Criar um Site Grátis Fantástico
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


Vampiros Na América / Vol. 3
Vampiros Na América / Vol. 3

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Buffalo, New York
E estava totalmente escuro. Ela levou os dedos aos olhos para se certificar de que eles estavam abertos. Eles estavam. Mas o quarto parecia totalmente escuro, como se ela não pudesse ver sua maldita mão diante de seu rosto. Sua mãe deve ter puxado as estúpidas persianas para baixo por trás das cortinas novamente para economizar energia. Regina fazia de tudo para economizar energia, mas ela não era um maldito morcego também. Ela sentou-se com um gemido irritado e procurou a pequena lâmpada perto de sua cama, quase caindo de cara quando não a encontrou. Ela franziu a testa e apalpou cegamente com ambas as mãos, finalmente batendo em algo sólido. Uma pequena lâmpada da mesa, mas não a dela. Os primeiros sinais de mal-estar colidiram em seu peito quando a mão dela fez o seu caminho até à base desconhecida para um antiquado botão interruptor. O pressionar de seu polegar rendeu uma luz fraca e amarela.
Ela olhou, abruptamente acordada. Este não era o seu quarto. A lâmpada estranha deveria tê-la avisado, mas de alguma forma ela ainda esperava ver seu quarto familiar com o mobiliário antigo que ela herdou de sua avó Lena e os cartazes extravagantes que ela havia comprado com o dinheiro do seu vigésimo primeiro aniversário há dois anos atrás, aqueles que ela achava que eram tão sofisticados, mas que se revelaram apenas esquisitos. Mas este não era seu quarto; nem mesmo era a sua casa. Então, onde diabos ela estava?
Ela piscou, forçando para baixo o seu medo e pensando furiosamente. Ela tinha saído com as amigas. Certo, tudo bem. Festa de despedida da Katie. Mas depois disso… Provavelmente tinha bebido demais. Todos os sinais estavam lá, o estômago doendo, as batidas na cabeça. Deus, alguma de suas amigas arrastou-a para casa com ela? Ela tinha estado assim tão fora de si? Uma onda de culpa tomou conta dela, substituindo o medo e o aperto no peito com remorso. Ela podia ouvir a voz de sua mãe, dizendo:
— Se você não pode dirigir, você pega um táxi ou vai para casa com uma das meninas em vez disso. Apenas certifique-se que você me ligue, Regina, para que eu não me preocupe. — Ela segurou o áspero cobertor perto contra um calafrio repentino e pôs as pernas para o lado da cama. Seus pés tocaram um piso frio e úmido e ela franziu a testa para a sensação. Um piso de concreto? Ela olhou para cima. Sem janelas também. Isto era um porão? Ela não lembrava de nenhuma das suas amigas terem quartos de hóspedes em…
Tudo voltou correndo — as luzes na rua escura, o gelo brilhante nas calçadas. Ela quase caiu. Não, ela tinha caído. Ela corou de vergonha e se lembrou de uma mão forte segurando seu braço, impedindo-a de bater no chão. Ela olhou para cima, querendo agradecer a seu salvador e, em seguida…
Ela saltou quando um ruído quebrou o silêncio, algo alto e pesado, uma porta batendo em uma parede. Ela congelou, ouvindo, esperando passos. Ela ouviu um soluço suave em vez disso, uma voz de mulher em algum lugar próximo. Ela se levantou, dando um passo hesitante em direção à porta que era pouco mais que um contorno sob a luz fraca.
— Olá. — ela sussurrou, perguntando se a outra pessoa poderia ouvi-la. Ela estendeu a mão para a maçaneta da porta. — Olá? — Disse ela novamente, mais alto desta vez.
Um pesado passo arrastou-se no corredor e ela arrebatou sua mão para trás, segurando-se firmemente. Seu coração estava acelerado, de repente, a respiração rápida e superficial, fazendo-a ter tonturas quando se esforçou para ouvir. A mulher invisível começou a chorar, agora mais alto, implorando. Regina tropeçou de volta para a cama, puxando os pés para cima, envolvendo os braços em volta das pernas, tentando ser pequena, ser invisível.
A mulher começou a gritar…

x
x
x

x
x
x

Capítulo1
Os olhos de Sarah Stratton se abriram, um grito encheu sua garganta, sufocando-a quando ela lutou contra ele, enquanto sua mão batia no interruptor ao lado de sua cama. A luz inundou o quarto e ela sentou-se, levando o seu olhar para cada detalhe familiar. Ela inalou, uma profunda sucção de fôlego que era mais um soluço, como em seu sonho.
— Pare com isso. — disse a si mesma. Tinha sido um sonho, um pesadelo, nada mais. A escuridão, o terror — eles não eram reais. Não desta vez. Lágrimas quentes correram de seus olhos e ela limpou-as com raiva. Saindo da cama, ela tropeçou para seu armário. Não havia sentido em tentar voltar a dormir, ela tinha que se levantar cedo de qualquer maneira. Ela tinha duas classes para ensinar e guias azuis para corrigir. Poderia muito bem começar o dia cedo, entrar em sua corrida matinal, talvez tomar uma verdadeira xícara de café na Starbuck em vez de dormir aquela hora extra. Não era porque estava com medo do sonho, medo que o temor voltasse, o desamparo…
— Pare com isso, Sarah. — repetiu ela.
Ela vestiu sua roupa de jogging1 de inverno com rápidos e nítidos movimentos — leggings quentes, um suéter sobre o sensível sutiã atlético. Era quase primavera, mas ela tinha aprendido da pior maneira que o tempo frio permanecia aqui em Buffalo, especialmente no período da manhã. Ela torceu seu longo cabelo loiro em um rabo de cavalo seguro antes de dobrar o laço de seus sapatos. Lá embaixo, ela pegou sua jaqueta quente do armário e colocou seu celular e dez dólares no bolso, acrescentando as chaves uma vez trancada a porta da frente de forma segura por trás dela.
Ela fez uma pausa para se ajustar ao ar congelante, notando os pontos escorregadios pelo frio na calçada ao descer a rua. A menina em seu sonho — Regina ela se chamava — tinha caído em uma calçada muito parecida com esta. Sarah sacudiu a cabeça obstinadamente, recusando a memória. Um sonho, ela lembrou a si mesma. Ela fez alguns alongamentos, inclinando-se contra a grade de madeira velha, esticando seus tendões. A luz ainda queimava no lado de sua senhoria, através de seu alpendre comum, mas ainda era muito cedo até mesmo para a senhora trabalhadora. Mas não demasiado cedo para Sarah.
Ela desceu as escadas em uma rápida corrida, pisando para o lado e correndo pela grama morta para evitar o pavimento escorregadio. Na rua, ela se estabeleceu em seu ritmo regular, pernas bombeando suavemente, facilitando a respiração dentro e fora em um ritmo constante, seu corpo aquecido apesar da fria manhã. E finalmente, ela se permitiu pensar sobre o sonho e o que ele podia significar.
Tinham passado anos desde que ela tinha tido um pesadelo tão ruim assim, o tipo que a fazia despertar gritando, que trazia o frio e a umidade, o desespero… um sopro de ar úmido sobre um rosto nu, o calor de uma mão que se esticava para tocar…
Sarah parou no meio da rua vazia, respirando com dificuldade, seu coração batendo. Ela inclinou-se, as mãos sobre os joelhos, cada respiração um arquejo por ar.
— Ei, você está bem? — Ela pulou pela voz de homem, quase tropeçando quando se afastou, os olhos arregalados. Ele levantou as mãos, palmas para fora e deu um passo para trás. — Desculpe. Eu só pensei…
Sarah forçou um sorriso, tentando parecer normal, mas ela podia dizer pelo olhar no rosto dele que não estava funcionando. — Não, me desculpe. — disse ela, lutando para igualar sua respiração. — Eu não ouvi você chegando. Sim, eu estou bem. Noite ruim a noite passada.
O outro corredor balançou a cabeça, claramente não acreditando nela, mas ansioso para fugir da senhora louca. — Se você tem certeza…
— Yeah. Sim. — Ela mandou-o embora. — Obrigada por parar, no entanto. Eu agradeço. — Ela começou a andar lentamente, as mãos nos quadris, amaldiçoando sua própria estupidez. Ela nem sequer olhou para cima quando o homem passou, não querendo ver a preocupação, ou a curiosidade, em seu rosto.
Os sonhos, os malditos e estúpidos sonhos. Por que eles estavam de volta? E por quê agora?

Capítulo 2

Seu escritório estava muito quente. Vinda da Califórnia, era sempre uma surpresa para Sarah que as pessoas na costa leste mantivessem suas salas tão quentes. Isso a deixava sonolenta, o que apenas a fez lembrar que tinha levantado uma hora mais cedo esta manhã, e por quê. Ela se debruçou determinadamente sobre sua mesa na universidade, tentando impedir seus olhos de revirarem enquanto lia o que os calouros da faculdade passavam para redações nos dias de hoje. Música baixa tocava no fundo, uma velha estação de ouro, tocava músicas dos anos sessenta e setenta, canções de outra geração que de alguma forma falavam com sua alma. Mas nem mesmo os doces ritmos da Motown poderiam suavizar seu desgosto com as redações que estava lendo. O que eles ensinam a esses jovens no colégio afinal? Metade deles não conseguia soletrar algo que valesse a pena e a maioria da outra metade tinha o vocabulário de alguém com treze anos de idade. Concedido, a maioria deles estava apenas tomando suas aulas de História Mundial porque eles eram obrigados, mas…
Um telefone tocou. Ela já tinha pegado seu telefone fixo da mesa antes de seu cérebro processar o fato de que era seu celular tocando ao invés. Ela deixou cair o telefone fixo com um suspiro de desgosto e pegou seu celular do bolso de seu casaco que estava jogado sobre um armário de arquivos próximo.
Verificando o identificador de chamadas, ela sorriu e abriu. — Olá, Cyn.
— Você já se perguntou o que as pessoas faziam antes do identificador de chamadas? — Cyn perguntou.
— Atendiam o telefone e esperavam pelo melhor, suponho. Por quê?
Cyn fez um barulho descontente. — Como está Buffalo?
— Humm. Ok, eu acho. Mas há essa coisa branca em toda parte. Eu não sei o que é exatamente, mas é fria e escorregadia.
— Soa intrigante. Exceto pela parte fria e escorregadia.
— Sim, bem, não realmente. Então, não que eu esteja reclamando - porque estou classificando livros azuis e vou dar qualquer desculpa para uma pausa - mas por que você está acordada? O sol está brilhando, onde você está de qualquer maneira. Você não deveria estar enroscada junto a esse lindo vampiro com quem você está vivendo em pecado?
Cyn soltou um suspiro de desdém. — Não seja chata, Sarah. Você é muito jovem para isso. Além disso, fizemos a coisa toda de troca de sangue… repetidamente, na verdade. Estamos acasalados e isso para os vampiros equivale ao casamento. Quando em Roma…
— Ok, eca para essa coisa de sangue. Eu não entendo como…
— A coisa de sangue é importante, Sarah. Especialmente para um super vampiro como Raphael. Ele me marca como sua companheira, que é uma espécie de proteção. E isso nos une de uma forma… não sei se posso explicar isso. Mas é importante.
— Tudo bem, eu acredito em você. Mudando de assunto agora. Por favor me diga que não estão oitenta graus em Malibu.
— Não estão. Está chovendo, o que significa que os nativos estão convencidos de que o fim está próximo e estão envolvidos em um ritual de auto amontoamento numa tentativa de apaziguar os deuses irritados.
— Eu lembro bem disso. Então, por que você está acordada? Mal passa do meio-dia em sua costa.
— Reunião de Acionista. Eu tive um café da manhã depois com meu pai e meu avô. Ás vezes eu acho que não nos reconheceríamos se não fosse a semelhança familiar.
Sarah pensou em sua própria família e forçou um sorriso educado. Cyn, é claro, não foi enganada.
— Tudo bem, Sarah?
— Claro, por quê?
— Oh, cara, isso foi fraco. O que está acontecendo?
— Nada, realmente. Estou bem. Provavelmente é só este tempo terrível.
— Você foi quem quis se mudar para longe da ensolarada Califórnia.
— Sim. — Sarah suspirou profundamente e disse novamente, mais suavemente. — Sim.
— Ok, é isso. Precisamos tirá-la dessa cidade. Acho que umas férias estão definitivamente em ordem.
— Não posso, Cyn. Mesmo que eu tivesse dinheiro, que eu nem…
— Eu tenho…
— …Não posso tirar um tempo de folga. Estou ensinando duas classes e estão me enchendo com trabalhos de comissão. Sou a novata, não tenho estabilidade e sou do sexo feminino, o que significa que recebo todas as porcarias de serviço, porque sabem que não posso recusar.
— Um fim de semana. — Cyn insistiu. — A universidade não entrará em colapso se você tirar um fim de semana de folga. Vamos lá. Algum lugar perto. O que está perto desse lugar? As Cataratas do Niágara? Infernos, não! — ela mesma respondeu. — Cheio de turistas e toda aquela água, que está provavelmente congelada até agora. Espere! Onde está minha cabeça? Manhattan! Você está a uma hora de distância pelo ar e Meu Deus Sarah, as lojas!
— Cyn, eu não posso! Além disso, nunca conseguiríamos um hotel…
— Quem precisa de um hotel? Meu pai tem uma casa ou um apartamento ou algo assim. Está sempre vazio nessa época do ano. Ele detesta frio.
— Ok, tudo bem. Um fim de semana, Cyn. Só isso.
— Que resmungona! É isso que acontece quando você se torna um professor? Você não está usando lã, está?
Sarah riu enfim. Um riso verdadeiro desta vez, não o forçado e educado de antes. — Não, sem lã. Aquela coisa coça. Vou descobrir a qual companhia aérea ligar e…
— Não, eu vou tomar todas as providências. Não confio em você. Algum fim de semana em particular para você?
— Não, eles são praticamente todos iguais. — Sarah admitiu, contemplando sua triste vida.
— Bem, Jesus, Sarah. Não admira que você precise de férias. Tudo bem. Deixe-me falar com Raphael e voltarei a ligar. Isso vai ser divertido!
— Se você diz.
— Trabalhe nessa atitude, menina. Telefono de volta.
Sarah puxou o telefone para longe de sua orelha, sentindo-se abruptamente murcha quando Cyn desligou. Ela poderia ter dito a Cyn sobre os sonhos. Cyn teria entendido, teria tentado ajudar. Afinal, ela estava vivendo com um vampiro, pelo amor de Deus. O que era um pequeno sonho telepático comparado a ter seu amante chupando seu sangue todas as noites? Mas Sarah nunca tinha contado a ninguém. Não desde que ela tinha saído daquele lugar.
Talvez Cyn estivesse certa. Ela estava sob um monte de estresse com o novo trabalho e a mudança através do país para uma cidade que ela nunca tinha visitado, exceto por sua entrevista de emprego. E Buffalo era tão diferente de Los Angeles ou até mesmo de Berkeley, especialmente Berkeley.
Ela olhou para a tela iluminada de seu celular até que ficou escura, então deslizou o celular em seu bolso e voltou para seus livros azuis. Havia pílulas que se podiam comprar no guichê agora, pílulas para dormir que funcionavam tão bem, ou melhor, que alguns medicamentos prescritos. Talvez ela parasse na farmácia a caminho de casa. Ruim o suficiente que Cynthia apareceria parecendo como uma modelo de passarela; não havia necessidade para Sarah parecer como cinco meses de mal tempo. Mesmo se ela estivesse morando em Buffalo.

Capítulo 3

Malibu, Califórnia
Raphael ficou em frente ao espelho de corpo inteiro, automaticamente deslizando a longa gravata vermelha de seda por baixo de seu colarinho enquanto ele observava Cynthia se mover distraidamente ao redor do quarto atrás dele. Sua Cyn era uma mulher direta, mas havia momentos… Normalmente quando ela queria algo que sabia que ele resistiria. Ele sorriu, encontrando seus olhos no espelho enquanto ela vinha por trás dele.
— Eu faço isso. — ela disse e deslizou para a frente dele, pegando a gravata e correndo-a através de seus elegantes dedos.
Ele se rendeu de boa vontade, sempre satisfeito quando ela o servia, que não era freqüente. Ela era ferozmente leal. Ela teria, e tinha, matado para defendê-lo. Mas ela não tomou o que em sua época teria sido considerado o trabalho mais feminino. Ele quase riu alto com o pensamento.
Ela capturou a borda do seu sorriso e fez uma careta para ele. — O que você está pensando, vampiro?
— Somente o quanto eu gosto de tê-la arrumando gravata para mim.
Ela olhou duvidosamente. — Aham. — Ela terminou de amarrar a seda e virou o colarinho para baixo. Ela tinha que ficar nas pontas dos pés para alcançar atrás de seu pescoço e ele colocou as mãos em sua cintura, a firmando e a puxando mais perto, apreciando a pressão de seus seios contra seu peito. Ela levantou o rosto para o dele e ele se entregou em uma longa, lenta exploração de sua deliciosa boca, sentindo o calor suave de sua respiração contra sua bochecha.
Seu corpo respondeu ao dela como sempre fazia, seu pau mexendo ansiosamente, tão faminto pelo gosto dela como se eles não tivessem acabado de fazer amor há menos de uma hora. Ele deslizou as mãos de seus quadris para a firme curva de sua bunda, puxando-a mais perto e a deixando sentir sua excitação. — Tentando me dobrar com sexo, minha Cyn?
— Eu não preciso dobrar você. — ela murmurou contra sua boca. — Você já é meu.
Ele sorriu. — É verdade, lubimaya. Por que você apenas não pede o que quer que seja?
Ela ficou rígida em seus braços e o sorriso dele cresceu. — Qualquer coisa que seja? — ela exigiu.
Ele riu alto e ela recuou o suficiente para golpear seu peito, imediatamente alisando o local como se temesse machucá-lo. — Maldito vampiro.
— Ah, mas sou seu, não sou?
Ela envolveu ambos os braços ao redor de seu pescoço. — Eu estava pensando… — ela admitiu lentamente. Ele lhe deu um sorriso convencido e ela fez uma careta para ele. — Eu quero ir à Nova Iorque este fim de semana.
Ele franziu o cenho. — Está nevando lá.
— Mas é Manhattan - shopping, clubes, museus. O que é um pouco de neve?
Ele levantou uma sobrancelha e ela estalou a língua em desgosto. — Tudo bem. Você lembra minha amiga Sarah?
Ele não tinha conhecido muitos de seus amigos, mas o nome… — Aquela do bar? — ele perguntou, em dúvida.
— Essa mesma. Algo - ou alguém - a está incomodando. Eu quero saber o quê. Ela está em Buffalo. — Ela disse com uma careta de desgosto. — Como se isso não fosse o suficiente para colocar alguém para baixo, mas não acho que seja isso. Ou não apenas isso, de qualquer maneira. Vou encontrá-la em Manhattan para um fim de semana.
— Você vai? — Ela olhou para ele e ele acrescentou. — Não posso deixar você ir para Manhattan sozinha, minha Cyn.
Seu olhar virou um olhar de interesse. — Meu pai tem um lugar lá, tenho certeza…
— Eu também tenho um lugar lá. — ele repreendeu suavemente. — Com acomodações muito mais adequadas que seu pai. Mas não é uma coisa simples para mim ou para minha companheira viajar para outro território. — Ele deu um longo suspiro, pensando no pedido de Cyn e como isso poderia servir a um propósito de sua autoria. — Um fim de semana, lubimaya, não mais.
Ela sorriu, ficando nas pontas dos pés novamente para beijá-lo duro na boca. — Eu amo você. — ela sussurrou.
— Eu sei — ele disse presunçosamente.
Ela bateu em seu peito de novo. — Diga.
— Você é meu coração, minha alma, minha vida.
Seus lindos olhos verdes se encheram de lágrimas e ela tossiu para cobrir sua emoção. — Devo falar com Duncan?
— Vou fazê-lo. Arranjos terão que ser feitos com Krystof e Rajmund, que administra a cidade para ele.
Seu telefone tocou e ele se virou para pegá-lo da mesa. — Duncan. — ele disse, respondendo. — Em alguns instantes, obrigado. — ele desligou. — Você tem planos para esta noite?
— Vou lutar com Elke mais tarde e talvez com Mirabelle, em seguida preciso verificar algumas pesquisas na internet que eu tenho feito e enviar alguns relatórios. Nada grave.
— Terei Duncan coordenando com você então. — Ela o agarrou quando ele estava se afastando, empunhando seus dedos no curto cabelo dele e puxando sua cabeça para um beijo profundo e prolongado.
— Poderíamos ficar e ter um sexo selvagem a noite toda, ao invés. Está frio e chovendo lá em cima.
Ele olhou para seu relógio. — Três horas, minha Cyn e então permitirei que você me dobre com sexo até de manhã.
Ela lhe deu um olhar perverso. — Temos um trato.
Ele pegou seu paletó do armário e contraiu os ombros, parando enquanto ela alisava a gravata e ajeitava a gola. — Eu te amo, você sabe disso. — ela disse.
— E eu a você, lubimaya.
Raphael sentou-se na mesa de reuniões, observando enquanto Duncan conduzia o último de seus hóspedes humanos para fora da sala. Ele podia sentir as ondas batendo contra o penhasco abaixo, vibrando no chão sob seus pés. Foi uma das razões pelas quais ele tinha escolhido este lugar para construir sua casa. Ele amava o mar, a energia primitiva, o cheiro e a sensação, o brilho prateado da lua sobre a água negra.
— Meu senhor. — Duncan fechou a porta e atravessou a sala, sentando na cadeira à direita de Raphael. — Correu tudo bem, eu acho.
— Correu, Duncan. Por mais que eu não goste de lidar com seres humanos, este investimento é promissor. — Ele empurrou a cadeira para trás e cruzou suas pernas no joelho. — Diga-me, Rajmund ainda está solicitando uma reunião?
Duncan mostrou sua perplexidade diante da mudança de assunto. — Ele solicita, meu senhor.
— Cynthia quer visitar Manhattan.
Duncan franziu o cenho. — É muito frio lá esta época do ano.
Raphael encontrou os olhos de seu tenente e sorriu. — Minha reação, também foi essa. Infelizmente, Cyn está convencida que sua amiga Sarah está precisando… de uma amiga, acho que se poderia dizer.
— Eu vejo.
— Faça os arranjos Duncan, por favor. Verifique com Cyn a data e use nosso povo para tudo, incluindo a viagem de Sarah. Ela é amiga de Cyn, não minha. Conheço muito pouco sobre ela.
— Eu entendo, meu senhor. E Krystof?
— Eu entrarei em contato com Krystof, mas ambos sabemos quem é o verdadeiro Mestre de Manhattan.
— Devo chamar Rajmund, então?
Raphael assentiu. — Você sabe o que queremos Duncan.
— Meu senhor. — Duncan se inclinou ligeiramente e saiu da sala.
Raphael se levantou lentamente, esticando todo o seu corpo. Ele não tinha planejado uma visita a Nova Iorque tão cedo, mas poderia ser o melhor. Krystof estava em declínio. O que era óbvio. E havia apenas um vampiro entre as crianças do envelhecido senhor que tinha o poder de tomar e manter o território. Era hora de uma nova ordem entre o Conselho Vampiro da América do Norte e que melhor lugar para começar do que com uma aliança entre as duas costas?
Capítulo 4

Nova Iorque, Nova Iorque – Manhattan
Sarah sentou-se no grande SUV preto e observou a cidade através das janelas escuras, sentindo-se um pouco como se estivesse em algum filme com o Serviço Secreto apressando o presidente ao redor da sombria capital estrangeira. Ela continuava esperando que os bandidos saltassem na frente deles com armas em punho. Embora, agora que pensava, ela tinha certeza que o Serviço Secreto poderia ter pedido algumas dicas a esses vampiros.
Havia três SUVs, dois deles, um na frente e outro atrás, entupidos de grandes vampiros sérios. Ela entrou no veículo do meio com Cyn e Raphael, e o tenente de Raphael, Duncan. No banco da frente estavam dois tipos da segurança, incluindo a montanha que Cyn chamava de Juro. Ele era aparentemente o responsável pela coisa toda. Todos os seguranças vampiros estavam usando esses ternos de lã cor carvão totalmente lindos, que tinham de ser feitos sob medida, dada a dimensão física de alguns deles. E quão estranho era isso? O mais moderno em trajes para seguranças vampiros… lã cor de carvão. Até a única fêmea entre eles estava usando um… e ela tinha a aparência de quem poderia quebrar Sarah em duas, e provavelmente podia.
Duncan estava usando a mesma coisa, embora com uma camisa diferente e gravata. E, é claro, a roupa de Raphael provavelmente custava mais que três meses do salário de Sarah como assistente de professor.
Ela olhou para onde o senhor dos vampiros estava sentado, no meio do banco em frente a ela com um braço ao redor de Cyn, suas cabeças juntas enquanto murmuravam um com o outro. Ela tinha que admitir que estava intimidada por ele. Ele era sobrenaturalmente bonito, uma obra-prima da escultura vindo à vida. E embora ele raramente falasse — pelo menos que ela ouvisse — quando ele entrava numa sala, era instantaneamente o centro da atenção. Ele era como um enorme sol cuja gravidade puxava tudo o resto — planetas, estrelas, meteoros de passagem — em sua órbita apenas por existir. Exceto por Cyn. Cyn nunca foi de esconder sua luz embaixo de um alqueire, mas quando ela e Raphael estavam juntos, ambos brilhavam um pouco mais.
E quanto a Sarah, ela tinha certeza que Raphael não a teria notado se não fosse por Cyn. Não porque ele era rude nem nada, mas porque ela honestamente não cruzaria seu radar. O que estava bem para ela, porque em última análise, ele era um cara assustador.
O motorista amaldiçoou abruptamente, pisando no freio quando o SUV à sua frente fez o mesmo. Sarah agarrou a alça do seu cinto de segurança. Ela era a única pessoa usando um. Os vampiros provavelmente não precisavam, e nem Cyn, porque Raphael nunca tirava as mãos de cima dela. Os SUVs arrancaram novamente, disparando através de Manhattan, passando sinais e interrompendo o tráfego com impunidade. Ela supôs que em uma cidade com tantos dignitários, pessoas usavam muito escoltas como essa. Haviam muitas buzinadas, mas então, quando não havia buzinadas na cidade de Nova Iorque? Era provavelmente por isso que era chamada de cidade que nunca dorme, quem poderia dormir com todo esse barulho?
Ela olhou para Duncan, sentado ao seu lado. Ele era o que mais se parecia com um humano de todos os vampiros, mas Cyn assegurou-lhe que Duncan era quase tão poderoso quanto o próprio Raphael. Ele pegou seu olhar e sorriu distraidamente, justo quando os três SUVs viraram num beco atrás de Chopin. O clube mais caro e elegante em Manhattan era propriedade de vampiros. Quem imaginaria? Embora, na verdade parecia bastante apropriado, dado a clientela habitual do clube de elite, que consistia em pessoas que eram famosas pelo simples fato de terem nascido com muito dinheiro para gastarem com elas próprias. Ao contrário daquele povo brilhante, que entrava pela porta da frente à vista de todos os paparazzi — o que era o ponto de ir ao Chopin — Raphael e seu grupo tinham desviado ao redor do bloco para o que aparentemente era uma entrada particular.
Localizada em um beco, era dificilmente uma típica entrada pelo beco. Um toldo de ouro escuro em um material luxuoso e reluzente estava estendido sobre a única porta, com um carpete azul escuro no corredor abaixo. E, ao invés das gritantes luzes do sensor de movimentos como os outros edifícios que tinham passado, um tênue e suave brilho discernia o ouro no toldo e o espalhava pelo beco escuro.
Os SUVs pararam, o veículo de Raphael mais próximo da entrada. Sua segurança pessoal desembarcou primeiro, saindo dos outros dois veículos de escolta. Vários vampiros correram em diferentes direções, obviamente para se certificarem que ninguém estava à espreita nas proximidades, enquanto os outros assumiram a posição de um semicírculo ao redor do SUV. No banco da frente, Juro não se mexeu, a não ser para levar seu pulso à boca um par de vezes. Ele tinha um microfone radiotransmissor lá e Sarah observou que ele estava usando um fone de ouvido também, novamente como os caras do Serviço Secreto. Fascinante.
Sem qualquer aviso, todo mundo estava de repente em movimento. Juro saltou do SUV mais rápido do que Sarah conseguiu seguir. As portas se abriram no edifício ao lado do veículo e no mesmo instante, a porta dos fundos do clube balançou em boas-vindas. Ao contrário do pessoal da segurança, Raphael moveu-se sem pressa, deslizando graciosamente para fora do SUV e estendendo a mão para ajudar Cyn — como se ela precisasse, Sarah pensou sorrindo. Ainda assim, foi doce a maneira como ele esperou, a maneira como ele beijou a mão de Cyn e a girou para a curva de seu braço, os dois rindo. E eles certamente faziam um belo casal, Cyn com sua silhueta abraçando o vestido preto de malha, aquelas longas pernas sobre um par de salto-agulhas de morrer, e Raphael com seu casaco de lã esportivo e calças sobre um cashmere preto de gola alta. Sarah suspirou. Irônico, realmente, que de todas as amigas delas, era a cínica Cyn quem tinha caído por um cara que era obviamente um verdadeiro romântico.
— Ei, Sarah! — A voz de Cyn interrompeu suas reflexões. — Você vem conosco?
Sarah olhou para cima e sorriu. Agora aquela era a Cyn que ela conhecia. — Sim, sim. — Ela se apressou através do banco, conscientemente puxando a saia vermelha curta de seda para baixo sobre suas coxas. Era um lindo vestido. Ela e Cyn tinham-se envolvido em uma pequena terapia de compras hoje, vagando por toda Manhattan, gastando dinheiro. Cyn tinha pressionado Sarah delicadamente sobre o que a estava incomodando, mas ela não era do tipo que insistia muito. Ela própria mantinha muitos assuntos para cavar desprezo em alguma outra pessoa. Ao invés disso, elas tinham compartilhado uma tarde muito agradável, fazendo compras, bebendo café, fofocando sobre amigos em comum. No momento em que voltaram para casa, ela tinha convencido Cyn que estava simplesmente com saudades de casa depois de um inverno inesperadamente longo em uma nova cidade.
Além disso, o dia tinha sido a melhor terapia que ela poderia ter pedido. Ela tinha passado várias horas sem preocupações com uma boa amiga em uma das maiores cidades do mundo, encontrou este belo vestido a um preço fantástico e um par de lindos sapatos para combinar, e nem uma vez se tinha preocupado com aqueles malditos sonhos. E agora ela estava indo dançar em um dos clubes mais badalados de Manhattan.
Mas não havia nenhuma maneira dela ser capaz de sair deste estúpido SUV sem dar uma boa vista a todo o mundo ao redor.
Cyn caminhou de volta para a porta do SUV. — Vamos. Vou bloquear a vista.
Sarah riu, tocando no estribo brevemente antes de pisar num tapete surpreendentemente profundo. Tapete agradável, ela pensou. Demasiado agradável para estar no lado de fora nesse tempo. Ela estava se perguntando se eles o tinham implantado apenas para Raphael, quando seus pensamentos gaguejaram para um impasse enquanto cada pêlo em seu corpo de repente ficou em pé. Sua pele arrepiou quase dolorosamente como se algo muito parecido com uma gigante carga eletrostática tivesse varrido o beco inteiro. — Mas que diabos? — Ela engasgou.
Cyn tomou seu braço, despreocupada. — Vampiros. — ela sussurrou no ouvido de Sarah. — Muitos e também fortes em um só lugar. Eles são como super territoriais. Esta é a cidade de Rajmund — isso é RYE-mund, a propósito, mas eles o chamam de Raj, como Roger — de qualquer forma, é sua cidade, mas Raphael é o vampiro mais poderoso, o que significa que todos os caras da segurança estão no limite. Eles têm esse impulso instintivo de proteger seus mestres. Ninguém está realmente ameaçando ninguém, mas é uma reação automática. Todos eles ligaram seus poderes ao mesmo tempo agora, mas vai acalmar em um minuto.
— Cyn. — a profunda voz de Raphael, suave como mel, chamou-a de volta, e Cyn as apressou para frente, onde ele esperava do lado de fora do clube. Dando tapinhas no ombro de Sarah, Cyn a deixou com Duncan e se aproximou de Raphael, deslizando seu braço no dele e segurando seu rosto para um beijo. Seus lábios demoraram na boca de Cyn antes dele se aproximar e sussurrar algo em seu ouvido, algo que fez Cyn responder com uma gargalhada baixa e sensual que tinha feito cada homem em alcance auditivo virar a cabeça para olhar.
— Isso deve parecer estranho para você.
Sarah olhou para Duncan. — Ele é uma espécie de realeza, eu acho, não é?
Duncan assentiu. — Isso mesmo. Senhor Raphael é um príncipe convidado, ou para ser exato, mais perto de um rei. Existem formalidades que devem ser observadas, particularmente sendo a realeza vampira. Um movimento errado poderia resultar em… considerável violência. Algo que todos queremos evitar.
— Absolutamente. — Sarah concordou fervorosamente. Ela tinha a sensação de que qualquer violência seria muito ruim para uma certa assistente de professor. Ao lado dela, Duncan sorriu, como se consciente de seus pensamentos.
— Uma vez que estivermos sentados no interior, todo mundo irá se acalmar.
— Tudo bem.
— Vamos? — Ele gesticulou em direção à porta aberta por onde Cyn e Raphael tinham desaparecido junto com metade de seus seguranças.
Uma vez lá dentro, eles se moveram rapidamente por um longo corredor e através de uma pequena antecâmara. Ela pôde sentir a baixa vibração de uma batida de porta à sua direita, que era estofada em dobras e enrolada em couro. Isso soava muito parecido com uma batida de coração para Sarah, mas provavelmente era apenas sua imaginação, dada a presente companhia. A porta abriu para dar acesso à música e às risadas, sons típicos de um clube, junto com o zumbido de uma conversa e suaves toques de cristal. Isso era, afinal, Chopin, não algum bar da vizinhança.
Sarah se viu apressando-se no meio do grupo, movendo-se não tanto sob sua própria direção mas sim carregada pela maré geral do movimento. Eles passaram através de outra porta estofada com couro e algum tipo de lounge VIP, com um extenso bar e uma surpreendente pista de dança vazia. Havia algumas mesas contra a parede, mas na maior parte eram banquetas de couro preto livres, com cromo e mesas de café em vidro e uma ocasional cadeira de couro independente. Havia velas sobre a mesa, mas a maioria da luz vinha das arandelas nas paredes, suas luzes eram emitidas em direção ao teto escuro onde quicava de volta para fornecer sombras sutis.
Enquanto Sarah observava tudo isso, ela percebeu que cada olhar do lugar estava sobre eles. A pista de dança estava vazia porque todos estavam focados com uma intensidade quase assustadora sobre Raphael. E ela notou algo mais. Muitos dos observadores eram vampiros, seus olhos brilhavam na sala escura enquanto seguiam o progresso do poderoso senhor vampiro. Seus olhares eram uma mistura de medo e desejo, como se eles não soubessem se corriam por suas vidas ou se jogavam-se aos seus pés.
Um par de portas duplas abriu brevemente na parede distante, permitindo uma explosão de música alta e barulho estridente. E algo mais. A pressão do ar caiu drasticamente, e Sarah teria cambaleado se Duncan não tivesse tomado o seu braço. — E agora? — Ela murmurou.
— Rajmund. — Duncan disse suavemente.

Capítulo 5

Sarah se concentrava em respirar enquanto um enorme vampiro cruzava a sala em direção a eles. Ele era alto como Raphael, mas loiro, com cabelos cortados rente à cabeça e olhos azuis claros em um rosto eslavo tão estereotipado que definia a palavra. Alto, maçãs do rosto lisas, olhos ligeiramente estreitos, uma mandíbula forte e um belo sorriso cheio de dentes brancos. Ele estava vestindo uma roupa elegante e formal, um paletó de smoking e calças, e uma camisa cuidadosamente branca com pregas macias e lisas. Mas o pescoço da camisa estava aberto, o botão de cima desfeito, e a confinada gravata preta estava suspensa, como se ele tivesse acabado de arrebatá-la.
A música ainda estava tocando, mas a pouca conversa que havia estava agora silenciada enquanto todos, humanos e vampiros igualmente, ficaram na expectativa, esperando para ver o que iria acontecer a seguir. Sarah olhou em volta rapidamente, se perguntando se ela deveria estar preocupada. Mas os seguranças de Raphael pareciam despreocupados — ou pelo menos não mais preocupados do que tinham estado toda a noite — e Cyn estava inclinada casualmente contra o lado de Raphael.
Ela virou seu olhar de volta para a nova visita e percebeu que não havia presas naquele sorriso devastador. Nenhum dos vampiros estava mostrando suas presas. Provavelmente algum tipo de protocolo, como não trazer suas armas para a mesa da paz.
Raj parou bem perto do segurança de Raphael e deu ao enorme Juro um sorriso que conseguia ser tanto amigável como desafiador. A pressão contra o peito de Sarah aumentou e ela começou a se perguntar se sobreviveria à parte do cumprimento da noite. Juro não reagiu, a não ser para ficar de lado enquanto Raj deu um pequeno passo à frente e se inclinou ligeiramente. — Meu Senhor.
— Rajmund. — Raphael reconheceu.
Obviamente, vampiros não desperdiçavam palavras, Sarah pensou um pouco irritada e se perguntando quanto tempo isso duraria. Seus novos sapatos eram espetaculares e os saltos de 10 cm faziam maravilhas em suas pernas, mas eles nunca seriam destinados a ficar de pé por aí como agora.
— Por aqui, Meu Senhor. — Rajmund disse suavemente, como se continuasse uma conversa silenciosa. E talvez continuasse. Ela já tinha ouvido rumores de vampiros com habilidades telepáticas, mas não tivera a chance de perguntar a Cyn sobre isso. Para essa questão, ela não tinha certeza se sua amiga lhe diria, mesmo se perguntasse. Havia certas coisas que Cyn oferecia e outras, bem… Sarah podia entender isso. A primeira lealdade de Cyn era para Raphael, depois de tudo.
— E quem é esta?
Sarah olhou para cima e encontrou seu olhar cuidadosamente capturado por um par de frios olhos azuis. Um arrepio de energia faiscou e cada nervo em seu corpo de repente acordou e começou a zumbir alegremente. Ela se forçou a mover-se para oferecer um aperto de mão. Ela sentiu a força dos dedos dele quando estes enrolaram nos seus, superando a mão dela. Ele não era apenas alto, mas grande. Seus ombros, seus braços e tórax eram enormes, afinando para quadris estreitos e coxas musculosas e… oh meu. Sarah sempre tinha gostado de homens grandes. É claro, a maioria dos homens eram grandes comparados a ela, mas ela gostava de homens grandes, o tipo que exala calor, uma energia em espiral que avisava que eles poderiam entrar em ação a qualquer momento. Havia um ar de violência contida em tais homens, uma arrogância de macho alfa que dizia que poderiam atender todas as visitas e tomar conta de cada uma delas. Este, ela disse a si mesma, era um vampiro. De repente ela entendeu o que Cyn tinha estado falando, qual era a sensação de ter todo esse poder e energia concentrado somente em você.
Ele sorriu — um sorriso lento e preguiçoso que sugou em um milésimo de segundo o pouco de ar que tinha em seus pulmões, deixando-a sem fôlego e tentando não mostrá-lo. Algo nos olhos dele disse que ele sabia de qualquer maneira, e ela foi de repente golpeada por vívidas imagens de corpos nus em um quarto escuro. Mas, não. Ele tinha deixado as luzes acesas, então aqueles olhos gelados poderiam beber de cada tremor de seu corpo enquanto ela se contorcia. Jesus, Sarah, controle-se!
Seus olhos brilharam para o rosto dele, e ela percebeu que tinha estado olhando como uma idiota quando ele disse em uma voz rica e sem pressa: — Rajmund Gregor. Raj para meus amigos. — Suas palavras foram profundas e ressoantes, começando em seu baixo diafragma e fazendo uma longa viagem através deste peito maravilhoso até os ouvidos dela.
Seus olhos brilharam com humor e Sarah mordeu seus lábios contra o desejo de ficar ainda mais perto dele, para sentir aquele enorme corpo coberto… O que estava errado com ela? Ela engoliu em seco e conseguiu dar um sorriso apresentável. — Sou amiga de Cyn, Sarah Stratton. — ela disse, e amaldiçoou sua pele pálida quando um rubor aqueceu suas bochechas.
Raj apenas sorriu alegremente e colocou sua enorme mão em suas costas pequenas. — Vamos nos sentar, querida. — ele disse, impulsionando-a através da vigília de Raphael. Um vampiro que Sarah não reconheceu foi adiante e segurou outra porta aberta para eles. Juro desapareceu dentro desta nova sala brevemente, então reapareceu e assentiu.
A sala era claramente reservada para muitas festas privadas. A decoração era muito parecida à do lounge VIP que eles atravessaram, mas o couro era mais suave, as mesas polidas em aço ao invés de cromadas, e o topo dos vidros eram mais grossos e polidos com acabamentos brilhantes.
Raphael e Cyn caminharam até a maior das banquetas tipo sofá — uma curva aberta de couro preto contra a parede, com uma pequena mesa de café em vidro à frente deles. Eles se estabeleceram um ao lado do outro, enquanto Duncan pegava uma cadeira de ferro e couro e se colocava diante de Raphael do outro lado da mesa. Sarah sentou-se do outro lado de Cyn, ignorando o sorriso perverso que Raj mandou em sua direção, prometendo uma noite perigosa pela frente. Ela enfiou-se contra o couro macio e fingiu se importar com a decoração.
O espaço era pequeno o suficiente para se sentir íntimo e acolhedor, ao invés de isolado — um sentimento que era reforçado pela parede em vidro de frente para o lounge VIP. Sarah lembrou-se de ver uma parede preta e envernizada do lounge ao lado. Daqui, no entanto, era um vidro ligeiramente opaco proporcionando uma visão clara de tudo o que acontecia na sala maior. Alto falantes de repente vieram à vida, trazendo o som, a música e o murmúrio de vozes dos convidados do clube — humanos e vampiros — retomaram suas festividades interrompidas.
Um bar completo forrava uma das paredes e Sarah viu filas e filas dos melhores rótulos de várias bebidas alcoólicas, muitas das quais ela reconhecia do bar de seus pais. É claro, isso foi há muito tempo, antes dos sonhos… e o que veio depois. Ela forçou sua memória a ficar de lado, concentrando-se no balde de champanhe de prata esperando no balcão de mogno polido, com o que parecia ser uma agradável garrafa bem gelada de Krug Grande Cuvee. Ela já podia sentir as bolhas contra sua língua. Mas, espere. Vampiros bebiam? Algo além de sangue, quero dizer.
Raj ainda estava de pé, uma mão apoiada no encosto do sofá. — Temos um bar completo aqui, meu senhor. — Raj disse respondendo a sua pergunta muda. — Danny. — ele gesticulou para o vampiro que tinha aberto a porta para eles. Ele era alto e esbelto, suavemente bonito, com uma pele de cor café e uma elaborada tatuagem que enrolava ao redor de seu pescoço antes de desaparecer dentro de sua camisa. Ele assentiu quando Raj disse seu nome, sorrindo para ela com a certeza de um homem que sabia que as mulheres o achavam atraente.
— Danny — Raj continuou — pode conseguir qualquer coisa que você goste. Se não for aqui, certamente será no bar principal. E, é claro, há sangue disponível em qualquer forma que você preferir. — Ele chamou a atenção de Sarah quando disse isso, segurando seu olhar por um momento antes de deixar seus olhos percorrerem seu corpo como uma carícia quente, sobre seus seios e descendo por toda a extensão de suas pernas nuas até aos saltos altos e para cima novamente. Ela estremeceu ligeiramente sob o impacto de sua inspeção e ele sorriu confiante. Danny não era o único vampiro na sala que sabia que as mulheres gostavam dele.
Sarah resistiu ao impulso de arrancar sua saia e se perguntou distraidamente se vampiros funcionavam em pacotes — como todos os vampiros de Raj eram assassinos de senhoras, enquanto todos os de Raphael eram do tipo forte e silencioso como ele era. É claro, as pessoas de Raphael estavam em território hostil, de modo que era provavelmente em parte isso. Mas Raj parecia mais jovem de alguma forma, mais despreocupado. Raphael carregava um ar de tremenda autoridade, uma confiança que ninguém jamais ousaria desafiar. Ela pensava que ninguém desafiaria Raj também, mas era porque ele parecia condenadamente perigoso.
Ela viu Raphael sussurrar algo no ouvido de Cyn. Sua amiga suspirou em aborrecimento, mas se levantou, puxando Sarah com ela. — Vamos, Sarah. — ela disse, apressando-se ao redor da mesa de vidro. — Nós, mulheres, fomos banidas para o bar enquanto os grandes maus discutem assuntos sérios.
Sarah olhou para Raphael, mas sua atenção estava em Cyn, seus olhos brilhando em prata, seus lábios curvados em um sorriso gentil. — Obrigado, lubimaya. — ele disse.
Cyn soltou um suspiro desdenhoso, mas sorriu para ele antes de arrastar Sarah até o bar onde uma taça de champanhe estava esperando com o nome dela.
Raj observou as duas mulheres enquanto atravessavam a pista e subiam nos altos bancos do bar. Ele tinha que admitir que a mulher de Raphael, Cynthia, era deslumbrante. Mas ela era como um animal exótico, algo selvagem e encantador e totalmente imprevisível. Ele tinha a sensação de que ela era um diabinho na cama, mas um monte de trabalho fora dela. Muito trabalho para o gosto de Raj.
Sua amiga Sarah, por outro lado, era outra coisa. Era óbvio que ela se sentia ofuscada pela impressionante beleza de Cynthia, mas isso era uma vergonha, porque ela era uma mulher linda em seu próprio jeito. Se ela saísse para andar pela sala fora desta porta, o olho de cada vampiro seguiria cada pequeno movimento daquela bunda um pouco apertada. Ela era mais baixa que Cyn, talvez uns quatro ou cinco centímetros sem os saltos, mas metade daquilo eram pernas e o resto era tudo curvas exuberantes. Ela tinha coberto seus seios com a seda vermelha de seu vestido, que ela preenchia bem. Bem o suficiente para que ele já soubesse qual seria o gosto quando colocasse sua boca sobre aqueles firmes mamilos que ele podia ver pressionados contra o estirado tecido. Ela correu de volta para o banco do bar, jogando seus longos cabelos loiros sobre um ombro e cruzando suas pernas com um chiado de sua pele suave. Raj sentiu-se endurecendo em antecipação.
— Rajmund.
Raj piscou de volta em atenção imediata. — Meu, senhor. — Ele se sentou no sofá de couro, torcendo um pouco para enfrentar o senhor dos vampiros. Duncan empurrou a pequena mesa de lado e moveu sua cadeira para mais perto, assim os três poderiam conversar.
— Você queria uma reunião. — Raphael disse.
Raj o estudou silenciosamente por um momento. Suas próximas palavras poderiam muito possivelmente condená-lo se Raphael fosse seu inimigo. Raj tinha poder suficiente para derrotar seu próprio mestre quando e se ele decidisse dar este passo. Mas ele não tinha ilusões sobre suas habilidades para derrotar Raphael e ele não podia ter certeza de onde o senhor dos vampiros ficava quando se tratava de seu companheiro membro do conselho. Por outro lado, Raj confiava em Duncan — na medida que ele confiava em qualquer vampiro que não era de sua própria criação. E Duncan tinha incentivado esta conversa.
— Você estava na reunião do conselho no último outono, meu senhor. — Raj disse para Raphael. — Você viu que o Lorde Krystof está … ele não é mais o que ele foi uma vez. Ele enfraquece e todo o Nordeste enfraquece com ele. Já existem vampiros criando suas próprias crianças sem permissão, construindo feudos privados dentro do território.
Raphael franziu a testa. — Eu não sabia que estava assim tão ruim.
— Mas você sabia que algo estava errado.
— Eu suspeitava.
Raj suspirou por dentro. Conversa entre vampiros poderosos era como nadar na lama; não havia caminho limpo e demasiados perigos invisíveis. Cada palavra tornava-se uma arma, e o que foi deixado por dizer geralmente expressava muito mais do que era dito. Por outro lado, a ousadia era uma virtude. — Tempo acaba, meu senhor. Mesmo para os vampiros. Preciso saber se você pretende se manter neutro, como tem feito no Sul.
— E por que eu não ficaria?
— Porque Krystof lhe fez um favor uma vez.
— Ele fez?
— Krystof me contou, meu senhor, como você chegou neste país, como você veio à corte dele e ele permitiu-lhe viajar através da Costa Oeste para estabelecer seu próprio território.
O olhar negro de Raphael focou bruscamente em Raj. Ele arreganhou seus dentes em um lento sorriso, parecendo genuinamente divertido, mas não havia nada amigável nisso. — Você realmente acredita que ele poderia ter me parado, Rajmund?
Raj engoliu sua irritação, ordenando sua própria verdade a partir das fantasias de seu mestre. — Não. — ele respondeu uniformemente. — Não, meu senhor, mas Krystof acredita nisso, e ele poderia chamá-lo se sentir-se ameaçado. Eu me pergunto se você teria uma predileção persistente para o que ele responderia.
— O meu interesse é na estabilidade. Se Krystof é incapaz de manter seu território, isso põe todos nós em perigo.
Raj assentiu, imaginando qual seria a melhor resposta que iria obter. Ele ficou surpreso quando Raphael continuou falando.
— Há muito tempo sinto que deve haver mais cooperação entre os territórios. — ele disse calmamente, cruzando suas pernas e alisando as rugas invisíveis. — Ocorre-me que você e eu temos muito em comum.
— Meu senhor?
— Uma certa visão, Rajmund. Uma abordagem prática para fazer negócios. — Ele encontrou o olhar de Raj diretamente. — Se a ocasião alguma vez surgir, acredito que beneficiaria a ambos, e à população Vampira em geral, se quiséssemos … nos consultar no futuro.
Jesus Cristo, Raphael não estava dando apenas sua aprovação tácita para Raj derrubar Krystof, ele estava propondo uma fodida aliança. Com Raj governando o Nordeste e Raphael todo o Ocidente, eles teriam um longo caminho pela frente para controlar a população Vampira da América do Norte. Os outros senhores do conselho gritariam assassinos sangrentos se eles soubessem. Os senhores nunca cooperavam em nada, isso tornava os negócios com os outros quase impossíveis. Mas se ele e Raphael…
— O que você acha do Sul? — Raphael continuou casualmente, como se ele não tivesse acabado de jogar uma bomba no colo de Raj.
— É quente e pegajoso. — Raj disse, sorrindo. — Mas duvido que isso fosse o que você tinha em mente.
Raphael deu um simples sorriso.
— Fiquei surpreso quando Anthony assumiu o controle. — Raj continuou, em um tom mais sério. — Pensei que ele estava contente com Nova Orleans.
— Ele estava. — Duncan confirmou. — Jabril o deixou ficar em Nova Orleans o tanto que ele quisesse, desde que pagasse tributo. Mas então o furacão destruiu metade de suas propriedades e mais da metade de seu povo.
— Tantos? — Raj disse surpreso.
— Pelo menos. — Duncan disse assentindo. — Ele está sendo muito cauteloso sobre os números específicos, mas não é segredo que ele não teria ido para outro território de outra forma.
Raj franziu a testa, pensativo. — Não conheço Anthony muito bem, mas não teria julgado que ele tem essência para manter o território por muito tempo.
Raphael deu de ombros. — Anthony exige certas intervenções, particularmente com respeito às finanças bastantes complicadas de Jabril. Um dos meus próprios, Jaclyn, é bastante hábil em tais assuntos e está permanecendo no Sul por enquanto.
Raj manteve sua expressão em branco enquanto olhava entre Duncan e Raphael, surpreso novamente pela franqueza da conversa. Raphael tinha praticamente dito que Anthony só foi capaz de manter seu território por causa do apoio de Raphael. Isso significava a prova da nova política de cooperação de Raphael?
— Como você disse, meu senhor, — Raj disse finalmente, acenando para Raphael — estabilidade é a meta para todos nós. Isso seria… inquietante, para dizer o mínimo, se o Sul sofresse outra perda tão cedo.
— Sim. — Raphael concordou, com os olhos levantados para seguir o progresso de sua companheira que tinha deixado seu assento no bar e agora estava retornando para a banqueta. — Lubimaya. — ele disse.
— Acabou o tempo, bonito. — ela respondeu, tomando sua mão e puxando-o para seus pés. — Quero dançar. — ela fez um gesto em direção ao lounge VIP através da parede de vidro. A pista de dança estava novamente cheia de corpos contorcidos, alguns dos quais estavam realmente dançando.
— Meu senhor. — Raj disse, de pé ao lado de Raphael. — Posso deslizar a vidraça inteira, se você preferir.
— Perfeito. — Cynthia decidiu. — Vamos aproveitar a festa!.
Raj olhou para Raphael que deu uma pequena contração de ombro e então balançou a cabeça. Raj assinalou sobre seu ombro para Danny, que alcançou sobre o bar e pressionou os controles, fazendo com que a parede esfumaçada de vidro deslizasse para baixo em um espaço sob o chão.
A música e o ruído caíram sobre eles, junto com cheiro de maconha, suor humano e colônia. O salão estava em pleno balanço, os humanos intoxicados por mais que apenas a corrente livre de álcool. Estas salas VIPs existiam em cada um dos clubes de Raj por uma única finalidade, e isso era sangue. Como as casas de sangue mantidas por Krystof em Buffalo, ou por Raphael em Los Angeles, os lounges VIPs reuniam vampiros famintos e seus dispostos doadores humanos que ofereciam sangue da veia em troca de uma experiência sexual alucinante e a ilusão de dançar com a própria morte. Cada humano que passava através daquelas portas duplas assinava uma renúncia e liberação legal, e a coisa toda era capturada pelo vídeo da segurança como prova de participação voluntária, caso chegasse a esse ponto. Tão recentemente como cem anos atrás, os vampiros simplesmente pegavam o que precisavam. Agora, eles tinham advogados e formas triplicadas, assim como todos os outros.
À esta hora da noite, ou da manhã, toda pretensão diminuiu. Vampiro e humano estavam se reunindo em cantos sombreados, na pista de dança, ou se um casal preferisse privacidade, em um dos vários quartos privados nos fundos. O cheiro de excitação estava em toda parte, junto com a influência poderosa e sedutora de várias dezenas de vampiros à caça. Raj inalou profundamente e lançou seu olhar sobre a doce e pequena Sarah.
Sarah observou Raphael rodopiar uma sorridente Cyn. Eles desapareceram quase que instantaneamente na multidão, como se de alguma forma eles tivessem puxado uma cortina de sombra em torno deles. Ela franziu a testa, tentando ver, mas estava escuro lá, as luzes pareciam mudar quase constantemente fazendo difícil se concentrar em qualquer coisa. Ela pegou um breve vislumbre de um casal em um dos sofás de couro e piscou surpresa. Talvez houvesse uma boa razão para as luzes estarem tão baixas. Ela corou e desviou o olhar rapidamente, apenas para encontrar Raj a encarando do outro lado da sala. Seus olhos se arregalaram e seu coração disparou, e de repente ela se sentiu como um coelho sob o olhar de algo feroz e faminto e plenamente capaz de a engolir inteira.
Raj sorriu aquele sorriso lento e preguiçoso e começou a andar em sua direção com o perambular de um predador nato, seus olhos azuis brilhantes de um glaciar profundo, fixando-a no lugar. Ele estendeu a mão enquanto se aproximava. — Venha, pequena. Dance comigo.
Cada nervo em seu corpo vibrou com excitação e gritou, Sim! Mas ela fez uma careta para ele, irritada. Pequena? Não nesta vida. — Meu nome é Sarah. — ela corrigiu firmemente.
Raj sorriu, quente e sexy e cheio de conhecimento íntimo, como se eles tivessem sido amantes por anos. — Muito bem. — ele concordou. Ele pegou a mão dela e a puxou da cadeira alta, um braço circulando sua cintura quando ela teria tropeçado no movimento brusco. — Dance comigo, pequena Sarah, ele sussurrou contra seu ouvido.
Sarah estremeceu involuntariamente. Ela sabia o que deveria dizer, não. Ele era um bastardo arrogante que achava que aquele sorriso encantador poderia conseguir qualquer mulher que ele quisesse. Ela sabia que deveria agradecer-lhe gentilmente, subir de volta naquele ridículo banco de bar e embriagar-se com champanhe caro, mas antes que seu cérebro pudesse formular as palavras, seu corpo decidiu por ela, inclinando-se para ele enquanto a levava em direção à outra sala.
A música mudou enquanto eles se aproximavam da pista de dança, tornando-se suave e sensual, lenta e deliciosa. Sarah estava curvada no abraço de Raj, sentindo-se pequena e delicada contra seu largo e musculoso peito, rodeada por seus braços fortes. Mesmo com saltos altos, ela não chegava nos ombros dele, mas ele não tinha uma má postura como alguns homens tinham, ou a erguia com seu corpo e a arrastava ao redor da pista também. Ele pegou os dedos da mão direita dela, enrolando-as em sua direita e os segurou perto de seu coração, então deixou cair sua outra mão em suas costas, seus dedos vagando um pouco abaixo. Ele exerceu a mínima pressão e seus corpos estavam se tocando, seus seios contra seu peito, o quadril dele contra sua barriga. Sarah olhou para cima enquanto eles mexiam-se entre os outros casais e encontrou aqueles lindos olhos azuis.
— Coloque seu braço ao redor de mim, pequena. — ele murmurou. —Dance comigo.
Sarah estreitou seus olhos para o carinho, mas deslizou sua mão esquerda sobre seu impossivelmente peito largo, antes de deixá-lo enrolar ao redor de sua cintura.
— Aí vamos nós. — Ele inclinou a cabeça mais perto e começou a balançar gentilmente para a música. — Você cheira deliciosamente. — ele sussurrou.
Ela sorriu para o óbvio duplo sentido e encontrou-se relaxando, verdadeiramente relaxando, pela primeira vez em meses, talvez em anos. Ela fechou seus olhos, deixando descansar sua cabeça contra seu profundo peito, deixando que o fluxo da respiração dele acalmasse-a gentilmente, o ritmo do coração dele batendo abaixo de sua orelha.
Eles se moveram facilmente através da densamente abarrotada pista de dança, circulando ao redor até que estavam quase escondidos em um dos recessos escuros de uma alcova vazia, o veludo macio de uma cortina preta contra o dorso da parede, bebendo e absorvendo a penumbra do salão lotado.
Sarah sentiu a mão de Raj deslizar abaixo até descansar na saliência de sua bunda, sentiu seus dedos pressionarem mais até que não havia nem mesmo o menor espaço entre eles. Ela sentiu a respiração dele contra sua pele enquanto ele se inclinava para beijar sua têmpora, o calor úmido de sua língua, enquanto provocava a curva de sua orelha. Ela estremeceu quando ele beijou a pele sensível abaixo da orelha, seguindo a linha de sua jugular até que ele parou e chupou delicadamente, não rasgando a pele, apenas deslizando sua língua em um círculo como se marcando o lugar.
Ela podia sentir o suave roçar de suas presas contra seu pescoço, o duro comprimento de seu pênis contra sua cintura. Ela levantou seus braços, envolvendo-os sobre seus ombros e ao redor dele, pressionando-se mais perto, esfregando-se contra sua excitação. Raj riu baixinho. — Tão ávida, pequena.
Sarah ouviu-se gemer baixinho, um som tão cheio de fome sensual que ela não podia acreditar que tinha vindo de sua própria garganta. Raj respondeu, rosnando enquanto ele a levantava facilmente, girando-a ao redor e prendendo-a contra a parede. Sua mão deslizou por baixo de seu vestido de seda, pressionando-o até sua coxa e sobre seu quadril. Seus braços circularam o pescoço dele mais uma vez, ela enroscou sua perna nua ao redor do quadril dele e encorajou-o a chegar mais perto, querendo senti-lo entre suas pernas. Raj levantou sua perna mais alto em suas costas, deslizando sua mão debaixo de sua coxa e na umidade entre suas pernas, empurrando para o lado o triângulo ensopado de sua calcinha de seda.
Sarah gritou quando seus dedos grossos deslizaram facilmente em suas dobras escorregadias, penetrando profundamente dentro dela, esticando-a, preparando-a para toda a espessura do pênis que ela podia sentir crescendo cada vez mais duro, mais comprido…
— Sarah?
Sarah piscou e congelou, de repente aterrorizada. Perguntando-se onde…
— Sarah? — Raj repetiu, seus dedos levantando seu queixo gentilmente.
Ela corou furiosamente e recuou, colocando espaço entre eles, sentindo o calor de sua própria excitação, a umidade entre as pernas. A raiva passou através dela e ela olhou para ele.
— Você está bem? — ele perguntou solicitamente.
Ela respirou fundo, certa de que ele tinha feito algo com ela, mas ele parecia realmente preocupado, e ela não queria embaraçar-se acusando-o de … Ela engoliu em seco, tentando desesperadamente esquecer a sensação de sua boca, seu … Oh Deus, eles não estavam escondidos em alguma alcova. Eles ainda estavam na pista de dança. Tudo tinha sido da sua cabeça? — É provavelmente a fadiga do vôo. — ela disse em voz fraca.
— Vamos. — ele persistiu. — Acho que você precisa se sentar. — Ele pegou a mão dela em seus dedos fortes e ela sentiu uma onda renovada de desejo, lembrando exatamente o que aqueles dedos tinham feito entre… Suas pernas estavam tremendo quando Raj a levantou no banco do bar.
— Aqui está. — ele disse, entregando-lhe uma taça de champanhe. — Tome um gole, você vai se sentir melhor.
Melhor? Ele estava louco? Se ela se sentisse melhor, ela seria uma poça de necessidade pegajosa no chão. — Obrigada. — ela disse, tomando um pequeno gole e fechando os olhos, sentindo as bolhas comichando todo o caminho até sua garganta.
— Diga-me onde estávamos. — ele murmurou contra seu ouvido. — O que estávamos fazendo.
Seus olhos se abriram e se estreitaram suspeitosamente. — Não sei o que você quer dizer.
— Sim, você sabe. — Ele sorriu provocadoramente. — Você sussurrou meu nome.
— Não fiz isso!
Ele sorriu, um som puramente masculino, cheio de sexualidade confiante. — Você nunca foi a uma casa de sangue antes? — ele perguntou.
— O que é uma casa de sangue?
Raj ergueu o queixo, apontando para a pista de dança. — Isso, querida. Sangue e sexo para ser tomado… e doado.
— Oooh. — ela disse e sentiu seu rosto queimando com vergonha renovada. — Eu não sabia. Sinto muito…
— Não se desculpe. — ele disse alegremente. — Eu aproveitei muito isso.
Ela olhou para ele rapidamente, perguntando-se o que…
— Nada aconteceu, Sarah. Você apenas deixou-se levar enquanto dançávamos. Eu estaria insultado… — ele baixou sua voz. — …mas desde que você estava sonhando comigo…
Sarah lhe deu um olhar enojado.
— Você sabe… — Raj continuou, sua diversão era óbvia. — Eu fico em Buffalo de vez em quando. Talvez nos encontraremos novamente.
— Talvez não.
— Ah, agora. Coisas estranhas têm acontecido.
— Não para mim. — ela murmurou. Ela lembrou de repente de seus sonhos sobre mulheres atormentadas e estremeceu, sabendo que não era bem verdade.
Raj franziu a testa e se aproximou, colocando uma de suas enormes mãos em seu braço. — Você está com frio, querida?
Ela sentiu lágrimas inexplicáveis pressionando contra o fundo dos seus olhos e baixou a cabeça para que ele não visse, focando a taça de champanhe que ela ainda estava segurando. — Estou bem. — ela mentiu. — Apenas cansada. Não estou em pé normalmente até tarde. Vivo uma vida muito chata em Buffalo.
— Temos que mudar isso então, não temos?
Sarah tomou outro gole de seu champanhe agora quente e se perguntou o que ela realmente queria. Voltar para Buffalo, tudo o que ela queria é que as coisas voltassem ao que eram, a maneira como elas estavam antes dos sonhos virem. Mas agora… Ela ouviu Cyn e Raphael voltarem da pista de dança, os ouviu rindo um para o outro enquanto se sentavam nas banquetas. E ela sentiu a sólida presença de Raj ao seu lado, o conforto de ter um protetor, mesmo que por pouco tempo, alguém que ficasse entre ela e o resto do mundo.
E de repente ela não tinha mais certeza do que ela queria.
Na noite seguinte, Sarah abriu a porta do grande SUV e saiu, andando ao redor dos fundos onde um dos vampiros de Raphael estava esperando com sua pequena maleta rolante e uma mala suspensa com seu vestido vermelho. Ela pegou a mala e a colocou no braço, correndo uma mão pela capa de náilon como se acariciando o vestido. Ela olhou para Cyn que esperava para dizer tchau. — Provavelmente nunca usarei isto novamente, — ela disse pensativa.
— Há sempre a festa de Natal na faculdade.
— Meus colegas teriam apoplexia e suas mulheres estariam convencidas de que estou tentando roubar seus maridos pálidos e gordinhos.
Cyn riu. — Soa como um grupo encantador. Irei te visitar algum dia. Sarah acrescentou seu próprio sorriso. — Você morreria de tédio antes mesmo de sair do aeroporto. — Ela olhou para cima e encontrou os olhos verdes da amiga. — Obrigada, Cyn. Divertime imensamente.
Cyn a estudou por um momento. — Me liga, Sarah. Se você precisar de qualquer coisa, você me liga, tudo bem? Mesmo que seja apenas para uma voz amiga.
— Eu irei. — Ela abraçou Cyn, em seguida agarrou a manivela de seu estojo de noite. — Tenho que ir andando ou perderei meu vôo.
— Se cuida. — Cyn a beijou na bochecha antes de caminhar de volta e deslizar no SUV. Sarah parou para acenar desajeitadamente em volta de sua bagagem e viu o braço de Raphael circular o ombro de Cyn e a puxar mais perto, como se apenas aqueles minutos separados tivessem sido demais.
Ela ficou parada e observou até que eles tivessem ido, então marchou para o terminal enquanto as portas automáticas moviam-se rapidamente em frente a ela. Ela tinha uma vida esperando em Buffalo. Talvez não a que ela teria escolhido, talvez nem mesmo a que ela tinha planejado quando aceitou o cargo lá. Mas pelo menos eles não a trancavam à noite. Ainda não, de qualquer maneira.

Capítulo 6

— Então, o que ele disse?
Raj descansou os cotovelos no parapeito do último andar, ignorando a pergunta para olhar melancolicamente a movimentada rua de Manhattan, 35 andares abaixo. Ele se inclinou e olhou atentamente, pensando que tinha visto uma mulher de vestido vermelho. Ele riu de si mesmo. Sarah Stratton estava muito longe, de volta para seus livros e salas de aula. Ela tinha razão sobre uma coisa. Ele provavelmente nunca a veria novamente. O que seria uma vergonha, ele decidiu e imediatamente se perguntou por que tinha pensado nisso.
— Raj?
Ele virou um olhar frio sobre seu persistente gerente do clube. — Como está indo o novo clube, Santos?
— Ótimo. Estamos captando todos os excessos de Chopin, ainda mais com o novo lugar. Mas temos que falar sobre esta outra coisa, Raj.
— Você quer falar com alguém, contrate um terapeuta.
— Droga, eu pensei… — Suas próximas palavras foram cortadas quando Raj o agarrou por sua garganta e o levantou de seus pés.
— Temos um problema, Santos?
Santos tentou responder mas apenas murmurou sem palavras. Raj abriu sua mão e o deixou cair no chão, onde ele permaneceu, agachado de quatro e tossindo furiosamente.
— Perdoa-me Mestre. — Santos finalmente conseguiu dizer.
Raj lhe deu um olhar de desprezo. — Saia da porra da minha frente.
Santos começou a ficar de pé, mas um olhar de Raj o fez ir se arrastando os vários metros da porta até à escadaria antes de descer os degraus a tropeçar.
Raj fez uma careta, ouvindo os barulhos metálicos dos passos do vampiro desaparecerem. Ele voltou a sua leitura cuidadosa da rua abaixo com uma desgostosa maldição. — Odeio essa maldita porra de vampiro. — ele disse.
— Mas você faz isso tão bem. — A voz da mulher estava misturada com diversão. Ela saiu das sombras e se inclinou sobre o corrimão, juntando-se a ele em sua contemplação do tráfego distante. — Ele apenas estava perguntando o que todos queremos saber, você sabe. Passaram duas noites desde que Raphael o deixou e você ainda não disse uma palavra. Estamos curiosos.
— Você também, Em?
A tenente de Raj encolheu os ombros. — Eu especialmente.
Raj suspirou. — Vocês são todos ansiosos, talvez um de vocês deva cuidar de Krystof ao invés.
Emelie riu. Era um som baixo e sensual. — Ele me comeria viva. Você é o único Raj, e todos sabemos disso. — Ela olhou por cima e para longe antes de reverter para se encostar contra o metal frio.
— E se eu não fizer isso? — Raj perguntou em voz baixa. — E se eu decidir não me livrar do velho?
Ela deu outro gracioso encolher de ombros. — Sou sua Raj, corpo e alma. Você me fez. Você me possui. Minha lealdade é sua se você ficar com o que tem ou assumir Krystof e todo o Nordeste. — Ela fez uma pausa para se apoiar mais perto. — Mas também sou sua amiga. E como uma amiga, preciso entender o que está acontecendo para que eu saiba se preciso estar ou não preocupada. Você e eu sabemos que Krystof não vai durar muito tempo. Se você não quiser tirá-lo, alguém o fará, e depois teremos uma luta em nossas mãos porque quem quer que seja irá querer esta cidade para si mesmo. Krystof pode se contentar em apodrecer em Buffalo, mas ninguém mais fará.
Raj estudou a linda mulher que de alguma forma teve a força para tornar-se sua tenente em um mundo cão-come-cão da política vampira. Ela quis dizer o que disse sobre ser sua amiga, e sua lealdade o tocou em algum lugar que ele não queria admitir. — Você sabe. — ele disse. — Raphael disseme praticamente que pensava que Krystof está senil. O mesmo fez Duncan.
O rosto de Emelie mostrou sua surpresa. — Pensei que aqueles caras fossem mais cautelosos.
— Sim. Isso fica melhor. Ele me ofereceu uma aliança uma vez que eu tome o território.
— Desculpe-me?
Raj riu. — Essa foi praticamente a minha reação, também. Ele não foi tão brusco, é claro, mas o significado foi malditamente claro.
Em absorveu esta nova informação. — Bem. — ela disse finalmente. — Você é a escolha óbvia. Quero dizer, se ele pensa que Krystof precisa partir, você é mais forte que qualquer um lá fora, e você conhece o território.
— Sim. — Raj suspirou. — E tenho certeza como o inferno que não vou voltar atrás e deixar alguém mover-se sobre nós, então eu acho… — Seu celular tocou, tocando uma melodia inconfundível que só podia significar uma coisa. — Porra. — Ele xingou e arrancou o telefone do bolso.
— Meu lorde. — ele respondeu.
— Rajmund. — seu Criador, o Lorde Vampiro Krystof, disse sedosamente. — Como foi a visita?
— Muito bem, meu senhor.
— Excelente. Você pode me contar tudo quando chegar aqui.
— Meu senhor?
— Algo está se aproximando, Rajmund. Preciso de você em Buffalo por um tempo.
Raj franziu a testa, se perguntando o que o velho estava aprontando. Krystof tinha dado a Raj o rico território ao redor da cidade de Nova Iorque por uma razão. Isso o manteve feliz, e longe de Buffalo. Claro, o velho estava curioso sobre a visita de Raphael, mas eles poderiam lidar com aquilo por telefone. Então por que ele estava sendo chamado de volta agora?
— Alguma coisa, meu senhor? — ele perguntou.
— Algo um tanto feio.
— O que…
— Você descobrirá quando chegar aqui.
Raj estava tentado a perguntar que tipo de problema poderia chegar na porra de Buffalo que os lacaios habituais do velho não poderiam lidar. Mas isso chegava muito perto da rebelião, e ele não estava pronto para mostrar seu lado ainda. — Muito bem, meu senhor. — ele cerrou seus dentes. — Posso voar no primeiro crepúsculo amanhã…
— Voe esta noite, Rajmund.
— Meu senhor…
— Você tem um jato particular. — a voz de Krystof se tornou petulante. — Use-o. Vejo você uma hora após o pôr do sol de amanhã, e espero um relatório completo sobre seu visitante. — O velho desligou.
— Merda!
Emelie apenas olhou para ele. Sua audição vampira teria lhe dado os dois lados da conversa, o bastante para entender a raiva de Raj. — Estamos indo para Buffalo?
— Nós não. Preciso de você aqui. Não confio em mais ninguém, e além disso, não quero Krystof sabendo sobre você ainda, não oficialmente. Ele pode estar senil, mas ele não é cego.
— Você não pode ir lá sozinho, Raj. Pelo menos pegue alguns dos guardas com…
— Sou capaz de me defender, Emelie. Além disso, não deveria ter guardas.
— Ele deve saber que você está fazendo suas criações. Seus espiões…
— Seus espiões podem relatar tudo o que quiserem, mas se eu me mostrar cercado por minhas próprias crianças, ele fará algo sobre isso. Não estou pronto para pressioná-lo ainda. Irei sozinho. Ligue para o aeroporto e prepare o jato. — Ele calculou as horas restantes de escuridão e xingou suavemente. Foda-se aquele velho homem. — E lhes diga que estou a caminho.

Capítulo 7

Buffalo, Nova York
Estava frio. Tão frio. Regina tremeu em seu fino casaco, desejando que ela tivesse se preocupado mais com permanecer quente quando ela se vestiu para a despedida de solteira de Katie do que com a boa aparência. Nota para si: da próxima vez que você for seqüestrada, vista um casaco decente. Sua risadinha desesperada tornou-se num soluço de terror quando a pesada porta de metal tilintou aberta mais uma vez, enviando tremores pelo piso de concreto. Ela se empurrou contra a parede, sentindo o frio duro da estrutura de metal da cama contra a parte baixa de suas costas. Ela havia escutado alguém chorando novamente ontem à noite. A porta de uma cela havia ressoado quando fora aberta e ela estava tão agradecida que não era por ela que eles tinham ido, tão desesperadamente feliz que ela não era a que estava a chorar, implorando.
Ela pulou com o som de metal contra metal, fechada na escuridão. Sua porta abriu e uma luz difusa veio do corredor, perfurando seus olhos que haviam se acostumado à quase total escuridão de sua cela. Um homem preencheu o batente estreito da porta, uma silhueta escura com ombros largos e uma cabeça quadrada com olhos brilhando na luz fraca. Ela saiu tropeçando da cama e foi para um canto, apertando seus joelhos junto ao peito, seu corpo inteiro tremendo com a força da batida de seu coração. Ela fechou seus lábios com força, recusando-se a emitir um som.
— Eu sei que você está aí, menininha. Você não pode se esconder de mim.
Um grito de desespero escapou de seus lábios e ela escutou-se soluçando igual às outras, implorando. — Não, por favor. — ela sussurrou, encarando-o. — Não eu.
Seus protestos se desmoronaram quando ele se aproximou, seus olhos perfurando os dela, embaçando sua mente com algo grudento e quente. A luz do corredor foi sumindo até não haver nada a não ser seus olhos, sua vontade, seu desejo. Ele se esticou para alcançá-la, e de algum lugar profundo ela gritou.
Sarah rolou para fora da cama, sem ao menos parar para ligar as luzes em uma corrida cega para o banheiro. Ela caiu de joelhos e vomitou, seu estômago arfando incontrolavelmente enquanto ela agarrava os lados do vaso sanitário, procurando por ar.
Lágrimas rolavam por suas bochechas e ela implorou silenciosamente. Não, de novo. Por favor, Deus, não de novo.
Ela se encolheu no chão ao lado da porcelana fria, seu estômago vazio, e sua garganta queimando. Repelida pelo cheiro, ela abaixou a tampa do vaso, se esticou e puxou a descarga. Empurrando-se novamente contra a parede, ela se içou até sentar-se na tampa fechada e abriu a torneira da pia, derramando água em seu rosto superaquecido, ignorando a água que se derramava por cima das bordas e nos ladrilhos de linóleo. Ela agarrou uma toalha da prateleira e cobriu o seu rosto, se inclinando para frente até que sua testa tocou seus joelhos.
Era tudo tão familiar, o isolamento, o frio, cada batimento cardíaco como um tambor contra a sua caixa torácica, cada respiração tão alta quanto um berro no silêncio mortífero de seu cativeiro. Theresa Bracco, a adolescente do oeste de Los Angeles, e Julie Seaborn, uma mãe de dois filhos de Hollywood… e outras, as outras sem nome que tinham assombrado seus sonhos. Aquelas que ela tentava ignorar. Ela lembrava-se de todas.
E ela se lembrava do que tinha acontecido quando foi até seus pais procurando ajuda.
A instituição para que eles a tinham mandado era mais um internato do que um hospício — exceto pelas fechaduras das portas. Ela tinha quinze anos quando entrou por aquelas portas, e ela não havia saído novamente até o seu aniversário de dezoito anos, quando, como uma adulta sob as leis da Califórnia, ela fugiu dos carinhosos cuidados de seus pais e se reinventou. Um novo nome, uma nova cidade, uma nova vida. Faculdade, pós-graduação, um emprego. Igual a todo mundo. Ninguém sabia quem ela realmente era. Ninguém. Nem mesmo sua boa amiga Cyn sabia a verdade sobre Sarah Stratton. Não havia nada para diferenciá-la de milhões de pessoas que iam para o escritório ou para a escola, que trabalhavam bastante e dormiam seguros em suas camas toda noite. E isso era o que Sarah queria.
Mas agora os sonhos estavam de volta, e com eles vinham as memórias de todas as mulheres que choraram em seus pesadelos e agora espreitavam como fantasmas, vistos vagamente nos cantos de sua mente.
Ela ficou de pé e abriu o armário espelhado, tirando sua escova e pasta de dentes com movimentos rápidos e determinados. Ela não podia fazer isso de novo, ela decidiu firmemente. Ela não faria isso de novo. Este não era apenas um documentário dramático na televisão. Esta era a sua vida. Os anos trabalhando em dois empregos para conseguir terminar a faculdade e pós-graduação, fazendo-se inteira a partir do zero, do nada. Lágrimas frustradas e desamparadas encheram seus olhos. Ela deixou-as vir até que quase se engasgou com a pasta de dentes. Ela cuspiu de qualquer jeito na pia e enxagüou sua boca, então se forçou a ficar reta. Ela olhou para o espelho, vendo o reflexo rosa e dourado do nascer do sol apenas visível entre as lâminas de sua persiana. E ela não podia evitar se perguntar se Regina estava vendo o mesmo nascer do sol, se aquele porão imundo tinha alguma janela em algum lugar, um pingo provocador de liberdade para ela e para as outras. Aquelas que ela podia ouvir chorando no escuro.

Capítulo 8

Raj fez uma curva acentuada para o beco sem diminuir a velocidade, sentindo a extremidade traseira do seu grande BMW Sedan derrapar de leve sobre o pavimento escorregadio. Estava naquela época do ano em Buffalo quando o tempo não conseguia se decidir se era inverno ou primavera, quando um dia podia trazer uma última trincheira de tempestade de neve e no outro uma rápida subida de temperatura que descongelava mas que podia recongelar durante a noite em um gelo escorregadio. Esta era uma das razões para ele odiar esta cidade. Muito fria, muito molhada, muito ventosa. E também malditamente morta, até mesmo para um vampiro.
Ele socou o controle preso ao visor do carro logo que ele virou. Quando ele chegou à garagem, o portão estava totalmente aberto e ele deslizou o grande sedan para dentro do estreito espaço, fechando o portão atrás dele antes mesmo de desligar o motor. Ele estava ultrapassando os limites e sabia disso. Ele deveria ter ficado esperando no aeroporto, mas ele odiava dormir em um espaço público, mesmo que fosse um bem seguro. Ele nunca se havia sentido seguro a menos que ele estivesse atrás de sua própria porta, com seus próprios seguranças. Ele havia conhecido muitos vampiros que haviam confiado em outros e não estavam mais por aí para lamentar as suas tolices.
A garagem estava praticamente na escuridão, mas isso não era um problema. Vampiros podiam ver tão bem no escuro quanto podiam ver na luz, talvez até melhor. No escuro, a pessoa via somente o que era necessário. Com luz de lâmpadas, a pessoa podia ser distraída pela beleza ou por banalidades.
Sentindo-se poético esta noite, Raj?
Ele resmungou por seus próprios pensamentos inúteis. Era mais manhã do que noite nesse momento. Ele tinha apenas alguns momentos para entrar ou estaria dormindo no chão da garagem ao lado do seu carro, e não havia nada poético sobre isso.
A porta interna fechou atrás dele com um baque pesado, bloqueios deslizaram pela casa automaticamente. Ele andou diretamente para o painel de segurança, rearmando-o com a sua impressão digital e um código de seis dígitos.
O seu covil em Buffalo era em um pequeno depósito, cinquenta pés de lado e cerca de três andares de altura, ecoando no vazio e iluminado apenas pelo brilho verde do LED do painel de alarme. Este era o seu lugar privado, um lugar que Krystof não conhecia. Raj podia odiar esta cidade, mas ele vinha aqui com bem mais frequência do que o lorde vampiro estava ciente. Ele cruzou o piso de concreto para uma escada curta que ia para o subsolo. Dez degraus, uma virada e cinco passos mais e havia outra porta pesada, outro painel de segurança. Um código diferente de seis dígitos e outra porta se abriu com uma corrente de ar quente.
Raj empurrou com os ombros a escotilha com formato de cofre, deixando seu próprio peso balançar a fechá-la atrás dele. Havia luz aqui, um brilho dourado ofuscante que se levantava automaticamente para tocar escuro mobiliário e trazer à tona as profundezas de uma cor rubi e um tapete cor de vinho. O quarto era espaçoso, cobrindo dois terços da metragem quadrada do depósito acima. Uma enorme cama personalizada dominava a esquerda, os lençóis perfeitamente dobrados pelo próprio Raj da última vez que ele havia passado a noite. Em cada lado da cama estava uma escura mesa de mogno, e contra a parede, uma cabeceira antiga de camurça de cor sangue. Um sofá e duas cadeiras de couro preto qua combinavam, estavam situados à direita, ao lado de um bar totalmente abastecido. Ao contrário da lenda, vampiros podiam tanto beber quanto comer, embora eles não ganhassem nenhuma nutrição disso e a comida tinha pouco sabor. Bebida, por outro lado, tinha o mesmo bom sabor que sempre teve. Poderia não ter o mesmo efeito, mas para um homem nascido e criado na Polônia, o gosto da vodka era tão natural quanto respirar. Que era outra coisa que as lendas tinham errado; Raj estava tão vivo e respirando quanto qualquer humano andando nas ruas à luz do sol. Com algumas melhores bem úteis.
Ele teria gostado de uma dose de vodka gelada nesse momento. Infelizmente, chegar ao pequeno aeroporto nos arredores de Manhattan havia demorado mais do que deveria, e apesar do vôo curto, o sol já estava começando a explodir por cima do horizonte. Ele podia sentir a urgência do dia que estava nascendo em cada célula de seu corpo. Eventualmente ele iria sucumbir ao seu efeito — as lendas acertaram nessa parte — mas ele era velho o bastante e suficientemente forte para resistir à queda para a inconsciência por enquanto. Ele deliberadamente demorou, verificando o painel de segurança e inserindo um código final para trancar tanto o depósito acima quanto o quarto em que estava. Ele estava tirando suas botas quando a luz do dia finalmente começou a sugar a sua consciência. Com seus últimos fios de consciência, ele caiu na cama, tirando o restante de suas roupas e puxando as cobertas. A última coisa que ele sentiu foi o deslizar dos lençóis limpos contra a sua pele nua.

Capítulo 9

Sarah acenou seu agradecimento ao atendente enquanto pegava seu café com leite. Ela fez seu caminho através da matutina multidão faminta por cafeína e saiu da cafeteria. O ar frio a atingiu como uma parede após o calor do lado de dentro, e ela tremeu de leve, puxando seu casaco bem fechado com uma mão, sendo cuidadosa para não derrubar a bebida quente. O tempo estava bom o suficiente recentemente que até a cafeteria havia retirado as mesas com guarda-sol de seu galpão de inverno. Ela se deixou cair em uma das cadeiras geladas de metal, grata pela pesada lã de seu casaco. Ela pegou sua cópia do jornal local, The Buffalo News. Não era o New York Times, mas se uma pessoa quisesse notícias locais, este era o jornal a procurar. E o que Sarah estava procurando era considerado bastante como notícia local.
Ela tomou um gole de sua bebida e abriu o jornal, quase engasgando quando viu a página da frente. Ela fechou o jornal de uma vez e recostou-se na cadeira. Deliberadamente erguendo seu copo, ela tomou um gole, e então outro, vendo os carros passarem pela Rua Elmwood, vendo mães com seus bebês em carrinhos gigantes manobrando pela porta da cafetaria para se reunirem em um canto distante lá dentro e trocarem histórias de fraldas sujas e noites sem dormir. Seus olhos vagaram pelo parque do outro lado da rua, onde um balanço esperava desamparadamente, seus assentos pendurados vazios em suas pesadas correntes, um deles era um assento para bebê, seu assento de segurança se inclinando desigualmente, a corrente dobrada em algum lugar acima.
O ar frio da primavera pinicou seus pulmões quando ela respirou fundo e colocou seu copo na mesa, descansando sua mão por um momento no jornal dobrado, seus olhos fechados em resignação. Ela suspirou e abriu seus olhos e o jornal.
A história estava na primeira página abaixo da dobra, juntamente com uma foto em preto e branco de uma garota bonita com cabelos pretos encaracolados, um rosto fino e o sorriso de uma criança que sabia que era amada. Sarah encarou aquele sorriso e se perguntou como ele se pareceria agora.
Patrícia Beverly Cowens, chamada de Trish, o artigo dizia, dezoito anos e aluna do primeiro ano na universidade. Ela tinha ido a uma festa no Domingo à noite, duas noites atrás, e não havia sido vista desde então. Sarah fez uma careta e lembrou. Seu primeiro sonho tinha sido há quase uma semana, bem antes que Trish desaparecesse. Ela nunca soube ao certo, mas sempre tinha acreditado que seus sonhos aconteciam em tempo real. E agora, lendo sobre Trish Cowens, ela estava certa disso. Em seu sonho na noite passada, Regina havia — Sarah nem sabia como chamar. Como você descreve estar na cabeça de outra pessoa, no pesadelo de outra pessoa? Regina havia lembrado de ouvir seu sequestrador trazendo alguém novo, uma nova vítima, no que facilmente poderia ter sido Domingo.
Sarah cerrou suas mãos contra o desejo de bater na mesa. Se ele tivesse levado Trish, isso significava que já era muito tarde para Regina? Por favor, ela implorou para qualquer deus que pudesse estar escutando. Por favor, não deixe Regina ser morta.
Ela fechou seus olhos contra um desespero quase sufocante. Eu não posso fazer isso, ela pensou desesperadamente. Não de novo. Mas ela tinha que fazer isso, não tinha? Porque não havia mais ninguém. Sentindo o destino rindo por cima de seu ombro, ela pegou o jornal de novo.
O Comissário de Polícia havia presidido à entrevista coletiva, o que lhe pareceu estranho até ler mais e descobrir quem era o pai de Trish. William Cowens, um bilionário por esforço próprio, amigo de presidentes e estrelas de cinema. De uma maneira pervertida, ela pensou amargamente, era sorte que Trish fosse a vítima mais recente. Não por a Trish claro, mas pelas outras, sendo que o pai de Trish tinha influência para fazer as coisas acontecerem. Sarah continuou lendo. Como sempre, a polícia foi bem circunspecta nas informações que eles liberaram. Sarah havia esperado alguma menção sobre Regina, alguma confirmação de que havia outras mulheres desaparecidas. Mas não estava lá. Então, talvez este fosse um caso isolado. Talvez alguém havia sequestrado Trish por um resgate, ou até mesmo por aquela robusta recompensa que o pai dela estava oferecendo. Talvez a própria Sarah estivesse vendo um assassino em série onde não existia e Regina era apenas fruto de sua imaginação, um resultado de muito estresse e pouco sono. Era possível, não era? Ela suspirou. O que significa quando nem ela acredita mais em seus próprios raciocínios?
Ela passou pelo resto do artigo, e parou bruscamente quando viu o nome do porta-voz do Cowens. Ela encarou as palavras, incapaz de acreditar no que estava vendo. Quais eram as chances? Ela se perguntou. Edward Blackwood. Umas das poucas pessoas que podia conectar Sarah Stratton a uma adolescente da Califórnia, e estava aqui em Buffalo.
Não que a presença de Blackwood fosse surpreendente, dada a rede de contatos de William Cowens. Blackwood era um prodigioso arrecadador de fundos para a Humanity Realized, que era um instituto que ele havia fundado com o propósito anunciado de facilitar a ‘conquista total do potencial humano’, o que diabos isso significasse. Ele esteve interessado em Sarah uma vez, tinha oferecido a seus pais uma bolsa de estudos completa em troca de sua cooperação. Infelizmente para ele, seus pais não queriam dinheiro. O que eles queriam, e o que ninguém, nem mesmo a Humanity Realized, podia dar para eles, era uma filha normal, uma que não canalizasse mulheres traumatizadas quando estivesse dormindo. Sarah só sabia que não queria ser o rato de laboratório de ninguém, especialmente não do Edward Blackwood. E agora ele estava aqui, justo quando seus sonhos estavam começando novamente.
Sua participação no caso complicava infinitamente a vida de Sarah. Se ela tinha-se mostrado indecisa sobre se envolver antes, a presença dele só aumentava isso. Ela não queria que ele ou os tablóides reportassem cada movimento seu. Ela teria achado graça se não fosse tão trágico. Ele era a única pessoa que garantidamente acreditava em seus sonhos, e ele era o único homem com quem ela não queria ter nada a ver.
Ela ficou de pé abruptamente, jogando seu café com leite meio cheio na lata de lixo e o jornal depois. Ela andou pela calçada em direção ao seu escritório, determinação em cada passo. Ela tinha uma aula para dar, uma vida para viver. A polícia estava investigando. Eles não precisavam de Sarah nem de seus sonhos.
O estacionamento da faculdade estava apenas meio cheio naquela tarde quando Sarah voltou para o seu carro, desviando habilmente das poças de gelo derretido que estavam ao lado do lugar onde estacionou. A promessa de sol no início do dia havia-se realizado, e agora mesmo o ar parecia quase quente. Ela ergueu seu rosto para a fraca luz do sol e desejou que ela pudesse apenas se mandar, talvez dirigir até ao campo, parar para um sanduíche e sentar em uma mesa de piquenique, desfrutando desse primeiro sinal verdadeiro de primavera porque ela tinha certeza que não iria durar. Aparentemente não havia meio-termo nesta parte do país — ou você estava congelando a sua bunda ou derretendo em uma grande e borbulhante poça.
Pare de reclamar, Stratton. Você tem um emprego, não é? Às vezes ela sentia-se culpada por isso. Tantos amigos seus da faculdade estavam lutando para conseguir algo, pessoas com famílias e obrigações, enquanto ela tinha conseguido uma posição principal em uma universidade decente. Trabalhos como esse eram difíceis de encontrar, mas mesmo assim, ela algumas vezes se perguntava o que estava fazendo aqui. Não era que não gostasse de ensinar. Ela gostava, apesar de saber que a maioria dos seus alunos via as suas aulas como um mal necessário, algo para preencher o espaço requerido no seu caminho para qualquer carreira que tenham escolhido — faculdade de direito para muitos deles. Como se o mundo precisasse de um novo lote de advogados todo ano. E não era que não gostasse da parte da pesquisa envolvida. Ela amava história, amava descobrir pedaços obscuros de conhecimento sobre pessoas e eventos há muito passados. O que não gostava era o tipo de pesquisa que ganharia seu mandato— as notas de rodapé e as críticas literárias, as apresentações e as conferências, com sua satisfação barata e puxação de saco. E as políticas acadêmicas eram um mundo isolado — calúnias elevadas à mais fina arte.
Ela cruzou a fronteira entre a passagem e o estacionamento, seu cérebro registrando a mudança na textura sob a sola de suas robustas botas de salto plano. Ela lembrou-se de seu vestido vermelho do final de semana, com seus saltinhos fininhos que o Raj havia admirado tão abertamente. Quando diabos eu comecei a usar botas robustas? Ela se perguntou com um suspiro. Provavelmente desde a primeira vez que tinha caído de bunda na neve molhada. Mas seja lá o que fosse, a primavera estava aqui e era hora de parar. Amanhã, ela estaria usando seus saltos novamente.
– Boa tarde, Professora Stratton!
Sarah pulou para fora de seus pensamentos e se virou com um sorriso para a sua melhor, e talvez única, amiga no campus. — E uma ótima tarde para você também, Professora Hoffman. Você está bem longe de suas rondas habituais. — Linda Hoffman tinha um horário temporário em História da Arte, cortesia de seu marido Sam que era como uma estrela no Departamento de Arte.
— Isso é porque eu estava procurando por você. Você virá para o aniversário do Sam na quinta-feira à noite, certo? E não me dê desculpas sobre trabalhar, — ela acrescentou, antecipando a resposta de Sarah. — As férias começam na sexta-feira, então eu espero que você apareça e fique bêbada como o resto de nós.
— Linda, eu realmente…
— E traga um acompanhante.
— Certo. Onde eu encontro mesmo um desses?
— Garota boba. Ajudaria se você dissesse ‘sim’ de vez em quando. Olhe para você. Eu sei que você tem ofertas. Na verdade, meu primo Tony perguntou sobre você algumas semanas atrás, depois da festa de aniversário da minha mãe. — Vendo o olhar no rosto de Sarah, ela acrescentou rapidamente, — Não se preocupe. Não lhe dei o seu número. Até eu sei que ele não é o seu tipo, embora, pensando nisso, eu não estou certa realmente de qual seja o seu tipo. Mas, — ela acrescentou, o brilho de fofoca em seus olhos, — falando no Tony, você ficou sabendo da Trish Cowens?
O estômago de Sarah deu um nó, e ela se forçou a expirar e fingir uma careta de confusão. — Trish Cowens?
— Você tem que tirar seu nariz dos livros de vez em quando, garota. Patrícia Cowens, filha do William Cowens? Sabe, o bazilionário que inventou… — Linda fez um gesto no ar. — Alguma coisa ou outra, eu não sei. Mas essa não é a história. Ela é uma estudante aqui na universidade, e está desaparecida. O pai dela está apertando a polícia local e os colocando em um frenesi tentando encontrá-la.
— Isso é horrível, — Sarah disse com uma voz baixa. Ela estava tendo problemas para se concentrar no aqui e agora. Sua mente continuava querendo substituir a foto sorridente de Trish Cowens com as imagens aterrorizantes de seus sonhos.
Linda ficou séria imediatamente, como se ciente que ela esteve tagarelando sobre a tragédia de outra pessoa. — Claro, é sim. Tony disse que eles estão trabalhando dia e noite…
— Espera, — Sarah interrompeu. — O que o seu primo tem a ver com isso?
— Oh, — Linda disse, apertando seu rosto ao pensar. — Tony é um policial. Eu pensei que você sabia disso. Um detetive na verdade. Ele e seu parceiro… — Linda pausou, olhando-a especulativamente. — Agora aí sim está uma possibilidade para você. Dan é bonito e muito mais, hum, cerebral que Tony. Claro, eu acho que ele está em seu terceiro divórcio, — ela acrescentou, fazendo uma careta.
— Linda, — Sarah disse pacientemente. — O que o Tony tem a ver com Trish Cowens?
— Ele e o Dan estão encarregados do caso dela. — Linda disse, surpresa. — Eu já não mencionei isso?
— Não. — Sarah disse, distraidamente. — Não, você não fez.
— E isso não é tudo. — Ela se aproximou, olhando ao redor para se certificar de que elas estavam sozinhas. — Eles acham que os vampiros estão fazendo isso.
Sarah piscou em confusão. — Fazendo o quê?
— Raptando aquelas garotas! — Linda exclamou, como se Sarah não estivesse prestando atenção.
— Garotas? Plural? Como em mais de uma? — Ela perguntou, já sabendo a resposta.
— Bem, sim. Eu acho que são três ou quatro, eu não tenho certeza. Mas, Sarah, vampiros!
— Sim, eu entendi. Por quê? — Ela perguntou repentinamente.
— Por quê? — Linda repetiu, sua expressão confusa.
— Por que eles acham que um vampiro está envolvido? Quer dizer, por que um vampiro faria isso?
— Por sangue, claro!
Sarah franziu as sobrancelhas, pensando sobre Raphael e sua gangue, sobre Raj. Ela tentou imaginar qualquer um deles sequestrando mulheres nas ruas, especialmente quando havia mulheres lindas como aquelas do clube no sábado à noite, mulheres que se ofereciam ansiosamente. — Eu não acho que eles precisem fazer isso, Linda. Não mais, de qualquer forma.
Linda fez uma careta para ela, insatisfeita com a reação às suas grandes notícias. — Bem, eu não sei, — ela disse irritada. — Tony disse que todas as mulheres desaparecidas estiveram naquelas horríveis casas de sangue ou algo assim. Ele não queria falar sobre isso na verdade, mas a mãe o apertou até ele falar. — Linda deu de ombros fracamente como se sacudindo todo o assunto. — De qualquer forma, estou certa que eles a encontrarão. Você conhece os calouros. A primeira vez que estão fora de casa, ficam um pouco loucos. Tudo bem, querida, tenho que ir. — Ela deu um beijinho rápido na bochecha de Sarah. — Vejo você na festa, e use um vestido, pelo amor de Deus!
Sarah ignorou o comentário sobre o vestido, colocando-o na mesma categoria que as suas botas sensíveis. — Eu estarei lá. — ela disse, ao invés disso. — E dê ao Sam minhas lembranças.
Ela viu sua amiga correr por entre os prédios, pensando sobre os vampiros e no quarto escuro sem janelas em que Regina havia acordado. O tipo de quarto que um vampiro poderia escolher para esconder suas vítimas.
Naquela tarde mais tarde, Sarah sentou-se em seu escritório de casa, empoleirada na frente do computador, encarando atentamente o monitor, esperando que os segredos do universo fossem revelados. Ou pelo menos que o próximo capítulo do livro que supostamente era para ter sido terminado. Infelizmente, não havia nada a não ser uma tela branca a encarando em retorno. Quando a tela se transformou no protetor de tela, ela recuou, surpresa. Por quanto tempo ela estivera sentada aqui perdida em seus pensamentos? Ela se empurrou para longe da mesa com um suspiro, nem mesmo se incomodando em salvar o seu trabalho. Ela não havia digitado mais do que cem palavras e nenhuma delas valia a pena manter. O seu estômago grunhiu, lembrando-a de que já havia passado horas desde o almoço.
Ela bateu ruidosamente pelo estranhamente estreito corredor, indo em direção à cozinha. O duplex no qual ela vivia havia sido outrora um apartamento único. Quando alguém o tinha dividido em dois, eles tinham feito a sua parte um pouco menor, com o corte bem no meio de uma escadaria já existente, deixando cada unidade com um apertado lance de escadas, como algo que você veria guiando para um sótão que ninguém usava. Felizmente, Sarah era pequena, com 1,62m com suas meias, se elas fossem grossas — apesar de seus irmãos muito mais altos a terem chamado simplesmente de Camarão. Ela não era magricela, mas ela estava em forma e tinha curvas, então quem ligava para um número em uma escala?
Ela rodeou o final das escadas, foi arrastando as suas meias até a cozinha e abriu a porta da geladeira. A deslumbrante variedade de recipientes tupperware cumprimentou-a, todos cuidadosamente rotulados, cortesia de sua senhoria Sra. Maglietto. A Sra. M tinha praticamente adotado Sarah quando descobriu que não havia nenhuma família por perto. Uma fofoqueira inveterada, sempre parecia saber quando Sarah estava indo e vindo, e frequentemente a encontrava na varanda com qualquer tipo de caçarola que ela ou uma de suas muitas filhas haviam preparado naquele dia. Sarah não se importava. Ela havia sido próxima de sua família antes de tudo se ter despedaçado. Algumas vezes ela sentia falta daquela sensação de se pertencer, de saber que alguém se preocupava com ela, que eles sentiriam sua falta se morresse… ou se fosse levada por um dos monstros humanos que perseguiam seus sonhos.
Sarah se arrepiou, e percebeu que ainda estava parada na frente de sua geladeira perdida em pensamentos. Primeiro o seu computador e agora a geladeira. Quando ela se desse conta, ela estaria perdida em pensamentos enquanto dirigindo o seu carro. Ela tinha que descobrir uma maneira de lidar com seus sonhos antes que sofresse algo mais drástico do que uma queimadura por congelamento. Ela bateu a porta da geladeira e pegou um iogurte do frigorífico, olhando pela janela enquanto metia colheradas em sua boca, quase sem notar o que estava comendo. Devia haver alguma maneira dela descobrir o que a polícia sabia. Ela podia ligar para o primo da Linda, claro, mas o que ela diria? Mesmo se ele se lembrasse dela, ela não conseguia imaginar que ele estivesse ansioso para contar todos os segredos sobre a investigação. Afinal de contas, quem ela era? Uma Professora Assistente de História na universidade, dificilmente uma especialista em…
Sua colher caiu na pia. Por que ela não pensou nisso mais cedo? Ela não havia acabado de passar o final de semana com dois dos vampiros mais poderosos do país? E a sua melhor amiga não era praticamente casada com um deles? Ela poderia ligar para o primo de Linda. Ela não sabia o sobrenome dele, mas isso seria bastante fácil descobrir. Ela ligaria para ele e ofereceria seus serviços como especialista em vampiros. Bem, talvez não uma especialista, mas uma fonte. Havia provavelmente nada em relação aos rumores de qualquer forma, mas isso não era o ponto. Isso lhe daria uma chance de descobrir o que a polícia sabia sem se entregar. E de qualquer forma, a quem mais a polícia poderia ir se eles tivessem questões sobre vampiros? Os vampiros verdadeiros estavam todos em Manhattan. Ela os havia visto no clube do Raj. Que vampiro com respeito próprio iria viver em Buffalo quando tinha Manhattan para brincar?

Capítulo 10

O sol se pôs e os vampiros acordaram. Raj abriu seus olhos com o conhecimento instantâneo de onde estava e como tinha chegado lá. E da fome. Ele havia deixado a cidade com tanta pressa ontem à noite que não tinha havido tempo para uma alimentação completa. Normalmente, ele mantinha um suprimento de sangue ensacado no frigobar daqui para emergências, mas sua última visita à Buffalo havia sido há semanas atrás e o frigobar estava vazio de tudo menos de gelo. O que significava, Krystof que se dane, a primeira ordem de negócios de Raj era encontrar um doador disposto. Demente ou não, Krystof era um vampiro poderoso, e Raj não tinha intenção de encontrá-lo de forma alguma a não ser no seu melhor.
Além disso, encontrar uma mulher não deverá ser difícil nesta parte da cidade, mesmo em uma quarta-feira à noite. Era uma das razões para ele ter construído o seu covil aqui.
Ele ficou de pé e seguiu para o banheiro, gemendo pela dureza de seu pescoço. Ele havia caído de cara na cama nesta manhã, o que sempre o deixava sentindo-se um pouco maldoso quando ele acordava. Ele torceu o seu pescoço com um estalo alto da vértebra e encarou o seu reflexo no espelho enquanto ele começava a se barbear. Ele havia tido um bigode, quando era um humano, e o cabelo descia até os ombros. Agora seu rosto era liso e o seu cabelo loiro e grosso mal tocava o seu colarinho. Ele ligou o chuveiro e deixou o vapor encher o banheiro antes de entrar debaixo da pulverização contínua — umas das maiores invenções do homem moderno.
Enquanto a água quente levava para longe o seu dia de sono desconfortável, ele pensou em Krystof e qual poderia ser a sua crise mais recente. O velho tinha muito pouco contato com o mundo fora de seu pequeno círculo nestes dias. Ele vivia em Buffalo há centenas de anos, nos últimos noventa viveu em uma grande casa da virada do século no bairro de Delaware Park. Um medo de fogo o havia forçado a substituir a fiação do prédio inteiro alguns anos atrás, mas não havia televisão, nem sistema de som e somente um computador, que era usado pelos seus lacaios para monitorar a segurança.
Notavelmente, Krystof também possuía um andar na cobertura em um arranha-céu no centro, com dois escritórios e suítes. Mas ele nunca o usava, a menos que houvesse visitantes para impressionar — o que significava uma vez a cada oito anos quando era a vez dele sediar o encontro anual do Conselho Norte Americano de Vampiros.
Quanto à cidade em si, Buffalo havia sido uma vez gorda e satisfeita, seus moinhos de aço e portos prosperando e novas pessoas chegando toda hora. Raj havia vindo aqui quatro décadas antes da Guerra Civil Americana, procurando por um tipo de futuro diferente do que o oferecido pelo seu próprio país, que estava sendo dilacerado aos poucos pelos competitivos interesses estrangeiros. Pura acaso havia o colocado em contato com Krystof, que já era um vampiro há séculos naquela época. Krystof foi o primeiro mestre vampiro a viajar para o novo mundo. Sem competição, ele havia estabelecido seu próprio território e feito a si mesmo um lorde vampiro. E ele estava na procura constante por recrutas em potencial de sua nativa Polônia, homens que estavam acostumados à hierarquia da nobreza e não se irritariam sob o seu comando. Que os homens que ele recrutava nem sempre se voluntariavam para servi-lo não importava. Uma vez que eles eram transformados, como Raj, eles tinham poucas escolhas.
Infelizmente, a sorte de Lord Krystof foi, necessariamente, ligada à da cidade, e o apogeu de Buffalo havia há muito se passado. A recusa de Krystof em ver a verdade sobre o declínio, de mover o seu assento de poder para Manhattan ou uma das cidades mais lucrativas do Nordeste, era uma indicação de quão fora da realidade ele estava; mas o seu fracasso em manter a ordem no território era bem mais sério. Raj não era o único vampiro que havia começado a criar um exército de seguidores fiéis. Se nada fosse feito, o Nordeste logo seria um favo de mel de feudos, enfraquecendo o núcleo até que ele se quebrasse em pedaços — ou atraísse a atenção de algum forasteiro forte que entraria em cena e faria uma pequena limpeza permanente.
Quando a água do chuveiro começou a perder seu calor, Raj desligou-a e saiu, embrulhando-se em uma toalha grande e secando-se enquanto passeava ao longe de seu closet. Sua escolha de vestuário normalmente era feita de jeans pretos e jaquetas de couro, especialmente no clima frio. Mas hoje à noite, ele pegou um terno de lã penteada cor de carvão. Krystof ficaria satisfeito. E nesse momento, este era o objetivo de Raj. Ele queria que o Lorde Vampiro ficasse presunçoso e complacente em seu próprio poder, totalmente despreparado para o dia não muito distante, quando Raj faria a sua jogada. Ele jogou a toalha para longe e começou a se vestir. Sua fome estava crescendo a cada minuto. Era hora de caçar.
A mulher gemeu suavemente enquanto Raj bebia, as substâncias químicas em sua saliva transformando a experiência em um prazer orgásmico para ela, ao invés do ato brutal que realmente era. Raj lentamente retirou suas presas de seu pescoço e percorreu sua língua sensualmente por cima das duas pequenas perfurações, acelerando a coagulação e a cura. Ele lambeu sua boca e os dentes, saboreando a fragrância de seu sangue antes de retrair suas presas em suas gengivas. O sangue dela era doce com a juventude e aquecido pelo rum que ela havia bebida mais cedo.
Ele escutou vozes e se moveu rapidamente, escondendo seu pequeno corpo atrás de sua corpulência enquanto dois garçons vinham pelo escuro corredor na direção deles, mantendo as suas costas viradas até que eles tinham ido embora. Ele então levou a mulher grogue de volta para o espaço principal que estava lotado, contornando a borda da pista de dança e indo para uma cabine vazia. Ela acordaria logo, provavelmente um pouco envergonhada com a evidência óbvia de seu orgasmo. Mas não haveria memória de Raj e sem efeitos negativos duradouros. Ele havia tomado apenas o que ele necessitava, menos do que se ela doasse na Cruz Vermelha local. Ele caminhou para fora até o seu carro, sentindo-se forte e vivo mais uma vez. Ainda era cedo, apesar de que sem dúvidas seria mais tarde do que Krystof teria preferido. Mas a velha casa do lorde dos vampiros era apenas uma curta viagem de carro e qualquer coisa que esperasse por ele lá, ele enfrentaria com força total.

Capítulo 11

O BMW respondeu prontamente quando ele virou na Avenida Delaware, e ele teve que se forçar a diminuir a velocidade. Este era o perigo de beber muito bem. Dava a sensação de se sentir nas alturas e de ser invencível, nunca uma boa combinação ao enfrentar o seu Mestre.
Ele foi pela porta dos fundos, acenando para os dois guardas posicionados bem na entrada da casa — seus rostos eram familiares, e eles claramente o reconheceram, apesar dele não saber os seus nomes. Ele passou pela cozinha vazia e foi para o corredor, onde pegou as escadas que iam para o porão, resistindo à vontade de descer dois degraus de cada vez.
O cômodo abaixo estava lotado de vampiros, mas eles eram um pouco mais do que uma parede de carne entre Krystof e quem quer que descesse as escadas. Krystof preferia se cercar de seres débeis, vampiros que não apresentavam nenhum desafio à autoridade do lorde vampiro. Se o velho soubesse previamente o quão poderoso Raj iria se tornar, ele provavelmente teria bebido dele até o secar e o deixado para o agente funerário todos aqueles anos atrás.
Mas a verdade era que ninguém sabia a extensão total do poder de Raj, nem mesmo Emelie. Ele o manteve cuidadosamente coberto na maior parte do tempo, usando apenas o que ele precisava para fazer o trabalho. Já era perigoso o bastante que Krystof o considerasse uma ameaça. Não havia razão para anunciar o tamanho da ameaça que realmente era. Claro, foi a força de Raj que o trouxe para o covil do vampiro nesta noite. Ele havia tido a chance de pensar sobre os chamados abruptos de Krystof, e aquela possibilidade era a única que fazia sentido. O que fosse que estivesse acontecendo em Buffalo, era sério o bastante para que Krystof quisesse o poder de Raj do seu lado. Raj somente esperava que ele sobrevivesse ao que quer que fosse.
Um dos vampiros mais novos — um Latino musculoso que Raj nunca tinha visto antes — emergiu de multidão e empurrou o seu considerável peito em desafio. Ele era fisicamente ameaçador, mas não registrava nem mesmo uma gota na escala de poder, que era tudo o que importava. Raj estudou o jovem vampiro através de pálpebras semiabertas e lhe ofereceu um sorriso preguiçoso. — Jozef, — ele falou lentamente enquanto olhava por cima do ombro do idiota. — Se você valoriza este filhote, é melhor você o chamar para os seus calcanhares agora.
Do outro lado do cômodo, o chefe da segurança de Krystof olhou para cima e xingou quando o filhote em questão se empurrou para cima de Raj com um rosnado.
— Morales, seu maldito idiota, se afaste, — Jozef gritou. Ele cruzou o porão e empurrou o grosso peitoral do vampiro. Morales se endureceu contra o empurrão e somente encarou com mais vontade.
Raj riu. — Este aqui parece ser estúpido demais para viver. Você tem certeza que quer salvá-lo?
— Eu disse se afaste porra. — Jozef empurrou com mais força, mandando o outro vampiro pela multidão para bater na parede dura do outro lado. Com o aceno de Jozef, dois dos outros seguraram o idiota de novo quando ele tentou se levantar e voltar para a briga. O chefe de segurança balançou sua cabeça, enojado. — Desculpe por isso, Raj. Ele é tão novo que temos que trancá-lo ao nascer do sol ou ele vai ficar lá fora a ver as bonitas luzes no céu.
— Talvez você devesse se livrar dele, fazendo a todos nós um favor. O que ele está fazendo aqui?
— Krystof gosta dele.
Do outro lado do cômodo, Morales sorriu para ele triunfante, mas Raj somente riu. O filhotinho obviamente não sabia, mas ser querido por Krystof significava que um vampiro ou era muito burro ou muito fraco para representar a mínima ameaça.
— O nosso mestre está esperando por você, — Jozef disse. O que significava que Raj estava atrasado e Krystof estava puto.
Raj deu de ombros, despreocupado. — Era tarde quando ele ligou ontem à noite. Eu mal consegui chegar à cidade antes do amanhecer, e eu precisava comer. Sobre o que é isso?
— Rajmund.
Cada vampiro no local — com exceção de Raj — ficou de joelhos enquanto Krystof aparecia na soleira da porta do seu escritório. O ajoelhar era uma afetação que ele insistia, e uma que o Raj não concedia há anos.
— Mestre. — Raj disse com uma simples inclinação de seu pescoço, nada mais. Ele ergueu sua cabeça e encontrou o olhar de Krystof diretamente, desafiando-o a forçar o assunto.
Os lábios finos do lorde vampiro se apertaram brevemente antes de se curvarem em um sorriso insincero. — É bom ver você de novo, Rajmund. — Sua voz era forte e equilibrada, o que significava que ele havia acabado de se alimentar. Nos últimos anos, havia se tornado evidente que Krystof estava se alimentando com cada vez mais frequência. Era outro sinal de sua crescente fraqueza, ele estava voltando para uma programação mais próxima de um recém-nascido do que de um vampiro com sua considerável idade e poder. Quando ele estava faminto, seu discurso se tornava hesitante e incerto como o de um humano que estava envelhecendo, apesar dele nunca parecer velho. Não era o seu corpo que estava envelhecendo. Era a sua mente.
— Venha, — ele disse então, balançando sua mão pelo seu corpo em um gesto gracioso de convite. Ele começou a andar de volta para o seu escritório, mas parou, franzindo as sobrancelhas enquanto ele dava um olhar afiado para Jozef. — Limpe este local, Jozef. Rajmund e eu requeremos privacidade.
O chefe da segurança se levantou de sua posição ajoelhada e encarou melancolicamente as costas de seu chefe. Um longo minuto depois, ele virou sua cabeça e lançou um olhar indecifrável a Raj antes de dar ao vampiro mais próximo a ele um empurrão rápido. — Todo mundo para cima, — ele ladrou.
Raj deu de ombros, deu uma piscada para o furioso Morales e caminhou através da porta para o santuário interno de Krystof.
Krystof estava sozinho a não ser por uma jovem mulher empoleirada em um elaborado sofá de veludo que estava contra uma parede. Ela estava seminua, sua blusa pendurada entreaberta mostrando seus pequenos seios pálidos, sua saia amassada até quase à cintura e sua roupa de baixo desaparecida, se tivesse havido uma em primeiro lugar. Sangue fresco, vermelho e molhado, escoava preguiçosamente da grande veia em seu pescoço e ela estava cantarolando suavemente, uma expressão sonhadora em seu rosto enquanto ela girava uma mecha com listras roxas com um dedo.
— Amável, não é?
Raj virou sua atenção imediatamente para o lorde vampiro, irritado por se ter permitido ser distraído por uma fêmea humana. Distração podia ser mortal na presença de Krystof, não importava se o velho fosse meio senil. — Jovem. — ele comentou. Mas então Krystof sempre gostava delas jovens.
Krystof mostrou seus dentes em um sorriso que mostrava bem mais do que uma indicação de presas. — Acima de dezoito e tirada de uma das casas de sangue, para que você saiba, ela está dentro da lei. — Ele virou as costas e caminhou em silêncio por todo o carpete profundo para sentar-se atrás de uma escrivaninha espalhafatosa antiga com incrustações tão bonitas que até mesmo Raj poderia apreciá-las. Cortinas de veludo vermelho profundo e rico estavam penduradas atrás da mesa do lorde vampiro — puramente para efeito já que não havia janelas em qualquer uma das salas da caverna. As paredes remanescentes eram cercadas por um rodapé de cor mogno escuro contra o papel de cetim que cobria a parede.
Krystof sentou-se em uma cadeira delicada e dobrou suas mãos de aparência suave em cima de uma pasta aparada de couro. Seu longo e escuro cabelo estava preso com uma fita de veludo negra, enquadrando um rosto sem rugas e olhos castanhos, que estavam notavelmente claros, não mostrando qualquer sinal de estresse enquanto ele olhava para Raj com expectativa. Raj lembrou de um antigo ditado Russo que falava sobre o rosto de uma pessoa que era intocada pelo vento. Referia-se a alguém sem as marcas das dificuldades da vida, e não era um elogio. Aqui estava um lorde vampiro que havia vivido por séculos, que escravizou centenas, se não milhares, ambos humanos e vampiros, que matou brutalmente por nenhuma razão a não ser a própria conveniência. E mesmo assim, ali estava sentado, a pintura de um jovem aristocrata mimado cujas mãos nunca haviam sido manchadas por nada tão cru quanto sangue.
Raj encarou esta criatura que mudou tanto sua própria vida e quase foi dominado pela vontade de pular a mesa e sufocar a vida antinatural para fora dele.
— Por que eu estou aqui? — ele grunhiu.
Do outro lado da mesa, os lábios de Krystof se apertaram e ele inclinou sua cabeça para retrucar. — Não presuma muito longe, Rajmund. Eu ainda sou o mestre aqui. — Seus olhos ficaram abruptamente sem emoção, e Raj percebeu que eles podiam fazer isso agora mesmo, decidir esta coisa entre eles de uma vez por todas. Mas não com todos os seus apoiantes a centenas de quilômetros em Manhattan, enquanto Krystof sentava-se embaixo de uma casa cheia de lacaios cujas próprias vidas dependiam de sua existência. Eles iriam defendê-lo até à morte pelo puro instinto de sobrevivência, não importando quais fossem seus sentimentos pessoais por ele.
Raj abaixou seus olhos e inclinou sua cabeça brevemente. — Minhas desculpas, meu lorde.
Krystof sorriu graciosamente, o lorde benevolente com seu servo. Raj apertou seus dentes com tanta força que pensou que o velho vampiro poderia certamente ouvi-lo.
— Então, — Krystof começou com o tom doce e entediado de um aristocrata nascido. — Me diga o que Raphael queria.
Raj olhou para cima e encolheu os ombros despreocupadamente. — Um feriado em Manhattan com a sua companheira.
Krystof franziu as sobrancelhas. — Por que Nova York?
— Shopping, eu acho. Foi isso que ela e a amiga fizeram o dia todo.
— Não há shoppings em Los Angeles?
— A amiga trabalha em Nova York, aqui em Buffalo, na verdade. Ela leciona na Universidade. Quanto à companheira de Raphael… — Raj se enganchou com um pé em uma cadeira desconfortável e se largou em cima dela. — Ela é uma americana rica e claramente está acostumada a ter as coisas do seu jeito. Raphael faz os gostos dela.
— Ele faz?
A nota de interesse de Krystof aguçou a atenção de Raj, apesar dele ser cuidadoso para não mostrar. — Até que tem um ponto. — ele esclareceu. — Ela é muito bonita.
O velho lorde vampiro riu. — Então até mesmo Raphael tem uma fraqueza. Eu nunca pensei que veria esse dia.
Raj não disse nada. Se Krystof queria acreditar que a companheira de Raphael, Cynthia, o tornava mais fraco de alguma forma, esta era a escolha dele. Raj havia visto o bastante neste final de semana para saber que enquanto o Lorde Vampiro do Oeste claramente amava a mulher humana, ele não baixaria sua guarda nem um pouco. Se fosse olhar dessa forma, ele poderia estar mais seguro agora do que nunca. Havendo finalmente a conhecido, Raj estava inclinado a acreditar nos muitos rumores que ele havia ouvido sobre a determinação de Cyn e sua força de vontade para matar se fosse necessário. E ele não tinha dúvida que ela defenderia Raphael até à morte, se isso fosse necessário. E quanto a Raphael, somente um tolo pensaria em trazer algum dano à Cynthia e sobreviver.
— Bem, isso tudo é muito interessante, mas esta não é a principal razão de eu querer você aqui, Rajmund. Nós temos um tipo de situação envolvendo os humanos e você sabe que eu nunca estive confortável lidando com eles. Uma pessoa não fala com a sua comida, afinal de contas. — Ele riu de sua própria brincadeira. — Mesmo assim, este é a América e nós temos que nos adaptar.
Raj o ignorou. Krystof esteve neste país por quase trezentos anos e ele ainda falava como se apenas tivesse chegado à um mês atrás.
— Eu acredito que a polícia humana está preocupada, Rajmund.
Isso chamou a atenção de Raj. — A polícia? Sobre o quê?
— Aparentemente algumas mulheres desapareceram. Como se isso fosse uma ocorrência rara em uma cidade humana. Eles matam uns aos outros tão casualmente, nós somos uma ameaça bem menor para eles do que eles são para eles mesmos. Infelizmente, um homem influente se envolveu — sua filha está entre aquelas desaparecidas, e ele está convencendo a polícia que nós temos algo a ver com isso. Ridículo, claro. A garota está sem dúvida fodendo o pouco cérebro que ela tem com alguém inadequado e irá voltar para casa grávida e doente quando ela perceber o seu erro. Mas enquanto isso, nós todos somos forçados a jogar este jogo bobo.
Sua voz não era mais a de um aristocrata entediado, ela havia ficado quase grossa devido a alguma emoção. Poderia ser medo? O Krystof sabia mais sobre estas mulheres desaparecidas do que ele estava dizendo e esta era a verdadeira razão para que o Raj fosse chamado, para lidar com isso?
— De qualquer forma. — o lorde vampiro continuou. — você irá se encontrar com a polícia esta noite…
— Esta noite? — Raj exigiu.
Krystof ergueu uma sobrancelha com desaprovação pela interrupção. — Esta noite. — ele repetiu. — Às nove da noite. Eu disse para eles…
— Por que falar com eles de qualquer forma?
A paciência de Krystof acabou. Sua cadeira caiu para trás quando ele se levantou, seus olhos eram duas brasas de fogo no cômodo repentinamente escuro, seu poder se espalhou para abranger não apenas a casa em Delaware Park, mas toda a cidade de Buffalo e além de Manhattan onde os próprios vampiros de Raj estariam sentindo a ondulação do poder dele e se perguntando se eles estavam prestes a morrer.
Raj ergueu-se, ao redor deles, a antiga mansão estremeceu com a força da vontade de Krystof. Pó de gesso encheu o ar enquanto a madeira antiga gemia sob a pressão repentina. A jovem doadora de Krystof havia começado a choramingar com medo, enquanto na sala externa, os cristais cantavam sua agonia quando algo caiu no chão e se quebrou em um milhão de pedaços. Nos andares acima deles, toda a movimentação cessou enquanto Krystof retirou o pouco da força de vida que mantinha seus lacaios vivos, demonstrando seu poder da maneira mais cruel.
Raj sentiu o terror deles ao seu redor enquanto eles caíam de joelhos, enquanto seus corações desaceleravam em seus peitos e as suas respirações eram sugadas. Nem mesmo ele era completamente imune à força da vontade de Krystof. Mas diferentemente dos outros, ele contra-atacou, liberando o bastante de seu poder para manter o seu coração batendo, seus pulmões puxando ar apesar das exigências de seu Mestre.
No silêncio que era a vontade do lorde vampiro, os batimentos cardíacos de Raj era uma batida forte de som. Do outro lado da sala, Krystof escutou. Seus olhos se encontraram.
— Então, — Krystof disse finalmente. Ele piscou e a luz retornou. Por toda a cidade, Raj sabia, vampiros estariam caindo de alívio, oprimidos pelo toque de seu mestre, sugando ar para seus pulmões, sentindo o sangue roubado em suas veias começar a pulsar lentamente mais uma vez. A jovem no sofá tossiu espasmodicamente, seu rosto branco de medo, seus lábios tingidos de azul pela perda oxigênio. Krystof lhe lançou um olhar ocioso, e então suspirou impacientemente e andou, caindo com um joelho ao lado dela. Ele dobrou para cima sua manga e casualmente abriu uma veia com suas presas, segurando seu pulso para frente e permitindo que diversas gotas caíssem entre os lábios ofegantes da garota. Ela quase engasgou quando o fluído viscoso escorreu pela sua garganta, mas a sua angústia foi rapidamente seguida pelo êxtase quando a profunda riqueza do sangue do lorde vampiro atingiu seu sistema. Ela gemeu e rolou para o lado, se encolhendo para ficar deitada lá a tremer.
Krystof lambeu sua própria veia para fechá-la e alisou o punho da camisa para baixo, abotoando-o com movimentos nítidos e eficientes, enquanto sentava-se na beira do sofá. Uma única gota de sangue manchava o tecido branco imaculado e ele fez uma careta. — Eu deveria ter te deixado morrer, Rajmund. — ele disse sem olhar para cima. — Até hoje, eu não estou certo por que não o fiz.
Raj permaneceu em silêncio.
Krystof ofereceu a ele um olhar de desprezo. — Eu poderia te matar agora, claro. — ele continuou em um tom de conversa. — Todos eles morreriam de bom grado se eu pedisse isso. — Ele acenou sua mão por cima da cabeça para indicar os vampiros na casa acima. — Eu podia drenar a cidade, se necessário, para te derrotar, e o que você poderia fazer? — Seus olhos queimaram novamente, mas o fogo era o frio da morte. — Nada. — ele estourou, encarando Raj. — Eu sou o mestre aqui. Não se esqueça disso, Rajmund. Você e eu podemos chegar a um confronto algum dia, mas esse dia não é hoje e nós dois sabemos disso. — Ele apertou os lábios, incomodado, enquanto contemplava a bagunça ao redor dele, se abaixando levemente para endireitar a cadeira caída antes de retornar sua atenção para Raj.
— Você se encontrará com o Detetive Scavetti e alguns outros esta noite às nove da noite, — ele disse. Ele deslizou seus dedos por baixo do casaco e extraiu um cartão de visitas simples com o logo do departamento de polícia. Ele o segurou para Raj. — Você irá responder todas as perguntas que sejam razoáveis. Eu dificilmente preciso te dizer para ser discreto. Apesar das nossas animosidades pessoais, eu sei que posso confiar em você para lidar com isso com o melhor das suas consideráveis habilidades. — Ele pausou, seu olhar nunca vacilando. — Você tem mais alguma pergunta?
Raj estudou o rosto do seu Mestre pelo espaço de uma batida de coração, lembrando ao lorde vampiro que o seu coração não batia mais pela vontade de ninguém a não ser a sua própria. Ele pegou o cartão oferecido e perguntou, — Isso é prudente, meu senhor? Nós sobrevivemos por tanto tempo ao permanecer por baixo da atenção deles.
Por um breve momento, Raj pensou ter visto algo como astúcia nos olhos do velho vampiro e então havia sumido. — A última garota desapareceu depois de participar de um daqueles eventos ridículo com fantasias de vampiros, — Krystof disse, sua boca se retorcendo de desgosto. — Meus advogados explicaram aos humanos que nós não temos nada a ver com estas festas, mas… — Ele deu de ombros graciosamente.
Raj assentiu. — Eu te manterei informado.
Krystof acenou e virou sua atenção para a trêmula jovem, uma suave mão branca acariciando sua coxa nua. — Feche a porta ao sair, está bem, Rajmund?
— Está tudo bem, Raj?
Raj girou se afastando da porta fechada que dava para o escritório de Krystof e encontrou Jozef de pé a alguns metros, uma estaca afiada em uma mão. Raj deu uma olhada afiada para a estaca. — Você está planejando usar isso? — ele perguntou, quase esperando que o outro vampiro dissesse, ‘Sim’. Ele poderia usar uma boa briga nesse momento.
Jozef olhou para baixo como se estivesse surpreso de encontrar a si mesmo segurando uma arma mortal. Ele xingou e a jogou de lado. — Alguns dos mais novos não conseguiram sobreviver. — ele explicou, e então ele sorriu. — Incluindo Morales.
A única reação de Raj foi um leve arquear de uma sobrancelha. Ele checou seu relógio. — Eu gostaria de botar o papo em dia, Jozef, mas isso terá que ser mais tarde. Krystof pediu para eu…
— Eu sei sobre os policiais. — Jozef estourou, seu humor mudando repentinamente. — Eu sou o chefe de segurança dele, Raj. Eu sei por que você está aqui.
Raj observou o outro vampiro silenciosamente. Definitivamente havia algum ressentimento lá, ele pensou. E quem poderia culpá-lo. — Olha. — Raj disse, inclinando-se para frente conspiratoriamente. — Se eu quero lidar com isso rapidamente, vou precisar da sua ajuda. Estas não são mais as minhas ruas.
Jozef o estudou por um minuto antes de assentir concordando. — Eu te contarei o que puder. — ele disse. — Me ligue mais tarde. Pensando melhor, você deveria passar lá em casa. Célia adoraria te ver. Ela fica cansada dos mesmos rostos de sempre.
Célia era a esposa humana de Jozef. Eles se casaram da maneira tradicional há muito tempo atrás, para o benefício da agora já falecida família de Célia, que nunca souberam a verdadeira natureza do homem com quem ela havia casado. Eles já estavam juntos por mais de um século, o bastante para que, Célia, apesar de ser humana, tivesse sua vida totalmente atada à de seu marido vampiro. Se Jozef alguma vez decidisse colocá-la de lado, parar de lhe dar sangue, ela morreria em poucos dias. Mas isso nunca aconteceria. Célia era pequenina, mas esquentada e dominava completamente o vampiro musculoso. Raj preferiria sair no sol a se acomodar com alguém como Célia por um dia, quanto mas para sempre.
— Eu gostaria disso. — ele mentiu. — Nós marcaremos algo.
Raj saiu pela frente, feliz por deixar o covil de vampiros neuróticos de Krystof bem para trás. O ar do lado de fora estava fresco, e pela primeira vez ele não se importou com o seu toque gelado. Era um alívio depois de passar um tempo no miasma4 daquela casa, com seu lorde meio louco e a adulação de bajuladores. Ele apertou o controle do BMW para abrir as trancas e deslizou para dentro, aproveitando o cheiro do couro bom, o murmúrio suave do motor quando ele virou a chave, e a voz triste e grave de Leonard Cohen murmurando no seu sistema de som. Ele pegou seu celular e acionou a discagem rápida para Manhattan.
— Raj! — Em respondeu antes que o telefone terminasse seu primeiro toque.
— É assim que você responde seu telefone agora?
— Sinto muito, meu senhor. — ela disse. — Você está…
— Estou bem Em, — ele cedeu. — Mas Krystof confrontou algumas realidades infelizes nesta noite. Todos aí estão bem?
— Sem problemas. Algumas dores de cabeça e um pouco de pânico entre os mais novos, mas na maioria… — Ela pausou como se estivesse incerta se continuava ou não. — Eu estava preocupada, Raj, — ela disse em uma voz baixa.
— Tão pouca fé em mim, Em?
— Não, — ela disse rapidamente. — Não realmente, — ela emendou. — É só… você está aí sozinho e Krystof tem sua gangue inteira atrás dele…
— Na frente dele, você quer dizer. Krystof comanda da retaguarda.
Em riu e ele podia ouvir o alívio em sua voz quando ela continuou, — Então, você está voltando logo?
— Bem que eu queria. Há problemas aqui. Mulheres desaparecidas, incluindo a filha de um homem rico o bastante para fazer os policiais prestarem atenção. A garota estava em uma festa vampírica antes de desaparecer, então a polícia está seguindo o que eles consideram como uma conexão vampírica.
Em fungou. — Que conexão vampírica? Sem trocadilhos, mas nenhum vampiro seria pego morto em uma daquelas festas bobas.
— Foi isso que Krystof disse para eles, mas você sabe como funciona. E francamente eu não tenho certeza se velho é tão inocente como ele alega. Ele está um pouco preocupado demais sobre toda essa situação.
— Bem, merda. Só o que nós precisamos. Mais propaganda ruim. Por que não deixar o Krystof limpar sua própria sujeira?
— Por que algo assim poderia ferir a todos nós. Além disso, se há alguma verdade nisso, e não foi o Krystof, eu terei que me livrar de qualquer vampiro que esteja por trás disso. Só Deus sabe que Krystof não irá sujar suas mãos.
Ele escutou o longo suspiro de Em no telefone. — Deixe-me te mandar algumas pessoas, Raj. Agora que o Krystof sabe…
— Não ainda. É muito cedo. Eu preciso reconhecer o terreno e descobrir o que está realmente acontecendo. Tudo o que eu tenho até agora é o que Krystof me contou, e a sua principal preocupação é sempre sua própria bunda. Estou indo encontrar os policiais, se você pode acreditar nisso… - Krystof combinou isso antes de eu chegar aqui. Eu te ligarei depois.
— Se não for tarde demais, eu ainda poderia mandar as tropas…
— Deixe quieto, Em. Eu te ligo. — Ele desligou antes que ela pudesse protestar mais. Ele amava Em como uma irmã, e ela era a sua tenente, mas ela podia ser superprotetora algumas vezes.
Ele aumentou o volume da música e saiu do acostamento, seguindo para a estação policial — o único lugar que ele nunca esperava ter que visitar.

Capítulo 12

Sarah não havia estado no interior de uma delegacia desde a Califórnia, não teve nem sequer uma multa de estacionamento nestes doze anos. Ela parou no final da curta escada de concreto, olhando para as portas de vidro, e se perguntou por que estava sentindo como se estivesse desistindo de sua liberdade por entrar naquele edifício. Intelectualmente, ela sabia que era somente um edifício. E mais ainda, um edifício cheio de homens e mulheres que colocavam suas vidas em risco todo dia por pessoas como ela. E não era como se eles fossem prendê-la ou algo assim. Ela teria uma boa conversa com o Tony Scavetty sobre vampiros, e então voltaria para casa, para o seu pequeno duplex com sua escadaria estranha e a geladeira cheia de tupperware. Então por que o seu corpo estava ativado no modo brigar ou fugir?
— Vampiros, Sarah. — ela murmurou para si mesma em uma voz baixa. — Você irá apenas falar sobre vampiros. — E se Tony por um acaso deixasse sair alguma pequena informação e ela por um acaso sugerisse algo em troca, que mal poderia haver nisso? Certo. Ela ergueu sua bolsa ainda mais alta em seu ombro e subiu as escadas.
A porta abriu no momento que ela a alcançou, dois homens de terno — e armas, ela notou — estavam saindo enquanto entrava. Um deles segurou a porta para ela, seu olhar movendo-se de cima a baixo em seu corpo, finalmente observando seu rosto com um sorriso apreciativo. Ela usava calças hoje — independentemente do que Linda havia dito, estava muito frio para qualquer outra coisa. Mas elas abraçavam a curva de seus quadris e ela sabia que tinha uma silhueta que ficava bem em moletons, mesmo com a maior parte de seu corpo escondido embaixo de seu longo casaco de lã. Ela sorriu de volta, murmurou um ‘Obrigada’ e entrou na estação.
A primeira coisa que a atingiu foi o cheiro — suor, sujeira e sob tudo isso o cheiro permanente de desinfetante de pinho. Infelizmente demasiados corpos sem lavagem haviam passado muito recentemente para até mesmo uma limpeza bastante rigorosa ter feito alguma diferença — e ela tinha a sensação que a limpeza não havia sido tão rigorosa. Depois havia o número de pessoas aglomeradas na entrada árida. Ela tinha marcado o seu encontro com o Tony para mais tarde da noite, pensando que seria um horário mais calmo. Lá se foi essa idéia.
À sua direita havia o balcão da recepção — e isso não era Mayberry. A metade inferior era parede, a metade superior era uma camada dupla de plástico à prova de bala, presumivelmente. Ela podia ver várias pessoas de uniforme se movendo atrás dele, com um oficial de meia idade bem alimentado sentado atrás do plástico do balcão e mais ou menos de frente para a sala de espera. Ela caminhou até à pequena parte oval perfurada perto da cabeça dele e parou, à espera de uma reação. Demorou um pouco, mas eventualmente ele olhou para cima. — Posso ajudar? — ele perguntou.
Lembrando a si mesma que tinha uma razão para estar lá que não incluía antagonizar o primeiro policial com quem entrava em contato, Sarah sorriu e disse agradavelmente, — Eu sou a Professora Stratton, Sarah Stratton. Acredito que o Detetive Scavetti esteja me esperando.
O policial a encarou silenciosamente por alguns instantes, mas depois apertou alguns botões de seu telefone e falou para o fone. — Scavetti. Você tem uma visita. — Fez uma pausa, escutando. Nah, é uma dama. Diz que seu nome é… — Ele olhou Sarah para orientação.
— Stratton. — ela lhe lembrou. — Sarah Stratton.
— Sarah Stratton, — o policial repetiu. — Sim, ok. — Ele apertou outro botão e disse, — Ele já vai sair. Sente-se.
Sarah observou as opções de assento e decidiu ficar de pé. Alguns minutos depois, a única porta sem janelas que ficava no outro lado do saguão abriu e Tony Scavetti apareceu. Ela quase tinha esquecido sua aparência; ele não tinha causado uma grande impressão naquela única vez que ela o havia visto. Mas ela o reconheceu imediatamente. Ele era um daqueles ítalo-americanos que passava todos os dias nas ruas desta cidade, com cabelo engordurado penteado para trás, pele morena e olhos castanho escuros. Ele era bonito, se você gostasse do tipo, e ele claramente passava bastante tempo na academia, com uma cintura bem trabalhada e ombros largos sob um casaco esportivo mal ajustado. Ela foi até ele e estendeu a mão. — Detetive Scavetti.
Os olhos dele chegaram ao seu rosto enquanto balançava a sua mão brevemente, parecendo estar com pressa em levá-la para dentro e fechar a porta para o saguão. — Sarah, — ele disse. — Vamos para os fundos.
Ela o seguiu por um corredor curto, através de um curral repleto de mesas e pessoas. Os telefones tocavam quase constantemente e lá havia um murmúrio contínuo de vozes, quebradas pelas ocasionais conversas mais altas. Mais do que algumas cabeças viraram, a maioria delas simplesmente curiosas, enquanto ela seguia Tony para um escritório de vidro com quatro mesas, nenhuma delas ocupadas.
— Sente-se, — ele disse, movendo-se para a mesa mais distante da porta. Havia duas cadeiras acolchoadas na frente da mesa, e ela sentou naquela que não estava com o assento rasgado. — Então, Sarah, — ele disse, sorrindo. — O que eu posso fazer por você?
Sarah colocou sua bolsa no chão e se inclinou para frente. — Espero que seja eu a fazer algo por você, — ela disse, sorrindo de leve. — Como disse no telefone, estava falando com Linda ontem, e ela mencionou que você era o detetive principal no caso da Trish Cowens.
Tony não pareceu contente com isso, mas ele assentiu.
— Ela também disse que você pensava que os vampiros poderiam estar envolvidos, e já que eu…
— Mer… — ele olhou para ela rapidamente. — Como diabos a Linda…
— Eu acho que sua mãe lhe contou.
— Mer… — Ele puxou um fôlego e sorriu, inclinando a sua cadeira até que ela bateu na parede atrás dele. — Desculpa. Hábito ruim. Acho que tenho que prender a minha mãe por falar na hora errada. Sinto muito, Sarah, mas você pode ter perdido o seu tempo vindo aqui. Não estou livre para discutir uma investigação em andamento. Tenho certeza que você entende.
— Eu entendo. — ela o assegurou. — E não estou aqui para fazer perguntas. Estou na realidade, torcendo para poder responder algumas para você. Eu tenho boas amizades com algumas pessoas do alto escalão da hierarquia vampírica. Se você precisasse…
Ele sorriu condescendentemente e deixou sua cadeira cair para a frente. — Eu acredito que nós temos o ângulo dos vampiros coberto. Eu não acho… — O telefone dele tocou e ele o pegou rapidamente. — Scavetti. — Ele escutou por um minuto e xingou, — Que merda… — Seus olhos passaram por ela mais uma vez e ele se virou levemente. — O que ele está fazendo aqui? Ninguém me disse… Sim. Ótimo. Fantástico pra caralho. E quanto… Tudo bem, traga-o aqui atrás e eu te encontrarei na sala de conferência.
Ele fechou o telefone com força e ela podia ver os tendões do seu pescoço esticarem enquanto ele lutava para controlar a sua raiva. Ele ficou de pé abruptamente e Sarah soube que seus poucos minutos haviam acabado. — Vamos, — ele disse sucintamente. — Eu te acompanharei até lá fora. — Ele deu a volta na mesa e pegou o seu braço, impulsionando-a rapidamente através do corredor, sem largá-la até que eles cruzaram o corredor.
Sarah sentiu que a sua chance, pequena como era, estava indo embora. O que ele quis dizer quando disse que tinha o ângulo dos vampiros coberto? Havia alguém na cidade que sabia sobre vampiros? Ninguém da Universidade, isso era certo. Quem poderia ser… Seus olhos se alargaram quando lembrou repentinamente de alguém a apenas um vôo curto de distância que sabia muito mais do que ela sobre vampiros.
Raj foi para o estacionamento atrás da delegacia, dando ré em um local na segunda fileira com uma boa linha de visão para a entrada. Ele não estava confortável estando aqui, apesar de lidar com policiais o tempo todo em Manhattan. Havia sempre algum idiota com um desejo de morte que decidia enfrentar um de seus vampiros, ou que ficava bêbado e começava uma briga na fila de espera enquanto ela serpenteava até o final da quadra. Mas Manhattan era a cidade de Raj e ele conhecia os policiais. Ele sabia quem trabalhava em torno de seus clubes e sempre doava para as várias instituições de caridade da polícia quando solicitavam, o que acontecia com frequência. Essa, por outro lado, definitivamente não era a sua cidade, e ele não estava lidando com um idiota bêbado fazendo bagunça. A garota Cowens tinha sumido faz alguns dias; as chances eram que ela já estivesse morta, o que tornava isso uma investigação de assassinato em potencial. E Raj tinha a sensação que o Departamento da Polícia de Buffalo não iria ficar impressionado com as suas doações para o Baile dos Policiais do Departamento da Polícia de Nova Iorque.
Um táxi estacionou na guarita da delegacia, seu pneu esquerdo dianteiro caindo visivelmente em um buraco cheio de água antes do motorista chegar um pouco mais à frente para se sentar na frente das escadas vomitando de exaustão. Uma mulher saiu do banco traseiro, seu cabelo despenteado, suas roupas obviamente colocadas às pressas. Ela jogou dinheiro no motorista e ele foi embora, virando no último minuto para evitar acertar o buraco uma segunda vez, passando bem perto de Raj no seu caminho para a saída, as janelas abertas apesar do ar gelado.
Enquanto o taxi chicoteava na rua, cortou bem na frente de uma limusine que havia diminuído a velocidade para fazer a virada difícil do estacionamento. Raj riu levemente. Quem imaginaria que um estacionamento de delegacia seria tão interessante? O longo veículo preto fez o seu majestoso caminho por toda a extensão do edifício, o motorista habilmente evitando o buraco cheio de água, enquanto ocupava quase a exata posição que o táxi havia ocupado anteriormente. A porta direita do passageiro abriu quase imediatamente e um homem pulou para fora, sua atitude pronta e a arma discreta proclamando-o como um guarda-costas antes mesmo dele examinar a área cuidadosamente. O motorista tinha desembarcado e circulado o carro nessa altura e, depois de conseguiu um aceno afirmativo do guarda-costas, abriu a porta de trás e disse algo para quem estava lá dentro antes de sair do caminho.
Um homem grande emergiu primeiro, seu comprido cabelo loiro solto seu casaco de caxemira cor de caramelo abotoado firmemente. Ele se virou apenas o bastante para oferecer uma boa visão de seu rosto e Raj xingou suavemente. Edward Blackwood — um vendedor viajante de óleo de cobra, se é que existisse tal coisa.
Um segundo homem saiu de dentro da limusine, quase tão alto quanto Blackwood, mas não tão encorpado. Nos seus cinquenta e alguns anos, com cabelo escuro cuidadosamente cortado, ele usava um casaco de inverno preto e um cachecol ao redor de seu pescoço para combater o frio. Diferentemente de Blackwood, ele não esperou, foi diretamente para as escadas e entrou no prédio, com o seu guarda-costas a tiracolo. Blackwood pareceu surpreendido com partida rápida e correu para acompanhar, apressando-se logo atrás. Raj fez uma careta. Dado o hábito do Blackwood de conviver com homens ricos que não tinham nada melhor a fazer com seu dinheiro do que o gastar com a Humanity Realized, Raj tinha que supor que o homem de cabelos escuros era William Cowens, o pai bilionário da menina desaparecida. O que não o deixou feliz. Ele havia vindo preparado para lidar com os policiais, não com um pai estressado.
O motorista da limusine estacionou o veículo mais ao fundo para esperar o retorno de seu chefe. Raj sentou-se lá por mais alguns minutos, e então desligou a ignição e saiu do carro aquecido. Hora de descobrir o quanto a polícia sabia. E o quanto eles não sabiam.
Hora de fazer o trabalho e sair dessa cidade antes que ela o sugasse até ao fim.
Raj cruzou o estacionamento rapidamente, subindo dois degraus de cada vez. O cheiro do perfume de uma mulher permeou o ar, algo leve e florido, algo estranhamente familiar. O cheiro persistiu enquanto se dirigia ao balcão da recepção para confrontar um policial humano sentado atrás de uma barreira à prova de balas que ignorava copiosamente todo mundo do outro lado.
Raj bateu no plástico e o policial olhou para cima.
— O meu nome é Gregor, Raymond Gregor. — ele disse, usando a versão americana do seu nome. — O Detetive Scavetti está me esperando.
— Sr. Gregor? — A voz do homem veio por trás dele e Raj se virou, ficando levemente tenso.
— Detetive Dan Felder. — o homem disse, dando um passo para frente. — Scavetti e eu somos parceiros. — Felder era alto e magro, provavelmente considerado bonito de um jeito mais discreto. Ele sorriu enquanto estendia a mão. — Não era minha intenção assustá-lo. Estava passando e escutei o nome.
— Detetive. — Raj disse, aceitando o aperto de mão.
— Então, sem problemas para entrar no prédio, hein?
— Como?
Felder desviou o olhar, desconfortável. — Eu meio que pensei que precisaria, você sabe, um convite ou algo assim.
O primeiro instinto do Raj era tirar sarro, mas ele pensou melhor. Foi um gesto generoso, e além disso, poderia ser útil mais tarde ter um contato amigável dentro do departamento. — Não. — ele disse. — Mas obrigado por ter pensando nisso, Felder. Em lugares públicos como esse eu não tenho problemas.
— Oh, certo. Faz sentido. — Felder gesticulou em direção à porta fechada. — Nós iremos por aqui. — Ele sacudiu a cabeça para o policial da recepção que apertou um botão em algum lugar. Um zunido alto soou e Felder abriu a porta, indicando que Raj deveria ir à frente. Ele teria preferido que o policial fosse primeiro, mas isso iria parecer um pouco paranóico, então ele foi.
Eles tinham dado apenas alguns passos quando o mesmo perfume atingiu os seus sentidos. Ele ergueu a cabeça e sorriu. Sarah Stratton estava vindo pelo corredor, juntamente com outro detetive. Ela estava obviamente desconfortável e envergonhada com o que o detetive estava dizendo, e ainda não havia percebido que Raj estava lá.
— Olha, eu agradeço o esforço em vir até aqui, Sarah. — o policial disse, enquanto eles se aproximavam. — Mas como eu disse, nós temos nossos próprios especialistas nestas coisas.
— Claro. Eu só pensei, bem, já que tenho contatos com o lorde vampiro local…
Ela tinha? Isso era novidade para Raj. E não o fazia feliz. Ele não queria Sarah Stratton a menos de duzentos metros de Krystof ou qualquer outro vampiro. Exceto claro, dele mesmo.
— Tony. — Detetive Felder disse.
O outro detetive olhou para cima impacientemente. — Sim, só um minuto, Dan. Olha, — ele disse baixinho, pegando o braço de Sarah. — Por que você não me deixa o seu número e eu…
— Não. — ela disse instantaneamente. Ela olhou para cima nervosamente e congelou, seus olhos ficando maiores quando viu Raj olhando para ela.
Os lábios dele se curvaram em um sorriso satisfeito, apesar de que o que ele queria era tirar a socos a porra da mão do Tony do braço dela.
— Tony. — Felder insistiu. — Este é Raymond Gregor.
Tony, presumidamente o Tony Scavetti que Raj supostamente teria que encontrar, prestou atenção por fim. Ele esqueceu da mulher ao seu lado para se focar em Raj. — Você é o vampiro?
Raj assentiu. — E você deve ser o detetive. — ele respondeu. Ele teve um prazer cínico pela reação eriçada de Scavetti enquanto o humano se empertigava à sua altura máxima, o que não era mais do que 1,70m, e flexionava seus músculos construídos na academia embaixo de um casaco muito apertado. Raj o observou imparcialmente. Ele havia encontrado muitos Scavettis em sua longa vida, aqueles que procuravam brigas por nenhuma razão a não ser provar que eram mais fortes do que realmente eram.
— Bom tirar esses detalhes do caminho. — Felder disse, interpretando o pacificador. Algo que provavelmente tinha que fazer com frequência se Scavetti fosse seu parceiro. — Uh, Professora Stratton? — ele lembrou Scavetti.
Scavetti fez uma careta, mas trocou sua atenção de volta para Sarah. — Sim, Sarah, eu tenho certeza que o Gregor aqui pode responder quaisquer perguntas. Na verdade, vocês dois provavelmente se conhecem, certo?
Um rubor rosa brilhante se espalhou ao longo de suas bochechas enquanto ela olhava para o Raj, manchando sua pele normalmente pálida como porcelana. Seus olhos cor de avelã se escureceram para uma cor quase cinza com emoção e eles permaneceram um tempo assim antes de caírem para se esconderem atrás dos cílios grossos.
— Sr. Gregor. — ela disse suavemente.
— Professora Stratton. — Raj ronronou. Ele tomou a sua mão e a puxou, suavemente retirando-a do aperto de Tony e a trazendo perto o bastante para que ele pudesse respirar o seu cheiro, excluindo o cheiro dos policiais suados e café queimado. Sua ação a assustou fazendo-a olhar para cima e encontrar seus olhos novamente.
— Eu odeio interromper. — Scavetti disse depreciativamente. Raj mal conseguiu segurar um rosnado furioso por causa da interrupção, e ele sentiu a sacudida de surpresa de Sarah, como se ela tivesse esquecido que o Scavetti estava ali. — Podemos seguir logo com isso, por favor? — O detetive perguntou.
Raj olhou para Scavetti e permitiu que uma nuvem de desprezo cruzasse sua expressão antes que ele a fechasse completamente. — Claro, Detetive. — ele disse. — Eu só vou acompanhar a Professora Stratton até seu carro primeiro.
Sarah lançou-lhe um olhar surpreso, mas Raj apenas curvou-se ligeiramente e fez um gesto para o corredor. Ela lhe ofereceu um sorriso fraco e estremeceu levemente quando passou por ele. Raj engoliu seu sorriso e seguiu, vendo o gingar mudo de seus quadris embaixo daquele pesado casaco de inverno e desejando que ela estivesse usando algo leve e sedoso como antes. Talvez uma saia macia, algo para balançar ao redor de suas pernas esbeltas acima daqueles saltos altos sexys que ela parecia gostar. Ele olhou para trás para encontrar os dois policiais encarando-o e deu de ombros graciosamente. — Isso demorará somente um momento. — ele os assegurou.
— Que infernos? — Ele escutou Scavetti xingar antes que desse dez passos. — O que ele vai fazer com ela?
— Parece que eles se conhecem, Tony. — Felder respondeu em um tom entediado. — O que você acha que ele irá fazer? Drená-la no estacionamento? Além do mais, por que você se importa?
— Vai se foder, Dan. Eu posso não a querer no caso, mas isso não significa que queira que algum maldito vampiro sugue o seu pescoço.
Raj riu e parou de ouvir. Ele alcançou Sarah bem quando ela havia empurrado a porta para fora, deixando entrar uma rajada de ar mais fresco.

Capítulo 13

Sarah colocou seu ombro na porta pesada, sugando uma lufada de ar fresco e dizendo a si mesma que tinha feito tudo o que podia para ajudar a Trish. Scavetti tinha sido — bem, não muito educado, mas, provavelmente, tão educado quanto podia ser. Cada palavra que saía da boca do homem era um palavrão, embora ele tivesse tentado censurar-se por ela. E ela tinha certeza que ele só concordou em dar-lhe os cinco minutos que tinha dado porque, de acordo com Linda, ele tinha esperança de ficar com ela.
E depois, claro, havia Raj. Ela pareceu bastante estúpida, uma vez que ele chegou. Se ela soubesse que ele estaria aqui, jamais teria vindo em primeiro lugar. E não apenas porque ele a fez parecer boba perante os policiais. Aquele homem, aquele vampiro, não era nada além de problemas. Toda vez que ela chegava perto dele, seu QI parecia cair cerca de quarenta pontos. E ele sabia disso também. A arrogância simplesmente escorria dele, ele estava tão malditamente certo… O peso da porta de vidro desapareceu subitamente quando um longo braço se esticou por cima do seu ombro. A luz do hall da entrada desapareceu, lançando-a nas sombras, e ela olhou para cima, não surpresa ao ver Raj logo atrás dela, seu sorriso fácil não a enganando por um segundo.
Ela murmurou seus agradecimentos e saiu para o patamar, fechando o seu casaco e se afundando mais em seu calor. — Estou bem, Raj. — ela disse rapidamente. — Você não tem que… — Ela jogou seu olhar para o lado quando a conversão sólida de uma porta de carro ecoou na noite. Em frente ao estacionamento, um motorista tinha acabado de sair de uma longa limusine preta para pegar um ar fresco. Ela não podia ter certeza, mas achava que o veículo não estava lá quando chegou à estação. Poderia ser qualquer um, é claro. Limusines não eram comuns — exceto em noites de baile — mas elas não eram completamente raras na cidade também. Mas por alguma razão — talvez fosse pelo telefonema que Tony havia recebido enquanto estava sentada em seu escritório — estava convencida que esta pertencia a William Cowens, e isso significava que Edward Blackwood estava nas proximidades. Ela imediatamente virou as costas para o lobby e afastou-se das luzes, apenas no caso. Raj percebeu a reação, naturalmente, e passou o braço sobre seus ombros, seu grande volume a escondendo efetivamente tanto da limusine quanto do lobby. Ela podia-o sentir estudando a limusine e seu motorista por sobre a sua cabeça.
— Vamos lá, Sarah. — ele disse. — Vou levá-la até seu carro. — Ele começou a descer as escadas com ela firmemente na curva de seu braço. — E você pode me dizer por que não quer que Williams Cowens saiba que está aqui. — Sarah quase perdeu o passo seguinte, mas sua força sólida a mantinha em pé. Ele colocou-a contra seu corpo com uma risada baixa. — Eu amo as botas, querida. — ele murmurou. — Mas elas não são a melhor escolha para as ruas geladas daqui.
Sarah sentiu uma onda de prazer por ele ter notado suas botas de salto alto, mas amaldiçoou sua própria torpeza. — Eu não esperava estar andando tanto. — ela murmurou. — E eu não estou preocupada com William Cowens.
— Não? Então talvez seja o motorista da limusine. Um ex-amante, talvez? — Ele disse-o levemente, mas havia um nítido rosnado em suas últimas palavras.
Sara riu. — Certo, é o motorista da limusine. Estava apenas assustada, isso é tudo. Não estou acostumada a rondar em torno de delegacias da polícia.
Eles tinham chegado ao seu carro. Sarah destravou os alarmes e travas e Raj chegou em torno dela para abrir a porta. — É Blackwood? — Ele persistiu.
Ela jogou a bolsa sobre o banco e deu-lhe um olhar exasperado. — Eu lhe disse. Eu nem sequer sei…
Raj colocou uma mão na porta e outra contra o telhado de seu carro, prendendo-a efetivamente. Ele era tão malditamente grande. Ela abafou uma breve e irracional vontade de correr, olhando para cima para encontrar seu olhar divertido em seu lugar. — Você sabe como funcionam os detectores de mentiras, Sarah?
Ela franziu a testa em confusão. — É claro. Quando uma pessoa mente sobre algo, existem alterações fisiológicas que denunciam. Pulsação, respiração… e provavelmente algumas outras coisas também. Não é exatamente a minha área, mas o que…
Ele se inclinou até que sua boca estava em seu ouvido. — O seu pulso e respiração apenas dispararam um pouco. E seu delicioso coração vai sair do seu peito. Ou você está loucamente apaixonada por mim, ou não está sendo totalmente honesta. Embora possa ser ambos. — Ela sentiu o toque suave de sua língua ao longo da curva da sua orelha. — Deliciosa. — ele sussurrou.
Ela estremeceu e se forçou a encontrar seus gelados olhos azuis. Só que eles não estavam assim tão gelados. Ela lambeu os lábios e aqueles olhos seguiram o movimento de sua língua, antes de retornarem para encontrar o seu olhar com um lento e sensual piscar de olhos. Gelo também pode ser quente, lembrou a si mesma.
— Por que você se importa? — Ela conseguiu dizer.
— Você não veio até aqui para oferecer conselhos sobre vampiros, — ele repreendeu suavemente. — É claro, há sua estreita relação com o Senhor Krystof… — Ele deixou as palavras trilhando sugestivamente.
— Eu realmente não o conheço. — ela admitiu. — Embora, eu o tenha visto em uma recepção da Universidade uma vez. E eu poderia provavelmente pedir a Cyn para marcar uma reunião ou…
— Eu acho que não. — ele interrompeu asperamente.
Sarah olhou para ele com surpresa e pegou o flash de alguma emoção em seus olhos. — Se você tem alguma dúvida sobre vampiros, pode perguntar a mim. — ele disse. — A ninguém mais.
— Desculpe? — Disse ela, sua atitude arrogante restaurando a sua maneira usual.
Raj lhe deu um sorriso encantador, um que quase a fez esquecer sua determinação recém-descoberta. — O Senhor Krystof não lida muito com os seres humanos. Enquanto que eu… — Ele esfregou seu rosto suavemente, colocando os lábios mais uma vez em seu ouvido. — Estou à sua completa disposição.
Sarah não precisava de um vampiro para lhe dizer que seu batimento cardíaco tinha disparado. Ela virou o rosto para o dele, impressionada com a suavidade de seu rosto, com o aroma quente e masculino de sua pele. — Raj. — Ela murmurou.
— Sim?
— O que estamos fazendo?
Ele riu. — Eu devo estar fora de prática se você precisa perguntar-me isso.
Sarah sorriu para ele, sentindo-se relaxada e quente, como ela se tinha sentido no clube. Era estranho como ele poderia fazê-la se sentir assim — estranho e um pouco preocupante. Ela começou a se virar, com a intenção de escorregar em seu carro, mas Raj tinha outras idéias. Ele embrulhou um braço à volta da sua cintura, colocando-a na ponta dos pés e beijou-a — uma longa, macia e sensual sedução de boca e língua. Quando ele finalmente terminou o beijo, traçou sua mandíbula com os lábios e colocou-a cuidadosamente sobre seus próprios pés, enquanto ela segurava-se nele, não totalmente certa que pudesse permanecer de pé sozinha.
— Eu tenho que voltar para dentro. — ele murmurou, mesmo que continuasse a prová-la, sua boca movendo-se lentamente de face a face e para baixo ao pescoço, onde permaneceu. — Porque não passo por sua casa mais tarde. — Ele mordeu suavemente o seu pescoço e então beijou o local, mandando embora a pequena dor. — E nós podemos falar sobre o que realmente está acontecendo aqui.
Sarah se forçou a respirar, dando um passo para trás. Ela tropeçou no batente da porta de seu carro com um solavanco e Raj estabilizou-a com uma mão em seu braço. Ela olhou para ele, um pouco chocada ao perceber que estava realmente considerando. Ele era um vampiro. Ela o conhecia a apenas alguns dias, na verdade a algumas horas, e ela estava pensando seriamente em convidá-lo para ir a sua casa. Para conversar. Certo.
— Você está mexendo com a minha mente, Raj? — Perguntou ela em voz baixa.
— Eu com certeza espero que sim.
Ela riu e balançou a cabeça para sua própria tolice. — Nem todos podem ficar acordados a noite inteira. Eu tenho aulas para dar amanhã e já está tarde.
— Amanhã à noite então. — ele persistiu.
Ela sorriu, pensando na comemoração de aniversário do marido de Linda — o que sua amiga faria se ela aparecesse com um vampiro como acompanhante? — Eu já tenho um compromisso amanhã à noite.
— Que tipo de compromisso? — Ele exigiu, carrancudo.
Ela deu-lhe um olhar exasperado. — Não que seja da sua conta. — Ela disse incisivamente. — Mas é com uma amiga da Universidade. É a festa de aniversário do seu marido.
— Tudo bem. Eu encontro você depois.
— Talvez. Eu não sei… — Suas próximas palavras foram cortadas quando ele a ergueu facilmente e cobriu a sua boca com outro beijo prolongado. Ela ouviu-se gemendo baixinho contra os lábios dele e soube que se ele tivesse pedido naquele momento, ela teria ido para qualquer lugar que ele quisesse. Ele a deixou ir com cuidado, o seu corpo descendo em um lento e sugestivo deslizar que deixou poucas dúvidas quanto ao estado de sua própria excitação. Ela inclinou-se contra seu peito, sentindo-se segura no círculo de seus braços enquanto prendia a respiração. — Sabe onde eu moro? — Perguntou ela em voz baixa.
Ela poderia ouvir o seu sorriso quando disse: — Eu posso descobrir. — Ela não tinha dúvida de que era verdade. Na verdade, não tinha dúvida que Raj poderia fazer praticamente qualquer coisa que ele colocasse em sua mente.
— Tudo bem. — disse ela. Ela se obrigou a afastar-se dele, para colocar uns poucos centímetros de distância entre eles, para que ela pudesse pensar. Ela se virou e jogou sua bolsa através do assento. — Eu acho que vejo você amanhã.
— Sim, você irá.
Sarah tremeu com o calor dessas três palavras e se perguntou se tinha finalmente perdido sua mente para valer, assim como seus pais e seus terapeutas tinha pensado que iria, naquela época.
Raj ficou para trás e viu Sarah sair do estacionamento. Ele estava ansioso por seu próximo encontro, e não apenas porque se sentia atraído por ela, embora, não havia dúvidas sobre isso. Na verdade, seus sentimentos por ela eram um pouco mais profundos do que gostaria. Ele queria que ela estivesse em Nova Iorque. Se não fosse por sua posição bastante singular na época, sendo um membro da comitiva de Raphael, ele a teria tomado. Mas ela não estava mais com Raphael. O cheiro de seu perfume permaneceu e ele sorriu. Oh, sim, ele iria definitivamente provar a sua doce Sarah, e seria em breve, também.
Mas também estava curioso sobre o que ela estava escondendo. E ela definitivamente estava escondendo alguma coisa. Ele poderia ter facilmente tirado a informação de sua mente. O mais leve toque exploratório já lhe tinha dito que ela era surpreendentemente suscetível à sua vontade, talvez mais do que a maioria dos humanos. Mas também lhe disse que ela estava tanto física como emocionalmente exausta com qualquer que seja o segredo que ela estivesse guardando. Raj queria descobrir o segredo logo.
Claro, que o segredo vinha embrulhado em um pacote que pretendia desembrulhar lentamente e com grande prazer. Ele não a tomaria rapidamente, como fazia com as mulheres de quem normalmente bebia, não seria como aquela mulher do bar. Raj não pretendia ser nada além do que era. Ele era um predador e os seres humanos eram a sua presa. E ele era muito bom no que fazia. Mas por alguma razão, não queria enganar Sarah Stratton e a fazer de lanche. Queria que ela fosse com ele conscientemente, que o convidasse para sua casa porque o queria lá, não porque sua mente estava nublada com luxúria. Embora, ela já o desejasse. Ela não estava completamente rendida ainda, mas as notas sutis de seu corpo lhe disseram que estaria em breve. Ele sorriu para si mesmo. Oh, sim, iria desfrutar ao desembrulhar Sarah Stratton muito lentamente.

Capítulo 14

— O fodido comissário está nos fazendo de piada, Dan. — Raj ouviu Scavetti dizer a partir do corredor. — O capitão diz que não sabia sobre isso até poucos minutos atrás, mas pode estar mentindo, cobrindo seu próprio traseiro. Eles querem saber sobre a reunião.
— Que reunião e quem quer saber sobre isso? — Raj perguntou, entrando na sala de conferências.
Scavetti deu-lhe um olhar fulminante. — Só uma mordida rápida, hein, Gregor?
— Você é um homem bruto, Scavetti. — disse Raj, nem mesmo olhando para o detetive enquanto sentava em uma cadeira junto à mesa, ficando de costas para a parede e de rosto para a porta aberta. — Mas Felder aqui parece uma pessoa decente, então eu vou assumir que você é um bom policial. — Ele se recostou na cadeira, perfeitamente à vontade. — Vamos continuar?
— Você tem algum outro lugar para estar, vampiro?
Raj lhe deu um olhar presunçoso. — Eu tenho agora.
— Filho da puta. — Scavetti murmurou. — O que há com vampiros e mulheres? — Ele balançou a cabeça com desgosto, mas sua voz tinha uma corrente de admiração que não conseguiu disfarçar.
Raj se permitiu um leve sorriso, sabendo que isso iria irritar Scavetti. O detetive corpulento respondeu na hora, dando-lhe um olhar final, antes de virar sua personalidade encantadora para seu parceiro. — Cowens e Blackwood sabem sobre a reunião.
— Eles sabem… — Felder começou.
— Que temos um dos sanguessugas aqui? Sim, eles sabem. Sem ofensa. — acrescentou, dando um olhar a Raj que deixou claro que a ofensa era muito pretendida.
— Sr. Gregor… — Felder começou.
— Me chame de Raj.
— Raj? — Tony perguntou, estendendo a única sílaba.
— Um apelido, detetive. Nós sanguessugas gostamos deles.
Os olhos de Scavetti se focaram quando ele tentou decidir se estava sendo gozado, mas Felder interveio mais uma vez. — Vamos, Tony. O Sr. Gregor… er, Raj está aqui para nos ajudar. Pedimos-lhe para vir para cá, lembra-se?
Raj tinha pena de Felder, pena por ele ter que trabalhar todos os dias com um parceiro tão pernicioso. Mas a verdade era que tinha interesse em ver este caso resolvido rapidamente, assim tentou ser mais diplomático. — O Senhor Krystof está muito interessado em resolver este assunto, meus senhores. Ele me pediu para ajudar em qualquer coisa que puder.
— Senhor Krystof, hein? — Scavetti zombou como era de esperar. — Bem, isso não é doce para caralho? Pensei que estávamos na América, Dan.
— Jesus Cristo, Tony, o que diabos está errado com você? — Evidentemente, mesmo Dan Felder tinha limites.
Scavetti fechou a boca, sugando de volta tudo o que estava prestes a dizer. Ele fez uma careta para Raj, como se desafiando-o a dizer qualquer coisa. Quando Raj permaneceu em silêncio, Scavetti deu a seu parceiro um olhar de desculpas. — Estou bem. — ele murmurou. Ele virou as costas, numa tentativa óbvia de manter suas próximas palavras em privado. Não funcionou. Raj poderia ouvi-lo facilmente, mesmo se estivesse no corredor do lado de fora da sala. Mas Scavetti não sabia disso.
— Isso apenas me tirou do sério, é tudo. — Scavetti disse suavemente para Dan. — O Comissário aparecer no último minuto assim. Este caso é importante para mim, você sabe.
— É por isso que você deve acolher a ajuda dos vampiros. — Felder respondeu. — O que sabemos sobre suas comunidades? Nada, isso sim. Então, seja agradável para variar, seu idiota.
— Sim. — Tony deu uma risada nervosa e enrijeceu visivelmente antes de se voltar para enfrentar Raj. — Você está bem com William Cowens e seu conselheiro espiritual da porra estarem na sala?
Raj deu de ombros facilmente. — Eu não tenho nenhum problema com isso. Quanto mais informações tivermos, mais cedo podemos resolver este caso e voltar para nossas próprias vidas. Acredite em mim, detetive, não estou mais feliz por estar aqui do que você está.
Descrença brilhou rapidamente nos olhos marrons de Tony, mas ele balançou a cabeça em concordância. — O Cowens e o Comissário tiveram uma reunião ‘privada em primeiro lugar’. — Ele agitou seus dedos no ar, colocando aspas nas últimas palavras para dar ênfase. — Blackwood está com eles. Eles devem estar aqui a qualquer minuto.
Raj suspirou, pensando que cada minuto extra gasto na companhia de Scavetti tinha que tomar pelo menos uma hora de sua vida imortal. Mas ele esperou, deixando os pensamentos da bela Sarah Stratton e o que tinha planejado para ela, fazer aqueles minutos passarem mais depressa.
Ele sacudiu seus pensamentos para longe de Sarah e fixou sua visão na porta momentos antes de um grande homem de terno escuro entrar na sala. Ele reconheceu Thornton, o comissário da polícia, de sua fotografia no átrio atrás do vidro à prova de balas. Com ele estavam William Cowens, seu guarda-costas e Edward Blackwood. O Comissário Thornton deu uma olhada ao redor, seu olhar brilhando brevemente sobre Raj antes de passar para Scavetti. — Já começaram a trocar informações?
— Não, senhor. — disse Scavetti. — O capitão disse para esperar por você e pelo Sr. Cowens.
— Então, vamos começar com isso. William. — disse ele, dirigindo-se a Cowens. — Estes são os detetives Scavetti e Felder. — Ele indicou cada homem, por sua vez. — Eles estão responsáveis pelo caso da Patricia e tenho plena confiança em suas habilidades. — Ele puxou duas cadeiras, ofereceu uma a Cowens e sentou-se na outra. — Edward Blackwood… — ele continuou, com um aceno de cabeça em direção ao fundador da HR5 — é o conselheiro do Sr. Cowens neste assunto e estará servindo como seu porta-voz para a imprensa, a menos que ele decida que uma declaração mais pessoal se justifica.
5 HR = Humanity Realized.
Ele não se preocupou em apresentar o guarda-costas, é claro. Não era adequado e ninguém se ofendeu. O homem olhou a sala com cuidado, o seu olhar prolongando-se em Raj antes de mover-se para ocupar uma posição entre seu cliente e a porta, enquanto continuava a ter uma visão clara de todos na sala.
— E você, senhor. — disse Thornton, dirigindo-se diretamente a Raj, — deve ser o representante de nossa comunidade local de vampiros. — Ele quase engasgou com as palavras, o que Raj achou divertido. Que a maioria dos seres humanos preferisse acreditar que vampiros não existiam era compreensível, até mesmo preferível para a comunidade. Como ele tinha dito a Krystof, vampiros sobreviveram principalmente por estarem vivendo abaixo do radar, por assim dizer. Se os humanos pensassem demasiado sobre o que andava entre eles, poderiam ser estimulados a fazer algo sobre isso. E os vampiros mesmo sendo poderosos, eram poucos em números, especialmente em comparação com os bilhões de seres humanos caminhando na Terra.
Mas sempre o surpreendeu que as autoridades humanas permitiram-se permanecer igualmente ignorantes. Thornton era o comissário da polícia de uma grande cidade americana — uma cidade que era controlada por um lorde vampiro, não menos; uma cidade que acolhia os vampiros mais poderosos do continente para a reunião do Conselho Vampiro a cada oito anos — e o homem não conseguia dizer a palavra vampiro sem engasgar com ela. Porém Raj manteve esses pensamentos para si. Ele levantou-se ligeiramente, apenas o suficiente para estender sua mão através da mesa, o que por uma questão de respeito forçou o Comissário a fazer o mesmo.
— Raymond Gregor. — ele disse. Ele notou que o comissário evitava olhá-lo diretamente e mais uma vez teve que reprimir o impulso de rir em voz alta. Tanto a televisão como o cinema tinham espalhado muitos mitos sobre vampiros, a maioria deles era loucura total. A necessidade de contato visual era uma deles. Ajudava algumas vezes focar a atenção do alvo, mas se Raj quisesse assumir o controle da mente de um ser humano, ele certamente não precisava perder tempo olhando em seus olhos para fazê-lo.
— É sempre uma honra conhecer alguns dos nossos homens de azul, detetives. — A voz de Blackwood quebrou a súbita tensão. — Mesmo se estiverem usando um terno. — acrescentou, com seu sorriso encantador patenteado. Ele apertou a mão dos dois detetives. — E Sr. Gregor… — acrescentou entusiasmado, apertando a mão de Raj. — É realmente um prazer. Meu instituto adoraria ter um diálogo com o seu povo. Creio que temos muito em comum.
Raj aceitou o aperto de mão sem comentários. A Humanity Realized perseguia os vampiros há anos, tentando “ter um diálogo”. Vampiros eram praticamente imortais e a HR queria saber por que disso, podendo depois vender o segredo para humanos ricos e assim cumprir a missão que eles chamam de ‘conquista total do potencial humano’. A última coisa que as pessoas — ou os vampiros — precisavam eram de um monte de concorrentes ricos, imbecis e imortais correndo por aí. Cada conselho de vampiros no planeta tinha emitido um decreto. Não deveria haver cooperação de qualquer tipo com os seres humanos quando se tratava de pesquisar a fisiologia dos vampiros. Era possivelmente a única coisa que cada membro do conselho concordava de todo o coração, e eles estabeleceram esse decreto de forma absoluta. A pena era a morte — permanente e instantânea — para qualquer vampiro pego infringindo o decreto. Nenhum julgamento, nenhum recurso. A justiça dos vampiros tinha seu próprio código, e este era intransigente.
— Eu gostaria de deixar algo bem claro agora. — Cowens disse, seu tom sugerindo que ele estava acostumado a ter a atenção estrita de todos. E, de fato, o silêncio reinou quando todos na sala se voltaram para olhá-lo. — A minha filha está desaparecida. — Ele respirou profundamente, sua mandíbula apertada, lutando visivelmente para manter suas emoções sob controle. — Sei como isso funciona. — disse ele sem rodeios. — Sei que todos acham que ela já está morta. — Os olhos dele endureceram e ele ficou olhando para Felder e Scavetti. — Eu não acredito nisso. Não acreditarei até que tenha um corpo para levar para casa. Eu quero uma investigação completa, vocês me entendem? Não me importo se vocês se ressentem de eu lhes falar desta maneira. Podem queixar-se à União, ao comissário, ao próprio Deus. Eu não me importo. Eu quero que minha filha seja encontrada. Morta… — Ele fechou os olhos contra a dor. — Morta ou viva. — continuou com voz rouca. — Ou cabeças vão rolar. Estamos entendidos?
Felder e Scavetti devolveram seu olhar e Raj deu-lhes crédito por não estarem intimidados com a ameaça explícita. Cowens tinha influência suficiente para fazer com que um par de detetives da cidade passassem a simples policiais de rua se lhe falhassem, e eles tinham de saber isso.
— E você. — Cowens disse, virando seu olhar irritado para Raj que o encarava impassivelmente. — Eu não dou a mínima para quem você é ou para quem seja aquele que você chama de mestre. Se um de vocês tem a minha filha, se tiverem prejudicado um único cabelo de sua cabeça. — Cowens se levantou e se inclinou sobre a mesa. — Eu tenho recursos que você não imagina, vampiro. Nenhum buraco será profundo o suficiente para se esconder. — Ele chutou a cadeira para fora do caminho de repente, jogando a todos um olhar furioso e caminhou para fora da sala, seu guarda-costas correndo para alcançar a porta antes dele. Blackwood estava apenas alguns passos atrás. O comissário simplesmente se levantou e observou-os sair.
Quando ele se virou, sua expressão era sombria. — Este é um caso difícil, meus senhores. Não apenas para vocês, mas também para o Departamento. Eu estou confiando em vocês para cuidarem de tudo. — E ele também saiu, deixando apenas os três mais uma vez.
— Bem. Isso foi útil. — Raj comentou secamente. Ele corrigiu o seu desleixo ocasional de colocar os cotovelos sobre a mesa. — Então me digam, senhores, por que exatamente Sarah Stratton estava aqui esta noite?
Scavetti se virou e olhou-o por alguns minutos em silêncio, e então balançou a cabeça, rindo em descrença. — Ela ligou, disse que tinha contato com o chefão. — Ele deu a Raj um olhar cético. — O seu chefe, eu assumo.
— Seria de imaginar. Qual é o envolvimento do Blackwood?
— Eu não sei. Ele parece gostar de você o suficiente. Talvez você lhe devesse perguntar, Raj.
Raj estudou Scavetti preguiçosamente, pensando em como seria fácil agarrar o detetive desbocado uma noite e fazê-lo desaparecer. Será que alguém iria sentir a sua falta, ele se perguntou. Poderia até mesmo um Neanderthal como Scavetti ter pessoas que o amavam?
— Você é casado, detetive? — Perguntou ele. — Você tem uma esposa? Uma família?
Scavetti o encarou com suspeita. — Por que diabos você se importa?
Raj deu de ombros. — Apenas curiosidade.
— Bem, deixe-me fora da porra da sua curiosidade. E se você quiser saber mais sobre Stratton, pode perguntar-lhe você mesmo. Idiota.
Felder revirou os olhos. — Que tal se começássemos com isso, Tony? Raj aqui não é o único com uma vida social. Eu tenho um encontro com a minha próxima ex-esposa.
Scavetti meditou por mais alguns minutos, olhando fixamente para a parede. E, em seguida, sem qualquer aviso prévio, duas mãos bateram na mesa, sacudindo a xícara de café já lascada de Felder e derrubando algumas garrafas de água fechadas. — Porra, sim! — Ele anunciou. — Vamos fazer isso.
Ele se levantou e foi até ao quadro branco que preenchia toda a parede oposta. Havia um cartaz espesso encostado ao quadro, e Scavetti colocou-o de lado para revelar uma série de fotografias e papéis colados ao quadro em si. — Temos três mulheres no último mês que correspondem ao perfil. — disse ele, de repente todo negócios. — Todas as três desaparecidas, nenhum corpo encontrado ainda.
— Qual é o perfil? — Raj perguntou curiosamente.
Scavetti deu-lhe um olhar sujo, porém disse: — Estamos pressupondo que haja uma ligação com vampiros, de modo que isso é a porra número um. O resto é o normal — idade, aparência, acesso. A filha de William Cowens, Patricia, tinha dezoito anos e estava solteira, foi vista pela última vez em uma festa de vampiros. Era uma festa aberta, anunciada nos dormitórios e em vários locais do campus, em quadros de avisos e assim por diante. Falamos com sua companheira de quarto cabeça oca que disse que convenceu Cowens a ir à festa na última hora, que ela nunca tinha ido a uma antes. Neste ponto, nós não acreditamos que ela era o alvo específico. Não houve nenhuma ligação para o pai, nenhum pedido de resgate, nem mesmo com toda a publicidade — o que não é bom para as suas chances. A menos que um de vocês a tenha? — Perguntou ele com curiosidade falsificada. — Eu entendo que vocês as mantêm vivas por alguns dias.
Raj não se preocupou em responder, e Scavetti continuou com um grunhido. — De qualquer forma, por enquanto, parece um rapto aleatório — ela saiu da festa mais cedo e, tanto quanto podemos dizer, sozinha, ninguém a viu desde então. O que sabemos é que ela não voltou para o dormitório.
— Voltando ao incidente mais recente, antes da Cowens… — Ele mudou-se para onde estava a fotografia de uma outra jovem que parecia mais velha do que Patricia Cowens, mas não muito. — Regina Aiello, 21 anos de idade, vivia com sua mãe que foi quem reportou o desaparecimento. A mãe diz que ela saiu com as amigas, uma espécie de noite para garotas antes do casamento de uma delas que seria no fim de semana. Falamos com as amigas que declararam que todas elas foram a uma fodida casa de sangue…
— Essa é aparentemente a festa de despedida destes dias. — Dan interrompeu para adicionar. — Não existem mais dançarinos exóticos, eu acho. Agora são os vampiros.
— As outras não perceberam que ela estava desaparecida… — Tony levantou a voz um pouco mais que seu parceiro e continuou falando. — Até que a mãe começou a ligar no dia seguinte. Aparentemente, vários de seu grupo descolaram durante as festividades para fazer Deus sabe o quê, e apenas assumiram que Aiello tinha feito o mesmo. A mãe diz que não sabia que elas estavam indo para uma casa de sangue e parecia muito chocada com a idéia. Conversando com as amigas da menina, tive a impressão que Aiello não era exatamente uma jogadora.
Raj ouvia com apenas meia atenção os fatos — entrevistas com as amigas de Aiello e assim por diante — ele afastou-se da mesa e se levantou, caminhando até ao quadro onde estudou as fotos das mulheres desaparecidas. O desaparecimento de Trisha Cowens poderia ser questionável — aquelas festas de vampiros ridículas não tinham nada a ver com os verdadeiros Vampiros — mas Aiello desaparecer de uma casa de sangue era preocupante.
Raj franziu a testa e continuou a ler enquanto Scavetti passou para a mulher ao lado, a primeira tomada, na medida que eles sabiam. Martha Polk, dezenove anos, prestes a casar, porém vivendo com seus pais. Ela foi contratada por uma empresa de luxo e tinha trabalhado numa festa privada, após a qual várias pessoas, incluindo alguns dos garçons, foram a outra das casas de sangue.
Raj via um padrão definido em desenvolvimento, mas se eram vampiros ou alguém que queria que se parecesse com vampiros era a grande questão. Nem todo mundo voltava diretamente para casa depois de irem às casas de sangue. Scavetti não estava tao errado nesse ponto. Quando um vampiro encontrava uma saborosa e receptiva parceira, não era incomum para os dois passarem alguns dias juntos, especialmente em um fim de semana. A mulher muito jovem que estava descansando no escritório de Krystof anteriormente era um bom exemplo. Mas Polk tinha desaparecido a quase um mês e isso era muito tempo.
— Todo o grupo de Polk desenvolveu uma fodida amnésia sobre a noite em questão. — Scavetti estava dizendo. — Nenhum deles vai dizer com certeza que Polk estava com eles na casa de sangue, mas eles também não vão dizer que ela não estava. Aparentemente, seu noivo é do tipo ciumento e ninguém quer colocá-la em apuros. Como se ela já não estivesse em apuros.
Raj estudou a imagem da jovem, que era a fotografia da sua identificação do trabalho. Ela parecia muito jovem para se casar. Seu rosto era aberto e expressivo, com um grande sorriso e cabelos castanhos, que estavam apanhados em um rabo de cavalo.
— E depois há a Dra. Estelle Edwards. — Scavetti continuou. — Ela se encaixa no período de tempo, desaparecendo cerca de uma semana antes de Polk, e há uma conexão com vampiros, mas ela é mais velha do que as outras e viaja em círculos radicalmente diferentes. Ela é uma médica de pesquisas na universidade.
Raj mudou-se para o perfil de Edward, que estava separado do resto. Ele se inclinou para mais perto, esforçando-se para perceber a caligrafia irregular de alguém. Ele franziu o cenho. Seu marido disse que ela tinha ido ao encontro de uma conexão vampírica local? Que diabos era aquilo?
Ele desviou o olhar novamente para ver as imagens presas na parte superior do quadro. Scavetti estava certo. Estelle Edwards se destacava. Ela estava apenas nos seus trinta e alguns anos, mas com os cabelos loiros cuidadosamente penteados, e seu rosto bem de polpa, ela parecia muito mais velha, quase matronal. Todas as outras três eram pequenas e de cabelos escuros, com uma maturidade jovem para aquelas que Raj reconhecia como o tipo de mulheres que muitos vampiros — incluindo ele — gostavam de se alimentar. Essa maturidade lhes dava um brilho especial, suavizando suas bochechas e destacando seus lábios em uma plenitude que convidava um vampiro a esmagá-los com sua boca e saborear o suco da vida.
Ele se voltou para a imagem de Estelle Edwards. Tudo sobre ela dizia resolvida, casada, matrona. Ela era atraente o suficiente, mas nunca chamaria a atenção da maneira que as outras três faziam.
— Que tipo de pesquisa? — Raj perguntou, interrompendo o fluxo de Scavetti. O detetive o olhou com uma previsível cara feia que se transformou em rápido interesse quando viu a imagem que Raj estava olhando.
— Eu não tenho certeza. Você se lembra, Dan?
— Sim. — Felder estava folheando suas anotações. — Uh… hematologia?
— Sangue. — disse Raj infeliz.
— O marido disse que ela estava tentando obter financiamento para um estudo sobre vampiros. — Felder acrescentou. — Que queria descobrir o que os torna … — Ele deu uma olhada para Raj, como se tivesse esquecido por um momento que havia um verdadeiro vampiro no quarto com ele. — Isto é, por que todos vocês vivem tanto tempo e tudo mais.
— Um assunto perigoso. — Raj disse pensativo. — Como ela pretende fazer isso sem uma cobaia?
— O que você quer dizer?
Ele deu uma volta completa e olhou entre os dois detetives, tentando decidir o quanto a dizer. — Quero dizer que é difícil estudar o sangue sem uma amostra, e nenhum vampiro teria cooperado, não por sua vontade de qualquer maneira. A não ser que ele tenha um desejo de morte.
— Por que não?
— Nós não compartilhamos. — Raj disse categoricamente. — Como você sabe que ela faz parte deste caso? Talvez ela pressionou um vampiro que não queria cooperar e foi morta por seus esforços.
— Não temos certeza de que ela faz, na verdade. Como diz Tony, o momento se encaixa, e há uma conexão com vampiros definitiva, mas quanto ao resto… — Felder encolheu os ombros. — Você pode estar certo sobre alguns vampiros ficando chateados e fazendo-a desaparecer, mas seu marido foi bastante insistente de que ela fez contato com alguém na comunidade de vampiros. Alguém que estava disposto a cooperar em sua pesquisa. E ele nos disse que ela já encontrou quem quer que fosse pelo menos uma vez antes.
— Será que esse contato tem um nome?
Scavetti bufou uma risada desdenhosa. — Perguntei-lhe o mesmo. Ele diz que ela é muito reservada sobre seu trabalho. Nós demos uma olhada dura no marido, mas acho que não há nada lá. Como em nada lá. Tive a impressão de que eles não gastam muito tempo juntos. Nenhum calor, se você sabe o que quero dizer.
— Ele é um doutor na Universidade também. — Felder acrescentou. — E também chefe de uma grande clínica psiquiátrica ou algo assim. Ele parecia extremamente certo de que sua esposa estava indo obter suas amostras, no entanto. Diz que ela tinha companhias farmacêuticas fazendo fila para patrociná-la. Um monte de dinheiro, também.
— Quanto dinheiro? — Raj perguntou curiosamente.
— O bom médico quase engasgou com sua própria língua tentando evitar responder a essa pergunta, mas eu o fiz admitir que estamos falando em algo com dezenas de milhões.
— Interessante. — Raj disse, escondendo a sua preocupação crescente. — Vou verificar esse ângulo para vocês. — disse ele. — Alguém pode ter estado com ela, seja humano ou vampiro, e se isso for verdade, eu vou encontrá-lo. Ou ela. Eu gostaria de falar com o marido de Edwards. — disse ele. — E talvez visitar o seu laboratório.
— Vou definir algo… — Felder começou a dizer, mas Scavetti o interrompeu, ignorando o olhar de surpresa do seu parceiro.
— Isso não vai acontecer, Gregor. Agradecemos a colaboração e tudo, mas não posso ter você contaminando o meu caso, andando por aí a falar com as pessoas, turvando a investigação.
Raj não se incomodou em discutir. Já não importava o que o detetive queria. Krystof o tinha enviado aqui para cooperar com a polícia em sua investigação e ele tinha feito isso. Mas Raj tinha assumido que não havia nenhum vampiro envolvido nesses crimes, que toda esta cooperação era apenas para mostrar. Ele tinha aprendido o suficiente esta noite para fazê-lo duvidar dessa hipótese, e isso significava que qualquer verdadeira cooperação com as autoridades estava agora encerrada. Se vampiros estavam envolvidos, este era um assunto interno e seria tratado como tal. Se o marido de Edwards estava certo e um vampiro estava fornecendo sangue para esta pesquisa — bem, só havia um resultado possível para o vampiro e todos os seres humanos envolvidos com ele. E o resultado provavelmente não seria aceitável para as autoridades humanas.
Raj olhou novamente para o quadro, memorizando os fatos mais marcantes de todas as quatro mulheres desaparecidas, antes de virar para passear ao redor da mesa.
— Eu acho que terminamos aqui, então? — Ele olhou para Scavetti, que pareceu surpreso com sua rendição rápida, embora ele tivesse sido aquele que insistiu para que Raj ficasse fora do seu caso e da sua vida. — Excelente. — Raj disse, quando ninguém se opôs. Ele foi para a porta, mas um súbito pensamento o fez parar e virar. — Se houver um vampiro misturado em qualquer parte disso, eu vou encontrá-lo e ele será julgado. Para vossa própria segurança, meus senhores, deixem essa parte da investigação para mim. Se eu souber de alguma coisa que possa ajudá-los em seus próprios esforços, eu vou deixá-los saber. Nesse meio tempo… — Ele puxou uma fina caixa de ouro do bolso interno da sua jaqueta. — Meus números. — disse ele, abrindo a caixa e soltando alguns cartões de visita sobre a mesa. — Chame a qualquer momento, embora à noite é sempre melhor. — disse ele com um sorriso rápido.
Scavetti ainda estava rosnando quando Raj caminhou pelo saguão e saiu no escuro para começar a procurar respostas.
Capítulo 15

A temperatura caiu alguns graus enquanto Raj estava dentro da delegacia. Buffalo e seu clima do caralho. Ele lembrou da sua cidade natal, na Costa Báltica da Polônia. O frio e a umidade pareciam durar lá também, dias passando um após o outro sem sequer um vislumbre honesto de sol. Seu pai tinha sido um estivador e de vez em quando, especialmente no inverno, uma caixa de laranjas da Itália ou da Espanha simplesmente abria, derramando a sua carga por toda a doca. Nesses dias, seu pai sempre trazia para casa alguns globos maduros e suculentos embrulhados em um papel de tecido fino como tesouros inestimáveis. O perfume espesso do óleo cítrico quando sua mãe tirava a pele, a doçura do suco enquanto saboreavam cada parte — um Raj muito jovem tinha sonhado com ensolaradas encostas cheias de belas mulheres em vestidos minúsculos puxando os círculos dourados em seus aventais.
Um ônibus passava na rua, expelindo gases do escape e colidindo com seus devaneios. Raj suspirou. Tinha passado séculos desde que tinha visto o sol pela última vez. Por outro lado, não havia escassez de mulheres bonitas em vestidos provocantes. Ele pensou em Sarah Stratton e seu vestido vermelho. Infelizmente, Sarah teria que esperar até amanhã. Ele tinha um vampiro com quem falar hoje à noite.
A viagem para a unidade de Krystof foi curta, a maioria das ruas estavam sem tráfego. Já era tarde para os mortais, mas ainda era o meio do dia útil para os vampiros. Raj tirou seu telefone celular e rolou através dos números armazenados, encontrando aquele que queria.
— Sim. — Jozef respondeu.
— Devemos nos encontrar. — Raj afirmou.
Houve um momento de silêncio. — Dá-me umas duas horas.
— Estarei no lado de fora. — Raj desligou. Duas horas para matar. A deliciosa Sarah Stratton lhe veio à mente uma vez mais, mas ela provavelmente estava aninhada e segura na sua cama agora, toda saborosa e quente. Ah, bem. Duas horas. Ele poderia muito bem verificar a casa onde Patricia Cowens foi vista pela última vez.
Ele fez uma rápida meia-volta e voltou para seu covil, permanecendo lá o tempo suficiente para se livrar do terno e colocar seu conjunto habitual de frio — suéter, jeans e jaqueta de couro, tudo em preto.
De volta ao BMW, ele ligou para o endereço memorizado do último local que a garota desaparecida havia sido vista e o inseriu em seu GPS para obter a direção. Houve um tempo em que estas ruas lhe eram tão familiares como as docas da Polônia, e esta parte da cidade não havia mudado muito nos últimos anos. Mas ao contrário das ruas de sua infância, Buffalo não tinha nenhum poder nostálgico sobre suas memórias. Ele deixou-as ir logo que partiu. Esta não era mais sua cidade, nunca tinha sido.
Cruzando pelas ruas em silêncio, ele estacionou a poucos quarteirões de distância da casa onde Patricia Cowens tinha participado da festa dos aspirantes a vampiros. Ninguém sabia exatamente onde ou quando ela tinha desaparecido. Ela saiu da casa pouco depois das onze, dizendo à sua companheira de quarto que pretendia pegar o ônibus de volta ao campus. Mas não voltou para o dormitório e o motorista do único ônibus que estava funcionando naquela noite não se lembrava de pegá-la. Claro, depois de algum tempo todos os passageiros provavelmente pareciam iguais para esses caras, mas a polícia estava supondo que ela tinha sido sequestrada entre a casa e o ponto de ônibus, provavelmente antes de ter alcançado a movimentada rua principal.
A área estava tranqüila quando ele desceu do seu carro e olhou em volta. Perto dali, um cachorro latiu rapidamente, mas logo desistiu do esforço quando Raj desceu a rua. O bairro era velho, fileiras de casas modestas em lotes apenas grandes o suficiente para dar a ilusão de privacidade. Elas estavam bem conservadas em sua maioria, as calçadas cheias de minivans e carros de médio porte. Era um trabalho noturno, assim que todos os bons cidadãos estavam profundamente adormecidos, suas casas bem trancadas, com apenas o brilho ocasional de uma luz noturna através da janela ou a pouca luz da varanda para afastar a escuridão.
Raj caminhou até a casa onde a festa tinha sido realizada, subindo as escadas e virando-se para repousar na varanda e olhar ao redor. Havia luzes de rua aqui, mas muitas árvores, também. No verão, as árvores bloqueariam grande parte da luz das lâmpadas em cima, mas com o inverno acabado a apenas um par de semanas, a maioria das árvores ainda estavam nuas, seus galhos retorcidos como esqueletos fundindo as sombras nas calçadas e quintais vazios.
Não havia sinais de luta, dizia o relatório de Scavetti. Nenhum sangue — nenhum que a polícia humana tenha conseguido encontrar de qualquer maneira — nem pedaços rasgados de roupas ou pertences descartados. Mais significativamente, ninguém tinha ouvido absolutamente nada. O cão da rua abaixo não tinha latido o bastante para que o proprietário notasse e não tinha havido nenhum grito. Mas se William Cowens estivesse certo e o sequestrador de sua filha era um vampiro, ela teria ido de bom grado. E se esse vampiro tivesse perambulado por tempo suficiente, o cão teria se acostumado com ele e parado de latir, assim como fez com Raj esta noite.
Ele estudou a rua silenciosa. Quem tinha levado a menina havia esperado. Não especificamente por ela talvez, mas por alguém da festa. E se a teoria de Scavetti estivesse correta, o sequestrador tinha feito isso pelo menos duas vezes antes. Assim, ele teria encontrado um lugar escuro, onde ninguém o notaria, mas com uma visão clara da casa para que pudesse ver as pessoas indo e vindo, esperando uma mulher sozinha, uma mulher jovem como Patricia Cowens.
Raj concentrou-se no padrão de sombras e luz, lugares onde um de seus próprios poderia se ter escondido. Três casas abaixo e no outro lado da rua, entre duas casas mais antigas de tijolo, havia um espaço de aproximadamente três metros. A casa agora tinha uma luz acesa na varanda, mas nenhuma daquela luz chegava ao escuro espaço entre as duas casas.
Ele examinou o bairro lentamente e saiu da varanda, caminhando para baixo até ao outro lado da rua. Ao se aproximar do esconderijo, sua cabeça levantou e seus sentidos de vampiro lhe chamaram a atenção. Ele respirou profundamente em seus pulmões, provando o ar quando se aproximou, suas botas quase silenciosas na grama seca.
Se o vampiro fosse poderoso o suficiente, poderia envolver-se em sombras e desaparecer, especialmente à noite e sem luz direta. Em sombras tão profundas quanto essas… Ali. Uma espécie de perfume. Era fraco, mas o sentido de cheiro de Raj era muito mais forte que o de um ser humano e, apesar de ter estado frio, não tinha havido nenhuma chuva ou neve desde Trish havia sido sequestrada apenas alguns dias atrás. Ele inalou de novo e enrugou seu nariz em desagrado. Muito doce. Mas misturado com o perfume estava o cheiro de sangue velho dos Vampiros. Merda. Ele tinha ido lá na esperança de provar a si mesmo que estava errado, para encontrar provas de que tinha sido um ser humano sequestrando os seus próprios, e não algum patife que tinha decidido quebrar todas as regras da sociedade dos vampiros nesta nova era.
Ele tomou outro fôlego, fixando o perfume em sua memória. Seja lá quem tinha sido, assumiu o poder de se esconder nas sombras, indo para cima da vítima sem que ela visse nada. Além do próprio Raj, Krystof em geral não mantinha pessoas ao redor que fossem fortes o suficiente para fazerem algo assim. Os mais novos lacaios do lorde vampiro eram mais fracos do que nunca, isso provavelmente porque Krystof sabia que o seu controle estava enfraquecendo também.
Tinha um estranho percebido essa vulnerabilidade e se mudado sem o conhecimento de Krystof? Alguém que estava procurando na zona em preparação para uma aquisição? Se assim fosse, o intruso não teria escolha a não ser caçar para se alimentar. Os doadores humanos nas casas de sangue estavam indisponíveis para alguém de fora, alguém que não devia estar aqui e tinha que esconder a sua presença. Mas porque raptar as mulheres? Por que não simplesmente encontrar uma companheira disposta e limpar a sua mente como Raj tinha feito antes?
Ele deu um passo para fora das sombras entre as duas casas, mas recuou rapidamente quando ouviu um carro se aproximando, movendo-se lentamente, como se procurasse por um endereço. Ele observou quando o motorista quase parou em frente à casa da festa, mas então seguiu em frente para estacionar na frente do vizinho em vez disso. O motor foi desligado e a luz interior entrou em campo quando o motorista saiu e fechou a porta, seus olhos grudados na casa onde Trish Cowens tinha sido vista pela última vez.
Raj sorriu, não de todo surpreso que o motorista fosse Sarah Stratton. De todas as formas, isso deu-lhe um momento de satisfação pessoal. Ele estava certo sobre ela. Ela estava envolvida no caso de alguma forma, e de uma forma que não queria que ninguém soubesse.
Envolvendo a escuridão à sua volta, assim como o sequestrador deve ter feito, Raj atravessou a rua, não mais do que a sombra de uma nuvem que passa sobre a lua minguante enquanto deslizava através da noite. Ele aproximou-se dela em perfeito silêncio, até que estava de pé a poucos metros de distância, sob os galhos nus de um olmo6. Ela estava perto o suficiente para que ele pudesse ouvir cada respiração sua, ouvir seu coração batendo rapidamente com nervosismo ou talvez medo.
6 Gênero de ulmáceas que compreende grandes árvores frondosas.
Não tão ousada quanto Raj, ela andou só até metade da caminhada irregular em direção à casa, murmurando baixinho por todo o caminho. O pouco que conseguiu ouvir de suas palavras não fez sentido para ele. Ela parou e olhou o alpendre escuro e então virou e foi rapidamente em direção ao seu carro, parecendo de repente ansiosa para ir embora. Ainda sem saber que Raj estava lá, ela correu pela calçada, seus saltos agulha clicando acentuadamente no cimento. Ela passou direito por ele, seus braços cruzados com força, segurando-se de uma forma que sugeria que frio vinha de alguma outra coisa que não o clima.
Raj se posicionou atrás dela e puxou-a para seu peito, segurando-a lá com uma mão sobre a sua boca para impedi-la de gritar.
— Eu pensei que você estaria segura em sua cama por essa hora, pequena. — ele murmurou perto do seu ouvido. Ele suavizou o seu aperto, sem deixá-la ir, perfeitamente consciente de seu corpo contra o dele, o ruído do seu coração contra o seu braço onde a segurava com força, e os arrepios de medo desvanecendo quando ela percebeu quem a estava segurando. Ela era pequena em comparação a ele. Ele poderia ter erguido seu corpo e a levado facilmente, assim como Trish Cowens tinha sido levada apenas alguns dias antes. Mas ele não era um vampiro desonesto, e essa não era Trish Cowens.
— Se eu tirar minha mão, você promete não gritar?
Ela jogou sua cabeça para baixo no que ele assumiu ser um parecer favorável. Ele tirou a mão da boca dela, descansando-a no seu quadril em vez disso, ainda segurando-a no lugar. Ela atraiu uma longa respiração, mas não tentou se libertar. Ela relaxou em seus braços por pouco tempo, deixando a cabeça cair contra o seu peito.
— Você está tremendo. — disse ele calmamente.
Ela endureceu de indignação. — Você me assustou até a morte!
Raj riu, deslocando o seu aperto e transformando-o em uma carícia, desfrutando da sensação de suas curvas macias sob suas mãos, o quente peso dos seus seios contra seus braços. — O que você está fazendo aqui, Sarah?
Ela fez um movimento então, mas ele apenas abraçou-a com mais segurança. — Estava apenas curiosa. — ela insistiu. — E, estou preocupada com Trish.
— Sarah, Sarah. — ele repreendeu. — Você está mentindo novamente.
Ele soltou-a quando ela girou para olhá-lo. — O que você está fazendo aqui?
Ele levantou uma sobrancelha para ela. — Estou cooperando em uma investigação policial ativa. Você, por outro lado, foi informada de que seus serviços não eram necessários. E ainda assim, aqui está você.
Ele sentiu mais do que viu o calor do seu rubor. — Pelo menos não estava me esgueirando nas sombras, espionando pessoas. — ela murmurou, recusando-se a encontrar o seu olhar.
Raj apontou para o espaço aberto. — Eu dificilmente estava me esgueirando. Você simplesmente não me viu, do qual estou profundamente magoado.
Ele esperava um sorriso, mas em vez disso ela olhou-o com os olhos cheios de medo. — Ela não o viu também. — ela sussurrou. — Ele estava apenas… lá.
— Quem? — Raj perguntou subitamente intento. Ele reprimiu uma súbita vontade irritante de alcançá-la, puxá-la para perto e tranquilizá-la de que nada poderia machucá-la enquanto estivesse com ela. Ele queria respostas. — O que você sabe, Sarah?
Ela olhou-o com olhos assombrados, procurando seu rosto, procurando… O quê? Raj se perguntou.
— Nada. — ela sussurrou. — Pesadelos. Eles não significam nada. — Sua voz travou nas palavras finais.
Ele chegou mais perto dela então, mas ela bateu-lhe, tomando conta da frente do seu casaco com ambas as mãos e apertando o couro como uma tábua de salvação. Ela estava tremendo de novo e ele envolveu os braços à sua volta em confusão.
— Diga-me os seus nomes, Raj. — ela exigiu de forma inesperada, levantando a cabeça o suficiente para dar-lhe um olhar de procura. — As outras mulheres. Tony não me disse…
Raj franziu a testa. — Porque precisa de seus nomes, Sarah?
Ela sufocou uma risada áspera e baixou a testa para o seu peito. — Porque eu preciso saber se estou ou não ficando louca. — Sua voz estava abafada contra seu suéter, mas ele podia ouvir o desespero em sua voz. Isso o atormentava mais do que deveria, porém fez a sua decisão fácil.
— Você sabe sobre Trish. Ela está nos jornais.
Sarah o olhou com surpresa, como se não esperasse que ele atendesse a seu pedido. Ela assentiu com a cabeça.
— Há três outras mulheres, Estelle Edwards, Martha Polk e Regina Aiello.
Seu rosto parecia deformado, um soluço escapou de seus lábios quando ela escondeu o rosto mais uma vez contra seu peito. — Regina. — disse ela suavemente. — Sinto muito.
— Sente muito pelo quê, Sarah? Me diga o que está acontecendo.
— Nada. — ela disse, afastando-se dele para ficar sozinha, mesmo que sua mão acariciasse a frente do seu suéter, enxugando a umidade de suas lágrimas. — A mãe da Regina é alguém que conheço. Ela tem estado preocupada, e quando ouvi sobre esse caso… Não sei o que lhe vou dizer agora.
Ela estava mentindo de novo, droga. — Precisamos falar sobre isso. Para sua casa, agora. — disse ele, impaciente. — Eu te seguirei…
— Não. — Ela encontrou o seu olhar irritado, a mancha de ouro em seus olhos castanhos brilhando nas luzes da rua. — É tarde. — ela ofereceu como desculpa. — Não devia ter vindo. Não sei o que pensei que iria encontrar aqui.
Raj estudou-a silenciosamente, debatendo. Ela sabia alguma coisa, ou achava que sabia. Por outro lado, ela nem sabia os nomes das mulheres desaparecidas, além de Trish Cowens, assim que o que ela achava que sabia não chegaria ao coração de quem estava fazendo isso. Provavelmente. E ele ainda tinha que se reunir com Jozef hoje à noite.
— Tudo bem. — disse ele, sem sorrir. — Amanhã à noite, então.
Ela olhou-o, como se não completamente confiante da sua entrega fácil. — Então estamos bem, certo?
Raj sorriu então, uma lenta curvatura de seus lábios. — Oh, sim, Sarah. Estamos muito bem.
Ela recuou vários passos para longe dele, recuando como se ele fosse um animal perigoso, como se estivesse preocupada que ele de repente saltasse em cima dela e a devorasse aqui mesmo nessa fria rua de Buffalo. O pensamento o manteve divertido quando ela se virou finalmente e correu para seu carro.
Ela passou por ele quando foi embora, dando um pequeno aceno através da sua janela aberta. Raj sorriu. E quando ela se foi, ele apertou um número de discagem rápida.
— Meu senhor. — Emelie respondeu instantaneamente. — Em que posso servi-lo?
Raj estremeceu. Ele odiava essa merda formal de vampiros e a Em sabia disso. Ela apenas usava essas formalidades se estava chateada com ele, ou se alguém estava ouvindo. E ele não conseguia pensar em nada que tenha feito para irritá-la recentemente. — Livre-se de quem quer que seja, Em. Precisamos conversar.
— Sim, meu senhor.
Raj esperou, ouvindo quando Em se moveu, ao invés de pedir aos outros para sair. Ele poderia ouvir sua respiração constante enquanto caminhava, uma porta abrir e fechar e depois outra. — Ok. — disse ela em um tom muito mais casual. — Estou no escritório. O que há, chefe?
— Parabéns. — disse ele secamente. — Você ganha. Traga algumas das minhas pessoas aqui em cima. Não um exército, ainda não de qualquer maneira. Apenas alguns para reforço. E ninguém além dos meus próprios filhos, pessoas que posso confiar absolutamente.
— Sim. — ela respirou em óbvio alívio. — Estamos prontos para ir, meu senhor. Eu selecionei alguns depois que você partiu, por precaução. Se partirmos de imediato, podemos estar aí antes do amanhecer.
— Amanhã à noite está bom o suficiente. Não há nada específico ainda, mas há a possibilidade de alguém de fora da cidade esteja se movendo contra Krystof e eu não vou deixar isso acontecer.
— Só dar a palavra, meu senhor.
— O que eu faria sem você, Em?
— Você gerenciaria. Não tão bem, é claro. — ela acrescentou. — Mas você gerenciaria.
— Obrigado. Mais uma coisa, Em. Quero saber tudo o que temos sobre a mulher que visitou Manhattan com Raphael e sua companheira na semana passada… Sarah Stratton. Coloque Simon nisso e diga-lhe para ir fundo. Já sei que ela leciona na universidade aqui em Buffalo, de modo que é um lugar para começar, mas quero tudo que Simon possa encontrar. Caso ele precise de uma imagem, ela deve estar no vídeo de segurança do clube.
— Tudo bem. — Em disse lentamente. — Você vai acolher gatinhos de rua novamente, chefe?
Raj riu. Sua curiosidade era bastante para queimar através do éter, mas Raj não estava com vontade de dizer mais nada. Ainda não.
— Vou falar com você mais tarde, Em. — disse ele, ignorando a sua pergunta. Ele desligou a chamada, colocou seu telefone no bolso e abriu a porta do carro, deslizando para o confortável interior. Partiu na direção oposta à que Sarah tinha tomado, pensando em gatinhos de rua e sobre Emelie. Ela sempre dizia que ele tinha uma fraqueza por donzelas em perigo.
E ela devia saber, sendo que a donzela que ele tinha resgatado uma vez havia sido a própria Emelie.
Albany, Nova York 1918
Raj passeava pela rua escura, bebendo da excitação, o medo. Os Estados Unidos estavam em guerra. Homens faziam fila para ir lutar na Europa, buscando a glória na batalha que nunca seria encontrada nas ruas de suas cidades natais. Raj poderia ter avisado. Poderia ter-lhes dito que não havia nada emocionante sobre o cheiro de um campo de batalha, o sangue e excrementos, os gritos de seus amigos morrendo enquanto você não podia fazer nada além de lutar para salvar sua própria miserável vida. Mas ele não disse nada. Eles não o teriam ouvido de qualquer maneira.
Jovens ansiosos percorriam as ruas de Albany, bêbados na maior parte, desfrutando de um arremesso final antes que o Tio Sam os enviasse para se tornarem soldados. Pela manhã, eles estariam lamentando essa última noite de indulgência — quando suas cabeças estivessem latejantes, seus estômagos se rebelando, e eles ficassem presos em um quente e lotado ônibus para a viagem a algum campo sombrio.
Mas para alguns deles, a maioria deles provavelmente, esta noite era o primeiro verdadeiro sabor de liberdade, sua primeira vez longe da fazenda da família. As brigas eram comuns, mas a polícia dava pouca atenção, reconhecendo a futilidade de tentar trazer ordem a um caos que se dissiparia em um ou dois dias de qualquer maneira. E enquanto os novos recrutas se limitassem a bater uns nos outros, ninguém se importava.
Ele afastou-se da principal avenida, procurando nas ruas laterais, nos becos escuros onde soldados inexperientes poderiam ser encontrados dormindo ou desmaiados. De qualquer forma eles eram uma refeição rápida e fácil para um vampiro com fome.
O ruído de uma multidão chamou sua atenção para o que deveria ter sido uma rua tranquila. Um grupo barulhento de homens havia se reunido, gritando encorajamentos e ameaças. Outra briga de socos, sem dúvida. Raj quase virou. Não havia nada para ele nestas disputas. Mas algo o fez voltar atrás e dar uma segunda olhada. Não foram as palavras que os homens estavam gritando; ele mal conseguia destingi-las. Mas as provocações carregavam uma brutalidade crua, a mesquinhez que ardia contra seus sentidos. Raj franziu a testa, abrindo caminho através da multidão até que se aproximou o suficiente para ver o que estava acontecendo sobre os ombros dos outros.
Ele xingou e empurrou violentamente o resto do caminho a seguir com um propósito, jogando corpos de lado em sua fúria. A jovem estava no coração do círculo, seminua, sangrenta e espancada, seu mais recente estuprador grunhindo entre suas pernas. Raj o chutou, sua espessa bota quebrando suas costelas com um som horrível. O homem gritou quando ele voou pelo ar, o ruído cortado com um gorgolejo engasgado quando ele atingiu a parede mais próxima.
Raj se agachou e girou, pronto para lutar, sua boca aberta, dentes totalmente exibido, vendo o tênue brilho de azul quando seus olhos de Vampiro queimaram como gelo frio de raiva.
Os jovens que momentos antes tinham estado cheios de bravura com a possibilidade de estuprar uma mulher indefesa fugiram antes que a ira do Vampiro os atingisse. Gritos desapareceram no beco enquanto corriam, pisando uns aos outros em sua pressa de escapar. Para um lado, o estuprador ferido estava lutando para rastejar longe, choramingando sem palavras. Raj deu um passo adiante, com a intenção de drená-lo, para garantir que ele nunca mais brutalizasse uma mulher indefesa, mas de trás dele veio um pequeno e perdido som.
Ele se virou em direção à mulher. Ela estava enrolada em si mesma, finos dedos lutando para puxar os farrapos da sua roupa ao redor do seu agredido corpo, para cobrir sua nudez. Ele tirou o casaco e cobriu-a, com cuidado para não tocá-la, para deixá-la alcançar as extremidades do tecido para seu peito quando ela apertou silenciosamente.
— Deixe-me ajudá-la, filha. — disse ele suavemente. Sua voz era profunda e melódica, a mesma voz que usava para seduzir os incautos, para persuadir os incautos a abrir suas veias para ele. Ela acalmou, tremendo como um pequeno animal sob o olhar de um predador, recusando-se a olhá-lo, como se isso de alguma forma fosse salvá-la.
— Você tem família? — Perguntou ele.
Ela começou a chorar então, soluços calmos abalaram seu corpo inteiro. Raj quis tranquilizá-la, dizer-lhe que poderia fazer tudo ir embora. O seu sangue podia não ser tão forte como o de seu mestre, Lord Krystof, e ela estava muito ferida, mas ele ainda era um Vampiro. E seu sangue era mais forte do que a maioria, forte o suficiente para curar seus ferimentos, forte o suficiente para que ele pudesse tirar esta noite de sua mente, apagar como se nunca tivesse acontecido. Mas em seu estado atual, ela não o teria ouvido, muito menos acreditado em algo tão fantástico.
— Deixe-me ajudá-la. — ele repetiu em seu lugar. Ele colocou uma única e suave mão em suas costas, estremecendo quando ela se puxou para longe do seu toque, seus gritos finalmente encontraram voz quando ela se tornou mais frenética.
Ele suspirou. A última coisa que ela precisava era as mãos de um homem sobre ela, mas o sol estava nascendo e ele tinha que entrar. — Sinto muito, querida. — disse. Ele a pegou facilmente, silenciando seus gritos com um rápido soco mental que roubou sua consciência e deixou-a mole em seus braços. Foi bruto, mas eficaz, e o tempo estava se esgotando.
Ele acelerou pelas ruas laterais em direção ao seu esconderijo, correndo do sol, começando a se perguntar o que ia fazer com ela agora que a salvou.

Capítulo 16

Buffalo, Nova York, hoje
Raj puxou o carro para a calçada perto da propriedade de Krystof e desligou o motor, saiu do carro para se encostar no seu calor ao frio de manhã cedo, esperando Jozef aparecer. Às vezes ele pensava sobre os homens que haviam atacado Emelie todos aqueles anos atrás. Eles eram homens comuns — filhos, pais e irmãos. Alguns deles sem dúvida tinham morrido na guerra. Outros teriam voltado para casa, criado famílias e envelhecido. De uma forma ou de outra, eles estavam quase certamente mortos agora. Teriam eles se lembrado da noite no beco? Teriam eles assistido suas próprias filhas crescerem e se envergonhado do que tinham feito? Havia pessoas que o chamavam de monstro, pessoas que teriam dizimado cada vampiro da Terra. Mas será que nunca olharam para seus próprios vizinhos e se perguntaram?
Ele olhou para cima quando a porta da frente se abriu sobre as silenciosas dobradiças. A profunda sombra de Jozef apareceu, lembrando a Raj que Jozef também possuía o poder de manipular as sombras se assim preferisse. Mas Jozef não era o agressor. Raj rejeitou essa idéia quase tão rapidamente como ocorreu. Jozef era poderoso o suficiente, mas era preciso inteligência e disciplina para subir mais alto na hierarquia dos vampiros. E é aí que Jozef fica aquém. Ele era a ferramenta perfeita — confiável mas completamente sem imaginação. Isso era um trunfo e uma fraqueza num chefe de segurança. Ele nunca faria uma rebelião, mas não conseguia ver outra pessoa fazendo uma também. Na avaliação de Raj, ninguém sabia disso melhor do que o próprio Jozef. Ele tinha uma boa posição aqui com Krystof e um grande interesse em mantê-lo desta forma. O chefe de segurança passou entre as luzes cintilantes ao longo da calçada da frente, atravessando todo o pátio, indo diretamente para ele.
— Raj. — Jozef disse quando chegou perto o suficiente. — Já faz um tempo desde que você visitou Buffalo.
Raj sorriu para si mesmo. Como Krystof, Jozef preferia quando Raj estava longe da cidade. Ele encolheu os ombros despreocupadamente. — O velho não gosta de mim por aqui, e eu estou satisfeito com Manhattan.
Jozef ergueu os olhos para encontrar os de Raj. — Então em que posso ajudá-lo?
Ajude-me a voltar para Manhattan, Raj pensou sorrindo. — Eu vejo um monte de caras novas. — disse ele.
O outro vampiro não respondeu imediatamente, voltando-se para olhar a rua em seu lugar. Raj não o apressou. Se Jozef queria que Raj fosse embora, essa era a melhor maneira de fazer isso acontecer. Eventualmente, sua mente chegaria a essa conclusão. Nesse meio tempo, Raj esperou.
— Demasiadas caras novas. — Jozef disse abruptamente. — Krystof transforma cinco, às vezes dez por mês, e cada um deles é tão estúpido quanto o idiota do Morales. — Jozef continuou.
— Um exército? — Raj perguntou abruptamente.
— Carne para canhão mais provavelmente, mas contra que ameaça? Nenhuma, que eu saiba.
Raj considerou isso tendo em conta as suas suspeitas. — Algum vampiro novo se movendo na área? Alguém que seja forte o suficiente para desafiar Krystof?
Jozef latiu uma risada. — Além de você, você quer dizer?
— Não deve ser comigo que ele está preocupado. Eu não lhe dei nenhuma razão. — Ainda, ele acrescentou para si mesmo. — Estou falando de outra pessoa, um forasteiro. Talvez alguém na cidade não oficialmente.
Jozef deu um olhar aguçado. — Você sabe algo que eu não sei?
Raj deu de ombros e disse — Fui à casa da qual a filha de Cowens foi levada no último fim de semana. O sinal era velho, mas esteve alguém lá. Alguém forte o suficiente para perseguir a sua presa sem ser detectado numa rua vazia.
Jozef enrijeceu. — Se Krystof achasse que alguém estava caçando ilegalmente, alguém que pudesse fazer o que você diz, eu teria sabido. Você sabe como ele é. Se houvesse qualquer perigo real, ele estaria empurrando todo mundo que conseguisse encontrar entre si e a ameaça. — Ele pausou, fazendo a conexão. — Você acha que pode ser por isso? O motivo dele ter toda esta carne nova por aí? Mas por que não me dizer?
Agora esta era uma boa pergunta. Krystof entendia as limitações de Jozef tão bem quanto Raj fazia, razão pela qual mantinha Jozef perto e Raj longe. Mas se o vampiro realmente estava caindo em senilidade, ele podia não estar pensando tão logicamente quanto fez uma vez. Raj passou os dedos pelo cabelo em frustração. Porra, aquele homem velho.
— Ok, olha, vou falar para algumas pessoas sobre essas mulheres desaparecidas. Testemunhas, membros da família, o usual. Vou descobrir quem está fazendo isso, e se for um de nós, vou fazê-lo ir embora. — Ele fez uma pausa, pensativo, lembrando aquele perfume muito doce. — Ou ela.
Jozef ergueu a cabeça. — Ela? Você acha que é uma mulher?
— Não, não acho. Mas não posso descartar a possibilidade. — ele acrescentou, pensando em Emelie — não como uma suspeita, mas como um exemplo. Como seres humanos, os vampiros do sexo feminino eram geralmente mais fracos do que os homens, mas se o vampiro tinha poder suficiente, a força física tornava-se menos importante, especialmente se a vítima era uma menina como Patricia Cowens.
Jozef franziu a testa, como se tentando envolver sua mente em torno da idéia. — Os policiais vão realmente deixá-lo por dentro da sua investigação?
— Não, não vão. Eles praticamente só queriam ir com a maré para que pudessem dizer que tinham tentado. Mas não preciso de autorização para fazer perguntas. — Ele ia dizer algo sobre Sarah, mas mudou de ideia. Ele não podia confiar nela agora — ela estava definitivamente escondendo alguma coisa dele — mas ele ainda queria mantê-la o mais longe possível de Krystof e seus palhaços.
Franzindo a testa, ele jogou as chaves para cima e pegou-as. — Tenho que ir. Fique em contato, Jozef.
Ele virou sem esperar pela resposta de Jozef, andou ao redor do carro e abriu a porta do motorista. Quando estava se afastando da calçada, o outro vampiro já tinha ido e Raj estava se perguntando porque a própria idéia de outro vampiro chegando em qualquer lugar perto Sarah fez seus arrepios aumentarem.

Capítulo 17

Sarah lutou para manter os olhos abertos no dia seguinte, ouvindo com apenas metade da atenção a reunião do corpo docente que se arrastava. Ela tinha dormido pouco na noite passada, em parte porque estava com medo que os sonhos voltassem. A outra parte era porque não parava de se virar na cama como uma adolescente boba, pensando nos lentos e suaves beijos de Raj. Ela disse a si mesma que isso só acontecia porque não tinha um relacionamento sério com um homem há muito tempo. Desde a faculdade, e até então não tinha sido realmente grave. Ela aprendeu desde cedo a evitar amizades próximas, porque sempre tinha as perguntas a respeito do passado, sobre onde tinha crescido, onde sua família morava. O tipo de perguntas para o qual Sarah não tinha boas respostas. Cyn tinha sido uma exceção à regra, porque simplesmente, Cyn não forçava. E agora, é claro, lá estava o seu novo amigo, o extremamente sexy Raj.
Ela se lembrou de um professor que teve na pós-graduação. Ele tinha nascido na Polônia antes da guerra, havia sobrevivido à destruição de sua pequena aldeia judaica, à destruição de tudo e de todos que conhecia, não só de toda a sua família — apesar de ter sido horrível o suficiente — mas de todo um modo de vida. Ela tinha sido sua assistente por um ano e tinha passado muito tempo com ele, tomando chá e ouvindo as histórias de um mundo que se foi para sempre. Ele lhe contou todos os tipos de coisas, mas o que ela recordava agora era um pouco da sabedoria do velho país. Nunca tinha dominado as palavras polacas; era uma linguagem difícil e uma que você podia estudar por anos e ainda não conseguir os sons corretos. Mas havia uma frase que em uma tradução aproximada seria algo como “Para cada monstro, há um monstro para amá-lo.”
Talvez fosse isso que ela viu em Raj. Ambos eram monstros à sua maneira, aberrações em um mundo de pessoas que passaram sobre suas vidas, nunca tendo que se preocupar com sonhos de mulheres torturadas ou… bem, quaisquer que fossem as preocupações de um vampiro. Sangue, ela supunha, e onde consegui-lo.
Ela tomou conhecimento do movimento ao seu redor e percebeu que a reunião estava finalmente terminada. Do outro lado da mesa, o Presidente do Departamento estava lhe dando um olhar estranho, e ela tentou parecer pensativa e acadêmica, ao invés de aborrecida enquanto recolhia seus papéis e empurrava-os em sua enorme bolsa. Ela deve ter conseguido porque ele deu-lhe um pequeno gesto de aprovação antes de se juntar a um grupo mais sênior, ou seja, homens, membros do departamento que iriam agora em bando até ao bar mais próximo e beberiam até um estado de estupor. Uma coisa que tinha percebido imediatamente sobre acadêmicos. Eles bebiam muito. Pelo menos os mais velhos faziam. E quem sabia? Mais alguns anos destes encontros e ela poderia estar bebendo muito também.
Ela começou a ir para o elevador com todo mundo, mas um olhar para seu relógio a mandou correndo para as escadas em vez. Ela queria tomar banho e se aprontar antes de hoje à noite. Ela podia ser um monstro, mas isso não significava que tinha de parecer ou cheirar como um.
Raj acordou com um humor muito melhor em sua segunda noite na cidade. Ele teve tempo de sobra esta manhã para voltar ao seu covil, despir as suas roupas e ainda desfrutar de um agradável e frio shot de vodka antes de se estabelecer para dormir o dia inteiro, seguro na sua abóbada pessoal abaixo das ruas do centro de Buffalo. E não machucava saber que estaria fazendo uma visita pessoal a Sarah muito em breve. O sabor da sua pele tinha sido doce. O seu sangue seria ainda mais doce. Ele franziu o cenho. Havia, no entanto, muito mais sobre Sarah Stratton que um sabor doce. Ela estava escondendo alguma coisa e ele pretendia descobrir o que era antes da noite acabar.
Ele olhou para o relógio. Passava apenas alguns minutos das oito. Havia uma parada que precisava fazer primeiro — alguns preparativos para Em e as tropas. E então a doce Sarah teria sua total atenção e ele teria as suas respostas.
Seu telefone tocou quando ele parou à frente de um grande edifício industrial não muito longe do aeroporto internacional de Buffalo. — Onde você está, Em? — Ele respondeu.
— Meu senhor. — Em disse, falando alto para ser ouvida sobre o considerável ruído de fundo do pequeno aeroporto. — Estamos carregando suprimentos. Chegaremos antes da meia-noite.
— Estou no esconderijo. — disse ele, olhando para fora do para-brisas ao prédio às escuras. — Vou acender as luzes e aquecê-lo, mas não estarei aqui quando você chegar. Vou me encontrar com alguém em poucos minutos.
— Jantar, chefe?
— Você poderia dizer isso. Falando nisso, você tem todos alimentados esta noite, certo?
— Você precisa perguntar?
— Certo. Mande todos ficarem juntos quando entrarem na cidade. Vou passar mais tarde e te atualizar, mas algo está malditamente fodido nessa cidade e não quero o meu povo andando por aí às cegas.
— Não acontecerá, chefe.
— Até mais tarde.
Raj colocou o telefone no bolso da jaqueta e saiu do carro. O antigo armazém avultava dois andares sobre ele, iluminado apenas pelas grandes luzes de segurança ao longo de toda a sua extensão substancial, e acima da porta. Suas paredes de tijolos eram velhas e enegrecidas pelos anos de poluição do aeroporto e tempo difícil, parecia um armazém abandonado. Um observador astuto teria notado, entretanto, que as luminárias eram novas e estavam fechadas em gaiolas resistentes para deter o vandalismo. Que embora as janelas estivessem sujas e salpicadas de excrementos de pássaros, nem sequer uma delas estava rachada ou quebrada, os painéis eram preenchidos com vidro de segurança e estavam firmemente selados. E a única entrada de pedestres era uma porta de aço sólido com um bloqueio pesado.
Raj sempre soube que um dia estaria fazendo um movimento contra Krystof. Ele tinha comprado esta propriedade anos atrás, conseguindo-a por uma pechincha quando seu antigo proprietário precisava de uma venda discreta e Raj tinha tido o dinheiro à mão. É claro, o título tinha mudado várias vezes desde então — no papel, de qualquer maneira. Quando ele olhou para o edifício, bateu-lhe pela primeira vez que antes que o mês acabasse ele seria o Lorde Vampiro do Nordeste. Nunca lhe ocorreu que pudesse fracassar. Ele derrotaria Krystof e tomaria seu lugar como um dos poucos rarefeitos que controlavam toda a sociedade Vampira. Não era algo que particularmente cobiçasse. Se Krystof tivesse sido um tipo diferente de mestre, Raj teria ficado satisfeito por ficar em Manhattan com seus clubes e seus filhos, isolado da política dos vampiros.
Mas Krystof sempre tinha sido um tirano mesquinho, sempre o jovem filho mimado de um casal real para o qual nascera como um ser humano. A recente deterioração de sua mente apenas agravou fraquezas inatas. E como para Raj, ele tivera o suficiente de um mestre; não tinha a intenção de servir outro.
Ele destrancou a porta de metal resistente. Uma luz suave de segurança acendeu para revelar um pequeno vestíbulo, com uma segunda porta a alguns metros além. A porta interior abriu facilmente, uma vez que a porta exterior estava totalmente fechada, e Raj entrou no edifício principal, imediatamente virando os interruptores para acender as luzes do teto.
Enquanto o exterior do edifício apenas insinuava que este era mais do que parecia, o interior não deixava dúvidas. A única janela era elevada acima do piso e selada com espessas venezianas de aço. Longos bancos de luzes industriais iluminavam todos os cantos do vasto espaço vazio. E quando o pessoal de Raj chegasse mais tarde, eles dirigiriam seus veículos direto para o armazém através das portas roll-up da baía, que estavam atualmente garantidas por hastes grossas perfuradas no chão de concreto.
Havia um mezanino7 sobre a baía, com vários quartos para seus guardas humanos — alguns homens e mulheres de confiança que Em traria de Manhattan, juntamente com o contingente de vampiros. Tal como acontece com o pequeno armazém privado de Raj na baixa, o principal alojamento para os vampiros estava abaixo do solo, seguro atrás de uma porta como as dos cofres dos bancos.
7 Andar intermédio construído geralmente entre o solo e o teto.
Seus pesados passos ecoaram alto quando ele atravessou o piso do armazém. Abaixo de dois pequenos lances de escadas, ele digitou uma combinação digital e abriu a porta do cofre. As acomodações no interior eram espartanas, mas então, não tinha sido previsto isso ser uma sede permanente. Aquela era uma área de teste, nada mais. Ele acendeu as luzes de lá também, verificou a temperatura no termostato e subiu novamente, deixando a porta aberta atrás de si. No andar de cima, havia um microondas para servir a dupla função de aquecer a comida para os seres humanos e o sangue para os vampiros. Um refrigerador estava ao lado do balcão, servia também como um bar, e contra a parede mais distante, perto da escada, um grande sistema de armazenamento de sangue cantarolava feliz. Estava vazio agora, mas não por muito tempo. Ele verificou se estava funcionando e olhou novamente para o relógio. Hora de ir.
Deixando as luzes principais ligadas, ele fechou e trancou o cofre e saiu do prédio, trancando-o atrás dele. Em conhecia aquele lugar; ela foi a única que o ajudou a configurá-lo. Ela certamente não precisava dele para lhe dizer como conseguir instalar o seu povo. E, além disso, Sarah estava esperando.

Capítulo 18

Sarah ligou o seu braço com o de Linda quando elas saíram do restaurante. Uma rajada de ar frio noturno após o calor que estava no restaurante, neste caso, era uma coisa boa. Ela provavelmente tinha bebido muito vinho, mas tinha sido tão bom e por apenas um curto momento, tinha sido capaz de esquecer tudo o resto e apenas curtir a festa. Infelizmente, jamais esqueceria por muito tempo ou tão bem quanto gostaria. Razão pela qual Linda logo voltaria para dentro com Sam e seus amigos, ficando ainda na festa, enquanto Sarah ia para casa sóbria como a boa moça que nunca havia planejado tornar-se.
— Tem certeza que não vai ficar, querida? — O fôlego de Linda estava perfumado com o adorável Château Margaux8 que elas tinham bebido a noite toda.
8 É considerado um dos melhores vinhos do mundo, e consequentemente, é também um dos mais caros. Este exclusivo vinho é fabricado na região de Bordeaux, na França.
— Sim, tenho certeza. Tenho que dormir um pouco ou amanhã serei inútil, e preciso voltar para a minha pesquisa. — Ela não tinha contado a Linda que Raj viria mais tarde e não pretendia fazê-lo. Sua amiga provavelmente começaria a planejar o casamento se descobrisse que Sarah tinha um encontro real.
— Eu faço pesquisas, também. — disse Linda alegremente. — Apenas não muito frequentemente. — Ela riu, como se aquilo fosse a coisa mais engraçada que já tinha ouvido. No restaurante, ela insistiu em levar Sarah em segurança até seu carro, mas agora Sarah estava pensando que deveria levar Linda em segurança de volta para dentro.
— Talvez você devesse voltar para dentro. — disse ela agora, tentando fazer com que Linda retornasse ao restaurante. — Posso encontrar o meu…
— Boa noite, Sarah.
Ela saltou ao som da voz de Raj, voltando-se para encontrá-lo encostado casualmente contra o seu carro, parecendo um cruzamento entre o bad boy sobre o qual todas as mães alertam as filhas e um modelo de loção pós barba da Calvin Klein. Seus ombros largos estavam envoltos em couro, seus quadris estreitos e pernas longas cobertas com um confortável jeans que fez seu estômago — e as partes baixas de sua anatomia — vibrar. Ele lhe deu um sorriso malicioso, como se soubesse exatamente o que ela estava sentindo.
— Raj. — ela disse.
— Raj? — Linda parou em seu caminho, de repente completamente sóbria quando ela captou este novo assunto. — E quem poderia ser este, Sarah, minha querida? — perguntou ela sedosamente, olhando o vampiro da cabeça aos pés com curiosidade descarada. — Essa pesquisa para a qual você tinha que voltar, talvez?
— Bem. — Sarah sentiu-se enrubescer e se apressou para dizer. — Linda, este é Raymond Gregor. Raj, minha amiga Linda Hoffman.
Raj deu a Linda um olhar frio e estendeu a mão para Sarah. Ela pegou-a sem pensar e se viu sendo afastada do abraço de Linda para se colocar na curva do braço dele. Ele a segurou lá antes de dizer: — Um prazer, Linda. Vou fazer com que Sarah chegue em casa com segurança.
— Você vai? — Linda disse maliciosamente, com um olhar especulativo para Sarah. — Bem, bem.
— Linda, Raj e eu…
— Somos velhos amigos. — Raj interrompeu. — Estava na cidade e resolvi dar uma olhada em Sarah. Já faz um tempo, não é mesmo querida? — Ele beijou sua testa, seu hálito quente sobre sua pele, e ela estremeceu com algo além do frio.
— Hmmm. — Linda obviamente não estava comprando, mas ela estava claramente disposta a esperar por toda a história. — Vou deixar vocês dois recuperarem o atraso, então. — Ela riu um pouco e disse: — Falaremos, Sarah querida — antes de caminhar de volta através do parque de estacionamento com um pequeno aceno por cima do ombro.
Sarah virou-se para exigir uma explicação de Raj, mas viu-se varrida literalmente fora de seus pés quando ele a ergueu diretamente em um beijo escaldante que fez sua raiva desaparecer, juntamente com cerca de metade das suas células cerebrais. Ele esmagou-a contra si, beijando-a tão avidamente, como se realmente tivessem ficado separados por muito tempo, embora tivesse sido apenas algumas horas. Ela sentiu a própria resposta crescer para atender a dele com uma intensidade que não conseguia se lembrar de ter experimentado antes. Ela não queria pensar em nada exceto o gosto de sua boca, a varredura de sua língua contra a dela, a sensação de seu corpo grande envolvendo-a, abrigando-a da noite hostil. Ela gemeu baixinho e colocou os seus braços em volta do pescoço dele, sussurrando o seu nome contra seus lábios.
— Acho… — Raj começou, mas o que ele achava foi adiado pela sua renovada demanda por sua boca. — Sarah. — tentou novamente, conseguindo fazer com que seus lábios fossem perto o suficiente de seu ouvido para que ela ouvisse o que ele estava dizendo. — A sua amiga ainda está olhando.
Ela enrijeceu com a lembrança de que eles estavam no lado de fora do restaurante mais popular de Buffalo. Ela escondeu o rosto em seu ombro e ele riu baixinho. — Vou te levar para casa.
— Não. — protestou ela. — Posso…
Ele reforçou seu aperto. — Bem, eu não posso. — ele rosnou. — Não quero você fora da minha vista.
Desejo fresco rolou através de seu corpo em uma onda de calor. — Ok. — ela sussurrou.
O carro de Raj estava estacionado bem ao lado do dela. Ele desligou o alarme e levou-a para o banco do passageiro, fechando a porta com uma pancada sólida. Sarah pulou um pouco com o som, um choque de adrenalina clareou sua cabeça tempo suficiente para saber que estava no carro de Raj, se preparando para voltar para casa e…
Raj inclinou-se do banco do motorista para dar-lhe um beijo rápido e duro. — Não pense tanto, querida. Não sou perigoso. — Ele girou o volante em um círculo apertado, levando-os a passar pelo manobrista assustado e para fora do estacionamento. — Não para você de qualquer maneira. — ele murmurou.
Sarah deu-lhe um olhar preocupado, mas rapidamente percebeu que gostou da ideia de que ele poderia ser perigoso. Ela gostava que esse grande vampiro letal a cobiçasse, que a quisesse de tal maneira que estava preparado para tomá-la ali mesmo no estacionamento. E ele estava pronto. Ela podia não ser experiente, mas sabia quando um homem a queria. Claro, ela não tinha sido exatamente contra também. Ela sorriu, sentindo-se um pouco satisfeita consigo mesma.
Raj aproveitou esse momento para pegar a sua mão, elevando-a à boca para um beijo suave antes de colocá-la em sua coxa musculosa. — O seu lugar ou o meu, querida?
Sarah deu-lhe um olhar surpreso. — Você tem um lugar?
Ele riu. — Claro que tenho um lugar. Onde você acha que eu durmo? No cemitério local?
Sarah corou. — Não. — protestou ela. — Claro que não. Apenas pensei… Não sei. Talvez um hotel?
Ele bufou. — Você já viu os hotéis locais? Sou de Manhattan, querida. Estou acostumado a um padrão mais elevado. Então, o que vai ser? Tenho uma curva chegando.
— Meu lugar, acho. — Sarah disse, começando a se preocupar novamente sobre o que tinha se metido. — Eu moro…
— Sei onde você mora. Era para eu encontrá-la lá.
— Então porque… — Ela franziu a testa com um pensamento súbito. — Como você sabia em que restaurante eu estava?
Ele deu de ombros facilmente. — Você disse que era uma celebração. Não há muitos lugares dignos de comemoração por aqui. Tive sorte e vi o seu carro.
Sarah não tinha certeza se acreditava nele, mas não conseguiu descobrir de que outra maneira ele teria sabido onde encontrá-la. — Olha, Raj… — Ele beijou-lhe a mão novamente, um dedo de cada vez, com uma prolongada carícia dos seus lábios e apenas um toque de língua.
— Você está pensando de novo. — disse ele. — E, além disso… — Ele freou e parou na frente de sua casa. — Nós chegamos, e ganhei pelo menos um beijo de boa noite por trazê-la para casa em segurança.
Sarah abriu a boca para responder, mas ele já tinha saído do carro e estava abrindo a sua porta, estendendo a mão para ajudá-la. Ela poderia rejeitar, mas pegou a mão dele de qualquer maneira, deixando-o puxá-la em seus braços, sabendo que ela sentiria o mesmo puxão de desejo no minuto…Oh, Deus, sim.
Raj ajudou Sarah a subir as escadas da frente de um duplex com um par de portas velhas e um pouco deformadas. O apartamento da esquerda estava escuro, mas a contração de uma cortina lhe disse que alguém estava olhando. Debaixo da luz do alpendre, Sarah inseriu sua chave e destrancou o miserável pedaço de merda disfarçado como uma trava. A porta se abriu e Raj respirou o cheiro de sua casa, sentindo uma satisfação profunda fluindo, junto com a fragrância exclusiva que era de Sarah. Ela olhou-o, seu longo cabelo era um derramamento de ouro sobre os ombros macios, e seu cérebro foi subitamente preenchido com uma única palavra. Minha. O pensamento o acertou antes que pudesse detê-lo, e ele franziu a testa, mesmo quando seu corpo chutou rígido em uma resposta instintiva. Suas presas estavam empurrando ansiosamente através de suas gengivas, famintas por uma prova de seu sangue, e seu pau estava endurecendo com um tipo totalmente diferente de fome. Ele nunca tinha sentido esta atração instantânea por uma mulher. Ele não tinha certeza se gostava, mas ele definitivamente a queria.
— Você vai me convidar para entrar? — Perguntou ele preguiçosamente.
Ela olhou-o com olhos grandes e incertos. — Você acha que deveria?
Ele lhe deu um sorriso de tubarão, puxando-a perto o suficiente para que ela pudesse sentir a reação do seu corpo. — A menos que você prefira fazer isso na varanda para que o seu vizinho possa apreciá-lo também.
Sarah corou furiosamente e entrou na casa. — Vamos para dentro.
Raj deu uma pausa pelo tempo suficiente de piscar a quem estava assistindo ao lado, e depois seguiu Sarah, imediatamente fechando a porta atrás dele. Ela jogou o casaco sobre o corrimão de escadas, tirou seus saltos e começou a ir em direção à parte traseira do duplex. Sem seu casaco, ele podia ver que ela estava usando uma saia e um suéter. Não era o vestido de seda pura de Verão que ele desejou na outra noite, mas estava realmente muito bonita, a saia apertava e grudava em seus quadris, acentuando uma bunda agradavelmente arredondada. Ele observou aquela bunda enquanto a seguia até à cozinha. Ela estava murmurando alguns disparates sobre uma xícara de chá, levantando a chaleira e sacudindo-a antes de colocá-la de volta no queimador e torcer o botão para acender a chama. Quando ela virou-se para encontrá-lo em pé logo atrás dela, deu um grito de susto.
— Você tem medo de mim, Sarah? — Perguntou ele em voz baixa, empurrando o cabelo dela atrás da orelha com um dedo delicado.
— Estou aterrorizada. — disse ela com um riso nervoso. — Mas não da maneira que você pensa.
Os lábios de Raj contorceram-se num sorriso quando ele deixou seu dedo viajar para baixo em seu pescoço e sobre o arco frágil de sua clavícula, parando para descansar um pouco acima da curva completa dos seus seios, onde ele podia sentir a batida suave do seu coração. — Acho que você parece boa o suficiente para comer.
— Oh. — ela ofegou. Seus olhos, quando se encontraram com os dele, ainda estavam arregalados, mas não mais incertos.
Ele fechou a distância entre eles, puxando-a contra seu corpo com um braço possessivo ao redor de sua cintura, a mão em seu quadril quando se inclinou para respirar profundamente o seu quente cheiro. Seu coração estava acelerado, a respiração rápida e superficial. Seus seios eram macios contra o peito dele, seus mamilos duros. Ele deslizou a mão sob seu suéter para tocar a seda macia e quente que era a sua pele e ela derreteu em seus braços, chegando a envolver os braços em volta do seu pescoço, os dedos finos tocando as pontas de seus cabelos quando ela levantou o rosto para um beijo. Querendo muito mais do que beijos brincalhões, Raj rosnou e enfiou os dedos em seus cabelos sedosos, levando a boca para o pescoço nu. Ele podia sentir o cheiro do sangue fluindo quente e doce, poderia sentir a adrenalina de sua jugular contra seus lábios quando se inclinou para provar. Suas presas emergiram lentamente para passear no veludo de sua pele, tão duras e prontas quanto o seu pau contra o estômago dela. Ela gemia baixinho, e ele sentiu como uma leve vibração contra o seu coração. Sua mulher. O sangue era seu para beber, o corpo era seu para tomar.
Raj congelou. Ele levantou a cabeça e suas mãos congelaram. Ele piscou contra a necessidade quase irresistível de afundar seus dentes nela, de levantá-la para cima do balcão e tomá-la ali mesmo na cozinha. Sarah choramingou o seu nome baixinho, com avidez.
Mas que diabos? Ele colocou as mãos em seus ombros e endireitou os braços, forçando-a para longe de si, colocando bastante espaço entre eles para que conseguisse respirar sem inalar o aroma inebriante de sua excitação. — Sarah. — disse ele, sacudindo-a ligeiramente. — Sarah!
Ela protestou baixinho, olhando-o em confusão com olhos que estavam borrados de desejo. — Raj? — Disse ela com uma pequena e machucada voz.
— Porra! — Ele puxou-a contra seu peito mais uma vez, envolvendo os braços em torno dela firmemente e prendendo seus braços entre eles. Ela lutou para tocá-lo, acariciá-lo um pouco com as mãos. Sua própria excitação o atormentava, gritando-lhe para ir em frente e tomá-la. Ele enterrou o rosto nos cabelos dela e gemeu. Seria tão fácil levantá-la, deslizar a apertada saia até a cintura, abrir-lhe as pernas e enfiar seu pau dolorido nela até que ambos chegassem a gritar. Ela queria. E Deus sabia que ele também; seu corpo inteiro estava pulsando, dolorido com a necessidade de tê-la. Mas a própria força de seu desejo o fez parar, porque Raj não fazia esse tipo de coisa, não perdia o controle com qualquer mulher, muito menos uma que ele mal conhecia. Ele estava no controle, sempre no controle.
— Sarah. — ele ordenou. Ele pegou o queixo delicado com uma mão e forçou-a a olhar para ele.
— Raj. — respondeu ela com impaciência.
Ele suspirou, lamentando o que estava prestes fazer, desejando que ele fosse um pouco mais parecido com um bastardo egoísta. Mas ele não era. Com um pequeno empurrão de sua mente, ele a mandou dormir, apagando suas memórias da noite desde seu regresso à casa. Ela entrou em colapso, mas ele a pegou com facilidade, levantando-a em seus braços, segurando-a contra seu peito, a cabeça encostada em seu ombro.
Ele levou-a para cima, torcendo-se para o lado na escada ridiculamente estreita, conhecendo o vizinho intrometido, ele provavelmente devia estar ouvindo cada passo. Havia dois cômodos lá em cima, um obviamente era um escritório de algum tipo. Ele ignorou-o e abriu a porta do seu quarto com um chute suave. Uma cama queen-size preenchia a maior parte do espaço, uma única mesa de cabeceira no canto. Uma lâmpada estilo Tiffany estava em uma cômoda perto da porta, oferecendo o mínimo de luz, mas mais que suficiente para a sua visão de vampiro.
Ele colocou Sarah na cama, empurrando uma enorme pilha de rendadas almofadas no chão. Ele deixou sua roupa, embora com ligeira apreensão. Não que não quisesse ver seu pequeno corpo nu — definitivamente queria isso — mas não queria que ela acordasse se perguntando o que ele estava fazendo com ela enquanto estava inconsciente. Especialmente desde que negou a si mesmo o prazer de fazer exatamente aquelas coisas que ela teria se perguntado. Era uma coisa pagar o preço por seus pecados, mas outra inteiramente diferente era pagar o preço sem o prazer de pecar em primeiro lugar.
Ele colocou Sarah sob o edredom, deslizando-a entre os lençóis frescos e cheirosos. Ela murmurou baixinho, virou para o lado e colocou confortavelmente o travesseiro abaixo de sua bochecha. Raj ficou olhando-a respirar, dentro e fora, cedendo a si mesmo um toque prolongado em sua pálida bochecha. Ele não entendia o que estava acontecendo. Ele tinha belas mulheres fazendo fila para sua cama todas as noites da semana. Então, o que havia com a doce Sarah que o fazia pensar em desordem contra qualquer homem que ousasse tocá-la? Porque agia como uma criança ofegante após o primeiro sangue fresco que provou? Raj não gostava de coisas que não entendia, especialmente não quando essas coisas tinham o poder de torná-lo vulnerável.
Ele se levantou e cruzou o corredor para seu escritório, que era ainda menor do que seu quarto. Havia a parafernália de computador normal, mas principalmente, a sala estava cheia de livros. Livros nas prateleiras, livros em caixas, livros empilhados no chão. Curioso, Raj olhou para os títulos. Um monte de volumes acadêmicos com esses complicados títulos que os palermas estavam tão afeiçoados. Ele mudou-se para a estante ao lado e fez uma careta. Ficção, romance, um lote de vampiros. Ela lia esses livros às dúzias.
Ele pegou um de seus cartões de visita em seu estojo de ouro e colocou-o sob o seu telefone onde ela veria, em seguida, desligou a lâmpada de mesa. No outro cômodo, Sarah estava dormindo pacificamente, seus cabelos de ouro despenteados, seus longos cílios escuros contra um rosto pálido. Amaldiçoando-se por todo o tipo de coisa, Raj virou e desceu a escada rapidamente, caminhando de volta para a cozinha, onde a chaleira do maldito chá estava gritando histericamente. Ele desligou-a e correu para a porta da frente, seu humor escurecendo a cada passo.
— Foda-se! — Ele xingou e apenas conseguiu impedir-se de colocar um punho através da parede. Ele tinha toda a maldita noite pela frente, duro como uma rocha e sem a mulher que ele ansiava foder. Alguém ia pagar o preço por seu mau humor. Talvez fosse hora de questionar alguns dos vampiros locais. Ele queria ver um pouco de sangue fluindo e era certo como o inferno que não ia ser o seu.

Capítulo 19

A casa de sangue de onde Regina Aiello havia desaparecido era em uma pequena vila de Corfu, bem além da principal cidade, em alguns acres cercados pelo coloridamente chamado Murder Creek9. Raj sempre se perguntou se o riacho havia sido a motivação de Krystof para comprar a propriedade — uma casa no Riacho Assassino para os vampiros brincarem era uma tentação muito grande para deixar passar.
9 Riacho Assassino, em português.
Exteriormente, o lugar parecia o mesmo de quando Krystof o comprou um pouco depois da Segunda Guerra Mundial — uma bem mantida casa de madeira de dois andares com um alpendre coberto. O jardim da frente estava coberto por um gramado bem cuidado, mas a área restante havia sido permitida a crescer selvagem, com uma grama alta que se estendia para cada lado, proporcionando uma reserva de privacidade para o que realmente estava acontecendo dentro daquela simples casa branca de fazenda.
Raj puxou o BMW para o lado da estrada. Não havia asfalto tão longe da cidade. A casa estava cheia até a borda e mais, com pessoas saindo para a varanda e até mesmo para o quintal, onde mesas e cadeiras haviam sido colocadas para acomodar o excesso. Até onde ele podia ver não havia controle sobre quem entrava e saía, e certo como o inferno ninguém estava verificando as identidades. Que porra é essa?
Ele atravessou a grama irregular, seus passos pesados no solo macio. Casais estavam praticamente fazendo sexo no jardim da frente, os vampiros estavam afundando as presas em plena vista da estrada aberta, não mais do que a vinte e cinco metros de distância. Ele pegou um punhado de cabelos longos e puxou um dos ofensivos vampiros de seu doador da noite. O vampiro virou com um rugido furioso, presas totalmente distendidas e pingando sangue, as mãos enroladas em garras.
Raj lhe deu um olhar entediado. — Quem está no comando aqui? — Ele perguntou.
— Quem diabos é você? — O vampiro grunhiu.
Raj não disse uma palavra. Usando uma pequena porção de poder, ele deixou o vampiro de joelhos e então o dobrou para trás até que o som das vértebras estalando estava tão alto que podia ser ouvido por cima da batida da música que vinha da casa. O vampiro podia apenas grunhir de dor, mas seus olhos estavam arregalados de medo, brilhando amarelo dourado enquanto imploravam silenciosamente por compaixão.
— Acredito que te fiz uma pergunta. — Raj disse calmamente. Ele libertou o vampiro sem aviso prévio, fazendo com que ele viesse para frente com tanta força que foi de cara para a grama, antes de lentamente, dolorosamente, se erguer apenas o suficiente para responder a pergunta de Raj.
— Mick está no comando, meu senhor. — o vampiro falou roucamente. — Ele está no primeiro quarto à sua direita.
— Obrigado. — Raj disse alegremente e foi embora. Atrás de si, ele podia ouvir a companheira do vampiro fazer barulhos de preocupação até que foi afastada por um rugido raivoso de profanação. Raj sorriu. A noite dele já estava melhorado.
Ele cruzou a varanda da frente sem incidentes. Cada vampiro do lado de fora da casa presenciou a sua demonstração de poder e se afastou rapidamente, puxando seus humanos com eles. Como ele suspeitava, não havia nenhum segurança na porta — o que significava que não havia nem ao menos um arquivo de consentimento, e muito menos isenções assinadas. Esta casa era um desastre esperando para acontecer — e o nome do desastre dessa noite era Raj.
Uma vez lá dentro, ele encontrou Mick facilmente. O tolo estava deitado no meio de uma grande cama de quatro colunas, cercado por mulheres. Ele era um cara grande, alto e encorpado, com a cabeça cheia de cabelos ruivos bagunçados e um peito largo, que estava tão nu quanto as mulheres que o cobriam. Ele tinha poder, também. O bastante para controlar esta casa e seus vampiros. Mas não o bastante para encarar um verdadeiro mestre.
Felizmente para Raj, ele era muito arrogante para perceber isso.
Raj passeou pelo quarto casualmente, parecendo um comprador de imóvel em potencial verificando as mobílias. O olhar de Mick o seguiu com preocupação, mas ele não se moveu da cama.
— Há vampiros afundando as presas no jardim da frente. — Raj comentou, passando a mão ao longo da moldura de prata de um espelho antigo de boa qualidade.
— Chocante. — Mick disse secamente. As mulheres dele riram baixinho.
Raj olhou-o. — E aparentemente não há ninguém verificando as identidades de seus adoráveis convidados. — ele continuou, dando um pequeno aceno para as mulheres seminuas que se envaideceram sob seu olhar.
Mick grunhiu um comando, atraindo a atenção de suas adoráveis fãs de volta para si. — E o que você tem a ver com isso? — Ele exigiu. — E já que estamos no tópico, quem diabos é você?
— Eu não me apresentei? Que rude. Raymond Gregor. — ele disse, continuando a sua observação do mobiliário que era em sua maioria de mau gosto. Ele pausou e mudou o seu olhar para o grande vampiro. — Raj para os meus amigos, mas eu sinto dizer que isso não te inclui, Mick.
O vampiro ruivo bufou em desdém e começou a empurrar para longe as suas companheiras infelizes para se levantar da cama. Raj estava grato em ver que o vampiro estava usando calças que ele fechou com um rápido movimento antes de se virar para encará-lo.
— Então você é o Raj. Ouvi falar de você.
— Ouviu? Eu, por outro lado, nunca ouvi falar de você.
Mick apertou os olhos com raiva e se ergueu à sua altura máxima, empinando o seu peito em desafio, da mesma forma que o humano Scavetti havia feito na noite anterior.
— Mick. — Raj disse gentilmente. — Talvez você queira tirar as humanas do quarto primeiro.
O outro vampiro pareceu perplexo por um momento e então riu. — Frankie. — ele disse para um vampiro baixo e de aparência assustada parado perto da porta. — A casa está fechada, tire todo mundo. Cinco minutos atrás. — ele adicionou com um estalo, quando Frankie apenas ficou lá de pé encarando-o.
Raj esperou pacientemente enquanto a casa era fechada e esvaziada de testemunhas humanas. Houve muitas reclamações da parte dos humanos, mas nenhuma dos vampiros. Eles se moviam pela casa em um silêncio tenso, apressando os seus visitantes pela porta de saída, apressando-os para seus carros e os enfiando dentro deles. Raj só esperava que não houvesse uma erupção de acidentes no caminho para casa. Isso não seria bom para os negócios.
— Então, Raj. — Mick disse finalmente. — Onde você quer fazer isso?
Raj sorriu e lentamente liberou uma boa medida de seu verdadeiro poder. Era uma arremetida deliciosa, tão saborosa quanto o sangue da mulher mais suculenta que ele já tinha tomado, tão doce quando o primeiro filete lento de sangue descendo por sua garganta depois de uma longa seca. Ele espetou Mick com um olhar zombeteiro. — Nós podemos fazer isso bem aqui. Não vai demorar muito. — ele disse com uma arrogância nascida de certo conhecimento.
Os olhos de Mick se arregalaram, e Raj viu o primeiro lampejo de medo quando ele reconheceu a verdadeira profundidade do poder de Raj. Mas ele não se acovardou. Ele tinha que saber que não podia ganhar esta batalha, mas mesmo assim ele se manteve firme, e Raj decidiu naquele momento que não mataria o bom e velho Mick. Ele precisaria de vampiros com este tipo de coragem quando assumisse o território de Krystof. E ele definitivamente assumiria o território.
Mick atacou primeiro, entendendo que essa era a sua única e pequena chance. Ele mirou uma lança de poder concentrado no peito de Raj e atacou fisicamente no mesmo momento, jogando-se pelo quarto. O seu físico considerável o atingiu como um motorista de uma empilhadora, e Raj grunhiu por causa do impacto, mas repeliu-o facilmente, usando apenas seu poder para lançar o outro vampiro em um elegante armário que se erguia até praticamente ao teto. Ou fazia antes que Mick o atingisse e o reduzisse a uma pilha de madeira despedaçada. Uma pena, realmente, Raj pensou despreocupadamente.
Mick ficou de pé com um rugido e teria atacado novamente, mas Raj — querendo, precisando, de uma violência mais física — cruzou o quarto em duas passadas firmes e pegou o grande vampiro com um soco, quebrando a sua mandíbula e fazendo-o girar longe para bater na cama, derrubando o dossel e enrolando-o em uma mortalha de veludo azul empoeirado. Mick balançou a cabeça — uma visão grotesca com a sua mandíbula pendurada — e ficou mais uma vez de pé, os punhos apertados em seus lados. Seus músculos estavam tensos e as veias pulsando enquanto ele concentrava-se na sua força restante, jogando tudo o que tinha numa última desesperada explosão de poder, sua boca aberta em um rugido furioso, como se o volume estridente de sua voz pudesse adicionar peso ao ataque.
Raj ergueu uma mão e desviou cada grama daquele poder e jogou mais em seu dono, levando Mick ao chão e pressionando-o lá até que as suas articulações gemeram e ele gritou em agonia sob o peso esmagador.
— Renda-se. — Raj exigiu suavemente. — Renda-se e me sirva por vontade própria, ou você morre aqui, agora.
Mick se torceu sob a maior força de Raj, seu rosto contorcido com raiva e dor enquanto lutava até o último vestígio de seu poder. Ele bateu no chão com um punho, atravessando as antigas tábuas de madeira e despedaçando os ossos de sua mão antes de finalmente forçar seu olhar para encontrar o implacável olhar azul de Raj. Ele murmurou uma palavra de sua boca arruinada. — Mestre. — ele disse.
Raj assentiu e o libertou, e então imediatamente tirou seu casaco e torceu a manga, cortando o próprio pulso com um golpe de suas presas. — Você vem até mim por espontânea vontade e desejo, Mick? — Perguntou ele formalmente.
Os olhos de Mick encontraram os dele brevemente com surpresa, mas em seguida ele assentiu, seu olhar faminto abaixando-se até à generosidade de sangue rico tão tentadoramente próximo. — Sim, meu senhor.
— E é isso que você realmente deseja?
— Meu senhor, esse é meu verdadeiro desejo.
Raj abaixou o seu braço ensanguentado até à boca arruinada do vampiro. — Então beba, Mick, e seja meu.
Mick fechou sua boca sobre o pulso de Raj, sugando o poderoso sangue para dentro de seu corpo com grandes goles. Raj podia sentir o puxão não somente em seu pulso, mas em sua própria alma enquanto mais um vampiro se tornava seu — seu para comandar, seu para viver ou morrer. Mais uma rocha adicionada ao fardo de responsabilidade que já estava muito pesado.
Quando ele sentiu o vínculo selar permanentemente, ele retirou o braço da boca de seu novo servo. Ele não se preocupou em limpá-lo. O ferimento se curaria sozinho nos próximos minutos, e não havia nada neste quarto que quisesse utilizar para limpá-lo. Ele baixou a manga, colocou seu casaco novamente e se levantou para observar os vampiros reunidos. Alguns encaravam de boca aberta em choque, outros pareciam quase aliviados. Era um testemunho da falha na autoridade de Krystof que nenhum deles protestou com a sua aquisição, ou nem mesmo tentou uma corrida até às saídas para passar um relatório.
— Esta casa será reaberta em duas noites sob nova direção. — Raj anunciou. Ele olhou de volta para o Mick que já estava começando a se curar com a onda de sangue de Raj que percorria suas veias. — Mick vai rever a sua boa administração. Não é, Mick?
— Sim, Mestre. — Mick disse fervorosamente. Quando ele olhou para cima desta vez, o seu olhar não possuía nada além de respeito. — Nós estivemos esperando por você por um longo tempo, meu senhor.
— Eu sei. — Raj disse sobriamente. — Mas estou aqui agora. — Ele se virou e deixou a casa pelo caminho por onde havia entrado, ignorando os vampiros que se ajoelhavam em obediência enquanto passava. Ao receber o juramento de Mick, roubando-o efetivamente de Krystof, ele havia declarado abertamente a sua intenção de derrubar o Lorde Vampiro. Era possível que a mente de Krystof estivesse tão fraca que ele nem notaria a sua perda, ou somente achasse que isso era apenas rivalidade entre os seus servos. Até por que, ele havia trazido Raj a Buffalo para limpar a sua bagunça. Mas quer Krystof apreciasse o verdadeiro significado ou não, Raj sabia o que havia feito. E sabia que só poderia levar ao confronto final com o seu Criador. Ele também sabia que deveria estar se vangloriando pelo triunfo de sua fácil primeira vitória, e uma parte dele reconhecia a importância desta noite. Mas tudo o que ele podia sentir era uma aguda consciência do terrível fardo que estava prestes a ser seu. O fardo que cada senhor vampiro carregava, o peso dos milhares de vampiros que iriam respirar novamente apenas por sua vontade. Ele subiu no conforto de sua BMW e voltou para a cidade, tentando lembrar-se de quando ele havia se sentido tão solitário.
Estava quase amanhecendo quando ele encostou na garagem de seu covil particular. Ele tinha planejado passar pelo armazém próximo ao aeroporto e ver como a Em e os outros estavam, mas ele se encontrou sentado nas docas do Lago Erie10 ao invés. Ele assistiu enquanto os estivadores descarregavam um único e enorme navio cargueiro, os grandes guindastes erguendo os grandes contentores de metal tão diferentes das caixas e barris, e até mesmo o ocasional gado, que havia sido norma quando ele havia trabalhado nestas docas há muito tempo atrás. Até que um encontro por acaso trouxe Krystof para a sua vida. Ele frequentemente pensava sobre aquela noite — se ele tivesse ido diretamente para casa depois do trabalho, para aquele quartinho horrível que ele havia alugado por bem mais do que valia, ou se ele tivesse parado no bar a uma quadra depois ao invés do primeiro que ele tivesse entrado, sentindo-se animado com o dinheiro que tinha em seu bolso pelo dia do pagamento. Um capricho, nem mesmo uma decisão de verdade — uma coisa tão insignificante que havia mudado sua vida para sempre.

Buffalo, Nova Iorque, 1830
Raj fez seu caminho de volta à mesa, esquivando-se de punhos voadores e bêbados que tropeçavam, equilibrando três canecas de cerveja espumosa que espirravam liberalmente sobre seus dedos para juntar-se à camada de outros derramamentos que envernizavam o chão imundo. Era um lugar decadente, esta taverna, situada à beira do cais escuro e fedorento de grãos úmidos das docas a apenas metros de distância. Mas era um dos poucos bares que serviam a ele e a seus amigos, a maioria imigrantes, com sotaques tão espessos quanto um pedaço de pão feito por sua mãe, isso quando eles se lembravam das palavras em inglês, o que não acontecia frequentemente e não rápido o suficiente.
Ele desviou de um irlandês que estava seguindo para o bar e deslizou para a cadeira que Maciek havia guardado para ele, largando as canecas sobre a mesa com um baque e um respingo final de líquido dourado.
— Calma aí, Rajmund. — Maciek disse em polonês. — Não vai sobrar nada para beber.
— Raj. — Rajmund corrigiu. — Eu já te falei, Maciek. Os americanos não possuem a língua para os nomes poloneses. Me chame de Raj.
— Raj. — Zosia, disse, sua voz baixa, um ronronar sensual que o fazia pensar em cantos escuros e saias levantadas. De preferência as dela. — Não faz sentido, Rajmund.
Ele deu de ombros e se inclinou para roubar um beijo de seus deliciosos lábios. — Talvez não, minha doçura, mas os americanos gostam, não? E nós todos somos americanos agora.
— Talvez você seja, — ela disse, erguendo um ombro para mandá-lo embora. — Eu ainda sou polonesa. — Rajmund colocou um braço ao redor dela e sorriu, ignorando a careta de desaprovação de Maciek. O cérebro do seu amigo estava preso em sua casa na Polônia, onde uma garota correta passaria a noite com a sua mãe, sem beber em uma taverna imunda com tipos como Rajmund Gregorczyk. Mas eles não estavam mais nas docas de Gdansk11. Isso era Buffalo, Nova Iorque, América. E isso era o futuro deles.
11 Gdansk é uma cidade da Polónia, na província de Pomerânia. Localiza-se na foz do Vístula.
Maciek bebeu um longo gole de sua cerveja e colocou-a de volta na mesa. Ele enxugou o rosto com as costas de uma mão suja, espalhando grande parte da espessa espuma em torno de sua barba e bigode desalinhado enquanto ele limpava. — Vou te dizer o que eu penso, — ele começou.
Mas eles nunca tiveram a chance de ouvir o que Maciek pensava. A porta se abriu com um tremor, como se uma tempestade estivesse soprando do lago pronta para derrubar o prédio ao redor deles. A madeira grossa bateu contra a parede com o som de uma tonelada de tijolos atingindo a doca.
Silêncio. Cada cabeça no lugar se virou na direção do batente vazio da porta e encarou. Mais do que alguns fizeram o sinal de cruz e murmuraram uma oração à Virgem. Um homem deu um passo no silêncio. Um homem rico. Raj podia dizer pelas suas roupas, suas mãos brancas e unhas lustradas, o seu perfeitamente penteado cabelo. E o olhar de desdenho que ele passava sobre os bêbados reunidos.
Havia outros com ele. Estranho, Rajmund pensou, que ele não os havia notado antes, embora eles certamente entraram no bar primeiro. Havia quatro deles, dois na frente e dois flanqueando o homem rico em cada lado, seus físicos avantajados e punhos grossos os descreviam, da mesma forma que as roupas finas do homem o haviam descrito a ele. Ambos eram guarda-costas, músculos contratados para garantir que as mãos brancas do homem rico ficassem limpas.
O almofadinha inalou uma vez, imediatamente erguendo um delicado lenço branco ao seu nariz. — Bem. — ele disse com um forte sotaque americano. — Eles terão que servir.
O que aconteceu em seguida foi um borrão de sangue e violência, enquanto os quatro guarda-costas perfuravam a multidão, suas bocas amplamente abertas com presas impossíveis, seus dedos se curvando em garras como algum tipo de besta perversa. Os homens endurecidos da taverna, homens que jogavam caixas de duzentos quilos como brinquedos de criança, gritavam aterrorizados, rastejando-se no chão imundo agora escorregadio com algo vermelho enquanto gargantas eram despedaçadas e sangue esparramado em toda a parte. Rajmund agarrou Zosia e a jogou atrás de si, se afastando contra uma parede e tentando se lembrar se havia uma porta traseira e se ela estava trancada. Ele viu Maciek pegar uma pesada cadeira e a balançar, quebrando-a nas costas de uma das bestas, mas a criatura virou e riu — riu — enquanto afundava as suas presas no pescoço de Maciek e ele começou a gritar.
Atrás dele, Zosia estava gritando também, sua voz se elevando acima das outras, um grito feminino estridente em uma sala cheia de homens. Rajmund viu o homem rico notar, no entanto, ele não parecia mais tão fino como antes — suas roupas caras estavam manchadas com sangue escuro e entranhas, suas mãos brancas estavam enterradas na carne de uma prostituta irlandesa morta. Ele ergueu a cabeça, seus olhos brilhando iguais aos de um animal na luz difusa até Rajmund pensar com certeza que ele podia sentir o calor deles contra a sua pele.
— Quieta, Zosia, — Rajmund sibilou. Ele podia senti-la tremendo atrás de si, suas mãos apertadas no tecido fino de sua camisa.
O homem rico sorriu e começou a andar em direção deles, deslizando pelo caos como se o próprio Deus estivesse limpando o caminho, homens e monstros eram colocados de lado como se não fossem mais do que cortinas de seda. — O que você está fazendo aqui, garoto?
Raj o encarou em choque. O monstro estava falando com ele em polonês. — Eu… eu trabalho nas docas, — ele gaguejou, sem saber o que mais dizer.
O homem rico sorriu e isso era uma visão terrível. — Não mais.
Uma única pancada forte de uma delicada mão branca rasgou a garganta de Rajmund. Ele caiu de joelhos, sentindo a calidez de seu próprio sangue enquanto este escorria por entre seus dedos para se juntar à poça crescente no chão. Zosia gritou o seu nome, e ele assistiu impotente enquanto ela era arrastada até o seu corpo inútil, seus calcanhares chutando fracamente enquanto o homem rico enterrava os dentes em seu pescoço e bebia.
A última coisa que Raj viu antes da cortina negra cair sobre seus olhos foi o amável rosto de Zosia frouxo pela morte, seus olhos, antes brilhantes e azuis, agora pálidos e sem vida.
Rajmund abriu seus olhos para a escuridão. Ele podia ver homens, monstros se movendo nas sombras, podia ouvir seus grunhidos de prazer enquanto eles sugavam os sucos dos pedaços de carne que ele não queria pensar a respeito. Isso era a morte? Este era o inferno que os padres haviam lhe falado a respeito, a corrupção de sua alma que eles haviam previsto se ele deixasse a terra de seu nascimento e viajasse para tão longe?
— Ele está acordado, — alguém grunhiu.
— Ah, finalmente. — Rajmund reconheceu aquela voz. O homem rico. Aquele que carregava o mal com ele como um manto elegante.
— Traga-lhe a garota.
A garota? Ele queria dizer Zosia? Ela estava viva então?
Uma jovem foi empurrada para fora da escuridão — não era Zosia. Ele não reconhecia esta criança patética. Ela tropeçou e caiu com força contra ele, chorando lamentavelmente. O corpo dela fedia a sexo e suor e ela tremia de medo. Ele esticou o braço para confortá-la enquanto ela se virava na direção dele, seus olhos estavam cheios de um apelo silencioso. Ele tocou a pele nua de seu braço… e uma fome irracional rugiu por dentro dele. Ele podia ouvir o correr de seu sangue e o pulsar aterrorizado de seu coração, podia sentir o cheiro doce e fresco tão perto sob sua pele fina como papel. Era intoxicante. Ele se inclinou para mais perto, nadando no aroma, sua língua lambendo para sentir o pulso dela, como um pequeno animal implorando para ser libertado.
Ele sentiu suas gengivas se partirem, sentiu algo duro e afiado cortando seus lábios e sabia que eram presas quando ele as pressionou na suave pele do pescoço dela. Uma ponta afiada perfurou a pele dela para libertar uma única gota de sangue. Ele fechou os olhos perante o sabor estimulante, sua cabeça foi jogada para trás como se isso tivesse sido um dilúvio caindo em sua garganta ao invés de uma mera gota.
Seu olhar caiu no pequeno ferimento vermelho. Até à grossa e tensa veia. Ele enterrou seu rosto em seu pescoço e pela primeira vez, ele se alimentou.
Rajmund empurrou o corpo da garota para o lado, sua mandíbula se abrindo amplamente enquanto ele tentava liberar a tensão de sua alimentação. Ele sentou-se por um momento em silêncio, torcendo sua cabeça de um lado para o outro, escutando o estalo das vértebras enquanto ele encarava o quarto. Ele congelou quando viu a carnificina, quando percebeu o que ele havia se tornado, o que ele havia feito. Horrorizado, ele passou tropeçando pelo quarto sujo até sentir a parede em suas costas.
Alguém riu e ele olhou para cima para encontrar o homem rico o encarando, mais uma vez vestido com roupas finas, suas mãos e rosto estavam imaculadas e brancas.
— Zosia? — Rajmund resmungou. — Maciek?
O homem rico gesticulou ao redor da sala com uma mão elegante. — Receio que eles estejam todos mortos. É por uma boa causa, se serve de consolo para você. — Seu olhar perfurou Rajmund. — Mas não você, Rajmund. Você está bem vivo.
— Por quê? — Rajmund perguntou, mais um choro de uma alma atormentada do que a pergunta de um homem.
O homem rico sorriu. — Porque eu posso. Venha rapaz. Você é um de nós agora.
Rajmund jogou a sua cabeça para trás e uivou.
O toque de seu celular trouxe Raj de volta para o presente. Ele tirou o telefone do bolso enquanto saía do carro, sem se importar em verificar o identificador de chamadas.
— Sim?
— Raj? — A voz de Em estava incomodada.
— Sim, Em. Alguma coisa errada? — Ele digitou o código de segurança na porta do armazém particular, certificando-se de que esta estava fechada e trancada atrás de si antes de cruzar o espaço vazio e descer as escadas para o seu apartamento privado.
— Não. — Em disse cuidadosamente. — Não por aqui. Estamos todos aqui no armazém, os caras estão se acomodando lá no andar de baixo. Eu esperava que você…
— Algo surgiu.
— Certo, ok. Nós te veremos esta noite?
— Sim. — A porta da abóbada se fechou atrás dele. Ele digitou o código para ativar a segurança completa de seu prédio e escutou as trancas pesadas da abóbada fechar.
— Deixe-me pensar por um minuto, Em. — Ele esfregou a testa, tentando colocar as próximas vinte e quatro horas no lugar. Ele teria que ver Sarah de novo. Ele ainda tinha que descobrir o que ela estava escondendo, a verdadeira razão que ela havia estado tão ansiosa para ser parte de uma investigação policial. E Krystof estava provavelmente esperando por um relatório a respeito do progresso, mas ele podia malditamente esperar até que Raj tivesse tempo para ele. O seu povo era bem mais importante. — Eu vou passar aí logo após o pôr do sol. Está uma grande bagunça aqui, Em. Pior do que eu pensei.
— Então eu estou feliz que nós estamos aqui por você, chefe.
— Sim. Te vejo à noite.
Ele apertou o botão para desconectar e encarou o telefone, pensando em Sarah Stratton. Ela era uma complicação que ele não precisava agora, e se o pensamento trouxe uma pontada de dor inesperada, ele ignorou. Esta não seria a primeira vez que havia sido forçado a deixar para trás um humano com quem se importava.
Ele imediatamente discou o número dela, aliviado quando o telefone lhe deu a opção de ir direto para a caixa de mensagens.
— Sarah. Nós precisamos conversar. Passarei aí por volta das dez esta noite. — Ele deixou assim e desligou. Ela receberia a mensagem quando acordasse de manhã. E se ela não estivesse em casa quando chegasse lá, ele a acharia e pegaria o que precisava, de uma forma ou de outra.

Capítulo 20

Regina forçou-se a se sentar, abrir seus olhos e permanecer acordada. Os Vampiros a tinham, ela estava certa disso agora. Mas não somente vampiros. Havia humanos normais, também. O negócio era, ela não conseguia descobrir o que eles queriam. Aquele que ela conhecia um pouco — aquele com quem ela dançou na casa de sangue e que a devia ter deixado inconsciente de alguma forma e a sequestrado — vinha vê-la quase toda noite. Mas tudo o que acontecia depois das visitas dele era uma espécie de borrão. E ela estava grata por isso porque o pouco que lembrava sobre os outros vampiros e o que eles tinham feito com ela… Ela não queria pensar sobre aquelas coisas. Ela correu suas mãos pelos seus braços nus, arrepiados por causa do frio; ela havia até perdido a sua fina jaqueta em algum lugar. Seus dedos esbarraram em um ponto dolorido no seu braço esquerdo e ela olhou para baixo, tocando-o cuidadosamente. Contusões escuras marcavam a sua pele, visíveis mesmo em condições de pouca luz. Tinha havido outro quarto. Um com luzes brilhantes e a pontada fria de uma fricção de álcool, o seu sangue enchendo o pequeno tubo de vidro. Uma mulher havia falado com alguém enquanto se debruçava sob o braço de Regina. Mas o que a mulher havia dito? E quem mais havia estado lá?
Regina tentou se lembrar, mas uma onda de tontura a atingiu, fazendo o seu estômago vazio se revirar de náusea. Ela se deitou e fechou seus olhos, desejando que tudo acabasse. Era tão irônico. Ela sempre havia sido uma das garotas boazinhas — sem drogas, sem bebidas e quase nunca saindo em encontros. Ela havia decidido finalmente quebrar o padrão, sua primeira pequena rebelião, e o que acontece? Algum doido a sequestra.
Ela suspira cansada e muda de lugar na cama desconfortável. Era tão difícil pensar. Talvez fosse isso que eles queriam, mantê-la confusa para que não conseguisse pensar direito, não pudesse lembrar-se de seus rostos quando eles a soltassem. Porque ela tinha que acreditar que a deixariam ir. Ou que alguém iria encontrar a ela e às outras. Era a única coisa que a mantinha seguindo em frente. Ela tremeu e se esticou para pegar as cobertas que ele finalmente havia lhe trazido na noite passada. Isso era um bom sinal, não era? Era somente… As cobertas tinham cheiro de perfume. Era um aroma que ela reconhecera, um aroma almiscarado que ela nunca havia usado. E ela não podia evitar se perguntar quem havia usado estas cobertas antes de serem dadas a ela?
Suas pálpebras se fecharam e lágrimas vieram sem serem convidadas. Ela queria ir para casa; ela queria sua mãe. Ela adormeceu. Talvez quando ela acordasse, a polícia estaria aqui, talvez eles a encontrassem. Talvez daria tempo. Antes de eles fazerem com ela o que quer que tenham feito com a garota que usava o perfume almiscarado, a garota que não precisava mais de suas cobertas.

Capítulo 21

Sarah acordou com lágrimas correndo pelo seu rosto, o travesseiro molhado embaixo de sua bochecha. As lágrimas não eram somente de Regina desta vez. Elas eram de Sarah, também. Lágrimas de raiva, de frustração, de desespero pela coragem frágil da garota e a esperança de que o resgate estava próximo. Mas como poderiam encontrar Regina antes que fosse tarde, antes que ela terminasse como todas as outras que Sarah não foi capaz de salvar? Ela sentou-se na cama, puxando uma longa respiração. Naquela época ela era apenas uma adolescente, lembrou-se severamente. Uma criança. Ela era uma adulta agora, uma mulher com recursos e contatos próprios. Certamente poderia arrumar alguma forma… Seu telefone tocou e ela sabia que não era a primeira vez. Foi o toque que a havia acordado.
Ela se virou automaticamente, se esticando para a sua mesa de cabeceira onde sempre deixava o telefone sem fio durante a noite. Mas não estava lá. Ele tocou novamente… no outro cômodo. Ela fez uma careta. Nunca ia dormir sem o telefone por perto. Nunca.
Ela começou a sair da cama e teve uma segunda surpresa. Estava vestindo as roupas que havia usado na noite passada — seu suéter e saia, de todas as coisas, e o seu sutiã. Isso estava errado. Nenhuma mulher sã dormiria de sutiã. Era uma das primeiras coisas que ela tirava quando passava pela porta, juntamente com seus sapatos. Devia estar mais bêbada do que pensava quando deixou o restaurante ontem à noite. Era pura sorte ela ter conseguido chegar em casa sem se machucar ou machucar outra pessoa. Burra, Sarah. Deveria ter chamado um táxi. Seu telefone tocou uma última vez, o toque cortado quando a ligação foi desviada automaticamente para a caixa de mensagens.
Ela ficou de pé, tremendo ligeiramente enquanto arrastava os pés descalços até o guarda-roupa para pegar um par de chinelos e depois uma rápida parada no banheiro. Passando pelo seu escritório, ela encontrou o telefone sem fio sobre a mesa em seu carregador. Ela o pegou e notou um cartão de visita lá, um cartão grosso e branco com contornos nítidos e um nome familiar… E tudo voltou para ela de uma vez.
Ela tinha ido ao restaurante, mas Raj a estava esperando no estacionamento. Ele a trouxe para casa e eles… Eles o quê? Ela lembrava-se de ter aberto a porta, lembrava-se de tê-lo deixado entrar na casa. A Sra. M. estava escutando de sua janela como sempre; Raj tinha lhe dito isso. Mas então o que aconteceu? E como ela terminou na cama totalmente vestida?
A luz do seu telefone piscou, lembrando-a que tinha mensagens. Ela ligou para o correio de voz e descobriu que havia duas. Ela apertou o botão distraidamente, ainda tentando se lembrar…
— Sarah.
Raj. Ela desmoronou na cadeira, de repente dominada por uma onda de luxúria tão forte que tirou o seu fôlego. Ela se inclinou para frente, se abraçando, seus mamilos duros e dolorosamente eróticos contra a renda de seu sutiã, suas coxas apertadas com força contra uma necessidade tão poderosa que a fez gemer em voz alta. Ela queria tirar suas roupas e…
— Nós precisamos conversar. Passarei aí por volta das dez esta noite.
E era isso. Ele desligou sem se identificar, sem dizer adeus, apenas presumindo que ela estaria esperando por ele hoje à noite como um bom bichinho de estimação. — Bastardo arrogante. — murmurou, embora um pouco sem fôlego. Ela pressionou uma mão sobre o coração, esperando seu corpo se recuperar, apenas meio escutando enquanto seu correio de voz ia para a próxima mensagem, que seria a ligação que a tinha acordado. Era Linda, exigindo que Sarah lhe ligasse imediatamente e lhe contasse sobre este cara lindo chamado Raj e querendo saber por que Sarah não o havia mencionado antes. Sarah sorriu com a descrição que Linda fez de Raj. Ele era bem deslumbrante com aqueles lindos olhos azuis e corpo musculoso. Ela se arrepiou enquanto outra onda de necessidade a atingia.
— Filho da mãe. — ela xingou de repente.
Ela correu para o banheiro e começou a tirar suas roupas, seu suéter primeiro, depois o seu sutiã. Seminua, inclinou-se mais para perto do espelho, segurando o seu cabelo para cima e procurando em seu pescoço por qualquer marca denunciadora. Ela ficou perversamente desapontada quando não encontrou nenhuma, mas ela imediatamente tirou sua saia, deslizando-a pelos seus quadris e descendo-a até o chão. Ela havia lido todos aqueles livros sobre vampiros; havia uma grande veia na coxa que alguns deles gostavam bastante. Ela encarou suas coxas nuas no espelho e então sentou-se para olhar com seus próprios olhos. Nada. Sem marcas de mordida de qualquer tipo.
Empoleirada em seu vaso sanitário fechado no banheiro frio, quase nua, ela de repente se sentiu bem estúpida. Se ele a tivesse arrebatado, por que teria se incomodado em colocar-lhe as roupas de volta? — Estúpida. —murmurou. Ela ficou de pé e encarou o seu reflexo. — Ele fez alguma coisa, no entanto. Sei que fez.
Ela estremeceu violentamente e começou a pegar as roupas espalhadas. Voltando para o seu quarto, ela dobrou o suéter e jogou o resto dentro do cesto de roupas, então tirou suas roupas íntimas e foi tomar um banho quente, ficando debaixo daqueles jatos pulsantes por um tempo e deixando que eles a esquentassem. A primeira coisa que havia feito depois de ter se mudado para o apartamento foi substituir a abominação que era o ‘economizador de água’ que a Sra. M. havia providenciado frugalmente por um chuveiro decente. Ela acreditava em economia, mas o suficiente era o bastante. Algumas vezes uma mulher precisava de uma boa e quente surra — do tipo aquático, claro.
Uma vez fora do chuveiro e seca, ela colocou seu moletom mais quente e as pantufas de pele de carneiro e seguiu para o andar de baixo para tomar café. Quando a primeira dose de cafeína fluiu deliciosamente pelo seu sistema, ela novamente considerou suas memórias lúgubres da noite anterior. Definitivamente lembrava-se de ter chegado a casa com Raj, porque ela se lembrava especificamente de tê-lo convidado para entrar. Ele havia fechado a porta e então… Um choque de desejo a varreu da cabeça aos pés, como antes. Alguma coisa havia acontecido com ela. Algo relacionado com aquele maldito vampiro. E ela pretendia descobrir o que era.
Ela pisou firme de volta para o seu escritório e encontrou o cartão de visita branco que ele havia deixado em sua mesa. Ela discou o número, sabendo que ele estaria dormindo pelo dia e esperou que o toque do telefone tornasse o seu descanso bem menos proveitoso.
 *
Raj estava estranhamente nervoso e insatisfeito enquanto se vestia para a noite. E não era a sua fome habitual que estava fazendo-o se sentir dessa forma. Ele era velho o bastante, e poderoso o bastante para que não precisasse se alimentar todas as noites. A mulher no bar há duas noites deveria ter sido mais do que suficiente para mantê-lo forte por pelo menos outro dia — não que tivesse que esperar tanto tempo, mas ele podia. Ele considerou parar para uma bebida em algum lugar no caminho para se encontrar com Em e os outros, mas se ele precisava de sangue tanto assim, sempre poderia aproveitar o estoque à disposição no armazém. E, além disso, por alguma razão a idéia de se alimentar de um forasteiro anônimo não era apelativa.
Não, não era por alguma razão. Era por uma razão bem específica, uma com cabelo loiro e um corpinho arrumado que ele estava ansioso para provar de cada maneira possível. Demasiado ansioso. Raj não acreditava em auto-indulgência. Sim, ele dirigia carros bons e vestia roupas boas, e sua cobertura em Manhattan estava bem mais que confortável em suas amenidades, mas estas eram coisas, posses insignificantes das quais ele podia se afastar sem pensar duas vezes. Quando se tratava de sua vida pessoal, tudo era sobre disciplina e controle. Ele tomava vodka ocasionalmente, mas nunca bebia em excesso. Ele preferia sangue da veia de uma linda mulher, mas nunca tirava demais e sempre deixava suas mulheres felizes e saciadas. Ele tinha suas crias de vampiro, mas ele era o mestre deles e seu criador. Ele não era amigo deles ou seu parceiro de bebida. Em Emelie ele confiava completamente, mas ela era a única.
Razão pela qual essa súbita atração irracional por Sarah Stratton era tão irritante. Sua necessidade de protegê-la, de roubá-la e fazê-la sua e somente sua, era poderosa e instintiva. Ele não tinha que pensar se a queria ou não; ele a queria sim — totalmente e de cada maneira possível. Foi preciso muito esforço para parar a si mesmo e evitar arrancar as roupas dela e mandar para o inferno as consequências. Ele balançou sua cabeça em desgosto. Se pudesse escolher, ele voaria de volta para Manhattan esta noite e nunca mais veria Sarah Stratton. Já que essa não era uma opção, ele simplesmente teria que agir como um homem civilizado ao invés de uma besta voraz, mesmo se o segundo fosse o mais próximo da verdade.
Ele colocou sua jaqueta de couro e pegou seu celular, vendo que havia uma mensagem da adorável Sarah. Ele fez uma careta, pensando que ela poderia estar cancelando o encontro desta noite, o que era inaceitável. Quando ele escutou a mensagem dela, sua careta aumentou.
— Sei que você fez algo ontem à noite, vampiro, e quero saber o que foi. Ninguém mexe com a minha cabeça, entendeu isso? Nem mesmo você. E para o inferno com dez da noite, Sr. Todo Poderoso. Quero você aqui dez minutos depois do pôr do sol ou vou à polícia.
Houve uma pausa na qual ele podia ouvi-la dar um suspiro frustrado.
— Está bem, não vou realmente até a polícia, mas também não vou ficar aqui esperando. Se você não estiver aqui até às nove, estou saindo e você pode usar os seus truques estúpidos de vampiro para tentar me encontrar.
Parte dele queria rir da exasperação em sua voz. E parte dele, uma parte completamente irracional, queria aplaudi-la pela sua determinação em enfrentá-lo. A parte mais racional exigiu saber por que ela lembrava-se de qualquer coisa sobre o que tinha acontecido ontem à noite. Teria ele inconscientemente querido que ela se lembrasse dele e por isso deixou um ponto fraco nas memórias que havia plantado? Isso seria tanto estúpido quanto perigoso. Havia somente uma maneira de descobrir. Ele discou o número de Em. Seus vampiros estavam acordados e prontos para ir. Ele podia ouvir as suas vozes ao fundo quando ela atendeu.
— Meu Senhor.
— Tenho um compromisso para cumprir no caminho, Em. Não demorará muito.
— Espero que não. — ela disse secamente. — Estar presa neste armazém é como estar presa em uma gaiola para macacos. Estes caras precisam ser libertados.
Ele riu. — Não demorará muito. Estou a caminho. — Mas primeiro, ele pensou para si mesmo, há uma questão sobre uma pequena humana teimosa para tratar.

Capítulo 22

Sarah puxou o suéter pela cabeça, alisando-o sobre seus quadris e verificando se as rendas de seu sutiã não pareciam irregulares sob o tecido fino. Seu cabelo recém lavado brilhava com a luz do teto de seu quarto, e ela colocou somente o suficiente de maquiagem para dar uma leve qualidade esfumaçada aos seus olhos, as manchas douradas pareciam pedaços de fogo na sombra. Oh, recomponha-se, Sarah. Pedaços de fogo com fumaça, pelo amor de Deus. Ela riu de si mesma. Claramente esteve lendo muitos daqueles romances que tanto gostava.
Claro, ela não era nada como as heroínas fodonas daqueles livros. Ela nunca disparou uma arma, nunca usou uma faca — a menos que aquelas nas suas gavetas da cozinha contassem. E apesar de se manter em forma, não havia como ela dar um chute alto em alguém até derrubá-lo. Ela era muito baixa em primeiro lugar, demasiado curvilínea e tinha três quilos acima do peso, independentemente de quantas manhãs corresse o circuito de oito quilômetros. Alguns homens gostavam de suas curvas, no entanto. Normalmente não os homens certos, mas pelo menos provava que ela não era um sapo total. E por que ela estava gastando tanto tempo se preparando, de qualquer forma? Isto não era um encontro. Muito pelo contrário. Ela pretendia ler para Raj o seu ato de rebeldia e mandá-lo embora. Só isso.
— Isso definitivamente não é um encontro. — ela repreendeu o seu reflexo pela milésima vez. Claro, isso pedia a questão de por que estava usando o seu melhor sutiã push-up de renda e tinha cedido algum de seu tempo para colocar sombra no olho em primeiro lugar. Oh bem, era preciso criar a fumaça para aqueles pedaços de fogo, certo?
Ela riu alto, como uma pessoa louca, e sentou-se na beirada da cama para colocar seus sapatos. Não eram de nenhuma marca famosa — como a maioria das mulheres, ela não tinha orçamento para gastar quinhentos dólares em um par de sapatos. Mas eles eram legais e, mais importante, tinham um salto de dez centímetros para que ela não se sentisse como uma anã total ao lado de Raj. Não que isso fosse um encontro. Ela ficou de pé e desligou a luz do teto enquanto saía do quarto, pronta para enfrentar o leão no seu covil. Ou no dela. Ou sei lá. Por que isso definitivamente não era um encontro
Raj foi das escadas até à varanda de Sarah com um gracioso salto. Ele estava com pressa de chegar ao armazém e não tinha tempo para perder fingindo ser humano. Ele colocou sua mão na maçaneta e, encontrando-a destrancada, torceu-a e entrou, batendo enquanto isso.
Ele pegou Sarah descendo as escadas. Ela estava usando um sutiã diferente, um que fazia suas curvas óbvias ainda mais óbvias sob a fina blusa de lã. E por que diabos ele estava notando isso? Ela estava olhando-o chocada, o que rapidamente se transformou em indignação.
— Apenas entre de uma vez, por que não?
— Acabei de fazer isso, obrigado. — ele disse, ignorando seu sarcasmo. — Você já pensou alguma vez em trancar a porta?
— Qual seria o motivo? Não parou você, não é?
— Legal. Você está pronta para sair?
— Sair? Estamos indo em algum lugar?
— Sim. Tenho uma parada a fazer e então levarei você para jantar.
— Você vai? — ela perguntou, em um tom que implicava bem o oposto. Ela desceu outros dois degraus, mas ficou na escadaria, a qual deixava-a na linha de visão dele. — O que aconteceu ontem à noite? E quero a verdade, não mais das suas besteiras de vampiro.
— Não estava ciente de que havia lhe dado alguma besteira de vampiro. — ele disse calmamente.
— Ha, ha. O que aconteceu, Raj? E não diga nada, porque sei malditamente bem que você fez algo com as minhas memórias, e pode ter a maldita certeza que não foi consensual.
Raj se afastou surpreso. Primeiro de tudo, ela não devia se lembrar de nada, mas em segundo, sua escolha de palavras o deixou distintamente desconfortável. Ele não pegava mulheres contra a vontade delas. Nunca. Não desde aquela noite na taberna, quando ele estava muito fora de sua mente para perceber o que estava acontecendo. Sarah estava esperando por uma resposta, encarando-o acusadoramente. Ela havia feito algo nos seus olhos que destacava o cinza mas não escondia as manchinhas douradas que sempre estavam lá.
— Nós falamos sobre as mulheres desaparecidas. — ele disse lentamente. — Foi… você ficou chateada. Mais do que chateada. Eu não entendi o porquê, mas me incomodou ver você daquele jeito, então apaguei e tirei as memórias para que você não tivesse pesadelos.
Era uma versão da verdade, de qualquer maneira. Ela não tinha estado precisamente chateada, apesar de ter estado definitivamente fora de controle. E ele não queria lhe acrescentar pesadelos ao se impor em sua vida.
Sarah estava observando-o, verificando o seu rosto, procurando pela verdade, ele imaginou. Ele a olhou com calma e soube o momento que ela decidiu acreditar nele. — Nunca mais faça isso, Raj. — ela disse suavemente. — Por nenhuma razão. Minhas memórias são minhas, boas e ruins, e vou lidar com elas. Não posso suportar a ideia de alguém mexendo com a minha cabeça.
Havia algo mais ali do que ela estava dizendo, e isso fez com que ele se perguntasse o que havia acontecido no seu passado. Tinha algo a ver com o que quer que fosse que ela escondia? — Sinto muito. — ele disse.
Ela sorriu ao mesmo tempo, como se ele a tivesse surpreendido. — Bem, isso é algo que você não ouve todo dia. — Sua expressão se tornou abruptamente séria e ela olhou-o de um jeito engraçado. — Er, Raj, nós não, isso é, hum… nós não…
— Sarah. — ele disse suavemente, capturando o seu olhar. — Se eu tivesse feito amor com você, você se lembraria.
Seu rosto ficou com um tom encantador de rosa. — Bastardo arrogante. — ela murmurou, mas lhe sorriu novamente, e ele sentiu um peso se levantar de sua alma. — Tudo bem. Deixe-me pegar o meu casaco.
Ele a viu passar por si descendo o resto dos degraus, assistiu seu firme traseiro balançar sob uma calça azul escura, com aqueles saltos malditamente sexys que ela estava sempre usando. — Melhor colocar um casaco grosso. — ele disse. — Está frio lá fora. Talvez aquele que você tinha na outra noite. — Aquele que escondia a tentação de seu doce corpinho, ele acrescentou para si mesmo.
— Tudo bem. — ela disse concordando e tirou o longo casaco marrom. Ele o pegou para ela, segurando enquanto ela escorregava para dento dele, deslizando-o para seus ombros. Ele deixou suas mãos correrem pelos seus braços, terminando com um leve tocar de seus dedos, mas resistiu à vontade de enterrar seu rosto no quente dourado de seu cabelo.
Jesus, Raj, você está com problemas.
Ela o olhou por cima do ombro. — Então você está me levando para jantar? Você está com fome? — ela perguntou inocentemente.
— Você está oferecendo? — Ele não pôde deixar de retribuir.
Ela fungou delicadamente. — Em seus sonhos, amigo.
Ele se inclinou para sussurrar diretamente em seu ouvido. — Ou talvez nos seus, querida.
Ela se arrepiou e ele sorriu satisfeito. Ele podia não ter nenhuma intenção de tomá-la, mas não queria que ela ficasse completamente imune a ele também.
Sarah abriu a porta, mas ele parou na frente dela, sua atenção direcionada para a porta ao lado onde alguém estava assistindo novamente. — O seu vizinho presta bastante atenção em quem vem e vai.
— É só a Sra. M. — ela disse alegremente, andando ao redor dele e saindo para a varanda. Ela lhe deu um olhar de aviso. — Ela mantém um olho em mim.
— Você recebe muitos visitantes do sexo masculino?
— Nem um pouco. — ela disse, dando um tapinha em seu braço, como se ele precisasse ser tranquilizado. — A Sra. M. é um pouco super protetora.
Bom, ele pensou. Mas manteve o pensamento para si. — Tranque a porta. — ele a instruiu.
— Sim senhor, Sr. Raj.
Ele andou à sua frente e desceu as escadas. Iria ser uma longa noite.
Sarah assistiu Raj pelo canto de seu olho enquanto ele manobrava pelo trânsito de sexta-feira à noite. Ele parecia diferente essa noite, ainda amigável e superprotetor, mas mais frio de alguma forma, exceto por aquele pequeno deslize sobre estar faminto, o que deve ter sido uma coisa bem estúpida para ela dizer. Ela não havia dito como um flerte. Havia? Ela tinha que admitir que estava atraída por ele. Quem não estaria? Ele tinha toda aquela vibração de alto, moreno e lindo, exceto que ele era loiro e tinha olhos azuis, claro. Seu cabelo era grosso, escovado para trás de seu colarinho, apenas longo o bastante para que ela se perguntasse como pareceria se ele deixasse crescer ainda mais, talvez passando os ombros. E com aqueles lindos olhos azuis, um tipo de azul gelo, exceto quando queimavam com um calor inegável. Ela estremeceu dentro de seu casaco quente. Sim. Estava definitivamente atraída por ele. E algumas vezes tinha certeza que ele estava atraído por ela também, mas então era como se ele desligasse um interruptor e desaparecesse por detrás daquele exterior de somente negócios.
— Você é diferente dos outros. — ela disse repentinamente.
Apesar do intenso tráfego, ele se virou para encará-la, seus olhos praticamente brilhando na luz difusa. — Outros? — ele perguntou, sua voz tão baixa e profunda que era praticamente um grunhido.
Sarah lambeu os lábios nervosamente. — Os outros vampiros aqui em Buffalo.
— Você conheceu outros vampiros aqui em Buffalo?
Havia algo sobre a maneira como ele disse isso, sobre a maneira que ele a estava olhando que de repente a fez ciente de que estava presa em um carro com um vampiro. Um grande e perigoso vampiro. Ela estava arrependida de ter trazido isso para a conversa agora, mas ele estava esperando por uma explicação, então ela disse, — Mais ou menos. Quer dizer, realmente não conheci ninguém, mas houve uma festa na Universidade ano passado. Era supostamente para mostrar os talentos locais de Buffalo. Manhattan está ficando tão caro que algumas pessoas estão realmente voltando a Buffalo para viver. Não são muitos, é claro, mas alguém decidiu que não poderia ser mau de todo fazer as pessoas lembrarem que há uma grande universidade aqui, com um centro médico e vários intelectuais e artistas. Não é Manhattan, mas não é o exterior da Mongólia, também.
Raj olhou-a de modo cético. — Os vampiros? — ele a lembrou.
— Certo. Bem, sou apenas uma historiadora, e uma nova, mas minha amiga Linda — você a conheceu na outra noite — o marido dela é meio que uma estrela no departamento de arte.
Ele assentiu, e Sarah pensou se era possível que tivesse lhe contado sobre isso ontem à noite e não se lembrava. — Bem. — ela continuou, — eles me convidaram para ir à festa com eles. Todos os manda-chuvas locais estavam lá, incluindo o seu chefe, Krystof Sapieha.
— Ele não é o meu chefe. — Raj estourou.
Sarah franziu a testa em confusão. — Mas achava que ele era o lorde vampiro local, e isso…
— É complicado. Continue com sua história. — ele exigiu.
Ela lhe deu um olhar bravo — ele realmente tinha que parar de lhe dar ordens. — De qualquer forma, Sapieha ficou lá por apenas talvez uma hora, mais ou menos, com dois outros vampiros — guarda-costas, eu acho — embora não tenha ficado muito impressionada.
— Não? — Raj deu-lhe um olhar rápido e divertido antes de voltar o seu olhar à estrada para parar em um sinal vermelho. — O que você esperava?
— Eunucos gigantes. Você sabe, brincos de ouro e tal.
Ele riu. — Tenho certeza que eles eram bem capazes, apesar da ausência de ouro e castração, e provavelmente havia outros no meio do grupo do qual você não sabia. Krystof está bem ciente de sua própria segurança.
— Talvez. Mas pensei que seria interessante conhecê-lo. Sabe, por causa da Cyn e do Raphael. Imaginei que eles fossem provavelmente amigos.
— Você falou com Krystof?
Ela ficou repentinamente ciente de que a luz havia se tornado verde mas eles ainda estavam parados ali. Raj estava observando-a atentamente, oprimindo-a, não somente com seu tamanho, mas com a sensação de ameaça, como se tudo dependesse do que ela iria falar em seguida.
— Não. — ela disse cuidadosamente. — Eu tentei, mas ele estava falando com uma mulher, estavam realmente envolvidos, sabe? Fui lá de qualquer forma, mas quando cheguei perto demais, um dos outros vampiros me parou. — Ela deu de ombros. — Talvez Krystof estivesse arrumando a sua próxima refeição ou algo assim. Ele foi embora bem depois disso.
Raj parecia satisfeito com sua resposta. Pelo menos relaxou, de modo que ela já não sentia que sua vida dependia de suas próximas palavras. Ele olhou para o sinal e acelerou pelo cruzamento. — Ainda bem. — ele disse finalmente. — Krystof está muito velho. — ele disse, como se isso explicasse tudo.
Ele virou em uma área industrial não muito longe do aeroporto, dando várias voltas até eles estarem dirigindo por uma rua lateral escura, fronteada pelo que parecia ser um monte de armazéns abandonados. Ele parou no estacionamento de um desses armazéns e parou na porta. Sarah olhou ao redor, se inclinando para ver através do pára-brisa. Não havia outros carros em lugar algum e não havia luz vindo de dentro. — Você está vivendo de acordo com o seu estereótipo, sabia? — ela disse.
— Estereótipo?
— Vampiro grande e mau, mulher inocente e indefesa, depósito abandonado, meio da noite. Você sabe. Estereótipo.
— Não fiz nada ultimamente que tenha sido ruim, e você dificilmente é indefesa e provavelmente não é tão inocente também. — ele adicionou com um sorriso torto. — E também, este depósito não está abandonado. Eu te darei a parte sobre o meio da noite, no entanto. Pense como se fosse o meio da tarde dos vampiros.
— Um senso de humor? Tome cuidado, Raj, o seu estereótipo está escapando.
Quando ele nem ao menos mostrou um sorriso, Sarah pensou que ele talvez não tivesse um senso de humor no final das contas. Deixando as chaves na ignição e o carro ligado, ele se virou para encontrar seus olhos diretamente.
— Espere no carro. Levarei apenas alguns minutos.
— Sim, Mestre. — ela entoou.
Ele balançou a cabeça e saiu. Antes que ele desse dois passos, a porta do depósito abriu e uma mulher emergiu — uma alta e linda mulher que parecia terrivelmente feliz em ver Raj. Curiosa, Sarah abriu a porta do carro, pretendendo se juntar ao grupo.
A mulher olhou na direção do som e sorriu. — Quem é o jantar? — ela perguntou, balançando seu queixo na direção de Sarah.
Raj olhou rapidamente por cima do ombro e se virou para encarar Sarah, bloqueando sua visão da outra mulher. — Volte para o carro. — ele ordenou mal-humorado.
— Não seja tão estraga-prazer chefe. — a mulher disse claramente. — Deixe a sua amiguinha se juntar a nós.
Raj se virou novamente, e Sarah viu suas presas aparecerem pela primeira vez. — Cale a sua maldita boca, Em!
A expressão brincalhona da mulher congelou com suas palavras, mas não foi substituída por revolta, o que Sarah teria esperado de uma namorada. Ao invés disso, a mulher caiu num joelho, com a cabeça inclinada. — Meu senhor. — ela murmurou. — Me perdoe.
Sarah olhava da mulher ajoelhada para o Raj e se perguntou se deveria estar com medo também.
— Volte para o carro, Sarah. — ele repetiu, andando em sua direção, suas presas mais uma vez fora de vista.
Espere. Meu senhor? Esta mulher era uma vampira?
Sarah escutou Raj xingar baixinho enquanto ela dava a volta ao redor dele, andava até a mulher e estendia sua mão. — Sarah Stratton. — ela disse.
A mulher deu a Raj um olhar desnorteado, seus olhos questionadores. Ele fez um som aborrecido e gesticulou que estava tudo bem. A vampira ficou de pé e pegou a mão de Sarah, balançando-a firmemente. Não era um daqueles cumprimentos femininos, mas sim um verdadeiro aperto de mão. — Emelie. — ela disse. — Sem sobrenome, como Prince. — ela adicionou com um sorriso torto.
Raj fungou e Emelie fez uma careta para ele por cima do ombro de Sarah. — Todo mundo está esperando por você, meu senhor. — ela disse severamente.
— Nos dê um minuto. — Raj disse.
— Como desejar. — Emelie respondeu. — Um prazer te conhecer, Sarah. Talvez da próxima vez nós possamos realmente ter uma conversa.
— Sobre o meu cadáver. — Raj murmurou.
— Tarde demais. — Emelie disse docemente, e trotou de volta para o armazém, fechando a porta atrás de si.
Sarah se virou logo que ela se foi. — Meu senhor? — ela repetiu.
Raj fechou seus olhos brevemente e então os abriu, lhe dando um olhar paciente. — Vampiros vivem uma longa vida. Nós desenvolvemos uma sociedade altamente estruturada para sobreviver, para nos protegermos uns dos outros como também dos humanos com suas tochas e estacas. Quando essa estrutura foi primeiramente concebida, não havia tal coisa como democracia. E não funcionaria de qualquer forma. Vampiros são mais do que apenas humanos que permanecem acordados à noite. — Ele se aproximou de repente e trancou seu olhar com o dela. — Lembre-se disso, Sarah. Vampiros são perigosos e imprevisíveis, não importa o quão humanos eles possam parecer.
— Tudo bem. — ela disse em voz baixa. — Estou devidamente aterrorizada.
Ele recuou um pouco. — Não há necessidade de ter medo da Em.
— Vocês dois… — Ela deixou as palavras caírem, envergonhada por ter feito a pergunta.
Raj sorriu um pouco presunçoso. — Te incomodaria se estivéssemos?
— Não. Claro que não. Eu só…
— Bem, nós não estamos. Em é minha melhor amiga e minha tenente. Mas nunca houve nada entre nós.
— Oh. Bem. Ok. — Sarah limpou sua garganta nervosamente. — E agora, o quê?
— Agora, você volta para o carro e fica lá. Isso não vai demorar muito. — Ele pegou o braço dela e a empurrou de volta ao BMW, fechando a porta firmemente. — Fique aí. — ele disse pela janela enquanto ela apertava o botão para abri-la. — E feche a janela de novo. Emelie não é a única vampira lá.
Enquanto ele se afastava do carro, Sarah pensou ter escutado ele murmurar, “e eu não tenho nenhuma intenção de dividir”. Mas ela poderia estar errada.

x
x
                                              CONTINUA
x
x

Capítulo 23
Raj fez uma varredura final da área, verificou que Sarah estava sentada no carro, que ele esperava que estivesse trancado como prometido, e abriu a porta do armazém, pronto para se desculpar com Em. No interior, as luzes estavam ligadas. Elas eram muito fracas para os olhos humanos, porém ideais para um vampiro. E o grande espaço não estava mais vazio. Quatro grandes veículos, todos pretos e com vidros fumados, estavam estacionados próximos às portas da plataforma de carga. Próximo ao grande refrigerador, os oito membros da equipe que Emelie havia trazido de Manhattan estavam envolvidos em diferentes atividades. Alguns descansavam, assistindo TV de tela grande, utilizando fones para preservar a idéia de silêncio do lado de fora do armazém. Outros estavam verificando equipamentos, em sua maioria armas e facas. Vampiros não precisam de muitas ferramentas. Com sua força, velocidade e presas, eles eram a sua própria arma mortífera. Mas uma arma era útil algumas vezes, e facas eram sempre divertidas.
Em estava conversando com Abel, um dos “filhos” mais velhos e confiáveis de Raj. Abel encontrou o olhar de Raj e acenou para ele, o grande diamante em seu ouvido piscou alegre contra a sua pele quase negra. Emelie terminou o que quer que estivesse dizendo e foi até ele, contornando uma mesa carregada com equipamentos de informática e eletrônicos. O mago tecnológico da equipe, um humano chamado Simon, estava montando as coisas lá em cima, seus dedos voavam sobre o teclado enquanto seus fones de ouvidos bombardeavam música tão alta que Raj podia ouvir de onde estava.

x
x
x

x
x

Os olhos de Emelie estavam baixos enquanto ela se aproximava. Para seu total horror, ela se prostrou em um joelho e disse: — As minhas desculpas, meu senhor. Não percebi…
— Jesus Cristo, Em, levante-se! — Raj puxou-a para seus pés. — Eu sou o único que tem que se desculpar. Não deveria ter estourado com você daquela forma. Não sei o que há de errado comigo.
Em estudou-o, seus escuros olhos castanhos estavam solenes, os encantadores planos de seu rosto exibidos devido ao rabo de cavalo apertado que estava puxado bem alto em sua cabeça. — Raj, meu amigo. — ela disse suavemente. — Isso não é verdade. Passei somente alguns minutos com vocês dois, mas sei o que está acontecendo. E você também sabe.
Raj igualou seu olhar sério por alguns momentos. Quando ele desviou o olhar, ele xingou viciosamente. — Porra! Por que agora? Por que ela? Jesus Cristo, Em, esta cidade está uma bagunça total. O Krystof está fazendo novos vampiros como se eles não fossem nada a não ser brinquedos, alguém está sequestrando mulheres das casas de sangue, e agora ela! Eu não preciso dessa merda!
A sua voz estava cada vez mais alta, até que chamou a atenção dos vampiros que estavam do outro lado do cômodo. Todos eles haviam parado o que estavam fazendo. Até mesmo os que estavam assistindo TV tinham tirado os seus fones. Eles não tinham a intensão de escutar, mas não podiam evitar, já que ele estava gritando como um idiota. Ele respirou fundo e soltou o ar lentamente. — Não posso lidar com isso agora. Há muito em risco. Não posso me permitir ser distraído por alguma garotinha que pensa que vampiros são algo sobre o que ela lê nos livros com homens seminus nas capas.
A boca da Em se apertou em um esforço óbvio para não rir, mas os olhos a entregaram. — Por que não apenas pegar a garota, chefe? — ela perguntou de maneira prática. — Talvez seja isso que você precise — um gole rápido, um rala e rola no palheiro e você é...

 

 

                                                                                                  

 

                                       

O melhor da literatura para todos os gostos e idades