... bom trabalho.
— Sim. Não foi do jeito que eu esperava.
— Desculpe. Isso deve ter sido estranho. Ela ficou muito chateada?
— Na verdade, ela me convenceu a ir a um encontro com ela.
Eu quase tropeço quando olho para ele surpresa. — Sério? Você disse que não tinha sentimentos românticos por ela, e essa conversa terminou com vocês dois indo a um encontro?
Ele me dá um olhar divertido. — Há algo de errado com isso? Algo sobre a ideia de eu ir a um encontro com Jewel que a perturba, talvez?
— Não se iluda. Estou surpresa, isso é tudo. Você não parece o tipo de pessoa que deixa uma conversa tomar outro rumo.
— Eu não deixei. Eu simplesmente decidi dar a ela uma chance.
— Uma chance?
— Ela me pediu para lhe dar um encontro. Eu disse a ela que não entendia, que não queria levá-la e que tinha certeza dos meus sentimentos. Ela perguntou como eu poderia ter certeza se eu nunca dei uma chance a esses sentimentos. Então... — Ele suspira. — Eu pensei que se — e se — ela estivesse certa. Então eu concordei.
— E?
Ele olha de lado para mim quando chegamos ao fim de uma escada. — Você parece muito interessada no resultado.
— Só porque estou tentando descobrir se você realmente é o jogador que sempre achei que fosse. Se você está namorando Jewel enquanto também entretém os sentimentos de Aurora... bem, isso não é legal.
— Entretém os sentimentos de Aurora? — Ele repete. — Cara, você aprendeu alguma linguagem extravagante desde que morou com os Unseelies.
— Ah, cale a boca e me diga o que aconteceu no encontro.
— Eu não acho que posso calar a boca e dizer algo ao mesmo tempo.
Eu cruzo meus braços no meu peito. — Dash.
— Bem. Foi estranho. Realmente estranho. Passei a noite toda com medo de que ela tentasse me beijar no final e pensar que seria exatamente como beijar uma —
— irmã?
— Sim. E isso é errado. Então, antes que isso acontecesse, eu disse gentilmente a ela que isso nunca iria funcionar.
— Tudo bem. — Chegamos à outra grande escadaria que leva a outro grande corredor. — Bem, eu estou feliz que você não a enrolou durante todo esse tempo.
— Claro que não. Eu sou realmente um cara decente, lembra? — Ele abaixa a voz. — Ao contrário do príncipe com quem você escolheu tolamente se casar.
— Eu não o escolhi. Não é assim, de qualquer maneira. Eu escolhi este acordo e ele faz parte disso. E você não o conhece. Eu acho que ele pode ser mais decente do que você pensa.
Dash bufa. — Certo. Tanto faz o que você diz.
Eu fecho meus olhos por um momento e suspiro. — Podemos, por favor, não discutir mais sobre isso?
— Certo. Diga-me então: como você tem preenchido seu tempo nas últimas duas semanas e meia? Tem sido tudo festas e chás com a rainha e esperar sua criada pessoal?
— Sim, tem sido uma perfeição absoluta, — digo secamente. — Eu esperei a minha vida inteira para que alguém escolha minhas roupas, prepare meu banho, faça minha cama e prepare minha comida.
Dash aperta os olhos para mim. — Sério?
— Não! Eu não aguento isso. Eu sou perfeitamente capaz de fazer todas essas coisas sozinha.
— Olha, você teve uma vida ruim com a Chelsea, — Dash diz, levantando as mãos em defesa, — então me perdoe por pensar que você realmente gostaria de ter alguém fazendo todo o trabalho duro.
— Eu não quero. É estranho. E eu não passei todo o meu tempo em festas e chás, na verdade. Aurora tem me ensinado muita magia básica, junto com alguns de seus hobbies, como arco e flecha e montar em dragão.
Quando chegamos a uma porta larga que leva ao exterior ensolarado, Dash para. Ele olha mais de perto para mim. — Montar em dragão?
— Vocês dois podem esperar aqui? — Aurora pergunta. — Roarke precisa me mostrar algo rapidamente.
— Sim, tudo bem, — Eu respondo.
Eles desaparecem em um corredor e Dash se vira para mim novamente. — Você disse montar em um dragão?
— Eu disse.
— Sério? Então você é uma cavaleira de dragões agora, assim como uma futura princesa Unseelie?
— Ainda não, mas gostaria de ser. Há algo de errado com isso?
— Não, é só... — Ele balança a cabeça. — Eu sinto que eu realmente não te conheço mais. Você não está aqui há muito tempo e já mudou.
Suas palavras machucam mais do que eu poderia imaginar ser possível. — Mudou? O que você quer dizer?
— Bem, você... você aprendeu muito em pouco tempo. E você parece —
— Eu pareço?
— Como se pertencesse aqui.
Eu descarto suas palavras com um aceno casual, esperando que ele não tenha notado o quão profundamente elas me cortaram. — É apenas roupa.
— É? A maneira como você se portava na noite passada, na plataforma e enquanto dançava... você parecia a princesa que as pessoas esperam que você se torne.
Eu puxo meus ombros para trás um pouco, ignorando a dor no meu peito. — Bom. Pelo menos eu sei que estou fazendo bem a minha parte.
A expressão de Dash suaviza um pouquinho. — Contanto que seja apenas do lado de fora...
— É claro que é apenas do —
— Tudo bem, vocês estão prontos? — Aurora grita quando ela e Roarke reaparecem. — Vamos aparecer a este chá antes de chatearmos a mamãe com nosso atraso. E você — ela acrescenta, olhando para Dash — eu vou apresentar como um amigo meu. Por favor, não contradiga qualquer história que eu decidir contar.
— Oh, hum... — Dash para quando Aurora tenta nos levar para frente. — Eu estava pensando, — diz ele, — que talvez seja melhor se eu não participar dessa coisa de chá. Se minhas mangas subirem demais, e se a maquiagem sair dos meus pulsos, sua mãe pode ver minhas marcas. Ela vai saber o que eu sou.
— Isso é possível, — Aurora admite, — mas se você não vier ao chá, você quase certamente acabará perambulando pelo palácio por conta própria e corre o risco de inventar todos os tipos de travessuras.
Ele dá um sorriso malicioso. — E se eu prometer ficar no meu quarto como um bom menino? Se alguém perguntar sobre mim — o que duvido que alguém faça, já que ninguém me conhece — você pode dizer que não estou me sentindo bem.
— Se nós pudéssemos confiar em você sobre manter sua palavra, — Roarke diz, — e não sair do seu quarto para tentar desenterrar informações que possam ser úteis para a sua Guilda, então certamente. Estaria tudo bem. — O olhar de Roarke se move brevemente para o meu antes de se fixar em Dash. — Mas não confiamos em você. Mesmo que eu tenha postado guardas à sua porta, você pode sair pela sua janela.
Meus braços ficam tensos ao meu lado. Ele não pode estar insinuando que ele sabe que Dash entrou no meu quarto mais cedo, pode? Improvável. Ele teria ficado zangado quando ele entrou no meu quarto se ele tivesse acabado de descobrir que Clarina encontrou Dash no meu quarto.
— Sair pela janela, — diz Dash, uma expressão pensativa no rosto. — Agora tenho uma ideia. Eu posso ter que tentar depois que todos forem dormir. Eu não tinha pensado em tentar desenterrar qualquer informação útil — Em foi à única razão pela qual eu vim até aqui — mas agora que você mencionou isso, estou definitivamente desperdiçando uma valiosa oportunidade em não fazer mais para descobrir que tipos de leis você Unseelies estão quebrando descaradamente.
O sorriso plácido de Roarke nunca deixa seu rosto. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta das minhas costas. — Como você disse, Emerson é a única razão pela qual você veio aqui. Se você é de fato um verdadeiro amigo para ela, você se concentrará em confortá-la durante este período difícil, em vez de pensar em maneiras de derrubar sua futura família. — Seu polegar esfrega para cima e para baixo contra o meu braço, um gesto que provavelmente deveria ser carinhoso e terno, mas que de alguma forma parece ameaçador.
Dash olha a mão de Roarke no meu braço por um momento antes de levantar o olhar. Então seus olhos se estreitam enquanto ele se concentra em algo atrás de mim. Eu olho por cima do meu ombro. Uma mulher vestida de marrom escuro atravessa o corredor com passos tranquilos e confiantes. Ela faz uma pausa por um momento para nos olhar. Talvez seja a maneira como as sombras caem sobre seu rosto, mas seus olhos parecem completamente negros. Ela inclina a cabeça e manda um sorriso conhecedor em nossa direção, revelando dentes pontiagudos atrás de seus lábios vermelhos e cheios. Ela se vira e vai até a escada, deixando uma brisa fria de ar em seu rastro.
CONTINUA
Emerson Clarke pensou que magia poderia resolver todos os seus problemas. Acontece que a magia apenas tornou sua vida mais complicada. Sua mãe doente está em uma posição pior do que antes, e Em acabou de fazer um acordo arriscado com um Príncipe Unseelie: ele curará sua mãe se Em concordar com a aliança suprema - casamento.
Com a possibilidade de finalmente conseguir a única coisa que ela sempre quis, Em entra no mundo perigoso da Corte Unseelie. Ela aprenderá tudo o que for necessário sobre magia e etiqueta, a fim de seguir seu caminho pela vida do palácio, até que o príncipe Roarke cumpra sua parte na barganha.
Mas quando alguém inesperado aparece, trazendo à tona os segredos que Roarke e sua família estão escondendo dela, os planos de Em começam a se desvendar. Em breve, ela terá que decidir de uma vez por todas: até onde ela está disposta a ir para salvar sua mãe?
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Prólogo
DASH
DASH ESTAVA EM SUA MESA NA GUILDA CREEPY HOLLOW POR dez minutos quando seu âmbar, deixado ao lado do relatório de sequestro de duendes em que estava trabalhando, vibrou e emitiu um chilrear. Palavras douradas brilhantes subiram à superfície do dispositivo retangular. Reconhecendo a caligrafia de Violet, Dash rapidamente puxou o âmbar para perto. Seus olhos dispararam para cima para verificar quem poderia estar perto o bastante de sua mesa para ver a mensagem. A área aberta do escritório estava cheia da agitação de atividade matinal: uma equipe de guardiões juniores voltando de uma missão noturna; dois aprendizes entregando pergaminhos; e sua própria companheira de equipe, Jewel, trabalhando duro em alguma coisa. Era altamente improvável que qualquer uma dessas pessoas soubesse de quem era a mensagem no âmbar de Dash, mas isso ainda o deixava nervoso ao se corresponder com os rebeldes Griffin, enquanto estava sob o teto da Guilda.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo sua expressão indiferente, e leu a mensagem: Você sabe onde está a Em? Eu não consigo encontrá-la. Gelo encheu as veias de Dash enquanto ele lutava para manter a expressão neutra. Se Vi não conseguia encontrar alguém, isso significava sérios problemas. Graças a sua Habilidade Griffin, ela é capaz de encontrar alguém que não tenha sido ocultado por algum tipo de magia. Em tinha uma Habilidade Griffin, no entanto, era uma história totalmente nova. Ela estava brincando? Testando se ela poderia se esconder? Dash estendeu a mão sobre a mesa, pegou sua stylus e escreveu uma resposta rápida em seu âmbar. Não. Tem certeza de que ela foi embora? Verifique as esferas.
A resposta de Vi chega segundos depois: Verificando agora.
Estou a caminho, Dash rabisca enquanto ele se afasta de sua mesa e se levanta.
— Já indo embora? — Jewel perguntou. Dash olha para cima enquanto ela se levanta e contorna sua mesa. — Você acabou de chegar.
— Eu preciso checar uma coisa. Um dos relatórios das testemunhas do caso de sequestro dos duendes. Alguns detalhes estão faltando. — Dash se encolheu internamente, odiando ter que mentir para uma de suas melhores amigas. — Vou pedir para um dos guardas no andar de baixo abrir um portal para mim, — ele acrescentou rapidamente. Como Jewel, ele não deveria mais ser capaz de abrir portais para os caminhos das fadas. Um aborrecimento que foi causado pela Habilidade Griffin de Em. Em, desde então, inverteu o efeito da magia em Dash, mas Jewel não sabia disso. A única coisa que Jewel sabia era que Em havia escapado das garras da Guilda e desaparecido.
— Você precisa que eu vá com você? — Jewel perguntou.
— Não, não se preocupe. Vai ser rápido. — Ele lhe deu um sorriso, que ele suspeita que não parece nada com o seu habitual sorriso descontraído.
— Tudo bem. Ei, está tudo bem? — Jewel segura seu braço antes que ele possa se virar. — Você normalmente não é tão sério logo de manhã cedo. — Sua mão demorou um momento a mais em seu braço, e a conversa que ele teve com Em veio à tona. Ela apontou que Jewel claramente queria ser mais do que apenas sua amiga, um fato que Dash de alguma forma ignorou até aquele momento. Como ele não viu? E por que Jewel nunca disse nada sobre seus sentimentos por ele? Ela deve ter um controle excepcional sobre eles. Ele não tinha notado nenhumas explosões mágicas aleatórias.
Isso não é importante agora, Dash lembrou a si mesmo. — Sim, tudo bem. Estou apenas... mais cansado do que o habitual. — Isso, pelo menos, era a verdade. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior, conversando com Chase, discutindo quando voltar ao Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills para examinar os registros que estavam arquivados com o nome da mãe de Em. Com essa magia desconhecida impedindo-a de acordar, ela não estava em posição de explicar por que ela e sua filha viveram por tanto tempo no mundo não-mágico, mascaradas como humanas. Esperançosamente, o pai de Em possa fornecer algumas respostas. Em disse que não sabia nada sobre ele, mas se era ele quem estava pagando as contas médicas de Daniela Clarke, o hospital certamente deveria ter seu nome e detalhes para contato.
— Tudo bem. Até mais tarde. — Jewel volta para sua cadeira.
Dash deveria ter indo embora então — ele queria ir embora — mas ele não podia ignorar o desejo de Jewel de ser mais que amiga agora que ele sabia disso. — Ei, você quer sair esta noite? — Ele pergunta antes que ele pudesse mudar de ideia. — Nós deveríamos conversar. — Sem dúvida, se transformaria na conversa mais estranha que eles já tiveram, mas ele precisava fazer isso. Não era justo da parte dele permitir que Jewel continuasse esperando por algo que nunca aconteceria.
— Sim, tudo bem. Ótimo.
— Legal. — Dash desceu correndo a escadaria principal da Guilda, atravessou o saguão e entrou na sala com paredes nuas usadas para acessar os caminhos das fadas. — Você se importa em abrir um portal para mim? — Ele perguntou para a mulher que estava de guarda do lado de dentro da sala.
— Ainda não encontrou aquela garota Dotada Griffin, hein?
— Não.
— Eu espero que encontre, — a mulher respondeu enquanto andava até a parede e levantava sua stylus. — Ouvi dizer que ela é perigosa.
— Sim, — Dash murmurou. — Extremamente perigosa. Eu pretendo encontrá-la.
A mulher deu um passo para trás quando parte da parede se afastou para revelar a escuridão dos caminhos das fadas além. Dash avançou. Depois que a luz desapareceu atrás dele, ele concentrou seus pensamentos no oásis escondido no meio de um deserto a milhares de quilômetros de distância.
Minutos depois, ele subiu apressadamente os degraus da varanda da casinha branca de um lado do oásis, passando por algumas portas fechadas e entrando na sala de vigilância. Uma fileira de esferas de vidro cobria três das quatro paredes, e dentro de cada esfera havia uma forma em miniatura de partes diferentes do oásis. Magia conecta cada esfera aos insetos enfeitiçados que voam do lado de fora, exibindo tudo que os insetos viam. Vi está curvada, olhando atentamente para uma das esferas, enquanto Calla e Chase sentam em frente um do outro. — O que você conseguiu ver? — Dash perguntou, sem se importar com uma saudação.
— Oh, Dash, oi, — Vi diz quando ela se virou para ele. — As esferas mostraram que Em saiu durante a noite. Logo depois da cúpula, ela abriu um portal para os caminhos e entrou.
— Ela deve ter pegado a stylus de alguém.
— Sim. Uma desapareceu de nossa cozinha esta manhã.
— Eu simplesmente não entendo, — Calla disse, passando o dedo repetidamente através da esfera na frente dela enquanto a move para voltar no tempo através das cenas exibidas. — Por que ela iria embora?
Vi sacode a cabeça conforme ela dá de ombros. — Várias possibilidades, eu suponho. Talvez ela quisesse ver um de seus velhos amigos. Ou talvez ela lembrou de algo que pudesse ajudar sua mãe. O que é mais preocupante é o fato de que eu não consigo encontrá-la. O que poderia estar protegendo ela?
— Nada de bom, — Chase murmurou.
— Dash, você nunca me contou o que aconteceu quando eu não consegui encontrar você e Em ontem, — continuou Vi. — Lembra, quando eu fui encontrar vocês dois na casa da tia dela?
— Oh, sim. — Dash xingou interiormente — com o tipo de palavras que sua mãe não aprovava — por ter esquecido, mais uma vez, de mencionar aquele lugar estranho e as pessoas que levaram ele e Em para lá. — Eu não sei onde estávamos, mas foi estranho. Tudo parecia drenado de cor, e partes dele estavam meio que... borradas. Obscuro ou sem forma. E nós não conseguíamos acessar os caminhos das fadas. Acabamos fugindo de alguma criatura sombria que eu nunca vi antes, e de alguma forma perto do perto do buraco no véu. Mas não do lado humano, e não do lado das fadas. Em algum lugar... eu não sei. Talvez nem fosse real. Talvez tenha sido algum tipo de alucinação. De qualquer forma, — ele continuou com uma respiração profunda, — nós estávamos lá por causa dos Unseelies. O príncipe e a princesa.
— Sério? — Chase olhou para longe da esfera que ele estava examinando.
— Sim. Aquela garota que esteve na Chevalier House por alguns dias — Aurora — é na verdade a princesa Unseelie.
— Então era isso que ela estava fazendo em Chevalier House, — uma nova voz disse da porta. Dash olhou em volta e viu Ryn parado ali. — Aurora queria que Em fugisse com ela. Ela estava obviamente planejando levar Em de volta a Corte Unseelie.
— Você não pensou em mencionar nada disso na noite passada? — Calla diz para Dash, um tom acusatório em sua voz.
— Para ser honesto, eu não pensei nisso. Em disse que ia me contar o que aconteceu mais tarde — já que eu, hum, fiquei atordoado e inconsciente por parte do tempo — mas então aquela fada de vidro apareceu, e nós quase morremos, e então corremos para pegar a mãe de Em, e... eu não pensei nos Unseelies novamente até mais tarde da noite passada quando cheguei em casa.
— Ótimo, então não temos ideia do que disseram a Em, — Calla diz, cruzando os braços e franzindo a testa para o chão.
Dash não disse nada. Era incomum Calla ficar tão irritada com ele, mas ele não podia culpá-la. Estava furioso consigo mesmo por não ter perguntado a Em sobre aquele estranho mundo sombrio da noite anterior. Ela parecia distante e infeliz, e, como um idiota, ele tentou distraí-la com a dança. Qual era o problema dele? Como ele poderia simplesmente esquecer que dois membros da família real Unseelie tinham transportado Em para um lugar estranho e, em seguida, misteriosamente a deixaram ir?
— Então... — Vi esfrega suas têmporas. — O fato de que não podemos encontrar Em agora pode ter algo a ver com os Unseelies.
— A menos que ela mesma não queira ser encontrada, — disse Chase. — Ela saiu voluntariamente. Ela pode ter usado sua Habilidade Griffin para se proteger de alguma forma.
— Seja qual for o motivo dela para ir embora, ela deve estar planejando voltar, — Ryn diz, entrando na sala e dando uma olhada em uma das esferas. — A mãe dela ainda está aqui, afinal de contas.
Dash balança a cabeça. — Ela pode ter ido embora por conta própria, mas e se os Unseelies a pegaram lá fora? Eles a deixaram ir ontem, mas eles definitivamente ainda a querem. Eles podem estar mantendo-a contra sua vontade agora.
— Então, o que fazemos? — Vi pergunta. — Esperar para ver se ela volta? E se sim, quanto tempo esperamos?
— Ela tem que voltar, — Calla murmura, mordendo a unha do polegar enquanto olhava sem ver o chão. — Ela tem que voltar.
Ryn olhou para o outro lado da sala. — Qual é o problema?
Calla baixa a mão e franze a testa para o irmão. — Não faça isso.
— Ei, eu não estou tentando sentir o que você está sentindo, — Ryn diz, levantando as mãos em defesa, — mas sua ansiedade está quase me dando um ataque de pânico. Eu tenho tentado ignorar isso, mas isso está praticamente me atacando.
— Ansiedade? — Chase se aproxima dela. — Sobre o quê?
— Caramba, pessoal, — Calla exclama. — Estou preocupada com outro caso. Está tudo bem. Podemos nos concentrar em como vamos descobrir onde Em está? Apenas no caso de ela ser prisioneira de alguém agora?
— Eu tenho alguns contatos Unseelie, — diz Chase. — Vou ver o que eu posso descobrir.
— Bom. Eu vou voltar a trabalhar em outras coisas, então, — diz Calla. Ela atravessa a sala e sai sem uma palavra, deixando vários momentos de silêncio constrangedor em seu rastro. Com uma careta, Chase a segue.
Dash pigarreia. — A Guilda também tem contatos Unseelie. Eu vou perguntar se alguém sabe alguma coisa. E também perguntarei dos nossos contatos Seelie. É possível que eles tenham encontrado Em, mas ainda não tenham informado a Guilda.
— Obrigada, — disse Vi.
— Avise assim que você descobrir alguma coisa, — acrescenta Ryn.
— Claro. — Dash se vira e sai da sala, já colocando a mão no bolso para pegar o âmbar e a stylus, para que ele possa contatar o contato Unseelie da Guilda. Ele para perto da porta da frente enquanto escreve uma mensagem rápida perguntando se o contato tinha recebido alguma notícia sobre uma garota Dotada Griffin.
... alguma coisa está acontecendo?
Ao som de vozes, Dash se inclina para o lado e olha pela janela. Calla anda de um lado para o outro na varanda. — Ela tem que voltar, Chase. Ela tem que voltar.
— Tudo bem, sério. — Chase pega o braço dela e a faz parar. — Conte o que está acontecendo.
Dash sabia que ele não deveria estar escutando, mas se era algo sobre Em...
Calla respira fundo. — Eu vi alguma coisa. Noite passada. Quando eu fui perguntar a Em se ela queria se juntar a nós esta manhã. Isso me fez ter esperança... que de alguma forma... — Ela sacode a cabeça. — Quero dizer, eu sei que é loucura mesmo pensar nisso. Meu cérebro ainda está repassando tudo o que aconteceu naquela época e como isso poderia ser possível. Mas se for verdade... — Ela agarra a frente da camiseta de Chase com ambos os punhos. — Chase, se for verdade, então temos que garantir que Em volte.
Chase pega as mãos de Calla entre as suas. — Você não está fazendo nenhum sentido. O que você viu?
— Você não pode contar a ninguém, ok? Não até saber se é verdade. Eu não quero ser responsável por mais corações partidos.
— Corações partidos? Quando você...
Ela se inclina para mais perto de Chase e sussurra, suas palavras muito baixas agora para Dash ouvir através da janela. Ele observa a testa de Chase se franzir ainda mais. — Não é possível, — diz ele quando Calla recua. — Ou é? Quando a vi pela primeira vez, pensei...
— Pensou o quê?
O olhar de Chase fica desfocado enquanto ele olha por cima do ombro de Calla por vários segundos, claramente perdido em pensamentos. Um pequeno sorriso estica seus lábios quando ele volta sua atenção para ela. — Eu acho que você pode estar certa.
Seu sorriso de resposta ilumina seu rosto. — Eu também acho. Mas eu não sei ao certo, e me recuso a ficar animada até confirmarmos isso. Eu conheço alguém que pode nos dizer sem sombra de dúvida, mas eu não sei onde ele está. Você precisa me ajudar a encontrá-lo.
— Vi pode ajudar se ela tiver... — As palavras de Chase somem conforme ele sacode a cabeça. — Mas você não quer que ela saiba.
— Não. Ainda não. — Calla pega o braço dele e o puxa para descer a escada com ela. — Primeiro precisamos descobrir se é verdade. — Sua voz fica mais fraca quando ela e Chase se afastam da casa, deixando Dash com mais perguntas e sem respostas. Ele tem seu próprio mistério para resolver, no entanto. Onde você está, Em? Ele se perguntou em silêncio enquanto abre a porta e entra na varanda.
Seu âmbar vibra em sua mão, e ele para para ler a resposta do contato Unseelie: Nenhuma informação recente dos Unseelies. Nada interessante de qualquer maneira. Claro que não. Os Unseelies nunca informariam a Guilda se eles possuíssem uma poderosa Dotada Griffin. Mas Dash tinha que verificar, apenas no caso do contato ter ouvido alguma coisa. Agora ele teria que entrar em contato com o contato Seelie. Depois disso, seria hora de seguir para canais não oficiais. — De alguma forma, Em, — ele murmura enquanto se afastava. — De alguma forma, eu vou encontrar você.
Capítulo 01
COISAS QUE EU NUNCA IMAGINEI: UM, ESCAPAR DA MISERÁVEL CIDADE DE Stanmeade muito antes que eu sonhasse que isso fosse possível. Dois, me tornar quase amiga do cara que eu odiei por anos. Três, subir pelo lado de fora de uma torre do palácio das fadas com uma stylus roubada no bolso para que eu possa me esconder no topo e abrir um portal para os caminhos das fadas com magia. Oh, sim. E nunca imaginei usar palavras como ‘torre do palácio’, ‘caminhos das fadas’ e ‘magia’ sem soar como uma paciente internada em um hospital psiquiátrico. Mas isso foi antes de eu descobrir que sou uma faerie e que existe um mundo oculto de magia ao lado do mundo onde eu cresci. Isso foi antes de eu chegar ao topo da lista dos mais procurados de todos por possuir um superpoder único e perigoso. E isso foi antes de eu assumir o maior risco da minha vida e concordar em me casar com um príncipe faerie da Corte Unseelie, na esperança de salvar minha mãe.
Então sim. Eu imagino coisas agora que a maioria das pessoas da minha antiga vida consideraria impossível. Como um buraco escuro de nada se materializando através das paredes de mármore com veias douradas no topo da torre que subi. Eu precisava me afastar dos olhos atentos dos guardas do palácio, e esta torre formando o ponto mais alto do Palácio Unseelie parecia um bom lugar. Infelizmente, o feitiço que tenho sussurrado e as palavras que escrevo repetidamente através da parede parecem não estar produzindo nada.
Solto um suspiro frustrado e aperto meus dedos ao redor da stylus incrustada de joias. Eu roubei do quarto de Aurora ontem. Apenas o melhor do melhor para uma princesa, então duvido que haja algo de errado com ela. O que significa... talvez minha magia seja o problema? Eu coloco a stylus no chão da torre e enlaço minhas mãos juntas, depois expiro lentamente e sinto o núcleo do poder dentro de mim. Quase instantaneamente, uma forma quase esférica branca brilhante e fragmentos etéreos pairam acima da minha mão. Parece quase fácil produzir magia agora, depois de ter praticado tanto nos últimos dias. Não há necessidade de apertar meus olhos, franzir minha testa e imaginar arrastar a magia para fora de mim como um rato puxando um caminhão.
Então, se a minha magia e a stylus não são o problema, e a magia em si está correta — o que eu tenho certeza que está, dado que eu usei para deixar o oásis — resta apenas uma resposta: os caminhos das fadas não são acessíveis a partir desta torre.
— Droga, — eu sussurro. Eu enfio a stylus de volta no bolso e olho através das terras sem fim de um verão perfeito. Relvados verdes e brilhantes, flores de todas as cores, fontes de água encantadas rodeadas por arbustos recortados em formas ornamentais e várias áreas para entretenimento: uma pérgula aqui, um mirante ali, o ancoradouro da rainha à direita, além daquela pequena ponte. E um pouco além dos terrenos do palácio, as torres das casas senhoriais pertencentes a nobres Unseelie se erguem acima das árvores.
E quase todos os lugares, de acordo com Aurora, não são acessíveis através dos caminhos das fadas. Ninguém sai deste palácio e ninguém chega, exceto pela entrada principal. — Não é como se você precisasse ir a outro lugar agora, — ela me disse quando perguntei sobre os caminhos das fadas. — Apenas relaxe e aproveite sua nova vida no palácio.
Relaxar? Acho que não. Se quase nenhuma parte deste palácio e seus terrenos podem ser acessados pelos caminhos das fadas, isso significa que deve haver algumas áreas onde os portais podem ser abertos. E se eu quiser fugir quando aprender tudo o que preciso saber sobre o Princpie Roarke, então eu tenho que encontrar pelo menos uma dessas áreas. Se eu não conseguir, vou ter que ser criativa com minha Habilidade Griffin. E isso exigirá descobrir como realmente usá-la.
— Minha senhora?
Meu corpo fica tenso ao som da voz inesperada. Eu viro, meu coração se debatendo no meu peito. Mas é apenas Clarina, a criada que Aurora me ‘ofereceu’ na minha chegada. Ela está ao lado do alçapão de ouro cravejado de rubi. O alçapão está aberto, tenho certeza que estava trancado até agora, porque encontrei meu caminho para o outro lado dele ontem à tarde e não consegui abri-lo. Eu não teria me incomodado em abrir uma das janelas baixas e escalar a parede de outra forma. Eu pigarreio e aperto minhas mãos juntas. — Hum, sim?
— Sua Alteza, Princesa Aurora, me enviou para buscar você, — diz Clarina, com os olhos fixos no chão perto dos meus pés. Eu disse a ela para não se preocupar em desviar o olhar dela quando falar comigo, mas não faz diferença. Assim como quando eu disse a ela que não sou ‘senhora’ e ela não precisa se referir a mim como tal. — Mas de que outra forma eu vou mostrar respeito por você, minha senhora? — Ela perguntou. — Eu não posso simplesmente chamar você pelo seu nome. — Eu disse a ela que é claro que ela podia, mas isso também não ocorreu bem.
— Como ela sabia que eu estava aqui em cima? — Eu pergunto.
— Um de seus guardas viu você de uma janela.
Eu limpo minhas mãos no meu jeans. — Será, hum, que soou para você que Aurora — Senhorita — Sua Alteza — Que droga esses títulos estúpidos. — Parecia que ela estava com raiva de mim por estar aqui em cima?
— Não, minha senhora, — diz Clarina. — Ela estava preocupada, mas não zangada. Ela lembrou a seus guardas que você é bem-vinda para explorar sua nova casa, mas que eles também devem mantê-la viva.
— Certo. Legal. Isso foi o que eu pensei. Quero dizer, sobre a parte de explorar. — Aurora me deu uma breve turnê quando cheguei há três dias, então me disse que eu poderia ir onde quer que eu quisesse, exceto as suítes ou câmaras privativas das pessoas ou seja lá como ela chamou. Desde então, eu vaguei por todo o palácio sob o disfarce da curiosidade, fazendo o meu melhor para fingir que estou à vontade em uma casa tão vasta e opulenta quanto este palácio. Eu tento ignorar os guardas que me observam e os membros da corte que sorriem educadamente antes de sussurrar um para o outro. E tento não tremer quando a atmosfera muda, como de vez em quando, se transforma em algo frio e inquietante.
— Hum, bem, acho que é melhor irmos então, — eu digo, percebendo que Clarina está esperando por mim para falar. Ela assente e pisa na escada abaixo do alçapão. Eu a sigo, vacilando quando o alçapão fecha sozinho atrás de mim. Juntas, descemos a escada em espiral até o térreo do palácio e entramos em um vasto corredor alinhado por colunas. Seus pisos de mármore preto são polidos até um brilho vítreo e as pedras preciosas embutidas no teto refletem nos candeeiros acesos em pedestais entre cada coluna. O resto do palácio é muito parecido com isso: bordas pretas brilhantes, enfeites de ouro e pedras brilhantes. Quartos grandes o suficiente para se perder dentro, e móveis tão luxuosos que eu provavelmente vomitaria se soubesse o quanto eles custam.
É impossível imaginar estar em casa aqui.
Subimos mais escadas, cruzamos mais corredores e passamos por mais fae vestidos como se pertencessem ao cenário de uma novela de época. Todos eles me dão olhares curiosos quando passo. Ao contrário de Clarina e Noraya — a outra criada de Aurora — nenhuma dessas pessoas sabe quem eu sou. Eles não têm ideia de que eu concordei em me casar com o seu príncipe. Como eles poderiam suspeitar que ele e eu temos algo a ver um com o outro quando Roarke se foi desde o momento em que ele me deixou aqui aos cuidados de sua irmã? Aurora disse que ele voltaria esta manhã, mas eu não vi ele. Estou começando a me perguntar se ele está planejando me evitar até o dia do nosso casamento — quando quer que seja.
Finalmente, Clarina e eu chegamos à ala que abriga os aposentos da família real. Eu nunca fui longe o suficiente para ver os quartos pertencentes ao rei e à rainha, mas passei pela suíte de Roarke, e eu estive no quarto de Aurora durante todos os dias desde que cheguei aqui. Eu olho por cima do meu ombro para a porta que leva aos quartos de Roarke enquanto eu passo. A porta está fechada e não há guardas do lado de fora, o que eu acho que significa que Roarke não está lá dentro.
— Droga, — eu murmuro, baixinho o suficiente para que Clarina não me ouça. Uma carranca franze minha testa enquanto eu olho para frente novamente. E então aquele estranho sentimento de mal-estar, aquele inexplicável senso de engano, invade os meus sentidos. Como se dedos frios e podres estivessem prestes a se estender das sombras para apertar a parte de trás do meu pescoço. Um lampejo de uma sombra corre através da borda da minha visão, mas quando eu olho por cima do meu ombro novamente, se foi. Assim como a sensação de desconforto.
— Lady Emerson? — Clarina diz. Eu olho para frente e a vejo esperando com uma das mãos apoiada na porta de Aurora. — Está tudo bem?
— Hum, sim. Eu estou bem. — Talvez eu continue imaginando esse sentimento estranho. Talvez seja esse o sentimento de saudade de casa. Talvez, por mais improvável que pareça, eu esteja realmente sentindo falta da casa decadente em que vivi com Chelsea e Georgia. De jeito nenhum, eu penso comigo mesma, quase rindo alto do pensamento improvável. Eu posso sentir saudade da minha melhor amiga Val, e toda a diversão que tivemos juntas, e a sensação libertadora de não ser caçada por vários membros do reino fae, mas eu certamente não sinto falta daquela casinha horrível e da minha rancorosa tia e prima.
Clarina abre a porta para a suíte de Aurora e fica de lado para me deixar entrar. Ela faz uma rápida reverência quando passo, depois fecha a porta atrás de mim. Eu ouço seus pés baterem no chão de mármore polido do lado de fora. Do outro lado na sala de estar, decorada em tons suaves e tecidos florais, a Princesa Aurora, filha adotiva do Rei e da Rainha Unseelie, está sentada em uma pequena mesa redonda. Na frente dela há uma variedade de comida, um bule de chá e duas xícaras de chá. Ela se inclina para trás em sua cadeira e me examina. — Sério, Em? Subindo pela parte externa da torre leste? Você está tentando escandalizar a corte inteira? Se você queria tanto ver a vista do topo, você poderia ter pedido a alguém para destrancar o alçapão em vez de arriscar sua vida.
Eu atravesso a sala e paro ao lado da cadeira no lado oposto do lugar dela. — Bem, você sabe. Era cedo. Eu não queria incomodar ninguém. E além disso, quase não havia risco envolvido. Eu posso lidar com uma parede simples. Esses grandes tijolos de mármore têm espaços entre eles perfeitos para as mãos e os pés.
Aurora coloca o cabelo — preto e azulado roxo — atrás de uma orelha e estende a mão para a xícara de chá. — E se você tivesse escorregado? Além do enorme problema que eu teria com Roarke e meu pai se você caísse e se matasse, simplesmente não é apropriado sair por aí escalando paredes. — Ela me dá um olhar aguçado por cima de sua xícara de chá. — Sabe, dada a sua futura posição neste palácio.
Eu escolho ignorar sua referência ao fato de que eu devo ser uma princesa em breve e cruzo os braços sobre o peito. Eu começo a andar de um lado para o outro da janela. — Onde está Roarke? Você disse que ele estaria de volta agora, mas eu não vi ninguém de guarda do lado de fora do quarto dele, então eu suponho que ele não esteja lá.
— Ele e papai devem demorar, isso é tudo. Eles têm negócios importantes para lidar no momento. Você não pode esperar que eles voltem simplesmente porque você está desesperada para ver seu prometido. — Ela sorri. Eu mostro minha língua para ela. Ela joga um morango em mim, depois ri quando eu me esquivo e continuo andando. — Eles vão voltar em breve, tenho certeza. E por favor, pare de andar. Você está me deixando nervosa. — Ela acena para a cadeira em frente à dela. — Sente-se. Você já tomou café da manhã?
— Não. — Eu caio na cadeira com os braços ainda cruzados. — Eu estava muito ocupada correndo riscos e escalando paredes, lembra?
— Você deve escolher o café da manhã da próxima vez. — Com um toque elegante de sua mão, um prato de massas em forma de borboleta se levanta e se move em minha direção. Ela ficaria feliz se eu usasse magia para levantar um dos doces e movê-lo para o meu próprio prato, mas esse tipo de coisa parece ser coisa de preguiçoso para mim. E eu não acho que eu poderia fazer isso sem derrubar o prato inteiro.
— Você sabe por que eu quero ver o Roarke, — eu digo a ela depois de colocar uma massa no meu prato, com a minha própria mão perfeitamente funcional. — Ele e eu temos um acordo, e ele não fez nada para cumprir sua parte ainda. — Acordo. Uma palavra tão simples. Não carrega tanto peso quanto a palavra ‘casamento’.
— É claro que ele ainda não cumpriu sua parte. Espero que você saiba que ele não planeja dar a você qualquer informação sobre como tirar sua mãe do coma enfeitiçado ou consertar sua doença mental até depois da cerimônia de união.
— Sim, — eu digo em voz baixa, ainda olhando para o meu prato. — Eu sei disso. — O que eu também sei é que eu não pretendo que essa cerimônia aconteça. Todo mundo precisa pensar que isso vai acontecer, mas eu pretendo descobrir tudo o que preciso saber antes do casamento acontecer. Claro, eu não tenho ideia de como vou fazer isso ainda, mas ter a posse de uma poderosa Habilidade Griffin — falar coisas e as tornar reais — pode vir a calhar. Se eu puder usá-la no momento certo e da maneira certa, eu devo poder sair daqui viva com todas as informações que preciso. Pigarreio e acrescento, — Eu sei, mas ele precisa provar para mim. Ele precisa me dizer algo, então eu vou saber que ele não está apenas mentindo para me casar com ele.
— Meu querido irmão nunca faria algo assim, — diz Aurora, direcionando mais alguns itens de comida para o seu prato.
Eu não a conheço bem o suficiente ainda para saber se ela está brincando ou se ela realmente acredita nisso. De qualquer maneira, não estou disposta a confiar em Roarke. Eu preciso do meu próprio plano, e isso envolve ter o controle sobre a minha Habilidade Griffin. Eu quebro um pedaço de massa e olho para ele por um segundo ou dois antes de dizer, — Como as paredes da torre não são apropriadas para escalar, talvez meu tempo fosse melhor gasto praticando minha Habilidade Griffin. Com o elixir, quero dizer, não apenas esperar por momentos aleatórios em que a minha magia escolhe ligar.
Ela sacode a cabeça e acaba de engolir outro gole de chá. — Sinto muito, Em, mas me disseram para não dar a você até que Roarke e meu pai retornem. Aqui, coma um pouco de citrullamyn. — Vários segmentos de uma fruta que parece uma versão vermelho sangue de uma laranja voam em um arco de seu prato para o meu.
— Hum, obrigada. — Eu lentamente mastigo uma enquanto tento descobrir o que posso dizer para mudar a decisão de Aurora. Eu preciso desse elixir para estimular minha Habilidade Griffin. O primeiro frasco que eu tinha foi esmagado em pedaços durante o meu encontro com Ada — a faerie extremamente desagradável que quase destruiu toda Stanmeade com sua magia de vidro — mas um dos rebeldes Griffin fez mais elixir para que eu pudesse acordar mamãe de seu coma enfeitiçado. Não funcionou, mas pelo menos eu tinha um pouco do elixir. Eu trouxe comigo, planejando secretamente consumir pequenas quantidades na esperança de ganhar o controle sobre minha Habilidade Griffin sem que os Unseelies soubessem. Mas fui revistada antes de entrar no palácio. Um guarda descobriu o elixir e Aurora o confiscou. Roarke, que não parecia interessado em ficar mais do que alguns minutos com sua noiva, já tinha saído durante esse momento.
— Mas Aurora, — digo a ela com a minha voz mais razoável, — não tenho utilidade para sua família se eu não conseguir descobrir como controlar minha Habilidade Griffin. Essa é a única razão pela qual Roarke está se casando comigo, lembra? Então eu preciso desse elixir para me ajudar a aprender como usá-la.
— Sim, mas você não precisa aprender agora neste momento. Você pode praticar sob supervisão quando Roarke e papai voltarem.
Eu a olho diretamente nos olhos. — Eles não confiam em você para me supervisionar? Eles acham que você não pode lidar comigo?
Ela inclina a cabeça para trás e ri. — Oh, minha querida Em. Se você vai tentar me manipular, você terá que ser muito mais sutil sobre isso. Essa foi uma tentativa terrível.
Eu deslizo mais para baixo na minha cadeira com um suspiro derrotado. — Isso tudo é uma perda de tempo, — murmuro. — Mamãe ainda está presa em algum tipo de coma do mal induzido por magia, e eu não estou absolutamente nem perto de descobrir como ajudá-la.
— Você não está perdendo tempo. Você está aprendendo a usar a magia do dia-a-dia e a viver como uma de nós, — diz Aurora. — Falando nisso, por favor, sente-se ereta. Minha mãe teria palpitações no coração se visse você se curvando desse jeito.
Mãe de Aurora. A própria Rainha Unseelie. Jantei com ela e Aurora na minha primeira noite aqui, com criados esperando por nós a noite inteira, enchendo nossas taças com bebidas estranhamente coloridas e nossos pratos com comida ainda melhor do que a comida que Azzy preparava na Chevalier House. Achei difícil desfrutar de alguma coisa, apesar da ansiedade que comprimia meu estômago e fazia meus dedos tremerem. Não era como se a Rainha Amrath fosse cruel ou hostil. Ela era educada, na verdade, mas eu sabia que ela estava me observando o tempo todo. Medindo. Esperando que eu me provasse completamente indigna de casar com o filho dela. A cada momento estranho que passava, eu me lembrava da minha valiosa Habilidade Griffin. Isso vai mantê-la viva e segura, continuei dizendo a mim mesma. Eles querem o seu poder mais do que eles querem uma princesa bem-educada.
— Em? — Aurora diz. — Você está me ouvindo?
Eu pigarreio e me empurro para cima, então estou mais ereta. Eu forço meus ombros para trás. — Desculpa. O que você disse?
— Eu disse que precisamos conversar sobre o que você está vestindo e também que você deveria experimentar o chá de mel. É bem revigorante. Noraya, venha colocar chá para Emerson.
Noraya, que estava tão imóvel perto da porta do quarto que eu não a notei antes, se aproxima da mesa. Com um breve aceno de mão, o bule se eleva no ar. — Oh, não se preocupe, — eu digo rapidamente, me inclinando para frente. — Eu posso servir o chá.
— Deixe-a fazer isso, Em, — Aurora diz.
— Mas é só chá, — eu argumento enquanto o bule de chá se inclina sobre o meu copo e um liquido escuro fumegante fluí de seu bico. — Eu posso colocar sozinha. — Não com magia, uma vez que isso provavelmente resultaria em salpicos de chá por toda a mesa, mas minhas próprias mãos fariam o trabalho muito bem.
— Não importa se você pode fazer isso ou não, — Aurora me diz. — O que importa é que, quando você é um membro da família real, é adequado que os criados esperem por você.
— Eu ainda não sou membro da família real. — E espero nunca ser.
— Também é apropriado que você use roupas apropriadas para a corte, — acrescenta Aurora, enquanto Noraya se afasta da mesa, — e essas — ela olha minha calça jeans e camisa com desaprovação — não são apropriadas. Clarina e eu vamos ter outra conversa. Ela claramente não entendeu suas instruções.
— O quê? Não, não é culpa da Clarina. Ela me dá um vestido novo todas às manhãs, assim como você disse a ela, mas eu não quero usar nenhum deles. Eles são ridículos. Centenas de camadas de tecido com espartilhos e penas e joias e... coisas. Não sou eu. — O jeans, a camisa e o moletom que tenho usado nos últimos dias são as roupas que eu usava quando cheguei aqui. Eu as jogo sobre uma cadeira no meu quarto todas as noites, e todas as manhãs as encontro dobradas e limpas, na mesma cadeira.
Aurora arqueia uma sobrancelha. — Ridículo, — ela repete. Percebo que posso tê-la ofendido, dada a saia longa, o corpete apertado e as mangas em forma de sino do vestido que ela está usando. — Receio que não importa o que você ou qualquer outra pessoa pense, pois é assim que minha mãe e meu pai desejam que os membros de sua corte se vistam.
— Bem, seus pais têm um senso de moda seriamente ultrapassado. Todos parecem estar se vestindo ou se preparando para filmar um filme steampunk.
Sua expressão fica séria. — Eu não diria coisas assim se fosse você. — Ela abaixa a voz, se inclina mais perto e acrescenta, — Meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares, e ele não apreciaria comentários como esse.
Um calafrio rasteja pela minha pele. Parece que não imaginei a sensação de estar sendo observada. Eu envolvo meus braços em volta de mim, me sentindo nua, apesar do fato de estar vestida. — Até mesmo nos quartos?
— Bem. — Aurora se inclina para trás. — Talvez apenas ouvidos nos quartos.
— Isso é apenas... errado, — eu sussurro.
Ela ri e novamente não posso dizer se ela está brincando sobre tudo isso. — Só se você tem algo a esconder, — diz ela. Ela morde outra fruta não identificável e me observa enquanto mastiga e engole. — Agora me diga: como você está com a magia que eu te ensinei até agora? Você já pode mover as coisas? Tente levantar seu prato e o mova no ar.
— Hum... — Eu começo a girar uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo indicador. — Tem certeza de que é uma boa ideia? E se eu derrubar?
— Então Noraya reunirá os pedaços quebrados e os jogará fora. Nada demais.
Meu olhar desliza para o cabelo enrolado em volta do meu dedo. Estou quase acostumada com a cor azul brilhante misturada com o marrom escuro. Faz parte do que me caracteriza como faerie. Como alguém que pertence a este mundo. Lentamente, eu abaixo minha mão. — Sim, tudo bem. Vou tentar.
Tirar magia de dentro de mim é fácil agora, mas mandá-la para o prato, persuadindo-a ao redor e para baixo e dizer para levantar alguma coisa, é uma história diferente. Muito lentamente, com as mãos cerradas no meu colo e os olhos quase furando buracos no prato, começa a subir. Ele balança um pouco, e as massas e os pedaços de frutas cítricas vermelhas escorregam para um lado. Eu tento endireitá-lo, acabo exagerando e todo o prato vira. A comida cai sobre a mesa com vários golpes suaves e o prato fica suspenso de cabeça para baixo no ar. Ele estremece e balança antes que eu imagine minha magia o abaixando com cuidado. Ele cai os poucos centímetros finais, pousando perfeitamente em cima do meu café da manhã.
Aurora bate as mãos. — Bem, isso foi divertido. Dificilmente perfeito, mas é um bom começo.
— Acho que sim. — Eu viro o prato e começo a limpar a minha bagunça.
— Em, você mal podia fazer nada quando chegou aqui há alguns dias. Isso é uma conquista. Ah, e eu tenho mais alguns livros para você. — Ela gesticula por cima do ombro, e uma pilha de livros sobre a mesa baixa entre os sofás e se eleva no ar antes de descer novamente, os livros individuais batendo em voz alta um no outro enquanto pousam. — Você pode carregá-los com magia agora mesmo.
— Claro. — Eu tento não descobrir quanto tempo vai demorar para voltar para meu quarto, se eu tiver que transportar magicamente uma pilha de livros por todo o caminho até lá. Espero que eu possa convencer um dos guardas que me seguem à distância para me ajudar quando eu estiver longe de Aurora.
Quando volto a comer minha bagunça do café da manhã, a porta se abre e Clarina entra no quarto. Ela se move silenciosamente para ficar ao lado de Noraya e, após um momento de pausa, começa a sussurrar para ela.
— O que está acontecendo? — Aurora pergunta em voz alta, não se incomodando em olhar para elas.
Clarina fica em silêncio, os olhos arregalados atravessando a sala em direção a sua senhora. Do outro lado da sala, vejo sua garganta oscilar conforme ela engole.
— Clarina. — Aurora empurra seu prato para longe e se vira na cadeira para encarar as criadas. — Parte do seu trabalho é relatar segredos para mim, não para sussurrá-los na minha vizinhança. Agora me diga o que está acontecendo.
Clarina sacode a cabeça. — Sim, Sua Majestade. Peço desculpas. É só que... é tão horrível.
— O que é tão horrível? O que aconteceu?
— Um dos guardas... — Os olhos de Clarina se movem para Noraya, cujo queixo estremece enquanto ela olha para o chão. Clarina pigarreia e volta a olhar para Aurora. — Um dos guardas foi encontrado morto no jardim, — diz ela em voz trêmula. — Estava cinza e enrugado e morto.
Capítulo 02
EU CAMINHO PELA SALA DE ESTAR DA MINHA SUÍTE — MENOR QUE A DE AURORA, mas não menos luxuosa — esperando que alguém venha e me diga o que está acontecendo. Aurora me mandou de volta para cá na companhia de vários guardas logo após as palavras assustadoras de Clarina sobre alguém cinza, enrugado e morto no jardim, mas não recebi nenhuma novidade desde então. Eu ando na minha varanda e olho para baixo mais uma vez, mas eu ainda não consigo ver nada de interessante. Esta morte deve ter acontecido do outro lado do palácio.
Volto para dentro de novo, entre as poltronas e ao redor da mesa. Sento na escrivaninha e tento ler um dos livros que deveria estudar, mas não consigo me concentrar. Pensamentos sobre mamãe e todos os rebeldes Griffin de onde eu fugi continuam escorregando pelas rachaduras da minha concentração. Culpa por desaparecer sem explicação. Tristeza por ter que deixar Bandit para trás. Estou começando a sentir saudades de Dash, de todas as pessoas. E depois há a avalanche de perguntas: Quem sou eu? Quem é mamãe? Como chegamos a viver no reino humano com nossa magia bloqueada? Apenas para citar algumas...
Eu abandono o livro e acabo deitada no divã, observando os insetos brilhantes que estão fixos no teto e, lentamente, levantando e abaixando almofadas com magia. É preciso que eu foque toda a atenção para conseguir essa manobra simples, o que significa que não há espaço em minha mente para perguntas e pensamentos que me distraem.
Sem aviso, a porta principal da minha suíte é aberta. Minhas duas almofadas levitando pousam no meu peito e caem no chão. Sento apressadamente, virando para a porta e encontro Aurora entrando na sala. Alguém fecha a porta atrás de mim enquanto eu fico em pé e pergunto, — Está tudo bem? Você descobriu o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, mas falei com as pessoas que encontraram o guarda morto. — Ela caminha até a varanda. Eu a sigo para o sol quente do meio da manhã. — Eu o vi, Em. Foi... — Ela respira fundo e balança a cabeça. — Horrível. A cor de seu cabelo desapareceu completamente e seu rosto... — Ela se vira e descansa as mãos na balaustrada da varanda. — Sua pele estava flácida e enrugada. Foi horrível. Isso não acontece com a nossa espécie, Em. Isso não acontece. Não naturalmente de qualquer maneira. E isso significa que — Ela para, apertando os dedos na balaustrada.
— Significa o quê? Que esse guarda foi atacado com magia? — Eu mentalmente me chuto por essa façanha inexpressiva de dedução. Obviamente, esse guarda foi atacado com magia.
— Sim. Algo assim. — Aurora balança a cabeça e retorna o olhar para mim. — De qualquer forma, recebi uma mensagem do Roarke. Ele disse que não deveríamos falar disso para ninguém. Apenas algumas pessoas sabem como estava o guarda e não queremos que todos saibam e se assustem.
Eu não posso evitar erguer minhas sobrancelhas. — Você acha que o resto deste palácio já não sabe? Alguém deve ter contado a Clarina, e certamente Clarina e Noraya contaram aos outros agora.
— Elas não disseram a ninguém. Clarina e Noraya estão comigo desde sempre — bem, Noraya está aqui desde sempre e Clarina está comigo há pelo menos três anos — então elas sabem como manter a boca fechada. Clarina estava com uma das criadas da minha mãe quando viu o guarda morto, e ela veio direto para cá depois. Alguns outros guardas o viram, mas eles também disseram que vão ficar calados.
Eu me inclino contra a balaustrada e olho através do jardim. Ao longe, dois grandes pássaros voam pelo céu. Pelo menos, eu suponho que são pássaros. Suas asas parecem um pouco grandes demais para seus corpos, no entanto. — Alguém sabe quem fez isso? — Eu pergunto, olhando para longe das criaturas voadoras. — Quero dizer, se é impossível entrar sorrateiramente neste palácio, então deve ser um convidado ou alguém que mora aqui.
Aurora exala e coloca um sorriso falso em seu rosto. — Nós não devemos mais falar sobre isso, Em. Esqueça isso agora.
— Esquecer? Isso é improvável. Você não quer saber mais?
— Não. Roarke e meu pai cuidarão disto quando retornarem. Que deve ser antes do jantar, aparentemente.
— Oh. — Meu desconforto se transforma em algo mais positivo. — Isso é ótimo.
— Sim. Agora, que outra magia eu estava mostrando ontem? — Ela esfrega as mãos e caminha de volta para dentro. — Você praticava coisas em movimento, e também havia...
— Fogo, — eu a lembro. — Bem, minúsculas chamas. Assim eu não queimo acidentalmente o palácio.
— Sim, está certo. Você fez alguma melhora?
Eu estalo meus dedos e abro a mão, com a palma para cima, esperando que o feitiço se torne instintivo o suficiente para que uma chama apareça automaticamente acima da minha mão. Minha palma, no entanto, permanece vazia. — Hum... aparentemente não.
— Sim, bem, você nem está tentando. — Ela senta-se afetadamente na beira do divã. — Você precisa se concentrar. Você ainda não está no ponto em que isso acontece automaticamente. Agora tente novamente.
Eu resmungo sob a minha respiração antes de abaixar minhas mãos para os meus lados, fechar os olhos e me dizer para relaxar. Eu preciso ser capaz de liberar magia, então me concentro totalmente no momento em que ela está pronta para mudar de algo cru e sem forma para qualquer outra coisa. Nesse ponto, eu tenho que moldá-la mentalmente em uma chama antes que ela desapareça. E tudo isso, aparentemente, acontecerá quase instantaneamente, uma vez que eu já tenha feito isso o suficiente. Acabo de chegar a um estado mental relaxado quando uma batida no outro lado da porta interrompe minha concentração.
— Entre, — Aurora diz.
Noraya entra e corre para o lado de Aurora. Ela se inclina e sussurra algo antes de se endireitar.
Aurora se levanta com um suspiro. — Claro. Eu irei agora. Desculpe, Em, mas minha mãe gostaria de me ver. Você deve continuar praticando, no entanto. E comece a ler esses livros. Você tem muito a aprender se vai se encaixar aqui.
Eu a observo sair antes de cair em uma poltrona e me apoiar contra as almofadas bordadas em ouro. Então eu me forço a me sentar e me concentrar em produzir uma chama. Não tenho intenção de me encaixar aqui — não a longo prazo — mas preciso pelo menos fingir que estou planejando ver essa união. Além disso, provavelmente precisarei usar magia para sair daqui. Eu também posso aproveitar esta oportunidade para aprender o máximo que puder.
Depois de tentar repetidamente produzir uma chama e ter sucesso em cerca de cinquenta por cento do tempo, eu me sossego com o menor livro da pilha que Aurora me deu esta manhã. É uma coleção sobre magias básicas que parecem ter sido escritas para um aluno da primeira série. Perfeito. Por mais embaraçoso que seja, esse é exatamente o tipo de coisa de que preciso.
Uma vez que consigo encolher uma almofada para cerca de metade do seu tamanho, depois aumentá-la e depois voltar ao normal, pego um livro diferente e me sento em uma poltrona. Contém relatos de histórias ainda mais antigas do que as histórias que aprendi em Chevalier House. A divisão inicial das cortes e as primeiras famílias Seelie e Unseelie. Eu não vou muito longe quando ouço um leve som de arranhar. Abaixo o livro e olho em volta, tentando descobrir de onde vem o arranhão, mas o que quer que tenha sido, parou. Com uma careta, volto a ler.
Mas o arranhar começa novamente. Da direção da mesa, talvez? Eu me levanto devagar, imaginando o que exatamente eu vou fazer se abrir uma das gavetas e uma criatura mágica desagradável se jogar sobre mim. Por alguma razão, minha imaginação evoca uma imagem de uma mão sem corpo, o que não ajuda em nada o meu batimento cardíaco acelerado.
Três batidas afiadas na porta fazem o livro escorregar dos meus dedos. Eu fecho meus olhos por um momento e respiro trêmula, quase rindo de mim mesma por estar tão nervosa. — Entre, — eu digo enquanto me inclino para pegar o livro.
— Seu almoço, Lady Emerson, — diz Clarina da porta.
Eu me endireito, deixo o livro na poltrona e empurro meu cabelo para longe do meu rosto. — Certo. Obrigada. — Eu tenho almoçado com Aurora todos os dias desde que cheguei aqui, mas ela obviamente tem outros assuntos para tratar hoje. Clarina leva a bandeja de comida para a mesa perto das portas da varanda enquanto eu me aproximo da mesa do outro lado da sala. Sentindo-me boba agora por ter tido medo de um simples som de arranhar, mas ainda um pouco desconfiada do que poderia estar causando isso, eu abro a gaveta do lado esquerdo e rapidamente recuo. A stylus roubada rola para a parte de trás da gaveta — e nada pula sobre mim. Fecho a gaveta e abro a da direita. Está cheio de pergaminhos em branco que estavam no topo da primeira pilha de livros que Aurora reuniu para mim.
— Está tudo bem, Lady Emerson? — Clarina pergunta.
Minhas bochechas coram quando olho por cima do meu ombro para ela. — Sim, desculpe. Eu pensei ter ouvido alguma coisa, mas... — Eu viro e olho para dentro da gaveta. — Mas não há nada aqui.
— Há muitas pequenas criaturas vivendo nos jardins daqui, — Clarina me conta. — Algumas delas vêm de vez em quando. A maioria delas é inofensiva.
— A maioria? — Eu repito.
Ela sorri fracamente para o chão, mas não detalha. — Você precisa de mais alguma coisa, minha senhora?
Eu pego o livro de história no meu caminho para a mesa. — Acho que não. Isso parece incrível. — Ela balança a cabeça e caminha de volta para a porta.
— Clarina? — Eu pergunto enquanto sento em uma cadeira.
Ela para e olha em volta, seus olhos encontrando os meus por apenas um segundo antes de se concentrar no chão. — Sim, Lady Emerson?
— O que faz de você uma faerie Unseelie?
Ela hesita antes de responder. — O que você quer dizer?
— Você é mesmo uma faerie Unseelie? Todos que vivem e trabalham no palácio são considerados Unseelie?
Ela franze a testa para o chão. — Sim, eu acredito que sim, minha senhora.
— O que te faz diferente de alguém que não é Unseelie? Estou tentando lembrar o que me disseram quando cheguei a este mundo, mas não foi muito. Eu acho que alguém disse que a magia aqui é um pouco diferente? Algo sobre magia negra?
— Qualquer mágica com a qual eles não concordam, chamam magia negra.
— Eles?
— Aqueles que não são Unseelie. Alguma parte da nossa magia é a mesma que a deles, — explica ela. — Como o poder que reside naturalmente dentro de todos nós, ou o poder que absorvemos dos elementos ou das plantas. Mas eles não gostam quando tomamos o poder de outros seres vivos — seres inferiores — e eles não gostam de alguns dos procedimentos envolvidos em certas magias. Então é aí que entra a divisão. Eu acho, — acrescenta ela, cruzando as mãos recatadamente na frente dela.
Meus olhos passam sobre a comida espalhada na mesa. É muito mais do que eu poderia comer em uma refeição. Eu gostaria de poder pedir a Clarina para sentar e comer comigo enquanto eu faço mais perguntas, mas sei que ela nunca concordaria com isso. — O que conta como um ser inferior? — Eu pergunto.
Mais uma vez, ela parece confusa. — Bem, tudo que não é faerie, é claro.
Um calafrio levanta os cabelos dos meus braços, apesar da brisa morna que entra pelas portas abertas da varanda. — Você faz isso com frequência? Tome o poder de outros seres vivos?
— Não, minha senhora. Eu nunca precisei. Eu já fui curada antes por feitiços que eram especificamente Unseelie, mas eu pessoalmente não absorvi o poder cru de outro ser.
— Tudo bem. Eu entendo. — Eu não tenho certeza do que mais dizer, além de dizer a ela que tomar o poder de alguém soa francamente assustador e simplesmente errado.
— Você tem alguma outra pergunta, minha senhora?
— Hum... não agora.
Ela se vira e depois acrescenta, — Você não precisa se incomodar com tudo isso, minha senhora. Não é familiar para você, eu sei, mas não é errado. É apenas diferente. E, bem, sempre me disseram que não devemos ter medo de algo só porque é diferente.
— Hum, sim, isso é verdade. Obrigada, Clarina. — Dou-lhe um sorriso que desaparece no momento em que a porta se fecha atrás dela. Eu sei que não deveria ter medo de algo simplesmente porque é diferente, mas se é diferente e está machucando alguém, não está certo. Talvez eu tenha entendido mal, no entanto. Talvez essa coisa de ‘tomar o poder’ não seja tão sinistro quanto parece. Pode ser apenas um pouco de poder, não o suficiente para matar alguém. E talvez eles só aceitem seres que estão dispostos.
Eu me sirvo de comida, reabro o livro e continuo lendo. Depois de apenas alguns minutos, um baque surdo vem da direção do meu quarto. Eu abaixo o sanduíche que estava a meio caminho da minha boca e coloco um garfo entre as páginas do livro para marcar onde estava. Eu silenciosamente levanto uma faca e me levanto da cadeira para encarar a porta entreaberta do quarto.
E então eu passo muito tempo congelada no lugar, imaginando se devo investigar sozinha ou arriscar parecer idiota pedindo a um guarda para ir ao meu quarto e caçar a coisa misteriosa que não fez nenhum som desde aquele primeiro baque. Eu decido no final arriscar parecer idiota. Melhor do que ser mastigada por uma das criaturas não inofensivas de fora ou por qualquer coisa que tenha matado aquele guarda esta manhã.
Abro a porta principal, coloco a cabeça para fora e encontro duas mulheres em uniforme de guarda do lado de fora. Elas passam pelo menos vinte minutos procurando cada centímetro do meu quarto enquanto eu finjo ler. E quando elas saem, não tendo encontrado nenhum sinal de ameaça, estou quase certa de que vejo uma revirando os olhos para a outra.
Capítulo 03
— A SUA HABILIDADE GRIFFIN APARECEU NOVAMENTE? — AURORA PERGUNTA À noite, enquanto nos retiramos para os sofás em sua sala de estar privada. É tarde, o jantar acabou, e Roarke ainda não voltou. Perguntar quando ele voltará é inútil, por isso desisti, mas ainda me sinto queimando de frustração toda vez que imagino mamãe dormindo permanentemente. Minhas mãos querem se enrolar em punhos sempre que penso em todos os minutos, horas e dias que passam.
— Eu a senti dormindo na noite passada, — eu digo a ela, removendo uma almofada de minhas costas e abraçando-a ao meu peito. É melhor apertar a almofada do que cavar minhas unhas continuamente nas palmas das minhas mãos. — Ela me acordou. No momento em que percebi o que estava acontecendo, o momento passou. Eu não consegui falar uma única palavra antes que a magia fosse embora.
— O que você teria dito?
Eu sacudo minha cabeça enquanto observo as chamas dançantes na lareira. Como é verão aqui, eu não teria achado necessário acender uma fogueira à noite, mas a sala está agradavelmente aconchegante e acolhedora. — Eu não sei. Eu estava meio adormecida e tentando pensar em algo, mas a sensação se foi antes de eu ter qualquer comando.
Ela me observa por algum tempo, enquanto eu continuo a olhar para ela e para as chamas. — Você realmente acha que o elixir vai ajudá-la?
Eu me concentro nela, meu humor se elevando instantaneamente. Ela poderia estar pensando em dar o elixir de volta para mim? — Claro que ele ajuda. Ele liga a habilidade então assim eu consigo usá-la.
— Sim, eu sei, mas você disse que o propósito do elixir é de alguma forma ensinar você a usar e controlar a habilidade por conta própria. É para te ajudar a reconhecer como é a sua magia Griffin, certo? Para que você possa invocar essa magia à vontade sem a ajuda do elixir?
— Sim, algo assim.
— Mas você já sabe como ela é.
Eu olho para os meus braços em volta da almofada. — Sim, eu sei.
— Então por que...
— Por que não consigo fazer isso sozinha? — Eu suspiro, minha excitação se dissipando. Ela não vai me dar o elixir. — Eu não sei. Eu tentei. Eu imagino o sentimento. Eu imagino tirar magia de dentro de mim, mas nada acontece. Talvez se eu tivesse esse elixir, eu poderia —
— Não, — diz ela. — Eu não vou te dar algo que se tornará uma muleta, especialmente porque não há muito dele, e quando acabar, não sabemos como fazer mais. Sem mencionar que é uma má ideia dar a você algo que irá imediatamente ativar uma habilidade perigosa que você poderia usar contra mim.
— Aurora, eu nunca —
— Sim, sim. — Ela revira os olhos. — Você fará parte da minha família em breve, então gostaria de poder confiar em você, mas ainda não chegamos lá. Não, a razão pela qual estou trazendo isso à tona é porque tenho pensado sobre como sua habilidade pode funcionar. — Ela inclina a cabeça para o lado e olha pensativamente através da sala para as cortinas que escondem as portas da varanda. — Talvez, por ser uma habilidade tão poderosa, ela meio que precise... se reabastecer. Isso explicaria porque você não pode usá-la o tempo todo.
— Tudo bem. Talvez. Alguns tipos de magia funcionam dessa maneira?
— Bem, toda a magia funciona dessa maneira, na verdade. — Ela muda de posição, dobra uma perna sobre a outra e me encara. — É que raramente usamos tudo de uma vez só, por isso não percebemos que ela está constantemente sendo reabastecida. Se você faz algo que é particularmente árduo com sua magia, como levantar algo muito pesado e segurá-lo no ar por um longo tempo, você acabará cansando. Magicamente, quero dizer. Então você precisa descansar enquanto sua magia se restaura.
— Tipo reabastecer as energias se você faz algo que é fisicamente desgastante? — Eu pergunto.
— Sim. Então eu me pergunto se talvez a sua Habilidade Griffin funcione de forma semelhante, mas em erupções rápidas, em vez de lentamente ao longo de um longo período de tempo.
Eu concordo. — Parece que isso pode fazer sentido. Sempre sinto como se isso acontecesse em mim de repente, quando imediatamente estou para falar qualquer coisa na hora, e então some.
— Ou acaba liberada em seu entorno sem nenhum propósito se você não disser nada. — Ela bate no queixo e franze os lábios. — Hmm. Gostaria de saber se você poderia segurá-la e usá-la depois, em vez de liberá-la sempre que for reabastecido.
— Hum... eu poderia tentar isso? — Eu sugiro, não tendo ideia de como eu realmente ‘seguraria’ esse meu poder indescritível.
— De qualquer forma, tudo isso é especulação neste momento, — continua Aurora. — Precisamos coletar algumas evidências reais. Tome nota de exatamente quando acontecer. O dia e a hora. E mantenha o controle de outras coisas, como se você usou uma quantidade anormalmente grande de sua magia normal em outra coisa. Porque nós não sabemos se a sua magia normal tem algum efeito na sua magia Griffin, ou se as duas são independentes uma da outra.
Eu aceno com a cabeça enquanto ela fala. — Basicamente, queremos descobrir se podemos prever quando vai acontecer.
— Sim. Você vai ter que ser muito cuidadosa, Em. Registre todos os detalhes que possam influenciar sua Habilidade Griffin.
— Sim, definitivamente. — Eu franzo a testa enquanto minha mente relembra todas as vezes que eu dei um comando mágico, tentando forçar os eventos em um padrão que faça sentido. Eu acabo balançando a cabeça. — Talvez estejamos erradas. Houve uma vez em que usei duas vezes em alguns minutos. Então, a teoria de reabastecer não faria sentido.
— Bem, talvez você não tenha usado tudo com a primeira coisa que você disse. Talvez você tenha guardado um pouco, mas não percebeu o que estava fazendo. É por isso que você ficou com um segundo comando, mas depois disso tudo acabou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Sim. Talvez.
— Ou talvez sua magia ainda esteja se estabelecendo, — sugere Aurora. — É isso o que acontece com os halflings se a magia deles aparecer mais tarde na vida. Muitas vezes vem e vai por um tempo antes de se tornar consistentemente presente. Talvez, uma vez que tenha passado um pouco mais de tempo, sua Habilidade Griffin aparecerá em intervalos regulares.
Eu passo uma mão pelo meu cabelo. — Tantas possibilidades e incógnitas.
— É por isso que você precisa começar a documentar tudo. Essa é a única maneira de descobrirmos se minha teoria está correta ou não.
Eu me levanto e jogo a almofada no sofá. Eu ando até a lareira e levanto o castiçal de prata da cornija. Eu pratiquei acendendo uma vela repetidamente antes do jantar, e consegui produzir uma chama com quase todas as tentativas. Eu estalo meus dedos ao lado do pavio — e uma chama acende.
— Bom trabalho. — Aurora bate as mãos de prazer. — Tudo bem. Agora que você conseguiu, o que eu vou te ensinar agora?
Em vez de respondê-la, pergunto, — É isso que você faz todas as noites? Janta sozinha no seu quarto? Ou você tem jantares familiares quando todos estão em casa?
Se ela ficou confusa com a minha mudança de assunto, ela não demonstra. — Bem, é sempre diferente, — diz ela com um encolher de ombros. — Às vezes usamos uma das salas de jantar menores e jantamos apenas nós quatro. Às vezes, membros da família se juntam a nós. Às vezes, entretemos os convidados, ou minha mãe entretém seus amigos, ou eu entretenho algumas das moças da corte. Se estou cansada de todos, então como sozinha aqui. — Ela inclina a cabeça. — Por que você pergunta?
— Estou apenas tentando imaginar como é sua vida normal. Clarina me disse que você tem damas de companhia, mas as mandou embora de férias. E eu não vi você interagir com ninguém além de sua mãe e um punhado de criados e guardas, então —
— Então você está se perguntando se eu sou uma solitária miserável? — Ela pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Não. Eu estou querendo saber se você está tentando me esconder de todo mundo que mora aqui.
Vários segundos passam antes que ela responda. — Eu não chamaria isso de esconder, mas suponho que é essencialmente isso. As pessoas vão fazer perguntas sobre você, Em. Eles já estão fazendo perguntas sobre essa minha estranha amiga que não parece pertencer aqui. É mais fácil se não nos colocamos em uma posição em que precisamos responder a alguém até o momento certo.
— E o momento certo será...?
— Quando você e Roarke fizerem um anúncio oficial sobre seu noivado. Ninguém vai questionar sua presença aqui então. Eles não ousariam.
As palavras ‘anúncio oficial’ enviam um calafrio através de mim. Então, apesar do fato de eu estar ao lado do fogo, o frio parece se tornar real. Arrepios se espalham pela minha pele e o ar frio sussurra na parte de trás do meu pescoço. Eu olho por cima do meu ombro, mas apesar do sentimento distinto de que alguém está me observando, eu não vejo mais ninguém na sala.
Com um clique silencioso, a porta se abre. Meu olhar se lança em direção a ela. Ela se abre devagar, e Roarke entra na sala. Ângulos acentuados, cabelos escuros perfeitamente no lugar e olhos da cor do vinho tinto. Seu intenso olhar varre a sala antes de pousar em mim. Seus lábios se curvam em meio sorriso quando um rubor aquece minha pele.
— Oh, olhe isso. — Aurora aperta as mãos juntas sob o queixo. — Ela está emocionada ao ver você, Roarke.
— De fato. — Quando a porta se fecha atrás de Roarke, ele caminha lentamente em minha direção, mãos atrás das costas. — Se ela está emocionada pelas razões certas e não porque está desesperada para me interrogar desde o momento em que ela chegou aqui.
Eu engulo antes de falar. — Estou feliz que você não tenha esquecido por que estou aqui.
Ele para na minha frente, perto o suficiente para que eu tenha que olhar para cima para encontrar seus olhos. Eu sabia que ele era alto, é claro, mas eu tinha esquecido o jeito como a presença dele o faz parecer ainda mais alto. Eu não vou dar um passo para trás, no entanto. Recuso-me a ser intimidada pelo cara com quem eu devo estar casando em breve, independentemente do fato de que eu não tenha real intenção de concordar com essa união.
O sorriso de Roarke aumenta um pouco mais e, por trás das suas costas, ele produz uma rosa. Uma rosa dourada e delicadamente formada, com um rubi no centro de suas pétalas de ouro maciço. — Minha senhora, — ele murmura, curvando-se um pouco quando ele entrega a rosa para mim. Eu hesito, então pego dele. Ele se inclina mais para frente, seu rosto de repente muito perto do meu, e seus lábios brevemente roçam minha bochecha. Um arrepio frio desliza pela minha pele e pelo meu pescoço. — Minhas desculpas por demorar tanto para voltar. Meu pai e eu não costumamos lidar com as questões pessoalmente, mas essa foi uma dessas ocasiões. Achamos melhor ficar onde estávamos até que o trabalho estivesse terminado.
— Hum... tudo bem. Obrigada por essa explicação enigmática.
— Logo, meu amor, você fará parte da família. Você conhecerá todos os nossos segredos.
— Seu amor? Sério? — Coloco a rosa de ouro sobre a cornija da lareira e cruzo os braços sobre o peito. — Eu acho que é um pouco cedo para isso, Roarke.
Roarke olha para Aurora com uma risada silenciosa. — Você tem ensinado a ela como bancar a difícil?
Aurora se estica do outro lado do sofá, endireitando as camadas da saia sobre as pernas. — Não. Parece que ela sabe como fazer isso sozinha.
Eu quase faço um comentário sobre como isso tudo é um jogo para eles, mas considerando que eu espero enganá-los e sair daqui viva, eu provavelmente deveria jogar junto. — Que tal nos conhecermos um pouco melhor antes de começar a falar as palavras ‘meu amor’ por aí? Você nem me levou a um encontro ainda.
— Um encontro? Bem, espero que você tenha algo um pouco mais bonito para usar do que isso — ele gesticula para meu jeans e blusa de moletom — se você está planejando ir a um encontro com um príncipe. E falando em roupas, você não recebeu roupas mais apropriadas?
— Recebi, mas eu prefiro usar o tipo de roupa que eu fico confortável.
— Recusou, — Aurora diz do outro lado da sala. — Ela recusou a usar qualquer um dos vestidos.
Eu respiro fundo pelo nariz. — Esses vestidos parecem que são de outro século. Eu sei que este é um palácio cheio de membros da realeza, mas vocês não podem se atualizar com os tempos no departamento de roupas? O resto do mundo fae parece usar praticamente o mesmo tipo de roupa que as pessoas usam no meu mundo.
— Este é o seu mundo, Em, — Aurora me lembra. — E se você se desse ao trabalho de olhar mais de perto o seu guarda-roupa, acho que descobriria que as roupas penduradas ali são da última moda. Moda fae formal, que pode não ser familiar para você, mas ainda assim. Apenas os designs mais recentes.
— Você está certa, — eu digo a ela, afastando-me de Roarke para me inclinar contra uma poltrona. — Eu não estou familiarizada com a moda formal fae.
— Chega de roupa, — diz Roarke. Ele se vira para me encarar, colocando as mãos nos bolsos de seu longo casaco, que é coberto por bordados de prata primorosamente detalhados e é, sem dúvida, o mais recente da ‘moda fae formal’. — Diga-me, meu amor — Ele se interrompe. — Desculpas, — acrescenta com um leve abaixar de sua cabeça. — Por favor, diga-me, minha senhora, o que você acha da sua nova casa.
— Já que você viu o interior da minha casa anterior, eu suponho que você pode descobrir meus sentimentos em relação a esta.
— Você amou? — Pergunta ele. — Você está completamente impressionada? Você está infinitamente grata por poder passar o resto da sua vida aqui?
— Não exatamente. É linda, eu vou falar. Não é bem o que eu esperava, mas definitivamente linda.
— Ah, agora estou intrigado. — Ele levanta a rosa de ouro da cornija e a gira entre os dedos. — O que você estava esperando?
Eu levanto meus ombros em um lento encolher de ombros enquanto tento colocar minhas expectativas iniciais em palavras. — Eu não sei. Vocês Unseelies são destinados a serem os vilões, certo? Então eu estava esperando algo... mais frio. Mais escuro. Uma floresta morta ao redor do palácio, ou inverno perpétuo ou algo assim. Mas, você sabe, tudo está ensolarado, quente e vivo. — Lá fora, pelo menos, acrescento silenciosamente. Não digo nada sobre o sentimento frio e opressivo que às vezes pressiona meus ombros quando estou dentro do palácio. O frio que sinto no ar agora.
Roarke inclina a cabeça para o lado. — Você não olhou para fora à noite, não é.
Eu volto a me concentrar nas três noites que passei aqui até agora. Todas as noites, quando volto ao meu quarto, as cortinas estão fechadas, as lâmpadas encantadas acesas e a pequena piscina no banheiro decorado como uma floresta cheia de água fervente e bolhas perfumadas. — Não, eu acho que não.
Ele passa por mim, coloca a rosa dourada na mesa em que Aurora e eu normalmente comemos, e acena com a mão nas cortinas. Quando elas se abrem, ele se vira e estende a mão para mim. — Deixe-me mostrar-lhe algo.
Relutantemente, coloco minha mão na dele. Ele abre as portas da varanda e me leva para fora. Eu respiro no ar inesperadamente frio. Então, quando chego à grade da sacada e olho para baixo, meus lábios se abrem em espanto ao ver a deslumbrante paisagem de inverno cobrindo todo o terreno do palácio. — Uau, — eu sussurro.
— Minha mãe gosta de verão, — Roarke diz, — mas meu pai gosta de inverno. A magia dela controla o dia e a magia dele controla a noite.
Meus olhos percorrem a topiaria coberta de neve, as fontes congeladas e os pingentes de gelo pendurados nas pontas dos dedos da estátua mais próxima. — Deve ser muito confuso para todas as plantas e criaturas que residem nesses jardins.
— Felizmente para eles, eles também são mágicos. Eles podem lidar com isso.
Um arrepio me percorre, e Roarke tira o casaco. — Que cavalheiro, — eu digo secamente quando ele coloca sobre meus ombros. — Embora eu esperasse que houvesse um feitiço que evitasse que as pessoas ficassem com frio.
— Há sim. Mas meus níveis mágicos estão um pouco baixos no momento. — Parado mais perto de mim agora, ele estende a mão e enfia meu cabelo atrás da minha orelha direita. Eu endureço imediatamente, olhando para algum lugar na região do pescoço dele, em vez de nos olhos dele, mas conforme seus dedos tocam o pequeno pedaço de metal em forma de moeda presa à pele atrás da minha orelha, eu relaxo um pouco. Ele não está tentando ser íntimo; ele está checando se o dispositivo de ocultação ainda está lá.
— Preocupado que eu poderia ter tirado? — Eu pergunto, satisfeita em ouvir que minha voz está firme.
— Não particularmente. Você não sabe a magia necessária para removê-lo.
— Mas você está checando assim mesmo. Apenas no caso.
— Claro. Eu seria um tolo em não checar. Você pode ter encontrado alguém neste palácio disposto a removê-lo para você, ou sua Habilidade Griffin pode ter surgido por tempo suficiente para você instruir este dispositivo que se retire.
— E por que eu faria isso?
— Segundas intenções sobre nosso acordo. Culpa, talvez. — Ele se inclina para o lado contra a balaustrada, inteiramente à vontade no ar frio da noite. — Você já começou a se sentir culpada, Emerson?
Começou? A culpa vem me comendo desde antes mesmo de eu chegar aqui. Eu dei a localização escondida da minha mãe para uma faerie perigosa que depois a colocou em um coma mágico. Eu fugi das pessoas que me ajudaram e não pediram nada em troca. Eu abandonei minha melhor amiga sem nem dizer adeus. Nada disso, no entanto, é da conta de Roarke. Então eu pigarreio e pergunto, — Por que eu estaria me sentindo culpada? Eu concordei com esse arranjo para ajudar alguém. Eu não deveria ter que me sentir culpada por isso.
— É verdade, mas talvez você tenha ficado com medo desde que chegou aqui. Talvez você queira que seus amigos — os rebeldes Griffin? — saibam onde você está afinal.
Eu não confirmei a suspeita de Roarke de que foram os rebeldes Griffin que me resgataram no dia em que fugi tanto da Guilda quanto dos Unseelies e caí da beira de um penhasco. Ele perguntou onde eu estava me escondendo, mas mesmo se eu quisesse, eu não poderia contar a ele sobre aquele lugar seguro encantado. Quando estou na companhia de outras pessoas, não consigo nem pensar nisso, quanto mais falar o nome do lugar ou a localização dele. Em vez disso, um espaço em branco aparece em minha mente, presumivelmente parte do feitiço de proteção que ajuda a manter o lugar seguro. Minha lembrança dele sempre volta quando estou sozinha, mas ainda é desconcertante toda vez que desaparece completamente da minha mente.
Recusando-me a desviar o olhar de Roarke, eu digo, — Eu não estou com medo, e não mudei de ideia. A última coisa que quero é que meus amigos apareçam aqui. Por que eu arriscaria com eles arruinando nosso acordo antes que você tivesse a chance de seguir com sua parte?
Seu sorriso é lento e cuidadoso. — Bom. Fico feliz em ouvir isso.
— O que me lembra, — acrescento. — Você ainda precisa provar que realmente tem informações úteis que podem ajudar minha mãe. Você não pode esperar que eu me case com você sem alguma garantia de que você está dizendo a verdade.
— Você está dizendo que não está totalmente comprometida com a união?
— Eu estou, — eu digo ferozmente, esperando que a mentira não apareça no meu rosto, — mas apenas se você estiver totalmente comprometido em curar completamente a minha mãe. Eu quero poder confiar em você, Roarke. Por favor, me dê uma razão para isso.
— Hmm. — Roarke estreita os olhos como se considerasse o meu pedido. — Vamos ver. Você —
— Emerson Clarke?
Eu olho para as portas da varanda ao som de uma voz masculina desconhecida. Na porta há um guarda que não reconheço. — Sim? — Eu pergunto.
— O Rei Unseelie deseja encontrá-la.
Capítulo 04
A JORNADA ATRAVÉS DO PALÁCIO PARA ENCONTRAR O REI PARECE AO MESMO TEMPO torturantemente longa e assustadoramente rápida. Tenho tempo suficiente para me arrumar completamente, mas não tenho tempo suficiente para me acalmar e me preparar.
— Meu pai não é tão gentil como eu sou, — Roarke me diz enquanto caminhamos por corredores de mármore brilhantes com duas faeries uniformizadas à nossa frente e duas atrás. — Ele quer manter você, não importa o quê. Nora ou prisioneira.
Maravilhoso. Isso não me faz querer vomitar.
— Eu não vou deixar isso acontecer, é claro, — Roarke acrescenta, — mas seria melhor se você não fizesse nenhum comentário de brincadeira sobre mudar de ideia ou não estar certa sobre a união. As coisas podem ficar... desagradáveis.
— Eu já disse a você que não vou mudar de ideia. — Em meu esforço para mascarar meu medo, minhas palavras saem mais alto do que eu pretendia. — Eu estou aqui, não estou? — Eu continuo em voz baixa. — E eu vim até você. Isso não prova quão séria eu estou sobre essa união?
— Tudo o que estou dizendo é que ele não gosta de piadas ou sarcasmo, então é de seu interesse ser educada. E você provavelmente deveria tirar meu casaco. Você parece muito estranha nele.
Eu tiro o casaco de Roarke e o entrego de volta para ele. — Talvez seja de seu interesse ser educado também, considerando o quanto minha Habilidade Griffin é valiosa para ele. Se ele me fizer prisioneira, nunca lhe darei o que ele quer.
Eu tento muito acreditar em minhas próprias palavras, mas as sobrancelhas levantadas e a expressão de pena de Roarke tornam isso impossível. Quando paramos do lado de fora de uma porta enorme e ricamente entalhada, ele me encara. — Você não precisa dar nada a ele, Emerson. Ele vai pegar o que quiser.
Um guarda abre a porta. O frio artificial no ar se intensifica, e a porta em si parece se estender mais como uma boca gigante se preparando para me engolir inteira. Eu sinto o cheiro de terra úmida e folhas podres. Meu coração bate mais rápido quando imagens de criaturas viscosas, crânios e besouros passam pela minha mente.
Então eu afasto as imagens imaginadas e descubro que a porta não mudou, e a sala para qual ela se abre não é uma boca escura, mas um grande escritório. Roarke pega meu braço e me direciona para frente, já que meus pés se esqueceram de como se mover por conta própria. — Lembre-se, eu estou do seu lado, — ele sussurra para mim. — Prove para meu pai que você está disposta a trabalhar conosco e vou me certificar de que você nunca será forçada a fazer nada.
Eu não respondo, minha atenção focada no interior do escritório do rei. À direita, há uma mesa grande o suficiente para que pelo menos uma dúzia de pessoas se sentem. Estranhamente, porém, tudo o que está em cima da mesa aparece borrado quando tento olhar bem de perto. Meu olhar se move para a esquerda — e fico ainda mais surpresa com o que vejo lá: nenhuma parede envolve o escritório daquele lado. Em vez disso, ele se estende para uma caverna subterrânea feita de rocha áspera e iluminada por luz pálida.
— Deixe-nos.
A voz profunda traz minha atenção para a mesa à nossa frente. A superfície é polida como qualquer outra superfície de mármore que enche este palácio. Do outro lado, uma cadeira alta que parece ser feita da mesma rocha áspera da caverna que está atrás de nós. A cadeira permanece imóvel enquanto os guardas saem da sala e fecham a porta. Então, apesar do fato de que deve pesar uma tonelada, a cadeira gira suavemente para nos encarar.
O Rei Savyon não parece nada com seu filho. Seu cabelo branco-loiro tem mechas pretas. Seus olhos são buracos negros que me perfuram. Sem falar, ele coloca uma mão em cima da outra na mesa à sua frente. Anéis de ouro com pedras multicoloridas brilham em cada dedo.
— Pai, esta é Emerson Clarke, — diz Roarke. Eu engulo e me forço a ficar mais ereta. Tenho certeza que essa é uma daquelas situações em que eu não deveria demonstrar medo, mas acho que estou prestes a falhar miseravelmente.
O rei se levanta, caminha até a frente de sua mesa e cruza os braços sobre o peito. Seus olhos viajam por todo o meu corpo e para cima novamente, seu olhar como um dedo frio e rastejante acariciando ao longo da minha pele. Seu olhar inexpressivo permanece na minha blusa de moletom, em seguida, viaja lentamente até o meu rosto, onde ele segura meu olhar por vários segundos aterrorizantes. Apesar da minha determinação de não ser intimidada, eu quase morro de alívio no momento em que seus olhos me deixam e me movo para perto de Roarke. Eu envolvo meus braços firmemente ao redor do meu corpo e olho para o chão bem na frente dos meus pés.
— Bem, — diz o Rei Savyon, sua voz um estrondo profundo que quase posso sentir em meu próprio peito. — Ela está muito longe da mulher com quem eu esperava que você um dia se uniria, Roarke. Ela mal se encaixa para ser uma criada nesta corte, muito menos uma princesa.
— Sério, pai? — Roarke arrastou. — Essa é a melhor coisa que você tem a dizer?
— O que você espera quando me apresenta uma perspectiva tão sombria para uma nora?
— Eu posso garantir-lhe, pai, que sua Habilidade Griffin mais do que compensa o que ela não tem em outras áreas.
Aqueles olhos negros se fixam em mim mais uma vez. — Eu certamente espero que sim. Eu gostaria de ver uma demonstração agora.
Eu abro minha boca, meus olhos correndo entre os dois. Não tenho certeza se posso falar, mas eles precisam saber que não posso fazer nada sob ordens. — Não se preocupe, Emerson, — Roarke diz antes que eu possa dizer qualquer coisa. Ele alcança dentro de seu casaco e produz um pequeno frasco. — Eu tenho seu precioso elixir aqui. Yokshin, nosso mestre de invenções, vem examinando, mas ainda há muito para que você possa usar.
Droga. Não foi assim que planejei usar o elixir. Eu devo ficar sozinha com Roarke quando ele me der para que eu possa instruí-lo a me contar tudo o que ele sabe sobre minha mãe e como consertá-la. Isso não vai funcionar agora a menos que eu possa dar uma instrução ao rei ao mesmo tempo. Para permanecer congelado no lugar, talvez. Assim ele não consegue interferir. Conforme Roarke se vira para mim, pensamentos correm loucamente pela minha cabeça. Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso? Se eu não fizer agora, terei outra chance? E se eu mandar nele agora, como vou passar por todos os guardas quando sair? Ordená-los também? Haverá tempo suficiente para dar a Roarke, seu pai e todos os guardas do palácio uma ordem antes que minha Habilidade Griffin se esgote?
— A poção de compulsão primeiro, — diz o rei. — Então a poção Griffin.
— Claro, — Roarke diz, removendo outra pequena garrafa de dentro de seu casaco.
— O... quê? — Eu pergunto.
— Poção de compulsão, — Roarke repete, removendo a tampa. — É exatamente o que parece. Você pode ser obrigada a fazer certas coisas enquanto estiver sob a influência desta poção. É só para ter certeza de que você se comportará enquanto usa sua Habilidade Griffin. Nós não queremos que você faça algo bobo ou irracional. — Ele ri. — Como dizer a todos nós para nos matar ou algo assim.
Toda minha esperança murcha. — Então — então você vai me forçar a dizer alguma coisa?
— Isto é apenas uma precaução, Emerson. Meu pai ainda não sabe se pode confiar em você.
Ele entrega a garrafa para mim e, como sei que não tenho absolutamente nenhuma escolha, a levo aos lábios. — Quanto? — Eu pergunto antes de incliná-la.
— Apenas um gole.
A poção tem gosto de algo familiar, mas não consigo identificar. Eu entrego a garrafa de volta para Roarke, assim quando eu percebo que essa coisa de compulsão soa muito como a Habilidade Griffin que todo mundo neste mundo tem tentado colocar suas mãos. Minha Habilidade Griffin. — Espere, mas — se vocês tem uma coisa como uma poção de compulsão, então qual é a importância da minha Habilidade Griffin? Vocês já podem dizer às pessoas para fazerem as coisas e elas as farão. Vocês não precisam — Percebo o que estou dizendo tarde demais. Vocês não precisam de mim. Não é algo que eu deveria estar dizendo quando minha Habilidade Griffin é a única vantagem que eu tenho.
— Nós não podemos forçar as pessoas a tomar uma poção e depois obrigá-las a dizer ou fazer certas coisas, — explica Roarke. — Não é a mesma coisa que dizer o chão para se separar e depois ver isso acontecer um momento depois. — Ele coloca o elixir da Habilidade Griffin na minha mão e dá um passo para trás para ficar ao lado de seu pai. Agora que eles estão próximos um do outro, posso ver a leve semelhança entre eles, apesar de suas diferenças dramáticas na cor dos cabelos e dos olhos. — Emerson, — Roarke diz. — Você não acha que seria divertido se começasse a chover aqui?
Embora seja uma sugestão estranha, eu me encontro concordando com ele. Seria a coisa mais maravilhosa do mundo se começasse a chover aqui mesmo nesta sala. — Sim, — eu digo a ele.
— Então você deve tomar um gole desse elixir e fazer chover.
Ele tem razão. Isso é exatamente o que devo fazer. Então eu retiro a tampa do frasco e despejo algumas gotas na minha língua. Então eu espero pelo formigamento familiar, a sensação de que a magia Griffin escondida em algum lugar dentro de mim está subindo de repente para a superfície. Eu olho para o teto e digo, — Comece a chover.
E começa.
Eu fico encharcada em segundos, ofegando e tensionando meus ombros contra a água gelada. Roarke e o rei permanecem completamente secos, como se guarda-chuvas invisíveis os protegessem do aguaceiro. — Diga para parar, — Roarke fala acima do rugido de gotas da chuva.
Eu não posso sentir se há algum poder Griffin na superfície da minha magia, e é impossível ouvir minha voz acima do barulho. Mas quando eu digo para a chuva parar, eu sinto as palavras ressoando na minha cabeça do jeito que elas fazem quando a minha Habilidade Griffin ganha vida, e eu sei que funcionou.
— Muito bem, — o rei diz enquanto eu fico ali tremendo. Ele olha para Roarke. — Yokshin é capaz de recriar o elixir? Se não, e a Habilidade Griffin for aleatória, a garota não será tão útil para nós como eu esperava.
— Ele não tem certeza sobre recriar, mas na última mensagem de Aurora para mim antes de retornarmos, ela disse que está trabalhando em algumas teorias sobre como a habilidade pode funcionar. Ela acha que pode se tornar mais previsível.
O rei acena com a cabeça. — Bem, então. Tem certeza de que quer ter essa união? Seria mais simples lidar com a garota como prisioneira.
— Sim, eu tenho certeza. Eu não quero que ela seja uma prisioneira. — Roarke olha para mim como se estivesse considerando uma compra que ele está prestes a fazer. — Eu realmente gosto dela. E mamãe e Aurora podem treiná-la nos caminhos da corte. Depois de algum tempo, parecerá que ela sempre pertenceu aqui. Ela se tornará uma de nós. Ela ficará feliz em nos ajudar sempre que precisarmos de sua Habilidade Griffin. Nós nem precisamos forçá-la. Certo, Emerson?
— Sim, — eu respondo.
Um uivo distante ecoa pela caverna.
— Bom, — o rei diz novamente, sem prestar atenção ao uivo. — Até lá, Roarke, você dará a ela uma poção de compulsão todos os dias e lhe dirá exatamente o que dizer se e quando sua Habilidade Griffin aparecer. — Toda a esperança que eu tive de usar minha Habilidade Griffin em Roarke desliza para longe como cinzas através dos meus dedos. — E você, Senhorita Clarke. — O rei dá um passo em minha direção, o que é cerca de mil vezes mais perto do que eu gostaria que ele estivesse. — Descubra se a teoria de Aurora — seja ela qual for — está correta. Faça tudo que puder para aprender como funciona sua Habilidade Griffin. Você será muito mais útil para nós dessa maneira, e pessoas úteis são menos propensas a morrer.
— Pai, — Roarke diz com um revirar de seus olhos. — Isso não é útil. Ela não entende seu senso de humor ainda.
A expressão do rei não muda nem um pouco. Ou ele é muito bom em manter uma cara séria, ou isso não era uma piada.
Outro uivo trespassa o silêncio, desta vez mais alto. O rei não olha para a caverna, então nem eu. Qualquer criatura ou pessoa que está fazendo esse som, eu não quero saber.
— Vamos anunciar a união na festa de aniversário da sua mãe em duas semanas, — o rei diz a Roarke. — Você tem até então para decidir quando a cerimônia de união ocorrerá.
Um terceiro uivo se transforma em soluços, gritos e sons de luta. Finalmente, o rei olha em direção à caverna, e embora eu não queira, eu sigo seu olhar. Dois guardas Unseelie estão arrastando um homem pelo chão desigual da caverna. Enquanto o homem luta, um dos guardas dispara uma faísca de magia em seu lado, e o homem se afasta e uiva em agonia.
Eu olho para Roarke, implorando com meus olhos para nós partirmos agora. Mas ele está observando o homem lutando com uma expressão ilegível.
— Ah, você o encontrou, — diz o rei. — Este é o último, eu presumo?
— Sim, Sua Graça.
— Muito bom. — Enquanto os dois guardas se afastam do homem, o Rei Savyon levanta a mão. O homem, que pareceu por um momento como se estivesse prestes a correr, engole e fecha os olhos. O rei aperta a mão com força ao redor do ar e vira o punho abruptamente para o lado. Do outro lado da sala, na beira da caverna, a cabeça do homem faz o mesmo, dobrando-se quase paralela ao ombro. É demais, minha mente grita. É demais, É DEMAIS!
Então um som nauseante. O choro do homem é cortado. O rei levanta a mão para cima. A cabeça do homem é arrancada inteiramente de seu corpo e ambas as partes caem no chão, espalhando sangue por toda parte.
Um suspiro estrangulado me escapa. Minha mão voa para cobrir minha boca. Eu fecho meus olhos, mas de jeito nenhum eu poderei não ver isso.
Como se de longe eu ouvisse a voz do rei. — Isso é tudo, Roarke. Leve a garota de volta para seus aposentos.
Uma mão agarra o meu braço. Eu pisco e forço meus olhos para longe do corpo morto quando Roarke me puxa para a porta. Ele abre e me deixa andar na frente dele. — E Roarke, — o rei acrescenta. — Encontre alguém que queime essas roupas hediondas que ela está usando. Eu não entendo porque isso ainda não foi feito.
— Ela se recusou a se separar delas, aparentemente.
Eu me atrevo a olhar para o rei. Ele não suspira. Ele não sorri. Ele mal se move quando diz, — As roupas serão queimadas. Cabe a Senhorita Clarke se ela ainda estará nelas quando isso acontecer.
A porta se move lentamente em nossa direção. No momento em que ela se fecha, começo a correr.
Capítulo 05
EU CORRO TODO O CAMINHO DE VOLTA PARA O MEU QUARTO, ABRO A PORTA, E A fecho. Eu dou alguns passos instáveis dentro para dentro do quarto, mal vendo ao meu redor. Tudo que vejo é o pescoço de um homem virado para o lado e o sangue esguichando de...
Eu me viro, piscando, como se eu pudesse de alguma forma desviar o olhar da memória. Ainda respirando pesadamente por causa da corrida, eu empurro meus dedos pelo meu cabelo. O que diabos eu estava pensando vindo a este lugar? Que eu realmente conseguiria fugir com as respostas que preciso, porque tenho uma poderosa Habilidade Griffin que posso usar contra as pessoas? Uma habilidade Griffin que não posso usar quando quero e que pode ser usada para atender aos propósitos de outra pessoa devido a uma poção que eu não sabia que existia. Que piada miserável. Eu deveria ter adivinhado, no entanto, que algo assim aconteceria. Há tanta coisa que eu não sei sobre esse mundo e sua magia, mas o que eu deveria saber era que era uma ideia idiota me colocar no meio de um bando de faeries poderosos que exercem magia negra.
De algum lugar atrás de mim, um baque suave chega aos meus ouvidos. Eu congelo. Eu sei que deveria correr. Eu deveria abrir a porta e continuar correndo até que este palácio esteja muito atrás de mim. Mas o medo gruda meus pés no chão. Muito lentamente, eu me viro e olho por cima do meu ombro. Do outro lado do quarto na mesa redonda, ao lado da bandeja de chá e macarons que Clarina deve ter deixado aqui há não muito tempo atrás, está uma pequena coruja. Enquanto observo, a coruja parece desabar sobre si mesma. Um instante depois, um gatinho preto aparece em seu lugar.
— Bandit? — Eu sussurro em descrença. Eu me viro totalmente para encarar a criatura que muda de forma. Ele treme sua orelha direita em resposta. Sem parar para pensar, eu corro através do quarto e o coloco em meus braços, lágrimas queimando em meus olhos. — Eu não sei como você chegou aqui ou onde você esteve se escondendo ou se é você que está fazendo barulhos estranhos na minha suíte, — eu sussurro, — mas eu estou muito, muito, muito feliz de ver você. — Eu pensei que o deixei dormindo no meu quarto quando escapei do oásis, mas ele deve ter mudado para algo menor e entrou em um dos meus bolsos. Não seria a primeira vez. — Por favor, não me deixe, — murmuro em seu pêlo, minhas palavras saindo apressadas. — Por favor, não me deixe aqui sozinha. Sinto muito pelas coisas que eu disse quando você apareceu pela primeira vez. Que eu não gosto de animais de estimação e que talvez eu pudesse vender você. Eu juro que não quis dizer nada disso. Eu tive um cachorrinho uma vez, mas ele fugiu e nunca mais voltou, e mamãe e eu procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo e chorei por dias. — Eu respiro fundo e abro meus braços o suficiente para olhar para baixo para ele sentado entre eles. Ele olha para cima com olhos de gatinho perfeitamente adoráveis. — Eu sei que você é mágico, mas provavelmente não entende uma palavra do que estou dizendo, não é? — Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para todos os lados como se estivesse tentando descobrir o que estou dizendo. — Sim, — eu sussurro, puxando-o para o meu peito novamente. — Então, só não desapareça, tudo bem? Este lugar não é seguro. Para nenhum de nós dois. Se você tivesse visto o que eu acabei de —
— Emerson? — A voz do Roarke do outro lado da porta me faz tremer. Eu não tenho ideia de como ele vai se sentir sobre a ideia de um animal de estimação metamorfo aparecendo aqui, então eu corro para o quarto e coloco Bandit na cama. — Fique aqui, — eu sussurro para ele antes de fechar a porta. Com os membros ainda tremendo, eu atravesso a sala de estar e abro a porta principal apenas o suficiente para espiar através da abertura para Roarke.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Outro breve lampejo de sangue e carne sendo rasgada cruza minha mente. Eu engulo, achatando uma mão no batente da porta e a outra na parte de trás da porta. Se recomponha, eu silenciosamente instruo. Você escolheu vir aqui. Você escolheu essa opção para ajudar sua mãe. Agora faça o trabalho. — Sim, obrigada. Eu vou ficar bem. Foi apenas um pouco de choque, só isso. Ver... isso. — Duvido que seja necessário elaborar exatamente o que estou me referindo.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Hum... tudo bem.
Nós nos sentamos lado a lado no divã com uma quantidade respeitável de espaço entre nós. Arrisco-me a olhar para a porta fechada que nos separa do quarto. Espero que Bandit seja inteligente o suficiente para saber que ele precisa permanecer escondido. — Eu sinto muito que você teve que ver isso, — diz Roarke. — Eu sei que deve ter parecido brutal e cruel, mas isso não aconteceu sem nenhum motivo. Aquele homem desobedeceu ao rei e a consequência foi à morte.
Eu respiro devagar. Já que Roarke parece estar esperando por uma resposta, eu digo, — Tudo bem.
— Eu só queria explicar porque eu não quero que você tenha medo de viver aqui. Esse homem era um criminoso. Ele e vários outros roubaram do meu pai. Ele mereceu a morte. Mas para aqueles de nós que seguem as regras, a vida aqui é boa.
Para aqueles de nós que seguem as regras. As garantias de Roarke só aumentam meu medo. Não estou planejando seguir as regras. Estou planejando roubar conhecimento e depois fugir para salvar a minha vida. — Eu sei, — eu digo baixinho. — Compreendo. Como eu disse, foi apenas um choque. Eu só estou aqui há alguns dias e tudo é muito... diferente. Eu ainda estou me acostumando com isso. — Eu engulo. — Eu acho que poderia ajudar a me deixar à vontade se eu soubesse com certeza que posso confiar em você. Se você pudesse me contar algumas coisas — sobre minha mãe, então eu sei que você pode realmente me ajudar.
Ele se inclina para trás sobre uma mão e me observa enquanto sua expressão séria se transforma em diversão. — Na verdade, você não é tão mal nisso quanto Aurora pensou. Ainda bastante transparente, mas estou impressionado que você esteja tentando.
Eu estreito meus olhos para ele. — Tentando o quê?
— Reverter esta situação ao seu favor. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Estou curioso. Essa cena com meu pai realmente a incomodou, ou toda a sua reação é um artifício para que você possa tentar manipular alguma informação de mim?
Minha boca cai aberta por conta própria. Fecho-a rapidamente e cerro os dentes enquanto respondo. — Claro que fiquei chateada com isso. Foi horrível. — Eu me inclino para longe dele. — Você ficou motivado por alguma preocupação genuína quando decidiu vir ao meu quarto, ou isso faz parte do jogo que você está jogando?
Ele sorri de novo, mas desta vez é mais suave. — Eu sinto muito. Parece que nós dois ainda estamos nos descobrindo. E sim, minha preocupação por você era genuína. Eu não sou tão cruel que não signifique nada para mim ver você chateada. Podemos estar prestes a formar uma das uniões menos românticas da história, mas isso não significa que eu não vou, pelo menos, tentar cuidar de você.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, me apertando mais forte que o normal. — Bem, no caso improvável de você estar dizendo a verdade, obrigada por tentar.
Ele me examina por mais alguns instantes. — O que posso dizer para convencê-lo de que estou sendo sincero?
— Você poderia começar com...
— Devo lhe falar sobre a pequena casa em que você cresceu? Número vinte e nove Phipton Way. Devo lhe falar sobre as rosas silvestres que sua mãe adorava cultivar no jardim? Ou sobre a amiga que costumava visitá-la às vezes? Aquela que sempre acabava discutindo com sua mãe. Aquela que você nunca conheceu, porque sempre lhe disseram para ir ao seu quarto. Ou que tal o momento em que sua mãe apareceu para buscá-la na escola uma hora mais cedo e ficou do lado de fora da cerca falando com coisas que não estavam lá? Contar a você sobre essas coisas é suficiente para provar a você que eu sei mais sobre sua mãe do que qualquer um que tenha tentado ajudá-la até agora?
Um arrepio percorre minha espinha. — Como você sabe dessas coisas?
Suas sobrancelhas se apertam levemente. — Você ainda não entende, não é? Você não entende como você é valiosa. Quando eu ouvi sobre a sua Habilidade Griffin, minha prioridade foi aprender tudo o que pudesse sobre você. Procurei sua tia, depois sua mãe e depois a única pessoa que ligava Daniela e Emerson Clarke a este mundo.
— Que pessoa?
— A pessoa que sabe quem você é. A pessoa que fez sua mãe do jeito que ela é.
Meu coração troveja perigosamente rápido. — Conte.
Ele simplesmente balança a cabeça. — Tudo será revelado depois da nossa união.
Eu sacudo minha cabeça, moendo as palavras entre os meus dentes. — E você quer que eu acredite que você não é cruel.
— Eu não sou, — ele diz baixinho. — É só que você não é a única pessoa que quer alguma coisa. Eu também quero algo, e não confio que você me dê a menos que eu retenha informações de você.
— Eu vou fazer esta união.
— Mesmo? Isso é honestamente o que você está planejando fazer?
Droga. Existe algum tipo de magia acontecendo aqui que diz a ele que estou mentindo? Aquela poção de compulsão ainda está funcionando? Mas ele não me obrigou especificamente a dizer a verdade. — Sim, — eu digo a ele, querendo acreditar que é a verdade. — É o que estou planejando fazer.
— E ainda assim você não pediu detalhes sobre como eu vou cumprir o meu lado do acordo uma vez que a união tenha acontecido. Como exatamente sua mãe será acordada e curada? Eu vou te ensinar os feitiços e deixar você ir até ela? Vou insistir em fazer isso sozinho? O que vai acontecer com sua mãe quando ela estiver bem?
Droga. Ele me pegou. — Eu tenho muitas perguntas para você, Roarke, mas você não está exatamente por perto para que eu faça. Você só voltou algumas horas e não tivemos muito tempo para conversar antes que seu pai quisesse me ver.
— Verdade. Bem, então, você quer perguntar como as coisas vão funcionar depois da união?
Eu inclino meu queixo para cima. — Como as coisas vão funcionar depois da união?
Ele suspira. — Por que você é tão resistente? Entendo que não é o ideal se casar com alguém que você acabou de conhecer, mas não é como se você estivesse tendo uma vida desapontadora em comparação com esse acordo. Eu estou te oferecendo tudo. Uma bela casa, uma família poderosa, riqueza além de qualquer imaginação. E não me diga que você não quer nada disso porque todo mundo quer isso. E não há nada de errado em querer isso. Você será uma das poucas sortudas que vai conseguir ter tudo.
— Você está certo, — eu digo baixinho, desdobrando meus braços e colocando minhas mãos no meu colo. — Eu sou muito sortuda.
— Então, quando estivermos casados, eu irei até sua mãe e —
— Não, — eu interrompo. — Você — eu vou. Eu vou buscá-la e trazê-la de volta para cá. — Eu paro. — Você não iria me impedir de fazer isso, não é? De ir buscá-la? Quero dizer, obviamente eu voltaria.
— Obviamente, — ele repete. — Mas isso não significa que meu pai ficaria feliz com você saindo. Se você não quer que eu busque sua mãe, e você não tem permissão para buscá-la também, entre em contato com quem quer que seja que a mantenha segura e marque uma reunião. Em um local neutro, que seus ‘amigos’ não precisem se preocupar serem descobertos. Vou mandar algumas pessoas buscarem sua mãe. Meus homens mais confiáveis.
Eu considero sua sugestão. — Bom. Se esse é o único jeito.
— Quando ela estiver aqui, eu vou acordá-la. Eu vou curar sua mente. Então ela vai poder dizer a verdade sobre tudo. Você pode finalmente ter todas as suas perguntas respondidas. Ela pode ficar aqui também, e você pode finalmente parar de se preocupar com ela. Parar de lutar, pare de se debater. A vida será boa para você, Emerson.
— Soa perfeito.
— Soa? Eu sei que você gosta de sarcasmo, então me perdoe por duvidar de você.
Eu reviro meus olhos. — Obviamente não é perfeito, mas é o mais próximo da perfeição que a vida poderia ser, então se casar com você é o único jeito de chegar lá, então eu farei isso.
— Mesmo?
— Sim.
Ele se inclina para frente e segura uma das minhas mãos. Ele olha atentamente para os meus olhos, e embora eu não me sinta diferente, não posso deixar de me perguntar se ele está tentando usar algum tipo de feitiço de discernimento mágico do qual não sei nada. — Você está mentindo para mim, Emerson?
Eu sacudo minha cabeça, desejando não desviar o olhar dele. — Não estou mentindo. Minha mãe é a pessoa mais importante do mundo para mim. Eu faria qualquer coisa para deixá-la melhor. — E percebo quando termino de falar que estou dizendo a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela — e isso inclui se casar com um príncipe que mal conheço. Então, se não houver saída para isso, se for impossível conseguir as informações que eu preciso de Roarke antes do casamento, então eu farei isso. Vou casar com ele. E mamãe finalmente será a mãe feliz e saudável que eu me lembro.
E então...
Um dia, não importa quanto tempo demore, não importa quanto tempo eu leve para descobrir exatamente como fazer isso, eu vou tirar nós duas daqui.
Capítulo 06
— SIM, MUITO BEM, — AURORA FALA PARA MIM ATRAVÉS DO TERRAÇO CONFORME eu balanço o braço do meu parceiro de dança, dou voltas, passo por trás dele, e volto à nossa posição inicial. Depois de aplaudir brevemente, Aurora acrescenta, — Você só estragou tudo uma vez desta vez.
— O quê? — Eu me afasto do jovem que tem sido meu parceiro. Primo de Aurora ou primo de segundo grau ou algo nesse sentido. Meu futuro marido é aparentemente muito importante ou ocupado demais para esse tipo de coisa. — Eu pensei que eu fiz tudo certo.
— Não, a parte no começo logo depois de você tocar as palmas das mãos? Você virou para o caminho errado.
Eu reviro meus olhos. — Você realmente acha que alguém vai notar?
— Sim. Em um salão de baile cheio de casais dançando, quando todo mundo se vira para um lado e você vira para o outro, isso certamente será perceptível.
— Tudo bem. Eu presumo que você vai me dizer para fazer de novo? — Eu tenho praticado por horas, mas sei que Aurora não vai ficar feliz até que eu esteja completamente certa.
— Sim, — diz ela com um aceno de cabeça.
Então eu encaro meu parceiro e tento não suspirar muito alto quando começamos de novo. Pelo menos minha roupa é bastante fácil de se mover. Depois do meu aterrorizante encontro com o rei, deixei de lado a minha teimosia e dei uma olhada no meu guarda-roupa — e descobri que não detestava as roupas tanto quanto esperava. Nem todas eram vestidos fofos, fiquei feliz em ver. São mais como combinações de calças e vestidos justos, alguns com longas mangas enfeitadas e pescoços altos, outros sem mangas e luvas cobrindo todo o braço. Com o passar dos dias, passei a apreciar os ricos detalhes e estilos exóticos usados pelos membros da Corte Unseelie. E quanto mais eu penso sobre isso, mais sentido faz em um mundo cheio de magia e encantamento, que a roupa seria tudo menos comum.
Ou talvez eu esteja simplesmente me acostumando a estar aqui, o que é um pensamento aterrorizante.
Nós dançamos a dança mais três vezes antes de Aurora finalmente nos deixar parar. Seu primo, que parecia que poderia se esfaquear se forçado a me girar mais uma vez, corre antes que Aurora consiga ordenar outra tarefa chata para ele. — Noraya, vamos tomar refrescos agora, — diz ela, acenando passando por mim para onde sua criada está esperando na porta da biblioteca.
Eu me junto a Aurora do outro lado do terraço e sento no banco balançando ao lado dela. É apenas uma única videira, e tenho um pouco de receio de colocar todo o meu peso no hemisfério oco. Mas Aurora continua me dizendo para não duvidar da magia, e seu banco está perfeitamente bem até agora. Depois de alguns momentos, relaxo contra as almofadas e levanto os pés para que eu possa balançar gentilmente para frente e para trás. Eu olho para o jardim, mas não há muita coisa acontecendo. O terraço da biblioteca fica em um lado mais silencioso do palácio.
— Então, agora que posso dançar sem errar, — digo a Aurora, balançando meu banco para encará-la, — podemos fazer algo mais emocionante esta tarde? Como arco e flecha? Eu estava começando há ficar um pouco menos que terrível em nossa última lição. Ou eu poderia te mostrar mais movimentos de parkour. Você poderia experimentar alguns deles desta vez, em vez de apenas me observar.
Ela ri e balança a cabeça para minha aparente tolice. — Você não acha que acabou as aulas de dança, não é? Você aprendeu uma dança, Em. Agora você precisa aprender o resto delas. E só temos três dias até o baile de aniversário de mamãe.
Meus pés caem no chão. — Sério? Eu tenho que aprender todas as danças?
— Sim. Vai ser bastante ruim quando as pessoas descobrirem que a futura princesa é alguém que passou toda a sua vida no reino humano e não sabia nada deste mundo até algumas semanas atrás. Se eles não virem você usando magia ou dançando todo tipo de dança, será ainda pior.
— Espere, você quer que eu use magia no baile? Na frente das pessoas?
— Claro. — Ela move a mão em um círculo, e seu banco começa a girar lentamente. — Deve estar tudo bem, não é? Você pode lidar com o básico agora.
— Sim, eu só não sabia que isso era esperado, só isso. Eu tentarei não esquecer.
— Essa é a coisa, Emerson. — Sua voz me alcança do outro lado do seu banco. — Você precisa chegar ao ponto em que não precisa se lembrar. Deve se tornar uma parte automática de sua vida diária, usando até mesmo para as tarefas mais simples.
— Soa um pouco como preguiça para mim.
— Você sabe o que é preguiça? — Ela faz seu banco parar quando ela está de frente para mim e toca distraidamente o pingente em volta do pescoço: uma forma oval prateada com uma pedra negra no centro. — Sentar em frente a uma tela brilhante e assistir sem pensar imagens em movimento.
Eu dou a ela o meu olhar nada impressionado. — Você está se referindo a TV e filmes? Porque isso não é preguiça. É entretenimento e faz parte da —
— Parte da vida humana. Assim como a magia faz parte da vida dos faeries. Faz parte da sua vida agora, Em, então se acostume com isso.
— Tantas coisas que tenho que me acostumar, — eu penso, olhando através do jardim novamente.
— Sim, como roupas bonitas, feriados exóticos, festas luxuosas e isso é o esperado pelo resto de sua vida.
— Eu estava me referindo mais a este mundo e sua política e geografia e história e criaturas e... tudo, — eu digo baixinho. — É tudo muito diferente da vida em que cresci.
— Verdade, — ela diz. — É por isso que você deve se concentrar com as coisas frívolas. É muito mais fácil se acostumar. O resto seguirá com o tempo.
Eu aceno, apesar do fato de que eu não concordo com ela. Eu não posso dizer a ela que ainda estou determinada a encontrar uma saída para tudo isso. Mesmo agora, depois de lições intermináveis de magia, etiqueta e dança, depois de longas discussões sobre os detalhes da cerimônia de união, eu ainda não consigo imaginar este casamento realmente acontecendo. Eu sei que provavelmente estou em negação. Eu sei que é improvável que Roarke me conte mais alguma coisa sobre minha mãe até nos casarmos. Mas eu não vou desistir até o momento em que a cerimônia de união começar.
Noraya retorna então com dois copos altos flutuando na frente dela. Ela é tão boa nessa coisa de levitação que nem precisa usar as mãos. Elas permanecem perfeitamente atrás das suas costas enquanto ela caminha para frente, os olhos apontados com firmeza à frente, em vez de observar os copos flutuantes. — Limonada, Sua Alteza, — diz ela quando nos alcança.
Eu me empurro para frente e fico de pé enquanto um dos copos se move em direção a Aurora. Eu envolvo minha mão em torno do outro. — Obrigada, Noraya. — Ela arrisca um olhar para mim, sorri, então olha apressadamente para longe.
— Você precisa superar isso, — Aurora me diz uma vez que Noraya caminha de volta para a porta da biblioteca. — Não há nada de errado em ser esperado.
Eu me acomodo com cuidado em meu banco sem derramar minha bebida. — Eu não gosto de relaxar e receber as coisas. Parece apenas... rude.
— É grosseiro impedi-la de fazer seu trabalho corretamente.
— Bem, de qualquer maneira, ela sorriu para mim, então eu acho que ela não se importou.
Aurora abaixa o copo e pisca. — Ela sorriu para você?
— Quero dizer, não para mim, — acrescento apressadamente, não querendo colocar Noraya em problemas. — Não de um jeito indelicado. De qualquer forma, queria perguntar a você sobre os vestidos para o baile de aniversário da sua mãe. Eu suponho que você vai me dizer o que eu devo vestir? Eu não acho que posso ser confiável para escolher o tipo certo de vestido.
Aurora estreita os olhos com a mudança abrupta de assunto, mas ela deixa passar. — Sim. Mamãe e eu mandamos fazer três vestidos para você. Nós decidiremos qual escolher quando soubermos o que Roarke estará usando.
— Certo. Claro. Porque seria terrível se as cores entrassem em confronto ou algo assim.
Ela revira os olhos e cutuca meu joelho com o sapato. — Seria terrível. Vocês dois precisam parecer o par perfeito.
— O que é bobo, porque nunca seremos um casal perfeito. Nós nem sequer — Oh. — Eu sento um pouco para frente. — Minha Habilidade Griffin. Eu posso senti-la chegando. — No tempo em que estou aqui, eu fiquei mais sintonizada com a sensação da minha magia. Ser forçada a manter registros intermináveis da magia comum que uso todos os dias, o quanto eu como, o quanto estou cansada ou energizada, e exatamente quando minha Habilidade Griffin aparece me tornou mais consciente de cada pequena mudança na minha magia.
— Ah, é quase na mesma hora que as últimas manhãs, certo? — Aurora diz. — Um pouco antes da hora do almoço?
— Sim. E eu usei muito mais a minha magia normal do que o habitual na noite passada tentando derreter aquela fonte, então provavelmente podemos dizer com certeza agora que níveis mágicos comuns não têm muita influência na minha magia Griffin.
— Excelente. Não se esqueça de adicionar isso ao seu caderno. Acho que temos uma ideia razoavelmente boa de como sua habilidade funciona agora, mas você provavelmente deve continuar acompanhando-a por mais algumas semanas. Só assim podemos ter certeza.
Eu achava que a minha Habilidade Griffin não fazia nenhum sentido quando se revelou pela primeira vez, mas talvez, como Aurora sugeriu, ainda estivesse ‘se estabelecendo’ durante os meus primeiros dias neste mundo. Desde então, meu excessivo registro revelou um padrão bastante regular: Minha Habilidade Griffin aparece duas vezes ao dia, com aproximadamente doze horas de diferença, mais ou menos uma ou duas horas. E durante esse tempo, não há nada que eu possa fazer — além de pegar o elixir, que agora está esgotado — que fará com que apareça. O que significa que é provável que a teoria de reabastecer de Aurora esteja correta.
Eu abaixo meu copo de limonada e sento na beira do meu banco. Eu fecho meus olhos e tento prever o momento exato antes de sentir aquela sensação de formigamento na minha espinha. — Eu imagino como se fosse um vulcão se preparando para entrar em erupção, — murmuro. — A pressão se acumula dentro de mim e, de repente, tudo corre para a superfície, pronto para explodir.
— O que Roarke obrigou você a dizer desta vez? — Aurora pergunta.
Assim como o rei instruiu, Roarke me dá uma poção de compulsão todos os dias — bem, duas vezes por dia, agora que descobrimos o padrão — e me diz exatamente o que dizer quando minha Habilidade Griffin está pronta para ser usada. — Ele me obrigou a tentar preservar o poder, se possível. Se não, então eu devo dizer para todas as rosas amarelas no jardim para ficarem azuis.
— Ugh, que comando estúpido. Ele realmente precisa encontrar alguns usos mais interessantes para sua magia. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja te deixando praticar. Você precisa aprender a dominá-la, Em.
— Sim. — Eu aperto minhas mãos e fecho minha boca enquanto a magia Griffin ondula através de mim, exigindo ser liberada. Segure-a, segure-a, segure-a, eu silenciosamente me instruo. E quando tenho certeza de que a magia está prestes a se libertar de mim, me forçando a falar às instruções que Roarke me deu, apenas... não. Lentamente, começa a parecer menos esforço segurá-la. Eu abro meus olhos, minhas mãos relaxando no meu colo. — Eu acho que eu consegui, — eu digo com um sorriso. — Eu ainda posso sentir o poder lá, como um zumbido estranho logo abaixo da minha pele. Eu me pergunto por quanto tempo eu posso —
O poder corre para fora de mim, tornando minha voz mais profunda e ressonante. — Toda rosa amarela no jardim ficará azul, — eu digo.
Aurora se senta um pouco para frente, olhando além de mim. Depois de um momento, ela diz, — Funcionou. Eu consigo ver apenas alguns arbustos de rosas amarelas daqui, mas elas ficaram azuis.
Eu caio de volta contra minhas almofadas, fazendo meu banco balançar com movimentos bruscos e oscilantes. — Merda, foi apenas um minuto.
— Bem, talvez você tenha se empolgado cedo demais. — Aurora se inclina para trás e toma um gole de sua limonada. — Tente por mais tempo na próxima vez antes de me dizer ‘consegui’. Tudo que você precisa é praticar.
— Maravilha. Outra coisa para praticar, — eu digo com um suspiro.
— Diga ao Roarke para obrigá-la a segurá-la, não apenas para tentar. E nada disso ‘Se você não conseguir, então é isso que você vai dizer.’ Ele basicamente está lhe dando permissão para falhar.
— Mm. — Eu estou esperando pelo dia em que Roarke estará ocupado o suficiente para esquecer de me obrigar. Esse é o dia em que vou me certificar de que eu esteja com ele exatamente no momento certo. Vou ordenar a ele que anote todos os feitiços necessários para acordar e curar minha mãe. Então, se restar alguma coisa da minha Habilidade Griffin, vou usá-la para sair daqui.
— Você não quer terminar sua limonada? — Aurora pergunta, levantando meu copo do chão com um simples aceno de sua mão. — Você precisa se manter hidratada, se quiser sobreviver ao resto das aulas de dança do dia.
Eu pego o copo do ar e tomo o restante da limonada. — Você vai ter que encontrar outro membro disposto em sua corte para ser meu parceiro, — eu a lembro, — e seu primo provavelmente já disse a todos para evitarem a mim e a minha dança terrível, então... Oh. Isso é uma ideia.
— O quê?
— Você acha que funcionaria se eu usasse minha Habilidade Griffin para dizer a mim mesma que eu posso dançar perfeitamente a dança das fadas?
— Uh... — A expressão de Aurora fica pensativa. — Hmm. Eu imagino. Quero dizer, como funciona a sua magia Griffin em primeiro lugar? Ela obedece às suas palavras exatas ou à sua intenção por trás das palavras? Funciona de acordo com o que você está imaginando quando ordena alguma coisa? Nesse caso, a coisa da dança não funcionaria porque você não sabe e, portanto, não consegue visualizar todos os passos das outras danças. E outra coisa, — acrescenta ela, batendo na lateral do copo com as unhas. — Se você me disser para fazer algo, mas a maneira que eu entendo seu comando não é da mesma maneira que você quis dizer, qual intenção a magia obedecerá? Sua ou a minha?
Eu inclino minha cabeça contra as almofadas. — Eu não tenho ideia, mas estou começando a desejar que esta Habilidade Griffin viesse com um manual de instruções.
— Experimentação, Em. Isso é tudo que requer.
— Claro, mas é frustrante quando tenho que esperar meio dia entre cada nova experiência.
— A menos que você possa se agarrar ao seu poder e usar um pouco de cada vez.
— Talvez. — Eu viro no meu banco para encarar as portas da biblioteca quando passos soam no terraço.
— Sua Alteza, — diz Clarina quando nos alcança. — Minha senhora, — acrescenta ela, direcionando suas palavras para mim antes de virar de volta para Aurora. — Phillyp está pronto para a sua aula.
— Oh, maravilha. — Aurora entrega seu copo de limonada pela metade para Clarina antes de se levantar.
— E sua mãe acabou de enviar uma mensagem para dizer que gostaria de discutir alguns detalhes do baile com você.
— Mamãe sempre escolhe fabulosamente o pior momento, não é? — Aurora diz com um suspiro. — Ela vai ter que esperar.
— Claro, Sua Alteza. Devo dizer a ela o habitual?
— Sim. Diga a ela que estou no meio da minha aula de arco e flecha. Eu vou direto para ela assim que terminar.
Clarina acena com a cabeça uma vez. — E devo escoltar Lady Emerson de volta para seus aposentos?
— Hum... não, na verdade. Em vem comigo desta vez. — Aurora me dá um sorriso perverso. — Eu confio em você agora para manter meus segredos.
Depois de uma rápida reverência, Clarina sai. — Poxa, — eu digo. — Estou chocada ao descobrir que a princesa perfeita está guardando segredos de sua própria mãe.
Ela dá no meu braço uma tapa brincalhona. — Não, você não está. Além disso, não é grande coisa. É apenas algo que minha mãe não aprova. — Em vez de voltar para dentro, ela sai do terraço para a grama.
— Sua mãe não aprova você treinar arco e flecha também, — aponto enquanto a sigo, — mas ela não impediu você de ter aulas.
— Sim, bem, eu disse a ela que era ou tiro com arco ou combate mágico, e não havia como ela permitir que sua pequena princesa aprendesse um combate mágico.
— Que é o quê, exatamente? — Eu me inclino quando uma borboleta prateada e uma lagartixa com asas — uma correndo atrás da outra — voam muito perto da minha cabeça.
— Você sabe como quando você se baseia em seu poder e, em sua forma mais básica, é apenas o poder cru em suas mãos? — Diz Aurora.
— Sim. — Foi essa a lição que recebi de Azzy na Chevalier House.
— Bem, tudo que você faz é jogar essa magia em alguém. Quero dizer, há mais do que isso. Aqueles que são treinados em combate mágico muitas vezes transformam sua magia em outras coisas. Pedras ou lâminas ou bandos de aves com bicos afiados. Algo que pode mais facilmente derrubar um adversário do que apenas algumas faíscas. Mas sua mente tem que ser muito rápida. Você tem que ser capaz de moldar sua magia mentalmente assim. — Ela estala os dedos. — Mais e mais, enquanto também se protege.
Eu olho em volta enquanto nos afastamos do palácio. Esta parte do jardim não me é familiar, e tudo o que posso ver à frente é um bosque de árvores. — Então a rainha não queria que você aprendesse essa habilidade?
— Não. Não é coisa de princesa. Temos guardas para lutar por nós, se necessário. Ela concordou com arco e flecha, porque tudo o que isso implica é atirar flechas em objetos inanimados que não atiram de volta em mim.
— Muito mais civilizado, — comento. — Mas isso claramente não era ousado o suficiente para você, então você teve que tentar outra coisa.
— Sim.
— Algo que sua mãe certamente não aprovaria.
— Exatamente.
— E o que é?
Um sorriso estende em seus lábios conforme alcançamos as árvores. — Montar em um dragão.
Capítulo 07
MEUS PASSOS PARAM. — ESPERE. — LEVANTO UMA MÃO. — Espere, espere, espere. Vocês têm dragões?
— Sim. — Aurora se vira para olhar para mim. — Você não os viu voando de vez em quando?
— Bem... eu vi alguma coisa no céu. Eu presumi que eram pássaros grandes, ou algum tipo de criatura voadora que ainda não conheci.
Ela cai na gargalhada. — Pássaros grandes? Mesmo?
— Eu só os vi de longe, — Eu digo defensivamente. — Era difícil julgar o tamanho.
— Bem, você está prestes a vê-los de perto.
Eu pisco. Meus pés ainda não se movem. — Caramba, — eu sussurro.
— O quê? Você não está com medo, não é?
— Não. Quero dizer, talvez. Provavelmente. Estou tendo apenas um daqueles momentos em que me pergunto se estou realmente sonhando. Estamos falando de dragões, Aurora. Eu cresci pensando que eles só existiam na ficção, e agora estou prestes a ver um? Meu cérebro não faz ideia de como reagir a isso.
— Vamos. — Ela pega meu braço e me puxa para frente. — Seu cérebro tem um minuto ou dois para entender as coisas. Os cercados dos dragões estão do outro lado dessas árvores.
— Dragões, — murmuro. — Você tem dragões. Dragões de verdade.
— Nós costumávamos ter gárgulas também, — acrescenta ela. — Bem, por 'nós' quero dizer a geração anterior da realeza. Gárgulas não são tão grandes quanto dragões, mas são assustadores, foi o que eu ouvi. Eles costumavam ficar de guarda no topo do palácio, mas todos desapareceram há algumas décadas.
— Sério? — Eu penso na criatura que Ryn estava montando quando ele me salvou de cair para a minha morte da beira de um precipício. Tenho certeza que era uma gárgula.
— Sim, meu pai tem sido rei por alguns anos, e as gárgulas nunca pareciam gostar dele. Um dia todos voaram para longe e ninguém os viu desde então.
— Que estranho, — eu digo devagar. Eu não mencionarei a Aurora que fui resgatada por um rebelde Griffin sobre uma gárgula, mas não posso deixar de me perguntar se é uma das gárgulas que moravam aqui.
Nós andamos além das árvores, mas ainda não vejo dragões. Ou cercados, por falar nisso. Eu olho para cima, mas também não há nada no céu. — Você terá que olhar para baixo, — Aurora me diz. — Ali.
Meu coração bate mais rápido quando nos aproximamos da borda de um buraco cavado no chão. Gradualmente, à medida que a borda fica visível, sou capaz de distinguir o tamanho desse buraco. O outro lado é de vários tamanhos de campos de esportes de distância. Paramos a uns trinta centímetros da beirada e olho para um ambiente exuberante e parecido com uma selva. Por um momento, eu me esforço para distinguir qualquer tipo de criatura entre as árvores e plantas coloridas, mas então algo se move. Um pescoço grosso e coberto de escamas. Uma cabeça gigantesca, subindo e girando lentamente para nos encarar até que esteja quase nivelada com o topo do poço.
— Em, — Aurora diz, — conheça Imperia.
O corpo do dragão brilha azul-verde e púrpura enquanto ela se move, e os enormes ferrões ao longo das suas costas são rosados e avermelhados. Sua cauda, terminando em forma da ponta de uma flecha verde, gira ao redor, derrubando facilmente uma fileira de arbustos. Então ela fica imóvel, inclina a cabeça um pouco para o lado e me observa com os olhos brilhando como brasas laranja ardentes.
— Ela é linda, não é? — Aurora diz.
Minha boca está aberta, minha língua está seca e meus pés estão enraizados no lugar — apesar do fato de que uma voz muito insistente no fundo da minha mente está gritando para eu fugir para salvar minha vida. — Incrível, — eu sussurro.
— Cada poço pertence a um dragão diferente. A Imperia sempre preferiu um ambiente tropical, mas o próximo poço está cheio de gelo. E o mais distante — que nos levaria algum tempo para caminhar — é profundo o suficiente para conter uma montanha.
— Uau. E eles podem voar para fora de seus poços sempre que quiserem? — Minhas pernas finalmente se lembram de como andar, e dou um passo trêmulo para trás conforme Imperia levanta a cabeça um pouco mais alto.
— Não, há um escudo invisível por cima. Os dragões não estão autorizados a menos que estejam com um cavaleiro.
— Tudo bem. — Eu engulo. — E percebo que não há paredes ao redor desses poços. O escudo pegaria alguém se caísse?
Aurora parece despreocupada quando ela diz, — Não.
— Mas... então...
— Se alguém for estúpido o suficiente para cair em um poço com dragão, então eles merecem ser comidos. Mas Imperia provavelmente não faria isso. Não com quem ela conhece, pelo menos. Ela é muito amigável. Então. — Ela se vira para mim. — Você quer montá-la?
Não tenho certeza de quanto tempo minha boca está aberta antes que eu finalmente responda. — Eu... na verdade... quero.
Aurora sorri para mim. — Eu gosto de você ainda mais agora. — Ela se abaixa e passa a mão ao longo da grama. Enquanto se endireita, uma linha cor de ouro forma um círculo perfeito ao nosso redor. Sem aviso, o chão estremece. O pedaço de terra circular em que estamos posicionadas se separa do chão e começa a descer.
— Uau. — Eu levanto minhas mãos e me firmo. — Então, estamos descendo para o poço?
— Sim.
— E, hum, eu estarei com alguém quando estiver montando esse dragão? Um profissional treinado?
— Você vai estar comigo.
— Mas... você ainda está aprendendo, não está? Clarina disse algo sobre... Phillyp estar pronto para a sua aula?
— Isso é apenas o que minhas criadas foram treinadas para me dizer quando Phillyp informa a uma delas que a barra está limpa para eu vir aqui. Sabe, quando não há ninguém por perto que possa dizer a minha mãe que eles viram a princesa nas costas de um dragão. Eu recebi lições no começo, é claro, mas elas terminaram há muito tempo. — Ela olha para mim. — Você não acredita que eu sei o que estou fazendo, Em?
— Hum... eu quero confiar em você. — Eu vejo a terra escura subindo rapidamente em torno de nós, em seguida, levanto os olhos para o pedaço circular do céu cada vez menor.
Aurora ri. — Bem, eu não vou forçar você, Em. Mas você sabe que vai se arrepender de ter ficado no chão assim que me ver voando no ar.
De alguma forma, sei que isso é verdade.
O elevador de terra mágico estremece silenciosamente até parar. Em poucos segundos, um túnel se forma à nossa frente, curto o suficiente para que eu possa ver a vegetação exuberante do outro lado. Eu sigo Aurora, hesitando na boca do túnel e olhando em volta procurando por Imperia. Através das árvores, vejo as escamas marinhas e roxas de uma de suas pernas.
— Oi, Phillyp, — Aurora diz, saindo direto do túnel e para a direita.
— Princesa, — diz uma voz masculina. — Estou feliz que você pôde vir. Imperia não voou por dois dias. Eu acho que ela está ansiosa para abrir suas asas corretamente.
Depois de outro olhar por cima do meu ombro em direção a Imperia, corro atrás de Aurora. Ela está falando com um homem magro encostado na porta de uma sala construída na lateral do poço. Sua cabeça está raspada, e a ferida brilhante em seu braço parece ter sido queimada recentemente. — Ooh, ai, — Aurora diz, inclinando-se para olhar seu braço. — Imperia fez isso?
— Sim. A culpa é toda minha, e você sabe que estou acostumado.
— Sim. E vai sumir em breve, tenho certeza, — Aurora diz enquanto se endireita. — Phillyp, esta é Em. Minha nova amiga. Ela vai montar comigo hoje, então, por favor, use a sela dupla.
Phillyp faz uma pausa por apenas um momento antes de inclinar a cabeça. — Claro, Sua Alteza. — Ele se vira e desaparece na sala.
— Ele não acha que é uma boa ideia, — murmuro para Aurora.
— Absurdo. Ele sabe que sou perfeitamente capaz de levar mais alguém comigo. É só que eu trouxe uma das minhas damas de companhia uma vez, e ela gritou o tempo todo que estávamos no ar. Imperia não ficou impressionada e nem Phillyp. — Ela estala os dedos perto da parte de baixo da saia e percebo um breve brilho antes que a faísca da sua magia desapareça. — Mas você não planeja gritar como uma garotinha, não é, Em?
Decido não perguntar a Aurora exatamente como ela sabe que Imperia não ficou impressionada. — Não. Obviamente, eu não pretendo gritar como uma garotinha.
Um conjunto de escadas, pairando a poucos centímetros acima do solo, desliza para fora da sala e passa por nós em direção a Imperia. Um momento depois, Phillyp corre atrás do que eu suponho ser a sela flutuando à sua frente.
— Ah, finalmente, — diz Aurora. Viro para encará-la enquanto sua saia cai no chão, revelando uma calça justa na mesma cor que seu espartilho. — O quê? — Ela pergunta em resposta às minhas sobrancelhas levantadas. — Eu não posso montar um dragão com um vestido.
— Eu acho que não. Ainda bem que já estou usando calça.
Com um aceno de mão, a saia voa para a sala. — Você vai querer manter o cabelo longe do seu rosto. — Aurora me diz enquanto nos dirigimos através das árvores. Ela acena com a mão perto do seu cabelo, e os grossos cabelos roxos e pretos prontamente se organizam em uma trança. Uma fita cor de prata aparece e se amarra no final de seu cabelo.
— Preguiçosa, — murmuro, estendendo a mão para trançar meu cabelo com as mãos.
— De jeito nenhum, — ela responde. — Você logo perceberá que qualquer feitiço que poupe tempo em se preparar e permita que você permaneça mais no ar nas costas de um dragão por mais tempo é um feitiço que vale a pena memorizar. — Ela para na beira de uma clareira e olha para cima, as mãos dela nos quadris. — Eu vou te ensinar mais tarde.
Minhas mãos continuam trançando por vários segundos, enquanto percebo o tamanho do dragão, admirando de boca aberta. O conjunto de escadas é alto o suficiente para alcançar suas costas, e Phillyp fica em cima, prendendo as correias e fivelas da sela com magia. Imperia solta um bufo alto, emitindo fumaça pelas narinas.
Eu engulo. Com os dedos tremendo, eu termino de prender minha trança. Rápido, Phillyp desce os degraus e Aurora sobe. Ela pega as correias, sobe nas costas de Imperia e balança a perna sobre o assento da frente da sela. — O que você está esperando? — Ela pergunta quando olha para mim. Em vez de responder, eu lambo meus lábios. — Vamos, Em, não enlouqueça. Isto vai ser divertido.
— Eu sei. — Minha voz soa rouca e um pouco mais alta do que o normal. Eu pigarreio. — Estou animada. Eu realmente estou. Eu por acaso estou um pouco assustada ao mesmo tempo. — Eufemismo, meu coração batendo descontroladamente grita para mim. Que gigantesco. Maldito. Eufemismo.
Mas isso não muda o fato de que eu quero fazer isso. Então eu forço minhas pernas a subir os degraus. Em cima, dou um último suspiro profundo antes de colocar a mão contra as escamas suaves de Imperia. Abaixo do meu toque, a cor ondula e brilha. Eu agarro duas das correias e me puxo para cima. Graças a todas as paredes que subi nos últimos anos, meus braços são bem fortes. Uma vez que me acomodo no meu assento, a escada escorrega para longe do corpo de Imperia.
— Coloque essa alça em volta da cintura, — Aurora diz, virando-se e apontando para uma alça solta pendurada em um dos lados da sela. Eu coloco através do meu corpo e prendo-a através do círculo de metal do outro lado.
Então finalmente, olho para baixo. Estamos mais longe do chão do que eu imaginava e ainda não decolamos. Não é que eu tenha medo de altura, e não é que eu tenha medo de correr riscos. Val e eu realizamos muitos saltos, cambalhotas e descidas que poderiam facilmente nos ter levado ao hospital. Mas eu estava sempre no controle do meu próprio corpo então. Agora, estou cem por cento à mercê de outra criatura — e é aterrorizante.
Aurora segura às rédeas. Imperia levanta as asas e seu corpo rola para um lado e depois para o outro enquanto ela avança alguns passos. Eu inalo bruscamente e agarro o cume da sela que se eleva entre o assento de Aurora e o meu. As pernas de Imperia se dobram ligeiramente. Eu seguro minha respiração. Então, com um grande impulso para baixo de suas asas, ela se eleva no ar. Eu sinto um solavanco enjoativo na região do meu estômago. As asas de dragão batem no ar, as copas das árvores balançam descontroladamente e o chão se afasta de nós. Eu imagino despencar em direção ao chão. Eu quase grito que quero sair, mas fecho a boca, agarro mais à sela e digo a mim mesma que não vou morrer.
Nós subimos rapidamente, o palácio ficando menor e o território Unseelie ao redor aparecendo. As asas de Imperia diminuem o ritmo. Ela se inclina um pouco para o lado e, em seguida, voa pelos limites do palácio. E em meros segundos, meu terror dá lugar à pura alegria.
***
— Essa foi a coisa mais incrível que já fiz, — digo a Aurora no momento em que os pés de Imperia tocam o chão em seu cercado.
— Eu disse a você, — ela responde com uma risada. A escada chega um momento depois e nós duas saímos de nossos assentos. Eu paro na parte inferior e estendo a mão contra o lado de Imperia. — Eu vou poder fazer isso de novo?
— Claro, — diz Aurora. Ela tira a fita cor de prata e empurra os dedos pelos cabelos para libertá-los da trança. — Você pode vir comigo sempre que quiser. Phillyp pode dar-lhe aulas e, em breve, passará a montar sozinha. Então podemos levar nossos dragões juntos. Vai ser perfeito.
Seria se eu estivesse planejando ficar aqui. Eu dou um passo para trás e olho melancolicamente enquanto Imperia se afasta. Eu envolvo meus braços em volta de mim e mordo meu lábio. É assustador admitir isso para mim mesma, mas acho que realmente posso gostar de viver aqui. As manhãs passando descansando em balanços, as tardes passando deslizando pelo céu nas costas de um dragão. E com minha mãe saudável ao meu lado. Tudo que eu preciso fazer é olhar para longe de quaisquer atos horríveis que acontecer de eu testemunhar o Rei Unseelie cometendo. E de alguma forma viver com a culpa de qualquer ato horrível que ele me obrigue a cometer.
Não, eu sussurro silenciosamente. Eu não posso viver com isso. — É apenas a realeza que tem dragões? — pergunto a Aurora enquanto Phillyp envia a escada portátil de volta ao depósito.
— Não, mas eles são muito caros, então apenas os muito ricos estão em posição de possuir um.
— Certo. — Então eu deveria aproveitar todas as oportunidades de montar em um dragão enquanto eu ainda moro aqui. Depois que eu for embora, nunca poderei pagar por isso.
— Felizmente, — Aurora continua, — você está prestes a se tornar membro de uma família extraordinariamente rica. Você pode ter quantos dragões quiser.
— Se eu soubesse que isso era tudo o que precisava para conquistar você, — uma voz diz atrás de nós, — eu teria trazido você aqui há muito tempo, Emerson.
— Roarke, — Aurora diz quando nos viramos para encará-lo. — Procurando por mim?
— Sim. Eu pensei que poderia te encontrar aqui. Você, no entanto... — Ele olha para mim. — Bem, nas costas de um dragão não é onde eu esperava encontrar você.
— Ela adorou, — Aurora diz, juntando as mãos e sorrindo.
— Eu ouvi, — Roarke diz com um sorriso divertido. — O que você disse exatamente? — Ele me pergunta. — Foi a coisa mais incrível que você já fez?
— Bisbilhotar é rude, — eu digo a ele.
— Assim como manter segredos da minha mãe, mas eu vou continuar escondendo também, não se preocupe, — acrescenta ele quando Aurora abre a boca para protestar. — Ela não precisa saber sobre o seu passatempo favorito.
— Onde você esteve à manhã toda? — Pergunto conforme voltamos para o fundo do poço. — Eu pensei que você poderia se juntar a mim para a minha aula de dança.
— Eu estava... organizando um presente para você, meu amor.
Eu arqueio uma sobrancelha cética. — Houve muita hesitação em sua voz para que isso seja verdade.
— É verdade, eu prometo. Eu só estava pensando se deveria te contar ou não.
O túnel se materializa à nossa frente quando nos aproximamos da parede. — Tudo bem, se esse presente é de verdade, então quando vou recebê-lo?
— Assim que Yokshin terminar.
— Yokshin? — Eu me lembro desse nome de algum lugar.
— Sim. Ele é nosso mestre de invenções. É ele que ira reproduzir o seu elixir da Habilidade Griffin.
— Então... ele conseguiu ter sucesso?
— Não. — Saímos do túnel e subimos no pedaço de terra que levita. — Este é um presente diferente. Você vai ver... em breve.
Eu pressiono meus lábios enquanto o chão começa a subir. Eu poderia fazer mais perguntas, mas ele continuará me dando apenas metade das respostas.
— Por que você estava procurando por mim? — Aurora pergunta a seu irmão.
— Oh, você e eu temos algumas coisas que precisamos ver.
Aurora acena e olha para cima, sem dizer nada.
— Mais segredos que você está mantendo de sua amada? — Eu pergunto.
Roarke me dá seu sorriso malicioso. — Assim que você for minha esposa, todos os segredos serão revelados.
Capítulo 08
À MEDIDA QUE À TARDE DO BAILE DE ANIVERSÁRIO DA RAINHA CHEGA, FICO na varanda e ensaio minha história. Esta noite é à noite em que o Príncipe Roarke vai anunciar que ele escolheu uma esposa. Ele me apresentará, ‘a nova amiga estranha’ da princesa Aurora, e de repente todo mundo vai querer saber cada detalhe de quem eu sou e de onde eu sou.
Roarke e sua mãe pensaram em uma ideia de inventar um passado completamente diferente para mim — um que não envolvesse o mundo humano — mas eles imaginaram que a verdade seria descoberta em breve. E nenhum deles parecia acreditar que eu seria capaz de manter os detalhes de uma história inventada, então a maior parte do que me disseram para compartilhar com as pessoas é a verdade: eu cresci pensando que eu era humana, minha magia se revelou, a Guilda se envolveu para que eles pudessem me aprisionar e garantir que eu nunca machucasse ninguém, e então Roarke e seus homens apareceram para me resgatar. Eles me levaram de volta ao seu palácio para que eu pudesse viver como um membro livre na corte deles. Roarke e eu logo nos apaixonamos loucamente um pelo outro, e o rei aceitou nosso pedido para formar uma união. Então, tudo até o resgate é essencialmente a verdade. Depois disso... bem, eu de alguma forma tenho que fazer essas pessoas acreditarem que eu estou obcecada pelo príncipe deles.
Eu me inclino contra a balaustrada da varanda e olho ansiosamente para as perfeitas nuvens fofas bem acima de mim. Eu prefiro estar subindo os céus nas costas de Imperia, em vez de me preparar para enfrentar uma multidão da nobreza Unseelie. Ou montando aquele outro dragão que Phillyp montou comigo ontem. Bralox, acho que era o nome dele. Ou dançar danças simples com Dash nas margens da praia encantada dos rebeldes Griffin, em vez de tentar lembrar cada passo de cada dança oficial das faeries — já que a minha Habilidade Griffin não fez para me ajudar nesse departamento.
Batem na minha porta tão ruidosamente que posso ouvi-la da varanda. Olho por cima do ombro para ver Aurora dançando do outro lado da sala de estar e vindo para a varanda. — Está na hora! — Ela canta.
— Para quê? — Ela não pode estar se referindo ao baile. Ainda falta horas.
— Hora de começar a se vestir, é claro. É um longo processo envolvendo cabelo, maquiagem, joias — e, claro, ainda não escolhemos o seu vestido dos três que foram feitos para você.
— Oh. Tudo bem.
Seu rosto fica triste. — Por que você não está mais empolgada?
— Eu estou. — Eu coloco um sorriso que não parece de verdade. — É apenas... festas não são realmente minhas coisas preferidas. Na última que participei, minha magia explodiu de dentro de mim e quase matou minha melhor amiga.
— Confie em mim, Em, — Aurora diz com o tipo de sorriso que faz seus olhos brilharem. — Esta festa não vai ser nada como você imagina. E se isso não faz você se sentir melhor, aqui está algo que vai. — Ela tira a mão de trás das costas e me oferece uma caixa quadrada um pouco maior que a palma da sua mão.
— O que é isso? — Eu pergunto enquanto eu pego dela.
— Lembra que Roarke disse que mandou fazer um presente para você?
— Sim.
— Bem, eu pensei que ele estava apenas dizendo isso para encobrir o que ele realmente estava fazendo naquele dia — eu geralmente posso dizer quando ele está mentindo — mas acontece que ele realmente conseguiu que Yokshin fizesse algo para você.
Eu tiro a tampa da caixa e encontro uma pulseira sobre uma pequena almofada preta. Correntes delicadas de metal prateado se envolvem umas às outras, com minúsculas folhas prateadas e flores brotando dos lados. No meio da pulseira está uma grande joia clara. — É lindo, — eu digo.
— É bonito e inteligente, — diz Aurora. — É como se fosse um relógio. Mas não mostra à hora, mostra o nível da sua magia Griffin. Então, no lugar dos ponteiros, tem um grande rubi. O rubi perde sua cor quando você usa todo o seu poder Griffin, e então a cor enche novamente lentamente na mesma velocidade que sua magia se repõe. Pelo menos, é assim que deve funcionar e, obviamente, você precisa usá-lo.
— Uau, isso é inteligente. — Eu pego a pulseira da caixa, abro-a o e coloco a forma rígida ao redor do meu pulso. O fecho se encaixa facilmente no lugar. Enquanto observo, uma fração de um lado do rubi fica vermelho. — Hum, acho que isso faz sentido. Foi pouco antes do meio-dia que a minha Habilidade Griffin apareceu, então isso foi cerca de... duas ou três horas atrás?
— Sim. Então, isso deve facilitar para você ver quando sua magia estiver pronta para ser usada. Sabe, no caso de variar um pouco se você estiver extremamente cansada ou se nem sempre conseguir senti-la.
— Legal. — Eu abaixo meu braço. — Então isso foi feito por... Yokshin? Esse é o nome dele?
— Sim, o mestre de invenções. Ele experimenta todos os tipos de magia. Feitiços, processos, dispositivos. — Ela se inclina contra a balaustrada, abre um largo sorriso e acena para dois jovens caminhando abaixo. — É uma linha fascinante de trabalho, — continua ela, virando para mim. — Eu costumava visitá-lo muito quando era mais nova, até que minha mãe me disse que não era apropriado passar tanto tempo com alguém de sua posição, especialmente quando ele às vezes me levava para a prisão para me mostrar alguns de seus experimentos.
— Prisão?
— Sim, uma pequena que temos aqui. De qualquer maneira, você gostou da pulseira?
— Sim. Como você falou, é bonita e inteligente. — Eu movo a pulseira de um lado para o outro, de modo que a pedra sem cor capture a luz. — Yokshin fez alguma joia enfeitiçada para você?
— Hum... algumas. — Eu olho para cima para vê-la brincando com o pingente pendurado em uma corrente em volta do seu pescoço. A corrente prateada com a pedra negra. Eu percebi que ela a usa mais do que muitas outras joias. — Eu falo sobre isso em outro momento, — acrescenta ela. — Por enquanto, precisamos começar a nos preparar.
— Sim, tudo bem. Onde está o Roarke? Ele não queria me dar este presente?
— Queria, mas você conhece os homens. Eles não querem atrapalhar enquanto as damas se vestem.
— Ou ele ainda está me evitando, — eu resmungo enquanto passo por ela para dentro da sala de estar.
— Evitando você? Que bobagem é essa? — Aurora me segue para dentro. — Ele vê você pelo menos duas vezes por dia quando lhe dá a poção de compulsão.
— Sim, essa é a única vez que ele me vê.
— Bem, ele está muito ocupado.
Ou ele está evitando estar perto de mim sempre que minha Habilidade Griffin está ativa — caso eu não consuma todo o meu poder para seja qual for o comando que ele me deu e eu possa usar o resto para obter informações dele. O que é exatamente o que eu teria feito se ele estivesse por perto. Eu tenho praticado segurar minha Habilidade Griffin. Eventualmente, eu tenho que deixar passar algumas coisas dizendo o que eu tenho sido obrigada a dizer, mas houve momentos em que eu posso sentir que ainda há poder sobrando. Eu tentei segurar até ver Roarke novamente, mas eu não consegui segurar tanto tempo ainda.
— Em?
— Mm? — Eu encaro Aurora, percebendo tardiamente que ela me fez uma pergunta.
— Eu perguntei se você está realmente começando a gostar do Roarke. É por isso que você está chateada por não vê-lo mais vezes?
— Oh. Hum. Talvez. — Eu acho que isso é uma razão melhor do que eu estar chateada porque eu não tive a chance de usar minha Habilidade Griffin nele.
Ela sacode a cabeça e suspira. — Você é muito ruim em mentir. Venha, vamos para o meu quarto. Seus vestidos chegaram mais cedo e a mamãe os mandou agora. — Ela liga seus braços aos meus. — Você pode ensaiar sua história de amor épica no caminho.
A caminhada até a suíte de Aurora é longa o suficiente para eu recitar minha ‘história de amor épica’ duas vezes. — Bom trabalho, — diz ela quando chegamos a sua sala de estar. — Você sabe os fatos de cor. Agora você só tem que trabalhar em parecer como se você realmente quisesse dizer a parte de apaixonar-se perdidamente.
— Eu vou ter certeza de fazer um trabalho melhor quando estiver mentindo para os fae de elite da sociedade Unseelie mais tarde.
— Maravilha.
Nós entramos em seu quarto, que é muito maior que o meu e inclui um closet do tamanho de uma garagem dupla. — Oh, aqui estão as joias que a mamãe selecionou para você. Eu pretendia te mostrar mais cedo enquanto estávamos tomando café da manhã. — Ela pega uma caixa da sua penteadeira e a abre para mostrar o conteúdo. — Colar e brincos. Adoráveis, não são?
‘Adoráveis’ provavelmente não é a palavra que eu usaria. Cada peça consiste inteiramente de pedras brilhantes e incolores. Os brincos são lágrimas do tamanho da minha unha do polegar, e o colar é uma fileira dupla de pedras que crescem gradualmente à medida que alcançam um pingente: outra grande lágrima facetada. — São... são de verdade? — Pergunto enquanto Aurora os retira da caixa.
Ela me conduz em direção ao assento em frente à penteadeira antes de me dar um olhar interrogativo no espelho. — O que você quer dizer? Eles não são um tipo de ilusão que desaparecerá quando a festa acabar, se é isso que você está imaginando.
— Não, eu quero dizer... são diamantes de verdade? — Ela parece querer que eu me sente, então eu sento. — Ou eles são falsos? Como vidro ou cristal ou algo assim.
Ela ri. — Claro que são diamantes de verdade. Por que nós usaríamos falsos? — Eu permaneço em silêncio enquanto ela prende os brincos nas minhas orelhas e coloca o colar em volta do meu pescoço. — Aí. Eu acho que eles combinam com você. Eles ficarão lindos, não importa qual vestido escolhermos.
Eu balanço minha cabeça para o meu reflexo. Eu puxo os brincos e retiro o colar. — Eu acho que eu não deveria usar isso. — Eu coloco os diamantes brilhantes cuidadosamente na mão de Aurora. — Aqui. Você pode devolvê-los à sua mãe.
— O quê? Porquê?
— Eu não posso usar algo tão valioso. E se o colar cair enquanto eu estiver dançando? E se eu perder os brincos depois de tirá-los e então —
— E então o quê? Não seja tão boba, Em. O colar não vai cair. — Ela abre a caixa e coloca as joias de volta na almofada aveludada. — E quem se importa se isso acontecer? Mamãe certamente não vai. Esta é provavelmente a joia menos valiosa que ela possui.
Eu tento não me sentir mal com suas palavras. — Aurora...
— Vamos, isso não é grande coisa.
— Mas isso é uma grande coisa, — eu digo. Ela dá um passo para trás, surpresa com a minha raiva. — Eu sinto muito. É só que... bem, eu não esperaria que você entendesse, — murmuro.
Ela cruza os braços. — E por quê? Porque eu não pareço colocar muita importância nas joias quanto você parece de repente?
Eu reviro meus olhos. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu aponto para a caixa. — Que esses muitos diamantes provavelmente valem mais do que... eu não sei. Toda a Stanmeade. Eu não consigo usar tanta riqueza em meu corpo, e você não entenderia isso porque nós viemos de origens muito diferentes.
— Sim, — diz ela, dando um olhar que claramente diz, Dã. — Nós viemos. Esta não é uma revelação novinha em folha, então por que, de repente, é uma coisa importante?
Eu não sei. Eu não posso dizer a ela por que essa joia com diamante trouxe de repente a diferença entre minha vida e a dela, ou porque eu estou de repente comparando minha mãe com a dela. A rainha é perfeitamente sã e está em posição de distribuir itens de imensa riqueza como se não custassem nada. Mamãe está perdida em algum lugar dentro de sua própria mente e não conseguiu me dar nada além do peso da responsabilidade por muito tempo. — Eu sinto muito, — eu murmuro, olhando para a maquiagem espalhada em cima da penteadeira. — Eu não posso usar essa joia. Isso só me faz pensar em tudo que eu nunca tive. Todas as coisas que minha mãe nunca pôde me dar. E eu não quero dizer as coisas caras, eu só quero dizer as coisas normais. E todas as coisas que ela não pode ser para mim quando ela começou a ficar louca.
— Em...
— Não, eu não estou procurando por sua piedade. Eu só estou dizendo... — Eu não sei mais o que estou dizendo. — Eu só... não quero usá-la, se estiver tudo bem?
Ela acena com a cabeça. — Tudo bem. Claro. Eu nunca iria querer deixar você desconfortável. Hum... — Ela se vira para as portas do seu closet. — Tenho certeza de que posso encontrar algo mais simples da minha coleção.
Eu me levanto, começando a me sentir ainda pior agora que ela está sendo tão compreensiva. — Eu sinto muito, Rora. Eu não quis parecer ingrata. Eu sou grata por tudo que você e sua mãe fizeram para me ajudar a se encaixar aqui. Eu ainda não sei como lidar com tudo... — Eu gesticulo vagamente com os dois braços. — Tudo isso.
Ela pega minha mão, aperta e sorri. — Está bem. Eu entendo. — Ela caminha até o closet, em seguida, faz uma pausa na porta e olha para trás. — Roarke costumava me chamar de Rora quando éramos mais jovens. Então ele cresceu e decidiu que era um nome bobo e infantil. Eu disse a ele que concordava, mas a verdade é que meio que sinto falta de ouvi-lo me chamar de Rora.
Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Eu... eu realmente não sei porque eu disse Rora. Apenas saiu dessa maneira. Eu sinto muito. Eu não quero deixar as coisas estranhas.
— Isso não é o que eu quero dizer. — Ela sorri novamente. — Você provavelmente esteve tão focada na ideia de conseguir um marido que nunca pensou no fato de que também está conseguindo uma irmã. Eu sei que nada disso é o que você queria para sua vida. Eu sei que você está passando por tudo isso pela sua mãe. Mas... bem, estou feliz que você seja minha irmã. Espero que um dia você possa ser feliz também.
Ela se dirige para o enorme closet antes que eu possa dizer qualquer outra coisa e, nesse momento, a porta da sala se abre. Espreito pela porta do quarto e vejo a rainha, vestida com um roupão e chinelos, atravessando a área de estar com três de suas criadas e uma mulher desconhecida a seguindo. Cada uma das servas levitando um vestido. — Sua Majestade, — eu digo para a rainha, inclinando a cabeça em respeito quando ela vem em minha direção.
— Emerson, olá. — Eu nunca a vi usando tão pouca maquiagem e com o cabelo dela — preto e borgonho como o de Roarke — tão simples. Ela se inclina e beija o ar de cada lado das minhas bochechas. — Pronta para o grande anúncio de hoje à noite?
— Sim, — eu digo com confiança e um largo sorriso, nenhum dos dois é genuíno.
— Aurora, amor, eu tenho os vestidos, — a rainha chama, passando por mim. — Ah, aí está você, — acrescenta ela, enquanto Aurora sai do closet.
— Ooh, excitante. — Aurora esfrega as mãos.
— Coloquem os vestidos ali, — a rainha diz a suas criadas, — e então vocês podem ir. — As criadas deixam os vestidos flutuando no ar acima da cama antes de se virar e sair silenciosamente da sala. A mulher que eu não reconheço tira algo da saia de um vestido e arranca um fio solto do outro.
Ando devagar ao redor da cama para ver os três vestidos de todos os ângulos. O primeiro tem uma saia cheia de tule rosa escuro com flores delicadas que crescem pelas costas da cintura até o pescoço. O segundo é a cor do champanhe. Sua saia de muitas camadas é coberta com flores de ouro, e o corpete apertado tem um decote sem mangas. A última opção é feita de tecido de ouro rosa com milhares de minúsculos cristais brilhando com a luz conforme o vestido balança suavemente no ar. A parte de cima do espartilho se encaixa na parte de trás, e embora a saia esteja um pouco amassada com um pouco de tecido extra sobre a bunda, ela não é tão fofa quanto às outras duas.
— Eles são lindos, — eu digo.
— Eles não são? — Aurora responde. — E aparentemente, eles são ainda mais lindos quando você os coloca. O rosa muda para frente e para trás entre rosa e roxo, e as pétalas nas costas se abrem lentamente à medida que a noite passa. O champanhe vem com um par de luvas longas feitas de um tecido translúcido que parece bolhas de champanhe subindo em seus braços. E o ouro rosa tem um efeito cintilante enfeitiçado que parece brasas brilhantes.
— Parece legal.
— Eles são criações da Rosewood Raven, — Aurora continua. — Mamãe e eu divulgamos para todos os principais designers que estávamos procurando algo espetacular para um evento muito importante. Nós sugerimos um potencial anúncio de noivado — sem usar essas palavras exatas, é claro — o que resultou em muitos rumores circulando por aí. Recebemos dezenas de designs, e minha mãe não estava muito interessada em que você usasse um vestido da Rosewood, visto que —
— Visto que ela vestiu alguns dos Seelies no passado, — a rainha continua. — Eu não queria você usando um de seus vestidos. Quando vi o nome dela do lado de fora do pergaminho, quase o joguei fora sem abri-lo.
— Mas havia algo sobre seus desenhos que continuávamos voltando, — diz Aurora. — Algo que apenas... nos cativou. — Um olhar sonhador aparece em seu rosto.
— Eles se tornaram muito adoráveis, — admite a rainha. — Eu posso ver porque essa mulher Rosewood se tornou popular nos últimos anos.
— Você enviou um convite para ela? — Aurora pergunta. — Eu quero conhecê-la.
— Claro que não, querida. Eu te disse que não era apropriado. Ela tem conexões com a Guilda e vestia os Seelies antes. Podemos ter decidido usar uma de suas criações, mas não me senti confortável em tê-la aqui. Pedi a Lemon para mandar alguém pegar os vestidos e ser discreta sobre isso.
— Oh, Em, está é Lemon, a propósito, — acrescenta Aurora, gesticulando para a mulher que entrou com as criadas. — Nossa criadora mestre de roupas. Ela provavelmente fez a maioria das roupas que você encontrou em seu guarda-roupa.
— Oh. Obrigada, Lemon. — Eu tento não rir do nome estranho. — Você fez um bom trabalho.
Ela acena para mim. — Obrigada, minha senhora. E sim, mandei Jefford buscar os vestidos hoje de manhã, e tive a certeza de passar a importância da discrição. Disse a ele que não queremos o constrangimento de ninguém saber que nos associamos a alguém que já trabalhou com os Seelies, mesmo que o trabalho dela seja bom.
— Que bobo, — Aurora resmunga. — As pessoas vão descobrir de qualquer maneira. Somos da realeza, pelo amor de Deus. É uma honra desenhar para nós, então tenho certeza de que Raven Rosewood vai falar para as pessoas.
— Ela vai? — A rainha pergunta. — Eu duvido que ela queira arriscar sua reputação com os Seelies.
— Ela não vai dizer nada, — diz Lemon. — Jefford deixou os vestidos no meu quarto com uma nota dizendo que tudo correu bem. A designer aceitou seu pagamento e alegremente concordou em ficar quieta sobre seu envolvimento.
— E quando as pessoas perguntarem esta noite? — Aurora diz. — Porque você sabe que algumas dessas mulheres vão querer saber quem vestiu a nova princesa. Tudo com o que eles se importam é com as últimas tendências e novidades, e assim que virem Em, em, digamos, luvas de bolhas de champanhe, todos eles estarão adicionando a mesma coisa para suas novas roupas.
— Sério? — Eu pergunto. — Isso é tão bobo.
— Esse é o tipo de influência que você tem como princesa, — Aurora diz com um sorriso de satisfação. — Uma vez eu usei sprites vivos pendurados em minhas orelhas, e na festa seguinte, eu vi pelo menos cinco outras garotas usando a mesma coisa.
— Pobres sprites, — murmuro, imaginando as criaturas que parecem pequenas pessoas aladas amarradas aos lóbulos das orelhas de Aurora.
— Se alguém perguntar pelo nome do designer, diga que é um segredo, — diz a rainha. — Diga a eles que nossa chefe criadora de roupas tem um aprendiz especialmente inventivo, e queremos mantê-lo em segredo conosco.
Aurora suspira. — Tudo bem. De qualquer forma, precisamos decidir qual deles usaremos para que todas nós possamos começar a nos preparar.
— Hum, eu pergunto ao Roarke o que ele decidiu usar? — Eu sugiro.
— Sim, — a rainha responde. — Aurora e eu vamos verificar se todos os ajustes para o novo vestido dela foram feitos corretamente, e então ela vai encontrá-la na suíte do Roarke.
Com um brilho nos olhos, Aurora acrescenta, — Mamãe não confia em você para relatar com precisão a roupa de Roarke sem minha ajuda.
— Aurora, — a rainha repreende. Então sua expressão se transforma em um sorriso de desculpas. — Bem, suponho que seja verdade. Desculpe, Emerson.
Eu dou de ombros, então congelo com meus ombros puxados para cima, lembrando que a rainha não gosta de encolher os ombros. — Está bem. Vejo você lá, Rora. — Eu saio correndo do quarto, esperando até que eu esteja fora da suíte antes de relaxar meus ombros.
O chão de mármore brilhante passa rapidamente sob meus pés enquanto eu me dirijo para a suíte de Roarke. Eu bato na porta dele, mas depois de esperar vários segundos, nem ele nem um de seus criados me chamam para entrar. Eu bato de novo e espero, mas ainda nada. A ausência de guardas fora de sua suíte me faz duvidar que Roarke esteja dentro, mas ele mencionou que às vezes seus guardas patrulham mais ao longo dos corredores do lado de fora desta ala do palácio. Eu abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça dentro. — Roarke?
Sem resposta. Sabendo que Aurora estará aqui em poucos minutos, decido esperar na sala de estar do Roarke até ela se juntar a mim. Fecho a porta e ando devagar pelos sofás, comparando a suíte com a de Aurora. Móveis semelhantes preenchem o espaço, embora em um estilo menos delicado, com madeira escura e acabamentos em preto brilhante. Eu ando até a janela e descubro que tenho uma excelente visão de uma escultura que eu nunca fui capaz de ver corretamente no chão: uma cobra gigante que se ergue em direção ao céu, cercada por arbustos de rosas negras. Assustador, penso quando me afasto da janela.
De canto do olho, noto movimento perto da porta do quarto. Algo escuro, como uma sombra deslizando pela parede. Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém lá — Roarke ou um de seus criados — mas ninguém está atrás de mim. Eu me viro para o local, meus olhos percorrendo cada centímetro da sala. Eu olho para a parede novamente, mas as sombras criadas pela mobília e decoração estão imóveis. Deve ter sido algo de fora. Um pássaro voando pela janela, talvez. Ainda assim, este é um palácio cheio de magia e encantamento, então é possível que eu tenha visto a sombra de algo que agora está se escondendo nesta sala comigo.
A ideia envia um arrepio no meu pescoço e no meu cabelo. Seja corajosa, eu me lembro. Esta é a sua casa agora. Você não pode ter medo em sua própria casa. Forçando minhas pernas a se mover, ando pela sala novamente. Eu me inclino e olho embaixo da mobília. Eu puxo as cortinas para longe da parede e olho atrás. Pelo o que posso dizer, estou sozinha nesta sala.
Mas este não é o único cômodo da suíte. Meus olhos deslizam para a porta que leva ao quarto. É lá, afinal, onde eu vi o movimento quase agora. Eu atravesso a sala e espio pela porta entreaberta. Eu vejo outra janela e parte de uma cama de dossel. Sem movimento ou som, então, depois de um momento, abro a porta o suficiente para entrar no quarto. O quarto que logo será meu também. A cama que logo será minha.
Uma imagem de Roarke e eu juntos nessa cama passa pela minha mente antes que eu possa pará-la. Eu engulo em desconforto e tento afastar a imagem. Eu evito pensar sobre essa parte específica do nosso acordo, mas agora que estou olhando para a cama que em breve pertencerá a nós dois, é impossível não pensar no que terá de acontecer nela.
Eu me afasto quando um arrepio sussurra através da minha pele. Eu ainda tenho tempo, eu me lembro. Hora de encontrar uma saída para todo esse acordo. O anúncio do noivado acontecerá hoje à noite, mas a cerimônia de união na verdade não acontecerá por mais algumas semanas.
Uma voz na sala de estar me assusta, mas é apenas o Roarke. — Sim, por favor, feche a porta, Marvyn, — diz ele. — Eu vou ter apenas alguns minutos. — Expirando e quase rindo de mim mesma por meus medos bobos, eu volto para a porta. Espero que Roarke não fique muito irritado depois que eu explicar por que estou em seu quarto.
Mas eu paro quando ouço uma segunda voz. Uma voz feminina.
— Ainda é seguro conversar aqui? — Ela pergunta.
— Sim, — Roarke responde. — Nós não seremos ouvidos.
Capítulo 09
MERDA. EU CUBRO MINHA BOCA COM MINHA MÃO E CONGELO.
— Você tem certeza? — Pergunta a mulher.
— Sim. Meu pai não tem controle sobre essa suíte. Meus homens vasculham diariamente por encantamentos e insetos espiões, e não encontraram nada em anos.
— Ainda assim, — a mulher diz enquanto seus passos atravessam a sala. — Alguém pode nos ver através da janela. — Sua voz soa familiar, mas eu não consigo descobrir de onde. Eu ouvi tantas mulheres da corte desde que cheguei aqui. Pode ser qualquer uma delas.
— Eu duvido. Estamos muito alto. E se alguém nos ver, e daí? Eu sou o príncipe e tenho o direito de falar com quem eu quiser.
Minha imaginação salta imediatamente para a pior conclusão. Raiva aquece minhas veias com o pensamento de Roarke me traindo. Que outro motivo ele encontraria uma mulher em particular em sua suíte? Uma mulher que não quer que ninguém veja os dois juntos? E não é como se eu estivesse com ciúmes, mas ele deve se casar comigo em algumas semanas! Eu alcanço a porta, prestes a abri-la completamente e exigir que esse tipo de coisa não continue depois que nossa união acontecer.
— Tudo bem, então, — diz a mulher. — Então, o que você está fazendo sobre as sombras?
Eu paro com minha mão levantada. Sombras? Eu não estava esperando isso.
— Você tem que controlá-los, Roarke. Não podemos tê-los aterrorizando este mundo. Ou o outro mundo. Nós não podemos viver lá até que eles tenham sido completamente erradicados.
— Está tudo bem. Meus homens estão cuidando disso.
— Como o guarda que apareceu morto? Enrugado e velho?
Roarke suspira. — Você me disse que não ficaria chateada com isso.
— Eu estive pensando nisso e decidi que tenho todo o direito de ficar chateada com algo assim. A mesma coisa poderia acontecer com a gente.
Eu inclino minha cabeça em direção à porta, desejando poder ver a linguagem corporal deles. Desejando descobrir a natureza do relacionamento de Roarke com essa mulher.
— A mesma coisa certamente não acontecerá com a gente, — assegura ele. — Aconteceu apenas com aquele guarda porque ele foi estúpido o suficiente para deixar uma sombra pegá-lo quando ele não estava usando seu amuleto. E ele deveria saber o feitiço certo para lutar contra, mas claramente ele era muito lento. O resto dos meus homens sabe o que estão fazendo.
— Bem, eles certamente estão demorando um pouco para fazer o trabalho. Todo esse tempo perdido. O edifício parou. O castelo e o terreno estão ali meio formados e...
— Relaxe. Leva tempo para preencher um mundo.
— Tempo em que outra pessoa poderia descobri-lo e reivindicá-lo como seu território.
— Quem vai reivindicá-lo? Ninguém mais sabe disso.
— Isso não é verdade agora que você deixou outras pessoas verem.
— Eu já disse a você, — diz Roarke. — Nem meu pai nem a Aurora têm algum interesse em reivindicar esse mundo como seu. Ele continua com as mesmas crenças que tinha no começo, e você sabe que Aurora está mais interessada em —
— Eu não quero dizer eles. — Há uma pausa em que eu me aproximo para ter certeza de que não estou perdendo as próximas palavras dela. — E a sua futura esposa? E o guardião que estava com ela? — Um arrepio passa por mim. Eu dou um passo silencioso para trás, como se eles pudessem de alguma forma sentir a minha presença se eu estiver muito perto da porta.
— Emerson não sabe o que viu, — Roarke diz, — e eu duvido que ela se importe. Ela provavelmente assumiu que era parte do mundo fae. Ela não sabe o suficiente sobre este reino para assumir que seria qualquer outra coisa. Quanto ao guardião... bem, duvido que ele tenha alguma pista do que viu também. Guardiões são treinados para lutar, não para pensar.
— Você não deveria subestimá-lo, — diz ela sombriamente.
— E você não deveria estar se preocupando.
— Tudo bem. Bem. Então não estamos com pressa. Mas ainda estou preocupada com as sombras. Como estão passando? E é só aqui no palácio, ou você acha que eles são capazes de chegar a qualquer parte deste mundo? Ou... — Ela faz uma pausa por um momento. — Eu me pergunto se eles são capazes de passar para o mundo humano.
— Se conseguirem, será problema da Guilda, não nosso.
— Verdade.
— E isso provavelmente não vai acontecer, porque meus homens estão garantindo que todas as sombras em breve estarão mortos.
— Bom. Bem, então eu posso pegar o manto que eu vim pegar? Marvyn pode ficar desconfiado se eu sair sem ele.
— Marvyn já está desconfiado, — Roarke diz com uma risada, — mas eu vou pegar o manto de qualquer maneira. — Seus passos se movem em direção ao quarto. Eu xingo sob minha respiração — o que envia uma imagem de Dash pela minha mente por apenas um segundo; ele não ficaria impressionado com a minha linguagem escolhida. Eu passo pela única outra porta e entro no banheiro de Roarke. Deslizando por trás da porta entreaberta, eu prendo a respiração.
E é quando vejo o que está na parede à minha esquerda.
Eu coloco minha mão sobre a minha boca para reprimir o meu suspiro assustado. Um grande círculo de magia cintilante e ondulante ocupa a maior parte da parede. Elétrico de uma cor azul, com pedaços escuros e finos subindo das bordas e desaparecendo, a magia gira preguiçosamente em forma de espiral que parece ser sugada para o centro.
Um portal?
Uma pequena parte de mim está curiosa para saber para onde isso leva — se é que é mesmo um portal — mas, na maioria das vezes, tenho pavor do que pode estar do outro lado. Eu me inclino o máximo que posso enquanto ainda permaneço escondida atrás da porta do banheiro. Felizmente, Roarke leva apenas alguns segundos em seu quarto. No momento em que eu o ouço sair, saio rapidamente do banheiro e fico perto da porta aberta do quarto.
— ... preocupado com Marvyn e essas suspeitas dele? — A mulher misteriosa pergunta.
— Não, não preocupado. Ele é pago bem o suficiente para manter suas suspeitas para si mesmo.
— Bom. Bem, vou deixar você se preparar para o seu anúncio de hoje à noite. Estou animada que esta união será finalmente oficial. Espero que a cerimônia aconteça em breve.
— Vai, — diz Roarke.
Vários momentos de silêncio seguem, em que começo a me sentir ainda mais confusa do que antes. Esta mulher quer esconder seus encontros com Roarke do jeito que uma amante secreta faria, mas está feliz que ele vai se casar comigo?
Eu ouço a porta principal da suíte abrir e fechar. Eu me pergunto se eles foram embora, mas então escuto os pés de Roarke — mais pesado que o da mulher — atravessarem a sala de estar. Apavorada que ele possa voltar ao seu quarto, eu começo a andar na ponta dos pés em direção ao banheiro. Mas o raspar de uma cadeira me diz que ele provavelmente está sentado agora. Eu me abaixo perto da cama de qualquer maneira, só no caso de eu ter que escorregar para debaixo dela rapidamente para me proteger.
Depois de vários minutos que parecem horas, ouço uma batida na porta. Então a voz de Aurora quando a porta abre: — Oh, onde está Em?
Droga.
— Como eu deveria saber? — Roarke pergunta. — Eu pensei que ela estava com você.
Droga, droga, droga.
Faço a única coisa em que consigo pensar: corro para a janela mais próxima, jogo minhas pernas sobre ela e me abaixo do outro lado. As pontas dos meus sapatos de cetim do tipo bailarina procuram pontos de apoio entre os tijolos de mármore. Os sapatos ficarão arranhados quando eu voltar para dentro, mas espero que ninguém perceba. Eu desço com cuidado, parando quando meu pé sente a abertura de uma janela próxima abaixo. Eu me movo para o lado, desço mais alguns tijolos e espio pela lateral da janela. Parece uma sala de estar privada. Cadeiras confortáveis, um armário cheio de bebidas, um espelho emoldurado a ouro repugnantemente ornamentado em uma parede e pinturas de mulheres seminuas nas outras. Mas o mais importante, não há ninguém nela.
Eu piso no peitoril da janela e pulo para dentro. Segundos depois, eu estou no corredor, andando o mais rápido que posso sem arriscar a atenção se por acaso eu passar por alguém. Eu rapidamente percorro algumas curvas até chegar à escada que leva à ala da família real. Eu corro para cima e quase colido com Aurora no topo.
— Oh, ai está você, — ela diz, alívio aparecendo em seu rosto. — Eu pensei que você estivesse indo para a suíte do Roarke. — Eu procuro em suas feições qualquer sinal de suspeita, mas tudo o que vejo é confusão.
— Ele não está lá, — digo a ela. — Uma das criadas disse que ela o viu perto da biblioteca, então fui procurá-lo. Perda de tempo, no entanto, já que ele não estava lá também. Tem certeza de que ele terminou com seja lá qual for o negócio importante com o qual ele estava lidando esta manhã?
— Sim, eu acabei de vê-lo em seus aposentos.
Eu reviro meus olhos e rio. — É isso o que acontece quando você mora em uma casa do tamanho de uma cidade pequena. Podemos passar o dia todo procurando um pelo outro e nunca nos encontrar.
— E isso, — Aurora diz quando ela pega meu braço e vira para a suíte, — é por isso que temos criados para procurarem por nós. De qualquer forma, eu vi a roupa de Roarke. Eu acho que vai combinar esplendidamente com o vestido rosa dourado. Você está feliz com isso?
Estou feliz com qualquer coisa que desvie a atenção de Aurora do fato de que eu não estava onde deveria estar. Espero que, se Roarke questionar meu paradeiro depois, ele acredite na minha história com a mesma facilidade. — Isso soa perfeito, — digo a ela. — O rosa dourado é meu favorito.
Eu a sigo de volta para sua suíte, onde uma enxurrada de atividades já começou. Cabeleireiros e maquiadores organizam seus instrumentos e feitiços. Lemon, a conjuradora de roupas, cuida de pequenas imperfeições em nossos vestidos. As criadas da rainha entram e saem com mensagens da mãe de Aurora sobre joias, enfeites de cabelo, lanches e outros assuntos triviais. E o tempo todo, minha mente está cheia da conversa que eu não deveria ouvir e da magia que eu não deveria ver.
Capítulo 10
QUANDO A NOITE CHEGA, O INVERNO SE ESTABELECE E O SALÃO DO BAILE ESTÁ VIVO com atividade. Mulheres em vestidos lindos e homens em trajes tradicionais de faeries — calças de terno e jaquetas com gola alta com ombros afiados — se misturam na pista de dança no centro do salão de baile. Dezenas de mesas redondas rodeiam a sala, cada uma com uma escultura de gelo de um dragão formando o coração das peças centrais. Do lustre de vidro no centro do teto, cordas de pequenas luzes cintilantes irradiam. E do próprio teto, flocos de neve brilhantes caem, desaparecendo em nada antes de alcançar a cabeça de qualquer pessoa.
Fico em um lado da sala com Aurora e duas damas de companhia que, ao que parece, tiveram permissão para voltar das férias para qual Aurora as enviou. Elas conversam sem parar, ocasionalmente enviando olhares curiosos na minha direção, enquanto eu tento fingir que estou interessada no que elas estão falando. A verdade é que minha mente não poderia estar mais longe dessa festa. Eu não consigo tirar o pensamento sobre as sombras da minha cabeça. Roarke e aquela mulher estavam obviamente falando sobre o lugar que ele e Aurora me levaram no dia em que me encontraram no meu antigo quarto na casa de Chelsea. O lugar de onde Dash e eu fugimos de uma criatura sombria e disforme — uma sombra? — e acabamos de volta ao mundo fae perto do buraco no véu. Com todas as coisas ocupando minha mente, eu mal pensei naquele incidente até esta tarde.
Meu olhar atravessa a multidão enquanto eu me pergunto qual delas estava no quarto de Roarke mais cedo. Pode ser qualquer —
— E o que te trás a Corte Unseelie, Em? — A pergunta vem de uma das companhias de Aurora. Mizza? Algum nome estranho assim.
Eu levo um segundo para colocar meu sorriso no lugar, mas Mizza não parece notar. — A Guilda queria me prender, mas alguns dos Unseelies — guardas pessoais do Principe Roarke, na verdade — me resgataram.
Ela solta um suspiro como uma dama e coloca uma mão contra o peito. — Oh, que emocionante. O príncipe estava com eles no momento? Ele é tão bonito, não acha?
— Por que a Guilda queria prendê-la? — A outra jovem dama pergunta.
O nome dela escapou completamente de mim. — Eu sou uma Dotada Griffin, então a Guilda achou que eu merecia ficar presa.
Ambas as damas ficam boquiabertas, mas eu mantenho meu sorriso sereno. Tenho permissão para começar a compartilhar a primeira parte da minha história agora — menos os detalhes da minha Habilidade Griffin. Ao mencionar o nome do Roarke ao falar do meu resgate, espero que as pessoas acreditem nele quando ele se levantar mais tarde e anunciar que eu sou o amor da sua vida.
— É uma história muito excitante, — acrescenta Aurora, — e prometo que vou contar tudo sobre isso depois. Mas agora, quero apresentar a Em para algumas outras pessoas.
— Não foi tão ruim, foi? — Ela pergunta baixinho conforme me leva para longe.
— Hum... eu não sei. Eu não escutei muito do que elas disseram.
— Em! — Ela bate no meu braço, mas seu horror zombeteiro logo se transforma em um sorriso. — Eu suponho que é tudo muito difícil para você, se você nunca esteve em um evento como este antes. Tantas distrações.
— Sim, — murmuro, observando um pégaso em miniatura passar. Erguendo os olhos, noto que há muitos deles no ar, cada um com um tom pastel diferente. Enquanto eu observo, uma mulher estende a mão, pega um e morde a cabeça.
— Oh, — eu suspiro, parando. — Isso é horrível.
— O quê? — Aurora segue meu olhar e começa a rir. — Oh, Em, é apenas um bolo voador. Eles não são criaturas reais. — Ela fica na ponta dos pés e agarra um. Ele luta em seu aperto, mas no momento em que ela puxa sua asa, ele para de se mover. — Vê? Apenas bolo e glacê. — Ela estende a asa para mim, e debaixo da camada externa rosa pastel, eu vejo um bolo cor de caramelo.
— Hum, não, obrigada, — eu digo quando ela tenta me fazer pegar parte da asa. — Isso é perturbador. — Eu olho para longe da mulher compartilhando o pégaso decapitado com sua amiga e me concentro em suavizar minha carranca. — Então, as pessoas sabem que há uma razão pela qual elas estão aqui, além do aniversário de sua mãe?
— Ninguém sabe ao certo, mas todos suspeitam de um anúncio de compromisso, — diz Aurora. — Eu ouvi as palavras ‘casamento’ e 'união' várias vezes enquanto passeava esta noite.
— E eu não devo confirmar suas suspeitas se alguém me perguntar?
— Não. Vamos deixar as pessoas imaginando por um pouco mais de tempo. Elas podem espalhar muitos rumores ao redor deste salão de baile o quanto quiserem até que Roarke faça o anúncio. Agora, vamos ver. — Ela toca no colar de pérolas negras apoiadas na base do pescoço, quando olha em volta. — A quem eu posso apresentar a você — Oh. Deixa pra lá. — Os músicos na plataforma elevada do outro lado do salão de baile pararam de tocar. Aurora olha em direção à porta maciça arqueada junto com todos os outros na sala. — Meus pais chegaram, — ela sussurra para mim.
Quando o Rei e a Rainha Unseelie são anunciados, todos os convidados no salão de baile se curvam ou fazem reverências. — Bem-vindos, — grita o rei Savyon enquanto todos nós nos levantamos. — Obrigado por se juntarem a nós enquanto celebramos o aniversário da Rainha Amrath. Hoje à noite, vocês se deliciarão com o melhor entretenimento, comerão os pratos mais exóticos e dançarão até o sol nascer. Que as celebrações comecem!
O lustre explode e o salão de baile se enche de guinchos e suspiros. Eu me abaixo e olho para cima, meus pensamentos se debatendo para descobrir o que está acontecendo. Um ataque externo? O rei está perdendo a cabeça e matando a todos nós? Mas quando a fumaça se dissipa, vejo centenas de objetos semelhantes a paraquedas flutuando em direção à multidão. Os murmúrios de medo se transformam em sussurros de espanto, depois em risadas e dedos apontando. Aurora pega dois paraquedas e entrega um para mim. Uma pequena caixa em forma de cubo pende de um dossel de pétalas. Quando coloco a caixa na palma da mão, os lados e o topo desaparecem, revelando uma rosa prateada dentro.
— Perfeito, — Aurora diz com um sorriso. — Eles saíram exatamente como a mãe queria que saíssem.
— O que é isso?
— Chocolate. — Ela ri. — E um feitiço que evita que você se canse até o sol nascer. Nós vamos festejar a noite toda. — Ela coloca a rosa em sua boca e gesticula para eu fazer o mesmo. Eu mastigo o chocolate amargo enquanto olho em volta para as pessoas pulando para pegar paraquedas, passando para seus amigos e comparando as rosas para ver se elas são todas iguais. Meu olhar cai sobre um homem olhando para mim — e meu coração quase para quando eu reconheço Dash.
Eu fico em choque quando ele olha para longe e duas mulheres pulando para pegar paraquedas o bloqueiam momentaneamente de ser visto. Não pode ser ele. É um truque da minha imaginação, minha mente transformando outro jovem em Dash. No entanto, eu pisco e espreito de mais de perto, uma parte de mim esperando que seja realmente ele. Mas não é. Seu cabelo está diferente, e seu braço, noto quando ele alcança um dos paraquedas caindo, está nu, sem as marcas de um guardião.
— Oh, olhe! — Aurora agarra meu braço e me puxa. Ela aponta para cima, enquanto a luz da sala escurece e pessoas em collant brilhantes descem pelo ar do teto. Eles deslizam graciosamente entre as cordas de luzes e ficam pendurados logo abaixo delas, girando lentamente e dando cambalhotas com movimentos coordenados para acompanhar a música misteriosa. Isso me lembra um pouco do nado sincronizado, ou tecido acrobático onde os acrobatas ficam pendurados em pedaços de tecido. Exceto que agora, não tem água para flutuar. Não há tecido para ficar pendurado. Esses artistas estão suspensos no ar por magia.
A noite continua com a dança — eu consigo não errar - comendo e bebendo, intercalada com várias formas mágicas de entretenimento extravagantes: malabaristas jogando bolas coloridas no ar, onde se transformam em doces de arco-íris que fazem sons de estalo e disparam doces em forma de estrela para todos; uma mulher soprando bolhas em qualquer forma que seu público solicite; um par de centauros que galopam e fazem uma dança dramática antes de galoparem para longe; e um homem que persuade sua magia em um dragão do tamanho de Imperia feito inteiramente de fogo.
Minha imaginação parece estar sobrecarregada de todas as coisas fantásticas que eu vi no espaço de apenas algumas horas, quando Roarke finalmente vem até mim. Eu o vi de longe esta noite, vestido de forma semelhante à maioria dos outros homens, mas com os punhos e gola alta de sua jaqueta feita de tecido em relevo dourado. Nós concordamos há alguns dias que não falaríamos ou dançaríamos juntos até depois do anúncio. Então, se ele está na minha frente agora, isso deve significar...
— Minha adorável Lady Emerson, acredito que temos um anúncio para fazer.
Eu engulo quando meu estômago se agita. — Oh. Que horas são? — Eu esperava adiar o maior tempo possível. De fato, parte de mim tem fingido a noite toda que se eu me recusasse a pensar sobre isso, isso nunca aconteceria.
— Não vamos deixar nossos convidados esperando por mais tempo. — Roarke coloca a mão nas minhas costas e me direciona para a plataforma elevada onde os músicos estão sentados. — Acho que elevamos o suspense por tempo suficiente. Todo mundo está se divertindo, mas agora não há um único convidado nesta sala que não esteja se perguntando qual é a bela dama que seu príncipe escolheu para ser sua esposa. Vamos afastar todas as suas especulações sussurradas.
Quanto mais nos aproximamos da plataforma, mais silenciosa a sala se torna. Finalmente, ao subirmos os três degraus que conduzem ao lado, os silêncios reinam, interrompidos apenas pelo sussurro ocasional e o farfalhar de saias. — Lembre-se de mostrar a todos como você está feliz, — Roarke murmura, seus lábios mal se movendo e seu sorriso continua no lugar.
Não tenho certeza se posso fingir estar feliz agora, mas posso pelo menos esconder meu medo. Enquanto Roarke encara a multidão e eu fico parada ao lado dele, eu tento imitar a maneira como ele se porta, empurrando meus ombros para trás, e levanto meu queixo levemente. Eu forço meus lábios em um sorriso que eu possa controlar.
Então eu cometo o erro de olhar para o salão de baile lotado. Centenas de rostos olham para mim com expressões que variam de curiosidade para aversão absoluta. Não mostre medo, não mostre medo. Eu pisco e estabeleço meu olhar na parede distante, logo acima da linha de pessoas. Não se mexa, permaneça equilibrada, continue sorrindo. Mas apesar da minha máscara de confiança, um rugido distante começa a encher meus ouvidos. Meu coração bate tão descontroladamente que temo que eu possa realmente ter uma parada cardíaca.
Roarke começa a falar, mas eu ouço apenas pedaços do que ele está dizendo: meu passado no reino humano, meu status de Dotada Griffin, meu resgate da Guilda. Eu ouço as palavras ‘uma corte rápida’ e 'profundamente apaixonado', e então, finalmente, Roarke olha para mim, pega minha mão na dele, e diz, — Eu nunca estive mais feliz do que no momento em que meu pai nos deu permissão para nos unirmos. — Ele encara a multidão novamente, segurando a minha mão. — E então, meus senhores e senhoras, eu apresento a vocês a mulher com quem estarei me unindo em exatamente doze dias: a linda, cativante e gentil Emerson.
Silêncio cumprimenta as palavras finais do príncipe. Ele paira, se expande, pressiona meus ouvidos e, finalmente, estoura. Gritos, brindes e aplausos preenchem meus ouvidos e, de repente, essa união parece real demais. Eu sei que eu concordei com isso, mas enquanto não era oficial, eu achava que encontraria uma saída. Mas agora que todo mundo sabe, parece quase impossível. Pela primeira vez, isso me atinge — realmente me atinge — que eu vou ter que fazer isso. Eu vou casar com um príncipe. Este palácio e essas pessoas vão se tornar minha vida. Tudo isso vai se tornar a vida da minha mãe também. Pelo tempo que for necessário para descobrir como vamos escapar.
— Vamos dançar agora, meu amor? — Roarke me pergunta.
Não confiando em mim para falar, eu simplesmente aceno. Ele me leva para baixo da plataforma e em direção ao centro do salão de baile enquanto a música recomeça. Minhas pernas começam a tremer com o pensamento de um salão de baile inteiro de pessoas nos assistindo dançar, mas Roarke levanta a voz e incentiva a todos a participarem. Com conversas animadas, eles correm para encontrar parceiros enquanto Roarke e eu nos encaramos e nos movemos para a posição inicial.
Já dancei várias vezes esta noite, mas agora é diferente. Ninguém se importava com quem eu era antes. Ninguém prestou atenção em mim. Mas agora, mesmo que todos estejam dançando também, sinto seus olhos em mim. Teria sido ótimo se minha Habilidade Griffin fosse capaz de me dar à habilidade de executar cada passo com perfeição, mas aparentemente minha Habilidade Griffin não sabia como fazer isso. Então, fico concentrada em todos os movimentos, em cada detalhe intrincado, em cada giro e pivô. Felizmente, com um parceiro especialista como Roarke, é fácil esconder o erro estranho e a hesitação.
Parceiros se movem ao nosso redor enquanto a música muda de novo e de novo, mas Roarke se agarra a mim para várias danças. Ele pressiona um beijo sob o meu ouvido em um ponto, e eu tenho que trabalhar fortemente para não me encolher. Eu digo a mim mesma para ficar grata por ele não beijar meus lábios. Eventualmente, ele me entrega a outro parceiro, e agora eu realmente tenho que me concentrar, minha atenção dividida entre ter uma conversa educada e seguir os passos.
O tempo passa. Eu continuo circulando a sala, mudando para um novo parceiro sempre que é apropriado. Embora eu esteja completamente fora da minha zona de conforto, a música me incita a continuar dançando. Ou é o chocolate encantado que comi antes?
Danço, converso, mudo de parceiro, repito. Começo a me perguntar por quanto tempo eu tenho que fazer isso antes que eu possa sair da pista de dança e dar um tempo de tudo. Eu giro ao redor e para os braços de outro parceiro. Um homem, que percebo com meu segundo choque da noite, que reconheço afinal de contas.
Dash.
Capítulo 11
MEUS PÉS TROPEÇAM EM UM IMPASSE. UMA COMBINAÇÃO ESTRANHA DE ALEGRIA E HORROR dispara através de mim. O cabelo de Dash está completamente diferente, como eu percebi anteriormente, e vários dias de barba para fazer melhoram seu disfarce. Mas é definitivamente ele.
— Não pare de dançar, — diz ele, me forçando a acompanhar a música. Então, depois de dar aos dançarinos em volta dele um sorriso agradável e totalmente falso, ele sussurra, — Qual diabos é o seu problema?
Outro segundo de choque passa antes que eu encontre minha voz. — Eu? Qual o seu problema? Como até mesmo você — o que você — você sabe o que Roarke e Aurora farão se reconhecerem você?
— Eles me viram por cinco segundos naquele dia. Eles não vão me reconhecer agora.
— Mas como você —
— O que você está fazendo aqui, Em? Por que você está aceitando essa charada de união estúpida? Eu esperava encontrar uma prisioneira e, em vez disso —
— Nós não vamos ter essa discussão aqui, — eu digo a ele com os dentes cerrados, meu sorriso completamente esquecido agora. — Encontre-me lá fora. — Eu me livro de seu aperto e viro. O homem que eu encontro parece assustado. Ele e a mulher com quem ele dança quase tropeçam. Mas, felizmente, depois de dois ou três segundos desastrosos, todos trocam de parceiros e, para qualquer um que esteja observando, parece que a quase-princesa acidentalmente tentou trocar alguns segundos antes. Felizmente entro nos braços do homem confuso e continuo dançando, tentando manter um sorriso sereno no lugar enquanto meu coração troveja no meu peito.
Ainda mal posso acreditar. Dash está aqui. Através da minha raiva e terror — porque esse é exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando evitar quando escolhi vir para cá, e agora ele está bagunçando tudo — eu estou dolorosamente feliz em vê-lo.
— Foi horrível crescer no reino não mágico? — Pergunta meu parceiro de dança.
— Hum, bem, eu não conhecia nada melhor, então eu não sabia o que estava perdendo.
— Deve ter sido emocionante ter descoberto que você pertence a este mundo em vez disso.
— Sim. Magia é... muito maravilhosa. — Estou distraída quando vislumbro Dash com outra parceira.
Quando a dança termina, consigo recusar educadamente a mulher que esperava ser minha próxima parceira. Deslizo por ela e saio da pista de dança, entre as mesas e cadeiras, e em direção à porta em arco que leva aos jardins. É estranho olhar e ver uma paisagem branca como a neve enquanto me sinto tão quente que estou quase suando. Deve haver um feitiço na porta aberta que mantém o ar frio do inverno lá fora.
Olhando para trás, vejo pelo menos duas mulheres vindo em minha direção com olhos brilhantes e sorrisos largos, provavelmente esperando conversar comigo. Maravilha. Agora que todo mundo sabe quem eu sou, eu nunca sairei desse salão sem ser notada. Eu procuro por uma distração, e na mesa mais próxima, vejo um dos doces do arco-íris estourando. Eu discretamente deixo cair no chão, levanto a saia e chuto para o lado. Ele gira para longe da multidão, zumbindo, estalando e atirando doces minúsculos em todos os lugares. Na comoção, encontro os olhos de Dash por um segundo. Então me viro e saio para a noite.
O frio me atinge no momento em que passo por baixo do arco, mas depois de toda aquela dança, o ar gelado é um alívio bem-vindo. Depois de descer correndo as escadas, viro à direita, saio do caminho e espero à sombra de uma árvore com maçãs prateadas, salpicadas de neve penduradas em seus galhos. Eu expiro longamente e devagar, mas minha ansiedade só aumenta quando os segundos passam e eu espero por Dash.
Eu fico tensa quando passos apressados descem as escadas. Dash olha ao redor, me vê, e com alguns passos rápidos ele está na minha frente. — Qual é o seu problema? — Ele exige imediatamente. — Andando por aí como se você pertencesse aqui. Participando dessa idiotice de união. Você não pode estar planejando —
— Você quer falar sobre idiotice? — Eu retruco. — Você é idiota. Por que veio aqui? Essas pessoas são seus inimigos. Você sabe o que farão com você se descobrirem o que você é e para quem você trabalha?
— Eles são seus inimigos também, Em, mas de alguma forma você os deixou manipular para se casar com um deles —
— Eu não fui manipulada coisa nenhuma, — eu digo, ainda tentando manter minha voz nada mais alto do que um sussurro irritado. — Eu escolhi estar aqui. Roarke apresentou uma solução — casamento em troca de curar minha mãe — me deu tempo para pensar sobre isso, e eu decidi aceitar sua oferta. A única pessoa que quer me forçar a fazer coisas é o rei, mas Roarke não o deixa. Ele quer uma esposa disposta. Ele não vai me manipular para fazer qualquer coisa contra a minha vontade, apesar do que você está pensando.
Dash parece que ele está prestes a ficar doente. — Você... você veio aqui voluntariamente? Ninguém te obrigou a isso?
— Sim. Ele ofereceu algo que eu queria e decidi que o preço valia à pena.
— O preço é um casamento, Em! Uma união! Você parou para pensar o quão sério é isso? Estamos falando do resto da sua vida. As uniões neste mundo não são como as do seu mundo. É um vínculo mágico que não é facilmente quebrado. E uniões reais? Eu nunca ouvi falar de uma união sendo quebrada. Se você continuar com isso, é para sempre.
Eu reviro meus olhos, mesmo quando o peso de suas palavras perfura meu núcleo e deixa minha pele mais fria do que há um momento atrás estava. — Agora você está sendo um idiota novamente. Eu não pretendo realmente que essa união aconteça. Eu tenho uma Habilidade Griffin, pelo amor de Deus. Uma extremamente poderosa. Quando for o momento certo, e quando eu tiver aprendido bastante controle sobre ela, eu vou pedir ao Roarke para me dizer tudo que eu preciso saber para curar minha mãe, e então eu vou escapar.
Dash ainda parece um pouco doente. — Sério? Esse é o seu plano? Você realmente acha que depois de tudo isso lá — ele acena genericamente na direção do salão de novo — eles vão deixar você escapar?
— Tudo bem, primeiro de tudo, ‘escapar’ implica que eu não vou pedir permissão. Eu vou embora. Então não importa se eles vão me deixar ou não. E em segundo lugar... — Eu lentamente respiro profundamente porque eu tenho que admitir que estou me sentindo tão doente quanto Dash parece. Em segundo lugar, percebo que escapar pode não ser possível. Eles podem me pegar e me forçar a participar desta...
— Você acha?
— ... apesar de tudo que Roarke diz sobre querer uma esposa disposta, — eu continuo, interrompendo Dash. — E se é assim que acaba, então que assim seja. Pelo menos eu vou pegar as informações que preciso, e então —
— Isso se Roarke realmente prosseguir com seu lado da barganha e dizer a você o que ele sabe — o que provavelmente não é nada, a propósito. Como ele pode saber mais sobre sua mãe do que o resto de nós? Mas quando você descobrir isso, será tarde demais para você. — Ele ergue as mãos e olha para o lado enquanto balança a cabeça. — Todo esse seu plano é totalmente inútil.
Um calafrio me percorre. Meu corpo esfria rapidamente, e o ar do inverno parece estar se infiltrando em meus ossos. Eu corro minhas mãos vigorosamente para cima e para baixo nos meus braços. — Não é inútil. Magia negra prendeu minha mãe em um coma permanente, e Roarke, como um membro da corte que usa esse tipo de magia, sabe como acordá-la. E, mais importante, ele sabe o que causou sua doença mental. Foi algo mágico, e ele sabe como consertar isso.
— Ele está mentindo, Em, — Dash diz com o tipo de tom que ele usaria conversando com uma criança ingênua. Distraidamente, ele move a mão em um movimento rápido e circular acima da minha cabeça, e eu imediatamente começo a me sentir mais quente. — Você realmente acha que um príncipe mimado sabe alguma coisa sobre doenças mentais mágicas? Ele diria qualquer coisa para você ficar e dar-lhe acesso total à sua Habilidade Griffin. Por que você não consegue ver isso?
— Ele não está mentindo. Ele sabe muito mais sobre o meu passado do que qualquer outro que eu tenha encontrado neste mundo. Ele já provou isso para mim. Ele é minha melhor chance de salvar a minha mãe.
— Mas... isso é só... — Dash se debate por um momento. Ele puxa seu cabelo, que eu percebo que é uma peruca quando se solta em sua mão, revelando seu próprio cabelo bagunçado por baixo. — Eu sei que você quer que sua mãe esteja melhor, — ele diz, seus olhos voltando aos meus, — mas por que sua saúde e felicidade têm que ser exclusivamente responsabilidade sua? Ela é realmente — Ele se interrompe, respirando pesadamente. Eu sei que isso vai me fazer soar como o cara mau. Eu não quero te perguntar se ela vale à pena, porque claramente —
— Como você pode pensar isso? — Eu arquejo.
— Eu não estou! É isso que eu estou dizendo. É claro que ela vale a pena. Ela é sua mãe, e claramente você a ama mais do que tudo em qualquer mundo, mas... — Seus olhos me imploram. — Ela quer que você faça isso? Ela quer que você jogue fora toda a sua vida no que é provavelmente uma tentativa fútil de salvar a dela?
— Eu não estou jogando fora toda a minha vida! — Eu grito. Então eu me lembro. Lembro das palavras de Aurora — meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares — e abaixo a voz novamente. É quase um sussurro agora. Meus lábios mal se movem enquanto eu falo. — Eles podem me forçar a um casamento, mas isso não significa que eu ficarei aqui para sempre. Minha Habilidade Griffin me faz mais poderosa que a maioria das pessoas neste mundo. Mamãe e eu vamos escapar um dia.
— Mesmo que isso seja possível, — diz Dash, — quantas coisas ruins eles vão te obrigar a cometer antes disso?
— Eu... eu... — Eu não tenho uma resposta para isso.
— Por que você acha que eles querem você, Em? Para que você possa deixar o trabalho sujo dele mais fácil, é por isso. — Ele pega meus ombros e me dá uma pequena sacudida. — Essas pessoas não são boas. Com certeza você sabe o tipo de coisas que elas vão fazer você fazer?
Eu me liberto de seu aperto. — Você está errado. Roarke não é assim, e Aurora também não. — Mas o rei é, uma voz silenciosa me lembra. Aquela cena no escritório do rei — a cena que continuo empurrando para fora dos meus pensamentos — aparece abruptamente na frente da minha mente. O rei com a mão apertando o ar, e a cabeça do homem sendo arrancada de sua —
Eu pisco e estremeço e desvio o olhar.
— Sério? — Dash diz. — Eles não são assim?
Eu posso dizer sem encontrar seus olhos que ele sabe que estou mentindo. Eu dou uma respiração trêmula. — Eu vi... alguma coisa. — Eu pisco de novo e balanço a cabeça, tentando forçar a memória para longe. Eu me concentro nos olhos verdes de Dash novamente, sabendo que não há sentido em tentar convencê-lo com mentiras que eu também mal acredito. Não há sentido em nada além da verdade. — Que outra escolha eu tinha, Dash? — Minha voz é um sussurro desesperado agora, tendo perdido seu tom defensivo. — Estas são as únicas pessoas que podem me ajudar.
— Você poderia ter confiado em nós! Eu e todo mundo no oásis. Queremos ajudar você, Em. Nós não fizemos nada, além de tentar ajudá-la desde que você chegou a este mundo, e isso não mudaria. Eu não entendo porque você simplesmente virou as costas para tudo isso e —
— É por isso, Dash! Foi por isso que eu tive que ir embora.
Ele faz uma pausa, as sobrancelhas subindo mais alto. — Isso deveria fazer sentido?
— Você e seus amigos não fizeram nada além de tentar me ajudar e isso quase matou vocês. Você virou uma estátua de vidro. Lembra disso? Você e Violet chegaram tão perto de morrer. Morrer, Dash! — Minha voz se eleva quando meu peito aperta com a lembrança daquele dia aterrorizante.
— Sim, mas não morremos. Não é grande coisa.
— Claro que foi importante! Você quase morreu porque tentou me ajudar. E Chelsea e Georgia realmente estavam mortas, e elas teriam ficado assim se minha Habilidade Griffin não tivesse feito uma aparição conveniente. Então, depois de tudo isso, eu decidi que não queria que ninguém mais fosse colocado em risco por minha causa e de minha mãe.
— Em —
— Sim, eu tinha tudo que queria no oásis. É lindo, é seguro, as pessoas são incríveis. Mas se eu tivesse ficado lá, alguém teria acabado ferido ou morto porque tentaram me ajudar. Isso é problema meu. Ela é minha mãe. Se há um preço envolvido em fazê-la voltar ao normal, sou eu quem devo pagar. Ninguém mais.
Dash fica em silêncio por muito tempo antes de dizer, — É tarde demais para isso.
Eu pisco, sentindo frio novamente, apesar do feitiço de calor de Dash ainda me cercando. — O que você quer dizer?
Ele balança a cabeça e olha para o outro lado. — Isso... não era assim que eu queria te contar. Eu queria te levar para longe daqui primeiro. De volta ao oásis.
— Antes de me dizer o quê? — Eu me aproximo e envolvo uma mão fria em torno de seu braço. — Me dizer o quê, Dash? O que aconteceu?
— Chelsea e Georgia... — Ele fecha os olhos e pressiona os lábios antes de continuar. — As duas... morreram.
Eu solto minha mão de seu braço tão rapidamente como se sua pele tivesse me queimado. — O quê?
— Aconteceu cerca de dois dias depois do incidente de vidro com Ada.
— Mas... elas não podem estar mortas. Minha Habilidade Griffin as trouxe de volta a vida.
— Elas eram humanas, Em, — ele diz gentilmente. — Sua Habilidade Griffin pode ter funcionado nelas, mas seus corpos não conseguiram lidar com a magia. No final, isso as matou.
— Mas... você tem certeza de que elas eram humanas? Quero dizer, ela é irmã da minha mãe e minha mãe é uma faerie. E sobre todos os remédios herbáceos que Chelsea fez? Eu pensei que talvez... talvez fosse realmente mágico.
Dash não oferece explicações; ele apenas balança a cabeça. — Eu sinto muito, Em.
— Elas... elas estão realmente mortas? — Eu sussurro. — Minha magia as matou. Eu pensei que isso as salvou, mas as matou.
— Em —
— Eu matei minha própria família.
— Não foi você quem as matou, — diz Dash, sua voz repentinamente feroz. — Ada fez isso com sua horrível magia de vidro. Ela as quebrou em milhares de pedaços. Você fez o que pôde para salvá-las, mas não foi o suficiente. Elas estavam condenadas desde o momento em que ela as tocou pela primeira vez.
Minhas pernas não conseguem me segurar. Eu caio no chão, sem um segundo pensamento sobre o vestido caro que eu provavelmente estou estragando. Respirações rápidas e superficiais me consomem enquanto olho para o jardim. Dash ainda está falando, mas não consigo mais ouvi-lo. Eu não sei como devo reagir a isso. Chelsea e Georgia não me amavam, e eu não as amava; Eu não posso fingir o contrário só porque elas estão mortas. Mas elas eram da família. Elas me acolheram, embora constantemente deixassem claro que eu era um peso para elas. E agora elas estão mortas e eu não consigo descobrir o que devo sentir além de me sentir culpada.
— Eu nunca quis nada disso, — eu consigo sussurrar. Eu cubro meu rosto com minhas mãos, desejando que eu pudesse apagar este outro mundo e sua magia que deixou minha vida completamente fora do meu controle. — Alguém pode simplesmente levar tudo isso embora? Por favor. Eu não quero essa magia. Eu não quero uma Habilidade Griffin. Eu não quero casar com um príncipe. Eu só quero voltar para aquela vida simples que mamãe e eu tivemos antes que a magia a deixasse louca e tudo começasse a desmoronar.
Eu sinto o braço de Dash no meu ombro e o sinto agachado ao meu lado. — Eu queria poder —
— Emerson?
Eu respiro fundo ao som da voz do Roarke. Lentamente, eu abaixo minhas mãos e o observo descer as escadas.
— O que está acontecendo? Por que você está no chão?
Dash se levanta para encará-lo.
— Você, — Roarke diz lentamente, reconhecimento em seus olhos. — Bem, agora. — Seu olhar se move para mim enquanto sua expressão se torna ilegível. — Se isso não é uma situação interessante.
Capítulo 12
EM MENOS DE UM MINUTO, EU ME ENCONTRO DE VOLTA DENTRO DO CALOR DO palácio em uma pequena sala de estar em algum lugar perto do salão de baile. Apesar do turbilhão de emoções me dominando, eu não ouso desobedecer Roarke quando ele proferiu — Siga-me. — em um tom mais frio do que o ar do inverno. Dash hesitou, mas logo nos alcançou. De volta ao salão de baile, ninguém parou o príncipe ou sua noiva. Ninguém sequer olhou em nossa direção. Eu suspeito que a magia de Roarke seja a responsável por isso.
A porta da sala de estar se fecha sozinha. Chamas ganham vida na lareira. — O que ele está fazendo aqui? — Roarke exige imediatamente, apontando para Dash sem olhar para ele.
— Eu... eu não... — Eu corro minhas mãos pelo meu rosto, tentando me concentrar nas palavras de Roarke e vendo apenas os olhos sem vida de Chelsea e Georgia. Seus corpos frios. Sozinhas em suas camas em sua pequena casa em Stanmeade. Eu pisco e olho para as chamas crepitantes dançando na lareira, na esperança de queimar a imagem brilhante e quente em minha mente. — Eu não sei, — eu digo finalmente, me afastando do fogo. — Fiquei tão chocada quanto você por vê-lo aqui. Essa coisa ainda está ligada a mim — Eu toco o pedaço de metal do tamanho de uma moeda atrás da minha orelha — então nenhuma mágica deveria ter sido capaz de me localizar.
Roarke atravessa a sala. Seus dedos envolvem o braço de Dash. — Onde estão suas marcas de guardião?
Dash puxa o braço para longe e solta uma risada curta. — Tem essa coisa que as garotas usam. É chamado de corretivo. Funciona muito bem para cobrir —
— E como você entrou no meu palácio?
Dash leva seu tempo cruzando os braços sobre o peito antes de encarar Roarke. — Sua mãe decidiu terceirizar o design do vestido de Em para esta noite. Quando um de seus empregados veio buscá-las, tive a certeza de estar lá, pronto para ocupar o lugar dele. Seu transporte me trouxe de volta aqui. Foi tudo incrivelmente fácil, na verdade.
— E como você sabia que Emerson estava aqui em primeiro lugar?
— Um palpite, acho que mais um processo de eliminação. Eu achei que poderiam ser vocês, os Seelies ou a Guilda que a prendiam. Perguntei por aí, e a Guilda e os Seelies ainda pareciam estar sob a impressão de que Em estava morta ou desaparecida. Sabe, desde o incidente no penhasco. — Dash dá de ombros. — Portanto, tinha que ser vocês.
— Então você contou aos seus superiores tudo sobre suas suspeitas, e eles te recompensaram deixando você entrar furtivamente em minha casa e meter seu nariz indesejado ao redor? Duvidoso. Você não parece estar na hierarquia mais alta da Guilda para ter uma missão tão importante quanto recuperar uma perigosa e poderosa faerie Dotada Griffin como Emerson.
O olhar de Dash se estreita um pouco. — Eu não estou aqui representando a Guilda.
— Ah. — Roarke acena com a cabeça. — Eu tive a sensação de que poderia ser algo nesse sentido. — Ele caminha até a cômoda do outro lado da sala e abre uma gaveta. — Você e Emerson pareciam estar ficando muito confortáveis quando Aurora e eu encontramos vocês dois juntos em seu antigo quarto. — Ele fecha a gaveta e se vira para nos encarar novamente. — Depois que ela escapou da Guilda. Quando você — um guardião — não deveria saber nada sobre o paradeiro dela. — Ele balança a cabeça e solta uma risada silenciosa. — Um traidor para sua própria espécie, eu vejo. Que decepcionante.
A expressão do Dash escurece. — Na verdade não. Acontece que eu discordo de marcar, rastrear e aprisionar Dotados Griffin.
— E você tem alguma marca em você, garoto guardião? Para que alguém possa convocá-lo ou determinar sua localização?
— Eu disse a você que não estou aqui em nome da Guilda, então por que eu seria estúpido o suficiente para deixar alguém me marcar?
— Bom. — Roarke se move em direção a Dash. — Mas apenas no caso ... — Sua mão gira e bate na lateral do pescoço de Dash.
Quase rápido demais para ver, Dash pega o braço de Roarke e o torce, girando o príncipe ao redor e prendendo o braço atrás das costas. — O que você acabou de fazer? — Dash sibila. O som de um chiado percorre o ar, e com um grito, Dash empurra Roarke para longe dele. — O que —
Roarke se endireita, rola os ombros e ajusta o colarinho de sua jaqueta. — Eu não gosto de ser maltratado.
Dash toca o lado do pescoço dele. — O que é isso? — Quando sua mão se afasta, vejo um pequeno círculo de metal como o atrás da minha orelha.
— Uma precaução, isso é tudo, — diz Roarke.
— Como você ousa —
— Você entra em minha casa e quer saber como eu ouso a —
— Parem! — Eu grito. Minha Habilidade Griffin ainda não está pronta para emitir um comando mágico, mas meu grito é suficiente para fazer Roarke e Dash pararem e olharem em minha direção. — Apenas ... apenas parem. — Minha voz vacila. — Minha tia e prima estão mortas, e vocês dois estão agindo como crianças mesquinhas.
Uma carranca puxa as sobrancelhas de Roarke para baixo. — Sua tia e prima? Com quem você viveu no mundo não-mágico?
Eu olho para trás em direção ao fogo enquanto eu aceno. — Dash me contou. Do lado de fora. É por isso que eu estava sentada no chão. Eu estava... eu simplesmente não consigo acreditar.
— Estas são as pessoas de quem você particularmente não gostava? — Roarke pergunta, seu tom não indelicado, apenas curioso. — Aquelas que te trataram mal desde que você se mudou para a cidade para viver com elas?
Eu concordo. — Mas elas ainda eram da família. Bem, eu não sei o que elas eram. Mamãe e Chelsea eram irmãs, mas mamãe é uma faerie e Chelsea era humana, então... elas não podem ter sido irmãs? Eu não sei. Eu não entendo. — Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas novamente e fecho meus olhos. — Mas eu morei com elas. Por anos. Eu pensei que elas eram da família, e agora elas morreram.
Eu ouço os passos silenciosos de Roarke se aproximando antes que ele coloque uma mão cuidadosamente contra as minhas costas. — Eu sinto muito, Emerson. Eu não posso imaginar como é isso. Mas posso prometer isto: você está prestes a ter uma família totalmente nova. E embora possa não ser óbvio do lado de fora, nós nos importamos um com o outro. Nós vamos cuidar de você também. Você será uma de nós e finalmente pertencerá a algum lugar. Você e sua mãe.
Do outro lado da sala, Dash bufa e resmunga algo em voz baixa. Eu quase faço o mesmo, porque é claro que o verdadeiro motivo de Roarke não tem nada a ver com o desejo de me dar uma nova família e um lugar para pertencer. Ele quer minha Habilidade Griffin. Mas talvez haja mais do que isso. Talvez ele realmente queira que essa união funcione. Talvez ele planeje cuidar de mim pelo resto de nossas vidas.
— Você vai ficar, é claro, — Roarke diz para Dash. — Para a cerimônia. Você é amigo de Emerson. Tenho certeza que ela vai querer que você esteja aqui.
— Sua cerimônia é daqui a duas semanas, — Dash diz antes que eu possa expressar minha própria opinião. — Eu não posso ficar aqui por tanto tempo. Eu tenho um emprego, lembra?
— Você também tem o desejo de parar esta união, — Roarke aponta. — O que significa que, se eu deixar você sair, você dirá à Guilda exatamente o que está acontecendo, e eles tentarão interromper nossos planos e recuperar Emerson. Ou matá-la.
— Dash não diria —
— Você não sabe com certeza, — Roarke diz para mim. — Se você quer que esta união aconteça, então não podemos correr o risco que a Guilda se envolva.
— A Guilda vai se perguntar onde estou, — diz Dash.
— Deixe-os se perguntar então. Eles não sabem que você está aqui.
Dash exala lentamente, seus olhos brilhantes nunca deixando Roarke. — Eu sei que isso não importa para você, mas eu tenho casos importantes —
— Você deveria ter considerado isso antes de invadir minha casa, — diz Roarke.
— Tudo bem. — Dash força seus punhos para trás de suas costas e dá a Roarke o sorriso mais obviamente falso que eu já vi. — Muito obrigada pelo convite, Sua Alteza Real. Eu ficarei feliz em ficar aqui e participar da sua cerimônia de união.
Roarke acena. — Bom. Apenas certifique-se de que as marcas em seu pulso permaneçam cobertas. Não posso garantir sua segurança se meu pai descobrir o que você é.
— Certamente. E vou manter meus lábios fechados e não fazer perguntas sobre nenhuma das leis que vocês Unseelies quebraram ultimamente, ou sobre, digamos, aquele lugar sombrio e sem cor onde eu acordei depois que você sequestrou Em e eu.
— Perfeito. Espero que você não se esqueça dessa promessa, — Roarke acrescenta em um tom ameaçador.
— Então ... Dash é um convidado? — Eu pergunto. — Ou um prisioneiro?
Roarke olha para mim. — Você gostaria que eu fizesse dele um prisioneiro?
— Claro que não.
— Então ele é nosso convidado. — Ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu só quero te fazer feliz, Emerson. Você recebeu algumas notícias chocantes esta noite e tenho certeza de que será um conforto ter seu amigo aqui.
Minha carranca se aprofunda. — Mas você não confia nele e não quer que ele vá embora. Então, por que você o deixaria vagar livremente pelo seu palácio?
— Não se preocupe, ele será observado onde quer que vá. Se ele sair da linha, eu me certificarei de que a Guilda descubra que ele sabe muito mais sobre os rebeldes Griffin do que deveria. Duvido que ele consiga manter o emprego depois disso. — Ele olha para Dash. — Parece justo?
Dash inclina a cabeça no menor dos acenos. — Perfeitamente justo, já que eu planejo estar no meu melhor comportamento, Real Principesco.
Um músculo na mandíbula de Roarke se contrai, mas, felizmente, ele decide não retaliar a última parte. — Mais importante, minha querida Emerson, — continua ele, virando para mim, — eu gostaria de mostrar a você que eu me importo com a sua felicidade. Se isso significa tratar seu amigo guardião como convidado em vez de prisioneiro, então eu faço.
Eu ainda não sei se acredito nele, mas acho que vou descobrir nos próximos dias. — Tudo bem, — eu digo com cautela. — Obrigada.
— Vamos voltar para o baile agora. Afaste sua tristeza, meu amor, e junte-se à alegria. Você logo se sentirá melhor.
Eu duvido que isso seja verdade, mas também duvido que tenha escolha. Eu acho que o meu pedido para sair da festa, subir na cama e puxar as cobertas sobre a minha cabeça não iria cair bem. Então eu sigo Roarke para fora da sala e de volta para a festa. Eu respiro profundamente e pressiono meus lábios para evitar que estremeçam. Eu tomo a primeira bebida que é oferecida e de uma só vez, esperando que o liquido seja suficiente para entorpecer meus sentidos pelo resto da noite.
Quando está perto da meia-noite e minha Habilidade Griffin vem à tona, eu digo às palavras que fui obrigada a dizer. Ninguém me ouve em meio ao barulho, mas todos gritam oohs e aahs em admiração aos seis arco-íris que se formam um após o outro do outro lado da sala, como se marcassem os doze pontos de um gigantesco relógio colorido. Eu gostaria de poder experimentar um pouco da admiração deles com a visão do que minha própria magia produziu, mas parece que as várias bebidas que eu consumi estão fazendo seu trabalho: eu não sinto mais nada.
Capítulo 13
QUANDO CLARINA ME ACORDA NA MANHÃ SEGUINTE, SINTO QUE alguém enfiou uma estaca no meu globo ocular. E uma chave de fenda no outro olho. Alguém deve ter também aumentado o brilho do sol; Eu só posso abrir meus olhos por cerca de meio segundo antes de ter que fechá-los novamente.
— Seu almoço está na sala de estar, minha senhora, — diz Clarina. — Todos estão comendo sozinhos hoje, conforme alguns ainda estão se recuperando da noite passada.
— Almoço? — Eu pergunto com uma voz rouca.
— Sim, é quase meio-dia, minha senhora. — Seus passos se aproximam e ela acrescenta, — A bebida ao lado de sua cama aliviará sua dor de cabeça.
Eu levanto lentamente e olho para o copo de cristal com um líquido claro. Quase pergunto como ela sabe sobre minha dor de cabeça, mas suponho que ela esteja aqui há tempo suficiente para ter plena consciência das muitas ressacas que se seguem de um evento como o baile da noite anterior.
— Sua piscina está cheia, — acrescenta ela.
— Obrigada. — Eu balanço minhas pernas sobre a borda da cama e olho para o chão por um tempo enquanto meu cérebro percorre os eventos da noite anterior. Eu lembro que Dash está aqui agora. Eu lembro que Chelsea e Georgia estão ... mortas.
Eu pego o copo e meus olhos caem sobre a roupa que Clarina escolheu para mim hoje, pendurada do lado de fora do guarda-roupa. Um casaco do tipo trespassado, na cor água-marinha com padrões de branco, verde e malva. As comemorações do aniversário da rainha continuam com um chá nos jardins esta tarde, então Clarina foi obviamente instruída a escolher algo apropriadamente festivo para mim. É bonito, mas não parece certo usar algo tão... vivo.
— Clarina? — Eu chamo, esperando que ela ainda esteja na sala ao lado.
— Sim, Lady Emerson? — Ela corre de volta para o quarto.
— Tudo bem se você escolher uma roupa preta para mim hoje? Ou cinza, talvez, se preto for deprimente demais para o chá da rainha?
— Hum, certamente, minha senhora. Isso deve estar bem. Eu acredito que há uma roupa na cor carvão com detalhes bordados de prata. Deve servir?
— Sim, obrigada.
Não sinto qualquer tipo de profunda tristeza pela perda de Chelsea e de Georgia. Eu ainda estou chocada, mal conseguindo acreditar que elas se foram, mas sei que não houve nenhum amor perdido entre nós. Ainda assim, parece errado simplesmente seguir em frente com a vida e esquecê-las. Eu preciso fazer alguma coisa, e se usar preto ou cinza é a única coisa que resta para mim, então é o que vou fazer.
***
A mistura no copo funciona notavelmente rápido, e minha dor de cabeça logo desaparece. Embora eu gostasse de mergulhar na piscina de bolhas roxas por muito mais tempo, eu provavelmente devo descobrir onde Dash está e ter certeza de que ele não se meteu em problemas.
Depois de me secar e me vestir, fecho os botões da minha roupa cor de carvão e ando descalço através da minha sala de estar em busca de um pouco de comida. Eu escolho o sanduíche mais normal e volto para o meu quarto para escolher um par de sapatos.
Ao ver uma figura sentada na beira da minha cama, eu congelo. Ele vira a cabeça - e percebo que é Dash.
— Caramba, Dash. Você está tentando me dar um ataque cardíaco? Como você chegou aqui?
Ele gesticula por cima do ombro para a janela onde a cortina ondula suavemente com a brisa morna. — Sua janela estava aberta. Eu subi por ela.
Eu quero dizer a ele que ele é tão ruim quanto eu, subindo pelas paredes do palácio, mas estou com medo de que alguém importante descubra que ele está no meu quarto. — Você não pode estar aqui, — eu sussurro. — Se Roarke ou o pai dele te encontrarem no meu quarto, de todos os lugares —
— Ninguém me viu, não se preocupe. Eu não saí do meu quarto pela porta, então qualquer um observando vai assumir que eu ainda estou lá dentro. E achei seu quarto com bastante facilidade. Não tive que procurar por muitos outros.
— Dash!
— O quê?
— E quem pode estar ouvindo agora? — Eu assobio.
Dash franze a testa. — Você está brincando certo?
Eu balanço minha cabeça. — Há olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Sim, mas no seu quarto? Isso é passar dos limites.
Eu me aproximo mais dele e abaixo minha voz ainda mais. — Depois de tudo que você me falou sobre essas pessoas, você realmente quer que eu acredite que há limites que eles não passaram?
Dash hesita. — Verdade.
— Quero dizer, eu não sei ao certo se alguém está ouvindo, mas Aurora me disse para ter cuidado com o que eu digo, não importa onde eu esteja.
Dash levanta o dedo para os lábios, indicando que eu deveria permanecer em silêncio. Ele começa a andar devagar pelo quarto, olhando, ouvindo, às vezes até cheirando. — A única outra magia que eu posso sentir neste quarto está vindo da sua cama, — ele sussurra. — O que é totalmente inapropriado, se você perguntar —
O edredom se move, uma forma desliza em direção à borda e um gato preto aterrissa no chão.
— Oh, — Dash diz, sua voz não mais que um sussurro. — É o Bandit?
Eu abro meus braços e Bandit pula para cima, mudando para um pássaro para ajudá-lo a ganhar altitude, e pousando em meus braços como um gato mais uma vez. — Sim. — Eu o abraço junto ao meu peito. — Eu queria que ele ficasse no — hum, onde estava seguro. Mas ele deve ter vindo comigo em uma forma pequena demais para eu notar.
Dash sorri e se aproxima para poder acariciar Bandit atrás das orelhas. — Jack ficará aliviado. Ele está muito preocupado com Bandit.
— Então você não acha que alguém está ouvindo? — Eu pergunto.
— Eu acho que não, mas mesmo que alguém esteja ouvindo, e daí? Não é como se eu estivesse agindo de forma inadequada em relação à futura princesa. Você e eu estamos apenas conversando. Se você preferir, podemos conversar na sua sala de estar, em vez de no seu quarto.
Eu reviro meus olhos. — Como se isso fizesse alguma diferença. Você ainda teria que explicar como passou pelos guardas do lado de fora da minha porta. E subir pela janela faz você parecer muito suspeito.
Ele solta um suspiro e senta-se na beira da cama novamente. — Eu só pensei que você poderia querer saber sobre... você sabe. O funeral.
O funeral.
Chelsea e Georgia.
Mortas.
— Você estava lá? — Eu pergunto.
Dash acena com a cabeça. — Sim. Você pode ou não lembrar que algumas das pessoas em Stanmeade eram realmente minhas amigas. Não amigos verdadeiros, é claro, já que eu nunca poderia ser totalmente honesta com ninguém, mas ... sim. Tenho amigos lá e senti que deveria estar no funeral. Só para apoiar alguém que fosse amigo da Georgia.
Eu aceno e murmuro, — Claro. Sim. Ainda não consigo acreditar que ela e Chelsea se foram. Elas sempre estavam lá, sabe? Minha horrível prima e tia de quem eu não podia esperar para fugir. Então eu finalmente consegui fugir, e agora ... — Eu balanço minha cabeça. Agora, porque Ada estava atrás de mim, ambos estão mortas. Dash pode tentar me convencer de que eu não deveria me culpar, mas sei que sou responsável. Indiretamente, talvez, mas ainda responsável.
Eu deixo Bandit pular para fora dos meus braços antes de caminhar até a cadeira no canto do meu quarto. É o tipo de cadeira elegante que ninguém quer realmente sentar - uma armação de madeira excessivamente embelezada com almofadas duras demais para serem confortáveis. No entanto, eu sento na borda e pigarreio. — Era, hum, havia muitas pessoas lá? No funeral?
— Sim. Quase todo mundo na cidade estava lá. Eu acho que Chelsea conhecia muita gente, já que ela administrava um dos únicos salões em Stanmeade.
Eu franzo a testa. — Ela era uma grande fã em espalhar fofocas e rumores e eu teria pensado que haveria muitas pessoas que não gostavam dela.
— Bem, você não precisa gostar de alguém para ir ao funeral.
Eu olho para ele. — As pessoas falaram coisas horríveis?
— Não. Apenas coisas boas foram ditas sobre ela. Sobre as duas. Foi tudo muito ... — Ele esfrega a mão no rosto. — Muito estranho. Muito trágico, por um lado, e ainda assim muito falso ouvir todas aquelas homenagens adoráveis sobre duas pessoas que eu testemunhei pessoalmente serem rancorosas em várias ocasiões. E parecia errado da minha parte pensar nessas coisas, mas como eu não poderia? Eu não poderia de repente transformar Chelsea e Georgia em outra coisa em minha memória só porque elas estão mortas.
— Eu ... apenas ... — Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei o que dizer ou pensar ou sentir. O que todos acham que foi a causa da morte?
— Um vazamento de gás.
— Eu suponho que a Guilda seja responsável por essa história?
— Sim. Foi à história mais fácil de inventar.
— Você acha... você sabe se ... — Eu hesito, imaginando se eu quero saber a resposta. — Elas sofreram? A magia em seus corpos as fez sofrer quando estavam morrendo?
— Eu não sei, Em. Eu sinceramente não sei. Espero que não.
Eu inclino meus cotovelos sobre meus joelhos. — Antes de você me contar o que aconteceu com elas, eu estava começando a pensar que todo esse tempo Chelsea também era uma espécie de faerie como eu e mamãe, e que os remédios herbáceos que ela fazia eram mágicos. Mas se elas continham magia, elas não teriam ajudado ninguém em Stanmeade. As pessoas teriam acabado doentes e possivelmente mortas, certo?
— Sim.
— Então Chelsea definitivamente era humana.
— Sim.
— O que significa que ela e minha mãe não podem ter sido irmãs.
Dash balança a cabeça.
— Eu me pergunto se Chelsea sabia. Eu me pergunto se minha mãe sabe, ou se ela acha que Chelsea era como ela. Alguém com magia que não pode ser acessada. — Eu esfrego meus dedos em movimentos circulares contra as minhas têmporas enquanto olho para o chão. — Eu ainda tenho muitas perguntas. Tantas lacunas na história da minha família que preciso que mamãe preencha para mim.
— Bem, espero que seu plano genial funcione e você tenha todas as respostas que procura.
Eu direciono uma careta para ele. — Isso não é apenas sobre respostas. Você sabe disso. Mesmo que mamãe não soubesse nada, eu ainda gostaria de acordá-la e curar sua mente.
— Sim, — ele diz baixinho. — Eu sei.
Eu o observo de perto por um tempo. — Por que você está aqui? Quer dizer, eu... — Eu afasto meu constrangimento conforme minhas bochechas esquentam. — Eu nunca fui legal com você. Certamente você não se importa o suficiente comigo para assumir o tipo de risco necessário para vir aqui.
Ele solta uma risada curta sem humor. — Não é uma questão de quanto eu posso ou não me importar com você. Isso não é apenas sobre você, Em. É sobre o que o Rei Unseelie vai fazer você fazer. Quantas vidas podem ser arruinadas porque você está sendo forçada a usar sua Habilidade Griffin contra sua vontade?
— Eu... eu não...
— E eu pensei que você fosse uma prisioneira aqui. Eu pensei que estava salvando você e todas as pessoas que você pode ser forçada a machucar no futuro. Eu nunca imaginei que você escolheu vir aqui. Que você se recusaria a ir embora assim que eu te encontrasse.
Eu olho para longe dele. — Eu sinto muito. Como eu disse ontem à noite, você não deveria me encontrar. Você deveria ficar longe e nunca se machucar novamente por minha causa.
— Isso nunca vai acontecer, Em. Eu não sou o tipo de pessoa para que fica sentado enquanto o Rei Unseelie põe as mãos na recente arma mais poderosa no reino das faeries. E eu não achei que você fosse o tipo de pessoa que simplesmente entregasse esse poder também.
Eu engulo a minha vergonha. — Bem, eu acho que sou, — eu digo em voz baixa, olhando para o chão. — Como quase todos os outros no mundo, estou apenas cuidando de mim mesma e das pessoas que amo. Eu não sou corajosa ou altruísta. Estou apenas fazendo o que tenho que fazer para sobreviver.
Do canto do meu olho, vejo Dash balançar a cabeça. — Você pode dizer a si mesma a mentira que quiser, mas eu sei que você é mais do que isso. Eu sei o que você fez em Stanmeade. Você parou o vidro de Ada de consumir a cidade inteira. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter mantido a localização da sua mãe em segredo e deixar aquele lugar se destruir. Mas você não fez.
— E que bem meu altruísmo fez então? — Eu exijo. — Eu dei a ela o que ela queria, mas ela parou seu ataque à cidade? Não. Eu tive que descobrir isso sozinha, e foi um acaso que a minha Habilidade Griffin apareceu no momento certo. Então, que diferença fará agora se eu me recusar a dar meu poder ao rei? Nada. Ele cometerá os mesmos atos malignos que ele planeja cometer. Pode demorar um pouco mais. — Me sinto doente com minhas próprias palavras. Eu não quero ajudar o rei a fazer nada. Mas realmente, o mundo é um lugar ruim e é assim que funciona. É assim que os dois mundos funcionam. A vida é uma merda e então você morre — assim como a velha música que Chelsea costumava ouvir às vezes. — Apenas algumas pessoas chegam a ser heróis, Dash, — digo em voz baixa. — E você pode ser uma dessas pessoas, mas eu não sou. Estou apenas tentando jogar a melhor mão das cartas que recebi.
Ele fica quieto por um momento, e tudo que consigo ver em seus olhos é tristeza. — Em algum momento, você vai perceber que isso — ele gesticula em torno dele — certamente não é sua melhor mão. Só espero que você descubra isso mais cedo do que tarde.
— E espero que você saia daqui mais cedo do que tarde. Não há necessidade de você se machucar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você sabe o que sou, certo? Machucar faz parte do trabalho.
E morrer? Eu quase pergunto. Mas eu não quero pensar nisso. Eu não quero falar sobre a morte quando ele já chegou tão perto disso. Não quando as mortes de Chelsea e Georgia ainda estão tão próximas.
— Além disso, — acrescenta ele. — Eu não acho que será tão fácil deixar este palácio como foi entrar.
Bandit pula de volta no meu colo. Eu acaricio seus pêlos negros e lustrosos e, em um esforço para desviar a conversa de assuntos tão pesados, pergunto, — Era verdade? A história que você contou a Roarke ontem à noite. Sobre entrar no palácio no lugar do empregado.
— Sim. Bem, principalmente. Não era eu que deveria vir para cá.
— Oh. — Eu olho para cima. — Quem deveria ser?
Dash me dá um olhar aguçado. — Eu prefiro não dizer o nome dela, apenas no caso. Mas eu tenho certeza que você pode descobrir, dado seu talento particular para... se ocultar.
Ah. Calla Eu concordo. — Eu acho que sei de quem você está falando.
— Teria sido muito mais fácil para ela se misturar. Mas o empregado chegou mais cedo do que o esperado para pegar o vestido no estúdio da minha mãe, então —
— Espere, sua mãe?
— Sim. Foi ela quem desenhou o seu vestido.
Minha mão continua nas costas de Bandit. — Sua mãe é Raven Rosewood?
— Sim. Eu te disse que ela é uma designer de moda, não foi?
— Sim, mas... eu nunca pensei... espera, seu sobrenome é Rosewood? — Isso não parece certo, mas agora não me lembro se eu soube o sobrenome de Dash.
— Não, é Blackhallow.
— Oh. Dash Blackhallow, — eu digo devagar, experimentando o nome.
— Dashiell Blackhallow, se formos técnicos. — Ele revira os olhos. — Muitos ls, eu sei. De qualquer forma, minha mãe ainda era Rosewood quando começou a desenhar. Esse é o nome que as pessoas a conhecem, então ela manteve.
— Então, dentre todos os designers deste mundo, a rainha acabou escolhendo sua mãe. Isso não pode ter sido uma coincidência.
Dash sorri. — Claro que não foi. Minha mãe ouviu que a Rainha Unseelie estava procurando um vestido especial. Não para ela, e nem para a filha. Os rumores sugeriam que uma nova jovem chegara ao Palácio Unseelie, e a rainha e a princesa tinham um interesse especial por ela. Normalmente minha mãe ficava longe de qualquer coisa a ver com os Unseelies, mas ela sabia que você desapareceu. Ela me contou sobre os rumores e essa ‘competição’ não oficial para desenhar o melhor vestido. Eu tinha quase certeza de que aquela garota era você, então eu disse à mamãe que um de seus vestidos tinha que ser escolhido, não importava o que acontecesse. Então nós encantamos seus desenhos. Um feitiço simples que fazia com que qualquer um que olhasse as páginas desejasse continuar voltando para elas. E funcionou. Ela foi escolhida.
Minha boca está aberta quando ele termina de falar. — Foi tão simples assim?
— Sim. E então o cara que veio pegar o vestido chegou muito cedo. Eu estava me escondendo, vendo minha mãe entregar o vestido sozinha, como ela havia sido instruída. Eu esperava que ela o mantivesse falando ou algo assim até que Ca — hum — até que nossa amiga chegasse, mas o empregado disse que ele estava com uma agenda apertada. Parecia bastante agitado por estar lá. Ele ficava olhando em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse naquele estabelecimento. Quando ele disse que sua carruagem estava encantada para dar meia-volta e sair em menos de cinco minutos, fiz a única coisa em que conseguia pensar: o fiz desmaiar e tomei o lugar dele.
— Então você pulou dentro de sua carruagem e tudo deu certo?
— Bem, eu vesti as roupas dele primeiro. E mamãe me encontrou uma peruca colorida apropriada de seus muitos recursos. E eu peguei a stylus dele e o âmbar, o que foi uma coisa boa, já que a porta da carruagem não abria até que eu segurasse a stylus contra ela, e eu estava quase sem tempo até lá. Ah, e havia dois guardas dentro da carruagem, mas eles estavam desinteressados o suficiente para que eles não notassem que meu rosto não era o mesmo do cara com quem eles estavam viajando.
— Mesmo? De jeito nenhum. Nenhum guarda é desatento aos detalhes. Eles devem ter percebido a diferença.
Dash hesita, um sorriso culpado esticando seus lábios. — Tudo bem, então eu posso ter discretamente borrifado alguma poção de contentamento quando entrei na carruagem.
— Poção?
— Minha mãe adiciona nos vestidos às vezes, a pedido de seus clientes. É estranho. Algumas dessas pessoas para quem ela desenha são super estressadas e tensas, e quando vão a esses eventos extravagantes, elas só querem relaxar um pouco. Fique contente e em paz, sabe? Eu estava com pressa, e o pequeno frasco de spray estava bem ali, então eu o peguei durante o caminho.
— E os guardas ficaram tão contentes que não perceberam que você não era o cara certo?
— Sim. Eu, talvez, tenha pulverizado um pouco demais. Felizmente, eu coloquei um escudo em volta de mim, caso contrário, eu provavelmente estaria tão contente que ainda estaria sentado naquela carruagem.
Eu pisco, incerta do que mais dizer sobre esse plano meio improvisado que realmente funcionou.
— Olha, não foi a minha operação secreta mais elegante, — admite Dash, — mas tudo correu bem. A carruagem me levou direto para o pátio do palácio e fui em direção de umas das portas. Levou um pouco de trabalho para descobrir para onde ir, mas não era nada que eu não pudesse lidar. Fingi estar um pouco tonto e confuso, elogiei uma das garotas que encontrei na cozinha e ela me mostrou para onde ir. Deixei o vestido com uma nota dizendo que o recolhimento correu bem e depois me escondi até o baile começar.
— Uau. Estou espantada por não ter dado tudo errado.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou bom em improvisar.
Minha mente recua para o início da sua história. — Então, eles — as pessoas com quem eu estava ficando — Eu não quero dizer as palavras ‘Rebeldes Griffin’ em voz alta — sabem que você está aqui?
— Sim.
Eu abaixo minha voz e me inclino para frente. — Você acha que eles virão aqui?
Dash hesita e diz em voz normal, — Não. Eles não sabem onde esse lugar fica. É por isso que um de nós precisava vir com o empregado. As Cortes Unseelie e Seelie estão escondidas, então muitas pessoas não sabem onde estão. — A maneira como ele está olhando para mim, seus olhos fixos nos meus, sugere fortemente que ele está mentindo. Também sugere que ele não está totalmente convencido de que alguém não está nos ouvindo.
— Merda, — eu sussurro para mim mesma. Os rebeldes Griffin provavelmente sabem como chegar a Corte Unseelie, e uma vez que eles perceberem que Dash não está voltando comigo, eles provavelmente virão direto para cá e farão tudo que puderem para levar nós dois. E, embora eu tenha certeza de que todos são incríveis lutadores mágicos, as chances são altas de que eles acabem feridos, mortos ou presos.
— Em? — Dash pergunta depois de vários momentos de silêncio da minha parte.
— É bom que eles não consigam encontrar este lugar, — eu digo em voz alta. Alta demais, provavelmente. Eu faço um esforço para parecer normal. — Eu sei que eles só estariam tentando ajudar, mas como eu disse a você ontem à noite, eu não estou precisando de ajuda.
Dash arqueia uma sobrancelha. — Se você não queria ajuda de ninguém, provavelmente deveria ter mencionado isso antes de fugir. Teríamos parado de trabalhar duro para descobrir o mistério que é a sua vida.
Um fragmento de culpa apunhala meu peito e gira. — Desculpe. Mas eu...
— Você pediu a nossa ajuda, lembra? Ou pelo menos ... — Linhas vincam sua testa enquanto ele a franze. — Nós oferecemos, e você disse sim. Algo parecido. Então você não pode nos culpar exatamente por investigar sua história familiar.
— Eu sei, eu só ia dizer que eu assumi que vocês iriam esquecer de mim quando eu fosse embora. Você tem muitas outras pessoas para ajudar, não é? E — espere, o que você disse sobre a história da minha família?
Ele suspira. — Nós tentamos descobrir sobre o seu pai. Como sua mãe não está acordada para esclarecer sua estranha situação, imaginamos que seu pai possa ajudar — se conseguirmos encontrá-lo. A única coisa que você mencionou sobre ele foi que ele pagou as contas médicas do hospital de sua mãe, então Chase foi lá para dar uma olhada nos registros. Ele é o único que sabe usar um computador, — acrescenta Dash com um revirar de olhos. — Ele cresceu em seu mundo, no caso de você não saber. De qualquer forma, ele disse que o arquivo de sua mãe tinha algum tipo de glamour nele. Ele podia ver os detalhes de Chelsea e todos os detalhes de sua mãe, mas qualquer coisa relacionada à pessoa que primeiro a checou e pagava todo mês estava... em branco. Os humanos que trabalham lá provavelmente veriam algo quando olhassem, mas Chase não conseguia ver nada.
— Então... ninguém estava realmente pagando por ela?
— Eu não sei. O ponto é que era um beco sem saída. Não conseguimos descobrir nada sobre o seu pai.
Meus ombros se curvam um pouco. — Está bem. É por isso que estou aqui, lembra? Esta união vai fazer a mente da minha mãe ser curada, e todas as respostas escondidas dentro dela serão finalmente desbloqueadas.
Passos atravessam a minha sala de estar. Eu agarro Bandit no meu peito e fico de pé abruptamente, bem quando Clarina para na porta. — Lady Emerson — Oh! — Ela olha fixamente para o chão. — Eu imploro seu perdão, minha senhora.
— Isso não é o que parece, — eu digo imediatamente. Eu não tenho certeza do que parece, mas não pode ser bom.
— Eu sinto muito, minha senhora. Eu bati na outra porta, mas —
— Eu não ouvi você, me desculpe.
— Eu não vou dizer nada, Lady Emerson.
— Não há nada a dizer, — asseguro com uma risada alta e ofegante. — Nós estávamos apenas conversando.
— Claro, — diz ela, balançando-se em uma breve reverência e mantendo os olhos no chão. — Por favor, me desculpe por interromper, mas o Príncipe Roarke gostaria de falar com você.
Meus dedos ficam tensos ao redor da forma de gato de Bandit. — Tudo bem. Obrigada. Onde devo encontrá-lo?
— Ele está esperando do lado de fora de seus aposentos por você, minha senhora.
— Oh. — Eu olho para Dash.
Ele sorri. — Bem, acho que vou sair do jeito que cheguei, então. Ainda bem que gosto de escalar.
Capítulo 14
EU ABRO A MINHA PORTA E ENCONTRO ROARKE DO LADO DE FORA. — Hum, bom dia. Boa tarde, quero dizer. Clarina disse que você queria conversar?
— Olá, meu amor. — Ele se inclina para frente e beija minha bochecha. Eu congelo e digo a mim mesma para não me afastar. — Você se recuperou das festividades da noite passada, eu vejo? — Ele adiciona.
Eu recuo para deixá-lo entrar. — Não há necessidade de se preocupar com o absurdo do ‘meu amor’. Ninguém mais está por perto para ouvir você, exceto Clarina.
— Oh, mas você é meu amor. — Roarke me dá um sorriso malicioso enquanto ele passa por mim para a sala. — Ou, pelo menos, eu espero que você seja um dia. — Ele acena brevemente para Clarina enquanto ela faz uma reverência e sai da sala. Ele se vira lentamente no local, olhando em volta, e quase espero que ele entre no quarto e comece a procurar por Dash. Mas então ele sorri serenamente e se senta à mesa ao lado da minha bandeja com o almoço.
E naquele momento, Bandit, que eu consegui manter escondido até agora, sai pulando do meu quarto na forma de um filhote de urso. Ele se transforma em lobo, pula no divã e voa para meus braços, pousando na forma de uma preguiça de cabelo azul. Eu permaneço imóvel, mas meu olhar pousa direto em Roarke. Pela primeira vez, ele parece totalmente sem palavras. Eu mordo meu lábio, esperando por sua resposta.
— Isso — é ... seu?
— Sim. É o Bandit. Ele veio quando você me trouxe para cá, embora ele deva ter estado em uma forma muito pequena para qualquer um de nós notar.
— Então ele esteve aqui com você — em seus aposentos — o tempo todo?
— Siiiim. — Minha voz é incerta, quase questionando. — Bem, eu não sabia que ele estava aqui nos primeiros dois ou três dias. Eu acho que ele pode ter ficado com medo do ambiente desconhecido, então ele permaneceu escondido por um tempo.
— Entendo. Que interessante.
Bandit se aconchega mais perto do meu peito e tenta enterrar a cabeça debaixo do meu braço. — Eu espero que você não desaprove, — eu digo com cuidado. — Eu gosto de tê-lo por perto. Ele... ele significa muito para mim. — O instinto me diz que eu não deveria revelar para o homem que eu ainda não confio que me importo com qualquer coisa. Ele pode optar por usar essa informação contra mim. Mas se Roarke se importa com a minha felicidade do jeito que ele alega, então ele não deve se importar com a presença de Bandit aqui.
— Bem, eu duvido que minha mãe aprovaria animais nos quartos, — Roarke diz, seu profundo olhar castanho-avermelhado fixo em Bandit, — mas ela não precisa saber. E se ela descobrir e tiver um problema com isso, lembrarei a ela como os Formattras são excepcionalmente raros e valiosos, e que se encaixaria uma princesa ter um como animal de estimação.
Eu concordo. — Legal. Obrigada. — Espero que Aurora sinta a mesma coisa e não surte quando conhecer Bandit.
— Qualquer coisa para fazê-la feliz, minha querida, — diz Roarke. — Agora, por que você não senta aqui para que possamos conversar? — Ele aponta para a cadeira ao lado dele na mesa.
— Hum, antes de conversarmos, posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele sorri para mim. — Minha futura esposa pode me perguntar qualquer coisa.
Eu atravesso a sala até a mesa e me sento. Eu levanto minha mão e toco o pequeno dispositivo circular atrás da minha orelha. — Eu sei que você colocou uma dessas coisas em Dash, mas e se ele conseguir tirar? E se a Guilda ou seus amigos descobrirem onde ele está e vierem atrás dele? Eu só não quero que ninguém mais interfira, lembra? — Para ser mais específica, não quero que ninguém acabe em algum calabouço Unseelie ou, pior ainda, enfrente o mesmo destino daquele homem que foi arrastado por uma caverna até o escritório do rei.
Roarke me examina de perto antes de responder. — Você realmente não tem nada a ver com o seu amigo aparecendo aqui, não é?
— O quê? Não, eu já te disse isso. Você achou que eu estava mentindo?
— Bem, eu seria um idiota em acreditar que você confia em mim. Talvez você tenha arranjado uma saída antes mesmo de chegar aqui.
— Eu não tenho. Eu disse a você que não queria que ninguém —
— Sim, eu sei. — Ele se inclina para trás. — Ainda assim, eu me perguntei se você poderia ser uma atriz muito convincente.
— Mas você não está mais se perguntando isso?
— Você ainda parece genuinamente preocupada com a possibilidade de os outros descobrirem que você está aqui. Então deixe-me tranquilizá-la, Emerson. Mesmo que alguém consiga localizar o paradeiro de Dash e, mesmo que cheguem ao local exato em que esperam encontrá-lo, não verão nenhum palácio. Somente se essa pessoa estiver na companhia de um de nossos guardas, será capaz de ver e entrar nos terrenos do palácio.
— Oh. Isso é... conveniente. — Parecido com... Não, sumiu. Eu quase consegui, uma imagem do lugar seguro pertencente aos rebeldes Griffin, mas é como tentar segurar fumaça. — Bem, me sinto melhor agora. Estou feliz que ninguém será capaz de interferir.
— Bom. — Roarke agita os dedos de uma mão pelo ar, e um pedaço de papel enrolado aparece em sua mão. — Agora, temos alguns preparativos para a cerimônia de união.
— Temos? — Eu nunca esperei ser consultada sobre os detalhes relacionados ao casamento. Eu assumi que a rainha e Aurora cuidariam de tudo isso. Como já foi dito muitas vezes, não faço ideia do que é apropriado e do que não é para eventos formais do mundo faerie.
— Você precisa memorizar os votos da união, — diz Roarke, colocando o papel sobre a mesa. — Tudo o que você precisa saber está neste pergaminho.
Eu quase comento como o uso de um pergaminho é antiquado — quero dizer, vamos lá. Certamente dobrar um pedaço de papel é mais simples e ocupa menos espaço — mas estou mais preocupada com o fato de ter que memorizar os votos. — Então, hum, eu não vou precisar repetir as palavras depois de alguém?
— Em parte dos votos, sim, mas as palavras estão em outro idioma, então você precisa praticar pronunciando-as corretamente. Há magia envolvida, então você não quer errar as palavras.
— Hum —
— E a outra parte da cerimônia são os votos privados que fazemos um ao outro sem que ninguém mais ouça. Você terá que memorizá-los.
— Oh. Por que eles são privados?
Sua expressão fica confusa. — Porque eles são apenas para os nossos ouvidos. — Por baixo da mesa, a mão dele desliza no meu joelho. — Coisas especiais e românticas que queremos dizer um ao outro.
— Oh. — Eu inclino um pouco para o lado, movendo minha perna para fora de seu alcance. — Mas... então por que precisamos dizê-las? Você e eu sabemos que não estamos entrando nessa união por nenhuma das razões tradicionais. Nós não precisamos entrar em detalhes românticos.
Se Roarke está incomodado pelo fato de eu não querer que ele toque minha perna, ele não demonstra. — Como eu disse há pouco, nossos votos envolvem magia. Nós não podemos simplesmente pular essa parte.
Eu franzo ainda mais o cenho. — Mas... tudo bem. Eu só... não entendo muito bem. Se essas palavras extras são uma parte padrão da união mágica, então por que elas são privadas? Eu realmente preciso memorizá-las?
Roarke simplesmente ri. — Emerson, é assim que a cerimônia é feita. Tem sido assim por muito tempo. Nós não podemos simplesmente mudá-la porque você não sente vontade de memorizar as palavras.
— Não é que eu não me sinta assim. — Eu enfio meu cabelo atrás das minhas orelhas. — Estou preocupada que eu possa esquecer alguma coisa ou cometer um erro. Se é tão importante acertar tudo, então, o que há de errado em repetir depois de outra pessoa ou ler as palavras de uma folha?
Roarke suspira. — Você não lerá as palavras de uma folha, Emerson. Não é assim que é feito.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu alcanço o pergaminho e puxo para mais perto. — Então, você vai me explicar o que todas essas palavras significam, ou devo recitar um absurdo que eu não entendo?
O canto da boca do Roarke se ergue. — É uma coisa boa que eu esteja te ensinando essas palavras. Qualquer outra pessoa ficaria muito ofendida.
Eu me inclino para trás e desenrolo o papel, revelando muito mais palavras estranhas do que me sinto confortável. — Aurora não ficaria ofendida.
— É verdade, mas Aurora só vai aprender as palavras particulares quando for à vez dela. Não é apropriado que ela as conheça ainda.
— Ah, mais impropriedade. — Eu solto um longo suspiro. — Eu perguntaria por que é inapropriado, já que essa é uma parte padrão de todas as cerimônias, mas você provavelmente vai me dizer ‘é assim que é feito’.
— Sim. Isso é exatamente o que eu vou te dizer. — Seus olhos enrugam nos cantos enquanto ele sorri. — Estou muito feliz em ver que você está aprendendo.
Eu me inclino para trás em minha cadeira e começo a ler os votos em voz alta, fazendo o melhor que posso com as combinações não familiares de letras. Depois de três palavras, estou ciente de que provavelmente estou massacrando o idioma faerie. Roarke espera até eu chegar ao final da primeira linha antes de me tirar da minha miséria. — Tudo bem. Eu vejo que isso vai demorar mais do que eu pensava. — Outro giro de seu pulso produz uma pena. Ele entrega para mim. — Vou pronunciar cada palavra e você pode escrever de qualquer maneira que faça sentido para você.
Nós chegamos na metade da parte pública dos votos antes de uma batida rápida nos interromper e minha porta ser aberta. — Irmã, querida! — Aurora grita para mim. — Oh, você está acordada. — Ela fica na porta e sorri. — Olha quem eu encontrei vagando pelos corredores. — Ela se aproxima e puxa Dash para aparecer.
— Eu disse que o convidei para ficar, não é? — Roarke diz para ela.
— Sim, mas eu não o vejo desde o dia em que o atordoamos no quarto de Em no reino humano. Eu não dei uma boa olhada nele naquele momento. Ele é mais bonito do que eu me lembro, — acrescenta ela com um sorriso provocante, deslizando o braço através do de Dash e puxando-o para mais perto.
— Obrigado. — Ele lhe dá um sorriso igualmente paquerador. Eu cruzo meus braços e dirijo uma carranca em sua direção, mas tudo o que ele faz quando vê minha expressão é encolher de ombros.
— Você lembra o que ele é? Roarke diz para Aurora com desaprovação em seu tom.
— Claro que eu lembro. E eu lembro, — ela acrescenta em um sussurro falso, — que é segredo.
— Nós estávamos realmente ocupados com algo antes de você tão rudemente invadir aqui, — comenta Roarke.
— Ooh, sim, memorizando os votos. Que romântico. Posso dar uma olhada?
Roarke pega a página de mim e prontamente a enrola antes que Aurora possa chegar mais perto. — Não, você não pode. Eu não quero estragar nada para você antes de chegar a sua vez.
— Como você é atencioso.
Roarke bate minha mão com o pergaminho. — Podemos tentar de novo mais tarde, minha querida prometida — quando tivermos um pouco mais de privacidade. — Ele gira o pergaminho em sua mão e ele desaparece.
— A razão por eu ter entrado aqui, — Aurora diz, — foi sugerir que todos nós descêssemos juntos para o chá. E eu queria verificar se Em ainda estava dormindo.
— Oh, já está hora? — Eu pergunto. — Eu pensei que o chá fosse mais tarde.
— Chá? — Dash pergunta.
— Sim, no caramanchão da rainha no jardim. Mamãe oferece para aqueles que ficaram aqui depois da festa.
Afasto-me da mesa e me levanto. — Esperem, eu preciso colocar os sapatos. — Aurora me acompanha até o quarto para me ajudar a selecionar sapatos apropriados. Eu coloco os chinelos prateados rapidamente, não querendo dar a Roarke e Dash nenhum segundo para acabarem brigando.
Uma vez que nós quatro estamos no corredor — com vários guardas caminhando na frente e atrás de nós — Roarke pergunta a Aurora se ele pode falar em particular com ela. Os dois seguem em frente enquanto eu ando ao lado de Dash. — Eu me pergunto como Jewel se sentiria, — eu digo a ele, — se ela soubesse o tipo de atenção que você estava recebendo da encantadora princesa Aurora.
Dash suspira. — Espero que ela entenda, considerando o fato de que tivemos uma conversa recentemente e eu disse a ela que não me sinto da mesma maneira que ela se sente.
— Oh. Hum ... bom trabalho.
— Sim. Não foi do jeito que eu esperava.
— Desculpe. Isso deve ter sido estranho. Ela ficou muito chateada?
— Na verdade, ela me convenceu a ir a um encontro com ela.
Eu quase tropeço quando olho para ele surpresa. — Sério? Você disse que não tinha sentimentos românticos por ela, e essa conversa terminou com vocês dois indo a um encontro?
Ele me dá um olhar divertido. — Há algo de errado com isso? Algo sobre a ideia de eu ir a um encontro com Jewel que a perturba, talvez?
— Não se iluda. Estou surpresa, isso é tudo. Você não parece o tipo de pessoa que deixa uma conversa tomar outro rumo.
— Eu não deixei. Eu simplesmente decidi dar a ela uma chance.
— Uma chance?
— Ela me pediu para lhe dar um encontro. Eu disse a ela que não entendia, que não queria levá-la e que tinha certeza dos meus sentimentos. Ela perguntou como eu poderia ter certeza se eu nunca dei uma chance a esses sentimentos. Então... — Ele suspira. — Eu pensei que se — e se — ela estivesse certa. Então eu concordei.
— E?
Ele olha de lado para mim quando chegamos ao fim de uma escada. — Você parece muito interessada no resultado.
— Só porque estou tentando descobrir se você realmente é o jogador que sempre achei que fosse. Se você está namorando Jewel enquanto também entretém os sentimentos de Aurora... bem, isso não é legal.
— Entretém os sentimentos de Aurora? — Ele repete. — Cara, você aprendeu alguma linguagem extravagante desde que morou com os Unseelies.
— Ah, cale a boca e me diga o que aconteceu no encontro.
— Eu não acho que posso calar a boca e dizer algo ao mesmo tempo.
Eu cruzo meus braços no meu peito. — Dash.
— Bem. Foi estranho. Realmente estranho. Passei a noite toda com medo de que ela tentasse me beijar no final e pensar que seria exatamente como beijar uma —
— irmã?
— Sim. E isso é errado. Então, antes que isso acontecesse, eu disse gentilmente a ela que isso nunca iria funcionar.
— Tudo bem. — Chegamos à outra grande escadaria que leva a outro grande corredor. — Bem, eu estou feliz que você não a enrolou durante todo esse tempo.
— Claro que não. Eu sou realmente um cara decente, lembra? — Ele abaixa a voz. — Ao contrário do príncipe com quem você escolheu tolamente se casar.
— Eu não o escolhi. Não é assim, de qualquer maneira. Eu escolhi este acordo e ele faz parte disso. E você não o conhece. Eu acho que ele pode ser mais decente do que você pensa.
Dash bufa. — Certo. Tanto faz o que você diz.
Eu fecho meus olhos por um momento e suspiro. — Podemos, por favor, não discutir mais sobre isso?
— Certo. Diga-me então: como você tem preenchido seu tempo nas últimas duas semanas e meia? Tem sido tudo festas e chás com a rainha e esperar sua criada pessoal?
— Sim, tem sido uma perfeição absoluta, — digo secamente. — Eu esperei a minha vida inteira para que alguém escolha minhas roupas, prepare meu banho, faça minha cama e prepare minha comida.
Dash aperta os olhos para mim. — Sério?
— Não! Eu não aguento isso. Eu sou perfeitamente capaz de fazer todas essas coisas sozinha.
— Olha, você teve uma vida ruim com a Chelsea, — Dash diz, levantando as mãos em defesa, — então me perdoe por pensar que você realmente gostaria de ter alguém fazendo todo o trabalho duro.
— Eu não quero. É estranho. E eu não passei todo o meu tempo em festas e chás, na verdade. Aurora tem me ensinado muita magia básica, junto com alguns de seus hobbies, como arco e flecha e montar em dragão.
Quando chegamos a uma porta larga que leva ao exterior ensolarado, Dash para. Ele olha mais de perto para mim. — Montar em dragão?
— Vocês dois podem esperar aqui? — Aurora pergunta. — Roarke precisa me mostrar algo rapidamente.
— Sim, tudo bem, — Eu respondo.
Eles desaparecem em um corredor e Dash se vira para mim novamente. — Você disse montar em um dragão?
— Eu disse.
— Sério? Então você é uma cavaleira de dragões agora, assim como uma futura princesa Unseelie?
— Ainda não, mas gostaria de ser. Há algo de errado com isso?
— Não, é só... — Ele balança a cabeça. — Eu sinto que eu realmente não te conheço mais. Você não está aqui há muito tempo e já mudou.
Suas palavras machucam mais do que eu poderia imaginar ser possível. — Mudou? O que você quer dizer?
— Bem, você... você aprendeu muito em pouco tempo. E você parece —
— Eu pareço?
— Como se pertencesse aqui.
Eu descarto suas palavras com um aceno casual, esperando que ele não tenha notado o quão profundamente elas me cortaram. — É apenas roupa.
— É? A maneira como você se portava na noite passada, na plataforma e enquanto dançava... você parecia a princesa que as pessoas esperam que você se torne.
Eu puxo meus ombros para trás um pouco, ignorando a dor no meu peito. — Bom. Pelo menos eu sei que estou fazendo bem a minha parte.
A expressão de Dash suaviza um pouquinho. — Contanto que seja apenas do lado de fora...
— É claro que é apenas do —
— Tudo bem, vocês estão prontos? — Aurora grita quando ela e Roarke reaparecem. — Vamos aparecer a este chá antes de chatearmos a mamãe com nosso atraso. E você — ela acrescenta, olhando para Dash — eu vou apresentar como um amigo meu. Por favor, não contradiga qualquer história que eu decidir contar.
— Oh, hum... — Dash para quando Aurora tenta nos levar para frente. — Eu estava pensando, — diz ele, — que talvez seja melhor se eu não participar dessa coisa de chá. Se minhas mangas subirem demais, e se a maquiagem sair dos meus pulsos, sua mãe pode ver minhas marcas. Ela vai saber o que eu sou.
— Isso é possível, — Aurora admite, — mas se você não vier ao chá, você quase certamente acabará perambulando pelo palácio por conta própria e corre o risco de inventar todos os tipos de travessuras.
Ele dá um sorriso malicioso. — E se eu prometer ficar no meu quarto como um bom menino? Se alguém perguntar sobre mim — o que duvido que alguém faça, já que ninguém me conhece — você pode dizer que não estou me sentindo bem.
— Se nós pudéssemos confiar em você sobre manter sua palavra, — Roarke diz, — e não sair do seu quarto para tentar desenterrar informações que possam ser úteis para a sua Guilda, então certamente. Estaria tudo bem. — O olhar de Roarke se move brevemente para o meu antes de se fixar em Dash. — Mas não confiamos em você. Mesmo que eu tenha postado guardas à sua porta, você pode sair pela sua janela.
Meus braços ficam tensos ao meu lado. Ele não pode estar insinuando que ele sabe que Dash entrou no meu quarto mais cedo, pode? Improvável. Ele teria ficado zangado quando ele entrou no meu quarto se ele tivesse acabado de descobrir que Clarina encontrou Dash no meu quarto.
— Sair pela janela, — diz Dash, uma expressão pensativa no rosto. — Agora tenho uma ideia. Eu posso ter que tentar depois que todos forem dormir. Eu não tinha pensado em tentar desenterrar qualquer informação útil — Em foi à única razão pela qual eu vim até aqui — mas agora que você mencionou isso, estou definitivamente desperdiçando uma valiosa oportunidade em não fazer mais para descobrir que tipos de leis você Unseelies estão quebrando descaradamente.
O sorriso plácido de Roarke nunca deixa seu rosto. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta das minhas costas. — Como você disse, Emerson é a única razão pela qual você veio aqui. Se você é de fato um verdadeiro amigo para ela, você se concentrará em confortá-la durante este período difícil, em vez de pensar em maneiras de derrubar sua futura família. — Seu polegar esfrega para cima e para baixo contra o meu braço, um gesto que provavelmente deveria ser carinhoso e terno, mas que de alguma forma parece ameaçador.
Dash olha a mão de Roarke no meu braço por um momento antes de levantar o olhar. Então seus olhos se estreitam enquanto ele se concentra em algo atrás de mim. Eu olho por cima do meu ombro. Uma mulher vestida de marrom escuro atravessa o corredor com passos tranquilos e confiantes. Ela faz uma pausa por um momento para nos olhar. Talvez seja a maneira como as sombras caem sobre seu rosto, mas seus olhos parecem completamente negros. Ela inclina a cabeça e manda um sorriso conhecedor em nossa direção, revelando dentes pontiagudos atrás de seus lábios vermelhos e cheios. Ela se vira e vai até a escada, deixando uma brisa fria de ar em seu rastro.
CONTINUA
Emerson Clarke pensou que magia poderia resolver todos os seus problemas. Acontece que a magia apenas tornou sua vida mais complicada. Sua mãe doente está em uma posição pior do que antes, e Em acabou de fazer um acordo arriscado com um Príncipe Unseelie: ele curará sua mãe se Em concordar com a aliança suprema - casamento.
Com a possibilidade de finalmente conseguir a única coisa que ela sempre quis, Em entra no mundo perigoso da Corte Unseelie. Ela aprenderá tudo o que for necessário sobre magia e etiqueta, a fim de seguir seu caminho pela vida do palácio, até que o príncipe Roarke cumpra sua parte na barganha.
Mas quando alguém inesperado aparece, trazendo à tona os segredos que Roarke e sua família estão escondendo dela, os planos de Em começam a se desvendar. Em breve, ela terá que decidir de uma vez por todas: até onde ela está disposta a ir para salvar sua mãe?
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Prólogo
DASH
DASH ESTAVA EM SUA MESA NA GUILDA CREEPY HOLLOW POR dez minutos quando seu âmbar, deixado ao lado do relatório de sequestro de duendes em que estava trabalhando, vibrou e emitiu um chilrear. Palavras douradas brilhantes subiram à superfície do dispositivo retangular. Reconhecendo a caligrafia de Violet, Dash rapidamente puxou o âmbar para perto. Seus olhos dispararam para cima para verificar quem poderia estar perto o bastante de sua mesa para ver a mensagem. A área aberta do escritório estava cheia da agitação de atividade matinal: uma equipe de guardiões juniores voltando de uma missão noturna; dois aprendizes entregando pergaminhos; e sua própria companheira de equipe, Jewel, trabalhando duro em alguma coisa. Era altamente improvável que qualquer uma dessas pessoas soubesse de quem era a mensagem no âmbar de Dash, mas isso ainda o deixava nervoso ao se corresponder com os rebeldes Griffin, enquanto estava sob o teto da Guilda.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo sua expressão indiferente, e leu a mensagem: Você sabe onde está a Em? Eu não consigo encontrá-la. Gelo encheu as veias de Dash enquanto ele lutava para manter a expressão neutra. Se Vi não conseguia encontrar alguém, isso significava sérios problemas. Graças a sua Habilidade Griffin, ela é capaz de encontrar alguém que não tenha sido ocultado por algum tipo de magia. Em tinha uma Habilidade Griffin, no entanto, era uma história totalmente nova. Ela estava brincando? Testando se ela poderia se esconder? Dash estendeu a mão sobre a mesa, pegou sua stylus e escreveu uma resposta rápida em seu âmbar. Não. Tem certeza de que ela foi embora? Verifique as esferas.
A resposta de Vi chega segundos depois: Verificando agora.
Estou a caminho, Dash rabisca enquanto ele se afasta de sua mesa e se levanta.
— Já indo embora? — Jewel perguntou. Dash olha para cima enquanto ela se levanta e contorna sua mesa. — Você acabou de chegar.
— Eu preciso checar uma coisa. Um dos relatórios das testemunhas do caso de sequestro dos duendes. Alguns detalhes estão faltando. — Dash se encolheu internamente, odiando ter que mentir para uma de suas melhores amigas. — Vou pedir para um dos guardas no andar de baixo abrir um portal para mim, — ele acrescentou rapidamente. Como Jewel, ele não deveria mais ser capaz de abrir portais para os caminhos das fadas. Um aborrecimento que foi causado pela Habilidade Griffin de Em. Em, desde então, inverteu o efeito da magia em Dash, mas Jewel não sabia disso. A única coisa que Jewel sabia era que Em havia escapado das garras da Guilda e desaparecido.
— Você precisa que eu vá com você? — Jewel perguntou.
— Não, não se preocupe. Vai ser rápido. — Ele lhe deu um sorriso, que ele suspeita que não parece nada com o seu habitual sorriso descontraído.
— Tudo bem. Ei, está tudo bem? — Jewel segura seu braço antes que ele possa se virar. — Você normalmente não é tão sério logo de manhã cedo. — Sua mão demorou um momento a mais em seu braço, e a conversa que ele teve com Em veio à tona. Ela apontou que Jewel claramente queria ser mais do que apenas sua amiga, um fato que Dash de alguma forma ignorou até aquele momento. Como ele não viu? E por que Jewel nunca disse nada sobre seus sentimentos por ele? Ela deve ter um controle excepcional sobre eles. Ele não tinha notado nenhumas explosões mágicas aleatórias.
Isso não é importante agora, Dash lembrou a si mesmo. — Sim, tudo bem. Estou apenas... mais cansado do que o habitual. — Isso, pelo menos, era a verdade. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior, conversando com Chase, discutindo quando voltar ao Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills para examinar os registros que estavam arquivados com o nome da mãe de Em. Com essa magia desconhecida impedindo-a de acordar, ela não estava em posição de explicar por que ela e sua filha viveram por tanto tempo no mundo não-mágico, mascaradas como humanas. Esperançosamente, o pai de Em possa fornecer algumas respostas. Em disse que não sabia nada sobre ele, mas se era ele quem estava pagando as contas médicas de Daniela Clarke, o hospital certamente deveria ter seu nome e detalhes para contato.
— Tudo bem. Até mais tarde. — Jewel volta para sua cadeira.
Dash deveria ter indo embora então — ele queria ir embora — mas ele não podia ignorar o desejo de Jewel de ser mais que amiga agora que ele sabia disso. — Ei, você quer sair esta noite? — Ele pergunta antes que ele pudesse mudar de ideia. — Nós deveríamos conversar. — Sem dúvida, se transformaria na conversa mais estranha que eles já tiveram, mas ele precisava fazer isso. Não era justo da parte dele permitir que Jewel continuasse esperando por algo que nunca aconteceria.
— Sim, tudo bem. Ótimo.
— Legal. — Dash desceu correndo a escadaria principal da Guilda, atravessou o saguão e entrou na sala com paredes nuas usadas para acessar os caminhos das fadas. — Você se importa em abrir um portal para mim? — Ele perguntou para a mulher que estava de guarda do lado de dentro da sala.
— Ainda não encontrou aquela garota Dotada Griffin, hein?
— Não.
— Eu espero que encontre, — a mulher respondeu enquanto andava até a parede e levantava sua stylus. — Ouvi dizer que ela é perigosa.
— Sim, — Dash murmurou. — Extremamente perigosa. Eu pretendo encontrá-la.
A mulher deu um passo para trás quando parte da parede se afastou para revelar a escuridão dos caminhos das fadas além. Dash avançou. Depois que a luz desapareceu atrás dele, ele concentrou seus pensamentos no oásis escondido no meio de um deserto a milhares de quilômetros de distância.
Minutos depois, ele subiu apressadamente os degraus da varanda da casinha branca de um lado do oásis, passando por algumas portas fechadas e entrando na sala de vigilância. Uma fileira de esferas de vidro cobria três das quatro paredes, e dentro de cada esfera havia uma forma em miniatura de partes diferentes do oásis. Magia conecta cada esfera aos insetos enfeitiçados que voam do lado de fora, exibindo tudo que os insetos viam. Vi está curvada, olhando atentamente para uma das esferas, enquanto Calla e Chase sentam em frente um do outro. — O que você conseguiu ver? — Dash perguntou, sem se importar com uma saudação.
— Oh, Dash, oi, — Vi diz quando ela se virou para ele. — As esferas mostraram que Em saiu durante a noite. Logo depois da cúpula, ela abriu um portal para os caminhos e entrou.
— Ela deve ter pegado a stylus de alguém.
— Sim. Uma desapareceu de nossa cozinha esta manhã.
— Eu simplesmente não entendo, — Calla disse, passando o dedo repetidamente através da esfera na frente dela enquanto a move para voltar no tempo através das cenas exibidas. — Por que ela iria embora?
Vi sacode a cabeça conforme ela dá de ombros. — Várias possibilidades, eu suponho. Talvez ela quisesse ver um de seus velhos amigos. Ou talvez ela lembrou de algo que pudesse ajudar sua mãe. O que é mais preocupante é o fato de que eu não consigo encontrá-la. O que poderia estar protegendo ela?
— Nada de bom, — Chase murmurou.
— Dash, você nunca me contou o que aconteceu quando eu não consegui encontrar você e Em ontem, — continuou Vi. — Lembra, quando eu fui encontrar vocês dois na casa da tia dela?
— Oh, sim. — Dash xingou interiormente — com o tipo de palavras que sua mãe não aprovava — por ter esquecido, mais uma vez, de mencionar aquele lugar estranho e as pessoas que levaram ele e Em para lá. — Eu não sei onde estávamos, mas foi estranho. Tudo parecia drenado de cor, e partes dele estavam meio que... borradas. Obscuro ou sem forma. E nós não conseguíamos acessar os caminhos das fadas. Acabamos fugindo de alguma criatura sombria que eu nunca vi antes, e de alguma forma perto do perto do buraco no véu. Mas não do lado humano, e não do lado das fadas. Em algum lugar... eu não sei. Talvez nem fosse real. Talvez tenha sido algum tipo de alucinação. De qualquer forma, — ele continuou com uma respiração profunda, — nós estávamos lá por causa dos Unseelies. O príncipe e a princesa.
— Sério? — Chase olhou para longe da esfera que ele estava examinando.
— Sim. Aquela garota que esteve na Chevalier House por alguns dias — Aurora — é na verdade a princesa Unseelie.
— Então era isso que ela estava fazendo em Chevalier House, — uma nova voz disse da porta. Dash olhou em volta e viu Ryn parado ali. — Aurora queria que Em fugisse com ela. Ela estava obviamente planejando levar Em de volta a Corte Unseelie.
— Você não pensou em mencionar nada disso na noite passada? — Calla diz para Dash, um tom acusatório em sua voz.
— Para ser honesto, eu não pensei nisso. Em disse que ia me contar o que aconteceu mais tarde — já que eu, hum, fiquei atordoado e inconsciente por parte do tempo — mas então aquela fada de vidro apareceu, e nós quase morremos, e então corremos para pegar a mãe de Em, e... eu não pensei nos Unseelies novamente até mais tarde da noite passada quando cheguei em casa.
— Ótimo, então não temos ideia do que disseram a Em, — Calla diz, cruzando os braços e franzindo a testa para o chão.
Dash não disse nada. Era incomum Calla ficar tão irritada com ele, mas ele não podia culpá-la. Estava furioso consigo mesmo por não ter perguntado a Em sobre aquele estranho mundo sombrio da noite anterior. Ela parecia distante e infeliz, e, como um idiota, ele tentou distraí-la com a dança. Qual era o problema dele? Como ele poderia simplesmente esquecer que dois membros da família real Unseelie tinham transportado Em para um lugar estranho e, em seguida, misteriosamente a deixaram ir?
— Então... — Vi esfrega suas têmporas. — O fato de que não podemos encontrar Em agora pode ter algo a ver com os Unseelies.
— A menos que ela mesma não queira ser encontrada, — disse Chase. — Ela saiu voluntariamente. Ela pode ter usado sua Habilidade Griffin para se proteger de alguma forma.
— Seja qual for o motivo dela para ir embora, ela deve estar planejando voltar, — Ryn diz, entrando na sala e dando uma olhada em uma das esferas. — A mãe dela ainda está aqui, afinal de contas.
Dash balança a cabeça. — Ela pode ter ido embora por conta própria, mas e se os Unseelies a pegaram lá fora? Eles a deixaram ir ontem, mas eles definitivamente ainda a querem. Eles podem estar mantendo-a contra sua vontade agora.
— Então, o que fazemos? — Vi pergunta. — Esperar para ver se ela volta? E se sim, quanto tempo esperamos?
— Ela tem que voltar, — Calla murmura, mordendo a unha do polegar enquanto olhava sem ver o chão. — Ela tem que voltar.
Ryn olhou para o outro lado da sala. — Qual é o problema?
Calla baixa a mão e franze a testa para o irmão. — Não faça isso.
— Ei, eu não estou tentando sentir o que você está sentindo, — Ryn diz, levantando as mãos em defesa, — mas sua ansiedade está quase me dando um ataque de pânico. Eu tenho tentado ignorar isso, mas isso está praticamente me atacando.
— Ansiedade? — Chase se aproxima dela. — Sobre o quê?
— Caramba, pessoal, — Calla exclama. — Estou preocupada com outro caso. Está tudo bem. Podemos nos concentrar em como vamos descobrir onde Em está? Apenas no caso de ela ser prisioneira de alguém agora?
— Eu tenho alguns contatos Unseelie, — diz Chase. — Vou ver o que eu posso descobrir.
— Bom. Eu vou voltar a trabalhar em outras coisas, então, — diz Calla. Ela atravessa a sala e sai sem uma palavra, deixando vários momentos de silêncio constrangedor em seu rastro. Com uma careta, Chase a segue.
Dash pigarreia. — A Guilda também tem contatos Unseelie. Eu vou perguntar se alguém sabe alguma coisa. E também perguntarei dos nossos contatos Seelie. É possível que eles tenham encontrado Em, mas ainda não tenham informado a Guilda.
— Obrigada, — disse Vi.
— Avise assim que você descobrir alguma coisa, — acrescenta Ryn.
— Claro. — Dash se vira e sai da sala, já colocando a mão no bolso para pegar o âmbar e a stylus, para que ele possa contatar o contato Unseelie da Guilda. Ele para perto da porta da frente enquanto escreve uma mensagem rápida perguntando se o contato tinha recebido alguma notícia sobre uma garota Dotada Griffin.
... alguma coisa está acontecendo?
Ao som de vozes, Dash se inclina para o lado e olha pela janela. Calla anda de um lado para o outro na varanda. — Ela tem que voltar, Chase. Ela tem que voltar.
— Tudo bem, sério. — Chase pega o braço dela e a faz parar. — Conte o que está acontecendo.
Dash sabia que ele não deveria estar escutando, mas se era algo sobre Em...
Calla respira fundo. — Eu vi alguma coisa. Noite passada. Quando eu fui perguntar a Em se ela queria se juntar a nós esta manhã. Isso me fez ter esperança... que de alguma forma... — Ela sacode a cabeça. — Quero dizer, eu sei que é loucura mesmo pensar nisso. Meu cérebro ainda está repassando tudo o que aconteceu naquela época e como isso poderia ser possível. Mas se for verdade... — Ela agarra a frente da camiseta de Chase com ambos os punhos. — Chase, se for verdade, então temos que garantir que Em volte.
Chase pega as mãos de Calla entre as suas. — Você não está fazendo nenhum sentido. O que você viu?
— Você não pode contar a ninguém, ok? Não até saber se é verdade. Eu não quero ser responsável por mais corações partidos.
— Corações partidos? Quando você...
Ela se inclina para mais perto de Chase e sussurra, suas palavras muito baixas agora para Dash ouvir através da janela. Ele observa a testa de Chase se franzir ainda mais. — Não é possível, — diz ele quando Calla recua. — Ou é? Quando a vi pela primeira vez, pensei...
— Pensou o quê?
O olhar de Chase fica desfocado enquanto ele olha por cima do ombro de Calla por vários segundos, claramente perdido em pensamentos. Um pequeno sorriso estica seus lábios quando ele volta sua atenção para ela. — Eu acho que você pode estar certa.
Seu sorriso de resposta ilumina seu rosto. — Eu também acho. Mas eu não sei ao certo, e me recuso a ficar animada até confirmarmos isso. Eu conheço alguém que pode nos dizer sem sombra de dúvida, mas eu não sei onde ele está. Você precisa me ajudar a encontrá-lo.
— Vi pode ajudar se ela tiver... — As palavras de Chase somem conforme ele sacode a cabeça. — Mas você não quer que ela saiba.
— Não. Ainda não. — Calla pega o braço dele e o puxa para descer a escada com ela. — Primeiro precisamos descobrir se é verdade. — Sua voz fica mais fraca quando ela e Chase se afastam da casa, deixando Dash com mais perguntas e sem respostas. Ele tem seu próprio mistério para resolver, no entanto. Onde você está, Em? Ele se perguntou em silêncio enquanto abre a porta e entra na varanda.
Seu âmbar vibra em sua mão, e ele para para ler a resposta do contato Unseelie: Nenhuma informação recente dos Unseelies. Nada interessante de qualquer maneira. Claro que não. Os Unseelies nunca informariam a Guilda se eles possuíssem uma poderosa Dotada Griffin. Mas Dash tinha que verificar, apenas no caso do contato ter ouvido alguma coisa. Agora ele teria que entrar em contato com o contato Seelie. Depois disso, seria hora de seguir para canais não oficiais. — De alguma forma, Em, — ele murmura enquanto se afastava. — De alguma forma, eu vou encontrar você.
Capítulo 01
COISAS QUE EU NUNCA IMAGINEI: UM, ESCAPAR DA MISERÁVEL CIDADE DE Stanmeade muito antes que eu sonhasse que isso fosse possível. Dois, me tornar quase amiga do cara que eu odiei por anos. Três, subir pelo lado de fora de uma torre do palácio das fadas com uma stylus roubada no bolso para que eu possa me esconder no topo e abrir um portal para os caminhos das fadas com magia. Oh, sim. E nunca imaginei usar palavras como ‘torre do palácio’, ‘caminhos das fadas’ e ‘magia’ sem soar como uma paciente internada em um hospital psiquiátrico. Mas isso foi antes de eu descobrir que sou uma faerie e que existe um mundo oculto de magia ao lado do mundo onde eu cresci. Isso foi antes de eu chegar ao topo da lista dos mais procurados de todos por possuir um superpoder único e perigoso. E isso foi antes de eu assumir o maior risco da minha vida e concordar em me casar com um príncipe faerie da Corte Unseelie, na esperança de salvar minha mãe.
Então sim. Eu imagino coisas agora que a maioria das pessoas da minha antiga vida consideraria impossível. Como um buraco escuro de nada se materializando através das paredes de mármore com veias douradas no topo da torre que subi. Eu precisava me afastar dos olhos atentos dos guardas do palácio, e esta torre formando o ponto mais alto do Palácio Unseelie parecia um bom lugar. Infelizmente, o feitiço que tenho sussurrado e as palavras que escrevo repetidamente através da parede parecem não estar produzindo nada.
Solto um suspiro frustrado e aperto meus dedos ao redor da stylus incrustada de joias. Eu roubei do quarto de Aurora ontem. Apenas o melhor do melhor para uma princesa, então duvido que haja algo de errado com ela. O que significa... talvez minha magia seja o problema? Eu coloco a stylus no chão da torre e enlaço minhas mãos juntas, depois expiro lentamente e sinto o núcleo do poder dentro de mim. Quase instantaneamente, uma forma quase esférica branca brilhante e fragmentos etéreos pairam acima da minha mão. Parece quase fácil produzir magia agora, depois de ter praticado tanto nos últimos dias. Não há necessidade de apertar meus olhos, franzir minha testa e imaginar arrastar a magia para fora de mim como um rato puxando um caminhão.
Então, se a minha magia e a stylus não são o problema, e a magia em si está correta — o que eu tenho certeza que está, dado que eu usei para deixar o oásis — resta apenas uma resposta: os caminhos das fadas não são acessíveis a partir desta torre.
— Droga, — eu sussurro. Eu enfio a stylus de volta no bolso e olho através das terras sem fim de um verão perfeito. Relvados verdes e brilhantes, flores de todas as cores, fontes de água encantadas rodeadas por arbustos recortados em formas ornamentais e várias áreas para entretenimento: uma pérgula aqui, um mirante ali, o ancoradouro da rainha à direita, além daquela pequena ponte. E um pouco além dos terrenos do palácio, as torres das casas senhoriais pertencentes a nobres Unseelie se erguem acima das árvores.
E quase todos os lugares, de acordo com Aurora, não são acessíveis através dos caminhos das fadas. Ninguém sai deste palácio e ninguém chega, exceto pela entrada principal. — Não é como se você precisasse ir a outro lugar agora, — ela me disse quando perguntei sobre os caminhos das fadas. — Apenas relaxe e aproveite sua nova vida no palácio.
Relaxar? Acho que não. Se quase nenhuma parte deste palácio e seus terrenos podem ser acessados pelos caminhos das fadas, isso significa que deve haver algumas áreas onde os portais podem ser abertos. E se eu quiser fugir quando aprender tudo o que preciso saber sobre o Princpie Roarke, então eu tenho que encontrar pelo menos uma dessas áreas. Se eu não conseguir, vou ter que ser criativa com minha Habilidade Griffin. E isso exigirá descobrir como realmente usá-la.
— Minha senhora?
Meu corpo fica tenso ao som da voz inesperada. Eu viro, meu coração se debatendo no meu peito. Mas é apenas Clarina, a criada que Aurora me ‘ofereceu’ na minha chegada. Ela está ao lado do alçapão de ouro cravejado de rubi. O alçapão está aberto, tenho certeza que estava trancado até agora, porque encontrei meu caminho para o outro lado dele ontem à tarde e não consegui abri-lo. Eu não teria me incomodado em abrir uma das janelas baixas e escalar a parede de outra forma. Eu pigarreio e aperto minhas mãos juntas. — Hum, sim?
— Sua Alteza, Princesa Aurora, me enviou para buscar você, — diz Clarina, com os olhos fixos no chão perto dos meus pés. Eu disse a ela para não se preocupar em desviar o olhar dela quando falar comigo, mas não faz diferença. Assim como quando eu disse a ela que não sou ‘senhora’ e ela não precisa se referir a mim como tal. — Mas de que outra forma eu vou mostrar respeito por você, minha senhora? — Ela perguntou. — Eu não posso simplesmente chamar você pelo seu nome. — Eu disse a ela que é claro que ela podia, mas isso também não ocorreu bem.
— Como ela sabia que eu estava aqui em cima? — Eu pergunto.
— Um de seus guardas viu você de uma janela.
Eu limpo minhas mãos no meu jeans. — Será, hum, que soou para você que Aurora — Senhorita — Sua Alteza — Que droga esses títulos estúpidos. — Parecia que ela estava com raiva de mim por estar aqui em cima?
— Não, minha senhora, — diz Clarina. — Ela estava preocupada, mas não zangada. Ela lembrou a seus guardas que você é bem-vinda para explorar sua nova casa, mas que eles também devem mantê-la viva.
— Certo. Legal. Isso foi o que eu pensei. Quero dizer, sobre a parte de explorar. — Aurora me deu uma breve turnê quando cheguei há três dias, então me disse que eu poderia ir onde quer que eu quisesse, exceto as suítes ou câmaras privativas das pessoas ou seja lá como ela chamou. Desde então, eu vaguei por todo o palácio sob o disfarce da curiosidade, fazendo o meu melhor para fingir que estou à vontade em uma casa tão vasta e opulenta quanto este palácio. Eu tento ignorar os guardas que me observam e os membros da corte que sorriem educadamente antes de sussurrar um para o outro. E tento não tremer quando a atmosfera muda, como de vez em quando, se transforma em algo frio e inquietante.
— Hum, bem, acho que é melhor irmos então, — eu digo, percebendo que Clarina está esperando por mim para falar. Ela assente e pisa na escada abaixo do alçapão. Eu a sigo, vacilando quando o alçapão fecha sozinho atrás de mim. Juntas, descemos a escada em espiral até o térreo do palácio e entramos em um vasto corredor alinhado por colunas. Seus pisos de mármore preto são polidos até um brilho vítreo e as pedras preciosas embutidas no teto refletem nos candeeiros acesos em pedestais entre cada coluna. O resto do palácio é muito parecido com isso: bordas pretas brilhantes, enfeites de ouro e pedras brilhantes. Quartos grandes o suficiente para se perder dentro, e móveis tão luxuosos que eu provavelmente vomitaria se soubesse o quanto eles custam.
É impossível imaginar estar em casa aqui.
Subimos mais escadas, cruzamos mais corredores e passamos por mais fae vestidos como se pertencessem ao cenário de uma novela de época. Todos eles me dão olhares curiosos quando passo. Ao contrário de Clarina e Noraya — a outra criada de Aurora — nenhuma dessas pessoas sabe quem eu sou. Eles não têm ideia de que eu concordei em me casar com o seu príncipe. Como eles poderiam suspeitar que ele e eu temos algo a ver um com o outro quando Roarke se foi desde o momento em que ele me deixou aqui aos cuidados de sua irmã? Aurora disse que ele voltaria esta manhã, mas eu não vi ele. Estou começando a me perguntar se ele está planejando me evitar até o dia do nosso casamento — quando quer que seja.
Finalmente, Clarina e eu chegamos à ala que abriga os aposentos da família real. Eu nunca fui longe o suficiente para ver os quartos pertencentes ao rei e à rainha, mas passei pela suíte de Roarke, e eu estive no quarto de Aurora durante todos os dias desde que cheguei aqui. Eu olho por cima do meu ombro para a porta que leva aos quartos de Roarke enquanto eu passo. A porta está fechada e não há guardas do lado de fora, o que eu acho que significa que Roarke não está lá dentro.
— Droga, — eu murmuro, baixinho o suficiente para que Clarina não me ouça. Uma carranca franze minha testa enquanto eu olho para frente novamente. E então aquele estranho sentimento de mal-estar, aquele inexplicável senso de engano, invade os meus sentidos. Como se dedos frios e podres estivessem prestes a se estender das sombras para apertar a parte de trás do meu pescoço. Um lampejo de uma sombra corre através da borda da minha visão, mas quando eu olho por cima do meu ombro novamente, se foi. Assim como a sensação de desconforto.
— Lady Emerson? — Clarina diz. Eu olho para frente e a vejo esperando com uma das mãos apoiada na porta de Aurora. — Está tudo bem?
— Hum, sim. Eu estou bem. — Talvez eu continue imaginando esse sentimento estranho. Talvez seja esse o sentimento de saudade de casa. Talvez, por mais improvável que pareça, eu esteja realmente sentindo falta da casa decadente em que vivi com Chelsea e Georgia. De jeito nenhum, eu penso comigo mesma, quase rindo alto do pensamento improvável. Eu posso sentir saudade da minha melhor amiga Val, e toda a diversão que tivemos juntas, e a sensação libertadora de não ser caçada por vários membros do reino fae, mas eu certamente não sinto falta daquela casinha horrível e da minha rancorosa tia e prima.
Clarina abre a porta para a suíte de Aurora e fica de lado para me deixar entrar. Ela faz uma rápida reverência quando passo, depois fecha a porta atrás de mim. Eu ouço seus pés baterem no chão de mármore polido do lado de fora. Do outro lado na sala de estar, decorada em tons suaves e tecidos florais, a Princesa Aurora, filha adotiva do Rei e da Rainha Unseelie, está sentada em uma pequena mesa redonda. Na frente dela há uma variedade de comida, um bule de chá e duas xícaras de chá. Ela se inclina para trás em sua cadeira e me examina. — Sério, Em? Subindo pela parte externa da torre leste? Você está tentando escandalizar a corte inteira? Se você queria tanto ver a vista do topo, você poderia ter pedido a alguém para destrancar o alçapão em vez de arriscar sua vida.
Eu atravesso a sala e paro ao lado da cadeira no lado oposto do lugar dela. — Bem, você sabe. Era cedo. Eu não queria incomodar ninguém. E além disso, quase não havia risco envolvido. Eu posso lidar com uma parede simples. Esses grandes tijolos de mármore têm espaços entre eles perfeitos para as mãos e os pés.
Aurora coloca o cabelo — preto e azulado roxo — atrás de uma orelha e estende a mão para a xícara de chá. — E se você tivesse escorregado? Além do enorme problema que eu teria com Roarke e meu pai se você caísse e se matasse, simplesmente não é apropriado sair por aí escalando paredes. — Ela me dá um olhar aguçado por cima de sua xícara de chá. — Sabe, dada a sua futura posição neste palácio.
Eu escolho ignorar sua referência ao fato de que eu devo ser uma princesa em breve e cruzo os braços sobre o peito. Eu começo a andar de um lado para o outro da janela. — Onde está Roarke? Você disse que ele estaria de volta agora, mas eu não vi ninguém de guarda do lado de fora do quarto dele, então eu suponho que ele não esteja lá.
— Ele e papai devem demorar, isso é tudo. Eles têm negócios importantes para lidar no momento. Você não pode esperar que eles voltem simplesmente porque você está desesperada para ver seu prometido. — Ela sorri. Eu mostro minha língua para ela. Ela joga um morango em mim, depois ri quando eu me esquivo e continuo andando. — Eles vão voltar em breve, tenho certeza. E por favor, pare de andar. Você está me deixando nervosa. — Ela acena para a cadeira em frente à dela. — Sente-se. Você já tomou café da manhã?
— Não. — Eu caio na cadeira com os braços ainda cruzados. — Eu estava muito ocupada correndo riscos e escalando paredes, lembra?
— Você deve escolher o café da manhã da próxima vez. — Com um toque elegante de sua mão, um prato de massas em forma de borboleta se levanta e se move em minha direção. Ela ficaria feliz se eu usasse magia para levantar um dos doces e movê-lo para o meu próprio prato, mas esse tipo de coisa parece ser coisa de preguiçoso para mim. E eu não acho que eu poderia fazer isso sem derrubar o prato inteiro.
— Você sabe por que eu quero ver o Roarke, — eu digo a ela depois de colocar uma massa no meu prato, com a minha própria mão perfeitamente funcional. — Ele e eu temos um acordo, e ele não fez nada para cumprir sua parte ainda. — Acordo. Uma palavra tão simples. Não carrega tanto peso quanto a palavra ‘casamento’.
— É claro que ele ainda não cumpriu sua parte. Espero que você saiba que ele não planeja dar a você qualquer informação sobre como tirar sua mãe do coma enfeitiçado ou consertar sua doença mental até depois da cerimônia de união.
— Sim, — eu digo em voz baixa, ainda olhando para o meu prato. — Eu sei disso. — O que eu também sei é que eu não pretendo que essa cerimônia aconteça. Todo mundo precisa pensar que isso vai acontecer, mas eu pretendo descobrir tudo o que preciso saber antes do casamento acontecer. Claro, eu não tenho ideia de como vou fazer isso ainda, mas ter a posse de uma poderosa Habilidade Griffin — falar coisas e as tornar reais — pode vir a calhar. Se eu puder usá-la no momento certo e da maneira certa, eu devo poder sair daqui viva com todas as informações que preciso. Pigarreio e acrescento, — Eu sei, mas ele precisa provar para mim. Ele precisa me dizer algo, então eu vou saber que ele não está apenas mentindo para me casar com ele.
— Meu querido irmão nunca faria algo assim, — diz Aurora, direcionando mais alguns itens de comida para o seu prato.
Eu não a conheço bem o suficiente ainda para saber se ela está brincando ou se ela realmente acredita nisso. De qualquer maneira, não estou disposta a confiar em Roarke. Eu preciso do meu próprio plano, e isso envolve ter o controle sobre a minha Habilidade Griffin. Eu quebro um pedaço de massa e olho para ele por um segundo ou dois antes de dizer, — Como as paredes da torre não são apropriadas para escalar, talvez meu tempo fosse melhor gasto praticando minha Habilidade Griffin. Com o elixir, quero dizer, não apenas esperar por momentos aleatórios em que a minha magia escolhe ligar.
Ela sacode a cabeça e acaba de engolir outro gole de chá. — Sinto muito, Em, mas me disseram para não dar a você até que Roarke e meu pai retornem. Aqui, coma um pouco de citrullamyn. — Vários segmentos de uma fruta que parece uma versão vermelho sangue de uma laranja voam em um arco de seu prato para o meu.
— Hum, obrigada. — Eu lentamente mastigo uma enquanto tento descobrir o que posso dizer para mudar a decisão de Aurora. Eu preciso desse elixir para estimular minha Habilidade Griffin. O primeiro frasco que eu tinha foi esmagado em pedaços durante o meu encontro com Ada — a faerie extremamente desagradável que quase destruiu toda Stanmeade com sua magia de vidro — mas um dos rebeldes Griffin fez mais elixir para que eu pudesse acordar mamãe de seu coma enfeitiçado. Não funcionou, mas pelo menos eu tinha um pouco do elixir. Eu trouxe comigo, planejando secretamente consumir pequenas quantidades na esperança de ganhar o controle sobre minha Habilidade Griffin sem que os Unseelies soubessem. Mas fui revistada antes de entrar no palácio. Um guarda descobriu o elixir e Aurora o confiscou. Roarke, que não parecia interessado em ficar mais do que alguns minutos com sua noiva, já tinha saído durante esse momento.
— Mas Aurora, — digo a ela com a minha voz mais razoável, — não tenho utilidade para sua família se eu não conseguir descobrir como controlar minha Habilidade Griffin. Essa é a única razão pela qual Roarke está se casando comigo, lembra? Então eu preciso desse elixir para me ajudar a aprender como usá-la.
— Sim, mas você não precisa aprender agora neste momento. Você pode praticar sob supervisão quando Roarke e papai voltarem.
Eu a olho diretamente nos olhos. — Eles não confiam em você para me supervisionar? Eles acham que você não pode lidar comigo?
Ela inclina a cabeça para trás e ri. — Oh, minha querida Em. Se você vai tentar me manipular, você terá que ser muito mais sutil sobre isso. Essa foi uma tentativa terrível.
Eu deslizo mais para baixo na minha cadeira com um suspiro derrotado. — Isso tudo é uma perda de tempo, — murmuro. — Mamãe ainda está presa em algum tipo de coma do mal induzido por magia, e eu não estou absolutamente nem perto de descobrir como ajudá-la.
— Você não está perdendo tempo. Você está aprendendo a usar a magia do dia-a-dia e a viver como uma de nós, — diz Aurora. — Falando nisso, por favor, sente-se ereta. Minha mãe teria palpitações no coração se visse você se curvando desse jeito.
Mãe de Aurora. A própria Rainha Unseelie. Jantei com ela e Aurora na minha primeira noite aqui, com criados esperando por nós a noite inteira, enchendo nossas taças com bebidas estranhamente coloridas e nossos pratos com comida ainda melhor do que a comida que Azzy preparava na Chevalier House. Achei difícil desfrutar de alguma coisa, apesar da ansiedade que comprimia meu estômago e fazia meus dedos tremerem. Não era como se a Rainha Amrath fosse cruel ou hostil. Ela era educada, na verdade, mas eu sabia que ela estava me observando o tempo todo. Medindo. Esperando que eu me provasse completamente indigna de casar com o filho dela. A cada momento estranho que passava, eu me lembrava da minha valiosa Habilidade Griffin. Isso vai mantê-la viva e segura, continuei dizendo a mim mesma. Eles querem o seu poder mais do que eles querem uma princesa bem-educada.
— Em? — Aurora diz. — Você está me ouvindo?
Eu pigarreio e me empurro para cima, então estou mais ereta. Eu forço meus ombros para trás. — Desculpa. O que você disse?
— Eu disse que precisamos conversar sobre o que você está vestindo e também que você deveria experimentar o chá de mel. É bem revigorante. Noraya, venha colocar chá para Emerson.
Noraya, que estava tão imóvel perto da porta do quarto que eu não a notei antes, se aproxima da mesa. Com um breve aceno de mão, o bule se eleva no ar. — Oh, não se preocupe, — eu digo rapidamente, me inclinando para frente. — Eu posso servir o chá.
— Deixe-a fazer isso, Em, — Aurora diz.
— Mas é só chá, — eu argumento enquanto o bule de chá se inclina sobre o meu copo e um liquido escuro fumegante fluí de seu bico. — Eu posso colocar sozinha. — Não com magia, uma vez que isso provavelmente resultaria em salpicos de chá por toda a mesa, mas minhas próprias mãos fariam o trabalho muito bem.
— Não importa se você pode fazer isso ou não, — Aurora me diz. — O que importa é que, quando você é um membro da família real, é adequado que os criados esperem por você.
— Eu ainda não sou membro da família real. — E espero nunca ser.
— Também é apropriado que você use roupas apropriadas para a corte, — acrescenta Aurora, enquanto Noraya se afasta da mesa, — e essas — ela olha minha calça jeans e camisa com desaprovação — não são apropriadas. Clarina e eu vamos ter outra conversa. Ela claramente não entendeu suas instruções.
— O quê? Não, não é culpa da Clarina. Ela me dá um vestido novo todas às manhãs, assim como você disse a ela, mas eu não quero usar nenhum deles. Eles são ridículos. Centenas de camadas de tecido com espartilhos e penas e joias e... coisas. Não sou eu. — O jeans, a camisa e o moletom que tenho usado nos últimos dias são as roupas que eu usava quando cheguei aqui. Eu as jogo sobre uma cadeira no meu quarto todas as noites, e todas as manhãs as encontro dobradas e limpas, na mesma cadeira.
Aurora arqueia uma sobrancelha. — Ridículo, — ela repete. Percebo que posso tê-la ofendido, dada a saia longa, o corpete apertado e as mangas em forma de sino do vestido que ela está usando. — Receio que não importa o que você ou qualquer outra pessoa pense, pois é assim que minha mãe e meu pai desejam que os membros de sua corte se vistam.
— Bem, seus pais têm um senso de moda seriamente ultrapassado. Todos parecem estar se vestindo ou se preparando para filmar um filme steampunk.
Sua expressão fica séria. — Eu não diria coisas assim se fosse você. — Ela abaixa a voz, se inclina mais perto e acrescenta, — Meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares, e ele não apreciaria comentários como esse.
Um calafrio rasteja pela minha pele. Parece que não imaginei a sensação de estar sendo observada. Eu envolvo meus braços em volta de mim, me sentindo nua, apesar do fato de estar vestida. — Até mesmo nos quartos?
— Bem. — Aurora se inclina para trás. — Talvez apenas ouvidos nos quartos.
— Isso é apenas... errado, — eu sussurro.
Ela ri e novamente não posso dizer se ela está brincando sobre tudo isso. — Só se você tem algo a esconder, — diz ela. Ela morde outra fruta não identificável e me observa enquanto mastiga e engole. — Agora me diga: como você está com a magia que eu te ensinei até agora? Você já pode mover as coisas? Tente levantar seu prato e o mova no ar.
— Hum... — Eu começo a girar uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo indicador. — Tem certeza de que é uma boa ideia? E se eu derrubar?
— Então Noraya reunirá os pedaços quebrados e os jogará fora. Nada demais.
Meu olhar desliza para o cabelo enrolado em volta do meu dedo. Estou quase acostumada com a cor azul brilhante misturada com o marrom escuro. Faz parte do que me caracteriza como faerie. Como alguém que pertence a este mundo. Lentamente, eu abaixo minha mão. — Sim, tudo bem. Vou tentar.
Tirar magia de dentro de mim é fácil agora, mas mandá-la para o prato, persuadindo-a ao redor e para baixo e dizer para levantar alguma coisa, é uma história diferente. Muito lentamente, com as mãos cerradas no meu colo e os olhos quase furando buracos no prato, começa a subir. Ele balança um pouco, e as massas e os pedaços de frutas cítricas vermelhas escorregam para um lado. Eu tento endireitá-lo, acabo exagerando e todo o prato vira. A comida cai sobre a mesa com vários golpes suaves e o prato fica suspenso de cabeça para baixo no ar. Ele estremece e balança antes que eu imagine minha magia o abaixando com cuidado. Ele cai os poucos centímetros finais, pousando perfeitamente em cima do meu café da manhã.
Aurora bate as mãos. — Bem, isso foi divertido. Dificilmente perfeito, mas é um bom começo.
— Acho que sim. — Eu viro o prato e começo a limpar a minha bagunça.
— Em, você mal podia fazer nada quando chegou aqui há alguns dias. Isso é uma conquista. Ah, e eu tenho mais alguns livros para você. — Ela gesticula por cima do ombro, e uma pilha de livros sobre a mesa baixa entre os sofás e se eleva no ar antes de descer novamente, os livros individuais batendo em voz alta um no outro enquanto pousam. — Você pode carregá-los com magia agora mesmo.
— Claro. — Eu tento não descobrir quanto tempo vai demorar para voltar para meu quarto, se eu tiver que transportar magicamente uma pilha de livros por todo o caminho até lá. Espero que eu possa convencer um dos guardas que me seguem à distância para me ajudar quando eu estiver longe de Aurora.
Quando volto a comer minha bagunça do café da manhã, a porta se abre e Clarina entra no quarto. Ela se move silenciosamente para ficar ao lado de Noraya e, após um momento de pausa, começa a sussurrar para ela.
— O que está acontecendo? — Aurora pergunta em voz alta, não se incomodando em olhar para elas.
Clarina fica em silêncio, os olhos arregalados atravessando a sala em direção a sua senhora. Do outro lado da sala, vejo sua garganta oscilar conforme ela engole.
— Clarina. — Aurora empurra seu prato para longe e se vira na cadeira para encarar as criadas. — Parte do seu trabalho é relatar segredos para mim, não para sussurrá-los na minha vizinhança. Agora me diga o que está acontecendo.
Clarina sacode a cabeça. — Sim, Sua Majestade. Peço desculpas. É só que... é tão horrível.
— O que é tão horrível? O que aconteceu?
— Um dos guardas... — Os olhos de Clarina se movem para Noraya, cujo queixo estremece enquanto ela olha para o chão. Clarina pigarreia e volta a olhar para Aurora. — Um dos guardas foi encontrado morto no jardim, — diz ela em voz trêmula. — Estava cinza e enrugado e morto.
Capítulo 02
EU CAMINHO PELA SALA DE ESTAR DA MINHA SUÍTE — MENOR QUE A DE AURORA, mas não menos luxuosa — esperando que alguém venha e me diga o que está acontecendo. Aurora me mandou de volta para cá na companhia de vários guardas logo após as palavras assustadoras de Clarina sobre alguém cinza, enrugado e morto no jardim, mas não recebi nenhuma novidade desde então. Eu ando na minha varanda e olho para baixo mais uma vez, mas eu ainda não consigo ver nada de interessante. Esta morte deve ter acontecido do outro lado do palácio.
Volto para dentro de novo, entre as poltronas e ao redor da mesa. Sento na escrivaninha e tento ler um dos livros que deveria estudar, mas não consigo me concentrar. Pensamentos sobre mamãe e todos os rebeldes Griffin de onde eu fugi continuam escorregando pelas rachaduras da minha concentração. Culpa por desaparecer sem explicação. Tristeza por ter que deixar Bandit para trás. Estou começando a sentir saudades de Dash, de todas as pessoas. E depois há a avalanche de perguntas: Quem sou eu? Quem é mamãe? Como chegamos a viver no reino humano com nossa magia bloqueada? Apenas para citar algumas...
Eu abandono o livro e acabo deitada no divã, observando os insetos brilhantes que estão fixos no teto e, lentamente, levantando e abaixando almofadas com magia. É preciso que eu foque toda a atenção para conseguir essa manobra simples, o que significa que não há espaço em minha mente para perguntas e pensamentos que me distraem.
Sem aviso, a porta principal da minha suíte é aberta. Minhas duas almofadas levitando pousam no meu peito e caem no chão. Sento apressadamente, virando para a porta e encontro Aurora entrando na sala. Alguém fecha a porta atrás de mim enquanto eu fico em pé e pergunto, — Está tudo bem? Você descobriu o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, mas falei com as pessoas que encontraram o guarda morto. — Ela caminha até a varanda. Eu a sigo para o sol quente do meio da manhã. — Eu o vi, Em. Foi... — Ela respira fundo e balança a cabeça. — Horrível. A cor de seu cabelo desapareceu completamente e seu rosto... — Ela se vira e descansa as mãos na balaustrada da varanda. — Sua pele estava flácida e enrugada. Foi horrível. Isso não acontece com a nossa espécie, Em. Isso não acontece. Não naturalmente de qualquer maneira. E isso significa que — Ela para, apertando os dedos na balaustrada.
— Significa o quê? Que esse guarda foi atacado com magia? — Eu mentalmente me chuto por essa façanha inexpressiva de dedução. Obviamente, esse guarda foi atacado com magia.
— Sim. Algo assim. — Aurora balança a cabeça e retorna o olhar para mim. — De qualquer forma, recebi uma mensagem do Roarke. Ele disse que não deveríamos falar disso para ninguém. Apenas algumas pessoas sabem como estava o guarda e não queremos que todos saibam e se assustem.
Eu não posso evitar erguer minhas sobrancelhas. — Você acha que o resto deste palácio já não sabe? Alguém deve ter contado a Clarina, e certamente Clarina e Noraya contaram aos outros agora.
— Elas não disseram a ninguém. Clarina e Noraya estão comigo desde sempre — bem, Noraya está aqui desde sempre e Clarina está comigo há pelo menos três anos — então elas sabem como manter a boca fechada. Clarina estava com uma das criadas da minha mãe quando viu o guarda morto, e ela veio direto para cá depois. Alguns outros guardas o viram, mas eles também disseram que vão ficar calados.
Eu me inclino contra a balaustrada e olho através do jardim. Ao longe, dois grandes pássaros voam pelo céu. Pelo menos, eu suponho que são pássaros. Suas asas parecem um pouco grandes demais para seus corpos, no entanto. — Alguém sabe quem fez isso? — Eu pergunto, olhando para longe das criaturas voadoras. — Quero dizer, se é impossível entrar sorrateiramente neste palácio, então deve ser um convidado ou alguém que mora aqui.
Aurora exala e coloca um sorriso falso em seu rosto. — Nós não devemos mais falar sobre isso, Em. Esqueça isso agora.
— Esquecer? Isso é improvável. Você não quer saber mais?
— Não. Roarke e meu pai cuidarão disto quando retornarem. Que deve ser antes do jantar, aparentemente.
— Oh. — Meu desconforto se transforma em algo mais positivo. — Isso é ótimo.
— Sim. Agora, que outra magia eu estava mostrando ontem? — Ela esfrega as mãos e caminha de volta para dentro. — Você praticava coisas em movimento, e também havia...
— Fogo, — eu a lembro. — Bem, minúsculas chamas. Assim eu não queimo acidentalmente o palácio.
— Sim, está certo. Você fez alguma melhora?
Eu estalo meus dedos e abro a mão, com a palma para cima, esperando que o feitiço se torne instintivo o suficiente para que uma chama apareça automaticamente acima da minha mão. Minha palma, no entanto, permanece vazia. — Hum... aparentemente não.
— Sim, bem, você nem está tentando. — Ela senta-se afetadamente na beira do divã. — Você precisa se concentrar. Você ainda não está no ponto em que isso acontece automaticamente. Agora tente novamente.
Eu resmungo sob a minha respiração antes de abaixar minhas mãos para os meus lados, fechar os olhos e me dizer para relaxar. Eu preciso ser capaz de liberar magia, então me concentro totalmente no momento em que ela está pronta para mudar de algo cru e sem forma para qualquer outra coisa. Nesse ponto, eu tenho que moldá-la mentalmente em uma chama antes que ela desapareça. E tudo isso, aparentemente, acontecerá quase instantaneamente, uma vez que eu já tenha feito isso o suficiente. Acabo de chegar a um estado mental relaxado quando uma batida no outro lado da porta interrompe minha concentração.
— Entre, — Aurora diz.
Noraya entra e corre para o lado de Aurora. Ela se inclina e sussurra algo antes de se endireitar.
Aurora se levanta com um suspiro. — Claro. Eu irei agora. Desculpe, Em, mas minha mãe gostaria de me ver. Você deve continuar praticando, no entanto. E comece a ler esses livros. Você tem muito a aprender se vai se encaixar aqui.
Eu a observo sair antes de cair em uma poltrona e me apoiar contra as almofadas bordadas em ouro. Então eu me forço a me sentar e me concentrar em produzir uma chama. Não tenho intenção de me encaixar aqui — não a longo prazo — mas preciso pelo menos fingir que estou planejando ver essa união. Além disso, provavelmente precisarei usar magia para sair daqui. Eu também posso aproveitar esta oportunidade para aprender o máximo que puder.
Depois de tentar repetidamente produzir uma chama e ter sucesso em cerca de cinquenta por cento do tempo, eu me sossego com o menor livro da pilha que Aurora me deu esta manhã. É uma coleção sobre magias básicas que parecem ter sido escritas para um aluno da primeira série. Perfeito. Por mais embaraçoso que seja, esse é exatamente o tipo de coisa de que preciso.
Uma vez que consigo encolher uma almofada para cerca de metade do seu tamanho, depois aumentá-la e depois voltar ao normal, pego um livro diferente e me sento em uma poltrona. Contém relatos de histórias ainda mais antigas do que as histórias que aprendi em Chevalier House. A divisão inicial das cortes e as primeiras famílias Seelie e Unseelie. Eu não vou muito longe quando ouço um leve som de arranhar. Abaixo o livro e olho em volta, tentando descobrir de onde vem o arranhão, mas o que quer que tenha sido, parou. Com uma careta, volto a ler.
Mas o arranhar começa novamente. Da direção da mesa, talvez? Eu me levanto devagar, imaginando o que exatamente eu vou fazer se abrir uma das gavetas e uma criatura mágica desagradável se jogar sobre mim. Por alguma razão, minha imaginação evoca uma imagem de uma mão sem corpo, o que não ajuda em nada o meu batimento cardíaco acelerado.
Três batidas afiadas na porta fazem o livro escorregar dos meus dedos. Eu fecho meus olhos por um momento e respiro trêmula, quase rindo de mim mesma por estar tão nervosa. — Entre, — eu digo enquanto me inclino para pegar o livro.
— Seu almoço, Lady Emerson, — diz Clarina da porta.
Eu me endireito, deixo o livro na poltrona e empurro meu cabelo para longe do meu rosto. — Certo. Obrigada. — Eu tenho almoçado com Aurora todos os dias desde que cheguei aqui, mas ela obviamente tem outros assuntos para tratar hoje. Clarina leva a bandeja de comida para a mesa perto das portas da varanda enquanto eu me aproximo da mesa do outro lado da sala. Sentindo-me boba agora por ter tido medo de um simples som de arranhar, mas ainda um pouco desconfiada do que poderia estar causando isso, eu abro a gaveta do lado esquerdo e rapidamente recuo. A stylus roubada rola para a parte de trás da gaveta — e nada pula sobre mim. Fecho a gaveta e abro a da direita. Está cheio de pergaminhos em branco que estavam no topo da primeira pilha de livros que Aurora reuniu para mim.
— Está tudo bem, Lady Emerson? — Clarina pergunta.
Minhas bochechas coram quando olho por cima do meu ombro para ela. — Sim, desculpe. Eu pensei ter ouvido alguma coisa, mas... — Eu viro e olho para dentro da gaveta. — Mas não há nada aqui.
— Há muitas pequenas criaturas vivendo nos jardins daqui, — Clarina me conta. — Algumas delas vêm de vez em quando. A maioria delas é inofensiva.
— A maioria? — Eu repito.
Ela sorri fracamente para o chão, mas não detalha. — Você precisa de mais alguma coisa, minha senhora?
Eu pego o livro de história no meu caminho para a mesa. — Acho que não. Isso parece incrível. — Ela balança a cabeça e caminha de volta para a porta.
— Clarina? — Eu pergunto enquanto sento em uma cadeira.
Ela para e olha em volta, seus olhos encontrando os meus por apenas um segundo antes de se concentrar no chão. — Sim, Lady Emerson?
— O que faz de você uma faerie Unseelie?
Ela hesita antes de responder. — O que você quer dizer?
— Você é mesmo uma faerie Unseelie? Todos que vivem e trabalham no palácio são considerados Unseelie?
Ela franze a testa para o chão. — Sim, eu acredito que sim, minha senhora.
— O que te faz diferente de alguém que não é Unseelie? Estou tentando lembrar o que me disseram quando cheguei a este mundo, mas não foi muito. Eu acho que alguém disse que a magia aqui é um pouco diferente? Algo sobre magia negra?
— Qualquer mágica com a qual eles não concordam, chamam magia negra.
— Eles?
— Aqueles que não são Unseelie. Alguma parte da nossa magia é a mesma que a deles, — explica ela. — Como o poder que reside naturalmente dentro de todos nós, ou o poder que absorvemos dos elementos ou das plantas. Mas eles não gostam quando tomamos o poder de outros seres vivos — seres inferiores — e eles não gostam de alguns dos procedimentos envolvidos em certas magias. Então é aí que entra a divisão. Eu acho, — acrescenta ela, cruzando as mãos recatadamente na frente dela.
Meus olhos passam sobre a comida espalhada na mesa. É muito mais do que eu poderia comer em uma refeição. Eu gostaria de poder pedir a Clarina para sentar e comer comigo enquanto eu faço mais perguntas, mas sei que ela nunca concordaria com isso. — O que conta como um ser inferior? — Eu pergunto.
Mais uma vez, ela parece confusa. — Bem, tudo que não é faerie, é claro.
Um calafrio levanta os cabelos dos meus braços, apesar da brisa morna que entra pelas portas abertas da varanda. — Você faz isso com frequência? Tome o poder de outros seres vivos?
— Não, minha senhora. Eu nunca precisei. Eu já fui curada antes por feitiços que eram especificamente Unseelie, mas eu pessoalmente não absorvi o poder cru de outro ser.
— Tudo bem. Eu entendo. — Eu não tenho certeza do que mais dizer, além de dizer a ela que tomar o poder de alguém soa francamente assustador e simplesmente errado.
— Você tem alguma outra pergunta, minha senhora?
— Hum... não agora.
Ela se vira e depois acrescenta, — Você não precisa se incomodar com tudo isso, minha senhora. Não é familiar para você, eu sei, mas não é errado. É apenas diferente. E, bem, sempre me disseram que não devemos ter medo de algo só porque é diferente.
— Hum, sim, isso é verdade. Obrigada, Clarina. — Dou-lhe um sorriso que desaparece no momento em que a porta se fecha atrás dela. Eu sei que não deveria ter medo de algo simplesmente porque é diferente, mas se é diferente e está machucando alguém, não está certo. Talvez eu tenha entendido mal, no entanto. Talvez essa coisa de ‘tomar o poder’ não seja tão sinistro quanto parece. Pode ser apenas um pouco de poder, não o suficiente para matar alguém. E talvez eles só aceitem seres que estão dispostos.
Eu me sirvo de comida, reabro o livro e continuo lendo. Depois de apenas alguns minutos, um baque surdo vem da direção do meu quarto. Eu abaixo o sanduíche que estava a meio caminho da minha boca e coloco um garfo entre as páginas do livro para marcar onde estava. Eu silenciosamente levanto uma faca e me levanto da cadeira para encarar a porta entreaberta do quarto.
E então eu passo muito tempo congelada no lugar, imaginando se devo investigar sozinha ou arriscar parecer idiota pedindo a um guarda para ir ao meu quarto e caçar a coisa misteriosa que não fez nenhum som desde aquele primeiro baque. Eu decido no final arriscar parecer idiota. Melhor do que ser mastigada por uma das criaturas não inofensivas de fora ou por qualquer coisa que tenha matado aquele guarda esta manhã.
Abro a porta principal, coloco a cabeça para fora e encontro duas mulheres em uniforme de guarda do lado de fora. Elas passam pelo menos vinte minutos procurando cada centímetro do meu quarto enquanto eu finjo ler. E quando elas saem, não tendo encontrado nenhum sinal de ameaça, estou quase certa de que vejo uma revirando os olhos para a outra.
Capítulo 03
— A SUA HABILIDADE GRIFFIN APARECEU NOVAMENTE? — AURORA PERGUNTA À noite, enquanto nos retiramos para os sofás em sua sala de estar privada. É tarde, o jantar acabou, e Roarke ainda não voltou. Perguntar quando ele voltará é inútil, por isso desisti, mas ainda me sinto queimando de frustração toda vez que imagino mamãe dormindo permanentemente. Minhas mãos querem se enrolar em punhos sempre que penso em todos os minutos, horas e dias que passam.
— Eu a senti dormindo na noite passada, — eu digo a ela, removendo uma almofada de minhas costas e abraçando-a ao meu peito. É melhor apertar a almofada do que cavar minhas unhas continuamente nas palmas das minhas mãos. — Ela me acordou. No momento em que percebi o que estava acontecendo, o momento passou. Eu não consegui falar uma única palavra antes que a magia fosse embora.
— O que você teria dito?
Eu sacudo minha cabeça enquanto observo as chamas dançantes na lareira. Como é verão aqui, eu não teria achado necessário acender uma fogueira à noite, mas a sala está agradavelmente aconchegante e acolhedora. — Eu não sei. Eu estava meio adormecida e tentando pensar em algo, mas a sensação se foi antes de eu ter qualquer comando.
Ela me observa por algum tempo, enquanto eu continuo a olhar para ela e para as chamas. — Você realmente acha que o elixir vai ajudá-la?
Eu me concentro nela, meu humor se elevando instantaneamente. Ela poderia estar pensando em dar o elixir de volta para mim? — Claro que ele ajuda. Ele liga a habilidade então assim eu consigo usá-la.
— Sim, eu sei, mas você disse que o propósito do elixir é de alguma forma ensinar você a usar e controlar a habilidade por conta própria. É para te ajudar a reconhecer como é a sua magia Griffin, certo? Para que você possa invocar essa magia à vontade sem a ajuda do elixir?
— Sim, algo assim.
— Mas você já sabe como ela é.
Eu olho para os meus braços em volta da almofada. — Sim, eu sei.
— Então por que...
— Por que não consigo fazer isso sozinha? — Eu suspiro, minha excitação se dissipando. Ela não vai me dar o elixir. — Eu não sei. Eu tentei. Eu imagino o sentimento. Eu imagino tirar magia de dentro de mim, mas nada acontece. Talvez se eu tivesse esse elixir, eu poderia —
— Não, — diz ela. — Eu não vou te dar algo que se tornará uma muleta, especialmente porque não há muito dele, e quando acabar, não sabemos como fazer mais. Sem mencionar que é uma má ideia dar a você algo que irá imediatamente ativar uma habilidade perigosa que você poderia usar contra mim.
— Aurora, eu nunca —
— Sim, sim. — Ela revira os olhos. — Você fará parte da minha família em breve, então gostaria de poder confiar em você, mas ainda não chegamos lá. Não, a razão pela qual estou trazendo isso à tona é porque tenho pensado sobre como sua habilidade pode funcionar. — Ela inclina a cabeça para o lado e olha pensativamente através da sala para as cortinas que escondem as portas da varanda. — Talvez, por ser uma habilidade tão poderosa, ela meio que precise... se reabastecer. Isso explicaria porque você não pode usá-la o tempo todo.
— Tudo bem. Talvez. Alguns tipos de magia funcionam dessa maneira?
— Bem, toda a magia funciona dessa maneira, na verdade. — Ela muda de posição, dobra uma perna sobre a outra e me encara. — É que raramente usamos tudo de uma vez só, por isso não percebemos que ela está constantemente sendo reabastecida. Se você faz algo que é particularmente árduo com sua magia, como levantar algo muito pesado e segurá-lo no ar por um longo tempo, você acabará cansando. Magicamente, quero dizer. Então você precisa descansar enquanto sua magia se restaura.
— Tipo reabastecer as energias se você faz algo que é fisicamente desgastante? — Eu pergunto.
— Sim. Então eu me pergunto se talvez a sua Habilidade Griffin funcione de forma semelhante, mas em erupções rápidas, em vez de lentamente ao longo de um longo período de tempo.
Eu concordo. — Parece que isso pode fazer sentido. Sempre sinto como se isso acontecesse em mim de repente, quando imediatamente estou para falar qualquer coisa na hora, e então some.
— Ou acaba liberada em seu entorno sem nenhum propósito se você não disser nada. — Ela bate no queixo e franze os lábios. — Hmm. Gostaria de saber se você poderia segurá-la e usá-la depois, em vez de liberá-la sempre que for reabastecido.
— Hum... eu poderia tentar isso? — Eu sugiro, não tendo ideia de como eu realmente ‘seguraria’ esse meu poder indescritível.
— De qualquer forma, tudo isso é especulação neste momento, — continua Aurora. — Precisamos coletar algumas evidências reais. Tome nota de exatamente quando acontecer. O dia e a hora. E mantenha o controle de outras coisas, como se você usou uma quantidade anormalmente grande de sua magia normal em outra coisa. Porque nós não sabemos se a sua magia normal tem algum efeito na sua magia Griffin, ou se as duas são independentes uma da outra.
Eu aceno com a cabeça enquanto ela fala. — Basicamente, queremos descobrir se podemos prever quando vai acontecer.
— Sim. Você vai ter que ser muito cuidadosa, Em. Registre todos os detalhes que possam influenciar sua Habilidade Griffin.
— Sim, definitivamente. — Eu franzo a testa enquanto minha mente relembra todas as vezes que eu dei um comando mágico, tentando forçar os eventos em um padrão que faça sentido. Eu acabo balançando a cabeça. — Talvez estejamos erradas. Houve uma vez em que usei duas vezes em alguns minutos. Então, a teoria de reabastecer não faria sentido.
— Bem, talvez você não tenha usado tudo com a primeira coisa que você disse. Talvez você tenha guardado um pouco, mas não percebeu o que estava fazendo. É por isso que você ficou com um segundo comando, mas depois disso tudo acabou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Sim. Talvez.
— Ou talvez sua magia ainda esteja se estabelecendo, — sugere Aurora. — É isso o que acontece com os halflings se a magia deles aparecer mais tarde na vida. Muitas vezes vem e vai por um tempo antes de se tornar consistentemente presente. Talvez, uma vez que tenha passado um pouco mais de tempo, sua Habilidade Griffin aparecerá em intervalos regulares.
Eu passo uma mão pelo meu cabelo. — Tantas possibilidades e incógnitas.
— É por isso que você precisa começar a documentar tudo. Essa é a única maneira de descobrirmos se minha teoria está correta ou não.
Eu me levanto e jogo a almofada no sofá. Eu ando até a lareira e levanto o castiçal de prata da cornija. Eu pratiquei acendendo uma vela repetidamente antes do jantar, e consegui produzir uma chama com quase todas as tentativas. Eu estalo meus dedos ao lado do pavio — e uma chama acende.
— Bom trabalho. — Aurora bate as mãos de prazer. — Tudo bem. Agora que você conseguiu, o que eu vou te ensinar agora?
Em vez de respondê-la, pergunto, — É isso que você faz todas as noites? Janta sozinha no seu quarto? Ou você tem jantares familiares quando todos estão em casa?
Se ela ficou confusa com a minha mudança de assunto, ela não demonstra. — Bem, é sempre diferente, — diz ela com um encolher de ombros. — Às vezes usamos uma das salas de jantar menores e jantamos apenas nós quatro. Às vezes, membros da família se juntam a nós. Às vezes, entretemos os convidados, ou minha mãe entretém seus amigos, ou eu entretenho algumas das moças da corte. Se estou cansada de todos, então como sozinha aqui. — Ela inclina a cabeça. — Por que você pergunta?
— Estou apenas tentando imaginar como é sua vida normal. Clarina me disse que você tem damas de companhia, mas as mandou embora de férias. E eu não vi você interagir com ninguém além de sua mãe e um punhado de criados e guardas, então —
— Então você está se perguntando se eu sou uma solitária miserável? — Ela pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Não. Eu estou querendo saber se você está tentando me esconder de todo mundo que mora aqui.
Vários segundos passam antes que ela responda. — Eu não chamaria isso de esconder, mas suponho que é essencialmente isso. As pessoas vão fazer perguntas sobre você, Em. Eles já estão fazendo perguntas sobre essa minha estranha amiga que não parece pertencer aqui. É mais fácil se não nos colocamos em uma posição em que precisamos responder a alguém até o momento certo.
— E o momento certo será...?
— Quando você e Roarke fizerem um anúncio oficial sobre seu noivado. Ninguém vai questionar sua presença aqui então. Eles não ousariam.
As palavras ‘anúncio oficial’ enviam um calafrio através de mim. Então, apesar do fato de eu estar ao lado do fogo, o frio parece se tornar real. Arrepios se espalham pela minha pele e o ar frio sussurra na parte de trás do meu pescoço. Eu olho por cima do meu ombro, mas apesar do sentimento distinto de que alguém está me observando, eu não vejo mais ninguém na sala.
Com um clique silencioso, a porta se abre. Meu olhar se lança em direção a ela. Ela se abre devagar, e Roarke entra na sala. Ângulos acentuados, cabelos escuros perfeitamente no lugar e olhos da cor do vinho tinto. Seu intenso olhar varre a sala antes de pousar em mim. Seus lábios se curvam em meio sorriso quando um rubor aquece minha pele.
— Oh, olhe isso. — Aurora aperta as mãos juntas sob o queixo. — Ela está emocionada ao ver você, Roarke.
— De fato. — Quando a porta se fecha atrás de Roarke, ele caminha lentamente em minha direção, mãos atrás das costas. — Se ela está emocionada pelas razões certas e não porque está desesperada para me interrogar desde o momento em que ela chegou aqui.
Eu engulo antes de falar. — Estou feliz que você não tenha esquecido por que estou aqui.
Ele para na minha frente, perto o suficiente para que eu tenha que olhar para cima para encontrar seus olhos. Eu sabia que ele era alto, é claro, mas eu tinha esquecido o jeito como a presença dele o faz parecer ainda mais alto. Eu não vou dar um passo para trás, no entanto. Recuso-me a ser intimidada pelo cara com quem eu devo estar casando em breve, independentemente do fato de que eu não tenha real intenção de concordar com essa união.
O sorriso de Roarke aumenta um pouco mais e, por trás das suas costas, ele produz uma rosa. Uma rosa dourada e delicadamente formada, com um rubi no centro de suas pétalas de ouro maciço. — Minha senhora, — ele murmura, curvando-se um pouco quando ele entrega a rosa para mim. Eu hesito, então pego dele. Ele se inclina mais para frente, seu rosto de repente muito perto do meu, e seus lábios brevemente roçam minha bochecha. Um arrepio frio desliza pela minha pele e pelo meu pescoço. — Minhas desculpas por demorar tanto para voltar. Meu pai e eu não costumamos lidar com as questões pessoalmente, mas essa foi uma dessas ocasiões. Achamos melhor ficar onde estávamos até que o trabalho estivesse terminado.
— Hum... tudo bem. Obrigada por essa explicação enigmática.
— Logo, meu amor, você fará parte da família. Você conhecerá todos os nossos segredos.
— Seu amor? Sério? — Coloco a rosa de ouro sobre a cornija da lareira e cruzo os braços sobre o peito. — Eu acho que é um pouco cedo para isso, Roarke.
Roarke olha para Aurora com uma risada silenciosa. — Você tem ensinado a ela como bancar a difícil?
Aurora se estica do outro lado do sofá, endireitando as camadas da saia sobre as pernas. — Não. Parece que ela sabe como fazer isso sozinha.
Eu quase faço um comentário sobre como isso tudo é um jogo para eles, mas considerando que eu espero enganá-los e sair daqui viva, eu provavelmente deveria jogar junto. — Que tal nos conhecermos um pouco melhor antes de começar a falar as palavras ‘meu amor’ por aí? Você nem me levou a um encontro ainda.
— Um encontro? Bem, espero que você tenha algo um pouco mais bonito para usar do que isso — ele gesticula para meu jeans e blusa de moletom — se você está planejando ir a um encontro com um príncipe. E falando em roupas, você não recebeu roupas mais apropriadas?
— Recebi, mas eu prefiro usar o tipo de roupa que eu fico confortável.
— Recusou, — Aurora diz do outro lado da sala. — Ela recusou a usar qualquer um dos vestidos.
Eu respiro fundo pelo nariz. — Esses vestidos parecem que são de outro século. Eu sei que este é um palácio cheio de membros da realeza, mas vocês não podem se atualizar com os tempos no departamento de roupas? O resto do mundo fae parece usar praticamente o mesmo tipo de roupa que as pessoas usam no meu mundo.
— Este é o seu mundo, Em, — Aurora me lembra. — E se você se desse ao trabalho de olhar mais de perto o seu guarda-roupa, acho que descobriria que as roupas penduradas ali são da última moda. Moda fae formal, que pode não ser familiar para você, mas ainda assim. Apenas os designs mais recentes.
— Você está certa, — eu digo a ela, afastando-me de Roarke para me inclinar contra uma poltrona. — Eu não estou familiarizada com a moda formal fae.
— Chega de roupa, — diz Roarke. Ele se vira para me encarar, colocando as mãos nos bolsos de seu longo casaco, que é coberto por bordados de prata primorosamente detalhados e é, sem dúvida, o mais recente da ‘moda fae formal’. — Diga-me, meu amor — Ele se interrompe. — Desculpas, — acrescenta com um leve abaixar de sua cabeça. — Por favor, diga-me, minha senhora, o que você acha da sua nova casa.
— Já que você viu o interior da minha casa anterior, eu suponho que você pode descobrir meus sentimentos em relação a esta.
— Você amou? — Pergunta ele. — Você está completamente impressionada? Você está infinitamente grata por poder passar o resto da sua vida aqui?
— Não exatamente. É linda, eu vou falar. Não é bem o que eu esperava, mas definitivamente linda.
— Ah, agora estou intrigado. — Ele levanta a rosa de ouro da cornija e a gira entre os dedos. — O que você estava esperando?
Eu levanto meus ombros em um lento encolher de ombros enquanto tento colocar minhas expectativas iniciais em palavras. — Eu não sei. Vocês Unseelies são destinados a serem os vilões, certo? Então eu estava esperando algo... mais frio. Mais escuro. Uma floresta morta ao redor do palácio, ou inverno perpétuo ou algo assim. Mas, você sabe, tudo está ensolarado, quente e vivo. — Lá fora, pelo menos, acrescento silenciosamente. Não digo nada sobre o sentimento frio e opressivo que às vezes pressiona meus ombros quando estou dentro do palácio. O frio que sinto no ar agora.
Roarke inclina a cabeça para o lado. — Você não olhou para fora à noite, não é.
Eu volto a me concentrar nas três noites que passei aqui até agora. Todas as noites, quando volto ao meu quarto, as cortinas estão fechadas, as lâmpadas encantadas acesas e a pequena piscina no banheiro decorado como uma floresta cheia de água fervente e bolhas perfumadas. — Não, eu acho que não.
Ele passa por mim, coloca a rosa dourada na mesa em que Aurora e eu normalmente comemos, e acena com a mão nas cortinas. Quando elas se abrem, ele se vira e estende a mão para mim. — Deixe-me mostrar-lhe algo.
Relutantemente, coloco minha mão na dele. Ele abre as portas da varanda e me leva para fora. Eu respiro no ar inesperadamente frio. Então, quando chego à grade da sacada e olho para baixo, meus lábios se abrem em espanto ao ver a deslumbrante paisagem de inverno cobrindo todo o terreno do palácio. — Uau, — eu sussurro.
— Minha mãe gosta de verão, — Roarke diz, — mas meu pai gosta de inverno. A magia dela controla o dia e a magia dele controla a noite.
Meus olhos percorrem a topiaria coberta de neve, as fontes congeladas e os pingentes de gelo pendurados nas pontas dos dedos da estátua mais próxima. — Deve ser muito confuso para todas as plantas e criaturas que residem nesses jardins.
— Felizmente para eles, eles também são mágicos. Eles podem lidar com isso.
Um arrepio me percorre, e Roarke tira o casaco. — Que cavalheiro, — eu digo secamente quando ele coloca sobre meus ombros. — Embora eu esperasse que houvesse um feitiço que evitasse que as pessoas ficassem com frio.
— Há sim. Mas meus níveis mágicos estão um pouco baixos no momento. — Parado mais perto de mim agora, ele estende a mão e enfia meu cabelo atrás da minha orelha direita. Eu endureço imediatamente, olhando para algum lugar na região do pescoço dele, em vez de nos olhos dele, mas conforme seus dedos tocam o pequeno pedaço de metal em forma de moeda presa à pele atrás da minha orelha, eu relaxo um pouco. Ele não está tentando ser íntimo; ele está checando se o dispositivo de ocultação ainda está lá.
— Preocupado que eu poderia ter tirado? — Eu pergunto, satisfeita em ouvir que minha voz está firme.
— Não particularmente. Você não sabe a magia necessária para removê-lo.
— Mas você está checando assim mesmo. Apenas no caso.
— Claro. Eu seria um tolo em não checar. Você pode ter encontrado alguém neste palácio disposto a removê-lo para você, ou sua Habilidade Griffin pode ter surgido por tempo suficiente para você instruir este dispositivo que se retire.
— E por que eu faria isso?
— Segundas intenções sobre nosso acordo. Culpa, talvez. — Ele se inclina para o lado contra a balaustrada, inteiramente à vontade no ar frio da noite. — Você já começou a se sentir culpada, Emerson?
Começou? A culpa vem me comendo desde antes mesmo de eu chegar aqui. Eu dei a localização escondida da minha mãe para uma faerie perigosa que depois a colocou em um coma mágico. Eu fugi das pessoas que me ajudaram e não pediram nada em troca. Eu abandonei minha melhor amiga sem nem dizer adeus. Nada disso, no entanto, é da conta de Roarke. Então eu pigarreio e pergunto, — Por que eu estaria me sentindo culpada? Eu concordei com esse arranjo para ajudar alguém. Eu não deveria ter que me sentir culpada por isso.
— É verdade, mas talvez você tenha ficado com medo desde que chegou aqui. Talvez você queira que seus amigos — os rebeldes Griffin? — saibam onde você está afinal.
Eu não confirmei a suspeita de Roarke de que foram os rebeldes Griffin que me resgataram no dia em que fugi tanto da Guilda quanto dos Unseelies e caí da beira de um penhasco. Ele perguntou onde eu estava me escondendo, mas mesmo se eu quisesse, eu não poderia contar a ele sobre aquele lugar seguro encantado. Quando estou na companhia de outras pessoas, não consigo nem pensar nisso, quanto mais falar o nome do lugar ou a localização dele. Em vez disso, um espaço em branco aparece em minha mente, presumivelmente parte do feitiço de proteção que ajuda a manter o lugar seguro. Minha lembrança dele sempre volta quando estou sozinha, mas ainda é desconcertante toda vez que desaparece completamente da minha mente.
Recusando-me a desviar o olhar de Roarke, eu digo, — Eu não estou com medo, e não mudei de ideia. A última coisa que quero é que meus amigos apareçam aqui. Por que eu arriscaria com eles arruinando nosso acordo antes que você tivesse a chance de seguir com sua parte?
Seu sorriso é lento e cuidadoso. — Bom. Fico feliz em ouvir isso.
— O que me lembra, — acrescento. — Você ainda precisa provar que realmente tem informações úteis que podem ajudar minha mãe. Você não pode esperar que eu me case com você sem alguma garantia de que você está dizendo a verdade.
— Você está dizendo que não está totalmente comprometida com a união?
— Eu estou, — eu digo ferozmente, esperando que a mentira não apareça no meu rosto, — mas apenas se você estiver totalmente comprometido em curar completamente a minha mãe. Eu quero poder confiar em você, Roarke. Por favor, me dê uma razão para isso.
— Hmm. — Roarke estreita os olhos como se considerasse o meu pedido. — Vamos ver. Você —
— Emerson Clarke?
Eu olho para as portas da varanda ao som de uma voz masculina desconhecida. Na porta há um guarda que não reconheço. — Sim? — Eu pergunto.
— O Rei Unseelie deseja encontrá-la.
Capítulo 04
A JORNADA ATRAVÉS DO PALÁCIO PARA ENCONTRAR O REI PARECE AO MESMO TEMPO torturantemente longa e assustadoramente rápida. Tenho tempo suficiente para me arrumar completamente, mas não tenho tempo suficiente para me acalmar e me preparar.
— Meu pai não é tão gentil como eu sou, — Roarke me diz enquanto caminhamos por corredores de mármore brilhantes com duas faeries uniformizadas à nossa frente e duas atrás. — Ele quer manter você, não importa o quê. Nora ou prisioneira.
Maravilhoso. Isso não me faz querer vomitar.
— Eu não vou deixar isso acontecer, é claro, — Roarke acrescenta, — mas seria melhor se você não fizesse nenhum comentário de brincadeira sobre mudar de ideia ou não estar certa sobre a união. As coisas podem ficar... desagradáveis.
— Eu já disse a você que não vou mudar de ideia. — Em meu esforço para mascarar meu medo, minhas palavras saem mais alto do que eu pretendia. — Eu estou aqui, não estou? — Eu continuo em voz baixa. — E eu vim até você. Isso não prova quão séria eu estou sobre essa união?
— Tudo o que estou dizendo é que ele não gosta de piadas ou sarcasmo, então é de seu interesse ser educada. E você provavelmente deveria tirar meu casaco. Você parece muito estranha nele.
Eu tiro o casaco de Roarke e o entrego de volta para ele. — Talvez seja de seu interesse ser educado também, considerando o quanto minha Habilidade Griffin é valiosa para ele. Se ele me fizer prisioneira, nunca lhe darei o que ele quer.
Eu tento muito acreditar em minhas próprias palavras, mas as sobrancelhas levantadas e a expressão de pena de Roarke tornam isso impossível. Quando paramos do lado de fora de uma porta enorme e ricamente entalhada, ele me encara. — Você não precisa dar nada a ele, Emerson. Ele vai pegar o que quiser.
Um guarda abre a porta. O frio artificial no ar se intensifica, e a porta em si parece se estender mais como uma boca gigante se preparando para me engolir inteira. Eu sinto o cheiro de terra úmida e folhas podres. Meu coração bate mais rápido quando imagens de criaturas viscosas, crânios e besouros passam pela minha mente.
Então eu afasto as imagens imaginadas e descubro que a porta não mudou, e a sala para qual ela se abre não é uma boca escura, mas um grande escritório. Roarke pega meu braço e me direciona para frente, já que meus pés se esqueceram de como se mover por conta própria. — Lembre-se, eu estou do seu lado, — ele sussurra para mim. — Prove para meu pai que você está disposta a trabalhar conosco e vou me certificar de que você nunca será forçada a fazer nada.
Eu não respondo, minha atenção focada no interior do escritório do rei. À direita, há uma mesa grande o suficiente para que pelo menos uma dúzia de pessoas se sentem. Estranhamente, porém, tudo o que está em cima da mesa aparece borrado quando tento olhar bem de perto. Meu olhar se move para a esquerda — e fico ainda mais surpresa com o que vejo lá: nenhuma parede envolve o escritório daquele lado. Em vez disso, ele se estende para uma caverna subterrânea feita de rocha áspera e iluminada por luz pálida.
— Deixe-nos.
A voz profunda traz minha atenção para a mesa à nossa frente. A superfície é polida como qualquer outra superfície de mármore que enche este palácio. Do outro lado, uma cadeira alta que parece ser feita da mesma rocha áspera da caverna que está atrás de nós. A cadeira permanece imóvel enquanto os guardas saem da sala e fecham a porta. Então, apesar do fato de que deve pesar uma tonelada, a cadeira gira suavemente para nos encarar.
O Rei Savyon não parece nada com seu filho. Seu cabelo branco-loiro tem mechas pretas. Seus olhos são buracos negros que me perfuram. Sem falar, ele coloca uma mão em cima da outra na mesa à sua frente. Anéis de ouro com pedras multicoloridas brilham em cada dedo.
— Pai, esta é Emerson Clarke, — diz Roarke. Eu engulo e me forço a ficar mais ereta. Tenho certeza que essa é uma daquelas situações em que eu não deveria demonstrar medo, mas acho que estou prestes a falhar miseravelmente.
O rei se levanta, caminha até a frente de sua mesa e cruza os braços sobre o peito. Seus olhos viajam por todo o meu corpo e para cima novamente, seu olhar como um dedo frio e rastejante acariciando ao longo da minha pele. Seu olhar inexpressivo permanece na minha blusa de moletom, em seguida, viaja lentamente até o meu rosto, onde ele segura meu olhar por vários segundos aterrorizantes. Apesar da minha determinação de não ser intimidada, eu quase morro de alívio no momento em que seus olhos me deixam e me movo para perto de Roarke. Eu envolvo meus braços firmemente ao redor do meu corpo e olho para o chão bem na frente dos meus pés.
— Bem, — diz o Rei Savyon, sua voz um estrondo profundo que quase posso sentir em meu próprio peito. — Ela está muito longe da mulher com quem eu esperava que você um dia se uniria, Roarke. Ela mal se encaixa para ser uma criada nesta corte, muito menos uma princesa.
— Sério, pai? — Roarke arrastou. — Essa é a melhor coisa que você tem a dizer?
— O que você espera quando me apresenta uma perspectiva tão sombria para uma nora?
— Eu posso garantir-lhe, pai, que sua Habilidade Griffin mais do que compensa o que ela não tem em outras áreas.
Aqueles olhos negros se fixam em mim mais uma vez. — Eu certamente espero que sim. Eu gostaria de ver uma demonstração agora.
Eu abro minha boca, meus olhos correndo entre os dois. Não tenho certeza se posso falar, mas eles precisam saber que não posso fazer nada sob ordens. — Não se preocupe, Emerson, — Roarke diz antes que eu possa dizer qualquer coisa. Ele alcança dentro de seu casaco e produz um pequeno frasco. — Eu tenho seu precioso elixir aqui. Yokshin, nosso mestre de invenções, vem examinando, mas ainda há muito para que você possa usar.
Droga. Não foi assim que planejei usar o elixir. Eu devo ficar sozinha com Roarke quando ele me der para que eu possa instruí-lo a me contar tudo o que ele sabe sobre minha mãe e como consertá-la. Isso não vai funcionar agora a menos que eu possa dar uma instrução ao rei ao mesmo tempo. Para permanecer congelado no lugar, talvez. Assim ele não consegue interferir. Conforme Roarke se vira para mim, pensamentos correm loucamente pela minha cabeça. Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso? Se eu não fizer agora, terei outra chance? E se eu mandar nele agora, como vou passar por todos os guardas quando sair? Ordená-los também? Haverá tempo suficiente para dar a Roarke, seu pai e todos os guardas do palácio uma ordem antes que minha Habilidade Griffin se esgote?
— A poção de compulsão primeiro, — diz o rei. — Então a poção Griffin.
— Claro, — Roarke diz, removendo outra pequena garrafa de dentro de seu casaco.
— O... quê? — Eu pergunto.
— Poção de compulsão, — Roarke repete, removendo a tampa. — É exatamente o que parece. Você pode ser obrigada a fazer certas coisas enquanto estiver sob a influência desta poção. É só para ter certeza de que você se comportará enquanto usa sua Habilidade Griffin. Nós não queremos que você faça algo bobo ou irracional. — Ele ri. — Como dizer a todos nós para nos matar ou algo assim.
Toda minha esperança murcha. — Então — então você vai me forçar a dizer alguma coisa?
— Isto é apenas uma precaução, Emerson. Meu pai ainda não sabe se pode confiar em você.
Ele entrega a garrafa para mim e, como sei que não tenho absolutamente nenhuma escolha, a levo aos lábios. — Quanto? — Eu pergunto antes de incliná-la.
— Apenas um gole.
A poção tem gosto de algo familiar, mas não consigo identificar. Eu entrego a garrafa de volta para Roarke, assim quando eu percebo que essa coisa de compulsão soa muito como a Habilidade Griffin que todo mundo neste mundo tem tentado colocar suas mãos. Minha Habilidade Griffin. — Espere, mas — se vocês tem uma coisa como uma poção de compulsão, então qual é a importância da minha Habilidade Griffin? Vocês já podem dizer às pessoas para fazerem as coisas e elas as farão. Vocês não precisam — Percebo o que estou dizendo tarde demais. Vocês não precisam de mim. Não é algo que eu deveria estar dizendo quando minha Habilidade Griffin é a única vantagem que eu tenho.
— Nós não podemos forçar as pessoas a tomar uma poção e depois obrigá-las a dizer ou fazer certas coisas, — explica Roarke. — Não é a mesma coisa que dizer o chão para se separar e depois ver isso acontecer um momento depois. — Ele coloca o elixir da Habilidade Griffin na minha mão e dá um passo para trás para ficar ao lado de seu pai. Agora que eles estão próximos um do outro, posso ver a leve semelhança entre eles, apesar de suas diferenças dramáticas na cor dos cabelos e dos olhos. — Emerson, — Roarke diz. — Você não acha que seria divertido se começasse a chover aqui?
Embora seja uma sugestão estranha, eu me encontro concordando com ele. Seria a coisa mais maravilhosa do mundo se começasse a chover aqui mesmo nesta sala. — Sim, — eu digo a ele.
— Então você deve tomar um gole desse elixir e fazer chover.
Ele tem razão. Isso é exatamente o que devo fazer. Então eu retiro a tampa do frasco e despejo algumas gotas na minha língua. Então eu espero pelo formigamento familiar, a sensação de que a magia Griffin escondida em algum lugar dentro de mim está subindo de repente para a superfície. Eu olho para o teto e digo, — Comece a chover.
E começa.
Eu fico encharcada em segundos, ofegando e tensionando meus ombros contra a água gelada. Roarke e o rei permanecem completamente secos, como se guarda-chuvas invisíveis os protegessem do aguaceiro. — Diga para parar, — Roarke fala acima do rugido de gotas da chuva.
Eu não posso sentir se há algum poder Griffin na superfície da minha magia, e é impossível ouvir minha voz acima do barulho. Mas quando eu digo para a chuva parar, eu sinto as palavras ressoando na minha cabeça do jeito que elas fazem quando a minha Habilidade Griffin ganha vida, e eu sei que funcionou.
— Muito bem, — o rei diz enquanto eu fico ali tremendo. Ele olha para Roarke. — Yokshin é capaz de recriar o elixir? Se não, e a Habilidade Griffin for aleatória, a garota não será tão útil para nós como eu esperava.
— Ele não tem certeza sobre recriar, mas na última mensagem de Aurora para mim antes de retornarmos, ela disse que está trabalhando em algumas teorias sobre como a habilidade pode funcionar. Ela acha que pode se tornar mais previsível.
O rei acena com a cabeça. — Bem, então. Tem certeza de que quer ter essa união? Seria mais simples lidar com a garota como prisioneira.
— Sim, eu tenho certeza. Eu não quero que ela seja uma prisioneira. — Roarke olha para mim como se estivesse considerando uma compra que ele está prestes a fazer. — Eu realmente gosto dela. E mamãe e Aurora podem treiná-la nos caminhos da corte. Depois de algum tempo, parecerá que ela sempre pertenceu aqui. Ela se tornará uma de nós. Ela ficará feliz em nos ajudar sempre que precisarmos de sua Habilidade Griffin. Nós nem precisamos forçá-la. Certo, Emerson?
— Sim, — eu respondo.
Um uivo distante ecoa pela caverna.
— Bom, — o rei diz novamente, sem prestar atenção ao uivo. — Até lá, Roarke, você dará a ela uma poção de compulsão todos os dias e lhe dirá exatamente o que dizer se e quando sua Habilidade Griffin aparecer. — Toda a esperança que eu tive de usar minha Habilidade Griffin em Roarke desliza para longe como cinzas através dos meus dedos. — E você, Senhorita Clarke. — O rei dá um passo em minha direção, o que é cerca de mil vezes mais perto do que eu gostaria que ele estivesse. — Descubra se a teoria de Aurora — seja ela qual for — está correta. Faça tudo que puder para aprender como funciona sua Habilidade Griffin. Você será muito mais útil para nós dessa maneira, e pessoas úteis são menos propensas a morrer.
— Pai, — Roarke diz com um revirar de seus olhos. — Isso não é útil. Ela não entende seu senso de humor ainda.
A expressão do rei não muda nem um pouco. Ou ele é muito bom em manter uma cara séria, ou isso não era uma piada.
Outro uivo trespassa o silêncio, desta vez mais alto. O rei não olha para a caverna, então nem eu. Qualquer criatura ou pessoa que está fazendo esse som, eu não quero saber.
— Vamos anunciar a união na festa de aniversário da sua mãe em duas semanas, — o rei diz a Roarke. — Você tem até então para decidir quando a cerimônia de união ocorrerá.
Um terceiro uivo se transforma em soluços, gritos e sons de luta. Finalmente, o rei olha em direção à caverna, e embora eu não queira, eu sigo seu olhar. Dois guardas Unseelie estão arrastando um homem pelo chão desigual da caverna. Enquanto o homem luta, um dos guardas dispara uma faísca de magia em seu lado, e o homem se afasta e uiva em agonia.
Eu olho para Roarke, implorando com meus olhos para nós partirmos agora. Mas ele está observando o homem lutando com uma expressão ilegível.
— Ah, você o encontrou, — diz o rei. — Este é o último, eu presumo?
— Sim, Sua Graça.
— Muito bom. — Enquanto os dois guardas se afastam do homem, o Rei Savyon levanta a mão. O homem, que pareceu por um momento como se estivesse prestes a correr, engole e fecha os olhos. O rei aperta a mão com força ao redor do ar e vira o punho abruptamente para o lado. Do outro lado da sala, na beira da caverna, a cabeça do homem faz o mesmo, dobrando-se quase paralela ao ombro. É demais, minha mente grita. É demais, É DEMAIS!
Então um som nauseante. O choro do homem é cortado. O rei levanta a mão para cima. A cabeça do homem é arrancada inteiramente de seu corpo e ambas as partes caem no chão, espalhando sangue por toda parte.
Um suspiro estrangulado me escapa. Minha mão voa para cobrir minha boca. Eu fecho meus olhos, mas de jeito nenhum eu poderei não ver isso.
Como se de longe eu ouvisse a voz do rei. — Isso é tudo, Roarke. Leve a garota de volta para seus aposentos.
Uma mão agarra o meu braço. Eu pisco e forço meus olhos para longe do corpo morto quando Roarke me puxa para a porta. Ele abre e me deixa andar na frente dele. — E Roarke, — o rei acrescenta. — Encontre alguém que queime essas roupas hediondas que ela está usando. Eu não entendo porque isso ainda não foi feito.
— Ela se recusou a se separar delas, aparentemente.
Eu me atrevo a olhar para o rei. Ele não suspira. Ele não sorri. Ele mal se move quando diz, — As roupas serão queimadas. Cabe a Senhorita Clarke se ela ainda estará nelas quando isso acontecer.
A porta se move lentamente em nossa direção. No momento em que ela se fecha, começo a correr.
Capítulo 05
EU CORRO TODO O CAMINHO DE VOLTA PARA O MEU QUARTO, ABRO A PORTA, E A fecho. Eu dou alguns passos instáveis dentro para dentro do quarto, mal vendo ao meu redor. Tudo que vejo é o pescoço de um homem virado para o lado e o sangue esguichando de...
Eu me viro, piscando, como se eu pudesse de alguma forma desviar o olhar da memória. Ainda respirando pesadamente por causa da corrida, eu empurro meus dedos pelo meu cabelo. O que diabos eu estava pensando vindo a este lugar? Que eu realmente conseguiria fugir com as respostas que preciso, porque tenho uma poderosa Habilidade Griffin que posso usar contra as pessoas? Uma habilidade Griffin que não posso usar quando quero e que pode ser usada para atender aos propósitos de outra pessoa devido a uma poção que eu não sabia que existia. Que piada miserável. Eu deveria ter adivinhado, no entanto, que algo assim aconteceria. Há tanta coisa que eu não sei sobre esse mundo e sua magia, mas o que eu deveria saber era que era uma ideia idiota me colocar no meio de um bando de faeries poderosos que exercem magia negra.
De algum lugar atrás de mim, um baque suave chega aos meus ouvidos. Eu congelo. Eu sei que deveria correr. Eu deveria abrir a porta e continuar correndo até que este palácio esteja muito atrás de mim. Mas o medo gruda meus pés no chão. Muito lentamente, eu me viro e olho por cima do meu ombro. Do outro lado do quarto na mesa redonda, ao lado da bandeja de chá e macarons que Clarina deve ter deixado aqui há não muito tempo atrás, está uma pequena coruja. Enquanto observo, a coruja parece desabar sobre si mesma. Um instante depois, um gatinho preto aparece em seu lugar.
— Bandit? — Eu sussurro em descrença. Eu me viro totalmente para encarar a criatura que muda de forma. Ele treme sua orelha direita em resposta. Sem parar para pensar, eu corro através do quarto e o coloco em meus braços, lágrimas queimando em meus olhos. — Eu não sei como você chegou aqui ou onde você esteve se escondendo ou se é você que está fazendo barulhos estranhos na minha suíte, — eu sussurro, — mas eu estou muito, muito, muito feliz de ver você. — Eu pensei que o deixei dormindo no meu quarto quando escapei do oásis, mas ele deve ter mudado para algo menor e entrou em um dos meus bolsos. Não seria a primeira vez. — Por favor, não me deixe, — murmuro em seu pêlo, minhas palavras saindo apressadas. — Por favor, não me deixe aqui sozinha. Sinto muito pelas coisas que eu disse quando você apareceu pela primeira vez. Que eu não gosto de animais de estimação e que talvez eu pudesse vender você. Eu juro que não quis dizer nada disso. Eu tive um cachorrinho uma vez, mas ele fugiu e nunca mais voltou, e mamãe e eu procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo e chorei por dias. — Eu respiro fundo e abro meus braços o suficiente para olhar para baixo para ele sentado entre eles. Ele olha para cima com olhos de gatinho perfeitamente adoráveis. — Eu sei que você é mágico, mas provavelmente não entende uma palavra do que estou dizendo, não é? — Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para todos os lados como se estivesse tentando descobrir o que estou dizendo. — Sim, — eu sussurro, puxando-o para o meu peito novamente. — Então, só não desapareça, tudo bem? Este lugar não é seguro. Para nenhum de nós dois. Se você tivesse visto o que eu acabei de —
— Emerson? — A voz do Roarke do outro lado da porta me faz tremer. Eu não tenho ideia de como ele vai se sentir sobre a ideia de um animal de estimação metamorfo aparecendo aqui, então eu corro para o quarto e coloco Bandit na cama. — Fique aqui, — eu sussurro para ele antes de fechar a porta. Com os membros ainda tremendo, eu atravesso a sala de estar e abro a porta principal apenas o suficiente para espiar através da abertura para Roarke.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Outro breve lampejo de sangue e carne sendo rasgada cruza minha mente. Eu engulo, achatando uma mão no batente da porta e a outra na parte de trás da porta. Se recomponha, eu silenciosamente instruo. Você escolheu vir aqui. Você escolheu essa opção para ajudar sua mãe. Agora faça o trabalho. — Sim, obrigada. Eu vou ficar bem. Foi apenas um pouco de choque, só isso. Ver... isso. — Duvido que seja necessário elaborar exatamente o que estou me referindo.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Hum... tudo bem.
Nós nos sentamos lado a lado no divã com uma quantidade respeitável de espaço entre nós. Arrisco-me a olhar para a porta fechada que nos separa do quarto. Espero que Bandit seja inteligente o suficiente para saber que ele precisa permanecer escondido. — Eu sinto muito que você teve que ver isso, — diz Roarke. — Eu sei que deve ter parecido brutal e cruel, mas isso não aconteceu sem nenhum motivo. Aquele homem desobedeceu ao rei e a consequência foi à morte.
Eu respiro devagar. Já que Roarke parece estar esperando por uma resposta, eu digo, — Tudo bem.
— Eu só queria explicar porque eu não quero que você tenha medo de viver aqui. Esse homem era um criminoso. Ele e vários outros roubaram do meu pai. Ele mereceu a morte. Mas para aqueles de nós que seguem as regras, a vida aqui é boa.
Para aqueles de nós que seguem as regras. As garantias de Roarke só aumentam meu medo. Não estou planejando seguir as regras. Estou planejando roubar conhecimento e depois fugir para salvar a minha vida. — Eu sei, — eu digo baixinho. — Compreendo. Como eu disse, foi apenas um choque. Eu só estou aqui há alguns dias e tudo é muito... diferente. Eu ainda estou me acostumando com isso. — Eu engulo. — Eu acho que poderia ajudar a me deixar à vontade se eu soubesse com certeza que posso confiar em você. Se você pudesse me contar algumas coisas — sobre minha mãe, então eu sei que você pode realmente me ajudar.
Ele se inclina para trás sobre uma mão e me observa enquanto sua expressão séria se transforma em diversão. — Na verdade, você não é tão mal nisso quanto Aurora pensou. Ainda bastante transparente, mas estou impressionado que você esteja tentando.
Eu estreito meus olhos para ele. — Tentando o quê?
— Reverter esta situação ao seu favor. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Estou curioso. Essa cena com meu pai realmente a incomodou, ou toda a sua reação é um artifício para que você possa tentar manipular alguma informação de mim?
Minha boca cai aberta por conta própria. Fecho-a rapidamente e cerro os dentes enquanto respondo. — Claro que fiquei chateada com isso. Foi horrível. — Eu me inclino para longe dele. — Você ficou motivado por alguma preocupação genuína quando decidiu vir ao meu quarto, ou isso faz parte do jogo que você está jogando?
Ele sorri de novo, mas desta vez é mais suave. — Eu sinto muito. Parece que nós dois ainda estamos nos descobrindo. E sim, minha preocupação por você era genuína. Eu não sou tão cruel que não signifique nada para mim ver você chateada. Podemos estar prestes a formar uma das uniões menos românticas da história, mas isso não significa que eu não vou, pelo menos, tentar cuidar de você.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, me apertando mais forte que o normal. — Bem, no caso improvável de você estar dizendo a verdade, obrigada por tentar.
Ele me examina por mais alguns instantes. — O que posso dizer para convencê-lo de que estou sendo sincero?
— Você poderia começar com...
— Devo lhe falar sobre a pequena casa em que você cresceu? Número vinte e nove Phipton Way. Devo lhe falar sobre as rosas silvestres que sua mãe adorava cultivar no jardim? Ou sobre a amiga que costumava visitá-la às vezes? Aquela que sempre acabava discutindo com sua mãe. Aquela que você nunca conheceu, porque sempre lhe disseram para ir ao seu quarto. Ou que tal o momento em que sua mãe apareceu para buscá-la na escola uma hora mais cedo e ficou do lado de fora da cerca falando com coisas que não estavam lá? Contar a você sobre essas coisas é suficiente para provar a você que eu sei mais sobre sua mãe do que qualquer um que tenha tentado ajudá-la até agora?
Um arrepio percorre minha espinha. — Como você sabe dessas coisas?
Suas sobrancelhas se apertam levemente. — Você ainda não entende, não é? Você não entende como você é valiosa. Quando eu ouvi sobre a sua Habilidade Griffin, minha prioridade foi aprender tudo o que pudesse sobre você. Procurei sua tia, depois sua mãe e depois a única pessoa que ligava Daniela e Emerson Clarke a este mundo.
— Que pessoa?
— A pessoa que sabe quem você é. A pessoa que fez sua mãe do jeito que ela é.
Meu coração troveja perigosamente rápido. — Conte.
Ele simplesmente balança a cabeça. — Tudo será revelado depois da nossa união.
Eu sacudo minha cabeça, moendo as palavras entre os meus dentes. — E você quer que eu acredite que você não é cruel.
— Eu não sou, — ele diz baixinho. — É só que você não é a única pessoa que quer alguma coisa. Eu também quero algo, e não confio que você me dê a menos que eu retenha informações de você.
— Eu vou fazer esta união.
— Mesmo? Isso é honestamente o que você está planejando fazer?
Droga. Existe algum tipo de magia acontecendo aqui que diz a ele que estou mentindo? Aquela poção de compulsão ainda está funcionando? Mas ele não me obrigou especificamente a dizer a verdade. — Sim, — eu digo a ele, querendo acreditar que é a verdade. — É o que estou planejando fazer.
— E ainda assim você não pediu detalhes sobre como eu vou cumprir o meu lado do acordo uma vez que a união tenha acontecido. Como exatamente sua mãe será acordada e curada? Eu vou te ensinar os feitiços e deixar você ir até ela? Vou insistir em fazer isso sozinho? O que vai acontecer com sua mãe quando ela estiver bem?
Droga. Ele me pegou. — Eu tenho muitas perguntas para você, Roarke, mas você não está exatamente por perto para que eu faça. Você só voltou algumas horas e não tivemos muito tempo para conversar antes que seu pai quisesse me ver.
— Verdade. Bem, então, você quer perguntar como as coisas vão funcionar depois da união?
Eu inclino meu queixo para cima. — Como as coisas vão funcionar depois da união?
Ele suspira. — Por que você é tão resistente? Entendo que não é o ideal se casar com alguém que você acabou de conhecer, mas não é como se você estivesse tendo uma vida desapontadora em comparação com esse acordo. Eu estou te oferecendo tudo. Uma bela casa, uma família poderosa, riqueza além de qualquer imaginação. E não me diga que você não quer nada disso porque todo mundo quer isso. E não há nada de errado em querer isso. Você será uma das poucas sortudas que vai conseguir ter tudo.
— Você está certo, — eu digo baixinho, desdobrando meus braços e colocando minhas mãos no meu colo. — Eu sou muito sortuda.
— Então, quando estivermos casados, eu irei até sua mãe e —
— Não, — eu interrompo. — Você — eu vou. Eu vou buscá-la e trazê-la de volta para cá. — Eu paro. — Você não iria me impedir de fazer isso, não é? De ir buscá-la? Quero dizer, obviamente eu voltaria.
— Obviamente, — ele repete. — Mas isso não significa que meu pai ficaria feliz com você saindo. Se você não quer que eu busque sua mãe, e você não tem permissão para buscá-la também, entre em contato com quem quer que seja que a mantenha segura e marque uma reunião. Em um local neutro, que seus ‘amigos’ não precisem se preocupar serem descobertos. Vou mandar algumas pessoas buscarem sua mãe. Meus homens mais confiáveis.
Eu considero sua sugestão. — Bom. Se esse é o único jeito.
— Quando ela estiver aqui, eu vou acordá-la. Eu vou curar sua mente. Então ela vai poder dizer a verdade sobre tudo. Você pode finalmente ter todas as suas perguntas respondidas. Ela pode ficar aqui também, e você pode finalmente parar de se preocupar com ela. Parar de lutar, pare de se debater. A vida será boa para você, Emerson.
— Soa perfeito.
— Soa? Eu sei que você gosta de sarcasmo, então me perdoe por duvidar de você.
Eu reviro meus olhos. — Obviamente não é perfeito, mas é o mais próximo da perfeição que a vida poderia ser, então se casar com você é o único jeito de chegar lá, então eu farei isso.
— Mesmo?
— Sim.
Ele se inclina para frente e segura uma das minhas mãos. Ele olha atentamente para os meus olhos, e embora eu não me sinta diferente, não posso deixar de me perguntar se ele está tentando usar algum tipo de feitiço de discernimento mágico do qual não sei nada. — Você está mentindo para mim, Emerson?
Eu sacudo minha cabeça, desejando não desviar o olhar dele. — Não estou mentindo. Minha mãe é a pessoa mais importante do mundo para mim. Eu faria qualquer coisa para deixá-la melhor. — E percebo quando termino de falar que estou dizendo a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela — e isso inclui se casar com um príncipe que mal conheço. Então, se não houver saída para isso, se for impossível conseguir as informações que eu preciso de Roarke antes do casamento, então eu farei isso. Vou casar com ele. E mamãe finalmente será a mãe feliz e saudável que eu me lembro.
E então...
Um dia, não importa quanto tempo demore, não importa quanto tempo eu leve para descobrir exatamente como fazer isso, eu vou tirar nós duas daqui.
Capítulo 06
— SIM, MUITO BEM, — AURORA FALA PARA MIM ATRAVÉS DO TERRAÇO CONFORME eu balanço o braço do meu parceiro de dança, dou voltas, passo por trás dele, e volto à nossa posição inicial. Depois de aplaudir brevemente, Aurora acrescenta, — Você só estragou tudo uma vez desta vez.
— O quê? — Eu me afasto do jovem que tem sido meu parceiro. Primo de Aurora ou primo de segundo grau ou algo nesse sentido. Meu futuro marido é aparentemente muito importante ou ocupado demais para esse tipo de coisa. — Eu pensei que eu fiz tudo certo.
— Não, a parte no começo logo depois de você tocar as palmas das mãos? Você virou para o caminho errado.
Eu reviro meus olhos. — Você realmente acha que alguém vai notar?
— Sim. Em um salão de baile cheio de casais dançando, quando todo mundo se vira para um lado e você vira para o outro, isso certamente será perceptível.
— Tudo bem. Eu presumo que você vai me dizer para fazer de novo? — Eu tenho praticado por horas, mas sei que Aurora não vai ficar feliz até que eu esteja completamente certa.
— Sim, — diz ela com um aceno de cabeça.
Então eu encaro meu parceiro e tento não suspirar muito alto quando começamos de novo. Pelo menos minha roupa é bastante fácil de se mover. Depois do meu aterrorizante encontro com o rei, deixei de lado a minha teimosia e dei uma olhada no meu guarda-roupa — e descobri que não detestava as roupas tanto quanto esperava. Nem todas eram vestidos fofos, fiquei feliz em ver. São mais como combinações de calças e vestidos justos, alguns com longas mangas enfeitadas e pescoços altos, outros sem mangas e luvas cobrindo todo o braço. Com o passar dos dias, passei a apreciar os ricos detalhes e estilos exóticos usados pelos membros da Corte Unseelie. E quanto mais eu penso sobre isso, mais sentido faz em um mundo cheio de magia e encantamento, que a roupa seria tudo menos comum.
Ou talvez eu esteja simplesmente me acostumando a estar aqui, o que é um pensamento aterrorizante.
Nós dançamos a dança mais três vezes antes de Aurora finalmente nos deixar parar. Seu primo, que parecia que poderia se esfaquear se forçado a me girar mais uma vez, corre antes que Aurora consiga ordenar outra tarefa chata para ele. — Noraya, vamos tomar refrescos agora, — diz ela, acenando passando por mim para onde sua criada está esperando na porta da biblioteca.
Eu me junto a Aurora do outro lado do terraço e sento no banco balançando ao lado dela. É apenas uma única videira, e tenho um pouco de receio de colocar todo o meu peso no hemisfério oco. Mas Aurora continua me dizendo para não duvidar da magia, e seu banco está perfeitamente bem até agora. Depois de alguns momentos, relaxo contra as almofadas e levanto os pés para que eu possa balançar gentilmente para frente e para trás. Eu olho para o jardim, mas não há muita coisa acontecendo. O terraço da biblioteca fica em um lado mais silencioso do palácio.
— Então, agora que posso dançar sem errar, — digo a Aurora, balançando meu banco para encará-la, — podemos fazer algo mais emocionante esta tarde? Como arco e flecha? Eu estava começando há ficar um pouco menos que terrível em nossa última lição. Ou eu poderia te mostrar mais movimentos de parkour. Você poderia experimentar alguns deles desta vez, em vez de apenas me observar.
Ela ri e balança a cabeça para minha aparente tolice. — Você não acha que acabou as aulas de dança, não é? Você aprendeu uma dança, Em. Agora você precisa aprender o resto delas. E só temos três dias até o baile de aniversário de mamãe.
Meus pés caem no chão. — Sério? Eu tenho que aprender todas as danças?
— Sim. Vai ser bastante ruim quando as pessoas descobrirem que a futura princesa é alguém que passou toda a sua vida no reino humano e não sabia nada deste mundo até algumas semanas atrás. Se eles não virem você usando magia ou dançando todo tipo de dança, será ainda pior.
— Espere, você quer que eu use magia no baile? Na frente das pessoas?
— Claro. — Ela move a mão em um círculo, e seu banco começa a girar lentamente. — Deve estar tudo bem, não é? Você pode lidar com o básico agora.
— Sim, eu só não sabia que isso era esperado, só isso. Eu tentarei não esquecer.
— Essa é a coisa, Emerson. — Sua voz me alcança do outro lado do seu banco. — Você precisa chegar ao ponto em que não precisa se lembrar. Deve se tornar uma parte automática de sua vida diária, usando até mesmo para as tarefas mais simples.
— Soa um pouco como preguiça para mim.
— Você sabe o que é preguiça? — Ela faz seu banco parar quando ela está de frente para mim e toca distraidamente o pingente em volta do pescoço: uma forma oval prateada com uma pedra negra no centro. — Sentar em frente a uma tela brilhante e assistir sem pensar imagens em movimento.
Eu dou a ela o meu olhar nada impressionado. — Você está se referindo a TV e filmes? Porque isso não é preguiça. É entretenimento e faz parte da —
— Parte da vida humana. Assim como a magia faz parte da vida dos faeries. Faz parte da sua vida agora, Em, então se acostume com isso.
— Tantas coisas que tenho que me acostumar, — eu penso, olhando através do jardim novamente.
— Sim, como roupas bonitas, feriados exóticos, festas luxuosas e isso é o esperado pelo resto de sua vida.
— Eu estava me referindo mais a este mundo e sua política e geografia e história e criaturas e... tudo, — eu digo baixinho. — É tudo muito diferente da vida em que cresci.
— Verdade, — ela diz. — É por isso que você deve se concentrar com as coisas frívolas. É muito mais fácil se acostumar. O resto seguirá com o tempo.
Eu aceno, apesar do fato de que eu não concordo com ela. Eu não posso dizer a ela que ainda estou determinada a encontrar uma saída para tudo isso. Mesmo agora, depois de lições intermináveis de magia, etiqueta e dança, depois de longas discussões sobre os detalhes da cerimônia de união, eu ainda não consigo imaginar este casamento realmente acontecendo. Eu sei que provavelmente estou em negação. Eu sei que é improvável que Roarke me conte mais alguma coisa sobre minha mãe até nos casarmos. Mas eu não vou desistir até o momento em que a cerimônia de união começar.
Noraya retorna então com dois copos altos flutuando na frente dela. Ela é tão boa nessa coisa de levitação que nem precisa usar as mãos. Elas permanecem perfeitamente atrás das suas costas enquanto ela caminha para frente, os olhos apontados com firmeza à frente, em vez de observar os copos flutuantes. — Limonada, Sua Alteza, — diz ela quando nos alcança.
Eu me empurro para frente e fico de pé enquanto um dos copos se move em direção a Aurora. Eu envolvo minha mão em torno do outro. — Obrigada, Noraya. — Ela arrisca um olhar para mim, sorri, então olha apressadamente para longe.
— Você precisa superar isso, — Aurora me diz uma vez que Noraya caminha de volta para a porta da biblioteca. — Não há nada de errado em ser esperado.
Eu me acomodo com cuidado em meu banco sem derramar minha bebida. — Eu não gosto de relaxar e receber as coisas. Parece apenas... rude.
— É grosseiro impedi-la de fazer seu trabalho corretamente.
— Bem, de qualquer maneira, ela sorriu para mim, então eu acho que ela não se importou.
Aurora abaixa o copo e pisca. — Ela sorriu para você?
— Quero dizer, não para mim, — acrescento apressadamente, não querendo colocar Noraya em problemas. — Não de um jeito indelicado. De qualquer forma, queria perguntar a você sobre os vestidos para o baile de aniversário da sua mãe. Eu suponho que você vai me dizer o que eu devo vestir? Eu não acho que posso ser confiável para escolher o tipo certo de vestido.
Aurora estreita os olhos com a mudança abrupta de assunto, mas ela deixa passar. — Sim. Mamãe e eu mandamos fazer três vestidos para você. Nós decidiremos qual escolher quando soubermos o que Roarke estará usando.
— Certo. Claro. Porque seria terrível se as cores entrassem em confronto ou algo assim.
Ela revira os olhos e cutuca meu joelho com o sapato. — Seria terrível. Vocês dois precisam parecer o par perfeito.
— O que é bobo, porque nunca seremos um casal perfeito. Nós nem sequer — Oh. — Eu sento um pouco para frente. — Minha Habilidade Griffin. Eu posso senti-la chegando. — No tempo em que estou aqui, eu fiquei mais sintonizada com a sensação da minha magia. Ser forçada a manter registros intermináveis da magia comum que uso todos os dias, o quanto eu como, o quanto estou cansada ou energizada, e exatamente quando minha Habilidade Griffin aparece me tornou mais consciente de cada pequena mudança na minha magia.
— Ah, é quase na mesma hora que as últimas manhãs, certo? — Aurora diz. — Um pouco antes da hora do almoço?
— Sim. E eu usei muito mais a minha magia normal do que o habitual na noite passada tentando derreter aquela fonte, então provavelmente podemos dizer com certeza agora que níveis mágicos comuns não têm muita influência na minha magia Griffin.
— Excelente. Não se esqueça de adicionar isso ao seu caderno. Acho que temos uma ideia razoavelmente boa de como sua habilidade funciona agora, mas você provavelmente deve continuar acompanhando-a por mais algumas semanas. Só assim podemos ter certeza.
Eu achava que a minha Habilidade Griffin não fazia nenhum sentido quando se revelou pela primeira vez, mas talvez, como Aurora sugeriu, ainda estivesse ‘se estabelecendo’ durante os meus primeiros dias neste mundo. Desde então, meu excessivo registro revelou um padrão bastante regular: Minha Habilidade Griffin aparece duas vezes ao dia, com aproximadamente doze horas de diferença, mais ou menos uma ou duas horas. E durante esse tempo, não há nada que eu possa fazer — além de pegar o elixir, que agora está esgotado — que fará com que apareça. O que significa que é provável que a teoria de reabastecer de Aurora esteja correta.
Eu abaixo meu copo de limonada e sento na beira do meu banco. Eu fecho meus olhos e tento prever o momento exato antes de sentir aquela sensação de formigamento na minha espinha. — Eu imagino como se fosse um vulcão se preparando para entrar em erupção, — murmuro. — A pressão se acumula dentro de mim e, de repente, tudo corre para a superfície, pronto para explodir.
— O que Roarke obrigou você a dizer desta vez? — Aurora pergunta.
Assim como o rei instruiu, Roarke me dá uma poção de compulsão todos os dias — bem, duas vezes por dia, agora que descobrimos o padrão — e me diz exatamente o que dizer quando minha Habilidade Griffin está pronta para ser usada. — Ele me obrigou a tentar preservar o poder, se possível. Se não, então eu devo dizer para todas as rosas amarelas no jardim para ficarem azuis.
— Ugh, que comando estúpido. Ele realmente precisa encontrar alguns usos mais interessantes para sua magia. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja te deixando praticar. Você precisa aprender a dominá-la, Em.
— Sim. — Eu aperto minhas mãos e fecho minha boca enquanto a magia Griffin ondula através de mim, exigindo ser liberada. Segure-a, segure-a, segure-a, eu silenciosamente me instruo. E quando tenho certeza de que a magia está prestes a se libertar de mim, me forçando a falar às instruções que Roarke me deu, apenas... não. Lentamente, começa a parecer menos esforço segurá-la. Eu abro meus olhos, minhas mãos relaxando no meu colo. — Eu acho que eu consegui, — eu digo com um sorriso. — Eu ainda posso sentir o poder lá, como um zumbido estranho logo abaixo da minha pele. Eu me pergunto por quanto tempo eu posso —
O poder corre para fora de mim, tornando minha voz mais profunda e ressonante. — Toda rosa amarela no jardim ficará azul, — eu digo.
Aurora se senta um pouco para frente, olhando além de mim. Depois de um momento, ela diz, — Funcionou. Eu consigo ver apenas alguns arbustos de rosas amarelas daqui, mas elas ficaram azuis.
Eu caio de volta contra minhas almofadas, fazendo meu banco balançar com movimentos bruscos e oscilantes. — Merda, foi apenas um minuto.
— Bem, talvez você tenha se empolgado cedo demais. — Aurora se inclina para trás e toma um gole de sua limonada. — Tente por mais tempo na próxima vez antes de me dizer ‘consegui’. Tudo que você precisa é praticar.
— Maravilha. Outra coisa para praticar, — eu digo com um suspiro.
— Diga ao Roarke para obrigá-la a segurá-la, não apenas para tentar. E nada disso ‘Se você não conseguir, então é isso que você vai dizer.’ Ele basicamente está lhe dando permissão para falhar.
— Mm. — Eu estou esperando pelo dia em que Roarke estará ocupado o suficiente para esquecer de me obrigar. Esse é o dia em que vou me certificar de que eu esteja com ele exatamente no momento certo. Vou ordenar a ele que anote todos os feitiços necessários para acordar e curar minha mãe. Então, se restar alguma coisa da minha Habilidade Griffin, vou usá-la para sair daqui.
— Você não quer terminar sua limonada? — Aurora pergunta, levantando meu copo do chão com um simples aceno de sua mão. — Você precisa se manter hidratada, se quiser sobreviver ao resto das aulas de dança do dia.
Eu pego o copo do ar e tomo o restante da limonada. — Você vai ter que encontrar outro membro disposto em sua corte para ser meu parceiro, — eu a lembro, — e seu primo provavelmente já disse a todos para evitarem a mim e a minha dança terrível, então... Oh. Isso é uma ideia.
— O quê?
— Você acha que funcionaria se eu usasse minha Habilidade Griffin para dizer a mim mesma que eu posso dançar perfeitamente a dança das fadas?
— Uh... — A expressão de Aurora fica pensativa. — Hmm. Eu imagino. Quero dizer, como funciona a sua magia Griffin em primeiro lugar? Ela obedece às suas palavras exatas ou à sua intenção por trás das palavras? Funciona de acordo com o que você está imaginando quando ordena alguma coisa? Nesse caso, a coisa da dança não funcionaria porque você não sabe e, portanto, não consegue visualizar todos os passos das outras danças. E outra coisa, — acrescenta ela, batendo na lateral do copo com as unhas. — Se você me disser para fazer algo, mas a maneira que eu entendo seu comando não é da mesma maneira que você quis dizer, qual intenção a magia obedecerá? Sua ou a minha?
Eu inclino minha cabeça contra as almofadas. — Eu não tenho ideia, mas estou começando a desejar que esta Habilidade Griffin viesse com um manual de instruções.
— Experimentação, Em. Isso é tudo que requer.
— Claro, mas é frustrante quando tenho que esperar meio dia entre cada nova experiência.
— A menos que você possa se agarrar ao seu poder e usar um pouco de cada vez.
— Talvez. — Eu viro no meu banco para encarar as portas da biblioteca quando passos soam no terraço.
— Sua Alteza, — diz Clarina quando nos alcança. — Minha senhora, — acrescenta ela, direcionando suas palavras para mim antes de virar de volta para Aurora. — Phillyp está pronto para a sua aula.
— Oh, maravilha. — Aurora entrega seu copo de limonada pela metade para Clarina antes de se levantar.
— E sua mãe acabou de enviar uma mensagem para dizer que gostaria de discutir alguns detalhes do baile com você.
— Mamãe sempre escolhe fabulosamente o pior momento, não é? — Aurora diz com um suspiro. — Ela vai ter que esperar.
— Claro, Sua Alteza. Devo dizer a ela o habitual?
— Sim. Diga a ela que estou no meio da minha aula de arco e flecha. Eu vou direto para ela assim que terminar.
Clarina acena com a cabeça uma vez. — E devo escoltar Lady Emerson de volta para seus aposentos?
— Hum... não, na verdade. Em vem comigo desta vez. — Aurora me dá um sorriso perverso. — Eu confio em você agora para manter meus segredos.
Depois de uma rápida reverência, Clarina sai. — Poxa, — eu digo. — Estou chocada ao descobrir que a princesa perfeita está guardando segredos de sua própria mãe.
Ela dá no meu braço uma tapa brincalhona. — Não, você não está. Além disso, não é grande coisa. É apenas algo que minha mãe não aprova. — Em vez de voltar para dentro, ela sai do terraço para a grama.
— Sua mãe não aprova você treinar arco e flecha também, — aponto enquanto a sigo, — mas ela não impediu você de ter aulas.
— Sim, bem, eu disse a ela que era ou tiro com arco ou combate mágico, e não havia como ela permitir que sua pequena princesa aprendesse um combate mágico.
— Que é o quê, exatamente? — Eu me inclino quando uma borboleta prateada e uma lagartixa com asas — uma correndo atrás da outra — voam muito perto da minha cabeça.
— Você sabe como quando você se baseia em seu poder e, em sua forma mais básica, é apenas o poder cru em suas mãos? — Diz Aurora.
— Sim. — Foi essa a lição que recebi de Azzy na Chevalier House.
— Bem, tudo que você faz é jogar essa magia em alguém. Quero dizer, há mais do que isso. Aqueles que são treinados em combate mágico muitas vezes transformam sua magia em outras coisas. Pedras ou lâminas ou bandos de aves com bicos afiados. Algo que pode mais facilmente derrubar um adversário do que apenas algumas faíscas. Mas sua mente tem que ser muito rápida. Você tem que ser capaz de moldar sua magia mentalmente assim. — Ela estala os dedos. — Mais e mais, enquanto também se protege.
Eu olho em volta enquanto nos afastamos do palácio. Esta parte do jardim não me é familiar, e tudo o que posso ver à frente é um bosque de árvores. — Então a rainha não queria que você aprendesse essa habilidade?
— Não. Não é coisa de princesa. Temos guardas para lutar por nós, se necessário. Ela concordou com arco e flecha, porque tudo o que isso implica é atirar flechas em objetos inanimados que não atiram de volta em mim.
— Muito mais civilizado, — comento. — Mas isso claramente não era ousado o suficiente para você, então você teve que tentar outra coisa.
— Sim.
— Algo que sua mãe certamente não aprovaria.
— Exatamente.
— E o que é?
Um sorriso estende em seus lábios conforme alcançamos as árvores. — Montar em um dragão.
Capítulo 07
MEUS PASSOS PARAM. — ESPERE. — LEVANTO UMA MÃO. — Espere, espere, espere. Vocês têm dragões?
— Sim. — Aurora se vira para olhar para mim. — Você não os viu voando de vez em quando?
— Bem... eu vi alguma coisa no céu. Eu presumi que eram pássaros grandes, ou algum tipo de criatura voadora que ainda não conheci.
Ela cai na gargalhada. — Pássaros grandes? Mesmo?
— Eu só os vi de longe, — Eu digo defensivamente. — Era difícil julgar o tamanho.
— Bem, você está prestes a vê-los de perto.
Eu pisco. Meus pés ainda não se movem. — Caramba, — eu sussurro.
— O quê? Você não está com medo, não é?
— Não. Quero dizer, talvez. Provavelmente. Estou tendo apenas um daqueles momentos em que me pergunto se estou realmente sonhando. Estamos falando de dragões, Aurora. Eu cresci pensando que eles só existiam na ficção, e agora estou prestes a ver um? Meu cérebro não faz ideia de como reagir a isso.
— Vamos. — Ela pega meu braço e me puxa para frente. — Seu cérebro tem um minuto ou dois para entender as coisas. Os cercados dos dragões estão do outro lado dessas árvores.
— Dragões, — murmuro. — Você tem dragões. Dragões de verdade.
— Nós costumávamos ter gárgulas também, — acrescenta ela. — Bem, por 'nós' quero dizer a geração anterior da realeza. Gárgulas não são tão grandes quanto dragões, mas são assustadores, foi o que eu ouvi. Eles costumavam ficar de guarda no topo do palácio, mas todos desapareceram há algumas décadas.
— Sério? — Eu penso na criatura que Ryn estava montando quando ele me salvou de cair para a minha morte da beira de um precipício. Tenho certeza que era uma gárgula.
— Sim, meu pai tem sido rei por alguns anos, e as gárgulas nunca pareciam gostar dele. Um dia todos voaram para longe e ninguém os viu desde então.
— Que estranho, — eu digo devagar. Eu não mencionarei a Aurora que fui resgatada por um rebelde Griffin sobre uma gárgula, mas não posso deixar de me perguntar se é uma das gárgulas que moravam aqui.
Nós andamos além das árvores, mas ainda não vejo dragões. Ou cercados, por falar nisso. Eu olho para cima, mas também não há nada no céu. — Você terá que olhar para baixo, — Aurora me diz. — Ali.
Meu coração bate mais rápido quando nos aproximamos da borda de um buraco cavado no chão. Gradualmente, à medida que a borda fica visível, sou capaz de distinguir o tamanho desse buraco. O outro lado é de vários tamanhos de campos de esportes de distância. Paramos a uns trinta centímetros da beirada e olho para um ambiente exuberante e parecido com uma selva. Por um momento, eu me esforço para distinguir qualquer tipo de criatura entre as árvores e plantas coloridas, mas então algo se move. Um pescoço grosso e coberto de escamas. Uma cabeça gigantesca, subindo e girando lentamente para nos encarar até que esteja quase nivelada com o topo do poço.
— Em, — Aurora diz, — conheça Imperia.
O corpo do dragão brilha azul-verde e púrpura enquanto ela se move, e os enormes ferrões ao longo das suas costas são rosados e avermelhados. Sua cauda, terminando em forma da ponta de uma flecha verde, gira ao redor, derrubando facilmente uma fileira de arbustos. Então ela fica imóvel, inclina a cabeça um pouco para o lado e me observa com os olhos brilhando como brasas laranja ardentes.
— Ela é linda, não é? — Aurora diz.
Minha boca está aberta, minha língua está seca e meus pés estão enraizados no lugar — apesar do fato de que uma voz muito insistente no fundo da minha mente está gritando para eu fugir para salvar minha vida. — Incrível, — eu sussurro.
— Cada poço pertence a um dragão diferente. A Imperia sempre preferiu um ambiente tropical, mas o próximo poço está cheio de gelo. E o mais distante — que nos levaria algum tempo para caminhar — é profundo o suficiente para conter uma montanha.
— Uau. E eles podem voar para fora de seus poços sempre que quiserem? — Minhas pernas finalmente se lembram de como andar, e dou um passo trêmulo para trás conforme Imperia levanta a cabeça um pouco mais alto.
— Não, há um escudo invisível por cima. Os dragões não estão autorizados a menos que estejam com um cavaleiro.
— Tudo bem. — Eu engulo. — E percebo que não há paredes ao redor desses poços. O escudo pegaria alguém se caísse?
Aurora parece despreocupada quando ela diz, — Não.
— Mas... então...
— Se alguém for estúpido o suficiente para cair em um poço com dragão, então eles merecem ser comidos. Mas Imperia provavelmente não faria isso. Não com quem ela conhece, pelo menos. Ela é muito amigável. Então. — Ela se vira para mim. — Você quer montá-la?
Não tenho certeza de quanto tempo minha boca está aberta antes que eu finalmente responda. — Eu... na verdade... quero.
Aurora sorri para mim. — Eu gosto de você ainda mais agora. — Ela se abaixa e passa a mão ao longo da grama. Enquanto se endireita, uma linha cor de ouro forma um círculo perfeito ao nosso redor. Sem aviso, o chão estremece. O pedaço de terra circular em que estamos posicionadas se separa do chão e começa a descer.
— Uau. — Eu levanto minhas mãos e me firmo. — Então, estamos descendo para o poço?
— Sim.
— E, hum, eu estarei com alguém quando estiver montando esse dragão? Um profissional treinado?
— Você vai estar comigo.
— Mas... você ainda está aprendendo, não está? Clarina disse algo sobre... Phillyp estar pronto para a sua aula?
— Isso é apenas o que minhas criadas foram treinadas para me dizer quando Phillyp informa a uma delas que a barra está limpa para eu vir aqui. Sabe, quando não há ninguém por perto que possa dizer a minha mãe que eles viram a princesa nas costas de um dragão. Eu recebi lições no começo, é claro, mas elas terminaram há muito tempo. — Ela olha para mim. — Você não acredita que eu sei o que estou fazendo, Em?
— Hum... eu quero confiar em você. — Eu vejo a terra escura subindo rapidamente em torno de nós, em seguida, levanto os olhos para o pedaço circular do céu cada vez menor.
Aurora ri. — Bem, eu não vou forçar você, Em. Mas você sabe que vai se arrepender de ter ficado no chão assim que me ver voando no ar.
De alguma forma, sei que isso é verdade.
O elevador de terra mágico estremece silenciosamente até parar. Em poucos segundos, um túnel se forma à nossa frente, curto o suficiente para que eu possa ver a vegetação exuberante do outro lado. Eu sigo Aurora, hesitando na boca do túnel e olhando em volta procurando por Imperia. Através das árvores, vejo as escamas marinhas e roxas de uma de suas pernas.
— Oi, Phillyp, — Aurora diz, saindo direto do túnel e para a direita.
— Princesa, — diz uma voz masculina. — Estou feliz que você pôde vir. Imperia não voou por dois dias. Eu acho que ela está ansiosa para abrir suas asas corretamente.
Depois de outro olhar por cima do meu ombro em direção a Imperia, corro atrás de Aurora. Ela está falando com um homem magro encostado na porta de uma sala construída na lateral do poço. Sua cabeça está raspada, e a ferida brilhante em seu braço parece ter sido queimada recentemente. — Ooh, ai, — Aurora diz, inclinando-se para olhar seu braço. — Imperia fez isso?
— Sim. A culpa é toda minha, e você sabe que estou acostumado.
— Sim. E vai sumir em breve, tenho certeza, — Aurora diz enquanto se endireita. — Phillyp, esta é Em. Minha nova amiga. Ela vai montar comigo hoje, então, por favor, use a sela dupla.
Phillyp faz uma pausa por apenas um momento antes de inclinar a cabeça. — Claro, Sua Alteza. — Ele se vira e desaparece na sala.
— Ele não acha que é uma boa ideia, — murmuro para Aurora.
— Absurdo. Ele sabe que sou perfeitamente capaz de levar mais alguém comigo. É só que eu trouxe uma das minhas damas de companhia uma vez, e ela gritou o tempo todo que estávamos no ar. Imperia não ficou impressionada e nem Phillyp. — Ela estala os dedos perto da parte de baixo da saia e percebo um breve brilho antes que a faísca da sua magia desapareça. — Mas você não planeja gritar como uma garotinha, não é, Em?
Decido não perguntar a Aurora exatamente como ela sabe que Imperia não ficou impressionada. — Não. Obviamente, eu não pretendo gritar como uma garotinha.
Um conjunto de escadas, pairando a poucos centímetros acima do solo, desliza para fora da sala e passa por nós em direção a Imperia. Um momento depois, Phillyp corre atrás do que eu suponho ser a sela flutuando à sua frente.
— Ah, finalmente, — diz Aurora. Viro para encará-la enquanto sua saia cai no chão, revelando uma calça justa na mesma cor que seu espartilho. — O quê? — Ela pergunta em resposta às minhas sobrancelhas levantadas. — Eu não posso montar um dragão com um vestido.
— Eu acho que não. Ainda bem que já estou usando calça.
Com um aceno de mão, a saia voa para a sala. — Você vai querer manter o cabelo longe do seu rosto. — Aurora me diz enquanto nos dirigimos através das árvores. Ela acena com a mão perto do seu cabelo, e os grossos cabelos roxos e pretos prontamente se organizam em uma trança. Uma fita cor de prata aparece e se amarra no final de seu cabelo.
— Preguiçosa, — murmuro, estendendo a mão para trançar meu cabelo com as mãos.
— De jeito nenhum, — ela responde. — Você logo perceberá que qualquer feitiço que poupe tempo em se preparar e permita que você permaneça mais no ar nas costas de um dragão por mais tempo é um feitiço que vale a pena memorizar. — Ela para na beira de uma clareira e olha para cima, as mãos dela nos quadris. — Eu vou te ensinar mais tarde.
Minhas mãos continuam trançando por vários segundos, enquanto percebo o tamanho do dragão, admirando de boca aberta. O conjunto de escadas é alto o suficiente para alcançar suas costas, e Phillyp fica em cima, prendendo as correias e fivelas da sela com magia. Imperia solta um bufo alto, emitindo fumaça pelas narinas.
Eu engulo. Com os dedos tremendo, eu termino de prender minha trança. Rápido, Phillyp desce os degraus e Aurora sobe. Ela pega as correias, sobe nas costas de Imperia e balança a perna sobre o assento da frente da sela. — O que você está esperando? — Ela pergunta quando olha para mim. Em vez de responder, eu lambo meus lábios. — Vamos, Em, não enlouqueça. Isto vai ser divertido.
— Eu sei. — Minha voz soa rouca e um pouco mais alta do que o normal. Eu pigarreio. — Estou animada. Eu realmente estou. Eu por acaso estou um pouco assustada ao mesmo tempo. — Eufemismo, meu coração batendo descontroladamente grita para mim. Que gigantesco. Maldito. Eufemismo.
Mas isso não muda o fato de que eu quero fazer isso. Então eu forço minhas pernas a subir os degraus. Em cima, dou um último suspiro profundo antes de colocar a mão contra as escamas suaves de Imperia. Abaixo do meu toque, a cor ondula e brilha. Eu agarro duas das correias e me puxo para cima. Graças a todas as paredes que subi nos últimos anos, meus braços são bem fortes. Uma vez que me acomodo no meu assento, a escada escorrega para longe do corpo de Imperia.
— Coloque essa alça em volta da cintura, — Aurora diz, virando-se e apontando para uma alça solta pendurada em um dos lados da sela. Eu coloco através do meu corpo e prendo-a através do círculo de metal do outro lado.
Então finalmente, olho para baixo. Estamos mais longe do chão do que eu imaginava e ainda não decolamos. Não é que eu tenha medo de altura, e não é que eu tenha medo de correr riscos. Val e eu realizamos muitos saltos, cambalhotas e descidas que poderiam facilmente nos ter levado ao hospital. Mas eu estava sempre no controle do meu próprio corpo então. Agora, estou cem por cento à mercê de outra criatura — e é aterrorizante.
Aurora segura às rédeas. Imperia levanta as asas e seu corpo rola para um lado e depois para o outro enquanto ela avança alguns passos. Eu inalo bruscamente e agarro o cume da sela que se eleva entre o assento de Aurora e o meu. As pernas de Imperia se dobram ligeiramente. Eu seguro minha respiração. Então, com um grande impulso para baixo de suas asas, ela se eleva no ar. Eu sinto um solavanco enjoativo na região do meu estômago. As asas de dragão batem no ar, as copas das árvores balançam descontroladamente e o chão se afasta de nós. Eu imagino despencar em direção ao chão. Eu quase grito que quero sair, mas fecho a boca, agarro mais à sela e digo a mim mesma que não vou morrer.
Nós subimos rapidamente, o palácio ficando menor e o território Unseelie ao redor aparecendo. As asas de Imperia diminuem o ritmo. Ela se inclina um pouco para o lado e, em seguida, voa pelos limites do palácio. E em meros segundos, meu terror dá lugar à pura alegria.
***
— Essa foi a coisa mais incrível que já fiz, — digo a Aurora no momento em que os pés de Imperia tocam o chão em seu cercado.
— Eu disse a você, — ela responde com uma risada. A escada chega um momento depois e nós duas saímos de nossos assentos. Eu paro na parte inferior e estendo a mão contra o lado de Imperia. — Eu vou poder fazer isso de novo?
— Claro, — diz Aurora. Ela tira a fita cor de prata e empurra os dedos pelos cabelos para libertá-los da trança. — Você pode vir comigo sempre que quiser. Phillyp pode dar-lhe aulas e, em breve, passará a montar sozinha. Então podemos levar nossos dragões juntos. Vai ser perfeito.
Seria se eu estivesse planejando ficar aqui. Eu dou um passo para trás e olho melancolicamente enquanto Imperia se afasta. Eu envolvo meus braços em volta de mim e mordo meu lábio. É assustador admitir isso para mim mesma, mas acho que realmente posso gostar de viver aqui. As manhãs passando descansando em balanços, as tardes passando deslizando pelo céu nas costas de um dragão. E com minha mãe saudável ao meu lado. Tudo que eu preciso fazer é olhar para longe de quaisquer atos horríveis que acontecer de eu testemunhar o Rei Unseelie cometendo. E de alguma forma viver com a culpa de qualquer ato horrível que ele me obrigue a cometer.
Não, eu sussurro silenciosamente. Eu não posso viver com isso. — É apenas a realeza que tem dragões? — pergunto a Aurora enquanto Phillyp envia a escada portátil de volta ao depósito.
— Não, mas eles são muito caros, então apenas os muito ricos estão em posição de possuir um.
— Certo. — Então eu deveria aproveitar todas as oportunidades de montar em um dragão enquanto eu ainda moro aqui. Depois que eu for embora, nunca poderei pagar por isso.
— Felizmente, — Aurora continua, — você está prestes a se tornar membro de uma família extraordinariamente rica. Você pode ter quantos dragões quiser.
— Se eu soubesse que isso era tudo o que precisava para conquistar você, — uma voz diz atrás de nós, — eu teria trazido você aqui há muito tempo, Emerson.
— Roarke, — Aurora diz quando nos viramos para encará-lo. — Procurando por mim?
— Sim. Eu pensei que poderia te encontrar aqui. Você, no entanto... — Ele olha para mim. — Bem, nas costas de um dragão não é onde eu esperava encontrar você.
— Ela adorou, — Aurora diz, juntando as mãos e sorrindo.
— Eu ouvi, — Roarke diz com um sorriso divertido. — O que você disse exatamente? — Ele me pergunta. — Foi a coisa mais incrível que você já fez?
— Bisbilhotar é rude, — eu digo a ele.
— Assim como manter segredos da minha mãe, mas eu vou continuar escondendo também, não se preocupe, — acrescenta ele quando Aurora abre a boca para protestar. — Ela não precisa saber sobre o seu passatempo favorito.
— Onde você esteve à manhã toda? — Pergunto conforme voltamos para o fundo do poço. — Eu pensei que você poderia se juntar a mim para a minha aula de dança.
— Eu estava... organizando um presente para você, meu amor.
Eu arqueio uma sobrancelha cética. — Houve muita hesitação em sua voz para que isso seja verdade.
— É verdade, eu prometo. Eu só estava pensando se deveria te contar ou não.
O túnel se materializa à nossa frente quando nos aproximamos da parede. — Tudo bem, se esse presente é de verdade, então quando vou recebê-lo?
— Assim que Yokshin terminar.
— Yokshin? — Eu me lembro desse nome de algum lugar.
— Sim. Ele é nosso mestre de invenções. É ele que ira reproduzir o seu elixir da Habilidade Griffin.
— Então... ele conseguiu ter sucesso?
— Não. — Saímos do túnel e subimos no pedaço de terra que levita. — Este é um presente diferente. Você vai ver... em breve.
Eu pressiono meus lábios enquanto o chão começa a subir. Eu poderia fazer mais perguntas, mas ele continuará me dando apenas metade das respostas.
— Por que você estava procurando por mim? — Aurora pergunta a seu irmão.
— Oh, você e eu temos algumas coisas que precisamos ver.
Aurora acena e olha para cima, sem dizer nada.
— Mais segredos que você está mantendo de sua amada? — Eu pergunto.
Roarke me dá seu sorriso malicioso. — Assim que você for minha esposa, todos os segredos serão revelados.
Capítulo 08
À MEDIDA QUE À TARDE DO BAILE DE ANIVERSÁRIO DA RAINHA CHEGA, FICO na varanda e ensaio minha história. Esta noite é à noite em que o Príncipe Roarke vai anunciar que ele escolheu uma esposa. Ele me apresentará, ‘a nova amiga estranha’ da princesa Aurora, e de repente todo mundo vai querer saber cada detalhe de quem eu sou e de onde eu sou.
Roarke e sua mãe pensaram em uma ideia de inventar um passado completamente diferente para mim — um que não envolvesse o mundo humano — mas eles imaginaram que a verdade seria descoberta em breve. E nenhum deles parecia acreditar que eu seria capaz de manter os detalhes de uma história inventada, então a maior parte do que me disseram para compartilhar com as pessoas é a verdade: eu cresci pensando que eu era humana, minha magia se revelou, a Guilda se envolveu para que eles pudessem me aprisionar e garantir que eu nunca machucasse ninguém, e então Roarke e seus homens apareceram para me resgatar. Eles me levaram de volta ao seu palácio para que eu pudesse viver como um membro livre na corte deles. Roarke e eu logo nos apaixonamos loucamente um pelo outro, e o rei aceitou nosso pedido para formar uma união. Então, tudo até o resgate é essencialmente a verdade. Depois disso... bem, eu de alguma forma tenho que fazer essas pessoas acreditarem que eu estou obcecada pelo príncipe deles.
Eu me inclino contra a balaustrada da varanda e olho ansiosamente para as perfeitas nuvens fofas bem acima de mim. Eu prefiro estar subindo os céus nas costas de Imperia, em vez de me preparar para enfrentar uma multidão da nobreza Unseelie. Ou montando aquele outro dragão que Phillyp montou comigo ontem. Bralox, acho que era o nome dele. Ou dançar danças simples com Dash nas margens da praia encantada dos rebeldes Griffin, em vez de tentar lembrar cada passo de cada dança oficial das faeries — já que a minha Habilidade Griffin não fez para me ajudar nesse departamento.
Batem na minha porta tão ruidosamente que posso ouvi-la da varanda. Olho por cima do ombro para ver Aurora dançando do outro lado da sala de estar e vindo para a varanda. — Está na hora! — Ela canta.
— Para quê? — Ela não pode estar se referindo ao baile. Ainda falta horas.
— Hora de começar a se vestir, é claro. É um longo processo envolvendo cabelo, maquiagem, joias — e, claro, ainda não escolhemos o seu vestido dos três que foram feitos para você.
— Oh. Tudo bem.
Seu rosto fica triste. — Por que você não está mais empolgada?
— Eu estou. — Eu coloco um sorriso que não parece de verdade. — É apenas... festas não são realmente minhas coisas preferidas. Na última que participei, minha magia explodiu de dentro de mim e quase matou minha melhor amiga.
— Confie em mim, Em, — Aurora diz com o tipo de sorriso que faz seus olhos brilharem. — Esta festa não vai ser nada como você imagina. E se isso não faz você se sentir melhor, aqui está algo que vai. — Ela tira a mão de trás das costas e me oferece uma caixa quadrada um pouco maior que a palma da sua mão.
— O que é isso? — Eu pergunto enquanto eu pego dela.
— Lembra que Roarke disse que mandou fazer um presente para você?
— Sim.
— Bem, eu pensei que ele estava apenas dizendo isso para encobrir o que ele realmente estava fazendo naquele dia — eu geralmente posso dizer quando ele está mentindo — mas acontece que ele realmente conseguiu que Yokshin fizesse algo para você.
Eu tiro a tampa da caixa e encontro uma pulseira sobre uma pequena almofada preta. Correntes delicadas de metal prateado se envolvem umas às outras, com minúsculas folhas prateadas e flores brotando dos lados. No meio da pulseira está uma grande joia clara. — É lindo, — eu digo.
— É bonito e inteligente, — diz Aurora. — É como se fosse um relógio. Mas não mostra à hora, mostra o nível da sua magia Griffin. Então, no lugar dos ponteiros, tem um grande rubi. O rubi perde sua cor quando você usa todo o seu poder Griffin, e então a cor enche novamente lentamente na mesma velocidade que sua magia se repõe. Pelo menos, é assim que deve funcionar e, obviamente, você precisa usá-lo.
— Uau, isso é inteligente. — Eu pego a pulseira da caixa, abro-a o e coloco a forma rígida ao redor do meu pulso. O fecho se encaixa facilmente no lugar. Enquanto observo, uma fração de um lado do rubi fica vermelho. — Hum, acho que isso faz sentido. Foi pouco antes do meio-dia que a minha Habilidade Griffin apareceu, então isso foi cerca de... duas ou três horas atrás?
— Sim. Então, isso deve facilitar para você ver quando sua magia estiver pronta para ser usada. Sabe, no caso de variar um pouco se você estiver extremamente cansada ou se nem sempre conseguir senti-la.
— Legal. — Eu abaixo meu braço. — Então isso foi feito por... Yokshin? Esse é o nome dele?
— Sim, o mestre de invenções. Ele experimenta todos os tipos de magia. Feitiços, processos, dispositivos. — Ela se inclina contra a balaustrada, abre um largo sorriso e acena para dois jovens caminhando abaixo. — É uma linha fascinante de trabalho, — continua ela, virando para mim. — Eu costumava visitá-lo muito quando era mais nova, até que minha mãe me disse que não era apropriado passar tanto tempo com alguém de sua posição, especialmente quando ele às vezes me levava para a prisão para me mostrar alguns de seus experimentos.
— Prisão?
— Sim, uma pequena que temos aqui. De qualquer maneira, você gostou da pulseira?
— Sim. Como você falou, é bonita e inteligente. — Eu movo a pulseira de um lado para o outro, de modo que a pedra sem cor capture a luz. — Yokshin fez alguma joia enfeitiçada para você?
— Hum... algumas. — Eu olho para cima para vê-la brincando com o pingente pendurado em uma corrente em volta do seu pescoço. A corrente prateada com a pedra negra. Eu percebi que ela a usa mais do que muitas outras joias. — Eu falo sobre isso em outro momento, — acrescenta ela. — Por enquanto, precisamos começar a nos preparar.
— Sim, tudo bem. Onde está o Roarke? Ele não queria me dar este presente?
— Queria, mas você conhece os homens. Eles não querem atrapalhar enquanto as damas se vestem.
— Ou ele ainda está me evitando, — eu resmungo enquanto passo por ela para dentro da sala de estar.
— Evitando você? Que bobagem é essa? — Aurora me segue para dentro. — Ele vê você pelo menos duas vezes por dia quando lhe dá a poção de compulsão.
— Sim, essa é a única vez que ele me vê.
— Bem, ele está muito ocupado.
Ou ele está evitando estar perto de mim sempre que minha Habilidade Griffin está ativa — caso eu não consuma todo o meu poder para seja qual for o comando que ele me deu e eu possa usar o resto para obter informações dele. O que é exatamente o que eu teria feito se ele estivesse por perto. Eu tenho praticado segurar minha Habilidade Griffin. Eventualmente, eu tenho que deixar passar algumas coisas dizendo o que eu tenho sido obrigada a dizer, mas houve momentos em que eu posso sentir que ainda há poder sobrando. Eu tentei segurar até ver Roarke novamente, mas eu não consegui segurar tanto tempo ainda.
— Em?
— Mm? — Eu encaro Aurora, percebendo tardiamente que ela me fez uma pergunta.
— Eu perguntei se você está realmente começando a gostar do Roarke. É por isso que você está chateada por não vê-lo mais vezes?
— Oh. Hum. Talvez. — Eu acho que isso é uma razão melhor do que eu estar chateada porque eu não tive a chance de usar minha Habilidade Griffin nele.
Ela sacode a cabeça e suspira. — Você é muito ruim em mentir. Venha, vamos para o meu quarto. Seus vestidos chegaram mais cedo e a mamãe os mandou agora. — Ela liga seus braços aos meus. — Você pode ensaiar sua história de amor épica no caminho.
A caminhada até a suíte de Aurora é longa o suficiente para eu recitar minha ‘história de amor épica’ duas vezes. — Bom trabalho, — diz ela quando chegamos a sua sala de estar. — Você sabe os fatos de cor. Agora você só tem que trabalhar em parecer como se você realmente quisesse dizer a parte de apaixonar-se perdidamente.
— Eu vou ter certeza de fazer um trabalho melhor quando estiver mentindo para os fae de elite da sociedade Unseelie mais tarde.
— Maravilha.
Nós entramos em seu quarto, que é muito maior que o meu e inclui um closet do tamanho de uma garagem dupla. — Oh, aqui estão as joias que a mamãe selecionou para você. Eu pretendia te mostrar mais cedo enquanto estávamos tomando café da manhã. — Ela pega uma caixa da sua penteadeira e a abre para mostrar o conteúdo. — Colar e brincos. Adoráveis, não são?
‘Adoráveis’ provavelmente não é a palavra que eu usaria. Cada peça consiste inteiramente de pedras brilhantes e incolores. Os brincos são lágrimas do tamanho da minha unha do polegar, e o colar é uma fileira dupla de pedras que crescem gradualmente à medida que alcançam um pingente: outra grande lágrima facetada. — São... são de verdade? — Pergunto enquanto Aurora os retira da caixa.
Ela me conduz em direção ao assento em frente à penteadeira antes de me dar um olhar interrogativo no espelho. — O que você quer dizer? Eles não são um tipo de ilusão que desaparecerá quando a festa acabar, se é isso que você está imaginando.
— Não, eu quero dizer... são diamantes de verdade? — Ela parece querer que eu me sente, então eu sento. — Ou eles são falsos? Como vidro ou cristal ou algo assim.
Ela ri. — Claro que são diamantes de verdade. Por que nós usaríamos falsos? — Eu permaneço em silêncio enquanto ela prende os brincos nas minhas orelhas e coloca o colar em volta do meu pescoço. — Aí. Eu acho que eles combinam com você. Eles ficarão lindos, não importa qual vestido escolhermos.
Eu balanço minha cabeça para o meu reflexo. Eu puxo os brincos e retiro o colar. — Eu acho que eu não deveria usar isso. — Eu coloco os diamantes brilhantes cuidadosamente na mão de Aurora. — Aqui. Você pode devolvê-los à sua mãe.
— O quê? Porquê?
— Eu não posso usar algo tão valioso. E se o colar cair enquanto eu estiver dançando? E se eu perder os brincos depois de tirá-los e então —
— E então o quê? Não seja tão boba, Em. O colar não vai cair. — Ela abre a caixa e coloca as joias de volta na almofada aveludada. — E quem se importa se isso acontecer? Mamãe certamente não vai. Esta é provavelmente a joia menos valiosa que ela possui.
Eu tento não me sentir mal com suas palavras. — Aurora...
— Vamos, isso não é grande coisa.
— Mas isso é uma grande coisa, — eu digo. Ela dá um passo para trás, surpresa com a minha raiva. — Eu sinto muito. É só que... bem, eu não esperaria que você entendesse, — murmuro.
Ela cruza os braços. — E por quê? Porque eu não pareço colocar muita importância nas joias quanto você parece de repente?
Eu reviro meus olhos. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu aponto para a caixa. — Que esses muitos diamantes provavelmente valem mais do que... eu não sei. Toda a Stanmeade. Eu não consigo usar tanta riqueza em meu corpo, e você não entenderia isso porque nós viemos de origens muito diferentes.
— Sim, — diz ela, dando um olhar que claramente diz, Dã. — Nós viemos. Esta não é uma revelação novinha em folha, então por que, de repente, é uma coisa importante?
Eu não sei. Eu não posso dizer a ela por que essa joia com diamante trouxe de repente a diferença entre minha vida e a dela, ou porque eu estou de repente comparando minha mãe com a dela. A rainha é perfeitamente sã e está em posição de distribuir itens de imensa riqueza como se não custassem nada. Mamãe está perdida em algum lugar dentro de sua própria mente e não conseguiu me dar nada além do peso da responsabilidade por muito tempo. — Eu sinto muito, — eu murmuro, olhando para a maquiagem espalhada em cima da penteadeira. — Eu não posso usar essa joia. Isso só me faz pensar em tudo que eu nunca tive. Todas as coisas que minha mãe nunca pôde me dar. E eu não quero dizer as coisas caras, eu só quero dizer as coisas normais. E todas as coisas que ela não pode ser para mim quando ela começou a ficar louca.
— Em...
— Não, eu não estou procurando por sua piedade. Eu só estou dizendo... — Eu não sei mais o que estou dizendo. — Eu só... não quero usá-la, se estiver tudo bem?
Ela acena com a cabeça. — Tudo bem. Claro. Eu nunca iria querer deixar você desconfortável. Hum... — Ela se vira para as portas do seu closet. — Tenho certeza de que posso encontrar algo mais simples da minha coleção.
Eu me levanto, começando a me sentir ainda pior agora que ela está sendo tão compreensiva. — Eu sinto muito, Rora. Eu não quis parecer ingrata. Eu sou grata por tudo que você e sua mãe fizeram para me ajudar a se encaixar aqui. Eu ainda não sei como lidar com tudo... — Eu gesticulo vagamente com os dois braços. — Tudo isso.
Ela pega minha mão, aperta e sorri. — Está bem. Eu entendo. — Ela caminha até o closet, em seguida, faz uma pausa na porta e olha para trás. — Roarke costumava me chamar de Rora quando éramos mais jovens. Então ele cresceu e decidiu que era um nome bobo e infantil. Eu disse a ele que concordava, mas a verdade é que meio que sinto falta de ouvi-lo me chamar de Rora.
Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Eu... eu realmente não sei porque eu disse Rora. Apenas saiu dessa maneira. Eu sinto muito. Eu não quero deixar as coisas estranhas.
— Isso não é o que eu quero dizer. — Ela sorri novamente. — Você provavelmente esteve tão focada na ideia de conseguir um marido que nunca pensou no fato de que também está conseguindo uma irmã. Eu sei que nada disso é o que você queria para sua vida. Eu sei que você está passando por tudo isso pela sua mãe. Mas... bem, estou feliz que você seja minha irmã. Espero que um dia você possa ser feliz também.
Ela se dirige para o enorme closet antes que eu possa dizer qualquer outra coisa e, nesse momento, a porta da sala se abre. Espreito pela porta do quarto e vejo a rainha, vestida com um roupão e chinelos, atravessando a área de estar com três de suas criadas e uma mulher desconhecida a seguindo. Cada uma das servas levitando um vestido. — Sua Majestade, — eu digo para a rainha, inclinando a cabeça em respeito quando ela vem em minha direção.
— Emerson, olá. — Eu nunca a vi usando tão pouca maquiagem e com o cabelo dela — preto e borgonho como o de Roarke — tão simples. Ela se inclina e beija o ar de cada lado das minhas bochechas. — Pronta para o grande anúncio de hoje à noite?
— Sim, — eu digo com confiança e um largo sorriso, nenhum dos dois é genuíno.
— Aurora, amor, eu tenho os vestidos, — a rainha chama, passando por mim. — Ah, aí está você, — acrescenta ela, enquanto Aurora sai do closet.
— Ooh, excitante. — Aurora esfrega as mãos.
— Coloquem os vestidos ali, — a rainha diz a suas criadas, — e então vocês podem ir. — As criadas deixam os vestidos flutuando no ar acima da cama antes de se virar e sair silenciosamente da sala. A mulher que eu não reconheço tira algo da saia de um vestido e arranca um fio solto do outro.
Ando devagar ao redor da cama para ver os três vestidos de todos os ângulos. O primeiro tem uma saia cheia de tule rosa escuro com flores delicadas que crescem pelas costas da cintura até o pescoço. O segundo é a cor do champanhe. Sua saia de muitas camadas é coberta com flores de ouro, e o corpete apertado tem um decote sem mangas. A última opção é feita de tecido de ouro rosa com milhares de minúsculos cristais brilhando com a luz conforme o vestido balança suavemente no ar. A parte de cima do espartilho se encaixa na parte de trás, e embora a saia esteja um pouco amassada com um pouco de tecido extra sobre a bunda, ela não é tão fofa quanto às outras duas.
— Eles são lindos, — eu digo.
— Eles não são? — Aurora responde. — E aparentemente, eles são ainda mais lindos quando você os coloca. O rosa muda para frente e para trás entre rosa e roxo, e as pétalas nas costas se abrem lentamente à medida que a noite passa. O champanhe vem com um par de luvas longas feitas de um tecido translúcido que parece bolhas de champanhe subindo em seus braços. E o ouro rosa tem um efeito cintilante enfeitiçado que parece brasas brilhantes.
— Parece legal.
— Eles são criações da Rosewood Raven, — Aurora continua. — Mamãe e eu divulgamos para todos os principais designers que estávamos procurando algo espetacular para um evento muito importante. Nós sugerimos um potencial anúncio de noivado — sem usar essas palavras exatas, é claro — o que resultou em muitos rumores circulando por aí. Recebemos dezenas de designs, e minha mãe não estava muito interessada em que você usasse um vestido da Rosewood, visto que —
— Visto que ela vestiu alguns dos Seelies no passado, — a rainha continua. — Eu não queria você usando um de seus vestidos. Quando vi o nome dela do lado de fora do pergaminho, quase o joguei fora sem abri-lo.
— Mas havia algo sobre seus desenhos que continuávamos voltando, — diz Aurora. — Algo que apenas... nos cativou. — Um olhar sonhador aparece em seu rosto.
— Eles se tornaram muito adoráveis, — admite a rainha. — Eu posso ver porque essa mulher Rosewood se tornou popular nos últimos anos.
— Você enviou um convite para ela? — Aurora pergunta. — Eu quero conhecê-la.
— Claro que não, querida. Eu te disse que não era apropriado. Ela tem conexões com a Guilda e vestia os Seelies antes. Podemos ter decidido usar uma de suas criações, mas não me senti confortável em tê-la aqui. Pedi a Lemon para mandar alguém pegar os vestidos e ser discreta sobre isso.
— Oh, Em, está é Lemon, a propósito, — acrescenta Aurora, gesticulando para a mulher que entrou com as criadas. — Nossa criadora mestre de roupas. Ela provavelmente fez a maioria das roupas que você encontrou em seu guarda-roupa.
— Oh. Obrigada, Lemon. — Eu tento não rir do nome estranho. — Você fez um bom trabalho.
Ela acena para mim. — Obrigada, minha senhora. E sim, mandei Jefford buscar os vestidos hoje de manhã, e tive a certeza de passar a importância da discrição. Disse a ele que não queremos o constrangimento de ninguém saber que nos associamos a alguém que já trabalhou com os Seelies, mesmo que o trabalho dela seja bom.
— Que bobo, — Aurora resmunga. — As pessoas vão descobrir de qualquer maneira. Somos da realeza, pelo amor de Deus. É uma honra desenhar para nós, então tenho certeza de que Raven Rosewood vai falar para as pessoas.
— Ela vai? — A rainha pergunta. — Eu duvido que ela queira arriscar sua reputação com os Seelies.
— Ela não vai dizer nada, — diz Lemon. — Jefford deixou os vestidos no meu quarto com uma nota dizendo que tudo correu bem. A designer aceitou seu pagamento e alegremente concordou em ficar quieta sobre seu envolvimento.
— E quando as pessoas perguntarem esta noite? — Aurora diz. — Porque você sabe que algumas dessas mulheres vão querer saber quem vestiu a nova princesa. Tudo com o que eles se importam é com as últimas tendências e novidades, e assim que virem Em, em, digamos, luvas de bolhas de champanhe, todos eles estarão adicionando a mesma coisa para suas novas roupas.
— Sério? — Eu pergunto. — Isso é tão bobo.
— Esse é o tipo de influência que você tem como princesa, — Aurora diz com um sorriso de satisfação. — Uma vez eu usei sprites vivos pendurados em minhas orelhas, e na festa seguinte, eu vi pelo menos cinco outras garotas usando a mesma coisa.
— Pobres sprites, — murmuro, imaginando as criaturas que parecem pequenas pessoas aladas amarradas aos lóbulos das orelhas de Aurora.
— Se alguém perguntar pelo nome do designer, diga que é um segredo, — diz a rainha. — Diga a eles que nossa chefe criadora de roupas tem um aprendiz especialmente inventivo, e queremos mantê-lo em segredo conosco.
Aurora suspira. — Tudo bem. De qualquer forma, precisamos decidir qual deles usaremos para que todas nós possamos começar a nos preparar.
— Hum, eu pergunto ao Roarke o que ele decidiu usar? — Eu sugiro.
— Sim, — a rainha responde. — Aurora e eu vamos verificar se todos os ajustes para o novo vestido dela foram feitos corretamente, e então ela vai encontrá-la na suíte do Roarke.
Com um brilho nos olhos, Aurora acrescenta, — Mamãe não confia em você para relatar com precisão a roupa de Roarke sem minha ajuda.
— Aurora, — a rainha repreende. Então sua expressão se transforma em um sorriso de desculpas. — Bem, suponho que seja verdade. Desculpe, Emerson.
Eu dou de ombros, então congelo com meus ombros puxados para cima, lembrando que a rainha não gosta de encolher os ombros. — Está bem. Vejo você lá, Rora. — Eu saio correndo do quarto, esperando até que eu esteja fora da suíte antes de relaxar meus ombros.
O chão de mármore brilhante passa rapidamente sob meus pés enquanto eu me dirijo para a suíte de Roarke. Eu bato na porta dele, mas depois de esperar vários segundos, nem ele nem um de seus criados me chamam para entrar. Eu bato de novo e espero, mas ainda nada. A ausência de guardas fora de sua suíte me faz duvidar que Roarke esteja dentro, mas ele mencionou que às vezes seus guardas patrulham mais ao longo dos corredores do lado de fora desta ala do palácio. Eu abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça dentro. — Roarke?
Sem resposta. Sabendo que Aurora estará aqui em poucos minutos, decido esperar na sala de estar do Roarke até ela se juntar a mim. Fecho a porta e ando devagar pelos sofás, comparando a suíte com a de Aurora. Móveis semelhantes preenchem o espaço, embora em um estilo menos delicado, com madeira escura e acabamentos em preto brilhante. Eu ando até a janela e descubro que tenho uma excelente visão de uma escultura que eu nunca fui capaz de ver corretamente no chão: uma cobra gigante que se ergue em direção ao céu, cercada por arbustos de rosas negras. Assustador, penso quando me afasto da janela.
De canto do olho, noto movimento perto da porta do quarto. Algo escuro, como uma sombra deslizando pela parede. Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém lá — Roarke ou um de seus criados — mas ninguém está atrás de mim. Eu me viro para o local, meus olhos percorrendo cada centímetro da sala. Eu olho para a parede novamente, mas as sombras criadas pela mobília e decoração estão imóveis. Deve ter sido algo de fora. Um pássaro voando pela janela, talvez. Ainda assim, este é um palácio cheio de magia e encantamento, então é possível que eu tenha visto a sombra de algo que agora está se escondendo nesta sala comigo.
A ideia envia um arrepio no meu pescoço e no meu cabelo. Seja corajosa, eu me lembro. Esta é a sua casa agora. Você não pode ter medo em sua própria casa. Forçando minhas pernas a se mover, ando pela sala novamente. Eu me inclino e olho embaixo da mobília. Eu puxo as cortinas para longe da parede e olho atrás. Pelo o que posso dizer, estou sozinha nesta sala.
Mas este não é o único cômodo da suíte. Meus olhos deslizam para a porta que leva ao quarto. É lá, afinal, onde eu vi o movimento quase agora. Eu atravesso a sala e espio pela porta entreaberta. Eu vejo outra janela e parte de uma cama de dossel. Sem movimento ou som, então, depois de um momento, abro a porta o suficiente para entrar no quarto. O quarto que logo será meu também. A cama que logo será minha.
Uma imagem de Roarke e eu juntos nessa cama passa pela minha mente antes que eu possa pará-la. Eu engulo em desconforto e tento afastar a imagem. Eu evito pensar sobre essa parte específica do nosso acordo, mas agora que estou olhando para a cama que em breve pertencerá a nós dois, é impossível não pensar no que terá de acontecer nela.
Eu me afasto quando um arrepio sussurra através da minha pele. Eu ainda tenho tempo, eu me lembro. Hora de encontrar uma saída para todo esse acordo. O anúncio do noivado acontecerá hoje à noite, mas a cerimônia de união na verdade não acontecerá por mais algumas semanas.
Uma voz na sala de estar me assusta, mas é apenas o Roarke. — Sim, por favor, feche a porta, Marvyn, — diz ele. — Eu vou ter apenas alguns minutos. — Expirando e quase rindo de mim mesma por meus medos bobos, eu volto para a porta. Espero que Roarke não fique muito irritado depois que eu explicar por que estou em seu quarto.
Mas eu paro quando ouço uma segunda voz. Uma voz feminina.
— Ainda é seguro conversar aqui? — Ela pergunta.
— Sim, — Roarke responde. — Nós não seremos ouvidos.
Capítulo 09
MERDA. EU CUBRO MINHA BOCA COM MINHA MÃO E CONGELO.
— Você tem certeza? — Pergunta a mulher.
— Sim. Meu pai não tem controle sobre essa suíte. Meus homens vasculham diariamente por encantamentos e insetos espiões, e não encontraram nada em anos.
— Ainda assim, — a mulher diz enquanto seus passos atravessam a sala. — Alguém pode nos ver através da janela. — Sua voz soa familiar, mas eu não consigo descobrir de onde. Eu ouvi tantas mulheres da corte desde que cheguei aqui. Pode ser qualquer uma delas.
— Eu duvido. Estamos muito alto. E se alguém nos ver, e daí? Eu sou o príncipe e tenho o direito de falar com quem eu quiser.
Minha imaginação salta imediatamente para a pior conclusão. Raiva aquece minhas veias com o pensamento de Roarke me traindo. Que outro motivo ele encontraria uma mulher em particular em sua suíte? Uma mulher que não quer que ninguém veja os dois juntos? E não é como se eu estivesse com ciúmes, mas ele deve se casar comigo em algumas semanas! Eu alcanço a porta, prestes a abri-la completamente e exigir que esse tipo de coisa não continue depois que nossa união acontecer.
— Tudo bem, então, — diz a mulher. — Então, o que você está fazendo sobre as sombras?
Eu paro com minha mão levantada. Sombras? Eu não estava esperando isso.
— Você tem que controlá-los, Roarke. Não podemos tê-los aterrorizando este mundo. Ou o outro mundo. Nós não podemos viver lá até que eles tenham sido completamente erradicados.
— Está tudo bem. Meus homens estão cuidando disso.
— Como o guarda que apareceu morto? Enrugado e velho?
Roarke suspira. — Você me disse que não ficaria chateada com isso.
— Eu estive pensando nisso e decidi que tenho todo o direito de ficar chateada com algo assim. A mesma coisa poderia acontecer com a gente.
Eu inclino minha cabeça em direção à porta, desejando poder ver a linguagem corporal deles. Desejando descobrir a natureza do relacionamento de Roarke com essa mulher.
— A mesma coisa certamente não acontecerá com a gente, — assegura ele. — Aconteceu apenas com aquele guarda porque ele foi estúpido o suficiente para deixar uma sombra pegá-lo quando ele não estava usando seu amuleto. E ele deveria saber o feitiço certo para lutar contra, mas claramente ele era muito lento. O resto dos meus homens sabe o que estão fazendo.
— Bem, eles certamente estão demorando um pouco para fazer o trabalho. Todo esse tempo perdido. O edifício parou. O castelo e o terreno estão ali meio formados e...
— Relaxe. Leva tempo para preencher um mundo.
— Tempo em que outra pessoa poderia descobri-lo e reivindicá-lo como seu território.
— Quem vai reivindicá-lo? Ninguém mais sabe disso.
— Isso não é verdade agora que você deixou outras pessoas verem.
— Eu já disse a você, — diz Roarke. — Nem meu pai nem a Aurora têm algum interesse em reivindicar esse mundo como seu. Ele continua com as mesmas crenças que tinha no começo, e você sabe que Aurora está mais interessada em —
— Eu não quero dizer eles. — Há uma pausa em que eu me aproximo para ter certeza de que não estou perdendo as próximas palavras dela. — E a sua futura esposa? E o guardião que estava com ela? — Um arrepio passa por mim. Eu dou um passo silencioso para trás, como se eles pudessem de alguma forma sentir a minha presença se eu estiver muito perto da porta.
— Emerson não sabe o que viu, — Roarke diz, — e eu duvido que ela se importe. Ela provavelmente assumiu que era parte do mundo fae. Ela não sabe o suficiente sobre este reino para assumir que seria qualquer outra coisa. Quanto ao guardião... bem, duvido que ele tenha alguma pista do que viu também. Guardiões são treinados para lutar, não para pensar.
— Você não deveria subestimá-lo, — diz ela sombriamente.
— E você não deveria estar se preocupando.
— Tudo bem. Bem. Então não estamos com pressa. Mas ainda estou preocupada com as sombras. Como estão passando? E é só aqui no palácio, ou você acha que eles são capazes de chegar a qualquer parte deste mundo? Ou... — Ela faz uma pausa por um momento. — Eu me pergunto se eles são capazes de passar para o mundo humano.
— Se conseguirem, será problema da Guilda, não nosso.
— Verdade.
— E isso provavelmente não vai acontecer, porque meus homens estão garantindo que todas as sombras em breve estarão mortos.
— Bom. Bem, então eu posso pegar o manto que eu vim pegar? Marvyn pode ficar desconfiado se eu sair sem ele.
— Marvyn já está desconfiado, — Roarke diz com uma risada, — mas eu vou pegar o manto de qualquer maneira. — Seus passos se movem em direção ao quarto. Eu xingo sob minha respiração — o que envia uma imagem de Dash pela minha mente por apenas um segundo; ele não ficaria impressionado com a minha linguagem escolhida. Eu passo pela única outra porta e entro no banheiro de Roarke. Deslizando por trás da porta entreaberta, eu prendo a respiração.
E é quando vejo o que está na parede à minha esquerda.
Eu coloco minha mão sobre a minha boca para reprimir o meu suspiro assustado. Um grande círculo de magia cintilante e ondulante ocupa a maior parte da parede. Elétrico de uma cor azul, com pedaços escuros e finos subindo das bordas e desaparecendo, a magia gira preguiçosamente em forma de espiral que parece ser sugada para o centro.
Um portal?
Uma pequena parte de mim está curiosa para saber para onde isso leva — se é que é mesmo um portal — mas, na maioria das vezes, tenho pavor do que pode estar do outro lado. Eu me inclino o máximo que posso enquanto ainda permaneço escondida atrás da porta do banheiro. Felizmente, Roarke leva apenas alguns segundos em seu quarto. No momento em que eu o ouço sair, saio rapidamente do banheiro e fico perto da porta aberta do quarto.
— ... preocupado com Marvyn e essas suspeitas dele? — A mulher misteriosa pergunta.
— Não, não preocupado. Ele é pago bem o suficiente para manter suas suspeitas para si mesmo.
— Bom. Bem, vou deixar você se preparar para o seu anúncio de hoje à noite. Estou animada que esta união será finalmente oficial. Espero que a cerimônia aconteça em breve.
— Vai, — diz Roarke.
Vários momentos de silêncio seguem, em que começo a me sentir ainda mais confusa do que antes. Esta mulher quer esconder seus encontros com Roarke do jeito que uma amante secreta faria, mas está feliz que ele vai se casar comigo?
Eu ouço a porta principal da suíte abrir e fechar. Eu me pergunto se eles foram embora, mas então escuto os pés de Roarke — mais pesado que o da mulher — atravessarem a sala de estar. Apavorada que ele possa voltar ao seu quarto, eu começo a andar na ponta dos pés em direção ao banheiro. Mas o raspar de uma cadeira me diz que ele provavelmente está sentado agora. Eu me abaixo perto da cama de qualquer maneira, só no caso de eu ter que escorregar para debaixo dela rapidamente para me proteger.
Depois de vários minutos que parecem horas, ouço uma batida na porta. Então a voz de Aurora quando a porta abre: — Oh, onde está Em?
Droga.
— Como eu deveria saber? — Roarke pergunta. — Eu pensei que ela estava com você.
Droga, droga, droga.
Faço a única coisa em que consigo pensar: corro para a janela mais próxima, jogo minhas pernas sobre ela e me abaixo do outro lado. As pontas dos meus sapatos de cetim do tipo bailarina procuram pontos de apoio entre os tijolos de mármore. Os sapatos ficarão arranhados quando eu voltar para dentro, mas espero que ninguém perceba. Eu desço com cuidado, parando quando meu pé sente a abertura de uma janela próxima abaixo. Eu me movo para o lado, desço mais alguns tijolos e espio pela lateral da janela. Parece uma sala de estar privada. Cadeiras confortáveis, um armário cheio de bebidas, um espelho emoldurado a ouro repugnantemente ornamentado em uma parede e pinturas de mulheres seminuas nas outras. Mas o mais importante, não há ninguém nela.
Eu piso no peitoril da janela e pulo para dentro. Segundos depois, eu estou no corredor, andando o mais rápido que posso sem arriscar a atenção se por acaso eu passar por alguém. Eu rapidamente percorro algumas curvas até chegar à escada que leva à ala da família real. Eu corro para cima e quase colido com Aurora no topo.
— Oh, ai está você, — ela diz, alívio aparecendo em seu rosto. — Eu pensei que você estivesse indo para a suíte do Roarke. — Eu procuro em suas feições qualquer sinal de suspeita, mas tudo o que vejo é confusão.
— Ele não está lá, — digo a ela. — Uma das criadas disse que ela o viu perto da biblioteca, então fui procurá-lo. Perda de tempo, no entanto, já que ele não estava lá também. Tem certeza de que ele terminou com seja lá qual for o negócio importante com o qual ele estava lidando esta manhã?
— Sim, eu acabei de vê-lo em seus aposentos.
Eu reviro meus olhos e rio. — É isso o que acontece quando você mora em uma casa do tamanho de uma cidade pequena. Podemos passar o dia todo procurando um pelo outro e nunca nos encontrar.
— E isso, — Aurora diz quando ela pega meu braço e vira para a suíte, — é por isso que temos criados para procurarem por nós. De qualquer forma, eu vi a roupa de Roarke. Eu acho que vai combinar esplendidamente com o vestido rosa dourado. Você está feliz com isso?
Estou feliz com qualquer coisa que desvie a atenção de Aurora do fato de que eu não estava onde deveria estar. Espero que, se Roarke questionar meu paradeiro depois, ele acredite na minha história com a mesma facilidade. — Isso soa perfeito, — digo a ela. — O rosa dourado é meu favorito.
Eu a sigo de volta para sua suíte, onde uma enxurrada de atividades já começou. Cabeleireiros e maquiadores organizam seus instrumentos e feitiços. Lemon, a conjuradora de roupas, cuida de pequenas imperfeições em nossos vestidos. As criadas da rainha entram e saem com mensagens da mãe de Aurora sobre joias, enfeites de cabelo, lanches e outros assuntos triviais. E o tempo todo, minha mente está cheia da conversa que eu não deveria ouvir e da magia que eu não deveria ver.
Capítulo 10
QUANDO A NOITE CHEGA, O INVERNO SE ESTABELECE E O SALÃO DO BAILE ESTÁ VIVO com atividade. Mulheres em vestidos lindos e homens em trajes tradicionais de faeries — calças de terno e jaquetas com gola alta com ombros afiados — se misturam na pista de dança no centro do salão de baile. Dezenas de mesas redondas rodeiam a sala, cada uma com uma escultura de gelo de um dragão formando o coração das peças centrais. Do lustre de vidro no centro do teto, cordas de pequenas luzes cintilantes irradiam. E do próprio teto, flocos de neve brilhantes caem, desaparecendo em nada antes de alcançar a cabeça de qualquer pessoa.
Fico em um lado da sala com Aurora e duas damas de companhia que, ao que parece, tiveram permissão para voltar das férias para qual Aurora as enviou. Elas conversam sem parar, ocasionalmente enviando olhares curiosos na minha direção, enquanto eu tento fingir que estou interessada no que elas estão falando. A verdade é que minha mente não poderia estar mais longe dessa festa. Eu não consigo tirar o pensamento sobre as sombras da minha cabeça. Roarke e aquela mulher estavam obviamente falando sobre o lugar que ele e Aurora me levaram no dia em que me encontraram no meu antigo quarto na casa de Chelsea. O lugar de onde Dash e eu fugimos de uma criatura sombria e disforme — uma sombra? — e acabamos de volta ao mundo fae perto do buraco no véu. Com todas as coisas ocupando minha mente, eu mal pensei naquele incidente até esta tarde.
Meu olhar atravessa a multidão enquanto eu me pergunto qual delas estava no quarto de Roarke mais cedo. Pode ser qualquer —
— E o que te trás a Corte Unseelie, Em? — A pergunta vem de uma das companhias de Aurora. Mizza? Algum nome estranho assim.
Eu levo um segundo para colocar meu sorriso no lugar, mas Mizza não parece notar. — A Guilda queria me prender, mas alguns dos Unseelies — guardas pessoais do Principe Roarke, na verdade — me resgataram.
Ela solta um suspiro como uma dama e coloca uma mão contra o peito. — Oh, que emocionante. O príncipe estava com eles no momento? Ele é tão bonito, não acha?
— Por que a Guilda queria prendê-la? — A outra jovem dama pergunta.
O nome dela escapou completamente de mim. — Eu sou uma Dotada Griffin, então a Guilda achou que eu merecia ficar presa.
Ambas as damas ficam boquiabertas, mas eu mantenho meu sorriso sereno. Tenho permissão para começar a compartilhar a primeira parte da minha história agora — menos os detalhes da minha Habilidade Griffin. Ao mencionar o nome do Roarke ao falar do meu resgate, espero que as pessoas acreditem nele quando ele se levantar mais tarde e anunciar que eu sou o amor da sua vida.
— É uma história muito excitante, — acrescenta Aurora, — e prometo que vou contar tudo sobre isso depois. Mas agora, quero apresentar a Em para algumas outras pessoas.
— Não foi tão ruim, foi? — Ela pergunta baixinho conforme me leva para longe.
— Hum... eu não sei. Eu não escutei muito do que elas disseram.
— Em! — Ela bate no meu braço, mas seu horror zombeteiro logo se transforma em um sorriso. — Eu suponho que é tudo muito difícil para você, se você nunca esteve em um evento como este antes. Tantas distrações.
— Sim, — murmuro, observando um pégaso em miniatura passar. Erguendo os olhos, noto que há muitos deles no ar, cada um com um tom pastel diferente. Enquanto eu observo, uma mulher estende a mão, pega um e morde a cabeça.
— Oh, — eu suspiro, parando. — Isso é horrível.
— O quê? — Aurora segue meu olhar e começa a rir. — Oh, Em, é apenas um bolo voador. Eles não são criaturas reais. — Ela fica na ponta dos pés e agarra um. Ele luta em seu aperto, mas no momento em que ela puxa sua asa, ele para de se mover. — Vê? Apenas bolo e glacê. — Ela estende a asa para mim, e debaixo da camada externa rosa pastel, eu vejo um bolo cor de caramelo.
— Hum, não, obrigada, — eu digo quando ela tenta me fazer pegar parte da asa. — Isso é perturbador. — Eu olho para longe da mulher compartilhando o pégaso decapitado com sua amiga e me concentro em suavizar minha carranca. — Então, as pessoas sabem que há uma razão pela qual elas estão aqui, além do aniversário de sua mãe?
— Ninguém sabe ao certo, mas todos suspeitam de um anúncio de compromisso, — diz Aurora. — Eu ouvi as palavras ‘casamento’ e 'união' várias vezes enquanto passeava esta noite.
— E eu não devo confirmar suas suspeitas se alguém me perguntar?
— Não. Vamos deixar as pessoas imaginando por um pouco mais de tempo. Elas podem espalhar muitos rumores ao redor deste salão de baile o quanto quiserem até que Roarke faça o anúncio. Agora, vamos ver. — Ela toca no colar de pérolas negras apoiadas na base do pescoço, quando olha em volta. — A quem eu posso apresentar a você — Oh. Deixa pra lá. — Os músicos na plataforma elevada do outro lado do salão de baile pararam de tocar. Aurora olha em direção à porta maciça arqueada junto com todos os outros na sala. — Meus pais chegaram, — ela sussurra para mim.
Quando o Rei e a Rainha Unseelie são anunciados, todos os convidados no salão de baile se curvam ou fazem reverências. — Bem-vindos, — grita o rei Savyon enquanto todos nós nos levantamos. — Obrigado por se juntarem a nós enquanto celebramos o aniversário da Rainha Amrath. Hoje à noite, vocês se deliciarão com o melhor entretenimento, comerão os pratos mais exóticos e dançarão até o sol nascer. Que as celebrações comecem!
O lustre explode e o salão de baile se enche de guinchos e suspiros. Eu me abaixo e olho para cima, meus pensamentos se debatendo para descobrir o que está acontecendo. Um ataque externo? O rei está perdendo a cabeça e matando a todos nós? Mas quando a fumaça se dissipa, vejo centenas de objetos semelhantes a paraquedas flutuando em direção à multidão. Os murmúrios de medo se transformam em sussurros de espanto, depois em risadas e dedos apontando. Aurora pega dois paraquedas e entrega um para mim. Uma pequena caixa em forma de cubo pende de um dossel de pétalas. Quando coloco a caixa na palma da mão, os lados e o topo desaparecem, revelando uma rosa prateada dentro.
— Perfeito, — Aurora diz com um sorriso. — Eles saíram exatamente como a mãe queria que saíssem.
— O que é isso?
— Chocolate. — Ela ri. — E um feitiço que evita que você se canse até o sol nascer. Nós vamos festejar a noite toda. — Ela coloca a rosa em sua boca e gesticula para eu fazer o mesmo. Eu mastigo o chocolate amargo enquanto olho em volta para as pessoas pulando para pegar paraquedas, passando para seus amigos e comparando as rosas para ver se elas são todas iguais. Meu olhar cai sobre um homem olhando para mim — e meu coração quase para quando eu reconheço Dash.
Eu fico em choque quando ele olha para longe e duas mulheres pulando para pegar paraquedas o bloqueiam momentaneamente de ser visto. Não pode ser ele. É um truque da minha imaginação, minha mente transformando outro jovem em Dash. No entanto, eu pisco e espreito de mais de perto, uma parte de mim esperando que seja realmente ele. Mas não é. Seu cabelo está diferente, e seu braço, noto quando ele alcança um dos paraquedas caindo, está nu, sem as marcas de um guardião.
— Oh, olhe! — Aurora agarra meu braço e me puxa. Ela aponta para cima, enquanto a luz da sala escurece e pessoas em collant brilhantes descem pelo ar do teto. Eles deslizam graciosamente entre as cordas de luzes e ficam pendurados logo abaixo delas, girando lentamente e dando cambalhotas com movimentos coordenados para acompanhar a música misteriosa. Isso me lembra um pouco do nado sincronizado, ou tecido acrobático onde os acrobatas ficam pendurados em pedaços de tecido. Exceto que agora, não tem água para flutuar. Não há tecido para ficar pendurado. Esses artistas estão suspensos no ar por magia.
A noite continua com a dança — eu consigo não errar - comendo e bebendo, intercalada com várias formas mágicas de entretenimento extravagantes: malabaristas jogando bolas coloridas no ar, onde se transformam em doces de arco-íris que fazem sons de estalo e disparam doces em forma de estrela para todos; uma mulher soprando bolhas em qualquer forma que seu público solicite; um par de centauros que galopam e fazem uma dança dramática antes de galoparem para longe; e um homem que persuade sua magia em um dragão do tamanho de Imperia feito inteiramente de fogo.
Minha imaginação parece estar sobrecarregada de todas as coisas fantásticas que eu vi no espaço de apenas algumas horas, quando Roarke finalmente vem até mim. Eu o vi de longe esta noite, vestido de forma semelhante à maioria dos outros homens, mas com os punhos e gola alta de sua jaqueta feita de tecido em relevo dourado. Nós concordamos há alguns dias que não falaríamos ou dançaríamos juntos até depois do anúncio. Então, se ele está na minha frente agora, isso deve significar...
— Minha adorável Lady Emerson, acredito que temos um anúncio para fazer.
Eu engulo quando meu estômago se agita. — Oh. Que horas são? — Eu esperava adiar o maior tempo possível. De fato, parte de mim tem fingido a noite toda que se eu me recusasse a pensar sobre isso, isso nunca aconteceria.
— Não vamos deixar nossos convidados esperando por mais tempo. — Roarke coloca a mão nas minhas costas e me direciona para a plataforma elevada onde os músicos estão sentados. — Acho que elevamos o suspense por tempo suficiente. Todo mundo está se divertindo, mas agora não há um único convidado nesta sala que não esteja se perguntando qual é a bela dama que seu príncipe escolheu para ser sua esposa. Vamos afastar todas as suas especulações sussurradas.
Quanto mais nos aproximamos da plataforma, mais silenciosa a sala se torna. Finalmente, ao subirmos os três degraus que conduzem ao lado, os silêncios reinam, interrompidos apenas pelo sussurro ocasional e o farfalhar de saias. — Lembre-se de mostrar a todos como você está feliz, — Roarke murmura, seus lábios mal se movendo e seu sorriso continua no lugar.
Não tenho certeza se posso fingir estar feliz agora, mas posso pelo menos esconder meu medo. Enquanto Roarke encara a multidão e eu fico parada ao lado dele, eu tento imitar a maneira como ele se porta, empurrando meus ombros para trás, e levanto meu queixo levemente. Eu forço meus lábios em um sorriso que eu possa controlar.
Então eu cometo o erro de olhar para o salão de baile lotado. Centenas de rostos olham para mim com expressões que variam de curiosidade para aversão absoluta. Não mostre medo, não mostre medo. Eu pisco e estabeleço meu olhar na parede distante, logo acima da linha de pessoas. Não se mexa, permaneça equilibrada, continue sorrindo. Mas apesar da minha máscara de confiança, um rugido distante começa a encher meus ouvidos. Meu coração bate tão descontroladamente que temo que eu possa realmente ter uma parada cardíaca.
Roarke começa a falar, mas eu ouço apenas pedaços do que ele está dizendo: meu passado no reino humano, meu status de Dotada Griffin, meu resgate da Guilda. Eu ouço as palavras ‘uma corte rápida’ e 'profundamente apaixonado', e então, finalmente, Roarke olha para mim, pega minha mão na dele, e diz, — Eu nunca estive mais feliz do que no momento em que meu pai nos deu permissão para nos unirmos. — Ele encara a multidão novamente, segurando a minha mão. — E então, meus senhores e senhoras, eu apresento a vocês a mulher com quem estarei me unindo em exatamente doze dias: a linda, cativante e gentil Emerson.
Silêncio cumprimenta as palavras finais do príncipe. Ele paira, se expande, pressiona meus ouvidos e, finalmente, estoura. Gritos, brindes e aplausos preenchem meus ouvidos e, de repente, essa união parece real demais. Eu sei que eu concordei com isso, mas enquanto não era oficial, eu achava que encontraria uma saída. Mas agora que todo mundo sabe, parece quase impossível. Pela primeira vez, isso me atinge — realmente me atinge — que eu vou ter que fazer isso. Eu vou casar com um príncipe. Este palácio e essas pessoas vão se tornar minha vida. Tudo isso vai se tornar a vida da minha mãe também. Pelo tempo que for necessário para descobrir como vamos escapar.
— Vamos dançar agora, meu amor? — Roarke me pergunta.
Não confiando em mim para falar, eu simplesmente aceno. Ele me leva para baixo da plataforma e em direção ao centro do salão de baile enquanto a música recomeça. Minhas pernas começam a tremer com o pensamento de um salão de baile inteiro de pessoas nos assistindo dançar, mas Roarke levanta a voz e incentiva a todos a participarem. Com conversas animadas, eles correm para encontrar parceiros enquanto Roarke e eu nos encaramos e nos movemos para a posição inicial.
Já dancei várias vezes esta noite, mas agora é diferente. Ninguém se importava com quem eu era antes. Ninguém prestou atenção em mim. Mas agora, mesmo que todos estejam dançando também, sinto seus olhos em mim. Teria sido ótimo se minha Habilidade Griffin fosse capaz de me dar à habilidade de executar cada passo com perfeição, mas aparentemente minha Habilidade Griffin não sabia como fazer isso. Então, fico concentrada em todos os movimentos, em cada detalhe intrincado, em cada giro e pivô. Felizmente, com um parceiro especialista como Roarke, é fácil esconder o erro estranho e a hesitação.
Parceiros se movem ao nosso redor enquanto a música muda de novo e de novo, mas Roarke se agarra a mim para várias danças. Ele pressiona um beijo sob o meu ouvido em um ponto, e eu tenho que trabalhar fortemente para não me encolher. Eu digo a mim mesma para ficar grata por ele não beijar meus lábios. Eventualmente, ele me entrega a outro parceiro, e agora eu realmente tenho que me concentrar, minha atenção dividida entre ter uma conversa educada e seguir os passos.
O tempo passa. Eu continuo circulando a sala, mudando para um novo parceiro sempre que é apropriado. Embora eu esteja completamente fora da minha zona de conforto, a música me incita a continuar dançando. Ou é o chocolate encantado que comi antes?
Danço, converso, mudo de parceiro, repito. Começo a me perguntar por quanto tempo eu tenho que fazer isso antes que eu possa sair da pista de dança e dar um tempo de tudo. Eu giro ao redor e para os braços de outro parceiro. Um homem, que percebo com meu segundo choque da noite, que reconheço afinal de contas.
Dash.
Capítulo 11
MEUS PÉS TROPEÇAM EM UM IMPASSE. UMA COMBINAÇÃO ESTRANHA DE ALEGRIA E HORROR dispara através de mim. O cabelo de Dash está completamente diferente, como eu percebi anteriormente, e vários dias de barba para fazer melhoram seu disfarce. Mas é definitivamente ele.
— Não pare de dançar, — diz ele, me forçando a acompanhar a música. Então, depois de dar aos dançarinos em volta dele um sorriso agradável e totalmente falso, ele sussurra, — Qual diabos é o seu problema?
Outro segundo de choque passa antes que eu encontre minha voz. — Eu? Qual o seu problema? Como até mesmo você — o que você — você sabe o que Roarke e Aurora farão se reconhecerem você?
— Eles me viram por cinco segundos naquele dia. Eles não vão me reconhecer agora.
— Mas como você —
— O que você está fazendo aqui, Em? Por que você está aceitando essa charada de união estúpida? Eu esperava encontrar uma prisioneira e, em vez disso —
— Nós não vamos ter essa discussão aqui, — eu digo a ele com os dentes cerrados, meu sorriso completamente esquecido agora. — Encontre-me lá fora. — Eu me livro de seu aperto e viro. O homem que eu encontro parece assustado. Ele e a mulher com quem ele dança quase tropeçam. Mas, felizmente, depois de dois ou três segundos desastrosos, todos trocam de parceiros e, para qualquer um que esteja observando, parece que a quase-princesa acidentalmente tentou trocar alguns segundos antes. Felizmente entro nos braços do homem confuso e continuo dançando, tentando manter um sorriso sereno no lugar enquanto meu coração troveja no meu peito.
Ainda mal posso acreditar. Dash está aqui. Através da minha raiva e terror — porque esse é exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando evitar quando escolhi vir para cá, e agora ele está bagunçando tudo — eu estou dolorosamente feliz em vê-lo.
— Foi horrível crescer no reino não mágico? — Pergunta meu parceiro de dança.
— Hum, bem, eu não conhecia nada melhor, então eu não sabia o que estava perdendo.
— Deve ter sido emocionante ter descoberto que você pertence a este mundo em vez disso.
— Sim. Magia é... muito maravilhosa. — Estou distraída quando vislumbro Dash com outra parceira.
Quando a dança termina, consigo recusar educadamente a mulher que esperava ser minha próxima parceira. Deslizo por ela e saio da pista de dança, entre as mesas e cadeiras, e em direção à porta em arco que leva aos jardins. É estranho olhar e ver uma paisagem branca como a neve enquanto me sinto tão quente que estou quase suando. Deve haver um feitiço na porta aberta que mantém o ar frio do inverno lá fora.
Olhando para trás, vejo pelo menos duas mulheres vindo em minha direção com olhos brilhantes e sorrisos largos, provavelmente esperando conversar comigo. Maravilha. Agora que todo mundo sabe quem eu sou, eu nunca sairei desse salão sem ser notada. Eu procuro por uma distração, e na mesa mais próxima, vejo um dos doces do arco-íris estourando. Eu discretamente deixo cair no chão, levanto a saia e chuto para o lado. Ele gira para longe da multidão, zumbindo, estalando e atirando doces minúsculos em todos os lugares. Na comoção, encontro os olhos de Dash por um segundo. Então me viro e saio para a noite.
O frio me atinge no momento em que passo por baixo do arco, mas depois de toda aquela dança, o ar gelado é um alívio bem-vindo. Depois de descer correndo as escadas, viro à direita, saio do caminho e espero à sombra de uma árvore com maçãs prateadas, salpicadas de neve penduradas em seus galhos. Eu expiro longamente e devagar, mas minha ansiedade só aumenta quando os segundos passam e eu espero por Dash.
Eu fico tensa quando passos apressados descem as escadas. Dash olha ao redor, me vê, e com alguns passos rápidos ele está na minha frente. — Qual é o seu problema? — Ele exige imediatamente. — Andando por aí como se você pertencesse aqui. Participando dessa idiotice de união. Você não pode estar planejando —
— Você quer falar sobre idiotice? — Eu retruco. — Você é idiota. Por que veio aqui? Essas pessoas são seus inimigos. Você sabe o que farão com você se descobrirem o que você é e para quem você trabalha?
— Eles são seus inimigos também, Em, mas de alguma forma você os deixou manipular para se casar com um deles —
— Eu não fui manipulada coisa nenhuma, — eu digo, ainda tentando manter minha voz nada mais alto do que um sussurro irritado. — Eu escolhi estar aqui. Roarke apresentou uma solução — casamento em troca de curar minha mãe — me deu tempo para pensar sobre isso, e eu decidi aceitar sua oferta. A única pessoa que quer me forçar a fazer coisas é o rei, mas Roarke não o deixa. Ele quer uma esposa disposta. Ele não vai me manipular para fazer qualquer coisa contra a minha vontade, apesar do que você está pensando.
Dash parece que ele está prestes a ficar doente. — Você... você veio aqui voluntariamente? Ninguém te obrigou a isso?
— Sim. Ele ofereceu algo que eu queria e decidi que o preço valia à pena.
— O preço é um casamento, Em! Uma união! Você parou para pensar o quão sério é isso? Estamos falando do resto da sua vida. As uniões neste mundo não são como as do seu mundo. É um vínculo mágico que não é facilmente quebrado. E uniões reais? Eu nunca ouvi falar de uma união sendo quebrada. Se você continuar com isso, é para sempre.
Eu reviro meus olhos, mesmo quando o peso de suas palavras perfura meu núcleo e deixa minha pele mais fria do que há um momento atrás estava. — Agora você está sendo um idiota novamente. Eu não pretendo realmente que essa união aconteça. Eu tenho uma Habilidade Griffin, pelo amor de Deus. Uma extremamente poderosa. Quando for o momento certo, e quando eu tiver aprendido bastante controle sobre ela, eu vou pedir ao Roarke para me dizer tudo que eu preciso saber para curar minha mãe, e então eu vou escapar.
Dash ainda parece um pouco doente. — Sério? Esse é o seu plano? Você realmente acha que depois de tudo isso lá — ele acena genericamente na direção do salão de novo — eles vão deixar você escapar?
— Tudo bem, primeiro de tudo, ‘escapar’ implica que eu não vou pedir permissão. Eu vou embora. Então não importa se eles vão me deixar ou não. E em segundo lugar... — Eu lentamente respiro profundamente porque eu tenho que admitir que estou me sentindo tão doente quanto Dash parece. Em segundo lugar, percebo que escapar pode não ser possível. Eles podem me pegar e me forçar a participar desta...
— Você acha?
— ... apesar de tudo que Roarke diz sobre querer uma esposa disposta, — eu continuo, interrompendo Dash. — E se é assim que acaba, então que assim seja. Pelo menos eu vou pegar as informações que preciso, e então —
— Isso se Roarke realmente prosseguir com seu lado da barganha e dizer a você o que ele sabe — o que provavelmente não é nada, a propósito. Como ele pode saber mais sobre sua mãe do que o resto de nós? Mas quando você descobrir isso, será tarde demais para você. — Ele ergue as mãos e olha para o lado enquanto balança a cabeça. — Todo esse seu plano é totalmente inútil.
Um calafrio me percorre. Meu corpo esfria rapidamente, e o ar do inverno parece estar se infiltrando em meus ossos. Eu corro minhas mãos vigorosamente para cima e para baixo nos meus braços. — Não é inútil. Magia negra prendeu minha mãe em um coma permanente, e Roarke, como um membro da corte que usa esse tipo de magia, sabe como acordá-la. E, mais importante, ele sabe o que causou sua doença mental. Foi algo mágico, e ele sabe como consertar isso.
— Ele está mentindo, Em, — Dash diz com o tipo de tom que ele usaria conversando com uma criança ingênua. Distraidamente, ele move a mão em um movimento rápido e circular acima da minha cabeça, e eu imediatamente começo a me sentir mais quente. — Você realmente acha que um príncipe mimado sabe alguma coisa sobre doenças mentais mágicas? Ele diria qualquer coisa para você ficar e dar-lhe acesso total à sua Habilidade Griffin. Por que você não consegue ver isso?
— Ele não está mentindo. Ele sabe muito mais sobre o meu passado do que qualquer outro que eu tenha encontrado neste mundo. Ele já provou isso para mim. Ele é minha melhor chance de salvar a minha mãe.
— Mas... isso é só... — Dash se debate por um momento. Ele puxa seu cabelo, que eu percebo que é uma peruca quando se solta em sua mão, revelando seu próprio cabelo bagunçado por baixo. — Eu sei que você quer que sua mãe esteja melhor, — ele diz, seus olhos voltando aos meus, — mas por que sua saúde e felicidade têm que ser exclusivamente responsabilidade sua? Ela é realmente — Ele se interrompe, respirando pesadamente. Eu sei que isso vai me fazer soar como o cara mau. Eu não quero te perguntar se ela vale à pena, porque claramente —
— Como você pode pensar isso? — Eu arquejo.
— Eu não estou! É isso que eu estou dizendo. É claro que ela vale a pena. Ela é sua mãe, e claramente você a ama mais do que tudo em qualquer mundo, mas... — Seus olhos me imploram. — Ela quer que você faça isso? Ela quer que você jogue fora toda a sua vida no que é provavelmente uma tentativa fútil de salvar a dela?
— Eu não estou jogando fora toda a minha vida! — Eu grito. Então eu me lembro. Lembro das palavras de Aurora — meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares — e abaixo a voz novamente. É quase um sussurro agora. Meus lábios mal se movem enquanto eu falo. — Eles podem me forçar a um casamento, mas isso não significa que eu ficarei aqui para sempre. Minha Habilidade Griffin me faz mais poderosa que a maioria das pessoas neste mundo. Mamãe e eu vamos escapar um dia.
— Mesmo que isso seja possível, — diz Dash, — quantas coisas ruins eles vão te obrigar a cometer antes disso?
— Eu... eu... — Eu não tenho uma resposta para isso.
— Por que você acha que eles querem você, Em? Para que você possa deixar o trabalho sujo dele mais fácil, é por isso. — Ele pega meus ombros e me dá uma pequena sacudida. — Essas pessoas não são boas. Com certeza você sabe o tipo de coisas que elas vão fazer você fazer?
Eu me liberto de seu aperto. — Você está errado. Roarke não é assim, e Aurora também não. — Mas o rei é, uma voz silenciosa me lembra. Aquela cena no escritório do rei — a cena que continuo empurrando para fora dos meus pensamentos — aparece abruptamente na frente da minha mente. O rei com a mão apertando o ar, e a cabeça do homem sendo arrancada de sua —
Eu pisco e estremeço e desvio o olhar.
— Sério? — Dash diz. — Eles não são assim?
Eu posso dizer sem encontrar seus olhos que ele sabe que estou mentindo. Eu dou uma respiração trêmula. — Eu vi... alguma coisa. — Eu pisco de novo e balanço a cabeça, tentando forçar a memória para longe. Eu me concentro nos olhos verdes de Dash novamente, sabendo que não há sentido em tentar convencê-lo com mentiras que eu também mal acredito. Não há sentido em nada além da verdade. — Que outra escolha eu tinha, Dash? — Minha voz é um sussurro desesperado agora, tendo perdido seu tom defensivo. — Estas são as únicas pessoas que podem me ajudar.
— Você poderia ter confiado em nós! Eu e todo mundo no oásis. Queremos ajudar você, Em. Nós não fizemos nada, além de tentar ajudá-la desde que você chegou a este mundo, e isso não mudaria. Eu não entendo porque você simplesmente virou as costas para tudo isso e —
— É por isso, Dash! Foi por isso que eu tive que ir embora.
Ele faz uma pausa, as sobrancelhas subindo mais alto. — Isso deveria fazer sentido?
— Você e seus amigos não fizeram nada além de tentar me ajudar e isso quase matou vocês. Você virou uma estátua de vidro. Lembra disso? Você e Violet chegaram tão perto de morrer. Morrer, Dash! — Minha voz se eleva quando meu peito aperta com a lembrança daquele dia aterrorizante.
— Sim, mas não morremos. Não é grande coisa.
— Claro que foi importante! Você quase morreu porque tentou me ajudar. E Chelsea e Georgia realmente estavam mortas, e elas teriam ficado assim se minha Habilidade Griffin não tivesse feito uma aparição conveniente. Então, depois de tudo isso, eu decidi que não queria que ninguém mais fosse colocado em risco por minha causa e de minha mãe.
— Em —
— Sim, eu tinha tudo que queria no oásis. É lindo, é seguro, as pessoas são incríveis. Mas se eu tivesse ficado lá, alguém teria acabado ferido ou morto porque tentaram me ajudar. Isso é problema meu. Ela é minha mãe. Se há um preço envolvido em fazê-la voltar ao normal, sou eu quem devo pagar. Ninguém mais.
Dash fica em silêncio por muito tempo antes de dizer, — É tarde demais para isso.
Eu pisco, sentindo frio novamente, apesar do feitiço de calor de Dash ainda me cercando. — O que você quer dizer?
Ele balança a cabeça e olha para o outro lado. — Isso... não era assim que eu queria te contar. Eu queria te levar para longe daqui primeiro. De volta ao oásis.
— Antes de me dizer o quê? — Eu me aproximo e envolvo uma mão fria em torno de seu braço. — Me dizer o quê, Dash? O que aconteceu?
— Chelsea e Georgia... — Ele fecha os olhos e pressiona os lábios antes de continuar. — As duas... morreram.
Eu solto minha mão de seu braço tão rapidamente como se sua pele tivesse me queimado. — O quê?
— Aconteceu cerca de dois dias depois do incidente de vidro com Ada.
— Mas... elas não podem estar mortas. Minha Habilidade Griffin as trouxe de volta a vida.
— Elas eram humanas, Em, — ele diz gentilmente. — Sua Habilidade Griffin pode ter funcionado nelas, mas seus corpos não conseguiram lidar com a magia. No final, isso as matou.
— Mas... você tem certeza de que elas eram humanas? Quero dizer, ela é irmã da minha mãe e minha mãe é uma faerie. E sobre todos os remédios herbáceos que Chelsea fez? Eu pensei que talvez... talvez fosse realmente mágico.
Dash não oferece explicações; ele apenas balança a cabeça. — Eu sinto muito, Em.
— Elas... elas estão realmente mortas? — Eu sussurro. — Minha magia as matou. Eu pensei que isso as salvou, mas as matou.
— Em —
— Eu matei minha própria família.
— Não foi você quem as matou, — diz Dash, sua voz repentinamente feroz. — Ada fez isso com sua horrível magia de vidro. Ela as quebrou em milhares de pedaços. Você fez o que pôde para salvá-las, mas não foi o suficiente. Elas estavam condenadas desde o momento em que ela as tocou pela primeira vez.
Minhas pernas não conseguem me segurar. Eu caio no chão, sem um segundo pensamento sobre o vestido caro que eu provavelmente estou estragando. Respirações rápidas e superficiais me consomem enquanto olho para o jardim. Dash ainda está falando, mas não consigo mais ouvi-lo. Eu não sei como devo reagir a isso. Chelsea e Georgia não me amavam, e eu não as amava; Eu não posso fingir o contrário só porque elas estão mortas. Mas elas eram da família. Elas me acolheram, embora constantemente deixassem claro que eu era um peso para elas. E agora elas estão mortas e eu não consigo descobrir o que devo sentir além de me sentir culpada.
— Eu nunca quis nada disso, — eu consigo sussurrar. Eu cubro meu rosto com minhas mãos, desejando que eu pudesse apagar este outro mundo e sua magia que deixou minha vida completamente fora do meu controle. — Alguém pode simplesmente levar tudo isso embora? Por favor. Eu não quero essa magia. Eu não quero uma Habilidade Griffin. Eu não quero casar com um príncipe. Eu só quero voltar para aquela vida simples que mamãe e eu tivemos antes que a magia a deixasse louca e tudo começasse a desmoronar.
Eu sinto o braço de Dash no meu ombro e o sinto agachado ao meu lado. — Eu queria poder —
— Emerson?
Eu respiro fundo ao som da voz do Roarke. Lentamente, eu abaixo minhas mãos e o observo descer as escadas.
— O que está acontecendo? Por que você está no chão?
Dash se levanta para encará-lo.
— Você, — Roarke diz lentamente, reconhecimento em seus olhos. — Bem, agora. — Seu olhar se move para mim enquanto sua expressão se torna ilegível. — Se isso não é uma situação interessante.
Capítulo 12
EM MENOS DE UM MINUTO, EU ME ENCONTRO DE VOLTA DENTRO DO CALOR DO palácio em uma pequena sala de estar em algum lugar perto do salão de baile. Apesar do turbilhão de emoções me dominando, eu não ouso desobedecer Roarke quando ele proferiu — Siga-me. — em um tom mais frio do que o ar do inverno. Dash hesitou, mas logo nos alcançou. De volta ao salão de baile, ninguém parou o príncipe ou sua noiva. Ninguém sequer olhou em nossa direção. Eu suspeito que a magia de Roarke seja a responsável por isso.
A porta da sala de estar se fecha sozinha. Chamas ganham vida na lareira. — O que ele está fazendo aqui? — Roarke exige imediatamente, apontando para Dash sem olhar para ele.
— Eu... eu não... — Eu corro minhas mãos pelo meu rosto, tentando me concentrar nas palavras de Roarke e vendo apenas os olhos sem vida de Chelsea e Georgia. Seus corpos frios. Sozinhas em suas camas em sua pequena casa em Stanmeade. Eu pisco e olho para as chamas crepitantes dançando na lareira, na esperança de queimar a imagem brilhante e quente em minha mente. — Eu não sei, — eu digo finalmente, me afastando do fogo. — Fiquei tão chocada quanto você por vê-lo aqui. Essa coisa ainda está ligada a mim — Eu toco o pedaço de metal do tamanho de uma moeda atrás da minha orelha — então nenhuma mágica deveria ter sido capaz de me localizar.
Roarke atravessa a sala. Seus dedos envolvem o braço de Dash. — Onde estão suas marcas de guardião?
Dash puxa o braço para longe e solta uma risada curta. — Tem essa coisa que as garotas usam. É chamado de corretivo. Funciona muito bem para cobrir —
— E como você entrou no meu palácio?
Dash leva seu tempo cruzando os braços sobre o peito antes de encarar Roarke. — Sua mãe decidiu terceirizar o design do vestido de Em para esta noite. Quando um de seus empregados veio buscá-las, tive a certeza de estar lá, pronto para ocupar o lugar dele. Seu transporte me trouxe de volta aqui. Foi tudo incrivelmente fácil, na verdade.
— E como você sabia que Emerson estava aqui em primeiro lugar?
— Um palpite, acho que mais um processo de eliminação. Eu achei que poderiam ser vocês, os Seelies ou a Guilda que a prendiam. Perguntei por aí, e a Guilda e os Seelies ainda pareciam estar sob a impressão de que Em estava morta ou desaparecida. Sabe, desde o incidente no penhasco. — Dash dá de ombros. — Portanto, tinha que ser vocês.
— Então você contou aos seus superiores tudo sobre suas suspeitas, e eles te recompensaram deixando você entrar furtivamente em minha casa e meter seu nariz indesejado ao redor? Duvidoso. Você não parece estar na hierarquia mais alta da Guilda para ter uma missão tão importante quanto recuperar uma perigosa e poderosa faerie Dotada Griffin como Emerson.
O olhar de Dash se estreita um pouco. — Eu não estou aqui representando a Guilda.
— Ah. — Roarke acena com a cabeça. — Eu tive a sensação de que poderia ser algo nesse sentido. — Ele caminha até a cômoda do outro lado da sala e abre uma gaveta. — Você e Emerson pareciam estar ficando muito confortáveis quando Aurora e eu encontramos vocês dois juntos em seu antigo quarto. — Ele fecha a gaveta e se vira para nos encarar novamente. — Depois que ela escapou da Guilda. Quando você — um guardião — não deveria saber nada sobre o paradeiro dela. — Ele balança a cabeça e solta uma risada silenciosa. — Um traidor para sua própria espécie, eu vejo. Que decepcionante.
A expressão do Dash escurece. — Na verdade não. Acontece que eu discordo de marcar, rastrear e aprisionar Dotados Griffin.
— E você tem alguma marca em você, garoto guardião? Para que alguém possa convocá-lo ou determinar sua localização?
— Eu disse a você que não estou aqui em nome da Guilda, então por que eu seria estúpido o suficiente para deixar alguém me marcar?
— Bom. — Roarke se move em direção a Dash. — Mas apenas no caso ... — Sua mão gira e bate na lateral do pescoço de Dash.
Quase rápido demais para ver, Dash pega o braço de Roarke e o torce, girando o príncipe ao redor e prendendo o braço atrás das costas. — O que você acabou de fazer? — Dash sibila. O som de um chiado percorre o ar, e com um grito, Dash empurra Roarke para longe dele. — O que —
Roarke se endireita, rola os ombros e ajusta o colarinho de sua jaqueta. — Eu não gosto de ser maltratado.
Dash toca o lado do pescoço dele. — O que é isso? — Quando sua mão se afasta, vejo um pequeno círculo de metal como o atrás da minha orelha.
— Uma precaução, isso é tudo, — diz Roarke.
— Como você ousa —
— Você entra em minha casa e quer saber como eu ouso a —
— Parem! — Eu grito. Minha Habilidade Griffin ainda não está pronta para emitir um comando mágico, mas meu grito é suficiente para fazer Roarke e Dash pararem e olharem em minha direção. — Apenas ... apenas parem. — Minha voz vacila. — Minha tia e prima estão mortas, e vocês dois estão agindo como crianças mesquinhas.
Uma carranca puxa as sobrancelhas de Roarke para baixo. — Sua tia e prima? Com quem você viveu no mundo não-mágico?
Eu olho para trás em direção ao fogo enquanto eu aceno. — Dash me contou. Do lado de fora. É por isso que eu estava sentada no chão. Eu estava... eu simplesmente não consigo acreditar.
— Estas são as pessoas de quem você particularmente não gostava? — Roarke pergunta, seu tom não indelicado, apenas curioso. — Aquelas que te trataram mal desde que você se mudou para a cidade para viver com elas?
Eu concordo. — Mas elas ainda eram da família. Bem, eu não sei o que elas eram. Mamãe e Chelsea eram irmãs, mas mamãe é uma faerie e Chelsea era humana, então... elas não podem ter sido irmãs? Eu não sei. Eu não entendo. — Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas novamente e fecho meus olhos. — Mas eu morei com elas. Por anos. Eu pensei que elas eram da família, e agora elas morreram.
Eu ouço os passos silenciosos de Roarke se aproximando antes que ele coloque uma mão cuidadosamente contra as minhas costas. — Eu sinto muito, Emerson. Eu não posso imaginar como é isso. Mas posso prometer isto: você está prestes a ter uma família totalmente nova. E embora possa não ser óbvio do lado de fora, nós nos importamos um com o outro. Nós vamos cuidar de você também. Você será uma de nós e finalmente pertencerá a algum lugar. Você e sua mãe.
Do outro lado da sala, Dash bufa e resmunga algo em voz baixa. Eu quase faço o mesmo, porque é claro que o verdadeiro motivo de Roarke não tem nada a ver com o desejo de me dar uma nova família e um lugar para pertencer. Ele quer minha Habilidade Griffin. Mas talvez haja mais do que isso. Talvez ele realmente queira que essa união funcione. Talvez ele planeje cuidar de mim pelo resto de nossas vidas.
— Você vai ficar, é claro, — Roarke diz para Dash. — Para a cerimônia. Você é amigo de Emerson. Tenho certeza que ela vai querer que você esteja aqui.
— Sua cerimônia é daqui a duas semanas, — Dash diz antes que eu possa expressar minha própria opinião. — Eu não posso ficar aqui por tanto tempo. Eu tenho um emprego, lembra?
— Você também tem o desejo de parar esta união, — Roarke aponta. — O que significa que, se eu deixar você sair, você dirá à Guilda exatamente o que está acontecendo, e eles tentarão interromper nossos planos e recuperar Emerson. Ou matá-la.
— Dash não diria —
— Você não sabe com certeza, — Roarke diz para mim. — Se você quer que esta união aconteça, então não podemos correr o risco que a Guilda se envolva.
— A Guilda vai se perguntar onde estou, — diz Dash.
— Deixe-os se perguntar então. Eles não sabem que você está aqui.
Dash exala lentamente, seus olhos brilhantes nunca deixando Roarke. — Eu sei que isso não importa para você, mas eu tenho casos importantes —
— Você deveria ter considerado isso antes de invadir minha casa, — diz Roarke.
— Tudo bem. — Dash força seus punhos para trás de suas costas e dá a Roarke o sorriso mais obviamente falso que eu já vi. — Muito obrigada pelo convite, Sua Alteza Real. Eu ficarei feliz em ficar aqui e participar da sua cerimônia de união.
Roarke acena. — Bom. Apenas certifique-se de que as marcas em seu pulso permaneçam cobertas. Não posso garantir sua segurança se meu pai descobrir o que você é.
— Certamente. E vou manter meus lábios fechados e não fazer perguntas sobre nenhuma das leis que vocês Unseelies quebraram ultimamente, ou sobre, digamos, aquele lugar sombrio e sem cor onde eu acordei depois que você sequestrou Em e eu.
— Perfeito. Espero que você não se esqueça dessa promessa, — Roarke acrescenta em um tom ameaçador.
— Então ... Dash é um convidado? — Eu pergunto. — Ou um prisioneiro?
Roarke olha para mim. — Você gostaria que eu fizesse dele um prisioneiro?
— Claro que não.
— Então ele é nosso convidado. — Ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu só quero te fazer feliz, Emerson. Você recebeu algumas notícias chocantes esta noite e tenho certeza de que será um conforto ter seu amigo aqui.
Minha carranca se aprofunda. — Mas você não confia nele e não quer que ele vá embora. Então, por que você o deixaria vagar livremente pelo seu palácio?
— Não se preocupe, ele será observado onde quer que vá. Se ele sair da linha, eu me certificarei de que a Guilda descubra que ele sabe muito mais sobre os rebeldes Griffin do que deveria. Duvido que ele consiga manter o emprego depois disso. — Ele olha para Dash. — Parece justo?
Dash inclina a cabeça no menor dos acenos. — Perfeitamente justo, já que eu planejo estar no meu melhor comportamento, Real Principesco.
Um músculo na mandíbula de Roarke se contrai, mas, felizmente, ele decide não retaliar a última parte. — Mais importante, minha querida Emerson, — continua ele, virando para mim, — eu gostaria de mostrar a você que eu me importo com a sua felicidade. Se isso significa tratar seu amigo guardião como convidado em vez de prisioneiro, então eu faço.
Eu ainda não sei se acredito nele, mas acho que vou descobrir nos próximos dias. — Tudo bem, — eu digo com cautela. — Obrigada.
— Vamos voltar para o baile agora. Afaste sua tristeza, meu amor, e junte-se à alegria. Você logo se sentirá melhor.
Eu duvido que isso seja verdade, mas também duvido que tenha escolha. Eu acho que o meu pedido para sair da festa, subir na cama e puxar as cobertas sobre a minha cabeça não iria cair bem. Então eu sigo Roarke para fora da sala e de volta para a festa. Eu respiro profundamente e pressiono meus lábios para evitar que estremeçam. Eu tomo a primeira bebida que é oferecida e de uma só vez, esperando que o liquido seja suficiente para entorpecer meus sentidos pelo resto da noite.
Quando está perto da meia-noite e minha Habilidade Griffin vem à tona, eu digo às palavras que fui obrigada a dizer. Ninguém me ouve em meio ao barulho, mas todos gritam oohs e aahs em admiração aos seis arco-íris que se formam um após o outro do outro lado da sala, como se marcassem os doze pontos de um gigantesco relógio colorido. Eu gostaria de poder experimentar um pouco da admiração deles com a visão do que minha própria magia produziu, mas parece que as várias bebidas que eu consumi estão fazendo seu trabalho: eu não sinto mais nada.
Capítulo 13
QUANDO CLARINA ME ACORDA NA MANHÃ SEGUINTE, SINTO QUE alguém enfiou uma estaca no meu globo ocular. E uma chave de fenda no outro olho. Alguém deve ter também aumentado o brilho do sol; Eu só posso abrir meus olhos por cerca de meio segundo antes de ter que fechá-los novamente.
— Seu almoço está na sala de estar, minha senhora, — diz Clarina. — Todos estão comendo sozinhos hoje, conforme alguns ainda estão se recuperando da noite passada.
— Almoço? — Eu pergunto com uma voz rouca.
— Sim, é quase meio-dia, minha senhora. — Seus passos se aproximam e ela acrescenta, — A bebida ao lado de sua cama aliviará sua dor de cabeça.
Eu levanto lentamente e olho para o copo de cristal com um líquido claro. Quase pergunto como ela sabe sobre minha dor de cabeça, mas suponho que ela esteja aqui há tempo suficiente para ter plena consciência das muitas ressacas que se seguem de um evento como o baile da noite anterior.
— Sua piscina está cheia, — acrescenta ela.
— Obrigada. — Eu balanço minhas pernas sobre a borda da cama e olho para o chão por um tempo enquanto meu cérebro percorre os eventos da noite anterior. Eu lembro que Dash está aqui agora. Eu lembro que Chelsea e Georgia estão ... mortas.
Eu pego o copo e meus olhos caem sobre a roupa que Clarina escolheu para mim hoje, pendurada do lado de fora do guarda-roupa. Um casaco do tipo trespassado, na cor água-marinha com padrões de branco, verde e malva. As comemorações do aniversário da rainha continuam com um chá nos jardins esta tarde, então Clarina foi obviamente instruída a escolher algo apropriadamente festivo para mim. É bonito, mas não parece certo usar algo tão... vivo.
— Clarina? — Eu chamo, esperando que ela ainda esteja na sala ao lado.
— Sim, Lady Emerson? — Ela corre de volta para o quarto.
— Tudo bem se você escolher uma roupa preta para mim hoje? Ou cinza, talvez, se preto for deprimente demais para o chá da rainha?
— Hum, certamente, minha senhora. Isso deve estar bem. Eu acredito que há uma roupa na cor carvão com detalhes bordados de prata. Deve servir?
— Sim, obrigada.
Não sinto qualquer tipo de profunda tristeza pela perda de Chelsea e de Georgia. Eu ainda estou chocada, mal conseguindo acreditar que elas se foram, mas sei que não houve nenhum amor perdido entre nós. Ainda assim, parece errado simplesmente seguir em frente com a vida e esquecê-las. Eu preciso fazer alguma coisa, e se usar preto ou cinza é a única coisa que resta para mim, então é o que vou fazer.
***
A mistura no copo funciona notavelmente rápido, e minha dor de cabeça logo desaparece. Embora eu gostasse de mergulhar na piscina de bolhas roxas por muito mais tempo, eu provavelmente devo descobrir onde Dash está e ter certeza de que ele não se meteu em problemas.
Depois de me secar e me vestir, fecho os botões da minha roupa cor de carvão e ando descalço através da minha sala de estar em busca de um pouco de comida. Eu escolho o sanduíche mais normal e volto para o meu quarto para escolher um par de sapatos.
Ao ver uma figura sentada na beira da minha cama, eu congelo. Ele vira a cabeça - e percebo que é Dash.
— Caramba, Dash. Você está tentando me dar um ataque cardíaco? Como você chegou aqui?
Ele gesticula por cima do ombro para a janela onde a cortina ondula suavemente com a brisa morna. — Sua janela estava aberta. Eu subi por ela.
Eu quero dizer a ele que ele é tão ruim quanto eu, subindo pelas paredes do palácio, mas estou com medo de que alguém importante descubra que ele está no meu quarto. — Você não pode estar aqui, — eu sussurro. — Se Roarke ou o pai dele te encontrarem no meu quarto, de todos os lugares —
— Ninguém me viu, não se preocupe. Eu não saí do meu quarto pela porta, então qualquer um observando vai assumir que eu ainda estou lá dentro. E achei seu quarto com bastante facilidade. Não tive que procurar por muitos outros.
— Dash!
— O quê?
— E quem pode estar ouvindo agora? — Eu assobio.
Dash franze a testa. — Você está brincando certo?
Eu balanço minha cabeça. — Há olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Sim, mas no seu quarto? Isso é passar dos limites.
Eu me aproximo mais dele e abaixo minha voz ainda mais. — Depois de tudo que você me falou sobre essas pessoas, você realmente quer que eu acredite que há limites que eles não passaram?
Dash hesita. — Verdade.
— Quero dizer, eu não sei ao certo se alguém está ouvindo, mas Aurora me disse para ter cuidado com o que eu digo, não importa onde eu esteja.
Dash levanta o dedo para os lábios, indicando que eu deveria permanecer em silêncio. Ele começa a andar devagar pelo quarto, olhando, ouvindo, às vezes até cheirando. — A única outra magia que eu posso sentir neste quarto está vindo da sua cama, — ele sussurra. — O que é totalmente inapropriado, se você perguntar —
O edredom se move, uma forma desliza em direção à borda e um gato preto aterrissa no chão.
— Oh, — Dash diz, sua voz não mais que um sussurro. — É o Bandit?
Eu abro meus braços e Bandit pula para cima, mudando para um pássaro para ajudá-lo a ganhar altitude, e pousando em meus braços como um gato mais uma vez. — Sim. — Eu o abraço junto ao meu peito. — Eu queria que ele ficasse no — hum, onde estava seguro. Mas ele deve ter vindo comigo em uma forma pequena demais para eu notar.
Dash sorri e se aproxima para poder acariciar Bandit atrás das orelhas. — Jack ficará aliviado. Ele está muito preocupado com Bandit.
— Então você não acha que alguém está ouvindo? — Eu pergunto.
— Eu acho que não, mas mesmo que alguém esteja ouvindo, e daí? Não é como se eu estivesse agindo de forma inadequada em relação à futura princesa. Você e eu estamos apenas conversando. Se você preferir, podemos conversar na sua sala de estar, em vez de no seu quarto.
Eu reviro meus olhos. — Como se isso fizesse alguma diferença. Você ainda teria que explicar como passou pelos guardas do lado de fora da minha porta. E subir pela janela faz você parecer muito suspeito.
Ele solta um suspiro e senta-se na beira da cama novamente. — Eu só pensei que você poderia querer saber sobre... você sabe. O funeral.
O funeral.
Chelsea e Georgia.
Mortas.
— Você estava lá? — Eu pergunto.
Dash acena com a cabeça. — Sim. Você pode ou não lembrar que algumas das pessoas em Stanmeade eram realmente minhas amigas. Não amigos verdadeiros, é claro, já que eu nunca poderia ser totalmente honesta com ninguém, mas ... sim. Tenho amigos lá e senti que deveria estar no funeral. Só para apoiar alguém que fosse amigo da Georgia.
Eu aceno e murmuro, — Claro. Sim. Ainda não consigo acreditar que ela e Chelsea se foram. Elas sempre estavam lá, sabe? Minha horrível prima e tia de quem eu não podia esperar para fugir. Então eu finalmente consegui fugir, e agora ... — Eu balanço minha cabeça. Agora, porque Ada estava atrás de mim, ambos estão mortas. Dash pode tentar me convencer de que eu não deveria me culpar, mas sei que sou responsável. Indiretamente, talvez, mas ainda responsável.
Eu deixo Bandit pular para fora dos meus braços antes de caminhar até a cadeira no canto do meu quarto. É o tipo de cadeira elegante que ninguém quer realmente sentar - uma armação de madeira excessivamente embelezada com almofadas duras demais para serem confortáveis. No entanto, eu sento na borda e pigarreio. — Era, hum, havia muitas pessoas lá? No funeral?
— Sim. Quase todo mundo na cidade estava lá. Eu acho que Chelsea conhecia muita gente, já que ela administrava um dos únicos salões em Stanmeade.
Eu franzo a testa. — Ela era uma grande fã em espalhar fofocas e rumores e eu teria pensado que haveria muitas pessoas que não gostavam dela.
— Bem, você não precisa gostar de alguém para ir ao funeral.
Eu olho para ele. — As pessoas falaram coisas horríveis?
— Não. Apenas coisas boas foram ditas sobre ela. Sobre as duas. Foi tudo muito ... — Ele esfrega a mão no rosto. — Muito estranho. Muito trágico, por um lado, e ainda assim muito falso ouvir todas aquelas homenagens adoráveis sobre duas pessoas que eu testemunhei pessoalmente serem rancorosas em várias ocasiões. E parecia errado da minha parte pensar nessas coisas, mas como eu não poderia? Eu não poderia de repente transformar Chelsea e Georgia em outra coisa em minha memória só porque elas estão mortas.
— Eu ... apenas ... — Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei o que dizer ou pensar ou sentir. O que todos acham que foi a causa da morte?
— Um vazamento de gás.
— Eu suponho que a Guilda seja responsável por essa história?
— Sim. Foi à história mais fácil de inventar.
— Você acha... você sabe se ... — Eu hesito, imaginando se eu quero saber a resposta. — Elas sofreram? A magia em seus corpos as fez sofrer quando estavam morrendo?
— Eu não sei, Em. Eu sinceramente não sei. Espero que não.
Eu inclino meus cotovelos sobre meus joelhos. — Antes de você me contar o que aconteceu com elas, eu estava começando a pensar que todo esse tempo Chelsea também era uma espécie de faerie como eu e mamãe, e que os remédios herbáceos que ela fazia eram mágicos. Mas se elas continham magia, elas não teriam ajudado ninguém em Stanmeade. As pessoas teriam acabado doentes e possivelmente mortas, certo?
— Sim.
— Então Chelsea definitivamente era humana.
— Sim.
— O que significa que ela e minha mãe não podem ter sido irmãs.
Dash balança a cabeça.
— Eu me pergunto se Chelsea sabia. Eu me pergunto se minha mãe sabe, ou se ela acha que Chelsea era como ela. Alguém com magia que não pode ser acessada. — Eu esfrego meus dedos em movimentos circulares contra as minhas têmporas enquanto olho para o chão. — Eu ainda tenho muitas perguntas. Tantas lacunas na história da minha família que preciso que mamãe preencha para mim.
— Bem, espero que seu plano genial funcione e você tenha todas as respostas que procura.
Eu direciono uma careta para ele. — Isso não é apenas sobre respostas. Você sabe disso. Mesmo que mamãe não soubesse nada, eu ainda gostaria de acordá-la e curar sua mente.
— Sim, — ele diz baixinho. — Eu sei.
Eu o observo de perto por um tempo. — Por que você está aqui? Quer dizer, eu... — Eu afasto meu constrangimento conforme minhas bochechas esquentam. — Eu nunca fui legal com você. Certamente você não se importa o suficiente comigo para assumir o tipo de risco necessário para vir aqui.
Ele solta uma risada curta sem humor. — Não é uma questão de quanto eu posso ou não me importar com você. Isso não é apenas sobre você, Em. É sobre o que o Rei Unseelie vai fazer você fazer. Quantas vidas podem ser arruinadas porque você está sendo forçada a usar sua Habilidade Griffin contra sua vontade?
— Eu... eu não...
— E eu pensei que você fosse uma prisioneira aqui. Eu pensei que estava salvando você e todas as pessoas que você pode ser forçada a machucar no futuro. Eu nunca imaginei que você escolheu vir aqui. Que você se recusaria a ir embora assim que eu te encontrasse.
Eu olho para longe dele. — Eu sinto muito. Como eu disse ontem à noite, você não deveria me encontrar. Você deveria ficar longe e nunca se machucar novamente por minha causa.
— Isso nunca vai acontecer, Em. Eu não sou o tipo de pessoa para que fica sentado enquanto o Rei Unseelie põe as mãos na recente arma mais poderosa no reino das faeries. E eu não achei que você fosse o tipo de pessoa que simplesmente entregasse esse poder também.
Eu engulo a minha vergonha. — Bem, eu acho que sou, — eu digo em voz baixa, olhando para o chão. — Como quase todos os outros no mundo, estou apenas cuidando de mim mesma e das pessoas que amo. Eu não sou corajosa ou altruísta. Estou apenas fazendo o que tenho que fazer para sobreviver.
Do canto do meu olho, vejo Dash balançar a cabeça. — Você pode dizer a si mesma a mentira que quiser, mas eu sei que você é mais do que isso. Eu sei o que você fez em Stanmeade. Você parou o vidro de Ada de consumir a cidade inteira. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter mantido a localização da sua mãe em segredo e deixar aquele lugar se destruir. Mas você não fez.
— E que bem meu altruísmo fez então? — Eu exijo. — Eu dei a ela o que ela queria, mas ela parou seu ataque à cidade? Não. Eu tive que descobrir isso sozinha, e foi um acaso que a minha Habilidade Griffin apareceu no momento certo. Então, que diferença fará agora se eu me recusar a dar meu poder ao rei? Nada. Ele cometerá os mesmos atos malignos que ele planeja cometer. Pode demorar um pouco mais. — Me sinto doente com minhas próprias palavras. Eu não quero ajudar o rei a fazer nada. Mas realmente, o mundo é um lugar ruim e é assim que funciona. É assim que os dois mundos funcionam. A vida é uma merda e então você morre — assim como a velha música que Chelsea costumava ouvir às vezes. — Apenas algumas pessoas chegam a ser heróis, Dash, — digo em voz baixa. — E você pode ser uma dessas pessoas, mas eu não sou. Estou apenas tentando jogar a melhor mão das cartas que recebi.
Ele fica quieto por um momento, e tudo que consigo ver em seus olhos é tristeza. — Em algum momento, você vai perceber que isso — ele gesticula em torno dele — certamente não é sua melhor mão. Só espero que você descubra isso mais cedo do que tarde.
— E espero que você saia daqui mais cedo do que tarde. Não há necessidade de você se machucar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você sabe o que sou, certo? Machucar faz parte do trabalho.
E morrer? Eu quase pergunto. Mas eu não quero pensar nisso. Eu não quero falar sobre a morte quando ele já chegou tão perto disso. Não quando as mortes de Chelsea e Georgia ainda estão tão próximas.
— Além disso, — acrescenta ele. — Eu não acho que será tão fácil deixar este palácio como foi entrar.
Bandit pula de volta no meu colo. Eu acaricio seus pêlos negros e lustrosos e, em um esforço para desviar a conversa de assuntos tão pesados, pergunto, — Era verdade? A história que você contou a Roarke ontem à noite. Sobre entrar no palácio no lugar do empregado.
— Sim. Bem, principalmente. Não era eu que deveria vir para cá.
— Oh. — Eu olho para cima. — Quem deveria ser?
Dash me dá um olhar aguçado. — Eu prefiro não dizer o nome dela, apenas no caso. Mas eu tenho certeza que você pode descobrir, dado seu talento particular para... se ocultar.
Ah. Calla Eu concordo. — Eu acho que sei de quem você está falando.
— Teria sido muito mais fácil para ela se misturar. Mas o empregado chegou mais cedo do que o esperado para pegar o vestido no estúdio da minha mãe, então —
— Espere, sua mãe?
— Sim. Foi ela quem desenhou o seu vestido.
Minha mão continua nas costas de Bandit. — Sua mãe é Raven Rosewood?
— Sim. Eu te disse que ela é uma designer de moda, não foi?
— Sim, mas... eu nunca pensei... espera, seu sobrenome é Rosewood? — Isso não parece certo, mas agora não me lembro se eu soube o sobrenome de Dash.
— Não, é Blackhallow.
— Oh. Dash Blackhallow, — eu digo devagar, experimentando o nome.
— Dashiell Blackhallow, se formos técnicos. — Ele revira os olhos. — Muitos ls, eu sei. De qualquer forma, minha mãe ainda era Rosewood quando começou a desenhar. Esse é o nome que as pessoas a conhecem, então ela manteve.
— Então, dentre todos os designers deste mundo, a rainha acabou escolhendo sua mãe. Isso não pode ter sido uma coincidência.
Dash sorri. — Claro que não foi. Minha mãe ouviu que a Rainha Unseelie estava procurando um vestido especial. Não para ela, e nem para a filha. Os rumores sugeriam que uma nova jovem chegara ao Palácio Unseelie, e a rainha e a princesa tinham um interesse especial por ela. Normalmente minha mãe ficava longe de qualquer coisa a ver com os Unseelies, mas ela sabia que você desapareceu. Ela me contou sobre os rumores e essa ‘competição’ não oficial para desenhar o melhor vestido. Eu tinha quase certeza de que aquela garota era você, então eu disse à mamãe que um de seus vestidos tinha que ser escolhido, não importava o que acontecesse. Então nós encantamos seus desenhos. Um feitiço simples que fazia com que qualquer um que olhasse as páginas desejasse continuar voltando para elas. E funcionou. Ela foi escolhida.
Minha boca está aberta quando ele termina de falar. — Foi tão simples assim?
— Sim. E então o cara que veio pegar o vestido chegou muito cedo. Eu estava me escondendo, vendo minha mãe entregar o vestido sozinha, como ela havia sido instruída. Eu esperava que ela o mantivesse falando ou algo assim até que Ca — hum — até que nossa amiga chegasse, mas o empregado disse que ele estava com uma agenda apertada. Parecia bastante agitado por estar lá. Ele ficava olhando em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse naquele estabelecimento. Quando ele disse que sua carruagem estava encantada para dar meia-volta e sair em menos de cinco minutos, fiz a única coisa em que conseguia pensar: o fiz desmaiar e tomei o lugar dele.
— Então você pulou dentro de sua carruagem e tudo deu certo?
— Bem, eu vesti as roupas dele primeiro. E mamãe me encontrou uma peruca colorida apropriada de seus muitos recursos. E eu peguei a stylus dele e o âmbar, o que foi uma coisa boa, já que a porta da carruagem não abria até que eu segurasse a stylus contra ela, e eu estava quase sem tempo até lá. Ah, e havia dois guardas dentro da carruagem, mas eles estavam desinteressados o suficiente para que eles não notassem que meu rosto não era o mesmo do cara com quem eles estavam viajando.
— Mesmo? De jeito nenhum. Nenhum guarda é desatento aos detalhes. Eles devem ter percebido a diferença.
Dash hesita, um sorriso culpado esticando seus lábios. — Tudo bem, então eu posso ter discretamente borrifado alguma poção de contentamento quando entrei na carruagem.
— Poção?
— Minha mãe adiciona nos vestidos às vezes, a pedido de seus clientes. É estranho. Algumas dessas pessoas para quem ela desenha são super estressadas e tensas, e quando vão a esses eventos extravagantes, elas só querem relaxar um pouco. Fique contente e em paz, sabe? Eu estava com pressa, e o pequeno frasco de spray estava bem ali, então eu o peguei durante o caminho.
— E os guardas ficaram tão contentes que não perceberam que você não era o cara certo?
— Sim. Eu, talvez, tenha pulverizado um pouco demais. Felizmente, eu coloquei um escudo em volta de mim, caso contrário, eu provavelmente estaria tão contente que ainda estaria sentado naquela carruagem.
Eu pisco, incerta do que mais dizer sobre esse plano meio improvisado que realmente funcionou.
— Olha, não foi a minha operação secreta mais elegante, — admite Dash, — mas tudo correu bem. A carruagem me levou direto para o pátio do palácio e fui em direção de umas das portas. Levou um pouco de trabalho para descobrir para onde ir, mas não era nada que eu não pudesse lidar. Fingi estar um pouco tonto e confuso, elogiei uma das garotas que encontrei na cozinha e ela me mostrou para onde ir. Deixei o vestido com uma nota dizendo que o recolhimento correu bem e depois me escondi até o baile começar.
— Uau. Estou espantada por não ter dado tudo errado.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou bom em improvisar.
Minha mente recua para o início da sua história. — Então, eles — as pessoas com quem eu estava ficando — Eu não quero dizer as palavras ‘Rebeldes Griffin’ em voz alta — sabem que você está aqui?
— Sim.
Eu abaixo minha voz e me inclino para frente. — Você acha que eles virão aqui?
Dash hesita e diz em voz normal, — Não. Eles não sabem onde esse lugar fica. É por isso que um de nós precisava vir com o empregado. As Cortes Unseelie e Seelie estão escondidas, então muitas pessoas não sabem onde estão. — A maneira como ele está olhando para mim, seus olhos fixos nos meus, sugere fortemente que ele está mentindo. Também sugere que ele não está totalmente convencido de que alguém não está nos ouvindo.
— Merda, — eu sussurro para mim mesma. Os rebeldes Griffin provavelmente sabem como chegar a Corte Unseelie, e uma vez que eles perceberem que Dash não está voltando comigo, eles provavelmente virão direto para cá e farão tudo que puderem para levar nós dois. E, embora eu tenha certeza de que todos são incríveis lutadores mágicos, as chances são altas de que eles acabem feridos, mortos ou presos.
— Em? — Dash pergunta depois de vários momentos de silêncio da minha parte.
— É bom que eles não consigam encontrar este lugar, — eu digo em voz alta. Alta demais, provavelmente. Eu faço um esforço para parecer normal. — Eu sei que eles só estariam tentando ajudar, mas como eu disse a você ontem à noite, eu não estou precisando de ajuda.
Dash arqueia uma sobrancelha. — Se você não queria ajuda de ninguém, provavelmente deveria ter mencionado isso antes de fugir. Teríamos parado de trabalhar duro para descobrir o mistério que é a sua vida.
Um fragmento de culpa apunhala meu peito e gira. — Desculpe. Mas eu...
— Você pediu a nossa ajuda, lembra? Ou pelo menos ... — Linhas vincam sua testa enquanto ele a franze. — Nós oferecemos, e você disse sim. Algo parecido. Então você não pode nos culpar exatamente por investigar sua história familiar.
— Eu sei, eu só ia dizer que eu assumi que vocês iriam esquecer de mim quando eu fosse embora. Você tem muitas outras pessoas para ajudar, não é? E — espere, o que você disse sobre a história da minha família?
Ele suspira. — Nós tentamos descobrir sobre o seu pai. Como sua mãe não está acordada para esclarecer sua estranha situação, imaginamos que seu pai possa ajudar — se conseguirmos encontrá-lo. A única coisa que você mencionou sobre ele foi que ele pagou as contas médicas do hospital de sua mãe, então Chase foi lá para dar uma olhada nos registros. Ele é o único que sabe usar um computador, — acrescenta Dash com um revirar de olhos. — Ele cresceu em seu mundo, no caso de você não saber. De qualquer forma, ele disse que o arquivo de sua mãe tinha algum tipo de glamour nele. Ele podia ver os detalhes de Chelsea e todos os detalhes de sua mãe, mas qualquer coisa relacionada à pessoa que primeiro a checou e pagava todo mês estava... em branco. Os humanos que trabalham lá provavelmente veriam algo quando olhassem, mas Chase não conseguia ver nada.
— Então... ninguém estava realmente pagando por ela?
— Eu não sei. O ponto é que era um beco sem saída. Não conseguimos descobrir nada sobre o seu pai.
Meus ombros se curvam um pouco. — Está bem. É por isso que estou aqui, lembra? Esta união vai fazer a mente da minha mãe ser curada, e todas as respostas escondidas dentro dela serão finalmente desbloqueadas.
Passos atravessam a minha sala de estar. Eu agarro Bandit no meu peito e fico de pé abruptamente, bem quando Clarina para na porta. — Lady Emerson — Oh! — Ela olha fixamente para o chão. — Eu imploro seu perdão, minha senhora.
— Isso não é o que parece, — eu digo imediatamente. Eu não tenho certeza do que parece, mas não pode ser bom.
— Eu sinto muito, minha senhora. Eu bati na outra porta, mas —
— Eu não ouvi você, me desculpe.
— Eu não vou dizer nada, Lady Emerson.
— Não há nada a dizer, — asseguro com uma risada alta e ofegante. — Nós estávamos apenas conversando.
— Claro, — diz ela, balançando-se em uma breve reverência e mantendo os olhos no chão. — Por favor, me desculpe por interromper, mas o Príncipe Roarke gostaria de falar com você.
Meus dedos ficam tensos ao redor da forma de gato de Bandit. — Tudo bem. Obrigada. Onde devo encontrá-lo?
— Ele está esperando do lado de fora de seus aposentos por você, minha senhora.
— Oh. — Eu olho para Dash.
Ele sorri. — Bem, acho que vou sair do jeito que cheguei, então. Ainda bem que gosto de escalar.
Capítulo 14
EU ABRO A MINHA PORTA E ENCONTRO ROARKE DO LADO DE FORA. — Hum, bom dia. Boa tarde, quero dizer. Clarina disse que você queria conversar?
— Olá, meu amor. — Ele se inclina para frente e beija minha bochecha. Eu congelo e digo a mim mesma para não me afastar. — Você se recuperou das festividades da noite passada, eu vejo? — Ele adiciona.
Eu recuo para deixá-lo entrar. — Não há necessidade de se preocupar com o absurdo do ‘meu amor’. Ninguém mais está por perto para ouvir você, exceto Clarina.
— Oh, mas você é meu amor. — Roarke me dá um sorriso malicioso enquanto ele passa por mim para a sala. — Ou, pelo menos, eu espero que você seja um dia. — Ele acena brevemente para Clarina enquanto ela faz uma reverência e sai da sala. Ele se vira lentamente no local, olhando em volta, e quase espero que ele entre no quarto e comece a procurar por Dash. Mas então ele sorri serenamente e se senta à mesa ao lado da minha bandeja com o almoço.
E naquele momento, Bandit, que eu consegui manter escondido até agora, sai pulando do meu quarto na forma de um filhote de urso. Ele se transforma em lobo, pula no divã e voa para meus braços, pousando na forma de uma preguiça de cabelo azul. Eu permaneço imóvel, mas meu olhar pousa direto em Roarke. Pela primeira vez, ele parece totalmente sem palavras. Eu mordo meu lábio, esperando por sua resposta.
— Isso — é ... seu?
— Sim. É o Bandit. Ele veio quando você me trouxe para cá, embora ele deva ter estado em uma forma muito pequena para qualquer um de nós notar.
— Então ele esteve aqui com você — em seus aposentos — o tempo todo?
— Siiiim. — Minha voz é incerta, quase questionando. — Bem, eu não sabia que ele estava aqui nos primeiros dois ou três dias. Eu acho que ele pode ter ficado com medo do ambiente desconhecido, então ele permaneceu escondido por um tempo.
— Entendo. Que interessante.
Bandit se aconchega mais perto do meu peito e tenta enterrar a cabeça debaixo do meu braço. — Eu espero que você não desaprove, — eu digo com cuidado. — Eu gosto de tê-lo por perto. Ele... ele significa muito para mim. — O instinto me diz que eu não deveria revelar para o homem que eu ainda não confio que me importo com qualquer coisa. Ele pode optar por usar essa informação contra mim. Mas se Roarke se importa com a minha felicidade do jeito que ele alega, então ele não deve se importar com a presença de Bandit aqui.
— Bem, eu duvido que minha mãe aprovaria animais nos quartos, — Roarke diz, seu profundo olhar castanho-avermelhado fixo em Bandit, — mas ela não precisa saber. E se ela descobrir e tiver um problema com isso, lembrarei a ela como os Formattras são excepcionalmente raros e valiosos, e que se encaixaria uma princesa ter um como animal de estimação.
Eu concordo. — Legal. Obrigada. — Espero que Aurora sinta a mesma coisa e não surte quando conhecer Bandit.
— Qualquer coisa para fazê-la feliz, minha querida, — diz Roarke. — Agora, por que você não senta aqui para que possamos conversar? — Ele aponta para a cadeira ao lado dele na mesa.
— Hum, antes de conversarmos, posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele sorri para mim. — Minha futura esposa pode me perguntar qualquer coisa.
Eu atravesso a sala até a mesa e me sento. Eu levanto minha mão e toco o pequeno dispositivo circular atrás da minha orelha. — Eu sei que você colocou uma dessas coisas em Dash, mas e se ele conseguir tirar? E se a Guilda ou seus amigos descobrirem onde ele está e vierem atrás dele? Eu só não quero que ninguém mais interfira, lembra? — Para ser mais específica, não quero que ninguém acabe em algum calabouço Unseelie ou, pior ainda, enfrente o mesmo destino daquele homem que foi arrastado por uma caverna até o escritório do rei.
Roarke me examina de perto antes de responder. — Você realmente não tem nada a ver com o seu amigo aparecendo aqui, não é?
— O quê? Não, eu já te disse isso. Você achou que eu estava mentindo?
— Bem, eu seria um idiota em acreditar que você confia em mim. Talvez você tenha arranjado uma saída antes mesmo de chegar aqui.
— Eu não tenho. Eu disse a você que não queria que ninguém —
— Sim, eu sei. — Ele se inclina para trás. — Ainda assim, eu me perguntei se você poderia ser uma atriz muito convincente.
— Mas você não está mais se perguntando isso?
— Você ainda parece genuinamente preocupada com a possibilidade de os outros descobrirem que você está aqui. Então deixe-me tranquilizá-la, Emerson. Mesmo que alguém consiga localizar o paradeiro de Dash e, mesmo que cheguem ao local exato em que esperam encontrá-lo, não verão nenhum palácio. Somente se essa pessoa estiver na companhia de um de nossos guardas, será capaz de ver e entrar nos terrenos do palácio.
— Oh. Isso é... conveniente. — Parecido com... Não, sumiu. Eu quase consegui, uma imagem do lugar seguro pertencente aos rebeldes Griffin, mas é como tentar segurar fumaça. — Bem, me sinto melhor agora. Estou feliz que ninguém será capaz de interferir.
— Bom. — Roarke agita os dedos de uma mão pelo ar, e um pedaço de papel enrolado aparece em sua mão. — Agora, temos alguns preparativos para a cerimônia de união.
— Temos? — Eu nunca esperei ser consultada sobre os detalhes relacionados ao casamento. Eu assumi que a rainha e Aurora cuidariam de tudo isso. Como já foi dito muitas vezes, não faço ideia do que é apropriado e do que não é para eventos formais do mundo faerie.
— Você precisa memorizar os votos da união, — diz Roarke, colocando o papel sobre a mesa. — Tudo o que você precisa saber está neste pergaminho.
Eu quase comento como o uso de um pergaminho é antiquado — quero dizer, vamos lá. Certamente dobrar um pedaço de papel é mais simples e ocupa menos espaço — mas estou mais preocupada com o fato de ter que memorizar os votos. — Então, hum, eu não vou precisar repetir as palavras depois de alguém?
— Em parte dos votos, sim, mas as palavras estão em outro idioma, então você precisa praticar pronunciando-as corretamente. Há magia envolvida, então você não quer errar as palavras.
— Hum —
— E a outra parte da cerimônia são os votos privados que fazemos um ao outro sem que ninguém mais ouça. Você terá que memorizá-los.
— Oh. Por que eles são privados?
Sua expressão fica confusa. — Porque eles são apenas para os nossos ouvidos. — Por baixo da mesa, a mão dele desliza no meu joelho. — Coisas especiais e românticas que queremos dizer um ao outro.
— Oh. — Eu inclino um pouco para o lado, movendo minha perna para fora de seu alcance. — Mas... então por que precisamos dizê-las? Você e eu sabemos que não estamos entrando nessa união por nenhuma das razões tradicionais. Nós não precisamos entrar em detalhes românticos.
Se Roarke está incomodado pelo fato de eu não querer que ele toque minha perna, ele não demonstra. — Como eu disse há pouco, nossos votos envolvem magia. Nós não podemos simplesmente pular essa parte.
Eu franzo ainda mais o cenho. — Mas... tudo bem. Eu só... não entendo muito bem. Se essas palavras extras são uma parte padrão da união mágica, então por que elas são privadas? Eu realmente preciso memorizá-las?
Roarke simplesmente ri. — Emerson, é assim que a cerimônia é feita. Tem sido assim por muito tempo. Nós não podemos simplesmente mudá-la porque você não sente vontade de memorizar as palavras.
— Não é que eu não me sinta assim. — Eu enfio meu cabelo atrás das minhas orelhas. — Estou preocupada que eu possa esquecer alguma coisa ou cometer um erro. Se é tão importante acertar tudo, então, o que há de errado em repetir depois de outra pessoa ou ler as palavras de uma folha?
Roarke suspira. — Você não lerá as palavras de uma folha, Emerson. Não é assim que é feito.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu alcanço o pergaminho e puxo para mais perto. — Então, você vai me explicar o que todas essas palavras significam, ou devo recitar um absurdo que eu não entendo?
O canto da boca do Roarke se ergue. — É uma coisa boa que eu esteja te ensinando essas palavras. Qualquer outra pessoa ficaria muito ofendida.
Eu me inclino para trás e desenrolo o papel, revelando muito mais palavras estranhas do que me sinto confortável. — Aurora não ficaria ofendida.
— É verdade, mas Aurora só vai aprender as palavras particulares quando for à vez dela. Não é apropriado que ela as conheça ainda.
— Ah, mais impropriedade. — Eu solto um longo suspiro. — Eu perguntaria por que é inapropriado, já que essa é uma parte padrão de todas as cerimônias, mas você provavelmente vai me dizer ‘é assim que é feito’.
— Sim. Isso é exatamente o que eu vou te dizer. — Seus olhos enrugam nos cantos enquanto ele sorri. — Estou muito feliz em ver que você está aprendendo.
Eu me inclino para trás em minha cadeira e começo a ler os votos em voz alta, fazendo o melhor que posso com as combinações não familiares de letras. Depois de três palavras, estou ciente de que provavelmente estou massacrando o idioma faerie. Roarke espera até eu chegar ao final da primeira linha antes de me tirar da minha miséria. — Tudo bem. Eu vejo que isso vai demorar mais do que eu pensava. — Outro giro de seu pulso produz uma pena. Ele entrega para mim. — Vou pronunciar cada palavra e você pode escrever de qualquer maneira que faça sentido para você.
Nós chegamos na metade da parte pública dos votos antes de uma batida rápida nos interromper e minha porta ser aberta. — Irmã, querida! — Aurora grita para mim. — Oh, você está acordada. — Ela fica na porta e sorri. — Olha quem eu encontrei vagando pelos corredores. — Ela se aproxima e puxa Dash para aparecer.
— Eu disse que o convidei para ficar, não é? — Roarke diz para ela.
— Sim, mas eu não o vejo desde o dia em que o atordoamos no quarto de Em no reino humano. Eu não dei uma boa olhada nele naquele momento. Ele é mais bonito do que eu me lembro, — acrescenta ela com um sorriso provocante, deslizando o braço através do de Dash e puxando-o para mais perto.
— Obrigado. — Ele lhe dá um sorriso igualmente paquerador. Eu cruzo meus braços e dirijo uma carranca em sua direção, mas tudo o que ele faz quando vê minha expressão é encolher de ombros.
— Você lembra o que ele é? Roarke diz para Aurora com desaprovação em seu tom.
— Claro que eu lembro. E eu lembro, — ela acrescenta em um sussurro falso, — que é segredo.
— Nós estávamos realmente ocupados com algo antes de você tão rudemente invadir aqui, — comenta Roarke.
— Ooh, sim, memorizando os votos. Que romântico. Posso dar uma olhada?
Roarke pega a página de mim e prontamente a enrola antes que Aurora possa chegar mais perto. — Não, você não pode. Eu não quero estragar nada para você antes de chegar a sua vez.
— Como você é atencioso.
Roarke bate minha mão com o pergaminho. — Podemos tentar de novo mais tarde, minha querida prometida — quando tivermos um pouco mais de privacidade. — Ele gira o pergaminho em sua mão e ele desaparece.
— A razão por eu ter entrado aqui, — Aurora diz, — foi sugerir que todos nós descêssemos juntos para o chá. E eu queria verificar se Em ainda estava dormindo.
— Oh, já está hora? — Eu pergunto. — Eu pensei que o chá fosse mais tarde.
— Chá? — Dash pergunta.
— Sim, no caramanchão da rainha no jardim. Mamãe oferece para aqueles que ficaram aqui depois da festa.
Afasto-me da mesa e me levanto. — Esperem, eu preciso colocar os sapatos. — Aurora me acompanha até o quarto para me ajudar a selecionar sapatos apropriados. Eu coloco os chinelos prateados rapidamente, não querendo dar a Roarke e Dash nenhum segundo para acabarem brigando.
Uma vez que nós quatro estamos no corredor — com vários guardas caminhando na frente e atrás de nós — Roarke pergunta a Aurora se ele pode falar em particular com ela. Os dois seguem em frente enquanto eu ando ao lado de Dash. — Eu me pergunto como Jewel se sentiria, — eu digo a ele, — se ela soubesse o tipo de atenção que você estava recebendo da encantadora princesa Aurora.
Dash suspira. — Espero que ela entenda, considerando o fato de que tivemos uma conversa recentemente e eu disse a ela que não me sinto da mesma maneira que ela se sente.
— Oh. Hum ... bom trabalho.
— Sim. Não foi do jeito que eu esperava.
— Desculpe. Isso deve ter sido estranho. Ela ficou muito chateada?
— Na verdade, ela me convenceu a ir a um encontro com ela.
Eu quase tropeço quando olho para ele surpresa. — Sério? Você disse que não tinha sentimentos românticos por ela, e essa conversa terminou com vocês dois indo a um encontro?
Ele me dá um olhar divertido. — Há algo de errado com isso? Algo sobre a ideia de eu ir a um encontro com Jewel que a perturba, talvez?
— Não se iluda. Estou surpresa, isso é tudo. Você não parece o tipo de pessoa que deixa uma conversa tomar outro rumo.
— Eu não deixei. Eu simplesmente decidi dar a ela uma chance.
— Uma chance?
— Ela me pediu para lhe dar um encontro. Eu disse a ela que não entendia, que não queria levá-la e que tinha certeza dos meus sentimentos. Ela perguntou como eu poderia ter certeza se eu nunca dei uma chance a esses sentimentos. Então... — Ele suspira. — Eu pensei que se — e se — ela estivesse certa. Então eu concordei.
— E?
Ele olha de lado para mim quando chegamos ao fim de uma escada. — Você parece muito interessada no resultado.
— Só porque estou tentando descobrir se você realmente é o jogador que sempre achei que fosse. Se você está namorando Jewel enquanto também entretém os sentimentos de Aurora... bem, isso não é legal.
— Entretém os sentimentos de Aurora? — Ele repete. — Cara, você aprendeu alguma linguagem extravagante desde que morou com os Unseelies.
— Ah, cale a boca e me diga o que aconteceu no encontro.
— Eu não acho que posso calar a boca e dizer algo ao mesmo tempo.
Eu cruzo meus braços no meu peito. — Dash.
— Bem. Foi estranho. Realmente estranho. Passei a noite toda com medo de que ela tentasse me beijar no final e pensar que seria exatamente como beijar uma —
— irmã?
— Sim. E isso é errado. Então, antes que isso acontecesse, eu disse gentilmente a ela que isso nunca iria funcionar.
— Tudo bem. — Chegamos à outra grande escadaria que leva a outro grande corredor. — Bem, eu estou feliz que você não a enrolou durante todo esse tempo.
— Claro que não. Eu sou realmente um cara decente, lembra? — Ele abaixa a voz. — Ao contrário do príncipe com quem você escolheu tolamente se casar.
— Eu não o escolhi. Não é assim, de qualquer maneira. Eu escolhi este acordo e ele faz parte disso. E você não o conhece. Eu acho que ele pode ser mais decente do que você pensa.
Dash bufa. — Certo. Tanto faz o que você diz.
Eu fecho meus olhos por um momento e suspiro. — Podemos, por favor, não discutir mais sobre isso?
— Certo. Diga-me então: como você tem preenchido seu tempo nas últimas duas semanas e meia? Tem sido tudo festas e chás com a rainha e esperar sua criada pessoal?
— Sim, tem sido uma perfeição absoluta, — digo secamente. — Eu esperei a minha vida inteira para que alguém escolha minhas roupas, prepare meu banho, faça minha cama e prepare minha comida.
Dash aperta os olhos para mim. — Sério?
— Não! Eu não aguento isso. Eu sou perfeitamente capaz de fazer todas essas coisas sozinha.
— Olha, você teve uma vida ruim com a Chelsea, — Dash diz, levantando as mãos em defesa, — então me perdoe por pensar que você realmente gostaria de ter alguém fazendo todo o trabalho duro.
— Eu não quero. É estranho. E eu não passei todo o meu tempo em festas e chás, na verdade. Aurora tem me ensinado muita magia básica, junto com alguns de seus hobbies, como arco e flecha e montar em dragão.
Quando chegamos a uma porta larga que leva ao exterior ensolarado, Dash para. Ele olha mais de perto para mim. — Montar em dragão?
— Vocês dois podem esperar aqui? — Aurora pergunta. — Roarke precisa me mostrar algo rapidamente.
— Sim, tudo bem, — Eu respondo.
Eles desaparecem em um corredor e Dash se vira para mim novamente. — Você disse montar em um dragão?
— Eu disse.
— Sério? Então você é uma cavaleira de dragões agora, assim como uma futura princesa Unseelie?
— Ainda não, mas gostaria de ser. Há algo de errado com isso?
— Não, é só... — Ele balança a cabeça. — Eu sinto que eu realmente não te conheço mais. Você não está aqui há muito tempo e já mudou.
Suas palavras machucam mais do que eu poderia imaginar ser possível. — Mudou? O que você quer dizer?
— Bem, você... você aprendeu muito em pouco tempo. E você parece —
— Eu pareço?
— Como se pertencesse aqui.
Eu descarto suas palavras com um aceno casual, esperando que ele não tenha notado o quão profundamente elas me cortaram. — É apenas roupa.
— É? A maneira como você se portava na noite passada, na plataforma e enquanto dançava... você parecia a princesa que as pessoas esperam que você se torne.
Eu puxo meus ombros para trás um pouco, ignorando a dor no meu peito. — Bom. Pelo menos eu sei que estou fazendo bem a minha parte.
A expressão de Dash suaviza um pouquinho. — Contanto que seja apenas do lado de fora...
— É claro que é apenas do —
— Tudo bem, vocês estão prontos? — Aurora grita quando ela e Roarke reaparecem. — Vamos aparecer a este chá antes de chatearmos a mamãe com nosso atraso. E você — ela acrescenta, olhando para Dash — eu vou apresentar como um amigo meu. Por favor, não contradiga qualquer história que eu decidir contar.
— Oh, hum... — Dash para quando Aurora tenta nos levar para frente. — Eu estava pensando, — diz ele, — que talvez seja melhor se eu não participar dessa coisa de chá. Se minhas mangas subirem demais, e se a maquiagem sair dos meus pulsos, sua mãe pode ver minhas marcas. Ela vai saber o que eu sou.
— Isso é possível, — Aurora admite, — mas se você não vier ao chá, você quase certamente acabará perambulando pelo palácio por conta própria e corre o risco de inventar todos os tipos de travessuras.
Ele dá um sorriso malicioso. — E se eu prometer ficar no meu quarto como um bom menino? Se alguém perguntar sobre mim — o que duvido que alguém faça, já que ninguém me conhece — você pode dizer que não estou me sentindo bem.
— Se nós pudéssemos confiar em você sobre manter sua palavra, — Roarke diz, — e não sair do seu quarto para tentar desenterrar informações que possam ser úteis para a sua Guilda, então certamente. Estaria tudo bem. — O olhar de Roarke se move brevemente para o meu antes de se fixar em Dash. — Mas não confiamos em você. Mesmo que eu tenha postado guardas à sua porta, você pode sair pela sua janela.
Meus braços ficam tensos ao meu lado. Ele não pode estar insinuando que ele sabe que Dash entrou no meu quarto mais cedo, pode? Improvável. Ele teria ficado zangado quando ele entrou no meu quarto se ele tivesse acabado de descobrir que Clarina encontrou Dash no meu quarto.
— Sair pela janela, — diz Dash, uma expressão pensativa no rosto. — Agora tenho uma ideia. Eu posso ter que tentar depois que todos forem dormir. Eu não tinha pensado em tentar desenterrar qualquer informação útil — Em foi à única razão pela qual eu vim até aqui — mas agora que você mencionou isso, estou definitivamente desperdiçando uma valiosa oportunidade em não fazer mais para descobrir que tipos de leis você Unseelies estão quebrando descaradamente.
O sorriso plácido de Roarke nunca deixa seu rosto. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta das minhas costas. — Como você disse, Emerson é a única razão pela qual você veio aqui. Se você é de fato um verdadeiro amigo para ela, você se concentrará em confortá-la durante este período difícil, em vez de pensar em maneiras de derrubar sua futura família. — Seu polegar esfrega para cima e para baixo contra o meu braço, um gesto que provavelmente deveria ser carinhoso e terno, mas que de alguma forma parece ameaçador.
Dash olha a mão de Roarke no meu braço por um momento antes de levantar o olhar. Então seus olhos se estreitam enquanto ele se concentra em algo atrás de mim. Eu olho por cima do meu ombro. Uma mulher vestida de marrom escuro atravessa o corredor com passos tranquilos e confiantes. Ela faz uma pausa por um momento para nos olhar. Talvez seja a maneira como as sombras caem sobre seu rosto, mas seus olhos parecem completamente negros. Ela inclina a cabeça e manda um sorriso conhecedor em nossa direção, revelando dentes pontiagudos atrás de seus lábios vermelhos e cheios. Ela se vira e vai até a escada, deixando uma brisa fria de ar em seu rastro.
CONTINUA
Emerson Clarke pensou que magia poderia resolver todos os seus problemas. Acontece que a magia apenas tornou sua vida mais complicada. Sua mãe doente está em uma posição pior do que antes, e Em acabou de fazer um acordo arriscado com um Príncipe Unseelie: ele curará sua mãe se Em concordar com a aliança suprema - casamento.
Com a possibilidade de finalmente conseguir a única coisa que ela sempre quis, Em entra no mundo perigoso da Corte Unseelie. Ela aprenderá tudo o que for necessário sobre magia e etiqueta, a fim de seguir seu caminho pela vida do palácio, até que o príncipe Roarke cumpra sua parte na barganha.
Mas quando alguém inesperado aparece, trazendo à tona os segredos que Roarke e sua família estão escondendo dela, os planos de Em começam a se desvendar. Em breve, ela terá que decidir de uma vez por todas: até onde ela está disposta a ir para salvar sua mãe?
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Prólogo
DASH
DASH ESTAVA EM SUA MESA NA GUILDA CREEPY HOLLOW POR dez minutos quando seu âmbar, deixado ao lado do relatório de sequestro de duendes em que estava trabalhando, vibrou e emitiu um chilrear. Palavras douradas brilhantes subiram à superfície do dispositivo retangular. Reconhecendo a caligrafia de Violet, Dash rapidamente puxou o âmbar para perto. Seus olhos dispararam para cima para verificar quem poderia estar perto o bastante de sua mesa para ver a mensagem. A área aberta do escritório estava cheia da agitação de atividade matinal: uma equipe de guardiões juniores voltando de uma missão noturna; dois aprendizes entregando pergaminhos; e sua própria companheira de equipe, Jewel, trabalhando duro em alguma coisa. Era altamente improvável que qualquer uma dessas pessoas soubesse de quem era a mensagem no âmbar de Dash, mas isso ainda o deixava nervoso ao se corresponder com os rebeldes Griffin, enquanto estava sob o teto da Guilda.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo sua expressão indiferente, e leu a mensagem: Você sabe onde está a Em? Eu não consigo encontrá-la. Gelo encheu as veias de Dash enquanto ele lutava para manter a expressão neutra. Se Vi não conseguia encontrar alguém, isso significava sérios problemas. Graças a sua Habilidade Griffin, ela é capaz de encontrar alguém que não tenha sido ocultado por algum tipo de magia. Em tinha uma Habilidade Griffin, no entanto, era uma história totalmente nova. Ela estava brincando? Testando se ela poderia se esconder? Dash estendeu a mão sobre a mesa, pegou sua stylus e escreveu uma resposta rápida em seu âmbar. Não. Tem certeza de que ela foi embora? Verifique as esferas.
A resposta de Vi chega segundos depois: Verificando agora.
Estou a caminho, Dash rabisca enquanto ele se afasta de sua mesa e se levanta.
— Já indo embora? — Jewel perguntou. Dash olha para cima enquanto ela se levanta e contorna sua mesa. — Você acabou de chegar.
— Eu preciso checar uma coisa. Um dos relatórios das testemunhas do caso de sequestro dos duendes. Alguns detalhes estão faltando. — Dash se encolheu internamente, odiando ter que mentir para uma de suas melhores amigas. — Vou pedir para um dos guardas no andar de baixo abrir um portal para mim, — ele acrescentou rapidamente. Como Jewel, ele não deveria mais ser capaz de abrir portais para os caminhos das fadas. Um aborrecimento que foi causado pela Habilidade Griffin de Em. Em, desde então, inverteu o efeito da magia em Dash, mas Jewel não sabia disso. A única coisa que Jewel sabia era que Em havia escapado das garras da Guilda e desaparecido.
— Você precisa que eu vá com você? — Jewel perguntou.
— Não, não se preocupe. Vai ser rápido. — Ele lhe deu um sorriso, que ele suspeita que não parece nada com o seu habitual sorriso descontraído.
— Tudo bem. Ei, está tudo bem? — Jewel segura seu braço antes que ele possa se virar. — Você normalmente não é tão sério logo de manhã cedo. — Sua mão demorou um momento a mais em seu braço, e a conversa que ele teve com Em veio à tona. Ela apontou que Jewel claramente queria ser mais do que apenas sua amiga, um fato que Dash de alguma forma ignorou até aquele momento. Como ele não viu? E por que Jewel nunca disse nada sobre seus sentimentos por ele? Ela deve ter um controle excepcional sobre eles. Ele não tinha notado nenhumas explosões mágicas aleatórias.
Isso não é importante agora, Dash lembrou a si mesmo. — Sim, tudo bem. Estou apenas... mais cansado do que o habitual. — Isso, pelo menos, era a verdade. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior, conversando com Chase, discutindo quando voltar ao Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills para examinar os registros que estavam arquivados com o nome da mãe de Em. Com essa magia desconhecida impedindo-a de acordar, ela não estava em posição de explicar por que ela e sua filha viveram por tanto tempo no mundo não-mágico, mascaradas como humanas. Esperançosamente, o pai de Em possa fornecer algumas respostas. Em disse que não sabia nada sobre ele, mas se era ele quem estava pagando as contas médicas de Daniela Clarke, o hospital certamente deveria ter seu nome e detalhes para contato.
— Tudo bem. Até mais tarde. — Jewel volta para sua cadeira.
Dash deveria ter indo embora então — ele queria ir embora — mas ele não podia ignorar o desejo de Jewel de ser mais que amiga agora que ele sabia disso. — Ei, você quer sair esta noite? — Ele pergunta antes que ele pudesse mudar de ideia. — Nós deveríamos conversar. — Sem dúvida, se transformaria na conversa mais estranha que eles já tiveram, mas ele precisava fazer isso. Não era justo da parte dele permitir que Jewel continuasse esperando por algo que nunca aconteceria.
— Sim, tudo bem. Ótimo.
— Legal. — Dash desceu correndo a escadaria principal da Guilda, atravessou o saguão e entrou na sala com paredes nuas usadas para acessar os caminhos das fadas. — Você se importa em abrir um portal para mim? — Ele perguntou para a mulher que estava de guarda do lado de dentro da sala.
— Ainda não encontrou aquela garota Dotada Griffin, hein?
— Não.
— Eu espero que encontre, — a mulher respondeu enquanto andava até a parede e levantava sua stylus. — Ouvi dizer que ela é perigosa.
— Sim, — Dash murmurou. — Extremamente perigosa. Eu pretendo encontrá-la.
A mulher deu um passo para trás quando parte da parede se afastou para revelar a escuridão dos caminhos das fadas além. Dash avançou. Depois que a luz desapareceu atrás dele, ele concentrou seus pensamentos no oásis escondido no meio de um deserto a milhares de quilômetros de distância.
Minutos depois, ele subiu apressadamente os degraus da varanda da casinha branca de um lado do oásis, passando por algumas portas fechadas e entrando na sala de vigilância. Uma fileira de esferas de vidro cobria três das quatro paredes, e dentro de cada esfera havia uma forma em miniatura de partes diferentes do oásis. Magia conecta cada esfera aos insetos enfeitiçados que voam do lado de fora, exibindo tudo que os insetos viam. Vi está curvada, olhando atentamente para uma das esferas, enquanto Calla e Chase sentam em frente um do outro. — O que você conseguiu ver? — Dash perguntou, sem se importar com uma saudação.
— Oh, Dash, oi, — Vi diz quando ela se virou para ele. — As esferas mostraram que Em saiu durante a noite. Logo depois da cúpula, ela abriu um portal para os caminhos e entrou.
— Ela deve ter pegado a stylus de alguém.
— Sim. Uma desapareceu de nossa cozinha esta manhã.
— Eu simplesmente não entendo, — Calla disse, passando o dedo repetidamente através da esfera na frente dela enquanto a move para voltar no tempo através das cenas exibidas. — Por que ela iria embora?
Vi sacode a cabeça conforme ela dá de ombros. — Várias possibilidades, eu suponho. Talvez ela quisesse ver um de seus velhos amigos. Ou talvez ela lembrou de algo que pudesse ajudar sua mãe. O que é mais preocupante é o fato de que eu não consigo encontrá-la. O que poderia estar protegendo ela?
— Nada de bom, — Chase murmurou.
— Dash, você nunca me contou o que aconteceu quando eu não consegui encontrar você e Em ontem, — continuou Vi. — Lembra, quando eu fui encontrar vocês dois na casa da tia dela?
— Oh, sim. — Dash xingou interiormente — com o tipo de palavras que sua mãe não aprovava — por ter esquecido, mais uma vez, de mencionar aquele lugar estranho e as pessoas que levaram ele e Em para lá. — Eu não sei onde estávamos, mas foi estranho. Tudo parecia drenado de cor, e partes dele estavam meio que... borradas. Obscuro ou sem forma. E nós não conseguíamos acessar os caminhos das fadas. Acabamos fugindo de alguma criatura sombria que eu nunca vi antes, e de alguma forma perto do perto do buraco no véu. Mas não do lado humano, e não do lado das fadas. Em algum lugar... eu não sei. Talvez nem fosse real. Talvez tenha sido algum tipo de alucinação. De qualquer forma, — ele continuou com uma respiração profunda, — nós estávamos lá por causa dos Unseelies. O príncipe e a princesa.
— Sério? — Chase olhou para longe da esfera que ele estava examinando.
— Sim. Aquela garota que esteve na Chevalier House por alguns dias — Aurora — é na verdade a princesa Unseelie.
— Então era isso que ela estava fazendo em Chevalier House, — uma nova voz disse da porta. Dash olhou em volta e viu Ryn parado ali. — Aurora queria que Em fugisse com ela. Ela estava obviamente planejando levar Em de volta a Corte Unseelie.
— Você não pensou em mencionar nada disso na noite passada? — Calla diz para Dash, um tom acusatório em sua voz.
— Para ser honesto, eu não pensei nisso. Em disse que ia me contar o que aconteceu mais tarde — já que eu, hum, fiquei atordoado e inconsciente por parte do tempo — mas então aquela fada de vidro apareceu, e nós quase morremos, e então corremos para pegar a mãe de Em, e... eu não pensei nos Unseelies novamente até mais tarde da noite passada quando cheguei em casa.
— Ótimo, então não temos ideia do que disseram a Em, — Calla diz, cruzando os braços e franzindo a testa para o chão.
Dash não disse nada. Era incomum Calla ficar tão irritada com ele, mas ele não podia culpá-la. Estava furioso consigo mesmo por não ter perguntado a Em sobre aquele estranho mundo sombrio da noite anterior. Ela parecia distante e infeliz, e, como um idiota, ele tentou distraí-la com a dança. Qual era o problema dele? Como ele poderia simplesmente esquecer que dois membros da família real Unseelie tinham transportado Em para um lugar estranho e, em seguida, misteriosamente a deixaram ir?
— Então... — Vi esfrega suas têmporas. — O fato de que não podemos encontrar Em agora pode ter algo a ver com os Unseelies.
— A menos que ela mesma não queira ser encontrada, — disse Chase. — Ela saiu voluntariamente. Ela pode ter usado sua Habilidade Griffin para se proteger de alguma forma.
— Seja qual for o motivo dela para ir embora, ela deve estar planejando voltar, — Ryn diz, entrando na sala e dando uma olhada em uma das esferas. — A mãe dela ainda está aqui, afinal de contas.
Dash balança a cabeça. — Ela pode ter ido embora por conta própria, mas e se os Unseelies a pegaram lá fora? Eles a deixaram ir ontem, mas eles definitivamente ainda a querem. Eles podem estar mantendo-a contra sua vontade agora.
— Então, o que fazemos? — Vi pergunta. — Esperar para ver se ela volta? E se sim, quanto tempo esperamos?
— Ela tem que voltar, — Calla murmura, mordendo a unha do polegar enquanto olhava sem ver o chão. — Ela tem que voltar.
Ryn olhou para o outro lado da sala. — Qual é o problema?
Calla baixa a mão e franze a testa para o irmão. — Não faça isso.
— Ei, eu não estou tentando sentir o que você está sentindo, — Ryn diz, levantando as mãos em defesa, — mas sua ansiedade está quase me dando um ataque de pânico. Eu tenho tentado ignorar isso, mas isso está praticamente me atacando.
— Ansiedade? — Chase se aproxima dela. — Sobre o quê?
— Caramba, pessoal, — Calla exclama. — Estou preocupada com outro caso. Está tudo bem. Podemos nos concentrar em como vamos descobrir onde Em está? Apenas no caso de ela ser prisioneira de alguém agora?
— Eu tenho alguns contatos Unseelie, — diz Chase. — Vou ver o que eu posso descobrir.
— Bom. Eu vou voltar a trabalhar em outras coisas, então, — diz Calla. Ela atravessa a sala e sai sem uma palavra, deixando vários momentos de silêncio constrangedor em seu rastro. Com uma careta, Chase a segue.
Dash pigarreia. — A Guilda também tem contatos Unseelie. Eu vou perguntar se alguém sabe alguma coisa. E também perguntarei dos nossos contatos Seelie. É possível que eles tenham encontrado Em, mas ainda não tenham informado a Guilda.
— Obrigada, — disse Vi.
— Avise assim que você descobrir alguma coisa, — acrescenta Ryn.
— Claro. — Dash se vira e sai da sala, já colocando a mão no bolso para pegar o âmbar e a stylus, para que ele possa contatar o contato Unseelie da Guilda. Ele para perto da porta da frente enquanto escreve uma mensagem rápida perguntando se o contato tinha recebido alguma notícia sobre uma garota Dotada Griffin.
... alguma coisa está acontecendo?
Ao som de vozes, Dash se inclina para o lado e olha pela janela. Calla anda de um lado para o outro na varanda. — Ela tem que voltar, Chase. Ela tem que voltar.
— Tudo bem, sério. — Chase pega o braço dela e a faz parar. — Conte o que está acontecendo.
Dash sabia que ele não deveria estar escutando, mas se era algo sobre Em...
Calla respira fundo. — Eu vi alguma coisa. Noite passada. Quando eu fui perguntar a Em se ela queria se juntar a nós esta manhã. Isso me fez ter esperança... que de alguma forma... — Ela sacode a cabeça. — Quero dizer, eu sei que é loucura mesmo pensar nisso. Meu cérebro ainda está repassando tudo o que aconteceu naquela época e como isso poderia ser possível. Mas se for verdade... — Ela agarra a frente da camiseta de Chase com ambos os punhos. — Chase, se for verdade, então temos que garantir que Em volte.
Chase pega as mãos de Calla entre as suas. — Você não está fazendo nenhum sentido. O que você viu?
— Você não pode contar a ninguém, ok? Não até saber se é verdade. Eu não quero ser responsável por mais corações partidos.
— Corações partidos? Quando você...
Ela se inclina para mais perto de Chase e sussurra, suas palavras muito baixas agora para Dash ouvir através da janela. Ele observa a testa de Chase se franzir ainda mais. — Não é possível, — diz ele quando Calla recua. — Ou é? Quando a vi pela primeira vez, pensei...
— Pensou o quê?
O olhar de Chase fica desfocado enquanto ele olha por cima do ombro de Calla por vários segundos, claramente perdido em pensamentos. Um pequeno sorriso estica seus lábios quando ele volta sua atenção para ela. — Eu acho que você pode estar certa.
Seu sorriso de resposta ilumina seu rosto. — Eu também acho. Mas eu não sei ao certo, e me recuso a ficar animada até confirmarmos isso. Eu conheço alguém que pode nos dizer sem sombra de dúvida, mas eu não sei onde ele está. Você precisa me ajudar a encontrá-lo.
— Vi pode ajudar se ela tiver... — As palavras de Chase somem conforme ele sacode a cabeça. — Mas você não quer que ela saiba.
— Não. Ainda não. — Calla pega o braço dele e o puxa para descer a escada com ela. — Primeiro precisamos descobrir se é verdade. — Sua voz fica mais fraca quando ela e Chase se afastam da casa, deixando Dash com mais perguntas e sem respostas. Ele tem seu próprio mistério para resolver, no entanto. Onde você está, Em? Ele se perguntou em silêncio enquanto abre a porta e entra na varanda.
Seu âmbar vibra em sua mão, e ele para para ler a resposta do contato Unseelie: Nenhuma informação recente dos Unseelies. Nada interessante de qualquer maneira. Claro que não. Os Unseelies nunca informariam a Guilda se eles possuíssem uma poderosa Dotada Griffin. Mas Dash tinha que verificar, apenas no caso do contato ter ouvido alguma coisa. Agora ele teria que entrar em contato com o contato Seelie. Depois disso, seria hora de seguir para canais não oficiais. — De alguma forma, Em, — ele murmura enquanto se afastava. — De alguma forma, eu vou encontrar você.
Capítulo 01
COISAS QUE EU NUNCA IMAGINEI: UM, ESCAPAR DA MISERÁVEL CIDADE DE Stanmeade muito antes que eu sonhasse que isso fosse possível. Dois, me tornar quase amiga do cara que eu odiei por anos. Três, subir pelo lado de fora de uma torre do palácio das fadas com uma stylus roubada no bolso para que eu possa me esconder no topo e abrir um portal para os caminhos das fadas com magia. Oh, sim. E nunca imaginei usar palavras como ‘torre do palácio’, ‘caminhos das fadas’ e ‘magia’ sem soar como uma paciente internada em um hospital psiquiátrico. Mas isso foi antes de eu descobrir que sou uma faerie e que existe um mundo oculto de magia ao lado do mundo onde eu cresci. Isso foi antes de eu chegar ao topo da lista dos mais procurados de todos por possuir um superpoder único e perigoso. E isso foi antes de eu assumir o maior risco da minha vida e concordar em me casar com um príncipe faerie da Corte Unseelie, na esperança de salvar minha mãe.
Então sim. Eu imagino coisas agora que a maioria das pessoas da minha antiga vida consideraria impossível. Como um buraco escuro de nada se materializando através das paredes de mármore com veias douradas no topo da torre que subi. Eu precisava me afastar dos olhos atentos dos guardas do palácio, e esta torre formando o ponto mais alto do Palácio Unseelie parecia um bom lugar. Infelizmente, o feitiço que tenho sussurrado e as palavras que escrevo repetidamente através da parede parecem não estar produzindo nada.
Solto um suspiro frustrado e aperto meus dedos ao redor da stylus incrustada de joias. Eu roubei do quarto de Aurora ontem. Apenas o melhor do melhor para uma princesa, então duvido que haja algo de errado com ela. O que significa... talvez minha magia seja o problema? Eu coloco a stylus no chão da torre e enlaço minhas mãos juntas, depois expiro lentamente e sinto o núcleo do poder dentro de mim. Quase instantaneamente, uma forma quase esférica branca brilhante e fragmentos etéreos pairam acima da minha mão. Parece quase fácil produzir magia agora, depois de ter praticado tanto nos últimos dias. Não há necessidade de apertar meus olhos, franzir minha testa e imaginar arrastar a magia para fora de mim como um rato puxando um caminhão.
Então, se a minha magia e a stylus não são o problema, e a magia em si está correta — o que eu tenho certeza que está, dado que eu usei para deixar o oásis — resta apenas uma resposta: os caminhos das fadas não são acessíveis a partir desta torre.
— Droga, — eu sussurro. Eu enfio a stylus de volta no bolso e olho através das terras sem fim de um verão perfeito. Relvados verdes e brilhantes, flores de todas as cores, fontes de água encantadas rodeadas por arbustos recortados em formas ornamentais e várias áreas para entretenimento: uma pérgula aqui, um mirante ali, o ancoradouro da rainha à direita, além daquela pequena ponte. E um pouco além dos terrenos do palácio, as torres das casas senhoriais pertencentes a nobres Unseelie se erguem acima das árvores.
E quase todos os lugares, de acordo com Aurora, não são acessíveis através dos caminhos das fadas. Ninguém sai deste palácio e ninguém chega, exceto pela entrada principal. — Não é como se você precisasse ir a outro lugar agora, — ela me disse quando perguntei sobre os caminhos das fadas. — Apenas relaxe e aproveite sua nova vida no palácio.
Relaxar? Acho que não. Se quase nenhuma parte deste palácio e seus terrenos podem ser acessados pelos caminhos das fadas, isso significa que deve haver algumas áreas onde os portais podem ser abertos. E se eu quiser fugir quando aprender tudo o que preciso saber sobre o Princpie Roarke, então eu tenho que encontrar pelo menos uma dessas áreas. Se eu não conseguir, vou ter que ser criativa com minha Habilidade Griffin. E isso exigirá descobrir como realmente usá-la.
— Minha senhora?
Meu corpo fica tenso ao som da voz inesperada. Eu viro, meu coração se debatendo no meu peito. Mas é apenas Clarina, a criada que Aurora me ‘ofereceu’ na minha chegada. Ela está ao lado do alçapão de ouro cravejado de rubi. O alçapão está aberto, tenho certeza que estava trancado até agora, porque encontrei meu caminho para o outro lado dele ontem à tarde e não consegui abri-lo. Eu não teria me incomodado em abrir uma das janelas baixas e escalar a parede de outra forma. Eu pigarreio e aperto minhas mãos juntas. — Hum, sim?
— Sua Alteza, Princesa Aurora, me enviou para buscar você, — diz Clarina, com os olhos fixos no chão perto dos meus pés. Eu disse a ela para não se preocupar em desviar o olhar dela quando falar comigo, mas não faz diferença. Assim como quando eu disse a ela que não sou ‘senhora’ e ela não precisa se referir a mim como tal. — Mas de que outra forma eu vou mostrar respeito por você, minha senhora? — Ela perguntou. — Eu não posso simplesmente chamar você pelo seu nome. — Eu disse a ela que é claro que ela podia, mas isso também não ocorreu bem.
— Como ela sabia que eu estava aqui em cima? — Eu pergunto.
— Um de seus guardas viu você de uma janela.
Eu limpo minhas mãos no meu jeans. — Será, hum, que soou para você que Aurora — Senhorita — Sua Alteza — Que droga esses títulos estúpidos. — Parecia que ela estava com raiva de mim por estar aqui em cima?
— Não, minha senhora, — diz Clarina. — Ela estava preocupada, mas não zangada. Ela lembrou a seus guardas que você é bem-vinda para explorar sua nova casa, mas que eles também devem mantê-la viva.
— Certo. Legal. Isso foi o que eu pensei. Quero dizer, sobre a parte de explorar. — Aurora me deu uma breve turnê quando cheguei há três dias, então me disse que eu poderia ir onde quer que eu quisesse, exceto as suítes ou câmaras privativas das pessoas ou seja lá como ela chamou. Desde então, eu vaguei por todo o palácio sob o disfarce da curiosidade, fazendo o meu melhor para fingir que estou à vontade em uma casa tão vasta e opulenta quanto este palácio. Eu tento ignorar os guardas que me observam e os membros da corte que sorriem educadamente antes de sussurrar um para o outro. E tento não tremer quando a atmosfera muda, como de vez em quando, se transforma em algo frio e inquietante.
— Hum, bem, acho que é melhor irmos então, — eu digo, percebendo que Clarina está esperando por mim para falar. Ela assente e pisa na escada abaixo do alçapão. Eu a sigo, vacilando quando o alçapão fecha sozinho atrás de mim. Juntas, descemos a escada em espiral até o térreo do palácio e entramos em um vasto corredor alinhado por colunas. Seus pisos de mármore preto são polidos até um brilho vítreo e as pedras preciosas embutidas no teto refletem nos candeeiros acesos em pedestais entre cada coluna. O resto do palácio é muito parecido com isso: bordas pretas brilhantes, enfeites de ouro e pedras brilhantes. Quartos grandes o suficiente para se perder dentro, e móveis tão luxuosos que eu provavelmente vomitaria se soubesse o quanto eles custam.
É impossível imaginar estar em casa aqui.
Subimos mais escadas, cruzamos mais corredores e passamos por mais fae vestidos como se pertencessem ao cenário de uma novela de época. Todos eles me dão olhares curiosos quando passo. Ao contrário de Clarina e Noraya — a outra criada de Aurora — nenhuma dessas pessoas sabe quem eu sou. Eles não têm ideia de que eu concordei em me casar com o seu príncipe. Como eles poderiam suspeitar que ele e eu temos algo a ver um com o outro quando Roarke se foi desde o momento em que ele me deixou aqui aos cuidados de sua irmã? Aurora disse que ele voltaria esta manhã, mas eu não vi ele. Estou começando a me perguntar se ele está planejando me evitar até o dia do nosso casamento — quando quer que seja.
Finalmente, Clarina e eu chegamos à ala que abriga os aposentos da família real. Eu nunca fui longe o suficiente para ver os quartos pertencentes ao rei e à rainha, mas passei pela suíte de Roarke, e eu estive no quarto de Aurora durante todos os dias desde que cheguei aqui. Eu olho por cima do meu ombro para a porta que leva aos quartos de Roarke enquanto eu passo. A porta está fechada e não há guardas do lado de fora, o que eu acho que significa que Roarke não está lá dentro.
— Droga, — eu murmuro, baixinho o suficiente para que Clarina não me ouça. Uma carranca franze minha testa enquanto eu olho para frente novamente. E então aquele estranho sentimento de mal-estar, aquele inexplicável senso de engano, invade os meus sentidos. Como se dedos frios e podres estivessem prestes a se estender das sombras para apertar a parte de trás do meu pescoço. Um lampejo de uma sombra corre através da borda da minha visão, mas quando eu olho por cima do meu ombro novamente, se foi. Assim como a sensação de desconforto.
— Lady Emerson? — Clarina diz. Eu olho para frente e a vejo esperando com uma das mãos apoiada na porta de Aurora. — Está tudo bem?
— Hum, sim. Eu estou bem. — Talvez eu continue imaginando esse sentimento estranho. Talvez seja esse o sentimento de saudade de casa. Talvez, por mais improvável que pareça, eu esteja realmente sentindo falta da casa decadente em que vivi com Chelsea e Georgia. De jeito nenhum, eu penso comigo mesma, quase rindo alto do pensamento improvável. Eu posso sentir saudade da minha melhor amiga Val, e toda a diversão que tivemos juntas, e a sensação libertadora de não ser caçada por vários membros do reino fae, mas eu certamente não sinto falta daquela casinha horrível e da minha rancorosa tia e prima.
Clarina abre a porta para a suíte de Aurora e fica de lado para me deixar entrar. Ela faz uma rápida reverência quando passo, depois fecha a porta atrás de mim. Eu ouço seus pés baterem no chão de mármore polido do lado de fora. Do outro lado na sala de estar, decorada em tons suaves e tecidos florais, a Princesa Aurora, filha adotiva do Rei e da Rainha Unseelie, está sentada em uma pequena mesa redonda. Na frente dela há uma variedade de comida, um bule de chá e duas xícaras de chá. Ela se inclina para trás em sua cadeira e me examina. — Sério, Em? Subindo pela parte externa da torre leste? Você está tentando escandalizar a corte inteira? Se você queria tanto ver a vista do topo, você poderia ter pedido a alguém para destrancar o alçapão em vez de arriscar sua vida.
Eu atravesso a sala e paro ao lado da cadeira no lado oposto do lugar dela. — Bem, você sabe. Era cedo. Eu não queria incomodar ninguém. E além disso, quase não havia risco envolvido. Eu posso lidar com uma parede simples. Esses grandes tijolos de mármore têm espaços entre eles perfeitos para as mãos e os pés.
Aurora coloca o cabelo — preto e azulado roxo — atrás de uma orelha e estende a mão para a xícara de chá. — E se você tivesse escorregado? Além do enorme problema que eu teria com Roarke e meu pai se você caísse e se matasse, simplesmente não é apropriado sair por aí escalando paredes. — Ela me dá um olhar aguçado por cima de sua xícara de chá. — Sabe, dada a sua futura posição neste palácio.
Eu escolho ignorar sua referência ao fato de que eu devo ser uma princesa em breve e cruzo os braços sobre o peito. Eu começo a andar de um lado para o outro da janela. — Onde está Roarke? Você disse que ele estaria de volta agora, mas eu não vi ninguém de guarda do lado de fora do quarto dele, então eu suponho que ele não esteja lá.
— Ele e papai devem demorar, isso é tudo. Eles têm negócios importantes para lidar no momento. Você não pode esperar que eles voltem simplesmente porque você está desesperada para ver seu prometido. — Ela sorri. Eu mostro minha língua para ela. Ela joga um morango em mim, depois ri quando eu me esquivo e continuo andando. — Eles vão voltar em breve, tenho certeza. E por favor, pare de andar. Você está me deixando nervosa. — Ela acena para a cadeira em frente à dela. — Sente-se. Você já tomou café da manhã?
— Não. — Eu caio na cadeira com os braços ainda cruzados. — Eu estava muito ocupada correndo riscos e escalando paredes, lembra?
— Você deve escolher o café da manhã da próxima vez. — Com um toque elegante de sua mão, um prato de massas em forma de borboleta se levanta e se move em minha direção. Ela ficaria feliz se eu usasse magia para levantar um dos doces e movê-lo para o meu próprio prato, mas esse tipo de coisa parece ser coisa de preguiçoso para mim. E eu não acho que eu poderia fazer isso sem derrubar o prato inteiro.
— Você sabe por que eu quero ver o Roarke, — eu digo a ela depois de colocar uma massa no meu prato, com a minha própria mão perfeitamente funcional. — Ele e eu temos um acordo, e ele não fez nada para cumprir sua parte ainda. — Acordo. Uma palavra tão simples. Não carrega tanto peso quanto a palavra ‘casamento’.
— É claro que ele ainda não cumpriu sua parte. Espero que você saiba que ele não planeja dar a você qualquer informação sobre como tirar sua mãe do coma enfeitiçado ou consertar sua doença mental até depois da cerimônia de união.
— Sim, — eu digo em voz baixa, ainda olhando para o meu prato. — Eu sei disso. — O que eu também sei é que eu não pretendo que essa cerimônia aconteça. Todo mundo precisa pensar que isso vai acontecer, mas eu pretendo descobrir tudo o que preciso saber antes do casamento acontecer. Claro, eu não tenho ideia de como vou fazer isso ainda, mas ter a posse de uma poderosa Habilidade Griffin — falar coisas e as tornar reais — pode vir a calhar. Se eu puder usá-la no momento certo e da maneira certa, eu devo poder sair daqui viva com todas as informações que preciso. Pigarreio e acrescento, — Eu sei, mas ele precisa provar para mim. Ele precisa me dizer algo, então eu vou saber que ele não está apenas mentindo para me casar com ele.
— Meu querido irmão nunca faria algo assim, — diz Aurora, direcionando mais alguns itens de comida para o seu prato.
Eu não a conheço bem o suficiente ainda para saber se ela está brincando ou se ela realmente acredita nisso. De qualquer maneira, não estou disposta a confiar em Roarke. Eu preciso do meu próprio plano, e isso envolve ter o controle sobre a minha Habilidade Griffin. Eu quebro um pedaço de massa e olho para ele por um segundo ou dois antes de dizer, — Como as paredes da torre não são apropriadas para escalar, talvez meu tempo fosse melhor gasto praticando minha Habilidade Griffin. Com o elixir, quero dizer, não apenas esperar por momentos aleatórios em que a minha magia escolhe ligar.
Ela sacode a cabeça e acaba de engolir outro gole de chá. — Sinto muito, Em, mas me disseram para não dar a você até que Roarke e meu pai retornem. Aqui, coma um pouco de citrullamyn. — Vários segmentos de uma fruta que parece uma versão vermelho sangue de uma laranja voam em um arco de seu prato para o meu.
— Hum, obrigada. — Eu lentamente mastigo uma enquanto tento descobrir o que posso dizer para mudar a decisão de Aurora. Eu preciso desse elixir para estimular minha Habilidade Griffin. O primeiro frasco que eu tinha foi esmagado em pedaços durante o meu encontro com Ada — a faerie extremamente desagradável que quase destruiu toda Stanmeade com sua magia de vidro — mas um dos rebeldes Griffin fez mais elixir para que eu pudesse acordar mamãe de seu coma enfeitiçado. Não funcionou, mas pelo menos eu tinha um pouco do elixir. Eu trouxe comigo, planejando secretamente consumir pequenas quantidades na esperança de ganhar o controle sobre minha Habilidade Griffin sem que os Unseelies soubessem. Mas fui revistada antes de entrar no palácio. Um guarda descobriu o elixir e Aurora o confiscou. Roarke, que não parecia interessado em ficar mais do que alguns minutos com sua noiva, já tinha saído durante esse momento.
— Mas Aurora, — digo a ela com a minha voz mais razoável, — não tenho utilidade para sua família se eu não conseguir descobrir como controlar minha Habilidade Griffin. Essa é a única razão pela qual Roarke está se casando comigo, lembra? Então eu preciso desse elixir para me ajudar a aprender como usá-la.
— Sim, mas você não precisa aprender agora neste momento. Você pode praticar sob supervisão quando Roarke e papai voltarem.
Eu a olho diretamente nos olhos. — Eles não confiam em você para me supervisionar? Eles acham que você não pode lidar comigo?
Ela inclina a cabeça para trás e ri. — Oh, minha querida Em. Se você vai tentar me manipular, você terá que ser muito mais sutil sobre isso. Essa foi uma tentativa terrível.
Eu deslizo mais para baixo na minha cadeira com um suspiro derrotado. — Isso tudo é uma perda de tempo, — murmuro. — Mamãe ainda está presa em algum tipo de coma do mal induzido por magia, e eu não estou absolutamente nem perto de descobrir como ajudá-la.
— Você não está perdendo tempo. Você está aprendendo a usar a magia do dia-a-dia e a viver como uma de nós, — diz Aurora. — Falando nisso, por favor, sente-se ereta. Minha mãe teria palpitações no coração se visse você se curvando desse jeito.
Mãe de Aurora. A própria Rainha Unseelie. Jantei com ela e Aurora na minha primeira noite aqui, com criados esperando por nós a noite inteira, enchendo nossas taças com bebidas estranhamente coloridas e nossos pratos com comida ainda melhor do que a comida que Azzy preparava na Chevalier House. Achei difícil desfrutar de alguma coisa, apesar da ansiedade que comprimia meu estômago e fazia meus dedos tremerem. Não era como se a Rainha Amrath fosse cruel ou hostil. Ela era educada, na verdade, mas eu sabia que ela estava me observando o tempo todo. Medindo. Esperando que eu me provasse completamente indigna de casar com o filho dela. A cada momento estranho que passava, eu me lembrava da minha valiosa Habilidade Griffin. Isso vai mantê-la viva e segura, continuei dizendo a mim mesma. Eles querem o seu poder mais do que eles querem uma princesa bem-educada.
— Em? — Aurora diz. — Você está me ouvindo?
Eu pigarreio e me empurro para cima, então estou mais ereta. Eu forço meus ombros para trás. — Desculpa. O que você disse?
— Eu disse que precisamos conversar sobre o que você está vestindo e também que você deveria experimentar o chá de mel. É bem revigorante. Noraya, venha colocar chá para Emerson.
Noraya, que estava tão imóvel perto da porta do quarto que eu não a notei antes, se aproxima da mesa. Com um breve aceno de mão, o bule se eleva no ar. — Oh, não se preocupe, — eu digo rapidamente, me inclinando para frente. — Eu posso servir o chá.
— Deixe-a fazer isso, Em, — Aurora diz.
— Mas é só chá, — eu argumento enquanto o bule de chá se inclina sobre o meu copo e um liquido escuro fumegante fluí de seu bico. — Eu posso colocar sozinha. — Não com magia, uma vez que isso provavelmente resultaria em salpicos de chá por toda a mesa, mas minhas próprias mãos fariam o trabalho muito bem.
— Não importa se você pode fazer isso ou não, — Aurora me diz. — O que importa é que, quando você é um membro da família real, é adequado que os criados esperem por você.
— Eu ainda não sou membro da família real. — E espero nunca ser.
— Também é apropriado que você use roupas apropriadas para a corte, — acrescenta Aurora, enquanto Noraya se afasta da mesa, — e essas — ela olha minha calça jeans e camisa com desaprovação — não são apropriadas. Clarina e eu vamos ter outra conversa. Ela claramente não entendeu suas instruções.
— O quê? Não, não é culpa da Clarina. Ela me dá um vestido novo todas às manhãs, assim como você disse a ela, mas eu não quero usar nenhum deles. Eles são ridículos. Centenas de camadas de tecido com espartilhos e penas e joias e... coisas. Não sou eu. — O jeans, a camisa e o moletom que tenho usado nos últimos dias são as roupas que eu usava quando cheguei aqui. Eu as jogo sobre uma cadeira no meu quarto todas as noites, e todas as manhãs as encontro dobradas e limpas, na mesma cadeira.
Aurora arqueia uma sobrancelha. — Ridículo, — ela repete. Percebo que posso tê-la ofendido, dada a saia longa, o corpete apertado e as mangas em forma de sino do vestido que ela está usando. — Receio que não importa o que você ou qualquer outra pessoa pense, pois é assim que minha mãe e meu pai desejam que os membros de sua corte se vistam.
— Bem, seus pais têm um senso de moda seriamente ultrapassado. Todos parecem estar se vestindo ou se preparando para filmar um filme steampunk.
Sua expressão fica séria. — Eu não diria coisas assim se fosse você. — Ela abaixa a voz, se inclina mais perto e acrescenta, — Meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares, e ele não apreciaria comentários como esse.
Um calafrio rasteja pela minha pele. Parece que não imaginei a sensação de estar sendo observada. Eu envolvo meus braços em volta de mim, me sentindo nua, apesar do fato de estar vestida. — Até mesmo nos quartos?
— Bem. — Aurora se inclina para trás. — Talvez apenas ouvidos nos quartos.
— Isso é apenas... errado, — eu sussurro.
Ela ri e novamente não posso dizer se ela está brincando sobre tudo isso. — Só se você tem algo a esconder, — diz ela. Ela morde outra fruta não identificável e me observa enquanto mastiga e engole. — Agora me diga: como você está com a magia que eu te ensinei até agora? Você já pode mover as coisas? Tente levantar seu prato e o mova no ar.
— Hum... — Eu começo a girar uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo indicador. — Tem certeza de que é uma boa ideia? E se eu derrubar?
— Então Noraya reunirá os pedaços quebrados e os jogará fora. Nada demais.
Meu olhar desliza para o cabelo enrolado em volta do meu dedo. Estou quase acostumada com a cor azul brilhante misturada com o marrom escuro. Faz parte do que me caracteriza como faerie. Como alguém que pertence a este mundo. Lentamente, eu abaixo minha mão. — Sim, tudo bem. Vou tentar.
Tirar magia de dentro de mim é fácil agora, mas mandá-la para o prato, persuadindo-a ao redor e para baixo e dizer para levantar alguma coisa, é uma história diferente. Muito lentamente, com as mãos cerradas no meu colo e os olhos quase furando buracos no prato, começa a subir. Ele balança um pouco, e as massas e os pedaços de frutas cítricas vermelhas escorregam para um lado. Eu tento endireitá-lo, acabo exagerando e todo o prato vira. A comida cai sobre a mesa com vários golpes suaves e o prato fica suspenso de cabeça para baixo no ar. Ele estremece e balança antes que eu imagine minha magia o abaixando com cuidado. Ele cai os poucos centímetros finais, pousando perfeitamente em cima do meu café da manhã.
Aurora bate as mãos. — Bem, isso foi divertido. Dificilmente perfeito, mas é um bom começo.
— Acho que sim. — Eu viro o prato e começo a limpar a minha bagunça.
— Em, você mal podia fazer nada quando chegou aqui há alguns dias. Isso é uma conquista. Ah, e eu tenho mais alguns livros para você. — Ela gesticula por cima do ombro, e uma pilha de livros sobre a mesa baixa entre os sofás e se eleva no ar antes de descer novamente, os livros individuais batendo em voz alta um no outro enquanto pousam. — Você pode carregá-los com magia agora mesmo.
— Claro. — Eu tento não descobrir quanto tempo vai demorar para voltar para meu quarto, se eu tiver que transportar magicamente uma pilha de livros por todo o caminho até lá. Espero que eu possa convencer um dos guardas que me seguem à distância para me ajudar quando eu estiver longe de Aurora.
Quando volto a comer minha bagunça do café da manhã, a porta se abre e Clarina entra no quarto. Ela se move silenciosamente para ficar ao lado de Noraya e, após um momento de pausa, começa a sussurrar para ela.
— O que está acontecendo? — Aurora pergunta em voz alta, não se incomodando em olhar para elas.
Clarina fica em silêncio, os olhos arregalados atravessando a sala em direção a sua senhora. Do outro lado da sala, vejo sua garganta oscilar conforme ela engole.
— Clarina. — Aurora empurra seu prato para longe e se vira na cadeira para encarar as criadas. — Parte do seu trabalho é relatar segredos para mim, não para sussurrá-los na minha vizinhança. Agora me diga o que está acontecendo.
Clarina sacode a cabeça. — Sim, Sua Majestade. Peço desculpas. É só que... é tão horrível.
— O que é tão horrível? O que aconteceu?
— Um dos guardas... — Os olhos de Clarina se movem para Noraya, cujo queixo estremece enquanto ela olha para o chão. Clarina pigarreia e volta a olhar para Aurora. — Um dos guardas foi encontrado morto no jardim, — diz ela em voz trêmula. — Estava cinza e enrugado e morto.
Capítulo 02
EU CAMINHO PELA SALA DE ESTAR DA MINHA SUÍTE — MENOR QUE A DE AURORA, mas não menos luxuosa — esperando que alguém venha e me diga o que está acontecendo. Aurora me mandou de volta para cá na companhia de vários guardas logo após as palavras assustadoras de Clarina sobre alguém cinza, enrugado e morto no jardim, mas não recebi nenhuma novidade desde então. Eu ando na minha varanda e olho para baixo mais uma vez, mas eu ainda não consigo ver nada de interessante. Esta morte deve ter acontecido do outro lado do palácio.
Volto para dentro de novo, entre as poltronas e ao redor da mesa. Sento na escrivaninha e tento ler um dos livros que deveria estudar, mas não consigo me concentrar. Pensamentos sobre mamãe e todos os rebeldes Griffin de onde eu fugi continuam escorregando pelas rachaduras da minha concentração. Culpa por desaparecer sem explicação. Tristeza por ter que deixar Bandit para trás. Estou começando a sentir saudades de Dash, de todas as pessoas. E depois há a avalanche de perguntas: Quem sou eu? Quem é mamãe? Como chegamos a viver no reino humano com nossa magia bloqueada? Apenas para citar algumas...
Eu abandono o livro e acabo deitada no divã, observando os insetos brilhantes que estão fixos no teto e, lentamente, levantando e abaixando almofadas com magia. É preciso que eu foque toda a atenção para conseguir essa manobra simples, o que significa que não há espaço em minha mente para perguntas e pensamentos que me distraem.
Sem aviso, a porta principal da minha suíte é aberta. Minhas duas almofadas levitando pousam no meu peito e caem no chão. Sento apressadamente, virando para a porta e encontro Aurora entrando na sala. Alguém fecha a porta atrás de mim enquanto eu fico em pé e pergunto, — Está tudo bem? Você descobriu o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, mas falei com as pessoas que encontraram o guarda morto. — Ela caminha até a varanda. Eu a sigo para o sol quente do meio da manhã. — Eu o vi, Em. Foi... — Ela respira fundo e balança a cabeça. — Horrível. A cor de seu cabelo desapareceu completamente e seu rosto... — Ela se vira e descansa as mãos na balaustrada da varanda. — Sua pele estava flácida e enrugada. Foi horrível. Isso não acontece com a nossa espécie, Em. Isso não acontece. Não naturalmente de qualquer maneira. E isso significa que — Ela para, apertando os dedos na balaustrada.
— Significa o quê? Que esse guarda foi atacado com magia? — Eu mentalmente me chuto por essa façanha inexpressiva de dedução. Obviamente, esse guarda foi atacado com magia.
— Sim. Algo assim. — Aurora balança a cabeça e retorna o olhar para mim. — De qualquer forma, recebi uma mensagem do Roarke. Ele disse que não deveríamos falar disso para ninguém. Apenas algumas pessoas sabem como estava o guarda e não queremos que todos saibam e se assustem.
Eu não posso evitar erguer minhas sobrancelhas. — Você acha que o resto deste palácio já não sabe? Alguém deve ter contado a Clarina, e certamente Clarina e Noraya contaram aos outros agora.
— Elas não disseram a ninguém. Clarina e Noraya estão comigo desde sempre — bem, Noraya está aqui desde sempre e Clarina está comigo há pelo menos três anos — então elas sabem como manter a boca fechada. Clarina estava com uma das criadas da minha mãe quando viu o guarda morto, e ela veio direto para cá depois. Alguns outros guardas o viram, mas eles também disseram que vão ficar calados.
Eu me inclino contra a balaustrada e olho através do jardim. Ao longe, dois grandes pássaros voam pelo céu. Pelo menos, eu suponho que são pássaros. Suas asas parecem um pouco grandes demais para seus corpos, no entanto. — Alguém sabe quem fez isso? — Eu pergunto, olhando para longe das criaturas voadoras. — Quero dizer, se é impossível entrar sorrateiramente neste palácio, então deve ser um convidado ou alguém que mora aqui.
Aurora exala e coloca um sorriso falso em seu rosto. — Nós não devemos mais falar sobre isso, Em. Esqueça isso agora.
— Esquecer? Isso é improvável. Você não quer saber mais?
— Não. Roarke e meu pai cuidarão disto quando retornarem. Que deve ser antes do jantar, aparentemente.
— Oh. — Meu desconforto se transforma em algo mais positivo. — Isso é ótimo.
— Sim. Agora, que outra magia eu estava mostrando ontem? — Ela esfrega as mãos e caminha de volta para dentro. — Você praticava coisas em movimento, e também havia...
— Fogo, — eu a lembro. — Bem, minúsculas chamas. Assim eu não queimo acidentalmente o palácio.
— Sim, está certo. Você fez alguma melhora?
Eu estalo meus dedos e abro a mão, com a palma para cima, esperando que o feitiço se torne instintivo o suficiente para que uma chama apareça automaticamente acima da minha mão. Minha palma, no entanto, permanece vazia. — Hum... aparentemente não.
— Sim, bem, você nem está tentando. — Ela senta-se afetadamente na beira do divã. — Você precisa se concentrar. Você ainda não está no ponto em que isso acontece automaticamente. Agora tente novamente.
Eu resmungo sob a minha respiração antes de abaixar minhas mãos para os meus lados, fechar os olhos e me dizer para relaxar. Eu preciso ser capaz de liberar magia, então me concentro totalmente no momento em que ela está pronta para mudar de algo cru e sem forma para qualquer outra coisa. Nesse ponto, eu tenho que moldá-la mentalmente em uma chama antes que ela desapareça. E tudo isso, aparentemente, acontecerá quase instantaneamente, uma vez que eu já tenha feito isso o suficiente. Acabo de chegar a um estado mental relaxado quando uma batida no outro lado da porta interrompe minha concentração.
— Entre, — Aurora diz.
Noraya entra e corre para o lado de Aurora. Ela se inclina e sussurra algo antes de se endireitar.
Aurora se levanta com um suspiro. — Claro. Eu irei agora. Desculpe, Em, mas minha mãe gostaria de me ver. Você deve continuar praticando, no entanto. E comece a ler esses livros. Você tem muito a aprender se vai se encaixar aqui.
Eu a observo sair antes de cair em uma poltrona e me apoiar contra as almofadas bordadas em ouro. Então eu me forço a me sentar e me concentrar em produzir uma chama. Não tenho intenção de me encaixar aqui — não a longo prazo — mas preciso pelo menos fingir que estou planejando ver essa união. Além disso, provavelmente precisarei usar magia para sair daqui. Eu também posso aproveitar esta oportunidade para aprender o máximo que puder.
Depois de tentar repetidamente produzir uma chama e ter sucesso em cerca de cinquenta por cento do tempo, eu me sossego com o menor livro da pilha que Aurora me deu esta manhã. É uma coleção sobre magias básicas que parecem ter sido escritas para um aluno da primeira série. Perfeito. Por mais embaraçoso que seja, esse é exatamente o tipo de coisa de que preciso.
Uma vez que consigo encolher uma almofada para cerca de metade do seu tamanho, depois aumentá-la e depois voltar ao normal, pego um livro diferente e me sento em uma poltrona. Contém relatos de histórias ainda mais antigas do que as histórias que aprendi em Chevalier House. A divisão inicial das cortes e as primeiras famílias Seelie e Unseelie. Eu não vou muito longe quando ouço um leve som de arranhar. Abaixo o livro e olho em volta, tentando descobrir de onde vem o arranhão, mas o que quer que tenha sido, parou. Com uma careta, volto a ler.
Mas o arranhar começa novamente. Da direção da mesa, talvez? Eu me levanto devagar, imaginando o que exatamente eu vou fazer se abrir uma das gavetas e uma criatura mágica desagradável se jogar sobre mim. Por alguma razão, minha imaginação evoca uma imagem de uma mão sem corpo, o que não ajuda em nada o meu batimento cardíaco acelerado.
Três batidas afiadas na porta fazem o livro escorregar dos meus dedos. Eu fecho meus olhos por um momento e respiro trêmula, quase rindo de mim mesma por estar tão nervosa. — Entre, — eu digo enquanto me inclino para pegar o livro.
— Seu almoço, Lady Emerson, — diz Clarina da porta.
Eu me endireito, deixo o livro na poltrona e empurro meu cabelo para longe do meu rosto. — Certo. Obrigada. — Eu tenho almoçado com Aurora todos os dias desde que cheguei aqui, mas ela obviamente tem outros assuntos para tratar hoje. Clarina leva a bandeja de comida para a mesa perto das portas da varanda enquanto eu me aproximo da mesa do outro lado da sala. Sentindo-me boba agora por ter tido medo de um simples som de arranhar, mas ainda um pouco desconfiada do que poderia estar causando isso, eu abro a gaveta do lado esquerdo e rapidamente recuo. A stylus roubada rola para a parte de trás da gaveta — e nada pula sobre mim. Fecho a gaveta e abro a da direita. Está cheio de pergaminhos em branco que estavam no topo da primeira pilha de livros que Aurora reuniu para mim.
— Está tudo bem, Lady Emerson? — Clarina pergunta.
Minhas bochechas coram quando olho por cima do meu ombro para ela. — Sim, desculpe. Eu pensei ter ouvido alguma coisa, mas... — Eu viro e olho para dentro da gaveta. — Mas não há nada aqui.
— Há muitas pequenas criaturas vivendo nos jardins daqui, — Clarina me conta. — Algumas delas vêm de vez em quando. A maioria delas é inofensiva.
— A maioria? — Eu repito.
Ela sorri fracamente para o chão, mas não detalha. — Você precisa de mais alguma coisa, minha senhora?
Eu pego o livro de história no meu caminho para a mesa. — Acho que não. Isso parece incrível. — Ela balança a cabeça e caminha de volta para a porta.
— Clarina? — Eu pergunto enquanto sento em uma cadeira.
Ela para e olha em volta, seus olhos encontrando os meus por apenas um segundo antes de se concentrar no chão. — Sim, Lady Emerson?
— O que faz de você uma faerie Unseelie?
Ela hesita antes de responder. — O que você quer dizer?
— Você é mesmo uma faerie Unseelie? Todos que vivem e trabalham no palácio são considerados Unseelie?
Ela franze a testa para o chão. — Sim, eu acredito que sim, minha senhora.
— O que te faz diferente de alguém que não é Unseelie? Estou tentando lembrar o que me disseram quando cheguei a este mundo, mas não foi muito. Eu acho que alguém disse que a magia aqui é um pouco diferente? Algo sobre magia negra?
— Qualquer mágica com a qual eles não concordam, chamam magia negra.
— Eles?
— Aqueles que não são Unseelie. Alguma parte da nossa magia é a mesma que a deles, — explica ela. — Como o poder que reside naturalmente dentro de todos nós, ou o poder que absorvemos dos elementos ou das plantas. Mas eles não gostam quando tomamos o poder de outros seres vivos — seres inferiores — e eles não gostam de alguns dos procedimentos envolvidos em certas magias. Então é aí que entra a divisão. Eu acho, — acrescenta ela, cruzando as mãos recatadamente na frente dela.
Meus olhos passam sobre a comida espalhada na mesa. É muito mais do que eu poderia comer em uma refeição. Eu gostaria de poder pedir a Clarina para sentar e comer comigo enquanto eu faço mais perguntas, mas sei que ela nunca concordaria com isso. — O que conta como um ser inferior? — Eu pergunto.
Mais uma vez, ela parece confusa. — Bem, tudo que não é faerie, é claro.
Um calafrio levanta os cabelos dos meus braços, apesar da brisa morna que entra pelas portas abertas da varanda. — Você faz isso com frequência? Tome o poder de outros seres vivos?
— Não, minha senhora. Eu nunca precisei. Eu já fui curada antes por feitiços que eram especificamente Unseelie, mas eu pessoalmente não absorvi o poder cru de outro ser.
— Tudo bem. Eu entendo. — Eu não tenho certeza do que mais dizer, além de dizer a ela que tomar o poder de alguém soa francamente assustador e simplesmente errado.
— Você tem alguma outra pergunta, minha senhora?
— Hum... não agora.
Ela se vira e depois acrescenta, — Você não precisa se incomodar com tudo isso, minha senhora. Não é familiar para você, eu sei, mas não é errado. É apenas diferente. E, bem, sempre me disseram que não devemos ter medo de algo só porque é diferente.
— Hum, sim, isso é verdade. Obrigada, Clarina. — Dou-lhe um sorriso que desaparece no momento em que a porta se fecha atrás dela. Eu sei que não deveria ter medo de algo simplesmente porque é diferente, mas se é diferente e está machucando alguém, não está certo. Talvez eu tenha entendido mal, no entanto. Talvez essa coisa de ‘tomar o poder’ não seja tão sinistro quanto parece. Pode ser apenas um pouco de poder, não o suficiente para matar alguém. E talvez eles só aceitem seres que estão dispostos.
Eu me sirvo de comida, reabro o livro e continuo lendo. Depois de apenas alguns minutos, um baque surdo vem da direção do meu quarto. Eu abaixo o sanduíche que estava a meio caminho da minha boca e coloco um garfo entre as páginas do livro para marcar onde estava. Eu silenciosamente levanto uma faca e me levanto da cadeira para encarar a porta entreaberta do quarto.
E então eu passo muito tempo congelada no lugar, imaginando se devo investigar sozinha ou arriscar parecer idiota pedindo a um guarda para ir ao meu quarto e caçar a coisa misteriosa que não fez nenhum som desde aquele primeiro baque. Eu decido no final arriscar parecer idiota. Melhor do que ser mastigada por uma das criaturas não inofensivas de fora ou por qualquer coisa que tenha matado aquele guarda esta manhã.
Abro a porta principal, coloco a cabeça para fora e encontro duas mulheres em uniforme de guarda do lado de fora. Elas passam pelo menos vinte minutos procurando cada centímetro do meu quarto enquanto eu finjo ler. E quando elas saem, não tendo encontrado nenhum sinal de ameaça, estou quase certa de que vejo uma revirando os olhos para a outra.
Capítulo 03
— A SUA HABILIDADE GRIFFIN APARECEU NOVAMENTE? — AURORA PERGUNTA À noite, enquanto nos retiramos para os sofás em sua sala de estar privada. É tarde, o jantar acabou, e Roarke ainda não voltou. Perguntar quando ele voltará é inútil, por isso desisti, mas ainda me sinto queimando de frustração toda vez que imagino mamãe dormindo permanentemente. Minhas mãos querem se enrolar em punhos sempre que penso em todos os minutos, horas e dias que passam.
— Eu a senti dormindo na noite passada, — eu digo a ela, removendo uma almofada de minhas costas e abraçando-a ao meu peito. É melhor apertar a almofada do que cavar minhas unhas continuamente nas palmas das minhas mãos. — Ela me acordou. No momento em que percebi o que estava acontecendo, o momento passou. Eu não consegui falar uma única palavra antes que a magia fosse embora.
— O que você teria dito?
Eu sacudo minha cabeça enquanto observo as chamas dançantes na lareira. Como é verão aqui, eu não teria achado necessário acender uma fogueira à noite, mas a sala está agradavelmente aconchegante e acolhedora. — Eu não sei. Eu estava meio adormecida e tentando pensar em algo, mas a sensação se foi antes de eu ter qualquer comando.
Ela me observa por algum tempo, enquanto eu continuo a olhar para ela e para as chamas. — Você realmente acha que o elixir vai ajudá-la?
Eu me concentro nela, meu humor se elevando instantaneamente. Ela poderia estar pensando em dar o elixir de volta para mim? — Claro que ele ajuda. Ele liga a habilidade então assim eu consigo usá-la.
— Sim, eu sei, mas você disse que o propósito do elixir é de alguma forma ensinar você a usar e controlar a habilidade por conta própria. É para te ajudar a reconhecer como é a sua magia Griffin, certo? Para que você possa invocar essa magia à vontade sem a ajuda do elixir?
— Sim, algo assim.
— Mas você já sabe como ela é.
Eu olho para os meus braços em volta da almofada. — Sim, eu sei.
— Então por que...
— Por que não consigo fazer isso sozinha? — Eu suspiro, minha excitação se dissipando. Ela não vai me dar o elixir. — Eu não sei. Eu tentei. Eu imagino o sentimento. Eu imagino tirar magia de dentro de mim, mas nada acontece. Talvez se eu tivesse esse elixir, eu poderia —
— Não, — diz ela. — Eu não vou te dar algo que se tornará uma muleta, especialmente porque não há muito dele, e quando acabar, não sabemos como fazer mais. Sem mencionar que é uma má ideia dar a você algo que irá imediatamente ativar uma habilidade perigosa que você poderia usar contra mim.
— Aurora, eu nunca —
— Sim, sim. — Ela revira os olhos. — Você fará parte da minha família em breve, então gostaria de poder confiar em você, mas ainda não chegamos lá. Não, a razão pela qual estou trazendo isso à tona é porque tenho pensado sobre como sua habilidade pode funcionar. — Ela inclina a cabeça para o lado e olha pensativamente através da sala para as cortinas que escondem as portas da varanda. — Talvez, por ser uma habilidade tão poderosa, ela meio que precise... se reabastecer. Isso explicaria porque você não pode usá-la o tempo todo.
— Tudo bem. Talvez. Alguns tipos de magia funcionam dessa maneira?
— Bem, toda a magia funciona dessa maneira, na verdade. — Ela muda de posição, dobra uma perna sobre a outra e me encara. — É que raramente usamos tudo de uma vez só, por isso não percebemos que ela está constantemente sendo reabastecida. Se você faz algo que é particularmente árduo com sua magia, como levantar algo muito pesado e segurá-lo no ar por um longo tempo, você acabará cansando. Magicamente, quero dizer. Então você precisa descansar enquanto sua magia se restaura.
— Tipo reabastecer as energias se você faz algo que é fisicamente desgastante? — Eu pergunto.
— Sim. Então eu me pergunto se talvez a sua Habilidade Griffin funcione de forma semelhante, mas em erupções rápidas, em vez de lentamente ao longo de um longo período de tempo.
Eu concordo. — Parece que isso pode fazer sentido. Sempre sinto como se isso acontecesse em mim de repente, quando imediatamente estou para falar qualquer coisa na hora, e então some.
— Ou acaba liberada em seu entorno sem nenhum propósito se você não disser nada. — Ela bate no queixo e franze os lábios. — Hmm. Gostaria de saber se você poderia segurá-la e usá-la depois, em vez de liberá-la sempre que for reabastecido.
— Hum... eu poderia tentar isso? — Eu sugiro, não tendo ideia de como eu realmente ‘seguraria’ esse meu poder indescritível.
— De qualquer forma, tudo isso é especulação neste momento, — continua Aurora. — Precisamos coletar algumas evidências reais. Tome nota de exatamente quando acontecer. O dia e a hora. E mantenha o controle de outras coisas, como se você usou uma quantidade anormalmente grande de sua magia normal em outra coisa. Porque nós não sabemos se a sua magia normal tem algum efeito na sua magia Griffin, ou se as duas são independentes uma da outra.
Eu aceno com a cabeça enquanto ela fala. — Basicamente, queremos descobrir se podemos prever quando vai acontecer.
— Sim. Você vai ter que ser muito cuidadosa, Em. Registre todos os detalhes que possam influenciar sua Habilidade Griffin.
— Sim, definitivamente. — Eu franzo a testa enquanto minha mente relembra todas as vezes que eu dei um comando mágico, tentando forçar os eventos em um padrão que faça sentido. Eu acabo balançando a cabeça. — Talvez estejamos erradas. Houve uma vez em que usei duas vezes em alguns minutos. Então, a teoria de reabastecer não faria sentido.
— Bem, talvez você não tenha usado tudo com a primeira coisa que você disse. Talvez você tenha guardado um pouco, mas não percebeu o que estava fazendo. É por isso que você ficou com um segundo comando, mas depois disso tudo acabou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Sim. Talvez.
— Ou talvez sua magia ainda esteja se estabelecendo, — sugere Aurora. — É isso o que acontece com os halflings se a magia deles aparecer mais tarde na vida. Muitas vezes vem e vai por um tempo antes de se tornar consistentemente presente. Talvez, uma vez que tenha passado um pouco mais de tempo, sua Habilidade Griffin aparecerá em intervalos regulares.
Eu passo uma mão pelo meu cabelo. — Tantas possibilidades e incógnitas.
— É por isso que você precisa começar a documentar tudo. Essa é a única maneira de descobrirmos se minha teoria está correta ou não.
Eu me levanto e jogo a almofada no sofá. Eu ando até a lareira e levanto o castiçal de prata da cornija. Eu pratiquei acendendo uma vela repetidamente antes do jantar, e consegui produzir uma chama com quase todas as tentativas. Eu estalo meus dedos ao lado do pavio — e uma chama acende.
— Bom trabalho. — Aurora bate as mãos de prazer. — Tudo bem. Agora que você conseguiu, o que eu vou te ensinar agora?
Em vez de respondê-la, pergunto, — É isso que você faz todas as noites? Janta sozinha no seu quarto? Ou você tem jantares familiares quando todos estão em casa?
Se ela ficou confusa com a minha mudança de assunto, ela não demonstra. — Bem, é sempre diferente, — diz ela com um encolher de ombros. — Às vezes usamos uma das salas de jantar menores e jantamos apenas nós quatro. Às vezes, membros da família se juntam a nós. Às vezes, entretemos os convidados, ou minha mãe entretém seus amigos, ou eu entretenho algumas das moças da corte. Se estou cansada de todos, então como sozinha aqui. — Ela inclina a cabeça. — Por que você pergunta?
— Estou apenas tentando imaginar como é sua vida normal. Clarina me disse que você tem damas de companhia, mas as mandou embora de férias. E eu não vi você interagir com ninguém além de sua mãe e um punhado de criados e guardas, então —
— Então você está se perguntando se eu sou uma solitária miserável? — Ela pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Não. Eu estou querendo saber se você está tentando me esconder de todo mundo que mora aqui.
Vários segundos passam antes que ela responda. — Eu não chamaria isso de esconder, mas suponho que é essencialmente isso. As pessoas vão fazer perguntas sobre você, Em. Eles já estão fazendo perguntas sobre essa minha estranha amiga que não parece pertencer aqui. É mais fácil se não nos colocamos em uma posição em que precisamos responder a alguém até o momento certo.
— E o momento certo será...?
— Quando você e Roarke fizerem um anúncio oficial sobre seu noivado. Ninguém vai questionar sua presença aqui então. Eles não ousariam.
As palavras ‘anúncio oficial’ enviam um calafrio através de mim. Então, apesar do fato de eu estar ao lado do fogo, o frio parece se tornar real. Arrepios se espalham pela minha pele e o ar frio sussurra na parte de trás do meu pescoço. Eu olho por cima do meu ombro, mas apesar do sentimento distinto de que alguém está me observando, eu não vejo mais ninguém na sala.
Com um clique silencioso, a porta se abre. Meu olhar se lança em direção a ela. Ela se abre devagar, e Roarke entra na sala. Ângulos acentuados, cabelos escuros perfeitamente no lugar e olhos da cor do vinho tinto. Seu intenso olhar varre a sala antes de pousar em mim. Seus lábios se curvam em meio sorriso quando um rubor aquece minha pele.
— Oh, olhe isso. — Aurora aperta as mãos juntas sob o queixo. — Ela está emocionada ao ver você, Roarke.
— De fato. — Quando a porta se fecha atrás de Roarke, ele caminha lentamente em minha direção, mãos atrás das costas. — Se ela está emocionada pelas razões certas e não porque está desesperada para me interrogar desde o momento em que ela chegou aqui.
Eu engulo antes de falar. — Estou feliz que você não tenha esquecido por que estou aqui.
Ele para na minha frente, perto o suficiente para que eu tenha que olhar para cima para encontrar seus olhos. Eu sabia que ele era alto, é claro, mas eu tinha esquecido o jeito como a presença dele o faz parecer ainda mais alto. Eu não vou dar um passo para trás, no entanto. Recuso-me a ser intimidada pelo cara com quem eu devo estar casando em breve, independentemente do fato de que eu não tenha real intenção de concordar com essa união.
O sorriso de Roarke aumenta um pouco mais e, por trás das suas costas, ele produz uma rosa. Uma rosa dourada e delicadamente formada, com um rubi no centro de suas pétalas de ouro maciço. — Minha senhora, — ele murmura, curvando-se um pouco quando ele entrega a rosa para mim. Eu hesito, então pego dele. Ele se inclina mais para frente, seu rosto de repente muito perto do meu, e seus lábios brevemente roçam minha bochecha. Um arrepio frio desliza pela minha pele e pelo meu pescoço. — Minhas desculpas por demorar tanto para voltar. Meu pai e eu não costumamos lidar com as questões pessoalmente, mas essa foi uma dessas ocasiões. Achamos melhor ficar onde estávamos até que o trabalho estivesse terminado.
— Hum... tudo bem. Obrigada por essa explicação enigmática.
— Logo, meu amor, você fará parte da família. Você conhecerá todos os nossos segredos.
— Seu amor? Sério? — Coloco a rosa de ouro sobre a cornija da lareira e cruzo os braços sobre o peito. — Eu acho que é um pouco cedo para isso, Roarke.
Roarke olha para Aurora com uma risada silenciosa. — Você tem ensinado a ela como bancar a difícil?
Aurora se estica do outro lado do sofá, endireitando as camadas da saia sobre as pernas. — Não. Parece que ela sabe como fazer isso sozinha.
Eu quase faço um comentário sobre como isso tudo é um jogo para eles, mas considerando que eu espero enganá-los e sair daqui viva, eu provavelmente deveria jogar junto. — Que tal nos conhecermos um pouco melhor antes de começar a falar as palavras ‘meu amor’ por aí? Você nem me levou a um encontro ainda.
— Um encontro? Bem, espero que você tenha algo um pouco mais bonito para usar do que isso — ele gesticula para meu jeans e blusa de moletom — se você está planejando ir a um encontro com um príncipe. E falando em roupas, você não recebeu roupas mais apropriadas?
— Recebi, mas eu prefiro usar o tipo de roupa que eu fico confortável.
— Recusou, — Aurora diz do outro lado da sala. — Ela recusou a usar qualquer um dos vestidos.
Eu respiro fundo pelo nariz. — Esses vestidos parecem que são de outro século. Eu sei que este é um palácio cheio de membros da realeza, mas vocês não podem se atualizar com os tempos no departamento de roupas? O resto do mundo fae parece usar praticamente o mesmo tipo de roupa que as pessoas usam no meu mundo.
— Este é o seu mundo, Em, — Aurora me lembra. — E se você se desse ao trabalho de olhar mais de perto o seu guarda-roupa, acho que descobriria que as roupas penduradas ali são da última moda. Moda fae formal, que pode não ser familiar para você, mas ainda assim. Apenas os designs mais recentes.
— Você está certa, — eu digo a ela, afastando-me de Roarke para me inclinar contra uma poltrona. — Eu não estou familiarizada com a moda formal fae.
— Chega de roupa, — diz Roarke. Ele se vira para me encarar, colocando as mãos nos bolsos de seu longo casaco, que é coberto por bordados de prata primorosamente detalhados e é, sem dúvida, o mais recente da ‘moda fae formal’. — Diga-me, meu amor — Ele se interrompe. — Desculpas, — acrescenta com um leve abaixar de sua cabeça. — Por favor, diga-me, minha senhora, o que você acha da sua nova casa.
— Já que você viu o interior da minha casa anterior, eu suponho que você pode descobrir meus sentimentos em relação a esta.
— Você amou? — Pergunta ele. — Você está completamente impressionada? Você está infinitamente grata por poder passar o resto da sua vida aqui?
— Não exatamente. É linda, eu vou falar. Não é bem o que eu esperava, mas definitivamente linda.
— Ah, agora estou intrigado. — Ele levanta a rosa de ouro da cornija e a gira entre os dedos. — O que você estava esperando?
Eu levanto meus ombros em um lento encolher de ombros enquanto tento colocar minhas expectativas iniciais em palavras. — Eu não sei. Vocês Unseelies são destinados a serem os vilões, certo? Então eu estava esperando algo... mais frio. Mais escuro. Uma floresta morta ao redor do palácio, ou inverno perpétuo ou algo assim. Mas, você sabe, tudo está ensolarado, quente e vivo. — Lá fora, pelo menos, acrescento silenciosamente. Não digo nada sobre o sentimento frio e opressivo que às vezes pressiona meus ombros quando estou dentro do palácio. O frio que sinto no ar agora.
Roarke inclina a cabeça para o lado. — Você não olhou para fora à noite, não é.
Eu volto a me concentrar nas três noites que passei aqui até agora. Todas as noites, quando volto ao meu quarto, as cortinas estão fechadas, as lâmpadas encantadas acesas e a pequena piscina no banheiro decorado como uma floresta cheia de água fervente e bolhas perfumadas. — Não, eu acho que não.
Ele passa por mim, coloca a rosa dourada na mesa em que Aurora e eu normalmente comemos, e acena com a mão nas cortinas. Quando elas se abrem, ele se vira e estende a mão para mim. — Deixe-me mostrar-lhe algo.
Relutantemente, coloco minha mão na dele. Ele abre as portas da varanda e me leva para fora. Eu respiro no ar inesperadamente frio. Então, quando chego à grade da sacada e olho para baixo, meus lábios se abrem em espanto ao ver a deslumbrante paisagem de inverno cobrindo todo o terreno do palácio. — Uau, — eu sussurro.
— Minha mãe gosta de verão, — Roarke diz, — mas meu pai gosta de inverno. A magia dela controla o dia e a magia dele controla a noite.
Meus olhos percorrem a topiaria coberta de neve, as fontes congeladas e os pingentes de gelo pendurados nas pontas dos dedos da estátua mais próxima. — Deve ser muito confuso para todas as plantas e criaturas que residem nesses jardins.
— Felizmente para eles, eles também são mágicos. Eles podem lidar com isso.
Um arrepio me percorre, e Roarke tira o casaco. — Que cavalheiro, — eu digo secamente quando ele coloca sobre meus ombros. — Embora eu esperasse que houvesse um feitiço que evitasse que as pessoas ficassem com frio.
— Há sim. Mas meus níveis mágicos estão um pouco baixos no momento. — Parado mais perto de mim agora, ele estende a mão e enfia meu cabelo atrás da minha orelha direita. Eu endureço imediatamente, olhando para algum lugar na região do pescoço dele, em vez de nos olhos dele, mas conforme seus dedos tocam o pequeno pedaço de metal em forma de moeda presa à pele atrás da minha orelha, eu relaxo um pouco. Ele não está tentando ser íntimo; ele está checando se o dispositivo de ocultação ainda está lá.
— Preocupado que eu poderia ter tirado? — Eu pergunto, satisfeita em ouvir que minha voz está firme.
— Não particularmente. Você não sabe a magia necessária para removê-lo.
— Mas você está checando assim mesmo. Apenas no caso.
— Claro. Eu seria um tolo em não checar. Você pode ter encontrado alguém neste palácio disposto a removê-lo para você, ou sua Habilidade Griffin pode ter surgido por tempo suficiente para você instruir este dispositivo que se retire.
— E por que eu faria isso?
— Segundas intenções sobre nosso acordo. Culpa, talvez. — Ele se inclina para o lado contra a balaustrada, inteiramente à vontade no ar frio da noite. — Você já começou a se sentir culpada, Emerson?
Começou? A culpa vem me comendo desde antes mesmo de eu chegar aqui. Eu dei a localização escondida da minha mãe para uma faerie perigosa que depois a colocou em um coma mágico. Eu fugi das pessoas que me ajudaram e não pediram nada em troca. Eu abandonei minha melhor amiga sem nem dizer adeus. Nada disso, no entanto, é da conta de Roarke. Então eu pigarreio e pergunto, — Por que eu estaria me sentindo culpada? Eu concordei com esse arranjo para ajudar alguém. Eu não deveria ter que me sentir culpada por isso.
— É verdade, mas talvez você tenha ficado com medo desde que chegou aqui. Talvez você queira que seus amigos — os rebeldes Griffin? — saibam onde você está afinal.
Eu não confirmei a suspeita de Roarke de que foram os rebeldes Griffin que me resgataram no dia em que fugi tanto da Guilda quanto dos Unseelies e caí da beira de um penhasco. Ele perguntou onde eu estava me escondendo, mas mesmo se eu quisesse, eu não poderia contar a ele sobre aquele lugar seguro encantado. Quando estou na companhia de outras pessoas, não consigo nem pensar nisso, quanto mais falar o nome do lugar ou a localização dele. Em vez disso, um espaço em branco aparece em minha mente, presumivelmente parte do feitiço de proteção que ajuda a manter o lugar seguro. Minha lembrança dele sempre volta quando estou sozinha, mas ainda é desconcertante toda vez que desaparece completamente da minha mente.
Recusando-me a desviar o olhar de Roarke, eu digo, — Eu não estou com medo, e não mudei de ideia. A última coisa que quero é que meus amigos apareçam aqui. Por que eu arriscaria com eles arruinando nosso acordo antes que você tivesse a chance de seguir com sua parte?
Seu sorriso é lento e cuidadoso. — Bom. Fico feliz em ouvir isso.
— O que me lembra, — acrescento. — Você ainda precisa provar que realmente tem informações úteis que podem ajudar minha mãe. Você não pode esperar que eu me case com você sem alguma garantia de que você está dizendo a verdade.
— Você está dizendo que não está totalmente comprometida com a união?
— Eu estou, — eu digo ferozmente, esperando que a mentira não apareça no meu rosto, — mas apenas se você estiver totalmente comprometido em curar completamente a minha mãe. Eu quero poder confiar em você, Roarke. Por favor, me dê uma razão para isso.
— Hmm. — Roarke estreita os olhos como se considerasse o meu pedido. — Vamos ver. Você —
— Emerson Clarke?
Eu olho para as portas da varanda ao som de uma voz masculina desconhecida. Na porta há um guarda que não reconheço. — Sim? — Eu pergunto.
— O Rei Unseelie deseja encontrá-la.
Capítulo 04
A JORNADA ATRAVÉS DO PALÁCIO PARA ENCONTRAR O REI PARECE AO MESMO TEMPO torturantemente longa e assustadoramente rápida. Tenho tempo suficiente para me arrumar completamente, mas não tenho tempo suficiente para me acalmar e me preparar.
— Meu pai não é tão gentil como eu sou, — Roarke me diz enquanto caminhamos por corredores de mármore brilhantes com duas faeries uniformizadas à nossa frente e duas atrás. — Ele quer manter você, não importa o quê. Nora ou prisioneira.
Maravilhoso. Isso não me faz querer vomitar.
— Eu não vou deixar isso acontecer, é claro, — Roarke acrescenta, — mas seria melhor se você não fizesse nenhum comentário de brincadeira sobre mudar de ideia ou não estar certa sobre a união. As coisas podem ficar... desagradáveis.
— Eu já disse a você que não vou mudar de ideia. — Em meu esforço para mascarar meu medo, minhas palavras saem mais alto do que eu pretendia. — Eu estou aqui, não estou? — Eu continuo em voz baixa. — E eu vim até você. Isso não prova quão séria eu estou sobre essa união?
— Tudo o que estou dizendo é que ele não gosta de piadas ou sarcasmo, então é de seu interesse ser educada. E você provavelmente deveria tirar meu casaco. Você parece muito estranha nele.
Eu tiro o casaco de Roarke e o entrego de volta para ele. — Talvez seja de seu interesse ser educado também, considerando o quanto minha Habilidade Griffin é valiosa para ele. Se ele me fizer prisioneira, nunca lhe darei o que ele quer.
Eu tento muito acreditar em minhas próprias palavras, mas as sobrancelhas levantadas e a expressão de pena de Roarke tornam isso impossível. Quando paramos do lado de fora de uma porta enorme e ricamente entalhada, ele me encara. — Você não precisa dar nada a ele, Emerson. Ele vai pegar o que quiser.
Um guarda abre a porta. O frio artificial no ar se intensifica, e a porta em si parece se estender mais como uma boca gigante se preparando para me engolir inteira. Eu sinto o cheiro de terra úmida e folhas podres. Meu coração bate mais rápido quando imagens de criaturas viscosas, crânios e besouros passam pela minha mente.
Então eu afasto as imagens imaginadas e descubro que a porta não mudou, e a sala para qual ela se abre não é uma boca escura, mas um grande escritório. Roarke pega meu braço e me direciona para frente, já que meus pés se esqueceram de como se mover por conta própria. — Lembre-se, eu estou do seu lado, — ele sussurra para mim. — Prove para meu pai que você está disposta a trabalhar conosco e vou me certificar de que você nunca será forçada a fazer nada.
Eu não respondo, minha atenção focada no interior do escritório do rei. À direita, há uma mesa grande o suficiente para que pelo menos uma dúzia de pessoas se sentem. Estranhamente, porém, tudo o que está em cima da mesa aparece borrado quando tento olhar bem de perto. Meu olhar se move para a esquerda — e fico ainda mais surpresa com o que vejo lá: nenhuma parede envolve o escritório daquele lado. Em vez disso, ele se estende para uma caverna subterrânea feita de rocha áspera e iluminada por luz pálida.
— Deixe-nos.
A voz profunda traz minha atenção para a mesa à nossa frente. A superfície é polida como qualquer outra superfície de mármore que enche este palácio. Do outro lado, uma cadeira alta que parece ser feita da mesma rocha áspera da caverna que está atrás de nós. A cadeira permanece imóvel enquanto os guardas saem da sala e fecham a porta. Então, apesar do fato de que deve pesar uma tonelada, a cadeira gira suavemente para nos encarar.
O Rei Savyon não parece nada com seu filho. Seu cabelo branco-loiro tem mechas pretas. Seus olhos são buracos negros que me perfuram. Sem falar, ele coloca uma mão em cima da outra na mesa à sua frente. Anéis de ouro com pedras multicoloridas brilham em cada dedo.
— Pai, esta é Emerson Clarke, — diz Roarke. Eu engulo e me forço a ficar mais ereta. Tenho certeza que essa é uma daquelas situações em que eu não deveria demonstrar medo, mas acho que estou prestes a falhar miseravelmente.
O rei se levanta, caminha até a frente de sua mesa e cruza os braços sobre o peito. Seus olhos viajam por todo o meu corpo e para cima novamente, seu olhar como um dedo frio e rastejante acariciando ao longo da minha pele. Seu olhar inexpressivo permanece na minha blusa de moletom, em seguida, viaja lentamente até o meu rosto, onde ele segura meu olhar por vários segundos aterrorizantes. Apesar da minha determinação de não ser intimidada, eu quase morro de alívio no momento em que seus olhos me deixam e me movo para perto de Roarke. Eu envolvo meus braços firmemente ao redor do meu corpo e olho para o chão bem na frente dos meus pés.
— Bem, — diz o Rei Savyon, sua voz um estrondo profundo que quase posso sentir em meu próprio peito. — Ela está muito longe da mulher com quem eu esperava que você um dia se uniria, Roarke. Ela mal se encaixa para ser uma criada nesta corte, muito menos uma princesa.
— Sério, pai? — Roarke arrastou. — Essa é a melhor coisa que você tem a dizer?
— O que você espera quando me apresenta uma perspectiva tão sombria para uma nora?
— Eu posso garantir-lhe, pai, que sua Habilidade Griffin mais do que compensa o que ela não tem em outras áreas.
Aqueles olhos negros se fixam em mim mais uma vez. — Eu certamente espero que sim. Eu gostaria de ver uma demonstração agora.
Eu abro minha boca, meus olhos correndo entre os dois. Não tenho certeza se posso falar, mas eles precisam saber que não posso fazer nada sob ordens. — Não se preocupe, Emerson, — Roarke diz antes que eu possa dizer qualquer coisa. Ele alcança dentro de seu casaco e produz um pequeno frasco. — Eu tenho seu precioso elixir aqui. Yokshin, nosso mestre de invenções, vem examinando, mas ainda há muito para que você possa usar.
Droga. Não foi assim que planejei usar o elixir. Eu devo ficar sozinha com Roarke quando ele me der para que eu possa instruí-lo a me contar tudo o que ele sabe sobre minha mãe e como consertá-la. Isso não vai funcionar agora a menos que eu possa dar uma instrução ao rei ao mesmo tempo. Para permanecer congelado no lugar, talvez. Assim ele não consegue interferir. Conforme Roarke se vira para mim, pensamentos correm loucamente pela minha cabeça. Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso? Se eu não fizer agora, terei outra chance? E se eu mandar nele agora, como vou passar por todos os guardas quando sair? Ordená-los também? Haverá tempo suficiente para dar a Roarke, seu pai e todos os guardas do palácio uma ordem antes que minha Habilidade Griffin se esgote?
— A poção de compulsão primeiro, — diz o rei. — Então a poção Griffin.
— Claro, — Roarke diz, removendo outra pequena garrafa de dentro de seu casaco.
— O... quê? — Eu pergunto.
— Poção de compulsão, — Roarke repete, removendo a tampa. — É exatamente o que parece. Você pode ser obrigada a fazer certas coisas enquanto estiver sob a influência desta poção. É só para ter certeza de que você se comportará enquanto usa sua Habilidade Griffin. Nós não queremos que você faça algo bobo ou irracional. — Ele ri. — Como dizer a todos nós para nos matar ou algo assim.
Toda minha esperança murcha. — Então — então você vai me forçar a dizer alguma coisa?
— Isto é apenas uma precaução, Emerson. Meu pai ainda não sabe se pode confiar em você.
Ele entrega a garrafa para mim e, como sei que não tenho absolutamente nenhuma escolha, a levo aos lábios. — Quanto? — Eu pergunto antes de incliná-la.
— Apenas um gole.
A poção tem gosto de algo familiar, mas não consigo identificar. Eu entrego a garrafa de volta para Roarke, assim quando eu percebo que essa coisa de compulsão soa muito como a Habilidade Griffin que todo mundo neste mundo tem tentado colocar suas mãos. Minha Habilidade Griffin. — Espere, mas — se vocês tem uma coisa como uma poção de compulsão, então qual é a importância da minha Habilidade Griffin? Vocês já podem dizer às pessoas para fazerem as coisas e elas as farão. Vocês não precisam — Percebo o que estou dizendo tarde demais. Vocês não precisam de mim. Não é algo que eu deveria estar dizendo quando minha Habilidade Griffin é a única vantagem que eu tenho.
— Nós não podemos forçar as pessoas a tomar uma poção e depois obrigá-las a dizer ou fazer certas coisas, — explica Roarke. — Não é a mesma coisa que dizer o chão para se separar e depois ver isso acontecer um momento depois. — Ele coloca o elixir da Habilidade Griffin na minha mão e dá um passo para trás para ficar ao lado de seu pai. Agora que eles estão próximos um do outro, posso ver a leve semelhança entre eles, apesar de suas diferenças dramáticas na cor dos cabelos e dos olhos. — Emerson, — Roarke diz. — Você não acha que seria divertido se começasse a chover aqui?
Embora seja uma sugestão estranha, eu me encontro concordando com ele. Seria a coisa mais maravilhosa do mundo se começasse a chover aqui mesmo nesta sala. — Sim, — eu digo a ele.
— Então você deve tomar um gole desse elixir e fazer chover.
Ele tem razão. Isso é exatamente o que devo fazer. Então eu retiro a tampa do frasco e despejo algumas gotas na minha língua. Então eu espero pelo formigamento familiar, a sensação de que a magia Griffin escondida em algum lugar dentro de mim está subindo de repente para a superfície. Eu olho para o teto e digo, — Comece a chover.
E começa.
Eu fico encharcada em segundos, ofegando e tensionando meus ombros contra a água gelada. Roarke e o rei permanecem completamente secos, como se guarda-chuvas invisíveis os protegessem do aguaceiro. — Diga para parar, — Roarke fala acima do rugido de gotas da chuva.
Eu não posso sentir se há algum poder Griffin na superfície da minha magia, e é impossível ouvir minha voz acima do barulho. Mas quando eu digo para a chuva parar, eu sinto as palavras ressoando na minha cabeça do jeito que elas fazem quando a minha Habilidade Griffin ganha vida, e eu sei que funcionou.
— Muito bem, — o rei diz enquanto eu fico ali tremendo. Ele olha para Roarke. — Yokshin é capaz de recriar o elixir? Se não, e a Habilidade Griffin for aleatória, a garota não será tão útil para nós como eu esperava.
— Ele não tem certeza sobre recriar, mas na última mensagem de Aurora para mim antes de retornarmos, ela disse que está trabalhando em algumas teorias sobre como a habilidade pode funcionar. Ela acha que pode se tornar mais previsível.
O rei acena com a cabeça. — Bem, então. Tem certeza de que quer ter essa união? Seria mais simples lidar com a garota como prisioneira.
— Sim, eu tenho certeza. Eu não quero que ela seja uma prisioneira. — Roarke olha para mim como se estivesse considerando uma compra que ele está prestes a fazer. — Eu realmente gosto dela. E mamãe e Aurora podem treiná-la nos caminhos da corte. Depois de algum tempo, parecerá que ela sempre pertenceu aqui. Ela se tornará uma de nós. Ela ficará feliz em nos ajudar sempre que precisarmos de sua Habilidade Griffin. Nós nem precisamos forçá-la. Certo, Emerson?
— Sim, — eu respondo.
Um uivo distante ecoa pela caverna.
— Bom, — o rei diz novamente, sem prestar atenção ao uivo. — Até lá, Roarke, você dará a ela uma poção de compulsão todos os dias e lhe dirá exatamente o que dizer se e quando sua Habilidade Griffin aparecer. — Toda a esperança que eu tive de usar minha Habilidade Griffin em Roarke desliza para longe como cinzas através dos meus dedos. — E você, Senhorita Clarke. — O rei dá um passo em minha direção, o que é cerca de mil vezes mais perto do que eu gostaria que ele estivesse. — Descubra se a teoria de Aurora — seja ela qual for — está correta. Faça tudo que puder para aprender como funciona sua Habilidade Griffin. Você será muito mais útil para nós dessa maneira, e pessoas úteis são menos propensas a morrer.
— Pai, — Roarke diz com um revirar de seus olhos. — Isso não é útil. Ela não entende seu senso de humor ainda.
A expressão do rei não muda nem um pouco. Ou ele é muito bom em manter uma cara séria, ou isso não era uma piada.
Outro uivo trespassa o silêncio, desta vez mais alto. O rei não olha para a caverna, então nem eu. Qualquer criatura ou pessoa que está fazendo esse som, eu não quero saber.
— Vamos anunciar a união na festa de aniversário da sua mãe em duas semanas, — o rei diz a Roarke. — Você tem até então para decidir quando a cerimônia de união ocorrerá.
Um terceiro uivo se transforma em soluços, gritos e sons de luta. Finalmente, o rei olha em direção à caverna, e embora eu não queira, eu sigo seu olhar. Dois guardas Unseelie estão arrastando um homem pelo chão desigual da caverna. Enquanto o homem luta, um dos guardas dispara uma faísca de magia em seu lado, e o homem se afasta e uiva em agonia.
Eu olho para Roarke, implorando com meus olhos para nós partirmos agora. Mas ele está observando o homem lutando com uma expressão ilegível.
— Ah, você o encontrou, — diz o rei. — Este é o último, eu presumo?
— Sim, Sua Graça.
— Muito bom. — Enquanto os dois guardas se afastam do homem, o Rei Savyon levanta a mão. O homem, que pareceu por um momento como se estivesse prestes a correr, engole e fecha os olhos. O rei aperta a mão com força ao redor do ar e vira o punho abruptamente para o lado. Do outro lado da sala, na beira da caverna, a cabeça do homem faz o mesmo, dobrando-se quase paralela ao ombro. É demais, minha mente grita. É demais, É DEMAIS!
Então um som nauseante. O choro do homem é cortado. O rei levanta a mão para cima. A cabeça do homem é arrancada inteiramente de seu corpo e ambas as partes caem no chão, espalhando sangue por toda parte.
Um suspiro estrangulado me escapa. Minha mão voa para cobrir minha boca. Eu fecho meus olhos, mas de jeito nenhum eu poderei não ver isso.
Como se de longe eu ouvisse a voz do rei. — Isso é tudo, Roarke. Leve a garota de volta para seus aposentos.
Uma mão agarra o meu braço. Eu pisco e forço meus olhos para longe do corpo morto quando Roarke me puxa para a porta. Ele abre e me deixa andar na frente dele. — E Roarke, — o rei acrescenta. — Encontre alguém que queime essas roupas hediondas que ela está usando. Eu não entendo porque isso ainda não foi feito.
— Ela se recusou a se separar delas, aparentemente.
Eu me atrevo a olhar para o rei. Ele não suspira. Ele não sorri. Ele mal se move quando diz, — As roupas serão queimadas. Cabe a Senhorita Clarke se ela ainda estará nelas quando isso acontecer.
A porta se move lentamente em nossa direção. No momento em que ela se fecha, começo a correr.
Capítulo 05
EU CORRO TODO O CAMINHO DE VOLTA PARA O MEU QUARTO, ABRO A PORTA, E A fecho. Eu dou alguns passos instáveis dentro para dentro do quarto, mal vendo ao meu redor. Tudo que vejo é o pescoço de um homem virado para o lado e o sangue esguichando de...
Eu me viro, piscando, como se eu pudesse de alguma forma desviar o olhar da memória. Ainda respirando pesadamente por causa da corrida, eu empurro meus dedos pelo meu cabelo. O que diabos eu estava pensando vindo a este lugar? Que eu realmente conseguiria fugir com as respostas que preciso, porque tenho uma poderosa Habilidade Griffin que posso usar contra as pessoas? Uma habilidade Griffin que não posso usar quando quero e que pode ser usada para atender aos propósitos de outra pessoa devido a uma poção que eu não sabia que existia. Que piada miserável. Eu deveria ter adivinhado, no entanto, que algo assim aconteceria. Há tanta coisa que eu não sei sobre esse mundo e sua magia, mas o que eu deveria saber era que era uma ideia idiota me colocar no meio de um bando de faeries poderosos que exercem magia negra.
De algum lugar atrás de mim, um baque suave chega aos meus ouvidos. Eu congelo. Eu sei que deveria correr. Eu deveria abrir a porta e continuar correndo até que este palácio esteja muito atrás de mim. Mas o medo gruda meus pés no chão. Muito lentamente, eu me viro e olho por cima do meu ombro. Do outro lado do quarto na mesa redonda, ao lado da bandeja de chá e macarons que Clarina deve ter deixado aqui há não muito tempo atrás, está uma pequena coruja. Enquanto observo, a coruja parece desabar sobre si mesma. Um instante depois, um gatinho preto aparece em seu lugar.
— Bandit? — Eu sussurro em descrença. Eu me viro totalmente para encarar a criatura que muda de forma. Ele treme sua orelha direita em resposta. Sem parar para pensar, eu corro através do quarto e o coloco em meus braços, lágrimas queimando em meus olhos. — Eu não sei como você chegou aqui ou onde você esteve se escondendo ou se é você que está fazendo barulhos estranhos na minha suíte, — eu sussurro, — mas eu estou muito, muito, muito feliz de ver você. — Eu pensei que o deixei dormindo no meu quarto quando escapei do oásis, mas ele deve ter mudado para algo menor e entrou em um dos meus bolsos. Não seria a primeira vez. — Por favor, não me deixe, — murmuro em seu pêlo, minhas palavras saindo apressadas. — Por favor, não me deixe aqui sozinha. Sinto muito pelas coisas que eu disse quando você apareceu pela primeira vez. Que eu não gosto de animais de estimação e que talvez eu pudesse vender você. Eu juro que não quis dizer nada disso. Eu tive um cachorrinho uma vez, mas ele fugiu e nunca mais voltou, e mamãe e eu procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo e chorei por dias. — Eu respiro fundo e abro meus braços o suficiente para olhar para baixo para ele sentado entre eles. Ele olha para cima com olhos de gatinho perfeitamente adoráveis. — Eu sei que você é mágico, mas provavelmente não entende uma palavra do que estou dizendo, não é? — Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para todos os lados como se estivesse tentando descobrir o que estou dizendo. — Sim, — eu sussurro, puxando-o para o meu peito novamente. — Então, só não desapareça, tudo bem? Este lugar não é seguro. Para nenhum de nós dois. Se você tivesse visto o que eu acabei de —
— Emerson? — A voz do Roarke do outro lado da porta me faz tremer. Eu não tenho ideia de como ele vai se sentir sobre a ideia de um animal de estimação metamorfo aparecendo aqui, então eu corro para o quarto e coloco Bandit na cama. — Fique aqui, — eu sussurro para ele antes de fechar a porta. Com os membros ainda tremendo, eu atravesso a sala de estar e abro a porta principal apenas o suficiente para espiar através da abertura para Roarke.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Outro breve lampejo de sangue e carne sendo rasgada cruza minha mente. Eu engulo, achatando uma mão no batente da porta e a outra na parte de trás da porta. Se recomponha, eu silenciosamente instruo. Você escolheu vir aqui. Você escolheu essa opção para ajudar sua mãe. Agora faça o trabalho. — Sim, obrigada. Eu vou ficar bem. Foi apenas um pouco de choque, só isso. Ver... isso. — Duvido que seja necessário elaborar exatamente o que estou me referindo.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Hum... tudo bem.
Nós nos sentamos lado a lado no divã com uma quantidade respeitável de espaço entre nós. Arrisco-me a olhar para a porta fechada que nos separa do quarto. Espero que Bandit seja inteligente o suficiente para saber que ele precisa permanecer escondido. — Eu sinto muito que você teve que ver isso, — diz Roarke. — Eu sei que deve ter parecido brutal e cruel, mas isso não aconteceu sem nenhum motivo. Aquele homem desobedeceu ao rei e a consequência foi à morte.
Eu respiro devagar. Já que Roarke parece estar esperando por uma resposta, eu digo, — Tudo bem.
— Eu só queria explicar porque eu não quero que você tenha medo de viver aqui. Esse homem era um criminoso. Ele e vários outros roubaram do meu pai. Ele mereceu a morte. Mas para aqueles de nós que seguem as regras, a vida aqui é boa.
Para aqueles de nós que seguem as regras. As garantias de Roarke só aumentam meu medo. Não estou planejando seguir as regras. Estou planejando roubar conhecimento e depois fugir para salvar a minha vida. — Eu sei, — eu digo baixinho. — Compreendo. Como eu disse, foi apenas um choque. Eu só estou aqui há alguns dias e tudo é muito... diferente. Eu ainda estou me acostumando com isso. — Eu engulo. — Eu acho que poderia ajudar a me deixar à vontade se eu soubesse com certeza que posso confiar em você. Se você pudesse me contar algumas coisas — sobre minha mãe, então eu sei que você pode realmente me ajudar.
Ele se inclina para trás sobre uma mão e me observa enquanto sua expressão séria se transforma em diversão. — Na verdade, você não é tão mal nisso quanto Aurora pensou. Ainda bastante transparente, mas estou impressionado que você esteja tentando.
Eu estreito meus olhos para ele. — Tentando o quê?
— Reverter esta situação ao seu favor. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Estou curioso. Essa cena com meu pai realmente a incomodou, ou toda a sua reação é um artifício para que você possa tentar manipular alguma informação de mim?
Minha boca cai aberta por conta própria. Fecho-a rapidamente e cerro os dentes enquanto respondo. — Claro que fiquei chateada com isso. Foi horrível. — Eu me inclino para longe dele. — Você ficou motivado por alguma preocupação genuína quando decidiu vir ao meu quarto, ou isso faz parte do jogo que você está jogando?
Ele sorri de novo, mas desta vez é mais suave. — Eu sinto muito. Parece que nós dois ainda estamos nos descobrindo. E sim, minha preocupação por você era genuína. Eu não sou tão cruel que não signifique nada para mim ver você chateada. Podemos estar prestes a formar uma das uniões menos românticas da história, mas isso não significa que eu não vou, pelo menos, tentar cuidar de você.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, me apertando mais forte que o normal. — Bem, no caso improvável de você estar dizendo a verdade, obrigada por tentar.
Ele me examina por mais alguns instantes. — O que posso dizer para convencê-lo de que estou sendo sincero?
— Você poderia começar com...
— Devo lhe falar sobre a pequena casa em que você cresceu? Número vinte e nove Phipton Way. Devo lhe falar sobre as rosas silvestres que sua mãe adorava cultivar no jardim? Ou sobre a amiga que costumava visitá-la às vezes? Aquela que sempre acabava discutindo com sua mãe. Aquela que você nunca conheceu, porque sempre lhe disseram para ir ao seu quarto. Ou que tal o momento em que sua mãe apareceu para buscá-la na escola uma hora mais cedo e ficou do lado de fora da cerca falando com coisas que não estavam lá? Contar a você sobre essas coisas é suficiente para provar a você que eu sei mais sobre sua mãe do que qualquer um que tenha tentado ajudá-la até agora?
Um arrepio percorre minha espinha. — Como você sabe dessas coisas?
Suas sobrancelhas se apertam levemente. — Você ainda não entende, não é? Você não entende como você é valiosa. Quando eu ouvi sobre a sua Habilidade Griffin, minha prioridade foi aprender tudo o que pudesse sobre você. Procurei sua tia, depois sua mãe e depois a única pessoa que ligava Daniela e Emerson Clarke a este mundo.
— Que pessoa?
— A pessoa que sabe quem você é. A pessoa que fez sua mãe do jeito que ela é.
Meu coração troveja perigosamente rápido. — Conte.
Ele simplesmente balança a cabeça. — Tudo será revelado depois da nossa união.
Eu sacudo minha cabeça, moendo as palavras entre os meus dentes. — E você quer que eu acredite que você não é cruel.
— Eu não sou, — ele diz baixinho. — É só que você não é a única pessoa que quer alguma coisa. Eu também quero algo, e não confio que você me dê a menos que eu retenha informações de você.
— Eu vou fazer esta união.
— Mesmo? Isso é honestamente o que você está planejando fazer?
Droga. Existe algum tipo de magia acontecendo aqui que diz a ele que estou mentindo? Aquela poção de compulsão ainda está funcionando? Mas ele não me obrigou especificamente a dizer a verdade. — Sim, — eu digo a ele, querendo acreditar que é a verdade. — É o que estou planejando fazer.
— E ainda assim você não pediu detalhes sobre como eu vou cumprir o meu lado do acordo uma vez que a união tenha acontecido. Como exatamente sua mãe será acordada e curada? Eu vou te ensinar os feitiços e deixar você ir até ela? Vou insistir em fazer isso sozinho? O que vai acontecer com sua mãe quando ela estiver bem?
Droga. Ele me pegou. — Eu tenho muitas perguntas para você, Roarke, mas você não está exatamente por perto para que eu faça. Você só voltou algumas horas e não tivemos muito tempo para conversar antes que seu pai quisesse me ver.
— Verdade. Bem, então, você quer perguntar como as coisas vão funcionar depois da união?
Eu inclino meu queixo para cima. — Como as coisas vão funcionar depois da união?
Ele suspira. — Por que você é tão resistente? Entendo que não é o ideal se casar com alguém que você acabou de conhecer, mas não é como se você estivesse tendo uma vida desapontadora em comparação com esse acordo. Eu estou te oferecendo tudo. Uma bela casa, uma família poderosa, riqueza além de qualquer imaginação. E não me diga que você não quer nada disso porque todo mundo quer isso. E não há nada de errado em querer isso. Você será uma das poucas sortudas que vai conseguir ter tudo.
— Você está certo, — eu digo baixinho, desdobrando meus braços e colocando minhas mãos no meu colo. — Eu sou muito sortuda.
— Então, quando estivermos casados, eu irei até sua mãe e —
— Não, — eu interrompo. — Você — eu vou. Eu vou buscá-la e trazê-la de volta para cá. — Eu paro. — Você não iria me impedir de fazer isso, não é? De ir buscá-la? Quero dizer, obviamente eu voltaria.
— Obviamente, — ele repete. — Mas isso não significa que meu pai ficaria feliz com você saindo. Se você não quer que eu busque sua mãe, e você não tem permissão para buscá-la também, entre em contato com quem quer que seja que a mantenha segura e marque uma reunião. Em um local neutro, que seus ‘amigos’ não precisem se preocupar serem descobertos. Vou mandar algumas pessoas buscarem sua mãe. Meus homens mais confiáveis.
Eu considero sua sugestão. — Bom. Se esse é o único jeito.
— Quando ela estiver aqui, eu vou acordá-la. Eu vou curar sua mente. Então ela vai poder dizer a verdade sobre tudo. Você pode finalmente ter todas as suas perguntas respondidas. Ela pode ficar aqui também, e você pode finalmente parar de se preocupar com ela. Parar de lutar, pare de se debater. A vida será boa para você, Emerson.
— Soa perfeito.
— Soa? Eu sei que você gosta de sarcasmo, então me perdoe por duvidar de você.
Eu reviro meus olhos. — Obviamente não é perfeito, mas é o mais próximo da perfeição que a vida poderia ser, então se casar com você é o único jeito de chegar lá, então eu farei isso.
— Mesmo?
— Sim.
Ele se inclina para frente e segura uma das minhas mãos. Ele olha atentamente para os meus olhos, e embora eu não me sinta diferente, não posso deixar de me perguntar se ele está tentando usar algum tipo de feitiço de discernimento mágico do qual não sei nada. — Você está mentindo para mim, Emerson?
Eu sacudo minha cabeça, desejando não desviar o olhar dele. — Não estou mentindo. Minha mãe é a pessoa mais importante do mundo para mim. Eu faria qualquer coisa para deixá-la melhor. — E percebo quando termino de falar que estou dizendo a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela — e isso inclui se casar com um príncipe que mal conheço. Então, se não houver saída para isso, se for impossível conseguir as informações que eu preciso de Roarke antes do casamento, então eu farei isso. Vou casar com ele. E mamãe finalmente será a mãe feliz e saudável que eu me lembro.
E então...
Um dia, não importa quanto tempo demore, não importa quanto tempo eu leve para descobrir exatamente como fazer isso, eu vou tirar nós duas daqui.
Capítulo 06
— SIM, MUITO BEM, — AURORA FALA PARA MIM ATRAVÉS DO TERRAÇO CONFORME eu balanço o braço do meu parceiro de dança, dou voltas, passo por trás dele, e volto à nossa posição inicial. Depois de aplaudir brevemente, Aurora acrescenta, — Você só estragou tudo uma vez desta vez.
— O quê? — Eu me afasto do jovem que tem sido meu parceiro. Primo de Aurora ou primo de segundo grau ou algo nesse sentido. Meu futuro marido é aparentemente muito importante ou ocupado demais para esse tipo de coisa. — Eu pensei que eu fiz tudo certo.
— Não, a parte no começo logo depois de você tocar as palmas das mãos? Você virou para o caminho errado.
Eu reviro meus olhos. — Você realmente acha que alguém vai notar?
— Sim. Em um salão de baile cheio de casais dançando, quando todo mundo se vira para um lado e você vira para o outro, isso certamente será perceptível.
— Tudo bem. Eu presumo que você vai me dizer para fazer de novo? — Eu tenho praticado por horas, mas sei que Aurora não vai ficar feliz até que eu esteja completamente certa.
— Sim, — diz ela com um aceno de cabeça.
Então eu encaro meu parceiro e tento não suspirar muito alto quando começamos de novo. Pelo menos minha roupa é bastante fácil de se mover. Depois do meu aterrorizante encontro com o rei, deixei de lado a minha teimosia e dei uma olhada no meu guarda-roupa — e descobri que não detestava as roupas tanto quanto esperava. Nem todas eram vestidos fofos, fiquei feliz em ver. São mais como combinações de calças e vestidos justos, alguns com longas mangas enfeitadas e pescoços altos, outros sem mangas e luvas cobrindo todo o braço. Com o passar dos dias, passei a apreciar os ricos detalhes e estilos exóticos usados pelos membros da Corte Unseelie. E quanto mais eu penso sobre isso, mais sentido faz em um mundo cheio de magia e encantamento, que a roupa seria tudo menos comum.
Ou talvez eu esteja simplesmente me acostumando a estar aqui, o que é um pensamento aterrorizante.
Nós dançamos a dança mais três vezes antes de Aurora finalmente nos deixar parar. Seu primo, que parecia que poderia se esfaquear se forçado a me girar mais uma vez, corre antes que Aurora consiga ordenar outra tarefa chata para ele. — Noraya, vamos tomar refrescos agora, — diz ela, acenando passando por mim para onde sua criada está esperando na porta da biblioteca.
Eu me junto a Aurora do outro lado do terraço e sento no banco balançando ao lado dela. É apenas uma única videira, e tenho um pouco de receio de colocar todo o meu peso no hemisfério oco. Mas Aurora continua me dizendo para não duvidar da magia, e seu banco está perfeitamente bem até agora. Depois de alguns momentos, relaxo contra as almofadas e levanto os pés para que eu possa balançar gentilmente para frente e para trás. Eu olho para o jardim, mas não há muita coisa acontecendo. O terraço da biblioteca fica em um lado mais silencioso do palácio.
— Então, agora que posso dançar sem errar, — digo a Aurora, balançando meu banco para encará-la, — podemos fazer algo mais emocionante esta tarde? Como arco e flecha? Eu estava começando há ficar um pouco menos que terrível em nossa última lição. Ou eu poderia te mostrar mais movimentos de parkour. Você poderia experimentar alguns deles desta vez, em vez de apenas me observar.
Ela ri e balança a cabeça para minha aparente tolice. — Você não acha que acabou as aulas de dança, não é? Você aprendeu uma dança, Em. Agora você precisa aprender o resto delas. E só temos três dias até o baile de aniversário de mamãe.
Meus pés caem no chão. — Sério? Eu tenho que aprender todas as danças?
— Sim. Vai ser bastante ruim quando as pessoas descobrirem que a futura princesa é alguém que passou toda a sua vida no reino humano e não sabia nada deste mundo até algumas semanas atrás. Se eles não virem você usando magia ou dançando todo tipo de dança, será ainda pior.
— Espere, você quer que eu use magia no baile? Na frente das pessoas?
— Claro. — Ela move a mão em um círculo, e seu banco começa a girar lentamente. — Deve estar tudo bem, não é? Você pode lidar com o básico agora.
— Sim, eu só não sabia que isso era esperado, só isso. Eu tentarei não esquecer.
— Essa é a coisa, Emerson. — Sua voz me alcança do outro lado do seu banco. — Você precisa chegar ao ponto em que não precisa se lembrar. Deve se tornar uma parte automática de sua vida diária, usando até mesmo para as tarefas mais simples.
— Soa um pouco como preguiça para mim.
— Você sabe o que é preguiça? — Ela faz seu banco parar quando ela está de frente para mim e toca distraidamente o pingente em volta do pescoço: uma forma oval prateada com uma pedra negra no centro. — Sentar em frente a uma tela brilhante e assistir sem pensar imagens em movimento.
Eu dou a ela o meu olhar nada impressionado. — Você está se referindo a TV e filmes? Porque isso não é preguiça. É entretenimento e faz parte da —
— Parte da vida humana. Assim como a magia faz parte da vida dos faeries. Faz parte da sua vida agora, Em, então se acostume com isso.
— Tantas coisas que tenho que me acostumar, — eu penso, olhando através do jardim novamente.
— Sim, como roupas bonitas, feriados exóticos, festas luxuosas e isso é o esperado pelo resto de sua vida.
— Eu estava me referindo mais a este mundo e sua política e geografia e história e criaturas e... tudo, — eu digo baixinho. — É tudo muito diferente da vida em que cresci.
— Verdade, — ela diz. — É por isso que você deve se concentrar com as coisas frívolas. É muito mais fácil se acostumar. O resto seguirá com o tempo.
Eu aceno, apesar do fato de que eu não concordo com ela. Eu não posso dizer a ela que ainda estou determinada a encontrar uma saída para tudo isso. Mesmo agora, depois de lições intermináveis de magia, etiqueta e dança, depois de longas discussões sobre os detalhes da cerimônia de união, eu ainda não consigo imaginar este casamento realmente acontecendo. Eu sei que provavelmente estou em negação. Eu sei que é improvável que Roarke me conte mais alguma coisa sobre minha mãe até nos casarmos. Mas eu não vou desistir até o momento em que a cerimônia de união começar.
Noraya retorna então com dois copos altos flutuando na frente dela. Ela é tão boa nessa coisa de levitação que nem precisa usar as mãos. Elas permanecem perfeitamente atrás das suas costas enquanto ela caminha para frente, os olhos apontados com firmeza à frente, em vez de observar os copos flutuantes. — Limonada, Sua Alteza, — diz ela quando nos alcança.
Eu me empurro para frente e fico de pé enquanto um dos copos se move em direção a Aurora. Eu envolvo minha mão em torno do outro. — Obrigada, Noraya. — Ela arrisca um olhar para mim, sorri, então olha apressadamente para longe.
— Você precisa superar isso, — Aurora me diz uma vez que Noraya caminha de volta para a porta da biblioteca. — Não há nada de errado em ser esperado.
Eu me acomodo com cuidado em meu banco sem derramar minha bebida. — Eu não gosto de relaxar e receber as coisas. Parece apenas... rude.
— É grosseiro impedi-la de fazer seu trabalho corretamente.
— Bem, de qualquer maneira, ela sorriu para mim, então eu acho que ela não se importou.
Aurora abaixa o copo e pisca. — Ela sorriu para você?
— Quero dizer, não para mim, — acrescento apressadamente, não querendo colocar Noraya em problemas. — Não de um jeito indelicado. De qualquer forma, queria perguntar a você sobre os vestidos para o baile de aniversário da sua mãe. Eu suponho que você vai me dizer o que eu devo vestir? Eu não acho que posso ser confiável para escolher o tipo certo de vestido.
Aurora estreita os olhos com a mudança abrupta de assunto, mas ela deixa passar. — Sim. Mamãe e eu mandamos fazer três vestidos para você. Nós decidiremos qual escolher quando soubermos o que Roarke estará usando.
— Certo. Claro. Porque seria terrível se as cores entrassem em confronto ou algo assim.
Ela revira os olhos e cutuca meu joelho com o sapato. — Seria terrível. Vocês dois precisam parecer o par perfeito.
— O que é bobo, porque nunca seremos um casal perfeito. Nós nem sequer — Oh. — Eu sento um pouco para frente. — Minha Habilidade Griffin. Eu posso senti-la chegando. — No tempo em que estou aqui, eu fiquei mais sintonizada com a sensação da minha magia. Ser forçada a manter registros intermináveis da magia comum que uso todos os dias, o quanto eu como, o quanto estou cansada ou energizada, e exatamente quando minha Habilidade Griffin aparece me tornou mais consciente de cada pequena mudança na minha magia.
— Ah, é quase na mesma hora que as últimas manhãs, certo? — Aurora diz. — Um pouco antes da hora do almoço?
— Sim. E eu usei muito mais a minha magia normal do que o habitual na noite passada tentando derreter aquela fonte, então provavelmente podemos dizer com certeza agora que níveis mágicos comuns não têm muita influência na minha magia Griffin.
— Excelente. Não se esqueça de adicionar isso ao seu caderno. Acho que temos uma ideia razoavelmente boa de como sua habilidade funciona agora, mas você provavelmente deve continuar acompanhando-a por mais algumas semanas. Só assim podemos ter certeza.
Eu achava que a minha Habilidade Griffin não fazia nenhum sentido quando se revelou pela primeira vez, mas talvez, como Aurora sugeriu, ainda estivesse ‘se estabelecendo’ durante os meus primeiros dias neste mundo. Desde então, meu excessivo registro revelou um padrão bastante regular: Minha Habilidade Griffin aparece duas vezes ao dia, com aproximadamente doze horas de diferença, mais ou menos uma ou duas horas. E durante esse tempo, não há nada que eu possa fazer — além de pegar o elixir, que agora está esgotado — que fará com que apareça. O que significa que é provável que a teoria de reabastecer de Aurora esteja correta.
Eu abaixo meu copo de limonada e sento na beira do meu banco. Eu fecho meus olhos e tento prever o momento exato antes de sentir aquela sensação de formigamento na minha espinha. — Eu imagino como se fosse um vulcão se preparando para entrar em erupção, — murmuro. — A pressão se acumula dentro de mim e, de repente, tudo corre para a superfície, pronto para explodir.
— O que Roarke obrigou você a dizer desta vez? — Aurora pergunta.
Assim como o rei instruiu, Roarke me dá uma poção de compulsão todos os dias — bem, duas vezes por dia, agora que descobrimos o padrão — e me diz exatamente o que dizer quando minha Habilidade Griffin está pronta para ser usada. — Ele me obrigou a tentar preservar o poder, se possível. Se não, então eu devo dizer para todas as rosas amarelas no jardim para ficarem azuis.
— Ugh, que comando estúpido. Ele realmente precisa encontrar alguns usos mais interessantes para sua magia. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja te deixando praticar. Você precisa aprender a dominá-la, Em.
— Sim. — Eu aperto minhas mãos e fecho minha boca enquanto a magia Griffin ondula através de mim, exigindo ser liberada. Segure-a, segure-a, segure-a, eu silenciosamente me instruo. E quando tenho certeza de que a magia está prestes a se libertar de mim, me forçando a falar às instruções que Roarke me deu, apenas... não. Lentamente, começa a parecer menos esforço segurá-la. Eu abro meus olhos, minhas mãos relaxando no meu colo. — Eu acho que eu consegui, — eu digo com um sorriso. — Eu ainda posso sentir o poder lá, como um zumbido estranho logo abaixo da minha pele. Eu me pergunto por quanto tempo eu posso —
O poder corre para fora de mim, tornando minha voz mais profunda e ressonante. — Toda rosa amarela no jardim ficará azul, — eu digo.
Aurora se senta um pouco para frente, olhando além de mim. Depois de um momento, ela diz, — Funcionou. Eu consigo ver apenas alguns arbustos de rosas amarelas daqui, mas elas ficaram azuis.
Eu caio de volta contra minhas almofadas, fazendo meu banco balançar com movimentos bruscos e oscilantes. — Merda, foi apenas um minuto.
— Bem, talvez você tenha se empolgado cedo demais. — Aurora se inclina para trás e toma um gole de sua limonada. — Tente por mais tempo na próxima vez antes de me dizer ‘consegui’. Tudo que você precisa é praticar.
— Maravilha. Outra coisa para praticar, — eu digo com um suspiro.
— Diga ao Roarke para obrigá-la a segurá-la, não apenas para tentar. E nada disso ‘Se você não conseguir, então é isso que você vai dizer.’ Ele basicamente está lhe dando permissão para falhar.
— Mm. — Eu estou esperando pelo dia em que Roarke estará ocupado o suficiente para esquecer de me obrigar. Esse é o dia em que vou me certificar de que eu esteja com ele exatamente no momento certo. Vou ordenar a ele que anote todos os feitiços necessários para acordar e curar minha mãe. Então, se restar alguma coisa da minha Habilidade Griffin, vou usá-la para sair daqui.
— Você não quer terminar sua limonada? — Aurora pergunta, levantando meu copo do chão com um simples aceno de sua mão. — Você precisa se manter hidratada, se quiser sobreviver ao resto das aulas de dança do dia.
Eu pego o copo do ar e tomo o restante da limonada. — Você vai ter que encontrar outro membro disposto em sua corte para ser meu parceiro, — eu a lembro, — e seu primo provavelmente já disse a todos para evitarem a mim e a minha dança terrível, então... Oh. Isso é uma ideia.
— O quê?
— Você acha que funcionaria se eu usasse minha Habilidade Griffin para dizer a mim mesma que eu posso dançar perfeitamente a dança das fadas?
— Uh... — A expressão de Aurora fica pensativa. — Hmm. Eu imagino. Quero dizer, como funciona a sua magia Griffin em primeiro lugar? Ela obedece às suas palavras exatas ou à sua intenção por trás das palavras? Funciona de acordo com o que você está imaginando quando ordena alguma coisa? Nesse caso, a coisa da dança não funcionaria porque você não sabe e, portanto, não consegue visualizar todos os passos das outras danças. E outra coisa, — acrescenta ela, batendo na lateral do copo com as unhas. — Se você me disser para fazer algo, mas a maneira que eu entendo seu comando não é da mesma maneira que você quis dizer, qual intenção a magia obedecerá? Sua ou a minha?
Eu inclino minha cabeça contra as almofadas. — Eu não tenho ideia, mas estou começando a desejar que esta Habilidade Griffin viesse com um manual de instruções.
— Experimentação, Em. Isso é tudo que requer.
— Claro, mas é frustrante quando tenho que esperar meio dia entre cada nova experiência.
— A menos que você possa se agarrar ao seu poder e usar um pouco de cada vez.
— Talvez. — Eu viro no meu banco para encarar as portas da biblioteca quando passos soam no terraço.
— Sua Alteza, — diz Clarina quando nos alcança. — Minha senhora, — acrescenta ela, direcionando suas palavras para mim antes de virar de volta para Aurora. — Phillyp está pronto para a sua aula.
— Oh, maravilha. — Aurora entrega seu copo de limonada pela metade para Clarina antes de se levantar.
— E sua mãe acabou de enviar uma mensagem para dizer que gostaria de discutir alguns detalhes do baile com você.
— Mamãe sempre escolhe fabulosamente o pior momento, não é? — Aurora diz com um suspiro. — Ela vai ter que esperar.
— Claro, Sua Alteza. Devo dizer a ela o habitual?
— Sim. Diga a ela que estou no meio da minha aula de arco e flecha. Eu vou direto para ela assim que terminar.
Clarina acena com a cabeça uma vez. — E devo escoltar Lady Emerson de volta para seus aposentos?
— Hum... não, na verdade. Em vem comigo desta vez. — Aurora me dá um sorriso perverso. — Eu confio em você agora para manter meus segredos.
Depois de uma rápida reverência, Clarina sai. — Poxa, — eu digo. — Estou chocada ao descobrir que a princesa perfeita está guardando segredos de sua própria mãe.
Ela dá no meu braço uma tapa brincalhona. — Não, você não está. Além disso, não é grande coisa. É apenas algo que minha mãe não aprova. — Em vez de voltar para dentro, ela sai do terraço para a grama.
— Sua mãe não aprova você treinar arco e flecha também, — aponto enquanto a sigo, — mas ela não impediu você de ter aulas.
— Sim, bem, eu disse a ela que era ou tiro com arco ou combate mágico, e não havia como ela permitir que sua pequena princesa aprendesse um combate mágico.
— Que é o quê, exatamente? — Eu me inclino quando uma borboleta prateada e uma lagartixa com asas — uma correndo atrás da outra — voam muito perto da minha cabeça.
— Você sabe como quando você se baseia em seu poder e, em sua forma mais básica, é apenas o poder cru em suas mãos? — Diz Aurora.
— Sim. — Foi essa a lição que recebi de Azzy na Chevalier House.
— Bem, tudo que você faz é jogar essa magia em alguém. Quero dizer, há mais do que isso. Aqueles que são treinados em combate mágico muitas vezes transformam sua magia em outras coisas. Pedras ou lâminas ou bandos de aves com bicos afiados. Algo que pode mais facilmente derrubar um adversário do que apenas algumas faíscas. Mas sua mente tem que ser muito rápida. Você tem que ser capaz de moldar sua magia mentalmente assim. — Ela estala os dedos. — Mais e mais, enquanto também se protege.
Eu olho em volta enquanto nos afastamos do palácio. Esta parte do jardim não me é familiar, e tudo o que posso ver à frente é um bosque de árvores. — Então a rainha não queria que você aprendesse essa habilidade?
— Não. Não é coisa de princesa. Temos guardas para lutar por nós, se necessário. Ela concordou com arco e flecha, porque tudo o que isso implica é atirar flechas em objetos inanimados que não atiram de volta em mim.
— Muito mais civilizado, — comento. — Mas isso claramente não era ousado o suficiente para você, então você teve que tentar outra coisa.
— Sim.
— Algo que sua mãe certamente não aprovaria.
— Exatamente.
— E o que é?
Um sorriso estende em seus lábios conforme alcançamos as árvores. — Montar em um dragão.
Capítulo 07
MEUS PASSOS PARAM. — ESPERE. — LEVANTO UMA MÃO. — Espere, espere, espere. Vocês têm dragões?
— Sim. — Aurora se vira para olhar para mim. — Você não os viu voando de vez em quando?
— Bem... eu vi alguma coisa no céu. Eu presumi que eram pássaros grandes, ou algum tipo de criatura voadora que ainda não conheci.
Ela cai na gargalhada. — Pássaros grandes? Mesmo?
— Eu só os vi de longe, — Eu digo defensivamente. — Era difícil julgar o tamanho.
— Bem, você está prestes a vê-los de perto.
Eu pisco. Meus pés ainda não se movem. — Caramba, — eu sussurro.
— O quê? Você não está com medo, não é?
— Não. Quero dizer, talvez. Provavelmente. Estou tendo apenas um daqueles momentos em que me pergunto se estou realmente sonhando. Estamos falando de dragões, Aurora. Eu cresci pensando que eles só existiam na ficção, e agora estou prestes a ver um? Meu cérebro não faz ideia de como reagir a isso.
— Vamos. — Ela pega meu braço e me puxa para frente. — Seu cérebro tem um minuto ou dois para entender as coisas. Os cercados dos dragões estão do outro lado dessas árvores.
— Dragões, — murmuro. — Você tem dragões. Dragões de verdade.
— Nós costumávamos ter gárgulas também, — acrescenta ela. — Bem, por 'nós' quero dizer a geração anterior da realeza. Gárgulas não são tão grandes quanto dragões, mas são assustadores, foi o que eu ouvi. Eles costumavam ficar de guarda no topo do palácio, mas todos desapareceram há algumas décadas.
— Sério? — Eu penso na criatura que Ryn estava montando quando ele me salvou de cair para a minha morte da beira de um precipício. Tenho certeza que era uma gárgula.
— Sim, meu pai tem sido rei por alguns anos, e as gárgulas nunca pareciam gostar dele. Um dia todos voaram para longe e ninguém os viu desde então.
— Que estranho, — eu digo devagar. Eu não mencionarei a Aurora que fui resgatada por um rebelde Griffin sobre uma gárgula, mas não posso deixar de me perguntar se é uma das gárgulas que moravam aqui.
Nós andamos além das árvores, mas ainda não vejo dragões. Ou cercados, por falar nisso. Eu olho para cima, mas também não há nada no céu. — Você terá que olhar para baixo, — Aurora me diz. — Ali.
Meu coração bate mais rápido quando nos aproximamos da borda de um buraco cavado no chão. Gradualmente, à medida que a borda fica visível, sou capaz de distinguir o tamanho desse buraco. O outro lado é de vários tamanhos de campos de esportes de distância. Paramos a uns trinta centímetros da beirada e olho para um ambiente exuberante e parecido com uma selva. Por um momento, eu me esforço para distinguir qualquer tipo de criatura entre as árvores e plantas coloridas, mas então algo se move. Um pescoço grosso e coberto de escamas. Uma cabeça gigantesca, subindo e girando lentamente para nos encarar até que esteja quase nivelada com o topo do poço.
— Em, — Aurora diz, — conheça Imperia.
O corpo do dragão brilha azul-verde e púrpura enquanto ela se move, e os enormes ferrões ao longo das suas costas são rosados e avermelhados. Sua cauda, terminando em forma da ponta de uma flecha verde, gira ao redor, derrubando facilmente uma fileira de arbustos. Então ela fica imóvel, inclina a cabeça um pouco para o lado e me observa com os olhos brilhando como brasas laranja ardentes.
— Ela é linda, não é? — Aurora diz.
Minha boca está aberta, minha língua está seca e meus pés estão enraizados no lugar — apesar do fato de que uma voz muito insistente no fundo da minha mente está gritando para eu fugir para salvar minha vida. — Incrível, — eu sussurro.
— Cada poço pertence a um dragão diferente. A Imperia sempre preferiu um ambiente tropical, mas o próximo poço está cheio de gelo. E o mais distante — que nos levaria algum tempo para caminhar — é profundo o suficiente para conter uma montanha.
— Uau. E eles podem voar para fora de seus poços sempre que quiserem? — Minhas pernas finalmente se lembram de como andar, e dou um passo trêmulo para trás conforme Imperia levanta a cabeça um pouco mais alto.
— Não, há um escudo invisível por cima. Os dragões não estão autorizados a menos que estejam com um cavaleiro.
— Tudo bem. — Eu engulo. — E percebo que não há paredes ao redor desses poços. O escudo pegaria alguém se caísse?
Aurora parece despreocupada quando ela diz, — Não.
— Mas... então...
— Se alguém for estúpido o suficiente para cair em um poço com dragão, então eles merecem ser comidos. Mas Imperia provavelmente não faria isso. Não com quem ela conhece, pelo menos. Ela é muito amigável. Então. — Ela se vira para mim. — Você quer montá-la?
Não tenho certeza de quanto tempo minha boca está aberta antes que eu finalmente responda. — Eu... na verdade... quero.
Aurora sorri para mim. — Eu gosto de você ainda mais agora. — Ela se abaixa e passa a mão ao longo da grama. Enquanto se endireita, uma linha cor de ouro forma um círculo perfeito ao nosso redor. Sem aviso, o chão estremece. O pedaço de terra circular em que estamos posicionadas se separa do chão e começa a descer.
— Uau. — Eu levanto minhas mãos e me firmo. — Então, estamos descendo para o poço?
— Sim.
— E, hum, eu estarei com alguém quando estiver montando esse dragão? Um profissional treinado?
— Você vai estar comigo.
— Mas... você ainda está aprendendo, não está? Clarina disse algo sobre... Phillyp estar pronto para a sua aula?
— Isso é apenas o que minhas criadas foram treinadas para me dizer quando Phillyp informa a uma delas que a barra está limpa para eu vir aqui. Sabe, quando não há ninguém por perto que possa dizer a minha mãe que eles viram a princesa nas costas de um dragão. Eu recebi lições no começo, é claro, mas elas terminaram há muito tempo. — Ela olha para mim. — Você não acredita que eu sei o que estou fazendo, Em?
— Hum... eu quero confiar em você. — Eu vejo a terra escura subindo rapidamente em torno de nós, em seguida, levanto os olhos para o pedaço circular do céu cada vez menor.
Aurora ri. — Bem, eu não vou forçar você, Em. Mas você sabe que vai se arrepender de ter ficado no chão assim que me ver voando no ar.
De alguma forma, sei que isso é verdade.
O elevador de terra mágico estremece silenciosamente até parar. Em poucos segundos, um túnel se forma à nossa frente, curto o suficiente para que eu possa ver a vegetação exuberante do outro lado. Eu sigo Aurora, hesitando na boca do túnel e olhando em volta procurando por Imperia. Através das árvores, vejo as escamas marinhas e roxas de uma de suas pernas.
— Oi, Phillyp, — Aurora diz, saindo direto do túnel e para a direita.
— Princesa, — diz uma voz masculina. — Estou feliz que você pôde vir. Imperia não voou por dois dias. Eu acho que ela está ansiosa para abrir suas asas corretamente.
Depois de outro olhar por cima do meu ombro em direção a Imperia, corro atrás de Aurora. Ela está falando com um homem magro encostado na porta de uma sala construída na lateral do poço. Sua cabeça está raspada, e a ferida brilhante em seu braço parece ter sido queimada recentemente. — Ooh, ai, — Aurora diz, inclinando-se para olhar seu braço. — Imperia fez isso?
— Sim. A culpa é toda minha, e você sabe que estou acostumado.
— Sim. E vai sumir em breve, tenho certeza, — Aurora diz enquanto se endireita. — Phillyp, esta é Em. Minha nova amiga. Ela vai montar comigo hoje, então, por favor, use a sela dupla.
Phillyp faz uma pausa por apenas um momento antes de inclinar a cabeça. — Claro, Sua Alteza. — Ele se vira e desaparece na sala.
— Ele não acha que é uma boa ideia, — murmuro para Aurora.
— Absurdo. Ele sabe que sou perfeitamente capaz de levar mais alguém comigo. É só que eu trouxe uma das minhas damas de companhia uma vez, e ela gritou o tempo todo que estávamos no ar. Imperia não ficou impressionada e nem Phillyp. — Ela estala os dedos perto da parte de baixo da saia e percebo um breve brilho antes que a faísca da sua magia desapareça. — Mas você não planeja gritar como uma garotinha, não é, Em?
Decido não perguntar a Aurora exatamente como ela sabe que Imperia não ficou impressionada. — Não. Obviamente, eu não pretendo gritar como uma garotinha.
Um conjunto de escadas, pairando a poucos centímetros acima do solo, desliza para fora da sala e passa por nós em direção a Imperia. Um momento depois, Phillyp corre atrás do que eu suponho ser a sela flutuando à sua frente.
— Ah, finalmente, — diz Aurora. Viro para encará-la enquanto sua saia cai no chão, revelando uma calça justa na mesma cor que seu espartilho. — O quê? — Ela pergunta em resposta às minhas sobrancelhas levantadas. — Eu não posso montar um dragão com um vestido.
— Eu acho que não. Ainda bem que já estou usando calça.
Com um aceno de mão, a saia voa para a sala. — Você vai querer manter o cabelo longe do seu rosto. — Aurora me diz enquanto nos dirigimos através das árvores. Ela acena com a mão perto do seu cabelo, e os grossos cabelos roxos e pretos prontamente se organizam em uma trança. Uma fita cor de prata aparece e se amarra no final de seu cabelo.
— Preguiçosa, — murmuro, estendendo a mão para trançar meu cabelo com as mãos.
— De jeito nenhum, — ela responde. — Você logo perceberá que qualquer feitiço que poupe tempo em se preparar e permita que você permaneça mais no ar nas costas de um dragão por mais tempo é um feitiço que vale a pena memorizar. — Ela para na beira de uma clareira e olha para cima, as mãos dela nos quadris. — Eu vou te ensinar mais tarde.
Minhas mãos continuam trançando por vários segundos, enquanto percebo o tamanho do dragão, admirando de boca aberta. O conjunto de escadas é alto o suficiente para alcançar suas costas, e Phillyp fica em cima, prendendo as correias e fivelas da sela com magia. Imperia solta um bufo alto, emitindo fumaça pelas narinas.
Eu engulo. Com os dedos tremendo, eu termino de prender minha trança. Rápido, Phillyp desce os degraus e Aurora sobe. Ela pega as correias, sobe nas costas de Imperia e balança a perna sobre o assento da frente da sela. — O que você está esperando? — Ela pergunta quando olha para mim. Em vez de responder, eu lambo meus lábios. — Vamos, Em, não enlouqueça. Isto vai ser divertido.
— Eu sei. — Minha voz soa rouca e um pouco mais alta do que o normal. Eu pigarreio. — Estou animada. Eu realmente estou. Eu por acaso estou um pouco assustada ao mesmo tempo. — Eufemismo, meu coração batendo descontroladamente grita para mim. Que gigantesco. Maldito. Eufemismo.
Mas isso não muda o fato de que eu quero fazer isso. Então eu forço minhas pernas a subir os degraus. Em cima, dou um último suspiro profundo antes de colocar a mão contra as escamas suaves de Imperia. Abaixo do meu toque, a cor ondula e brilha. Eu agarro duas das correias e me puxo para cima. Graças a todas as paredes que subi nos últimos anos, meus braços são bem fortes. Uma vez que me acomodo no meu assento, a escada escorrega para longe do corpo de Imperia.
— Coloque essa alça em volta da cintura, — Aurora diz, virando-se e apontando para uma alça solta pendurada em um dos lados da sela. Eu coloco através do meu corpo e prendo-a através do círculo de metal do outro lado.
Então finalmente, olho para baixo. Estamos mais longe do chão do que eu imaginava e ainda não decolamos. Não é que eu tenha medo de altura, e não é que eu tenha medo de correr riscos. Val e eu realizamos muitos saltos, cambalhotas e descidas que poderiam facilmente nos ter levado ao hospital. Mas eu estava sempre no controle do meu próprio corpo então. Agora, estou cem por cento à mercê de outra criatura — e é aterrorizante.
Aurora segura às rédeas. Imperia levanta as asas e seu corpo rola para um lado e depois para o outro enquanto ela avança alguns passos. Eu inalo bruscamente e agarro o cume da sela que se eleva entre o assento de Aurora e o meu. As pernas de Imperia se dobram ligeiramente. Eu seguro minha respiração. Então, com um grande impulso para baixo de suas asas, ela se eleva no ar. Eu sinto um solavanco enjoativo na região do meu estômago. As asas de dragão batem no ar, as copas das árvores balançam descontroladamente e o chão se afasta de nós. Eu imagino despencar em direção ao chão. Eu quase grito que quero sair, mas fecho a boca, agarro mais à sela e digo a mim mesma que não vou morrer.
Nós subimos rapidamente, o palácio ficando menor e o território Unseelie ao redor aparecendo. As asas de Imperia diminuem o ritmo. Ela se inclina um pouco para o lado e, em seguida, voa pelos limites do palácio. E em meros segundos, meu terror dá lugar à pura alegria.
***
— Essa foi a coisa mais incrível que já fiz, — digo a Aurora no momento em que os pés de Imperia tocam o chão em seu cercado.
— Eu disse a você, — ela responde com uma risada. A escada chega um momento depois e nós duas saímos de nossos assentos. Eu paro na parte inferior e estendo a mão contra o lado de Imperia. — Eu vou poder fazer isso de novo?
— Claro, — diz Aurora. Ela tira a fita cor de prata e empurra os dedos pelos cabelos para libertá-los da trança. — Você pode vir comigo sempre que quiser. Phillyp pode dar-lhe aulas e, em breve, passará a montar sozinha. Então podemos levar nossos dragões juntos. Vai ser perfeito.
Seria se eu estivesse planejando ficar aqui. Eu dou um passo para trás e olho melancolicamente enquanto Imperia se afasta. Eu envolvo meus braços em volta de mim e mordo meu lábio. É assustador admitir isso para mim mesma, mas acho que realmente posso gostar de viver aqui. As manhãs passando descansando em balanços, as tardes passando deslizando pelo céu nas costas de um dragão. E com minha mãe saudável ao meu lado. Tudo que eu preciso fazer é olhar para longe de quaisquer atos horríveis que acontecer de eu testemunhar o Rei Unseelie cometendo. E de alguma forma viver com a culpa de qualquer ato horrível que ele me obrigue a cometer.
Não, eu sussurro silenciosamente. Eu não posso viver com isso. — É apenas a realeza que tem dragões? — pergunto a Aurora enquanto Phillyp envia a escada portátil de volta ao depósito.
— Não, mas eles são muito caros, então apenas os muito ricos estão em posição de possuir um.
— Certo. — Então eu deveria aproveitar todas as oportunidades de montar em um dragão enquanto eu ainda moro aqui. Depois que eu for embora, nunca poderei pagar por isso.
— Felizmente, — Aurora continua, — você está prestes a se tornar membro de uma família extraordinariamente rica. Você pode ter quantos dragões quiser.
— Se eu soubesse que isso era tudo o que precisava para conquistar você, — uma voz diz atrás de nós, — eu teria trazido você aqui há muito tempo, Emerson.
— Roarke, — Aurora diz quando nos viramos para encará-lo. — Procurando por mim?
— Sim. Eu pensei que poderia te encontrar aqui. Você, no entanto... — Ele olha para mim. — Bem, nas costas de um dragão não é onde eu esperava encontrar você.
— Ela adorou, — Aurora diz, juntando as mãos e sorrindo.
— Eu ouvi, — Roarke diz com um sorriso divertido. — O que você disse exatamente? — Ele me pergunta. — Foi a coisa mais incrível que você já fez?
— Bisbilhotar é rude, — eu digo a ele.
— Assim como manter segredos da minha mãe, mas eu vou continuar escondendo também, não se preocupe, — acrescenta ele quando Aurora abre a boca para protestar. — Ela não precisa saber sobre o seu passatempo favorito.
— Onde você esteve à manhã toda? — Pergunto conforme voltamos para o fundo do poço. — Eu pensei que você poderia se juntar a mim para a minha aula de dança.
— Eu estava... organizando um presente para você, meu amor.
Eu arqueio uma sobrancelha cética. — Houve muita hesitação em sua voz para que isso seja verdade.
— É verdade, eu prometo. Eu só estava pensando se deveria te contar ou não.
O túnel se materializa à nossa frente quando nos aproximamos da parede. — Tudo bem, se esse presente é de verdade, então quando vou recebê-lo?
— Assim que Yokshin terminar.
— Yokshin? — Eu me lembro desse nome de algum lugar.
— Sim. Ele é nosso mestre de invenções. É ele que ira reproduzir o seu elixir da Habilidade Griffin.
— Então... ele conseguiu ter sucesso?
— Não. — Saímos do túnel e subimos no pedaço de terra que levita. — Este é um presente diferente. Você vai ver... em breve.
Eu pressiono meus lábios enquanto o chão começa a subir. Eu poderia fazer mais perguntas, mas ele continuará me dando apenas metade das respostas.
— Por que você estava procurando por mim? — Aurora pergunta a seu irmão.
— Oh, você e eu temos algumas coisas que precisamos ver.
Aurora acena e olha para cima, sem dizer nada.
— Mais segredos que você está mantendo de sua amada? — Eu pergunto.
Roarke me dá seu sorriso malicioso. — Assim que você for minha esposa, todos os segredos serão revelados.
Capítulo 08
À MEDIDA QUE À TARDE DO BAILE DE ANIVERSÁRIO DA RAINHA CHEGA, FICO na varanda e ensaio minha história. Esta noite é à noite em que o Príncipe Roarke vai anunciar que ele escolheu uma esposa. Ele me apresentará, ‘a nova amiga estranha’ da princesa Aurora, e de repente todo mundo vai querer saber cada detalhe de quem eu sou e de onde eu sou.
Roarke e sua mãe pensaram em uma ideia de inventar um passado completamente diferente para mim — um que não envolvesse o mundo humano — mas eles imaginaram que a verdade seria descoberta em breve. E nenhum deles parecia acreditar que eu seria capaz de manter os detalhes de uma história inventada, então a maior parte do que me disseram para compartilhar com as pessoas é a verdade: eu cresci pensando que eu era humana, minha magia se revelou, a Guilda se envolveu para que eles pudessem me aprisionar e garantir que eu nunca machucasse ninguém, e então Roarke e seus homens apareceram para me resgatar. Eles me levaram de volta ao seu palácio para que eu pudesse viver como um membro livre na corte deles. Roarke e eu logo nos apaixonamos loucamente um pelo outro, e o rei aceitou nosso pedido para formar uma união. Então, tudo até o resgate é essencialmente a verdade. Depois disso... bem, eu de alguma forma tenho que fazer essas pessoas acreditarem que eu estou obcecada pelo príncipe deles.
Eu me inclino contra a balaustrada da varanda e olho ansiosamente para as perfeitas nuvens fofas bem acima de mim. Eu prefiro estar subindo os céus nas costas de Imperia, em vez de me preparar para enfrentar uma multidão da nobreza Unseelie. Ou montando aquele outro dragão que Phillyp montou comigo ontem. Bralox, acho que era o nome dele. Ou dançar danças simples com Dash nas margens da praia encantada dos rebeldes Griffin, em vez de tentar lembrar cada passo de cada dança oficial das faeries — já que a minha Habilidade Griffin não fez para me ajudar nesse departamento.
Batem na minha porta tão ruidosamente que posso ouvi-la da varanda. Olho por cima do ombro para ver Aurora dançando do outro lado da sala de estar e vindo para a varanda. — Está na hora! — Ela canta.
— Para quê? — Ela não pode estar se referindo ao baile. Ainda falta horas.
— Hora de começar a se vestir, é claro. É um longo processo envolvendo cabelo, maquiagem, joias — e, claro, ainda não escolhemos o seu vestido dos três que foram feitos para você.
— Oh. Tudo bem.
Seu rosto fica triste. — Por que você não está mais empolgada?
— Eu estou. — Eu coloco um sorriso que não parece de verdade. — É apenas... festas não são realmente minhas coisas preferidas. Na última que participei, minha magia explodiu de dentro de mim e quase matou minha melhor amiga.
— Confie em mim, Em, — Aurora diz com o tipo de sorriso que faz seus olhos brilharem. — Esta festa não vai ser nada como você imagina. E se isso não faz você se sentir melhor, aqui está algo que vai. — Ela tira a mão de trás das costas e me oferece uma caixa quadrada um pouco maior que a palma da sua mão.
— O que é isso? — Eu pergunto enquanto eu pego dela.
— Lembra que Roarke disse que mandou fazer um presente para você?
— Sim.
— Bem, eu pensei que ele estava apenas dizendo isso para encobrir o que ele realmente estava fazendo naquele dia — eu geralmente posso dizer quando ele está mentindo — mas acontece que ele realmente conseguiu que Yokshin fizesse algo para você.
Eu tiro a tampa da caixa e encontro uma pulseira sobre uma pequena almofada preta. Correntes delicadas de metal prateado se envolvem umas às outras, com minúsculas folhas prateadas e flores brotando dos lados. No meio da pulseira está uma grande joia clara. — É lindo, — eu digo.
— É bonito e inteligente, — diz Aurora. — É como se fosse um relógio. Mas não mostra à hora, mostra o nível da sua magia Griffin. Então, no lugar dos ponteiros, tem um grande rubi. O rubi perde sua cor quando você usa todo o seu poder Griffin, e então a cor enche novamente lentamente na mesma velocidade que sua magia se repõe. Pelo menos, é assim que deve funcionar e, obviamente, você precisa usá-lo.
— Uau, isso é inteligente. — Eu pego a pulseira da caixa, abro-a o e coloco a forma rígida ao redor do meu pulso. O fecho se encaixa facilmente no lugar. Enquanto observo, uma fração de um lado do rubi fica vermelho. — Hum, acho que isso faz sentido. Foi pouco antes do meio-dia que a minha Habilidade Griffin apareceu, então isso foi cerca de... duas ou três horas atrás?
— Sim. Então, isso deve facilitar para você ver quando sua magia estiver pronta para ser usada. Sabe, no caso de variar um pouco se você estiver extremamente cansada ou se nem sempre conseguir senti-la.
— Legal. — Eu abaixo meu braço. — Então isso foi feito por... Yokshin? Esse é o nome dele?
— Sim, o mestre de invenções. Ele experimenta todos os tipos de magia. Feitiços, processos, dispositivos. — Ela se inclina contra a balaustrada, abre um largo sorriso e acena para dois jovens caminhando abaixo. — É uma linha fascinante de trabalho, — continua ela, virando para mim. — Eu costumava visitá-lo muito quando era mais nova, até que minha mãe me disse que não era apropriado passar tanto tempo com alguém de sua posição, especialmente quando ele às vezes me levava para a prisão para me mostrar alguns de seus experimentos.
— Prisão?
— Sim, uma pequena que temos aqui. De qualquer maneira, você gostou da pulseira?
— Sim. Como você falou, é bonita e inteligente. — Eu movo a pulseira de um lado para o outro, de modo que a pedra sem cor capture a luz. — Yokshin fez alguma joia enfeitiçada para você?
— Hum... algumas. — Eu olho para cima para vê-la brincando com o pingente pendurado em uma corrente em volta do seu pescoço. A corrente prateada com a pedra negra. Eu percebi que ela a usa mais do que muitas outras joias. — Eu falo sobre isso em outro momento, — acrescenta ela. — Por enquanto, precisamos começar a nos preparar.
— Sim, tudo bem. Onde está o Roarke? Ele não queria me dar este presente?
— Queria, mas você conhece os homens. Eles não querem atrapalhar enquanto as damas se vestem.
— Ou ele ainda está me evitando, — eu resmungo enquanto passo por ela para dentro da sala de estar.
— Evitando você? Que bobagem é essa? — Aurora me segue para dentro. — Ele vê você pelo menos duas vezes por dia quando lhe dá a poção de compulsão.
— Sim, essa é a única vez que ele me vê.
— Bem, ele está muito ocupado.
Ou ele está evitando estar perto de mim sempre que minha Habilidade Griffin está ativa — caso eu não consuma todo o meu poder para seja qual for o comando que ele me deu e eu possa usar o resto para obter informações dele. O que é exatamente o que eu teria feito se ele estivesse por perto. Eu tenho praticado segurar minha Habilidade Griffin. Eventualmente, eu tenho que deixar passar algumas coisas dizendo o que eu tenho sido obrigada a dizer, mas houve momentos em que eu posso sentir que ainda há poder sobrando. Eu tentei segurar até ver Roarke novamente, mas eu não consegui segurar tanto tempo ainda.
— Em?
— Mm? — Eu encaro Aurora, percebendo tardiamente que ela me fez uma pergunta.
— Eu perguntei se você está realmente começando a gostar do Roarke. É por isso que você está chateada por não vê-lo mais vezes?
— Oh. Hum. Talvez. — Eu acho que isso é uma razão melhor do que eu estar chateada porque eu não tive a chance de usar minha Habilidade Griffin nele.
Ela sacode a cabeça e suspira. — Você é muito ruim em mentir. Venha, vamos para o meu quarto. Seus vestidos chegaram mais cedo e a mamãe os mandou agora. — Ela liga seus braços aos meus. — Você pode ensaiar sua história de amor épica no caminho.
A caminhada até a suíte de Aurora é longa o suficiente para eu recitar minha ‘história de amor épica’ duas vezes. — Bom trabalho, — diz ela quando chegamos a sua sala de estar. — Você sabe os fatos de cor. Agora você só tem que trabalhar em parecer como se você realmente quisesse dizer a parte de apaixonar-se perdidamente.
— Eu vou ter certeza de fazer um trabalho melhor quando estiver mentindo para os fae de elite da sociedade Unseelie mais tarde.
— Maravilha.
Nós entramos em seu quarto, que é muito maior que o meu e inclui um closet do tamanho de uma garagem dupla. — Oh, aqui estão as joias que a mamãe selecionou para você. Eu pretendia te mostrar mais cedo enquanto estávamos tomando café da manhã. — Ela pega uma caixa da sua penteadeira e a abre para mostrar o conteúdo. — Colar e brincos. Adoráveis, não são?
‘Adoráveis’ provavelmente não é a palavra que eu usaria. Cada peça consiste inteiramente de pedras brilhantes e incolores. Os brincos são lágrimas do tamanho da minha unha do polegar, e o colar é uma fileira dupla de pedras que crescem gradualmente à medida que alcançam um pingente: outra grande lágrima facetada. — São... são de verdade? — Pergunto enquanto Aurora os retira da caixa.
Ela me conduz em direção ao assento em frente à penteadeira antes de me dar um olhar interrogativo no espelho. — O que você quer dizer? Eles não são um tipo de ilusão que desaparecerá quando a festa acabar, se é isso que você está imaginando.
— Não, eu quero dizer... são diamantes de verdade? — Ela parece querer que eu me sente, então eu sento. — Ou eles são falsos? Como vidro ou cristal ou algo assim.
Ela ri. — Claro que são diamantes de verdade. Por que nós usaríamos falsos? — Eu permaneço em silêncio enquanto ela prende os brincos nas minhas orelhas e coloca o colar em volta do meu pescoço. — Aí. Eu acho que eles combinam com você. Eles ficarão lindos, não importa qual vestido escolhermos.
Eu balanço minha cabeça para o meu reflexo. Eu puxo os brincos e retiro o colar. — Eu acho que eu não deveria usar isso. — Eu coloco os diamantes brilhantes cuidadosamente na mão de Aurora. — Aqui. Você pode devolvê-los à sua mãe.
— O quê? Porquê?
— Eu não posso usar algo tão valioso. E se o colar cair enquanto eu estiver dançando? E se eu perder os brincos depois de tirá-los e então —
— E então o quê? Não seja tão boba, Em. O colar não vai cair. — Ela abre a caixa e coloca as joias de volta na almofada aveludada. — E quem se importa se isso acontecer? Mamãe certamente não vai. Esta é provavelmente a joia menos valiosa que ela possui.
Eu tento não me sentir mal com suas palavras. — Aurora...
— Vamos, isso não é grande coisa.
— Mas isso é uma grande coisa, — eu digo. Ela dá um passo para trás, surpresa com a minha raiva. — Eu sinto muito. É só que... bem, eu não esperaria que você entendesse, — murmuro.
Ela cruza os braços. — E por quê? Porque eu não pareço colocar muita importância nas joias quanto você parece de repente?
Eu reviro meus olhos. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu aponto para a caixa. — Que esses muitos diamantes provavelmente valem mais do que... eu não sei. Toda a Stanmeade. Eu não consigo usar tanta riqueza em meu corpo, e você não entenderia isso porque nós viemos de origens muito diferentes.
— Sim, — diz ela, dando um olhar que claramente diz, Dã. — Nós viemos. Esta não é uma revelação novinha em folha, então por que, de repente, é uma coisa importante?
Eu não sei. Eu não posso dizer a ela por que essa joia com diamante trouxe de repente a diferença entre minha vida e a dela, ou porque eu estou de repente comparando minha mãe com a dela. A rainha é perfeitamente sã e está em posição de distribuir itens de imensa riqueza como se não custassem nada. Mamãe está perdida em algum lugar dentro de sua própria mente e não conseguiu me dar nada além do peso da responsabilidade por muito tempo. — Eu sinto muito, — eu murmuro, olhando para a maquiagem espalhada em cima da penteadeira. — Eu não posso usar essa joia. Isso só me faz pensar em tudo que eu nunca tive. Todas as coisas que minha mãe nunca pôde me dar. E eu não quero dizer as coisas caras, eu só quero dizer as coisas normais. E todas as coisas que ela não pode ser para mim quando ela começou a ficar louca.
— Em...
— Não, eu não estou procurando por sua piedade. Eu só estou dizendo... — Eu não sei mais o que estou dizendo. — Eu só... não quero usá-la, se estiver tudo bem?
Ela acena com a cabeça. — Tudo bem. Claro. Eu nunca iria querer deixar você desconfortável. Hum... — Ela se vira para as portas do seu closet. — Tenho certeza de que posso encontrar algo mais simples da minha coleção.
Eu me levanto, começando a me sentir ainda pior agora que ela está sendo tão compreensiva. — Eu sinto muito, Rora. Eu não quis parecer ingrata. Eu sou grata por tudo que você e sua mãe fizeram para me ajudar a se encaixar aqui. Eu ainda não sei como lidar com tudo... — Eu gesticulo vagamente com os dois braços. — Tudo isso.
Ela pega minha mão, aperta e sorri. — Está bem. Eu entendo. — Ela caminha até o closet, em seguida, faz uma pausa na porta e olha para trás. — Roarke costumava me chamar de Rora quando éramos mais jovens. Então ele cresceu e decidiu que era um nome bobo e infantil. Eu disse a ele que concordava, mas a verdade é que meio que sinto falta de ouvi-lo me chamar de Rora.
Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Eu... eu realmente não sei porque eu disse Rora. Apenas saiu dessa maneira. Eu sinto muito. Eu não quero deixar as coisas estranhas.
— Isso não é o que eu quero dizer. — Ela sorri novamente. — Você provavelmente esteve tão focada na ideia de conseguir um marido que nunca pensou no fato de que também está conseguindo uma irmã. Eu sei que nada disso é o que você queria para sua vida. Eu sei que você está passando por tudo isso pela sua mãe. Mas... bem, estou feliz que você seja minha irmã. Espero que um dia você possa ser feliz também.
Ela se dirige para o enorme closet antes que eu possa dizer qualquer outra coisa e, nesse momento, a porta da sala se abre. Espreito pela porta do quarto e vejo a rainha, vestida com um roupão e chinelos, atravessando a área de estar com três de suas criadas e uma mulher desconhecida a seguindo. Cada uma das servas levitando um vestido. — Sua Majestade, — eu digo para a rainha, inclinando a cabeça em respeito quando ela vem em minha direção.
— Emerson, olá. — Eu nunca a vi usando tão pouca maquiagem e com o cabelo dela — preto e borgonho como o de Roarke — tão simples. Ela se inclina e beija o ar de cada lado das minhas bochechas. — Pronta para o grande anúncio de hoje à noite?
— Sim, — eu digo com confiança e um largo sorriso, nenhum dos dois é genuíno.
— Aurora, amor, eu tenho os vestidos, — a rainha chama, passando por mim. — Ah, aí está você, — acrescenta ela, enquanto Aurora sai do closet.
— Ooh, excitante. — Aurora esfrega as mãos.
— Coloquem os vestidos ali, — a rainha diz a suas criadas, — e então vocês podem ir. — As criadas deixam os vestidos flutuando no ar acima da cama antes de se virar e sair silenciosamente da sala. A mulher que eu não reconheço tira algo da saia de um vestido e arranca um fio solto do outro.
Ando devagar ao redor da cama para ver os três vestidos de todos os ângulos. O primeiro tem uma saia cheia de tule rosa escuro com flores delicadas que crescem pelas costas da cintura até o pescoço. O segundo é a cor do champanhe. Sua saia de muitas camadas é coberta com flores de ouro, e o corpete apertado tem um decote sem mangas. A última opção é feita de tecido de ouro rosa com milhares de minúsculos cristais brilhando com a luz conforme o vestido balança suavemente no ar. A parte de cima do espartilho se encaixa na parte de trás, e embora a saia esteja um pouco amassada com um pouco de tecido extra sobre a bunda, ela não é tão fofa quanto às outras duas.
— Eles são lindos, — eu digo.
— Eles não são? — Aurora responde. — E aparentemente, eles são ainda mais lindos quando você os coloca. O rosa muda para frente e para trás entre rosa e roxo, e as pétalas nas costas se abrem lentamente à medida que a noite passa. O champanhe vem com um par de luvas longas feitas de um tecido translúcido que parece bolhas de champanhe subindo em seus braços. E o ouro rosa tem um efeito cintilante enfeitiçado que parece brasas brilhantes.
— Parece legal.
— Eles são criações da Rosewood Raven, — Aurora continua. — Mamãe e eu divulgamos para todos os principais designers que estávamos procurando algo espetacular para um evento muito importante. Nós sugerimos um potencial anúncio de noivado — sem usar essas palavras exatas, é claro — o que resultou em muitos rumores circulando por aí. Recebemos dezenas de designs, e minha mãe não estava muito interessada em que você usasse um vestido da Rosewood, visto que —
— Visto que ela vestiu alguns dos Seelies no passado, — a rainha continua. — Eu não queria você usando um de seus vestidos. Quando vi o nome dela do lado de fora do pergaminho, quase o joguei fora sem abri-lo.
— Mas havia algo sobre seus desenhos que continuávamos voltando, — diz Aurora. — Algo que apenas... nos cativou. — Um olhar sonhador aparece em seu rosto.
— Eles se tornaram muito adoráveis, — admite a rainha. — Eu posso ver porque essa mulher Rosewood se tornou popular nos últimos anos.
— Você enviou um convite para ela? — Aurora pergunta. — Eu quero conhecê-la.
— Claro que não, querida. Eu te disse que não era apropriado. Ela tem conexões com a Guilda e vestia os Seelies antes. Podemos ter decidido usar uma de suas criações, mas não me senti confortável em tê-la aqui. Pedi a Lemon para mandar alguém pegar os vestidos e ser discreta sobre isso.
— Oh, Em, está é Lemon, a propósito, — acrescenta Aurora, gesticulando para a mulher que entrou com as criadas. — Nossa criadora mestre de roupas. Ela provavelmente fez a maioria das roupas que você encontrou em seu guarda-roupa.
— Oh. Obrigada, Lemon. — Eu tento não rir do nome estranho. — Você fez um bom trabalho.
Ela acena para mim. — Obrigada, minha senhora. E sim, mandei Jefford buscar os vestidos hoje de manhã, e tive a certeza de passar a importância da discrição. Disse a ele que não queremos o constrangimento de ninguém saber que nos associamos a alguém que já trabalhou com os Seelies, mesmo que o trabalho dela seja bom.
— Que bobo, — Aurora resmunga. — As pessoas vão descobrir de qualquer maneira. Somos da realeza, pelo amor de Deus. É uma honra desenhar para nós, então tenho certeza de que Raven Rosewood vai falar para as pessoas.
— Ela vai? — A rainha pergunta. — Eu duvido que ela queira arriscar sua reputação com os Seelies.
— Ela não vai dizer nada, — diz Lemon. — Jefford deixou os vestidos no meu quarto com uma nota dizendo que tudo correu bem. A designer aceitou seu pagamento e alegremente concordou em ficar quieta sobre seu envolvimento.
— E quando as pessoas perguntarem esta noite? — Aurora diz. — Porque você sabe que algumas dessas mulheres vão querer saber quem vestiu a nova princesa. Tudo com o que eles se importam é com as últimas tendências e novidades, e assim que virem Em, em, digamos, luvas de bolhas de champanhe, todos eles estarão adicionando a mesma coisa para suas novas roupas.
— Sério? — Eu pergunto. — Isso é tão bobo.
— Esse é o tipo de influência que você tem como princesa, — Aurora diz com um sorriso de satisfação. — Uma vez eu usei sprites vivos pendurados em minhas orelhas, e na festa seguinte, eu vi pelo menos cinco outras garotas usando a mesma coisa.
— Pobres sprites, — murmuro, imaginando as criaturas que parecem pequenas pessoas aladas amarradas aos lóbulos das orelhas de Aurora.
— Se alguém perguntar pelo nome do designer, diga que é um segredo, — diz a rainha. — Diga a eles que nossa chefe criadora de roupas tem um aprendiz especialmente inventivo, e queremos mantê-lo em segredo conosco.
Aurora suspira. — Tudo bem. De qualquer forma, precisamos decidir qual deles usaremos para que todas nós possamos começar a nos preparar.
— Hum, eu pergunto ao Roarke o que ele decidiu usar? — Eu sugiro.
— Sim, — a rainha responde. — Aurora e eu vamos verificar se todos os ajustes para o novo vestido dela foram feitos corretamente, e então ela vai encontrá-la na suíte do Roarke.
Com um brilho nos olhos, Aurora acrescenta, — Mamãe não confia em você para relatar com precisão a roupa de Roarke sem minha ajuda.
— Aurora, — a rainha repreende. Então sua expressão se transforma em um sorriso de desculpas. — Bem, suponho que seja verdade. Desculpe, Emerson.
Eu dou de ombros, então congelo com meus ombros puxados para cima, lembrando que a rainha não gosta de encolher os ombros. — Está bem. Vejo você lá, Rora. — Eu saio correndo do quarto, esperando até que eu esteja fora da suíte antes de relaxar meus ombros.
O chão de mármore brilhante passa rapidamente sob meus pés enquanto eu me dirijo para a suíte de Roarke. Eu bato na porta dele, mas depois de esperar vários segundos, nem ele nem um de seus criados me chamam para entrar. Eu bato de novo e espero, mas ainda nada. A ausência de guardas fora de sua suíte me faz duvidar que Roarke esteja dentro, mas ele mencionou que às vezes seus guardas patrulham mais ao longo dos corredores do lado de fora desta ala do palácio. Eu abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça dentro. — Roarke?
Sem resposta. Sabendo que Aurora estará aqui em poucos minutos, decido esperar na sala de estar do Roarke até ela se juntar a mim. Fecho a porta e ando devagar pelos sofás, comparando a suíte com a de Aurora. Móveis semelhantes preenchem o espaço, embora em um estilo menos delicado, com madeira escura e acabamentos em preto brilhante. Eu ando até a janela e descubro que tenho uma excelente visão de uma escultura que eu nunca fui capaz de ver corretamente no chão: uma cobra gigante que se ergue em direção ao céu, cercada por arbustos de rosas negras. Assustador, penso quando me afasto da janela.
De canto do olho, noto movimento perto da porta do quarto. Algo escuro, como uma sombra deslizando pela parede. Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém lá — Roarke ou um de seus criados — mas ninguém está atrás de mim. Eu me viro para o local, meus olhos percorrendo cada centímetro da sala. Eu olho para a parede novamente, mas as sombras criadas pela mobília e decoração estão imóveis. Deve ter sido algo de fora. Um pássaro voando pela janela, talvez. Ainda assim, este é um palácio cheio de magia e encantamento, então é possível que eu tenha visto a sombra de algo que agora está se escondendo nesta sala comigo.
A ideia envia um arrepio no meu pescoço e no meu cabelo. Seja corajosa, eu me lembro. Esta é a sua casa agora. Você não pode ter medo em sua própria casa. Forçando minhas pernas a se mover, ando pela sala novamente. Eu me inclino e olho embaixo da mobília. Eu puxo as cortinas para longe da parede e olho atrás. Pelo o que posso dizer, estou sozinha nesta sala.
Mas este não é o único cômodo da suíte. Meus olhos deslizam para a porta que leva ao quarto. É lá, afinal, onde eu vi o movimento quase agora. Eu atravesso a sala e espio pela porta entreaberta. Eu vejo outra janela e parte de uma cama de dossel. Sem movimento ou som, então, depois de um momento, abro a porta o suficiente para entrar no quarto. O quarto que logo será meu também. A cama que logo será minha.
Uma imagem de Roarke e eu juntos nessa cama passa pela minha mente antes que eu possa pará-la. Eu engulo em desconforto e tento afastar a imagem. Eu evito pensar sobre essa parte específica do nosso acordo, mas agora que estou olhando para a cama que em breve pertencerá a nós dois, é impossível não pensar no que terá de acontecer nela.
Eu me afasto quando um arrepio sussurra através da minha pele. Eu ainda tenho tempo, eu me lembro. Hora de encontrar uma saída para todo esse acordo. O anúncio do noivado acontecerá hoje à noite, mas a cerimônia de união na verdade não acontecerá por mais algumas semanas.
Uma voz na sala de estar me assusta, mas é apenas o Roarke. — Sim, por favor, feche a porta, Marvyn, — diz ele. — Eu vou ter apenas alguns minutos. — Expirando e quase rindo de mim mesma por meus medos bobos, eu volto para a porta. Espero que Roarke não fique muito irritado depois que eu explicar por que estou em seu quarto.
Mas eu paro quando ouço uma segunda voz. Uma voz feminina.
— Ainda é seguro conversar aqui? — Ela pergunta.
— Sim, — Roarke responde. — Nós não seremos ouvidos.
Capítulo 09
MERDA. EU CUBRO MINHA BOCA COM MINHA MÃO E CONGELO.
— Você tem certeza? — Pergunta a mulher.
— Sim. Meu pai não tem controle sobre essa suíte. Meus homens vasculham diariamente por encantamentos e insetos espiões, e não encontraram nada em anos.
— Ainda assim, — a mulher diz enquanto seus passos atravessam a sala. — Alguém pode nos ver através da janela. — Sua voz soa familiar, mas eu não consigo descobrir de onde. Eu ouvi tantas mulheres da corte desde que cheguei aqui. Pode ser qualquer uma delas.
— Eu duvido. Estamos muito alto. E se alguém nos ver, e daí? Eu sou o príncipe e tenho o direito de falar com quem eu quiser.
Minha imaginação salta imediatamente para a pior conclusão. Raiva aquece minhas veias com o pensamento de Roarke me traindo. Que outro motivo ele encontraria uma mulher em particular em sua suíte? Uma mulher que não quer que ninguém veja os dois juntos? E não é como se eu estivesse com ciúmes, mas ele deve se casar comigo em algumas semanas! Eu alcanço a porta, prestes a abri-la completamente e exigir que esse tipo de coisa não continue depois que nossa união acontecer.
— Tudo bem, então, — diz a mulher. — Então, o que você está fazendo sobre as sombras?
Eu paro com minha mão levantada. Sombras? Eu não estava esperando isso.
— Você tem que controlá-los, Roarke. Não podemos tê-los aterrorizando este mundo. Ou o outro mundo. Nós não podemos viver lá até que eles tenham sido completamente erradicados.
— Está tudo bem. Meus homens estão cuidando disso.
— Como o guarda que apareceu morto? Enrugado e velho?
Roarke suspira. — Você me disse que não ficaria chateada com isso.
— Eu estive pensando nisso e decidi que tenho todo o direito de ficar chateada com algo assim. A mesma coisa poderia acontecer com a gente.
Eu inclino minha cabeça em direção à porta, desejando poder ver a linguagem corporal deles. Desejando descobrir a natureza do relacionamento de Roarke com essa mulher.
— A mesma coisa certamente não acontecerá com a gente, — assegura ele. — Aconteceu apenas com aquele guarda porque ele foi estúpido o suficiente para deixar uma sombra pegá-lo quando ele não estava usando seu amuleto. E ele deveria saber o feitiço certo para lutar contra, mas claramente ele era muito lento. O resto dos meus homens sabe o que estão fazendo.
— Bem, eles certamente estão demorando um pouco para fazer o trabalho. Todo esse tempo perdido. O edifício parou. O castelo e o terreno estão ali meio formados e...
— Relaxe. Leva tempo para preencher um mundo.
— Tempo em que outra pessoa poderia descobri-lo e reivindicá-lo como seu território.
— Quem vai reivindicá-lo? Ninguém mais sabe disso.
— Isso não é verdade agora que você deixou outras pessoas verem.
— Eu já disse a você, — diz Roarke. — Nem meu pai nem a Aurora têm algum interesse em reivindicar esse mundo como seu. Ele continua com as mesmas crenças que tinha no começo, e você sabe que Aurora está mais interessada em —
— Eu não quero dizer eles. — Há uma pausa em que eu me aproximo para ter certeza de que não estou perdendo as próximas palavras dela. — E a sua futura esposa? E o guardião que estava com ela? — Um arrepio passa por mim. Eu dou um passo silencioso para trás, como se eles pudessem de alguma forma sentir a minha presença se eu estiver muito perto da porta.
— Emerson não sabe o que viu, — Roarke diz, — e eu duvido que ela se importe. Ela provavelmente assumiu que era parte do mundo fae. Ela não sabe o suficiente sobre este reino para assumir que seria qualquer outra coisa. Quanto ao guardião... bem, duvido que ele tenha alguma pista do que viu também. Guardiões são treinados para lutar, não para pensar.
— Você não deveria subestimá-lo, — diz ela sombriamente.
— E você não deveria estar se preocupando.
— Tudo bem. Bem. Então não estamos com pressa. Mas ainda estou preocupada com as sombras. Como estão passando? E é só aqui no palácio, ou você acha que eles são capazes de chegar a qualquer parte deste mundo? Ou... — Ela faz uma pausa por um momento. — Eu me pergunto se eles são capazes de passar para o mundo humano.
— Se conseguirem, será problema da Guilda, não nosso.
— Verdade.
— E isso provavelmente não vai acontecer, porque meus homens estão garantindo que todas as sombras em breve estarão mortos.
— Bom. Bem, então eu posso pegar o manto que eu vim pegar? Marvyn pode ficar desconfiado se eu sair sem ele.
— Marvyn já está desconfiado, — Roarke diz com uma risada, — mas eu vou pegar o manto de qualquer maneira. — Seus passos se movem em direção ao quarto. Eu xingo sob minha respiração — o que envia uma imagem de Dash pela minha mente por apenas um segundo; ele não ficaria impressionado com a minha linguagem escolhida. Eu passo pela única outra porta e entro no banheiro de Roarke. Deslizando por trás da porta entreaberta, eu prendo a respiração.
E é quando vejo o que está na parede à minha esquerda.
Eu coloco minha mão sobre a minha boca para reprimir o meu suspiro assustado. Um grande círculo de magia cintilante e ondulante ocupa a maior parte da parede. Elétrico de uma cor azul, com pedaços escuros e finos subindo das bordas e desaparecendo, a magia gira preguiçosamente em forma de espiral que parece ser sugada para o centro.
Um portal?
Uma pequena parte de mim está curiosa para saber para onde isso leva — se é que é mesmo um portal — mas, na maioria das vezes, tenho pavor do que pode estar do outro lado. Eu me inclino o máximo que posso enquanto ainda permaneço escondida atrás da porta do banheiro. Felizmente, Roarke leva apenas alguns segundos em seu quarto. No momento em que eu o ouço sair, saio rapidamente do banheiro e fico perto da porta aberta do quarto.
— ... preocupado com Marvyn e essas suspeitas dele? — A mulher misteriosa pergunta.
— Não, não preocupado. Ele é pago bem o suficiente para manter suas suspeitas para si mesmo.
— Bom. Bem, vou deixar você se preparar para o seu anúncio de hoje à noite. Estou animada que esta união será finalmente oficial. Espero que a cerimônia aconteça em breve.
— Vai, — diz Roarke.
Vários momentos de silêncio seguem, em que começo a me sentir ainda mais confusa do que antes. Esta mulher quer esconder seus encontros com Roarke do jeito que uma amante secreta faria, mas está feliz que ele vai se casar comigo?
Eu ouço a porta principal da suíte abrir e fechar. Eu me pergunto se eles foram embora, mas então escuto os pés de Roarke — mais pesado que o da mulher — atravessarem a sala de estar. Apavorada que ele possa voltar ao seu quarto, eu começo a andar na ponta dos pés em direção ao banheiro. Mas o raspar de uma cadeira me diz que ele provavelmente está sentado agora. Eu me abaixo perto da cama de qualquer maneira, só no caso de eu ter que escorregar para debaixo dela rapidamente para me proteger.
Depois de vários minutos que parecem horas, ouço uma batida na porta. Então a voz de Aurora quando a porta abre: — Oh, onde está Em?
Droga.
— Como eu deveria saber? — Roarke pergunta. — Eu pensei que ela estava com você.
Droga, droga, droga.
Faço a única coisa em que consigo pensar: corro para a janela mais próxima, jogo minhas pernas sobre ela e me abaixo do outro lado. As pontas dos meus sapatos de cetim do tipo bailarina procuram pontos de apoio entre os tijolos de mármore. Os sapatos ficarão arranhados quando eu voltar para dentro, mas espero que ninguém perceba. Eu desço com cuidado, parando quando meu pé sente a abertura de uma janela próxima abaixo. Eu me movo para o lado, desço mais alguns tijolos e espio pela lateral da janela. Parece uma sala de estar privada. Cadeiras confortáveis, um armário cheio de bebidas, um espelho emoldurado a ouro repugnantemente ornamentado em uma parede e pinturas de mulheres seminuas nas outras. Mas o mais importante, não há ninguém nela.
Eu piso no peitoril da janela e pulo para dentro. Segundos depois, eu estou no corredor, andando o mais rápido que posso sem arriscar a atenção se por acaso eu passar por alguém. Eu rapidamente percorro algumas curvas até chegar à escada que leva à ala da família real. Eu corro para cima e quase colido com Aurora no topo.
— Oh, ai está você, — ela diz, alívio aparecendo em seu rosto. — Eu pensei que você estivesse indo para a suíte do Roarke. — Eu procuro em suas feições qualquer sinal de suspeita, mas tudo o que vejo é confusão.
— Ele não está lá, — digo a ela. — Uma das criadas disse que ela o viu perto da biblioteca, então fui procurá-lo. Perda de tempo, no entanto, já que ele não estava lá também. Tem certeza de que ele terminou com seja lá qual for o negócio importante com o qual ele estava lidando esta manhã?
— Sim, eu acabei de vê-lo em seus aposentos.
Eu reviro meus olhos e rio. — É isso o que acontece quando você mora em uma casa do tamanho de uma cidade pequena. Podemos passar o dia todo procurando um pelo outro e nunca nos encontrar.
— E isso, — Aurora diz quando ela pega meu braço e vira para a suíte, — é por isso que temos criados para procurarem por nós. De qualquer forma, eu vi a roupa de Roarke. Eu acho que vai combinar esplendidamente com o vestido rosa dourado. Você está feliz com isso?
Estou feliz com qualquer coisa que desvie a atenção de Aurora do fato de que eu não estava onde deveria estar. Espero que, se Roarke questionar meu paradeiro depois, ele acredite na minha história com a mesma facilidade. — Isso soa perfeito, — digo a ela. — O rosa dourado é meu favorito.
Eu a sigo de volta para sua suíte, onde uma enxurrada de atividades já começou. Cabeleireiros e maquiadores organizam seus instrumentos e feitiços. Lemon, a conjuradora de roupas, cuida de pequenas imperfeições em nossos vestidos. As criadas da rainha entram e saem com mensagens da mãe de Aurora sobre joias, enfeites de cabelo, lanches e outros assuntos triviais. E o tempo todo, minha mente está cheia da conversa que eu não deveria ouvir e da magia que eu não deveria ver.
Capítulo 10
QUANDO A NOITE CHEGA, O INVERNO SE ESTABELECE E O SALÃO DO BAILE ESTÁ VIVO com atividade. Mulheres em vestidos lindos e homens em trajes tradicionais de faeries — calças de terno e jaquetas com gola alta com ombros afiados — se misturam na pista de dança no centro do salão de baile. Dezenas de mesas redondas rodeiam a sala, cada uma com uma escultura de gelo de um dragão formando o coração das peças centrais. Do lustre de vidro no centro do teto, cordas de pequenas luzes cintilantes irradiam. E do próprio teto, flocos de neve brilhantes caem, desaparecendo em nada antes de alcançar a cabeça de qualquer pessoa.
Fico em um lado da sala com Aurora e duas damas de companhia que, ao que parece, tiveram permissão para voltar das férias para qual Aurora as enviou. Elas conversam sem parar, ocasionalmente enviando olhares curiosos na minha direção, enquanto eu tento fingir que estou interessada no que elas estão falando. A verdade é que minha mente não poderia estar mais longe dessa festa. Eu não consigo tirar o pensamento sobre as sombras da minha cabeça. Roarke e aquela mulher estavam obviamente falando sobre o lugar que ele e Aurora me levaram no dia em que me encontraram no meu antigo quarto na casa de Chelsea. O lugar de onde Dash e eu fugimos de uma criatura sombria e disforme — uma sombra? — e acabamos de volta ao mundo fae perto do buraco no véu. Com todas as coisas ocupando minha mente, eu mal pensei naquele incidente até esta tarde.
Meu olhar atravessa a multidão enquanto eu me pergunto qual delas estava no quarto de Roarke mais cedo. Pode ser qualquer —
— E o que te trás a Corte Unseelie, Em? — A pergunta vem de uma das companhias de Aurora. Mizza? Algum nome estranho assim.
Eu levo um segundo para colocar meu sorriso no lugar, mas Mizza não parece notar. — A Guilda queria me prender, mas alguns dos Unseelies — guardas pessoais do Principe Roarke, na verdade — me resgataram.
Ela solta um suspiro como uma dama e coloca uma mão contra o peito. — Oh, que emocionante. O príncipe estava com eles no momento? Ele é tão bonito, não acha?
— Por que a Guilda queria prendê-la? — A outra jovem dama pergunta.
O nome dela escapou completamente de mim. — Eu sou uma Dotada Griffin, então a Guilda achou que eu merecia ficar presa.
Ambas as damas ficam boquiabertas, mas eu mantenho meu sorriso sereno. Tenho permissão para começar a compartilhar a primeira parte da minha história agora — menos os detalhes da minha Habilidade Griffin. Ao mencionar o nome do Roarke ao falar do meu resgate, espero que as pessoas acreditem nele quando ele se levantar mais tarde e anunciar que eu sou o amor da sua vida.
— É uma história muito excitante, — acrescenta Aurora, — e prometo que vou contar tudo sobre isso depois. Mas agora, quero apresentar a Em para algumas outras pessoas.
— Não foi tão ruim, foi? — Ela pergunta baixinho conforme me leva para longe.
— Hum... eu não sei. Eu não escutei muito do que elas disseram.
— Em! — Ela bate no meu braço, mas seu horror zombeteiro logo se transforma em um sorriso. — Eu suponho que é tudo muito difícil para você, se você nunca esteve em um evento como este antes. Tantas distrações.
— Sim, — murmuro, observando um pégaso em miniatura passar. Erguendo os olhos, noto que há muitos deles no ar, cada um com um tom pastel diferente. Enquanto eu observo, uma mulher estende a mão, pega um e morde a cabeça.
— Oh, — eu suspiro, parando. — Isso é horrível.
— O quê? — Aurora segue meu olhar e começa a rir. — Oh, Em, é apenas um bolo voador. Eles não são criaturas reais. — Ela fica na ponta dos pés e agarra um. Ele luta em seu aperto, mas no momento em que ela puxa sua asa, ele para de se mover. — Vê? Apenas bolo e glacê. — Ela estende a asa para mim, e debaixo da camada externa rosa pastel, eu vejo um bolo cor de caramelo.
— Hum, não, obrigada, — eu digo quando ela tenta me fazer pegar parte da asa. — Isso é perturbador. — Eu olho para longe da mulher compartilhando o pégaso decapitado com sua amiga e me concentro em suavizar minha carranca. — Então, as pessoas sabem que há uma razão pela qual elas estão aqui, além do aniversário de sua mãe?
— Ninguém sabe ao certo, mas todos suspeitam de um anúncio de compromisso, — diz Aurora. — Eu ouvi as palavras ‘casamento’ e 'união' várias vezes enquanto passeava esta noite.
— E eu não devo confirmar suas suspeitas se alguém me perguntar?
— Não. Vamos deixar as pessoas imaginando por um pouco mais de tempo. Elas podem espalhar muitos rumores ao redor deste salão de baile o quanto quiserem até que Roarke faça o anúncio. Agora, vamos ver. — Ela toca no colar de pérolas negras apoiadas na base do pescoço, quando olha em volta. — A quem eu posso apresentar a você — Oh. Deixa pra lá. — Os músicos na plataforma elevada do outro lado do salão de baile pararam de tocar. Aurora olha em direção à porta maciça arqueada junto com todos os outros na sala. — Meus pais chegaram, — ela sussurra para mim.
Quando o Rei e a Rainha Unseelie são anunciados, todos os convidados no salão de baile se curvam ou fazem reverências. — Bem-vindos, — grita o rei Savyon enquanto todos nós nos levantamos. — Obrigado por se juntarem a nós enquanto celebramos o aniversário da Rainha Amrath. Hoje à noite, vocês se deliciarão com o melhor entretenimento, comerão os pratos mais exóticos e dançarão até o sol nascer. Que as celebrações comecem!
O lustre explode e o salão de baile se enche de guinchos e suspiros. Eu me abaixo e olho para cima, meus pensamentos se debatendo para descobrir o que está acontecendo. Um ataque externo? O rei está perdendo a cabeça e matando a todos nós? Mas quando a fumaça se dissipa, vejo centenas de objetos semelhantes a paraquedas flutuando em direção à multidão. Os murmúrios de medo se transformam em sussurros de espanto, depois em risadas e dedos apontando. Aurora pega dois paraquedas e entrega um para mim. Uma pequena caixa em forma de cubo pende de um dossel de pétalas. Quando coloco a caixa na palma da mão, os lados e o topo desaparecem, revelando uma rosa prateada dentro.
— Perfeito, — Aurora diz com um sorriso. — Eles saíram exatamente como a mãe queria que saíssem.
— O que é isso?
— Chocolate. — Ela ri. — E um feitiço que evita que você se canse até o sol nascer. Nós vamos festejar a noite toda. — Ela coloca a rosa em sua boca e gesticula para eu fazer o mesmo. Eu mastigo o chocolate amargo enquanto olho em volta para as pessoas pulando para pegar paraquedas, passando para seus amigos e comparando as rosas para ver se elas são todas iguais. Meu olhar cai sobre um homem olhando para mim — e meu coração quase para quando eu reconheço Dash.
Eu fico em choque quando ele olha para longe e duas mulheres pulando para pegar paraquedas o bloqueiam momentaneamente de ser visto. Não pode ser ele. É um truque da minha imaginação, minha mente transformando outro jovem em Dash. No entanto, eu pisco e espreito de mais de perto, uma parte de mim esperando que seja realmente ele. Mas não é. Seu cabelo está diferente, e seu braço, noto quando ele alcança um dos paraquedas caindo, está nu, sem as marcas de um guardião.
— Oh, olhe! — Aurora agarra meu braço e me puxa. Ela aponta para cima, enquanto a luz da sala escurece e pessoas em collant brilhantes descem pelo ar do teto. Eles deslizam graciosamente entre as cordas de luzes e ficam pendurados logo abaixo delas, girando lentamente e dando cambalhotas com movimentos coordenados para acompanhar a música misteriosa. Isso me lembra um pouco do nado sincronizado, ou tecido acrobático onde os acrobatas ficam pendurados em pedaços de tecido. Exceto que agora, não tem água para flutuar. Não há tecido para ficar pendurado. Esses artistas estão suspensos no ar por magia.
A noite continua com a dança — eu consigo não errar - comendo e bebendo, intercalada com várias formas mágicas de entretenimento extravagantes: malabaristas jogando bolas coloridas no ar, onde se transformam em doces de arco-íris que fazem sons de estalo e disparam doces em forma de estrela para todos; uma mulher soprando bolhas em qualquer forma que seu público solicite; um par de centauros que galopam e fazem uma dança dramática antes de galoparem para longe; e um homem que persuade sua magia em um dragão do tamanho de Imperia feito inteiramente de fogo.
Minha imaginação parece estar sobrecarregada de todas as coisas fantásticas que eu vi no espaço de apenas algumas horas, quando Roarke finalmente vem até mim. Eu o vi de longe esta noite, vestido de forma semelhante à maioria dos outros homens, mas com os punhos e gola alta de sua jaqueta feita de tecido em relevo dourado. Nós concordamos há alguns dias que não falaríamos ou dançaríamos juntos até depois do anúncio. Então, se ele está na minha frente agora, isso deve significar...
— Minha adorável Lady Emerson, acredito que temos um anúncio para fazer.
Eu engulo quando meu estômago se agita. — Oh. Que horas são? — Eu esperava adiar o maior tempo possível. De fato, parte de mim tem fingido a noite toda que se eu me recusasse a pensar sobre isso, isso nunca aconteceria.
— Não vamos deixar nossos convidados esperando por mais tempo. — Roarke coloca a mão nas minhas costas e me direciona para a plataforma elevada onde os músicos estão sentados. — Acho que elevamos o suspense por tempo suficiente. Todo mundo está se divertindo, mas agora não há um único convidado nesta sala que não esteja se perguntando qual é a bela dama que seu príncipe escolheu para ser sua esposa. Vamos afastar todas as suas especulações sussurradas.
Quanto mais nos aproximamos da plataforma, mais silenciosa a sala se torna. Finalmente, ao subirmos os três degraus que conduzem ao lado, os silêncios reinam, interrompidos apenas pelo sussurro ocasional e o farfalhar de saias. — Lembre-se de mostrar a todos como você está feliz, — Roarke murmura, seus lábios mal se movendo e seu sorriso continua no lugar.
Não tenho certeza se posso fingir estar feliz agora, mas posso pelo menos esconder meu medo. Enquanto Roarke encara a multidão e eu fico parada ao lado dele, eu tento imitar a maneira como ele se porta, empurrando meus ombros para trás, e levanto meu queixo levemente. Eu forço meus lábios em um sorriso que eu possa controlar.
Então eu cometo o erro de olhar para o salão de baile lotado. Centenas de rostos olham para mim com expressões que variam de curiosidade para aversão absoluta. Não mostre medo, não mostre medo. Eu pisco e estabeleço meu olhar na parede distante, logo acima da linha de pessoas. Não se mexa, permaneça equilibrada, continue sorrindo. Mas apesar da minha máscara de confiança, um rugido distante começa a encher meus ouvidos. Meu coração bate tão descontroladamente que temo que eu possa realmente ter uma parada cardíaca.
Roarke começa a falar, mas eu ouço apenas pedaços do que ele está dizendo: meu passado no reino humano, meu status de Dotada Griffin, meu resgate da Guilda. Eu ouço as palavras ‘uma corte rápida’ e 'profundamente apaixonado', e então, finalmente, Roarke olha para mim, pega minha mão na dele, e diz, — Eu nunca estive mais feliz do que no momento em que meu pai nos deu permissão para nos unirmos. — Ele encara a multidão novamente, segurando a minha mão. — E então, meus senhores e senhoras, eu apresento a vocês a mulher com quem estarei me unindo em exatamente doze dias: a linda, cativante e gentil Emerson.
Silêncio cumprimenta as palavras finais do príncipe. Ele paira, se expande, pressiona meus ouvidos e, finalmente, estoura. Gritos, brindes e aplausos preenchem meus ouvidos e, de repente, essa união parece real demais. Eu sei que eu concordei com isso, mas enquanto não era oficial, eu achava que encontraria uma saída. Mas agora que todo mundo sabe, parece quase impossível. Pela primeira vez, isso me atinge — realmente me atinge — que eu vou ter que fazer isso. Eu vou casar com um príncipe. Este palácio e essas pessoas vão se tornar minha vida. Tudo isso vai se tornar a vida da minha mãe também. Pelo tempo que for necessário para descobrir como vamos escapar.
— Vamos dançar agora, meu amor? — Roarke me pergunta.
Não confiando em mim para falar, eu simplesmente aceno. Ele me leva para baixo da plataforma e em direção ao centro do salão de baile enquanto a música recomeça. Minhas pernas começam a tremer com o pensamento de um salão de baile inteiro de pessoas nos assistindo dançar, mas Roarke levanta a voz e incentiva a todos a participarem. Com conversas animadas, eles correm para encontrar parceiros enquanto Roarke e eu nos encaramos e nos movemos para a posição inicial.
Já dancei várias vezes esta noite, mas agora é diferente. Ninguém se importava com quem eu era antes. Ninguém prestou atenção em mim. Mas agora, mesmo que todos estejam dançando também, sinto seus olhos em mim. Teria sido ótimo se minha Habilidade Griffin fosse capaz de me dar à habilidade de executar cada passo com perfeição, mas aparentemente minha Habilidade Griffin não sabia como fazer isso. Então, fico concentrada em todos os movimentos, em cada detalhe intrincado, em cada giro e pivô. Felizmente, com um parceiro especialista como Roarke, é fácil esconder o erro estranho e a hesitação.
Parceiros se movem ao nosso redor enquanto a música muda de novo e de novo, mas Roarke se agarra a mim para várias danças. Ele pressiona um beijo sob o meu ouvido em um ponto, e eu tenho que trabalhar fortemente para não me encolher. Eu digo a mim mesma para ficar grata por ele não beijar meus lábios. Eventualmente, ele me entrega a outro parceiro, e agora eu realmente tenho que me concentrar, minha atenção dividida entre ter uma conversa educada e seguir os passos.
O tempo passa. Eu continuo circulando a sala, mudando para um novo parceiro sempre que é apropriado. Embora eu esteja completamente fora da minha zona de conforto, a música me incita a continuar dançando. Ou é o chocolate encantado que comi antes?
Danço, converso, mudo de parceiro, repito. Começo a me perguntar por quanto tempo eu tenho que fazer isso antes que eu possa sair da pista de dança e dar um tempo de tudo. Eu giro ao redor e para os braços de outro parceiro. Um homem, que percebo com meu segundo choque da noite, que reconheço afinal de contas.
Dash.
Capítulo 11
MEUS PÉS TROPEÇAM EM UM IMPASSE. UMA COMBINAÇÃO ESTRANHA DE ALEGRIA E HORROR dispara através de mim. O cabelo de Dash está completamente diferente, como eu percebi anteriormente, e vários dias de barba para fazer melhoram seu disfarce. Mas é definitivamente ele.
— Não pare de dançar, — diz ele, me forçando a acompanhar a música. Então, depois de dar aos dançarinos em volta dele um sorriso agradável e totalmente falso, ele sussurra, — Qual diabos é o seu problema?
Outro segundo de choque passa antes que eu encontre minha voz. — Eu? Qual o seu problema? Como até mesmo você — o que você — você sabe o que Roarke e Aurora farão se reconhecerem você?
— Eles me viram por cinco segundos naquele dia. Eles não vão me reconhecer agora.
— Mas como você —
— O que você está fazendo aqui, Em? Por que você está aceitando essa charada de união estúpida? Eu esperava encontrar uma prisioneira e, em vez disso —
— Nós não vamos ter essa discussão aqui, — eu digo a ele com os dentes cerrados, meu sorriso completamente esquecido agora. — Encontre-me lá fora. — Eu me livro de seu aperto e viro. O homem que eu encontro parece assustado. Ele e a mulher com quem ele dança quase tropeçam. Mas, felizmente, depois de dois ou três segundos desastrosos, todos trocam de parceiros e, para qualquer um que esteja observando, parece que a quase-princesa acidentalmente tentou trocar alguns segundos antes. Felizmente entro nos braços do homem confuso e continuo dançando, tentando manter um sorriso sereno no lugar enquanto meu coração troveja no meu peito.
Ainda mal posso acreditar. Dash está aqui. Através da minha raiva e terror — porque esse é exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando evitar quando escolhi vir para cá, e agora ele está bagunçando tudo — eu estou dolorosamente feliz em vê-lo.
— Foi horrível crescer no reino não mágico? — Pergunta meu parceiro de dança.
— Hum, bem, eu não conhecia nada melhor, então eu não sabia o que estava perdendo.
— Deve ter sido emocionante ter descoberto que você pertence a este mundo em vez disso.
— Sim. Magia é... muito maravilhosa. — Estou distraída quando vislumbro Dash com outra parceira.
Quando a dança termina, consigo recusar educadamente a mulher que esperava ser minha próxima parceira. Deslizo por ela e saio da pista de dança, entre as mesas e cadeiras, e em direção à porta em arco que leva aos jardins. É estranho olhar e ver uma paisagem branca como a neve enquanto me sinto tão quente que estou quase suando. Deve haver um feitiço na porta aberta que mantém o ar frio do inverno lá fora.
Olhando para trás, vejo pelo menos duas mulheres vindo em minha direção com olhos brilhantes e sorrisos largos, provavelmente esperando conversar comigo. Maravilha. Agora que todo mundo sabe quem eu sou, eu nunca sairei desse salão sem ser notada. Eu procuro por uma distração, e na mesa mais próxima, vejo um dos doces do arco-íris estourando. Eu discretamente deixo cair no chão, levanto a saia e chuto para o lado. Ele gira para longe da multidão, zumbindo, estalando e atirando doces minúsculos em todos os lugares. Na comoção, encontro os olhos de Dash por um segundo. Então me viro e saio para a noite.
O frio me atinge no momento em que passo por baixo do arco, mas depois de toda aquela dança, o ar gelado é um alívio bem-vindo. Depois de descer correndo as escadas, viro à direita, saio do caminho e espero à sombra de uma árvore com maçãs prateadas, salpicadas de neve penduradas em seus galhos. Eu expiro longamente e devagar, mas minha ansiedade só aumenta quando os segundos passam e eu espero por Dash.
Eu fico tensa quando passos apressados descem as escadas. Dash olha ao redor, me vê, e com alguns passos rápidos ele está na minha frente. — Qual é o seu problema? — Ele exige imediatamente. — Andando por aí como se você pertencesse aqui. Participando dessa idiotice de união. Você não pode estar planejando —
— Você quer falar sobre idiotice? — Eu retruco. — Você é idiota. Por que veio aqui? Essas pessoas são seus inimigos. Você sabe o que farão com você se descobrirem o que você é e para quem você trabalha?
— Eles são seus inimigos também, Em, mas de alguma forma você os deixou manipular para se casar com um deles —
— Eu não fui manipulada coisa nenhuma, — eu digo, ainda tentando manter minha voz nada mais alto do que um sussurro irritado. — Eu escolhi estar aqui. Roarke apresentou uma solução — casamento em troca de curar minha mãe — me deu tempo para pensar sobre isso, e eu decidi aceitar sua oferta. A única pessoa que quer me forçar a fazer coisas é o rei, mas Roarke não o deixa. Ele quer uma esposa disposta. Ele não vai me manipular para fazer qualquer coisa contra a minha vontade, apesar do que você está pensando.
Dash parece que ele está prestes a ficar doente. — Você... você veio aqui voluntariamente? Ninguém te obrigou a isso?
— Sim. Ele ofereceu algo que eu queria e decidi que o preço valia à pena.
— O preço é um casamento, Em! Uma união! Você parou para pensar o quão sério é isso? Estamos falando do resto da sua vida. As uniões neste mundo não são como as do seu mundo. É um vínculo mágico que não é facilmente quebrado. E uniões reais? Eu nunca ouvi falar de uma união sendo quebrada. Se você continuar com isso, é para sempre.
Eu reviro meus olhos, mesmo quando o peso de suas palavras perfura meu núcleo e deixa minha pele mais fria do que há um momento atrás estava. — Agora você está sendo um idiota novamente. Eu não pretendo realmente que essa união aconteça. Eu tenho uma Habilidade Griffin, pelo amor de Deus. Uma extremamente poderosa. Quando for o momento certo, e quando eu tiver aprendido bastante controle sobre ela, eu vou pedir ao Roarke para me dizer tudo que eu preciso saber para curar minha mãe, e então eu vou escapar.
Dash ainda parece um pouco doente. — Sério? Esse é o seu plano? Você realmente acha que depois de tudo isso lá — ele acena genericamente na direção do salão de novo — eles vão deixar você escapar?
— Tudo bem, primeiro de tudo, ‘escapar’ implica que eu não vou pedir permissão. Eu vou embora. Então não importa se eles vão me deixar ou não. E em segundo lugar... — Eu lentamente respiro profundamente porque eu tenho que admitir que estou me sentindo tão doente quanto Dash parece. Em segundo lugar, percebo que escapar pode não ser possível. Eles podem me pegar e me forçar a participar desta...
— Você acha?
— ... apesar de tudo que Roarke diz sobre querer uma esposa disposta, — eu continuo, interrompendo Dash. — E se é assim que acaba, então que assim seja. Pelo menos eu vou pegar as informações que preciso, e então —
— Isso se Roarke realmente prosseguir com seu lado da barganha e dizer a você o que ele sabe — o que provavelmente não é nada, a propósito. Como ele pode saber mais sobre sua mãe do que o resto de nós? Mas quando você descobrir isso, será tarde demais para você. — Ele ergue as mãos e olha para o lado enquanto balança a cabeça. — Todo esse seu plano é totalmente inútil.
Um calafrio me percorre. Meu corpo esfria rapidamente, e o ar do inverno parece estar se infiltrando em meus ossos. Eu corro minhas mãos vigorosamente para cima e para baixo nos meus braços. — Não é inútil. Magia negra prendeu minha mãe em um coma permanente, e Roarke, como um membro da corte que usa esse tipo de magia, sabe como acordá-la. E, mais importante, ele sabe o que causou sua doença mental. Foi algo mágico, e ele sabe como consertar isso.
— Ele está mentindo, Em, — Dash diz com o tipo de tom que ele usaria conversando com uma criança ingênua. Distraidamente, ele move a mão em um movimento rápido e circular acima da minha cabeça, e eu imediatamente começo a me sentir mais quente. — Você realmente acha que um príncipe mimado sabe alguma coisa sobre doenças mentais mágicas? Ele diria qualquer coisa para você ficar e dar-lhe acesso total à sua Habilidade Griffin. Por que você não consegue ver isso?
— Ele não está mentindo. Ele sabe muito mais sobre o meu passado do que qualquer outro que eu tenha encontrado neste mundo. Ele já provou isso para mim. Ele é minha melhor chance de salvar a minha mãe.
— Mas... isso é só... — Dash se debate por um momento. Ele puxa seu cabelo, que eu percebo que é uma peruca quando se solta em sua mão, revelando seu próprio cabelo bagunçado por baixo. — Eu sei que você quer que sua mãe esteja melhor, — ele diz, seus olhos voltando aos meus, — mas por que sua saúde e felicidade têm que ser exclusivamente responsabilidade sua? Ela é realmente — Ele se interrompe, respirando pesadamente. Eu sei que isso vai me fazer soar como o cara mau. Eu não quero te perguntar se ela vale à pena, porque claramente —
— Como você pode pensar isso? — Eu arquejo.
— Eu não estou! É isso que eu estou dizendo. É claro que ela vale a pena. Ela é sua mãe, e claramente você a ama mais do que tudo em qualquer mundo, mas... — Seus olhos me imploram. — Ela quer que você faça isso? Ela quer que você jogue fora toda a sua vida no que é provavelmente uma tentativa fútil de salvar a dela?
— Eu não estou jogando fora toda a minha vida! — Eu grito. Então eu me lembro. Lembro das palavras de Aurora — meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares — e abaixo a voz novamente. É quase um sussurro agora. Meus lábios mal se movem enquanto eu falo. — Eles podem me forçar a um casamento, mas isso não significa que eu ficarei aqui para sempre. Minha Habilidade Griffin me faz mais poderosa que a maioria das pessoas neste mundo. Mamãe e eu vamos escapar um dia.
— Mesmo que isso seja possível, — diz Dash, — quantas coisas ruins eles vão te obrigar a cometer antes disso?
— Eu... eu... — Eu não tenho uma resposta para isso.
— Por que você acha que eles querem você, Em? Para que você possa deixar o trabalho sujo dele mais fácil, é por isso. — Ele pega meus ombros e me dá uma pequena sacudida. — Essas pessoas não são boas. Com certeza você sabe o tipo de coisas que elas vão fazer você fazer?
Eu me liberto de seu aperto. — Você está errado. Roarke não é assim, e Aurora também não. — Mas o rei é, uma voz silenciosa me lembra. Aquela cena no escritório do rei — a cena que continuo empurrando para fora dos meus pensamentos — aparece abruptamente na frente da minha mente. O rei com a mão apertando o ar, e a cabeça do homem sendo arrancada de sua —
Eu pisco e estremeço e desvio o olhar.
— Sério? — Dash diz. — Eles não são assim?
Eu posso dizer sem encontrar seus olhos que ele sabe que estou mentindo. Eu dou uma respiração trêmula. — Eu vi... alguma coisa. — Eu pisco de novo e balanço a cabeça, tentando forçar a memória para longe. Eu me concentro nos olhos verdes de Dash novamente, sabendo que não há sentido em tentar convencê-lo com mentiras que eu também mal acredito. Não há sentido em nada além da verdade. — Que outra escolha eu tinha, Dash? — Minha voz é um sussurro desesperado agora, tendo perdido seu tom defensivo. — Estas são as únicas pessoas que podem me ajudar.
— Você poderia ter confiado em nós! Eu e todo mundo no oásis. Queremos ajudar você, Em. Nós não fizemos nada, além de tentar ajudá-la desde que você chegou a este mundo, e isso não mudaria. Eu não entendo porque você simplesmente virou as costas para tudo isso e —
— É por isso, Dash! Foi por isso que eu tive que ir embora.
Ele faz uma pausa, as sobrancelhas subindo mais alto. — Isso deveria fazer sentido?
— Você e seus amigos não fizeram nada além de tentar me ajudar e isso quase matou vocês. Você virou uma estátua de vidro. Lembra disso? Você e Violet chegaram tão perto de morrer. Morrer, Dash! — Minha voz se eleva quando meu peito aperta com a lembrança daquele dia aterrorizante.
— Sim, mas não morremos. Não é grande coisa.
— Claro que foi importante! Você quase morreu porque tentou me ajudar. E Chelsea e Georgia realmente estavam mortas, e elas teriam ficado assim se minha Habilidade Griffin não tivesse feito uma aparição conveniente. Então, depois de tudo isso, eu decidi que não queria que ninguém mais fosse colocado em risco por minha causa e de minha mãe.
— Em —
— Sim, eu tinha tudo que queria no oásis. É lindo, é seguro, as pessoas são incríveis. Mas se eu tivesse ficado lá, alguém teria acabado ferido ou morto porque tentaram me ajudar. Isso é problema meu. Ela é minha mãe. Se há um preço envolvido em fazê-la voltar ao normal, sou eu quem devo pagar. Ninguém mais.
Dash fica em silêncio por muito tempo antes de dizer, — É tarde demais para isso.
Eu pisco, sentindo frio novamente, apesar do feitiço de calor de Dash ainda me cercando. — O que você quer dizer?
Ele balança a cabeça e olha para o outro lado. — Isso... não era assim que eu queria te contar. Eu queria te levar para longe daqui primeiro. De volta ao oásis.
— Antes de me dizer o quê? — Eu me aproximo e envolvo uma mão fria em torno de seu braço. — Me dizer o quê, Dash? O que aconteceu?
— Chelsea e Georgia... — Ele fecha os olhos e pressiona os lábios antes de continuar. — As duas... morreram.
Eu solto minha mão de seu braço tão rapidamente como se sua pele tivesse me queimado. — O quê?
— Aconteceu cerca de dois dias depois do incidente de vidro com Ada.
— Mas... elas não podem estar mortas. Minha Habilidade Griffin as trouxe de volta a vida.
— Elas eram humanas, Em, — ele diz gentilmente. — Sua Habilidade Griffin pode ter funcionado nelas, mas seus corpos não conseguiram lidar com a magia. No final, isso as matou.
— Mas... você tem certeza de que elas eram humanas? Quero dizer, ela é irmã da minha mãe e minha mãe é uma faerie. E sobre todos os remédios herbáceos que Chelsea fez? Eu pensei que talvez... talvez fosse realmente mágico.
Dash não oferece explicações; ele apenas balança a cabeça. — Eu sinto muito, Em.
— Elas... elas estão realmente mortas? — Eu sussurro. — Minha magia as matou. Eu pensei que isso as salvou, mas as matou.
— Em —
— Eu matei minha própria família.
— Não foi você quem as matou, — diz Dash, sua voz repentinamente feroz. — Ada fez isso com sua horrível magia de vidro. Ela as quebrou em milhares de pedaços. Você fez o que pôde para salvá-las, mas não foi o suficiente. Elas estavam condenadas desde o momento em que ela as tocou pela primeira vez.
Minhas pernas não conseguem me segurar. Eu caio no chão, sem um segundo pensamento sobre o vestido caro que eu provavelmente estou estragando. Respirações rápidas e superficiais me consomem enquanto olho para o jardim. Dash ainda está falando, mas não consigo mais ouvi-lo. Eu não sei como devo reagir a isso. Chelsea e Georgia não me amavam, e eu não as amava; Eu não posso fingir o contrário só porque elas estão mortas. Mas elas eram da família. Elas me acolheram, embora constantemente deixassem claro que eu era um peso para elas. E agora elas estão mortas e eu não consigo descobrir o que devo sentir além de me sentir culpada.
— Eu nunca quis nada disso, — eu consigo sussurrar. Eu cubro meu rosto com minhas mãos, desejando que eu pudesse apagar este outro mundo e sua magia que deixou minha vida completamente fora do meu controle. — Alguém pode simplesmente levar tudo isso embora? Por favor. Eu não quero essa magia. Eu não quero uma Habilidade Griffin. Eu não quero casar com um príncipe. Eu só quero voltar para aquela vida simples que mamãe e eu tivemos antes que a magia a deixasse louca e tudo começasse a desmoronar.
Eu sinto o braço de Dash no meu ombro e o sinto agachado ao meu lado. — Eu queria poder —
— Emerson?
Eu respiro fundo ao som da voz do Roarke. Lentamente, eu abaixo minhas mãos e o observo descer as escadas.
— O que está acontecendo? Por que você está no chão?
Dash se levanta para encará-lo.
— Você, — Roarke diz lentamente, reconhecimento em seus olhos. — Bem, agora. — Seu olhar se move para mim enquanto sua expressão se torna ilegível. — Se isso não é uma situação interessante.
Capítulo 12
EM MENOS DE UM MINUTO, EU ME ENCONTRO DE VOLTA DENTRO DO CALOR DO palácio em uma pequena sala de estar em algum lugar perto do salão de baile. Apesar do turbilhão de emoções me dominando, eu não ouso desobedecer Roarke quando ele proferiu — Siga-me. — em um tom mais frio do que o ar do inverno. Dash hesitou, mas logo nos alcançou. De volta ao salão de baile, ninguém parou o príncipe ou sua noiva. Ninguém sequer olhou em nossa direção. Eu suspeito que a magia de Roarke seja a responsável por isso.
A porta da sala de estar se fecha sozinha. Chamas ganham vida na lareira. — O que ele está fazendo aqui? — Roarke exige imediatamente, apontando para Dash sem olhar para ele.
— Eu... eu não... — Eu corro minhas mãos pelo meu rosto, tentando me concentrar nas palavras de Roarke e vendo apenas os olhos sem vida de Chelsea e Georgia. Seus corpos frios. Sozinhas em suas camas em sua pequena casa em Stanmeade. Eu pisco e olho para as chamas crepitantes dançando na lareira, na esperança de queimar a imagem brilhante e quente em minha mente. — Eu não sei, — eu digo finalmente, me afastando do fogo. — Fiquei tão chocada quanto você por vê-lo aqui. Essa coisa ainda está ligada a mim — Eu toco o pedaço de metal do tamanho de uma moeda atrás da minha orelha — então nenhuma mágica deveria ter sido capaz de me localizar.
Roarke atravessa a sala. Seus dedos envolvem o braço de Dash. — Onde estão suas marcas de guardião?
Dash puxa o braço para longe e solta uma risada curta. — Tem essa coisa que as garotas usam. É chamado de corretivo. Funciona muito bem para cobrir —
— E como você entrou no meu palácio?
Dash leva seu tempo cruzando os braços sobre o peito antes de encarar Roarke. — Sua mãe decidiu terceirizar o design do vestido de Em para esta noite. Quando um de seus empregados veio buscá-las, tive a certeza de estar lá, pronto para ocupar o lugar dele. Seu transporte me trouxe de volta aqui. Foi tudo incrivelmente fácil, na verdade.
— E como você sabia que Emerson estava aqui em primeiro lugar?
— Um palpite, acho que mais um processo de eliminação. Eu achei que poderiam ser vocês, os Seelies ou a Guilda que a prendiam. Perguntei por aí, e a Guilda e os Seelies ainda pareciam estar sob a impressão de que Em estava morta ou desaparecida. Sabe, desde o incidente no penhasco. — Dash dá de ombros. — Portanto, tinha que ser vocês.
— Então você contou aos seus superiores tudo sobre suas suspeitas, e eles te recompensaram deixando você entrar furtivamente em minha casa e meter seu nariz indesejado ao redor? Duvidoso. Você não parece estar na hierarquia mais alta da Guilda para ter uma missão tão importante quanto recuperar uma perigosa e poderosa faerie Dotada Griffin como Emerson.
O olhar de Dash se estreita um pouco. — Eu não estou aqui representando a Guilda.
— Ah. — Roarke acena com a cabeça. — Eu tive a sensação de que poderia ser algo nesse sentido. — Ele caminha até a cômoda do outro lado da sala e abre uma gaveta. — Você e Emerson pareciam estar ficando muito confortáveis quando Aurora e eu encontramos vocês dois juntos em seu antigo quarto. — Ele fecha a gaveta e se vira para nos encarar novamente. — Depois que ela escapou da Guilda. Quando você — um guardião — não deveria saber nada sobre o paradeiro dela. — Ele balança a cabeça e solta uma risada silenciosa. — Um traidor para sua própria espécie, eu vejo. Que decepcionante.
A expressão do Dash escurece. — Na verdade não. Acontece que eu discordo de marcar, rastrear e aprisionar Dotados Griffin.
— E você tem alguma marca em você, garoto guardião? Para que alguém possa convocá-lo ou determinar sua localização?
— Eu disse a você que não estou aqui em nome da Guilda, então por que eu seria estúpido o suficiente para deixar alguém me marcar?
— Bom. — Roarke se move em direção a Dash. — Mas apenas no caso ... — Sua mão gira e bate na lateral do pescoço de Dash.
Quase rápido demais para ver, Dash pega o braço de Roarke e o torce, girando o príncipe ao redor e prendendo o braço atrás das costas. — O que você acabou de fazer? — Dash sibila. O som de um chiado percorre o ar, e com um grito, Dash empurra Roarke para longe dele. — O que —
Roarke se endireita, rola os ombros e ajusta o colarinho de sua jaqueta. — Eu não gosto de ser maltratado.
Dash toca o lado do pescoço dele. — O que é isso? — Quando sua mão se afasta, vejo um pequeno círculo de metal como o atrás da minha orelha.
— Uma precaução, isso é tudo, — diz Roarke.
— Como você ousa —
— Você entra em minha casa e quer saber como eu ouso a —
— Parem! — Eu grito. Minha Habilidade Griffin ainda não está pronta para emitir um comando mágico, mas meu grito é suficiente para fazer Roarke e Dash pararem e olharem em minha direção. — Apenas ... apenas parem. — Minha voz vacila. — Minha tia e prima estão mortas, e vocês dois estão agindo como crianças mesquinhas.
Uma carranca puxa as sobrancelhas de Roarke para baixo. — Sua tia e prima? Com quem você viveu no mundo não-mágico?
Eu olho para trás em direção ao fogo enquanto eu aceno. — Dash me contou. Do lado de fora. É por isso que eu estava sentada no chão. Eu estava... eu simplesmente não consigo acreditar.
— Estas são as pessoas de quem você particularmente não gostava? — Roarke pergunta, seu tom não indelicado, apenas curioso. — Aquelas que te trataram mal desde que você se mudou para a cidade para viver com elas?
Eu concordo. — Mas elas ainda eram da família. Bem, eu não sei o que elas eram. Mamãe e Chelsea eram irmãs, mas mamãe é uma faerie e Chelsea era humana, então... elas não podem ter sido irmãs? Eu não sei. Eu não entendo. — Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas novamente e fecho meus olhos. — Mas eu morei com elas. Por anos. Eu pensei que elas eram da família, e agora elas morreram.
Eu ouço os passos silenciosos de Roarke se aproximando antes que ele coloque uma mão cuidadosamente contra as minhas costas. — Eu sinto muito, Emerson. Eu não posso imaginar como é isso. Mas posso prometer isto: você está prestes a ter uma família totalmente nova. E embora possa não ser óbvio do lado de fora, nós nos importamos um com o outro. Nós vamos cuidar de você também. Você será uma de nós e finalmente pertencerá a algum lugar. Você e sua mãe.
Do outro lado da sala, Dash bufa e resmunga algo em voz baixa. Eu quase faço o mesmo, porque é claro que o verdadeiro motivo de Roarke não tem nada a ver com o desejo de me dar uma nova família e um lugar para pertencer. Ele quer minha Habilidade Griffin. Mas talvez haja mais do que isso. Talvez ele realmente queira que essa união funcione. Talvez ele planeje cuidar de mim pelo resto de nossas vidas.
— Você vai ficar, é claro, — Roarke diz para Dash. — Para a cerimônia. Você é amigo de Emerson. Tenho certeza que ela vai querer que você esteja aqui.
— Sua cerimônia é daqui a duas semanas, — Dash diz antes que eu possa expressar minha própria opinião. — Eu não posso ficar aqui por tanto tempo. Eu tenho um emprego, lembra?
— Você também tem o desejo de parar esta união, — Roarke aponta. — O que significa que, se eu deixar você sair, você dirá à Guilda exatamente o que está acontecendo, e eles tentarão interromper nossos planos e recuperar Emerson. Ou matá-la.
— Dash não diria —
— Você não sabe com certeza, — Roarke diz para mim. — Se você quer que esta união aconteça, então não podemos correr o risco que a Guilda se envolva.
— A Guilda vai se perguntar onde estou, — diz Dash.
— Deixe-os se perguntar então. Eles não sabem que você está aqui.
Dash exala lentamente, seus olhos brilhantes nunca deixando Roarke. — Eu sei que isso não importa para você, mas eu tenho casos importantes —
— Você deveria ter considerado isso antes de invadir minha casa, — diz Roarke.
— Tudo bem. — Dash força seus punhos para trás de suas costas e dá a Roarke o sorriso mais obviamente falso que eu já vi. — Muito obrigada pelo convite, Sua Alteza Real. Eu ficarei feliz em ficar aqui e participar da sua cerimônia de união.
Roarke acena. — Bom. Apenas certifique-se de que as marcas em seu pulso permaneçam cobertas. Não posso garantir sua segurança se meu pai descobrir o que você é.
— Certamente. E vou manter meus lábios fechados e não fazer perguntas sobre nenhuma das leis que vocês Unseelies quebraram ultimamente, ou sobre, digamos, aquele lugar sombrio e sem cor onde eu acordei depois que você sequestrou Em e eu.
— Perfeito. Espero que você não se esqueça dessa promessa, — Roarke acrescenta em um tom ameaçador.
— Então ... Dash é um convidado? — Eu pergunto. — Ou um prisioneiro?
Roarke olha para mim. — Você gostaria que eu fizesse dele um prisioneiro?
— Claro que não.
— Então ele é nosso convidado. — Ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu só quero te fazer feliz, Emerson. Você recebeu algumas notícias chocantes esta noite e tenho certeza de que será um conforto ter seu amigo aqui.
Minha carranca se aprofunda. — Mas você não confia nele e não quer que ele vá embora. Então, por que você o deixaria vagar livremente pelo seu palácio?
— Não se preocupe, ele será observado onde quer que vá. Se ele sair da linha, eu me certificarei de que a Guilda descubra que ele sabe muito mais sobre os rebeldes Griffin do que deveria. Duvido que ele consiga manter o emprego depois disso. — Ele olha para Dash. — Parece justo?
Dash inclina a cabeça no menor dos acenos. — Perfeitamente justo, já que eu planejo estar no meu melhor comportamento, Real Principesco.
Um músculo na mandíbula de Roarke se contrai, mas, felizmente, ele decide não retaliar a última parte. — Mais importante, minha querida Emerson, — continua ele, virando para mim, — eu gostaria de mostrar a você que eu me importo com a sua felicidade. Se isso significa tratar seu amigo guardião como convidado em vez de prisioneiro, então eu faço.
Eu ainda não sei se acredito nele, mas acho que vou descobrir nos próximos dias. — Tudo bem, — eu digo com cautela. — Obrigada.
— Vamos voltar para o baile agora. Afaste sua tristeza, meu amor, e junte-se à alegria. Você logo se sentirá melhor.
Eu duvido que isso seja verdade, mas também duvido que tenha escolha. Eu acho que o meu pedido para sair da festa, subir na cama e puxar as cobertas sobre a minha cabeça não iria cair bem. Então eu sigo Roarke para fora da sala e de volta para a festa. Eu respiro profundamente e pressiono meus lábios para evitar que estremeçam. Eu tomo a primeira bebida que é oferecida e de uma só vez, esperando que o liquido seja suficiente para entorpecer meus sentidos pelo resto da noite.
Quando está perto da meia-noite e minha Habilidade Griffin vem à tona, eu digo às palavras que fui obrigada a dizer. Ninguém me ouve em meio ao barulho, mas todos gritam oohs e aahs em admiração aos seis arco-íris que se formam um após o outro do outro lado da sala, como se marcassem os doze pontos de um gigantesco relógio colorido. Eu gostaria de poder experimentar um pouco da admiração deles com a visão do que minha própria magia produziu, mas parece que as várias bebidas que eu consumi estão fazendo seu trabalho: eu não sinto mais nada.
Capítulo 13
QUANDO CLARINA ME ACORDA NA MANHÃ SEGUINTE, SINTO QUE alguém enfiou uma estaca no meu globo ocular. E uma chave de fenda no outro olho. Alguém deve ter também aumentado o brilho do sol; Eu só posso abrir meus olhos por cerca de meio segundo antes de ter que fechá-los novamente.
— Seu almoço está na sala de estar, minha senhora, — diz Clarina. — Todos estão comendo sozinhos hoje, conforme alguns ainda estão se recuperando da noite passada.
— Almoço? — Eu pergunto com uma voz rouca.
— Sim, é quase meio-dia, minha senhora. — Seus passos se aproximam e ela acrescenta, — A bebida ao lado de sua cama aliviará sua dor de cabeça.
Eu levanto lentamente e olho para o copo de cristal com um líquido claro. Quase pergunto como ela sabe sobre minha dor de cabeça, mas suponho que ela esteja aqui há tempo suficiente para ter plena consciência das muitas ressacas que se seguem de um evento como o baile da noite anterior.
— Sua piscina está cheia, — acrescenta ela.
— Obrigada. — Eu balanço minhas pernas sobre a borda da cama e olho para o chão por um tempo enquanto meu cérebro percorre os eventos da noite anterior. Eu lembro que Dash está aqui agora. Eu lembro que Chelsea e Georgia estão ... mortas.
Eu pego o copo e meus olhos caem sobre a roupa que Clarina escolheu para mim hoje, pendurada do lado de fora do guarda-roupa. Um casaco do tipo trespassado, na cor água-marinha com padrões de branco, verde e malva. As comemorações do aniversário da rainha continuam com um chá nos jardins esta tarde, então Clarina foi obviamente instruída a escolher algo apropriadamente festivo para mim. É bonito, mas não parece certo usar algo tão... vivo.
— Clarina? — Eu chamo, esperando que ela ainda esteja na sala ao lado.
— Sim, Lady Emerson? — Ela corre de volta para o quarto.
— Tudo bem se você escolher uma roupa preta para mim hoje? Ou cinza, talvez, se preto for deprimente demais para o chá da rainha?
— Hum, certamente, minha senhora. Isso deve estar bem. Eu acredito que há uma roupa na cor carvão com detalhes bordados de prata. Deve servir?
— Sim, obrigada.
Não sinto qualquer tipo de profunda tristeza pela perda de Chelsea e de Georgia. Eu ainda estou chocada, mal conseguindo acreditar que elas se foram, mas sei que não houve nenhum amor perdido entre nós. Ainda assim, parece errado simplesmente seguir em frente com a vida e esquecê-las. Eu preciso fazer alguma coisa, e se usar preto ou cinza é a única coisa que resta para mim, então é o que vou fazer.
***
A mistura no copo funciona notavelmente rápido, e minha dor de cabeça logo desaparece. Embora eu gostasse de mergulhar na piscina de bolhas roxas por muito mais tempo, eu provavelmente devo descobrir onde Dash está e ter certeza de que ele não se meteu em problemas.
Depois de me secar e me vestir, fecho os botões da minha roupa cor de carvão e ando descalço através da minha sala de estar em busca de um pouco de comida. Eu escolho o sanduíche mais normal e volto para o meu quarto para escolher um par de sapatos.
Ao ver uma figura sentada na beira da minha cama, eu congelo. Ele vira a cabeça - e percebo que é Dash.
— Caramba, Dash. Você está tentando me dar um ataque cardíaco? Como você chegou aqui?
Ele gesticula por cima do ombro para a janela onde a cortina ondula suavemente com a brisa morna. — Sua janela estava aberta. Eu subi por ela.
Eu quero dizer a ele que ele é tão ruim quanto eu, subindo pelas paredes do palácio, mas estou com medo de que alguém importante descubra que ele está no meu quarto. — Você não pode estar aqui, — eu sussurro. — Se Roarke ou o pai dele te encontrarem no meu quarto, de todos os lugares —
— Ninguém me viu, não se preocupe. Eu não saí do meu quarto pela porta, então qualquer um observando vai assumir que eu ainda estou lá dentro. E achei seu quarto com bastante facilidade. Não tive que procurar por muitos outros.
— Dash!
— O quê?
— E quem pode estar ouvindo agora? — Eu assobio.
Dash franze a testa. — Você está brincando certo?
Eu balanço minha cabeça. — Há olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Sim, mas no seu quarto? Isso é passar dos limites.
Eu me aproximo mais dele e abaixo minha voz ainda mais. — Depois de tudo que você me falou sobre essas pessoas, você realmente quer que eu acredite que há limites que eles não passaram?
Dash hesita. — Verdade.
— Quero dizer, eu não sei ao certo se alguém está ouvindo, mas Aurora me disse para ter cuidado com o que eu digo, não importa onde eu esteja.
Dash levanta o dedo para os lábios, indicando que eu deveria permanecer em silêncio. Ele começa a andar devagar pelo quarto, olhando, ouvindo, às vezes até cheirando. — A única outra magia que eu posso sentir neste quarto está vindo da sua cama, — ele sussurra. — O que é totalmente inapropriado, se você perguntar —
O edredom se move, uma forma desliza em direção à borda e um gato preto aterrissa no chão.
— Oh, — Dash diz, sua voz não mais que um sussurro. — É o Bandit?
Eu abro meus braços e Bandit pula para cima, mudando para um pássaro para ajudá-lo a ganhar altitude, e pousando em meus braços como um gato mais uma vez. — Sim. — Eu o abraço junto ao meu peito. — Eu queria que ele ficasse no — hum, onde estava seguro. Mas ele deve ter vindo comigo em uma forma pequena demais para eu notar.
Dash sorri e se aproxima para poder acariciar Bandit atrás das orelhas. — Jack ficará aliviado. Ele está muito preocupado com Bandit.
— Então você não acha que alguém está ouvindo? — Eu pergunto.
— Eu acho que não, mas mesmo que alguém esteja ouvindo, e daí? Não é como se eu estivesse agindo de forma inadequada em relação à futura princesa. Você e eu estamos apenas conversando. Se você preferir, podemos conversar na sua sala de estar, em vez de no seu quarto.
Eu reviro meus olhos. — Como se isso fizesse alguma diferença. Você ainda teria que explicar como passou pelos guardas do lado de fora da minha porta. E subir pela janela faz você parecer muito suspeito.
Ele solta um suspiro e senta-se na beira da cama novamente. — Eu só pensei que você poderia querer saber sobre... você sabe. O funeral.
O funeral.
Chelsea e Georgia.
Mortas.
— Você estava lá? — Eu pergunto.
Dash acena com a cabeça. — Sim. Você pode ou não lembrar que algumas das pessoas em Stanmeade eram realmente minhas amigas. Não amigos verdadeiros, é claro, já que eu nunca poderia ser totalmente honesta com ninguém, mas ... sim. Tenho amigos lá e senti que deveria estar no funeral. Só para apoiar alguém que fosse amigo da Georgia.
Eu aceno e murmuro, — Claro. Sim. Ainda não consigo acreditar que ela e Chelsea se foram. Elas sempre estavam lá, sabe? Minha horrível prima e tia de quem eu não podia esperar para fugir. Então eu finalmente consegui fugir, e agora ... — Eu balanço minha cabeça. Agora, porque Ada estava atrás de mim, ambos estão mortas. Dash pode tentar me convencer de que eu não deveria me culpar, mas sei que sou responsável. Indiretamente, talvez, mas ainda responsável.
Eu deixo Bandit pular para fora dos meus braços antes de caminhar até a cadeira no canto do meu quarto. É o tipo de cadeira elegante que ninguém quer realmente sentar - uma armação de madeira excessivamente embelezada com almofadas duras demais para serem confortáveis. No entanto, eu sento na borda e pigarreio. — Era, hum, havia muitas pessoas lá? No funeral?
— Sim. Quase todo mundo na cidade estava lá. Eu acho que Chelsea conhecia muita gente, já que ela administrava um dos únicos salões em Stanmeade.
Eu franzo a testa. — Ela era uma grande fã em espalhar fofocas e rumores e eu teria pensado que haveria muitas pessoas que não gostavam dela.
— Bem, você não precisa gostar de alguém para ir ao funeral.
Eu olho para ele. — As pessoas falaram coisas horríveis?
— Não. Apenas coisas boas foram ditas sobre ela. Sobre as duas. Foi tudo muito ... — Ele esfrega a mão no rosto. — Muito estranho. Muito trágico, por um lado, e ainda assim muito falso ouvir todas aquelas homenagens adoráveis sobre duas pessoas que eu testemunhei pessoalmente serem rancorosas em várias ocasiões. E parecia errado da minha parte pensar nessas coisas, mas como eu não poderia? Eu não poderia de repente transformar Chelsea e Georgia em outra coisa em minha memória só porque elas estão mortas.
— Eu ... apenas ... — Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei o que dizer ou pensar ou sentir. O que todos acham que foi a causa da morte?
— Um vazamento de gás.
— Eu suponho que a Guilda seja responsável por essa história?
— Sim. Foi à história mais fácil de inventar.
— Você acha... você sabe se ... — Eu hesito, imaginando se eu quero saber a resposta. — Elas sofreram? A magia em seus corpos as fez sofrer quando estavam morrendo?
— Eu não sei, Em. Eu sinceramente não sei. Espero que não.
Eu inclino meus cotovelos sobre meus joelhos. — Antes de você me contar o que aconteceu com elas, eu estava começando a pensar que todo esse tempo Chelsea também era uma espécie de faerie como eu e mamãe, e que os remédios herbáceos que ela fazia eram mágicos. Mas se elas continham magia, elas não teriam ajudado ninguém em Stanmeade. As pessoas teriam acabado doentes e possivelmente mortas, certo?
— Sim.
— Então Chelsea definitivamente era humana.
— Sim.
— O que significa que ela e minha mãe não podem ter sido irmãs.
Dash balança a cabeça.
— Eu me pergunto se Chelsea sabia. Eu me pergunto se minha mãe sabe, ou se ela acha que Chelsea era como ela. Alguém com magia que não pode ser acessada. — Eu esfrego meus dedos em movimentos circulares contra as minhas têmporas enquanto olho para o chão. — Eu ainda tenho muitas perguntas. Tantas lacunas na história da minha família que preciso que mamãe preencha para mim.
— Bem, espero que seu plano genial funcione e você tenha todas as respostas que procura.
Eu direciono uma careta para ele. — Isso não é apenas sobre respostas. Você sabe disso. Mesmo que mamãe não soubesse nada, eu ainda gostaria de acordá-la e curar sua mente.
— Sim, — ele diz baixinho. — Eu sei.
Eu o observo de perto por um tempo. — Por que você está aqui? Quer dizer, eu... — Eu afasto meu constrangimento conforme minhas bochechas esquentam. — Eu nunca fui legal com você. Certamente você não se importa o suficiente comigo para assumir o tipo de risco necessário para vir aqui.
Ele solta uma risada curta sem humor. — Não é uma questão de quanto eu posso ou não me importar com você. Isso não é apenas sobre você, Em. É sobre o que o Rei Unseelie vai fazer você fazer. Quantas vidas podem ser arruinadas porque você está sendo forçada a usar sua Habilidade Griffin contra sua vontade?
— Eu... eu não...
— E eu pensei que você fosse uma prisioneira aqui. Eu pensei que estava salvando você e todas as pessoas que você pode ser forçada a machucar no futuro. Eu nunca imaginei que você escolheu vir aqui. Que você se recusaria a ir embora assim que eu te encontrasse.
Eu olho para longe dele. — Eu sinto muito. Como eu disse ontem à noite, você não deveria me encontrar. Você deveria ficar longe e nunca se machucar novamente por minha causa.
— Isso nunca vai acontecer, Em. Eu não sou o tipo de pessoa para que fica sentado enquanto o Rei Unseelie põe as mãos na recente arma mais poderosa no reino das faeries. E eu não achei que você fosse o tipo de pessoa que simplesmente entregasse esse poder também.
Eu engulo a minha vergonha. — Bem, eu acho que sou, — eu digo em voz baixa, olhando para o chão. — Como quase todos os outros no mundo, estou apenas cuidando de mim mesma e das pessoas que amo. Eu não sou corajosa ou altruísta. Estou apenas fazendo o que tenho que fazer para sobreviver.
Do canto do meu olho, vejo Dash balançar a cabeça. — Você pode dizer a si mesma a mentira que quiser, mas eu sei que você é mais do que isso. Eu sei o que você fez em Stanmeade. Você parou o vidro de Ada de consumir a cidade inteira. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter mantido a localização da sua mãe em segredo e deixar aquele lugar se destruir. Mas você não fez.
— E que bem meu altruísmo fez então? — Eu exijo. — Eu dei a ela o que ela queria, mas ela parou seu ataque à cidade? Não. Eu tive que descobrir isso sozinha, e foi um acaso que a minha Habilidade Griffin apareceu no momento certo. Então, que diferença fará agora se eu me recusar a dar meu poder ao rei? Nada. Ele cometerá os mesmos atos malignos que ele planeja cometer. Pode demorar um pouco mais. — Me sinto doente com minhas próprias palavras. Eu não quero ajudar o rei a fazer nada. Mas realmente, o mundo é um lugar ruim e é assim que funciona. É assim que os dois mundos funcionam. A vida é uma merda e então você morre — assim como a velha música que Chelsea costumava ouvir às vezes. — Apenas algumas pessoas chegam a ser heróis, Dash, — digo em voz baixa. — E você pode ser uma dessas pessoas, mas eu não sou. Estou apenas tentando jogar a melhor mão das cartas que recebi.
Ele fica quieto por um momento, e tudo que consigo ver em seus olhos é tristeza. — Em algum momento, você vai perceber que isso — ele gesticula em torno dele — certamente não é sua melhor mão. Só espero que você descubra isso mais cedo do que tarde.
— E espero que você saia daqui mais cedo do que tarde. Não há necessidade de você se machucar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você sabe o que sou, certo? Machucar faz parte do trabalho.
E morrer? Eu quase pergunto. Mas eu não quero pensar nisso. Eu não quero falar sobre a morte quando ele já chegou tão perto disso. Não quando as mortes de Chelsea e Georgia ainda estão tão próximas.
— Além disso, — acrescenta ele. — Eu não acho que será tão fácil deixar este palácio como foi entrar.
Bandit pula de volta no meu colo. Eu acaricio seus pêlos negros e lustrosos e, em um esforço para desviar a conversa de assuntos tão pesados, pergunto, — Era verdade? A história que você contou a Roarke ontem à noite. Sobre entrar no palácio no lugar do empregado.
— Sim. Bem, principalmente. Não era eu que deveria vir para cá.
— Oh. — Eu olho para cima. — Quem deveria ser?
Dash me dá um olhar aguçado. — Eu prefiro não dizer o nome dela, apenas no caso. Mas eu tenho certeza que você pode descobrir, dado seu talento particular para... se ocultar.
Ah. Calla Eu concordo. — Eu acho que sei de quem você está falando.
— Teria sido muito mais fácil para ela se misturar. Mas o empregado chegou mais cedo do que o esperado para pegar o vestido no estúdio da minha mãe, então —
— Espere, sua mãe?
— Sim. Foi ela quem desenhou o seu vestido.
Minha mão continua nas costas de Bandit. — Sua mãe é Raven Rosewood?
— Sim. Eu te disse que ela é uma designer de moda, não foi?
— Sim, mas... eu nunca pensei... espera, seu sobrenome é Rosewood? — Isso não parece certo, mas agora não me lembro se eu soube o sobrenome de Dash.
— Não, é Blackhallow.
— Oh. Dash Blackhallow, — eu digo devagar, experimentando o nome.
— Dashiell Blackhallow, se formos técnicos. — Ele revira os olhos. — Muitos ls, eu sei. De qualquer forma, minha mãe ainda era Rosewood quando começou a desenhar. Esse é o nome que as pessoas a conhecem, então ela manteve.
— Então, dentre todos os designers deste mundo, a rainha acabou escolhendo sua mãe. Isso não pode ter sido uma coincidência.
Dash sorri. — Claro que não foi. Minha mãe ouviu que a Rainha Unseelie estava procurando um vestido especial. Não para ela, e nem para a filha. Os rumores sugeriam que uma nova jovem chegara ao Palácio Unseelie, e a rainha e a princesa tinham um interesse especial por ela. Normalmente minha mãe ficava longe de qualquer coisa a ver com os Unseelies, mas ela sabia que você desapareceu. Ela me contou sobre os rumores e essa ‘competição’ não oficial para desenhar o melhor vestido. Eu tinha quase certeza de que aquela garota era você, então eu disse à mamãe que um de seus vestidos tinha que ser escolhido, não importava o que acontecesse. Então nós encantamos seus desenhos. Um feitiço simples que fazia com que qualquer um que olhasse as páginas desejasse continuar voltando para elas. E funcionou. Ela foi escolhida.
Minha boca está aberta quando ele termina de falar. — Foi tão simples assim?
— Sim. E então o cara que veio pegar o vestido chegou muito cedo. Eu estava me escondendo, vendo minha mãe entregar o vestido sozinha, como ela havia sido instruída. Eu esperava que ela o mantivesse falando ou algo assim até que Ca — hum — até que nossa amiga chegasse, mas o empregado disse que ele estava com uma agenda apertada. Parecia bastante agitado por estar lá. Ele ficava olhando em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse naquele estabelecimento. Quando ele disse que sua carruagem estava encantada para dar meia-volta e sair em menos de cinco minutos, fiz a única coisa em que conseguia pensar: o fiz desmaiar e tomei o lugar dele.
— Então você pulou dentro de sua carruagem e tudo deu certo?
— Bem, eu vesti as roupas dele primeiro. E mamãe me encontrou uma peruca colorida apropriada de seus muitos recursos. E eu peguei a stylus dele e o âmbar, o que foi uma coisa boa, já que a porta da carruagem não abria até que eu segurasse a stylus contra ela, e eu estava quase sem tempo até lá. Ah, e havia dois guardas dentro da carruagem, mas eles estavam desinteressados o suficiente para que eles não notassem que meu rosto não era o mesmo do cara com quem eles estavam viajando.
— Mesmo? De jeito nenhum. Nenhum guarda é desatento aos detalhes. Eles devem ter percebido a diferença.
Dash hesita, um sorriso culpado esticando seus lábios. — Tudo bem, então eu posso ter discretamente borrifado alguma poção de contentamento quando entrei na carruagem.
— Poção?
— Minha mãe adiciona nos vestidos às vezes, a pedido de seus clientes. É estranho. Algumas dessas pessoas para quem ela desenha são super estressadas e tensas, e quando vão a esses eventos extravagantes, elas só querem relaxar um pouco. Fique contente e em paz, sabe? Eu estava com pressa, e o pequeno frasco de spray estava bem ali, então eu o peguei durante o caminho.
— E os guardas ficaram tão contentes que não perceberam que você não era o cara certo?
— Sim. Eu, talvez, tenha pulverizado um pouco demais. Felizmente, eu coloquei um escudo em volta de mim, caso contrário, eu provavelmente estaria tão contente que ainda estaria sentado naquela carruagem.
Eu pisco, incerta do que mais dizer sobre esse plano meio improvisado que realmente funcionou.
— Olha, não foi a minha operação secreta mais elegante, — admite Dash, — mas tudo correu bem. A carruagem me levou direto para o pátio do palácio e fui em direção de umas das portas. Levou um pouco de trabalho para descobrir para onde ir, mas não era nada que eu não pudesse lidar. Fingi estar um pouco tonto e confuso, elogiei uma das garotas que encontrei na cozinha e ela me mostrou para onde ir. Deixei o vestido com uma nota dizendo que o recolhimento correu bem e depois me escondi até o baile começar.
— Uau. Estou espantada por não ter dado tudo errado.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou bom em improvisar.
Minha mente recua para o início da sua história. — Então, eles — as pessoas com quem eu estava ficando — Eu não quero dizer as palavras ‘Rebeldes Griffin’ em voz alta — sabem que você está aqui?
— Sim.
Eu abaixo minha voz e me inclino para frente. — Você acha que eles virão aqui?
Dash hesita e diz em voz normal, — Não. Eles não sabem onde esse lugar fica. É por isso que um de nós precisava vir com o empregado. As Cortes Unseelie e Seelie estão escondidas, então muitas pessoas não sabem onde estão. — A maneira como ele está olhando para mim, seus olhos fixos nos meus, sugere fortemente que ele está mentindo. Também sugere que ele não está totalmente convencido de que alguém não está nos ouvindo.
— Merda, — eu sussurro para mim mesma. Os rebeldes Griffin provavelmente sabem como chegar a Corte Unseelie, e uma vez que eles perceberem que Dash não está voltando comigo, eles provavelmente virão direto para cá e farão tudo que puderem para levar nós dois. E, embora eu tenha certeza de que todos são incríveis lutadores mágicos, as chances são altas de que eles acabem feridos, mortos ou presos.
— Em? — Dash pergunta depois de vários momentos de silêncio da minha parte.
— É bom que eles não consigam encontrar este lugar, — eu digo em voz alta. Alta demais, provavelmente. Eu faço um esforço para parecer normal. — Eu sei que eles só estariam tentando ajudar, mas como eu disse a você ontem à noite, eu não estou precisando de ajuda.
Dash arqueia uma sobrancelha. — Se você não queria ajuda de ninguém, provavelmente deveria ter mencionado isso antes de fugir. Teríamos parado de trabalhar duro para descobrir o mistério que é a sua vida.
Um fragmento de culpa apunhala meu peito e gira. — Desculpe. Mas eu...
— Você pediu a nossa ajuda, lembra? Ou pelo menos ... — Linhas vincam sua testa enquanto ele a franze. — Nós oferecemos, e você disse sim. Algo parecido. Então você não pode nos culpar exatamente por investigar sua história familiar.
— Eu sei, eu só ia dizer que eu assumi que vocês iriam esquecer de mim quando eu fosse embora. Você tem muitas outras pessoas para ajudar, não é? E — espere, o que você disse sobre a história da minha família?
Ele suspira. — Nós tentamos descobrir sobre o seu pai. Como sua mãe não está acordada para esclarecer sua estranha situação, imaginamos que seu pai possa ajudar — se conseguirmos encontrá-lo. A única coisa que você mencionou sobre ele foi que ele pagou as contas médicas do hospital de sua mãe, então Chase foi lá para dar uma olhada nos registros. Ele é o único que sabe usar um computador, — acrescenta Dash com um revirar de olhos. — Ele cresceu em seu mundo, no caso de você não saber. De qualquer forma, ele disse que o arquivo de sua mãe tinha algum tipo de glamour nele. Ele podia ver os detalhes de Chelsea e todos os detalhes de sua mãe, mas qualquer coisa relacionada à pessoa que primeiro a checou e pagava todo mês estava... em branco. Os humanos que trabalham lá provavelmente veriam algo quando olhassem, mas Chase não conseguia ver nada.
— Então... ninguém estava realmente pagando por ela?
— Eu não sei. O ponto é que era um beco sem saída. Não conseguimos descobrir nada sobre o seu pai.
Meus ombros se curvam um pouco. — Está bem. É por isso que estou aqui, lembra? Esta união vai fazer a mente da minha mãe ser curada, e todas as respostas escondidas dentro dela serão finalmente desbloqueadas.
Passos atravessam a minha sala de estar. Eu agarro Bandit no meu peito e fico de pé abruptamente, bem quando Clarina para na porta. — Lady Emerson — Oh! — Ela olha fixamente para o chão. — Eu imploro seu perdão, minha senhora.
— Isso não é o que parece, — eu digo imediatamente. Eu não tenho certeza do que parece, mas não pode ser bom.
— Eu sinto muito, minha senhora. Eu bati na outra porta, mas —
— Eu não ouvi você, me desculpe.
— Eu não vou dizer nada, Lady Emerson.
— Não há nada a dizer, — asseguro com uma risada alta e ofegante. — Nós estávamos apenas conversando.
— Claro, — diz ela, balançando-se em uma breve reverência e mantendo os olhos no chão. — Por favor, me desculpe por interromper, mas o Príncipe Roarke gostaria de falar com você.
Meus dedos ficam tensos ao redor da forma de gato de Bandit. — Tudo bem. Obrigada. Onde devo encontrá-lo?
— Ele está esperando do lado de fora de seus aposentos por você, minha senhora.
— Oh. — Eu olho para Dash.
Ele sorri. — Bem, acho que vou sair do jeito que cheguei, então. Ainda bem que gosto de escalar.
Capítulo 14
EU ABRO A MINHA PORTA E ENCONTRO ROARKE DO LADO DE FORA. — Hum, bom dia. Boa tarde, quero dizer. Clarina disse que você queria conversar?
— Olá, meu amor. — Ele se inclina para frente e beija minha bochecha. Eu congelo e digo a mim mesma para não me afastar. — Você se recuperou das festividades da noite passada, eu vejo? — Ele adiciona.
Eu recuo para deixá-lo entrar. — Não há necessidade de se preocupar com o absurdo do ‘meu amor’. Ninguém mais está por perto para ouvir você, exceto Clarina.
— Oh, mas você é meu amor. — Roarke me dá um sorriso malicioso enquanto ele passa por mim para a sala. — Ou, pelo menos, eu espero que você seja um dia. — Ele acena brevemente para Clarina enquanto ela faz uma reverência e sai da sala. Ele se vira lentamente no local, olhando em volta, e quase espero que ele entre no quarto e comece a procurar por Dash. Mas então ele sorri serenamente e se senta à mesa ao lado da minha bandeja com o almoço.
E naquele momento, Bandit, que eu consegui manter escondido até agora, sai pulando do meu quarto na forma de um filhote de urso. Ele se transforma em lobo, pula no divã e voa para meus braços, pousando na forma de uma preguiça de cabelo azul. Eu permaneço imóvel, mas meu olhar pousa direto em Roarke. Pela primeira vez, ele parece totalmente sem palavras. Eu mordo meu lábio, esperando por sua resposta.
— Isso — é ... seu?
— Sim. É o Bandit. Ele veio quando você me trouxe para cá, embora ele deva ter estado em uma forma muito pequena para qualquer um de nós notar.
— Então ele esteve aqui com você — em seus aposentos — o tempo todo?
— Siiiim. — Minha voz é incerta, quase questionando. — Bem, eu não sabia que ele estava aqui nos primeiros dois ou três dias. Eu acho que ele pode ter ficado com medo do ambiente desconhecido, então ele permaneceu escondido por um tempo.
— Entendo. Que interessante.
Bandit se aconchega mais perto do meu peito e tenta enterrar a cabeça debaixo do meu braço. — Eu espero que você não desaprove, — eu digo com cuidado. — Eu gosto de tê-lo por perto. Ele... ele significa muito para mim. — O instinto me diz que eu não deveria revelar para o homem que eu ainda não confio que me importo com qualquer coisa. Ele pode optar por usar essa informação contra mim. Mas se Roarke se importa com a minha felicidade do jeito que ele alega, então ele não deve se importar com a presença de Bandit aqui.
— Bem, eu duvido que minha mãe aprovaria animais nos quartos, — Roarke diz, seu profundo olhar castanho-avermelhado fixo em Bandit, — mas ela não precisa saber. E se ela descobrir e tiver um problema com isso, lembrarei a ela como os Formattras são excepcionalmente raros e valiosos, e que se encaixaria uma princesa ter um como animal de estimação.
Eu concordo. — Legal. Obrigada. — Espero que Aurora sinta a mesma coisa e não surte quando conhecer Bandit.
— Qualquer coisa para fazê-la feliz, minha querida, — diz Roarke. — Agora, por que você não senta aqui para que possamos conversar? — Ele aponta para a cadeira ao lado dele na mesa.
— Hum, antes de conversarmos, posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele sorri para mim. — Minha futura esposa pode me perguntar qualquer coisa.
Eu atravesso a sala até a mesa e me sento. Eu levanto minha mão e toco o pequeno dispositivo circular atrás da minha orelha. — Eu sei que você colocou uma dessas coisas em Dash, mas e se ele conseguir tirar? E se a Guilda ou seus amigos descobrirem onde ele está e vierem atrás dele? Eu só não quero que ninguém mais interfira, lembra? — Para ser mais específica, não quero que ninguém acabe em algum calabouço Unseelie ou, pior ainda, enfrente o mesmo destino daquele homem que foi arrastado por uma caverna até o escritório do rei.
Roarke me examina de perto antes de responder. — Você realmente não tem nada a ver com o seu amigo aparecendo aqui, não é?
— O quê? Não, eu já te disse isso. Você achou que eu estava mentindo?
— Bem, eu seria um idiota em acreditar que você confia em mim. Talvez você tenha arranjado uma saída antes mesmo de chegar aqui.
— Eu não tenho. Eu disse a você que não queria que ninguém —
— Sim, eu sei. — Ele se inclina para trás. — Ainda assim, eu me perguntei se você poderia ser uma atriz muito convincente.
— Mas você não está mais se perguntando isso?
— Você ainda parece genuinamente preocupada com a possibilidade de os outros descobrirem que você está aqui. Então deixe-me tranquilizá-la, Emerson. Mesmo que alguém consiga localizar o paradeiro de Dash e, mesmo que cheguem ao local exato em que esperam encontrá-lo, não verão nenhum palácio. Somente se essa pessoa estiver na companhia de um de nossos guardas, será capaz de ver e entrar nos terrenos do palácio.
— Oh. Isso é... conveniente. — Parecido com... Não, sumiu. Eu quase consegui, uma imagem do lugar seguro pertencente aos rebeldes Griffin, mas é como tentar segurar fumaça. — Bem, me sinto melhor agora. Estou feliz que ninguém será capaz de interferir.
— Bom. — Roarke agita os dedos de uma mão pelo ar, e um pedaço de papel enrolado aparece em sua mão. — Agora, temos alguns preparativos para a cerimônia de união.
— Temos? — Eu nunca esperei ser consultada sobre os detalhes relacionados ao casamento. Eu assumi que a rainha e Aurora cuidariam de tudo isso. Como já foi dito muitas vezes, não faço ideia do que é apropriado e do que não é para eventos formais do mundo faerie.
— Você precisa memorizar os votos da união, — diz Roarke, colocando o papel sobre a mesa. — Tudo o que você precisa saber está neste pergaminho.
Eu quase comento como o uso de um pergaminho é antiquado — quero dizer, vamos lá. Certamente dobrar um pedaço de papel é mais simples e ocupa menos espaço — mas estou mais preocupada com o fato de ter que memorizar os votos. — Então, hum, eu não vou precisar repetir as palavras depois de alguém?
— Em parte dos votos, sim, mas as palavras estão em outro idioma, então você precisa praticar pronunciando-as corretamente. Há magia envolvida, então você não quer errar as palavras.
— Hum —
— E a outra parte da cerimônia são os votos privados que fazemos um ao outro sem que ninguém mais ouça. Você terá que memorizá-los.
— Oh. Por que eles são privados?
Sua expressão fica confusa. — Porque eles são apenas para os nossos ouvidos. — Por baixo da mesa, a mão dele desliza no meu joelho. — Coisas especiais e românticas que queremos dizer um ao outro.
— Oh. — Eu inclino um pouco para o lado, movendo minha perna para fora de seu alcance. — Mas... então por que precisamos dizê-las? Você e eu sabemos que não estamos entrando nessa união por nenhuma das razões tradicionais. Nós não precisamos entrar em detalhes românticos.
Se Roarke está incomodado pelo fato de eu não querer que ele toque minha perna, ele não demonstra. — Como eu disse há pouco, nossos votos envolvem magia. Nós não podemos simplesmente pular essa parte.
Eu franzo ainda mais o cenho. — Mas... tudo bem. Eu só... não entendo muito bem. Se essas palavras extras são uma parte padrão da união mágica, então por que elas são privadas? Eu realmente preciso memorizá-las?
Roarke simplesmente ri. — Emerson, é assim que a cerimônia é feita. Tem sido assim por muito tempo. Nós não podemos simplesmente mudá-la porque você não sente vontade de memorizar as palavras.
— Não é que eu não me sinta assim. — Eu enfio meu cabelo atrás das minhas orelhas. — Estou preocupada que eu possa esquecer alguma coisa ou cometer um erro. Se é tão importante acertar tudo, então, o que há de errado em repetir depois de outra pessoa ou ler as palavras de uma folha?
Roarke suspira. — Você não lerá as palavras de uma folha, Emerson. Não é assim que é feito.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu alcanço o pergaminho e puxo para mais perto. — Então, você vai me explicar o que todas essas palavras significam, ou devo recitar um absurdo que eu não entendo?
O canto da boca do Roarke se ergue. — É uma coisa boa que eu esteja te ensinando essas palavras. Qualquer outra pessoa ficaria muito ofendida.
Eu me inclino para trás e desenrolo o papel, revelando muito mais palavras estranhas do que me sinto confortável. — Aurora não ficaria ofendida.
— É verdade, mas Aurora só vai aprender as palavras particulares quando for à vez dela. Não é apropriado que ela as conheça ainda.
— Ah, mais impropriedade. — Eu solto um longo suspiro. — Eu perguntaria por que é inapropriado, já que essa é uma parte padrão de todas as cerimônias, mas você provavelmente vai me dizer ‘é assim que é feito’.
— Sim. Isso é exatamente o que eu vou te dizer. — Seus olhos enrugam nos cantos enquanto ele sorri. — Estou muito feliz em ver que você está aprendendo.
Eu me inclino para trás em minha cadeira e começo a ler os votos em voz alta, fazendo o melhor que posso com as combinações não familiares de letras. Depois de três palavras, estou ciente de que provavelmente estou massacrando o idioma faerie. Roarke espera até eu chegar ao final da primeira linha antes de me tirar da minha miséria. — Tudo bem. Eu vejo que isso vai demorar mais do que eu pensava. — Outro giro de seu pulso produz uma pena. Ele entrega para mim. — Vou pronunciar cada palavra e você pode escrever de qualquer maneira que faça sentido para você.
Nós chegamos na metade da parte pública dos votos antes de uma batida rápida nos interromper e minha porta ser aberta. — Irmã, querida! — Aurora grita para mim. — Oh, você está acordada. — Ela fica na porta e sorri. — Olha quem eu encontrei vagando pelos corredores. — Ela se aproxima e puxa Dash para aparecer.
— Eu disse que o convidei para ficar, não é? — Roarke diz para ela.
— Sim, mas eu não o vejo desde o dia em que o atordoamos no quarto de Em no reino humano. Eu não dei uma boa olhada nele naquele momento. Ele é mais bonito do que eu me lembro, — acrescenta ela com um sorriso provocante, deslizando o braço através do de Dash e puxando-o para mais perto.
— Obrigado. — Ele lhe dá um sorriso igualmente paquerador. Eu cruzo meus braços e dirijo uma carranca em sua direção, mas tudo o que ele faz quando vê minha expressão é encolher de ombros.
— Você lembra o que ele é? Roarke diz para Aurora com desaprovação em seu tom.
— Claro que eu lembro. E eu lembro, — ela acrescenta em um sussurro falso, — que é segredo.
— Nós estávamos realmente ocupados com algo antes de você tão rudemente invadir aqui, — comenta Roarke.
— Ooh, sim, memorizando os votos. Que romântico. Posso dar uma olhada?
Roarke pega a página de mim e prontamente a enrola antes que Aurora possa chegar mais perto. — Não, você não pode. Eu não quero estragar nada para você antes de chegar a sua vez.
— Como você é atencioso.
Roarke bate minha mão com o pergaminho. — Podemos tentar de novo mais tarde, minha querida prometida — quando tivermos um pouco mais de privacidade. — Ele gira o pergaminho em sua mão e ele desaparece.
— A razão por eu ter entrado aqui, — Aurora diz, — foi sugerir que todos nós descêssemos juntos para o chá. E eu queria verificar se Em ainda estava dormindo.
— Oh, já está hora? — Eu pergunto. — Eu pensei que o chá fosse mais tarde.
— Chá? — Dash pergunta.
— Sim, no caramanchão da rainha no jardim. Mamãe oferece para aqueles que ficaram aqui depois da festa.
Afasto-me da mesa e me levanto. — Esperem, eu preciso colocar os sapatos. — Aurora me acompanha até o quarto para me ajudar a selecionar sapatos apropriados. Eu coloco os chinelos prateados rapidamente, não querendo dar a Roarke e Dash nenhum segundo para acabarem brigando.
Uma vez que nós quatro estamos no corredor — com vários guardas caminhando na frente e atrás de nós — Roarke pergunta a Aurora se ele pode falar em particular com ela. Os dois seguem em frente enquanto eu ando ao lado de Dash. — Eu me pergunto como Jewel se sentiria, — eu digo a ele, — se ela soubesse o tipo de atenção que você estava recebendo da encantadora princesa Aurora.
Dash suspira. — Espero que ela entenda, considerando o fato de que tivemos uma conversa recentemente e eu disse a ela que não me sinto da mesma maneira que ela se sente.
— Oh. Hum ... bom trabalho.
— Sim. Não foi do jeito que eu esperava.
— Desculpe. Isso deve ter sido estranho. Ela ficou muito chateada?
— Na verdade, ela me convenceu a ir a um encontro com ela.
Eu quase tropeço quando olho para ele surpresa. — Sério? Você disse que não tinha sentimentos românticos por ela, e essa conversa terminou com vocês dois indo a um encontro?
Ele me dá um olhar divertido. — Há algo de errado com isso? Algo sobre a ideia de eu ir a um encontro com Jewel que a perturba, talvez?
— Não se iluda. Estou surpresa, isso é tudo. Você não parece o tipo de pessoa que deixa uma conversa tomar outro rumo.
— Eu não deixei. Eu simplesmente decidi dar a ela uma chance.
— Uma chance?
— Ela me pediu para lhe dar um encontro. Eu disse a ela que não entendia, que não queria levá-la e que tinha certeza dos meus sentimentos. Ela perguntou como eu poderia ter certeza se eu nunca dei uma chance a esses sentimentos. Então... — Ele suspira. — Eu pensei que se — e se — ela estivesse certa. Então eu concordei.
— E?
Ele olha de lado para mim quando chegamos ao fim de uma escada. — Você parece muito interessada no resultado.
— Só porque estou tentando descobrir se você realmente é o jogador que sempre achei que fosse. Se você está namorando Jewel enquanto também entretém os sentimentos de Aurora... bem, isso não é legal.
— Entretém os sentimentos de Aurora? — Ele repete. — Cara, você aprendeu alguma linguagem extravagante desde que morou com os Unseelies.
— Ah, cale a boca e me diga o que aconteceu no encontro.
— Eu não acho que posso calar a boca e dizer algo ao mesmo tempo.
Eu cruzo meus braços no meu peito. — Dash.
— Bem. Foi estranho. Realmente estranho. Passei a noite toda com medo de que ela tentasse me beijar no final e pensar que seria exatamente como beijar uma —
— irmã?
— Sim. E isso é errado. Então, antes que isso acontecesse, eu disse gentilmente a ela que isso nunca iria funcionar.
— Tudo bem. — Chegamos à outra grande escadaria que leva a outro grande corredor. — Bem, eu estou feliz que você não a enrolou durante todo esse tempo.
— Claro que não. Eu sou realmente um cara decente, lembra? — Ele abaixa a voz. — Ao contrário do príncipe com quem você escolheu tolamente se casar.
— Eu não o escolhi. Não é assim, de qualquer maneira. Eu escolhi este acordo e ele faz parte disso. E você não o conhece. Eu acho que ele pode ser mais decente do que você pensa.
Dash bufa. — Certo. Tanto faz o que você diz.
Eu fecho meus olhos por um momento e suspiro. — Podemos, por favor, não discutir mais sobre isso?
— Certo. Diga-me então: como você tem preenchido seu tempo nas últimas duas semanas e meia? Tem sido tudo festas e chás com a rainha e esperar sua criada pessoal?
— Sim, tem sido uma perfeição absoluta, — digo secamente. — Eu esperei a minha vida inteira para que alguém escolha minhas roupas, prepare meu banho, faça minha cama e prepare minha comida.
Dash aperta os olhos para mim. — Sério?
— Não! Eu não aguento isso. Eu sou perfeitamente capaz de fazer todas essas coisas sozinha.
— Olha, você teve uma vida ruim com a Chelsea, — Dash diz, levantando as mãos em defesa, — então me perdoe por pensar que você realmente gostaria de ter alguém fazendo todo o trabalho duro.
— Eu não quero. É estranho. E eu não passei todo o meu tempo em festas e chás, na verdade. Aurora tem me ensinado muita magia básica, junto com alguns de seus hobbies, como arco e flecha e montar em dragão.
Quando chegamos a uma porta larga que leva ao exterior ensolarado, Dash para. Ele olha mais de perto para mim. — Montar em dragão?
— Vocês dois podem esperar aqui? — Aurora pergunta. — Roarke precisa me mostrar algo rapidamente.
— Sim, tudo bem, — Eu respondo.
Eles desaparecem em um corredor e Dash se vira para mim novamente. — Você disse montar em um dragão?
— Eu disse.
— Sério? Então você é uma cavaleira de dragões agora, assim como uma futura princesa Unseelie?
— Ainda não, mas gostaria de ser. Há algo de errado com isso?
— Não, é só... — Ele balança a cabeça. — Eu sinto que eu realmente não te conheço mais. Você não está aqui há muito tempo e já mudou.
Suas palavras machucam mais do que eu poderia imaginar ser possível. — Mudou? O que você quer dizer?
— Bem, você... você aprendeu muito em pouco tempo. E você parece —
— Eu pareço?
— Como se pertencesse aqui.
Eu descarto suas palavras com um aceno casual, esperando que ele não tenha notado o quão profundamente elas me cortaram. — É apenas roupa.
— É? A maneira como você se portava na noite passada, na plataforma e enquanto dançava... você parecia a princesa que as pessoas esperam que você se torne.
Eu puxo meus ombros para trás um pouco, ignorando a dor no meu peito. — Bom. Pelo menos eu sei que estou fazendo bem a minha parte.
A expressão de Dash suaviza um pouquinho. — Contanto que seja apenas do lado de fora...
— É claro que é apenas do —
— Tudo bem, vocês estão prontos? — Aurora grita quando ela e Roarke reaparecem. — Vamos aparecer a este chá antes de chatearmos a mamãe com nosso atraso. E você — ela acrescenta, olhando para Dash — eu vou apresentar como um amigo meu. Por favor, não contradiga qualquer história que eu decidir contar.
— Oh, hum... — Dash para quando Aurora tenta nos levar para frente. — Eu estava pensando, — diz ele, — que talvez seja melhor se eu não participar dessa coisa de chá. Se minhas mangas subirem demais, e se a maquiagem sair dos meus pulsos, sua mãe pode ver minhas marcas. Ela vai saber o que eu sou.
— Isso é possível, — Aurora admite, — mas se você não vier ao chá, você quase certamente acabará perambulando pelo palácio por conta própria e corre o risco de inventar todos os tipos de travessuras.
Ele dá um sorriso malicioso. — E se eu prometer ficar no meu quarto como um bom menino? Se alguém perguntar sobre mim — o que duvido que alguém faça, já que ninguém me conhece — você pode dizer que não estou me sentindo bem.
— Se nós pudéssemos confiar em você sobre manter sua palavra, — Roarke diz, — e não sair do seu quarto para tentar desenterrar informações que possam ser úteis para a sua Guilda, então certamente. Estaria tudo bem. — O olhar de Roarke se move brevemente para o meu antes de se fixar em Dash. — Mas não confiamos em você. Mesmo que eu tenha postado guardas à sua porta, você pode sair pela sua janela.
Meus braços ficam tensos ao meu lado. Ele não pode estar insinuando que ele sabe que Dash entrou no meu quarto mais cedo, pode? Improvável. Ele teria ficado zangado quando ele entrou no meu quarto se ele tivesse acabado de descobrir que Clarina encontrou Dash no meu quarto.
— Sair pela janela, — diz Dash, uma expressão pensativa no rosto. — Agora tenho uma ideia. Eu posso ter que tentar depois que todos forem dormir. Eu não tinha pensado em tentar desenterrar qualquer informação útil — Em foi à única razão pela qual eu vim até aqui — mas agora que você mencionou isso, estou definitivamente desperdiçando uma valiosa oportunidade em não fazer mais para descobrir que tipos de leis você Unseelies estão quebrando descaradamente.
O sorriso plácido de Roarke nunca deixa seu rosto. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta das minhas costas. — Como você disse, Emerson é a única razão pela qual você veio aqui. Se você é de fato um verdadeiro amigo para ela, você se concentrará em confortá-la durante este período difícil, em vez de pensar em maneiras de derrubar sua futura família. — Seu polegar esfrega para cima e para baixo contra o meu braço, um gesto que provavelmente deveria ser carinhoso e terno, mas que de alguma forma parece ameaçador.
Dash olha a mão de Roarke no meu braço por um momento antes de levantar o olhar. Então seus olhos se estreitam enquanto ele se concentra em algo atrás de mim. Eu olho por cima do meu ombro. Uma mulher vestida de marrom escuro atravessa o corredor com passos tranquilos e confiantes. Ela faz uma pausa por um momento para nos olhar. Talvez seja a maneira como as sombras caem sobre seu rosto, mas seus olhos parecem completamente negros. Ela inclina a cabeça e manda um sorriso conhecedor em nossa direção, revelando dentes pontiagudos atrás de seus lábios vermelhos e cheios. Ela se vira e vai até a escada, deixando uma brisa fria de ar em seu rastro.
CONTINUA
Emerson Clarke pensou que magia poderia resolver todos os seus problemas. Acontece que a magia apenas tornou sua vida mais complicada. Sua mãe doente está em uma posição pior do que antes, e Em acabou de fazer um acordo arriscado com um Príncipe Unseelie: ele curará sua mãe se Em concordar com a aliança suprema - casamento.
Com a possibilidade de finalmente conseguir a única coisa que ela sempre quis, Em entra no mundo perigoso da Corte Unseelie. Ela aprenderá tudo o que for necessário sobre magia e etiqueta, a fim de seguir seu caminho pela vida do palácio, até que o príncipe Roarke cumpra sua parte na barganha.
Mas quando alguém inesperado aparece, trazendo à tona os segredos que Roarke e sua família estão escondendo dela, os planos de Em começam a se desvendar. Em breve, ela terá que decidir de uma vez por todas: até onde ela está disposta a ir para salvar sua mãe?
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Prólogo
DASH
DASH ESTAVA EM SUA MESA NA GUILDA CREEPY HOLLOW POR dez minutos quando seu âmbar, deixado ao lado do relatório de sequestro de duendes em que estava trabalhando, vibrou e emitiu um chilrear. Palavras douradas brilhantes subiram à superfície do dispositivo retangular. Reconhecendo a caligrafia de Violet, Dash rapidamente puxou o âmbar para perto. Seus olhos dispararam para cima para verificar quem poderia estar perto o bastante de sua mesa para ver a mensagem. A área aberta do escritório estava cheia da agitação de atividade matinal: uma equipe de guardiões juniores voltando de uma missão noturna; dois aprendizes entregando pergaminhos; e sua própria companheira de equipe, Jewel, trabalhando duro em alguma coisa. Era altamente improvável que qualquer uma dessas pessoas soubesse de quem era a mensagem no âmbar de Dash, mas isso ainda o deixava nervoso ao se corresponder com os rebeldes Griffin, enquanto estava sob o teto da Guilda.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo sua expressão indiferente, e leu a mensagem: Você sabe onde está a Em? Eu não consigo encontrá-la. Gelo encheu as veias de Dash enquanto ele lutava para manter a expressão neutra. Se Vi não conseguia encontrar alguém, isso significava sérios problemas. Graças a sua Habilidade Griffin, ela é capaz de encontrar alguém que não tenha sido ocultado por algum tipo de magia. Em tinha uma Habilidade Griffin, no entanto, era uma história totalmente nova. Ela estava brincando? Testando se ela poderia se esconder? Dash estendeu a mão sobre a mesa, pegou sua stylus e escreveu uma resposta rápida em seu âmbar. Não. Tem certeza de que ela foi embora? Verifique as esferas.
A resposta de Vi chega segundos depois: Verificando agora.
Estou a caminho, Dash rabisca enquanto ele se afasta de sua mesa e se levanta.
— Já indo embora? — Jewel perguntou. Dash olha para cima enquanto ela se levanta e contorna sua mesa. — Você acabou de chegar.
— Eu preciso checar uma coisa. Um dos relatórios das testemunhas do caso de sequestro dos duendes. Alguns detalhes estão faltando. — Dash se encolheu internamente, odiando ter que mentir para uma de suas melhores amigas. — Vou pedir para um dos guardas no andar de baixo abrir um portal para mim, — ele acrescentou rapidamente. Como Jewel, ele não deveria mais ser capaz de abrir portais para os caminhos das fadas. Um aborrecimento que foi causado pela Habilidade Griffin de Em. Em, desde então, inverteu o efeito da magia em Dash, mas Jewel não sabia disso. A única coisa que Jewel sabia era que Em havia escapado das garras da Guilda e desaparecido.
— Você precisa que eu vá com você? — Jewel perguntou.
— Não, não se preocupe. Vai ser rápido. — Ele lhe deu um sorriso, que ele suspeita que não parece nada com o seu habitual sorriso descontraído.
— Tudo bem. Ei, está tudo bem? — Jewel segura seu braço antes que ele possa se virar. — Você normalmente não é tão sério logo de manhã cedo. — Sua mão demorou um momento a mais em seu braço, e a conversa que ele teve com Em veio à tona. Ela apontou que Jewel claramente queria ser mais do que apenas sua amiga, um fato que Dash de alguma forma ignorou até aquele momento. Como ele não viu? E por que Jewel nunca disse nada sobre seus sentimentos por ele? Ela deve ter um controle excepcional sobre eles. Ele não tinha notado nenhumas explosões mágicas aleatórias.
Isso não é importante agora, Dash lembrou a si mesmo. — Sim, tudo bem. Estou apenas... mais cansado do que o habitual. — Isso, pelo menos, era a verdade. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior, conversando com Chase, discutindo quando voltar ao Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills para examinar os registros que estavam arquivados com o nome da mãe de Em. Com essa magia desconhecida impedindo-a de acordar, ela não estava em posição de explicar por que ela e sua filha viveram por tanto tempo no mundo não-mágico, mascaradas como humanas. Esperançosamente, o pai de Em possa fornecer algumas respostas. Em disse que não sabia nada sobre ele, mas se era ele quem estava pagando as contas médicas de Daniela Clarke, o hospital certamente deveria ter seu nome e detalhes para contato.
— Tudo bem. Até mais tarde. — Jewel volta para sua cadeira.
Dash deveria ter indo embora então — ele queria ir embora — mas ele não podia ignorar o desejo de Jewel de ser mais que amiga agora que ele sabia disso. — Ei, você quer sair esta noite? — Ele pergunta antes que ele pudesse mudar de ideia. — Nós deveríamos conversar. — Sem dúvida, se transformaria na conversa mais estranha que eles já tiveram, mas ele precisava fazer isso. Não era justo da parte dele permitir que Jewel continuasse esperando por algo que nunca aconteceria.
— Sim, tudo bem. Ótimo.
— Legal. — Dash desceu correndo a escadaria principal da Guilda, atravessou o saguão e entrou na sala com paredes nuas usadas para acessar os caminhos das fadas. — Você se importa em abrir um portal para mim? — Ele perguntou para a mulher que estava de guarda do lado de dentro da sala.
— Ainda não encontrou aquela garota Dotada Griffin, hein?
— Não.
— Eu espero que encontre, — a mulher respondeu enquanto andava até a parede e levantava sua stylus. — Ouvi dizer que ela é perigosa.
— Sim, — Dash murmurou. — Extremamente perigosa. Eu pretendo encontrá-la.
A mulher deu um passo para trás quando parte da parede se afastou para revelar a escuridão dos caminhos das fadas além. Dash avançou. Depois que a luz desapareceu atrás dele, ele concentrou seus pensamentos no oásis escondido no meio de um deserto a milhares de quilômetros de distância.
Minutos depois, ele subiu apressadamente os degraus da varanda da casinha branca de um lado do oásis, passando por algumas portas fechadas e entrando na sala de vigilância. Uma fileira de esferas de vidro cobria três das quatro paredes, e dentro de cada esfera havia uma forma em miniatura de partes diferentes do oásis. Magia conecta cada esfera aos insetos enfeitiçados que voam do lado de fora, exibindo tudo que os insetos viam. Vi está curvada, olhando atentamente para uma das esferas, enquanto Calla e Chase sentam em frente um do outro. — O que você conseguiu ver? — Dash perguntou, sem se importar com uma saudação.
— Oh, Dash, oi, — Vi diz quando ela se virou para ele. — As esferas mostraram que Em saiu durante a noite. Logo depois da cúpula, ela abriu um portal para os caminhos e entrou.
— Ela deve ter pegado a stylus de alguém.
— Sim. Uma desapareceu de nossa cozinha esta manhã.
— Eu simplesmente não entendo, — Calla disse, passando o dedo repetidamente através da esfera na frente dela enquanto a move para voltar no tempo através das cenas exibidas. — Por que ela iria embora?
Vi sacode a cabeça conforme ela dá de ombros. — Várias possibilidades, eu suponho. Talvez ela quisesse ver um de seus velhos amigos. Ou talvez ela lembrou de algo que pudesse ajudar sua mãe. O que é mais preocupante é o fato de que eu não consigo encontrá-la. O que poderia estar protegendo ela?
— Nada de bom, — Chase murmurou.
— Dash, você nunca me contou o que aconteceu quando eu não consegui encontrar você e Em ontem, — continuou Vi. — Lembra, quando eu fui encontrar vocês dois na casa da tia dela?
— Oh, sim. — Dash xingou interiormente — com o tipo de palavras que sua mãe não aprovava — por ter esquecido, mais uma vez, de mencionar aquele lugar estranho e as pessoas que levaram ele e Em para lá. — Eu não sei onde estávamos, mas foi estranho. Tudo parecia drenado de cor, e partes dele estavam meio que... borradas. Obscuro ou sem forma. E nós não conseguíamos acessar os caminhos das fadas. Acabamos fugindo de alguma criatura sombria que eu nunca vi antes, e de alguma forma perto do perto do buraco no véu. Mas não do lado humano, e não do lado das fadas. Em algum lugar... eu não sei. Talvez nem fosse real. Talvez tenha sido algum tipo de alucinação. De qualquer forma, — ele continuou com uma respiração profunda, — nós estávamos lá por causa dos Unseelies. O príncipe e a princesa.
— Sério? — Chase olhou para longe da esfera que ele estava examinando.
— Sim. Aquela garota que esteve na Chevalier House por alguns dias — Aurora — é na verdade a princesa Unseelie.
— Então era isso que ela estava fazendo em Chevalier House, — uma nova voz disse da porta. Dash olhou em volta e viu Ryn parado ali. — Aurora queria que Em fugisse com ela. Ela estava obviamente planejando levar Em de volta a Corte Unseelie.
— Você não pensou em mencionar nada disso na noite passada? — Calla diz para Dash, um tom acusatório em sua voz.
— Para ser honesto, eu não pensei nisso. Em disse que ia me contar o que aconteceu mais tarde — já que eu, hum, fiquei atordoado e inconsciente por parte do tempo — mas então aquela fada de vidro apareceu, e nós quase morremos, e então corremos para pegar a mãe de Em, e... eu não pensei nos Unseelies novamente até mais tarde da noite passada quando cheguei em casa.
— Ótimo, então não temos ideia do que disseram a Em, — Calla diz, cruzando os braços e franzindo a testa para o chão.
Dash não disse nada. Era incomum Calla ficar tão irritada com ele, mas ele não podia culpá-la. Estava furioso consigo mesmo por não ter perguntado a Em sobre aquele estranho mundo sombrio da noite anterior. Ela parecia distante e infeliz, e, como um idiota, ele tentou distraí-la com a dança. Qual era o problema dele? Como ele poderia simplesmente esquecer que dois membros da família real Unseelie tinham transportado Em para um lugar estranho e, em seguida, misteriosamente a deixaram ir?
— Então... — Vi esfrega suas têmporas. — O fato de que não podemos encontrar Em agora pode ter algo a ver com os Unseelies.
— A menos que ela mesma não queira ser encontrada, — disse Chase. — Ela saiu voluntariamente. Ela pode ter usado sua Habilidade Griffin para se proteger de alguma forma.
— Seja qual for o motivo dela para ir embora, ela deve estar planejando voltar, — Ryn diz, entrando na sala e dando uma olhada em uma das esferas. — A mãe dela ainda está aqui, afinal de contas.
Dash balança a cabeça. — Ela pode ter ido embora por conta própria, mas e se os Unseelies a pegaram lá fora? Eles a deixaram ir ontem, mas eles definitivamente ainda a querem. Eles podem estar mantendo-a contra sua vontade agora.
— Então, o que fazemos? — Vi pergunta. — Esperar para ver se ela volta? E se sim, quanto tempo esperamos?
— Ela tem que voltar, — Calla murmura, mordendo a unha do polegar enquanto olhava sem ver o chão. — Ela tem que voltar.
Ryn olhou para o outro lado da sala. — Qual é o problema?
Calla baixa a mão e franze a testa para o irmão. — Não faça isso.
— Ei, eu não estou tentando sentir o que você está sentindo, — Ryn diz, levantando as mãos em defesa, — mas sua ansiedade está quase me dando um ataque de pânico. Eu tenho tentado ignorar isso, mas isso está praticamente me atacando.
— Ansiedade? — Chase se aproxima dela. — Sobre o quê?
— Caramba, pessoal, — Calla exclama. — Estou preocupada com outro caso. Está tudo bem. Podemos nos concentrar em como vamos descobrir onde Em está? Apenas no caso de ela ser prisioneira de alguém agora?
— Eu tenho alguns contatos Unseelie, — diz Chase. — Vou ver o que eu posso descobrir.
— Bom. Eu vou voltar a trabalhar em outras coisas, então, — diz Calla. Ela atravessa a sala e sai sem uma palavra, deixando vários momentos de silêncio constrangedor em seu rastro. Com uma careta, Chase a segue.
Dash pigarreia. — A Guilda também tem contatos Unseelie. Eu vou perguntar se alguém sabe alguma coisa. E também perguntarei dos nossos contatos Seelie. É possível que eles tenham encontrado Em, mas ainda não tenham informado a Guilda.
— Obrigada, — disse Vi.
— Avise assim que você descobrir alguma coisa, — acrescenta Ryn.
— Claro. — Dash se vira e sai da sala, já colocando a mão no bolso para pegar o âmbar e a stylus, para que ele possa contatar o contato Unseelie da Guilda. Ele para perto da porta da frente enquanto escreve uma mensagem rápida perguntando se o contato tinha recebido alguma notícia sobre uma garota Dotada Griffin.
... alguma coisa está acontecendo?
Ao som de vozes, Dash se inclina para o lado e olha pela janela. Calla anda de um lado para o outro na varanda. — Ela tem que voltar, Chase. Ela tem que voltar.
— Tudo bem, sério. — Chase pega o braço dela e a faz parar. — Conte o que está acontecendo.
Dash sabia que ele não deveria estar escutando, mas se era algo sobre Em...
Calla respira fundo. — Eu vi alguma coisa. Noite passada. Quando eu fui perguntar a Em se ela queria se juntar a nós esta manhã. Isso me fez ter esperança... que de alguma forma... — Ela sacode a cabeça. — Quero dizer, eu sei que é loucura mesmo pensar nisso. Meu cérebro ainda está repassando tudo o que aconteceu naquela época e como isso poderia ser possível. Mas se for verdade... — Ela agarra a frente da camiseta de Chase com ambos os punhos. — Chase, se for verdade, então temos que garantir que Em volte.
Chase pega as mãos de Calla entre as suas. — Você não está fazendo nenhum sentido. O que você viu?
— Você não pode contar a ninguém, ok? Não até saber se é verdade. Eu não quero ser responsável por mais corações partidos.
— Corações partidos? Quando você...
Ela se inclina para mais perto de Chase e sussurra, suas palavras muito baixas agora para Dash ouvir através da janela. Ele observa a testa de Chase se franzir ainda mais. — Não é possível, — diz ele quando Calla recua. — Ou é? Quando a vi pela primeira vez, pensei...
— Pensou o quê?
O olhar de Chase fica desfocado enquanto ele olha por cima do ombro de Calla por vários segundos, claramente perdido em pensamentos. Um pequeno sorriso estica seus lábios quando ele volta sua atenção para ela. — Eu acho que você pode estar certa.
Seu sorriso de resposta ilumina seu rosto. — Eu também acho. Mas eu não sei ao certo, e me recuso a ficar animada até confirmarmos isso. Eu conheço alguém que pode nos dizer sem sombra de dúvida, mas eu não sei onde ele está. Você precisa me ajudar a encontrá-lo.
— Vi pode ajudar se ela tiver... — As palavras de Chase somem conforme ele sacode a cabeça. — Mas você não quer que ela saiba.
— Não. Ainda não. — Calla pega o braço dele e o puxa para descer a escada com ela. — Primeiro precisamos descobrir se é verdade. — Sua voz fica mais fraca quando ela e Chase se afastam da casa, deixando Dash com mais perguntas e sem respostas. Ele tem seu próprio mistério para resolver, no entanto. Onde você está, Em? Ele se perguntou em silêncio enquanto abre a porta e entra na varanda.
Seu âmbar vibra em sua mão, e ele para para ler a resposta do contato Unseelie: Nenhuma informação recente dos Unseelies. Nada interessante de qualquer maneira. Claro que não. Os Unseelies nunca informariam a Guilda se eles possuíssem uma poderosa Dotada Griffin. Mas Dash tinha que verificar, apenas no caso do contato ter ouvido alguma coisa. Agora ele teria que entrar em contato com o contato Seelie. Depois disso, seria hora de seguir para canais não oficiais. — De alguma forma, Em, — ele murmura enquanto se afastava. — De alguma forma, eu vou encontrar você.
Capítulo 01
COISAS QUE EU NUNCA IMAGINEI: UM, ESCAPAR DA MISERÁVEL CIDADE DE Stanmeade muito antes que eu sonhasse que isso fosse possível. Dois, me tornar quase amiga do cara que eu odiei por anos. Três, subir pelo lado de fora de uma torre do palácio das fadas com uma stylus roubada no bolso para que eu possa me esconder no topo e abrir um portal para os caminhos das fadas com magia. Oh, sim. E nunca imaginei usar palavras como ‘torre do palácio’, ‘caminhos das fadas’ e ‘magia’ sem soar como uma paciente internada em um hospital psiquiátrico. Mas isso foi antes de eu descobrir que sou uma faerie e que existe um mundo oculto de magia ao lado do mundo onde eu cresci. Isso foi antes de eu chegar ao topo da lista dos mais procurados de todos por possuir um superpoder único e perigoso. E isso foi antes de eu assumir o maior risco da minha vida e concordar em me casar com um príncipe faerie da Corte Unseelie, na esperança de salvar minha mãe.
Então sim. Eu imagino coisas agora que a maioria das pessoas da minha antiga vida consideraria impossível. Como um buraco escuro de nada se materializando através das paredes de mármore com veias douradas no topo da torre que subi. Eu precisava me afastar dos olhos atentos dos guardas do palácio, e esta torre formando o ponto mais alto do Palácio Unseelie parecia um bom lugar. Infelizmente, o feitiço que tenho sussurrado e as palavras que escrevo repetidamente através da parede parecem não estar produzindo nada.
Solto um suspiro frustrado e aperto meus dedos ao redor da stylus incrustada de joias. Eu roubei do quarto de Aurora ontem. Apenas o melhor do melhor para uma princesa, então duvido que haja algo de errado com ela. O que significa... talvez minha magia seja o problema? Eu coloco a stylus no chão da torre e enlaço minhas mãos juntas, depois expiro lentamente e sinto o núcleo do poder dentro de mim. Quase instantaneamente, uma forma quase esférica branca brilhante e fragmentos etéreos pairam acima da minha mão. Parece quase fácil produzir magia agora, depois de ter praticado tanto nos últimos dias. Não há necessidade de apertar meus olhos, franzir minha testa e imaginar arrastar a magia para fora de mim como um rato puxando um caminhão.
Então, se a minha magia e a stylus não são o problema, e a magia em si está correta — o que eu tenho certeza que está, dado que eu usei para deixar o oásis — resta apenas uma resposta: os caminhos das fadas não são acessíveis a partir desta torre.
— Droga, — eu sussurro. Eu enfio a stylus de volta no bolso e olho através das terras sem fim de um verão perfeito. Relvados verdes e brilhantes, flores de todas as cores, fontes de água encantadas rodeadas por arbustos recortados em formas ornamentais e várias áreas para entretenimento: uma pérgula aqui, um mirante ali, o ancoradouro da rainha à direita, além daquela pequena ponte. E um pouco além dos terrenos do palácio, as torres das casas senhoriais pertencentes a nobres Unseelie se erguem acima das árvores.
E quase todos os lugares, de acordo com Aurora, não são acessíveis através dos caminhos das fadas. Ninguém sai deste palácio e ninguém chega, exceto pela entrada principal. — Não é como se você precisasse ir a outro lugar agora, — ela me disse quando perguntei sobre os caminhos das fadas. — Apenas relaxe e aproveite sua nova vida no palácio.
Relaxar? Acho que não. Se quase nenhuma parte deste palácio e seus terrenos podem ser acessados pelos caminhos das fadas, isso significa que deve haver algumas áreas onde os portais podem ser abertos. E se eu quiser fugir quando aprender tudo o que preciso saber sobre o Princpie Roarke, então eu tenho que encontrar pelo menos uma dessas áreas. Se eu não conseguir, vou ter que ser criativa com minha Habilidade Griffin. E isso exigirá descobrir como realmente usá-la.
— Minha senhora?
Meu corpo fica tenso ao som da voz inesperada. Eu viro, meu coração se debatendo no meu peito. Mas é apenas Clarina, a criada que Aurora me ‘ofereceu’ na minha chegada. Ela está ao lado do alçapão de ouro cravejado de rubi. O alçapão está aberto, tenho certeza que estava trancado até agora, porque encontrei meu caminho para o outro lado dele ontem à tarde e não consegui abri-lo. Eu não teria me incomodado em abrir uma das janelas baixas e escalar a parede de outra forma. Eu pigarreio e aperto minhas mãos juntas. — Hum, sim?
— Sua Alteza, Princesa Aurora, me enviou para buscar você, — diz Clarina, com os olhos fixos no chão perto dos meus pés. Eu disse a ela para não se preocupar em desviar o olhar dela quando falar comigo, mas não faz diferença. Assim como quando eu disse a ela que não sou ‘senhora’ e ela não precisa se referir a mim como tal. — Mas de que outra forma eu vou mostrar respeito por você, minha senhora? — Ela perguntou. — Eu não posso simplesmente chamar você pelo seu nome. — Eu disse a ela que é claro que ela podia, mas isso também não ocorreu bem.
— Como ela sabia que eu estava aqui em cima? — Eu pergunto.
— Um de seus guardas viu você de uma janela.
Eu limpo minhas mãos no meu jeans. — Será, hum, que soou para você que Aurora — Senhorita — Sua Alteza — Que droga esses títulos estúpidos. — Parecia que ela estava com raiva de mim por estar aqui em cima?
— Não, minha senhora, — diz Clarina. — Ela estava preocupada, mas não zangada. Ela lembrou a seus guardas que você é bem-vinda para explorar sua nova casa, mas que eles também devem mantê-la viva.
— Certo. Legal. Isso foi o que eu pensei. Quero dizer, sobre a parte de explorar. — Aurora me deu uma breve turnê quando cheguei há três dias, então me disse que eu poderia ir onde quer que eu quisesse, exceto as suítes ou câmaras privativas das pessoas ou seja lá como ela chamou. Desde então, eu vaguei por todo o palácio sob o disfarce da curiosidade, fazendo o meu melhor para fingir que estou à vontade em uma casa tão vasta e opulenta quanto este palácio. Eu tento ignorar os guardas que me observam e os membros da corte que sorriem educadamente antes de sussurrar um para o outro. E tento não tremer quando a atmosfera muda, como de vez em quando, se transforma em algo frio e inquietante.
— Hum, bem, acho que é melhor irmos então, — eu digo, percebendo que Clarina está esperando por mim para falar. Ela assente e pisa na escada abaixo do alçapão. Eu a sigo, vacilando quando o alçapão fecha sozinho atrás de mim. Juntas, descemos a escada em espiral até o térreo do palácio e entramos em um vasto corredor alinhado por colunas. Seus pisos de mármore preto são polidos até um brilho vítreo e as pedras preciosas embutidas no teto refletem nos candeeiros acesos em pedestais entre cada coluna. O resto do palácio é muito parecido com isso: bordas pretas brilhantes, enfeites de ouro e pedras brilhantes. Quartos grandes o suficiente para se perder dentro, e móveis tão luxuosos que eu provavelmente vomitaria se soubesse o quanto eles custam.
É impossível imaginar estar em casa aqui.
Subimos mais escadas, cruzamos mais corredores e passamos por mais fae vestidos como se pertencessem ao cenário de uma novela de época. Todos eles me dão olhares curiosos quando passo. Ao contrário de Clarina e Noraya — a outra criada de Aurora — nenhuma dessas pessoas sabe quem eu sou. Eles não têm ideia de que eu concordei em me casar com o seu príncipe. Como eles poderiam suspeitar que ele e eu temos algo a ver um com o outro quando Roarke se foi desde o momento em que ele me deixou aqui aos cuidados de sua irmã? Aurora disse que ele voltaria esta manhã, mas eu não vi ele. Estou começando a me perguntar se ele está planejando me evitar até o dia do nosso casamento — quando quer que seja.
Finalmente, Clarina e eu chegamos à ala que abriga os aposentos da família real. Eu nunca fui longe o suficiente para ver os quartos pertencentes ao rei e à rainha, mas passei pela suíte de Roarke, e eu estive no quarto de Aurora durante todos os dias desde que cheguei aqui. Eu olho por cima do meu ombro para a porta que leva aos quartos de Roarke enquanto eu passo. A porta está fechada e não há guardas do lado de fora, o que eu acho que significa que Roarke não está lá dentro.
— Droga, — eu murmuro, baixinho o suficiente para que Clarina não me ouça. Uma carranca franze minha testa enquanto eu olho para frente novamente. E então aquele estranho sentimento de mal-estar, aquele inexplicável senso de engano, invade os meus sentidos. Como se dedos frios e podres estivessem prestes a se estender das sombras para apertar a parte de trás do meu pescoço. Um lampejo de uma sombra corre através da borda da minha visão, mas quando eu olho por cima do meu ombro novamente, se foi. Assim como a sensação de desconforto.
— Lady Emerson? — Clarina diz. Eu olho para frente e a vejo esperando com uma das mãos apoiada na porta de Aurora. — Está tudo bem?
— Hum, sim. Eu estou bem. — Talvez eu continue imaginando esse sentimento estranho. Talvez seja esse o sentimento de saudade de casa. Talvez, por mais improvável que pareça, eu esteja realmente sentindo falta da casa decadente em que vivi com Chelsea e Georgia. De jeito nenhum, eu penso comigo mesma, quase rindo alto do pensamento improvável. Eu posso sentir saudade da minha melhor amiga Val, e toda a diversão que tivemos juntas, e a sensação libertadora de não ser caçada por vários membros do reino fae, mas eu certamente não sinto falta daquela casinha horrível e da minha rancorosa tia e prima.
Clarina abre a porta para a suíte de Aurora e fica de lado para me deixar entrar. Ela faz uma rápida reverência quando passo, depois fecha a porta atrás de mim. Eu ouço seus pés baterem no chão de mármore polido do lado de fora. Do outro lado na sala de estar, decorada em tons suaves e tecidos florais, a Princesa Aurora, filha adotiva do Rei e da Rainha Unseelie, está sentada em uma pequena mesa redonda. Na frente dela há uma variedade de comida, um bule de chá e duas xícaras de chá. Ela se inclina para trás em sua cadeira e me examina. — Sério, Em? Subindo pela parte externa da torre leste? Você está tentando escandalizar a corte inteira? Se você queria tanto ver a vista do topo, você poderia ter pedido a alguém para destrancar o alçapão em vez de arriscar sua vida.
Eu atravesso a sala e paro ao lado da cadeira no lado oposto do lugar dela. — Bem, você sabe. Era cedo. Eu não queria incomodar ninguém. E além disso, quase não havia risco envolvido. Eu posso lidar com uma parede simples. Esses grandes tijolos de mármore têm espaços entre eles perfeitos para as mãos e os pés.
Aurora coloca o cabelo — preto e azulado roxo — atrás de uma orelha e estende a mão para a xícara de chá. — E se você tivesse escorregado? Além do enorme problema que eu teria com Roarke e meu pai se você caísse e se matasse, simplesmente não é apropriado sair por aí escalando paredes. — Ela me dá um olhar aguçado por cima de sua xícara de chá. — Sabe, dada a sua futura posição neste palácio.
Eu escolho ignorar sua referência ao fato de que eu devo ser uma princesa em breve e cruzo os braços sobre o peito. Eu começo a andar de um lado para o outro da janela. — Onde está Roarke? Você disse que ele estaria de volta agora, mas eu não vi ninguém de guarda do lado de fora do quarto dele, então eu suponho que ele não esteja lá.
— Ele e papai devem demorar, isso é tudo. Eles têm negócios importantes para lidar no momento. Você não pode esperar que eles voltem simplesmente porque você está desesperada para ver seu prometido. — Ela sorri. Eu mostro minha língua para ela. Ela joga um morango em mim, depois ri quando eu me esquivo e continuo andando. — Eles vão voltar em breve, tenho certeza. E por favor, pare de andar. Você está me deixando nervosa. — Ela acena para a cadeira em frente à dela. — Sente-se. Você já tomou café da manhã?
— Não. — Eu caio na cadeira com os braços ainda cruzados. — Eu estava muito ocupada correndo riscos e escalando paredes, lembra?
— Você deve escolher o café da manhã da próxima vez. — Com um toque elegante de sua mão, um prato de massas em forma de borboleta se levanta e se move em minha direção. Ela ficaria feliz se eu usasse magia para levantar um dos doces e movê-lo para o meu próprio prato, mas esse tipo de coisa parece ser coisa de preguiçoso para mim. E eu não acho que eu poderia fazer isso sem derrubar o prato inteiro.
— Você sabe por que eu quero ver o Roarke, — eu digo a ela depois de colocar uma massa no meu prato, com a minha própria mão perfeitamente funcional. — Ele e eu temos um acordo, e ele não fez nada para cumprir sua parte ainda. — Acordo. Uma palavra tão simples. Não carrega tanto peso quanto a palavra ‘casamento’.
— É claro que ele ainda não cumpriu sua parte. Espero que você saiba que ele não planeja dar a você qualquer informação sobre como tirar sua mãe do coma enfeitiçado ou consertar sua doença mental até depois da cerimônia de união.
— Sim, — eu digo em voz baixa, ainda olhando para o meu prato. — Eu sei disso. — O que eu também sei é que eu não pretendo que essa cerimônia aconteça. Todo mundo precisa pensar que isso vai acontecer, mas eu pretendo descobrir tudo o que preciso saber antes do casamento acontecer. Claro, eu não tenho ideia de como vou fazer isso ainda, mas ter a posse de uma poderosa Habilidade Griffin — falar coisas e as tornar reais — pode vir a calhar. Se eu puder usá-la no momento certo e da maneira certa, eu devo poder sair daqui viva com todas as informações que preciso. Pigarreio e acrescento, — Eu sei, mas ele precisa provar para mim. Ele precisa me dizer algo, então eu vou saber que ele não está apenas mentindo para me casar com ele.
— Meu querido irmão nunca faria algo assim, — diz Aurora, direcionando mais alguns itens de comida para o seu prato.
Eu não a conheço bem o suficiente ainda para saber se ela está brincando ou se ela realmente acredita nisso. De qualquer maneira, não estou disposta a confiar em Roarke. Eu preciso do meu próprio plano, e isso envolve ter o controle sobre a minha Habilidade Griffin. Eu quebro um pedaço de massa e olho para ele por um segundo ou dois antes de dizer, — Como as paredes da torre não são apropriadas para escalar, talvez meu tempo fosse melhor gasto praticando minha Habilidade Griffin. Com o elixir, quero dizer, não apenas esperar por momentos aleatórios em que a minha magia escolhe ligar.
Ela sacode a cabeça e acaba de engolir outro gole de chá. — Sinto muito, Em, mas me disseram para não dar a você até que Roarke e meu pai retornem. Aqui, coma um pouco de citrullamyn. — Vários segmentos de uma fruta que parece uma versão vermelho sangue de uma laranja voam em um arco de seu prato para o meu.
— Hum, obrigada. — Eu lentamente mastigo uma enquanto tento descobrir o que posso dizer para mudar a decisão de Aurora. Eu preciso desse elixir para estimular minha Habilidade Griffin. O primeiro frasco que eu tinha foi esmagado em pedaços durante o meu encontro com Ada — a faerie extremamente desagradável que quase destruiu toda Stanmeade com sua magia de vidro — mas um dos rebeldes Griffin fez mais elixir para que eu pudesse acordar mamãe de seu coma enfeitiçado. Não funcionou, mas pelo menos eu tinha um pouco do elixir. Eu trouxe comigo, planejando secretamente consumir pequenas quantidades na esperança de ganhar o controle sobre minha Habilidade Griffin sem que os Unseelies soubessem. Mas fui revistada antes de entrar no palácio. Um guarda descobriu o elixir e Aurora o confiscou. Roarke, que não parecia interessado em ficar mais do que alguns minutos com sua noiva, já tinha saído durante esse momento.
— Mas Aurora, — digo a ela com a minha voz mais razoável, — não tenho utilidade para sua família se eu não conseguir descobrir como controlar minha Habilidade Griffin. Essa é a única razão pela qual Roarke está se casando comigo, lembra? Então eu preciso desse elixir para me ajudar a aprender como usá-la.
— Sim, mas você não precisa aprender agora neste momento. Você pode praticar sob supervisão quando Roarke e papai voltarem.
Eu a olho diretamente nos olhos. — Eles não confiam em você para me supervisionar? Eles acham que você não pode lidar comigo?
Ela inclina a cabeça para trás e ri. — Oh, minha querida Em. Se você vai tentar me manipular, você terá que ser muito mais sutil sobre isso. Essa foi uma tentativa terrível.
Eu deslizo mais para baixo na minha cadeira com um suspiro derrotado. — Isso tudo é uma perda de tempo, — murmuro. — Mamãe ainda está presa em algum tipo de coma do mal induzido por magia, e eu não estou absolutamente nem perto de descobrir como ajudá-la.
— Você não está perdendo tempo. Você está aprendendo a usar a magia do dia-a-dia e a viver como uma de nós, — diz Aurora. — Falando nisso, por favor, sente-se ereta. Minha mãe teria palpitações no coração se visse você se curvando desse jeito.
Mãe de Aurora. A própria Rainha Unseelie. Jantei com ela e Aurora na minha primeira noite aqui, com criados esperando por nós a noite inteira, enchendo nossas taças com bebidas estranhamente coloridas e nossos pratos com comida ainda melhor do que a comida que Azzy preparava na Chevalier House. Achei difícil desfrutar de alguma coisa, apesar da ansiedade que comprimia meu estômago e fazia meus dedos tremerem. Não era como se a Rainha Amrath fosse cruel ou hostil. Ela era educada, na verdade, mas eu sabia que ela estava me observando o tempo todo. Medindo. Esperando que eu me provasse completamente indigna de casar com o filho dela. A cada momento estranho que passava, eu me lembrava da minha valiosa Habilidade Griffin. Isso vai mantê-la viva e segura, continuei dizendo a mim mesma. Eles querem o seu poder mais do que eles querem uma princesa bem-educada.
— Em? — Aurora diz. — Você está me ouvindo?
Eu pigarreio e me empurro para cima, então estou mais ereta. Eu forço meus ombros para trás. — Desculpa. O que você disse?
— Eu disse que precisamos conversar sobre o que você está vestindo e também que você deveria experimentar o chá de mel. É bem revigorante. Noraya, venha colocar chá para Emerson.
Noraya, que estava tão imóvel perto da porta do quarto que eu não a notei antes, se aproxima da mesa. Com um breve aceno de mão, o bule se eleva no ar. — Oh, não se preocupe, — eu digo rapidamente, me inclinando para frente. — Eu posso servir o chá.
— Deixe-a fazer isso, Em, — Aurora diz.
— Mas é só chá, — eu argumento enquanto o bule de chá se inclina sobre o meu copo e um liquido escuro fumegante fluí de seu bico. — Eu posso colocar sozinha. — Não com magia, uma vez que isso provavelmente resultaria em salpicos de chá por toda a mesa, mas minhas próprias mãos fariam o trabalho muito bem.
— Não importa se você pode fazer isso ou não, — Aurora me diz. — O que importa é que, quando você é um membro da família real, é adequado que os criados esperem por você.
— Eu ainda não sou membro da família real. — E espero nunca ser.
— Também é apropriado que você use roupas apropriadas para a corte, — acrescenta Aurora, enquanto Noraya se afasta da mesa, — e essas — ela olha minha calça jeans e camisa com desaprovação — não são apropriadas. Clarina e eu vamos ter outra conversa. Ela claramente não entendeu suas instruções.
— O quê? Não, não é culpa da Clarina. Ela me dá um vestido novo todas às manhãs, assim como você disse a ela, mas eu não quero usar nenhum deles. Eles são ridículos. Centenas de camadas de tecido com espartilhos e penas e joias e... coisas. Não sou eu. — O jeans, a camisa e o moletom que tenho usado nos últimos dias são as roupas que eu usava quando cheguei aqui. Eu as jogo sobre uma cadeira no meu quarto todas as noites, e todas as manhãs as encontro dobradas e limpas, na mesma cadeira.
Aurora arqueia uma sobrancelha. — Ridículo, — ela repete. Percebo que posso tê-la ofendido, dada a saia longa, o corpete apertado e as mangas em forma de sino do vestido que ela está usando. — Receio que não importa o que você ou qualquer outra pessoa pense, pois é assim que minha mãe e meu pai desejam que os membros de sua corte se vistam.
— Bem, seus pais têm um senso de moda seriamente ultrapassado. Todos parecem estar se vestindo ou se preparando para filmar um filme steampunk.
Sua expressão fica séria. — Eu não diria coisas assim se fosse você. — Ela abaixa a voz, se inclina mais perto e acrescenta, — Meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares, e ele não apreciaria comentários como esse.
Um calafrio rasteja pela minha pele. Parece que não imaginei a sensação de estar sendo observada. Eu envolvo meus braços em volta de mim, me sentindo nua, apesar do fato de estar vestida. — Até mesmo nos quartos?
— Bem. — Aurora se inclina para trás. — Talvez apenas ouvidos nos quartos.
— Isso é apenas... errado, — eu sussurro.
Ela ri e novamente não posso dizer se ela está brincando sobre tudo isso. — Só se você tem algo a esconder, — diz ela. Ela morde outra fruta não identificável e me observa enquanto mastiga e engole. — Agora me diga: como você está com a magia que eu te ensinei até agora? Você já pode mover as coisas? Tente levantar seu prato e o mova no ar.
— Hum... — Eu começo a girar uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo indicador. — Tem certeza de que é uma boa ideia? E se eu derrubar?
— Então Noraya reunirá os pedaços quebrados e os jogará fora. Nada demais.
Meu olhar desliza para o cabelo enrolado em volta do meu dedo. Estou quase acostumada com a cor azul brilhante misturada com o marrom escuro. Faz parte do que me caracteriza como faerie. Como alguém que pertence a este mundo. Lentamente, eu abaixo minha mão. — Sim, tudo bem. Vou tentar.
Tirar magia de dentro de mim é fácil agora, mas mandá-la para o prato, persuadindo-a ao redor e para baixo e dizer para levantar alguma coisa, é uma história diferente. Muito lentamente, com as mãos cerradas no meu colo e os olhos quase furando buracos no prato, começa a subir. Ele balança um pouco, e as massas e os pedaços de frutas cítricas vermelhas escorregam para um lado. Eu tento endireitá-lo, acabo exagerando e todo o prato vira. A comida cai sobre a mesa com vários golpes suaves e o prato fica suspenso de cabeça para baixo no ar. Ele estremece e balança antes que eu imagine minha magia o abaixando com cuidado. Ele cai os poucos centímetros finais, pousando perfeitamente em cima do meu café da manhã.
Aurora bate as mãos. — Bem, isso foi divertido. Dificilmente perfeito, mas é um bom começo.
— Acho que sim. — Eu viro o prato e começo a limpar a minha bagunça.
— Em, você mal podia fazer nada quando chegou aqui há alguns dias. Isso é uma conquista. Ah, e eu tenho mais alguns livros para você. — Ela gesticula por cima do ombro, e uma pilha de livros sobre a mesa baixa entre os sofás e se eleva no ar antes de descer novamente, os livros individuais batendo em voz alta um no outro enquanto pousam. — Você pode carregá-los com magia agora mesmo.
— Claro. — Eu tento não descobrir quanto tempo vai demorar para voltar para meu quarto, se eu tiver que transportar magicamente uma pilha de livros por todo o caminho até lá. Espero que eu possa convencer um dos guardas que me seguem à distância para me ajudar quando eu estiver longe de Aurora.
Quando volto a comer minha bagunça do café da manhã, a porta se abre e Clarina entra no quarto. Ela se move silenciosamente para ficar ao lado de Noraya e, após um momento de pausa, começa a sussurrar para ela.
— O que está acontecendo? — Aurora pergunta em voz alta, não se incomodando em olhar para elas.
Clarina fica em silêncio, os olhos arregalados atravessando a sala em direção a sua senhora. Do outro lado da sala, vejo sua garganta oscilar conforme ela engole.
— Clarina. — Aurora empurra seu prato para longe e se vira na cadeira para encarar as criadas. — Parte do seu trabalho é relatar segredos para mim, não para sussurrá-los na minha vizinhança. Agora me diga o que está acontecendo.
Clarina sacode a cabeça. — Sim, Sua Majestade. Peço desculpas. É só que... é tão horrível.
— O que é tão horrível? O que aconteceu?
— Um dos guardas... — Os olhos de Clarina se movem para Noraya, cujo queixo estremece enquanto ela olha para o chão. Clarina pigarreia e volta a olhar para Aurora. — Um dos guardas foi encontrado morto no jardim, — diz ela em voz trêmula. — Estava cinza e enrugado e morto.
Capítulo 02
EU CAMINHO PELA SALA DE ESTAR DA MINHA SUÍTE — MENOR QUE A DE AURORA, mas não menos luxuosa — esperando que alguém venha e me diga o que está acontecendo. Aurora me mandou de volta para cá na companhia de vários guardas logo após as palavras assustadoras de Clarina sobre alguém cinza, enrugado e morto no jardim, mas não recebi nenhuma novidade desde então. Eu ando na minha varanda e olho para baixo mais uma vez, mas eu ainda não consigo ver nada de interessante. Esta morte deve ter acontecido do outro lado do palácio.
Volto para dentro de novo, entre as poltronas e ao redor da mesa. Sento na escrivaninha e tento ler um dos livros que deveria estudar, mas não consigo me concentrar. Pensamentos sobre mamãe e todos os rebeldes Griffin de onde eu fugi continuam escorregando pelas rachaduras da minha concentração. Culpa por desaparecer sem explicação. Tristeza por ter que deixar Bandit para trás. Estou começando a sentir saudades de Dash, de todas as pessoas. E depois há a avalanche de perguntas: Quem sou eu? Quem é mamãe? Como chegamos a viver no reino humano com nossa magia bloqueada? Apenas para citar algumas...
Eu abandono o livro e acabo deitada no divã, observando os insetos brilhantes que estão fixos no teto e, lentamente, levantando e abaixando almofadas com magia. É preciso que eu foque toda a atenção para conseguir essa manobra simples, o que significa que não há espaço em minha mente para perguntas e pensamentos que me distraem.
Sem aviso, a porta principal da minha suíte é aberta. Minhas duas almofadas levitando pousam no meu peito e caem no chão. Sento apressadamente, virando para a porta e encontro Aurora entrando na sala. Alguém fecha a porta atrás de mim enquanto eu fico em pé e pergunto, — Está tudo bem? Você descobriu o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, mas falei com as pessoas que encontraram o guarda morto. — Ela caminha até a varanda. Eu a sigo para o sol quente do meio da manhã. — Eu o vi, Em. Foi... — Ela respira fundo e balança a cabeça. — Horrível. A cor de seu cabelo desapareceu completamente e seu rosto... — Ela se vira e descansa as mãos na balaustrada da varanda. — Sua pele estava flácida e enrugada. Foi horrível. Isso não acontece com a nossa espécie, Em. Isso não acontece. Não naturalmente de qualquer maneira. E isso significa que — Ela para, apertando os dedos na balaustrada.
— Significa o quê? Que esse guarda foi atacado com magia? — Eu mentalmente me chuto por essa façanha inexpressiva de dedução. Obviamente, esse guarda foi atacado com magia.
— Sim. Algo assim. — Aurora balança a cabeça e retorna o olhar para mim. — De qualquer forma, recebi uma mensagem do Roarke. Ele disse que não deveríamos falar disso para ninguém. Apenas algumas pessoas sabem como estava o guarda e não queremos que todos saibam e se assustem.
Eu não posso evitar erguer minhas sobrancelhas. — Você acha que o resto deste palácio já não sabe? Alguém deve ter contado a Clarina, e certamente Clarina e Noraya contaram aos outros agora.
— Elas não disseram a ninguém. Clarina e Noraya estão comigo desde sempre — bem, Noraya está aqui desde sempre e Clarina está comigo há pelo menos três anos — então elas sabem como manter a boca fechada. Clarina estava com uma das criadas da minha mãe quando viu o guarda morto, e ela veio direto para cá depois. Alguns outros guardas o viram, mas eles também disseram que vão ficar calados.
Eu me inclino contra a balaustrada e olho através do jardim. Ao longe, dois grandes pássaros voam pelo céu. Pelo menos, eu suponho que são pássaros. Suas asas parecem um pouco grandes demais para seus corpos, no entanto. — Alguém sabe quem fez isso? — Eu pergunto, olhando para longe das criaturas voadoras. — Quero dizer, se é impossível entrar sorrateiramente neste palácio, então deve ser um convidado ou alguém que mora aqui.
Aurora exala e coloca um sorriso falso em seu rosto. — Nós não devemos mais falar sobre isso, Em. Esqueça isso agora.
— Esquecer? Isso é improvável. Você não quer saber mais?
— Não. Roarke e meu pai cuidarão disto quando retornarem. Que deve ser antes do jantar, aparentemente.
— Oh. — Meu desconforto se transforma em algo mais positivo. — Isso é ótimo.
— Sim. Agora, que outra magia eu estava mostrando ontem? — Ela esfrega as mãos e caminha de volta para dentro. — Você praticava coisas em movimento, e também havia...
— Fogo, — eu a lembro. — Bem, minúsculas chamas. Assim eu não queimo acidentalmente o palácio.
— Sim, está certo. Você fez alguma melhora?
Eu estalo meus dedos e abro a mão, com a palma para cima, esperando que o feitiço se torne instintivo o suficiente para que uma chama apareça automaticamente acima da minha mão. Minha palma, no entanto, permanece vazia. — Hum... aparentemente não.
— Sim, bem, você nem está tentando. — Ela senta-se afetadamente na beira do divã. — Você precisa se concentrar. Você ainda não está no ponto em que isso acontece automaticamente. Agora tente novamente.
Eu resmungo sob a minha respiração antes de abaixar minhas mãos para os meus lados, fechar os olhos e me dizer para relaxar. Eu preciso ser capaz de liberar magia, então me concentro totalmente no momento em que ela está pronta para mudar de algo cru e sem forma para qualquer outra coisa. Nesse ponto, eu tenho que moldá-la mentalmente em uma chama antes que ela desapareça. E tudo isso, aparentemente, acontecerá quase instantaneamente, uma vez que eu já tenha feito isso o suficiente. Acabo de chegar a um estado mental relaxado quando uma batida no outro lado da porta interrompe minha concentração.
— Entre, — Aurora diz.
Noraya entra e corre para o lado de Aurora. Ela se inclina e sussurra algo antes de se endireitar.
Aurora se levanta com um suspiro. — Claro. Eu irei agora. Desculpe, Em, mas minha mãe gostaria de me ver. Você deve continuar praticando, no entanto. E comece a ler esses livros. Você tem muito a aprender se vai se encaixar aqui.
Eu a observo sair antes de cair em uma poltrona e me apoiar contra as almofadas bordadas em ouro. Então eu me forço a me sentar e me concentrar em produzir uma chama. Não tenho intenção de me encaixar aqui — não a longo prazo — mas preciso pelo menos fingir que estou planejando ver essa união. Além disso, provavelmente precisarei usar magia para sair daqui. Eu também posso aproveitar esta oportunidade para aprender o máximo que puder.
Depois de tentar repetidamente produzir uma chama e ter sucesso em cerca de cinquenta por cento do tempo, eu me sossego com o menor livro da pilha que Aurora me deu esta manhã. É uma coleção sobre magias básicas que parecem ter sido escritas para um aluno da primeira série. Perfeito. Por mais embaraçoso que seja, esse é exatamente o tipo de coisa de que preciso.
Uma vez que consigo encolher uma almofada para cerca de metade do seu tamanho, depois aumentá-la e depois voltar ao normal, pego um livro diferente e me sento em uma poltrona. Contém relatos de histórias ainda mais antigas do que as histórias que aprendi em Chevalier House. A divisão inicial das cortes e as primeiras famílias Seelie e Unseelie. Eu não vou muito longe quando ouço um leve som de arranhar. Abaixo o livro e olho em volta, tentando descobrir de onde vem o arranhão, mas o que quer que tenha sido, parou. Com uma careta, volto a ler.
Mas o arranhar começa novamente. Da direção da mesa, talvez? Eu me levanto devagar, imaginando o que exatamente eu vou fazer se abrir uma das gavetas e uma criatura mágica desagradável se jogar sobre mim. Por alguma razão, minha imaginação evoca uma imagem de uma mão sem corpo, o que não ajuda em nada o meu batimento cardíaco acelerado.
Três batidas afiadas na porta fazem o livro escorregar dos meus dedos. Eu fecho meus olhos por um momento e respiro trêmula, quase rindo de mim mesma por estar tão nervosa. — Entre, — eu digo enquanto me inclino para pegar o livro.
— Seu almoço, Lady Emerson, — diz Clarina da porta.
Eu me endireito, deixo o livro na poltrona e empurro meu cabelo para longe do meu rosto. — Certo. Obrigada. — Eu tenho almoçado com Aurora todos os dias desde que cheguei aqui, mas ela obviamente tem outros assuntos para tratar hoje. Clarina leva a bandeja de comida para a mesa perto das portas da varanda enquanto eu me aproximo da mesa do outro lado da sala. Sentindo-me boba agora por ter tido medo de um simples som de arranhar, mas ainda um pouco desconfiada do que poderia estar causando isso, eu abro a gaveta do lado esquerdo e rapidamente recuo. A stylus roubada rola para a parte de trás da gaveta — e nada pula sobre mim. Fecho a gaveta e abro a da direita. Está cheio de pergaminhos em branco que estavam no topo da primeira pilha de livros que Aurora reuniu para mim.
— Está tudo bem, Lady Emerson? — Clarina pergunta.
Minhas bochechas coram quando olho por cima do meu ombro para ela. — Sim, desculpe. Eu pensei ter ouvido alguma coisa, mas... — Eu viro e olho para dentro da gaveta. — Mas não há nada aqui.
— Há muitas pequenas criaturas vivendo nos jardins daqui, — Clarina me conta. — Algumas delas vêm de vez em quando. A maioria delas é inofensiva.
— A maioria? — Eu repito.
Ela sorri fracamente para o chão, mas não detalha. — Você precisa de mais alguma coisa, minha senhora?
Eu pego o livro de história no meu caminho para a mesa. — Acho que não. Isso parece incrível. — Ela balança a cabeça e caminha de volta para a porta.
— Clarina? — Eu pergunto enquanto sento em uma cadeira.
Ela para e olha em volta, seus olhos encontrando os meus por apenas um segundo antes de se concentrar no chão. — Sim, Lady Emerson?
— O que faz de você uma faerie Unseelie?
Ela hesita antes de responder. — O que você quer dizer?
— Você é mesmo uma faerie Unseelie? Todos que vivem e trabalham no palácio são considerados Unseelie?
Ela franze a testa para o chão. — Sim, eu acredito que sim, minha senhora.
— O que te faz diferente de alguém que não é Unseelie? Estou tentando lembrar o que me disseram quando cheguei a este mundo, mas não foi muito. Eu acho que alguém disse que a magia aqui é um pouco diferente? Algo sobre magia negra?
— Qualquer mágica com a qual eles não concordam, chamam magia negra.
— Eles?
— Aqueles que não são Unseelie. Alguma parte da nossa magia é a mesma que a deles, — explica ela. — Como o poder que reside naturalmente dentro de todos nós, ou o poder que absorvemos dos elementos ou das plantas. Mas eles não gostam quando tomamos o poder de outros seres vivos — seres inferiores — e eles não gostam de alguns dos procedimentos envolvidos em certas magias. Então é aí que entra a divisão. Eu acho, — acrescenta ela, cruzando as mãos recatadamente na frente dela.
Meus olhos passam sobre a comida espalhada na mesa. É muito mais do que eu poderia comer em uma refeição. Eu gostaria de poder pedir a Clarina para sentar e comer comigo enquanto eu faço mais perguntas, mas sei que ela nunca concordaria com isso. — O que conta como um ser inferior? — Eu pergunto.
Mais uma vez, ela parece confusa. — Bem, tudo que não é faerie, é claro.
Um calafrio levanta os cabelos dos meus braços, apesar da brisa morna que entra pelas portas abertas da varanda. — Você faz isso com frequência? Tome o poder de outros seres vivos?
— Não, minha senhora. Eu nunca precisei. Eu já fui curada antes por feitiços que eram especificamente Unseelie, mas eu pessoalmente não absorvi o poder cru de outro ser.
— Tudo bem. Eu entendo. — Eu não tenho certeza do que mais dizer, além de dizer a ela que tomar o poder de alguém soa francamente assustador e simplesmente errado.
— Você tem alguma outra pergunta, minha senhora?
— Hum... não agora.
Ela se vira e depois acrescenta, — Você não precisa se incomodar com tudo isso, minha senhora. Não é familiar para você, eu sei, mas não é errado. É apenas diferente. E, bem, sempre me disseram que não devemos ter medo de algo só porque é diferente.
— Hum, sim, isso é verdade. Obrigada, Clarina. — Dou-lhe um sorriso que desaparece no momento em que a porta se fecha atrás dela. Eu sei que não deveria ter medo de algo simplesmente porque é diferente, mas se é diferente e está machucando alguém, não está certo. Talvez eu tenha entendido mal, no entanto. Talvez essa coisa de ‘tomar o poder’ não seja tão sinistro quanto parece. Pode ser apenas um pouco de poder, não o suficiente para matar alguém. E talvez eles só aceitem seres que estão dispostos.
Eu me sirvo de comida, reabro o livro e continuo lendo. Depois de apenas alguns minutos, um baque surdo vem da direção do meu quarto. Eu abaixo o sanduíche que estava a meio caminho da minha boca e coloco um garfo entre as páginas do livro para marcar onde estava. Eu silenciosamente levanto uma faca e me levanto da cadeira para encarar a porta entreaberta do quarto.
E então eu passo muito tempo congelada no lugar, imaginando se devo investigar sozinha ou arriscar parecer idiota pedindo a um guarda para ir ao meu quarto e caçar a coisa misteriosa que não fez nenhum som desde aquele primeiro baque. Eu decido no final arriscar parecer idiota. Melhor do que ser mastigada por uma das criaturas não inofensivas de fora ou por qualquer coisa que tenha matado aquele guarda esta manhã.
Abro a porta principal, coloco a cabeça para fora e encontro duas mulheres em uniforme de guarda do lado de fora. Elas passam pelo menos vinte minutos procurando cada centímetro do meu quarto enquanto eu finjo ler. E quando elas saem, não tendo encontrado nenhum sinal de ameaça, estou quase certa de que vejo uma revirando os olhos para a outra.
Capítulo 03
— A SUA HABILIDADE GRIFFIN APARECEU NOVAMENTE? — AURORA PERGUNTA À noite, enquanto nos retiramos para os sofás em sua sala de estar privada. É tarde, o jantar acabou, e Roarke ainda não voltou. Perguntar quando ele voltará é inútil, por isso desisti, mas ainda me sinto queimando de frustração toda vez que imagino mamãe dormindo permanentemente. Minhas mãos querem se enrolar em punhos sempre que penso em todos os minutos, horas e dias que passam.
— Eu a senti dormindo na noite passada, — eu digo a ela, removendo uma almofada de minhas costas e abraçando-a ao meu peito. É melhor apertar a almofada do que cavar minhas unhas continuamente nas palmas das minhas mãos. — Ela me acordou. No momento em que percebi o que estava acontecendo, o momento passou. Eu não consegui falar uma única palavra antes que a magia fosse embora.
— O que você teria dito?
Eu sacudo minha cabeça enquanto observo as chamas dançantes na lareira. Como é verão aqui, eu não teria achado necessário acender uma fogueira à noite, mas a sala está agradavelmente aconchegante e acolhedora. — Eu não sei. Eu estava meio adormecida e tentando pensar em algo, mas a sensação se foi antes de eu ter qualquer comando.
Ela me observa por algum tempo, enquanto eu continuo a olhar para ela e para as chamas. — Você realmente acha que o elixir vai ajudá-la?
Eu me concentro nela, meu humor se elevando instantaneamente. Ela poderia estar pensando em dar o elixir de volta para mim? — Claro que ele ajuda. Ele liga a habilidade então assim eu consigo usá-la.
— Sim, eu sei, mas você disse que o propósito do elixir é de alguma forma ensinar você a usar e controlar a habilidade por conta própria. É para te ajudar a reconhecer como é a sua magia Griffin, certo? Para que você possa invocar essa magia à vontade sem a ajuda do elixir?
— Sim, algo assim.
— Mas você já sabe como ela é.
Eu olho para os meus braços em volta da almofada. — Sim, eu sei.
— Então por que...
— Por que não consigo fazer isso sozinha? — Eu suspiro, minha excitação se dissipando. Ela não vai me dar o elixir. — Eu não sei. Eu tentei. Eu imagino o sentimento. Eu imagino tirar magia de dentro de mim, mas nada acontece. Talvez se eu tivesse esse elixir, eu poderia —
— Não, — diz ela. — Eu não vou te dar algo que se tornará uma muleta, especialmente porque não há muito dele, e quando acabar, não sabemos como fazer mais. Sem mencionar que é uma má ideia dar a você algo que irá imediatamente ativar uma habilidade perigosa que você poderia usar contra mim.
— Aurora, eu nunca —
— Sim, sim. — Ela revira os olhos. — Você fará parte da minha família em breve, então gostaria de poder confiar em você, mas ainda não chegamos lá. Não, a razão pela qual estou trazendo isso à tona é porque tenho pensado sobre como sua habilidade pode funcionar. — Ela inclina a cabeça para o lado e olha pensativamente através da sala para as cortinas que escondem as portas da varanda. — Talvez, por ser uma habilidade tão poderosa, ela meio que precise... se reabastecer. Isso explicaria porque você não pode usá-la o tempo todo.
— Tudo bem. Talvez. Alguns tipos de magia funcionam dessa maneira?
— Bem, toda a magia funciona dessa maneira, na verdade. — Ela muda de posição, dobra uma perna sobre a outra e me encara. — É que raramente usamos tudo de uma vez só, por isso não percebemos que ela está constantemente sendo reabastecida. Se você faz algo que é particularmente árduo com sua magia, como levantar algo muito pesado e segurá-lo no ar por um longo tempo, você acabará cansando. Magicamente, quero dizer. Então você precisa descansar enquanto sua magia se restaura.
— Tipo reabastecer as energias se você faz algo que é fisicamente desgastante? — Eu pergunto.
— Sim. Então eu me pergunto se talvez a sua Habilidade Griffin funcione de forma semelhante, mas em erupções rápidas, em vez de lentamente ao longo de um longo período de tempo.
Eu concordo. — Parece que isso pode fazer sentido. Sempre sinto como se isso acontecesse em mim de repente, quando imediatamente estou para falar qualquer coisa na hora, e então some.
— Ou acaba liberada em seu entorno sem nenhum propósito se você não disser nada. — Ela bate no queixo e franze os lábios. — Hmm. Gostaria de saber se você poderia segurá-la e usá-la depois, em vez de liberá-la sempre que for reabastecido.
— Hum... eu poderia tentar isso? — Eu sugiro, não tendo ideia de como eu realmente ‘seguraria’ esse meu poder indescritível.
— De qualquer forma, tudo isso é especulação neste momento, — continua Aurora. — Precisamos coletar algumas evidências reais. Tome nota de exatamente quando acontecer. O dia e a hora. E mantenha o controle de outras coisas, como se você usou uma quantidade anormalmente grande de sua magia normal em outra coisa. Porque nós não sabemos se a sua magia normal tem algum efeito na sua magia Griffin, ou se as duas são independentes uma da outra.
Eu aceno com a cabeça enquanto ela fala. — Basicamente, queremos descobrir se podemos prever quando vai acontecer.
— Sim. Você vai ter que ser muito cuidadosa, Em. Registre todos os detalhes que possam influenciar sua Habilidade Griffin.
— Sim, definitivamente. — Eu franzo a testa enquanto minha mente relembra todas as vezes que eu dei um comando mágico, tentando forçar os eventos em um padrão que faça sentido. Eu acabo balançando a cabeça. — Talvez estejamos erradas. Houve uma vez em que usei duas vezes em alguns minutos. Então, a teoria de reabastecer não faria sentido.
— Bem, talvez você não tenha usado tudo com a primeira coisa que você disse. Talvez você tenha guardado um pouco, mas não percebeu o que estava fazendo. É por isso que você ficou com um segundo comando, mas depois disso tudo acabou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Sim. Talvez.
— Ou talvez sua magia ainda esteja se estabelecendo, — sugere Aurora. — É isso o que acontece com os halflings se a magia deles aparecer mais tarde na vida. Muitas vezes vem e vai por um tempo antes de se tornar consistentemente presente. Talvez, uma vez que tenha passado um pouco mais de tempo, sua Habilidade Griffin aparecerá em intervalos regulares.
Eu passo uma mão pelo meu cabelo. — Tantas possibilidades e incógnitas.
— É por isso que você precisa começar a documentar tudo. Essa é a única maneira de descobrirmos se minha teoria está correta ou não.
Eu me levanto e jogo a almofada no sofá. Eu ando até a lareira e levanto o castiçal de prata da cornija. Eu pratiquei acendendo uma vela repetidamente antes do jantar, e consegui produzir uma chama com quase todas as tentativas. Eu estalo meus dedos ao lado do pavio — e uma chama acende.
— Bom trabalho. — Aurora bate as mãos de prazer. — Tudo bem. Agora que você conseguiu, o que eu vou te ensinar agora?
Em vez de respondê-la, pergunto, — É isso que você faz todas as noites? Janta sozinha no seu quarto? Ou você tem jantares familiares quando todos estão em casa?
Se ela ficou confusa com a minha mudança de assunto, ela não demonstra. — Bem, é sempre diferente, — diz ela com um encolher de ombros. — Às vezes usamos uma das salas de jantar menores e jantamos apenas nós quatro. Às vezes, membros da família se juntam a nós. Às vezes, entretemos os convidados, ou minha mãe entretém seus amigos, ou eu entretenho algumas das moças da corte. Se estou cansada de todos, então como sozinha aqui. — Ela inclina a cabeça. — Por que você pergunta?
— Estou apenas tentando imaginar como é sua vida normal. Clarina me disse que você tem damas de companhia, mas as mandou embora de férias. E eu não vi você interagir com ninguém além de sua mãe e um punhado de criados e guardas, então —
— Então você está se perguntando se eu sou uma solitária miserável? — Ela pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Não. Eu estou querendo saber se você está tentando me esconder de todo mundo que mora aqui.
Vários segundos passam antes que ela responda. — Eu não chamaria isso de esconder, mas suponho que é essencialmente isso. As pessoas vão fazer perguntas sobre você, Em. Eles já estão fazendo perguntas sobre essa minha estranha amiga que não parece pertencer aqui. É mais fácil se não nos colocamos em uma posição em que precisamos responder a alguém até o momento certo.
— E o momento certo será...?
— Quando você e Roarke fizerem um anúncio oficial sobre seu noivado. Ninguém vai questionar sua presença aqui então. Eles não ousariam.
As palavras ‘anúncio oficial’ enviam um calafrio através de mim. Então, apesar do fato de eu estar ao lado do fogo, o frio parece se tornar real. Arrepios se espalham pela minha pele e o ar frio sussurra na parte de trás do meu pescoço. Eu olho por cima do meu ombro, mas apesar do sentimento distinto de que alguém está me observando, eu não vejo mais ninguém na sala.
Com um clique silencioso, a porta se abre. Meu olhar se lança em direção a ela. Ela se abre devagar, e Roarke entra na sala. Ângulos acentuados, cabelos escuros perfeitamente no lugar e olhos da cor do vinho tinto. Seu intenso olhar varre a sala antes de pousar em mim. Seus lábios se curvam em meio sorriso quando um rubor aquece minha pele.
— Oh, olhe isso. — Aurora aperta as mãos juntas sob o queixo. — Ela está emocionada ao ver você, Roarke.
— De fato. — Quando a porta se fecha atrás de Roarke, ele caminha lentamente em minha direção, mãos atrás das costas. — Se ela está emocionada pelas razões certas e não porque está desesperada para me interrogar desde o momento em que ela chegou aqui.
Eu engulo antes de falar. — Estou feliz que você não tenha esquecido por que estou aqui.
Ele para na minha frente, perto o suficiente para que eu tenha que olhar para cima para encontrar seus olhos. Eu sabia que ele era alto, é claro, mas eu tinha esquecido o jeito como a presença dele o faz parecer ainda mais alto. Eu não vou dar um passo para trás, no entanto. Recuso-me a ser intimidada pelo cara com quem eu devo estar casando em breve, independentemente do fato de que eu não tenha real intenção de concordar com essa união.
O sorriso de Roarke aumenta um pouco mais e, por trás das suas costas, ele produz uma rosa. Uma rosa dourada e delicadamente formada, com um rubi no centro de suas pétalas de ouro maciço. — Minha senhora, — ele murmura, curvando-se um pouco quando ele entrega a rosa para mim. Eu hesito, então pego dele. Ele se inclina mais para frente, seu rosto de repente muito perto do meu, e seus lábios brevemente roçam minha bochecha. Um arrepio frio desliza pela minha pele e pelo meu pescoço. — Minhas desculpas por demorar tanto para voltar. Meu pai e eu não costumamos lidar com as questões pessoalmente, mas essa foi uma dessas ocasiões. Achamos melhor ficar onde estávamos até que o trabalho estivesse terminado.
— Hum... tudo bem. Obrigada por essa explicação enigmática.
— Logo, meu amor, você fará parte da família. Você conhecerá todos os nossos segredos.
— Seu amor? Sério? — Coloco a rosa de ouro sobre a cornija da lareira e cruzo os braços sobre o peito. — Eu acho que é um pouco cedo para isso, Roarke.
Roarke olha para Aurora com uma risada silenciosa. — Você tem ensinado a ela como bancar a difícil?
Aurora se estica do outro lado do sofá, endireitando as camadas da saia sobre as pernas. — Não. Parece que ela sabe como fazer isso sozinha.
Eu quase faço um comentário sobre como isso tudo é um jogo para eles, mas considerando que eu espero enganá-los e sair daqui viva, eu provavelmente deveria jogar junto. — Que tal nos conhecermos um pouco melhor antes de começar a falar as palavras ‘meu amor’ por aí? Você nem me levou a um encontro ainda.
— Um encontro? Bem, espero que você tenha algo um pouco mais bonito para usar do que isso — ele gesticula para meu jeans e blusa de moletom — se você está planejando ir a um encontro com um príncipe. E falando em roupas, você não recebeu roupas mais apropriadas?
— Recebi, mas eu prefiro usar o tipo de roupa que eu fico confortável.
— Recusou, — Aurora diz do outro lado da sala. — Ela recusou a usar qualquer um dos vestidos.
Eu respiro fundo pelo nariz. — Esses vestidos parecem que são de outro século. Eu sei que este é um palácio cheio de membros da realeza, mas vocês não podem se atualizar com os tempos no departamento de roupas? O resto do mundo fae parece usar praticamente o mesmo tipo de roupa que as pessoas usam no meu mundo.
— Este é o seu mundo, Em, — Aurora me lembra. — E se você se desse ao trabalho de olhar mais de perto o seu guarda-roupa, acho que descobriria que as roupas penduradas ali são da última moda. Moda fae formal, que pode não ser familiar para você, mas ainda assim. Apenas os designs mais recentes.
— Você está certa, — eu digo a ela, afastando-me de Roarke para me inclinar contra uma poltrona. — Eu não estou familiarizada com a moda formal fae.
— Chega de roupa, — diz Roarke. Ele se vira para me encarar, colocando as mãos nos bolsos de seu longo casaco, que é coberto por bordados de prata primorosamente detalhados e é, sem dúvida, o mais recente da ‘moda fae formal’. — Diga-me, meu amor — Ele se interrompe. — Desculpas, — acrescenta com um leve abaixar de sua cabeça. — Por favor, diga-me, minha senhora, o que você acha da sua nova casa.
— Já que você viu o interior da minha casa anterior, eu suponho que você pode descobrir meus sentimentos em relação a esta.
— Você amou? — Pergunta ele. — Você está completamente impressionada? Você está infinitamente grata por poder passar o resto da sua vida aqui?
— Não exatamente. É linda, eu vou falar. Não é bem o que eu esperava, mas definitivamente linda.
— Ah, agora estou intrigado. — Ele levanta a rosa de ouro da cornija e a gira entre os dedos. — O que você estava esperando?
Eu levanto meus ombros em um lento encolher de ombros enquanto tento colocar minhas expectativas iniciais em palavras. — Eu não sei. Vocês Unseelies são destinados a serem os vilões, certo? Então eu estava esperando algo... mais frio. Mais escuro. Uma floresta morta ao redor do palácio, ou inverno perpétuo ou algo assim. Mas, você sabe, tudo está ensolarado, quente e vivo. — Lá fora, pelo menos, acrescento silenciosamente. Não digo nada sobre o sentimento frio e opressivo que às vezes pressiona meus ombros quando estou dentro do palácio. O frio que sinto no ar agora.
Roarke inclina a cabeça para o lado. — Você não olhou para fora à noite, não é.
Eu volto a me concentrar nas três noites que passei aqui até agora. Todas as noites, quando volto ao meu quarto, as cortinas estão fechadas, as lâmpadas encantadas acesas e a pequena piscina no banheiro decorado como uma floresta cheia de água fervente e bolhas perfumadas. — Não, eu acho que não.
Ele passa por mim, coloca a rosa dourada na mesa em que Aurora e eu normalmente comemos, e acena com a mão nas cortinas. Quando elas se abrem, ele se vira e estende a mão para mim. — Deixe-me mostrar-lhe algo.
Relutantemente, coloco minha mão na dele. Ele abre as portas da varanda e me leva para fora. Eu respiro no ar inesperadamente frio. Então, quando chego à grade da sacada e olho para baixo, meus lábios se abrem em espanto ao ver a deslumbrante paisagem de inverno cobrindo todo o terreno do palácio. — Uau, — eu sussurro.
— Minha mãe gosta de verão, — Roarke diz, — mas meu pai gosta de inverno. A magia dela controla o dia e a magia dele controla a noite.
Meus olhos percorrem a topiaria coberta de neve, as fontes congeladas e os pingentes de gelo pendurados nas pontas dos dedos da estátua mais próxima. — Deve ser muito confuso para todas as plantas e criaturas que residem nesses jardins.
— Felizmente para eles, eles também são mágicos. Eles podem lidar com isso.
Um arrepio me percorre, e Roarke tira o casaco. — Que cavalheiro, — eu digo secamente quando ele coloca sobre meus ombros. — Embora eu esperasse que houvesse um feitiço que evitasse que as pessoas ficassem com frio.
— Há sim. Mas meus níveis mágicos estão um pouco baixos no momento. — Parado mais perto de mim agora, ele estende a mão e enfia meu cabelo atrás da minha orelha direita. Eu endureço imediatamente, olhando para algum lugar na região do pescoço dele, em vez de nos olhos dele, mas conforme seus dedos tocam o pequeno pedaço de metal em forma de moeda presa à pele atrás da minha orelha, eu relaxo um pouco. Ele não está tentando ser íntimo; ele está checando se o dispositivo de ocultação ainda está lá.
— Preocupado que eu poderia ter tirado? — Eu pergunto, satisfeita em ouvir que minha voz está firme.
— Não particularmente. Você não sabe a magia necessária para removê-lo.
— Mas você está checando assim mesmo. Apenas no caso.
— Claro. Eu seria um tolo em não checar. Você pode ter encontrado alguém neste palácio disposto a removê-lo para você, ou sua Habilidade Griffin pode ter surgido por tempo suficiente para você instruir este dispositivo que se retire.
— E por que eu faria isso?
— Segundas intenções sobre nosso acordo. Culpa, talvez. — Ele se inclina para o lado contra a balaustrada, inteiramente à vontade no ar frio da noite. — Você já começou a se sentir culpada, Emerson?
Começou? A culpa vem me comendo desde antes mesmo de eu chegar aqui. Eu dei a localização escondida da minha mãe para uma faerie perigosa que depois a colocou em um coma mágico. Eu fugi das pessoas que me ajudaram e não pediram nada em troca. Eu abandonei minha melhor amiga sem nem dizer adeus. Nada disso, no entanto, é da conta de Roarke. Então eu pigarreio e pergunto, — Por que eu estaria me sentindo culpada? Eu concordei com esse arranjo para ajudar alguém. Eu não deveria ter que me sentir culpada por isso.
— É verdade, mas talvez você tenha ficado com medo desde que chegou aqui. Talvez você queira que seus amigos — os rebeldes Griffin? — saibam onde você está afinal.
Eu não confirmei a suspeita de Roarke de que foram os rebeldes Griffin que me resgataram no dia em que fugi tanto da Guilda quanto dos Unseelies e caí da beira de um penhasco. Ele perguntou onde eu estava me escondendo, mas mesmo se eu quisesse, eu não poderia contar a ele sobre aquele lugar seguro encantado. Quando estou na companhia de outras pessoas, não consigo nem pensar nisso, quanto mais falar o nome do lugar ou a localização dele. Em vez disso, um espaço em branco aparece em minha mente, presumivelmente parte do feitiço de proteção que ajuda a manter o lugar seguro. Minha lembrança dele sempre volta quando estou sozinha, mas ainda é desconcertante toda vez que desaparece completamente da minha mente.
Recusando-me a desviar o olhar de Roarke, eu digo, — Eu não estou com medo, e não mudei de ideia. A última coisa que quero é que meus amigos apareçam aqui. Por que eu arriscaria com eles arruinando nosso acordo antes que você tivesse a chance de seguir com sua parte?
Seu sorriso é lento e cuidadoso. — Bom. Fico feliz em ouvir isso.
— O que me lembra, — acrescento. — Você ainda precisa provar que realmente tem informações úteis que podem ajudar minha mãe. Você não pode esperar que eu me case com você sem alguma garantia de que você está dizendo a verdade.
— Você está dizendo que não está totalmente comprometida com a união?
— Eu estou, — eu digo ferozmente, esperando que a mentira não apareça no meu rosto, — mas apenas se você estiver totalmente comprometido em curar completamente a minha mãe. Eu quero poder confiar em você, Roarke. Por favor, me dê uma razão para isso.
— Hmm. — Roarke estreita os olhos como se considerasse o meu pedido. — Vamos ver. Você —
— Emerson Clarke?
Eu olho para as portas da varanda ao som de uma voz masculina desconhecida. Na porta há um guarda que não reconheço. — Sim? — Eu pergunto.
— O Rei Unseelie deseja encontrá-la.
Capítulo 04
A JORNADA ATRAVÉS DO PALÁCIO PARA ENCONTRAR O REI PARECE AO MESMO TEMPO torturantemente longa e assustadoramente rápida. Tenho tempo suficiente para me arrumar completamente, mas não tenho tempo suficiente para me acalmar e me preparar.
— Meu pai não é tão gentil como eu sou, — Roarke me diz enquanto caminhamos por corredores de mármore brilhantes com duas faeries uniformizadas à nossa frente e duas atrás. — Ele quer manter você, não importa o quê. Nora ou prisioneira.
Maravilhoso. Isso não me faz querer vomitar.
— Eu não vou deixar isso acontecer, é claro, — Roarke acrescenta, — mas seria melhor se você não fizesse nenhum comentário de brincadeira sobre mudar de ideia ou não estar certa sobre a união. As coisas podem ficar... desagradáveis.
— Eu já disse a você que não vou mudar de ideia. — Em meu esforço para mascarar meu medo, minhas palavras saem mais alto do que eu pretendia. — Eu estou aqui, não estou? — Eu continuo em voz baixa. — E eu vim até você. Isso não prova quão séria eu estou sobre essa união?
— Tudo o que estou dizendo é que ele não gosta de piadas ou sarcasmo, então é de seu interesse ser educada. E você provavelmente deveria tirar meu casaco. Você parece muito estranha nele.
Eu tiro o casaco de Roarke e o entrego de volta para ele. — Talvez seja de seu interesse ser educado também, considerando o quanto minha Habilidade Griffin é valiosa para ele. Se ele me fizer prisioneira, nunca lhe darei o que ele quer.
Eu tento muito acreditar em minhas próprias palavras, mas as sobrancelhas levantadas e a expressão de pena de Roarke tornam isso impossível. Quando paramos do lado de fora de uma porta enorme e ricamente entalhada, ele me encara. — Você não precisa dar nada a ele, Emerson. Ele vai pegar o que quiser.
Um guarda abre a porta. O frio artificial no ar se intensifica, e a porta em si parece se estender mais como uma boca gigante se preparando para me engolir inteira. Eu sinto o cheiro de terra úmida e folhas podres. Meu coração bate mais rápido quando imagens de criaturas viscosas, crânios e besouros passam pela minha mente.
Então eu afasto as imagens imaginadas e descubro que a porta não mudou, e a sala para qual ela se abre não é uma boca escura, mas um grande escritório. Roarke pega meu braço e me direciona para frente, já que meus pés se esqueceram de como se mover por conta própria. — Lembre-se, eu estou do seu lado, — ele sussurra para mim. — Prove para meu pai que você está disposta a trabalhar conosco e vou me certificar de que você nunca será forçada a fazer nada.
Eu não respondo, minha atenção focada no interior do escritório do rei. À direita, há uma mesa grande o suficiente para que pelo menos uma dúzia de pessoas se sentem. Estranhamente, porém, tudo o que está em cima da mesa aparece borrado quando tento olhar bem de perto. Meu olhar se move para a esquerda — e fico ainda mais surpresa com o que vejo lá: nenhuma parede envolve o escritório daquele lado. Em vez disso, ele se estende para uma caverna subterrânea feita de rocha áspera e iluminada por luz pálida.
— Deixe-nos.
A voz profunda traz minha atenção para a mesa à nossa frente. A superfície é polida como qualquer outra superfície de mármore que enche este palácio. Do outro lado, uma cadeira alta que parece ser feita da mesma rocha áspera da caverna que está atrás de nós. A cadeira permanece imóvel enquanto os guardas saem da sala e fecham a porta. Então, apesar do fato de que deve pesar uma tonelada, a cadeira gira suavemente para nos encarar.
O Rei Savyon não parece nada com seu filho. Seu cabelo branco-loiro tem mechas pretas. Seus olhos são buracos negros que me perfuram. Sem falar, ele coloca uma mão em cima da outra na mesa à sua frente. Anéis de ouro com pedras multicoloridas brilham em cada dedo.
— Pai, esta é Emerson Clarke, — diz Roarke. Eu engulo e me forço a ficar mais ereta. Tenho certeza que essa é uma daquelas situações em que eu não deveria demonstrar medo, mas acho que estou prestes a falhar miseravelmente.
O rei se levanta, caminha até a frente de sua mesa e cruza os braços sobre o peito. Seus olhos viajam por todo o meu corpo e para cima novamente, seu olhar como um dedo frio e rastejante acariciando ao longo da minha pele. Seu olhar inexpressivo permanece na minha blusa de moletom, em seguida, viaja lentamente até o meu rosto, onde ele segura meu olhar por vários segundos aterrorizantes. Apesar da minha determinação de não ser intimidada, eu quase morro de alívio no momento em que seus olhos me deixam e me movo para perto de Roarke. Eu envolvo meus braços firmemente ao redor do meu corpo e olho para o chão bem na frente dos meus pés.
— Bem, — diz o Rei Savyon, sua voz um estrondo profundo que quase posso sentir em meu próprio peito. — Ela está muito longe da mulher com quem eu esperava que você um dia se uniria, Roarke. Ela mal se encaixa para ser uma criada nesta corte, muito menos uma princesa.
— Sério, pai? — Roarke arrastou. — Essa é a melhor coisa que você tem a dizer?
— O que você espera quando me apresenta uma perspectiva tão sombria para uma nora?
— Eu posso garantir-lhe, pai, que sua Habilidade Griffin mais do que compensa o que ela não tem em outras áreas.
Aqueles olhos negros se fixam em mim mais uma vez. — Eu certamente espero que sim. Eu gostaria de ver uma demonstração agora.
Eu abro minha boca, meus olhos correndo entre os dois. Não tenho certeza se posso falar, mas eles precisam saber que não posso fazer nada sob ordens. — Não se preocupe, Emerson, — Roarke diz antes que eu possa dizer qualquer coisa. Ele alcança dentro de seu casaco e produz um pequeno frasco. — Eu tenho seu precioso elixir aqui. Yokshin, nosso mestre de invenções, vem examinando, mas ainda há muito para que você possa usar.
Droga. Não foi assim que planejei usar o elixir. Eu devo ficar sozinha com Roarke quando ele me der para que eu possa instruí-lo a me contar tudo o que ele sabe sobre minha mãe e como consertá-la. Isso não vai funcionar agora a menos que eu possa dar uma instrução ao rei ao mesmo tempo. Para permanecer congelado no lugar, talvez. Assim ele não consegue interferir. Conforme Roarke se vira para mim, pensamentos correm loucamente pela minha cabeça. Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso? Se eu não fizer agora, terei outra chance? E se eu mandar nele agora, como vou passar por todos os guardas quando sair? Ordená-los também? Haverá tempo suficiente para dar a Roarke, seu pai e todos os guardas do palácio uma ordem antes que minha Habilidade Griffin se esgote?
— A poção de compulsão primeiro, — diz o rei. — Então a poção Griffin.
— Claro, — Roarke diz, removendo outra pequena garrafa de dentro de seu casaco.
— O... quê? — Eu pergunto.
— Poção de compulsão, — Roarke repete, removendo a tampa. — É exatamente o que parece. Você pode ser obrigada a fazer certas coisas enquanto estiver sob a influência desta poção. É só para ter certeza de que você se comportará enquanto usa sua Habilidade Griffin. Nós não queremos que você faça algo bobo ou irracional. — Ele ri. — Como dizer a todos nós para nos matar ou algo assim.
Toda minha esperança murcha. — Então — então você vai me forçar a dizer alguma coisa?
— Isto é apenas uma precaução, Emerson. Meu pai ainda não sabe se pode confiar em você.
Ele entrega a garrafa para mim e, como sei que não tenho absolutamente nenhuma escolha, a levo aos lábios. — Quanto? — Eu pergunto antes de incliná-la.
— Apenas um gole.
A poção tem gosto de algo familiar, mas não consigo identificar. Eu entrego a garrafa de volta para Roarke, assim quando eu percebo que essa coisa de compulsão soa muito como a Habilidade Griffin que todo mundo neste mundo tem tentado colocar suas mãos. Minha Habilidade Griffin. — Espere, mas — se vocês tem uma coisa como uma poção de compulsão, então qual é a importância da minha Habilidade Griffin? Vocês já podem dizer às pessoas para fazerem as coisas e elas as farão. Vocês não precisam — Percebo o que estou dizendo tarde demais. Vocês não precisam de mim. Não é algo que eu deveria estar dizendo quando minha Habilidade Griffin é a única vantagem que eu tenho.
— Nós não podemos forçar as pessoas a tomar uma poção e depois obrigá-las a dizer ou fazer certas coisas, — explica Roarke. — Não é a mesma coisa que dizer o chão para se separar e depois ver isso acontecer um momento depois. — Ele coloca o elixir da Habilidade Griffin na minha mão e dá um passo para trás para ficar ao lado de seu pai. Agora que eles estão próximos um do outro, posso ver a leve semelhança entre eles, apesar de suas diferenças dramáticas na cor dos cabelos e dos olhos. — Emerson, — Roarke diz. — Você não acha que seria divertido se começasse a chover aqui?
Embora seja uma sugestão estranha, eu me encontro concordando com ele. Seria a coisa mais maravilhosa do mundo se começasse a chover aqui mesmo nesta sala. — Sim, — eu digo a ele.
— Então você deve tomar um gole desse elixir e fazer chover.
Ele tem razão. Isso é exatamente o que devo fazer. Então eu retiro a tampa do frasco e despejo algumas gotas na minha língua. Então eu espero pelo formigamento familiar, a sensação de que a magia Griffin escondida em algum lugar dentro de mim está subindo de repente para a superfície. Eu olho para o teto e digo, — Comece a chover.
E começa.
Eu fico encharcada em segundos, ofegando e tensionando meus ombros contra a água gelada. Roarke e o rei permanecem completamente secos, como se guarda-chuvas invisíveis os protegessem do aguaceiro. — Diga para parar, — Roarke fala acima do rugido de gotas da chuva.
Eu não posso sentir se há algum poder Griffin na superfície da minha magia, e é impossível ouvir minha voz acima do barulho. Mas quando eu digo para a chuva parar, eu sinto as palavras ressoando na minha cabeça do jeito que elas fazem quando a minha Habilidade Griffin ganha vida, e eu sei que funcionou.
— Muito bem, — o rei diz enquanto eu fico ali tremendo. Ele olha para Roarke. — Yokshin é capaz de recriar o elixir? Se não, e a Habilidade Griffin for aleatória, a garota não será tão útil para nós como eu esperava.
— Ele não tem certeza sobre recriar, mas na última mensagem de Aurora para mim antes de retornarmos, ela disse que está trabalhando em algumas teorias sobre como a habilidade pode funcionar. Ela acha que pode se tornar mais previsível.
O rei acena com a cabeça. — Bem, então. Tem certeza de que quer ter essa união? Seria mais simples lidar com a garota como prisioneira.
— Sim, eu tenho certeza. Eu não quero que ela seja uma prisioneira. — Roarke olha para mim como se estivesse considerando uma compra que ele está prestes a fazer. — Eu realmente gosto dela. E mamãe e Aurora podem treiná-la nos caminhos da corte. Depois de algum tempo, parecerá que ela sempre pertenceu aqui. Ela se tornará uma de nós. Ela ficará feliz em nos ajudar sempre que precisarmos de sua Habilidade Griffin. Nós nem precisamos forçá-la. Certo, Emerson?
— Sim, — eu respondo.
Um uivo distante ecoa pela caverna.
— Bom, — o rei diz novamente, sem prestar atenção ao uivo. — Até lá, Roarke, você dará a ela uma poção de compulsão todos os dias e lhe dirá exatamente o que dizer se e quando sua Habilidade Griffin aparecer. — Toda a esperança que eu tive de usar minha Habilidade Griffin em Roarke desliza para longe como cinzas através dos meus dedos. — E você, Senhorita Clarke. — O rei dá um passo em minha direção, o que é cerca de mil vezes mais perto do que eu gostaria que ele estivesse. — Descubra se a teoria de Aurora — seja ela qual for — está correta. Faça tudo que puder para aprender como funciona sua Habilidade Griffin. Você será muito mais útil para nós dessa maneira, e pessoas úteis são menos propensas a morrer.
— Pai, — Roarke diz com um revirar de seus olhos. — Isso não é útil. Ela não entende seu senso de humor ainda.
A expressão do rei não muda nem um pouco. Ou ele é muito bom em manter uma cara séria, ou isso não era uma piada.
Outro uivo trespassa o silêncio, desta vez mais alto. O rei não olha para a caverna, então nem eu. Qualquer criatura ou pessoa que está fazendo esse som, eu não quero saber.
— Vamos anunciar a união na festa de aniversário da sua mãe em duas semanas, — o rei diz a Roarke. — Você tem até então para decidir quando a cerimônia de união ocorrerá.
Um terceiro uivo se transforma em soluços, gritos e sons de luta. Finalmente, o rei olha em direção à caverna, e embora eu não queira, eu sigo seu olhar. Dois guardas Unseelie estão arrastando um homem pelo chão desigual da caverna. Enquanto o homem luta, um dos guardas dispara uma faísca de magia em seu lado, e o homem se afasta e uiva em agonia.
Eu olho para Roarke, implorando com meus olhos para nós partirmos agora. Mas ele está observando o homem lutando com uma expressão ilegível.
— Ah, você o encontrou, — diz o rei. — Este é o último, eu presumo?
— Sim, Sua Graça.
— Muito bom. — Enquanto os dois guardas se afastam do homem, o Rei Savyon levanta a mão. O homem, que pareceu por um momento como se estivesse prestes a correr, engole e fecha os olhos. O rei aperta a mão com força ao redor do ar e vira o punho abruptamente para o lado. Do outro lado da sala, na beira da caverna, a cabeça do homem faz o mesmo, dobrando-se quase paralela ao ombro. É demais, minha mente grita. É demais, É DEMAIS!
Então um som nauseante. O choro do homem é cortado. O rei levanta a mão para cima. A cabeça do homem é arrancada inteiramente de seu corpo e ambas as partes caem no chão, espalhando sangue por toda parte.
Um suspiro estrangulado me escapa. Minha mão voa para cobrir minha boca. Eu fecho meus olhos, mas de jeito nenhum eu poderei não ver isso.
Como se de longe eu ouvisse a voz do rei. — Isso é tudo, Roarke. Leve a garota de volta para seus aposentos.
Uma mão agarra o meu braço. Eu pisco e forço meus olhos para longe do corpo morto quando Roarke me puxa para a porta. Ele abre e me deixa andar na frente dele. — E Roarke, — o rei acrescenta. — Encontre alguém que queime essas roupas hediondas que ela está usando. Eu não entendo porque isso ainda não foi feito.
— Ela se recusou a se separar delas, aparentemente.
Eu me atrevo a olhar para o rei. Ele não suspira. Ele não sorri. Ele mal se move quando diz, — As roupas serão queimadas. Cabe a Senhorita Clarke se ela ainda estará nelas quando isso acontecer.
A porta se move lentamente em nossa direção. No momento em que ela se fecha, começo a correr.
Capítulo 05
EU CORRO TODO O CAMINHO DE VOLTA PARA O MEU QUARTO, ABRO A PORTA, E A fecho. Eu dou alguns passos instáveis dentro para dentro do quarto, mal vendo ao meu redor. Tudo que vejo é o pescoço de um homem virado para o lado e o sangue esguichando de...
Eu me viro, piscando, como se eu pudesse de alguma forma desviar o olhar da memória. Ainda respirando pesadamente por causa da corrida, eu empurro meus dedos pelo meu cabelo. O que diabos eu estava pensando vindo a este lugar? Que eu realmente conseguiria fugir com as respostas que preciso, porque tenho uma poderosa Habilidade Griffin que posso usar contra as pessoas? Uma habilidade Griffin que não posso usar quando quero e que pode ser usada para atender aos propósitos de outra pessoa devido a uma poção que eu não sabia que existia. Que piada miserável. Eu deveria ter adivinhado, no entanto, que algo assim aconteceria. Há tanta coisa que eu não sei sobre esse mundo e sua magia, mas o que eu deveria saber era que era uma ideia idiota me colocar no meio de um bando de faeries poderosos que exercem magia negra.
De algum lugar atrás de mim, um baque suave chega aos meus ouvidos. Eu congelo. Eu sei que deveria correr. Eu deveria abrir a porta e continuar correndo até que este palácio esteja muito atrás de mim. Mas o medo gruda meus pés no chão. Muito lentamente, eu me viro e olho por cima do meu ombro. Do outro lado do quarto na mesa redonda, ao lado da bandeja de chá e macarons que Clarina deve ter deixado aqui há não muito tempo atrás, está uma pequena coruja. Enquanto observo, a coruja parece desabar sobre si mesma. Um instante depois, um gatinho preto aparece em seu lugar.
— Bandit? — Eu sussurro em descrença. Eu me viro totalmente para encarar a criatura que muda de forma. Ele treme sua orelha direita em resposta. Sem parar para pensar, eu corro através do quarto e o coloco em meus braços, lágrimas queimando em meus olhos. — Eu não sei como você chegou aqui ou onde você esteve se escondendo ou se é você que está fazendo barulhos estranhos na minha suíte, — eu sussurro, — mas eu estou muito, muito, muito feliz de ver você. — Eu pensei que o deixei dormindo no meu quarto quando escapei do oásis, mas ele deve ter mudado para algo menor e entrou em um dos meus bolsos. Não seria a primeira vez. — Por favor, não me deixe, — murmuro em seu pêlo, minhas palavras saindo apressadas. — Por favor, não me deixe aqui sozinha. Sinto muito pelas coisas que eu disse quando você apareceu pela primeira vez. Que eu não gosto de animais de estimação e que talvez eu pudesse vender você. Eu juro que não quis dizer nada disso. Eu tive um cachorrinho uma vez, mas ele fugiu e nunca mais voltou, e mamãe e eu procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo e chorei por dias. — Eu respiro fundo e abro meus braços o suficiente para olhar para baixo para ele sentado entre eles. Ele olha para cima com olhos de gatinho perfeitamente adoráveis. — Eu sei que você é mágico, mas provavelmente não entende uma palavra do que estou dizendo, não é? — Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para todos os lados como se estivesse tentando descobrir o que estou dizendo. — Sim, — eu sussurro, puxando-o para o meu peito novamente. — Então, só não desapareça, tudo bem? Este lugar não é seguro. Para nenhum de nós dois. Se você tivesse visto o que eu acabei de —
— Emerson? — A voz do Roarke do outro lado da porta me faz tremer. Eu não tenho ideia de como ele vai se sentir sobre a ideia de um animal de estimação metamorfo aparecendo aqui, então eu corro para o quarto e coloco Bandit na cama. — Fique aqui, — eu sussurro para ele antes de fechar a porta. Com os membros ainda tremendo, eu atravesso a sala de estar e abro a porta principal apenas o suficiente para espiar através da abertura para Roarke.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Outro breve lampejo de sangue e carne sendo rasgada cruza minha mente. Eu engulo, achatando uma mão no batente da porta e a outra na parte de trás da porta. Se recomponha, eu silenciosamente instruo. Você escolheu vir aqui. Você escolheu essa opção para ajudar sua mãe. Agora faça o trabalho. — Sim, obrigada. Eu vou ficar bem. Foi apenas um pouco de choque, só isso. Ver... isso. — Duvido que seja necessário elaborar exatamente o que estou me referindo.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Hum... tudo bem.
Nós nos sentamos lado a lado no divã com uma quantidade respeitável de espaço entre nós. Arrisco-me a olhar para a porta fechada que nos separa do quarto. Espero que Bandit seja inteligente o suficiente para saber que ele precisa permanecer escondido. — Eu sinto muito que você teve que ver isso, — diz Roarke. — Eu sei que deve ter parecido brutal e cruel, mas isso não aconteceu sem nenhum motivo. Aquele homem desobedeceu ao rei e a consequência foi à morte.
Eu respiro devagar. Já que Roarke parece estar esperando por uma resposta, eu digo, — Tudo bem.
— Eu só queria explicar porque eu não quero que você tenha medo de viver aqui. Esse homem era um criminoso. Ele e vários outros roubaram do meu pai. Ele mereceu a morte. Mas para aqueles de nós que seguem as regras, a vida aqui é boa.
Para aqueles de nós que seguem as regras. As garantias de Roarke só aumentam meu medo. Não estou planejando seguir as regras. Estou planejando roubar conhecimento e depois fugir para salvar a minha vida. — Eu sei, — eu digo baixinho. — Compreendo. Como eu disse, foi apenas um choque. Eu só estou aqui há alguns dias e tudo é muito... diferente. Eu ainda estou me acostumando com isso. — Eu engulo. — Eu acho que poderia ajudar a me deixar à vontade se eu soubesse com certeza que posso confiar em você. Se você pudesse me contar algumas coisas — sobre minha mãe, então eu sei que você pode realmente me ajudar.
Ele se inclina para trás sobre uma mão e me observa enquanto sua expressão séria se transforma em diversão. — Na verdade, você não é tão mal nisso quanto Aurora pensou. Ainda bastante transparente, mas estou impressionado que você esteja tentando.
Eu estreito meus olhos para ele. — Tentando o quê?
— Reverter esta situação ao seu favor. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Estou curioso. Essa cena com meu pai realmente a incomodou, ou toda a sua reação é um artifício para que você possa tentar manipular alguma informação de mim?
Minha boca cai aberta por conta própria. Fecho-a rapidamente e cerro os dentes enquanto respondo. — Claro que fiquei chateada com isso. Foi horrível. — Eu me inclino para longe dele. — Você ficou motivado por alguma preocupação genuína quando decidiu vir ao meu quarto, ou isso faz parte do jogo que você está jogando?
Ele sorri de novo, mas desta vez é mais suave. — Eu sinto muito. Parece que nós dois ainda estamos nos descobrindo. E sim, minha preocupação por você era genuína. Eu não sou tão cruel que não signifique nada para mim ver você chateada. Podemos estar prestes a formar uma das uniões menos românticas da história, mas isso não significa que eu não vou, pelo menos, tentar cuidar de você.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, me apertando mais forte que o normal. — Bem, no caso improvável de você estar dizendo a verdade, obrigada por tentar.
Ele me examina por mais alguns instantes. — O que posso dizer para convencê-lo de que estou sendo sincero?
— Você poderia começar com...
— Devo lhe falar sobre a pequena casa em que você cresceu? Número vinte e nove Phipton Way. Devo lhe falar sobre as rosas silvestres que sua mãe adorava cultivar no jardim? Ou sobre a amiga que costumava visitá-la às vezes? Aquela que sempre acabava discutindo com sua mãe. Aquela que você nunca conheceu, porque sempre lhe disseram para ir ao seu quarto. Ou que tal o momento em que sua mãe apareceu para buscá-la na escola uma hora mais cedo e ficou do lado de fora da cerca falando com coisas que não estavam lá? Contar a você sobre essas coisas é suficiente para provar a você que eu sei mais sobre sua mãe do que qualquer um que tenha tentado ajudá-la até agora?
Um arrepio percorre minha espinha. — Como você sabe dessas coisas?
Suas sobrancelhas se apertam levemente. — Você ainda não entende, não é? Você não entende como você é valiosa. Quando eu ouvi sobre a sua Habilidade Griffin, minha prioridade foi aprender tudo o que pudesse sobre você. Procurei sua tia, depois sua mãe e depois a única pessoa que ligava Daniela e Emerson Clarke a este mundo.
— Que pessoa?
— A pessoa que sabe quem você é. A pessoa que fez sua mãe do jeito que ela é.
Meu coração troveja perigosamente rápido. — Conte.
Ele simplesmente balança a cabeça. — Tudo será revelado depois da nossa união.
Eu sacudo minha cabeça, moendo as palavras entre os meus dentes. — E você quer que eu acredite que você não é cruel.
— Eu não sou, — ele diz baixinho. — É só que você não é a única pessoa que quer alguma coisa. Eu também quero algo, e não confio que você me dê a menos que eu retenha informações de você.
— Eu vou fazer esta união.
— Mesmo? Isso é honestamente o que você está planejando fazer?
Droga. Existe algum tipo de magia acontecendo aqui que diz a ele que estou mentindo? Aquela poção de compulsão ainda está funcionando? Mas ele não me obrigou especificamente a dizer a verdade. — Sim, — eu digo a ele, querendo acreditar que é a verdade. — É o que estou planejando fazer.
— E ainda assim você não pediu detalhes sobre como eu vou cumprir o meu lado do acordo uma vez que a união tenha acontecido. Como exatamente sua mãe será acordada e curada? Eu vou te ensinar os feitiços e deixar você ir até ela? Vou insistir em fazer isso sozinho? O que vai acontecer com sua mãe quando ela estiver bem?
Droga. Ele me pegou. — Eu tenho muitas perguntas para você, Roarke, mas você não está exatamente por perto para que eu faça. Você só voltou algumas horas e não tivemos muito tempo para conversar antes que seu pai quisesse me ver.
— Verdade. Bem, então, você quer perguntar como as coisas vão funcionar depois da união?
Eu inclino meu queixo para cima. — Como as coisas vão funcionar depois da união?
Ele suspira. — Por que você é tão resistente? Entendo que não é o ideal se casar com alguém que você acabou de conhecer, mas não é como se você estivesse tendo uma vida desapontadora em comparação com esse acordo. Eu estou te oferecendo tudo. Uma bela casa, uma família poderosa, riqueza além de qualquer imaginação. E não me diga que você não quer nada disso porque todo mundo quer isso. E não há nada de errado em querer isso. Você será uma das poucas sortudas que vai conseguir ter tudo.
— Você está certo, — eu digo baixinho, desdobrando meus braços e colocando minhas mãos no meu colo. — Eu sou muito sortuda.
— Então, quando estivermos casados, eu irei até sua mãe e —
— Não, — eu interrompo. — Você — eu vou. Eu vou buscá-la e trazê-la de volta para cá. — Eu paro. — Você não iria me impedir de fazer isso, não é? De ir buscá-la? Quero dizer, obviamente eu voltaria.
— Obviamente, — ele repete. — Mas isso não significa que meu pai ficaria feliz com você saindo. Se você não quer que eu busque sua mãe, e você não tem permissão para buscá-la também, entre em contato com quem quer que seja que a mantenha segura e marque uma reunião. Em um local neutro, que seus ‘amigos’ não precisem se preocupar serem descobertos. Vou mandar algumas pessoas buscarem sua mãe. Meus homens mais confiáveis.
Eu considero sua sugestão. — Bom. Se esse é o único jeito.
— Quando ela estiver aqui, eu vou acordá-la. Eu vou curar sua mente. Então ela vai poder dizer a verdade sobre tudo. Você pode finalmente ter todas as suas perguntas respondidas. Ela pode ficar aqui também, e você pode finalmente parar de se preocupar com ela. Parar de lutar, pare de se debater. A vida será boa para você, Emerson.
— Soa perfeito.
— Soa? Eu sei que você gosta de sarcasmo, então me perdoe por duvidar de você.
Eu reviro meus olhos. — Obviamente não é perfeito, mas é o mais próximo da perfeição que a vida poderia ser, então se casar com você é o único jeito de chegar lá, então eu farei isso.
— Mesmo?
— Sim.
Ele se inclina para frente e segura uma das minhas mãos. Ele olha atentamente para os meus olhos, e embora eu não me sinta diferente, não posso deixar de me perguntar se ele está tentando usar algum tipo de feitiço de discernimento mágico do qual não sei nada. — Você está mentindo para mim, Emerson?
Eu sacudo minha cabeça, desejando não desviar o olhar dele. — Não estou mentindo. Minha mãe é a pessoa mais importante do mundo para mim. Eu faria qualquer coisa para deixá-la melhor. — E percebo quando termino de falar que estou dizendo a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela — e isso inclui se casar com um príncipe que mal conheço. Então, se não houver saída para isso, se for impossível conseguir as informações que eu preciso de Roarke antes do casamento, então eu farei isso. Vou casar com ele. E mamãe finalmente será a mãe feliz e saudável que eu me lembro.
E então...
Um dia, não importa quanto tempo demore, não importa quanto tempo eu leve para descobrir exatamente como fazer isso, eu vou tirar nós duas daqui.
Capítulo 06
— SIM, MUITO BEM, — AURORA FALA PARA MIM ATRAVÉS DO TERRAÇO CONFORME eu balanço o braço do meu parceiro de dança, dou voltas, passo por trás dele, e volto à nossa posição inicial. Depois de aplaudir brevemente, Aurora acrescenta, — Você só estragou tudo uma vez desta vez.
— O quê? — Eu me afasto do jovem que tem sido meu parceiro. Primo de Aurora ou primo de segundo grau ou algo nesse sentido. Meu futuro marido é aparentemente muito importante ou ocupado demais para esse tipo de coisa. — Eu pensei que eu fiz tudo certo.
— Não, a parte no começo logo depois de você tocar as palmas das mãos? Você virou para o caminho errado.
Eu reviro meus olhos. — Você realmente acha que alguém vai notar?
— Sim. Em um salão de baile cheio de casais dançando, quando todo mundo se vira para um lado e você vira para o outro, isso certamente será perceptível.
— Tudo bem. Eu presumo que você vai me dizer para fazer de novo? — Eu tenho praticado por horas, mas sei que Aurora não vai ficar feliz até que eu esteja completamente certa.
— Sim, — diz ela com um aceno de cabeça.
Então eu encaro meu parceiro e tento não suspirar muito alto quando começamos de novo. Pelo menos minha roupa é bastante fácil de se mover. Depois do meu aterrorizante encontro com o rei, deixei de lado a minha teimosia e dei uma olhada no meu guarda-roupa — e descobri que não detestava as roupas tanto quanto esperava. Nem todas eram vestidos fofos, fiquei feliz em ver. São mais como combinações de calças e vestidos justos, alguns com longas mangas enfeitadas e pescoços altos, outros sem mangas e luvas cobrindo todo o braço. Com o passar dos dias, passei a apreciar os ricos detalhes e estilos exóticos usados pelos membros da Corte Unseelie. E quanto mais eu penso sobre isso, mais sentido faz em um mundo cheio de magia e encantamento, que a roupa seria tudo menos comum.
Ou talvez eu esteja simplesmente me acostumando a estar aqui, o que é um pensamento aterrorizante.
Nós dançamos a dança mais três vezes antes de Aurora finalmente nos deixar parar. Seu primo, que parecia que poderia se esfaquear se forçado a me girar mais uma vez, corre antes que Aurora consiga ordenar outra tarefa chata para ele. — Noraya, vamos tomar refrescos agora, — diz ela, acenando passando por mim para onde sua criada está esperando na porta da biblioteca.
Eu me junto a Aurora do outro lado do terraço e sento no banco balançando ao lado dela. É apenas uma única videira, e tenho um pouco de receio de colocar todo o meu peso no hemisfério oco. Mas Aurora continua me dizendo para não duvidar da magia, e seu banco está perfeitamente bem até agora. Depois de alguns momentos, relaxo contra as almofadas e levanto os pés para que eu possa balançar gentilmente para frente e para trás. Eu olho para o jardim, mas não há muita coisa acontecendo. O terraço da biblioteca fica em um lado mais silencioso do palácio.
— Então, agora que posso dançar sem errar, — digo a Aurora, balançando meu banco para encará-la, — podemos fazer algo mais emocionante esta tarde? Como arco e flecha? Eu estava começando há ficar um pouco menos que terrível em nossa última lição. Ou eu poderia te mostrar mais movimentos de parkour. Você poderia experimentar alguns deles desta vez, em vez de apenas me observar.
Ela ri e balança a cabeça para minha aparente tolice. — Você não acha que acabou as aulas de dança, não é? Você aprendeu uma dança, Em. Agora você precisa aprender o resto delas. E só temos três dias até o baile de aniversário de mamãe.
Meus pés caem no chão. — Sério? Eu tenho que aprender todas as danças?
— Sim. Vai ser bastante ruim quando as pessoas descobrirem que a futura princesa é alguém que passou toda a sua vida no reino humano e não sabia nada deste mundo até algumas semanas atrás. Se eles não virem você usando magia ou dançando todo tipo de dança, será ainda pior.
— Espere, você quer que eu use magia no baile? Na frente das pessoas?
— Claro. — Ela move a mão em um círculo, e seu banco começa a girar lentamente. — Deve estar tudo bem, não é? Você pode lidar com o básico agora.
— Sim, eu só não sabia que isso era esperado, só isso. Eu tentarei não esquecer.
— Essa é a coisa, Emerson. — Sua voz me alcança do outro lado do seu banco. — Você precisa chegar ao ponto em que não precisa se lembrar. Deve se tornar uma parte automática de sua vida diária, usando até mesmo para as tarefas mais simples.
— Soa um pouco como preguiça para mim.
— Você sabe o que é preguiça? — Ela faz seu banco parar quando ela está de frente para mim e toca distraidamente o pingente em volta do pescoço: uma forma oval prateada com uma pedra negra no centro. — Sentar em frente a uma tela brilhante e assistir sem pensar imagens em movimento.
Eu dou a ela o meu olhar nada impressionado. — Você está se referindo a TV e filmes? Porque isso não é preguiça. É entretenimento e faz parte da —
— Parte da vida humana. Assim como a magia faz parte da vida dos faeries. Faz parte da sua vida agora, Em, então se acostume com isso.
— Tantas coisas que tenho que me acostumar, — eu penso, olhando através do jardim novamente.
— Sim, como roupas bonitas, feriados exóticos, festas luxuosas e isso é o esperado pelo resto de sua vida.
— Eu estava me referindo mais a este mundo e sua política e geografia e história e criaturas e... tudo, — eu digo baixinho. — É tudo muito diferente da vida em que cresci.
— Verdade, — ela diz. — É por isso que você deve se concentrar com as coisas frívolas. É muito mais fácil se acostumar. O resto seguirá com o tempo.
Eu aceno, apesar do fato de que eu não concordo com ela. Eu não posso dizer a ela que ainda estou determinada a encontrar uma saída para tudo isso. Mesmo agora, depois de lições intermináveis de magia, etiqueta e dança, depois de longas discussões sobre os detalhes da cerimônia de união, eu ainda não consigo imaginar este casamento realmente acontecendo. Eu sei que provavelmente estou em negação. Eu sei que é improvável que Roarke me conte mais alguma coisa sobre minha mãe até nos casarmos. Mas eu não vou desistir até o momento em que a cerimônia de união começar.
Noraya retorna então com dois copos altos flutuando na frente dela. Ela é tão boa nessa coisa de levitação que nem precisa usar as mãos. Elas permanecem perfeitamente atrás das suas costas enquanto ela caminha para frente, os olhos apontados com firmeza à frente, em vez de observar os copos flutuantes. — Limonada, Sua Alteza, — diz ela quando nos alcança.
Eu me empurro para frente e fico de pé enquanto um dos copos se move em direção a Aurora. Eu envolvo minha mão em torno do outro. — Obrigada, Noraya. — Ela arrisca um olhar para mim, sorri, então olha apressadamente para longe.
— Você precisa superar isso, — Aurora me diz uma vez que Noraya caminha de volta para a porta da biblioteca. — Não há nada de errado em ser esperado.
Eu me acomodo com cuidado em meu banco sem derramar minha bebida. — Eu não gosto de relaxar e receber as coisas. Parece apenas... rude.
— É grosseiro impedi-la de fazer seu trabalho corretamente.
— Bem, de qualquer maneira, ela sorriu para mim, então eu acho que ela não se importou.
Aurora abaixa o copo e pisca. — Ela sorriu para você?
— Quero dizer, não para mim, — acrescento apressadamente, não querendo colocar Noraya em problemas. — Não de um jeito indelicado. De qualquer forma, queria perguntar a você sobre os vestidos para o baile de aniversário da sua mãe. Eu suponho que você vai me dizer o que eu devo vestir? Eu não acho que posso ser confiável para escolher o tipo certo de vestido.
Aurora estreita os olhos com a mudança abrupta de assunto, mas ela deixa passar. — Sim. Mamãe e eu mandamos fazer três vestidos para você. Nós decidiremos qual escolher quando soubermos o que Roarke estará usando.
— Certo. Claro. Porque seria terrível se as cores entrassem em confronto ou algo assim.
Ela revira os olhos e cutuca meu joelho com o sapato. — Seria terrível. Vocês dois precisam parecer o par perfeito.
— O que é bobo, porque nunca seremos um casal perfeito. Nós nem sequer — Oh. — Eu sento um pouco para frente. — Minha Habilidade Griffin. Eu posso senti-la chegando. — No tempo em que estou aqui, eu fiquei mais sintonizada com a sensação da minha magia. Ser forçada a manter registros intermináveis da magia comum que uso todos os dias, o quanto eu como, o quanto estou cansada ou energizada, e exatamente quando minha Habilidade Griffin aparece me tornou mais consciente de cada pequena mudança na minha magia.
— Ah, é quase na mesma hora que as últimas manhãs, certo? — Aurora diz. — Um pouco antes da hora do almoço?
— Sim. E eu usei muito mais a minha magia normal do que o habitual na noite passada tentando derreter aquela fonte, então provavelmente podemos dizer com certeza agora que níveis mágicos comuns não têm muita influência na minha magia Griffin.
— Excelente. Não se esqueça de adicionar isso ao seu caderno. Acho que temos uma ideia razoavelmente boa de como sua habilidade funciona agora, mas você provavelmente deve continuar acompanhando-a por mais algumas semanas. Só assim podemos ter certeza.
Eu achava que a minha Habilidade Griffin não fazia nenhum sentido quando se revelou pela primeira vez, mas talvez, como Aurora sugeriu, ainda estivesse ‘se estabelecendo’ durante os meus primeiros dias neste mundo. Desde então, meu excessivo registro revelou um padrão bastante regular: Minha Habilidade Griffin aparece duas vezes ao dia, com aproximadamente doze horas de diferença, mais ou menos uma ou duas horas. E durante esse tempo, não há nada que eu possa fazer — além de pegar o elixir, que agora está esgotado — que fará com que apareça. O que significa que é provável que a teoria de reabastecer de Aurora esteja correta.
Eu abaixo meu copo de limonada e sento na beira do meu banco. Eu fecho meus olhos e tento prever o momento exato antes de sentir aquela sensação de formigamento na minha espinha. — Eu imagino como se fosse um vulcão se preparando para entrar em erupção, — murmuro. — A pressão se acumula dentro de mim e, de repente, tudo corre para a superfície, pronto para explodir.
— O que Roarke obrigou você a dizer desta vez? — Aurora pergunta.
Assim como o rei instruiu, Roarke me dá uma poção de compulsão todos os dias — bem, duas vezes por dia, agora que descobrimos o padrão — e me diz exatamente o que dizer quando minha Habilidade Griffin está pronta para ser usada. — Ele me obrigou a tentar preservar o poder, se possível. Se não, então eu devo dizer para todas as rosas amarelas no jardim para ficarem azuis.
— Ugh, que comando estúpido. Ele realmente precisa encontrar alguns usos mais interessantes para sua magia. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja te deixando praticar. Você precisa aprender a dominá-la, Em.
— Sim. — Eu aperto minhas mãos e fecho minha boca enquanto a magia Griffin ondula através de mim, exigindo ser liberada. Segure-a, segure-a, segure-a, eu silenciosamente me instruo. E quando tenho certeza de que a magia está prestes a se libertar de mim, me forçando a falar às instruções que Roarke me deu, apenas... não. Lentamente, começa a parecer menos esforço segurá-la. Eu abro meus olhos, minhas mãos relaxando no meu colo. — Eu acho que eu consegui, — eu digo com um sorriso. — Eu ainda posso sentir o poder lá, como um zumbido estranho logo abaixo da minha pele. Eu me pergunto por quanto tempo eu posso —
O poder corre para fora de mim, tornando minha voz mais profunda e ressonante. — Toda rosa amarela no jardim ficará azul, — eu digo.
Aurora se senta um pouco para frente, olhando além de mim. Depois de um momento, ela diz, — Funcionou. Eu consigo ver apenas alguns arbustos de rosas amarelas daqui, mas elas ficaram azuis.
Eu caio de volta contra minhas almofadas, fazendo meu banco balançar com movimentos bruscos e oscilantes. — Merda, foi apenas um minuto.
— Bem, talvez você tenha se empolgado cedo demais. — Aurora se inclina para trás e toma um gole de sua limonada. — Tente por mais tempo na próxima vez antes de me dizer ‘consegui’. Tudo que você precisa é praticar.
— Maravilha. Outra coisa para praticar, — eu digo com um suspiro.
— Diga ao Roarke para obrigá-la a segurá-la, não apenas para tentar. E nada disso ‘Se você não conseguir, então é isso que você vai dizer.’ Ele basicamente está lhe dando permissão para falhar.
— Mm. — Eu estou esperando pelo dia em que Roarke estará ocupado o suficiente para esquecer de me obrigar. Esse é o dia em que vou me certificar de que eu esteja com ele exatamente no momento certo. Vou ordenar a ele que anote todos os feitiços necessários para acordar e curar minha mãe. Então, se restar alguma coisa da minha Habilidade Griffin, vou usá-la para sair daqui.
— Você não quer terminar sua limonada? — Aurora pergunta, levantando meu copo do chão com um simples aceno de sua mão. — Você precisa se manter hidratada, se quiser sobreviver ao resto das aulas de dança do dia.
Eu pego o copo do ar e tomo o restante da limonada. — Você vai ter que encontrar outro membro disposto em sua corte para ser meu parceiro, — eu a lembro, — e seu primo provavelmente já disse a todos para evitarem a mim e a minha dança terrível, então... Oh. Isso é uma ideia.
— O quê?
— Você acha que funcionaria se eu usasse minha Habilidade Griffin para dizer a mim mesma que eu posso dançar perfeitamente a dança das fadas?
— Uh... — A expressão de Aurora fica pensativa. — Hmm. Eu imagino. Quero dizer, como funciona a sua magia Griffin em primeiro lugar? Ela obedece às suas palavras exatas ou à sua intenção por trás das palavras? Funciona de acordo com o que você está imaginando quando ordena alguma coisa? Nesse caso, a coisa da dança não funcionaria porque você não sabe e, portanto, não consegue visualizar todos os passos das outras danças. E outra coisa, — acrescenta ela, batendo na lateral do copo com as unhas. — Se você me disser para fazer algo, mas a maneira que eu entendo seu comando não é da mesma maneira que você quis dizer, qual intenção a magia obedecerá? Sua ou a minha?
Eu inclino minha cabeça contra as almofadas. — Eu não tenho ideia, mas estou começando a desejar que esta Habilidade Griffin viesse com um manual de instruções.
— Experimentação, Em. Isso é tudo que requer.
— Claro, mas é frustrante quando tenho que esperar meio dia entre cada nova experiência.
— A menos que você possa se agarrar ao seu poder e usar um pouco de cada vez.
— Talvez. — Eu viro no meu banco para encarar as portas da biblioteca quando passos soam no terraço.
— Sua Alteza, — diz Clarina quando nos alcança. — Minha senhora, — acrescenta ela, direcionando suas palavras para mim antes de virar de volta para Aurora. — Phillyp está pronto para a sua aula.
— Oh, maravilha. — Aurora entrega seu copo de limonada pela metade para Clarina antes de se levantar.
— E sua mãe acabou de enviar uma mensagem para dizer que gostaria de discutir alguns detalhes do baile com você.
— Mamãe sempre escolhe fabulosamente o pior momento, não é? — Aurora diz com um suspiro. — Ela vai ter que esperar.
— Claro, Sua Alteza. Devo dizer a ela o habitual?
— Sim. Diga a ela que estou no meio da minha aula de arco e flecha. Eu vou direto para ela assim que terminar.
Clarina acena com a cabeça uma vez. — E devo escoltar Lady Emerson de volta para seus aposentos?
— Hum... não, na verdade. Em vem comigo desta vez. — Aurora me dá um sorriso perverso. — Eu confio em você agora para manter meus segredos.
Depois de uma rápida reverência, Clarina sai. — Poxa, — eu digo. — Estou chocada ao descobrir que a princesa perfeita está guardando segredos de sua própria mãe.
Ela dá no meu braço uma tapa brincalhona. — Não, você não está. Além disso, não é grande coisa. É apenas algo que minha mãe não aprova. — Em vez de voltar para dentro, ela sai do terraço para a grama.
— Sua mãe não aprova você treinar arco e flecha também, — aponto enquanto a sigo, — mas ela não impediu você de ter aulas.
— Sim, bem, eu disse a ela que era ou tiro com arco ou combate mágico, e não havia como ela permitir que sua pequena princesa aprendesse um combate mágico.
— Que é o quê, exatamente? — Eu me inclino quando uma borboleta prateada e uma lagartixa com asas — uma correndo atrás da outra — voam muito perto da minha cabeça.
— Você sabe como quando você se baseia em seu poder e, em sua forma mais básica, é apenas o poder cru em suas mãos? — Diz Aurora.
— Sim. — Foi essa a lição que recebi de Azzy na Chevalier House.
— Bem, tudo que você faz é jogar essa magia em alguém. Quero dizer, há mais do que isso. Aqueles que são treinados em combate mágico muitas vezes transformam sua magia em outras coisas. Pedras ou lâminas ou bandos de aves com bicos afiados. Algo que pode mais facilmente derrubar um adversário do que apenas algumas faíscas. Mas sua mente tem que ser muito rápida. Você tem que ser capaz de moldar sua magia mentalmente assim. — Ela estala os dedos. — Mais e mais, enquanto também se protege.
Eu olho em volta enquanto nos afastamos do palácio. Esta parte do jardim não me é familiar, e tudo o que posso ver à frente é um bosque de árvores. — Então a rainha não queria que você aprendesse essa habilidade?
— Não. Não é coisa de princesa. Temos guardas para lutar por nós, se necessário. Ela concordou com arco e flecha, porque tudo o que isso implica é atirar flechas em objetos inanimados que não atiram de volta em mim.
— Muito mais civilizado, — comento. — Mas isso claramente não era ousado o suficiente para você, então você teve que tentar outra coisa.
— Sim.
— Algo que sua mãe certamente não aprovaria.
— Exatamente.
— E o que é?
Um sorriso estende em seus lábios conforme alcançamos as árvores. — Montar em um dragão.
Capítulo 07
MEUS PASSOS PARAM. — ESPERE. — LEVANTO UMA MÃO. — Espere, espere, espere. Vocês têm dragões?
— Sim. — Aurora se vira para olhar para mim. — Você não os viu voando de vez em quando?
— Bem... eu vi alguma coisa no céu. Eu presumi que eram pássaros grandes, ou algum tipo de criatura voadora que ainda não conheci.
Ela cai na gargalhada. — Pássaros grandes? Mesmo?
— Eu só os vi de longe, — Eu digo defensivamente. — Era difícil julgar o tamanho.
— Bem, você está prestes a vê-los de perto.
Eu pisco. Meus pés ainda não se movem. — Caramba, — eu sussurro.
— O quê? Você não está com medo, não é?
— Não. Quero dizer, talvez. Provavelmente. Estou tendo apenas um daqueles momentos em que me pergunto se estou realmente sonhando. Estamos falando de dragões, Aurora. Eu cresci pensando que eles só existiam na ficção, e agora estou prestes a ver um? Meu cérebro não faz ideia de como reagir a isso.
— Vamos. — Ela pega meu braço e me puxa para frente. — Seu cérebro tem um minuto ou dois para entender as coisas. Os cercados dos dragões estão do outro lado dessas árvores.
— Dragões, — murmuro. — Você tem dragões. Dragões de verdade.
— Nós costumávamos ter gárgulas também, — acrescenta ela. — Bem, por 'nós' quero dizer a geração anterior da realeza. Gárgulas não são tão grandes quanto dragões, mas são assustadores, foi o que eu ouvi. Eles costumavam ficar de guarda no topo do palácio, mas todos desapareceram há algumas décadas.
— Sério? — Eu penso na criatura que Ryn estava montando quando ele me salvou de cair para a minha morte da beira de um precipício. Tenho certeza que era uma gárgula.
— Sim, meu pai tem sido rei por alguns anos, e as gárgulas nunca pareciam gostar dele. Um dia todos voaram para longe e ninguém os viu desde então.
— Que estranho, — eu digo devagar. Eu não mencionarei a Aurora que fui resgatada por um rebelde Griffin sobre uma gárgula, mas não posso deixar de me perguntar se é uma das gárgulas que moravam aqui.
Nós andamos além das árvores, mas ainda não vejo dragões. Ou cercados, por falar nisso. Eu olho para cima, mas também não há nada no céu. — Você terá que olhar para baixo, — Aurora me diz. — Ali.
Meu coração bate mais rápido quando nos aproximamos da borda de um buraco cavado no chão. Gradualmente, à medida que a borda fica visível, sou capaz de distinguir o tamanho desse buraco. O outro lado é de vários tamanhos de campos de esportes de distância. Paramos a uns trinta centímetros da beirada e olho para um ambiente exuberante e parecido com uma selva. Por um momento, eu me esforço para distinguir qualquer tipo de criatura entre as árvores e plantas coloridas, mas então algo se move. Um pescoço grosso e coberto de escamas. Uma cabeça gigantesca, subindo e girando lentamente para nos encarar até que esteja quase nivelada com o topo do poço.
— Em, — Aurora diz, — conheça Imperia.
O corpo do dragão brilha azul-verde e púrpura enquanto ela se move, e os enormes ferrões ao longo das suas costas são rosados e avermelhados. Sua cauda, terminando em forma da ponta de uma flecha verde, gira ao redor, derrubando facilmente uma fileira de arbustos. Então ela fica imóvel, inclina a cabeça um pouco para o lado e me observa com os olhos brilhando como brasas laranja ardentes.
— Ela é linda, não é? — Aurora diz.
Minha boca está aberta, minha língua está seca e meus pés estão enraizados no lugar — apesar do fato de que uma voz muito insistente no fundo da minha mente está gritando para eu fugir para salvar minha vida. — Incrível, — eu sussurro.
— Cada poço pertence a um dragão diferente. A Imperia sempre preferiu um ambiente tropical, mas o próximo poço está cheio de gelo. E o mais distante — que nos levaria algum tempo para caminhar — é profundo o suficiente para conter uma montanha.
— Uau. E eles podem voar para fora de seus poços sempre que quiserem? — Minhas pernas finalmente se lembram de como andar, e dou um passo trêmulo para trás conforme Imperia levanta a cabeça um pouco mais alto.
— Não, há um escudo invisível por cima. Os dragões não estão autorizados a menos que estejam com um cavaleiro.
— Tudo bem. — Eu engulo. — E percebo que não há paredes ao redor desses poços. O escudo pegaria alguém se caísse?
Aurora parece despreocupada quando ela diz, — Não.
— Mas... então...
— Se alguém for estúpido o suficiente para cair em um poço com dragão, então eles merecem ser comidos. Mas Imperia provavelmente não faria isso. Não com quem ela conhece, pelo menos. Ela é muito amigável. Então. — Ela se vira para mim. — Você quer montá-la?
Não tenho certeza de quanto tempo minha boca está aberta antes que eu finalmente responda. — Eu... na verdade... quero.
Aurora sorri para mim. — Eu gosto de você ainda mais agora. — Ela se abaixa e passa a mão ao longo da grama. Enquanto se endireita, uma linha cor de ouro forma um círculo perfeito ao nosso redor. Sem aviso, o chão estremece. O pedaço de terra circular em que estamos posicionadas se separa do chão e começa a descer.
— Uau. — Eu levanto minhas mãos e me firmo. — Então, estamos descendo para o poço?
— Sim.
— E, hum, eu estarei com alguém quando estiver montando esse dragão? Um profissional treinado?
— Você vai estar comigo.
— Mas... você ainda está aprendendo, não está? Clarina disse algo sobre... Phillyp estar pronto para a sua aula?
— Isso é apenas o que minhas criadas foram treinadas para me dizer quando Phillyp informa a uma delas que a barra está limpa para eu vir aqui. Sabe, quando não há ninguém por perto que possa dizer a minha mãe que eles viram a princesa nas costas de um dragão. Eu recebi lições no começo, é claro, mas elas terminaram há muito tempo. — Ela olha para mim. — Você não acredita que eu sei o que estou fazendo, Em?
— Hum... eu quero confiar em você. — Eu vejo a terra escura subindo rapidamente em torno de nós, em seguida, levanto os olhos para o pedaço circular do céu cada vez menor.
Aurora ri. — Bem, eu não vou forçar você, Em. Mas você sabe que vai se arrepender de ter ficado no chão assim que me ver voando no ar.
De alguma forma, sei que isso é verdade.
O elevador de terra mágico estremece silenciosamente até parar. Em poucos segundos, um túnel se forma à nossa frente, curto o suficiente para que eu possa ver a vegetação exuberante do outro lado. Eu sigo Aurora, hesitando na boca do túnel e olhando em volta procurando por Imperia. Através das árvores, vejo as escamas marinhas e roxas de uma de suas pernas.
— Oi, Phillyp, — Aurora diz, saindo direto do túnel e para a direita.
— Princesa, — diz uma voz masculina. — Estou feliz que você pôde vir. Imperia não voou por dois dias. Eu acho que ela está ansiosa para abrir suas asas corretamente.
Depois de outro olhar por cima do meu ombro em direção a Imperia, corro atrás de Aurora. Ela está falando com um homem magro encostado na porta de uma sala construída na lateral do poço. Sua cabeça está raspada, e a ferida brilhante em seu braço parece ter sido queimada recentemente. — Ooh, ai, — Aurora diz, inclinando-se para olhar seu braço. — Imperia fez isso?
— Sim. A culpa é toda minha, e você sabe que estou acostumado.
— Sim. E vai sumir em breve, tenho certeza, — Aurora diz enquanto se endireita. — Phillyp, esta é Em. Minha nova amiga. Ela vai montar comigo hoje, então, por favor, use a sela dupla.
Phillyp faz uma pausa por apenas um momento antes de inclinar a cabeça. — Claro, Sua Alteza. — Ele se vira e desaparece na sala.
— Ele não acha que é uma boa ideia, — murmuro para Aurora.
— Absurdo. Ele sabe que sou perfeitamente capaz de levar mais alguém comigo. É só que eu trouxe uma das minhas damas de companhia uma vez, e ela gritou o tempo todo que estávamos no ar. Imperia não ficou impressionada e nem Phillyp. — Ela estala os dedos perto da parte de baixo da saia e percebo um breve brilho antes que a faísca da sua magia desapareça. — Mas você não planeja gritar como uma garotinha, não é, Em?
Decido não perguntar a Aurora exatamente como ela sabe que Imperia não ficou impressionada. — Não. Obviamente, eu não pretendo gritar como uma garotinha.
Um conjunto de escadas, pairando a poucos centímetros acima do solo, desliza para fora da sala e passa por nós em direção a Imperia. Um momento depois, Phillyp corre atrás do que eu suponho ser a sela flutuando à sua frente.
— Ah, finalmente, — diz Aurora. Viro para encará-la enquanto sua saia cai no chão, revelando uma calça justa na mesma cor que seu espartilho. — O quê? — Ela pergunta em resposta às minhas sobrancelhas levantadas. — Eu não posso montar um dragão com um vestido.
— Eu acho que não. Ainda bem que já estou usando calça.
Com um aceno de mão, a saia voa para a sala. — Você vai querer manter o cabelo longe do seu rosto. — Aurora me diz enquanto nos dirigimos através das árvores. Ela acena com a mão perto do seu cabelo, e os grossos cabelos roxos e pretos prontamente se organizam em uma trança. Uma fita cor de prata aparece e se amarra no final de seu cabelo.
— Preguiçosa, — murmuro, estendendo a mão para trançar meu cabelo com as mãos.
— De jeito nenhum, — ela responde. — Você logo perceberá que qualquer feitiço que poupe tempo em se preparar e permita que você permaneça mais no ar nas costas de um dragão por mais tempo é um feitiço que vale a pena memorizar. — Ela para na beira de uma clareira e olha para cima, as mãos dela nos quadris. — Eu vou te ensinar mais tarde.
Minhas mãos continuam trançando por vários segundos, enquanto percebo o tamanho do dragão, admirando de boca aberta. O conjunto de escadas é alto o suficiente para alcançar suas costas, e Phillyp fica em cima, prendendo as correias e fivelas da sela com magia. Imperia solta um bufo alto, emitindo fumaça pelas narinas.
Eu engulo. Com os dedos tremendo, eu termino de prender minha trança. Rápido, Phillyp desce os degraus e Aurora sobe. Ela pega as correias, sobe nas costas de Imperia e balança a perna sobre o assento da frente da sela. — O que você está esperando? — Ela pergunta quando olha para mim. Em vez de responder, eu lambo meus lábios. — Vamos, Em, não enlouqueça. Isto vai ser divertido.
— Eu sei. — Minha voz soa rouca e um pouco mais alta do que o normal. Eu pigarreio. — Estou animada. Eu realmente estou. Eu por acaso estou um pouco assustada ao mesmo tempo. — Eufemismo, meu coração batendo descontroladamente grita para mim. Que gigantesco. Maldito. Eufemismo.
Mas isso não muda o fato de que eu quero fazer isso. Então eu forço minhas pernas a subir os degraus. Em cima, dou um último suspiro profundo antes de colocar a mão contra as escamas suaves de Imperia. Abaixo do meu toque, a cor ondula e brilha. Eu agarro duas das correias e me puxo para cima. Graças a todas as paredes que subi nos últimos anos, meus braços são bem fortes. Uma vez que me acomodo no meu assento, a escada escorrega para longe do corpo de Imperia.
— Coloque essa alça em volta da cintura, — Aurora diz, virando-se e apontando para uma alça solta pendurada em um dos lados da sela. Eu coloco através do meu corpo e prendo-a através do círculo de metal do outro lado.
Então finalmente, olho para baixo. Estamos mais longe do chão do que eu imaginava e ainda não decolamos. Não é que eu tenha medo de altura, e não é que eu tenha medo de correr riscos. Val e eu realizamos muitos saltos, cambalhotas e descidas que poderiam facilmente nos ter levado ao hospital. Mas eu estava sempre no controle do meu próprio corpo então. Agora, estou cem por cento à mercê de outra criatura — e é aterrorizante.
Aurora segura às rédeas. Imperia levanta as asas e seu corpo rola para um lado e depois para o outro enquanto ela avança alguns passos. Eu inalo bruscamente e agarro o cume da sela que se eleva entre o assento de Aurora e o meu. As pernas de Imperia se dobram ligeiramente. Eu seguro minha respiração. Então, com um grande impulso para baixo de suas asas, ela se eleva no ar. Eu sinto um solavanco enjoativo na região do meu estômago. As asas de dragão batem no ar, as copas das árvores balançam descontroladamente e o chão se afasta de nós. Eu imagino despencar em direção ao chão. Eu quase grito que quero sair, mas fecho a boca, agarro mais à sela e digo a mim mesma que não vou morrer.
Nós subimos rapidamente, o palácio ficando menor e o território Unseelie ao redor aparecendo. As asas de Imperia diminuem o ritmo. Ela se inclina um pouco para o lado e, em seguida, voa pelos limites do palácio. E em meros segundos, meu terror dá lugar à pura alegria.
***
— Essa foi a coisa mais incrível que já fiz, — digo a Aurora no momento em que os pés de Imperia tocam o chão em seu cercado.
— Eu disse a você, — ela responde com uma risada. A escada chega um momento depois e nós duas saímos de nossos assentos. Eu paro na parte inferior e estendo a mão contra o lado de Imperia. — Eu vou poder fazer isso de novo?
— Claro, — diz Aurora. Ela tira a fita cor de prata e empurra os dedos pelos cabelos para libertá-los da trança. — Você pode vir comigo sempre que quiser. Phillyp pode dar-lhe aulas e, em breve, passará a montar sozinha. Então podemos levar nossos dragões juntos. Vai ser perfeito.
Seria se eu estivesse planejando ficar aqui. Eu dou um passo para trás e olho melancolicamente enquanto Imperia se afasta. Eu envolvo meus braços em volta de mim e mordo meu lábio. É assustador admitir isso para mim mesma, mas acho que realmente posso gostar de viver aqui. As manhãs passando descansando em balanços, as tardes passando deslizando pelo céu nas costas de um dragão. E com minha mãe saudável ao meu lado. Tudo que eu preciso fazer é olhar para longe de quaisquer atos horríveis que acontecer de eu testemunhar o Rei Unseelie cometendo. E de alguma forma viver com a culpa de qualquer ato horrível que ele me obrigue a cometer.
Não, eu sussurro silenciosamente. Eu não posso viver com isso. — É apenas a realeza que tem dragões? — pergunto a Aurora enquanto Phillyp envia a escada portátil de volta ao depósito.
— Não, mas eles são muito caros, então apenas os muito ricos estão em posição de possuir um.
— Certo. — Então eu deveria aproveitar todas as oportunidades de montar em um dragão enquanto eu ainda moro aqui. Depois que eu for embora, nunca poderei pagar por isso.
— Felizmente, — Aurora continua, — você está prestes a se tornar membro de uma família extraordinariamente rica. Você pode ter quantos dragões quiser.
— Se eu soubesse que isso era tudo o que precisava para conquistar você, — uma voz diz atrás de nós, — eu teria trazido você aqui há muito tempo, Emerson.
— Roarke, — Aurora diz quando nos viramos para encará-lo. — Procurando por mim?
— Sim. Eu pensei que poderia te encontrar aqui. Você, no entanto... — Ele olha para mim. — Bem, nas costas de um dragão não é onde eu esperava encontrar você.
— Ela adorou, — Aurora diz, juntando as mãos e sorrindo.
— Eu ouvi, — Roarke diz com um sorriso divertido. — O que você disse exatamente? — Ele me pergunta. — Foi a coisa mais incrível que você já fez?
— Bisbilhotar é rude, — eu digo a ele.
— Assim como manter segredos da minha mãe, mas eu vou continuar escondendo também, não se preocupe, — acrescenta ele quando Aurora abre a boca para protestar. — Ela não precisa saber sobre o seu passatempo favorito.
— Onde você esteve à manhã toda? — Pergunto conforme voltamos para o fundo do poço. — Eu pensei que você poderia se juntar a mim para a minha aula de dança.
— Eu estava... organizando um presente para você, meu amor.
Eu arqueio uma sobrancelha cética. — Houve muita hesitação em sua voz para que isso seja verdade.
— É verdade, eu prometo. Eu só estava pensando se deveria te contar ou não.
O túnel se materializa à nossa frente quando nos aproximamos da parede. — Tudo bem, se esse presente é de verdade, então quando vou recebê-lo?
— Assim que Yokshin terminar.
— Yokshin? — Eu me lembro desse nome de algum lugar.
— Sim. Ele é nosso mestre de invenções. É ele que ira reproduzir o seu elixir da Habilidade Griffin.
— Então... ele conseguiu ter sucesso?
— Não. — Saímos do túnel e subimos no pedaço de terra que levita. — Este é um presente diferente. Você vai ver... em breve.
Eu pressiono meus lábios enquanto o chão começa a subir. Eu poderia fazer mais perguntas, mas ele continuará me dando apenas metade das respostas.
— Por que você estava procurando por mim? — Aurora pergunta a seu irmão.
— Oh, você e eu temos algumas coisas que precisamos ver.
Aurora acena e olha para cima, sem dizer nada.
— Mais segredos que você está mantendo de sua amada? — Eu pergunto.
Roarke me dá seu sorriso malicioso. — Assim que você for minha esposa, todos os segredos serão revelados.
Capítulo 08
À MEDIDA QUE À TARDE DO BAILE DE ANIVERSÁRIO DA RAINHA CHEGA, FICO na varanda e ensaio minha história. Esta noite é à noite em que o Príncipe Roarke vai anunciar que ele escolheu uma esposa. Ele me apresentará, ‘a nova amiga estranha’ da princesa Aurora, e de repente todo mundo vai querer saber cada detalhe de quem eu sou e de onde eu sou.
Roarke e sua mãe pensaram em uma ideia de inventar um passado completamente diferente para mim — um que não envolvesse o mundo humano — mas eles imaginaram que a verdade seria descoberta em breve. E nenhum deles parecia acreditar que eu seria capaz de manter os detalhes de uma história inventada, então a maior parte do que me disseram para compartilhar com as pessoas é a verdade: eu cresci pensando que eu era humana, minha magia se revelou, a Guilda se envolveu para que eles pudessem me aprisionar e garantir que eu nunca machucasse ninguém, e então Roarke e seus homens apareceram para me resgatar. Eles me levaram de volta ao seu palácio para que eu pudesse viver como um membro livre na corte deles. Roarke e eu logo nos apaixonamos loucamente um pelo outro, e o rei aceitou nosso pedido para formar uma união. Então, tudo até o resgate é essencialmente a verdade. Depois disso... bem, eu de alguma forma tenho que fazer essas pessoas acreditarem que eu estou obcecada pelo príncipe deles.
Eu me inclino contra a balaustrada da varanda e olho ansiosamente para as perfeitas nuvens fofas bem acima de mim. Eu prefiro estar subindo os céus nas costas de Imperia, em vez de me preparar para enfrentar uma multidão da nobreza Unseelie. Ou montando aquele outro dragão que Phillyp montou comigo ontem. Bralox, acho que era o nome dele. Ou dançar danças simples com Dash nas margens da praia encantada dos rebeldes Griffin, em vez de tentar lembrar cada passo de cada dança oficial das faeries — já que a minha Habilidade Griffin não fez para me ajudar nesse departamento.
Batem na minha porta tão ruidosamente que posso ouvi-la da varanda. Olho por cima do ombro para ver Aurora dançando do outro lado da sala de estar e vindo para a varanda. — Está na hora! — Ela canta.
— Para quê? — Ela não pode estar se referindo ao baile. Ainda falta horas.
— Hora de começar a se vestir, é claro. É um longo processo envolvendo cabelo, maquiagem, joias — e, claro, ainda não escolhemos o seu vestido dos três que foram feitos para você.
— Oh. Tudo bem.
Seu rosto fica triste. — Por que você não está mais empolgada?
— Eu estou. — Eu coloco um sorriso que não parece de verdade. — É apenas... festas não são realmente minhas coisas preferidas. Na última que participei, minha magia explodiu de dentro de mim e quase matou minha melhor amiga.
— Confie em mim, Em, — Aurora diz com o tipo de sorriso que faz seus olhos brilharem. — Esta festa não vai ser nada como você imagina. E se isso não faz você se sentir melhor, aqui está algo que vai. — Ela tira a mão de trás das costas e me oferece uma caixa quadrada um pouco maior que a palma da sua mão.
— O que é isso? — Eu pergunto enquanto eu pego dela.
— Lembra que Roarke disse que mandou fazer um presente para você?
— Sim.
— Bem, eu pensei que ele estava apenas dizendo isso para encobrir o que ele realmente estava fazendo naquele dia — eu geralmente posso dizer quando ele está mentindo — mas acontece que ele realmente conseguiu que Yokshin fizesse algo para você.
Eu tiro a tampa da caixa e encontro uma pulseira sobre uma pequena almofada preta. Correntes delicadas de metal prateado se envolvem umas às outras, com minúsculas folhas prateadas e flores brotando dos lados. No meio da pulseira está uma grande joia clara. — É lindo, — eu digo.
— É bonito e inteligente, — diz Aurora. — É como se fosse um relógio. Mas não mostra à hora, mostra o nível da sua magia Griffin. Então, no lugar dos ponteiros, tem um grande rubi. O rubi perde sua cor quando você usa todo o seu poder Griffin, e então a cor enche novamente lentamente na mesma velocidade que sua magia se repõe. Pelo menos, é assim que deve funcionar e, obviamente, você precisa usá-lo.
— Uau, isso é inteligente. — Eu pego a pulseira da caixa, abro-a o e coloco a forma rígida ao redor do meu pulso. O fecho se encaixa facilmente no lugar. Enquanto observo, uma fração de um lado do rubi fica vermelho. — Hum, acho que isso faz sentido. Foi pouco antes do meio-dia que a minha Habilidade Griffin apareceu, então isso foi cerca de... duas ou três horas atrás?
— Sim. Então, isso deve facilitar para você ver quando sua magia estiver pronta para ser usada. Sabe, no caso de variar um pouco se você estiver extremamente cansada ou se nem sempre conseguir senti-la.
— Legal. — Eu abaixo meu braço. — Então isso foi feito por... Yokshin? Esse é o nome dele?
— Sim, o mestre de invenções. Ele experimenta todos os tipos de magia. Feitiços, processos, dispositivos. — Ela se inclina contra a balaustrada, abre um largo sorriso e acena para dois jovens caminhando abaixo. — É uma linha fascinante de trabalho, — continua ela, virando para mim. — Eu costumava visitá-lo muito quando era mais nova, até que minha mãe me disse que não era apropriado passar tanto tempo com alguém de sua posição, especialmente quando ele às vezes me levava para a prisão para me mostrar alguns de seus experimentos.
— Prisão?
— Sim, uma pequena que temos aqui. De qualquer maneira, você gostou da pulseira?
— Sim. Como você falou, é bonita e inteligente. — Eu movo a pulseira de um lado para o outro, de modo que a pedra sem cor capture a luz. — Yokshin fez alguma joia enfeitiçada para você?
— Hum... algumas. — Eu olho para cima para vê-la brincando com o pingente pendurado em uma corrente em volta do seu pescoço. A corrente prateada com a pedra negra. Eu percebi que ela a usa mais do que muitas outras joias. — Eu falo sobre isso em outro momento, — acrescenta ela. — Por enquanto, precisamos começar a nos preparar.
— Sim, tudo bem. Onde está o Roarke? Ele não queria me dar este presente?
— Queria, mas você conhece os homens. Eles não querem atrapalhar enquanto as damas se vestem.
— Ou ele ainda está me evitando, — eu resmungo enquanto passo por ela para dentro da sala de estar.
— Evitando você? Que bobagem é essa? — Aurora me segue para dentro. — Ele vê você pelo menos duas vezes por dia quando lhe dá a poção de compulsão.
— Sim, essa é a única vez que ele me vê.
— Bem, ele está muito ocupado.
Ou ele está evitando estar perto de mim sempre que minha Habilidade Griffin está ativa — caso eu não consuma todo o meu poder para seja qual for o comando que ele me deu e eu possa usar o resto para obter informações dele. O que é exatamente o que eu teria feito se ele estivesse por perto. Eu tenho praticado segurar minha Habilidade Griffin. Eventualmente, eu tenho que deixar passar algumas coisas dizendo o que eu tenho sido obrigada a dizer, mas houve momentos em que eu posso sentir que ainda há poder sobrando. Eu tentei segurar até ver Roarke novamente, mas eu não consegui segurar tanto tempo ainda.
— Em?
— Mm? — Eu encaro Aurora, percebendo tardiamente que ela me fez uma pergunta.
— Eu perguntei se você está realmente começando a gostar do Roarke. É por isso que você está chateada por não vê-lo mais vezes?
— Oh. Hum. Talvez. — Eu acho que isso é uma razão melhor do que eu estar chateada porque eu não tive a chance de usar minha Habilidade Griffin nele.
Ela sacode a cabeça e suspira. — Você é muito ruim em mentir. Venha, vamos para o meu quarto. Seus vestidos chegaram mais cedo e a mamãe os mandou agora. — Ela liga seus braços aos meus. — Você pode ensaiar sua história de amor épica no caminho.
A caminhada até a suíte de Aurora é longa o suficiente para eu recitar minha ‘história de amor épica’ duas vezes. — Bom trabalho, — diz ela quando chegamos a sua sala de estar. — Você sabe os fatos de cor. Agora você só tem que trabalhar em parecer como se você realmente quisesse dizer a parte de apaixonar-se perdidamente.
— Eu vou ter certeza de fazer um trabalho melhor quando estiver mentindo para os fae de elite da sociedade Unseelie mais tarde.
— Maravilha.
Nós entramos em seu quarto, que é muito maior que o meu e inclui um closet do tamanho de uma garagem dupla. — Oh, aqui estão as joias que a mamãe selecionou para você. Eu pretendia te mostrar mais cedo enquanto estávamos tomando café da manhã. — Ela pega uma caixa da sua penteadeira e a abre para mostrar o conteúdo. — Colar e brincos. Adoráveis, não são?
‘Adoráveis’ provavelmente não é a palavra que eu usaria. Cada peça consiste inteiramente de pedras brilhantes e incolores. Os brincos são lágrimas do tamanho da minha unha do polegar, e o colar é uma fileira dupla de pedras que crescem gradualmente à medida que alcançam um pingente: outra grande lágrima facetada. — São... são de verdade? — Pergunto enquanto Aurora os retira da caixa.
Ela me conduz em direção ao assento em frente à penteadeira antes de me dar um olhar interrogativo no espelho. — O que você quer dizer? Eles não são um tipo de ilusão que desaparecerá quando a festa acabar, se é isso que você está imaginando.
— Não, eu quero dizer... são diamantes de verdade? — Ela parece querer que eu me sente, então eu sento. — Ou eles são falsos? Como vidro ou cristal ou algo assim.
Ela ri. — Claro que são diamantes de verdade. Por que nós usaríamos falsos? — Eu permaneço em silêncio enquanto ela prende os brincos nas minhas orelhas e coloca o colar em volta do meu pescoço. — Aí. Eu acho que eles combinam com você. Eles ficarão lindos, não importa qual vestido escolhermos.
Eu balanço minha cabeça para o meu reflexo. Eu puxo os brincos e retiro o colar. — Eu acho que eu não deveria usar isso. — Eu coloco os diamantes brilhantes cuidadosamente na mão de Aurora. — Aqui. Você pode devolvê-los à sua mãe.
— O quê? Porquê?
— Eu não posso usar algo tão valioso. E se o colar cair enquanto eu estiver dançando? E se eu perder os brincos depois de tirá-los e então —
— E então o quê? Não seja tão boba, Em. O colar não vai cair. — Ela abre a caixa e coloca as joias de volta na almofada aveludada. — E quem se importa se isso acontecer? Mamãe certamente não vai. Esta é provavelmente a joia menos valiosa que ela possui.
Eu tento não me sentir mal com suas palavras. — Aurora...
— Vamos, isso não é grande coisa.
— Mas isso é uma grande coisa, — eu digo. Ela dá um passo para trás, surpresa com a minha raiva. — Eu sinto muito. É só que... bem, eu não esperaria que você entendesse, — murmuro.
Ela cruza os braços. — E por quê? Porque eu não pareço colocar muita importância nas joias quanto você parece de repente?
Eu reviro meus olhos. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu aponto para a caixa. — Que esses muitos diamantes provavelmente valem mais do que... eu não sei. Toda a Stanmeade. Eu não consigo usar tanta riqueza em meu corpo, e você não entenderia isso porque nós viemos de origens muito diferentes.
— Sim, — diz ela, dando um olhar que claramente diz, Dã. — Nós viemos. Esta não é uma revelação novinha em folha, então por que, de repente, é uma coisa importante?
Eu não sei. Eu não posso dizer a ela por que essa joia com diamante trouxe de repente a diferença entre minha vida e a dela, ou porque eu estou de repente comparando minha mãe com a dela. A rainha é perfeitamente sã e está em posição de distribuir itens de imensa riqueza como se não custassem nada. Mamãe está perdida em algum lugar dentro de sua própria mente e não conseguiu me dar nada além do peso da responsabilidade por muito tempo. — Eu sinto muito, — eu murmuro, olhando para a maquiagem espalhada em cima da penteadeira. — Eu não posso usar essa joia. Isso só me faz pensar em tudo que eu nunca tive. Todas as coisas que minha mãe nunca pôde me dar. E eu não quero dizer as coisas caras, eu só quero dizer as coisas normais. E todas as coisas que ela não pode ser para mim quando ela começou a ficar louca.
— Em...
— Não, eu não estou procurando por sua piedade. Eu só estou dizendo... — Eu não sei mais o que estou dizendo. — Eu só... não quero usá-la, se estiver tudo bem?
Ela acena com a cabeça. — Tudo bem. Claro. Eu nunca iria querer deixar você desconfortável. Hum... — Ela se vira para as portas do seu closet. — Tenho certeza de que posso encontrar algo mais simples da minha coleção.
Eu me levanto, começando a me sentir ainda pior agora que ela está sendo tão compreensiva. — Eu sinto muito, Rora. Eu não quis parecer ingrata. Eu sou grata por tudo que você e sua mãe fizeram para me ajudar a se encaixar aqui. Eu ainda não sei como lidar com tudo... — Eu gesticulo vagamente com os dois braços. — Tudo isso.
Ela pega minha mão, aperta e sorri. — Está bem. Eu entendo. — Ela caminha até o closet, em seguida, faz uma pausa na porta e olha para trás. — Roarke costumava me chamar de Rora quando éramos mais jovens. Então ele cresceu e decidiu que era um nome bobo e infantil. Eu disse a ele que concordava, mas a verdade é que meio que sinto falta de ouvi-lo me chamar de Rora.
Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Eu... eu realmente não sei porque eu disse Rora. Apenas saiu dessa maneira. Eu sinto muito. Eu não quero deixar as coisas estranhas.
— Isso não é o que eu quero dizer. — Ela sorri novamente. — Você provavelmente esteve tão focada na ideia de conseguir um marido que nunca pensou no fato de que também está conseguindo uma irmã. Eu sei que nada disso é o que você queria para sua vida. Eu sei que você está passando por tudo isso pela sua mãe. Mas... bem, estou feliz que você seja minha irmã. Espero que um dia você possa ser feliz também.
Ela se dirige para o enorme closet antes que eu possa dizer qualquer outra coisa e, nesse momento, a porta da sala se abre. Espreito pela porta do quarto e vejo a rainha, vestida com um roupão e chinelos, atravessando a área de estar com três de suas criadas e uma mulher desconhecida a seguindo. Cada uma das servas levitando um vestido. — Sua Majestade, — eu digo para a rainha, inclinando a cabeça em respeito quando ela vem em minha direção.
— Emerson, olá. — Eu nunca a vi usando tão pouca maquiagem e com o cabelo dela — preto e borgonho como o de Roarke — tão simples. Ela se inclina e beija o ar de cada lado das minhas bochechas. — Pronta para o grande anúncio de hoje à noite?
— Sim, — eu digo com confiança e um largo sorriso, nenhum dos dois é genuíno.
— Aurora, amor, eu tenho os vestidos, — a rainha chama, passando por mim. — Ah, aí está você, — acrescenta ela, enquanto Aurora sai do closet.
— Ooh, excitante. — Aurora esfrega as mãos.
— Coloquem os vestidos ali, — a rainha diz a suas criadas, — e então vocês podem ir. — As criadas deixam os vestidos flutuando no ar acima da cama antes de se virar e sair silenciosamente da sala. A mulher que eu não reconheço tira algo da saia de um vestido e arranca um fio solto do outro.
Ando devagar ao redor da cama para ver os três vestidos de todos os ângulos. O primeiro tem uma saia cheia de tule rosa escuro com flores delicadas que crescem pelas costas da cintura até o pescoço. O segundo é a cor do champanhe. Sua saia de muitas camadas é coberta com flores de ouro, e o corpete apertado tem um decote sem mangas. A última opção é feita de tecido de ouro rosa com milhares de minúsculos cristais brilhando com a luz conforme o vestido balança suavemente no ar. A parte de cima do espartilho se encaixa na parte de trás, e embora a saia esteja um pouco amassada com um pouco de tecido extra sobre a bunda, ela não é tão fofa quanto às outras duas.
— Eles são lindos, — eu digo.
— Eles não são? — Aurora responde. — E aparentemente, eles são ainda mais lindos quando você os coloca. O rosa muda para frente e para trás entre rosa e roxo, e as pétalas nas costas se abrem lentamente à medida que a noite passa. O champanhe vem com um par de luvas longas feitas de um tecido translúcido que parece bolhas de champanhe subindo em seus braços. E o ouro rosa tem um efeito cintilante enfeitiçado que parece brasas brilhantes.
— Parece legal.
— Eles são criações da Rosewood Raven, — Aurora continua. — Mamãe e eu divulgamos para todos os principais designers que estávamos procurando algo espetacular para um evento muito importante. Nós sugerimos um potencial anúncio de noivado — sem usar essas palavras exatas, é claro — o que resultou em muitos rumores circulando por aí. Recebemos dezenas de designs, e minha mãe não estava muito interessada em que você usasse um vestido da Rosewood, visto que —
— Visto que ela vestiu alguns dos Seelies no passado, — a rainha continua. — Eu não queria você usando um de seus vestidos. Quando vi o nome dela do lado de fora do pergaminho, quase o joguei fora sem abri-lo.
— Mas havia algo sobre seus desenhos que continuávamos voltando, — diz Aurora. — Algo que apenas... nos cativou. — Um olhar sonhador aparece em seu rosto.
— Eles se tornaram muito adoráveis, — admite a rainha. — Eu posso ver porque essa mulher Rosewood se tornou popular nos últimos anos.
— Você enviou um convite para ela? — Aurora pergunta. — Eu quero conhecê-la.
— Claro que não, querida. Eu te disse que não era apropriado. Ela tem conexões com a Guilda e vestia os Seelies antes. Podemos ter decidido usar uma de suas criações, mas não me senti confortável em tê-la aqui. Pedi a Lemon para mandar alguém pegar os vestidos e ser discreta sobre isso.
— Oh, Em, está é Lemon, a propósito, — acrescenta Aurora, gesticulando para a mulher que entrou com as criadas. — Nossa criadora mestre de roupas. Ela provavelmente fez a maioria das roupas que você encontrou em seu guarda-roupa.
— Oh. Obrigada, Lemon. — Eu tento não rir do nome estranho. — Você fez um bom trabalho.
Ela acena para mim. — Obrigada, minha senhora. E sim, mandei Jefford buscar os vestidos hoje de manhã, e tive a certeza de passar a importância da discrição. Disse a ele que não queremos o constrangimento de ninguém saber que nos associamos a alguém que já trabalhou com os Seelies, mesmo que o trabalho dela seja bom.
— Que bobo, — Aurora resmunga. — As pessoas vão descobrir de qualquer maneira. Somos da realeza, pelo amor de Deus. É uma honra desenhar para nós, então tenho certeza de que Raven Rosewood vai falar para as pessoas.
— Ela vai? — A rainha pergunta. — Eu duvido que ela queira arriscar sua reputação com os Seelies.
— Ela não vai dizer nada, — diz Lemon. — Jefford deixou os vestidos no meu quarto com uma nota dizendo que tudo correu bem. A designer aceitou seu pagamento e alegremente concordou em ficar quieta sobre seu envolvimento.
— E quando as pessoas perguntarem esta noite? — Aurora diz. — Porque você sabe que algumas dessas mulheres vão querer saber quem vestiu a nova princesa. Tudo com o que eles se importam é com as últimas tendências e novidades, e assim que virem Em, em, digamos, luvas de bolhas de champanhe, todos eles estarão adicionando a mesma coisa para suas novas roupas.
— Sério? — Eu pergunto. — Isso é tão bobo.
— Esse é o tipo de influência que você tem como princesa, — Aurora diz com um sorriso de satisfação. — Uma vez eu usei sprites vivos pendurados em minhas orelhas, e na festa seguinte, eu vi pelo menos cinco outras garotas usando a mesma coisa.
— Pobres sprites, — murmuro, imaginando as criaturas que parecem pequenas pessoas aladas amarradas aos lóbulos das orelhas de Aurora.
— Se alguém perguntar pelo nome do designer, diga que é um segredo, — diz a rainha. — Diga a eles que nossa chefe criadora de roupas tem um aprendiz especialmente inventivo, e queremos mantê-lo em segredo conosco.
Aurora suspira. — Tudo bem. De qualquer forma, precisamos decidir qual deles usaremos para que todas nós possamos começar a nos preparar.
— Hum, eu pergunto ao Roarke o que ele decidiu usar? — Eu sugiro.
— Sim, — a rainha responde. — Aurora e eu vamos verificar se todos os ajustes para o novo vestido dela foram feitos corretamente, e então ela vai encontrá-la na suíte do Roarke.
Com um brilho nos olhos, Aurora acrescenta, — Mamãe não confia em você para relatar com precisão a roupa de Roarke sem minha ajuda.
— Aurora, — a rainha repreende. Então sua expressão se transforma em um sorriso de desculpas. — Bem, suponho que seja verdade. Desculpe, Emerson.
Eu dou de ombros, então congelo com meus ombros puxados para cima, lembrando que a rainha não gosta de encolher os ombros. — Está bem. Vejo você lá, Rora. — Eu saio correndo do quarto, esperando até que eu esteja fora da suíte antes de relaxar meus ombros.
O chão de mármore brilhante passa rapidamente sob meus pés enquanto eu me dirijo para a suíte de Roarke. Eu bato na porta dele, mas depois de esperar vários segundos, nem ele nem um de seus criados me chamam para entrar. Eu bato de novo e espero, mas ainda nada. A ausência de guardas fora de sua suíte me faz duvidar que Roarke esteja dentro, mas ele mencionou que às vezes seus guardas patrulham mais ao longo dos corredores do lado de fora desta ala do palácio. Eu abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça dentro. — Roarke?
Sem resposta. Sabendo que Aurora estará aqui em poucos minutos, decido esperar na sala de estar do Roarke até ela se juntar a mim. Fecho a porta e ando devagar pelos sofás, comparando a suíte com a de Aurora. Móveis semelhantes preenchem o espaço, embora em um estilo menos delicado, com madeira escura e acabamentos em preto brilhante. Eu ando até a janela e descubro que tenho uma excelente visão de uma escultura que eu nunca fui capaz de ver corretamente no chão: uma cobra gigante que se ergue em direção ao céu, cercada por arbustos de rosas negras. Assustador, penso quando me afasto da janela.
De canto do olho, noto movimento perto da porta do quarto. Algo escuro, como uma sombra deslizando pela parede. Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém lá — Roarke ou um de seus criados — mas ninguém está atrás de mim. Eu me viro para o local, meus olhos percorrendo cada centímetro da sala. Eu olho para a parede novamente, mas as sombras criadas pela mobília e decoração estão imóveis. Deve ter sido algo de fora. Um pássaro voando pela janela, talvez. Ainda assim, este é um palácio cheio de magia e encantamento, então é possível que eu tenha visto a sombra de algo que agora está se escondendo nesta sala comigo.
A ideia envia um arrepio no meu pescoço e no meu cabelo. Seja corajosa, eu me lembro. Esta é a sua casa agora. Você não pode ter medo em sua própria casa. Forçando minhas pernas a se mover, ando pela sala novamente. Eu me inclino e olho embaixo da mobília. Eu puxo as cortinas para longe da parede e olho atrás. Pelo o que posso dizer, estou sozinha nesta sala.
Mas este não é o único cômodo da suíte. Meus olhos deslizam para a porta que leva ao quarto. É lá, afinal, onde eu vi o movimento quase agora. Eu atravesso a sala e espio pela porta entreaberta. Eu vejo outra janela e parte de uma cama de dossel. Sem movimento ou som, então, depois de um momento, abro a porta o suficiente para entrar no quarto. O quarto que logo será meu também. A cama que logo será minha.
Uma imagem de Roarke e eu juntos nessa cama passa pela minha mente antes que eu possa pará-la. Eu engulo em desconforto e tento afastar a imagem. Eu evito pensar sobre essa parte específica do nosso acordo, mas agora que estou olhando para a cama que em breve pertencerá a nós dois, é impossível não pensar no que terá de acontecer nela.
Eu me afasto quando um arrepio sussurra através da minha pele. Eu ainda tenho tempo, eu me lembro. Hora de encontrar uma saída para todo esse acordo. O anúncio do noivado acontecerá hoje à noite, mas a cerimônia de união na verdade não acontecerá por mais algumas semanas.
Uma voz na sala de estar me assusta, mas é apenas o Roarke. — Sim, por favor, feche a porta, Marvyn, — diz ele. — Eu vou ter apenas alguns minutos. — Expirando e quase rindo de mim mesma por meus medos bobos, eu volto para a porta. Espero que Roarke não fique muito irritado depois que eu explicar por que estou em seu quarto.
Mas eu paro quando ouço uma segunda voz. Uma voz feminina.
— Ainda é seguro conversar aqui? — Ela pergunta.
— Sim, — Roarke responde. — Nós não seremos ouvidos.
Capítulo 09
MERDA. EU CUBRO MINHA BOCA COM MINHA MÃO E CONGELO.
— Você tem certeza? — Pergunta a mulher.
— Sim. Meu pai não tem controle sobre essa suíte. Meus homens vasculham diariamente por encantamentos e insetos espiões, e não encontraram nada em anos.
— Ainda assim, — a mulher diz enquanto seus passos atravessam a sala. — Alguém pode nos ver através da janela. — Sua voz soa familiar, mas eu não consigo descobrir de onde. Eu ouvi tantas mulheres da corte desde que cheguei aqui. Pode ser qualquer uma delas.
— Eu duvido. Estamos muito alto. E se alguém nos ver, e daí? Eu sou o príncipe e tenho o direito de falar com quem eu quiser.
Minha imaginação salta imediatamente para a pior conclusão. Raiva aquece minhas veias com o pensamento de Roarke me traindo. Que outro motivo ele encontraria uma mulher em particular em sua suíte? Uma mulher que não quer que ninguém veja os dois juntos? E não é como se eu estivesse com ciúmes, mas ele deve se casar comigo em algumas semanas! Eu alcanço a porta, prestes a abri-la completamente e exigir que esse tipo de coisa não continue depois que nossa união acontecer.
— Tudo bem, então, — diz a mulher. — Então, o que você está fazendo sobre as sombras?
Eu paro com minha mão levantada. Sombras? Eu não estava esperando isso.
— Você tem que controlá-los, Roarke. Não podemos tê-los aterrorizando este mundo. Ou o outro mundo. Nós não podemos viver lá até que eles tenham sido completamente erradicados.
— Está tudo bem. Meus homens estão cuidando disso.
— Como o guarda que apareceu morto? Enrugado e velho?
Roarke suspira. — Você me disse que não ficaria chateada com isso.
— Eu estive pensando nisso e decidi que tenho todo o direito de ficar chateada com algo assim. A mesma coisa poderia acontecer com a gente.
Eu inclino minha cabeça em direção à porta, desejando poder ver a linguagem corporal deles. Desejando descobrir a natureza do relacionamento de Roarke com essa mulher.
— A mesma coisa certamente não acontecerá com a gente, — assegura ele. — Aconteceu apenas com aquele guarda porque ele foi estúpido o suficiente para deixar uma sombra pegá-lo quando ele não estava usando seu amuleto. E ele deveria saber o feitiço certo para lutar contra, mas claramente ele era muito lento. O resto dos meus homens sabe o que estão fazendo.
— Bem, eles certamente estão demorando um pouco para fazer o trabalho. Todo esse tempo perdido. O edifício parou. O castelo e o terreno estão ali meio formados e...
— Relaxe. Leva tempo para preencher um mundo.
— Tempo em que outra pessoa poderia descobri-lo e reivindicá-lo como seu território.
— Quem vai reivindicá-lo? Ninguém mais sabe disso.
— Isso não é verdade agora que você deixou outras pessoas verem.
— Eu já disse a você, — diz Roarke. — Nem meu pai nem a Aurora têm algum interesse em reivindicar esse mundo como seu. Ele continua com as mesmas crenças que tinha no começo, e você sabe que Aurora está mais interessada em —
— Eu não quero dizer eles. — Há uma pausa em que eu me aproximo para ter certeza de que não estou perdendo as próximas palavras dela. — E a sua futura esposa? E o guardião que estava com ela? — Um arrepio passa por mim. Eu dou um passo silencioso para trás, como se eles pudessem de alguma forma sentir a minha presença se eu estiver muito perto da porta.
— Emerson não sabe o que viu, — Roarke diz, — e eu duvido que ela se importe. Ela provavelmente assumiu que era parte do mundo fae. Ela não sabe o suficiente sobre este reino para assumir que seria qualquer outra coisa. Quanto ao guardião... bem, duvido que ele tenha alguma pista do que viu também. Guardiões são treinados para lutar, não para pensar.
— Você não deveria subestimá-lo, — diz ela sombriamente.
— E você não deveria estar se preocupando.
— Tudo bem. Bem. Então não estamos com pressa. Mas ainda estou preocupada com as sombras. Como estão passando? E é só aqui no palácio, ou você acha que eles são capazes de chegar a qualquer parte deste mundo? Ou... — Ela faz uma pausa por um momento. — Eu me pergunto se eles são capazes de passar para o mundo humano.
— Se conseguirem, será problema da Guilda, não nosso.
— Verdade.
— E isso provavelmente não vai acontecer, porque meus homens estão garantindo que todas as sombras em breve estarão mortos.
— Bom. Bem, então eu posso pegar o manto que eu vim pegar? Marvyn pode ficar desconfiado se eu sair sem ele.
— Marvyn já está desconfiado, — Roarke diz com uma risada, — mas eu vou pegar o manto de qualquer maneira. — Seus passos se movem em direção ao quarto. Eu xingo sob minha respiração — o que envia uma imagem de Dash pela minha mente por apenas um segundo; ele não ficaria impressionado com a minha linguagem escolhida. Eu passo pela única outra porta e entro no banheiro de Roarke. Deslizando por trás da porta entreaberta, eu prendo a respiração.
E é quando vejo o que está na parede à minha esquerda.
Eu coloco minha mão sobre a minha boca para reprimir o meu suspiro assustado. Um grande círculo de magia cintilante e ondulante ocupa a maior parte da parede. Elétrico de uma cor azul, com pedaços escuros e finos subindo das bordas e desaparecendo, a magia gira preguiçosamente em forma de espiral que parece ser sugada para o centro.
Um portal?
Uma pequena parte de mim está curiosa para saber para onde isso leva — se é que é mesmo um portal — mas, na maioria das vezes, tenho pavor do que pode estar do outro lado. Eu me inclino o máximo que posso enquanto ainda permaneço escondida atrás da porta do banheiro. Felizmente, Roarke leva apenas alguns segundos em seu quarto. No momento em que eu o ouço sair, saio rapidamente do banheiro e fico perto da porta aberta do quarto.
— ... preocupado com Marvyn e essas suspeitas dele? — A mulher misteriosa pergunta.
— Não, não preocupado. Ele é pago bem o suficiente para manter suas suspeitas para si mesmo.
— Bom. Bem, vou deixar você se preparar para o seu anúncio de hoje à noite. Estou animada que esta união será finalmente oficial. Espero que a cerimônia aconteça em breve.
— Vai, — diz Roarke.
Vários momentos de silêncio seguem, em que começo a me sentir ainda mais confusa do que antes. Esta mulher quer esconder seus encontros com Roarke do jeito que uma amante secreta faria, mas está feliz que ele vai se casar comigo?
Eu ouço a porta principal da suíte abrir e fechar. Eu me pergunto se eles foram embora, mas então escuto os pés de Roarke — mais pesado que o da mulher — atravessarem a sala de estar. Apavorada que ele possa voltar ao seu quarto, eu começo a andar na ponta dos pés em direção ao banheiro. Mas o raspar de uma cadeira me diz que ele provavelmente está sentado agora. Eu me abaixo perto da cama de qualquer maneira, só no caso de eu ter que escorregar para debaixo dela rapidamente para me proteger.
Depois de vários minutos que parecem horas, ouço uma batida na porta. Então a voz de Aurora quando a porta abre: — Oh, onde está Em?
Droga.
— Como eu deveria saber? — Roarke pergunta. — Eu pensei que ela estava com você.
Droga, droga, droga.
Faço a única coisa em que consigo pensar: corro para a janela mais próxima, jogo minhas pernas sobre ela e me abaixo do outro lado. As pontas dos meus sapatos de cetim do tipo bailarina procuram pontos de apoio entre os tijolos de mármore. Os sapatos ficarão arranhados quando eu voltar para dentro, mas espero que ninguém perceba. Eu desço com cuidado, parando quando meu pé sente a abertura de uma janela próxima abaixo. Eu me movo para o lado, desço mais alguns tijolos e espio pela lateral da janela. Parece uma sala de estar privada. Cadeiras confortáveis, um armário cheio de bebidas, um espelho emoldurado a ouro repugnantemente ornamentado em uma parede e pinturas de mulheres seminuas nas outras. Mas o mais importante, não há ninguém nela.
Eu piso no peitoril da janela e pulo para dentro. Segundos depois, eu estou no corredor, andando o mais rápido que posso sem arriscar a atenção se por acaso eu passar por alguém. Eu rapidamente percorro algumas curvas até chegar à escada que leva à ala da família real. Eu corro para cima e quase colido com Aurora no topo.
— Oh, ai está você, — ela diz, alívio aparecendo em seu rosto. — Eu pensei que você estivesse indo para a suíte do Roarke. — Eu procuro em suas feições qualquer sinal de suspeita, mas tudo o que vejo é confusão.
— Ele não está lá, — digo a ela. — Uma das criadas disse que ela o viu perto da biblioteca, então fui procurá-lo. Perda de tempo, no entanto, já que ele não estava lá também. Tem certeza de que ele terminou com seja lá qual for o negócio importante com o qual ele estava lidando esta manhã?
— Sim, eu acabei de vê-lo em seus aposentos.
Eu reviro meus olhos e rio. — É isso o que acontece quando você mora em uma casa do tamanho de uma cidade pequena. Podemos passar o dia todo procurando um pelo outro e nunca nos encontrar.
— E isso, — Aurora diz quando ela pega meu braço e vira para a suíte, — é por isso que temos criados para procurarem por nós. De qualquer forma, eu vi a roupa de Roarke. Eu acho que vai combinar esplendidamente com o vestido rosa dourado. Você está feliz com isso?
Estou feliz com qualquer coisa que desvie a atenção de Aurora do fato de que eu não estava onde deveria estar. Espero que, se Roarke questionar meu paradeiro depois, ele acredite na minha história com a mesma facilidade. — Isso soa perfeito, — digo a ela. — O rosa dourado é meu favorito.
Eu a sigo de volta para sua suíte, onde uma enxurrada de atividades já começou. Cabeleireiros e maquiadores organizam seus instrumentos e feitiços. Lemon, a conjuradora de roupas, cuida de pequenas imperfeições em nossos vestidos. As criadas da rainha entram e saem com mensagens da mãe de Aurora sobre joias, enfeites de cabelo, lanches e outros assuntos triviais. E o tempo todo, minha mente está cheia da conversa que eu não deveria ouvir e da magia que eu não deveria ver.
Capítulo 10
QUANDO A NOITE CHEGA, O INVERNO SE ESTABELECE E O SALÃO DO BAILE ESTÁ VIVO com atividade. Mulheres em vestidos lindos e homens em trajes tradicionais de faeries — calças de terno e jaquetas com gola alta com ombros afiados — se misturam na pista de dança no centro do salão de baile. Dezenas de mesas redondas rodeiam a sala, cada uma com uma escultura de gelo de um dragão formando o coração das peças centrais. Do lustre de vidro no centro do teto, cordas de pequenas luzes cintilantes irradiam. E do próprio teto, flocos de neve brilhantes caem, desaparecendo em nada antes de alcançar a cabeça de qualquer pessoa.
Fico em um lado da sala com Aurora e duas damas de companhia que, ao que parece, tiveram permissão para voltar das férias para qual Aurora as enviou. Elas conversam sem parar, ocasionalmente enviando olhares curiosos na minha direção, enquanto eu tento fingir que estou interessada no que elas estão falando. A verdade é que minha mente não poderia estar mais longe dessa festa. Eu não consigo tirar o pensamento sobre as sombras da minha cabeça. Roarke e aquela mulher estavam obviamente falando sobre o lugar que ele e Aurora me levaram no dia em que me encontraram no meu antigo quarto na casa de Chelsea. O lugar de onde Dash e eu fugimos de uma criatura sombria e disforme — uma sombra? — e acabamos de volta ao mundo fae perto do buraco no véu. Com todas as coisas ocupando minha mente, eu mal pensei naquele incidente até esta tarde.
Meu olhar atravessa a multidão enquanto eu me pergunto qual delas estava no quarto de Roarke mais cedo. Pode ser qualquer —
— E o que te trás a Corte Unseelie, Em? — A pergunta vem de uma das companhias de Aurora. Mizza? Algum nome estranho assim.
Eu levo um segundo para colocar meu sorriso no lugar, mas Mizza não parece notar. — A Guilda queria me prender, mas alguns dos Unseelies — guardas pessoais do Principe Roarke, na verdade — me resgataram.
Ela solta um suspiro como uma dama e coloca uma mão contra o peito. — Oh, que emocionante. O príncipe estava com eles no momento? Ele é tão bonito, não acha?
— Por que a Guilda queria prendê-la? — A outra jovem dama pergunta.
O nome dela escapou completamente de mim. — Eu sou uma Dotada Griffin, então a Guilda achou que eu merecia ficar presa.
Ambas as damas ficam boquiabertas, mas eu mantenho meu sorriso sereno. Tenho permissão para começar a compartilhar a primeira parte da minha história agora — menos os detalhes da minha Habilidade Griffin. Ao mencionar o nome do Roarke ao falar do meu resgate, espero que as pessoas acreditem nele quando ele se levantar mais tarde e anunciar que eu sou o amor da sua vida.
— É uma história muito excitante, — acrescenta Aurora, — e prometo que vou contar tudo sobre isso depois. Mas agora, quero apresentar a Em para algumas outras pessoas.
— Não foi tão ruim, foi? — Ela pergunta baixinho conforme me leva para longe.
— Hum... eu não sei. Eu não escutei muito do que elas disseram.
— Em! — Ela bate no meu braço, mas seu horror zombeteiro logo se transforma em um sorriso. — Eu suponho que é tudo muito difícil para você, se você nunca esteve em um evento como este antes. Tantas distrações.
— Sim, — murmuro, observando um pégaso em miniatura passar. Erguendo os olhos, noto que há muitos deles no ar, cada um com um tom pastel diferente. Enquanto eu observo, uma mulher estende a mão, pega um e morde a cabeça.
— Oh, — eu suspiro, parando. — Isso é horrível.
— O quê? — Aurora segue meu olhar e começa a rir. — Oh, Em, é apenas um bolo voador. Eles não são criaturas reais. — Ela fica na ponta dos pés e agarra um. Ele luta em seu aperto, mas no momento em que ela puxa sua asa, ele para de se mover. — Vê? Apenas bolo e glacê. — Ela estende a asa para mim, e debaixo da camada externa rosa pastel, eu vejo um bolo cor de caramelo.
— Hum, não, obrigada, — eu digo quando ela tenta me fazer pegar parte da asa. — Isso é perturbador. — Eu olho para longe da mulher compartilhando o pégaso decapitado com sua amiga e me concentro em suavizar minha carranca. — Então, as pessoas sabem que há uma razão pela qual elas estão aqui, além do aniversário de sua mãe?
— Ninguém sabe ao certo, mas todos suspeitam de um anúncio de compromisso, — diz Aurora. — Eu ouvi as palavras ‘casamento’ e 'união' várias vezes enquanto passeava esta noite.
— E eu não devo confirmar suas suspeitas se alguém me perguntar?
— Não. Vamos deixar as pessoas imaginando por um pouco mais de tempo. Elas podem espalhar muitos rumores ao redor deste salão de baile o quanto quiserem até que Roarke faça o anúncio. Agora, vamos ver. — Ela toca no colar de pérolas negras apoiadas na base do pescoço, quando olha em volta. — A quem eu posso apresentar a você — Oh. Deixa pra lá. — Os músicos na plataforma elevada do outro lado do salão de baile pararam de tocar. Aurora olha em direção à porta maciça arqueada junto com todos os outros na sala. — Meus pais chegaram, — ela sussurra para mim.
Quando o Rei e a Rainha Unseelie são anunciados, todos os convidados no salão de baile se curvam ou fazem reverências. — Bem-vindos, — grita o rei Savyon enquanto todos nós nos levantamos. — Obrigado por se juntarem a nós enquanto celebramos o aniversário da Rainha Amrath. Hoje à noite, vocês se deliciarão com o melhor entretenimento, comerão os pratos mais exóticos e dançarão até o sol nascer. Que as celebrações comecem!
O lustre explode e o salão de baile se enche de guinchos e suspiros. Eu me abaixo e olho para cima, meus pensamentos se debatendo para descobrir o que está acontecendo. Um ataque externo? O rei está perdendo a cabeça e matando a todos nós? Mas quando a fumaça se dissipa, vejo centenas de objetos semelhantes a paraquedas flutuando em direção à multidão. Os murmúrios de medo se transformam em sussurros de espanto, depois em risadas e dedos apontando. Aurora pega dois paraquedas e entrega um para mim. Uma pequena caixa em forma de cubo pende de um dossel de pétalas. Quando coloco a caixa na palma da mão, os lados e o topo desaparecem, revelando uma rosa prateada dentro.
— Perfeito, — Aurora diz com um sorriso. — Eles saíram exatamente como a mãe queria que saíssem.
— O que é isso?
— Chocolate. — Ela ri. — E um feitiço que evita que você se canse até o sol nascer. Nós vamos festejar a noite toda. — Ela coloca a rosa em sua boca e gesticula para eu fazer o mesmo. Eu mastigo o chocolate amargo enquanto olho em volta para as pessoas pulando para pegar paraquedas, passando para seus amigos e comparando as rosas para ver se elas são todas iguais. Meu olhar cai sobre um homem olhando para mim — e meu coração quase para quando eu reconheço Dash.
Eu fico em choque quando ele olha para longe e duas mulheres pulando para pegar paraquedas o bloqueiam momentaneamente de ser visto. Não pode ser ele. É um truque da minha imaginação, minha mente transformando outro jovem em Dash. No entanto, eu pisco e espreito de mais de perto, uma parte de mim esperando que seja realmente ele. Mas não é. Seu cabelo está diferente, e seu braço, noto quando ele alcança um dos paraquedas caindo, está nu, sem as marcas de um guardião.
— Oh, olhe! — Aurora agarra meu braço e me puxa. Ela aponta para cima, enquanto a luz da sala escurece e pessoas em collant brilhantes descem pelo ar do teto. Eles deslizam graciosamente entre as cordas de luzes e ficam pendurados logo abaixo delas, girando lentamente e dando cambalhotas com movimentos coordenados para acompanhar a música misteriosa. Isso me lembra um pouco do nado sincronizado, ou tecido acrobático onde os acrobatas ficam pendurados em pedaços de tecido. Exceto que agora, não tem água para flutuar. Não há tecido para ficar pendurado. Esses artistas estão suspensos no ar por magia.
A noite continua com a dança — eu consigo não errar - comendo e bebendo, intercalada com várias formas mágicas de entretenimento extravagantes: malabaristas jogando bolas coloridas no ar, onde se transformam em doces de arco-íris que fazem sons de estalo e disparam doces em forma de estrela para todos; uma mulher soprando bolhas em qualquer forma que seu público solicite; um par de centauros que galopam e fazem uma dança dramática antes de galoparem para longe; e um homem que persuade sua magia em um dragão do tamanho de Imperia feito inteiramente de fogo.
Minha imaginação parece estar sobrecarregada de todas as coisas fantásticas que eu vi no espaço de apenas algumas horas, quando Roarke finalmente vem até mim. Eu o vi de longe esta noite, vestido de forma semelhante à maioria dos outros homens, mas com os punhos e gola alta de sua jaqueta feita de tecido em relevo dourado. Nós concordamos há alguns dias que não falaríamos ou dançaríamos juntos até depois do anúncio. Então, se ele está na minha frente agora, isso deve significar...
— Minha adorável Lady Emerson, acredito que temos um anúncio para fazer.
Eu engulo quando meu estômago se agita. — Oh. Que horas são? — Eu esperava adiar o maior tempo possível. De fato, parte de mim tem fingido a noite toda que se eu me recusasse a pensar sobre isso, isso nunca aconteceria.
— Não vamos deixar nossos convidados esperando por mais tempo. — Roarke coloca a mão nas minhas costas e me direciona para a plataforma elevada onde os músicos estão sentados. — Acho que elevamos o suspense por tempo suficiente. Todo mundo está se divertindo, mas agora não há um único convidado nesta sala que não esteja se perguntando qual é a bela dama que seu príncipe escolheu para ser sua esposa. Vamos afastar todas as suas especulações sussurradas.
Quanto mais nos aproximamos da plataforma, mais silenciosa a sala se torna. Finalmente, ao subirmos os três degraus que conduzem ao lado, os silêncios reinam, interrompidos apenas pelo sussurro ocasional e o farfalhar de saias. — Lembre-se de mostrar a todos como você está feliz, — Roarke murmura, seus lábios mal se movendo e seu sorriso continua no lugar.
Não tenho certeza se posso fingir estar feliz agora, mas posso pelo menos esconder meu medo. Enquanto Roarke encara a multidão e eu fico parada ao lado dele, eu tento imitar a maneira como ele se porta, empurrando meus ombros para trás, e levanto meu queixo levemente. Eu forço meus lábios em um sorriso que eu possa controlar.
Então eu cometo o erro de olhar para o salão de baile lotado. Centenas de rostos olham para mim com expressões que variam de curiosidade para aversão absoluta. Não mostre medo, não mostre medo. Eu pisco e estabeleço meu olhar na parede distante, logo acima da linha de pessoas. Não se mexa, permaneça equilibrada, continue sorrindo. Mas apesar da minha máscara de confiança, um rugido distante começa a encher meus ouvidos. Meu coração bate tão descontroladamente que temo que eu possa realmente ter uma parada cardíaca.
Roarke começa a falar, mas eu ouço apenas pedaços do que ele está dizendo: meu passado no reino humano, meu status de Dotada Griffin, meu resgate da Guilda. Eu ouço as palavras ‘uma corte rápida’ e 'profundamente apaixonado', e então, finalmente, Roarke olha para mim, pega minha mão na dele, e diz, — Eu nunca estive mais feliz do que no momento em que meu pai nos deu permissão para nos unirmos. — Ele encara a multidão novamente, segurando a minha mão. — E então, meus senhores e senhoras, eu apresento a vocês a mulher com quem estarei me unindo em exatamente doze dias: a linda, cativante e gentil Emerson.
Silêncio cumprimenta as palavras finais do príncipe. Ele paira, se expande, pressiona meus ouvidos e, finalmente, estoura. Gritos, brindes e aplausos preenchem meus ouvidos e, de repente, essa união parece real demais. Eu sei que eu concordei com isso, mas enquanto não era oficial, eu achava que encontraria uma saída. Mas agora que todo mundo sabe, parece quase impossível. Pela primeira vez, isso me atinge — realmente me atinge — que eu vou ter que fazer isso. Eu vou casar com um príncipe. Este palácio e essas pessoas vão se tornar minha vida. Tudo isso vai se tornar a vida da minha mãe também. Pelo tempo que for necessário para descobrir como vamos escapar.
— Vamos dançar agora, meu amor? — Roarke me pergunta.
Não confiando em mim para falar, eu simplesmente aceno. Ele me leva para baixo da plataforma e em direção ao centro do salão de baile enquanto a música recomeça. Minhas pernas começam a tremer com o pensamento de um salão de baile inteiro de pessoas nos assistindo dançar, mas Roarke levanta a voz e incentiva a todos a participarem. Com conversas animadas, eles correm para encontrar parceiros enquanto Roarke e eu nos encaramos e nos movemos para a posição inicial.
Já dancei várias vezes esta noite, mas agora é diferente. Ninguém se importava com quem eu era antes. Ninguém prestou atenção em mim. Mas agora, mesmo que todos estejam dançando também, sinto seus olhos em mim. Teria sido ótimo se minha Habilidade Griffin fosse capaz de me dar à habilidade de executar cada passo com perfeição, mas aparentemente minha Habilidade Griffin não sabia como fazer isso. Então, fico concentrada em todos os movimentos, em cada detalhe intrincado, em cada giro e pivô. Felizmente, com um parceiro especialista como Roarke, é fácil esconder o erro estranho e a hesitação.
Parceiros se movem ao nosso redor enquanto a música muda de novo e de novo, mas Roarke se agarra a mim para várias danças. Ele pressiona um beijo sob o meu ouvido em um ponto, e eu tenho que trabalhar fortemente para não me encolher. Eu digo a mim mesma para ficar grata por ele não beijar meus lábios. Eventualmente, ele me entrega a outro parceiro, e agora eu realmente tenho que me concentrar, minha atenção dividida entre ter uma conversa educada e seguir os passos.
O tempo passa. Eu continuo circulando a sala, mudando para um novo parceiro sempre que é apropriado. Embora eu esteja completamente fora da minha zona de conforto, a música me incita a continuar dançando. Ou é o chocolate encantado que comi antes?
Danço, converso, mudo de parceiro, repito. Começo a me perguntar por quanto tempo eu tenho que fazer isso antes que eu possa sair da pista de dança e dar um tempo de tudo. Eu giro ao redor e para os braços de outro parceiro. Um homem, que percebo com meu segundo choque da noite, que reconheço afinal de contas.
Dash.
Capítulo 11
MEUS PÉS TROPEÇAM EM UM IMPASSE. UMA COMBINAÇÃO ESTRANHA DE ALEGRIA E HORROR dispara através de mim. O cabelo de Dash está completamente diferente, como eu percebi anteriormente, e vários dias de barba para fazer melhoram seu disfarce. Mas é definitivamente ele.
— Não pare de dançar, — diz ele, me forçando a acompanhar a música. Então, depois de dar aos dançarinos em volta dele um sorriso agradável e totalmente falso, ele sussurra, — Qual diabos é o seu problema?
Outro segundo de choque passa antes que eu encontre minha voz. — Eu? Qual o seu problema? Como até mesmo você — o que você — você sabe o que Roarke e Aurora farão se reconhecerem você?
— Eles me viram por cinco segundos naquele dia. Eles não vão me reconhecer agora.
— Mas como você —
— O que você está fazendo aqui, Em? Por que você está aceitando essa charada de união estúpida? Eu esperava encontrar uma prisioneira e, em vez disso —
— Nós não vamos ter essa discussão aqui, — eu digo a ele com os dentes cerrados, meu sorriso completamente esquecido agora. — Encontre-me lá fora. — Eu me livro de seu aperto e viro. O homem que eu encontro parece assustado. Ele e a mulher com quem ele dança quase tropeçam. Mas, felizmente, depois de dois ou três segundos desastrosos, todos trocam de parceiros e, para qualquer um que esteja observando, parece que a quase-princesa acidentalmente tentou trocar alguns segundos antes. Felizmente entro nos braços do homem confuso e continuo dançando, tentando manter um sorriso sereno no lugar enquanto meu coração troveja no meu peito.
Ainda mal posso acreditar. Dash está aqui. Através da minha raiva e terror — porque esse é exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando evitar quando escolhi vir para cá, e agora ele está bagunçando tudo — eu estou dolorosamente feliz em vê-lo.
— Foi horrível crescer no reino não mágico? — Pergunta meu parceiro de dança.
— Hum, bem, eu não conhecia nada melhor, então eu não sabia o que estava perdendo.
— Deve ter sido emocionante ter descoberto que você pertence a este mundo em vez disso.
— Sim. Magia é... muito maravilhosa. — Estou distraída quando vislumbro Dash com outra parceira.
Quando a dança termina, consigo recusar educadamente a mulher que esperava ser minha próxima parceira. Deslizo por ela e saio da pista de dança, entre as mesas e cadeiras, e em direção à porta em arco que leva aos jardins. É estranho olhar e ver uma paisagem branca como a neve enquanto me sinto tão quente que estou quase suando. Deve haver um feitiço na porta aberta que mantém o ar frio do inverno lá fora.
Olhando para trás, vejo pelo menos duas mulheres vindo em minha direção com olhos brilhantes e sorrisos largos, provavelmente esperando conversar comigo. Maravilha. Agora que todo mundo sabe quem eu sou, eu nunca sairei desse salão sem ser notada. Eu procuro por uma distração, e na mesa mais próxima, vejo um dos doces do arco-íris estourando. Eu discretamente deixo cair no chão, levanto a saia e chuto para o lado. Ele gira para longe da multidão, zumbindo, estalando e atirando doces minúsculos em todos os lugares. Na comoção, encontro os olhos de Dash por um segundo. Então me viro e saio para a noite.
O frio me atinge no momento em que passo por baixo do arco, mas depois de toda aquela dança, o ar gelado é um alívio bem-vindo. Depois de descer correndo as escadas, viro à direita, saio do caminho e espero à sombra de uma árvore com maçãs prateadas, salpicadas de neve penduradas em seus galhos. Eu expiro longamente e devagar, mas minha ansiedade só aumenta quando os segundos passam e eu espero por Dash.
Eu fico tensa quando passos apressados descem as escadas. Dash olha ao redor, me vê, e com alguns passos rápidos ele está na minha frente. — Qual é o seu problema? — Ele exige imediatamente. — Andando por aí como se você pertencesse aqui. Participando dessa idiotice de união. Você não pode estar planejando —
— Você quer falar sobre idiotice? — Eu retruco. — Você é idiota. Por que veio aqui? Essas pessoas são seus inimigos. Você sabe o que farão com você se descobrirem o que você é e para quem você trabalha?
— Eles são seus inimigos também, Em, mas de alguma forma você os deixou manipular para se casar com um deles —
— Eu não fui manipulada coisa nenhuma, — eu digo, ainda tentando manter minha voz nada mais alto do que um sussurro irritado. — Eu escolhi estar aqui. Roarke apresentou uma solução — casamento em troca de curar minha mãe — me deu tempo para pensar sobre isso, e eu decidi aceitar sua oferta. A única pessoa que quer me forçar a fazer coisas é o rei, mas Roarke não o deixa. Ele quer uma esposa disposta. Ele não vai me manipular para fazer qualquer coisa contra a minha vontade, apesar do que você está pensando.
Dash parece que ele está prestes a ficar doente. — Você... você veio aqui voluntariamente? Ninguém te obrigou a isso?
— Sim. Ele ofereceu algo que eu queria e decidi que o preço valia à pena.
— O preço é um casamento, Em! Uma união! Você parou para pensar o quão sério é isso? Estamos falando do resto da sua vida. As uniões neste mundo não são como as do seu mundo. É um vínculo mágico que não é facilmente quebrado. E uniões reais? Eu nunca ouvi falar de uma união sendo quebrada. Se você continuar com isso, é para sempre.
Eu reviro meus olhos, mesmo quando o peso de suas palavras perfura meu núcleo e deixa minha pele mais fria do que há um momento atrás estava. — Agora você está sendo um idiota novamente. Eu não pretendo realmente que essa união aconteça. Eu tenho uma Habilidade Griffin, pelo amor de Deus. Uma extremamente poderosa. Quando for o momento certo, e quando eu tiver aprendido bastante controle sobre ela, eu vou pedir ao Roarke para me dizer tudo que eu preciso saber para curar minha mãe, e então eu vou escapar.
Dash ainda parece um pouco doente. — Sério? Esse é o seu plano? Você realmente acha que depois de tudo isso lá — ele acena genericamente na direção do salão de novo — eles vão deixar você escapar?
— Tudo bem, primeiro de tudo, ‘escapar’ implica que eu não vou pedir permissão. Eu vou embora. Então não importa se eles vão me deixar ou não. E em segundo lugar... — Eu lentamente respiro profundamente porque eu tenho que admitir que estou me sentindo tão doente quanto Dash parece. Em segundo lugar, percebo que escapar pode não ser possível. Eles podem me pegar e me forçar a participar desta...
— Você acha?
— ... apesar de tudo que Roarke diz sobre querer uma esposa disposta, — eu continuo, interrompendo Dash. — E se é assim que acaba, então que assim seja. Pelo menos eu vou pegar as informações que preciso, e então —
— Isso se Roarke realmente prosseguir com seu lado da barganha e dizer a você o que ele sabe — o que provavelmente não é nada, a propósito. Como ele pode saber mais sobre sua mãe do que o resto de nós? Mas quando você descobrir isso, será tarde demais para você. — Ele ergue as mãos e olha para o lado enquanto balança a cabeça. — Todo esse seu plano é totalmente inútil.
Um calafrio me percorre. Meu corpo esfria rapidamente, e o ar do inverno parece estar se infiltrando em meus ossos. Eu corro minhas mãos vigorosamente para cima e para baixo nos meus braços. — Não é inútil. Magia negra prendeu minha mãe em um coma permanente, e Roarke, como um membro da corte que usa esse tipo de magia, sabe como acordá-la. E, mais importante, ele sabe o que causou sua doença mental. Foi algo mágico, e ele sabe como consertar isso.
— Ele está mentindo, Em, — Dash diz com o tipo de tom que ele usaria conversando com uma criança ingênua. Distraidamente, ele move a mão em um movimento rápido e circular acima da minha cabeça, e eu imediatamente começo a me sentir mais quente. — Você realmente acha que um príncipe mimado sabe alguma coisa sobre doenças mentais mágicas? Ele diria qualquer coisa para você ficar e dar-lhe acesso total à sua Habilidade Griffin. Por que você não consegue ver isso?
— Ele não está mentindo. Ele sabe muito mais sobre o meu passado do que qualquer outro que eu tenha encontrado neste mundo. Ele já provou isso para mim. Ele é minha melhor chance de salvar a minha mãe.
— Mas... isso é só... — Dash se debate por um momento. Ele puxa seu cabelo, que eu percebo que é uma peruca quando se solta em sua mão, revelando seu próprio cabelo bagunçado por baixo. — Eu sei que você quer que sua mãe esteja melhor, — ele diz, seus olhos voltando aos meus, — mas por que sua saúde e felicidade têm que ser exclusivamente responsabilidade sua? Ela é realmente — Ele se interrompe, respirando pesadamente. Eu sei que isso vai me fazer soar como o cara mau. Eu não quero te perguntar se ela vale à pena, porque claramente —
— Como você pode pensar isso? — Eu arquejo.
— Eu não estou! É isso que eu estou dizendo. É claro que ela vale a pena. Ela é sua mãe, e claramente você a ama mais do que tudo em qualquer mundo, mas... — Seus olhos me imploram. — Ela quer que você faça isso? Ela quer que você jogue fora toda a sua vida no que é provavelmente uma tentativa fútil de salvar a dela?
— Eu não estou jogando fora toda a minha vida! — Eu grito. Então eu me lembro. Lembro das palavras de Aurora — meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares — e abaixo a voz novamente. É quase um sussurro agora. Meus lábios mal se movem enquanto eu falo. — Eles podem me forçar a um casamento, mas isso não significa que eu ficarei aqui para sempre. Minha Habilidade Griffin me faz mais poderosa que a maioria das pessoas neste mundo. Mamãe e eu vamos escapar um dia.
— Mesmo que isso seja possível, — diz Dash, — quantas coisas ruins eles vão te obrigar a cometer antes disso?
— Eu... eu... — Eu não tenho uma resposta para isso.
— Por que você acha que eles querem você, Em? Para que você possa deixar o trabalho sujo dele mais fácil, é por isso. — Ele pega meus ombros e me dá uma pequena sacudida. — Essas pessoas não são boas. Com certeza você sabe o tipo de coisas que elas vão fazer você fazer?
Eu me liberto de seu aperto. — Você está errado. Roarke não é assim, e Aurora também não. — Mas o rei é, uma voz silenciosa me lembra. Aquela cena no escritório do rei — a cena que continuo empurrando para fora dos meus pensamentos — aparece abruptamente na frente da minha mente. O rei com a mão apertando o ar, e a cabeça do homem sendo arrancada de sua —
Eu pisco e estremeço e desvio o olhar.
— Sério? — Dash diz. — Eles não são assim?
Eu posso dizer sem encontrar seus olhos que ele sabe que estou mentindo. Eu dou uma respiração trêmula. — Eu vi... alguma coisa. — Eu pisco de novo e balanço a cabeça, tentando forçar a memória para longe. Eu me concentro nos olhos verdes de Dash novamente, sabendo que não há sentido em tentar convencê-lo com mentiras que eu também mal acredito. Não há sentido em nada além da verdade. — Que outra escolha eu tinha, Dash? — Minha voz é um sussurro desesperado agora, tendo perdido seu tom defensivo. — Estas são as únicas pessoas que podem me ajudar.
— Você poderia ter confiado em nós! Eu e todo mundo no oásis. Queremos ajudar você, Em. Nós não fizemos nada, além de tentar ajudá-la desde que você chegou a este mundo, e isso não mudaria. Eu não entendo porque você simplesmente virou as costas para tudo isso e —
— É por isso, Dash! Foi por isso que eu tive que ir embora.
Ele faz uma pausa, as sobrancelhas subindo mais alto. — Isso deveria fazer sentido?
— Você e seus amigos não fizeram nada além de tentar me ajudar e isso quase matou vocês. Você virou uma estátua de vidro. Lembra disso? Você e Violet chegaram tão perto de morrer. Morrer, Dash! — Minha voz se eleva quando meu peito aperta com a lembrança daquele dia aterrorizante.
— Sim, mas não morremos. Não é grande coisa.
— Claro que foi importante! Você quase morreu porque tentou me ajudar. E Chelsea e Georgia realmente estavam mortas, e elas teriam ficado assim se minha Habilidade Griffin não tivesse feito uma aparição conveniente. Então, depois de tudo isso, eu decidi que não queria que ninguém mais fosse colocado em risco por minha causa e de minha mãe.
— Em —
— Sim, eu tinha tudo que queria no oásis. É lindo, é seguro, as pessoas são incríveis. Mas se eu tivesse ficado lá, alguém teria acabado ferido ou morto porque tentaram me ajudar. Isso é problema meu. Ela é minha mãe. Se há um preço envolvido em fazê-la voltar ao normal, sou eu quem devo pagar. Ninguém mais.
Dash fica em silêncio por muito tempo antes de dizer, — É tarde demais para isso.
Eu pisco, sentindo frio novamente, apesar do feitiço de calor de Dash ainda me cercando. — O que você quer dizer?
Ele balança a cabeça e olha para o outro lado. — Isso... não era assim que eu queria te contar. Eu queria te levar para longe daqui primeiro. De volta ao oásis.
— Antes de me dizer o quê? — Eu me aproximo e envolvo uma mão fria em torno de seu braço. — Me dizer o quê, Dash? O que aconteceu?
— Chelsea e Georgia... — Ele fecha os olhos e pressiona os lábios antes de continuar. — As duas... morreram.
Eu solto minha mão de seu braço tão rapidamente como se sua pele tivesse me queimado. — O quê?
— Aconteceu cerca de dois dias depois do incidente de vidro com Ada.
— Mas... elas não podem estar mortas. Minha Habilidade Griffin as trouxe de volta a vida.
— Elas eram humanas, Em, — ele diz gentilmente. — Sua Habilidade Griffin pode ter funcionado nelas, mas seus corpos não conseguiram lidar com a magia. No final, isso as matou.
— Mas... você tem certeza de que elas eram humanas? Quero dizer, ela é irmã da minha mãe e minha mãe é uma faerie. E sobre todos os remédios herbáceos que Chelsea fez? Eu pensei que talvez... talvez fosse realmente mágico.
Dash não oferece explicações; ele apenas balança a cabeça. — Eu sinto muito, Em.
— Elas... elas estão realmente mortas? — Eu sussurro. — Minha magia as matou. Eu pensei que isso as salvou, mas as matou.
— Em —
— Eu matei minha própria família.
— Não foi você quem as matou, — diz Dash, sua voz repentinamente feroz. — Ada fez isso com sua horrível magia de vidro. Ela as quebrou em milhares de pedaços. Você fez o que pôde para salvá-las, mas não foi o suficiente. Elas estavam condenadas desde o momento em que ela as tocou pela primeira vez.
Minhas pernas não conseguem me segurar. Eu caio no chão, sem um segundo pensamento sobre o vestido caro que eu provavelmente estou estragando. Respirações rápidas e superficiais me consomem enquanto olho para o jardim. Dash ainda está falando, mas não consigo mais ouvi-lo. Eu não sei como devo reagir a isso. Chelsea e Georgia não me amavam, e eu não as amava; Eu não posso fingir o contrário só porque elas estão mortas. Mas elas eram da família. Elas me acolheram, embora constantemente deixassem claro que eu era um peso para elas. E agora elas estão mortas e eu não consigo descobrir o que devo sentir além de me sentir culpada.
— Eu nunca quis nada disso, — eu consigo sussurrar. Eu cubro meu rosto com minhas mãos, desejando que eu pudesse apagar este outro mundo e sua magia que deixou minha vida completamente fora do meu controle. — Alguém pode simplesmente levar tudo isso embora? Por favor. Eu não quero essa magia. Eu não quero uma Habilidade Griffin. Eu não quero casar com um príncipe. Eu só quero voltar para aquela vida simples que mamãe e eu tivemos antes que a magia a deixasse louca e tudo começasse a desmoronar.
Eu sinto o braço de Dash no meu ombro e o sinto agachado ao meu lado. — Eu queria poder —
— Emerson?
Eu respiro fundo ao som da voz do Roarke. Lentamente, eu abaixo minhas mãos e o observo descer as escadas.
— O que está acontecendo? Por que você está no chão?
Dash se levanta para encará-lo.
— Você, — Roarke diz lentamente, reconhecimento em seus olhos. — Bem, agora. — Seu olhar se move para mim enquanto sua expressão se torna ilegível. — Se isso não é uma situação interessante.
Capítulo 12
EM MENOS DE UM MINUTO, EU ME ENCONTRO DE VOLTA DENTRO DO CALOR DO palácio em uma pequena sala de estar em algum lugar perto do salão de baile. Apesar do turbilhão de emoções me dominando, eu não ouso desobedecer Roarke quando ele proferiu — Siga-me. — em um tom mais frio do que o ar do inverno. Dash hesitou, mas logo nos alcançou. De volta ao salão de baile, ninguém parou o príncipe ou sua noiva. Ninguém sequer olhou em nossa direção. Eu suspeito que a magia de Roarke seja a responsável por isso.
A porta da sala de estar se fecha sozinha. Chamas ganham vida na lareira. — O que ele está fazendo aqui? — Roarke exige imediatamente, apontando para Dash sem olhar para ele.
— Eu... eu não... — Eu corro minhas mãos pelo meu rosto, tentando me concentrar nas palavras de Roarke e vendo apenas os olhos sem vida de Chelsea e Georgia. Seus corpos frios. Sozinhas em suas camas em sua pequena casa em Stanmeade. Eu pisco e olho para as chamas crepitantes dançando na lareira, na esperança de queimar a imagem brilhante e quente em minha mente. — Eu não sei, — eu digo finalmente, me afastando do fogo. — Fiquei tão chocada quanto você por vê-lo aqui. Essa coisa ainda está ligada a mim — Eu toco o pedaço de metal do tamanho de uma moeda atrás da minha orelha — então nenhuma mágica deveria ter sido capaz de me localizar.
Roarke atravessa a sala. Seus dedos envolvem o braço de Dash. — Onde estão suas marcas de guardião?
Dash puxa o braço para longe e solta uma risada curta. — Tem essa coisa que as garotas usam. É chamado de corretivo. Funciona muito bem para cobrir —
— E como você entrou no meu palácio?
Dash leva seu tempo cruzando os braços sobre o peito antes de encarar Roarke. — Sua mãe decidiu terceirizar o design do vestido de Em para esta noite. Quando um de seus empregados veio buscá-las, tive a certeza de estar lá, pronto para ocupar o lugar dele. Seu transporte me trouxe de volta aqui. Foi tudo incrivelmente fácil, na verdade.
— E como você sabia que Emerson estava aqui em primeiro lugar?
— Um palpite, acho que mais um processo de eliminação. Eu achei que poderiam ser vocês, os Seelies ou a Guilda que a prendiam. Perguntei por aí, e a Guilda e os Seelies ainda pareciam estar sob a impressão de que Em estava morta ou desaparecida. Sabe, desde o incidente no penhasco. — Dash dá de ombros. — Portanto, tinha que ser vocês.
— Então você contou aos seus superiores tudo sobre suas suspeitas, e eles te recompensaram deixando você entrar furtivamente em minha casa e meter seu nariz indesejado ao redor? Duvidoso. Você não parece estar na hierarquia mais alta da Guilda para ter uma missão tão importante quanto recuperar uma perigosa e poderosa faerie Dotada Griffin como Emerson.
O olhar de Dash se estreita um pouco. — Eu não estou aqui representando a Guilda.
— Ah. — Roarke acena com a cabeça. — Eu tive a sensação de que poderia ser algo nesse sentido. — Ele caminha até a cômoda do outro lado da sala e abre uma gaveta. — Você e Emerson pareciam estar ficando muito confortáveis quando Aurora e eu encontramos vocês dois juntos em seu antigo quarto. — Ele fecha a gaveta e se vira para nos encarar novamente. — Depois que ela escapou da Guilda. Quando você — um guardião — não deveria saber nada sobre o paradeiro dela. — Ele balança a cabeça e solta uma risada silenciosa. — Um traidor para sua própria espécie, eu vejo. Que decepcionante.
A expressão do Dash escurece. — Na verdade não. Acontece que eu discordo de marcar, rastrear e aprisionar Dotados Griffin.
— E você tem alguma marca em você, garoto guardião? Para que alguém possa convocá-lo ou determinar sua localização?
— Eu disse a você que não estou aqui em nome da Guilda, então por que eu seria estúpido o suficiente para deixar alguém me marcar?
— Bom. — Roarke se move em direção a Dash. — Mas apenas no caso ... — Sua mão gira e bate na lateral do pescoço de Dash.
Quase rápido demais para ver, Dash pega o braço de Roarke e o torce, girando o príncipe ao redor e prendendo o braço atrás das costas. — O que você acabou de fazer? — Dash sibila. O som de um chiado percorre o ar, e com um grito, Dash empurra Roarke para longe dele. — O que —
Roarke se endireita, rola os ombros e ajusta o colarinho de sua jaqueta. — Eu não gosto de ser maltratado.
Dash toca o lado do pescoço dele. — O que é isso? — Quando sua mão se afasta, vejo um pequeno círculo de metal como o atrás da minha orelha.
— Uma precaução, isso é tudo, — diz Roarke.
— Como você ousa —
— Você entra em minha casa e quer saber como eu ouso a —
— Parem! — Eu grito. Minha Habilidade Griffin ainda não está pronta para emitir um comando mágico, mas meu grito é suficiente para fazer Roarke e Dash pararem e olharem em minha direção. — Apenas ... apenas parem. — Minha voz vacila. — Minha tia e prima estão mortas, e vocês dois estão agindo como crianças mesquinhas.
Uma carranca puxa as sobrancelhas de Roarke para baixo. — Sua tia e prima? Com quem você viveu no mundo não-mágico?
Eu olho para trás em direção ao fogo enquanto eu aceno. — Dash me contou. Do lado de fora. É por isso que eu estava sentada no chão. Eu estava... eu simplesmente não consigo acreditar.
— Estas são as pessoas de quem você particularmente não gostava? — Roarke pergunta, seu tom não indelicado, apenas curioso. — Aquelas que te trataram mal desde que você se mudou para a cidade para viver com elas?
Eu concordo. — Mas elas ainda eram da família. Bem, eu não sei o que elas eram. Mamãe e Chelsea eram irmãs, mas mamãe é uma faerie e Chelsea era humana, então... elas não podem ter sido irmãs? Eu não sei. Eu não entendo. — Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas novamente e fecho meus olhos. — Mas eu morei com elas. Por anos. Eu pensei que elas eram da família, e agora elas morreram.
Eu ouço os passos silenciosos de Roarke se aproximando antes que ele coloque uma mão cuidadosamente contra as minhas costas. — Eu sinto muito, Emerson. Eu não posso imaginar como é isso. Mas posso prometer isto: você está prestes a ter uma família totalmente nova. E embora possa não ser óbvio do lado de fora, nós nos importamos um com o outro. Nós vamos cuidar de você também. Você será uma de nós e finalmente pertencerá a algum lugar. Você e sua mãe.
Do outro lado da sala, Dash bufa e resmunga algo em voz baixa. Eu quase faço o mesmo, porque é claro que o verdadeiro motivo de Roarke não tem nada a ver com o desejo de me dar uma nova família e um lugar para pertencer. Ele quer minha Habilidade Griffin. Mas talvez haja mais do que isso. Talvez ele realmente queira que essa união funcione. Talvez ele planeje cuidar de mim pelo resto de nossas vidas.
— Você vai ficar, é claro, — Roarke diz para Dash. — Para a cerimônia. Você é amigo de Emerson. Tenho certeza que ela vai querer que você esteja aqui.
— Sua cerimônia é daqui a duas semanas, — Dash diz antes que eu possa expressar minha própria opinião. — Eu não posso ficar aqui por tanto tempo. Eu tenho um emprego, lembra?
— Você também tem o desejo de parar esta união, — Roarke aponta. — O que significa que, se eu deixar você sair, você dirá à Guilda exatamente o que está acontecendo, e eles tentarão interromper nossos planos e recuperar Emerson. Ou matá-la.
— Dash não diria —
— Você não sabe com certeza, — Roarke diz para mim. — Se você quer que esta união aconteça, então não podemos correr o risco que a Guilda se envolva.
— A Guilda vai se perguntar onde estou, — diz Dash.
— Deixe-os se perguntar então. Eles não sabem que você está aqui.
Dash exala lentamente, seus olhos brilhantes nunca deixando Roarke. — Eu sei que isso não importa para você, mas eu tenho casos importantes —
— Você deveria ter considerado isso antes de invadir minha casa, — diz Roarke.
— Tudo bem. — Dash força seus punhos para trás de suas costas e dá a Roarke o sorriso mais obviamente falso que eu já vi. — Muito obrigada pelo convite, Sua Alteza Real. Eu ficarei feliz em ficar aqui e participar da sua cerimônia de união.
Roarke acena. — Bom. Apenas certifique-se de que as marcas em seu pulso permaneçam cobertas. Não posso garantir sua segurança se meu pai descobrir o que você é.
— Certamente. E vou manter meus lábios fechados e não fazer perguntas sobre nenhuma das leis que vocês Unseelies quebraram ultimamente, ou sobre, digamos, aquele lugar sombrio e sem cor onde eu acordei depois que você sequestrou Em e eu.
— Perfeito. Espero que você não se esqueça dessa promessa, — Roarke acrescenta em um tom ameaçador.
— Então ... Dash é um convidado? — Eu pergunto. — Ou um prisioneiro?
Roarke olha para mim. — Você gostaria que eu fizesse dele um prisioneiro?
— Claro que não.
— Então ele é nosso convidado. — Ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu só quero te fazer feliz, Emerson. Você recebeu algumas notícias chocantes esta noite e tenho certeza de que será um conforto ter seu amigo aqui.
Minha carranca se aprofunda. — Mas você não confia nele e não quer que ele vá embora. Então, por que você o deixaria vagar livremente pelo seu palácio?
— Não se preocupe, ele será observado onde quer que vá. Se ele sair da linha, eu me certificarei de que a Guilda descubra que ele sabe muito mais sobre os rebeldes Griffin do que deveria. Duvido que ele consiga manter o emprego depois disso. — Ele olha para Dash. — Parece justo?
Dash inclina a cabeça no menor dos acenos. — Perfeitamente justo, já que eu planejo estar no meu melhor comportamento, Real Principesco.
Um músculo na mandíbula de Roarke se contrai, mas, felizmente, ele decide não retaliar a última parte. — Mais importante, minha querida Emerson, — continua ele, virando para mim, — eu gostaria de mostrar a você que eu me importo com a sua felicidade. Se isso significa tratar seu amigo guardião como convidado em vez de prisioneiro, então eu faço.
Eu ainda não sei se acredito nele, mas acho que vou descobrir nos próximos dias. — Tudo bem, — eu digo com cautela. — Obrigada.
— Vamos voltar para o baile agora. Afaste sua tristeza, meu amor, e junte-se à alegria. Você logo se sentirá melhor.
Eu duvido que isso seja verdade, mas também duvido que tenha escolha. Eu acho que o meu pedido para sair da festa, subir na cama e puxar as cobertas sobre a minha cabeça não iria cair bem. Então eu sigo Roarke para fora da sala e de volta para a festa. Eu respiro profundamente e pressiono meus lábios para evitar que estremeçam. Eu tomo a primeira bebida que é oferecida e de uma só vez, esperando que o liquido seja suficiente para entorpecer meus sentidos pelo resto da noite.
Quando está perto da meia-noite e minha Habilidade Griffin vem à tona, eu digo às palavras que fui obrigada a dizer. Ninguém me ouve em meio ao barulho, mas todos gritam oohs e aahs em admiração aos seis arco-íris que se formam um após o outro do outro lado da sala, como se marcassem os doze pontos de um gigantesco relógio colorido. Eu gostaria de poder experimentar um pouco da admiração deles com a visão do que minha própria magia produziu, mas parece que as várias bebidas que eu consumi estão fazendo seu trabalho: eu não sinto mais nada.
Capítulo 13
QUANDO CLARINA ME ACORDA NA MANHÃ SEGUINTE, SINTO QUE alguém enfiou uma estaca no meu globo ocular. E uma chave de fenda no outro olho. Alguém deve ter também aumentado o brilho do sol; Eu só posso abrir meus olhos por cerca de meio segundo antes de ter que fechá-los novamente.
— Seu almoço está na sala de estar, minha senhora, — diz Clarina. — Todos estão comendo sozinhos hoje, conforme alguns ainda estão se recuperando da noite passada.
— Almoço? — Eu pergunto com uma voz rouca.
— Sim, é quase meio-dia, minha senhora. — Seus passos se aproximam e ela acrescenta, — A bebida ao lado de sua cama aliviará sua dor de cabeça.
Eu levanto lentamente e olho para o copo de cristal com um líquido claro. Quase pergunto como ela sabe sobre minha dor de cabeça, mas suponho que ela esteja aqui há tempo suficiente para ter plena consciência das muitas ressacas que se seguem de um evento como o baile da noite anterior.
— Sua piscina está cheia, — acrescenta ela.
— Obrigada. — Eu balanço minhas pernas sobre a borda da cama e olho para o chão por um tempo enquanto meu cérebro percorre os eventos da noite anterior. Eu lembro que Dash está aqui agora. Eu lembro que Chelsea e Georgia estão ... mortas.
Eu pego o copo e meus olhos caem sobre a roupa que Clarina escolheu para mim hoje, pendurada do lado de fora do guarda-roupa. Um casaco do tipo trespassado, na cor água-marinha com padrões de branco, verde e malva. As comemorações do aniversário da rainha continuam com um chá nos jardins esta tarde, então Clarina foi obviamente instruída a escolher algo apropriadamente festivo para mim. É bonito, mas não parece certo usar algo tão... vivo.
— Clarina? — Eu chamo, esperando que ela ainda esteja na sala ao lado.
— Sim, Lady Emerson? — Ela corre de volta para o quarto.
— Tudo bem se você escolher uma roupa preta para mim hoje? Ou cinza, talvez, se preto for deprimente demais para o chá da rainha?
— Hum, certamente, minha senhora. Isso deve estar bem. Eu acredito que há uma roupa na cor carvão com detalhes bordados de prata. Deve servir?
— Sim, obrigada.
Não sinto qualquer tipo de profunda tristeza pela perda de Chelsea e de Georgia. Eu ainda estou chocada, mal conseguindo acreditar que elas se foram, mas sei que não houve nenhum amor perdido entre nós. Ainda assim, parece errado simplesmente seguir em frente com a vida e esquecê-las. Eu preciso fazer alguma coisa, e se usar preto ou cinza é a única coisa que resta para mim, então é o que vou fazer.
***
A mistura no copo funciona notavelmente rápido, e minha dor de cabeça logo desaparece. Embora eu gostasse de mergulhar na piscina de bolhas roxas por muito mais tempo, eu provavelmente devo descobrir onde Dash está e ter certeza de que ele não se meteu em problemas.
Depois de me secar e me vestir, fecho os botões da minha roupa cor de carvão e ando descalço através da minha sala de estar em busca de um pouco de comida. Eu escolho o sanduíche mais normal e volto para o meu quarto para escolher um par de sapatos.
Ao ver uma figura sentada na beira da minha cama, eu congelo. Ele vira a cabeça - e percebo que é Dash.
— Caramba, Dash. Você está tentando me dar um ataque cardíaco? Como você chegou aqui?
Ele gesticula por cima do ombro para a janela onde a cortina ondula suavemente com a brisa morna. — Sua janela estava aberta. Eu subi por ela.
Eu quero dizer a ele que ele é tão ruim quanto eu, subindo pelas paredes do palácio, mas estou com medo de que alguém importante descubra que ele está no meu quarto. — Você não pode estar aqui, — eu sussurro. — Se Roarke ou o pai dele te encontrarem no meu quarto, de todos os lugares —
— Ninguém me viu, não se preocupe. Eu não saí do meu quarto pela porta, então qualquer um observando vai assumir que eu ainda estou lá dentro. E achei seu quarto com bastante facilidade. Não tive que procurar por muitos outros.
— Dash!
— O quê?
— E quem pode estar ouvindo agora? — Eu assobio.
Dash franze a testa. — Você está brincando certo?
Eu balanço minha cabeça. — Há olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Sim, mas no seu quarto? Isso é passar dos limites.
Eu me aproximo mais dele e abaixo minha voz ainda mais. — Depois de tudo que você me falou sobre essas pessoas, você realmente quer que eu acredite que há limites que eles não passaram?
Dash hesita. — Verdade.
— Quero dizer, eu não sei ao certo se alguém está ouvindo, mas Aurora me disse para ter cuidado com o que eu digo, não importa onde eu esteja.
Dash levanta o dedo para os lábios, indicando que eu deveria permanecer em silêncio. Ele começa a andar devagar pelo quarto, olhando, ouvindo, às vezes até cheirando. — A única outra magia que eu posso sentir neste quarto está vindo da sua cama, — ele sussurra. — O que é totalmente inapropriado, se você perguntar —
O edredom se move, uma forma desliza em direção à borda e um gato preto aterrissa no chão.
— Oh, — Dash diz, sua voz não mais que um sussurro. — É o Bandit?
Eu abro meus braços e Bandit pula para cima, mudando para um pássaro para ajudá-lo a ganhar altitude, e pousando em meus braços como um gato mais uma vez. — Sim. — Eu o abraço junto ao meu peito. — Eu queria que ele ficasse no — hum, onde estava seguro. Mas ele deve ter vindo comigo em uma forma pequena demais para eu notar.
Dash sorri e se aproxima para poder acariciar Bandit atrás das orelhas. — Jack ficará aliviado. Ele está muito preocupado com Bandit.
— Então você não acha que alguém está ouvindo? — Eu pergunto.
— Eu acho que não, mas mesmo que alguém esteja ouvindo, e daí? Não é como se eu estivesse agindo de forma inadequada em relação à futura princesa. Você e eu estamos apenas conversando. Se você preferir, podemos conversar na sua sala de estar, em vez de no seu quarto.
Eu reviro meus olhos. — Como se isso fizesse alguma diferença. Você ainda teria que explicar como passou pelos guardas do lado de fora da minha porta. E subir pela janela faz você parecer muito suspeito.
Ele solta um suspiro e senta-se na beira da cama novamente. — Eu só pensei que você poderia querer saber sobre... você sabe. O funeral.
O funeral.
Chelsea e Georgia.
Mortas.
— Você estava lá? — Eu pergunto.
Dash acena com a cabeça. — Sim. Você pode ou não lembrar que algumas das pessoas em Stanmeade eram realmente minhas amigas. Não amigos verdadeiros, é claro, já que eu nunca poderia ser totalmente honesta com ninguém, mas ... sim. Tenho amigos lá e senti que deveria estar no funeral. Só para apoiar alguém que fosse amigo da Georgia.
Eu aceno e murmuro, — Claro. Sim. Ainda não consigo acreditar que ela e Chelsea se foram. Elas sempre estavam lá, sabe? Minha horrível prima e tia de quem eu não podia esperar para fugir. Então eu finalmente consegui fugir, e agora ... — Eu balanço minha cabeça. Agora, porque Ada estava atrás de mim, ambos estão mortas. Dash pode tentar me convencer de que eu não deveria me culpar, mas sei que sou responsável. Indiretamente, talvez, mas ainda responsável.
Eu deixo Bandit pular para fora dos meus braços antes de caminhar até a cadeira no canto do meu quarto. É o tipo de cadeira elegante que ninguém quer realmente sentar - uma armação de madeira excessivamente embelezada com almofadas duras demais para serem confortáveis. No entanto, eu sento na borda e pigarreio. — Era, hum, havia muitas pessoas lá? No funeral?
— Sim. Quase todo mundo na cidade estava lá. Eu acho que Chelsea conhecia muita gente, já que ela administrava um dos únicos salões em Stanmeade.
Eu franzo a testa. — Ela era uma grande fã em espalhar fofocas e rumores e eu teria pensado que haveria muitas pessoas que não gostavam dela.
— Bem, você não precisa gostar de alguém para ir ao funeral.
Eu olho para ele. — As pessoas falaram coisas horríveis?
— Não. Apenas coisas boas foram ditas sobre ela. Sobre as duas. Foi tudo muito ... — Ele esfrega a mão no rosto. — Muito estranho. Muito trágico, por um lado, e ainda assim muito falso ouvir todas aquelas homenagens adoráveis sobre duas pessoas que eu testemunhei pessoalmente serem rancorosas em várias ocasiões. E parecia errado da minha parte pensar nessas coisas, mas como eu não poderia? Eu não poderia de repente transformar Chelsea e Georgia em outra coisa em minha memória só porque elas estão mortas.
— Eu ... apenas ... — Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei o que dizer ou pensar ou sentir. O que todos acham que foi a causa da morte?
— Um vazamento de gás.
— Eu suponho que a Guilda seja responsável por essa história?
— Sim. Foi à história mais fácil de inventar.
— Você acha... você sabe se ... — Eu hesito, imaginando se eu quero saber a resposta. — Elas sofreram? A magia em seus corpos as fez sofrer quando estavam morrendo?
— Eu não sei, Em. Eu sinceramente não sei. Espero que não.
Eu inclino meus cotovelos sobre meus joelhos. — Antes de você me contar o que aconteceu com elas, eu estava começando a pensar que todo esse tempo Chelsea também era uma espécie de faerie como eu e mamãe, e que os remédios herbáceos que ela fazia eram mágicos. Mas se elas continham magia, elas não teriam ajudado ninguém em Stanmeade. As pessoas teriam acabado doentes e possivelmente mortas, certo?
— Sim.
— Então Chelsea definitivamente era humana.
— Sim.
— O que significa que ela e minha mãe não podem ter sido irmãs.
Dash balança a cabeça.
— Eu me pergunto se Chelsea sabia. Eu me pergunto se minha mãe sabe, ou se ela acha que Chelsea era como ela. Alguém com magia que não pode ser acessada. — Eu esfrego meus dedos em movimentos circulares contra as minhas têmporas enquanto olho para o chão. — Eu ainda tenho muitas perguntas. Tantas lacunas na história da minha família que preciso que mamãe preencha para mim.
— Bem, espero que seu plano genial funcione e você tenha todas as respostas que procura.
Eu direciono uma careta para ele. — Isso não é apenas sobre respostas. Você sabe disso. Mesmo que mamãe não soubesse nada, eu ainda gostaria de acordá-la e curar sua mente.
— Sim, — ele diz baixinho. — Eu sei.
Eu o observo de perto por um tempo. — Por que você está aqui? Quer dizer, eu... — Eu afasto meu constrangimento conforme minhas bochechas esquentam. — Eu nunca fui legal com você. Certamente você não se importa o suficiente comigo para assumir o tipo de risco necessário para vir aqui.
Ele solta uma risada curta sem humor. — Não é uma questão de quanto eu posso ou não me importar com você. Isso não é apenas sobre você, Em. É sobre o que o Rei Unseelie vai fazer você fazer. Quantas vidas podem ser arruinadas porque você está sendo forçada a usar sua Habilidade Griffin contra sua vontade?
— Eu... eu não...
— E eu pensei que você fosse uma prisioneira aqui. Eu pensei que estava salvando você e todas as pessoas que você pode ser forçada a machucar no futuro. Eu nunca imaginei que você escolheu vir aqui. Que você se recusaria a ir embora assim que eu te encontrasse.
Eu olho para longe dele. — Eu sinto muito. Como eu disse ontem à noite, você não deveria me encontrar. Você deveria ficar longe e nunca se machucar novamente por minha causa.
— Isso nunca vai acontecer, Em. Eu não sou o tipo de pessoa para que fica sentado enquanto o Rei Unseelie põe as mãos na recente arma mais poderosa no reino das faeries. E eu não achei que você fosse o tipo de pessoa que simplesmente entregasse esse poder também.
Eu engulo a minha vergonha. — Bem, eu acho que sou, — eu digo em voz baixa, olhando para o chão. — Como quase todos os outros no mundo, estou apenas cuidando de mim mesma e das pessoas que amo. Eu não sou corajosa ou altruísta. Estou apenas fazendo o que tenho que fazer para sobreviver.
Do canto do meu olho, vejo Dash balançar a cabeça. — Você pode dizer a si mesma a mentira que quiser, mas eu sei que você é mais do que isso. Eu sei o que você fez em Stanmeade. Você parou o vidro de Ada de consumir a cidade inteira. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter mantido a localização da sua mãe em segredo e deixar aquele lugar se destruir. Mas você não fez.
— E que bem meu altruísmo fez então? — Eu exijo. — Eu dei a ela o que ela queria, mas ela parou seu ataque à cidade? Não. Eu tive que descobrir isso sozinha, e foi um acaso que a minha Habilidade Griffin apareceu no momento certo. Então, que diferença fará agora se eu me recusar a dar meu poder ao rei? Nada. Ele cometerá os mesmos atos malignos que ele planeja cometer. Pode demorar um pouco mais. — Me sinto doente com minhas próprias palavras. Eu não quero ajudar o rei a fazer nada. Mas realmente, o mundo é um lugar ruim e é assim que funciona. É assim que os dois mundos funcionam. A vida é uma merda e então você morre — assim como a velha música que Chelsea costumava ouvir às vezes. — Apenas algumas pessoas chegam a ser heróis, Dash, — digo em voz baixa. — E você pode ser uma dessas pessoas, mas eu não sou. Estou apenas tentando jogar a melhor mão das cartas que recebi.
Ele fica quieto por um momento, e tudo que consigo ver em seus olhos é tristeza. — Em algum momento, você vai perceber que isso — ele gesticula em torno dele — certamente não é sua melhor mão. Só espero que você descubra isso mais cedo do que tarde.
— E espero que você saia daqui mais cedo do que tarde. Não há necessidade de você se machucar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você sabe o que sou, certo? Machucar faz parte do trabalho.
E morrer? Eu quase pergunto. Mas eu não quero pensar nisso. Eu não quero falar sobre a morte quando ele já chegou tão perto disso. Não quando as mortes de Chelsea e Georgia ainda estão tão próximas.
— Além disso, — acrescenta ele. — Eu não acho que será tão fácil deixar este palácio como foi entrar.
Bandit pula de volta no meu colo. Eu acaricio seus pêlos negros e lustrosos e, em um esforço para desviar a conversa de assuntos tão pesados, pergunto, — Era verdade? A história que você contou a Roarke ontem à noite. Sobre entrar no palácio no lugar do empregado.
— Sim. Bem, principalmente. Não era eu que deveria vir para cá.
— Oh. — Eu olho para cima. — Quem deveria ser?
Dash me dá um olhar aguçado. — Eu prefiro não dizer o nome dela, apenas no caso. Mas eu tenho certeza que você pode descobrir, dado seu talento particular para... se ocultar.
Ah. Calla Eu concordo. — Eu acho que sei de quem você está falando.
— Teria sido muito mais fácil para ela se misturar. Mas o empregado chegou mais cedo do que o esperado para pegar o vestido no estúdio da minha mãe, então —
— Espere, sua mãe?
— Sim. Foi ela quem desenhou o seu vestido.
Minha mão continua nas costas de Bandit. — Sua mãe é Raven Rosewood?
— Sim. Eu te disse que ela é uma designer de moda, não foi?
— Sim, mas... eu nunca pensei... espera, seu sobrenome é Rosewood? — Isso não parece certo, mas agora não me lembro se eu soube o sobrenome de Dash.
— Não, é Blackhallow.
— Oh. Dash Blackhallow, — eu digo devagar, experimentando o nome.
— Dashiell Blackhallow, se formos técnicos. — Ele revira os olhos. — Muitos ls, eu sei. De qualquer forma, minha mãe ainda era Rosewood quando começou a desenhar. Esse é o nome que as pessoas a conhecem, então ela manteve.
— Então, dentre todos os designers deste mundo, a rainha acabou escolhendo sua mãe. Isso não pode ter sido uma coincidência.
Dash sorri. — Claro que não foi. Minha mãe ouviu que a Rainha Unseelie estava procurando um vestido especial. Não para ela, e nem para a filha. Os rumores sugeriam que uma nova jovem chegara ao Palácio Unseelie, e a rainha e a princesa tinham um interesse especial por ela. Normalmente minha mãe ficava longe de qualquer coisa a ver com os Unseelies, mas ela sabia que você desapareceu. Ela me contou sobre os rumores e essa ‘competição’ não oficial para desenhar o melhor vestido. Eu tinha quase certeza de que aquela garota era você, então eu disse à mamãe que um de seus vestidos tinha que ser escolhido, não importava o que acontecesse. Então nós encantamos seus desenhos. Um feitiço simples que fazia com que qualquer um que olhasse as páginas desejasse continuar voltando para elas. E funcionou. Ela foi escolhida.
Minha boca está aberta quando ele termina de falar. — Foi tão simples assim?
— Sim. E então o cara que veio pegar o vestido chegou muito cedo. Eu estava me escondendo, vendo minha mãe entregar o vestido sozinha, como ela havia sido instruída. Eu esperava que ela o mantivesse falando ou algo assim até que Ca — hum — até que nossa amiga chegasse, mas o empregado disse que ele estava com uma agenda apertada. Parecia bastante agitado por estar lá. Ele ficava olhando em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse naquele estabelecimento. Quando ele disse que sua carruagem estava encantada para dar meia-volta e sair em menos de cinco minutos, fiz a única coisa em que conseguia pensar: o fiz desmaiar e tomei o lugar dele.
— Então você pulou dentro de sua carruagem e tudo deu certo?
— Bem, eu vesti as roupas dele primeiro. E mamãe me encontrou uma peruca colorida apropriada de seus muitos recursos. E eu peguei a stylus dele e o âmbar, o que foi uma coisa boa, já que a porta da carruagem não abria até que eu segurasse a stylus contra ela, e eu estava quase sem tempo até lá. Ah, e havia dois guardas dentro da carruagem, mas eles estavam desinteressados o suficiente para que eles não notassem que meu rosto não era o mesmo do cara com quem eles estavam viajando.
— Mesmo? De jeito nenhum. Nenhum guarda é desatento aos detalhes. Eles devem ter percebido a diferença.
Dash hesita, um sorriso culpado esticando seus lábios. — Tudo bem, então eu posso ter discretamente borrifado alguma poção de contentamento quando entrei na carruagem.
— Poção?
— Minha mãe adiciona nos vestidos às vezes, a pedido de seus clientes. É estranho. Algumas dessas pessoas para quem ela desenha são super estressadas e tensas, e quando vão a esses eventos extravagantes, elas só querem relaxar um pouco. Fique contente e em paz, sabe? Eu estava com pressa, e o pequeno frasco de spray estava bem ali, então eu o peguei durante o caminho.
— E os guardas ficaram tão contentes que não perceberam que você não era o cara certo?
— Sim. Eu, talvez, tenha pulverizado um pouco demais. Felizmente, eu coloquei um escudo em volta de mim, caso contrário, eu provavelmente estaria tão contente que ainda estaria sentado naquela carruagem.
Eu pisco, incerta do que mais dizer sobre esse plano meio improvisado que realmente funcionou.
— Olha, não foi a minha operação secreta mais elegante, — admite Dash, — mas tudo correu bem. A carruagem me levou direto para o pátio do palácio e fui em direção de umas das portas. Levou um pouco de trabalho para descobrir para onde ir, mas não era nada que eu não pudesse lidar. Fingi estar um pouco tonto e confuso, elogiei uma das garotas que encontrei na cozinha e ela me mostrou para onde ir. Deixei o vestido com uma nota dizendo que o recolhimento correu bem e depois me escondi até o baile começar.
— Uau. Estou espantada por não ter dado tudo errado.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou bom em improvisar.
Minha mente recua para o início da sua história. — Então, eles — as pessoas com quem eu estava ficando — Eu não quero dizer as palavras ‘Rebeldes Griffin’ em voz alta — sabem que você está aqui?
— Sim.
Eu abaixo minha voz e me inclino para frente. — Você acha que eles virão aqui?
Dash hesita e diz em voz normal, — Não. Eles não sabem onde esse lugar fica. É por isso que um de nós precisava vir com o empregado. As Cortes Unseelie e Seelie estão escondidas, então muitas pessoas não sabem onde estão. — A maneira como ele está olhando para mim, seus olhos fixos nos meus, sugere fortemente que ele está mentindo. Também sugere que ele não está totalmente convencido de que alguém não está nos ouvindo.
— Merda, — eu sussurro para mim mesma. Os rebeldes Griffin provavelmente sabem como chegar a Corte Unseelie, e uma vez que eles perceberem que Dash não está voltando comigo, eles provavelmente virão direto para cá e farão tudo que puderem para levar nós dois. E, embora eu tenha certeza de que todos são incríveis lutadores mágicos, as chances são altas de que eles acabem feridos, mortos ou presos.
— Em? — Dash pergunta depois de vários momentos de silêncio da minha parte.
— É bom que eles não consigam encontrar este lugar, — eu digo em voz alta. Alta demais, provavelmente. Eu faço um esforço para parecer normal. — Eu sei que eles só estariam tentando ajudar, mas como eu disse a você ontem à noite, eu não estou precisando de ajuda.
Dash arqueia uma sobrancelha. — Se você não queria ajuda de ninguém, provavelmente deveria ter mencionado isso antes de fugir. Teríamos parado de trabalhar duro para descobrir o mistério que é a sua vida.
Um fragmento de culpa apunhala meu peito e gira. — Desculpe. Mas eu...
— Você pediu a nossa ajuda, lembra? Ou pelo menos ... — Linhas vincam sua testa enquanto ele a franze. — Nós oferecemos, e você disse sim. Algo parecido. Então você não pode nos culpar exatamente por investigar sua história familiar.
— Eu sei, eu só ia dizer que eu assumi que vocês iriam esquecer de mim quando eu fosse embora. Você tem muitas outras pessoas para ajudar, não é? E — espere, o que você disse sobre a história da minha família?
Ele suspira. — Nós tentamos descobrir sobre o seu pai. Como sua mãe não está acordada para esclarecer sua estranha situação, imaginamos que seu pai possa ajudar — se conseguirmos encontrá-lo. A única coisa que você mencionou sobre ele foi que ele pagou as contas médicas do hospital de sua mãe, então Chase foi lá para dar uma olhada nos registros. Ele é o único que sabe usar um computador, — acrescenta Dash com um revirar de olhos. — Ele cresceu em seu mundo, no caso de você não saber. De qualquer forma, ele disse que o arquivo de sua mãe tinha algum tipo de glamour nele. Ele podia ver os detalhes de Chelsea e todos os detalhes de sua mãe, mas qualquer coisa relacionada à pessoa que primeiro a checou e pagava todo mês estava... em branco. Os humanos que trabalham lá provavelmente veriam algo quando olhassem, mas Chase não conseguia ver nada.
— Então... ninguém estava realmente pagando por ela?
— Eu não sei. O ponto é que era um beco sem saída. Não conseguimos descobrir nada sobre o seu pai.
Meus ombros se curvam um pouco. — Está bem. É por isso que estou aqui, lembra? Esta união vai fazer a mente da minha mãe ser curada, e todas as respostas escondidas dentro dela serão finalmente desbloqueadas.
Passos atravessam a minha sala de estar. Eu agarro Bandit no meu peito e fico de pé abruptamente, bem quando Clarina para na porta. — Lady Emerson — Oh! — Ela olha fixamente para o chão. — Eu imploro seu perdão, minha senhora.
— Isso não é o que parece, — eu digo imediatamente. Eu não tenho certeza do que parece, mas não pode ser bom.
— Eu sinto muito, minha senhora. Eu bati na outra porta, mas —
— Eu não ouvi você, me desculpe.
— Eu não vou dizer nada, Lady Emerson.
— Não há nada a dizer, — asseguro com uma risada alta e ofegante. — Nós estávamos apenas conversando.
— Claro, — diz ela, balançando-se em uma breve reverência e mantendo os olhos no chão. — Por favor, me desculpe por interromper, mas o Príncipe Roarke gostaria de falar com você.
Meus dedos ficam tensos ao redor da forma de gato de Bandit. — Tudo bem. Obrigada. Onde devo encontrá-lo?
— Ele está esperando do lado de fora de seus aposentos por você, minha senhora.
— Oh. — Eu olho para Dash.
Ele sorri. — Bem, acho que vou sair do jeito que cheguei, então. Ainda bem que gosto de escalar.
Capítulo 14
EU ABRO A MINHA PORTA E ENCONTRO ROARKE DO LADO DE FORA. — Hum, bom dia. Boa tarde, quero dizer. Clarina disse que você queria conversar?
— Olá, meu amor. — Ele se inclina para frente e beija minha bochecha. Eu congelo e digo a mim mesma para não me afastar. — Você se recuperou das festividades da noite passada, eu vejo? — Ele adiciona.
Eu recuo para deixá-lo entrar. — Não há necessidade de se preocupar com o absurdo do ‘meu amor’. Ninguém mais está por perto para ouvir você, exceto Clarina.
— Oh, mas você é meu amor. — Roarke me dá um sorriso malicioso enquanto ele passa por mim para a sala. — Ou, pelo menos, eu espero que você seja um dia. — Ele acena brevemente para Clarina enquanto ela faz uma reverência e sai da sala. Ele se vira lentamente no local, olhando em volta, e quase espero que ele entre no quarto e comece a procurar por Dash. Mas então ele sorri serenamente e se senta à mesa ao lado da minha bandeja com o almoço.
E naquele momento, Bandit, que eu consegui manter escondido até agora, sai pulando do meu quarto na forma de um filhote de urso. Ele se transforma em lobo, pula no divã e voa para meus braços, pousando na forma de uma preguiça de cabelo azul. Eu permaneço imóvel, mas meu olhar pousa direto em Roarke. Pela primeira vez, ele parece totalmente sem palavras. Eu mordo meu lábio, esperando por sua resposta.
— Isso — é ... seu?
— Sim. É o Bandit. Ele veio quando você me trouxe para cá, embora ele deva ter estado em uma forma muito pequena para qualquer um de nós notar.
— Então ele esteve aqui com você — em seus aposentos — o tempo todo?
— Siiiim. — Minha voz é incerta, quase questionando. — Bem, eu não sabia que ele estava aqui nos primeiros dois ou três dias. Eu acho que ele pode ter ficado com medo do ambiente desconhecido, então ele permaneceu escondido por um tempo.
— Entendo. Que interessante.
Bandit se aconchega mais perto do meu peito e tenta enterrar a cabeça debaixo do meu braço. — Eu espero que você não desaprove, — eu digo com cuidado. — Eu gosto de tê-lo por perto. Ele... ele significa muito para mim. — O instinto me diz que eu não deveria revelar para o homem que eu ainda não confio que me importo com qualquer coisa. Ele pode optar por usar essa informação contra mim. Mas se Roarke se importa com a minha felicidade do jeito que ele alega, então ele não deve se importar com a presença de Bandit aqui.
— Bem, eu duvido que minha mãe aprovaria animais nos quartos, — Roarke diz, seu profundo olhar castanho-avermelhado fixo em Bandit, — mas ela não precisa saber. E se ela descobrir e tiver um problema com isso, lembrarei a ela como os Formattras são excepcionalmente raros e valiosos, e que se encaixaria uma princesa ter um como animal de estimação.
Eu concordo. — Legal. Obrigada. — Espero que Aurora sinta a mesma coisa e não surte quando conhecer Bandit.
— Qualquer coisa para fazê-la feliz, minha querida, — diz Roarke. — Agora, por que você não senta aqui para que possamos conversar? — Ele aponta para a cadeira ao lado dele na mesa.
— Hum, antes de conversarmos, posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele sorri para mim. — Minha futura esposa pode me perguntar qualquer coisa.
Eu atravesso a sala até a mesa e me sento. Eu levanto minha mão e toco o pequeno dispositivo circular atrás da minha orelha. — Eu sei que você colocou uma dessas coisas em Dash, mas e se ele conseguir tirar? E se a Guilda ou seus amigos descobrirem onde ele está e vierem atrás dele? Eu só não quero que ninguém mais interfira, lembra? — Para ser mais específica, não quero que ninguém acabe em algum calabouço Unseelie ou, pior ainda, enfrente o mesmo destino daquele homem que foi arrastado por uma caverna até o escritório do rei.
Roarke me examina de perto antes de responder. — Você realmente não tem nada a ver com o seu amigo aparecendo aqui, não é?
— O quê? Não, eu já te disse isso. Você achou que eu estava mentindo?
— Bem, eu seria um idiota em acreditar que você confia em mim. Talvez você tenha arranjado uma saída antes mesmo de chegar aqui.
— Eu não tenho. Eu disse a você que não queria que ninguém —
— Sim, eu sei. — Ele se inclina para trás. — Ainda assim, eu me perguntei se você poderia ser uma atriz muito convincente.
— Mas você não está mais se perguntando isso?
— Você ainda parece genuinamente preocupada com a possibilidade de os outros descobrirem que você está aqui. Então deixe-me tranquilizá-la, Emerson. Mesmo que alguém consiga localizar o paradeiro de Dash e, mesmo que cheguem ao local exato em que esperam encontrá-lo, não verão nenhum palácio. Somente se essa pessoa estiver na companhia de um de nossos guardas, será capaz de ver e entrar nos terrenos do palácio.
— Oh. Isso é... conveniente. — Parecido com... Não, sumiu. Eu quase consegui, uma imagem do lugar seguro pertencente aos rebeldes Griffin, mas é como tentar segurar fumaça. — Bem, me sinto melhor agora. Estou feliz que ninguém será capaz de interferir.
— Bom. — Roarke agita os dedos de uma mão pelo ar, e um pedaço de papel enrolado aparece em sua mão. — Agora, temos alguns preparativos para a cerimônia de união.
— Temos? — Eu nunca esperei ser consultada sobre os detalhes relacionados ao casamento. Eu assumi que a rainha e Aurora cuidariam de tudo isso. Como já foi dito muitas vezes, não faço ideia do que é apropriado e do que não é para eventos formais do mundo faerie.
— Você precisa memorizar os votos da união, — diz Roarke, colocando o papel sobre a mesa. — Tudo o que você precisa saber está neste pergaminho.
Eu quase comento como o uso de um pergaminho é antiquado — quero dizer, vamos lá. Certamente dobrar um pedaço de papel é mais simples e ocupa menos espaço — mas estou mais preocupada com o fato de ter que memorizar os votos. — Então, hum, eu não vou precisar repetir as palavras depois de alguém?
— Em parte dos votos, sim, mas as palavras estão em outro idioma, então você precisa praticar pronunciando-as corretamente. Há magia envolvida, então você não quer errar as palavras.
— Hum —
— E a outra parte da cerimônia são os votos privados que fazemos um ao outro sem que ninguém mais ouça. Você terá que memorizá-los.
— Oh. Por que eles são privados?
Sua expressão fica confusa. — Porque eles são apenas para os nossos ouvidos. — Por baixo da mesa, a mão dele desliza no meu joelho. — Coisas especiais e românticas que queremos dizer um ao outro.
— Oh. — Eu inclino um pouco para o lado, movendo minha perna para fora de seu alcance. — Mas... então por que precisamos dizê-las? Você e eu sabemos que não estamos entrando nessa união por nenhuma das razões tradicionais. Nós não precisamos entrar em detalhes românticos.
Se Roarke está incomodado pelo fato de eu não querer que ele toque minha perna, ele não demonstra. — Como eu disse há pouco, nossos votos envolvem magia. Nós não podemos simplesmente pular essa parte.
Eu franzo ainda mais o cenho. — Mas... tudo bem. Eu só... não entendo muito bem. Se essas palavras extras são uma parte padrão da união mágica, então por que elas são privadas? Eu realmente preciso memorizá-las?
Roarke simplesmente ri. — Emerson, é assim que a cerimônia é feita. Tem sido assim por muito tempo. Nós não podemos simplesmente mudá-la porque você não sente vontade de memorizar as palavras.
— Não é que eu não me sinta assim. — Eu enfio meu cabelo atrás das minhas orelhas. — Estou preocupada que eu possa esquecer alguma coisa ou cometer um erro. Se é tão importante acertar tudo, então, o que há de errado em repetir depois de outra pessoa ou ler as palavras de uma folha?
Roarke suspira. — Você não lerá as palavras de uma folha, Emerson. Não é assim que é feito.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu alcanço o pergaminho e puxo para mais perto. — Então, você vai me explicar o que todas essas palavras significam, ou devo recitar um absurdo que eu não entendo?
O canto da boca do Roarke se ergue. — É uma coisa boa que eu esteja te ensinando essas palavras. Qualquer outra pessoa ficaria muito ofendida.
Eu me inclino para trás e desenrolo o papel, revelando muito mais palavras estranhas do que me sinto confortável. — Aurora não ficaria ofendida.
— É verdade, mas Aurora só vai aprender as palavras particulares quando for à vez dela. Não é apropriado que ela as conheça ainda.
— Ah, mais impropriedade. — Eu solto um longo suspiro. — Eu perguntaria por que é inapropriado, já que essa é uma parte padrão de todas as cerimônias, mas você provavelmente vai me dizer ‘é assim que é feito’.
— Sim. Isso é exatamente o que eu vou te dizer. — Seus olhos enrugam nos cantos enquanto ele sorri. — Estou muito feliz em ver que você está aprendendo.
Eu me inclino para trás em minha cadeira e começo a ler os votos em voz alta, fazendo o melhor que posso com as combinações não familiares de letras. Depois de três palavras, estou ciente de que provavelmente estou massacrando o idioma faerie. Roarke espera até eu chegar ao final da primeira linha antes de me tirar da minha miséria. — Tudo bem. Eu vejo que isso vai demorar mais do que eu pensava. — Outro giro de seu pulso produz uma pena. Ele entrega para mim. — Vou pronunciar cada palavra e você pode escrever de qualquer maneira que faça sentido para você.
Nós chegamos na metade da parte pública dos votos antes de uma batida rápida nos interromper e minha porta ser aberta. — Irmã, querida! — Aurora grita para mim. — Oh, você está acordada. — Ela fica na porta e sorri. — Olha quem eu encontrei vagando pelos corredores. — Ela se aproxima e puxa Dash para aparecer.
— Eu disse que o convidei para ficar, não é? — Roarke diz para ela.
— Sim, mas eu não o vejo desde o dia em que o atordoamos no quarto de Em no reino humano. Eu não dei uma boa olhada nele naquele momento. Ele é mais bonito do que eu me lembro, — acrescenta ela com um sorriso provocante, deslizando o braço através do de Dash e puxando-o para mais perto.
— Obrigado. — Ele lhe dá um sorriso igualmente paquerador. Eu cruzo meus braços e dirijo uma carranca em sua direção, mas tudo o que ele faz quando vê minha expressão é encolher de ombros.
— Você lembra o que ele é? Roarke diz para Aurora com desaprovação em seu tom.
— Claro que eu lembro. E eu lembro, — ela acrescenta em um sussurro falso, — que é segredo.
— Nós estávamos realmente ocupados com algo antes de você tão rudemente invadir aqui, — comenta Roarke.
— Ooh, sim, memorizando os votos. Que romântico. Posso dar uma olhada?
Roarke pega a página de mim e prontamente a enrola antes que Aurora possa chegar mais perto. — Não, você não pode. Eu não quero estragar nada para você antes de chegar a sua vez.
— Como você é atencioso.
Roarke bate minha mão com o pergaminho. — Podemos tentar de novo mais tarde, minha querida prometida — quando tivermos um pouco mais de privacidade. — Ele gira o pergaminho em sua mão e ele desaparece.
— A razão por eu ter entrado aqui, — Aurora diz, — foi sugerir que todos nós descêssemos juntos para o chá. E eu queria verificar se Em ainda estava dormindo.
— Oh, já está hora? — Eu pergunto. — Eu pensei que o chá fosse mais tarde.
— Chá? — Dash pergunta.
— Sim, no caramanchão da rainha no jardim. Mamãe oferece para aqueles que ficaram aqui depois da festa.
Afasto-me da mesa e me levanto. — Esperem, eu preciso colocar os sapatos. — Aurora me acompanha até o quarto para me ajudar a selecionar sapatos apropriados. Eu coloco os chinelos prateados rapidamente, não querendo dar a Roarke e Dash nenhum segundo para acabarem brigando.
Uma vez que nós quatro estamos no corredor — com vários guardas caminhando na frente e atrás de nós — Roarke pergunta a Aurora se ele pode falar em particular com ela. Os dois seguem em frente enquanto eu ando ao lado de Dash. — Eu me pergunto como Jewel se sentiria, — eu digo a ele, — se ela soubesse o tipo de atenção que você estava recebendo da encantadora princesa Aurora.
Dash suspira. — Espero que ela entenda, considerando o fato de que tivemos uma conversa recentemente e eu disse a ela que não me sinto da mesma maneira que ela se sente.
— Oh. Hum ... bom trabalho.
— Sim. Não foi do jeito que eu esperava.
— Desculpe. Isso deve ter sido estranho. Ela ficou muito chateada?
— Na verdade, ela me convenceu a ir a um encontro com ela.
Eu quase tropeço quando olho para ele surpresa. — Sério? Você disse que não tinha sentimentos românticos por ela, e essa conversa terminou com vocês dois indo a um encontro?
Ele me dá um olhar divertido. — Há algo de errado com isso? Algo sobre a ideia de eu ir a um encontro com Jewel que a perturba, talvez?
— Não se iluda. Estou surpresa, isso é tudo. Você não parece o tipo de pessoa que deixa uma conversa tomar outro rumo.
— Eu não deixei. Eu simplesmente decidi dar a ela uma chance.
— Uma chance?
— Ela me pediu para lhe dar um encontro. Eu disse a ela que não entendia, que não queria levá-la e que tinha certeza dos meus sentimentos. Ela perguntou como eu poderia ter certeza se eu nunca dei uma chance a esses sentimentos. Então... — Ele suspira. — Eu pensei que se — e se — ela estivesse certa. Então eu concordei.
— E?
Ele olha de lado para mim quando chegamos ao fim de uma escada. — Você parece muito interessada no resultado.
— Só porque estou tentando descobrir se você realmente é o jogador que sempre achei que fosse. Se você está namorando Jewel enquanto também entretém os sentimentos de Aurora... bem, isso não é legal.
— Entretém os sentimentos de Aurora? — Ele repete. — Cara, você aprendeu alguma linguagem extravagante desde que morou com os Unseelies.
— Ah, cale a boca e me diga o que aconteceu no encontro.
— Eu não acho que posso calar a boca e dizer algo ao mesmo tempo.
Eu cruzo meus braços no meu peito. — Dash.
— Bem. Foi estranho. Realmente estranho. Passei a noite toda com medo de que ela tentasse me beijar no final e pensar que seria exatamente como beijar uma —
— irmã?
— Sim. E isso é errado. Então, antes que isso acontecesse, eu disse gentilmente a ela que isso nunca iria funcionar.
— Tudo bem. — Chegamos à outra grande escadaria que leva a outro grande corredor. — Bem, eu estou feliz que você não a enrolou durante todo esse tempo.
— Claro que não. Eu sou realmente um cara decente, lembra? — Ele abaixa a voz. — Ao contrário do príncipe com quem você escolheu tolamente se casar.
— Eu não o escolhi. Não é assim, de qualquer maneira. Eu escolhi este acordo e ele faz parte disso. E você não o conhece. Eu acho que ele pode ser mais decente do que você pensa.
Dash bufa. — Certo. Tanto faz o que você diz.
Eu fecho meus olhos por um momento e suspiro. — Podemos, por favor, não discutir mais sobre isso?
— Certo. Diga-me então: como você tem preenchido seu tempo nas últimas duas semanas e meia? Tem sido tudo festas e chás com a rainha e esperar sua criada pessoal?
— Sim, tem sido uma perfeição absoluta, — digo secamente. — Eu esperei a minha vida inteira para que alguém escolha minhas roupas, prepare meu banho, faça minha cama e prepare minha comida.
Dash aperta os olhos para mim. — Sério?
— Não! Eu não aguento isso. Eu sou perfeitamente capaz de fazer todas essas coisas sozinha.
— Olha, você teve uma vida ruim com a Chelsea, — Dash diz, levantando as mãos em defesa, — então me perdoe por pensar que você realmente gostaria de ter alguém fazendo todo o trabalho duro.
— Eu não quero. É estranho. E eu não passei todo o meu tempo em festas e chás, na verdade. Aurora tem me ensinado muita magia básica, junto com alguns de seus hobbies, como arco e flecha e montar em dragão.
Quando chegamos a uma porta larga que leva ao exterior ensolarado, Dash para. Ele olha mais de perto para mim. — Montar em dragão?
— Vocês dois podem esperar aqui? — Aurora pergunta. — Roarke precisa me mostrar algo rapidamente.
— Sim, tudo bem, — Eu respondo.
Eles desaparecem em um corredor e Dash se vira para mim novamente. — Você disse montar em um dragão?
— Eu disse.
— Sério? Então você é uma cavaleira de dragões agora, assim como uma futura princesa Unseelie?
— Ainda não, mas gostaria de ser. Há algo de errado com isso?
— Não, é só... — Ele balança a cabeça. — Eu sinto que eu realmente não te conheço mais. Você não está aqui há muito tempo e já mudou.
Suas palavras machucam mais do que eu poderia imaginar ser possível. — Mudou? O que você quer dizer?
— Bem, você... você aprendeu muito em pouco tempo. E você parece —
— Eu pareço?
— Como se pertencesse aqui.
Eu descarto suas palavras com um aceno casual, esperando que ele não tenha notado o quão profundamente elas me cortaram. — É apenas roupa.
— É? A maneira como você se portava na noite passada, na plataforma e enquanto dançava... você parecia a princesa que as pessoas esperam que você se torne.
Eu puxo meus ombros para trás um pouco, ignorando a dor no meu peito. — Bom. Pelo menos eu sei que estou fazendo bem a minha parte.
A expressão de Dash suaviza um pouquinho. — Contanto que seja apenas do lado de fora...
— É claro que é apenas do —
— Tudo bem, vocês estão prontos? — Aurora grita quando ela e Roarke reaparecem. — Vamos aparecer a este chá antes de chatearmos a mamãe com nosso atraso. E você — ela acrescenta, olhando para Dash — eu vou apresentar como um amigo meu. Por favor, não contradiga qualquer história que eu decidir contar.
— Oh, hum... — Dash para quando Aurora tenta nos levar para frente. — Eu estava pensando, — diz ele, — que talvez seja melhor se eu não participar dessa coisa de chá. Se minhas mangas subirem demais, e se a maquiagem sair dos meus pulsos, sua mãe pode ver minhas marcas. Ela vai saber o que eu sou.
— Isso é possível, — Aurora admite, — mas se você não vier ao chá, você quase certamente acabará perambulando pelo palácio por conta própria e corre o risco de inventar todos os tipos de travessuras.
Ele dá um sorriso malicioso. — E se eu prometer ficar no meu quarto como um bom menino? Se alguém perguntar sobre mim — o que duvido que alguém faça, já que ninguém me conhece — você pode dizer que não estou me sentindo bem.
— Se nós pudéssemos confiar em você sobre manter sua palavra, — Roarke diz, — e não sair do seu quarto para tentar desenterrar informações que possam ser úteis para a sua Guilda, então certamente. Estaria tudo bem. — O olhar de Roarke se move brevemente para o meu antes de se fixar em Dash. — Mas não confiamos em você. Mesmo que eu tenha postado guardas à sua porta, você pode sair pela sua janela.
Meus braços ficam tensos ao meu lado. Ele não pode estar insinuando que ele sabe que Dash entrou no meu quarto mais cedo, pode? Improvável. Ele teria ficado zangado quando ele entrou no meu quarto se ele tivesse acabado de descobrir que Clarina encontrou Dash no meu quarto.
— Sair pela janela, — diz Dash, uma expressão pensativa no rosto. — Agora tenho uma ideia. Eu posso ter que tentar depois que todos forem dormir. Eu não tinha pensado em tentar desenterrar qualquer informação útil — Em foi à única razão pela qual eu vim até aqui — mas agora que você mencionou isso, estou definitivamente desperdiçando uma valiosa oportunidade em não fazer mais para descobrir que tipos de leis você Unseelies estão quebrando descaradamente.
O sorriso plácido de Roarke nunca deixa seu rosto. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta das minhas costas. — Como você disse, Emerson é a única razão pela qual você veio aqui. Se você é de fato um verdadeiro amigo para ela, você se concentrará em confortá-la durante este período difícil, em vez de pensar em maneiras de derrubar sua futura família. — Seu polegar esfrega para cima e para baixo contra o meu braço, um gesto que provavelmente deveria ser carinhoso e terno, mas que de alguma forma parece ameaçador.
Dash olha a mão de Roarke no meu braço por um momento antes de levantar o olhar. Então seus olhos se estreitam enquanto ele se concentra em algo atrás de mim. Eu olho por cima do meu ombro. Uma mulher vestida de marrom escuro atravessa o corredor com passos tranquilos e confiantes. Ela faz uma pausa por um momento para nos olhar. Talvez seja a maneira como as sombras caem sobre seu rosto, mas seus olhos parecem completamente negros. Ela inclina a cabeça e manda um sorriso conhecedor em nossa direção, revelando dentes pontiagudos atrás de seus lábios vermelhos e cheios. Ela se vira e vai até a escada, deixando uma brisa fria de ar em seu rastro.
CONTINUA
Emerson Clarke pensou que magia poderia resolver todos os seus problemas. Acontece que a magia apenas tornou sua vida mais complicada. Sua mãe doente está em uma posição pior do que antes, e Em acabou de fazer um acordo arriscado com um Príncipe Unseelie: ele curará sua mãe se Em concordar com a aliança suprema - casamento.
Com a possibilidade de finalmente conseguir a única coisa que ela sempre quis, Em entra no mundo perigoso da Corte Unseelie. Ela aprenderá tudo o que for necessário sobre magia e etiqueta, a fim de seguir seu caminho pela vida do palácio, até que o príncipe Roarke cumpra sua parte na barganha.
Mas quando alguém inesperado aparece, trazendo à tona os segredos que Roarke e sua família estão escondendo dela, os planos de Em começam a se desvendar. Em breve, ela terá que decidir de uma vez por todas: até onde ela está disposta a ir para salvar sua mãe?
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Prólogo
DASH
DASH ESTAVA EM SUA MESA NA GUILDA CREEPY HOLLOW POR dez minutos quando seu âmbar, deixado ao lado do relatório de sequestro de duendes em que estava trabalhando, vibrou e emitiu um chilrear. Palavras douradas brilhantes subiram à superfície do dispositivo retangular. Reconhecendo a caligrafia de Violet, Dash rapidamente puxou o âmbar para perto. Seus olhos dispararam para cima para verificar quem poderia estar perto o bastante de sua mesa para ver a mensagem. A área aberta do escritório estava cheia da agitação de atividade matinal: uma equipe de guardiões juniores voltando de uma missão noturna; dois aprendizes entregando pergaminhos; e sua própria companheira de equipe, Jewel, trabalhando duro em alguma coisa. Era altamente improvável que qualquer uma dessas pessoas soubesse de quem era a mensagem no âmbar de Dash, mas isso ainda o deixava nervoso ao se corresponder com os rebeldes Griffin, enquanto estava sob o teto da Guilda.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo sua expressão indiferente, e leu a mensagem: Você sabe onde está a Em? Eu não consigo encontrá-la. Gelo encheu as veias de Dash enquanto ele lutava para manter a expressão neutra. Se Vi não conseguia encontrar alguém, isso significava sérios problemas. Graças a sua Habilidade Griffin, ela é capaz de encontrar alguém que não tenha sido ocultado por algum tipo de magia. Em tinha uma Habilidade Griffin, no entanto, era uma história totalmente nova. Ela estava brincando? Testando se ela poderia se esconder? Dash estendeu a mão sobre a mesa, pegou sua stylus e escreveu uma resposta rápida em seu âmbar. Não. Tem certeza de que ela foi embora? Verifique as esferas.
A resposta de Vi chega segundos depois: Verificando agora.
Estou a caminho, Dash rabisca enquanto ele se afasta de sua mesa e se levanta.
— Já indo embora? — Jewel perguntou. Dash olha para cima enquanto ela se levanta e contorna sua mesa. — Você acabou de chegar.
— Eu preciso checar uma coisa. Um dos relatórios das testemunhas do caso de sequestro dos duendes. Alguns detalhes estão faltando. — Dash se encolheu internamente, odiando ter que mentir para uma de suas melhores amigas. — Vou pedir para um dos guardas no andar de baixo abrir um portal para mim, — ele acrescentou rapidamente. Como Jewel, ele não deveria mais ser capaz de abrir portais para os caminhos das fadas. Um aborrecimento que foi causado pela Habilidade Griffin de Em. Em, desde então, inverteu o efeito da magia em Dash, mas Jewel não sabia disso. A única coisa que Jewel sabia era que Em havia escapado das garras da Guilda e desaparecido.
— Você precisa que eu vá com você? — Jewel perguntou.
— Não, não se preocupe. Vai ser rápido. — Ele lhe deu um sorriso, que ele suspeita que não parece nada com o seu habitual sorriso descontraído.
— Tudo bem. Ei, está tudo bem? — Jewel segura seu braço antes que ele possa se virar. — Você normalmente não é tão sério logo de manhã cedo. — Sua mão demorou um momento a mais em seu braço, e a conversa que ele teve com Em veio à tona. Ela apontou que Jewel claramente queria ser mais do que apenas sua amiga, um fato que Dash de alguma forma ignorou até aquele momento. Como ele não viu? E por que Jewel nunca disse nada sobre seus sentimentos por ele? Ela deve ter um controle excepcional sobre eles. Ele não tinha notado nenhumas explosões mágicas aleatórias.
Isso não é importante agora, Dash lembrou a si mesmo. — Sim, tudo bem. Estou apenas... mais cansado do que o habitual. — Isso, pelo menos, era a verdade. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior, conversando com Chase, discutindo quando voltar ao Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills para examinar os registros que estavam arquivados com o nome da mãe de Em. Com essa magia desconhecida impedindo-a de acordar, ela não estava em posição de explicar por que ela e sua filha viveram por tanto tempo no mundo não-mágico, mascaradas como humanas. Esperançosamente, o pai de Em possa fornecer algumas respostas. Em disse que não sabia nada sobre ele, mas se era ele quem estava pagando as contas médicas de Daniela Clarke, o hospital certamente deveria ter seu nome e detalhes para contato.
— Tudo bem. Até mais tarde. — Jewel volta para sua cadeira.
Dash deveria ter indo embora então — ele queria ir embora — mas ele não podia ignorar o desejo de Jewel de ser mais que amiga agora que ele sabia disso. — Ei, você quer sair esta noite? — Ele pergunta antes que ele pudesse mudar de ideia. — Nós deveríamos conversar. — Sem dúvida, se transformaria na conversa mais estranha que eles já tiveram, mas ele precisava fazer isso. Não era justo da parte dele permitir que Jewel continuasse esperando por algo que nunca aconteceria.
— Sim, tudo bem. Ótimo.
— Legal. — Dash desceu correndo a escadaria principal da Guilda, atravessou o saguão e entrou na sala com paredes nuas usadas para acessar os caminhos das fadas. — Você se importa em abrir um portal para mim? — Ele perguntou para a mulher que estava de guarda do lado de dentro da sala.
— Ainda não encontrou aquela garota Dotada Griffin, hein?
— Não.
— Eu espero que encontre, — a mulher respondeu enquanto andava até a parede e levantava sua stylus. — Ouvi dizer que ela é perigosa.
— Sim, — Dash murmurou. — Extremamente perigosa. Eu pretendo encontrá-la.
A mulher deu um passo para trás quando parte da parede se afastou para revelar a escuridão dos caminhos das fadas além. Dash avançou. Depois que a luz desapareceu atrás dele, ele concentrou seus pensamentos no oásis escondido no meio de um deserto a milhares de quilômetros de distância.
Minutos depois, ele subiu apressadamente os degraus da varanda da casinha branca de um lado do oásis, passando por algumas portas fechadas e entrando na sala de vigilância. Uma fileira de esferas de vidro cobria três das quatro paredes, e dentro de cada esfera havia uma forma em miniatura de partes diferentes do oásis. Magia conecta cada esfera aos insetos enfeitiçados que voam do lado de fora, exibindo tudo que os insetos viam. Vi está curvada, olhando atentamente para uma das esferas, enquanto Calla e Chase sentam em frente um do outro. — O que você conseguiu ver? — Dash perguntou, sem se importar com uma saudação.
— Oh, Dash, oi, — Vi diz quando ela se virou para ele. — As esferas mostraram que Em saiu durante a noite. Logo depois da cúpula, ela abriu um portal para os caminhos e entrou.
— Ela deve ter pegado a stylus de alguém.
— Sim. Uma desapareceu de nossa cozinha esta manhã.
— Eu simplesmente não entendo, — Calla disse, passando o dedo repetidamente através da esfera na frente dela enquanto a move para voltar no tempo através das cenas exibidas. — Por que ela iria embora?
Vi sacode a cabeça conforme ela dá de ombros. — Várias possibilidades, eu suponho. Talvez ela quisesse ver um de seus velhos amigos. Ou talvez ela lembrou de algo que pudesse ajudar sua mãe. O que é mais preocupante é o fato de que eu não consigo encontrá-la. O que poderia estar protegendo ela?
— Nada de bom, — Chase murmurou.
— Dash, você nunca me contou o que aconteceu quando eu não consegui encontrar você e Em ontem, — continuou Vi. — Lembra, quando eu fui encontrar vocês dois na casa da tia dela?
— Oh, sim. — Dash xingou interiormente — com o tipo de palavras que sua mãe não aprovava — por ter esquecido, mais uma vez, de mencionar aquele lugar estranho e as pessoas que levaram ele e Em para lá. — Eu não sei onde estávamos, mas foi estranho. Tudo parecia drenado de cor, e partes dele estavam meio que... borradas. Obscuro ou sem forma. E nós não conseguíamos acessar os caminhos das fadas. Acabamos fugindo de alguma criatura sombria que eu nunca vi antes, e de alguma forma perto do perto do buraco no véu. Mas não do lado humano, e não do lado das fadas. Em algum lugar... eu não sei. Talvez nem fosse real. Talvez tenha sido algum tipo de alucinação. De qualquer forma, — ele continuou com uma respiração profunda, — nós estávamos lá por causa dos Unseelies. O príncipe e a princesa.
— Sério? — Chase olhou para longe da esfera que ele estava examinando.
— Sim. Aquela garota que esteve na Chevalier House por alguns dias — Aurora — é na verdade a princesa Unseelie.
— Então era isso que ela estava fazendo em Chevalier House, — uma nova voz disse da porta. Dash olhou em volta e viu Ryn parado ali. — Aurora queria que Em fugisse com ela. Ela estava obviamente planejando levar Em de volta a Corte Unseelie.
— Você não pensou em mencionar nada disso na noite passada? — Calla diz para Dash, um tom acusatório em sua voz.
— Para ser honesto, eu não pensei nisso. Em disse que ia me contar o que aconteceu mais tarde — já que eu, hum, fiquei atordoado e inconsciente por parte do tempo — mas então aquela fada de vidro apareceu, e nós quase morremos, e então corremos para pegar a mãe de Em, e... eu não pensei nos Unseelies novamente até mais tarde da noite passada quando cheguei em casa.
— Ótimo, então não temos ideia do que disseram a Em, — Calla diz, cruzando os braços e franzindo a testa para o chão.
Dash não disse nada. Era incomum Calla ficar tão irritada com ele, mas ele não podia culpá-la. Estava furioso consigo mesmo por não ter perguntado a Em sobre aquele estranho mundo sombrio da noite anterior. Ela parecia distante e infeliz, e, como um idiota, ele tentou distraí-la com a dança. Qual era o problema dele? Como ele poderia simplesmente esquecer que dois membros da família real Unseelie tinham transportado Em para um lugar estranho e, em seguida, misteriosamente a deixaram ir?
— Então... — Vi esfrega suas têmporas. — O fato de que não podemos encontrar Em agora pode ter algo a ver com os Unseelies.
— A menos que ela mesma não queira ser encontrada, — disse Chase. — Ela saiu voluntariamente. Ela pode ter usado sua Habilidade Griffin para se proteger de alguma forma.
— Seja qual for o motivo dela para ir embora, ela deve estar planejando voltar, — Ryn diz, entrando na sala e dando uma olhada em uma das esferas. — A mãe dela ainda está aqui, afinal de contas.
Dash balança a cabeça. — Ela pode ter ido embora por conta própria, mas e se os Unseelies a pegaram lá fora? Eles a deixaram ir ontem, mas eles definitivamente ainda a querem. Eles podem estar mantendo-a contra sua vontade agora.
— Então, o que fazemos? — Vi pergunta. — Esperar para ver se ela volta? E se sim, quanto tempo esperamos?
— Ela tem que voltar, — Calla murmura, mordendo a unha do polegar enquanto olhava sem ver o chão. — Ela tem que voltar.
Ryn olhou para o outro lado da sala. — Qual é o problema?
Calla baixa a mão e franze a testa para o irmão. — Não faça isso.
— Ei, eu não estou tentando sentir o que você está sentindo, — Ryn diz, levantando as mãos em defesa, — mas sua ansiedade está quase me dando um ataque de pânico. Eu tenho tentado ignorar isso, mas isso está praticamente me atacando.
— Ansiedade? — Chase se aproxima dela. — Sobre o quê?
— Caramba, pessoal, — Calla exclama. — Estou preocupada com outro caso. Está tudo bem. Podemos nos concentrar em como vamos descobrir onde Em está? Apenas no caso de ela ser prisioneira de alguém agora?
— Eu tenho alguns contatos Unseelie, — diz Chase. — Vou ver o que eu posso descobrir.
— Bom. Eu vou voltar a trabalhar em outras coisas, então, — diz Calla. Ela atravessa a sala e sai sem uma palavra, deixando vários momentos de silêncio constrangedor em seu rastro. Com uma careta, Chase a segue.
Dash pigarreia. — A Guilda também tem contatos Unseelie. Eu vou perguntar se alguém sabe alguma coisa. E também perguntarei dos nossos contatos Seelie. É possível que eles tenham encontrado Em, mas ainda não tenham informado a Guilda.
— Obrigada, — disse Vi.
— Avise assim que você descobrir alguma coisa, — acrescenta Ryn.
— Claro. — Dash se vira e sai da sala, já colocando a mão no bolso para pegar o âmbar e a stylus, para que ele possa contatar o contato Unseelie da Guilda. Ele para perto da porta da frente enquanto escreve uma mensagem rápida perguntando se o contato tinha recebido alguma notícia sobre uma garota Dotada Griffin.
... alguma coisa está acontecendo?
Ao som de vozes, Dash se inclina para o lado e olha pela janela. Calla anda de um lado para o outro na varanda. — Ela tem que voltar, Chase. Ela tem que voltar.
— Tudo bem, sério. — Chase pega o braço dela e a faz parar. — Conte o que está acontecendo.
Dash sabia que ele não deveria estar escutando, mas se era algo sobre Em...
Calla respira fundo. — Eu vi alguma coisa. Noite passada. Quando eu fui perguntar a Em se ela queria se juntar a nós esta manhã. Isso me fez ter esperança... que de alguma forma... — Ela sacode a cabeça. — Quero dizer, eu sei que é loucura mesmo pensar nisso. Meu cérebro ainda está repassando tudo o que aconteceu naquela época e como isso poderia ser possível. Mas se for verdade... — Ela agarra a frente da camiseta de Chase com ambos os punhos. — Chase, se for verdade, então temos que garantir que Em volte.
Chase pega as mãos de Calla entre as suas. — Você não está fazendo nenhum sentido. O que você viu?
— Você não pode contar a ninguém, ok? Não até saber se é verdade. Eu não quero ser responsável por mais corações partidos.
— Corações partidos? Quando você...
Ela se inclina para mais perto de Chase e sussurra, suas palavras muito baixas agora para Dash ouvir através da janela. Ele observa a testa de Chase se franzir ainda mais. — Não é possível, — diz ele quando Calla recua. — Ou é? Quando a vi pela primeira vez, pensei...
— Pensou o quê?
O olhar de Chase fica desfocado enquanto ele olha por cima do ombro de Calla por vários segundos, claramente perdido em pensamentos. Um pequeno sorriso estica seus lábios quando ele volta sua atenção para ela. — Eu acho que você pode estar certa.
Seu sorriso de resposta ilumina seu rosto. — Eu também acho. Mas eu não sei ao certo, e me recuso a ficar animada até confirmarmos isso. Eu conheço alguém que pode nos dizer sem sombra de dúvida, mas eu não sei onde ele está. Você precisa me ajudar a encontrá-lo.
— Vi pode ajudar se ela tiver... — As palavras de Chase somem conforme ele sacode a cabeça. — Mas você não quer que ela saiba.
— Não. Ainda não. — Calla pega o braço dele e o puxa para descer a escada com ela. — Primeiro precisamos descobrir se é verdade. — Sua voz fica mais fraca quando ela e Chase se afastam da casa, deixando Dash com mais perguntas e sem respostas. Ele tem seu próprio mistério para resolver, no entanto. Onde você está, Em? Ele se perguntou em silêncio enquanto abre a porta e entra na varanda.
Seu âmbar vibra em sua mão, e ele para para ler a resposta do contato Unseelie: Nenhuma informação recente dos Unseelies. Nada interessante de qualquer maneira. Claro que não. Os Unseelies nunca informariam a Guilda se eles possuíssem uma poderosa Dotada Griffin. Mas Dash tinha que verificar, apenas no caso do contato ter ouvido alguma coisa. Agora ele teria que entrar em contato com o contato Seelie. Depois disso, seria hora de seguir para canais não oficiais. — De alguma forma, Em, — ele murmura enquanto se afastava. — De alguma forma, eu vou encontrar você.
Capítulo 01
COISAS QUE EU NUNCA IMAGINEI: UM, ESCAPAR DA MISERÁVEL CIDADE DE Stanmeade muito antes que eu sonhasse que isso fosse possível. Dois, me tornar quase amiga do cara que eu odiei por anos. Três, subir pelo lado de fora de uma torre do palácio das fadas com uma stylus roubada no bolso para que eu possa me esconder no topo e abrir um portal para os caminhos das fadas com magia. Oh, sim. E nunca imaginei usar palavras como ‘torre do palácio’, ‘caminhos das fadas’ e ‘magia’ sem soar como uma paciente internada em um hospital psiquiátrico. Mas isso foi antes de eu descobrir que sou uma faerie e que existe um mundo oculto de magia ao lado do mundo onde eu cresci. Isso foi antes de eu chegar ao topo da lista dos mais procurados de todos por possuir um superpoder único e perigoso. E isso foi antes de eu assumir o maior risco da minha vida e concordar em me casar com um príncipe faerie da Corte Unseelie, na esperança de salvar minha mãe.
Então sim. Eu imagino coisas agora que a maioria das pessoas da minha antiga vida consideraria impossível. Como um buraco escuro de nada se materializando através das paredes de mármore com veias douradas no topo da torre que subi. Eu precisava me afastar dos olhos atentos dos guardas do palácio, e esta torre formando o ponto mais alto do Palácio Unseelie parecia um bom lugar. Infelizmente, o feitiço que tenho sussurrado e as palavras que escrevo repetidamente através da parede parecem não estar produzindo nada.
Solto um suspiro frustrado e aperto meus dedos ao redor da stylus incrustada de joias. Eu roubei do quarto de Aurora ontem. Apenas o melhor do melhor para uma princesa, então duvido que haja algo de errado com ela. O que significa... talvez minha magia seja o problema? Eu coloco a stylus no chão da torre e enlaço minhas mãos juntas, depois expiro lentamente e sinto o núcleo do poder dentro de mim. Quase instantaneamente, uma forma quase esférica branca brilhante e fragmentos etéreos pairam acima da minha mão. Parece quase fácil produzir magia agora, depois de ter praticado tanto nos últimos dias. Não há necessidade de apertar meus olhos, franzir minha testa e imaginar arrastar a magia para fora de mim como um rato puxando um caminhão.
Então, se a minha magia e a stylus não são o problema, e a magia em si está correta — o que eu tenho certeza que está, dado que eu usei para deixar o oásis — resta apenas uma resposta: os caminhos das fadas não são acessíveis a partir desta torre.
— Droga, — eu sussurro. Eu enfio a stylus de volta no bolso e olho através das terras sem fim de um verão perfeito. Relvados verdes e brilhantes, flores de todas as cores, fontes de água encantadas rodeadas por arbustos recortados em formas ornamentais e várias áreas para entretenimento: uma pérgula aqui, um mirante ali, o ancoradouro da rainha à direita, além daquela pequena ponte. E um pouco além dos terrenos do palácio, as torres das casas senhoriais pertencentes a nobres Unseelie se erguem acima das árvores.
E quase todos os lugares, de acordo com Aurora, não são acessíveis através dos caminhos das fadas. Ninguém sai deste palácio e ninguém chega, exceto pela entrada principal. — Não é como se você precisasse ir a outro lugar agora, — ela me disse quando perguntei sobre os caminhos das fadas. — Apenas relaxe e aproveite sua nova vida no palácio.
Relaxar? Acho que não. Se quase nenhuma parte deste palácio e seus terrenos podem ser acessados pelos caminhos das fadas, isso significa que deve haver algumas áreas onde os portais podem ser abertos. E se eu quiser fugir quando aprender tudo o que preciso saber sobre o Princpie Roarke, então eu tenho que encontrar pelo menos uma dessas áreas. Se eu não conseguir, vou ter que ser criativa com minha Habilidade Griffin. E isso exigirá descobrir como realmente usá-la.
— Minha senhora?
Meu corpo fica tenso ao som da voz inesperada. Eu viro, meu coração se debatendo no meu peito. Mas é apenas Clarina, a criada que Aurora me ‘ofereceu’ na minha chegada. Ela está ao lado do alçapão de ouro cravejado de rubi. O alçapão está aberto, tenho certeza que estava trancado até agora, porque encontrei meu caminho para o outro lado dele ontem à tarde e não consegui abri-lo. Eu não teria me incomodado em abrir uma das janelas baixas e escalar a parede de outra forma. Eu pigarreio e aperto minhas mãos juntas. — Hum, sim?
— Sua Alteza, Princesa Aurora, me enviou para buscar você, — diz Clarina, com os olhos fixos no chão perto dos meus pés. Eu disse a ela para não se preocupar em desviar o olhar dela quando falar comigo, mas não faz diferença. Assim como quando eu disse a ela que não sou ‘senhora’ e ela não precisa se referir a mim como tal. — Mas de que outra forma eu vou mostrar respeito por você, minha senhora? — Ela perguntou. — Eu não posso simplesmente chamar você pelo seu nome. — Eu disse a ela que é claro que ela podia, mas isso também não ocorreu bem.
— Como ela sabia que eu estava aqui em cima? — Eu pergunto.
— Um de seus guardas viu você de uma janela.
Eu limpo minhas mãos no meu jeans. — Será, hum, que soou para você que Aurora — Senhorita — Sua Alteza — Que droga esses títulos estúpidos. — Parecia que ela estava com raiva de mim por estar aqui em cima?
— Não, minha senhora, — diz Clarina. — Ela estava preocupada, mas não zangada. Ela lembrou a seus guardas que você é bem-vinda para explorar sua nova casa, mas que eles também devem mantê-la viva.
— Certo. Legal. Isso foi o que eu pensei. Quero dizer, sobre a parte de explorar. — Aurora me deu uma breve turnê quando cheguei há três dias, então me disse que eu poderia ir onde quer que eu quisesse, exceto as suítes ou câmaras privativas das pessoas ou seja lá como ela chamou. Desde então, eu vaguei por todo o palácio sob o disfarce da curiosidade, fazendo o meu melhor para fingir que estou à vontade em uma casa tão vasta e opulenta quanto este palácio. Eu tento ignorar os guardas que me observam e os membros da corte que sorriem educadamente antes de sussurrar um para o outro. E tento não tremer quando a atmosfera muda, como de vez em quando, se transforma em algo frio e inquietante.
— Hum, bem, acho que é melhor irmos então, — eu digo, percebendo que Clarina está esperando por mim para falar. Ela assente e pisa na escada abaixo do alçapão. Eu a sigo, vacilando quando o alçapão fecha sozinho atrás de mim. Juntas, descemos a escada em espiral até o térreo do palácio e entramos em um vasto corredor alinhado por colunas. Seus pisos de mármore preto são polidos até um brilho vítreo e as pedras preciosas embutidas no teto refletem nos candeeiros acesos em pedestais entre cada coluna. O resto do palácio é muito parecido com isso: bordas pretas brilhantes, enfeites de ouro e pedras brilhantes. Quartos grandes o suficiente para se perder dentro, e móveis tão luxuosos que eu provavelmente vomitaria se soubesse o quanto eles custam.
É impossível imaginar estar em casa aqui.
Subimos mais escadas, cruzamos mais corredores e passamos por mais fae vestidos como se pertencessem ao cenário de uma novela de época. Todos eles me dão olhares curiosos quando passo. Ao contrário de Clarina e Noraya — a outra criada de Aurora — nenhuma dessas pessoas sabe quem eu sou. Eles não têm ideia de que eu concordei em me casar com o seu príncipe. Como eles poderiam suspeitar que ele e eu temos algo a ver um com o outro quando Roarke se foi desde o momento em que ele me deixou aqui aos cuidados de sua irmã? Aurora disse que ele voltaria esta manhã, mas eu não vi ele. Estou começando a me perguntar se ele está planejando me evitar até o dia do nosso casamento — quando quer que seja.
Finalmente, Clarina e eu chegamos à ala que abriga os aposentos da família real. Eu nunca fui longe o suficiente para ver os quartos pertencentes ao rei e à rainha, mas passei pela suíte de Roarke, e eu estive no quarto de Aurora durante todos os dias desde que cheguei aqui. Eu olho por cima do meu ombro para a porta que leva aos quartos de Roarke enquanto eu passo. A porta está fechada e não há guardas do lado de fora, o que eu acho que significa que Roarke não está lá dentro.
— Droga, — eu murmuro, baixinho o suficiente para que Clarina não me ouça. Uma carranca franze minha testa enquanto eu olho para frente novamente. E então aquele estranho sentimento de mal-estar, aquele inexplicável senso de engano, invade os meus sentidos. Como se dedos frios e podres estivessem prestes a se estender das sombras para apertar a parte de trás do meu pescoço. Um lampejo de uma sombra corre através da borda da minha visão, mas quando eu olho por cima do meu ombro novamente, se foi. Assim como a sensação de desconforto.
— Lady Emerson? — Clarina diz. Eu olho para frente e a vejo esperando com uma das mãos apoiada na porta de Aurora. — Está tudo bem?
— Hum, sim. Eu estou bem. — Talvez eu continue imaginando esse sentimento estranho. Talvez seja esse o sentimento de saudade de casa. Talvez, por mais improvável que pareça, eu esteja realmente sentindo falta da casa decadente em que vivi com Chelsea e Georgia. De jeito nenhum, eu penso comigo mesma, quase rindo alto do pensamento improvável. Eu posso sentir saudade da minha melhor amiga Val, e toda a diversão que tivemos juntas, e a sensação libertadora de não ser caçada por vários membros do reino fae, mas eu certamente não sinto falta daquela casinha horrível e da minha rancorosa tia e prima.
Clarina abre a porta para a suíte de Aurora e fica de lado para me deixar entrar. Ela faz uma rápida reverência quando passo, depois fecha a porta atrás de mim. Eu ouço seus pés baterem no chão de mármore polido do lado de fora. Do outro lado na sala de estar, decorada em tons suaves e tecidos florais, a Princesa Aurora, filha adotiva do Rei e da Rainha Unseelie, está sentada em uma pequena mesa redonda. Na frente dela há uma variedade de comida, um bule de chá e duas xícaras de chá. Ela se inclina para trás em sua cadeira e me examina. — Sério, Em? Subindo pela parte externa da torre leste? Você está tentando escandalizar a corte inteira? Se você queria tanto ver a vista do topo, você poderia ter pedido a alguém para destrancar o alçapão em vez de arriscar sua vida.
Eu atravesso a sala e paro ao lado da cadeira no lado oposto do lugar dela. — Bem, você sabe. Era cedo. Eu não queria incomodar ninguém. E além disso, quase não havia risco envolvido. Eu posso lidar com uma parede simples. Esses grandes tijolos de mármore têm espaços entre eles perfeitos para as mãos e os pés.
Aurora coloca o cabelo — preto e azulado roxo — atrás de uma orelha e estende a mão para a xícara de chá. — E se você tivesse escorregado? Além do enorme problema que eu teria com Roarke e meu pai se você caísse e se matasse, simplesmente não é apropriado sair por aí escalando paredes. — Ela me dá um olhar aguçado por cima de sua xícara de chá. — Sabe, dada a sua futura posição neste palácio.
Eu escolho ignorar sua referência ao fato de que eu devo ser uma princesa em breve e cruzo os braços sobre o peito. Eu começo a andar de um lado para o outro da janela. — Onde está Roarke? Você disse que ele estaria de volta agora, mas eu não vi ninguém de guarda do lado de fora do quarto dele, então eu suponho que ele não esteja lá.
— Ele e papai devem demorar, isso é tudo. Eles têm negócios importantes para lidar no momento. Você não pode esperar que eles voltem simplesmente porque você está desesperada para ver seu prometido. — Ela sorri. Eu mostro minha língua para ela. Ela joga um morango em mim, depois ri quando eu me esquivo e continuo andando. — Eles vão voltar em breve, tenho certeza. E por favor, pare de andar. Você está me deixando nervosa. — Ela acena para a cadeira em frente à dela. — Sente-se. Você já tomou café da manhã?
— Não. — Eu caio na cadeira com os braços ainda cruzados. — Eu estava muito ocupada correndo riscos e escalando paredes, lembra?
— Você deve escolher o café da manhã da próxima vez. — Com um toque elegante de sua mão, um prato de massas em forma de borboleta se levanta e se move em minha direção. Ela ficaria feliz se eu usasse magia para levantar um dos doces e movê-lo para o meu próprio prato, mas esse tipo de coisa parece ser coisa de preguiçoso para mim. E eu não acho que eu poderia fazer isso sem derrubar o prato inteiro.
— Você sabe por que eu quero ver o Roarke, — eu digo a ela depois de colocar uma massa no meu prato, com a minha própria mão perfeitamente funcional. — Ele e eu temos um acordo, e ele não fez nada para cumprir sua parte ainda. — Acordo. Uma palavra tão simples. Não carrega tanto peso quanto a palavra ‘casamento’.
— É claro que ele ainda não cumpriu sua parte. Espero que você saiba que ele não planeja dar a você qualquer informação sobre como tirar sua mãe do coma enfeitiçado ou consertar sua doença mental até depois da cerimônia de união.
— Sim, — eu digo em voz baixa, ainda olhando para o meu prato. — Eu sei disso. — O que eu também sei é que eu não pretendo que essa cerimônia aconteça. Todo mundo precisa pensar que isso vai acontecer, mas eu pretendo descobrir tudo o que preciso saber antes do casamento acontecer. Claro, eu não tenho ideia de como vou fazer isso ainda, mas ter a posse de uma poderosa Habilidade Griffin — falar coisas e as tornar reais — pode vir a calhar. Se eu puder usá-la no momento certo e da maneira certa, eu devo poder sair daqui viva com todas as informações que preciso. Pigarreio e acrescento, — Eu sei, mas ele precisa provar para mim. Ele precisa me dizer algo, então eu vou saber que ele não está apenas mentindo para me casar com ele.
— Meu querido irmão nunca faria algo assim, — diz Aurora, direcionando mais alguns itens de comida para o seu prato.
Eu não a conheço bem o suficiente ainda para saber se ela está brincando ou se ela realmente acredita nisso. De qualquer maneira, não estou disposta a confiar em Roarke. Eu preciso do meu próprio plano, e isso envolve ter o controle sobre a minha Habilidade Griffin. Eu quebro um pedaço de massa e olho para ele por um segundo ou dois antes de dizer, — Como as paredes da torre não são apropriadas para escalar, talvez meu tempo fosse melhor gasto praticando minha Habilidade Griffin. Com o elixir, quero dizer, não apenas esperar por momentos aleatórios em que a minha magia escolhe ligar.
Ela sacode a cabeça e acaba de engolir outro gole de chá. — Sinto muito, Em, mas me disseram para não dar a você até que Roarke e meu pai retornem. Aqui, coma um pouco de citrullamyn. — Vários segmentos de uma fruta que parece uma versão vermelho sangue de uma laranja voam em um arco de seu prato para o meu.
— Hum, obrigada. — Eu lentamente mastigo uma enquanto tento descobrir o que posso dizer para mudar a decisão de Aurora. Eu preciso desse elixir para estimular minha Habilidade Griffin. O primeiro frasco que eu tinha foi esmagado em pedaços durante o meu encontro com Ada — a faerie extremamente desagradável que quase destruiu toda Stanmeade com sua magia de vidro — mas um dos rebeldes Griffin fez mais elixir para que eu pudesse acordar mamãe de seu coma enfeitiçado. Não funcionou, mas pelo menos eu tinha um pouco do elixir. Eu trouxe comigo, planejando secretamente consumir pequenas quantidades na esperança de ganhar o controle sobre minha Habilidade Griffin sem que os Unseelies soubessem. Mas fui revistada antes de entrar no palácio. Um guarda descobriu o elixir e Aurora o confiscou. Roarke, que não parecia interessado em ficar mais do que alguns minutos com sua noiva, já tinha saído durante esse momento.
— Mas Aurora, — digo a ela com a minha voz mais razoável, — não tenho utilidade para sua família se eu não conseguir descobrir como controlar minha Habilidade Griffin. Essa é a única razão pela qual Roarke está se casando comigo, lembra? Então eu preciso desse elixir para me ajudar a aprender como usá-la.
— Sim, mas você não precisa aprender agora neste momento. Você pode praticar sob supervisão quando Roarke e papai voltarem.
Eu a olho diretamente nos olhos. — Eles não confiam em você para me supervisionar? Eles acham que você não pode lidar comigo?
Ela inclina a cabeça para trás e ri. — Oh, minha querida Em. Se você vai tentar me manipular, você terá que ser muito mais sutil sobre isso. Essa foi uma tentativa terrível.
Eu deslizo mais para baixo na minha cadeira com um suspiro derrotado. — Isso tudo é uma perda de tempo, — murmuro. — Mamãe ainda está presa em algum tipo de coma do mal induzido por magia, e eu não estou absolutamente nem perto de descobrir como ajudá-la.
— Você não está perdendo tempo. Você está aprendendo a usar a magia do dia-a-dia e a viver como uma de nós, — diz Aurora. — Falando nisso, por favor, sente-se ereta. Minha mãe teria palpitações no coração se visse você se curvando desse jeito.
Mãe de Aurora. A própria Rainha Unseelie. Jantei com ela e Aurora na minha primeira noite aqui, com criados esperando por nós a noite inteira, enchendo nossas taças com bebidas estranhamente coloridas e nossos pratos com comida ainda melhor do que a comida que Azzy preparava na Chevalier House. Achei difícil desfrutar de alguma coisa, apesar da ansiedade que comprimia meu estômago e fazia meus dedos tremerem. Não era como se a Rainha Amrath fosse cruel ou hostil. Ela era educada, na verdade, mas eu sabia que ela estava me observando o tempo todo. Medindo. Esperando que eu me provasse completamente indigna de casar com o filho dela. A cada momento estranho que passava, eu me lembrava da minha valiosa Habilidade Griffin. Isso vai mantê-la viva e segura, continuei dizendo a mim mesma. Eles querem o seu poder mais do que eles querem uma princesa bem-educada.
— Em? — Aurora diz. — Você está me ouvindo?
Eu pigarreio e me empurro para cima, então estou mais ereta. Eu forço meus ombros para trás. — Desculpa. O que você disse?
— Eu disse que precisamos conversar sobre o que você está vestindo e também que você deveria experimentar o chá de mel. É bem revigorante. Noraya, venha colocar chá para Emerson.
Noraya, que estava tão imóvel perto da porta do quarto que eu não a notei antes, se aproxima da mesa. Com um breve aceno de mão, o bule se eleva no ar. — Oh, não se preocupe, — eu digo rapidamente, me inclinando para frente. — Eu posso servir o chá.
— Deixe-a fazer isso, Em, — Aurora diz.
— Mas é só chá, — eu argumento enquanto o bule de chá se inclina sobre o meu copo e um liquido escuro fumegante fluí de seu bico. — Eu posso colocar sozinha. — Não com magia, uma vez que isso provavelmente resultaria em salpicos de chá por toda a mesa, mas minhas próprias mãos fariam o trabalho muito bem.
— Não importa se você pode fazer isso ou não, — Aurora me diz. — O que importa é que, quando você é um membro da família real, é adequado que os criados esperem por você.
— Eu ainda não sou membro da família real. — E espero nunca ser.
— Também é apropriado que você use roupas apropriadas para a corte, — acrescenta Aurora, enquanto Noraya se afasta da mesa, — e essas — ela olha minha calça jeans e camisa com desaprovação — não são apropriadas. Clarina e eu vamos ter outra conversa. Ela claramente não entendeu suas instruções.
— O quê? Não, não é culpa da Clarina. Ela me dá um vestido novo todas às manhãs, assim como você disse a ela, mas eu não quero usar nenhum deles. Eles são ridículos. Centenas de camadas de tecido com espartilhos e penas e joias e... coisas. Não sou eu. — O jeans, a camisa e o moletom que tenho usado nos últimos dias são as roupas que eu usava quando cheguei aqui. Eu as jogo sobre uma cadeira no meu quarto todas as noites, e todas as manhãs as encontro dobradas e limpas, na mesma cadeira.
Aurora arqueia uma sobrancelha. — Ridículo, — ela repete. Percebo que posso tê-la ofendido, dada a saia longa, o corpete apertado e as mangas em forma de sino do vestido que ela está usando. — Receio que não importa o que você ou qualquer outra pessoa pense, pois é assim que minha mãe e meu pai desejam que os membros de sua corte se vistam.
— Bem, seus pais têm um senso de moda seriamente ultrapassado. Todos parecem estar se vestindo ou se preparando para filmar um filme steampunk.
Sua expressão fica séria. — Eu não diria coisas assim se fosse você. — Ela abaixa a voz, se inclina mais perto e acrescenta, — Meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares, e ele não apreciaria comentários como esse.
Um calafrio rasteja pela minha pele. Parece que não imaginei a sensação de estar sendo observada. Eu envolvo meus braços em volta de mim, me sentindo nua, apesar do fato de estar vestida. — Até mesmo nos quartos?
— Bem. — Aurora se inclina para trás. — Talvez apenas ouvidos nos quartos.
— Isso é apenas... errado, — eu sussurro.
Ela ri e novamente não posso dizer se ela está brincando sobre tudo isso. — Só se você tem algo a esconder, — diz ela. Ela morde outra fruta não identificável e me observa enquanto mastiga e engole. — Agora me diga: como você está com a magia que eu te ensinei até agora? Você já pode mover as coisas? Tente levantar seu prato e o mova no ar.
— Hum... — Eu começo a girar uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo indicador. — Tem certeza de que é uma boa ideia? E se eu derrubar?
— Então Noraya reunirá os pedaços quebrados e os jogará fora. Nada demais.
Meu olhar desliza para o cabelo enrolado em volta do meu dedo. Estou quase acostumada com a cor azul brilhante misturada com o marrom escuro. Faz parte do que me caracteriza como faerie. Como alguém que pertence a este mundo. Lentamente, eu abaixo minha mão. — Sim, tudo bem. Vou tentar.
Tirar magia de dentro de mim é fácil agora, mas mandá-la para o prato, persuadindo-a ao redor e para baixo e dizer para levantar alguma coisa, é uma história diferente. Muito lentamente, com as mãos cerradas no meu colo e os olhos quase furando buracos no prato, começa a subir. Ele balança um pouco, e as massas e os pedaços de frutas cítricas vermelhas escorregam para um lado. Eu tento endireitá-lo, acabo exagerando e todo o prato vira. A comida cai sobre a mesa com vários golpes suaves e o prato fica suspenso de cabeça para baixo no ar. Ele estremece e balança antes que eu imagine minha magia o abaixando com cuidado. Ele cai os poucos centímetros finais, pousando perfeitamente em cima do meu café da manhã.
Aurora bate as mãos. — Bem, isso foi divertido. Dificilmente perfeito, mas é um bom começo.
— Acho que sim. — Eu viro o prato e começo a limpar a minha bagunça.
— Em, você mal podia fazer nada quando chegou aqui há alguns dias. Isso é uma conquista. Ah, e eu tenho mais alguns livros para você. — Ela gesticula por cima do ombro, e uma pilha de livros sobre a mesa baixa entre os sofás e se eleva no ar antes de descer novamente, os livros individuais batendo em voz alta um no outro enquanto pousam. — Você pode carregá-los com magia agora mesmo.
— Claro. — Eu tento não descobrir quanto tempo vai demorar para voltar para meu quarto, se eu tiver que transportar magicamente uma pilha de livros por todo o caminho até lá. Espero que eu possa convencer um dos guardas que me seguem à distância para me ajudar quando eu estiver longe de Aurora.
Quando volto a comer minha bagunça do café da manhã, a porta se abre e Clarina entra no quarto. Ela se move silenciosamente para ficar ao lado de Noraya e, após um momento de pausa, começa a sussurrar para ela.
— O que está acontecendo? — Aurora pergunta em voz alta, não se incomodando em olhar para elas.
Clarina fica em silêncio, os olhos arregalados atravessando a sala em direção a sua senhora. Do outro lado da sala, vejo sua garganta oscilar conforme ela engole.
— Clarina. — Aurora empurra seu prato para longe e se vira na cadeira para encarar as criadas. — Parte do seu trabalho é relatar segredos para mim, não para sussurrá-los na minha vizinhança. Agora me diga o que está acontecendo.
Clarina sacode a cabeça. — Sim, Sua Majestade. Peço desculpas. É só que... é tão horrível.
— O que é tão horrível? O que aconteceu?
— Um dos guardas... — Os olhos de Clarina se movem para Noraya, cujo queixo estremece enquanto ela olha para o chão. Clarina pigarreia e volta a olhar para Aurora. — Um dos guardas foi encontrado morto no jardim, — diz ela em voz trêmula. — Estava cinza e enrugado e morto.
Capítulo 02
EU CAMINHO PELA SALA DE ESTAR DA MINHA SUÍTE — MENOR QUE A DE AURORA, mas não menos luxuosa — esperando que alguém venha e me diga o que está acontecendo. Aurora me mandou de volta para cá na companhia de vários guardas logo após as palavras assustadoras de Clarina sobre alguém cinza, enrugado e morto no jardim, mas não recebi nenhuma novidade desde então. Eu ando na minha varanda e olho para baixo mais uma vez, mas eu ainda não consigo ver nada de interessante. Esta morte deve ter acontecido do outro lado do palácio.
Volto para dentro de novo, entre as poltronas e ao redor da mesa. Sento na escrivaninha e tento ler um dos livros que deveria estudar, mas não consigo me concentrar. Pensamentos sobre mamãe e todos os rebeldes Griffin de onde eu fugi continuam escorregando pelas rachaduras da minha concentração. Culpa por desaparecer sem explicação. Tristeza por ter que deixar Bandit para trás. Estou começando a sentir saudades de Dash, de todas as pessoas. E depois há a avalanche de perguntas: Quem sou eu? Quem é mamãe? Como chegamos a viver no reino humano com nossa magia bloqueada? Apenas para citar algumas...
Eu abandono o livro e acabo deitada no divã, observando os insetos brilhantes que estão fixos no teto e, lentamente, levantando e abaixando almofadas com magia. É preciso que eu foque toda a atenção para conseguir essa manobra simples, o que significa que não há espaço em minha mente para perguntas e pensamentos que me distraem.
Sem aviso, a porta principal da minha suíte é aberta. Minhas duas almofadas levitando pousam no meu peito e caem no chão. Sento apressadamente, virando para a porta e encontro Aurora entrando na sala. Alguém fecha a porta atrás de mim enquanto eu fico em pé e pergunto, — Está tudo bem? Você descobriu o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, mas falei com as pessoas que encontraram o guarda morto. — Ela caminha até a varanda. Eu a sigo para o sol quente do meio da manhã. — Eu o vi, Em. Foi... — Ela respira fundo e balança a cabeça. — Horrível. A cor de seu cabelo desapareceu completamente e seu rosto... — Ela se vira e descansa as mãos na balaustrada da varanda. — Sua pele estava flácida e enrugada. Foi horrível. Isso não acontece com a nossa espécie, Em. Isso não acontece. Não naturalmente de qualquer maneira. E isso significa que — Ela para, apertando os dedos na balaustrada.
— Significa o quê? Que esse guarda foi atacado com magia? — Eu mentalmente me chuto por essa façanha inexpressiva de dedução. Obviamente, esse guarda foi atacado com magia.
— Sim. Algo assim. — Aurora balança a cabeça e retorna o olhar para mim. — De qualquer forma, recebi uma mensagem do Roarke. Ele disse que não deveríamos falar disso para ninguém. Apenas algumas pessoas sabem como estava o guarda e não queremos que todos saibam e se assustem.
Eu não posso evitar erguer minhas sobrancelhas. — Você acha que o resto deste palácio já não sabe? Alguém deve ter contado a Clarina, e certamente Clarina e Noraya contaram aos outros agora.
— Elas não disseram a ninguém. Clarina e Noraya estão comigo desde sempre — bem, Noraya está aqui desde sempre e Clarina está comigo há pelo menos três anos — então elas sabem como manter a boca fechada. Clarina estava com uma das criadas da minha mãe quando viu o guarda morto, e ela veio direto para cá depois. Alguns outros guardas o viram, mas eles também disseram que vão ficar calados.
Eu me inclino contra a balaustrada e olho através do jardim. Ao longe, dois grandes pássaros voam pelo céu. Pelo menos, eu suponho que são pássaros. Suas asas parecem um pouco grandes demais para seus corpos, no entanto. — Alguém sabe quem fez isso? — Eu pergunto, olhando para longe das criaturas voadoras. — Quero dizer, se é impossível entrar sorrateiramente neste palácio, então deve ser um convidado ou alguém que mora aqui.
Aurora exala e coloca um sorriso falso em seu rosto. — Nós não devemos mais falar sobre isso, Em. Esqueça isso agora.
— Esquecer? Isso é improvável. Você não quer saber mais?
— Não. Roarke e meu pai cuidarão disto quando retornarem. Que deve ser antes do jantar, aparentemente.
— Oh. — Meu desconforto se transforma em algo mais positivo. — Isso é ótimo.
— Sim. Agora, que outra magia eu estava mostrando ontem? — Ela esfrega as mãos e caminha de volta para dentro. — Você praticava coisas em movimento, e também havia...
— Fogo, — eu a lembro. — Bem, minúsculas chamas. Assim eu não queimo acidentalmente o palácio.
— Sim, está certo. Você fez alguma melhora?
Eu estalo meus dedos e abro a mão, com a palma para cima, esperando que o feitiço se torne instintivo o suficiente para que uma chama apareça automaticamente acima da minha mão. Minha palma, no entanto, permanece vazia. — Hum... aparentemente não.
— Sim, bem, você nem está tentando. — Ela senta-se afetadamente na beira do divã. — Você precisa se concentrar. Você ainda não está no ponto em que isso acontece automaticamente. Agora tente novamente.
Eu resmungo sob a minha respiração antes de abaixar minhas mãos para os meus lados, fechar os olhos e me dizer para relaxar. Eu preciso ser capaz de liberar magia, então me concentro totalmente no momento em que ela está pronta para mudar de algo cru e sem forma para qualquer outra coisa. Nesse ponto, eu tenho que moldá-la mentalmente em uma chama antes que ela desapareça. E tudo isso, aparentemente, acontecerá quase instantaneamente, uma vez que eu já tenha feito isso o suficiente. Acabo de chegar a um estado mental relaxado quando uma batida no outro lado da porta interrompe minha concentração.
— Entre, — Aurora diz.
Noraya entra e corre para o lado de Aurora. Ela se inclina e sussurra algo antes de se endireitar.
Aurora se levanta com um suspiro. — Claro. Eu irei agora. Desculpe, Em, mas minha mãe gostaria de me ver. Você deve continuar praticando, no entanto. E comece a ler esses livros. Você tem muito a aprender se vai se encaixar aqui.
Eu a observo sair antes de cair em uma poltrona e me apoiar contra as almofadas bordadas em ouro. Então eu me forço a me sentar e me concentrar em produzir uma chama. Não tenho intenção de me encaixar aqui — não a longo prazo — mas preciso pelo menos fingir que estou planejando ver essa união. Além disso, provavelmente precisarei usar magia para sair daqui. Eu também posso aproveitar esta oportunidade para aprender o máximo que puder.
Depois de tentar repetidamente produzir uma chama e ter sucesso em cerca de cinquenta por cento do tempo, eu me sossego com o menor livro da pilha que Aurora me deu esta manhã. É uma coleção sobre magias básicas que parecem ter sido escritas para um aluno da primeira série. Perfeito. Por mais embaraçoso que seja, esse é exatamente o tipo de coisa de que preciso.
Uma vez que consigo encolher uma almofada para cerca de metade do seu tamanho, depois aumentá-la e depois voltar ao normal, pego um livro diferente e me sento em uma poltrona. Contém relatos de histórias ainda mais antigas do que as histórias que aprendi em Chevalier House. A divisão inicial das cortes e as primeiras famílias Seelie e Unseelie. Eu não vou muito longe quando ouço um leve som de arranhar. Abaixo o livro e olho em volta, tentando descobrir de onde vem o arranhão, mas o que quer que tenha sido, parou. Com uma careta, volto a ler.
Mas o arranhar começa novamente. Da direção da mesa, talvez? Eu me levanto devagar, imaginando o que exatamente eu vou fazer se abrir uma das gavetas e uma criatura mágica desagradável se jogar sobre mim. Por alguma razão, minha imaginação evoca uma imagem de uma mão sem corpo, o que não ajuda em nada o meu batimento cardíaco acelerado.
Três batidas afiadas na porta fazem o livro escorregar dos meus dedos. Eu fecho meus olhos por um momento e respiro trêmula, quase rindo de mim mesma por estar tão nervosa. — Entre, — eu digo enquanto me inclino para pegar o livro.
— Seu almoço, Lady Emerson, — diz Clarina da porta.
Eu me endireito, deixo o livro na poltrona e empurro meu cabelo para longe do meu rosto. — Certo. Obrigada. — Eu tenho almoçado com Aurora todos os dias desde que cheguei aqui, mas ela obviamente tem outros assuntos para tratar hoje. Clarina leva a bandeja de comida para a mesa perto das portas da varanda enquanto eu me aproximo da mesa do outro lado da sala. Sentindo-me boba agora por ter tido medo de um simples som de arranhar, mas ainda um pouco desconfiada do que poderia estar causando isso, eu abro a gaveta do lado esquerdo e rapidamente recuo. A stylus roubada rola para a parte de trás da gaveta — e nada pula sobre mim. Fecho a gaveta e abro a da direita. Está cheio de pergaminhos em branco que estavam no topo da primeira pilha de livros que Aurora reuniu para mim.
— Está tudo bem, Lady Emerson? — Clarina pergunta.
Minhas bochechas coram quando olho por cima do meu ombro para ela. — Sim, desculpe. Eu pensei ter ouvido alguma coisa, mas... — Eu viro e olho para dentro da gaveta. — Mas não há nada aqui.
— Há muitas pequenas criaturas vivendo nos jardins daqui, — Clarina me conta. — Algumas delas vêm de vez em quando. A maioria delas é inofensiva.
— A maioria? — Eu repito.
Ela sorri fracamente para o chão, mas não detalha. — Você precisa de mais alguma coisa, minha senhora?
Eu pego o livro de história no meu caminho para a mesa. — Acho que não. Isso parece incrível. — Ela balança a cabeça e caminha de volta para a porta.
— Clarina? — Eu pergunto enquanto sento em uma cadeira.
Ela para e olha em volta, seus olhos encontrando os meus por apenas um segundo antes de se concentrar no chão. — Sim, Lady Emerson?
— O que faz de você uma faerie Unseelie?
Ela hesita antes de responder. — O que você quer dizer?
— Você é mesmo uma faerie Unseelie? Todos que vivem e trabalham no palácio são considerados Unseelie?
Ela franze a testa para o chão. — Sim, eu acredito que sim, minha senhora.
— O que te faz diferente de alguém que não é Unseelie? Estou tentando lembrar o que me disseram quando cheguei a este mundo, mas não foi muito. Eu acho que alguém disse que a magia aqui é um pouco diferente? Algo sobre magia negra?
— Qualquer mágica com a qual eles não concordam, chamam magia negra.
— Eles?
— Aqueles que não são Unseelie. Alguma parte da nossa magia é a mesma que a deles, — explica ela. — Como o poder que reside naturalmente dentro de todos nós, ou o poder que absorvemos dos elementos ou das plantas. Mas eles não gostam quando tomamos o poder de outros seres vivos — seres inferiores — e eles não gostam de alguns dos procedimentos envolvidos em certas magias. Então é aí que entra a divisão. Eu acho, — acrescenta ela, cruzando as mãos recatadamente na frente dela.
Meus olhos passam sobre a comida espalhada na mesa. É muito mais do que eu poderia comer em uma refeição. Eu gostaria de poder pedir a Clarina para sentar e comer comigo enquanto eu faço mais perguntas, mas sei que ela nunca concordaria com isso. — O que conta como um ser inferior? — Eu pergunto.
Mais uma vez, ela parece confusa. — Bem, tudo que não é faerie, é claro.
Um calafrio levanta os cabelos dos meus braços, apesar da brisa morna que entra pelas portas abertas da varanda. — Você faz isso com frequência? Tome o poder de outros seres vivos?
— Não, minha senhora. Eu nunca precisei. Eu já fui curada antes por feitiços que eram especificamente Unseelie, mas eu pessoalmente não absorvi o poder cru de outro ser.
— Tudo bem. Eu entendo. — Eu não tenho certeza do que mais dizer, além de dizer a ela que tomar o poder de alguém soa francamente assustador e simplesmente errado.
— Você tem alguma outra pergunta, minha senhora?
— Hum... não agora.
Ela se vira e depois acrescenta, — Você não precisa se incomodar com tudo isso, minha senhora. Não é familiar para você, eu sei, mas não é errado. É apenas diferente. E, bem, sempre me disseram que não devemos ter medo de algo só porque é diferente.
— Hum, sim, isso é verdade. Obrigada, Clarina. — Dou-lhe um sorriso que desaparece no momento em que a porta se fecha atrás dela. Eu sei que não deveria ter medo de algo simplesmente porque é diferente, mas se é diferente e está machucando alguém, não está certo. Talvez eu tenha entendido mal, no entanto. Talvez essa coisa de ‘tomar o poder’ não seja tão sinistro quanto parece. Pode ser apenas um pouco de poder, não o suficiente para matar alguém. E talvez eles só aceitem seres que estão dispostos.
Eu me sirvo de comida, reabro o livro e continuo lendo. Depois de apenas alguns minutos, um baque surdo vem da direção do meu quarto. Eu abaixo o sanduíche que estava a meio caminho da minha boca e coloco um garfo entre as páginas do livro para marcar onde estava. Eu silenciosamente levanto uma faca e me levanto da cadeira para encarar a porta entreaberta do quarto.
E então eu passo muito tempo congelada no lugar, imaginando se devo investigar sozinha ou arriscar parecer idiota pedindo a um guarda para ir ao meu quarto e caçar a coisa misteriosa que não fez nenhum som desde aquele primeiro baque. Eu decido no final arriscar parecer idiota. Melhor do que ser mastigada por uma das criaturas não inofensivas de fora ou por qualquer coisa que tenha matado aquele guarda esta manhã.
Abro a porta principal, coloco a cabeça para fora e encontro duas mulheres em uniforme de guarda do lado de fora. Elas passam pelo menos vinte minutos procurando cada centímetro do meu quarto enquanto eu finjo ler. E quando elas saem, não tendo encontrado nenhum sinal de ameaça, estou quase certa de que vejo uma revirando os olhos para a outra.
Capítulo 03
— A SUA HABILIDADE GRIFFIN APARECEU NOVAMENTE? — AURORA PERGUNTA À noite, enquanto nos retiramos para os sofás em sua sala de estar privada. É tarde, o jantar acabou, e Roarke ainda não voltou. Perguntar quando ele voltará é inútil, por isso desisti, mas ainda me sinto queimando de frustração toda vez que imagino mamãe dormindo permanentemente. Minhas mãos querem se enrolar em punhos sempre que penso em todos os minutos, horas e dias que passam.
— Eu a senti dormindo na noite passada, — eu digo a ela, removendo uma almofada de minhas costas e abraçando-a ao meu peito. É melhor apertar a almofada do que cavar minhas unhas continuamente nas palmas das minhas mãos. — Ela me acordou. No momento em que percebi o que estava acontecendo, o momento passou. Eu não consegui falar uma única palavra antes que a magia fosse embora.
— O que você teria dito?
Eu sacudo minha cabeça enquanto observo as chamas dançantes na lareira. Como é verão aqui, eu não teria achado necessário acender uma fogueira à noite, mas a sala está agradavelmente aconchegante e acolhedora. — Eu não sei. Eu estava meio adormecida e tentando pensar em algo, mas a sensação se foi antes de eu ter qualquer comando.
Ela me observa por algum tempo, enquanto eu continuo a olhar para ela e para as chamas. — Você realmente acha que o elixir vai ajudá-la?
Eu me concentro nela, meu humor se elevando instantaneamente. Ela poderia estar pensando em dar o elixir de volta para mim? — Claro que ele ajuda. Ele liga a habilidade então assim eu consigo usá-la.
— Sim, eu sei, mas você disse que o propósito do elixir é de alguma forma ensinar você a usar e controlar a habilidade por conta própria. É para te ajudar a reconhecer como é a sua magia Griffin, certo? Para que você possa invocar essa magia à vontade sem a ajuda do elixir?
— Sim, algo assim.
— Mas você já sabe como ela é.
Eu olho para os meus braços em volta da almofada. — Sim, eu sei.
— Então por que...
— Por que não consigo fazer isso sozinha? — Eu suspiro, minha excitação se dissipando. Ela não vai me dar o elixir. — Eu não sei. Eu tentei. Eu imagino o sentimento. Eu imagino tirar magia de dentro de mim, mas nada acontece. Talvez se eu tivesse esse elixir, eu poderia —
— Não, — diz ela. — Eu não vou te dar algo que se tornará uma muleta, especialmente porque não há muito dele, e quando acabar, não sabemos como fazer mais. Sem mencionar que é uma má ideia dar a você algo que irá imediatamente ativar uma habilidade perigosa que você poderia usar contra mim.
— Aurora, eu nunca —
— Sim, sim. — Ela revira os olhos. — Você fará parte da minha família em breve, então gostaria de poder confiar em você, mas ainda não chegamos lá. Não, a razão pela qual estou trazendo isso à tona é porque tenho pensado sobre como sua habilidade pode funcionar. — Ela inclina a cabeça para o lado e olha pensativamente através da sala para as cortinas que escondem as portas da varanda. — Talvez, por ser uma habilidade tão poderosa, ela meio que precise... se reabastecer. Isso explicaria porque você não pode usá-la o tempo todo.
— Tudo bem. Talvez. Alguns tipos de magia funcionam dessa maneira?
— Bem, toda a magia funciona dessa maneira, na verdade. — Ela muda de posição, dobra uma perna sobre a outra e me encara. — É que raramente usamos tudo de uma vez só, por isso não percebemos que ela está constantemente sendo reabastecida. Se você faz algo que é particularmente árduo com sua magia, como levantar algo muito pesado e segurá-lo no ar por um longo tempo, você acabará cansando. Magicamente, quero dizer. Então você precisa descansar enquanto sua magia se restaura.
— Tipo reabastecer as energias se você faz algo que é fisicamente desgastante? — Eu pergunto.
— Sim. Então eu me pergunto se talvez a sua Habilidade Griffin funcione de forma semelhante, mas em erupções rápidas, em vez de lentamente ao longo de um longo período de tempo.
Eu concordo. — Parece que isso pode fazer sentido. Sempre sinto como se isso acontecesse em mim de repente, quando imediatamente estou para falar qualquer coisa na hora, e então some.
— Ou acaba liberada em seu entorno sem nenhum propósito se você não disser nada. — Ela bate no queixo e franze os lábios. — Hmm. Gostaria de saber se você poderia segurá-la e usá-la depois, em vez de liberá-la sempre que for reabastecido.
— Hum... eu poderia tentar isso? — Eu sugiro, não tendo ideia de como eu realmente ‘seguraria’ esse meu poder indescritível.
— De qualquer forma, tudo isso é especulação neste momento, — continua Aurora. — Precisamos coletar algumas evidências reais. Tome nota de exatamente quando acontecer. O dia e a hora. E mantenha o controle de outras coisas, como se você usou uma quantidade anormalmente grande de sua magia normal em outra coisa. Porque nós não sabemos se a sua magia normal tem algum efeito na sua magia Griffin, ou se as duas são independentes uma da outra.
Eu aceno com a cabeça enquanto ela fala. — Basicamente, queremos descobrir se podemos prever quando vai acontecer.
— Sim. Você vai ter que ser muito cuidadosa, Em. Registre todos os detalhes que possam influenciar sua Habilidade Griffin.
— Sim, definitivamente. — Eu franzo a testa enquanto minha mente relembra todas as vezes que eu dei um comando mágico, tentando forçar os eventos em um padrão que faça sentido. Eu acabo balançando a cabeça. — Talvez estejamos erradas. Houve uma vez em que usei duas vezes em alguns minutos. Então, a teoria de reabastecer não faria sentido.
— Bem, talvez você não tenha usado tudo com a primeira coisa que você disse. Talvez você tenha guardado um pouco, mas não percebeu o que estava fazendo. É por isso que você ficou com um segundo comando, mas depois disso tudo acabou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Sim. Talvez.
— Ou talvez sua magia ainda esteja se estabelecendo, — sugere Aurora. — É isso o que acontece com os halflings se a magia deles aparecer mais tarde na vida. Muitas vezes vem e vai por um tempo antes de se tornar consistentemente presente. Talvez, uma vez que tenha passado um pouco mais de tempo, sua Habilidade Griffin aparecerá em intervalos regulares.
Eu passo uma mão pelo meu cabelo. — Tantas possibilidades e incógnitas.
— É por isso que você precisa começar a documentar tudo. Essa é a única maneira de descobrirmos se minha teoria está correta ou não.
Eu me levanto e jogo a almofada no sofá. Eu ando até a lareira e levanto o castiçal de prata da cornija. Eu pratiquei acendendo uma vela repetidamente antes do jantar, e consegui produzir uma chama com quase todas as tentativas. Eu estalo meus dedos ao lado do pavio — e uma chama acende.
— Bom trabalho. — Aurora bate as mãos de prazer. — Tudo bem. Agora que você conseguiu, o que eu vou te ensinar agora?
Em vez de respondê-la, pergunto, — É isso que você faz todas as noites? Janta sozinha no seu quarto? Ou você tem jantares familiares quando todos estão em casa?
Se ela ficou confusa com a minha mudança de assunto, ela não demonstra. — Bem, é sempre diferente, — diz ela com um encolher de ombros. — Às vezes usamos uma das salas de jantar menores e jantamos apenas nós quatro. Às vezes, membros da família se juntam a nós. Às vezes, entretemos os convidados, ou minha mãe entretém seus amigos, ou eu entretenho algumas das moças da corte. Se estou cansada de todos, então como sozinha aqui. — Ela inclina a cabeça. — Por que você pergunta?
— Estou apenas tentando imaginar como é sua vida normal. Clarina me disse que você tem damas de companhia, mas as mandou embora de férias. E eu não vi você interagir com ninguém além de sua mãe e um punhado de criados e guardas, então —
— Então você está se perguntando se eu sou uma solitária miserável? — Ela pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Não. Eu estou querendo saber se você está tentando me esconder de todo mundo que mora aqui.
Vários segundos passam antes que ela responda. — Eu não chamaria isso de esconder, mas suponho que é essencialmente isso. As pessoas vão fazer perguntas sobre você, Em. Eles já estão fazendo perguntas sobre essa minha estranha amiga que não parece pertencer aqui. É mais fácil se não nos colocamos em uma posição em que precisamos responder a alguém até o momento certo.
— E o momento certo será...?
— Quando você e Roarke fizerem um anúncio oficial sobre seu noivado. Ninguém vai questionar sua presença aqui então. Eles não ousariam.
As palavras ‘anúncio oficial’ enviam um calafrio através de mim. Então, apesar do fato de eu estar ao lado do fogo, o frio parece se tornar real. Arrepios se espalham pela minha pele e o ar frio sussurra na parte de trás do meu pescoço. Eu olho por cima do meu ombro, mas apesar do sentimento distinto de que alguém está me observando, eu não vejo mais ninguém na sala.
Com um clique silencioso, a porta se abre. Meu olhar se lança em direção a ela. Ela se abre devagar, e Roarke entra na sala. Ângulos acentuados, cabelos escuros perfeitamente no lugar e olhos da cor do vinho tinto. Seu intenso olhar varre a sala antes de pousar em mim. Seus lábios se curvam em meio sorriso quando um rubor aquece minha pele.
— Oh, olhe isso. — Aurora aperta as mãos juntas sob o queixo. — Ela está emocionada ao ver você, Roarke.
— De fato. — Quando a porta se fecha atrás de Roarke, ele caminha lentamente em minha direção, mãos atrás das costas. — Se ela está emocionada pelas razões certas e não porque está desesperada para me interrogar desde o momento em que ela chegou aqui.
Eu engulo antes de falar. — Estou feliz que você não tenha esquecido por que estou aqui.
Ele para na minha frente, perto o suficiente para que eu tenha que olhar para cima para encontrar seus olhos. Eu sabia que ele era alto, é claro, mas eu tinha esquecido o jeito como a presença dele o faz parecer ainda mais alto. Eu não vou dar um passo para trás, no entanto. Recuso-me a ser intimidada pelo cara com quem eu devo estar casando em breve, independentemente do fato de que eu não tenha real intenção de concordar com essa união.
O sorriso de Roarke aumenta um pouco mais e, por trás das suas costas, ele produz uma rosa. Uma rosa dourada e delicadamente formada, com um rubi no centro de suas pétalas de ouro maciço. — Minha senhora, — ele murmura, curvando-se um pouco quando ele entrega a rosa para mim. Eu hesito, então pego dele. Ele se inclina mais para frente, seu rosto de repente muito perto do meu, e seus lábios brevemente roçam minha bochecha. Um arrepio frio desliza pela minha pele e pelo meu pescoço. — Minhas desculpas por demorar tanto para voltar. Meu pai e eu não costumamos lidar com as questões pessoalmente, mas essa foi uma dessas ocasiões. Achamos melhor ficar onde estávamos até que o trabalho estivesse terminado.
— Hum... tudo bem. Obrigada por essa explicação enigmática.
— Logo, meu amor, você fará parte da família. Você conhecerá todos os nossos segredos.
— Seu amor? Sério? — Coloco a rosa de ouro sobre a cornija da lareira e cruzo os braços sobre o peito. — Eu acho que é um pouco cedo para isso, Roarke.
Roarke olha para Aurora com uma risada silenciosa. — Você tem ensinado a ela como bancar a difícil?
Aurora se estica do outro lado do sofá, endireitando as camadas da saia sobre as pernas. — Não. Parece que ela sabe como fazer isso sozinha.
Eu quase faço um comentário sobre como isso tudo é um jogo para eles, mas considerando que eu espero enganá-los e sair daqui viva, eu provavelmente deveria jogar junto. — Que tal nos conhecermos um pouco melhor antes de começar a falar as palavras ‘meu amor’ por aí? Você nem me levou a um encontro ainda.
— Um encontro? Bem, espero que você tenha algo um pouco mais bonito para usar do que isso — ele gesticula para meu jeans e blusa de moletom — se você está planejando ir a um encontro com um príncipe. E falando em roupas, você não recebeu roupas mais apropriadas?
— Recebi, mas eu prefiro usar o tipo de roupa que eu fico confortável.
— Recusou, — Aurora diz do outro lado da sala. — Ela recusou a usar qualquer um dos vestidos.
Eu respiro fundo pelo nariz. — Esses vestidos parecem que são de outro século. Eu sei que este é um palácio cheio de membros da realeza, mas vocês não podem se atualizar com os tempos no departamento de roupas? O resto do mundo fae parece usar praticamente o mesmo tipo de roupa que as pessoas usam no meu mundo.
— Este é o seu mundo, Em, — Aurora me lembra. — E se você se desse ao trabalho de olhar mais de perto o seu guarda-roupa, acho que descobriria que as roupas penduradas ali são da última moda. Moda fae formal, que pode não ser familiar para você, mas ainda assim. Apenas os designs mais recentes.
— Você está certa, — eu digo a ela, afastando-me de Roarke para me inclinar contra uma poltrona. — Eu não estou familiarizada com a moda formal fae.
— Chega de roupa, — diz Roarke. Ele se vira para me encarar, colocando as mãos nos bolsos de seu longo casaco, que é coberto por bordados de prata primorosamente detalhados e é, sem dúvida, o mais recente da ‘moda fae formal’. — Diga-me, meu amor — Ele se interrompe. — Desculpas, — acrescenta com um leve abaixar de sua cabeça. — Por favor, diga-me, minha senhora, o que você acha da sua nova casa.
— Já que você viu o interior da minha casa anterior, eu suponho que você pode descobrir meus sentimentos em relação a esta.
— Você amou? — Pergunta ele. — Você está completamente impressionada? Você está infinitamente grata por poder passar o resto da sua vida aqui?
— Não exatamente. É linda, eu vou falar. Não é bem o que eu esperava, mas definitivamente linda.
— Ah, agora estou intrigado. — Ele levanta a rosa de ouro da cornija e a gira entre os dedos. — O que você estava esperando?
Eu levanto meus ombros em um lento encolher de ombros enquanto tento colocar minhas expectativas iniciais em palavras. — Eu não sei. Vocês Unseelies são destinados a serem os vilões, certo? Então eu estava esperando algo... mais frio. Mais escuro. Uma floresta morta ao redor do palácio, ou inverno perpétuo ou algo assim. Mas, você sabe, tudo está ensolarado, quente e vivo. — Lá fora, pelo menos, acrescento silenciosamente. Não digo nada sobre o sentimento frio e opressivo que às vezes pressiona meus ombros quando estou dentro do palácio. O frio que sinto no ar agora.
Roarke inclina a cabeça para o lado. — Você não olhou para fora à noite, não é.
Eu volto a me concentrar nas três noites que passei aqui até agora. Todas as noites, quando volto ao meu quarto, as cortinas estão fechadas, as lâmpadas encantadas acesas e a pequena piscina no banheiro decorado como uma floresta cheia de água fervente e bolhas perfumadas. — Não, eu acho que não.
Ele passa por mim, coloca a rosa dourada na mesa em que Aurora e eu normalmente comemos, e acena com a mão nas cortinas. Quando elas se abrem, ele se vira e estende a mão para mim. — Deixe-me mostrar-lhe algo.
Relutantemente, coloco minha mão na dele. Ele abre as portas da varanda e me leva para fora. Eu respiro no ar inesperadamente frio. Então, quando chego à grade da sacada e olho para baixo, meus lábios se abrem em espanto ao ver a deslumbrante paisagem de inverno cobrindo todo o terreno do palácio. — Uau, — eu sussurro.
— Minha mãe gosta de verão, — Roarke diz, — mas meu pai gosta de inverno. A magia dela controla o dia e a magia dele controla a noite.
Meus olhos percorrem a topiaria coberta de neve, as fontes congeladas e os pingentes de gelo pendurados nas pontas dos dedos da estátua mais próxima. — Deve ser muito confuso para todas as plantas e criaturas que residem nesses jardins.
— Felizmente para eles, eles também são mágicos. Eles podem lidar com isso.
Um arrepio me percorre, e Roarke tira o casaco. — Que cavalheiro, — eu digo secamente quando ele coloca sobre meus ombros. — Embora eu esperasse que houvesse um feitiço que evitasse que as pessoas ficassem com frio.
— Há sim. Mas meus níveis mágicos estão um pouco baixos no momento. — Parado mais perto de mim agora, ele estende a mão e enfia meu cabelo atrás da minha orelha direita. Eu endureço imediatamente, olhando para algum lugar na região do pescoço dele, em vez de nos olhos dele, mas conforme seus dedos tocam o pequeno pedaço de metal em forma de moeda presa à pele atrás da minha orelha, eu relaxo um pouco. Ele não está tentando ser íntimo; ele está checando se o dispositivo de ocultação ainda está lá.
— Preocupado que eu poderia ter tirado? — Eu pergunto, satisfeita em ouvir que minha voz está firme.
— Não particularmente. Você não sabe a magia necessária para removê-lo.
— Mas você está checando assim mesmo. Apenas no caso.
— Claro. Eu seria um tolo em não checar. Você pode ter encontrado alguém neste palácio disposto a removê-lo para você, ou sua Habilidade Griffin pode ter surgido por tempo suficiente para você instruir este dispositivo que se retire.
— E por que eu faria isso?
— Segundas intenções sobre nosso acordo. Culpa, talvez. — Ele se inclina para o lado contra a balaustrada, inteiramente à vontade no ar frio da noite. — Você já começou a se sentir culpada, Emerson?
Começou? A culpa vem me comendo desde antes mesmo de eu chegar aqui. Eu dei a localização escondida da minha mãe para uma faerie perigosa que depois a colocou em um coma mágico. Eu fugi das pessoas que me ajudaram e não pediram nada em troca. Eu abandonei minha melhor amiga sem nem dizer adeus. Nada disso, no entanto, é da conta de Roarke. Então eu pigarreio e pergunto, — Por que eu estaria me sentindo culpada? Eu concordei com esse arranjo para ajudar alguém. Eu não deveria ter que me sentir culpada por isso.
— É verdade, mas talvez você tenha ficado com medo desde que chegou aqui. Talvez você queira que seus amigos — os rebeldes Griffin? — saibam onde você está afinal.
Eu não confirmei a suspeita de Roarke de que foram os rebeldes Griffin que me resgataram no dia em que fugi tanto da Guilda quanto dos Unseelies e caí da beira de um penhasco. Ele perguntou onde eu estava me escondendo, mas mesmo se eu quisesse, eu não poderia contar a ele sobre aquele lugar seguro encantado. Quando estou na companhia de outras pessoas, não consigo nem pensar nisso, quanto mais falar o nome do lugar ou a localização dele. Em vez disso, um espaço em branco aparece em minha mente, presumivelmente parte do feitiço de proteção que ajuda a manter o lugar seguro. Minha lembrança dele sempre volta quando estou sozinha, mas ainda é desconcertante toda vez que desaparece completamente da minha mente.
Recusando-me a desviar o olhar de Roarke, eu digo, — Eu não estou com medo, e não mudei de ideia. A última coisa que quero é que meus amigos apareçam aqui. Por que eu arriscaria com eles arruinando nosso acordo antes que você tivesse a chance de seguir com sua parte?
Seu sorriso é lento e cuidadoso. — Bom. Fico feliz em ouvir isso.
— O que me lembra, — acrescento. — Você ainda precisa provar que realmente tem informações úteis que podem ajudar minha mãe. Você não pode esperar que eu me case com você sem alguma garantia de que você está dizendo a verdade.
— Você está dizendo que não está totalmente comprometida com a união?
— Eu estou, — eu digo ferozmente, esperando que a mentira não apareça no meu rosto, — mas apenas se você estiver totalmente comprometido em curar completamente a minha mãe. Eu quero poder confiar em você, Roarke. Por favor, me dê uma razão para isso.
— Hmm. — Roarke estreita os olhos como se considerasse o meu pedido. — Vamos ver. Você —
— Emerson Clarke?
Eu olho para as portas da varanda ao som de uma voz masculina desconhecida. Na porta há um guarda que não reconheço. — Sim? — Eu pergunto.
— O Rei Unseelie deseja encontrá-la.
Capítulo 04
A JORNADA ATRAVÉS DO PALÁCIO PARA ENCONTRAR O REI PARECE AO MESMO TEMPO torturantemente longa e assustadoramente rápida. Tenho tempo suficiente para me arrumar completamente, mas não tenho tempo suficiente para me acalmar e me preparar.
— Meu pai não é tão gentil como eu sou, — Roarke me diz enquanto caminhamos por corredores de mármore brilhantes com duas faeries uniformizadas à nossa frente e duas atrás. — Ele quer manter você, não importa o quê. Nora ou prisioneira.
Maravilhoso. Isso não me faz querer vomitar.
— Eu não vou deixar isso acontecer, é claro, — Roarke acrescenta, — mas seria melhor se você não fizesse nenhum comentário de brincadeira sobre mudar de ideia ou não estar certa sobre a união. As coisas podem ficar... desagradáveis.
— Eu já disse a você que não vou mudar de ideia. — Em meu esforço para mascarar meu medo, minhas palavras saem mais alto do que eu pretendia. — Eu estou aqui, não estou? — Eu continuo em voz baixa. — E eu vim até você. Isso não prova quão séria eu estou sobre essa união?
— Tudo o que estou dizendo é que ele não gosta de piadas ou sarcasmo, então é de seu interesse ser educada. E você provavelmente deveria tirar meu casaco. Você parece muito estranha nele.
Eu tiro o casaco de Roarke e o entrego de volta para ele. — Talvez seja de seu interesse ser educado também, considerando o quanto minha Habilidade Griffin é valiosa para ele. Se ele me fizer prisioneira, nunca lhe darei o que ele quer.
Eu tento muito acreditar em minhas próprias palavras, mas as sobrancelhas levantadas e a expressão de pena de Roarke tornam isso impossível. Quando paramos do lado de fora de uma porta enorme e ricamente entalhada, ele me encara. — Você não precisa dar nada a ele, Emerson. Ele vai pegar o que quiser.
Um guarda abre a porta. O frio artificial no ar se intensifica, e a porta em si parece se estender mais como uma boca gigante se preparando para me engolir inteira. Eu sinto o cheiro de terra úmida e folhas podres. Meu coração bate mais rápido quando imagens de criaturas viscosas, crânios e besouros passam pela minha mente.
Então eu afasto as imagens imaginadas e descubro que a porta não mudou, e a sala para qual ela se abre não é uma boca escura, mas um grande escritório. Roarke pega meu braço e me direciona para frente, já que meus pés se esqueceram de como se mover por conta própria. — Lembre-se, eu estou do seu lado, — ele sussurra para mim. — Prove para meu pai que você está disposta a trabalhar conosco e vou me certificar de que você nunca será forçada a fazer nada.
Eu não respondo, minha atenção focada no interior do escritório do rei. À direita, há uma mesa grande o suficiente para que pelo menos uma dúzia de pessoas se sentem. Estranhamente, porém, tudo o que está em cima da mesa aparece borrado quando tento olhar bem de perto. Meu olhar se move para a esquerda — e fico ainda mais surpresa com o que vejo lá: nenhuma parede envolve o escritório daquele lado. Em vez disso, ele se estende para uma caverna subterrânea feita de rocha áspera e iluminada por luz pálida.
— Deixe-nos.
A voz profunda traz minha atenção para a mesa à nossa frente. A superfície é polida como qualquer outra superfície de mármore que enche este palácio. Do outro lado, uma cadeira alta que parece ser feita da mesma rocha áspera da caverna que está atrás de nós. A cadeira permanece imóvel enquanto os guardas saem da sala e fecham a porta. Então, apesar do fato de que deve pesar uma tonelada, a cadeira gira suavemente para nos encarar.
O Rei Savyon não parece nada com seu filho. Seu cabelo branco-loiro tem mechas pretas. Seus olhos são buracos negros que me perfuram. Sem falar, ele coloca uma mão em cima da outra na mesa à sua frente. Anéis de ouro com pedras multicoloridas brilham em cada dedo.
— Pai, esta é Emerson Clarke, — diz Roarke. Eu engulo e me forço a ficar mais ereta. Tenho certeza que essa é uma daquelas situações em que eu não deveria demonstrar medo, mas acho que estou prestes a falhar miseravelmente.
O rei se levanta, caminha até a frente de sua mesa e cruza os braços sobre o peito. Seus olhos viajam por todo o meu corpo e para cima novamente, seu olhar como um dedo frio e rastejante acariciando ao longo da minha pele. Seu olhar inexpressivo permanece na minha blusa de moletom, em seguida, viaja lentamente até o meu rosto, onde ele segura meu olhar por vários segundos aterrorizantes. Apesar da minha determinação de não ser intimidada, eu quase morro de alívio no momento em que seus olhos me deixam e me movo para perto de Roarke. Eu envolvo meus braços firmemente ao redor do meu corpo e olho para o chão bem na frente dos meus pés.
— Bem, — diz o Rei Savyon, sua voz um estrondo profundo que quase posso sentir em meu próprio peito. — Ela está muito longe da mulher com quem eu esperava que você um dia se uniria, Roarke. Ela mal se encaixa para ser uma criada nesta corte, muito menos uma princesa.
— Sério, pai? — Roarke arrastou. — Essa é a melhor coisa que você tem a dizer?
— O que você espera quando me apresenta uma perspectiva tão sombria para uma nora?
— Eu posso garantir-lhe, pai, que sua Habilidade Griffin mais do que compensa o que ela não tem em outras áreas.
Aqueles olhos negros se fixam em mim mais uma vez. — Eu certamente espero que sim. Eu gostaria de ver uma demonstração agora.
Eu abro minha boca, meus olhos correndo entre os dois. Não tenho certeza se posso falar, mas eles precisam saber que não posso fazer nada sob ordens. — Não se preocupe, Emerson, — Roarke diz antes que eu possa dizer qualquer coisa. Ele alcança dentro de seu casaco e produz um pequeno frasco. — Eu tenho seu precioso elixir aqui. Yokshin, nosso mestre de invenções, vem examinando, mas ainda há muito para que você possa usar.
Droga. Não foi assim que planejei usar o elixir. Eu devo ficar sozinha com Roarke quando ele me der para que eu possa instruí-lo a me contar tudo o que ele sabe sobre minha mãe e como consertá-la. Isso não vai funcionar agora a menos que eu possa dar uma instrução ao rei ao mesmo tempo. Para permanecer congelado no lugar, talvez. Assim ele não consegue interferir. Conforme Roarke se vira para mim, pensamentos correm loucamente pela minha cabeça. Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso? Se eu não fizer agora, terei outra chance? E se eu mandar nele agora, como vou passar por todos os guardas quando sair? Ordená-los também? Haverá tempo suficiente para dar a Roarke, seu pai e todos os guardas do palácio uma ordem antes que minha Habilidade Griffin se esgote?
— A poção de compulsão primeiro, — diz o rei. — Então a poção Griffin.
— Claro, — Roarke diz, removendo outra pequena garrafa de dentro de seu casaco.
— O... quê? — Eu pergunto.
— Poção de compulsão, — Roarke repete, removendo a tampa. — É exatamente o que parece. Você pode ser obrigada a fazer certas coisas enquanto estiver sob a influência desta poção. É só para ter certeza de que você se comportará enquanto usa sua Habilidade Griffin. Nós não queremos que você faça algo bobo ou irracional. — Ele ri. — Como dizer a todos nós para nos matar ou algo assim.
Toda minha esperança murcha. — Então — então você vai me forçar a dizer alguma coisa?
— Isto é apenas uma precaução, Emerson. Meu pai ainda não sabe se pode confiar em você.
Ele entrega a garrafa para mim e, como sei que não tenho absolutamente nenhuma escolha, a levo aos lábios. — Quanto? — Eu pergunto antes de incliná-la.
— Apenas um gole.
A poção tem gosto de algo familiar, mas não consigo identificar. Eu entrego a garrafa de volta para Roarke, assim quando eu percebo que essa coisa de compulsão soa muito como a Habilidade Griffin que todo mundo neste mundo tem tentado colocar suas mãos. Minha Habilidade Griffin. — Espere, mas — se vocês tem uma coisa como uma poção de compulsão, então qual é a importância da minha Habilidade Griffin? Vocês já podem dizer às pessoas para fazerem as coisas e elas as farão. Vocês não precisam — Percebo o que estou dizendo tarde demais. Vocês não precisam de mim. Não é algo que eu deveria estar dizendo quando minha Habilidade Griffin é a única vantagem que eu tenho.
— Nós não podemos forçar as pessoas a tomar uma poção e depois obrigá-las a dizer ou fazer certas coisas, — explica Roarke. — Não é a mesma coisa que dizer o chão para se separar e depois ver isso acontecer um momento depois. — Ele coloca o elixir da Habilidade Griffin na minha mão e dá um passo para trás para ficar ao lado de seu pai. Agora que eles estão próximos um do outro, posso ver a leve semelhança entre eles, apesar de suas diferenças dramáticas na cor dos cabelos e dos olhos. — Emerson, — Roarke diz. — Você não acha que seria divertido se começasse a chover aqui?
Embora seja uma sugestão estranha, eu me encontro concordando com ele. Seria a coisa mais maravilhosa do mundo se começasse a chover aqui mesmo nesta sala. — Sim, — eu digo a ele.
— Então você deve tomar um gole desse elixir e fazer chover.
Ele tem razão. Isso é exatamente o que devo fazer. Então eu retiro a tampa do frasco e despejo algumas gotas na minha língua. Então eu espero pelo formigamento familiar, a sensação de que a magia Griffin escondida em algum lugar dentro de mim está subindo de repente para a superfície. Eu olho para o teto e digo, — Comece a chover.
E começa.
Eu fico encharcada em segundos, ofegando e tensionando meus ombros contra a água gelada. Roarke e o rei permanecem completamente secos, como se guarda-chuvas invisíveis os protegessem do aguaceiro. — Diga para parar, — Roarke fala acima do rugido de gotas da chuva.
Eu não posso sentir se há algum poder Griffin na superfície da minha magia, e é impossível ouvir minha voz acima do barulho. Mas quando eu digo para a chuva parar, eu sinto as palavras ressoando na minha cabeça do jeito que elas fazem quando a minha Habilidade Griffin ganha vida, e eu sei que funcionou.
— Muito bem, — o rei diz enquanto eu fico ali tremendo. Ele olha para Roarke. — Yokshin é capaz de recriar o elixir? Se não, e a Habilidade Griffin for aleatória, a garota não será tão útil para nós como eu esperava.
— Ele não tem certeza sobre recriar, mas na última mensagem de Aurora para mim antes de retornarmos, ela disse que está trabalhando em algumas teorias sobre como a habilidade pode funcionar. Ela acha que pode se tornar mais previsível.
O rei acena com a cabeça. — Bem, então. Tem certeza de que quer ter essa união? Seria mais simples lidar com a garota como prisioneira.
— Sim, eu tenho certeza. Eu não quero que ela seja uma prisioneira. — Roarke olha para mim como se estivesse considerando uma compra que ele está prestes a fazer. — Eu realmente gosto dela. E mamãe e Aurora podem treiná-la nos caminhos da corte. Depois de algum tempo, parecerá que ela sempre pertenceu aqui. Ela se tornará uma de nós. Ela ficará feliz em nos ajudar sempre que precisarmos de sua Habilidade Griffin. Nós nem precisamos forçá-la. Certo, Emerson?
— Sim, — eu respondo.
Um uivo distante ecoa pela caverna.
— Bom, — o rei diz novamente, sem prestar atenção ao uivo. — Até lá, Roarke, você dará a ela uma poção de compulsão todos os dias e lhe dirá exatamente o que dizer se e quando sua Habilidade Griffin aparecer. — Toda a esperança que eu tive de usar minha Habilidade Griffin em Roarke desliza para longe como cinzas através dos meus dedos. — E você, Senhorita Clarke. — O rei dá um passo em minha direção, o que é cerca de mil vezes mais perto do que eu gostaria que ele estivesse. — Descubra se a teoria de Aurora — seja ela qual for — está correta. Faça tudo que puder para aprender como funciona sua Habilidade Griffin. Você será muito mais útil para nós dessa maneira, e pessoas úteis são menos propensas a morrer.
— Pai, — Roarke diz com um revirar de seus olhos. — Isso não é útil. Ela não entende seu senso de humor ainda.
A expressão do rei não muda nem um pouco. Ou ele é muito bom em manter uma cara séria, ou isso não era uma piada.
Outro uivo trespassa o silêncio, desta vez mais alto. O rei não olha para a caverna, então nem eu. Qualquer criatura ou pessoa que está fazendo esse som, eu não quero saber.
— Vamos anunciar a união na festa de aniversário da sua mãe em duas semanas, — o rei diz a Roarke. — Você tem até então para decidir quando a cerimônia de união ocorrerá.
Um terceiro uivo se transforma em soluços, gritos e sons de luta. Finalmente, o rei olha em direção à caverna, e embora eu não queira, eu sigo seu olhar. Dois guardas Unseelie estão arrastando um homem pelo chão desigual da caverna. Enquanto o homem luta, um dos guardas dispara uma faísca de magia em seu lado, e o homem se afasta e uiva em agonia.
Eu olho para Roarke, implorando com meus olhos para nós partirmos agora. Mas ele está observando o homem lutando com uma expressão ilegível.
— Ah, você o encontrou, — diz o rei. — Este é o último, eu presumo?
— Sim, Sua Graça.
— Muito bom. — Enquanto os dois guardas se afastam do homem, o Rei Savyon levanta a mão. O homem, que pareceu por um momento como se estivesse prestes a correr, engole e fecha os olhos. O rei aperta a mão com força ao redor do ar e vira o punho abruptamente para o lado. Do outro lado da sala, na beira da caverna, a cabeça do homem faz o mesmo, dobrando-se quase paralela ao ombro. É demais, minha mente grita. É demais, É DEMAIS!
Então um som nauseante. O choro do homem é cortado. O rei levanta a mão para cima. A cabeça do homem é arrancada inteiramente de seu corpo e ambas as partes caem no chão, espalhando sangue por toda parte.
Um suspiro estrangulado me escapa. Minha mão voa para cobrir minha boca. Eu fecho meus olhos, mas de jeito nenhum eu poderei não ver isso.
Como se de longe eu ouvisse a voz do rei. — Isso é tudo, Roarke. Leve a garota de volta para seus aposentos.
Uma mão agarra o meu braço. Eu pisco e forço meus olhos para longe do corpo morto quando Roarke me puxa para a porta. Ele abre e me deixa andar na frente dele. — E Roarke, — o rei acrescenta. — Encontre alguém que queime essas roupas hediondas que ela está usando. Eu não entendo porque isso ainda não foi feito.
— Ela se recusou a se separar delas, aparentemente.
Eu me atrevo a olhar para o rei. Ele não suspira. Ele não sorri. Ele mal se move quando diz, — As roupas serão queimadas. Cabe a Senhorita Clarke se ela ainda estará nelas quando isso acontecer.
A porta se move lentamente em nossa direção. No momento em que ela se fecha, começo a correr.
Capítulo 05
EU CORRO TODO O CAMINHO DE VOLTA PARA O MEU QUARTO, ABRO A PORTA, E A fecho. Eu dou alguns passos instáveis dentro para dentro do quarto, mal vendo ao meu redor. Tudo que vejo é o pescoço de um homem virado para o lado e o sangue esguichando de...
Eu me viro, piscando, como se eu pudesse de alguma forma desviar o olhar da memória. Ainda respirando pesadamente por causa da corrida, eu empurro meus dedos pelo meu cabelo. O que diabos eu estava pensando vindo a este lugar? Que eu realmente conseguiria fugir com as respostas que preciso, porque tenho uma poderosa Habilidade Griffin que posso usar contra as pessoas? Uma habilidade Griffin que não posso usar quando quero e que pode ser usada para atender aos propósitos de outra pessoa devido a uma poção que eu não sabia que existia. Que piada miserável. Eu deveria ter adivinhado, no entanto, que algo assim aconteceria. Há tanta coisa que eu não sei sobre esse mundo e sua magia, mas o que eu deveria saber era que era uma ideia idiota me colocar no meio de um bando de faeries poderosos que exercem magia negra.
De algum lugar atrás de mim, um baque suave chega aos meus ouvidos. Eu congelo. Eu sei que deveria correr. Eu deveria abrir a porta e continuar correndo até que este palácio esteja muito atrás de mim. Mas o medo gruda meus pés no chão. Muito lentamente, eu me viro e olho por cima do meu ombro. Do outro lado do quarto na mesa redonda, ao lado da bandeja de chá e macarons que Clarina deve ter deixado aqui há não muito tempo atrás, está uma pequena coruja. Enquanto observo, a coruja parece desabar sobre si mesma. Um instante depois, um gatinho preto aparece em seu lugar.
— Bandit? — Eu sussurro em descrença. Eu me viro totalmente para encarar a criatura que muda de forma. Ele treme sua orelha direita em resposta. Sem parar para pensar, eu corro através do quarto e o coloco em meus braços, lágrimas queimando em meus olhos. — Eu não sei como você chegou aqui ou onde você esteve se escondendo ou se é você que está fazendo barulhos estranhos na minha suíte, — eu sussurro, — mas eu estou muito, muito, muito feliz de ver você. — Eu pensei que o deixei dormindo no meu quarto quando escapei do oásis, mas ele deve ter mudado para algo menor e entrou em um dos meus bolsos. Não seria a primeira vez. — Por favor, não me deixe, — murmuro em seu pêlo, minhas palavras saindo apressadas. — Por favor, não me deixe aqui sozinha. Sinto muito pelas coisas que eu disse quando você apareceu pela primeira vez. Que eu não gosto de animais de estimação e que talvez eu pudesse vender você. Eu juro que não quis dizer nada disso. Eu tive um cachorrinho uma vez, mas ele fugiu e nunca mais voltou, e mamãe e eu procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo e chorei por dias. — Eu respiro fundo e abro meus braços o suficiente para olhar para baixo para ele sentado entre eles. Ele olha para cima com olhos de gatinho perfeitamente adoráveis. — Eu sei que você é mágico, mas provavelmente não entende uma palavra do que estou dizendo, não é? — Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para todos os lados como se estivesse tentando descobrir o que estou dizendo. — Sim, — eu sussurro, puxando-o para o meu peito novamente. — Então, só não desapareça, tudo bem? Este lugar não é seguro. Para nenhum de nós dois. Se você tivesse visto o que eu acabei de —
— Emerson? — A voz do Roarke do outro lado da porta me faz tremer. Eu não tenho ideia de como ele vai se sentir sobre a ideia de um animal de estimação metamorfo aparecendo aqui, então eu corro para o quarto e coloco Bandit na cama. — Fique aqui, — eu sussurro para ele antes de fechar a porta. Com os membros ainda tremendo, eu atravesso a sala de estar e abro a porta principal apenas o suficiente para espiar através da abertura para Roarke.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Outro breve lampejo de sangue e carne sendo rasgada cruza minha mente. Eu engulo, achatando uma mão no batente da porta e a outra na parte de trás da porta. Se recomponha, eu silenciosamente instruo. Você escolheu vir aqui. Você escolheu essa opção para ajudar sua mãe. Agora faça o trabalho. — Sim, obrigada. Eu vou ficar bem. Foi apenas um pouco de choque, só isso. Ver... isso. — Duvido que seja necessário elaborar exatamente o que estou me referindo.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Hum... tudo bem.
Nós nos sentamos lado a lado no divã com uma quantidade respeitável de espaço entre nós. Arrisco-me a olhar para a porta fechada que nos separa do quarto. Espero que Bandit seja inteligente o suficiente para saber que ele precisa permanecer escondido. — Eu sinto muito que você teve que ver isso, — diz Roarke. — Eu sei que deve ter parecido brutal e cruel, mas isso não aconteceu sem nenhum motivo. Aquele homem desobedeceu ao rei e a consequência foi à morte.
Eu respiro devagar. Já que Roarke parece estar esperando por uma resposta, eu digo, — Tudo bem.
— Eu só queria explicar porque eu não quero que você tenha medo de viver aqui. Esse homem era um criminoso. Ele e vários outros roubaram do meu pai. Ele mereceu a morte. Mas para aqueles de nós que seguem as regras, a vida aqui é boa.
Para aqueles de nós que seguem as regras. As garantias de Roarke só aumentam meu medo. Não estou planejando seguir as regras. Estou planejando roubar conhecimento e depois fugir para salvar a minha vida. — Eu sei, — eu digo baixinho. — Compreendo. Como eu disse, foi apenas um choque. Eu só estou aqui há alguns dias e tudo é muito... diferente. Eu ainda estou me acostumando com isso. — Eu engulo. — Eu acho que poderia ajudar a me deixar à vontade se eu soubesse com certeza que posso confiar em você. Se você pudesse me contar algumas coisas — sobre minha mãe, então eu sei que você pode realmente me ajudar.
Ele se inclina para trás sobre uma mão e me observa enquanto sua expressão séria se transforma em diversão. — Na verdade, você não é tão mal nisso quanto Aurora pensou. Ainda bastante transparente, mas estou impressionado que você esteja tentando.
Eu estreito meus olhos para ele. — Tentando o quê?
— Reverter esta situação ao seu favor. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Estou curioso. Essa cena com meu pai realmente a incomodou, ou toda a sua reação é um artifício para que você possa tentar manipular alguma informação de mim?
Minha boca cai aberta por conta própria. Fecho-a rapidamente e cerro os dentes enquanto respondo. — Claro que fiquei chateada com isso. Foi horrível. — Eu me inclino para longe dele. — Você ficou motivado por alguma preocupação genuína quando decidiu vir ao meu quarto, ou isso faz parte do jogo que você está jogando?
Ele sorri de novo, mas desta vez é mais suave. — Eu sinto muito. Parece que nós dois ainda estamos nos descobrindo. E sim, minha preocupação por você era genuína. Eu não sou tão cruel que não signifique nada para mim ver você chateada. Podemos estar prestes a formar uma das uniões menos românticas da história, mas isso não significa que eu não vou, pelo menos, tentar cuidar de você.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, me apertando mais forte que o normal. — Bem, no caso improvável de você estar dizendo a verdade, obrigada por tentar.
Ele me examina por mais alguns instantes. — O que posso dizer para convencê-lo de que estou sendo sincero?
— Você poderia começar com...
— Devo lhe falar sobre a pequena casa em que você cresceu? Número vinte e nove Phipton Way. Devo lhe falar sobre as rosas silvestres que sua mãe adorava cultivar no jardim? Ou sobre a amiga que costumava visitá-la às vezes? Aquela que sempre acabava discutindo com sua mãe. Aquela que você nunca conheceu, porque sempre lhe disseram para ir ao seu quarto. Ou que tal o momento em que sua mãe apareceu para buscá-la na escola uma hora mais cedo e ficou do lado de fora da cerca falando com coisas que não estavam lá? Contar a você sobre essas coisas é suficiente para provar a você que eu sei mais sobre sua mãe do que qualquer um que tenha tentado ajudá-la até agora?
Um arrepio percorre minha espinha. — Como você sabe dessas coisas?
Suas sobrancelhas se apertam levemente. — Você ainda não entende, não é? Você não entende como você é valiosa. Quando eu ouvi sobre a sua Habilidade Griffin, minha prioridade foi aprender tudo o que pudesse sobre você. Procurei sua tia, depois sua mãe e depois a única pessoa que ligava Daniela e Emerson Clarke a este mundo.
— Que pessoa?
— A pessoa que sabe quem você é. A pessoa que fez sua mãe do jeito que ela é.
Meu coração troveja perigosamente rápido. — Conte.
Ele simplesmente balança a cabeça. — Tudo será revelado depois da nossa união.
Eu sacudo minha cabeça, moendo as palavras entre os meus dentes. — E você quer que eu acredite que você não é cruel.
— Eu não sou, — ele diz baixinho. — É só que você não é a única pessoa que quer alguma coisa. Eu também quero algo, e não confio que você me dê a menos que eu retenha informações de você.
— Eu vou fazer esta união.
— Mesmo? Isso é honestamente o que você está planejando fazer?
Droga. Existe algum tipo de magia acontecendo aqui que diz a ele que estou mentindo? Aquela poção de compulsão ainda está funcionando? Mas ele não me obrigou especificamente a dizer a verdade. — Sim, — eu digo a ele, querendo acreditar que é a verdade. — É o que estou planejando fazer.
— E ainda assim você não pediu detalhes sobre como eu vou cumprir o meu lado do acordo uma vez que a união tenha acontecido. Como exatamente sua mãe será acordada e curada? Eu vou te ensinar os feitiços e deixar você ir até ela? Vou insistir em fazer isso sozinho? O que vai acontecer com sua mãe quando ela estiver bem?
Droga. Ele me pegou. — Eu tenho muitas perguntas para você, Roarke, mas você não está exatamente por perto para que eu faça. Você só voltou algumas horas e não tivemos muito tempo para conversar antes que seu pai quisesse me ver.
— Verdade. Bem, então, você quer perguntar como as coisas vão funcionar depois da união?
Eu inclino meu queixo para cima. — Como as coisas vão funcionar depois da união?
Ele suspira. — Por que você é tão resistente? Entendo que não é o ideal se casar com alguém que você acabou de conhecer, mas não é como se você estivesse tendo uma vida desapontadora em comparação com esse acordo. Eu estou te oferecendo tudo. Uma bela casa, uma família poderosa, riqueza além de qualquer imaginação. E não me diga que você não quer nada disso porque todo mundo quer isso. E não há nada de errado em querer isso. Você será uma das poucas sortudas que vai conseguir ter tudo.
— Você está certo, — eu digo baixinho, desdobrando meus braços e colocando minhas mãos no meu colo. — Eu sou muito sortuda.
— Então, quando estivermos casados, eu irei até sua mãe e —
— Não, — eu interrompo. — Você — eu vou. Eu vou buscá-la e trazê-la de volta para cá. — Eu paro. — Você não iria me impedir de fazer isso, não é? De ir buscá-la? Quero dizer, obviamente eu voltaria.
— Obviamente, — ele repete. — Mas isso não significa que meu pai ficaria feliz com você saindo. Se você não quer que eu busque sua mãe, e você não tem permissão para buscá-la também, entre em contato com quem quer que seja que a mantenha segura e marque uma reunião. Em um local neutro, que seus ‘amigos’ não precisem se preocupar serem descobertos. Vou mandar algumas pessoas buscarem sua mãe. Meus homens mais confiáveis.
Eu considero sua sugestão. — Bom. Se esse é o único jeito.
— Quando ela estiver aqui, eu vou acordá-la. Eu vou curar sua mente. Então ela vai poder dizer a verdade sobre tudo. Você pode finalmente ter todas as suas perguntas respondidas. Ela pode ficar aqui também, e você pode finalmente parar de se preocupar com ela. Parar de lutar, pare de se debater. A vida será boa para você, Emerson.
— Soa perfeito.
— Soa? Eu sei que você gosta de sarcasmo, então me perdoe por duvidar de você.
Eu reviro meus olhos. — Obviamente não é perfeito, mas é o mais próximo da perfeição que a vida poderia ser, então se casar com você é o único jeito de chegar lá, então eu farei isso.
— Mesmo?
— Sim.
Ele se inclina para frente e segura uma das minhas mãos. Ele olha atentamente para os meus olhos, e embora eu não me sinta diferente, não posso deixar de me perguntar se ele está tentando usar algum tipo de feitiço de discernimento mágico do qual não sei nada. — Você está mentindo para mim, Emerson?
Eu sacudo minha cabeça, desejando não desviar o olhar dele. — Não estou mentindo. Minha mãe é a pessoa mais importante do mundo para mim. Eu faria qualquer coisa para deixá-la melhor. — E percebo quando termino de falar que estou dizendo a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela — e isso inclui se casar com um príncipe que mal conheço. Então, se não houver saída para isso, se for impossível conseguir as informações que eu preciso de Roarke antes do casamento, então eu farei isso. Vou casar com ele. E mamãe finalmente será a mãe feliz e saudável que eu me lembro.
E então...
Um dia, não importa quanto tempo demore, não importa quanto tempo eu leve para descobrir exatamente como fazer isso, eu vou tirar nós duas daqui.
Capítulo 06
— SIM, MUITO BEM, — AURORA FALA PARA MIM ATRAVÉS DO TERRAÇO CONFORME eu balanço o braço do meu parceiro de dança, dou voltas, passo por trás dele, e volto à nossa posição inicial. Depois de aplaudir brevemente, Aurora acrescenta, — Você só estragou tudo uma vez desta vez.
— O quê? — Eu me afasto do jovem que tem sido meu parceiro. Primo de Aurora ou primo de segundo grau ou algo nesse sentido. Meu futuro marido é aparentemente muito importante ou ocupado demais para esse tipo de coisa. — Eu pensei que eu fiz tudo certo.
— Não, a parte no começo logo depois de você tocar as palmas das mãos? Você virou para o caminho errado.
Eu reviro meus olhos. — Você realmente acha que alguém vai notar?
— Sim. Em um salão de baile cheio de casais dançando, quando todo mundo se vira para um lado e você vira para o outro, isso certamente será perceptível.
— Tudo bem. Eu presumo que você vai me dizer para fazer de novo? — Eu tenho praticado por horas, mas sei que Aurora não vai ficar feliz até que eu esteja completamente certa.
— Sim, — diz ela com um aceno de cabeça.
Então eu encaro meu parceiro e tento não suspirar muito alto quando começamos de novo. Pelo menos minha roupa é bastante fácil de se mover. Depois do meu aterrorizante encontro com o rei, deixei de lado a minha teimosia e dei uma olhada no meu guarda-roupa — e descobri que não detestava as roupas tanto quanto esperava. Nem todas eram vestidos fofos, fiquei feliz em ver. São mais como combinações de calças e vestidos justos, alguns com longas mangas enfeitadas e pescoços altos, outros sem mangas e luvas cobrindo todo o braço. Com o passar dos dias, passei a apreciar os ricos detalhes e estilos exóticos usados pelos membros da Corte Unseelie. E quanto mais eu penso sobre isso, mais sentido faz em um mundo cheio de magia e encantamento, que a roupa seria tudo menos comum.
Ou talvez eu esteja simplesmente me acostumando a estar aqui, o que é um pensamento aterrorizante.
Nós dançamos a dança mais três vezes antes de Aurora finalmente nos deixar parar. Seu primo, que parecia que poderia se esfaquear se forçado a me girar mais uma vez, corre antes que Aurora consiga ordenar outra tarefa chata para ele. — Noraya, vamos tomar refrescos agora, — diz ela, acenando passando por mim para onde sua criada está esperando na porta da biblioteca.
Eu me junto a Aurora do outro lado do terraço e sento no banco balançando ao lado dela. É apenas uma única videira, e tenho um pouco de receio de colocar todo o meu peso no hemisfério oco. Mas Aurora continua me dizendo para não duvidar da magia, e seu banco está perfeitamente bem até agora. Depois de alguns momentos, relaxo contra as almofadas e levanto os pés para que eu possa balançar gentilmente para frente e para trás. Eu olho para o jardim, mas não há muita coisa acontecendo. O terraço da biblioteca fica em um lado mais silencioso do palácio.
— Então, agora que posso dançar sem errar, — digo a Aurora, balançando meu banco para encará-la, — podemos fazer algo mais emocionante esta tarde? Como arco e flecha? Eu estava começando há ficar um pouco menos que terrível em nossa última lição. Ou eu poderia te mostrar mais movimentos de parkour. Você poderia experimentar alguns deles desta vez, em vez de apenas me observar.
Ela ri e balança a cabeça para minha aparente tolice. — Você não acha que acabou as aulas de dança, não é? Você aprendeu uma dança, Em. Agora você precisa aprender o resto delas. E só temos três dias até o baile de aniversário de mamãe.
Meus pés caem no chão. — Sério? Eu tenho que aprender todas as danças?
— Sim. Vai ser bastante ruim quando as pessoas descobrirem que a futura princesa é alguém que passou toda a sua vida no reino humano e não sabia nada deste mundo até algumas semanas atrás. Se eles não virem você usando magia ou dançando todo tipo de dança, será ainda pior.
— Espere, você quer que eu use magia no baile? Na frente das pessoas?
— Claro. — Ela move a mão em um círculo, e seu banco começa a girar lentamente. — Deve estar tudo bem, não é? Você pode lidar com o básico agora.
— Sim, eu só não sabia que isso era esperado, só isso. Eu tentarei não esquecer.
— Essa é a coisa, Emerson. — Sua voz me alcança do outro lado do seu banco. — Você precisa chegar ao ponto em que não precisa se lembrar. Deve se tornar uma parte automática de sua vida diária, usando até mesmo para as tarefas mais simples.
— Soa um pouco como preguiça para mim.
— Você sabe o que é preguiça? — Ela faz seu banco parar quando ela está de frente para mim e toca distraidamente o pingente em volta do pescoço: uma forma oval prateada com uma pedra negra no centro. — Sentar em frente a uma tela brilhante e assistir sem pensar imagens em movimento.
Eu dou a ela o meu olhar nada impressionado. — Você está se referindo a TV e filmes? Porque isso não é preguiça. É entretenimento e faz parte da —
— Parte da vida humana. Assim como a magia faz parte da vida dos faeries. Faz parte da sua vida agora, Em, então se acostume com isso.
— Tantas coisas que tenho que me acostumar, — eu penso, olhando através do jardim novamente.
— Sim, como roupas bonitas, feriados exóticos, festas luxuosas e isso é o esperado pelo resto de sua vida.
— Eu estava me referindo mais a este mundo e sua política e geografia e história e criaturas e... tudo, — eu digo baixinho. — É tudo muito diferente da vida em que cresci.
— Verdade, — ela diz. — É por isso que você deve se concentrar com as coisas frívolas. É muito mais fácil se acostumar. O resto seguirá com o tempo.
Eu aceno, apesar do fato de que eu não concordo com ela. Eu não posso dizer a ela que ainda estou determinada a encontrar uma saída para tudo isso. Mesmo agora, depois de lições intermináveis de magia, etiqueta e dança, depois de longas discussões sobre os detalhes da cerimônia de união, eu ainda não consigo imaginar este casamento realmente acontecendo. Eu sei que provavelmente estou em negação. Eu sei que é improvável que Roarke me conte mais alguma coisa sobre minha mãe até nos casarmos. Mas eu não vou desistir até o momento em que a cerimônia de união começar.
Noraya retorna então com dois copos altos flutuando na frente dela. Ela é tão boa nessa coisa de levitação que nem precisa usar as mãos. Elas permanecem perfeitamente atrás das suas costas enquanto ela caminha para frente, os olhos apontados com firmeza à frente, em vez de observar os copos flutuantes. — Limonada, Sua Alteza, — diz ela quando nos alcança.
Eu me empurro para frente e fico de pé enquanto um dos copos se move em direção a Aurora. Eu envolvo minha mão em torno do outro. — Obrigada, Noraya. — Ela arrisca um olhar para mim, sorri, então olha apressadamente para longe.
— Você precisa superar isso, — Aurora me diz uma vez que Noraya caminha de volta para a porta da biblioteca. — Não há nada de errado em ser esperado.
Eu me acomodo com cuidado em meu banco sem derramar minha bebida. — Eu não gosto de relaxar e receber as coisas. Parece apenas... rude.
— É grosseiro impedi-la de fazer seu trabalho corretamente.
— Bem, de qualquer maneira, ela sorriu para mim, então eu acho que ela não se importou.
Aurora abaixa o copo e pisca. — Ela sorriu para você?
— Quero dizer, não para mim, — acrescento apressadamente, não querendo colocar Noraya em problemas. — Não de um jeito indelicado. De qualquer forma, queria perguntar a você sobre os vestidos para o baile de aniversário da sua mãe. Eu suponho que você vai me dizer o que eu devo vestir? Eu não acho que posso ser confiável para escolher o tipo certo de vestido.
Aurora estreita os olhos com a mudança abrupta de assunto, mas ela deixa passar. — Sim. Mamãe e eu mandamos fazer três vestidos para você. Nós decidiremos qual escolher quando soubermos o que Roarke estará usando.
— Certo. Claro. Porque seria terrível se as cores entrassem em confronto ou algo assim.
Ela revira os olhos e cutuca meu joelho com o sapato. — Seria terrível. Vocês dois precisam parecer o par perfeito.
— O que é bobo, porque nunca seremos um casal perfeito. Nós nem sequer — Oh. — Eu sento um pouco para frente. — Minha Habilidade Griffin. Eu posso senti-la chegando. — No tempo em que estou aqui, eu fiquei mais sintonizada com a sensação da minha magia. Ser forçada a manter registros intermináveis da magia comum que uso todos os dias, o quanto eu como, o quanto estou cansada ou energizada, e exatamente quando minha Habilidade Griffin aparece me tornou mais consciente de cada pequena mudança na minha magia.
— Ah, é quase na mesma hora que as últimas manhãs, certo? — Aurora diz. — Um pouco antes da hora do almoço?
— Sim. E eu usei muito mais a minha magia normal do que o habitual na noite passada tentando derreter aquela fonte, então provavelmente podemos dizer com certeza agora que níveis mágicos comuns não têm muita influência na minha magia Griffin.
— Excelente. Não se esqueça de adicionar isso ao seu caderno. Acho que temos uma ideia razoavelmente boa de como sua habilidade funciona agora, mas você provavelmente deve continuar acompanhando-a por mais algumas semanas. Só assim podemos ter certeza.
Eu achava que a minha Habilidade Griffin não fazia nenhum sentido quando se revelou pela primeira vez, mas talvez, como Aurora sugeriu, ainda estivesse ‘se estabelecendo’ durante os meus primeiros dias neste mundo. Desde então, meu excessivo registro revelou um padrão bastante regular: Minha Habilidade Griffin aparece duas vezes ao dia, com aproximadamente doze horas de diferença, mais ou menos uma ou duas horas. E durante esse tempo, não há nada que eu possa fazer — além de pegar o elixir, que agora está esgotado — que fará com que apareça. O que significa que é provável que a teoria de reabastecer de Aurora esteja correta.
Eu abaixo meu copo de limonada e sento na beira do meu banco. Eu fecho meus olhos e tento prever o momento exato antes de sentir aquela sensação de formigamento na minha espinha. — Eu imagino como se fosse um vulcão se preparando para entrar em erupção, — murmuro. — A pressão se acumula dentro de mim e, de repente, tudo corre para a superfície, pronto para explodir.
— O que Roarke obrigou você a dizer desta vez? — Aurora pergunta.
Assim como o rei instruiu, Roarke me dá uma poção de compulsão todos os dias — bem, duas vezes por dia, agora que descobrimos o padrão — e me diz exatamente o que dizer quando minha Habilidade Griffin está pronta para ser usada. — Ele me obrigou a tentar preservar o poder, se possível. Se não, então eu devo dizer para todas as rosas amarelas no jardim para ficarem azuis.
— Ugh, que comando estúpido. Ele realmente precisa encontrar alguns usos mais interessantes para sua magia. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja te deixando praticar. Você precisa aprender a dominá-la, Em.
— Sim. — Eu aperto minhas mãos e fecho minha boca enquanto a magia Griffin ondula através de mim, exigindo ser liberada. Segure-a, segure-a, segure-a, eu silenciosamente me instruo. E quando tenho certeza de que a magia está prestes a se libertar de mim, me forçando a falar às instruções que Roarke me deu, apenas... não. Lentamente, começa a parecer menos esforço segurá-la. Eu abro meus olhos, minhas mãos relaxando no meu colo. — Eu acho que eu consegui, — eu digo com um sorriso. — Eu ainda posso sentir o poder lá, como um zumbido estranho logo abaixo da minha pele. Eu me pergunto por quanto tempo eu posso —
O poder corre para fora de mim, tornando minha voz mais profunda e ressonante. — Toda rosa amarela no jardim ficará azul, — eu digo.
Aurora se senta um pouco para frente, olhando além de mim. Depois de um momento, ela diz, — Funcionou. Eu consigo ver apenas alguns arbustos de rosas amarelas daqui, mas elas ficaram azuis.
Eu caio de volta contra minhas almofadas, fazendo meu banco balançar com movimentos bruscos e oscilantes. — Merda, foi apenas um minuto.
— Bem, talvez você tenha se empolgado cedo demais. — Aurora se inclina para trás e toma um gole de sua limonada. — Tente por mais tempo na próxima vez antes de me dizer ‘consegui’. Tudo que você precisa é praticar.
— Maravilha. Outra coisa para praticar, — eu digo com um suspiro.
— Diga ao Roarke para obrigá-la a segurá-la, não apenas para tentar. E nada disso ‘Se você não conseguir, então é isso que você vai dizer.’ Ele basicamente está lhe dando permissão para falhar.
— Mm. — Eu estou esperando pelo dia em que Roarke estará ocupado o suficiente para esquecer de me obrigar. Esse é o dia em que vou me certificar de que eu esteja com ele exatamente no momento certo. Vou ordenar a ele que anote todos os feitiços necessários para acordar e curar minha mãe. Então, se restar alguma coisa da minha Habilidade Griffin, vou usá-la para sair daqui.
— Você não quer terminar sua limonada? — Aurora pergunta, levantando meu copo do chão com um simples aceno de sua mão. — Você precisa se manter hidratada, se quiser sobreviver ao resto das aulas de dança do dia.
Eu pego o copo do ar e tomo o restante da limonada. — Você vai ter que encontrar outro membro disposto em sua corte para ser meu parceiro, — eu a lembro, — e seu primo provavelmente já disse a todos para evitarem a mim e a minha dança terrível, então... Oh. Isso é uma ideia.
— O quê?
— Você acha que funcionaria se eu usasse minha Habilidade Griffin para dizer a mim mesma que eu posso dançar perfeitamente a dança das fadas?
— Uh... — A expressão de Aurora fica pensativa. — Hmm. Eu imagino. Quero dizer, como funciona a sua magia Griffin em primeiro lugar? Ela obedece às suas palavras exatas ou à sua intenção por trás das palavras? Funciona de acordo com o que você está imaginando quando ordena alguma coisa? Nesse caso, a coisa da dança não funcionaria porque você não sabe e, portanto, não consegue visualizar todos os passos das outras danças. E outra coisa, — acrescenta ela, batendo na lateral do copo com as unhas. — Se você me disser para fazer algo, mas a maneira que eu entendo seu comando não é da mesma maneira que você quis dizer, qual intenção a magia obedecerá? Sua ou a minha?
Eu inclino minha cabeça contra as almofadas. — Eu não tenho ideia, mas estou começando a desejar que esta Habilidade Griffin viesse com um manual de instruções.
— Experimentação, Em. Isso é tudo que requer.
— Claro, mas é frustrante quando tenho que esperar meio dia entre cada nova experiência.
— A menos que você possa se agarrar ao seu poder e usar um pouco de cada vez.
— Talvez. — Eu viro no meu banco para encarar as portas da biblioteca quando passos soam no terraço.
— Sua Alteza, — diz Clarina quando nos alcança. — Minha senhora, — acrescenta ela, direcionando suas palavras para mim antes de virar de volta para Aurora. — Phillyp está pronto para a sua aula.
— Oh, maravilha. — Aurora entrega seu copo de limonada pela metade para Clarina antes de se levantar.
— E sua mãe acabou de enviar uma mensagem para dizer que gostaria de discutir alguns detalhes do baile com você.
— Mamãe sempre escolhe fabulosamente o pior momento, não é? — Aurora diz com um suspiro. — Ela vai ter que esperar.
— Claro, Sua Alteza. Devo dizer a ela o habitual?
— Sim. Diga a ela que estou no meio da minha aula de arco e flecha. Eu vou direto para ela assim que terminar.
Clarina acena com a cabeça uma vez. — E devo escoltar Lady Emerson de volta para seus aposentos?
— Hum... não, na verdade. Em vem comigo desta vez. — Aurora me dá um sorriso perverso. — Eu confio em você agora para manter meus segredos.
Depois de uma rápida reverência, Clarina sai. — Poxa, — eu digo. — Estou chocada ao descobrir que a princesa perfeita está guardando segredos de sua própria mãe.
Ela dá no meu braço uma tapa brincalhona. — Não, você não está. Além disso, não é grande coisa. É apenas algo que minha mãe não aprova. — Em vez de voltar para dentro, ela sai do terraço para a grama.
— Sua mãe não aprova você treinar arco e flecha também, — aponto enquanto a sigo, — mas ela não impediu você de ter aulas.
— Sim, bem, eu disse a ela que era ou tiro com arco ou combate mágico, e não havia como ela permitir que sua pequena princesa aprendesse um combate mágico.
— Que é o quê, exatamente? — Eu me inclino quando uma borboleta prateada e uma lagartixa com asas — uma correndo atrás da outra — voam muito perto da minha cabeça.
— Você sabe como quando você se baseia em seu poder e, em sua forma mais básica, é apenas o poder cru em suas mãos? — Diz Aurora.
— Sim. — Foi essa a lição que recebi de Azzy na Chevalier House.
— Bem, tudo que você faz é jogar essa magia em alguém. Quero dizer, há mais do que isso. Aqueles que são treinados em combate mágico muitas vezes transformam sua magia em outras coisas. Pedras ou lâminas ou bandos de aves com bicos afiados. Algo que pode mais facilmente derrubar um adversário do que apenas algumas faíscas. Mas sua mente tem que ser muito rápida. Você tem que ser capaz de moldar sua magia mentalmente assim. — Ela estala os dedos. — Mais e mais, enquanto também se protege.
Eu olho em volta enquanto nos afastamos do palácio. Esta parte do jardim não me é familiar, e tudo o que posso ver à frente é um bosque de árvores. — Então a rainha não queria que você aprendesse essa habilidade?
— Não. Não é coisa de princesa. Temos guardas para lutar por nós, se necessário. Ela concordou com arco e flecha, porque tudo o que isso implica é atirar flechas em objetos inanimados que não atiram de volta em mim.
— Muito mais civilizado, — comento. — Mas isso claramente não era ousado o suficiente para você, então você teve que tentar outra coisa.
— Sim.
— Algo que sua mãe certamente não aprovaria.
— Exatamente.
— E o que é?
Um sorriso estende em seus lábios conforme alcançamos as árvores. — Montar em um dragão.
Capítulo 07
MEUS PASSOS PARAM. — ESPERE. — LEVANTO UMA MÃO. — Espere, espere, espere. Vocês têm dragões?
— Sim. — Aurora se vira para olhar para mim. — Você não os viu voando de vez em quando?
— Bem... eu vi alguma coisa no céu. Eu presumi que eram pássaros grandes, ou algum tipo de criatura voadora que ainda não conheci.
Ela cai na gargalhada. — Pássaros grandes? Mesmo?
— Eu só os vi de longe, — Eu digo defensivamente. — Era difícil julgar o tamanho.
— Bem, você está prestes a vê-los de perto.
Eu pisco. Meus pés ainda não se movem. — Caramba, — eu sussurro.
— O quê? Você não está com medo, não é?
— Não. Quero dizer, talvez. Provavelmente. Estou tendo apenas um daqueles momentos em que me pergunto se estou realmente sonhando. Estamos falando de dragões, Aurora. Eu cresci pensando que eles só existiam na ficção, e agora estou prestes a ver um? Meu cérebro não faz ideia de como reagir a isso.
— Vamos. — Ela pega meu braço e me puxa para frente. — Seu cérebro tem um minuto ou dois para entender as coisas. Os cercados dos dragões estão do outro lado dessas árvores.
— Dragões, — murmuro. — Você tem dragões. Dragões de verdade.
— Nós costumávamos ter gárgulas também, — acrescenta ela. — Bem, por 'nós' quero dizer a geração anterior da realeza. Gárgulas não são tão grandes quanto dragões, mas são assustadores, foi o que eu ouvi. Eles costumavam ficar de guarda no topo do palácio, mas todos desapareceram há algumas décadas.
— Sério? — Eu penso na criatura que Ryn estava montando quando ele me salvou de cair para a minha morte da beira de um precipício. Tenho certeza que era uma gárgula.
— Sim, meu pai tem sido rei por alguns anos, e as gárgulas nunca pareciam gostar dele. Um dia todos voaram para longe e ninguém os viu desde então.
— Que estranho, — eu digo devagar. Eu não mencionarei a Aurora que fui resgatada por um rebelde Griffin sobre uma gárgula, mas não posso deixar de me perguntar se é uma das gárgulas que moravam aqui.
Nós andamos além das árvores, mas ainda não vejo dragões. Ou cercados, por falar nisso. Eu olho para cima, mas também não há nada no céu. — Você terá que olhar para baixo, — Aurora me diz. — Ali.
Meu coração bate mais rápido quando nos aproximamos da borda de um buraco cavado no chão. Gradualmente, à medida que a borda fica visível, sou capaz de distinguir o tamanho desse buraco. O outro lado é de vários tamanhos de campos de esportes de distância. Paramos a uns trinta centímetros da beirada e olho para um ambiente exuberante e parecido com uma selva. Por um momento, eu me esforço para distinguir qualquer tipo de criatura entre as árvores e plantas coloridas, mas então algo se move. Um pescoço grosso e coberto de escamas. Uma cabeça gigantesca, subindo e girando lentamente para nos encarar até que esteja quase nivelada com o topo do poço.
— Em, — Aurora diz, — conheça Imperia.
O corpo do dragão brilha azul-verde e púrpura enquanto ela se move, e os enormes ferrões ao longo das suas costas são rosados e avermelhados. Sua cauda, terminando em forma da ponta de uma flecha verde, gira ao redor, derrubando facilmente uma fileira de arbustos. Então ela fica imóvel, inclina a cabeça um pouco para o lado e me observa com os olhos brilhando como brasas laranja ardentes.
— Ela é linda, não é? — Aurora diz.
Minha boca está aberta, minha língua está seca e meus pés estão enraizados no lugar — apesar do fato de que uma voz muito insistente no fundo da minha mente está gritando para eu fugir para salvar minha vida. — Incrível, — eu sussurro.
— Cada poço pertence a um dragão diferente. A Imperia sempre preferiu um ambiente tropical, mas o próximo poço está cheio de gelo. E o mais distante — que nos levaria algum tempo para caminhar — é profundo o suficiente para conter uma montanha.
— Uau. E eles podem voar para fora de seus poços sempre que quiserem? — Minhas pernas finalmente se lembram de como andar, e dou um passo trêmulo para trás conforme Imperia levanta a cabeça um pouco mais alto.
— Não, há um escudo invisível por cima. Os dragões não estão autorizados a menos que estejam com um cavaleiro.
— Tudo bem. — Eu engulo. — E percebo que não há paredes ao redor desses poços. O escudo pegaria alguém se caísse?
Aurora parece despreocupada quando ela diz, — Não.
— Mas... então...
— Se alguém for estúpido o suficiente para cair em um poço com dragão, então eles merecem ser comidos. Mas Imperia provavelmente não faria isso. Não com quem ela conhece, pelo menos. Ela é muito amigável. Então. — Ela se vira para mim. — Você quer montá-la?
Não tenho certeza de quanto tempo minha boca está aberta antes que eu finalmente responda. — Eu... na verdade... quero.
Aurora sorri para mim. — Eu gosto de você ainda mais agora. — Ela se abaixa e passa a mão ao longo da grama. Enquanto se endireita, uma linha cor de ouro forma um círculo perfeito ao nosso redor. Sem aviso, o chão estremece. O pedaço de terra circular em que estamos posicionadas se separa do chão e começa a descer.
— Uau. — Eu levanto minhas mãos e me firmo. — Então, estamos descendo para o poço?
— Sim.
— E, hum, eu estarei com alguém quando estiver montando esse dragão? Um profissional treinado?
— Você vai estar comigo.
— Mas... você ainda está aprendendo, não está? Clarina disse algo sobre... Phillyp estar pronto para a sua aula?
— Isso é apenas o que minhas criadas foram treinadas para me dizer quando Phillyp informa a uma delas que a barra está limpa para eu vir aqui. Sabe, quando não há ninguém por perto que possa dizer a minha mãe que eles viram a princesa nas costas de um dragão. Eu recebi lições no começo, é claro, mas elas terminaram há muito tempo. — Ela olha para mim. — Você não acredita que eu sei o que estou fazendo, Em?
— Hum... eu quero confiar em você. — Eu vejo a terra escura subindo rapidamente em torno de nós, em seguida, levanto os olhos para o pedaço circular do céu cada vez menor.
Aurora ri. — Bem, eu não vou forçar você, Em. Mas você sabe que vai se arrepender de ter ficado no chão assim que me ver voando no ar.
De alguma forma, sei que isso é verdade.
O elevador de terra mágico estremece silenciosamente até parar. Em poucos segundos, um túnel se forma à nossa frente, curto o suficiente para que eu possa ver a vegetação exuberante do outro lado. Eu sigo Aurora, hesitando na boca do túnel e olhando em volta procurando por Imperia. Através das árvores, vejo as escamas marinhas e roxas de uma de suas pernas.
— Oi, Phillyp, — Aurora diz, saindo direto do túnel e para a direita.
— Princesa, — diz uma voz masculina. — Estou feliz que você pôde vir. Imperia não voou por dois dias. Eu acho que ela está ansiosa para abrir suas asas corretamente.
Depois de outro olhar por cima do meu ombro em direção a Imperia, corro atrás de Aurora. Ela está falando com um homem magro encostado na porta de uma sala construída na lateral do poço. Sua cabeça está raspada, e a ferida brilhante em seu braço parece ter sido queimada recentemente. — Ooh, ai, — Aurora diz, inclinando-se para olhar seu braço. — Imperia fez isso?
— Sim. A culpa é toda minha, e você sabe que estou acostumado.
— Sim. E vai sumir em breve, tenho certeza, — Aurora diz enquanto se endireita. — Phillyp, esta é Em. Minha nova amiga. Ela vai montar comigo hoje, então, por favor, use a sela dupla.
Phillyp faz uma pausa por apenas um momento antes de inclinar a cabeça. — Claro, Sua Alteza. — Ele se vira e desaparece na sala.
— Ele não acha que é uma boa ideia, — murmuro para Aurora.
— Absurdo. Ele sabe que sou perfeitamente capaz de levar mais alguém comigo. É só que eu trouxe uma das minhas damas de companhia uma vez, e ela gritou o tempo todo que estávamos no ar. Imperia não ficou impressionada e nem Phillyp. — Ela estala os dedos perto da parte de baixo da saia e percebo um breve brilho antes que a faísca da sua magia desapareça. — Mas você não planeja gritar como uma garotinha, não é, Em?
Decido não perguntar a Aurora exatamente como ela sabe que Imperia não ficou impressionada. — Não. Obviamente, eu não pretendo gritar como uma garotinha.
Um conjunto de escadas, pairando a poucos centímetros acima do solo, desliza para fora da sala e passa por nós em direção a Imperia. Um momento depois, Phillyp corre atrás do que eu suponho ser a sela flutuando à sua frente.
— Ah, finalmente, — diz Aurora. Viro para encará-la enquanto sua saia cai no chão, revelando uma calça justa na mesma cor que seu espartilho. — O quê? — Ela pergunta em resposta às minhas sobrancelhas levantadas. — Eu não posso montar um dragão com um vestido.
— Eu acho que não. Ainda bem que já estou usando calça.
Com um aceno de mão, a saia voa para a sala. — Você vai querer manter o cabelo longe do seu rosto. — Aurora me diz enquanto nos dirigimos através das árvores. Ela acena com a mão perto do seu cabelo, e os grossos cabelos roxos e pretos prontamente se organizam em uma trança. Uma fita cor de prata aparece e se amarra no final de seu cabelo.
— Preguiçosa, — murmuro, estendendo a mão para trançar meu cabelo com as mãos.
— De jeito nenhum, — ela responde. — Você logo perceberá que qualquer feitiço que poupe tempo em se preparar e permita que você permaneça mais no ar nas costas de um dragão por mais tempo é um feitiço que vale a pena memorizar. — Ela para na beira de uma clareira e olha para cima, as mãos dela nos quadris. — Eu vou te ensinar mais tarde.
Minhas mãos continuam trançando por vários segundos, enquanto percebo o tamanho do dragão, admirando de boca aberta. O conjunto de escadas é alto o suficiente para alcançar suas costas, e Phillyp fica em cima, prendendo as correias e fivelas da sela com magia. Imperia solta um bufo alto, emitindo fumaça pelas narinas.
Eu engulo. Com os dedos tremendo, eu termino de prender minha trança. Rápido, Phillyp desce os degraus e Aurora sobe. Ela pega as correias, sobe nas costas de Imperia e balança a perna sobre o assento da frente da sela. — O que você está esperando? — Ela pergunta quando olha para mim. Em vez de responder, eu lambo meus lábios. — Vamos, Em, não enlouqueça. Isto vai ser divertido.
— Eu sei. — Minha voz soa rouca e um pouco mais alta do que o normal. Eu pigarreio. — Estou animada. Eu realmente estou. Eu por acaso estou um pouco assustada ao mesmo tempo. — Eufemismo, meu coração batendo descontroladamente grita para mim. Que gigantesco. Maldito. Eufemismo.
Mas isso não muda o fato de que eu quero fazer isso. Então eu forço minhas pernas a subir os degraus. Em cima, dou um último suspiro profundo antes de colocar a mão contra as escamas suaves de Imperia. Abaixo do meu toque, a cor ondula e brilha. Eu agarro duas das correias e me puxo para cima. Graças a todas as paredes que subi nos últimos anos, meus braços são bem fortes. Uma vez que me acomodo no meu assento, a escada escorrega para longe do corpo de Imperia.
— Coloque essa alça em volta da cintura, — Aurora diz, virando-se e apontando para uma alça solta pendurada em um dos lados da sela. Eu coloco através do meu corpo e prendo-a através do círculo de metal do outro lado.
Então finalmente, olho para baixo. Estamos mais longe do chão do que eu imaginava e ainda não decolamos. Não é que eu tenha medo de altura, e não é que eu tenha medo de correr riscos. Val e eu realizamos muitos saltos, cambalhotas e descidas que poderiam facilmente nos ter levado ao hospital. Mas eu estava sempre no controle do meu próprio corpo então. Agora, estou cem por cento à mercê de outra criatura — e é aterrorizante.
Aurora segura às rédeas. Imperia levanta as asas e seu corpo rola para um lado e depois para o outro enquanto ela avança alguns passos. Eu inalo bruscamente e agarro o cume da sela que se eleva entre o assento de Aurora e o meu. As pernas de Imperia se dobram ligeiramente. Eu seguro minha respiração. Então, com um grande impulso para baixo de suas asas, ela se eleva no ar. Eu sinto um solavanco enjoativo na região do meu estômago. As asas de dragão batem no ar, as copas das árvores balançam descontroladamente e o chão se afasta de nós. Eu imagino despencar em direção ao chão. Eu quase grito que quero sair, mas fecho a boca, agarro mais à sela e digo a mim mesma que não vou morrer.
Nós subimos rapidamente, o palácio ficando menor e o território Unseelie ao redor aparecendo. As asas de Imperia diminuem o ritmo. Ela se inclina um pouco para o lado e, em seguida, voa pelos limites do palácio. E em meros segundos, meu terror dá lugar à pura alegria.
***
— Essa foi a coisa mais incrível que já fiz, — digo a Aurora no momento em que os pés de Imperia tocam o chão em seu cercado.
— Eu disse a você, — ela responde com uma risada. A escada chega um momento depois e nós duas saímos de nossos assentos. Eu paro na parte inferior e estendo a mão contra o lado de Imperia. — Eu vou poder fazer isso de novo?
— Claro, — diz Aurora. Ela tira a fita cor de prata e empurra os dedos pelos cabelos para libertá-los da trança. — Você pode vir comigo sempre que quiser. Phillyp pode dar-lhe aulas e, em breve, passará a montar sozinha. Então podemos levar nossos dragões juntos. Vai ser perfeito.
Seria se eu estivesse planejando ficar aqui. Eu dou um passo para trás e olho melancolicamente enquanto Imperia se afasta. Eu envolvo meus braços em volta de mim e mordo meu lábio. É assustador admitir isso para mim mesma, mas acho que realmente posso gostar de viver aqui. As manhãs passando descansando em balanços, as tardes passando deslizando pelo céu nas costas de um dragão. E com minha mãe saudável ao meu lado. Tudo que eu preciso fazer é olhar para longe de quaisquer atos horríveis que acontecer de eu testemunhar o Rei Unseelie cometendo. E de alguma forma viver com a culpa de qualquer ato horrível que ele me obrigue a cometer.
Não, eu sussurro silenciosamente. Eu não posso viver com isso. — É apenas a realeza que tem dragões? — pergunto a Aurora enquanto Phillyp envia a escada portátil de volta ao depósito.
— Não, mas eles são muito caros, então apenas os muito ricos estão em posição de possuir um.
— Certo. — Então eu deveria aproveitar todas as oportunidades de montar em um dragão enquanto eu ainda moro aqui. Depois que eu for embora, nunca poderei pagar por isso.
— Felizmente, — Aurora continua, — você está prestes a se tornar membro de uma família extraordinariamente rica. Você pode ter quantos dragões quiser.
— Se eu soubesse que isso era tudo o que precisava para conquistar você, — uma voz diz atrás de nós, — eu teria trazido você aqui há muito tempo, Emerson.
— Roarke, — Aurora diz quando nos viramos para encará-lo. — Procurando por mim?
— Sim. Eu pensei que poderia te encontrar aqui. Você, no entanto... — Ele olha para mim. — Bem, nas costas de um dragão não é onde eu esperava encontrar você.
— Ela adorou, — Aurora diz, juntando as mãos e sorrindo.
— Eu ouvi, — Roarke diz com um sorriso divertido. — O que você disse exatamente? — Ele me pergunta. — Foi a coisa mais incrível que você já fez?
— Bisbilhotar é rude, — eu digo a ele.
— Assim como manter segredos da minha mãe, mas eu vou continuar escondendo também, não se preocupe, — acrescenta ele quando Aurora abre a boca para protestar. — Ela não precisa saber sobre o seu passatempo favorito.
— Onde você esteve à manhã toda? — Pergunto conforme voltamos para o fundo do poço. — Eu pensei que você poderia se juntar a mim para a minha aula de dança.
— Eu estava... organizando um presente para você, meu amor.
Eu arqueio uma sobrancelha cética. — Houve muita hesitação em sua voz para que isso seja verdade.
— É verdade, eu prometo. Eu só estava pensando se deveria te contar ou não.
O túnel se materializa à nossa frente quando nos aproximamos da parede. — Tudo bem, se esse presente é de verdade, então quando vou recebê-lo?
— Assim que Yokshin terminar.
— Yokshin? — Eu me lembro desse nome de algum lugar.
— Sim. Ele é nosso mestre de invenções. É ele que ira reproduzir o seu elixir da Habilidade Griffin.
— Então... ele conseguiu ter sucesso?
— Não. — Saímos do túnel e subimos no pedaço de terra que levita. — Este é um presente diferente. Você vai ver... em breve.
Eu pressiono meus lábios enquanto o chão começa a subir. Eu poderia fazer mais perguntas, mas ele continuará me dando apenas metade das respostas.
— Por que você estava procurando por mim? — Aurora pergunta a seu irmão.
— Oh, você e eu temos algumas coisas que precisamos ver.
Aurora acena e olha para cima, sem dizer nada.
— Mais segredos que você está mantendo de sua amada? — Eu pergunto.
Roarke me dá seu sorriso malicioso. — Assim que você for minha esposa, todos os segredos serão revelados.
Capítulo 08
À MEDIDA QUE À TARDE DO BAILE DE ANIVERSÁRIO DA RAINHA CHEGA, FICO na varanda e ensaio minha história. Esta noite é à noite em que o Príncipe Roarke vai anunciar que ele escolheu uma esposa. Ele me apresentará, ‘a nova amiga estranha’ da princesa Aurora, e de repente todo mundo vai querer saber cada detalhe de quem eu sou e de onde eu sou.
Roarke e sua mãe pensaram em uma ideia de inventar um passado completamente diferente para mim — um que não envolvesse o mundo humano — mas eles imaginaram que a verdade seria descoberta em breve. E nenhum deles parecia acreditar que eu seria capaz de manter os detalhes de uma história inventada, então a maior parte do que me disseram para compartilhar com as pessoas é a verdade: eu cresci pensando que eu era humana, minha magia se revelou, a Guilda se envolveu para que eles pudessem me aprisionar e garantir que eu nunca machucasse ninguém, e então Roarke e seus homens apareceram para me resgatar. Eles me levaram de volta ao seu palácio para que eu pudesse viver como um membro livre na corte deles. Roarke e eu logo nos apaixonamos loucamente um pelo outro, e o rei aceitou nosso pedido para formar uma união. Então, tudo até o resgate é essencialmente a verdade. Depois disso... bem, eu de alguma forma tenho que fazer essas pessoas acreditarem que eu estou obcecada pelo príncipe deles.
Eu me inclino contra a balaustrada da varanda e olho ansiosamente para as perfeitas nuvens fofas bem acima de mim. Eu prefiro estar subindo os céus nas costas de Imperia, em vez de me preparar para enfrentar uma multidão da nobreza Unseelie. Ou montando aquele outro dragão que Phillyp montou comigo ontem. Bralox, acho que era o nome dele. Ou dançar danças simples com Dash nas margens da praia encantada dos rebeldes Griffin, em vez de tentar lembrar cada passo de cada dança oficial das faeries — já que a minha Habilidade Griffin não fez para me ajudar nesse departamento.
Batem na minha porta tão ruidosamente que posso ouvi-la da varanda. Olho por cima do ombro para ver Aurora dançando do outro lado da sala de estar e vindo para a varanda. — Está na hora! — Ela canta.
— Para quê? — Ela não pode estar se referindo ao baile. Ainda falta horas.
— Hora de começar a se vestir, é claro. É um longo processo envolvendo cabelo, maquiagem, joias — e, claro, ainda não escolhemos o seu vestido dos três que foram feitos para você.
— Oh. Tudo bem.
Seu rosto fica triste. — Por que você não está mais empolgada?
— Eu estou. — Eu coloco um sorriso que não parece de verdade. — É apenas... festas não são realmente minhas coisas preferidas. Na última que participei, minha magia explodiu de dentro de mim e quase matou minha melhor amiga.
— Confie em mim, Em, — Aurora diz com o tipo de sorriso que faz seus olhos brilharem. — Esta festa não vai ser nada como você imagina. E se isso não faz você se sentir melhor, aqui está algo que vai. — Ela tira a mão de trás das costas e me oferece uma caixa quadrada um pouco maior que a palma da sua mão.
— O que é isso? — Eu pergunto enquanto eu pego dela.
— Lembra que Roarke disse que mandou fazer um presente para você?
— Sim.
— Bem, eu pensei que ele estava apenas dizendo isso para encobrir o que ele realmente estava fazendo naquele dia — eu geralmente posso dizer quando ele está mentindo — mas acontece que ele realmente conseguiu que Yokshin fizesse algo para você.
Eu tiro a tampa da caixa e encontro uma pulseira sobre uma pequena almofada preta. Correntes delicadas de metal prateado se envolvem umas às outras, com minúsculas folhas prateadas e flores brotando dos lados. No meio da pulseira está uma grande joia clara. — É lindo, — eu digo.
— É bonito e inteligente, — diz Aurora. — É como se fosse um relógio. Mas não mostra à hora, mostra o nível da sua magia Griffin. Então, no lugar dos ponteiros, tem um grande rubi. O rubi perde sua cor quando você usa todo o seu poder Griffin, e então a cor enche novamente lentamente na mesma velocidade que sua magia se repõe. Pelo menos, é assim que deve funcionar e, obviamente, você precisa usá-lo.
— Uau, isso é inteligente. — Eu pego a pulseira da caixa, abro-a o e coloco a forma rígida ao redor do meu pulso. O fecho se encaixa facilmente no lugar. Enquanto observo, uma fração de um lado do rubi fica vermelho. — Hum, acho que isso faz sentido. Foi pouco antes do meio-dia que a minha Habilidade Griffin apareceu, então isso foi cerca de... duas ou três horas atrás?
— Sim. Então, isso deve facilitar para você ver quando sua magia estiver pronta para ser usada. Sabe, no caso de variar um pouco se você estiver extremamente cansada ou se nem sempre conseguir senti-la.
— Legal. — Eu abaixo meu braço. — Então isso foi feito por... Yokshin? Esse é o nome dele?
— Sim, o mestre de invenções. Ele experimenta todos os tipos de magia. Feitiços, processos, dispositivos. — Ela se inclina contra a balaustrada, abre um largo sorriso e acena para dois jovens caminhando abaixo. — É uma linha fascinante de trabalho, — continua ela, virando para mim. — Eu costumava visitá-lo muito quando era mais nova, até que minha mãe me disse que não era apropriado passar tanto tempo com alguém de sua posição, especialmente quando ele às vezes me levava para a prisão para me mostrar alguns de seus experimentos.
— Prisão?
— Sim, uma pequena que temos aqui. De qualquer maneira, você gostou da pulseira?
— Sim. Como você falou, é bonita e inteligente. — Eu movo a pulseira de um lado para o outro, de modo que a pedra sem cor capture a luz. — Yokshin fez alguma joia enfeitiçada para você?
— Hum... algumas. — Eu olho para cima para vê-la brincando com o pingente pendurado em uma corrente em volta do seu pescoço. A corrente prateada com a pedra negra. Eu percebi que ela a usa mais do que muitas outras joias. — Eu falo sobre isso em outro momento, — acrescenta ela. — Por enquanto, precisamos começar a nos preparar.
— Sim, tudo bem. Onde está o Roarke? Ele não queria me dar este presente?
— Queria, mas você conhece os homens. Eles não querem atrapalhar enquanto as damas se vestem.
— Ou ele ainda está me evitando, — eu resmungo enquanto passo por ela para dentro da sala de estar.
— Evitando você? Que bobagem é essa? — Aurora me segue para dentro. — Ele vê você pelo menos duas vezes por dia quando lhe dá a poção de compulsão.
— Sim, essa é a única vez que ele me vê.
— Bem, ele está muito ocupado.
Ou ele está evitando estar perto de mim sempre que minha Habilidade Griffin está ativa — caso eu não consuma todo o meu poder para seja qual for o comando que ele me deu e eu possa usar o resto para obter informações dele. O que é exatamente o que eu teria feito se ele estivesse por perto. Eu tenho praticado segurar minha Habilidade Griffin. Eventualmente, eu tenho que deixar passar algumas coisas dizendo o que eu tenho sido obrigada a dizer, mas houve momentos em que eu posso sentir que ainda há poder sobrando. Eu tentei segurar até ver Roarke novamente, mas eu não consegui segurar tanto tempo ainda.
— Em?
— Mm? — Eu encaro Aurora, percebendo tardiamente que ela me fez uma pergunta.
— Eu perguntei se você está realmente começando a gostar do Roarke. É por isso que você está chateada por não vê-lo mais vezes?
— Oh. Hum. Talvez. — Eu acho que isso é uma razão melhor do que eu estar chateada porque eu não tive a chance de usar minha Habilidade Griffin nele.
Ela sacode a cabeça e suspira. — Você é muito ruim em mentir. Venha, vamos para o meu quarto. Seus vestidos chegaram mais cedo e a mamãe os mandou agora. — Ela liga seus braços aos meus. — Você pode ensaiar sua história de amor épica no caminho.
A caminhada até a suíte de Aurora é longa o suficiente para eu recitar minha ‘história de amor épica’ duas vezes. — Bom trabalho, — diz ela quando chegamos a sua sala de estar. — Você sabe os fatos de cor. Agora você só tem que trabalhar em parecer como se você realmente quisesse dizer a parte de apaixonar-se perdidamente.
— Eu vou ter certeza de fazer um trabalho melhor quando estiver mentindo para os fae de elite da sociedade Unseelie mais tarde.
— Maravilha.
Nós entramos em seu quarto, que é muito maior que o meu e inclui um closet do tamanho de uma garagem dupla. — Oh, aqui estão as joias que a mamãe selecionou para você. Eu pretendia te mostrar mais cedo enquanto estávamos tomando café da manhã. — Ela pega uma caixa da sua penteadeira e a abre para mostrar o conteúdo. — Colar e brincos. Adoráveis, não são?
‘Adoráveis’ provavelmente não é a palavra que eu usaria. Cada peça consiste inteiramente de pedras brilhantes e incolores. Os brincos são lágrimas do tamanho da minha unha do polegar, e o colar é uma fileira dupla de pedras que crescem gradualmente à medida que alcançam um pingente: outra grande lágrima facetada. — São... são de verdade? — Pergunto enquanto Aurora os retira da caixa.
Ela me conduz em direção ao assento em frente à penteadeira antes de me dar um olhar interrogativo no espelho. — O que você quer dizer? Eles não são um tipo de ilusão que desaparecerá quando a festa acabar, se é isso que você está imaginando.
— Não, eu quero dizer... são diamantes de verdade? — Ela parece querer que eu me sente, então eu sento. — Ou eles são falsos? Como vidro ou cristal ou algo assim.
Ela ri. — Claro que são diamantes de verdade. Por que nós usaríamos falsos? — Eu permaneço em silêncio enquanto ela prende os brincos nas minhas orelhas e coloca o colar em volta do meu pescoço. — Aí. Eu acho que eles combinam com você. Eles ficarão lindos, não importa qual vestido escolhermos.
Eu balanço minha cabeça para o meu reflexo. Eu puxo os brincos e retiro o colar. — Eu acho que eu não deveria usar isso. — Eu coloco os diamantes brilhantes cuidadosamente na mão de Aurora. — Aqui. Você pode devolvê-los à sua mãe.
— O quê? Porquê?
— Eu não posso usar algo tão valioso. E se o colar cair enquanto eu estiver dançando? E se eu perder os brincos depois de tirá-los e então —
— E então o quê? Não seja tão boba, Em. O colar não vai cair. — Ela abre a caixa e coloca as joias de volta na almofada aveludada. — E quem se importa se isso acontecer? Mamãe certamente não vai. Esta é provavelmente a joia menos valiosa que ela possui.
Eu tento não me sentir mal com suas palavras. — Aurora...
— Vamos, isso não é grande coisa.
— Mas isso é uma grande coisa, — eu digo. Ela dá um passo para trás, surpresa com a minha raiva. — Eu sinto muito. É só que... bem, eu não esperaria que você entendesse, — murmuro.
Ela cruza os braços. — E por quê? Porque eu não pareço colocar muita importância nas joias quanto você parece de repente?
Eu reviro meus olhos. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu aponto para a caixa. — Que esses muitos diamantes provavelmente valem mais do que... eu não sei. Toda a Stanmeade. Eu não consigo usar tanta riqueza em meu corpo, e você não entenderia isso porque nós viemos de origens muito diferentes.
— Sim, — diz ela, dando um olhar que claramente diz, Dã. — Nós viemos. Esta não é uma revelação novinha em folha, então por que, de repente, é uma coisa importante?
Eu não sei. Eu não posso dizer a ela por que essa joia com diamante trouxe de repente a diferença entre minha vida e a dela, ou porque eu estou de repente comparando minha mãe com a dela. A rainha é perfeitamente sã e está em posição de distribuir itens de imensa riqueza como se não custassem nada. Mamãe está perdida em algum lugar dentro de sua própria mente e não conseguiu me dar nada além do peso da responsabilidade por muito tempo. — Eu sinto muito, — eu murmuro, olhando para a maquiagem espalhada em cima da penteadeira. — Eu não posso usar essa joia. Isso só me faz pensar em tudo que eu nunca tive. Todas as coisas que minha mãe nunca pôde me dar. E eu não quero dizer as coisas caras, eu só quero dizer as coisas normais. E todas as coisas que ela não pode ser para mim quando ela começou a ficar louca.
— Em...
— Não, eu não estou procurando por sua piedade. Eu só estou dizendo... — Eu não sei mais o que estou dizendo. — Eu só... não quero usá-la, se estiver tudo bem?
Ela acena com a cabeça. — Tudo bem. Claro. Eu nunca iria querer deixar você desconfortável. Hum... — Ela se vira para as portas do seu closet. — Tenho certeza de que posso encontrar algo mais simples da minha coleção.
Eu me levanto, começando a me sentir ainda pior agora que ela está sendo tão compreensiva. — Eu sinto muito, Rora. Eu não quis parecer ingrata. Eu sou grata por tudo que você e sua mãe fizeram para me ajudar a se encaixar aqui. Eu ainda não sei como lidar com tudo... — Eu gesticulo vagamente com os dois braços. — Tudo isso.
Ela pega minha mão, aperta e sorri. — Está bem. Eu entendo. — Ela caminha até o closet, em seguida, faz uma pausa na porta e olha para trás. — Roarke costumava me chamar de Rora quando éramos mais jovens. Então ele cresceu e decidiu que era um nome bobo e infantil. Eu disse a ele que concordava, mas a verdade é que meio que sinto falta de ouvi-lo me chamar de Rora.
Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Eu... eu realmente não sei porque eu disse Rora. Apenas saiu dessa maneira. Eu sinto muito. Eu não quero deixar as coisas estranhas.
— Isso não é o que eu quero dizer. — Ela sorri novamente. — Você provavelmente esteve tão focada na ideia de conseguir um marido que nunca pensou no fato de que também está conseguindo uma irmã. Eu sei que nada disso é o que você queria para sua vida. Eu sei que você está passando por tudo isso pela sua mãe. Mas... bem, estou feliz que você seja minha irmã. Espero que um dia você possa ser feliz também.
Ela se dirige para o enorme closet antes que eu possa dizer qualquer outra coisa e, nesse momento, a porta da sala se abre. Espreito pela porta do quarto e vejo a rainha, vestida com um roupão e chinelos, atravessando a área de estar com três de suas criadas e uma mulher desconhecida a seguindo. Cada uma das servas levitando um vestido. — Sua Majestade, — eu digo para a rainha, inclinando a cabeça em respeito quando ela vem em minha direção.
— Emerson, olá. — Eu nunca a vi usando tão pouca maquiagem e com o cabelo dela — preto e borgonho como o de Roarke — tão simples. Ela se inclina e beija o ar de cada lado das minhas bochechas. — Pronta para o grande anúncio de hoje à noite?
— Sim, — eu digo com confiança e um largo sorriso, nenhum dos dois é genuíno.
— Aurora, amor, eu tenho os vestidos, — a rainha chama, passando por mim. — Ah, aí está você, — acrescenta ela, enquanto Aurora sai do closet.
— Ooh, excitante. — Aurora esfrega as mãos.
— Coloquem os vestidos ali, — a rainha diz a suas criadas, — e então vocês podem ir. — As criadas deixam os vestidos flutuando no ar acima da cama antes de se virar e sair silenciosamente da sala. A mulher que eu não reconheço tira algo da saia de um vestido e arranca um fio solto do outro.
Ando devagar ao redor da cama para ver os três vestidos de todos os ângulos. O primeiro tem uma saia cheia de tule rosa escuro com flores delicadas que crescem pelas costas da cintura até o pescoço. O segundo é a cor do champanhe. Sua saia de muitas camadas é coberta com flores de ouro, e o corpete apertado tem um decote sem mangas. A última opção é feita de tecido de ouro rosa com milhares de minúsculos cristais brilhando com a luz conforme o vestido balança suavemente no ar. A parte de cima do espartilho se encaixa na parte de trás, e embora a saia esteja um pouco amassada com um pouco de tecido extra sobre a bunda, ela não é tão fofa quanto às outras duas.
— Eles são lindos, — eu digo.
— Eles não são? — Aurora responde. — E aparentemente, eles são ainda mais lindos quando você os coloca. O rosa muda para frente e para trás entre rosa e roxo, e as pétalas nas costas se abrem lentamente à medida que a noite passa. O champanhe vem com um par de luvas longas feitas de um tecido translúcido que parece bolhas de champanhe subindo em seus braços. E o ouro rosa tem um efeito cintilante enfeitiçado que parece brasas brilhantes.
— Parece legal.
— Eles são criações da Rosewood Raven, — Aurora continua. — Mamãe e eu divulgamos para todos os principais designers que estávamos procurando algo espetacular para um evento muito importante. Nós sugerimos um potencial anúncio de noivado — sem usar essas palavras exatas, é claro — o que resultou em muitos rumores circulando por aí. Recebemos dezenas de designs, e minha mãe não estava muito interessada em que você usasse um vestido da Rosewood, visto que —
— Visto que ela vestiu alguns dos Seelies no passado, — a rainha continua. — Eu não queria você usando um de seus vestidos. Quando vi o nome dela do lado de fora do pergaminho, quase o joguei fora sem abri-lo.
— Mas havia algo sobre seus desenhos que continuávamos voltando, — diz Aurora. — Algo que apenas... nos cativou. — Um olhar sonhador aparece em seu rosto.
— Eles se tornaram muito adoráveis, — admite a rainha. — Eu posso ver porque essa mulher Rosewood se tornou popular nos últimos anos.
— Você enviou um convite para ela? — Aurora pergunta. — Eu quero conhecê-la.
— Claro que não, querida. Eu te disse que não era apropriado. Ela tem conexões com a Guilda e vestia os Seelies antes. Podemos ter decidido usar uma de suas criações, mas não me senti confortável em tê-la aqui. Pedi a Lemon para mandar alguém pegar os vestidos e ser discreta sobre isso.
— Oh, Em, está é Lemon, a propósito, — acrescenta Aurora, gesticulando para a mulher que entrou com as criadas. — Nossa criadora mestre de roupas. Ela provavelmente fez a maioria das roupas que você encontrou em seu guarda-roupa.
— Oh. Obrigada, Lemon. — Eu tento não rir do nome estranho. — Você fez um bom trabalho.
Ela acena para mim. — Obrigada, minha senhora. E sim, mandei Jefford buscar os vestidos hoje de manhã, e tive a certeza de passar a importância da discrição. Disse a ele que não queremos o constrangimento de ninguém saber que nos associamos a alguém que já trabalhou com os Seelies, mesmo que o trabalho dela seja bom.
— Que bobo, — Aurora resmunga. — As pessoas vão descobrir de qualquer maneira. Somos da realeza, pelo amor de Deus. É uma honra desenhar para nós, então tenho certeza de que Raven Rosewood vai falar para as pessoas.
— Ela vai? — A rainha pergunta. — Eu duvido que ela queira arriscar sua reputação com os Seelies.
— Ela não vai dizer nada, — diz Lemon. — Jefford deixou os vestidos no meu quarto com uma nota dizendo que tudo correu bem. A designer aceitou seu pagamento e alegremente concordou em ficar quieta sobre seu envolvimento.
— E quando as pessoas perguntarem esta noite? — Aurora diz. — Porque você sabe que algumas dessas mulheres vão querer saber quem vestiu a nova princesa. Tudo com o que eles se importam é com as últimas tendências e novidades, e assim que virem Em, em, digamos, luvas de bolhas de champanhe, todos eles estarão adicionando a mesma coisa para suas novas roupas.
— Sério? — Eu pergunto. — Isso é tão bobo.
— Esse é o tipo de influência que você tem como princesa, — Aurora diz com um sorriso de satisfação. — Uma vez eu usei sprites vivos pendurados em minhas orelhas, e na festa seguinte, eu vi pelo menos cinco outras garotas usando a mesma coisa.
— Pobres sprites, — murmuro, imaginando as criaturas que parecem pequenas pessoas aladas amarradas aos lóbulos das orelhas de Aurora.
— Se alguém perguntar pelo nome do designer, diga que é um segredo, — diz a rainha. — Diga a eles que nossa chefe criadora de roupas tem um aprendiz especialmente inventivo, e queremos mantê-lo em segredo conosco.
Aurora suspira. — Tudo bem. De qualquer forma, precisamos decidir qual deles usaremos para que todas nós possamos começar a nos preparar.
— Hum, eu pergunto ao Roarke o que ele decidiu usar? — Eu sugiro.
— Sim, — a rainha responde. — Aurora e eu vamos verificar se todos os ajustes para o novo vestido dela foram feitos corretamente, e então ela vai encontrá-la na suíte do Roarke.
Com um brilho nos olhos, Aurora acrescenta, — Mamãe não confia em você para relatar com precisão a roupa de Roarke sem minha ajuda.
— Aurora, — a rainha repreende. Então sua expressão se transforma em um sorriso de desculpas. — Bem, suponho que seja verdade. Desculpe, Emerson.
Eu dou de ombros, então congelo com meus ombros puxados para cima, lembrando que a rainha não gosta de encolher os ombros. — Está bem. Vejo você lá, Rora. — Eu saio correndo do quarto, esperando até que eu esteja fora da suíte antes de relaxar meus ombros.
O chão de mármore brilhante passa rapidamente sob meus pés enquanto eu me dirijo para a suíte de Roarke. Eu bato na porta dele, mas depois de esperar vários segundos, nem ele nem um de seus criados me chamam para entrar. Eu bato de novo e espero, mas ainda nada. A ausência de guardas fora de sua suíte me faz duvidar que Roarke esteja dentro, mas ele mencionou que às vezes seus guardas patrulham mais ao longo dos corredores do lado de fora desta ala do palácio. Eu abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça dentro. — Roarke?
Sem resposta. Sabendo que Aurora estará aqui em poucos minutos, decido esperar na sala de estar do Roarke até ela se juntar a mim. Fecho a porta e ando devagar pelos sofás, comparando a suíte com a de Aurora. Móveis semelhantes preenchem o espaço, embora em um estilo menos delicado, com madeira escura e acabamentos em preto brilhante. Eu ando até a janela e descubro que tenho uma excelente visão de uma escultura que eu nunca fui capaz de ver corretamente no chão: uma cobra gigante que se ergue em direção ao céu, cercada por arbustos de rosas negras. Assustador, penso quando me afasto da janela.
De canto do olho, noto movimento perto da porta do quarto. Algo escuro, como uma sombra deslizando pela parede. Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém lá — Roarke ou um de seus criados — mas ninguém está atrás de mim. Eu me viro para o local, meus olhos percorrendo cada centímetro da sala. Eu olho para a parede novamente, mas as sombras criadas pela mobília e decoração estão imóveis. Deve ter sido algo de fora. Um pássaro voando pela janela, talvez. Ainda assim, este é um palácio cheio de magia e encantamento, então é possível que eu tenha visto a sombra de algo que agora está se escondendo nesta sala comigo.
A ideia envia um arrepio no meu pescoço e no meu cabelo. Seja corajosa, eu me lembro. Esta é a sua casa agora. Você não pode ter medo em sua própria casa. Forçando minhas pernas a se mover, ando pela sala novamente. Eu me inclino e olho embaixo da mobília. Eu puxo as cortinas para longe da parede e olho atrás. Pelo o que posso dizer, estou sozinha nesta sala.
Mas este não é o único cômodo da suíte. Meus olhos deslizam para a porta que leva ao quarto. É lá, afinal, onde eu vi o movimento quase agora. Eu atravesso a sala e espio pela porta entreaberta. Eu vejo outra janela e parte de uma cama de dossel. Sem movimento ou som, então, depois de um momento, abro a porta o suficiente para entrar no quarto. O quarto que logo será meu também. A cama que logo será minha.
Uma imagem de Roarke e eu juntos nessa cama passa pela minha mente antes que eu possa pará-la. Eu engulo em desconforto e tento afastar a imagem. Eu evito pensar sobre essa parte específica do nosso acordo, mas agora que estou olhando para a cama que em breve pertencerá a nós dois, é impossível não pensar no que terá de acontecer nela.
Eu me afasto quando um arrepio sussurra através da minha pele. Eu ainda tenho tempo, eu me lembro. Hora de encontrar uma saída para todo esse acordo. O anúncio do noivado acontecerá hoje à noite, mas a cerimônia de união na verdade não acontecerá por mais algumas semanas.
Uma voz na sala de estar me assusta, mas é apenas o Roarke. — Sim, por favor, feche a porta, Marvyn, — diz ele. — Eu vou ter apenas alguns minutos. — Expirando e quase rindo de mim mesma por meus medos bobos, eu volto para a porta. Espero que Roarke não fique muito irritado depois que eu explicar por que estou em seu quarto.
Mas eu paro quando ouço uma segunda voz. Uma voz feminina.
— Ainda é seguro conversar aqui? — Ela pergunta.
— Sim, — Roarke responde. — Nós não seremos ouvidos.
Capítulo 09
MERDA. EU CUBRO MINHA BOCA COM MINHA MÃO E CONGELO.
— Você tem certeza? — Pergunta a mulher.
— Sim. Meu pai não tem controle sobre essa suíte. Meus homens vasculham diariamente por encantamentos e insetos espiões, e não encontraram nada em anos.
— Ainda assim, — a mulher diz enquanto seus passos atravessam a sala. — Alguém pode nos ver através da janela. — Sua voz soa familiar, mas eu não consigo descobrir de onde. Eu ouvi tantas mulheres da corte desde que cheguei aqui. Pode ser qualquer uma delas.
— Eu duvido. Estamos muito alto. E se alguém nos ver, e daí? Eu sou o príncipe e tenho o direito de falar com quem eu quiser.
Minha imaginação salta imediatamente para a pior conclusão. Raiva aquece minhas veias com o pensamento de Roarke me traindo. Que outro motivo ele encontraria uma mulher em particular em sua suíte? Uma mulher que não quer que ninguém veja os dois juntos? E não é como se eu estivesse com ciúmes, mas ele deve se casar comigo em algumas semanas! Eu alcanço a porta, prestes a abri-la completamente e exigir que esse tipo de coisa não continue depois que nossa união acontecer.
— Tudo bem, então, — diz a mulher. — Então, o que você está fazendo sobre as sombras?
Eu paro com minha mão levantada. Sombras? Eu não estava esperando isso.
— Você tem que controlá-los, Roarke. Não podemos tê-los aterrorizando este mundo. Ou o outro mundo. Nós não podemos viver lá até que eles tenham sido completamente erradicados.
— Está tudo bem. Meus homens estão cuidando disso.
— Como o guarda que apareceu morto? Enrugado e velho?
Roarke suspira. — Você me disse que não ficaria chateada com isso.
— Eu estive pensando nisso e decidi que tenho todo o direito de ficar chateada com algo assim. A mesma coisa poderia acontecer com a gente.
Eu inclino minha cabeça em direção à porta, desejando poder ver a linguagem corporal deles. Desejando descobrir a natureza do relacionamento de Roarke com essa mulher.
— A mesma coisa certamente não acontecerá com a gente, — assegura ele. — Aconteceu apenas com aquele guarda porque ele foi estúpido o suficiente para deixar uma sombra pegá-lo quando ele não estava usando seu amuleto. E ele deveria saber o feitiço certo para lutar contra, mas claramente ele era muito lento. O resto dos meus homens sabe o que estão fazendo.
— Bem, eles certamente estão demorando um pouco para fazer o trabalho. Todo esse tempo perdido. O edifício parou. O castelo e o terreno estão ali meio formados e...
— Relaxe. Leva tempo para preencher um mundo.
— Tempo em que outra pessoa poderia descobri-lo e reivindicá-lo como seu território.
— Quem vai reivindicá-lo? Ninguém mais sabe disso.
— Isso não é verdade agora que você deixou outras pessoas verem.
— Eu já disse a você, — diz Roarke. — Nem meu pai nem a Aurora têm algum interesse em reivindicar esse mundo como seu. Ele continua com as mesmas crenças que tinha no começo, e você sabe que Aurora está mais interessada em —
— Eu não quero dizer eles. — Há uma pausa em que eu me aproximo para ter certeza de que não estou perdendo as próximas palavras dela. — E a sua futura esposa? E o guardião que estava com ela? — Um arrepio passa por mim. Eu dou um passo silencioso para trás, como se eles pudessem de alguma forma sentir a minha presença se eu estiver muito perto da porta.
— Emerson não sabe o que viu, — Roarke diz, — e eu duvido que ela se importe. Ela provavelmente assumiu que era parte do mundo fae. Ela não sabe o suficiente sobre este reino para assumir que seria qualquer outra coisa. Quanto ao guardião... bem, duvido que ele tenha alguma pista do que viu também. Guardiões são treinados para lutar, não para pensar.
— Você não deveria subestimá-lo, — diz ela sombriamente.
— E você não deveria estar se preocupando.
— Tudo bem. Bem. Então não estamos com pressa. Mas ainda estou preocupada com as sombras. Como estão passando? E é só aqui no palácio, ou você acha que eles são capazes de chegar a qualquer parte deste mundo? Ou... — Ela faz uma pausa por um momento. — Eu me pergunto se eles são capazes de passar para o mundo humano.
— Se conseguirem, será problema da Guilda, não nosso.
— Verdade.
— E isso provavelmente não vai acontecer, porque meus homens estão garantindo que todas as sombras em breve estarão mortos.
— Bom. Bem, então eu posso pegar o manto que eu vim pegar? Marvyn pode ficar desconfiado se eu sair sem ele.
— Marvyn já está desconfiado, — Roarke diz com uma risada, — mas eu vou pegar o manto de qualquer maneira. — Seus passos se movem em direção ao quarto. Eu xingo sob minha respiração — o que envia uma imagem de Dash pela minha mente por apenas um segundo; ele não ficaria impressionado com a minha linguagem escolhida. Eu passo pela única outra porta e entro no banheiro de Roarke. Deslizando por trás da porta entreaberta, eu prendo a respiração.
E é quando vejo o que está na parede à minha esquerda.
Eu coloco minha mão sobre a minha boca para reprimir o meu suspiro assustado. Um grande círculo de magia cintilante e ondulante ocupa a maior parte da parede. Elétrico de uma cor azul, com pedaços escuros e finos subindo das bordas e desaparecendo, a magia gira preguiçosamente em forma de espiral que parece ser sugada para o centro.
Um portal?
Uma pequena parte de mim está curiosa para saber para onde isso leva — se é que é mesmo um portal — mas, na maioria das vezes, tenho pavor do que pode estar do outro lado. Eu me inclino o máximo que posso enquanto ainda permaneço escondida atrás da porta do banheiro. Felizmente, Roarke leva apenas alguns segundos em seu quarto. No momento em que eu o ouço sair, saio rapidamente do banheiro e fico perto da porta aberta do quarto.
— ... preocupado com Marvyn e essas suspeitas dele? — A mulher misteriosa pergunta.
— Não, não preocupado. Ele é pago bem o suficiente para manter suas suspeitas para si mesmo.
— Bom. Bem, vou deixar você se preparar para o seu anúncio de hoje à noite. Estou animada que esta união será finalmente oficial. Espero que a cerimônia aconteça em breve.
— Vai, — diz Roarke.
Vários momentos de silêncio seguem, em que começo a me sentir ainda mais confusa do que antes. Esta mulher quer esconder seus encontros com Roarke do jeito que uma amante secreta faria, mas está feliz que ele vai se casar comigo?
Eu ouço a porta principal da suíte abrir e fechar. Eu me pergunto se eles foram embora, mas então escuto os pés de Roarke — mais pesado que o da mulher — atravessarem a sala de estar. Apavorada que ele possa voltar ao seu quarto, eu começo a andar na ponta dos pés em direção ao banheiro. Mas o raspar de uma cadeira me diz que ele provavelmente está sentado agora. Eu me abaixo perto da cama de qualquer maneira, só no caso de eu ter que escorregar para debaixo dela rapidamente para me proteger.
Depois de vários minutos que parecem horas, ouço uma batida na porta. Então a voz de Aurora quando a porta abre: — Oh, onde está Em?
Droga.
— Como eu deveria saber? — Roarke pergunta. — Eu pensei que ela estava com você.
Droga, droga, droga.
Faço a única coisa em que consigo pensar: corro para a janela mais próxima, jogo minhas pernas sobre ela e me abaixo do outro lado. As pontas dos meus sapatos de cetim do tipo bailarina procuram pontos de apoio entre os tijolos de mármore. Os sapatos ficarão arranhados quando eu voltar para dentro, mas espero que ninguém perceba. Eu desço com cuidado, parando quando meu pé sente a abertura de uma janela próxima abaixo. Eu me movo para o lado, desço mais alguns tijolos e espio pela lateral da janela. Parece uma sala de estar privada. Cadeiras confortáveis, um armário cheio de bebidas, um espelho emoldurado a ouro repugnantemente ornamentado em uma parede e pinturas de mulheres seminuas nas outras. Mas o mais importante, não há ninguém nela.
Eu piso no peitoril da janela e pulo para dentro. Segundos depois, eu estou no corredor, andando o mais rápido que posso sem arriscar a atenção se por acaso eu passar por alguém. Eu rapidamente percorro algumas curvas até chegar à escada que leva à ala da família real. Eu corro para cima e quase colido com Aurora no topo.
— Oh, ai está você, — ela diz, alívio aparecendo em seu rosto. — Eu pensei que você estivesse indo para a suíte do Roarke. — Eu procuro em suas feições qualquer sinal de suspeita, mas tudo o que vejo é confusão.
— Ele não está lá, — digo a ela. — Uma das criadas disse que ela o viu perto da biblioteca, então fui procurá-lo. Perda de tempo, no entanto, já que ele não estava lá também. Tem certeza de que ele terminou com seja lá qual for o negócio importante com o qual ele estava lidando esta manhã?
— Sim, eu acabei de vê-lo em seus aposentos.
Eu reviro meus olhos e rio. — É isso o que acontece quando você mora em uma casa do tamanho de uma cidade pequena. Podemos passar o dia todo procurando um pelo outro e nunca nos encontrar.
— E isso, — Aurora diz quando ela pega meu braço e vira para a suíte, — é por isso que temos criados para procurarem por nós. De qualquer forma, eu vi a roupa de Roarke. Eu acho que vai combinar esplendidamente com o vestido rosa dourado. Você está feliz com isso?
Estou feliz com qualquer coisa que desvie a atenção de Aurora do fato de que eu não estava onde deveria estar. Espero que, se Roarke questionar meu paradeiro depois, ele acredite na minha história com a mesma facilidade. — Isso soa perfeito, — digo a ela. — O rosa dourado é meu favorito.
Eu a sigo de volta para sua suíte, onde uma enxurrada de atividades já começou. Cabeleireiros e maquiadores organizam seus instrumentos e feitiços. Lemon, a conjuradora de roupas, cuida de pequenas imperfeições em nossos vestidos. As criadas da rainha entram e saem com mensagens da mãe de Aurora sobre joias, enfeites de cabelo, lanches e outros assuntos triviais. E o tempo todo, minha mente está cheia da conversa que eu não deveria ouvir e da magia que eu não deveria ver.
Capítulo 10
QUANDO A NOITE CHEGA, O INVERNO SE ESTABELECE E O SALÃO DO BAILE ESTÁ VIVO com atividade. Mulheres em vestidos lindos e homens em trajes tradicionais de faeries — calças de terno e jaquetas com gola alta com ombros afiados — se misturam na pista de dança no centro do salão de baile. Dezenas de mesas redondas rodeiam a sala, cada uma com uma escultura de gelo de um dragão formando o coração das peças centrais. Do lustre de vidro no centro do teto, cordas de pequenas luzes cintilantes irradiam. E do próprio teto, flocos de neve brilhantes caem, desaparecendo em nada antes de alcançar a cabeça de qualquer pessoa.
Fico em um lado da sala com Aurora e duas damas de companhia que, ao que parece, tiveram permissão para voltar das férias para qual Aurora as enviou. Elas conversam sem parar, ocasionalmente enviando olhares curiosos na minha direção, enquanto eu tento fingir que estou interessada no que elas estão falando. A verdade é que minha mente não poderia estar mais longe dessa festa. Eu não consigo tirar o pensamento sobre as sombras da minha cabeça. Roarke e aquela mulher estavam obviamente falando sobre o lugar que ele e Aurora me levaram no dia em que me encontraram no meu antigo quarto na casa de Chelsea. O lugar de onde Dash e eu fugimos de uma criatura sombria e disforme — uma sombra? — e acabamos de volta ao mundo fae perto do buraco no véu. Com todas as coisas ocupando minha mente, eu mal pensei naquele incidente até esta tarde.
Meu olhar atravessa a multidão enquanto eu me pergunto qual delas estava no quarto de Roarke mais cedo. Pode ser qualquer —
— E o que te trás a Corte Unseelie, Em? — A pergunta vem de uma das companhias de Aurora. Mizza? Algum nome estranho assim.
Eu levo um segundo para colocar meu sorriso no lugar, mas Mizza não parece notar. — A Guilda queria me prender, mas alguns dos Unseelies — guardas pessoais do Principe Roarke, na verdade — me resgataram.
Ela solta um suspiro como uma dama e coloca uma mão contra o peito. — Oh, que emocionante. O príncipe estava com eles no momento? Ele é tão bonito, não acha?
— Por que a Guilda queria prendê-la? — A outra jovem dama pergunta.
O nome dela escapou completamente de mim. — Eu sou uma Dotada Griffin, então a Guilda achou que eu merecia ficar presa.
Ambas as damas ficam boquiabertas, mas eu mantenho meu sorriso sereno. Tenho permissão para começar a compartilhar a primeira parte da minha história agora — menos os detalhes da minha Habilidade Griffin. Ao mencionar o nome do Roarke ao falar do meu resgate, espero que as pessoas acreditem nele quando ele se levantar mais tarde e anunciar que eu sou o amor da sua vida.
— É uma história muito excitante, — acrescenta Aurora, — e prometo que vou contar tudo sobre isso depois. Mas agora, quero apresentar a Em para algumas outras pessoas.
— Não foi tão ruim, foi? — Ela pergunta baixinho conforme me leva para longe.
— Hum... eu não sei. Eu não escutei muito do que elas disseram.
— Em! — Ela bate no meu braço, mas seu horror zombeteiro logo se transforma em um sorriso. — Eu suponho que é tudo muito difícil para você, se você nunca esteve em um evento como este antes. Tantas distrações.
— Sim, — murmuro, observando um pégaso em miniatura passar. Erguendo os olhos, noto que há muitos deles no ar, cada um com um tom pastel diferente. Enquanto eu observo, uma mulher estende a mão, pega um e morde a cabeça.
— Oh, — eu suspiro, parando. — Isso é horrível.
— O quê? — Aurora segue meu olhar e começa a rir. — Oh, Em, é apenas um bolo voador. Eles não são criaturas reais. — Ela fica na ponta dos pés e agarra um. Ele luta em seu aperto, mas no momento em que ela puxa sua asa, ele para de se mover. — Vê? Apenas bolo e glacê. — Ela estende a asa para mim, e debaixo da camada externa rosa pastel, eu vejo um bolo cor de caramelo.
— Hum, não, obrigada, — eu digo quando ela tenta me fazer pegar parte da asa. — Isso é perturbador. — Eu olho para longe da mulher compartilhando o pégaso decapitado com sua amiga e me concentro em suavizar minha carranca. — Então, as pessoas sabem que há uma razão pela qual elas estão aqui, além do aniversário de sua mãe?
— Ninguém sabe ao certo, mas todos suspeitam de um anúncio de compromisso, — diz Aurora. — Eu ouvi as palavras ‘casamento’ e 'união' várias vezes enquanto passeava esta noite.
— E eu não devo confirmar suas suspeitas se alguém me perguntar?
— Não. Vamos deixar as pessoas imaginando por um pouco mais de tempo. Elas podem espalhar muitos rumores ao redor deste salão de baile o quanto quiserem até que Roarke faça o anúncio. Agora, vamos ver. — Ela toca no colar de pérolas negras apoiadas na base do pescoço, quando olha em volta. — A quem eu posso apresentar a você — Oh. Deixa pra lá. — Os músicos na plataforma elevada do outro lado do salão de baile pararam de tocar. Aurora olha em direção à porta maciça arqueada junto com todos os outros na sala. — Meus pais chegaram, — ela sussurra para mim.
Quando o Rei e a Rainha Unseelie são anunciados, todos os convidados no salão de baile se curvam ou fazem reverências. — Bem-vindos, — grita o rei Savyon enquanto todos nós nos levantamos. — Obrigado por se juntarem a nós enquanto celebramos o aniversário da Rainha Amrath. Hoje à noite, vocês se deliciarão com o melhor entretenimento, comerão os pratos mais exóticos e dançarão até o sol nascer. Que as celebrações comecem!
O lustre explode e o salão de baile se enche de guinchos e suspiros. Eu me abaixo e olho para cima, meus pensamentos se debatendo para descobrir o que está acontecendo. Um ataque externo? O rei está perdendo a cabeça e matando a todos nós? Mas quando a fumaça se dissipa, vejo centenas de objetos semelhantes a paraquedas flutuando em direção à multidão. Os murmúrios de medo se transformam em sussurros de espanto, depois em risadas e dedos apontando. Aurora pega dois paraquedas e entrega um para mim. Uma pequena caixa em forma de cubo pende de um dossel de pétalas. Quando coloco a caixa na palma da mão, os lados e o topo desaparecem, revelando uma rosa prateada dentro.
— Perfeito, — Aurora diz com um sorriso. — Eles saíram exatamente como a mãe queria que saíssem.
— O que é isso?
— Chocolate. — Ela ri. — E um feitiço que evita que você se canse até o sol nascer. Nós vamos festejar a noite toda. — Ela coloca a rosa em sua boca e gesticula para eu fazer o mesmo. Eu mastigo o chocolate amargo enquanto olho em volta para as pessoas pulando para pegar paraquedas, passando para seus amigos e comparando as rosas para ver se elas são todas iguais. Meu olhar cai sobre um homem olhando para mim — e meu coração quase para quando eu reconheço Dash.
Eu fico em choque quando ele olha para longe e duas mulheres pulando para pegar paraquedas o bloqueiam momentaneamente de ser visto. Não pode ser ele. É um truque da minha imaginação, minha mente transformando outro jovem em Dash. No entanto, eu pisco e espreito de mais de perto, uma parte de mim esperando que seja realmente ele. Mas não é. Seu cabelo está diferente, e seu braço, noto quando ele alcança um dos paraquedas caindo, está nu, sem as marcas de um guardião.
— Oh, olhe! — Aurora agarra meu braço e me puxa. Ela aponta para cima, enquanto a luz da sala escurece e pessoas em collant brilhantes descem pelo ar do teto. Eles deslizam graciosamente entre as cordas de luzes e ficam pendurados logo abaixo delas, girando lentamente e dando cambalhotas com movimentos coordenados para acompanhar a música misteriosa. Isso me lembra um pouco do nado sincronizado, ou tecido acrobático onde os acrobatas ficam pendurados em pedaços de tecido. Exceto que agora, não tem água para flutuar. Não há tecido para ficar pendurado. Esses artistas estão suspensos no ar por magia.
A noite continua com a dança — eu consigo não errar - comendo e bebendo, intercalada com várias formas mágicas de entretenimento extravagantes: malabaristas jogando bolas coloridas no ar, onde se transformam em doces de arco-íris que fazem sons de estalo e disparam doces em forma de estrela para todos; uma mulher soprando bolhas em qualquer forma que seu público solicite; um par de centauros que galopam e fazem uma dança dramática antes de galoparem para longe; e um homem que persuade sua magia em um dragão do tamanho de Imperia feito inteiramente de fogo.
Minha imaginação parece estar sobrecarregada de todas as coisas fantásticas que eu vi no espaço de apenas algumas horas, quando Roarke finalmente vem até mim. Eu o vi de longe esta noite, vestido de forma semelhante à maioria dos outros homens, mas com os punhos e gola alta de sua jaqueta feita de tecido em relevo dourado. Nós concordamos há alguns dias que não falaríamos ou dançaríamos juntos até depois do anúncio. Então, se ele está na minha frente agora, isso deve significar...
— Minha adorável Lady Emerson, acredito que temos um anúncio para fazer.
Eu engulo quando meu estômago se agita. — Oh. Que horas são? — Eu esperava adiar o maior tempo possível. De fato, parte de mim tem fingido a noite toda que se eu me recusasse a pensar sobre isso, isso nunca aconteceria.
— Não vamos deixar nossos convidados esperando por mais tempo. — Roarke coloca a mão nas minhas costas e me direciona para a plataforma elevada onde os músicos estão sentados. — Acho que elevamos o suspense por tempo suficiente. Todo mundo está se divertindo, mas agora não há um único convidado nesta sala que não esteja se perguntando qual é a bela dama que seu príncipe escolheu para ser sua esposa. Vamos afastar todas as suas especulações sussurradas.
Quanto mais nos aproximamos da plataforma, mais silenciosa a sala se torna. Finalmente, ao subirmos os três degraus que conduzem ao lado, os silêncios reinam, interrompidos apenas pelo sussurro ocasional e o farfalhar de saias. — Lembre-se de mostrar a todos como você está feliz, — Roarke murmura, seus lábios mal se movendo e seu sorriso continua no lugar.
Não tenho certeza se posso fingir estar feliz agora, mas posso pelo menos esconder meu medo. Enquanto Roarke encara a multidão e eu fico parada ao lado dele, eu tento imitar a maneira como ele se porta, empurrando meus ombros para trás, e levanto meu queixo levemente. Eu forço meus lábios em um sorriso que eu possa controlar.
Então eu cometo o erro de olhar para o salão de baile lotado. Centenas de rostos olham para mim com expressões que variam de curiosidade para aversão absoluta. Não mostre medo, não mostre medo. Eu pisco e estabeleço meu olhar na parede distante, logo acima da linha de pessoas. Não se mexa, permaneça equilibrada, continue sorrindo. Mas apesar da minha máscara de confiança, um rugido distante começa a encher meus ouvidos. Meu coração bate tão descontroladamente que temo que eu possa realmente ter uma parada cardíaca.
Roarke começa a falar, mas eu ouço apenas pedaços do que ele está dizendo: meu passado no reino humano, meu status de Dotada Griffin, meu resgate da Guilda. Eu ouço as palavras ‘uma corte rápida’ e 'profundamente apaixonado', e então, finalmente, Roarke olha para mim, pega minha mão na dele, e diz, — Eu nunca estive mais feliz do que no momento em que meu pai nos deu permissão para nos unirmos. — Ele encara a multidão novamente, segurando a minha mão. — E então, meus senhores e senhoras, eu apresento a vocês a mulher com quem estarei me unindo em exatamente doze dias: a linda, cativante e gentil Emerson.
Silêncio cumprimenta as palavras finais do príncipe. Ele paira, se expande, pressiona meus ouvidos e, finalmente, estoura. Gritos, brindes e aplausos preenchem meus ouvidos e, de repente, essa união parece real demais. Eu sei que eu concordei com isso, mas enquanto não era oficial, eu achava que encontraria uma saída. Mas agora que todo mundo sabe, parece quase impossível. Pela primeira vez, isso me atinge — realmente me atinge — que eu vou ter que fazer isso. Eu vou casar com um príncipe. Este palácio e essas pessoas vão se tornar minha vida. Tudo isso vai se tornar a vida da minha mãe também. Pelo tempo que for necessário para descobrir como vamos escapar.
— Vamos dançar agora, meu amor? — Roarke me pergunta.
Não confiando em mim para falar, eu simplesmente aceno. Ele me leva para baixo da plataforma e em direção ao centro do salão de baile enquanto a música recomeça. Minhas pernas começam a tremer com o pensamento de um salão de baile inteiro de pessoas nos assistindo dançar, mas Roarke levanta a voz e incentiva a todos a participarem. Com conversas animadas, eles correm para encontrar parceiros enquanto Roarke e eu nos encaramos e nos movemos para a posição inicial.
Já dancei várias vezes esta noite, mas agora é diferente. Ninguém se importava com quem eu era antes. Ninguém prestou atenção em mim. Mas agora, mesmo que todos estejam dançando também, sinto seus olhos em mim. Teria sido ótimo se minha Habilidade Griffin fosse capaz de me dar à habilidade de executar cada passo com perfeição, mas aparentemente minha Habilidade Griffin não sabia como fazer isso. Então, fico concentrada em todos os movimentos, em cada detalhe intrincado, em cada giro e pivô. Felizmente, com um parceiro especialista como Roarke, é fácil esconder o erro estranho e a hesitação.
Parceiros se movem ao nosso redor enquanto a música muda de novo e de novo, mas Roarke se agarra a mim para várias danças. Ele pressiona um beijo sob o meu ouvido em um ponto, e eu tenho que trabalhar fortemente para não me encolher. Eu digo a mim mesma para ficar grata por ele não beijar meus lábios. Eventualmente, ele me entrega a outro parceiro, e agora eu realmente tenho que me concentrar, minha atenção dividida entre ter uma conversa educada e seguir os passos.
O tempo passa. Eu continuo circulando a sala, mudando para um novo parceiro sempre que é apropriado. Embora eu esteja completamente fora da minha zona de conforto, a música me incita a continuar dançando. Ou é o chocolate encantado que comi antes?
Danço, converso, mudo de parceiro, repito. Começo a me perguntar por quanto tempo eu tenho que fazer isso antes que eu possa sair da pista de dança e dar um tempo de tudo. Eu giro ao redor e para os braços de outro parceiro. Um homem, que percebo com meu segundo choque da noite, que reconheço afinal de contas.
Dash.
Capítulo 11
MEUS PÉS TROPEÇAM EM UM IMPASSE. UMA COMBINAÇÃO ESTRANHA DE ALEGRIA E HORROR dispara através de mim. O cabelo de Dash está completamente diferente, como eu percebi anteriormente, e vários dias de barba para fazer melhoram seu disfarce. Mas é definitivamente ele.
— Não pare de dançar, — diz ele, me forçando a acompanhar a música. Então, depois de dar aos dançarinos em volta dele um sorriso agradável e totalmente falso, ele sussurra, — Qual diabos é o seu problema?
Outro segundo de choque passa antes que eu encontre minha voz. — Eu? Qual o seu problema? Como até mesmo você — o que você — você sabe o que Roarke e Aurora farão se reconhecerem você?
— Eles me viram por cinco segundos naquele dia. Eles não vão me reconhecer agora.
— Mas como você —
— O que você está fazendo aqui, Em? Por que você está aceitando essa charada de união estúpida? Eu esperava encontrar uma prisioneira e, em vez disso —
— Nós não vamos ter essa discussão aqui, — eu digo a ele com os dentes cerrados, meu sorriso completamente esquecido agora. — Encontre-me lá fora. — Eu me livro de seu aperto e viro. O homem que eu encontro parece assustado. Ele e a mulher com quem ele dança quase tropeçam. Mas, felizmente, depois de dois ou três segundos desastrosos, todos trocam de parceiros e, para qualquer um que esteja observando, parece que a quase-princesa acidentalmente tentou trocar alguns segundos antes. Felizmente entro nos braços do homem confuso e continuo dançando, tentando manter um sorriso sereno no lugar enquanto meu coração troveja no meu peito.
Ainda mal posso acreditar. Dash está aqui. Através da minha raiva e terror — porque esse é exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando evitar quando escolhi vir para cá, e agora ele está bagunçando tudo — eu estou dolorosamente feliz em vê-lo.
— Foi horrível crescer no reino não mágico? — Pergunta meu parceiro de dança.
— Hum, bem, eu não conhecia nada melhor, então eu não sabia o que estava perdendo.
— Deve ter sido emocionante ter descoberto que você pertence a este mundo em vez disso.
— Sim. Magia é... muito maravilhosa. — Estou distraída quando vislumbro Dash com outra parceira.
Quando a dança termina, consigo recusar educadamente a mulher que esperava ser minha próxima parceira. Deslizo por ela e saio da pista de dança, entre as mesas e cadeiras, e em direção à porta em arco que leva aos jardins. É estranho olhar e ver uma paisagem branca como a neve enquanto me sinto tão quente que estou quase suando. Deve haver um feitiço na porta aberta que mantém o ar frio do inverno lá fora.
Olhando para trás, vejo pelo menos duas mulheres vindo em minha direção com olhos brilhantes e sorrisos largos, provavelmente esperando conversar comigo. Maravilha. Agora que todo mundo sabe quem eu sou, eu nunca sairei desse salão sem ser notada. Eu procuro por uma distração, e na mesa mais próxima, vejo um dos doces do arco-íris estourando. Eu discretamente deixo cair no chão, levanto a saia e chuto para o lado. Ele gira para longe da multidão, zumbindo, estalando e atirando doces minúsculos em todos os lugares. Na comoção, encontro os olhos de Dash por um segundo. Então me viro e saio para a noite.
O frio me atinge no momento em que passo por baixo do arco, mas depois de toda aquela dança, o ar gelado é um alívio bem-vindo. Depois de descer correndo as escadas, viro à direita, saio do caminho e espero à sombra de uma árvore com maçãs prateadas, salpicadas de neve penduradas em seus galhos. Eu expiro longamente e devagar, mas minha ansiedade só aumenta quando os segundos passam e eu espero por Dash.
Eu fico tensa quando passos apressados descem as escadas. Dash olha ao redor, me vê, e com alguns passos rápidos ele está na minha frente. — Qual é o seu problema? — Ele exige imediatamente. — Andando por aí como se você pertencesse aqui. Participando dessa idiotice de união. Você não pode estar planejando —
— Você quer falar sobre idiotice? — Eu retruco. — Você é idiota. Por que veio aqui? Essas pessoas são seus inimigos. Você sabe o que farão com você se descobrirem o que você é e para quem você trabalha?
— Eles são seus inimigos também, Em, mas de alguma forma você os deixou manipular para se casar com um deles —
— Eu não fui manipulada coisa nenhuma, — eu digo, ainda tentando manter minha voz nada mais alto do que um sussurro irritado. — Eu escolhi estar aqui. Roarke apresentou uma solução — casamento em troca de curar minha mãe — me deu tempo para pensar sobre isso, e eu decidi aceitar sua oferta. A única pessoa que quer me forçar a fazer coisas é o rei, mas Roarke não o deixa. Ele quer uma esposa disposta. Ele não vai me manipular para fazer qualquer coisa contra a minha vontade, apesar do que você está pensando.
Dash parece que ele está prestes a ficar doente. — Você... você veio aqui voluntariamente? Ninguém te obrigou a isso?
— Sim. Ele ofereceu algo que eu queria e decidi que o preço valia à pena.
— O preço é um casamento, Em! Uma união! Você parou para pensar o quão sério é isso? Estamos falando do resto da sua vida. As uniões neste mundo não são como as do seu mundo. É um vínculo mágico que não é facilmente quebrado. E uniões reais? Eu nunca ouvi falar de uma união sendo quebrada. Se você continuar com isso, é para sempre.
Eu reviro meus olhos, mesmo quando o peso de suas palavras perfura meu núcleo e deixa minha pele mais fria do que há um momento atrás estava. — Agora você está sendo um idiota novamente. Eu não pretendo realmente que essa união aconteça. Eu tenho uma Habilidade Griffin, pelo amor de Deus. Uma extremamente poderosa. Quando for o momento certo, e quando eu tiver aprendido bastante controle sobre ela, eu vou pedir ao Roarke para me dizer tudo que eu preciso saber para curar minha mãe, e então eu vou escapar.
Dash ainda parece um pouco doente. — Sério? Esse é o seu plano? Você realmente acha que depois de tudo isso lá — ele acena genericamente na direção do salão de novo — eles vão deixar você escapar?
— Tudo bem, primeiro de tudo, ‘escapar’ implica que eu não vou pedir permissão. Eu vou embora. Então não importa se eles vão me deixar ou não. E em segundo lugar... — Eu lentamente respiro profundamente porque eu tenho que admitir que estou me sentindo tão doente quanto Dash parece. Em segundo lugar, percebo que escapar pode não ser possível. Eles podem me pegar e me forçar a participar desta...
— Você acha?
— ... apesar de tudo que Roarke diz sobre querer uma esposa disposta, — eu continuo, interrompendo Dash. — E se é assim que acaba, então que assim seja. Pelo menos eu vou pegar as informações que preciso, e então —
— Isso se Roarke realmente prosseguir com seu lado da barganha e dizer a você o que ele sabe — o que provavelmente não é nada, a propósito. Como ele pode saber mais sobre sua mãe do que o resto de nós? Mas quando você descobrir isso, será tarde demais para você. — Ele ergue as mãos e olha para o lado enquanto balança a cabeça. — Todo esse seu plano é totalmente inútil.
Um calafrio me percorre. Meu corpo esfria rapidamente, e o ar do inverno parece estar se infiltrando em meus ossos. Eu corro minhas mãos vigorosamente para cima e para baixo nos meus braços. — Não é inútil. Magia negra prendeu minha mãe em um coma permanente, e Roarke, como um membro da corte que usa esse tipo de magia, sabe como acordá-la. E, mais importante, ele sabe o que causou sua doença mental. Foi algo mágico, e ele sabe como consertar isso.
— Ele está mentindo, Em, — Dash diz com o tipo de tom que ele usaria conversando com uma criança ingênua. Distraidamente, ele move a mão em um movimento rápido e circular acima da minha cabeça, e eu imediatamente começo a me sentir mais quente. — Você realmente acha que um príncipe mimado sabe alguma coisa sobre doenças mentais mágicas? Ele diria qualquer coisa para você ficar e dar-lhe acesso total à sua Habilidade Griffin. Por que você não consegue ver isso?
— Ele não está mentindo. Ele sabe muito mais sobre o meu passado do que qualquer outro que eu tenha encontrado neste mundo. Ele já provou isso para mim. Ele é minha melhor chance de salvar a minha mãe.
— Mas... isso é só... — Dash se debate por um momento. Ele puxa seu cabelo, que eu percebo que é uma peruca quando se solta em sua mão, revelando seu próprio cabelo bagunçado por baixo. — Eu sei que você quer que sua mãe esteja melhor, — ele diz, seus olhos voltando aos meus, — mas por que sua saúde e felicidade têm que ser exclusivamente responsabilidade sua? Ela é realmente — Ele se interrompe, respirando pesadamente. Eu sei que isso vai me fazer soar como o cara mau. Eu não quero te perguntar se ela vale à pena, porque claramente —
— Como você pode pensar isso? — Eu arquejo.
— Eu não estou! É isso que eu estou dizendo. É claro que ela vale a pena. Ela é sua mãe, e claramente você a ama mais do que tudo em qualquer mundo, mas... — Seus olhos me imploram. — Ela quer que você faça isso? Ela quer que você jogue fora toda a sua vida no que é provavelmente uma tentativa fútil de salvar a dela?
— Eu não estou jogando fora toda a minha vida! — Eu grito. Então eu me lembro. Lembro das palavras de Aurora — meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares — e abaixo a voz novamente. É quase um sussurro agora. Meus lábios mal se movem enquanto eu falo. — Eles podem me forçar a um casamento, mas isso não significa que eu ficarei aqui para sempre. Minha Habilidade Griffin me faz mais poderosa que a maioria das pessoas neste mundo. Mamãe e eu vamos escapar um dia.
— Mesmo que isso seja possível, — diz Dash, — quantas coisas ruins eles vão te obrigar a cometer antes disso?
— Eu... eu... — Eu não tenho uma resposta para isso.
— Por que você acha que eles querem você, Em? Para que você possa deixar o trabalho sujo dele mais fácil, é por isso. — Ele pega meus ombros e me dá uma pequena sacudida. — Essas pessoas não são boas. Com certeza você sabe o tipo de coisas que elas vão fazer você fazer?
Eu me liberto de seu aperto. — Você está errado. Roarke não é assim, e Aurora também não. — Mas o rei é, uma voz silenciosa me lembra. Aquela cena no escritório do rei — a cena que continuo empurrando para fora dos meus pensamentos — aparece abruptamente na frente da minha mente. O rei com a mão apertando o ar, e a cabeça do homem sendo arrancada de sua —
Eu pisco e estremeço e desvio o olhar.
— Sério? — Dash diz. — Eles não são assim?
Eu posso dizer sem encontrar seus olhos que ele sabe que estou mentindo. Eu dou uma respiração trêmula. — Eu vi... alguma coisa. — Eu pisco de novo e balanço a cabeça, tentando forçar a memória para longe. Eu me concentro nos olhos verdes de Dash novamente, sabendo que não há sentido em tentar convencê-lo com mentiras que eu também mal acredito. Não há sentido em nada além da verdade. — Que outra escolha eu tinha, Dash? — Minha voz é um sussurro desesperado agora, tendo perdido seu tom defensivo. — Estas são as únicas pessoas que podem me ajudar.
— Você poderia ter confiado em nós! Eu e todo mundo no oásis. Queremos ajudar você, Em. Nós não fizemos nada, além de tentar ajudá-la desde que você chegou a este mundo, e isso não mudaria. Eu não entendo porque você simplesmente virou as costas para tudo isso e —
— É por isso, Dash! Foi por isso que eu tive que ir embora.
Ele faz uma pausa, as sobrancelhas subindo mais alto. — Isso deveria fazer sentido?
— Você e seus amigos não fizeram nada além de tentar me ajudar e isso quase matou vocês. Você virou uma estátua de vidro. Lembra disso? Você e Violet chegaram tão perto de morrer. Morrer, Dash! — Minha voz se eleva quando meu peito aperta com a lembrança daquele dia aterrorizante.
— Sim, mas não morremos. Não é grande coisa.
— Claro que foi importante! Você quase morreu porque tentou me ajudar. E Chelsea e Georgia realmente estavam mortas, e elas teriam ficado assim se minha Habilidade Griffin não tivesse feito uma aparição conveniente. Então, depois de tudo isso, eu decidi que não queria que ninguém mais fosse colocado em risco por minha causa e de minha mãe.
— Em —
— Sim, eu tinha tudo que queria no oásis. É lindo, é seguro, as pessoas são incríveis. Mas se eu tivesse ficado lá, alguém teria acabado ferido ou morto porque tentaram me ajudar. Isso é problema meu. Ela é minha mãe. Se há um preço envolvido em fazê-la voltar ao normal, sou eu quem devo pagar. Ninguém mais.
Dash fica em silêncio por muito tempo antes de dizer, — É tarde demais para isso.
Eu pisco, sentindo frio novamente, apesar do feitiço de calor de Dash ainda me cercando. — O que você quer dizer?
Ele balança a cabeça e olha para o outro lado. — Isso... não era assim que eu queria te contar. Eu queria te levar para longe daqui primeiro. De volta ao oásis.
— Antes de me dizer o quê? — Eu me aproximo e envolvo uma mão fria em torno de seu braço. — Me dizer o quê, Dash? O que aconteceu?
— Chelsea e Georgia... — Ele fecha os olhos e pressiona os lábios antes de continuar. — As duas... morreram.
Eu solto minha mão de seu braço tão rapidamente como se sua pele tivesse me queimado. — O quê?
— Aconteceu cerca de dois dias depois do incidente de vidro com Ada.
— Mas... elas não podem estar mortas. Minha Habilidade Griffin as trouxe de volta a vida.
— Elas eram humanas, Em, — ele diz gentilmente. — Sua Habilidade Griffin pode ter funcionado nelas, mas seus corpos não conseguiram lidar com a magia. No final, isso as matou.
— Mas... você tem certeza de que elas eram humanas? Quero dizer, ela é irmã da minha mãe e minha mãe é uma faerie. E sobre todos os remédios herbáceos que Chelsea fez? Eu pensei que talvez... talvez fosse realmente mágico.
Dash não oferece explicações; ele apenas balança a cabeça. — Eu sinto muito, Em.
— Elas... elas estão realmente mortas? — Eu sussurro. — Minha magia as matou. Eu pensei que isso as salvou, mas as matou.
— Em —
— Eu matei minha própria família.
— Não foi você quem as matou, — diz Dash, sua voz repentinamente feroz. — Ada fez isso com sua horrível magia de vidro. Ela as quebrou em milhares de pedaços. Você fez o que pôde para salvá-las, mas não foi o suficiente. Elas estavam condenadas desde o momento em que ela as tocou pela primeira vez.
Minhas pernas não conseguem me segurar. Eu caio no chão, sem um segundo pensamento sobre o vestido caro que eu provavelmente estou estragando. Respirações rápidas e superficiais me consomem enquanto olho para o jardim. Dash ainda está falando, mas não consigo mais ouvi-lo. Eu não sei como devo reagir a isso. Chelsea e Georgia não me amavam, e eu não as amava; Eu não posso fingir o contrário só porque elas estão mortas. Mas elas eram da família. Elas me acolheram, embora constantemente deixassem claro que eu era um peso para elas. E agora elas estão mortas e eu não consigo descobrir o que devo sentir além de me sentir culpada.
— Eu nunca quis nada disso, — eu consigo sussurrar. Eu cubro meu rosto com minhas mãos, desejando que eu pudesse apagar este outro mundo e sua magia que deixou minha vida completamente fora do meu controle. — Alguém pode simplesmente levar tudo isso embora? Por favor. Eu não quero essa magia. Eu não quero uma Habilidade Griffin. Eu não quero casar com um príncipe. Eu só quero voltar para aquela vida simples que mamãe e eu tivemos antes que a magia a deixasse louca e tudo começasse a desmoronar.
Eu sinto o braço de Dash no meu ombro e o sinto agachado ao meu lado. — Eu queria poder —
— Emerson?
Eu respiro fundo ao som da voz do Roarke. Lentamente, eu abaixo minhas mãos e o observo descer as escadas.
— O que está acontecendo? Por que você está no chão?
Dash se levanta para encará-lo.
— Você, — Roarke diz lentamente, reconhecimento em seus olhos. — Bem, agora. — Seu olhar se move para mim enquanto sua expressão se torna ilegível. — Se isso não é uma situação interessante.
Capítulo 12
EM MENOS DE UM MINUTO, EU ME ENCONTRO DE VOLTA DENTRO DO CALOR DO palácio em uma pequena sala de estar em algum lugar perto do salão de baile. Apesar do turbilhão de emoções me dominando, eu não ouso desobedecer Roarke quando ele proferiu — Siga-me. — em um tom mais frio do que o ar do inverno. Dash hesitou, mas logo nos alcançou. De volta ao salão de baile, ninguém parou o príncipe ou sua noiva. Ninguém sequer olhou em nossa direção. Eu suspeito que a magia de Roarke seja a responsável por isso.
A porta da sala de estar se fecha sozinha. Chamas ganham vida na lareira. — O que ele está fazendo aqui? — Roarke exige imediatamente, apontando para Dash sem olhar para ele.
— Eu... eu não... — Eu corro minhas mãos pelo meu rosto, tentando me concentrar nas palavras de Roarke e vendo apenas os olhos sem vida de Chelsea e Georgia. Seus corpos frios. Sozinhas em suas camas em sua pequena casa em Stanmeade. Eu pisco e olho para as chamas crepitantes dançando na lareira, na esperança de queimar a imagem brilhante e quente em minha mente. — Eu não sei, — eu digo finalmente, me afastando do fogo. — Fiquei tão chocada quanto você por vê-lo aqui. Essa coisa ainda está ligada a mim — Eu toco o pedaço de metal do tamanho de uma moeda atrás da minha orelha — então nenhuma mágica deveria ter sido capaz de me localizar.
Roarke atravessa a sala. Seus dedos envolvem o braço de Dash. — Onde estão suas marcas de guardião?
Dash puxa o braço para longe e solta uma risada curta. — Tem essa coisa que as garotas usam. É chamado de corretivo. Funciona muito bem para cobrir —
— E como você entrou no meu palácio?
Dash leva seu tempo cruzando os braços sobre o peito antes de encarar Roarke. — Sua mãe decidiu terceirizar o design do vestido de Em para esta noite. Quando um de seus empregados veio buscá-las, tive a certeza de estar lá, pronto para ocupar o lugar dele. Seu transporte me trouxe de volta aqui. Foi tudo incrivelmente fácil, na verdade.
— E como você sabia que Emerson estava aqui em primeiro lugar?
— Um palpite, acho que mais um processo de eliminação. Eu achei que poderiam ser vocês, os Seelies ou a Guilda que a prendiam. Perguntei por aí, e a Guilda e os Seelies ainda pareciam estar sob a impressão de que Em estava morta ou desaparecida. Sabe, desde o incidente no penhasco. — Dash dá de ombros. — Portanto, tinha que ser vocês.
— Então você contou aos seus superiores tudo sobre suas suspeitas, e eles te recompensaram deixando você entrar furtivamente em minha casa e meter seu nariz indesejado ao redor? Duvidoso. Você não parece estar na hierarquia mais alta da Guilda para ter uma missão tão importante quanto recuperar uma perigosa e poderosa faerie Dotada Griffin como Emerson.
O olhar de Dash se estreita um pouco. — Eu não estou aqui representando a Guilda.
— Ah. — Roarke acena com a cabeça. — Eu tive a sensação de que poderia ser algo nesse sentido. — Ele caminha até a cômoda do outro lado da sala e abre uma gaveta. — Você e Emerson pareciam estar ficando muito confortáveis quando Aurora e eu encontramos vocês dois juntos em seu antigo quarto. — Ele fecha a gaveta e se vira para nos encarar novamente. — Depois que ela escapou da Guilda. Quando você — um guardião — não deveria saber nada sobre o paradeiro dela. — Ele balança a cabeça e solta uma risada silenciosa. — Um traidor para sua própria espécie, eu vejo. Que decepcionante.
A expressão do Dash escurece. — Na verdade não. Acontece que eu discordo de marcar, rastrear e aprisionar Dotados Griffin.
— E você tem alguma marca em você, garoto guardião? Para que alguém possa convocá-lo ou determinar sua localização?
— Eu disse a você que não estou aqui em nome da Guilda, então por que eu seria estúpido o suficiente para deixar alguém me marcar?
— Bom. — Roarke se move em direção a Dash. — Mas apenas no caso ... — Sua mão gira e bate na lateral do pescoço de Dash.
Quase rápido demais para ver, Dash pega o braço de Roarke e o torce, girando o príncipe ao redor e prendendo o braço atrás das costas. — O que você acabou de fazer? — Dash sibila. O som de um chiado percorre o ar, e com um grito, Dash empurra Roarke para longe dele. — O que —
Roarke se endireita, rola os ombros e ajusta o colarinho de sua jaqueta. — Eu não gosto de ser maltratado.
Dash toca o lado do pescoço dele. — O que é isso? — Quando sua mão se afasta, vejo um pequeno círculo de metal como o atrás da minha orelha.
— Uma precaução, isso é tudo, — diz Roarke.
— Como você ousa —
— Você entra em minha casa e quer saber como eu ouso a —
— Parem! — Eu grito. Minha Habilidade Griffin ainda não está pronta para emitir um comando mágico, mas meu grito é suficiente para fazer Roarke e Dash pararem e olharem em minha direção. — Apenas ... apenas parem. — Minha voz vacila. — Minha tia e prima estão mortas, e vocês dois estão agindo como crianças mesquinhas.
Uma carranca puxa as sobrancelhas de Roarke para baixo. — Sua tia e prima? Com quem você viveu no mundo não-mágico?
Eu olho para trás em direção ao fogo enquanto eu aceno. — Dash me contou. Do lado de fora. É por isso que eu estava sentada no chão. Eu estava... eu simplesmente não consigo acreditar.
— Estas são as pessoas de quem você particularmente não gostava? — Roarke pergunta, seu tom não indelicado, apenas curioso. — Aquelas que te trataram mal desde que você se mudou para a cidade para viver com elas?
Eu concordo. — Mas elas ainda eram da família. Bem, eu não sei o que elas eram. Mamãe e Chelsea eram irmãs, mas mamãe é uma faerie e Chelsea era humana, então... elas não podem ter sido irmãs? Eu não sei. Eu não entendo. — Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas novamente e fecho meus olhos. — Mas eu morei com elas. Por anos. Eu pensei que elas eram da família, e agora elas morreram.
Eu ouço os passos silenciosos de Roarke se aproximando antes que ele coloque uma mão cuidadosamente contra as minhas costas. — Eu sinto muito, Emerson. Eu não posso imaginar como é isso. Mas posso prometer isto: você está prestes a ter uma família totalmente nova. E embora possa não ser óbvio do lado de fora, nós nos importamos um com o outro. Nós vamos cuidar de você também. Você será uma de nós e finalmente pertencerá a algum lugar. Você e sua mãe.
Do outro lado da sala, Dash bufa e resmunga algo em voz baixa. Eu quase faço o mesmo, porque é claro que o verdadeiro motivo de Roarke não tem nada a ver com o desejo de me dar uma nova família e um lugar para pertencer. Ele quer minha Habilidade Griffin. Mas talvez haja mais do que isso. Talvez ele realmente queira que essa união funcione. Talvez ele planeje cuidar de mim pelo resto de nossas vidas.
— Você vai ficar, é claro, — Roarke diz para Dash. — Para a cerimônia. Você é amigo de Emerson. Tenho certeza que ela vai querer que você esteja aqui.
— Sua cerimônia é daqui a duas semanas, — Dash diz antes que eu possa expressar minha própria opinião. — Eu não posso ficar aqui por tanto tempo. Eu tenho um emprego, lembra?
— Você também tem o desejo de parar esta união, — Roarke aponta. — O que significa que, se eu deixar você sair, você dirá à Guilda exatamente o que está acontecendo, e eles tentarão interromper nossos planos e recuperar Emerson. Ou matá-la.
— Dash não diria —
— Você não sabe com certeza, — Roarke diz para mim. — Se você quer que esta união aconteça, então não podemos correr o risco que a Guilda se envolva.
— A Guilda vai se perguntar onde estou, — diz Dash.
— Deixe-os se perguntar então. Eles não sabem que você está aqui.
Dash exala lentamente, seus olhos brilhantes nunca deixando Roarke. — Eu sei que isso não importa para você, mas eu tenho casos importantes —
— Você deveria ter considerado isso antes de invadir minha casa, — diz Roarke.
— Tudo bem. — Dash força seus punhos para trás de suas costas e dá a Roarke o sorriso mais obviamente falso que eu já vi. — Muito obrigada pelo convite, Sua Alteza Real. Eu ficarei feliz em ficar aqui e participar da sua cerimônia de união.
Roarke acena. — Bom. Apenas certifique-se de que as marcas em seu pulso permaneçam cobertas. Não posso garantir sua segurança se meu pai descobrir o que você é.
— Certamente. E vou manter meus lábios fechados e não fazer perguntas sobre nenhuma das leis que vocês Unseelies quebraram ultimamente, ou sobre, digamos, aquele lugar sombrio e sem cor onde eu acordei depois que você sequestrou Em e eu.
— Perfeito. Espero que você não se esqueça dessa promessa, — Roarke acrescenta em um tom ameaçador.
— Então ... Dash é um convidado? — Eu pergunto. — Ou um prisioneiro?
Roarke olha para mim. — Você gostaria que eu fizesse dele um prisioneiro?
— Claro que não.
— Então ele é nosso convidado. — Ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu só quero te fazer feliz, Emerson. Você recebeu algumas notícias chocantes esta noite e tenho certeza de que será um conforto ter seu amigo aqui.
Minha carranca se aprofunda. — Mas você não confia nele e não quer que ele vá embora. Então, por que você o deixaria vagar livremente pelo seu palácio?
— Não se preocupe, ele será observado onde quer que vá. Se ele sair da linha, eu me certificarei de que a Guilda descubra que ele sabe muito mais sobre os rebeldes Griffin do que deveria. Duvido que ele consiga manter o emprego depois disso. — Ele olha para Dash. — Parece justo?
Dash inclina a cabeça no menor dos acenos. — Perfeitamente justo, já que eu planejo estar no meu melhor comportamento, Real Principesco.
Um músculo na mandíbula de Roarke se contrai, mas, felizmente, ele decide não retaliar a última parte. — Mais importante, minha querida Emerson, — continua ele, virando para mim, — eu gostaria de mostrar a você que eu me importo com a sua felicidade. Se isso significa tratar seu amigo guardião como convidado em vez de prisioneiro, então eu faço.
Eu ainda não sei se acredito nele, mas acho que vou descobrir nos próximos dias. — Tudo bem, — eu digo com cautela. — Obrigada.
— Vamos voltar para o baile agora. Afaste sua tristeza, meu amor, e junte-se à alegria. Você logo se sentirá melhor.
Eu duvido que isso seja verdade, mas também duvido que tenha escolha. Eu acho que o meu pedido para sair da festa, subir na cama e puxar as cobertas sobre a minha cabeça não iria cair bem. Então eu sigo Roarke para fora da sala e de volta para a festa. Eu respiro profundamente e pressiono meus lábios para evitar que estremeçam. Eu tomo a primeira bebida que é oferecida e de uma só vez, esperando que o liquido seja suficiente para entorpecer meus sentidos pelo resto da noite.
Quando está perto da meia-noite e minha Habilidade Griffin vem à tona, eu digo às palavras que fui obrigada a dizer. Ninguém me ouve em meio ao barulho, mas todos gritam oohs e aahs em admiração aos seis arco-íris que se formam um após o outro do outro lado da sala, como se marcassem os doze pontos de um gigantesco relógio colorido. Eu gostaria de poder experimentar um pouco da admiração deles com a visão do que minha própria magia produziu, mas parece que as várias bebidas que eu consumi estão fazendo seu trabalho: eu não sinto mais nada.
Capítulo 13
QUANDO CLARINA ME ACORDA NA MANHÃ SEGUINTE, SINTO QUE alguém enfiou uma estaca no meu globo ocular. E uma chave de fenda no outro olho. Alguém deve ter também aumentado o brilho do sol; Eu só posso abrir meus olhos por cerca de meio segundo antes de ter que fechá-los novamente.
— Seu almoço está na sala de estar, minha senhora, — diz Clarina. — Todos estão comendo sozinhos hoje, conforme alguns ainda estão se recuperando da noite passada.
— Almoço? — Eu pergunto com uma voz rouca.
— Sim, é quase meio-dia, minha senhora. — Seus passos se aproximam e ela acrescenta, — A bebida ao lado de sua cama aliviará sua dor de cabeça.
Eu levanto lentamente e olho para o copo de cristal com um líquido claro. Quase pergunto como ela sabe sobre minha dor de cabeça, mas suponho que ela esteja aqui há tempo suficiente para ter plena consciência das muitas ressacas que se seguem de um evento como o baile da noite anterior.
— Sua piscina está cheia, — acrescenta ela.
— Obrigada. — Eu balanço minhas pernas sobre a borda da cama e olho para o chão por um tempo enquanto meu cérebro percorre os eventos da noite anterior. Eu lembro que Dash está aqui agora. Eu lembro que Chelsea e Georgia estão ... mortas.
Eu pego o copo e meus olhos caem sobre a roupa que Clarina escolheu para mim hoje, pendurada do lado de fora do guarda-roupa. Um casaco do tipo trespassado, na cor água-marinha com padrões de branco, verde e malva. As comemorações do aniversário da rainha continuam com um chá nos jardins esta tarde, então Clarina foi obviamente instruída a escolher algo apropriadamente festivo para mim. É bonito, mas não parece certo usar algo tão... vivo.
— Clarina? — Eu chamo, esperando que ela ainda esteja na sala ao lado.
— Sim, Lady Emerson? — Ela corre de volta para o quarto.
— Tudo bem se você escolher uma roupa preta para mim hoje? Ou cinza, talvez, se preto for deprimente demais para o chá da rainha?
— Hum, certamente, minha senhora. Isso deve estar bem. Eu acredito que há uma roupa na cor carvão com detalhes bordados de prata. Deve servir?
— Sim, obrigada.
Não sinto qualquer tipo de profunda tristeza pela perda de Chelsea e de Georgia. Eu ainda estou chocada, mal conseguindo acreditar que elas se foram, mas sei que não houve nenhum amor perdido entre nós. Ainda assim, parece errado simplesmente seguir em frente com a vida e esquecê-las. Eu preciso fazer alguma coisa, e se usar preto ou cinza é a única coisa que resta para mim, então é o que vou fazer.
***
A mistura no copo funciona notavelmente rápido, e minha dor de cabeça logo desaparece. Embora eu gostasse de mergulhar na piscina de bolhas roxas por muito mais tempo, eu provavelmente devo descobrir onde Dash está e ter certeza de que ele não se meteu em problemas.
Depois de me secar e me vestir, fecho os botões da minha roupa cor de carvão e ando descalço através da minha sala de estar em busca de um pouco de comida. Eu escolho o sanduíche mais normal e volto para o meu quarto para escolher um par de sapatos.
Ao ver uma figura sentada na beira da minha cama, eu congelo. Ele vira a cabeça - e percebo que é Dash.
— Caramba, Dash. Você está tentando me dar um ataque cardíaco? Como você chegou aqui?
Ele gesticula por cima do ombro para a janela onde a cortina ondula suavemente com a brisa morna. — Sua janela estava aberta. Eu subi por ela.
Eu quero dizer a ele que ele é tão ruim quanto eu, subindo pelas paredes do palácio, mas estou com medo de que alguém importante descubra que ele está no meu quarto. — Você não pode estar aqui, — eu sussurro. — Se Roarke ou o pai dele te encontrarem no meu quarto, de todos os lugares —
— Ninguém me viu, não se preocupe. Eu não saí do meu quarto pela porta, então qualquer um observando vai assumir que eu ainda estou lá dentro. E achei seu quarto com bastante facilidade. Não tive que procurar por muitos outros.
— Dash!
— O quê?
— E quem pode estar ouvindo agora? — Eu assobio.
Dash franze a testa. — Você está brincando certo?
Eu balanço minha cabeça. — Há olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Sim, mas no seu quarto? Isso é passar dos limites.
Eu me aproximo mais dele e abaixo minha voz ainda mais. — Depois de tudo que você me falou sobre essas pessoas, você realmente quer que eu acredite que há limites que eles não passaram?
Dash hesita. — Verdade.
— Quero dizer, eu não sei ao certo se alguém está ouvindo, mas Aurora me disse para ter cuidado com o que eu digo, não importa onde eu esteja.
Dash levanta o dedo para os lábios, indicando que eu deveria permanecer em silêncio. Ele começa a andar devagar pelo quarto, olhando, ouvindo, às vezes até cheirando. — A única outra magia que eu posso sentir neste quarto está vindo da sua cama, — ele sussurra. — O que é totalmente inapropriado, se você perguntar —
O edredom se move, uma forma desliza em direção à borda e um gato preto aterrissa no chão.
— Oh, — Dash diz, sua voz não mais que um sussurro. — É o Bandit?
Eu abro meus braços e Bandit pula para cima, mudando para um pássaro para ajudá-lo a ganhar altitude, e pousando em meus braços como um gato mais uma vez. — Sim. — Eu o abraço junto ao meu peito. — Eu queria que ele ficasse no — hum, onde estava seguro. Mas ele deve ter vindo comigo em uma forma pequena demais para eu notar.
Dash sorri e se aproxima para poder acariciar Bandit atrás das orelhas. — Jack ficará aliviado. Ele está muito preocupado com Bandit.
— Então você não acha que alguém está ouvindo? — Eu pergunto.
— Eu acho que não, mas mesmo que alguém esteja ouvindo, e daí? Não é como se eu estivesse agindo de forma inadequada em relação à futura princesa. Você e eu estamos apenas conversando. Se você preferir, podemos conversar na sua sala de estar, em vez de no seu quarto.
Eu reviro meus olhos. — Como se isso fizesse alguma diferença. Você ainda teria que explicar como passou pelos guardas do lado de fora da minha porta. E subir pela janela faz você parecer muito suspeito.
Ele solta um suspiro e senta-se na beira da cama novamente. — Eu só pensei que você poderia querer saber sobre... você sabe. O funeral.
O funeral.
Chelsea e Georgia.
Mortas.
— Você estava lá? — Eu pergunto.
Dash acena com a cabeça. — Sim. Você pode ou não lembrar que algumas das pessoas em Stanmeade eram realmente minhas amigas. Não amigos verdadeiros, é claro, já que eu nunca poderia ser totalmente honesta com ninguém, mas ... sim. Tenho amigos lá e senti que deveria estar no funeral. Só para apoiar alguém que fosse amigo da Georgia.
Eu aceno e murmuro, — Claro. Sim. Ainda não consigo acreditar que ela e Chelsea se foram. Elas sempre estavam lá, sabe? Minha horrível prima e tia de quem eu não podia esperar para fugir. Então eu finalmente consegui fugir, e agora ... — Eu balanço minha cabeça. Agora, porque Ada estava atrás de mim, ambos estão mortas. Dash pode tentar me convencer de que eu não deveria me culpar, mas sei que sou responsável. Indiretamente, talvez, mas ainda responsável.
Eu deixo Bandit pular para fora dos meus braços antes de caminhar até a cadeira no canto do meu quarto. É o tipo de cadeira elegante que ninguém quer realmente sentar - uma armação de madeira excessivamente embelezada com almofadas duras demais para serem confortáveis. No entanto, eu sento na borda e pigarreio. — Era, hum, havia muitas pessoas lá? No funeral?
— Sim. Quase todo mundo na cidade estava lá. Eu acho que Chelsea conhecia muita gente, já que ela administrava um dos únicos salões em Stanmeade.
Eu franzo a testa. — Ela era uma grande fã em espalhar fofocas e rumores e eu teria pensado que haveria muitas pessoas que não gostavam dela.
— Bem, você não precisa gostar de alguém para ir ao funeral.
Eu olho para ele. — As pessoas falaram coisas horríveis?
— Não. Apenas coisas boas foram ditas sobre ela. Sobre as duas. Foi tudo muito ... — Ele esfrega a mão no rosto. — Muito estranho. Muito trágico, por um lado, e ainda assim muito falso ouvir todas aquelas homenagens adoráveis sobre duas pessoas que eu testemunhei pessoalmente serem rancorosas em várias ocasiões. E parecia errado da minha parte pensar nessas coisas, mas como eu não poderia? Eu não poderia de repente transformar Chelsea e Georgia em outra coisa em minha memória só porque elas estão mortas.
— Eu ... apenas ... — Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei o que dizer ou pensar ou sentir. O que todos acham que foi a causa da morte?
— Um vazamento de gás.
— Eu suponho que a Guilda seja responsável por essa história?
— Sim. Foi à história mais fácil de inventar.
— Você acha... você sabe se ... — Eu hesito, imaginando se eu quero saber a resposta. — Elas sofreram? A magia em seus corpos as fez sofrer quando estavam morrendo?
— Eu não sei, Em. Eu sinceramente não sei. Espero que não.
Eu inclino meus cotovelos sobre meus joelhos. — Antes de você me contar o que aconteceu com elas, eu estava começando a pensar que todo esse tempo Chelsea também era uma espécie de faerie como eu e mamãe, e que os remédios herbáceos que ela fazia eram mágicos. Mas se elas continham magia, elas não teriam ajudado ninguém em Stanmeade. As pessoas teriam acabado doentes e possivelmente mortas, certo?
— Sim.
— Então Chelsea definitivamente era humana.
— Sim.
— O que significa que ela e minha mãe não podem ter sido irmãs.
Dash balança a cabeça.
— Eu me pergunto se Chelsea sabia. Eu me pergunto se minha mãe sabe, ou se ela acha que Chelsea era como ela. Alguém com magia que não pode ser acessada. — Eu esfrego meus dedos em movimentos circulares contra as minhas têmporas enquanto olho para o chão. — Eu ainda tenho muitas perguntas. Tantas lacunas na história da minha família que preciso que mamãe preencha para mim.
— Bem, espero que seu plano genial funcione e você tenha todas as respostas que procura.
Eu direciono uma careta para ele. — Isso não é apenas sobre respostas. Você sabe disso. Mesmo que mamãe não soubesse nada, eu ainda gostaria de acordá-la e curar sua mente.
— Sim, — ele diz baixinho. — Eu sei.
Eu o observo de perto por um tempo. — Por que você está aqui? Quer dizer, eu... — Eu afasto meu constrangimento conforme minhas bochechas esquentam. — Eu nunca fui legal com você. Certamente você não se importa o suficiente comigo para assumir o tipo de risco necessário para vir aqui.
Ele solta uma risada curta sem humor. — Não é uma questão de quanto eu posso ou não me importar com você. Isso não é apenas sobre você, Em. É sobre o que o Rei Unseelie vai fazer você fazer. Quantas vidas podem ser arruinadas porque você está sendo forçada a usar sua Habilidade Griffin contra sua vontade?
— Eu... eu não...
— E eu pensei que você fosse uma prisioneira aqui. Eu pensei que estava salvando você e todas as pessoas que você pode ser forçada a machucar no futuro. Eu nunca imaginei que você escolheu vir aqui. Que você se recusaria a ir embora assim que eu te encontrasse.
Eu olho para longe dele. — Eu sinto muito. Como eu disse ontem à noite, você não deveria me encontrar. Você deveria ficar longe e nunca se machucar novamente por minha causa.
— Isso nunca vai acontecer, Em. Eu não sou o tipo de pessoa para que fica sentado enquanto o Rei Unseelie põe as mãos na recente arma mais poderosa no reino das faeries. E eu não achei que você fosse o tipo de pessoa que simplesmente entregasse esse poder também.
Eu engulo a minha vergonha. — Bem, eu acho que sou, — eu digo em voz baixa, olhando para o chão. — Como quase todos os outros no mundo, estou apenas cuidando de mim mesma e das pessoas que amo. Eu não sou corajosa ou altruísta. Estou apenas fazendo o que tenho que fazer para sobreviver.
Do canto do meu olho, vejo Dash balançar a cabeça. — Você pode dizer a si mesma a mentira que quiser, mas eu sei que você é mais do que isso. Eu sei o que você fez em Stanmeade. Você parou o vidro de Ada de consumir a cidade inteira. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter mantido a localização da sua mãe em segredo e deixar aquele lugar se destruir. Mas você não fez.
— E que bem meu altruísmo fez então? — Eu exijo. — Eu dei a ela o que ela queria, mas ela parou seu ataque à cidade? Não. Eu tive que descobrir isso sozinha, e foi um acaso que a minha Habilidade Griffin apareceu no momento certo. Então, que diferença fará agora se eu me recusar a dar meu poder ao rei? Nada. Ele cometerá os mesmos atos malignos que ele planeja cometer. Pode demorar um pouco mais. — Me sinto doente com minhas próprias palavras. Eu não quero ajudar o rei a fazer nada. Mas realmente, o mundo é um lugar ruim e é assim que funciona. É assim que os dois mundos funcionam. A vida é uma merda e então você morre — assim como a velha música que Chelsea costumava ouvir às vezes. — Apenas algumas pessoas chegam a ser heróis, Dash, — digo em voz baixa. — E você pode ser uma dessas pessoas, mas eu não sou. Estou apenas tentando jogar a melhor mão das cartas que recebi.
Ele fica quieto por um momento, e tudo que consigo ver em seus olhos é tristeza. — Em algum momento, você vai perceber que isso — ele gesticula em torno dele — certamente não é sua melhor mão. Só espero que você descubra isso mais cedo do que tarde.
— E espero que você saia daqui mais cedo do que tarde. Não há necessidade de você se machucar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você sabe o que sou, certo? Machucar faz parte do trabalho.
E morrer? Eu quase pergunto. Mas eu não quero pensar nisso. Eu não quero falar sobre a morte quando ele já chegou tão perto disso. Não quando as mortes de Chelsea e Georgia ainda estão tão próximas.
— Além disso, — acrescenta ele. — Eu não acho que será tão fácil deixar este palácio como foi entrar.
Bandit pula de volta no meu colo. Eu acaricio seus pêlos negros e lustrosos e, em um esforço para desviar a conversa de assuntos tão pesados, pergunto, — Era verdade? A história que você contou a Roarke ontem à noite. Sobre entrar no palácio no lugar do empregado.
— Sim. Bem, principalmente. Não era eu que deveria vir para cá.
— Oh. — Eu olho para cima. — Quem deveria ser?
Dash me dá um olhar aguçado. — Eu prefiro não dizer o nome dela, apenas no caso. Mas eu tenho certeza que você pode descobrir, dado seu talento particular para... se ocultar.
Ah. Calla Eu concordo. — Eu acho que sei de quem você está falando.
— Teria sido muito mais fácil para ela se misturar. Mas o empregado chegou mais cedo do que o esperado para pegar o vestido no estúdio da minha mãe, então —
— Espere, sua mãe?
— Sim. Foi ela quem desenhou o seu vestido.
Minha mão continua nas costas de Bandit. — Sua mãe é Raven Rosewood?
— Sim. Eu te disse que ela é uma designer de moda, não foi?
— Sim, mas... eu nunca pensei... espera, seu sobrenome é Rosewood? — Isso não parece certo, mas agora não me lembro se eu soube o sobrenome de Dash.
— Não, é Blackhallow.
— Oh. Dash Blackhallow, — eu digo devagar, experimentando o nome.
— Dashiell Blackhallow, se formos técnicos. — Ele revira os olhos. — Muitos ls, eu sei. De qualquer forma, minha mãe ainda era Rosewood quando começou a desenhar. Esse é o nome que as pessoas a conhecem, então ela manteve.
— Então, dentre todos os designers deste mundo, a rainha acabou escolhendo sua mãe. Isso não pode ter sido uma coincidência.
Dash sorri. — Claro que não foi. Minha mãe ouviu que a Rainha Unseelie estava procurando um vestido especial. Não para ela, e nem para a filha. Os rumores sugeriam que uma nova jovem chegara ao Palácio Unseelie, e a rainha e a princesa tinham um interesse especial por ela. Normalmente minha mãe ficava longe de qualquer coisa a ver com os Unseelies, mas ela sabia que você desapareceu. Ela me contou sobre os rumores e essa ‘competição’ não oficial para desenhar o melhor vestido. Eu tinha quase certeza de que aquela garota era você, então eu disse à mamãe que um de seus vestidos tinha que ser escolhido, não importava o que acontecesse. Então nós encantamos seus desenhos. Um feitiço simples que fazia com que qualquer um que olhasse as páginas desejasse continuar voltando para elas. E funcionou. Ela foi escolhida.
Minha boca está aberta quando ele termina de falar. — Foi tão simples assim?
— Sim. E então o cara que veio pegar o vestido chegou muito cedo. Eu estava me escondendo, vendo minha mãe entregar o vestido sozinha, como ela havia sido instruída. Eu esperava que ela o mantivesse falando ou algo assim até que Ca — hum — até que nossa amiga chegasse, mas o empregado disse que ele estava com uma agenda apertada. Parecia bastante agitado por estar lá. Ele ficava olhando em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse naquele estabelecimento. Quando ele disse que sua carruagem estava encantada para dar meia-volta e sair em menos de cinco minutos, fiz a única coisa em que conseguia pensar: o fiz desmaiar e tomei o lugar dele.
— Então você pulou dentro de sua carruagem e tudo deu certo?
— Bem, eu vesti as roupas dele primeiro. E mamãe me encontrou uma peruca colorida apropriada de seus muitos recursos. E eu peguei a stylus dele e o âmbar, o que foi uma coisa boa, já que a porta da carruagem não abria até que eu segurasse a stylus contra ela, e eu estava quase sem tempo até lá. Ah, e havia dois guardas dentro da carruagem, mas eles estavam desinteressados o suficiente para que eles não notassem que meu rosto não era o mesmo do cara com quem eles estavam viajando.
— Mesmo? De jeito nenhum. Nenhum guarda é desatento aos detalhes. Eles devem ter percebido a diferença.
Dash hesita, um sorriso culpado esticando seus lábios. — Tudo bem, então eu posso ter discretamente borrifado alguma poção de contentamento quando entrei na carruagem.
— Poção?
— Minha mãe adiciona nos vestidos às vezes, a pedido de seus clientes. É estranho. Algumas dessas pessoas para quem ela desenha são super estressadas e tensas, e quando vão a esses eventos extravagantes, elas só querem relaxar um pouco. Fique contente e em paz, sabe? Eu estava com pressa, e o pequeno frasco de spray estava bem ali, então eu o peguei durante o caminho.
— E os guardas ficaram tão contentes que não perceberam que você não era o cara certo?
— Sim. Eu, talvez, tenha pulverizado um pouco demais. Felizmente, eu coloquei um escudo em volta de mim, caso contrário, eu provavelmente estaria tão contente que ainda estaria sentado naquela carruagem.
Eu pisco, incerta do que mais dizer sobre esse plano meio improvisado que realmente funcionou.
— Olha, não foi a minha operação secreta mais elegante, — admite Dash, — mas tudo correu bem. A carruagem me levou direto para o pátio do palácio e fui em direção de umas das portas. Levou um pouco de trabalho para descobrir para onde ir, mas não era nada que eu não pudesse lidar. Fingi estar um pouco tonto e confuso, elogiei uma das garotas que encontrei na cozinha e ela me mostrou para onde ir. Deixei o vestido com uma nota dizendo que o recolhimento correu bem e depois me escondi até o baile começar.
— Uau. Estou espantada por não ter dado tudo errado.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou bom em improvisar.
Minha mente recua para o início da sua história. — Então, eles — as pessoas com quem eu estava ficando — Eu não quero dizer as palavras ‘Rebeldes Griffin’ em voz alta — sabem que você está aqui?
— Sim.
Eu abaixo minha voz e me inclino para frente. — Você acha que eles virão aqui?
Dash hesita e diz em voz normal, — Não. Eles não sabem onde esse lugar fica. É por isso que um de nós precisava vir com o empregado. As Cortes Unseelie e Seelie estão escondidas, então muitas pessoas não sabem onde estão. — A maneira como ele está olhando para mim, seus olhos fixos nos meus, sugere fortemente que ele está mentindo. Também sugere que ele não está totalmente convencido de que alguém não está nos ouvindo.
— Merda, — eu sussurro para mim mesma. Os rebeldes Griffin provavelmente sabem como chegar a Corte Unseelie, e uma vez que eles perceberem que Dash não está voltando comigo, eles provavelmente virão direto para cá e farão tudo que puderem para levar nós dois. E, embora eu tenha certeza de que todos são incríveis lutadores mágicos, as chances são altas de que eles acabem feridos, mortos ou presos.
— Em? — Dash pergunta depois de vários momentos de silêncio da minha parte.
— É bom que eles não consigam encontrar este lugar, — eu digo em voz alta. Alta demais, provavelmente. Eu faço um esforço para parecer normal. — Eu sei que eles só estariam tentando ajudar, mas como eu disse a você ontem à noite, eu não estou precisando de ajuda.
Dash arqueia uma sobrancelha. — Se você não queria ajuda de ninguém, provavelmente deveria ter mencionado isso antes de fugir. Teríamos parado de trabalhar duro para descobrir o mistério que é a sua vida.
Um fragmento de culpa apunhala meu peito e gira. — Desculpe. Mas eu...
— Você pediu a nossa ajuda, lembra? Ou pelo menos ... — Linhas vincam sua testa enquanto ele a franze. — Nós oferecemos, e você disse sim. Algo parecido. Então você não pode nos culpar exatamente por investigar sua história familiar.
— Eu sei, eu só ia dizer que eu assumi que vocês iriam esquecer de mim quando eu fosse embora. Você tem muitas outras pessoas para ajudar, não é? E — espere, o que você disse sobre a história da minha família?
Ele suspira. — Nós tentamos descobrir sobre o seu pai. Como sua mãe não está acordada para esclarecer sua estranha situação, imaginamos que seu pai possa ajudar — se conseguirmos encontrá-lo. A única coisa que você mencionou sobre ele foi que ele pagou as contas médicas do hospital de sua mãe, então Chase foi lá para dar uma olhada nos registros. Ele é o único que sabe usar um computador, — acrescenta Dash com um revirar de olhos. — Ele cresceu em seu mundo, no caso de você não saber. De qualquer forma, ele disse que o arquivo de sua mãe tinha algum tipo de glamour nele. Ele podia ver os detalhes de Chelsea e todos os detalhes de sua mãe, mas qualquer coisa relacionada à pessoa que primeiro a checou e pagava todo mês estava... em branco. Os humanos que trabalham lá provavelmente veriam algo quando olhassem, mas Chase não conseguia ver nada.
— Então... ninguém estava realmente pagando por ela?
— Eu não sei. O ponto é que era um beco sem saída. Não conseguimos descobrir nada sobre o seu pai.
Meus ombros se curvam um pouco. — Está bem. É por isso que estou aqui, lembra? Esta união vai fazer a mente da minha mãe ser curada, e todas as respostas escondidas dentro dela serão finalmente desbloqueadas.
Passos atravessam a minha sala de estar. Eu agarro Bandit no meu peito e fico de pé abruptamente, bem quando Clarina para na porta. — Lady Emerson — Oh! — Ela olha fixamente para o chão. — Eu imploro seu perdão, minha senhora.
— Isso não é o que parece, — eu digo imediatamente. Eu não tenho certeza do que parece, mas não pode ser bom.
— Eu sinto muito, minha senhora. Eu bati na outra porta, mas —
— Eu não ouvi você, me desculpe.
— Eu não vou dizer nada, Lady Emerson.
— Não há nada a dizer, — asseguro com uma risada alta e ofegante. — Nós estávamos apenas conversando.
— Claro, — diz ela, balançando-se em uma breve reverência e mantendo os olhos no chão. — Por favor, me desculpe por interromper, mas o Príncipe Roarke gostaria de falar com você.
Meus dedos ficam tensos ao redor da forma de gato de Bandit. — Tudo bem. Obrigada. Onde devo encontrá-lo?
— Ele está esperando do lado de fora de seus aposentos por você, minha senhora.
— Oh. — Eu olho para Dash.
Ele sorri. — Bem, acho que vou sair do jeito que cheguei, então. Ainda bem que gosto de escalar.
Capítulo 14
EU ABRO A MINHA PORTA E ENCONTRO ROARKE DO LADO DE FORA. — Hum, bom dia. Boa tarde, quero dizer. Clarina disse que você queria conversar?
— Olá, meu amor. — Ele se inclina para frente e beija minha bochecha. Eu congelo e digo a mim mesma para não me afastar. — Você se recuperou das festividades da noite passada, eu vejo? — Ele adiciona.
Eu recuo para deixá-lo entrar. — Não há necessidade de se preocupar com o absurdo do ‘meu amor’. Ninguém mais está por perto para ouvir você, exceto Clarina.
— Oh, mas você é meu amor. — Roarke me dá um sorriso malicioso enquanto ele passa por mim para a sala. — Ou, pelo menos, eu espero que você seja um dia. — Ele acena brevemente para Clarina enquanto ela faz uma reverência e sai da sala. Ele se vira lentamente no local, olhando em volta, e quase espero que ele entre no quarto e comece a procurar por Dash. Mas então ele sorri serenamente e se senta à mesa ao lado da minha bandeja com o almoço.
E naquele momento, Bandit, que eu consegui manter escondido até agora, sai pulando do meu quarto na forma de um filhote de urso. Ele se transforma em lobo, pula no divã e voa para meus braços, pousando na forma de uma preguiça de cabelo azul. Eu permaneço imóvel, mas meu olhar pousa direto em Roarke. Pela primeira vez, ele parece totalmente sem palavras. Eu mordo meu lábio, esperando por sua resposta.
— Isso — é ... seu?
— Sim. É o Bandit. Ele veio quando você me trouxe para cá, embora ele deva ter estado em uma forma muito pequena para qualquer um de nós notar.
— Então ele esteve aqui com você — em seus aposentos — o tempo todo?
— Siiiim. — Minha voz é incerta, quase questionando. — Bem, eu não sabia que ele estava aqui nos primeiros dois ou três dias. Eu acho que ele pode ter ficado com medo do ambiente desconhecido, então ele permaneceu escondido por um tempo.
— Entendo. Que interessante.
Bandit se aconchega mais perto do meu peito e tenta enterrar a cabeça debaixo do meu braço. — Eu espero que você não desaprove, — eu digo com cuidado. — Eu gosto de tê-lo por perto. Ele... ele significa muito para mim. — O instinto me diz que eu não deveria revelar para o homem que eu ainda não confio que me importo com qualquer coisa. Ele pode optar por usar essa informação contra mim. Mas se Roarke se importa com a minha felicidade do jeito que ele alega, então ele não deve se importar com a presença de Bandit aqui.
— Bem, eu duvido que minha mãe aprovaria animais nos quartos, — Roarke diz, seu profundo olhar castanho-avermelhado fixo em Bandit, — mas ela não precisa saber. E se ela descobrir e tiver um problema com isso, lembrarei a ela como os Formattras são excepcionalmente raros e valiosos, e que se encaixaria uma princesa ter um como animal de estimação.
Eu concordo. — Legal. Obrigada. — Espero que Aurora sinta a mesma coisa e não surte quando conhecer Bandit.
— Qualquer coisa para fazê-la feliz, minha querida, — diz Roarke. — Agora, por que você não senta aqui para que possamos conversar? — Ele aponta para a cadeira ao lado dele na mesa.
— Hum, antes de conversarmos, posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele sorri para mim. — Minha futura esposa pode me perguntar qualquer coisa.
Eu atravesso a sala até a mesa e me sento. Eu levanto minha mão e toco o pequeno dispositivo circular atrás da minha orelha. — Eu sei que você colocou uma dessas coisas em Dash, mas e se ele conseguir tirar? E se a Guilda ou seus amigos descobrirem onde ele está e vierem atrás dele? Eu só não quero que ninguém mais interfira, lembra? — Para ser mais específica, não quero que ninguém acabe em algum calabouço Unseelie ou, pior ainda, enfrente o mesmo destino daquele homem que foi arrastado por uma caverna até o escritório do rei.
Roarke me examina de perto antes de responder. — Você realmente não tem nada a ver com o seu amigo aparecendo aqui, não é?
— O quê? Não, eu já te disse isso. Você achou que eu estava mentindo?
— Bem, eu seria um idiota em acreditar que você confia em mim. Talvez você tenha arranjado uma saída antes mesmo de chegar aqui.
— Eu não tenho. Eu disse a você que não queria que ninguém —
— Sim, eu sei. — Ele se inclina para trás. — Ainda assim, eu me perguntei se você poderia ser uma atriz muito convincente.
— Mas você não está mais se perguntando isso?
— Você ainda parece genuinamente preocupada com a possibilidade de os outros descobrirem que você está aqui. Então deixe-me tranquilizá-la, Emerson. Mesmo que alguém consiga localizar o paradeiro de Dash e, mesmo que cheguem ao local exato em que esperam encontrá-lo, não verão nenhum palácio. Somente se essa pessoa estiver na companhia de um de nossos guardas, será capaz de ver e entrar nos terrenos do palácio.
— Oh. Isso é... conveniente. — Parecido com... Não, sumiu. Eu quase consegui, uma imagem do lugar seguro pertencente aos rebeldes Griffin, mas é como tentar segurar fumaça. — Bem, me sinto melhor agora. Estou feliz que ninguém será capaz de interferir.
— Bom. — Roarke agita os dedos de uma mão pelo ar, e um pedaço de papel enrolado aparece em sua mão. — Agora, temos alguns preparativos para a cerimônia de união.
— Temos? — Eu nunca esperei ser consultada sobre os detalhes relacionados ao casamento. Eu assumi que a rainha e Aurora cuidariam de tudo isso. Como já foi dito muitas vezes, não faço ideia do que é apropriado e do que não é para eventos formais do mundo faerie.
— Você precisa memorizar os votos da união, — diz Roarke, colocando o papel sobre a mesa. — Tudo o que você precisa saber está neste pergaminho.
Eu quase comento como o uso de um pergaminho é antiquado — quero dizer, vamos lá. Certamente dobrar um pedaço de papel é mais simples e ocupa menos espaço — mas estou mais preocupada com o fato de ter que memorizar os votos. — Então, hum, eu não vou precisar repetir as palavras depois de alguém?
— Em parte dos votos, sim, mas as palavras estão em outro idioma, então você precisa praticar pronunciando-as corretamente. Há magia envolvida, então você não quer errar as palavras.
— Hum —
— E a outra parte da cerimônia são os votos privados que fazemos um ao outro sem que ninguém mais ouça. Você terá que memorizá-los.
— Oh. Por que eles são privados?
Sua expressão fica confusa. — Porque eles são apenas para os nossos ouvidos. — Por baixo da mesa, a mão dele desliza no meu joelho. — Coisas especiais e românticas que queremos dizer um ao outro.
— Oh. — Eu inclino um pouco para o lado, movendo minha perna para fora de seu alcance. — Mas... então por que precisamos dizê-las? Você e eu sabemos que não estamos entrando nessa união por nenhuma das razões tradicionais. Nós não precisamos entrar em detalhes românticos.
Se Roarke está incomodado pelo fato de eu não querer que ele toque minha perna, ele não demonstra. — Como eu disse há pouco, nossos votos envolvem magia. Nós não podemos simplesmente pular essa parte.
Eu franzo ainda mais o cenho. — Mas... tudo bem. Eu só... não entendo muito bem. Se essas palavras extras são uma parte padrão da união mágica, então por que elas são privadas? Eu realmente preciso memorizá-las?
Roarke simplesmente ri. — Emerson, é assim que a cerimônia é feita. Tem sido assim por muito tempo. Nós não podemos simplesmente mudá-la porque você não sente vontade de memorizar as palavras.
— Não é que eu não me sinta assim. — Eu enfio meu cabelo atrás das minhas orelhas. — Estou preocupada que eu possa esquecer alguma coisa ou cometer um erro. Se é tão importante acertar tudo, então, o que há de errado em repetir depois de outra pessoa ou ler as palavras de uma folha?
Roarke suspira. — Você não lerá as palavras de uma folha, Emerson. Não é assim que é feito.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu alcanço o pergaminho e puxo para mais perto. — Então, você vai me explicar o que todas essas palavras significam, ou devo recitar um absurdo que eu não entendo?
O canto da boca do Roarke se ergue. — É uma coisa boa que eu esteja te ensinando essas palavras. Qualquer outra pessoa ficaria muito ofendida.
Eu me inclino para trás e desenrolo o papel, revelando muito mais palavras estranhas do que me sinto confortável. — Aurora não ficaria ofendida.
— É verdade, mas Aurora só vai aprender as palavras particulares quando for à vez dela. Não é apropriado que ela as conheça ainda.
— Ah, mais impropriedade. — Eu solto um longo suspiro. — Eu perguntaria por que é inapropriado, já que essa é uma parte padrão de todas as cerimônias, mas você provavelmente vai me dizer ‘é assim que é feito’.
— Sim. Isso é exatamente o que eu vou te dizer. — Seus olhos enrugam nos cantos enquanto ele sorri. — Estou muito feliz em ver que você está aprendendo.
Eu me inclino para trás em minha cadeira e começo a ler os votos em voz alta, fazendo o melhor que posso com as combinações não familiares de letras. Depois de três palavras, estou ciente de que provavelmente estou massacrando o idioma faerie. Roarke espera até eu chegar ao final da primeira linha antes de me tirar da minha miséria. — Tudo bem. Eu vejo que isso vai demorar mais do que eu pensava. — Outro giro de seu pulso produz uma pena. Ele entrega para mim. — Vou pronunciar cada palavra e você pode escrever de qualquer maneira que faça sentido para você.
Nós chegamos na metade da parte pública dos votos antes de uma batida rápida nos interromper e minha porta ser aberta. — Irmã, querida! — Aurora grita para mim. — Oh, você está acordada. — Ela fica na porta e sorri. — Olha quem eu encontrei vagando pelos corredores. — Ela se aproxima e puxa Dash para aparecer.
— Eu disse que o convidei para ficar, não é? — Roarke diz para ela.
— Sim, mas eu não o vejo desde o dia em que o atordoamos no quarto de Em no reino humano. Eu não dei uma boa olhada nele naquele momento. Ele é mais bonito do que eu me lembro, — acrescenta ela com um sorriso provocante, deslizando o braço através do de Dash e puxando-o para mais perto.
— Obrigado. — Ele lhe dá um sorriso igualmente paquerador. Eu cruzo meus braços e dirijo uma carranca em sua direção, mas tudo o que ele faz quando vê minha expressão é encolher de ombros.
— Você lembra o que ele é? Roarke diz para Aurora com desaprovação em seu tom.
— Claro que eu lembro. E eu lembro, — ela acrescenta em um sussurro falso, — que é segredo.
— Nós estávamos realmente ocupados com algo antes de você tão rudemente invadir aqui, — comenta Roarke.
— Ooh, sim, memorizando os votos. Que romântico. Posso dar uma olhada?
Roarke pega a página de mim e prontamente a enrola antes que Aurora possa chegar mais perto. — Não, você não pode. Eu não quero estragar nada para você antes de chegar a sua vez.
— Como você é atencioso.
Roarke bate minha mão com o pergaminho. — Podemos tentar de novo mais tarde, minha querida prometida — quando tivermos um pouco mais de privacidade. — Ele gira o pergaminho em sua mão e ele desaparece.
— A razão por eu ter entrado aqui, — Aurora diz, — foi sugerir que todos nós descêssemos juntos para o chá. E eu queria verificar se Em ainda estava dormindo.
— Oh, já está hora? — Eu pergunto. — Eu pensei que o chá fosse mais tarde.
— Chá? — Dash pergunta.
— Sim, no caramanchão da rainha no jardim. Mamãe oferece para aqueles que ficaram aqui depois da festa.
Afasto-me da mesa e me levanto. — Esperem, eu preciso colocar os sapatos. — Aurora me acompanha até o quarto para me ajudar a selecionar sapatos apropriados. Eu coloco os chinelos prateados rapidamente, não querendo dar a Roarke e Dash nenhum segundo para acabarem brigando.
Uma vez que nós quatro estamos no corredor — com vários guardas caminhando na frente e atrás de nós — Roarke pergunta a Aurora se ele pode falar em particular com ela. Os dois seguem em frente enquanto eu ando ao lado de Dash. — Eu me pergunto como Jewel se sentiria, — eu digo a ele, — se ela soubesse o tipo de atenção que você estava recebendo da encantadora princesa Aurora.
Dash suspira. — Espero que ela entenda, considerando o fato de que tivemos uma conversa recentemente e eu disse a ela que não me sinto da mesma maneira que ela se sente.
— Oh. Hum ... bom trabalho.
— Sim. Não foi do jeito que eu esperava.
— Desculpe. Isso deve ter sido estranho. Ela ficou muito chateada?
— Na verdade, ela me convenceu a ir a um encontro com ela.
Eu quase tropeço quando olho para ele surpresa. — Sério? Você disse que não tinha sentimentos românticos por ela, e essa conversa terminou com vocês dois indo a um encontro?
Ele me dá um olhar divertido. — Há algo de errado com isso? Algo sobre a ideia de eu ir a um encontro com Jewel que a perturba, talvez?
— Não se iluda. Estou surpresa, isso é tudo. Você não parece o tipo de pessoa que deixa uma conversa tomar outro rumo.
— Eu não deixei. Eu simplesmente decidi dar a ela uma chance.
— Uma chance?
— Ela me pediu para lhe dar um encontro. Eu disse a ela que não entendia, que não queria levá-la e que tinha certeza dos meus sentimentos. Ela perguntou como eu poderia ter certeza se eu nunca dei uma chance a esses sentimentos. Então... — Ele suspira. — Eu pensei que se — e se — ela estivesse certa. Então eu concordei.
— E?
Ele olha de lado para mim quando chegamos ao fim de uma escada. — Você parece muito interessada no resultado.
— Só porque estou tentando descobrir se você realmente é o jogador que sempre achei que fosse. Se você está namorando Jewel enquanto também entretém os sentimentos de Aurora... bem, isso não é legal.
— Entretém os sentimentos de Aurora? — Ele repete. — Cara, você aprendeu alguma linguagem extravagante desde que morou com os Unseelies.
— Ah, cale a boca e me diga o que aconteceu no encontro.
— Eu não acho que posso calar a boca e dizer algo ao mesmo tempo.
Eu cruzo meus braços no meu peito. — Dash.
— Bem. Foi estranho. Realmente estranho. Passei a noite toda com medo de que ela tentasse me beijar no final e pensar que seria exatamente como beijar uma —
— irmã?
— Sim. E isso é errado. Então, antes que isso acontecesse, eu disse gentilmente a ela que isso nunca iria funcionar.
— Tudo bem. — Chegamos à outra grande escadaria que leva a outro grande corredor. — Bem, eu estou feliz que você não a enrolou durante todo esse tempo.
— Claro que não. Eu sou realmente um cara decente, lembra? — Ele abaixa a voz. — Ao contrário do príncipe com quem você escolheu tolamente se casar.
— Eu não o escolhi. Não é assim, de qualquer maneira. Eu escolhi este acordo e ele faz parte disso. E você não o conhece. Eu acho que ele pode ser mais decente do que você pensa.
Dash bufa. — Certo. Tanto faz o que você diz.
Eu fecho meus olhos por um momento e suspiro. — Podemos, por favor, não discutir mais sobre isso?
— Certo. Diga-me então: como você tem preenchido seu tempo nas últimas duas semanas e meia? Tem sido tudo festas e chás com a rainha e esperar sua criada pessoal?
— Sim, tem sido uma perfeição absoluta, — digo secamente. — Eu esperei a minha vida inteira para que alguém escolha minhas roupas, prepare meu banho, faça minha cama e prepare minha comida.
Dash aperta os olhos para mim. — Sério?
— Não! Eu não aguento isso. Eu sou perfeitamente capaz de fazer todas essas coisas sozinha.
— Olha, você teve uma vida ruim com a Chelsea, — Dash diz, levantando as mãos em defesa, — então me perdoe por pensar que você realmente gostaria de ter alguém fazendo todo o trabalho duro.
— Eu não quero. É estranho. E eu não passei todo o meu tempo em festas e chás, na verdade. Aurora tem me ensinado muita magia básica, junto com alguns de seus hobbies, como arco e flecha e montar em dragão.
Quando chegamos a uma porta larga que leva ao exterior ensolarado, Dash para. Ele olha mais de perto para mim. — Montar em dragão?
— Vocês dois podem esperar aqui? — Aurora pergunta. — Roarke precisa me mostrar algo rapidamente.
— Sim, tudo bem, — Eu respondo.
Eles desaparecem em um corredor e Dash se vira para mim novamente. — Você disse montar em um dragão?
— Eu disse.
— Sério? Então você é uma cavaleira de dragões agora, assim como uma futura princesa Unseelie?
— Ainda não, mas gostaria de ser. Há algo de errado com isso?
— Não, é só... — Ele balança a cabeça. — Eu sinto que eu realmente não te conheço mais. Você não está aqui há muito tempo e já mudou.
Suas palavras machucam mais do que eu poderia imaginar ser possível. — Mudou? O que você quer dizer?
— Bem, você... você aprendeu muito em pouco tempo. E você parece —
— Eu pareço?
— Como se pertencesse aqui.
Eu descarto suas palavras com um aceno casual, esperando que ele não tenha notado o quão profundamente elas me cortaram. — É apenas roupa.
— É? A maneira como você se portava na noite passada, na plataforma e enquanto dançava... você parecia a princesa que as pessoas esperam que você se torne.
Eu puxo meus ombros para trás um pouco, ignorando a dor no meu peito. — Bom. Pelo menos eu sei que estou fazendo bem a minha parte.
A expressão de Dash suaviza um pouquinho. — Contanto que seja apenas do lado de fora...
— É claro que é apenas do —
— Tudo bem, vocês estão prontos? — Aurora grita quando ela e Roarke reaparecem. — Vamos aparecer a este chá antes de chatearmos a mamãe com nosso atraso. E você — ela acrescenta, olhando para Dash — eu vou apresentar como um amigo meu. Por favor, não contradiga qualquer história que eu decidir contar.
— Oh, hum... — Dash para quando Aurora tenta nos levar para frente. — Eu estava pensando, — diz ele, — que talvez seja melhor se eu não participar dessa coisa de chá. Se minhas mangas subirem demais, e se a maquiagem sair dos meus pulsos, sua mãe pode ver minhas marcas. Ela vai saber o que eu sou.
— Isso é possível, — Aurora admite, — mas se você não vier ao chá, você quase certamente acabará perambulando pelo palácio por conta própria e corre o risco de inventar todos os tipos de travessuras.
Ele dá um sorriso malicioso. — E se eu prometer ficar no meu quarto como um bom menino? Se alguém perguntar sobre mim — o que duvido que alguém faça, já que ninguém me conhece — você pode dizer que não estou me sentindo bem.
— Se nós pudéssemos confiar em você sobre manter sua palavra, — Roarke diz, — e não sair do seu quarto para tentar desenterrar informações que possam ser úteis para a sua Guilda, então certamente. Estaria tudo bem. — O olhar de Roarke se move brevemente para o meu antes de se fixar em Dash. — Mas não confiamos em você. Mesmo que eu tenha postado guardas à sua porta, você pode sair pela sua janela.
Meus braços ficam tensos ao meu lado. Ele não pode estar insinuando que ele sabe que Dash entrou no meu quarto mais cedo, pode? Improvável. Ele teria ficado zangado quando ele entrou no meu quarto se ele tivesse acabado de descobrir que Clarina encontrou Dash no meu quarto.
— Sair pela janela, — diz Dash, uma expressão pensativa no rosto. — Agora tenho uma ideia. Eu posso ter que tentar depois que todos forem dormir. Eu não tinha pensado em tentar desenterrar qualquer informação útil — Em foi à única razão pela qual eu vim até aqui — mas agora que você mencionou isso, estou definitivamente desperdiçando uma valiosa oportunidade em não fazer mais para descobrir que tipos de leis você Unseelies estão quebrando descaradamente.
O sorriso plácido de Roarke nunca deixa seu rosto. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta das minhas costas. — Como você disse, Emerson é a única razão pela qual você veio aqui. Se você é de fato um verdadeiro amigo para ela, você se concentrará em confortá-la durante este período difícil, em vez de pensar em maneiras de derrubar sua futura família. — Seu polegar esfrega para cima e para baixo contra o meu braço, um gesto que provavelmente deveria ser carinhoso e terno, mas que de alguma forma parece ameaçador.
Dash olha a mão de Roarke no meu braço por um momento antes de levantar o olhar. Então seus olhos se estreitam enquanto ele se concentra em algo atrás de mim. Eu olho por cima do meu ombro. Uma mulher vestida de marrom escuro atravessa o corredor com passos tranquilos e confiantes. Ela faz uma pausa por um momento para nos olhar. Talvez seja a maneira como as sombras caem sobre seu rosto, mas seus olhos parecem completamente negros. Ela inclina a cabeça e manda um sorriso conhecedor em nossa direção, revelando dentes pontiagudos atrás de seus lábios vermelhos e cheios. Ela se vira e vai até a escada, deixando uma brisa fria de ar em seu rastro.
CONTINUA
Emerson Clarke pensou que magia poderia resolver todos os seus problemas. Acontece que a magia apenas tornou sua vida mais complicada. Sua mãe doente está em uma posição pior do que antes, e Em acabou de fazer um acordo arriscado com um Príncipe Unseelie: ele curará sua mãe se Em concordar com a aliança suprema - casamento.
Com a possibilidade de finalmente conseguir a única coisa que ela sempre quis, Em entra no mundo perigoso da Corte Unseelie. Ela aprenderá tudo o que for necessário sobre magia e etiqueta, a fim de seguir seu caminho pela vida do palácio, até que o príncipe Roarke cumpra sua parte na barganha.
Mas quando alguém inesperado aparece, trazendo à tona os segredos que Roarke e sua família estão escondendo dela, os planos de Em começam a se desvendar. Em breve, ela terá que decidir de uma vez por todas: até onde ela está disposta a ir para salvar sua mãe?
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Prólogo
DASH
DASH ESTAVA EM SUA MESA NA GUILDA CREEPY HOLLOW POR dez minutos quando seu âmbar, deixado ao lado do relatório de sequestro de duendes em que estava trabalhando, vibrou e emitiu um chilrear. Palavras douradas brilhantes subiram à superfície do dispositivo retangular. Reconhecendo a caligrafia de Violet, Dash rapidamente puxou o âmbar para perto. Seus olhos dispararam para cima para verificar quem poderia estar perto o bastante de sua mesa para ver a mensagem. A área aberta do escritório estava cheia da agitação de atividade matinal: uma equipe de guardiões juniores voltando de uma missão noturna; dois aprendizes entregando pergaminhos; e sua própria companheira de equipe, Jewel, trabalhando duro em alguma coisa. Era altamente improvável que qualquer uma dessas pessoas soubesse de quem era a mensagem no âmbar de Dash, mas isso ainda o deixava nervoso ao se corresponder com os rebeldes Griffin, enquanto estava sob o teto da Guilda.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo sua expressão indiferente, e leu a mensagem: Você sabe onde está a Em? Eu não consigo encontrá-la. Gelo encheu as veias de Dash enquanto ele lutava para manter a expressão neutra. Se Vi não conseguia encontrar alguém, isso significava sérios problemas. Graças a sua Habilidade Griffin, ela é capaz de encontrar alguém que não tenha sido ocultado por algum tipo de magia. Em tinha uma Habilidade Griffin, no entanto, era uma história totalmente nova. Ela estava brincando? Testando se ela poderia se esconder? Dash estendeu a mão sobre a mesa, pegou sua stylus e escreveu uma resposta rápida em seu âmbar. Não. Tem certeza de que ela foi embora? Verifique as esferas.
A resposta de Vi chega segundos depois: Verificando agora.
Estou a caminho, Dash rabisca enquanto ele se afasta de sua mesa e se levanta.
— Já indo embora? — Jewel perguntou. Dash olha para cima enquanto ela se levanta e contorna sua mesa. — Você acabou de chegar.
— Eu preciso checar uma coisa. Um dos relatórios das testemunhas do caso de sequestro dos duendes. Alguns detalhes estão faltando. — Dash se encolheu internamente, odiando ter que mentir para uma de suas melhores amigas. — Vou pedir para um dos guardas no andar de baixo abrir um portal para mim, — ele acrescentou rapidamente. Como Jewel, ele não deveria mais ser capaz de abrir portais para os caminhos das fadas. Um aborrecimento que foi causado pela Habilidade Griffin de Em. Em, desde então, inverteu o efeito da magia em Dash, mas Jewel não sabia disso. A única coisa que Jewel sabia era que Em havia escapado das garras da Guilda e desaparecido.
— Você precisa que eu vá com você? — Jewel perguntou.
— Não, não se preocupe. Vai ser rápido. — Ele lhe deu um sorriso, que ele suspeita que não parece nada com o seu habitual sorriso descontraído.
— Tudo bem. Ei, está tudo bem? — Jewel segura seu braço antes que ele possa se virar. — Você normalmente não é tão sério logo de manhã cedo. — Sua mão demorou um momento a mais em seu braço, e a conversa que ele teve com Em veio à tona. Ela apontou que Jewel claramente queria ser mais do que apenas sua amiga, um fato que Dash de alguma forma ignorou até aquele momento. Como ele não viu? E por que Jewel nunca disse nada sobre seus sentimentos por ele? Ela deve ter um controle excepcional sobre eles. Ele não tinha notado nenhumas explosões mágicas aleatórias.
Isso não é importante agora, Dash lembrou a si mesmo. — Sim, tudo bem. Estou apenas... mais cansado do que o habitual. — Isso, pelo menos, era a verdade. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior, conversando com Chase, discutindo quando voltar ao Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills para examinar os registros que estavam arquivados com o nome da mãe de Em. Com essa magia desconhecida impedindo-a de acordar, ela não estava em posição de explicar por que ela e sua filha viveram por tanto tempo no mundo não-mágico, mascaradas como humanas. Esperançosamente, o pai de Em possa fornecer algumas respostas. Em disse que não sabia nada sobre ele, mas se era ele quem estava pagando as contas médicas de Daniela Clarke, o hospital certamente deveria ter seu nome e detalhes para contato.
— Tudo bem. Até mais tarde. — Jewel volta para sua cadeira.
Dash deveria ter indo embora então — ele queria ir embora — mas ele não podia ignorar o desejo de Jewel de ser mais que amiga agora que ele sabia disso. — Ei, você quer sair esta noite? — Ele pergunta antes que ele pudesse mudar de ideia. — Nós deveríamos conversar. — Sem dúvida, se transformaria na conversa mais estranha que eles já tiveram, mas ele precisava fazer isso. Não era justo da parte dele permitir que Jewel continuasse esperando por algo que nunca aconteceria.
— Sim, tudo bem. Ótimo.
— Legal. — Dash desceu correndo a escadaria principal da Guilda, atravessou o saguão e entrou na sala com paredes nuas usadas para acessar os caminhos das fadas. — Você se importa em abrir um portal para mim? — Ele perguntou para a mulher que estava de guarda do lado de dentro da sala.
— Ainda não encontrou aquela garota Dotada Griffin, hein?
— Não.
— Eu espero que encontre, — a mulher respondeu enquanto andava até a parede e levantava sua stylus. — Ouvi dizer que ela é perigosa.
— Sim, — Dash murmurou. — Extremamente perigosa. Eu pretendo encontrá-la.
A mulher deu um passo para trás quando parte da parede se afastou para revelar a escuridão dos caminhos das fadas além. Dash avançou. Depois que a luz desapareceu atrás dele, ele concentrou seus pensamentos no oásis escondido no meio de um deserto a milhares de quilômetros de distância.
Minutos depois, ele subiu apressadamente os degraus da varanda da casinha branca de um lado do oásis, passando por algumas portas fechadas e entrando na sala de vigilância. Uma fileira de esferas de vidro cobria três das quatro paredes, e dentro de cada esfera havia uma forma em miniatura de partes diferentes do oásis. Magia conecta cada esfera aos insetos enfeitiçados que voam do lado de fora, exibindo tudo que os insetos viam. Vi está curvada, olhando atentamente para uma das esferas, enquanto Calla e Chase sentam em frente um do outro. — O que você conseguiu ver? — Dash perguntou, sem se importar com uma saudação.
— Oh, Dash, oi, — Vi diz quando ela se virou para ele. — As esferas mostraram que Em saiu durante a noite. Logo depois da cúpula, ela abriu um portal para os caminhos e entrou.
— Ela deve ter pegado a stylus de alguém.
— Sim. Uma desapareceu de nossa cozinha esta manhã.
— Eu simplesmente não entendo, — Calla disse, passando o dedo repetidamente através da esfera na frente dela enquanto a move para voltar no tempo através das cenas exibidas. — Por que ela iria embora?
Vi sacode a cabeça conforme ela dá de ombros. — Várias possibilidades, eu suponho. Talvez ela quisesse ver um de seus velhos amigos. Ou talvez ela lembrou de algo que pudesse ajudar sua mãe. O que é mais preocupante é o fato de que eu não consigo encontrá-la. O que poderia estar protegendo ela?
— Nada de bom, — Chase murmurou.
— Dash, você nunca me contou o que aconteceu quando eu não consegui encontrar você e Em ontem, — continuou Vi. — Lembra, quando eu fui encontrar vocês dois na casa da tia dela?
— Oh, sim. — Dash xingou interiormente — com o tipo de palavras que sua mãe não aprovava — por ter esquecido, mais uma vez, de mencionar aquele lugar estranho e as pessoas que levaram ele e Em para lá. — Eu não sei onde estávamos, mas foi estranho. Tudo parecia drenado de cor, e partes dele estavam meio que... borradas. Obscuro ou sem forma. E nós não conseguíamos acessar os caminhos das fadas. Acabamos fugindo de alguma criatura sombria que eu nunca vi antes, e de alguma forma perto do perto do buraco no véu. Mas não do lado humano, e não do lado das fadas. Em algum lugar... eu não sei. Talvez nem fosse real. Talvez tenha sido algum tipo de alucinação. De qualquer forma, — ele continuou com uma respiração profunda, — nós estávamos lá por causa dos Unseelies. O príncipe e a princesa.
— Sério? — Chase olhou para longe da esfera que ele estava examinando.
— Sim. Aquela garota que esteve na Chevalier House por alguns dias — Aurora — é na verdade a princesa Unseelie.
— Então era isso que ela estava fazendo em Chevalier House, — uma nova voz disse da porta. Dash olhou em volta e viu Ryn parado ali. — Aurora queria que Em fugisse com ela. Ela estava obviamente planejando levar Em de volta a Corte Unseelie.
— Você não pensou em mencionar nada disso na noite passada? — Calla diz para Dash, um tom acusatório em sua voz.
— Para ser honesto, eu não pensei nisso. Em disse que ia me contar o que aconteceu mais tarde — já que eu, hum, fiquei atordoado e inconsciente por parte do tempo — mas então aquela fada de vidro apareceu, e nós quase morremos, e então corremos para pegar a mãe de Em, e... eu não pensei nos Unseelies novamente até mais tarde da noite passada quando cheguei em casa.
— Ótimo, então não temos ideia do que disseram a Em, — Calla diz, cruzando os braços e franzindo a testa para o chão.
Dash não disse nada. Era incomum Calla ficar tão irritada com ele, mas ele não podia culpá-la. Estava furioso consigo mesmo por não ter perguntado a Em sobre aquele estranho mundo sombrio da noite anterior. Ela parecia distante e infeliz, e, como um idiota, ele tentou distraí-la com a dança. Qual era o problema dele? Como ele poderia simplesmente esquecer que dois membros da família real Unseelie tinham transportado Em para um lugar estranho e, em seguida, misteriosamente a deixaram ir?
— Então... — Vi esfrega suas têmporas. — O fato de que não podemos encontrar Em agora pode ter algo a ver com os Unseelies.
— A menos que ela mesma não queira ser encontrada, — disse Chase. — Ela saiu voluntariamente. Ela pode ter usado sua Habilidade Griffin para se proteger de alguma forma.
— Seja qual for o motivo dela para ir embora, ela deve estar planejando voltar, — Ryn diz, entrando na sala e dando uma olhada em uma das esferas. — A mãe dela ainda está aqui, afinal de contas.
Dash balança a cabeça. — Ela pode ter ido embora por conta própria, mas e se os Unseelies a pegaram lá fora? Eles a deixaram ir ontem, mas eles definitivamente ainda a querem. Eles podem estar mantendo-a contra sua vontade agora.
— Então, o que fazemos? — Vi pergunta. — Esperar para ver se ela volta? E se sim, quanto tempo esperamos?
— Ela tem que voltar, — Calla murmura, mordendo a unha do polegar enquanto olhava sem ver o chão. — Ela tem que voltar.
Ryn olhou para o outro lado da sala. — Qual é o problema?
Calla baixa a mão e franze a testa para o irmão. — Não faça isso.
— Ei, eu não estou tentando sentir o que você está sentindo, — Ryn diz, levantando as mãos em defesa, — mas sua ansiedade está quase me dando um ataque de pânico. Eu tenho tentado ignorar isso, mas isso está praticamente me atacando.
— Ansiedade? — Chase se aproxima dela. — Sobre o quê?
— Caramba, pessoal, — Calla exclama. — Estou preocupada com outro caso. Está tudo bem. Podemos nos concentrar em como vamos descobrir onde Em está? Apenas no caso de ela ser prisioneira de alguém agora?
— Eu tenho alguns contatos Unseelie, — diz Chase. — Vou ver o que eu posso descobrir.
— Bom. Eu vou voltar a trabalhar em outras coisas, então, — diz Calla. Ela atravessa a sala e sai sem uma palavra, deixando vários momentos de silêncio constrangedor em seu rastro. Com uma careta, Chase a segue.
Dash pigarreia. — A Guilda também tem contatos Unseelie. Eu vou perguntar se alguém sabe alguma coisa. E também perguntarei dos nossos contatos Seelie. É possível que eles tenham encontrado Em, mas ainda não tenham informado a Guilda.
— Obrigada, — disse Vi.
— Avise assim que você descobrir alguma coisa, — acrescenta Ryn.
— Claro. — Dash se vira e sai da sala, já colocando a mão no bolso para pegar o âmbar e a stylus, para que ele possa contatar o contato Unseelie da Guilda. Ele para perto da porta da frente enquanto escreve uma mensagem rápida perguntando se o contato tinha recebido alguma notícia sobre uma garota Dotada Griffin.
... alguma coisa está acontecendo?
Ao som de vozes, Dash se inclina para o lado e olha pela janela. Calla anda de um lado para o outro na varanda. — Ela tem que voltar, Chase. Ela tem que voltar.
— Tudo bem, sério. — Chase pega o braço dela e a faz parar. — Conte o que está acontecendo.
Dash sabia que ele não deveria estar escutando, mas se era algo sobre Em...
Calla respira fundo. — Eu vi alguma coisa. Noite passada. Quando eu fui perguntar a Em se ela queria se juntar a nós esta manhã. Isso me fez ter esperança... que de alguma forma... — Ela sacode a cabeça. — Quero dizer, eu sei que é loucura mesmo pensar nisso. Meu cérebro ainda está repassando tudo o que aconteceu naquela época e como isso poderia ser possível. Mas se for verdade... — Ela agarra a frente da camiseta de Chase com ambos os punhos. — Chase, se for verdade, então temos que garantir que Em volte.
Chase pega as mãos de Calla entre as suas. — Você não está fazendo nenhum sentido. O que você viu?
— Você não pode contar a ninguém, ok? Não até saber se é verdade. Eu não quero ser responsável por mais corações partidos.
— Corações partidos? Quando você...
Ela se inclina para mais perto de Chase e sussurra, suas palavras muito baixas agora para Dash ouvir através da janela. Ele observa a testa de Chase se franzir ainda mais. — Não é possível, — diz ele quando Calla recua. — Ou é? Quando a vi pela primeira vez, pensei...
— Pensou o quê?
O olhar de Chase fica desfocado enquanto ele olha por cima do ombro de Calla por vários segundos, claramente perdido em pensamentos. Um pequeno sorriso estica seus lábios quando ele volta sua atenção para ela. — Eu acho que você pode estar certa.
Seu sorriso de resposta ilumina seu rosto. — Eu também acho. Mas eu não sei ao certo, e me recuso a ficar animada até confirmarmos isso. Eu conheço alguém que pode nos dizer sem sombra de dúvida, mas eu não sei onde ele está. Você precisa me ajudar a encontrá-lo.
— Vi pode ajudar se ela tiver... — As palavras de Chase somem conforme ele sacode a cabeça. — Mas você não quer que ela saiba.
— Não. Ainda não. — Calla pega o braço dele e o puxa para descer a escada com ela. — Primeiro precisamos descobrir se é verdade. — Sua voz fica mais fraca quando ela e Chase se afastam da casa, deixando Dash com mais perguntas e sem respostas. Ele tem seu próprio mistério para resolver, no entanto. Onde você está, Em? Ele se perguntou em silêncio enquanto abre a porta e entra na varanda.
Seu âmbar vibra em sua mão, e ele para para ler a resposta do contato Unseelie: Nenhuma informação recente dos Unseelies. Nada interessante de qualquer maneira. Claro que não. Os Unseelies nunca informariam a Guilda se eles possuíssem uma poderosa Dotada Griffin. Mas Dash tinha que verificar, apenas no caso do contato ter ouvido alguma coisa. Agora ele teria que entrar em contato com o contato Seelie. Depois disso, seria hora de seguir para canais não oficiais. — De alguma forma, Em, — ele murmura enquanto se afastava. — De alguma forma, eu vou encontrar você.
Capítulo 01
COISAS QUE EU NUNCA IMAGINEI: UM, ESCAPAR DA MISERÁVEL CIDADE DE Stanmeade muito antes que eu sonhasse que isso fosse possível. Dois, me tornar quase amiga do cara que eu odiei por anos. Três, subir pelo lado de fora de uma torre do palácio das fadas com uma stylus roubada no bolso para que eu possa me esconder no topo e abrir um portal para os caminhos das fadas com magia. Oh, sim. E nunca imaginei usar palavras como ‘torre do palácio’, ‘caminhos das fadas’ e ‘magia’ sem soar como uma paciente internada em um hospital psiquiátrico. Mas isso foi antes de eu descobrir que sou uma faerie e que existe um mundo oculto de magia ao lado do mundo onde eu cresci. Isso foi antes de eu chegar ao topo da lista dos mais procurados de todos por possuir um superpoder único e perigoso. E isso foi antes de eu assumir o maior risco da minha vida e concordar em me casar com um príncipe faerie da Corte Unseelie, na esperança de salvar minha mãe.
Então sim. Eu imagino coisas agora que a maioria das pessoas da minha antiga vida consideraria impossível. Como um buraco escuro de nada se materializando através das paredes de mármore com veias douradas no topo da torre que subi. Eu precisava me afastar dos olhos atentos dos guardas do palácio, e esta torre formando o ponto mais alto do Palácio Unseelie parecia um bom lugar. Infelizmente, o feitiço que tenho sussurrado e as palavras que escrevo repetidamente através da parede parecem não estar produzindo nada.
Solto um suspiro frustrado e aperto meus dedos ao redor da stylus incrustada de joias. Eu roubei do quarto de Aurora ontem. Apenas o melhor do melhor para uma princesa, então duvido que haja algo de errado com ela. O que significa... talvez minha magia seja o problema? Eu coloco a stylus no chão da torre e enlaço minhas mãos juntas, depois expiro lentamente e sinto o núcleo do poder dentro de mim. Quase instantaneamente, uma forma quase esférica branca brilhante e fragmentos etéreos pairam acima da minha mão. Parece quase fácil produzir magia agora, depois de ter praticado tanto nos últimos dias. Não há necessidade de apertar meus olhos, franzir minha testa e imaginar arrastar a magia para fora de mim como um rato puxando um caminhão.
Então, se a minha magia e a stylus não são o problema, e a magia em si está correta — o que eu tenho certeza que está, dado que eu usei para deixar o oásis — resta apenas uma resposta: os caminhos das fadas não são acessíveis a partir desta torre.
— Droga, — eu sussurro. Eu enfio a stylus de volta no bolso e olho através das terras sem fim de um verão perfeito. Relvados verdes e brilhantes, flores de todas as cores, fontes de água encantadas rodeadas por arbustos recortados em formas ornamentais e várias áreas para entretenimento: uma pérgula aqui, um mirante ali, o ancoradouro da rainha à direita, além daquela pequena ponte. E um pouco além dos terrenos do palácio, as torres das casas senhoriais pertencentes a nobres Unseelie se erguem acima das árvores.
E quase todos os lugares, de acordo com Aurora, não são acessíveis através dos caminhos das fadas. Ninguém sai deste palácio e ninguém chega, exceto pela entrada principal. — Não é como se você precisasse ir a outro lugar agora, — ela me disse quando perguntei sobre os caminhos das fadas. — Apenas relaxe e aproveite sua nova vida no palácio.
Relaxar? Acho que não. Se quase nenhuma parte deste palácio e seus terrenos podem ser acessados pelos caminhos das fadas, isso significa que deve haver algumas áreas onde os portais podem ser abertos. E se eu quiser fugir quando aprender tudo o que preciso saber sobre o Princpie Roarke, então eu tenho que encontrar pelo menos uma dessas áreas. Se eu não conseguir, vou ter que ser criativa com minha Habilidade Griffin. E isso exigirá descobrir como realmente usá-la.
— Minha senhora?
Meu corpo fica tenso ao som da voz inesperada. Eu viro, meu coração se debatendo no meu peito. Mas é apenas Clarina, a criada que Aurora me ‘ofereceu’ na minha chegada. Ela está ao lado do alçapão de ouro cravejado de rubi. O alçapão está aberto, tenho certeza que estava trancado até agora, porque encontrei meu caminho para o outro lado dele ontem à tarde e não consegui abri-lo. Eu não teria me incomodado em abrir uma das janelas baixas e escalar a parede de outra forma. Eu pigarreio e aperto minhas mãos juntas. — Hum, sim?
— Sua Alteza, Princesa Aurora, me enviou para buscar você, — diz Clarina, com os olhos fixos no chão perto dos meus pés. Eu disse a ela para não se preocupar em desviar o olhar dela quando falar comigo, mas não faz diferença. Assim como quando eu disse a ela que não sou ‘senhora’ e ela não precisa se referir a mim como tal. — Mas de que outra forma eu vou mostrar respeito por você, minha senhora? — Ela perguntou. — Eu não posso simplesmente chamar você pelo seu nome. — Eu disse a ela que é claro que ela podia, mas isso também não ocorreu bem.
— Como ela sabia que eu estava aqui em cima? — Eu pergunto.
— Um de seus guardas viu você de uma janela.
Eu limpo minhas mãos no meu jeans. — Será, hum, que soou para você que Aurora — Senhorita — Sua Alteza — Que droga esses títulos estúpidos. — Parecia que ela estava com raiva de mim por estar aqui em cima?
— Não, minha senhora, — diz Clarina. — Ela estava preocupada, mas não zangada. Ela lembrou a seus guardas que você é bem-vinda para explorar sua nova casa, mas que eles também devem mantê-la viva.
— Certo. Legal. Isso foi o que eu pensei. Quero dizer, sobre a parte de explorar. — Aurora me deu uma breve turnê quando cheguei há três dias, então me disse que eu poderia ir onde quer que eu quisesse, exceto as suítes ou câmaras privativas das pessoas ou seja lá como ela chamou. Desde então, eu vaguei por todo o palácio sob o disfarce da curiosidade, fazendo o meu melhor para fingir que estou à vontade em uma casa tão vasta e opulenta quanto este palácio. Eu tento ignorar os guardas que me observam e os membros da corte que sorriem educadamente antes de sussurrar um para o outro. E tento não tremer quando a atmosfera muda, como de vez em quando, se transforma em algo frio e inquietante.
— Hum, bem, acho que é melhor irmos então, — eu digo, percebendo que Clarina está esperando por mim para falar. Ela assente e pisa na escada abaixo do alçapão. Eu a sigo, vacilando quando o alçapão fecha sozinho atrás de mim. Juntas, descemos a escada em espiral até o térreo do palácio e entramos em um vasto corredor alinhado por colunas. Seus pisos de mármore preto são polidos até um brilho vítreo e as pedras preciosas embutidas no teto refletem nos candeeiros acesos em pedestais entre cada coluna. O resto do palácio é muito parecido com isso: bordas pretas brilhantes, enfeites de ouro e pedras brilhantes. Quartos grandes o suficiente para se perder dentro, e móveis tão luxuosos que eu provavelmente vomitaria se soubesse o quanto eles custam.
É impossível imaginar estar em casa aqui.
Subimos mais escadas, cruzamos mais corredores e passamos por mais fae vestidos como se pertencessem ao cenário de uma novela de época. Todos eles me dão olhares curiosos quando passo. Ao contrário de Clarina e Noraya — a outra criada de Aurora — nenhuma dessas pessoas sabe quem eu sou. Eles não têm ideia de que eu concordei em me casar com o seu príncipe. Como eles poderiam suspeitar que ele e eu temos algo a ver um com o outro quando Roarke se foi desde o momento em que ele me deixou aqui aos cuidados de sua irmã? Aurora disse que ele voltaria esta manhã, mas eu não vi ele. Estou começando a me perguntar se ele está planejando me evitar até o dia do nosso casamento — quando quer que seja.
Finalmente, Clarina e eu chegamos à ala que abriga os aposentos da família real. Eu nunca fui longe o suficiente para ver os quartos pertencentes ao rei e à rainha, mas passei pela suíte de Roarke, e eu estive no quarto de Aurora durante todos os dias desde que cheguei aqui. Eu olho por cima do meu ombro para a porta que leva aos quartos de Roarke enquanto eu passo. A porta está fechada e não há guardas do lado de fora, o que eu acho que significa que Roarke não está lá dentro.
— Droga, — eu murmuro, baixinho o suficiente para que Clarina não me ouça. Uma carranca franze minha testa enquanto eu olho para frente novamente. E então aquele estranho sentimento de mal-estar, aquele inexplicável senso de engano, invade os meus sentidos. Como se dedos frios e podres estivessem prestes a se estender das sombras para apertar a parte de trás do meu pescoço. Um lampejo de uma sombra corre através da borda da minha visão, mas quando eu olho por cima do meu ombro novamente, se foi. Assim como a sensação de desconforto.
— Lady Emerson? — Clarina diz. Eu olho para frente e a vejo esperando com uma das mãos apoiada na porta de Aurora. — Está tudo bem?
— Hum, sim. Eu estou bem. — Talvez eu continue imaginando esse sentimento estranho. Talvez seja esse o sentimento de saudade de casa. Talvez, por mais improvável que pareça, eu esteja realmente sentindo falta da casa decadente em que vivi com Chelsea e Georgia. De jeito nenhum, eu penso comigo mesma, quase rindo alto do pensamento improvável. Eu posso sentir saudade da minha melhor amiga Val, e toda a diversão que tivemos juntas, e a sensação libertadora de não ser caçada por vários membros do reino fae, mas eu certamente não sinto falta daquela casinha horrível e da minha rancorosa tia e prima.
Clarina abre a porta para a suíte de Aurora e fica de lado para me deixar entrar. Ela faz uma rápida reverência quando passo, depois fecha a porta atrás de mim. Eu ouço seus pés baterem no chão de mármore polido do lado de fora. Do outro lado na sala de estar, decorada em tons suaves e tecidos florais, a Princesa Aurora, filha adotiva do Rei e da Rainha Unseelie, está sentada em uma pequena mesa redonda. Na frente dela há uma variedade de comida, um bule de chá e duas xícaras de chá. Ela se inclina para trás em sua cadeira e me examina. — Sério, Em? Subindo pela parte externa da torre leste? Você está tentando escandalizar a corte inteira? Se você queria tanto ver a vista do topo, você poderia ter pedido a alguém para destrancar o alçapão em vez de arriscar sua vida.
Eu atravesso a sala e paro ao lado da cadeira no lado oposto do lugar dela. — Bem, você sabe. Era cedo. Eu não queria incomodar ninguém. E além disso, quase não havia risco envolvido. Eu posso lidar com uma parede simples. Esses grandes tijolos de mármore têm espaços entre eles perfeitos para as mãos e os pés.
Aurora coloca o cabelo — preto e azulado roxo — atrás de uma orelha e estende a mão para a xícara de chá. — E se você tivesse escorregado? Além do enorme problema que eu teria com Roarke e meu pai se você caísse e se matasse, simplesmente não é apropriado sair por aí escalando paredes. — Ela me dá um olhar aguçado por cima de sua xícara de chá. — Sabe, dada a sua futura posição neste palácio.
Eu escolho ignorar sua referência ao fato de que eu devo ser uma princesa em breve e cruzo os braços sobre o peito. Eu começo a andar de um lado para o outro da janela. — Onde está Roarke? Você disse que ele estaria de volta agora, mas eu não vi ninguém de guarda do lado de fora do quarto dele, então eu suponho que ele não esteja lá.
— Ele e papai devem demorar, isso é tudo. Eles têm negócios importantes para lidar no momento. Você não pode esperar que eles voltem simplesmente porque você está desesperada para ver seu prometido. — Ela sorri. Eu mostro minha língua para ela. Ela joga um morango em mim, depois ri quando eu me esquivo e continuo andando. — Eles vão voltar em breve, tenho certeza. E por favor, pare de andar. Você está me deixando nervosa. — Ela acena para a cadeira em frente à dela. — Sente-se. Você já tomou café da manhã?
— Não. — Eu caio na cadeira com os braços ainda cruzados. — Eu estava muito ocupada correndo riscos e escalando paredes, lembra?
— Você deve escolher o café da manhã da próxima vez. — Com um toque elegante de sua mão, um prato de massas em forma de borboleta se levanta e se move em minha direção. Ela ficaria feliz se eu usasse magia para levantar um dos doces e movê-lo para o meu próprio prato, mas esse tipo de coisa parece ser coisa de preguiçoso para mim. E eu não acho que eu poderia fazer isso sem derrubar o prato inteiro.
— Você sabe por que eu quero ver o Roarke, — eu digo a ela depois de colocar uma massa no meu prato, com a minha própria mão perfeitamente funcional. — Ele e eu temos um acordo, e ele não fez nada para cumprir sua parte ainda. — Acordo. Uma palavra tão simples. Não carrega tanto peso quanto a palavra ‘casamento’.
— É claro que ele ainda não cumpriu sua parte. Espero que você saiba que ele não planeja dar a você qualquer informação sobre como tirar sua mãe do coma enfeitiçado ou consertar sua doença mental até depois da cerimônia de união.
— Sim, — eu digo em voz baixa, ainda olhando para o meu prato. — Eu sei disso. — O que eu também sei é que eu não pretendo que essa cerimônia aconteça. Todo mundo precisa pensar que isso vai acontecer, mas eu pretendo descobrir tudo o que preciso saber antes do casamento acontecer. Claro, eu não tenho ideia de como vou fazer isso ainda, mas ter a posse de uma poderosa Habilidade Griffin — falar coisas e as tornar reais — pode vir a calhar. Se eu puder usá-la no momento certo e da maneira certa, eu devo poder sair daqui viva com todas as informações que preciso. Pigarreio e acrescento, — Eu sei, mas ele precisa provar para mim. Ele precisa me dizer algo, então eu vou saber que ele não está apenas mentindo para me casar com ele.
— Meu querido irmão nunca faria algo assim, — diz Aurora, direcionando mais alguns itens de comida para o seu prato.
Eu não a conheço bem o suficiente ainda para saber se ela está brincando ou se ela realmente acredita nisso. De qualquer maneira, não estou disposta a confiar em Roarke. Eu preciso do meu próprio plano, e isso envolve ter o controle sobre a minha Habilidade Griffin. Eu quebro um pedaço de massa e olho para ele por um segundo ou dois antes de dizer, — Como as paredes da torre não são apropriadas para escalar, talvez meu tempo fosse melhor gasto praticando minha Habilidade Griffin. Com o elixir, quero dizer, não apenas esperar por momentos aleatórios em que a minha magia escolhe ligar.
Ela sacode a cabeça e acaba de engolir outro gole de chá. — Sinto muito, Em, mas me disseram para não dar a você até que Roarke e meu pai retornem. Aqui, coma um pouco de citrullamyn. — Vários segmentos de uma fruta que parece uma versão vermelho sangue de uma laranja voam em um arco de seu prato para o meu.
— Hum, obrigada. — Eu lentamente mastigo uma enquanto tento descobrir o que posso dizer para mudar a decisão de Aurora. Eu preciso desse elixir para estimular minha Habilidade Griffin. O primeiro frasco que eu tinha foi esmagado em pedaços durante o meu encontro com Ada — a faerie extremamente desagradável que quase destruiu toda Stanmeade com sua magia de vidro — mas um dos rebeldes Griffin fez mais elixir para que eu pudesse acordar mamãe de seu coma enfeitiçado. Não funcionou, mas pelo menos eu tinha um pouco do elixir. Eu trouxe comigo, planejando secretamente consumir pequenas quantidades na esperança de ganhar o controle sobre minha Habilidade Griffin sem que os Unseelies soubessem. Mas fui revistada antes de entrar no palácio. Um guarda descobriu o elixir e Aurora o confiscou. Roarke, que não parecia interessado em ficar mais do que alguns minutos com sua noiva, já tinha saído durante esse momento.
— Mas Aurora, — digo a ela com a minha voz mais razoável, — não tenho utilidade para sua família se eu não conseguir descobrir como controlar minha Habilidade Griffin. Essa é a única razão pela qual Roarke está se casando comigo, lembra? Então eu preciso desse elixir para me ajudar a aprender como usá-la.
— Sim, mas você não precisa aprender agora neste momento. Você pode praticar sob supervisão quando Roarke e papai voltarem.
Eu a olho diretamente nos olhos. — Eles não confiam em você para me supervisionar? Eles acham que você não pode lidar comigo?
Ela inclina a cabeça para trás e ri. — Oh, minha querida Em. Se você vai tentar me manipular, você terá que ser muito mais sutil sobre isso. Essa foi uma tentativa terrível.
Eu deslizo mais para baixo na minha cadeira com um suspiro derrotado. — Isso tudo é uma perda de tempo, — murmuro. — Mamãe ainda está presa em algum tipo de coma do mal induzido por magia, e eu não estou absolutamente nem perto de descobrir como ajudá-la.
— Você não está perdendo tempo. Você está aprendendo a usar a magia do dia-a-dia e a viver como uma de nós, — diz Aurora. — Falando nisso, por favor, sente-se ereta. Minha mãe teria palpitações no coração se visse você se curvando desse jeito.
Mãe de Aurora. A própria Rainha Unseelie. Jantei com ela e Aurora na minha primeira noite aqui, com criados esperando por nós a noite inteira, enchendo nossas taças com bebidas estranhamente coloridas e nossos pratos com comida ainda melhor do que a comida que Azzy preparava na Chevalier House. Achei difícil desfrutar de alguma coisa, apesar da ansiedade que comprimia meu estômago e fazia meus dedos tremerem. Não era como se a Rainha Amrath fosse cruel ou hostil. Ela era educada, na verdade, mas eu sabia que ela estava me observando o tempo todo. Medindo. Esperando que eu me provasse completamente indigna de casar com o filho dela. A cada momento estranho que passava, eu me lembrava da minha valiosa Habilidade Griffin. Isso vai mantê-la viva e segura, continuei dizendo a mim mesma. Eles querem o seu poder mais do que eles querem uma princesa bem-educada.
— Em? — Aurora diz. — Você está me ouvindo?
Eu pigarreio e me empurro para cima, então estou mais ereta. Eu forço meus ombros para trás. — Desculpa. O que você disse?
— Eu disse que precisamos conversar sobre o que você está vestindo e também que você deveria experimentar o chá de mel. É bem revigorante. Noraya, venha colocar chá para Emerson.
Noraya, que estava tão imóvel perto da porta do quarto que eu não a notei antes, se aproxima da mesa. Com um breve aceno de mão, o bule se eleva no ar. — Oh, não se preocupe, — eu digo rapidamente, me inclinando para frente. — Eu posso servir o chá.
— Deixe-a fazer isso, Em, — Aurora diz.
— Mas é só chá, — eu argumento enquanto o bule de chá se inclina sobre o meu copo e um liquido escuro fumegante fluí de seu bico. — Eu posso colocar sozinha. — Não com magia, uma vez que isso provavelmente resultaria em salpicos de chá por toda a mesa, mas minhas próprias mãos fariam o trabalho muito bem.
— Não importa se você pode fazer isso ou não, — Aurora me diz. — O que importa é que, quando você é um membro da família real, é adequado que os criados esperem por você.
— Eu ainda não sou membro da família real. — E espero nunca ser.
— Também é apropriado que você use roupas apropriadas para a corte, — acrescenta Aurora, enquanto Noraya se afasta da mesa, — e essas — ela olha minha calça jeans e camisa com desaprovação — não são apropriadas. Clarina e eu vamos ter outra conversa. Ela claramente não entendeu suas instruções.
— O quê? Não, não é culpa da Clarina. Ela me dá um vestido novo todas às manhãs, assim como você disse a ela, mas eu não quero usar nenhum deles. Eles são ridículos. Centenas de camadas de tecido com espartilhos e penas e joias e... coisas. Não sou eu. — O jeans, a camisa e o moletom que tenho usado nos últimos dias são as roupas que eu usava quando cheguei aqui. Eu as jogo sobre uma cadeira no meu quarto todas as noites, e todas as manhãs as encontro dobradas e limpas, na mesma cadeira.
Aurora arqueia uma sobrancelha. — Ridículo, — ela repete. Percebo que posso tê-la ofendido, dada a saia longa, o corpete apertado e as mangas em forma de sino do vestido que ela está usando. — Receio que não importa o que você ou qualquer outra pessoa pense, pois é assim que minha mãe e meu pai desejam que os membros de sua corte se vistam.
— Bem, seus pais têm um senso de moda seriamente ultrapassado. Todos parecem estar se vestindo ou se preparando para filmar um filme steampunk.
Sua expressão fica séria. — Eu não diria coisas assim se fosse você. — Ela abaixa a voz, se inclina mais perto e acrescenta, — Meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares, e ele não apreciaria comentários como esse.
Um calafrio rasteja pela minha pele. Parece que não imaginei a sensação de estar sendo observada. Eu envolvo meus braços em volta de mim, me sentindo nua, apesar do fato de estar vestida. — Até mesmo nos quartos?
— Bem. — Aurora se inclina para trás. — Talvez apenas ouvidos nos quartos.
— Isso é apenas... errado, — eu sussurro.
Ela ri e novamente não posso dizer se ela está brincando sobre tudo isso. — Só se você tem algo a esconder, — diz ela. Ela morde outra fruta não identificável e me observa enquanto mastiga e engole. — Agora me diga: como você está com a magia que eu te ensinei até agora? Você já pode mover as coisas? Tente levantar seu prato e o mova no ar.
— Hum... — Eu começo a girar uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo indicador. — Tem certeza de que é uma boa ideia? E se eu derrubar?
— Então Noraya reunirá os pedaços quebrados e os jogará fora. Nada demais.
Meu olhar desliza para o cabelo enrolado em volta do meu dedo. Estou quase acostumada com a cor azul brilhante misturada com o marrom escuro. Faz parte do que me caracteriza como faerie. Como alguém que pertence a este mundo. Lentamente, eu abaixo minha mão. — Sim, tudo bem. Vou tentar.
Tirar magia de dentro de mim é fácil agora, mas mandá-la para o prato, persuadindo-a ao redor e para baixo e dizer para levantar alguma coisa, é uma história diferente. Muito lentamente, com as mãos cerradas no meu colo e os olhos quase furando buracos no prato, começa a subir. Ele balança um pouco, e as massas e os pedaços de frutas cítricas vermelhas escorregam para um lado. Eu tento endireitá-lo, acabo exagerando e todo o prato vira. A comida cai sobre a mesa com vários golpes suaves e o prato fica suspenso de cabeça para baixo no ar. Ele estremece e balança antes que eu imagine minha magia o abaixando com cuidado. Ele cai os poucos centímetros finais, pousando perfeitamente em cima do meu café da manhã.
Aurora bate as mãos. — Bem, isso foi divertido. Dificilmente perfeito, mas é um bom começo.
— Acho que sim. — Eu viro o prato e começo a limpar a minha bagunça.
— Em, você mal podia fazer nada quando chegou aqui há alguns dias. Isso é uma conquista. Ah, e eu tenho mais alguns livros para você. — Ela gesticula por cima do ombro, e uma pilha de livros sobre a mesa baixa entre os sofás e se eleva no ar antes de descer novamente, os livros individuais batendo em voz alta um no outro enquanto pousam. — Você pode carregá-los com magia agora mesmo.
— Claro. — Eu tento não descobrir quanto tempo vai demorar para voltar para meu quarto, se eu tiver que transportar magicamente uma pilha de livros por todo o caminho até lá. Espero que eu possa convencer um dos guardas que me seguem à distância para me ajudar quando eu estiver longe de Aurora.
Quando volto a comer minha bagunça do café da manhã, a porta se abre e Clarina entra no quarto. Ela se move silenciosamente para ficar ao lado de Noraya e, após um momento de pausa, começa a sussurrar para ela.
— O que está acontecendo? — Aurora pergunta em voz alta, não se incomodando em olhar para elas.
Clarina fica em silêncio, os olhos arregalados atravessando a sala em direção a sua senhora. Do outro lado da sala, vejo sua garganta oscilar conforme ela engole.
— Clarina. — Aurora empurra seu prato para longe e se vira na cadeira para encarar as criadas. — Parte do seu trabalho é relatar segredos para mim, não para sussurrá-los na minha vizinhança. Agora me diga o que está acontecendo.
Clarina sacode a cabeça. — Sim, Sua Majestade. Peço desculpas. É só que... é tão horrível.
— O que é tão horrível? O que aconteceu?
— Um dos guardas... — Os olhos de Clarina se movem para Noraya, cujo queixo estremece enquanto ela olha para o chão. Clarina pigarreia e volta a olhar para Aurora. — Um dos guardas foi encontrado morto no jardim, — diz ela em voz trêmula. — Estava cinza e enrugado e morto.
Capítulo 02
EU CAMINHO PELA SALA DE ESTAR DA MINHA SUÍTE — MENOR QUE A DE AURORA, mas não menos luxuosa — esperando que alguém venha e me diga o que está acontecendo. Aurora me mandou de volta para cá na companhia de vários guardas logo após as palavras assustadoras de Clarina sobre alguém cinza, enrugado e morto no jardim, mas não recebi nenhuma novidade desde então. Eu ando na minha varanda e olho para baixo mais uma vez, mas eu ainda não consigo ver nada de interessante. Esta morte deve ter acontecido do outro lado do palácio.
Volto para dentro de novo, entre as poltronas e ao redor da mesa. Sento na escrivaninha e tento ler um dos livros que deveria estudar, mas não consigo me concentrar. Pensamentos sobre mamãe e todos os rebeldes Griffin de onde eu fugi continuam escorregando pelas rachaduras da minha concentração. Culpa por desaparecer sem explicação. Tristeza por ter que deixar Bandit para trás. Estou começando a sentir saudades de Dash, de todas as pessoas. E depois há a avalanche de perguntas: Quem sou eu? Quem é mamãe? Como chegamos a viver no reino humano com nossa magia bloqueada? Apenas para citar algumas...
Eu abandono o livro e acabo deitada no divã, observando os insetos brilhantes que estão fixos no teto e, lentamente, levantando e abaixando almofadas com magia. É preciso que eu foque toda a atenção para conseguir essa manobra simples, o que significa que não há espaço em minha mente para perguntas e pensamentos que me distraem.
Sem aviso, a porta principal da minha suíte é aberta. Minhas duas almofadas levitando pousam no meu peito e caem no chão. Sento apressadamente, virando para a porta e encontro Aurora entrando na sala. Alguém fecha a porta atrás de mim enquanto eu fico em pé e pergunto, — Está tudo bem? Você descobriu o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, mas falei com as pessoas que encontraram o guarda morto. — Ela caminha até a varanda. Eu a sigo para o sol quente do meio da manhã. — Eu o vi, Em. Foi... — Ela respira fundo e balança a cabeça. — Horrível. A cor de seu cabelo desapareceu completamente e seu rosto... — Ela se vira e descansa as mãos na balaustrada da varanda. — Sua pele estava flácida e enrugada. Foi horrível. Isso não acontece com a nossa espécie, Em. Isso não acontece. Não naturalmente de qualquer maneira. E isso significa que — Ela para, apertando os dedos na balaustrada.
— Significa o quê? Que esse guarda foi atacado com magia? — Eu mentalmente me chuto por essa façanha inexpressiva de dedução. Obviamente, esse guarda foi atacado com magia.
— Sim. Algo assim. — Aurora balança a cabeça e retorna o olhar para mim. — De qualquer forma, recebi uma mensagem do Roarke. Ele disse que não deveríamos falar disso para ninguém. Apenas algumas pessoas sabem como estava o guarda e não queremos que todos saibam e se assustem.
Eu não posso evitar erguer minhas sobrancelhas. — Você acha que o resto deste palácio já não sabe? Alguém deve ter contado a Clarina, e certamente Clarina e Noraya contaram aos outros agora.
— Elas não disseram a ninguém. Clarina e Noraya estão comigo desde sempre — bem, Noraya está aqui desde sempre e Clarina está comigo há pelo menos três anos — então elas sabem como manter a boca fechada. Clarina estava com uma das criadas da minha mãe quando viu o guarda morto, e ela veio direto para cá depois. Alguns outros guardas o viram, mas eles também disseram que vão ficar calados.
Eu me inclino contra a balaustrada e olho através do jardim. Ao longe, dois grandes pássaros voam pelo céu. Pelo menos, eu suponho que são pássaros. Suas asas parecem um pouco grandes demais para seus corpos, no entanto. — Alguém sabe quem fez isso? — Eu pergunto, olhando para longe das criaturas voadoras. — Quero dizer, se é impossível entrar sorrateiramente neste palácio, então deve ser um convidado ou alguém que mora aqui.
Aurora exala e coloca um sorriso falso em seu rosto. — Nós não devemos mais falar sobre isso, Em. Esqueça isso agora.
— Esquecer? Isso é improvável. Você não quer saber mais?
— Não. Roarke e meu pai cuidarão disto quando retornarem. Que deve ser antes do jantar, aparentemente.
— Oh. — Meu desconforto se transforma em algo mais positivo. — Isso é ótimo.
— Sim. Agora, que outra magia eu estava mostrando ontem? — Ela esfrega as mãos e caminha de volta para dentro. — Você praticava coisas em movimento, e também havia...
— Fogo, — eu a lembro. — Bem, minúsculas chamas. Assim eu não queimo acidentalmente o palácio.
— Sim, está certo. Você fez alguma melhora?
Eu estalo meus dedos e abro a mão, com a palma para cima, esperando que o feitiço se torne instintivo o suficiente para que uma chama apareça automaticamente acima da minha mão. Minha palma, no entanto, permanece vazia. — Hum... aparentemente não.
— Sim, bem, você nem está tentando. — Ela senta-se afetadamente na beira do divã. — Você precisa se concentrar. Você ainda não está no ponto em que isso acontece automaticamente. Agora tente novamente.
Eu resmungo sob a minha respiração antes de abaixar minhas mãos para os meus lados, fechar os olhos e me dizer para relaxar. Eu preciso ser capaz de liberar magia, então me concentro totalmente no momento em que ela está pronta para mudar de algo cru e sem forma para qualquer outra coisa. Nesse ponto, eu tenho que moldá-la mentalmente em uma chama antes que ela desapareça. E tudo isso, aparentemente, acontecerá quase instantaneamente, uma vez que eu já tenha feito isso o suficiente. Acabo de chegar a um estado mental relaxado quando uma batida no outro lado da porta interrompe minha concentração.
— Entre, — Aurora diz.
Noraya entra e corre para o lado de Aurora. Ela se inclina e sussurra algo antes de se endireitar.
Aurora se levanta com um suspiro. — Claro. Eu irei agora. Desculpe, Em, mas minha mãe gostaria de me ver. Você deve continuar praticando, no entanto. E comece a ler esses livros. Você tem muito a aprender se vai se encaixar aqui.
Eu a observo sair antes de cair em uma poltrona e me apoiar contra as almofadas bordadas em ouro. Então eu me forço a me sentar e me concentrar em produzir uma chama. Não tenho intenção de me encaixar aqui — não a longo prazo — mas preciso pelo menos fingir que estou planejando ver essa união. Além disso, provavelmente precisarei usar magia para sair daqui. Eu também posso aproveitar esta oportunidade para aprender o máximo que puder.
Depois de tentar repetidamente produzir uma chama e ter sucesso em cerca de cinquenta por cento do tempo, eu me sossego com o menor livro da pilha que Aurora me deu esta manhã. É uma coleção sobre magias básicas que parecem ter sido escritas para um aluno da primeira série. Perfeito. Por mais embaraçoso que seja, esse é exatamente o tipo de coisa de que preciso.
Uma vez que consigo encolher uma almofada para cerca de metade do seu tamanho, depois aumentá-la e depois voltar ao normal, pego um livro diferente e me sento em uma poltrona. Contém relatos de histórias ainda mais antigas do que as histórias que aprendi em Chevalier House. A divisão inicial das cortes e as primeiras famílias Seelie e Unseelie. Eu não vou muito longe quando ouço um leve som de arranhar. Abaixo o livro e olho em volta, tentando descobrir de onde vem o arranhão, mas o que quer que tenha sido, parou. Com uma careta, volto a ler.
Mas o arranhar começa novamente. Da direção da mesa, talvez? Eu me levanto devagar, imaginando o que exatamente eu vou fazer se abrir uma das gavetas e uma criatura mágica desagradável se jogar sobre mim. Por alguma razão, minha imaginação evoca uma imagem de uma mão sem corpo, o que não ajuda em nada o meu batimento cardíaco acelerado.
Três batidas afiadas na porta fazem o livro escorregar dos meus dedos. Eu fecho meus olhos por um momento e respiro trêmula, quase rindo de mim mesma por estar tão nervosa. — Entre, — eu digo enquanto me inclino para pegar o livro.
— Seu almoço, Lady Emerson, — diz Clarina da porta.
Eu me endireito, deixo o livro na poltrona e empurro meu cabelo para longe do meu rosto. — Certo. Obrigada. — Eu tenho almoçado com Aurora todos os dias desde que cheguei aqui, mas ela obviamente tem outros assuntos para tratar hoje. Clarina leva a bandeja de comida para a mesa perto das portas da varanda enquanto eu me aproximo da mesa do outro lado da sala. Sentindo-me boba agora por ter tido medo de um simples som de arranhar, mas ainda um pouco desconfiada do que poderia estar causando isso, eu abro a gaveta do lado esquerdo e rapidamente recuo. A stylus roubada rola para a parte de trás da gaveta — e nada pula sobre mim. Fecho a gaveta e abro a da direita. Está cheio de pergaminhos em branco que estavam no topo da primeira pilha de livros que Aurora reuniu para mim.
— Está tudo bem, Lady Emerson? — Clarina pergunta.
Minhas bochechas coram quando olho por cima do meu ombro para ela. — Sim, desculpe. Eu pensei ter ouvido alguma coisa, mas... — Eu viro e olho para dentro da gaveta. — Mas não há nada aqui.
— Há muitas pequenas criaturas vivendo nos jardins daqui, — Clarina me conta. — Algumas delas vêm de vez em quando. A maioria delas é inofensiva.
— A maioria? — Eu repito.
Ela sorri fracamente para o chão, mas não detalha. — Você precisa de mais alguma coisa, minha senhora?
Eu pego o livro de história no meu caminho para a mesa. — Acho que não. Isso parece incrível. — Ela balança a cabeça e caminha de volta para a porta.
— Clarina? — Eu pergunto enquanto sento em uma cadeira.
Ela para e olha em volta, seus olhos encontrando os meus por apenas um segundo antes de se concentrar no chão. — Sim, Lady Emerson?
— O que faz de você uma faerie Unseelie?
Ela hesita antes de responder. — O que você quer dizer?
— Você é mesmo uma faerie Unseelie? Todos que vivem e trabalham no palácio são considerados Unseelie?
Ela franze a testa para o chão. — Sim, eu acredito que sim, minha senhora.
— O que te faz diferente de alguém que não é Unseelie? Estou tentando lembrar o que me disseram quando cheguei a este mundo, mas não foi muito. Eu acho que alguém disse que a magia aqui é um pouco diferente? Algo sobre magia negra?
— Qualquer mágica com a qual eles não concordam, chamam magia negra.
— Eles?
— Aqueles que não são Unseelie. Alguma parte da nossa magia é a mesma que a deles, — explica ela. — Como o poder que reside naturalmente dentro de todos nós, ou o poder que absorvemos dos elementos ou das plantas. Mas eles não gostam quando tomamos o poder de outros seres vivos — seres inferiores — e eles não gostam de alguns dos procedimentos envolvidos em certas magias. Então é aí que entra a divisão. Eu acho, — acrescenta ela, cruzando as mãos recatadamente na frente dela.
Meus olhos passam sobre a comida espalhada na mesa. É muito mais do que eu poderia comer em uma refeição. Eu gostaria de poder pedir a Clarina para sentar e comer comigo enquanto eu faço mais perguntas, mas sei que ela nunca concordaria com isso. — O que conta como um ser inferior? — Eu pergunto.
Mais uma vez, ela parece confusa. — Bem, tudo que não é faerie, é claro.
Um calafrio levanta os cabelos dos meus braços, apesar da brisa morna que entra pelas portas abertas da varanda. — Você faz isso com frequência? Tome o poder de outros seres vivos?
— Não, minha senhora. Eu nunca precisei. Eu já fui curada antes por feitiços que eram especificamente Unseelie, mas eu pessoalmente não absorvi o poder cru de outro ser.
— Tudo bem. Eu entendo. — Eu não tenho certeza do que mais dizer, além de dizer a ela que tomar o poder de alguém soa francamente assustador e simplesmente errado.
— Você tem alguma outra pergunta, minha senhora?
— Hum... não agora.
Ela se vira e depois acrescenta, — Você não precisa se incomodar com tudo isso, minha senhora. Não é familiar para você, eu sei, mas não é errado. É apenas diferente. E, bem, sempre me disseram que não devemos ter medo de algo só porque é diferente.
— Hum, sim, isso é verdade. Obrigada, Clarina. — Dou-lhe um sorriso que desaparece no momento em que a porta se fecha atrás dela. Eu sei que não deveria ter medo de algo simplesmente porque é diferente, mas se é diferente e está machucando alguém, não está certo. Talvez eu tenha entendido mal, no entanto. Talvez essa coisa de ‘tomar o poder’ não seja tão sinistro quanto parece. Pode ser apenas um pouco de poder, não o suficiente para matar alguém. E talvez eles só aceitem seres que estão dispostos.
Eu me sirvo de comida, reabro o livro e continuo lendo. Depois de apenas alguns minutos, um baque surdo vem da direção do meu quarto. Eu abaixo o sanduíche que estava a meio caminho da minha boca e coloco um garfo entre as páginas do livro para marcar onde estava. Eu silenciosamente levanto uma faca e me levanto da cadeira para encarar a porta entreaberta do quarto.
E então eu passo muito tempo congelada no lugar, imaginando se devo investigar sozinha ou arriscar parecer idiota pedindo a um guarda para ir ao meu quarto e caçar a coisa misteriosa que não fez nenhum som desde aquele primeiro baque. Eu decido no final arriscar parecer idiota. Melhor do que ser mastigada por uma das criaturas não inofensivas de fora ou por qualquer coisa que tenha matado aquele guarda esta manhã.
Abro a porta principal, coloco a cabeça para fora e encontro duas mulheres em uniforme de guarda do lado de fora. Elas passam pelo menos vinte minutos procurando cada centímetro do meu quarto enquanto eu finjo ler. E quando elas saem, não tendo encontrado nenhum sinal de ameaça, estou quase certa de que vejo uma revirando os olhos para a outra.
Capítulo 03
— A SUA HABILIDADE GRIFFIN APARECEU NOVAMENTE? — AURORA PERGUNTA À noite, enquanto nos retiramos para os sofás em sua sala de estar privada. É tarde, o jantar acabou, e Roarke ainda não voltou. Perguntar quando ele voltará é inútil, por isso desisti, mas ainda me sinto queimando de frustração toda vez que imagino mamãe dormindo permanentemente. Minhas mãos querem se enrolar em punhos sempre que penso em todos os minutos, horas e dias que passam.
— Eu a senti dormindo na noite passada, — eu digo a ela, removendo uma almofada de minhas costas e abraçando-a ao meu peito. É melhor apertar a almofada do que cavar minhas unhas continuamente nas palmas das minhas mãos. — Ela me acordou. No momento em que percebi o que estava acontecendo, o momento passou. Eu não consegui falar uma única palavra antes que a magia fosse embora.
— O que você teria dito?
Eu sacudo minha cabeça enquanto observo as chamas dançantes na lareira. Como é verão aqui, eu não teria achado necessário acender uma fogueira à noite, mas a sala está agradavelmente aconchegante e acolhedora. — Eu não sei. Eu estava meio adormecida e tentando pensar em algo, mas a sensação se foi antes de eu ter qualquer comando.
Ela me observa por algum tempo, enquanto eu continuo a olhar para ela e para as chamas. — Você realmente acha que o elixir vai ajudá-la?
Eu me concentro nela, meu humor se elevando instantaneamente. Ela poderia estar pensando em dar o elixir de volta para mim? — Claro que ele ajuda. Ele liga a habilidade então assim eu consigo usá-la.
— Sim, eu sei, mas você disse que o propósito do elixir é de alguma forma ensinar você a usar e controlar a habilidade por conta própria. É para te ajudar a reconhecer como é a sua magia Griffin, certo? Para que você possa invocar essa magia à vontade sem a ajuda do elixir?
— Sim, algo assim.
— Mas você já sabe como ela é.
Eu olho para os meus braços em volta da almofada. — Sim, eu sei.
— Então por que...
— Por que não consigo fazer isso sozinha? — Eu suspiro, minha excitação se dissipando. Ela não vai me dar o elixir. — Eu não sei. Eu tentei. Eu imagino o sentimento. Eu imagino tirar magia de dentro de mim, mas nada acontece. Talvez se eu tivesse esse elixir, eu poderia —
— Não, — diz ela. — Eu não vou te dar algo que se tornará uma muleta, especialmente porque não há muito dele, e quando acabar, não sabemos como fazer mais. Sem mencionar que é uma má ideia dar a você algo que irá imediatamente ativar uma habilidade perigosa que você poderia usar contra mim.
— Aurora, eu nunca —
— Sim, sim. — Ela revira os olhos. — Você fará parte da minha família em breve, então gostaria de poder confiar em você, mas ainda não chegamos lá. Não, a razão pela qual estou trazendo isso à tona é porque tenho pensado sobre como sua habilidade pode funcionar. — Ela inclina a cabeça para o lado e olha pensativamente através da sala para as cortinas que escondem as portas da varanda. — Talvez, por ser uma habilidade tão poderosa, ela meio que precise... se reabastecer. Isso explicaria porque você não pode usá-la o tempo todo.
— Tudo bem. Talvez. Alguns tipos de magia funcionam dessa maneira?
— Bem, toda a magia funciona dessa maneira, na verdade. — Ela muda de posição, dobra uma perna sobre a outra e me encara. — É que raramente usamos tudo de uma vez só, por isso não percebemos que ela está constantemente sendo reabastecida. Se você faz algo que é particularmente árduo com sua magia, como levantar algo muito pesado e segurá-lo no ar por um longo tempo, você acabará cansando. Magicamente, quero dizer. Então você precisa descansar enquanto sua magia se restaura.
— Tipo reabastecer as energias se você faz algo que é fisicamente desgastante? — Eu pergunto.
— Sim. Então eu me pergunto se talvez a sua Habilidade Griffin funcione de forma semelhante, mas em erupções rápidas, em vez de lentamente ao longo de um longo período de tempo.
Eu concordo. — Parece que isso pode fazer sentido. Sempre sinto como se isso acontecesse em mim de repente, quando imediatamente estou para falar qualquer coisa na hora, e então some.
— Ou acaba liberada em seu entorno sem nenhum propósito se você não disser nada. — Ela bate no queixo e franze os lábios. — Hmm. Gostaria de saber se você poderia segurá-la e usá-la depois, em vez de liberá-la sempre que for reabastecido.
— Hum... eu poderia tentar isso? — Eu sugiro, não tendo ideia de como eu realmente ‘seguraria’ esse meu poder indescritível.
— De qualquer forma, tudo isso é especulação neste momento, — continua Aurora. — Precisamos coletar algumas evidências reais. Tome nota de exatamente quando acontecer. O dia e a hora. E mantenha o controle de outras coisas, como se você usou uma quantidade anormalmente grande de sua magia normal em outra coisa. Porque nós não sabemos se a sua magia normal tem algum efeito na sua magia Griffin, ou se as duas são independentes uma da outra.
Eu aceno com a cabeça enquanto ela fala. — Basicamente, queremos descobrir se podemos prever quando vai acontecer.
— Sim. Você vai ter que ser muito cuidadosa, Em. Registre todos os detalhes que possam influenciar sua Habilidade Griffin.
— Sim, definitivamente. — Eu franzo a testa enquanto minha mente relembra todas as vezes que eu dei um comando mágico, tentando forçar os eventos em um padrão que faça sentido. Eu acabo balançando a cabeça. — Talvez estejamos erradas. Houve uma vez em que usei duas vezes em alguns minutos. Então, a teoria de reabastecer não faria sentido.
— Bem, talvez você não tenha usado tudo com a primeira coisa que você disse. Talvez você tenha guardado um pouco, mas não percebeu o que estava fazendo. É por isso que você ficou com um segundo comando, mas depois disso tudo acabou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Sim. Talvez.
— Ou talvez sua magia ainda esteja se estabelecendo, — sugere Aurora. — É isso o que acontece com os halflings se a magia deles aparecer mais tarde na vida. Muitas vezes vem e vai por um tempo antes de se tornar consistentemente presente. Talvez, uma vez que tenha passado um pouco mais de tempo, sua Habilidade Griffin aparecerá em intervalos regulares.
Eu passo uma mão pelo meu cabelo. — Tantas possibilidades e incógnitas.
— É por isso que você precisa começar a documentar tudo. Essa é a única maneira de descobrirmos se minha teoria está correta ou não.
Eu me levanto e jogo a almofada no sofá. Eu ando até a lareira e levanto o castiçal de prata da cornija. Eu pratiquei acendendo uma vela repetidamente antes do jantar, e consegui produzir uma chama com quase todas as tentativas. Eu estalo meus dedos ao lado do pavio — e uma chama acende.
— Bom trabalho. — Aurora bate as mãos de prazer. — Tudo bem. Agora que você conseguiu, o que eu vou te ensinar agora?
Em vez de respondê-la, pergunto, — É isso que você faz todas as noites? Janta sozinha no seu quarto? Ou você tem jantares familiares quando todos estão em casa?
Se ela ficou confusa com a minha mudança de assunto, ela não demonstra. — Bem, é sempre diferente, — diz ela com um encolher de ombros. — Às vezes usamos uma das salas de jantar menores e jantamos apenas nós quatro. Às vezes, membros da família se juntam a nós. Às vezes, entretemos os convidados, ou minha mãe entretém seus amigos, ou eu entretenho algumas das moças da corte. Se estou cansada de todos, então como sozinha aqui. — Ela inclina a cabeça. — Por que você pergunta?
— Estou apenas tentando imaginar como é sua vida normal. Clarina me disse que você tem damas de companhia, mas as mandou embora de férias. E eu não vi você interagir com ninguém além de sua mãe e um punhado de criados e guardas, então —
— Então você está se perguntando se eu sou uma solitária miserável? — Ela pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Não. Eu estou querendo saber se você está tentando me esconder de todo mundo que mora aqui.
Vários segundos passam antes que ela responda. — Eu não chamaria isso de esconder, mas suponho que é essencialmente isso. As pessoas vão fazer perguntas sobre você, Em. Eles já estão fazendo perguntas sobre essa minha estranha amiga que não parece pertencer aqui. É mais fácil se não nos colocamos em uma posição em que precisamos responder a alguém até o momento certo.
— E o momento certo será...?
— Quando você e Roarke fizerem um anúncio oficial sobre seu noivado. Ninguém vai questionar sua presença aqui então. Eles não ousariam.
As palavras ‘anúncio oficial’ enviam um calafrio através de mim. Então, apesar do fato de eu estar ao lado do fogo, o frio parece se tornar real. Arrepios se espalham pela minha pele e o ar frio sussurra na parte de trás do meu pescoço. Eu olho por cima do meu ombro, mas apesar do sentimento distinto de que alguém está me observando, eu não vejo mais ninguém na sala.
Com um clique silencioso, a porta se abre. Meu olhar se lança em direção a ela. Ela se abre devagar, e Roarke entra na sala. Ângulos acentuados, cabelos escuros perfeitamente no lugar e olhos da cor do vinho tinto. Seu intenso olhar varre a sala antes de pousar em mim. Seus lábios se curvam em meio sorriso quando um rubor aquece minha pele.
— Oh, olhe isso. — Aurora aperta as mãos juntas sob o queixo. — Ela está emocionada ao ver você, Roarke.
— De fato. — Quando a porta se fecha atrás de Roarke, ele caminha lentamente em minha direção, mãos atrás das costas. — Se ela está emocionada pelas razões certas e não porque está desesperada para me interrogar desde o momento em que ela chegou aqui.
Eu engulo antes de falar. — Estou feliz que você não tenha esquecido por que estou aqui.
Ele para na minha frente, perto o suficiente para que eu tenha que olhar para cima para encontrar seus olhos. Eu sabia que ele era alto, é claro, mas eu tinha esquecido o jeito como a presença dele o faz parecer ainda mais alto. Eu não vou dar um passo para trás, no entanto. Recuso-me a ser intimidada pelo cara com quem eu devo estar casando em breve, independentemente do fato de que eu não tenha real intenção de concordar com essa união.
O sorriso de Roarke aumenta um pouco mais e, por trás das suas costas, ele produz uma rosa. Uma rosa dourada e delicadamente formada, com um rubi no centro de suas pétalas de ouro maciço. — Minha senhora, — ele murmura, curvando-se um pouco quando ele entrega a rosa para mim. Eu hesito, então pego dele. Ele se inclina mais para frente, seu rosto de repente muito perto do meu, e seus lábios brevemente roçam minha bochecha. Um arrepio frio desliza pela minha pele e pelo meu pescoço. — Minhas desculpas por demorar tanto para voltar. Meu pai e eu não costumamos lidar com as questões pessoalmente, mas essa foi uma dessas ocasiões. Achamos melhor ficar onde estávamos até que o trabalho estivesse terminado.
— Hum... tudo bem. Obrigada por essa explicação enigmática.
— Logo, meu amor, você fará parte da família. Você conhecerá todos os nossos segredos.
— Seu amor? Sério? — Coloco a rosa de ouro sobre a cornija da lareira e cruzo os braços sobre o peito. — Eu acho que é um pouco cedo para isso, Roarke.
Roarke olha para Aurora com uma risada silenciosa. — Você tem ensinado a ela como bancar a difícil?
Aurora se estica do outro lado do sofá, endireitando as camadas da saia sobre as pernas. — Não. Parece que ela sabe como fazer isso sozinha.
Eu quase faço um comentário sobre como isso tudo é um jogo para eles, mas considerando que eu espero enganá-los e sair daqui viva, eu provavelmente deveria jogar junto. — Que tal nos conhecermos um pouco melhor antes de começar a falar as palavras ‘meu amor’ por aí? Você nem me levou a um encontro ainda.
— Um encontro? Bem, espero que você tenha algo um pouco mais bonito para usar do que isso — ele gesticula para meu jeans e blusa de moletom — se você está planejando ir a um encontro com um príncipe. E falando em roupas, você não recebeu roupas mais apropriadas?
— Recebi, mas eu prefiro usar o tipo de roupa que eu fico confortável.
— Recusou, — Aurora diz do outro lado da sala. — Ela recusou a usar qualquer um dos vestidos.
Eu respiro fundo pelo nariz. — Esses vestidos parecem que são de outro século. Eu sei que este é um palácio cheio de membros da realeza, mas vocês não podem se atualizar com os tempos no departamento de roupas? O resto do mundo fae parece usar praticamente o mesmo tipo de roupa que as pessoas usam no meu mundo.
— Este é o seu mundo, Em, — Aurora me lembra. — E se você se desse ao trabalho de olhar mais de perto o seu guarda-roupa, acho que descobriria que as roupas penduradas ali são da última moda. Moda fae formal, que pode não ser familiar para você, mas ainda assim. Apenas os designs mais recentes.
— Você está certa, — eu digo a ela, afastando-me de Roarke para me inclinar contra uma poltrona. — Eu não estou familiarizada com a moda formal fae.
— Chega de roupa, — diz Roarke. Ele se vira para me encarar, colocando as mãos nos bolsos de seu longo casaco, que é coberto por bordados de prata primorosamente detalhados e é, sem dúvida, o mais recente da ‘moda fae formal’. — Diga-me, meu amor — Ele se interrompe. — Desculpas, — acrescenta com um leve abaixar de sua cabeça. — Por favor, diga-me, minha senhora, o que você acha da sua nova casa.
— Já que você viu o interior da minha casa anterior, eu suponho que você pode descobrir meus sentimentos em relação a esta.
— Você amou? — Pergunta ele. — Você está completamente impressionada? Você está infinitamente grata por poder passar o resto da sua vida aqui?
— Não exatamente. É linda, eu vou falar. Não é bem o que eu esperava, mas definitivamente linda.
— Ah, agora estou intrigado. — Ele levanta a rosa de ouro da cornija e a gira entre os dedos. — O que você estava esperando?
Eu levanto meus ombros em um lento encolher de ombros enquanto tento colocar minhas expectativas iniciais em palavras. — Eu não sei. Vocês Unseelies são destinados a serem os vilões, certo? Então eu estava esperando algo... mais frio. Mais escuro. Uma floresta morta ao redor do palácio, ou inverno perpétuo ou algo assim. Mas, você sabe, tudo está ensolarado, quente e vivo. — Lá fora, pelo menos, acrescento silenciosamente. Não digo nada sobre o sentimento frio e opressivo que às vezes pressiona meus ombros quando estou dentro do palácio. O frio que sinto no ar agora.
Roarke inclina a cabeça para o lado. — Você não olhou para fora à noite, não é.
Eu volto a me concentrar nas três noites que passei aqui até agora. Todas as noites, quando volto ao meu quarto, as cortinas estão fechadas, as lâmpadas encantadas acesas e a pequena piscina no banheiro decorado como uma floresta cheia de água fervente e bolhas perfumadas. — Não, eu acho que não.
Ele passa por mim, coloca a rosa dourada na mesa em que Aurora e eu normalmente comemos, e acena com a mão nas cortinas. Quando elas se abrem, ele se vira e estende a mão para mim. — Deixe-me mostrar-lhe algo.
Relutantemente, coloco minha mão na dele. Ele abre as portas da varanda e me leva para fora. Eu respiro no ar inesperadamente frio. Então, quando chego à grade da sacada e olho para baixo, meus lábios se abrem em espanto ao ver a deslumbrante paisagem de inverno cobrindo todo o terreno do palácio. — Uau, — eu sussurro.
— Minha mãe gosta de verão, — Roarke diz, — mas meu pai gosta de inverno. A magia dela controla o dia e a magia dele controla a noite.
Meus olhos percorrem a topiaria coberta de neve, as fontes congeladas e os pingentes de gelo pendurados nas pontas dos dedos da estátua mais próxima. — Deve ser muito confuso para todas as plantas e criaturas que residem nesses jardins.
— Felizmente para eles, eles também são mágicos. Eles podem lidar com isso.
Um arrepio me percorre, e Roarke tira o casaco. — Que cavalheiro, — eu digo secamente quando ele coloca sobre meus ombros. — Embora eu esperasse que houvesse um feitiço que evitasse que as pessoas ficassem com frio.
— Há sim. Mas meus níveis mágicos estão um pouco baixos no momento. — Parado mais perto de mim agora, ele estende a mão e enfia meu cabelo atrás da minha orelha direita. Eu endureço imediatamente, olhando para algum lugar na região do pescoço dele, em vez de nos olhos dele, mas conforme seus dedos tocam o pequeno pedaço de metal em forma de moeda presa à pele atrás da minha orelha, eu relaxo um pouco. Ele não está tentando ser íntimo; ele está checando se o dispositivo de ocultação ainda está lá.
— Preocupado que eu poderia ter tirado? — Eu pergunto, satisfeita em ouvir que minha voz está firme.
— Não particularmente. Você não sabe a magia necessária para removê-lo.
— Mas você está checando assim mesmo. Apenas no caso.
— Claro. Eu seria um tolo em não checar. Você pode ter encontrado alguém neste palácio disposto a removê-lo para você, ou sua Habilidade Griffin pode ter surgido por tempo suficiente para você instruir este dispositivo que se retire.
— E por que eu faria isso?
— Segundas intenções sobre nosso acordo. Culpa, talvez. — Ele se inclina para o lado contra a balaustrada, inteiramente à vontade no ar frio da noite. — Você já começou a se sentir culpada, Emerson?
Começou? A culpa vem me comendo desde antes mesmo de eu chegar aqui. Eu dei a localização escondida da minha mãe para uma faerie perigosa que depois a colocou em um coma mágico. Eu fugi das pessoas que me ajudaram e não pediram nada em troca. Eu abandonei minha melhor amiga sem nem dizer adeus. Nada disso, no entanto, é da conta de Roarke. Então eu pigarreio e pergunto, — Por que eu estaria me sentindo culpada? Eu concordei com esse arranjo para ajudar alguém. Eu não deveria ter que me sentir culpada por isso.
— É verdade, mas talvez você tenha ficado com medo desde que chegou aqui. Talvez você queira que seus amigos — os rebeldes Griffin? — saibam onde você está afinal.
Eu não confirmei a suspeita de Roarke de que foram os rebeldes Griffin que me resgataram no dia em que fugi tanto da Guilda quanto dos Unseelies e caí da beira de um penhasco. Ele perguntou onde eu estava me escondendo, mas mesmo se eu quisesse, eu não poderia contar a ele sobre aquele lugar seguro encantado. Quando estou na companhia de outras pessoas, não consigo nem pensar nisso, quanto mais falar o nome do lugar ou a localização dele. Em vez disso, um espaço em branco aparece em minha mente, presumivelmente parte do feitiço de proteção que ajuda a manter o lugar seguro. Minha lembrança dele sempre volta quando estou sozinha, mas ainda é desconcertante toda vez que desaparece completamente da minha mente.
Recusando-me a desviar o olhar de Roarke, eu digo, — Eu não estou com medo, e não mudei de ideia. A última coisa que quero é que meus amigos apareçam aqui. Por que eu arriscaria com eles arruinando nosso acordo antes que você tivesse a chance de seguir com sua parte?
Seu sorriso é lento e cuidadoso. — Bom. Fico feliz em ouvir isso.
— O que me lembra, — acrescento. — Você ainda precisa provar que realmente tem informações úteis que podem ajudar minha mãe. Você não pode esperar que eu me case com você sem alguma garantia de que você está dizendo a verdade.
— Você está dizendo que não está totalmente comprometida com a união?
— Eu estou, — eu digo ferozmente, esperando que a mentira não apareça no meu rosto, — mas apenas se você estiver totalmente comprometido em curar completamente a minha mãe. Eu quero poder confiar em você, Roarke. Por favor, me dê uma razão para isso.
— Hmm. — Roarke estreita os olhos como se considerasse o meu pedido. — Vamos ver. Você —
— Emerson Clarke?
Eu olho para as portas da varanda ao som de uma voz masculina desconhecida. Na porta há um guarda que não reconheço. — Sim? — Eu pergunto.
— O Rei Unseelie deseja encontrá-la.
Capítulo 04
A JORNADA ATRAVÉS DO PALÁCIO PARA ENCONTRAR O REI PARECE AO MESMO TEMPO torturantemente longa e assustadoramente rápida. Tenho tempo suficiente para me arrumar completamente, mas não tenho tempo suficiente para me acalmar e me preparar.
— Meu pai não é tão gentil como eu sou, — Roarke me diz enquanto caminhamos por corredores de mármore brilhantes com duas faeries uniformizadas à nossa frente e duas atrás. — Ele quer manter você, não importa o quê. Nora ou prisioneira.
Maravilhoso. Isso não me faz querer vomitar.
— Eu não vou deixar isso acontecer, é claro, — Roarke acrescenta, — mas seria melhor se você não fizesse nenhum comentário de brincadeira sobre mudar de ideia ou não estar certa sobre a união. As coisas podem ficar... desagradáveis.
— Eu já disse a você que não vou mudar de ideia. — Em meu esforço para mascarar meu medo, minhas palavras saem mais alto do que eu pretendia. — Eu estou aqui, não estou? — Eu continuo em voz baixa. — E eu vim até você. Isso não prova quão séria eu estou sobre essa união?
— Tudo o que estou dizendo é que ele não gosta de piadas ou sarcasmo, então é de seu interesse ser educada. E você provavelmente deveria tirar meu casaco. Você parece muito estranha nele.
Eu tiro o casaco de Roarke e o entrego de volta para ele. — Talvez seja de seu interesse ser educado também, considerando o quanto minha Habilidade Griffin é valiosa para ele. Se ele me fizer prisioneira, nunca lhe darei o que ele quer.
Eu tento muito acreditar em minhas próprias palavras, mas as sobrancelhas levantadas e a expressão de pena de Roarke tornam isso impossível. Quando paramos do lado de fora de uma porta enorme e ricamente entalhada, ele me encara. — Você não precisa dar nada a ele, Emerson. Ele vai pegar o que quiser.
Um guarda abre a porta. O frio artificial no ar se intensifica, e a porta em si parece se estender mais como uma boca gigante se preparando para me engolir inteira. Eu sinto o cheiro de terra úmida e folhas podres. Meu coração bate mais rápido quando imagens de criaturas viscosas, crânios e besouros passam pela minha mente.
Então eu afasto as imagens imaginadas e descubro que a porta não mudou, e a sala para qual ela se abre não é uma boca escura, mas um grande escritório. Roarke pega meu braço e me direciona para frente, já que meus pés se esqueceram de como se mover por conta própria. — Lembre-se, eu estou do seu lado, — ele sussurra para mim. — Prove para meu pai que você está disposta a trabalhar conosco e vou me certificar de que você nunca será forçada a fazer nada.
Eu não respondo, minha atenção focada no interior do escritório do rei. À direita, há uma mesa grande o suficiente para que pelo menos uma dúzia de pessoas se sentem. Estranhamente, porém, tudo o que está em cima da mesa aparece borrado quando tento olhar bem de perto. Meu olhar se move para a esquerda — e fico ainda mais surpresa com o que vejo lá: nenhuma parede envolve o escritório daquele lado. Em vez disso, ele se estende para uma caverna subterrânea feita de rocha áspera e iluminada por luz pálida.
— Deixe-nos.
A voz profunda traz minha atenção para a mesa à nossa frente. A superfície é polida como qualquer outra superfície de mármore que enche este palácio. Do outro lado, uma cadeira alta que parece ser feita da mesma rocha áspera da caverna que está atrás de nós. A cadeira permanece imóvel enquanto os guardas saem da sala e fecham a porta. Então, apesar do fato de que deve pesar uma tonelada, a cadeira gira suavemente para nos encarar.
O Rei Savyon não parece nada com seu filho. Seu cabelo branco-loiro tem mechas pretas. Seus olhos são buracos negros que me perfuram. Sem falar, ele coloca uma mão em cima da outra na mesa à sua frente. Anéis de ouro com pedras multicoloridas brilham em cada dedo.
— Pai, esta é Emerson Clarke, — diz Roarke. Eu engulo e me forço a ficar mais ereta. Tenho certeza que essa é uma daquelas situações em que eu não deveria demonstrar medo, mas acho que estou prestes a falhar miseravelmente.
O rei se levanta, caminha até a frente de sua mesa e cruza os braços sobre o peito. Seus olhos viajam por todo o meu corpo e para cima novamente, seu olhar como um dedo frio e rastejante acariciando ao longo da minha pele. Seu olhar inexpressivo permanece na minha blusa de moletom, em seguida, viaja lentamente até o meu rosto, onde ele segura meu olhar por vários segundos aterrorizantes. Apesar da minha determinação de não ser intimidada, eu quase morro de alívio no momento em que seus olhos me deixam e me movo para perto de Roarke. Eu envolvo meus braços firmemente ao redor do meu corpo e olho para o chão bem na frente dos meus pés.
— Bem, — diz o Rei Savyon, sua voz um estrondo profundo que quase posso sentir em meu próprio peito. — Ela está muito longe da mulher com quem eu esperava que você um dia se uniria, Roarke. Ela mal se encaixa para ser uma criada nesta corte, muito menos uma princesa.
— Sério, pai? — Roarke arrastou. — Essa é a melhor coisa que você tem a dizer?
— O que você espera quando me apresenta uma perspectiva tão sombria para uma nora?
— Eu posso garantir-lhe, pai, que sua Habilidade Griffin mais do que compensa o que ela não tem em outras áreas.
Aqueles olhos negros se fixam em mim mais uma vez. — Eu certamente espero que sim. Eu gostaria de ver uma demonstração agora.
Eu abro minha boca, meus olhos correndo entre os dois. Não tenho certeza se posso falar, mas eles precisam saber que não posso fazer nada sob ordens. — Não se preocupe, Emerson, — Roarke diz antes que eu possa dizer qualquer coisa. Ele alcança dentro de seu casaco e produz um pequeno frasco. — Eu tenho seu precioso elixir aqui. Yokshin, nosso mestre de invenções, vem examinando, mas ainda há muito para que você possa usar.
Droga. Não foi assim que planejei usar o elixir. Eu devo ficar sozinha com Roarke quando ele me der para que eu possa instruí-lo a me contar tudo o que ele sabe sobre minha mãe e como consertá-la. Isso não vai funcionar agora a menos que eu possa dar uma instrução ao rei ao mesmo tempo. Para permanecer congelado no lugar, talvez. Assim ele não consegue interferir. Conforme Roarke se vira para mim, pensamentos correm loucamente pela minha cabeça. Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso? Se eu não fizer agora, terei outra chance? E se eu mandar nele agora, como vou passar por todos os guardas quando sair? Ordená-los também? Haverá tempo suficiente para dar a Roarke, seu pai e todos os guardas do palácio uma ordem antes que minha Habilidade Griffin se esgote?
— A poção de compulsão primeiro, — diz o rei. — Então a poção Griffin.
— Claro, — Roarke diz, removendo outra pequena garrafa de dentro de seu casaco.
— O... quê? — Eu pergunto.
— Poção de compulsão, — Roarke repete, removendo a tampa. — É exatamente o que parece. Você pode ser obrigada a fazer certas coisas enquanto estiver sob a influência desta poção. É só para ter certeza de que você se comportará enquanto usa sua Habilidade Griffin. Nós não queremos que você faça algo bobo ou irracional. — Ele ri. — Como dizer a todos nós para nos matar ou algo assim.
Toda minha esperança murcha. — Então — então você vai me forçar a dizer alguma coisa?
— Isto é apenas uma precaução, Emerson. Meu pai ainda não sabe se pode confiar em você.
Ele entrega a garrafa para mim e, como sei que não tenho absolutamente nenhuma escolha, a levo aos lábios. — Quanto? — Eu pergunto antes de incliná-la.
— Apenas um gole.
A poção tem gosto de algo familiar, mas não consigo identificar. Eu entrego a garrafa de volta para Roarke, assim quando eu percebo que essa coisa de compulsão soa muito como a Habilidade Griffin que todo mundo neste mundo tem tentado colocar suas mãos. Minha Habilidade Griffin. — Espere, mas — se vocês tem uma coisa como uma poção de compulsão, então qual é a importância da minha Habilidade Griffin? Vocês já podem dizer às pessoas para fazerem as coisas e elas as farão. Vocês não precisam — Percebo o que estou dizendo tarde demais. Vocês não precisam de mim. Não é algo que eu deveria estar dizendo quando minha Habilidade Griffin é a única vantagem que eu tenho.
— Nós não podemos forçar as pessoas a tomar uma poção e depois obrigá-las a dizer ou fazer certas coisas, — explica Roarke. — Não é a mesma coisa que dizer o chão para se separar e depois ver isso acontecer um momento depois. — Ele coloca o elixir da Habilidade Griffin na minha mão e dá um passo para trás para ficar ao lado de seu pai. Agora que eles estão próximos um do outro, posso ver a leve semelhança entre eles, apesar de suas diferenças dramáticas na cor dos cabelos e dos olhos. — Emerson, — Roarke diz. — Você não acha que seria divertido se começasse a chover aqui?
Embora seja uma sugestão estranha, eu me encontro concordando com ele. Seria a coisa mais maravilhosa do mundo se começasse a chover aqui mesmo nesta sala. — Sim, — eu digo a ele.
— Então você deve tomar um gole desse elixir e fazer chover.
Ele tem razão. Isso é exatamente o que devo fazer. Então eu retiro a tampa do frasco e despejo algumas gotas na minha língua. Então eu espero pelo formigamento familiar, a sensação de que a magia Griffin escondida em algum lugar dentro de mim está subindo de repente para a superfície. Eu olho para o teto e digo, — Comece a chover.
E começa.
Eu fico encharcada em segundos, ofegando e tensionando meus ombros contra a água gelada. Roarke e o rei permanecem completamente secos, como se guarda-chuvas invisíveis os protegessem do aguaceiro. — Diga para parar, — Roarke fala acima do rugido de gotas da chuva.
Eu não posso sentir se há algum poder Griffin na superfície da minha magia, e é impossível ouvir minha voz acima do barulho. Mas quando eu digo para a chuva parar, eu sinto as palavras ressoando na minha cabeça do jeito que elas fazem quando a minha Habilidade Griffin ganha vida, e eu sei que funcionou.
— Muito bem, — o rei diz enquanto eu fico ali tremendo. Ele olha para Roarke. — Yokshin é capaz de recriar o elixir? Se não, e a Habilidade Griffin for aleatória, a garota não será tão útil para nós como eu esperava.
— Ele não tem certeza sobre recriar, mas na última mensagem de Aurora para mim antes de retornarmos, ela disse que está trabalhando em algumas teorias sobre como a habilidade pode funcionar. Ela acha que pode se tornar mais previsível.
O rei acena com a cabeça. — Bem, então. Tem certeza de que quer ter essa união? Seria mais simples lidar com a garota como prisioneira.
— Sim, eu tenho certeza. Eu não quero que ela seja uma prisioneira. — Roarke olha para mim como se estivesse considerando uma compra que ele está prestes a fazer. — Eu realmente gosto dela. E mamãe e Aurora podem treiná-la nos caminhos da corte. Depois de algum tempo, parecerá que ela sempre pertenceu aqui. Ela se tornará uma de nós. Ela ficará feliz em nos ajudar sempre que precisarmos de sua Habilidade Griffin. Nós nem precisamos forçá-la. Certo, Emerson?
— Sim, — eu respondo.
Um uivo distante ecoa pela caverna.
— Bom, — o rei diz novamente, sem prestar atenção ao uivo. — Até lá, Roarke, você dará a ela uma poção de compulsão todos os dias e lhe dirá exatamente o que dizer se e quando sua Habilidade Griffin aparecer. — Toda a esperança que eu tive de usar minha Habilidade Griffin em Roarke desliza para longe como cinzas através dos meus dedos. — E você, Senhorita Clarke. — O rei dá um passo em minha direção, o que é cerca de mil vezes mais perto do que eu gostaria que ele estivesse. — Descubra se a teoria de Aurora — seja ela qual for — está correta. Faça tudo que puder para aprender como funciona sua Habilidade Griffin. Você será muito mais útil para nós dessa maneira, e pessoas úteis são menos propensas a morrer.
— Pai, — Roarke diz com um revirar de seus olhos. — Isso não é útil. Ela não entende seu senso de humor ainda.
A expressão do rei não muda nem um pouco. Ou ele é muito bom em manter uma cara séria, ou isso não era uma piada.
Outro uivo trespassa o silêncio, desta vez mais alto. O rei não olha para a caverna, então nem eu. Qualquer criatura ou pessoa que está fazendo esse som, eu não quero saber.
— Vamos anunciar a união na festa de aniversário da sua mãe em duas semanas, — o rei diz a Roarke. — Você tem até então para decidir quando a cerimônia de união ocorrerá.
Um terceiro uivo se transforma em soluços, gritos e sons de luta. Finalmente, o rei olha em direção à caverna, e embora eu não queira, eu sigo seu olhar. Dois guardas Unseelie estão arrastando um homem pelo chão desigual da caverna. Enquanto o homem luta, um dos guardas dispara uma faísca de magia em seu lado, e o homem se afasta e uiva em agonia.
Eu olho para Roarke, implorando com meus olhos para nós partirmos agora. Mas ele está observando o homem lutando com uma expressão ilegível.
— Ah, você o encontrou, — diz o rei. — Este é o último, eu presumo?
— Sim, Sua Graça.
— Muito bom. — Enquanto os dois guardas se afastam do homem, o Rei Savyon levanta a mão. O homem, que pareceu por um momento como se estivesse prestes a correr, engole e fecha os olhos. O rei aperta a mão com força ao redor do ar e vira o punho abruptamente para o lado. Do outro lado da sala, na beira da caverna, a cabeça do homem faz o mesmo, dobrando-se quase paralela ao ombro. É demais, minha mente grita. É demais, É DEMAIS!
Então um som nauseante. O choro do homem é cortado. O rei levanta a mão para cima. A cabeça do homem é arrancada inteiramente de seu corpo e ambas as partes caem no chão, espalhando sangue por toda parte.
Um suspiro estrangulado me escapa. Minha mão voa para cobrir minha boca. Eu fecho meus olhos, mas de jeito nenhum eu poderei não ver isso.
Como se de longe eu ouvisse a voz do rei. — Isso é tudo, Roarke. Leve a garota de volta para seus aposentos.
Uma mão agarra o meu braço. Eu pisco e forço meus olhos para longe do corpo morto quando Roarke me puxa para a porta. Ele abre e me deixa andar na frente dele. — E Roarke, — o rei acrescenta. — Encontre alguém que queime essas roupas hediondas que ela está usando. Eu não entendo porque isso ainda não foi feito.
— Ela se recusou a se separar delas, aparentemente.
Eu me atrevo a olhar para o rei. Ele não suspira. Ele não sorri. Ele mal se move quando diz, — As roupas serão queimadas. Cabe a Senhorita Clarke se ela ainda estará nelas quando isso acontecer.
A porta se move lentamente em nossa direção. No momento em que ela se fecha, começo a correr.
Capítulo 05
EU CORRO TODO O CAMINHO DE VOLTA PARA O MEU QUARTO, ABRO A PORTA, E A fecho. Eu dou alguns passos instáveis dentro para dentro do quarto, mal vendo ao meu redor. Tudo que vejo é o pescoço de um homem virado para o lado e o sangue esguichando de...
Eu me viro, piscando, como se eu pudesse de alguma forma desviar o olhar da memória. Ainda respirando pesadamente por causa da corrida, eu empurro meus dedos pelo meu cabelo. O que diabos eu estava pensando vindo a este lugar? Que eu realmente conseguiria fugir com as respostas que preciso, porque tenho uma poderosa Habilidade Griffin que posso usar contra as pessoas? Uma habilidade Griffin que não posso usar quando quero e que pode ser usada para atender aos propósitos de outra pessoa devido a uma poção que eu não sabia que existia. Que piada miserável. Eu deveria ter adivinhado, no entanto, que algo assim aconteceria. Há tanta coisa que eu não sei sobre esse mundo e sua magia, mas o que eu deveria saber era que era uma ideia idiota me colocar no meio de um bando de faeries poderosos que exercem magia negra.
De algum lugar atrás de mim, um baque suave chega aos meus ouvidos. Eu congelo. Eu sei que deveria correr. Eu deveria abrir a porta e continuar correndo até que este palácio esteja muito atrás de mim. Mas o medo gruda meus pés no chão. Muito lentamente, eu me viro e olho por cima do meu ombro. Do outro lado do quarto na mesa redonda, ao lado da bandeja de chá e macarons que Clarina deve ter deixado aqui há não muito tempo atrás, está uma pequena coruja. Enquanto observo, a coruja parece desabar sobre si mesma. Um instante depois, um gatinho preto aparece em seu lugar.
— Bandit? — Eu sussurro em descrença. Eu me viro totalmente para encarar a criatura que muda de forma. Ele treme sua orelha direita em resposta. Sem parar para pensar, eu corro através do quarto e o coloco em meus braços, lágrimas queimando em meus olhos. — Eu não sei como você chegou aqui ou onde você esteve se escondendo ou se é você que está fazendo barulhos estranhos na minha suíte, — eu sussurro, — mas eu estou muito, muito, muito feliz de ver você. — Eu pensei que o deixei dormindo no meu quarto quando escapei do oásis, mas ele deve ter mudado para algo menor e entrou em um dos meus bolsos. Não seria a primeira vez. — Por favor, não me deixe, — murmuro em seu pêlo, minhas palavras saindo apressadas. — Por favor, não me deixe aqui sozinha. Sinto muito pelas coisas que eu disse quando você apareceu pela primeira vez. Que eu não gosto de animais de estimação e que talvez eu pudesse vender você. Eu juro que não quis dizer nada disso. Eu tive um cachorrinho uma vez, mas ele fugiu e nunca mais voltou, e mamãe e eu procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo e chorei por dias. — Eu respiro fundo e abro meus braços o suficiente para olhar para baixo para ele sentado entre eles. Ele olha para cima com olhos de gatinho perfeitamente adoráveis. — Eu sei que você é mágico, mas provavelmente não entende uma palavra do que estou dizendo, não é? — Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para todos os lados como se estivesse tentando descobrir o que estou dizendo. — Sim, — eu sussurro, puxando-o para o meu peito novamente. — Então, só não desapareça, tudo bem? Este lugar não é seguro. Para nenhum de nós dois. Se você tivesse visto o que eu acabei de —
— Emerson? — A voz do Roarke do outro lado da porta me faz tremer. Eu não tenho ideia de como ele vai se sentir sobre a ideia de um animal de estimação metamorfo aparecendo aqui, então eu corro para o quarto e coloco Bandit na cama. — Fique aqui, — eu sussurro para ele antes de fechar a porta. Com os membros ainda tremendo, eu atravesso a sala de estar e abro a porta principal apenas o suficiente para espiar através da abertura para Roarke.
— Você está bem? — Pergunta ele.
Outro breve lampejo de sangue e carne sendo rasgada cruza minha mente. Eu engulo, achatando uma mão no batente da porta e a outra na parte de trás da porta. Se recomponha, eu silenciosamente instruo. Você escolheu vir aqui. Você escolheu essa opção para ajudar sua mãe. Agora faça o trabalho. — Sim, obrigada. Eu vou ficar bem. Foi apenas um pouco de choque, só isso. Ver... isso. — Duvido que seja necessário elaborar exatamente o que estou me referindo.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Hum... tudo bem.
Nós nos sentamos lado a lado no divã com uma quantidade respeitável de espaço entre nós. Arrisco-me a olhar para a porta fechada que nos separa do quarto. Espero que Bandit seja inteligente o suficiente para saber que ele precisa permanecer escondido. — Eu sinto muito que você teve que ver isso, — diz Roarke. — Eu sei que deve ter parecido brutal e cruel, mas isso não aconteceu sem nenhum motivo. Aquele homem desobedeceu ao rei e a consequência foi à morte.
Eu respiro devagar. Já que Roarke parece estar esperando por uma resposta, eu digo, — Tudo bem.
— Eu só queria explicar porque eu não quero que você tenha medo de viver aqui. Esse homem era um criminoso. Ele e vários outros roubaram do meu pai. Ele mereceu a morte. Mas para aqueles de nós que seguem as regras, a vida aqui é boa.
Para aqueles de nós que seguem as regras. As garantias de Roarke só aumentam meu medo. Não estou planejando seguir as regras. Estou planejando roubar conhecimento e depois fugir para salvar a minha vida. — Eu sei, — eu digo baixinho. — Compreendo. Como eu disse, foi apenas um choque. Eu só estou aqui há alguns dias e tudo é muito... diferente. Eu ainda estou me acostumando com isso. — Eu engulo. — Eu acho que poderia ajudar a me deixar à vontade se eu soubesse com certeza que posso confiar em você. Se você pudesse me contar algumas coisas — sobre minha mãe, então eu sei que você pode realmente me ajudar.
Ele se inclina para trás sobre uma mão e me observa enquanto sua expressão séria se transforma em diversão. — Na verdade, você não é tão mal nisso quanto Aurora pensou. Ainda bastante transparente, mas estou impressionado que você esteja tentando.
Eu estreito meus olhos para ele. — Tentando o quê?
— Reverter esta situação ao seu favor. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Estou curioso. Essa cena com meu pai realmente a incomodou, ou toda a sua reação é um artifício para que você possa tentar manipular alguma informação de mim?
Minha boca cai aberta por conta própria. Fecho-a rapidamente e cerro os dentes enquanto respondo. — Claro que fiquei chateada com isso. Foi horrível. — Eu me inclino para longe dele. — Você ficou motivado por alguma preocupação genuína quando decidiu vir ao meu quarto, ou isso faz parte do jogo que você está jogando?
Ele sorri de novo, mas desta vez é mais suave. — Eu sinto muito. Parece que nós dois ainda estamos nos descobrindo. E sim, minha preocupação por você era genuína. Eu não sou tão cruel que não signifique nada para mim ver você chateada. Podemos estar prestes a formar uma das uniões menos românticas da história, mas isso não significa que eu não vou, pelo menos, tentar cuidar de você.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, me apertando mais forte que o normal. — Bem, no caso improvável de você estar dizendo a verdade, obrigada por tentar.
Ele me examina por mais alguns instantes. — O que posso dizer para convencê-lo de que estou sendo sincero?
— Você poderia começar com...
— Devo lhe falar sobre a pequena casa em que você cresceu? Número vinte e nove Phipton Way. Devo lhe falar sobre as rosas silvestres que sua mãe adorava cultivar no jardim? Ou sobre a amiga que costumava visitá-la às vezes? Aquela que sempre acabava discutindo com sua mãe. Aquela que você nunca conheceu, porque sempre lhe disseram para ir ao seu quarto. Ou que tal o momento em que sua mãe apareceu para buscá-la na escola uma hora mais cedo e ficou do lado de fora da cerca falando com coisas que não estavam lá? Contar a você sobre essas coisas é suficiente para provar a você que eu sei mais sobre sua mãe do que qualquer um que tenha tentado ajudá-la até agora?
Um arrepio percorre minha espinha. — Como você sabe dessas coisas?
Suas sobrancelhas se apertam levemente. — Você ainda não entende, não é? Você não entende como você é valiosa. Quando eu ouvi sobre a sua Habilidade Griffin, minha prioridade foi aprender tudo o que pudesse sobre você. Procurei sua tia, depois sua mãe e depois a única pessoa que ligava Daniela e Emerson Clarke a este mundo.
— Que pessoa?
— A pessoa que sabe quem você é. A pessoa que fez sua mãe do jeito que ela é.
Meu coração troveja perigosamente rápido. — Conte.
Ele simplesmente balança a cabeça. — Tudo será revelado depois da nossa união.
Eu sacudo minha cabeça, moendo as palavras entre os meus dentes. — E você quer que eu acredite que você não é cruel.
— Eu não sou, — ele diz baixinho. — É só que você não é a única pessoa que quer alguma coisa. Eu também quero algo, e não confio que você me dê a menos que eu retenha informações de você.
— Eu vou fazer esta união.
— Mesmo? Isso é honestamente o que você está planejando fazer?
Droga. Existe algum tipo de magia acontecendo aqui que diz a ele que estou mentindo? Aquela poção de compulsão ainda está funcionando? Mas ele não me obrigou especificamente a dizer a verdade. — Sim, — eu digo a ele, querendo acreditar que é a verdade. — É o que estou planejando fazer.
— E ainda assim você não pediu detalhes sobre como eu vou cumprir o meu lado do acordo uma vez que a união tenha acontecido. Como exatamente sua mãe será acordada e curada? Eu vou te ensinar os feitiços e deixar você ir até ela? Vou insistir em fazer isso sozinho? O que vai acontecer com sua mãe quando ela estiver bem?
Droga. Ele me pegou. — Eu tenho muitas perguntas para você, Roarke, mas você não está exatamente por perto para que eu faça. Você só voltou algumas horas e não tivemos muito tempo para conversar antes que seu pai quisesse me ver.
— Verdade. Bem, então, você quer perguntar como as coisas vão funcionar depois da união?
Eu inclino meu queixo para cima. — Como as coisas vão funcionar depois da união?
Ele suspira. — Por que você é tão resistente? Entendo que não é o ideal se casar com alguém que você acabou de conhecer, mas não é como se você estivesse tendo uma vida desapontadora em comparação com esse acordo. Eu estou te oferecendo tudo. Uma bela casa, uma família poderosa, riqueza além de qualquer imaginação. E não me diga que você não quer nada disso porque todo mundo quer isso. E não há nada de errado em querer isso. Você será uma das poucas sortudas que vai conseguir ter tudo.
— Você está certo, — eu digo baixinho, desdobrando meus braços e colocando minhas mãos no meu colo. — Eu sou muito sortuda.
— Então, quando estivermos casados, eu irei até sua mãe e —
— Não, — eu interrompo. — Você — eu vou. Eu vou buscá-la e trazê-la de volta para cá. — Eu paro. — Você não iria me impedir de fazer isso, não é? De ir buscá-la? Quero dizer, obviamente eu voltaria.
— Obviamente, — ele repete. — Mas isso não significa que meu pai ficaria feliz com você saindo. Se você não quer que eu busque sua mãe, e você não tem permissão para buscá-la também, entre em contato com quem quer que seja que a mantenha segura e marque uma reunião. Em um local neutro, que seus ‘amigos’ não precisem se preocupar serem descobertos. Vou mandar algumas pessoas buscarem sua mãe. Meus homens mais confiáveis.
Eu considero sua sugestão. — Bom. Se esse é o único jeito.
— Quando ela estiver aqui, eu vou acordá-la. Eu vou curar sua mente. Então ela vai poder dizer a verdade sobre tudo. Você pode finalmente ter todas as suas perguntas respondidas. Ela pode ficar aqui também, e você pode finalmente parar de se preocupar com ela. Parar de lutar, pare de se debater. A vida será boa para você, Emerson.
— Soa perfeito.
— Soa? Eu sei que você gosta de sarcasmo, então me perdoe por duvidar de você.
Eu reviro meus olhos. — Obviamente não é perfeito, mas é o mais próximo da perfeição que a vida poderia ser, então se casar com você é o único jeito de chegar lá, então eu farei isso.
— Mesmo?
— Sim.
Ele se inclina para frente e segura uma das minhas mãos. Ele olha atentamente para os meus olhos, e embora eu não me sinta diferente, não posso deixar de me perguntar se ele está tentando usar algum tipo de feitiço de discernimento mágico do qual não sei nada. — Você está mentindo para mim, Emerson?
Eu sacudo minha cabeça, desejando não desviar o olhar dele. — Não estou mentindo. Minha mãe é a pessoa mais importante do mundo para mim. Eu faria qualquer coisa para deixá-la melhor. — E percebo quando termino de falar que estou dizendo a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela — e isso inclui se casar com um príncipe que mal conheço. Então, se não houver saída para isso, se for impossível conseguir as informações que eu preciso de Roarke antes do casamento, então eu farei isso. Vou casar com ele. E mamãe finalmente será a mãe feliz e saudável que eu me lembro.
E então...
Um dia, não importa quanto tempo demore, não importa quanto tempo eu leve para descobrir exatamente como fazer isso, eu vou tirar nós duas daqui.
Capítulo 06
— SIM, MUITO BEM, — AURORA FALA PARA MIM ATRAVÉS DO TERRAÇO CONFORME eu balanço o braço do meu parceiro de dança, dou voltas, passo por trás dele, e volto à nossa posição inicial. Depois de aplaudir brevemente, Aurora acrescenta, — Você só estragou tudo uma vez desta vez.
— O quê? — Eu me afasto do jovem que tem sido meu parceiro. Primo de Aurora ou primo de segundo grau ou algo nesse sentido. Meu futuro marido é aparentemente muito importante ou ocupado demais para esse tipo de coisa. — Eu pensei que eu fiz tudo certo.
— Não, a parte no começo logo depois de você tocar as palmas das mãos? Você virou para o caminho errado.
Eu reviro meus olhos. — Você realmente acha que alguém vai notar?
— Sim. Em um salão de baile cheio de casais dançando, quando todo mundo se vira para um lado e você vira para o outro, isso certamente será perceptível.
— Tudo bem. Eu presumo que você vai me dizer para fazer de novo? — Eu tenho praticado por horas, mas sei que Aurora não vai ficar feliz até que eu esteja completamente certa.
— Sim, — diz ela com um aceno de cabeça.
Então eu encaro meu parceiro e tento não suspirar muito alto quando começamos de novo. Pelo menos minha roupa é bastante fácil de se mover. Depois do meu aterrorizante encontro com o rei, deixei de lado a minha teimosia e dei uma olhada no meu guarda-roupa — e descobri que não detestava as roupas tanto quanto esperava. Nem todas eram vestidos fofos, fiquei feliz em ver. São mais como combinações de calças e vestidos justos, alguns com longas mangas enfeitadas e pescoços altos, outros sem mangas e luvas cobrindo todo o braço. Com o passar dos dias, passei a apreciar os ricos detalhes e estilos exóticos usados pelos membros da Corte Unseelie. E quanto mais eu penso sobre isso, mais sentido faz em um mundo cheio de magia e encantamento, que a roupa seria tudo menos comum.
Ou talvez eu esteja simplesmente me acostumando a estar aqui, o que é um pensamento aterrorizante.
Nós dançamos a dança mais três vezes antes de Aurora finalmente nos deixar parar. Seu primo, que parecia que poderia se esfaquear se forçado a me girar mais uma vez, corre antes que Aurora consiga ordenar outra tarefa chata para ele. — Noraya, vamos tomar refrescos agora, — diz ela, acenando passando por mim para onde sua criada está esperando na porta da biblioteca.
Eu me junto a Aurora do outro lado do terraço e sento no banco balançando ao lado dela. É apenas uma única videira, e tenho um pouco de receio de colocar todo o meu peso no hemisfério oco. Mas Aurora continua me dizendo para não duvidar da magia, e seu banco está perfeitamente bem até agora. Depois de alguns momentos, relaxo contra as almofadas e levanto os pés para que eu possa balançar gentilmente para frente e para trás. Eu olho para o jardim, mas não há muita coisa acontecendo. O terraço da biblioteca fica em um lado mais silencioso do palácio.
— Então, agora que posso dançar sem errar, — digo a Aurora, balançando meu banco para encará-la, — podemos fazer algo mais emocionante esta tarde? Como arco e flecha? Eu estava começando há ficar um pouco menos que terrível em nossa última lição. Ou eu poderia te mostrar mais movimentos de parkour. Você poderia experimentar alguns deles desta vez, em vez de apenas me observar.
Ela ri e balança a cabeça para minha aparente tolice. — Você não acha que acabou as aulas de dança, não é? Você aprendeu uma dança, Em. Agora você precisa aprender o resto delas. E só temos três dias até o baile de aniversário de mamãe.
Meus pés caem no chão. — Sério? Eu tenho que aprender todas as danças?
— Sim. Vai ser bastante ruim quando as pessoas descobrirem que a futura princesa é alguém que passou toda a sua vida no reino humano e não sabia nada deste mundo até algumas semanas atrás. Se eles não virem você usando magia ou dançando todo tipo de dança, será ainda pior.
— Espere, você quer que eu use magia no baile? Na frente das pessoas?
— Claro. — Ela move a mão em um círculo, e seu banco começa a girar lentamente. — Deve estar tudo bem, não é? Você pode lidar com o básico agora.
— Sim, eu só não sabia que isso era esperado, só isso. Eu tentarei não esquecer.
— Essa é a coisa, Emerson. — Sua voz me alcança do outro lado do seu banco. — Você precisa chegar ao ponto em que não precisa se lembrar. Deve se tornar uma parte automática de sua vida diária, usando até mesmo para as tarefas mais simples.
— Soa um pouco como preguiça para mim.
— Você sabe o que é preguiça? — Ela faz seu banco parar quando ela está de frente para mim e toca distraidamente o pingente em volta do pescoço: uma forma oval prateada com uma pedra negra no centro. — Sentar em frente a uma tela brilhante e assistir sem pensar imagens em movimento.
Eu dou a ela o meu olhar nada impressionado. — Você está se referindo a TV e filmes? Porque isso não é preguiça. É entretenimento e faz parte da —
— Parte da vida humana. Assim como a magia faz parte da vida dos faeries. Faz parte da sua vida agora, Em, então se acostume com isso.
— Tantas coisas que tenho que me acostumar, — eu penso, olhando através do jardim novamente.
— Sim, como roupas bonitas, feriados exóticos, festas luxuosas e isso é o esperado pelo resto de sua vida.
— Eu estava me referindo mais a este mundo e sua política e geografia e história e criaturas e... tudo, — eu digo baixinho. — É tudo muito diferente da vida em que cresci.
— Verdade, — ela diz. — É por isso que você deve se concentrar com as coisas frívolas. É muito mais fácil se acostumar. O resto seguirá com o tempo.
Eu aceno, apesar do fato de que eu não concordo com ela. Eu não posso dizer a ela que ainda estou determinada a encontrar uma saída para tudo isso. Mesmo agora, depois de lições intermináveis de magia, etiqueta e dança, depois de longas discussões sobre os detalhes da cerimônia de união, eu ainda não consigo imaginar este casamento realmente acontecendo. Eu sei que provavelmente estou em negação. Eu sei que é improvável que Roarke me conte mais alguma coisa sobre minha mãe até nos casarmos. Mas eu não vou desistir até o momento em que a cerimônia de união começar.
Noraya retorna então com dois copos altos flutuando na frente dela. Ela é tão boa nessa coisa de levitação que nem precisa usar as mãos. Elas permanecem perfeitamente atrás das suas costas enquanto ela caminha para frente, os olhos apontados com firmeza à frente, em vez de observar os copos flutuantes. — Limonada, Sua Alteza, — diz ela quando nos alcança.
Eu me empurro para frente e fico de pé enquanto um dos copos se move em direção a Aurora. Eu envolvo minha mão em torno do outro. — Obrigada, Noraya. — Ela arrisca um olhar para mim, sorri, então olha apressadamente para longe.
— Você precisa superar isso, — Aurora me diz uma vez que Noraya caminha de volta para a porta da biblioteca. — Não há nada de errado em ser esperado.
Eu me acomodo com cuidado em meu banco sem derramar minha bebida. — Eu não gosto de relaxar e receber as coisas. Parece apenas... rude.
— É grosseiro impedi-la de fazer seu trabalho corretamente.
— Bem, de qualquer maneira, ela sorriu para mim, então eu acho que ela não se importou.
Aurora abaixa o copo e pisca. — Ela sorriu para você?
— Quero dizer, não para mim, — acrescento apressadamente, não querendo colocar Noraya em problemas. — Não de um jeito indelicado. De qualquer forma, queria perguntar a você sobre os vestidos para o baile de aniversário da sua mãe. Eu suponho que você vai me dizer o que eu devo vestir? Eu não acho que posso ser confiável para escolher o tipo certo de vestido.
Aurora estreita os olhos com a mudança abrupta de assunto, mas ela deixa passar. — Sim. Mamãe e eu mandamos fazer três vestidos para você. Nós decidiremos qual escolher quando soubermos o que Roarke estará usando.
— Certo. Claro. Porque seria terrível se as cores entrassem em confronto ou algo assim.
Ela revira os olhos e cutuca meu joelho com o sapato. — Seria terrível. Vocês dois precisam parecer o par perfeito.
— O que é bobo, porque nunca seremos um casal perfeito. Nós nem sequer — Oh. — Eu sento um pouco para frente. — Minha Habilidade Griffin. Eu posso senti-la chegando. — No tempo em que estou aqui, eu fiquei mais sintonizada com a sensação da minha magia. Ser forçada a manter registros intermináveis da magia comum que uso todos os dias, o quanto eu como, o quanto estou cansada ou energizada, e exatamente quando minha Habilidade Griffin aparece me tornou mais consciente de cada pequena mudança na minha magia.
— Ah, é quase na mesma hora que as últimas manhãs, certo? — Aurora diz. — Um pouco antes da hora do almoço?
— Sim. E eu usei muito mais a minha magia normal do que o habitual na noite passada tentando derreter aquela fonte, então provavelmente podemos dizer com certeza agora que níveis mágicos comuns não têm muita influência na minha magia Griffin.
— Excelente. Não se esqueça de adicionar isso ao seu caderno. Acho que temos uma ideia razoavelmente boa de como sua habilidade funciona agora, mas você provavelmente deve continuar acompanhando-a por mais algumas semanas. Só assim podemos ter certeza.
Eu achava que a minha Habilidade Griffin não fazia nenhum sentido quando se revelou pela primeira vez, mas talvez, como Aurora sugeriu, ainda estivesse ‘se estabelecendo’ durante os meus primeiros dias neste mundo. Desde então, meu excessivo registro revelou um padrão bastante regular: Minha Habilidade Griffin aparece duas vezes ao dia, com aproximadamente doze horas de diferença, mais ou menos uma ou duas horas. E durante esse tempo, não há nada que eu possa fazer — além de pegar o elixir, que agora está esgotado — que fará com que apareça. O que significa que é provável que a teoria de reabastecer de Aurora esteja correta.
Eu abaixo meu copo de limonada e sento na beira do meu banco. Eu fecho meus olhos e tento prever o momento exato antes de sentir aquela sensação de formigamento na minha espinha. — Eu imagino como se fosse um vulcão se preparando para entrar em erupção, — murmuro. — A pressão se acumula dentro de mim e, de repente, tudo corre para a superfície, pronto para explodir.
— O que Roarke obrigou você a dizer desta vez? — Aurora pergunta.
Assim como o rei instruiu, Roarke me dá uma poção de compulsão todos os dias — bem, duas vezes por dia, agora que descobrimos o padrão — e me diz exatamente o que dizer quando minha Habilidade Griffin está pronta para ser usada. — Ele me obrigou a tentar preservar o poder, se possível. Se não, então eu devo dizer para todas as rosas amarelas no jardim para ficarem azuis.
— Ugh, que comando estúpido. Ele realmente precisa encontrar alguns usos mais interessantes para sua magia. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja te deixando praticar. Você precisa aprender a dominá-la, Em.
— Sim. — Eu aperto minhas mãos e fecho minha boca enquanto a magia Griffin ondula através de mim, exigindo ser liberada. Segure-a, segure-a, segure-a, eu silenciosamente me instruo. E quando tenho certeza de que a magia está prestes a se libertar de mim, me forçando a falar às instruções que Roarke me deu, apenas... não. Lentamente, começa a parecer menos esforço segurá-la. Eu abro meus olhos, minhas mãos relaxando no meu colo. — Eu acho que eu consegui, — eu digo com um sorriso. — Eu ainda posso sentir o poder lá, como um zumbido estranho logo abaixo da minha pele. Eu me pergunto por quanto tempo eu posso —
O poder corre para fora de mim, tornando minha voz mais profunda e ressonante. — Toda rosa amarela no jardim ficará azul, — eu digo.
Aurora se senta um pouco para frente, olhando além de mim. Depois de um momento, ela diz, — Funcionou. Eu consigo ver apenas alguns arbustos de rosas amarelas daqui, mas elas ficaram azuis.
Eu caio de volta contra minhas almofadas, fazendo meu banco balançar com movimentos bruscos e oscilantes. — Merda, foi apenas um minuto.
— Bem, talvez você tenha se empolgado cedo demais. — Aurora se inclina para trás e toma um gole de sua limonada. — Tente por mais tempo na próxima vez antes de me dizer ‘consegui’. Tudo que você precisa é praticar.
— Maravilha. Outra coisa para praticar, — eu digo com um suspiro.
— Diga ao Roarke para obrigá-la a segurá-la, não apenas para tentar. E nada disso ‘Se você não conseguir, então é isso que você vai dizer.’ Ele basicamente está lhe dando permissão para falhar.
— Mm. — Eu estou esperando pelo dia em que Roarke estará ocupado o suficiente para esquecer de me obrigar. Esse é o dia em que vou me certificar de que eu esteja com ele exatamente no momento certo. Vou ordenar a ele que anote todos os feitiços necessários para acordar e curar minha mãe. Então, se restar alguma coisa da minha Habilidade Griffin, vou usá-la para sair daqui.
— Você não quer terminar sua limonada? — Aurora pergunta, levantando meu copo do chão com um simples aceno de sua mão. — Você precisa se manter hidratada, se quiser sobreviver ao resto das aulas de dança do dia.
Eu pego o copo do ar e tomo o restante da limonada. — Você vai ter que encontrar outro membro disposto em sua corte para ser meu parceiro, — eu a lembro, — e seu primo provavelmente já disse a todos para evitarem a mim e a minha dança terrível, então... Oh. Isso é uma ideia.
— O quê?
— Você acha que funcionaria se eu usasse minha Habilidade Griffin para dizer a mim mesma que eu posso dançar perfeitamente a dança das fadas?
— Uh... — A expressão de Aurora fica pensativa. — Hmm. Eu imagino. Quero dizer, como funciona a sua magia Griffin em primeiro lugar? Ela obedece às suas palavras exatas ou à sua intenção por trás das palavras? Funciona de acordo com o que você está imaginando quando ordena alguma coisa? Nesse caso, a coisa da dança não funcionaria porque você não sabe e, portanto, não consegue visualizar todos os passos das outras danças. E outra coisa, — acrescenta ela, batendo na lateral do copo com as unhas. — Se você me disser para fazer algo, mas a maneira que eu entendo seu comando não é da mesma maneira que você quis dizer, qual intenção a magia obedecerá? Sua ou a minha?
Eu inclino minha cabeça contra as almofadas. — Eu não tenho ideia, mas estou começando a desejar que esta Habilidade Griffin viesse com um manual de instruções.
— Experimentação, Em. Isso é tudo que requer.
— Claro, mas é frustrante quando tenho que esperar meio dia entre cada nova experiência.
— A menos que você possa se agarrar ao seu poder e usar um pouco de cada vez.
— Talvez. — Eu viro no meu banco para encarar as portas da biblioteca quando passos soam no terraço.
— Sua Alteza, — diz Clarina quando nos alcança. — Minha senhora, — acrescenta ela, direcionando suas palavras para mim antes de virar de volta para Aurora. — Phillyp está pronto para a sua aula.
— Oh, maravilha. — Aurora entrega seu copo de limonada pela metade para Clarina antes de se levantar.
— E sua mãe acabou de enviar uma mensagem para dizer que gostaria de discutir alguns detalhes do baile com você.
— Mamãe sempre escolhe fabulosamente o pior momento, não é? — Aurora diz com um suspiro. — Ela vai ter que esperar.
— Claro, Sua Alteza. Devo dizer a ela o habitual?
— Sim. Diga a ela que estou no meio da minha aula de arco e flecha. Eu vou direto para ela assim que terminar.
Clarina acena com a cabeça uma vez. — E devo escoltar Lady Emerson de volta para seus aposentos?
— Hum... não, na verdade. Em vem comigo desta vez. — Aurora me dá um sorriso perverso. — Eu confio em você agora para manter meus segredos.
Depois de uma rápida reverência, Clarina sai. — Poxa, — eu digo. — Estou chocada ao descobrir que a princesa perfeita está guardando segredos de sua própria mãe.
Ela dá no meu braço uma tapa brincalhona. — Não, você não está. Além disso, não é grande coisa. É apenas algo que minha mãe não aprova. — Em vez de voltar para dentro, ela sai do terraço para a grama.
— Sua mãe não aprova você treinar arco e flecha também, — aponto enquanto a sigo, — mas ela não impediu você de ter aulas.
— Sim, bem, eu disse a ela que era ou tiro com arco ou combate mágico, e não havia como ela permitir que sua pequena princesa aprendesse um combate mágico.
— Que é o quê, exatamente? — Eu me inclino quando uma borboleta prateada e uma lagartixa com asas — uma correndo atrás da outra — voam muito perto da minha cabeça.
— Você sabe como quando você se baseia em seu poder e, em sua forma mais básica, é apenas o poder cru em suas mãos? — Diz Aurora.
— Sim. — Foi essa a lição que recebi de Azzy na Chevalier House.
— Bem, tudo que você faz é jogar essa magia em alguém. Quero dizer, há mais do que isso. Aqueles que são treinados em combate mágico muitas vezes transformam sua magia em outras coisas. Pedras ou lâminas ou bandos de aves com bicos afiados. Algo que pode mais facilmente derrubar um adversário do que apenas algumas faíscas. Mas sua mente tem que ser muito rápida. Você tem que ser capaz de moldar sua magia mentalmente assim. — Ela estala os dedos. — Mais e mais, enquanto também se protege.
Eu olho em volta enquanto nos afastamos do palácio. Esta parte do jardim não me é familiar, e tudo o que posso ver à frente é um bosque de árvores. — Então a rainha não queria que você aprendesse essa habilidade?
— Não. Não é coisa de princesa. Temos guardas para lutar por nós, se necessário. Ela concordou com arco e flecha, porque tudo o que isso implica é atirar flechas em objetos inanimados que não atiram de volta em mim.
— Muito mais civilizado, — comento. — Mas isso claramente não era ousado o suficiente para você, então você teve que tentar outra coisa.
— Sim.
— Algo que sua mãe certamente não aprovaria.
— Exatamente.
— E o que é?
Um sorriso estende em seus lábios conforme alcançamos as árvores. — Montar em um dragão.
Capítulo 07
MEUS PASSOS PARAM. — ESPERE. — LEVANTO UMA MÃO. — Espere, espere, espere. Vocês têm dragões?
— Sim. — Aurora se vira para olhar para mim. — Você não os viu voando de vez em quando?
— Bem... eu vi alguma coisa no céu. Eu presumi que eram pássaros grandes, ou algum tipo de criatura voadora que ainda não conheci.
Ela cai na gargalhada. — Pássaros grandes? Mesmo?
— Eu só os vi de longe, — Eu digo defensivamente. — Era difícil julgar o tamanho.
— Bem, você está prestes a vê-los de perto.
Eu pisco. Meus pés ainda não se movem. — Caramba, — eu sussurro.
— O quê? Você não está com medo, não é?
— Não. Quero dizer, talvez. Provavelmente. Estou tendo apenas um daqueles momentos em que me pergunto se estou realmente sonhando. Estamos falando de dragões, Aurora. Eu cresci pensando que eles só existiam na ficção, e agora estou prestes a ver um? Meu cérebro não faz ideia de como reagir a isso.
— Vamos. — Ela pega meu braço e me puxa para frente. — Seu cérebro tem um minuto ou dois para entender as coisas. Os cercados dos dragões estão do outro lado dessas árvores.
— Dragões, — murmuro. — Você tem dragões. Dragões de verdade.
— Nós costumávamos ter gárgulas também, — acrescenta ela. — Bem, por 'nós' quero dizer a geração anterior da realeza. Gárgulas não são tão grandes quanto dragões, mas são assustadores, foi o que eu ouvi. Eles costumavam ficar de guarda no topo do palácio, mas todos desapareceram há algumas décadas.
— Sério? — Eu penso na criatura que Ryn estava montando quando ele me salvou de cair para a minha morte da beira de um precipício. Tenho certeza que era uma gárgula.
— Sim, meu pai tem sido rei por alguns anos, e as gárgulas nunca pareciam gostar dele. Um dia todos voaram para longe e ninguém os viu desde então.
— Que estranho, — eu digo devagar. Eu não mencionarei a Aurora que fui resgatada por um rebelde Griffin sobre uma gárgula, mas não posso deixar de me perguntar se é uma das gárgulas que moravam aqui.
Nós andamos além das árvores, mas ainda não vejo dragões. Ou cercados, por falar nisso. Eu olho para cima, mas também não há nada no céu. — Você terá que olhar para baixo, — Aurora me diz. — Ali.
Meu coração bate mais rápido quando nos aproximamos da borda de um buraco cavado no chão. Gradualmente, à medida que a borda fica visível, sou capaz de distinguir o tamanho desse buraco. O outro lado é de vários tamanhos de campos de esportes de distância. Paramos a uns trinta centímetros da beirada e olho para um ambiente exuberante e parecido com uma selva. Por um momento, eu me esforço para distinguir qualquer tipo de criatura entre as árvores e plantas coloridas, mas então algo se move. Um pescoço grosso e coberto de escamas. Uma cabeça gigantesca, subindo e girando lentamente para nos encarar até que esteja quase nivelada com o topo do poço.
— Em, — Aurora diz, — conheça Imperia.
O corpo do dragão brilha azul-verde e púrpura enquanto ela se move, e os enormes ferrões ao longo das suas costas são rosados e avermelhados. Sua cauda, terminando em forma da ponta de uma flecha verde, gira ao redor, derrubando facilmente uma fileira de arbustos. Então ela fica imóvel, inclina a cabeça um pouco para o lado e me observa com os olhos brilhando como brasas laranja ardentes.
— Ela é linda, não é? — Aurora diz.
Minha boca está aberta, minha língua está seca e meus pés estão enraizados no lugar — apesar do fato de que uma voz muito insistente no fundo da minha mente está gritando para eu fugir para salvar minha vida. — Incrível, — eu sussurro.
— Cada poço pertence a um dragão diferente. A Imperia sempre preferiu um ambiente tropical, mas o próximo poço está cheio de gelo. E o mais distante — que nos levaria algum tempo para caminhar — é profundo o suficiente para conter uma montanha.
— Uau. E eles podem voar para fora de seus poços sempre que quiserem? — Minhas pernas finalmente se lembram de como andar, e dou um passo trêmulo para trás conforme Imperia levanta a cabeça um pouco mais alto.
— Não, há um escudo invisível por cima. Os dragões não estão autorizados a menos que estejam com um cavaleiro.
— Tudo bem. — Eu engulo. — E percebo que não há paredes ao redor desses poços. O escudo pegaria alguém se caísse?
Aurora parece despreocupada quando ela diz, — Não.
— Mas... então...
— Se alguém for estúpido o suficiente para cair em um poço com dragão, então eles merecem ser comidos. Mas Imperia provavelmente não faria isso. Não com quem ela conhece, pelo menos. Ela é muito amigável. Então. — Ela se vira para mim. — Você quer montá-la?
Não tenho certeza de quanto tempo minha boca está aberta antes que eu finalmente responda. — Eu... na verdade... quero.
Aurora sorri para mim. — Eu gosto de você ainda mais agora. — Ela se abaixa e passa a mão ao longo da grama. Enquanto se endireita, uma linha cor de ouro forma um círculo perfeito ao nosso redor. Sem aviso, o chão estremece. O pedaço de terra circular em que estamos posicionadas se separa do chão e começa a descer.
— Uau. — Eu levanto minhas mãos e me firmo. — Então, estamos descendo para o poço?
— Sim.
— E, hum, eu estarei com alguém quando estiver montando esse dragão? Um profissional treinado?
— Você vai estar comigo.
— Mas... você ainda está aprendendo, não está? Clarina disse algo sobre... Phillyp estar pronto para a sua aula?
— Isso é apenas o que minhas criadas foram treinadas para me dizer quando Phillyp informa a uma delas que a barra está limpa para eu vir aqui. Sabe, quando não há ninguém por perto que possa dizer a minha mãe que eles viram a princesa nas costas de um dragão. Eu recebi lições no começo, é claro, mas elas terminaram há muito tempo. — Ela olha para mim. — Você não acredita que eu sei o que estou fazendo, Em?
— Hum... eu quero confiar em você. — Eu vejo a terra escura subindo rapidamente em torno de nós, em seguida, levanto os olhos para o pedaço circular do céu cada vez menor.
Aurora ri. — Bem, eu não vou forçar você, Em. Mas você sabe que vai se arrepender de ter ficado no chão assim que me ver voando no ar.
De alguma forma, sei que isso é verdade.
O elevador de terra mágico estremece silenciosamente até parar. Em poucos segundos, um túnel se forma à nossa frente, curto o suficiente para que eu possa ver a vegetação exuberante do outro lado. Eu sigo Aurora, hesitando na boca do túnel e olhando em volta procurando por Imperia. Através das árvores, vejo as escamas marinhas e roxas de uma de suas pernas.
— Oi, Phillyp, — Aurora diz, saindo direto do túnel e para a direita.
— Princesa, — diz uma voz masculina. — Estou feliz que você pôde vir. Imperia não voou por dois dias. Eu acho que ela está ansiosa para abrir suas asas corretamente.
Depois de outro olhar por cima do meu ombro em direção a Imperia, corro atrás de Aurora. Ela está falando com um homem magro encostado na porta de uma sala construída na lateral do poço. Sua cabeça está raspada, e a ferida brilhante em seu braço parece ter sido queimada recentemente. — Ooh, ai, — Aurora diz, inclinando-se para olhar seu braço. — Imperia fez isso?
— Sim. A culpa é toda minha, e você sabe que estou acostumado.
— Sim. E vai sumir em breve, tenho certeza, — Aurora diz enquanto se endireita. — Phillyp, esta é Em. Minha nova amiga. Ela vai montar comigo hoje, então, por favor, use a sela dupla.
Phillyp faz uma pausa por apenas um momento antes de inclinar a cabeça. — Claro, Sua Alteza. — Ele se vira e desaparece na sala.
— Ele não acha que é uma boa ideia, — murmuro para Aurora.
— Absurdo. Ele sabe que sou perfeitamente capaz de levar mais alguém comigo. É só que eu trouxe uma das minhas damas de companhia uma vez, e ela gritou o tempo todo que estávamos no ar. Imperia não ficou impressionada e nem Phillyp. — Ela estala os dedos perto da parte de baixo da saia e percebo um breve brilho antes que a faísca da sua magia desapareça. — Mas você não planeja gritar como uma garotinha, não é, Em?
Decido não perguntar a Aurora exatamente como ela sabe que Imperia não ficou impressionada. — Não. Obviamente, eu não pretendo gritar como uma garotinha.
Um conjunto de escadas, pairando a poucos centímetros acima do solo, desliza para fora da sala e passa por nós em direção a Imperia. Um momento depois, Phillyp corre atrás do que eu suponho ser a sela flutuando à sua frente.
— Ah, finalmente, — diz Aurora. Viro para encará-la enquanto sua saia cai no chão, revelando uma calça justa na mesma cor que seu espartilho. — O quê? — Ela pergunta em resposta às minhas sobrancelhas levantadas. — Eu não posso montar um dragão com um vestido.
— Eu acho que não. Ainda bem que já estou usando calça.
Com um aceno de mão, a saia voa para a sala. — Você vai querer manter o cabelo longe do seu rosto. — Aurora me diz enquanto nos dirigimos através das árvores. Ela acena com a mão perto do seu cabelo, e os grossos cabelos roxos e pretos prontamente se organizam em uma trança. Uma fita cor de prata aparece e se amarra no final de seu cabelo.
— Preguiçosa, — murmuro, estendendo a mão para trançar meu cabelo com as mãos.
— De jeito nenhum, — ela responde. — Você logo perceberá que qualquer feitiço que poupe tempo em se preparar e permita que você permaneça mais no ar nas costas de um dragão por mais tempo é um feitiço que vale a pena memorizar. — Ela para na beira de uma clareira e olha para cima, as mãos dela nos quadris. — Eu vou te ensinar mais tarde.
Minhas mãos continuam trançando por vários segundos, enquanto percebo o tamanho do dragão, admirando de boca aberta. O conjunto de escadas é alto o suficiente para alcançar suas costas, e Phillyp fica em cima, prendendo as correias e fivelas da sela com magia. Imperia solta um bufo alto, emitindo fumaça pelas narinas.
Eu engulo. Com os dedos tremendo, eu termino de prender minha trança. Rápido, Phillyp desce os degraus e Aurora sobe. Ela pega as correias, sobe nas costas de Imperia e balança a perna sobre o assento da frente da sela. — O que você está esperando? — Ela pergunta quando olha para mim. Em vez de responder, eu lambo meus lábios. — Vamos, Em, não enlouqueça. Isto vai ser divertido.
— Eu sei. — Minha voz soa rouca e um pouco mais alta do que o normal. Eu pigarreio. — Estou animada. Eu realmente estou. Eu por acaso estou um pouco assustada ao mesmo tempo. — Eufemismo, meu coração batendo descontroladamente grita para mim. Que gigantesco. Maldito. Eufemismo.
Mas isso não muda o fato de que eu quero fazer isso. Então eu forço minhas pernas a subir os degraus. Em cima, dou um último suspiro profundo antes de colocar a mão contra as escamas suaves de Imperia. Abaixo do meu toque, a cor ondula e brilha. Eu agarro duas das correias e me puxo para cima. Graças a todas as paredes que subi nos últimos anos, meus braços são bem fortes. Uma vez que me acomodo no meu assento, a escada escorrega para longe do corpo de Imperia.
— Coloque essa alça em volta da cintura, — Aurora diz, virando-se e apontando para uma alça solta pendurada em um dos lados da sela. Eu coloco através do meu corpo e prendo-a através do círculo de metal do outro lado.
Então finalmente, olho para baixo. Estamos mais longe do chão do que eu imaginava e ainda não decolamos. Não é que eu tenha medo de altura, e não é que eu tenha medo de correr riscos. Val e eu realizamos muitos saltos, cambalhotas e descidas que poderiam facilmente nos ter levado ao hospital. Mas eu estava sempre no controle do meu próprio corpo então. Agora, estou cem por cento à mercê de outra criatura — e é aterrorizante.
Aurora segura às rédeas. Imperia levanta as asas e seu corpo rola para um lado e depois para o outro enquanto ela avança alguns passos. Eu inalo bruscamente e agarro o cume da sela que se eleva entre o assento de Aurora e o meu. As pernas de Imperia se dobram ligeiramente. Eu seguro minha respiração. Então, com um grande impulso para baixo de suas asas, ela se eleva no ar. Eu sinto um solavanco enjoativo na região do meu estômago. As asas de dragão batem no ar, as copas das árvores balançam descontroladamente e o chão se afasta de nós. Eu imagino despencar em direção ao chão. Eu quase grito que quero sair, mas fecho a boca, agarro mais à sela e digo a mim mesma que não vou morrer.
Nós subimos rapidamente, o palácio ficando menor e o território Unseelie ao redor aparecendo. As asas de Imperia diminuem o ritmo. Ela se inclina um pouco para o lado e, em seguida, voa pelos limites do palácio. E em meros segundos, meu terror dá lugar à pura alegria.
***
— Essa foi a coisa mais incrível que já fiz, — digo a Aurora no momento em que os pés de Imperia tocam o chão em seu cercado.
— Eu disse a você, — ela responde com uma risada. A escada chega um momento depois e nós duas saímos de nossos assentos. Eu paro na parte inferior e estendo a mão contra o lado de Imperia. — Eu vou poder fazer isso de novo?
— Claro, — diz Aurora. Ela tira a fita cor de prata e empurra os dedos pelos cabelos para libertá-los da trança. — Você pode vir comigo sempre que quiser. Phillyp pode dar-lhe aulas e, em breve, passará a montar sozinha. Então podemos levar nossos dragões juntos. Vai ser perfeito.
Seria se eu estivesse planejando ficar aqui. Eu dou um passo para trás e olho melancolicamente enquanto Imperia se afasta. Eu envolvo meus braços em volta de mim e mordo meu lábio. É assustador admitir isso para mim mesma, mas acho que realmente posso gostar de viver aqui. As manhãs passando descansando em balanços, as tardes passando deslizando pelo céu nas costas de um dragão. E com minha mãe saudável ao meu lado. Tudo que eu preciso fazer é olhar para longe de quaisquer atos horríveis que acontecer de eu testemunhar o Rei Unseelie cometendo. E de alguma forma viver com a culpa de qualquer ato horrível que ele me obrigue a cometer.
Não, eu sussurro silenciosamente. Eu não posso viver com isso. — É apenas a realeza que tem dragões? — pergunto a Aurora enquanto Phillyp envia a escada portátil de volta ao depósito.
— Não, mas eles são muito caros, então apenas os muito ricos estão em posição de possuir um.
— Certo. — Então eu deveria aproveitar todas as oportunidades de montar em um dragão enquanto eu ainda moro aqui. Depois que eu for embora, nunca poderei pagar por isso.
— Felizmente, — Aurora continua, — você está prestes a se tornar membro de uma família extraordinariamente rica. Você pode ter quantos dragões quiser.
— Se eu soubesse que isso era tudo o que precisava para conquistar você, — uma voz diz atrás de nós, — eu teria trazido você aqui há muito tempo, Emerson.
— Roarke, — Aurora diz quando nos viramos para encará-lo. — Procurando por mim?
— Sim. Eu pensei que poderia te encontrar aqui. Você, no entanto... — Ele olha para mim. — Bem, nas costas de um dragão não é onde eu esperava encontrar você.
— Ela adorou, — Aurora diz, juntando as mãos e sorrindo.
— Eu ouvi, — Roarke diz com um sorriso divertido. — O que você disse exatamente? — Ele me pergunta. — Foi a coisa mais incrível que você já fez?
— Bisbilhotar é rude, — eu digo a ele.
— Assim como manter segredos da minha mãe, mas eu vou continuar escondendo também, não se preocupe, — acrescenta ele quando Aurora abre a boca para protestar. — Ela não precisa saber sobre o seu passatempo favorito.
— Onde você esteve à manhã toda? — Pergunto conforme voltamos para o fundo do poço. — Eu pensei que você poderia se juntar a mim para a minha aula de dança.
— Eu estava... organizando um presente para você, meu amor.
Eu arqueio uma sobrancelha cética. — Houve muita hesitação em sua voz para que isso seja verdade.
— É verdade, eu prometo. Eu só estava pensando se deveria te contar ou não.
O túnel se materializa à nossa frente quando nos aproximamos da parede. — Tudo bem, se esse presente é de verdade, então quando vou recebê-lo?
— Assim que Yokshin terminar.
— Yokshin? — Eu me lembro desse nome de algum lugar.
— Sim. Ele é nosso mestre de invenções. É ele que ira reproduzir o seu elixir da Habilidade Griffin.
— Então... ele conseguiu ter sucesso?
— Não. — Saímos do túnel e subimos no pedaço de terra que levita. — Este é um presente diferente. Você vai ver... em breve.
Eu pressiono meus lábios enquanto o chão começa a subir. Eu poderia fazer mais perguntas, mas ele continuará me dando apenas metade das respostas.
— Por que você estava procurando por mim? — Aurora pergunta a seu irmão.
— Oh, você e eu temos algumas coisas que precisamos ver.
Aurora acena e olha para cima, sem dizer nada.
— Mais segredos que você está mantendo de sua amada? — Eu pergunto.
Roarke me dá seu sorriso malicioso. — Assim que você for minha esposa, todos os segredos serão revelados.
Capítulo 08
À MEDIDA QUE À TARDE DO BAILE DE ANIVERSÁRIO DA RAINHA CHEGA, FICO na varanda e ensaio minha história. Esta noite é à noite em que o Príncipe Roarke vai anunciar que ele escolheu uma esposa. Ele me apresentará, ‘a nova amiga estranha’ da princesa Aurora, e de repente todo mundo vai querer saber cada detalhe de quem eu sou e de onde eu sou.
Roarke e sua mãe pensaram em uma ideia de inventar um passado completamente diferente para mim — um que não envolvesse o mundo humano — mas eles imaginaram que a verdade seria descoberta em breve. E nenhum deles parecia acreditar que eu seria capaz de manter os detalhes de uma história inventada, então a maior parte do que me disseram para compartilhar com as pessoas é a verdade: eu cresci pensando que eu era humana, minha magia se revelou, a Guilda se envolveu para que eles pudessem me aprisionar e garantir que eu nunca machucasse ninguém, e então Roarke e seus homens apareceram para me resgatar. Eles me levaram de volta ao seu palácio para que eu pudesse viver como um membro livre na corte deles. Roarke e eu logo nos apaixonamos loucamente um pelo outro, e o rei aceitou nosso pedido para formar uma união. Então, tudo até o resgate é essencialmente a verdade. Depois disso... bem, eu de alguma forma tenho que fazer essas pessoas acreditarem que eu estou obcecada pelo príncipe deles.
Eu me inclino contra a balaustrada da varanda e olho ansiosamente para as perfeitas nuvens fofas bem acima de mim. Eu prefiro estar subindo os céus nas costas de Imperia, em vez de me preparar para enfrentar uma multidão da nobreza Unseelie. Ou montando aquele outro dragão que Phillyp montou comigo ontem. Bralox, acho que era o nome dele. Ou dançar danças simples com Dash nas margens da praia encantada dos rebeldes Griffin, em vez de tentar lembrar cada passo de cada dança oficial das faeries — já que a minha Habilidade Griffin não fez para me ajudar nesse departamento.
Batem na minha porta tão ruidosamente que posso ouvi-la da varanda. Olho por cima do ombro para ver Aurora dançando do outro lado da sala de estar e vindo para a varanda. — Está na hora! — Ela canta.
— Para quê? — Ela não pode estar se referindo ao baile. Ainda falta horas.
— Hora de começar a se vestir, é claro. É um longo processo envolvendo cabelo, maquiagem, joias — e, claro, ainda não escolhemos o seu vestido dos três que foram feitos para você.
— Oh. Tudo bem.
Seu rosto fica triste. — Por que você não está mais empolgada?
— Eu estou. — Eu coloco um sorriso que não parece de verdade. — É apenas... festas não são realmente minhas coisas preferidas. Na última que participei, minha magia explodiu de dentro de mim e quase matou minha melhor amiga.
— Confie em mim, Em, — Aurora diz com o tipo de sorriso que faz seus olhos brilharem. — Esta festa não vai ser nada como você imagina. E se isso não faz você se sentir melhor, aqui está algo que vai. — Ela tira a mão de trás das costas e me oferece uma caixa quadrada um pouco maior que a palma da sua mão.
— O que é isso? — Eu pergunto enquanto eu pego dela.
— Lembra que Roarke disse que mandou fazer um presente para você?
— Sim.
— Bem, eu pensei que ele estava apenas dizendo isso para encobrir o que ele realmente estava fazendo naquele dia — eu geralmente posso dizer quando ele está mentindo — mas acontece que ele realmente conseguiu que Yokshin fizesse algo para você.
Eu tiro a tampa da caixa e encontro uma pulseira sobre uma pequena almofada preta. Correntes delicadas de metal prateado se envolvem umas às outras, com minúsculas folhas prateadas e flores brotando dos lados. No meio da pulseira está uma grande joia clara. — É lindo, — eu digo.
— É bonito e inteligente, — diz Aurora. — É como se fosse um relógio. Mas não mostra à hora, mostra o nível da sua magia Griffin. Então, no lugar dos ponteiros, tem um grande rubi. O rubi perde sua cor quando você usa todo o seu poder Griffin, e então a cor enche novamente lentamente na mesma velocidade que sua magia se repõe. Pelo menos, é assim que deve funcionar e, obviamente, você precisa usá-lo.
— Uau, isso é inteligente. — Eu pego a pulseira da caixa, abro-a o e coloco a forma rígida ao redor do meu pulso. O fecho se encaixa facilmente no lugar. Enquanto observo, uma fração de um lado do rubi fica vermelho. — Hum, acho que isso faz sentido. Foi pouco antes do meio-dia que a minha Habilidade Griffin apareceu, então isso foi cerca de... duas ou três horas atrás?
— Sim. Então, isso deve facilitar para você ver quando sua magia estiver pronta para ser usada. Sabe, no caso de variar um pouco se você estiver extremamente cansada ou se nem sempre conseguir senti-la.
— Legal. — Eu abaixo meu braço. — Então isso foi feito por... Yokshin? Esse é o nome dele?
— Sim, o mestre de invenções. Ele experimenta todos os tipos de magia. Feitiços, processos, dispositivos. — Ela se inclina contra a balaustrada, abre um largo sorriso e acena para dois jovens caminhando abaixo. — É uma linha fascinante de trabalho, — continua ela, virando para mim. — Eu costumava visitá-lo muito quando era mais nova, até que minha mãe me disse que não era apropriado passar tanto tempo com alguém de sua posição, especialmente quando ele às vezes me levava para a prisão para me mostrar alguns de seus experimentos.
— Prisão?
— Sim, uma pequena que temos aqui. De qualquer maneira, você gostou da pulseira?
— Sim. Como você falou, é bonita e inteligente. — Eu movo a pulseira de um lado para o outro, de modo que a pedra sem cor capture a luz. — Yokshin fez alguma joia enfeitiçada para você?
— Hum... algumas. — Eu olho para cima para vê-la brincando com o pingente pendurado em uma corrente em volta do seu pescoço. A corrente prateada com a pedra negra. Eu percebi que ela a usa mais do que muitas outras joias. — Eu falo sobre isso em outro momento, — acrescenta ela. — Por enquanto, precisamos começar a nos preparar.
— Sim, tudo bem. Onde está o Roarke? Ele não queria me dar este presente?
— Queria, mas você conhece os homens. Eles não querem atrapalhar enquanto as damas se vestem.
— Ou ele ainda está me evitando, — eu resmungo enquanto passo por ela para dentro da sala de estar.
— Evitando você? Que bobagem é essa? — Aurora me segue para dentro. — Ele vê você pelo menos duas vezes por dia quando lhe dá a poção de compulsão.
— Sim, essa é a única vez que ele me vê.
— Bem, ele está muito ocupado.
Ou ele está evitando estar perto de mim sempre que minha Habilidade Griffin está ativa — caso eu não consuma todo o meu poder para seja qual for o comando que ele me deu e eu possa usar o resto para obter informações dele. O que é exatamente o que eu teria feito se ele estivesse por perto. Eu tenho praticado segurar minha Habilidade Griffin. Eventualmente, eu tenho que deixar passar algumas coisas dizendo o que eu tenho sido obrigada a dizer, mas houve momentos em que eu posso sentir que ainda há poder sobrando. Eu tentei segurar até ver Roarke novamente, mas eu não consegui segurar tanto tempo ainda.
— Em?
— Mm? — Eu encaro Aurora, percebendo tardiamente que ela me fez uma pergunta.
— Eu perguntei se você está realmente começando a gostar do Roarke. É por isso que você está chateada por não vê-lo mais vezes?
— Oh. Hum. Talvez. — Eu acho que isso é uma razão melhor do que eu estar chateada porque eu não tive a chance de usar minha Habilidade Griffin nele.
Ela sacode a cabeça e suspira. — Você é muito ruim em mentir. Venha, vamos para o meu quarto. Seus vestidos chegaram mais cedo e a mamãe os mandou agora. — Ela liga seus braços aos meus. — Você pode ensaiar sua história de amor épica no caminho.
A caminhada até a suíte de Aurora é longa o suficiente para eu recitar minha ‘história de amor épica’ duas vezes. — Bom trabalho, — diz ela quando chegamos a sua sala de estar. — Você sabe os fatos de cor. Agora você só tem que trabalhar em parecer como se você realmente quisesse dizer a parte de apaixonar-se perdidamente.
— Eu vou ter certeza de fazer um trabalho melhor quando estiver mentindo para os fae de elite da sociedade Unseelie mais tarde.
— Maravilha.
Nós entramos em seu quarto, que é muito maior que o meu e inclui um closet do tamanho de uma garagem dupla. — Oh, aqui estão as joias que a mamãe selecionou para você. Eu pretendia te mostrar mais cedo enquanto estávamos tomando café da manhã. — Ela pega uma caixa da sua penteadeira e a abre para mostrar o conteúdo. — Colar e brincos. Adoráveis, não são?
‘Adoráveis’ provavelmente não é a palavra que eu usaria. Cada peça consiste inteiramente de pedras brilhantes e incolores. Os brincos são lágrimas do tamanho da minha unha do polegar, e o colar é uma fileira dupla de pedras que crescem gradualmente à medida que alcançam um pingente: outra grande lágrima facetada. — São... são de verdade? — Pergunto enquanto Aurora os retira da caixa.
Ela me conduz em direção ao assento em frente à penteadeira antes de me dar um olhar interrogativo no espelho. — O que você quer dizer? Eles não são um tipo de ilusão que desaparecerá quando a festa acabar, se é isso que você está imaginando.
— Não, eu quero dizer... são diamantes de verdade? — Ela parece querer que eu me sente, então eu sento. — Ou eles são falsos? Como vidro ou cristal ou algo assim.
Ela ri. — Claro que são diamantes de verdade. Por que nós usaríamos falsos? — Eu permaneço em silêncio enquanto ela prende os brincos nas minhas orelhas e coloca o colar em volta do meu pescoço. — Aí. Eu acho que eles combinam com você. Eles ficarão lindos, não importa qual vestido escolhermos.
Eu balanço minha cabeça para o meu reflexo. Eu puxo os brincos e retiro o colar. — Eu acho que eu não deveria usar isso. — Eu coloco os diamantes brilhantes cuidadosamente na mão de Aurora. — Aqui. Você pode devolvê-los à sua mãe.
— O quê? Porquê?
— Eu não posso usar algo tão valioso. E se o colar cair enquanto eu estiver dançando? E se eu perder os brincos depois de tirá-los e então —
— E então o quê? Não seja tão boba, Em. O colar não vai cair. — Ela abre a caixa e coloca as joias de volta na almofada aveludada. — E quem se importa se isso acontecer? Mamãe certamente não vai. Esta é provavelmente a joia menos valiosa que ela possui.
Eu tento não me sentir mal com suas palavras. — Aurora...
— Vamos, isso não é grande coisa.
— Mas isso é uma grande coisa, — eu digo. Ela dá um passo para trás, surpresa com a minha raiva. — Eu sinto muito. É só que... bem, eu não esperaria que você entendesse, — murmuro.
Ela cruza os braços. — E por quê? Porque eu não pareço colocar muita importância nas joias quanto você parece de repente?
Eu reviro meus olhos. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu aponto para a caixa. — Que esses muitos diamantes provavelmente valem mais do que... eu não sei. Toda a Stanmeade. Eu não consigo usar tanta riqueza em meu corpo, e você não entenderia isso porque nós viemos de origens muito diferentes.
— Sim, — diz ela, dando um olhar que claramente diz, Dã. — Nós viemos. Esta não é uma revelação novinha em folha, então por que, de repente, é uma coisa importante?
Eu não sei. Eu não posso dizer a ela por que essa joia com diamante trouxe de repente a diferença entre minha vida e a dela, ou porque eu estou de repente comparando minha mãe com a dela. A rainha é perfeitamente sã e está em posição de distribuir itens de imensa riqueza como se não custassem nada. Mamãe está perdida em algum lugar dentro de sua própria mente e não conseguiu me dar nada além do peso da responsabilidade por muito tempo. — Eu sinto muito, — eu murmuro, olhando para a maquiagem espalhada em cima da penteadeira. — Eu não posso usar essa joia. Isso só me faz pensar em tudo que eu nunca tive. Todas as coisas que minha mãe nunca pôde me dar. E eu não quero dizer as coisas caras, eu só quero dizer as coisas normais. E todas as coisas que ela não pode ser para mim quando ela começou a ficar louca.
— Em...
— Não, eu não estou procurando por sua piedade. Eu só estou dizendo... — Eu não sei mais o que estou dizendo. — Eu só... não quero usá-la, se estiver tudo bem?
Ela acena com a cabeça. — Tudo bem. Claro. Eu nunca iria querer deixar você desconfortável. Hum... — Ela se vira para as portas do seu closet. — Tenho certeza de que posso encontrar algo mais simples da minha coleção.
Eu me levanto, começando a me sentir ainda pior agora que ela está sendo tão compreensiva. — Eu sinto muito, Rora. Eu não quis parecer ingrata. Eu sou grata por tudo que você e sua mãe fizeram para me ajudar a se encaixar aqui. Eu ainda não sei como lidar com tudo... — Eu gesticulo vagamente com os dois braços. — Tudo isso.
Ela pega minha mão, aperta e sorri. — Está bem. Eu entendo. — Ela caminha até o closet, em seguida, faz uma pausa na porta e olha para trás. — Roarke costumava me chamar de Rora quando éramos mais jovens. Então ele cresceu e decidiu que era um nome bobo e infantil. Eu disse a ele que concordava, mas a verdade é que meio que sinto falta de ouvi-lo me chamar de Rora.
Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Eu... eu realmente não sei porque eu disse Rora. Apenas saiu dessa maneira. Eu sinto muito. Eu não quero deixar as coisas estranhas.
— Isso não é o que eu quero dizer. — Ela sorri novamente. — Você provavelmente esteve tão focada na ideia de conseguir um marido que nunca pensou no fato de que também está conseguindo uma irmã. Eu sei que nada disso é o que você queria para sua vida. Eu sei que você está passando por tudo isso pela sua mãe. Mas... bem, estou feliz que você seja minha irmã. Espero que um dia você possa ser feliz também.
Ela se dirige para o enorme closet antes que eu possa dizer qualquer outra coisa e, nesse momento, a porta da sala se abre. Espreito pela porta do quarto e vejo a rainha, vestida com um roupão e chinelos, atravessando a área de estar com três de suas criadas e uma mulher desconhecida a seguindo. Cada uma das servas levitando um vestido. — Sua Majestade, — eu digo para a rainha, inclinando a cabeça em respeito quando ela vem em minha direção.
— Emerson, olá. — Eu nunca a vi usando tão pouca maquiagem e com o cabelo dela — preto e borgonho como o de Roarke — tão simples. Ela se inclina e beija o ar de cada lado das minhas bochechas. — Pronta para o grande anúncio de hoje à noite?
— Sim, — eu digo com confiança e um largo sorriso, nenhum dos dois é genuíno.
— Aurora, amor, eu tenho os vestidos, — a rainha chama, passando por mim. — Ah, aí está você, — acrescenta ela, enquanto Aurora sai do closet.
— Ooh, excitante. — Aurora esfrega as mãos.
— Coloquem os vestidos ali, — a rainha diz a suas criadas, — e então vocês podem ir. — As criadas deixam os vestidos flutuando no ar acima da cama antes de se virar e sair silenciosamente da sala. A mulher que eu não reconheço tira algo da saia de um vestido e arranca um fio solto do outro.
Ando devagar ao redor da cama para ver os três vestidos de todos os ângulos. O primeiro tem uma saia cheia de tule rosa escuro com flores delicadas que crescem pelas costas da cintura até o pescoço. O segundo é a cor do champanhe. Sua saia de muitas camadas é coberta com flores de ouro, e o corpete apertado tem um decote sem mangas. A última opção é feita de tecido de ouro rosa com milhares de minúsculos cristais brilhando com a luz conforme o vestido balança suavemente no ar. A parte de cima do espartilho se encaixa na parte de trás, e embora a saia esteja um pouco amassada com um pouco de tecido extra sobre a bunda, ela não é tão fofa quanto às outras duas.
— Eles são lindos, — eu digo.
— Eles não são? — Aurora responde. — E aparentemente, eles são ainda mais lindos quando você os coloca. O rosa muda para frente e para trás entre rosa e roxo, e as pétalas nas costas se abrem lentamente à medida que a noite passa. O champanhe vem com um par de luvas longas feitas de um tecido translúcido que parece bolhas de champanhe subindo em seus braços. E o ouro rosa tem um efeito cintilante enfeitiçado que parece brasas brilhantes.
— Parece legal.
— Eles são criações da Rosewood Raven, — Aurora continua. — Mamãe e eu divulgamos para todos os principais designers que estávamos procurando algo espetacular para um evento muito importante. Nós sugerimos um potencial anúncio de noivado — sem usar essas palavras exatas, é claro — o que resultou em muitos rumores circulando por aí. Recebemos dezenas de designs, e minha mãe não estava muito interessada em que você usasse um vestido da Rosewood, visto que —
— Visto que ela vestiu alguns dos Seelies no passado, — a rainha continua. — Eu não queria você usando um de seus vestidos. Quando vi o nome dela do lado de fora do pergaminho, quase o joguei fora sem abri-lo.
— Mas havia algo sobre seus desenhos que continuávamos voltando, — diz Aurora. — Algo que apenas... nos cativou. — Um olhar sonhador aparece em seu rosto.
— Eles se tornaram muito adoráveis, — admite a rainha. — Eu posso ver porque essa mulher Rosewood se tornou popular nos últimos anos.
— Você enviou um convite para ela? — Aurora pergunta. — Eu quero conhecê-la.
— Claro que não, querida. Eu te disse que não era apropriado. Ela tem conexões com a Guilda e vestia os Seelies antes. Podemos ter decidido usar uma de suas criações, mas não me senti confortável em tê-la aqui. Pedi a Lemon para mandar alguém pegar os vestidos e ser discreta sobre isso.
— Oh, Em, está é Lemon, a propósito, — acrescenta Aurora, gesticulando para a mulher que entrou com as criadas. — Nossa criadora mestre de roupas. Ela provavelmente fez a maioria das roupas que você encontrou em seu guarda-roupa.
— Oh. Obrigada, Lemon. — Eu tento não rir do nome estranho. — Você fez um bom trabalho.
Ela acena para mim. — Obrigada, minha senhora. E sim, mandei Jefford buscar os vestidos hoje de manhã, e tive a certeza de passar a importância da discrição. Disse a ele que não queremos o constrangimento de ninguém saber que nos associamos a alguém que já trabalhou com os Seelies, mesmo que o trabalho dela seja bom.
— Que bobo, — Aurora resmunga. — As pessoas vão descobrir de qualquer maneira. Somos da realeza, pelo amor de Deus. É uma honra desenhar para nós, então tenho certeza de que Raven Rosewood vai falar para as pessoas.
— Ela vai? — A rainha pergunta. — Eu duvido que ela queira arriscar sua reputação com os Seelies.
— Ela não vai dizer nada, — diz Lemon. — Jefford deixou os vestidos no meu quarto com uma nota dizendo que tudo correu bem. A designer aceitou seu pagamento e alegremente concordou em ficar quieta sobre seu envolvimento.
— E quando as pessoas perguntarem esta noite? — Aurora diz. — Porque você sabe que algumas dessas mulheres vão querer saber quem vestiu a nova princesa. Tudo com o que eles se importam é com as últimas tendências e novidades, e assim que virem Em, em, digamos, luvas de bolhas de champanhe, todos eles estarão adicionando a mesma coisa para suas novas roupas.
— Sério? — Eu pergunto. — Isso é tão bobo.
— Esse é o tipo de influência que você tem como princesa, — Aurora diz com um sorriso de satisfação. — Uma vez eu usei sprites vivos pendurados em minhas orelhas, e na festa seguinte, eu vi pelo menos cinco outras garotas usando a mesma coisa.
— Pobres sprites, — murmuro, imaginando as criaturas que parecem pequenas pessoas aladas amarradas aos lóbulos das orelhas de Aurora.
— Se alguém perguntar pelo nome do designer, diga que é um segredo, — diz a rainha. — Diga a eles que nossa chefe criadora de roupas tem um aprendiz especialmente inventivo, e queremos mantê-lo em segredo conosco.
Aurora suspira. — Tudo bem. De qualquer forma, precisamos decidir qual deles usaremos para que todas nós possamos começar a nos preparar.
— Hum, eu pergunto ao Roarke o que ele decidiu usar? — Eu sugiro.
— Sim, — a rainha responde. — Aurora e eu vamos verificar se todos os ajustes para o novo vestido dela foram feitos corretamente, e então ela vai encontrá-la na suíte do Roarke.
Com um brilho nos olhos, Aurora acrescenta, — Mamãe não confia em você para relatar com precisão a roupa de Roarke sem minha ajuda.
— Aurora, — a rainha repreende. Então sua expressão se transforma em um sorriso de desculpas. — Bem, suponho que seja verdade. Desculpe, Emerson.
Eu dou de ombros, então congelo com meus ombros puxados para cima, lembrando que a rainha não gosta de encolher os ombros. — Está bem. Vejo você lá, Rora. — Eu saio correndo do quarto, esperando até que eu esteja fora da suíte antes de relaxar meus ombros.
O chão de mármore brilhante passa rapidamente sob meus pés enquanto eu me dirijo para a suíte de Roarke. Eu bato na porta dele, mas depois de esperar vários segundos, nem ele nem um de seus criados me chamam para entrar. Eu bato de novo e espero, mas ainda nada. A ausência de guardas fora de sua suíte me faz duvidar que Roarke esteja dentro, mas ele mencionou que às vezes seus guardas patrulham mais ao longo dos corredores do lado de fora desta ala do palácio. Eu abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça dentro. — Roarke?
Sem resposta. Sabendo que Aurora estará aqui em poucos minutos, decido esperar na sala de estar do Roarke até ela se juntar a mim. Fecho a porta e ando devagar pelos sofás, comparando a suíte com a de Aurora. Móveis semelhantes preenchem o espaço, embora em um estilo menos delicado, com madeira escura e acabamentos em preto brilhante. Eu ando até a janela e descubro que tenho uma excelente visão de uma escultura que eu nunca fui capaz de ver corretamente no chão: uma cobra gigante que se ergue em direção ao céu, cercada por arbustos de rosas negras. Assustador, penso quando me afasto da janela.
De canto do olho, noto movimento perto da porta do quarto. Algo escuro, como uma sombra deslizando pela parede. Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém lá — Roarke ou um de seus criados — mas ninguém está atrás de mim. Eu me viro para o local, meus olhos percorrendo cada centímetro da sala. Eu olho para a parede novamente, mas as sombras criadas pela mobília e decoração estão imóveis. Deve ter sido algo de fora. Um pássaro voando pela janela, talvez. Ainda assim, este é um palácio cheio de magia e encantamento, então é possível que eu tenha visto a sombra de algo que agora está se escondendo nesta sala comigo.
A ideia envia um arrepio no meu pescoço e no meu cabelo. Seja corajosa, eu me lembro. Esta é a sua casa agora. Você não pode ter medo em sua própria casa. Forçando minhas pernas a se mover, ando pela sala novamente. Eu me inclino e olho embaixo da mobília. Eu puxo as cortinas para longe da parede e olho atrás. Pelo o que posso dizer, estou sozinha nesta sala.
Mas este não é o único cômodo da suíte. Meus olhos deslizam para a porta que leva ao quarto. É lá, afinal, onde eu vi o movimento quase agora. Eu atravesso a sala e espio pela porta entreaberta. Eu vejo outra janela e parte de uma cama de dossel. Sem movimento ou som, então, depois de um momento, abro a porta o suficiente para entrar no quarto. O quarto que logo será meu também. A cama que logo será minha.
Uma imagem de Roarke e eu juntos nessa cama passa pela minha mente antes que eu possa pará-la. Eu engulo em desconforto e tento afastar a imagem. Eu evito pensar sobre essa parte específica do nosso acordo, mas agora que estou olhando para a cama que em breve pertencerá a nós dois, é impossível não pensar no que terá de acontecer nela.
Eu me afasto quando um arrepio sussurra através da minha pele. Eu ainda tenho tempo, eu me lembro. Hora de encontrar uma saída para todo esse acordo. O anúncio do noivado acontecerá hoje à noite, mas a cerimônia de união na verdade não acontecerá por mais algumas semanas.
Uma voz na sala de estar me assusta, mas é apenas o Roarke. — Sim, por favor, feche a porta, Marvyn, — diz ele. — Eu vou ter apenas alguns minutos. — Expirando e quase rindo de mim mesma por meus medos bobos, eu volto para a porta. Espero que Roarke não fique muito irritado depois que eu explicar por que estou em seu quarto.
Mas eu paro quando ouço uma segunda voz. Uma voz feminina.
— Ainda é seguro conversar aqui? — Ela pergunta.
— Sim, — Roarke responde. — Nós não seremos ouvidos.
Capítulo 09
MERDA. EU CUBRO MINHA BOCA COM MINHA MÃO E CONGELO.
— Você tem certeza? — Pergunta a mulher.
— Sim. Meu pai não tem controle sobre essa suíte. Meus homens vasculham diariamente por encantamentos e insetos espiões, e não encontraram nada em anos.
— Ainda assim, — a mulher diz enquanto seus passos atravessam a sala. — Alguém pode nos ver através da janela. — Sua voz soa familiar, mas eu não consigo descobrir de onde. Eu ouvi tantas mulheres da corte desde que cheguei aqui. Pode ser qualquer uma delas.
— Eu duvido. Estamos muito alto. E se alguém nos ver, e daí? Eu sou o príncipe e tenho o direito de falar com quem eu quiser.
Minha imaginação salta imediatamente para a pior conclusão. Raiva aquece minhas veias com o pensamento de Roarke me traindo. Que outro motivo ele encontraria uma mulher em particular em sua suíte? Uma mulher que não quer que ninguém veja os dois juntos? E não é como se eu estivesse com ciúmes, mas ele deve se casar comigo em algumas semanas! Eu alcanço a porta, prestes a abri-la completamente e exigir que esse tipo de coisa não continue depois que nossa união acontecer.
— Tudo bem, então, — diz a mulher. — Então, o que você está fazendo sobre as sombras?
Eu paro com minha mão levantada. Sombras? Eu não estava esperando isso.
— Você tem que controlá-los, Roarke. Não podemos tê-los aterrorizando este mundo. Ou o outro mundo. Nós não podemos viver lá até que eles tenham sido completamente erradicados.
— Está tudo bem. Meus homens estão cuidando disso.
— Como o guarda que apareceu morto? Enrugado e velho?
Roarke suspira. — Você me disse que não ficaria chateada com isso.
— Eu estive pensando nisso e decidi que tenho todo o direito de ficar chateada com algo assim. A mesma coisa poderia acontecer com a gente.
Eu inclino minha cabeça em direção à porta, desejando poder ver a linguagem corporal deles. Desejando descobrir a natureza do relacionamento de Roarke com essa mulher.
— A mesma coisa certamente não acontecerá com a gente, — assegura ele. — Aconteceu apenas com aquele guarda porque ele foi estúpido o suficiente para deixar uma sombra pegá-lo quando ele não estava usando seu amuleto. E ele deveria saber o feitiço certo para lutar contra, mas claramente ele era muito lento. O resto dos meus homens sabe o que estão fazendo.
— Bem, eles certamente estão demorando um pouco para fazer o trabalho. Todo esse tempo perdido. O edifício parou. O castelo e o terreno estão ali meio formados e...
— Relaxe. Leva tempo para preencher um mundo.
— Tempo em que outra pessoa poderia descobri-lo e reivindicá-lo como seu território.
— Quem vai reivindicá-lo? Ninguém mais sabe disso.
— Isso não é verdade agora que você deixou outras pessoas verem.
— Eu já disse a você, — diz Roarke. — Nem meu pai nem a Aurora têm algum interesse em reivindicar esse mundo como seu. Ele continua com as mesmas crenças que tinha no começo, e você sabe que Aurora está mais interessada em —
— Eu não quero dizer eles. — Há uma pausa em que eu me aproximo para ter certeza de que não estou perdendo as próximas palavras dela. — E a sua futura esposa? E o guardião que estava com ela? — Um arrepio passa por mim. Eu dou um passo silencioso para trás, como se eles pudessem de alguma forma sentir a minha presença se eu estiver muito perto da porta.
— Emerson não sabe o que viu, — Roarke diz, — e eu duvido que ela se importe. Ela provavelmente assumiu que era parte do mundo fae. Ela não sabe o suficiente sobre este reino para assumir que seria qualquer outra coisa. Quanto ao guardião... bem, duvido que ele tenha alguma pista do que viu também. Guardiões são treinados para lutar, não para pensar.
— Você não deveria subestimá-lo, — diz ela sombriamente.
— E você não deveria estar se preocupando.
— Tudo bem. Bem. Então não estamos com pressa. Mas ainda estou preocupada com as sombras. Como estão passando? E é só aqui no palácio, ou você acha que eles são capazes de chegar a qualquer parte deste mundo? Ou... — Ela faz uma pausa por um momento. — Eu me pergunto se eles são capazes de passar para o mundo humano.
— Se conseguirem, será problema da Guilda, não nosso.
— Verdade.
— E isso provavelmente não vai acontecer, porque meus homens estão garantindo que todas as sombras em breve estarão mortos.
— Bom. Bem, então eu posso pegar o manto que eu vim pegar? Marvyn pode ficar desconfiado se eu sair sem ele.
— Marvyn já está desconfiado, — Roarke diz com uma risada, — mas eu vou pegar o manto de qualquer maneira. — Seus passos se movem em direção ao quarto. Eu xingo sob minha respiração — o que envia uma imagem de Dash pela minha mente por apenas um segundo; ele não ficaria impressionado com a minha linguagem escolhida. Eu passo pela única outra porta e entro no banheiro de Roarke. Deslizando por trás da porta entreaberta, eu prendo a respiração.
E é quando vejo o que está na parede à minha esquerda.
Eu coloco minha mão sobre a minha boca para reprimir o meu suspiro assustado. Um grande círculo de magia cintilante e ondulante ocupa a maior parte da parede. Elétrico de uma cor azul, com pedaços escuros e finos subindo das bordas e desaparecendo, a magia gira preguiçosamente em forma de espiral que parece ser sugada para o centro.
Um portal?
Uma pequena parte de mim está curiosa para saber para onde isso leva — se é que é mesmo um portal — mas, na maioria das vezes, tenho pavor do que pode estar do outro lado. Eu me inclino o máximo que posso enquanto ainda permaneço escondida atrás da porta do banheiro. Felizmente, Roarke leva apenas alguns segundos em seu quarto. No momento em que eu o ouço sair, saio rapidamente do banheiro e fico perto da porta aberta do quarto.
— ... preocupado com Marvyn e essas suspeitas dele? — A mulher misteriosa pergunta.
— Não, não preocupado. Ele é pago bem o suficiente para manter suas suspeitas para si mesmo.
— Bom. Bem, vou deixar você se preparar para o seu anúncio de hoje à noite. Estou animada que esta união será finalmente oficial. Espero que a cerimônia aconteça em breve.
— Vai, — diz Roarke.
Vários momentos de silêncio seguem, em que começo a me sentir ainda mais confusa do que antes. Esta mulher quer esconder seus encontros com Roarke do jeito que uma amante secreta faria, mas está feliz que ele vai se casar comigo?
Eu ouço a porta principal da suíte abrir e fechar. Eu me pergunto se eles foram embora, mas então escuto os pés de Roarke — mais pesado que o da mulher — atravessarem a sala de estar. Apavorada que ele possa voltar ao seu quarto, eu começo a andar na ponta dos pés em direção ao banheiro. Mas o raspar de uma cadeira me diz que ele provavelmente está sentado agora. Eu me abaixo perto da cama de qualquer maneira, só no caso de eu ter que escorregar para debaixo dela rapidamente para me proteger.
Depois de vários minutos que parecem horas, ouço uma batida na porta. Então a voz de Aurora quando a porta abre: — Oh, onde está Em?
Droga.
— Como eu deveria saber? — Roarke pergunta. — Eu pensei que ela estava com você.
Droga, droga, droga.
Faço a única coisa em que consigo pensar: corro para a janela mais próxima, jogo minhas pernas sobre ela e me abaixo do outro lado. As pontas dos meus sapatos de cetim do tipo bailarina procuram pontos de apoio entre os tijolos de mármore. Os sapatos ficarão arranhados quando eu voltar para dentro, mas espero que ninguém perceba. Eu desço com cuidado, parando quando meu pé sente a abertura de uma janela próxima abaixo. Eu me movo para o lado, desço mais alguns tijolos e espio pela lateral da janela. Parece uma sala de estar privada. Cadeiras confortáveis, um armário cheio de bebidas, um espelho emoldurado a ouro repugnantemente ornamentado em uma parede e pinturas de mulheres seminuas nas outras. Mas o mais importante, não há ninguém nela.
Eu piso no peitoril da janela e pulo para dentro. Segundos depois, eu estou no corredor, andando o mais rápido que posso sem arriscar a atenção se por acaso eu passar por alguém. Eu rapidamente percorro algumas curvas até chegar à escada que leva à ala da família real. Eu corro para cima e quase colido com Aurora no topo.
— Oh, ai está você, — ela diz, alívio aparecendo em seu rosto. — Eu pensei que você estivesse indo para a suíte do Roarke. — Eu procuro em suas feições qualquer sinal de suspeita, mas tudo o que vejo é confusão.
— Ele não está lá, — digo a ela. — Uma das criadas disse que ela o viu perto da biblioteca, então fui procurá-lo. Perda de tempo, no entanto, já que ele não estava lá também. Tem certeza de que ele terminou com seja lá qual for o negócio importante com o qual ele estava lidando esta manhã?
— Sim, eu acabei de vê-lo em seus aposentos.
Eu reviro meus olhos e rio. — É isso o que acontece quando você mora em uma casa do tamanho de uma cidade pequena. Podemos passar o dia todo procurando um pelo outro e nunca nos encontrar.
— E isso, — Aurora diz quando ela pega meu braço e vira para a suíte, — é por isso que temos criados para procurarem por nós. De qualquer forma, eu vi a roupa de Roarke. Eu acho que vai combinar esplendidamente com o vestido rosa dourado. Você está feliz com isso?
Estou feliz com qualquer coisa que desvie a atenção de Aurora do fato de que eu não estava onde deveria estar. Espero que, se Roarke questionar meu paradeiro depois, ele acredite na minha história com a mesma facilidade. — Isso soa perfeito, — digo a ela. — O rosa dourado é meu favorito.
Eu a sigo de volta para sua suíte, onde uma enxurrada de atividades já começou. Cabeleireiros e maquiadores organizam seus instrumentos e feitiços. Lemon, a conjuradora de roupas, cuida de pequenas imperfeições em nossos vestidos. As criadas da rainha entram e saem com mensagens da mãe de Aurora sobre joias, enfeites de cabelo, lanches e outros assuntos triviais. E o tempo todo, minha mente está cheia da conversa que eu não deveria ouvir e da magia que eu não deveria ver.
Capítulo 10
QUANDO A NOITE CHEGA, O INVERNO SE ESTABELECE E O SALÃO DO BAILE ESTÁ VIVO com atividade. Mulheres em vestidos lindos e homens em trajes tradicionais de faeries — calças de terno e jaquetas com gola alta com ombros afiados — se misturam na pista de dança no centro do salão de baile. Dezenas de mesas redondas rodeiam a sala, cada uma com uma escultura de gelo de um dragão formando o coração das peças centrais. Do lustre de vidro no centro do teto, cordas de pequenas luzes cintilantes irradiam. E do próprio teto, flocos de neve brilhantes caem, desaparecendo em nada antes de alcançar a cabeça de qualquer pessoa.
Fico em um lado da sala com Aurora e duas damas de companhia que, ao que parece, tiveram permissão para voltar das férias para qual Aurora as enviou. Elas conversam sem parar, ocasionalmente enviando olhares curiosos na minha direção, enquanto eu tento fingir que estou interessada no que elas estão falando. A verdade é que minha mente não poderia estar mais longe dessa festa. Eu não consigo tirar o pensamento sobre as sombras da minha cabeça. Roarke e aquela mulher estavam obviamente falando sobre o lugar que ele e Aurora me levaram no dia em que me encontraram no meu antigo quarto na casa de Chelsea. O lugar de onde Dash e eu fugimos de uma criatura sombria e disforme — uma sombra? — e acabamos de volta ao mundo fae perto do buraco no véu. Com todas as coisas ocupando minha mente, eu mal pensei naquele incidente até esta tarde.
Meu olhar atravessa a multidão enquanto eu me pergunto qual delas estava no quarto de Roarke mais cedo. Pode ser qualquer —
— E o que te trás a Corte Unseelie, Em? — A pergunta vem de uma das companhias de Aurora. Mizza? Algum nome estranho assim.
Eu levo um segundo para colocar meu sorriso no lugar, mas Mizza não parece notar. — A Guilda queria me prender, mas alguns dos Unseelies — guardas pessoais do Principe Roarke, na verdade — me resgataram.
Ela solta um suspiro como uma dama e coloca uma mão contra o peito. — Oh, que emocionante. O príncipe estava com eles no momento? Ele é tão bonito, não acha?
— Por que a Guilda queria prendê-la? — A outra jovem dama pergunta.
O nome dela escapou completamente de mim. — Eu sou uma Dotada Griffin, então a Guilda achou que eu merecia ficar presa.
Ambas as damas ficam boquiabertas, mas eu mantenho meu sorriso sereno. Tenho permissão para começar a compartilhar a primeira parte da minha história agora — menos os detalhes da minha Habilidade Griffin. Ao mencionar o nome do Roarke ao falar do meu resgate, espero que as pessoas acreditem nele quando ele se levantar mais tarde e anunciar que eu sou o amor da sua vida.
— É uma história muito excitante, — acrescenta Aurora, — e prometo que vou contar tudo sobre isso depois. Mas agora, quero apresentar a Em para algumas outras pessoas.
— Não foi tão ruim, foi? — Ela pergunta baixinho conforme me leva para longe.
— Hum... eu não sei. Eu não escutei muito do que elas disseram.
— Em! — Ela bate no meu braço, mas seu horror zombeteiro logo se transforma em um sorriso. — Eu suponho que é tudo muito difícil para você, se você nunca esteve em um evento como este antes. Tantas distrações.
— Sim, — murmuro, observando um pégaso em miniatura passar. Erguendo os olhos, noto que há muitos deles no ar, cada um com um tom pastel diferente. Enquanto eu observo, uma mulher estende a mão, pega um e morde a cabeça.
— Oh, — eu suspiro, parando. — Isso é horrível.
— O quê? — Aurora segue meu olhar e começa a rir. — Oh, Em, é apenas um bolo voador. Eles não são criaturas reais. — Ela fica na ponta dos pés e agarra um. Ele luta em seu aperto, mas no momento em que ela puxa sua asa, ele para de se mover. — Vê? Apenas bolo e glacê. — Ela estende a asa para mim, e debaixo da camada externa rosa pastel, eu vejo um bolo cor de caramelo.
— Hum, não, obrigada, — eu digo quando ela tenta me fazer pegar parte da asa. — Isso é perturbador. — Eu olho para longe da mulher compartilhando o pégaso decapitado com sua amiga e me concentro em suavizar minha carranca. — Então, as pessoas sabem que há uma razão pela qual elas estão aqui, além do aniversário de sua mãe?
— Ninguém sabe ao certo, mas todos suspeitam de um anúncio de compromisso, — diz Aurora. — Eu ouvi as palavras ‘casamento’ e 'união' várias vezes enquanto passeava esta noite.
— E eu não devo confirmar suas suspeitas se alguém me perguntar?
— Não. Vamos deixar as pessoas imaginando por um pouco mais de tempo. Elas podem espalhar muitos rumores ao redor deste salão de baile o quanto quiserem até que Roarke faça o anúncio. Agora, vamos ver. — Ela toca no colar de pérolas negras apoiadas na base do pescoço, quando olha em volta. — A quem eu posso apresentar a você — Oh. Deixa pra lá. — Os músicos na plataforma elevada do outro lado do salão de baile pararam de tocar. Aurora olha em direção à porta maciça arqueada junto com todos os outros na sala. — Meus pais chegaram, — ela sussurra para mim.
Quando o Rei e a Rainha Unseelie são anunciados, todos os convidados no salão de baile se curvam ou fazem reverências. — Bem-vindos, — grita o rei Savyon enquanto todos nós nos levantamos. — Obrigado por se juntarem a nós enquanto celebramos o aniversário da Rainha Amrath. Hoje à noite, vocês se deliciarão com o melhor entretenimento, comerão os pratos mais exóticos e dançarão até o sol nascer. Que as celebrações comecem!
O lustre explode e o salão de baile se enche de guinchos e suspiros. Eu me abaixo e olho para cima, meus pensamentos se debatendo para descobrir o que está acontecendo. Um ataque externo? O rei está perdendo a cabeça e matando a todos nós? Mas quando a fumaça se dissipa, vejo centenas de objetos semelhantes a paraquedas flutuando em direção à multidão. Os murmúrios de medo se transformam em sussurros de espanto, depois em risadas e dedos apontando. Aurora pega dois paraquedas e entrega um para mim. Uma pequena caixa em forma de cubo pende de um dossel de pétalas. Quando coloco a caixa na palma da mão, os lados e o topo desaparecem, revelando uma rosa prateada dentro.
— Perfeito, — Aurora diz com um sorriso. — Eles saíram exatamente como a mãe queria que saíssem.
— O que é isso?
— Chocolate. — Ela ri. — E um feitiço que evita que você se canse até o sol nascer. Nós vamos festejar a noite toda. — Ela coloca a rosa em sua boca e gesticula para eu fazer o mesmo. Eu mastigo o chocolate amargo enquanto olho em volta para as pessoas pulando para pegar paraquedas, passando para seus amigos e comparando as rosas para ver se elas são todas iguais. Meu olhar cai sobre um homem olhando para mim — e meu coração quase para quando eu reconheço Dash.
Eu fico em choque quando ele olha para longe e duas mulheres pulando para pegar paraquedas o bloqueiam momentaneamente de ser visto. Não pode ser ele. É um truque da minha imaginação, minha mente transformando outro jovem em Dash. No entanto, eu pisco e espreito de mais de perto, uma parte de mim esperando que seja realmente ele. Mas não é. Seu cabelo está diferente, e seu braço, noto quando ele alcança um dos paraquedas caindo, está nu, sem as marcas de um guardião.
— Oh, olhe! — Aurora agarra meu braço e me puxa. Ela aponta para cima, enquanto a luz da sala escurece e pessoas em collant brilhantes descem pelo ar do teto. Eles deslizam graciosamente entre as cordas de luzes e ficam pendurados logo abaixo delas, girando lentamente e dando cambalhotas com movimentos coordenados para acompanhar a música misteriosa. Isso me lembra um pouco do nado sincronizado, ou tecido acrobático onde os acrobatas ficam pendurados em pedaços de tecido. Exceto que agora, não tem água para flutuar. Não há tecido para ficar pendurado. Esses artistas estão suspensos no ar por magia.
A noite continua com a dança — eu consigo não errar - comendo e bebendo, intercalada com várias formas mágicas de entretenimento extravagantes: malabaristas jogando bolas coloridas no ar, onde se transformam em doces de arco-íris que fazem sons de estalo e disparam doces em forma de estrela para todos; uma mulher soprando bolhas em qualquer forma que seu público solicite; um par de centauros que galopam e fazem uma dança dramática antes de galoparem para longe; e um homem que persuade sua magia em um dragão do tamanho de Imperia feito inteiramente de fogo.
Minha imaginação parece estar sobrecarregada de todas as coisas fantásticas que eu vi no espaço de apenas algumas horas, quando Roarke finalmente vem até mim. Eu o vi de longe esta noite, vestido de forma semelhante à maioria dos outros homens, mas com os punhos e gola alta de sua jaqueta feita de tecido em relevo dourado. Nós concordamos há alguns dias que não falaríamos ou dançaríamos juntos até depois do anúncio. Então, se ele está na minha frente agora, isso deve significar...
— Minha adorável Lady Emerson, acredito que temos um anúncio para fazer.
Eu engulo quando meu estômago se agita. — Oh. Que horas são? — Eu esperava adiar o maior tempo possível. De fato, parte de mim tem fingido a noite toda que se eu me recusasse a pensar sobre isso, isso nunca aconteceria.
— Não vamos deixar nossos convidados esperando por mais tempo. — Roarke coloca a mão nas minhas costas e me direciona para a plataforma elevada onde os músicos estão sentados. — Acho que elevamos o suspense por tempo suficiente. Todo mundo está se divertindo, mas agora não há um único convidado nesta sala que não esteja se perguntando qual é a bela dama que seu príncipe escolheu para ser sua esposa. Vamos afastar todas as suas especulações sussurradas.
Quanto mais nos aproximamos da plataforma, mais silenciosa a sala se torna. Finalmente, ao subirmos os três degraus que conduzem ao lado, os silêncios reinam, interrompidos apenas pelo sussurro ocasional e o farfalhar de saias. — Lembre-se de mostrar a todos como você está feliz, — Roarke murmura, seus lábios mal se movendo e seu sorriso continua no lugar.
Não tenho certeza se posso fingir estar feliz agora, mas posso pelo menos esconder meu medo. Enquanto Roarke encara a multidão e eu fico parada ao lado dele, eu tento imitar a maneira como ele se porta, empurrando meus ombros para trás, e levanto meu queixo levemente. Eu forço meus lábios em um sorriso que eu possa controlar.
Então eu cometo o erro de olhar para o salão de baile lotado. Centenas de rostos olham para mim com expressões que variam de curiosidade para aversão absoluta. Não mostre medo, não mostre medo. Eu pisco e estabeleço meu olhar na parede distante, logo acima da linha de pessoas. Não se mexa, permaneça equilibrada, continue sorrindo. Mas apesar da minha máscara de confiança, um rugido distante começa a encher meus ouvidos. Meu coração bate tão descontroladamente que temo que eu possa realmente ter uma parada cardíaca.
Roarke começa a falar, mas eu ouço apenas pedaços do que ele está dizendo: meu passado no reino humano, meu status de Dotada Griffin, meu resgate da Guilda. Eu ouço as palavras ‘uma corte rápida’ e 'profundamente apaixonado', e então, finalmente, Roarke olha para mim, pega minha mão na dele, e diz, — Eu nunca estive mais feliz do que no momento em que meu pai nos deu permissão para nos unirmos. — Ele encara a multidão novamente, segurando a minha mão. — E então, meus senhores e senhoras, eu apresento a vocês a mulher com quem estarei me unindo em exatamente doze dias: a linda, cativante e gentil Emerson.
Silêncio cumprimenta as palavras finais do príncipe. Ele paira, se expande, pressiona meus ouvidos e, finalmente, estoura. Gritos, brindes e aplausos preenchem meus ouvidos e, de repente, essa união parece real demais. Eu sei que eu concordei com isso, mas enquanto não era oficial, eu achava que encontraria uma saída. Mas agora que todo mundo sabe, parece quase impossível. Pela primeira vez, isso me atinge — realmente me atinge — que eu vou ter que fazer isso. Eu vou casar com um príncipe. Este palácio e essas pessoas vão se tornar minha vida. Tudo isso vai se tornar a vida da minha mãe também. Pelo tempo que for necessário para descobrir como vamos escapar.
— Vamos dançar agora, meu amor? — Roarke me pergunta.
Não confiando em mim para falar, eu simplesmente aceno. Ele me leva para baixo da plataforma e em direção ao centro do salão de baile enquanto a música recomeça. Minhas pernas começam a tremer com o pensamento de um salão de baile inteiro de pessoas nos assistindo dançar, mas Roarke levanta a voz e incentiva a todos a participarem. Com conversas animadas, eles correm para encontrar parceiros enquanto Roarke e eu nos encaramos e nos movemos para a posição inicial.
Já dancei várias vezes esta noite, mas agora é diferente. Ninguém se importava com quem eu era antes. Ninguém prestou atenção em mim. Mas agora, mesmo que todos estejam dançando também, sinto seus olhos em mim. Teria sido ótimo se minha Habilidade Griffin fosse capaz de me dar à habilidade de executar cada passo com perfeição, mas aparentemente minha Habilidade Griffin não sabia como fazer isso. Então, fico concentrada em todos os movimentos, em cada detalhe intrincado, em cada giro e pivô. Felizmente, com um parceiro especialista como Roarke, é fácil esconder o erro estranho e a hesitação.
Parceiros se movem ao nosso redor enquanto a música muda de novo e de novo, mas Roarke se agarra a mim para várias danças. Ele pressiona um beijo sob o meu ouvido em um ponto, e eu tenho que trabalhar fortemente para não me encolher. Eu digo a mim mesma para ficar grata por ele não beijar meus lábios. Eventualmente, ele me entrega a outro parceiro, e agora eu realmente tenho que me concentrar, minha atenção dividida entre ter uma conversa educada e seguir os passos.
O tempo passa. Eu continuo circulando a sala, mudando para um novo parceiro sempre que é apropriado. Embora eu esteja completamente fora da minha zona de conforto, a música me incita a continuar dançando. Ou é o chocolate encantado que comi antes?
Danço, converso, mudo de parceiro, repito. Começo a me perguntar por quanto tempo eu tenho que fazer isso antes que eu possa sair da pista de dança e dar um tempo de tudo. Eu giro ao redor e para os braços de outro parceiro. Um homem, que percebo com meu segundo choque da noite, que reconheço afinal de contas.
Dash.
Capítulo 11
MEUS PÉS TROPEÇAM EM UM IMPASSE. UMA COMBINAÇÃO ESTRANHA DE ALEGRIA E HORROR dispara através de mim. O cabelo de Dash está completamente diferente, como eu percebi anteriormente, e vários dias de barba para fazer melhoram seu disfarce. Mas é definitivamente ele.
— Não pare de dançar, — diz ele, me forçando a acompanhar a música. Então, depois de dar aos dançarinos em volta dele um sorriso agradável e totalmente falso, ele sussurra, — Qual diabos é o seu problema?
Outro segundo de choque passa antes que eu encontre minha voz. — Eu? Qual o seu problema? Como até mesmo você — o que você — você sabe o que Roarke e Aurora farão se reconhecerem você?
— Eles me viram por cinco segundos naquele dia. Eles não vão me reconhecer agora.
— Mas como você —
— O que você está fazendo aqui, Em? Por que você está aceitando essa charada de união estúpida? Eu esperava encontrar uma prisioneira e, em vez disso —
— Nós não vamos ter essa discussão aqui, — eu digo a ele com os dentes cerrados, meu sorriso completamente esquecido agora. — Encontre-me lá fora. — Eu me livro de seu aperto e viro. O homem que eu encontro parece assustado. Ele e a mulher com quem ele dança quase tropeçam. Mas, felizmente, depois de dois ou três segundos desastrosos, todos trocam de parceiros e, para qualquer um que esteja observando, parece que a quase-princesa acidentalmente tentou trocar alguns segundos antes. Felizmente entro nos braços do homem confuso e continuo dançando, tentando manter um sorriso sereno no lugar enquanto meu coração troveja no meu peito.
Ainda mal posso acreditar. Dash está aqui. Através da minha raiva e terror — porque esse é exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando evitar quando escolhi vir para cá, e agora ele está bagunçando tudo — eu estou dolorosamente feliz em vê-lo.
— Foi horrível crescer no reino não mágico? — Pergunta meu parceiro de dança.
— Hum, bem, eu não conhecia nada melhor, então eu não sabia o que estava perdendo.
— Deve ter sido emocionante ter descoberto que você pertence a este mundo em vez disso.
— Sim. Magia é... muito maravilhosa. — Estou distraída quando vislumbro Dash com outra parceira.
Quando a dança termina, consigo recusar educadamente a mulher que esperava ser minha próxima parceira. Deslizo por ela e saio da pista de dança, entre as mesas e cadeiras, e em direção à porta em arco que leva aos jardins. É estranho olhar e ver uma paisagem branca como a neve enquanto me sinto tão quente que estou quase suando. Deve haver um feitiço na porta aberta que mantém o ar frio do inverno lá fora.
Olhando para trás, vejo pelo menos duas mulheres vindo em minha direção com olhos brilhantes e sorrisos largos, provavelmente esperando conversar comigo. Maravilha. Agora que todo mundo sabe quem eu sou, eu nunca sairei desse salão sem ser notada. Eu procuro por uma distração, e na mesa mais próxima, vejo um dos doces do arco-íris estourando. Eu discretamente deixo cair no chão, levanto a saia e chuto para o lado. Ele gira para longe da multidão, zumbindo, estalando e atirando doces minúsculos em todos os lugares. Na comoção, encontro os olhos de Dash por um segundo. Então me viro e saio para a noite.
O frio me atinge no momento em que passo por baixo do arco, mas depois de toda aquela dança, o ar gelado é um alívio bem-vindo. Depois de descer correndo as escadas, viro à direita, saio do caminho e espero à sombra de uma árvore com maçãs prateadas, salpicadas de neve penduradas em seus galhos. Eu expiro longamente e devagar, mas minha ansiedade só aumenta quando os segundos passam e eu espero por Dash.
Eu fico tensa quando passos apressados descem as escadas. Dash olha ao redor, me vê, e com alguns passos rápidos ele está na minha frente. — Qual é o seu problema? — Ele exige imediatamente. — Andando por aí como se você pertencesse aqui. Participando dessa idiotice de união. Você não pode estar planejando —
— Você quer falar sobre idiotice? — Eu retruco. — Você é idiota. Por que veio aqui? Essas pessoas são seus inimigos. Você sabe o que farão com você se descobrirem o que você é e para quem você trabalha?
— Eles são seus inimigos também, Em, mas de alguma forma você os deixou manipular para se casar com um deles —
— Eu não fui manipulada coisa nenhuma, — eu digo, ainda tentando manter minha voz nada mais alto do que um sussurro irritado. — Eu escolhi estar aqui. Roarke apresentou uma solução — casamento em troca de curar minha mãe — me deu tempo para pensar sobre isso, e eu decidi aceitar sua oferta. A única pessoa que quer me forçar a fazer coisas é o rei, mas Roarke não o deixa. Ele quer uma esposa disposta. Ele não vai me manipular para fazer qualquer coisa contra a minha vontade, apesar do que você está pensando.
Dash parece que ele está prestes a ficar doente. — Você... você veio aqui voluntariamente? Ninguém te obrigou a isso?
— Sim. Ele ofereceu algo que eu queria e decidi que o preço valia à pena.
— O preço é um casamento, Em! Uma união! Você parou para pensar o quão sério é isso? Estamos falando do resto da sua vida. As uniões neste mundo não são como as do seu mundo. É um vínculo mágico que não é facilmente quebrado. E uniões reais? Eu nunca ouvi falar de uma união sendo quebrada. Se você continuar com isso, é para sempre.
Eu reviro meus olhos, mesmo quando o peso de suas palavras perfura meu núcleo e deixa minha pele mais fria do que há um momento atrás estava. — Agora você está sendo um idiota novamente. Eu não pretendo realmente que essa união aconteça. Eu tenho uma Habilidade Griffin, pelo amor de Deus. Uma extremamente poderosa. Quando for o momento certo, e quando eu tiver aprendido bastante controle sobre ela, eu vou pedir ao Roarke para me dizer tudo que eu preciso saber para curar minha mãe, e então eu vou escapar.
Dash ainda parece um pouco doente. — Sério? Esse é o seu plano? Você realmente acha que depois de tudo isso lá — ele acena genericamente na direção do salão de novo — eles vão deixar você escapar?
— Tudo bem, primeiro de tudo, ‘escapar’ implica que eu não vou pedir permissão. Eu vou embora. Então não importa se eles vão me deixar ou não. E em segundo lugar... — Eu lentamente respiro profundamente porque eu tenho que admitir que estou me sentindo tão doente quanto Dash parece. Em segundo lugar, percebo que escapar pode não ser possível. Eles podem me pegar e me forçar a participar desta...
— Você acha?
— ... apesar de tudo que Roarke diz sobre querer uma esposa disposta, — eu continuo, interrompendo Dash. — E se é assim que acaba, então que assim seja. Pelo menos eu vou pegar as informações que preciso, e então —
— Isso se Roarke realmente prosseguir com seu lado da barganha e dizer a você o que ele sabe — o que provavelmente não é nada, a propósito. Como ele pode saber mais sobre sua mãe do que o resto de nós? Mas quando você descobrir isso, será tarde demais para você. — Ele ergue as mãos e olha para o lado enquanto balança a cabeça. — Todo esse seu plano é totalmente inútil.
Um calafrio me percorre. Meu corpo esfria rapidamente, e o ar do inverno parece estar se infiltrando em meus ossos. Eu corro minhas mãos vigorosamente para cima e para baixo nos meus braços. — Não é inútil. Magia negra prendeu minha mãe em um coma permanente, e Roarke, como um membro da corte que usa esse tipo de magia, sabe como acordá-la. E, mais importante, ele sabe o que causou sua doença mental. Foi algo mágico, e ele sabe como consertar isso.
— Ele está mentindo, Em, — Dash diz com o tipo de tom que ele usaria conversando com uma criança ingênua. Distraidamente, ele move a mão em um movimento rápido e circular acima da minha cabeça, e eu imediatamente começo a me sentir mais quente. — Você realmente acha que um príncipe mimado sabe alguma coisa sobre doenças mentais mágicas? Ele diria qualquer coisa para você ficar e dar-lhe acesso total à sua Habilidade Griffin. Por que você não consegue ver isso?
— Ele não está mentindo. Ele sabe muito mais sobre o meu passado do que qualquer outro que eu tenha encontrado neste mundo. Ele já provou isso para mim. Ele é minha melhor chance de salvar a minha mãe.
— Mas... isso é só... — Dash se debate por um momento. Ele puxa seu cabelo, que eu percebo que é uma peruca quando se solta em sua mão, revelando seu próprio cabelo bagunçado por baixo. — Eu sei que você quer que sua mãe esteja melhor, — ele diz, seus olhos voltando aos meus, — mas por que sua saúde e felicidade têm que ser exclusivamente responsabilidade sua? Ela é realmente — Ele se interrompe, respirando pesadamente. Eu sei que isso vai me fazer soar como o cara mau. Eu não quero te perguntar se ela vale à pena, porque claramente —
— Como você pode pensar isso? — Eu arquejo.
— Eu não estou! É isso que eu estou dizendo. É claro que ela vale a pena. Ela é sua mãe, e claramente você a ama mais do que tudo em qualquer mundo, mas... — Seus olhos me imploram. — Ela quer que você faça isso? Ela quer que você jogue fora toda a sua vida no que é provavelmente uma tentativa fútil de salvar a dela?
— Eu não estou jogando fora toda a minha vida! — Eu grito. Então eu me lembro. Lembro das palavras de Aurora — meu pai tem olhos e ouvidos em todos os lugares — e abaixo a voz novamente. É quase um sussurro agora. Meus lábios mal se movem enquanto eu falo. — Eles podem me forçar a um casamento, mas isso não significa que eu ficarei aqui para sempre. Minha Habilidade Griffin me faz mais poderosa que a maioria das pessoas neste mundo. Mamãe e eu vamos escapar um dia.
— Mesmo que isso seja possível, — diz Dash, — quantas coisas ruins eles vão te obrigar a cometer antes disso?
— Eu... eu... — Eu não tenho uma resposta para isso.
— Por que você acha que eles querem você, Em? Para que você possa deixar o trabalho sujo dele mais fácil, é por isso. — Ele pega meus ombros e me dá uma pequena sacudida. — Essas pessoas não são boas. Com certeza você sabe o tipo de coisas que elas vão fazer você fazer?
Eu me liberto de seu aperto. — Você está errado. Roarke não é assim, e Aurora também não. — Mas o rei é, uma voz silenciosa me lembra. Aquela cena no escritório do rei — a cena que continuo empurrando para fora dos meus pensamentos — aparece abruptamente na frente da minha mente. O rei com a mão apertando o ar, e a cabeça do homem sendo arrancada de sua —
Eu pisco e estremeço e desvio o olhar.
— Sério? — Dash diz. — Eles não são assim?
Eu posso dizer sem encontrar seus olhos que ele sabe que estou mentindo. Eu dou uma respiração trêmula. — Eu vi... alguma coisa. — Eu pisco de novo e balanço a cabeça, tentando forçar a memória para longe. Eu me concentro nos olhos verdes de Dash novamente, sabendo que não há sentido em tentar convencê-lo com mentiras que eu também mal acredito. Não há sentido em nada além da verdade. — Que outra escolha eu tinha, Dash? — Minha voz é um sussurro desesperado agora, tendo perdido seu tom defensivo. — Estas são as únicas pessoas que podem me ajudar.
— Você poderia ter confiado em nós! Eu e todo mundo no oásis. Queremos ajudar você, Em. Nós não fizemos nada, além de tentar ajudá-la desde que você chegou a este mundo, e isso não mudaria. Eu não entendo porque você simplesmente virou as costas para tudo isso e —
— É por isso, Dash! Foi por isso que eu tive que ir embora.
Ele faz uma pausa, as sobrancelhas subindo mais alto. — Isso deveria fazer sentido?
— Você e seus amigos não fizeram nada além de tentar me ajudar e isso quase matou vocês. Você virou uma estátua de vidro. Lembra disso? Você e Violet chegaram tão perto de morrer. Morrer, Dash! — Minha voz se eleva quando meu peito aperta com a lembrança daquele dia aterrorizante.
— Sim, mas não morremos. Não é grande coisa.
— Claro que foi importante! Você quase morreu porque tentou me ajudar. E Chelsea e Georgia realmente estavam mortas, e elas teriam ficado assim se minha Habilidade Griffin não tivesse feito uma aparição conveniente. Então, depois de tudo isso, eu decidi que não queria que ninguém mais fosse colocado em risco por minha causa e de minha mãe.
— Em —
— Sim, eu tinha tudo que queria no oásis. É lindo, é seguro, as pessoas são incríveis. Mas se eu tivesse ficado lá, alguém teria acabado ferido ou morto porque tentaram me ajudar. Isso é problema meu. Ela é minha mãe. Se há um preço envolvido em fazê-la voltar ao normal, sou eu quem devo pagar. Ninguém mais.
Dash fica em silêncio por muito tempo antes de dizer, — É tarde demais para isso.
Eu pisco, sentindo frio novamente, apesar do feitiço de calor de Dash ainda me cercando. — O que você quer dizer?
Ele balança a cabeça e olha para o outro lado. — Isso... não era assim que eu queria te contar. Eu queria te levar para longe daqui primeiro. De volta ao oásis.
— Antes de me dizer o quê? — Eu me aproximo e envolvo uma mão fria em torno de seu braço. — Me dizer o quê, Dash? O que aconteceu?
— Chelsea e Georgia... — Ele fecha os olhos e pressiona os lábios antes de continuar. — As duas... morreram.
Eu solto minha mão de seu braço tão rapidamente como se sua pele tivesse me queimado. — O quê?
— Aconteceu cerca de dois dias depois do incidente de vidro com Ada.
— Mas... elas não podem estar mortas. Minha Habilidade Griffin as trouxe de volta a vida.
— Elas eram humanas, Em, — ele diz gentilmente. — Sua Habilidade Griffin pode ter funcionado nelas, mas seus corpos não conseguiram lidar com a magia. No final, isso as matou.
— Mas... você tem certeza de que elas eram humanas? Quero dizer, ela é irmã da minha mãe e minha mãe é uma faerie. E sobre todos os remédios herbáceos que Chelsea fez? Eu pensei que talvez... talvez fosse realmente mágico.
Dash não oferece explicações; ele apenas balança a cabeça. — Eu sinto muito, Em.
— Elas... elas estão realmente mortas? — Eu sussurro. — Minha magia as matou. Eu pensei que isso as salvou, mas as matou.
— Em —
— Eu matei minha própria família.
— Não foi você quem as matou, — diz Dash, sua voz repentinamente feroz. — Ada fez isso com sua horrível magia de vidro. Ela as quebrou em milhares de pedaços. Você fez o que pôde para salvá-las, mas não foi o suficiente. Elas estavam condenadas desde o momento em que ela as tocou pela primeira vez.
Minhas pernas não conseguem me segurar. Eu caio no chão, sem um segundo pensamento sobre o vestido caro que eu provavelmente estou estragando. Respirações rápidas e superficiais me consomem enquanto olho para o jardim. Dash ainda está falando, mas não consigo mais ouvi-lo. Eu não sei como devo reagir a isso. Chelsea e Georgia não me amavam, e eu não as amava; Eu não posso fingir o contrário só porque elas estão mortas. Mas elas eram da família. Elas me acolheram, embora constantemente deixassem claro que eu era um peso para elas. E agora elas estão mortas e eu não consigo descobrir o que devo sentir além de me sentir culpada.
— Eu nunca quis nada disso, — eu consigo sussurrar. Eu cubro meu rosto com minhas mãos, desejando que eu pudesse apagar este outro mundo e sua magia que deixou minha vida completamente fora do meu controle. — Alguém pode simplesmente levar tudo isso embora? Por favor. Eu não quero essa magia. Eu não quero uma Habilidade Griffin. Eu não quero casar com um príncipe. Eu só quero voltar para aquela vida simples que mamãe e eu tivemos antes que a magia a deixasse louca e tudo começasse a desmoronar.
Eu sinto o braço de Dash no meu ombro e o sinto agachado ao meu lado. — Eu queria poder —
— Emerson?
Eu respiro fundo ao som da voz do Roarke. Lentamente, eu abaixo minhas mãos e o observo descer as escadas.
— O que está acontecendo? Por que você está no chão?
Dash se levanta para encará-lo.
— Você, — Roarke diz lentamente, reconhecimento em seus olhos. — Bem, agora. — Seu olhar se move para mim enquanto sua expressão se torna ilegível. — Se isso não é uma situação interessante.
Capítulo 12
EM MENOS DE UM MINUTO, EU ME ENCONTRO DE VOLTA DENTRO DO CALOR DO palácio em uma pequena sala de estar em algum lugar perto do salão de baile. Apesar do turbilhão de emoções me dominando, eu não ouso desobedecer Roarke quando ele proferiu — Siga-me. — em um tom mais frio do que o ar do inverno. Dash hesitou, mas logo nos alcançou. De volta ao salão de baile, ninguém parou o príncipe ou sua noiva. Ninguém sequer olhou em nossa direção. Eu suspeito que a magia de Roarke seja a responsável por isso.
A porta da sala de estar se fecha sozinha. Chamas ganham vida na lareira. — O que ele está fazendo aqui? — Roarke exige imediatamente, apontando para Dash sem olhar para ele.
— Eu... eu não... — Eu corro minhas mãos pelo meu rosto, tentando me concentrar nas palavras de Roarke e vendo apenas os olhos sem vida de Chelsea e Georgia. Seus corpos frios. Sozinhas em suas camas em sua pequena casa em Stanmeade. Eu pisco e olho para as chamas crepitantes dançando na lareira, na esperança de queimar a imagem brilhante e quente em minha mente. — Eu não sei, — eu digo finalmente, me afastando do fogo. — Fiquei tão chocada quanto você por vê-lo aqui. Essa coisa ainda está ligada a mim — Eu toco o pedaço de metal do tamanho de uma moeda atrás da minha orelha — então nenhuma mágica deveria ter sido capaz de me localizar.
Roarke atravessa a sala. Seus dedos envolvem o braço de Dash. — Onde estão suas marcas de guardião?
Dash puxa o braço para longe e solta uma risada curta. — Tem essa coisa que as garotas usam. É chamado de corretivo. Funciona muito bem para cobrir —
— E como você entrou no meu palácio?
Dash leva seu tempo cruzando os braços sobre o peito antes de encarar Roarke. — Sua mãe decidiu terceirizar o design do vestido de Em para esta noite. Quando um de seus empregados veio buscá-las, tive a certeza de estar lá, pronto para ocupar o lugar dele. Seu transporte me trouxe de volta aqui. Foi tudo incrivelmente fácil, na verdade.
— E como você sabia que Emerson estava aqui em primeiro lugar?
— Um palpite, acho que mais um processo de eliminação. Eu achei que poderiam ser vocês, os Seelies ou a Guilda que a prendiam. Perguntei por aí, e a Guilda e os Seelies ainda pareciam estar sob a impressão de que Em estava morta ou desaparecida. Sabe, desde o incidente no penhasco. — Dash dá de ombros. — Portanto, tinha que ser vocês.
— Então você contou aos seus superiores tudo sobre suas suspeitas, e eles te recompensaram deixando você entrar furtivamente em minha casa e meter seu nariz indesejado ao redor? Duvidoso. Você não parece estar na hierarquia mais alta da Guilda para ter uma missão tão importante quanto recuperar uma perigosa e poderosa faerie Dotada Griffin como Emerson.
O olhar de Dash se estreita um pouco. — Eu não estou aqui representando a Guilda.
— Ah. — Roarke acena com a cabeça. — Eu tive a sensação de que poderia ser algo nesse sentido. — Ele caminha até a cômoda do outro lado da sala e abre uma gaveta. — Você e Emerson pareciam estar ficando muito confortáveis quando Aurora e eu encontramos vocês dois juntos em seu antigo quarto. — Ele fecha a gaveta e se vira para nos encarar novamente. — Depois que ela escapou da Guilda. Quando você — um guardião — não deveria saber nada sobre o paradeiro dela. — Ele balança a cabeça e solta uma risada silenciosa. — Um traidor para sua própria espécie, eu vejo. Que decepcionante.
A expressão do Dash escurece. — Na verdade não. Acontece que eu discordo de marcar, rastrear e aprisionar Dotados Griffin.
— E você tem alguma marca em você, garoto guardião? Para que alguém possa convocá-lo ou determinar sua localização?
— Eu disse a você que não estou aqui em nome da Guilda, então por que eu seria estúpido o suficiente para deixar alguém me marcar?
— Bom. — Roarke se move em direção a Dash. — Mas apenas no caso ... — Sua mão gira e bate na lateral do pescoço de Dash.
Quase rápido demais para ver, Dash pega o braço de Roarke e o torce, girando o príncipe ao redor e prendendo o braço atrás das costas. — O que você acabou de fazer? — Dash sibila. O som de um chiado percorre o ar, e com um grito, Dash empurra Roarke para longe dele. — O que —
Roarke se endireita, rola os ombros e ajusta o colarinho de sua jaqueta. — Eu não gosto de ser maltratado.
Dash toca o lado do pescoço dele. — O que é isso? — Quando sua mão se afasta, vejo um pequeno círculo de metal como o atrás da minha orelha.
— Uma precaução, isso é tudo, — diz Roarke.
— Como você ousa —
— Você entra em minha casa e quer saber como eu ouso a —
— Parem! — Eu grito. Minha Habilidade Griffin ainda não está pronta para emitir um comando mágico, mas meu grito é suficiente para fazer Roarke e Dash pararem e olharem em minha direção. — Apenas ... apenas parem. — Minha voz vacila. — Minha tia e prima estão mortas, e vocês dois estão agindo como crianças mesquinhas.
Uma carranca puxa as sobrancelhas de Roarke para baixo. — Sua tia e prima? Com quem você viveu no mundo não-mágico?
Eu olho para trás em direção ao fogo enquanto eu aceno. — Dash me contou. Do lado de fora. É por isso que eu estava sentada no chão. Eu estava... eu simplesmente não consigo acreditar.
— Estas são as pessoas de quem você particularmente não gostava? — Roarke pergunta, seu tom não indelicado, apenas curioso. — Aquelas que te trataram mal desde que você se mudou para a cidade para viver com elas?
Eu concordo. — Mas elas ainda eram da família. Bem, eu não sei o que elas eram. Mamãe e Chelsea eram irmãs, mas mamãe é uma faerie e Chelsea era humana, então... elas não podem ter sido irmãs? Eu não sei. Eu não entendo. — Eu pressiono meus dedos em minhas têmporas novamente e fecho meus olhos. — Mas eu morei com elas. Por anos. Eu pensei que elas eram da família, e agora elas morreram.
Eu ouço os passos silenciosos de Roarke se aproximando antes que ele coloque uma mão cuidadosamente contra as minhas costas. — Eu sinto muito, Emerson. Eu não posso imaginar como é isso. Mas posso prometer isto: você está prestes a ter uma família totalmente nova. E embora possa não ser óbvio do lado de fora, nós nos importamos um com o outro. Nós vamos cuidar de você também. Você será uma de nós e finalmente pertencerá a algum lugar. Você e sua mãe.
Do outro lado da sala, Dash bufa e resmunga algo em voz baixa. Eu quase faço o mesmo, porque é claro que o verdadeiro motivo de Roarke não tem nada a ver com o desejo de me dar uma nova família e um lugar para pertencer. Ele quer minha Habilidade Griffin. Mas talvez haja mais do que isso. Talvez ele realmente queira que essa união funcione. Talvez ele planeje cuidar de mim pelo resto de nossas vidas.
— Você vai ficar, é claro, — Roarke diz para Dash. — Para a cerimônia. Você é amigo de Emerson. Tenho certeza que ela vai querer que você esteja aqui.
— Sua cerimônia é daqui a duas semanas, — Dash diz antes que eu possa expressar minha própria opinião. — Eu não posso ficar aqui por tanto tempo. Eu tenho um emprego, lembra?
— Você também tem o desejo de parar esta união, — Roarke aponta. — O que significa que, se eu deixar você sair, você dirá à Guilda exatamente o que está acontecendo, e eles tentarão interromper nossos planos e recuperar Emerson. Ou matá-la.
— Dash não diria —
— Você não sabe com certeza, — Roarke diz para mim. — Se você quer que esta união aconteça, então não podemos correr o risco que a Guilda se envolva.
— A Guilda vai se perguntar onde estou, — diz Dash.
— Deixe-os se perguntar então. Eles não sabem que você está aqui.
Dash exala lentamente, seus olhos brilhantes nunca deixando Roarke. — Eu sei que isso não importa para você, mas eu tenho casos importantes —
— Você deveria ter considerado isso antes de invadir minha casa, — diz Roarke.
— Tudo bem. — Dash força seus punhos para trás de suas costas e dá a Roarke o sorriso mais obviamente falso que eu já vi. — Muito obrigada pelo convite, Sua Alteza Real. Eu ficarei feliz em ficar aqui e participar da sua cerimônia de união.
Roarke acena. — Bom. Apenas certifique-se de que as marcas em seu pulso permaneçam cobertas. Não posso garantir sua segurança se meu pai descobrir o que você é.
— Certamente. E vou manter meus lábios fechados e não fazer perguntas sobre nenhuma das leis que vocês Unseelies quebraram ultimamente, ou sobre, digamos, aquele lugar sombrio e sem cor onde eu acordei depois que você sequestrou Em e eu.
— Perfeito. Espero que você não se esqueça dessa promessa, — Roarke acrescenta em um tom ameaçador.
— Então ... Dash é um convidado? — Eu pergunto. — Ou um prisioneiro?
Roarke olha para mim. — Você gostaria que eu fizesse dele um prisioneiro?
— Claro que não.
— Então ele é nosso convidado. — Ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu só quero te fazer feliz, Emerson. Você recebeu algumas notícias chocantes esta noite e tenho certeza de que será um conforto ter seu amigo aqui.
Minha carranca se aprofunda. — Mas você não confia nele e não quer que ele vá embora. Então, por que você o deixaria vagar livremente pelo seu palácio?
— Não se preocupe, ele será observado onde quer que vá. Se ele sair da linha, eu me certificarei de que a Guilda descubra que ele sabe muito mais sobre os rebeldes Griffin do que deveria. Duvido que ele consiga manter o emprego depois disso. — Ele olha para Dash. — Parece justo?
Dash inclina a cabeça no menor dos acenos. — Perfeitamente justo, já que eu planejo estar no meu melhor comportamento, Real Principesco.
Um músculo na mandíbula de Roarke se contrai, mas, felizmente, ele decide não retaliar a última parte. — Mais importante, minha querida Emerson, — continua ele, virando para mim, — eu gostaria de mostrar a você que eu me importo com a sua felicidade. Se isso significa tratar seu amigo guardião como convidado em vez de prisioneiro, então eu faço.
Eu ainda não sei se acredito nele, mas acho que vou descobrir nos próximos dias. — Tudo bem, — eu digo com cautela. — Obrigada.
— Vamos voltar para o baile agora. Afaste sua tristeza, meu amor, e junte-se à alegria. Você logo se sentirá melhor.
Eu duvido que isso seja verdade, mas também duvido que tenha escolha. Eu acho que o meu pedido para sair da festa, subir na cama e puxar as cobertas sobre a minha cabeça não iria cair bem. Então eu sigo Roarke para fora da sala e de volta para a festa. Eu respiro profundamente e pressiono meus lábios para evitar que estremeçam. Eu tomo a primeira bebida que é oferecida e de uma só vez, esperando que o liquido seja suficiente para entorpecer meus sentidos pelo resto da noite.
Quando está perto da meia-noite e minha Habilidade Griffin vem à tona, eu digo às palavras que fui obrigada a dizer. Ninguém me ouve em meio ao barulho, mas todos gritam oohs e aahs em admiração aos seis arco-íris que se formam um após o outro do outro lado da sala, como se marcassem os doze pontos de um gigantesco relógio colorido. Eu gostaria de poder experimentar um pouco da admiração deles com a visão do que minha própria magia produziu, mas parece que as várias bebidas que eu consumi estão fazendo seu trabalho: eu não sinto mais nada.
Capítulo 13
QUANDO CLARINA ME ACORDA NA MANHÃ SEGUINTE, SINTO QUE alguém enfiou uma estaca no meu globo ocular. E uma chave de fenda no outro olho. Alguém deve ter também aumentado o brilho do sol; Eu só posso abrir meus olhos por cerca de meio segundo antes de ter que fechá-los novamente.
— Seu almoço está na sala de estar, minha senhora, — diz Clarina. — Todos estão comendo sozinhos hoje, conforme alguns ainda estão se recuperando da noite passada.
— Almoço? — Eu pergunto com uma voz rouca.
— Sim, é quase meio-dia, minha senhora. — Seus passos se aproximam e ela acrescenta, — A bebida ao lado de sua cama aliviará sua dor de cabeça.
Eu levanto lentamente e olho para o copo de cristal com um líquido claro. Quase pergunto como ela sabe sobre minha dor de cabeça, mas suponho que ela esteja aqui há tempo suficiente para ter plena consciência das muitas ressacas que se seguem de um evento como o baile da noite anterior.
— Sua piscina está cheia, — acrescenta ela.
— Obrigada. — Eu balanço minhas pernas sobre a borda da cama e olho para o chão por um tempo enquanto meu cérebro percorre os eventos da noite anterior. Eu lembro que Dash está aqui agora. Eu lembro que Chelsea e Georgia estão ... mortas.
Eu pego o copo e meus olhos caem sobre a roupa que Clarina escolheu para mim hoje, pendurada do lado de fora do guarda-roupa. Um casaco do tipo trespassado, na cor água-marinha com padrões de branco, verde e malva. As comemorações do aniversário da rainha continuam com um chá nos jardins esta tarde, então Clarina foi obviamente instruída a escolher algo apropriadamente festivo para mim. É bonito, mas não parece certo usar algo tão... vivo.
— Clarina? — Eu chamo, esperando que ela ainda esteja na sala ao lado.
— Sim, Lady Emerson? — Ela corre de volta para o quarto.
— Tudo bem se você escolher uma roupa preta para mim hoje? Ou cinza, talvez, se preto for deprimente demais para o chá da rainha?
— Hum, certamente, minha senhora. Isso deve estar bem. Eu acredito que há uma roupa na cor carvão com detalhes bordados de prata. Deve servir?
— Sim, obrigada.
Não sinto qualquer tipo de profunda tristeza pela perda de Chelsea e de Georgia. Eu ainda estou chocada, mal conseguindo acreditar que elas se foram, mas sei que não houve nenhum amor perdido entre nós. Ainda assim, parece errado simplesmente seguir em frente com a vida e esquecê-las. Eu preciso fazer alguma coisa, e se usar preto ou cinza é a única coisa que resta para mim, então é o que vou fazer.
***
A mistura no copo funciona notavelmente rápido, e minha dor de cabeça logo desaparece. Embora eu gostasse de mergulhar na piscina de bolhas roxas por muito mais tempo, eu provavelmente devo descobrir onde Dash está e ter certeza de que ele não se meteu em problemas.
Depois de me secar e me vestir, fecho os botões da minha roupa cor de carvão e ando descalço através da minha sala de estar em busca de um pouco de comida. Eu escolho o sanduíche mais normal e volto para o meu quarto para escolher um par de sapatos.
Ao ver uma figura sentada na beira da minha cama, eu congelo. Ele vira a cabeça - e percebo que é Dash.
— Caramba, Dash. Você está tentando me dar um ataque cardíaco? Como você chegou aqui?
Ele gesticula por cima do ombro para a janela onde a cortina ondula suavemente com a brisa morna. — Sua janela estava aberta. Eu subi por ela.
Eu quero dizer a ele que ele é tão ruim quanto eu, subindo pelas paredes do palácio, mas estou com medo de que alguém importante descubra que ele está no meu quarto. — Você não pode estar aqui, — eu sussurro. — Se Roarke ou o pai dele te encontrarem no meu quarto, de todos os lugares —
— Ninguém me viu, não se preocupe. Eu não saí do meu quarto pela porta, então qualquer um observando vai assumir que eu ainda estou lá dentro. E achei seu quarto com bastante facilidade. Não tive que procurar por muitos outros.
— Dash!
— O quê?
— E quem pode estar ouvindo agora? — Eu assobio.
Dash franze a testa. — Você está brincando certo?
Eu balanço minha cabeça. — Há olhos e ouvidos em todos os lugares.
— Sim, mas no seu quarto? Isso é passar dos limites.
Eu me aproximo mais dele e abaixo minha voz ainda mais. — Depois de tudo que você me falou sobre essas pessoas, você realmente quer que eu acredite que há limites que eles não passaram?
Dash hesita. — Verdade.
— Quero dizer, eu não sei ao certo se alguém está ouvindo, mas Aurora me disse para ter cuidado com o que eu digo, não importa onde eu esteja.
Dash levanta o dedo para os lábios, indicando que eu deveria permanecer em silêncio. Ele começa a andar devagar pelo quarto, olhando, ouvindo, às vezes até cheirando. — A única outra magia que eu posso sentir neste quarto está vindo da sua cama, — ele sussurra. — O que é totalmente inapropriado, se você perguntar —
O edredom se move, uma forma desliza em direção à borda e um gato preto aterrissa no chão.
— Oh, — Dash diz, sua voz não mais que um sussurro. — É o Bandit?
Eu abro meus braços e Bandit pula para cima, mudando para um pássaro para ajudá-lo a ganhar altitude, e pousando em meus braços como um gato mais uma vez. — Sim. — Eu o abraço junto ao meu peito. — Eu queria que ele ficasse no — hum, onde estava seguro. Mas ele deve ter vindo comigo em uma forma pequena demais para eu notar.
Dash sorri e se aproxima para poder acariciar Bandit atrás das orelhas. — Jack ficará aliviado. Ele está muito preocupado com Bandit.
— Então você não acha que alguém está ouvindo? — Eu pergunto.
— Eu acho que não, mas mesmo que alguém esteja ouvindo, e daí? Não é como se eu estivesse agindo de forma inadequada em relação à futura princesa. Você e eu estamos apenas conversando. Se você preferir, podemos conversar na sua sala de estar, em vez de no seu quarto.
Eu reviro meus olhos. — Como se isso fizesse alguma diferença. Você ainda teria que explicar como passou pelos guardas do lado de fora da minha porta. E subir pela janela faz você parecer muito suspeito.
Ele solta um suspiro e senta-se na beira da cama novamente. — Eu só pensei que você poderia querer saber sobre... você sabe. O funeral.
O funeral.
Chelsea e Georgia.
Mortas.
— Você estava lá? — Eu pergunto.
Dash acena com a cabeça. — Sim. Você pode ou não lembrar que algumas das pessoas em Stanmeade eram realmente minhas amigas. Não amigos verdadeiros, é claro, já que eu nunca poderia ser totalmente honesta com ninguém, mas ... sim. Tenho amigos lá e senti que deveria estar no funeral. Só para apoiar alguém que fosse amigo da Georgia.
Eu aceno e murmuro, — Claro. Sim. Ainda não consigo acreditar que ela e Chelsea se foram. Elas sempre estavam lá, sabe? Minha horrível prima e tia de quem eu não podia esperar para fugir. Então eu finalmente consegui fugir, e agora ... — Eu balanço minha cabeça. Agora, porque Ada estava atrás de mim, ambos estão mortas. Dash pode tentar me convencer de que eu não deveria me culpar, mas sei que sou responsável. Indiretamente, talvez, mas ainda responsável.
Eu deixo Bandit pular para fora dos meus braços antes de caminhar até a cadeira no canto do meu quarto. É o tipo de cadeira elegante que ninguém quer realmente sentar - uma armação de madeira excessivamente embelezada com almofadas duras demais para serem confortáveis. No entanto, eu sento na borda e pigarreio. — Era, hum, havia muitas pessoas lá? No funeral?
— Sim. Quase todo mundo na cidade estava lá. Eu acho que Chelsea conhecia muita gente, já que ela administrava um dos únicos salões em Stanmeade.
Eu franzo a testa. — Ela era uma grande fã em espalhar fofocas e rumores e eu teria pensado que haveria muitas pessoas que não gostavam dela.
— Bem, você não precisa gostar de alguém para ir ao funeral.
Eu olho para ele. — As pessoas falaram coisas horríveis?
— Não. Apenas coisas boas foram ditas sobre ela. Sobre as duas. Foi tudo muito ... — Ele esfrega a mão no rosto. — Muito estranho. Muito trágico, por um lado, e ainda assim muito falso ouvir todas aquelas homenagens adoráveis sobre duas pessoas que eu testemunhei pessoalmente serem rancorosas em várias ocasiões. E parecia errado da minha parte pensar nessas coisas, mas como eu não poderia? Eu não poderia de repente transformar Chelsea e Georgia em outra coisa em minha memória só porque elas estão mortas.
— Eu ... apenas ... — Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei o que dizer ou pensar ou sentir. O que todos acham que foi a causa da morte?
— Um vazamento de gás.
— Eu suponho que a Guilda seja responsável por essa história?
— Sim. Foi à história mais fácil de inventar.
— Você acha... você sabe se ... — Eu hesito, imaginando se eu quero saber a resposta. — Elas sofreram? A magia em seus corpos as fez sofrer quando estavam morrendo?
— Eu não sei, Em. Eu sinceramente não sei. Espero que não.
Eu inclino meus cotovelos sobre meus joelhos. — Antes de você me contar o que aconteceu com elas, eu estava começando a pensar que todo esse tempo Chelsea também era uma espécie de faerie como eu e mamãe, e que os remédios herbáceos que ela fazia eram mágicos. Mas se elas continham magia, elas não teriam ajudado ninguém em Stanmeade. As pessoas teriam acabado doentes e possivelmente mortas, certo?
— Sim.
— Então Chelsea definitivamente era humana.
— Sim.
— O que significa que ela e minha mãe não podem ter sido irmãs.
Dash balança a cabeça.
— Eu me pergunto se Chelsea sabia. Eu me pergunto se minha mãe sabe, ou se ela acha que Chelsea era como ela. Alguém com magia que não pode ser acessada. — Eu esfrego meus dedos em movimentos circulares contra as minhas têmporas enquanto olho para o chão. — Eu ainda tenho muitas perguntas. Tantas lacunas na história da minha família que preciso que mamãe preencha para mim.
— Bem, espero que seu plano genial funcione e você tenha todas as respostas que procura.
Eu direciono uma careta para ele. — Isso não é apenas sobre respostas. Você sabe disso. Mesmo que mamãe não soubesse nada, eu ainda gostaria de acordá-la e curar sua mente.
— Sim, — ele diz baixinho. — Eu sei.
Eu o observo de perto por um tempo. — Por que você está aqui? Quer dizer, eu... — Eu afasto meu constrangimento conforme minhas bochechas esquentam. — Eu nunca fui legal com você. Certamente você não se importa o suficiente comigo para assumir o tipo de risco necessário para vir aqui.
Ele solta uma risada curta sem humor. — Não é uma questão de quanto eu posso ou não me importar com você. Isso não é apenas sobre você, Em. É sobre o que o Rei Unseelie vai fazer você fazer. Quantas vidas podem ser arruinadas porque você está sendo forçada a usar sua Habilidade Griffin contra sua vontade?
— Eu... eu não...
— E eu pensei que você fosse uma prisioneira aqui. Eu pensei que estava salvando você e todas as pessoas que você pode ser forçada a machucar no futuro. Eu nunca imaginei que você escolheu vir aqui. Que você se recusaria a ir embora assim que eu te encontrasse.
Eu olho para longe dele. — Eu sinto muito. Como eu disse ontem à noite, você não deveria me encontrar. Você deveria ficar longe e nunca se machucar novamente por minha causa.
— Isso nunca vai acontecer, Em. Eu não sou o tipo de pessoa para que fica sentado enquanto o Rei Unseelie põe as mãos na recente arma mais poderosa no reino das faeries. E eu não achei que você fosse o tipo de pessoa que simplesmente entregasse esse poder também.
Eu engulo a minha vergonha. — Bem, eu acho que sou, — eu digo em voz baixa, olhando para o chão. — Como quase todos os outros no mundo, estou apenas cuidando de mim mesma e das pessoas que amo. Eu não sou corajosa ou altruísta. Estou apenas fazendo o que tenho que fazer para sobreviver.
Do canto do meu olho, vejo Dash balançar a cabeça. — Você pode dizer a si mesma a mentira que quiser, mas eu sei que você é mais do que isso. Eu sei o que você fez em Stanmeade. Você parou o vidro de Ada de consumir a cidade inteira. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter mantido a localização da sua mãe em segredo e deixar aquele lugar se destruir. Mas você não fez.
— E que bem meu altruísmo fez então? — Eu exijo. — Eu dei a ela o que ela queria, mas ela parou seu ataque à cidade? Não. Eu tive que descobrir isso sozinha, e foi um acaso que a minha Habilidade Griffin apareceu no momento certo. Então, que diferença fará agora se eu me recusar a dar meu poder ao rei? Nada. Ele cometerá os mesmos atos malignos que ele planeja cometer. Pode demorar um pouco mais. — Me sinto doente com minhas próprias palavras. Eu não quero ajudar o rei a fazer nada. Mas realmente, o mundo é um lugar ruim e é assim que funciona. É assim que os dois mundos funcionam. A vida é uma merda e então você morre — assim como a velha música que Chelsea costumava ouvir às vezes. — Apenas algumas pessoas chegam a ser heróis, Dash, — digo em voz baixa. — E você pode ser uma dessas pessoas, mas eu não sou. Estou apenas tentando jogar a melhor mão das cartas que recebi.
Ele fica quieto por um momento, e tudo que consigo ver em seus olhos é tristeza. — Em algum momento, você vai perceber que isso — ele gesticula em torno dele — certamente não é sua melhor mão. Só espero que você descubra isso mais cedo do que tarde.
— E espero que você saia daqui mais cedo do que tarde. Não há necessidade de você se machucar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você sabe o que sou, certo? Machucar faz parte do trabalho.
E morrer? Eu quase pergunto. Mas eu não quero pensar nisso. Eu não quero falar sobre a morte quando ele já chegou tão perto disso. Não quando as mortes de Chelsea e Georgia ainda estão tão próximas.
— Além disso, — acrescenta ele. — Eu não acho que será tão fácil deixar este palácio como foi entrar.
Bandit pula de volta no meu colo. Eu acaricio seus pêlos negros e lustrosos e, em um esforço para desviar a conversa de assuntos tão pesados, pergunto, — Era verdade? A história que você contou a Roarke ontem à noite. Sobre entrar no palácio no lugar do empregado.
— Sim. Bem, principalmente. Não era eu que deveria vir para cá.
— Oh. — Eu olho para cima. — Quem deveria ser?
Dash me dá um olhar aguçado. — Eu prefiro não dizer o nome dela, apenas no caso. Mas eu tenho certeza que você pode descobrir, dado seu talento particular para... se ocultar.
Ah. Calla Eu concordo. — Eu acho que sei de quem você está falando.
— Teria sido muito mais fácil para ela se misturar. Mas o empregado chegou mais cedo do que o esperado para pegar o vestido no estúdio da minha mãe, então —
— Espere, sua mãe?
— Sim. Foi ela quem desenhou o seu vestido.
Minha mão continua nas costas de Bandit. — Sua mãe é Raven Rosewood?
— Sim. Eu te disse que ela é uma designer de moda, não foi?
— Sim, mas... eu nunca pensei... espera, seu sobrenome é Rosewood? — Isso não parece certo, mas agora não me lembro se eu soube o sobrenome de Dash.
— Não, é Blackhallow.
— Oh. Dash Blackhallow, — eu digo devagar, experimentando o nome.
— Dashiell Blackhallow, se formos técnicos. — Ele revira os olhos. — Muitos ls, eu sei. De qualquer forma, minha mãe ainda era Rosewood quando começou a desenhar. Esse é o nome que as pessoas a conhecem, então ela manteve.
— Então, dentre todos os designers deste mundo, a rainha acabou escolhendo sua mãe. Isso não pode ter sido uma coincidência.
Dash sorri. — Claro que não foi. Minha mãe ouviu que a Rainha Unseelie estava procurando um vestido especial. Não para ela, e nem para a filha. Os rumores sugeriam que uma nova jovem chegara ao Palácio Unseelie, e a rainha e a princesa tinham um interesse especial por ela. Normalmente minha mãe ficava longe de qualquer coisa a ver com os Unseelies, mas ela sabia que você desapareceu. Ela me contou sobre os rumores e essa ‘competição’ não oficial para desenhar o melhor vestido. Eu tinha quase certeza de que aquela garota era você, então eu disse à mamãe que um de seus vestidos tinha que ser escolhido, não importava o que acontecesse. Então nós encantamos seus desenhos. Um feitiço simples que fazia com que qualquer um que olhasse as páginas desejasse continuar voltando para elas. E funcionou. Ela foi escolhida.
Minha boca está aberta quando ele termina de falar. — Foi tão simples assim?
— Sim. E então o cara que veio pegar o vestido chegou muito cedo. Eu estava me escondendo, vendo minha mãe entregar o vestido sozinha, como ela havia sido instruída. Eu esperava que ela o mantivesse falando ou algo assim até que Ca — hum — até que nossa amiga chegasse, mas o empregado disse que ele estava com uma agenda apertada. Parecia bastante agitado por estar lá. Ele ficava olhando em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse naquele estabelecimento. Quando ele disse que sua carruagem estava encantada para dar meia-volta e sair em menos de cinco minutos, fiz a única coisa em que conseguia pensar: o fiz desmaiar e tomei o lugar dele.
— Então você pulou dentro de sua carruagem e tudo deu certo?
— Bem, eu vesti as roupas dele primeiro. E mamãe me encontrou uma peruca colorida apropriada de seus muitos recursos. E eu peguei a stylus dele e o âmbar, o que foi uma coisa boa, já que a porta da carruagem não abria até que eu segurasse a stylus contra ela, e eu estava quase sem tempo até lá. Ah, e havia dois guardas dentro da carruagem, mas eles estavam desinteressados o suficiente para que eles não notassem que meu rosto não era o mesmo do cara com quem eles estavam viajando.
— Mesmo? De jeito nenhum. Nenhum guarda é desatento aos detalhes. Eles devem ter percebido a diferença.
Dash hesita, um sorriso culpado esticando seus lábios. — Tudo bem, então eu posso ter discretamente borrifado alguma poção de contentamento quando entrei na carruagem.
— Poção?
— Minha mãe adiciona nos vestidos às vezes, a pedido de seus clientes. É estranho. Algumas dessas pessoas para quem ela desenha são super estressadas e tensas, e quando vão a esses eventos extravagantes, elas só querem relaxar um pouco. Fique contente e em paz, sabe? Eu estava com pressa, e o pequeno frasco de spray estava bem ali, então eu o peguei durante o caminho.
— E os guardas ficaram tão contentes que não perceberam que você não era o cara certo?
— Sim. Eu, talvez, tenha pulverizado um pouco demais. Felizmente, eu coloquei um escudo em volta de mim, caso contrário, eu provavelmente estaria tão contente que ainda estaria sentado naquela carruagem.
Eu pisco, incerta do que mais dizer sobre esse plano meio improvisado que realmente funcionou.
— Olha, não foi a minha operação secreta mais elegante, — admite Dash, — mas tudo correu bem. A carruagem me levou direto para o pátio do palácio e fui em direção de umas das portas. Levou um pouco de trabalho para descobrir para onde ir, mas não era nada que eu não pudesse lidar. Fingi estar um pouco tonto e confuso, elogiei uma das garotas que encontrei na cozinha e ela me mostrou para onde ir. Deixei o vestido com uma nota dizendo que o recolhimento correu bem e depois me escondi até o baile começar.
— Uau. Estou espantada por não ter dado tudo errado.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou bom em improvisar.
Minha mente recua para o início da sua história. — Então, eles — as pessoas com quem eu estava ficando — Eu não quero dizer as palavras ‘Rebeldes Griffin’ em voz alta — sabem que você está aqui?
— Sim.
Eu abaixo minha voz e me inclino para frente. — Você acha que eles virão aqui?
Dash hesita e diz em voz normal, — Não. Eles não sabem onde esse lugar fica. É por isso que um de nós precisava vir com o empregado. As Cortes Unseelie e Seelie estão escondidas, então muitas pessoas não sabem onde estão. — A maneira como ele está olhando para mim, seus olhos fixos nos meus, sugere fortemente que ele está mentindo. Também sugere que ele não está totalmente convencido de que alguém não está nos ouvindo.
— Merda, — eu sussurro para mim mesma. Os rebeldes Griffin provavelmente sabem como chegar a Corte Unseelie, e uma vez que eles perceberem que Dash não está voltando comigo, eles provavelmente virão direto para cá e farão tudo que puderem para levar nós dois. E, embora eu tenha certeza de que todos são incríveis lutadores mágicos, as chances são altas de que eles acabem feridos, mortos ou presos.
— Em? — Dash pergunta depois de vários momentos de silêncio da minha parte.
— É bom que eles não consigam encontrar este lugar, — eu digo em voz alta. Alta demais, provavelmente. Eu faço um esforço para parecer normal. — Eu sei que eles só estariam tentando ajudar, mas como eu disse a você ontem à noite, eu não estou precisando de ajuda.
Dash arqueia uma sobrancelha. — Se você não queria ajuda de ninguém, provavelmente deveria ter mencionado isso antes de fugir. Teríamos parado de trabalhar duro para descobrir o mistério que é a sua vida.
Um fragmento de culpa apunhala meu peito e gira. — Desculpe. Mas eu...
— Você pediu a nossa ajuda, lembra? Ou pelo menos ... — Linhas vincam sua testa enquanto ele a franze. — Nós oferecemos, e você disse sim. Algo parecido. Então você não pode nos culpar exatamente por investigar sua história familiar.
— Eu sei, eu só ia dizer que eu assumi que vocês iriam esquecer de mim quando eu fosse embora. Você tem muitas outras pessoas para ajudar, não é? E — espere, o que você disse sobre a história da minha família?
Ele suspira. — Nós tentamos descobrir sobre o seu pai. Como sua mãe não está acordada para esclarecer sua estranha situação, imaginamos que seu pai possa ajudar — se conseguirmos encontrá-lo. A única coisa que você mencionou sobre ele foi que ele pagou as contas médicas do hospital de sua mãe, então Chase foi lá para dar uma olhada nos registros. Ele é o único que sabe usar um computador, — acrescenta Dash com um revirar de olhos. — Ele cresceu em seu mundo, no caso de você não saber. De qualquer forma, ele disse que o arquivo de sua mãe tinha algum tipo de glamour nele. Ele podia ver os detalhes de Chelsea e todos os detalhes de sua mãe, mas qualquer coisa relacionada à pessoa que primeiro a checou e pagava todo mês estava... em branco. Os humanos que trabalham lá provavelmente veriam algo quando olhassem, mas Chase não conseguia ver nada.
— Então... ninguém estava realmente pagando por ela?
— Eu não sei. O ponto é que era um beco sem saída. Não conseguimos descobrir nada sobre o seu pai.
Meus ombros se curvam um pouco. — Está bem. É por isso que estou aqui, lembra? Esta união vai fazer a mente da minha mãe ser curada, e todas as respostas escondidas dentro dela serão finalmente desbloqueadas.
Passos atravessam a minha sala de estar. Eu agarro Bandit no meu peito e fico de pé abruptamente, bem quando Clarina para na porta. — Lady Emerson — Oh! — Ela olha fixamente para o chão. — Eu imploro seu perdão, minha senhora.
— Isso não é o que parece, — eu digo imediatamente. Eu não tenho certeza do que parece, mas não pode ser bom.
— Eu sinto muito, minha senhora. Eu bati na outra porta, mas —
— Eu não ouvi você, me desculpe.
— Eu não vou dizer nada, Lady Emerson.
— Não há nada a dizer, — asseguro com uma risada alta e ofegante. — Nós estávamos apenas conversando.
— Claro, — diz ela, balançando-se em uma breve reverência e mantendo os olhos no chão. — Por favor, me desculpe por interromper, mas o Príncipe Roarke gostaria de falar com você.
Meus dedos ficam tensos ao redor da forma de gato de Bandit. — Tudo bem. Obrigada. Onde devo encontrá-lo?
— Ele está esperando do lado de fora de seus aposentos por você, minha senhora.
— Oh. — Eu olho para Dash.
Ele sorri. — Bem, acho que vou sair do jeito que cheguei, então. Ainda bem que gosto de escalar.
Capítulo 14
EU ABRO A MINHA PORTA E ENCONTRO ROARKE DO LADO DE FORA. — Hum, bom dia. Boa tarde, quero dizer. Clarina disse que você queria conversar?
— Olá, meu amor. — Ele se inclina para frente e beija minha bochecha. Eu congelo e digo a mim mesma para não me afastar. — Você se recuperou das festividades da noite passada, eu vejo? — Ele adiciona.
Eu recuo para deixá-lo entrar. — Não há necessidade de se preocupar com o absurdo do ‘meu amor’. Ninguém mais está por perto para ouvir você, exceto Clarina.
— Oh, mas você é meu amor. — Roarke me dá um sorriso malicioso enquanto ele passa por mim para a sala. — Ou, pelo menos, eu espero que você seja um dia. — Ele acena brevemente para Clarina enquanto ela faz uma reverência e sai da sala. Ele se vira lentamente no local, olhando em volta, e quase espero que ele entre no quarto e comece a procurar por Dash. Mas então ele sorri serenamente e se senta à mesa ao lado da minha bandeja com o almoço.
E naquele momento, Bandit, que eu consegui manter escondido até agora, sai pulando do meu quarto na forma de um filhote de urso. Ele se transforma em lobo, pula no divã e voa para meus braços, pousando na forma de uma preguiça de cabelo azul. Eu permaneço imóvel, mas meu olhar pousa direto em Roarke. Pela primeira vez, ele parece totalmente sem palavras. Eu mordo meu lábio, esperando por sua resposta.
— Isso — é ... seu?
— Sim. É o Bandit. Ele veio quando você me trouxe para cá, embora ele deva ter estado em uma forma muito pequena para qualquer um de nós notar.
— Então ele esteve aqui com você — em seus aposentos — o tempo todo?
— Siiiim. — Minha voz é incerta, quase questionando. — Bem, eu não sabia que ele estava aqui nos primeiros dois ou três dias. Eu acho que ele pode ter ficado com medo do ambiente desconhecido, então ele permaneceu escondido por um tempo.
— Entendo. Que interessante.
Bandit se aconchega mais perto do meu peito e tenta enterrar a cabeça debaixo do meu braço. — Eu espero que você não desaprove, — eu digo com cuidado. — Eu gosto de tê-lo por perto. Ele... ele significa muito para mim. — O instinto me diz que eu não deveria revelar para o homem que eu ainda não confio que me importo com qualquer coisa. Ele pode optar por usar essa informação contra mim. Mas se Roarke se importa com a minha felicidade do jeito que ele alega, então ele não deve se importar com a presença de Bandit aqui.
— Bem, eu duvido que minha mãe aprovaria animais nos quartos, — Roarke diz, seu profundo olhar castanho-avermelhado fixo em Bandit, — mas ela não precisa saber. E se ela descobrir e tiver um problema com isso, lembrarei a ela como os Formattras são excepcionalmente raros e valiosos, e que se encaixaria uma princesa ter um como animal de estimação.
Eu concordo. — Legal. Obrigada. — Espero que Aurora sinta a mesma coisa e não surte quando conhecer Bandit.
— Qualquer coisa para fazê-la feliz, minha querida, — diz Roarke. — Agora, por que você não senta aqui para que possamos conversar? — Ele aponta para a cadeira ao lado dele na mesa.
— Hum, antes de conversarmos, posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Ele sorri para mim. — Minha futura esposa pode me perguntar qualquer coisa.
Eu atravesso a sala até a mesa e me sento. Eu levanto minha mão e toco o pequeno dispositivo circular atrás da minha orelha. — Eu sei que você colocou uma dessas coisas em Dash, mas e se ele conseguir tirar? E se a Guilda ou seus amigos descobrirem onde ele está e vierem atrás dele? Eu só não quero que ninguém mais interfira, lembra? — Para ser mais específica, não quero que ninguém acabe em algum calabouço Unseelie ou, pior ainda, enfrente o mesmo destino daquele homem que foi arrastado por uma caverna até o escritório do rei.
Roarke me examina de perto antes de responder. — Você realmente não tem nada a ver com o seu amigo aparecendo aqui, não é?
— O quê? Não, eu já te disse isso. Você achou que eu estava mentindo?
— Bem, eu seria um idiota em acreditar que você confia em mim. Talvez você tenha arranjado uma saída antes mesmo de chegar aqui.
— Eu não tenho. Eu disse a você que não queria que ninguém —
— Sim, eu sei. — Ele se inclina para trás. — Ainda assim, eu me perguntei se você poderia ser uma atriz muito convincente.
— Mas você não está mais se perguntando isso?
— Você ainda parece genuinamente preocupada com a possibilidade de os outros descobrirem que você está aqui. Então deixe-me tranquilizá-la, Emerson. Mesmo que alguém consiga localizar o paradeiro de Dash e, mesmo que cheguem ao local exato em que esperam encontrá-lo, não verão nenhum palácio. Somente se essa pessoa estiver na companhia de um de nossos guardas, será capaz de ver e entrar nos terrenos do palácio.
— Oh. Isso é... conveniente. — Parecido com... Não, sumiu. Eu quase consegui, uma imagem do lugar seguro pertencente aos rebeldes Griffin, mas é como tentar segurar fumaça. — Bem, me sinto melhor agora. Estou feliz que ninguém será capaz de interferir.
— Bom. — Roarke agita os dedos de uma mão pelo ar, e um pedaço de papel enrolado aparece em sua mão. — Agora, temos alguns preparativos para a cerimônia de união.
— Temos? — Eu nunca esperei ser consultada sobre os detalhes relacionados ao casamento. Eu assumi que a rainha e Aurora cuidariam de tudo isso. Como já foi dito muitas vezes, não faço ideia do que é apropriado e do que não é para eventos formais do mundo faerie.
— Você precisa memorizar os votos da união, — diz Roarke, colocando o papel sobre a mesa. — Tudo o que você precisa saber está neste pergaminho.
Eu quase comento como o uso de um pergaminho é antiquado — quero dizer, vamos lá. Certamente dobrar um pedaço de papel é mais simples e ocupa menos espaço — mas estou mais preocupada com o fato de ter que memorizar os votos. — Então, hum, eu não vou precisar repetir as palavras depois de alguém?
— Em parte dos votos, sim, mas as palavras estão em outro idioma, então você precisa praticar pronunciando-as corretamente. Há magia envolvida, então você não quer errar as palavras.
— Hum —
— E a outra parte da cerimônia são os votos privados que fazemos um ao outro sem que ninguém mais ouça. Você terá que memorizá-los.
— Oh. Por que eles são privados?
Sua expressão fica confusa. — Porque eles são apenas para os nossos ouvidos. — Por baixo da mesa, a mão dele desliza no meu joelho. — Coisas especiais e românticas que queremos dizer um ao outro.
— Oh. — Eu inclino um pouco para o lado, movendo minha perna para fora de seu alcance. — Mas... então por que precisamos dizê-las? Você e eu sabemos que não estamos entrando nessa união por nenhuma das razões tradicionais. Nós não precisamos entrar em detalhes românticos.
Se Roarke está incomodado pelo fato de eu não querer que ele toque minha perna, ele não demonstra. — Como eu disse há pouco, nossos votos envolvem magia. Nós não podemos simplesmente pular essa parte.
Eu franzo ainda mais o cenho. — Mas... tudo bem. Eu só... não entendo muito bem. Se essas palavras extras são uma parte padrão da união mágica, então por que elas são privadas? Eu realmente preciso memorizá-las?
Roarke simplesmente ri. — Emerson, é assim que a cerimônia é feita. Tem sido assim por muito tempo. Nós não podemos simplesmente mudá-la porque você não sente vontade de memorizar as palavras.
— Não é que eu não me sinta assim. — Eu enfio meu cabelo atrás das minhas orelhas. — Estou preocupada que eu possa esquecer alguma coisa ou cometer um erro. Se é tão importante acertar tudo, então, o que há de errado em repetir depois de outra pessoa ou ler as palavras de uma folha?
Roarke suspira. — Você não lerá as palavras de uma folha, Emerson. Não é assim que é feito.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu alcanço o pergaminho e puxo para mais perto. — Então, você vai me explicar o que todas essas palavras significam, ou devo recitar um absurdo que eu não entendo?
O canto da boca do Roarke se ergue. — É uma coisa boa que eu esteja te ensinando essas palavras. Qualquer outra pessoa ficaria muito ofendida.
Eu me inclino para trás e desenrolo o papel, revelando muito mais palavras estranhas do que me sinto confortável. — Aurora não ficaria ofendida.
— É verdade, mas Aurora só vai aprender as palavras particulares quando for à vez dela. Não é apropriado que ela as conheça ainda.
— Ah, mais impropriedade. — Eu solto um longo suspiro. — Eu perguntaria por que é inapropriado, já que essa é uma parte padrão de todas as cerimônias, mas você provavelmente vai me dizer ‘é assim que é feito’.
— Sim. Isso é exatamente o que eu vou te dizer. — Seus olhos enrugam nos cantos enquanto ele sorri. — Estou muito feliz em ver que você está aprendendo.
Eu me inclino para trás em minha cadeira e começo a ler os votos em voz alta, fazendo o melhor que posso com as combinações não familiares de letras. Depois de três palavras, estou ciente de que provavelmente estou massacrando o idioma faerie. Roarke espera até eu chegar ao final da primeira linha antes de me tirar da minha miséria. — Tudo bem. Eu vejo que isso vai demorar mais do que eu pensava. — Outro giro de seu pulso produz uma pena. Ele entrega para mim. — Vou pronunciar cada palavra e você pode escrever de qualquer maneira que faça sentido para você.
Nós chegamos na metade da parte pública dos votos antes de uma batida rápida nos interromper e minha porta ser aberta. — Irmã, querida! — Aurora grita para mim. — Oh, você está acordada. — Ela fica na porta e sorri. — Olha quem eu encontrei vagando pelos corredores. — Ela se aproxima e puxa Dash para aparecer.
— Eu disse que o convidei para ficar, não é? — Roarke diz para ela.
— Sim, mas eu não o vejo desde o dia em que o atordoamos no quarto de Em no reino humano. Eu não dei uma boa olhada nele naquele momento. Ele é mais bonito do que eu me lembro, — acrescenta ela com um sorriso provocante, deslizando o braço através do de Dash e puxando-o para mais perto.
— Obrigado. — Ele lhe dá um sorriso igualmente paquerador. Eu cruzo meus braços e dirijo uma carranca em sua direção, mas tudo o que ele faz quando vê minha expressão é encolher de ombros.
— Você lembra o que ele é? Roarke diz para Aurora com desaprovação em seu tom.
— Claro que eu lembro. E eu lembro, — ela acrescenta em um sussurro falso, — que é segredo.
— Nós estávamos realmente ocupados com algo antes de você tão rudemente invadir aqui, — comenta Roarke.
— Ooh, sim, memorizando os votos. Que romântico. Posso dar uma olhada?
Roarke pega a página de mim e prontamente a enrola antes que Aurora possa chegar mais perto. — Não, você não pode. Eu não quero estragar nada para você antes de chegar a sua vez.
— Como você é atencioso.
Roarke bate minha mão com o pergaminho. — Podemos tentar de novo mais tarde, minha querida prometida — quando tivermos um pouco mais de privacidade. — Ele gira o pergaminho em sua mão e ele desaparece.
— A razão por eu ter entrado aqui, — Aurora diz, — foi sugerir que todos nós descêssemos juntos para o chá. E eu queria verificar se Em ainda estava dormindo.
— Oh, já está hora? — Eu pergunto. — Eu pensei que o chá fosse mais tarde.
— Chá? — Dash pergunta.
— Sim, no caramanchão da rainha no jardim. Mamãe oferece para aqueles que ficaram aqui depois da festa.
Afasto-me da mesa e me levanto. — Esperem, eu preciso colocar os sapatos. — Aurora me acompanha até o quarto para me ajudar a selecionar sapatos apropriados. Eu coloco os chinelos prateados rapidamente, não querendo dar a Roarke e Dash nenhum segundo para acabarem brigando.
Uma vez que nós quatro estamos no corredor — com vários guardas caminhando na frente e atrás de nós — Roarke pergunta a Aurora se ele pode falar em particular com ela. Os dois seguem em frente enquanto eu ando ao lado de Dash. — Eu me pergunto como Jewel se sentiria, — eu digo a ele, — se ela soubesse o tipo de atenção que você estava recebendo da encantadora princesa Aurora.
Dash suspira. — Espero que ela entenda, considerando o fato de que tivemos uma conversa recentemente e eu disse a ela que não me sinto da mesma maneira que ela se sente.
— Oh. Hum ... bom trabalho.
— Sim. Não foi do jeito que eu esperava.
— Desculpe. Isso deve ter sido estranho. Ela ficou muito chateada?
— Na verdade, ela me convenceu a ir a um encontro com ela.
Eu quase tropeço quando olho para ele surpresa. — Sério? Você disse que não tinha sentimentos românticos por ela, e essa conversa terminou com vocês dois indo a um encontro?
Ele me dá um olhar divertido. — Há algo de errado com isso? Algo sobre a ideia de eu ir a um encontro com Jewel que a perturba, talvez?
— Não se iluda. Estou surpresa, isso é tudo. Você não parece o tipo de pessoa que deixa uma conversa tomar outro rumo.
— Eu não deixei. Eu simplesmente decidi dar a ela uma chance.
— Uma chance?
— Ela me pediu para lhe dar um encontro. Eu disse a ela que não entendia, que não queria levá-la e que tinha certeza dos meus sentimentos. Ela perguntou como eu poderia ter certeza se eu nunca dei uma chance a esses sentimentos. Então... — Ele suspira. — Eu pensei que se — e se — ela estivesse certa. Então eu concordei.
— E?
Ele olha de lado para mim quando chegamos ao fim de uma escada. — Você parece muito interessada no resultado.
— Só porque estou tentando descobrir se você realmente é o jogador que sempre achei que fosse. Se você está namorando Jewel enquanto também entretém os sentimentos de Aurora... bem, isso não é legal.
— Entretém os sentimentos de Aurora? — Ele repete. — Cara, você aprendeu alguma linguagem extravagante desde que morou com os Unseelies.
— Ah, cale a boca e me diga o que aconteceu no encontro.
— Eu não acho que posso calar a boca e dizer algo ao mesmo tempo.
Eu cruzo meus braços no meu peito. — Dash.
— Bem. Foi estranho. Realmente estranho. Passei a noite toda com medo de que ela tentasse me beijar no final e pensar que seria exatamente como beijar uma —
— irmã?
— Sim. E isso é errado. Então, antes que isso acontecesse, eu disse gentilmente a ela que isso nunca iria funcionar.
— Tudo bem. — Chegamos à outra grande escadaria que leva a outro grande corredor. — Bem, eu estou feliz que você não a enrolou durante todo esse tempo.
— Claro que não. Eu sou realmente um cara decente, lembra? — Ele abaixa a voz. — Ao contrário do príncipe com quem você escolheu tolamente se casar.
— Eu não o escolhi. Não é assim, de qualquer maneira. Eu escolhi este acordo e ele faz parte disso. E você não o conhece. Eu acho que ele pode ser mais decente do que você pensa.
Dash bufa. — Certo. Tanto faz o que você diz.
Eu fecho meus olhos por um momento e suspiro. — Podemos, por favor, não discutir mais sobre isso?
— Certo. Diga-me então: como você tem preenchido seu tempo nas últimas duas semanas e meia? Tem sido tudo festas e chás com a rainha e esperar sua criada pessoal?
— Sim, tem sido uma perfeição absoluta, — digo secamente. — Eu esperei a minha vida inteira para que alguém escolha minhas roupas, prepare meu banho, faça minha cama e prepare minha comida.
Dash aperta os olhos para mim. — Sério?
— Não! Eu não aguento isso. Eu sou perfeitamente capaz de fazer todas essas coisas sozinha.
— Olha, você teve uma vida ruim com a Chelsea, — Dash diz, levantando as mãos em defesa, — então me perdoe por pensar que você realmente gostaria de ter alguém fazendo todo o trabalho duro.
— Eu não quero. É estranho. E eu não passei todo o meu tempo em festas e chás, na verdade. Aurora tem me ensinado muita magia básica, junto com alguns de seus hobbies, como arco e flecha e montar em dragão.
Quando chegamos a uma porta larga que leva ao exterior ensolarado, Dash para. Ele olha mais de perto para mim. — Montar em dragão?
— Vocês dois podem esperar aqui? — Aurora pergunta. — Roarke precisa me mostrar algo rapidamente.
— Sim, tudo bem, — Eu respondo.
Eles desaparecem em um corredor e Dash se vira para mim novamente. — Você disse montar em um dragão?
— Eu disse.
— Sério? Então você é uma cavaleira de dragões agora, assim como uma futura princesa Unseelie?
— Ainda não, mas gostaria de ser. Há algo de errado com isso?
— Não, é só... — Ele balança a cabeça. — Eu sinto que eu realmente não te conheço mais. Você não está aqui há muito tempo e já mudou.
Suas palavras machucam mais do que eu poderia imaginar ser possível. — Mudou? O que você quer dizer?
— Bem, você... você aprendeu muito em pouco tempo. E você parece —
— Eu pareço?
— Como se pertencesse aqui.
Eu descarto suas palavras com um aceno casual, esperando que ele não tenha notado o quão profundamente elas me cortaram. — É apenas roupa.
— É? A maneira como você se portava na noite passada, na plataforma e enquanto dançava... você parecia a princesa que as pessoas esperam que você se torne.
Eu puxo meus ombros para trás um pouco, ignorando a dor no meu peito. — Bom. Pelo menos eu sei que estou fazendo bem a minha parte.
A expressão de Dash suaviza um pouquinho. — Contanto que seja apenas do lado de fora...
— É claro que é apenas do —
— Tudo bem, vocês estão prontos? — Aurora grita quando ela e Roarke reaparecem. — Vamos aparecer a este chá antes de chatearmos a mamãe com nosso atraso. E você — ela acrescenta, olhando para Dash — eu vou apresentar como um amigo meu. Por favor, não contradiga qualquer história que eu decidir contar.
— Oh, hum... — Dash para quando Aurora tenta nos levar para frente. — Eu estava pensando, — diz ele, — que talvez seja melhor se eu não participar dessa coisa de chá. Se minhas mangas subirem demais, e se a maquiagem sair dos meus pulsos, sua mãe pode ver minhas marcas. Ela vai saber o que eu sou.
— Isso é possível, — Aurora admite, — mas se você não vier ao chá, você quase certamente acabará perambulando pelo palácio por conta própria e corre o risco de inventar todos os tipos de travessuras.
Ele dá um sorriso malicioso. — E se eu prometer ficar no meu quarto como um bom menino? Se alguém perguntar sobre mim — o que duvido que alguém faça, já que ninguém me conhece — você pode dizer que não estou me sentindo bem.
— Se nós pudéssemos confiar em você sobre manter sua palavra, — Roarke diz, — e não sair do seu quarto para tentar desenterrar informações que possam ser úteis para a sua Guilda, então certamente. Estaria tudo bem. — O olhar de Roarke se move brevemente para o meu antes de se fixar em Dash. — Mas não confiamos em você. Mesmo que eu tenha postado guardas à sua porta, você pode sair pela sua janela.
Meus braços ficam tensos ao meu lado. Ele não pode estar insinuando que ele sabe que Dash entrou no meu quarto mais cedo, pode? Improvável. Ele teria ficado zangado quando ele entrou no meu quarto se ele tivesse acabado de descobrir que Clarina encontrou Dash no meu quarto.
— Sair pela janela, — diz Dash, uma expressão pensativa no rosto. — Agora tenho uma ideia. Eu posso ter que tentar depois que todos forem dormir. Eu não tinha pensado em tentar desenterrar qualquer informação útil — Em foi à única razão pela qual eu vim até aqui — mas agora que você mencionou isso, estou definitivamente desperdiçando uma valiosa oportunidade em não fazer mais para descobrir que tipos de leis você Unseelies estão quebrando descaradamente.
O sorriso plácido de Roarke nunca deixa seu rosto. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta das minhas costas. — Como você disse, Emerson é a única razão pela qual você veio aqui. Se você é de fato um verdadeiro amigo para ela, você se concentrará em confortá-la durante este período difícil, em vez de pensar em maneiras de derrubar sua futura família. — Seu polegar esfrega para cima e para baixo contra o meu braço, um gesto que provavelmente deveria ser carinhoso e terno, mas que de alguma forma parece ameaçador.
Dash olha a mão de Roarke no meu braço por um momento antes de levantar o olhar. Então seus olhos se estreitam enquanto ele se concentra em algo atrás de mim. Eu olho por cima do meu ombro. Uma mulher vestida de marrom escuro atravessa o corredor com passos tranquilos e confiantes. Ela faz uma pausa por um momento para nos olhar. Talvez seja a maneira como as sombras caem sobre seu rosto, mas seus olhos parecem completamente negros. Ela inclina a cabeça e manda um sorriso conhecedor em nossa direção, revelando dentes pontiagudos atrás de seus lábios vermelhos e cheios. Ela se vira e vai até a escada, deixando uma brisa fria de ar em seu rastro.