Tammy sempre tentou estar preparada para qualquer desastre que a vida pudesse colocar em seu caminho, mas ela nunca imaginou um sexy homem-fera, mistura de homem com leão em seu futuro. Ele é enorme, têm os mais exóticos olhos dourados de gato que jamais viu, e está tão aterrorizada que pela primeira vez em sua vida ficou sem palavras. Ele a persegue. Rosna, e ela está apavorada demais até mesmo para fugir.
Valiant odeia os seres humanos. Mas quando sente o cheiro adorável da fêmea humana que invade o seu território, começa a repensar isso. Seu medo é um aroma tentador, puro, doce, e quanto mais perto ele chega, mais ela se torna atraente. Uma vez que colocou as mãos sobre ela, não está disposto a deixá-la ir. Um pensamento vai mudar sua vida. MINHA!
Antes que Tammy possa recuperar seus sentidos, ela se encontra deitada de costas na cama de Valiant. Agora ele só tem que usar cada centímetro do seu grande e musculoso corpo, para convencê-la de que ela deve ficar com ele para sempre.
Tammy Shasta havia experimentado o medo inúmeras vezes em seus vinte e oito anos de vida, mas comparado a isso fazia com que todas aquelas vezes parecessem fichinha. Sabia que o seu trabalho poderia ser perigoso. Tudo naqueles dias era um pouco arriscado. Dirigir em uma rodovia poderia ser perigoso, alguém atravessando a rua poderia ser atropelado por um carro, e até limpar as janelas podia ser arriscado. Afinal, alguém, em algum lugar, acidentalmente quebrou uma janela e acabou se cortando gravemente enquanto trabalhava e sangrou até a morte.
Merda acontecia. Isso se tornou o lema de sua vida. Simplesmente nunca acreditou de verdade que seu trabalho seria perigoso. Não de fato. Que coisa tão ruim poderia acontecer servindo comida e bebidas? Repassou uma lista mentalmente. Poderia escorregar e cair ou se queimar se derrubasse a comida quente. Pensou que o pior que poderia acontecer era talvez ser baleada se alguma vez servisse o bufê numa festa da máfia, mas as chances de haver mafiosos em uma pequena cidade no norte da Califórnia era quase zero. Mesmo assim... lá estava ela enfrentando uma espécie de terror que nunca achou que viveria na vida real. Nem em um milhão de anos tinha previsto uma situação daquelas, nem com a sua imaginação fértil sempre fazendo hora extra.
Ela ficou de pé congelada, não importava o quanto gritasse internamente para que seu corpo se virasse e corresse por sua vida. Nada. Não estava funcionando. Seu corpo se recusava a responder. Todos os seus grandes planos de ser durona, preparada para tudo, haviam voado junto com a sua coragem. Não era uma super-heroína. Ao invés disso estava imitando uma estátua de jardim ou uma mímica presa em um estado de horror.
Sua boca estava aberta, mas o grito não estava saindo. Não conseguia nem dar um gemido. Nada. Seu coração batia tão rápido que ela se perguntava se ele podia sair voando de dentro do seu peito, e ainda assim som algum deixou seus lábios. Não conseguia nem respirar e realmente precisava de ar. Talvez aspirar um pouco gerasse um grito, mas... não. Que merda!
Sempre tinha ouvido que a vida inteira passava na cabeça da pessoa quando ela sabia que estava para morrer. Não estava vendo imagens do seu passado enchendo sua mente. Negativo. Seu olhar arregalado permanecia fixo no enorme homem-fera que rugia para ela.
Ele era um homem, mas não exatamente, já que nenhum cara comum tinha dentes afiados nem conseguia assustá-la quase até a morte com aquele som horrível que ressoava do fundo de sua garganta, imitando um animal feroz. Ele parecia bonito e feroz ao mesmo tempo.
Se um cara se bombasse com esteroides, se pareceria com o homem gigantesco que a aterrorizava. Ele tinha que ter cerca de um metro e noventa e oito de altura. Seus braços eram extremamente musculosos e o peito largo lembrava uma montanha. Sua pele possuía um tom dourado de sol, mas era o cabelo que o tornava bonito. Era da cor de uma folha de outono — um laranja avermelhado com fios grossos e mechas loiras espalhadas por ele. Era na altura do ombro e estava dividido ao meio.
Uma parte verdadeiramente assustadora nele tinha que ser o rosto porque ele quase se parecia um humano, mas não exatamente. Seus olhos eram da cor de ouro derretido e tinham o formato de olhos de gato, só que com cílios super compridos. Suas narinas estavam dilatadas e seu nariz era mais achatado do que qualquer outro que já viu. As maçãs do rosto eram proeminentes e dominavam sua face, mas complementavam o queixo forte e quadrado. Isso chamava a atenção para os seus lábios bem cheios, quase carnudos, e no momento, eles estavam abertos, revelando alguns dentes extremamente brancos e pontudos. Mais uma vez, não o tipo de dente que pessoas normais tinham.
— Afaste-se, Tammy. — Foi o seu chefe, Ted Armstrong, quem gritou com ela. — Não faça nenhum movimento brusco e venha na minha direção. Faça isso agora.
Afastar? Ele espera que eu me mexa? Percebeu que tinha começado a respirar outra vez quando seus pulmões pararam de doer pela falta de oxigênio. Teve vontade de virar a cabeça e olhar para Ted e lhe dar um olhar de você-tá-de-gozação-comigo, mas não conseguiu. Também não conseguiu desviar seu olhar apavorado do enorme homem-fera que se aproximava lentamente, olhando-a com ódio com aqueles olhos de gato grandes e estranhamente bonitos. Seu rosto era assustador e irado, e ele rugiu para ela outra vez.
— Maldição, Tammy. Recue devagar agora. Mantenha o olhar no chão e venha para perto de mim. Você consegue.
Quis que isso fosse verdade, mas seu corpo ainda se recusava a ouvir quando ela silenciosamente berrou para que seguisse suas ordens. Nada se mexia além do seu peito conforme o coração martelava e o ar passava pelos lábios entreabertos. Piscou. O que já era um progresso, mas foi só isso.
— Valiant! — outro homem gritou. — Acalme-se e se afaste da fêmea. Ela não está desafiando você. Só está se cagando de medo. — A nova voz tinha uma inclinação forte e profunda e soava irritada.
O homem-fera rugiu de novo quando deu mais um passo em direção a Tammy. Ela queria correr, mas suas pernas pareciam enraizadas no chão. Tentou afastar o olhar dos olhos dourados que a encaravam, mas simplesmente não conseguia romper a conexão.
Todos tinham ouvido falar das Novas Espécies. Uma pessoa teria que nunca ter lido um jornal ou não possuir uma televisão para não saber que eles eram humanos que haviam sido submetidos a experiências secretas pelas Indústrias Mercile. A Companhia farmacêutica financiou um complexo secreto de experiências por décadas para realizar algumas pesquisas duvidosas supostamente realizadas para encontrar a cura de doenças. A história vazou quando incontáveis sobreviventes dessas instalações de testes foram libertos.
Merda, pensou. Aquele obviamente era um Nova Espécie.
Sabia que os chamavam assim, aqueles homens e mulheres sobreviventes que foram alterados fisicamente com DNA animal naqueles lugares.
O homem-fera se aproximando obviamente era um e realmente fizeram um bom trabalho com ele já que com certeza não parecia nada normal. Tammy nunca tinha visto algo similar a ele antes e não desejava ver novamente. Ele parecia um homem... mas só que não. Isso fazia com que ela imaginasse quanto os seus traços animalescos o comandavam.
— Alguém pegue um tranquilizante. — Era uma mulher e parecia assustada. —Agora. Andem.
— Valiant? — era o homem de novo, o da voz grossa.
— Me escute, cara. Ela não tinha intenção de invadir seu território. Ela se perdeu quando alguém ferrou com os mapas e isso a trouxe aqui. Sabe que Justice está dando uma festa e ele contratou fornecedores. Ela é apenas uma fêmea assustada que veio aqui para servir a comida. Não é um desafio. Ela não consegue desviar os olhos de você nem se mexer porque está paralisada de medo. Acalme-se e se afaste. Ela vai embora assim que você se afastar.
Justice North era o líder nomeado da Organização das Novas Espécies. Ele tinha comprado o velho resort fechado e todas as terras ao redor dele para o seu povo viver e a transformou em um refúgio para as Novas Espécies chamado de Reserva. Ele também era o porta-voz que dava todas as entrevistas na televisão. Tinha contratado o serviço de bufê de Ted para organizar a primeira festa que davam na Reserva e foi assim que Tammy parou no lugar errado.
Ela engoliu em seco, grata por sua mente ainda funcionar e saber de toda aquela informação. Pelo menos conseguia entender a conversa da qual poderia depender sua vida. Parecia que, do contrário, esse seria seu último trabalho para Ted. Inferno, pode ser o meu último dia fazendo qualquer coisa pela última vez.
— Me ouviu, Valiant? Sabe como Justice vai ficar puto se você ferir alguém que ele contratou? Nós devíamos dar esse jantar para deixar as pessoas que moram na cidade confortáveis conosco vivendo na área. Com certeza vai espantar todo mundo se você machucar um deles. — O homem da voz grossa suspirou. — Deixe-me pegá-la. Tudo bem, cara? Posso entrar no seu espaço para tirá-la daí?
— Não. — rosnou o homem-fera. Ele jogou a cabeça para trás e um urro de estourar os tímpanos, sacudiu a área de floresta. Tammy finalmente se moveu, mas simplesmente não na direção que gostaria de ir, que devia ser até sua van de trabalho e mais perto da ajuda que havia chegado para tentar salvá-la, do outro lado do portão pelo qual passou. Seus joelhos vacilaram. Caiu na grama, mas não completamente. Permaneceu ajoelhada.
Ele tinha que ser um leão ou um tigre de algum tipo. Reconheceu o som que fez. Tinha um rugido bem distinto. Estudou sua coloração, seu nariz largo, e finalmente os dentes afiados. Merda. Definitivamente era algum tipo de mistura de grandes felinos. Seu palpite era leão. Levantou os olhos para ele e se perguntou se sua bexiga se esvaziaria de puro terror. Isso não a surpreenderia de modo algum. Não era como se o seu dia pudesse piorar.
— Fique calmo. — a voz grossa exigiu. — Eu não vou entrar. Fale comigo, Valiant. Se não alguém vai espetar o seu traseiro com um tranquilizante e eu sei o quanto isso vai te deixar irritado.
O homem-fera tinha um nome. Também não era humano, ou comum, mas Tammy entendeu que era dele. Que tipo de nome é Valiant? Sabia que significava corajoso, algo que ela não era no momento. Desejava furiosamente não estar realmente ali, nunca pensou que estaria olhando para seu pior pesadelo.
Valiant tirou o foco de Tammy para finalmente fulminar com os olhos alguém atrás dela à esquerda.
— Não atirem em mim. — O tom ameaçador em sua voz era alto e claro.
Houve um forte suspiro.
— Deixe a fêmea ir embora. Qual é o seu problema afinal? Ela disse alguma coisa antes de passar pelo portão? Ela não sabia que essa casa era sua e não o clube. Deram o mapa errado a ela. Me parece que tudo o que ela fez foi sair da van e ir em direção à sua porta antes que a alcançasse. Ela te irritou?
— Ela está aqui, Tiger. Isso já é o suficiente. — Rugiu Valiant.
— E foi um acidente. — Tiger tentou ser lógico.
— Alguém vacilou e o erro foi nosso. Não percebemos o que tinha acontecido até ela aparecer. Ela foi a primeira a chegar depois do cara dono do bufê. Esse é Ted Armstrong.
Ele esteve aqui algumas vezes antes e percebeu que o mapa estava errado quando o viu. Nós contatamos a portaria imediatamente, mas eles nos informaram que a van dela já havia passado. Agora estamos todos aqui. Qual é, Valiant, já a assustou o bastante. O que Justice disse sobre tentar se encaixar? Se lembra daquela conversa? Deus sabe que eu me lembro. Não é educado matar os seres humanos de medo.
— Ele não irá machucá-la de verdade, não é? — Ted soava um pouco nervoso. Isso dizia muito porque seu chefe sempre era calmo sob pressão. — Quero dizer, Jesus! Aquilo foi uma brincadeira?
Tiger praguejou baixo.
— Claro que eu estava brincando. — Seu tom não parecia nada convincente para Tammy. — Então, o que me diz Valiant? Ela pode se acalmar um pouco e ir embora se você se afastar. Vai reconsiderar me deixar entrar para pegá-la? Só levaria um segundo. Eu corro até aí, a agarro e saio.
Valiant rugiu de novo e seu olhar voltou para Tammy. Ela engoliu com dificuldade. Piscou. Respirava regularmente outra vez. Fez uma lista de todas as funções que estavam sob o seu controle, mas seus membros ainda não respondiam. O homem-fera parou a uns três metros dela, mas ela apreciou que tivesse parado de avançar para simplesmente encará-la. Aquilo era um avanço, certo? Deus, espero que sim.
Moveu a boca e ela de fato se abriu. Tentou se desculpar por ter entrado na propriedade, mas nada saiu. Droga. Sempre achou que agiria diferente sob estresse. Sempre foi uma espertalhona de berço que tinha resposta para tudo. Fez uma reputação por ser tagarela não importando com quanto medo estivesse, sob qualquer circunstância. Obviamente, estava errada, admitiu. Quando cogitou os piores cenários possíveis, nenhum abrangia homens-feras com dentes afiados nem olhos de gato que urravam.
— Afaste-se. — ameaçou Valiant. Ele inalou lentamente, o olhar preso ao de Tammy. Deu outro passo na direção dela.
— Valiant! — Tiger, o homem da voz grossa, gritou. — Pare agora. Não se aproxime mais. Maldição, não faça isso.
Valiant virou a cabeça de lado para olhar com raiva para alguém a quem exibiu seus dentes afiados e rosnou ameaçadoramente. Ele soou absolutamente cruel antes de se centrar outra vez em Tammy.
— Vá busca-la. — exigiu Ted. — Você é quase tão grande quando ele. Salve-a.
Tiger disse um palavrão.
— Eu não posso. Ele me mataria em um segundo. É um dos filhos da puta mais cruéis que temos na Reserva. É por isso que ele está aqui e por que Justice comprou esse lugar. Há alguns da nossa espécie que não são exatamente amigáveis. Vai piorar tudo se eu entrar lá porque ele seria capaz de matar duas pessoas ao invés de apenas uma.
— Atire nele. — uma mulher sussurrou baixo, mas sua voz foi ouvida.
— Não posso. — explicou um homem. — Eles ainda não nos deram tranquilizantes.
— Use as armas que têm. — a mulher ordenou mais alto. — Não permitam que ele a mate. Meu Deus! Podem imaginar o que isso faria com as nossas relações públicas?
— Ninguém vai atirar nele. — afirmou Tiger.
— Valiant? — Ele pausou. — Me diga por que está com tanta raiva da fêmea? Ela é do tamanho de nada. É por isso? Está lutando com os seus instintos porque a vê como uma presa? Pense um pouco, Valiant. Essa é uma fêmea humana inocente. Ela não quis insultar você nem invadir seu espaço. Fale comigo, porra. Só me diga o que está se passando na sua cabeça.
Valiant virou a cabeça, afastando seu olhar intenso de Tammy outra vez. Ele fechou os olhos e inalou com força. Eles abriram de repente. Olhou com raiva para alguém atrás do ombro esquerdo de Tammy.
— Eu não vou matá-la.
— Graças a Deus. — Ted disse e grunhiu.
— Só queria assustá-la? — O alívio era evidente na voz de Tiger. — Bem, fez um ótimo trabalho. Ela pode ir embora agora?
O olhar exótico de Valiant se fixou em Tammy quando ele inalou de novo. Ele fez um som baixo, como um murmúrio. Desviou os olhos dela e olhou com raiva para Tiger.
— Não. Ela fica. Vocês vão embora.
— Sabe que não podemos fazer isso. — explicou calmamente Tiger. — Qual é, cara? Qual o problema?
Valiant rugiu de novo. Deu um passo e então outro em direção a Tammy. Ela parou de respirar. Aqueles olhos de gato dele estavam de volta nela. Ele ficou de quatro de repente, cheirou na direção dela outra vez, e fez um som que não tinha ouvido antes. Não era exatamente um rugido, mais um ronronar brusco, ainda assim assustador. Ele ficou agachado nos joelhos com as mãos à sua frente.
— Oh, merda! — praguejou Tiger. — Valiant? Não faça isso, cara.
Valiant levantou a cabeça para dar outro olhar ameaçador na direção de Tiger. Estava perto o bastante para que notasse que ele tinha cheiro de ar livre e de algo masculino que realmente cheirava bem. Respirou e continuou respirando já que não estava olhando para ela.
Ela baixou o olhar, avaliando-o, e decidiu que era grande mesmo agachado a sua frente. Usava uma calça jeans e uma camiseta, mas nenhum sapato. O cara tinha mãos e pés enormes. Ele chegou mais perto dela até que poderia tocá-lo se estendesse um pouco a mão, mas não o fez, ainda paralisada de joelhos.
— O que ele está fazendo agora? — Ted soava outra vez em pânico.
— Nem pergunte. — disparou Tiger. — Valiant, qual é, cara. O que está fazendo? Sabe que não deve pensar no que suspeito que está pensando. Ela é uma coisinha humana e você não vai querer tentar isso.
Valiant piscou.
— Ela está no cio.
— Oh, puta que pariu. — praguejou Tiger.
Valiant rugiu.
— Puta que pariu! — disse Tiger mais alto. — Ted, eu lhe disse para se certificar que nenhuma das suas mulheres estivesse ovulando. Falamos sobre isso, maldição. Não é de se admirar que ele esteja agindo como um louco.
— Como eu ia saber? — bradou Ted. — Sabe quantos processos por assédio sexual eu sofreria se perguntasse as mulheres que trabalham para mim se ela está em certa época do mês? Qual é. E como diabos alguém iria saber Tiger? Como?
Tiger praguejou de novo.
— Nós saberíamos, Ted. Eu lhe disse que podemos sentir o cheiro delas a um quilometro de distância e disse que alguns dos nossos homens reagiriam mal a isso. Eu não estou a favor do vento com relação a ela, mas ele está. Se ele diz que ela está ovulando — confie em mim que ela está — isso é um problema. Era de se esperar que agisse assim. — O homem parou. — Quem estava de plantão quando a deixou entrar?
— Smiley. — Uma voz masculina falou baixo. — Ele é primata e seu senso de olfato não é tão apurado. Obviamente não sentiu o cheiro dela.
— Qual é o problema se ela estiver ovulando? É por isso que ele quer matá-la? — Era a mulher falando. — É tipo um tubarão ficando doido quando sente cheiro de sangue?
Tiger ficou calado por alguns segundos.
— Ela não está sangrando. Como mulher você deveria saber a diferença entre menstruação e ovulação. Ela está ovulando. Ele não quer matá-la. Quer copular com ela.
— Graças a Deus! — A mulher de fato riu. — Eu achei que ele fosse transformá-la num brinquedinho de mastigar e rasgá-la em pedaços.
— Marcy! — gritou Ted. — Como pode rir disso? Não tem graça. Estamos todos aliviados por ele não planejar matá-la, mas você ouviu o que Tiger disse? Temos que tirá-la daqui.
— Ela é casada? — perguntou Tiger.
— Não. — Ted hesitou. — Ei, espere um pouco. Não fique aliviado como se algo fosse acontecer entre eles. Tire ela dali.
Tammy fitou o perfil do Nova Espécie. Ele não queria acabar com sua vida. Queria copular com ela. Ainda estava em choque. Deixou seu olhar absorver o imenso homem-fera da cabeça aos joelhos e estremeceu. Foi horrível em matemática no ensino médio, mas sabia o bastante para fazer a matemática dele.
O cara dava quase dois dela em tamanho e não tinha como uma relação física ser possível entre os dois. E, além disso, que diabos estou pensando? Queria gritar por ajuda de novo, mas nada saía da sua boca. Estou fodida! NÃO! Não diga isso. Diga de outra forma. Estou numa merda das grandes. É. Melhorou. Nem mesmo pense nas palavras fodida e foder, pelo amor de Deus.
— Não posso. — explicou Tiger. — Ele vai protegê-la se um de nós tentar se aproximar deles. Imagine um animal bem malvado protegendo seu brinquedo favorito. Bem, é praticamente isso que temos aqui.
Tiger ficou calado por um minuto. Ninguém falou. Ele finalmente deve ter decidido uma nova abordagem quando começou a falar de novo.
— Valiant? Posso achar alguém disposta a ficar no lugar dela. Tem que deixá-la ir embora. Ela não é das Espécies, ela é humana, e você vai acabar com ela. Olhe como é pequena. É frágil, uma verdadeira anãzinha, e você sabe que não a deseja. Eu entendo que ela tenha um cheiro muito bom e inferno, eu notei de cara que é atraente, mas eu repito, ela é humana. Nós tomamos algumas sodas umas semanas atrás e discutimos o quanto são frágeis. Não transamos com elas, lembra? Só se afaste e ligo para as nossas fêmeas. Uma delas ficará mais do que feliz de vir aqui tomar o lugar dela se estiver com vontade de brincar. O que você acha cara? Fale comigo.
— Minha. — rugiu Valiant.
— Porra. — Grunhiu Tiger. — Cadê o tranquilizante? Vamos precisar de um rápido.
— Estou indo, Tammy. — gritou Ted.
— Não. — gritou Tiger. — Ele vai te despedaçar.
— Bem, faça alguma coisa. — exigiu Ted. — Não vou ficar aqui assistindo ela ser estuprada por aquela... aquela... pessoa.
Valiant virou a cabeça. Seu rosto estava a centímetros do de Tammy. Ela olhou em seus olhos. De perto, eles eram incrivelmente bonitos. Viu espiral de cores em seu interior que parecia ouro derretido. Seus cílios eram bem espessos, de um laranja avermelhado e compridos. Apoiado nas mãos e nos joelhos, ele estava no mesmo nível de Tammy, ajoelhada na grama. Sua boca estava fechada, os dentes afiados escondidos, quando inalou outra vez. Um som baixo saiu de sua garganta, um ronronar profundo. Ele piscou quando se aproximou mais.
Mexa-se, caramba. Ela ordenou ao seu corpo que se afastasse, fizesse qualquer coisa, mas ele não ouviu. Ele levantou uma de suas enormes mãos e ela viu as suas unhas. Eram mais grossas que o normal, quase pontudas, mas do tamanho normal de unhas humanas. Ele se moveu bem lentamente enquanto as pontas ásperas dos seus dedos afastaram o cabelo comprido da bochecha dela. Os dedos acariciaram seu rosto. As pontas eram calejadas. Arrepios brotaram em seu corpo e era uma sensação estranha, mas de um tipo bom. Sua mão colocou todo o seu cabelo para trás dos ombros antes de descer para segurar sua cintura.
— Linda. — rugiu ele baixinho. — Tão linda.
Ela engoliu em seco.
— Ob... — Sua voz falhou. — Obrigada. — conseguiu um sussurro. Não tinha certeza do que ele achava atraente nela. Era o cabelo comprido ou o seu rosto? Já disseram que tinha belos olhos azuis. O que quer que ele achasse bonito, ela estava agradecida por finalmente ter encontrado a voz. Não era muito já que só parecia ser capaz de soprar as palavras, mas esperava que agora que funcionava, conseguisse berrar se a necessidade surgisse. Tinha um pressentimento ruim que isso aconteceria em breve se aquele cara quisesse transar com ela.
Ele fechou os olhos, inalando profundamente.
— Você tem um cheiro tão bom. Morangos e mel. Adoro esses cheiros. — Ele deu outro rugido baixo no fundo da garganta. Seus olhos abriram. — Não tenha medo. Eu nunca machucaria você, Tammy. — Colocou o corpo mais perto.
Com o coração acelerado, Tammy fechou os olhos quando o cabelo dele roçou seu rosto e ela se enrijeceu quando a bochecha tocou a dela. Sua pele era quente e a respiração morna soprou em seu pescoço, que ele havia exposto quando tirou o cabelo do lugar.
O que ele estava fazendo agora? Um pouco do medo passou já que ele jurou que não ia machucá-la e não tinha machucado até o momento. Matado de medo, sim, mas não fez nada doloroso. Ela pulou um pouco quando ele lambeu onde o pescoço e ombro se encontravam.
— Uh! — ela deixou escapar, mas se calou. A sensação era diferente de qualquer coisa que já experimentou. Sua língua tinha uma textura áspera, mas não era como uma lixa, nem abrasiva. Arrepios sacudiram seu corpo e de algum modo aquilo parecia estranhamente erótico. Os dentes afiados dele roçaram sua pele depois, criando outra sensação estranhamente sedutora.
— Shhh. — ele exalou, quando sua língua e dentes a deixaram. — Não vou machucar você.
— O que ele está fazendo com ela? — a voz de Ted aumentou em alarme. — Faça-o parar.
— Onde está o tranquilizante? — Marcy falou.
— Todo mundo, cale a boca. — exigiu Tiger. — Ele não a está machucando e nós vamos irritá-lo. Ele está com as mãos nela então calem a boca.
O som de um carro se aproximando quebrou o silêncio. Um rugido saiu dos lábios próximos ao pescoço de Tammy. O som fez com que seus olhos se abrissem e ela choramingou, fitando os dentes afiados, que ele expôs quando sua cabeça se virou para olhar com fúria a fonte do ruído. A mão segurando sua cintura apertou, mas não doeu.
Ela ofegou de repente quando o outro braço rodeou o meio de suas costas. Em um movimento brusco, ele se levantou, trouxe Tammy com facilidade consigo e a puxou para frente do seu corpo, mantendo o braço à sua volta.
Tammy olhou o homem bem mais alto que a segurava com o braço forte. Suas pernas viraram borracha, cederam, mas ele a segurava o suficiente para mantê-la presa ao seu corpo grande e sólido. O cara era aterrorizantemente poderoso.
Ele fulminou com o olhar algo por cima de sua cabeça. Tinha uma expressão realmente irada e de repente outro urro saiu dos lábios, alto o bastante para fazer seus ouvidos doerem. Ela viu os dentes brancos e afiados brilharem de novo quando ele rosnou, e a levantou mais alto contra o peito quando a tirou completamente do chão. Manteve-a ali, o corpo pendurado acima do chão, e correu para longe do terreno.
Minha. A ideia não deixava a cabeça de Valiant. Repetia-se sem parar. Minha. Minha. Minha. Movia-se rápido para levá-la a um lugar onde pudessem ficar a sós, longe dos outros, dentro de sua casa. Eles não iam tirá-la dele. Lutaria até a morte para ficar com ela e mataria qualquer um que tentasse levá-la de seus braços. Seu cheiro enchia o nariz dele, fazendo seu corpo doer de necessidade e nada mais importava.
Ela é humana. Não é o que tinha em mente nem o que achava que queria. As coisas mudam. Não importa. Ela é completamente minha. Ele olhou para Tiger, para os dois machos Espécies com ele, e para os dois humanos para garantir que não invadissem seu território.
O humano macho tinha o rosto vermelho e agarrava a cerca, parecendo pronto para pulá-la, e a mulher estava de boca aberta como se quisesse gritar. Sabia que os horrorizava, mas não dava à mínima. Eles não representavam nenhuma ameaça para ele. Era com os Espécies que poderia ter que lutar se atacassem. Faria isso. Não ia deixar a mulher ir embora.
Minha!
Seu braço apertou ao redor da mulher gloriosa que segurava, com cuidado para não esmagá-la, e grato por não lutar. Ela parecia dócil em seus braços, como se soubesse tão bem quanto ele que pertencia a ele. Uma esperança surgiu de que ela o desejasse tanto quanto a desejava. Não está agindo com sanidade, admitiu silenciosamente, mas isso não importava. Ela tinha um cheiro maravilhoso, suas feições delicadas eram algo que ele queria fitar para sempre, e segurá-la nos braços só aumentava o desejo de ficar com ela. A ideia de colocá-la em sua cama, tirar suas roupas e explorar cada centímetro da pele dela fazia seu pau latejar dolorosamente.
Ela será alguém com quem conversar, a quem abraçar, e eu a convencerei que seremos felizes juntos. Posso fazer isso. Ela vai querer ficar. Tem que querer. Minha. Minha. Minha. O lugar dela é comigo.
Ele realmente não tinha ideia de como fazer isso acontecer, mas era um macho forte, determinado, e tudo era possível agora que estava livre. Passou a vida inteira trancado em uma cela úmida, com dores a maior parte do tempo, e sempre tão sozinho. A ideia de ter uma companheira, alguém a quem conhecer, com quem dividir a vida, tinha se tornado seu maior sonho.
Ele a segurou com mais ternura, jurando protegê-la com a vida e não permitir que ninguém a levasse dele. Não tinha que fazer sentido. Ela estava nos seus braços, havia lhe reivindicado, e não iria liberá-la. De algum modo, de algum jeito, a convenceria que era o macho certo para ela.
Uma vez sonhou em viver fora das paredes de concreto e isso finalmente se realizou. Tudo era possível. Inalou o maravilhoso cheiro feminino, seus braços a seguraram com mais firmeza contra seu corpo, e uma palavra se repetia em sua mente.
Minha!
— Droga, Valiant. — gritou Tiger. — Traga essa mulher de volta agora!
— Tammy! — gritou Ted. — Solte-a! Ele vai matá-la. Faça alguma coisa!
— Vão embora. — urrou Valiant sobre o ombro enquanto corria até a casa.
— Traga-a de volta, homem! — gritou Tiger. — Não me faça trazer uma equipe de caça aqui para pegá-la. Justice vai querer as suas bolas se você a machucar.
Tammy agarrou sua camisa quando ele diminuiu o ritmo e a apertou contra o seu corpo um pouco mais alto quando deu alguns passos. Não conseguia ver nada além da camisa amarronzada em seu rosto.
O homem-fera parou de repente, eles viraram e ela ouviu uma porta bater. Um segundo depois o som distinto de fechaduras girando se registrou antes dele se mover outra vez.
Subiram vários degraus. Ela fechou os olhos e não lutou. Podia sentir a força dos braços que a seguravam forte contra seu corpo firme e rígido. Inalou e admitiu que o cara cheirava muito bem, que qualquer que fosse a colônia que usou era boa e não muito forte.
Conteve um pouco de autodesprezo. Estava perdendo a cabeça por estar pensando na colônia do cara nessas circunstâncias. Estava sendo levada a algum lugar por Valiant, o homem-fera, e estava presa dentro da casa, que por acaso era dele.
Outra porta bateu e Valiant parou de andar, mas seu corpo se virou e outra fechadura girando se registrou em sua mente. Virou-se outra vez, as pernas dela balançando levemente pelos movimentos repentinos, e deu mais uns dez passos antes de soltá-la de repente.
Tammy ofegou quando caiu, mas não bateu em um chão duro, ao invés disso caiu em uma cama macia. Aterrissou de costas com as pernas para fora do enorme colchão em estado de choque olhando muda para o homem em pé entre suas coxas. Os olhos exóticos de Valiant estavam fixos nela.
Oh, merda. Finalmente encontrou a capacidade para se mover. Estava em sua cama e ela tinha o cheiro dele. Instintivamente soube que era seu quarto. Olhou para o vasto ambiente mobiliado em madeira escura. Recuou, usando os cotovelos e colocando os pés na cama para tentar se afastar dele. O homem enorme a observava em silêncio.
— Não. — rugiu baixo.
Tammy congelou.
— Você que não.
Seus lábios se curvaram e os olhos estreitaram um pouco.
— Não o que?
— Não... — Ela franziu o cenho. — Pare de me assustar.
Lábios cheios se curvaram em um sorriso.
— Você tem medo de mim?
Ela assentiu.
— Claro que tenho.
Ele se moveu de repente, suas mãos apoiadas sobre o colchão quando se inclinou sobre ela na cama. Seu corpo estava instantaneamente debaixo do dele quando ele espalhou o corpo sobre ela, derrubando-a, e impedindo o seu plano de engatinhar para longe dele.
— Por quê? Não vou te machucar. O que quero fazer com você a fará se sentir muito bem.
Estava brincando? Não achava que estivesse, considerando o olhar intenso que lhe dava. Essa situação era um monte de coisas, mas engraçada não era uma das descrições que vieram à sua mente.
— Você é enorme e tem dentes afiados e... me trouxe aqui para dentro. Quero ir embora.
— Eu não quero que você vá. Como você disse, eu sou maior.
Sua boca abriu e fechou quando olhou para ele.
— Eles vão entrar para me pegar.
Ele assentiu.
— Eles virão.
Hã? Franziu o cenho.
— Por que estamos aqui se já sabia disso?
— Tempo. — De fato sorriu pra ela. — Vai levar uma porção de tempo para eles juntarem gente suficiente do meu povo para invadir minha casa. Poucos seriam tolos de tentar. Eles me temem.
Ela começou a ficar nervosa enquanto o estudava.
— Podia, por favor, sair de cima de mim?
Ele sacudiu a cabeça.
— Não.
— Está me assustando de novo.
O sorriso se apagou.
— Não quero que fique com medo.
— O que você quer?
Seu olhar desceu lentamente sobre o corpo dela antes de encontrar novamente seus olhos.
— Eu quero você.
Seu coração parou de bater.
— Sem chance.
— Ummm. — Ele não parecia convencido. Levantou-se de repente da cama com as mãos e voltou a ficar de pé. Manteve-se focado somente nela.
— Tem certeza?
— Você prometeu que não me machucaria.
Tammy viu quando ele agarrou a camiseta, os dedos puxando a bainha e ele rasgou o tecido de baixo para cima. Jogou-a no chão atrás de si. Não pôde evitar olhar. A pele do homem era de um marrom dourado por inteiro e ele tinha um peitoral perfeito. Imaginava que era peludo, mas não. Era todo musculoso e todo coberto de uma pele macia e quase sem pelo. Não conseguiu evitar a barriga claramente definida. Seus braços eram grossos, maciços, definidos com músculos e tinha um peito largo. Os círculos dos seus mamilos eram de um avermelhado claro que era quase igual aos cílios e cabelo. Seu olhar desceu e viu uma linha fina de pelo loiro-avermelhado iniciar uma trilha debaixo do umbigo até mais além do primeiro botão do jeans.
— Eu não vou machucar você. — Ele alcançou o botão de pressão de sua calça. — De todas as coisas que eu quero fazer com você, não há nada que envolva dor.
Abriu o primeiro botão, que revelou mais do seu abdômen reto. O queixo de Tammy caiu quando ele agarrou o zíper. Seu olhar voou para o rosto dele e não pôde evitar ver como parecia estar se divertindo. Seus olhos dourados brilhavam com divertimento.
— Não se atreva a tirar essa calça.
O som do zíper se abrindo era alto dentro do quarto. Teve efeito de um banho de água gelada em Tammy, como se tivesse jogado um balde nela. Tirou-a do seu estado de choque quando compreendeu que ele realmente planejava transar com ela. Ofegou, rolou pelo colchão, e puxou freneticamente a roupa de cama, tentando se afastar dele.
Mãos grandes e fortes agarraram seu quadril e a jogaram com cuidado de costas deixando-a fitando seu rosto de novo. Três coisas instantaneamente se tornaram claras quando seu olhar desceu à cintura dele. A calça do homem estava aberta, ela viu pele, e Valiant não estava usando cueca. Também não pôde deixar de ver que o cara não se importava em ajustar as partes íntimas, julgando pelo grande volume que descia pela parte interna de sua coxa debaixo do jeans.
— Onde está indo? Perderia a melhore parte se fosse embora agora.
— Pare.
Ele sorriu, mostrando as presas. —Você tem lindos olhos azuis.
Piscou.
— Você também tem olhos bonitos. Isso não quer dizer que possa… — Ela apontou para sua cintura. — Isso não vai acontecer.
Ele riu.
— Sério?
Tammy assentiu.
— Sério. De jeito nenhum. Faça as contas, grandão.
— Fico feliz que tenha recuperado a voz e o meu nome é Valiant. Pode usá-lo.
— Você não parava de urrar e rugir para mim.
— Então se eu não quiser que fale nem que me diga — não — só preciso urrar e rugir? — Uma de suas sobrancelhas arqueou. — Obrigado por me informar como silenciar você. É uma informação útil de se ter.
Tammy se afastou mais na cama, tentando alcançar o outro lado.
— Como eu disse, faça as contas. Não tem jeito de nós, é, fazermos o que pessoas fazem dentro dos quartos.
— Contas não têm nada a ver com o que tenho em mente.
— Sério? — Tammy estava extremamente grata por não estar mais muda. Sentia-se mais calma agora que não estava paralisada de terror. Começava a se acostumar à aparência do cara e desde que ele a trouxe para dentro da casa, parecia mais humano do que animal. Falava com ela ao invés de apenas rugir.
— Eu discordo. Você é enorme e eu sou pequena em comparação. Nós dois não vamos encaixar.
Ele observou, mas não tentou pará-la quando saiu da cama e foi para o outro lado do quarto para manter a enorme mobília entre eles. Tammy ficou de pé com as pernas tremendo e o encarou. Estudou enquanto a observava, só que ele sorria enquanto ela continuava desconfiada.
— Discordo. Acho que poderíamos resolver isso. Acha que machucaria você? Negativo. Posso ser muito gentil quando preciso. — Varreu seu corpo como olhar. — Admito que vai ser difícil controlar todas as minhas vontades, mas eu me controlarei.
— Eu não vou dormir com você.
Ele riu.
— Fico feliz. Dormir é a última coisa que eu quero fazer com você na minha cama.
Tammy apertou os dentes com a raiva aumentando.
— Também não vou fazer isso. Não transo com estranhos, e inferno, com certeza absoluta não vou transar com você.
O sorriso dele morreu e o divertimento o deixou quando seu olhar pareceu ficar levemente frio, parecendo um pouco assustador.
— Você tem pré-conceito? Não estou te rejeitando por ser completamente humana.
Ela franziu o cenho.
— Isso, bem, ao menos você sabe o que eu sou. — Focou em sua boca. — E eu não poderia rasgá-lo com os dentes. Não sou assustadora, Senhor Leão. É isso que você é em parte? Leão? Tigre? O quê?
Ele só piscou, mas algo em sua expressão endureceu.
— Pode se dizer que sim. — declarou lentamente.
Ela tinha pisado em um calo ou algo do gênero. Engoliu em seco, decidindo que ele parecia um pouco bravo.
— Desculpe. Eu não quis insultar você. Eu nunca… — Cala a boca, ordenou ao seu cérebro. Estava cavando um buraco e sabia disso. — Eu não quis te desrespeitar nem nada assim. Você me assusta, ok? Eu nunca vi um Nova Espécie antes de hoje e você tem que admitir que é mesmo bem intimidante. O cara na portaria que me deixou entrar na Reserva parecia muito um humano. Você não. Se fosse menor ajudaria, mas é enorme, todo musculoso e eu sei o quanto poderia me machucar se quisesse. Provavelmente estou falando pelos cotovelos, mas pare de me olhar desse jeito porque está me assustando de novo. Eu tenho um metro e sessenta e dois e peso cinquenta e nove quilos. Você tem o que? Um e noventa e três ou um e noventa e cinco e... — Seu olhar o percorreu. — Uns noventa quilos?
— Tenho um metro e noventa e oito e cento e dezoito quilos.
— Enorme. — resumiu. — Bem maior do que eu e não se aproximou de mim muito educadamente para informar que eu estava no lugar errado. Você rugiu para mim, me olhou com ódio e me assustou mais do que já fiquei na minha vida inteira. Eu nunca fico calada. Nunca. Pergunte a qualquer pessoa. Você me aterrorizou tanto que esqueci de respirar por alguns momentos ali e não poderia ter falado nem para salvar minha vida. Eu tentei muito falar.
Os lábios de Valiant se curvaram e a raiva se dissipou dos seus olhos.
— Você nunca fica calada, é?
Ela sacudiu a cabeça.
— Nunca. Escuto isso desde que tenho uns cinco anos mais ou menos, que consigo tagarelar até a morte de qualquer um. Minha família vivia me dizendo que o pior erro que cometeram foi me ensinar a falar, e se pudessem voltar no tempo, teriam me ensinado a linguagem dos sinais, assim só teriam que fechar os olhos para me calar.
O homem cruzou os braços sobre o amplo peito. Ele sorriu, mostrando aqueles dentes.
— Você é mesmo adorável e eu gosto do som da sua voz. Tem uma voz muito bonita. Venha aqui.
Tammy o olhou com raiva.
— De jeito nenhum. Você fica aí e eu estou bem feliz exatamente onde estou.
— Venha cá. — ele ordenou outra vez.
Ela cruzou os braços do mesmo jeito que ele havia feito e arqueou a sobrancelha.
— Não. Eu quero ir embora agora.
Ele soltou os braços e suspirou.
— Eu não vou machucar você. Lembre-se disso.
Oh merda. Tammy ficou tensa. Tinha certeza que não iria gostar do que quer que ele planeje fazer. Ele ao menos lhe avisou antes de se mover, rodeando a cama rapidamente. Ela pulou em cima do colchão, caiu de quatro e começou a engatinhar para atravessá-lo já que não tinha mais para onde ir.
Uma mão de repente agarrou o seu tornozelo, deu um puxão forte o bastante para derrubá-la de barriga, e a girou de costas. No piscar de um olho, Valiant se agachou por cima dela até que só centímetros separassem seus corpos. Ele não colocou nenhum peso em cima dela, mas estava presa entre seus braços e pernas na cama. Seu olhar se prendeu ao dela.
— Vamos tentar uma coisa.
— Não. — Seu coração martelava. Ela não tentou tocá-lo para afastá-lo mesmo que quisesse empurrar seu peito. Medo a envolveu. — Por favor?
Ele sorriu.
— Eu insisto.
Olhou os dentes afiados e engoliu o bolo que se formou na garganta.
— É. Você fica bem assustador quando mostra seus... é... dentes. Eles parecem bem afiados.
Ele não ficou com raiva. De fato, suas palavras pareciam diverti-lo imensamente.
— São para te comer melhor. — provocou baixinho.
O coração de Tammy deu um salto dentro do peito.
— Essa é uma péssima brincadeira, certo? Por favor, me diga que só está brincando.
— Eu não sou um lobo.
— E eu não estou de vermelho.
— Eu ainda quero comer você.
Ficou chocada com sua sinceridade, e percebeu que nenhum homem tinha falado com ela assim antes. Ele não a atacou, mas ao invés disso parecia feliz só em olhar nos seus olhos. Ficou um pouco mais calma.
— Eu nunca pensei que diria isso, mas é melhor que esteja falando no duplo sentido comigo.
Ele riu.
— Estou.
— Bom. — Ela corou, percebendo o que tinha falado. — Quer dizer, nada bom. Mau. Sabe que isso é uma coisa totalmente imprópria de se dizer para uma estranha, certo?
Seu sorriso cresceu quando ele mostrou mais dentes.
— Me beije.
Estudou sua boca com cautela.
— Sem chance.
— Não vai se machucar.
Ela hesitou e mordeu o lábio inferior por alguns segundos. Estava estranhamente atraída pelo cara. Ele a agarrou e matou de medo, mas não estava fazendo nada além de prendê-la no colchão. Já teria rasgado suas roupas e a estuprado se fosse uma pessoa desprezível. De fato apreciava o seu senso de humor.
Eles se olharam. Os olhos dele provavelmente eram os mais bonitos que já tinha visto. De perto podia ver que suas pupilas eram levemente ovais ao invés de redondas, lembrando-a de um gato que teve. Definitivamente não eram humanas, mas estranhamente sexy. Seu olhar foi delas até os lábios.
Lábios grossos e masculinos que ela achava atraentes por alguma estranha razão. Como seria beijá-lo? Estava tentada a descobrir. Quais eram as chances de estar numa situação daquelas outra vez? Realmente esperava que a resposta fosse nunca. Talvez. Pense, maldição. Não pode estar realmente considerando isso! É loucura.
— Eu não conheço você. — Teve orgulho de dizer isso.
— É um bom jeito de me conhecer.
— A maioria dos homens levam as mulheres para jantar ou para o cinema antes de tentarem avançar para a primeira base.
— Primeira base? — Ele arqueou uma sobrancelha.
— É um modo de dizer que significa beijar alguém. É uma analogia de beisebol. Primeira base é beijar.
— Existe uma segunda base?
— Isso é tocar da cintura para cima.
— Terceira base?
— É fazer um pouco mais, o que inclui tocar partes sexuais do corpo da cintura para baixo, normalmente por cima das roupas, mas há exceções tipo apalpar de leve debaixo da roupa.
Não conseguia acreditar que estava tendo aquela conversa com um Nova Espécie, mas ele parecia genuinamente curioso e ela estava falando pelos cotovelos, mais do que ciente que deveria se calar, mas o nervosismo sempre fazia sua boca enlouquecer.
— Quarta base?
— Não. Só três bases e depois disso vem o Home run1.
1 Beisebol: rebatida na qual o rebatedor é capaz de circular todas as bases, terminando na casa base.
— E o que acontece nele?
— Tudo. Tudo mesmo.
Ele riu.
— Nesse caso, eu quero um Home run.
— Não.
Deu uma risada.
— Me beije, Tammy. Ao menos, me dê uma chance de te mostrar que não vou machucá-la de modo algum. Prometo que você vai gostar do que quero fazer tanto quanto eu.
— Eu não beijo estranhos. — Mas você está me tentando a violar essa regra. Empurrou aquele pensamento, tentando se concentrar nas razões para não beijá-lo. Ele é um Nova Espécie. Assustador. Grande. É. Matemática lembra? E tinha achado que nunca lhe serviria de nada no ensino médio enquanto sofria naquelas aulas tediosas.
Ele piscou algumas vezes e seu sorriso apagou.
— Nós realmente vamos nos conhecer. Me beije. Estou morrendo para sentir o seu gosto.
Ela estava tentada. Admitia estar mais do que um pouco curiosa sobre que tipo de beijo ele teria e se alguém tão intimidador poderia ser apaixonado na mesma proporção. Não beijava um homem a mais ou menos um ano, não desde que o seu último namorado havia partido seu coração lhe traindo. Debatia se deveria deixar Valiant beijá-la ou não quando ele abaixou o rosto alguns centímetros até seus lábios quase se encostarem. Respirou de forma trêmula sabendo que ele não lhe daria escolha.
— Feche os olhos e não tenha medo de mim. — ordenou Valiant em um sussurro rouco e grosso. — Relaxe. Não vou machucar você.
Relaxar? Era piada? Ele era enorme e a tinha presa na cama mesmo que não a tocasse. Ops! Pensou quando seus lábios roçaram os dela. Está me tocando agora. Ficou um pouco tensa e estendeu a mão para colocar as palmas no peito dele. Ele era quente e sua pele parecia macia, mas tão morna que parecia que estava com febre.
Seus lábios foram gentis quando usou a boca para abrir a dela. Não lutou, mas ao invés disso forçou seu corpo a relaxar. Espero que os dentes dele não machuquem a minha boca. Esse foi o ultimo pensamento que teve quando sua língua a invadiu. Não a beijava do modo que já fora beijada e ela não tinha pouca experiência nesse departamento. Namorou muito na época do colégio quando beijar garotos foi um ótimo passatempo, contanto que não se transformassem em polvos — cheios de mãos e apalpação. Não era esse tipo de garota na escola, colocando uma linha bem firme entre aquilo e ir além com os garotos.
Valiant devorou sua boca. A língua explorava cada centímetro, esfregando de forma erótica na dela e varrendo o céu da boca, o que fez uma leve cócega. Seus lábios eram firmes sobre os dela, abrindo mais a sua boca para que tomasse posse.
Quando ele rugiu baixo ela pôde sentir as vibrações em suas palmas e até em sua língua. Foi um choque ver que aquilo a excitou e seu corpo respondeu instantaneamente quando retribuiu o beijo.
A mão dele agarrou sua camisa, levantou-a e repentinamente roçou seu estômago. Os dedos calejados exploraram sua pele. A sensação era loucamente boa. Ela gemeu dentro da boca dele e a mão subiu para acariciar seu seio.
Ele também não foi gentil. A mão era firme ao apertar seu seio sensível e mesmo por baixo do tecido fino do sutiã, ela conseguiu sentir a textura áspera da mão por cima do mamilo. Este reagiu imediatamente, endurecendo, e o bico ficou ereto. Tammy ouviu alguém gemer em voz alta, só para perceber de novo que o som saiu dela.
A boca na dela se afastou e deixou Tammy sem fôlego. Seus olhos se abriram para ver Valiant observá-la, uma expressão intensa em suas belas, mas estranhas feições. A mão dele ainda segurava seu seio direito e ele esfregava o polegar calejado no mamilo. Seu seio parecia ter ficado bem pesado e o mamilo tão duro que imaginava se poderia de fato se partir. Tammy arqueou o peito contra a mão, sem querer, mas o fez. Podia sentir um calor se acumulando entre as coxas e seu estômago estremecer. Estava altamente excitada e seu corpo começou a latejar.
Ele aproximou o corpo mais do dela.
— Só um gostinho. — rugiu.
Era um tom baixo, mais profundo, que fez o peito dele vibrar de novo contra as suas mãos. Ele levantou sua camisa até ficar amontoada no topo dos seus seios para expor completamente o sutiã. Ele o olhou antes de soltar o seio. Seu dedo deslizou debaixo do meio do sutiã em uma leve carícia até que houve um puxão.
Ela baixou os olhos e percebeu que, de algum modo, ele cortou o sutiã na parte da frente, com uma de suas unhas. O tecido estava afastado dos seios, expondo-os para os olhos dele. Os dois mamilos eram picos rijos, a pele sensível, e ela não sentiu vergonha. Sabia que deveria tentar cobri-los, mas não cobriu.
— Lindos e você tem tanto para alguém tão pequena. — ele urrou suavemente antes de abaixar a cabeça.
— Aposto que se eu lambê-los vão ter um gosto tão bom quanto o que aparentam.
Tammy fechou os olhos quando sua respiração soprou pelo seu seio. Ele abriu a boca e tocou o mamilo com a língua. Ela fez um som de surpresa porque a textura dela era macia, mas áspera ao mesmo tempo, a sensação única, enviando mais calor entre suas pernas. Seu nível de excitação ficou quase insuportável. Ofegou quando a boca se fechou ao redor do seio.
Sua língua áspera se moveu, deslizando rapidamente de um lado para outro do mamilo. Ela gemeu, levando o seio para sua boca. Pôde imaginar instantaneamente o que aquela língua poderia fazer se ele a usasse em outras partes do seu corpo. Os dentes raspavam gentilmente sua pele acima e abaixo do mamilo, e em resposta, seus dedos se enterraram na pele, agarrando-se a ele.
Sabia que deveria afastá-lo, mas não o fez. Ao invés disso, curvou os dedos em volta dos topos dos seus ombros, encorajando-o. Ele rugiu de novo, vibrou contra ela, e outro gemido saiu dos seus lábios. O cara lembrava a ela um enorme vibrador em seu seio e o jeito que a língua deslizava pelo mamilo era intensamente prazeroso. Ofegou quando ele rodeou seu mamilo com a língua e começou a sugá-la. O estômago apertou com força e a dor entre suas coxas começou a gritar de vontade.
Sua mão no estômago desceu e houve um puxão na sua cintura. Não conseguiu pensar de fato sobre aquilo. Concentrar-se em algo além do que ele estava fazendo era difícil demais com Valiant brincando com seu seio. Ela mal registrou o fato de que algo puxava sua calça até ele liberar o seio. Seus olhos se abriram de novo.
— Erga o quadril.
Meu quadril? Ela o olhou confusa.
— O que?
Ele sorriu. Sua boca desceu e capturou o outro seio. Um gemido rasgou sua garganta. Ele não provocava seu seio, ele o sugava com a boca, usando a língua e os dentes. A habilidade de pensar saiu voando quando ele aumentou a sucção e os chupões fortes em seu seio faziam seu clitóris pulsar como se estivessem conectados. Uma das mãos dele deslizou pelas suas costas quando ela arqueou da cama para se pressionar mais em sua boca. A mão desceu, apalpou seu traseiro e apertou.
Foi aí que ela percebeu que a mão dele estava na pele nua. Seus olhos se abriram quando tentou afastá-lo. A boca dele soltou o seio e seus olhares se encontraram. Ela se retorceu, tentando ver além do corpo dele e percebeu que de algum modo ele havia aberto sua calça e descido a mesma até seus joelhos. Sua calcinha também estava lá em baixo, enrolada com a calça. Tammy ficou de queixo caído.
— Eu nem percebi. Como desceu a minha calça sem que eu percebesse?
Ele riu.
— É tudo o que tem a dizer?
Valiant tentava manter o controle do seu desejo. A queria tanto que a dor era física. Provavelmente gritaria se ele tirasse a calça dela, considerando que parecia preocupada com o tamanho do seu pênis. A diferença de tamanho entre eles poderia ser um problema, mas as mulheres eram feitas para dilatarem ao dar à luz. Poderia conseguir se fosse gentil, cuidadoso, e fosse devagar o bastante para que se ajustasse a ele.
Ela é humana. Ele apertou os dentes, mas finalmente relaxou. Não importava que nunca tivesse acreditado que ficaria atraído por uma humana ou que tivesse achado que outros machos de sua espécie eram idiotas em querê-las, porque tudo isso deixou de ser verdade. Desejava e precisava daquela.
Inalou o seu maravilhoso e sexy cheiro, e conteve um rosnado. Ela admitiu que o som a assustava. Mulheres das Espécies saberiam que ele fazia isso porque estava excitado, mas Tammy não era de seu povo. Ela não ficaria excitada se ele não controlasse seus instintos animais. Tinha sido difícil de fazer, mas por ela, lutaria com todas as forças para manter o controle.
Teve que respirar algumas vezes para se acalmar. Resistiu à vontade de rasgar as roupas do seu corpo, abrir suas pernas e enterrar o rosto no meio daquelas coxas pálidas e sensuais dela. O cheiro de sua excitação o fazia ansiar em enterrar a língua fundo em sua fonte. Lutava para pensar, mas era difícil quando uma imagem de como seria provar o seu desejo, conhecer a profundidade morna da sua doce vagina, e saber que ela daria mais daqueles gemidos se a fodesse com a boca.
Seu pau endureceu até ele imaginar se o tecido do jeans se rasgaria para que saísse de seu confinamento. Seu eixo inchou a um doloroso tamanho só de pensar onde sua língua queria ir — dentro dela. Contudo, medo esfriou o seu sangue.
Ela não era uma Espécie. Não podia simplesmente lhe dar um orgasmo, virá-la, levantar o seu traseiro no ar e estocar nela até gozar. A machucaria.
Valiant fitou seus belos olhos. O azul deles o lembrava do oceano. Nunca viu pessoalmente, mas assistiu vários DVDs sobre o Havaí. Era apenas um dos lugares que viu na televisão que nunca pôde visitar.
Primeiro foi confinado em prisões de concreto, e mais tarde no quente e miserável deserto em um motel horrível com nada além de milhas e milhas de vazio. A Reserva tinha sido adquirida para fornecer uma locação melhor e permanente para as Espécies e agora ele tinha árvores, céu azul e um lar. Dele. Algo que lhe pertencia.
Ela piscou e inspirou profundamente, seus seios se ergueram quando inalou, e ele percebeu que havia algo mais que queria que pertencesse a ele — ela. Poderia feliz fitar aqueles olhos todos os dias. Tê-la deitada nua em sua cama seria uma alegria. O cheiro dela era algo em que facilmente poderia se viciar. Tudo nela o atraía, encantava, e não iria permitir que escapasse por entre os dedos.
Só iria precisar deixá-la viciada nele e convencê-la de que seu lugar era em sua vida. Tinha desejado uma companheira, mas imaginava que ela seria Espécie. Dispensou aquela fantasia mentalmente. Nenhuma delas o afetou do jeito que a pequena humana debaixo dele. Tinham lhe negado muito em sua vida, mas ela ele teria.
Minha! Completamente minha. Não vou desistir dela. Nunca.
— Saia de cima de mim.
Valiant sacudiu a cabeça.
— Chute a calça e abra as coxas para mim. Quero tocar você.
Pânico envolveu Tammy. O cara praticamente conseguiu despi-la e nem percebeu o que tinha feito. Queria beijá-lo, admitia isso, mas agora sua calça e calcinha estavam em volta dos joelhos, a maior parte do seu corpo exposto e tinha que parar o que estava acontecendo. Não poderia transar com um estranho e especialmente com um tão assustador quanto Valiant.
— Vá para o inferno. Saia de cima de mim e levante a minha calça.
Ele negou com a cabeça e de um salto desceu da cama. Aterrissou graciosamente em pé com as coxas abertas o bastante para permitir que suas pernas ficassem no meio delas. Sorriu enquanto varria seu corpo com o olhar. O desejo se mostrava claramente enquanto examinava cada centímetro exposto.
Ela ofegou, tentando abaixar a camisa por cima dos seios nus com uma mão enquanto tentava freneticamente subir a calça com a outra. Que merda! Como isso aconteceu? Estava completamente exposta ao cara.
Ele agarrou sua calça com ambas as mãos e tirou de seu frenético agarre, puxou-a pelas pernas e a jogou no chão. Chocada e zangada, Tammy o olhou, mas ele pulou sobre ela novamente. Apoiou-se nos braços, estilo flexão, as pernas ainda abertas, e seu corpo pairou sobre o dela. Não a tocou. Centímetros separavam seus corpos enquanto se olhavam nos olhos.
— Abra essas pernas para mim linda. Vou tocar você. — Sua voz saiu brusca, rouca e grossa.
Ela prendeu as coxas uma na outra e o empurrou pelo peito novamente. Ele ficava com a voz sexy quando estava excitado, mas não podia permitir que transasse com ela. Precisava se lembrar que não transava com estranhos, não importando o quanto desejasse, ou o quanto ansiava pelo seu toque. Novas Espécies. Parte animal. Completamente errado. OK. Lembre-se disso. O empurrou outra vez.
Ele não se movia e parecia realmente se divertir com o fato dela tentar empurrá-lo. Tentou ignorar como era sexy com aqueles olhos exóticos e músculos imensos, segurando seu peso. Tinha vontade de acariciar cada pedacinho do corpo incrível dele até onde seus dedos pudessem alcançar.
— Isso não vai acontecer, Valiant. — Dizer seu nome soava estranho vindo dos seus lábios, mas ela conseguiu falar. — Você disse que eu estou ovulando, certo? Consegue mesmo sentir o cheiro? De verdade?
Ele riu e assentiu.
— Posso cheirar. É por isso que estou tão excitado. Sabe o quanto vai ficar quente e molhada para mim com seu corpo no cio? Não se sente mais excitada quando está ovulando?
Engoliu em seco.
— Não. Meus dedos estavam um pouco inchados esta manhã, mas foi só isso. Nem saberia que essa é a razão se não tivesse me dito. Pigarreou. — Não vou transar com você. Não o conheço e não faço isso com estranhos.
— Abra suas coxas e farei com que mude de ideia.
Ela olhou em seus lindos olhos. Sabia como ele beijava e como a fazia se sentir quando a tocava. Ninguém nunca a tentou tanto e seu corpo reagiu a ele como nunca fez com outro homem. Ainda se sentia dolorida nos seios e entre as pernas.
— Abra as pernas. — rosnou baixinho. — Quero tanto sentir o seu gosto que estou tentando não babar de vontade.
Ele baba? Isso com certeza NÃO é sexy. É. Concentre-se nisso. Ela franziu o cenho e empurrou a pele quente do peito dele mais uma vez, mas ele nem se mexeu. Ele mudou seu peso, baixando pelo seu corpo e suas pernas deslizaram um pouco para fora da cama, então ao invés de pairar sobre o seu rosto, ele hesitou sobre o seu estômago. O olhar deixou o dela para olhar fixamente suas coxas. Um suave rugido saiu do fundo da garganta.
— Abra para mim. Eu preciso pelo menos disso. Seu cheiro me chama com tanta força que dói. Me deixe lambê-la até que goze gritando por mim. Me deixe desfrutar do seu creme. — Ronronou. De repente a cabeça se ergueu até que aqueles olhos de gato se prenderam aos assustados dela. — Eu adoro creme. — Ele lambeu os lábios devagar.
Seu corpo latejava. Droga, ele não jogava limpo. O corpo traidor respondeu com toda a força às suas palavras quando imagens mentais dele entre as suas coxas explodiram em seu cérebro. Mordeu o lábio com força antes de soltar um palavrão baixinho, perdendo a batalha para o desejo e sabendo que jamais venceria.
— Não posso acreditar. Isso nunca aconteceu, ok? Eu enlouqueci, mas estou desejando você.
Ela destravou os joelhos e sentiu que as bochechas esquentaram de vergonha. Deixou alguns homens ficarem sobre ela e embora não fosse tão ruim, não desfrutou. Jurou que não transaria de novo, a não ser que estivesse bêbada ou com alguém que realmente importasse. Não transava com estranhos, mas não previu uma situação dessas.
Ela abriu as pernas um pouco e observou a cabeça de Valiant descer. Outro rugido ressoou em sua garganta, esse forte e um pouco assustador. Ela agarrou o cabelo grosso dele, segurando a cabeça até que encontrasse seu olhar.
— Não me morda. Não vai fazer isso, né? Quero ter certeza que estamos na mesma onda e você precisa ter cuidado com esses seus dentes de vampiro. Não gosta de sangue, gosta?
De repente, ele deu um sorriso.
— Sei o que estou fazendo e não haverá nenhuma dor. Não vou te morder.
Ela soltou sua juba, envergonhada enquanto abria as pernas um pouco mais, e tentava não ficar tensa. Olhou para baixo quando a cama se mexeu para ver que Valiant deslizou completamente se ajoelhando próximo a ela.
Mãos grandes e fortes agarraram seu quadril, puxando seu traseiro para a beira do colchão e agarrando os joelhos, colocando-a gentilmente na posição que queria, que era com os tornozelos na beira da cama e as pernas bem abertas. Com o olhar fixo na sua vagina completamente exposta, um ronronar saiu dele e ela desviou os olhos para fitar o teto enquanto os dedos se enterravam no edredom. Não tinha certeza alguma sobre o que estava fazendo.
— Não tem pelo nenhum. — Ele soou surpreso.
Ela se perguntou se era possível morrer de vergonha.
— Eu depilo. Ou comece logo ou me deixe ir embora. Nem posso acreditar que concordei com isso porque é totalmente insa...
Ofegou ao invés de terminar a frase quando Valiant empurrou seus joelhos para abri-los ainda mais. O cara tinha ombros largos e seu cabelo caiu em seu estômago quando se inclinou em cima dela até que não pudesse deixar de sentir o fôlego quente soprando em seu sexo exposto. Suas mãos eram gentis quando ele abriu seus grandes lábios para expor ainda mais à sua vista. Outro ronronar alto saiu dele e a língua quente encostou em seu clitóris.
Seus dedos agarraram a roupa de cama quando ele começou a lambê-la em carícias longas e rápidas. O prazer foi instantâneo e intenso. A língua de Valiant era áspera e conseguia mexê-la de formas que ela nunca pensou ser possível enquanto provocava e circulava o ponto exato que enviava uma cascata de prazer pelo seu corpo.
Ela ficou totalmente tensa, as costas arqueadas, e teria juntado as pernas com força para parar aquela sensação tão poderosa, mas os ombros dele a mantinham aberta e imóvel e suas mãos separaram seus grandes lábios para expor o clitóris para ele. A manteve deitada quando seu quadril começou a se ergueu do colchão.
O clímax rasgou Tammy brutalmente ao meio e ela gritou. Estava chocada por ter gozado tão rápido. Seus olhos estavam fechados enquanto descia flutuando pela euforia e tentava acalmar sua respiração entrecortada. Ouviu Valiant ofegando mais do que ela e arfou quando sentiu, de repente, a língua na abertura de sua boceta. Ele grunhiu, vibrando contra ela, e língua grossa penetrou o seu corpo enquanto separava as paredes de sua vagina. Os músculos ainda estavam se contraindo nas últimas ondas de seu orgasmo quando as mãos dele deslizaram debaixo de sua bunda, levantando-a uns centímetros da cama para lhe dar uma penetração mais profunda.
— Oh Deus! — gemeu.
Ele grunhiu forte em resposta e sua língua se movia dentro dela, dentro e fora, antes de se retirar completamente. Ela se forçou a abrir os olhos e fitou em choque quando ele se inclinou sobre ela. Ele tinha uma expressão selvagem nos olhos incríveis quando se fixou em seu seio, se inclinou e fechou a boca sobre um bico e chupou freneticamente. Fez com que gritasse outra vez com a nova e maravilhosa sensação. Algo grosso e duro cutucou sua vagina. Ela ofegou quando o pênis dele começou a pressioná-la onde sua língua tinha acabado de estar.
Era incrivelmente duro e grosso. Abaixou-se sobre ela e seu corpo a cobriu com peso suficiente somente para mantê-la onde ele a queria. Seus músculos se estiraram para acomodar o tamanho dele. Penetrou-a lentamente, permitindo que seu corpo se ajustasse ao pênis, e ela agarrou sua cabeça, enfiando os dedos nos grossos cabelos para ter onde se segurar. Prazer e quase dor a dominaram enquanto ele afundava nela. Experimentou uma onda de pânico quando entrou ainda mais.
— Pare!
Ele congelou e a boca deixou seu seio. Tinha uma expressão definitivamente selvagem naqueles olhos exóticos. A pura necessidade de seu desejo claramente marcada pela forte tensão em suas feições.
— Não me faça parar. — Sua voz era tão rouca e grossa que não parecia humana. — Preciso de você.
— É muito grande. — Estava com medo.
— Vou nos virar, ok? Você vai ficar por cima e tomar de mim o quanto puder. Não quero te machucar.
Ele rodou, mostrando sua força imensa. Em um segundo Tammy estava debaixo dele, no outro, montada em seu colo. Agarrou-a pelos quadris, para não penetrá-la mais fundo e esperou até que ela apoiasse os joelhos em ambos os lados de seus quadris antes de soltá-la. Envolveu uma das mãos em sua cintura, para mantê-la no lugar, e deslizou a outra por baixo dela para massagear o clitóris. Ela Jogou a cabeça para trás e desceu um pouco mais.
Seu pênis era realmente grosso. Passou muito tempo desde que teve relações sexuais. Ela subiu e o prazer de senti-lo dentro dela arrancou um gemido dos seus lábios. Ele era impiedoso com os dedos enquanto brincava com o grupo de nervos sensíveis, fazendo-a ofegar. Moveu-se para cima e para baixo, tomando tanto dele quanto seu corpo desejava.
A sensação de ser estirada, preenchida, de felicidade pura, a chocaram porque era a melhor coisa que já experimentou. Podia sentir cada pedacinho extremamente duro do seu membro dentro dela e, combinado com o que seus dedos estavam fazendo, precisava gozar outra vez.
Cavalgou-o freneticamente, tomando o pênis um pouco mais profundo cada vez que descia os quadris. Gemidos escaparam de sua garganta enquanto seu corpo parecia arder em chamas. O homem debaixo dela grunhia e rosnava, fazendo ruídos que ela normalmente acharia amedrontadores, mas ao contrário, só aumentavam sua paixão. Seu corpo ficou tenso, sacudiu, e gritou quando gozou novamente com força, seus músculos vaginais apertando o grosso membro enquanto seu corpo se sacudia violentamente pela intensidade do orgasmo.
Valiant rugiu enquanto gozava e ela nem se assustou com o som. O pênis duro como aço estava enterrado bem fundo dentro dela e seus quadris se sacudiram debaixo de seu corpo enquanto um líquido quente se espalhou pela vagina conforme ele continuava gozando. Ela desmoronou em seu peito largo.
Os dois estavam sem fôlego. Uma das mãos dele agarrou seu quadril e a outra deslizou pelas suas costas até se fechar sobre seu cabelo. Não machucava, mas forçou a cabeça dela até que não teve escolha a não ser encontrar seu olhar. Os olhos dourados pareciam absolutamente lindos depois do sexo. Ele sorria, mostrando os dentes afiados, e a mão que estava em seu quadril envolveu sua bunda com gentileza.
— Vou ficar com você para sempre.
Ela o olhou chocada.
— O quê?
— Decidi que vou ficar com você para sempre. Você é minha.
Ele era bom em deixa-la sem palavras. Tammy o fitou e ficou totalmente muda. Ele quer ficar comigo? Para sempre? Sério? Ele acha que sou uma mascote? Ela não estava certa de como entender suas palavras ou do significado exato delas. Eu sou dele? Ele decidiu? Nem sabia por onde começar ou o que pensar quando ele fazia essas declarações primitivas.
O sorriso morreu em seus lábios quando ele ficou tenso de repente debaixo dela, seu corpo enorme parecendo se transformar em pedra. Tammy ofegou quando ele os rolou e lentamente retirou seu membro ainda ereto de seu corpo. Deu a ela um último olhar apaixonado antes de rolar e sair da cama.
— Estão vindo atrás de você, mas não vou permitir que ninguém a tire de mim.
Quem está vindo atrás de mim? Tammy se sentou na cama. Percebeu que a camiseta estava enrolada por cima dos seios, e seu sutiã cortado estava debaixo dos braços. Viu quando ele rapidamente vestiu a calça, rosnando e praguejando baixinho o tempo inteiro. Retirou o sutiã destruído e baixou a camiseta enquanto saía da cama para o lado dela.
Observou Valiant cuidadosamente. Sua expressão era assustadora quando se virou para encará-la. Não o conhecia há muito tempo, mas conseguia identificar raiva quando a via.
— Fique dentro deste quarto enquanto lido com eles. Ninguém vai levar você embora. É minha agora.
De boca aberta, o viu colocar a camiseta e fechar a calça jeans enquanto andava pelo quarto como um animal enjaulado. Um leão. Era com o que se parecia. Só que aqui não havia barra alguma entre eles. O que foi que eu fiz? Ah, sim. Transei com um homem-leão. Sexo quente, escandaloso, gozei-tanto-que-acho-que-me-machuquei. E ele ia ferir alguém ou se ferir para ficar com ela.
Tammy recuou, pisou em alguma coisa e olhou para o chão. Sua calça se encontrava ao lado dos seus pés. Seus sapatos também estavam lá. Nem se lembrava deles sendo retirados, mas eram apenas sapatilhas, então deslizaram quando ele arrancou suas calças.
Valiant foi até a janela, olhou para fora e rosnou ferozmente.
— Seis deles estão se aproximando. — Bufou. — Acreditam que precisarão apenas de seis machos da Espécie. É um insulto. Não vou demorar muito, delícia. Por que não volta para a cama e me espera? Prepararei algo para comer antes de voltar. Você é pequena e quero alimentá-la. Vou cuidar muito bem de você e vai querer ficar comigo.
Tammy olhou para um abajur próximo, sua mente trabalhando desesperadamente para impedir o que temia que poderia acontecer. Valiant era um cara grandão, feroz, e não queria que as Novas Espécies que vinham salvá-la, o ferissem ou o matassem. Ele lutaria contra eles para mantê-la em seu quarto. Ela viu uma saída em cima do criado-mudo onde o abajur estava ligado a uma tomada. Voltou sua atenção para ele, notou que ainda estava de costas para ela enquanto observava pela janela, e outro rugido saiu dos seus lábios.
— Baterei neles até irem embora chorando antes que a levem de mim. Tentarei assustá-los primeiro, mas não permitirei que a levem Tammy. Farei o que for preciso para impedir.
Ela não seria capaz de viver se eles o matassem. Tammy se abaixou e puxou o fio da tomada. Seu olhar fixo em Valiant para garantir que não se virasse e notasse seus movimentos. Agarrou o abajur com a mão tremula, hesitou, e percebeu que o machucaria menos do que uma bala. Não podia permitir que isso acontecesse. Andou um pouco, mas não se virou, concentrado demais no que via pela janela.
— Idiotas. — Ele rugiu, se inclinou um pouco para frente, e as mãos seguraram o peitoril da janela com força suficiente para fazer a madeira ranger. — Quero que fique dentro do quarto. Não deve demorar mais do que cinco minutos. Se não forem embora, eu vou...
Tammy bateu o abajur com força na parte de trás de sua cabeça. A base de vidro despedaçou e os cacos caíram pelas costas de Valiant até o chão. Ele grunhiu e se virou para encará-la. Oh, estou ferrada! Não bati com força suficiente. Poderia ter batido com mais força, mas ficou com medo de machucá-lo muito severamente. Ele parecia completamente chocado enquanto a fitava conforme se erguia, mas então seus olhos rolaram e seu corpo vacilou antes de desmoronar no carpete.
Ela instantaneamente jogou o abajur de lado e se ajoelhou ao seu lado. Checou o pulso de Valiant, encontrou-o firme e forte, e passou os dedos pelo seu cabelo, onde havia batido. Podia sentir um leve galo se formando, mas não havia sangue. O peito dele subia e descia facilmente quando ela se levantou, certa de que não ficaria inconsciente por muito tempo. Precisava ir embora antes que acordasse. Tinha absoluta certeza de que ficaria irado por tê-lo apagado.
— Puta que pariu. — Suas mãos sacudiam quando terminou de se vestir e de enfiar os pés nas sapatilhas às pressas. Enfiou o sutiã rasgado dentro da calça, sem querer deixa-lo para trás, mas desejando mantê-lo oculto quando saísse da casa. Um olhar para Valiant mostrou que ele permanecia deitado de lado no chão. Deu um passo mais perto, hesitou em deixá-lo, e uma pontada de arrependimento a inundou. Talvez devesse ficar e... Não! O que estou pensando? Ele quer me manter aqui para sempre e nós somos estranhos. Isso seria loucura! Saiu correndo.
Ele tinha trancado a porta do quarto e ela teve que destrancá-la para sair. Olhou pelo corredor para algumas portas fechadas, mas a escada era visível. Correu até ela. Quando Valiant acordasse sabia que ficaria muito irritado. Bateu nele com seu próprio abajur e o apagou completamente. Duvidava que entenderia que fez isso para garantir que não se ferisse e não queria ficar por perto para descobrir se conseguiria ou não argumentar com ele.
Bateu a porta atrás dela e caminhou rapidamente pelo caminho que levava ao portão. Cruzou os braços para esconder o fato de que estava sem sutiã. Esperava que ninguém notasse já que não queria ter que explicar. Avistou sua van, quatro Jipes e a outra caminhonete do bufê estacionados do outro lado da cerca. Homens já tinham entrado no pátio pelo portão.
Eles eram Novas Espécies. Todos usavam uniformes pretos com emblemas em branco do ONE no peito e carregavam armas de verdade juntamente com o que assumia serem armas que disparavam tranquilizantes. Tinha visto alguns dos oficiais Novas Espécies de longe no portão de entrada quando chegou na Reserva. Um muro de nove metros protegia os limites do lugar e homens com aqueles mesmos uniformes patrulhavam do topo da muralha. Os que estavam no pátio de Valiant pararam.
— Oi. — Tammy não olhou para os seus rostos, mantendo os olhos em outra direção. — Estou bem. — Caminhou mais rápido em direção ao portão e em volta dos homens que permaneceram bloqueando seu caminho.
— Tammy! — Ted veio correndo. — Você está bem?
Ela continuou andando e quase passou por cima de um dos oficiais ONE, mas ele saiu da frente pulando.
— Estou bem, Ted. Estou indo para casa. Tive um dia estressante, mas estou bem mesmo. Nós conversamos e ele me deixou ir embora. Problema resolvido. — Mentiu descaradamente.
Um homem entrou no seu caminho quando ela passou pelo portão aberto na direção de onde os veículos estavam estacionados.
— Você está bem?
Ela reconheceu a voz grossa imediatamente como pertencendo a Tiger. Parou e levantou o queixo para olhar suas feições estranhas, nem um pouco chocada que parecesse ser felino. Não era apenas o seu nome que o entregava, mas ele também possuía traços que eram similares aos de Valiant.
Porém, o cara era alguns centímetros mais baixo e não tinha o peito tão largo quanto o de Valiant, mas ainda assim era enorme.
Os olhos de gato de Tiger eram de um azul incrível e ele tinha as mesmas maçãs do rosto distintas e o mesmo nariz achatado de Valiant. Tinha um cabelo castanho claro com mechas loiras e ruivas misturadas. O ruivo não era nem de perto tão brilhoso nem tão bonito quanto o de Valiant.
— Estou bem. Acho que vou para casa relaxar agora. Foi um dia esquisito.
Ele inalou e seus olhos se arregalaram um pouco.
— Vou levá-la para a nossa clínica médica.
Tammy ficou tensa, como medo de que dissesse algo que não queria que fosse revelado na frente do seu chefe e adivinhou que ele conseguia sentir o cheiro de Valiant impregnado em todo seu corpo. Eles realmente pareciam ter o olfato incrivelmente forte. Ela lhe deu um olhar de advertência, esperando silenciosamente que ele entendesse.
— Não estou machucada. Não aconteceu nada.
— O que aquele bastardo fez com você? — Ted agarrou o seu braço, virando-a para encará-lo. Ted tinha mais ou menos um metro e setenta e cinco, só dez centímetros mais alto que Tammy, e parecia anormalmente pálido. — Ele te tocou? Machucou você?
Ela encontrou o olhar preocupado do seu chefe e esperou que parecesse calma.
— Estou bem. Nada aconteceu. Nós só conversamos, ele viu a razão e disse que eu podia ir embora. Simples assim. — mentiu.
As feições de Ted relaxaram.
— Graças a Deus. Eles iam entrar para resgatá-la. Os tranquilizantes finalmente chegaram e mais deles apareceram para invadir a casa. A ouvi gritar uma vez e também ouvi um urro, imaginei o pior.
— Ele era assustador. — Ela puxou o braço que ele segurava. — Só quero ir para casa. Foi uma experiência difícil e minha cabeça está latejando. — mentiu outra vez.
Ted assentiu.
— Claro. Vou te pagar por hoje. Eu sinto tanto pela confusão com as direções e estou muito feliz que não tenha se machucado.
— Estou absolutamente bem. — murmurou, imaginando silenciosamente se deveria contar o número de mentiras que dizia, mas rapidamente dispensou a ideia. A verdade causaria muito mais discórdia e não queria nada disso. Ted se afastou com um sorriso incerto. — Foi um dia cheio de emoções, não é?
— Sim. — Forçou um sorriso. — Vou embora. Se importa se eu levar a van?
Seu chefe hesitou.
— Eu preciso dela. Está levando a maior parte da comida da festa. A festa não foi cancelada.
— Eu a levo em casa. — ofereceu Tiger baixinho. — Venha por aqui, Srta. Shasta. Meu Jipe esta bem ali.
Ela caminhou até a van para pegar a bolsa, rezando silenciosamente para que fosse embora antes que Valiant acordasse. Seguiu Tiger até um dos Jipes e entrou nele. Ele não deu partida imediatamente. Estudou-a com muita atenção. Ela decidiu ser um pouco honesta porque os minutos se passavam e não sabia quando o “problema” iria se levantar do chão do quarto.
— Precisamos ir agora. Por favor, ligue o carro e me tire daqui.
Tiger ligou o carro e gritou por cima do ombro.
— Deixem a área agora.
O Jipe começou a andar e o estresse dentro de Tammy diminuiu. Ela se lembrou de colocar o cinto de segurança.
— Vivo a mais ou menos cinco milhas daqui. Obrigada por me levar para casa.
Ele hesitou.
— Estou levando você primeiro até a nossa clínica.
— Não. Eu só quero ir para casa.
Ele franziu o cenho e fechou a cara para ela.
— Você precisa de cuidados médicos e nós vamos chamar um psicólogo. Precisa fazer uma queixa a respeito do que Valiant fez com você. Nós cuidamos da justiça na Reserva, mas ele será punido severamente por tê-la atacado.
Chocada, Tammy ficou de queixo caído.
— Ele não me machucou e não quero que seja punido. Não preciso de um médico e com certeza não preciso de um psicanalista.
Ele pisou no freio e se virou para encarar Tammy. Seus olhos azuis se prenderam nos dela.
— Pode mentir para Ted e Marcy. São humanos e acreditarão no que disse lá atrás. Eu não sou eles e você tem o cheiro forte de Valiant. Também posso sentir o cheiro de sexo. Ele obviamente a machucou e a forçou a cruzar com ele. Precisa permitir que nossos médicos deem uma olhada em você, devia conversar com alguém sobre o que aconteceu e precisa entrar com uma queixa para garantir que ele seja punido pelo que fez.
Estava de boca aberta, então a fechou enquanto olhava para Tiger, sentindo o calor de um rubor esquentar suas bochechas. Engoliu o nó que havia se formado para conseguir falar.
— Eu sei que ele a machucou.
— Eu estou bem. Ele não me forçou. Eu quero ir para casa.
Ele franziu mais o rosto.
— O que aconteceu?
Ela hesitou.
— Ele não me machucou, mas também não queria me deixar ir embora. Queria ficar comigo como se eu fosse um animal de estimação ou coisa parecida. Estava prestes a atacar qualquer um que viesse atrás de mim. Eu o peguei com um abajur e o apaguei. Pode querer mandar alguém para ver como está, mas acho que ele vai ficar bem. Tentei não machucá-lo, mas percebi que era melhor do que se alguém desse um tiro nele. Mas precisa me tirar daqui porque acho que ele vai ficar fulo por eu ter escapado quando acordar. Eu só quero ir pra casa.
— Filho da puta. — ele praguejou enquanto soltava o freio e pisava no acelerador. O Jipe se lançou para frente e aumentou a velocidade.
— Me deixe te levar até a clínica.
Ela apertou os dentes.
— Ele não me estuprou, não me forçou, e o sexo foi consensual, ok? Só me leve pra casa. Por favor. Eu só quero esquecer que esse dia aconteceu.
Tiger balançou a cabeça num aceno raivoso.
— Certo. — Ele pegou o rádio preso na camisa. — Aqui é Tiger. Todos saiam de perto da casa de Valiant. Quero que todos vigiando aquela área tenham tranquilizantes em mãos. Atinjam o cara com eles e o isolem se ele deixar o seu território. Entendido?
Tammy olhou para o homem sentado ao seu lado. Ele tinha um aparelho de bluetooth na orelha. O que quer que disseram a ele o deixou mais relaxado.
— Ótimo. Tiger desligando. — Pendurou o rádio de volta da camisa.
— Sinto muito por tudo isso. Precisa nos avisar se houver algo que possamos fazer por você. Nosso departamento legal entrará em contato.
— Para quê?
— Simplesmente entrarão. Quando concordou em trabalhar aqui teve que assinar alguns papéis. Sabe que tudo o que acontece aqui é confidencial ou poderia enfrentar processos judiciais gigantescos, então, por favor, não procure a imprensa. Nosso departamento legal vai garantir que suas necessidades sejam atendidas, então qualquer que forem os problemas que vier a enfrentar, eles garantirão que seja bem recompensada. É tudo o que posso fazer se você se recusa a prestar queixa contra ele.
Ela assinou um contrato de confidencialidade ridiculamente grande. Não era permitido falar sobre nada que visse ou ouvisse na Reserva dos Novas Espécies. Não era permitido processá-los se sofresse algum dano enquanto estivesse lá como convidada. Era uma espécie de contrato de risco entre-por-livre-e-espontânea-vontade, mas eles tinham colocado nas cláusulas que pagariam pelas despesas médicas caso fosse machucada. Agora sabia por quê.
— Eu nunca falaria com repórteres.
Cinco minutos depois, Tiger estacionou o Jipe em frente a sua pequena casa e outros dois veículos estacionaram atrás deles. Tinha sido levada pra casa por um time inteiro de seguranças. Sabia que os Novas Espécies eram visados por grupos de ódio e não precisou perguntar o por que dos carros extras os terem seguido até em casa.
Deu uma olhada em sua casa e tentou disfarçar a vergonha. A casa foi deixada pra ela pela sua avó. Sempre esteve em más condições e Tammy nunca teve dinheiro para reforma-la. A varanda afundava em alguns cantos, fazendo com que parecesse irregular, a tinta estava descascada em vários pontos, e uma das janelas da frente tinha fita isolante onde o vidro quebrou. Era uma casa pequena de dois quartos e um banheiro, mas era toda sua. Perguntava-se o que o Nova Espécie pensava ao fitar sua casa com um olhar confuso em suas feições.
— Tem certeza que não quer ver um médico nem um psicólogo? Faremos com que ele pague se entrar com uma queixa. Somos mais severos que o sistema judiciário de vocês.
Ela sacudiu a cabeça enquanto tirava o cinto.
— Ele não me machucou, não quero que seja punido e não preciso de um médico. Não tenho certeza ainda sobre o psicólogo, mas sou forte. — Fez uma pausa. — Só quero esquecer que isso aconteceu. Ok?
Ele encontrou o seu olhar, observou-a em silêncio, mas assentiu lentamente.
Tammy saiu do Jipe e caminhou até a porta da frente, destrancou-a, e entrou na pequena sala. Virou-se e percebeu que Tiger a observava silenciosamente do veículo preto e sem placa. Ela fechou a porta com firmeza e girou a trava da maçaneta.
— Puta que pariu. — Suspirou. Foi para o banheiro, dirigindo-se ao chuveiro. — Nunca pensei que esse dia chegaria. Tanto esforço para sempre estar preparada para tudo. Há! Feras humanas com habilidades de seduzir mulheres com seus talentos com a boca. Sacudiu a cabeça. Minha vida só fica cada vez mais estranha. Por que nunca pode ser normal?
Valiant grunhiu. Sua cabeça latejava e não conseguia lembrar por quê. Seus olhos abriram e ele fitou o carpete. Estava deitado de lado. Piscou antes que alguém empurrasse um saco de gelo em seu rosto. O saco continuou onde estava. Ele inalou e rugiu baixo. Isso fez com que sua cabeça doesse ainda mais.
Tiger se agachou, ainda segurando o saco de gelo.
— Coloque isso atrás da cabeça. — Falou baixinho. Valiant segurou o saco. Sua mão tremia um pouco e ele encontrou o ponto onde doía mais. Fez uma careta e rosnou quando o saco entrou em contato. Fixou sua atenção em Tiger.
— Tudo bem?
— O que aconteceu?
Tiger respirou fundo.
— Você vai lembrar. Mas fique tranquilo quando fizer.
O gelo ajudou a reduzir a névoa de dor e ele respirou profundamente, permitindo que os cheiros dentro do quarto enchessem seu nariz. Tammy! Tentou sentar, mas o quarto girou. Grunhiu outra vez, afundou de volta no chão e mostrou os dentes para Tiger.
— Qual dos seus homens me surpreendeu?
— Foi Tammy. Ela o golpeou com o abajur. — Tiger se levantou e se afastou, colocando uma distância segura entre eles.
— Ela está segura e fora da Reserva.
A raiva encheu Valiant e ele rosnou.
— Traga-a de volta. Ela é minha.
Em resposta, o outro Espécie se inclinou na parede, cruzou os braços e suspirou.
— Ela bateu em você para escapar, pediu para ser levada para casa, mas se recusou a prestar queixa. Você tem sorte, cara. Ela poderia fazer com que fosse enfiado em uma cela minúscula e Justice teria que decidir se você precisaria ser eliminado de vez. Se é perigoso demais para viver... Porra, nem me faça começar. É um conceito terrível demais que nunca desejamos ter que encarar.
A dor diminuiu mais e Valiant sentou sem que o quarto girasse ao seu redor. Olhou para Tiger com raiva.
— Ela é minha.
— Já entendi. — Ele farejou o ar. — Ela foi sua mesmo. — Seu olhar ia de Valiant para a cama. — Mas não pode ficar com ela. Ela é humana. Não teria nem feito o que fez com uma das nossas. Sabe que não pode simplesmente reivindicá-las e forçá-las a viverem com você.
— Ela é pequena. Eu poderia mantê-la aqui facilmente e mudar sua ideia a respeito de tudo. Planejava alimentá-la e cuidar dela.
— Ela mencionou que você parecia pensar que ela era um animal de estimação. Achei que ela tinha entendido mal a situação. Humanos tendem a nos enxergar de um jeito errado, mas depois de te ouvir falar, estava certa. Ela não é um bichinho de estimação.
— Sei disso. — Valiant franziu o cenho, preocupado que pudesse ter dado uma impressão errada a ela. Encheu-se de arrependimento. — É por isso que foi embora? Por isso me bateu? Direi a ela que é minha companheira, não meu bichinho.
— Ela não é sua, cara. — Tiger se afastou da parede. — Ela quis ir embora. Supere isso. Você e eu, nós não fomos feitos para as humanas. Conversamos sobre isso, lembra? São frágeis demais, se assustam muito facilmente, e você queria uma companheira Espécie. Uma felina.
— Não quero mais. Quero Tammy.
— Que pena. Não pode tê-la. Falou sobre a nossa gente amolecendo e como odiava isso. É você quem soa molenga no momento. Endureça e encare os fatos. Uma humana nunca aceitaria o que somos. Pelo menos não caras como nós dois. Estamos sintonizados demais com o nosso lado animal. Eu só pareço ser mais humano que você.
Tristeza era uma emoção que Valiant detestava, mas ela o encheu de todo modo.
— Ela não vai voltar para mim, vai?
— Não. — Tiger suavizou o olhar. — Não vai.
— Vá embora.
— Eu preferia ficar um pouco para ter certeza de que está completamente recuperado. Vou fazer o jantar. Vamos beber alguns refrigerantes e conversar. Ouvi falar que algumas felinas que não conheceu foram transferidas para cá. Talvez uma delas seja a certa para você.
Imagens de Tammy passaram pela cabeça de Valiant.
— Me deixe. Preciso ficar sozinho.
— As novas felinas chegam amanhã. Eu venho pegá-lo para irmos até o hotel para que dê uma cheirada nelas.
Valiant lutou para se levantar e seu olhar foi até a cama onde Tammy esteve. Seu cheiro ainda permanecia forte dentro do quarto. Ele andou até a cama e jogou fora a bolsa de gelo. Preferia sentir a dor do que voltar ao estado entorpecido no qual vivia antes de ter sentido todas aquelas coisas maravilhosas com Tammy. Engatinhou em cima da cama e deitou onde ela havia se deitado, inalando seu cheiro.
— Valiant? Eu venho te pegar às duas.
— Não se incomode. Apenas vá embora. Tranque a porta quando sair. Não quero conhecer nenhuma felina.
Ele sorveu o cheiro de Tammy, querendo gravá-lo na memória antes que desaparecesse, e ouviu seu amigo sair. Seus olhos se fecharam quando roçou com gentileza o edredom. Não conseguia se lembrar da última vez que lágrimas molharam seus olhos, mas elas o faziam no momento. A perdeu e ela nunca voltaria. Tinha conhecido a paz com ela. Felicidade. Esperança. E agora tudo se foi. Ela estava… perdida para ele, para sempre.
Por que não consigo esquecer Valiant? Tammy se sentia totalmente enojada com a falta de controle sobre seus pensamentos enquanto alinhava o taco para atingir a bola branca. Olhou para a vermelha e para a caçapa. Música alta tocava ao fundo. Alguém estava com vontade de ouvir um rock das antigas. Um suspiro soou próximo dela.
— Dê logo a tacada, Tam. Sabe que vai ganhar de mim de qualquer jeito.
Ela virou a cabeça para sorrir para o seu melhor amigo de longa data, Tim. Os dois se conheciam desde o ensino fundamental e eram próximos de verdade. Ele tinha desejado mais do que amizade no ensino médio, mas Tammy não correspondeu seus sentimentos românticos. Agora, anos depois, eles pareciam ter uma amizade confortável, mas estritamente platônica com a qual ambos estavam felizes.
— Não posso evitar ser melhor do que você nisso.
Um sorriso curvou os lábios dele. Ele aparentava ser meio desajeitado, mas tinha um sorriso doce e olhos castanhos suaves. Tim parecia com um geek porque era um. Usava blusa estampada e calça de moletom e trabalhava em casa como programador desenvolvendo softwares de jogos. Seus olhos brilhavam com as luzes do bar.
— Posso te vencer no videogame na boa.
— Sim, pode. — Ela deu a tacada e afundou a bola vermelha na caçapa do canto. — É por isso que sou mais inteligente que você e porque estamos neste bar ao invés de na sua casa de frente aos consoles de games. Eu queria ganhar.
Ele zombou.
— Você não é mais inteligente. Eu é que sou um cavalheiro.
Ela encaçapou outra bola.
— Que pena nunca apostarmos dinheiro quando jogamos.
— Eu ganho bem, mas não tanto assim. — Ele riu. — Você levaria todas as minhas economias em uma hora do jeito que joga sinuca. Tammy piscou para ele.
— Sabe que eu preciso de um teto novo.
O sorriso de Tim sumiu quando a encarou.
— Precisa? Por que não me deixa pagar por ele?
Vacilo dos grandes. Deixou escapar sem querer. Devia saber que sua mente ainda estava distraída com a memória de um par de olhos de gato cor de ouro derretido presos a um corpo que ainda fazia o seu esquentar só de lembrar. Pensava em Valiant mil vezes por dia nas quase cinco semanas que se passaram. Sacudiu a cabeça.
— Estava brincando.
Tim não engoliu.
— Não está não. Está com vazamento de novo? Qual é, Tam? Me deixe te ajudar. Nós somos amigos. Inferno, somos praticamente da mesma família. Sei quanto você ganha e é uma mixaria. Não pôde ir para a universidade como eu fui. Tinha que cuidar da sua avó e sei que ainda está pagando as dívidas dela. Aquela casa que ela te deixou é um presente de grego. Deixe eu te pagar um telhado novo. Precisa de outros consertos? Tenho dinheiro e ele está inútil numa conta bancária. Não é como se tivesse uma namorada para torrar a minha grana.
Tammy encaçapou a bola preta. Fim de jogo. Franziu o cenho para o seu melhor amigo.
— Já tivemos essa discussão e eu não vou aceitar dinheiro seu. Obrigada do fundo do coração, mas não sou uma parasita.
— Isso é conversa fiada e você sabe disso. Nunca te acusaria disso. Foi você quem sempre teve que fazer tudo pelos outros, então deixe que a ajude dessa vez. É o que amigos e familiares fazem uns pelos outros.
— Não quero brigar.
Ela se afastou da mesa de bilhar indo até a mesa onde se sentavam. Agarrou sua cerveja, deu uma olhada no líquido dentro dela e deu um gole. Raramente bebia, mas às vezes tinha vontade. Terminou sua primeira e última cerveja da noite quando secou a garrafa. Sentia a necessidade de ficar um pouco embriagada com mais frequência depois de ter conhecido Valiant.
— Não estamos brigando. Estou tentando fazer com que você veja a razão. Eu vivo com os meus pais e não pago hipoteca. A casa já está paga. Só pago os impostos, que são irrisórios. Eu ganho muito bem e tenho todos os brinquedinhos que quero. Me deixe ajudar. Lembra quando o meu pai teve o derrame ano passado e eles mandaram aquela enfermeira de merda para casa com ele? Você apareceu e tomou conta do velho. Encontrou a mulher maravilhosa que cuida dele agora. Trocou suas fraldas durante semanas e não aceitou um centavo. Agora me deixe ajudá-la.
— Vou te dizer uma coisa. — Tammy suspirou, virando-se para encará-lo. — Você pode vir trocar as minhas fraldas se eu sofrer um derrame. Até lá, não me venha com essa de me dar dinheiro. É diferente.
Tim riu.
— Finalmente! Está me dando uma chance de tirar a sua calcinha.
Tammy riu e sacudiu a cabeça.
— Você é nojento.
Ele mexeu as sobrancelhas.
— Ei, isso foi o mais perto de um convite para te ver nua que já recebi.
— Isso não é verdade. — Ela colocou a garrafa vazia na lata de lixo e pegou a bolsa. Uma olhada em seu relógio mostrou que tinha acabado de dar onze horas. — Não se esqueça da vez que eu quis nadar pelada quando tínhamos dez anos. Você amarelou. Achou que uma tartaruga mordedora ia lhe abocanhar em um péssimo lugar se tirasse a cueca e nadasse na lagoa. Podia ter me visto nua.
— Isso não conta. Eu achava que todas as meninas eram nojentas naquela idade, e, além disso, você ainda não tinha nada de bom pra se ver.
Ela riu e balançou a mão.
— Nem você. Eu tenho que ir. Temos que dar um almoço amanhã na igreja e tenho que chegar as sete para ajudar com a preparação. Ashley Bless conheceu um cara aí e vai se casar. Amanhã é o almoço de noivado.
Tim estremeceu.
— Alguém vai casar com ela? Ela fez um transplante de personalidade? É a pessoa mais irritante que eu já conheci. Pobre coitado. — Ele bebeu a cerveja com gosto.
Tammy bufou.
— Não. Ela ainda é uma megera, mas convenceu esse idiota que é meio fofo escutá-la falar pelos cotovelos sobre tudo. Isso ou ela usou aquela boca enorme e fez um belo boquete nele.
Ela foi até a porta do bar, acenou e lhe soprou um beijo. Ouviu Tim se engasgar com a cerveja devido ao seu último comentário e riu ao sair do estabelecimento.
Os verões na Carolina do Norte podiam ser estranhos. Tinha feito calor durante o dia, mas o sol se pôs, trazendo uma brisa fria que soprava em volta de Tammy enquanto ia em direção ao seu carro. Olhou em volta, apreciando a noite tranquila. Crescer em uma cidade pequena sempre foi sido ótimo. Conhecia quase todo mundo e teve muita liberdade, já que sua avó era meio caduca.
Tammy foi viver com ela bem depois do seu oitavo aniversário, mas ainda se lembrava de como era morar em uma cidade grande antes disso. Amava muito mais a área rural.
— Ei. — chamou um homem. — Você é Trisha Shasta?
Ela já havia pego as chaves do carro. Virou para fitar o estranho alto que vestia jeans com uma camiseta de algodão de mangas compridas verde. Ele fechou o look com um par de botas de um marrom desbotado, estilo cowboy. Definitivamente não era alguém que vivia em uma cidade do interior. Tinha o cabelo curto e castanho e parecia estar na metade dos trinta. Ela instantaneamente ficou alerta. Foi ensinada a nunca confiar em estranhos, especialmente homens.
— Quem deseja saber?
O homem parou e colocou os polegares no cós da calça.
— Eu me chamo Terry Briggs. Ouvi que houve um incidente com você naquele lugar dos Novas Espécies que acabaram de abrir perto daqui.
Seu coração começou a pular. O que ele ouviu? Quem era aquele cara?
— Eu não sei do que você está falando. — mentiu. — Tenha uma boa noite. — Destravou o carro, mas manteve o olhar nele. Cenários assustadores começaram a surgir em sua mente e ela teve vontade de grunhir. Um terapeuta teria um dia cheio com o amor que ela sentia pensando demais sobre todas as coisas.
— Não faça isso. — exigiu ele ao se aproximar mais um passo. — Ouvimos que você se encontrou com um daqueles animais e que ele colocou as patas em você.
Tammy ficou tensa e o medo desceu pela sua espinha. Ele estava a mais ou menos meio metro dela agora. Era alto, mais ou menos um e oitenta, mas aquilo não era novidade. Normalmente todos eram mais altos do que ela, mas ele era um estranho e sentia-se ameaçada. Olhou-o com raiva e não gostou que tivesse invadido seu espaço. Não podia abrir a porta do carro a não ser que se aproximasse mais ainda dele, o que não estava prestes a fazer.
— Escute — olhou para suas botas e de volta ao seu rosto. — cowboy. Eu não sei do que está falando. O que quer que tenha ouvido, esse boato é mentira. Agora precisa se afastar porque quero ir embora.
Uma expressão de nojo cruzou o rosto dele. Isso tornou suas feições feias e hostis.
— Eles fizeram uma lavagem cerebral em você, não fizeram? Aqueles animais fazem isso com algumas pessoas. Tudo bem, moça. Já fizeram isso antes e você não está sozinha. Precisa vir conosco para que a ajudemos a pensar com clareza outra vez. Queremos que dê uma entrevista e que diga a todos o que aqueles animais bastardos e doentes fizeram com você. Isso vai mostrar ao mundo que eles não são algo que deveria viver ao lado de pessoas decentes como nós. Todos eles precisam ser eliminados.
Ouviu tudo o que ele disse. Seu ódio óbvio pelos Novas Espécies a chocou um pouco, mas o mais alarmante do seu pequeno discurso foi a parte do “nós”. Virou a cabeça, e com toda certeza, avistou mais três homens se aproximando dela, vindos das sombras do lugar onde tinham se escondido. Nada bom. Merda. Deu uma olhada no mais alto enquanto seu coração acelerava de medo. Pense. Não entre em pânico.
— Certo. Você conseguiu. Por que não me segue até em casa e discutimos isso lá? — Podia dirigir até a delegacia se conseguisse entrar no carro ou pôr as mãos no celular para pedir socorro. Não tinha nenhuma intenção de permitir que a seguissem até em casa.
Ele piscou e pareceu um pouco surpreso, mas endureceu a boca.
— Vamos na minha caminhonete.
Ela assentiu, verificando rapidamente que precisava baixar a guarda dele. Seria mais fácil surpreendê-lo se ele achasse que era uma completa idiota.
— Ok! E o meu carro? Não posso deixá-lo aqui. Sam, o proprietário do bar, vai chamar o reboque assim que amanhecer se for deixado estacionado aqui. Eu dirijo e você pode me seguir.
Uma mão voou para segurar o braço de Tammy.
— Seu carro é a última coisa com que nos preocupamos. Você vai nos ajudar a colocar todo mundo contra aqueles animais.
Tammy agarrou as chaves para forçar que alguma delas passasse entre seus dedos. Quatro homens contra ela não lhe dava muita chance. Rezou silenciosamente que alguém saísse do bar para ajudá-la, mas isso não aconteceu. Agarrou a maçaneta da porta com a outra mão.
— Não posso deixar o meu carro aqui. Estou disposta a ouvir o que tem a dizer, mas não posso pagar a multa para pegá-lo de volta.
O otário de repente tentou puxá-la para longe do carro. Ela segurou na maçaneta, e ele a puxou com força suficiente para que abrisse levemente a porta, e as luzes do interior do veículo acenderam. Ele puxou com mais força e o metal que ela segurava deslizou pelos seus dedos. Ela se virou e sabia que teria que atacar para poder se soltar.
Socou o cara com força na barriga com a mão que segurava as chaves e pisou no pé dele. Sua mão doeu por causa das chaves quando o atingiu e ela rasgou o rosto dele com a outra mão. Suas unhas se enterraram na pele bem debaixo do olho. Ele berrou e a soltou bem na hora que Tammy deu um grito ensurdecedor para tentar atrair atenção para sua situação.
Tammy o empurrou e começou a correr para o bar, mas só andou alguns passos antes que alguém agarrasse seu cabelo. Gritou outra vez pela dor que atingiu a parte de trás da sua cabeça. O estranho a puxou com força e a arremessou numa caminhonete estacionada próximo. O espelho retrovisor do veículo bateu na sua bochecha e a dor explodiu perto da sua orelha.
Ele soltou seu cabelo para que os braços fortes a agarrassem em volta da cintura e evitassem que caísse no chão quando seus joelhos ameaçaram ceder. Ela gritou de novo e chutou o imbecil que a levantou do chão. A parte de trás da sua cabeça entrou em contato com um rosto quando ela se jogou para trás numa tentativa desesperada de força-lo a soltá-la. Ele disse um palavrão bem alto e a soltou.
Voltou a pôr os pés no chão e quase caiu de joelhos, mas ao invés disso, conseguiu avançar alguns passos. Dois dos seus agressores tinham se colocado entre ela e o bar. Lutou contra uma onda de tontura devido a dor em seu rosto e detrás da cabeça onde deu uma cabeçada no otário. Bateu na caminhonete outra vez, usou-a de impulso e correu na direção da estrada. Conseguiu sair do estacionamento até a calçada, para o asfalto, e avistou faróis vindo em sua direção.
Tammy correu naquele sentido, certa que os imbecis correriam no sentido oposto. O tráfego normalmente era fraco àquela hora da noite, mas quem quer que dirigisse o carro que se aproximava tinha que ser melhor do que aqueles caras. Ela balançou os braços, gritando para conseguir a atenção do motorista, e percebeu que o veículo diminuía a velocidade.
Reconheceu o carro quando se aproximou. O carro velho e batido do Pastor Thomas era uma visão apreciada quando ele pisou no freio completamente, parando a um metro de onde ela estava. Não podia deixar de ver o choque em suas feições enquanto a olhava através do para-brisa. O alívio a encheu até que seu olhar saiu dela, seus lábios se abriram e seus olhos se arregalaram em alarme por algo que via ao seu lado.
Tammy virou a cabeça para olhar por cima do ombro e viu os quatro homens correrem até ela. O cara com botas de cowboy que a tirou do chão tinha sangue escorrendo pelo queixo do lábio que ela havia partido e isso foi tudo o que viu antes que a alcançassem.
Tammy gritou, chutou e tentou esmurrar, mas os homens agarraram os seus braços e um deles agarrou suas pernas. Eles a tiraram do chão e correram carregando seu corpo na direção do estacionamento do bar. Uma buzina alta soou quando o Pastor Thomas gritou seu nome.
Eles a suspenderam e jogaram na caçamba da caminhonete como se fosse um saco de batatas. A força do impacto tirou o ar dos seus pulmões e a dor explodiu atrás da sua cabeça que havia batido com força no metal da caçamba. Ofegou atrás de ar, ordenou seu corpo a se mover, mas no segundo que tentou sentar, dois corpos a esmagaram.
Lutou e arranhou os dois homens, mas eles a mantiveram presa debaixo deles com facilidade. O motor da caminhonete ganhou vida e portas bateram um segundo antes da marcha ré ser engatada. Rodas giraram e tudo se movia rapidamente.
O movimento repentino e abrupto da caminhonete tirou os dois homens de cima dela quando foram esmagados de um dos lados da caçamba. Isso fez com que Tammy ficasse de lado. Ela avistou o céu escuro. Frearam o carro e ela rolou em uma nova direção um segundo antes do motorista trocar outra vez a marcha. A caixa de marcha protestou sonoramente quando rangeu.
Tammy estendeu o braço para a lateral da caçamba na esperança de passar por cima, mas o motorista acelerou antes que seus dedos a alcançassem. No momento que a caminhonete acelerou Tammy deslizou pela porta fechada. Mãos lhe agarraram e dois corpos voltaram a sentar em cima dela, prendendo-a. Ela conseguiu gritar.
O carro acelerou bastante, mas acima do motor barulhento e da respiração ofegante dos seus sequestradores, ouvia uma buzina tocar repetidamente atrás deles. Pastor Thomas seguia a caminhonete e se recusava a parar tentando chamar atenção para o que estava acontecendo.
Abençoado seja! Infelizmente, isso deixou o motorista da caminhonete ainda mais descuidado. O carro passava por cima de buracos e Tammy grunhiu em agonia quando os homens em cima dela a esmagaram com mais força contra o doloroso metal às suas costas.
Suas costelas e cabeça doíam. Também lutava para respirar com o peso combinado dos dois comprimindo seus pulmões. A buzina continuava apitando atrás deles e aquilo parecia não ter fim. Os homens que a seguravam praguejaram quando o passeio ficou bem difícil depois do motorista parecer ter deixado a pista, dirigindo sobre o que Tammy suspeitava ser grama pelo modo em que podia sentir a traseira do veículo saltando e se movendo violentamente. O som da buzina ficou mais fraco. Ela percebeu que seus agressores eram espertos o bastante para saírem da estrada já que o carro do pastor não conseguiria fazer o mesmo.
Tammy quase desmaiou da dor quando um barulho enorme de algo sendo triturado saiu da caminhonete e ela diminuiu a velocidade até parar. Um homem gritava palavrões de dentro da cabine. Os homens que a seguravam saíram de cima dela. Bateu em um deles com o joelho, bem no estômago. Ele fez um som horrível como que fosse vomitar e ela rasgou com as unhas o braço do outro que tentava agarrar sua coxa. As unhas se enterraram na pele macia até ele gritar, saindo de perto.
Tammy lutou com pernas e punhos para escapar dos sequestradores. Conseguiu provocar danos suficientes para que se afastassem. Sentou e se arremessou na direção contrária. Agarrou a lateral da caçamba.
O desespero e o terror fizeram com que encontrasse forças para suspender o corpo e cair do lado da caminhonete, caindo na terra. Ficou deitada ali por um segundo, com dor, mas conseguiu se levantar quando a porta da cabine próxima a ela se abriu.
Foi capaz de ver a floresta densa que a cercava com a ajuda da lua. Correu para a linha escura de árvores esperando que pudesse se esconder lá, e sabia que aquela seria sua única chance de escapar dos bastardos. Quase chegou até as árvores quando os ouviu gritando com ela. Isso a encorajou a correr mais rápido e o medo a motivou a dar tudo de si, ignorando a dor na lateral de seu corpo.
Alguém ofegava fortemente atrás dela, fechando a distância, e a vontade de gritar a envolveu com força. Estavam ganhando dela. Desviou de uma forma escura e esperou que eles não a vissem e batessem nela. Ao invés disso, alguma coisa atingiu as suas costas. Fez com que caísse no solo cheio de folhas e um grande e doloroso peso a prendia ao chão. A dor a rasgou com uma intensidade que fez com que tudo se apagasse.
— Valiant? — gritou Tiger novamente.
Valiant saiu de sua casa, se aproximou do portão e parou. Olhou seu amigo com raiva. — Há alguma razão para estar berrando meu nome às duas da manhã? Eu estava dormindo.
Tiger tinha uma cara séria.
— Recebemos uma ligação há alguns minutos do xerife local. Eles precisam da nossa ajuda.
Valiant estreitou os olhos com raiva.
— Você sabe que humanos não são as minhas pessoas favoritas. Vá ajudá-los se assim deseja. Por que está me incomodando?
Tiger mordeu o lábio.
— Precisa ficar calmo, certo?
As tripas de Valiant apertaram. Tiger só falaria isso se o que quer que fosse dizer fosse deixá-lo irado.
— Por quê? Tem mais humanos planejando nos atacar? Precisa que eu vigie a Zona Selvagem? Eles passaram pelo muro? Não vou vigiar lá fora junto com os seguranças humanos. Eu mato os invasores se aparecerem aqui.
Tiger hesitou.
— Uma mulher humana foi sequestrada da cidade e há uma testemunha. O cara que a viu ser levada seguiu a caminhonete, mas a perdeu quando ela entrou na floresta onde seu carro não podia entrar. Ele usou o celular para pedir socorro, mas a cidade é pequena. Levou alguns minutos para os policiais chegarem onde ele os perdeu. Eles encontraram a caminhonete, mas não encontraram a mulher. Quatro homens a levaram e fugiram para dentro da floresta. A polícia local não tem acesso a cães farejadores. Eles teriam que esperar até amanhecer e pode ser tarde demais para ela. O xerife pensou em nós. Alguns dos nossos oficiais estão indo para lá comigo para ajudar e eu achei que você queria vir conosco.
Valiant odiava a ideia de qualquer mulher à mercê de machos humanos. Eles eram instáveis e cruéis.
— Sinto muito por essa fêmea, mas ainda não entendo porque você veio aqui. Está perdendo tempo falando comigo se pretende ir atrás dela. Já deveria ter ido.
— Para piorar as coisas, quando o xerife e os seus homens acharam a caminhonete, vasculharam o carro, procurando identificar o dono. Eles perceberam que esses caras são membros de grupos extremistas anti-Novas Espécies. Eles tinham uns panfletos dentro do carro que apontam para essa conclusão. — Tiger hesitou. — Eles pegaram Tammy.
O choque rasgou Valiant.
— Minha Tammy?
Tiger assentiu sério.
— É. Sua Tammy. Achei que quisesse ajudar a encontrá-la. — fez uma pausa. — Achei que ainda se lembraria do cheiro dela o suficiente para poder encontrá-la mais rápido.
Um rugido emergiu de Valiant. Raiva o envolvia ao pensar em machos atacando sua Tammy. Grupos de Ódio matavam os humanos que se associavam com Espécies. O rosto lindo dela surgiu em sua mente de maneira instantânea. Ele ofegava, ficando um pouco louco com a ideia do que fariam com ela e lutou para pensar.
Tiger estremeceu.
— Devo entender que vai então?
Valiant girou e olhou para sua casa.
— Me deixe pegar algumas coisas. — rosnou alto. — Não vá sem mim. Vou rasgar esses homens com as minhas próprias mãos se eles a tiverem machucado de alguma forma.
— Foi o que eu pensei! — gritou Tiger.
Valiant saiu às pressas da casa uns minutos depois. Tiger notou os sapatos que ele colocou e deu uma olhada em sua coxa. Não disse uma palavra sobre a faca assustadora presa nela, ao invés disso entrou no Jipe. Valiant subiu no banco do passageiro. Tiger acenou com a mão para os outros dois veículos atrás deles para que os seguissem.
— Eu vou matá-los se eles a machucarem. — jurou Valiant.
Tiger mordeu o lábio.
— Lembre-se, não estaremos na Reserva. A lei deles pode ver um problema nisso, mas eles realmente sequestraram uma mulher. Tenha em mente que a lei deles será severa quando nós os capturarmos. Quero garantir que entenda isso. Não poderia machucá-los um pouco e deixar que vivam? Seria uma péssima publicidade devolver esses humanos em pedaços para a polícia deles.
Valiant urrou.
— Depende se a machucaram ou não.
— Isso me parece justo. — Tiger pisou fundo.
O grisalho Xerife Cooper, que parecia estar na metade dos cinquenta, olhava de boca aberta sem disfarçar para os quatro Novas Espécies que saíram dos três Jipes. Tiger disse a Valiant o nome do humano no caminho até lá e o advertiu para que tentasse ser educado. Valiant tinha rosnado.
Só queria encontrar Tammy. Não dava a mínima sobre as impressões que fariam ou se Justice queria que fosse gentil. Tiger parecia pensar que era algo grandioso os humanos terem pedido a ajuda deles, mas Valiant sabia que estavam bastante desesperados para a solicitarem.
Passou o olhar pelos outros três Espécies. Tiger, Brass e Rider estavam com seus uniformes. O xerife parecia se fixar mais em Valiant e o medo arregalava os olhos do humano. Podia ser porque não usava uniforme, vestindo um jeans e um suéter cinza que colocou quando a presença de Tiger o acordou. Encontrou o olhar direto do xerife e percebeu que o homem parecia incapaz de desviar os olhos de seu rosto. Resistiu a vontade de mostrar os dentes para de fato armar um show. Obviamente, não era o jeans que deixava o cara tão desconfortável, e sim suas feições.
O humano pareceu controlar o medo e se aproximou deles quando se adiantaram. Ele limpou a garganta e estendeu a mão para Tiger, que tinha ido na frente para se encontrar com o grupo de humanos aguardando no acostamento.
— Eu sou o Xerife Greg Cooper e esses são os meus oficiais. Obrigado por virem. Chegaram bem rápido e agradecemos isso.
Tiger parou perto do humano e apertou sua mão.
— Eu sou Tiger. Esses são os meus homens. — Ele soltou a mão do homem para indicar. — Aquele é Brass, Rider e Valiant. Estamos felizes por ajudar, Xerife Cooper. Alguma coisa mudou desde que nos ligou?
Xerife Cooper sacudiu a cabeça.
— Não. Eu não sei com isso pôde acontecer. Conheço Tammy Shasta desde que se mudou para cá quando tinha apenas oito anos e não conheço ninguém que iria querer machucá-la. Ela é uma garotinha muito gentil. Foi o nosso pastor que testemunhou aqueles homens a raptarem e ele os seguiu por aqui. A caminhonete que usaram para levá-la quebrou a uma milha da estrada. Eles arrancaram o cárter do óleo e o motor prendeu. Eles são estranhos nessa área porque o Pastor Thomas conhece todo mundo que vive por aqui e ele não conseguiu reconhecê-los.
Tiger assentiu.
— Vamos assumir daqui. Você são mais do que bem-vindos a virem conosco se quiserem. Podemos rastrear qualquer coisa com dois gatos e dois caninos.
— Eu insisto em ir. — declarou o xerife quando deu a todos eles um olhar nervoso, parecendo incerto a respeito de não estar presente para observar o que quer que fizessem. — Já vi muitas coisas na minha vida e quando encontrarmos Tammy, tenho um pressentimento de que, se ainda estiver viva, possa querer ver um rosto conhecido. Não posso pensar nos motivos para que quatro homens levem uma moça bonita que não sejam os piores possíveis. Tenho uma ambulância de prontidão se não a tiverem estuprado e matado logo em seguida. — Ele fez uma pausa, franzindo o cenho. — Dois gatos e dois caninos?
Valiant rosnou e assustou todos os humanos ao seu redor que recuaram com medo, os olhos presos nele. Se algum dos humanos tivesse colocado as mãos em Tammy com intenções sexuais ele arrancaria os seus dedos. Arrancaria seus braços das juntas enquanto gritavam e então começaria a surrá-los com seus próprios membros. Ele...
Tiger falou, encerrando suas maquinações violentas. Deu um olhar de advertência para Valiant, transmitindo silenciosamente que precisava controlar sua raiva.
— Valiant e eu somos espécies felinos enquanto Brass e Rider são caninos.
— Oh. — O xerife parecia não saber o que dizer.
A irritação de Valiant não podia ser contida. Tiger queria bancar o educado com os humanos, mas ele só queria ouvir o que o xerife sabia que fosse lhe ajudar a encontrar Tammy. Odiava perder tempo. Levantou os lábios para mostrar as presas a Tiger, transmitindo uma mensagem própria. Não era paciente e aquele papo furado tinha que terminar. Um ofego dos humanos fez com que olhasse com raiva para o Xerife Cooper, que tropeçou para trás, a expressão horrorizada, fitando sua boca.
— Isso são…
— Dentes. — confirmou Tiger. — Não se preocupe com Valiant. Ele só está com muita raiva pela mulher ter sido levada e quer ir atrás dela agora.
O xerife finalmente olhou para Tiger.
— Eu mandei uma pessoa até o carro dela no bar de onde ela foi levada para ver se podia encontrar algo dela que tivesse seu cheiro. Eu sei que quando usamos cães farejadores eles precisam de algo da vítima. Meu oficial deve voltar a qualquer momento. Ele disse pelo rádio que está com a jaqueta dela.
Tiger apontou para Valiant.
— Isso não será necessário. Nós dois a conhecemos. Ela trabalhou num bufê na Reserva e nós ficamos amigos. É por isso que ele está aqui. Ele passou mais tempo com ela do que eu. Está bem familiarizado com seu cheiro. Vai ter mais facilidade em rastreá-la.
O xerife olhou de maneira chocada na direção de Valiant.
— Bem, acho que isso é bom. Quer dizer que sabem que garota boa que ela é e que temos que achá-la antes que os sequestradores tenham tempo de feri-la.
— Estou indo atrás dela. — rosnou Valiant, cheio de escutá-los perdendo tempo quando Tammy precisava dele. — Vocês fiquem aqui jogando conversa fora. Vou trazê-la de volta. — Ele saiu correndo em direção à floresta.
— Maldição, como ele é rápido. — O xerife soava impressionado. — Não vou conseguir acompanhar. Vão. Encontrem Tammy. Eles têm uma hora de vantagem.
Tiger rosnou.
— Espere, Valiant. Estou bem atrás de você.
Os olhos de Valiant se ajustaram à escuridão e seguiu as impressões claras e fundas que os pneus da caminhonete deixaram na grama alta. Sabia que Rider e Brass o seguiam de perto. Eles provavelmente tinham ordens de garantir que ele não matasse os machos humanos quando os achasse. Dois Espécies machos não seriam capazes de impedir que isso acontecesse se tivessem feito algo de mau a Tammy. Tiger devia ter trazido uns doze se aquela era sua intenção.
Valiant localizou a caminhonete e sentiu o cheiro de Tammy vindo da traseira na mesma hora. Pulou na caçamba e descobriu sangue. Agachou, farejou e só se acalmou um pouco quando percebeu que não era dela. Fechou os olhos e respirou um pouco para memorizar o mau cheiro dos machos. Uma raiva pura o atravessou porque pôde sentir o cheiro de medo de Tammy junto com o daqueles que a levaram. Ele se levantou e pulou para fora do carro.
Tiger e os outros dois oficiais observavam Valiant, esperando pela sua avaliação.
— Dois deles ficaram com ela na caçamba. Há sangue, mas não é dela.
Tiger assentiu. Valiant foi até a porta aberta do motorista. Parou e farejou, rodeando a porta e indo até o retrovisor quebrado. Ele rugiu quando seu corpo inteiro ficou tenso.
— O que foi? — Tiger se aproximou, mas a resposta estava lá quando inalou. — Sangue.
— Dela. — Valiant jogou a cabeça para trás e rugiu. — O sangue dela está nesse espelho quebrado, então eles a machucaram. Matarei todos por isso.
Brass limpou a garganta.
— Ela caiu aqui e fugiu, mas eles a seguiram. — Ele estava a uns seis metros da caminhonete próximo à linha das árvores.
Valiant se precipitou. Os quatro farejaram a área e estudaram as marcas no chão. As impressões pequenas eram mais difíceis de detectar à noite.
— Não faz muito tempo.
— Foi o que o xerife declarou. — confirmou Tiger.
— Eles a levaram a cerca de uma hora. Acha que ela escapou deles? — Ele fitava as marcas menores. — Uma fêmea correndo. Olhou para Valiant. — Ela é bem preparada fisicamente? Acha que ela poderia superar os agressores?
— Não. — rosnou Valiant. — Ela é pequena e não é páreo para quatro machos.
— É melhor os encontrarmos rápido. — Brass rosnou.
Os quatro correram. Eles pararam onde Tammy foi interceptada e os sinais eram claros para todos eles que ela havia caído no chão. Valiant rugiu outra vez quando descobriu mais sangue de Tammy.
— Calma. — Tiger rosnou baixo. — Estamos todos permitindo que o nosso lado animal nos controle, mas estamos lidando com humanos. Controle seus instintos enquanto caçamos. Eles não são cervos. Tenha isso em mente.
Rider rosnou de onde estava agachado, examinando as folhas reviradas.
— Um homem a carregou. As pegadas mostram o peso a mais.
— Estará morto quando eu alcançá-lo. — prometeu Valiant. — Vamos.
Tammy despertou e praguejou baixinho. Seu ombro, braço, costas e cabeça doíam. Parou de listar o que doía e tentou se concentrar no que não estava doendo. Seus pés e traseiro estavam ok, mas era só isso. Forçou-se a abrir os olhos para ver uma fogueira. Estava de lado, de frente para a fogueira, a alguns metros de distância das chamas. Virou a cabeça apenas para se arrepender no mesmo instante.
Quatro homens estavam sentados em um tronco caído olhando-a com raiva. Um deles, Terry, tinha tirado as botas de cowboy. Sangue seco manchava seu queixo e camiseta. Ela tinha dado uma cabeçada naquele. Outro tinha pedaços da camiseta enfiados no nariz que parecia ainda sangrar enquanto outro segurava o braço onde havia marcas de unhas que lhe asseguraram que ele era um dos imbecis que esteve na caçamba da caminhonete com ela. O quarto homem não parecia machucado.
Ela desviou os olhos deles e olhou para as árvores que os cercavam. Foi colocada na grama, mas quando tentou sentar, não conseguiu mover os braços. Repuxou e percebeu que a amarraram. Olhou-os com raiva.
— Meu cinto de couro está amarrando os seus pulsos, sua diabinha. Fique quieta. — Foi o homem que não estava ferido que disse em um tom raivoso. — Eu ainda digo que devíamos matá-la. Olhem a merda que estamos por causa dela. Ela quebrou o nariz de Ned quando o chutou na cara ao sair da caminhonete.
Tammy ficou surpresa. Não se lembrava de fazer aquilo, mas escondeu um sorriso, feliz por aquilo ter acontecido. Vagamente se lembrava de usar os pés para chutar e impulsionar o corpo para fora da carroceria. Achou que tinha usado o fundo da caçamba. O fato de ter sido a cara dele tornava isso melhor.
— Acho que dois dentes meus estão soltos. Ela meteu a cabeça na minha boca, — disse Terry e grunhiu enquanto a olhava com ódio. — Eu digo para pegar o meu cinto e estourar o traseiro dela com ele.
— Parem de choramingar. — o cara com o braço rasgado ordenou. — Precisamos da ajuda dela. Você ouviu o que nosso informante dentro daquela terra de animais nos disse.
Um deles a agarrou e a levou. Precisamos convencê-la a ir a público e dizer a todos o que ele fez com ela para ganhar apoio para nossa causa.
— Como se essa vadia fosse fazer isso. — Ned pausou. — Certo. Ela quebrou o meu nariz. Ela é tão animal quanto eles. Veio conosco em paz como uma verdadeira dama faria? Não. Lutou como se fosse um animal. Agora estamos presos aqui na floresta e sem transporte. Aquele carro nos seguiu e tenho certeza que o cara foi atrás da polícia. Provavelmente anotou a nossa placa. Provavelmente metade do estado está procurando por nós só porque ela não conseguiu ser razoável.
— Devíamos ter esperado, Paul. — Terry cerrou o cenho para o cara com o braço rasgado. — Ele nos ordenou que esperássemos para levá-la quando chegasse. Você foi o cuzão que achou que ela seria fácil de pegar. Disse que ia ser tão simples quanto comer torta. O chefe vai chegar em alguns dias e vai arrancar o seu couro e o nosso já que fomos imbecis a ponto de dar ouvidos ao seu plano meia-boca. Sabe o quanto o chefe a quer. Ele nos disse que tinha grandes planos para ela. Disse que podia convencê-la a fazer o que fosse preciso, mas agora estamos fodidos.
Paul soltou um palavrão.
— Posso consertar isso. Podemos convencê-la a dizer à imprensa o que queremos, mas pode levar um pouco mais tempo.
— Não temos isso. — disparou Terry. — Nosso chefe vai acabar com nós quatro por causa dessa bagunça. Ferramos tudo.
Paul olhou para Tammy com raiva.
— Tudo o que tinha que fazer era ter vindo calmamente. Nós somos humanos, porra! Somos da sua espécie. O que aquele animal fez quando levou você? Ele te estuprou? Te deu uma mordida? Tentou transformá-la em um deles? Nos diga agora mesmo!
Tammy revidou o olhar.
— Ele foi um cavalheiro e me fez chá. Depois disso, perguntou como foi o meu dia. — mentiu. — Ele não me jogou na traseira de uma caminhonete, nem me esmagou até quase me sufocar, nem me arrastou para dentro da floresta e usou um cinto para amarrar as minhas mãos nas minhas costas. Na verdade ele foi inteligente e educado.
Esperava que não fosse para o inferno por distorcer a verdade, porque Valiant era inteligente, mas a parte do educado seria considerada um pouco duvidosa.
— Eles são animais. — Terry a fulminou com os olhos. — Está do lado deles?
— Estão chamando eles de animais? Isso é impagável vindo dos quatro brutamontes que me sequestraram. — Ela bufou alto e rolou os olhos.
— Vadia! — Ned gritou quando se pôs de pé. — Quebrou meu nariz. Vou te mostrar que tipo de animal posso ser.
Paul agarrou o braço dele.
— Sente-se.
— Ela está pedindo. — Ned resmungou, mas sentou.
Terry suspirou.
— Ela nunca vai fazer o que queremos. Devíamos nos livrar dela logo e dizer ao nosso chefe que ela morreu acidentalmente quando a pegamos.
— Não se contraria as ordens do doutor. Disse a ele que conseguiria e que, no fim, ele a receberia viva quando tivéssemos acabado com ela. — Paul olhou assustado para os seus homens, parecendo ser o líder deles. — Confiem em mim. Aquele é um homem que você nunca vai querer desapontar. Ele nos permitiu tirar uma declaração gravada dela, mas depois disso, planeja usá-la para um dos seus experimentos. O nosso informante acredita que algo sexual aconteceu entre ela e o animal que a pegou. Ele ouviu uma conversa entre Justice North e um dos animais que faz a segurança. Eles disseram que ela poderia estar machucada e que quiseram que um médico desse uma olhada nela, mas que ela se recusou a prestar queixa contra o animal por estupro. Eles não disseram tentativa de estupro. Ele foi claro a respeito disso.
Tammy sabia que suas faces tinham perdido a cor.
Alguém vazou informação para um grupo de Ódio. Alguém próximo a Justice North. Ela nunca conheceu, mas o viu nas entrevistas na televisão já que ele era o Espécie mais conhecido. Seu povo o elegeu seu líder como se ele fosse algum tipo de presidente. Ele é que tomava a maior parte das decisões que concerniam a eles.
Alguém obviamente estava lhe espionando e dizendo aqueles homens o que era dito. Pior, eles sabiam a respeito dela e Valiant. Nada bom.
Quatro pares de olhos a estudaram. Tammy devolveu os olhares. Achava que o único jeito de sair daquela confusão seria convencê-los que tinham informações falsas. Só poderia rezar para que não a matassem.
— Eu não sei com quem andaram falando, mas isso é conversa fiada. Isso nunca aconteceu. — blefou. — Eu encontraria alguém mais confiável se estão pagando para que essa pessoa forneça informações. Talvez devessem contratá-la para escrever livros de ficção já que parece ser boa em inventar histórias. O informante de vocês é algum repórter dessas porcarias de fofocas? Um alienígena também me atacou?
— Ela transou com um daqueles animais? — Terry soava chocado enquanto a olhava como se ela fosse algo que nunca tivesse visto antes, algo nojento. — Fodeu com um animal?
Ela fechou os olhos, contou até cinco, e os abriu.
— Escute, cowboy. Ouviu o que acabei de dizer? Quem quer que te disse essa merda está mentindo.
— Foi isso que nos disseram. — confirmou Paul. — Ele a pegou e a levou embora. Nosso informante ouviu a conversa entre o animal chefe e o seu cão de segurança.
— Eu acho que o chefe de segurança dele é gato. — Ned deu de ombros.
— Isso importa? Cachorro? Gato? Qual é a diferença? — bufou Terry. — Eles são animais que andam em duas patas achando que são tão bons quanto nós, mas não são. Não passam de ratos de laboratório que desenvolveram cérebros. Estou por aqui com eles respirando e de ver idiotas na TV batendo palma para essas abominações por estarem criando seus próprios ambientes. É como parabenizar um pássaro por fazer um ninho dentro da gaiola com pedacinhos de jornal. Eles estão manchando o nosso país e agora estão colocando as patas sujas nas nossas mulheres. Temos que pará-los.
Ned olhou para Tammy.
— Talvez ele tenha feito uma lavagem cerebral nela. Sabemos que é possível.
— Ele se inclinou, fitando-a. — É por isso que está protegendo o seu amante animal? Ele torturou você até que consentisse? Talvez ele tenha mordido ela e infectado com alguma doença que a torna um deles. É isso? Está infectada? Começou a crescer uma cauda ou pelo em você?
Tammy não podia acreditar que havia sido sequestrada por gente tão idiota. Isso fez com que sentisse vergonha por eles terem conseguido sequestrá-la.
— Por que não vem aqui dar uma olhada? — Ela queria chutar o filho da puta já que suas pernas não estavam amarradas.
Ele ficou de pé e caminhou na direção dela. Tammy ficou tensa.
Quando ele ficou perto o bastante ela se virou e o chutou com a maior força que podia na canela. Ele gritou, pulou para trás e caiu de bunda no chão.
— Sua puta! — ele gritou.
— Seu imbecil! — gritou Tammy de volta.
— Já chega. — exigiu Paul. — Fique longe dela. Obviamente está doente da cabeça se deixou um deles tocá-la. Vamos dá-la para que o doutor cuide dela. Ele é um filho da puta dos piores.
— É bom que aqueles animais não sejam homens de verdade senão ela poderia ter uma ninhada de filhotes se engravidasse daquela coisa. — Foi o homem que não estava machucado que falou enquanto a estudava. — Vocês acham que se fosse possível ela teria tantos quanto uma cadela? Minha pit bull teve seis da última vez.
— Cala a boca, Mark. — Paul olhou para ele com raiva. — Todo mundo sabe que eles são estéreis, então nem pense nessas coisas. Me deixa com vontade de vomitar. É uma benção que não possam ter filhos. Eles provavelmente se reproduziriam com ninhadas como animais. Vamos dormir um pouco, descansar, e de manhã vamos sair daqui e levá-la para a casa. Nosso pessoal vai chegar na cidade depois de amanhã com o doutor. Só precisamos mantê-la viva até que ele chegue. Isso deve nos dar tempo suficiente para gravar o depoimento dela e mandar para a imprensa para mostrarmos a todos que aquelas coisas são perigosas.
Ned se levantou com dificuldade e olhou para Tammy com ódio. — Dois dias com ela é tempo demais. Ela ama obviamente ama animais. Acho que sei como passar as horas.
— Ele colocou a mão na frente da calça e começou a desabotoá-la.
— Não. — ordenou Paul. — O doutor não ficaria feliz. Sei o tipo de experiências que ele faz. Vai castrar você se machucá-la de algum modo que possa ferrar com seus planos.
— Ela já fez com um animal. Quem liga para o que fazemos com ela contanto que não a matemos? — Ned abriu a calça, empurrando-a pelo quadril.
Tammy se encheu de terror quando percebeu que ele planejava estuprá-la. Mark, o cara não machucado, levantou rápido.
— Ninguém ferra o doutor. Levante as calças, porra. Eu nunca mais quero ver o seu pau.
— Mark tem razão. — Paul também se levantou e ficou entre Ned e Tammy. — O doutor ficaria enfurecido se a estuprasse. Você é novo no time e não sabe muito sobre o que ele faz, mas ele mataria você se colocasse o trabalho dele em risco. É ele que assina os nossos cheques. Ache uma puta se quer trepar ou vá dar uma volta e bata uma punheta.
— Mas ela é a puta que quebrou o meu nariz. Eu não vou aceitar isso sem descontar um pouco.
— Eu entendo. — Paul baixou a voz. — Também estou com raiva. — Levantou o braço. — Vou ter que explicar como isso aconteceu para a minha mulher quando chegar em casa. Ela não é burra e isso parece exatamente o que é. Marcas de unhas. Ela vai ter certeza que a traí. Isso me irrita, mas o doutor me assusta muito mais. Não pode estuprá-la.
Mark virou a cabeça para olhar com raiva para Tammy, seus olhos escuros estreitos, e ele sorriu de um jeito que fez seu sangue virar gelo. Uma alegria pura transformou as feições dele quando virou para encará-la. Qualquer que fosse o plano que tivesse bolado não seria bom para ela.
— Não vamos estuprá-la nem fazer nada que o doutor se zangue, mas precisamos arrancar aquela declaração dela. — Ele virou a cabeça para sorrir para Paul. — Está com a câmera aí? Não sei quanto a vocês, mas não estou cansado e estamos presos aqui até de manhã. Eu digo para usarmos bem esse tempo.
— Meu celular filma. — Paul tinha uma expressão confusa enquanto procurava no bolso de trás da calça. — Mas ela não vai concordar em dizer coisas ruins sobre eles. Você a ouviu. Fizeram algum tipo de lavagem cerebral nela.
Ned levantou e fechou a calça.
— O animal a infectou. Estou dizendo que eles têm doenças. O doutor provavelmente a quer porque sabe disso. Aposto que ele vai documentar quando ela virar um deles. Isso definitivamente colocaria o público contra eles e ajudaria a nossa causa. Todo mundo vai entrar em pânico, vão querer eles mortos antes que a doença atravesse os portões, e finalmente vamos vê-los morrer.
— Em que está pensando, Mark? — Paul se aproximou para estudar Tammy antes de olhar para o outro cara. — Não podemos machucá-la. O doutor a quer com saúde. Ele a chama de galinha dos ovos de ouro. Você sabe que ele está em dificuldades financeiras no momento. Todos eles estão.
O sorriso de Mark aumentou quando ele também olhou para Tammy.
— Tem muita coisa que dá para fazer com uma mulher sem machucá-la permanentemente ou lhe causar danos internos. Vamos fazer com que ela diga tudo o que quisermos e deixar nosso chefe feliz ao mesmo tempo.
Tammy choramingou sob o olhar horripilante, sabendo que o que quer que planejasse seria terrível. Lutou contra o cinto que segurava seus pulsos, mas era impossível se soltar dele. Quando Mark ficou de joelhos perto dela e suas mãos agarraram sua camiseta, ela gritou de medo quando a empurrou de costas e prendeu seus braços debaixo dela. Ele baixou até o rosto ficar a centímetros do seu e ela conseguiu ver os olhos cor de mel claramente com a luz da fogueira.
— O rosto não. — ordenou Paul. — Eu posso dar um close nela. Se for bater, bata do pescoço para baixo.
— Não faça isso. — implorou Tammy. — Eu não vou dar queixa. Vou jurar que foi uma brincadeira de amigos que me pegaram ou algo assim. Só me deixem ir.
O tecido rasgou quando ele pegou sua camiseta e abriu de cima a baixo. O choque fez com que ofegasse quando o ar tocou sua pele. As mãos dele não se contentaram em apenas rasgar a camisa. Ele destruiu totalmente a peça, jogando-a de lado quando a arrancou de seu corpo.
— Eu continuo dizendo que devíamos estuprá-la. — resmungou Ned, aproximando-se para ver. — Ela tem peitos lindos.
— Cale-se. — cuspiu Mark. — Eu gosto de silêncio enquanto trabalho. — Ele pegou uma faca de bolso. Abriu-a, enfiou o dedo em seu sutiã e o rasgou com a lâmina.
Lágrimas cegaram Tammy quando ela respirou fundo. Um grito rasgou de sua garganta quando mãos brutais continuaram a despi-la. Ele rasgou as alças, arrancou seu sutiã completamente e o atirou na fogueira. Quando ela tentou se virar, ele caiu em sua cintura, montando-a, e agarrou sua garganta com uma das mãos para mantê-la no lugar. Olhou para ele com horror quando percebeu que não podia respirar.
— Odeio gritos. — sibilou para ela. — Cale a boca. Você vai dizer a Paul que o animal que te pegou a estuprou brutalmente, surrou você sem parar e o que mais possa pensar para horrorizar o público.
Ela assentiu, incapaz de falar, só querendo respirar.
— Ela concordou. — Paul riu. — Saia da frente para que filme.
A mão afrouxou o suficiente para que pudesse respirar.
— Não acredito nela. — Mark de repente beliscou um dos seus mamilos com força, torcendo-o com o indicador e o polegar. A dor forçou outro grito de sua garganta. A agonia cedeu quando ele diminuiu a força. Ele riu. — Isso é divertido. — As mãos dele deslizaram por suas costelas até o seu estômago. Ele bateu de leve antes de remover a mão.
Tammy começou a soluçar. Seu mamilo latejava, doía muito, e não tinha certeza se ainda estava no lugar. Questionou aquilo por causa da dor que radiava dele. O monstro sentado em cima dela de repente bateu a palma com força em sua barriga, o som do tapa mais alto do que seu choro, e ela grunhiu.
— Está se divertindo? — Ned se aproximou. — Deixe-me machucá-la um pouco. Ela quebrou a porra do meu nariz.
O cara em cima dela colocou o peso no seu estômago e pressionou até que doesse. Ele colocou as mãos nas costas e ela o olhou nos olhos quando ele a olhou com ódio. Ele garantiu que não pudesse escapar enquanto remexia em seu jeans.
— Puxe a calça. Espere só até eu tirar essa calcinha se acha que os peitos dela são sensíveis. Não vamos estuprá-la, mas um pouco de ferimento naquela área não vai deixar o doutor chateado. Ele estará interessado no que ela tem por dentro.
Tammy tentou gritar quando seus sapatos e jeans foram puxados pelas pernas e pés, mas Mark apenas se inclinou para frente, olhou-a com raiva e pôs a mão no seu nariz e boca. Não conseguia respirar, os olhos arregalaram, e vê-la lutar para respirar pareceu agradar o monstro.
— Pronto! Já tirei. — Ned riu. — Ela está com uma tanga azul. É uma puta, eu sabia. É por isso que ela não nos disse que foi estuprada pelo animal. Provavelmente queria e implorou que a fodesse. — O divertimento dele passou. — Acha que o doutor ligaria se eu a fodesse no traseiro? Isso não conta não é mesmo?
— Cala a boca, seu imbecil. Nada de estupro. Esqueça isso. Ela vai ficar histérica quando eu acabar aqui e vai ficar ótimo no vídeo. Vão achar que realmente ficou traumatizada com aqueles animais bastardos quando nós mandarmos a gravação para as emissoras de TV.
Mark soltou sua boca para que pudesse ofegar e desceu mais em seu corpo, para se colocar em cima do seu quadril outra vez. Estendeu o braço e beliscou o outro mamilo com força, apertou e torceu.
O som que saiu de Tammy de fato machucou sua garganta. Não conseguia escapar da dor e pior, ouviu-os rindo quando ficou sem ar, deixando claro que sua dor os divertia imensamente.
A frustração envolveu Valiant quando caiu de joelhos, pressionou o nariz no chão e tentou captar o mau cheiro do inimigo. Os homens chegaram a uma área rochosa e o vento tinha aumentado. Ele se recusava a desistir mesmo que tivesse perdido o cheiro de Tammy. Estreitou os olhos quando vasculhou a área por qualquer sinal de perturbação recente.
— Espalhem-se. — ordenou aos outros Espécies. — Encontrem o rastro.
— Calma, Valiant. — sussurrou Tiger. — Está soando um pouco louco com o jeito que está rosnando.
Valiant virou a cabeça para olhá-lo com raiva.
— Eles estão com a minha Tammy.
— Entendido. — Tiger se afastou, indo para a esquerda para tentar encontrar a trilha certa.
Valiant duvidava que alguém entendia o que estava sentindo. Sentiu sua falta e ela havia ocupado todos os seus pensamentos. Seu cheiro saiu de sua cama e ele havia chorado a perda. Não encontrá-la seria inaceitável.
— Aqui. — Rider chamou baixo. — Achei uma pegada.
Valiant ficou de pé em um pulo, farejou a área e captou o cheiro fraco de um humano suado. Um deles tinha se esfregado contra o tronco de uma árvore. Ele andou e olhou na escuridão, procurando a maneira mais fácil por onde ir se fosse um humano mais fraco carregando uma mulher sobre o ombro.
— Sigam ele. — encorajou Tiger. — Não deixe que escape das suas vistas.
— Eu vou matá-los. — jurou Valiant.
— É por isso que estamos colados em você. Está tão agitado que pode acabar matando ela e nós também. — Tiger fechou a distância entre eles, mantendo-se bem perto. — Pense antes de agir.
— Eu farei o que for preciso para salvá-la.
— É disso que temos medo. — suspirou Rider. — Também queremos resgatar a fêmea, mas seja inteligente.
— Deixem ele em paz. — rosnou Brass. — Entendo a necessidade de proteger uma fêmea. Sou muito próximo a Trisha. Elas não são tão fortes quantos as nossas e essa Tammy não vai ser capaz de se defender. Foi por isso que eu quis vir. Harley e Moon também queriam, mas sabiam que você não queria assustar os humanos com tantos dos nossos. Se esses machos machucaram a fêmea de Val ele deveria matá-los sim. Eles são imbecis que precisam morrer.
Valiant rosnou em concordância.
— Ótimo! Ajudou muito Brass. — Tiger o olhou com raiva.
Brass encolheu os ombros.
— É a verdade.
Um grito agudo disparou no ar, vindo do leste, e Valiant respondeu ao chamado de dor de sua mulher. Jogou a cabeça para trás quando se adiantou para encontrá-la.
— Ela vai dizer o que você quiser que diga, Paul. Vê? — Riu Mark. — É tudo uma questão de convencer...
Um rugido alto sacudiu a noite. Os ouvidos de Tammy doeram pelo barulho. Ouviu aquele rugido antes. Valiant estava ali e perto.
Tammy olhou com raiva para o imbecil que a prendia ao chão. Ele girava a cabeça freneticamente em direção as árvores ao redor deles, procurando sua fonte.
— Que porra foi isso? — Ned se aproximou mais da fogueira, espiando em volta.
— Eu não sei. — sussurrou Terry. — Foi perto.
— Foi um leão? — sussurrou Ned. — Eles são comuns nessa parte da Califórnia? 53
— Não sei. — sussurrou de volta Mark. — Eu sei que tem linces e pumas em áreas montanhosas. — Sua mão diminuiu a força no seio e ele remexeu no bolso de trás. — Mas foi bem perto. Preparem-se para um ataque. Os gritos dela provavelmente atraíram o animal e ele deve achar que há comida por aqui. — retirou uma pistola que tinha enfiado no cós da calça.
— Não pareceu um lince nem um puma. — Terry se abaixou, puxou a perna da calça e revelou um coldre. Puxou a arma e se levantou. — O que quer que seja, está por perto.
Tammy sorveu ar nos pulmõese gritou outra vez, apesar da sua garganta dolorida. Queria que Valiant a achasse e entendeu que seria mais fácil se o ajudasse.
— Cale a boca dela. — Ned soava em pânico.
Mark agarrou sua mandíbula para forçar sua boca a se fechar. Olhou-a com fúria. — Faça isso de novo e eu vou estrangulá-la até que desmaie.
Ned e Terry saíram de perto de Tammy. Seu alívio foi instantâneo por suas atenções não estarem mais nela. Eles tomaram posições ao redor da fogueira para vigiarem as árvores. Seu coração martelava com a esperança de que Valiant a salvasse. Como ele sabe que eu estou com problemas? Isso importa? Inferno, não. Ele está aqui.
Tinha que ser Valiant, a não ser que houvesse outro Nova Espécie que pudesse rugir como ele. Aquilo era possível. De qualquer modo, ela sabia que não vivia nada na área antes da chegada dos Novas Espécies que daria aquela espécie de rugido. Tinha que ser um deles e nunca ficou tão grata em toda sua vida por tê-los como vizinhos.
Um uivo quebrou o silêncio, assustando Mark. Ned praguejou em voz baixa, virou-se para fitar outras árvores, e levantou a arma.
— Merda.
Mark parecia aterrorizado enquanto jogava a cabeça para os lados.
— Isso foi um lobo?
— Um lobo e um leão? — Terry sibilou um palavrão. — Merda. Não são animais de verdade. São eles. Aqueles malditos animais de duas patas.
Outro uivo rachou a noite e mais um juntou-se ao primeiro. Tammy tentou se retorcer para longe do imbecil que ainda segurava sua boca, mas ele agarrou sua garganta de repente e a apertou com força. Olhou-a com raiva.
— Mexa-se um centímetro e eu estrangulo você. Não grite também.
Acreditava nele. Parecia assustado e ela pôde ver o suor encharcando o lábio superior e testa dele. Soltou sua garganta e levantou o quadril de cima dela o suficiente para que não ficasse mais imóvel. Deu a ela um olhar de advertência.
— Não se mexa ou mato você. Entendeu?
Ela assentiu com cuidado, mantendo os lábios selados. Ouviu dizerem que quem quer que os tivesse contratado a desejava viva, mas julgando pelo terror em que se encontravam, não estavam mais pensando claramente. Levantou o olhar para as armas que os homens seguravam. Até Ned e Paul tinham armas agora. Ficou preocupada e com medo pela segurança de Valiant. Ou, se não por ele, pelo outro Nova Espécie que estava ali na floresta vindo atrás dela.
— Se algum de vocês estiver aí e puder me ouvir — gritou Mark. —, vou matar a vadia se nos atacarem.
Ned se aproximou mais da fogueira.
— O que faremos?
Terry levantou a arma, observando a floresta escura.
— Esperamos até amanhecer quando pudermos ver melhor, porque eles têm a vantagem no escuro. Contanto que mantenhamos uma arma apontada para ela, não vão ousar nos atacar. Obviamente a querem. Mantenha o fogo alto para afastá-los.
— Talvez devêssemos vesti-la para que não saibam que mexemos com ela. — sussurrou Ned.
— Eu não vou sair do lugar. — Mark sacudiu a cabeça. — Não dou a mínima se estão putos por termos tirado até sua calcinha. Estou pronto para estourar os miolos dela se aparecerem.
— Podíamos atraí-los e assim matá-los.
Terry segurava a arma em uma das mãos e uma faca na outra, girando em círculos lentamente para ficar de olho nas árvores fora do alcance da fogueira.
— Um de nós poderia machucá-la para força-los a virem e assim teríamos a vantagem. Só há três deles e podemos cuidar de vários desses animais.
— Como sabe que são apenas três? — sussurrou Ned. — Pode haver dúzias deles nos olhando neste exato momento. Podem ter nos cercado.
— Eu ouvi dois uivos de lobo e um rugido. — Declarou Paul. — Concordo com Terry. Só há três deles, e se houvesse mais, teriam feito mais barulho para nos intimidar. Meu palpite é que estão se aproximando de nós e emitiram os sons para indicar suas posições. São táticas básicas de caça quando se usa animais. É para saber onde a presa está e não se atire nos colegas quando há outros grupos atrás do mesmo alvo.
— Eles estão armados? — reclamou Ned. — Ninguém me disse isso.
— Porra, sim. — assentiu Terry. — eu os vi quando me juntei àquele protesto alguns meses atrás em Homeland. Eles estavam no topo do muro como franco-atiradores defendendo os portões caso um de nós decidisse invadir outra vez.
Tammy sabia com toda certeza que os idiotas que a sequestraram atirariam nos Novas Espécies. Seus salvadores sabiam que os imbecis estavam armados? Passou o olhar pelos idiotas nervosos outra vez e lentamente inalou ar. Estava disposta a apostar a própria vida de que não a matariam de imediato. Sabia que se tornou a única ferramenta que possuíam para evitar que os Espécies viessem pegá-los.
Valiant saiu em disparada até o acampamento quando o cheiro do medo de Tammy encheu suas narinas. A necessidade de protegê-la, de ajuda-la, tornou-se tão opressora que não conseguia mais formar pensamentos coerentes.
Um grande e inesperado peso aterrissou em suas costas e seus joelhos cederam. Dois braços fortes o rodearam. Um em volta da garganta para cortar o oxigênio e outro em volta do peito debaixo dos braços. Ele agarrou o corpo masculino, mas as palavras sibiladas em seu ouvido o impediram de lutar.
— Estará morta antes que chegue até ela. Acalme-se agora. — exigiu Tiger. — Pense meu amigo. — O braço ao redor da garganta afrouxou. — Respire fundo algumas vezes, lute contra seus instintos e confie em mim.
Valiant sorveu o ar pela boca, conteve um rugido e soube que Tiger estava com razão.
— Os humanos a matariam. Preciso chegar até ela. — Manteve a voz baixa para evitar que chegasse até o acampamento.
— Precisamos chegar até ela sem que a matem primeiro. Eu entendo e posso sentir sua fúria. Sinto o cheiro dela. Você quer salvá-la e eu também. Temos que fazer isso direito. Olhe. Vê a fogueira? Percebe o macho armado sentado em cima dela? Ele está lá para atirar nela se aparecermos.
Valiant notou mais do que o humano prendendo sua Tammy ao chão. Eles tiraram sua roupa. A pele pálida estava exposta ao ar frio da noite e as vistas dos machos que a roubaram. Uma raiva homicida o encheu até que seu corpo inteiro se sacudiu de emoção.
— Eu sei. — sussurrou Tiger em voz baixa. — Posso sentir o cheiro da sua vontade de arrancar os corações e as cabeças deles de seus corpos. Isso fará com que ela morra. Está controlado?
Ele sacudiu a cabeça antes de assentir.
— Sim. — disparou.
Tiger tirou o braço que rodeava o seu peito como também o peso de cima de suas costas ao se levantar. Um uivo de Rider soou do outro lado do acampamento. Ele estava posicionado. Ficou mais fácil para Valiant pensar ao saber que os humanos estavam cercados. Os Espécies atacariam de outra direção para atrair atenção. Ele só precisava esperar um pouco antes que pudesse alcançar Tammy. Protegeria a ela e mataria os machos que a sequestraram.
Tiger ficou agachado ao seu lado.
— Vou deixar que mate o macho em cima dela. Use sua faca. Vamos abrir fogo quando atacar. Ela está mais segura no chão, Valiant. Deixe-a lá e não entre no confronto. Eles vão atirar em você. Não poderá ajudá-la se estiver morto. É um filho da puta dos grandes, mas meia dúzia de buracos vão te derrubar. Você me entendeu?
— Sim. — Mas não queria entender.
— Prepare-se, mas espere pela oportunidade perfeita.
Valiant se levantou, a mão indo para a faca amarrada à coxa e testou seu peso na palma. Sua atenção se fixou no macho sentado no quadril de Tammy, a raiva ferveu, e ele sabia que não erraria.
— Vá até ela quando estivermos prontos. Leve-a daqui que limparemos a área.
— Quero todos mortos. Quero matá-los.
— Ela, Valiant. Concentre-se nela. Leve-a para longe assim que tiver chance de pegá-la quando abatermos os machos com tiros, mas não antes. Não pode ajudá-la se estiver morto. Lembre-se disso, porra.
— Eu vou lembrar. — Ele estreitou os olhos, lutou contra outro rugido e mal podia esperar para matar o bastardo sentado na sua Tammy.
— Eles estão armados. — Tammy gritou, garantindo que os Novas Espécies fossem avisados do que estariam enfrentando se entrassem no acampamento.
Mark colocou a mão em sua garganta, mas era tarde demais. Ela foi capaz de avisar os Novas Espécies. Eles tinham que ter ouvido. Ao menos era o que esperava enquanto olhava com raiva para o imbecil em cima dela. Se olhares matassem, sabia que sua vida teria terminado com aqueles olhos cor de mel fitando-a com ódio.
— É triste quando alguém coloca um animal acima de sua própria espécie. — grunhiu Paul. — Juntem as costas homens. Atirem em qualquer coisa que se mover.
Tammy lutou desesperadamente com o cinto que segurava seus pulsos. Não ajudava estarem presos debaixo do seu traseiro, tornando mais difícil se libertar. Teve cuidado para não tocar nas coxas abertas de Mark. Ficou ciente de que ele continuava apertando e de que não conseguia respirar. Quando os segundos passavam percebeu que ele não planejava soltar.
O pânico a dominou e ela jogou os dois joelhos para cima. Ele disse um palavrão quando atingiram suas costas e teve que soltá-la para se segurar antes que caísse para frente, escolhendo soltar sua garganta ao invés da arma.
Tammy arfou e deixou as pernas caírem.
— Não faça isso, vadia. — sibilou ele para ela.
— Não conseguia respirar. — ofegou.
Ele a olhou com ódio.
— Porra de pu...
Tammy fitou Mark quando suas palavras foram cortadas e seus olhos arregalaram. Abriu a boca completamente, como se fosse gritar, mas só um chiado baixo saiu dela. Ele desceu o olhar lentamente para o punho da faca que estava enfiada em seu peito. De repente, o sangue fluiu de sua boca e caiu em Tammy. O sangue quente, molhado e viscoso se espalharam por sua pele nua.
Tammy reagiu depois de uma fração de segundo de absoluto terror.
Virou-se com força e levantou o quadril, movendo-se em direção à fogueira. O peso de Mark mudou de posição, desmoronou, e Tammy rolou na direção oposta para se livrar completamente dele. Assim que ficou livre, usou o ombro para apoiar a parte de cima do corpo na grama já que suas mãos estavam atadas às costas.
Apoiou-se nos ombros e nos joelhos, ignorando os detritos no chão que se enterravam em sua pele. Ouviu alguém disparar uma arma, o som realmente alto, e os portões do inferno se abriram quando mais tiros surgiram um segundo depois. Não sabia se atiravam nela ou não. Lutou para se levantar em desespero e disparou para a escuridão da floresta.
Tammy continuou se movendo mesmo quando algumas balas cravaram em troncos de árvores à sua volta, mas não parou. Deixou o acampamento para trás sem sentir nada atingindo seu corpo e conseguiu evitar bater nas árvores. Quando a fogueira se apagou ela ficou completamente cega.
Correu até seu ombro bater num galho baixo e o impacto fez com que caísse de joelhos. Ela lutou para ficar de pé e inclinou-se dolorosamente contra a casca grossa da árvore, tentando recuperar o fôlego que tinha se esvaído dos pulmões e ignorou a aspereza contra a pele.
Um homem gritou atrás dela — um som horrível e sofrido, mas que a motivou a continuar correndo. Sacudiu os punhos, mas o couro ainda se recusava a ceder. Frustração e medo travavam uma batalha enquanto tropeçava pelo caminho. Queria colocar distância entre ela e as balas.
Caminhou e rezou para que sua visão se ajustasse à escuridão. Parecia que uma guerra estava sendo travada atrás dela com as armas disparando e todos os gritos que sacudiam a noite. Tammy finalmente conseguia avistar formas turvas e seu passo se tornou um trote rápido. Não conseguiu ir muito além quando de repente algo surgiu em seu caminho. A sombra surgiu de um lado — algo grande. E o que quer que fosse, veio direto para cima dela.
Abriu a boca para gritar quando tentou mudar de direção, mas a sombra era mais rápida. Mãos enormes agarraram sua cintura.
— Tammy. — disse Valiant.
Ela congelou. As mãos a puxaram contra um peito vestido. Inalou o aroma masculino que não havia esquecido. Naquele momento admitiu que sentiu falta do cheiro e dele. Seu corpo grande era morno e imenso com os braços ao redor de sua cintura em um abraço. Seus joelhos cederam, mas ela não caiu. Ele a manteve com firmeza contra ele.
— Estou aqui.
Os dedos de Tammy coçavam para se agarrarem a ele, mas não conseguiu. Fungou e lutou contra as lágrimas de alívio por tê-la encontrado e salvo. Tinha ficado aterrorizada. Aqueles homens a machucaram, mas ela conheceu a segurança nos braços de Valiant. Seu pesadelo acabou. Ele garantiu que eles não tivessem chance de levá-la outra vez. Tinha fé absoluta nisso.
— Eu vou sentá-la e te dar minha camisa. — falou baixo com a voz rouca. — Sua pele está fria. Você entende?
Ela assentiu contra o peito dele e Valiant rugiu baixo quando a colocou em um monte de grama gelada. Ela fitou sua sombra escura quando se agachou na frente dela. Não era mais que uma sombra grande e reconfortante na escuridão com aquela voz rouca. Um tecido roçou sua perna.
— Levante os braços para mim.
— Não posso. Minhas mãos estão presas às minhas costas.
Ele praguejou.
— Esqueci. Estou com tanto ódio que é difícil pensar direito.
Valiant passou os braços em volta dela mais uma vez. Tammy apreciou e se sentiu confortada pelo calor e pela segurança de estar envolta em seus braços. Desatou o cinto com dedos gentis e o abriu para libertar seus pulsos. Ela moveu os braços para frente e choramingou com a dor que atingiu os dois. Até seus ombros doíam por ficar presa naquela posição por muito tempo.
— Eu vou matá-los. — ele rugiu. — Cada um deles. — Se inclinou para trás até abrir algum espaço entre seus corpos e agarrou seus pulsos gentilmente para roçar os polegares na pele machucada. — Sinto cheiro de sangue em você.
Valiant trouxe suas mãos para o rosto e inalou. Ele fez a última coisa que esperava que fizesse. Ela deu um pulo, mas não se afastou quando a língua dele lambeu com gentileza a área dolorida e queimada do seu pulso. Isso de fato fez a sensação excruciante passar. Ele se voltou para seu outro pulso e usou a língua nele.
— O que está fazendo, Valiant?
— Está doendo menos?
Assentiu, mas lembrou que ele provavelmente também não podia ver bem no escuro.
— Sim.
Ela notou quando tudo de repente ficou quieto. Os sons da floresta morreram completamente junto com os do tiroteio. Somente a brisa suave nos galhos das árvores acima soava no momento fantasmagórico.
— Eles virão logo e preciso vesti-la. — disse Valiant baixo. — Vou colocar o meu suéter em você. — Ele soltou suas mãos.
— Quem está vindo? — O medo a envolveu e ela esperava que não estivesse falando dos homens que a sequestraram.
— A minha gente virá atrás de nós e não vão demorar muito. Não se preocupe. Eles cuidaram daqueles homens que roubaram você de um jeito ou de outro. Levante os braços para mim.
Conseguiu passar o suéter por sua cabeça e pulsos machucados. O tecido grosso e macio ainda estava quente do corpo dele e tinha o cheiro de Valiant. Ele a ajudou a se levantar e ela percebeu que o suéter batia na metade de suas coxas. Era mais como um minivestido em seu corpo menor. Ele enrolou as mangas até a altura de seus cotovelos.
— Não quero que o tecido roce nos seus pulsos feridos. — explicou.
— Obrigada. — Tocava seu coração que fosse tão atencioso.
Tammy viu sua forma mudar no escuro quando Valiant se afastou uns passos e levantou os braços. Os poucos raios da lua que passavam com esforço pelas copas das árvores refletiram algo branco. Tecido se rasgou.
— Fique quieta, Tammy. Eu vou carregá-la e usar minha regata para proteger sua intimidade. Vou fazer um tipo de short para você.
Ficou de joelhos na frente dela. Sua cabeça na altura do peito mesmo com ele de joelhos. Era estranhamente alto, lembrava-se. Ele levantou o suéter até debaixo dos seus seios. Ela não ficou nem com vergonha de estar nua diante dele. Ele a pediu baixinho que segurasse o suéter.
Pela sensação, deslizou parte da regata entre suas pernas e amarrou cada lado em seu quadril para cobrir a calcinha. Isso a lembrou da peça que um lutador de sumô usava. Ele se levantou e ela soltou o suéter. Valiant se aproximou mais.
— Vou colocá-la nos braços. Está descalça e machucada. Está segura agora e ninguém irá feri-la.
— Eu sei. — disse baixinho. — Obrigada.
Ele permaneceu calado por muito tempo.
— Nunca me agradeça por te proteger, Tammy. Você é minha. É meu dever e minha honra.
Suas palavras a assustaram tanto que ficou muda. Nunca nenhum homem lhe disse aquilo. Também nunca esperou que algum falasse, mas tudo em Valiant era especial. Não podia ver nenhum dos seus ex-namorados entrando na floresta à noite para tentar salvar sua vida. Lágrimas encheram os olhos quando ela rapidamente piscou para contê-las. Temia que fosse ficar mais chateado se desabasse completamente em soluços aos seus pés enormes.
Ele se inclinou e passou um braço muito gentilmente em volta das suas costas, passando o outro atrás dos joelhos para aninhá-la nos braços. Ele fez com facilidade, como se ela não pesasse nada. Sem hesitar, Tammy passou os braços em volta do seu pescoço e o abraçou com força.
A pele nua dele a confortava. Descansou a cabeça na parte quente próxima à curva do ombro quando Valiant caminhou com ela nos braços. Dor e exaustão a drenavam tanto fisicamente quanto mentalmente. O balanço dos passos cuidadosos de Valiant a consolaram...
Barulho acordou Tammy. Ela percebeu que, ou desmaiou ou caiu no sono. Valiant ainda a carregava. Ela inalou o seu cheiro maravilhoso e o seu calor a circulava tão firmemente quanto os seus braços. Ele rugiu baixinho.
— Humanos estão à nossa espera. Vamos sair logo da floresta, mas vou te avisar agora, eu vou aonde você for. Eles vão querer que seja examinada por médicos e eu insisto nisso, Tammy. Só diga a eles que me deixem ficar ao seu lado. Lutarei com qualquer um que tentar tirá-la de mim.
— Só não fique rugindo nem urrando para ninguém, por favor. — Ela levantou a cabeça. — Você já é muito assustador sem fazer isso.
Ele parou de andar por um momento. Ela mal conseguia ver o seu rosto na fraca luz da lua, mas ele assentiu.
— Só não pense que irei deixar que vá embora. Fiz isso antes e olhe o que aconteceu. Você poderia ter morrido hoje. Aqueles homens não seriam capazes de leva-la se tivesse ficado comigo. Ninguém teria chegado assim tão perto de você sem morrer primeiro.
Culpa a consumia.
— Sobre aquele abajur…
O rosto dele virou abruptamente em sua direção e ele urrou baixo, seu peito vibrando enquanto sorvia o ar.
— Não quero falar disso.
— Eu não queria que se machucasse. — Disse as palavras às pressas.
Ele virou a cabeça, farejou o ar e continuou andando.
— Conversaremos depois. Está mais segura comigo. Eu a protegerei e não tente fugir de mim outra vez. Seria tolice.
Ela não conseguia discutir as suas declarações. Não queria admitir isso, mas também não queria que Valiant fosse para longe dela. Tinha passado as últimas cinco semanas sentindo saudades e pensando nele. Podia ser o trauma que havia vivenciado e o fato dele ter salvado a sua vida, ou por ter vindo atrás dela mesmo estando zangado com a história do ataque com o abajur, mas estar em seus braços parecia ser o certo.
— Desculpe.
Valiant fitou os seus lindos olhos. No dia que fugiu de sua casa o surpreendeu, vindo pelas suas costas, e ele sequer pressentiu a sua aproximação.
Tinha subestimado Tammy e isso foi um erro que lhe custou muito por ter permitido que escapasse dele. Arrependimento era uma emoção fácil de ler no rosto dela e ele gostava do fato de poder identificar as suas emoções.
— Fiquei distraído com os machos que vieram te buscar.
— Eu sei. Usei isso em minha vantagem. Machuquei você?
O ferimento em sua cabeça tinha curado rapidamente, mas o de dentro não. Queria ficar com ela, mas ela o abandonou. Lembrou-se das raras vezes em que fêmeas foram levadas à sua cela quando era um prisioneiro. Uma vida inteira de rejeição filtrou-se por suas lembranças.
A maioria das fêmeas Espécies tinham sentido medo demais dele para permitir que as tocassem. Uma fêmea primata gritou e chorou até que um dos técnicos apareceu para leva-la embora. Ele sabia que nenhuma delas queria cruzar com ele, mas algumas tinham se apiedado do macho solitário que era.
Ver a sua própria gente era raro e fazer sexo com elas era ainda mais. Tammy o rejeitou a princípio, mas depois respondeu ao seu toque como nenhuma outra fêmea fez. Não tinha as habilidades de procriação que a maioria dos outros machos aprendeu, mas não se sentiu inadequado com Tammy em seus braços e em sua cama. Foi motivado a usar todos os conselhos sexuais que as fêmeas lhe deram durante aquelas raras vezes em que permitiram que montasse nelas.
Tammy importava para ele e morria em pensar que quisesse deixá-lo novamente. Conhecia o confinamento e não queria submetê-la a isso. Fazer dela uma prisioneira dentro da sua casa poderia fazer com que o odiasse. Ameaçar era uma coisa, mas na realidade ele nunca quis magoá-la de nenhuma forma. Teria que convencê-la a ficar por escolha.
Não tinha certeza de como fazer isso e precisava descobrir rapidamente. Os humanos iriam querer afastá-la dele. Muitos deles temiam Espécies, acreditavam que fariam mal a humanos, e ele sabia que a sua aparência não ajudava. Ele parecia menos humano do que os outros machos de seu povo. Não que eles se camuflariam em um grupo de humanos, mas eram bem menos intimidantes. Não havia nada que pudesse fazer a respeito da sua aparência, mas podia tentar com todas as forças agir de forma mais civilizada.
Conteve um rugido. Comportar-se bem com os humanos e agir docilmente não era algo que achou que faria por alguém. Porém, olhar nos olhos de Tammy mudou tudo isso. Era tudo uma questão do que queria preservar mais. Ela ou o seu orgulho. Era difícil de engolir, mas ele tomou uma decisão.
— Tentarei ser agradável com os humanos por você, Tammy. Desejo parar essa conversa. Não é uma boa hora para discussão.
Opinião formada e expressa. Valiant não queria conversar sobre o dia que ela escapou de sua casa.
— Apenas deixe que eu fale ok?
Encolheu os ombros.
— Certo, mas lembre-se, eu vou aonde você for. Vou ficar bem assustador se alguém tentar te tirar de mim, delícia.
— Feito. — Ela relaxou em seus braços.
Sentiu-se quente quando ele a chamou de delícia.
E, certo. Precisava de um banho dos mais longos. Foi presa no chão e não tinha que tocar o cabelo para saber que ele virou um ninho de rato cheio de terra e só Deus sabia o que mais. Tinha chorado, seu corpo estava machucado, e sabia que tinha sangue seco na bochecha. Era o oposto de algo delicioso, se é que já foi algum dia, mas era doce da parte dele mentir tão descaradamente para fazê-la se sentir bem.
Carros estavam estacionados dos dois lados da estrada quando saíram da floresta. O do xerife, carros de oficiais e uma ambulância estavam entre eles. Mais carros estavam estacionados na grama perto da pista, incluindo uma van branca enorme com letras na lateral. As vozes de repente se calaram na área iluminada pelos faróis.
Tammy sabia que tinham sido vistos quando um silêncio se formou.
O xerife Cooper correu na direção deles com um dos seus oficiais, Carl Bell, no seu encalço.
— Tammy!
Ela forçou um sorriso valente.
— Eu estou bem. Valiant e os seus amigos me salvaram.
O xerife hesitou a alguns passos do Nova Espécie muito mais alto e grandão que a tinha nos braços. Ele olhou com nervosismo entre Tammy e Valiant.
— Pode me passar ela, filho. — Greg Cooper estendeu os braços. Valiant sacudiu a cabeça. — Eu a levarei para a ambulância. Ela está ferida.
— Onde estão os homens que a levaram? — O olhar do xerife procurou na floresta escura atrás deles.
Valiant deu de ombros.
— Isso não é problema meu. A única coisa que me importa é Tammy. Tenho certeza que o meu povo irá trazer os agressores até você se tiver sobrado alguma coisa deles. — Ele deu a volta nos dois homens perplexos para levar Tammy até a assistência médica.
Tammy sentiu vontade de fazer uma careta quando olhou por cima do ombro de Valiant enquanto ele se afastava da dupla. O Xerife Cooper fitou a floresta por alguns segundos a mais antes de se virar. Ela não perdeu o olhar curioso que se passou entre ele e o seu oficial, que encolheu os ombros. Os dois rapidamente correram para alcançá-los.
Tammy conhecia as duas pessoas esperando na ambulância. Frequentou o ensino médio com Bart Homer e o observou com a cara fechada quando Valiant a depositou com gentileza em uma maca que ele puxou quando se aproximaram. Debra Molmes, a outra paramédica, era uma mulher alguns anos mais nova que Tammy, mas ela foi colega de sala no colégio do seu irmão velho.
— Merda. — Debra ficou de boca aberta olhando Valiant e engoliu em eco, uma expressão de cautela atravessando as suas feições. Ela arrancou o olhar dele e examinou Tammy visualmente. Debra estremeceu. — Jesus. Você está terrível, Tammy.
— Foi uma noite difícil para mim e eu tenho certeza que não estou no meu melhor.
— É, com licença, senhor. — Bart disse baixo para Valiant. — Eu, é, preciso entrar para ajudar a examinar a Tam.
Valiant hesitou um segundo antes de sair do caminho. Um Valiant enorme, de peito nu e musculoso era algo digno de se contemplar. Ele parecia tão masculino de um jeito tão sexy quando não estava rugindo nem mostrando os dentes afiados em um rosnado silencioso. Tammy encontrou seu olhar com um sorriso forçado. Ele cruzou os braços, o que apenas ressaltava os seus músculos. Devolveu o olhar com uma expressão séria. Tammy virou a cabeça e pegou Debra quase babando. Ela parecia ter superado a sua incerteza inicial sobre como reagir a ele.
— Tammy? — O Xerife Cooper se aproximou. — Precisa nos dizer exatamente o que aconteceu. Conhecia esses homens? Eles contaram por que a sequestraram?
Tammy tentou não estremecer quando Bart e Debra checavam o seu corpo e limpavam os ferimentos. Seu rosto doeu quando eles lavaram o sangue e trataram a área próxima à sua orelha onde a bochecha tinha batido no retrovisor da caminhonete. Seus pulsos não doíam muito depois que Valiant cuidou deles.
Enquanto os paramédicos trabalhavam, ela contou devagar ao xerife o que tinha acontecido quando deixou o bar e como os homens a levaram. Mas pulou algumas partes. Escolheu não mencionar nada relacionado com as Novas Espécies, com exceção de dizer que eles fizeram comentários que deixaram claro que os odiavam. Mentiu na maior cara de pau.
— Eles disseram que sabiam que fui para a Reserva das Novas Espécies. — Tentou se prender a uma parcela da verdade para manter a história convincente. — Eles me levaram porque trabalhei lá e me acusaram de ser uma traidora da humanidade por gostar dos Novas Espécies.
O Xerife Copper cuspia de raiva.
— Aqueles imbecis a levaram por que trabalhou na Reserva? Maldição. A cidade inteira vai ser alvo desses imbecis então se isso é tudo o que é preciso para atiçá-los. Onde diabos está a sua calça e por que está usando esse suéter?
— Eles… — Ela baixou o olhar, incapaz de olhar para o xerife enquanto falava, com medo de explodir em lágrimas se o fizesse. — Eles tiraram a minha roupa, me prenderam ao chão e me torturaram. — conseguiu dizer. Não conseguia olhar para o homem que conhecia desde que era menina quando o calor incendiou suas bochechas. — É por isso que estou usando o suéter de Valiant. Ele e os outros Novas Espécies chegaram antes que eles me machucassem mais seriamente, mas já tinham me deixado só de calcinha.
— Filhos da puta. — praguejou o Xerife Cooper. — Eles estupraram você, Tammy?
Ela sacudiu a cabeça.
— Não. Um deles quis, mas os outros ficaram felizes em somente me machucar. Eles queriam que eu fizesse um vídeo declarando que também odiava os Novas Espécies. Eles eram pirados.
Xerife Cooper se voltou para Valiant e ofereceu a mão.
— Obrigado, Sr. Valiant. A cidade inteira tem uma grande dívida de gratidão com você e com os seus amigos por impedirem aqueles bastardos de matá-la.
Valiant franziu o cenho, mas aceitou a mão do Xerife.
— Não me agradeça. Ele é minha e sempre irei protegê-la.
Tammy fez uma careta quando disparou um olhar de advertência para Valiant e sacudiu a cabeça para ele.
— Lembra que concordamos que seria eu quem falaria?
Ele soltou a mão do xerife e encolheu os ombros.
— É verdade.
O Xerife Cooper parecia confuso quando se virou para encarar Tammy.
— O que isso quer dizer? Você é dele?
Ela hesitou.
— Nós estamos envolvidos. — Deixou assim.
— Oh! — Os olhos do Xerife arregalaram quando ele voltou a atenção para Valiant e depois para Tammy, seu olhar indo de um ao outro como se assistisse a uma partida de tênis.
— Nunca teria adivinhado que vocês dois namoravam. Não mesmo.
— Senhorita Shasta! — gritou uma mulher. — Pode dar uma entrevista?
Petrificada, Tammy virou a cabeça para olhar uma mulher e um cameraman tentarem empurrar um oficial para chegarem à traseira da ambulância.
O Xerife Cooper se distanciou alguns passos para gritar para os seus homens.
— Empurrem esses repórteres para longe. Sem comentários, seus caçadores de ambulância. Byron e Vince os afastem. Estou falando sério.
— Por que há repórteres aqui? — Tammy não estava nem um pouco feliz com a situação.
O xerife disse outro palavrão baixinho.
— Algum idiota vazou que uma mulher foi sequestrada e que nós contatamos a Reserva dos Novas Espécies para pedir ajuda. Esses vermes apareceram aos montes e os nossos telefones na estação foram bombardeados com ligações da imprensa do mundo inteiro.
— Precisam tirá-la daí. — Tiger informou ao xerife, vindo da frente da ambulância. — Isso aqui vai virar um circo em pouco tempo se não a levarem. Também precisamos sair imediatamente.
— Capturaram aqueles homens? — o Xerife Cooper encarou Tiger.
Tiger hesitou.
— Capturamos três deles e os transportamos via helicóptero para a Reserva. Não ouviu? O quarto está morto, mas isso não pôde ser evitado. — Seu lindo olhar de gato encontrou o de Valiant por alguns segundos antes de voltar a se concentrar no xerife. — Eles tinham armas e se recusaram a se render. Um dos meus homens foi atingido, mas vai sobreviver. Foi só um ferimento superficial. Vamos colocar o morto no gelo até que providenciem para que seja recolhido no nosso posto médico. Eu dei a um dos seus oficiais uma descrição detalhada de onde eles acamparam e mantiveram a Senhorita Shasta refém. Deve ser fácil para vocês encontrarem a cena do crime.
— Tinha um helicóptero aqui? — O xerife parecia surpreso. — Onde estão os meus detentos?
— Iremos transportá-los para a sua estação quando forem liberados pelos nossos médicos, que estão tratando deles no momento. — Tiger estudou Tammy antes de voltar a atenção para o xerife. — Eles estão recebendo atenção médica na nossa unidade, mas você pode mandar alguns oficiais pegá-los se desejar proceder com a transferência dessa forma. Um dos prisioneiros está em condição crítica e, como eu disse, um dos meus homens foi baleado. O transporte via helicóptero era mais rápido do que carregá-los da floresta para cá. Sempre mantemos um de prontidão na Reserva. — Tiger olhou para Tammy outra vez. — Temos instalações médicas excelentes se me permitir chamar o helicóptero de volta para transportar a Srta. Shasta para que os nossos médicos cuidem dela.
— Eles precisam de um hospital de verdade. — respondeu o Xerife Cooper.
— Tudo bem. — Bart, o paramédico, interrompeu em voz baixa. — Eles têm instalações top de linha. Na verdade nós já as usamos duas vezes em situações de trauma severo. Eles têm equipamentos melhores e traumatologistas excelentes, coisas que o nosso hospital local não ostenta. Simplesmente não temos aqueles tipos de máquinas. Os prisioneiros estão bem melhor se foram enviados para lá. — Bart olhou para Tiger de boca aberta, parecendo intimidado. — Podemos tratar das necessidades médicas de Tammy, mas obrigado, senhor.
Tiger assentiu e se dirigiu ao xerife.
— Quer ir recolher os prisioneiros quando os médicos tiverem acabado ou quer que os levemos até você? Faremos relatórios completos e lhe daremos informações detalhadas de tudo que ocorreu quando chegamos ao acampamento deles. Meus homens e eu estaremos inteiramente à sua disposição para responder qualquer pergunta que tenha.
— Eu irei até lá. — decidiu o Xerife Cooper. — Muito obrigado por tudo o que vocês fizeram esta noite e eu aprecio que tenham vindo assim que liguei.
Tiger apertou sua mão.
— Somos vizinhos e é isso o que vizinhos fazem. Nós na Reserva dos Novas Espécies estendemos a nossa ajuda sempre que precisar, Xerife Cooper. Estamos muito felizes por termos localizado a Senhorita Shasta antes que eles a machucassem seriamente ou acabassem por matá-la. — Soltou a mão do homem e encarou Valiant. — Vamos indo. Rider foi baleado, mas não é nada grave e Justice está nos esperando para informa-lo por telefone o que aconteceu assim que retornarmos.
A expressão de Valiant ficou assustadora e sua voz saiu como um rugido grosso.
— Eu não voltarei a não ser que Tammy venha comigo.
Uma expressão de irritação cruzou as feições de Tiger.
— Não pode ir com ela. Os homens que a atacaram eram membros de um grupo organizado de Ódio. Pode apostar que mais deles logo aparecerão se há quatro nas proximidades. Mais homens do grupo deles já podem estar aqui. Não posso deixá-lo vagando por esta cidadezinha. Você é um alvo e se estiver sozinho isso o tornará uma presa fácil para eles. Há o fato dos inocentes também, Valiant. Eles poderiam ferir qualquer um perto de você se tentarem matá-lo e isso inclui a Srta. Shasta. Estamos sob ordens de Justice para que voltemos agora para casa.
Valiant mostrou os dentes afiados e Tammy viu o problema fervendo instantaneamente. Sabia que Valiant não deixaria o seu lado.
— Eu irei com ele. — ofereceu em voz alta. — Irei para a Reserva dos Novas Espécies. — Empurrou as mãos de Debra para impedi-la de fazer um curativo em seu pulso e tentou sair da maca.
— Agora espere um minuto. — cuspiu o Xerife Cooper. — Eu preciso pegar o seu depoimento.
— Pode fazer isso na Reserva. — Tammy olhou para o xerife como que implorando. — Estou assustada e vou ficar com Valiant. Por favor, não faça muito caso disso porque eu já passei pelo suficiente esta noite. Por favor? Pode me fazer as perguntas que quiser, mas me deixe ir com ele.
O xerife estudou Valiant, seu olhar varrendo o enorme Nova Espécie antes de suspirar.
— Eu pensaria duas vezes antes de tentar me meter com eles. Entendo que se sentiria mais segura com ele. Já vi as instalações que têm por lá e você ficaria mais protegida detrás daquelas muralhas vigiadas do que aqui na cidade. Na verdade é uma boa ideia. Eu não tenho os homens necessários para te proteger de mais ameaças e nem mesmo desses malditos repórteres. Preciso de um depoimento logo se for para a Reserva.
Alívio a atingiu.
— Claro.
Valiant se moveu antes que Tammy pudesse se levantar e a ergueu no berço dos seus braços. Debra agarrou um dos lençóis e se adiantou para cobrir o colo e as pernas expostas de Tammy, piscando para ela.
— Vadia sortuda. — sussurrou.
O queixo de Tammy quase caiu, literalmente. Debra piscou outra vez antes de se virar, murmurando alguma coisa baixinho que Tammy não conseguiu escutar enquanto subia na ambulância. Os braços de Tammy envolveram o pescoço de Valiant e ela notou o seu sorriso.
— O que ela disse? Você ouviu?
Seu olhar divertido se encontrou com o dela.
— Tenho uma audição excelente. — Ele moveu os lábios em sua orelha. — Ela disse que apreciaria os meus braços em volta do corpo e mencionou que também gostaria de colocar as pernas em volta de mim.
— Oh! — Tammy corou antes que a raiva aparecesse como uma espécie de ataque de ciúmes. Ela o olhou com raiva, não gostando nem um pouco do seu divertimento tão óbvio com o que a paramédica tinha dito.
Uma alegria se acendeu em Valiant quando viu a raiva brilhar nos olhos de Tammy. Ela se importava se outra fêmea o considerasse atraente e estivesse interessada em procriar com ele. Sua boca estava fechada em uma linha firme e tensa. Mas ela se manteve em silêncio.
Ele resistiu para não sorrir, mas queria muito. Tammy não queria que outras fêmeas oferecessem seus corpos para ele. Isso tinha que significar que ela se sentia possessiva com relação a ele. Consideraria isso um bom sinal de que pudesse ser capaz de convencê-la a ficar com ele. Tinha uma nova arma em seu arsenal se precisasse lutar para mantê-la ao seu lado. Nunca a usaria de verdade, ela era a única fêmea que desejava, mas estava tentado a permitir que pensasse que pudesse estar interessado em outra.
Porém, quando fitou os seus olhos não gostou da incerteza repentina que se mostrou lá. Medo de rejeição não era uma coisa boa ou gentil. Seria cruel com ela permitir que pensasse que não estava seriamente comprometido quando não havia sequer uma chance de que escolhesse outra fêmea que não fosse ela. Claro que isso não significava que não pudesse apreciar o calor que a sua raiva lhe fez sentir.
— Acha que a minha atração varia tão facilmente assim?
Ela hesitou.
— Eu não sei.
A sua honestidade não era muito bem-vinda no momento.
— Você me insulta. Eu deixei meu desejo por você muito claro. Não tenho interesse algum em outra fêmea.
— Não estou muito bem agora e me sinto mil vezes pior.
— Você passou por muita coisa e é muito corajosa.
— Certo. Claro. Não me senti assim. Estava apavorada.
— Você parou de falar?
— Não. Você é a única pessoa que tem esse efeito em mim.
Um sorriso curvou os lábios dele.
— Acha isso engraçado?
— Um pouco. Afeto você de um jeito que ninguém mais afeta. Me agrada ouvir isso.
Ela rolou os olhos.
— Maravilha.
— Tammy?
Ela encontrou o seu olhar e ele resistiu à vontade de beijá-la. A boca dela era uma tentação. Seria facílimo baixar a cabeça e capturar aqueles lábios. Não dava a mínima se os humanos que os cercavam ficariam olhando. Declararia a sua reivindicação dela com felicidade na frente de todos, Espécies ou humanos. Hesitou por tempo demais.
— O que foi?
Valiant gostava quando ela sorria e esperava que um pouco de provocação surtisse efeito. Ele riu.
— Eu só quero as suas coxas em volta de mim, então não fique com raiva.
Tammy desviou os olhos e se acalmou. Era bom ouvir Valiant dizer aquilo. Não sabia se acreditava nele já que acreditava que a maioria dos homens não era monogâmico. Mas também, Valiant não era parecido com nenhum homem que conheceu antes. E essa era a meia-verdade do ano.
Tiger foi na frente e Valiant o seguiu até um dos Jipes. Havia outros Novas Espécies com ele.
— Senhorita Shasta! — O repórter gritou para conseguir a sua atenção. — O que aconteceu? Para onde está indo com eles? Quem é o Nova Espécie levando a Senhorita?
Tiger praguejou baixinho.
— Ignore-os.
Valiant entrou no banco do passageiro, mantendo Tammy firme no colo. Tiger olhou para os dois e ligou o motor.
— Conhece as leis sobre o cinto de segurança, certo? Não estamos na Reserva.
Valiant rugiu em resposta.
— Tudo bem. Não acho que vão nos parar nem nada, mas só achei que deveria mencionar isso.
— Já ouvi falar dessas leis sim e nós estamos ótimos onde estamos. — Valiant a aninhou mais perto do corpo. Tammy virou a cabeça para olhar Tiger. Ela deu de ombros e apertou mais os braços em volta de Valiant. Virou e descansou a bochecha em seu peito morno. Sentia-se segura. Tiger liderou os cinco veículos enquanto se dirigiam para a Reserva dos Novas Espécies.
— Tem algo que vocês deveriam saber. — disse Tammy alto para que os dois pudessem ouvi-la.
Valiant baixou o olhar até seus olhos se encontrarem e se prenderem.
— O que foi?
— Consegue me ouvir, Tiger?
— Consigo. Tenho uma boa audição.
— Eu não contei tudo ao xerife a respeito daqueles homens. Eles sabiam que Valiant tinha me levado para dentro da sua casa no dia em que o conheci. Disseram que tinha um informante que ouviu uma conversa entre Justice North e talvez você, Tiger. Falaram sobre o chefe deles e como ele me queria por causa do que aconteceu.
Ela se concentrou em Valiant e continuou.
— Eles sabiam que dormi com você. Nunca disseram o nome do homem para quem trabalhavam, mas se referiam a ele como o doutor. Também disseram que queriam que eu desse umas declarações filmadas dizendo coisas horríveis que fizessem as pessoas odiarem vocês. Disseram que o doutor, o chefe deles, queria fazer experimentos comigo em alguma unidade de testes. Um deles achou que eu fui infectada e que me transformaria em uma Nova Espécie, mas menti e disse que não havia acontecido nada entre Valiant e eu. Eles mencionaram ter um informante várias vezes, alguém próximo a Justice North.
— Puta que pariu. — rugiu Tiger. — Tem certeza?
— Absoluta. — Tammy hesitou. — Algo disso faz sentido para vocês? Não queria dizer ao Xerife Cooper nada porque ele também iria querer saber de tudo que se passou entre nós.
— Contou a alguém o que aconteceu na casa de Valiant? — Tiger soou alarmado.
— Não. — Tammy virou a cabeça para olhá-lo. — Não contei a ninguém, e também pedi a Ted que não mencionasse nada sobre o assunto. Ele jurou que não contaria. Acreditou absolutamente em mim e acha que Valiant e eu, bem, ele acha que o que contei é a mais pura verdade. Aqueles homens de hoje tinham certeza de que eu estive sexualmente com Valiant e disseram que esse informante ouviu uma conversa entre Justice North e o seu chefe de segurança que tratava da prestação ou não de queixa por estupro da minha parte. Também disseram que o chefe deles e mais homens do grupo chegariam aqui depois de amanhã.
— Nada bom. — rugiu Tiger. — Justice e eu tivemos essa conversa.
Os braços de Valiant se apertaram em volta dela. Tammy olhou para ele. Seus olhos estavam estreitos quando ele a olhou com uma expressão magoada em seu rosto bonito, ainda que assustador.
— Não olhe para mim assim. Eu nunca disse a palavra estupro. Falei que não havia me estuprado.
— Ela nunca o acusou de forçá-la. — concordou Tiger. — Deixou claro que não havia nada pelo qual você devesse ser punido, mas eu não tinha certeza se acreditava ou não em suas palavras. Você a carregou, Valiant. Não era você mesmo naquele dia e estava agindo com agressividade. Considerei que ela pudesse estar mentindo. Algumas mulheres que são estupradas negam o estupro. Justice e eu tivemos uma conversa, mas obviamente alguém a escutou e passou a informação para aqueles grupos terroristas.
Valiant ainda parecia zangado, mas seus braços em volta dela relaxaram, quando a puxou ainda mais perto. Ele suspirou.
Tammy fechou os olhos e descansou a bochecha em seu peito novamente. Estava cansada, mas conseguiu se manter acordada.
O Jipe parou quando alcançaram os portões principais da Reserva. Ela levantou a cabeça e fitou os muros altos que protegiam a propriedade de intrusos. Sabia que todos em sua cidade e nas cidades próximas tinham ficado empolgadíssimos porque eles haviam contratado inúmeros trabalhadores para levantarem os muros. Guardas estavam posicionados no topo da muralha com armas em mãos. Um posto de guarda ficava próximo ao portão e dois homens altamente armados saíram dele para estudarem Tammy abertamente.
— Está tudo bem, Tiger?
— Sim. A Srta. Shasta vai ser nossa convidada por um tempo.
O oficial assentiu.
— Ligarei para a habitação dos convidados e pedirei que preparem um quarto e que designem um oficial para fazer a segurança.
— Ela vai para a minha casa. — declarou Valiant com firmeza.
Tiger sacudiu a cabeça.
— Não pode ficar com ela em sua casa.
— Ela vai para a minha casa. — rugiu Valiant.
Tiger hesitou.
— Valiant, não pode levá-la para lá. Pode ficar no hotel se quiser ficar com ela. Aqueles imbecis a tornaram um alvo específico e como chefe de segurança, estou te dizendo que está mais segura no hotel com todos os seguranças por perto do que estaria em sua casa remota. O xerife também quer um depoimento dela e eu tenho certeza que Justice pode querer falar com ela. Também precisa de assistência médica. Assim que as coisas se acalmarem, e se ela quiser ir para a sua casa, discutiremos o assunto. No momento, eu dou as ordens. Ela fica no hotel e isso está fora de questão. Pode calar a boca e ficar com ela ou pode ir sozinho para casa.
— Tudo bem. — rugiu Valiant. — Nós ficamos no hotel.
Tiger voltou sua atenção para os oficiais que aguardavam no portão.
— Não a quero perto de outros humanos. Ela vai ficar em uma das suítes com Valiant. Precisará de roupas e de assistência médica.
— Os médicos estão bem ocupados. — Os oficiais estudaram Tammy. — Ela pode esperar? Um daqueles imbecis está correndo risco e os médicos estão lhe operando.
— Ela não vai ficar esperando porque um dos homens que a machucaram vem em primeiro lugar. — rosnou Valiant. — Deixe que morra.
Tiger levantou as mãos para fazer um gesto para que Valiant se acalmasse.
— Ligarei para Slade e pedirei que traga Trisha para cuidar dela. Tudo bem, Valiant?
Ele assentiu.
— Iria preferir que Trisha desse uma olhada nela de qualquer forma. Confio nela com a minha mulher.
Sua mulher? Tammy arqueou uma sobrancelha.
Valiant a olhou com raiva.
— Você é minha.
— Somos um pessoal bem possessivo. — Tiger a informou em voz baixa.
— Sério? — Tammy rolou os olhos. — Eu nunca teria adivinhado.
O oficial ao portão bufou.
— Valiant arrumou uma mulher humana. Achei que elas eram frágeis demais, Val.
Valiant rugiu para ele e o oficial deu um passo para trás.
— Só estava brincando. — Ele olhou para Tiger. — Você sabe as regras. Todos os humanos que entram são revistados. Preciso que ela saia do veículo.
Valiant rosnou novamente.
— Não vai tocar nela.
Tiger interveio.
— Ela não precisa ser revistada. Tudo o que ela tem é o suéter de Valiant e… — Sua atenção desceu até a cintura de Tammy. — E um lençol com a camiseta de Valiant cobrindo sua calcinha. Eu me responsabilizo pela entrada dela. Tenho certeza que Valiant já fez uma busca completa nela para garantir que não estivesse muito machucada. Ela está carregando alguma arma, Valiant?
— Não.
O oficial do portão suspirou.
— Entendido. Certo. Entre, Tiger. Ligarei para o hotel e para o prédio de mantimentos para pedir algumas roupas.
Tiger passou pelos portões quando eles abriram. Pegou o celular e fez uma ligação.
— Oi, Slade. Valiant quer que Trisha venha dar uma olhada na namorada dele. Estou levando eles para o hotel. Ela está ferida. — Pausou. — Humana. — Pausou outra vez. — É uma longa história. — Ficou calado ouvindo por alguns segundos. — Obrigado. — Desligou.
— Slade vai trazer Trisha. Ele disse que normalmente não a levaria a essa hora, mas que não iria perder isso de jeito nenhum.
Valiant mostrou os dentes afiados, demonstrando o seu desagrado.
Tammy franziu o cenho pelo comentário incomum, mas decidiu deixar passar. Não tinha certeza se queria as respostas para as perguntas que flutuavam em sua mente. Não tinha ido àquela parte da Reserva, então estudou cuidadosamente os seus arredores. Viu um prédio pequeno de dois andares.
— Ali é a habitação dos hóspedes. — disse Tiger. — É onde os visitantes humanos ficam. Têm seis quartos duplos lá dentro. Costumava ser a habitação dos funcionários quando esse lugar era um resort, mas nós remodelamos. Lá na frente fica o hotel onde a maioria do nosso pessoal fica quando está aqui. Também foi reformado. Na maior parte são quartos individuais, mas há algumas suítes duplas e triplas. Vamos colocá-los em uma delas e vocês devem ficar confortáveis lá. Todas as refeições são servidas na cafeteria, mas a de vocês será servida no quarto. Não será permitido que deixem a suíte sem escolta. Têm alguma pergunta?
Mais do que algumas, na verdade.
— Por que não me quer perto de outros humanos e por que se referem a nós dessa maneira? Você também é humano, só tem umas coisas extras que eu não tenho.
Tiger riu.
— Coisas extras tipo partes do corpo ou o meu DNA modificado?
— Seu DNA.
— Nos referimos ao seu povo como humanos porque queremos ser chamados de Novas Espécies. Fomos separados pela vida toda. É difícil para todo mundo, incluindo nós, nos considerarmos puramente humanos. De qualquer forma, não seria verdade. Não somos puramente nada.
— Obrigada. Por que eu não posso deixar a suíte sem escolta?
— Você vai viver dentro de um prédio inteiramente de Novas Espécies e vai deixar alguns deles nervosos. A maioria de nós acha bem difícil confiar na sua espécie. Fará com que se sintam melhor se a virem menos e você estará mais segura. Alguns Espécies não são muito fãs de humanos.
Valiant rugiu.
— Pode ter algo a ver com termos sido aprisionados por eles a maior parte das nossas vidas e lidar com os tipos de homens que a levaram hoje à noite.
Tammy encontrou o olhar raivoso.
— Você soa como se odiasse humanos.
— Ela mordeu o lábio. — Parte de você me odeia por eu não ser Nova Espécie?
Ele franziu o cenho.
— Eu não a odeio.
— Mas...
— Só consigo pensar em dois humanos que não odeio e você é um deles.
— Por que se sente atraído por mim?
— Porque você é minha.
Ela piscou os olhos.
— Por que eu sou sua?
— É melhor apenas aceitar. — Tiger suspirou e disse. — Confie em mim. Não vai fazer muito sentido. Ele está atraído por você, gosta de você, e inferno, eu ficaria feliz em não questionar nada disso. lembra do dia que o conheceu quando ele não parecia gosta de você? Compare as diferenças em sua mente e vai achar que tenho razão.
Ela assentiu, olhando para Valiant.
— Realmente, prefiro você gostando de mim mesmo.
Piscou para ela e o gesto fez com que o olhasse de boca aberta. Nunca esperou que fizesse isso e com aqueles olhos de gato o gesto tinha um efeito espantoso. Ele franziu o cenho.
— Eu fiz errado? Tentei te deixar à vontade. Você deu um pulo e tinha essa expressão que nunca vi no seu rosto. Não posso dizer que é atraente.
— Nunca mais pisque para mim. — Ela sorriu. — Por favor?
— O que eu fiz de errado?
Tiger estacionou na frente do hotel. Cerca de quinze Novas Espécies homens e mulheres saíram do lugar, fitando-os abertamente, e alguns rostos eram extremamente hostis. Tammy imediatamente se sentiu desconfortável e se agarrou um pouco mais a Valiant.
As mulheres tinham a aparência durona, eram altas e musculosas. Ela conseguia ver cada um deles, homens e mulheres, de figurantes em um filme em que interpretavam terríveis vilões. Pior de tudo, eles pareciam absolutamente furiosos por vê-la ali.
— Tammy? O que eu fiz de errado quando pisquei para você?
Ela forçou a atenção para longe das pessoas enormes e com caras de más que a olhavam com raiva e virou a cabeça para encarar Valiant.
— Pisque para Tiger.
Valiant virou a cabeça e piscou novamente. Tiger riu.
— Estou com ela. Não faça mais isso. Parece esquisito demais em Espécies felinos. Fica bem em humanos, mas não em nós.
Valiant suspirou.
— Está bem. Não piscarei mais para você.
Ele moveu o corpo enorme e saiu do Jipe com Tammy nos braços. Reposicionou seu corpo facilmente, segurando-a mais firme contra o peito.
O medo rastejou pela espinha de Tammy. Só tinha conhecido alguns Novas Espécies, mas agora estava cercada por pelo menos quinze deles que nunca tinha visto antes e que pareciam bastante irritados com a sua chegada. Eles bloqueavam as portas duplas do hotel e seu pavor aumentou junto com as batidas do coração. Odiava sentir medo, mas não conseguia evitar.
Tiger se colocou na frente de Valiant e Tammy.
— Não tem nada para ver aqui. Esta é Tammy e ela está com Valiant. Eles ficarão no hotel em uma das suítes do terceiro piso. Ela foi atacada hoje por um desses grupos de Ódio que têm nós como alvo.
Ninguém saiu do lugar. Tammy se mexeu nos braços de Valiant, agarrando-o com mais força. Teria feito com que ele a pusesse no chão, se fosse capaz, e se colocado atrás dele. Ele definitivamente era grande o bastante para se esconder atrás. Os braços de Valiant ficaram tensos ao seu redor. Ela o olhou e viu que tinha exposto os dentes outra vez. Baixou o olhar para ela.
— Cubra os ouvidos agora.
Ela soltou seu pescoço e levantou os braços para fazer como ordenou quando ele respirou fundo. Olhou para os homens e mulheres de pé em seu caminho com ódio e rugiu. Tammy virou a cabeça para ver Tiger saltar uns dois metros após se assustar com o barulho.
— Saiam da frente! — urrou Valiant. — Agora!
Tammy viu os Novas Espécies se espalharem enquanto Tiger ria. Tammy voltou a passar os braços ao redor do pescoço de Valiant. Nenhuma pessoa permaneceu no lobby quando Tiger segurou a porta para que eles entrassem.
— Me lembre de levar você da próxima vez que precisar esvaziar um lugar. — Tiger parecia se divertir bastante. — Pegarei a chave da suíte e encontro vocês no elevador.
— Obrigado. — Valiant virou e cruzou o lobby a passos largos.
Ninguém estava por perto. Tammy se perguntava como quinze pessoas poderiam simplesmente desaparecer daquele jeito, supondo que teriam que correr para se afastarem de Valiant tão rápido assim.
Seu olhar voltou para o homem aninhando-a nos braços e estudou as suas feições zangadas, entendendo como o seu próprio povo poderia temê-lo. Nunca esqueceria o dia em que o conheceu e que ele a havia deixado completamente muda de terror. Isso era algo que ninguém tinha sido capaz de fazer durante toda sua vida.
— Vou tomar um banho. — Tammy pôs as mãos no quadril. — Saia da frente.
Valiant grunhiu baixinho para ela.
— Permita que Trisha dê uma olhada em você primeiro. Ela deve chegar logo.
— Quero me limpar primeiro. Posso sentir o meu cheiro e está horrível. Eu tenho — ela soltou o quadril e tocou a cabeça. — coisas no meu cabelo, talvez até coisas vivas, e não aguento mais. Poderia ficar limpinha e decente antes da médica chegar aqui se saísse da minha frente. Aposto que ela agradeceria a gentileza. Agora, saia.
— Você está machucada e mancando. Vou ficar no boxe com você se insiste em tomar banho.
— Ele tocou o cós da calça.
— Não! — Ela o olhou com raiva. — De jeito nenhum. Fique com a calça fechada. Agora, se comporte e pare de ficar mandando em mim. Eu sei que pensa que sou sua, mas me deixe te dizer uma coisa. Não sou muito boa em aceitar ordens. Vou tomar banho sozinha e você vai ficar aqui. Agora me deixa passar.
Ele urrou outra vez, mas saiu do caminho para o banheiro.
— Também não sou muito bom em aceitar ordens.
— Não vou ficar mandando em você se não fizer o mesmo comigo. É justo. — Ela parou na porta do banheiro. — Por favor, poderia ver se consegue umas roupas para mim?
— Eu vou fazer uma ligação e verei se podem trazer agora.
— Obrigada. — Tammy entrou no banheiro, ligou a luz e fechou a porta. Tinha uma tranca e ela a pôs no lugar.
— Destranque isso! — Urrou Valiant.
Ela apertou os dentes ao virar a maçaneta, destrancando-a, e escancarou a porta.
— Sabe o quanto fala alto? Está no meio da noite e eu aposto que algumas pessoas estão tentando dormir por aqui. Pode falar baixo?
— Nunca mais tranque uma porta entre nós ou irei arrombá-la.
Ela levantou as sobrancelhas ao encarar os olhos dourados e exóticos, lembrando-a de que ele não era completamente humano. Provavelmente lhe daria uma liçãozinha se ele fosse um cara normal e dissesse aquilo para ela. Teria fugido o mais rápido possível achando que era um maníaco. Mas Valiant não pensava como a maioria dos homens.
— Poderia se machucar se caísse e uma tranca me retardaria.
Ela respirou fundo para se acalmar ao ouvir suas palavras. Tinha acabado de salvar a sua vida, sabia que ele arriscou a dele pela sua, e não tinha que ter ido atrás dela em primeiro lugar. Talvez ele temesse que desmaiasse ou algo do gênero. Podia lidar com as suas ordens se elas se originavam de sua preocupação. Não tinha certeza da razão verdadeira, mas estava disposta a suportar aquilo.
— Tudo bem. Não trancarei a porta se você não entrar. — Ela fechou a porta antes que ele pudesse dizer alguma coisa, mas não voltou a trancá-la. Caminhou até o espelho e fez uma careta. — Oh, cara. — suspirou. — Estou horrível. Olha só o que o gato trouxe pra casa.
Estremeceu instantaneamente assim que as últimas palavras passaram pelos lábios, percebendo o trocadilho infeliz. Olhou para a porta, mordeu o lábio e esperou que ele não tivesse escutado o que disse. Voltou o olhar para o espelho quando ele não fez nenhum som irritado que pudesse ouvir dali. Graças a Deus. Ele perdeu aquele deslize. Esse era outro ditado popular que precisava esquecer. Cortar todos os ditados inapropriados com referências a gatos.
Seu cabelo estava um ninho, com terra e folhas secas por todo lugar. Tinha terra no rosto e desde que chorou, linhas mais claras marcavam as bochechas. O único ponto limpo de verdade era o corte, a área roxa atingida pelo retrovisor. Os paramédicos a limparam. Ela virou a cabeça e viu que o corte não era tão ruim, mas a área roxa, definitivamente, iria adquirir umas cores bem feias nos próximos dias.
Tirou o suéter enorme do corpo e o largou na bancada da pia para estudar o resto do corpo, quase chorando outra vez. Tinha hematomas se formando no quadril, em um lado das costelas e nos ombros quando um daqueles otários a empurrou. Levantou o queixo e soltou um palavrão. Quase conseguia ver a marca de uma mão sob o queixo em um machucado que se formava. Baixou o olhar para os seios sensíveis e apertou os dentes quando notou a aparência inchada dos mamilos por terem sido quase arrancados. Arranhões também a marcavam por ter corrido e batido no que tinha no caminho.
— Está tudo bem? — Valiant falou contra a porta.
— Só estou checando os machucados no meu corpo e reclamando comigo mesma. Estou bem, mas fula da vida. — Ela tirou os curativos dos pulsos para que não molhassem.
— Posso entrar?
— Não. Eu serei breve. — Ela se virou do espelho e tentou desamarrar a espécie de “fralda” que Valiant fez com a camiseta. Tentou puxá-la, mas praguejou baixo. Ele tinha dado nós no tecido rasgado e ela não conseguia desatá-los.
— Valiant? Preciso de ajuda.
Tapou os seios com as mãos quando a porta se abriu de repente antes que terminasse de falar e ele entrou no banheiro. Seu olhar se prendeu imediatamente em suas mãos, cheias de carne. Tammy mordeu o lábio. Bem, ele podia não se parecer com um homem comum, mas com certeza agia como se fosse um.
— Não consigo tirar essa coisa que você fez para mim. Os nós estão muito apertados.
O olhar dele continuou preso em seus seios cobertos. Ela virou, presenteou-o com as costas, mas olhou por cima do ombro para observá-lo. Ele imediatamente franziu o cenho, obviamente não gostando de ter escondido aquela parte dele.
— Preciso de ajuda com a fralda. Não preciso que seque os meus peitos com os olhos.
Ele grunhiu ao caminhar para ficar detrás dela. Uau, ele é grande, ela notou mais uma vez, com certeza nunca se acostumaria a fitar um homem de quase dois metros de altura. O foco dele desceu para o seu traseiro coberto e as pontas dos dedos roçaram sua pele bem na cintura quando as deslizou para dentro.
— Eu tentei empurrar para baixo, mas você amarrou muito forte e ela não passa pelos ossos do meu quadril.
Ela ouviu o tecido rasgar conforme ele desfazia cada nó que fez dessa maneira. Os restos da camiseta caíram ao chão. Ela se virou um pouco, olhando para os dedos dele e para a camiseta esfarrapada no chão. Soltou um seio e segurou o dedo dele. Teve cuidado para pegar e evitou a unha afiada. Levantou a mão dele para fitar em choque as suas unhas.
Elas não eram compridas, mas levemente pontudas e obviamente afiadas o bastante para cortarem pano.
— Você devia mesmo cortas às unhas.
Ele grunhiu outra vez.
Ela soltou sua mão e levantou os olhos para ele.
— Obrigada.
O olhar dele desceu pelo seu corpo e ele rugiu outra vez.
— Eu quero você.
Ela se afastou rápido até o boxe do chuveiro.
— Obrigada, mas saia logo. Eu vou me limpar e a médica não está chegando?
Entrou na banheira e fechou firmemente o boxe quase transparente. Ele fez um som parecido com um ronronar quando ela se abaixou para ligar as torneiras. Ajustou a temperatura, decidindo ignorá-lo se estava determinado a observá-la.
— Preciso de roupas, Valiant. Por favor?
— Está bem. — concordou em voz alta, mas soou irritado já que sua voz saiu mais grossa que o de costume. Algo que notou que ele fazia quando ficava com raiva ou excitado.
Ele saiu do banheiro e Tammy relaxou. Impressionava-a que ele a quisesse na condição em que se encontrava. Virou a torneira do chuveiro e ficou surpresa quando olhou para a prateleira cheia de opções. Virou-se para olhar.
Tinha se hospedado em muitos hotéis para esperar amostras individuais. Os Novas Espécies forneciam os produtos completos. Examinou os dois tipos de xampu, dois de condicionador e eles até tinham sabonete líquido. Havia duas lâminas de barbear —uma rosa e outra azul — creme de barbear e pedra-pomes com cabo. Sorriu ao vê-la.
Eles realmente se importavam com os seus hóspedes.
Banhou-se rapidamente e infelizmente achou um corte atrás da cabeça quando o xampu fez arder. Barbeou os pelos das pernas com a lâmina rosa para se demorar mais um pouco e não ter que ficar sozinha com Valiant por muito tempo antes da médica chegar. Sabia que ele a queria e não tinha muita certeza de como lidar com isso.
Secou-se e amarrou uma tolha em volta da cabeça e outra no corpo. Ficou parada por um segundo e suspirou. Estava limpa e não podia se esconder dentro do banheiro para sempre. Abriu a porta e agarrou a toalha com mais força quando entrou no quarto.
— Alguém já conseguiu roupas para mim?
Tammy congelou instantaneamente ao ver que Valiant não estava mais sozinho no quarto. Ela olhou o enorme macho Nova Espécie e a fêmea menor com cabelo loiro e comprido. A mulher era humana e obviamente estava grávida. Três pares de olhos encontraram os seus.
A loira sorriu, aproximando-se.
— Oi. Eu sou Trisha.
— Uma médica. — o homem ao lado dela disse rapidamente. — Eu sou um oficial de segurança. Ela é uma humana visitante que se candidatou ao emprego de médica aqui e é amiga de Justice North.
A mulher franziu o cenho enquanto o olhava com raiva antes de voltar a atenção para Tammy.
— Ouvi falar que você teve uma noite difícil. Lamento se demorou muito para que eu chegasse aqui, mas Slade teve que me acordar e tive que me trocar.
— Eu a acordei porque durmo no quarto ao lado do dela. — o homem alto com os olhos realmente azuis rosnou. — Eu faço a segurança dela quando está aqui.
A mulher o olhou outra vez com o cenho franzido.
— Este é Slade e ele é muito protetor comigo. — A mulher parecia estar se divertindo bastante. — Ele é o meu guarda-costas.
Ele ficou tenso.
— Oficial de segurança.
A médica riu.
— Tanto faz.
Tammy olhou para o homem de olhos azuis. Estava ali vestindo nada a não ser uma toalha e nem era uma das grandes. Mas ele marcou pontos por não ficar olhando para ela naqueles trajes. Voltou toda sua atenção para Trisha.
— Obrigada por concordar em me ver tão tarde ou devo dizer tão cedo, já que é o mais correto.
— O prazer é meu. Os homens vão nos deixar sozinhas enquanto checo os seus ferimentos.
Valiant rugiu.
— Eu não tenho que sair. Já a vi nua. Mande Slade ir embora. Ele não pode vê-la assim.
Tammy olhou com raiva para Valiant.
— Por favor, saia. Não me faça discutir com você na frente dessa médica gentil e grávida e do cara protegendo-a. Ela saiu da cama para vir até aqui me examinar e a última coisa que precisa é nos ouvir lutando outro round.
Valiant rugiu para ela outra vez.
— Pare com isso. — disparou. — Pare de rugir para mim. Eu tive uma noite longa, estou cansada e com dor. Não pode fazer nada que não me leve a discutir com você? Por favor?
Ele saiu do quarto como uma bala. O homem Nova Espécie riu e uma expressão de alegria cruzou as suas feições.
— Só isso já valeu a pena ter o trabalho de me vestir e vir até aqui. — Sorriu um segundo antes de girar nos calcanhares e também deixar o quarto. A porta se fechou atrás dele.
— Obrigada. — disse Tammy. — Eu agradeço. — Ela olhou para a doutora, sabendo que suas bochechas estavam um pouco coradas de vergonha. — Desculpe.
Trisha sorriu.
— Nem se incomode. Eu teria pago para ver alguém desafiar Valiant. — Ela carregava uma bolsa que colocou aos pés da cama. — Por que não me diz onde está doendo e veremos o que eu posso fazer? O que aconteceu com você especificamente?
Tammy se aproximou da cama, hesitou e soltou a toalha.
— Acho que dá para ver. Quatro homens me levaram, meio que me bateram um pouco na caçamba de uma caminhonete, e me arrastaram para a floresta. Eles também me torturaram, mas Valiant e os seus amigos vieram me resgatar. — Girou lentamente para mostrar todos os ferimentos.
— Meu ombro dói e estou mancando. Meu quadril bateu no chão da caçamba quando dois dos imbecis se empilharam em cima de mim. Fiquei presa, então o peso deles piorava tudo quando passávamos por qualquer buraco. — Ela exibiu os pulsos. — Isso é de um cinto que usaram para amarrar minhas mãos nas costas.
A mulher não estava mais sorrindo. Ela deixou Tammy de pé enquanto permanecia sentada na cama e abria a bolsa.
— Me deixe tratar alguns desses arranhões e fazer um curativo neles. — A mulher tocou o quadril de Tammy, tentando sentir alguma coisa. — Desculpe se dói. Eu só quero ter certeza que não tem nada quebrado.
— Não está quebrado, mas com certeza dói.
Tammy ficou lá enquanto a médica colocou algum tipo de pomada nos cortes e fez curativos nos piores. A médica deu alguns sacos de gelo e disse a Tammy que os sacudisse para que ficassem gelados. Trisha se levantou e pediu que Tammy virasse para que pudesse girar seu ombro. Tammy estremeceu.
— Isso é o que mais dói.
— Você tem uns hematomas feios. A sua garganta dói?
— Está desconfortável, mas não acho que tenha ocorrido algo sério. Está dolorida como quando tenho uma gripe leve.
— Vou te dar alguns analgésicos que trouxe para caso de necessidade. Quero que tome dois quando sentir dor e se ficar sem, mande Valiant me ligar. Quero que vá até a clínica médica em alguns dias se a dor no seu quadril ou ombro piorar ou não diminuir. Vamos tirar alguns raios-x.
Tammy assentiu.
— Obrigada. — Ela pegou a toalha e se cobriu. — Eu agradeço de verdade.
Trisha sentou na cama.
— Então, tinha visto Valiant desde o incidente na casa dele?
Tammy quis fazer uma careta, mas suprimiu a vontade.
— Ficou sabendo daquilo?
Trisha assentiu.
— Sim. Slade, Tiger, Justice e eu sabemos que você transou com ele, mas somos os únicos.
— Não. Hoje foi a primeira vez que o vi desde aquele dia. Não posso acreditar que tenha me perdoado por tê-lo apagado com o abajur e ele já fez demais indo atrás de mim hoje.
A voz de Trisha diminuiu drasticamente de volume.
— Você o apagou com um abajur? Achei que ele tinha deixado você ir embora. Tiger não nos contou isso.
— Eu fiz com que desmaiasse.
Um sorriso separou os lábios da mulher.
— Obrigada. — ela sussurrou. — Vou rir muito disso quando for seguro. A audição deles é incrível então sempre tenha isso em mente.
— Obrigada pelo aviso. — Tammy sussurrou de volta.
Ela baixou os olhos para a barriga de Trisha.
— Aposto que o seu marido está muito feliz. É o seu primeiro bebê?
A mulher tocou a barriga com um sorriso e sua voz ficou alta quando falou.
— Eu não sou casada. O cara me engravidou e simplesmente deu o fora.
Um rosnado soou do corredor e alguém bateu na porta.
— Ela está decente? Estou entrando.
Trisha piscou para Tammy.
— Entre, Slade.
Slade parecia furioso quando disparou um olhar raivoso na direção de Trisha. Valiant o seguia de perto. Trisha riu.
— Só estava falando com Tammy sobre o bebê. — Ela deu tapinhas na barriga.
— Quando ele nasce? — Tammy agarrou a toalha com mais firmeza em volta do corpo, tentando não se sentir muito desconfortável por Slade também estar no quarto.
A mulher hesitou.
— Não tenho certeza. Só vou descobrir quando ele decidir nascer.
Tammy tentou entender.
— Eu quis dizer, para quando é?
A mulher hesitou outra vez.
— Estou com cinco meses.
O olhar de Tammy desceu mais uma vez para a barriga enorme da médica. — Uau. Tem certeza que não são gêmeos? Uma das minhas amigas está grávida de oito meses e ela… — Tammy fechou a boca e corou. — Desculpe. Você não está gorda nem nada. Acabei de perceber que o que eu disse poderia ser interpretado de maneira errada. É só que você é tão pequena e sua barriga parece de uma gravidez bem mais avançada. Eu...
Trisha explodiu em risos.
— Pare! Eu não estou insultada nem ofendida. Sei que estou enorme e pareço pronta para explodir a qualquer momento. O pai é enorme e o bebê também.
Tammy ficou feliz por não tê-la ofendido.
— Você ao menos falou com o pai? Deveria forçá-lo a pagar uma pensão. Crianças dão muita despesa nos dias de hoje.
Slade rosnou outra vez. Trisha riu.
— Nós resolvemos as coisas e ele percebeu que foi um idiota em me deixar. Vou fazer com que se case comigo. Eu amo bastante o imbecil, mas ele é meio cabeça-dura, sabe? Trouxe a palavra casamento à tona algumas semanas atrás e ele disse que não era necessário já que já éramos uma família.
— Homens. — Tammy sacudiu a cabeça. — Eles simplesmente não entendem nada.
Trisha riu.
— Verdade. Acho que vou fazer uma greve de sexo.
Tammy sorriu para ela.
— Isso pode funcionar. Também poderia dizer a ele que, se não se casar com você, outra pessoa vai. Você é linda. Tenho certeza que outro homem ficaria feliz de casar com você se ele não for esperto o bastante para selar o acordo.
Slade rosnou novamente. Tammy olhou para ele preocupada. Seu olhar foi para Trisha.
— Tudo bem com ele?
Trisha passou para Tammy um pote de remédios.
— Ele fica mal humorado quando o acordam, mas vai ficar bem. Mandarei ele para o quarto de hóspedes quando voltarmos para onde estou hospedada e ele pode tirar um cochilo lá. Foi ótimo te conhecer, Tammy. Peça para Valiant me chamar se precisar de qualquer coisa. Talvez um dia essa semana possa vir almoçar. Será muito bom conversar com outra mulher.
Tammy sorriu.
— Eu gostaria se ainda estiver aqui. Obrigada outra vez, Trisha. Foi muito bom mesmo te conhecer.
Trisha se virou para estudar Tammy.
— A propósito, Tiger interferiu com o seu depoimento desta noite. O xerife virá pela manhã. Espero que esteja tudo bem, mas eu disse a ele que você precisava descansar. Pedi que dissesse ao xerife que você já foi medicada e ele voltará às nove da manhã para falar com você.
— Isso é ótimo. Obrigada. Estou meio exausta.
Trisha parou ao lado de Valiant.
— Ela tem uns hematomas feios. Seja gentil com ela e garanta que descanse bastante. Ela precisa de dois analgésicos a cada quatro ou seis horas, dependendo de com quanta dor estiver. Faça com que coma antes de tomá-los.
— Obrigado. — Valiant hesitou antes de abrir os braços.
Trisha riu quando o abraçou.
— Está aprendendo.
Ele recuou.
— Não é tão ruim. Você ainda tem um cheiro bom.
Aquelas pessoas eram muito esquisitas. Tammy observou quando a mulher deixou o quarto. O seu oficial de segurança a estapeou de repente no traseiro quando saiu com ela no corredor. Trisha pulou, virou a cabeça e riu para o homem enorme que a seguia antes que sumissem de vista. Tammy olhou Valiant de boca aberta. Ele se moveu de repente, bloqueando sua linha de visão.
— O cara da segurança acabou de dar um tapa na bunda dela?
Valiant sorriu.
— Sim.
Tammy sacudiu a cabeça.
— O namorado dela pode não gostar que ele faça isso.
Valiant encolheu os ombros, sorrindo.
— Não acho que vá achar ruim. Ele e Slade são muito próximos. — riu.
Tammy deixou aquela declaração passar, sem querer fazer perguntas indiscretas demais.
— Já tenho roupas?
— Elas estão no outro quarto.
— Poderia me trazê-las, por favor?
— Não precisa delas. — Valiant foi até a cama e tirou os cobertores de cima. — Solte a toalha e venha para a cama. Está tarde e precisa dormir. Vou pegar um copo d’água para que tome o seu remédio. Você comeu hoje à noite ou devo pedir que tragam comida?
— Eu comi. — Ela hesitou. — Poderia ao menos se virar?
Ele virou. Tammy soltou a toalha e subiu na cama. Puxou as cobertas até os ombros.
— Acabei.
Valiant caminhou até o banheiro. Voltou com um copo d’água. Tammy ainda segurava o pote de remédios. Engoliu dois analgésicos com a bebida. Valiant colocou o copo no criado-mudo.
— Está cansada?
— Sim. Acabada.
Ele piscou.
— Acabada significa cansada?
Ela assentiu.
— Gíria não é muito a sua não é?
— Estou aprendendo. Cresci cercado por médicos, técnicos de laboratório e guardas. Temo que o meu vocabulário seja limitado ao que me ensinaram. Não fui muito exposto a eles como alguns dos outros foram. Eu era diferente.
Ela franziu o cenho.
— Sabe ler?
— Sim. Aprendi depois que me libertaram nos meses que passamos nos escondendo e esperando que o nosso lar fosse arrumado.
Ele sentou aos pés da cama.
— A maior parte do meu povo foi ensinada antes, mas eu era proibido de qualquer interação com humanos. Era uma perda de tempo de acordo com eles. Só queriam me manter vivo por eu ser muito forte e mais parecido com um animal que a maioria.
Tammy o olhou sem falar nada. Estava chocada demais para sequer responder. Valiant parecia um pouco triste quando olhou em seus olhos.
— Quanto você sabe sobre Novas Espécies?
— Só o que vejo na TV e que leio de vez em quando nos jornais. Sei que uma companhia farmacêutica fez pesquisas ilegais em vocês e que finalmente foram descobertos. Sei que eles fizeram vocês parte humanos e parte animais. Bem, basicamente isso, além de que vocês têm uma Homeland ao sul, perto de Los Angeles e que abriram esse local aqui recentemente. — Ela encolheu os ombros.
Valiant suspirou.
— Nós fomos modificados com DNA de animais diferentes. Alguns mais que outros, como eu. Eles cometeram erros e eu sou um deles. — Raiva endurecia a sua expressão enquanto a avaliava, parecendo esperar uma reação.
Tammy fitou os seus olhos exóticos.
— Um erro? Eu não entendo.
— Sou diferente. — meus traços animais são mais dominantes do que os humanos.
Ela olhou para seu rosto, checando seus olhos, nariz, boca e maçãs.
— Você parece mais com um Nova Espécie do que a maioria.
— Não é apenas a minha aparência. Meus instintos são mais fortes que os da maioria do meu povo.
— O que isso quer dizer? — Ficou feliz por estar sentada, pois quase temia ouvir o que ele queria compartilhar com ela.
— Sou mais animal do que homem. É o único jeito que posso explicar. Os “erros” das instalações de pesquisas como eu eram treinados para serem agressivos, para lutarem e suportarem bastante dor. Éramos considerados descartáveis e, portanto, éramos altamente abusados em seus experimentos com drogas novas. Eles testavam as mais perigosas em nós. Éramos inúteis para qualquer outro propósito que tivessem.
Ela teve um daqueles raros momentos onde não conseguia formas palavras. Valiant tinha um talento para deixá-la sem palavras.
— Eles fizeram vários testes de drogas na maioria dos Novas Espécies. Esperavam obter lucros enormes com drogas que aumentam o desempenho físico ou que deixariam atletas e soldados mais fortes, mais rápidos e melhores. Eles os treinavam para demonstrar o que as suas drogas podiam fazer. Eles eram valiosos. As falhas não. Tentaram umas experiências de procriação comigo, mas decidiram depois de algumas tentativas sem sucesso que não queriam mais reproduzir mais dos nossos.
— Experiências de procriação? — Ela verbalizou a pergunta, mas não tinha certeza se queria mesmo ouvir a resposta.
— Eles traziam algumas fêmeas para a minha cela para procriarem comigo para ver se eu conseguia emprenha-las. Os outros machos não tinham produzido resultados. As experiências falharam comigo também.
Tammy tentou com todas as forças esconder seu horror. Sabia que não tinha feito um bom trabalho quando Valiant baixou o olhar e os ombros. A tristeza em seu rosto rasgou seu coração. Ele não teve escolha alguma, foi horrivelmente abusado, foi uma vítima.
Valiant se recusava a continuar a olhar para os lindos olhos de Tammy. A repulsa que viu neles o magoou profundamente. Queria ser honesto com ela contando-lhe tudo sobre sua vida. Sua companheira precisaria saber. Não seria justo pedir que passasse a vida com ele se tivesse segredos. Olhou para o cobertor cobrindo o seu colo.
— Temos sentidos mais elevados, olfato, audição, e a nossa visão é melhor do que a da maioria dos Espécies. Somos mais fortes, mais rápidos, e até a nossa inteligência era mais elevada em alguns casos. Éramos protótipos experimentais que falharam e para compensar suas perdas eles até tentaram nos transformar em máquinas de matar perfeitas. Queriam aniquilar a nossa humanidade para que pudéssemos ser treinados como animais puros que seguiriam as suas ordens. Não funcionou muito bem para eles quando não cedemos. Ao invés disso, lutamos contra eles, matávamos quando tínhamos chance e nos recusávamos a fazer sua vontade. Ainda estavam trabalhando conosco quando fomos descobertos e libertados.
— Tentaram converter você em um assassino? — Ela sussurrou as palavras.
Ele levantou os olhos e a fitou.
— Por favor, não me olhe assim. Eu sei como lutar e matar. Não significa que sou uma máquina de matar. Eles tentaram salvar as falhas nos tornando lutadores em sua maior parte e já que éramos tão impressionantes de se ver, acreditavam que isso poderia gerar algum lucro. Eles queriam que eu fosse o… — Ele pausou. — O modelo Nova Espécie das falhas que pretendiam vender. Eu não aceitei.
— Modelo?
— Para nos vender. — A voz de Valiant se apertou. — Países de terceiro-mundo, exércitos privados de ricos fanáticos, ou para quem quer que estivesse disposto a pagar uma fortuna por um animal que podia falar e matar de maneira eficiente sob comando. Para a nossa sorte, nunca aceitamos ordens muito bem. Tínhamos defeitos demais para que, de fato, nos colocassem no mercado à venda. — Ele deu de ombros. — Pelo menos a maioria de nós. Descobrimos agora que algumas das nossas mulheres foram vendidas.
Tammy o olhou com horror.
— Então algumas das suas mulheres estão por aí sendo forçadas a matar pessoas?
Ele sacudiu a cabeça.
— Eu não sei exatamente que DNA foi usado em mim. Pode ter sido o de múltiplas espécies de felinos grandes devido à minha aparência e habilidades, mas achamos que o de leão é o mais óbvio. Os registros deles que tinham a ver com o modo com que éramos criados foram destruídos. A maioria dos nossos protótipos experimentais foi alterada com DNA de espécies conhecidas por serem bons rastreadores, caçadores fortes e lutadores. Caninos. Felinos. Primatas. Descobrimos que algumas das nossas fêmeas foram misturadas com um DNA animal mais fraco para torná-las menores e menos agressivas. Elas foram vendidas para fornecer o capital para continuar com os testes.
— Vendidas para quem e para quê?
Valiant parecia furioso.
— Vendidas para quem quer que desejasse fazer doações generosas para as Indústrias Mercile. Eles as chamavam de Presentes e em troca a grandes somas de dinheiro e ajuda no encobrimento do que estavam fazendo para evitar serem pegos, eles as entregavam a humanos. Eles deram as nossas mulheres àqueles bastardos como escravas sexuais. Recuperamos alguns corpos e algumas fêmeas ainda vivas.
Tammy engoliu em seco e lágrimas encheram os seus olhos.
— Nunca vi nada disso nos jornais. Meu Deus. Isso é terrível. Essas pobres mulheres.
— Não iria ver isso nos jornais. Justice acha que se a imprensa tornar isso público, os homens que estão com elas lhes matarão imediatamente para destruir qualquer evidência de que já mantiveram uma. Justice e o seu governo estão rastreando registros financeiros e cumprindo mandados de busca e apreensão para encontrar as que estão faltando. Não sabemos os números devido à destruição dos registros, mas encontramos mais uma há poucas semanas atrás.
Ela estendeu o braço e seus dedos tocaram as costas da mão dele.
— Isso é horrível. É simplesmente doentio, não é? Coitadas dessas mulheres. — Fez uma pausa. — Espero que todas sejam encontradas.
Ele assentiu seriamente.
— Também esperamos. Estamos livres e nos incomoda saber que alguns dos nossos ainda estão sendo atormentados e confinados.
— Não tem como recuperar as informações para encontrá-las?
— Quando as instalações de testes foram invadidas pelos oficiais do seu governo, alarmes onde ficávamos escondidos foram acionados. Os funcionários começaram a atear fogo nas salas de registros e a destruir os computadores que continham informações. Também começaram a matar o nosso pessoal. Alguns morreram, mas a maior parte sobreviveu. Pouquíssimos registros foram salvos.
— Odeio dizer isso, mas provavelmente isso é uma coisa boa. Você sabe como funciona. Alguém poderia se apoderar dessas informações e usá-las para começar tudo isso de novo. Vocês são muito impressionantes. Aposto que aquela empresa ficaria tentada a recomeçar em novas instalações com novas pessoas de cobaias.
Ele estremeceu.
— Um médico que foi preso nos disse que a pesquisadora-chefe que nos criou destruiu essa informação. Ela não concordou com o que a Mercile planejava fazer conosco depois que teve êxito em nossa criação e desapareceu, levando o conhecimento consigo. É por isso que eles começaram as tentativas de procriação. Espero que ninguém nunca consiga repetir o que foi feito conosco. Pensar nisso já nos dá pesadelos suficientes. Estamos tentando destruir financeiramente as Indústrias Mercile. Ganhamos em suas cortes várias vezes em questões financeiras e o seu governo já colocou vários deles na cadeia.
— Também é o governo de vocês. Vocês são Americanos, não são?
Ele assentiu.
— Sempre estivemos separados. É difícil tentar pensar de outra forma. É por isso que Justice e o nosso conselho lutaram tanto pela nossa independência adquirindo Homeland e usaram o dinheiro que ganhamos nos processos judiciais para comprarem a Reserva.
— Ouvi falar que vocês têm algo parecido à imunidade diplomática em Homeland e aqui também. Um cara novo disse que era similar a um consulado e que vocês têm suas próprias leis e sistema de justiça.
— Acredito que sim. O seu governo não pode nos invadir nem nos forçar a nos submetermos às suas leis. Não nas nossas terras.
— Então, eu meio que estou em outro país agora, hã?
Ela sorriu de repente.
— E sequer tenho um passaporte. Pode ficar mais legal que isso?
Ele lutou contra um sorriso. Ela ficava adorável quando sorria e ele resistiu à vontade de estender a mão e tocar o seu rosto. Estudou o machucado em sua bochecha e lutou para conter a raiva pelo que os humanos a fizeram.
— Isso é legal?
— Acho que sim.
Prendeu seu olhar.
— Quero beijar e tocar você. Deixe-me fazer isso, Tammy.
O sorriso dela morreu quando ela o fitou, mordendo o lábio.
— Eu não sei.
— O que você não sabe? Machuquei você da última vez? Não gostou do meu toque? Eu sei que gostou. — Esperança ardia dentro dele de que estivesse tentada a ceder. Ansiava tocá-la novamente.
Tammy não podia negar. O tempo que passou no quarto de Valiant tinha lhe assombrado por cinco semanas. Ele a virou do avesso. Quando a tocava, ela perdia a habilidade de pensar. Ele pareceu aceitar o seu silêncio como concordância quando se aproximou lentamente. Estendeu a mão e acariciou o lado não machucado do seu rosto.
— Eu nunca a machucaria.
Ela acreditava nele. Tinha a aterrorizado quando se conheceram pela primeira vez, mas depois do que ele contou sobre os Novas Espécies, entendia que aquilo não foi sua intenção. Ele tinha instintos e necessidades que a maioria das pessoas não tinha. Tinha lhe desejado e possuído. Era meio sexy.
As mãos de Valiant se afastaram quando ele se levantou para tirar os sapatos. A próxima coisa que fez foi desabotoar a calça. Tammy não protestou quando o viu tirá-la. Outra vez sem cueca. Fitou um Valiant nu com um pouco de medo. O cara era tão grande. Baixou os olhos. Grande em todos os lugares. Forçou o olhar para o seu rosto.
Valiant se abaixou, agarrou o cobertor que a cobria e o puxou para os pés da cama. Tammy ficou tensa, mas não tentou usar o travesseiro para esconder o corpo. Os olhos de Valiant varreram cada pedacinho de pele exposta, que era toda a parte que não estava em contato com o colchão. Ele rugiu de repente de modo violento. Fez com que arregalasse os olhos e seu coração acelerasse.
— Eu quero matar todos os que te atacaram. Olhe o que fizeram com o seu corpo lindo. Isso me enfurece. Quero rasgá-los com as próprias mãos e vê-los morrerem uma morte dolorosa.
— Eu estou bem.
— Ainda assim quero matá-los. Teria me banhado no sangue deles se tivessem estuprado você.
Ela o fitou. Nojento. Mas a intenção era doce. Acreditava nele. Bem, na parte de que queria matar aqueles homens. Valiant colocou os joelhos na cama e se agachou lentamente em cima de Tammy. Ela levantou os olhos. Ele prendeu o seu olhar, mas não tocou nela.
— Você ficará comigo para sempre e ninguém nunca mais lhe fará mal.
Ela não o corrigiu. Não poderia ficar com ele indefinidamente. Teria que voltar para a vida que levava em breve. Lambeu os lábios. Valiant observou sua língua e grunhiu. Ele se mexeu, recuando na cama em direção aos seus pés. Perguntou-se se ele tinha mudado de ideia sobre querer transar com ela até que ele parou quando o rosto ficou no nível da sua barriga.
— Abra as coxas para mim.
Ela as abriu. Valiant agarrou seus tornozelos, tirou-os do caminho e recuou mais até sentar-se nas pernas no lugar onde as delas tinham acabado de estar. Desceu suas pernas até as costas de suas coxas descansarem em cima das dele. Alguns centímetros separavam seu quadril do dele enquanto a estudava com o olhar da cabeça até a boceta.
— Você é tão pequena comparada a mim. Sempre tenho medo de te machucar sem querer.
Sim, ela concordou em silêncio, entendo esse medo. Ele tinha o dobro do seu peso e era trinta centímetros mais alto. Seu peitoral era maciçamente amplo e quando olhou para os braços musculosos, sabia que se os comparasse às suas coxas, sairiam ganhando por alguns centímetros.
— Confie em mim que não vou machucá-la.
Ela decidiu usar humor.
— Eu estaria gritando agora se achasse que fosse.
Ele sorriu.
— Quero que grite, mas não de terror por mim.
Tammy de repente usou os cotovelos para levantar o corpo e dar uma olhada melhor nele. Apreciou a visão sexy da sua pele bronzeada e do seu corpo belamente esculpido. Ele grunhiu outra vez antes que um ronronar baixo saísse de sua garganta.
— Esses sons são bons ou maus?
Ele lhe deu um sorriso.
— Estou decidindo o que quero fazer com você primeiro.
— Quais são as opções disponíveis?
Seu sorriso aumentou, revelando mais dos seus dentes afiados.
— Eu rugi quando pensei em virá-la de bruços e montá-la por trás. Montá-la rápido e com força faz o meu sangue ferver. Ronronei porque senti vontade de te comer. Gostaria de lamber a sua boceta até ter outra vez o seu gosto na minha língua.
Seu coração martelou e seu corpo esquentou.
— Podíamos fazer os dois.
Ele assentiu.
— Ótimo plano.
Tammy o olhou quando se levantou e trocou sua posição para se deitar de bruços até suas pernas ficaram penduradas para fora da cama. Ele ajustou seus pés para que descansassem nos ombros largos, seus joelhos dobrados. A língua dele saiu e os olhos se prenderam aos dela. Lambeu o ossinho do seu quadril.
Ela respirou de forma entrecortada. A língua do cara não parecia humana. Era macia, mas meio áspera. A sensação era estranha, mas de um jeito muito, muito bom que a deixava mais excitada ainda. Ele abriu a boca e raspou os dentes afiados na curva do seu quadril com gentileza. Tammy respirou de maneira instável outra vez quando o desejo começou a queimar dentro dela. Realmente queria que descesse mais, a lembrança da boca dele era algo que jamais iria esquecer.
Valiant de repente pôs as mãos debaixo dela e agarrou seu quadril para coloca-la na posição que queria. Inclinou-se para frente. Os ombros dele eram largos e abriram suas coxas mais ainda, dando-lhe espaço para a boca.
— Estou ficando impaciente. Paciência não é o meu ponto forte. — rugiu ele. — Eu sei que você merece mais preliminares, mas eu a desejo demais.
— Ok. Não estou reclamando e quero mesmo que vá logo com tudo. — Ela sabia que corava por ser tão direta, mas realmente queria que ele tocasse o seu clitóris latejante, que parecia ter criado um coração.
Ele levantou seu traseiro da cama. Ela caiu para trás e sua cabeça atingiu o travesseiro. Ele a abriu mais ainda e sua língua maravilhosa começou a lambê-la. Tammy apertou os olhos com força e gemeu de prazer. Valiant não provocava. Ele mirava direto no lugar gostoso. Nada de se aventurar ao redor. Nada de provocar e lambê-la em qualquer outro lugar que não fosse no feixe sensível de nervos. A língua dele o pressionou com força e começou a se mover, esfregando-o com força suficiente que a assegurava que não aguentaria por muito tempo. Ele parecia saber o ponto exato que enviava um prazer indefinível diretamente ao seu cérebro.
Tammy enterrou as unhas nos lençóis, seus mamilos endureceram e gemidos rasgavam de sua garganta. Valiant rugiu quando ela gemeu mais alto. Meu Deus! A língua dele é um vibrador. Os lábios se fecharam sobre o seu clitóris e ele começou a chupá-la com a língua vibrando. Seu corpo ficou tenso até que ela se perguntou se suas costas rachariam. Um grito emergiu dela quando gozou tão forte que quase desmaiou.
Valiant levantou a cabeça. Tammy ofegava. Nem conseguia abrir os olhos. Seu corpo tinha aquela sensação de flutuar, mole como um espaguete cozido, impossível de se mover nem se a cama pegasse fogo quando espasmos do orgasmo ainda contraíam os músculos da sua vagina. As mãos dele a agarraram e então ela ofegou quando a virou facilmente de bruços.
Tammy se forçou a abrir os olhos quando Valiant agarrou o seu quadril e o ergueu. Ele a colocou de joelhos na cama. Sua força provavelmente deveria tê-la assustado, mas não teve receio quando a cama afundou com o peso dos joelhos dele assim que se mexeu atrás dela, abriu as pernas além das suas e as prendeu para mantê-las no lugar.
Ela tentou se posicionar para se segurar nas mãos, mas não tinha energia para isso. Valiant rosnou. Um som selvagem e animalesco quando a crista grossa do pênis dele pressionou a entrada da sua vagina. Uma das mãos continuou segurando o seu quadril para firmá-la no lugar enquanto ela assumia que a outra segurava a ereção para garantir que não deslizasse por estar tão molhada do orgasmo que lhe deu.
Seu corpo sacudiu quando Valiant entrou devagar nela, avançando, forçando as paredes da sua vagina a estirarem para recebê-lo. Ela gemeu com a sensação maravilhosa de ser preenchida. Não tinha certeza se conseguiria suportar a intensidade daquilo com o orgasmo ainda vibrando pelo seu corpo, mas ele não lhe deu chance quando afundou mais dentro dela. Um arrepio de tesão a surpreendeu. Não tinha percebido como ficava excitada ao se sentir indefesa enquanto ele assumia total controle da situação.
Seu clitóris estava um pouco hipersensível depois do que fez, mas ele não lhe deu tempo para se recuperar. A mão em seu quadril deslizou por sua pele para segurá-la em volta da cintura. A outra agarrou seu seio e apalpou. Ela gritou de surpresa com o quanto os seus mamilos estavam sensíveis do abuso que sofreu mais cedo. Mas ele não os beliscou, ao invés disso os dedos massagearam o montículo.
— Sensíveis. — ofegou ela.
Ele o soltou instantaneamente e agarrou seu quadril com as duas mãos. Retirou-se quase que totalmente de sua vagina, mas deslizou devagar dentro outra vez, bem fundo. Ela gemeu, encorajando-o enquanto ele trabalhava com o pênis para dentro e para fora, fazendo com que o tomasse cada vez mais. De repente ele tirou uma mão do seu quadril e se apoiou no colchão ao se pôr acima dela. O quadril dele espancava a sua bunda quando ele pareceu perder o controle. Investiu nela mais rápido, com força e bem fundo. Rosnados que combinavam com os seus gritos ofegantes de prazer saíam de sua garganta.
Tammy perdeu a habilidade de pensar. A sensação dele dentro dela tinha que ser a melhor do mundo, superior até do que a língua lambendo-a até gozar. Apreciou cada pedacinho duro que nem rocha dele entrando e saindo de sua vagina enquanto emitia sons que nunca emitiu antes.
A mão de Valiant em volta da sua cintura se moveu e ele deslizou o polegar entre os seus grandes lábios, pressionando o lado dele em seu clitóris e fodendo-a com mais força. O atrito em seu clitóris já supersensível e inchado foi demais.
Outro orgasmo se formou, seus músculos internos apertaram o pênis em movimento e a sua mente explodiu quando o prazer rasgou outra vez. Gritou o nome dele, gozando forte, e Valiant rugiu devido ao seu próprio gozo. Ele esfregava o quadril em sua bunda, enterrou o pênis nela fundo e um calor se espalhou em seu interior quando ele continuou gozando.
Valiant grunhiu baixinho com cada sacudida que seu corpo vivenciava enquanto seu sêmen explodia dentro dela, até cair na cama com ela ainda nos braços.
Tammy ofegava, os olhos fechados, e um sorriso curvando os lábios enquanto seus músculos ainda o apertavam, contraindo-se ao redor do seu membro. Ele se aconchegou mais perto, beijou-lhe a curva do ombro e aquela foi a última coisa que se lembrou.
Valiant abraçava Tammy, envolveu o corpo ao redor do dela para dormir de conchinha, e correu os dedos por sua pele para garantir que não estava com frio.
A respiração dela diminuiu o ritmo, ele sabia que tinha dormido, e tentou não se sentir culpado. Ela passou por muita coisa, mas não conseguia se arrepender de tê-la possuído.
Ela é minha e nunca permitirei que me deixe. Não poderia sobreviver sem ela. Aquela compreensão o atingiu em cheio. A mulher em seus braços significava aquilo tudo para ele. Ela conseguiu a única coisa que alguns dos humanos mais cruéis e maldosos com quem tinha lidado jamais foram capazes de conseguir. De repente conheceu o terror ao pensar em perder algo com que se importava tanto assim. Apertou os braços em volta dela e jurou que lhe mostraria que o seu lugar era com ele.
Ele a faria feliz. Daria o que comer, preencheria todas as suas necessidades e teria que ver o quanto significava para ele. Enfiou o nariz em seu cabelo molhado, apreciando tê-la tão perto de si.
Mostraria a ela que ele era o macho certo. Um bom protetor, um amante que procuraria o seu prazer, e queria lhe fazer sorrir o tempo inteiro. Amava quando ela ria, o jeito que os seus olhos azuis cintilavam, e o som era contagioso. Deixava-o feliz. Ela o fazia feliz.
Não posso perdê-la. Simplesmente não posso.
Isso é tão gostoso, foi o primeiro pensamento de Tammy. Ela sorriu, tendo o melhor sonho de todos, onde estava deitada de lado com um corpo enorme e quente pressionado em suas costas.
Alguém mordiscou seu ombro e uma língua quente e maravilhosa provocou o lugar. Estremeceu. Uma respiração morna fazendo cócegas em sua pele quando dentes rasparam gentilmente, criando uma explosão elétrica por seu corpo. Ela gemeu.
Uma mão deslizou do seu quadril para a parte interna de uma coxa, agarrou-a e abriu suas pernas. Ela grunhiu de prazer quando um pênis duro e grosso provocou o seu clitóris, e então desceu o suficiente para entrar em sua vagina com uma investida lenta e fluida. Ela agarrou o braço ligado à mão que segurava sua perna, só para ter algo em que se segurar.
Valiant deslizou mais fundo nela e um ronronar sexy vibrou de sua boca próximo à sua orelha. Ele começou a fodê-la devagar e ela gemeu mais alto. A mão agarrando sua perna a ajustou mais para cima e ela prendeu o pé detrás da coxa dele. Ele a soltou para trilhar da coxa até o clitóris onde seus dedos desenharam círculos em cima do broto inchado. Ela jogou a cabeça para trás no peito de Valiant e mexeu o quadril para encontrar suas investidas. Não estou sonhando. Aquilo era bom demais para não ser de verdade.
Tammy abriu os olhos. Ela gemeu e suas unhas se enterraram nos lençóis e na pele dele onde segurava seu braço. Valiant colocou a perna entre as dela para se enterrar mais fundo em sua vagina e manteve o ritmo constante e lento que começava a deixá-la fora de si. Sua respiração ficou cortada e os mamilos endureceram. Seu corpo ficou tenso e ela rebolava contra ele com mais desespero, procurando o orgasmo.
— Mais rápido. — implorou.
— Ainda não. — ele grunhiu.
Tammy agarrou a cama mais forte para se firmar mais no lençol e balançou o quadril, empurrando para trás. Ele grunhiu quando deslizou dentro dela mais rápido e com mais força. Seu dedo acompanhou as investidas, deslizando pelo feixe de nervos rapidamente, aplicando mais pressão. Ele sabia exatamente do que ela precisava quando arremetia o pênis dentro dela e manipulava o clitóris para fazê-la gozar.
Os músculos de Tammy se contraíram, o êxtase se tornando tão intenso que era quase demais, e ela gritou, sacudindo-se violentamente contra Valiant com ele enterrado profundamente em sua vagina quando o clímax explodiu dentro dela.
Valiant rugiu. A mão dele abandonou o clitóris e agarrou seu quadril. O dele dava solavancos. Seu corpo ficou tenso e ele pareceu se transformar em pedra atrás dela quando cada músculo do corpo se contraiu. Relaxou de repente quando o orgasmo acabou.
Ela sorriu quando um calor se espalhou dentro dela, achando incrível poder senti-lo ejaculando dentro do corpo quando nunca havia experimentado aquela sensação com outros homens. A cada jato, ele estremecia um pouco e a apertava mais nos braços. Era gostoso e calmante o modo em que o coração dele se derramava dentro dela depois de fazerem amor. Sorriu. Valiant mordeu seu ombro.
Tammy deu um gritinho.
— Ei. Cuidado com os dentes.
Valiant lambeu o local em que seus dentes tinham marcado a pele sem se afundarem nela.
— Desculpe.
Ela virou a cabeça para olhar para o homem que sempre lhe dava um sexo tão intenso e decidiu que ele parecia muito sexy pela manhã. O cabelo estava bagunçado, sua juba selvagem ainda mais cheia, e ele tinha um brilho preguiçoso e feliz nos lindos olhos. Eles realmente a lembravam ouro derretido e isso era absolutamente fascinante. Havia traços de diferentes tons de amarelo quando estudou suas íris de perto. Ele tinha uns olhos que ela ficaria feliz de fitar para sempre.
— Por que me mordeu? — Não estava chateada, só curiosa.
— Foi por ter dormido e me deixado assim ontem à noite. Eu queria… — fez uma pausa. — Fazer amor com você de novo, mas estava morta para o resto do mundo.
— Estava cansada. Você acabou comigo, delícia.
As sobrancelhas dele arquearam e franziu o cenho.
— Não entendo. Isso não é um termo humano que significa matar? Achei que tinha gostado do sexo. Você pareceu gostar. Me certifiquei em te dar prazer.
Ela riu.
— Eu não quis dizer desse jeito. O que quis dizer foi que você me deixou esgotada.
Ele sorriu.
— Entendo. Gosto de acordar e toma-la. Acho que devíamos fazer isso todas as manhãs.
— Eu poderia viver com isso. — Ela sorriu para ele. — E também não me importaria de ir para a cama toda noite do jeito que fomos ontem, todos os dias.
— Posso fazer isso. Somos conhecidos pela nossa força e resistência. Estamina. Tenho bastante disso. Meus desejos sexuais são bem ativos. Sempre estou pronto para montar você.
Ela o fitou, percebendo que ele falava sério.
— Ativos quanto?
Ele estudou seu rosto.
— Tenho necessidade de transar todos os dias, sete dias por semana, todos os dias do ano. Poderia fazer mais. Poderíamos vir para a cama depois das refeições e ficar nela até a próxima. Quer fazer de novo?
Ela o olhou de boca aberta.
— Eu não sobreviveria. Teria que me enterrar se ficássemos na cama todos os dias do ano e só parássemos de transar para dormir e comer. Sou apenas uma humana, Valiant. Você me mataria.
A mão dele deslizou pelo seu seio, apalpando-o.
— Poderia revivê-la.
Ficou tensa, mas notou que o seu mamilo não doía mais. A carícia dele era muito gentil e de fato gerava uma sensação gostosa.
— Ok. Nunca mais conseguiria andar.
Ele riu e afastou o corpo enorme do seu, retirando lentamente o membro ainda ereto da sua vagina.
— Você é frágil. Tenho que lembrar disso. Não quero te machucar. — Ele a soltou completamente e saiu da cama. — Já fiz com que apagasse. Agora devo alimentá-la.
— Estou morrendo de fome. — Ela sentou e deu uma olhada no relógio ao lado da cama. — Uau! Já são oito horas.
Valiant a olhou.
— isso é relevante?
— Eu devo falar com o xerife as nove, lembra? Isso mal me dá tempo para tomar um banho e me arrumar antes de ter que dar o meu depoimento.
— Você vai comer. Pode tomar o banho enquanto peço a comida. Ele a interroga enquanto você come ou pode esperar até que termine. — Valiant estreitou os olhos. — Precisa de muita comida. Você é pequena e precisa de mais até que fique maior e mais robusta.
Ela o olhou.
— Está tipo, querendo me engordar? É isso o que você quer? Me deixar gorducha?
Ele sorriu.
— Não tenho acordos com bruxas se é que existe alguma2. Não tenho planos de engordá-la para que possa enfiá-la num forno e comê-la.
2 Referência à história infantil João e Maria.
— Qual é a sua com contos de fadas, hein? Você os conhece. Eu achei que era a única esquisitona que os conhecia. — Ela riu.
Ele hesitou.
— Me contavam muito essas histórias quando era criança. A pessoa que cuidava de mim disse que eu poderia aprender muitas coisas com elas. Memorizei todas.
Parte do seu coração se partiu por Valiant. Ela saiu da cama sem hesitação e caminhou até ele. Jogou os braços em volta dele, abraçando-o com força. Eles ficaram na porta do banheiro, nus, abraçando um ao outro.
— Por que estamos nos abraçando? Está me agradecendo pelo sexo que tivemos?
— Não. — ela riu. — Estou te abraçando por que… — Não queria admitir que sentia pena da infância triste que levou. — Porque quis te abraçar. Gosto de estar nos seus braços.
O aperto dele se intensificou.
— Pode me abraçar sempre que quiser Tammy.
Ela o abraçou por um bom tempo antes de se afastar para sorrir para ele. — Vou dar um pulo no chuveiro. Preciso de roupas.
— Estava indo pegá-las. Voltarei logo.
Ela entrou no banheiro e ligou o chuveiro. Um suspiro contente saiu de seus lábios quando a água quente correu pelo seu corpo. Pegou o xampu. Segundos depois um Valiant nu abriu o boxe do chuveiro e também entrou. Tammy riu, afastando-se para lhe dar espaço.
— Alguém já disse que você ocupa muito espaço?
Ele sorriu.
— O tempo inteiro. Vire-se e eu lavarei o seu cabelo.
Ela sacudiu a cabeça, mas sorriu.
— Tenho que comer e falar com o Xerife. Vou lavar o meu cabelo e você lava o seu. Cuidados com essas mãos, Valiant. Você me toca e eu paro de pensar.
— Mas...
Sorriu outra vez.
— Se comporte.
O sorriso dele morreu e ele assentiu firme.
— Está bem.
Eles se esfregaram quando trocaram de lugar para permitir que Tammy enxaguasse o cabelo. O corpo de Valiant respondeu. Ela sorriu ao ver o pênis crescendo, endurecendo, até apontar em sua direção.
— Essa é a sua ideia de se comportar? Poderia machucar alguém com essa coisa.
Ele riu.
— Podia me deixar te levantar e fodê-la contra a parede bem aqui. Isso faria com que eu me comportasse muitíssimo bem.
Tammy sacudiu a cabeça.
— Eu já estou mancando e não só por causa do meu quadril machucado. Está tentando me matar, não está?
— Não. — Ele franziu o cenho, todos os traços de humor desaparecendo de suas feições.
— Eu estava brincando. Foi uma piada. — Ela procurou o pote de sabonete líquido. — Escore-se na parede.
Ele franziu o cenho, mas se afastou. Tammy colocou um pouco do sabonete nas mãos e colocou o pote no lugar. Começou pelos seus ombros e suas mãos esfregaram o corpo dele. Grunhiu quando ela alcançou seus mamilos. Um som muito sensual vinha dele agora que começava a aprender a diferença entre excitação e raiva quando fazia aqueles ruídos. Os mamilos endureceram sob seus dedos e palmas quando os massageou.
— Você está tentando me matar. — grunhiu.
Ela riu.
— Ainda não.
Suas mãos desceram pelo estômago e quadril e se fecharam ao redor do membro. Valiant grunhiu mais alto, fechando os olhos. Tammy se aproximou mais até o corpo roçar no dele. Usou as mãos, esfregando e massageando seu pênis, aumentando a velocidade quando Valiant começou a respirar com dificuldade. Rugidos e ronronares saíam de sua garganta.
Tammy se aproximou ainda mais, até que a cabeça do pênis dele tocasse em sua barriga conforme o acariciava com mais rapidez, as mãos apertando o suficiente para fazê-lo reagir ficando ainda mais ereto. Ele de repente ficou tenso, jogou a cabeça para trás, e um som alto e incomum saiu rasgado de sua garganta. Não bem um rugido, mas perto. Tammy inclinou mais o corpo, garantindo que o sêmen quente jorrasse em sua barriga quando prendeu seu membro entre as mãos. Valiant se sacudia levemente depois do gozo.
— Melhor?
Ele abriu os olhos e curvou os lábios em um quase sorriso.
— Sua vez.
Tammy riu, soltando-o.
— Ainda não. Tenho que terminar o meu banho e me vestir. Preciso comer e ter aquela conversinha com o Xerife Cooper. Pode devolver o favor depois que ele tiver ido embora.
— Você está excitada. Posso sentir o cheiro. — Ele tocou seu quadril.
— Não! — Ela riu. — Quer dizer, sim, estou excitada. Você me excita, mas não temos tempo agora.
Ele suspirou.
— Esse xerife significa mais para você do que eu?
Tammy tinha se virado na direção do jato d’água para lavar a frente do corpo. Olhou Valiant por cima do ombro. A expressão magoada em seu rosto era uma bem fácil de se ler.
— Não. Por que me fez uma pergunta dessas?
— Porque eu poderia tocá-la, mas você prefere ir falar com o humano.
Ela o encarou. Suas mãos repousaram em seu peito até que conseguiu empurrá-lo de volta à parede. Ele permitiu. Encontrou o seu olhar e ela se recusou a desviar os olhos, queria que ele visse a sinceridade de suas palavras.
— É porque eu quero garantir que aqueles homens continuem presos. Ele é o xerife e trancafiar aqueles bastardos em uma prisão por um bom tempo é importante. Preciso ajudá-lo a conseguir que isso aconteça. Sem o meu depoimento, e sem as queixas, eles poderiam escapar dessa livres. Você entende? Sem testemunhas, sem vítima, sem crime. É assim que a lei funciona no meu mundo.
— Entendo. — O corpo dele relaxou e ele assentiu.
— O xerife também é um amigo. Ele e a minha avó eram próximos. É quase um tio para mim. Não é mais importante do que você em minha vida, nem mesmo pense nisso, mas eu disse a ele que faria isso. Ele precisa da minha ajuda e eu preciso que garanta que aqueles imbecis paguem por terem me sequestrado.
Ele assentiu.
— Eu poderia levá-la para cama e lambê-la até que gritasse o meu nome se os tivesse matado ao invés de permitido que o meu pessoal os entregasse ao seu.
O cara tinha certa razão. Tammy deu um sorriso.
—Sim, mas isso seria errado.
— Lambê-la até que grite o meu nome não é errado.
— Falei sobre a parte das mortes. — Ela riu. — Amo até demais a parte das lambidas. Com essa definitivamente não há nada de errado.
Ele grunhiu.
— Deixe o xerife esperando.
Recuou e tirou as mãos dele.
— Falarei com ele e depois vai embora. Assim que for, podemos voltar para cama. Ok?
Ele assentiu.
— Está bem. — Virou-se, pegou a pedra-pomes e estudou-a na mão. — Para que serve isso?
Ele garantiu que ela pudesse ver quando usou a pedra nas unhas das mãos. — Ela limpa. — Ele abriu a mão com a pedra para ela. — Também deixa as partes mais grossas da sua pele macias.
Tammy estendeu o braço e correu as pontas dos dedos nos dele. Podia sentir calos ali e no topo da palma, onde começavam os dedos.
— O que causa isso?
— Ser Espécie. Alguns do meu povo têm isso. Alguns não. Eu tenho. Me ajuda a subir em árvores sem rasgar a minha pele. — Ele estreitou os olhos com desconfiança. — Isso me deixa menos atraente para você?
Ela sacudiu a cabeça.
— Eu meio que acho essa textura grossa das suas mãos um tesão. Elas me fazem estremecer e ficar arrepiada. Eu gosto.
— Bom. Me preocupava que as minhas diferenças em relação a um macho humano me deixariam em desvantagem na atração do seu interesse sexual.
Ela lutou para não sorrir.
— Não se preocupe Valiant. Estou aprendendo a gostar de todas as suas diferenças.
Ele a olhou nos olhos, parecendo avaliar sua sinceridade, e sorriu.
— Fico feliz.
Tammy terminou o banho rapidamente enquanto Valiant cuidava das unhas e dos calos. Secou-se às pressas, envolveu o corpo com uma toalha e saiu para o quarto. Quatro sacolas de lojas esperavam em cima da cama. Ela derrubou os seus conteúdos para ver o que tinha de opções.
Duas sacolas continham roupas para Valiant, mas as outras eram para ela. Escolheu uma calça corsário de algodão e uma camiseta preta enorme. Tinham comprado duas calcinhas e dois tops de exercício tamanho único.
Valiant entrou no quarto. Seu cabelo molhado foi penteado para trás. Ele parecia diferente com o cabelo longe do rosto. Parecia mais assustador. Seu cabelo tipo juba suavizava as feições e fazia com que parecesse mais fofo e atraente. Tammy sorriu, mas não disse uma palavra quando Valiant remexeu na pilha que tinha feito de roupas masculinas de tamanho especial.
Tammy quase pisou numa caixa de sapatos enfiada debaixo da cama. Pegou-a e abriu, achando que eram para ela já que a caixa não era grande o suficiente para ter alguma coisa para os pés enormes de Valiant. Dentro havia um par de chinelos brancos. Odiou os chinelos, mas pelo menos tinha o que calçar. Deixou-os na caixa. Não estava planejando deixar a suíte. Ouviu uma campainha e seu olhar assustado voou na direção de Valiant.
Ele sorriu.
— Há campainhas nas suítes. É a nossa comida. — Vestiu uma cueca samba-canção preta. — Vou pegá-la.
— Eu vou. Estou vestida. — Tammy sorriu pra ele. — Você está mostrando pele demais. Pode ser uma mulher trazendo o nosso café.
Ele riu.
— Sentiria ciúmes se uma fêmea me olhasse?
Ela hesitou.
— Sim. — respondeu honestamente.
O humor dele desapareceu.
— Você é minha e eu sou seu. Não precisa sentir ciúme. Não permitirei que outra me toque.
— Fico feliz em ouvir isso. — Tammy disse enquanto saía rápido do quarto. Gostava do que ele disse. Passou pela sala de estar e abriu a porta. — Oi. — disse instantaneamente.
A mulher que estava lá tinha que ter mais de um metro e oitenta de altura. Ela tinha cabelo castanho comprido e olhos escuros. Pele bronzeada e traços fortes faziam a mulher parecer intensa, mas linda. Era a primeira vez que Tammy ficava tão perto de uma das fêmeas. A mulher tinha maçãs do rosto largas, o nariz achatado, e olhava de cima para Tammy com um sorriso que exibia alguns dentes afiados e pontudos. Sua expressão não era ameaçadora.
— Oi para você também, pequena humana. Eu trouxe a sua comida.
Tammy não conseguiu não rir.
— Muito obrigada. Meu nome é Tammy.
— O meu é Breeze.
Tammy saiu da frente para permitir que ela empurrasse o carrinho do corredor para a sala de estar. Quase fez uma careta quando viu pratos de comida quase deslizarem para fora das bandejas. A mulher alta não parecia notar nem ligar quando se virou com seu olhar estudando Tammy da cabeça aos pés. Ela riu.
— Então você é a companheira de Valiant. — A mulher não escondia seu divertimento. — É tão pequena. Achei que ele fosse escolher Sunshine. Ela é tão alta quanto eu.
— Sunshine?
— Uma das nossas. Ele vinha procurando uma companheira. Eu tinha que ver com os meus próprios olhos a mulher humana da qual ouvi falar ontem à noite. Me disseram que você era tão pequena quanto Ellie e Trisha. Estavam certos. Todas as mulheres de vocês são desse tamanho? Não convivo muito com elas.
— Eu conheci Trisha ontem à noite, certo? A médica grávida? Quem é Ellie?
— Ela é uma humana, companheira de Fury. Ele é canino, mas eles não moram aqui. Vivem em Homeland. Ela é uma boa amiga. Vim para cá com algumas das nossas mulheres meses atrás para ajudar com a abertura da Reserva. Sinto saudades da minha amiga e queria conhecer você. Eu gosto de ficar perto de fêmeas humanas. — Ela sorriu.
Tammy sorriu de volta. Ela viu o sorriso da mulher se transformar rapidamente em uma linha tensa quando seu olhar se fixou em algo atrás de Tammy. Supôs que Valiant tinha entrado na sala. O rosnado que ressoou um segundo depois dissipou qualquer dúvida. A mulher Nova Espécie recuou para a porta, fitando o chão. Medo se mostrava em seu rosto.
Tammy se virou e colocou as mãos no quadril.
— Não rosne para ela.
O olhar raivoso de Valiant se focou em Tammy.
— Não quero ninguém perto de você.
— Se acostume. Estou fazendo uma nova amizade. — Ela se virou outra vez e sorriu para Breeze. A mulher parecia surpresa quando levantou o olhar para encontrar o de Tammy.
— Não ligue para ele. Ele é — deu de ombros —, protetor.
Breeze assentiu.
— Tem razão para ser. Alguns dos nossos não toleram humanos.
— Bem, você não é um deles. Acabou de dizer que é amiga de mulheres como eu. Foi muito bom te conhecer. Espero poder vê-la de novo.
A mulher deu um sorriso para Tammy.
— Eu virei trazer todas as refeições. Ninguém mais quis vir.
— Porque não querem me ver?
O olhar da mulher foi até Valiant quando ela sacudiu a cabeça. Ela olhou para Tammy. Sua atenção voltou a Valiant.
— Verei você no almoço. — A mulher saiu às pressas, fechando a porta.
— Estão me evitando. — Valiant caminhou até o carrinho para tirar as tampas das bandejas.
Tammy franziu o cenho.
— Por que eles iriam fazer isso?
— Eu os assusto. Não sou — ele deu de ombros —, social.
— Fala porque rugiu para eles ontem à noite quando ficaram me encarando?
— Sim. Exatamente. — Ele assentiu. — Vamos comer.
Tammy e Valiant colocaram a comida na mesinha de café. Alguém tinha mandado várias bebidas diferentes. Tammy atacou o chocolate quente. Valiant fez cara de poucos amigos.
— Por que essa cara?
— Isso aí é nojento.
— Chocolate quente?
Ele assentiu.
— Me deixa com vontade de vomitar.
Ela hesitou.
— Oh. Entendo.
— O que você entende?
— Bem, eu tive um cachorro. Ele comeu uma barra de chocolate uma vez e vomitou. Provavelmente é o DNA de vocês. Eu amo chocolate.
— Eu não sou um cachorro.
Ela conseguiu não rir da expressão horrorizada dele só de pensar em ser acusado de algo que ele obviamente achava ser um insulto. Ela achou fofo.
— Você é um leão. Aposto que chocolate também faz leões passarem mal. Provavelmente não cai bem no seu estômago.
Ele depositou o prato de carne em sua frente. Tammy notou pela primeira vez o que tinham mandado para ele de café da manhã. Não conseguiu desviar os olhos. Quatro bifes grossos e parcialmente assados dominavam o prato, nada mais, e realmente eram bem mal passados. Sangue formava uma poça debaixo deles como se fosse molho.
— É isso que você come? Está ao menos cozido por dentro?
Ela conseguiu não estremecer de pavor.
Ele cortou um pedaço. Tammy verificou que a carne estava quase crua. Forçou os olhos para longe. Valiant comia carne quase crua. Ela estudou a própria comida, grata por ter acabado com um típico café da manhã de bacon, batatas assadas, ovos mexidos e torrada. Não teria tocado na comida se tivessem lhe trazido bifes quase crus.
— Quer um pouco? É bom.
Ela sacudiu a cabeça.
— É todo seu. Só como meus bifes bem passados e com um pouco de molho. Com uma boa batata assada acompanhando também. — Ela hesitou e olhou para o prato dele. — Quantos quilos de carne você come em cada refeição?
Ele encolheu os ombros.
— Alguns.
— É tudo o que você come?
— Não. Como cervos também. Vacas são boas. Gosto de frango e porco, mas só mais cozidos. Peixe cru é excelente. Eu os pego com as mãos no rio. Pegarei uns para você quando nos mudarmos para a minha casa. Mas provavelmente vai querê-los cozidos.
Ela só fez assentir. Cara, com certeza não vou vê-lo comer. Forçou a atenção para o próprio prato e a manteve lá enquanto terminava a refeição. Tentou não olhar para Valiant.
A campainha tocou novamente uns quinze minutos depois. Valiant abriu a porta. Tammy colocou o prato vazio na bandeja e sorriu quando o Xerife Greg Cooper entrou na suíte. Dois oficiais Novas Espécies o flanqueavam, obviamente fazendo a sua segurança. O xerife retribuiu o sorriso.
— Está com uma aparência bem melhor, Tam. — Ele deu uma olhada na suíte e assobiou. — E eles certamente estão cuidando bem de você. Lindo lugar. Chique.
— Obrigada. Gostaria de sentar? — Tammy sorriu para os oficiais. — Todos vocês?
Os dois Novas Espécies negaram com a cabeça e continuaram de pé dos lados da porta que fecharam. O Xerife Cooper caminhou até uma das cadeiras e sentou.
Tammy sentou no sofá. Valiant tomou assento perto dela.
— Precisa que eu dê um depoimento, certo?
Xerife Cooper tirou algo do bolso.
— Na verdade, ele já foi meio que dado. Eles — ele olhou para Valiant. — são muito eficientes. Apenas preciso que leia e assine se estiver tudo certo.
— Oh. — Tammy aceitou os papeis e os desdobrou. Começou a ler. Alguém tinha digitado um relato do que aconteceu. A maior parte do ocorrido, de fato, tirando o negócio sobre o doutor que ordenou que os homens a levassem e nenhuma menção sobre o informante. Algumas coisas não eram muito precisas, mas eram bem incriminadoras para os quatro homens. Valiant se levantou e saiu. Ele voltou pouco tempo depois e passou uma caneta para Tammy. — Tome. Assine com isso. — Suas feições estavam sérias.
Tammy assentiu e assinou a última página. Ela passou o depoimento de volta ao xerife.
— Aqui está.
— Está tudo certo? Então eles já tinham falado com você?
Ela assentiu. Novas Espécies tinham escrito aquilo e ela confiava neles.
— Sim. Está perfeito.
— Como está se sentindo hoje? Parece bem. O machucado em seu rosto não está tão mal como achei que ficaria.
— Estou me sentindo cem por cento melhor. Um dos médicos deles veio aqui ontem, me examinou e me deu remédios para dor.
Valiant ficou de pé.
— Vou pegar os remédios. Você comeu. — Ele saiu da sala.
O Xerife Cooper inclinou-se para frente e sussurrou.
— Está bem aqui? Pode ir embora comigo se quiser.
— Estou ótima. — Tammy sorriu para ele. — Tenho que ligar para Ted para lhe dizer que não vou trabalhar por alguns dias.
O Xerife Cooper endireitou as costas com uma careta.
— Toda a cidade já sabe do que aconteceu. Você sabe como é. Ted me ligou hoje bem cedo querendo saber se os boatos eram verdadeiros. Contei a ele o que aconteceu e onde você estava. Não tinha certeza do tempo que passaria aqui. — Ele fez uma pausa. — Seus amigos iriam gostar se ligasse para eles. Tim, especialmente, estava muito preocupado com você. Ele tentou ligar para cá, mas disseram que você não estava recebendo chamadas.
Ela piscou.
— Eu estava dormindo até pouco tempo. Ligarei para ele na primeira oportunidade.
O Xerife Cooper se levantou.
— Bem, é melhor eu ir. Estou com quatro oficiais aqui. Viemos recolher dois dos seus agressores. O terceiro teve que ser removido para um hospital em Sherver. Ele sobreviveu à cirurgia.
Tammy se colocou de pé e abraçou o xerife.
— Obrigada por tudo. Especialmente por pensar em ligar para os Novas Espécies para que ajudassem a me encontrar.
— Estou feliz por ter feito a coisa certa. Foi tudo em que pude pensar. Assim que uma pessoa desaparece, quanto mais tempo se passa, mais diminuem as chances de encontrá-la com vida. Eu prometi à sua avó em seu leito de morte que tomaria conta de você como se fosse da minha própria família.
Tammy levou o xerife até a porta onde a sua escolta o esperava. Valiant caminhou atrás dela. Assim que a porta se fechou, Valiant lhe estendeu um copo d’água e dois analgésicos. Ela os engoliu e devolveu o copo para ele. Ele o colocou na mesa mais próxima, virou-se, agarrou-a e tirou seus pés do chão. Tammy ofegou, olhando-o quando a aninhou no peito. Ele se dirigiu para o quarto.
— Me coloque no chão.
Ele ignorou o seu pedido.
— Você falou com aquele homem, comeu, tomou o seu remédio, e agora vou levá-la para a cama. O acordo foi esse.
— Foi sim. — Ela riu quando a derrubou na cama. Valiant agarrou sua calça de algodão e a puxou pelas pernas. Sua calcinha foi rapidamente removida. Ele se agachou por cima dela na cama, sorrindo.
— Agora vou lamber você.
A campainha tocou. O humor de Valiant desapareceu instantaneamente, a raiva endurecendo suas feições quando rosnou.
— Ignore.
Tammy hesitou.
— Mas...
As mãos dele seguraram suas coxas, abriu-as mais e ele abaixou a cabeça. Tammy caiu para trás no colchão, enterrando as unhas nos lençóis, sem ligar mais para quem estava na porta quando a boca dele apressou os movimentos em seu clitóris. Ele apertou mais o rosto entre suas coxas, lambendo o clitóris rápido e com uma forte pressão que instantaneamente fez com que todos os pensamentos abandonassem sua mente. Ele rugiu contra ela.
— Eu amo quando você vibra. — ela gemeu.
Valiant ronronou, vibrando mais. A sensação se tornou tão boa que ela mal conseguia suportá-la, as coxas apertaram em volta da cabeça dele e aquelas mãos fortes forçaram para que se abrissem outra vez. Ele a manteve imóvel até que tudo que ela conseguiu fazer foi arquear as costas e gritar o seu prazer. Em minutos Tammy gritou o nome dele, retorcendo-se sob aquela boca, quando gozou forte.
Ele levantou a cabeça e puxou o seu corpo mole contra si, na beira da cama. Seus olhos abriram e ela o espiou quando se ajoelhou no carpete. Os olhos de Valiant estavam estreitos, seu lindo olhar intenso e cheio de paixão. Ele a soltou quando seu traseiro quase deslizou para fora da cama e depositou os pés com gentileza no carpete para evitar que caísse.
Ele não afastou o olhar do seu quando quase rasgou o botão da calça, empurrou-a pelas pernas, curvou-se para removê-la completamente, chutando-a o resto do caminho. Se inclinou, agarrou o quadril dela e a girou para que ficasse de bruços.
Valiant se agachou por cima dela no colchão. Ele usou os pés gentilmente para incentivá-la a abrir as pernas. Ela aumentou o espaço entre os joelhos e ele se chegou por trás dela. Gemeu quando o pênis cutucou sua vagina e começou a pressionar lentamente, separando suas paredes vaginais.
— Minha. — ele rosnou quando o corpo enorme se curvou ao seu redor e os braços suportaram o peso do corpo para evitar que a esmagasse.
— Sim. — ela gemeu, segurando as mãos dele na cama. — Deus, sim.
Valiant ficou tenso por um segundo, mas começou a balançar o quadril contra a sua bunda para enterrar o pênis com mais força e mais profundidade. Ele colocou as pernas do lado externo das suas, baixando o quadril para fodê-la em um novo ângulo e Tammy o incentivou com gemidos e apelos para que fosse mais rápido.
A sensação dele era incrível, cada pedacinho duro despertando e acariciando deliciosas extremidades nervosas que levavam o seu prazer cada vez mais além, até que sabia que estava prestes a gozar outra vez. Os músculos da sua vagina fecharam ao redor dele e ela gritou o seu nome quando finalmente aconteceu.
Um rugido rasgou a garganta dele. Tammy se agarrou às suas mãos quando ele arremeteu dentro dela pela última vez, ainda gozando em volta dele, e amando o calor morno que se espalhava dentro dela pelo orgasmo dele. Desabou em cima dela para prendê-la debaixo do corpo, mas garantiu que ainda conseguisse respirar.
— Devíamos fazer isso todos os dias depois do café da manhã. — ele disse e riu próximo à sua orelha.
Ela sorriu, virou a cabeça e encontrou o seu olhar.
— Eu podia tirar um cochilo.
Ele hesitou.
— Eu tiraria um com você, mas tenho que ver o que a nossa companhia quer primeiro. Eles estão esperando na sala.
O queixo dela caiu.
— O quê? — Tentou empurrá-lo, mas ele era pesado demais e nem se mexeu. Apenas sorriu.
— Temos companhia na sala. Provavelmente estão esperando por nós dois.
Tammy virou a cabeça para o outro lado. A porta do quarto estava completamente aberta. Ela empurrou Valiant com desespero.
— Saia de cima. Porra, por que não me disse? Eles poderiam ter entrado aqui e nos visto!
Valiant encolheu os ombros, parecendo despreocupado, e separou os seus corpos. Ele levantou e foi até a porta do quarto.
— Sairemos em um minuto. — Ele a fechou e se virou para encará-la.
Tammy o olhou com raiva quando pegou sua calça e calcinha descartadas, tentando vesti-las rapidamente enquanto sentava na extremidade da cama.
— Sabia que alguém tinha entrado nos nossos aposentos e simplesmente ignorou o fato? E se tivessem entrado aqui? E se tivessem visto... Inferno, qualquer coisa que fizemos?
Com os braços cruzados, ele parecia achar muita graça na situação.
— Eu os teria matado por terem nos perturbado.
Ela abaixou a camiseta com um puxão, já que tinha subido quando Valiant a montou. Deu um sorriso malicioso ao pensar naquilo.
— Você pode sair. Eu vou me esconder aqui. Eles devem ter ouvido tudo.
— Provavelmente nos ouviram dois andares ou mais acima ou abaixo e definitivamente neste andar inteiro.
O queixo dela caiu outra vez.
— Sério?
— Sim. Temos boa audição. — Ele também parecia muito feliz com relação a isso.
— Porra, Valiant. Isso não tem graça. Você está querendo me dizer que toda vez que transamos todo mundo em dois ou três andares sabe o que estamos fazendo?
— Você grita o meu nome e eu não posso evitar expressar o que você me faz sentir.
Tammy permaneceu sentada na cama, incerta se os seus joelhos sustentariam o seu peso naquele momento em que o choque a atingia. Colocou as mãos no rosto.
— Nunca mais vou conseguir olhar para ninguém. Isso é tão humilhante.
Mãos a agarraram de repente e a puxaram de pé. Tammy levantou a cabeça abruptamente. Olhou com espanto para a expressão furiosa de Valiant. As mãos dele não a machucavam, mas eram bem firmes.
— Eu envergonho você? — Ele rosnou as palavras.
— Não! — Ela ficou horrorizada por ele ter chegado àquela conclusão.
— Você se envergonha de que os outros saibam que gosta de ser tocada por mim e de me ter dentro de você?
— Não! Não pense dessa forma. Como pode dizer isso? Eu quis vir para cá com você. Eu sou de uma cidade pequena, Valiant. Quinze minutos depois de pedir para ficar com você, concordar que me levasse em um dos seus Jipes, minha cidade inteira já sabia sobre nós. Não estou envergonhada de estar com você nem um pouco. Sinto vergonha porque é muito desconfortável pensar que todos podem nos ouvir transando. Isso é meio que particular e pessoal.
A expressão dele relaxou e as mãos foram ficando mais gentis até que ele mal a tocava.
— Sim. Desculpe se tive a impressão errada.
— Você ficou foi puto. Ficou lívido comigo. Você não me envergonha, Valiant. Não me envergonho de estar com você. Estou mesmo muito atraída por você. Eu… — ela disse um palavrão baixinho. — Eu estou mesmo profundamente atraída por você e não dou a mínima para o que alguém ache disso se não gostar do fato. Estamos claros?
— Sim. — Ele engoliu com dificuldade, sua expressão suavizando. — Estava com tanta raiva porque me magoou muito acreditar que você não queria que ninguém soubesse sobre eu e você. Eu sei que os humanos nos odeiam e a ideia de você pensar menos de mim por não ser humano doeu.
Algo em seu peito se partiu um pouco por ele. Rasgava-a por dentro ter magoado erroneamente os sentimentos dele e o deixado inseguro quanto à posição que ocupava em sua vida. Ela se afastou, olhou para a cama e agarrou o seu braço para se equilibrar quando subiu no colchão. Ela virou, soltou o braço, e encontrou sua expressão surpresa por encontrá-la um pouco mais alta que ele.
— Você é alto demais. É difícil fazer isso de outro jeito. Venha mais perto.
Ele não hesitou. Moveu-se para ficar na sua frente.
Tammy segurou suas bochechas e se inclinou para ficar com o nariz no dele. Ela fitou aqueles olhos exóticos, amando-os e provavelmente também amando o dono deles. Afastou aquele conceito, não querendo se enveredar por aqueles pensamentos no momento. Apaixonar-se por ele tão profundamente como suspeitava que já estivesse só iria complicar a sua vida de um jeito que nem dava para começar a imaginar.
— Não tenho vergonha de você. Você é melhor do que qualquer homem humano que já conheci Valiant. Mil vezes melhor. Você é incrivelmente doce comigo, sempre parece querer cuidar de mim, mesmo que eu me recuse à ideia de que me engorde. — Ela riu. — E o sexo é incrível. Você é inteligente, atencioso, e enquanto algumas coisas a seu respeito me enlouquecem, como o quanto pode ser agressivo, eu meio que gosto delas. Não me importo com quem fica sabendo que estamos nos vendo. Eu só não quero que ninguém me veja nua a não ser você. Tudo bem?
Os braços dele envolveram a sua cintura para apertá-la contra o corpo.
— Acabaria com eles se a vissem. Eles me temem, mas você nunca deve fazer o mesmo. Eu nunca machucaria você, Tammy.
— Acredito nisso. — Acreditava mesmo. — Nós provavelmente devíamos ver quem está esperando na sala.
— Deixe que esperem. Eu quero abraçar você agora.
Ela assentiu e soltou o rosto dele para passar os braços em volta do seu pescoço, o rosto enterrado na curva do seu ombro, e ele a apertou mais o abraço. Tammy colocou as pernas em volta de sua cintura. Ele suportava o seu peso inteiro com muita facilidade — o cara era um tanque de guerra ambulante. Ela sorriu.
Valiant deslizou os braços mais para baixo para segurar Tammy debaixo do traseiro e garantir que ela não o soltasse tão cedo. Ele respirou seu aroma com os olhos fechados agora, e fungou em seu cabelo. Ela não disse que o amava, mas ele poderia encontrar paciência dentro de si para ela.
Ele se impediu de declarar que estavam fazendo bem mais do que se “vendo”. Ela era a sua companheira, sua outra metade, e agora uma parte da sua alma. Ele a amava. Era uma emoção nova, mas não tinha medo de admiti-la. Ela o aquecia por dentro, fazia-o feliz, e tê-la contra o corpo era mais que certo. Perfeito. Eles se encaixavam apesar da diferença de tamanho. Ela era maravilhosa para ele de todas as maneiras. Tirando o fato de que está muito magra. Preciso alimentá-la mais. Ele sorriu.
Lembrou quando entrou no seu corpo impressionante e disse a ela que era sua. Tinha dito “minha” e ela respondeu “sim”. O sorriso aumentou. Na verdade ela disse “Deus, sim”. Colocou até a sua crença religiosa no meio daquilo. Isso tinha que significar que foi completamente honesta e sincera. A esperança se transformou em felicidade. Tammy era sua. Ele a abraçou com mais força.
— Minha.
Ela não protestou e ele então ele soube que seria sim capaz de ficar para sempre com ela.
— Ok. Agora vamos encarar quem quer que esteja na sala. — Tammy sorriu para Valiant depois dele colocá-la de volta ao chão.
— São Slade e Trisha. Eles trouxeram Brass com eles.
Valiant sorriu quando se afastou dela. Ele estendeu a mão que Tammy aceitou, abriu a porta e eles caminharam juntos pelo pequeno corredor.
Trisha, Slade e um homem Nova Espécie esperavam na sala de estar, sentados em um sofá e em uma cadeira. O homem parecia se divertir. Trisha apenas sorriu.
— O que você quer? — Valiant olhou para Slade com raiva. — Nós tivemos que nos vestir. Íamos tirar uma soneca agora se não fosse por vocês.
Um sorriso se espalhou pelo rosto de Slade e seus olhos azuis cintilaram.
— Trisha queria conversar com vocês dois. Ela estava cansada ontem e diz que nem pensou no assunto. Exigiu que viéssemos para cá agora.
Valiant olhou para o outro homem.
— Olá, Brass. O que está fazendo aqui?
— Estou com eles. — Ele estudou Tammy e piscou.
Um rosnado emergiu de Valiant quando se moveu instantaneamente, soltou a sua mão e deu um passo ameaçador na direção do outro Nova Espécie. Tinha colocado o corpo na frente de Tammy, impedindo que Brass a olhasse.
— Não olhe para ela e não paquere. — Valiant rosnou mais alto. — Minha!
— Uau! E eu achei que você era possessivo. — murmurou Trisha. Ela se levantou. — Acalme-se, Valiant. Brass não quis dizer nada com a piscada. Ele pisca para todo mundo. Até para homens. Eu preciso ter uma conversa particular com vocês dois. — Ela fez uma pausa. — Dentro do quarto.
— Mas... — protestou Slade.
Trisha se virou para encará-lo.
— Já chega. Eu sei que os dois não estão nem aí sobre qualquer tópico que possa existir ser discutido em frente de vocês, mas ela é uma mulher. Eu não iria querer ter essa conversa na frente de dois homens que não conheço. Agora por favor, fiquem sentados e trabalhem mais aquele problema de paciência, ou melhor, de falta que vocês têm dela. — Se virou para encontrar o olhar chocado de Tammy.
— Você, eu e Valiant precisamos conversar.
— Nos diga logo o que você tem a dizer. — Valiant cruzou os braços. — Quanto mais rápido for, mais rápido vocês vão embora e eu posso levar Tammy para a cama para que tire uma soneca.
Tammy suspirou, saindo de trás dele.
— Ele faz essa coisa de cruzar os braços bastante. Valiant se pronunciou. Assunto encerrado. — Ela levantou os olhos para ele e sorriu da sua expressão ameaçadora, a que ele parecia usar para intimidar os outros. — Faça o que ele diz ou receba um olhar fulminante.
Trisha riu.
— Todos eles fazem isso. É uma coisa dos Novas Espécies. É adorável, não é?
Tammy não tinha certeza se iria tão longe assim, mas quando ela fitou a carranca de Valiant ao olhar para a doutora, reprimiu uma risada. Voltou sua atenção para Trisha.
Trisha passou por Valiant e segurou o braço de Tammy.
— Confie em mim. Essa é uma conversa que devemos ter em particular.
— Vamos para o quarto. Ele vai nos seguir. — Tammy foi na frente.
Trisha sentou em uma cadeira e suas mãos massagearam com gentileza sua barriga enorme. Tammy tirou o cobertor do chão e o jogou por cima dos lençóis emaranhados. Tentou não sentir vergonha do estado da cama. Era óbvio que tinham feito sexo nela recentemente. Valiant ficou parado na porta fazendo o seu lance de Novas Espécies. Sorriu quando tirou os olhos dele, sentando na ponta da cama próximo à Trisha.
— Eu não quero envergonhar ninguém. — explicou Trisha baixinho. — Mas agora eu já sei com certeza que vocês tiveram relações sexuais. — Ela manteve o contato visual com Tammy. — Está tomando pílula?
Tammy sacudiu a cabeça.
— Não.
Trisha olhou para Valiant.
— Andou usando camisinha?
Ele bufou.
— Nunca.
Tammy fez uma careta.
— Já sei aonde quer chegar com isso. Ok. No ano passado saí com um cara que me traía. — Ela se recusou a olhar para Valiant. — Eu descobri e saí de cena. Imediatamente fui ver a minha ginecologista. Estava morrendo de medo de que ele tivesse me passado alguma coisa. Nós usávamos camisinha, mas não para tudo. Fiz a minha médica passar todo tipo de exame, tudo deu negativo e seis meses atrás ela passou outros. Estou livre de doenças venéreas. Ficaria feliz em permitir que me examine e passar os exames se estiver preocupada que eu possa passar algo para Valiant.
A boca de Trisha abriu e fechou.
— É bom saber disso, mas eles não podem pegar doenças venéreas facilmente. Eles são diferentes a ponto da maioria das mais comuns nem serem transmitidas. De qualquer maneira eles têm um sistema imunológico bem forte que atacaria a maioria delas.
— Que bom saber. — Tammy sorriu. — Eu pensei que estaria tudo bem. Quero dizer, eu meio que deduzi que Valiant não tinha dormido com muitas por aí pelas coisas que ele diz.
Trisha piscou os olhos algumas vezes.
— Ele poderia te engravidar.
Tammy deixou as palavras serem absorvidas e sacudiu a cabeça.
— Não pode ser. Quero dizer, eu assisto o noticiário. Estão sempre discutindo que os Novas Espécies são estéreis. Eles não podem gerar filhos. Os laboratórios os fizeram assim de propósito. É um fato conhecido por todos.
— Acredita em tudo que vê no noticiário? — Trisha suspirou. — Esqueça essa pergunta. Não é de conhecimento público. Na verdade é uma informação confidencial que somente os Novas Espécies, ou neste caso, mulheres que estão fazendo sexo desprotegido com eles precisam saber. Você cai nessa categoria já que não está tomando pílula nem tomando outras medidas contraceptivas. Precisa saber do risco de gravidez.
Valiant rosnou.
— Eu não sou estéril.
Trisha olhou para ele e de volta para ela.
— Eu sou uma médica de Novas Espécies, Tammy. As Indústrias Mercile tentou fazer com que eles se reproduzissem, mas nunca deu certo. Eles nunca os esterilizaram já que encorajavam que procriassem.
Só recentemente descobrimos que é possível que uma humana e um Nova Espécie possam gerar uma criança juntos sob as circunstâncias certas.
Tammy olhou para a doutora de boca aberta, muda.
Trisha fez uma pausa.
— Fizemos vários exames. Eu só queria que vocês dois ficassem cientes desse risco. — Seu olhar foi para Valiant. — Você é mais… — Parou outra vez. — Você é um Nova Espécie mais pronunciado e ao menos que eu faça exames do seu esperma, não terei certeza se poderá engravidá-la. Seu DNA pode estar muito alterado para isso acontecer, mas eu quero os dois cientes da possibilidade. — A atenção dela voltou para Tammy. — Posso prescrever algo para você imediatamente se quer garantir sua proteção.
Tammy piscou os olhos.
— Mas nós já transamos. Isso quer dizer que eu já posso estar grávida, certo?
Trisha assentiu.
— Sim. Posso fazer um teste de gravidez em algumas semanas.
Tammy praguejou baixinho e não perdeu quando a atenção de Valiant se concentrou nela. Ele parecia fulo da vida novamente.
— Isso é uma coisa tão ruim assim? — O olhar dele desceu até a sua barriga. — Carregar um filho meu?
Tammy só o encarou. Valiant rosnou, os olhos estreitos e o corpo todo tenso. Ele rosnou outra vez, mais alto.
— Pare. — sussurrou Tammy. — Não fique com raiva. Eu estou chocada já que não achava isso possível, ok? Me dê alguns minutos para passar o meu surto. Eu nunca nem considerei uma gravidez.
— Isso não muda nada. Você é minha e eu sou seu. Será uma coisa boa se fizermos um filho. Eu sou forte e cuidarei bem das necessidades de vocês dois. Protegerei vocês e iria adorar um bebê. Você disse que eu não a envergonho. Ter o meu filho a deixaria envergonhada?
— Não. — Ela franziu o cenho. — Eu só não o conheço bem o bastante para pensar em formar uma família, ok? As pessoas deviam passar anos juntas antes de tomarem essa decisão. Confie em mim, eu sei disso. Meus pais se casaram porque a minha mãe engravidou e quando eu tinha dois anos eles já se odiavam. Brigavam o tempo todo até o meu pai finalmente nos deixar quando eu tinha quatro. Minha mãe começou a beber e finalmente conheceu um homem que odiava me ter por perto. Ela simplesmente me largou com a minha avó sem nem olhar para trás. Eu nunca mais a vi.
Ele deu um passo na direção dela.
— Você é minha. Eu nunca a odiaria nem você a mim. Nunca deixaria você. Nunca. Você é minha.
Tammy olhou para a médica, em busca de ajuda.
— O que isso significa exatamente para eles?
Trisha hesitou.
— Valiant, nós poderíamos conversar sozinhas?
— Não. — Ele cruzou os braços outra vez. — Pode falar com ela na minha frente.
— Não quero ofender você.
Ele sacudiu a cabeça para Trisha.
— Não irá.
Ela não parecia ter certeza daquilo, mas começou a falar.
— Nunca foi permitido a eles terem algo próprio. Como objetos. Eles nem podiam se apegar aos outros Espécies a que eram expostos. Isso era uma ocorrência rara na maior parte das vezes já que eles ficavam trancafiados em celas diferentes. Se se apegassem, se a equipe descobrisse que se importavam com o que acontecia com um companheiro, isso era usado contra eles para puni-los ou forçá-los a fazer o que mandavam enquanto estavam presos. Agora, quando acham que algo é deles, não desistem. Querem ficar com ele para sempre.
Abalada, Tammy simplesmente ficou encarando a médica.
— Para sempre?
— Até um de vocês morrer.
— Então não posso deixa-lo, não importa o que ele faça? Ele não vai me deixar?
Trisha mordeu o lábio.
— O que acha que ele faria ou poderia fazer para que você quisesse deixá-lo? Eu sei que ele é meio controlador, mas é só o jeito deles. Relmente mataria ou morreria para protegê-la e não pode dizer isso com relação a muitos homens. Sim, eles são controladores, mas fazem isso numa tentativa de manter a pessoa em segurança. Isso realmente conta muito assim que se acostuma aos costumes deles.
— E se ele me trair? — Tammy se recusava a olhar para Valiant.
Um sorriso curvou a boca da médica.
— Eles são muito fieis. Só há alguns casais até o momento, mas pelo que sabemos, os machos irão meio que marcá-la com o cheiro deles. Quanto mais tempo passar com ele, mais ele vai se viciar em você. Depois de um tempo não vai conseguir suportar o cheiro de outra mulher se se aproximar muito de uma. Como exemplo, nós temos um casal em que outra mulher tentou dar um beijo no macho. Ele ficou muito nervoso ao ser tocado por ela. Quase esmagou a esposa quando se esfregou em seu corpo para remover o cheiro da outra. Não conseguia suportar. O cheiro o enfurecia e disse que passou muito mal quando falei com ele depois.
— Foi aquele casal, Ellie e Fury? Os que apareceram nos noticiários?
— Sim.
— Fury foi misturado com alguma raça de cão, certo? Foi isso que li. Valiant é um leão. Isso não quer dizer outra coisa? Cães e leões não são nada parecidos.
— Não posso dizer com certeza, mas você poderia perguntar a Valiant. Se tem uma coisa com a qual pode contar sempre, confie em mim, é que eles são brutalmente honestos.
Tammy finalmente olhou para Valiant. Ele suspirou quando lhe retribuiu o olhar.
— Eu machucaria outra fêmea se ela tentasse ter contato sexual comigo. Quero você e apenas você. Não iria permitir que outra fêmea me tocasse.
— Viu? — Trisha atraiu a sua atenção. — Não precisa se preocupar com ele te traindo.
— Eu me banharei no sangue do homem que tocar em você. — Valiant rosnou alto. — Arrancarei os seus membros. Arrancarei a sua cabeça. — Ele fez uma pausa e respirou fundo. — Ele morrerá de uma maneira terrível. Mas jamais a machucaria.
Trisha conseguiu continuar sorrindo.
— Mencionei que eles são bem possessivos e gráficos também?
Trisha o olhou com uma cara feia e sacudiu a cabeça.
— Pode omitir os detalhes sangrentos um pouco? Humanos não gostam muito de ouvir essas coisas. Não vende muito bem com a gente. Confie em mim.
Rugiu.
— Sempre digo a verdade à Tammy.
— Estou aprendendo isso. Mas não estou pronta para ter um bebê. — Tammy encontrou o olhar raivoso de Valiant. — Eu quero conhecer você melhor primeiro antes de sequer discutirmos ter um juntos, se é que isso é possível. Por favor, entenda e não fique com raiva nem magoado. Não estou dizendo não para sempre, só que no momento eu quero passar mais tempo com você antes de considerar essa opção.
Tammy encarou a médica.
— Poderia me dar alguma coisa?
Trisha assentiu.
— Claro. Vou ter que ligar e pedir para que entreguem já que não temos anticoncepcionais na Reserva. Em algumas semanas você precisará de um teste de gravidez para garantir que ainda não tenha concebido e nós começaremos com as pílulas. — Trisha fez uma pausa. — Não quero começar com elas agora caso já tenha concebido. Me informe imediatamente se sua menstruação chegar. Eu...
— Sem sexo? — interrompeu Valiant.
Tammy franziu o cenho.
— Cale a boca e deixe que ela fale.
Trisha olhou entre eles, concentrando-se em Tammy.
— Eu também gostaria se não comentasse com ninguém essa discussão que tivemos. Há muitos grupos de Ódio lá fora que ficariam muito infelizes se descobrissem ao menos a possibilidade de concebermos filhos com os Novas Espécies.
— Essa é uma meia verdade, se é que já ouvi uma. — Tammy fez uma careta. — Eles ficariam furiosos. Vi um programa de TV umas semanas atrás sobre alguns idiotas que começaram um negócio de apostas sobre o tempo de vida dos Novas Espécie conhecidos.
Horrorizada com o que disse, deu um olhar na direção de Valiant, esperando que aquilo não tivesse ferido seus sentimentos. Ele encontrou o seu olhar com calma, sem parecer chocado por ouvir que alguém queria tirar lucro com a morte deles.
— É. Ouvimos sobre isso. — Trisha ficou com uma expressão triste. — E eles provavelmente fariam qualquer coisa para matar a mulher levando esse bebê e o mesmo se já tivesse nascido. Muitos deles não veem a hora que os Novas Espécies desapareçam com o tempo. Isso causaria um caos com esses imbecis se descobrissem a possibilidade de gerações deles.
— Vê? Essa é outra razão pela qual não quero um bebê agora. Eu já fui visada por eles. Podia muito bem vestir uma camisa com um alvo estampado e viver com ela. Não estou pronta para me arriscar. Eu quero as pílulas assim que você puder me prescrevê-las.
Tammy virou a cabeça para ver como Valiant reagiu à discussão que tiveram. Ele Foi embora, deixado o quarto, e ela soltou um palavrão em voz baixa. Ele saiu sem dar uma palavra. Obviamente não concordava com o que ela queria. Merda.
— Dê tempo a ele. — Trisha estendeu a mão a tocou o braço de Tammy. — Acho que pode se sentir um pouco rejeitado.
— Não quis que ele se sentisse dessa forma. Você entende, não é? Eu o conheci há cinco semanas, ele quase me matou de susto, nós fizemos um sexo incrível e eu bati nele com um abajur. Ontem ele voltou para a minha vida quando me salvou. Estou muito atraída por ele, mas nós precisamos passar muito mais tempo juntos antes de corrermos riscos desse tipo. Inferno, acho que estou me apaix... — Ela fechou a boca. — No geral, passei muito pouco tempo com ele e certamente não o suficiente para ter o compromisso de uma vida inteira que é ter um filho juntos.
— Eu entendo, de verdade.
Tammy viu compaixão no rosto da outra mulher.
— Aí está todo o fator das diferenças entre nós. Fui sequestrada ontem à noite porque alguém ouviu que dormi com ele. Só dormi com ele. E se eu tivesse engravidado? Aqueles bastardos estúpidos iriam querer pôr as mãos em mim. E isso sem nem tocar no assunto do que a imprensa faria. Eu vi o que fizeram com aquele casal. Os dois não conseguiam fazer nada sem ter centenas de repórteres em cima deles. Eles nem saem de Homeland mais, saem? Ouvi que a imprensa os perseguia como se fossem estrelas de cinema ou de rock. Inferno, acho que eles pegam mais leve com esses dois grupos de celebridades do que pegam com eles.
Trisha suspirou.
— É. Eu sei. Com sorte vai ver que eles nem ligam já que ambos trabalham em Homeland e suas vidas estão dentro das paredes seguras de lá.
— Eu não sei se poderia viver assim. No momento não posso nem deixar essa suíte. É assim que é com Ellie? Ela fica presa na casa deles?
— Não. Ela tem um trabalho em Homeland e está mais estabelecida lá. A Reserva acabou de abrir e é por isso que você tem ficado dentro da suíte. Os Novas Espécies estão acostumados com os humanos, mas não os que vivem aqui. É só para a sua segurança. Eu também não posso andar por aí sem escolta. Não tenho esse problema em Homeland. Tenho uma casa lá.
Tammy quis desesperadamente mudar de assunto.
— Como vão as coisas com o pai do seu bebê? Ele vive perto daqui? Posso conhecê-lo já que a cidade é pequena.
Trisha sacudiu a cabeça.
— Ele normalmente vive e trabalha no Sul da Califórnia.
— Oh. — Tammy assentiu.
— No momento está trabalhando em outro lugar. Em alguns meses ele voltará para o Sul da Califórnia, onde fica a sua casa e eu também. Nós conversamos hoje de manhã e ele reconsiderou o casamento.
Tammy fez um sinal de positivo com o polegar.
— Bom para vocês.
Trisha assentiu.
— Sim. Eu quero me casar com ele e amá-lo mais do que tudo.
Tammy suspirou, a mente recusando a ceder à preocupação que crescia por dentro.
— Valiant está mesmo bravo comigo.
— Acho que ele está magoado porque você significa muito para ele. Não acho que tenha percebido o quanto ele se apegou a você. Temos Novas Espécies que fizeram sexo com humanos, mas que não estabeleceram reivindicações sobre eles. Acho que por qualquer que seja a razão, ele já marcou você.
— E se ele conhecer outra pessoa e mudar de ideia?
— Como disse, eles são muito leais. Não são do tipo de homens com quem estamos acostumadas. Eles tiveram vidas horrendas e realmente valorizam aquilo com o que se importam. Ele obviamente se importa muito com você ou não a teria reivindicado.
Tammy assentiu.
— Estou muito confusa.
Trisha também assentiu.
— Eu entendo. Confie em mim, realmente entendo.
— Obrigada por me dizer tudo. Assim que começar com as pílulas, com quanto tempo elas começam a funcionar?
— Um mês. Eu vou mandar uma boa quantidade de camisinhas. Posso entregá-las ainda hoje. — Ela hesitou. — Você provavelmente vai ter que mostrar a ele como usar já que eu duvido que alguma vez ele precisou. As Indústrias Mercile só permitiam que eles fizessem sexo com fêmeas quando estavam fazendo os experimentos de reprodução. Era a única vez em que eles podiam ter algum contato com outros da sua espécie. Não acho que ele já teve contato físico com algum humano que não tenha sido você. Vai ter que lhe perguntar. Não sei muito sobre onde ele ficou antes que inaugurassem a Reserva, mas pelo o que entendo, foi em uma locação remota no deserto. Eles costumavam ter mulheres, mulheres humanas fazendo a guarda deles já que Novas Espécies não atacam fêmeas. Quem sabe se alguma delas se sentiu atraída por ele. — Ela limpou a garganta. — Apostaria que não. Ele é bem intimidante.
Tammy não conseguia imaginar muitas mulheres abordando Valiant que não fossem mais do que corajosas.
— É horrível o que foi feito a eles.
— Eu sei. Como eu disse, eles tiveram vidas duras. — Trisha se preparou para ir embora. — Trarei o almoço tipo piquenique em alguns dias para que possamos conversar de novo. Eu faço um frango frito daqueles. Fale com Valiant e tente não perder a paciência se ficar frustrada com ele. Às vezes não entendem as coisas, mas aprendem rápido e se você explicar com clareza, eles normalmente entendem a essência do que está tentando dizer. Eles se magoam sim e têm uma tendência de reagir parecendo irados. Aquele ditado do late mais do que morde se aplica bem a eles.
— Obrigada.
Trisha deixou o quarto e Tammy suspirou audivelmente. Valiant provavelmente estava magoado por ela não estar pulando de alegria com a ideia de que pudesse estar grávida. Ela mal conhecia o cara e eles simplesmente eram muito diferentes. Não tinha nada de ruim contra ele, não era uma forma de rejeição, apenas uma decisão inteligente de ir com calma.
Ela olhou para a cama e fez um ruído de zombaria. Estava fazendo sexo selvagem com o cara, várias vezes, e nada no relacionamento que tinham até o momento parecia ter freios. Não conseguia resistir quando ele começava a rugir e a ronronar para ela. A boca dele deveria vir com um adesivo de advertência. Ela sorriu e finalmente entendeu. Precisava conversar com ele e esclarecer as coisas. A ideia dele se sentindo rejeitado não assentava bem com ela.
Tammy saiu do quarto. Depois de uma busca rápida no outro quarto, banheiro e na sala, ela chegou à conclusão que Valiant tinha saído. Abraçou-se e caminhou para a porta da suíte. Hesitou antes de abri-la.
Um homem Nova Espécie estava do outro lado. Ele tinha o cabelo preto e os olhos cinzentos. Virou-se para olhá-la com curiosidade. Não estava realmente surpresa por alguém estar ali de vigia.
— Sabe onde Valiant está?
Ele sacudiu a cabeça.
— Parecia muito bravo quando saiu e eu é que não iria perguntar nada a ele. Não quis que rosnasse para mim.
— Obrigada. — Tammy fechou a porta devagar.
Ela finalmente se conformou em assistir TV, mas então lembrou o que tinha dito ao Xerife Cooper. Imaginava se era permitido fazer ligações. Voltou à porta da suíte e a abriu. O Nova Espécie se virou, estudando-a outra vez.
— Eu posso usar o telefone?
Ele hesitou.
— Ninguém disse que não podia. Vá em frente.
— Obrigada. — Ela fechou a porta e decidiu usar o telefone do quarto. Sentou na cama, ficou confortável e discou o número do seu melhor amigo. Tim atendeu no segundo toque.
— Alô?
— Oi, sou eu.
— Tam! Como você está? Está em casa? Vou comprar uma pizza e passar aí. Me preocupei tanto com você.
— Não estou em casa, mas estou bem. Ainda estou na Reserva dos Novas Espécies e vou ficar por aqui por um tempo. — Ela deu uma pausa. — Estou meio que ficando com um deles.
— Você ficou louca? — Tim gritou. — Sabe o que aconteceu desde que foi atacada? Temos desde equipes de emissoras a pessoas protestando que odeiam esse pessoal Nova Espécie inundando a cidade. Os grupos de apoio deles apareceram para se opor aos Ódio hoje de manhã. Está um inferno e acima de tudo isso há todo tipo de boato sobre você saindo com um deles, mas achei que fosse conversa fiada. Eu sou o seu melhor amigo e você teria me contado. Gritei com os repórteres que bateram à minha porta que você a fim de um deles era a maior besteira que já tinha ouvido. Eles mostraram um vídeo dele e você no noticiário esta manhã com uma cena dele te carregando para um Jipe e sentando com você no colo.
Tammy tentou não se retrair com o quanto Tim parecia estar chateado. Queria tentar acalmá-lo.
— Que maravilha. Apareci no noticiário e perdi isso? Você gravou? Que legal.
— Não tem graça.
— Meu cabelo ao menos estava bonito? — Fez uma careta lembrando a quantidade de terra e folhas que havia nele.
— Droga, Tam. Eu não estou brincando. Fui até a sua casa esta manhã para colocar a comida para aquele gato selvagem que você alimenta. Faço isso desde que o xerife disse que você tinha se machucado e sido levada para a Reserva para ver os médicos deles. Ele falou que você ficaria aí um dia mais ou menos enquanto se recuperava. Tinha gente protestando no seu pátio e você devia ler os cartazes que exibiam, Tam. Aquela velha rabugenta da sua vizinha está ameaçando fazer um abaixo-assinado para te forçar a vender a casa da sua avó. Ela saiu para gritar comigo que queria que fosse embora porque não iria querer viver lado a lado com esse tipo de lixo.
— O que os cartazes diziam? — Tammy podia sentir uma dor de cabeça se aproximando. Ela lembrou dos analgésicos, mas não poderia ir até o banheiro com o fio do telefone.
— Nada que vá querer ler, eu te garanto. Foi publicado que você estava ficando com esse cara e que ele era o seu amante. Pode adivinhar. Foi brutal.
— Então a Sra. Haller está fula, hein?
— Ela gritou que iria fazer um abaixo-assinado para te forçar a vender. Ouviu essa parte?
— Bem, ela é uma megera e eu tenho certeza que vai fazer o possível. — Tammy riu de repente. — Tem muita gente protestando? Eles são muito barulhentos? Acha que eles vão passar a noite toda lá e deixá-la maluca? Ela reclama comigo direto mesmo que a minha TV esteja num volume normal. Tem um lado bom, certo? Talvez ela fique tão irritada que bata as botas. Aquela mulher me odeia desde que eu era criança e fui viver com a vovó.
— Tam, porra, isso não tem graça. Vou aí te buscar. Pode se esconder de todo mundo no nosso quarto de hóspedes. Meus pais estão mortos de preocupação com você. Eles não acham que você está segura aí e nem eu. Você não sabe muita coisa sobre essa gente.
— Não seja um chato, Tim. Eu sei mais sobre eles do que você. Estou extremamente segura.
— Desde quando?
— Desde que os conheci.
— Aquela vadia velha vai mesmo entrar com o abaixo-assinado, Tam. Ela vai mesmo tentar fazer com que venda a sua casa. O que você vai fazer se ela conseguir?
— Bem, lembra alguns anos atrás quando passei pela minha fase heavy-metal? Ela também fez um abaixo-assinado e pediu a todos os vizinhos que o assinassem dizendo que eu adorava o diabo tentando convocar demônios no meu quintal toda vez que eu acendia a churrasqueira. Eles riram da cara dela.
— Isso não é sobre ela odiar o seu gosto em música. Isso é extremamente sério. Tem ao menos umas vinte pessoas protestando no seu jardim com cartazes que acusam você de gostar de foder com qualquer coisa com coleira e quatro patas.
— Ruim assim, é? — Tammy fez outra careta. — Bem, mesmo se eu fosse para a sua casa não iria fazer com que fossem embora, iria? Eles apenas iriam começar a protestar lá se soubessem que era onde eu estava. Vou ficar aqui.
— Você precisa voltar para a cidade e dizer a todos que o noticiário estava errado. Precisa denunciar aquele cara até que isso pare.
— O que eles têm de errado? Estou ficando com um deles.
Tim permaneceu calado por um minuto.
— Por quê?
— Por que acha? Ele é maravilhoso, doce, e eu quero ficar com ele.
— Podia ter me dito se estava tão solitária assim. Não precisa namorar com um deles. Me deixe levá-la para sair.
— Oh, pare. Nem comece Tim. Falo sério, não comece. Você e eu somos melhores amigos. Me convidam muito para sair, se quer saber. Não estou desesperada por qualquer um. Estou mesmo atraída por ele, mesmo.
— Mas ele é...
— Não diga nada de ruim. — avisou Tammy, cortando o que ele ia falar.
— Tudo bem. Espero que você perceba que isso vai acabar com a sua vida. Quando parar de sair com esse… com ele… nenhum cara da cidade vai querer encostar em você. Tenho que ir. Você obviamente já está com a cabeça feita e eu simplesmente não consigo falar com você no momento. — Tim desligou.
Tammy segurou o telefone por vários segundos antes de colocá-lo de volta ao gancho. Ela enxugou as lágrimas que a cegaram temporariamente. Tim nunca tinha desligado na sua cara antes. Ela saiu da cama, foi até o banheiro e encheu um copo d’água. Ao voltar para a cama parou onde estava quando seu olhar encontrou Valiant. Ele estava escorado na parede do quarto ao lado da porta, a expressão séria.
— Você voltou.
Os olhos dourados dele a avaliaram e repuxou os lábios numa carranca. Seus braços estavam cruzados e ele respirou fundo.
— Vai perder a sua casa?
— Você estava ouvindo.
Ele encolheu os ombros.
— Tenho boa audição. Caminhei lá embaixo para respirar ar puro e voltei quando estava falando ao telefone. Fiquei do lado de fora da porta para que pudesse conversar com o seu amigo sem ser interrompida. Você disse que ele era o seu melhor amigo. — Ele trocou o peso de perna, afastando-se da parede. — Ele a fez chorar. Me responda. Você vai perder a sua casa?
Ela encolheu os ombros.
— Era uma porcaria de casa com um teto vazando de qualquer jeito, mas eu duvido. A maioria dos vizinhos vive lá desde sempre e me conhecem pela maior parte da minha vida. A minha vizinha é o Anticristo. Ela está fazendo confusão, mas ela sempre faz esse tipo de coisa. Tem gente protestando na frente da minha casa.
— Não precisa mais da sua casa, delícia. Você tem a minha casa e tem a mim.
Tammy o fitou.
— Mas por quanto tempo?
Ele se moveu.
— Nunca vai se livrar de mim. — Andou na sua direção. — Nem mesmo se tentar. Você pertence a mim e eu a você.
Tammy levantou os olhos para Valiant quando ele parou a centímetros dela. Ele pegou o copo e o colocou em cima da mesa de cabeceira. Eles se encararam por um momento antes que Valiant a agarrasse, colocando-a de costas na cama. As mãos dele rasgaram as suas roupas quando os lábios tocaram sua garganta. Tammy gemeu.
Valiant a prendeu debaixo de si mais forte, inalando seu aroma maravilhoso, querendo que ela ficasse completamente nua para que ficassem pele com pele. Ela o defendeu para o seu melhor amigo, se recusando a deixá-lo e ele queria garantir que não mudasse de ideia.
Ela podia perder a própria casa por causa de sua associação com as Espécies. A culpa o remoeu quando suas mãos acariciaram os seios nus. Ele fitou os olhos dela cheios de paixão e jurou que a faria esquecer de tudo, menos dele. Garantiria que soubesse que ficar com ele valia a pena todos os sacrifícios que fazia.
Ele rugiu, trabalhando para tirar as suas calças quando deslizou da cama para o carpete, de joelhos. O cheiro da excitação crescente dela quase o deixou maluco de vontade de prová-la, de reivindicá-la, mas ela de repente se levantou da cama. Ele rosnou para ela e agarrou o colchão, na intenção de ir atrás dela. Ela levantou a mão em um gesto para pará-lo e ele congelou.
— Camisinha.
Quis urrar. Ela era sua. Ele sabia como as coisas eram, mas não queria nada entre eles quando a possuísse. Queria marcá-la com o seu cheiro, enchê-la com sua semente, e se surgisse uma vida... que seja!
— Por favor? Eu não estou preparada para ter um bebê.
Ele a olhou nos olhos quando lutou contra a própria dor e mágoa.
— Valiant? — O olhar dela suavizou. — Você poderia me seduzir do jeito que quisesse, eu quero que faça isso, mas só estou pedindo mais tempo antes de arriscarmos. Pode, por favor, fazer isso por mim? Por favor?
Ele fechou os olhos, rosnou e ficou de pé.
— Fique nua. Eu volto logo. — Ele saiu do quarto que nem uma bala, passando pelo corredor e pela porta da suíte. Ele a abriu com força e olhou com raiva para Flame. Eles tinham acabado de trocar os guardas. Flame o observava com cautela quando recuou.
— O que foi que eu fiz?
— Preciso de camisinhas. — Ele cuspiu a última palavra.
Flame mal conseguiu conter o seu divertimento.
— Um, certo. Sem proteção, sem amor, né?
Valiant rosnou para ele.
Flame recuou mais uns passos, colocando a mão no bolso de trás. Valiant ficou tenso, acreditando que o oficial pegava a sua arma. Ao invés disso ele tirou uma carteira, abriu-a, e retirou um tipo de cartela.
— Aqui. — Ele se aproximou. — Esse negócio do sem proteção sem amor foi mencionado em uma aula que tivemos em Homeland sobre as mulheres humanas. Significa que algumas delas não querem sexo sem camisinha. — Ele arriscou outro passo. — Nós levamos essas coisas nas carteiras em Homeland no caso de interagirmos com mulheres humanas e decidirmos transar. Vou garantir que tragam mais para você, mas isso é tudo que tenho por hora. — Ele as estendeu. — Sabe como usá-las?
— Não. — Valiant odiava admitir. Ele aceitou o pacote estranho que tinha quatro coisas redondas seladas com um plástico de aparência esquisita de um lado e uma coisa brilhante do outro.
Flame engoliu em seco.
— Realmente precisamos ter aulas aqui na Reserva. Você abre com cuidado om pacote que contém uma coisa redonda de borracha. Coloca na cabeça do pau e vai desenrolando ela até a base. — Ele olhou para as mãos de Valiant. — Deixe-a fazer isso. Você tem esse problema das unhas afiadas. Vai rasgá-las. Apenas fique com uma cara fofa e indefesa quando lhe disser que precisa de ajuda. Humanas gostam disso.
— Obrigado. — Ele encontrou os olhos de Flame. — Agradeço o conselho.
Valiant se retirou, bateu a porta e a trancou. Ele apertou os dentes, agarrou as camisinhas e voltou correndo para o quarto. Ah, as coisas que eu faço pela minha Tammy.
Tammy sabia que Valiant estava com raiva quando ele voltou para o quarto e bateu a porta. Tinha tirado a roupa, ficado debaixo da coberta, e o viu encará-la. Ele tinha uma cartela com quatro camisinhas.
— Não sei nada sobre isso.
Ela ficou extremamente tocada por ele tê-las conseguido, sabe-se como. Jogou a coberta e ficou de pé.
— Isso vai ser divertido.
Ele arqueou as sobrancelhas e não pareceu convencido.
— Vai confiar em mim? — Ela se aproximou dele devagar e pegou a cartela de sua mão.
— Quero que você fique feliz. — admitiu de mal grado. — Mas eu não estou.
Ela recuou.
— Tire as suas roupas. Posso consertar isso.
— Vai doer? — Ele baixou o olhar para as camisinhas.
— Não.
— Isso não é natural. — Mas ele começou a se despir. Isso vindo de um cara que era parte leão. Ela manteve aquela observação para si. A visão do seu corpo nu sempre fazia coisas maravilhosas com ela. Ele a seguiu até a cama e a olhou com raiva, mostrando seu desprazer, mas ela lhe deu crédito por ter conseguido os preservativos. Uma ideia surgiu e ela sorriu.
— Poderia se deitar de costas na cama para mim?
Ele estreitou os olhos.
— Por quê?
— Porque pedi? — Sorriu para ele. — Por favor, por favorzinho?
Ele exalou com força.
— É bom que isso não seja doloroso.
Ele se virou e simplesmente jogou o corpo enorme no colchão. Ela conteve uma risada quando ficou de costas, prendeu os braços atrás da cabeça para usar as mãos de travesseiro e continuou olhando para ela de cara fechada. Ela subiu na cama e montou nas coxas dele. O choque naquelas feições foi instantâneo e aparente.
— O que está fazendo?
Ela colocou as camisinhas na cama próximas ao quadril dele.
— Só fique deitado que vou te mostrar que camisinhas podem ser divertidas.
Ele rosnou baixo para ela.
— Você está agindo estranho.
— Gosto de vê-lo daqui. — Seu olhar demorou na barriga plana e musculosa dele, no peitoral largo, antes de descer para o pênis parcialmente ereto. Ele foi circuncisado. Não notou isso antes já que ele nunca lhe deu o tempo necessário para que examinasse aquela parte dele. Ele também não tinha pelos púbicos, embora tivesse uma trilha de pelos do umbigo até pouco acima do membro. Ela inclinou-se para frente, mantendo contato visual com ele, e se apoiou nos braços. Um sorriso curvou seus lábios.
— Pode ficar parado para mim?
— Por quê? O que está planejando fazer?
— Deixá-lo tão excitado que nem se importe de usar uma camisinha.
— Eu sempre desejo você.
— Só fique quieto, ok? Não sente. Também não me agarre nem me deite na cama. Fui clara? Fique imóvel do jeito que está.
Ele pareceu ponderar o seu pedido.
— Você é a minha Tammy e pode fazer o que quiser comigo.
Ele não estava feliz, mas ainda assim concordou. Ela achou graça daquilo, mas reprimiu uma risada. Inclinou-se, estudou as suas costelas e baixou a boca em seu corpo.
Os músculos ficaram tensos no abdômen dele e o cabelo dela caiu para frente, roçando na lateral do corpo. Ela o beijou outra vez, permitiu que os dentes o mordiscassem levemente e começou a explorar mais embaixo a sua barriga definida com os lábios.
Um rosnado saiu de Valiant.
— O que está fazendo?
— Relaxe. — Ela sentiu o pênis dele endurecer contra suas costelas onde se erguia e a cutucava quando ficou mais excitado. — Aproveite. — Sua boca retornou à pele dele.
Os músculos das pernas dele ficaram tensos contra as suas coxas quando ela desceu mais até seu rosto ficar acima do pênis. Ele era grande, grosso e impressionante. Ela olhou para o seu rosto para ver que seus olhos estavam fechados, seus dentes afiados afundando no lábio e uma expressão tensa nas feições. Ela se perguntou se alguém já tinha feito aquilo nele. Ele tinha admitido ter pouca experiência sexual.
Ela lambeu os lábios para umedecê-los, levantou uma mão e colocou os dedos ao redor do seu membro rijo. Um rugido explodiu de Valiant e seus olhos abriram, sua cabeça levantou e ele a fitou com óbvia surpresa.
— Vai colocar uma em mim agora?
— Não. Ainda não.
Ele engoliu com dificuldade e respirou um pouco mais depressa. — Deseja me estudar?
— Negativo. — Ela baixou o olhar e virou a cabeça um pouco quando sua língua saiu para se arrastar pela coroa do pênis dele.
Valiant se sacudiu, um som estranho saindo dele, e o seu traseiro apertou forte contra o colchão, o suficiente para retirá-lo de sua boca. Ela o olhou.
— O que está fazendo? — Ele a olhava de boca aberta, absolutamente chocado.
Isso respondia à sua pergunta.
— Uma mulher nunca fez isso em você?
— Me lamber? Não aí. Machos fazem isso com as fêmeas para prepará-las para o sexo e para saborear o gosto, mas eu já estou pronto para tomá-la.
— Cale a boca e aproveite baby.
Ela deu atenção total à sua ereção e abriu bastante a boca. Tinha medo que ele fosse se opor então decidiu mostrá-lo como seria bom ao invés de provoca-lo um pouquinho primeiro. Envolveu seu pênis com a boca ao tomar alguns centímetros e começar a lamber e a chupar enquanto apertava a base.
Ele não lutou, não a afastou, mas seu corpo enrijeceu. Ela tomou mais dele, trabalhando-o mais fundo, no fundo da boca, e começou um ritmo constante e lento de subir e descer com carícias firmes, a língua esfregando seu comprimento.
Ronronares altos e entrecortados saíam de Valiant e ela soube que ele estava gostando muito. Um gosto doce começou a provocá-la e ela gemeu, percebendo que o fluido pré-ejaculatório dele tinha que ser sua fonte.
Toda vez que quase o deslizava inteiro para fora da boca, mais desse líquido se derramava em sua língua e então um ruído alto fez com que o tirasse completamente da boca e levantasse a cabeça para descobrir a causa.
As mãos de Valiant se enterravam na cabeceira da cama próxima à sua cabeça, e ela viu que a madeira tinha se partido. A cabeça dele estava jogada para trás, a boca aberta para permitir que aqueles ronronares grossos emergissem de sua garganta. Ele desceu a cabeça até os seus olhares se prenderem. Ele tinha um olhar selvagem naqueles olhos sensuais que estavam tão cheios de desejo e achou incrível ele conseguir permanecer tão quieto.
— Eu vou gozar se fizer isso outra vez. É assim que você se sente quando eu lambo a sua boceta para provar o seu creme? É maravilhoso. É tão bom. — A voz dele soava desumana, mais um rugido do que uma voz realmente.
Ela fitou a pobre cabeceira, feliz por ela ter sentido as unhas dele e não a sua pele.
— Acho que já está pronto para a camisinha.
Ele assentiu.
— Qualquer coisa.
Ela se inclinou, ainda montada em suas coxas, e pegou os pacotes. Garantiu que ele pudesse ver o que fazia quando tirou um da cartela, usou os dentes para abrir o plástico e lhe mostrou o aro de borracha. Ficou feliz ao notar que a marca era destinada a homens grandes. Duvidava que conseguisse colocar uma de tamanho normal nele. Valiant definitivamente não era um cara do tipo tamanho único.
— Veja.
Ela a colocou por cima da coroa do seu pênis e a desenrolou lentamente até a base. Ele grunhiu e mais da cabeceira suportou a agressão das suas unhas. Mas não desviou os olhos quando ela demonstrou como a camisinha funcionava. Seu corpo também doía e ela o queria dentro dela. Por mais tentada que estivessem em acabar com ele com a boca, ela se sentiu egoísta por um momento, doendo-se de vontade de fodê-lo.
Soltou seu pênis agasalhado e engatinhou por cima dele até as coxas apertarem o seu quadril. Uma mão foi para trás para agarrar seu membro incrivelmente ereto e ela o guiou para dentro da vagina enquanto ajeitava o quadril para que se alinhassem perfeitamente.
Prendeu os olhos nos dele. Ele parecia assombrado quando afundou nele, seu corpo molhado já preparado para ele. Ela gemeu quando as paredes da sua vagina foram separadas pelo grosso pênis de Valiant.
Ele rosnou e ela ofegou quando de repente a agarrou e eles rolaram. Ela acabou debaixo dele, presa, o pênis enterrado fundo em sua vagina. Ele segurou os seus pulsos, colocou-os acima de sua cabeça e usou os braços para firmar o peso. Seus olhares se prenderam.
— Prenda as pernas em volta de mim. — Não era um pedido, era mais uma ordem em forma de rosnado.
O olhar selvagem dele tinha ficado completamente irascível. Mas ela não sentiu medo quando abriu mais as pernas e as passou ao redor da cintura dele até apertar sua bunda firme com as panturrilhas.
Ele abriu os joelhos, enterrou-os no colchão para ter uma tração e se retirou um pouco apenas para meter-se fundo de volta. Ela gritou de prazer. Ele rosnou. A boca mordiscando o seu ombro, empurrando com gentileza sua cabeça de lado.
A mordida forte fez coisas incríveis com ela. Não doeu tanto, mas enviou uma explosão de desejo dentro dela. A força de Valiant a deixou mais excitada quando ele parou, completamente no controle, e então começou a balançar o quadril para fodê-la com lentidão.
— Estou lutando contra os meus instintos. — grunhiu ele em sua pele.
— Não lute. — ela gemeu, prendendo as pernas com mais força ao redor dele.
Ele levantou a cabeça e olhou em seus olhos.
— Acabei de machucar você.
— Não machucou. Foi gostoso.
— Me diga se eu te causar dor. Estou sempre com medo de ser bruto demais. — Ele a olhou nos olhos quando os lábios começaram a se mexer, os músculos do seu traseiro tensos contra as suas panturrilhas, e ele começou a dar investidas profundas e firmes.
Tammy jogou a cabeça para trás, os olhos fechados, e pôde sentir cada sova poderosa do pênis dele quando a cavalgou desesperadamente, criando uma fricção apertada e deliciosa entre os corpos ligados que rapidamente se transformou em um orgasmo fortíssimo.
Valiant rugiu quando os músculos da sua vagina se prenderam em volta dele e ela gritou o seu nome.
Eles ofegavam e Tammy sorriu. Valiant devolveu o sorriso.
— Não foi muito ruim, foi? Eu disse que não ia doer usar uma camisinha.
— Eu prefiro não usá-las, mas não doeu. — Ele hesitou. — Eu deixo ela? Quero virar você e montá-la por trás.
— Primeiro me dê um minuto para recuperar o fôlego e, não. Essa daí tem que ser jogada fora e eu vou colocar uma nova em você.
Os lábios dele se curvaram.
— Entendo. — Retirou o pênis lentamente e saiu de cima dela para ficar deitado esparramado de costas. — Vá em frente. Eu gosto da sua boca.
Tammy virou de lado e deu um risinho. — Acho que criei um monstro.
Ele parou de sorrir.
— O que quer dizer?
Ela riu em resposta.
— Nada. Foi uma provocação.
Ela sentou e olhou em volta, procurando uma lata de lixo. Se provocá-lo com a boca fez com que usasse a camisinha, com certeza continuaria com essa tática. Ele tinha um gosto ótimo.
Tammy sorriu quando Trisha sentou no sofá.
— Fico tão feliz que tenha vindo. Valiant saiu há umas duas horas e fiquei entediada. Ele quis pegar umas roupas na casa dele e colocar comida para alguns amigos. — Ela fez uma pausa. — Fiquei com muito medo de perguntar quem eles eram.
Trisha abriu um sorriso. — Ele gosta dos esquilos que vivem em volta da casa. Proibiu todos de matá-los. Ele coloca nozes e grãos para atraí-los para perto da casa. Está tentando ensiná-los que não vai comê-los ou algo do gênero.
— Isso é um problema? — Tammy sentou perto da médica e deu uma olhada no cooler que a mulher havia colocado em cima da mesa. — E o que é isso?
— A Zona Selvagem é uma área florestal da Reserva e é lá que Valiant mora. Ele tem uma meia dúzia de Espécies de vizinhos. Eles não são tão humanos como a maioria dos outros. Seus traços faciais são mais animais que humanos, para ser franca, e alguns são tão grosseiros quanto Valiant. Eles caçam coelhos e cervos na floresta, mas agora os esquilos estão fora do menu. Valiant gosta de observá-los por alguma razão e já decretou que não são comida. — Ela riu. — Eu só aceno quando ouço coisas desse tipo. Algumas coisas são, bem, eu simplesmente as aceito como são. Prometi frango frito. Achei que iria querer conversar hoje ao invés de esperar. Como está se sentindo?
— Muito melhor. Obrigada.
— Ótimo.— Todo o humor desapareceu. — Como vão as coisas com Valiant? As camisinhas chegaram?
— Sim. Um dos guardas as trouxe antes de ir para casa. Obrigada.
— Eles preferem ser chamados de oficiais. — Ela encolheu os ombros. — É uma coisa dos Novas Espécies. Já o convenceu a usá-las?
— Nós nos entendemos.
Tammy a estudou e ela sorriu.
— Então ele não se opôs muito?
— Eu mostrei as vantagens a ele.
A médica riu.
— Ótimo. Eu estava preocupada. Esse é o verdadeiro motivo de ter vindo hoje. Achei que você poderia ter mais perguntas ou que precisasse de alguém para ajudar a convencê-lo a usar a proteção. Ele ainda está se sentindo rejeitado?
— Eu não sei. Ele parece bem com tudo. Só preciso de mais tempo antes de considerarmos a hipótese de ter um filho. — Ela fez uma pausa. — E para ser sincera, é muita coisa para absorver.
— Sim, é. Estar com um deles vai mudar a sua vida.
— Um dos meus amigos me disse que tem pessoas protestando na frente da minha casa.
— Droga. Eu sinto muito.
Tammy deu de ombros.
— Eu não estou lá. E meio que odeio uma das minhas vizinhas então, espero que isso realmente a tire do sério. — Sorriu. — Ela passou anos me enchendo. Esse é o lado bom.
Trisha sorriu.
— Bom. Continue com o seu senso de humor. Isso ajuda. — Ela se levantou. — Vou pegar uns pratos na sua cozinha. Eu juro que estou sempre com fome. — Ela deu a volta na mesinha de café.
Tammy se ergueu para segui-la, olhando para a área no canto.
— Essas suítes são ótimas.
— E são abastecidas com tudo. — Trisha abriu um armário, tirou dois pratos e se virou. Seu rosto empalideceu de repente e ela ofegou. Os pratos quase caíram dos seus dedos que pareceram perder as forças.
Tammy os salvou antes que eles caíssem no chão, colocou-os na bancada e girou para fitar a outra mulher.
— O que foi? — teve que sustentar a outra quando os joelhos dela cederam, até ajudá-la a sentar em cima do carpete sem que se machucasse.
Trisha grunhiu, colocou os braços em volta da barriga e os seus olhos azuis se arregalaram.
— Chame Slade.
Tammy a soltou, virou, e correu para a porta. O Nova Espécie a postos no corredor pareceu assustado quando ela abriu a porta de supetão.
— Traga Slade aqui agora. Trisha está com dores e apertando a barriga. Chame-o e traga-o aqui. Eu não sei o que fazer nem o que há de errado com ela.
Ela deixou a porta aberta quando voltou correndo para Trisha. A médica ainda segurava a barriga de maneira protetora enquanto sentava nas pernas dobradas. Ela tinha começado a ofegar e Tammy ficou ao seu lado de joelhos. Agarrou os seus braços para garantir que ela não caísse.
— O que é? O que posso fazer?
— Contrações.
— Mas não pode ser. Você só tem o que? Cinco meses? — O terror abalou Tammy. — Vou chamar uma ambulância.
— Não. — Trisha sacudiu a cabeça em desespero. — Ninguém de fora. Slade virá e me levará para ver Harris. Ele é outro médico que trabalha aqui.
O oficial Nova Espécie do corredor correu para dentro do quarto com uma expressão temerosa no rosto. Tammy levantou a cabeça de súbito.
— Qual é o seu nome?
— Flame.
— Flame, por favor, pegue-a nos braços com muito cuidado e a coloque no sofá. Ela está tendo contrações, mas ainda é muito cedo. Precisamos do Dr. Harris com urgência. Ela não quer que eu chame uma ambulância.
Flame se abaixou e tocou cuidadosamente o ombro de Trisha.
— Slade está vindo. Posso levantar você? Vou te machucar mais? Você não deveria ficar onde está?
O rosto de Trisha se contorceu de dor quando outra contração veio. Ela apontou para o sofá com um dedo estremecido. Flame hesitou antes de levantar gentilmente a mulher nos braços e levá-la até o sofá, onde a depositou com suavidade de costas. Trisha grunhiu e continuou ofegando.
Tammy correu para o outro quarto para tirar o cobertor da cama e voltou às pressas para a sala, sem ter certeza do que mais fazer. Ela cobriu as pernas de Trisha já que a sua saia havia subido acima das coxas e ajoelhou ao lado do sofá. Flame tinha se dirigido à porta aberta e estava falando pelo rádio. Tammy segurou a mão de Trisha.
— A ajuda está vindo. Flame está chamando o Dr. Harris e o seu guarda-costas. Estou bem aqui, Trisha.
— Posso fazer alguma coisa? — Flame se aproximou delas, tendo acabado de pedir mais ajuda.
— Eu não sei. — Tammy entrou em pânico. — Ela só tem cinco meses de gravidez. Está cedo demais. Eu trouxe um cobertor caso ela entre em choque.
Ele praguejou com raiva.
— Vou esperar na porta para conduzir o médico para cá. Me diga se precisar de algo. — Ele fez uma pausa. — Aguente aí, Trisha. Slade já está chegando. Ele estava lá embaixo na cafeteria.
Trisha finalmente parou de ofegar. Seu rosto tinha ficado um pouco vermelho e o aperto na mão de Tammy diminuiu. A médica abriu os olhos. — Essa contração foi forte. Vocês têm relógio ou há um aqui perto? Preciso cronometra-las.
Tammy olhou para o aparelho de DVD.
— Estou vendo o relógio. O que mais posso fazer?
— Nada. Eu só quero Slade.
— Flame disse que ele está vindo. Você ouviu ele falando? Slade está lá embaixo.
— Ele sempre fica perto de mim.
— TRISHA! — Um homem berrou e então Slade se jogou pela porta de entrada. — Estou aqui.
Tammy teve que sair do caminho do homem grandão quando quase aterrissou em cima dela para chegar mais perto de Trisha. Ele agarrou a mão da médica e tocou em seu rosto com a mão livre. Ele tinha uma expressão aterrorizada. Tammy se afastou e levantou, deixando mais espeço entre eles.
— Fale comigo, doçura. O bebê está vindo? — Slade se aproximou mais.
Trisha assentiu.
— Precisamos ir para o centro cirúrgico.
— Tudo bem. Eu carrego você. Só aguente firme. Vou movê-la com muito cuidado.
— Ainda não. Estou sentindo outra vindo. — O rosto de Trisha se contorceu quando ela jogou a cabeça para trás e gemeu em voz alta quando começou a ofegar outra vez.
Tammy olhou para o relógio.
— Oh-oh. Ela disse para cronometrar as contrações, mas não passou nem um minuto desde a última.
A cabeça de Slade virou na direção de Tammy.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que as contrações estão muito próximas. Quanto mais próximas elas ficam, mas perto do bebê nascer. Com menos de um minuto de diferença normalmente já é a hora em que ele nasce pelo que eu sei. — Tammy encolheu os ombros. — Ao menos foi isso que me disseram.
— Porra. — rosnou Slade. — Trisha? Doçura? Estou aqui. — Ele esfregou o rosto dela com os dedos para confortá-la enquanto continuava segurando sua mão. — Estou bem aqui com você.
— Rápido. — gritou Flame do corredor. — Por aqui. Ela está aqui dentro.
Um homem usando um jaleco entrou às pressas na suíte com dois outros vestidos com fardamentos hospitalares em seus calcanhares. Os dois enfermeiros do sexo masculino carregavam uma bolsa de lona cada. Havia uma máquina em formato de caixa com um pequeno tanque de oxigênio que o médico depositou no chão. O cara de jaleco, que tinha que ser o Dr. Harris, tirou um par de luvas do bolso e as colocou.
Ele se abaixou por cima das costas do sofá para alcançar Trisha, tirou o cobertor que cobria o seu colo e parou. Ele encontrou o olhar de Slade, que assentiu, e o médico colocou as mãos debaixo da saia dela. Ele tirou a calcinha com a sua ajuda. O médico cutucou o seu joelho com o cotovelo com gentileza para abrir as suas pernas.
— Vou te examinar, Trisha. Preciso ver se há dilatação.
Trisha assentiu, ainda ofegando. Ela parecia estar sentindo muita dor. A contração durou por muito tempo. Dr. Harris retirou a mão com a luva ensanguentada.
— Slade, precisamos deitá-la. Ela está tendo o bebê agora. — O médico deu ordens aos dois enfermeiros. — Abram as bolsas e preparem-se para qualquer coisa. Rápido!
— Não vou permitir que ela tenha o bebê no chão. — rosnou Slade.
Tammy olhou para Flame, que ainda estava na porta. — Vá pegar o colchão da cama do primeiro quarto e traga para cá. — Tammy tentou não entrar em pânico quando pegou a mesinha de café e a arrastou para o canto da sala.
Flame trouxe o colchão queen-size para a sala com tanta facilidade que parecia que não pesava nada. Slade se moveu um segundo antes dele derrubá-lo no chão, perto do sofá. Slade colocou Trisha nos braços. Ela gemeu, mas passou os braços em volta do pescoço dele. Ele se virou gentilmente e a colocou sobre o colchão. Slade se afastou até sentar nos joelhos acima da cabeça dela. Ele a segurou debaixo dos braços com delicadeza e a puxou até que as suas coxas servissem como uma espécie de travesseiro para ela.
— Estou bem aqui, doçura. Estou com você, — ele a tranquilizou.
Trisha tentou relaxar. Ela colocou as mãos para trás para segurar com uma a coxa de Slade e com a outra a sua mão.
— Não me deixe.
— Teriam que me matar para me tirar do seu lado.
Um sorriso curvou os lábios de Trisha.
— Você sempre me faz sorrir. — Sua atenção se fixou no Dr. Harris. — Bem?
— A única coisa que a impede de ter o bebê é que a sua bolsa não se rompeu. Quando as contrações começaram?
Trisha olhou para Tammy com expectativa. Tammy olhou para o relógio.
— Há uns seis minutos.
O médico não parecia feliz com as notícias.
— Isso está acontecendo rápido demais.
— Nós sabíamos que provavelmente aconteceria logo. — disse Trisha baixinho. — O bebê está pronto para nascer. Acho que ele não pode nem esperar um tempo normal para isso.
Os dois enfermeiros abriram os suprimentos emergenciais. As bolsas tinham zíperes longos embaixo delas que se abriam de um jeito parecido com pastas com tudo devidamente armazenado em duas metades fechadas de bolsos de plástico.
Tammy se afastou mais, agora presa no canto, para dar mais espaço a eles. Teria que passar pelos equipamentos médicos para sair. Ficou onde estava.
— Tem mais sangue do que eu esperava. — rosnou Slade.
— Não muito. — suspirou Dr. Harris. — É uma quantidade normal. É a placenta. Assim que eu romper a bolsa, se ela não romper sozinha, esse bebê virá. — Ele olhou para os dois enfermeiros. — Estamos prontos? Não temos certeza se os pulmões estão completamente desenvolvidos. Eles parecem ótimos na ultrassom, mas precisamos estar preparados no caso de complicações.
— Os pulmões dele estarão ótimos. — grunhiu Trisha. — Aí vem outra.
— Estamos prontos. — um dos enfermeiros disse, agarrando a caixa com o oxigênio que o doutor havia trazido, e colocando-a próximo aos equipamentos, a fácil alcance.
— Tão prontos quanto podemos estar em um quarto de hotel. — o outro concordou.
— Não temos tempo para movê-la para a ala traumática. — Dr. Harris ficou de joelhos entre as coxas de Trisha. — Eu baixarei a saia já que é folgada.
Slade assentiu. Ele virou para olhar para a porta. Flame estava lá com mais alguns Espécies que chegaram para espiar pela porta aberta.
— Saiam daí.
Eles recuaram e a porta se fechou ao saírem. Slade prendeu o olhar em Tammy, mas depois ele a ignorou. Tammy assumiu que isso significava que podia ficar já que não a mandou sair com os demais. Ela realmente não tinha muita escolha já que estava presa. Trisha ofegou antes de segurar a mão de Slade com força novamente. Slade levantou a sua mão para beijá-la e os dedos da sua outra mão correram pelo cabelo dela, acariciando-a.
Harris limpou a garganta.
— Eu vou examiná-la outra vez. — Dr. Harris colocou uma nova luva. Ele a examinou e assentiu. — Eu diria que só uns empurrões e o seu filho nasce. Está pronta.
Trisha assentiu, olhando para Slade.
— Não fique tão assustado. Estou sendo corajosa aqui, então você também tem que ser. Ele vai estar ótimo e saudável. Eu fiz todos os exames que existem e não encontramos nada de errado.
Slade assentiu.
— Eu sei Trisha. Não posso evitar ter medo por você e por ele.
— Não tenha. Vamos ficar... Merda! Tem outra vindo.
— Vá em frente e empurre se sentir a vontade. — encorajou o Dr. Harris. — Só se sentir a vontade.
— Eu sei. — ofegou Trisha. — Também sou médica, lembra? — Ela grunhiu, sorveu ar, e seu rosto ficou completamente vermelho. Seu corpo ficou tenso quando começou a empurrar.
Os enfermeiros começaram a retirar coisas das bolsas de plástico. Tammy agarrou o peito com força, preocupada por estar prestes a ver uma tragédia acontecer. Bebês nascidos com cinco meses normalmente não sobreviviam e o seu coração estava se partindo por Trisha.
— Vejo a cabeça. — Dr Harris parecia animado. — Ele está vindo, Trisha. Tem uma cabeça inteira cabeluda.
Slade estendeu os braços, puxando a saia de Trisha até que ela alcançasse as suas costelas para expor totalmente sua barriga redonda. Seu foco se concentrou entre as suas coxas abertas para assistir o bebê nascer. Trisha arfou e empurrou com mais força.
— A cabeça saiu. Pare de empurrar. — ordenou o animado doutor.
Tammy não conseguiu evitar ficar olhando por cima do ombro de Slade. Dr. Harris pegou uma válvula de sucção para desobstruir a boca do bebê. Trisha tinha parado de empurrar e de ofegar desesperadamente. Tammy não conseguia afastar os olhos do que acontecia. Um enfermeiro passou uma pequena toalha em seguida, que o médico aceitou, tirando-a de vista, talvez colocando-a debaixo do bebê ou de Trisha.
— Empurre Trisha. Eu sei que está cansada, mas eu preciso de um empurrão forte seu para passar os ombros dele.
Trisha ofegou e ficou tensa quando empurrou. Um grito a rasgou quando o bebê deslizou do seu corpo para parar nas mãos ansiosas do Dr. Harris. O médico levantou o neném. Tammy fitou o que deveria ser um minúsculo bebê prematuro, mas ao invés de um, o que havia era um bebê com aparência de nove meses.
Dr. Harris aninhou o bebê no corpo, entre o braço e o peito, a palma da mão segurando o bumbum do pequeno e usando a toalha com delicadeza para esfregar o torso e o rosto dele. Um grito de recém-nascido cortou o ar. Tammy quase desmoronou de alívio ao ouvir o maravilhoso som. Um dos enfermeiros se inclinou para cortar o cordão umbilical. Ele ajudou na retirada da placenta e a limpar Trisha depois.
O bebê choramingava e se remexia nos braços do médico. Ele de fato parecia saudável e de um tamanho normal, se não um pouco maior, que um bebê de nove meses. O médico aceitou outra toalha de um dos enfermeiros para secar o neném. Ele parou de chorar, mas continuou a se mexer e a chutar as pernas rechonchudas. Dr. Harris sorriu quando envolveu o recém-nascido no cobertor.
— Ele parece ótimo, pessoal. — Dr. Harris riu, mostrando todos os dentes. — Absolutamente saudável. Sua cor é perfeita, está respirando como um campeão, dez dedos nas mãos e nos pés e é bem forte.
Trisha sorriu enquanto Slade irradiava completamente com felicidade. Ele hesitou e então estendeu os braços. O Dr. Harris se inclinou e transferiu o bebê que protestava para ele. As mãos grandes de Slade seguraram o neném com gentileza e ele o abaixou até os braços ansiosos de Trisha. Os dois seguraram o bebê juntos, sorrindo e fitando maravilhados o recém-nascido.
Dr. Harris tirou as luvas, sorriu e bateu na mão do enfermeiro próximo a ele.
— ISSO!
Todos os três da equipe riram. Dr. Harris saiu de cima do colchão e se levantou. Tammy viu em choque quando o médico deu abraços de urso nos dois enfermeiros que o ajudaram. Eles se viraram então, observando Trisha com o bebê. Todos os três pareciam mais do que felizes.
— Temos o nosso primeiro bebê Nova Espécie saudável! — Riu o Dr. Harris. — Parabéns, Trisha e Slade. Ele é lindo.
Slade sorriu para o doutor.
— Obrigado, Harris.
O médico assentiu. Trisha de repente estendeu a mão livre, agarrou os cabelos da nuca de Slade e puxou seu rosto na direção do dela. Ela deu um beijo sonoro em sua boca.
— Amo tanto você, pirulito.
Ele riu e a beijou de novo.
— Eu também te amo, doçura. O nosso filho é um milagre. Um presente. Obrigada.
Tammy deixou que as suas palavras e ações fossem absorvidas até que ela se tocou da coisa toda de uma vez, como se tivesse levado um tapa. Olhou de boca aberta para Trisha e Slade, o homem grandão Nova Espécie com o cabelo castanho claro com mechas loiras. Trisha tinha acabado de dar à luz ao filho de Slade.
Tammy pôs os olhos no bebê, percebendo que ele era o primeiro neném Novas Espécies. Foi isso que o Dr. Harris disse. Trisha só tinha cinco meses de gestação. O bebê era enorme e obviamente nasceu com saúde. Ela prendeu o olhar nas feições minúsculas do neném que conseguia ver de sua posição. Percebeu que aquele rosto pequeno e enrugado não era totalmente humano. O nariz parecia muito achatado, muito largo, e nunca tinha visto um bebê com as maçãs do rosto tão proeminentes. Bebês tinham bochechas redondas e gorduchas, mas aquele era diferente.
Trisha não tinha um namorado por aí. Slade era o seu namorado. Ele sempre ficava com ela. Sempre.
Eles se beijaram outra vez, rindo. É por isso que Trisha sabia que era possível que mulheres humanas engravidassem de Novas Espécies. Tammy juntou todas as peças rapidamente. Trisha sabia por que Slade a engravidou. Não apenas isso, mas um bebê gerado por um Nova Espécie podia nascer aos cinco meses de gravidez.
Tammy se escorou na parede, precisando do apoio para continuar de pé, e ficou vendo o casal curtir a família que formaram. O amor entre Trisha e Slade, a alegria de ter um filho saudável, fez com que também ansiasse um pouco por algo parecido. Eles estavam incrivelmente felizes e isso era claro de se ver. Mordeu o lábio quando sua atenção se concentrou apenas no bebê. Sempre tinha amado segurar os bebês das suas amigas nos braços e sempre desejou um dia se tornar uma mãe.
Poderia realizar aquele desejo com Valiant se engravidasse dele. Aquele casal poderia ser nós dois um dia. O pensamento a chocou.
Valiant não pôde evitar sorrir quando entrou no quarto. Tammy estava sentada na cama com os travesseiros empilhados nas costas, assistindo televisão, mas o seu olhar encontrou o dele quando fechou a porta devagar. Ele tinha acabado de voltar de casa para encontrar a sua suíte num furor de atividade.
Colocou a bolsa com as suas roupas no chão ao lado da porta que havia fechado. Trisha tinha dado à luz ao filho de Slade, correu tudo bem, e a segurança estava prestes a removê-los da suíte para realojar a nova família no centro médico. Ele viu o bebê e aquela visão trouxe uma felicidade extrema em seu coração.
— Ele é perfeito. Você o viu?
Ela assentiu.
Parecia pálida e ele franziu o cenho, um pouco da sua felicidade se esvaindo.
— Eles disseram que você sabe da verdade. Está com raiva de mim por não te contar que Slade era o pai do filho de Trisha? Não me foi permitido repartir essa informação. Me desculpe. O segredo não era meu para que contasse.
— Não é isso.
Ele fez uma pausa, precisava de um banho depois de ter andado pela floresta, mas queria saber qual era o problema. Aproximou-se da cama e permaneceu de pé lá.
— Está com raiva de mim por não lhe dizer que Slade era o pai.
— Não estou. Sério. Eu fiquei sentada aqui pensando bastante. Entendo por que não me contaram. Ainda não saberia quem era o pai do bebê se ela não tivesse entrado em trabalho de parto na nossa sala, certo?
— Não mentirei para você. Não. Provavelmente não.
— Eu o vi.
— Slade? Ele nunca sai de perto de Trisha e se precisa sair, nunca vai muito longe.
— O bebê. — Ela lambeu os lábios. — Ele é a cara do pai. Quero dizer, é difícil dizer com recém-nascidos, mas ele tem as mesmas feições.
— Slade é o pai dele. Ele é o primeiro bebê Nova Espécie a nascer.
— Há muito gente no mundo que não vai ficar feliz quando descobrir sobre esse bebê.
O corpo inteiro de Valiant ficou tenso.
— Vai contar a eles? — A dor de uma possível traição o rasgou por dentro.
— Não! — Ela franziu o cenho e o olhou com raiva. — Eu só quis dizer que entendo por que não me contou. Já entendi. Trisha e o bebê vão correr perigo se esses grupos de Ódio e lunáticos descobrirem. Homens como os que me sequestraram viriam atrás deles. Ou pior. Simplesmente os matariam de imediato.
Conseguiu respirar novamente agora que sabia que ela manteria o bebê em segredo.
— Sim. É o nosso maior medo e o motivo de tão poucos saberem sobre Forest.
— Forest?
Ele sorriu.
— É como chamaram o bebê. Forest Slade North.
— Gostei. — Ela sorriu.
— Ele foi concebido numa floresta.
Tammy riu.
— Sério?
— Sim. Trisha insistiu no nome e Slade concordou. Ele gostou.
— Eles se amam muito mesmo. Eu os vi juntos. Estão tão felizes com o neném.
— Estão. — Ele inclinou a cabeça, observando-a, tentando adivinhar o que a incomodava.
— O que tem de errado com isso?
Ela se moveu de repente e engatinhou na direção dele por cima do colchão. O coração de Valiant acelerou e seu olhar viajou pelo corpo dela. Seu pênis endureceu instantaneamente quando viu o jeito sensual com que se aproximava. Ela parou a centímetros da beira da cama, o olhar preso ao dele, e sorriu.
— Eu fiquei com um pouco de inveja.
Ele tentou entender o que ela queria dizer, mas não tinha certeza se conseguia.
— O jeito que eles se olhavam e o amor entre eles. Até mesmo o bebê. Eu juro que ele é o bebê mais lindo que eu já vi. Por favor, sente.
Ele sorveu o ar e sentou ao lado dela. As batidas do seu coração aumentaram ainda mais e de repente Tammy se levantou e jogou a perna por cima do seu colo para sentar em suas coxas. Os braços dela se prenderam atrás do seu pescoço e os dedos roçaram o seu cabelo. Ela sorriu para ele.
— Acho que qualquer bebê seu seria absolutamente adorável.
Ele não conseguia falar. Sua mente deu um branco. Não queria entender mal as suas palavras, mas quase parecia que estava se oferecendo para ser a mãe de um filho seu.
— Ainda não estou pronta para ter um, mas agora estou pensando na possibilidade.
Ele sorriu.
— Verdade?
— Precisamos nos conhecer melhor, mas eu quero nos dar uma chance. Acha que eu poderia conseguir um trabalho aqui na Reserva? Talvez ficar por um tempo? Não estou com pressa de voltar à minha vida antiga. Eu gostaria de ficar aqui com você e ver aonde isso vai dar.
— Nós iremos para a minha casa. — Seus braços a envolveram. — Não precisa de um trabalho. Você é minha. Tomarei conta de você.
— Não é tão simples.
— Sim, é. — Ele a puxou mais forte contra o corpo. — Seu lugar é comigo.
Ela se enroscou em seu peito e seu coração se encheu de uma sensação de conforto e calor.
— Eu quero ficar com você.
A confissão dela fez o seu coração crescer com mais amor ainda. — Nunca deixarei que vá embora. Você é minha e eu sou seu.
Ela riu.
— Você faz isso parecer tão fácil.
Ele esfregou a cabeça dela com a bochecha. — E é. Fique comigo e verá.
— Não vou vender a casa da minha avó. — Tammy franziu o cenho para Valiant e então para o advogado que estava sentado na sala de estar da suíte. — Eu tenho que vender? Tenho algum dinheiro guardado para pagar os impostos deste ano. Foi a casa onde eu cresci. É tudo o que tenho.
Valiant rosnou baixo.
— Você não precisa mais daquela casa. Vai viver em nossas casas aqui. A minha casa é sua agora. Não há razão para ficar com ela.
Charlie Artzola clareou a garganta.
— Ela possui várias coisas que gostaria de manter. É normal. Foi o lugar onde cresceu e está cheio dos seus pertences e lembranças.
Valiant hesitou.
— Tudo bem, mas você não vive mais lá. Pode ficar com ela, mas nunca mais morará lá outra vez. Seu lugar é comigo, aqui, em nossa casa. Não é seguro para você sair da Reserva. Já foi atacada uma vez.
O advogado exalou de alívio e deu um sorriso para Tammy.
— Agora, podemos seguir com a papelada? Você precisa assinar isso para que eu possa obter a licença de matrimônio.
Tammy hesitou. Valiant queria casar com ela e fez o advogado vir com os papéis prontos para iniciar o processo. Parecia que ele queria pressioná-la a um casamento às pressas. Não esperava que quisesse selar o acordo tão imediatamente quando tinha dito que sim à sua proposta, mais cedo naquela manhã.
Tammy virou-se para olhar Valiant.
— E se eu quiser voltar a trabalhar? Gosto de trabalhar às vezes.
Ele rugiu e seus olhos dourados se estreitaram.
— Estará ocupada demais para querer trabalhar. Eu a manterei muito ocupada. — fechou a boca. — Quero que fique em casa comigo. Cuidarei de você.
Ela fechou os olhos e contou até dez. Valiant tinha uma tendência a ser extremamente controlador. Não era um traço sempre atraente nele. Era a única coisa que a tirava do sério. Ela abriu os olhos para ver Valiant fitando-a com o olhar sensual que sempre fazia efeito nela.
— Eu te amo.
As palavras fizeram seu coração derreter.
— Ama?
— Você é tudo para mim. — Valiant de repente deslizou do sofá e caminhou nos joelhos para encará-la de frente. As mãos dele tocaram seu rosto. — Estou feliz pela primeira vez na minha vida e você é o motivo. Quero passar o resto da vida com você, Tammy. Eu sei que está surpresa por eu querer me casar com você agora, mas sei o que quero. E o que eu quero é você.
— Hum. — O advogado limpou a garganta outra vez. — Devo voltar mais tarde?
— Não. — Valiant rosnou. Sua expressão suavizou. — Eu te amo. Você é minha e eu sou seu. Iremos resolver essas coisas. Nós queremos ficar juntos. Estamos felizes e somos companheiros.
Tammy olhou em seus olhos, incapaz de desviar. Ele falava sério, cada palavra. Podia ver isso tão claro quanto as pintinhas douradas nos seus olhos exóticos. Os últimos dias juntos tinham sido os melhores de sua vida. Eles tinham muito o que resolver, mas todos os casais não tinham problemas? Ela sabia que sim. A ideia de uma vida sem ele parecia fria. Queria ir para a cama, que a abraçasse em seus braços todas as noites e acordar com ele mordiscando seu corpo e fazendo amor. Sabia o que sentia por ele. Era impossível não se apaixonar perdidamente por um homem daqueles.
— Ok. Eu amo você também. — Tammy sorriu para Valiant. — Estou dentro. Saia da frente e me deixe assinar os papeis.
O advogado parecia aliviado quando Valiant voltou a sentar e Tammy se inclinou para assinar os formulários, onde ele indicava. Podia estar cometendo um engano, mas quando olhou para Valiant, viu que ele mais que valia a pena o risco. Às vezes você tem que dizer foda-se. Sorriu. Merda acontece. Às vezes a merda é das boas.
— Bem, tudo pronto. — O advogado guardou rapidamente os papeis na pasta e se levantou. — Foi um prazer conhecê-los. — Ele quase correu pela porta de saída da suíte.
Tammy riu.
— Que mentira das grandes. Ele queria tanto ir embora que eu quase consegui sentir essa vontade na língua.
— Eu o assusto. Pude sentir o cheiro do seu medo.
— Sério? Só achei que ele estava chateado por eu não ter assinado logo a linha pontilhada sem enrolar. Ele não parecia feliz de estar aqui.
Valiant sorriu.
— Eu o assusto. O medo tem um cheiro, sexy. — Ele se aproximou dela. — Eu senti o cheiro do seu medo quando a conheci. Seu cheiro é doce quando tem medo e isso me excitou.
— Bem, nesse caso, aposto que você lamenta não poder me assustar mais.
— Você fica assustada quando fico com raiva de outra pessoa. Você acha que eu vou machucá-los. — Ele se aproximou mais. — Eu sempre me pergunto se o seu medo é por eles ou por mim.
— Por eles. Definitivamente. Eu sei que você acabaria com qualquer um, não importa o nome da vítima.
— Eu não ligo para o nome de ninguém quando quero arrebentar um.
— É apenas modo de dizer. — ela riu. Pressionou o corpo contra Valiant e esfregou as palmas em seu peitoral, querendo que ele estivesse sem camisa. Amava tocar a sua pele nua. — Estou tentando dizer que sei que você ganharia qualquer briga, mas não quero que acabe matando alguém.
— Por que não?
— Bem, tem todo aquele motivo do passar a vida inteira detrás das grades.
Ele deu de ombros.
— As nossas leis aqui não são as mesmas a que você está acostumada. Eu jamais mataria sem uma boa razão. Não seria punido por isso.
A campainha tocou, assustando Tammy. Valiant franziu o cenho antes que levantasse do sofá, fosse até a porta e a abrisse.
Tammy fitou o homem Nova Espécie que estava do outro lado. Era alguém que nunca tinha visto, mas de alguma forma ele parecia familiar. Só não conseguia se lembrar dele. Era alto, mais de um metro e oitenta e cinco, tinha um cabelo preto comprido e solto, e os olhos de gato mais escuros que já havia visto.
Ele deu um grande sorriso para Valiant, mostrou alguns dentes afiados e bateu as mãos nas laterais do corpo. Usava um terno preto feito sob medida caríssimo, mas que não camuflava as vibrações perigosas que ele transmitia. Tammy ficou tensa.
Valiant não retribuiu o sorriso.
— É uma honra você estar aqui.
O estranho assentiu.
— Obrigada por dizer isso. Eu ouvi as novidades e quis parabenizá-lo pessoalmente por encontrar uma companheira. Sei o quanto deve estar animado. É uma notícia maravilhosa.
Valiant sorriu.
— Sim. Obrigado. — Ele saiu da frente para permitir que o estranho entrasse. — Justice North, eu gostaria de apresenta-lo à minha Tammy.
Justice North? É por isso que ele parecia conhecido.
Tammy forçou um sorriso, tentou não olhá-lo de boca aberta, mas ele era uma celebridade. Era o líder e o cabeça da Organização Novas Espécies e o mais conhecido deles. Na televisão e nos veículos impressos seus olhos e cabelo não pareciam tão escuros. Tammy não tinha certeza se deveria continuar sorrindo para ele ou se deveria tentar apertar sua mão.
— É um prazer te conhecer. — ela ficou de pé, mas permaneceu onde estava.
Ele sorriu para ela, mas notou que tomou extremo cuidado para evitar que seus dentes afiados não fossem notados quando a encarou. Ela quase deu um tapa na testa quando percebeu por que não o havia reconhecido. Era por isso que não tinha sacado que era ele. Não eram apenas os olhos e o cabelo, mas ele sorria sem mostrar os dentes toda vez que o via na TV ou nas fotos.
— Também é bom conhecê-la, Tammy.
— Viu o bebê? — Valiant fechou a porta.
Justice riu.
— Vi. Ele é perfeito. Slade e Trisha estão muito orgulhosos e felizes. Todos nós estamos radiantes com o seu nascimento saudável.
— E o garoto é um Espécie.
Justice parecia irradiar alegria.
— Ele definitivamente é um Espécie.
— Eu tinha me perguntado se os traços humanos seriam mais fortes que os de Slade. — Valiant falou em voz baixa. — Espero, se a minha companheira e eu tivermos filhos, que ele se pareça comigo. Tammy crê que o nosso bebê seria adorável.
— Todos esperávamos que os traços das Espécies passassem quando o bebê nascesse. É bom não estarmos mais sozinhos e sabermos que viveremos nos nossos filhos nas gerações futuras. — Justice fez uma pausa. — Nas ter um filho que parecesse completamente humano também seria uma benção. Só ter o dom de gerá-los é o suficiente.
Tammy se manteve calada, incerta sobre o que dizer, enquanto observava os dois homens conversarem. Se perguntava se devia lhes dar algum tempo para que ficassem sozinhos, mas então Justice olhou para ela. Ele riu e olhou para Valiant.
— Você é tão pequena. — Justice a estudou. — Me perdoe por rir, mas Valiant foi insistente em algumas discussões que tivemos que nunca deveríamos ficar com humanas e se algum de nós virasse o companheiro de uma, ela deveria ser uma fêmea grande e robusta. Acho graça por ele ter reivindicado você. Não quero ofender, mas realmente é — ele sorriu, ainda escondendo os dentes. — engraçado.
— Entendo. — Tammy sorriu. — Não fico ofendida. Ele é enorme e eu não. Gostaria de se sentar?
— Infelizmente não posso ficar. Minha vida está cheia de compromissos que sempre me deixam com pressa. Ficarei aqui o dia inteiro para me reunir com o pessoal da segurança e para uma hora com a pessoa que cuida do meu cabelo. — Ele levantou a mão para tocá-lo. Suspirou pesadamente. — O nosso time de relações públicas exige que eu o clareie antes de aparecer na frente das câmeras. — Ele encontrou o seu olhar. — Eu pareço mais assustador com o cabelo escuro para você?
— Eu não o reconheci a princípio. Achei que parecia familiar, mas não soube por que até ouvir o seu nome. Seus olhos também parecem mais escuros.
— Também sou forçado a usar lentes de contato. Como disse, eles parecem achar que humanos me aceitarão mais facilmente se a minha aparência for mais suave. Eles também a mudam quando eu viajo em público para tentar esconder a minha verdadeira identidade já que sou tão conhecido.
— Você me parece ótimo. — ela admitiu. — Mas diferente.
— Obrigado.
Valiant estudou o outro homem.
— Vai ficar no hotel esta noite? Gostaríamos de jantar com você.
— Eu queria poder, mas tenho que dar uma coletiva à noite em Homeland para o noticiário noturno. Um helicóptero me levará depois da minha última reunião aqui. Provavelmente jantarei no caminho. Desejo um dia poder tirar algum tempo de folga. Infelizmente, não vejo isso acontecendo nem tão cedo. Voltarei depois de amanhã. Tenho que voar para me encontrar com o prefeito da cidade antes de voltar para Homeland para uma entrevista com o jornal local. É uma coisa sem fim.
— Deveria encontrar a sua companheira. — Valiant o olhou com simpatia. — Uma o deixaria feliz.
Justice riu.
— Eu não tenho tempo, Valiant. Todos os dias é sempre esse frenesi. Sempre há reuniões e conferências ou lugares em que preciso ir para mais reuniões. Nenhuma fêmea iria querer compartilhar desse fardo.
— Você tem uma vida dura. — Valiant se aproximou e apertou o seu ombro antes de baixar o braço. — Sacrificou muita coisa por nós, Justice. Todos te devemos e agradecemos por isso.
Justice deu de ombros.
— Alguém tinha que fazer isso, Valiant. Eu fui o melhor ao se adaptar aos humanos e tinha a melhor habilidade de me misturar. Era natural que assumisse o posto.
— Se houver alguma coisa… — Valiant deixou o resto da frase não dita, mas seu significado era claro.
— Obrigado, eu já sei disso. — Justice sorriu para Tammy. — Foi um prazer te conhecer e bem-vinda à família.
Valiant fechou a porta depois que o Nova Espécie se foi e caminhou até Tammy. Ele tinha uma expressão triste no rosto.
— Eu não invejo a vida que ele leva.
— Ele é um homem bem ocupado, com certeza.
Valiant assentiu e de repente puxou Tammy para os braços.
— Fico feliz que a minha única responsabilidade seja fazer você feliz. Ele leva o peso de todos os Novas Espécies em cima dos ombros.
— Também vamos adotar o sobrenome North quando nos casarmos?
Valiant assentiu.
— Sim. É uma honra levar o nome que ele escolheu. Eu o apoio e tudo o que ele fez pela nossa gente.
— O que quis dizer quando ele falou bem-vinda à família?
— Que você é uma de nós agora. Você é da família. Nós não temos pais, nem tios ou primos como os humanos. Só temos uns aos outros. Família é muito importante para nós e todos os Novas Espécies são considerados dela. Juntos ficamos fortes.
Tammy se encheu de tristeza.
— Algum de vocês sabe quem são os seus pais biológicos? Quer dizer, vocês devem ter tido pais, certo? Ao menos uma mãe que os carregou na barriga.
Valiant rugiu.
— Somos todos órfãos. Nossos pais nos abandonaram no inferno. Eles permitiram que Mercile nos criasse, não fomos nada mais do que um material doado por eles, e as fêmeas que nos abrigaram foram embora assim que o cordão umbilical foi cortado. Soubemos disso de alguns dos médicos que foram presos.
— Eu sinto tanto, Valiant. — Ela o abraçou, com o coração partido pelo seu passado. — Eu sempre disse que amor é tudo o que se precisa para se formar uma família. A minha mãe me abandonou. Nunca entenderei como ela pôde fazer uma coisa dessas, mas fico feliz por ter me dado à vida. Eu não estaria aqui se não fosse ela.
Ele a fitou nos olhos.
— Onde ela está? Está viva?
Tammy encolheu os ombros.
— Não faço ideia. Ela me largou com minha avó e nunca mais ouvimos falar dela. Minha vó achava que ela provavelmente tinha morrido. Ela disse que a minha mãe teria entrado em contato com ela pelo menos para pedir dinheiro ou coisa parecida. Eu costumava rezar para que ela aparecesse um dia e me dissesse que me amava e que lamentava muito ter me abandonado. Sabe como é? — A dor ainda fazia o seu peito doer um pouco. — Que ela me diria que tinha cometido um erro terrível. Depois de alguns anos percebi que isso não iria acontecer. Comecei a odiá-la um pouco e isso se transformou em uma raiva absoluta. Não quero vê-la agora se estiver viva.
Valiant sorriu.
— Você me tem agora e eu nunca a deixarei, Tammy. Você pertence a uma família enorme. Ele ou ela sempre saberá o que é amor e como é se sentir parte de um grande grupo que os amará muito se um dia tivermos um filho. Nosso filho nunca sofreria de solidão ou de dor. Ou nunca vivenciaria uma vida sem amor.
O coração dela se partiu mais um pouco por ele. Ouvia a dor em sua voz. Alguém o amou quando era criança? Ela ao menos teve a sua avó para amá-la. Tammy apertou o abraço.
— Eu te amo, Valiant. Amo muito.
— Eu também te amo e você me faz feliz por me amar.
A campainha tocou. Valiant rosnou.
— Ia levá-la para a nossa cama.
— Eu teria deixado.
A campainha tocou novamente. Valiant soltou Tammy quando ela se afastou dele. Ele foi rápido até a porta, parecendo irritado. Tammy teve que lutar contra um sorriso. Ele não tinha paciência de maneira nenhuma. Valiant abriu a porta com brusquidão.
— Temos um problema. — Tiger estava lá com a cara fechada. — Xerife Cooper nos ligou. Mais duas mulheres foram levadas da cidade. Eles precisam da nossa ajuda para localizá-las. E eu preciso da sua, Valiant. Sei que não é Tammy desta vez, mas essas mulheres trabalham para nós. Você é um dos nossos melhores rastreadores com o seu olfato apurado e embora os outros machos da Zona Selvagem tenham sentidos apurados como os seus não posso confiar neles perto de humanos. Os humanos perderam a pista na floresta. Vai ajudar?
Valiant estudou Tiger. Longos segundos se passaram.
— Valiant? — Tammy esperou até ele olhá-la por cima do ombro. — Por favor, ajude-os.
Ele piscou os olhos para Tammy antes de assentir.
— Farei isso por você. — Ele se dirigiu até o quarto. — Me deixe trocar de roupa. Estarei pronto em um minuto.
— Valeu. — sussurrou Tiger quando ficaram sozinhos.
Tammy assentiu.
— Acha que isso tem a ver com os homens que me levaram? O chefe deles já deve estar na cidade a essa altura a não ser que tenham descoberto quem ele é. Descobriram?
— Os que sobreviveram não abriram o bico com o nome do chefe ainda. Nós não temos ideia de quem os contratou para sequestra-la. Não sei de muitos detalhes, mas o xerife disse que as mulheres são colegas de quarto e que elas trabalham aqui, na Reserva. As duas são cozinheiras que decidiram viver na cidade ao invés de aceitar as acomodações para humanos que temos aqui. Alguém invadiu a casa delas e as levou. Os vizinhos ouviram gritos e testemunharam ao menos seis homens as levarem à força. Isso aconteceu há meia hora. Eles encontraram a van em que foram levadas no mesmo lugar onde você foi encontrada.
— Espero que as encontrem.
— Eu também. — Tiger suspirou. — O xerife acha que elas foram atacadas porque trabalham para nós. Isso significa que todos os nossos empregados humanos precisam ser alertados e que ofereceremos proteção aqui dentro para eles mais uma vez. Não sei onde os colocaremos, mas nós tomamos conta dos nossos. Pelo menos não há muitos deles. Slade está notificando um por um e cuidará dos arranjos.
Valiant voltou usando jeans, uma camiseta preta e tênis de corrida. Ele foi até Tammy, baixou os olhos para olhá-la e disse.
— Voltarei logo. Sentirei a sua falta.
— Também vou sentir a sua e obrigada por fazer isso. Tenha cuidado.
— Sempre.
Tammy viu os dois homens partirem. Ela sentou no sofá e começou a se preocupar. Se perguntava se conhecia as duas mulheres, se elas eram locais com as quais podia ter crescido junto, e desejou ter perguntado a Tiger seus nomes. Levantou-se de repente e foi até o telefone para ligar para a casa do seu chefe, Ted. O telefone tocou seis vezes, mas quem atendeu foi a secretária eletrônica. Ela deixou uma mensagem para alertá-lo de que poderia estar correndo perigo, só em caso dos Novas Espécies não terem pensado em entrar em contato com as pessoas que tiveram negócios esporádicos com eles.
Ela estava preocupada com Ted e com todos com quem trabalhou. Eles tinham feito mais do que alguns serviços de bufê para a Reserva desde aquele primeiro, quando tinha conhecido Valiant. Ela começou a ligar para os outros colegas de trabalho, mas também teve as mesmas respostas. Deixou mensagens para eles e incluiu o número de telefone indicado no aparelho que usava para que pudessem ligar de volta. Imaginou onde todos estavam, esperou que estivessem todos trabalhando e que não tivessem sido sequestrados também.
Segundos depois o telefone tocou. Ela o atendeu.
— Alô?
— Alô, Srta. Shasta. Aqui é Charlie Artzola. Nos conhecemos hoje, lembra? Estou no meu escritório no fim da rua e parece haver um problema.
Ela suspirou.
— Esqueci de assinar alguma coisa?
— Não. É que eu simplesmente não consigo achá-la no sistema. É como se você não existisse.
— Como é? — Estava chocada. — Que sistema? Eu não tenho ficha criminal.
Ele riu.
— Não. Quero dizer que coloquei o número da sua carteira de motorista, mas você não existe de acordo com a base de dados. Eu preciso enviar uma cópia dela via fax para conseguir a sua licença de casamento já que há uma espécie de falha no sistema. Tenho certeza que é só um mal-entendido, mas precisamos confirmar. Eu liguei para ao hotel e pedi que alguém da segurança pudesse escoltá-la até o meu escritório. Tenho certeza que podemos resolver isso se puder me trazer o documento. Eles aceitarão uma cópia dele via fax como prova de que você existe. — Ele riu. — Então, se importa de vir até aqui? Não deve levar mais do que talvez dez ou vinte minutos. Só traga a sua carteira de habilitação com você.
Ela suspirou.
— Claro. Deixe colocar uns sapatos e procurar a minha bolsa. É bom que o xerife a tenha me devolvido. Está por aqui em algum lugar. O pessoal da segurança disse que estava tudo bem com a minha saída? Eu devo ficar na suíte.
— Consegui a permissão de Tiger antes dele sair. Alguém chegará aí para escoltá-la quando estiver pronta para vir. Obrigado, Srta. Shasta. Isso é de grande ajuda. Eu sei que Valiant queria isso feito logo e não posso conseguir a licença sem submeter provas de quem você é.
— Vou me apressar.
Ela desligou e foi até o banheiro. Ao menos isso a distrairia de se preocupar com Valiant por um tempinho. Sua bolsa ainda estava no chão do closet onde Valiant a colocou depois que o xerife trouxe quando veio pegar o seu depoimento. Os Novas Espécies tiveram que checá-la primeiro e mandaram depois. Ela também soube que o xerife tinha mandado deixarem o carro em sua casa quando pegou sua bolsa da cena do crime.
Escovou os dentes e o cabelo outra vez. Não se importou com maquiagem. Quando mais rápido voltasse, melhor, sua cabeça ainda estava nos seus colegas de trabalho. Ela não queria perder as suas ligações quando recebessem suas mensagens.
Flame estava de pé do lado de fora, no corredor, quando ela abriu a porta. Sorriu para ele.
— O advogado ligou e disse que precisava de mim e da minha bolsa. — Ela a levantou para mostrá-lo. — E estamos as duas aqui.
Flame sorriu.
— Ele ligou. Está pronta para ir? O escritório dele não é longe. Eu pedirei um Jipe e a levarei lá.
— Obrigada. — Eles deixaram a suíte.
Flame usou o seu rádio para pedir que o veículo fosse trazido à frente do hotel enquanto esperavam pelo elevador e quando saíram no lobby ele já havia chegado. Flame a ajudou a subir e deu a volta no carro. Ele dirigiu do hotel para um escritório de dois pisos que tinha sido construído. Estacionou e a ajudou a descer.
A área da recepção estava vazia e o silêncio enchia o ar. Parecia que o prédio nem estava sendo usado. Flame hesitou.
— Não tenho certeza de onde fica o escritório dele. Nunca estive aqui antes. Só alguns empregados humanos trabalham na Reserva e não fui designado para este posto. Ele lhe disse onde ficava?
— Não.
Flame suspirou.
— Vamos encontrá-lo. Eu ligaria para algumas pessoas, mas estamos em alerta no momento e não quero incomodar ninguém quando posso encontrá-lo pelo faro. — Ele sorveu o ar algumas vezes e apontou para o corredor à esquerda. — Por aqui. Macho, humano e recente. A loção pós-barba dele cheira forte e não de um jeito bom.
Ela riu.
— A maioria dos homens não tem ideia e usam as que fedem mesmo.
— Nós costumamos ser sensíveis ao cheiro. A maioria do nosso pessoal usa produtos com aromas naturais. Humanos não.
Tammy o seguiu por um labirinto de corredores.
— Estão em alerta máximo por causa das duas mulheres que foram levadas na cidade?
Ele assentiu.
— Sim. Apertamos toda a segurança de quem entra e posicionamos os nossos atiradores no topo da muralha caso alguém decida tentar invadir a Reserva. Nunca esqueceremos o ataque que ocorreu em Homeland.
Ela tinha ouvido falar sobre o ataque no noticiário. Um grupo de Ódio atacou a Homeland dos Novas Espécies bem depois que havia sido inaugurada. Eles derrubaram o portão de entrada e um bando de homens armados invadiram o local em caminhonetes.
O ataque resultou em mortes. Com sorte os mortos tinham sido quase todos os membros do grupo de Ódio. Tragicamente, alguns eram guardas humanos que trabalhavam em Homeland. Foi chocante que algo daquele tipo pudesse acontecer. Obviamente os Novas Espécies tinham medo de outro ataque e ela não os culpava por isso.
Eles encontraram Charlie Artzola no segundo piso, em um dos escritórios. Estava sentado atrás da mesa de trabalho, remexendo em uma gaveta. Ele olhou para os dois quando entraram e sorriu.
— Foi rápido.
— Eu lhe disse que a traria imediatamente. — Flame se escorou na parede do lado de dentro do escritório.
— Sente-se, Srta. Shasta. — O advogado indicou uma cadeira com o queixo. — Você e os seus homens podem entrar e sentar também. Há quatro cadeiras e eles também podem fazer uso delas.
— Somos apenas nós. Estou bem aqui de pé. — Flame relaxou a sua posição.
O advogado assentiu.
— Estou procurando as anotações que fiz. Peço perdão por isso. Estava nervoso e acho que anotei a informação errada. Eu posso simplesmente ter colocado o número errado de habilitação e o sistema pode encontrá-la agora para que eu não tenha que enviar um fax para eles. — Ele se abaixou mais atrás da mesa quando Tammy sentou em uma cadeira mais próxima a ele. — Aha! Encontrei. Tenho certeza que é só um erro. Provavelmente errei um ou dois dígitos. — Ele fechou a gaveta.
Tammy escorou as costas na cadeira e colocou a bolsa no colo. O advogado se endireitou. Ela mal teve tempo de reagir antes de ver que não era um papel que ele tirou da gaveta. Era uma arma com uma aparência esquisita que ele apontou para Flame e disparou. Tammy ofegou. Flame grunhiu detrás dela e caiu ao chão.
Tammy se virou em horror para ver Flame esparramado no carpete. A arma não tinha feito muito barulho. Flame tinha caído de lado perto da porta. Ela o olhou de boca aberta, perplexa demais para fazer outra coisa por vários segundos. Não viu sangue algum quando ficou lá, sentada e imóvel. Finalmente readquiriu a habilidade para se mexer. Virou a cabeça na direção do advogado para descobrir que ele apontava a arma estranha para ela.
— Você vai fazer exatamente o que eu lhe mandar se não quiser morrer, Srta. Shasta. Eu não tenho escrúpulo algum de matar uma mulher.
Ela abriu a boca, mas nenhum som saiu. A arma não estava a mais de meio metro, apontada diretamente para seu rosto. Ela sabia que ele não erraria o tiro tão perto daquele jeito. O advogado levantou devagar da cadeira com os lábios enrugados. A arma enorme nem balançou.
— Levante-se devagar. Eu atiro nas suas costas se tentar correr.
Depois de um bom momento de tentar fazer com que o seu corpo se mexesse, ela conseguiu ficar de pé. Sua bolsa deslizou para o chão já que seus dedos se recusavam a segurá-la. O advogado balançou com a arma para a porta.
— Vamos sair até o meu carro e você vai entrar no porta-malas. Matarei você se não o fizer. Você me entende?
Ela engoliu com dificuldade.
— Por que está fazendo isso? O que quer?
Ele a olhou com raiva.
— Alguém que conheço quer conversar com você. Ele está profundamente preocupado que você tenha sido compelida a se casar com um Nova Espécie.
Seu cérebro começou a funcionar. O advogado não ameaçaria mata-la se alguém só quisesse ter uma conversa com ela. Ele estava mentindo sobre isso. Mordeu o lábio e tentou dar um passo. Não via como escapar dele sem ser baleada. Não tinha como ele errar se disparasse a arma.
Ela baixou o olhar para o Nova Espécie no chão. Ele não se movia, mas ela ainda não via sangue. Quando deu dois passos na direção de Flame e da porta, percebeu duas coisas. Os olhos de Flame estavam fechados, mas seu peito subia e descia, prova de que ainda respirava. Teve que passar por cima do seu braço e então de sua perna para sair do escritório.
Olhou para trás, para Charlie Artzola. Ele estava perto e ainda apontava a arma para ela. Caminhou, seguindo as suas ordens conforme ele a direcionava. O coração de Tammy martelava de medo, mas as palavras de Tiger vieram à sua memória.
Os Novas Espécies estavam em alerta. O advogado nunca seria capaz de sair da Reserva sem que eles a encontrassem. Quando ela tinha levado a sua van do bufê lá eles tinham revistado cada centímetro dela. Tinha que confiar que eles revistariam a traseira do carro do advogado e a achariam. Eles saíram do prédio por uma porta dos fundos onde um belo sedã de quatro portas estava estacionado.
Ele fez Tammy esperar enquanto abria o porta-malas. Voltou a vir para perto dela, mirando a arma para o seu peito.
— Entre aí e fique bem quietinha. O porta-malas é muito pequeno para que eu erre quando atirar no banco de trás. Me entende? É melhor não gritar quando passarmos pelo posto de controle. Eu matarei qualquer Nova Espécie que perceber você. Sua vida só está em perigo se me fizer atirar. Meu amigo quer mesmo falar com você, Srta. Shasta. Ele ficará com raiva se eu tiver que matá-la então faça um favor a nós dois. Entre e fique quieta.
— Quem mandou você fazer isso comigo?
— Isso não tem importância. Tudo o que importa é que vai sair disso no fim se não me causar nenhum problema.
Tammy quis gritar e pular em cima do homem, atacando-o. Claro que não acreditava que não corria perigo se obedecesse. O advogado era um grande mentiroso. Ela ficou dividida. Lutar ou fazer o que ele mandava?
Ele praguejou baixo, parecendo sentir o seu dilema.
— Isso aqui é uma arma contendo duas fortes drogas fabricadas para conter e matar Novas Espécies. Você não teria chance de sobreviver se eu atirasse em você. Entre no porta-malas e fique calada.
Contando que estivesse viva havia esperança de que seria salva quando chegassem ao portão.
— Vou entrar. Só não atire em mim, — conseguiu dizer. — Estou indo.
O porta-malas era pequeno. Tammy teve que deitar curvada de lado, os joelhos pressionados ao peito. Ele olhou para ela com a cara fechada quando pôs a mão no bolso de trás para pegar algo. Ele tirou uma seringa e tirou a capa de plástico com os dentes.
— O que é isso? — Terror pulsou dentro dela.
— Algo para garantir que fique quieta. Você vai ficar bem. Simplesmente não posso arriscar que grite quando chegarmos ao posto. — O advogado enfiou a agulha na sua coxa, por cima da calça.
Tammy grunhiu com a pontada de dor. Ela olhou para ele com terror e ódio.
— Valiant vai arrancar as suas tripas e fazer com que você as coma. Isso é o que ele mais gosta de fazer.
Ele apertou os dentes.
— Você é uma doentia puta de animal. — Ele fechou a porta com força.
Ela lutou quando a escuridão a cercou e não estava mais sob ameaça direta da arma. Depois de algumas batidas inúteis no teto do porta-malas, o horror se espalhou pela mente quando seus membros começaram a ficar pesados. Suas mãos se recusavam a se fechar, os braços caídos no cotovelo e, finalmente, caíram por inteiro no assoalho do porta-malas.
Pânico veio em seguida. Qualquer que fosse a droga que ele havia injetado parecia ter lhe paralisado. Conseguia respirar bem e piscar os olhos, fitar a escuridão, mas o resto do seu corpo se recusava a funcionar. Tentou gritar, mas sua garganta foi afetada. Mal conseguia engolir e nem podia empurrar a língua nos dentes. Gritou dentro da mente, mas o som não passou pelos lábios.
O carro ligou. Tammy tentou se acalmar, percebendo como a sua situação tinha se tornado desesperadora. Pense! Os Novas Espécies checavam os porta-malas. Ela os viu fazer isso com um carro na frente do dela no primeiro dia que visitou a Reserva. Dois oficiais de segurança tinham feito uma vistoria na sua van em seguida. Tinham feito um trabalho bem meticuloso. Até abriram os frigobares na traseira da van e abriram os recipientes fechados para garantir que levavam comida e não armas. Tinham usado aparelhos manuais por cima da comida, verificando que nada havia sido escondido no meio dela.
Seria encontrada. Charlie Artzola não conseguiria tirá-la da Reserva. Ela sabia que muros enormes e grossos fechavam o lugar inteiro que só tinha dois portões na entrada. Ele não seria capaz de tirá-la de lá a não ser que passasse por esses postos de controle. Lágrimas de frustração deslizaram pelas suas bochechas e ela nem conseguia enxugá-las. Eles me acharão.
O carro diminuiu a velocidade em um ponto, mas não parou antes de ganhar bastante velocidade. Muito tempo se passou. O carro finalmente parou. Esperança surgiu dentro de Tammy. A qualquer Segundo um dos oficiais faria o advogado abrir o porta-malas. Eles a descobririam e ela seria resgatada e levada de volta à Valiant.
Ao invés disso, o carro andou novamente, ganhando velocidade. Mais tempo passou. O veículo parou outra vez, o motor foi desligado e Tammy concentrou o olhar no topo de sua prisão. Estava escuro lá dentro, completamente negro, ela não conseguia enxergar nada, mas soube quando a trava do porta-malas foi aberta. A qualquer segundo seria salva. Ouviu barulho de chaves, a esperança cresceu.
Luz cegou Tammy quando a porta foi aberta. Ela olhou para cima, mas não viu o rosto de um Nova Espécie. Charlie Artzola a olhava com ódio antes de virar a cabeça para olhar para outra pessoa.
— Eu disse que eles me deixariam passar. Eles confiam em mim. — O idiota zombou. — Aqui está a vadia que eu te falei. Eles queriam uma licença de casamento. Ela queria casar com um daqueles animais. Está morando e fodendo com ele. Ele parece pior que o resto deles. Nem parece meio humano. É um tigre ou algo parecido. É a maior aberração que eu já vi.
Tammy gritou dentro da mente. NÃO! Os oficiais no portão não podiam ter deixado ele passar. Outro homem se aproximou até Tammy fitar o rosto de um homem na altura dos sessenta anos. Ele usava óculos e era careca. Tinha a aparência de quem poderia ser o vovô bonzinho de alguém. Isso ate ele voltar um par de olhos verdes e frios que fez o seu sangue congelar. Ele franziu o cenho.
— Então — o homem mais velho falou em voz baixa. —, nós finalmente temos uma cobaia. Ela sobreviveu procriando com um deles. Alguma coisa nela atraiu um e, se a minha teoria estiver correta, essa química deve atrair o 927 também. Você disse que com ela estava procriando era um tigre? Bem, vamos ver como ela se dá com um cachorro. — Ele riu. — Espero que ele goste dela do mesmo modo que o tigre gostou.
Dois brutamontes assustadores em seus vinte e poucos anos de repente se aproximaram de Tammy. Eles a pegaram e a levantaram. Um deles pegou suas pernas e o outro a segurou debaixo das axilas. Eles a tiraram do porta-malas. Ela viu algumas árvores enquanto eles a carregavam como se fosse uma mala grande.
Avistou uma casa — uma branca precisando urgentemente de uma pintura. Só tinha um piso e ela não a reconheceu. Isso queria dizer que não estava perto da cidade. Quando eles entraram na estrutura ela fitou um teto de gesso rachado. Eles a derrubaram em um colchão.
A cama de solteiro ficava numa sala de estar. Um deles sorriu para ela e tirou algo de dentro do bolso. Ele puxou suas mãos para cima e a algemou em algo. Ela não conseguia virar a cabeça para ver no que a havia prendido, mas então suas pernas foram puxadas. Metal fechou cada tornozelo. O assustador próximo à sua cabeça se abaixou para fitá-la nos olhos.
— Espere só até conhecer 927. Ele vai amar você. — Riu, levantando o olhar para o outro homem. — Por mais ou menos uns dez segundos até quebrar o pescoço dela.
Tammy ouviu o outro rir.
O imbecil ainda inclinado em cima dela baixou os olhos.
— Eu quase sinto pena de você. 927 é a besta mais cruel que já foi feita, mas já que gosta da espécie dele, acho que pode gostar do tratamento bruto que vai receber quando ele montar em você. Se ele te montar. O Doutor acha que ele pode fazer isso já que um da espécie dele gostou de você.
— Afaste-se dela. — exigiu o homem mais velho em voz alta. Tammy reconheceu a voz dele. — Não queremos o cheiro de vocês nela porque ele irá matá-la de cara, uma vez que odeia tanto vocês dois. Precisamos que ela tenha o cheiro do tigre.
Valiant. Ela gritou o nome dele em silêncio. Ele seria capaz de encontrá-la novamente? Salvá-la? Ele ao menos saberia a essa altura que ela havia sido levada? Que alguém a sequestrou?
Lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ela gritou mais uma vez em sua mente. Valiant!
— Isso não faz sentido. — Tiger franziu o cenho para Valiant. — Por que eles levariam essas duas mulheres, se afastariam algumas milhas da casa delas para simplesmente deixá-las lá amarradas? Foi fácil demais encontrá-las.
Tiger assentiu.
— Eu não sei, mas elas estão bem. É isso que importa certo?
Tiger assentiu. Ele olhou para os outros três homens que tinha levado em seu time. Eles retribuíram o olhar. Tiger suspirou.
— Tem alguma coisa errada. Não posso dizer o que é, mas isso aqui não faz sentido nenhum. Qual é o propósito de levar duas mulheres, amarrá-las e abandoná-las em seguida?
Um dos homens encolheu os ombros.
— Eles são humanos. Às vezes eles não fazem muito sentido.
Xerife Cooper se aproximou de Tiger e do seu grupo com um sorriso aberto em seu rosto enrugado.
— Muito obrigado. Mais uma vez, devemos essa a vocês. As mulheres estão bem. Assustadas, mas só sofreram alguns hematomas. Elas queriam agradecer. Disseram que os homens não falaram nada. A única coisa que ouviram foi um homem perguntar se elas achavam que eles a tinham levado longe o bastante para que fossem difíceis de serem encontradas. Isso não faz sentido para mim, mas foi tudo o que ouviram. Elas dizem que os homens as levaram para a floresta, revezaram carregando-as em cima dos ombros para que conseguissem chegar aonde chegaram e simplesmente largaram as duas naquela árvore. Eles as amarraram e foram embora.
— Talvez planejassem voltar depois. — Foi um dos oficiais de polícia que trabalhava com o xerife quem disse. — Talvez quisessem mais mulheres e estejam procurando por outras vítimas. Devíamos deixar alguns oficiais aqui caso eles voltem.
O celular de Tiger tocou.
— Com licença. É da Reserva. — Ele virou e se afastou para atender. Ficou ouvindo o que lhe falavam e deu a volta. Tiger prendeu seu olhar sério em Valiant e hesitou.
— Acho que sei por que as mulheres foram levadas. — Tiger manteve a atenção presa a Valiant, mas depois olhou para o Xerife.
— Você me pediu, especificamente, que trouxesse Valiant. Por quê?
O xerife franziu o cenho.
— Bem, ele é o melhor rastreador de vocês. É por isso que pedi por ele.
— Quem te disse isso? — Tiger apertou os dentes.
— Um desses repórteres de fora que andam por aqui desde que Tammy foi levada. Eles praticamente acamparam do lado de fora da nossa central. Ele disse que faz matérias com vocês o tempo inteiro e que Valiant era o melhor rastreador que tinham. Disse que se mais mulheres fossem sequestradas o certo era chamá-lo porque ele seria a melhor chance de achá-las rápido.
— O que está havendo? — Valiant franziu o cenho. — Como algum repórter iria saber o meu nome? Nunca foi divulgado, foi? — Ele olhou para Tiger esperando uma resposta.
— Não, não foi. — Tiger parecia extremamente furioso. Ele olhou com raiva para o Xerife. — Lembra do nome do repórter?
O xerife hesitou.
— Não, mas conheço o seu rosto. Por quê?
— Tammy foi levada à força da Reserva. Levaram ela, Valiant. O nosso advogado pediu a Flame que a escoltasse até o seu escritório. Quando eles não voltaram ao hotel em vinte minutos e Flame não respondeu ao rádio, um time imediatamente saiu em busca dos dois.
O choque sacudiu Valiant.
— Não.
— Eles encontraram Flame no chão, inconsciente, dentro do escritório do advogado. Ele foi drogado com uma substância desconhecida. O advogado e Tammy desapareceram. A bolsa dela foi encontrada, mas nada dela. Nosso pessoal só captou o cheiro do advogado e de Tammy. Isso os levou até o estacionamento, o que torna óbvio que ele a levou. Temos certeza que ela não foi por vontade própria, porque o cheiro do medo dela ainda estava no local. Ele passou pelos portões. Confiávamos nele. Checamos os carros que entram, mas não os que saem quando são dirigidos por empregados de confiança. Ele a levou, Valiant. O sequestro dessas duas mulheres foi claramente uma manobra para afastá-lo de Tammy. — Tiger rosnou e fulminou o Xerife. — O homem que falou de Valiant usou você para atraí-lo.
Valiant jogou a cabeça para trás e rugiu de fúria.
— Vamos encontrá-la. — prometeu Tiger. — Todos estamos nessa.
Tammy tinha dormido em algum momento, mas acordou quando os brutamontes a soltaram da cama. Eles a arrastaram pelas pernas que mal funcionavam, seu corpo inteiro mole, para enfiá-la em um banheiro. Para sua humilhação, eles se recusaram a dar a ela qualquer privacidade, olhando-a com malícia enquanto usava a instalação. Não tinha escolha. Um deles a ameaçou se não obedecesse.
Eles agarraram seus braços depois e a arrastaram pelos fundos para uma van branca. O sol tinha se posto, assegurando-a que ficou inconsciente por horas, e que não foi lhe dada a oportunidade de fugir. Os dois homens continuaram segurando seus pulsos com força. Eles ameaçaram lhe bater se oferecesse qualquer resistência. Apenas um olhar para a caras deles e ela acreditou piamente no que diziam. Eles tinham olhos frios e trejeitos cruéis.
Eles colocaram uma coleira de metal em sua garganta e a prenderam em uma gaiola grande na traseira da van. A coleira era grossa e tinha uma corrente de uns dois metros presa às barras da gaiola. Ela a olhou com terror. Até mesmo o fato de a colocarem dentro de uma coisa dessas era aterrorizante. Por que precisariam de uma gaiola como aquela e o que normalmente transportavam nela? Tocou as barras grossas de metal, supondo que, qual fosse o seu propósito, ela conseguiria conter quase qualquer coisa.
Um dos homens saiu enquanto o outro permaneceu na traseira da van com ela. Ele acendeu uma luz no teto para olhá-la com um sorrisinho torto. O cara que saiu fechou a porta traseira e então abriu a do motorista, entrou e ligou o carro. Lágrimas encheram seus olhos de medo e de não se sentir bem pela droga que lhe administraram. Estava com dor de cabeça, sua língua um pouco inchada, e as pernas e braços ainda se moviam sem jeito algum.
— Nem se incomode em abrir as torneiras. — disse com zombaria o homem que lhe fazia companhia. — Ninguém dá à mínima se você chorar.
— Por que estão fazendo isso? — Tammy odiava o modo como sua voz tremia. — Quem são vocês?
— Por quê? Porque você gosta de foder com eles. Porque um deles te fodeu e não te matou. É por isso. O doutor para quem trabalhamos está muito interessado em ver se 927 procriará com você. É melhor esperar que ele goste de você. De qualquer modo vai ser divertido de se ver.
O homem na frente riu.
— Duvido que ela vá achar divertido.
O de trás também riu.
— É. Verdade. — Os olhos dele brilhavam de alegria. — Você quer saber o que acontece se aquela besta não lhe rasgar inteira com as garras e jogar os restos do seu corpo para fora da jaula? O doutor vai prendê-la a uma mesa e encher seu organismo de hormônios e drogas para tentar fazer com que se reproduza com aquela fera. Depois, vamos jogá-la lá outra vez com ele para que possa fodê-la novamente. O doutor tem todos os tipos de fórmulas que bolou para tentar fazer com que engravide da besta. Pode levar meses até ele descobrir como obter os resultados que quer.
O motorista riu outra vez.
— Seria muito divertido de ver se ele aceitasse ela. Mas não tenho muita esperança nisso. Ele matou as outras duas que trancamos com ele. A última foi a que eu fodi. Ela era muito gostosa. Quase chorei quando ele quebrou o pescoço dela e a jogou na porta. Talvez devêssemos jogar homens para a besta.
— Ela era gata. — O homem na traseira fechou a cara para Tammy. — Essa daqui é bonitinha, mas não chega nem perto da outra. Ela com certeza não parece uma coelhinha da Playboy. Acho que o doutor está animado por nada. Acho que a besta vai matar essa daqui tão rápido quanto matou a última.
— Quem sabe? — O motorista suspirou. — Talvez a teoria do doutor esteja certa e ele vai aceitar essa porque está trepando com um deles e vai ter o cheiro dele. Eles nunca gostaram das mulheres da espécie deles. Ele também tem certeza que tem algo a ver com o olfato deles e a química dos corpos. O que quer que atraia um pode atrair outro. Vamos descobrir em breve.
— Por favor. — implorou Tammy. — Me deixem ir embora. Eu tenho muito se o que querem é dinheiro. — Ela não teve vergonha nenhuma de mentir. — Minha avó morreu e me deixou dois milhões. Vocês podem ficar com tudo se me levarem ao banco.
O cara na traseira a estudou. Tammy assentiu, dando-lhe sua melhor expressão de Pode-confiar-em-mim-estou-falando-super-sério. Já tinha dominado a arte daquela expressão desde que era adolescente e tinha que lidar com a sua avó.
— Eu darei cada centavo, assinarei uma transferência para vocês dois, se me deixarem ir. Eu sei que não devem pagar tanto assim. É o bastante para que os dois se aposentem.
— Nem pense nisso, Mike. — alertou o motorista. — Sabe que não pode gastar dinheiro se estiver morto. O doutor colocaria um preço na sua cabeça e não existe nenhum canto nesta terra em que estaria seguro.
Mike suspirou, deixando de olhá-la.
— Cale a porra da boca, vadia. Não diga mais nenhuma palavra. Não podemos gastar dinheiro no caixão. Se quer implorar e chorar, esqueça isso também. Não conseguimos esse trabalho por causa dos nossos corações moles. — Ele zombou. — Certo Pete?
— Certo. — Pete, o motorista, riu. — Moles. Você é muito engraçado.
— Quanto tempo até chegarmos?
— Uns dez minutos. Queria que ainda estivéssemos no Colorado. Aqui é muito quente. Não sei por que o doutor quis que trouxéssemos o 927 para cá. Devíamos era ter levado ela.
— Ele quis vir para cá. Não me pergunte o motivo. Talvez curta saber o quanto eles estão perto e o quanto nem fazem ideia de que ele está tão próximo deles. — Mike encolheu os ombros. — Talvez queira ficar mais perto para espioná-los enquanto trabalha e não quer ficar voando de lá para cá. Pode ser porque está com medo de que o cheiro dela mude se tivéssemos que levá-la para tão longe. Com certeza não dá para colocá-la num avião. Teríamos que dirigir até lá. Vou odiar o mês que vem quando teremos que transferir mais dez deles para cá.
— Porra. Nem me lembre. Transportar o 927 já foi ruim o bastante. Aquele filho da puta lutou contra as drogas a viagem inteira. Ele entortou um dos cantos da jaula antes que você conseguisse dar outra dose. Eu quase caguei nas calças quando o ouvi se mexendo. Dei uma dose que faria qualquer um apagar por um dia todo, mas ele acordou em menos de cinco horas. Achei que fôssemos ficar sem drogas.
Tammy virou a cabeça para examinar a jaula onde estava. Ela viu que um dos cantos de cima estava um pouco torto. A jaula poderia abrigar facilmente um urso dos grandes. O veículo era uma van comercial de tamanho grande. Sabia disso porque dirigia uma igual no trabalho. A jaula tomava metade da traseira. Ela chutou que a jaula tinha ao menos um metro e oitenta de comprimento e um e meio de largura. As barras eram da grossura de um pulso e ela supôs que 927 era um Nova Espécie forte o bastante para conseguir entortar uma.
Com confusão obscurecendo sua mente, a droga ainda em seu organismo não ajudava, mas a imagem que se formava a deixou com medo e horrorizada. Novas Espécies ganharam nomes quando foram libertos. Apenas um ainda em confinamento teria um número de identificação. Isso queria dizer... Oh meu Deus!
— 927 nunca foi liberto, foi? Ele ainda é propriedade da Mercile? Vocês trabalham para eles, não é?
O brutamontes sorriu para ela, mas não disse nada.
Tinha um pressentimento terrível de que as suas suspeitas estavam corretas. Eles perderam uma instalação onde também faziam testes. Ela leu jornais de não muito tempo atrás sobre mais Novas Espécies que foram descobertos. O doutor para quem trabalhavam tinha que ser um empregado da Mercile e isso significava que aqueles homens também trabalhavam para aquela horrível companhia. Eles tinham feito experiências sem piedade alguma em seres humanos por décadas, fizeram coisas horríveis com eles, e agora tinham lhe sequestrado.
— Vocês não vão sair impunes disso. — Sua voz tremia.
— Ouviu isso, Pete? — Mike sorriu de modo frio. — Vadia, nunca fomos pegos porque somos os melhores.
Pete virou a cabeça para olhar para trás.
— Ao invés de fazer ameaças, deveria estar rezando. É melhor esperar que 927 goste de você. Ele matou outras duas mulheres que demos para que fodesse.
Eles planejavam jogá-la a mercê do Nova Espécie que dobrou aquelas barras. O doutor acreditava que ela não seria morta porque tinha o cheiro de Valiant. As dicas terríveis continuavam se juntando em sua mente.
O doutor achava que, já que Valiant estava atraído por ela, outro Nova Espécie também estaria. Ela não acreditava naquela teoria nem um pouquinho. Valiant só ficou atraído por ela a princípio porque estava ovulando. Não esteve até que passou um tempo com ela e decidiu que queria ficar junto. Eles se apaixonaram, mas por outro lado, ele foi liberto da Mercile, aprendeu que nem todos os humanos eram imbecis cruéis que achavam que os Novas Espécies não eram nada além de animais para se usar e ferir. Para o que estava sendo levada, provavelmente nunca conheceu qualquer tipo de bondade de um ser humano. Isso fez com que fechasse os olhos para lutar com as lágrimas.
Precisava lembrar de alguns fatos se quisesse sobreviver. Eles disseram que queriam transportar mais dez Novas Espécies e que eles viriam do Colorado, onde devia ficar a instalação ilegal. Acalmou-se levemente, forçando a mente a se concentrar naquela informação.
Valiant tentaria encontrá-la, ele não desistiria, e teriam que descobrir que aquele filho da mãe de advogado a levou. Não o viu, então talvez ele tentasse sair do estado. Talvez a polícia o capturasse e o fizesse dizer para onde ela havia sido levada. Ela se apegou àquele pedacinho de esperança.
— Não durma. — Mike lhe ordenou. — Estamos quase lá.
Ela abriu os olhos e o fulminou com o olhar.
— Espero que apodreça no inferno.
Ele se inclinou para frente e fechou o punho.
— Quer uma prova do inferno?
— Não. — ordenou Pete da frente. — Você ouviu o que o doutor nos disse antes de ir embora. Não vamos machucar nem tocar nela a não ser que seja absolutamente necessário. Aposto que ela está morrendo de medo e está provocando você para matá-la. Pode culpá-la? — Ele riu. — Eu queria que alguém me matasse.
Mike abaixou o punho e voltou à posição que estava antes.
— É. Eu também iria querer morrer antes que um deles colocasse as mãos em mim. Malditos animais. Quer apostar se ele a mata ou não? Vinte pratas que ela vira torrada.
O motorista hesitou.
— Claro. Aceito a aposta. O doutor é muito inteligente e ele tem certeza que a fera vai fodê-la assim que der uma cheirada nela. Chegamos.
— Ótimo. — Mike deu um sorriso sarcástico para Tammy. — Estamos sob ordens de levá-la diretamente para o 927. O doutor já está aqui, esperando.
A van parou uns minutos depois. Pete saiu e abriu a porta da traseira. Mike engatinhou até um pequeno armário e o abriu. Ele tirou um par de algemas presas a uma corrente de quase dois metros de comprimento. Olhou com raiva para Tammy quando destrancou a jaula e abriu a porta.
— Coloque as mãos para fora.
— Vá para o inferno. — Ela abraçou a cintura, recusando-se a obedecer.
Mike a olhou com mais raiva ainda.
— Faça isso ou eu juro que vai sofrer.
Ela hesitou, sabia que ele se meteria em encrenca se a machucasse, mas acabou estendendo os braços no fim. Poderia lutar, mas perderia. De qualquer forma, eles iriam levá-la aonde quer que quisessem, então ela poderia ir como estava ou sangrando.
Mike prendeu seus pulsos e jogou a corrente na direção de Pete, que a agarrou e a rodou em torno do pulso. Mike não tocou em Tammy, com cuidado de não fazê-lo, quando destravou a corrente prendendo sua coleira à jaula.
— Mexa-se. — Pete ordenou.
Ela teve que se arrastar sentada até a abertura da van. Respirou o ar fresco e saiu. A coleira era pesada em sua garganta. Ela olhou em volta, mas viu apenas um prédio branco com cara de fábrica, com dois pisos. O estacionamento era pequeno e luzes brilhavam forte de cima, o que deixava o lugar tão claro como se fosse dia. Tudo que pôde avistar foram árvores, assegurando-a que o prédio desconhecido ficava em um local remoto.
— Vamos, sua vadia estúpida. — Pete puxou a corrente. As portas duplas de metal eram trancadas com uma fechadura eletrônica. Pete digitou cinco números, bloqueando a sua visão com o corpo para ter certeza que não pudesse ver. A porta apitou e os dois a levaram para dentro do lugar bem iluminado e enorme que parecia ser uma velha recepção.
Não precisava ser um gênio para saber que o prédio tinha sido abandonado quando avistou janelas quebradas na parte de trás da sala ou as camadas de teias de aranha e poeira que cobriam algumas mesas antigas que foram deixadas para trás. Tentou ver qualquer pista que lhe dissesse qual empresa era a dona do lugar, mas não havia nomes nem logotipos nas paredes. Eles a levaram por um corredor escuro com um monte de portas onde não dava para se ver nada que havia dentro e o cheiro de mofo assaltou seu nariz. Eles a deixaram no meio dos dois, segurando as correntes que garantiam que não poderia fugir.
Um rosnado assustador, embora fraco, veio de algum lugar mais à frente. Ela parou e quis sair correndo de lá. Os homens segurando as correntes puxaram com força, prendendo-a no lugar.
Mike riu.
— Ela está um pouco assustada.
— Quem diabos não estaria se tivesse um cérebro? Puxe-a pela frente que vou atrás. Tenho certeza que o doutor já está cansado de esperar.
O olhar de Tammy se ajustou as luzes incandescentes quando entraram em outra seção enorme do prédio, provavelmente um depósito. Chão de concreto e paredes com pelo menos uns quinze metros a receberam. Uma parede foi erguida em algum momento para dividir o lugar em dois, mas não alcançava o teto. Luzes enormes de uns cinco metros cada foram colocadas em intervalos acima dela de um lado ao outro do lugar. Todas tinham sido acesas até que toda aquela claridade quase fez seus os olhos doerem.
— Finalmente chegaram. — o velho de óculos declarou, saindo do outro lado da parede que dividia o ambiente. Era o homem que Tammy viu quando foi retirada do porta-malas. Agora tinha um rosto para o título. Seus olhos verdes gélidos varreram Tammy e então se voltaram para os dois brutamontes que trabalhavam para ele.
— Já estava na hora. Ele está acordado, foi alimentado e eu dei mais dois quilos e meio de carne para ter certeza de que não esteja com fome. Ele não comeu tudo, mas acho que está satisfeito. Já garanti que não haja nada que o deixe irritado. Agora vamos ver se ele cruza com ela.
— Devíamos tirar a roupa dela antes de jogá-la lá dentro? Seria mais um estímulo para que a fodesse.
— Não. — O doutor franziu o cenho para Mike. — Ela estava vivendo com um deles e eu assumo que as roupas têm o seu cheiro. Precisamos preservar o máximo possível na esperança de que a aceite. Só jogue ela lá dentro do modo como combinamos. Juntem-se a mim logo depois na sala de monitoramento. Não quero que ele a mate só por querer a satisfação de ter uma plateia para testemunhar as suas façanhas medonhas.
— Por favor. — Tammy implorou em desespero. — Não façam isso.
Todos os três a ignoraram.
— Aqui vamos nós. — disse Pete, puxando as suas correntes para fazer com que entrasse pela abertura do outro lado da parede. — É melhor rezar para que ele cheire algo que goste em você.
Mike riu.
— Vamos descobrir agora mesmo.
Eles passaram por um arco e Tammy prendeu os calcanhares no chão, parando. Alguém colocou no canto uma jaula enorme em frente á parede de concreto. As barras grossas percorriam os quatro lados e o teto. O chão era de metal sólido e ficava por cima do concreto.
Uma única cama de solteiro, somente a armação e o colchão, decoravam a cela juntamente com uma privada em um canto. Essas coisas não prenderam a sua atenção. O macho lá dentro enviou uma onda de terror diretamente ao seu coração. Ele era grande, tinha um cabelo negro selvagem que caía no meio das costas nuas, e estava coberto por uma calça branca encardida com rasgos nas laterais das pernas. A calça era de cós baixo e caía folgada um pouco abaixo dos joelhos. Panturrilhas expostas e musculosas e pés enormes que estavam separados na posição em que estava. Ele virou o corpo inteiro para rosnar para eles, revelando dentes afiados, um nariz achatado, e aquelas maçãs do rosto largas e fortes que todos os Novas Espécies pareciam possuir.
Pete puxou com força a corrente presa aos seus pulsos para fazer com que andasse. Tammy choramingou. Seu olhar se recusava a se desviar quando o Nova Espécie gigante correu furiosamente em direção as grades. Ele as agarrou com as mãos, o que a fez olhar para os seus braços e peitoral musculoso antes dele fazer sons altos, cheirando o ar. Olhos escuros, quase pretos a encontraram.
— Trouxemos uma amiga. — riu Mike.
— Seja bonzinho. — provocou Pete. — Ela é alguém que você pode gostar. Ela gosta muito de passar o tempo com animais. Está fodendo com um da sua espécie. Pegamos essa aqui especialmente para você, 927.
Eles pararam perto da porta da jaula a alguns metros do furioso Nova Espécie que ficou farejando mais uma vez. O peso ao redor do seu pescoço sumiu, a coleira foi retirada, e ela mal notou quando as algemas foram removidas dos seus pulsos. Continuou apavorada e concentrada no Nova Espécie. Eles planejavam colocá-la em sua jaula.
Ele era quase tão alto quanto Valiant. Talvez um ou dois centímetros mais baixo, se fosse dar um palpite. Seus ombros, peitoral maciço e braços musculosos eram bem familiares em tamanho com os de Valiant. Era seu rosto o que a aterrorizava mais.
Um rosnado cruel e baixo soou do fundo de sua garganta quando dentes afiados apareceram. Como Valiant, aquele tinha feições animais mais predominantes do que a maioria dos Novas Espécies. Isso provavelmente influenciava no quanto ele parecia apavorante quando rosnou para ela, mostrando dentes que aparentavam poderem rasgá-la facilmente, sem nenhum esforço. O medo arrepiou a espinha de Tammy e saiu percorrendo todo o resto do corpo.
Tammy percebeu uma coisa quando uma mão a empurrou para frente, pela abertura da jaula. Uma parede de vidro grosso ficava entre o homem rosnando para os seus dois sequestradores e a porta que eles tinham acabado de abrir. O homem atrás do vidro saltou de repente e seu corpo bateu na óbvia barreira de contenção. Um barulho de algo rachando soou e partes do vidro formaram um desenho parecido com uma teia de aranha.
— Filho da puta. — chiou Mike. — Rápido. Esse negócio não vai segurar. Ele está muito agressivo hoje.
Pete empurrou Tammy com força, fez com que se desequilibrasse e ela caiu mais para dentro da jaula, mas conseguiu não cair de cara no chão de metal. A porta fechou com força atrás dela e ela se virou, segurando as grades que agora a prendiam ali dentro. Puxou com força, mas a porta não se moveu. Olhou para Mike e Pete, implorando aos dois silenciosamente. Eles se recusaram a sequer dar uma olhada nela quando se viraram e desapareceram na outra metade do depósito às pressas, parecendo incapazes de correrem na velocidade que desejavam. O cabelo da sua nuca se arrepiou.
Sabia por que. Sua respiração aumentou e seus dedos apertavam com tanta força o metal frio que sabia que estavam brancos. Você não pode sair. Vai ter que enfrentá-lo. Talvez possa argumentar com ele. Ela respirou fundo e expirou. Você não tem escolha. Só converse. Não tem nada a perder.
Tammy soltou as grades lentamente e se virou, o medo fazendo seu estômago pesar. Os olhos mais assustadores que já tinha visto a observavam do outro lado, a alguns metros dela. Seu olhar aparentemente negro se estreitou e ele rosnou para ela outra vez. Ela recuou, afastou-se da porta, e se pressionou na grade o mais longe que conseguiu no pouco espaço que havia.
Ele levantou as mãos e olhou para elas. Ela seguiu o olhar dele, desejando instantaneamente que não tivesse olhado. As mãos tinham unhas grossas, similares as de Valiant, mas não foram cortadas. Elas pareciam garras curtas, mas letais que raspavam a parte rachada do vidro. Um pedaço dele caiu, deixando-a saber, que ele poderia chegar até ela. Um grito surgiu, mas ficou preso na sua garganta. Ele raspou o vidro com as unhas novamente. O som foi odioso quando mais pedaços do vidro caíram e bateram no chão de metal.
— Por favor. — implorou Tammy em voz baixa. — Não me machuque. Eu fui sequestrada e trazida até aqui contra a minha vontade. Não sou sua inimiga. Eu não trabalho para as Indústrias Mercile.
O Nova Espécie parou de olhar para as próprias mãos para olhar para ela. Ela só viu indiferença em seu olhar quando seus olhos se encontraram. Ele tirou as mãos do vidro, afastou-se, e ela esperou que suas palavras tivessem significado algo para ele.
Ele de repente se arremessou, o corpo virando no último segundo, e o ombro batendo no vidro. Mais vidro quebrou. Tammy choramingou outra vez e deslizou pelas barras até alcançar o canto alguns centímetros mais longe. Não podia escapar. Ele iria quebrar o vidro e alcançá-la.
Seus joelhos pareceram virar líquido e ela deslizou no chão frio e imperdoável, de bunda. Trouxe os joelhos para perto do corpo de uma forma protetora e passou os braços em volta, abraçando-se. Ele se moveu junto com ela para o outro canto da jaula. Rosnou outra vez.
— Me escute. Por favor. Eu sei muito sobre pessoas como você. Sabe que muitas delas são livres agora? A instalação em que ficavam presos foi invadida pelo governo e eles não estão mais confinados. Eles vivem lá fora, sem grades, sem jaulas. — Sorveu o ar, sabendo que falava pelos cotovelos, mas estava orgulhosa por ao menos poder conseguir falar. Continuou. — Eles se chamam de Novas Espécies. Estão mesmo livres e se eles soubessem onde está viriam para salvá-lo. Você me entende?
Os olhos do homem estreitaram mais e ele parou de rosnar. Mas continuou a olhá-la com raiva. Ela esperou que ele não passasse pelo vidro e simplesmente a matasse num piscar de olhos. Seu falatório pareceu ao menos tê-lo distraído de bater mais no vidro.
— Eu vivo com um da sua espécie. Ele me diz que pertenço a ele o tempo todo. Isso meio que me chateava até que me disse que nunca possuiu nada, que nunca lhe foi permitido se importar com nada, porque isso seria usado contra ele. Ele adotou o nome Valiant. Ele é parte leão. Tem os olhos dourados mais incríveis. Ele me ama e eu o amo. Nós vivemos na Reserva dos Novas Espécies. É um lugar enorme de área florestal e campo aberto. É onde o seu povo vive e trabalha junto para ter vidas melhores. O local é deles e são quem estão no comando de lá.
O homem rosnou para ela, ficando tenso. Ela viu músculos se contraírem quando ele colocou as mãos contra o vidro. Começou a empurrar. O vidro grunhiu e ela ouviu um som de algo se quebrando. Ele iria passar. Só havia menos de um metro e meio entre ela e a barreira. Lutou contra as lágrimas.
— A primeira vez que vi Valiant, ele me assustou. Rosnava do jeito que você está fazendo agora. Nunca tinha visto algo como ele antes. Eu achei que iria me matar, mas não matou. Fui por acidente para o lugar errado e acabei na casa dele. Ele me matou de medo, mas também era o homem mais lindo que já tinha visto. Os olhos dele são incríveis e ele tem uma juba de cabelo meio avermelhado com mechas loiras espalhadas nele. — Sua voz falhou e ela piscou para conter mais lágrimas. — Ele é um pouco maior do que você. Mais alto. Essa é outra razão por ter me assustado. Ele me pegou nos braços, me levou para a sua casa e nós começamos a conversar.
O vidro quebrou mais quando o Nova Espécie continuou a empurrá-lo. Tammy desviou o foco dos olhos dele para a barreira erguida entre os dois. Lascas cortadas tinham se espalhado mais para cima e para baixo, do teto ao chão. Não tinha muito mais tempo antes que cedesse.
— Valiant me disse que sou da família para a sua espécie agora que estou com ele. Eles se chamam assim já que nenhum deles tinha pais ou parentes. Isso quer dizer que eu também sou da sua família. Valiant… — sua voz falhou de emoção e lágrimas quentes deslizaram pelas suas bochechas. — Ele me ama e deve estar apavorado por minha causa agora. Não sabe onde estou. Fui sequestrada da Reserva. Ele virá procurar por mim e nunca vai parar. Por favor, não me mate.
O homem se afastou para estudar o vidro. Tammy parou de falar para observá-lo. Ela abraçou o corpo mais forte, tentando parecer o menor possível enquanto se espremia no canto. Sabia que ele examinava o vidro, procurando pelas partes mais fracas. Suas palavras não pareceram importar e nada que ela disse fez com que quisesse parar de atacar a divisão para machucá-la.
Ele se moveu de repente, recuou um pouco, sua atenção fixa na seção de vidro rachado. Ela prendeu o fôlego quando ele pausou, mas ofegou quando se arremessou para frente. Ele rodou seu corpo enorme no último segundo antes de jogar seu corpo inteiro contra a partição e para o seu horror, ela cedeu. Ele passou por ela em alta velocidade e bateu nas grades a poucos centímetros de onde estava agachada. A seção da parede de vidro por onde ele passou caiu ao chão, por pouco não a atingindo.
Tammy choramingou e levantou a cabeça quando ele se endireitou. Ele girou o ombro que tinha sofrido o maior impacto do vidro e das barras. Alguns arranhões marcavam sua pele, mas a parede tinha quebrado em pedaços grandes, obviamente era algum tipo de vidro de segurança.
Ele se virou para ela, olhando-a com raiva, e rosnou. Deu um passo em sua direção e outro até que poucos centímetros separavam seu corpo de suas pernas.
— Por favor. — ela implorou em voz baixa. — Não faça isso. Estou dizendo a verdade.
Ele abriu as coxas quando se agachou, prendeu-a entre elas, mas não a tocou quando a fungou. Tammy fitou seus olhos apavorantes e escuros, esperando que fosse mais difícil para ele matá-la se ela ficasse olhando para eles. Ela viu uma emoção rolar naquelas profundezas escuras. As mãos dele a alcançaram e agarraram sua camiseta entre os seios, e a puxaram com força do chão quando ele se colocou de pé depressa.
Tammy ouviu o tecido rasgar quando foi forçada a ficar de pé. Ela choramingou novamente. Ele a tinha pela camiseta e usou aquilo para jogá-la contra as grades às suas costas. Ela levantou os olhos para o rosto dele e prendeu os joelhos juntos para evitar desmoronar. Tremia muito quando ele se inclinou para colocar o rosto próximo ao seu.
Olhos negros estreitaram quando continuou a farejá-la. A boca se apertou em uma linha fina e cruel quando parou. Um murmúrio baixo saiu da boca dele, que se encontrava perto demais da sua. Ele a apertou mais até a pele quente tocar seus braços, que ainda abraçavam sua cintura, e a cabeça dele baixou mais. Ele cheirou o seu cabelo, o nariz roçando por cima dele, e bateu com queixo na sua bochecha, empurrando.
Tammy fechou os olhos com força e virou a cabeça. Mesmo que pudesse sentir a respiração morna dele soprar em seu pescoço quando continuou a examinar seu cheiro. Por favor, não rasgue a minha garganta com esses dentes afiados. Ela não conseguiu dizer essas palavras, apavorada demais para falar com as mãos dele nela, e o corpo quase esmagando o seu no metal frio. Os dentes afiados nunca chegaram a tocá-la.
O corpo dele ficou rígido. Seu coração martelava dentro do peito tão forte que começava a doer. Ele se moveu, diminuindo a pressão do peito no dela, até que a sua respiração se acalmasse. Foi preciso cada pedacinho de coragem que possuía para levantar os olhos para ele outra vez quando voltou a virar a cabeça. Ele olhava com raiva para o seu olhar assustado. Recuou e soltou sua camiseta rasgada.
— Quieta.
Ele rosnou a palavra.
Tammy não ousou se mover. Ele a observou atentamente até baixar o olhar pelo seu corpo para estudá-la. Chocou-a quando de repente ficou de joelhos à sua frente, as mãos agarraram seu quadril, e o rosto pressionou a pele entre os seios onde ele havia rasgado a camiseta. Ela sorveu o ar, mas conseguiu não gritar, morrendo de medo de que isso o irritasse. Uma língua quente de repente lambeu a lateral do seu peito e ele rosnou.
Ela parou de respirar, mas a língua dele deixou a sua pele. Respirou de forma fugaz quando ele a fungou e jogou a cabeça para trás. Uma mão soltou seu quadril para agarrar a parte de trás de sua saia, que ele puxou para cima para expor sua barriga. Ele colocou o nariz em sua barriga, mas não doeu. Inalou profundamente enquanto esfregava o rosto mais embaixo, no topo da sua calcinha. Ele fez uma pausa quando chegou no elástico.
Eu não estou morta. Ele não me matou. Isso tem que ser bom, certo? Tentou pensar em algo que dizer, mas decidiu que agora seria o momento de manter a boca fechada.
Isso até o cara abrir as coxas para baixar mais o corpo e de repente pressionar o rosto no vértice de suas pernas.
— Pare!
Suas mãos o alcançaram sem pensar, agarraram os ombros largos dele e empurraram. Ele não cedeu um centímetro, forte e grande demais para se mover.
Ele levantou a cabeça de supetão, a boca aberta para revelar dentes afiados, e rosnou para ela. Tirou as mãos de cima dele como se a tivesse queimado, o terror a atacou com o olhar mortal que lhe deu, e ele abaixou a cabeça novamente.
Colocou o rosto de volta no encontro de suas coxas e cutucou seu sexo com o nariz, cheirando-a lá, como se realmente fosse um cachorro. Jogou a cabeça para trás, olhou para ela e soltou sua camiseta quando se levantou outra vez.
Tammy lutou para não dar um grito quando virou o seu corpo, pressionou o rosto nas barras e começou a cheirar do topo do ombro até as costas. Ele tirou a camiseta do caminho puxando-a para cima. Ela fitou a parede de concreto a centímetros do seu nariz, onde a jaula foi colocada. Ele rosnou algumas vezes quando se abaixou com as mãos mantendo-a no lugar, e ficou de cócoras atrás dela para cheirar até a parte detrás das suas coxas. Pelo menos ele não enterrou o rosto no seu traseiro. Tentou encontrar conforto em ter sido poupada disso.
Ele a virou de volta, olhando-a de uma forma que deixava seus pensamentos e sentimentos um mistério, mas não parecia mais irado. Seu olhar escuro de fato não parecia mais frio nem assustador. De repente, ele estendeu a mão e circulou seu braço, mas o aperto não doeu. Ele na verdade parecia cuidadoso de não machucá-la com sua mãozona.
— Venha. — Sua voz saiu rouca, grossa, mas não era um rosnado nem um rugido.
Ele recuou, puxando-a para fazer com que o seguisse. Ela andou com as pernas moles, incerta do que aconteceria em seguida. Ele recuou mais, puxando-a mais um metro, e virou a cabeça para observar o buraco que fez na partição. Passou por ele, com cuidado de não encostar a pele nas extremidades cortantes, e não lhe deixou escolha a não ser também passar por ela. Seguiu-o timidamente, muito agradecida que não a tivesse matado, até perceber para onde a levava.
O medo fez com que tentasse se desvencilhar daquela mão quando avistou o colchão ali perto.
— Não.
Os olhos escuros se estreitaram de maneira ameaçadora. — Deite, agora.
— Eu pertenço à Valiant. — Não pôde evitar a onda de lágrimas que a cegaram até piscar todas elas de volta. — Por favor, não faça isso.
A boca dele se moveu, retorceu dos lados, mas aquela foi a única demonstração de emoção em seu rosto.
— Relaxe. Não montarei você.
Um pouco do pânico de Tammy diminuiu quando decidiu que o Nova Espécie provavelmente não mentiria para ela. Ele era grande o bastante para forçar a situação se quisesse estuprá-la. A essa altura, já poderia ter lhe matado. O fato dela ainda respirar tinha que ser um ótimo sinal de que ele não era tão cruel quanto os seus sequestradores acreditavam ou que ele sentiu o cheiro de Valiant nela e isso tinha algum significado para ele. Ela deixou que a levasse para a cama onde sentou na beira com cuidado.
O Nova Espécie se agachou na frente dela, os joelho bem abertos, colocando suas pernas entre as coxas. Ele parecia gostar de prender o seu corpo daquela maneira, ela notou, e não gostou como ele também tinha uma preferência por invadir o seu espaço pessoal. Estava perto demais para o seu conforto.
Os olhos dele procuraram os seus.
— Quantos?
— Não entendi.
— Quantos Novas Espécies foram soltos?
— Eu não sei o número exato, mas centenas.
Ele respirou algumas vezes, mas pareceu ficar com raiva outra vez.
— Quantas centenas?
Tammy hesitou.
— Eu não sei. Os Novas Espécies não querem que o público saiba disso, é, humanos. Eu diria que uns trezentos deles vivem na Reserva. Também tem Homeland, uma antiga base militar enorme que foi dada a eles, e é outro lugar onde mais Novas Espécies vivem. Tem que haver algumas centenas lá também. Provavelmente mais.
— Me diga os números que você sabe.
— Eu não entendo. Acabei de dizer que não tenho certeza do número total deles.
Ele rosnou levemente. Apontou para si mesmo.
— 927. Quais são os números que você conhece? Qual era o número de Valiant?
Ela entendeu.
— Não sei nenhum. Eles nunca usam os números dados pelas instalações de experimentos. Todos escolheram nomes quando foram soltos. Eu nunca quis perguntar a Valiant qual era o dele quando ainda estava preso. Não quis que ficasse triste lembrando da vida que levava antes.
Ele piscou.
— Eles escolhem os próprios nomes?
Ela assentiu.
— Sim. A maioria dos seus têm nomes como Justice e Breeze. — Ela pausou antes de listar os outros nomes que ouviu. — Tiger. Flame. Brass. Rider. Smiley. — Parou. — Me disseram que eles escolhem os nomes das coisas que amam ou de algo que tenha algum significado para eles. — Olhou-o nos olhos. — Eles teriam vindo tirar você daqui se soubessem da sua existência. — Sussurrou. — Eles não sabem sobre a instalação do Colorado. Acham que já encontraram todas e que já soltaram todo mundo.
Ele levantou de repente e deu as costas a ela. Tammy estremeceu quando rosnou alto e começou a andar de um lado para o outro da cela. Ela recuou até suas costas encostarem nas grades. Abraçou o peito e levantou os joelhos, só observando o comportamento dele, em silêncio. Ele parecia agitado e com muita raiva. Tinha respondido suas perguntas, mas se arrependeu de ter falado a última parte. Talvez ele estivesse irado pelos outros terem sido encontrados e ele não.
— Valiant não vai parar de me procurar. Isso que dizer que ele vai nos achar. Eu e você. Eles vão te libertar. — Ela disse em voz baixa, esperando que sua voz não chegasse aonde quer que o doutor e os seus dois capangas estivessem. — Nós realmente nos amamos e ele não vai desistir.
O Nova Espécie parou de andar para olhá-la. Ele se aproximou lentamente e se agachou perto da cama. — Os técnicos vão levar você embora se eu não montá-la logo.
— Ele sussurrou as palavras.
Tammy sacudiu a cabeça desesperadamente, com medo, e soube exatamente o que ele queria dizer. Sexo.
— Não.
— Vou ficar cheirando você e isso vai nos fazer ganhar tempo.
— O que isso quer dizer?
Ele de repente estendeu a mão e agarrou Tammy pela panturrilha, deu um puxão forte, e sua outra mão agarrou o braço para virá-la na cama, onde caiu de costas. Ela ofegou, mas tinha vários quilos de um musculoso Nova Espécie prendendo-a no lugar quando o corpo dele caiu por cima do seu.
Tammy levantou os olhos para ele e choramingou, achando que estava a salvo, certa de que não fosse lhe machucar depois de terem conversado. O rosto dele estava a centímetros do seu e ele parecia totalmente sério. Ele abaixou o rosto e o enterrou em seu pescoço.
— Relaxe. Não vou machucá-la. — ele disse bem baixinho em sua orelha. — Eles sempre escutam. Perto e baixo assim não conseguem ouvir. Não montarei você, mas preciso fazer com que acreditem que estou interessado. Eles a tirarão da minha cela se não for o caso e poderiam te matar se acharem que o experimento falhou. Você entende?
— Sim. — ela disse baixo, lutou contra o medo, mas forçou os músculos tensos a relaxarem. — Eles têm microfones aqui na cela? — Ela manteve a voz tão baixa quanto à dele.
— Também assistem com câmeras, mas não as procure com os olhos. Eles irão suspeitar.
Ele se mexeu em cima dela, prendeu-a mais perto, cobrindo-a completamente com o corpo. Teve o cuidado de não esmagá-la. Tammy experimentou muito medo por se sentir tão pequena, tão indefesa, e não tinha escolha a não ser confiar que ele não a machucaria. O homem era enorme, tinha cheiro de um sabão forte e de suor. Não era um cheiro ruim, mas era estranho.
Estava acostumada ao cheiro de Valiant. Colocou as mãos no peito dele. A pele parecia tão quente quanto à de Valiant, quase como se estivessem com febre, mas apenas tinham uma temperatura maior que a dos humanos. Resistiu à vontade de empurrá-lo, já sabendo que o esforço seria inútil.
Ele enterrou o rosto em seu pescoço outra vez, cheirou bem alto, provavelmente para ter efeito nos microfones, antes de voltar a falar baixinho.
— Valiant virá mesmo atrás de você e não irá parar?
— Sim. — Tammy não tinha dúvidas. — Todos eles virão. Digo, os Novas Espécies.
Um rosnado baixo saiu da boca dele.
— Farei o melhor para mantê-la aqui. Eles a matarão se acreditarem que não farei o que querem montando você. Se eu não fizer isso você não terá valor para eles. Me levarão daqui de volta para onde lugar de onde vim, e considerarão o experimento de me fazerem procriar com outra humana um fracasso.
Tammy fechou os olhos e lutou contra mais lágrimas. O homem colocou o rosto no seu pescoço e ajustou o quadril até se encaixar entre suas coxas. Medo e exaustão finalmente a dominaram. Quis chorar, aceitado um pouco de autopiedade por aquilo estar acontecendo com ela, e agarrou a pele dele, apenas para encontrar algum conforto.
— Fique aqui deitada comigo e descanse. Está a salvo de mim, pequenina dos olhos bonitos.
— Meu nome é Tammy.
Ele inalou a pele do seu pescoço.
— É bom sentir o cheiro de outro da minha espécie em você.
— Não o deixam ver outros?
— Não.
Ele estava sozinho. Ela mexeu os braços e rodeou o pescoço dele. Ele não protestou contra o meio abraço que ela deu. Ele a tinha completamente presa debaixo do seu corpo enorme, mas ela não se sentia ameaçada.
Lá no fundo ela entendeu uma coisa. Ele estava só e também precisava abraçá-la, provavelmente ansiava por aquele conforto tanto quanto ela. Fechou os olhos e relaxou. Sua mente instantaneamente vagou para Valiant. Ele a encontraria, de algum modo. Tinha que encontrar. Um bocejo a surpreendeu e toda a adrenalina começou a se esvair de seu corpo.
Tiger fulminava Charlie Artzola com o olhar. O homem foi encontrado amarrado dentro do carro próximo à Reserva. Ele alegou ser inocente de ter levado Tammy por vontade própria, mas Tiger não acreditava naquilo. O humano não tinha ideia do olfato que possuíam ou simplesmente achava que eram burros.
— Eu te disse. Estava no meu escritório e de repente esse homem entrou. Ele apontou uma arma para mim até que a Srta. Shasta e o oficial chegarem. Não tive tempo de alertá-los antes que ele matasse o segurança. Fiquei horrorizado. Ele me forçou para fora com ela e explicou que se eu não passasse com eles pelos portões, estouraria os meus miolos. Estava tentando salvar a vida dela quando ele a empurrou no porta-malas, entrou lá com ela e me disse para fechá-lo. Eu sabia que ele a mataria se eu alertasse os oficiais do portão. Temia pela vida dela então fiz o que mandou.
Tiger rosnou e deu dois passos ameaçadores na direção do advogado. Nem sequer olhou para Justice para pedir permissão. Alcançou o humano e deu um tapa em sua cara com força.
— Está mentindo. — rosnou. — Farejamos seu escritório e seguimos a pista até o seu carro. Também farejamos seu carro. Só ela entrou no porta-malas. Não havia outro macho humano. Você a levou e você vai nos dizer onde a está mantendo refém. Para onde a levou?
O homem grunhiu de dor e lambeu o lábio ensanguentado onde havia cortado, próximo ao canto. Uma marca vermelha manchou sua pele pálida. O olhar arregalado de Charlie Artzola se fixou em Justice.
— Sabe que eu jamais mentiria para você. Trabalho para vocês há quase um ano. Sou confiável, e tudo que eu disse é verdade. Foi isso que aconteceu. Eu não tive escolha. O cara com a arma me disse para onde dirigir e foi isso que eu fiz. Talvez ele usasse algo que camuflasse o cheiro. Ele tinha mesmo roupas estilo militares e uma boina na cabeça. É por isso que provavelmente não sentiram o cheiro dele. Outro homem esperava no lugar onde me mandou ir e apontou outra arma para mim, me mandou abrir o porta-malas, e o amigo dele saiu. Eles levaram a Srta. Shasta, me amarraram, e foram embora com ela. Fiquei lá esperando até que o seu pessoal me achasse. Juro Justice. Sou uma vítima tanto quanto aquela mulher.
Justice levantou a mão devagar e afrouxou a gravata. Ele mantinha uma expressão calma nas feições. Puxou a gravata por cima da cabeça e começou a desabotoar os botões do paletó em seguida, um por um. Tirou o paletó e desabotoou a camisa branca. Também a tirou e ficou com o peito nu. Em seguida tirou o cinto enquanto chutava os sapatos para fora dos pés.
— O que está fazendo? — A voz do advogado tremia de medo. — Justice? Por que está tirando a roupa?
Justice levantou o olhar e olhou para Charlie Artzola com ódio. — Esse é um terno de dois mil dólares. Não quero manchá-lo todo de sangue. Meu povo o encontrou porque nós colocamos rastreadores em todos os veículos, mas infelizmente não conseguimos a sua localização até que eles foram ativados. Não sabemos para onde a levou porque já havia parado onde estava quando percebemos que ela foi levada. Mas você sabia disso, já que foi você mesmo quem elaborou os contratos que nos permite que todos os empregados humanos concordem com a instalação desses aparelhos e você sabia que o seu carro seria encontrado. Devia ter desaparecido. Ao invés disso, você contou com a minha confiança e com a sua habilidade de mentir para protegê-lo da nossa fúria.
— Sinto muito por ter perdido um dos seus homens, mas não fui eu. É culpa daquele cara que me forçou a levar ele a e Srta. Shasta para fora daqui. Eu não me amarrei sozinho. Vê? Isso é uma prova que eu não estou mentindo.
Justice dobrou as calças, agora vestido apenas com a cueca samba-canção preta. Ele se virou e passou toda a roupa dobrada para um dos oficiais Novas Espécies posicionado à porta.
— Por favor, leve-as para outra sala. Sangue respinga.
— Jesus Cristo! — gemeu Charlie Artzola. — O que está fazendo? Sou eu, Justice. Sou seu amigo. Sabe que jamais trairia seu povo. Jamais. Sei que estamos todos tristes com o sequestro da Srta. Shasta, mas eu só a levei para fora daqui para evitar que eles estourassem a cabeça dela.
Justice se virou, rosnando.
— Amigos não sequestram uma das nossas mulheres e a entregam para o inimigo.
— Ela não é Nova Espécie. É uma humana. Eu não faria isso com a sua gente e com certeza não faria com a minha.
— Ela é uma de nós, não importa a sua genética. Fale Charlie. Fale agora ou eu farei com que desembuche. Ninguém que não é Nova Espécie sabe que estamos com você. Tem muito lugar na nossa Reserva para desovarmos seu corpo quando terminarmos. Vai nos dizer onde encontrar a mulher se quiser viver. — Justice se aproximou, rugiu e mostrou os dentes. — Aprendemos o que é tortura por termos sido vítimas dela. Eu sou um protótipo de experiências, Charlie. Eles me machucaram muito e há milhares de maneiras de fazer com que grite e sangue sem precisar matá-lo. Você vai sofrer.
— Justice, eu juro. Havia outro homem e ele...
— Você não matou o meu oficial. — rosnou Justice. — Ele sobreviveu. Quem quer que seja a pessoa para qual trabalha, e estamos cientes disso já que alguém o amarrou e você tem ao menos um parceiro, ou é um idiota ou armou para que você morresse. Ele ou ela foi quem te deu a droga que usou em Flame? Era um sedativo muito forte, mas não o bastante para parar o coração dele. Ele vai acordar em breve, e quando o fizer, será capaz de nos dizer exatamente o que aconteceu quando escoltou a Srta. Shasta para o seu escritório.
Valiant saiu dos braços de Brass, que o seguravam, tinha visto mais do que o suficiente pelos monitores, e queria rasgar o humano em pedaços para conseguir as respostas. Tinha dito a Justice que lhe daria uma chance, sabia que sua fúria era intensa demais naquele momento, mas aquilo estava levando tempo demais. Ele entrou na cela. A dor explodiu no caminho. Valiant rosnou quando entrou como um raio na sala. Sua atenção presa ao homem amarrado à cadeira no canto. Valiant jogou a cabeça para trás e rugiu para o humano que levou Tammy.
— Jesus! — Charlie Artzola gritou, encarando Valiant.
— Não o mate. — ordenou Justice em voz baixa. — Ele precisa nos contar para onde a levou e para quem. Ele tem um parceiro.
Valiant rosnou, mostrou os dentes e seu corpo tremeu. Apertou as mãos em punhos.
— Eu entendo. Controlarei minha raiva, mas é difícil.
Justice limpou a garganta.
— Eu estava prestes a mostrar a ele quanta dor vai sentir para que nos dê a informação que precisamos.
— Permita-me esse prazer. — Valiant rosnou. Abriu bem a boca, e os músculos se contraíram quando seu corpo ficou tenso na antecipação de tirar a verdade do humano no braço. Queria o seu sangue. — Farei com que nos conte tudo.
— Jesus Cristo. — gemeu o advogado. Ele se urinou e uma poça de xixi se formou na cadeira até escorrer pelas suas pernas. Seu olhar aterrorizado se moveu para Justice. — Não deixe que chegue perto de mim. Ela disse que ele arrancaria as minhas tripas e me faria comê-las.
Justice olhou para Valiant com as sobrancelhas erguidas. Justice se virou de repente, ficando de costas para o advogado, para revelar seu sorriso exclusivamente para o Nova Espécie.
— Então ela disse o que Valiant faria com você? — Ele rosnou as palavras. — Ela o alertou o que a traição iria te custar. — Dominando sua expressão, Justice voltou a encarar o prisioneiro. — Onde ela está? Para onde a levou? Para quem a entregou? Eu quero respostas ou Valiant fará exatamente o que ela disse que ele faria. Iremos assisti-lo fazer sem levantar um dedo sequer para que pare. Sofrerá uma agonia incontável e levará horas para morrer.
— É muito doloroso. — rosnou Valiant. Lambeu os lábios e mostrou os dentes afiados para provar o que dizia. — Carne é bem fácil de rasgar.
O advogado assentiu em desespero.
— Só me prometa que ele não vai tocar em mim. Eu quero viver.
Justice fez uma pausa.
— Você viverá se nos ajudar a trazê-la de volta ainda viva.
— Ele não tem intenção de matá-la, mas não é minha culpa se o Nova Espécie para quem ele a levou acabar matando ela. — Charlie Artzola gaguejou rápido. — Ele queria entregá-la para um de vocês. O homem para quem trabalho é o Dr. Adam Zenlelt. Ele trabalhou para as Indústrias Mercile e me abordou depois que consegui o emprego em Homeland. Ele me ofereceu muito dinheiro e eu precisava. Tenho uma ex-mulher e uma tonelada de cont...
Valiant rosnou outra vez, se aproximou e seus dedos se curvaram em forma de garras.
Justice olhou para ele e depois para o advogado.
— Ele não está nem aí para o motivo que o levou a fazer isso. Pare de tentar justificar a sua traição e nos diga onde a mulher está e mais sobre o humano que está com ela.
— Eu não sei muita coisa sobre ele. Queria a Srta. Shasta porque eu lhe disse que um dos seus planejava casar com uma mulher humana. Ele me paga para contar esse tipo de coisa. Ele tem um Nova Espécie e está tentando fazer uns experimentos com ele, mas é do tipo insano que continua matando qualquer mulher que é posta dentro da sua cela. Zenlelt gosta de ser chamado de “doutor”. Ele percebeu que dois Novas Espécies não podem procriar e planeja testar com um de vocês e uma humana para ver se ela pode engravidar. Zenlelt achou que já que um de vocês a fodeu, esse cara também a foderia. É por isso que ele precisava tanto dela e me pagou para que a levasse até ele. Ele vai prendê-la numa jaula junto com aquela coisa para ver se ele vai fodê-la ou matá-la do jeito que matou as outras. Aquele Nova Espécie que ele tem é mesmo um animal, Justice. Eu o vi uma vez e ele não tem uma pitada sequer de humanidade dentro dele.
Valiant se arremessou. Justice se moveu, o agarrou e o levou de volta à parede. Justice lutou, mas conseguiu contê-lo.
— Não a acharemos se matá-lo. — rosnou.
Valiant fechou os olhos e assentiu. Justice soltou o macho maior. Ele virou para olhar com ódio para o humano em quem confiou erroneamente.
— Conte tudo o que sabe.
O advogado assentiu desesperadamente.
— Contarei. Eles tem uma casa que alugaram e foi lá onde os vi alguns dias atrás. Estavam com o Nova Espécie preso e sob o efeito de tranquilizantes, mas ele não estava dormindo completamente. Ele me matou de medo porque tem uns olhos frios e mortais. Do tipo assassino em série. Mandaram que a levasse para a casa, o que eu fiz. Zenlelt tem dois caras trabalhando para ele e eles a levaram para dentro. Existe outra locação, mas não sei onde fica, nem o lugar onde estão mantendo o Nova Espécie. Só sei que os ouvi dizer que iriam esperar até anoitecer para preparar o Nova Espécie para ela antes de a levarem até ele. Eles o chamam de 927 e às vezes de besta. — Charlie Artzola engoliu em seco. — Eu ouvi Zenlelt dizer que de todos os machos que tinha, aquele apresentou a maior quantidade de espermas. Eu não sei de onde o trouxeram nem onde Zenlelt opera normalmente, mas ele veio para cá procurando por uma mulher que havia transado com um Nova Espécie.
— Onde fica essa casa? — Justice se aproximou, os punhos fechados.
Charlie Artzola parou.
— Jura que não vai me matar nem deixar que ele me machuque? — Voltou o olhar para Valiant, que estava contra a parede onde Justice o havia empurrado, antes de olhar outra vez para Justice. — Eu quero que jure pela vida dos Novas Espécies que sairei daqui andando vivo e inteiro se ajudar a encontrá-la.
— Eu não desonro a minha palavra. — rosnou Justice. — Sou um homem de honra. Juro que você não será morto e que não permitirei que Valiant o tenha se ela ainda estiver viva. Quanto a sair daqui andando, isso me recuso a prometer. Você traiu o meu povo, mas estou disposto a entregá-lo ao seu sistema de justiça. É bem mais gentil que o nosso.
O advogado deu o endereço da casa, mas parou de repente.
— Mas a essa altura ela não está mais lá. O sol estava se pondo quando os seus homens me acharam.
— Em que iriam transportá-la? Você viu outro carro?
— Era uma van branca enorme sem janelas. Não tinha nada escrito e eu não olhei as placas. Aqueles não são caras com os quais vai querer dar uma de curioso. As duas portas traseiras também não tinham janelas. É tudo que posso te dizer.
— Não sabe para onde a levaram?
O homem hesitou por um segundo bem demorado.
— Não. Não sei.
Valiant rugiu. Justice o fulminou com os olhos.
— Está mentindo outra vez. Você fede a desonra. Me diga para onde a levaram ou eu deixarei que ele te faça comer as tripas. — Olhou para o oficial na porta. — Tiger? Achou um bom lugar para enterrar os restos do humano se tivermos que matá-lo?
Tiger sorriu friamente.
— Claro. Bem dentro da Zona Selvagem. Nunca serão encontrados.
— Eu realmente não sei. — o advogado quase soluçava. — Só sei que fica perto da casa. Ontem passei informações para Zenlelt e um dos homens dele saiu para ir alimentar a besta. Ficou fora apenas por uns vinte minutos. Eu juro, Deus é minha testemunha, que isso é tudo o que sei.
Justice relaxou. Virou e encontrou o olhar de Valiant.
— Vamos.
Do lado de for a da porta alguém passou para Justice um jeans e uma camiseta. Pediu que levassem roupas antes de entrar na sala. Acenou em obrigado quando aceitou a roupa e estudou Valiant.
— Bem, estava viva quando ele a deixou. Ela é forte, Valiant. Ela ameaçou aquele homem a ponto dele sentir terror no segundo em que você entrou na sala. — Justice sorriu. — De onde ela tirou o arrancar as tripas?
Valiant encolheu os ombros, preocupado e com raiva demais para achar graça naquilo.
— Eu não sei, mas essa é a minha Tammy. Ela é inteligente. — Sua voz falhou.
Justice estendeu a mão e agarrou seu braço. — Vamos encontrá-la.
Tiger assentiu.
— Vamos trazê-la de volta, Valiant. Os carros estão prontos. Vamos nessa.
Valiant enterrou o rosto no colchão da pequena cama. Inalou profundamente, e lutou contra a vontade de rugir.
— Minha Tammy esteve aqui. Eles a acorrentaram e ela estava muito assustada. Também estou sentindo um cheiro estranho misturado ao suor dela. Eles a drogaram com alguma coisa. O cheiro está fraco, mas presente.
Tiger examinou as algemas ainda presas às grades de metal da cabeceira e dos pés da cama. Ele não viu nem sentiu o cheiro de sangue ali.
— Vamos encontrá-la.
Justice concordou.
— Nós viemos pela floresta então não fomos avistados. Alguém vai voltar. As coisas deles ainda estão aqui.
Tiger assentiu para os cinco homens lá dentro.
— Podemos ficar de tocaia.
Valiant se moveu, subiu na cama e pressionou o nariz no colchão outra vez. O cheiro de Tammy estava lá. O cheiro do seu terror era mais forte ali. Ele não queria sair com medo que o cheiro sumisse. Tinha que encontrá-la. Sentiu Justice e Tiger observando-o.
Justice suspirou.
— Isso ajuda?
— Um pouco. — Valiant admitiu em voz baixa. — Não quero mais viver se não a encontrarmos. — Virou a cabeça para encarar os homens.
Tiger fez uma cara feia e Valiant entendeu o motivo. Todos sabiam que aquilo aconteceu algumas vezes com os Novas Espécies nas instalações de experimentos. Eles perdiam a esperança e simplesmente paravam de comer. Permitiam que seus corpos morressem. Nunca achou que seria capaz de abdicar da vida uma vez que fosse solto. Mas se recusava a se arrepender de ter se apaixonado por Tammy.
— Espero nunca me apaixonar se perder uma mulher significar que eu também perca a vontade de viver — murmurou Tiger.
— Vamos esperar que o macho para quem ela foi levada não a machuque. — disse Justice. — Ele sentirá o seu cheiro nela a não ser que tenha tomado um banho e mudado de roupa depois que a deixou.
Ele sacudiu a cabeça.
— Não tomou. Ela já tinha se vestido quando eu saí. Eu a abracei e o meu cheiro está nela inteira. Ele não poderá deixar de senti-lo.
— Ótimo. — Justice voltou sua atenção para Tiger. — Ainda há mais Espécies prisioneiros da Mercile. Precisamos encontrá-los e conseguiremos isso se a acharmos.
Tiger levantou o celular.
— Vou subir e dizer aos outros. Tentaremos descobrir quem comprou ou alugou esta casa. Talvez estejam usando o mesmo nome ou os mesmos fundos para pagar o lugar em que Tammy está presa. Duvido que Zenlelt seja o nome verdadeiro dele. Armaram para que Charlie Artzola acabasse morto. Lidam com Novas Espécies que nunca souberam o que é liberdade. Tenho certeza que acharam que nos comportaríamos do mesmo modo e o mataríamos instantaneamente. Eles lhe deram a arma que apagou Flame e tinham que saber que ele iria sobreviver. Não consigo entender por que não atiraram logo no advogado, ao invés de mandá-lo de volta para nós, com vida.
Justice rosnou.
— Mercile gosta de fazer com que pareçamos perigosos e instáveis para os humanos para justificar o que fizeram conosco. Eles provavelmente acharam que mataríamos o bastardo com humanos como testemunhas por perto. Isso ou eles simplesmente pensam que somos estúpidos e que valia o risco de deixá-lo com vida para não desperdiçar a oportunidade de manter um contato lá dentro se caíssemos nas mentiras dele. Morro de medo de tentar descobrir o tamanho da traição dele e a quantidade de informações que passou adiante.
Tiger olhou para Valiant.
— Sinto muito, cara. Vamos trazê-la de volta.
Valiant não conseguia falar. A emoção o engasgava. Justice se virou para sussurrar algo para Tiger, que mesmo assim ouviu as palavras.
— Ele é tão feroz. Vê-lo assim parte o meu coração. Faça as ligações logo e ordene que nossos homens se escondam. Com sorte, eles voltarão aqui. Não sei mais o que fazer.
— Acordem. — uma voz gritou perto da orelha de Tammy.
— Eles vieram nos alimentar. Fique na cama e não se aproxime das barras.
Tammy abriu os olhos de repente. Encontrou o olhar de 927 quando ele saiu de cima dela. Ele se levantou, colocando o corpo entre a porta da cela e ela. Tammy sentou e notou com um pouco de preocupação que a parede de vidro quebrado havia desaparecido, mas que os restos dela continuavam no chão de metal. Como que eu não acordei quando o resto caiu?
Sua atenção foi para cima quando ouviu um ruído e viu um pequeno espaço aberto no teto da jaula. A abertura cortava toda a jaula onde o vidro esteve. Ouviu um barulho mais alto, um chiado de motor e outra parede de vidro foi levantava por algum tipo de guindaste do outro lado do depósito.
Ficou de boca aberta, observando quando ela foi posicionada acima da jaula, alinhada com a abertura e baixada lentamente. Olhou-a em choque. Obviamente as paredes de vidro eram removíveis por cima e o quebrado foi trocado. Um novo deslizou até o chão para separar a cela da porta.
O Nova Espécie de costas para ela ficou tenso e rosnou alto. Tammy percebeu que ele fez isso na tentativa de protegê-la. Parecia uma grande melhora do que ter certeza de que a mataria quando foi jogada na jaula com ele. Ao invés disso ele a abraçou enquanto ela dormia e não a machucou. Gratidão com relação a ele e esperança de que Valiant e os Novas Espécies da Reserva fossem encontrá-la a encheram. Só precisava continuar viva.
— Não montou ela. — Pete se aproximou da jaula. — Por que não? Gosta de homens, 927? O doutor disse para deixá-la aí dentro e que a sua natureza eventualmente faria com que a fodesse. Aquela coisa do cheiro deve ter funcionado já que está interessado nela. Acho que vocês não se importam em dividir, hein?
Mike ridicularizou.
— Se colocá-la de quatro dá no mesmo que foder com um homem.
— Um cu é tão bom quanto outro. Só feche os olhos e finja que ela é o Mike.
— Ei, isso não tem graça. Não faça com que ele tenha fantasias comigo de quatro. Não quero que me olhe desse jeito.
Pete riu.
— Melhor que ele pense em você desse jeito do que em mim. E nós somos os únicos que ele vê a não ser que queira contar com o doutor. Ninguém iria querer fodê-lo.
— Verdade. — Mike riu. Ele abriu a cela e colocou uma bandeja enorme no chão, junto com uma caixa. — Vem pegar. — Ele bateu a porta com força e os dois foram embora. Um minuto depois o barulho soou outra vez. A partição de vidro começou a subir. 927 relaxou e se virou para encontrar o olhar de Tammy.
— Eu vou lá. Pode usar o vaso que não vou olhar.
Ela assentiu.
— Obrigada.
Não havia privacidade dentro da jaula. Olhou para 927. Ele tinha caminhado até a porta da cela e olhado além, mantendo as costas para ela. O vaso era só aquilo, um portátil que foi acoplado no metal com canos que iam pelas paredes e se perdiam de vista.
Havia papel higiênico em cima da tampa. Tammy se apressou e o usou. Havia uma ducha e um tipo de ralo incrustado no metal próximo ao vaso, no chão. Ela lavou as mãos em cima dele. Era parecido com ligar a mangueira do jardim, só apontar o jato fraco para o buraco e pronto. Aquele tinha que ser o único jeito que ele possuía para se limpar. Era desumano.
— Já acabei. Obrigada.
927 se virou e assentiu. Ele pegou a caixa prateada e a carregou para a cama. 927 apontou para o chão quando sentou lá, indicando que ela deveria sentar ao seu lado. Ele usou a cama de mesa. Ela fez careta quando ele abriu a tampa para revelar a comida. Só tinha comida “estilo Valiant”. Dava para ver que não estava muito cozida. Eles trouxeram bifes cortados em tiras, apenas grelhados, em um prato cheio de sangue.
Ela sentou.
— Não posso comer isso. Está muito cru.
Ele franziu o cenho para ela.
— Você comerá. Precisa de forças. Precisa comer pelo menos um.
Fez outra careta, mas sabia que ele tinha razão. Não comia há muito tempo e sua barriga doía de fome. Ele pegou um pedaço de carne e lhe passou. Suas mãos tremiam quando pegou a ponta da carne, com cuidado para não deixar o sangue pingar em suas roupas.
Ele levantou outro pedaço e prendeu os olhos nos dela. Mostrou como enfiar os dentes nela e puxar para cortar a carne. Ela tentou, mas a carne era muito dura e seus dentes não eram tão afiados quanto os dele. Teve que lutar para não vomitar ao sentir o gosto de sangue. A carne pingava em sua boca quando ela mordia, tentando rasgá-la sem sucesso. Tentou mordê-la, mas já que ela era tão dura e grossa, acabou desistindo.
— Não consigo comer. Nem consigo arrancar um pedaço. Só consigo roê-la.
Ele estendeu a mão e usou os dedos para abrir seus lábios, a articulação de um empurrando seus dentes para abri-los também. Tammy abriu a boca para inspeção. Ele franziu o cenho. A ponta do dedo correu a ponta dos seus dentes antes que explorasse os de trás. Ele tirou o dedo.
— São retos demais. Por que a sua espécie permite que alguém cerre os seus dentes? Eles são inúteis.
— Eles crescem assim. Não precisamos rasgar as coisas com os dentes. Usamos garfos e facas.
Ele tirou a carne dos seus dedos. Abriu a boca e rasgou um pequeno pedaço do bife e passou para ela. Ela hesitou e o pegou. Que bom que eu não sou maníaca com germes, hã? Contraiu os músculos do rosto quando comeu o pequeno pedaço de carne ensanguentada. Ele rasgou outro pedaço pequeno e colocou na bandeja em frente a ela. Usou os dentes e continuou rasgando pequenas tiras, fazendo uma pilha.
— Obrigada. — sussurrou.
Nunca em um milhão de anos ela acharia que ia comer carne crua e agradecer a um homem por usar seus dentes afiados para rasgá-la em pedaços pequenos o bastante para que mastigasse e engolisse. Também nunca acreditou que teria tanta fome que não vomitaria em qualquer uma das hipóteses.
Tammy não conseguiu comer tudo. O que não comeu 927 fez. Ele comia mais do que Valiant. Pegou a bandeja vazia e foi até a porta da cela. Virou a bandeja e a empurrou para fora. Quando ela caiu a pancada foi tão forte que Tammy estremeceu. Ele voltou e abriu a garrafa térmica. Cheirou antes de passar para Tammy.
— É seguro. Às vezes colocam drogas na minha bebida, mas sinto o cheiro delas.
Ela sorriu para ele depois de apreciar a água gelada e a devolveu. Ele bebeu enquanto a observava. Seu sorriso sumiu devido à expressão estranha que escureceu os olhos dele e fez com que a estudasse com uma intensidade muito grande para o seu conforto.
— O que foi?
— Você é atraente. Seu cheiro é doce.
Um sentimento ruim fez com que ficasse nervosa.
— Valiant disse que quando eu estou com medo fico com esse cheiro. Desde ontem ando morrendo de medo.
Ele hesitou.
— Você pertence a esse Valiant?
Ela assentiu.
— Nós vamos nos casar.
— Casar? O que é isso?
Considerou suas palavras.
— É uma cerimônia que sela a nossa união até o dia que morrermos em meu mundo. Ele quer se casar comigo para garantir que as leis dos humanos reconheça que pertenço a ele.
Ele assentiu.
— Mas você já pertence a ele?
— Sim.
Ele rosnou baixo.
— Isso é uma pena. Eu quero você.
Ela se afastou dele, sentindo medo.
— Não.
Ele franziu o cenho.
— Eu disse que era uma pena. Não entende isso?
— Eu pertenço a Valiant.
— Mantenha a voz baixa ou eles nos escutarão. Eu sei. Eu concordo.
Seu coração voltou ao normal.
— Estava com medo que não se importasse por ser dele. Do jeito que disse foi como se… fosse me atacar de qualquer maneira.
Ele encolheu os ombros.
— Eu iria querer que ele a protegesse se você fosse minha e fosse levada para longe de mim para ser dada a outro. Eu o mataria se ele a montasse. Não forçarei um acasalamento com você, Tammy. Posso desejar, mas posso me controlar. Minha mente governa o meu corpo.
Que bom.
— Eu só espero que esse Valiant venha logo. — Ele ficou de pé. — Seu cheiro é bom demais. Faz muito tempo desde que permiti ao meu corpo a necessidade de acasalar. Tempo demais para ficar tão perto assim de você.
Aquilo deixou Tammy desconfortável outra vez. Quase soava como uma ameaça. Como se ele a avisasse que seu controle não duraria muito tempo. Mordeu o lábio.
— O que faz aqui para se manter ocupado?
Ele deu de ombros.
— Eu fico forte.
Ela olhou ao redor da cela. Havia o colchão e o vaso sanitário. A pequena ducha e o ralo no chão eram as únicas coisas. Ela não tinha ideia do que ele estava falando.
— Deve ficar muito entediado.
— Entediado?
Tentou pensar em um jeito de explicar a palavra para ele.
— Não tem o que fazer.
— Eu fico forte. — Ele foi até o chão do lado dela e começou a fazer abdominais. Ela viu seus músculos contraírem e esticarem enquanto ele levantava e descia com rapidez. Ele eventualmente parou e olhou para a parede. Correu até a grade, virou-se e jogou o corpo nela. Fez isso algumas vezes, trocando de ombro. Ela fitou as grades e notou que tinham curvado levemente, quase imperceptivelmente, e ela não teria notado se não tivesse procurado enxergar alguma coisa.
Ele parou de fazer aquilo e caminhou para frente da cela. Agarrou as barras e fez abdominais de pé. Finalmente se virou e voltou-se para o centro da jaula. Agachou-se de repente e pulou alto. Seus dedos seguraram as grades do teto, seu corpo a mais de um metro do chão e ela viu em espanto quando ele fez exercícios de barra fixa. Ele pareceu fazê-los por uma eternidade até o suor cair pelo seu corpo. Ele soltou as barras e aterrissou graciosamente nos pés descalços. Virou e olhou para ela.
— Eu fico forte.
Não era de se admirar que todos os Novas Espécies homens eram enormes e musculosos. Não era mais um mistério como eles conseguiam ser tão musculosos e em forma se isso era tudo o que faziam em todos aqueles anos presos em suas celas.
Ela assentiu.
— Eu vi.
— Me banho agora. Você pode se virar.
Ela virou. Deu as costas para a área com a ducha. Ouviu a água escorrer e o som estranho de velcro. Queria olhar para ver o que era, mas não virou. Ele queria tomar banho e até ela conhecia as definições deles de algo que não poderia ser muito diferente. O som de água escorrendo demorou um pouco. Ouviu aquele ruído de velcro outra vez.
— Estou coberto.
Tammy virou, ainda sentada no chão, e encarou 927. Ele tinha lavado o corpo e o cabelo estava molhado. Ela o viu colocar algo detrás do vaso quando se abaixou.
— O que colocou detrás do… — Ela apontou.
Ele se endireitou.
— Sabão e desodorante. — Ele os levantou e mostrou. O sabão ficava amarrado a uma pequena corda e tinham lhe dado um desodorante pra viagem. — Eles nos dão isso para que nos limpemos e não fiquemos com mau cheiro. Não gostamos dos cheiros ruins dos nossos corpos. Nos deixam irritados.
— Ao menos eles te dão produtos de higiene. Acho que isso é bom.
— Eles não limpam as nossas celas. Nós os mataríamos se chegassem tão perto.
— Entendo. — Os imbecis que a trouxeram para lá não queriam ter que limpar a cela se ele não tivesse a habilidade de usar o banheiro de maneira decente.
Ele veio para perto e sentou na sua frente.
— Me fale sobre os Novas Espécies. Me fale tudo.
Tammy respirou fundo. Ela começou a contar a ele tudo o que sabia desde a época que passou a acompanhar as notícias. 927 a olhava com interesse. Ele sorriu bastante. Continuou a falar.
— Alguém está vindo. — alertou baixinho uma voz no rádio.
Valiant saltou da cama e viu Justice e Tiger se levantarem do chão onde estavam descansando. Os homens saíram da área de visão da porta da frente. Justice deu um olhar firme para Valiant.
— Não os mate nem afete a habilidade que tem de falarem. Eles sabem onde Tammy está.
— Sei disso. — Rosnou baixo Valiant. — Ninguém a quer de volta mais do que eu.
— Eu sei. Mas vejo a sua raiva meu amigo. E entendo. Eu iria querer destruí-los se alguém levasse a minha mulher… seu eu tivesse uma. Só estou te lembrando caso não esteja pensando muito claro. Precisamos que nos digam onde ela está.
— Ela nem é a minha mulher e eu ainda quero matá-los. — suspirou Tiger. — Eles trabalham para a Mercile, levaram uma das nossas mulheres, e têm que morrer por isso.
— Silêncio. — Valiant sussurrou de repente. — Ouço um veículo se aproximando.
Um motor desligou e uma porta bateu do lado de fora. Um homem veio pela entrada da frente, as passadas leves e as chaves chacoalhando. O humano que entrou era um homem de vinte e poucos anos. Ele usava uma roupa branca, similar às dos técnicos das instalações, e Valiant conteve um rosnado para continuar o silêncio.
O humano pendurou as chaves na parede e fechou a porta com força. Levantou os braços quando esticou o torso, bocejou e se virou. Levou uns cinco passos para perceber que não estava sozinho. Ele congelou.
Valiant, Tiger e Justice se espalharam em volta do homem no segundo em que saíram dos seus esconderijos na outra sala. Terror envolveu imediatamente o rosto do humano e o fedor exalou dele.
— Tomei no cu. — ele falou.
Tiger grunhiu.
— Não fomos nós. Você não faz o nosso tipo.
O homem empalideceu.
— O que vocês querem?
Valiant rosnou.
— Sabe o que queremos. Onde está a minha mulher?
O homem começou a tremer e a suar quando olhou para Valiant. Seu olhar varreu o Nova Espécie da cabeça aos pés.
— Merda.
— Onde Tammy está? — Justice rugiu atrás do humano. — Fale logo porque meu amigo quer fazer você gritar e sangrar. A cama tem o cheiro forte do medo da mulher dele. Ele está com muita raiva.
A boca do humano se moveu, mas nada saiu dela. Valiant rugiu, o som encheu a sala, e ele avançou. O humano virou-se rapidamente para fugir, perdeu o equilíbrio e caiu no chão de pavor. Um grito agudo saiu de sua garganta quando Valiant se agachou e o segurou pelos braços, garantindo que suas unhas se enterrassem dolorosamente neles.
— Onde está a minha Tammy? — rosnou as palavras. Ele puxou a parte de cima do corpo do homem para mais perto dos dentes afiados.
— No depósito. — ele soluçou. — Ela está no depósito.
— Solte-o. — rosnou Justice. — Não o mate. Ele vai nos dizer onde fica esse depósito. Não vai humano?
O homem olhou desesperado para Justice. Ele assentiu, aterrorizado.
— Vou sim. Só o afaste de mim.
Valiant o soltou e recuou. Tremia de raiva. A vontade de matar quase o deixava louco. Aquele era o humano que levou Tammy até um depósito para ser jogada a um Nova Espécie para uma experiência de reprodução. Foi preciso tudo o que tinha dentro de si para evitar que saltasse e rasgasse a garganta dele.
— Ela ainda está viva? — Tiger se aproximou para intimidar.
— Estava quando saí há pouco. 927 não a fodeu nem a matou.
Justice se moveu, bloqueando Valiant quando ele deu um passo na direção do humano no chão. Justice sacudiu a cabeça.
— Controle-se.
— Estou controlado. — rosnou Valiant.
Justice voltou seu olhar furioso para o humano.
— Qual é o seu nome?
— Pete.
Justice piscou.
— Você vai nos levar até esse depósito. Qual é a segurança de lá? Quantos guardas protegem o lugar? As armas que têm são pesadas?
Pete o fitou.
— Quer saber quantos homens estão guardando o lugar? Nenhum. Somos só eu, Mike e o doutor.
Tiger rugiu.
— Mentira. Eles nunca deixariam uma instalação de experimentos com apenas três homens de guarda.
Pete virou os olhos apavorados para o homem com olhos de gato que o olhava com desprezo.
— Não é uma instalação. Acabamos de trazer ele da instalação do Colorado. O doutor queria trazer mais deles, mas temos que esperar quando mais homens ficarem disponíveis para construir mais celas para contê-los. No momento só temos esse e nós três conseguimos lidar com ele.
— Você vai nos levar lá, mas primeiro vai nos dizer onde fica localizada essa instalação do Colorado. — Exigiu Justice. — E vai dizer agora.
Valiant rugiu outra vez. O homem no chão assentiu em desespero, seu olhar apavorado preso a Valiant.
— Eu falo. Tudo o que vocês quiserem. Só fiquem longe de mim. — Ele balbuciou um endereço.
Justice deu uma olhada em Tiger. Ele assentiu e pegou celular no bolso de trás da calça. Deu o endereço à pessoa com quem falava. Fez uma pausa.
— Quantos Novas Espécies são mantidos lá? Como é a segurança?
O homem fechou a boca.
— Eles vão me matar.
Justice rosnou e bateu as mãos. Os homens que estavam na parte de cima desceram e cercaram o humano encolhido de medo. Pete fitou os oito Novas Espécies fechando um círculo em volta dele. O cheiro do seu medo ficou tão forte que Valiant quase conseguiu sentir o gosto.
— Você fala ou nós começamos com os seus dedos dos pés e das mãos. É incrível quantos ossos podem ser quebrados antes que o choque comece a matar um homem. — Rosnou Justice, aproximando-se mais. — Responda às minhas perguntas.
— Não faça isso. — exalou Pete. — Porra. Se afastem. Deve haver oitenta e dois machos e seis fêmeas lá, a não ser que alguns deles tenham sido removidos na última semana quando saímos de lá. A segurança é apertada. — Ele parou.
— Continue falando. — rosnou Valiant. — Para onde seriam levados? Onde ficam as outras instalações?
— Não é assim. — sibilou o homem. — Quando a primeira instalação de experimentos foi invadida, as pessoas entraram em pânico. Nós achamos um prédio abandonado e levamos alguns meses para preparar a nova locação para abriga-los. Todos estavam mortos de medo que a nossa instalação fosse descoberta, queríamos sair de lá o mais rápido possível, mas leva tempo para se construir celas fortes para manter a gente de vocês presa. Nós os levamos para o endereço que te dei e às vezes nós emprestamos alguns para alguns dos médicos que não foram presos. Eu não tenho nada a ver com isso e não sei de nada a não ser que às vezes um punhado deles desaparece, mas depois são devolvidos. Vai ter que falar com o doutor para saber para onde vão e quem fica com eles. Ele é quem está no comando. Nada é feito sem o consentimento dele. Seu nome é Adam Zenlelt.
— Quantos guardas têm lá? Onde está a nossa gente.
— Eles são mantidos no subterrâneo, segundo andar. Costumava ser um estacionamento, mas fecharam para abrigar os bastardos. Geralmente têm uns doze guardas no andar de cima, e talvez uns seis no de baixo. Não conheço todos os médicos nem os outros funcionários, mas acho que são uns vinte no lugar em cada turno.
— Está equipado com explosivos? — rosnou Tiger.
Pete encolheu os ombros.
— Não tenho nem ideia. Não sou da segurança. Sou apenas o assistente do doutor. Eu e Mike somos os músculos. Isso é tudo. Nós cuidamos do 927 e de qualquer outra cobaia com a qual o doutor trabalhe pessoalmente.
— E Tammy? — Valiant se aproximou, atirando farpas com o olhar. — Me conte tudo.
O homem engoliu em seco.
— Nós a colocamos na cela com o 927. Ele matou as duas últimas que colocamos com ele. Simplesmente as matou. Ele é louco. Não matava as vadias de vocês, mas mata as normais, como eu. — Ele calou a boca. — Não foi o que eu quis dizer. Sabe como é. Ele atravessou uma partição que tínhamos colocado para afastá-lo quando abrimos a porta da cela. Ele a farejou bastante e ela tagarelou sem parar para tentar convencê-lo a não matá-la. Ele só a levou para a cama e ficou deitado com ela. Quando eu saí ele estava alimentando ela, e inferno, ele rasgou a carne para ela. Foi mais que esquisito. Se ele usa os dentes para cortar pedaços de carne que ela possa comer, se dorme com ela, então você também pensaria que a foderia. Achamos que ele é gay.
— Ele dormiu com ela? — Rosnou Valiant.
O homem fez uma careta.
— Bem, é meio frio à noite e não lhe damos cobertores.
— Calma. — Justice ordenou a Valiant. — Ele não acasalou com ela. — Fixou o olhar em Pete. — Certo?
O homem sacudiu a cabeça.
— Eu te disse. Achamos que ele é gay.
— O que isso quer dizer? — Tiger franziu o cenho.
O homem no chão hesitou.
— Achamos que ele gosta de homens. Ela não é um. Ele não transa com ela.
Tiger riu.
— Acha que por que ele não acasala com ela sente atração física por homens? — Sacudiu a cabeça. — Já passou pela sua cabeça que ele pode não gostar de forçar as mulheres? — Seu sorriso morreu e ele rosnou. — Essa coisa doentia de querer estuprar mulheres pertence a vocês, não a nós.
— Bem, eu nunca agarrei uma mulher e quebrei o pescoço dela, mas ele sim. — Pete apontou. — Duas delas e confie em mim, elas eram lindas. Teria transado com elas em um piscar de olhos se alguém as jogasse em cima de mim. Ele nem falou nada antes de matá-las. — Pete estalou os dedos. — Foi desse jeito.
Justice franziu o cenho, seu olhar pausando em cada um dos homens da sala.
Tiger praguejou em voz baixa.
— Ou ele enlouqueceu ou tem boas razões para matar fêmeas indefesas. Iremos descobrir.
Justice ficou com a expressão fechada. Voltou toda sua atenção para o prisioneiro.
— Pete? Vamos dar um passeio de carro. Você nos levará para onde levou Tammy.
— Farei isso. Não tenho escolha. Mas fiquem longe.
Justice acenou com a mão para que seus homens recuassem. Pete se levantou com as pernas bambas. Ele olhou para Justice, que obviamente estava no comando.
— Eu quero imunidade para não ser processado em uma corte por sequestro e o que mais os tiras me acusarem. Me prometa isso e eu mesmo levo vocês dirigindo até 927.
Justice piscou algumas vezes antes de um sorriso lento se espalhar pelas suas feições.
— Eu juro que te darei a imunidade das suas leis. O trato está fechado. Leve-nos para a mulher e para o Nova Espécie agora.
O homem olhou para Justice.
— Pode fazer isso, não é? Me dar imunidade?
O sorriso de Justice morreu e seus olhos estreitaram.
— Eu sou a lei dos Novas Espécies. Eu sou Justice. Posso te dar o que eu quiser. Este é um assunto dos Espécies que não envolve as suas leis até eu disser que envolve. Te dou minha palavra como Justice North que seus tiras não o mandarão para a prisão se nos ajudar. Agora vamos.
O homem assentiu.
— Claro. Eu não quero ir para a prisão. É só um trabalho com um bom salário. Também vou precisar de um pouco de dinheiro, só para me ajudar a recomeçar. Quero mil em dinheiro.
Justice estava sério. Ele sacudiu a cabeça em um aceno.
— Feito. Vai receber o dinheiro depois que pegarmos a mulher de volta, verificar que a instalação do Colorado fica mesmo onde você disse e nosso pessoal estiver lá.
Pete sorriu, aparentando estar menos assustado.
— Entendo. Vamos. Não fica muito longe daqui.
Tammy riu.
— Não. Eu não sou deficiente. Existem muitas mulheres do meu tamanho.
927 assentiu.
— Não foi minha intenção ofendê-la se eu impliquei que você tem imperfeições físicas.
— Não me ofendi. Vi algumas das suas mulheres e elas são muito altas. Entendo por que pensaria assim. Eu sou baixa para o padrão normal. Eu...
927 se moveu de repente, cortando suas palavras. Ele ficou de pé em um segundo e segurou Tammy. Ofegou quando aquelas mãos agarram seus braços e ela foi colocada de pé. Acabou atrás do homem imenso. Ele ficou tenso e rosnou para a porta da cela.
O homem mais velho e Mike caminharam até a cela. Tammy teve um vislumbre deles antes que 927 a empurrasse para trás e usasse uma das mãos para mantê-la atrás dele. Ele era largo e alto demais para que conseguisse espiar. Outro rosnado forte e horripilante emergiu de sua garganta.
— Vejo que gosta dela. — O velho riu. — Precisa acasalar com ela, 927. — A voz do homem endureceu. — Vou fazer com que Mike pegue a arma e a mate se não acasalar.
Medo rasgou Tammy. Por que eles fariam isso?
— É. — riu Mike. — Vê essa arma? Boom! O doutor está cansado de esperar enquanto você corteja a vadia. Só ponha ela de quatro e encontre o buraco certo. Não deve ser muito difícil. Sei que gosta de homens, mas é só fingir.
— Já chega! — suspirou o velho. — Eu continuo dizendo a vocês que ele não é homossexual. Já acasalou com fêmeas do tipo dele no passado. É com fêmeas inalteradas que ele tem problemas.
— Talvez percebeu que sente atração por homens. Acontece. Eu tinha um primo que saiu do armário aos trinta e poucos. Ele casou com uma mulher e eles tiveram quatro filhos antes dele contar a ela.
O velho suspirou mais alto.
— 927. Ou acasale com ela ou saia da frente e permita que Mike a mate. Simples assim. Você parece gostar dela e tenho certeza que vai acasalar. Está fazendo isso só para me irritar. Eu entendo isso, mas a minha paciência já está no fim. Já perdi tempo demais.
— Terá que atirar em mim primeiro. — Alertou 927, sua voz se tornando um rosnado assustador.
Houve silêncio. O velho finalmente falou.
— Soltarei um gás na sua cela e quando você apagar a pegaremos. Odiaria isso porque teria que fazer um pedido do gás, mas posso consegui-lo até o fim do dia. Acasale com ela ou saia da frente.
— Use o gás. — rosnou 927.
O terror de Tammy foi instantâneo.
— Gás? — Ela ofegou.
927 virou a cabeça e olhou para ela.
— Quer acasalar comigo? Eles a levarão de mim depois e você ficará viva até que ele decida que já teve o que quer. Vão amarrá-la e machucá-la. Fazem isso com as nossas fêmeas. Elas gritam e choram. Às vezes eles as levam para que outros machos acasalem com elas e começa tudo de novo. É essa a vida que você deseja?
Ela sacudiu a cabeça. Definitivamente não.
Ele assentiu.
— Quer que eu saia da frente e deixe que ele atire em você? Toda sua esperança já morreu?
Ela sacudiu a cabeça outra vez.
— Não estou pronta para morrer.
— Eles terão que usar um gás em nós. Levará tempo. — ele sussurrou.
Tammy olhou nos seus olhos e assentiu.
— Gás.
927 lhe deu um sorriso e virou. Com o rosto sério, disse.
— Peça o seu gás. É o único modo que vai conseguir tirá-la de mim.
— Porra. — grunhiu Mike. — Deixe atirar nele doutor. Tenho certeza que consigo evitar os órgãos vitais. Ele vai se recuperar.
— Era só um blefe para fazer com que acasalasse com ela. Drogaremos a sua comida. Ele terá que comer ou beber a certa altura. Feche a água da cela dele. Assim que ele ingerir as drogas será forçado a acasalar com ela. Não quero perturbar esse experimento, mas ele é teimoso demais. Teremos que usar as drogas reprodutoras. Talvez possamos conseguir que acasale com ela fora do efeito das drogas depois que já tiver acasalado uma vez.
— Por que não usamos o gás neles, forçamos ele a gozar e injetamos na vadia se quer ver se do forno dela sai um cachorrinho?
— Eu já tentei explicar isso. — O velho suspirou. — Os testamos há dez anos. O esperma é diferente do nosso. Descobrimos que durante o sexo a quantidade de esperma deles é alta, mas só se estiverem excitados. Quando é manipulado manualmente, se forçarmos o esperma, a contagem cai substancialmente. Também tem um período de vida bem mais curto. Morre rapidamente, quase em um minuto, e até conseguirmos descobrir se isso é pela exposição ao oxigênio ou se é um problema de temperatura, não podemos resolver a questão de forma eficaz. Perdemos muito do nosso equipamento quando abandonamos a instalação. Preciso que ele acasale com ela naturalmente, pois pode haver uma chance de sucesso.
— Por que não funcionou com as vadias animais?
— As fêmeas não produzem óvulos viáveis. Só os machos que têm a habilidade de reproduzir. Preciso fazer umas ligações para pedir as drogas que preciso e ver como estamos com as transferências. Os homens vêm amanhã para aumentarmos o espaço e adicionar mais quatro celas. Se esse não acasalar com ela, talvez os outros o façam.
Mike riu.
— Uau! Vai fazer com que ela transe com cinco deles? Acha que ela vai sobreviver?
— Não sei. Depende se os outros quatro vão matá-la ou não. Esse trabalho é importante.
— Quem se importa se eles podem procriar?
O velho hesitou.
— Perdemos a habilidade de fazermos mais deles há muito tempo. Não fomos capazes de replicar o que a médica que os criou fez. Toda tentativa falhou. É mais rápido lidar com os problemas reprodutores deles do que começar do zero e tentar replicar o modo como foram criados. Tentamos isso por anos e não conseguimos. Se você gosta de receber o seu salário temos que descobrir isso. Quando a Mercile foi descoberta, todos os bens foram congelados. Quase acabamos com o dinheiro que transferimos antes daquilo acontecer. Temos que recorrer a maneiras mais criativas de fazer dinheiro com eles e descobrir isso é uma prioridade.
— Eles não vão sair mais fracos se forem gerados com vadias normais?
— Não. Eles têm os genes agressivos e dominantes, cada um deles. Virão completamente iguais ao modo que os fizemos se conseguirmos procriá-los com humanas.
— Legal.
— Legal se conseguirmos resolver o problema e fazer com que esse aí a engravide. Seremos capazes de procriar nossos machos restantes com mulheres normais e obtermos centenas de novos produtos no primeiro ano. Pense na margem de lucro e na rapidez em que conseguiremos substituir os que foram perdidos. Aprendemos muito com o passar dos anos e não cometeremos os mesmos erros com os novos. Os recém-nascidos serão treinados desde o nascimento a obedecerem as nossas ordens.
— Super legal.
— É mais uma questão de sobrevivência. Todos somos procurados pela polícia e a menos que queira fugir para algum país de terceiro mundo para vender bugiganga para turistas, é melhor se apressar para fazer com que dê certo. Isso vai manter o seu salário mensal.
— Porra. — Mike parecia sério. — Eu não sabia que as coisas estavam tão desesperadoras assim.
— Vamos deixá-los enquanto faço as ligações. Talvez acasale com ela logo. Ele não usa uma fêmea já faz um bom tempo. Foi outra razão para escolhê-lo. Sua resistência tem que estar baixa.
Tammy tentou escutar, mas não conseguiu mais ouvi-los. Observou 927 com cuidado. O corpo dele finalmente relaxou e ele soltou o seu braço, virando-a para olhá-la.
— Você está com medo. — Ele inalou. — Não permitiria que a levassem.
— Foi por causa do que disseram. — Ela o fitou, horrorizada. — Eles querem que tenhamos filhos que possam treinar para obedecê-los? E o que significa produto?
Ela sabia a resposta, mas era horrível demais para contemplar, só precisava que fosse confirmada.
— Nós somos produtos. Já ouvi isso antes. Primeiro surgimos para ajudá-los a criarem drogas que testaram em nossos corpos. Agora sempre falam que precisam de dinheiro e que querem nos forçar a lutar por eles. Eu até os ouvi dizer que querem nos vender. E os ouvi planejando criar mais de nós, mais novos, que não conhecem a crueldade deles. Acham que podem enganar os mais novos e fazer com que se tornem o que nos recusamos a ser.
— Isso é horrível. — E mal. Vil. Doentio. Cruel. Parou antes de começar a praguejar.
— É por isso que não tive escolha no que fiz com as mulheres. Eu vi o que fizeram com as nossas por anos, tentando forçar seus corpos a procriarem. Vocês não conseguiriam sobreviver dentro de suas mentes e o corpo mais fraco de vocês não aguentaria. Nossas fêmeas são mais fortes.
— Aquela parte era verdade? Que você matou as outras que eles trouxeram? Achei que estavam tentando me assustar.
Ele hesitou.
— Elas gritaram quando me viram e ficaram aterrorizadas. Choravam e gritavam. Enlouqueceram ao me ver. Eu sabia que elas não sobreviveriam a uma procriação, nem seriam fortes o bastante para enfrentar os experimentos. Elas seriam passadas de cela em cela do jeito que as nossas mulheres foram durante esses testes. Piorou recentemente e eles se concentraram nisso. Faziam nossas fêmeas acasalarem com oito ou nove de nós. Nós recusamos sempre que elas se recusaram. A maioria das nossas mulheres ficou muito triste, mas tentamos mantê-las fortes. Ao menos era um tipo de contato, e nos tratávamos bem. Nossas fêmeas têm vidas difíceis. Foi uma benção eu ter matado as mulheres sem lhes causar dor. O sofrimento delas seria muitíssimo maior durante todos os momentos de suas vidas. Nossas mulheres contaram o que foi feito com elas durante os experimentos que os médicos fizeram em seus corpos quando não estavam conosco. — Ele estremeceu. — Eles teriam matado as mulheres de qualquer jeito se elas conseguissem sobreviver aos testes de reprodução. Eu iria preferir morrer. Foi rápido e indolor. Foi bondade matá-las antes que fossem torturadas a ponto de enlouquecerem.
— É isso que me aguarda?
Ele assentiu amargamente.
— Você é mais forte. Não gritou nem chorou alto quando a trouxeram. Colocou-se em um canto e conversou comigo. Disse coisas que me fizeram saber que poderia ser forte o bastante para sobreviver e eu percebi que era sincera. Você deve sobreviver e dar ao seu Valiant tempo para encontrá-la. Não vou machucá-la nem ameaçá-la e a tratarei tão bem quanto às fêmeas da minha espécie se eles nos fizerem acasalar. Você precisa sobreviver aos experimentos quando eles a torturarem. Precisa fazer o que fez comigo quando a levarem para os outros machos. Precisa falar com eles e não gritar. Nossas fêmeas sobrevivem a isso porque nós lhes damos conforto. Eu irei confortá-la, Tammy.
Tammy quis chorar, mas lutou contra as lágrimas. O homem estava muito calmo, contando-lhe que tipo de inferno poderia ser obrigada a suportar. 927 se aproximou devagar. Tammy não protestou quando ele a levantou nos braços, caminhou até a cama e sentou com ela em seu colo. Seus braços a abraçaram forte contra o corpo quente.
— Eu a protegerei em sua fraqueza. Chore pequena dos olhos bonitos. Você foi muito corajosa. Irei segurá-la e saberá que estou aqui.
— Obrigada. — Tammy abandonou a pequena fração de controle que ainda restava. Colou-se ao homem que a abraçava e chorou baixo em seu peito.
Eles iriam fazer com que ele acasalasse com ela e também planejavam trazer mais Novas Espécies para jogá-la a mercê deles. Levariam seu bebê como se fosse um filhote de cachorro ou de gato se obtivessem sucesso. Provavelmente a manteriam acasalando até que não tivesse mais uso e a matassem. Quantos bebês eles levarão dos meus braços antes que isso termine?
Tammy tomou uma decisão enquanto chorava. Seria forte, faria o que fosse preciso, mas lutaria pela própria vida. Valiant a encontraria. Talvez não agora, mas eventualmente. Só precisava rezar para que não engravidasse se o pior acontecesse. Não queria dar aqueles imbecis um bebê indefeso para atormentarem.
O prédio era um antigo depósito. Havia um carro na área onde ficava o estacionamento. Sem prédios comerciais nem residenciais por perto, e duas portas de metal que pareciam ser as únicas maneiras de entrar no prédio a não ser que escalassem até as janelas altas próximas ao telhado. Na parte traseira do edifício uma velha rampa de carregamento estava encostada a uma porta grossa de metal estilo garagem. O grupo deles deixou os carros a um quilometro de distância do local e fez o humano caminhar com eles. Pete reclamou a cada passo. Valiant estava pronto para matá-lo, mas Justice não lhe permitia o prazer.
— Só existem dois modos de entrar e sair e há alarmes. — explicou o humano em voz baixa. — Não há câmeras do lado de fora. Eu disse isso. Não sei por que vieram de forma tão sorrateira.
Justice o olhou com raiva.
— Fique calado a não ser que eu diga que abra a boca.
— Tudo bem. — disse o humano. — Que seja assim. Estou ajudando vocês.
Tiger acenou para o time e eles se adiantaram até a frente do lugar enquanto alguns se separaram para chegar aos fundos. Não queriam ser vistos até que invadissem o prédio. Valiant temia que os dois homens lá dentro matassem Tammy e o Espécie macho que tinham prisioneiro se tivessem a chance.
Justice olhou para o humano.
— Agiremos rápido. Você vem conosco. Vai abrir as portas rápido e ficar calado. Se tentar qualquer coisa, eu o mato ou deixo que ele faça. — Apontou para Valiant. — Eu seria mais bondoso.
Um rosnado baixo imediatamente emergiu da garganta de Valiant. Ele queria muito ferir o humano por ter tocado em Tammy e ajudado a trazê-la para aquele lugar no meio da floresta. Nem Justice nem o time inteiro de machos salvaria Pete se ela estivesse morta. Passaria por cima deles para matá-lo.
— Eu entendo. — Pete fedia a medo. — Quero todo aquele dinheiro que me prometeu e não precisa continuar me ameaçando. Estou fazendo o que quer. Imunidade, certo? E eu levo os mil em dinheiro?
— Sim. — Justice assentiu. — Nos coloque lá dentro. Vamos.
Eles se moveram como se fossem um. O time se aproximou silenciosamente das portas de entrada. Pete digitou o código, o alarme desligou e ele abriu uma das portas. Oito Novas Espécies fortemente armados e o humano entraram. Ele tinha dado a Justice, Valiant e Tiger o mapa do lugar e eles já sabiam o que esperar. Um dos Novas Espécies agarrou Pete no segundo que eles entraram no prédio e pôs uma faca em sua garganta.
— Não se mova nem faça qualquer som. — o homem rosnou baixo para ele.
Pete piscou e congelou. Manteve a boca firmemente fechada.
Valiant teve que se conter de correr até uma parede divisora que bloqueava a sua visão de onde Tammy deveria estar. Ele farejou o ar e Justice de repente agarrou seu braço, dando um olhar de advertência. Ele assentiu, entendeu a necessidade de proceder com cautela.
Tiger acenou os dedos no ar, dividindo os homens para que se espalhassem e encontrassem os humanos. Assim que o time com Tiger se movimentou, Valiant se moveu. Tammy!
As batidas do seu coração aumentaram quando ele inalou um rastro fraco do cheiro dela. O cheiro doce de medo que ela tinha quase o deixou louco. Rasgou-lhe não ter estado presente no momento para protegê-la daquilo. Quando ele e Justice se moveram em silêncio pelo depósito o cheiro foi ficando mais forte. Eles passaram pela parede divisória e Valiant viu as grades e a frente da cela. Justice de repente estendeu o braço e o agarrou.
— Não o deixe nervoso. Vá devagar e fique calmo. Não sabemos em que condição ele está. Não queremos que a machuque.
Valiant forçou seus instintos a recuarem, sabia o quanto um Nova Espécie aprisionado poderia ser instável, e tinha que se controlar pelo bem de Tammy.
— Eu sei.
O corpo contra o de Tammy ficou tenso. A mão de 927 ficou imóvel em suas costas e de repente ele se levantou. O homem era forte. Ele foi de uma posição sentada para uma de pé com ela nos braços em um instante. Ela fungou e enxugou as lágrimas. Seu olhar seguiu o dele.
— O que foi?
Ele inalou. Ela viu choque em seus olhos. Olhou para ela.
— Sinto o cheiro deles.
— De quem?
Ele olhou para as portas da cela.
— Valiant e outro da minha espécie.
A cabeça de Tammy virou para olhar por entre as barras em direção à divisória por onde eles teriam que passar. Seu coração martelou e ela se contorceu nos braços dele.
— Me coloque no chão! Sente o cheiro de Valiant? Tem certeza?
Ele assentiu quando se abaixou, colocando-a de pé. Tammy viu movimento e Valiant entrou em seu campo de visão. Justice estava à sua direita, agarrando seu braço, e os dois estavam vestidos com roupas pretas. Seus cabelos estavam presos. Justice tinha uma arma na mão enquanto Valiant levava uma faca com uma aparência mortal na dele. Tammy correu em direção às grades.
— Valiant!
Bateu nas grades e estendeu os braços para eles. Valiant correu e segurou suas mãos nas dele. A faca caiu no chão quando a tocou. Ele se inclinou para a jaula, abaixou a cabeça e pressionou o rosto no estreito espaço. Seus olhos dourados pareciam molhados de maneira suspeita quando se fixaram aos dela.
— Encontrei você. — A voz dele saiu rouca, engasgada de emoção.
Lágrimas caíram de suas bochechas, mas ela não tentou contê-las.
— Sabia que encontraria.
Ele soltou suas mãos e pôs a mão entre as barras para tocar seu rosto. Enxugou suas lágrimas com o polegar. A outra mão entrou e segurou seu quadril. Ela queria que as grades não os separassem. Queria abraçá-lo, mas não podia.
— Está ferida?
— Estou bem. Só fiquei com medo. — Ela de repente lembrou que não estavam sós. Virou a cabeça o bastante para olhar para dentro da cela, mas não o suficiente para romper o contato com Valiant.
927 continuava de pé onde o havia deixado. Ele olhava para Valiant e Justice com óbvia curiosidade e estupefação. Permanecia totalmente calado e imóvel.
Tammy olhou para Valiant e depois para Justice, que estava próximo em uma posição relaxada, fitando 927.
— Esse é o 927. — Tammy disse baixinho. — 927, este é Valiant e aquele é Justice North. Eu te disse que eles nos encontrariam se tivessem chance.
Justice finalmente falou.
— Eu sou Justice. Antes conhecido como 152. Tiraremos os dois da jaula assim que nossos homens pegarem os dois humanos que os mantiveram presos e trouxerem as chaves. — Justice endireitou os ombros. Seu olhar jamais abandonou 927. — Está livre agora. Estamos aqui para levá-lo para casa, para a nossa gente. Você será parte da família amável e unida que estabelecemos e nunca mais saberá o que é viver preso. Agora é um homem e não será mais conhecido como apenas um número. Terá um novo nome assim que decidir qual será.
Tammy olhou para 927 para ver sua reação. Ele piscou rapidamente quando seus olhos pareceram umedecer e baixou a cabeça até que seu cabelo negro escondeu suas feições. Depois de respirar profundamente algumas vezes ele pareceu conseguir controlar as emoções. Levantou a cabeça e fitou Justice.
— Eu ficaria muito feliz em ter um lar e um nome.
Justice sorriu.
— Ter um lar é uma coisa maravilhosa. Você será feliz conosco e tenho certeza que escolherá um nome perfeito.
Tammy lutou para não chorar quando viu um milagre ocorrer na vida de 927, depois de ser prisioneiro por toda a vida. Ele finalmente conheceria a liberdade. Tammy sorriu e olhou para Valiant. Estendeu a mão e tocou o rosto dele.
— Amo tanto você.
— Também amo muito você, delícia. — Valiant olhou para o homem atrás de Tammy. Ele baixou os olhos para ela e seus traços ficaram tensos. — Ele a machucou de alguma maneira?
— Não.
Valiant relaxou, mas continuou tocando Tammy e ela entendia por que. Os dois estavam gratos por voltarem a estarem juntos. Tiger veio correndo até a parte detrás do depósito, chaves chacoalhando enquanto corria.
— Os dois imbecis estão vivos e algemados. Tenho a chave da jaula. — Ele tirou um anel de chaves de dentro de um dos bolsos de suas vestimentas. Olhou para 927 antes de olhar para Justice.
— Ele é estável? Devo chamar um suporte com um pacote daqueles?
— Não precisa. — Justice aceitou as chaves. — Ela está bem. — Ele foi até a porta. — Vou soltá-los agora.
No segundo em que a porta se abriu, Valiant entrou na cela e agarrou Tammy. Ele a tirou do chão e quase a matou de tanto apertar em um abraço de urso enquanto saía da prisão. Ela não se importou nem um pouco, simplesmente o abraçou forte de volta, e descansou a cabeça no ombro dele para ver o que aconteceria em seguida.
Tiger riu.
— Ele está feliz em vê-la.
Justice sorriu.
— Sim. — Ele voltou a atenção para 927. O homem estava imóvel dentro da cela. Justice entrou devagar na jaula, uma expressão de temor em seu rosto. — Odeio entrar nessas jaulas. Elas trazem tantas lembranças ruins. — Ele parou na entrada. — Está pronto para sair daqui e começar uma nova vida?
927 hesitou.
— Estou mesmo livre disso, de tudo isso?
— Sim. Há mais de nós lá fora esperando para te dar as boas-vindas. Iremos ajudá-lo a aprender como viver além dessas grades. Todos tivemos que fazer isso e é meio apavorante no começo. Os humanos nos ajudaram a nos ajustar ao nosso novo modo de vida, mas será mais fácil para você agora que estamos no comando. Levaremos você para casa agora.
927 deu um passo e então outro até sair de sua cela. Ele parou perto de Tammy. Valiant a colocou no chão quando ela o pediu em silêncio. Ela levantou os olhos para o Nova Espécie que poderia tê-la machucado, mas não fez. Sorriu quando ele falou baixinho.
— Você me disse a verdade mesmo.
— Sim. Você está livre. — disse na mesma altura.
Valiant o estudou atentamente e estendeu a mão.
— Obrigado por não machucá-la. Ela é tudo para mim. Meu coração e alma. A razão por eu respirar.
927 olhou para a mão estendida em confusão.
— Apertar as mãos é um costume que nós adotamos dos humanos. — explicou Justice. Ele se adiantou e apertou a mão de Valiant. — Apertamos as mãos dos machos em sinal de respeito.
927 apertou a mão de Valiant.
— Por nada. Eu a tratei como queria que outro tratasse a fêmea de que gostasse. Você deve ser muito feliz por ser tão amado por ela.
Valiant puxou Tammy perto do corpo.
— Nunca fui mais feliz em toda a minha vida.
— Eu sou Tiger. — Ele se aproximou. — Sou chefe de segurança da Reserva. É lá que será o seu lar enquanto se acostuma à liberdade. Vai amar aquele lugar. Há milhas para se correr e todos os cervos que puder caçar. — Tiger sorriu. — Nada mais de grades e há árvores até se perder de vista. O céu é lindo. Beberemos algumas cervejas nojentas e veremos o sol nascer e se pôr. Odiará o gosto da bebida humana, mas beberá porque é uma experiência. — Sorriu outra vez. — Você verá.
927 piscou com força. Mas Tammy viu suas lágrimas antes que ele conseguisse controlar as emoções. Também lutou contra a vontade de chorar. O cara alguma vez viu o sol nascer e se pôr? Já ficou cercado por algo diferente de paredes e grades ou já viu árvores até perder de vista? Sabia a resposta e seu coração simplesmente se partiu.
Mais dois Novas Espécies entraram, parecendo quase temerosos de irritar 927. Cada um deles disse seu nome e se apresentaram para ele. Pareceu um pouco abismado por ver tantos machos Novas Espécies ou poderia ainda apenas ser o choque de ser colocado em liberdade. Tammy entendia. Ela apertou a mão de Valiant e saiu de seu abraço.
— É muita coisa para absorver de uma vez, não é? — Seu olhar encontrou o de 927 quando levantou os olhos para ele.
— Sim.
— É normal sentir um pouco de medo, se for o caso, mas tudo vai ficar ótimo. Todos estaremos presentes para ajudar você. Eu sei que é muita coisa, mas vá com calma, dê um passo de cada vez. Todo mundo aqui é seu amigo e se importa com você. — Ela estendeu a mão. — Sairei com você. Pegue a minha mão. Você não está sozinho.
Valiant rugiu. Tammy virou a cabeça e franziu o cenho para ele. Sabia que era possessivo, mas ela devia o bastante a 927 para ajudá-lo numa situação difícil. Ele tinha feito o mesmo por ela. Não queria chatear Valiant, mas queria que ele entendesse.
— Lembra do seu primeiro dia de liberdade? Bem, eu lembro do meu primeiro dia de escola. Era tipo um mundo novo. Sou amiga dele. Vou segurar a sua mão do jeito que a minha mãe segurou a minha e vou levá-lo lá para fora. Eu amo você, então não fique com ciúme. Pertenço completamente a você e estou muito feliz com isso.
Valiant relaxou. Um sorriso partiu seus lábios.
— Escola? Compara ser solto com a escola?
Ela encolheu os ombros.
— Bem, vocês saíram literalmente de um inferno. Eu fiquei presa pelo sistema de educação por treze anos da minha vida. Era uma forma leve de inferno. Não está entendendo a comparação. Era tudo novo e assustador para mim. Minha mãe segurou a minha mão e caminhou comigo até a primeira sala de aula. Ficou por lá até que eu me acostumasse ao lugar. Isso me fez sentir melhor. É a única lembrança que tenho dela. Ele não conhece nenhum de vocês, mas já passou um tempo comigo.
Justice riu.
— Ela está assumindo o papel de mãe para ele.
Tiger piscou para 927.
— Seu sortudo. Você tem uma mãezinha.
927 parecia confuso.
— Uma o quê?
— Ela é protetora com você como se você fosse filho dela. — Valiant suspirou. — Bem-vindo à família, filho.
Os Novas Espécies riram. Tammy franziu o cenho para eles. Desistiu de estender a mão.
— Tudo bem.
927 agarrou sua mão de repente. Ele sorriu para ela.
— Obrigado. Adoraria que fosse comigo.
Tammy sorriu para ele e apertou sua mão. Ela deu um risinho maroto para Valiant e começou a sair do lugar. 927 bem ao seu lado. Tiger e Justice iam na frente. Valiant veio por trás de Tammy e pegou na sua outra mão. Ela olhou para ele, grata por entender. Saíram todos juntos.
Dois Novas Espécies saíram às pressas para trazer os carros utilitários do lugar onde eles os deixaram. Tammy olhou para os três filhos da mãe que estavam algemados com dois Novas Espécies os vigiando. Pete, Mike e o doutor pareciam bem assustados agora que eram eles que estavam à mercê de outros.
Valiant rosnou quando Tammy encarou os três, soltou as mãos de 927 e se aproximou alguns passos dos prisioneiros. A mão de Valiant a impediu segurando seu braço.
— Onde está indo?
Tammy o olhou.
— Só queria falar com eles um segundo. Todos estão algemados e aqueles homens segurando eles não vão soltá-los, certo?
Valiant franziu o cenho.
— Não deveria ter nada a dizer a eles.
Ficou cheia de raiva.
— Não planejo falar com eles. — Conseguiu se desvencilhar dele. Foi até Mike e Pete. Olhou com ódio para os dois. Hesitou por um Segundo antes de chutar Pete com força na canela. Ele praguejou, pulando em uma perna só. Tammy se voltou para Mike e o chutou no saco. Ele dobrou o corpo arfando alto, grunhindo de dor.
Tammy alcançou o doutor, tirou os óculos dele e os jogou. Nem se incomodou em chutá-lo. Quando ela se afastou e virou, achou Valiant olhando-a de boca aberta, seu choque aparente. Encontrou seus olhos, deu de ombros e voltou para o seu lado.
— Estava devendo a eles.
— Sua vadia. — grunhiu Mike, curvado.
Valiant se adiantou e o esmurrou do lado do rosto. Mike atingiu o chão com força e grunhiu. Um rosnado saiu de Valiant.
— Não fale com ela. Tem sorte de não me permitirem te matar porque era o que faria. — Ele virou e voltou para perto de Tammy.
— Obrigada, Valiant. Ele fez um comentário sobre orifícios que eu particularmente não gostei. Meu herói.
Valiant hesitou.
— Quando quiser Tammy. Sente-se melhor agora que os chutou e se desfez da propriedade de um deles?
Tammy hesitou.
— Em um momento me sentirei ótima. — Ela virou e andou rápido até o homem mais velho. — Espero que apodreça no inferno, seu bastardo miserável. Espero que te deem dez anos por cada dia que os atormentou e aquelas pobres mulheres. Você é um monstro vil.
O homem mais velho a olhou com raiva. Os olhos apertados já que ela tinha tirado seus óculos.
— Jamais verei uma prisão.
— Acha que não? — troçou. — Se não uma prisão, vai enfrentar uma pena de morte.
— Sei que não vou. Vou fazer um acordo. Sei de muitas coisas.
Justice se aproximou de repente.
— Acha que sim?
— Sou valioso demais para que não façam um acordo. Sei a localização de duas instalações menores onde mais da sua espécie estão.
Justice fez uma pausa.
— Quer imunidade total pela sua informação das suas leis? Posso te dar isso. Eu tenho a autoridade.
Tammy ficou mais do que ultrajada.
— Não pode dar isso a eles.
Justice a olhou.
— Silêncio Tammy. Sei o que estou fazendo. Salvar Novas Espécies é a prioridade.
Ela fechou a boca e ficou lá, fervendo em silêncio. Valiant apertou seu ombro. Ela estudou suas feições relaxadas e compreendeu que ele ficaria muito fulo da vida se houvesse alguma possibilidade de que algum daqueles homens fosse solto para causar mais mal a outras pessoas. Ela entendeu que alguma coisa estava acontecendo que não sabia o que era e que deveria confiar em Justice.
— Sim. — disse o homem mais velho. — Exijo imunidade absoluta de qualquer crime.
— Tudo bem. Levaremos você para a Reserva, você nos dirá tudo o que precisarmos ou queiramos saber e terá imunidade absoluta de ser acusado criminalmente de qualquer crime por parte da sua gente.
— Eu também quero isso. — grunhiu Mike do chão.
— Eu a darei feliz se a informação que compartilhar salvar a vida de mais dos meus. — Justice olhou para ele com o cenho franzido. — É melhor que saiba de algo útil.
Valiant agarrou Tammy e a virou. Ele a afastou dos homens. Tammy estava fervendo de raiva, mas mordeu a língua até que tivessem ido para longe e nem Justice nem os homens capturados pudessem escutá-los.
— Ele vai dar imunidade a eles? Aqueles imbecis simplesmente vão escapar de punição por tudo o que fizeram? — Ela sibilou as palavras para garantir que não fossem ouvidas.
Valiant se inclinou com o rosto a centímetros do seu.
— Justice vai lhes dar exatamente o que pendem. Imunidade com relação ao sistema penitenciário humano. — Os olhos dele brilharam. — Justice saberá de tudo o que eles sabem antes de apresentá-los às leis das Novas Espécies.
Levou alguns segundos para que entendesse. Sua raiva se esvaiu rapidamente.
— Qual é o castigo por sequestrar e serem bastardos maldosos que gostam de torturar pessoas na sua lei?
Valiant trouxe Tammy para os braços, abraçando-a. Os lábios roçaram sua orelha.
— Serão presos e eventualmente morrerão. Temos o direito de nos defender e o direito de punir aqueles que se colocam sob as nossas leis. Ao pedirem imunidade da justiça deles, agora nos pertencem. — Ele virou a cabeça, o olhar se fixando propositadamente em Justice North.
— Ele os dará a mesma demonstração de misericórdia que eles deram ao nosso povo.
Tammy estava feliz por ele abraçá-la quando olhou para Justice North. Enquanto estudava o belo líder Nova Espécie, detectou sua raiva e quase teve pena daqueles filhos da mãe. Isso até se lembrar de tudo o que os ouviu dizer desde que os conheceu.
Aquele velho médico fez coisas horríveis com o povo de Valiant por muito, muito tempo. Os dois capangas que o ajudavam tinham apostado vinte dólares no provável estupro ou morte dela. Sua simpatia imediatamente morreu.
— Fico feliz. — admitiu. — Eles merecem.
Valiant rugiu de repente.
— Você está com o cheiro dele.
— De quem?
— 927. — Ele se afastou, franzindo o cenho. — Ele tocou em você? Sinto o cheiro dele em todo lugar. Me falaram que ele dormiu em cima de você. Por quê?
— Estava frio. Ele não me tocou de um jeito sexual Valiant. Eu juro.
Ele se forçou para controlar o temperamento.
— Preciso do meu cheiro de volta em você.
Ela parou, sabendo que ele era esquisito sobre esse negócio do cheiro e provavelmente era difícil para ele sentir o cheiro de outro homem, de saber que outra pessoa a tocou.
— A que distância estamos da Reserva?
— Mais ou menos uma meia hora.
— Ficará tudo bem. Iremos para casa, eu tomarei um banho, e você vai poder me abraçar. Vou ter o seu cheiro de novo antes que se dê conta.
Valiant sacudiu a cabeça. Ele rugiu e se virou para Justice, dizendo.
— Nós vamos dar uma caminhada. Escuto água por perto.
— Os carros chegarão a qualquer minuto. — Justice franziu o cenho.
— Preciso dividir o meu cheiro com ela agora. — exigiu Valiant. — Está me deixando louco sentir o cheiro de outro macho nela.
Justice o encarou por alguns segundos e deu um aceno firme.
— Eu entendo. Mandarei um carro esperar por você. Mas se apresse.
— Obrigado.
Valiant de repente agarrou Tammy e a colocou nos braços. Ele andou rapidamente para a linha de árvores. Ela passou os braços em volta dele e não lutou contra a ação.
— O que entra no pacote do “dividir o cheiro” comigo? Valiant, por que estamos adentrando na floresta?
Valiant não respondeu. Eles chegaram a um pequeno riacho não muito longe de onde estavam antes. Ele a colocou no chão e estendeu a mão.
— Me passe as suas roupas.
Seu queixo caiu.
— Quer transar agora? Aqui? Sério? Não estou exatamente no clima para isso.
Ele suspirou.
— Eu quero as suas roupas. Vou jogá-las fora.
— E o que vou usar?
Valiant começou a tirar a própria roupa.
— A minha.
— Isso é mesmo necessário?
— Quer que eu mate 927 pelo cheiro dele em você estar me deixando louco? Primeiro eu fiquei aliviado por você estar bem, mas não posso ficar confinado em um local pouco espaçoso com você por muito tempo sem que isso me deixe irado, Tammy. Você é minha, mas tem o cheiro de outro macho. A ida de carro até a Reserva levará muito tempo para que eu consiga lutar contra a vontade de marcá-la outra vez.
— Merda. Sério?
Ele assentiu. Tirou a camiseta e se abaixou para desamarrar os sapatos.
— Não posso suportar o cheiro de outro macho em você. Está me deixando agitado.
Tammy olhou em volta do lugar, não vendo nada a não ser árvores e água.
— Tudo bem, mas se alguém me ver nua, vou ficar com raiva e com muita, muita vergonha.
Valiant sorriu, tirando a calça.
— Eu bateria nessa pessoa até que sangrasse e arrancaria os seus olhos por olhar para você.
— Engraçadinho.
Tammy tirou a roupa e ficou lá de pé, nua. Valiant não parou de tirar a roupa até que conseguiu ver cada pedacinho do corpo dele. Ela o fitou. O homem a excitava toda vez que ficava pelado, a visão era mais que interessante. Seu olhar se demorou no peitoral e nos braços musculosos.
— Tammy. — rugiu Valiant. — Não me olhe assim a não ser que queira que eu a foda aqui no chão.
Ela forçou o olhar para longe.
— Isso não seria uma boa ideia já que estão esperando por nós.
— Lave a sua pele na água. Eu faria isso para você, mas se eu tocá-la, vou querer fazer mais. Muito mais. — ele urrou.
Tammy agiu. A água estava gelada. Lavou o corpo o melhor que podia. Valiant esperou por ela no banco de areia. Ela estremecia forte quando saiu da água. Valiant sorriu para ela, fitando os seus mamilos túrgidos.
— Lindo.
Ela passou os braços por cima dos seios, escondendo-os dos olhos dele. — Não estou excitada. Estou morrendo de frio.
— Desculpe. — Ele riu.
Ele lhe passou a camiseta e a cueca samba-canção para que vestisse. Ainda estavam quentes do corpo dele. Sentia-se como uma criancinha em suas roupas enormes. Valiant só vestia a calça e o sapato. Abriu os braços quando caminhou até ela, abraçou-a forte e começou a se esfregar nela, acarinhando-a com o rosto. Ela riu, passando os braços em volta dele.
— O que está fazendo agora? Isso faz cócegas.
— Devolvendo o meu cheiro a você. Quando estivermos em casa vou tirar essas roupas e marcar cada pedacinho seu.
— Marcar é? O que isso quer dizer?
— Muita esfregação. — rugiu ele. Ele a mudou de posição nos braços. Um debaixo de suas pernas quando a ergueu, o outro lhe apertando forte ao peito.
— Vamos voltar. Justice está esperando.
Tammy fitou sua roupa descartada quando foram saindo. Suspirou. Eu amava aquele top. Fazer o quê. Tinha que admitir que ele provavelmente traria lembranças ruins se insistisse para que não o descartasse daquele jeito na floresta. Ele a carregou de volta ao depósito. Um dos carros esperava. Justice, 927 e Tiger ficaram para trás. Os três prisioneiros e os outros cinco oficiais Novas Espécies tinham ido embora. Justice sorriu para o casal quando eles saíram da floresta.
— Melhor agora, Valiant?
— Muito. — Valiant sorriu para ele. — Ela tem mais o meu cheiro do que o dele.
— É uma coisa bem esquisita. — suspirou Tiger. — Homens com companheiras ficam obcecados que suas mulheres tenham o seu cheiro e o de ninguém mais.
927 assentiu.
— Todos temos companheiras agora? Eu conseguirei uma?
Justice riu.
— Teríamos sorte de achar uma, mas só alguns de nós acharam mulheres para reivindicar. Eu não tenho uma.
— E eu não quero uma. — Tiger parecia horrorizado. — Elas são bonitinhas demais e o sexo regular seria bom, mas quero continuar livre.
— Eu sou livre. — rosnou Valiant.
Tiger arqueou a sobrancelha.
— Sério? Quer passar uma semana inteira caçando comigo? Eu sei que ama caçar cervos.
— Não deixaria Tammy sozinha esse tempo todo, mas iria se ela fosse comigo.
Tiger assentiu.
— É disso que estou falando. Antes você teria dito sim em um piscar de olhos. Agora sempre tem que pensar nela antes de tomar uma decisão. Gosto de pensar só em mim.
— O sexo não é regular. — rugiu Valiant. — É incrível, viciante, e vale cada segundo em que eu não estarei caçando cervos com você. Passarei um tempo muito melhor com a minha Tammy.
Justice riu.
— Posso acreditar nisso. Falou bem Valiant. — Ele riu para 927. — Não dê ouvidos a Tiger. Uma companheira seria uma coisa maravilhosa. Tenho certeza que encontrará uma quando for o momento certo.
— Mas você não encontrou uma? Você quer uma companheira? — 927 inclinou a cabeça para o lado para estudar Justice com curiosidade.
Justice hesitou.
— Eu adoraria ter uma companheira, mas ainda não tive tempo de procurar por uma.
— Você é muito ocupado. — concordou 927. — Tammy me explicou o seu trabalho e tudo que faz por nós. — Ele pausou. — Encontrará o lugar de onde eu vim e libertará os outros?
— Sim. — prometeu Justice. — Já estamos trabalhando nisso. Faremos o que for preciso para trazê-los para casa.
— Gostaria de estar presente quando fizer isso.
Justice hesitou.
— Veremos. Primeiro precisamos voltar para a Reserva. Não gostamos de ficar muito longe e normalmente temos um grupo de seguranças humanos conosco. É um time de operações que dirijo. Mas não quisemos que fizessem parte dessa missão porque não tínhamos certeza do que teríamos que fazer para resgatar vocês dois. Não queria que o time ficasse desconfortável ou se sentisse dividido entre a sua lealdade à sua própria espécie e à nossa. Alguns dos humanos que não trabalham para nós sentem ódio e medo dos Espécies. A maioria não, mas os que sentem têm uma tendência a tentar nos matar quando têm a chance. Estamos vulneráveis a um ataque sem mais reforço. Estamos seguros na Reserva, mas nem sempre no mundo lá fora ainda.
927 assentiu.
— Acho que entendo.
Valiant sentou no carro com Tammy no colo. Ele não a soltava, mas ela não se importava em ter os braços dele presos em volta do seu corpo. Ela se colou a ele. Tiger dirigiu com 927 no banco do passageiro. No caminho eles quiseram que ele tivesse a melhor vista do mundo que tinha sido privado de ver.
Justice sentou no banco de trás com eles. Ele trouxe o computador e o celular. Tirou os sapatos e a camisa para ficar confortável antes de começar a falar baixo no celular enquanto via algo na tela do laptop. Tammy percebeu que ele nunca parava de trabalhar. Ela virou a cabeça para olhar para frente. 927 tinha um grande sorriso no rosto enquanto olhava, com completa fascinação pelas janelas, para o mundo. Ela sorriu, finalmente voltando sua atenção para Valiant.
— Estou meio que feliz por ter acontecido isso.
Valiant rugiu com uma expressão de horror cruzando suas feições belas.
— Eu não.
— Estava com um pouco de medo de me casar. Você estava tão resolvido a isso e eu sentia que estávamos apressando demais as coisas. Aprendi algo de tudo isso. Quero me casar com você e passar cada dia da minha vida ao seu lado. Até quero ter um bebê. Espero que tenhamos pelo menos três.
Ele riu.
— Só três? Estava pensando em tentarmos ter uns oito.
— Qual é? — ela ofegou. — Oito? Está brincando com a minha cara?
Ele riu.
— Sim. Estava brincando.
— Obrigada. — Ela riu. — Como estava dizendo, não tenho mais medo. Esse pensamento todo de que morreria e o medo de nunca mais ver você realmente me atingiu e me fez ver o quanto eu o amo e o quanto quero que o meu futuro seja ao seu lado.
— Bom. Agora o seu coração, corpo e a sua lei saberão que pertence a mim para sempre.
— Sim. — Correu os dedos pelo braço dele. — E nós nos casaremos na primeira oportunidade que tivermos.
— Amanhã. — falou Justice.
Valiant e Tammy se viraram para olhá-lo e ele sorriu.
— Acabei de ouvir a notícia do meu pessoal. Podemos marcar o casamento de vocês para amanhã se quiserem. Ainda estarei aqui. Eu adiei tudo na minha agenda por alguns dias para ficar disponível enquanto essa crise durasse. Quero estar presente enquanto planejamos a invasão no Colorado.
Valiant sorriu.
— Amanhã é perfeito.
— Amanhã é perfeito. — Concordou Tammy abraçando-o com força. Enterrou o nariz em seu pescoço e ficou lá, colada nele. Teve tanto medo de que jamais o veria outra vez e agora sabia exatamente o que queria. Ele.
Valiant fechou os olhos, respirando o cheiro de Tammy e seus braços se recusavam a soltá-la. Ela estava sentada em seu colo, a salvo, e mais uma vez ele percebeu o fenômeno que era para ele. Todas as coisas que poderiam ter dado errado começaram a passar pela cabeça.
Ela poderia ter morrido, o macho recém-liberto sentado na frente poderia ter sido forçado a acasalar com ela e a matá-la.
Quando entraram no prédio os humanos poderiam ter minado a cela com explosivos que poderiam ter detonado. Ela teria morrido antes que chegasse até ela e isso teria destroçado o seu coração...
— Valiant?
Tammy parou seus pensamentos obscuros e ele abriu os olhos para olhar dentro daqueles olhos lindos dela. Os pequenos dedos deslizaram para o seu cabelo e acariciaram sua cabeça.
— Tudo bem. Você parece com tanta raiva, mas eu estou bem. Estou bem aqui com você.
— Nunca me deixe.
Ela sorriu.
— Nunca.
Ele a puxou contra o peito, dando um beijo leve em sua testa, e soube que jamais sobreviveria caso a perdesse.
Tammy franziu a testa para Valiant.
— Não.
Ele a encarou.
— Eu disse a Justice que iria.
— Mas nós vamos nos casar hoje lembra?
Ele franziu o cenho.
— Iremos quando eu voltar. Justice me pediu pessoalmente para que fosse com eles Tammy. Por favor, entenda. Todos devemos muito a Justice. Quando você foi levada, ele fez tudo para trazê-la de volta para mim. Ele pediu e não pude dizer não.
Ela assentiu.
— Estou sendo um pouco mesquinha quando você coloca as coisas nessa perspectiva não estou?
Ele chegou perto dela puxando-a nos braços.
— Não é mesquinho se sentir desapontada por não nos casarmos hoje. Nada nos impedirá amanhã. Vamos em helicópteros para o Colorado daqui à uma hora e devo voltar amanhã de manhã.
Tammy assentiu.
— Tenha cuidado e volte para mim.
— Eu sempre voltarei para você.
— Isso vai ser perigoso?
Valiant hesitou.
— O lugar tem pessoas fortemente armadas. Eles estão com mais de noventa dos nossos Tammy. Espécies iguais a 927.
— Entendo. Ele também vai?
— Justice decidiu não leva-lo. O que ele passou ainda está muito recente. Precisamos de controle e das habilidades que adquirimos desde que fomos postos em liberdade. 927 ficou com raiva, mas entendeu. A parte importante é libertar o nosso povo.
— Aquele filho da mãe de médico contou a Justice onde ficam os outros lugares?
— Sim. Eles estão verificando. Nós encontraremos os lugares e libertaremos nosso povo.
— Nós? Você também vai?
Ele hesitou.
— Não. Essa será a minha primeira e única missão. Eu me acalmei desde que conheci você e Justice está preocupado que o lugar possa estar repleto de explosivos. Meus sentidos são mais fortes do que os da maioria dos Espécies e ele precisa da vantagem de me ter nessa missão. O doutor que capturamos não tem certeza se eles armaram bombas ou não nas celas. Planejo cuidar bem de você e esta é a última vez que arriscarei a minha vida. Só preciso fazer isso e sinto que devo a eles o favor por tudo o que fizeram para trazer você de volta para mim. Trabalharei com alguns dos outros da Zona Selvagem que são como eu e têm o mesmo olfato apurado e farei com que se tornem mais estáveis. Desse jeito Justice poderá levá-los quando precisar de ajuda no futuro.
— Explosivos? — Ela se encheu de medo, imaginando ele numa explosão.
— É por isso que preciso ir. Posso sentir o cheiro. Eu ficarei bem.
Ela assentiu.
— Ótimo. Passar uma noite longe de você foi horrível e eu não quero ter que passar por isso de novo.
— Mas outro homem a abraçou. — Ele apontou de maneira ciumenta.
— Estava frio e eu não tinha escolha, de verdade. Havia só uma cama e ele me assustava. Não ia lutar com ele, Valiant. Fiquei muito feliz por não ter quebrado o meu pescoço nem ter tentado me tocar de um jeito ruim.
— Ainda estou com raiva. Odeio que alguém a abrace que não seja eu.
— Eu amo você. Não seja ciumento.
— Sei disso. Ficarei fora por pouco tempo. Voaremos para lá e quando anoitecer, atacaremos.
— Vocês vão sozinhos?
Ele sacudiu a cabeça.
— Não. Eles vão mandar uma força tática especial conosco. Fazem isso com frequência. Justice diz que sabe que os dois times trabalharão juntamente conosco. Ele disse que todos eles são homens bons que foram designados para nos dar assistência. Estão sempre sob as ordens de Justice. Voltarei pela manhã.
— Você me ligará depois que tiver acabado e vai me deixar saber que está tudo bem? Morrerei de preocupação por sua causa.
— Eu ligarei. Justice sempre carrega um telefone com ele. Me foi ordenado que permanecesse ao lado dele.
Tammy suspirou.
— Sim. Ele sempre leva o celular e o laptop.
— Eu preciso ir. — Valiant se inclinou e roçou os lábios nos de Tammy.
Tammy agarrou a camisa dele e o puxou para perto, abrindo a boca dele com a sua para aprofundar o beijo. Língua encontrou língua. Valiant rugiu, puxando-a mais perto.
Tammy sorriu internamente. Aquela era uma das coisas que amava em Valiant. Só um beijo e ele já estava pronto para levá-la para a cama. Valiant interrompeu o beijo. Seus olhos estreitos faiscavam.
— Fez isso de propósito.
— Fiz o que de propósito? — Tammy tentou soar inocente.
Valiant pegou sua mão e a colocou na frente da sua calça cargo.
— Isso.
Tammy esfregou o comprimento generoso do seu pênis rígido. Ele grunhiu, pressionando o quadril em sua mão. Tammy agarrou o volume da ereção por cima da calça e alcançou o zíper com a mão livre. Ela o baixou e desabotoou o botão de cima.
— Tammy. — ele rugiu.
— Você tem alguns minutos. — Tammy desceu a calça e a cueca dele. Levantou a sua saia, desceu a calcinha e a tirou.
— Me pegue nos braços.
Valiant agarrou seu quadril, levando-a para o alto em seus braços. Tammy passou as pernas ao redor do quadril nu dele. Seu corpo já estava pronto quando Valiant rapidamente entrou nela. As mãos dele agarraram seu traseiro e arremeteu em sua vagina com força e rapidez. Tammy enfiou o rosto no peito dele, gemendo em voz alta contra a camisa, desejando que fosse a pele dele.
Usou os braços nos ombros dele para ajeitar o ângulo do quadril para roçar nele, garantindo que o membro a penetrasse do jeito que lhe trouxesse mais prazer. Em poucos minutos Tammy gritou seu nome quando o clímax a rasgou por dentro. Valiant urrou quando gozou. Ele segurou seu corpo frouxo e saciado contra o dele.
Tammy riu.
— É assim que devíamos nos despedir sempre.
Valiant riu.
— Eu concordo.
Tammy levantou o rosto, sorrindo para ele.
— Só volte para mim são e salvo.
Valiant roçou a boca na sua outra vez. Ele colocou o nariz contra o seu quando os olhos dos dois se abriram. Eles fitaram um ao outro.
— Tenho tudo pelo que viver. Tenho você. Terei muito cuidado.
A campainha da porta tocou. Valiant suspirou. Ela desprendeu os tornozelos do quadril dele. Valiant a afastou do corpo e a colocou de pé. Tammy riu quando Valiant endireitou as roupas e caminhou para abrir a porta. Ela não precisou se preocupar em endireitar as suas. Sua saia caiu abaixo dos joelhos e escondeu a ausência da calcinha. Tiger estava no corredor.
— Assumo pelo barulhão que ouvi no corredor que vocês já se despediram? — Ele sorriu.
Tammy corou.
— Ouviu aquilo?
— Todos dentro do edifício ouviram. Não vemos a hora de Justice autorizar a ida de vocês para a casa de Valiant quando tudo isso acabar. Lá é bem remoto e longe o bastante para que não saibamos do fato toda vez que vocês transam. — Tiger fitou Valiant. — Está pronto agora que deu um adeus de verdade à sua companheira?
Valiant se abaixou e pegou algo do chão. Ele sorriu.
— Agora estou. — Andou até Tammy e lhe passou a calcinha que ela tinha jogado de lado. — Fique com ela enquanto eu estiver fora para que eu possa pensar em rasgá-la quando voltar. Eu te amo.
Tiger riu.
Tammy ignorou Tiger e a vergonha que sofreu. Passou a mão no peitoral de Valiant onde o coração dele batia quando aceitou a calcinha que estendia a ela.
— Eu também te amo. Volte logo para mim.
Ela viu os homens saírem. Não havia mais um oficial a postos do lado de fora da porta. Eles haviam capturado o espião que vendia informações sobre Justice e o que acontecia na Reserva. Todos sabiam que ela pertencia a Valiant, ninguém a incomodaria, e eles confiavam que não iria sair do hotel sem uma escolta porque alguns dos ocupantes da Zona Selvagem poderiam representar perigo para ela já que alguns eram mentalmente instáveis.
Charlie Artzola nunca mais voltaria a ser um problema. Foi isso que lhe disseram. Fechou a porta e a trancou, imaginando por uma fração de segundo se o advogado estava morto. Encolheu os ombros mentalmente. Realmente não se importava com o destino dele contanto que nunca mais causasse problemas. Justice tinha assegurado que não iria.
Já passava da meia-noite quando o telefone tocou. Tammy pulou em cima dele.
— Valiant?
— Como sabia que era eu? — Sua voz grossa parecia divertida.
— Porque ninguém mais me ligaria tão tarde assim e você prometeu que ligaria. Está tudo bem? Como foram as coisas? Pegaram eles? Todo mundo está bem?
— Devagar. — Valiant riu. — Eu estou bem. Tivemos alguns feridos, mas todos irão sobreviver. Resgatamos todos. Eles não nos esperavam já que estava de noite e estavam com poucas armas. Os humanos correram ao invés de tentarem matar o nosso povo antes que pudéssemos chegar até eles.
Tammy exalou de alívio.
— Estava preocupada.
— Eu sei. Obrigado por se importar tanto comigo. Estamos transportando eles para a Reserva nas próximas doze horas. Só temos dois helicópteros e temos que transportar poucos de cada vez. Justice não quer traumatizá-los ainda mais com uma viagem longa de carro e não queremos expô-los ao mundo externo ao tentar fretar um avião. Muitas perguntas e muita burocracia. Vou ficar aqui até o último grupo ser evacuado. Vá para a cama e durma delícia. Devo voltar para casa amanhã na hora do almoço.
— Ok. Estou com saudades.
— Eu também. Te amo.
Tammy desligou triste, sentindo muita falta dele. Daria qualquer coisa para que ele estivesse deitado ao seu lado na cama. Não conseguia acreditar no quanto estava viciada nele. Saiu da cama para usar o banheiro.
A campainha tocou. Tammy franziu o cenho antes de dar uma olhada no relógio, vendo que tinha acabado de passar da meia-noite. Vestiu um robe e andou pelo corredor até a sala de estar. Sentia-se um pouco desconfortável já que sabia que não havia mais um oficial de guarda no corredor externo. Caminhou até a porta e mordeu o lábio.
— Quem é?
— É Breeze. Eu trouxe sorvete. Sei que Valiant não está e achei que você não conseguiria dormir. Posso entrar?
Tammy destrancou a porta e a abriu. Sorriu para a morena alta.
— Entre. É muito bom ver você. Disse que tinha sorvete?
Breeze entrou segurando uma bandeja coberta.
— Não qualquer sorvete. Eu trouxe dois sundaes de chocolate. Ellie me ensinou como fazê-los. Eles também têm pedacinhos de brownie. — Sorriu para Tammy de sua altura bem mais generosa. — Tem certeza que não se importa por eu vir tão tarde?
— Não. Estou muito feliz que tenha vindo. Duvido que conseguiria dormir. Valiant acabou de ligar.
— Como foram as coisas? — Breeze depositou a bandeja na mesinha de café e levantou a tampa. Ela sentou no sofá e passou uma colher para Tammy com um guardanapo enrolado nela.
— Ainda não ouvi nada.
— Valiant disse que conseguiram resgatar todos e que está tudo bem. Alguns feridos, mas nada com risco de morte.
— Estou feliz demais de ouvir isso. Preciso arrumar as coisas para recebermos a meia dúzia de mulheres que nos disseram que estavam presas lá.
Tammy hesitou, incerta se cabia ou não perguntar, mas realmente querendo ter alguma utilidade.
— Precisa de ajuda?
— Eu adoraria.
Tammy pegou o seu sundae e o examinou. Arregalou os olhos.
— Muito obrigada. Uau! Isso é simplesmente... Uau! Olhe todo esse chocolate. Isso são nozes?
— Sim.
— Eu amo nozes e brownies. Calda de chocolate que endurece a casquinha quando esfria. — Provou uma colherada. — E raspas de chocolate. Isso é tão bom. Também precisa agradecer a Ellie. — fez uma pausa. — Pode comer chocolate? Valiant diz que faz com que sinta vontade de vomitar.
— Alguns Espécies passam mal e outros não. — Ela sorriu, pegou uma colherada das grandes, o prazer aparente em seu rosto. — Eu amo.
Valiant observava silenciosamente enquanto as seis mulheres passavam por eles sendo guiadas por uma fêmea humana baixinha. Seguiu a mulher com o olhar. Seu cabelo chamava a atenção. Era um vermelho fogo em um rabo de cavalo que caía sobre traseiro. A fêmea humana levou as mulheres Espécies até o helicóptero que aguardava e elas entraram nele. Valiant franziu o cenho. Ele se virou olhando para Tiger.
— Quem era a pequena mulher humana com o cabelo brilhoso?
Tiger olhou para o helicóptero. A mulher estava claramente visível, já que as portas ainda estavam abertas. Ela verificou cada cinto de segurança antes de finalmente se sentar. O piloto fechou a porta lateral e entrou na cabine de pilotagem.
— Aquela é Jessie Dupree. Ela é a fêmea humana que geralmente está presente quando as nossas fêmeas-presente são encontradas. Ela faz parte da força-tarefa humana destinada a nós pelo governo. Ela conforta as nossas mulheres quando são encontradas. Estou surpreso que esteja aqui. Ela normalmente lida apenas com as nossas mulheres que foram vendidas.
— Eu pensaria que ela teria medo das nossas fêmeas. Ela é pequena comparada a elas.
Tiger deu de ombros.
— Eu não sei qual é a dela, mas é a única que os humanos mandam quando localizam uma de nossas fêmeas. Não sei por que ela está aqui já que essas mulheres não foram vendidas, mas ainda estavam cativas com fins de experimentação. Realmente convidamos os humanos para essa missão e eles que exigiram trazê-la junto.
Valiant assentiu.
— Ela vai voar com elas para a Reserva? O resto dos humanos do time dela também vão?
— Não. Apenas ela. Exigiu entregá-las pessoalmente e acomodá-las. Me cansei de discutir com ela e então concordei que poderia ir. Ela é pequena, mas sabe discutir.
— Justice não se importa?
Tiger encolheu os ombros.
— Eu não sei. Ele ainda está lá dentro com o time dos humanos, agradecendo-os pela ajuda e distribuindo gentilezas. Não chegou a conhecê-la e tem sorte disso. Ela é feroz com a boca. Ele pegará o último voo conosco. — Tiger deu uma olhada no relógio. — Quer comer? Os humanos pediram umas pizzas para que todos comessem. O gosto é incrível.
Valiant assentiu.
— Poderia comer. Preciso aprender mais sobre comidas humanas. Não acho que Tammy goste de me ver comer. Notei que ela evita me olhar durante as refeições.
Tiger riu.
— Deixe-me adivinhar. Carne levemente grelhada? É. A maioria dos humanos tem nojo dela. Você vai gostar de pizza. É muito bom. Ela também vai amar. Acho que todos os humanos comem isso do jeito que comemos carne. Deve ser uma exigência nutricional ou algo parecido para eles. — Encolheu os ombros. — Tudo em cima dela é cortado em pedaços ou fatias para ajudá-los por causa dos dentes retos que têm.
Valiant o seguiu.
— Se tivermos um bebê isso deve ser bom para alimentá-lo.
— É. Eles provavelmente só cortam em fatias menores por causa das boquinhas deles.
— Preciso experimentar essa comida. Tammy ficará feliz por eu me preparar para a paternidade.
Tiger bateu em suas costas.
— Você é um bom companheiro, meu chapa.
— Tentarei ser. — Valiant sentia falta de Tammy. Mal podia esperar para voltar para casa, casar com ela e remover sua roupa íntima. Mas não nessa ordem.
Às cinco e dez da manhã o bolso de Breeze zumbiu. As duas mulheres deram um pulo. Elas estavam assistindo um filme de terror na televisão. Tammy riu. Breeze deu um sorriso, enfiando a mão no bolso. De lá tirou o seu celular.
— Aqui é Breeze. — Ficou ouvindo. — Estou a caminho agora. Obrigada. — Ela se levantou e sorriu para Tammy quando desligou. — Preciso ir. O helicóptero está há vinte minutos daqui. É o que vem com as nossas mulheres. Arrumamos as coisas para que elas vivam aqui, dentro do hotel. Vai ser uma manhã bem longa para mim. Eu não sei qual é a situação delas. Fui eleita para fazer esse trabalho e não sou muito boa ao lidar com mulheres em choque. Sei que sofri disso quando fui liberta. Não estamos equipados para lidar com mulheres recém-libertas. Normalmente as mandamos para outro lugar, mas isso aconteceu muito rápido e Justice decidiu que elas ficariam mais felizes aqui. Ele provavelmente tem razão. Eu só queria ter mais experiência nisso. Tudo o que tenho são as minhas lembranças do modo com que as humanas cuidaram de mim.
Tammy levantou.
— Ainda quer a minha ajuda? Não me ofereci só para ser educada.
— Você ajudou a fazer a lista do pedido de roupas para elas. Quer ajudar a recebê-las e acomodá-las também?
— Eu iria adorar. Não vou dormir. Já é de manhã. — Tammy sorriu. — Posso ir com você? É melhor do ficar aqui sentada esperando que Valiant volte. Não vou dormir até ele voltar.
— Sim. Eu agradeceria.
— Me dê dois minutos para vestir umas roupas, escovar o cabelo e os dentes.
— Posso usar o seu banheiro?
— Fique à vontade. Tem um banheiro no fim desse corredor. Venha comigo.
Tammy se apressou. Ela colocou um dos suéteres de Valiant que estavam no chão. Parecia limpo o suficiente. Queria carregar o cheiro dele na esperança das mulheres a aceitarem mais facilmente. Vestiu uma calça de algodão preta. Assim que usou o banheiro, escovou os dentes e o cabelo, encontrou-se com Breeze na sala.
Breeze inalou e sorriu.
— Você é esperta.
— O suéter? Pensei nisso no segundo que o vi nas costas da cadeira. Acho que Valiant o usou há uns dois dias atrás. Então ainda consegue sentir o cheiro dele no suéter?
— Está fraco, mas é o bastante. Está com o cheiro dele. Elas saberão que é humana, claro, suas feições mostram o que você é, mas a verão como uma ameaça menor.
— Ótimo. Então, para onde vamos? — Tammy calçou sua sapatilha e pegou a chave do quarto. Ela a meteu na frente do sutiã já que não tinha bolsos e não ia levar uma bolsa.
— Vamos encontrá-las na pista de pouso. Temos uma van esperando para trazê-las para cá.
— As roupas que pedimos já foram colocadas nos quartos delas?
Breeze deu uma risada.
— Sim. Colocaram assim que chegaram. Roupas e comida estarão esperando por elas. Também abasteci cada quarto com produtos de higiene pessoal.
— Parece ótimo. Vamos.
Um bando de Novas Espécies macho que Tammy nunca tinha visto antes rondavam pelo lobby do antigo hotel. Breeze e Tammy saíram do elevador e toda a conversa foi interrompida. Tammy deu alguns passos e então parou quando Breeze o fez.
Tammy olhou para a mulher mais alta.
— O que foi?
Breeze de repente rosnou e se virou. Tammy viu um homem se aproximar rapidamente. Mais dois o seguiram. Todos os três Novas Espécies pareciam zangados. Breeze se colocou entre os homens e Tammy.
— O que você quer? — Breeze parecia irritada.
O homem rosnou em resposta.
— Saia da frente.
— Afaste-se. — Breeze rosnou mais forte. — Ela está comigo.
Tammy fitou os três homens de maneira nervosa. Ela percebeu que o ambiente tinha adquirido um silêncio mortal. Tinha que haver ao menos uns trinta Novas Espécies ali, mas nenhum deles falava. Não reconheceu um único rosto quando olhou em volta. Seu olhar retornou para o homem que se comportava de maneira mais agressiva.
— Algum problema? — Tammy franziu o cenho para ele.
— Ela é humana. — Ele mostrou dentes afiados para Tammy se aproximando mais um passo.
Breeze continuou em seu caminho, com as palmas abertas.
— Ela é uma humana que vive aqui com um dos nossos machos. Ela pertence a ele e ele vai te matar de pancada se pensar em respirar de maneira errada na direção dela. Justice North a convidou para morar conosco. Ela é uma de nós apesar de ser humana. Eu percebo, que como Primata, seu olfato não é tão forte, mas ela pertence a ele.
O homem rosnou de novo e o mesmo fizeram os outros dois atrás dele. Tammy pressentiu o perigo. Ela respirou profundamente, tentando acalmar seu medo. Valiant sempre disse que a espécie dele podia sentir o cheiro do medo. Levantou o queixo.
— Acalmem-se. Eu não sou o inimigo. — Estava orgulhosa por sua voz sair forte e não tremer tão forte quando as suas mãos.
— O que está havendo? — 927 perguntou de repente. Ele tinha andado silenciosamente até ficar atrás das duas mulheres.
Tammy se assustou. Olhou para ele e sorriu, se sentindo um pouco aliviada por vê-lo ali.
— Meu palpite é que eles não gostam de mim.
927 rosnou, fulminando os machos com os olhos. Ele se adiantou para ficar ao lado de Breeze. Ela pareceu temerosa quando olhou para o novo macho e seu corpo ficou ainda mais tenso. 927 nem a olhou. Continuou a encarar de maneira desafiadora os três homens.
— Ela é a razão por estarem livres. Dr. Zenlelt a sequestrou e o companheiro dela a seguiu até onde eu estava. Ela não é como os humanos que conhecemos 861. Afaste-se. Ela é da nossa família. — 927 olhou em volta do ambiente, encontrando o olhar curioso de cada homem e elevou a voz. — Ela é da família e é uma amiga.
— Humanos nunca serão da família. — rosnou 861. — Me ofende olhar para ela.
— Supere isso. — rosnou Breeze. — Ela não vai a lugar algum. Ela também vive aqui. Bem como outra mulher humana que é companheira de um dos nossos. Sinta o cheiro dela. Ela pertence a um dos nossos.
861 se aproximou de Breeze e inalou. Ele franziu a testa e se aproximou mais. Ela recuou para impedi-lo de tocar em Tammy. O homem inalou outra vez e retrocedeu.
— Não gosto disso.
— Não tem que gostar. Ela está aqui e nenhum mal será feito a ela. Onde está a sua gratidão? Nós ainda estaríamos trancados dentro das nossas celas se não fosse o amor que o companheiro dela sente e a nossa gente ajudar a encontrá-la. Mostre respeito. — exigiu 927 em um tom brusco.
861 rosnou.
— Nunca para humanos.
Breeze praguejou baixinho e colocou a mão para trás. Os dedos dela agarraram o suéter que Tammy usava e empurraram, movendo Tammy em direção ao elevador. As pisadas pesadas de botas atraiu a atenção de todos quando mais Novas Espécies usando os uniformes pretos da ONE entraram correndo no lobby. Eles acessaram rapidamente os dois homens circulando um ao outro e Tammy viu o que eles enxergavam — os homens iam brigar. 927 a protegeria e defenderia.
— É o primata de vermelho. — disse Breeze em voz alta. — Ele veio atrás da companheira de Valiant.
O homem de vermelho, 861, saltou em cima de 927, e a luta começou. Os oficiais Novas Espécies se apressaram, empurrando todos do caminho. Em segundos eles agarraram 861 e o prenderam imobilizando-o ao chão.
Tammy relaxou. Breeze soltou o seu suéter e ela virou a cabeça, estudando Tammy.
— Você está bem?
— Estou. O que foi isso?
927 se aproximou. Sua mão estava cortada por ter esmurrado o rosto do outro. Um dente afiado havia furado sua pele. Ele parou a alguns centímetros.
— Peço desculpas. Esses homens são do mesmo lugar onde eu ficava confinado. Eles não gostam nem confiam em humanos. Quando se acalmar conversarei com ele de maneira racional.
— Tudo bem. — Tammy suspirou. — Acho que consigo entender isso. — Baixou o olhar para a mão dele. — Quer que eu limpe e faça um curativo nisso?
Um dos oficiais Novas Espécies se aproximou.
— Deixaremos que se acalme e falaremos com ele. — Ele olhou para Tammy. — Está ilesa?
— Estou bem.
Ele inalou.
— Só assustada. — Ele virou e encontrou o olhar de 927. — Obrigado por defendê-la até que conseguíssemos segurá-lo. Deixe-me levá-lo para o centro médico que eles cuidarão do seu ferimento.
927 concordou.
— Claro. — Ele sorriu para Tammy. — Peço desculpas. Falarei com todos eles. Ficará segura de qualquer mal. Também não doeria se Valiant falasse com eles. Ele os intimidará se eu não conseguir.
Breeze riu.
— Ele é bom nisso. Eu sou Breeze. Obrigada pelo suporte aqui.
927 a estudou com cuidado e sorriu.
— Eu sou 927. É um prazer conhecê-la.
O sorriso de Breeze alargou.
— Você é um charme. Também é novo. Venha me procurar se precisar de qualquer ajuda por aqui.
— Irei sim.
O oficial sorriu.
— Vamos para o hospital, herói.
Breeze agarrou a mão de Tammy e a guiou para fora do lobby para onde uma van branca aguardava. Um dos oficiais Novas Espécies estava atrás do volante. Breeze se virou para Tammy no segundo que entraram e que fechou a porta.
— Conhece aquele macho? Ele é lindo. E você viu aqueles olhos escuros? — Breeze abanou o rosto. — Preciso trocar a calcinha. Estou mais que molhada. Quando ele escolher um nome precisa ser algo tão sexy e ardente quanto a sua aparência.
Tammy sorriu.
— Assumo que gosta dele, então?
— Acho que definitivamente estou a fim. Acha que ele sente atração por mulheres altas?
— Para mim ele pareceu interessado em você.
— Sério? Vou fazer questão de encontrá-lo depois que dormir um pouco. Quero estar bem descansada quando for procurá-lo.
Em minutos elas alcançaram a pista de pouso. O helicóptero tinha acabado de aterrissar e já estava sendo reabastecido. A porta lateral se abriu quando a van parou e mulheres começaram a descer da aeronave. Tammy ficou na van ao lado de Breeze para recepcionar as novas mulheres. Esperava que nenhuma delas a atacasse. Tammy nunca tinha pensado que alguém a odiaria de cara ou que quisesse machucá-la. 861 com certeza queria.
— Uau! — Sussurrou Tammy, avistando o cabelo vermelho-fogo da mulher que saiu primeiro do helicóptero. — Ela é a menor Nova Espécie que eu já vi. O que acha que foi misturado para sair uma cor de cabelo dessas? Parece que alguém ateou fogo ao cabelo dela com algo muito brilhoso. É lindo.
Breeze riu.
— Ela é uma de vocês. Eu diria que foi misturada com tinta de cabelo. Aquilo não pode ser natural.
— Talvez a calça e a camiseta preta destaquem mais o cabelo dela. — Tammy encolheu os ombros.
Breeze sorriu e também encolheu os dela.
— Podíamos perguntar.
— Não! — Tammy riu. — Nunca pergunte a uma mulher se a cor do cabelo dela é natural nem quantos anos têm. Mulheres humanas ficam super irritadas com isso.
— Sério? — Breeze absorveu aquela informação. — Tentarei me lembrar disso.
A ruiva se aproximou. Ela assentiu e parou ao lado de Breeze. Baixou o olhar e a cabeça. Esperou alguns segundos antes de levantar os olhos.
— Sou Jessie Dupree. Quis escoltar pessoalmente as suas fêmeas até aqui. Sou a representante humana do Governo dos Estados Unidos, parte da força-tarefa humana que faz as buscas e recupera suas fêmeas perdidas. Peço a sua permissão para acompanhá-las até seus novos lares e para ficar para ajudar com a integração delas à sua sociedade. Elas confiam em mim. — Desviou o olhar para Tammy e ela fez uma checagem da sua pessoa varrendo-a com os olhos. A mulher franziu o cenho levemente.
— Não a conheço. Quem a trouxe?
Tammy piscou para ela.
— Valiant.
Breeze riu.
— Acha que ela é Nova Espécie, não acha, Jessie Dupree? Ela não é uma Espécie-Presente resgatada. Ela é uma humana, companheira de um dos nossos. Seu nome é Tammy Shasta.
A ruiva com olhos azuis brilhantes piscou e seus olhos se arregalaram.
— Oh. Eu peço desculpas. Tinha a impressão de que nenhum humano vivia na Reserva. Por causa do seu tamanho e da sua falta de marcas faciais assumi que fosse uma das raras Fêmeas-Presente. Algumas foram resgatadas, e até que veja seus dentes ou orelhas, não tem como realmente dizer que não são completamente humanas.
— Valiant me disse o que foi feito a elas. É tão horrível que me deixa com vontade de vomitar. Mas eu sou humana. Desculpe a confusão.
A mulher assentiu. A atenção dela voltou para Breeze.
— Posso ter permissão para ajudá-las a se acomodarem? Eu gostaria muito disso. Sei que elas não são Fêmeas-Presente, mas tenho tempo e sou muito experiente em ajudar suas fêmeas a lidar com a mudança repentina no estilo de vida.
Breeze olhou para Tammy, que deu de ombros.
— Ela tem experiência.
Um sorriso brotou do rosto de Breeze.
— Claro. Eles me colocaram no comando dessa tarefa e para te dizer a verdade, não tenho ideia do que estou fazendo. Não lidamos com esse tipo de coisa. Elas normalmente são enviadas para outro lugar, mas Justice queria que viessem para cá. Nós agradeceríamos a ajuda.
— Obrigada. — Jessie sorriu. Ela era mesmo uma mulher linda no final dos vinte ou começo dos trinta. — Adoraria fazer todo o possível.
Tammy estudou as mulheres Novas Espécies que saíram do helicóptero. Todas eram altas e robustas. Eram musculosas e em excelente forma física. Suas roupas eram de um branco encardido e as calças iguais as que 927 usava. Ela até viu as mesmas costuras grossas nas laterais quando uma delas passou. A mulher olhou para ela e para Breeze, mas ninguém se opôs a sua presença ali.
— O que há com as roupas? Por que todas estão vestidas assim? — Tammy manteve a voz baixa, o olhar em Breeze.
A mulher mais alta mostrou sinais de raiva quando suas narinas se dilataram.
— Nós ficávamos com braços e pernas amarradas às correntes. Era mais fácil para os nossos captores tirar e trocar a nossa roupa com costuras que se abriam. Elas têm velcro que as cola novamente quando se aperta. Isso impedia que tivessem que baixar as nossas calças pelas pernas e tirar as camisas pela cabeça.
A resposta fez com que Tammy se sentisse mal e ela sentiu uma admiração nova e maior devido ao tipo de inferno que os sobreviventes tinham passado. A roupa feia tinha um propósito e não era um bom, pensou. Ela afastou aquelas observações sombrias e tentou parecer amigável para as mulheres libertas.
Todas couberam na van. Tammy sorriu para as mulheres, mas nenhuma devolveu o gesto amigável. Mas cinco das seis mulheres Novas Espécies a fitavam abertamente. Algumas delas pareciam confusas enquanto uma parecia assustada. Duas escondiam suas emoções completamente. Tammy se concentrou na mulher assustada sentada no assento atrás do seu.
— Meu nome é Tammy. É seguro aqui. Vai ficar tudo bem.
— Elas estão em choque. — Jessie explicou em voz baixa. — Vai levar alguns dias para absorverem tudo. A vida inteira delas mudou para sempre em uma questão de horas.
Tammy sorriu tristemente para a mulher que ainda a olhava com medo no rosto.
— Vai ficar mesmo tudo bem. Aqui é um lugar ótimo para se viver. Eu moro aqui agora e adoro.
A mulher lambeu os lábios.
— O que você é?
Tammy piscou.
— Humana.
A mulher sacudiu a cabeça.
— Você é mais.
— Oh. — Tammy se mexeu devagar e estendeu o braço. — Está sentindo o cheiro de Valiant. Estou usando o suéter dele. Ele é Nova Espécie e nós moramos juntos.
A mulher a fitou sem expressão.
Jessie falou. — Novas Espécies é como vocês são chamados. Esse é o nome que sua gente escolheu já que vocês todos são misturas de diferentes espécies.
A mulher atrás de Tammy assentiu. Ela hesitou.
— Você mora com um dos nossos?
Tammy assentiu.
— Nós somos… — Ela não soube como explicar.
— Companheiros. Eles se acasalam com exclusividade. — explicou Breeze, vindo em seu resgate. — Eles decidiram ficar juntos até a morte.
A mulher parecia chocada.
— Mas ela é humana.
Breeze sorriu.
— Ela é uma humana boa que nunca feriria um dos nossos. Ela ama Valiant e ele a ama.
As mulheres continuaram encarando Tammy como se ela fosse alguma coisa que não conseguiam entender. Tentou não deixar que aquilo a perturbasse. Ela era algo que elas não esperavam.
— Sente-se como se fosse uma ocupante de um zoológico? — Breeze perguntou e deu uma risada.
Tammy sorriu.
— Só um pouco.
O resto do caminho até o hotel foi feito em silêncio.
O lobby do hotel estava vazio. Tammy ficou aliviada pelos machos terem ido embora, não querendo arriscar outro confronto. Jessie e Breeze falavam baixo sobre as acomodações que as mulheres recém-chegadas receberiam. Tammy notou que as seis mulheres ainda a observavam. No elevador, todas se juntaram e a farejaram. Tentou não se sentir incomodada. Porém, ficou um pouco mais do que aliviada quando as portas do elevador se abriram no quarto andar.
Tammy, Breeze e Jessie mostraram às mulheres seus quartos, separadamente, e demonstraram o jeito certo de usar tudo dentro deles. Elas não tinham ideia de como ligar o chuveiro ou encher a banheira. Não sabiam como usar um telefone, como abrir as janelas ou como trancar uma porta.
Horas depois, Tammy, Breeze e Jessie deixaram o quarto andar, cansadas, mas satisfeitas por todas estarem acomodadas.
— Uau! — suspirou Breeze. — Não percebi o pouco que eu sabia quando fui solta.
Jessie assentiu.
— Ao menos todas sabem ler e escrever. Algumas das Fêmeas-Presente nunca foram ensinadas. Diria que só metade delas foi. Depende da idade que tinham quando foram vendidas.
— Isso é tão horrível. — Tammy suspirou, lembrando o que contaram a ela sobre aquelas pobres mulheres.
— Sim. — concordou Jessie. — É sim. Sou eu que vou sempre. Há dois times de Forças Especiais que compõem a força-tarefa que foi montada exclusivamente para trabalhar com a Organização dos Novas Espécies. Todos são homens. A princípio não perceberam que realmente precisavam de uma mulher para ir com eles quando recuperassem as fêmeas Novas Espécies. As duas primeiras vezes que foram sem uma mulher, traumatizaram altamente as fêmeas recuperadas mais do que o necessário. Pense um pouco. Era simplesmente estúpido. Eles nem pensaram no quanto afetaria uma fêmea que era abusada, presa durante anos, e de repente se encontra cercada por duas dúzias de homens vestidos em uniformes operacionais completos, armados até os dentes. — Jessie apertou os dentes e sacudiu a cabeça. — Finalmente me trouxeram. Os caras fazem o trabalho duro e eu cuido das fêmeas.
— Como conseguiu o emprego? — Tammy olhou em volta da cafeteria quando entraram.
Jessie riu.
— Na verdade, foi o meu pai. Ele é um senador apontado para representar as questões dos Novas Espécies em Washington. Me voluntariou quando eles perceberam que podia ser inteligente ter uma mulher presente que não fosse ameaçadora para as mulheres que encontravam. A primeira que contrataram era uma terapeuta. Não deu muito certo. Depois disso, meu pai teve as coisas ao modo dele e eu acabei com o trabalho. Fiquei um pouco irritada no começo já que ele nem me perguntou nada, mas amo o que faço. Infelizmente, há bastante tempo ocioso. Eu queria que mais delas fossem encontradas. Não me importaria em trabalhar oitenta horas por semana se isso significasse que estávamos resgatando mais delas.
— Vocês as encontram com frequência?
Tammy agarrou um prato e começou a enchê-lo de comida do bufê. Pegou alguns donuts e um muffin. Não tinha muita coisa mais àquela hora. A cozinha ainda nem tinha começado a preparar o café da manhã e não iria até as seis, de acordo com um horário na parede. As outras duas mulheres também encheram seus pratos.
— Elas são difíceis de achar. No total, recuperamos vinte e três. Fomos capazes de rastrear outras Fêmeas-Presente que não estavam listadas, mas a maioria não sobreviveu.
Tammy contraiu os músculos involuntariamente.
— Isso é muito triste.
— Elas não são como nós. — disse Breeze em voz baixa. Ela encontrou o olhar curioso de Tammy. — São pequenas e incapazes de se defenderem. Foram muito abusadas e são como filhotinhos que foram chutados.
— Oh.
Jessie suspirou.
— É difícil pra os Novas Espécies aceitarem algumas delas porque estão tão traumatizadas que nem conseguem ficar perto de homens no começo. Várias igrejas isoladas com abrigos para mulheres pelo mundo foram legais o bastante para aceitarem algumas delas. Sempre que encontramos uma fêmea especialmente fragilizada a mandamos para lá.
— Elas gritam e choram perto de homens. Saltam e tremem. — A voz de Breeze parecia bem contrariada. — E ver isso nos deixa com muita raiva.
Jessie apertou os dentes.
— Não é culpa delas agirem dessa forma.
Breeze franziu o cenho.
— Não temos raiva delas. Temos raiva por isso ter acontecido com elas e por elas terem sido feitas mais fracas e levadas para longe dos nossos homens que tratavam bem as nossas fêmeas. Sentimos raiva por estarem completamente sozinhas. Era raro vermos outros Espécies a não ser que estivessem acasalando com a gente, mas podíamos sentir o cheiro deles nos humanos que entravam em nossas celas. Era confortador. Elas não tinham isso. Revolta a todos nós saber disso. — Breeze olhou para Jessie. — Nossa raiva nunca é direcionada a elas. Nunca.
— Desculpe. —Jessie suspirou. — Eu vi as reações da sua gente quando trouxe as mulheres. Simplesmente assumi que a raiva era dirigida às Fêmeas-Presente porque choravam e estavam muito assustadas quando via outros de sua espécie. Eu sei que vocês respeitam muito a força e a coragem.
— Respeitamos, mas queremos proteger os mais fracos. Entendemos que são elas quem mais precisam da nossa compaixão.
Tammy terminou o café da manhã.
— Nossa! O sol nasceu. — Seu olhar se perdeu na janela dos fundos da cafeteria.
— Deveria descansar antes de Valiant voltar. — Breeze riu. — Ele vai querer levá-la para a cama, mas não vai permitir que durma. Precisa de todo o sono que puder ter enquanto pode.
Tammy assentiu.
— Nós vamos nos casar hoje.
Jessie engasgou com o café.
— O quê?
Tammy sorriu.
— Vamos nos casar. Ele me pediu e eu aceitei. Ele quer tudo legalmente por escrito e estou feliz com isso.
— Mais uma. — Jessie sorriu. — Então vocês vão ser o segundo casal miscigenado casado. Isso é ótimo. Não foi a minha intenção explodir o café. Só fiquei surpresa.
Breeze riu.
— Espere até ver os dois juntos. Isso vai te surpreender ainda mais. Onde ela é baixa, ele é alto. Ele é um macho enorme... mais de dois metros e pesa mais que cento e dez quilos.
Jessie piscou para Tammy, sorrindo.
— Mulher corajosa.
— Ele é um docinho.
Breeze deu uma gargalhada.
— Para ela é um docinho. Nós trememos de medo quando ele está com raiva. Ela ri na cara dele. Só não tenha medo quando ouvir uns barulhos bem altos hoje Jessie. Você vai precisar de um quarto por alguns dias enquanto fica para ajudar com as mulheres. Valiant é misturado com leão. Lembre-se disso.
Jessie parecia confusa.
— O que estou perdendo?
Tammy sabia que suas bochechas estavam quentes de vergonha.
— Ele ruge depois do sexo. Depois disso, estou indo. — Ela acenou. — Espero ver vocês duas no casamento. Venham se puderem.
— Ela estava brincando, certo? — Jessie parecia estupefata.
Breeze riu.
— Não. Não estava. Ela também é uma que você pode dizer que gosta de gritar. Todos sabemos quando eles acasalam. Não vemos a hora que Valiant volte para a casa dele para que possamos dormir sem sermos perturbados.
Tammy grunhiu ao ir embora, grata por não conseguir ouvir mais depois daquilo. Alcançou rapidamente o elevador, feliz que não havia mais machos por perto na área da recepção, e foi direto para a sua suíte.
Tammy pode ter ficado um pouco nervosa, mas Valiant não parecia sofrer disso. Ele segurava suas mãos enquanto sorria para ela. O Nova Espécie havia trazido o Pastor Thomas para comandar a cerimônia. O velho pastor parecia pouco à vontade, cercado por algumas centenas de Espécies, mas o fato de ter concordado em casá-los a tocou profundamente. Só havia outro humano presente além de Tammy e do pastor. Jessie Dupree apareceu para assistir o casamento. Seu melhor amigo havia se recusado a vir quando Tammy ligou para convidar Tim. Estava um pouco triste, mas olhar nos exóticos olhos dourados de Valiant fez aquilo perder toda a importância. Ou Tim superaria o seu preconceito ou não. Era problema dele, não dela.
Nunca pensou que tantos Novas Espécies apareceriam para testemunhar a união deles, mas esse foi o caso. Seu coração aqueceu ao ver que se importavam. O lobby era o maior aposento, além da cafeteria, que o hotel tinha a oferecer e estava cheio. Lotado. Não havia cadeiras suficientes para que tantas pessoas se sentassem. Justice estava de pé na frente do grupo, sorrindo amplamente. Ficou para comparecer à cerimônia.
— Você, Tammy Ann Shasta, aceita Valiant North como seu esposo?
Eles trocaram os votos para fazer com que ficasse mais fácil para que todos entendessem.
— Aceito, com muita felicidade.
Valiant sorriu mais.
— Você, Valiant North, aceita Tammy Ann Shasta como sua esposa?
— Aceito, com honra e felicidade#. — Ele piscou para ela.
Tammy riu. Teria que falar com ele outra vez sobre como aquilo soava errado e estranho. Ouviram quando o pastor falou, dizendo a eles o que o casamento significava antes de pronunciá-los legalmente casados.
— Pode beijar sua esposa, Valiant. Ela é toda sua agora.
Valiant soltou as mãos de Tammy e agarrou seu quadril. Ele a ergueu lentamente do chão. Tammy riu e segurou os ombros dele para manter o equilíbrio. Ele a levantou até que ficassem na mesma altura. Suas mãos deslizaram em volta do pescoço dele e ela fechou os olhos quando ele a trouxe para mais perto do corpo. Os braços deslizaram em volta da sua cintura abraçando-a.
Ela esperava que ele apenas roçasse os lábios nos seus. Afinal, havia centenas de pessoas assistindo. Valiant não fez isso. Ele a beijou de verdade. A boca dele abriu em cima da sua e ele a invadiu com a língua.
Tammy retribuiu o beijo, incapaz de resistir ao toque sensual do homem que amava e seu corpo respondeu instantaneamente. Valiant sempre tinha esse efeito nela. Ele ronronou e ela gemeu quando a paixão se acendeu entre eles.
— Uh… — Tossiu o Pastor Thomas. — Acho que já deu.
Valiant grunhiu, mas interrompeu o beijo. Quando se afastou, eles se olharam e seus olhares se prenderam. Tammy não podia esperar para ficar a sós com ele e com o desejo evidente em sua expressão, sabia que o sentimento era mútuo. O lugar continuou completamente silencioso. Valiant a colocou de pé devagar.
— Minha.
Tammy riu.
— Sua.
Breeze riu.
— Temos um carro lá fora para levá-los para a casa de Valiant como um presente de aniversário de todos do hotel. Gostaríamos de poder dormir e sabemos como vocês dois são. Pensamos que seria pior já que estão celebrando o casamento. Achamos que Valiant não vai deixar que saia da cama por dias.
Alguns Novas Espécies riram. Tammy corou. Valiant sorriu e assentiu para Breeze.
— Esse é o meu plano.
— Graças a Deus. — Jessie sussurrou baixinho. — Achei que o teto cairia quando os ouvi. Parabéns! Vou comer antes que se forme uma fila. — Ela sorriu e foi embora, andando por entre uma massa de gente. Tammy corou mais. Valiant jogou a cabeça para trás e gargalhou.
Pastor Thomas franziu o cenho.
— Não entendi.
Breeze se aproximou dele.
— Queremos que Valiant e Tammy aproveitem o seu tempo sozinhos e todos dormiremos melhor quando eles forem embora.
O pastor ainda parecia confuso.
— O que estou perdendo?
Justice riu, adiantando-se.
— É uma coisa de Novas Espécies se posso me meter assim no assunto, o que acredito que já fiz. Não se preocupe com isso.
Valiant virou para Tammy e a agarrou de repente. Ele a colocou nos braços com um sorriso.
— Vamos para casa.
Tammy passou os braços em volta do pescoço dele.
— Vai mesmo me mostrar a casa inteira dessa vez? Ainda preciso ver tudo dentro da sua casa além da entrada, da escada, e do seu quarto.
Ele riu, carregando-a pela multidão que se abria ao saírem.
— Talvez em alguns dias.
— Tem que me deixar comer. — Provocou Tammy.
— Já pensei nisso. Vão entregar comida do hotel.
Um Jipe esperava do lado de fora e Tiger pulou no banco do motorista. Só fez rir quando Valiant entrou no banco do passageiro com Tammy enroscada no colo.
— Estou dentro. — Tiger sorriu. — Comida entregue… O quê? Quatro vezes por dia?
— Seis. — Valiant riu. — Ela vai ficar com muita fome.
Tiger ligou o motor.
— Seis então. E só para que saibam. Não se assustem se sentir o cheiro de alguém dos nossos por perto. Colocamos uma equipe de segurança perto da sua casa. Mas não muito perto. Perto o bastante para ficarem de olho na casa enquanto você e Tammy estão lá.
Valiant suspirou.
— Entendo.
Tammy olhou para os dois.
— Eu não.
— Você é humana. — disse Valiant baixinho. — Os homens estarão lá para nos proteger já que não estaremos no hotel. Temos inimigos, delícia. Você é um alvo agora que nos casamos. A Zona Selvagem deveria ser segura, mas Justice se sentirá melhor se souber que temos segurança extra por perto para ajudar com a nossa proteção.
Tammy encostou a cabeça no peito de Valiant. Ela se aconchegou mais nele.
— Ok. Mas garanta que não venham muito perto.
Tiger riu.
— Isso não vai ser problema.
Valiant fez carinho com o nariz em sua bochecha.
— Minha.
Ela riu.
— Alguma vez vai parar de falar isso?
— Eu gosto de me lembrar e te lembrar que pertence mesmo a mim. Posso dizer mais se tivermos filhos.
Tammy sorriu.
— Mas eu, definitivamente, não vou ter oito crianças. De duas palavras que você fosse falar para nós uma seria “minha” ou “meu”.
— Eu te amo Tammy.
— Eu também te amo.
Tiger riu.
— Eu amo o fato de que hoje vocês vão estar a milhas e milhas longe de mim quando eu for para a cama à noite. Não dormi oito horas seguidas desde que chegaram ao hotel. Ela é pequena Valiant. Devia maneirar um pouco na quantidade de sexo.
Tammy e Valiant olharam com raiva para ele.
— Jamais! — disseram ao mesmo tempo.
Laurann Dohner
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