Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.
CONTINUA
Dionísio fez o mesmo trajeto de mais cedo, quando peguei Valentina para o baile, e, apesar de ter menos movimento de carro do que naquele horário, pareceu levar mais tempo até que chegássemos ao hotel.
A tal da teoria da relatividade!
Eu estava com pressa, desesperado, na verdade, com medo de chegar lá e a irritante cozinheira já ter ido embora e, assim, perder minha oportunidade.
Oportunidade!, pensei quando entrei praticamente correndo no hotel e segui para o salão. Ainda precisava criar a oportunidade de encontrá-la. Não poderia apenas invadir a cozinha, pegá-la pelo braço e sair a arrastando até meu carro para fodê-la como um adolescente no banco de trás.
Bem que eu queria isso, mas não dava por motivos óbvios!
Fiquei surpreso por encontrar o baile ainda cheio e as pessoas animadas, dançando e bebendo, mesmo àquela hora da madrugada. Fui direto à mesa dos Villazzas, mas o filho da mãe do Frank não estava lá.
Xinguei e passei a andar quase empurrando as pessoas, olhando rosto por rosto como um louco, à procura do carcamano.
Encontrei-o no bar, entre seu cunhado, Nicholas, e seu irmão, Tony.
— Theo! — ele me chamou assim que me viu. — Estamos aqui conversando sobre...
— Preciso de um favor — disparei.
— Madonna Santa, alguém está morrendo no meu baile?
Tony disfarçou uma risada e puxou Nick para nos deixar a sós, pois percebeu que eu pareci um tanto – na verdade muito – apressado. Fiz uma nota mental para agradecer à percepção e ajuda dele.
— Não, mas preciso de um favor urgente!
Frank sorriu maliciosamente.
— Ah... una donna! — Riu. — A última vez em que te vi assim, parecendo um lobo mau faminto, foi naquela boate há... — ele pareceu fazer as contas — nove anos?
— Quase isso — respondi apressado. — Eu preciso entrar na cozinha do hotel.
Frank não disfarçou seu espanto; franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Está bêbado? — Riu. — O que você quer na cozinha, stronzo?
— Duda Hill.
Frank deixou de rir e arregalou os olhos.
— A souschef do Angelot? — Assenti. — Como foi isso? A mulher apareceu por cinco minutos e te deixou assim? — Frank cruzou os braços. — Cadê a futura senhora Karamanlis?
— O quê? Do que você está falando?
— Valentina de Sá e Campos. Millos me disse que...
Eu vou matar meu primo!, pensei.
— Millos não sabe o que diz — interrompi-o. — Vai ou não me pôr dentro da cozinha?
— Sabe que vai ficar me devendo, não sabe?
— Vaffanculo, Frank!
O carcamano gargalhou do meu xingamento em italiano.
Seguimos juntos por entre os convidados, passamos por uma porta lateral, e um extenso corredor nos levou até a entrada da cozinha, com sua porta vai e vem dupla com a parte superior toda em vidro.
Antes mesmo de entrar, tive uma visão que não me agradou em nada. Duda estava conversando com Emílio Riccelli, o chef do restaurante do Villazza SP, toda simpática, com um sorriso que nunca dedicou a mim. Quer dizer, apenas uma vez, quando não sabíamos quem erámos, quando a atração se manifestou no bar daquele restaurante.
Entrei logo atrás do Frank e aproveitei o burburinho que se formou pela entrada dele para encarar, sem nenhum pudor, minha caça.
Ela me viu, retornou meu olhar. Ficamos assim por alguns minutos, então decidi atacar. Nunca fui homem de protelar o que quero fazer, e, nesta noite, eu a quero!
Porém, antes de me aproximar, o francês baixinho interferiu de novo em meus planos, mas dessa vez me deu a opção de reformulá-los a tempo. Ela negou a carona que ele lhe ofereceu e disse que ia de Uber.
Não pensei duas vezes, saí da cozinha sem falar nada com o Frank, mas logo o senti vindo atrás de mim, correndo e rindo.
— Foi ignorado! — debochou. — Lembre-me de marcar esse dia para comemorar todos os anos.
— Ainda não acabou, Frank. — Mandei mensagem para o Dionísio me esperar perto da saída dos funcionários. — Essa mulher vai ser minha!
— Cazzo, Theo, nunca te vi assim! — parei ao ouvir isso. — Quem é ela, afinal?
— Sabe o imóvel da Vila Madalena?
Ele assentiu.
— Aquele que seu pai me ofereceu para construir o Villazza SP?
— Esse mesmo! — Recomecei a andar, e Frank me seguiu. — Lembra que tinha um boteco que...
— Figlio di puttana! — Gargalhou. — Hill, o sobrenome do pub que fica lá! Dio Santo, é assim que você pretende comprar? Comendo a dona?
— Não, porra! — Respirei fundo. — Isso não tem nada a ver com os negócios!
Frank abriu um enorme sorriso e parou de me seguir para fora do hotel.
— Se é assim, boa sorte em sua caçada!
Agradeci-lhe e praticamente corri para fora, enquanto ele retornava para o salão. Entrei no carro, pedi ao Dionísio que esperasse um pouco mais afastado da porta e aguardei.
Assim que Maria Eduarda apareceu, pedi a ele que fosse até ela e me preparei para a sedução. Até agora acho que estou sendo bem-sucedido, embora ela ainda não tenha entrado no maldito carro.
— E então? — pergunto a ela ainda segurando a porta.
— Não quero te desviar do seu caminho e...
— Entra no carro, Maria Eduarda! — Perco a paciência. — Vou te levar! Mesmo que você morasse do outro lado da cidade, você iria comigo.
Ela respira fundo e guarda o celular na pequena valise que segura.
— Uma trégua? — Concordo, já com um sorriso vitorioso. — Eu moro...
— Em cima do seu bar, eu sei. — Chego para o lado, e ela entra.
— Sim. Obrigada pela carona.
Ah, que vontade de a puxar para mim e provar essa boca gostosa!
— Não precisa agradecer, na verdade, sou eu quem agradece. — Ela franze as sobrancelhas, sem entender. — O jantar estava maravilhoso, parabéns!
Ela fica levemente vermelha, e meu pau se contorce na calça.
— Thierry é um gênio na cozinha e...
— Tenho certeza de que você o auxiliou divinamente. — Ofereço água, apontando para o cooler, mas ela nega. — Conheço o trabalho de um souschef, sei que o trabalho duro foi executado por você nessa função. — Ela sorri, ficando ainda mais linda. — Não tire seu mérito, apenas agradeça o elogio.
Duda ergue uma de suas sobrancelhas.
— Obrigada, então.
— Isso. — Encaro-a. — Você fica linda com os cabelos assim.
Duda toca seu coque bem no alto da cabeça e confere a faixa de tecido cheia de pimentinhas que tem amarrada acima da testa.
— Saí tão apressada que esqueci de tirar. — Começa a desamarrá-la. — A verdade é que não via a hora de chegar em casa e...
Ela para de falar assim que sente meus dedos entre os seus. Afasto suas mãos e retiro a bandana, colocando-a em seu colo, antes de tentar descobrir como soltar seus cabelos. Seus fios são finos e sedosos, mesmo depois de horas dentro de uma cozinha. Claro que não consigo mais sentir seu perfume gostoso, mas os aromas que se desprendem dela são tão complementares a quem ela é que só fazem aguçar meu tesão.
Sinto algo metálico e puxo os grampos, observando as longas madeixas castanhas caírem sobre seus ombros.
— Linda! — declaro deslizando os dedos pelas mechas. — Você fica linda de qualquer jeito.
— Eu estou cheirando a...
Aproximo-me e a cheiro audivelmente, como um predador cheiraria sua presa, ou um homem faminto, a sua comida.
— Você está deliciosa — falo baixinho.
— Theo, eu não acho que a gente deveria ir por esse caminho — sua voz está rouca e levemente ofegante ao dizer isso.
— Eu discordo. — Ela suspira e fecha os olhos. — Esse é o caminho natural desde a primeira vez em que nos encontramos.
Aproximo-me, porém, infelizmente, sinto o carro parar.
Ela abre os olhos e olha para fora, vendo o enorme nome de seu bar na fachada e as janelas de seu apartamento. O bar já está fechado, mas uma luz na porta ao lado do estabelecimento se encontra acesa como se esperasse por ela.
— Obrigada pela carona.
Afasta-se rapidamente e pega sua bolsa, saindo do carro sem nem mesmo esperar pelo Dionísio.
Ah, não!
Não penso duas vezes, saio do carro também e a alcanço na calcada.
— Vou acompanhá-la até a porta. Pode ser perigoso a essa hora, aqui é meio deserto.
Duda ri da minha desculpa esfarrapada.
— Faço isso todos os dias. — Procura suas chaves na bolsa. — Até mais tarde em algumas noites.
— Eu imagino. Mas você esqueceu algo lá no carro.
Ela para de procurar as chaves e me encara.
— O quê?
— Me desejar boa noite. — Sorrio sem vergonha. — Apenas agradeceu pela carona.
Ela balança a cabeça, bochechas vermelhas, e tira algo da bolsa.
— Ah, finalmente! — Ergue o chaveiro. — Boa noite, Theodoros!
— Boa noite, Maria Eduarda! — Aproximo-me. — Não mereço um beijo de boa noite também?
Sua sobrancelha se ergue de novo.
— Não está um pouco velho para isso? — provoca-me.
— Você acha que estou? — falo bem perto de seu ouvido. — Garanto que não!
Ela aproveita que estou com o rosto um pouco de lado e dá um beijinho em minha bochecha, mas me viro rapidamente, ficando de frente para ela, rosto a rosto, narizes praticamente se tocando.
— Não vou roubar, Duda — aviso. — Estou louco para te beijar, mas não vou roubar.
— Não precisa... — ela sussurra sem fôlego, e eu não resisto mais.
Seguro-a pela nuca, apertando-a contra mim e devoro sua boca com todo o tesão que está represado dentro de mim desde que nos conhecemos. Ela se agarra em meus ombros, e eu a esmago contra a porta de sua casa, pressionando-me contra ela, gemendo enquanto saboreio seus lábios e chupo sua língua.
Sinto um tremor nos músculos, um formigamento muito prazeroso que percorre meu ventre e se concentra no meu pau, enrijecendo-o de tal forma que chega a doer. Meu corpo esquenta, a sensação de seus lábios sob os meus, meus dedos com seus cabelos sedosos emaranhados entre eles, o contorno de suas curvas ficando marcado em mim.
O beijo me consome. É algo pelo qual estava esperando, mas, ao mesmo tempo, completamente inesperado. Eu sabia que seria desesperado, desenfreado, mas não poderia prever que me daria vontade de me fundir a ela, esquecendo onde estou e, principalmente, que temos um expectador.
Foda-se!
Minhas mãos vão até seus quadris e apertam forte sua bunda dura, erguendo-a levemente para que possa sentir em sua boceta o quanto me deixa louco. O encaixe é perfeito, e ela abraça meus quadris com suas pernas, gemendo em minha boca quando rebolo devagar, moendo meu corpo contra o seu, desejoso que as roupas sumam em um passe de mágica para que eu possa me enterrar dentro dela, sentindo a quentura e a umidade de seu sexo.
Arrasto meus lábios com força pelo seu queixo, arranhando-a com minha barba, sigo em direção ao seu pescoço, dando mordidas de leve em sua pele, sentindo o perfume ao longe.
— Ai, meu Deus! — Ela fica rija, e eu sei que, infelizmente, abriu os olhos e se lembrou do Dionísio.
Porra!
Tento me acalmar e a solto devagar, sem nunca desviar meus olhos dos seus.
— Isso é loucura! — ela diz totalmente constrangida. — Estamos no meio da rua e...
— Quando você está perto, não importa o lugar... — Aperto-me contra ela devagar para que sinta. — Estou sempre assim. — Maria Eduarda fecha os olhos e geme. Sinto vontade de mandar Dionísio embora e pedir a ela que me deixe subir, mas, antes que eu possa lhe fazer a proposta, ela respira fundo e me empurra de leve.
— Boa noite, Theo. — Enfia a chave na fechadura e a abre. — Obrigada pela carona mais uma vez.
Fico parado na soleira muito tempo depois de ela ter entrado e batido a porta na minha cara, tentando acalmar meu corpo e baixar a temperatura do meu tesão.
Caminho apressado para o carro e bufo, abrindo o cooler à procura do meu uísque.
— Para casa, chefe? — Dionísio me indaga.
— Infelizmente, Dio! — respondo e bebo uma golada – na garrafa mesmo – do meu scotch e juro que ouço meu motorista rir baixinho do meu tormento.
Esses primeiros dias do ano estão demorando demais para acabar, embora já seja sexta-feira. A cada vez que olho para o relógio, sinto as horas irem morosas como todos os funcionários da empresa. O ano novo mal começou, e eu, além de ter dormido com as bolas doendo naquela primeira noite, ainda tive que enfrentar esta semana de merda na Karamanlis sem o Millos.
Respiro fundo.
Tudo bem, devo estar exagerando um pouco, afinal, precisava de alguém para conversar e, tirando meu primo, ninguém dentro desta porra é capaz de ter um só pingo da minha confiança, pelo menos não fora dos negócios. Eu me sinto enjaulado, nervoso, ando de um lado para o outro e estou deixando Rômulo mais tenso, fazendo suas mãos suarem mais do que o normal.
Penso na virada do ano, que não tinha altas expectativas para o baile dos Villazzas, não depois de eu ter saído com Valentina e percebido que não havia química entre nós. Achei que seria algo monótono, que iria beber, comer e desfrutar de uma conversa agradável, nada mais do que isso.
Então ter visto Duda no final daquele leilão foi algo que tirou tudo dos eixos e bagunçou minha ordem. Agi por impulso, feito um adolescente no cio, obrigando Frank a participar dos meus esquemas, encurralando a irascível cozinheira na porta de sua casa, quase trepando em público, esquecendo-me de tudo, menos do poder que ela tem sobre meu corpo.
Mais uma vez chamo a atenção do Rômulo ao respirar fundo.
Há muitos anos uma mulher não tem tamanho poder sobre meu desejo. É empolgante e, ao mesmo tempo, assustador. Maria Eduarda Hill é a dona do meu tesão e, enquanto eu não o satisfizer, continuará sendo. Preciso tirar isso da cabeça, e o único modo é passar uma noite inteira trepando como um louco, gozar com ela até esvaziar as bolas e seguir com meus planos.
Não dá para protelar mais!
Liguei para o pappoús em Kifissia, bairro onde fica sua mansão no subúrbio de Atenas, e foi tio Stavros quem atendeu. O caçula dos filhos Karamanlis atualmente mora com Geórgios, depois de passar pelo quarto relacionamento amoroso. São quatro ex-esposas exigindo seu sangue em euros e 10 filhos para suprir, inclusive um bebê de poucos meses.
Apesar de trabalhar na sede da Karamanlis em Atenas, ele nunca se ocupou realmente dos negócios, indo para a empresa para fazer hora, fingir que trabalha e voltar para casa. Tio Stavros foi meu primeiro chefe, quando comecei a aprender o trabalho, antes mesmo de ir para os Estados Unidos fazer o college.
Se eu dependesse dele, até hoje não saberia o mínimo sobre finanças e como funciona o mercado financeiro, tão importante para a negociação de imóveis do porte dos com os quais trabalhamos.
Durante o telefonema, conversei com ele o suficiente para saber que meu avô não está tão forte quanto no ano passado. O doutor Pachalakis, seu médico desde que posso me lembrar, tem lhe feito visitas semanais, enquanto o velho vem diminuindo, a cada dia, as idas para a empresa, deixando tudo nas mãos de tio Vasillis.
Era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal, o patriarca dos Karamanlis já está prestes a completar 90 anos de idade. Sempre quisemos que se aposentasse, fosse morar em algum local mais tranquilo do que a capital e descansasse; nunca concordou e ainda nos acusava de tentar tomar seu lugar na empresa.
Ano passado, em seu aniversário de 89 anos, a única coisa que me pediu foi um bisneto, um homem para continuar o legado da família, algo tão importante para ele, mesmo já tendo muitos filhos e netos.
São sete herdeiros ao todo entre homens e mulheres. Nikkós, meu pai, é o segundo mais velho, pois tio Geórgios II morreu no auge da juventude, aos 20 anos, vítima de uma doença gravíssima que o matou meses depois de seu diagnóstico.
Meu pai nunca teve nem de perto a responsabilidade e o tino para os negócios que meu tio mais velho aparentava ter. Mesmo com pouca idade, vovô já via muito de si mesmo em seu primogênito. Eu nasci exatamente dois anos depois da morte de Geórgios e, segundo meus avós, era muito parecido com meu falecido tio.
Fui moldado desde pequeno para ser parecido com ele. Millos sempre brinca comigo dizendo que sou o substituto de pappoús, pois nenhum de seus outros filhos chegaram aos pés da perfeição do primeiro. Houve uma época em que isso me incomodou, essa sombra constante sobre mim. Eu queria ser eu mesmo, queria ser livre como os outros eram.
Só causei mágoa alimentando essa vontade!
Percebi, então, que o caminho certo era o que meu avô me apontava e, por isso, nunca mais discordei de suas decisões sobre meu futuro. Agora, é a hora de dar a ele a única coisa que me pediu. Não posso decepcioná-lo, e essa situação com Maria Eduarda está interferindo demais nos meus planos.
— Rômulo — chamo meu assistente. — Encomende duas dúzias de rosas colombianas vermelhas em algum arranjo elegante e caro.
O homem não disfarça o assombro, mas anota correndo meu pedido.
— Mas alguma coisa? — indaga já com o telefone na mão.
— Não, ela vai saber que fui eu. — Vou até ele e lhe entrego o endereço de Valentina.
Quase próximo ao horário de ir para casa, depois de passar o dia inteiro em uma reunião com uns empresários de fora do país que estão à procura de imóvel para instalação de uma cervejaria espanhola – claro que pensei no Millos, afinal, não entendo nada de cerveja –, pego um recado em minha mesa.
Sorrio ao ler a letra de Rômulo informando que Valentina Campos ligou. Eu sabia que ela iria descobrir o remetente das rosas. Pego o celular e ligo para ela, mas não atende, e volto para minha mesa, terminando de ler um relatório geral enviado da Grécia.
Quase uma hora depois, meu telefone toca. É Viviane.
— Boa noite! — saúda-me. — Ainda no escritório?
— Sempre, né? — Rio. — Novidades?
— Sim! Recebemos uma oferta de exposição do Valente. — Seguro o fôlego ao pensar no artista mais novo com o qual estamos trabalhando. — Theo, as peças dele...
— Você as mostrou a alguém?
— Então... — Ri sem jeito. — Foi quase sem querer! Eu trepei com um mecenas no Ano Novo, e ele acabou vendo umas fotos no meu celular.
— Sério? — A conversa não me convence. — Ele “acabou vendo”?
Viviane dá uma gargalhada um tanto nervosa.
— Estávamos tirando umas fotos, e, quando fui deletar na galeria, ele acabou vendo. — Emito apenas um resmungo. — Theo, ele é incrível, um grande incentivador e colocou o galpão dele à disposição para fazermos a exposição. Lembra que estávamos preocupados com um espaço grande o bastante para acomodar todas as peças?
— Sim. Você já foi até o local?
— Já! Marco nos convidou para um jantar na casa dele amanhã. Topa ir?
Bufo e olho as horas, recriminando-me por ainda estar no escritório, pois me sinto cansado demais até para discutir com ela. Não gosto que decida as coisas sobre o negócio sem falar comigo, muito menos que mostre peças de um artista nosso a um desconhecido com quem teve apenas uma foda esporádica.
— Conversamos amanhã. Esta semana encurtada foi um inferno! Começo de ano agitado e com o pessoal ainda cansado demais das festas.
— Pense no convite. Amanhã é sábado, por que não chama a Valentina para acompanhá-lo?
Franzo a testa.
— Preciso levá-la aonde eu for agora? — questiono, já de mau humor, mas não a deixo responder. — Preciso ir para casa, Vivi, depois falamos.
Desligo o telefone, e a notificação de uma mensagem aparece na tela. Tenho certeza de que é de Valentina, mas, no momento, tudo o que preciso é ir embora, tomar um banho e, quem sabe, curtir uma massagem. Talvez um encontro com Lavínia me ajude a esclarecer as ideias, acalmar esse fogo pela cozinheira e ainda ter uma noite de sono decente.
Desligo tudo no escritório pensando seriamente no assunto, pois, de verdade, preciso foder alguém. Pode ser apenas a falta de sexo regular que esteja causando essa potência de tesão por Maria Eduarda. Saio da sala e, já dentro do elevador, meu telefone vibra novamente. Suspiro, cansado, e olho o display sem nem mesmo abrir o app, mas o teor da mensagem me deixa um tanto alarmado e com a certeza de que não é de Valentina.
— Puta que pariu, mais essa! — exclamo ao ler a mensagem de Vanda, informando que teve um contratempo, uma entorse no pé direito e que por isso está imobilizado. — Eu só posso estar cagado de urubu!
Mando mensagem de volta para ela, querendo saber seu estado e retardando sua volta para São Paulo, afinal, precisa de cuidados. Vanda, além de me mandar fotos da bota ortopédica, manda também o atestado médico e fotos de seu raio-x.
Pergunto na mensagem.
O jeito doce dela sempre me derrete, mas mantenho o tom profissional.
Mais uma semana sozinho, comendo de restaurantes e...
Uma ideia passa pela minha cabeça, mas tento deixá-la de lado, embora seja tentadora como o próprio diabo. É melhor eu ficar na minha, ligar para a Lavínia, descarregar as energias acumuladas e depois agir com calma.
Quais são as probabilidades de eu me encontrar com Duda Hill agora? Nenhuma! Estamos há anos na mesma cidade, inclusive temos algo em comum – o imóvel – e só nos encontramos porque meu primo idiota teve a brilhante ideia de negociar com ela. Então, se eu não a procurar, não nos encontraremos mais e essa atração tão fora de hora vai embora de uma vez por todas e eu poderei me concentrar no que realmente importa.
Mal termino essa resolução, quando o telefone volta a tocar, e dessa vez é Valentina. Xingo baixinho, arrependido por ter ligado para ela, pois agora preciso atender, mesmo querendo um tempo para pensar com clareza.
— Alô! — atendo tentando não parecer tão mal-humorado quanto estou.
— Obrigada pelas rosas, são lindas! — Ela realmente parece contente. — Estava aqui pensando em fazer algo para retribuir a gentileza. Talvez encomende um jantar para você esta noite, o que acha?
O convite é claro, sensual, mas não me interessa o mínimo, não hoje.
— Que tal irmos jantar amanhã com Viviane e um amigo dela? — faço o convite.
— Ah, que maravilha! — Escuto sua risada. — Vou adorar todos nós juntos! A que horas você me pega?
— Eu te ligo amanhã para informar o horário, ainda não tratei dos detalhes com a Viviane.
— Tudo bem, então! — Ela suspira. — Adorei as rosas, vão me fazer dormir pensando em você.
— Que bom! — Tento visualizá-la nua em uma cama coberta de pétalas vermelhas. Faço careta, achando a imagem muito cafona. — Boa noite, Valentina!
— Boa noite, Theo!
Entro no carro. Hoje vim dirigindo. Ligo o som, e, como se fosse uma perseguição, escuto uma música francesa tocar, lembrando-me da cozinheira e em como ela fica deliciosamente perfeita falando esse idioma.
Apenas a música já me faz querer vê-la mais uma vez, sentir seu perfume, beijar aquela boca macia e safada. Confiro as horas e, correndo o risco de dar mais um grande passo errado em minha vida, mudo a rota, indo em direção à Vila Madalena.
Dirijo mais rápido, o cansaço parece sumir. Tenho um objetivo claro à minha frente: comer aquela mulher até que ela desapareça dos meus pensamentos. Não dá mais para adiar, não adianta ficar me enganando que uma boceta qualquer vai conseguir aplacar minha fome, porque é a maior hipocrisia do mundo.
Eu quero aquela mulher, não importa mais nada; depois, se necessário, lido com as complicações que isso pode, ou não, trazer.
— Hoje eu expulso qualquer pessoa que ficar encostada no bar além das 2h da manhã — aviso em tom de brincadeira, embora esteja sentindo sangue nos olhos de tanto cansaço.
— Minha linda, não precisa se preocupar com isso! — Manola grita enquanto termina de montar um pedido. — Fecharemos a cozinha à 1h da manhã em um aviso claro para irem embora, mas, se algum bebum ainda estiver aqui até às 2h, eu mesma vou lá fora munida com uma vassoura e arranco o caboclo à força.
— Conte comigo! — Naldo levanta a mão. — Estamos todos cansados, e Duda ainda terá que ir fazer compras nessa madrugada.
Gemo só de pensar nisso.
— E nossa princesinha, como está? — Anabele me pergunta, colocando um prato com petit gateau e sorvete na bancada para ser servido. — Ontem a achei tão abatida ainda.
Dou um sorriso cansado e concordo.
Tessa pegou mais um resfriado esta semana, teve febre. Passei duas noites em claro com ela, mas já está melhor. O pessoal aqui segurou bem as pontas do bar, porque fiquei três noites longe – uma no baile dos Villazzas, e duas com Tessa – o que fez com que todos trabalhassem mais e, consequentemente, estivessem cansados.
Pedi a tia Do Carmo que agendasse uma consulta com o pediatra da minha filha. Acho que ela deve estar precisando de vitaminas, pois é uma criança muito ativa, não é normal ficar resfriada duas vezes em tão pouco tempo. A vantagem é que ela se recupera rápido, ainda mais tendo uma viagem marcada, já que está de férias da escola, para passar uns dias na casa da melhor amiga da minha tia, Consuelo, na praia. As duas – tia Do Carmo e Tessa – vão sair amanhã bem cedo daqui de São Paulo rumo a Taubaté e de lá seguirão de carro com a família de Tia Consuelo – como nós a chamamos – para Trindade, uma vila com praias lindíssimas no litoral de Paraty.
Tessa adora aquele lugar, tem um carinho todo especial pela tia Consuelo e já tem amigos das férias do ano passado esperando por ela. Acho que melhorou tão rápido exatamente para não perder o passeio e os reencontros.
— Ela já está bem, melhorou rápido para não perder as férias.
Manola chega perto de mim, colocando seu pedido – batata gratinada com bacon e três queijos – na bancada e sinalizando para o garçom que veio pegar o pedido.
— Acho que você deveria tirar uns dias também. — Nego, e ela rola os olhos. — Está achando que é a Mulher Maravilha? Você é a única aqui que nunca tira férias, Duda.
— Não posso abandonar vocês...
— Não fala merda! — Cruza os braços. — Já provamos que damos conta, além disso, cadê aquele turrão que você contrata quando nós saímos de férias?
Mal consigo ouvir o final da pergunta de tanto gargalhar. Eu adoro quando a Manola tenta falar francês. Sempre saem as coisas mais hilárias do mundo!
— É tournant — tento corrigi-la, mas ela mostra a língua.
— O ferista, cacete! Não sei por que temos que falar esses termos se trabalhamos no Brasil! — Eu rio, mas concordo. Ela não é obrigada a saber, mas, ainda assim, foi engraçado. — Ah, e nem vem com aquela vadia das férias do Naldo.
— Amém! — Anabele concorda, rindo muito também.
— A mulher mais enrolava do que trabalhava e ainda ficava tirando uma com nossa cara dizendo que estava fazendo faculdade e que ia ganhar o mundo, entrar no Masterchef e ficar famosa. — Manola faz careta. — Só tenho uma coisa a dizer: aff!
Concordo com ela ao ouvir todas as suas palavras sobre a moça que trabalhou durante as férias do Arnaldo. Ela realmente era muito prepotente. Não por querer ganhar o mundo e todos os sonhos, o que acho tão normal, eu mesma os tive, mas por fazer pouco caso dos outros só porque não estavam dentro de uma universidade. Isso não se faz!
A porta da cozinha é aberta, e vejo Kiko ir até a área de serviço, nos fundos da cozinha, e voltar com produtos de limpeza.
— Algum problema? — questiono.
— Não, um empolgadinho derrubou um dos barris de cachaça que ficam no bar. — Arregalo os olhos. — Não se preocupe, já foi devidamente adicionado à conta dele.
Tento dar uma espiada pelo vidro da porta, mas estou muito longe para isso, daqui só vejo a parte interna do bar, onde Kiko prepara os drinques.
— Está muito animado lá fora?
— Está, sim, o pessoal adora quando o Dani toca, todos dançam!
Concordo com ele, Daniel foi um achado para as noites de sexta! O homem toca guitarra e gaita, enquanto seu companheiro toca percussão. As músicas são animadas, bem a cara de barzinho, e ele faz umas versões muito bacanas de músicas internacionais atuais.
— Quando ele fizer intervalo, avise para parar exatamente à 1h30, ok?
Kiko abre um enorme sorriso.
— Nunca vou me esquecer disso, chefa!
Volto a tomar conta dos tubaréis22 na fritadeira, concentrada em tirá-los douradinhos, e fico ouvindo a conversa de Manola e Naldo sobre a moça que o substituiu em suas últimas férias, dando risadas com as expressões e imitações de Manola.
Conseguimos encerrar a cozinha no horário pretendido e, pelo silêncio, Dani parou de tocar como combinado. Fico aliviada em saber que terei tempo de subir, tomar um banho e seguir para o CEGESP a fim de comprar peixes. Esse é o pior dia, confesso, o dia de comprar produtos do mar, pois os vendedores só fazem a venda no atacado até às 6h da manhã, então não posso nem mesmo cochilar.
Cláudia já está passando pano no chão da cozinha, enquanto Manola e Anabele lavam, secam e guardam os utensílios que usamos e Arnaldo limpa as bancadas.
Eu, como sempre, confiro todos os itens de estoque, dou baixa na planilha e ainda vou separando tudo o que sobrou – e que está limpo e sem ser mexido – dentro de algumas marmitex para serem entregues a moradores de rua quando Arnaldo e Anabele forem embora.
Nós temos meia porção na casa, e ela corresponde à metade do valor da inteira exatamente para evitar que a diferença mínima entre preços gere desperdício. No entanto, sempre sobram cortes de frango, carnes, bolinhos e batata frita no final da noite.
Eu me recuso a jogar fora! Acho uma desumanidade jogar alimento no lixo, por isso verificamos os que ainda estão aptos a consumo e distribuímos a quem não tem nada para comer, geralmente com café ou refrigerante. Não dou bebida alcóolica, principalmente depois de ter acompanhado o drama do Cadu pessoalmente.
— Você colocou as lulas na lista? — Arnaldo me pergunta.
— Coloquei. — Mostro-a a ele, que me pede para aumentar a quantidade. — Vai fazer anéis recheados?
— Vou! Estamos protelando isso há mais de um mês. Acho que agora, que se iniciou um novo ano, podemos incluir e ver a aceitação dos clientes.
— Acho uma ótima ideia! — Manola opina. — Podíamos incluir umas iscas de peixe de água doce também, o que acha?
— Vamos ver! — Suspiro, sentindo minhas pernas arderem e meu pescoço tenso. Kiko entra na cozinha de novo, correndo, indo até o estoque de bebidas e voltando com uma garrafa de uísque nas mãos. — Eita, que sorriso é esse?
— Um cliente que entende de uísque! — diz feliz. — Além de ter provado meu raki, finalmente.
— Mentira! — Manola corre para a porta a fim de olhar. — Aquela coisa estava há anos aí juntando poeira. Eu disse para Duda te demitir por gastar dinheiro com essa cachaça turca cara que ninguém bebe!
Gargalho com a Manola, pois me lembro bem da implicância dela com a tal bebida. Na verdade, ela estava era doida para experimentar, mas Kiko não quis abrir de jeito algum, pois era especial.
— Puta que pariu! — ouço-a. — Naldo, corre aqui! — grita. — Olha só aquele pedaço de mau caminho da porra! Nossa senhora protetora das vadias!
Arnaldo sai correndo de seu posto, meio patinando no chão molhado que Cláudia – que também abandonou o serviço para olhar pelo vidro – estava limpando.
— Oh, minha Santa Audrey Hepburn! — quase engasgo com minha própria saliva ao ouvir essa expressão. Naldo é fã do filme Bonequinha de Luxo, tanto que, sempre nas paradas gay, ele vai vestido como Holly, com direito a tubinho preto, coroa de brilhantes sobre a peruca bem penteada e piteira nas mãos enluvadas. — Olha esse sorriso! Duda! — chama-me. — Corre aqui!
— Ah, gente... sério? — Abandono minha prancheta com a planilha de alimentos e vou até a aglomeração na porta a fim de ver o tal deus grego sentado ao balcão do Kiko. — Vocês não podem ver um... merde sainte!
Todos me encaram quando solto o xingamento em francês, mas meus olhos estão fixos no homem do outro lado da porta – que, por sinal, não para de olhar para cá. Theodoros Karamanlis sozinho, sentado ao balcão, conversando animadamente com Kiko enquanto meu bartender lava um liquidificador é surreal demais!
Esfrego as mãos no avental, sentindo-as levemente frias em oposição ao meu rosto, que queima como brasa, e ao meu corpo, que esquenta a cada lembrança do beijo dele.
— Duda? — Manola me chama. — Ei, Duda! — Ela agita a mão na frente do meu rosto, fazendo-me piscar e voltar à realidade. — O que houve?
Respiro fundo para tentar não demonstrar meu interesse.
— É o Theodoros Karamanlis.
Agora é ela quem arregala os olhos, quase grudada contra o vidro da porta – agradeço por ele ser fumê – e solta o palavrão mais cabeludo que sabe.
— Karamanlis não é aquela empresa que...
— Ela mesma! — Manola interrompe o Arnaldo. — Puta que pariu, quem deu autorização para esses vagabundos serem tão gostosos? Filho do demônio, ruim e com essa cara tentadora!
Todo riem do exagero dela, mas eu continuo séria, sem conseguir entender o que ele está fazendo aqui, sem o Millos, sentado no lugar que tenta fechar, comprar e demolir há anos, como se adorasse estar aqui.
— O que será que ele quer? — Anabele questiona.
— O filho da puta deve ter vindo espionar a gente, isso sim!
Não!, penso ao ouvir Arnaldo acusar. Theodoros não faria isso, não assim. Fecho os olhos, lembrando-me do que me disse sobre me querer. Ele veio por isso!
De repente sou empurrada de volta para a boqueta, e todos saem da porta correndo, voltando aos seus lugares como se não tivessem ficado pendurados na porta babando.
Kiko entra na cozinha.
— Duda, tem um cliente querendo cumprimentar a chef da casa.
Merda! Ele fez o movimento para chegar até mim.
— Ele é um Karamanlis, Kiko! — Manola grita acusadora. — O nojentinho aí que bebeu seu raki é o cara quer acabar com nosso trabalho!
— É ele? — Kiko franze o cenho. — O cara foi muito simpático com todos a noite toda...
— A noite toda? — questiono surpresa. — Ele está aí há muito tempo?
— Chegou um pouco antes da meia-noite. Eu sei porque a casa estava cheia e o único lugar vago era ao balcão. Ele se sentou lá, pediu um single malte e ficou aguardando liberar mesa, mas depois ficou, conversou com uma gostosa que chegou pouco depois. Ele recusou seu convite implícito, e ela foi embora...
— Você é abelhudo mesmo, hein!? — Manola ri dele.
— Eu sou atento — rebate. — Tudo o que acontece no meu balcão, eu sei. Inclusive, se não fosse por ele, teríamos perdido os dois barris de cachaça para o dançarino de dois pés esquerdos que caiu sobre o bar.
— Não consigo me sentir grata, o homem é um babaca! — Manola dá de ombros.
— Então, Duda, vai lá falar com ele?
Respiro fundo e assinto para o Kiko, retirando o avental, conferindo meu uniforme sob os olhares atentos do meu pessoal.
— Vou lá! — Viro-me para eles. — Não fiquem na escotilha, por favor.
Sigo Kiko para fora da cozinha, mas, antes, ainda consigo ouvir a voz da Manola:
— Nunca que eu perco isso!
Theo me vê e abre um daqueles seus sorrisos que parecem incendiar minha pele, causando formigamentos em todo o meu corpo, principalmente em partes que nem deveriam ser mencionadas aqui, no meu local de trabalho.
— Aqui estou! — digo assim que me aproximo. — Posso ajudá-lo em algo?
Ele gira na banqueta, ficando de frente para mim, e noto o terno, sinal de que ele deve ter vindo direto do trabalho para cá.
— Pode — responde baixinho. — Kiko, sirva uma taça de vinho para nossa chef.
Nego quando meu funcionário me olha.
— Água, Kiko, para mim e para o doutor Karamanlis. — Sento-me ao seu lado ao balcão. — Espero que tenha gostado da noite.
Ele se aproxima, um sorriso brincando em seus lábios, os olhos brilhando de divertimento.
— Ela ainda pode melhorar. — Respira fundo, como se me cheirasse. — Seu perfume combina bem com o cheiro da cozinha. Eu já estou começando a associar você a comida, principalmente quando estou faminto.
Aprumo-me no assento, tentando não contorcer minhas pernas diante da provocação, porque é óbvio que ele tomou muitas doses de uísque.
— Eu trabalhei a noite inteira na cozinha, seria impossível não cheirar a fritura. — Pego a água e agradeço ao Kiko.
— Eu não estava reclamando, Maria Eduarda. — Vejo-o levantar a mão e estendê-la em minha direção. Preparo-me para sentir seu toque, para resistir ao desejo, mas me surpreendo quando ele apenas segue o bordado na minha dolma com o dedo. — Maria Eduarda Hill. — Lê e depois me encara.
Deus do Céu!
Esses olhos me dizem tanta coisa! Theo não se mexe, nem mesmo emite algum som, só me olha com um sorriso, como se soubesse um segredo, como se tivesse um trunfo, algo que ninguém mais sabe.
Fico sem jeito, mas não desvio os meus olhos dos seus. Meu corpo responde ao dele, meus lábios formigam de vontade de ter contato com os seus novamente, mas nenhum de nós se move.
— O que você quer aqui, Theo? — inquiro, mesmo sabendo a resposta.
— Você. — Fica sério, mas não deixa de me olhar. — Eu só vim aqui hoje porque não consigo não querer você.
A sua sinceridade me desarma. Eu esperava a resposta inicial, mas não podia imaginar ouvindo-o admitir que, mesmo contra sua vontade, ainda assim me quer. É exatamente como me sinto! Não importa se eu o vejo como o inimigo, aquele que quer destruir tudo o que tenho, não deixo de o desejar.
Os últimos ocupantes de uma mesa próxima de onde estamos saem, e vejo os garçons já reunidos em volta da estação de pedidos a fim de fazerem seus balanços e receberem as porcentagens.
— Nós já estamos fechando — aviso-lhe, desfazendo um pouco o clima. — Seu motorista está esperando você?
Theo ri e toma mais um gole de seu uísque.
— Você deveria comprar um 26 anos, é mais saboroso...
Rio.
— Custa mais de 1000 reais uma garrafa. — Cruzo os braços. — Não tenho clientes como você todos os dias.
— Deveria ter. — Coloca seu copo já vazio sobre o balcão. — Deveria ter seu próprio bistrô, Duda Hill.
Fico tensa.
— Não vou vender para vocês.
— Não disse isso para que me venda. — Ergue as mãos em sinal de paz. — Foi um elogio, não sou bom nisso.
— Não mesmo! — Rio. — Obrigada?
Ele se arrasta para a beirada da banqueta e segura minhas mãos. Sinto um arrepio subindo pela minha coluna, eriçando os cabelos na minha nuca.
— Você é uma chef extraordinária, Maria Eduarda. — Sorrio com o elogio, gostando que ele saiba disso. — Eu realmente acho que deveria ter seu bistrô e ganhar algumas Michelins, mas não foi por isso que vim aqui. — Theo me puxa para si e se aproxima do meu ouvido. — Foda-se a Karamanlis, não é o CEO aqui. — Ele esfrega a ponta do nariz na minha orelha. — Eu quero você, e isso não tem nada a ver com os negócios, só com tesão.
Fecho os olhos, adorando o carinho furtivo, sentindo meu coração disparado, o perfume dele, o calor de seu corpo perto do meu e...
Pulo ao ouvir um estrondo. Ele se afasta, e olhamos na direção do barulho. Manola está com uma vassoura na mão e olha perigosamente para o Theo.
— É melhor você ir — falo tentando segurar a gargalhada. — Você é o último cliente.
— Ela costuma ameaçar o último cliente com uma vassoura? — pergunta com a voz mostrando diversão. — Quem pensa que é? Sua mãe?
Gargalho, imaginando que, se Manola ouvisse isso, iria querer matá-lo a vassouradas.
— É minha amiga. — Levanto-me. — Vem, vou te acompanhar até lá fora. Onde seu motorista está...
— Vim dirigindo — responde e deixa umas notas sobre o balcão do bar.
Rolo os olhos e pego meu celular no bolso da calça.
— Vou chamar um táxi para você.
— Não! Eu vim de carro e ainda não estou indo embora. — Puxa-me contra seu corpo. — Me leva para seu apartamento, sei fazer massagem.
Rio, nego e olho em volta, para a plateia de garçons, meus amigos da cozinha e o Kiko.
— Você bebeu demais, não pode dirigir. — Arrasto-o para fora. — Vem!
— Bebi enquanto te esperava sair da cozinha — justifica-se. — E seu uísque não é muito bom, sabia?
Chego à calçada e pego o celular de novo para ligar, mas Theodoros tem outra ideia. Encosta-me contra a parede envidraçada e ataca minha boca com sofreguidão, enlouquecido, e eu quase deixo o aparelho cair ao me agarrar a ele.
Theo não demonstra nenhum pouco de limites nesse beijo. Arranha meus lábios com seus dentes, suas mãos deslizam sobre meu corpo, buscando a barra da minha blusa para então tocar minha pele.
Gememos juntos, ainda atracados, quando suas mãos pressionam minha cintura, fazendo-me colar ao seu corpo. Theo está muito excitado, sinto isso não só na dureza em sua calça, mas na forma como me beija, molhando meus lábios, sorvendo minha língua para dentro de sua boca, apertando meu corpo contra o seu.
Ele afasta a boca da minha e arrasta os lábios sobre minha garganta, suas mãos subindo pelo meu abdômen, tocando os aros do meu sutiã. Escuto seus gemidos contra minha pele, talvez misturados com os meus, quando ultrapassa a peça íntima e segura meus seios com força.
Que loucura é essa?!
Tento voltar à razão, lembrar-me de que estamos na calçada, contra o vidro da entrada do pub e que a qualquer momento meus funcionários começarão a sair para ir para casa e me encontrarão em um amasso épico com o homem que eu deveria odiar.
— Theo... — chamo-o, mas parece um gemido. Respiro fundo e tento de novo: — Theo!
Ele me olha, e eu engulo em seco ao ver sua expressão completamente luxuriante. O desgraçado estimula meus mamilos com os polegares e me encara sabendo o efeito disso no meu corpo. Fecho os olhos e sinto sua boca na minha novamente.
— Eu quero subir — informa. — Me deixa foder você, te fazer gozar até o dia amanhecer e depois de novo e de novo.
Ele não faz ideia de que moro com outras pessoas, por isso insiste tanto em subir. Eu nunca o levaria para minha casa com minha tia e minha filha lá, é simplesmente impossível!
— Não dá... — sussurro.
— Mas você quer.
Ele se afasta um pouco, retira as mãos do meu corpo e aguarda uma resposta.
— Quero — decido ser sincera. — Mas não moro sozinha, além disso, tenho compromisso daqui a pouco.
— Não mora? — Nego, e ele ergue uma de suas sobrancelhas, ficando ainda mais sexy. — Onde é seu compromisso?
Theo se move, e eu gemo ao sentir seu pênis pulsando contra mim.
— CEAGESP. Vou fazer compras daqui a pouco.
Meus cabelos, presos no coque que sempre uso quando trabalho, são acariciados por ele.
— Então quando, Maria Eduarda?
Suspiro ao entender a pergunta.
— Não sei. Sinceramente...
Um som de conversas e gargalhadas me interrompe, e eu o empurro para longe, tentando me recompor o mínimo, enquanto os garçons vão saindo do Hill acompanhados do Kiko, que me dá um olhar interrogador e um aceno de boa noite antes de seguir seu caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Olho para o meu celular, desanimada ao ver as horas, e completo a mensagem para o taxista que fica perto daqui e sempre leva um ou outro cliente bêbado.
— Chamei o táxi. — Theo nega. — Sim, você não está em condições de ir sozinho.
— Eu não disse ou fiz nada hoje por causa do álcool — sua voz está séria. — Não vou esquecer o que você me disse, só quero saber quando.
— Eu tenho uma agenda complicada, Theo.
Ele assente.
— Me empresta seu telefone. — Estranho o pedido, mas lhe entrego o aparelho. Vejo-o digitar algo e depois escuto um zumbido, como se outro aparelho estivesse vibrando. — Meu contato.
Devolve-me o celular e passa a mão pelo meu rosto.
— Veja sua agenda e não demore. — Sorrio ante sua prepotência. — Estou louco por você desde nosso primeiro encontro.
Arregalo os olhos com a confissão, mas não tenho tempo de dizer nada, pois o táxi chega e ele entra, dando-lhe seu endereço antes de me desejar boa noite.
Ainda não consegui relaxar nem por um momento desde que cheguei ao meu apartamento. O táxi me deixou na portaria. Fernandes, o porteiro da noite, foi todo solícito me ajudar – aí eu percebi que estava realmente bêbado – e subiu comigo até a cobertura, desejando-me boa noite e melhoras.
Fui arrancando a roupa conforme andava em direção ao quarto e já estava nu quando entrei no banheiro da suíte e me enfiei debaixo de jatos de água gelada para tentar aplacar o fogo – da bebida e do tesão reprimido por aquela cozinheira.
Ainda conseguia sentir o peso e o formato dos peitos dela nas minhas mãos, mesmo sobre a roupa. O sabor de sua boca estava entranhado na minha. A cada vez que eu engolia, era como se estivesse sorvendo um pouco dela. Sem dúvida alguma é um tesão muito louco, forte e incontrolável.
Fui até o bar com a firme convicção de tê-la na minha cama esta noite. Dirigi até a Vila Madalena com imagens sujas de como ia fodê-la, imaginando minha boca provando seu sabor, chupando, mordendo, lambendo-a até que gritasse de prazer. Tentei visualizar como seriam nossos corpos juntos, sentir seu corpo, contorná-lo com minhas mãos, aprender seus segredos de mulher e explorá-los até a exaustão.
Maria Eduarda me faz querer adorá-la como a uma deusa pagã, pondo-me à sua disposição, tendo-me escravo do seu prazer. Esse desejo é tão desmedido que basta pensar em seus sons, seus gemidos, o modo como gozará comigo que eu quase transbordo sem ao menos me tocar.
Quando cheguei ao Hill Wings, fiquei surpreso com a fila de espera, porém, como estava sozinho, encaminharam-me para o bar. A casa estava cheia, o som feito por uma dupla animava os clientes que dançavam enquanto bebiam e comiam.
O bartender trabalhava rápido e parecia muito eficiente, porém, não me atendeu. Eu já ia anotar essa falha para destacar que o serviço era ruim, quando um garçom se aproximou com um celular na mão e me perguntou o que eu queria. Pedi para ver a carta de bebidas, escolhi um single malte de uma marca não muito boa, porém, confiável, infelizmente 12 anos, e, minutos depois, o bartender foi quem me serviu.
— O atendimento é feito apenas pelos garçons? — questionei.
— Sim — disse já preparando outro drinque. — Eu não mexo em comandas, apenas sigo os pedidos que aparecem no meu visor. — Ele apontou para uma pequena tela.
Gostei da organização, pois assim eles não se perdiam. O esquema com a cozinha devia ser o mesmo, ela devia apenas seguir os pedidos que apareciam, e tudo era feito de forma digital. Olhei para a enorme porta dupla, típica de restaurantes, e, no mesmo instante, um garçom entrou e depois saiu com uma badeja.
— O sistema da cozinha é o mesmo?
— É, sim. — Ele digitou algo e, em instantes, outro garçom apareceu. — Cada aparelho possui uma senha, então, assim que o pedido é feito, sabemos quem está atendendo, qual é a mesa e o que já foi servido. Quando o drinque ou o tira-gosto está pronto, apenas digitamos o número da mesa, e o garçom que fez o pedido recebe a notificação de que está pronto.
— Muito interessante e rápido!
— É, sim! — disse orgulhoso, já pegando mais ingredientes. — Você tem um leve sotaque, não é daqui de São Paulo?
Ergui a sobrancelha por causa da pergunta pessoal, mas relevei. Estava em um bar, conversando com um bartender, era claro que ele faria perguntas! Além de tudo, o homem era muito observador, já que meu sotaque é tão leve que parece ser apenas de algum brasileiro que não seja paulistano.
— Não, nasci na Grécia — respondi sem entrar em detalhes. — Este lugar é sempre tão movimentado assim?
— Amanhã é pior. — Riu. — Hoje eu ainda consigo conversar.
Ele se afastou para pegar algo do outro lado do bar, enquanto vários outros que trabalhavam com ele iam enchendo canecas de chope sem parar, fazendo outros drinques ou mesmo os distribuindo entre os garçons: longnecks de cerveja, latas de refrigerante ou sucos.
Uma mulher se sentou ao meu lado e, a princípio, chamou minha atenção pelo perfume gostoso e sexy. Olhei-a de esguelha e confirmei que, além do cheiro, era muito bonita, maquiada, estava com um vestido colado e sexy e tinha um belo sorriso.
Cumprimentei-a com o copo de uísque, e ela me perguntou o que eu estava bebendo. Ofereci a bebida a ela, e, claro, aceitou, aproveitando para puxar assunto – cheia de perguntas – e deixar claro que estava disponível.
Não vou mentir, gostei da conversa com ela, era engraçada, jovial, mas não passou disso. Bebemos uísque juntos, mantivemos o assunto por algum tempo, então ela deve ter percebido que eu não ia tomar a iniciativa e se despediu.
O bartender, realmente muito observador, ficou dando umas risadinhas quando ela saiu do balcão e foi se juntar a um grupo no fundo do pub. Dei de ombros, e ele continuou seu trabalho, enquanto eu ficava tomando conta da porta da maldita cozinha.
Ela nunca sai de lá?!, pensava a todo instante, virando-me para a porta a cada vez que ouvia o som dela.
Já estava sentado ao balcão havia quase duas horas quando ele perguntou sobre bebidas da Grécia e eu comentei sobre o ouzo.
— Ah, sim, parecido com a raki turca.
— Sim, ambos destilados de uva com anis — concordei. — Ficam diferentes apenas por causa das especiarias misturadas na bebida.
— Sim. — Ele parecia contente. — Tenho uma raki aqui, mas ouzo, não.
Não sou muito fã de ouzo, mas é o único destilado que Millos bebe com gosto, aprendeu com pappoús. Meu primo, louco por cervejas, prefere o sabor do licor ao de um uísque. É quase inacreditável.
— Há muito tempo não tomo nem um, nem outro.
— Gostaria de uma dose? Fica ótimo feito como caipirinha, com limão siciliano e...
— Pode ser. — Achei a ideia interessante, embora eu nunca misture bebidas. — Nunca experimentei assim.
Vi-o preparar a bebida, cheio de técnica e empolgação, fazendo um drinque um tanto “afrescalhado” para meu gosto, ainda que muito saboroso. Começamos a conversar sobre bebidas em geral, ele, claro, demonstrando ter muito conhecimento da maioria dos destilados, e eu restrito apenas ao uísque.
No meio de nossa conversa, um homem muito bêbado, dançando como um ganso entalado, acabou esbarrando em um dos alambiques de vidro que ficava em uma parte do balcão, talvez mais como decoração do que para consumo, e quase me deu um banho de aguardente. Meu reflexo ainda estava bom, mesmo com a quantidade de álcool que eu já tinha ingerido, e segurei o outro, evitando, assim, o desperdício de mais 10 litros da bebida.
Kiko, como se apresentou o bartender, sumiu para dentro da cozinha, e eu esperançosamente achei que Maria Eduarda iria sair da toca para resolver a questão, mas não. Vi os funcionários dela limparem a bagunça causada pelo bêbado, pedi outra dose de uísque e me assustei quando a dupla de cantores se despediu, encerrando a noite.
Puta que pariu!
Fiquei puto quando me dei conta de que tinha passado a noite inteira bebendo à espera dela, coisa que nunca fiz por mulher nenhuma. E o pior! Ela nem fazia ideia de que eu estava lá!
Pedi mais uma dose, disposto a só levantar meu traseiro dali quando Duda aparecesse. E então...
Bufo debaixo da água fria, lembrando-me de toda a tensão sexual que existe entre nós, já entregando completamente os pontos. Não adianta de nada eu ficar indo atrás de Valentina, ou mesmo ficar comparando o tesão que sinto pela Duda ao que sinto pela moça. Não tem comparação!
Enquanto minha racionalidade tenta me convencer de que devo deixar isso de lado e me ater ao que realmente importa, a vontade do meu avô, meu corpo clama pelo de Maria Eduarda de uma forma indescritível, quase metafísica. É impossível não viver isso, não sentir de verdade cada sensação anunciada quando estamos no mesmo ambiente. Seria absurdo me negar esse prazer.
Não quero Maria Eduarda na minha cama apenas para expurgar esse desejo, pelo contrário, quero saboreá-lo, intoxicar-me, fartar-me dele. Sei que estou brincando com fogo e que um envolvimento entre nós é sinônimo de confusão, mas, sinceramente, estou pouco me importando com isso.
Saio do banho, seco-me precariamente, aproveitando as gotas d’água em mim para me manter resfriado e me deito na cama, buscando dormir. Os pensamentos estão acelerados, o tesão não some, e, mesmo depois de uma punheta e de outro banho, meu corpo não relaxa.
Confiro as horas e me lembro de que ela disse que iria fazer compras em algum lugar da cidade. Pego o celular, pesquiso sobre centros de abastecimento e reconheço o nome CEAGESP.
— O que eu estou fazendo aqui? — resmungo pela décima vez.
São 5h da manhã, eu deveria estar em casa, na minha cama king, dormindo com o ar em 16 graus, nu e tranquilo. Contudo, em vez disso, estou vestido com calça jeans, tênis e camisa, num calor já de derreter mesmo sendo madrugada, dentro de um enorme lugar com milhares de pessoas vendendo e comprando.
Os cheiros chegam até minhas narinas e me fazem lembrar um pouco de uma época que prefiro não ter na memória, mas que é acordada pelo odor dos peixes e frutos do mar.
Fico um bom tempo parado, olhando um vendedor mostrando seu produto a um cliente, abrindo as guelras dos peixes para provar que estão frescos, mostrando as escamas, seu peso e tamanho. Eu conheço bem esse ritual, embora não o veja há anos.
O cliente olha peixe por peixe da caixa, mas não parece satisfeito. Talvez não seja qualidade que esteja procurando, mas sim preço, pois os produtos parecem muito bons, e tenho experiência suficiente para garantir isso.
Eles começam a negociar, mas não fecham um valor satisfatório para nenhum dos dois. O cliente vai embora, e o vendedor começa tudo de novo, anunciando seu produto e – como eu mesmo fazia – torcendo para fazer a venda, pois cada hora e cada dia que se passa com os peixes na caixa é sinônimo de queda no preço e prejuízo.
Confiro as horas e desisto de tentar achar Maria Eduarda sem ajuda.
Ligo para o seu telefone, que gravei na minha agenda há poucas horas.
— Alô? — estremeço ao ouvir sua voz e, pelo barulho, tenho certeza de que ela ainda está por aqui.
— Fiquei sem sono — disparo.
— Theo? — Ela parece confusa.
— Não salvou meu número? — Rio, mas confesso estar decepcionado.
— Onde você está? Quase não consigo te ouvir por causa do barulho.
Olho para um enorme ventilador perto de mim e me afasto para ver se a ligação melhora.
— Você ainda está fazendo compras? — ignoro sua pergunta e faço outra.
— Sim. — Escuto uma voz falar, e logo ela responde: — Eu preciso de duas caixas. Sim. Tem lula? Onde? — Suspira. — Oi. Desculpa, mas estou terminando aqui de comprar as coisas. O que você quer mesmo?
Sorrio ante a pergunta, caminhando entre as caixas de peixes e seus vendedores barulhentos.
— Você — respondo e a escuto puxar o ar. — Tentei dormir, tomei banho frio, me masturbei, mas não consegui tirar você da cabeça.
— Theo... — ela geme.
— Minhas mãos queimam de vontade de tocar sua pele de novo, o contorno dos seus seios está marcado nelas. — Procuro-a por todos os cantos, tentando vê-la entre as pessoas e alimentos. — Minha saliva ainda está com o gosto da sua, e minha língua está desesperada para sentir seu sabor, para penetrar você e provar a sua boceta.
— Theo, eu... — Duda parece nervosa. — Eu estou no meio de um monte de pessoas e...
— Fica nervosa? Eu fico louco quando você sorri sem jeito, quando enrubesce e mesmo assim não tira os olhos dos meus e digladia contra meu tesão, mesmo sentindo o mesmo. — Vejo-a finalmente, longe das outras pessoas, com o telefone na orelha. Abro um sorriso satisfeito e noto cada detalhe seu. — Você fica ainda mais gostosa com essas calças apertadas.
— O quê? — ela parece não entender.
— É legging que chama, não é? Sua bunda fica perfeita nela!
Imagino-a na academia comigo, usando uma dessas calças e apenas um top, sua barriga de fora e a bunda redonda e firme livre aos meus olhos, nós dois suados, cansados dos exercícios e mesmo assim loucos de tesão, trepando sobre o tatame.
Porra!
Tento esfriar os pensamentos, agradecendo pela roupa mais folgada e pela camisa comprida que tampa a frente da calça e disfarça o volume causado pelo meu pau. Basta pensar nela, fantasiar e pronto: “efeito Duda Hill”.
— Onde você está? — Ela começa a olhar para os lados e, quando me vê, arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
Sorrio e vou em sua direção, mas sem encerrar a ligação.
— Vim te convidar para um café. — Ela franze a testa, e tenho vontade de beijá-la até que volte a relaxar. — Preciso de um bem forte, porque seu bartender é bom e me fez misturar uísque com raki.
Ela dá uma risada de leve, um tanto nervosa, e meu pau se contorce na cueca.
— Você é... — Duda desliga o telefone quando chego bem perto — louco.
— Sou. — Sorrio, guardando o celular no bolso. — Estou... — puxo-a pela cintura — totalmente louco por... um café.
Quando ela gargalha, sinto-me perdido, atraído por ela de uma maneira irresistível. Beijo-a, calando suas risadas e sugando seu fôlego de forma profunda e inapropriada para o local.
Foda-se!
— Ei, Duda, vai levar ou...
O vendedor se cala, mas sua intromissão causa o efeito esperado. Separamo-nos. Duda suspira e olha para o homem, um senhor nipônico que nos olha contendo uma risada.
— Vou levar, senhor Hyamashita. — Olha-me de soslaio. — Separou meus camarões?
— Sim, sim! — Ele aponta para uma caixa. — Quer ajuda para levar até seu carro?
Um enorme sorriso, um tanto malvado, abre-se em seu rosto perfeito.
— Não, tenho ajuda hoje, obrigada.
Gargalho ao notar que a “ajuda” sou eu.
Tudo bem, Maria Eduarda, vamos carregar caixas cheias de crustáceos, escorrendo água fedida. Não me importo, dede que possa te beijar depois e, quem sabe, tomar um banho com você!
Fico surpreso ao notar que não é somente essa caixa que vou carregar. Vejo um dos ajudantes do homem empilhá-la em um carrinho de carga, enquanto Duda confere os moluscos que pediu e separa alguns para levar.
Quando, enfim, ela paga as compras e se despede do homem como se fossem velhos amigos, eu empurro o carrinho repleto dos cheiros que trazem tantas lembranças, mas sem que elas – ainda bem – me causem qualquer desconforto. Minha atenção é totalmente de Maria Eduarda.
— Onde está seu carro? — indago.
— No estacionamento. — Aponta. — Você me ajuda a carregar as compras nele?
— Por um preço... — Pisco.
Ela sorri e balança a cabeça, sem me olhar.
— Um café?
— Um café. Uma carona para que eu possa resgatar meu carro...
— Tem certeza? Ainda não está bêbado?
— Não estava bêbado, apenas um pouco “alto”.
Ela faz uma expressão de quem não acredita.
— Só isso? Um café e uma carona?
Gargalho.
— Você sabe que não. — Ela me dá uma olhada rápida, mas não responde. — Vou precisar de um banho depois de carregar essas caixas. Vou cheirar pior que um peixeiro.
Ela rola os olhos.
— Não seja exagerado! — Ri. — Em todo caso, tenho certeza de que em sua casa tem um chuveiro excelente.
— A sua não tem?
Duda não responde de imediato, desativando o alarme de um utilitário branco adesivado com a logo do bar. Ela abre a parte de trás do Doblò Cargo, e eu a ajudo a acomodar cada uma das caixas de pescado que comprou.
Sim, estou mesmo cheirando a peixe agora!
— Bom, vou pagar um pouco da minha dívida agora — ela diz e se aproxima, deixando-me na expectativa de mais um beijo. — Entra no carro, vou te dar carona!
Antes que eu a alcance com as mãos e a puxe para mim, a danada dá a volta, entra no carro e se senta atrás do volante. Sorrio, contrariado, balançando a cabeça.
— E meu café? — questiono.
— Te faço um no Hill... — abro um sorriso satisfeito — depois que me ajudar a descarregar tudo.
Faço careta.
— Que exploradora! — acuso-a.
Ela liga o carro e dá de ombros.
— Não mandei vir atrás de mim!
Gargalho com sua provocação e apoio minha mão em sua coxa enquanto ela dirige para fora do estacionamento.
— Está certo, mas o preço do meu trabalho começou a subir. — Faço carinho em sua perna e a escuto gemer.
Ah, isso, sim, que é saber negociar!
Dirijo um tanto tensa com Theodoros Karamanlis sentado no banco do carona do carro. Ainda é difícil acreditar que ele está aqui comigo, que apareceu de surpresa no meio do galpão do pescado do CEAGESP em plena madrugada.
O som do carro está sintonizado na rádio, que já cobre o trânsito da cidade. Nem amanheceu totalmente, vai dar 6h da manhã de sábado, e o paulistano já está na correria. Meu dia vai ser intenso como sempre, pois assim que terminar de descarregar o pescado e já os deixar na câmara fria esperando que Arnaldo chegue para limpá-los, terei que levar tia Do Carmo e Tessa para o terminal rodoviário.
A mão de Theodoros se move mais uma vez sobre minha coxa direita, e prendo o ar por um momento, sentindo as deliciosas sensações de seu toque, mesmo sobre o tecido grosso da legging que uso. O cheiro dele já tomou conta do carro, inebriando-me de vontade de abraçá-lo e aspirar bem em cima do ponto onde ele colocou seu perfume, perto da nuca.
Esse homem me enlouqueceu ontem à noite, foi difícil acalmar o fogo que me acendeu depois daqueles beijos na porta do bar. Definitivamente, ele sabe beijar, sabe levar uma mulher à loucura! A forma como meu corpo reage ao dele tão instantaneamente aumenta ainda mais o tesão que sinto. Tive que tomar um banho frio às 3h da manhã, mas, ainda assim, pensei nele e nas reações que me causava durante todo o percurso até o centro de abastecimento.
Nunca poderia imaginar que ele viria atrás de mim!
Um leve sorriso brota em meus lábios, e olho de soslaio para o homem sentado ao meu lado, mão repousada em minha coxa, cabeça para trás e olhos fechados. Ele também não dormiu, deve estar tão cansado quanto eu, e mesmo assim tomou um táxi e foi para um local que nada tinha a ver com ele. Seguro uma risada com a lembrança de Theo no meio dos pescados. Ele parecia um peixe fora d’água. Ainda bem que não está de terno!
Analiso a roupa simples, embora aposto que seja de grife, e gosto do que vejo. Toda vez que nos encontramos, ele estava vestido formalmente. Contudo, assim, descontraído, ficou ainda mais gostoso! Suspiro um pouco, encantada com a visão dele tão relaxado, sua expressão suave, o perfil perfeito com o nariz mais bonito que já vi em um homem e...
Calma, Duda, vai devagar com o andor!
Por mais que a atração existente entre nós seja irresistível, não posso baixar totalmente a guarda para ele, afinal, não sei se há outras intenções além das que me disse. Não devo ficar divagando sobre o quanto ele é lindo e perfeito e, muito menos, criar qualquer tipo de ilusão acerca do que está acontecendo entre nós. Devo sempre lembrar que Theodoros é um empresário acima de tudo, o diretor executivo de uma empresa que tem interesse no meu imóvel e que está há anos tentando obtê-lo.
Posso me entregar à paixão, ir para a cama com ele – só de pensar nisso, sinto um frio gostoso na barriga –, mas não posso me entregar a ele como se essa fosse uma relação com possibilidade de um futuro. Além disso, tenho que ter cuidado com o que digo sobre o Hill, não misturar negócios com prazer de jeito algum.
Theodoros me quer, e eu a ele, isso é inegável, então vamos só curtir isso durante essa trégua, sem nada mais.
Estaciono o carro do outro lado da rua onde fica o Hill, e ele parece despertar, olhando em volta para se situar.
— Eu dormi? — pergunta com um sorriso sem jeito.
— Um leve cochilo. — Resolvo sacanear um pouco: — Mas como roncou!
Ele fica sério.
— Mesmo? — Vejo-o franzir o cenho. — Eu devo estar muito mais cansado do que imaginei. — Não consigo segurar a risada, e ele cruza os braços. — Eu não ronquei, não foi?
— Não, mas foi legal saber que você dá a mesma desculpa que meu pai dava! — Theo sorri. — Papai podia ficar duas semanas descansando que, se roncasse – o que fazia sempre, por sinal –, dizia que era por causa do cansaço.
Continuo a rir, agora mais por causa da lembrança que a resposta dele me trouxe do que da brincadeira, mas Theo resolve calar minhas risadas de uma só vez.
Sou puxada pela nuca e mal tenho tempo de fechar os olhos quando ele invade minha boca. Demoro um pouco a realizar o movimento, gostando de poder encará-lo tão de perto, tão entregue. Quando me entrego ao beijo, fechando minhas pálpebras, correspondo-lhe movendo meus lábios com a mesma rapidez e vontade.
Sinto-me seduzida pela forma como ele puxa de leve meus cabelos, entranhando seus dedos longos entre os fios até atingir a raiz para me manter colada à sua boca. A outra mão não está mais na minha coxa, mas entre minhas pernas, tocando-me intimamente sobre a legging, excitando-me, fazendo minha calcinha ficar molhada e um enorme calor se acender nessa região.
— Eu quero te tocar sem a calça... — geme enquanto mordisca meus lábios. — Eu quero te comer aqui mesmo no carro, no meio da rua, tamanha urgência. — Abro os olhos e o encaro, seu olhar azul revelando a verdade no que acaba de dizer. — Eu não aguento mais esperar, Maria Eduarda.
Suspiro, buscando controle, porque eu também não aguento mais. No entanto, não posso e nem vou fazer a vontade dele sempre quando quiser.
— Preciso descarregar os peixes — lembro-lhe. — Vou abrir a garagem.
Theo se afasta, e eu aciono o controle-remoto do portão onde está escrito “carga e descarga”. Faço a manobra para colocar o pequeno utilitário na garagem e desligo o carro.
— Agora eu...
Sou pega de surpresa, meu banco é afastado para trás, e Theo me puxa para seu colo, colocando-me de frente para ele. Eu sou alta, não foi uma manobra fácil, e a desenvoltura dele me surpreende. Nossos corpos agora estão encaixados. Sinto sua ereção contra minha bunda, e suas mãos avançam sobre meu corpo puxando minha blusa para cima a fim de expor meus seios.
Não lembro qual sutiã coloquei hoje, mas isso é o que menos importa no momento. Levanto os braços para o alto para facilitar a retirada da peça e o escuto gemer ao me olhar.
— Você é linda! — declara, absorvendo cada detalhe do que vê.
Sutiã nude! Olho para baixo. Nunca seria minha escolha para fazer sexo com ele, mas, como não planejei, dane-se!
— Você me enlouquece — rebato.
Theodoros se aproxima dos meus seios e encosta a cabeça no meio deles, aspirando fundo, esfregando o nariz no vale que se forma entre ambos.
— Tira para mim — pede ainda no local. — Eu já os senti, mas agora quero vê-los.
— Theo, aqui não é...
— Foda-se! — Lambe o contorno de cada um deles, passando pela borda do bojo do sutiã. — Eu preciso apenas vê-los.
Ergo uma sobrancelha.
— Só isso?
Encosta-se ao assento e sorri muito maliciosamente.
— Não, mas me contento por agora. — Seus longos dedos percorrem minha barriga até o cós da legging. — Não vou foder você todo torto dentro de um carro. — Sua mão entra na minha calça, e o sinto alisando minha calcinha. — Não sem poder te ver toda nua, chupar sua boceta até te fazer gozar e te ver de joelhos engolindo meu pau.
Caramba! Contorço-me sobre ele, rebolando involuntariamente por causa das palavras. Alcanço o fecho do sutiã, que é estilo nadador com abertura frontal, e o abro, mas não afasto os bojos. Ele sorri, entendendo que, se quiser ver, terá que tirar ele mesmo, e não se faz nenhum pouco de rogado.
Seguro o ar quando ele os afasta e retira as alças, passa-as pelos meus ombros, braços e as deixa penduradas nos meus punhos.
— Porra, Duda, você é muito gostosa!
Sinto seu pau pulsar assim que diz isso, seu olhar fixo nos meus seios, deixando meus mamilos completamente eriçados e minha calcinha encharcada. Ele não me toca nos seios, mas segura meus quadris e os mói contra seu corpo, fazendo movimentos de vai e vem, usando-me descaradamente para se masturbar.
Continuo a me movimentar mesmo depois que ele retira as mãos e toma meus seios, segurando-os juntos, apertando-os de leve, para então abocanhar um mamilo sem nenhuma cerimônia.
Theodoros é guloso, faminto, insaciável. Gemo em desespero dentro do carro, estimulada pela fricção dos nossos corpos e por ele, que chupa, morde e lambe cada um dos seios como se fossem iguarias.
É muito bom! Jogo a cabeça para trás, olhos fechados, meu corpo em ebulição. Sinto vontade de pedir que ele tire a calça e me foda do jeito que der. A mulher fogosa que há muito tempo andava adormecida está totalmente desperta, completamente louca para ser saciada e...
— Seus peitos são perfeitos para serem fodidos — sinto seu hálito quente em cima do meu mamilo esquerdo quando diz isso. — Seu corpo todo merece ser bem fodido, Maria Eduarda.
Abro um sorriso ao olhar para ele, sentindo uma pontinha de poder por notar o desespero em sua voz, a admiração em seus olhos, o desejo emanando dele quase de forma visível.
— Você quer me foder? — inquiro aumentando os movimentos, adorando o seu gemido dolorido. — Me diz como!
— Duda... — geme, negando.
Esfrego-me com mais força contra ele, e Theo fecha os olhos.
— Diz, Theodoros. — Seguro-o pelo rosto com as duas mãos. — Como você gostaria de me comer?
— De qualquer jeito... — Fico séria e nego, então ele revela sua fantasia: — Sobre o balcão do seu bar. — Isso me surpreende. Ele nota e sorri, bem safado. — Vou colocar você de quatro sobre ele, sentar naquela banqueta giratória e comer sua boceta com a boca, beber sua excitação como quem bebe uma dose de uísque 26 anos. — Theo se aproxima do meu rosto e diz baixinho: — Tenho certeza de que sua boceta é mais saborosa do que qualquer puro malte que já provei!
No exato momento em que me beija, sinto meu corpo todo estremecer e gozo como uma louca, apertando-me contra ele como se fosse morrer.
— Goza, safada! — Theo manda ainda com a boca na minha. — Deixa minha calça com seu cheiro, marca esse território como seu.
Desmorono contra ele, surpresa demais com isso tudo, deliciada com as sensações, louca para entender como esse homem consegue me excitar tanto desse jeito.
Escuto sua risada grave ecoar pelo carro. Suas mãos alisam minhas costas sem parar, em uma carícia deliciosa. Sinto minhas pernas bambas, os músculos trêmulos e o coração disparado. Que loucura foi essa? Eu nunca gozei assim, sem nem mesmo tirar a roupa ou me tocar!
— Isso foi... — murmuro, tentando encontrar palavras.
— Delicioso! — Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. — A sarrada mais foda de todos os tempos!
Rio, concordando.
— Precisamos descarregar o carro — ele me lembra.
Respiro fundo e assinto.
— Teve seu pagamento pela ajuda? — provoco-o, saindo de cima dele e voltando para o banco do motorista.
— É claro que não, sua dívida apenas aumentou! — Aponta para sua calça, e a evidência de sua insatisfação está lá, volumosa e levemente úmida. Olho-o indignada com a cobrança. — Sou um bom negociador, Maria Eduarda. — Pisca. — Caralho... — Passa a mão sobre sua calça, sentindo-a molhada. — Sua dívida aumentou astronomicamente!
Rio e saio do carro após vestir a blusa.
— Você ainda precisa terminar esse serviço. — Aponto para o pequeno baú de carga.
— Oui, chef! — sua voz em francês me causa um arrepio por todo o corpo. Seu sorriso iluminado e divertido agita tudo dentro de mim.
Theodoros sai do carro e abre o compartimento de carga, pegando as primeiras caixas.
— Por onde?
— Não tem acesso ao restaurante por aqui, vou ter que abrir a porta principal.
— Sério? — Ri de si mesmo. — Vou ter que sair daqui com o pau duro e carregando pescado como um tarado gastronômico?
Gargalho.
— Vai. — Olho o relógio. — E, para sua informação, já tem coisa aberta.
Ele faz careta e geme, abaixando as caixas de modo a tampar o volume que nem o jeans, nem a camisa comprida conseguem disfarçar. Meu coração se aquece de um jeito estranho, e tento lembrar que esse mesmo homem que me fez gozar e que me faz rir com muita facilidade é aquele que me irrita e que quer tomar o que é meu.
Theo caminha para fora da garagem e dá uma espiada para conferir se a rua já tem movimento. Vira-se para mim e faz uma expressão de alívio, piscando o olho.
— A barra está limpa! — Sai para a calçada.
Rio dele e não resisto.
— Ei — chamo-o. Ele para e me olha. — Segunda-feira o Hill não abre, estou de folga. Vem jantar comigo.
Theo não responde de imediato, e penso que ele possa ter já algum compromisso nesse dia e por isso...
— Não vai abrir a porta? — Faz um gesto na direção da entrada. Saio da garagem, um pouco decepcionada por ter tido o convite ignorado, mas, quando passo por ele, escuto-o dizer: — Não. — Paro ante a resposta. — Não virei jantar com você, Maria Eduarda. — Sorri. — Virei jantar você!
Fico sem fôlego, congelada no meio da rua, e as imagens de ele me comendo no balcão de bebidas como descreveu enchem minha mente, fazendo-me viajar.
— Ei, chef, está pesado aqui!
Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e corro para abrir a porta, ansiosa pela minha folga como uma adolescente esperando os pais saírem para receber o namorado em casa.
Menos, Duda!, meu cérebro implora.
Sim, eu não sou uma adolescente há muito tempo, e Theodoros Karamanlis não é e nem nunca será um namorado.
Theo me ajudou a colocar todas as caixas de pescado na câmara fria, sempre provocando, tocando-me em todas as oportunidades, até que me envolveu em um abraço gostoso dentro do compartimento gelado.
Rio ao lembrar que, naquele momento, não senti nenhum pouco de frio, muito menos me incomodei com o forte cheiro de camarão que flutuava à nossa volta. Meus sentidos estava todos ligados nele, era impossível que outra coisa chamasse mais a minha atenção do que seu beijo molhado e seu corpo quente junto ao meu.
Estava pensando no quão grave, sanitariamente falando, seria uma trepada rápida dentro de um local de acondicionamento de alimentos, porém, antes mesmo que eu avaliasse os prós e contras, ele se afastou alegando ter ouvido barulhos.
Saí da câmara e dei de cara com tia Do Carmo na cozinha. Dei um pulo de susto ao vê-la e pus a mão no coração.
— Tia! — Ri sem jeito. — Não sabia que a senhora estava aí!
Ela franziu o cenho.
— Eu ouvi o portão da garagem abrir, mas você não subiu, então vim ver se precisa de ajuda. — Ela tentou olhar para dentro da câmara, onde eu mantinha cativo um certo CEO grego. — Algum problema aí dentro?
Eita, porra!, pensei, pois sempre fui péssima com mentiras.
— Não, nenhum problema! — Sorri. — Trouxe um peixão bem bonito lá do CEAGESP e estava... — dei uma engasgada ao lembrar do que estava fazendo — conferindo melhor o produto.
Ela não pareceu convencida e começou a andar em minha direção.
— Que tipo de peixe?
— Grego — respondi sem pensar e depois tentei emendar: — Pescado no mediterrâneo, coisa fina!
Tia Do Carmo para.
— Para servir em iscas empanadas? — Ela começou a gargalhar, e eu pensei que tinha sido descoberta. Será que o filho da mãe apareceu na escotilha da porta? — Acho que você ficou um tanto empolgada depois do jantar com seu amigo francês.
Ela balançou a cabeça, mas deu meia-volta.
— Não demore muito aí. O Naldo vem limpar o pescado, não vem? — Assenti, sentindo-me aliviada, embora seriamente preocupada com o homem dentro do freezer. — Estamos te esperando para o café da manhã antes de partirmos.
— Já vou subir, tia! — gritei quando ela saiu da cozinha e abri a porta da câmara, encontrando Theo de olhos fechados, meio que jogado em cima de uma prateleira. Senti o coração disparar e saí correndo até ele.
— Ah, meu Deus, Theo! — Cheguei bem perto para saber se ainda estava respirando e para conferir os batimentos cardíacos, afinal, eles diminuem muito com a hipotermia. — Theo!
— Bu! — Ele abriu os olhos e me agarrou, gargalhando, enquanto eu tentava socá-lo por ter me dado um susto. Filho da puta! — Seu peixão grego ainda está em boa qualidade, chef!
Rolei os olhos diante do deboche, mas minha indignação durou pouco, pois logo ele me beijou de novo, saindo agarrado a mim da câmara.
Tive praticamente que expulsá-lo do bar e fiquei um tempão na porta do Hill observando-o entrar no carro, abandonado ali durante a bebedeira da madrugada, e ir embora.
Ainda suspirava quando senti os bracinhos da Tessa me rodearem pela cintura.
— Eu queria que você fosse com a gente! — disse me apertando.
Ah, aquela vozinha cortou meu coração.
Virei-me para ela, erguendo-a nos braços, mesmo já pesada demais para isso, e cheirei seus cabelos como fazia desde que era recém-nascida.
— Meu amor, mamãe vai trabalhar, mas prometo tirar uns dias para visitar vocês na praia. Conversei com tia Manola, e ela vai ficar no comando da cozinha.
Tessa começou a rir.
— Ela é doida, mãe! — Coloquei-a no chão, apertando sua bochecha, achando graça. — Mas cozinha bem! Faz uns bolos...
Ri quando ela lambeu os lábios.
— Por falar em bolos, vamos subir para o café? Eu estou morrendo de fome e ainda quero descansar antes de levar vocês para a rodoviária. — Pus a mão em sua testa, conferindo se a temperatura continuava normal. — Não sentiu mais nada, nem tossiu?
— Estou ótima, mãe! — Rodopiou. — Vem!
Ela saiu saltitante da cozinha, cheia de vida e saúde como sempre foi, e a segui para o andar de cima. Suspirei, sentindo-me bem, afinal, tinha uma filha linda, um negócio que prosperava a cada dia e ainda um belo corpo masculino para usar e abusar.
Olho para o relógio da cozinha, deixando de lado as lembranças daquela manhã tão diferente. Depois que as deixei no terminal rodoviário, dediquei-me 100% ao trabalho e mal vi o tempo passar. Hoje, segunda-feira, acordei próximo ao meio-dia, esticando-me na cama, feliz por estar de folga, até que meu celular apitou uma mensagem e me sentei apressada.
Rio ao recordar como pulei igual louca ao me lembrar de que precisava ir ao Mercado Municipal buscar umas coisinhas para o jantar do Theo.
Respiro fundo, coloco o creme de leite fresco na tigela de inox e começo a batê-lo. Chegou a hora! Sinto meu coração disparado. Daqui a pouco ele estará aqui, jantaremos e ...
O telefone vibra em cima da bancada da cozinha, e uma mensagem de Theo aparece na tela:
Arregalo os olhos.
Puta merda, que homem pontual!
— Theo?! — escuto a voz de Viviane de longe, mas não consigo focar no que ela fala.
Além do cansaço, sinto como se não estivesse realmente aqui, neste jantar tão sofisticado em uma casa cheia de objetos de arte e com pessoas que entendem do assunto, tudo o que sempre apreciei. No entanto, nada disso importa.
O assunto não me prende, as obras não me deslumbram e as mulheres aqui comigo não me excitam, e, depois das horas intensas que passei nessa madrugada e manhã, eu não quero outra coisa senão o frisson causado por Maria Eduarda Hill.
Bebo um gole de uísque – do primeiro copo da noite, ainda –, recriminando-me por não ter sido sincero com Valentina e cancelado o compromisso. Eu nunca faria isso; além de ser deselegante, é completamente babaca. Olho para ela, muito animada conversando com Marco Perrutti, o tal mecenas que Vivi está traçando.
Valentina é linda, tenho que admitir, e, se eu a tivesse conhecido em outro momento – sem o “efeito Duda Hill”, por exemplo –, talvez a coisa entre nós tivesse engatado de forma mais satisfatória.
Não entendam errado, não estou desistindo dela, não mesmo! Ainda acho que é a melhor opção que eu já tive até hoje e, vale ressaltar, casamentos são bem-sucedidos quando firmados com a razão, sem a interferência de qualquer outra baboseira romântica.
Fato é que o tesão ainda é um ponto crucial para dar certo. Eu nunca vou me apaixonar como meu pai o fazia – sempre é bom ressaltar. Contudo, espero sentir tesão por minha parceira, pela mulher que será a mãe dos meus filhos.
Os cabelos claros de Valentina brilham com as luzes especiais que há no teto, artisticamente concebidas para dar a iluminação correta a cada pintura nas paredes da casa. A pele dela é alva, sedosa e com leves sardas nos ombros. Seu corpo é... Olho detalhadamente para a roupa que usa, uma blusa de seda fininha, terminada acima do umbigo, com uma calça dessas largas e elegantes, parecendo ser do mesmo tecido. Não tem grandes estampados, apenas desenhos abstratos como uma boa obra de arte, e nem brilho, pois o tecido é fosco, mas faz minha imaginação viajar por suas curvas, imaginando-a nua.
Fecho os olhos a fim de curtir o momento fantasioso na esperança de acender o tesão. Nunca tive problema em sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo, sempre levei isso bem. Nunca fiquei fissurado em alguém a ponto de não conseguir mais olhar para outras, então não será agora, a essa altura da minha vida, que isso irá acontecer.
As imagens do conjunto de seda caindo no chão me excitam. O esvoaçar suave do tecido, a forma como as pinturas nele se misturam criando uma miríade de cores, até deixá-la nua. Sigo meu olhar por suas pernas, com coxas firmes e bem torneadas, uma lingerie... cor de pele? Franzo o cenho, ainda divagando. Estranho a cor, pois nunca me deu tesão, e continuo a descobrir, mentalmente, como é o corpo da mulher que cogito ser minha esposa.
O abdômen plano, com uma pinta marrom bem redondinha do lado esquerdo da cintura, os peitos seguros dentro de um sutiã... cor de pele de novo? As mãos de unhas curtas e sem esmalte, bem diferentes das de Valentina, avançam sobre o fecho da peça, e ela se expõe para mim, mostrando seios firmes, de bicos rosa-escuro que são perfeitos.
O rosto provocador de Duda Hill, com um sorriso malicioso, cabelos castanhos longos jogados para trás, queixo para cima e braços abertos em um claro convite para que eu tome...
— Theo? — Sinto-me ser sacodido. — Ei, você está dormindo?
Abro os olhos, assustado, e demoro a sair da fantasia na qual estava, ainda esperando ver Maria Eduarda entre as pessoas na sala.
— Cansado? — Valentina se aproxima e me abraça pelo pescoço, acariciando minha nuca. — Se quiser podemos ir embora, levo você até meu apartamento.
Uma trepada com ela para resolver de vez esse empasse na minha mente? Considero a ideia.
— Acho melhor vocês ficarem aqui, Valentina — Vivi interfere. — Nunca vi o Theo tão disperso e cansado. — Aproxima-se. — Está se sentindo bem?
— Estou, sim. — Balanço a cabeça. — Quase não dormi ontem à noite e hoje acordei muito cedo...
— Ah, você treina de manhã! Onde é sua academia? — Valentina questiona, bastante interessada.
— Em casa. Não tenho tempo de ir até uma academia, perderia muito no percurso.
— Te entendo perfeitamente! — Sorri e se esfrega de leve em mim. — Vamos aceitar o convite e ficar por aqui esta noite?
— São muito bem-vindos! — Marco ratifica o oferecimento de Vivi.
— Não, eu vou para casa. — Solto as mãos de Valentina do meu pescoço. — Você pode ficar, aproveitar mais a noite. Eu estou bem cansado mesmo!
— Como vai dirigir?
— Eu vim com o Dionísio, Vivi. — Dou um sorriso de desculpas. — Perdoem-me. Na próxima tentarei ser uma companhia melhor.
— Tem certeza de que não quer que eu vá contigo? — Valentina pergunta.
— Não, obrigado. — Beijo sua testa. — Pode ficar com seus amigos. Outro dia nos falamos.
Despeço-me com um aceno e sigo em direção à porta, mandando mensagem para o Dionísio, que deve estar na cozinha ou em algum canto conhecendo o pessoal da casa.
Mal saio na calçada, e Vivi me chama:
— Theo!
— Viviane, não insista...
— Não. — Ela ri. — Te conheço há muito tempo para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás. — Concordo com ela; conhecemo-nos há alguns anos já. — Eu achei que as coisas entre Valentina e você estivessem evoluindo.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual seu interesse nesse assunto, Vivi?
— Acho que vocês dois combinam, além de serem meus amigos. — Dá de ombros. — Ela me disse que você mandou rosas e tudo. O que está havendo?
— Nada de mais, apenas cansaço — respondo seco, continuando a andar até onde o carro me deixou quando cheguei.
— Ficou chateado por ela ter vindo comigo ao invés de vir contigo?
Rio da pergunta.
— Não sou desse tipo, Vivi, deveria saber, já que me conhece há anos.
— Encontrou outra mulher melhor que ela?
Dessa vez paro e a encaro.
— Você se ouviu perguntando isso? Porra, Vivi, não estou comprando um carro ou mesmo uma obra de arte! Você chega a denegrir seu gênero fazendo esse tipo de pergunta!
Ela ri de mim.
— Ora, ora... Como se você não nos achasse meros objetos! Pelo menos, algumas de nós. — Abraça-me e me dá um beijo estalado na bochecha. — Você confia no meu faro para achar novos artistas, não confia? — Assinto. — Então me dê sua confiança com relação a Valentina. Ela é perfeita para você!
— Pode ser...
Vejo o carro parar e me afasto dela, despedindo-me antes de entrar quase correndo dentro do veículo. Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao contar para Vivi sobre o pedido do meu avô e minha busca por uma mulher que se encaixe tanto no que ele quer como esposa de seu neto mais velho quanto no que eu gostaria de ter como companheira. Achei que ela poderia ajudar, mas nunca que fosse interferir e me empurrar para uma de suas amigas.
Recosto a cabeça contra o encosto, aliviado por não ter vindo dirigindo.
— Cansado, chefe? — Dionísio questiona.
— Bastante, Dio. — Confiro as horas no Constantin23 que uso hoje. — Queria que esse final de semana passasse rápido! — resmungo, pegando o celular e conferindo se há mensagens da Duda. Nenhuma! Claro que ela deve estar ocupada no pub a essa hora e seria ridículo mandar mensagem, quando nos vimos de manhã.
Soco o telefone no bolso com uma força desnecessária e bufo de tédio.
— Sentindo falta da empresa já? — Dionísio ri, atento ao trânsito. — Fique calmo, chefe, segunda-feira chega rápido.
— Tomara que sim!
Fecho os olhos novamente e penso em quantas punhetas toquei ao longo do dia. Espero que o domingo passe bem depressa, porque, senão, vou jantar com Duda com uma parte importante um tanto esfolada.
Você está patético!, meu ego grita quando toco a maçaneta da porta do carro pela enésima vez. Recuo e tento me controlar para não parecer tão desesperado, mesmo estando há pelo menos uma hora dentro do automóvel, igual a um bobo, esperando dar o horário que Maria Eduarda marcou comigo.
É, eu mal consegui trabalhar hoje pensando nessa noite, em tê-la nua pela primeira vez, seu corpo no meu, sua boca na minha, nós dois embolados e suados, cheios de tesão e prazer.
Porra, Theo!, repreendo-me, arrumando novamente meu pau na cueca.
Passei o final de semana em um estado constante de excitação. Cada vez que eu precisava trocar de roupa e esbarrava no pênis, pronto, lá estava ele todo empolgado. Tive de me masturbar em todos os banhos, porque era impossível segurar meu pau sem gozar, e cada vez que a cozinheira vinha à minha mente, lá ia eu de novo, com o membro em riste, aliviar-me ou tentar acalmar a situação.
Vocês hão de convir que não sou mais nenhum adolescente para ficar passando por essa situação! Há muito tempo isso não acontece comigo, talvez a única vez tenha sido...
Não! Me recuso a comparar as situações!
Eu era jovem e imaturo demais, virgem e completamente manipulável. Arrependo-me todos os dias por ter me deixado guiar pelos hormônios, pensando que estava apaixonado, sofrendo e gemendo como um cão sarnento, só pensando em minha dor.
Não, as coisas são diferentes agora!
Respiro fundo e saio do carro de uma vez, levando comigo a mala que trouxe com um item especial que achei que seria indispensável nesta noite. Sorrio, melhorando meu humor ao imaginar o que a Duda vai pensar quando vir.
Chego à porta do bar, mas não a vejo entre as mesas vazias e o salão escuro, porém, consigo avistar o balcão de bebidas, e isso já quebra a fantasia de comê-la ali esta noite. As luzes das chopeiras e dos LEDs com as logo de bebidas deixam aquela área bem iluminada, sendo possível ver daqui de fora.
Será que ela curte a possibilidade de ser vista trepando? Meu pau se contorce com o pensamento. Há quem goste de assistir e de se mostrar, então, caso ela seja uma adepta do exibicionismo sexual, estarei à sua disposição!
Pego o celular e envio uma mensagem lhe avisando que já estou à espera, e no mesmo momento ela a visualiza.
A ponta do meu pé bate no chão, impaciente. Olho para os lados a todo instante, porque a maioria do comércio está fechada e, embora passe um carro ou outro, não há transeuntes na calçada.
Tomo um susto ao ouvir barulho na porta de madeira e vidro, mas o sentimento é instantaneamente substituído pelo desejo quando a vejo.
Foda-se o controle!
Não dou tempo nem mesmo que ela me cumprimente e vou logo atacando sua boca. É, não foi sutil e descontraído como treinei – sim, porra, eu treinei! – lá no carro enquanto esperava dar a hora marcada. Não teve uma piadinha, um sorriso safado ou uma provocação para preparar o terreno.
O beijo não tem nada de sutil.
Devoro sua boca macia e com um leve sabor de vinho, degusto seus lábios molhados, saborosos, enquanto roço sem parar minha língua na dela. Minha mão livre segura os cabelos de Maria Eduarda pela nuca, pois estão presos no coque que usa quando cozinha.
Nossos corpos colados, movo meus quadris sem parar, esfregando-me nela como um louco, aumentando a tortura em que ela tem mantido meu pau durante todos esses dias. Quero devorá-la toda, fundir-me a ela, transformá-la numa extensão do meu tesão.
O barulho de algo caindo nos separa, e eu olho um par de óculos caído no chão. Merda! Controle-se! Duda se abaixa para resgatá-lo, e fecho os olhos, tentando voltar à razão e parecer civilizado e não um tipo de homem das cavernas doido para foder.
Mesmo estando doido para foder!
— Desculpe-me. — Sorrio. — Boa noite, Maria Eduarda.
Ela sorri e põe os óculos no rosto, surpreendendo-me porque nunca a imaginei os usando. Confesso que adoro o que vejo!
— Boa noite, Theo! — Fecha a porta do bar. — Você é pontual!
Franzo o cenho.
— Não era para ser?
Ela gargalha.
— Era, claro, mas vai ter que esperar uns minutos até eu finalizar lá na cozinha e arrumar nossa mesa. — Aponta para uma no fundo do salão. — Você quer uma bebida?
— O que está bebendo? — pergunto, passando a língua nos lábios como se ainda pudesse sentir o leve sabor de vinho de sua boca. — Vinho branco?
Ela assente.
— Sauvignon Blanc de uma garrafa que Thierry trouxe da França. — Duda faz um gesto, beijando as pontas dos dedos fechados sobre os lábios e abrindo a mão. Rio. — Isso aí não são milhares de garrafas de uísque 26 anos, não é?
— Não! — Levanto a mala. — Isso aqui é algo que só uso em ocasiões especiais.
Duda arregala os olhos.
— Trouxe um smoking? — Ri. — Olha, você fica delicioso em um, devo admitir, mas não vou colocar vestido de gala, não!
Caminho até ela e abro um pouco do fecho da mala para que espie.
— O que é isso?
Aproximo-me do seu ouvido.
— Música! — Vejo sua pele arrepiar com o sopro da minha voz e deposito um beijo na curva do seu pescoço. — Posso ir até a cozinha te ver trabalhar ou tenho que ficar aqui?
— Pode ir! — Encara-me. — Vou adorar a companhia.
Pisca e entra, enquanto fico congelado no lugar sem poder me mover, tamanho o incômodo entre minhas pernas. Era para eu a estar seduzindo e não o contrário!
Entro na industrial, funcional, embora pequena cozinha onde ela trabalha todas as noites. Já estive aqui na manhã de sábado, mas estava tão vidrado nela, além de quase ter morrido de hipotermia, que não me atentei aos detalhes.
A cozinha é dividida em estações de trabalho, parecida com a do Villazza, claro que com menos divisões e com utensílios mais simples. Há um enorme fogão em um canto, enquanto, nas bancadas, vejo fritadeiras e grelhas. No fundo da cozinha há uma espécie de torre com vários fornos embutidos. Em outra parede vejo freezers, e uma porta, que está aberta, mostra um depósito de bebidas.
Coloco a mala sobre o balcão principal, onde há várias luminárias penduradas, e procuro uma tomada.
— Do outro lado, embaixo. — Duda me ajuda, sabendo o que estou procurando. — Cuidado, que todas são 220 volts!
— Meu aparelho também! — Retiro meu material precioso, que até hoje só foi até a casa do Millos, e o coloco sobre o granito. — Você vai se...
— Uma vitrola! — Duda me interrompe, olhando para o equipamento com olhos arregalados, vidrados no equipamento, como os de uma criança em uma loja de brinquedos. A admiração e curiosidade são evidentes em seu rosto, e isso me anima.
— Não é uma vitrola! — explico com paciência. — É a vitrola! — Passo a mão sobre ela. — O som mais perfeito que você vai ouvir! Onde fica seu sistema de som?
— Lá perto do palco. Já deixei ligado para quando...
— Ele conecta por wi-fi? — Duda assente, e eu busco pelo equipamento, dou meu telefone a ela, que põe a senha, e um som anuncia que a conexão foi bem-sucedida. — Suas caixas são boas?
— Acho que sim, são profissionais.
Ergo a sobrancelha e pego um disco da Aretha Franklin, escolhendo a soul music ao invés do meu jazz clássico, achando que ela irá gostar mais. Ponho o disco no aparelho, movo a agulha de diamante até tocar de leve o vinil e deixo a mágica acontecer.
A interpretação forte de Respect começa a tocar no salão.
— Não tem caixas aqui dentro? — Ela assente, deixa a tigela na qual estava trabalhando sobre o balcão e vai até perto da porta da câmara fria. Segundos depois, o som enche o ambiente.
Duda abre um sorriso e levanta a sobrancelha, vindo até onde estou com os olhos brilhando com promessas safadas. Pertinho lhe assisto, de queixo caído, seguir a música com os lábios, dublando enquanto dança.
— Eu devia saber! — Gargalho. — Empoderamento feminino!
— Ei, respeita! — Ela ri e se pendura no meu pescoço.
Beijo-a ainda sentindo seus lábios abertos pelo sorriso, adorando absorver essa energia contagiante que ela irradia quando está assim, brincando, relaxada em seu ambiente, sob controle.
É, Maria Eduarda tem o controle de suas emoções, enquanto eu me sinto tremendo de vontade de mandar o jantar para a puta que pariu e já começar a comê-la nesse clima descontraído.
Ela se afasta e pega a tigela.
— Não posso parar de bater. — Volta para a bancada onde estava. — Quer uma taça de vinho?
Quase faço careta, mas vou até a garrafa e encho a taça ao lado. Hoje não trouxe uísque, vim disposto a me pôr totalmente em suas mãos. Caminho por entre as panelas e utensílios sentindo seus olhos sempre sobre mim.
— Sua cozinha é bem equipada — comento, provando o vinho. — Uau, é bom mesmo!
— Thierry é um enófilo de carteirinha. — Ela dá risadas. — Tentou ser sommelier antes de estudar gastronomia, mas gostava muito de beber, e ninguém iria querer um profissional bêbado.
— Vocês são bem amigos, pelo que vejo.
— Somos, sim. — Um apito soa, e ela vai até um dos freezers e tira uma vasilha de dentro dele, levando-a até a câmara fria. — Pronto! Vou só carregar o sifão com o chantilly para colocar na sobremesa quando servir.
Ponho minha taça sobre a bancada e vou até ela enquanto enche uma espécie de garrafa de inox.
— Hummmm... — gemo em seu ouvido, segurando-a por trás. — Vou ter direito a sobremesa.
— É claro que...
Subo as mãos e aperto de leve seus seios, lambendo sua nuca.
— Eu quero a sobremesa agora, Duda. — Abro os botões da blusa de chef que usa. — Preciso da sobremesa agora.
— Theo, é...
— Psiu... — interrompo-a. — Sou o convidado de honra da noite, então posso escolher por onde quero começar.
Ela deixa o que está fazendo, e eu tiro sua blusa, deixando-a apenas com um vestido preto e branco de alças finas e – sorrio – fecho nas costas. Continuo a beijar sua nuca, passando a ponta da língua pela coluna cervical, mordiscando o encontro do pescoço com o ombro, enquanto abaixo o fecho da roupa.
Massageio seus ombros, ouvindo-a gemer, e enfio as mãos por baixo das alças do vestido, afastando-o de seu corpo, levando-o para os braços e o soltando. O tecido, leve e rodado, vai ao chão, e eu tenho a visão completa da sedutora cozinheira de costas, usando uma pequena calcinha rendada toda preta.
— Porra, Duda! — gemo e me ajoelho no chão. Fico na altura de sua bunda linda e seguro seus quadris. — Eu estou morrendo de fome!
— É? — sua voz está ofegante. — Então come!
Caralho!
Não preciso de nenhum incentivo mais. Beijo as nádegas perfeitas conforme continuo a segurando firme pelos quadris. Contorno a calcinha com a língua, entrando no meio das bochechas empinadas de sua bunda.
— Apoie as mãos sobre o balcão — peço, e ela o faz. — Agora abra um pouco as pernas.
O gemido dela quase me faz gozar quando a abocanho por trás, ainda sobre a calcinha. Aspiro profundamente o cheiro de sua boceta, deliciando-me com o aroma de mulher, salivando de vontade de provar o seu néctar. Esfrego a língua sobre o tecido fino da renda, capturo seus lábios protegidos pela peça e os chupo sem dó, sentindo um leve sabor em minha boca.
Seguro suas nádegas e as afasto o máximo que consigo, lambendo-a totalmente, de frente para trás, subindo pela coluna. Ponho-me de pé, sem fôlego como se tivesse acabado de correr uma maratona, e a abraço.
— Você é incrível! — sussurro ao mesmo tempo em que busco algum controle. — Quero te beijar inteira, Duda.
— Eu quero te ver! — suplica, mas sem se mover. — Preciso te ver!
Afasto-me, e ela se vira.
Solto outro xingamento ao tê-la quase nua para meu total deleite. Meus olhos percorrem cada curva de seu corpo com avidez.
Duda avança sobre mim, abrindo os botões da camisa que uso, e, quando sinto suas mãos sobre meu peito e abdômen, é necessário fechar os olhos para sentir sem que eu a agarre. Um toque leve, explorativo, a fim de conhecer cada parte de mim, fazendo meus músculos se retesarem e tremerem de antecipação.
Abro os olhos e sorrio de leve ao ver os dela brilhando de apreciação, sem que ela consiga tirar as mãos do meu abdômen.
— Gosta? — pergunto.
— Uau! — Ri sem jeito. — Você malha firme.
— Malho. — Seguro sua mão e a levo até meu pau ainda coberto. — Gosta?
Seus dedos percorrem a extensão dura do meu pênis, e o sinto pulsar. Maria Eduarda não responde, abre a braguilha da calça, em seguida o botão e a puxa para baixo, deixando-a caída sobre meus sapatos. Suas mãos agora alisam meus quadris, apertam minha bunda e sempre voltam para meu pau, ainda contido pela cueca boxer cinza.
— Gosto muito! Você é...
Puxo-a para um beijo, achando impossível que ela continue a me explorar com as mãos, a falar com tanto tesão sem que eu exploda em minha cueca. É difícil andar com a calça presa nos sapatos, mas consigo encostá-la ao balcão e a erguer a fim de colocá-la sobre ele.
Duda parece um tanto assustada, olhando seus materiais de trabalho, enquanto tiro sua calcinha, revelando sua pequena e rosada boceta. Ela cora desse jeito que eu sempre gostei, e sorrio malicioso.
— Sabe de uma sobremesa que eu gosto desde criança? — Ela nega, e puxo a tigela na qual esteve trabalhando desde que cheguei. — Morangos com chantilly.
Passo os dedos no creme gelado e espumoso e os mostro para ela. Encosto-me mais ao balcão, meu corpo entre suas coxas deliciosas, e passo o creme sobre o bico de seus peitos.
— Theo...
Duda geme quando lambo um, depois o outro, voltando a colocar o doce sobre eles.
— Melhor do que morangos! — falo antes de abocanhá-los novamente, chupando-os com força dessa vez.
Minha mão livre vai ao encontro de sua boceta e a encontra quente, molhada, pulsando de tesão, com o clitóris já exposto e duro, implorando para ser instigado. Molho meus dedos com sua própria lubrificação, brinco com os lábios, volto a esfregar a entrada de sua vagina e, então, dedico-me ao ponto sensível que tanto quero acariciar.
Passo a língua por cima de suas costelas, indo em direção à barriga plana que tem aquele sinalzinho lindo na cintura e o beijo demoradamente. Minha mão não para de tocar seu clitóris. Duda geme e ofega, e faço um caminho molhado até seu umbigo.
Penetro o orifício com a língua, metendo nele como irei fazer com sua boceta e seu rabo. Ela parece entender a mensagem e se deita de vez sobre a bancada de inox, contorcendo-se e falando meu nome entre gemidos.
Isso é foda demais!
O tesão que sinto por essa mulher não tem limites, beira a insanidade, é como um vício que precisa ser saciado com urgência.
Com um rosnado baixo, apoio minhas mãos em suas coxas e as separo, abaixando-me para ficar na direção que preciso para chupá-la até que me implore para parar.
Foda-se se minha língua ficar dormente, meus lábios ficarem inchados e eu tiver câimbras na mandíbula. Eu só quero Maria Eduarda gritando meu nome enquanto goza uma vez seguida da outra!
O primeiro gemido que ela emite assim que minha língua toca sua boceta suculenta é responsável por causar inúmeros espasmos em meus músculos, contraindo meu abdômen e enrijecendo ainda mais meu pau.
O sabor, a textura, a forma como ela se encaixa perfeitamente na minha boca é incrível. Não me faço nem um pouco de comedido ao puxar o máximo dela, sugar seus lábios, inserir toda a língua em sua caverna úmida e quente. Adoro isso, adoro saber que seu sexo está em minha boca, sendo degustado devagar enquanto sou embalado por gemidos contidos e desesperados.
Ajoelho-me no chão da cozinha e a puxo mais para a beirada. Sorrio ao ver todo o conjunto perfeito de locais para foder molhados de saliva e tesão. Passo os dedos, colhendo um pouco desse néctar íntimo e o espalho por sobre seu sexo sem nenhuma cerimônia, encarando-o, percebendo cada detalhe com o qual venho fantasiando há muito tempo.
É ainda melhor do que imaginei.
Passo o dedo médio ao longo da fenda e sinto Duda estremecer em meus braços, retesando-se quando brinco na porta de seu cuzinho. Sorrio feito um doido por causa dos gemidos dela, sem perceber a princípio que estou gemendo também.
— Você é uma delícia, Maria Eduarda! — Aproximo-me dela de novo. — Quero sentir o sabor do seu gozo jorrando na minha boca. — Chupo exatamente em cima do clitóris, ainda massageando seu rabo com o dedo. — Goza, gostosa!
Volto a sugar, intercalando com movimentos certeiros da língua. Sinto meus cabelos sendo puxados e o peso de seus pés sobre meus ombros. Ela rebola na minha cara sem parar, ofegante, excitada, buscando a liberação do prazer que minha boca está proporcionando.
Estou tão excitado quanto ela, bufando contra sua boceta como um touro nervoso, contraindo meus músculos a fim de controlar meu próprio tesão e não a acompanhar no momento em que gozar.
Adoro sexo oral, sou completamente viciado em chupar uma boceta molhada, gosto da sensação dos sabores em minha língua, da maciez, da textura dos lábios, da virilha, das dobras que escondem o clitóris e, principalmente, deliro ao balançar um grelo com a língua, sentindo-o duro de excitação.
Não há como fingir um orgasmo em um sexo oral. O homem tem que ser muito inexperiente para ser enganado nisso ou ser um fodedor relapso, que não presta atenção à parceira, o que, de forma alguma, é o meu caso.
Cada movimento de Duda me excita, desde a rebolada discreta até quando se esfrega sem pudor na minha cara, usando todo o meu rosto para obter prazer. Ela faz muito isso! A diaba se movimenta forte e rápido, usufruindo do toque do meu nariz, da aspereza da minha barba crescida e da maciez dos meus lábios.
Eu deliro. Meu pau chega a doer na cueca – que já se encontra ensopada onde alberga a cabeça do membro – tamanho o tesão que ela me proporciona apenas por reagir dessa forma a mim: entregue, com luxúria, buscando seu prazer e me usando para isso.
Acelero a língua e aprofundo a sucção sobre seu clitóris, e ela goza em desespero. Escuto o barulho de algo metálico caindo, e a pressão no meu couro cabeludo some quando ela desmorona para trás, deitando-se sobre a bancada. Duda se contorce, rebola, para e volta a se contorcer em claro frenesi. Seus gemidos – quase gritos, na verdade – disputam lugar com a voz da Rainha do Soul, formando um delicioso dueto que nunca mais poderei esquecer.
Aretha Franklin daqui por diante me remeterá a esta noite e a Duda.
Sinto sua boceta, que já estava quente e molhada, ficar ainda mais úmida durante o orgasmo e não me satisfaço apenas em beber seu gozo; movo meu dedo e a penetro a fim de sentir as contrações dos músculos de sua vagina, sentindo quão apertada ela se mostra e em como meu pau ficará deliciosamente acomodado nessa maciez de veludo encharcado.
— Meu Deus! — ela exclama quando o corpo relaxa. — O que foi isso?
Sorrio ainda entre suas pernas, porém apenas a tocando de leve, reverente. Imagino que, assim como acontece com meu pênis, ela fique sensível depois do orgasmo, por isso sou muito sutil no toque, roçando seus lábios e entrada, evitando o clitóris duro e aparente.
— A melhor sobremesa que já provei! — digo com sinceridade.
Ela ri e balança a cabeça em negativa. Ergo-me e encaixo meus quadris entre suas pernas, inclinando-me sobre ela. Imediatamente fica séria, seus olhos brilhando de satisfação, seu rosto corado pelo orgasmo.
— Quero mais, chef! — sussurro, beijando seu pescoço levemente melado do chantilly, sentindo o pulsar forte em sua veia e seus suspiros de prazer. — Ainda estou faminto!
Os dedos dela deslizam sobre meus cabelos, sem puxar dessa vez, apenas em um carinho gostoso, quase um cafuné. Nunca fui adepto a esse tipo de toque durante uma trepada, sempre fui do tipo que curte mais as safadezas, as porradas, do que os carinhos. Contudo, acho que isso combina tanto com ela que apenas me deixo ser acarinhado.
— Estou à disposição para alimentá-lo esta noite — ela brinca, e eu rio diante da resposta. — Basta me dizer o que quer agora...
— Eu só quero você! — Olho-a. — Apenas você desde que a conheci.
Maria Eduarda prende a respiração com o que digo, e eu também, pois nunca pensei em admitir algo assim para ela. Entreguei-me em suas mãos agora, dei-lhe todo o poder que uma mulher precisa para fazer de um homem gato e sapato. Não é mentira, não quis trepar com mais ninguém desde que a cozinheira cruzou meu caminho, porém, eu não precisava ter confessado isso, nem mesmo ter me exposto dessa forma.
Duda olha para o lado e abre um sorriso estranho. Ergo uma sobrancelha e me afasto levemente quando vejo dedos cheios de chantilly, pensando que ela irá me sujar com o creme, mas não, a diaba só quer me torturar!
Chupa dedo por dedo com a desenvoltura de uma atriz pornô de requinte, seduzindo-me, enviando uma mensagem direta sobre o que deseja fazer agora, e meu pau pulsa contra ela em expectativa.
Ela se ergue, e eu a puxo pela cintura, dividindo com ela a doçura do chantilly em sua boca. Tenho vontade de devorá-la inteira. Aperto-a, esmago-a contra mim, enquanto nossas bocas estão consumindo uma a outra.
Quando sou empurrado para longe, oponho pouca – ou nenhuma – resistência e a vejo descer da bancada (linda da porra!) e pegar a tal garrafinha que estava enchendo de chantilly minutos atrás. Ela aponta o objeto em direção ao meu peito e o aperta, despejando um creme mais espumoso, mais consistente e muito mais gelado do que o que estava na tigela.
— Isso está gela...
Calo minha boca assim que sinto sua língua quente retirar o doce bocado por bocado. Coloca mais, agora sobre minha barriga, em linhas horizontais sobre cada gominho do meu abdômen. Gemo alto quando lambe tudo, esfregando a boca sobre meu corpo.
Antes de remover minha cueca, Duda explora a extensão do meu pau com a boca, usando os dentes para mordê-lo de leve por sobre o tecido. Crispo as mãos e urro, enlouquecido pela mulher aos meus pés.
O estado de tesão em que me encontro faz de mim um homem impaciente. Coloco a mão sobre o cós da cueca e recebo um tapa tão forte que a afasto rindo. Mandona, gostosa! Meu riso é silenciado por um soluço quando sinto meu pau sendo engolido por uma boca tão quente e molhada quanto sua boceta, com a vantagem de uma língua roçando e leves sucções.
— Porra, Duda! — gemo e a seguro pelo coque, entranhando meus dedos abaixo dele, mantendo meu pau um tempo no fundo da sua garganta. — Chupa forte, engole tudo!
Deliro quando ela volta para a ponta e afunda novamente em direção à base, devagar, mas com força, do jeito que pedi. Travo a mão livre, fechando meu punho, buscando controle para não explodir em sua boca tão cedo, mesmo já morrendo de vontade.
Ela para de me chupar, e a sensação gelada do chantilly sobre meu pau fumegante causa um arrepio delicioso sobre meu corpo, deixando meus mamilos duros e os músculos instáveis. Bambeio para trás, mas ela me segura com a boca, sugando meu pênis cheio do doce.
Rosno como um louco, já não respiro normalmente, mas bufo, travo os dentes e aperto os olhos fechados. Suas mãos fazem pressão em minhas bolas, e ela golpeia meu membro com a língua, brinca com ele batendo-o em sua bochecha e volta a engoli-lo como se pudesse realmente comê-lo.
Sim! É isso! Estou sendo comido, e é maravilhoso!
— Duda, eu não vou aguentar mais! — decido ser sincero. Tento afastá-la, mas ela não deixa. — Eu vou gozar em breve... — Ela para de se mover, mas sua língua safada continua a me estimular. — Ah, foda-se!
Seguro-a pelos cabelos com ambas as mãos, travo sua cabeça e começo a mover os quadris, fodendo sua boca, a cabeça do meu pau batendo em sua garganta a ponto de eu senti-la se contraindo.
O prazer é indescritível, as sensações são novas e inusitadas, mesmo para um homem vivido como eu. Tudo com Maria Eduarda tem um plus, tudo é mais intenso, profundo e sensível.
A leve contração nas minhas bolas indica que estou pronto. Retiro o pau de sua boca e a olho, parecendo um tanto surpresa, antes de derramar meu gozo sobre seus peitos, urrando como um bicho, mas sem tirar meus olhos dos seus.
Desabo na sua frente, ficando de joelhos a princípio, até apoiar minhas mãos no chão, ofegante e suado. Meus músculos tremem, pulam em espasmos de prazer, minha mandíbula está tensa, meu pau parecendo um vulcão escorrendo lava. Gemo alto quando ela me toca e a encaro sorrindo.
— Você me destruiu! — brinco, piscando.
— Já? — Duda sorri. — Nem comecei ainda!
Porra, mulher!
Puxo-a para um beijo, sentindo-me a porra do homem mais sortudo deste planeta.