Sinaloa, México... desertos assustadores, noites quentes e vampiros que estiveram lá por centenas de anos observando as sombras, jogando seus jogos, manipulando humanos e sobrevivendo a qualquer custo.
Vincent Kuxim, poderoso e carismático, foi feito vampiro por um líder ambicioso à procura de soldados para pavimentar seu caminho para o governo de todo o México. Mas mais de um século depois, o Senhor de Vincent está olhando por cima do ombro quando Vincent chega, pronto para reivindicar o título de Senhor do México para si mesmo.
Lana Arnold é uma caçadora de recompensas, inteligente, bonita e determinada a traçar seu próprio futuro. Então, quando o mais poderoso senhor dos vampiros de toda a América do Norte alista sua ajuda no rastreamento de um sangue muito velho e evasivo, Lana não vê nada além de oportunidade. Há apenas uma captura. O cliente quer que ela leve Vincent - um vampiro que ela nem conhece, nem confia - em sua caçada. Então, novamente, talvez seja ela mesma, ela não confia porque Vincent Kuxim é como o sexo personificado caminhando com um jeans preto apertado.
Juntos pela circunstância, Vincent e Lana logo se encontram lutando contra um mal que eles não sabiam que existia em uma luta que deixa Vincent mais decidido a destruir o seu senhor, aproveitar o México para si mesmo... e manter Lana ao seu lado para sempre.
xxxxxx
Hermosillo, Sonora, Mexico
VINCENT saiu para a varanda e se espreguiçou, sem se importar com o fato de que estava completamente nu. Sua casa era no limite de um condomínio particular, e sua varanda dava para o nada, um deserto silencioso. Embora a sacada pudesse estar no meio de uma cidade movimentada, ele ainda assim não teria se importado em mostrar um pouco de pele. Ou até mesmo um monte.
Ele estava em Hermosillo, em um prédio privado, que era uma das muitas propriedades de Enrique no México. Embora o Lorde Vampiro não tivesse estado no local há anos e provavelmente, nem sequer se lembrasse que possuía tal construção. O Senhor Mexicano ficava em sua casa na Cidade do México, enquanto Vincent preferia qualquer residência que o mantivesse o mais longe possível de Enrique. Hermosillo era um bom lugar, assim como a propriedade sobre a água em Los Cabos, principalmente porque ambos os lugares eram locais onde Enrique raramente se aventurava.
Um pouco mais de 40 anos atrás, Enrique explorava seu território em uma base regular, mas nos dias de hoje, se fosse necessária alguma viagem, ele enviaria Vincent. A única exceção à regra ocorria se os demais Lordes Vampiros da América do Norte estivessem envolvidos. Historicamente significava que Enrique comparecia a reunião do Conselho de Vampiros da América do Norte uma vez ao ano.
Ultimamente, o continente estava cheio com antigos Lordes morrendo ou sendo assassinados, a torto e a direito. Nos últimos dois anos, quatro dos territórios tiveram novos Lordes subindo ao poder, e duas dessas ascensões necessitaram uma reunião especial do Conselho. Os outros dois novos Lordes foram gentis o suficiente para agendar sua ascensão coincidindo com os encontros anuais do Conselho. A ascensão de um novo Lorde não necessitava da aprovação do Conselho — poder era a única coisa importante entre vampiros.
Se um vampiro conquistasse e conseguisse manter um território era dele. Mas era costume de o Conselho dar as boas-vindas ao novo colega... Que era uma maneira educada de mostrar que o Conselho queria conhecer o novo cara e ver se conseguiriam trabalhar com ele. Caso não conseguisse, seu governo seria bem curto. Porque por mais poderoso que fosse um Lorde Vampiro, ele sozinho não era páreo contra todo o Conselho. A não ser que esse vampiro fosse Raphael. Ninguém sabia ao certo do que Raphael era capaz, e até agora, ninguém foi tolo o bastante para tentar descobrir.
Vincent inspirou o ar seco. Estava fresco e claro esta noite. Algumas noites, se o vento soprasse na direção errada, ele pegaria o fedor de óleo e metal proveniente do surgimento das novas indústrias em Hermosillo. Ele sabia que elas geravam um monte de emprego aos locais e não poderia ter má vontade com elas, mas preferia muito mais quando Enrique montou sua base por aqui há um século.
E apenas pensar sobre o assunto o fazia se sentir como um velho rabugento remoendo seus bons dias de juventude. Era ruim o suficiente que fosse um velho, mesmo que não parecesse. Mas ele não precisava pensar como um velho também.
O celular tocou — era seu tenente, Michael, fazendo check in no início da noite. Para falar a verdade, Vincent não deveria ter um tenente desde que ele próprio era um tenente para o atual Lorde Enrique. Especialmente quando criou Michael sem a autorização prévia de Enrique. Seu Lorde e Mestre não estivera contente sobre o assunto, mas Vincent particularmente não se importava. Se fosse aguardar a permissão de Enrique jamais teria um vampiro de sua criação. O velho segurava suas regalias como uma criança mimada com seus brinquedos ou alguém ganancioso com seu dinheiro.
Quando confrontado com a existência de Michael, no entanto, Enrique não teve coragem de ordenar a execução do vampiro, mesmo que estivesse no direito. Ele provavelmente estava relutante em desafiar Vincent, suspeitando que fosse desobedecido. E ele estava certo. Vincent teria o mandado se foder, e poderia ter se transformado em algo feio.
Vincent não era tenente de Enrique por amor ou respeito. Ele escalou para o topo a moda antiga, matando quem estivesse em seu caminho. Ele era o vampiro mais forte no estábulo do velho, e fora assim por mais de cem anos. Ele cumpriu seu dever com Enrique, que era seu Sire e Senhor. Ele era leal, e quando o momento pedisse era convenientemente obediente. Basicamente ele ignorava tudo e ficava fora do caminho para evitar confronto, enquanto Enrique finge governar em pleno poder.
Vincent pegou o celular no caminho para se vestir.
— Yo, Michael. O que há?
— Boa noite, Sire, Michael respondeu obedientemente. Quando necessário ambos podiam ser tão formais quanto o antigo protocolo vampiro exigia. Mas ambos eram amigos, a única outra pessoa em quem podiam confiar num mundo de cão engolindo cão ao qual Enrique governava.
— Sí, sí, Vincent respondeu. — Alguma repercussão daquela bagunça em Acuña? — Vincent não sabia os detalhes, mas um grupo de vampiros europeus tentou um golpe em Raphael algumas semanas atrás. O que ocorreu em Acuña, uma pequena cidade fronteira com os EUA, colocando o pequeno tête-à-tête praticamente dentro do México.
Os relatórios diziam que Raphael limpou o chão com os vampiros. O que não era surpresa para Vincent, o que foi surpresa foi o encontro ocorrer no território de Enrique. Vincent não possuía provas da participação de Enrique, mas contava com fortes suspeitas. De jeito nenhum no inferno um grupo de vampiros fortes o suficiente para desafiar Raphael cruzaria o território de Enrique sem o seu conhecimento.
Vincent também sabia que era do conhecimento de Enrique o envolvimento de Raphael em todas as mudanças territoriais na América do Norte, e Enrique não gostou nada. Ele acreditava que Raphael queria dominar o continente e que o México seria o próximo domínio a cair.
Vincent não concordava com seu Sire nesta questão. Nem Enrique podia negar que os vampiros europeus estavam de olho na América do Norte, o que fez com que as alianças entre os membros do Conselho fosse uma jogada inteligente. Mas Enrique não via motivo em se arriscar defendendo o território de outro. Vincent concordava com Raphael de que seriam mais fortes lutando juntos.
— Quer dizer algo diferente da pilha de poeira em alguma igreja velha? Michael perguntou em resposta a indagação de Vincent sobre o confronto em Acuña.
— Sim, sem ser isto, Vincent respondeu seco.
— Tive relatórios... Michael hesitou, o que fez a atenção de Vincent maior.
— Michael?
— Preciso checar novamente os detalhes. Vou ter algumas respostas para você quando chegar ao escritório.
Vincent franziu o cenho. Ele suspeitava que Michael tivesse toda a informação necessária, mas não quisesse discutir ao telefone. Os espiões de Enrique estavam sempre por perto, e o sinal de celular era muito fácil de interceptar. Ele olhou o relógio de cabeceira. Era quase oito. A primavera estava chegando o que significava que os dias seriam um pouquinho mais longos. Não era a melhor época do ano para vampiros.
— Certo. Te vejo no escritório então, ele disse a Michael.
— Sim, sobre isso. Você tem um compromisso esta noite.
Vincent tentou se lembrar, mas nada veio à tona. — Não, não tenho.
— Sim, você tem, jefe. Algum caçador de recompensas. Ele vem com uma indicação do próprio Raphael.
Vincent franziu o cenho. O que infernos Raphael estava aprontando? Primeiro a batalha no território de Enrique e agora isso?
— Um caçador de recompensas com uma indicação do Raphael? Por quê? Ele perguntou.
— Não sei. O cara ligou da estrada hoje, falou com Lou no escritório central. Lou marcou o compromisso e me deixou uma mensagem.
— Que horas é o compromisso?
— Dez.
— Bem, foda-se. Assim se vai minha noite. Preciso me vestir. Te vejo em trinta. — E desligou. Mas não pode deixar de se perguntar por que Raphael estava enviando alguém para ele, pulando os canais oficiais que passariam por Enrique. Especialmente porque não se lembrava em ter trocado mais do que dez palavras com o Lorde Vampiro desde que o conheceu.
Ele começou a escolher a roupa para a noite. Jeans — preto porque tinha um compromisso a noite — e uma blusa de manga longa, também preta. Sentado no banco do closet, calçou meias e sua bota de cowboy favorita, todo de preto. Não que representasse o estereótipo de como um vampiro se vestia — todo de preto — mas roupas não importavam para ele. Vestir uma só cor era mais fácil. Além de que ele usava jeans com a mesma frequência que usava preto. Variedade o bastante para ele.
Olhou-se no espelho antes de sair, passando as mãos pelo cabelo longo e dando mais atenção à barba e bigode, que eram suas verdadeiras vaidades. Cortava o cabelo uma vez por mês, mas fazia a barba toda noite. Ele sabia que era bonito, e Deus sabia que usava sua aparência para atrair mulheres — porque se havia algo que ele amava neste mundo, era uma mulher macia e disposta — mas com exceção da barba não se importava muito com sua aparência. Tomava banho, fazia barba e se mantinha em forma como maneira de sobreviver. E era isso.
Seu tempo e energia eram usados de maneiras mais importantes, incluindo, aparentemente, fazer um favor a Raphael. Não sabia se ficava preocupado ou exultante com aquele desenvolvimento.
O complexo em que Vincent e os demais vampiros de Hermosillo viviam era um quadrado que ocupava duas quadras da cidade. O escritório de Vincent estava num prédio oposto à propriedade onde morava. Estava fora do perímetro central, e era a única estrutura fora a boate adjacente que possuía entrada ao público. Como nada de valor ficava no recinto, exceto alguns equipamentos de escritório, a segurança era feita por câmeras de vigilância do estacionamento e da recepção. Contudo, permanecia fechado até o pôr do sol, assim como o restante do complexo. Se um humano quisesse fazer uma visita viria após o pôr do sol, ou não viria.
Lou — cujo nome era Louisa — era a secretária humana de Vincent. Ela chegava ao meio dia e trabalhava no prédio principal até Vincent levantar-se pela noite. Então ia para recepção fora do escritório.
Como sempre, fervilhava de atividades pela área, enquanto Vincent percorria o jardim para seu escritório. Hermosillo possuía uma população substancial de vampiros atraídos pelos mais de 700.000 humanos que moravam na cidade. E como vampiros tendem a viver em grupos, muitos viviam no complexo. Vincent escutava as vozes ao cruzar o composto, mas não via ninguém. Essa parte do complexo contava um forte paisagismo, contrastando com as paredes desertas por dentro. Continha palmeiras e outras plantas tropicais, que exalavam o cheiro das flores. Era necessário um exército de jardineiros para manter o paisagismo, e muita água que era retirada de um poço somente para este intuito. Não era nada ecológico, mas Vincent gostava muito dos resultados para protestar. Acenou aos dois vampiros de guarda ao passar para a parte pública do edifício. Nenhuma palmeira dentro do concreto. O ambiente era limpo e elegante, porém estéril, no máximo um cacto como ornamento. Com vinte passos Vincent chegou ao escritório. Era uma estrutura plana, que não indicava que seu ocupante era um dos vampiros mais poderosos do território. Ele subiu os três degraus para a porta de ferro, e inseriu o código correto para abrir e entrar na sala onde sentiu a temperatura cair vários graus. Mesmo no verão, as grossas paredes bloqueavam o calor do deserto. A bota de Vincent fez barulho no chão e ele ouviu vozes de dentro do escritório. Mas nenhuma pertencente ao seu visitante. Ainda não.
Ele entrou em seu escritório privado, passando sua mesa em direção a um pequeno lobby onde Michael e Lou aguardavam por ele.
— Boa noite, Louisa, — ele murmurou, sorrindo quando seu cumprimento causou um rubor na outra mulher, mesmo que ela já trabalhasse para ele há mais de dez anos, e fosse velha o suficiente para ser sua mãe, se alguém se baseasse só nas aparências.
— Boa noite, Vincent, — ela respondeu. Levou anos para fazê-la chamá-lo pelo primeiro nome. — Você tem um compromisso, — ela o informou.
— Assim eu soube. Às dez?
— Sim, senhor. Seus outros recados estão sobre a mesa.
— Certo. Michael junte-se a mim. Louisa, mi amor, segure minhas ligações, sim?
Ela corou com o termo carinhoso, mas assentiu rapidamente e disse — Sim senhor.
Vincent sorriu, então gesticulou para Michael segui-lo. Entrou no escritório e sentou-se à mesa, uma monstruosidade de nogueira, esperando a porta se fechar para olhar interrogativamente para seu tenente.
Michael não perdeu tempo. — Tenho um monte de relatórios, humanos e vampiros, que há uma semana, um grupo de vampiros foi visto dirigindo como os infernos pelo Norte, parando apenas para dormir e drenar algumas vítimas não voluntárias, a caminho da Cidade do México.
Vincent transformou Michael em vampiro por diversas razões, mas ele se provou uma decisão inspirada. Como vampiro seu poder só perdia para o de Vincent, e como tenente ele provou-se um gênio em cultivar fontes e reunir informações. Ele abraçou a era tecnológica, sabendo tudo que precisava para saber sobre computadores e network, e francamente, como espiar locais que não deveria.
— Dirigindo, — Vincent repetiu, pensando nos últimos acontecimentos. — Alguma identidade conhecida?
— Duas fêmeas, é tudo que sabemos até o momento. No entanto, tenho uma fonte que diz que um dos vampiros envolvidos era a irmã de Raphael.
Vincent arregalou os olhos em surpresa. — A irmã que ninguém vê em meses? Qual seu nome... Alexandra? Todos pensaram que estava morta.
— Pensei o mesmo. Mas e se ela não estiver? E se ela estava Acuña, as chances são de que ela seja uma das fêmeas que percorreu o caminho direto para a Cidade do México e para Enrique.
Vincent xingou baixinho. — O que o bastardo está aprontando? — Ele murmurou.
Michael assentiu. — Estou tentando confirmar a identidade da irmã, ou pelo menos, achar alguém que saiba se ela está viva ou morta. Mas você conhece o pessoal do Raphael. Eles são leais até os ossos, e maldito se sua segurança não é praticamente impossível de se infiltrar. Não consigo chegar a ninguém que confirme o status da irmã. O cara que alega que ela esteve em Acuña é um policial cuja esposa ouviu uma conversa fora do hotel onde os vampiros europeus se hospedaram. Ela também alega que a vampira que se chamava Alexandra estava com os vampiros europeus.
— Alexandra veio com os europeus? Como isso é possível?
— Não sei, mas ela não cruzou o México com Raphael. E também não retornou aos EUA com ele. Tenho o vídeo da fronteira em ambas direções. Apenas cinco pessoas viajaram com Raphael, e a única mulher era sua companheira.
Vincent pensou no significado daquilo e não chegou a nenhuma conclusão. — As duas fêmeas que foram em direção a Cidade do México ainda estão por lá?
Michael balançou a cabeça. — Duvido. Um avião privado saiu do aeroporto Benito Juarez em direção a Paris. Uma passageira, uma fêmea que chegou de limusine direto do quartel general de Enrique. Minha suposição é que nossa passageira era uma das viajantes.
— E quanto a outra?
— Não se sabe.
— Droga. Não quero ir para a Cidade do México.
— Você já viu a irmã? Alguém sabe como ela se parece?
— Vi ela através do salão em uma festa do conselho certa vez em Malibu.
— A irmã é uma versão feminina de Raphael?
— Isso a faria uma grande mulher, Mikey. — Vincent bufou. — Não, Alexandra é uma coisinha pequena, especialmente para os padrões de hoje. Não mais que 1,52 de altura sem sapatos. Ela tem cabelos pretos como ele, é tudo que me lembro. Não acho que a reconheceria se a visse na rua, mas poderia reconhecê-la se visse uma foto. Acredito que você tenha uma foto da fêmea vampira que entrou naquele voo? — Michael mexeu no celular e mostrou a Vincent. — A imagem está ruim por causa da distância.
Vincent pegou o celular e olhou atentamente para a imagem. Obviamente o zoom da câmera foi usado ao máximo, mas... — Não é a irmã, — disse. — A cor do cabelo pode ser mudada, mas algo sobre o corpo não se encaixa. Essa mulher é muito grande. E a aparência está errada. Não é Alexandra.
— Então a irmã de Raphael está morta ou na Cidade do México. Que porra é essa, jefe?
— Bem que eu queria saber. — Vincent prendeu a ponta do nariz com os dedos, se perguntando se deveria ligar para Enrique e ver o que estava acontecendo. Por um lado, se houvesse um esquema envolvendo a irmã de Raphael, Enrique deveria saber. Por outro, se Enrique fosse parte do esquema... Bem, foda-se. Não havia nada no manual de tenente que dizia que Vincent deveria seguir seu Lorde para o suicídio.
— Tem alguém ao Sul que podemos contactar para informações? — Ele perguntou a Michael. — Se Raphael esteve no Texas, Anthony ou alguém do seu séquito deve saber.
As relações de trabalho de Vincent com os Vampiros do Sul eram melhores e mais extensas do que com os vampiros no território de Raphael no longínquo oeste. Isto porque o Sudeste dividia um enorme território de fronteira com o México, com um tráfego intenso, tanto legal como ilegal. Vampiros não se envolviam em questões humanas, o que não significava que estavam imunes à violência e a corrupção que por vezes ocorria. A fronteira EUA/México estava instável ultimamente; tanto que Vincent e sua contraparte ao Sul frequentemente se reuniam.
— Vou contactá-los, — Michael disse. — Nesse meio tempo — Ele se calou quando se ouviu um grito do outro lado do edifício, na direção da boate que também era uma casa de alimentação. Quase que concomitantemente ao grito os três telefones começaram a tocar — o celular de Vincent, de Michael, e o telefone do escritório. Vincent ainda estava segurando o celular de Michael, então ele atendeu.
— Nós temos problemas, Mike, — uma voz masculina disse. — Nós precisamos de Vincent
— É ele, — Vincent respondeu enquanto ele e Michael saíam apressados do escritório. — Estarei aí em dois minutos.
A boate estava no fim da quadra do escritório, e foi construída para ser o oposto da discrição. Música explodia dentro, tão alta que nem o melhor sistema de acústica podia contê-la. O pesado som do baixo parecia a batida do coração de algum demônio que estava dentro do prédio. Quatro noites por semana — quinta a domingo — uma longa fila de humanos se formava ansiosa e disposta a doar sangue e ter parceiros sexuais. Ambos entraram juntos. Era a maneira de a evolução garantir que os vampiros tivessem o necessário à sua sobrevivência. Eles eram os perfeitos predadores.
A FILA COMEÇAVA na entrada com o segurança, percorria os 6 metros de corda de veludo e virava a esquina em direção ao estacionamento. Se os vampiros quisessem teriam a mesma fila todas as noites da semana, mas aqueles que viviam no complexo precisavam de um tempo sem humanos ao redor. Ou, pelo menos, Vincent precisava. Ele gostava o suficiente de humanos. Eles o sustentavam em mais de uma maneira. Mas eram barulhentos e sempre queriam alguma coisa dele, o que era estranho se considerar que ele era o único a se alimentar deles.
Ele deixou claro quando assumiu o complexo de Hermosillo que o clube ficaria fechado três noites, e ninguém se opôs. Pelo menos não que tenha escutado.
Quando Michael se apressou para entrada, notou que estava lotado como sempre. O que não era costumeiro foram os gritos que se ouviam e os humanos se espremendo pela única porta para tentar sair do clube. Também tinham os grunhidos e rugidos de alguns vampiros furiosos vindos de dentro.
Foda. Isso era péssimo em tantos níveis. Boa coisa que ele estava usando jeans preto esta noite, Vincent pensou. Eles não deixavam transparecer o sangue respingado.
— Meu Lorde! — o segurança gritou quando pegou um vislumbre de Vincent. Ele estava lutando para manter alguma ordem entre os humanos que tentavam escapar, e no processo, quase pisoteavam uns aos outros durante a fuga. — O que eu faço?
— Fique na porta, — Vincent rugiu. — E se livre deles, — acrescentou, apontando para enorme fila de humanos que aguardavam a entrada. Eles estavam esticando os pescoços para os humanos gritando freneticamente e saindo às pressas do clube, mas nenhum deles parecia pronto para abrir mão do seu lugar na fila. Pelo contrário, eles pareciam ainda mais ansiosos para entrarem.
— O clube está fechado esta noite, — Vincent ordenou, então girou em direção a porta, onde os humanos mais próximos ouviram e gemeram um protesto barulhento. Quase como um, eles se afastaram do seu olhar frio, os olhos arregalados, seus pequenos corações mortais pulsando com medo. Exceto por uma pequena e bonita loira cujos olhos arregalados estavam cheios de uma emoção totalmente diferente. Vincent queria rolar seus próprios olhos em desgosto. Humanos. Alguns deles não possuíam senso de sobrevivência em tudo. Incrível a espécie florescer, para chegar aos dias de hoje.
Mas ele não tinha tempo para uma lição de sobrevivência, ou mesmo uma loira com tesão. Ele abriu a segunda das portas duplas, quebrando o parafuso e mantendo-a fechada. Os poucos humanos imediatamente foram para nova rota de fuga, mas após um grunhido de mostrar presas, os humanos se esquivavam, decidindo que ele era claramente uma ameaça maior do que a que eles estavam fugindo. Vincent entrou no clube e parou. O baixo da música era tão profundo, que fez suas presas doerem. Sua visão de vampiro podia ver bem o suficiente, apesar da iluminação intencionalmente fraca. Sombras foram criadas para dar a ilusão de privacidade. O sexo era quase sempre o resultado quando um vampiro tomava sangue da veia, e na pressa sexual desencadeada pela mordida do vampiro, ninguém se preocupou em demasia sobre quem eram ou quem poderia estar assistindo. Sexo desenfreado, seja nos cantos ou fora da pista de dança, era praticamente regra.
Mas isso não é o que estava acontecendo lá fora agora. Cinco grandes vampiros dominavam o centro da pista de dança, suas presas nuas e brilhando, seus ombros curvados e os dedos se enroscaram em uma exibição flagrante de agressão de todos os lados. Três fêmeas humanas estavam amontoadas contra o bar, presas pelos vampiros irritados na frente delas. Uma das mulheres estava sangrando profusamente a partir de uma mordida no pescoço que alguém não se preocupou em vedar corretamente. Ou, mais provável, dado o estado de espírito dos cinco vampiros, o mordedor foi interrompido antes que pudesse terminar.
Havia outros vampiros ainda no clube, também. Eles estavam reunidos nas sombras ao redor da pista de dança, alguns se aglomerando para proteção dos seres humanos, outros posicionados para bloquear a porta, inteligente o suficiente para saber que eles não podiam deixar os combatentes levar a briga para fora. Uma coisa era uma multidão de seres humanos em pânico pelas ruas; outra completamente diferente era uma luta sangrenta de vampiros fazer isso.
Vincent lançou um olhar e tomou uma fração de segundo para considerar suas opções. Ele era poderoso o suficiente para encerrar todos os cinco combatentes sem levantar um dedo. Ele podia ser sutil e simplesmente deixá-los cair inconscientes. Ou ele poderia ser vistoso, uma explosão de energia iria reduzi-los a uma pilha de carne se contorcendo no chão. Por outro lado, passou um longo tempo desde que teve autorização para utilizar seu lado menos civilizado.
— Essa é minha, Mikey, — ele murmurou, sentindo um sorriso de antecipação dividir seu rosto. Ele adorava uma boa briga.
— Ah foda, jefe. Você vai ficar com toda a diversão.
Vincent pulou para a briga, seus dedos afundando no ombro do primeiro vampiro que encontrou. O vampiro estava muito preso em sua própria raiva para perceber que fora agarrado, e girou com um rosnado enfurecido. Mas Vincent estava esperando por ele. Com um gancho no queixo, o vampiro voou pelo ar antes de cair como um boneco quebrado contra a parede oposta. Ao mesmo tempo, os aliados do cara perceberam que havia um novo jogador em campo e rugiram em descontentamento. Uivando um grito de batalha alegre de sua autoria, Vincent entrou na briga, com os punhos batendo, sangue voando. Ele agarrou um vampiro pelo pescoço, os dedos cavando tão profundamente que o sangue derramado para fora da boca do vampiro escorreu para baixo de seu pescoço diante de seus olhos, que estavam abruptamente focados em Vincent, em reconhecimento.
— Misericórdia, meu senhor, — ele engasgou, e Vincent jogou-o de lado. Ele não se interessava em matar alguém hoje à noite.
Um intenso golpe bateu em suas costas, com força suficiente para que cambaleasse meio passo. Com um uivo furioso, ele mudou seu peso de um pé ao outro e girou, chutando para fora com o pé oposto, reconhecendo seu agressor como o primeiro vampiro que agarrou, ao mesmo tempo em que ele o mandou voando pelo chão até bater no bar.
O cheiro de licor derramado espalhou-se em uma nuvem esmagadora quando as três mulheres que estavam paralisadas nas proximidades gritaram e correram para a porta, apoiando uma a outra sobre uma chuva de estilhaços de vidro. O próprio vampiro estava tão furioso com a batalha pela luxúria, que ficou de pé quase imediatamente e retornou para a briga quando Vincent foi agarrado por trás por um terceiro vampiro. Um poderoso braço rodeou sua garganta, esmagando seu esôfago e puxando sua cabeça para trás duramente, enquanto o ombro do vampiro foi de encontro ao seu estômago, quase partindo sua coluna em dois.
— Filho da puta, — Vincent xingou. Era uma coisa desfrutar de uma boa briga, outra era ser esmagado entre um par de gigantes sem cérebro. Ele alcançou o seu poder e lançou-o no Berserker intrometido, fazendo-o deslizar pelo chão para então esmagá-lo no bar mais uma vez. Mas desta vez, o cara ficou lá, caído em uma poça de bebidas alcoólicas e vidro, com o queixo no peito, mãos largadas de lado.
Alcançando por atrás dele com as duas mãos, Vincent pegou o filho da puta que estava tentando moer seu pescoço em pó. O vampiro gritou de dor quando os dedos de Vincent apertaram os músculos e ossos. Ele dobrou os joelhos e sacudiu o vampiro para cima de sua cabeça, deixando-o cair no chão onde pisou no peito do idiota tirando seu fôlego, em seguida, o chutou para pista de dança junto com seu amigo em meio aos destroços do bar.
— Você está pagando por essa porra de bar, — ele rugiu para os dois, em seguida, virou-se sobre os dois combatentes restantes com um uivo selvagem. Eles depararam com o brilho de cobre em seus olhos e o sangue de seus companheiros escorrendo de seus dedos. Reconhecimento caiu sobre os vampiros, como um balde de água gelada sobre a raiva da batalha, e eles caíram de joelhos. — Meu senhor, — um deles murmurou. — Nós não sabíamos que era você. — Vincent olhou a multidão de vampiros ainda remanescentes nas sombras. — Tenham os seres humanos fora daqui, — ele ordenou. Eles saltaram para obedecer enquanto Michael cruzou o salão para afastar as três mulheres perto do bar, que aparentemente estavam no centro da disputa. Dentro de instantes, as portas estavam fechadas, com apenas vampiros restantes no clube quase silencioso. Até mesmo a música foi desligada.
Vincent sentiu um gotejamento pelo queixo e percebeu que em algum lugar ao longo do caminho, ele conseguiu um lábio cortado. — Filho da puta, — ele xingou e agarrou a parte inferior de sua camiseta, puxando-a para limpar o sangue enquanto se virou para olhar para os vampiros briguentos, os quais estavam agora em seus joelhos e mais ou menos conscientes.
— Eu tenho que dizer-lhes o quão estúpida foi esta merda? — Vincent exigiu. — Toda essa buceta apenas esperando na fila por vocês, e vocês idiotas brigando por um pedaço de bunda?
— Ela é minha, — um deles murmurou. — Ele não tinha o direito.
Vincent olhou para o vampiro que falou. — Você está acoplado? — Ele perguntou em voz baixa.
A boca do vampiro se apertou brevemente. — Não, meu senhor.
— Então, quando você diz minha, você quer dizer... O que exatamente?
— Eu estava dançando com
— Silêncio, — Vincent retrucou. Se o vampiro dissesse outra palavra, ele mataria o filho da puta e salvar a evolução da necessidade de fazer isso por ele.
— Vocês cinco pagarão por todos os danos. Eu baniria vocês completamente, mas provavelmente acabariam drenando as pessoas nas esquinas e me causariam uma dor de cabeça ainda maior do que a porra da que eu tenho no momento. Então, eu vou te dar esse aviso. Mais um incidente como este — qualquer um — e vai ser o seu último. Vou matá-los eu mesmo.
Ele olhou ao redor da sala, chamando a atenção de todos os cinco vampiros ajoelhados, incluindo os dois ainda gemendo em meio aos destroços do bar. — Vocês entenderam?
— Sim, meu senhor, — eles murmuraram mais ou menos em uníssono.
O celular de Vincent tocou. Ele ignorou tempo suficiente para oferecer aos vampiros um último olhar de repreensão, em seguida, puxou-o para fora e olhou para a tela. Era um texto de Louisa, dizendo-lhe que o caçador de recompensas de Raphael chegara. Ótimo. Caralho.
Ele procurou pelo clube até que encontrou o gerente no meio da multidão. — Cuide disso. Eu quero abrir na quinta-feira conforme a programação. Se você precisar de músculo, esses idiotas vão ajudar.
Pelo menos os filhos da puta decidiram bagunçar seu clube em um domingo. Eles não seriam capazes de reparar todos os danos antes de quinta-feira, mas poderiam, pelo menos, fazer algo funcional e substituir o vidro quebrado e a bebida derramada.
O gerente foi inteligente o suficiente para não trazer qualquer um desses detalhes, no entanto, parecendo entender que Vincent não estava no clima para discussões práticas. Sua única resposta foi um — Sim, meu Senhor, — e um aceno de cabeça.
Vincent assentiu, por sua vez, em seguida, apontando para Michael segui-lo, ele caminhou de volta para a noite. Ele ainda conseguiu esconder seu sorriso até que os dois estavam bem longe da cena.
LANA estacionou sua Yukon no estacionamento de um edifício de escritórios no puro estilo Texmex. O edifício era relativamente novo, não mais do que cinco anos de idade por seu palpite, com os acentos estilo Pueblo adicionados estritamente para efeito. Ela não possuía muita experiência com vampiros, apenas o pouco que ganhou através de sua associação empresarial com Cynthia Leighton, mas percebeu que eles falavam muito sério sobre um par de coisas. Uma delas era a sua segurança pessoal. Eles dispunham de um alto nível de sistemas de segurança, e enquanto suas casas ou escritórios fossem projetados para se misturar com os seus arredores, eles eram, geralmente, muito mais resistente do que o normal. A outra coisa que notou foi à preferência em permanecer afastados dos seres humanos. Eles faziam negócios e bebiam seu sangue, com certeza, mas sempre viviam separados, mesmo que fosse apenas uma casa com um quintal maior do que a média uma quadra abaixo. Não viviam em prédios e não contavam amigos humanos. Alguns deles possuíam maridos e esposas — companheiros, assim os chamavam — mas o companheiro humano passava a viver com o vampiro, não vice-versa. O que se adequava a Lana muito bem. Mais poder para eles e que eles possam viver muito e prosperar. Mas ela estava feliz em permanecer separada.
Ela abriu a porta de sua Yukon e saiu, sua atenção imediatamente atraída para a direita, onde podia ver as luzes e a multidão em torno de uma casa noturna movimentada. Só que naquela noite em particular, a multidão parecia ter saído do controle. As pessoas estavam empurrando seu caminho para fora, em vez de entrar, e ela podia ouvir os sons suaves de uma altercação vindos de dentro do clube.
O que estava acontecendo lá dentro não era seu negócio, porém, assim que ela deu de ombros, se inclinou para o SUV, e pegou a mochila que usava ao invés de uma bolsa. Deslizando-a sobre um dos ombros, ela fechou a porta e trancou-a antes de caminhar ao redor e subir os três degraus para uma porta do escritório modesto. Não havia sinais gravados a ouro, sem enfeites extravagantes, apenas uma grade de ferro forjado ordinário e três escadas de concreto que levam a um nível superior um pouco mais profundo, onde uma placa de plástico com um pequeno sinal gravado convidou os visitantes a se anunciarem. Ela olhou ao redor e encontrou um interfone básico. Ela apertou o botão e ouviu um leve sinal sonoro a partir do interior.
— Sim? — A voz agradável de uma mulher perguntou.
— Arnold Recoveries para Vincent Kuxim. — Ela tentou pronunciar o último nome corretamente. Ela estava intrigada com o nome incomum e olhou para cima, descobrindo que era de origem maia, com o x pronunciado como — sh, — como Kushim. Lembrou-se de uma aula de história da faculdade em que a civilização maia desaparecera a mais de mil anos atrás, então pensou que deveria ser um nome de família transmitido através das gerações. Embora, supôs tudo era possível com um vampiro.
Uma nova campainha soou, mais alto e mais dura desta vez, a porta se abriu um par de polegadas. Lana entendeu como um convite para entrar, então empurrou a porta aberta o resto do caminho e entrou no escritório.
As noites eram frias nesta época do ano, mas estava ainda mais frio dentro do escritório. Ela ficou feliz de estar vestindo uma camiseta de manga comprida e jaqueta de combate preto.
Uma atraente mulher de meia-idade cuja aparência combinava com a voz agradável pelo interfone estava sentada em uma mesa. Seus olhos se arregalaram quando Lana entrou e ela inclinou um pouco a cabeça, como se estivesse tentando ver se alguém estava atrás dela.
— É só você, então? — Perguntou a mulher.
Lana olhou com uma expressão intrigada, fingindo não entender. Quando ela ligou para marcar o encontro, não corrigiu o pressuposto da secretária que o Arnold que estaria aparecendo seria seu pai. As pessoas que ela encontrava em sua linha de negócios não eram sempre os que respeitavam e cumpriam a lei, e ela preferiu não anunciar o fato de que uma mulher estava prestes a mostrar-se sozinha.
— Só eu, — ela confirmou. — Eu tenho uma reunião às dez horas?
— Sim, você tem, — a mulher concordou um sorriso brincando em seus lábios. — Qual é o seu nome, querida?
— Lana Arnold, Arnold Recoveries.
O sorriso da mulher cresceu. — Bem, Sra. Arnold, o Senhor Vincent foi chamado por um momento, mas ele estará de volta dentro de pouco tempo. Eu já mandei uma mensagem para que ele saiba que você está aqui. Posso arranjar-lhe alguma coisa enquanto espera? Algo gelado para beber? Ou talvez um café?
— Não, obrigado. — A última coisa que Lana queria depois de dirigir 400 kms movida a cafeína e quase sem parar, para chegar aqui a tempo era mais café. E ainda neste assunto, ela também não estava com vontade de se sentar. Mas seria rude andar de um lado para o outro na frente da mesa da mulher, por isso se dirigiu até a cadeira mais distante, sentou-se e pegou o telefone. Ela e todos os caras no escritório de seu pai trabalharam muitas vezes no México, tanto que cada um deles dispunham de um telefone celular em separado para quando estavam no país. Quanto mais longe dos EUA, mais necessário se tornava. Era hábito de Lana trocar o celular assim que cruzasse a fronteira, e por isso foi possível que ela se sentasse na sala de espera do Kuxim para realizar alguns negócios.
Ela estava checando seu e-mail, apagando a maior parte das mensagens, quando a porta exterior se abriu e algo como uma corrente elétrica correu pela sala, fazendo com que os pequenos pêlos na parte de trás de seu pescoço se levantar. Ela olhou para cima para ver um homem em pé de aspecto perigoso lá. Perigoso, não só por causa de seu tamanho — o que era considerável, um pouco mais de 1,82 de altura, muito dos quais músculos — mas por causa do sangue manchando os dedos e ainda escorrendo de um lábio cortado pelo queixo em uma barba bem aparada. Ele parecia estar em seus vinte e tantos anos e tinha um bigode para combinar com a barba, cabelos pretos ondulados, e olhos castanhos com manchas bonitas da cor que ela supostamente chamaria de avelã, mas eles pareciam mais cobre para ela. E agora, aqueles lindos olhos estavam dando a recepcionista um olhar irritado que ele quase imediatamente transferiu para Lana.
— ¿Dónde está tu jefe, cariño? — Perguntou a ela em espanhol, o que era traduzido como onde está seu chefe, querida?
Lana embolsou seu telefone, em seguida, levantou-se e deu-lhe um olhar seco. — Eu não tenho um chefe, querida, — disse ela em Inglês deliberadamente. — O que eu tenho é um compromisso com Vincent Kuxim. É você?
Ele olhou para ela sem expressão por um longo momento, e então seus olhos se iluminaram e seus lábios se curvaram em um sorriso sexy-como-o-inferno. — Me chame de Vincent. Mas tenho que dizer, você não parece um caçador de recompensas.
— Você tem muita experiência com caçadores de recompensas? — Ela perguntou, sabendo que deveria ser mais educada pois precisava da ajuda desse tipo. Mas não conseguiu se conter.
Seu sorriso se alargou. — Mais do que eu gostaria. Venha para o escritório. — Ele se moveu para fora da porta, e ela viu que havia outro homem atrás dele, também um vampiro, ela assumiu. Ele era tão grande quanto Vincent, mas o oposto polar na aparência, loiro de olhos verdes, o cabelo cortado brutalmente curto, o rosto bem barbeado, bonito, um homem todo americano. Ele acenou-lhe brevemente uma vez mais, os gestos para ela ir à frente dele. Ela teria preferido ter ambos à frente dela, mas não estava disposta a admitir isso, então, balançou a cabeça e seguiu Vincent para o escritório.
— Meu tenente, Michael, — disse Vincent, indicando o outro vampiro. — Sente-se. — Ele apontou para duas cadeiras pesados em frente a uma enorme mesa de madeira que era, obviamente, uma antiguidade. Seu projeto estava em sintonia com o tema do sudoeste do edifício, mas não era uma nova peça. Era pesada e antiga, a madeira manchada com a idade, e era lindo.
— Perdoe a minha aparência, — disse Vincent, limpando o queixo com a bainha de sua camiseta preta e descobrindo uma extensão suave da pele dourada e lindos músculo no processo.
Lana manteve o rosto inexpressivo, mas ela não descartou nem por um minuto que o show do tanquinho não fosse intencional. Ela lidava com machos latinos o tempo todo. Ela conhecia o tipo. Ele era extraordinariamente bonito e sabia disso. Ele queria que as pessoas pensassem que o cabelo comprido era acidental, o resultado de pular um corte de cabelo ou dois. Mas ele provavelmente passou uma hora na frente do espelho para deixá-lo do jeito atual, para não mencionar o tempo que passou na barba e bigode. Ele chegou a abrir uma gaveta e ela pegou um brilho de ouro através dos fios de seda, preto de seu cabelo. Ele usava um brinco na orelha esquerda, um anel de ouro simples, porém mais grosso, como uma algema desgastada.
Michael reapareceu de algum lugar a direita, provavelmente um banheiro, porque ele entregou a Vincent uma toalha molhada. Vincent usou para limpar o sangue de suas mãos, em seguida, passou sobre o rosto e a jogou para trás. Alguns momentos depois, ele arrancou sua camiseta ensanguentada e jogou-a no lixo. Apesar de suas melhores intenções, a garganta de Lana ficou seca. Seu corpo era perfeitamente esculpido com músculos, ombros largos e definidos, com braços fortes, o peito era profundo, e seu abdômen rígido acima do jeans de cintura baixa. Como se isso não bastasse, uma tatuagem intrincada cobria seu bíceps esquerdo, algo colorido e pré-hispânico, ela pensou. Maia talvez, considerando-se o nome. Ela não podia dizer com certeza e não queria olhar tempo suficiente para descobrir. O cara parecia que não precisava da massagem de ego. Felizmente, ele pegou uma camisa limpa e vestiu, cobrindo-se antes que ela fizesse algo do que se arrependeria. Como babar.
Ugh. Se ela achou que conhecia o tipo? Ela conhecia, e os evitava como a praga. Eles eram muito apaixonados por si mesmos para se envolver com alguém mais.
Ela acenou com a mão em seu desalinho óbvio. — Eu posso voltar se
— Não, não, — Vincent interrompeu, recostando-se na cadeira com sua camiseta limpa. — Houve uma alteração menor no clube. E nós curamos rápido. — Ele sorriu para ela, convidando-a a partilhar da piada.
Ela simplesmente olhou para ele.
— Bem, — ele continuou soando como se quisesse bufar para ela por ignorar seu humor estelar. — Como posso ajudá-la, Sra. Arnold?
— Chame-me de Lana, — ela disse, imaginando se devia chamá-lo de Vincent, em seguida, e retornar a cortesia. — Meu cliente quer uma mensagem entregue. Foi-me dito que você poderia ajudar a localizar o destinatário da mensagem.
— Quem é seu cliente?
Ela não respondeu à pergunta diretamente, disse apenas — Como eu mencionei a sua recepcionista quando liguei mais cedo, foi Raphael quem sugeriu que eu o contatasse.
— Raphael, — Vincent repetiu, olhando para ela como se ele pudesse ler a verdade de suas palavras escritas no interior de seu crânio se olhasse forte o suficiente.
— Eu tenho uma carta para você, — ela disse suavemente, pegando sua mochila e tirando a carteira de couro que segurava suas notas sobre o caso. — Gostaria de vê-la?
Vincent piscou. Ele claramente não esperava isso.
— Eu gostaria, obrigado, — disse ele, estendendo a mão. Ela notou que os nós dos dedos estavam rasgados e ainda escorriam sangue. Obviamente, a luta foi bastante brutal. O que provavelmente explicaria a multidão em fuga e o barulho que ouviu vindo de dentro do clube quando ela chegou.
Vincent tomou a carta dela, claramente não se incomodando pelo estado de suas mãos. Ele examinou a nota de Raphael com o mesmo olhar de laser que usou para a estudar momentos antes. Então ele virou para Michael, que estava em pé atrás de seu ombro esquerdo.
— Ok, vamos dizer então que eu estou inclinado a fazer um favor a Raphael, — disse Vincent. — Quem é a pessoa desaparecida?
— Xuan Ignacio, — disse ela, observando sua reação.
Ele franziu a testa. — Xuan Ignacio? Ele é um conto popular. O vampiro mais antigo no México, e blá, blá, blá. Eu não acho nem mesmo que ele seja real.
— Raphael pensa que ele é.
— Então, Rafael é seu cliente?
— Raphael sabe que estou procurando Xuan Ignácio, — ela desviou, ainda não disposta a revelar mais do que o necessário. — E, como pode ver, ele sugeriu que você poderia ajudar.
Vincent obviamente notou sua linguagem cuidadosa e fez uma careta para ela. Ela imaginou que ele não estava acostumado a ser bloqueado assim. Ela sabia a partir de suas conversas com Leighton que a estrutura social e/ou político dos vampiros era bastante rígida, com o poder concentrado no topo. Um vampiro como Vincent, que dirigia uma cidade do tamanho de Hermosillo, teria muito poder, pelo menos em seu próprio domínio.
— Tudo bem, — ele admitiu. — Então, onde é que vamos começar a procurar?
Foi a vez de Lana formar uma carranca. — Eu pensei que você soubesse, — disse ela, mordendo de volta sua impaciência.
— Ei, você veio até mim. Não tenho a pretensão de nenhuma informação privilegiada.
Lana apertou os lábios em desgosto. Esta era uma missão de tolos. Vincent pode ser o homem mais bonito que já vira, mas ele claramente não era o mais correto. Ou talvez ele simplesmente não queria ajudá-la e estava jogando de mudo, ser um pé no saco para sair da obrigação, sem ofender Raphael. E isso era um grande inconveniente para ela. Ela preferia não ter ajuda do que arrastar um vampiro desmedido ao redor com ela como um adolescente relutante, mas Raphael queria esse cara no trabalho. Droga. Ela considerou suas opções. Vincent Kuxim podia ser um vampiro, mas ele também era um cara. Um indivíduo macho alfa. E Lana contava com vasta experiência com eles. Ela não cresceu no escritório de seu pai cercada por caçadores de recompensa? Você não pode ser muito mais alfa do que isso. Então, ela sabia que a melhor maneira de obter a sua cooperação era fingir não precisava dele. Essa foi a única coisa que o seu ego gigante não poderiam lidar.
Ela fechou a carteira em um piscar de olhos, a colocou em sua mochila, e se levantou. — Obrigado pelo seu tempo, — disse ela educadamente. — Se eu tiver alguma dúvida que ache que você possa responder, — disse ela, não sendo capaz de resistir a acrescentar um pouco de sarcasmo — te chamarei.
Ela fez todo o caminho até a porta fechada do escritório antes de ouvir a cadeira de Vincent deslizar pelos ladrilhos no chão de. — Espere, — disse ele, ou melhor, ordenou, uma palavra atada com um toque de irritação.
Infelizmente para ele, Lana não aceitava ordens de ninguém, exceto seu pai em certas ocasiões, e certamente não de vampiros temperamentais e ensanguentados de luta. Ela o ignorou e estendeu a mão para a maçaneta da porta.
— Eu disse para esperar. — Houve um inferno de muito mais do que irritação neste momento. E quando Lana passou a torcer a maçaneta da porta, ela não se mexeu.
Uma onda de inquietação fez cócegas em seu intestino. Ela tentou outra vez discretamente, mas foi ineficaz, virou-se em seguida com um olhar para Vincent.
— ABRA A PORTA, SR. KUXIM, — Lana Arnold exigiu, e seus olhos escuros brilharam com raiva.
Foi a primeira emoção verdadeira que Vincent viu dela, ele estava tanto intrigado quanto aliviado. Ela estava tão controlada a partir do momento em que ele entrou no escritório. Ela não respondeu ao seu charme plenamente, e, francamente, Vincent estava acostumado a mulheres se jogando para ele. Velhas, jovens, solteiras, casadas, não importava. Toda a sua vida, mesmo antes de se tornar um vampiro, as mulheres sempre lhe corresponderam do mesmo modo como sua assistente Louisa fazia. Elas coravam, gaguejavam, e o perseguiam a esquerda e à direita, mas sempre faziam o que ele queria. Exceto por esta. Se ele não tivesse pego uma breve reação dela quando tirou a camisa, não mais do que um alargar involuntário dos olhos e um único salto de seu coração antes que se tornasse a Rainha do Gelo novamente — ele teria suspeitado Lana jogasse no outro time. Ele tirou alguns segundos para fantasiar a mulher a sua frente nos braços de outra. Agradável.
Mas logo estava de volta ao presente com uma Lana Arnold muito chateada. A raiva parecia bem nela. Isso a fez muito mais atraente, mais humana. Ela não era o seu tipo habitual, demasiada alto, demasiada magra, e com certeza muito opinativa. Ele preferia mulheres baixas, mulheres gordas, cujo objetivo na vida era fazê-lo feliz. Mas Lana Arnold era uma mulher bonita. Sua altura deu-lhe uma certa elegância, e sua magreza era toda elegantemente muscular, dura por baixo de uma camisa estilosa e calças pretas de estilo combate. As roupas eram inerentemente masculinas, mas a camisa agarrou-se a seu peito, e as calças abraçaram os quadris estreitos e uma bunda firme. Sem um centímetro de gordura, ele apostaria. Ela possuía uma estrutura óssea linda com maçãs do rosto salientes e uma mandíbula delgada, uma boca sexy com um lábio inferior, e longos cabelos negros trançados pelas costas. Seus cílios eram negros, também, enquadrando olhos que eram um marrom pálido incomum.
Olhos que estavam lançando punhais para ele do outro lado da sala. Ele notou os dedos de sua mão esquerda branco até os ossos enquanto apertavam a alça de sua mochila, enquanto sua mão direita estava segurando a maçaneta da porta... Uh oh. Hora de parar de encarar a caçadora de recompensas antes que seus dedos encontrassem a faca dentro do bolso da coxa de seus jeans de combate bem ajustados. Ele esteve tão ocupado admirando sua forma que foi cegado pela atração sexual. Mesmo que não estivesse realmente atraído por ela. — Sente-se, Lana, — ele disse suavemente, usando todas as suas habilidades de persuasão, e talvez trapaceando ao colocar uma pitada de impulso vampiresco. Seu olhar redobrou sua ferocidade. — Não se atreva a tentar me forçar contra a minha vontade.
Os olhos de Vincent que se arregalaram desta vez. Ela não deveria saber o que ele estava fazendo. Ou ele estava enferrujado — o que não era o caso — ou Lana Arnold era incomum, de fato.
Ele levantou as mãos em sinal de rendição. — Peço desculpas. Foi automático.
— Não faça isso de novo.
Ele apontou para a cadeira que ela desocupou. — Eu não vou. Sente-se... Por favor.
Ela lhe deu um longo olhar desconfiado, em seguida, moveu a mão do local em que deslizou em direção a arma e foi em direção a cadeira. Ela sentou-se sem nunca tirar os olhos dele.
Vincent afundou lentamente em sua grande cadeira, olhando para ela como se fosse um animal imprevisível e selvagem. Ele não sabia sobre a parte selvagem, embora, vamos enfrentá-lo, ela era uma caçadora de recompensas do sexo feminino, que não era exatamente tímida, mas ela era absolutamente imprevisível. Ele nunca conheceu um homem que era imune ao poder persuasivo de seu sangue de vampiro. Era a única habilidade que todos os vampiros possuíam até certo ponto, porque era uma grande parte do que os faziam predadores de sucesso.
— Eu não sei onde encontrar Xuan Ignácio, — ele disse a ela com cuidado. — Mas, — acrescentou, levantando uma mão para evitar sua objeção, — isso não significa que eu não posso descobrir. Há vampiros mais velhos do que eu, incluindo vários na cidade.
Ela inclinou a cabeça curiosamente. — Eu tive a impressão de meu cliente que você era o mestre, ou como vocês o chamam em Hermosillo.
— Eu sou tenente de Lorde Enrique, — ele corrigiu uniformemente. — Como tal, eu gasto muito do meu tempo em várias cidades em seu nome. Embora Hermosillo possa ser a minha favorita, — ele confidenciou com uma piscadela que era para ser envolvente.
Ela não reagiu, a não ser para tirar sua carteira e uma caneta para fazer uma nota de algum tipo. Mulher amaldiçoada.
Ela olhou para cima a partir de suas anotações. — Se há vampiros mais velhos do que você nesta cidade, então por que você está no comando? — Ela perguntou.
— Idade não é igual a poder para um vampiro, — ele disse a ela. — Há alguns que nascem, ou renascem com poder, e alguns que nunca alcançarão o poder real, não importa quanto tempo eles vivam.
Ela fez um pequeno movimento com a boca, como se intrigada com este boato de vampiro. — Tudo bem, — disse ela. — Então, onde é que vamos começar?
Vincent não sabia o que pensar sobre sua suposição rápida que eles estariam trabalhando juntos. Seu plano era questionar alguns dos vampiros mais velhos e ligar para eles. Ela estava olhando para ele com cuidado, embora, e havia apenas uma sugestão de desafio lá, como se desafiando-o a provar que ele estava à altura da tarefa de resolver seu quebra-cabeça. Tudo bem então. Dois podiam jogar esse jogo. Ele sabia que podia sobreviver em seu mundo; ele vem fazendo isso há mais de 150 anos. Vamos ver se ela poderia sobreviver no seu.
— Eu vou precisar fazer alguns telefonemas, — ele disse a ela. — Dê-me uma hora.
Ela assentiu com a cabeça uma vez, em seguida, guardou suas coisas novamente, e se levantou. — Obrigado. Volto em seguida.
Vincent estava junto a ela. — Você é livre para esperar aqui, — ele disse rapidamente. — Louisa poderia arranjar algumas bebidas. Jantar, se você estiver com fome.
Ela estudou-o por um momento, sem entregar um pensamento. — Obrigado, mas não. Eu tenho meus próprios arranjos a fazer. — Ela andou até a porta e nem sequer hesitou em alcançar a maçaneta. Ela abriu facilmente, é claro. Ele já decidiu ter uma abordagem diferente com Lana Arnold.
Ela abriu a porta e olhou para ele por cima do ombro. Ele pensou ter visto um pouquinho de diversão em seus olhos pálidos. — Eu voltarei em uma hora, — ela disse, então saiu de seu escritório.
Ele seguiu seus passos em todo o hall de entrada de azulejos, ouviu a porta abrir e fechar, e depois o som de um veículo arrancar e conduzir a distância.
— Então, o que você acha? — Perguntou Michael, que agora estava sentado na cadeira ao lado da que a caçadora de recompensas ocupou momentos antes.
— Pelo menos você sabia que Xuan Ignacio existia, mesmo que apenas em contos de fadas. Eu nunca ouvi falar dele.
— Isso é porque você ainda é uma criança com presas.
Michael bufou. — E você é um homem velho... meu velho, aparentemente. Estranho. Ok, então eu vou fazer a mesma pergunta que a nossa linda caçadora de recompensas fez. Onde é que vamos começar?
— Você acha que ela é linda? — Perguntou Vincent, mais curioso do que qualquer outra coisa.
— Infernos sim. Aquelas maçãs do rosto ou aqueles lábios de mel não podem ser falsos. Não que ela precisa de alguma coisa falsa, com um corpo assim. Atlético. Eu gosto disso.
— Você gosta de qualquer coisa com uma buceta, meu amigo. Mas mãos fora dessa. —
As sobrancelhas de Michael dispararam em surpresa. — Ela não parece o seu tipo em tudo, jefe.
— Não parece, não é? — Disse Vincent, pensativo. — Talvez seja o momento para uma mudança.
CAPÍTULO DOIS
LANA esperou até que estivesse no SUV e de volta à estrada antes de soltar o fôlego que pareceu preso por horas. Vincent Kuxim pode ser um vampiro poderoso, mas como homem, era definitivamente de outra galáxia. Ela nunca acreditou muito na ideia de feromônios e atração à primeira vista, não quando se tratava de pessoas, de qualquer maneira. Mas, caramba, o homem exalava sexualidade. Ele era um perigo ambulante para a população feminina.
Levou cada grama de força que ele desenvolveu ao longo de anos de trabalho com caçadores de recompensas cheios de testosterona para manter seus sentimentos escondidos. Ela deveria estar imune aos homens como Vincent por agora, especialmente aqueles com seu charme latino. Ela morava no Arizona e encontrava homens hispânicos em seu trabalho diariamente. E uma abundância de traços hispânicos ultrapassavam a fronteira mexicana.
Mas ela suspeitava que o apelo de Vincent era mais proveniente do vampirismo do que com sua ascendência hispânica. Ou talvez seus talentos de vampiro tivessem se somado ao charme latino que já estava lá. Ele disse que idade não se igualava a poder, mas talvez poder se igualasse a carisma. Certamente ele tentou usar esse poder nela quando tentou sair do escritório. Ou pelo menos tentou. E ele surpreendeu-se como o inferno quando não funcionou. E ainda nesse assunto, ela também se surpreendeu. Ela sentiu um puxão em seu cérebro e instintivamente lutou contra. Mas até o momento em que ela o pegou olhando para ela como se fosse um bezerro de duas cabeças, não considerou que o puxão viera dele.
Leighton a avisara quando começaram a trabalhar juntas que vampiros possuíam alguns talentos e peculiaridades estranhos, e na verdade, Lana poderia listar um monte deles. Ela alcançou um ponto em que simplesmente considerava excentricidade todas as coisas estranhas que aconteciam perto dos vampiros. Mas ela nunca presenciara esse truque de mente antes. Claro, ela também nunca conheceu um vampiro tão poderoso quanto Vincent antes. Talvez o que quer que fosse que fez com que seu cérebro resistisse ao truque de Vincent, espantou os outros vampiros, os mais fracos, sem que ela nem percebesse.
Se fosse verdade, era uma coisa boa. Ela teria que processar essa nova informação, mas não antes que finalizasse o trabalho. Ela deveria trabalhar com Vincent e achar Xuan Ignacio para Raphael. Ela poderia se preocupar mais tarde com estranhos poderes vampiros e o que tudo isso poderia significar.
Mas no momento, ela contava com uma hora para gastar, e sua primeira prioridade era fazer o check in em um hotel. Ela estava acostumada a trabalhar a base de cafeína e com pouco sono, mas como estava com tempo — e como ela passou horas no carro para chegar aqui — tomaria um banho e trocaria de roupa. Fizera sua reserva no hotel San Sebastian. Era melhor que a maioria e o preço razoável, assim como seguro suficiente para uma mulher viajando sozinha. Isso não significava que não guardaria uma ou duas facas sobre o travesseiro quando fosse dormir, mas o mais provável era que não as usaria.
Assim que chegou ao quarto trancou a porta e tirou as roupas. No caminho para o chuveiro, desfez a trança, passando os dedos pelos cabelos soltos. Uma sensação divina, melhor ainda que tirar o sutiã, o que fez em seguida. O sutiã era preto e de modelo atlético. Era apertado, mas seus seios eram médios — bem formados, mas um número 42 em um bom dia. Seu cabelo, por outro lado, era grosso, longo e pesado, e juntar esse peso todo em uma trança constantemente puxava seu couro cabeludo. Usar cabelos soltos não era uma opção no trabalho, não importava quantos filmes mostrassem o contrário. Ela poderia deixá-los curtos — de fato, ela provavelmente deveria — mas essa era a única concessão para sua feminilidade. E além do mais ela amava seu cabelo.
A água era quente, mas a pressão fraca, porém ela já esperava por isso nesses dias de economia de água. A boa notícia era que ela poderia ficar lá o tempo que levasse para enxaguar o corpo e lavar o cabelo. Quando saiu do banho sua pele café com leite pálido que herdara do seu pai irlandês e sua mãe mexicana, estava um pouco corada, mas ela se sentia maravilhosa.
Infelizmente, a massagem da água quente a lembrou que ela estava com poucas horas de sono, antes de ir para a estrada, por isso abriu uma lata de coca que estava no cooler que ela guardava no carro. Não era café, mas serviria até que conseguisse um.
Envolvendo-se em uma toalha e seu cabelo em outra, ela tirou a colcha da cama e jogou-a em um canto. Ela leu em algum lugar que colchas de hotel eram paraísos para todos os tipos de coisas desagradáveis, e que elas raramente eram lavadas. Seu trabalho exigia que gastasse uma quantidade razoável de tempo em quartos de hotel, de modo que ela criou alguns hábitos.
Apoiando todos os travesseiros contra a cabeceira da cama, ela se sentou na cama e abriu o computador portátil. O hotel oferecia internet sem fio, de modo que ela conectou e entrou em um site onde fornecia os horários do nascer e pôr do sol de praticamente qualquer lugar do mundo. Ela localizou o de Hermosillo, fez o download, em seguida enviou para seu e-mail para que pudesse acessar em seu telefone celular também.
Voltando ao mundo dos humanos, ela conectou ao correio de voz do escritório e descobriu várias mensagens, incluindo uma do seu pai. Ela ligou da estrada e deixou uma mensagem em seu telefone de casa, não queria que ele se preocupasse, mas não queria discutir com ele sobre ter um dos caras com ela na viagem. Sua mensagem ordenava que ela desse notícias diariamente, algo que não intencionava fazer. E o resto das mensagens a convenceu de que seu pai não estava esperando que ela ligasse também. Havia... Ela contou... Onze mensagens de Dave Harrington, um dos caçadores do seu pai, provavelmente o seu caçador número um se ela fosse honesta. Dave era um cara grande e bonito, com cabelo loiro selvagem, e muito bom em seu trabalho. Também possuía uma boa amizade com seu chefe, também conhecido como o pai de Lana. Na verdade, eles eram tão bons amigos que os dois decidiram que Dave deveria ser o herdeiro de Sean Arnold, e aparentemente com Lana sendo sua princesa, ela se casaria com ele e, assim, solidificar seu papel como sucessor. Até parece.
Lana realmente cedeu e namorou Dave durante seu primeiro ano na faculdade, principalmente para agradar seu pai. Dave acabou por ser doce, atencioso e cheio de planos para o futuro. E ela tinha dezenove anos e ingênua o suficiente para acreditar nele.
Até que ela descobriu que o príncipe era apenas outro cão que fodia uma mulher diferente em cada cidade antes de voltar para casa para sua princesa.
Lana teve um estilo Joãozinho a maior parte de sua vida, o que não ajudou a namorar muito no colégio. Dave foi seu primeiro relacionamento realmente sério. Eles saíram por um ano e meio, e feriu, mais do que ela queria admitir, descobrir que ele a traía o tempo todo. Ela orgulhava-se o suficiente para fazer um término limpo, mas, previsivelmente, Dave não entendeu o problema. Aparentemente, a rotina de mulher-em-cada-cidade era comum entre os caras do escritório de seu pai, incluindo seu próprio pai. Eles eram apenas homens, afinal, e ficavam muito longe de casa. Eles tinham necessidades. O que mais eles poderiam fazer?
Mas isso foi há sete anos. Lana havia superado isso a muito tempo e seguido em frente e nunca olhou para trás, enquanto Dave ainda persistia em apresentá-la como sua noiva. Era embaraçoso para ela, mas ainda precisava trabalhar com Dave Harrington, então ela deslizou através de suas mensagens, apenas no caso de que uma delas fosse importante. Infelizmente, eram todas variações sobre o mesmo tema. Previsivelmente, o pai dela, o traidor, disse a Dave o que ela estava fazendo. Dave designou, portanto, a si mesmo, seu parceiro para o empreendimento e estava exigindo que ela ficasse exatamente onde estava até que ele pudesse se juntar a ela. Infelizmente, ou felizmente, a partir de seu ponto de vista, ele não sabia exatamente onde estava, e assim ela foi instruída para contatá-lo imediatamente com os detalhes.
Lana revirou os olhos e apagou todas as mensagens sem resposta. Dave Harrington era um bom caçador e provavelmente faria um marido terrível para uma mulher algum dia. Mas não seria ela. Ele era dez anos mais velho que ela, e uma centena de anos fora de época. Para ele as mulheres deveriam limpar a casa, cozinhar o jantar, e ter filhos. E não se preocupar quando seu marido se desviasse, desde que ele chegasse em casa na hora.
Lana, por outro lado, descobriu que não estava com vontade de limpar uma casa, porra, ela não poderia cozinhar, e se seu pai e Dave queriam netos, seria melhor encontrar outra incubadora, porque essa não era a ideia de Lana de céu. E quando se tratava de seus amantes, ela não desejava de compartilhar.
Mandou um rápido e-mail para seu pai. Sem detalhes, porque ele acabaria passando-os para Dave, mas ela o deixou saber que estava bem e que a investigação estava correndo sem problemas. Dave a encontraria eventualmente. Encontrar as pessoas era a sua profissão, afinal, e ela não estava fazendo nenhum esforço sério para evitar a detecção. Rastrear seu celular seria a maneira mais rápida. Ela pagou o hotel em dinheiro, mas ainda podia localizá-la pelo e-mail usando a rede local. Ela calculou um dia para sair de Hermosillo e seguir o rastro de Xuan Ignacio antes que Dave aparecesse. Ela esperava que Vincent estivesse preparado para mover-se rapidamente. Caso contrário, ela o deixaria para trás.
Ela pensou em sua reação quando lhe dissesse e sorriu.
Uma hora mais tarde, estava em frente ao escritório de Vincent pela segunda vez naquela noite. Ela trocou de roupa, mas vestia-se semelhante — com uma blusa de manga comprida preta, calças pretas em estilo combate e jaqueta e botas pretas de amarrar. Seu revólver favorito no coldre em seu lugar de costume, a faca escondida em sua jaqueta, e suas habituais três facas escondidas pelo corpo — uma na bainha personalizada em sua bota direita, a segunda no bolso da coxa, e uma pequena, mas mortal, com uma lâmina de meia polegada em seu bolso lateral. Seu cabelo arrumado em sua trança habitual, ainda molhado por baixo, porque o secador de cabelo do hotel não possuía energia suficiente para secá-los completamente no tempo em que ela teve para ficar pronta.
O ar em Hermosillo estava quente. Secaria seu cabelo molhado em breve, e a umidade sentia-se refrescante contra a sua pele recém-hidratada.
Enquanto pegava sua mochila e trancava o carro, ela notou que a boate estava agora completamente fechada. Sem luzes, sem música, sem aglomeração de pessoas na porta de entrada. Ela podia ver raios de luz provenientes das portas e janelas, como se alguém estivesse lá dentro, mas não havia festa. Talvez estivessem limpando a confusão que ocorreu anteriormente — a bagunça que, sem dúvida, envolvia Vincent e seus dedos sangrando.
A porta do escritório de Vincent se abriu antes que ela chegasse ao degrau mais alto, prova de que alguém estava prestando atenção.
— Bem-vinda de volta, Sra. Arnold, — a mesma recepcionista disse com um sorriso rápido. — Vá em frente. Senhor Vincent está esperando por você.
Lana escondeu sua surpresa. Ela esperava que ele a fizesse esperar simplesmente porque podia. Talvez não fosse tão terrível trabalhar com ele depois de tudo. Exceto por sua sexualidade desenfreada, é claro. Ela teria que estar em guarda contra isso. E talvez mudar o chuveiro para banhos gelados até que o trabalho fosse feito.
VINCENT se levantou quando Lana Arnold entrou no escritório e pegou o olhar de surpresa que ela rapidamente escondeu. Ele foi educado para se levantar quando uma senhora entrasse na sala, mesmo quando a senhora estava vestida como um soldado e usando uma arma. Inferno, talvez especialmente então. Seu cabelo longo, escuro estava de volta em seu confinamento, embora ela o lavou enquanto esteve fora. Ele podia sentir o cheiro do xampu e sentir o traço persistente de umidade.
Ele deu a Michael a tarefa de trabalhar em uma lista telefônica, tentando encontrar um vampiro em Hermosillo que tivesse realmente conhecido Xuan Ignacio. Enquanto isso, Vincent pesquisou na Internet em busca de alguma sujeira sobre Lana Arnold. Infelizmente, ou talvez felizmente, não havia muito para ser encontrado. Ela se formou pela Universidade do Arizona com uma licenciatura em biologia — o que foi uma surpresa — e agora trabalhava com o pai, Sean Arnold, na recuperação de fugitivos, razoavelmente bem-sucedida, negócio também conhecido como caçador de recompensas. Sean empregou três caçadores de tempo integral, incluindo Lana, e subcontratou vários outros em uma base de caso a caso. A maioria do trabalho envolvia procurar vestígios, mas também realizavam outras tarefas, como rastrear os descendentes de famílias ricas que se desviaram e trazê-los de volta para casa para mamãe e papai. O atual trabalho de Lana, entregar uma mensagem a um vampiro há muito perdido, não era seu habitual, e ele achava que era um negócio de uma só vez.
Lana vivia sozinha e nunca foi casada. Esse detalhe em especial o agradou, embora o motivo ainda fosse um mistério. Ela era uma mulher atraente. Bem. Ela também contava com uma atitude forte. Não tão bem, em tudo.
Lana deixou cair a mochila na cadeira em frente à mesa, em seguida, inclinou-se e ofereceu um aperto de mão. Vincent tomou sua mão automaticamente, embora em vez de sacudi-la, ele levantou-a a boca e tocou os lábios na parte de trás, demorando um pouco para saborear o que era a pele muito suave para um caçador de recompensas. Seus perceptíveis músculos apertados, e ele soltou sua mão antes que ela pudesse puxar para fora. Mas ele estava observando a reação dela, e pegou o olhar vagamente decepcionado em seu rosto, a sobrancelha levantada que dizia que ele estava sendo previsível e chato. Vincent odiava ser previsível e chato.
— Você teve algum sucesso? — ela perguntou, soltando a mão para o lado com um movimento inquieto, como se estivesse lutando contra o desejo para esfregá-la contra a calça e remover a mancha do seu beijo.
Os olhos de Vincent estreitaram, mas ele seria condenado se ela o congelasse fora. — Meu tenente, Michael, falou com dois dos vampiros mais velhos na cidade, — ele respondeu suavemente. — Eles concordaram em se reunir conosco.
— Podemos nos encontrar hoje à noite?
Vincent não respondeu sua pergunta. — Você parece ansiosa para a caça, Lana. Existe alguma urgência que eu desconheça? — Perguntou ele, em vez disso.
— Não — ela disse rapidamente. — Eu quero dizer, não exatamente. Mas nós gostamos de fazer nosso cliente feliz.
— Especialmente aqueles que não estão indo para a cadeia, hmm? — Ele disse, meio brincando.
— Nosso cliente nunca é o que volta para a cadeia, — informou ela, obviamente, nem mesmo meio divertida.
— É claro, — ele murmurou, em seguida, deu-lhe uma piscadela, simplesmente para testar os limites de sua reserva. Ela quebraria eventualmente. — Bem, você está com sorte, — ele disse a ela, — porque, como se vê, ambos os vampiros estão disponíveis para nos encontrar hoje à noite. — Ele esqueceu de dizer que não solicitou uma reunião. Esta não era uma porra de democracia. Se ele queria falar com um vampiro, eles se faziam disponíveis ou que sofreriam as consequências.
— Será que eles vão virão aqui ou
— Eles estão a caminho. A menos que você se oponha, vamos nos encontrar na sala de conferências e ter uma boa conversa.
— Isso funciona.
— Sem fotos, — Vincent esclareceu imediatamente. — Sem vídeo, nenhum registro de qualquer tipo.
— Claro que não, — ela concordou. — Eu só vou tomar notas, se estiver tudo bem.
— E você vai compartilhar, é claro.
Ela inclinou a cabeça, dando-lhe um pequeno sorriso curioso. — Muito desconfiado?
— Nós temos boas razões para desconfiar quando se trata de seres humanos, Lana, — disse sério, deixando de fora o fato de que ele era ainda mais desconfiado de seus companheiros vampiros.
Ela corou em constrangimento — em nome de seus companheiros humanos? — E era uma visão a ser vista. Um leve rosado aqueceu sua linda pele marrom dourada, a primeira rachadura em sua armadura. Vincent gostou do momento, então fez um gesto em direção à porta.
— A sala de conferências está do outro lado do corredor. Como está o seu espanhol?
— Não fluente, mas suficiente para conversação.
Vincent assentiu. — Se você não entender alguma coisa, me avise. Não pergunte a eles diretamente, pergunte-me. Estes são vampiros antigos, e você é humana e fêmea. Eles são muito tradicionais, e de uma época em que as mulheres não executavam as coisas.
— Elas não executam as coisas agora também, — ela murmurou e deu um pequeno sorriso quando ele riu. Outra fenda na armadura? Talvez.
— Bem, elas não executam tudo, de qualquer maneira, — admitiu, deixando o riso suas palavras. — Mas será mais fácil esta noite, se fizermos particularmente essa coisa, do meu jeito.
— É por isso que estou aqui. Você é o perito, — disse ela.
LANA esperou pela resposta de Vincent.
— Sim, eu sou, — disse ele suavemente. Não houve surpresa verdadeira, apesar de sua relutância anterior. Ela estava disposta a apostar que ele poderia ser suave como a seda quando queria ser, até o momento em que ele seduzia uma mulher fora de seus pés. Dirigiu-a fora do escritório para o outro lado do corredor, descansando a mão em sua parte inferior das costas sob o disfarce de guiá-la para a sala de conferência. Foi um toque inocente, educado até. Mas ele estava um pouco perto demais para inocência. Ela podia sentir o calor do seu corpo, sentir seu limpo, perfume masculino, e o toque educado repente pareceu surpreendentemente íntimo. Ela endureceu, mas conseguiu evitar se afastar. Ela precisava da cooperação de Vincent para completar este trabalho para Raphael, e insultá-lo por saltar ao menor toque não era a maneira de ganhar essa cooperação. E seu ego não precisava saber que a afetava fortemente.
Ela entrou na sala de conferência para encontrar Michael e outros dois vampiros esperando por eles. Eles estavam sentados em uma pesada mesa de madeira, outro antiquário impressionante que parecia uma vez ter sido uma mesa de jantar de alguns ricos latifundiários mexicanos. As cadeiras de couro espalhadas ao redor da mesa, por outro lado, estavam a altura do conforto moderno.
Lana se afundou em uma das cadeiras confortáveis com gratidão. O corpo dela estava começando a ficar irritado em sua demanda para dormir, com cada lesão antiga começando a tornar-se conhecida, desde o braço que queboru com dez anos, até os músculos danificados por lutar com um fugitivo de 113 kg ano passado. Ela engoliu um suspiro de alívio quando se acomodou na cadeira e estudou os dois vampiros sentados do outro lado da mesa. Vincent disse que eles eram velhos, mas como todos os vampiros, a sua verdadeira idade não estava clara. Ambos pareciam estar nos seus vinte anos, um deles um pouco mais velho que o outro, e ambos eram baixos e morenos, com cabelo curto e reto e olhos negros desconfiados.
Vincent não se preocupou com introduções. Ele entrou na sala atrás dela, sentou-se em uma das cadeiras e começou a falar em um rápido, e um tanto arcaico espanhol, falando o que parecia muito com uma ordem.
Lana traduziu em sua na cabeça e sabia que não entendia todas as palavras, mas podia ser resumido em você vai dizer a esta mulher tudo o que você sabe sobre Xuan Ignacio. Definitivamente uma ordem.
Os dois vampiros mais velhos assentiram, as expressões mostrando muito pouco. Mas Lana teria jurado que viu um lampejo de medo em seus olhos antes que voltassem sua atenção para ela. Eles pareciam estar esperando uma pergunta dela. Ela olhou para Vincent. Ele foi o único que disse para ela não falar diretamente com eles, afinal de contas.
— ¿Dónde vive? — Ele começou. — Onde ele mora?
— Pénjamo, — o de aparência ligeiramente mais velha disse em sotaque Inglês. — Em El Cero San Miguel. Tem sido sempre assim.
— El Diablo, — o mais jovem concordou, balançando a cabeça.
Lana franziu a testa. O diabo? O que diabos isso significa?
— Contos de fada para crianças estúpidas, — Vincent se desfez quase com raiva. — Você o conheceu? — Perguntou, dirigindo sua pergunta para o vampiro mais velho.
— Uma vez, — disse ele. — Ele apareceu como um homem, mas não como você ou eu. Ele é pálido como um fantasma, com cabelo branco e olhos cegos, mas vê tudo.
Vincent fez um gesto impaciente. — Onde foi isso?
— Eu falei a verdade, meu Senhor. Eu nunca troquei palavras com ele, e o vi apenas uma vez. Em El Cero San Miguel. É aí que você vai encontrá-lo.
Vincent girou em sua cadeira ligeiramente olhando cético para Lana. — Alguma pergunta?
— Mais do que uma, — ela admitiu.
— Deixe-me reformular, — disse ele. — Qualquer dúvida que nossos visitantes possam responder?
Lana franziu a testa. — Eu não quero insultar ninguém — disse ela, parando quando Vincent voltou sua atenção para Michael e fez um movimento de cabeça em direção à porta. Antes que Lana pudesse registrar sua intenção, Michael e os dois vampiros mais velhos haviam saído do quarto, fechando a porta atrás deles.
— Eu não terminei, — ela retrucou irritada que ele não tenha lhe dado a oportunidade de questionar os vampiros mais velhos. Por que ele se deu ao trabalho de perguntar se seria um idiota sobre o assunto?
— Sim, você terminou, — disse ele, iniciando novamente sua ira com a atitude de desprezo. — Olha, sempre que uma questão começa com eu não quero insultar ninguém, alguém está prestes a ser insultado. Por todos os seus séculos de vida — ou talvez por causa deles — os dois permanecem sem sofisticação e são muito tradicionais em seu coração. Você é uma mulher e uma gringa. Se eles considerassem algo que você disse como um insulto — o que não iria demorar muito — eles se recusariam a ajudá-la novamente. E eles só foram tão educados, porque eu estava na sala com você. Além disso, eles acreditam em cada palavra que disseram. — Ele balançou a cabeça em descrença. — É difícil entender tão persistente superstição.
Lana apaziguou-se um pouco com a explicação, mas não podia deixar de retrucar, — Você parece entendê-los muito bem.
Vincent sorriu, escolhendo claramente ignorar o insulto em suas palavras. — Eu sei sobre o que eles estavam falando. Conheço o local do qual eles estão falando.
Lana suspirou dedos coçando pelo computador para poder colocar no Google El Cero San Miguel. Infelizmente, tudo o que ela tinha era Vincent. Ela preferia o Google, mas Raphael fez sua intenção clara, de que Vincent devia acompanhá-la quando finalmente entregasse a mensagem para Xuan Ignacio. Seu plano original era encontrar Xuan e trazê-lo junto a Vincent para o grande final, mas ela estava começando a pensar que a coisa toda seria mais tranquila se tivesse um guia local ao longo da jornada. E a pessoa mais lógica para isso era Vincent. Ela poderia matar dois pássaros com uma pedra. Se ela não matasse Vincent em primeiro lugar.
— Então você acha que eles são confiáveis? — Perguntou.
— Eles estão dizendo a verdade como a conhecem. Celio, em particular, o mais falante dos dois, é muito confiável. Se ele diz que viu Xuan Ignacio em carne e osso, então ele fez.
— O que é isso, El Cero San Miguel, que ele falou?
— É no Pénjamo, uma cidade em Guanajuato, no sopé das montanhas. El Cero San Miguel é, essencialmente, um grande monte que tem a reputação de ser assombrado. É meio que um destino turístico para os interessados em tais coisas.
— Isso é o que o outro quis dizer quando chamou Xuan Ignacio de diabo. Ele acha que Xuan é o diabo que assombra esta colina.
— Eu te disse, — Vincent falou com um encolher de ombros descuidado, — eles são supersticiosos.
— Tudo bem, bom como eu? — Droga, eu preciso do meu computador. Podemos voltar à era moderna agora?
Vincent riu depois se levantou e estendeu a mão. — Vamos, vamos voltar para o meu escritório.
Lana ignorou sua mão. Ela não precisava de ajuda para ficar de pé, pelo amor de Deus. Ela cruzou de volta para o escritório, sentindo sua presença atrás dela novamente. Ela estava muito consciente dele, e ele estava muito atento em fazê-la se sentir dessa maneira. Se iriam viajar ao redor do México juntos, ela teria que descobrir uma maneira de lidar com isso.
Indo diretamente para seu laptop, ela puxou um mapa do México, concentrando em Pénjamo. Porra. Eram uns bons 1600 km de Hermosillo. Uma longa viagem. Especialmente com Vincent sentado ao lado dela.
— Isso é uma longa viagem, — observou ela em voz alta, testando as águas.
— Especialmente para uma mulher sozinha, — Vincent comentou.
— Eu poderia voar.
— Nós poderíamos, — disse ele agradavelmente.
Ela olhou para cima para encontrá-lo dando-lhe um sorriso maroto.
— Raphael me quer junto quando você encontrar Xuan Ignacio. Negue o quanto quiser, mas eu sei que Raphael é seu cliente, e você me disse que gosta de seus clientes felizes. Assim, parece que vamos juntos a Pénjamo, querida. Mas eu prefiro dirigir. — Ele piscou para ela.
Lana apertou os dentes. A cada minuto que passava na companhia de Vincent, sua atração por ele parecia crescer. Ele era como um daqueles fungos em um filme de monstro que começava pequeno, mas, eventualmente, comia tudo ao seu redor.
— Você provavelmente está muito ocupado aqui, — ela se opôs. Ela poderia precisar de sua ajuda, mas não admitiria isso facilmente. Seu ego era grande o suficiente. — Eu entendo se você não puder sair imediatamente. Pensei em localizar Ignacio primeiro, então
— Ser o patrão tem seus benefícios, e eu odiaria decepcionar o grande cara.
Ele não faria isso fácil para ela. Que choque. Tudo bem, então, ela teria que engolir. — Você está pronto para viagem? — Perguntou ela.
O sorriso de Vincent se alargou. — Pois bem Lana, eu pensei que você nunca pediria.
CAPÍTULO TRÊS
— Eu não gosto de você saindo assim, jefe, — Michael disse na noite seguinte enquanto seguia Vincent até a garagem privativa abaixo de sua residência, onde os veículos pessoais estavam estacionados. Vincent possuía dois. O primeiro era um Venom preto de 2014 Viper TA, mas que não seria o ideal para uma viagem através do deserto mexicano. Assim, dirigiu-se para o segundo veículo, que também era preto, mas muito mais substancial. Um SUV Suburban, com insulfilm e blindado por todos os lados. Vincent era um poderoso vampiro, mas mesmo o mais forte deles poderia ser atingido com o número suficiente de balas. A estaca de madeira pode ser o método tradicional de execução, mas qualquer coisa que rasgasse o coração de um vampiro iria funcionar muito bem.
— Você só está com ciúmes que não está vindo comigo, — Vincent disse ao seu tenente, quando ele abriu o porta malas e jogou a mochila.
— Foda-se, é claro que sim, — Michael concordou. — Por que será isso afinal? Quem vai proteger a suas costas?
— Lana parece ser perfeitamente capaz.
— Lana parece que logo vai enfiar uma estaca em você.
Vincent fechou o porta malas e virou com um sorriso. — Você acha? Acho que ela está completamente encantada por mim.
— Você está iludido.
— Então você não acha que eu sou irresistível?
Michael bufou. — Sério, jefe, porque eu tenho que ficar aqui?
Vincent parou e olhou para ele diretamente. — Porque eu não quero que seja óbvio que fui embora. Isto é para Raphael. Você entende o que isso significa? Eu estou fazendo um favor para um Lorde Vampiro rival. E se isso não é razão o suficiente para manter esta missão a mais discreta possível, há também o papel de Enrique em tudo o que aconteceu em Acuña. Não pode ser uma coincidência que o pedido de Raphael apareceu duas semanas após alguém tentar matá-lo com a ajuda de Enrique. E quem diabos é Xuan Ignacio que Rafael tanto quer encontrar?
— Foda-se, — Michael xingou. — Você precisa de alguém em suas costas.
— O que eu preciso é que você coloque pressão sobre suas fontes, e descubra o que aconteceu com a irmã de Raphael. Ela está morta? Eu preciso saber.
— Eu vou deixar você saber assim que eu encontrar alguma coisa, mas, Sire — Ele esperou até que o uso da palavra de respeito focasse a atenção de Vincent para si. — Não vá para a Cidade do México sem mim. Falo sério.
Vincent assentiu. Ambos sabiam que só poderia haver uma razão pela qual ele iria para a Cidade do México, e seria para desafiar Enrique pelo território. O confronto era inevitável e foi evitado por muito tempo. Os dois vampiros estavam dançando em torno dele, não suficientemente motivados para perturbar o status quo. Era apenas uma questão de acender o fogo certo. E se Enrique descobrisse que Vincent estava correndo por todo o México, a pedido de Raphael, poderia ser a faísca que faltava para acender o fogo.
— Não se preocupe, Mikey. Se eu chegar a qualquer lugar perto da Cidade do México, com certeza você vai estar lá. Eu preciso de você comigo.
Michael concordou ainda infeliz. — E se acontece alguma coisa aqui, como no clube na outra noite? O que eu digo aos outros?
— Você poderia ter lidado com o clube sem mim, — disse Vincent e caminhou para o lado do motorista do SUV. — Enquanto você está aqui, os outros vão assumir que eu também estou. Mas, se alguém ficar muito curioso, dê-me um aviso, e eu vou lidar com isso. Eu estou levando o telefone por satélite, bem como meu celular.
Ele deslizou para o banco do motorista. — Não fique tão triste, Mikey. Eu vou lhe trazer um presente.
Michael levantou ambas as mãos com os dedos do meio levantado, em uma saudação dupla para que o outro fosse se foder.
Vincent riu quando fechou a porta e girou a chave, em seguida abaixou a janela e acenou enquanto dirigia para fora da garagem.
LANA deixou o hotel sem realizar o check-out. Ela estava registrada por mais uma noite e poderia ter economizado dinheiro realizando um check-out antecipado, mas decidiu contra a ideia. Em seu negócio, não machucava deixar as pessoas se perguntando onde exatamente você estava. Ao pagar uma noite extra, ninguém saberia que ela já havia partido para lugares desconhecidos. Pelo menos não imediatamente. Ela colocaria do lado de fora da porta a placa de "NÃO PERTURBE" como medida de segurança extra, mas isso não enganaria um investigador determinado como seu pai ou Dave Harrington. Ela não achava que eles chegariam tão longe ainda, mas preferiu assumir o pior. Era a melhor maneira de estar preparada quando a merda finalmente batesse no ventilador, o que sempre acontecia eventualmente.
Ela desceu a escada dos fundos, evitando o lobby. Sua Yukon estava estacionada no final do estacionamento. Abriu-a, escondeu sua mochila nas costas, e estava de pé na escotilha aberta percorrendo sua lista de contatos para o número de Vincent, quando um Suburban preto parou atrás dela.
Jogando o telefone de lado, ela retirou sua arma e se virou em um único movimento. A janela fumê mais próxima a ela se abriu para revelar Vincent atrás do volante, sorrindo como um idiota. Um idiota particularmente bonito, no entanto.
— Você vai atirar em mim antes mesmo de começar?
Ela deu-lhe um olhar frio. — Não me tente, — disse ela, guardando a arma. — Eu pensei que estava indo te buscar.
— Eu não acredito que nós discutimos isso, — disse ele alegremente. — Mas desde que eu já estou aqui, suba.
— Acho que devemos ir com meu carro. É menos evidente.
— Onde estamos indo, evidente é bom. Faz de você um alvo menor.
— Isso não faz nenhum sentido.
— Faz no México, querida. O meu é à prova de balas. E o seu?
Lana fez uma careta, mas teve que dar o braço a torcer a ele. — Tudo bem, — ela concordou. — Mas vamos revezar a condução.
Vincent bufou com desdém. — Eu não penso assim.
— Temos mais de 1600 km para viajar. Você dirige à noite, eu vou dirigir durante o dia. Chegaremos lá mais rápido.
— Viajaremos durante a noite e vamos parar para dormir durante o dia como pessoas civilizadas.
— As pessoas civilizadas dormem à noite. E se não houver nenhum lugar para ficar quando o sol nascer?
— Haverá.
— Como você sabe?
— Porque eu programei a maldita rota, e eu estou dirigindo, — Vincent rosnou, finalmente, perdendo a calma.
Lana deu-lhe um olhar complacente, permitindo-se um pequeno sorriso de satisfação. — Tudo bem, — disse descuidadamente, como se toda a questão não tivesse importância. — Destrave a traseira.
— Está destravada, — ele retrucou.
Ela não disse nada, mas seu sorriso se alargou quando se virou e pegou sua mochila, em seguida, se aproximou e atirou-a para o espaço de carga do Suburban. Voltando ao seu Yukon, ela reuniu o resto de suas coisas -- à mochila com os seus documentos, laptop, carteiras, identificação, além de refrigerador portátil com gelo e Coca-Cola, juntamente com um pouco de comida de viagem. Ela franziu a testa, pensando que o vampiro provavelmente não estaria compartilhando suas barras de chocolate e batatas fritas, então quis saber exatamente o que ele estaria comendo. Não ela, isso é certo.
Ela despejou tudo no banco de trás de Vincent, em seguida, subiu para o lado do passageiro do Suburban, afundando-se em um banco que era muito mais luxuoso do que o de seu Yukon. Talvez fosse uma coisa boa que eles estavam tomando SUV de Vincent, depois de tudo. Embora ela não achasse que dissesse muito da relação de trabalho futuro de ambos que eles não podiam sequer sair do estacionamento sem um argumento.
— Eu não tenho certeza que isso vai funcionar, — disse ela quando Vincent fez uma curva brusca na Rota 15, que os levaria quase todo o caminho para o seu destino
— O que? — Ele perguntou distraidamente, cortando ao redor e na frente dos outros carros, como se estivessem no Daytona Speedway, em vez de uma via pública.
— Você e eu, trabalhando juntos. Não parecemos nos dar bem.
Ele girou a cabeça para olhá-la por um longo segundo, e seu brinco de ouro brilhou nas luzes do painel. — Nós vamos passar muito bem, querida. Você vai ver.
Lana revirou os olhos para o termo carinhoso, mas não disse nada. Ela estava determinada a fazer este trabalho, o que significava que estava presa com ele para os próximos dias. Mas ela era uma profissional. Ela poderia lidar com um pouco de irritação, se isso significasse encontrar esse vampiro fantasma de Raphael, fazer o trabalho e voltar para casa.
Ela não se deu conta até cerca de 160 km depois de que ela estaria fazendo muito mais do que sentar ao lado de Vincent em sua grande SUV. Ela estaria compartilhando um hotel com ele, também.
Porra.
CAPÍTULO QUATRO
LANA ESTENDEU a mão para pegar a garrafa de água, afastando-a rápido quando roçou no braço de Vincent que estava apoiado no console central. Você pensaria que um SUV tão grande como o Suburban teria espaço suficiente para todos, mas Vincent era tão malditamente grande, e seus ombros tão largos. Sem dúvida alguma que ele estava constantemente se encostando contra o console e invadindo o espaço dela.
Ela deslizou o olhar em sua direção e viu que um lado da boca dele estava curvado para cima num sorriso convencido. Ele percebeu a reação dela ao toque deles, é claro. Ele percebia tudo. Ela estava começando a questionar sua estratégia original de lidar com ele. Pensou que fria e profissional era o caminho que devia ir, mas a indiferença dela parecia apenas estimulá-lo a fazer coisas para provocá-la.
Coisas como... Isso!
Ele apenas pegou a garrafa dela e trouxe-a para os próprios lábios, enchendo a boca de água enquanto ela encarava incrédula. Ele esperava que ela ainda bebesse da garrafa agora? Ela nem mesmo dividia garrafas de água com pessoas que conhecia.
— Então, Lana, — ele disse, colocando a garrafa de volta no porta-copo sem olhar para ela. — Como você se tornou uma caçadora de recompensas? Não é exatamente a escolha de carreira que a maioria das garotinhas sonham, não é?
Lana o encarou até que ele olhou para ela, as sobrancelhas dele se arquearam numa pergunta.
— Vamos conversar agora? — Ela perguntou friamente.
— Claro, — ele disse. — Por que não? Temos centenas de km para rodar.
Lana o observou por um longo momento, então disse. — Ok. Uma pergunta por uma pergunta. Eu respondo uma, e depois você responde uma.
Ele deu de ombros. — Por mim tudo bem.
— Meu pai era um caçador de recompensa, — ela disse, respondendo sua pergunta. — Como você se tornou um vampiro? —
— Oh, não, — Vincent disse, deixando sair uma risada suja. — Não é assim que se joga o jogo. Eu já sei que seu pai é um caçador de recompensa. Eu quero saber por que você se tornou uma caçadora de recompensas como o seu pai. O que sua mãe pensa?
— São duas perguntas, mas tudo bem. Eu basicamente cresci no escritório do meu pai. Minha mãe possuía um emprego, então quem trabalhasse no escritório era minha babá, e os caras que trabalhavam para ele se consideravam meus tios. Alguns dele ainda o fazem.
— Sua mãe não trabalhava para seu pai como você?
— Não, ela estava em vendas. Ela ainda está, mas agora ela está à maior parte do tempo ocupada sendo a esposa de mais alguém. Meus pais se divorciaram quando eu tinha onze anos. Eles dividiram a custódia até que eu fiz doze anos, então minha mãe se casou com seu amante e se mudou para Califórnia. Eles não poderiam mais dividir a custódia desse jeito, então me fizeram escolher.
— Isso é uma merda.
— Sim, foi. Eu tinha doze. Naquele tempo, eu disse a mim mesma que era por que os dois me queriam muito. Mas agora eu acho que era porque nenhum dos dois se importava.
Lana percebeu que estava soando mais que um pouco amarga e continuou. — De qualquer forma, a escolha foi para o que me convinha mais. E garotas de doze anos são bastante superficiais. Tudo o que eu sabia era que se eu fosse com minha mãe eu teria que mudar de escola e fazer novos amigos. E eu já não era boa em fazer amigos. Então escolhi meu pai.
— Você amava seu pai?
— É claro, — Lana disse, mas até mesmo para seus próprios ouvidos isso soava fraco. Vincent ficou silencioso por um momento, e ela esperou que ele não tivesse percebido.
— Vocês se dão bem?
— Eu me tornei uma caçadora de recompensas, não foi? Eu trabalho para o homem.
— Não foi isso o que eu perguntei.
— O que você está perguntando? Você não é meu terapeuta, Vincent.
— Justo. E sua mãe?
— Nós nos damos bem. Nunca tivemos muito em comum.
— Por que você apresentava problemas em fazer amigos?
— Encrenqueira demais, eu acho. Eu era o filho que meu pai sempre quis.
— Quem era sua melhor amiga? Garotas sempre tem uma, certo?
Lana sorriu, se lembrando. — Gretchen Foster. Ela vivia no prédio atrás do escritório do meu pai. Nós meio que nos ligamos em nossa mútua miséria.
— Ela era encrenqueira como você?
— Oh, não. Gretchen era linda.
— Você é linda.
Lana piscou surpresa com a simples afirmação. Ele disse como se fosse um fato, e não como uma paquera, mas como se ele realmente quisesse dizer isso. Ela ficou silenciosa por tempo suficiente para ele olhar para ela.
— Você é, — ele disse baixo, parecendo confuso com a reação dela.
— É, bem, — ela murmurou, e então finalmente disse, — Eu definitivamente não era até então, mas Gretchen era. E garotas adolescentes podem ser malvadas. Todos os garotos amavam Gretchen. Ela nunca saía com nenhum deles, mas eles a rodeavam de toda forma, e as outras garotas odiavam isso. Elas começaram o rumor de que Gretchen era fácil, e que era por isso que os garotos gostavam dela. Que ela abriria as pernas para qualquer garoto que quisesse.
— Mas ela não era assim.
— Ela era exatamente o oposto. Eu acho que Gretchen não teve um encontro até o primeiro ano do ensino médio. Seus pais eram muito rígidos. Ela ia para a escola e voltava para casa logo depois.
— Então como vocês duas se conheceram?
— Como eu disse, os pais dela eram rígidos. Eles queriam boas notas, e Gretchen estava com um problema com matemática. E eu era meio que um gênio nisso, então nós fizemos uma troca. Ela resolvia meu problema e eu resolveria o dela.
— Não entendi.
— Ela lia todas as revistas de moda, sabia tudo sobre maquiagem, roupas e essas coisas. Eu não tinha uma mãe, e meu pai não mantinha uma Vogue no escritório. Então, Gretchen me ensinou coisas de garotas, como se vestir, como fazer meu cabelo e minha maquiagem. E eu fui sua tutora em matemática.
— O que seu pai pensou sobre seu filho aprendendo coisas de garotas?
Ela riu. — É, no momento em que meus peitos cresceram, ele fez uma reviravolta. Decidiu que não me queria tanto por perto do escritório. Eu acho que ele se preocupava sobre seus caras tendo ideias. — Ela quase adicionou, pelo menos até que ele escolheu meu marido por mim. Graças a Deus, não o fez. Vincent ficaria em cima disso se ela dissesse.
— Onde está Gretchen agora? — Ele perguntou.
— Fomos para a faculdade juntas e ela conheceu um cara. Eles se casaram depois da graduação e têm duas crianças. Eles vivem em Nova York.
— Final feliz.
— É, foi mesmo. — Lana ficou em silêncio e então olhou carrancuda. — E isso foi muito mais que uma só pergunta. Você me deve.
Vincent riu com tanto prazer que Lana se esqueceu de respirar por um momento.
Vincent carrancudo ou sorrindo era maravilhoso. Mas Vincent rindo? Estava tão além de maravilhoso que ele nem mesmo possuía uma palavra para isso.
— Acho que devo, — ele concordou, parecendo não perceber a fascinação dela. — Pergunte.
Lana engoliu, dando a seus hormônios exagerados uma chance de se acalmarem. Talvez ela precisasse transar mais frequentemente se uma simples risada podia fazer isso com ela. Quanto tempo fazia desde que ela transou?
Ela franziu a testa. Tanto tempo que ela não podia nem lembrar exatamente quando. Ela teria que remediar isso quando chegasse em casa. Mas agora, lidarei com o vampiro perto dela, e ele estava esperando que ela perguntasse.
— Certo, — ela disse. — Eu ainda quero saber como você se tornou um vampiro. E. — e o quê? Ela precisava dizer algo antes que ele percebesse que ela estava balbuciando. — E, eu também tenho uma segunda pergunta, então, qual é a sua idade?
— Essas são questões muito pessoais para um vampiro, Lana, — ele disse, sem nenhum traço de humor na voz.
— Assim como perguntar sobre o divórcio dos meus pais, — ela considerou calmamente.
Ele assentiu. — Você está certa. Tudo bem então, se encoste querida, e eu vou lhe contar um conto de dois irmãos.
Texas, 1876
— POR FAVOR, SEJA CUIDADOSO, mijo. E tome conta do seu irmão.
Vincent prendeu a última fivela de sua sela e se virou para sua pequena mãe. — Mama.
Ele a abraçou cuidadosamente, como a delicada boneca que ela parecia. Mesmo com dois filhos gigantes e mais de vinte anos vivendo em pecado com o pai dele, ela ainda era a mulher mais bonita do rancho. Poderia ser o amor de filho falando, mas ele via a luz nos olhos de seu pai, também, toda vez que ele olhava para ela. Ela fora uma garota pobre da Guatemala, uma empregada na grande casa dos avós de seu pai, quando ela prendeu o olhar de seu pai. Os mesmos avós agora se recusam a reconhecer Vincent ou seu irmão mais novo por eles serem bastardos. Nascidos do amor, mas fora do casamento. Seu pai era o único filho e descendente do império de gado de sua família rica, mas eles juraram que iria deserdá-lo se ele se casasse. Eles fizeram do jeito deles, mas seu pai também fez do seu jeito. Ele não casou com sua amante guatemalteca, a mãe de seus filhos. Mas também nunca casou com ninguém mais. Vincent e seu irmão, John, cresceram no rancho. Não na casa grande, é claro. Seus parentescos continuaram não reconhecidos, mesmo com todo mundo no rancho sabendo a verdade. Talvez seus cavalos fossem um pouco mais cuidados, seus caminhos mais leves, mas assim que estivesse velho o suficiente, eles trabalhariam do nascer do sol até o pôr do sol como qualquer outro que morasse no rancho. E hoje os dois irmãos estavam indo em sua primeira condução de gado, indo para Abilene e para os gigantes mercados pecuários de lá. Normalmente, eles teriam conduzido gado há muito tempo. Mas sua querida mãe se opôs, dizendo que era perigoso demais, e o pai deles não podia negar nada para ela. Então, ano após ano, seus filhos permaneceram para trás. John não se importou muito. Ele estava feliz no rancho, aprendiz do veterinário, que era a razão dele não estar presente durante as lágrimas de sua mãe enquanto seus filhos iam para Abilene. John estava do outro lado do rancho ajudando o doutor com os suprimentos. Vincent, por outro lado, não estava satisfeito em viver sua vida inteira em um lugar. Ele queria ver o mundo além do rancho, visitar a grande cidade de Abilene, ver as vastas planícies do Kansas e além. Qualquer lugar e todo lugar que não fosse o rancho no qual ele cresceu.
— Seremos cuidadosos, Mama, — ele assegurou, beijando sua testa. — Sempre somos.
— Si, eu sei. Eu esperarei por vocês.
— Tome conta de Papa.
— Puff. — Sua mãe fez um gesto qualquer, mas Vincent viu o amor em seus olhos também. O chefe gritou a ordem de todos montarem e Vincent inspirou em alívio.
— Eu tenho que ir, Mama. Teremos cuidado e veremos você antes do Natal.
— Oy, um tempo tão longo, mi hijo, — ela sussurrou de forma intensa e o abraçou apertadamente. Ela era forte para uma mulher tão pequena.
Vincent se soltou com outro beijo em sua testa. Ela o manteria lá o dia inteiro se ele não acabasse com isso agora. Ele montou em seu cavalo e, com uma saudação vistosa, despediu-se de sua bela mãe, sem saber que era a última vez que iria vê-la.
— PODEMOS APENAS IR para casa? — John perguntou alguns meses depois, jogando um graveto em Vincent do seu lugar, no outro lado da pequena fogueira deles. — Abilene não foi suficiente?
A condução do gado acabou, e não foi de forma alguma tão emocionante quanto Vincent pensou que seria. Sua grande aventura não foi nada além de meses de sujeira, trabalho duro, longos dias em cima da sela, e comida ruim. Por outro lado, ele e seu irmão estavam agora livres para fazer seu caminho de volta para casa em seu próprio ritmo, e Vincent estava determinado a tirar o máximo proveito disso.
— Uma cantina Mexicana, irmãozinho, alguns km fora de nossa rota. É tudo o que peço. Essa pode ser nossa única chance.
— O gado vai ao mercado todos os anos, Vicentillo.
— Mas quem sabe se nos deixarão ir? Se nosso avô morrer, papa herdará o rancho, e nunca nos enviará novamente. Mama não o deixará fazer isso.
— Se vovô morrer, — John bufou. — Aquele velho é mal demais para morrer.
— Mesmo o diabo recebe o que merece Juanito.
— Muito bem, uma cantina, mas você — ele parou de repente, virando para encarar a escuridão. — Quem está aí? — ele chamou, elevando a voz enquanto alcançava a bainha da arma que ele tirou mais cedo.
Vincent se levantou na mesma hora, sua Smith e Wesson já em suas mãos quando os bandidos invadiram o pequeno acampamento deles — imundos, homens ferozes entraram atirando, canos de armas aparecendo na escuridão. Vincent assistiu horrorizado quando a primeira bala rasgou o peito do seu irmão. John foi lançado pelo ar devido à força do impacto.
O dedo de Vincent empurrou o gatilho, sua arma explodindo rapidamente, mas era tarde demais. Uma dor lancinante rasgou seu peito, e ele se encontrou batendo contra a imundície da planície do Texas. Ele se mexeu, procurando por John, tentando alcançar o irmão que ele deveria tomar conta, o irmão que ele prometera que traria para casa, para a mãe deles, para o Natal. Dor entrecortada fatiou seu peito. E de repente, ele sabia que nenhum deles iria para casa novamente.
CAPÍTULO CINCO
México, hoje.
— ISSO É HORRÍVEL, — Lana disse, encarando o vampiro sentado perto dela. Ele contou sua história com nenhuma emoção, como se tivesse acontecido com outra pessoa. Ele não disse nada, mas encarou bem em frente, seu olhar parecia cravado na estreita faixa de luz branca que era tudo o que eles podiam enxergar da rua com seu farol dianteiro. Eles estavam numa parte da estrada particularmente vazia, então ele estava dirigindo bem acima do limite de velocidade. Mas ele lidava com a grande SUV tão facilmente quanto ele faria se tivesse algo baixo e doce e construído para a velocidade, uma mão no volante e a outra sobre o console central, seus dedos batendo no ritmo de uma música que só ele podia ouvir.
Lana podia entender sua necessidade de distância emocional para tais eventos dolorosos. E ela continuava esquecendo que, apesar de aparentar ser um homem em seus vinte e poucos anos, ele era muito, muito mais velho que isso.
Talvez o que para ela era uma terrível tragédia, pois era acabara de ouvir sobre isso, era para ele uma memória distante. Ela até mesmo quase acreditou que ele não estava tentando tão fortemente fingir que isso não importava
— Eu não estou familiarizada com armas, mas se eles atiraram no seu peito, por que você não morreu?
Ele então lhe lançou um olhar, mas apenas para zombar dela. — O quê? Você não crê que vampiros estão mortos? Não é isso o que todos vocês, humanos, acreditam sobre nós?
Lana o perdoou por ser um idiota rude, devido aos terríveis eventos que ele acabou de reviver para ela.
— Eu não sei dos humanos em geral, mas eu sei que você não está morto, — ela disse a ele. Ela não falou nada mais, pois mesmo sabendo que definitivamente eles não se erguem da morte da forma que algumas ficções populares indicam, ela não sabia o que acontecia para torná-los vampiros.
A única pessoa que talvez fosse capaz de colocá-la a par disso era Cynthia Leighton, e embora Leighton tivesse passado algumas pequenas e úteis informações quando trabalharam juntas, as duas eram exatamente isso — parceiras de negócios em primeiro lugar e amigas depois. Elas trocavam detalhes e resultados, e não fofocas. Isso era em parte a razão dela ter concordado em compartilhar informação com Vincent. Ele estava curioso sobre ela — embora Lana não imaginasse o porquê, e outra coisa que a incentivou foi, sem dúvida, a necessidade dele de encantar cada mulher com quem tivesse contato. Mas já que a história dela era bem ordinária, ela estava disposta a trocar os monótonos fatos da sua vida pelos detalhes de longe mais intrigantes da vida dele.
Vincent, no entanto, ficara quieto. Ele não parecia inclinado a continuar jogando o jogo deles, mesmo não respondendo a sua primeira e mais importante pergunta — como ele se tornou um vampiro.
Obviamente, ele não morreu na noite em que foi alvejado, mas tão óbvio quanto isso, de alguma coisa, o levou a tornar-se um vampiro. Ela não achava que ele teria compartilhado algo tão pessoal de outra forma. E o seu irmão mais novo? John morreu? Ou ele também virou um vampiro? Ela estava morrendo de vontade de perguntar, mas não possuía coração para isso. Mesmo Vincent agindo distante e indiferente, ninguém era capaz de recontar sua própria experiência de quase morte e sentir nada.
— A hora da história acabou por hoje, — ele finalmente disse. — O Sol nascerá logo. Temos que pensar sobre parar.
Lana checou o painel do carro. Eles fizeram um bom tempo, mesmo sendo forçados a diminuir de velocidade em áreas mais povoadas. Vincent estava determinado a manter-se discreto por razões que ele não comentou com ela, e também não queria arriscar ser parado por algo tão trivial como velocidade. Eles provavelmente teriam seguido com nada mais que uma multa, mas até mesmo isso criaria um registro oficial que uma certa pessoa poderia usar para rastreá-los. Eles também foram desacelerados por toda a blindagem que fazia o Suburban uma excelente escolha para atravessar um território perigoso, mas também fazia o veículo muito mais pesado. Ele bebia gasolina como um filho da mãe, e já que havia trechos em que eles não tinham certeza se havia um posto de gasolina, às vezes tiveram que parar antes mesmo do tanque esvaziar, apenas para ter certeza que isso não iria acontecer na hora errada.
E não vamos esquecer que em todos os lugares que eles pararam, Vincent encantava cada mulher a vista. Velha, jovem... Inferno se tivesse um bebê por perto ele provavelmente a encantaria também. E nenhuma das mulheres pareceu se importar se Vincent estava viajando com Lana. Com toda a informação que elas possuíam, ela poderia ser a namorada dele, até mesmo sua esposa. Isso não importava.
A pior fora a adolescente no primeiro lugar que eles pararam. Ela olhou para Lana, de cima para baixo, e completamente a desconsiderou. Como se a garota soubesse que Vincent iria contente substituir Lana por uma adolescente estúpida no caixa de um posto de gasolina.
Não que Lana o quisesse para ela. Inferno, não. Era apenas o princípio da coisa.
Ela estreitou seu olhar em Vincent, e então rolou seus olhos em desgosto, tanto com ela mesma quanto com Vincent. Por que ela se importava com quantas mulheres ele flertava? Ela tirou seu celular e procurou pela localização deles. Sua energia seria mais bem gasta encontrando um lugar para pararem antes de amanhecer.
— Que tal Guamúchil? — ela perguntou, dando zoom no mapa. — Podemos parar lá. É uma cidade de bom tamanho, e não devemos ter problemas
— Vamos parar antes disso, — Vincent interrompeu. — Uma pequena cidade cerca de cinquenta quilômetros a nordeste.
— Eu não vejo
— Não estará no mapa. A cidade é pequena demais.
— Então como você
— Eu já estive aqui antes. Há um local. Ela tem alguns quartos e devem estar vazios nesse tempo do ano.
Ela. É claro que teria uma ‘ela’. Parecia que homens, ou ela talvez devesse dizer homens do sexo masculino, eram iguais em qualquer lugar. A menos os tipos de homens que ela parecia destinada a encontrar. Eles eram ousados, tomavam o risco, procuravam por emoção, alta testosterona, bêbados por adrenalina que conseguiam mulheres como moscas e pareciam incapazes de se estabelecer com apenas uma. Ela lembrou de que não se importava nem um pouco com quantas mulheres Vincent encantou, seduziu ou fodeu.
— Você programou isso no GPS?
Ele lançou lhe um olhar, talvez sentindo algo no humor dela, mas a única resposta verbal foi um conciso, — Yep.
Quase 32 km mais tarde, o sistema nav (GPS) disparou num aviso. Vincent imediatamente desacelerou, chegando perto de parar para fazer uma curva acentuada a direita, numa estrada que Lana talvez teria se perdido e percebido mesmo na luz do dia. Não era pavimentada. Ela podia ver e sentir isso. O Suburban aguentou a nova superfície com relativa suavidade, mas então, Vincent dificilmente fazia 50 km/h. Ela podia ouvir pedras raspando a parte de baixo do carro, mas não havia nenhum buraco e os pneus não estava deslizando tanto quanto ela esperava que fizessem quando estavam fora da estrada.
Vincent subitamente apagou os faróis, mas continuou dirigindo como se nada tivesse mudado. Lana não podia distinguir nenhuma maldita coisa.
— O que você está fazendo? — ela perguntou, se esforçando para enxergar.
— Eu posso ver melhor lá fora sem elas.
Lana mudou seu olhar entre Vincent e a estrada bastante escura. — Você pode?
Um pequeno sorriso iluminou sua expressão pela primeira vez desde que ele interrompeu sua própria história. — Eu posso. Não se preocupe Lana. Eu tomarei conta de você.
— Eu posso tomar conta de mim mesma, obrigada. Apenas dirija.
Seu pequeno sorriso cresceu. — O que você disser.
— E sobre essa cantina?
— O que sobre isso? É bastante popular entre os moradores locais, principalmente por conta da música. Há um homem que toca violão clássico lá. Um dos melhores do mundo.
— Qual o nome dele?
Vincent balançou a cabeça. — Você não terá ouvido falar dele.
— Como você sabe? — ela exigiu, sentindo-se insultada. Ela gostava de violão clássico.
— Não é você, querida. Ninguém ouviu sobre ele a não ser que já tenha estado aqui. Ele não grava, ele não viaja. Ele simplesmente toca seu violão.
Lana lhe deu um olhar curioso. Existiam camadas em Vincent Kuxim. Camadas embrulhadas num pacote muito bonito. Ela piscou e se trouxe de volta a realidade. Bonito ou não, ele era um vampiro e um jogador. E ela não queria nenhuma das duas partes.
CAPÍTULO SEIS
— VICENTILLO, MI corazón! Tanto tiempo sin vernos!
Lana ficou na porta de entrada da pequena e lotada cantina e assistiu enquanto a mulher recebia Vincent como um amigo de longa data. Ou um amante. Ela o chamou de coração, embora tenha adicionado que eles não se viam há bastante tempo. Então talvez fossem antigos amantes, ainda amigos. Companheiros de foda, talvez, Lana pensou enojada e não sabia por que se importava.
A mulher fora bonita na juventude. Você podia ver no suave e dourado brilho de sua pele, no flash de seus olhos marrons escuro, na elegante curva de sua mandíbula. Ela ainda era adorável, mas a idade e a vida refletiam em seu rosto agora, também. Essa vida era uma das boas, se o largo sorriso fosse uma indicação. Ela era a imagem viva de uma mulher que encontrou a vida que queria e a viveu ao máximo.
Lana pensou na facada de inveja cortando seu peito. Ela tinha uma boa vida, não tinha? Ela fazia o que queria fazer, algo que amava. É claro que ela não conseguia se imaginar perseguindo homens ruins quando ela tivesse quarenta... Ou cinquenta, como a mais nova admiradora de Vincent. Mas por agora, estava exatamente onde queria estar. Não estava?
Vincent parecia certamente tão feliz em ver a mulher quanto ela parecia em vê-lo. Ele estampou um enorme sorriso em seu rosto — não o sorriso sarcástico que ele geralmente oferecia a Lana, mas um sorriso genuíno cheio de aconchego e algo mais que uma simples afeição. Eles já foram amantes? O abraço íntimo certamente falava de uma familiaridade longa e íntima.
— Marisol, te haces más bella cada vez que te miro, — Vincent disse, olhando para baixo, para ela.
Você fica mais bonita cada vez que te vejo.
A mulher, Marisol, espantou o elogio da forma que belas mulheres faziam quando pensavam que o sentimento era verdadeiro, mas fingiam modéstia. Ela e Vincent beijaram-se na bochecha e então deram um beijo. Certo, talvez isso fosse um exagero. As bocas deles se tocaram, mas Lana achava que não havia nenhuma língua envolvida. Quando o beijo acabou eles se abraçaram de novo e então trocaram algumas palavras suavemente. Marisol afagou o peito de Vincent e começou a se mover na direção de Lana, como se tivesse um propósito. Lana recuou quando percebeu que Marisol não estava indo para ela, mas para uma pequena escrivaninha num canto na parede à sua esquerda. Vincent seguiu e os dois continuaram a conversa, falando espanhol tão rápido que Lana teve que se esforçar para pegar o que eles estavam falando. Mesmo assim, ela não podia ter certeza se estava traduzindo cada palavra corretamente, mas o contexto geral era claro.
— Rodrigo apareceu novamente, e você sabe que não posso dizer não para ele, — Marisol estava dizendo por sobre o ombro para Vincent, enquanto se inclinava para a escrivaninha.
— Rodrigo? Ele não deveria estar na sua cama?
— Vincent! Que tipo de pergunta é essa? — Ela exclamou, virando seu olhar para ele, uma mão no meio do peito num gesto tão escandalizado quanto falso. — Além disso, você sabe que eu gosto de um homem mais jovem.
— Mais de um, pelo que me lembro. — Vincent provocou de volta, o que fez Marisol abanar o rosto.
— Bem, — ela disse claramente ainda frustrada pela memória que Vincent havia invocado. — Isso significa que eu tenho apenas um quarto, mas é seu se
— Está bom, — ele assegurou, embora Lana não achasse nada tranquilizador.
— Um quarto?
— Lana é minha guarda-costas, — Vincent continuou. — Ela vai ficar comigo.
Lana cavou buracos nas costas dele enquanto contemplava todas as formas que poderia usar para matá-lo sem nem mesmo mover um passo de onde estava, mas ele permaneceu alegremente inconsciente disso.
Tanto para a telepatia de um vampiro. Ou isso, ou ele estava ignorando ela.
Marisol entregou a chave para Vincent, em seguida, esticou-se para beijá-lo, sua mão demorando ao longo de sua mandíbula.
— Você sabe onde é, meu querido. Eu ainda verei você amanhã à noite?
— É claro, você acha que eu partiria sem ouvir Chencho tocar?
— Doce garoto. — Ela afagou a bochecha dele, então se apressou para voltar a seus clientes, mas não antes de escanear Lana da cabeça aos pés com seu olhar enquanto passava por ela.
— Vamos lá, — Vincent disse, virando em direção a Lana e balançando a cabeça para a porta. — Temos tempo de nos limparmos e conseguirmos algo para comer antes do sol nascer.
Lana não podia evitar perceber que sua voz estava toda negócios, completamente vazia do carinho que ele mostrara a Marisol.
— Eu sou seu guarda-costas?
— Achei que você preferia isso a amante.
Ela fez uma careta para ele. — Olha, se você preferir ficar aqui com
— Lana.
Ela olhou para cima para encontrar seus olhos salpicados de ouro.
— Eu estou cansado, — ele lhe disse. — Eu posso ser um vampiro, mas eu não aprecio ficar sentado dentro de um carro por horas mais que você. Eu quero uma ducha, e então eu vou dormir.
— Dormir tipo...
— Sim, — ele disse, parecendo de alguma forma confuso pela inabilidade dela de ser direta e dizer que ele estaria fazendo sua coisa de vampiro. — Dormir tipo vampiro. Agora, podemos ir para o quarto?
Ela se virou para segui-lo pela porta. — Eu não posso dividir um quarto com você.
— Por que não? — ele perguntou, andando para um estreito caminho entre a cantina e outro prédio baixo.
— Eu mal te conheço.
Ele deu de ombros. — Sua virtude está a salvo comigo. Eu estarei morto para o mundo.
Ela franziu o cenho. — Eu te disse, eu sei que vampiros não estão mortos.
Ele virou para encarar ela. — É uma expressão, Lana, — ele informou secamente, e virou num caminho para a esquerda, que terminava num pequeno chalé com duas entradas separadas.
Elas estavam em lados opostos do chalé e cada um era marcado por uma pequena trilha e uma porta de madeira pintada numa cor brilhante. A porta de Vincent parecia ser azul, embora com a fraca iluminação ela não prometesse que fosse. Ambas as portas estavam moldadas por videiras que Lana pensava ser jasmim, por conta de seu cheiro leve e adorável. Embora, com todo o seu conhecimento sobre flores, poderiam ser qualquer coisa e ela não saberia a diferença.
Vincent destrancou a porta, então a abriu e entrou sem acender a luz.
Lana parou na porta deixando seus olhos se ajustarem, e então atravessou para uma pequena mesa e acendeu a lâmpada.
— Desculpe-me, — ele disse do outro lado do quarto onde já estava tirando a jaqueta. — eu esqueço às vezes.
— Esquece o quê?
— Que humanos não podem ver no escuro.
— Você pode?
Ele assentiu distraidamente. — Bastante. Você se importa se eu tomar banho primeiro?
Lana piscou nesse lembrete de que ela dividiria o quarto com Vincent. Vincent dos ombros largos e tanquinho. Ela suspirou. Ela estava definitivamente querendo seu salário dessa vez.
— Claro, vá em frente.
Ele agarrou a bainha de sua camisa de manga longa e puxou-a por sua cabeça. Ela engoliu um segundo suspiro. Ela esqueceu a tatuagem. Ombros largos, tanquinho e tatuagem. Ainda bem que ele era feio. Porra.
— Eu tenho que pegar uma coisa do SUV, — ela disse, sabendo o quão patético isso soava mesmo enquanto dizia. — Você ficará bem aqui?
— Bastante seguro, — ele assegurou e começou a desabotoar os botões de sua calça. Lana pegou um vislumbre da barriga lisa e dos músculos esculpidos e abriu a porta rápido.
— Eu já volto, — ela disse. E então rapidamente escapou.
VINCENT sorriu enquanto a porta era fechada atrás de Lana. Ele precisava de privacidade e imaginou que se começasse a se despir ela fugiria. Bom saber que não perdeu completamente o toque, embora ele tivesse começado a se perguntar. Ela parecia impermeável ao charme dele, mas talvez não a seu corpo.
Hmmm.
Marisol claramente não pensava que ele havia perdido o toque, nem ninguém mais. Se ele tivesse insinuado ela teria chutado o jovem da cama dela e ao invés passaria o resto da noite com ele. Mas ele não estava aqui para isso.
Além de que, ele estava determinado a vencer Lana. Ela estava resistindo por agora, mas ele amava um desafio. E ele não gostava de ser ignorado.
Ele ouviu seus passos desaparecerem pelo caminho e puxou seu celular com satélite. Michael não ligara durante o dia todo, o que interpretou como um bom sinal. Mas ele queria ter certeza. Ele digitou o número pegando de sua memória. Ele não salvava números nesse celular, devido ao fato de que ele estar usando-o significava que estava viajando, geralmente num território não familiar. E isso usualmente significava que havia perigo em potencial.
Melhor não oferecer informações para inimigos.
Michael respondeu no segundo toque. — Boa tarde, Sire.
— Rigorosamente falando, é manhã, Mikey.
— Sim, mas não tem nada de bom nas manhãs, então...
— Bom ponto. Algo que eu precise saber?
— Ninguém percebeu que você saiu, se é isso o que você está perguntando.
— Eu não sei se devo me sentir magoado ou aliviado.
— Fique aliviado. O clube está fechado para reparos, então a atividade está fraca. E nenhuma ligação de Enrique.
— Falando de... Alguma notícia sobre a irmã de Raphael?
— Possivelmente. Eu tenho um relatório que diz que ela está morta. Estou tentando confirmar isso, mas minha fonte disse que ela foi interrogada, considerada inútil e então foi executada no local.
— Frio. Foi Enrique?
— Sobre isso minha fonte não tem certeza. Ocorreu na Cidade do México, na sede de Enrique, mas indicações apontam que ele não foi o executor.
— Interessante. É claro, a própria presença dela na sede dele é uma evidência de que Enrique armou contra Raphael.
— Sim. Diga-me uma coisa, jefe. Alexandra estava duplamente ligada a Raphael. Eles eram irmãos quando humanos por nascimento, adicionando que ele era seu mestre por alguns séculos, certo?
— Algo assim.
— Então, mesmo que ele não fosse mais seu mestre, ele não saberia se ela estivesse morta? Quero dizer, Raphael é poderoso. Ele não sentiria sua morte de alguma forma?
Vincent considerou a pergunta de Michael. Não havia ligação mais forte do que a de um vampiro e seu Sire — assim lhe disseram. Ele nunca se sentiu particularmente ligado a Enrique, isso com certeza. Sua lealdade com o velho era baseada unicamente na praticidade e ambição pessoal. Porém ele era o Sire de Michael e estavam ligados fortemente. Ele morreria para defender sua criança, e sabia bastante bem que Michael sentia-se fortemente da mesma forma.
Mas Raphael fora o senhor de Alexandra, não seu Sire. A história era que eles dois foram transformados durante o mesmo ataque, mas por diferentes Sires. Ele ouviu que isso aconteceu a um par de séculos antes de Raphael resgatar Alexandra de desconhecidas, mas horríveis circunstâncias. Ele matara o Sire dela e desde então tem sido seu senhor. E mesmo essa ligação não tendo a mesma força da ligação de um Sire, dois séculos era muito tempo. E como Michael disse, eles possuíam o vínculo de irmãos com eles, também.
— Você deve estar certo, — ele disse pensativamente. — De fato, eu aposto que você está certo. Então, se Alexandra está morta, Raphael já sabe. Logo, qual será o próximo passo dele? Ele contratou Lana Arnold para entregar uma mensagem para um vampiro que ninguém vê a mais de cem anos. Pelo menos ninguém confiável. E não só isso, ele me escreve uma carta, pedindo ajuda, e deixando claro que prefere que eu esteja lá quando ela encontrar o tal vampiro. Esses eventos devem estar relacionados.
— Exatamente meus pensamentos. Então o que você vai fazer?
Vincent soltou uma longa respiração. — Se Raphael pensa que eu devo encontrar Xuan Ignacio, então eu vou encontrar o fodido e descobrir o porquê. Eu manterei o celular ligado, caso você precise de mim.
— E lembre-se de sua promessa.
Vincent franziu o cenho, mas não disse nada.
— Nada de Cidade do México sem mim, — Michael lhe lembrou.
— Sem chance, Mikey.
— Fica a salvo, jefe.
— Falo com você amanhã.
Vincent desligou, e então tirou o resto de suas roupas e andou nu até o chuveiro. Ele não mentira para Lana. O Suburban era confortável, mas passar tantas horas sentado em sua bunda era exaustante. E sua viagem nostálgica com Lana não fora emocionante também. Ele gostou de ouvir a história dela, mas então, por alguma razão, ele voluntariou a sua própria, mesmo não tendo pensado sobre aquela última viagem com seu irmão há um bom tempo.
Ele abriu a torneira do chuveiro e esperou até que esquentasse. As cabines de Marisol eram bastante primitivas, com uma exceção. A pressão na água era excelente e não teve medo de usá-la. Ele pisou embaixo da água e deixou a água quente lavar a longa noite.
O CHUVEIRO AINDA estava ligando quando Lana se aventurou a voltar para o chalé. Ela amaldiçoou baixinho. O que ele estava fazendo lá dentro? Ela intencionalmente levou seu tempo, passeando pelos jardins, demorando do lado de fora da cantina, escutando o som da festa lá dentro. Música alta preenchia o ambiente, mas não o músico do violão clássico que Vincent comentou. Ou ele tocou mais cedo na noite, o que era parecia muito provável, ou não estava aqui ainda. Ela ouviu Vincent dizer algo sobre ficar aqui amanhã de noite, por tempo o suficiente para ouvir Checho tocar. Esse deve ser o violonista.
Mas agora ela viu tudo o que precisava ver sem se aventurar a entrar no deserto. E Vincent ainda estava no chuveiro, deixando suas roupas descartadas espalhadas por todo o chão do outro lado da cama.
A cama. Uma cama.
Ela olhou ao redor, tentando descobrir onde podia dormir. Obviamente, Vincent ficaria com a cama, porque tipicamente masculino, ele não teria vergonha. Ele teria ficado nu bem na sua frente se ela não tivesse saído. Ele claramente esperava que ela fosse dividir a cama com ele. De fato, ele sem nenhuma dúvida teria prazer em saber que isso a fazia desconfortável. Ainda bem que era uma cama grande, com espaço o suficiente para duas pessoas dormirem bem separadas. Marisol não poupou em seus chalés. Tapetes coloridos estavam espalhados sobre pisos de azulejo e cortinas pesadas cobriam a única janela, então não teriam problema com a luz do sol. A cama tamanho gigante tomava quase todo o espaço do quarto, mas havia uma pequena mesa redonda e duas cadeiras perto da janela, e pequenas quadradas mesinhas de cada lado da cama, que eram apenas grandes o suficiente para colocar itens pessoais ao redor do abajur que cada um possuía. Lana rodeou para o lado mais distante da cama e acendeu a segunda lâmpada. Havia espalho o suficiente entre a cama e a redonda mesa de jantar para que ela dormisse no chão. Não era o arranjo mais confortável, mas ela já teve pior. Ela olhou para os edredons macios da cama. Ajudaria com o ladrilho duro do chão. Ela se perguntou se vampiros precisavam de edredons quando dormiam.
— Nós dois podemos dormir na cama.
Lana reprimiu a vontade de pular pelo inesperado som da voz de Vincent. Ela nem mesmo escutou o chuveiro ser desligado. Que caçadora de recompensas ela era.
Ela se virou... E imediatamente abaixou o olhar para evitar ver Vincent numa toalha e nada mais.
— Eu não acho que seja apropriado, — ela disse, fingindo estudar o chão. — Eu posso...
— Lana.
Ele não disse mais nada até que ela finalmente olhou para cima e encontrou o seu olhar. E apenas o seu olhar!
— Uma vez que adormeço, eu não me movo, querida. Você estará perfeitamente segura.
— Eu não estou preocupada com a segurança, — ela protestou. — Isso apenas não parece
— Eu achava que eu era a pessoa do século dezenove aqui. O que aconteceu com a liberdade da mulher e tudo isso?
— Tá. Eu vou dormir na maldita cama. Feliz agora?
Ele sorriu para ela — Estou. Você está com fome?
Seu olhar foi brevemente para baixo antes de bater de volta em seu rosto. — Sim, — ela disse quase desafiadora. E pela primeira vez desde que ela o conheceu, Vincent pareceu de alguma forma desconcertado com a resposta de uma palavra dela. Não foi atingido, mas definitivamente o tirou de seu jogo... por alguns segundos. Mas depois seu sorriso lentamente aumentou e seus olhos se tornaram preguiçosos.
— Você pode comer o que quiser querida, — ele falou em uma voz profunda e um sexy ronronar.
A respiração de Lana ficou presa em seus pulmões. Vincent Kuxim pela metade já era sexy demais e ela estava louca para ficar sozinha com ele nesse pequeno quarto com essa grande cama.
Ela conseguiu dar a ele um olhar frio, levantando uma única e cética sobrancelha.
— Jantar, — ela lhe falou secamente. — Marisol ainda está servindo comida?
Vincent piscou para ela, de forma alguma sendo atingido pela resposta indiferente dela. — Ela terá algo pronto para a gente agora. Ela gosta de me alimentar.
— Ela se importará?
— Você é meu guarda-costas. Você precisa comer. Vai tomar banho?
Lana se sentia suja e suada, como se ela tivesse andado aqueles 500 km pelo deserto ao invés de viajar no conforto do ar condicionado. Mas ela não iria se despir com um Vincent metade nu no quarto.
— Vou tomar banho mais tarde, — ela lhe disse. — Eu vou lavar meu rosto e minha mãos antes de irmos, mas eu posso esperar até que você termine.
— Eu já terminei de usar o banheiro. Por que você não vai em frente, e eu estarei pronto quando você terminar.
Ela assentiu. Isso soava como o acordo perfeito. Ela tirou sua jaqueta e a colocou nas costas da cadeira, e então abriu sua mochila e retirou uma pequena bolsa que continha seus artigos de higiene pessoal.
Passando pela pilha de roupas de Vincent ela começou a se dirigir para o banheiro, antes de perceber que Vincent, ainda meio nu, estava bloqueando a passagem. Sem querer parecer como uma virgem, ela estava preparada para rodeá-lo, quando ele de repente deu um passo para fora do caminho.
Ela ainda teve que chegar muito perto dele, perto o suficiente para sentir o cheiro limpo de sua pele, sentir o calor emanando de seu grande e morno corpo. Isso foi o chuveiro, ela se perguntou, ou ele era simplesmente tão quente quanto um homem humano regular seria? Os vampiros não deveriam ser frios?
Ela estava tentada a perguntar para ele, mas se lembrou abruptamente que ele estava ali numa toalha. Decidindo que agora era definitivamente a hora errada para um tutorial sobre vampiros, ela manteve seus olhos em qualquer outro lugar até que estava a salvo lá dentro, e então empurrou a porta fechada e finalmente deixou sair o longo fôlego que estava prendendo. Deixando sua nécessaire em cima da pia, ela pegou uma toalha limpa de mão e passou pelo espelho para ver o estrago que o dia lhe causara. Ela quase gemeu em voz alta. Não era à toa que a adolescente a desconsiderou. Ela parecia horrível. Seus olhos estavam com círculos escuros e ela estava suada e despenteada, com fios esvoaçantes de seu cabelo presos ao redor de seu rosto e saindo do que uma vez fora sua trança. Isso também explicava o olhar de dúvida de Marisol. Ela parecia o tipo de mulher que sempre aparentava seu melhor, mesmo se tivesse acabado de sair de um galão de leite. Um olhar para Lana e ela provavelmente decidiu que, guarda-costas ou não, Lana não era digna de seu precioso Vincent.
Lana sorriu para seu próprio reflexo, vaidosa o suficiente para sentir uma faísca de convencida satisfação de estar dormindo junto com Vincent, pelo menos isso era o tanto que Marisol sabia.
Ela se endireitou e ligou a água quente. Se eles estavam prestes a jantar com Marisol, então ela teria que fazer algum esforço, pelo seu próprio orgulho se nada mais. Ela podia não gritar sensualidade da forma que a outra mulher fazia, mas também não era tão ruim. Vincent falou que ela era bonita, embora não acreditasse nele. Ela faria um esforço hoje à noite. Não por Marisol, e não por Vincent. Mas por si mesma. E por Gretchen.
O quarto estava vazio quando ela saiu do banheiro, e seu primeiro pensamento foi que se ela soubesse que Vincent iria sozinho, ela teria tomado a porra de um banho e se sentido o inferno de muito melhor. Tarde demais agora. Ela lavou seu rosto e braços, escovado os dentes e colocado desodorante. Isso, mais uma camisa limpa e uma calça Levis, ao invés de sua calça de combate, teria que servir. Ela também libertara seu cabelo pesado da longa trança e o escovou. Ela ainda estava refazendo a trança quando abriu a porta e encontrou Vincent sentado perfeitamente imóvel numa cadeira de madeira de um lado da trilha.
Era uma bela noite, um fato que ela perdeu enquanto atravessava o deserto no escuro Suburban. A lua crescente desaparecendo, sua luz prateada pintava o deserto com tons de preto e cinza. Tão longe das luzes da cidade, o céu estava perfeitamente claro, e havia muitas estrelas para se olhar. Era o tipo de noite que tentava alguém a encontrar algum lugar para se deitar e simplesmente observar o universo. Ela tremeu levemente, o ar frio depois de um banho quente. Não era frio o suficiente para usar casacos grossos, mas havia frio suficiente para ela estar grata por ter colocado uma regata por baixo da sua camiseta de mangas longas e jaqueta de combate. Vincent observou enquanto ela se aproximava dele, a trança por sobre seu ombro enquanto ela terminou de amarrá-la com um elástico nada sexy.
— Você alguma vez usa seu cabelo solto? — ele perguntou sua profunda voz uma carícia inesperada de veludo ao luar.
Ela sentiu um estranho aperto em seu peito com a pergunta, implicando que ele conscientemente pensava nela como uma mulher, e não só como uma caçadora de recompensas.
— Não quando estou trabalhando, — ela lhe falou, cuidadosa para manter sua voz casual. — Ele fica no caminho.
Vincent a estudou por um momento, longo o suficiente para ela começar a se sentir desconfortável e tivesse que lutar contra o impulso de torcer a longa trança em suas mãos.
— Você alguma vez não está trabalhando, Lana?
— É claro. Quando estou em casa e tal.
— E tal, — ele repetiu com um leve sorriso. Ele esperou por um momento e então disse, — Bem, mesmo mulheres trabalhadoras precisam de comida. Você está pronta?
— Sim. Você tem a chave com você?
Ele se levantou, e então tirou a chave de seu bolso e estendeu para ela. Ainda estava quente do contato com o corpo dele, e ela estava mais uma vez tentada a perguntar sobre a temperatura corporal de vampiros. Mas algo sobre essa noite não convidava perguntas íntimas como essa. Ou talvez o oposto fosse verdade — a noite já estava de longe íntima demais e ela não queria ir lá. Ela foi trancar a porta, então voltou e ofereceu a chave de volta para ele.
— Você fica com ela, — ele disse. — Em um pouco mais de uma hora, você e essa porta serão as únicas coisas entre eu e a morte. Eu prefiro que você fique com a chave.
Lana piscou em surpresa enquanto digeria o que ele estava dizendo. Ela já sabia que ele dormiria durante as horas do dia, mas agora que o tempo os pressionava, isso a assustou um pouco.
Ela realmente seria a sua única linha de defesa.
— Não se preocupe querida, — ele disse, puxando a trança que ainda estava sobre seu peito. — Eu já fiquei com Marisol várias vezes ao longo dos anos. Estamos entre amigos.
— Quanto tempo faz? — ela perguntou de repente.
— Quanto tempo faz o quê?
— Desde que você ficou aqui, — ela disse, e então sentiu seu rosto se aquecer enquanto se apressava para explicar. — Eu só quis dizer que as coisas mudaram no México nos últimos anos. Lugares que uma vez foram seguros podem não serem mais.
— Você está certa. Mas Marisol tem boas conexões e, francamente, eu também tenho. As forças por trás da recente violência, o que seu governo chama de TCOs
— Organização Criminal Transnacional, — Lana falou, seu cérebro já conjurando conspirações entre os vampiros e os cartéis que controlava a maioria do México.
— Sim, exatamente. Eles apreciam o que você chamaria de acordo com a comunidade vampírica. Eles não tocam no que é nosso — pessoas e negócios — e nós não arrancamos os seus corações de seus corações.
Lana fez uma careta. — Você está brincando, certo?
— Nem um pouco, — ele assegurou.
— Então você faz negócios com narcotraficantes?
— Não eu pessoalmente, e nenhum dos meus também. Mas eu não posso me assegurar de todos os outros. Esse é o trabalho de Enrique.
Lana achou aquilo dificilmente tranquilizador. Mas já que não estava aqui para fazer negócios com Enrique e nem com Vincent, ela deixou passar. Quando esse trabalho acabasse ela iria voltar para o Arizona e provavelmente nunca mais veria Vincent novamente. Isso deveria fazê-la se sentir feliz, mas não fez. E já que ela não queria examinar o porquê. Ela também deixou isso passar.
— Se nós só temos uma hora até o nascer do sol, — ela disse mudando de assunto, — devemos ir logo.
— Certamente. — Ele gesticulou para o caminho curvo da trilha, e então começou a andar do lado dela. E quando eles chegaram no prédio abaixo que os separava da cantina principal, o doce som de uma guitarra chegou até eles.
— Esse é o guitarrista que você falou? — ela perguntou surpresa. — Ele ainda está tocando?
— O nome dele é Chencho, e essa é sua música, mas é uma gravação.
— Como você sabe?
— Ele nunca toca tão tarde. E também o som está frio demais. É um CD. Um LP soaria melhor.
— LP. Você quer dizer uma gravação de vinil de verdade? Eles eram arranhados e outras coisas. O som digital é mais limpo, é suposto ser quase perfeito.
— É, e algumas pessoas preferem isso. Mas arte é a expressão humana, e se há uma coisa que aprendi, é que humanos estão longe da perfeição.
— Mas vampiros não?
— São o quê? Perfeitos? Inferno, não. Perfeição é entediante, Lana. Perfeição é morta.
— Você sabe, você nunca respondeu a minha segunda pergunta, — ela disse pensativa, presa pela meditação filosófica dele sobre a condição humana.
— Qual era? — ele perguntou, embora ela estivesse certa de que ele se lembrasse.
— Qual a sua idade?
— Eu vou salvar isso para a nossa próxima jornada juntos, — ele lhe disse, dando um passo para frente e abrindo a porta da cantina com um galante gesto.
— Isso não vai acontecer até amanhã de noite, — ela lhe lembrou.
— Estou ciente, querida. Vamos jantar.
Lana já estava atravessando a porta aberta quando registrou suas palavras. — Você vai comer também? — ela perguntou surpresa.
— Vicentillo, mi amor! — Marisol apareceu como mágica da sala próxima, uma mão estendida em convite, a qual Vincent imediatamente segurou e trouxe para seus lábios para um rápido beijo.
Enquanto se endireitava, ele olhou bem para Lana e disse, — O jantar está servido.
CAPÍTULO SETE
Lana abriu a porta do banheiro depois do banho. O ar frio entrou correndo quando ela espiou a cama onde Vincent estava dormindo. Ou o que quer que fosse. Do que vocês chamam o sono durante o dia de um vampiro? Será que ele sonha? Talvez ela usasse uma de suas perguntas esta noite, para perguntar-lhe isso. Mas agora, estava mais preocupada com a determinação de que ele estava, de fato, verdadeiramente fora e que não estava indo testemunhar sua caminhada nua em seu quarto compartilhado.
Ela considerou levar sua roupa com ela para o banheiro, mas um, elas iriam se molhar no vapor do chuveiro, e dois, a ideia parecia um pouco antiquada demais, mesmo para ela.
O quarto estava escuro, com apenas uma lâmpada acesa em seu lado da cama. As cortinas foram puxadas apertadas sobre as janelas no quarto, mas a estreita janela no alto da parede do banheiro não foi coberta, e a luz solar escapou por uma fresta da porta aberta para lançar um raio estreito sobre a extremidade da cama.
Lana olhou para ela por um longo momento, então engasgou em horror e bateu a porta. Inclinando-se contra a porta fechada, ela tentou imaginar a cama com Vincent nela. Estava completamente coberto? A luz caía sobre ele diretamente? Certamente, ele teria grunhido de dor ou algo assim, não teria?
Droga.
De pé sobre o assento do vaso sanitário fechado, ela fez o seu melhor para cobrir a janela. Era um único painel, abrindo para baixo a partir do topo. Abriu-a o suficiente para tocar uma toalha lá, então a fechou, de modo que a maior parte da luz foi bloqueada.
Ela abriu a porta novamente, seu olhar fixo para o pé da cama onde a estreita faixa apareceu antes. Houve um pouco de luz a partir do topo da janela, mas não tocava a cama. Bom. Ela envolveu a toalha de forma mais segura em torno de seu peito e entrou no quarto, fechando a porta atrás dela. Um olhar sobre Vincent lhe disse que ele não estava se movendo. Ele estava deitado de bruços, dormindo, seu rosto ficou longe dela, ambos os braços dobrados sob um travesseiro e o lençol para baixo em torno de sua cintura.
— Não olhe, — ela sussurrou para si mesma, deliberadamente voltando seu olhar para longe. — Não olhe, não olhe, — ela repetiu, em seguida, pegou um flash de cor na pele dourada suave e se virou para olhar. Porra, mas ele era bonito. Todo costas largas e músculos elegantes. A cor que ela viu era a tatuagem de antes em seu bíceps esquerdo. Ela queria chegar mais perto para verificar o detalhe, mas não queria comer com os olhos. Na verdade, ela queria comer com os olhos, ela simplesmente não queria ser pega. Ele estava completamente nu sob essas cobertas. Ele tirou tudo bem na frente dela, com absolutamente nenhum sentido de modéstia, e caído na cama apenas momentos depois de terem retornado da cantina esta manhã.
Ela meio que esperava que o lugar estivesse vazio quando eles fossem jantar, mas a festa estava acontecendo tão selvagem como se fosse meia-noite, em vez de quase nascer do sol. No início, Lana pensou que Vincent chamou antes e, portanto, a grande festa. Mas a surpresa de Marisol ao vê-lo parecia genuína, então talvez eles festejavam assim todas as noites por aqui. Isso a fez se perguntar o que eles faziam com o resto do seu tempo. Então ela decidiu que não queria saber. Esta área foi o lar de um dos maiores cartéis de drogas, e Vincent disse que Marisol possuía conexões. Talvez seja a isso que ela era bem conectada.
Mas seja qual foi a razão para a folia tarde da noite, isso certamente se adequou bem às necessidades de Vincent. Todas as mulheres do lugar fizeram seu caminho até a mesa deles durante o curso da refeição - a refeição de Lana, isto é. Vincent não comia. Mas ele conseguiu cumprimentar cada única mulher da sala como se fossem a última mulher na terra - lisonjeando, beijando, acariciando. E ele desapareceu mais de uma vez, ostensivamente para dançar, mas não o suficiente de uma multidão para se perder. Ficou óbvio para Lana que Vincent e seus pares faziam mais do que dança, e eles fizeram isso em algum lugar da pista de dança. A única exceção a sensual ofensiva de charme de Vincent sobre uma jovem que não parecia muito mais velha do que dezesseis anos. Ele foi doce com ela, beijou sua mão num gesto cortês, e, em seguida, enviou-lhe no seu caminho com um sorriso.
Lana pensou que Marisol poderia estar com ciúmes de toda a atenção que Vincent estava recebendo dos outros. Mas ela parecia perversamente encantada, olhando com orgulho para Vincent toda vez que ele voltava de uma de suas pequenas excursões, como se ele tivesse dando-lhe um elogio ao sugar seus clientes e amigos. Lana não sabia exatamente o que era o seu relacionamento. Só sabia que toda vez que Vincent desapareceu com outra linda de cabelos escuros, ela se sentiu como uma idiota, sentada lá os assistindo ir embora. Mas então, ela era apenas um guarda-costas, certo?
Estando lá envolto em nada além de uma toalha, ela reviveu seu embaraço mais cedo e franziu o cenho para baixo na forma adormecida de Vincent. De repente, era mais fácil de tirar o olhar para longe de sua perfeição nua. Ela andou a passos largos para o seu lado da cama, onde sua mochila estava na luz amarela fraca da única lâmpada, e ficou completamente vestida, mesmo que seus únicos planos imediatos fossem para o sono. Ou então ela esperava. Ela não sabia se seria capaz de dormir com Vincent ao seu lado na cama, mesmo que estivesse completamente vestida. Mas ela precisava tentar, porque seus olhos estavam arenosos e seus músculos doíam com exaustão.
Ela vestiu uma roupa interior fresca – incluindo um sutiã, porque não havia nenhuma maneira que ela estava indo sem sutiã em torno da sedução andante que era Vincent- e, em seguida, vestiu sua roupa de viagem habitual uma Levis e uma camisa de mangas compridas. Ela vestiu meias, mas deixou suas botas de fora, e comprometida deixou as calças desabotoadas, embora a fechou até o meio do caminho. E deixou seu cabelo para baixo. Ela odiava ir dormir com ele trançado. Dava-lhe uma dor de cabeça e havia pouca coisa pior do que começar o dia com uma cabeça doendo.
Enfiando as roupas sujas no saco de roupa que sempre empacotava, ela voltou para a cama e contemplou seus arranjos de dormir. Vincent estava certo. Era uma grande cama. Mas ele era um cara muito grande, e um espaçoso. Ele começou em um lado da cama, mas se estendeu de forma que ele agora pegava bem mais do que a sua metade. E ele com certeza não era a imagem estereotipada de um vampiro em repouso, também. Ele deveria estar deitado de costas, coluna rígida, com as mãos cruzadas sobre o peito. Em vez disso, ele estava deitado de barriga para baixo, como se ele não ligasse, a colcha mal cobrindo os quadris, sua tatuagem brilhando dourada à luz do abajur amarelo.
De repente curiosa sobre a misteriosa tatuagem, ela olhou ao redor, como se esperasse encontrar alguém assistindo, então na ponta dos pés ao redor da cama, se agachou para estudá-lo mais de perto. Ela amaldiçoou, percebendo que não havia luz suficiente. Avançando um pouco, ela examinou o rosto de Vincent por sinais de consciência. Não encontrando nada, ela se estendia por cima dele e acendeu a luz do seu lado da cama, em seguida, voltou para o seu estudo sobre a tatuagem. Era uma estrela de quatro pontas em tons de dourado e marrom, com o rosto do deus Maia Sol em uma careta no meio de um círculo de contas e uma faixa verde estilizada de cada lado. Lana não levava consigo tatuagens, mas todos os caçadores de seu pai sim, e ela tinha uma boa ideia de como precisava de muito talento para criar algo tão bonito como isto. Ela estendeu a mão para traçar seu dedo sobre a imagem, em seguida, puxou de volta culpada.
Já era ruim o suficiente que ela estivesse cobiçando-o em seu sono. Não parecia justo tocá-lo, também. Embora, conhecendo Vincent mesmo tão pouco como fazia, ela duvidava que ele se importaria. Ela se levantou e apagou a luz, em seguida, retornou com determinação para o seu lado da cama. Vincent Kuxim era a própria imagem da beleza masculina e meio sexy. Inferno, muito sexy completamente a julgar pelo seu efeito sobre a população feminina da cantina.
E sorte, ela tem que dormir na mesma cama com ele. Foda-se, foda.
Agarrando o cobertor sobressalente – não havia nenhuma maneira que ela estava ficando debaixo das cobertas com ele enquanto ele estava nu – deitou-se atentamente, com cuidado para ficar na beira da cama. Ela agarrou o único travesseiro que deixado para ela, então endireitou o cobertor e fechou os olhos.
A última coisa que ela lembrava era que estava pensando que nunca cairia no sono.
VINCENT acordou enquanto últimos raios do sol ainda brilhavam sobre o horizonte e ficou imediatamente ciente de que alguém estava no quarto com ele. Não só no quarto, mas em sua cama. E ela estava dormindo.
Sentindo nenhuma ameaça, ele ainda permaneceu deitado por um longo momento, no entanto, como ele considerou esta ocorrência incomum. Vincent frequentemente compartilhou sua cama com as mulheres que se alimentou. O ato de tomar sangue era intensamente sexual e, desde que vampiros do sexo masculino foram abençoados com o tipo de resistência e poder de recuperação que mantiveram seus parceiros felizes, um encontro tipicamente resultava em uma grande quantidade de prazer mútuo. Ele não sabia sobre os vampiros do sexo feminino. Ele nunca teve relações sexuais com um e nunca pensou em perguntar.
Mas mesmo que compartilhasse sua cama durante a noite, ele nunca, como em nunca, compartilhou de sua cama durante o dia. Ele nunca confiou em qualquer um de seus parceiros humanos tão longe. Michael sabia isto, e foi por isso que ele estava tão surpreso que Vincent decidiu viajar sozinho com Lana Arnold. Geralmente, Vincent viajava com uma equipe de segurança que incluía guardas diurnos. E ele sempre dormia sozinho.
Neste caso, no entanto, o desejo de Vincent de sigilo, e endosso tácito de Rafael, o fez dar uma chance a Lana. Especialmente desde que ele sentiu nenhuma duplicidade nela, e, como um poderoso vampiro, ele definitivamente sabia. A maioria dos seres humanos eram mentirosos imperfeitos. Eles experimentam uma resposta física ao estresse de mentir, e um vampiro, mesmo com potência modesta poderia detectar essas respostas. Isso não era verdade nos sociopatas, mas Lana Arnold não era uma sociopata. Um vampiro não vivia mais de 150 anos entre os seres humanos, sem ser capaz de detectar os predadores entre eles, especialmente quando se era um predador consumado.
E esses pensamentos o trouxeram de volta para a mulher deitada ao lado dele, dormindo.
Com um sorriso lento, ele virou oh tão cuidadosamente, compreendendo intuitivamente que se Lana acordasse, ela estaria fora da cama em um flash. Ela provavelmente não intencionava dormir tanto, muito menos para chegar tão perto dele que ele podia sentir o calor do seu corpo ao longo de todo o comprimento do seu lado direito
Empurrando-se fora de seu estômago e para o lado esquerdo, ele se apoiou em um cotovelo e estudou-a na sala escura. Estava frio e ela estava coberta apenas por um cobertor fino, que foi provavelmente por isso que ela se moveu inconscientemente para tão perto dele, atraída por seu calor. Vampiros não são tão quentes como os seres humanos, mas eles não são tão frios quanto alguma ficção diria também. O mais sensato teria sido para ela subir sob o edredom com ele, mas ela ainda estava fingindo que não estava atraída por ele. Será que ela percebe o quanto ela deu optando por não dormir debaixo das cobertas com ele?
Ele deslizou com cuidado para mais perto. Lana estava deitada de lado de costas para ele, e ela estava completamente vestida. Ele revirou os olhos, mas não estava realmente surpreso. Ele ficou surpreso e encantado, ao descobrir que ela deixou seu cabelo livre dos limites de sua trança perpétua. Como ele suspeitava, era belo - um fluxo ondulado de seda preta cobrindo os ombros e costas. Incapaz de se conter, ele ergueu o braço e esfregou-o entre os dedos, encontrando tão suave e sensual como parecia. Ele imaginou todo aquele cabelo deslizando sobre seu corpo enquanto ela lambia seu caminho para baixo sobre sua barriga, enquanto o levava em sua boca... E seu membro instantaneamente ficou duro. Seus pensamentos decolaram, antecipando todas as maneiras que ele poderia levá-la, todos os lugares que ele podia sentir o gosto dela.
Ele congelou quando ela suspirou em seu sono, esperando para ver se ela acordaria. Girando a mecha de cabelo em torno de seu dedo, ele estava lá, indeciso se ele queria que ela acordasse ou não. Quando sua respiração acalmou no sono, ele sorriu e empurrou o edredom longe de si mesmo, de modo que a única coisa os separava era o lençol. E então ele lentamente curvou seu corpo ao redor dela até seu membro ainda duro foi pressionado contra a curva firme de sua bunda. Quando ela ainda não se mexeu, ele foi ainda mais longe, colocando seu braço em volta da cintura, liberando todo o peso dele lentamente até que seus dedos repousavam sobre a pele nua de seu estômago tenso na brecha entre a camiseta e seus jeans desabotoados. Baixando a cabeça, ele cobriu o rosto com a seda quente de seu cabelo e respirou profundamente, levando-se em seu perfume. Delicioso. Limpo, doce, feminino.
Mudanças nos músculos de Lana o avisaram um instante antes que ela acordasse com um puxão controlado. Ela continuou deitada, acordada e consciente, tentando fingir que ela não estava. Vincent limpou o sorriso do rosto e fechou os olhos, fingindo dormir, apertando os olhos abertos apenas o suficiente para ver através de seus cílios quando ela virou lentamente a cabeça para checá-lo. Seu corpo relaxou ao ver que ele ainda estava dormindo, e ela começou a mover-se lentamente, centímetro por centímetro, tentando livrar-se de seu abraço sem acordá-lo. Ou, então ela pensou.
Vincent teve que lutar para manter o sorriso de seu rosto, mas, eventualmente, Lana conseguiu fugir livre dele, continuando até que ela rolou para a direita fora da cama e em seus pés. Ela ficou lá estudando seu corpo seminu e, a seus olhos, dormindo, completo com a ereção que ela não podia ver sob o lençol, mas que tinha, sem dúvida, sentido contra sua bunda. Na verdade, ela ficou olhando o tempo suficiente que Vincent sentiu seu pau começando a endurecer ainda mais difícil, com força suficiente que ele podia senti-lo empurrando contra o tecido da coberta. Lana deve ter visto, também, porque ela deu uma sacudida culpada e empurrou o olhar para o rosto dele para ter certeza de que ele ainda estava dormindo. Vendo que ele estava, ou assim ela pensava, ela soltou um suspiro, em seguida, correu ao redor da cama e fora da vista.
Vincent não se moveu até que ouviu a porta do banheiro fechar e a água começar a correr na pia. Então ele rolou de costas e se esticou luxuosamente, enquanto envolvia com o punho seu pau dolorido. Ele pretendia ter Lana Arnold antes que isso terminasse. Ao ouvi-la aleatória em torno do banheiro, ele chamou de volta o pensamento de ter todo aquele cabelo sedoso fluindo sobre seu corpo, sua morna, boca molhada fechando sobre seu membro, seus dentes raspando suavemente enquanto ela chupava cada vez mais forte... Ele veio com um gemido engolido apenas alguns segundos antes de a porta do banheiro se abrir e Lana espiar.
— Boa noite, Lana, — ele disse agradavelmente, pulando para fora da cama e indo para o banheiro sem qualquer pretensão de cobrir-se.
Ela conseguiu controlar a maior parte de sua reação assustada e teve o cuidado de evitar escovar-se contra ele quando ele passou por ela para o banheiro. Mas Vincent sorriu de satisfação. Ela era difícil, mas ela o queria.
Ele tomou um banho rápido, apenas o suficiente para se lavar, mas se barbeou corretamente, cuidadosamente cortou em torno de sua barba e bigode. Ele escovou os dentes e bagunçou seu cabelo com os dedos, em seguida, sacudiu a maçaneta da porta ruidosamente para avisá-la.
— Eu estou saindo, Lana, — ele chamou, sem se preocupar em esconder o riso.
Mas quando ele abriu a porta, ela já havia saído. As cortinas foram puxadas para trás, a cama foi puxada para cima, e sua mochila sumiu. Ainda bem que estava com as chaves, ou ela provavelmente estaria a caminho de Pénjamo por agora. Ele franziu a testa, em seguida, rapidamente deu um tapinha nos bolsos de sua calça jeans para verificar que ela não levou as chaves enquanto ele dormia. Mas não, elas estavam lá. Ele deu um suspiro de alívio e começou a puxar suas roupas, planejando a noite à frente.
Ele se alimentou bem antes de se retirar esta manhã, por isso não havia necessidade de se alimentar antes de sair, embora a seleção na cantina fora deliciosa, mais do que ele poderia ter esperado. Marisol lamentavelmente disse-lhe que seu amante era novo e ela não queria se afastar, mas ela também entendeu necessidades de Vincent e não era uma mulher ciumenta, pelo menos, não onde ele estava preocupado. Ela fez com que muitas mulheres fossem para ele na cantina, a maioria delas disponíveis como parceiras sexuais, também, se isso tivesse sido a sua preferência. Mas ele ainda não considerava tomar qualquer uma delas. Teria sido de mau gosto de ter sexo com uma mulher quando viajava com outra, mesmo que ele e Lana não fossem amantes... ainda. Embora ele tenha toda a intenção de fazê-la sua amante antes da viagem acabar.
Ele colocou os pés em suas botas e amarrou-os, em seguida, puxou a jaqueta, jogou a última de suas coisas em sua mochila e, com um último olhar ao redor, deixou a casa de campo. Lana estava saindo da cantina quando ele caminhava em seu caminho para o estacionamento.
— Boa noite, Lana. Você conseguiu algum jantar? — Perguntou.
Ela assentiu com a cabeça. — Mais café da manhã do que jantar, mas sim. Foi bom. Esta é uma agenda estranha que você mantém vampiro.
— Não é como se eu tivesse uma escolha, — disse ele, dando de ombros. — Deixe-me colocar isso no SUV e dizer adeus a Marisol, então nós podemos sair daqui.
— A minha mochila já está ao lado do SUV, — ela disse a ele, parecendo um pouco irritada. — Eu não tenho as chaves para colocá-la dentro.
Ele poderia ter oferecido a ela, mas ainda não estava convencido de que ela não iria deixá-lo na poeira. Então, em vez disso, ele disse, — Eu vou cuidar dela e voltar.
Ela assentiu com a cabeça. — Marisol está lá dentro. Acho que ela está esperando por você.
Suas palavras eram bastante inofensivas, mas a atitude era muito mais reveladora. Ela estava muito curiosa sobre sua relação com Marisol. Talvez ele dissesse a ela sobre isso mais tarde se ela fosse boa para ele.
O pensamento o fez sorrir. Ela pegou seu sorriso e estreitou os olhos em crescente aborrecimento. Que só o fez sorrir mais duro.
— Eu vou esperar no SUV, — ela disse a ele. — Se está tudo bem com você.
— Você promete não fugir e deixar-me?
Lana revirou os olhos e estalou em voz alta. — Claro que não.
— Então você vai me deixar?
— Não! — Ela retrucou. — Eu prometo não deixar você, ok?
— Bom o suficiente. Então, aqui — Ele estendeu a mochila e as chaves. — Você pode levar minha mochila, e eu vou dizer adeus para Marisol. Podemos sair mais cedo desse jeito.
— Oh, alegria.
Vincent riu e mal conseguiu se impedir de dar tapinhas na bunda dela enquanto passava por ela para a cantina.
LANA olhou para fora de sua janela enquanto eles zumbiam pela estrada escura, mais uma vez, mas ela não estava olhando para a paisagem. Ela estava estudando o perfil de Vincent que estava refletido em sua janela. E ela estava lembrando a beleza masculina de seu corpo nu, seu corpo nu completamente excitado, se ela não estava enganada. Era possível que ele não tivesse estado completamente excitado, uma vez que estava dormindo. Mas ele estava mais do que ereto o suficiente para lembrá-la de que já se passou muito tempo desde que ela teve um amante, ereto o suficiente para fazê-la saber o que seria como ter relações sexuais com um vampiro. Era dito que eles eram ótimos amantes. Talvez tenha sido todos esses anos de prática. Ela não podia imaginar que a parte perfurante era muito divertida, embora nenhuma das mulheres de Vincent desaparecera com na noite passada. E Marisol era claramente uma fã.
— Eu poderia ter dormido no SUV se você tivesse necessidade de privacidade, você sabe, — disse ela, admitindo para si mesma que ela estava sondando.
Vincent atirou-lhe um cenho franzido. — Por que eu preciso de você para fazer isso?
— Eu sei que quando você se alimenta, envolve sexo. Se você queria o quarto para si mesmo, eu teria entendido.
— Eu não durmo com mulheres das quais eu me alimento.
Lana bufou em descrença educada. — Certo. É por isso que você dorme nu. — Maldição. Essa era a coisa errada a dizer.
Vincent sorriu. — Você estava me secando, Srta. Arnold?
— Eu não tenho necessidade de te secar, com você se pavoneando dessa forma.
— Eu não pavoneio.
— O inferno que não.
— Bem, de qualquer maneira, eu não durmo com meus parceiros. Nunca.
Ela franziu a testa. — Por que não?
— É uma questão de segurança. Você viu como é. Estou totalmente fora. Na verdade, você poderia ter me feito seu brinquedo enquanto eu dormia, e eu nunca teria sabido.
— Em seus sonhos, vampiro.
— Hmm, talvez. Você admitiu você estava cobiçando.
— Eu não admiti tal coisa. Além disso, se você é tão vulnerável, por que você me permitiu no quarto com você?
Vincent deu de ombros. — Porque Raphael confia em você.
— Raphael não me conhece mesmo. O trabalho veio de Cynthia Leighton.
— Confie em mim, querida, Leighton e Raphael são um e o mesmo. Você está aqui porque Raphael quer que você aqui.
— Ele não é um deus, você sabe.
— Não, não é um deus. Mas ele é um vampiro assustador.
Lana estudou-o no brilho das luzes do painel, em seguida, virou-se para olhar para a escuridão do lado de fora da janela da frente. Ela não sabia se gostava da ideia de ser manipulada por qualquer pessoa como essa, especialmente não um vampiro superpoderoso cujas habilidades ela não poderia esperar compreender.
— Você me deve uma resposta, — disse ela, abruptamente cansada de contemplar as coisas que não entendia.
— Uma resposta para o que? — Ele perguntou distraidamente.
Ela se virou para encará-lo. — Eu perguntei como e quando você se tornou um vampiro e você prometeu que terminaria a história essa noite.
Ele lançou o olhar em sua direção, segurando-a tempo suficiente para que ficasse um pouco nervosa. Eles estavam indo perto de 160 km/h. Concedido, eles pareciam ser o único veículo na estrada, mas ainda assim.
— Tudo bem, — disse ele abruptamente e olhou para frente mais uma vez. — Onde foi que paramos?
— Você e seu irmão acabaram de ser atacados. Você levou um tiro.
Algo muito parecido com tristeza tomou conta de expressão de Vincent e ele suspirou. — Esse foi o começo... e o fim.
CAPÍTULO OITO
Texas, 1876
VINCENT acordou com uma dor esmagadora. Cada comprimento de músculo, cada polegada de osso do seu corpo doía, e seu sangue parecia fogo.
— A dor vai desaparecer — disse uma voz de homem.
Vincent tentou responder, virar a cabeça para ver o orador, saltar para cima e se defender, mas os músculos não iriam cooperar. Ele estava deitado quase de costas, com a cabeça apoiada contra o que pareciam rochas. Havia um fogo queimando, embora não tivesse ideia se era o mesmo o qual ele e seu irmão estavam sentados ao serem emboscados.
Memórias do ataque deram uma nova urgência aos seus medos. John também fora baleado. Onde ele estava?
Vincent finalmente conseguiu virar a cabeça, quase cego pelas chamas brilhantes, tentando ver além da escuridão. Mas não foi capaz de encontrar quem falava.
— Onde está meu irmão? — Ele perguntou, chocado com o som áspero de sua própria voz.
— Ele estava gravemente ferido, — respondeu o estranho.
O coração de Vincent apertou enquanto ele lutava inutilmente. — Ele está morto? — Resmungou.
— Ele está se recuperando, como você, embora não tão rapidamente.
— Quem é você? Venha para perto de onde eu posso vê-lo.
Um homem de cabelos escuros apareceu. Ele era de estatura baixa, mas de boa aparência e em forma, mais velho do que Vincent uns dez anos ou mais. Parecia ser um homem de posses, suas roupas melhores do que a maioria, o rosto pálido e quase de aparência delicada, o cabelo e a barba limpos e bem cortados.
— Quem é você? — Perguntou Vincent novamente.
— Sou quem salvou sua vida. Então, me diga como você chegou a essas circunstâncias infelizes?
— Estávamos no nosso caminho de casa para Abilene quando esses homens nos atacaram.
— Abilene, — o estranho repetiu. — Isso é uma cidade de gado.
Vincent começou a assentir, então congelou quando o movimento fez sua cabeça explodir. Ele engoliu a náusea e disse, — Eu trabalho em um rancho no Texas.
— Você conhece os homens que atacaram você? Por que eles queriam que você morto?
— Não. Eu imagino que eles eram ladrões comuns, atrás de nossos cavalos e dinheiro.
— Possivelmente. Durma agora. Teremos muito o que discutir quando você acordar.
Vincent começou a protestar, ele não era uma criança para ser posto a ninar, mas antes que pudesse dizer uma única palavra, as suas pálpebras ficaram pesadas e a escuridão desceu.
A próxima vez que ele acordou, a dor havia sumido. Mais do que ir embora. Sentiu-se melhor do que estava desde que começou a trabalhar com gados semanas antes. Quanto tempo ele dormiu?
Ele se sentou e olhou ao redor. Era noite de novo, e o fogo ainda estava ardendo. Poderia ter sido o mesmo acampamento ou não. Um parecia praticamente o outro. Seu equipamento foi empilhado para a esquerda, com John próximo, mas... Ele não viu seu irmão.
— Boa noite, Vincent.
Ele virou-se, vendo quando o mesmo homem de cabelos escuros entrou na luz do fogo. Fez um grande esforço para se lembrar, mas não se lembrava de dar ao homem o seu nome.
— Você está se sentindo melhor? — Perguntou o homem.
Vincent estudou-o antes de responder. Quem era esse homem? Algum Bom Samaritano que decidiu ajudar dois irmãos? Isso era incomum o suficiente para que Vincent estivesse desconfiado do estrangeiro. Ele não se parecia com um padre ou um irmão, cujo trabalho era ajudar os infelizes. Por outro lado, ele não podia negar que o homem o havia ajudado, ido tão longe como permanecer nas proximidades enquanto Vincent recuperava seus sentidos.
— Estou melhor. Obrigado. Posso saber o seu nome?
— Eu sou Enrique Fernandez Del Solar.
— E como você sabe o meu nome, Sr. Del Solar?
— Eu sei muitas coisas, algumas das quais vocês vai aprender com o tempo.
Vincent ficou de pé, de repente consciente de que poderia fazê-lo. Ele não se limitou a se sentir melhor, ele estava completamente curado. Quanto tempo ele esteve fora? Ele passou a mão sobre o peito, empurrando de lado os restos sangrentos de sua camisa, e não encontrou nada, somente a pele brilhante, o pálido de uma cicatriz desaparecendo. Era como se tivesse levado um tiro a meses, em vez de... Ele abruptamente lembrou de levar um tiro, a dor aguda quando a bala atingiu seu peito. Inferno, ele deveria estar morto, não querendo saber como se curou tão rapidamente. Ele não deveria ter se curado em tudo!
O medo se apoderou dele, não para si, mas para John. Ele procurou pelo acampamento, olhando para a escuridão além do fogo, descobrindo que ele era capaz de ver muito mais do que devia.
— Onde está meu irmão? — Perguntou ele. — O que você fez para nós?
— Ah. Quanto ao que eu fiz para você, eu o transformei para sempre. O fiz melhor.
Vincent girou e atravessou o acampamento para confrontar Enrique. — O que significa isso? — Ele rosnou.
— Eu fiz de você um Vampiro, — disse Enrique, parecendo imperturbável pelo comportamento ameaçador de Vincent, embora Vincent fosse mais alto e mais musculoso do que ele era.
— Vampiro? — Vincent zombou. — Você está louco? Vampiros só existem nas histórias feitas para assustar as crianças malcomportadas.
Enrique sorriu placidamente. — Somos bastante reais, menino. E você é um de nós agora.
— Eu não acredito em você.
— Não? Tente isso.
Sem aviso, Enrique o cortou com uma faca, mais rápido do que Vincent poderia seguir, mais rápido do que teria pensado possível, cortando profundamente o bíceps de Vincent através de sua manga. Ele sangrou instantânea e profusamente, encharcando o tecido rasgado, mas então ele simplesmente... parou. O músculo e a pele estavam mudando sob seus olhos incrédulos, se recompondo junto com um calor escaldante que não era de todo desagradável. Ele rasgou os pedaços de pano à distância e passou a mão sobre a ferida quase curada. Foi dolorido, mas não mais do que isso.
Vincent engoliu em seco, seu coração batendo quando levantou os olhos para olhar para Enrique... Para o vampiro. Só de pensar tal palavra fez sentir-se tolo, mas também o assustou como nada antes. Ele foi transformado num monstro, uma criatura não natural que matou outros seres humanos e bebeu seu sangue para sobreviver.
— Oh, não seja tolo, — Enrique repreendeu-o, como se estivesse lendo seus pensamentos. — Você não precisa matar os humanos ao se alimentar. Na verdade, eu vou te ensinar a maneira de fazer o que é bastante agradável. Para ambos.
— Ambos? Você quer dizer, o meu irmão? Onde ele está?
— Ah. Receio... A transição é uma coisa desgastante. Muito difícil em um corpo. E o seu irmão estava gravemente ferido.
— Onde ele está? — Perguntou Vincent novamente enquanto uma sensação doente atravessava seu intestino.
— Ele não conseguiu, Vincent. Sinto muito. Ele está morto.
Vincent não disse nada. Ele não podia. Ele se afastou e entrou na escuridão além da fogueira. Ele precisava ficar sozinho com sua dor, e sua culpa. Seu irmão estava morto e foi culpa dele. Ele foi o único que insistiu que eles se juntassem a unidade de gado. John não queria ir, mas ele não queria Vincent sozinho. E agora ele estava morto. Ele nunca iria voltar e se tornar um veterinário para seu pai. E a sua mãe... ¡Dios mio! A mãe deles! Como ele poderia dizer a sua mãe que seu filho mais novo estava morto? Ela iria morrer de tristeza. E ela nunca iria perdoá-lo. Ele gemeu em voz alta, com as pernas cedendo debaixo dele quando caiu no chão do deserto frio. Lágrimas derramadas em uma inundação quando enterrou o rosto em seus braços. Melhor morrer do que enfrentar seus pais com esta perda terrível, com seu fracasso. A dor edificada nele até que pensou que iria rasgar o peito, até que a pressão foi tão grande que ele jogou a cabeça para trás e uivou.
— Eu sinto muito, Vincent — disse Enrique atrás dele.
Vincent pulou, girando para enfrentar o desconhecido, o homem que alegou não ser um homem em tudo. — Deixe-me morrer, — ele exigiu. — Eu quero morrer com o meu irmão.
O homem deu-lhe um olhar de pena. — Não seja tolo, rapaz. Você está sofrendo agora, mas em breve você vai ver isso pelo dom que é.
— Eu não pedi pelo seu presente, — sussurrou de volta para ele.
— Era a única maneira de salvar sua vida.
— Você deveria ter me deixado morrer com meu irmão.
Enrique estalou com impaciência. — Chega dessa loucura. Você vai me agradecer um dia, mas por agora, você deve simplesmente sobreviver. E isso significa encontrar um lugar para descansar antes do amanhecer. Venha.
— Onde está o corpo do meu irmão? Eu quero enterrá-lo.
— Se foi. Eu tentei salvá-lo, você sabe — acrescentou irritado. — Você deveria me agradecer.
Vincent apenas olhou para ele com desconfiança.
Enrique suspirou. — Quando um vampiro morre, ele vira pó. Seu irmão já era vampiro quando morreu. Não há nada para enterrar.
Vincent gemeu novamente. Isso poderia ficar pior? O que aconteceria com a alma de seu irmão? Será que Deus entenderia que não fora a escolha de John a ser feita?
— Venha, — Enrique estalou novamente. — O nascer-do-sol está quase aí.
— Nascer-do-sol? — Vincent repetiu entorpecido, sentindo-se como se estivesse em um sonho, um pesadelo.
— Sua primeira lição, menino. Você quer ser pó como o seu irmão? Fique aqui e espere o sol nascer. Se você quer viver, então venha comigo.
Sem se incomodar se Vincent seguiu-o ou não, Enrique voltou para a fogueira e começou a ajustar a sela sobre um cavalo marrom que Vincent nunca viu antes. Ele estava de pé placidamente ao lado de seu próprio cavalo castrado preto, mas o castanho de John estava longe de ser visto.
— O cavalo do meu irmão, — disse ele distraidamente, ainda tendo problemas para pensar direito.
— Os bandidos levaram. O seu correu, mas eu consegui recuperar para você. Estou saindo agora. Você pode seguir ou não.
Vincent assistiu em transe quando Enrique montou em seu cavalo e partiu para a noite. Ele podia ouvir o clap dos cascos do animal, o repique das fivelas tão claramente como se estivesse apenas a pés de distância. Ele pensou sobre o que o vampiro lhe disse, que a luz do sol queimaria-o ao pó se demorasse. E ele tentou encontrar a energia para se cuidar.
Será que ele queria morrer? Ou será que ele queria viver?
Ele olhou para a fogueira, como a que ele tinha tão recentemente compartilhado com seu irmão, John. Como eles riram sobre a unidade de gado, imaginando o futuro. Um futuro que os bandidos haviam roubado deles. Enrique não fez isso. Ele fez uma escolha para eles que ele não tinha o direito de fazer, mas ele não fez nada disso. Não, a culpa pertencia aos homens que os atacaram em primeiro lugar.
E nesse momento, Vincent decidiu. Ele viveria tempo suficiente para vingar a morte de seu irmão. Pelo menos esse tempo. E então ele decidiria o que viria depois.
México, dias atuais
— E você? — Perguntou Lana sombriamente. — Alguma vez você encontrou os homens que atacaram você?
— Eles já estavam mortos. Enrique os emboscou enquanto eles corriam do nosso acampamento e matou todos eles.
— Mas ele disse
— Sim. Ele disse que eles roubaram o cavalo de John e deixou-me supor que eles escaparam. Ele me queria vivo por suas próprias razões, então ele disse o que quer que pensou que iria funcionar.
— Ele é seu chefe?
— Em uma maneira de falar. Ele é o Senhor do México. Coisa completamente diferente.
— Você gosta dele?
— Odeio o filho da puta, para ser honesto. Mas ele é o cara no comando, então eu tento me dar bem.
Lana soltou uma risada aguda. — Você não parece um cara que se dá bem.
Vincent se virou e deu-lhe um sorriso torto que ampliou seus já elevados níveis de deslumbramento para algum lugar na estratosfera.
— Você está dizendo que eu não sou um jogador em equipe, Lana?
Ela encolheu os ombros. — Não, eu estou dizendo que você não me parece o tipo de cara que vai beijar a bunda para subir a escada corporativa.
O sorriso de Vincent desapareceu e seu rosto ficou duro, seus olhos frios. — Você não sabe muito sobre vampiros, se você acha que estou onde eu estou beijando bundas. Subi a escada corporativa por matar qualquer um que ficou no meu caminho.
— Hey, — Lana se opôs, fingindo que seu sangue não congelou em suas veias quando ele olhou para ela. — Eu disse que você não parece o tipo, lembra? Relaxe, cara durão.
A tensão na cabine reduziu alguns tons, e ela sentiu seu sangue começar a fluir novamente.
— Assunto delicado, — ele murmurou.
— Obviamente. — Uma mudança de assunto estava em ordem, Lana disse: — Então, o que o seu roteiro de viagens tem programado para nós esta noite? Onde vamos parar?
— Em algum lugar perto de Durango. Não tenho feito muitos negócios nessa área, por isso vamos ter que dar uma olhada.
— Sem Marisol esperando para cumprimentá-lo hoje à noite?
— Receio que não. Mas Durango é uma cidade grande. Eu prefiro não ir para a cidade em si, mas há pequenas comunidades dentro de alguns quilômetros. Apenas o suficiente para um motel, e uma cantina ou duas.
Ele deu um sorriso que dizia que ele sabia o que ela estava pensando. Mais uma vez, ela estava pensando que seria bom ter um quarto para si mesma a noite, imaginou que se ele realmente soubesse seus pensamentos, não estaria sorrindo assim. Quaisquer que sejam suas acomodações de motel, no entanto, ela duvidou que ele estaria sozinho. Enquanto a cidade fosse grande o suficiente, haveria uma abundância de mulheres esperando para recebê-lo com seus suprimentos de sangue... E suas camas. Não que ela se importasse de qualquer maneira. Se ele queria ser um homem vagabundo, era o seu negócio, não dela.
— Você quer que eu encontre um lugar com antecedência? — Ela perguntou.
— Procure se você quiser, mas não é necessário nesta época do ano.
Lana deu de ombros. Tudo bem por ela. Ela preferia achar um motel antes de se comprometer de qualquer maneira.
Seguiram em silêncio por um tempo, a atitude de Vincent visivelmente mais revigorante do que demonstrava. Ela, obviamente, o havia ofendido com a observação de puxa-saco, e talvez ela fez isso de propósito. Ela precisava de alguma distância emocional depois de ouvir a história sobre seu irmão morrendo. Ela não queria sentir simpatia por Vincent, não queria sentir algo diferente de uma profissional... cortesia. Sim, isso é o que era. Duas pessoas que fazem negócios juntos, e que iriam seguir caminhos separados no final.
— Será que Enrique vive em Hermosillo, também? — Ela perguntou, e imediatamente se questionou por que diabos ela disse alguma coisa. O que aconteceu com a ideia do silêncio cortês?
— Enrique vive onde ele quer. Ele tem lugares em todo o México.
— Incluindo Hermosillo? — Perguntou ela, empurrando o assunto agora, porque era tão óbvio que ele não queria falar no assunto.
Vincent olhou para ela brevemente, em seguida, disse — Ele não vai para Hermosillo há muito tempo, e é por isso que eu vivo lá.
— Então onde é que Enrique vive?
— Por que você quer saber?
— Só por curiosidade. Por quê? Você acha que eu estou indo atacar Enrique para derrubá-lo? — Ela riu, em seguida, teve uma ideia. — Espere, se eu matá-lo, eu seria sua chefe? Você não disse que é assim que se avança até as fileiras entre os vampiros?
Vincent não fingiu esconder seu desprezo pela ideia. — Sim, certo. Você duraria longos três minutos antes de um vampiro de verdade remover você do cargo
— Estraga-prazeres.
Ele bufou com desdém. — Você aprende a lidar com a realidade muito rapidamente quando se é um vampiro.
Lana pensou sobre isso, pensou sobre um jovem Vincent acordando para encontrar o seu mundo dilacerado.
— Doeu quando você se tornou um vampiro? — Ela perguntou-lhe em voz baixa.
— Eu não me lembro muito do processo real. Doeu como o inferno quando eu acordei pela primeira vez, embora.
— E sobre a primeira vez que você... Você sabe, bebeu sangue. Isso foi estranho?
Vincent atirou-lhe um olhar desconfiado. — O que há com as cinquenta perguntas? Você está escrevendo um livro ou algo assim?
— Apenas jogando conversa fora. Você não tem que falar sobre isso, se você não quiser.
— Bom. Eu acho que é a minha vez de qualquer maneira. Você me deve algumas respostas.
Ela acenou com a mão em um gesto de desprezo. — Pergunte a vontade.
— Quando você perdeu sua virgindade?
Lana engasgou e virou-se para olhar para ele, incrédula, o que só o fez rir. — Eu não estou dizendo, — ela disse.
— Ok, e quanto a isso? — Ele disse, ainda rindo. — Você tem namorado?
Lana analisou responder ou não. Se ela admitisse que não, ele iria tentar seduzi-la? Não porque ele estava atraído por ela necessariamente, mas simplesmente porque era isso que ele fazia. Por outro lado, se ela mentisse e dissesse que possuía um namorado, ele poderia considerá-la um desafio. Ela suspirou, desejando nunca ter concordado com este estúpido jogo de perguntas e respostas, em primeiro lugar. Teria sido melhor ler um livro.
— Sem namorado, — disse ela, finalmente.
— Nunca?
— Eu não disse isso, — ela retrucou. — Eu tive alguns. Não durou muito.
— Hmm.
— O que hmmm?
— Eu só estava pensando que deve ser difícil estar em um relacionamento quando você viaja a maior parte do tempo.
— Uh-huh.
— Qualquer um sério?
— Apenas um.
— Quem era ele?
— Alguém que acabou por ser um jogador, como todo o resto de vocês.
— Você tem uma opinião muito baixa da metade dos machos da espécie, querida.
Ela não disse nada, porque era verdade. Seguiram em silêncio por mais algum tempo, até que ele perguntou — Como você conhece Raphael?
— Não conheço. Eu te disse, eu lido com Cyn. Você provavelmente sabe que ela faz algum trabalho de investigação. Às vezes ela precisa checar alguém do meu lado do bosque, e ela me chama. É mais rápido, mas tenho a impressão de que Raphael gosta que ela fique mais perto de casa.
— Isso é um eufemismo. Vampiros são possessivos como uma questão de disciplina. Mas quando você considera a agressão extra e a territorialidade extras que um Lorde Vampiro tem, estou surpreso que ele não a está mantendo em um porão. Um porão muito bom, mas um porão, no entanto.
— Ela não me parece uma mulher que aceite algo assim.
— Eu acho que você está certa. Eu nunca a conheci, só vi ela do outro lado da sala. Sua reputação é bem sólida, no entanto.
— Eu gostaria de conhecê-la pessoalmente um dia. Nós só temos falado ao telefone.
— O que nos traz de volta para a tarefa em mãos. Por que Rafael quer que a gente encontre Xuan Ignacio?
— Você sabe tudo que eu sei. Perguntou a Enrique se ele conhece Xuan?
— Sem chance. Você sabe aquele instinto territorial que eu estava falando? Bem, vamos apenas dizer que Enrique não ficaria emocionado ao descobrir seu tenente está em uma missão para Raphael.
— Você é tenente de Enrique? Eu não sabia disso. Isso é alto na escala, não é?
— Só Enrique é maior.
— Então, se você acha que Enrique é um idiota, outros vampiros pensam que você também é?
Seu sorriso finalmente voltou quando ele disse, — Eu com certeza espero que não.
— Michael parece gostar de você.
— Michael é meu. Ele está praticamente obrigada a gostar de mim.
— Seu? Quer dizer que você o fez um vampiro?
— Eu fiz. Ele é meu único filho.
— Então ele tem que gostar de você? Mas você disse Enrique era seu Sire e você o odeia.
— Acho que sou melhor Sire que Enrique, — ele disse distraidamente, sua atenção em um indicador de quilometragem para o lado direito da estrada. — Acho que estamos quase lá. Verifique o GPS.
— Sim, senhor, — disse ela, atirando uma saudação.
— Por favor.
Lana sorriu quando ela verificou os dados imediatos sobre o GPS. — 16 km, — disse ela. — Quase lá. Você quer parar na periferia ou ir em frente?
— Nós vamos em frente e decidimos.
Trinta minutos mais tarde, Vincent estava segurando aberta uma frágil porta, para que Lana pudesse entrar no quarto para a noite.
— Não me diga, — disse ela, olhando para o edredom feio na cama king-size solitária. — Eles só tinham um quarto disponível.
— Não exatamente, — disse Vincent, abrindo caminho por ela para despejar sua mochila em uma cômoda que parecia como se pudesse entrar em colapso sob o peso. — Mas eles não têm quaisquer quartos conjugados, e você é supostamente minha guarda-costas.
— Nós somos parceiros, Vincent. Parceiros temporários. A coisa de guarda-costas era apenas uma história que você contou para Marisol, para que ela não achasse que você perdeu o seu toque mágico com as mulheres.
— Ouch! Assim, você não se importa se algum bandido ciumento me apunhalar no coração enquanto estou desamparado porque sua namorada falou comigo na cantina fugiu para o meu quarto?
— Talvez você deva evitar falar com mulheres estranhas, — ela sugeriu docemente.
— Mas a única mulher que eu conheço nesta cidade é você. Você está oferecendo?
Ela fez uma careta para ele. — Tudo bem, eu vou assistir você dormir.
Ele deu um sorriso devastador. Ele poderia pensar que ela era imune a seus encantos, na verdade, ela realmente esperava que ele pensasse isso, mas quando ele sorria daquele jeito? Seu estômago vibrou, sua boca ficou seca e partes ao sul estremeceram de desejo. Ela conseguiu manter tudo isso fora de sua expressão, no entanto.
Ela amassou o edredom e jogou-o em um canto, em seguida, deixou cair sua própria mochila sobre a cama. — Podemos comer alguma coisa agora?
— Claro que sim. Aquele lugar entre aqui e posto de gasolina parecia que estava se preparando para ficar aberto a noite toda.
— Estou surpreso que há qualquer lugar aberto até tão tarde.
— Vampiros não são as únicas criaturas que fazem o seu melhor trabalho à noite, querida. Especialmente no México.
O bar que Vincent notou era apenas um quarteirão de distância do motel, mas eles dirigiram de qualquer maneira. Na experiência de Lana, era sempre melhor ter suas próprias rodas ao alcance das mãos. O estacionamento estava repleto de velhos sedans americanos. Seu SUV se destacou como o proverbial polegar machucado.
— Você tem uma boa segurança nesta coisa? — Perguntou ela, enquanto saiam do carro e se dirigiam à frente do parque.
— Extremamente boa. As janelas são quase inquebráveis, os bloqueios são exclusivamente eletrônicos e há três alarmes separados. O último desliga o motor até que o código correto seja inserido.
Ela assentiu com a cabeça e repetiu, — Extremamente bom.
— Eu levo minha segurança a sério. É por isso que eu preciso de um guarda-costas pessoal.
— Isso está ficando velho, Vincent.
— Não somos todos?
— Você não está, aparentemente.
Eles viraram para o edifício quando a banda começou a tocar algo que soou como um cruzamento entre o country americano e o mexicano tradicional. Lana sabia com certeza que o estilo de música possuía um nome, mas não sabia qual era. Ela não costuma viajar tão ao interior do México. Fugitivos do sistema de justiça dos EUA tendiam a ficar perto de qualquer fronteira da costa do Pacífico, onde havia mais pessoas, e onde o Inglês era falado quase tão frequentemente quanto espanhol.
Ambos passaram pela primeira de duas grandes janelas abertas, de frente para o bar. Não havia nenhum vidro nas aberturas, apenas venezianas jogadas para trás, bloqueado o local. De dentro vinham sons de pessoas tendo um bom tempo e absorvendo uma grande quantidade de bebidas alcoólicas, mas o resto da rua parecia estar deserta. Isso a fez desconfortável. Se Vincent estivesse certo e o tipo de negócio realizado nesta cidade funcionava melhor na calada da noite, este bar era suscetível a conter um monte de pessoas que ela prefere não cruzar. Ela lembrou que, apesar de seus encantos flagrantes e formas de playboy, Vincent era provavelmente a pessoa mais mortal no bar. Mas ainda...
Ela franziu a testa e fez uma automática checagem, verificando suas armas e equipamentos.
— Meu telefone, — ela murmurou.
Vincent estava olhando para a multidão através da janela, e ela agarrou seu braço para chamar sua atenção.
— Eu deixei meu telefone no — As palavras dela desapareceram quando viu o olhar em seus olhos. Era um olhar que ela nunca viu em seu rosto antes, o olhar de um predador avaliando sua presa.
— Um, você vai para dentro, — ela disse a ele, soltando o braço e alisando a longa manga de sua camisa com cuidado. — Dê-me as chaves, e eu vou acompanhá-lo.
Ele tirou as chaves do bolso e segurou-as automaticamente para fora, mas então hesitou, virando os olhos para encontrar os dela em um longo olhar como se pesando sua lealdade.
— Vou pegar o meu telefone, — disse ela, impaciente. — Eu não vou a lugar nenhum.
Ele sorriu, mas faltava o charme habitual. E o olhar em seus olhos lhe disse que seus pensamentos já estavam longe. A fome do predador ultrapassou mais uma vez o vampiro calculista. Ele deixou cair as chaves em sua mão sem uma palavra e entrou pela porta da cantina.
Lana deixou escapar um suspiro. Segurando as chaves em sua mão esquerda, ela girou nos calcanhares e voltou em direção ao estacionamento. Levou apenas um minuto para abrir as fechaduras e pegar seu telefone. Ela observou de passagem que o SUV não emitiu um sinal sonoro em resposta ao comando remoto, mas ficou completamente em silêncio. Interessante. Ela acabava de fechar o veículo e estava prestes a voltar para a cantina quando um segundo SUV virou para entrar no estacionamento com pressa, pneus girando e chutando pelo cascalho.
Ela pisou instintivamente de volta para as sombras, deixando a maior parte do Suburban escondê-la enquanto observou os recém-chegados. Eles eram notáveis não só por causa de sua chegada cantando pneus, mas porque seu SUV era muito mais bonitos do que qualquer outro veículo no estacionamento, com exceção do que ela e Vincent estavam dirigindo. Isso por si só os fez suspeitos. Mas quando as portas se abriram e quatro homens corpulentos saíram, Lana sabia que ela não queria estar no caminho. Esses caras não estavam aqui para a festa. Eles não estavam rindo. Inferno, eles apenas conversavam entre si.
De repente, ela desejou que tivesse insistido que Vincent a acompanhasse de volta para o SUV. Porque o que quer que esses bandidos haviam planejado, não poderia ser bom. Em outras circunstâncias, ela teria subido no SUV e ido embora.
Mas Vincent estava naquele bar. E vampiro poderoso ou não, eles eram parceiros.
Lana checou suas armas mais uma vez. Ela estava com três facas que sempre carregava, além da Sig nove milímetros em um equipamento sob o ombro de sua jaqueta com balas de reposição no bolso de sua jaqueta. Ela pensou em voltar para o SUV para mais munição escondida no porta-luvas, mas decidiu que se chegasse a um tiroteio entre ela e esses quatro homens, para não mencionar todos os aliados que estariam no bar, mais munição não faria muita diferença. Restava apenas uma arma com ela, já que a Glock estava em sua mochila no motel. Ela não previu precisar dela para o que deveria ter sido uma viagem rápida para a cantina local.
Ela esperou até que os recém-chegados estavam fora de vista. Então, dizendo a si mesma que ia entrar no bar, pegar Vincent, e obter o inferno fora de lá, ela começou a atravessar o estacionamento.
A multidão era tão barulhenta quanto a alguns minutos mais cedo. Tentando ser sutil, ela escorregou pela porta aberta e encontrou um espaço ao longo da parede para o outro lado de uma das janelas onde não havia muita luz. Apesar de sua pele morena e cabelos pretos, sabia que se destacava como americana. Sua altura trabalhou contra ela, assim como seu vestuário, mas era mais do que isso. Foi a atitude que levaria mais de uma muda de roupa para esconder. Então ela enfiou-se nas sombras e procurou na multidão por Vincent. Tão grande quanto ele era, deveria estar escondido quase tanto quanto ela, mas ela descobriu cedo que as pessoas viam o que quer que Vincent queria que elas vissem.
Ela o encontrou afinal, na borda da pista de dança. Cercado por moradores, a maioria mulheres, atualmente com uma encantadora garota local que estava flertando descaradamente e provavelmente pensando que ela estava no controle. Mal sabia ela...
Vincent inclinou para sussurrar algo no ouvido da menina, e Lana teve certeza de que eles estavam indo para um canto escuro. Mas, de repente, apareceu uma outra mulher da multidão. Ela era mais velha do que a menina que estava conversando com Vincent, seu corpo e os movimentos mostravam uma confiança e maturidade que era dos anos a mais em relação a criança que ela estava prestes a suplantar. Ela também era incrivelmente atraente, com um corpo voluptuoso que chamou a atenção de todos os homens que se esfregavam em seu caminho através da multidão.
Vincent com certeza a notou, e assim fez a sua vítima inicial... er, doadora. A mulher mais velha foi até eles e sussurrou no ouvido da moça, correndo a mão para cima e para baixo do seu braço em um gesto calmo. Mas algo sobre a coisa toda não desceu bem para Lana. Especialmente quando a moça lançou um olhar a Vincent, e Lana viu os mesmos quatro homens que derraparam pelo estacionamento. Os homens maus, ela pensou novamente. E parecia que eles vigiavam Vincent.
Lana teve uma sensação de mal-estar no estômago. Ela havia acabado de se afastar da parede, com a intenção de arrastar Vincent para fora de lá a força se tivesse que fazer, quando a mulher bonita o puxou para a pista de dança. Vincent riu e descansou as mãos nos quadris voluptuosos enquanto seus braços foram ao redor de seu pescoço. A música diminuiu e eles começaram a dançar, a mulher nem mesmo tentou ser sutil quando esfregou seus seios contra o peito de Vicente, enquanto suas mãos acariciavam seus ombros, o pescoço...
O olhar de Lana afiou ao ver o perigo. Vincent pareceu perceber no mesmo momento, mas ambos foram muito tarde.
A mulher enfiou duas pequenas facas em suas mãos e cortou ambos os lados do pescoço de Vincent em um único movimento coordenado. Os olhos de Vincent eram chamas de cobre quando ele rugiu sua indignação e empurrou-a para longe, o movimento só serviu para cavar as facas mais profundamente quando ela voou para trás. Impulsionada pelo seu poder, tanto quanto sua fúria, a mulher voou pela pista de dança vazia e de repente caiu no palco, equipamentos caíram quando a banda correu para ele. Os clientes no bar estavam gritando, empurrando e abrindo caminho em direção à porta, alguns pularam através das janelas abertas em uma tentativa de escapar da carnificina.
Vincent caiu de joelhos, com as mãos sobre ambos os lados de seu pescoço em um esforço infrutífero para estancar o sangramento. Lana começou a avançar, e os olhos dele de repente levantaram para encontrar os dela com um olhar atento. Ele deu um aceno de cabeça em um minuto e ela parou. Ela franziu a testa e ele a olhou mais intensamente. Ele estava tentando lhe dizer alguma coisa. Mas o quê? Os quatro homens se afastaram do bar e foram na direção de Vincent. Ele estava embebido em seu próprio sangue, ajoelhando-se em uma piscina na pista de dança.
Por dentro, Lana estava gritando. O instinto lhe dizia para correr e ajudá-lo, para arrastá-lo para fora de lá, se fosse preciso. Mas a razão — e Vincent — lhe diziam outra coisa.
O sangramento já começara a diminuir no momento em que os quatro homens chegaram a ele, tornando-se, um gotejamento lento e pegajoso em vez de um jorro de pesadelo vermelho. Tão improvável quanto parecia, nem mesmo isso foi suficiente para matá-lo. E os quatro homens aparentemente sabiam disso. Eles claramente o queriam enfraquecido, não morto.
Agarraram Vicente e arrastaram-no para a porta, examinando a multidão enquanto atravessavam a pista de dança agora deserta. Lana se encolheu atrás de um grupo de três casais, dobrando os joelhos para se misturar melhor. Ela não sabia se os homens maus estavam procurando por ela, ou se eles sequer sabiam sobre ela. Mas se a vissem, eles saberiam que ela não pertencia ao local. E se eles a agarrassem, ela não teria nenhuma chance de chegar a Vincent antes que eles realizassem seus planos, e isso não seria bom.
Lana ficou para trás, até passar um tempo, ouvindo a conversa em torno dela, tentando descobrir o que pudesse sobre quem eram os homens e, mais importante, onde eles estavam levando Vincent. Ela pegou dicas de um acampamento fora da cidade, de um homem muito perigoso que ninguém nomeava, mas todo mundo falava. Sem surpresas aí. Esse era um território narco. O que ela não entendia era porque levaram Vincent. Ele disse a ela que os vampiros possuíam um acordo com os cartéis do México, então por que agarrá-lo?
Ela ouviu as conversas rápidas acontecendo ao seu redor, mas nenhuma dessas pessoas sabia nada sobre a situação de Vincent, nem se importavam. Com a ameaça ausente, eles estavam prontos para retomar a festa. Pessoas que fugiram para as ruas começaram a voltar para a boate. Alguém havia derramado o que parecia areia para gatos na pista de dança, para absorver o sangue de Vincent, e uma mulher mais velha estava agora diligentemente varrendo e esfregando, enquanto a banda recuperou seu equipamento e voltou a tocar. Até mesmo os barmans estavam a pleno vapor, a multidão crescia em torno do bar, as pessoas substituíram as bebidas derramadas. Enquanto isso, a mulher que atacou Vincent cambaleou sobre seus pés e estava saindo pela porta da frente.
Lana seguiu os movimentos vacilantes da mulher. Ela não podia lidar com quatro caras maus, mas uma cadela conivente? Poderia fazer. Ela escorregou ao longo da parede e arrastou a mulher para fora. Vincent fez algum dano quando a jogou para o outro lado da sala, mas nenhum dos bandidos permaneceram o suficiente para verificar se ela estava bem, e muito menos para escoltá-la em casa com segurança.
Lana observou-a tropeçar e cair de joelhos na calçada, em seguida, se agarrar à parede enquanto lutava para subir. Pegando seu ritmo, Lana tocou o braço da mulher.
— Você está bem? — Perguntou ela em espanhol. — Posso ajudá-la?
A mulher olhou para cima, viu quem estava falando, e forçou uma risada antes de responder em forte sotaque Inglês. — Você está com o bonitão? O vampiro?
— É o homem que tentou matar? — Perguntou Lana, fingindo não entender.
— Só o poder de Deus pode matar um como esse.
— Por que esses homens querem vê-lo morto?
— Eles não querem. — A mulher se apoiou pesadamente contra a parede, ofegante quando olhou para cima para encontrar os olhos de Lana. — Você deveria ir para casa, esquecê-lo. Ele é mau.
— Eu não posso, — Lana admitiu. — Eu jurei protegê-lo.
— Então você é uma tola, — a mulher sussurrou.
— Onde é que eles o levaram?
Ela riu de novo, tossindo com o esforço. — Você vai morrer se você for lá.
Lana deu de ombros. — Todos nós morremos, eventualmente.
— Você tem um carro? — A mulher sussurrou.
— Sim.
— Leve-me para casa, e eu lhe direi o que você quer saber.
Lana considerou a oferta da mulher. Obviamente, ela não poderia ser confiável. Mas não havia dúvida de que os homens a abandonaram, e, além disso, Lana não era tão fácil de se livrar.
— Tudo bem, — disse Lana. — Mas tente algo, e eu vou te matar.
A mulher deu um pequeno riso cínico, como se ela não acreditasse na ameaça, mas, em seguida, ela encontrou o olhar frio de Lana e sua risada morreu. Ela assentiu com a cabeça tristemente. — Eu só quero a minha cama. Eu me machuquei muito.
— Bom, — Lana murmurou, ajudando a mulher a ficar em pé. — Eu espero que o que quer que eles te pagaram tenha valido a pena.
Uma vez que elas estavam no SUV, a mulher — Lana considerou perguntar o nome, mas descobriu que ela não se importava, as levou para uma pequena casa independente a 3 km do bar. Estava limpa e arrumada, com flores em caixas sob os peitoris das janelas dianteiras e em panelas de barro ao longo da passarela. Era, provavelmente, muito bonita à luz do sol, se alguém desse a mínima. Lana não dava.
Ela estacionou na entrada, pegou as chaves e dirigiu ao redor da frente do SUV. Lana abriu a porta do passageiro e a mulher gemeu quando tentou sair. Tomando seu braço, Lana a retirou do banco e depois colocou-a no chão. Elas fizeram o caminho lento até a porta da frente, que a mulher abriu com um conjunto de chaves, que pegou de um bolso em sua saia.
Uma vez lá dentro, ela caiu exausta em uma cadeira estofada. — Você pode me arrumar um pouco de água? — Ela perguntou em uma voz que era principalmente um sussurro.
— Eu não estou aqui para cuidar de você, — disse Lana friamente. — Eu disse que a levaria para casa. Você está em casa. Agora diga-me onde o levaram.
— Água, — a mulher disse asperamente. — Por favor. Então, eu posso te dizer.
Lana estava mais irritada e mais impaciente a cada minuto. Ela ficou tentada a pegar a água e jogá-la no rosto da mulher tortuosa, mas isso não a tiraria daqui mais cedo. Então, ela abriu a geladeira, pegou uma das várias garrafas de água, e a entregou.
— Ok. Fale.
— Meu nome é Fidelia Reyes.
Lana apenas encarou. Ela não dava a mínima para o nome da cadela. E se ela pensasse que Lana era estúpida o suficiente para falar o seu próprio nome, ela estava louca, bem como fora de si.
— Você é uma tola, — Reyes murmurou.
— E você é uma mulher morta, se você não começar a falar.
Reyes deu de ombros, então engasgou com o movimento e se abraçou com ambos os braços. — Seu vampiro me machucou gravemente.
— Você tem sorte que ele não a matou. Fale. Quem te mandou atrás dele?
— La Mana, os narcos.
— Como eles sabiam que ele estaria aqui? Acabamos de chegar na cidade, e ninguém sabia que estávamos vindo para cá.
— O outro o reconheceu e disse ao patrón quem ele era, que ele era poderoso.
— O outro quem? De quem você está falando?
— O outro vampiro.
— Outro vampiro vive aqui? E ele trabalha para estes narcos?
Reyes assentiu. — Sí, sim. Mas ele não trabalha para eles. Eles são donos dele.
Lana franziu o cenho. Ela nunca ouviu falar de um vampiro sendo possuído por seres humanos. Isso não queria dizer que nunca aconteceu, mas Vincent não saberia sobre outro vampiro por perto? Ele era tenente de Enrique, que, segundo ele, significava que ele sabia quase tanto como o Lorde Vampiro. E Hermosillo era a sua casa. Certamente, ele teria ouvido falar sobre algo como isso acontecendo praticamente em seu próprio quintal? Algo definitivamente não estava bem aqui.
— Você disse que eles não querem vê-lo morto. Quais os planos deles para ele?
— Ele tem poder. Ele vai ser escravo, como o outro, mas melhor.
Lana encarou. Os caras do cartel local pensavam que poderiam fazer Vincent seu escravo? Isso não ia acabar bem.
— Então, onde posso encontrá-lo?
— Vá para casa, señorita. Esqueça-o.
Lana riu com desdém. — Não vai acontecer. Agora, diga-me onde eles estão.
Reyes suspirou e balançou a cabeça em um comentário óbvio sobre a sanidade de Lana. — Eles têm um acampamento, uma fazenda, fora da cidade. Não muito longe. Vá para o sul. Há uma grande rocha que se parece com um gigante que bateu com o martelo. E há uma estrada. Mas a fazenda tem uma parede ao redor dela e muitos guardas.
— Você já esteve lá?
— Muitas vezes, mas não vou
— Eu não quero sua companhia. — Ela cortou fora Reyes, antecipando seu protesto. — Eu quero saber em que lugar do acampamento eles estão propensos a mantê-lo, qual prédio?
— Eles farão com ele como com o outro. É um prédio pequeno, um barraco, no pátio onde não há sombra, apenas a luz solar. Ele tem muitas janelas com persianas que podem abrir e fechar. Se o vampiro é bom, eles fecham todas as janelas. Se ele é ruim, eles abrem e ele sofre com a luz do dia.
— Eles o queimam?
— É o castigo de Deus para o seu mal.
Lana revirou os olhos. — E quanto à noite? Eles não podem controlá-lo durante a noite.
— Eles fazem como eu fiz esta noite. Eles o sangram durante o dia e só o alimentam um pouco.
Lana pensou que fosse ficar doente. Isto é o que eles planejaram para Vincent? Ela bateu com o punho na parede, tentando pensar. Ela era apenas uma pessoa. Ela não podia assumir um acampamento inteiro de bandidos do cartel. Eles felizmente a chutariam e a deixariam apodrecer. E isso se eles não a estuprarem até a morte pela primeira vez. Mas ela não poderia abandonar Vincent. Ela pensou em chamar Michael como reforço, mas o tempo da sua chegada até aqui, poderia ser tarde demais.
— Existe um momento em que os guardas não estão prestando atenção? Eu não sei, como uma mudança de turno ou algo assim?
A mulher tentou rir, mas respirou de dor ao invés. — Esta não é uma maquila para ter sinos e relógios. Esqueça-o. Vá para casa.
— Eu não posso. Ele é.... um amigo.
— Você é uma tola, — disse ela novamente.
Lana abriu a boca para dizer, obrigado por nada, mas Reyes não havia terminado.
— Se você está decidida a morrer com ele, você deve agir agora, hoje. Há uma grande entrega e muitos dos sicários, os soldados, já se foram.
— Quando eles voltam?
Reyes deu de ombros. — Alguns talvez esta noite, mais tarde, muitos outros amanhã. Eles não me compartilharam tais detalhes.
— Tudo certo. O que mais você pode me dizer?
Reyes deu-lhe um olhar cansado, e Lana achava que ela chegou ao fim de sua cooperação, mas, em seguida, ela disse — Durante a sesta, só há um guarda na cabana e muito poucos no quintal.
— Onde está esse barraco?
— No pátio. É fácil de ver. Não há nada além de terra — sem jardins, sem árvores.
Lana balançou a cabeça, em seguida, girou nos calcanhares e se dirigiu para a porta da frente.
— Vá para casa, gringa. Você não pode salvá-lo. Ele é uma criatura do diabo.
Lana fez uma pausa com os dedos segurando a maçaneta da porta, sua mandíbula apertada. Ela disse a si mesma que não faria nenhum bem em ir para cima de Reyes, que sua energia seria melhor gasta planejando o resgate de Vincent. Mas então, por trás dela, ela ouviu o glug da garrafa de água quando Reyes tomou um gole, ouviu a mulher expirar profundamente, o som de uma pessoa relaxando depois de um dia duro. Forçando as palavras em torno da raiva que lhe apertava a garganta, Lana voltou-se para a mulher. — Vamos estar de volta. E se eu fosse você, eu não estaria aqui. Ele vai te matar. E eu não vou impedi-lo.
CAPÍTULO NOVE
A primeira parada de Lana foi no motel onde ela e Vincent fizeram o check in antes de ir para a cantina. Não havia como dizer onde este outro vampiro — o que Reyes dizia ser escravizado pelo chefe local da narco — vira e reconhecera Vincent. Poderia ter sido no posto de gasolina quando eles chegaram a cidade, ou no motel, ou inferno, em qualquer lugar. Não havia nenhuma maneira de saber com certeza, e ela não queria deixar suas coisas no motel. Especialmente desde que não sabia o que o dia do resgate traria. Se Vincent estivesse fraco ou ferido, poderia precisar de um lugar seguro para esconder-se por algumas horas. Teria sido melhor se ela pudesse acompanhar e encontrar Vincent hoje à noite, quando ele, pelo menos teoricamente, poderia ajudar em seu próprio resgate. Teoricamente, porque ele não estava parecendo muito saudável quando eles o arrastaram para fora da cantina. E se Fidelia Reyes estivesse dizendo a verdade, eles com certeza não estariam dando-lhe o sangue para ajudá-lo a curar, também. Lana não podia deixar de se perguntar se os narcos sabiam exatamente quem eles possuíam em suas mãos. Sim, o vampiro informante havia dito a seus chefes que Vincent era poderoso, mas eles sabiam que ele praticamente se igualava a Enrique em poder?
Lana suspirou, pensando que todo esse poder não lhe faria qualquer bem se eles o mantivessem sedento de sangue, ou queimando ao sol. Ela esfregou o peito, tentando aliviar uma dor real em seu coração ao pensar em Vincent sendo torturado assim.
Quando ela chegou no motel, estacionou na vaga da bodega ao lado, estacionando na parte de trás onde havia pouco tráfego, a esta hora. O SUV de Vincent era muito chamativo, embora ela provavelmente ficaria feliz por toda blindagem a prova de balas quando o tirasse de sua prisão. Reyes disse que a siesta mais tarde hoje seria sua melhor chance, mas, obviamente, Lana não levaria isso a sério. O céu estava começando a clarear, mas ela ainda contava com uma hora antes do amanhecer. Ela iria de carro, assim pegou suas coisas, estacionou a alguma distância, em seguida, caminhou para alcançar o lugar por si mesma antes de decidir sobre um plano.
A pé pelo beco, ela se aproximou do motel na parte de trás, deslizando ao longo da parede exterior do edifício até que ela pode ver o estacionamento do motel e a rua em frente. De pé nas sombras da manhã, ela ficou perfeitamente imóvel por alguns minutos, seus olhos abertos para qualquer coisa fora do comum. Anos de caça a bandidos que não queriam ser encontrados a treinaram muito bem em detectar quando as coisas ou pessoas pareciam fora do lugar. Mas ela não viu nada parecido. Talvez o vampiro não lhes dissera sobre ela. Ou talvez ele não havia percebido que Vincent estava viajando com alguém.
Uma vez em seu quarto, ela pegou as poucas coisas que desempacotou e as empurrou de volta para a mochila. Deixou as luzes acesas, na esperança de que se alguém viesse procurando por ela, poderiam ser abrandados pela possibilidade de que ela ainda estivesse lá. Então, jogando ambos os sacos sobre os ombros, ela saiu do jeito que veio, pendurando a placa de — Não Perturbe — na porta pela primeira vez.
De volta ao SUV, jogou as duas mochilas na parte de trás e, seguindo as instruções de Reyes, foi ao sul da cidade. Não demorou muito para que encontrasse a formação rochosa onde ela deveria virar, viu as luzes brilhantes ainda queimando contra o nascer do sol e da alta parede do acampamento a distância. Ela não se virou, mas continuou dirigindo até que já não podia ver o acampamento, imaginando se não pudesse vê-los, eles não poderiam vê-la também. Então, aproveitando o material reforçado do SUV, ela saiu da estrada completamente e se dirigiu para o deserto de encontro ao acampamento. Ela dirigiu até que encontrou um aglomerado de rochas enormes amontoados sob uma pequena elevação, em seguida, fez uma volta de 180° e apoiada na tampa das rochas de modo que ela estava escondida da estrada, mas ainda poderia fazer uma fuga rápida quando encontrasse Vincent.
Ao desligar o motor, ouviu o ping de metal quando ele esfriou, e recostou-se, percebendo abruptamente que o assento era muito para trás. Ela era alta, mas o assento foi ajustado para a altura de Vincent e em toda a pressa e estresse da última hora, ela não se preocupou em alterar as configurações. Lágrimas inundaram seus olhos pela primeira vez desde que Vincent fora sequestrado. Ela sabia que era em parte exaustão, mas não podia desligar seu cérebro, não poderia deixar de ver a garganta de Vincent fatiada por Reyes, o sangue se derramando em uma inundação vermelha sobre seu peito enquanto seus olhos se encontraram do outro lado da sala. Ela respirou fundo e lutou contra as lágrimas. Essa foi a única coisa que a mantinha lutando, o olhar nos olhos de Vincent quando eles encontraram os dela, a certeza de que ela ficaria livre, que ela o encontraria e o deixaria livre.
Desligando as luzes interiores, ela saiu de trás do volante e se agachou ao lado do SUV longe da estrada. Era muito mais frio do lado de fora, o sol da manhã ainda muito fraco para fornecer o calor, mas ela precisava usar seu iPad e não queria flashes aleatórios para entregá-la. Felizmente, não havia cobertura de celular aqui no meio do deserto, provavelmente graças aos caras muito maus cujo acampamento ela estava tramando invadir.
Ela abriu o iPad e abriu os mapas do Google, rapidamente localizando a cidade, em seguida, expandiu para fora até que ela avistou o acampamento dos narcos. Ela sorriu, pensando que, enquanto os senhores das drogas eram poderosos, eles não eram mais poderosos do que o Google. Nem tinham o tipo de atração que poderia desfocar a imagem do acampamento do mapa. Ela possuía uma visão de águia do pátio, o que não era nada além de terra, assim como aquela cadela Reyes disse.
O acampamento em si era composto por vários edifícios, incluindo alguns que foram separados da hacienda principal, mas era óbvio que um era o barraco onde Reyes assumiu que manteriam Vincent. Lana estudou o layout e teve um único pensamento. Não era bom. Ela teria que passar por cima do muro, atravessar uns bons 9 metros de largura de terreno aberto, desativar o guarda um, se Reyes pudesse ser confiável, — o que ela já provou que não poderia ser — e de alguma forma tirar um Vincent enfraquecido de lá.
Mas então, os planos chegaram a um impasse. Ela não poderia tirá-lo para fora de lá à luz do dia! Porra. Vincent seria um peso morto e ele era muito pesado para ela carregá-lo para longe. Mas, mesmo que de alguma forma conseguisse levá-lo, a luz solar iria matá-lo.
Droga, droga, droga.
Ela fechou os olhos e tentou pensar, mas estava tão cansada, porra. Seu cérebro não estava funcionando da maneira que costumava fazer. Então ela tentou outra tática, quebrando a operação para baixo em partes essenciais. Primeiro, ela precisava chegar lá. Franziu o cenho para o iPad e tentou aumentar o zoom no próprio barraco, querendo detalhes. Do que era o edifício construído? Havia um cadeado na porta? E, em caso afirmativo, ela poderia lidar com isso? Mas a resolução não era suficientemente boa e o ângulo não era certo de qualquer maneira. Ela podia ver algo que parecia as persianas que Reyes falou, porém, apenas confirmou o que já sabia, que era o prédio à direita.
E então ela pensou sobre o outro cara, o vampiro que deu informações a seu chefe do cartel sobre Vincent. Ele estava lá com Vincent? Ela com certeza esperava que não. Mas se estivesse... ela simplesmente teria que enfiar uma estaca nele. Afinal, ele traiu Vincent. Ela não devia nada a ele.
Mas eles o torturaram, uma pequena voz a lembrou. Eles o mantiveram escravizado. Ele era responsável por suas ações nessas condições? Ele era mesmo capaz de desafiar seus mestres?
Ela deixou cair o iPad sobre a pasta ao seu lado, em seguida, puxou os joelhos até o peito, e enterrou o rosto em seus braços. Isso tudo era demais. Ela não era algum tipo de super-herói em operações especiais, ela era uma caçadora de recompensas. Sim, com certeza, ela era um jogo justo, e era um gênio com uma faca. Mas ela não sabia muito sobre o planejamento de um assalto tático. Ela não poderia disparar em seu caminho fora de uma multidão sem obter um arranhão, ou saltar por cima até mesmo de um pequeno prédio.
Ela descansou a cabeça contra o metal quente do SUV e suspirou. Não, ela não era super-heroína, mas de alguma forma, ela descobriria uma maneira de resgatar Vincent. Porque sabia que se a situação se invertesse, ele faria o mesmo por ela.
— Tudo bem, — disse ela em voz alta, em seguida, continuou a conversa em sua cabeça, lembrando-se de que estava na clandestinidade. Primeiro, ela listou as coisas que a seu favor.
Um, eles não esperariam por ela, porque não sabiam sobre ela. Ela precisava que acreditar nisso. Se soubessem, teriam a levado do clube ou a rastreado depois.
Dois, ela estava com este SUV de primeira como veículo de fuga, à prova de balas e liso, e totalmente pronto para arrancar.
Três, ela possuía armas. Sua Sig nove milímetros, bem como a Glock e muita munição extra e, claro, suas facas. Não serviriam contra um exército, mas um guarda ou dois, ela poderia encarar. E então havia Vincent. Dada a forma como ele conseguiu jogar Reyes em frente ao bar, mesmo depois de ter sido cortado e cortado, ela imaginou que era a sua melhor arma. Mas valeria a pena verificar a mochila para ver se ele trazia alguma coisa escondida.
Lana piscou na realização súbita. Vincent era a sua melhor arma. Ela olhou para a encosta à sua frente, com os milhões e detalhes revelados à luz rosa de um novo dia. Ok, então ela invadiria durante a luz do dia, mas e se ela não saísse até depois do anoitecer? Se ela pudesse entrar no barraco sem ninguém vê-la, ela poderia estar lá quando Vincent acordasse e eles poderiam sair juntos. Claro, ele provavelmente precisaria... Porra. Ele precisaria de sangue, e de alguma forma, ela não achava que os traficantes de drogas agradáveis teriam deixado uma bolsa de sangue em uma bandeja para o seu jantar.
Ela teria que ser o seu jantar. Droga. Vincent riria até não poder mais sobre isso. Ele teria sorte se ela não o estacasse quando tudo isso chegasse ao fim.
Mas primeiro, ela precisava resgatá-lo.
LANA VERIFICOU o Google maps novamente, querendo confirmar sua posição em relação ao acampamento. Ela não estava muito preocupada com a caminhada. Ela era uma alpinista experiente, em boa forma, e suas botas de combate eram boas para caminhar a longas distâncias. Mas se ela e Vincent estavam lutando por suas vidas, ao sair, seria melhor se eles não tivessem de correr 1,5 Km ou mais através do deserto aberto para chegar ao seu veículo de fuga.
O terreno não era completamente plano nesta parte do México. A cordilheira de Sierra Madre corria paralela à costa entre o oceano e o interior, e os homens que estavam segurando Vincent construíram seu acampamento de modo que ele estava enfiado contra o sopé das montanhas. Ele provavelmente dava ao o pátio de trás da hacienda alguma sombra à tarde, e tendo a maior parte das colinas em suas costas provavelmente, dando aos bandidos uma falsa sensação de segurança. Lana olhou para aquelas colinas e viu um lugar conveniente para espionar o acampamento. Mas a maioria das pessoas que viviam por aqui estavam provavelmente ou com muito medo de fazer qualquer espionagem, ou trabalhavam para o cartel e, portanto, não estavam inclinados a fazê-lo.
Ela estudou o mapa até que estava confiante de que sabia onde seu veículo estava em relação ao acampamento, e havia mapeado uma trilha que a levaria lá. Ela sabia que a visão do Google deste local remoto não incluía o tipo de obstáculos terrestres que poderia atrapalhar um andarilho, mas serviria, pelo menos, para mantê-la indo na direção certa. Satisfeita de que se preparou como podia, ela subiu no banco de trás e se esticou. Realmente não esperava dormir, mas percebeu que poderia, pelo menos, fechar os olhos e encontrar seu interior Zen por algumas horas. Não que houvesse muita chance disso. Ela estava ansiosa para começar, impaciente para seu primeiro olhar real no acampamento, uma vez que não poderia planejar totalmente até que ela visse com o que estava lidando. Ela colocou o alarme do telefone por duas horas e fechou os olhos.
Vinte minutos mais tarde, ainda estava acordada. Aparentemente, não importava o cansaço. Seu cérebro se recusou a desligar. Então ao invés de dirigir-se louca contando ovelhas, desistiu. Na frente da escotilha de carga aberta, ela trocou suas Levi’s por calças pretas em estilo de combate, precisando dos bolsos extra para suprimentos, e substituiu a camisa de mangas compridas com uma que contava mangas curtas. Foi se aquecer antes da manhã terminar, e enquanto ela não poderia ir sem a jaqueta, a camisa, pelo menos, seria mais fresca. Uma pequena garrafa de água entrou em um dos bolsos da jaqueta. Era o mínimo que ela precisava, mas nada mais e ela precisava de uma mochila separada. A Sig entrou na bolsa do equipamento, os outros no bolso profundo em sua coxa. Seu kit de primeiros socorros compacto, bastante completo para toda a sua dimensão, entrou em seu outro bolso da coxa, juntamente com uma pequena lanterna. Sua Sig estava embainhada no coldre, com um silenciador compactado no bolso interno de seu casaco. Ela considerou tomar a Glock, mas decidiu que não. Ela só possuía muitos bolsos e, além disso, estava apostando para a discrição, não poder de fogo. Isso significava facas, e ela possuía muitas dessas. O estilete de nove polegadas entrou em sua bota, uma lâmina de seis polegadas em uma bainha em sua coxa, e as três polegadas em seu bolso. Mas enquanto ela não estava exatamente preparada nesta viagem para as operações de combate, ela era uma caçadora de recompensas. Metade de sua descrição do trabalho era a vigilância, e ela estava preparada para isso.
Ao descompactar um dos compartimentos internos de sua mochila, ela empurrou sua mão no interior da bolsa, com um aha em silêncio quando seus dedos tocaram seus binóculos. Compacto, mas incrivelmente poderoso, muito útil quando sentado fora de um apartamento esperando por um fugitivo se mostrar. Ao agarrá-los, os dedos fecharam em outra coisa, também. Algo que ela apenas vagamente reconheceu porque comprou ele há alguns meses por um capricho, no México, como uma questão de fato. Mas ela nunca usou. Era um auto-injetor cheio de morfina, semelhante a um EpiPen em forma, mas com o efeito completamente oposto. Na época, que ela o comprou, Lana estava em uma caça, onde o bandido era um cara grande e fora da média e nada feliz ao descobrir que ele não só estava sendo capturado, mas capturado por uma mulher. Ela contava um parceiro para esse trabalho, mas tão frequentemente quanto não, ela trabalhou sozinha. O episódio a fez pensar no que poderia ter acontecido se ela tivesse ido sozinha e o grandalhão decidido lutar. Então, quando ela viu o auto-injetor de morfina apenas alguns dias depois, ela não pensou duas vezes. Ela pegou três deles e empurrou um em sua mochila. Os outros dois ainda estavam armazenados em sua geladeira de volta em casa. Mas este seria útil de fato.
Levou cerca de quatro horas para subir o morro e fazer o seu caminho para o outro lado e ao redor para uma posição onde poderia ver o acampamento. Ela se moveu lentamente, com cuidado para evitar a colina, grata que o sol que se erguia atrás da colina e lançou-se na sombra. Quando encontrou uma boa posição, se acomodou para assistir. Trabalho de vigilância era tedioso e desgastante. Sentada em um só lugar, olhando para a mesma coisa por horas, pode parecer fácil, mas o tédio vem depois de um tempo, come sua concentração, fazendo seu corpo enrijecer os músculos enquanto exigia o movimento.
Havia um monte de atividade no acampamento, apesar da insistência de Fidelia Reyes que a maioria dos guardas foram embora. Lana identificou o barraco com bastante facilidade, embora, desde que era construído de blocos de concreto, ela não teria chamado assim. Para ela um barraco era algo frágil e feito de madeira.
Mas o único guarda armado que estava exatamente onde ele deveria estar, sentado em uma cadeira a apenas alguns pés da única porta — do barraco. — Um guarda-chuva em estilo pátio em um suporte de metal deu-lhe um círculo de proteção contra o sol, mas o ângulo do jeito que estava, seria cortado de sua linha de visão, também. Ela se perguntou por que eles possuíam um guarda de qualquer maneira, uma vez que os vampiros não estavam indo em qualquer lugar durante o dia. Mas então, ela assumiu que era a força do hábito. Se havia um prisioneiro, deveria haver um guarda, mesmo que o prisioneiro fosse um vampiro e, portanto, completamente imobilizado pela luz do sol.
Ou isso ou o guarda foi projetado para manter possíveis aliados, como Lana, para fora, em vez de manter os vampiros dentro.
Em qualquer caso, pelo menos, muitas das informações de Reyes foram precisas. Lana usou seus binóculos para fazer zoom e visualizar os detalhes do barraco, incluindo aquelas malditas venezianas. Até onde ela podia ver, as canaletas foram fechadas com força, por isso os captores de Vincent não decidiram torturá-lo ainda. Talvez eles esperavam convencê-lo a pensar como eles. Ou talvez eles realmente não entendiam a diferença entre seu atual escravo vampiro e um vampiro poderoso o suficiente para ser o segundo-em-comando de todo um território. Ela estava com a sensação de que eles descobririam antes que a aventura terminasse.
Ciente de que as persianas não eram ameaça, ela se concentrou na porta, ou, mais importante, na sua fechadura. Entre as muitas habilidades ilícitas que ela aprendeu com os caçadores de seu pai ao longo dos anos, abrir fechaduras foi uma delas. Os rapazes trataram-na como um animal de estimação inteligente, ou, mais caridosamente, um mascote, ensinando-lhe todos os tipos de truques. A maioria das fechaduras eram fáceis o suficiente para uma criança razoavelmente inteligente abrir, mas ela fez melhor que isso. Muito melhor. Seu pai pensou que suas habilidades em abrir fechaduras vieram do fato de que ela era uma mulher, que seus dedos eram mais delicados, e também mais sensíveis. Ela não sabia se isso era verdade, mas sabia que poderia abrir uma fechadura mais rápido do que qualquer um dos caras no escritório de seu pai.
O truque neste caso seria entrar dentro do barraco sem ninguém perceber que ela fizera isso. Se fosse um cadeado, ela estava sem sorte. Pode ser fácil passar pelo cadeado, mas seria impossível fazer a fechadura parecer aberta por dentro do barraco. Ela se moveu vários passos para a esquerda, tentando conseguir um ângulo melhor sobre o mecanismo de bloqueio. Ela ainda estava em movimento, agachada para a frente, quando houve um surto de atividade abaixo. Parando onde estava viu quando três SUVs apareceram em um dos edifícios de fora e foram até a entrada do edifício principal. O portão de ferro forjado foi aberto e duas crianças vieram correndo para fora da casa, seguidos, em um ritmo mais calmo por um casal que, obviamente, vestia-se para a igreja. A saia da mulher caia modestamente duas polegadas abaixo de seu joelho, e ela usava um casaco de lã que cobria os braços nus, enquanto uma mantilha de renda preta cobria metade de seu cabelo longo e escuro. O homem usava um terno claro, e os filhos, ambos meninos, usavam versões em miniatura de uma mesma coisa.
Lana franziu a testa, tentando lembrar que dia da semana era. Viajando durante toda a noite e dormindo durante todo o dia confundiu o calendário, mas ela chegou ao escritório de Vincent no domingo, o que fazia de hoje... Quarta-feira. Talvez o dia fosse um feriado religioso. México era principalmente católico, mas, apesar de ambos os pais sendo da mesma religião, Lana não frequentava qualquer religião.
O que quer que estivesse acontecendo lá embaixo, no entanto, era bom para ela. O homem prestes a sair com sua família era obviamente alguém importante, talvez até mesmo o grande chefe, porque ele estava levando um monte de guardas com ele. Dois foram no SUV que a família subiu, e outros seis empilhados nos veículos restantes. O guarda do barraco ficou ereto assim que a família apareceu, e ele ficou assim, em pé duro e reto, como em guarda, até que os SUVs saíram do acampamento e aceleraram pela estrada de terra, deixando uma nuvem de poeira atrás deles. Quase imediatamente, o guarda caiu para trás em sua cadeira, olhando mais aborrecido do que nunca.
O coração de Lana acelerou enquanto ela contemplava o que a partida do chefe significava. Esta poderia ser sua melhor chance de entrar dentro do barraco. Como o grande homem se fora, todo mundo relaxaria, especialmente o cara que guardava o barraco, que não ficou alerta para começar. Ele saberia que não havia chance de alguém tentar escapar. Mas ainda mais importante, havia agora menos oito guardas armados no acampamento.
Ela trocou seu foco para a parede em frente. Era pelo menos dez metros de altura e construído com o mesmo tipo de blocos usados para construir o barracão. Só que as paredes da barraca eram lisas, enquanto a parede do perímetro era pintada com uma sombra adequadamente agradável de amarelo pálido. Havia uma abundância de sulcos e buracos entre os blocos, se soubesse como fazer uso deles. Mas enquanto Lana era um alpinista passável, escalar o muro não era sua primeira escolha. Ela começou a procurar um atalho, algo que lhe daria impulso para cima do muro, para que ela não tivesse de subir a coisa toda. Ele não parecia bem. O melhor que podia esperar era uma pilha de pedras cobertas de musgo que nunca viu o sol. Elas seriam escorregadias como o inferno, mas estavam perto o suficiente da parede em um ponto que ela poderia usá-los como ponto de partida. Infelizmente, ainda teria que escalar o resto do caminho.
Ela suspirou, olhando para o morro e apertando os lábios com irritação. Droga Vincent. Por que não podia ter sido um idiota, alguém que ela poderia deixar para trás sem um pensamento? Ela começou a reembalar seu equipamento, prendendo-o para uma descida rápida, seguida de uma subida pela parede toda. Ela estava tão fodida. Ela provavelmente acabaria prisioneira de um cartel de drogas mexicano. Se tivesse sorte, eles a resgatariam de lá e de volta para seu pai. Se não... bem, ela não queria pensar sobre isso. Não quando ela estava prestes a lançar o que foi provavelmente a mais arriscada aventura de sua vida inteira.
Droga Vincent.
LANA ESCALOU para baixo no canto do acampamento, o que foi inesperadamente fácil. Ela se moveu lentamente, verificando cada ponto de apoio, porque ela não podia se dar ao luxo de deixar que algo tão evitável como um tornozelo torcido colocasse tudo em ruínas. Mas entre o terreno irregular, as sombras da manhã, e o matagal áspero crescia entre as pedras, não havia cobertura suficiente para que estivesse em perigo de ser rastreada, a menos que alguém estivesse olhando especificamente sua localização. Mas isso não parecia ser o caso. Havia guardas, mas seu foco estava claramente no portão principal e o deserto aberto com a rodovia para além dela.
Em pouco tempo, Lana se encontrou equilibrando-se sobre a superfície muito lisa e irregular das rochas que havia identificado de cima. Elas eram ainda mais curtas do que ela esperava, dando-lhe talvez dois pés de ajuda na parede dos dez totais. Esticando os braços para cima, ela poderia tocar o plano superior da parede, mas por muito pouco. Ela precisaria subir pelo menos mais dois pés, a fim de alavancar a si mesma para cima, e uma vez lá, ela teria que se mover rapidamente. Os guardas poderiam não estar prestando muita atenção, mas eles eram muito mais propensos a notá-la sentada em cima do muro do que rastejando para baixo da encosta.
Fechando seus vários bolsos, ela flexionou os dedos e começou a subir. Sua primeira tentativa foi malsucedida, conseguindo apenas mandá-la de volta para baixo para bater seu joelho dolorosamente nas rochas lisas. Ela curvou abaixo, esfregando o joelho e dizendo a si mesma que ia fazer isso. Isso porque Vincent estava lá e tão improvável quanto parecia, ele precisava dela. Ela esticou a perna para fora, colocando o pé no chão e dobrando o joelho experimentalmente. Doeu demais, e a sensação de aperto disse-lhe que, provavelmente, foi o inchaço, mas ainda se movia. Então, ela levantou-se sobre as rochas, e tentou novamente.
Ela enterrou os dedos nas rachaduras, suas botas deslizando sobre a superfície lisa. Eventualmente, conseguiu lançar um antebraço por cima. Não foi o suficiente para puxar-se mais, mas ela desligou os músculos esticando-os enquanto usava o pouco de alavancagem para diminuir o peso sobre as pernas. Finalmente, com uma manobra que era ao mesmo tempo estranha e dolorosa, ela teve ambos os braços por cima do muro, e ali pendurados por alguns minutos, esperando para ser descoberta, para ouvir os gritos e tiros que acabariam com sua vida.
Mas o clamor não veio. Ela receava que houvesse guardas que não tivesse visto, alguém entre o verde intenso do jardim ou sentado atrás de uma das chaminés no telhado. Quando ninguém reagiu, ela engoliu um grunhido de esforço e arrastou a metade superior de seu corpo todo o caminho, forçando rapidamente as pernas a seguir, e depois meio que caiu, meio que se jogou ao chão poeirento onde ela congelou. Ninguém soou um alarme, mas ela ainda permaneceu por alguns minutos, checando seus arredores. Não havia um portão de ferro para a sua direita, e ela podia ver os jardins na parte de trás da casa através de suas barras revestidas. Para a esquerda era um edifício sem janelas que ela achava que era uma garagem. Os SUVs que viu anteriormente vieram nessa direção, e combinava com o mapa mental que ela fez do lugar depois de estudar a imagem em seu iPad. Foi pura boa sorte, mas ela tropeçou em um excelente local. O pátio onde precisava ir era apenas ao virar a esquina, com o barraco cerca de 150 metros além disso. Ela poderia abraçar as sombras entre a garagem e a casa principal até chegar ao pátio, em seguida, usar o paisagismo perto da própria casa por vários estaleiros enquanto vinha por trás do guarda solitário.
Trabalhando o mais silenciosamente possível, ela reorganizou seus pensamentos, desempacotou os bolsos segurando atirador de morfina, e verificando tudo mais para ter certeza de que era seguro. Ela puxou a 9mm, recuperou o silenciador do bolso, e os montou. Ela estava sem planos de atirar em ninguém, mas se viesse para isso, ela não queria alertar o acampamento inteiro.
Com o Sig em uma das mãos, ela se levantou e começou a fazer o seu caminho ao longo da parede da garagem para o pátio. Uma vez que ela chegou lá, uma espiada mostrou que estava tão tranquila desde quando os SUVs partiram. O guarda estava caído na cadeira, sua metralhadora descansando em uma ampla barriga, um chapéu puxado para baixo sobre a testa. Se Lana fosse otimista, poderia ter pensado que ele estava dormindo. Se pudesse ter contado com isso, ela teria pulado a observação, caminhado diretamente por trás dele, e lhe dado uma injeção com a morfina auto injetor. Mas ela não estava muito otimista. Era muito parecido com pensamento positivo, o que poderia obter um caçador morto.
Então, ela se ateve a seu plano original, esgueirando ao longo da parede da casa principal, esquivando-se sob janelas com suas barras de ferro decorativas, deslizando atrás de arbustos, passando por cima de cactos, até que estava nervosamente perto do guarda. Ele estava sentado cerca de 30 metros para a esquerda e não mais de seis metros à sua frente.
Era isso. Ela puxou o auto injetor de seu bolso, segurando-o na mão esquerda quando removeu a tampa de plástico com os dentes, sentindo uma pontada de culpa ridícula quando ela deixou a tampa cair no chão. Com a 9mm em sua mão direita e o auto injetor na sua esquerda, ela se fortaleceu e deu um passo para longe da casa. Não havia tempo para dúvidas, sem espaço para hesitação. Sentindo-se como se houvesse um alvo em sua testa o tempo todo, caminhou diretamente atrás do guarda e empurrou o auto injetor contra o seu pescoço nu. Ele fez um assobio engraçado como um grunhido, empurrou uma vez como se estivesse tentando endireitar de seu desleixo, e em seguida, caiu para frente.
Lana considerou o que aconteceria quando o guarda acordasse de seu sono drogado. Será que ele se lembraria de alguém o batendo por trás? Ou será que ele simplesmente assumiria que adormecera e seria grato por ninguém ter notado? Ela não tinha ideia de quanto tempo os efeitos da morfina durariam. Mas de qualquer forma, ela estaria presa dentro do barraco com Vincent até lá, e seria muito tarde para mudar seu plano. Esperemos que, se o guarda ativasse um alarme, ninguém pensaria ou mesmo sequer olharia para dentro da cela dos vampiros.
Todos esses pensamentos passaram pela sua cabeça enquanto ela correu para o barraco e se agachou para obter sua primeira boa olhada na fechadura. Só que não havia uma. Ela desperdiçou um minuto inteiro olhando incrédula, então fitou cada polegada da porta, procurando armadilhas. Quando não encontrou qualquer uma, ela percebeu que fazia sentido. Não houve necessidade de um bloqueio durante o dia porque os vampiros estavam dormindo, e à noite, até mesmo um vampiro ordinário seria forte o suficiente para rasgar a porta de suas dobradiças, assim um bloqueio seria inútil. Adicionando à alegação de Fidelia Reyes de que os narcos mantinham seu vampiro de estimação fraco e bem treinado, ele provavelmente estava tão condicionado a obediência que nunca teria considerado tentar escapar.
Vincent, por outro lado, era uma categoria totalmente diferente de vampiro, como seus captores estavam prestes a descobrir.
Ela abriu a porta lentamente, preocupada sobre deixar a luz solar no interior, mas como ela saiu, isso não importou. Vincent estava no outro extremo do barraco – extremo sendo um termo relativo – deitado abaixo da janela fechada. Sua altura dificultava para se esticar completamente, então ele estava descansando de lado, enrolado em uma posição fetal desconfortável. O outro vampiro estava literalmente amontoado em um canto, sentado com as pernas dobradas e contra o peito, seus braços firmemente em torno de seus joelhos e sua cabeça descansando em seus braços. Parecia ainda mais desconfortável do que a posição fetal de Vincent.
Lana abriu a porta silenciosamente. Estava quente e empoeirado dentro do pequeno edifício. Nem uma onda de ar fresco circulava e o chão não era nada além de terra batida. Ela não podia acreditar que o outro vampiro viveu dessa maneira por muitos anos. Lana se ajoelhou ao lado de Vincent, seu coração batendo, seus pulmões se esforçando por ar no intenso calor, o suor já começava a tomar conta da blusa por baixo da jaqueta.
Ele estava usando as mesmas roupas ensanguentadas que tivera na noite passada, e seu cabelo estava emaranhado e suado. Ela escovou os fios pesados da testa e congelou, pensando que havia sangue em seu cabelo, mas depois percebeu que o suor em si era um pouco rosa. Um dos efeitos secundários de consumir apenas sangue, aparentemente. Ele estava respirando lentamente, mas facilmente, e considerando a gravidade dos ferimentos sofridos ontem à noite, ele parecia muito bem. Ela viu o que a mulher, Reyes, havia feito com ele, viu o sangue jorrando de suas veias em um rio de vermelho. As feridas ainda estavam lá em seu pescoço, mas já estavam cicatrizando. Se ele estivesse alimentado corretamente, eles poderiam já ter escapado por agora. Ela acariciou seus dedos suavemente sobre o tecido da cicatriz rosa escuro, em seguida, puxou a mão de volta, sentindo-se desconfortável abruptamente. Ela e Vincent eram amigos, não amantes. Ela não tinha o direito de tocá-lo assim.
Julgando a distância até a porta, ela reposicionou-o ligeiramente, de modo que suas pernas dessem mais espaço. Se alguém abrisse a porta, ela sempre poderia movê-lo. Mas então, se alguém abrisse a porta, eles dois estariam em um mundo de dor.
Tirando sua jaqueta, ela removeu as várias peças de equipamentos dos bolsos, colocando-os no chão, onde poderia chegar a eles na pressa. Dobrou a jaqueta sobre si e colocou sob a cabeça de Vincent. Ele poderia não estar ciente do que estava acontecendo, mas ela não podia suportar vê-lo deitado no chão.
Ela colocou mais uma vez a mão em seu peito – descansando a mão em seu coração, sentindo a batida lenta e constante — então se posicionou entre Vincent e a porta e encostou-se à parede de concreto com um suspiro. Agora que estava aqui, contava com horas a fio sem nada a fazer senão esperar. Ela nunca planejou esgueirar-se tão cedo. Era suposto ter sido durante a sesta à tarde, não logo depois do café. Mas excursão do chefe para a cidade foi uma oportunidade que não podia deixar passar. Ela olhou em volta e não viu nada além de sujeira e paredes de bloco. E isso era o que o outro vampiro possuía como — casa — todas as manhãs. Lana olhou-o com curiosidade. Era difícil julgar, com ele enrolado no canto assim, mas ele definitivamente parecia menor do que Vincent. Claro, Vincent era maior do que a maioria dos homens, vampiro ou não, por isso provavelmente não era uma comparação justa. Este outro vampiro parecia se igualar a sua altura e peso, o que fazia dele delgado para um homem. E ele parecia jovem. Vampiros todos pareciam jovens, em sua maior parte, mas desde que sua aparência refletia a idade em que eles foram transformados, havia variações entre eles. Esse cara não parecia mais velho do que dezoito ou vinte. E depois havia o fato de que ele estava encolhido em um canto como um rato assustado em vez de um vampiro que poderia tirar a espinha de um homem com facilidade. Isso por si só disse a ela mais do que queria saber sobre sua vida e como ele foi tratado. Ela não queria sentir pena dele. Afinal, ele levou Vincent a ser capturado e escravizado pelas mesmas pessoas que o atormentavam diariamente. Mas o próprio fato de que ele havia sido torturado, mesmo que apenas por sua prisão nesta caixa, a fez questionar sua culpa. Se ele já conheceu alguma outra coisa? Vampiros eram como patos? Será que eles imprimiam a figura de pai em qualquer um que os encontrasse primeiro? E se essa pessoa era alguém que iria trancá-lo em uma cela suja todos os dias, isso influenciaria quem você se tornaria?
Ela se perguntou se qualquer culpa do outro vampiro importaria para Vincent. Ele não parecia o tipo de cara que perdoava facilmente. Sua advertência a Fidelia Reyes não foi em tom de brincadeira. Ela não tinha nenhuma dúvida de que Vincent iria atrás da mulher, tão logo ele lidasse com seus captores atuais, o que seria em... Ela verificou o tempo em seu relógio esportivo e quase gemeu em voz alta. Ela ainda contava com pelo menos seis horas a percorrer antes do pôr do sol. Seis horas de sessão em um chão de terra no calor sufocante depois de uma noite sem dormir e nada para fazer. Ela não se enganaria em acreditar que não iria cochilar. Talvez se não estivesse tão quente, ela poderia ter conseguido. Mas entre o calor, o tédio, e a falta de sono... ela teve que assumir logicamente que seus olhos iriam fechar eventualmente.
Sabendo disso, ela manteve a 9mm com silenciador em sua mão direita. Se alguém abrisse a porta inesperadamente, ela queria uma reação rápida, tranquila. Ela não queria levantar o acampamento inteiro porque o guarda dormindo fora acordou com um bug no rabo para verificar os prisioneiros.
E então, tão preparada quanto ela imaginou que pudesse estar, ela recostou-se contra a parede ao lado de Vincent e esperou pôr do sol.
CAPÍTULO DEZ
VINCENT despertou com a memória perfeita, onde estava e o que havia acontecido. Permaneceu imóvel, os olhos fechados, respirando lentamente. Havia outros nas proximidades e ele precisava saber quem eles eram antes de se mostrar. Levou apenas alguns segundos para identificar... Lana? Que porra ela estava fazendo aqui? Ele avisou-a da melhor forma que podia a noite passada e pensou que ela tivesse captado o aviso. Ele a viu sumir na multidão. E se a tivessem pego de qualquer maneira?
Mas, mesmo sabendo que era Lana sentada próxima a ele, não se moveu. Havia outro vampiro aqui, alguém que ele não conhecia. Não havia nenhuma razão para ele, pessoalmente, estar familiarizado com todos os vampiros do México, embora, como o segundo em comando e Tenente de Enrique, ele conhecia mais do que a maioria. Mas este... Ele inalou o cheiro do outro vampiro pelas narinas. Vincent não sabia sua idade física, mas como um vampiro, ele era jovem, transformou-se a não mais de alguns anos atrás. E desde que se encontrava nesta prisão de baixa qualidade, provavelmente não era tão poderoso também.
Certo, Vincent estava na mesma prisão de baixa qualidade, e ele certamente era poderoso o suficiente. Porém foi capturado com subterfúgios. E, além disso, esta cela não o seguraria por muito mais tempo.
Ele também sabia que o outro vampiro não havia sido capturado da mesma maneira violenta que ele fora, não recentemente de qualquer maneira. O único cheiro forte de sangue – fora o atraente e prontamente disponível sangue de Lana – era o sangue que ensopava as roupas de Vincent que era seu próprio sangue.
Então, quem era esse cara? Enrique não criou quaisquer novos vampiros que Vincent soubesse, e ele possuía espiões perto de Enrique que relatavam a ele especificamente esse tipo de atividade. Então, havia um mestre no território de Enrique que estava criando novos vampiros sem a permissão do Lorde Mexicano? E, em caso afirmativo, por que esse mestre iria tão longe para raptar Vincent? O ataque furtivo da mulher no bar – a mulher que seria morta em breve – só funcionaria uma vez, e ninguém forte o suficiente para ser um vampiro mestre saberia que ele não conseguiria segurar Vincent. Quem quer que tivesse orquestrado o ataque ontem à noite queria ele capturado vivo. Se eles o quisessem morto, teriam atirado nele, para efeito muito maior.
Mas Vincent estava muito vivo, e precisava descobrir o cérebro por trás de sua captura estava planejando. Mesmo enfraquecido, Vincent ainda era páreo para quase qualquer um no México. Excetuando Enrique, é claro, embora em plena força, Vincent era páreo até mesmo para ele. A paridade na força foi parte da razão pela qual Vincent e Enrique não se davam bem. O Lorde Mexicano queria um poderoso tenente, mas não um que poderia vencê-lo em um desafio.
Mas Enrique não estava por trás do ataque de ontem à noite. Se ele quisesse Vincent fora do quadro, o teria matado diretamente, ou pelo menos tentado. Não havia nada sobre esta situação que fizesse sentido. Mas de todas essas coisas sem sentido, o único que realmente o preocupava era o fato de que Lana estava presa ao seu lado.
Ele abriu os olhos. Que lixo. Paredes de blocos e um chão de terra. Ele olhou ao redor, movendo apenas os olhos. Persianas com nada atrás delas, apenas o último suspiro da luz do dia. O sol já estava abaixo do horizonte ou Vincent não estaria acordado. O pouco de luz à esquerda foi simplesmente o brilho da luz solar sobre a curva da terra. Para a maioria dos vampiros, mesmo esse remanescente da luz solar teria os mantido dormindo, mas os vampiros mais poderosos, como Vincent, poderiam acordar assim que o próprio sol mergulhasse abaixo do horizonte. Ele ainda não conseguia andar na luz, mas ela não o mantinha deitado tão pouco.
Essas persianas, por outro lado, contavam uma história diferente. Foram concebidas para torturar vampiros. Viu algo como isso uma vez, mas foi há muito tempo, e não poderia trazer a memória em foco. Ele poderia, com um pouco de concentração, mas havia coisas mais importantes para se preocupar agora.
Lana estava sentada entre ele e a porta, com a cabeça contra a parede, com os olhos fechados, mas com a arma na mão. Seus braços estavam nus e ele percebeu que estava deitada em sua jaqueta. Ele sorriu. Ela o estava guardando e lhe dera o casaco como travesseiro. Ela se importava. Ele sabia que a conquistaria eventualmente. Embora pudesse pensar em uma centena de maneiras melhores para fazer isso.
O outro vampiro estava encolhido no canto oposto, para que pudesse ser o menor alvo possível, e Vincent experimentou uma onda de raiva crua pela forma como o vampiro fora tratado.
— Vincent? — O sussurro de Lana era tão suave que ele mal ouviu. Mas desviou o olhar para ela, em seguida, estendeu a mão e apertou-lhe o braço em um aviso de cuidado. Ela se inclinou para frente em direção ao seu rosto até que eles estavam face a face, a boca perto o suficiente para beijar. Ela segurou seu queixo com cuidado, seu polegar se movendo para trás e para frente sobre a barba. — Você está bem? — Perguntou ela.
Vincent lutou contra o desejo de se esfregar contra a mão dela como um gato. — Estou chegando lá, — ele disse a ela. — Conte-me o que aconteceu.
— Essa puta...
— Eu sei essa parte, querida. O que aconteceu depois?
— Eu desapareci no meio da multidão como você queria que ocorresse
Suas palavras soaram mais como uma pergunta e ele acenou com a cabeça para indicar que fez a coisa certa.
— Mas enquanto eu voltava ao SUV, vi a mulher que o esfaqueou praticamente rastejando pela rua. Você a jogou do outro lado da sala depois que ela o atacou.
— Eu me lembro disso também. Eu deveria tê-la matado.
— Há tempo para isso mais tarde. De qualquer forma, lhe dei uma carona para casa em troca de alguma informação sobre quem a mandou para atacá-lo. Ela praticamente admitiu que o cartel possui essa cidade inteira.
— É quase noite, Lana, — disse ele com urgência, querendo que ela acelerasse.
— Certo, desculpe. Enfim, ela me disse onde eles o estavam prendendo e o que eles queriam. Aquele cara lá — Ela apontou para o outro vampiro que ainda estava dormindo profundamente, o que só reafirmou a sua juventude. — é um vampiro, mas você provavelmente já sabia disso. Ele esteve com eles praticamente desde o primeiro dia. Ele acha que pertence a eles, como um escravo. E é assim que eles o tratam. Eles o mantêm aqui
— Eu percebi isso. O que eles querem de mim?
— Ele sabia quem era você, — disse ela, indicando o outro vampiro com um empurrão de sua cabeça. — Ele deve ter nos visto quando chegamos a cidade ou algo assim. Ele sabia que você era poderoso, e lhes disse sobre você. Eles acham que podem transformá-lo em escravo da mesma forma que fizeram com ele. Mas com você, eles têm muito mais poder em seu comando.
Vincent olhou para ela, piscando os olhos contra a poeira, sem palavras pela primeira vez. Os patrões, provavelmente o cartel local — uma regional de um maior cartel que forma uma organização — pensam, que com base em sua experiência com o novato lá, que eles poderiam escravizar Vincent?
— Tanto para não misturar os cartéis e os vampiros, — Lana murmurou. E ela tinha razão. Isso não deveria ter acontecido. Algo estava muito errado aqui.
Vincent começou a sentar-se, mas foi forçado a deitar-se quando sua cabeça girou vertiginosamente. Isso não era bom. Estava mais fraco do que esperava. Ele havia perdido sangue antes, mas nunca tanto, nem tão rápido. Um vampiro mais fraco estaria para baixo durante dias e, poderia muito bem ter morrido. Se a mulher cortasse as artérias, em vez das veias, Vincent estaria morto também. Havia restrições ao que a simbiose vampírica poderia fazer para manter seu hospedeiro vivo e bem em face a este tipo de trauma.
— Vincent? — Lana começou a sentar-se com ele e agora se inclinou, seus dedos uma vez mais suave e quente contra seu rosto. — Você está bem?
— Ainda tentando chegar lá. Eu perdi mais sangue do que eu pensava.
Ela olhou para ele, a testa franzida em preocupação, mordendo o lábio inferior de uma forma que fez seu pau duro. Ou, pelo menos, tão duro como poderia quando estava curto em alguns litros de sangue.
— Você precisa de sangue? — Ela sussurrou hesitante.
Vincent queria sorrir, mas ele sabia o quanto custou-lhe fazer a oferta. Ele agarrou seu pulso suavemente. — Eu odeio perguntar Lana
— Você não está pedindo. Eu estou me voluntariando, — ela disse a ele. — Eu não entrei neste buraco só para que morrêssemos aqui.
— Então, se você não se importar... — Ele disse suavemente.
— Você sabe... Isto não estaria acontecendo se você não tivesse a necessidade de seduzir cada mulher a meio metro de você, — ela murmurou quando deslizou para baixo ao lado dele novamente.
— Ciumenta? — Ele brincou, sabendo que ela estava nervosa e disfarçando com irritação.
Ela deu um suspiro feminino típico negando. — Como se. — Ela puxou o pescoço de sua camiseta e disse: — Como é que nós
Vincent poderia ter dito a ela que seu pulso serviria tão bem quanto seu pescoço... Mas ele não era um homem tão bom. Ele queria um gosto de Lana Arnold a partir do momento em que a conhecera. Ela não estava tão errada sobre ele seduzir todas as mulheres que conheceu, mas não era por isso que queria saboreá-la. Estava disposto a admitir que parte, era precisamente porque ela fora tão completamente imune ao seu charme. A emoção da perseguição e tudo isso. Ele era um predador, depois de tudo. Mas era mais do que apenas o instinto da caça. Ela era como estes pequenos astros autossuficiente, que viajam através da vida sozinhos, não deixando ninguém realmente tocá-los. Ela se preocupava com as pessoas, como seu pai e mãe, e os homens que chamava de tios. Mas ela se manteve distante. Era sobre a responsabilidade, mais sobre dever do que o amor.
Ele queria saber o que era ser amado por uma mulher, queria ser a chama que finalmente aquecesse o seu coração.
E, além disso, ela possuía um corpo assassino e o cabelo mais sedoso.
Ele rolou em um cotovelo, segurou seu quadril em uma mão e puxou-a debaixo dele. Os olhos dela se arregalaram de surpresa, e talvez, um toque de medo.
— Não tenha medo, querida, eu nunca a machucaria.
— Eu não tenho medo. Apenas faça.
Vincent sorriu. Não a proposta mais romântica que ele já recebeu, mas certamente entre as mais convidativas. Ele passou algumas mechas soltas de cabelo longe de seu pescoço, lamentando que os cabelos estivessem atados dentro sua trança habitual. A próxima vez que ele tomasse sua veia, seu cabelo cairia em cascatas ao redor dela como folhas de seda.
— Vincent? — Ela sussurrou, e lá estava o tremor mais ínfimo em sua voz.
— Lana?
— Algo errado?
— Nada. — Ele tocou a boca em seu pescoço e mordiscou a carne delicada. Para uma mulher tão difícil, ela tinha a pele muito macia. Sua língua deslizou entre seus dentes para uma lambida por mais tempo. Sua pele era salgada de suor, ligeiramente arenosa do chão sujo. Foi a coisa mais deliciosa que já experimentou. Ele revirou os olhos para cima e encontrou os olhos confusos de Lana. Suas bochechas estavam vermelhas, era quente, ela estava envergonhada, mas era mais do que isso. Seu coração estava acelerado e sua respiração tornou-se superficial. Ela estava animada com seu toque, com a perspectiva de sua mordida. E o cheiro fraco de sua excitação era ainda mais intoxicante do que o do sangue correndo sob seus lábios.
Ele sustentou seu olhar por um longo momento. Esqueça o chão sujo, o calor esmagador de sua pequena cela. Nesse momento, seu mundo desmoronou, era somente ele e Lana. Ela fez um som suave, flexionou os joelhos para que sua perna caísse entre as suas. Vincent gemeu, quase inundado por uma onda de fome, e não só de sangue. Ele queria transar com ela até que ela gritasse, se excitar com o gozo de seu orgasmo, e depois afundar suas presas em sua coxa enquanto ela resistia embaixo dele.
Ele freou sua luxúria com força brutal. Ele teria Lana Arnold em todos os sentidos que queria. Mas este não era o lugar. Por enquanto, ele iria se contentar com um gosto de seu sangue doce. Se tal coisa poderia se classificar como contentar. Ele abaixou a cabeça para seu pescoço, suas presas perfurando a pele dela e deslizando na suavidade de veludo de sua veia. Um suspiro escapou de seus lábios enquanto a euforia em sua saliva bateu sua corrente sanguínea, seguido por um gemido tranquilo enquanto ela estremeceu em seu abraço, fechou o joelho dobrado sobre sua coxa para segurá-la perto quando ela flexionou contra a ereção que estava se esforçando dolorosamente contra suas calças.
Vincent rosnou suave e baixo, suas presas ainda no fundo de sua veia, o néctar escuro do seu sangue escorrendo pelo seu pescoço, tão deliciosa, como ele sabia que seria.
LANA reprimiu um grito, seus dedos cavando em seus ombros enquanto ela se contorcia em agonia do orgasmo causado por sua mordida. Vincent levantou a cabeça, lambendo as duas pequenas feridas automaticamente, totalmente cativado pela visão diante dele. Levou toda força de vontade que possuía para se impedir de levá-la ali mesmo. Ela o teria deixado. Inferno, em seu estado atual, ela provavelmente teria implorado para transar com ela e para o inferno com o chão de terra ou os guardas do cartel à porta. Para o inferno com o vampiro estranho no canto...
Vincent desviou o olhar abruptamente e encontrou o outro vampiro não o olhando, mas para Lana. Vincent agiu mais rápido do que pensava possível, pulando para agachar-se de forma protetora entre Lana e o estrangeiro, rosnando um aviso suave, mesmo quando ele enviou uma lança estreita de energia que forçou o outro vampiro a olhar para ele e não Lana.
Os olhos assustados do vampiro mais jovem encontraram os de Vincent por um breve instante antes dele os abaixar numa pequena reverência. O vampiro estava apavorado. Inferno, vivendo assim, ele provavelmente passou a maior parte de suas horas de vigília aterrorizado, mas ele tinha uma razão particularmente boa para estar preocupado com Vincent. Porque esse pequeno bastardo era o único que traíra Vincent para os meninos do cartel local, os quais se definiram em sua tentativa de captura e escravização. E, sim, Vincent pensava em termos de tentativa porque, embora eles não soubessem ainda, o plano de seus captores estava prestes a explodir na cara deles de uma forma muito espetacular.
— Qual é seu nome, rapaz? — Ele perguntou, ainda bloqueando a visão do vampiro de Lana cujo orgasmo estava desaparecendo e lentamente sendo substituído por intenso constrangimento.
— Jerry Moreno, senhor, — o vampiro murmurou, ainda não encontrando o olhar de Vincent.
Vincent inclinou a cabeça curiosamente e no impulso mudando para Inglês. — Quem é seu mestre?
— Alessio Olivares Camarillo é meu mestre, senhor, — respondeu Moreno em perfeito inglês, sem sotaque, o que disse a Vincent sobre sua origem, mas não muito mais.
Vincent franziu a testa. — Eu não conheço nenhum vampiro com esse nome e, certamente, nenhum mestre. Não no México. Ele está nos EUA?
Jerry Moreno finalmente olhou para cima e deu a Vincent um olhar perplexo. — Señor Camarillo não é um vampiro, — ele disse, surpresa evidente em sua voz.
— Então ele não é seu mestre, — Vincent o despachou. — Eu não perguntei para quem trabalha, eu perguntei quem era o seu mestre.
Moreno pareceu visivelmente perturbado. — Perdoe-me, senhor. Eu quero responder a sua pergunta, mas eu não entendo.
— Quem criou você? — Vincent perguntou impaciente. — Quem te fez vampiro?
— Eu não sei. Ninguém nunca me disse.
Vincent encarou. Ele nunca se deparou com nada parecido com isso. A única maneira de que um vampiro não saberia quem era seu próprio Sire era se...
— Quantos anos você tem?
— Eu tinha vinte anos quando eu despertei como um vampiro. Isso foi há dois anos atrás, então... Eu acho que eu tenho vinte e dois.
— O que aconteceu antes disso? Você é americano, certo? Por que você estava no México?
— Sim, senhor, minha família está no Oregon. Eu estava no Exército. Tínhamos acabado de voltar de nossa segunda turnê no Afeganistão e um grupo de nós veio para o México em licença. E isso é tudo que eu lembro.
— Você não se lembra de conhecer alguém novo? De se ferir, talvez estar morrendo?
Moreno parecia chocado. — Não, senhor!
— E você esteve aqui com Camarillo o tempo todo?
— Sim senhor. Señor Camarillo foi o primeiro cara que eu vi quando eu despertei como um vampiro. Ele me disse que eu pertencia a ele, que ele era o meu Senhor, e me deu meu primeiro sangue.
— Não é o seu primeiro sangue, — Vincent murmurou para si mesmo. Algum mestre vampiro tomou esse garoto à beira da morte, alimentou-o com seu sangue, fez dele um vampiro, então, essencialmente, amarrou-o ao traficante humano. E se ele tivesse sido a pessoa que o matou? Ou teria ele o encontrado já morrendo? De qualquer maneira, ele transformou o garoto sem o seu consentimento.
Vincent pegou o menino esgueirando um olhar para Lana e estalou um chicote de poder para ele. — Se você quiser sobreviver os próximos dez minutos, menino, não olhe para ela, — ele rosnou. — Olhe para mim.
O medo estampado no olhar do garoto fez Vincent se sentir culpado, mas não tão culpado que estivesse deixando o bastardo babar em Lana.
— Você está bem, querida? — Ele perguntou por cima do ombro ao ouvi-la sentar-se atrás dele e começar a recolher suas armas.
— Tudo bem, — ela murmurou, parecendo envergonhada. — Não machuque o garoto.
— Ele não é um garoto. Ele é a porra de um vampiro que ajudou um grupo de seres humanos malditos a me capturar. Ou tentar.
— Tentar? — Ela repetiu, e ele ficou satisfeito ao ouvir o estalo de volta em sua voz. — Parece que eles conseguiram.
— Você não acredita nisso, — disse ele, confiante. — Você não estaria aqui se acreditasse.
— Bem, não machuque o garoto de qualquer maneira. Eles já o machucaram o suficiente.
Vincent lançou um olhar por cima do ombro em direção a ela. — Como você sabe?
— Da mesma forma que você, cara durão. Olhe para a forma como eles o tratam, mantendo-o nessa prisão de baixa qualidade, fazendo suar durante todo o dia ao sol. E você sabe que eles não estão alimentando-o corretamente, ou isso nunca funcionaria.
— Ele não tem muito poder, — Vincent informou a ela, mais do que um pouco chateado que ela estava defendendo o vampiro que poderia ter-lhe conseguido matar.
— Mas você tem, — ela lembrou a ele desnecessariamente. — Se eles fizeram isso com você, imagine o que eles fizeram para ele.
Ela tinha um ponto. Ele ainda se irritou, mas ela tinha um ponto. Ele conseguiu não revirar os olhos, mas queria.
— Tudo bem, — disse ele, voltando-se para o outro vampiro. Jerry, aperte a minha mão.
— Senhor?
— Agite minha maldita mão, menino. Eu quero saber o que você fez.
Moreno franziu a testa, mas estendeu a mão trêmula. Vincent agarrou-a com força, em seguida, olhou para cima e pegou o olhar do garoto. — Vamos dar um passeio pelo passado, Jerry.
Os olhos de Jerry se arregalaram e Vincent entrou em suas memórias. Este era seu talento. Cada vampiro poderoso tinha um, assim como todos os vampiros possuía alguma habilidade telepática. Mas os vampiros realmente poderosos sempre foram distinguidos por algo mais, um talento que era exclusivo para eles. E o talento de Vincent era a capacidade de mergulhar nas memórias de uma pessoa — humana ou vampiro, — ele não pareceu se importar. A primeira vez que isso aconteceu, pensou que era o único que estava sendo capturado, que era o outro vampiro com o poder. Mas rapidamente percebeu que ele estava no controle, que estava literalmente revivendo a vida do outro vampiro com ele, vendo detalhes que até mesmo o próprio vampiro não poderia ter recordado se ele tivesse sido convidado.
Vincent não sabia da onde as habilidades de um vampiro vinham. Magia, alguns vampiros insistiam. Ciência, outros zombavam, o reservatório inexplorado do cérebro humano trazido pelo simbionte vampiro. Desde que o próprio simbionte era praticamente um mistério, Vincent achava tudo possível. Ele tendia para o lado da ciência embora. Ele realmente não crê na magia.
Mas de onde quer que seu talento tenha vindo, provou ser muito útil. Ele se atrapalhou um pouco nas primeiras vezes em separar suas memórias daquelas em que ele habitava. Mas ele trabalhou ao longo do tempo, utilizando algumas dessas partes do cérebro, os tipos que a ciência insistia serem inexploradas. Ele pensou nisso como a construção de músculos que nunca teve que usar antes, da mesma forma que teria que exercitar e desenvolver músculos para lidar com um ferimento e a construção de novos músculos para apoiar os feridos.
Ele também descobriu um lado mais sombrio de seu talento, uma aplicação útil, mas cruel de sua habilidade única. Era algo que usou mais de uma vez em sua escalada até o poder para se tornar o segundo e tenente de Enrique. Sim, ele poderia guiar gentilmente uma pessoa para ver as coisas em suas próprias memórias que eles tenham esquecido. Mas havia uma correlação escura com a capacidade de forçar uma pessoa a ver coisas que ela preferia não ver, para prendê-los em um loop infinito de horror e perda até enlouquecerem, afundando em catatonia, tornando-se pouco melhor do que um vegetal, até eles morrerem de fome ou pior. Embora o — pior, — na opinião de Vincent, era ser mantido vivo por alguém que pensava que lhes estava fazendo um favor, enquanto você vivia uma existência atormentada dentro de sua própria mente.
Mas ele não tinha tais planos para o jovem Jerry Moreno. Ainda não de qualquer maneira. O destino de Moreno dependeria do que Vincent encontrasse.
Deixando de lado os pensamentos de culpa ou inocência de Moreno, Vincent bisbilhotou na cabeça do jovem vampiro. Ele viu as mais recentes memórias primeiro. Viu o garoto no mesmo posto de gasolina onde ele e Lana pararam no caminho para a cidade, querendo estar pronto para decolar na noite seguinte. Moreno acabava de sair da loja de conveniência enquanto Vincent olhava os números na bomba de gás. Lana estava sentada no SUV, e foi por isso que Moreno não a notou.
Vincent franziu a testa quando ele percebeu o que estava vendo. Moreno não simplesmente reconheceu Vincent como um poderoso vampiro, ele realmente conhecia Vincent pessoalmente. Como era possível que Moreno conhecesse Vincent, quando Vincent não sabia nada sobre a existência de Moreno?
A resposta precisava estar em algum lugar mais profundo no passado do jovem vampiro, e assim Vincent se aprofundou nas memórias. Ele cavou além das memórias recentes, folheou o chato, a um tanto violenta rotina da vida de Moreno como um executor para o cartel, acelerando todo o caminho de volta para a última memória que Jerry Moreno teve como um ser humano, os momentos finais de sua vida antes que alguém o transformasse em vampiro. E lá, Vincent encontrou o que começou a suspeitar, mas não queria acreditar. Porque o vampiro mestre que emboscou Jerry Moreno em uma rua escura em Cancun, e que o havia sangrado até secar e então o transformou sem ao menos um oi, não era outro senão o próprio Enrique.
Enrique era o Lorde do México. Ele poderia fazer tantos novos vampiros quanto quisesse. Vincent não estava surpreso que Enrique tivesse matado Moreno exclusivamente para esse efeito. Vincent não teria feito isso, mas não era tão incomum, especialmente entre os vampiros mais velhos. Mas a indignação era o que Enrique fez a seguir, algo que Vincent nunca ouviu falar antes. Alessio Camarillo estava lá com Enrique quando Moreno despertou em sua primeira noite como um vampiro. As primeiras palavras que Enrique falou para seu novo filho, palavras imbuídas com o poder que ele possuía como Sire de Moreno foi uma ordem para o jovem vampiro obedecer e proteger Camarillo. Ele disse-lhe que o barão da droga mexicano era seu mestre. E foi isso. Camarillo levou Moreno ao seu composto, e lá ele viveu desde então. Tratado como um cão, torturado quando fazia errado, recompensado com uma ração minúscula de sangue quando fazia bem. Nunca recebeu o sangue necessário, o suficiente para permitir-lhe pensar por si mesmo, porque isso poderia levá-lo a questionar sua existência.
E amaldiçoado Enrique por saber sobre isso o tempo todo.
Vincent deslizou lentamente para fora das memórias de Jerry Moreno, passo a passo, primorosamente cuidando para não causar qualquer lesão ou dor. O garoto havia sofrido o suficiente. Ele não precisava de Vincent zoando seu cérebro.
Vincent voltou a si entre um piscar de olhos. Voltou para o buraco de concreto que era a sufocante prisão de Jerry Moreno. Mas não por muito tempo.
— Lana? — Disse ele sem se virar.
— Eu estou aqui. Qual é o plano?
— Você trouxe uma arma?
— É claro. Eu tenho a minha Sig com balas extras. E minhas facas.
Vincent sorriu por cima do ombro. — Facas? Plural?
Ela encontrou seu olhar uniformemente e deu de ombros.
— Você tem um plano para sair daqui? — Perguntou a ela.
— Você é o grande vampiro mau. Pensei em deixar isso para você.
— Mulher esperta, — disse ele. — Aqui está o que vamos fazer. Vamos explodir a porta aberta e —
— Não está trancada, — Lana disse-lhe secamente.
— Nunca é trancada, — Moreno ofereceu, falando pela primeira vez desde que Vincent mexeu com suas memórias. — Quando eu acordo, vou para a cozinha para ser alimentado. E então eu reporto ao Señor Camarillo e faço o que ele me diz.
— Não esta noite, garoto, — Vincent rosnou. — Pode me emprestar uma faca, Lana?
Ela piscou surpresa, mas ofereceu de bom grado, entregando-lhe a faca com uma liberação de botão de pressão. Era pequena, mas realmente mortal nas mãos certas.
Vincent levou a lâmina e, mesmo sem hesitar, fez uma fenda vertical em seu antebraço esquerdo, começando em seu pulso e cortando pelo menos quatro polegadas. Em seguida, enfrentou Jerry Moreno diretamente.
— De joelhos, garoto, — disse ele, colocando energia suficiente em seu comando para que o garoto caísse imediatamente ao chão de joelhos. Vincent estendeu o braço sangrando e disse — Agora beba.
Moreno inclinou em direção a festa sangrenta, suas narinas dilatadas, seus dentes arreganhados. Mas ele não bebeu imediatamente. Foi uma prova da força de criação de Enrique sobre ele que, em vez disso, ele ergueu os olhos para Vincent com um olhar interrogativo.
— Senhor? — Ele conseguiu dizer.
— Você é um vampiro, menino. É hora de você aprender o que isso significa. Beba e seja meu, e vamos dar o fora deste lugar.
O desejo cru no olhar do garoto foi suficiente para quebrar mesmo um coração tão cansado como o de Vincent.
— Beba, Jerry, — disse ele suavemente. — Eu prometo que vou cuidar de você.
Uma única lágrima rosa rolou pelo rosto do jovem vampiro quando ele abaixou a boca para o pulso de Vincent e, finalmente, começou a sugar a recompensa de sangue que estava sendo oferecida. Vincent era um grande vampiro poderoso. Seu sangue era mais rico do que qualquer coisa que Moreno teria experimentado desde o seu primeiro e último gosto do sangue de Enrique quando foi transformado. Sua sucção foi hesitante no início, mas quanto mais tempo ele sugava, mais força desempenhava ao chupar, até que no final ele estava estalando os lábios e praticamente gemendo de prazer contra o braço de Vincent.
Vincent sorriu para seu prazer óbvio, mas eles tinham outras preocupações hoje à noite. Não faria a Moreno qualquer bem ser liberado da escravização de Enrique e Camarillo, a menos que Vincent e Lana conseguissem tirá-lo do acampamento e mantivessem-no longe o suficiente para que não pudesse voltar. O que significava que era necessário que Vincent mantivesse toda a força que o delicioso sangue de Lana lhe proporcionara.
Ele tocou o rosto de Moreno levemente e o vampiro levantou imediatamente a cabeça para olhar para Vincent com devoção absoluta.
— Jerry Moreno, — Vincent disse formalmente. — Você vem para mim de sua própria vontade e desejo?
— Eu faço, senhor, — Moreno sussurrou fervorosamente.
— E isso é o que você realmente deseja?
— Oh, sim, senhor.
— Então seja meu, — disse Vincent, omitindo a parte — beba e seja meu, — porque o garoto já bebera sua cota. Ou, pelo menos tanto quanto Vincent poderia lhe poupar dadas as atuais circunstâncias.
Levaria várias alimentações — de alguém que não Vincent, talvez uma linda jovem humana em algum bar na volta para casa — antes que Moreno estivesse em sua força plena.
O jovem vampiro caiu para trás, sentando-se em seus calcanhares, parecendo tão atordoado com tudo o que aconteceu quanto desacostumado pela riqueza do sangue bebido. Enquanto isso, Vincent olhou para o pulso em ruínas em desânimo. Ele vai se curar rapidamente, mas preferiria embrulhar ele
— Aqui, — disse Lana atrás dele. — Deixe-me limpar isso. Eu tenho algumas ataduras. Não muito. Eu não poderia trazer um kit de primeiros socorros, mas... — Ela pegou um compacto saco de nylon vermelho que abriu para revelar alguns pacotes fechados de compressas antissépticas, um par de gaze e uma bandagem achatada, juntamente com vários Band-Aids de vários tamanhos.
— Eu não acho que o Band-Aids vai fazer muita coisa sobre isso, — ela murmurou, abrindo uma das compressas e começando a lavar o sangue.
— Amanhã já vou estar curado, — Vincent disse a ela.
— Mas esta noite, você vai espalhar sangue por toda parte, então deixe-me comprimir.
— Sim, senhora.
Ela deixou escapar um suspiro de desgosto, mas estava sorrindo, e Vincent sabia que, em algum momento nas últimas doze horas ou mais, ele ganhou o seu afeto. Não obstante a sua mordida com orgasmo, ela não estava pronta para ir para a cama com ele ainda, mas ela gostava dele. Ela era leal a ele. Afinal de contas, arriscou a vida para entrar aqui e salvá-lo, não foi? Mas, enquanto a olhava limpar e enfaixar seu braço, ele tinha a sensação de que era sua bondade com Moreno, e sua raiva evidente na maneira com que Enrique usou e abusou dele, ganhando seu afeto. Lana não deixava ninguém chegar muito perto, mas ela se preocupava com o certo e o errado. E Vincent mostrou a ela que ele também o fazia. Ele havia superado o primeiro obstáculo com ela, mas agora precisava passar por essa última barreira. A que não permitia que ela se envolvesse com alguém porque a vida lhe mostrava que ao se importar poderia se decepcionar.
Vincent mostraria a ela de forma diferente. Era só uma questão de tempo.
Mas, falando de tempo, o deles estava correndo rapidamente. Camarillo enviaria alguém em breve para descobrir onde seu animal de estimação vampiro estava, e porque ele não apareceu na cozinha na programação.
Vincent esperou até que Lana terminasse de envolver seu braço, em seguida, pegou a mão dela. — Eu estou bem, querida, mas não posso assumir um exército sozinho. Então, nós vamos fazer uma corrida para fora daqui. Você sabe uma maneira tranquila de sair daqui?
Lana assentiu. — O SUV está a menos de meia milha de distância, estacionado atrás de uma colina ao leste daqui. Eu vim com ele esta manhã. Mas se você puder nos passar pelo portão, vai encurtar a distância que temos para chegar até lá.
— Correremos diretamente para o portão então. Eu posso
— Além disso, — acrescentou ela, interrompendo-o. — Fidelia Reyes — a mulher que o cortou — disse que a maioria dos guardas de Camarillo estariam fora. Há um grande carregamento de drogas ou algo assim. Eles estarão de volta hoje à noite, mas eles podem não ter chegado ainda. Eu não ouvi nada hoje que soou como um bando de guardas voltando, não é grande o ruído dos veículos que chegam. — Ela franziu a testa, em seguida, admitiu — Embora eu tenha dormido por algumas horas.
— Se houvesse alguma coisa, você provavelmente teria acordado, então vamos esperar pelo melhor. Vamos para o portão. Jerry e eu podemos nos mover muito mais rápido do que você, querida. Então, você vai ter que me deixar levá-la.
— Eu não vou!
— Lana, — disse ele pacientemente. — Eu não vou deixar você, e se nós viajarmos ao seu ritmo humano, todos morreremos. Você entende?
Sua boca se apertou e ela deu-lhe um olhar rebelde, mas, em seguida, assentiu. — Ok.
Vincent sorriu. — Eu terei cuidado, e eu não contarei a ninguém.
— Babaca, — ela murmurou. — Você quer uma arma?
— Não. Você as mantém. Só tente não atirar nem em mim nem em Jerry, ok?
Ela lhe deu um encolher de ombros, indicando um talvez.
Vincent piscou para ela, em seguida, virou-se para Moreno. — Você está pronto, Jerry? Você entende o plano?
— Sim, senhor, — respondeu com muito mais energia do que possuía anteriormente. — Eu sei o layout e as disposições de guarda. Haverá dois homens no portão, e outros que patrulham o acampamento. Lana está certa ao dizer que a maioria dos guardas se foram, mas os outros estão aqui. Eu posso correr rápido, senhor.
Vincent acenou com a aprovação. — Eu sei que você pode. Cuidarei de Lana. Você apenas nos acompanhe. Qualquer um que tentar nos parar, nós o tiramos do caminho. Você pode fazer isso?
— Sim senhor. Mas se posso sugerir, senhor?
— O que?
— A saída furtiva seria melhor. O cartel detém esta cidade e todo mundo está armado. Apenas um guarda estará esperando do lado de fora deste edifício por mim, e eu o conheço. Ele sabe que sou inofensivo, e ele provavelmente vai supor que você é também. Ele não vai esperar uma mulher, mas
— Eu posso cuidar de todos os guardas que encontrarmos. Eles não pensarão qualquer coisa que eu não queira que eles pensem, — disse Vincent com confiança.
— Se eles não esperam uma mulher, quem eu vou ser nesse pequeno cenário de vocês? — Perguntou Lana.
Vincent passou um braço em volta da cintura dela e puxou-a, trazendo-a perto o suficiente para beijar, se ela o deixasse. O olhar no rosto dela disse-lhe que era uma boa maneira de ser mordido, então ele simplesmente sorriu e disse — Você é o jantar, o que mais?
Lana revirou os olhos. — Não esqueça a arma.
Vincent riu e apertou seus braços por um momento antes de soltá-la em pé pela primeira vez. Ou, o mais próximo da posição vertical quanto podia no recinto apertado. — Todo mundo pronto? — Perguntou ele, brincadeiras à parte.
Ele olhou para Jerry que estava ao lado — Sim, senhor.
Lana acabou de guardar o kit de primeiros socorros em seu bolso. Ela ficou em pé, a 9mm agarrada a sua mão direita e pressionada contra sua perna, de modo que estaria prontamente disponível, mas não visível, e deu um aceno de cabeça a Vincent.
— Vamos fazer isso, — disse ele, e abriu a porta destrancada.
CAPÍTULO ONZE
JERRY MORENO foi na frente, já que era aquele que todos esperavam ver. Lana não pode deixar de reparar na confiança dele que parecia até uma segunda pele desde que Vincent o alimentou. Esse não era o vampiro que covardemente se escondia em um canto a menos de uma hora atrás. Na sombra da porta, Lana esperou que o guarda notasse a diferença em seu prisioneiro, que comentasse sobre isso, mas ele nunca o fez. Ou talvez estivesse tão acostumado a Jerry se apresentar ao pôr do sol que ele nem mesmo olhou.
No entanto, ele reparou quando Vincent apareceu atrás de Moreno. Como não poderia? Vincent marcava presença, pelo menos 1,85 m de altura poderosamente construído. Mas ele tinha mais do que físico. Possuía tanta energia ao seu redor que Lana esperava que os arbustos tremessem e os pequenos objetos saíssem do seu caminho quando ele passasse. Também havia algo acontecendo com seus olhos. Ela reparou as nuances cobres anteriormente, a luz que incidia sobre o cobre provocando um brilho no olhar. Ela interpretou como um simples truque de luz, mas agora sabia que era mais que isso. Com os olhos em um brilho de cobre, Vincent sorriu para o guarda, e simples assim, estava acabado. A boca do guarda abriu ligeiramente, seus olhos vidrados, e ele encarava Vincent como se fosse um novo messias enviado ao mundo.
— ¿Cómo te llamas? — Vincent perguntou ao guarda. Lana entendeu fácil o começo, mas teve que se esforçar para traduzir o restante do diálogo, que foi pronunciado num rápido espanhol.
— José, jefe. Me llamo José.
— O grande portão é a única maneira para fora daqui, José?
— Não, não, jefe, tem um pequeno portão que os jardineiros usam, às vezes, e outro secreto que ninguém deve conhecer. É secreto e para o uso privado do Señor Camarillo. Para quando ele — José pausou e encarou, como se envergonhado de sua revelação.
— Ele o que, José? — Vincent quase ronronou.
— Mi patron é homem, jefe.
— Ah, — Vincent disse, curvando os lábios em uma risada masculina que fez Lana franzir o cenho, porque ela tinha uma ideia do que eles falavam, mesmo que entendesse que Vincent estava enganando o guarda.
— E o Señor Camarillo está ocupado esta noite? Ou devo dizer estão lhe ocupando? — A risada de Vincent era completa, profunda, e neste momento era dividida entre os três machos. Legal. Camarillo era casado e com filhos, mas fodia outras mulheres em paralelo. Tantas que ele possuía uma entrada secreta para elas irem e virem do complexo. Que imbecil.
— Não, não, — José o assegurou. — Hoje é o dia santo do Señor Camarillo.
— Mas ele ainda vai dormir em seu quarto privado, não vai? — Vincent perguntou confiante.
— Oh, si, jefe. Sempre. Mi patron tem inimigos e ele não colocaria em risco sua família.
— Claro que não.
Lana perguntou se Vincent estava realmente comprando a história de pôr em perigo a família. Ela revirou os olhos em desgosto e não sabia porque Vincent estava perdendo tempo com esta linha inútil de inquérito. Ela não se importava onde Camarillo dormia. Ela só queria chegar ao muro e para fora da cidade antes que percebessem que seu animal de estimação vampiro fora embora.
— Você sabe onde o señor está agora, José?
— Si. Ele ainda dorme a sesta, mas ele vai acordar cedo esta noite.
— Excelente. Leve-me até lá.
Lana deu a Vincent um olhar afiado. Que porra é essa?
— Vincent, — ela começou a protestar, mas, de repente, ele estava bem ali na sua frente, pairando sobre ela com toda sua altura e força, olhos de cobre queimando brilhante e prendendo-a sob seu olhar zangado. Mas se ele pensava em intimidá-la, estava sem sorte. Ela esteve em torno de grandes homens toda a sua vida. Ela não estava medo deles.
Ela lhe deu um olhar desafiador. — Não temos tempo para isso. Precisamos ir embora. Você concordou.
— Isso foi antes de descobrir que o idiota estava dormindo ao virar ao caralho da esquina. E há sempre tempo para isso, — ele rosnou. — Ninguém, e eu quero dizer... Ninguém. Coloca uma faca em meu pescoço, me joga em uma cela suja, e acha que pode me curvar à sua vontade. Ninguém, Lana. Lições devem ser ensinadas. Se você está preocupada, você pode sair e eu vou
— Foda-se, — disse ela, erguendo-se na ponta dos pés para ficar de frente, face a face. — Eu não invadi este lugar e passei o dia inteiro em uma cela imunda para deixá-lo para trás.
O grunhido de Vincent transformou-se em um sorriso, enquanto seu braço enrolou em torno de sua cintura, segurando-a em sua posição na ponta dos pés, esmagando-a contra o corpo dele. Uma erupção de sensações conflitantes perseguiu-a sobre a pele e os abalados nervos enquanto seu corpo se lembrava do que era ser esmagada sob o peso dele, sentir a dura longitude de sua excitação pressionando contra sua coxa. Metade dela vibrava com o agarre forte de Vincent enquanto a outra metade gritava para que fugisse o mais rápido possível.
— Isso não vai demorar muito, querida, — ele murmurou. — Você e Jerry podem
— Não, — ela reiterou com força. — Onde você for, eu vou. Então, vamos acabar com isso.
Antes que ela pudesse impedi-lo, ele a beijou rápido e forte, então a soltou, certificando-se de que ela estava firme em seus pés antes que a soltasse e voltasse a encarar o guarda.
— Vamos, José.
Lana esperava que José oferecesse, pelo menos, um protesto simbólico, mas ela claramente havia subestimado o controle de Vincent. O guarda deu-lhe uma piscadela — o que diabos foi aquilo? — E, em seguida, marchou através do pátio, indo em direção a garagem, seguindo o mesmo caminho que Lana usou para chegar à cela de Vincent.
Jerry Moreno os seguiu prontamente, não lançando nem um olhar duvidoso pelos modos de Vincent, como se este tivesse sido o plano o tempo todo. Foi-se a ideia de uma saída rápida e tranquila. De repente, era tudo sobre vingança e todos pareciam entender isso. Mesmo Lana. Ela nunca admitiria isso para Vincent, mas ele estava certo. Camarillo pensou que poderia capturar e escravizar Vincent da mesma maneira que fizera com Jerry. Mas desta vez, pensou em fazê-lo por conta própria, cortar Enrique fora da equação. Era um jogo de poder não só contra Vincent, mas contra Enrique, e Enrique era a face dos vampiros no México.
Lana pode não viver sobre a política de poder da forma como os vampiros faziam, mas entendia o conceito bem o suficiente. Se Vincent deixasse Camarillo sem punição, o humano iria tentar novamente com outro vampiro. Talvez ele aprendesse com seu erro e levaria alguém mais fraco da próxima vez, alguém que não poderia se defender. E isso era inaceitável para um homem como Vincent. Ela não o conhecia bem, mas isso ela sabia. Ele tinha aquela coisa macho alfa que precisava proteger aqueles que eram mais fracos do que ele. Ela ouviu a angústia em sua voz quando ele contou a história da morte do seu irmão mais novo e sua incapacidade de salvá-lo. Ela enxergava também na maneira como ele tratava as mulheres em sua vida. As mulheres não eram exatamente frágeis, mas para um homem como Vincent, elas sempre traziam à tona o desejo de proteger.
Então Lana seguiu José e os dois vampiros, sentindo-se como o fim de um desfile. Ela não sabia o que Vincent havia planejado para Camarillo, e esse pensamento rapidamente a levou a caminhar ao lado dele.
— Pode haver guardas, — disse ela calmamente e começou a lhe entregar sua Sig. — Você pode levar
— Mantenha-a, — disse ele, tocando seu braço. — Eu não vou precisar de uma arma.
— Mas
— Assista e aprenda, querida.
Lana franziu a testa, mas percebeu que ele sabia o que estava fazendo. José os levou todo o caminho em torno da garagem, passando pelo local onde Lana pulou o muro, através do portão de ferro que notou e para os jardins na parte de trás da casa. O rico aroma de terra e perfumadas flores cumprimentou-a, o ar fresco da noite úmida com a água do sistema de irrigação que ela ainda podia ouvir em funcionamento. Eles seguiram um caminho de pedra por cerca de 4 metros, em seguida, desviaram-se para um pequeno caminho, reto e feito de algo parecido com areia compactada. O que os levou a uma porta de madeira comum, que parecia abrir para o armário de armazenagem de um jardineiro, se não fosse pelo bloqueio com pesadas e sofisticadas dobradiças. Não havia janela na porta ou nas paredes.
José parou a alguns metros de distância e apontou para a porta. — É isso, jefe, — disse ele, esperançoso. — Devo bater para?
— Não há necessidade, — Vincent garantiu-lhe, e Lana se perguntou como diabos ele achava que passaria pelo que parecia uma trava de alta segurança. Mas então ele levantou a mão e empurrou-a para frente, como se estivesse empurrando a porta aberta... E a porta voou completamente fora de suas dobradiças fortemente reforçadas.
Lana encarou. Ouvira falar sobre os poderes de vampiro, mas pensou que eram limitadas a coisas como telepatia e persuasão. Isto foi algo totalmente diferente. Como se ouvisse seus pensamentos, Vincent olhou por cima do ombro e deu-lhe uma piscadela, em seguida, desapareceu para dentro do quarto escuro.
Moreno hesitou no limiar, mas apenas por um segundo, antes de seguir Vincent para dentro. Não querendo ficar para trás, Lana correu a frente, com cuidado de evitar as laterais da porta. Esquivando-se para dentro, ela imediatamente encostou-se na parede e esperou que seus olhos se ajustassem quando uma luz fraca surgiu.
A primeira coisa que viu foi Camarillo sentado na cama, sua mão caindo longe da lâmpada de cabeceira. Sua boca estava esticada em um grunhido irritado, mas ao que ela viu, seus olhos vidrados de terror quando ele reconheceu tardiamente quem era o intruso.
— Você sabe quem eu sou? — Perguntou Vincent, sua voz um ronronar exalando perigo.
Camarillo assentiu sem palavras, a boca aberta. Lana não sabia se ele estava com muito medo de falar ou se Vincent fizera algo para silenciá-lo.
— E ainda assim você pensou em me escravizar, — comentou Vincent, como se estivesse tentando descobrir por que Camarillo sequer consideraria tal coisa. — Assim como você escravizou Moreno aqui, — acrescentou ele, seu olhar cintilante transformando-se em duro e inflexível. Ele deu um passo mais perto da cama e parou, as mãos na cintura, a cabeça inclinada, estudando o homem aterrorizado. — O que vou fazer com você, Señor Camarillo?
Camarillo engoliu em seco, depois lambeu os lábios e encontrou sua voz o suficiente para ofegar, — Misericórdia.
O sorriso de Vincent congelou Lana até a alma.
— Vincent, — ela sussurrou.
Sua expressão apagada quando ele se virou para olhá-la por cima do ombro. — Você deve esperar lá fora, — disse a ela.
— Ele tem filhos, — disse ela, sua voz ligeiramente presa.
— Assim como todos os homens e mulheres que ele matou.
— Portanto, esta vingança é para eles?
Sua boca se elevou em um meio sorriso. — Não. Essa vingança é para mim. É proteção para os meus filhos, os vampiros por quem sou responsável, homens e mulheres como Moreno aqui que merecem mais do que ser transformado em assassino em nome de um traficante de drogas, porra.
— Mas foi um vampiro que fez isso. Enrique foi aquele que escravizou Jerry.
— Eu vou lidar com Enrique no tempo certo. Mas esta noite, aqui e agora, eu estou fazendo um ponto. Não se escraviza meu povo, e com a maldita certeza não me escravizam — Havia tanta raiva nas palavras que ele pausou antes de terminar o seu pensamento. — sem sofrer as consequências. Há um preço e eu vou cobrar. Se você não consegue lidar com isso, então você deve esperar lá fora.
Lana encarou. Ele era tão alto e forte, seu poder enchendo a sala, sacudindo papéis sobre a pequena mesa, fazendo com que as cortinas da cama de dossel vibrassem como uma brisa. Foi-se o Vincent provocador, o vampiro que flertava e seduzia qualquer mulher que conhecia. Este era o vampiro que governava como o segundo de Enrique, que possuía a capacidade de assumir a mente de um homem em um instante, de arrancar uma pesada porta para fora de suas dobradiças.
E, pela primeira vez, ela se perguntou do que ele era capaz. Ele era cruel? Um assassino? Se permanecesse no quarto, iria descobrir. Talvez não todo ele, nem todas as partes, mas sabia que Camarillo ia morrer, e não seria porque Vincent fosse colocar um travesseiro sobre o rosto do homem tão pouco.
— Droga, — ela murmurou para si mesma, mas Vincent ouviu. Uma sobrancelha elevou-se em um questionamento zombeteiro. Ela assentiu rapidamente, em seguida, trabalhou em sua 9mm e assumiu uma posição perto da porta.
— Eu vou ficar, — disse ela, desafiadora.
Vincent inclinou a cabeça em reconhecimento, e ela queria acreditar que havia uma pitada de respeito lá, também. Ele voltou sua atenção para Camarillo, que estava choramingando desavergonhadamente, seus olhos arregalados de terror em tudo o que estava vendo no rosto do vampiro.
— Preste atenção, Moreno, — Vincent disse sem olhar para seu mais novo pupilo vampiro, que estava fitando com ódio o homem que fora seu mestre proclamado apenas algumas horas antes.
Vincent levantou a mão negligentemente e as cobertas foram arrancadas dos dedos de Camarillo que as seguravam, de modo que ele se ajoelhou seminu, vestindo nada além de um par de calças de pijama. Seus olhos estavam em branco e com medo, suor brilhava em sua pele, espalhando o odor fétido pela sala de modo que mesmo Lana podia sentir o cheiro com seus sentidos humanos. Ele juntou as mãos na frente dele em uma postura de oração e começou a murmurar quase sem parar, em rápido espanhol. Lana pegou apenas uma ou duas palavras. Ele estava implorando por sua vida, mas se ele estava orando a Vincent ou a Deus, ela não sabia.
Vincent levantou a mão e fechou os dedos estendidos em direção a palma da mão em um gesto que era o retrato da graça... até que Camarillo gritou em tormento, as mãos apertando o peito, os dedos cavando em sua pele tão fervorosamente que as unhas rasgaram a pele, deixando sulcos irregulares que pingavam sangue para baixo em sua barriga e coxas.
Lana olhou, seus pulmões apertados em horror. Ela presenciou muita violência na sua vida, viu homens baleados e até ela mesma foi baleada, mas esta... ela nunca havia visto um homem ser rasgado como agora.
Lana se sacudiu quando a boca de Camarillo abriu e um ruído agudo horrível encheu a sala. Foi desumano, nada além de agonia crua. E ela pensou que certamente esta era a vingança de Vincent, deixar o homem louco de dor, um idiota babando sem pensar, mas com sofrimento... Ou talvez não. Ela apertou-se contra a parede às suas costas quando Vincent levou seu ato ao passo final em direção à cama, até que estava bem em cima de Camarillo, o brilho de cobre de seu olhar refletindo no branco dos olhos do chefe do tráfico, transformando-os em mármores amarelados de terror. Vincent passou a mão macia ao longo da mandíbula suada de Camarillo, passou um dedo longo sobre a jugular do homem... e então sua mão se apertou em uma garra e ele rasgou a garganta do homem para fora.
Ele fez isso casualmente, sem esforço aparente. Ele simplesmente fechou os dedos sobre a garganta de Camarillo, espremeu até que seus dedos tivessem ao nível do esôfago do traficante, e depois o arrancou.
Camarillo sufocou, um som medonho, enquanto seu cérebro implorou por oxigênio, enquanto seu rosto ficou vermelho e depois azul, até que finalmente a única coisa que restou foi o aperto de Vincent em sua garganta devastada.
Vincent abriu a mão. Camarillo desabou sobre a cama em uma pilha sem ossos, sangue manchando os lençóis de seda debaixo dele.
Vincent olhou para a mão ensanguentada em desgosto, e Lana aguardou, meio esperando ele lamber o sangue fora, mas ele não o fez. Em vez disso, ele usou a colcha descartada para limpar o sangue, em seguida, afastou-se da cama e falou com Jerry Moreno.
— Você entendeu o que eu fiz? — Perguntou.
Moreno assentiu. — Sim, senhor.
— E por quê?
— Definitivamente, senhor.
Vincent assentiu. — Você vai vir com a gente por agora. Quando chegarmos a Pénjamo, eu terei Michael, meu tenente, levando-o de volta para a minha sede em Hermosillo.
— Você não vai voltar com a gente? — Perguntou Moreno.
Vincent sacudiu a cabeça. — Lana e eu tenho negócios para terminar primeiro.
— E quanto aos outros?
Vincent fez uma careta. — O que tem os outros?
— Os outros como eu, os outros vampiros que Enrique vendeu aos senhores da droga.
Vincent encarou e Lana teve aquela sensação de novo, como se alguém estivesse arranhando um fio vivo logo acima de sua pele. A fúria de Vincent se tornou um ser vivente, inchando para fora do espaço, até que se tornou um furacão girando em torno da sala, batendo o mobiliário pesado e um espelho de grossa moldura de prata fora da parede. Ele caiu para o azulejo nu e despedaçado, enviando brilhantes cacos voando por toda parte.
Lana agarrou a moldura da porta e esperou a morte, certa de que Vincent finalmente havia enlouquecido. Mas ele teve um melhor controle que isso. Ele respirou fundo e a tempestade morreu. Mas ela podia ver o esforço que ele fez. Seus músculos estavam tensos e apertados, as veias se destacando em seus braços nus.
— Onde eu vou encontrá-los? — Vincent perguntou a Moreno, sua voz apertada com raiva reprimida.
— Eles estão espalhados por todo o México, mas o mais próximo é Salvio Olivarez. Seu mestre não vive longe de Pénjamo, ao norte da cidade.
— Vincent, — Lana se atreveu a interromper. — Nós temos que sair daqui.
Ele se virou com um olhar frio, mas seus olhos aqueceram quase imediatamente. — Não se preocupe, Lana. Eu posso matá-los todos, se for esSa a preocupação.
Lana não estava tranquila. — Eu prefiro não chegar a esse ponto, — explicou ela suavemente, porque ele estava claramente tão fora de si a ponto de não ter noção. — Nossa fuga será muito mais fácil se sairmos discretamente.
— Ou se nós não deixarmos testemunhas, — ele respondeu.
— Vincent, — alertou impaciente.
Ele suspirou e perguntou: — Será que José ainda está esperando lá fora?
Lana entrou pela porta e encontrou o fiel seguidor de Vincent ainda em guarda permanente.
— Ele está, — ela confirmou.
— Tudo certo. Esqueça o portão da frente. Sairemos da maneira como você veio, sobre o monte, ao invés de contorna-lo. Moreno, você vai me dizer tudo o que sabe sobre a unidade de Pénjamo.
— Sim, senhor.
Vincent lançou um olhar de ódio final para um Camarillo morto, então atravessou a sala, pegando o braço de Lana enquanto passava. — Vamos, boa menina.
Lana fez uma careta. Ela não estava sendo boa, estava sendo inteligente. Foi apenas sorte, ou talvez mais da magia de Vincent, que ninguém veio para investigar os gritos de Camarillo. Mas a sorte só poderia levá-los até certo ponto. Eles tiveram que passar por cima da parede e pela estrada antes que alguém estivesse ciente de que Camarillo estava morto, e que os prisioneiros fugiram.
Ela manteve o ritmo de Vincent enquanto seguia José mais a fundo no verde luxuriante do jardim. Era um lugar bonito, cheio de seres vivos. Parecia errado algo assim no quintal de um homem que não deixou nada além de morte e destruição em seu rastro.
José levou-os a uma seção da parede que estava coberto de uma videira grossa, envolvendo o muro. Assustador. A planta rasteira possuía folhas verde escuro, e sementes estranhas em suspensão. Com nada além do luar para iluminar, parecia algo peculiar apenas esperando para se ocupar dos incautos. Lana olhou-o com desconfiança, mas José virou a cabeça e sorriu largamente para Vincent, apontando para a parede. — É isso, jefe.
O coração de Lana afundou, convencida de que José se perdera, mas Vincent desceu os degraus à direita até a parede e empurrou a videira revelando um teclado eletrônico.
Ela moveu-se perto dele. — Como você sabia que estava lá? — Ela perguntou distraidamente, estudando o teclado e se perguntando quais as datas de nascimento dos filhos de Camarillo. As pessoas tendem a ser bastante previsível em sua seleção de senhas.
— O dispositivo emite um ruído, provavelmente com uma frequência muito elevada — e curta — que deveria ter sido consertada.
— Não creio que a alta frequência está apitando o código de acesso — ela murmurou sarcasticamente.
Previsivelmente, Vincent só se entreteu por seu sarcasmo. Ele sorriu para ela, em seguida, voltou sua atenção para José, que estava pacientemente, aguardando o seu próximo comando.
— ¿Sabes la contraseña, José? — Perguntou Lana, passando a frente de Vincent. Infelizmente, a afeição do guarda parecia estar reservada para Vincent, porque ele só lhe deu um olhar confuso antes de transferir sua atenção de volta para o vampiro.
— ¿Sabes la contraseña, mi amigo? — Vincent perguntou. Você sabe a senha, meu amigo?
José brilhou imediatamente, enchendo o peito e parecendo maior. — Si, jefe. Es cero nueve uno dos cero seis. — Sim, jefe. É zero, nove, um, dois, zero, seis.
Vincent cutucou Lana com um cotovelo, digitou o código-chave, em seguida, ficou para trás com uma expressão satisfeita quando a parede se moveu sob as videiras, revelando uma rachadura na forma de um portão. Foi tão habilmente construído e escondido que, mesmo sabendo que estava lá, Lana precisou olhar de perto para ver a linha de sua abertura. Vincent puxou-o abrindo mais, em seguida, virou-se para José.
— Este é o lugar onde nos separamos, meu amigo — disse ele, falando inglês quase com pesar. — Durma agora.
Lana começou a franzir a testa, em seguida, recuou quando José desmoronou onde estava, como se todos os ossos do seu corpo tivessem desaparecido.
— Ele está
— Adormecido, — Vincent a assegurou. — E ele não vai lembrar-se de nada disso quando acordar. Vamos lá, você é a única que queria uma saída tranquila. Agora é a hora.
Lana não precisava escutar duas vezes. Ela correu até o portão, parando vários metros à frente para pegar seu celular e determinar exatamente onde eles estavam. Ela tinha a localização GPS do SUV programado, por isso era apenas uma questão de... Sim. Lá estavam eles.
Jerry e Vincent ambos surgiram rapidamente, com Jerry vindo para ficar ao lado dela, enquanto Vincent puxou o portão de volta a posição até que, mais uma vez estava misturado com perfeição para a parede.
— Estamos um pouco mais de um quarto de milha a partir do SUV, em linha reta, — Lana disse a ele. — Infelizmente, não podemos voar... — As palavras dela sumiram e ela estudou Vincent. — Você não pode, não é?
— Claro que não, — disse ele, parecendo ofendido com a pergunta. Como se ela não tivesse o visto fazer sua mágica em um homem com nada, além de sua voz e explodir através de uma porta trancada com um toque de seus dedos. Para não mencionar a parte da garganta toda arrancando, mas supôs que qualquer homem forte, com o estômago igualmente forte, poderia ter feito isso.
— Apenas perguntando, — ela disse suavemente, secretamente satisfeita por ter finalmente irritado ele. — Ok, então com este terreno, nossa caminhada é provavelmente quase um quilômetro, e com esta noite, vai ser bastante difícil visualizar o terreno.
— A escuridão não é um problema para Jerry e eu. Nem o terreno. E para você? — Ele perguntou, olhando de cima a baixo.
— Eu já sobrevivi a um inferno de muito pior, — ela disse sem rodeios, esperando que ele entendesse parte de um inferno de muito pior, incluía a companhia dele.
O meio sorriso de Vincent disse-lhe que compreendia perfeitamente e isso o agradava. — Vamos indo então. Você define o ritmo, Lana.
Lana enfiou o celular no bolso da jaqueta. Ela não precisava do mapa para lhe dizer qual caminho a percorrer. Ela não exagerou quando disse a Vincent que ela escalou lugar pior. Dê-lhe um objetivo e que ela iria chegar lá, faça chuva ou sol. Flexionando os dedos, ela começou a subir pela encosta rochosa.
Horas mais tarde, Lana estava em uma espécie de estado zen enquanto se concentrava em colocar um pé na frente do outro e não quebrar um tornozelo no processo. Ela teve que lançar mão de uma pequena lanterna para enxergar. Precisava que ser cuidadosa com o brilho, o cobrindo com as mãos e apontando a lanterna para baixo, para não despertar a visão noturna dos vampiros, sem falar que ela poderia entregar sua localização em uma possível fuga. Mas era isso ou quebrar um tornozelo, com certeza, de modo que ela escolheu a lanterna. Eles estavam na parte descendente da caminhada, quase próximos ao pé da montanha, chegando ao deserto, e ela estava começando a suspeitar que Vincent ocupar a posição traseira na primeira parte de sua escalada tinha menos a ver com deixá-la ditar o ritmo, e mais em colocar-se entre ela e qualquer possível perseguição. Porque assim que eles saíram do topo da colina e começaram a descida, eles mudaram, deixando Jerry como retaguarda enquanto Vincent abriu o caminho, com sua atitude constante de prontidão.
Até agora, parecia que sua fuga ou passou despercebida, ou que os homens de Camarillo estavam relutantes em perseguir um vampiro que poderia puxar a garganta de um homem fora. Mas, mesmo sem ninguém para lutar, a ideia de que Vincent queria protegê-la a fez querer gostar dele. Ou melhor, gostar dele ainda mais, uma vez que o navio de gostar dele havia partido há muito tempo.
Perigo, Will Robinson{1}, recordou-se. Era ruim o suficiente que ele fosse grande e sexy e lindo e... Ela mencionou sexy? Ele ser um cara decente no topo de tudo isso...
xxxxxx
— Pensamentos profundos, querida? — A voz de Vincent estava em seu ouvido, e ela se surpreendeu. Ele estava vários metros à frente e ela não o notou ficar para trás. O que só reforçou o perigo que ele representava com ela.
Ela lançou lhe um olhar irritado. — Só pensando em sair desta cidade e nunca mais voltar.
— Há mais uma coisa que temos que
— Vincent, — ela disse em advertência.
— Lana, — ele respondeu, imitando o tom de voz com precisão. — A mulher na cantina.
— O que tem ela?
— Ela tem que morrer. Você sabe disso.
— Eu disse que ela me ajudou. Ela me disse onde eles estavam prendendo você. Eu não teria encontrado você em tempo sem ela.
— Você também disse que ela só a ajudou para salvar sua própria bunda. A cadela cortou meu pescoço e me sangrou, deixando-me quase seco, Lana.
— Eu disse a ela para sair da cidade, — disse Lana sem fôlego. — Que você a mataria se ela ficasse. — Ela reconheceu a carranca de Vincent com um encolher de ombros e acrescentou — Portanto, não há ponto
— Mas você sabe onde ela mora, não?
Lana suspirou. — Sim.
— Vamos ver se ela seguiu seu conselho. Se não, muito ruim para ela. Se assim for, eu vou deixar uma mensagem garantido em dar-lhe...
O melhor da literatura para todos os gostos e idades