Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites
"A Casa Real dos Karedes"
Há muitos anos havia duas ilhas governadas como um único reino: Adamas. Mas amargas rixas e rivalidades familiares fizeram com que o reino fosse partido em dois. As ilhas foram governadas separadamente como Aristo e Calista, e o famigerado diamante da coroação, o Stefani, foi dividido como símbolo da discórdia e posto em duas novas coroas.
No entanto, quando o rei repartiu as ilhas entre seu filho e sua filha, ele os deixou com estas palavras:
Vocês governarão cada ilha pelo bem do povo e despertarão o melhor de seus reinos. Mas meu desejo é que em algum momento estas duas jóias, assim como as ilhas, sejam reunidas. Aristo e Calista são mais bem-sucedidas, mais belas e mais poderosas como uma única nação: Adamas.
Agora, o rei Aegeus Karedes de Aristo está morto, e o diamante da coroação, desaparecido! Os aristanos farão o que for preciso para recuperá-lo, mas o impiedoso sheik de Calista está em seu encalço.
Seja por meio de sedução, chantagem ou casamento, a jóia deve ser encontrada. Conforme as histórias se desdobram, segredos e pecados do passado são revelados, e o desejo, o amor e a paixão contrariam os deveres da realeza. Mas quem descobrirá a tempo que a inocência e um coração puro são os principais atributos para reunificar as ilhas de Adamas?
O Príncipe Alexandros Karedes, segundo na linha de sucessão ao trono do Reino de Aristo, detestava esperar.
Na verdade, isso nunca acontecia.
Quem seria tão tolo de deixar um homem como ele esperando?
Seu próprio pai, pensou o príncipe com um suspiro de resignação ao passar pela lareira de mármore, do lado de fora da sala do trono. O relógio ormulu francês sobre a mesma marcava 18 horas. Fora informado que o rei o receberia às 17h30, mas Aegeus não era conhecido pela pontualidade, mesmo em se tratando dos filhos.
Alex conhecia muito bem o pai. Tinha certeza de que aquele atraso era outro modo sutil de lembrar a todos, inclusive à família, que, embora estivesse envelhecendo, ainda era o rei.
E, sem dúvida, a mesma razão que o levara a pedir ao filho que o encontrasse ali, naquele ambiente formal, em vez de na privacidade da residência real.
As coisas eram como eram. Não havia como questionar. Aegeus governava muito bem o povo de Aristo, mas sempre fora distante quando se tratava da esposa, filhos e filhas.
Alex não tinha problemas quanto a isso. Quando criança, uma demonstração de afeto, um pouco menos de formalidade poderiam ter significado muito. Mas não agora. Aos 31 anos de idade, havia construído uma vida de sucesso, trazendo reconhecimento internacional crescente e recursos para o reino. Não sentia nenhuma necessidade de receber sinais de afeto por parte do pai.
Olhou novamente o relógio. Embora entendesse a razão para o atraso, ter que esperar era irritante. E inconveniente. A reunião com o pai não duraria muito tempo. Sabia por experiências passadas.
Alexandros voltara há pouco tempo de uma viagem de negócios ao Extremo Oriente. Aegeus ia simplesmente querer saber se as coisas tinham ido bem, se novos bancos e empresas se uniriam à impressionante lista já existente em Aristo, mas não desejaria ouvir os detalhes.
Resultados era o que importava. Como eram alcançados, não era pertinente.
Isso também não o afetava. Assim como não precisava de sinais de afeto, também não precisava de tapinhas nas costas. O problema era que se o rei o mantivesse esperando por mais tempo, chegaria atrasado ao encontro que marcara na cidade.
Não que isso importasse. Sua Ferrari nova conquistaria as estradas estreitas, margeadas por longos precipícios que se debruçavam sobre o mar Mediterrâneo. E, mesmo se chegasse ao Grand Hotel, em Ellos, após a hora combinada, ela não reclamaria.
Um breve sorriso curvou-lhe os cantos dos lábios.
Para que ser modesto? Saía-se bem em todas as coisas que mais desfrutava. Mulheres bonitas, carros velozes, bacará, o vasto império empresarial que havia criado em Nova York...
O sorriso enfraqueceu. De fato, não vinha se saindo tão bem com as mulheres ultimamente.
Não que elas não sucumbissem ao seu charme. A mulher que o aguardava naquela noite era o que o mundo chamava de supermodelo. Simone estava fotografando para a capa da Vogue, do lado de fora do cassino, na hora em que Alex chegara para discutir a expansão do cassino com seu gerente, mas isso não o impedira de fazer uma pausa e admirar a loira de pernas bonitas posando nos largos degraus de mármore, com um vestido de seda que se aderia ao corpo curvilíneo.
Seus olhares se encontraram. Alex sorrira e sem hesitar ela descera os degraus, alheia à censura do fotógrafo.
— Olá — exclamara ao alcançá-lo, com um sorriso nos lábios que por certo valeria uns dez mil dólares por hora para uma propaganda. — Estou livre essa noite, Vossa Alteza, e espero que também esteja.
Ele dissera que estava indo para Tóquio, mas voltaria dentro de três dias.
— Ligue-me — ronronara ela.
Que homem não ligaria? A mulher era estonteante. Tinha certeza de que a teria na cama, no apartamento que ele mantinha na cidade, antes de a noite terminar. E daí?
Um pensamento louco. Mas lá estava ele. Uma mulher deslumbrante, outro encontro excitante... E tudo que ele podia pensar era: E daí? Ficaria com a modelo e, na manhã seguinte, ela estaria procurando um modo de transformar uma noite em um relacionamento.
Arrumaria um modo educado de deixar claro que não estava interessado.
Nos últimos tempos, terminar relacionamentos antes mesmo que começassem se tornara um hábito. Há semanas vinha saindo com várias mulheres diferentes. Sabia que havia homens que achavam isso excitante. Ele não.
Não que acreditasse em relacionamentos duradouros. Um mês. Dois. Três, no máximo. E, então, faria a coisa certa, enviaria um presente inacreditavelmente caro e sumiria.
Os irmãos haviam notado e debochavam sobre o que chamavam de o irresistível desejo de Alex de viajar.
Até a irmã, Lissa, tomara parte na zombaria, telefonando-lhe de Paris e dizendo: Pobre Alex. Não consegue encontrar uma mulher para amar.
Bem, não estava a fim de explicar a diferença entre amor e luxúria a qualquer um deles. Amor era uma dessas coisas sobre a qual as pessoas falavam, mas na realidade não existia. O que as pessoas chamavam de amor era uma tolice hormonal, embora não pudesse chamar o que unia seus pais de hormonal. Os dois haviam se casado porque era necessário. Dar continuidade a um nome, a uma linhagem que existia há séculos fazia parte do destino da realeza.
Por certo, aconteceria o mesmo com Sebastian, herdeiro do trono, quando chegasse a hora. O irmão ia querer escolher a própria esposa. Afinal estavam no século XXI, mas seria obrigado a fazer essa escolha a partir de uma lista cuidadosamente elaborada de jovens aceitáveis.
Alex, segundo na linha de sucessão, sofreria menos pressão, mas sabia que a responsabilidade de se casar com uma noiva apropriada e ter filhos que carregariam seu nome fazia parte do seu futuro. Era parte do seu dever para com a Casa dos Karedes.
Só exigiria que a futura esposa fosse atraente. Fora isso, não tinha outras expectativas. Companhia, paixão... Essas coisas encontraria em uma amante. Seria discreto. Jamais faria algo deliberado para insultar a mulher com quem se casasse. Mas uma esposa real devia entender que seu papel era gerar filhos.
Nenhuma delas seria tola o bastante para esperar amor. Discrição em seus casos extraconjugais seria suficiente.
Alex parou de caminhar de um lado para o outro, enfiou as mãos nos bolsos e encarou o brasão na parede em cima da enorme lareira.
Houve uma mulher, uma vez. Uma jovem, de fato. Ele pensara... Não importava o que havia pensado. O que importava era que ela pensara que podia usar seus beijos, seus toques e sussurros suaves para enfeitiçá-lo. Era um garoto na ocasião, governado por uma parte da sua anatomia que nada tinha a ver com o cérebro. Mas descobrira a verdade sobre ela a tempo, e tomara uma atitude sábia.
Desde então, não se deixara mais envolver pelas mulheres. Nem esquecer que um homem devia sempre enxergar além de um rosto bonito para ver os verdadeiros planos de uma mulher.
Até uma noite, dois meses atrás, quando uma estranha se atirara em seus braços com uma face radiante e ar inocente. Erguera o rosto, os lábios úmidos insinuando-se de encontro ao hálito morno dele, entreabrindo-se num convite tentador, e o mundo escureceu, até a manhã seguinte, quando ele descobrira que tudo não passara de uma mentira.
— Príncipe Alexandros.
Não apenas uma mentira. A tensão se apoderou de sua mandíbula. Uma fraude de primeira magnitude. E ele caíra como um pato.
— Senhor? O rei e a rainha pedem que se una a eles. Mas ela não fora embora com essa sensação. Em vez disso, fingira não saber nada a respeito daquele logro. Fizera papel de bobo. Em plena luz do dia, fora sua vez de virar o jogo.
Levara-a de volta para a cama e fizera sexo com ela novamente. Quando terminaram, fitara-a nos olhos enquanto lhe dizia que sabia quem ela era e lhe prometera que tudo que resultasse daquele jogo desprezível seria malogrado.
Depois a mandara embora. O incidente significou tão pouco para ele que nem mesmo conseguia lembrar o nome dela. Apesar do ardil daquela mulher, saíra vencedor. Tivera horas de sexo incrível. Embora, agora, soubesse que não passara... Bem, de sexo.
— Sua alteza? Os reis querem vê-lo agora. Seria mesmo?
Não foram apenas mulheres que passaram pela sua vida naquelas últimas semanas. Despendera infinitas milhas nos jatos particulares reais com viagens de negócios dos seus escritórios em Nova York e Aristo para as Ilhas Bermudas. Para as Bahamas. Das Ilhas Virgens para a Flórida, México e, recentemente, Japão. Todas viagens bem-sucedidas, mas era um ritmo exaustivo. Reuniões de dia, à noite mesas de bacará, pôquer... E sexo.
Era possível que tivesse passado as últimas semanas indo de país para país, pulando de cama em cama, tentando apagar as horríveis recordações de uma noite, quando chegara tão próximo quanto um homem pode chegar de deixar uma mulher usá-lo?
— Senhor. O rei e a rainha o esperam.
Alex piscou. Galen, o mordomo do pai, estava parado à sua frente. Pela expressão do rosto, já há algum tempo.
— Obrigado, Galen. Efcharisto.
— O senhor está bem?
— Sim, sim, estou bem. Apenas um pouco distraído. — Alex forçou um sorriso.
— Há uma mulher à minha espera na cidade. Sabe como é...
Galen se permitiu um breve sorriso.
— Tenho certeza de que ela ficará feliz em esperá-lo, senhor — dizendo isso, o homem se curvou em uma reverência, enquanto Alex entrava na sala do trono.
Os pais não estavam sozinhos. Um punhado de ajudantes andava ao redor do rei, que se encontrava sentado atrás de uma escrivaninha antiga, recoberta com pilhas de papéis. A mãe, sentada na plataforma do trono, cercada por várias damas de companhia que seguravam metros de brocado de seda de encontro a ela, enquanto uma costureira sentada no chão colocava alfinetes, media e tudo o mais que as mulheres costumavam fazer com todos aqueles metros de tecido.
Os lábios de Alex se contraíram. A despeito da elegância, afrescos, teto pintado por um mestre da pintura do século XVI e uma parede carregada com primorosos ícones bizantinos, naquele instante o local parecia mais uma sala de visitas bagunçada do que um lugar onde era realizada a maioria das cerimônias formais.
O pai o fitou.
— Aí está você. — O tom sugeria que fora ele a pobre vítima que esperara todo aquele tempo. — Bem, o que acha?
Alex arqueou as sobrancelhas.
— Sobre o quê?
— Sobre esses planos, é claro. — Aegeus acenou com a mão para os documentos esparramados em cima da escrivaninha. — Queremos um tema, ou não?
— Um tema para quê? — perguntou cauteloso.
Aegeus se ergueu, espalhando os ajudantes aglomerados a seu redor.
— Para a celebração do aniversário de 60 anos de sua mãe, é claro! Se você não tivesse passado o último mês fazendo só Deus sabe o quê, saberia o que estava acontecendo aqui.
— Chega, Aegeus. — O marido e o filho olharam para a rainha, que sorria para ambos. — Sabe que Alexandros estava ocupado convencendo estrangeiros que o nosso reino é o lugar perfeito para investimentos futuros. E tenho certeza de que foi bem-sucedido. Não foi, Alex?
O príncipe sorriu e caminhou até a mãe. Ela se curvou e o filho tomou-lhe a mão, levando-a aos lábios.
— Mamãe. Senti sua falta.
— Como foi a viagem?
— Bem. —Alex sorriu. — Enganamos muitos estrangeiros que esperam um futuro feliz.
— Está vendo, Aegeus? O que foi que eu disse? — Ela dispensou as mulheres e desceu graciosamente os degraus. — E bom tê-lo de volta, Alexandros.
— É bom estar aqui. — Alex acenou com a cabeça para o ajuntamento de mulheres com os tecidos. — O que significa tudo isso?
— Eu já lhe disse — informou o rei, impaciente. — Preparativos para a celebração do aniversário de sua mãe. Achei melhor fazer as seleções finais de decoração, cor e tecidos aqui na sala do trono, onde a parte mais formal da cerimônia acontecerá. Não é verdade, cavalheiros?
Os ajudantes assentiram com as cabeças.
— Queremos ter certeza de que tudo vai estar dentro dos conformes. Então, o que acha, Alexandros? Que tema devemos adotar? Nossa história como parte do mundo antigo? As cruzadas? O tempo do Império Otomano? Todas essas coisas, como você bem sabe, estão em nossa linha de descendência.
Quem ligava para aquilo? O que importava era a celebração do sexagésimo aniversário da mãe, não a linhagem do rei.
— Qualquer um desses — disse Alex, num tom suave, com um olhar de relance à mãe. — Algo grande e ostensivo. Afinal, não queremos que digam que só os calistanos sabem organizar festas pomposas.
Alex percebeu a mãe reprimir um sorriso. Qualquer menção sobre Calista, que um dia fizera parte do império de Adamas juntamente com Aristo, era suficiente para irritar o monarca.
— Pomposas — disse Aegeus, carrancudo.
— Exatamente. — Alex sacudiu a cabeça. — Nunca entendi por que a mídia dava muito mais atenção à celebração do aniversário da rainha da Inglaterra alguns anos atrás, quando tudo era tão menos intenso. Sabe por quê, mamãe?
— Não — Tia disse fingindo inocência. — Nunca entendi, também. Todos aqueles repórteres, celebridades, o interesse mundial por Elizabeth e a realeza britânica... E tudo feito, como você disse, Alexandros, com uma elegância discreta.
O rei bufou.
— O que há para se entender? Ou se conhece a virtude da simplicidade, ou não. — Ele olhou para os papéis sobre a escrivaninha e os estudou por um longo momento, então, os atirou no chão com a mão. — Escolhi o tema para a celebração do seu aniversário, Tia. A chegada da primavera. Já posso até imaginar. Tortas decoradas com flores do começo da primavera. O aparelho de jantar veneziano em tons claros de verde e amarelo. E você, a rainha, usando um vestido com o mesmo tom rosa claro dos diamantes da coroa de Aristo.
— Obrigada — Tia exprimiu o agradecimento ao filho por meio de mímica. Alex a brindou com um sorriso. — Isso soa bastante agradável — disse reservada.
— Agradável? Será magnífico, especialmente com você resplandecente com o novo colar que encomendarei como seu presente de aniversário. Embora pudéssemos acrescentar um broche...
— Nada de broche — disse a rainha. — Seria impróprio, Aegeus, usar um broche e um colar.
O rei acenou com a mão.
— Está bem. Fale com a artesã.
— A designer de jóias — corrigiu Tia. — É isso que ela é.
— Ela? — Alex carranqueou e se recordou do fim de semana em que os seis designers de jóias, selecionados dentre os melhores ao redor do globo, tinham sido convidados a ir a Aristo se encontrar com o rei e a rainha. Haveria outra mulher no grupo? Ele só se lembrava de uma.
Entretanto, pensou aborrecido, aquele era o plano, não era? Que o príncipe que poderia influenciar na escolha do designer estivesse tão enfeitiçado a ponto de não notar mais ninguém?
Além do mais, por que o pai dissera que encomendaria o colar? A encomenda já havia sido feita semanas antes.
— Não concorda, Alexandros? Alex olhou para o pai.
— Sinto muito. Não estava ouvindo.
— Eu disse, não importa o termo. Designer, artífice, artesão... Artesã — emendou o rei, olhando para a esposa. — Ela simplesmente tem que entender a importância desse trabalho. E por que vocês todas estão paradas olhando? — Aegeus bateu palmas para as costureiras, ajudantes e damas de companhia saírem da sala. — Ela tem que entender isso, Tia. E uma ordem.
A rainha assentiu com a cabeça.
— Tenho certeza de que ela vai entender.
— Espero que você tenha razão. Ela me pareceu muito jovem.
As coisas estavam se tornando cada vez mais confusas. Os pais estavam definitivamente se referindo a uma mulher. Uma designer jovem...
Alex enrijeceu. Não. Não podiam estar falando sobre ela. Sobre Maria Santos. E, sim, diabos, ainda lembrava o nome dela. Como não lembraria? Um homem que fora escolhido para ser a vítima crédula de uma fraude não esqueceria a pessoa que o ludibriara.
— Ela não poderia ter parecido nada para você, Aegeus — disse Tia com um pequeno sorriso. — Lembra que nunca tivemos o prazer de conhecê-la pessoalmente. Ela nos enviou uma carta, explicando que ficara doente naquela manhã. Mas é claro que já conhecíamos os trabalhos da srta. Santos e...
Um punho pareceu apertar o intestino de Alex. Ele respirou fundo e se forçou a falar calmamente.
— Maria Santos? Mas a senhora disse que a encomenda foi feita a uma companhia francesa.
— Foi, mas eles nos mandaram uma notificação dizendo que o dono faleceu e deixou a empresa mergulhada em um mar de litígios judiciais. — Tia deu o braço a Alex. — Eu sei que está em cima da hora e a srta. Santos nem mesmo sabe que vamos contratar seus serviços.
— É por isso que sua viagem para Nova York tem tamanha urgência, Alexandros.
Alex encarou o pai.
— Que viagem para Nova York?
— Você irá procurar a srta. Santos e informá-la de nossa decisão.
— O que seu pai quer dizer — explicou a rainha Tia — é que você vai explicar o que aconteceu e perguntar à srta. Santos se ela será generosa o bastante para assumir o trabalho com um prazo tão curto.
Outro bufo do rei.
— Ela ficará exultante com a chance.
— Mas talvez não possa — disse a rainha, suavemente. — Está muito em cima da hora. E os verdadeiros artistas têm egos sensíveis. A srta. Santos pode não gostar de se ver como uma segunda opção.
Alex quis rir. Um ego sensível? Apostaria que Maria Santos podia triturar ferro fundido.
— Você é o diplomata da família — afirmou o rei num tom vivo. — Sabe como é... Todo seu discurso e lábia empresarial, que têm atraído os investidores para nossa ilha durante esses anos...
Aquilo se aproximava de um elogio, mas não era o bastante para convencer Alex a procurar Maria Santos e presenteá-la com a oportunidade da sua vida.
— Ficaria feliz em ajudar, mas tenho compromissos aqui na ilha. Tenho certeza de que outra pessoa pode...
— Outra pessoa não pode — Aegeus replicou. — Você tem escritórios e um apartamento em Nova York. Conhece a cidade. Seus horários e costumes. É mais do que capaz de lidar com a srta. Santos e conseguir que o colar fique pronto a tempo.
Aquilo era uma ordem real. A mulher que desejava tanto aquele trabalho a ponto de quase se vender para ter certeza de que o conseguiria agora o ganharia de bandeja. E ele seria o homem que o ofereceria a ela. Era irônico demais para ser verdade.
— Outros designers foram selecionados. Com certeza um deles poderia fazer o trabalho...
A mão pequena da mãe apertou o braço dele.
— Preferi o trabalho da srta. Santos desde o início, Alex. Concordei com seu pai quando ele optou pela empresa francesa, é claro, mas agora...
Alex olhou para a rainha enquanto ela falava. Estava faltando pouco para o pai dizer que havia decidido por um designer diferente. Tia era tão contida quanto Aegeus era irascível, tão suave quanto o rei era rígido.
Depois de adulto, passara pouco tempo ao lado de Tia. Internato, cursos, o rigor esperado da vida como filho de um rei os separara, mas a amava profundamente. E se um presente de aniversário confeccionado por Maria Santos era o que ela desejava...
— Alexandros? — disse a mãe suavemente. — Acha que estou cometendo um erro?
Alex pôs o braço ao redor dos ombros da rainha e a abraçou.
— O que penso é que você deve ganhar exatamente o que deseja como presente de aniversário.
A mãe sorriu.
— Obrigada.
— Agradeça a mim — disse o rei num tom vivo e dirigiu à esposa o que passou por um sorriso amoroso. — Sou eu que estou encomendando o seu presente.
A rainha riu. Ergueu-se e beijou o filho na bochecha, então alcançou a mão do marido.
— Agradeço a ambos. Está bem assim?
— Claro que sim — respondeu Alex.
E isso foi o que continuou dizendo a si mesmo durante o voo, aparentemente infinito, de Aristo a Nova York.
Tudo ficaria bem.
Absolutamente bem, disse Maria a si mesma quando a composição fez uma parada na estação do metro da Spring Street.
Não importava que o homem a seu lado cheirasse a uma frigideira de alho refogado. Não lembraria que seus pés estavam gritando após um dia apertados em um par de deslumbrantes, mas exaustivos, sapatos Manolo. Fingiria que a chuva, que se transformara em nevasca, não arruinara o penteado de trezentos dólares nos costumeiros cachos cor de café.
Oh, sim, tudo ficaria bem. E se não ficasse...
O trem deu um sacolejo brusco e deixou a estação. O homem cheirando a alho caiu sobre ela. Maria se desequilibrou e sentiu um dos saltos partir.
Uma palavra que as damas não deviam proferir quase escapou dos seus lábios. Não que se sentisse uma dama. Mesmo assim conteve a língua e decidiu que tentar achar o salto do sapato perdido no chão apinhado da composição era algo que só uma mulher louca tentaria.
Adeus, sapatos caros. Adeus, penteado. Adeus, Jóias by Maria.
Não. Absolutamente, não. Não ia pensar assim. O que havia aprendido naquela aula de relaxamento? Certo, não havia assistido à aula. Em sua vida não havia tempo tais coisas. Mas lera a descrição do curso no catálogo da The New School...
Viva o presente. Era isso. Reduzir a tensão aprendendo a viver o presente. Naquele momento significava... Droga! Significava que o trem estava entrando na Canal Street.
— Com licença. Desculpe. Deixe-me passar.
Abrindo caminho em meio à multidão, alcançou as portas, no instante em que começaram a fechar, e se lançou sobre a plataforma. As portas se fecharam e o trem partiu. Pessoas surgiram nos degraus empurrando uma Maria claudicante.
Subir escada com um salto agora uns 10cm mais curto que o outro era uma experiência interessante. Por que faziam sapatos com saltos iguais àqueles? Melhor ainda, por que ela os comprara? Porque os homens gostavam deles? Bem, era verdade. Mas essa não fora a razão. Não havia nenhum homem em sua vida. Nem haveria durante muito tempo, não após aquele incidente dois meses atrás, em Aristo.
O príncipe. O príncipe negro, era assim que passara a pensar nele, e sentiu a raiva crescer em seu íntimo.
Droga, por que lembrar daquilo? Por que desperdiçar tempo pensando naquele homem, ou naquela noite? Tudo não passara de um pesadelo. Odiava-se por isso. Embora não chegasse à metade do ódio que sentia por ele e...
E não havia nenhum sentido naquilo.
Aristo e o trabalho que tanto desejara e perdera por causa dele faziam parte do passado. Tinha que se concentrar no presente. Em como convencer lojas como L'Orangerie a comprar suas criações.
Era por isso que estava usando aqueles sapatos. O motivo pelo qual gastara uma pequena fortuna em um estúpido penteado, quando poderia ter comprado fios de ouro para os brincos novos que começara a desenhar. Praticamente implorara um encontro com o gerente de compras da L'Orangerie. E aonde isso a levara?
A lugar algum, concluiu, enquanto alcançava a calçada. Exceto até ali, mancando de volta para casa como uma desamparada, sob o granizo que se transformava rapidamente em neve.
O tempo, aliado ao fato de ser sexta-feira, fizera com que as pessoas deixassem os escritórios mais cedo do que o habitual. Mesmo assim as ruas ainda estavam bastante movimentadas. Afinal, aquela era Manhattan. E por ser Manhattan, as pessoas não ficavam prestando atenção nela.
Mesmo assim se sentia ridícula.
O chefe de compras da L'Orangerie fora cortês o bastante para honrar o compromisso de almoço e honesto o suficiente para começar dizendo que não estava interessado nas jóias dela.
— Aprecio suas criações, srta. Santos. Mas seu nome não tem peso junto aos nossos clientes. Talvez um dia... Quando conseguir um pouco mais de fama...
Mais fama? Maria deu um bufo deselegante e contornou uma esquina. Quanto mais precisava? Após ganhar o prêmio Caligari, vendera para a Tiffany. Para a Harry Winston. Para a Barney.
Dissera tudo aquilo ao companheiro de almoço. E ele respondera que sabia disso, porém o status daqueles lugares era insignificante comparado a designers como Paloma Picasso e Elsa Peretti, n 'estcepas?
Talvez ela não tivesse muitas peças nas vitrines. As lojas não comprassem anúncios de páginas inteiras para ela no The New York Times e nas revistas de moda. Certo, talvez não divulgassem seu nome. Mas já trabalhara para artistas famosos. Isso era o que importava. E suas peças eram certamente mais significantes que aquele falso sotaque francês.
Quase dissera isso na cara do sujeito.
Felizmente, a sanidade a fizera colocar uma garfada de salada na boca para evitar tal tragédia.
Não podia se dar ao luxo de insultar um comprador de jóias com tamanha influência.
O mundo para o qual desejava entrar era restrito. Com muita fofoca. Além do mais, ele tinha razão.
Tivera uma sorte incrível em vender algumas de suas peças para aquelas lojas. Mas não sabia se voltaria a lhes vender alguma. Não ganhar a concorrência de Aristo fora um enorme retrocesso.
Se pudesse acrescentar uma linha discreta em seu cartão de visitas, dizendo ter trabalhado para o rei Aegeus e a rainha Tia de Aristo, teria o mundo a seus pés.
Mas perdera a chance de isso acontecer.
Correção. Um homem havia lhe roubado essa chance. Um homem que a seduzira e então a expulsara da cama dele como se ela fosse uma prostituta.
Pare com isso, murmurou para si mesma. Por que pensar nele agora? Por que desperdiçar tempo pensando no passado? Não há sentido nisso.
Virou à esquerda na Broome Street, mancou até a próxima esquina, entrou naquela rua e, por fim, lá estava ele. O seu edifício. Bem, não era seu. O edifício no qual morava. E trabalhava. Aquela era a vantagem de alugar um loft. Havia bastante espaço no interior de suas paredes altas para dormir, fazer as refeições e, principalmente, fazer dele um local de trabalho.
Se pudesse continuar trabalhando. O problema era que estava endividada até as orelhas. O aluguel era caro. O ouro, a prata e as pedras preciosas e semipreciosas com que trabalhava também eram caras. Só dispunha de um empregado, Joaquin, mas tinha que pagar o salário dele toda semana. E desenhar algo que seria um presente de aniversário para os sessenta anos da rainha de Aristo lhe consumira horas e horas de trabalho. Pedira emprestado uma pequena fortuna para pagar o aluguel, as contas, e pusera de lado todos os outros projetos para dedicar-se por inteiro à criação com a qual concorreria.
Inútil, tudo. Inútil. Ficara entre os três finalistas. Todos haviam sido convidados para Aristo, onde o vencedor seria anunciado em uma cerimônia. E por causa de uma noite, perdera qualquer possibilidade de ser a vencedora.
Uma noite tola. Um punhado de horas arruinara suas esperanças e sonhos, deixando-a terrivelmente humilhada. Mas a verdade era que tudo fora por sua culpa. E não do homem que a seduziu.
Alexandros, o príncipe de Aristo, só provara aquilo que ela já sabia. Que os homens só se interessam por sexo. O fato de ela, dentre todas as mulheres, ter esquecido aquela verdade fria e se deixado levar por um momento de fraqueza era imperdoável.
Após aquecer a cama de um homem, a mulher não tinha mais serventia. E sendo ele o príncipe de Aristo e a mulher em questão uma finalista do concurso para criação do presente de aniversário da mãe dele, ele a culparia pela sedução.
O pai dela colocara a culpa em sua mãe. O príncipe poderoso pusera a culpa nela.
— Maldito sapato inútil — vociferou Maria. Para o inferno com a neve e o pavimento frio. Ajoelhando-se, arrancou os sapatos arruinados e caminhou até a porta da frente do edifício, que se abriu assim que ela a alcançou.
Joaquin saiu para rua e sorriu quando a viu, mas ao perceber que ela estava descalça a fitou confuso.
— Maria, quépasa? Por qué estás descalza en este frio? Maria forçou um sorriso.
— Nada de errado. Quebrei o salto do sapato, é tudo. — Ela passou por ele e entrou no vestíbulo. — Pensei que já tivesse ido embora — disse, começando a subir os degraus para o loft, com Joaquin em seu encalço. Havia um elevador de carga, mas, como sempre, não estava funcionando.
— Como pode ver, ainda estou aqui. Esperei para ver se você voltava com boas notícias.
Maria assentiu com a cabeça, mas não disse nada. Quando os dois alcançaram o terceiro pavimento, ela enfiou a chave na fechadura, abriu a porta e caminhou com passos largos sobre o piso de taco gasto pelo tempo. Largou o par de sapatos e a bolsa sobre uma mesa próxima a uma das grandes janelas e voltou sua atenção ao velho colega de trabalho.
— Muito gentil da sua parte.
Os olhos castanhos e afetuosos de Joaquin esquadrinharam a face dela.
— As coisas não foram bem.
Maria suspirou enquanto retirava o casaco. Poderia mentir ou pelo menos fazer o encontro com o gerente de compras soar mais esperançoso, mas não havia nenhum sentido nisso. Joaquin a conhecia muito bem. Trabalhavam juntos há cinco anos. Além do mais, os dois cresceram em apartamentos vizinhos em um edifício caindo aos pedaços no Bronx.
Joaquin e a família tinham vindo de Porto Rico para o continente quando ele tinha apenas cinco anos de idade e ela seis. Era o irmão que ela nunca tivera.
Tentar enganá-lo era inútil.
— Maria?
— Não conseguimos o contrato.
— Ah! Sinto muito. O que aconteceu? Pensei que o francês tivesse bom gosto.
— Ele nem é francês — Maria disse com um risinho. — Quanto ao bom gosto... Bem, ele disse que apreciava o meu trabalho. Mas...
— Mas?
— Mas que entrasse em contato com ele quando as Jóias by Maria se tornassem mais conhecidas.
— Quando isso acontecer você não precisará dele — disse Joaquin num tom firme.
Maria sorriu.
— É bom que você já seja casado, ou eu não o deixaria escapar.
Joaquin também sorriu. Era uma velha piada e ambos sabiam que não tinha nenhum significado. Já que a esposa dele era a melhor amiga de Maria.
— Vou contar a Sela que você disse isso.
— Diga-lhe também que a espero para jantar no domingo.
— Pode deixar. — Joaquin enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo. — Deixei os novos moldes de cera na bancada de trabalho.
— Obrigada.
— O Fedex entregou as opalas que você encomendou. Coloquei no cofre.
— Excelente. Joaquin hesitou.
— Também há uma carta... Uma carta registrada do banco. —Ah, claro — disse Maria suspirando — Sinto muito. Não há necessidade de matar o mensageiro, certo?
— Pode mudar de ideia quando eu lhe falar que sua mãe telefonou.
Joaquin disse num tom leve, mas ambos sabiam que um telefonema de Luz Santos raramente era agradável. A vida da mãe de Maria não ia muito bem e ela culpava a filha por isso.
Se pelo menos Maria fizesse aquele sacrifício ter valido a pena. Se pelo menos parasse de brincar com quinquilharias e arrumasse um emprego de verdade.
— Ela disse o que queria?
— Está com dor de coluna... Indigestão... O médico não dá jeito. — Joaquin clareou a garganta. — A filha da sra. Ferrara foi promovida.
Maria assentiu com a cabeça.
— Claro.
— A sua prima Angela também.
— Novamente — disse ela com o rosto inexpressivo.
— Novamente — concordou Joaquin.
De repente, tudo parecia demais. O dia. A decepção. O empréstimo bancário vencido e não pago. Os sintomas de gripe e agora o telefonema da mãe. Um pequeno gemido escapou dos seus lábios.
Joaquin a abraçou e ela cedeu, apoiando a cabeça no ombro do amigo.
— Maria, tenho uma boa ideia. Venha comigo. Você sabe que Sela vai adorar vê-la. Ela está fazendo chile colorado para a ceia. Quando foi a última vez que comeu algo tão delicioso, hein?
— Joaquin, vá para casa.
— Se houver algum modo de Sela e eu podermos ajudá-la...
— Eu sei.
— Se pelo menos você tivesse ganhado aquele concurso. Ainda não consigo entender por que não o ganhou.
Maria entendia, mas preferia morrer a contar.
— Tudo vai dar certo, Joaquin.
— De su boca ai oído de Dios.
Isso a fez sorrir. Apertando a face do amigo entre as mãos, beijou-o de leve na boca.
— Vá para casa, mi amigo.
— Sela vai ficar brava se a deixar sozinha num momento como esse.
— Diga a Sela que eu a amo, mas sou sua chefe e o mandei para casa.
Joaquin sorriu.
— Sim, chefe — concordou ele, dando-lhe um beijo na testa.
Maria o observou caminhar até a porta, abri-la e sair. Envolvendo o próprio tórax com os braços, estremeceu de leve. Fazia muito frio no loft. O teto alto parecia roubar o calor que os poucos aquecedores irradiavam. Em um dia como aquele, o vento era inexorável e o ar frio penetrava na sala cavernosa.
Uma corrente de ar soprou diretamente sobre ela e uma camada de gelo começava a se formar no vidro da janela. Maria esfregou-o com o punho.
O que aquele carro estava fazendo ali? Estacionado do outro lado da rua, grande, preto e elegante. Não entendia muito de automóveis, mas naquela área de Manhattan um Rolls, um Mercedes ou um Bentley, fosse qual fosse a marca daquele veículo, era totalmente incomum.
Seus lábios se curvaram. Talvez fosse de um corretor de imóveis dando uma espiadela no local. Eles apareciam tão regularmente quanto ratos, um sinal de que aquela área estava se tornado cada vez mais valorizada para pessoas como ela. Um deles batera à sua porta duas semanas atrás. Conseguira se livrar do sujeito, assegurando-o de que não era a proprietária do loft, embora não conseguisse impedir de dizer que, se fosse, não o venderia por dinheiro nenhum.
Em um gesto de desafio e frustração, contemplou o veículo e fez uma careta com a língua. Então, se afastou na escuridão, rindo de si mesma, um pouco nervosa. Que coisa mais louca para se fazer, mas em um dia como aquele, em que tudo dera errado, era melhor que nada.
Alex, sentado na parte de trás da limusine Bentley, piscou surpreso.
A srta. Santos lhe fizera uma careta com a língua?
Não. Por que faria tal coisa? Sequer podia vê-lo. Estava escuro. Os vidros do carro eram fume. Com certeza fora uma distorção, causada pelo frio e a neve que caía pesada naquele momento.
Não que estivesse caindo o bastante para impedi-lo de ver os carinhos trocados entre a srta. Santos e o homem que acabara de sair. E não que ele ligasse a mínima para isso. Cinco minutos para explicar o que estava fazendo ali, que o trabalho seria dela e ponto final.
Estava fazendo isso pela mãe. Podia ignorar a raiva que sentia. O desgosto.
Mas desejou não ter assistido àquela cena romântica. Fora o bastante para fazê-lo sentir um embrulho no estômago.
Alex carranqueou. Que tipo de amante era aquele? Por que preferira o frio da noite ao calor de uma mulher? Será que sabia que ternura não era o que Maria Santos desejava? Ela era fogosa. Selvagem. Impetuosa na cama.
Ainda lembrava com nitidez a noite que passaram juntos. O cheiro feminino. A textura da pele morna e sedosa sob suas mãos ansiosas. Os cabelos macios, roçando-lhe a garganta... Os mamilos doces na umidade da sua língua. Os pequenos gritos e gemidos que ela deixara escapar. Aquele momento incrível em que a penetrara e tivera a impressão que ela jamais pertencera a outro homem antes.
E, droga, que diabos estava fazendo? Seu corpo ficara excitado só de lembrar. Alex abriu a janela e respirou fundo. O ar frio encheu seus pulmões.
Lembrar-se de como ela era na cama não era a coisa mais certa a fazer. Devia, sim, lembrar-se do motivo que a levara até lá. Não fora por acaso que ela ficara parada na frente do edifício dos escritórios dele em Ellos, parecendo perdida com um guia de viagem nas mãos.
Na hora, ele não suspeitara de nada. Mas a notara de imediato. Que homem não notaria? Esbelta, bonita, cabelos escuros presos por uma fivela dourada. A silhueta banhada pela luz branda do dia era uma visão encantadora. Usava um par de óculos de leitura pequeno sobre a ponta do nariz. De alguma maneira, lhe conferia um charme especial.
Americana, uma turista, pensara ele. Sem dúvida estava perdida.
Naquele dia, não tinha pressa de ir a lugar algum. Certo, por que não?, dissera a si mesmo, enquanto se aproximava.
— Com licença — dissera, num tom agradável. — Precisa de ajuda?
Ela erguera o rosto do guia de viagens, os olhos um pouco embaçados por causa dos óculos. Sua hesitação fora astuta o bastante para fazê-la parecer não apenas cautelosa, mas quase antiquada.
— Bem... Bem... Obrigada. De fato, sim preciso. Se puder me informar... Estou procurando o Argus. É um restaurante. Bem, um café. O guia de viagem diz que deveria ser aqui. 0 recepcionista do hotel também. Mas...
— Mas não é — dissera Alex, sorrindo. — E receio que não seja há mais de um ano.
A decepção na face bonita a tornou ainda mais adorável.
— Oh. Oh, entendo. Bem, obrigada mais uma vez.
— Não há de quê.
Num gesto ágil, Maria retirou os óculos e o fitou. Os olhos não eram castanhos, nem verdes, nem dourados, mas uma verdadeira mistura de tons, tão largos e inocentes quantos os de um gamo.
Quanto os de uma raposa que se aproxima de um galinheiro, pensou Alex, irritado.
Maria Santos sabia exatamente o que estava fazendo quando ele sugerira um restaurante perto.
— Esse outro restaurante é...
— Tão bom quanto o Argus? — Na verdade, ele não fazia a mínima ideia. Jamais havia ido ao Argus. Pelo pouco que recordava, tratava-se de um café minúsculo. Um lugar para se fazer um lanche rápido.
— Tão barato quanto o Argus? — A cor desaparecera da sua face. — O guia de viagem diz...
— Não se preocupe com isso.
O restaurante era inacreditavelmente caro, mas a levou assim mesmo. Jantaria com ela e pagaria a conta. Apenas para conversar. Queria ser um bom representante do seu país, embora, para sua surpresa, aquela bela estranha parecia não tê-lo reconhecido.
Pura ilusão. Uma vírgula que não o reconhecera. Sabia muito bem quem ele era. Montara a farsa inteira.
Mas até então não havia percebido.
Ela protestara lindamente, dizendo que não poderia deixá-lo pagar a conta. E, por fim, o deixou pensar que era capaz de vencer os protestos dela.
A farsa continuou após o jantar, quando caminharam ao longo do quebra-mar, quando a beijara, cercados por pinheiros altos que brotavam de um pequeno promontório. Quando os beijos passaram de um leve roçar a uma exploração ardente e profunda. Quando suas mãos mergulharam sob a saia de seda que ela usava, o que a fez gemer de encontro aos seus lábios. Quando a envolveu firmemente pela cintura sem deixar de beijá-la e a conduziu pelas ruas tranquilas até seu apartamento, para sua cama. Quando ela o abraçou e sussurrou que jamais fizera uma coisa daquelas antes... Quando Maria se entregou em seus braços, os murmúrios tão doces, tão selvagens, tão reais...
Alex se amaldiçoou.
— Senhor? — chamou o motorista, mas o príncipe o ignorou. Abrindo a porta da Bentley, saiu para a noite.
Tudo mentira. Mentiras que se tornaram inacabadas no começo da manhã, quando estendera o braço para procurá-la e encontrara o lado dela na cama vazio. Pensou que ela estivesse no banheiro. Não estava.
Então, ouvira a voz feminina, suave como a brisa do mar. Estaria ao telefone? Sem saber por que fez aquilo, Alex se sentara na cama e, em seguida, erguera cuidadosamente o fone do gancho.
Ouvira-a dizer com um risinho breve: Sim, Joaquin, acho que tenho uma boa chance de ser nomeada a vencedora. Sei que a concorrência é acirrada, mas tenho todos os motivos do mundo para acreditar que minhas chances são realmente excelentes.
Ainda com o telefone no ouvido, ela o fitou quando ele entrou na cozinha. Um rubor tingiu-lhe a face.
— Você está acordado — disse com um sorriso sem graça. Arrancando o telefone da mão dela, ele a carregara de volta para cama. Sem dizer uma palavra, a possuiu com uma paixão que brotara da raiva. No final, pediu que ela se vestisse e sumisse dali. E que não aparecesse no palácio mais tarde.
— Suas chances de ser nomeada para confeccionar o presente de aniversário da minha mãe são menores que uma bola de neve no inferno — dissera, num tom cortante.
De volta ao presente, Alex atravessou a rua.
Dois meses haviam se passado, mas aquele prognóstico não seria apenas mais uma metáfora. Ali estava a neve. E, dentro de alguns minutos, Maria Santos seria apresentada, pela primeira vez, ao inferno.
Sentiria imensa satisfação em expurgá-la da mente.
Para sempre.
Maria suspirou, livrou-se do casaco, colocou-o sobre o espaldar de uma cadeira e, automaticamente, pegou o telefone para ligar para a mãe.
Sua mão estacou no meio do caminho.
O que estava fazendo? Uma ladainha de uns dez minutos sobre dores e mais dores, seguida por um sermão de que ela precisava arrumar um emprego de verdade eram as últimas coisas que desejava naquele momento.
Primeiro se livraria das roupas, tomaria um banho quente, comeria algo e, então, faria a ligação.
Caminhou descalça em direção à extremidade que servia de área de dormir. Livrando-se das roupas, retirou a fivela que prendia os cabelos e alisou as mechas onduladas. Jogando a cabeça para trás, pegou um conjunto de moletom velho e vestiu.
Hora de comer, entretanto o pensamento lhe causou náuseas.
Nada de novo nisso. Na última semana ou mais não vinha se sentindo bem. Nenhuma surpresa, considerando que metade da cidade estava gripada. Por certo, ela também estaria, mas não podia se dar ao luxo de sucumbir, não com meia dúzia de peças para concluir até o final do mês.
Os compradores esperavam que ela cumprisse o prazo. E precisava do dinheiro que eles lhe pagariam na entrega.
Então, não podia admitir a possibilidade de estar doente. Estava sob muita tensão. A fadiga, o peso nos membros, as náuseas que iam e vinham... Tudo isso se devia ao estresse.
Algo leve para comer a faria se sentir melhor. O nervosismo a impedira de tomar o desjejum, o almoço fora uma piada. Definitivamente, precisava colocar alguma coisa no estômago.
Sopa? Ovos mexidos? Queijo grelhado? Melhor ainda, podia pedir algo no Lo Ming's, que ficava na esquina. Após o pedir comida chinesa, ligou a televisão e se encolheu no sofá.
Nesse instante, a campainha tocou. Mas o que seria agora? Era tarde. Quem viria visitá-la àquela hora?
Claro. Joaquin. Provavelmente caminhara até o próximo quarteirão, ligara para a esposa e Sela o mandara de volta para convidá-la para jantar com eles.
A campainha tocou mais uma vez. Maria fixou um sorriso nos lábios, caminhou até a porta, destrancou a fechadura e a abriu.
— Joaquin, você precisa aprender a aceitar um não... Alexandros Karedes, com flocos de neve sobre os ombros, se encontrava parado do lado de fora.
Maria sentiu o sangue se esvair da cabeça.
— Boa noite, srta. Santos.
A voz máscula soou como ela se lembrava. Profunda... Rouca... Perfeita...
Inglês, mas com uma leve sugestão de sotaque grego. E tão fria quanto naquela manhã horrorosa que jamais esqueceria, quando a acusara de coisas horríveis...
— Não vai me convidar a entrar?
Maria se esforçou para manter a compostura. Na última vez que se viram, estava no território dele. Agora estava no seu. Estava no comando e isso significava tudo.
—Há um cartaz fixado na porta — disse ela, num tom frio —Onde se lê: "Não há lugar para vagabundos."
Os lábios dele se curvaram num sorriso cruel.
— Muito engraçado.
— O que deseja, príncipe Alexandros?
Um novo sorriso curvou os lábios de Alex e ela se odiou, porque mesmo agora, sabendo que o homem era odioso e arrogante, não conseguia deixar de notar a beleza daquela boca. Esculpida. Sensual. Bonita, como o restante do corpo, a prova viva de que beleza podia ser de fato apenas superficial.
— Quanta formalidade, Maria. Não agiu com tanto decoro na última vez que nos vimos.
Ela sentiu a face corar.
— Vou lhe perguntar mais uma vez, vossa alteza. O que deseja?
— Deixe-me entrar e explicarei.
— Não tenho a menor intenção de deixá-lo entrar. Diga-me o que está fazendo aqui ou fecharei a porta na sua cara.
Alexandros riu. Isso a enfureceu, mas não podia culpá-lo. O homem era alto e, embora mantivesse um ombro apoiado no batente da porta, mãos enfiadas casualmente nos bolsos do casaco, aquela postura descontraída era enganosa. O príncipe tinha o corpo musculoso de um atleta bem-treinado.
Maria lembrava-se daquele corpo com nitidez. Os contornos rijos sob suas mãos. A energia máscula se movendo sobre ela. O gosto dele em sua língua.
De repente, ele se endireitou e parou de rir.
— Não vim de tão longe para ficar parado aqui na porta e não vou partir enquanto não estiver preparado para tal. Sugiro que se afaste e pare de se comportar como uma criança petulante.
Uma criança petulante? Era isso que ele pensava? Aquele homem que passara horas fazendo amor com ela e depois a acusara de vender o próprio corpo?
Mas não fora amor, fora sexo. E o quanto mais cedo se livrasse dele, melhor.
— Você tem cinco minutos.
Alex entrou e passou por ela, trazendo consigo o ar frio e o cheiro da noite. Maria se virou e o encarou com os braços cruzados.
— Já se passaram dez segundos — disse, olhando para o relógio sobre a mesa de trabalho. — Está desperdiçando tempo, vossa alteza.
— O que tenho a dizer levará mais de cinco minutos.
— Então terá que aprender a economizar. Mais de cinco minutos e chamarei a polícia.
A mão forte do príncipe segurou-a pelo pulso. Ele a puxou para si, os olhos cor de chocolate estavam quase negros de raiva.
— Faça isso. E direi a todos os tablóides que Maria Santos tentou comprar uma concorrência de 500 mil dólares seduzindo um príncipe. — Ele sorriu. — Eles vão adorar.
Maria ficou branca, mas manteve o queixo erguido.
— Não tente me assustar com mentiras! Não pode se dar ao luxo de se envolver nesse tipo de fofoca.
— Aprendi a suportá-las, srta. Santos. Fazem parte da minha vida. Além do mais, sou o príncipe íntegro que descobriu o que você queria e lhe deu um chute no traseiro. — Outro daqueles sorrisos frios curvou os cantos dos lábios sensuais. — Eles a comerão viva. Como acha que vai repercutir entre os clientes respeitáveis que de alguma maneira conseguiu enganar?
Maria livrou a mão do aperto férreo.
— Tú eres um cochón! Um cochón malnacido!
— Não acho. Se fosse mesmo, teria lhe dito exatamente o que penso de você oito semanas atrás, em vez de apenas expulsá-la do meu apartamento.
Maria corou. Não imaginara que o príncipe entendesse espanhol. Mas, afinal, se enganara desde o início sobre aquele homem.
— Tem quatro minutos restando antes de eu chamar a polícia. Lidar com a mídia não será tão ruim assim se eu puder me ver livre de você.
— Qual é o problema, Maria? Está esperando que seu amante volte?
— O quê?
— Seu amante. Como foi mesmo que o chamou? Joaquin?
A ideia era tão absurda que ela quase riu, mas a risada gastaria mais energia. Além do mais, não tinha que lhe explicar coisa alguma.
— Joaquin não é problema seu.
— Tem razão, claro que não. — Alex caminhou em direção à janela e espiou a limusine que o aguardava do outro lado da rua.
— Mas não pude deixar de assistir sua cena romântica essa noite. Não pode me culpar por ser curioso.
Maria se apressou até a janela. Impossível. O príncipe da arrogância certamente não teria ficado parado sob a neve, observando a janela dela...
O carro grande. Era dele. Furiosa, gesticulou para o convidado mal vindo.
— Estava sentando lá fora me espiando?
— Devia considerar a possibilidade de colocar cortinas nas janelas.
— Você... Você... — Maria apontou um dedo para a porta. — Fora da minha casa!
Alex não se moveu. Em vez disso, enfiou as mãos mais fundo nos bolsos e a fitou demoradamente. Ela, por certo, não estava vestida como uma mulher que esperava o amante voltar. Não com um moletom folgado e velho. Havia um buraco em um dos joelhos. Os pés descalços, os cabelos uma massa de cachos selvagem.
Alex sentiu um embrulho no estômago.
Que homem gostaria de reconhecer que ainda desejava uma mulher que tentara usá-lo?
Um tolo, disse a si mesmo. Maria Santos o atraíra para a cama. O seduzira, embora na ocasião ele tivesse pensado que a estava seduzindo.
Ela havia planejado tudo, desde o suposto encontro acidental na rua até o momento em que ele lhe dera o primeiro beijo. A única coisa que o surpreendera naquela noite fora o fato de ela não ter sido capaz de sorrir maliciosa e triunfalmente quando a convidara para ir ao apartamento dele.
Aquela mulher o fizera de bobo. E até essa dívida estar liquidada, a lembrança da sua humilhação continuaria a assombrá-lo.
Não tinha dúvidas sobre o que lhe expurgaria aquela lembrança da mente. Maria em sua cama novamente. Movendo-se embaixo dele. Não haveria gritinhos falsos. Nenhum subterfúgio. Ele a faria querê-lo, a faria reagir a ele. E então lhe daria um fora pela segunda vez.
— Seus cinco minutos estão se esgotando, príncipe Alexandros.
Alex a encarou. A expressão era de puro desafio. Isso o fez sorrir.
— Está achando graça? — perguntou ela.
— Com certeza.
Os olhos de Maria se estreitaram.
— Vou contar até dez. É sua última chance. Se não sair agora mesmo...
— Safir et Fils está à beira do colapso. Ela piscou.
— Quem?
— Safir et Fils — repetiu impaciente. Ela o estava encarando expressiva. — Ora, srta. Santos. Não tente me dizer que o nome da companhia que ganhou a concorrência pela qual você se prostituiria para conseguir se apagou da sua...
A mão dela voou pelo ar, mas Alex foi mais rápido. Segurou-a pelo pulso e a arrastou para a frente.
— Não erga a mão para mim novamente! — O tom era de ameaça.
— Solte-me.
— Você ouviu o que eu disse?
— Você é um bastardo.
A voz de Maria tremeu. As lágrimas brilharam em seus olhos enquanto ela respirava fundo.
— Bancar a inocente íntegra não a levará a lugar algum, agape mou. Você me fez de bobo uma vez, mas lhe garanto que isso nunca mais acontecerá. E não me xingue. Sou um príncipe. Acho bom se lembrar.
Alex quase estremeceu. Soava como um asno, mas como podia raciocinar com a raiva bombeando seu sangue daquela maneira? Ela era uma excelente atriz. E aquela era outra performance estelar. Os olhos úmidos. A voz trêmula. A face ruborizada.
— Pensou que pudesse escapar? Deixar-me pensar que havia se entregado por paixão, quando tudo que esperava era que o fato de ter dormido comigo lhe assegurasse o primeiro lugar no concurso. — Ele fez uma pausa.
Maria o encarou. Estaria esperando que ela respondesse? Se lhe dissesse que ele estava errado, não acreditaria. Como naquela manhã em que a chamara de mentirosa. Tentar fazê-lo ouvi-la agora seria insensato e humilhante.
A verdade é que não o reconhecera naquela noite. Um príncipe? O filho da rainha Tia e do rei Aegeus? Até onde sabia, ele era apenas um homem. Deslumbrante, inacreditavelmente sensual e fascinantemente estranho, cujo sorriso e o toque a deixaram ofegante.
Quando ele a beijara e os beijos não foram o bastante. Quando a tocara e os toques também não foram suficientes, esquecera-se de tudo. De que estavam em um lugar público, de que era uma mulher de respeito e que nunca estivera na cama de um homem antes. E quando ele sussurrara, venha comigo, concordara. O que mais poderia fazer?
Seu mundo se reduzira a ele. Ainda não podia acreditar como deixara acontecer tal coisa.
— Qual é o problema, coração? O seu pequeno cérebro está ocupado, engendrando uma resposta para me satisfazer? — O tom era severo. — Não desperdice seu tempo. Só uma coisa pode me satisfazer e você sabe o que é.
A intenção estava estampada em seus olhos.
Maria percebeu e tropeçou para trás. Alex podia ver o latejar da pulsação na base do pescoço de Maria. Bom, pensou frio. Dessa vez, pelo menos, ele detinha a vantagem.
— Vá embora daqui. — Maria falou num fio de voz que ele ignorou. Em vez disso, virou-se de costas e caminhou até a mesa de trabalho dela. Havia alguns moldes em uma placa de cortiça na parede.
— Você não me ouviu? Eu disse...
— E você? Também não me ouviu? — Ele se virou, braços cruzados sobre o peito, pés cruzados sobre os tornozelos. — A Safir et Fils está falindo.
— Espera que eu lamente por eles?
— Isso significa que não serão capazes de concluir o presente de aniversário da minha mãe.
Um sorriso zombeteiro curvou os lábios dela.
— Passe no Wal-Mart na volta e compre alguma coisa para ela.
— Sei que acha isso engraçado, Maria, mas é mortalmente sério, dia sete de março será um dia importante. Meu pai até declarou feriado nacional. Haverá um baile onde comparecerão autoridades do mundo todo.
— Bem se não conseguir encontrar alguma coisa no Wal-Mart...
— Meus pais decidiram contratar seus serviços.
A mandíbula de Maria desabou. Estava estupefata. Duas vezes naquela noite.
— Eu?
— Você. Sabe, apesar do que lhe disse naquela noite, jamais mencionei seu joguinho sórdido ao rei ou à rainha. Não havia necessidade. Meu pai havia optado pelo joalheiro francês.
Maria engoliu em seco. Queria gritar de alegria, mas não daria esse prazer ao príncipe.
— Que... Agradável. Ser a segunda opção.
— Por favor. Sarcasmo não leva a lugar nenhum. Ambos sabemos que é a chance de uma vida para uma mulher como você.
As faces dela coraram.
— O que isso significa, exatamente?
— Bem, que seu nome ficará conhecido, que sua carreira será impulsionada. Que mais poderia significar?
Maria estava certa que não fora isso que Alex quisera dizer, mas para que discutir? Na verdade, ele estava certo. Os pedidos duplicariam. Triplicariam! A Tiffany lhe daria uma vitrine. Bem como a Barney. Vogue, Vanity Fair, Allure, Elle, Marie Claire... Todas as revistas de moda no mundo acampariam nos degraus da sua porta e o nocivo pseudofrancês ficaria de joelhos, implorando-lhe para trabalhar para a L'Orangerie.
Mas se pelo menos a corte tivesse enviado outra pessoa para lhe dar a notícia.
— Eles me enviaram — disse Alex, como se lesse o pensamento dela — porque queriam ter certeza de que você entenderia a importância desse trabalho.
— Você quer dizer que o rei pensou que sua ilustre presença real me impressionaria. — Ele sorriu. Maria estreitou o olhar.
— Que pena que seu pai não o conheça tão bem quanto eu. Alex estava se cansando daquele jogo. Sempre encarara a vingança como um ato vil. E principalmente contra uma mulher, mesmo que aquela precisasse de uma lição.
— Qual é sua resposta? — perguntou, num tom brusco, e conferiu o relógio de pulso com um ar impaciente. — Meu piloto está de prontidão. Se o tempo permitir, pretendo voar para casa ainda hoje.
Maria mordeu o lábio inferior. Deus, o homem era arrogante. Se pelo menos pudesse se dar ao luxo de lhe dizer o que ele devia fazer com aquela oferta. Mas ele tinha razão. A oportunidade alavancaria a carreira dela. Tinha que dizer sim. Contudo, devia haver um modo de fazer isso e recuperar a autoridade.
— Muito bem. Aceitarei a oferta.
Alex assentiu com a cabeça e alcançou o bolso interior do peito do casaco de couro.
— Bom. Tenho alguns documentos aqui...
— Há certas condições que eu gostaria de estabelecer — disse ela, pegando os documentos da mão dele.
As sobrancelhas escuras se ergueram.
— De fato. Data de aprovação. Data de conclusão. Um contrato sobre o que você pode ou não declarar à mídia...
— Primeiro — interrompeu Maria. — Trabalho sozinha. Se precisar de um assistente, será alguém escolhido por mim.
— Acho que você não entendeu. Esse contrato diz respeito às exigências...
— Segundo, preciso de equipamento novo. — Ela sorriu.
— Que ficará a encargo da realeza de Aristo. Não meu. A boca de Alex transformou-se em uma linha rija. — Está tendo muita sorte em conseguir esse trabalho, srta. Santos. Talvez esteja se esquecendo disso...
—Terceiro. Não trabalho com ninguém no meu pé. Em outras palavras: ficarei satisfeita em mostrar o progresso do trabalho ao rei e à rainha, e a ninguém mais.
Um músculo se retesou na mandíbula de Alex.
—Esse último item diz respeito a mim?
— Quarto... — continuou Maria, mas ele havia parado de ouvi-la. Quem aquela mulher pensava que era? Não era um antiquado. Ninguém precisava se curvar ou ficar de joelhos na sua frente, exceto, é claro, em ocasiões formais da corte, mas como príncipe as pessoas lhe deviam respeito. — ...se todas essas condições forem satisfeitas, assinarei seu documento.
Alex não respondeu. Permaneceu parado, observando-a com aqueles olhos escuros ilegíveis, e sentiu a tensão crescer em seu interior.
Então outro pensamento lhe veio à mente. Teria que levá-la para a cama novamente. Ali mesmo. Naquela noite. Seria ele a seduzi-la dessa vez, se não com seu corpo, então com o trabalho pelo qual ela teria vendido a alma. Arrancaria as roupas dela, a tocaria em todos lugares, a possuiria quantas vezes quisesse, até expurgá-la de vez de dentro de si.
Um momento atrás dissera a si mesmo que o plano era louco. Possuir uma mulher por vingança não combinava com ele. Já era doloroso demais ela saber que só estava conseguindo aquele trabalho porque o verdadeiro vencedor estava fora da jogada.
Porém, Maria estragara tudo. Quem ela pensava que era para fazer exigências? Será que pensava que tinha o direito de tratá-lo como um garoto de recados?
— Está me escutando, vossa alteza?
Alex a fitou. Os olhos dela brilharam com desprezo e a postura reafirmava isso.
— Acho que ouviu minha última exigência — continuou ela. — Não tratarei mais nada com você depois dessa noite. Está claro?
Alex podia sentir o corpo zunindo de raiva. Queria tomá-la nos braços e sacudi-la. Humilhá-la. Conquistá-la. Arrancar aquele conjunto de moletom ridículo, expô-la aos seus olhos, às suas mãos, boca...
Deu um passo adiante. Suas intenções pareciam estar estampadas na face. Maria empalideceu e deu um passo atrás. Isso mesmo, pensou frio. Tenha medo de mim. Tenha medo do que vou fazer...
Nesse instante, o telefone tocou. Ela se agarrou àquilo como uma tábua de salvação.
— Alô? — Ela ouviu, então clareou a garganta. — Sim, eu sei. Sim, eu sei disso também. Sinto muito não ter ligado.
— Maria se virou, deixando claro que precisava de privacidade. — Podemos discutir isso outra hora? — disse num tom baixo.
Alex também se movera. Os olhos fixos nela ainda exibiam um brilho perigoso. E ter notícias de Luz era a última coisa que ela precisava naquele momento. Virou-se novamente, desejando desesperadamente que o telefone fosse sem fio, assim poderia se afastar um pouco. A mãe estava contando sobre a prima Angela e sua recente promoção na companhia de seguros.
— Deixe-me lhe contar uma notícia maravilhosa — disse Maria, interrompendo o infinito elogio da mãe a Angela.
— Aquele concurso, lembra? Aquele de confeccionar a jóia de aniversário para a rainha Tia de Aristo? Bem, fui aprovada.
Ela esperou, embora na verdade não soubesse o que de fato estava esperando. Sabia muito bem que a mãe não ia gritar de alegria nem dizer que estava orgulhosa da filha.
— Você? — perguntou Luz do outro lado como se fosse uma coisa impossível. — Você não venceu a concorrência. Não foi competente o bastante para ganhar.
Maria estremeceu.
— Sim Bem... Mas as coisas mudaram. Houve um problema com o vencedor e...
— Ah! — O suspiro da mãe dizia tudo. — Bem, não importa como conseguiu, é uma oportunidade. Vê se dessa vez não faz nada de errado.
Maria sentiu vontade de chorar, o que era ridículo. Por que aquela noite era diferente de todas as outras que vivera em seus 28 anos de idade? E o pior era que Alex não tirava os olhos dela. Isso era enervante.
— Uma das coisas que sua prima Angela sabe fazer é aproveitar as oportunidades.
— Sim. Eu sei. Está tarde. Falo com você amanhã.
— Se Deus quiser que eu esteja viva amanhã. E por favor, Maria, não desperdice seu tempo dizendo que os médicos acham a minha saúde excelente. O que os médicos sabem?
— Bem, boa noite — disse Maria. — Eu te amo.
Muito tarde. Luz já havia desligado. Pousando o telefone, engoliu além do nó que sentia na garganta. O príncipe arrogante se moveu. Estava cada vez mais próximo.
— Ele não estava interessado na sua declaração de afeto?
— O quê?
— Seu amante. Joaquin. Tive a impressão que ele desligou abruptamente. Suas notícias não o agradaram?
— Não era... — Ela mordeu o lábio inferior. Ter um amante, mesmo que fosse imaginário, lhe proporcionava um pouco de proteção? Precisava de proteção, o instinto lhe dizia. — Isso não é educado. Escutar a conversa dos outros.
Alex sorriu.
— E você, srta. Santos, é especialista em etiqueta, não é? O sorriso desapareceu. Ele empurrou uma caneta de ouro na direção dela. — Assine o contrato. Por que aquilo soara tão ominoso?
— Insisto para que aceite minhas condições primeiro...
De repente, as mãos dele estavam nela, segurando-a pelos ombros e a erguendo do chão.
— Você tem sorte de estar conseguindo esse trabalho. Ambos sabemos disso. Está desesperada por dinheiro. Por favor, não desperdice tempo negando. E precisa do prestígio que virá se criar um colar para uma rainha. — O tom endureceu. — Assine o contrato.
O lábio inferior de Maria tremeu e ela desviou o olhar. Por uma fração de segundos, Alex se odiou.
Era isso que ele queria? Tiranizar uma mulher que estava às portas da desgraça? Uma mulher cujo amante, obviamente, não a felicitara por ter conseguido aquela oportunidade?
E por que se importaria? Maria Santos não significava nada para ele.
— Assine o contrato — rosnou mais uma vez.
Pegando a caneta, Maria alisou o documento e rabiscou seu nome no lugar indicado.
Alex sentiu uma onda de calor invadi-lo, mas não disse nada, simplesmente pegou os documentos, os dobrou e os colocou no bolso do casaco.
— Por falar em condições... Há outras além das que mencionei. As minhas condições. E você as conhecerá.
Os olhos escuros pousaram nos lábios dela. Maria sentiu o pulso acelerar.
Fosse o que fosse que o príncipe estava a ponto de dizer, ia virar o mundo dela de cabeça para baixo.
— Primeiro, você terá o estúdio dos seus sonhos, mas em Aristo, não aqui.
— Você está louco? Não tenho nenhuma intenção...
— Presumo que seu passaporte esteja em ordem.
— Claro, mas...
— Partirá comigo ainda essa noite.
— Não pode fazer isso...
Alex se curvou e a beijou como se ela lhe pertencesse, a língua invadindo-lhe a boca, as mãos envolvendo-a pelo quadril e puxando-a de encontro ao seu membro excitado.
— E... — disse ele, quando se afastou e ergueu a cabeça. — Você esquentará minha cama até o trabalho ser concluído.
— Não! — Maria sacudiu a cabeça para enfatizar sua recusa. — Jamais...
— Você vai ou farei o que deveria ter feito quando deixou minha cama pela primeira vez. Contarei à rainha sobre nossa pequena aventura. Direi a ela que não é merecedora de confeccionar essa jóia ou de sequer trabalhar perto dela. E então poderá ficar nesse loft e viver para sempre com a culpa de ter falhado na chance que poderia ter mudado sua vida.
Maria queria chorar, mas sabia que lágrimas o fariam se sentir vencedor. Em vez disso, o encarou sem vacilar.
— E assim que consegue suas mulheres, vossa alteza? Através de chantagem?
Os olhos do príncipe brilharam em advertência. Maria tentou se afastar, mas ele a impediu, devorando-lhe a boca mais uma vez. As mãos ansiosas varriam os cabelos dela, mantendo-a cativa daquele beijo impiedoso até arrancar-lhe um gemido da garganta.
Apesar da fúria e do ódio, estava acontecendo novamente, o espiral quente de desejo que sentira naquela noite, todas aquelas semanas atrás. O súbito acelerar do coração. O oceano de sensações incríveis e surpreendentes a estavam subjugando.
Sentia-se atordoada nos braços dele, atordoada pelo seu gosto, seu cheiro, o toque das mãos fortes em seus cabelos. Alex a puxou mais para si. Sua ereção pressionada contra o ventre dela.
Oh, Deus! Ela o desejava... Desejava... Desejava... Maria o envolveu pelo pescoço e se entregou ao beijo.
Ela estava em chamas como naquela noite em Aristo. Alex a beijara e foi como riscar um fósforo perto de material inflamável.
De repente, seus olhos se abriram.
— Alex! Maldição, solte-me!
Por um momento, ele não assimilou aquelas palavras. Estava perdido no gosto de Maria. Mas as mãos dela se fecharam em pequenos punhos martelando seus ombros. A mensagem era clara. Bastara apenas um instante juntos para deixá-lo fora de si.
Alexandros abriu os olhos e a libertou.
— Faça suas malas.
— Acha que é assim? Entra aqui e anuncia que serei sua escrava sexual e...
— Minha amante — disse o príncipe, amaldiçoando-se mentalmente. Como podia ter se rebaixado a tanto?
— Acha que isso melhora as coisas? Não pode entrar aqui, me maltratar e esperar que...
É assim que você define isso? Quando se entrega lânguida e ardente nos braços de um homem, quase implorando que a possua?
Maria sentiu a face corar.
— Fora daqui!
— Tente cantar uma melodia diferente, agape mou. Não banque a virgem chocada que já está ficando cansativo.
— Por acaso não entendeu o que falei?
— E o contrato que você assinou? Devo entrar com uma ação na justiça?
— Não me ameace!
— Não é uma ameaça, é uma advertência. Você se comprometeu a fazer o presente de aniversário da rainha, a ser concluído antes do dia 28 de fevereiro e sujeito à minha aprovação.
— Sua aprovação?
— Sim. Seria melhor se tivesse lido o contrato mais detalhadamente.
Maria quis rir. Ou gritar. Qualquer um dos dois lhe parecia apropriado. Minutos atrás, Alex a beijara apaixonadamente. Agora, falava com ela como se fosse um promotor de justiça. Será que achava que podia usar sexo para controlá-la? Ou talvez pensasse que podia tiranizá-la. Estava muito enganado! Ela crescera nas ruas do Bronx.
— Contratos podem ser desfeitos. Alex ergueu uma sobrancelha.
— Ouviu isso em algum programa de televisão? Tem razão — disse ele, pegando o contrato e mostrando uma página a ela. — Mas este aqui não. Dê uma olhada no parágrafo três.
Maria arrebatou o documento das mãos dele e leu as frases pertinentes... Se a primeira parte fracassar na conclusão do trabalho acordado acima e/ou não cumprir os deveres adicionais exigidos na sua totalidade...
— O quê?
— Ah, posso ver que de fato não leu antes de assinar. Péssima decisão, receio.
— Isso é um absurdo! Não pode contratar uma amante...
— Continue a leitura. O olhar de Maria voltou ao contrato.
Tal fracasso resultará no confisco de todos os bens e serviços já fornecidos e reembolso dos mesmos.
— Que bens e serviços? Você não me forneceu nada.
— Esqueceu que está voando comigo para Aristo? Acha que eu não lhe providenciei uma oficina com ferramentas? E ainda tem mais.
Por fim, no caso de confisco, Maria Santos deverá pagar uma multa adicional na quantia de...
O número tinha tantos zeros que ela não conteve o riso. Os olhos de Alex se estreitaram.
— Posso lhe assegurar que isso não tem graça nenhuma. Não. Claro que não, mas que mais ela poderia fazer quando a multa era dez vezes o valor de tudo que ela possuía?
— Fique sabendo que tudo que tenho não chega nem perto desse valor.
O príncipe encolheu os ombros.
— Eu sei o que está no contrato que você acabou de assinar.
— Mas... Mas... Eu perderia tudo. Este loft. Meus clientes. As pessoas que conheço sofreriam com isso. E Joaquin que está comigo desde o começo...
— O bem-estar de seu amante não é problema meu.
— Joaquin não é meu amante. — Maria arremessou o contrato aos pés dele. — Ele trabalha para mim.
Alex se curvou e pegou o documento.
— Não importa, de uma forma ou de outra. Minha única preocupação é esse contrato. Vai cumpri-lo ou não?
Ela o fulminou com o olhar. Como podia ter dormido com ele aquela noite? Como pôde retribuir seus beijos minutos atrás?
Queria xingá-lo. Socar aqueles ombros largos, mas de que adiantaria? Nada, pensou amarga.
— Isso é agiotagem! Ele sorriu.
— Que termo legal impressionante. Mas incorreto. A multa, à qual você aceitou, não tem nada que ver com um empréstimo.
— Dane-se — explodiu Maria. — Não faça jogos de palavras comigo! Sei o que é agiotagem. E sei o que esse contrato é. Inescrupuloso. Imoral. Cruel e...
— E executável.
— Você não pode coagir uma mulher a... Qual foi mesmo sua frase? Esquentar sua cama!
De repente, ele estava muito próximo. Ela se afastou um passo, mas as mãos grandes do príncipe já haviam aprisionado sua face e a erguido para ele.
— Não há uma única palavra que sugira coerção nesse contrato. Você assinou de livre e espontânea vontade.
— Como pôde fazer isso? Não tem escrúpulos? Alex deu uma risada afiada.
— Que pergunta interessante vinda de você. Um mês, agape mou. Será tudo. Um mês na minha cama. — Os lábios dele se contraíram como se tivesse feito uma piada, mas os olhos eram tão escuros que pareciam não ter fundo. — Posso suportar, se você puder.
— Eu o odeio. Alex sorriu.
— Pode me odiar o quanto quiser, doçura. Não é seu coração que eu quero.
Não, não era, pensou ela. E isso era bom porque seu coração jamais faria parte daquele trato.
— Entenda uma coisa, vossa alteza. Estar em sua cama é uma coisa. Tomar parte seja no que for que aconteça lá, é algo que você não pode esperar.
— Um desafio?
— Uma declaração de fato.
— Um desafio... Que fico feliz em aceitar.
Alex curvou a cabeça e roçou os lábios dela repetidas vezes com beijos leves. Maria queria se apoiar nele. Queria fechar os olhos, apartar os lábios, envolvê-lo pelo pescoço e puxá-lo para si...
Não estou sentindo nada, disse a si mesma. E desejou que aquilo fosse verdade.
O que em nome de Chronos ela estava fazendo? Colocando na mala tudo que possuía? Calças jeans. Camisetas. Suéteres. Tênis, sandálias e, inferno, outro par de calças jeans.
Alex conferiu o relógio, fez uma carranca e sacudiu o pulso. Será que o maldito estava funcionando? Era impossível que tivesse se passado apenas cinco minutos desde que ela girara nos calcanhares e fora pegar uma mala em um dos cantos do loft. O loft dela. Seus lábios se repuxaram. Aquilo não era habitável.
No chão os sinais de desgaste eram visíveis. As paredes de tijolos não tinham pintura. Tudo ali era velho, escuro, deprimente. No teto alto, havia uma intimidante confusão de tubos e fiação elétrica.
Quanto à mobília... Havia duas mesas de trabalho. Alguns armários e bancos. Caixas e mais caixas. E naquela extremidade, longe da porta de entrada, uma porta que ele presumiu tratar-se do banheiro e, na frente dessa porta, uma cama.
A cama de Maria. Alva. Lembrava uma cama de convento. A boca de Alex se contraiu.
A cama dele... Suas camas, considerando o número de casas que possuía, eram sempre imensas, com espaço suficiente para um homem e uma mulher fazerem sexo por horas.
Mas uma simples cama de casal poderia ter vantagens. Dormiriam encostadinhos. Ele acordaria durante a noite sentindo o calor do corpo feminino contra o seu. E quando ela finalmente acordasse sussurrando seu nome, ele se posicionaria para deleitar-se com ela.
Skata!
Observou-a fazer as malas.
Como aquela mulher podia fazer isso com ele? Não estava gostando disso nem um pouco. Os homens deviam deter o poder e se isso fizesse dele um antiquado, que assim fosse.
Tomara a atitude certa. Levá-la para a cama quantas vezes quisesse o ajudaria a expurgá-la da mente.
Sexo não tinha nada a ver com emoção.
E quanto à ameaça de não reagir na cama... Era uma grande mentira. Conhecia mil modos de fazê-la reagir.
— Isso é suficiente! — rosnou, caminhando a passos largos em direção à cama, onde a mala de Maria estava aberta.
— O quê?
— Talvez tenha esquecido de como é o meu país. Não é uma selva. Temos shoppings.
Infelizmente, os preços também eram bem altos. Não teria dinheiro para cruzar aquelas portas. Um conjuntinho novo a endividaria para o resto da vida.
— Sinto muito — disse ela com doçura suficiente para causar coma diabética. — Mas não terminei.
— Terminou. — A voz soou severa. — Já embalou coisas suficientes para dez mulheres.
O que ela havia embalado era o bastante para uma mulher que não fazia a mínima ideia da temperatura no outro hemisfério naquela época do ano. Logo, estava levando calças jeans, camisetas, sandálias, botas para caminhar, suéteres. Considerara levar algo mais vistoso, mas para quê? Não haveria saídas à noite.
Iria para a cama do príncipe.
Encarou-o quando ele fechou a mala. Odiava-o como mulher. Como artista, não podia deixar de admirá-lo. Bem, não. Não ele. Não Alexandros Karedes.
Maria caminhou até sua oficina na outra extremidade do loft. Esqueça. Bloqueie isso da mente. Além do mais, apesar do contrato, ele não podia obrigá-la a tal exigência.
Quanto mais pensava naquilo, mais obtinha a certeza de que aquela tolice de dormir com ele era apenas um modo, particularmente sórdido, de lembrá-la de que ela não tinha lugar no mundo dele.
Muito bem, pensou, pegando uma grande pasta de couro em uma estante e colocando um punhado de ferramentas em seu interior. Deixe-o fazer seus joguinhos estúpidos. Bastaria um mês com aquelas táticas tirânicas e então...
A menos que ela estivesse errada.
E se Alex estivesse falando sério? Se de fato esperava que ela dormisse com ele? Bem, não durma, disse a si mesma. Maria se lembrou da noite na cama dele. Ele a possuíra várias vezes, deixando-a extasiada a cada vez, obrigara-a a fazer coisas...
Não. Ela prendeu a respiração. O príncipe não a obrigara a nada. As coisas que ela fizera foram por vontade própria. Coisas sobre as quais ouvira falar, mas jamais imaginou colocá-las em prática.
E não voltaria a fazer. Às cegas, agarrou outro punhado de ferramentas e as enfiou na pasta.
Maria ofegou quando o príncipe arrancou a pasta de couro das suas mãos, fechou-a e ergueu a mala do chão.
— Estamos partindo.
— Preciso do restante das ferramentas... Ou pensa que trabalho com ouro e pedras preciosas com pinças e pés de cabra?
— Não me ouviu quando disse que você teria o estúdio dos seus sonhos?
— Ouvi. Mesmo assim quero as coisas com as quais estou familiarizada a trabalhar. Sei que é difícil para você entender, já que nunca deve ter enfrentado um dia de trabalho em toda sua vida.
Alex estreitou o olhar. Era assim que ela o via? Como um diletante real? Lembrou da reação inicial do pai quando ele lhe dissera que gostaria de incrementar a vida econômica de Aristo.
— O que gostaria de fazer que eu já não tenha feito? — perguntara Aegeus, com seu charme imperialista habitual.
Um cassino. Um novo porto comercial especializado em navios de carga. Um condomínio de casas para multibilionários que procuram sossego na costa nordeste da ilha sobre a baía de Apollonia. Alex conseguira atrair alguns dos super-ricos dos edifícios na cidade de Jaladhar, na ilha de Calista, que, juntamente com Aristo, faziam parte do Reino de Adamas, até serem oficialmente declaradas nações independentes pelo avô dele, rei Christos, mais de três décadas atrás.
Ele fitou Maria. Um sorriso presunçoso curvava de leve os lábios dela. Parte dele tinha vontade de sacudi-la. Outra parte tinha vontade de tomá-la nos braços e beijá-la até fazê-la implorar por mais.
— O casaco e os sapatos. Coloque-os rápido ou vou atirá-la no ombro e carregá-la do jeito que está.
Ao deixarem o edifício, a neve ainda estava caindo, mas os flocos eram grandes e a intensidade diminuíra, o tipo que normalmente transformava a cidade numa terra encantada.
Mas ela não podia achar nada de maravilhoso naquela noite.
O motorista uniformizado saiu de trás do volante da grande limusine e abriu a porta do veículo.
Minutos depois o carro deslizava graciosamente pelo asfalto. Maria sentiu um frio na barriga. O que estava fazendo? Tinha que telefonar para Joaquin e dizer que estava partindo e ligar para a mãe para se despedir.
— Espere!
O carro parou. Alex a fitou.
— Seja o que for que tenha esquecido, vai ficar onde está.
— Não. Não posso. Quero dizer... — Ela respirou fundo. — Eu não posso ir com você.
Alex cruzou os braços sobre o peito.
— Já esgotamos esse assunto.
— Eu simplesmente não posso partir. Quero dizer... Preciso avisar algumas pessoas. Tenho que me despedir.
— Está se referindo ao seu amigo Joaquin?
Ela pensou em corrigi-lo, mas para quê? Ele podia acreditar no que quisesse.
— E vai lhe contar os detalhes íntimos de nosso acordo, glyka mou?
— Não concordei com nada.
Alex a encarou durante um longo minuto. Por alguma razão insana, queria tomá-la nos braços e dizer-lhe que não iria machucá-la, que faria tudo para lhe proporcionar prazer...
Para o inferno com aquilo.
— Onde é o endereço dele?
— Por quê?
— Hans é um excelente motorista, mas não consegue encontrar um lugar se eu não lhe fornecer o endereço.
— Oh não, isso não é necessário. Se me deixar próximo à estação do metro... Depois eu encontro você em algum lugar.
— O endereço — repetiu Alex num tom autoritário.
— Grandview Avenue 174. No Bronx. — A voz soou baixa.
— Bronx? — perguntou o motorista.
— Bronx — repetiu o príncipe, num tom firme, e o carro partiu novamente.
Maria se sentara em um dos cantos, o mais longe possível dele, a face alva contemplando os faróis brilhantes dos poucos carros que passavam por eles. A neve esvaziara as ruas da cidade.
Estava tremendo. Alex carranqueou. Estaria com frio? Impossível. O interior do carro era aquecido.
Nervosa, então. Ou ansiosa pelo fato de concordar em ir com ele? Não que tivesse concordado de fato. Ele a forçara. Não importava.
Estaria preocupada por ter que contar ao amante que partiria com outro homem? A mandíbula de Alex se contraiu. Daqui a algumas horas, Joaquin seria passado. Uma vez a bordo do seu jato particular, a levaria para o confortável quarto na parte de trás da aeronave, arrancaria as roupas dela e a tocaria de um modo que a faria esquecer qualquer homem, menos ele.
Fora assim naquela noite. Maria ficara cega de paixão. Apele sedosa exposta aos seus toques. A boca procurando-lhe os lábios, os dedos esguios acariciando-lhe o tórax, a virilha, a masculinidade excitada.
Toque-me deste modo, murmurara ele. Sim. Assim... Assim...
Ela jamais fizera aquilo antes, pensara maravilhado. Que mentira!
É claro que ela já havia feito tudo antes. Descobrira no momento em que a ouvira falando ao telefone naquela manhã.
Excitado novamente, idiota, perguntou-se furioso, remexendo-se no assento de couro.
Bem, não haveria mais nada disso. Alex sabia do que se tratava, se fosse honesto consigo mesmo. Ego? Talvez um pouco. Raiva? Também. Vingança? Sem dúvida.
Fosse o que fosse. Fazer bastante sexo com Maria Santos expurgaria o nome, a face e tudo sobre ela de sua mente.
Daí a um mês ficaria feliz em ver o que restara dela. Boa de cama ou não, ele jamais se interessava por uma mulher por mais tempo que isso. Aquela não seria exceção.
— E aquele edifício lá.
Alex piscou e percebeu que o carro havia reduzido a velocidade a um simples rastejo.
— Esse aqui? — Hans perguntou.
— Si. Sim.
Ela soou ofegante. A mandíbula de Alex se contraiu. Estaria nervosa por ter que contar ao amante sobre seus planos?
Se ele estivesse no lugar de Joaquin, jamais a deixaria partir com outro homem para ficar fora durante um mês. Nem durante um dia.
A limusine estacionou ao lado de um hidrante. O motorista se virou e alcançou a maçaneta da porta.
— Fique no carro, Hans. — A voz de Alex era fria. — Cuidarei da srta. Santos.
Uma explosão de ar frio entrou quando a porta se abriu. O coração de Maria saltou uma batida. Será que o príncipe da arrogância achava que ia entrar com ela?
— Obrigada. Mas posso ir sozinha.
— Não seja tola, glyka mou. É tarde, a rua está quase deserta. Que tipo de cavalheiro permitiria que uma mulher andasse sozinha nessas condições?
Ela não queria que o príncipe a acompanhasse, não apenas porque ele ficaria sabendo que ela não viera para ver Joaquin, mas porque acabaria descobrindo coisas demais.
— Maria, estou esperando.
Alex estava encostado no carro, as feições aristocráticas rígidas.
— Fique esperando, então. Não preciso da sua ajuda. Deixe-me assegurá-lo, vossa alteza, se acha que está bancando o cavalheiro...
— Não fale comigo desse modo. Estou me lixando para o que você quer ou não. Durante o próximo mês, fará o que eu quiser. Fui claro?
— Sim, senhor. — Erguendo o queixo, ela passou por ele, caminhando em direção à entrada do edifício.
Respirando fundo, marchou atrás de Maria através da neve. Excelente. Estava a ponto de ficar cara a cara com Joaquin.
Que tipo de lugar era aquele para um ninho de amor? A porta de entrada tinha uma fechadura quebrada. O saguão cheirava a ratos e mofo. O que restara de um mural transformara-se pateticamente em uma parede pichada.
Havia um elevador, mas Maria o ignorou e subiu os degraus.
— Quatro lances — disse, vivamente, sem olhar para trás.
— Está apto para tal, vossa alteza?
Alex não respondeu, simplesmente a seguiu.
— Ele vive aqui? — O tom era incrédulo. Ela o odiou por isso e por se intrometer naquela parte da vida dela.
— Responda-me — Ele a segurou pelo pulso e a girou de frente para si. — Seu amante espera que você o encontre neste lixo?
A porta do apartamento se abriu.
A figura que surgiu em meio à penumbra na escadaria era de uma mulher pequena com cabelos escuros, enrolada em um roupão de banho de lã.
— Maria?
— Si, mamãe. Sou eu.
Sou eu, mamãe.
E então ninguém mais falou.
Por uma eternidade? Por alguns segundos? Alex não tinha certeza. A única coisa que sabia era que cometera um terrível engano. E deixara Maria mortificada. A prova estava na rigidez de sua postura, o ângulo da cabeça. Aquele apartamento, aquele cenário deprimente, não era o lugar que ela gostaria que ele visse.
E daí?, perguntou a si mesmo. Sua intenção não era humilhá-la? Aquele era apenas mais um modo de conseguir seu intento.
Mas, ao mesmo tempo em que pensava, aproximou-se e colocou a mão de leve no ombro dela como num gesto de apoio.
A mulher parada na porta foi a primeira a falar. As palavras não eram de uma mãe amorosa, feliz por ver a filha. Continham um tom acusatório.
— Tem ideia de que horas são, Maria? Eu já estava deitada.
— Sinto muito, mamãe. Eu deveria ter telefonado primeiro...
— E quem é esse aí? Por que trouxe um homem para minha casa?
— Sra. Santos, perdoe-me. — A voz soou agradável. Alex olhou para Maria com um sorriso tranquilizador e deu um passo à frente. — A culpa é minha. Estava com pressa de fazer tudo hoje e não percebi o adiantado da hora.
— E você é...?
— Alexandros Karedes. Príncipe Alexandros Karedes.
A mulher ergueu as sobrancelhas.
— Príncipe?
— Do reino de Aristo. Talvez já tenha ouvido falar. — Claro que ela já devia ter ouvido falar. Ninguém podia ler uma revista ou assistir a um programa na televisão falando sobre os ricos e famosos sem ouvir falar em lugares como Dubai, Mônaco e Aristo.
— E você conhece a minha filha?
— Na realidade, ela e eu vamos passar as próximas semanas juntos.
Maria o fulminou com o olhar.
— O príncipe quer dizer que vamos trabalhar juntos.
— Maria está confeccionando o presente de aniversário de minha mãe.
Luz ergueu as sobrancelhas escuras mais uma vez.
— Maria? Era isso que queria me dizer quando liguei para você?
Alex olhou para Maria. Ela corou. Fora a mãe dela ao telefone, não o amante. Por que isso o agradou? Se ela tinha um amante ou não, isso não importava.
— Si, mamãe, era.
— Entrem. Não quero incomodar os vizinhos.
Maria parecia um animal selvagem que queria escapar de uma armadilha, mas assentiu e entrou no apartamento.
— Sabe... — disse o príncipe num tom agradável. — Minha mãe...
— Ela é a rainha?
— Sim. A rainha Tia. O seu sexagésimo aniversário é no mês que vem e...
Alex fez um resumo da celebração planejada. Falou sobre o jantar no palácio. O baile. A apresentação do colar que Maria faria para a rainha à meia-noite, seguida por fogos de artifício. E explicou o fato de Maria ir para Aristo com ele, de modo que a rainha pudesse consultá-la pessoalmente sempre que surgissem dúvidas sobre a confecção da jóia.
— Está querendo dizer que minha filha deixará Nova York?
— Sim — respondeu Alex, educadamente. — Mas posso lhe assegurar...
— Bem, se ela não se preocupa em me deixar sozinha, quem sou eu para reclamar? Não estou bem de saúde, vossa alteza.
— Você está bem, mamãe. Os médicos dizem...
— Os médicos não sabem nada. A única saída é rezar. Além do mais, acho que você está disposta a seguir essa sua fantasia.
— Podemos ter essa discussão outra hora? Luz a ignorou.
— Tem filhos, príncipe Alexandros?
— Não sou casado, Sra. Santos — Manter o tom cortês se tornava cada vez mais difícil.
— Bem, quando tiver, entenderá que uma mãe só quer o bem do seu filho. A prima de Maria, Angela...
— Mamãe, tenho certeza de que o príncipe não está interessado em Angela.
— Angela é uma moça maravilhosa. Tem um excelente cargo em uma companhia de seguros. E muitas vezes se ofereceu para tentar uma entrevista para Maria nessa mesma companhia. Hoje ela foi promovida. — Luz se virou para a filha. — E não tive oportunidade de te contar o resto. Angela ficou noiva do supervisor dela, pode imaginar?
Alex podia senti-la tremer. Com raiva? Desespero? Não importava.
— Temos objetivos diferentes — disse Maria, cautelosa.
— Angela foi trabalhar. Eu fui para a faculdade.
— E a abandonou.
— Não abandonei, mudei de instituição. Resolvi cursar o Fashion Institute of Technology. — Uma nota de orgulho permeou aquelas palavras. — Não é fácil ser admitida lá.
Luz fez uma careta.
— Tolice! Desperdiçar dois anos estudando para quê? Para desenhar? Fazer cordões? Enquanto isso, sua prima, Angela...
Para o inferno com aquilo, pensou Alex, e apertou a mão de Maria. Ela tentou se livrar, mas ele entrelaçou os dedos nos dela.
— Acho que está na hora de dizer a verdade à sua mãe. Os olhos dela escureceram.
— Alex, por favor...
— Admiro sua modéstia, glyka mou, mas sua mãe deve ficar sabendo dos detalhes desse seu trabalho.
Luz encolheu os ombros.
— Já os conheço, príncipe Alexandros. Minha filha participou do concurso e perdeu. Só conseguiu agora porque o vencedor não poderá honrar o compromisso.
— A senhora faz isso soar como se Maria estivesse participando de um jogo de azar, sra. Santos — disse Alex com um sorriso que apenas suavizou as palavras firmemente proferidas. — Na realidade, cinquenta dos mais prestigiados designers de jóias do mundo submeteram seus trabalhos à apreciação do rei. Mas, desde o início, o desenho de Maria foi a escolha da rainha.
Os olhos de Maria se iluminaram.
— Verdade?
Alex assentiu com a cabeça. Que mal havia em lhe dizer a verdade?
— O colar que sua filha criará será fotografado pelas melhores revistas do mundo. Será exibido nos noticiários de televisão em todo o continente. E quando a celebração de aniversário da rainha terminar, será exibido ao lado das coroas de Aristo e Adamas, duas das coroas reais mais famosas no mundo.
Luz pareceu entender. Então assentiu com a cabeça e olhou para Maria.
— E uma excelente oportunidade, minha filha.
— Si, mamãe. Eu sei.
— Não a desperdice. Outra chance como essa pode não aparecer na sua vida.
Alex olhou para Maria. Um sorriso tenso curvava seus lábios. Não podia culpá-la. Não que seus sentimentos significassem alguma coisa para ele, mas a mãe dela não podia mostrar um pouco de entusiasmo?
— Isso não é uma questão de sorte. — Maria o fitou surpresa. — Foi o talento da sua filha que a fez conseguir o trabalho.
O sorriso de Maria se tornou suave e doce. Alex sentiu vontade de segurar-lhe a face e provar aquela doçura. Um músculo se contraiu na mandíbula dele.
— Está na hora de partimos — disse, num tom brusco, e se ergueu do sofá.
A nevasca cessara. A rua estava limpa e um caminhão parado, cujas luzes vermelhas piscavam à frente, era a razão.
Hans abriu a porta traseira da limusine. Maria entrou e Alex a seguiu.
— Para onde, senhor?
Alex voltou a atenção ao motorista e pegou o celular no bolso da calça. Havia uma mensagem de texto. Era de seu piloto.
Pistas desimpedidas. Plano de voo autorizado.
— Para o aeroporto. Alex pigarreou a garganta.
— Esqueci de deixar meu número de telefone com sua mãe.
Pedirei à minha secretária que faça isso amanhã de manhã. Há alguém mais que precise avisar de sua partida?
Maria sacudiu a cabeça em uma negativa.
— Não mesmo... Nem mesmo o seu amigo, Joaquin?
— Ele é meu amigo, a despeito do que você pensa. E tenho meu próprio telefone celular, obrigada.
— Não precisa mandar me degolar por isso. Só pensei que talvez...
— Ouça, fez uma coisa decente esta noite, vossa alteza. Tentou me defender perante minha mãe. Creio que devo lhe agradecer por isso. Mas não estrague tudo.
— Não a defendi. Apenas falei a verdade. Minha mãe adorou seu trabalho. — Ele hesitou. — Para ser franco, concordei com ela que era o melhor. Isso deveria ser segredo?
— Se não era segredo, por que não me disse logo?
Alex sentiu uma punhalada rápida de culpa. Mas por que deveria? Maria também não fora honesta com ele.
— Eu lhe contei o que você precisava saber. Ela deu uma risada breve.
— Que palavras diplomáticas, Alexandros. Se não o conhecesse bem, acharia que você era um... — A face de Maria ficou pálida.
— Maria?
— Diga ao motorista para parar.
— O que houve?
— Eu vou...
Alex abaixou a tela de privacidade e mostrou o dedo polegar apontando para o meio-fio. Hans parou e abriu a porta do veículo. O príncipe saiu e Maria saltou atrás dele.
— Vá embora — ofegou ela.— Eu não o quero...
— Maria? — disse ele num tom suave. — Você está bem?
— Estou bem.
Ela não estava. O tremor em sua voz aumentara.
Alex resmungou e a virou de frente para ele. Ela estava de pé com a cabeça baixa.
— O que aconteceu?
— Não sei. Gripe, eu acho. Há um surto.
Deus, a mulher parecia tão frágil. Ele pegou um lenço no bolso e o ofereceu a ela.
— Não quero seu lenço. Vou sujá-lo.
— Dane-se — disse ele, num tom suave, e limpou-lhe os lábios cuidadosamente com o linho branco.
Maria ainda estava tremendo. Alex a ergueu nos braços.
— Não. — Se opôs ela, mas ele a ignorou, levando-a de volta ao carro.
— Hans, vamos para o hospital mais próximo.
— Não. Não quero ir para hospital nenhum.
— Você precisa de um médico.
— Por Deus, só estou com gripe ou talvez tenha sido algo que comi.
— Você aparenta não ter comido nada. — As palavras soaram mais enérgicas do que pretendera.
— Estou bem. Não preciso ser paparicada
— Está certo. Nada de paparicos. Hans?
— Sim, senhor?
— Vamos para o aeroporto.
Maria olhava para frente mortificada. Entre tantas coisas que poderiam ter acontecido, fora passar mal bem na frente daquele homem.
— Sou perfeitamente capaz de sentar sozinha sem precisar da ajuda de ninguém.
Alex a libertou. De canto de olho, Maria pôde vê-lo abrindo um compartimento em um dos lados do veículo. Havia algo lá. Uma garrafa de água e um guardanapo branco grande de linho.
— Olhe para mim — disse ele, vertendo água no guardanapo.
Ela olhou. Seus olhares se encontraram. O que havia no dele? Piedade? Droga, não queria a piedade daquele homem. Não queria nada dele.
Com cuidado, o príncipe começou a limpar a face dela. Quando terminou, ela o fitou.
— Obrigada — murmurou, num tom frio, e se virou. Mais uma vez, de canto de olho, pôde ver o que ele estava fazendo. Pondo a água e o guardanapo de volta no compartimento. Então, retirou outra garrafa, cheia de um líquido ambarino. Abrindo-a, verteu o líquido em um copo.
— Beba isso.
Péssima ideia. Tudo começou a girar. O interior do carro, a face de Alex. O copo que ele estava segurando.
— Droga — disse ele, precipitando-se para ela — Você está tão branca quanto uma folha de papel.
— Eu... Estou bem.
Os braços de Alex a envolveram.
— Não — murmurou Maria, mas sua voz soou de encontro ao tórax dele. Ele era morno. Forte. Seu cheiro era um misto de neve, frio e a fragrância masculina que ela jamais esquecera. — Deixe-me — protestou e odiou o tremor em sua voz. Mas a verdade era que se sentia terrivelmente mal.
— Pare de contestar o que faço e beba logo. — O tom era áspero, mas ele a abraçava com cuidado. Por certo, não queria que ela vomitasse, sujando todo o estofado daquele magnífico automóvel.
— O que é isso?
— Veneno — disse ele sorrindo. — É conhaque.
— Eu não...
— Sim. Eu sei. Você não precisa de conhaque. Bem, eu preciso. — Ele tomou um gole e levou o copo novamente aos lábios dela. — Pelo menos uma vez faça o que estou pedindo sem complicar as coisas, certo?
O conhaque cheirava maravilhosamente bem. Maria sorveu a bebida, que deslizou morna pela sua garganta. Como o homem que a abraçava. O pensamento inesperado fez seu coração disparar e ela empurrou o copo.
— Chega. E faça o favor de me largar. Estou perfeitamente bem.
Ele a puxou mais para si.
— Está tarde — disse, bruscamente. — E tive um dia longo. Acho que você, também. Logo pare de lutar contra mim, Maria. Está com frio e trêmula e não estou totalmente convencido de que não precisa de um médico.
— Eu já disse que não preciso.
— Então, faça o que lhe pedi. Termine o conhaque, encoste a cabeça no meu ombro e talvez, só talvez, eu acreditarei em você.
— Você é um... Um autoritário — resmungou amarga. — Alguém já lhe disse isso?
— Já fui chamado de muitas coisas por muitas mulheres, glyka mou, mas de autoritário foi a primeira vez. Agora feche os olhos e descanse. Logo, logo estaremos no aeroporto.
Seus cílios se fecharam. Não podia descansar. Ou dormir. Ou...
Maria suspirou e adormeceu. Alex sentiu a tensão abandoná-la. Olhou para baixo e viu os cílios escuros encostados contra a curva esculpida da face delicada.
A mulher era irritadiça, respondona e tinha uma língua afiada. Mas também era bonita, frágil e... Mentirosa e manipuladora, lembrou-se. Quanto mais cedo a tivesse em sua cama, melhor. Maria Santos não o envolveria mais com suas mentiras. Não permitiria. Faria amor com ela até ouvi-la gemer seu nome, até o desejo dela por ele ser real, e isso aconteceria assim que estivessem sozinhos no avião.
Quando Alex a levou, ainda adormecida, para a privacidade da espaçosa cabine do jato particular, colocou-a na extremidade da cama, retirou-lhe o casaco e as botas. Os olhos dela tremularam, mas não abriram totalmente.
— Alexandros? — murmurou.
Maria o chamara assim na noite em que fizeram amor. Era o único nome que ele lhe revelara. Apenas Alexandros. Ou Alex, se preferir, acrescentara, sem revelar o sobrenome.
— Acorde — disse ele, num tom frio, recostando-a nos travesseiros. Ela não abriu os olhos. Alex a fitou novamente. Mesmo dormindo, parecia exausta. E inacreditavelmente bela.
Ele se aproximou. Em seguida, puxou o lençol e cobriu a ambos. Maria suspirou e se virou para ele. O que mais poderia fazer senão aninhá-la nos braços?
Maria despertou totalmente confusa. O coração tomado pelo pânico.
Onde estava? Tudo naquele quarto era diferente. A cama. A luz tênue que se infiltrava pela janela. Até mesmo o contato macio dos lençóis de cetim sob sua face, o peso da manta...
O travesseiro a seu lado, amarrotado, como se alguém tivesse descansado a cabeça nele. Um cheiro suave. Limpo. Viril.
— Oh, meu Deus!
Seu estômago revirou lentamente. Erguendo-se, deu uma olhada ao redor, avistou o banheiro e quase não conseguiu chegar lá.
Vomitou até os músculos do diafragma doerem.
Fechou os olhos e afundou no chão de azulejo frio. Calma, disse a si mesma. Apenas fique calma.
Segundos depois, ergueu-se, lavou a face, retirou a tampa de um pequeno frasco de líquido para higiene bucal e enxaguou a boca.
Com pernas que pareciam feitas de macarrão cozido, apoiou-se na cômoda fechada.
Então, lembrou-se de tudo. A chegada de Alex. O concurso real. A terrível visita a Luz, a humilhação posterior de se sentir mal... A inacreditável proposta que o príncipe lhe fizera, e ela aceitara.
Aquilo era um quarto de hotel? Como se em resposta, o chão pareceu dar um mergulho suave. Não era um quarto de hotel. Era o jato particular de Alex. Estavam em algum lugar sobre o oceano e ela sequer se lembrava de ter subido a bordo.
Maria gemeu e enterrou a face nas mãos. Teria dormido com ele? Não. Um calor inundou seu corpo. Definitivamente, não. Se tivessem feito amor... Ou melhor, se tivessem feito sexo, ela se lembraria. Além do mais, com exceção do casaco e das botas, ainda estava usando as roupas que vestira na noite anterior.
Ergueu-se. Havia um roupão pendurado em um gancho. Xampu, sabonete e...
E Alex, do lado de fora do quarto. Como o enfrentaria? O que lhe diria?
Naquele instante, alguém bateu à porta.
— Srta. Santos? — A voz era de uma mulher. — Srta. Santos?
Maria respirou fundo.
— Sim?
A porta se abriu. Uma mulher simpática, com cerca de cinquenta anos, sorriu para ela.
— Bom dia, srta. Santos. Sou Thalia, a comissária. O príncipe mandou avisá-la que estaremos pousando dentro de três horas. E pede que a senhora o acompanhe no café da manhã.
Maria sentiu as faces arderem.
— Obrigada.
— Deixei sua bolsa ao pé da cama.
— Bom. Obrigada novamente.
Thalia sorriu, saiu do quarto e fechou a porta. Maria voou até a fechadura e a trancou.
Como poderia enfrentar as pessoas? Morria de vergonha toda vez que precisava falar com um ou com outro. O piloto. O copiloto. Metade do reino de Aristo, pelo que ela sabia. Mas e daí? perguntou a parte lógica do seu cérebro. O bom-senso a assegurava de que o príncipe Alexandros tinha uma tradição antiga de levar mulheres em suas viagens para compartilharem sua cama.
Não seria um choque para ninguém. Mas para ela era. O fato era que jamais se deitara com um homem antes daquela noite, dois meses atrás. Mas sua arrogância real certamente não acreditaria se ela lhe contasse. Também não contaria. Sua humilhação já era suficiente. Para que piorá-la? Era melhor deixá-lo pensar que ela era uma mulher experiente, como ele havia acreditado.
Com esse pensamento, Maria se despiu e entrou no chuveiro.
Onde diabos estava Maria?
Alex despertara horas atrás. Despertara? Sua boca se torceu. Sequer pregara olho. Como um homem podia dormir com uma mulher aninhada em seus braços, a respiração morna e leve de encontro à sua garganta, a mão suave em seu tórax? Seus corpos se amoldaram num ajuste perfeito. Dissera a si mesmo que isso não o afetaria, e não afetou durante aproximadamente trinta segundos.
Então, entrara em estado de ebulição.
Imaginou virá-la de costas, despi-la e acariciá-la. Imaginou-a despertando lentamente quando sentisse o toque suave das mãos dele em sua carne tenra.
Então se ergueu da cama, tomou uma ducha fria e mudou de roupa. Em seguida, deixou o quarto sem olhar para trás, porque não confiava em si mesmo.
Esperara semanas por aquilo. Mas não a possuiria agora, quando estava exausta e doente.
Desejava-a desperta, fitando-o, quando ele reivindicasse o que ela apenas fingira lhe dar naquela primeira vez.
— A srta. Santos já despertou? — perguntou, bruscamente, quando Thalia lhe serviu café.
— Sim, senhor. Já transmiti sua mensagem.
Alex olhou para o relógio. Quinze minutos haviam se passado. Por que estava demorando tanto? Pensava que poderia ficar fechada dentro do quarto? Que poderia impedir o inevitável?
Em breve estariam pousando, seu carro o estaria aguardando Seguiria para o apartamento em Ellos e a levaria para a cama.
A porta da cabine na traseira da aeronave se abriu. Maria o fitou. Ele a viu respirar fundo e então caminhar em sua direção. As roupas feias e as botas haviam sido substituídas por um suéter cinza-claro de manga comprida que lhe chegava à altura do quadril, calça bailarina preta e botinhas de cano curto da mesma cor. Os cabelos, ainda úmidos, caiam-lhe ao redor dos ombros.
Alex sentiu um frio no estômago. Por Deus, como estava bela. E composta. Não esperara por isso. Na verdade, não sabia o que havia esperado. Lágrimas, talvez. Pedidos para que a mandasse de volta para casa. Mas se enganara. O olhar na face feminina era um modelo de autoconfiança.
— Bom dia — disse ele, erguendo-se e gesticulando para a cadeira à sua frente. — Como se sente?
— Estou bem. Sinto muito por ontem à noite...
— Por ter dormido aninhada em meus braços?
— Por ter me sentido mal. — Um leve rubor tingiu-lhe a face.
Bem. Talvez ela não estivesse tão autoconfiante quanto aparentava, pensou ele.
— Tentei não perturbar seu sono quando deixei a cama — disse Alex, servindo café para ela. — Você estava tão firmemente enrolada em meus braços que precisei nos desembaraçar.
Ela o encarou firmemente.
— Pensei ter ouvido a comissária dizer que estaríamos aterrissando dentro de pouco tempo.
— Mudando de assunto, agape mou? Quer falar sobre algo diferente do fato de ter dormido comigo ontem à noite?
— Compartilhamos a mesma cama. Tenho certeza de que você sabe a diferença entre isso e o que as pessoas querem dizer quando falam que dormiram juntas. Além do mais, não sei se tenho direito de mudar de assunto. Pelo que sei, é esperado que as amantes obedeçam aos desejos dos seus senhores. É isso que sou ou serei, não é? Sua amante? Quero dizer, não é assim que se chama uma mulher que esquenta a cama de um homem?
Droga! Dessa vez fora ele que sentiu a face arder.
Alex lançou o guardanapo sobre a mesa e se ergueu. Dois poderiam disputar aquele jogo de controle, mas só um sairia vencedor.
— Logo estaremos pousando. E então haverá tempo suficiente para eu deixar meus desejos claros e para você satisfazê-los.
O jato de Alex pousou e taxiou até uma área reservada, longe do terminal tumultuado. O piloto e o copiloto deixaram a cabine e os saudaram. Thalia se curvou em uma breve mesura na frente de Alex e sorriu.
— Desfrute sua estada, senhorita.
— Cuidarei para que a srta. Santos desfrute de todos os minutos — disse Alex, envolvendo-a pela cintura.
A face de Thalia era inexpressiva, mas Maria sentiu a sua ardendo.
Não, não o deixaria assumir o controle novamente. Determinada, livrou-se do abraço dele e desceu os degraus.
Em dezembro, o céu de Aristo exibia um brilhante tom de azul e um calor fora de época. Agora, no começo de fevereiro, o ar era gélido. Um chofer uniformizado os aguardava ao lado de uma limusine preta mais imponente do que a que os transportara em Nova York.
Maria estremeceu e Alex imediatamente a envolveu com seu casaco de couro.
—Não preciso disso.
—Mas vai usá-lo, agape mou — disse ele com um sorriso que não lhe alcançou os olhos. — Além do mais, não foi você mesma que disse que uma amante deve obediência ao seu senhor?
—Não conte suas galinhas antes de serem chocadas. Ainda não sou sua amante.
Os olhos do príncipe se tornaram mais escuros que um céu noturno.
— Mas será, glyka mou. E muito em breve. Daqui a uma hora, você estará na minha cama.
O pulso dela disparou.
— Obrigada pelo aviso, vossa alteza. É sempre bom estar preparada para algo desagradável.
Para sua surpresa, Alex sorriu.
— Boa resposta — disse tomando-lhe a face entre as mãos. — Mas uma pequena mentira. — Seu sorriso enfraqueceu. — Diga-me o quanto é desagradável, depois que eu a despir — sussurrou. — Quando minha boca estiver em seus seios, entre suas coxas, então quem sabe eu possa acreditar em você.
Maria sentiu os mamilos enrijecerem e uma rápida onda de calor atingiu seu ventre. O príncipe parecia saber que efeito suas palavras causavam, porque se curvou e lhe deu um beijo rápido e possessivo.
— Entre no carro, agape mou — disse ele, e o olhar de satisfação na face austera e bonita a fez desejar saber a quem ela odiava mais, Alex ou a si mesma.
O carro se moveu rapidamente pelas ruas de Ellos.
Enquanto Alex falava ao telefone celular, edifícios passavam como flashes por eles. Maria reconheceu o pequeno hotel em que se hospedara, na rua onde o conhecera. O restaurante romântico onde haviam jantado e o pequeno parque onde ele a beijara pela primeira vez.
O apartamento dele ficava a poucos metros dali, mas o carro não os levou para lá.
Para onde a estava levando, então?
Maria o fitou de relance. Alex guardara o telefone e cruzara os braços sobre o tórax, parecendo distante e formidavelmente belo.
A limusine subiu um declive e pegou uma rodovia. Uma placa escrita em grego e inglês continha os seguintes dizeres: praias da Costa Norte e baía de Apollonia.
Praias? Baías? Ela era uma moça da cidade. Ruas, barulho, tráfico eram seu ambiente natural. Praias e baías soavam estranho. Isolado.
— Não vamos para seu apartamento?
— Não, mudei de ideia. Eu a estou levando para um lugar onde sua complacência estará segura.
O coração dela saltou uma batida. Pensou em lhe dizer que aquilo não era engraçado, mas isso seria um sinal de rendição e a última coisa que aquele homem teria dela era rendição.
— Esse lugar é a baía de Apollonia? Alex assentiu com a cabeça.
— Segundo a lenda, foi batizada pelo deus Apolo. Virgil escreveu um poema uns dois mil anos atrás, sobre esse lugar.
— Virgil? Mas ele era romano.
— Aristo e sua irmã, Calista, no início faziam parte do Império Grego e depois passaram a ser regidas por Roma. Conhece a história de Virgil?
Maria enrijeceu.
— Posso não ter tido seu nível de instrução, Alexandros, mas em Nova York as escolas públicas provêem uma excelente educação.
— Não era minha intenção insinuar...
— Sim. Era. Não sabe nada de mim, mas não pensa duas vezes antes de tirar todos os tipos de conclusões.
— Posso dizer o mesmo a seu respeito, glyka mou.
Maria o observou.
— Não vá me dizer que não estudou nas melhores escolas do mundo?
— Bem, não. Quero dizer, sim, mas devo admitir que ignorei a maioria do que aprendi em Latim. Pensei que tivesse acontecido o mesmo com você.
O príncipe sorriu e logo se transformou do déspota frio ao homem deslumbrante e calmo que ela conhecera dois meses atrás. Maria não queria isso. Não queria recordar aquela noite em que fizeram amor.
— De qualquer maneira — continuou Alex. — Virgil escreveu sobre a baía de Apollonia. Ele a chamou de linda safira do mar.
Maria suspirou e contemplou a paisagem da baía.
— E ele tinha razão. Embora eu nunca tenha visto uma safira tão magnífica. Mas se tivesse...
— Se tivesse?
— Usaria como pedra de centro em um anel em ouro 24 quilates para sugerir o brilho do sol e a assentaria entre um par de diamantes pequenos, perfeitos para representar as ilhas irmãs de Aristo e Calista.
— Não são mais irmãs — corrigiu Alex, num tom um pouco ríspido. — O reino unificado de Adamas é apenas uma lembrança, até e se as duas ilhas, de alguma maneira, voltarem a se unir.
— E isso que o povo espera que aconteça?
— É o que o rei Christos esperava que acontecesse quando cedeu o domínio de uma ilha para a filha, Anya, e o domínio de outra para meu pai, Aegeus.
— Foi quando Christos dividiu o diamante de Stefani em dois?
Alex ergueu uma sobrancelha.
— Você fez sua lição de casa.
— Acha que projetei o colar para sua mãe sem estudar nada? Sei que o diamante rosa foi o maior encontrado em Calista, que data da época de Ricardo Coração de Leão e que era o centro da coroa de Adamas até ser partido pela metade em 1974. — Maria corou. — Não sei por que estou lhe contando tudo isso quando já sabe.
A mulher era cheia de surpresas, pensou Alex, observando-a em silêncio. Então clareou a garganta.
— O que fará com o dinheiro que receber?
— O que farei?
— Sim. É bastante para comprar a safira perfeita, os diamantes perfeitos...
— Você quer dizer, é bastante para ajeitar o meu loft. Comprar equipamentos novos. Pagar contas vencidas. Talvez convencer minha mãe a se mudar para um lugar mais agradável. É isso que farei com o dinheiro.
— Você sustenta sua mãe? Maria encolheu os ombros.
— Ela não tem condições de trabalhar.
— É claro que tem.
— Ela não pensa assim. E devo muito a ela, que se sacrificou para me dar tudo...
— Você não pode estar falando sério.
— Que importância tem isso? Faço o que deve ser feito, vossa alteza, como a maioria das pessoas, mas o que você saberia sobre isso nesse seu mundinho?
— Isso é injusto.
— É? — Os lábios dela se curvaram num sorriso. — Você apareceu na minha porta e me deu a notícia mais maravilhosa do mundo.
— E isso é ruim?
— Então me disse que o único modo de se tornar realidade seria eu concordar em dormir com você.
Os olhos dele se estreitaram.
— Tentando se livrar do nosso acordo? — Ele a segurou pelo cotovelo. — Tudo que fiz foi lhe dar o troco. Você foi a primeira a armar a armadilha. Agora é minha vez.
Maria sentiu as lágrimas ameaçarem cair, mas não queria chorar diante dele.
— Solte-me.
— Por quê? Porque não gosta da verdade?
— Não armei armadilha nenhuma! Você me seduziu.
— Eu a seduzi do mesmo modo que uma galinha seduz uma raposa! Você foi boa, tenho que admitir. E realmente acreditei que era uma senhorita tímida e inocente perdida nas ruas de uma cidade estranha.
— Bastardo!
— Você sabia quem eu era e pretendia me usar. Agora vou usá-la.
Alex curvou a cabeça e tomou-lhe os lábios num beijo intenso e exigente. Maria o odiou por isso. Odiou o toque daquelas mãos fortes, da boca sensual. Odiou, odiou, odiou... E então parou de pensar e mergulhou naquele beijo.
Ele sentiu o momento em que isso aconteceu. Então seus braços a envolveram, sua mão deslizou por baixo do suéter dela. E como acontecera naquela noite, foi invadido por um desejo ardente, uma paixão avassaladora, uma urgência de possuí-la e nunca mais deixá-la partir.
Seu telefone celular tocou. Lentamente, ele voltou ao mundo. O carro havia parado.
Os olhos de Maria se abriram devagar. Alex viu neles tudo o que vira naquela noite. Surpresa. Desejo. Até mesmo a inocência que ele agora sabia que não era verdadeira.
Furioso, arrancou o telefone do bolso e atendeu.
— Alexandros? Você está aí?
A voz do pai zuniu em seu ouvido. Enquanto conversava com o rei, seus olhos não deixaram a face de Maria. Observava o modo como ela o fitava, o modo como seus lábios estavam entreabertos. Deus, ela estava pronta para ele.
Mas não era tolo. Dessa vez assumiria o controle, não ela.
A mercedes reduziu a velocidade. À frente, os portões de ferro forjado se abriram. O carro deslizou por entre uma alameda de cedros altos e parou em um pátio circular diante de uma magnífica mansão de madeira e vidro.
— Onde estamos? — perguntou Maria, cautelosa.
— No castelo de Bluebeard. Minha casa. Minha governanta a espera. Entre. Veja se está tudo como você deseja.
— Mas...
— Houve uma mudança de planos. Tenho um trabalho a fazer. Estarei de volta hoje à noite. Temos um compromisso de jantar. Esteja pronta. Não gosto de ficar esperando.
Maria ergueu o queixo e o fitou.
— Não tenho nenhum interesse em joguinhos, vossa alteza, ou em fingir um relacionamento falso.
— Está com pressa de ir logo para a cama, glyka mou? Meus pais querem conhecer a vencedora do concurso real.
Alex envolveu-a pelo pescoço e a beijou possessivamente.
— Um adiamento de última hora, agape mou. Mas fique tranquila, logo iremos para a cama.
O motorista de Alex depositou a mala de Maria ao lado dela, saudou-a vivamente e voltou à limusine.
Respirando fundo, ergueu uma mão para tocar a campainha. As portas se abriram antes mesmo que ela apertasse o botão. Uma mulher pequena, vestida de preto da cabeça aos pés, sorriu e lhe deu as boas-vindas.
— Kalimera, Keeria. Onomázome Athenia.
— Desculpe, mas não falo grego...
— Sim, claro. Perdoe-me. Bom dia, senhora e seja bem-vinda. Sou Athenia. O príncipe pediu-me para deixá-la o mais confortável possível.
— Obrigada.
Um criado surgiu, inclinou a cabeça para Maria e se encarregou da sua bagagem.
— Ninguém precisa se curvar para mim — disse ela, sorrindo. — Não faço parte da realeza ou algo parecido.
— Mas é uma hóspede do príncipe e vai criar o lindo presente para nossa amada rainha. Sentimo-nos honrados com sua presença, keeria. — A criada se afastou para o lado. — Por favor, entre.
O que aconteceria à acolhida calorosa de Athenia se ela soubesse que a estimada hóspede de Alex fizera um acordo desonroso com o príncipe?
— Obrigada.
— Gostaria de algo para beber? Algo para comer? Sei que a viagem foi longa.
A simples menção da palavra comida fez o estômago de Maria se agitar.
— Não, obrigada. Não estou com fome.
— Então, vou lhe mostrar seu quarto. Ou prefere ver a oficina primeiro?
Seu quarto? A governanta estaria se referindo ao quarto do príncipe, com certeza.
— Hã, não. Quero dizer, minha oficina vai ser aqui?
— Sim. Espero que goste. Sua alteza deu ordens específicas, mas tivemos tão pouco tempo... Venha por aqui, por favor.
Maria seguiu a criada através de algumas magníficas salas de teto alto. Apesar da irritação, sua parte artista não pôde deixar de notar a beleza incrível da casa.
O estilo de vida dos ricos e famosos, pensou. Sabia como eles viviam. Entretanto, nada se comparava àquilo.
A mansão era espetacular. Não fora construída para impressionar, embora seguramente conseguisse tal feito, mas para enaltecer a paisagem arborizada, a baía cor de safira, a areia branca da praia. As paredes eram de vidro. Quase todos os cômodos possuíam terraços ou sacadas e a água de uma imensa piscina parecia se precipitar sobre o mar que se estirava até o horizonte.
Athenia conduziu-a até um par de portas francesas que se abriam para o exterior. Aparentemente, sua oficina não ficava no interior da residência. Talvez o príncipe poderoso achasse que ela poderia fazer o presente de aniversário da mãe dele na garagem, pensou irritada.
A governanta se virou e sorriu.
— Sua oficina, keeria.
Maria piscou surpresa.
À frente, em meio a um bosque de pinheiros, havia uma miniatura perfeita da casa principal. Madeira. Vidro. Telhado, terraços, areia branca e água azul abaixo, a uma distância de causar vertigem.
— Normalmente é uma casa de hóspedes, mas o príncipe foi bastante específico sobre suas necessidades. Trabalhamos com afinco nesse sentido, mas se qualquer coisa não estiver do seu agrado...
Maria quase riu enquanto entraram na casa, que possuía três cômodos. Uma sala. Um banheiro todo em mármore. E uma sala com teto alto e brilhantemente iluminada, onde havia mesas de trabalho com estantes que continham ferramentas que ela sonhava em comprar, mas só em um futuro distante. Um relance rápido revelou prensas térmicas, maçaricos, ferramentas manuais e engrenagem protetora, tudo que povoava os sonhos de um designer de jóias.
— Devo deixá-la aqui, senhorita? — perguntou Athenia.
Maria assentiu com a cabeça.
A primeira coisa que ia fazer era ligar para Joaquin e Sela e dizer-lhes que estava tudo bem. Não tivera chance de fazer isso na noite anterior...
Usou o telefone celular e deixou uma mensagem breve, falando sobre o trabalho, sem mencionar as condições que envolviam o contrato com o príncipe.
— Estou muito contente. — E, no momento, aquilo era verdade. Tinha a oficina perfeita. As melhores ferramentas. E dúzias de diamantes magníficos a seu dispor.
Maria sentou sobre o tamborete, puxou um bloco e um lápis e começou a desenhar. Sim, pensou, enquanto mergulhava no trabalho que amava, podia fazer seus esboços com muito mais prazer, e pensar em diamantes era mais seguro do que pensar no homem a quem ela se vendera. O homem que a reivindicaria naquela noite, que faria amor com ela como fizera dois meses atrás. Tentaria se controlar ao máximo, mas no fim sabia que gemeria o nome do príncipe, abriria os lábios e o corpo para ele. Ficaria perdida naqueles braços fortes, na sua beleza e paixão.
Forçou os pensamentos traiçoeiros a se concentrarem no colar e nos diamantes. Eles, pelo menos, jamais a feririam.
Algumas horas depois, Maria pôs o trabalho de lado, colocou os braços sobre a mesa e baixou a cabeça, descansando a face sobre eles.
Apenas alguns segundos para clarear as teias de aranha do cérebro, pensou. Apenas alguns segundos...
Fadiga de voo, Alex continuou dizendo a si mesmo. Era por isso que estava tão irritado.
Além do mais, era irracional o pai ter exigido uma reunião justo agora, mas esse era o jeito de Aegeus. O que o rei desejava, os outros tinham que fazer. E naquela tarde, o que Aegeus desejara era reunir os três filhos e discutir planos para a construção de outro complexo de edifícios em Ellos.
Não havia nenhum propósito para tal discussão.
Aquela reunião era apenas uma lembrança não muito sutil de que Aegeus ainda era Aegeus, pensou Alex, ao se sentar à mesa, no escritório do palácio real.
— ...vinte andares, Alexandros, mas por que não trinta? Alex observou os rabiscos que fizera no bloco de anotações amarelo. Os olhos do pai focalizados nele.
Sebastian, o irmão mais velho, ergueu as sobrancelhas.
— Você não disse que o arquiteto concordou que vinte andares para uma construção no centro seria o suficiente, Alex?
— Sim — corroborou Andreas. — Vinte andares de forma que a visão do porto não fosse bloqueada pelo complexo de edifícios?
— Exato — respondeu Alex. Sebastian sorriu.
O pai os observou. Aegeus parecia austero. Embora aparentasse assim a maior parte do tempo, também parecia cansado e mais magro do que o habitual, reparou Alex.
— Está se sentindo bem, pai? Os olhos do rei se estreitaram.
— Muito bem, obrigado — respondeu o rei num tom brusco. — Bem o suficiente para lhe fazer mais algumas perguntas. Isto é, se você conseguir manter sua atenção em nossa discussão por mais algum tempo.
Alex sentiu um músculo da mandíbula se contrair.
— Que mais quer saber, pai?
— Já acomodou a mulher?
— Como?
— A mulher. Mary Santos. Ela já está acomodada?
— O nome dela é Maria. E pensei que estivéssemos falando sobre o Centro de Convenções de Ellos.
— E estávamos. Mas agora estamos falando sobre a pessoa que vai fazer o presente de sua mãe. Como ela é?
— Ela é, hã... Talentosa.
— Isso eu sei — disse o rei, impaciente. — Mas como ela é? Vamos jantar com ela essa noite. Ela será capaz de manter uma conversa com um pouco de inteligência ou é uma dessas jovens sem nada na cabeça?
Sebastian tossiu. Andreas clareou a garganta. Alex lançou um olhar a ambos que prometia problemas quando estivessem sozinhos.
— Ela é uma designer, pai. Uma nova-iorquina. Tenho certeza de que a achará interessante e capaz de se comportar à mesa.
— Presumo que a hospedou no Grand Hotel.
— Não. — Alex hesitou. — Eu, hã... Decidi instalá-la em minha casa, na baía de Apollonia. — O pai o encarou. Bem como os irmãos. — Por medida de segurança — acrescentou depressa. — Afinal, ela vai trabalhar com uma verdadeira fortuna em diamantes.
— Temos problemas de segurança no Grand Hotel?
— Não, claro que não. Mas há muitos turistas...
— Turistas que pagam mil euros de diária não são ladrões, Alex — disse Aegeus, as palavras carregadas de sarcasmo.
Houve um silêncio momentâneo. Então, Sebastian e Andreas falaram ao mesmo tempo.
— Nunca se pode ter certeza — afirmou Andreas.
— Lembra aquele incidente... Onde foi mesmo, Alex? Algum hotel em Manhattan? — perguntou Sebastian.
Os irmãos haviam se redimido.
— Exatamente. A minha casa oferece mais segurança. Providenciei uma oficina para Maria na casa de hóspedes.
Aegeus assentiu com a cabeça.
— Bem pensado.
Um elogio. Algo raro. Claro que era um elogio com respeito a uma mentira. Alex hospedara Maria em sua casa por razões que nada tinham a ver com segurança, mas sim com luxúria.
Gostava de mulheres. Gostava de sexo. Mas jamais havia se comportado daquele jeito. Ele a usaria para seus próprios fins como ela o usara. Mas se fosse só isso, por que seu corpo se encontrava num estado de constante excitação? Passara as últimas horas pensando nela. Imaginando Maria à sua espera. Imaginando o que faria com ela quando chegasse em casa.
As imagens ardentes inundaram sua mente. Se não fizesse algo logo, explodiria.
— Alex? Está me ouvindo? Eu disse...
— Paí. — Alex empurrou a cadeira para trás e se ergueu. — Sinto muito, mas tenho que partir.
Aegeus o fitou com descrença.
— Você o quê?
— Eu disse que tenho...
— Não terminamos a conversa sobre o centro de convenções.
— Terminamos há três meses. — A voz soou enfática.
O pai o fitou.
— Não gosto desse seu tom.
— Desculpe, pai. Estou exausto, é tudo. Viajei para Nova York e retornei em menos de 24 horas. — Ele forçou um sorriso. — Talvez possamos retomar esta conversa amanhã.
Aegeus estudou o filho do meio, então assentiu com a cabeça.
— Muito bem. — O monarca se ergueu. Sebastian e Andreas fizeram o mesmo. — Estejam prontos para o jantar de hoje à noite, por favor. Todos vocês. Alex, diga a srta. Santos que sua mãe e eu queremos conhecê-la.
O príncipe se dirigiu à porta e o rei o chamou.
— Alex? Minha preocupação inicial sobre essa mulher, ao ler a proposta dela, foi o fato de ser muito jovem e, a meu ver, sem experiência. Agora que você passou algum tempo com ela, qual foi sua impressão?
Uma mulher espetacularmente bonita. E espetacularmente imoral. E...
— Eu já lhe disse — Alex respondeu, num tom calmo. — Ela é muito interessante.
O trajeto de volta para casa pareceu durar uma eternidade, embora estivesse sentado atrás do volante da sua Ferrari percorrendo a estrada sinuosa a uma velocidade de quebrar o pescoço.
Maria estaria esperando por ele? Havia lhe dito que estivesse pronta às seis horas. Ela poderia estar no banho. Ou se despindo, descobrindo aquela carne feminina à luz tênue da tarde.
As fantasias de colegial se esvaíram completamente quando Athenia lhe disse que a srta. Santos estava na casa de hóspedes.
Na oficina.
Isso o irritou. Ela deveria estar na casa. No quarto dele. Vestindo-se para o jantar, como ele lhe dissera. Ou esperando por ele. Pelos seus toques.
— Maria — vociferou Alex ao abrir a porta da casa de hóspedes com força. — Maria, eu lhe disse...
Então, encontrou-a adormecida com a cabeça sobre a mesa de trabalho.
A raiva se esvaiu e algo novo se instalou no lugar, algo que Alex não sabia explicar. Lentamente, caminhou até ela. Maria aparentava estar esgotada.
A culpa é minha, pensou ele. Entrara na vida dela... Inferno, fizera ameaças e depois a arrastara por quilômetros ao redor do mundo. Não que lhe devesse um tratamento mais delicado. Era apenas porque ela parecia tão inocente dormindo. Os cabelos brilhantes caídos sobre os ombros. A pele translúcida. Os lábios delicadamente curvados. Ainda podia lembrar o gosto deles. Como aquela boca tremera sob a sua. Como o suspiro de rendição que ela exalara se misturara à respiração dele.
— Maria — sussurrou ele de encontro à boca delicada. — Maria — repetiu e, quando ela suspirou, se apoderou de seus lábios.
Os cílios escuros tremularam. O gosto dela era puro mel. Não faça isso, censurou-se em pensamento. Mas que mal havia em um beijo?
— Alexandros? — murmurou Maria, e ele estava perdido. Gemendo, tomou-a nos braços e a deitou no carpete macio.
Emaranhando os dedos nos cachos escuros, ergueu-a graciosamente para frente e tomou posse de sua boca.
— Alexandros — suspirou ela novamente.
Alex tomou o rosto delicado entre as mãos. A beleza de Maria roubou-lhe a respiração. O sorriso que fazia os lábios dela tremerem perfurou seu coração.
— Sim, glyka mou. Diga meu nome...
Maria disse repetidas vezes, até ele a olhar profundo e voraz. Ela arqueou o torso e os braços e pernas.
Sua carne era morna. Macia. Alex beijou-a carinhosamente no pescoço.
Murmurando o nome dele, Maria o empurrou para baixo, em direção à curva delicada dos seus seios, sobre a maciez do suéter.
Sem hesitar, Alex prendeu um dos mamilos intumescidos entre os dentes. O gemido dela perfurou o silêncio pesado.
— Sim, sim, sim... Estimulado, ele ergueu o suéter e fechou os lábios em torno do botão enrijecido, sugando-o. Ela gemeu e enterrou os dedos nos cabelos dele.
De repente, uma batida, tão estridente quanto um trovão olímpico, soou à porta. O príncipe limitou-se a ouvir, mas Maria enrijeceu em seus braços.
— Alex.
— Shh, agape mou. Não importa. Seja quem for irá embora. A batida soou novamente.
— Vossa alteza? — A voz de Athenia era fina e apolegética. — Sua mãe está ao telefone. Está perguntando se o senhor e Keeria podem chegar um pouco mais cedo?
Alex apertou a testa de encontro à de Maria.
— Sim, claro. Diga à rainha que estaremos lá assim que pudermos. — Esperou até ter certeza de que a criada se fora. — Terminaremos isto depois — começou a dizer, Mas Maria já havia se afastado e se erguido do chão. Tinha a face branca com exceção de duas manchas vermelhas no alto das maças do rosto.
— É assim que consegue suas mulheres, vossa alteza? Tirando vantagem delas enquanto estão adormecidas?
— Você sabe que não.
— O que eu sei é que acordei e o encontrei em cima de mim!
Alex a fitou num misto de raiva e frustração.
— Mentirosa — disse, num tom baixo. Maria lhe deu as costas. Ele agarrou-a pelo ombro e a virou de frente para si. — Qual é o problema glyka mou? Não gosta quando o jogo vira? Quando não está no controle da situação?
— Certo. Já fez sua observação. Você... Conseguiu que eu cedesse. Está satisfeito agora?
O príncipe deu uma risada afiada.
— Ainda temos um bom tempo pela frente para eu me sentir satisfeito, querida.
— Como pode fazer isso? Excelente pergunta, pensou ele.
Apesar de tudo, não era um homem de forçar uma mulher na cama. Isso fora parte do problema quando arquitetara aquele plano. Maria não o queria, mas toda vez que a tomava nos braços, tinha a impressão de que ela estava mentindo. Estaria? Aquilo ainda era um jogo? Ela o estaria usando agora, mesmo quando ele se sentia determinado a usá-la?
Alexandros se afastou e deslizou os dedos por entre os cabelos.
Era um homem que sempre se vangloriara de sua lógica. De sua autodisciplina. Mas desde a noite em que conhecera aquela mulher, sua lógica e autodisciplina tinham ido para o brejo.
Talvez fosse melhor admitir que ainda a queria e que ao término de um mês a expurgaria da mente e do corpo. Com esse pensamento, virou-se para encará-la.
— Sugiro que volte para a casa — disse, bruscamente. — Uma das criadas desfez sua mala. Você tem... — Alex conferiu o relógio. — Vinte minutos para se arrumar.
— Onde sua devotada criada colocou minhas coisas? Thee mou, ela o enfurecia!
— Suas roupas estão onde devem estar. No meu quarto. Temos um acordo, srta. Santos, esqueceu?
— Como posso esquecer o que é seguramente o pior acordo da minha vida?
Aquela era uma boa tática, pensou Maria.
Mas o príncipe da arrogância apenas riu e o som gutural a seguiu pelo restante da casa.
— O que vestir para jantar com a realeza?
Provavelmente nada que colocara na mala, pensou Maria, desanimada enquanto seguia Athenia em direção ao quarto de Alex.
Quarto? Seria adequado chamar um cômodo daquele tamanho de quarto? Era maior do que todo seu loft, assoalho de madeira encerada. Tapetes feitos à mão. Teto tipo catedral. Clarabóias. Uma parede de vidro e, além dela, um terraço com piscina que parecia suspenso sobre a baía. E uma cama. Estrategicamente postada sob as clarabóias, elevada por uma plataforma e coberta com um acolchoado de seda preta sob um mar de travesseiros brancos e pretos, como se fosse um palco.
— A senhorita encontrará suas roupas penduradas no quarto de vestir, — Maria girou em direção a Athenia. — Sim, eu... Eu... Obrigada.
— Tudo foi passado a ferro, keeria. Espero que goste.
— Obrigada. — Maria agradeceu outra vez. Parecia ser a única palavra capaz de proferir.
A criada exibiu um sorriso polido e fechou a porta atrás de si. Maria aguardou alguns instantes e, em seguida, trancou a porta. Recostou-se à madeira maciça, fechou os olhos e inspirou profundamente. Era um lindo quarto. Danação! Era um quarto magnífico.
E a cama...
Não olhe para essa cama, Maria. Nem sequer pense sobre isso. Não pensaria. Tomaria um banho e se vestiria. Dispunha apenas de vinte minutos. Não era muito, mas o suficiente.
Vira a parte externa daquele palácio na última vez em que estivera ali. A suntuosidade da residência fazia o palácio de Buckingham parecer pequeno.
— Isso — sussurrou ela. — Entre em pânico. Será de grande ajuda! — Empertigando a espinha, ignorou a cama e marchou pelo aposento. Aquela era uma noite importante. De fato era e, ao findar, Alex faria amor com ela.
Maria revirou os olhos. Era uma estupidez deixar a imaginação fluir solta. Claro que aquela noite era importante. Conseguira afinal ganhar a concorrência, agora tinha de conquistar a mente e o coração dos clientes. Seus clientes. O rei e a rainha de Aristo. Percorrera um longo caminho desde a recusa por parte da L'Orangerie.
O quarto de vestir fez Maria soltar uma risada, tal era a grandeza e suntuosidade do aposento. E lá estavam suas roupas, penduradas em cabides e cercadas por outros cabides repletos de roupas de homem. Os trajes de Alex. E, não. Não iria pensar naquilo agora. O jantar era tudo que lhe importava. Tinha de transcorrer bem.
As roupas que trouxera, como afirmara Athenia, haviam sido passadas, penduradas e organizadas por cores. Uma risada irrefletida se originou da garganta de Maria. Jeans, jeans e mais jeans. Camisetas, blusas e suéteres. Organizados e passados. E, que diabos, estava pendurado diante dela que poderia ser usado em um palácio?
Traje informal, dissera Alex. Era fácil para ele falar. E fazer. O que ele iria usar? E onde iria tomar banho e se vestir?
Não ali. E aquilo era tudo que importava. Ao que parecia, ele mantinha um guarda-roupa completo em cada quarto.
E, certamente, uma amante em cada um, também. Ou talvez aquele fosse o modo como instalavam uma nova amante. Pare com isso, pensou Maria, furiosa consigo mesma.
Indubitavelmente não era uma conquista de Alex. Era sua... Qual seria a palavra certa? Oh, deixaria aquilo para lá. Não iria se mortificar atinando como ou por que se encontrava no quarto dele.
Certamente não era a primeira. Uma dúzia de outras mulheres deveria ter passado por aquela mesma situação.
Além disso, Alexandros não a conquistara. O dinheiro da concorrência não fora pago por ele. Era para o desenho e a execução do presente de aniversário da rainha, e não aceitaria um tostão em troca de mais nada.
Um telefone tocou.
Maria olhou ao redor. Lá estava ele. Um aparelho pequeno e branco localizado na parede do quarto de vestir. O telefone tocou outra vez, ela o tirou do gancho e o encostou à orelha.
— Alô?
— Só lhe restam doze minutos, glyka mou.
— Alexandros?
— Gosto quando me chama assim -— disse ele com a voz rouca.
Por que aquela rouquidão sempre produzia um formigamento em sua pele?
— Alexandros! — Ela olhou ao redor, frenética. — Onde você está?
Alex riu, divertido.
— Relaxe, docinho, não posso vê-la... Mas sei exatamente o que está fazendo. Encontra-se parada no meio do meu quarto, tentando não olhar para a cama e imaginando o que deu em você para não ter trazido nada adequado para usar essa noite.
Maria piscou várias vezes.
— Errado — rebateu ela em tom jovial. Afinal, estava no quarto de vestir e não no quarto principal e, no momento, não estava tentando não olhar para a cama.
— Experimente colocar o vestido de seda cor esmeralda e as sandálias pretas de salto fino. E antes que me diga que não quer usar os trajes de outra mulher, deixe-me assegurá-la que foram enviados da butique Chanel em Ellos duas horas antes de nossa chegada. — As palavras eram proferidas de forma suave e sexy. — Tive de adivinhar o tamanho, glyka mou, portanto, espero ter acertado. Claro que não teremos mais dificuldades nesse sentido após essa noite.
Maria sentiu o sangue fluir para a superfície do corpo enquanto recolocava o fone no gancho com toda a força. Como ele se atrevia a lhe comprar roupas?
Lá estava ele. O vestido. E, logo abaixo, as sandálias. Ambos eram deslumbrantes. O tom brilhante do vestido combinaria perfeitamente com o calçado delicado de salto agulha. Era exatamente aquilo que deveria ter comprado para uma ocasião como aquela... Se estivesse em condições de pagar, o quê, dez mil dólares?
Não usaria aquelas coisas. Optaria por algo que lhe pertencesse.
Jeans preto e uma blusa de seda branca. Daquela forma, estaria vestida adequadamente para um jantar em um restaurante caro de Nova York... Mas e para jantar em um palácio? Ou melhor, para um encontro de negócios que certamente mudaria sua vida?
— Droga, Alexandros — resmungou, amarga, ao perceber que perdera o primeiro round.
Tomou uma ducha rápida sem se importar com o fato de que a fragrância do sabonete artesanal a fazia lembrar-se de Alex. Secou os cabelos com a toalha, pois não dispunha de tempo para mais nada. Em seguida, correu para o quarto de dormir.
Havia mais do que sapatos para usar com o vestido. Uma diminuta bolsa preta de mão e roupas íntimas: um sutiã de renda preta que fazia conjunto com a tanga. As mais diáfanas meias finas de nylon que jamais vira.
Tinha suas próprias lingeries. Mas não como aquelas. Para o inferno com aquilo!
Vestiu a roupa íntima e as meias. Usaria os cabelos soltos ou presos?, indagou-se, observando o próprio reflexo no espelho. Presos. A massa espessa e sedosa se encontrava muito úmida, muito revolta e cacheada para ser deixada solta. Por fim, colocou o vestido, calçou as sandálias e observou o resultado no espelho.
O príncipe da arrogância tinha bom gosto, pensou com sarcasmo. O vestido lhe caía como uma luva. Sóbrio e prático, embora lhe valorizasse a figura esbelta. O calçado era deslumbrante. Tiras finas que lhe traspassavam o peito do pé, saltos agulha tão finos como uma lâmina, justificando o nome que possuíam.
Seria possível Alex saber que calçados eram sua fraqueza?
Não, pensou Maria. Era mais provável que fossem a fraqueza dele. Talvez mais tarde, naquela mesma noite, a quisesse calçando apenas a sandália de salto agulha e nada mais além da tanga preta...
— Oh, Deus! — sussurrou ela, sentindo o coração disparar.
Jóias, pensou, entorpecida, porque era mais seguro focar a mente nelas do que no efeito que produzia em seu corpo o simples pensamento de estar naquele quarto e naquela cama com o deslumbrante Alexandros. Como podia odiar um homem e ainda assim o desejar?
Felizmente, encontrou algumas jóias que trouxera na frasqueira. Optou por uma corrente fina de ouro com um pingente de âmbar incrustado. Para combinar, pequenos brincos de ouro. Teria esquecido alguma coisa? Certamente sim. Uma rápida camada de rímel e de gloss transparente de cereja. Em seguida, uma leve aplicação de pó compacto no nariz, que de repente se tornara brilhante.
Inspirou profundamente para se acalmar. Pronta ou não, pensou Maria, ao destrancar a porta do quarto, enfrentaria seu destino.
Alex se encontrava exatamente em frente à porta, aguardando-a.
"Deslumbrante" era a palavra errada para descrever aquele homem. "Espetacular" se aproximava, mais ainda não lhe fazia jus.
Diga algo, ordenou Maria a si mesma. Porém, o cérebro se encontrava entorpecido. Tudo que conseguia fazer era fitar Alex, que se encontrava encostado contra a balaustrada de cipreste que cercava o pavimento aberto, com os braços e tornozelos cruzados. Trajava um blazer cinza sobre uma camisa preta aberta na altura do pescoço, calça preta e mocassins marrom-escuros. Os cabelos estavam úmidos e havia acabado de se barbear...
Era um homem extremamente belo. O sonho de consumo de todas as mulheres. Porém, Maria não costumava ter sonhos como aquele. Não até a noite em que fizeram amor. Correção. A noite em que fizeram sexo. E veja o que resultara daquilo.
Alex permaneceu em silêncio. Impassível. O que a fez imaginar se o vestido não teria lhe caído bem como imaginara. O olhar penetrante a percorreu da cabeça aos pés e refez o caminho de volta.
Só então ele sorriu. Um lento, preguiçoso e puramente masculino gesto que lhe curvou os lábios e enviou descargas elétricas pelo corpo de Maria.
— Apenas um detalhe... — Alex esticou a mão, retirou a presilha dos cabelos que ela havia prendido, deixando-os tombar, revoltos, pelos ombros. — Perfeito — afirmou, suavemente.
Ela teve de se conter para não retribuir o elogio. Em vez disso, jogou a cabeça para trás como se Alex não surtisse nenhum efeito sobre ela.
— Podemos ir? — indagou ele, oferecendo-lhe a mão. Maria a ignorou, passou por ele, decidida, e desceu a escada.
O carro de Alex era um conversível vermelho, baixo e roncador. Um Maserati. Um Lamborghini. Uma Ferrari. Maria estava certa de que era um daqueles, mas como uma moça nascida e criada em Nova York poderia saber? Entendia bastante de trens de metro, mas não de automóveis. Sua única certeza era que Alex dirigia em alta velocidade, com uma segurança masculina que Maria tentou não deixar impressioná-la. Mas impressionou.
Existiria alguma mulher no mundo que não se impressionasse com um homem cuja beleza ofuscava a vista, dirigindo um carro que rugia como um animal grande e predador? Uma das mãos se encontrava apoiada no volante e a outra, pousada suavemente sobre a alavanca do câmbio.
Aquelas mãos competentes. Tão poderosas! As mesmas que lhe exploraram o corpo na noite em que se conheceram.
No mesmo instante, experimentou um calor intenso entre as coxas.
— Algo errado? — A voz rouca a assustou. — Está preocupada com o jantar? — Não, Maria respondeu em seu íntimo, quase histérica. Não é o jantar que me preocupa. — Pois não fique. É apenas minha família.
Jantar. Tinha de se lembrar daquilo. Ele estava se referindo ao jantar.
— Oh! — exclamou por fim, mordiscando o lábio inferior. Alexandros sentiu os músculos do corpo tensionarem. Ela precisava ser tão bela? E morder o lábio daquele jeito? Danação! Aquilo não era nada bom. Nunca deveria tê-la beijado na casa de hóspedes. Havia tomado dois banhos frios antes de se vestir e ainda se encontrava excitado de desejo. — Família? — indagou Maria, piscando várias vezes para retornar à realidade.
— Ah, sim. Família. Meu irmão mais velho, Sebastian, o caçula, Andreas, e minha irmã Katarina, que todos chamam de Kitty. A única ausente será Elissa. Ela está em Paris.
— Tantas pessoas?
Maria deslizou a extremidade da língua sobre o recém mordiscado e certamente sensível lábio inferior. Quando chegassem ao palácio, estaria completamente fora de si, pensou Alex. Desde quando aquela mulher exercia tal poder sobre ele? Aquilo o deixou irritado e as palavras saíram mais ásperas do que pretendia.
— Não me diga que está nervosa em se encontrar com a realeza, glyka mou? Afinal, saiu-se bem comigo da primeira vez.
Maria se inclinou na direção dele.
— Já lhe disse que não sabia quem você era.
— Certo. Apenas coincidiu de se encontrar comigo na rua e quando sugeri que fôssemos para a cama, você disse: não tenho mais nada para fazer, por que não?
Não acontecera daquela forma e Alex sabia disso. Maria fora docemente inocente. Ele a havia seduzido com palavras, carícias e um desejo que nunca antes experimentara em seus 31 anos. Porém, aquilo tudo era uma mentira. Maria lhe preparara uma cilada. Ela o seduzira, certo?
— Sabe de uma coisa, Alex? — indagou ela com voz trêmula. — É um grande bastardo!
Maria tinha razão. O que acontecera entre ambos fora íntimo e não tinha nada a ver com a reunião daquela noite. O tópico eram os planos para a celebração nacional do aniversário de sua mãe. Os assuntos de estado vinham em primeiro lugar. Uma verdade que sempre fizera parte de sua vida.
— Está bem. Vamos recomeçar. Pergunte-me de novo quem estará presente no jantar. — Maria manteve o olhar fixo no pára-brisa. Ele suspirou, resignado. — Precisa de algumas informações, glyka mou. De que outra maneira estará preparada para a aparência de Sebastian, que mede 2,21m e pesa 136 kg? Ou saber que o nome de Andreas consta do livro dos recordes como o pior jogador de futebol do ano?
Mais uma vez Maria se inclinou em direção a ele, corno Alex esperara.
— O quê? Alex sorriu.
— Não precisa entrar em pânico. Ainda provocamos Andreas pela perda consecutiva de seis gols em um único jogo. Quanto a Sebastian... — O sorriso dele se alargou. — A verdade é que, apesar da falta de cabelos em todos os lugares, exceto nas juntas dos dedos e nas costas, meu irmão mais velho não tem má aparência,. Na verdade, não é tão belo quanto eu, mas claro...
Não poderia ser. Alex estava brincando, ela sabia. Mas ainda assim, o que dissera sobre ser belo era verdade. Aquele homem era, sem dúvida, o mais belo espécime masculino que ela jamais vira. E daí? Continuava sendo egoísta e arrogante, como ela o havia chamado.
Maria se inclinou para trás no assento, entrelaçou as mãos sobre o colo e disse a si mesma que enfrentaria o que viesse pela frente, porque não tinha outra escolha.
A Ferrari parou em frente aos portões altos à entrada do palácio. Um soldado uniformizado saiu da guarita de segurança, aproximou-se e, ao avistar Alex, empertigou as costas e executou uma perfeita continência.
— Vossa alteza.
— Stavros. É bom vê-lo bancar o soldado outra vez. Maria fitou Alex, surpresa. O soldado, ainda em posição de continência, olhava diretamente para a frente, porém seus lábios tremeram para conter um sorriso.
— Vossa alteza, como sempre, muito, uh, muito espirituoso.
— Pode descansar, Stavros. É bom vê-lo de volta. Como está o joelho?
— Bem, senhor. E seu ombro?
— Pronto para outra. Inscreveu-se para os próximos jogos? —. Claro, senhor. E o senhor?
— Tentando me manter de fora — disse Alex, sorrindo. Outra continência se seguiu antes da abertura dos portões.
Alexandros dirigia lentamente através de uma larga via de acesso ladeada por árvores frondosas, em direção aos amplos degraus de mármore, que levavam às portas de entrada do palácio.
— Você e aquele homem se conhecem? — questionou Maria.
— Há anos. Frequentamos o mesmo jardim de infância — informou Alex, sorrindo. — As ideias modernistas de minha mãe venceram daquela vez. Meu pai achou um erro me educar em meio aos que ele tentava não chamar de plebeus.
— Mas ele não... Quer dizer, o modo como ele falou com você...
— O que foi, querida? Desapontada por descobrir que algumas pessoas não me vêem como o príncipe arrogante que me julga?
Alex parou o carro em frente à escadaria. Um valet abriu a porta do motorista e outro fez o mesmo com a porta do passageiro. Acima, as enormes portas de entrada se abriram. Para a surpresa de Maria, o mundialmente famoso rei Aegeus e a rainha Tia surgiram à porta.
— Meus pais me pediram para guiá-la pelo Grand Hall — explicou Alex em tom suave, antes de contornar o carro para se postar ao lado dela. — E eles a receberão pessoalmente. Não seguimos a formalidade que existe nas residências de alguns nobres, mas, ainda assim, isso é uma honra. — Ofereceu-lhe o braço. — Segure-o — continuou em tom gentil.
— E sorria ou meus pais pensarão que me odeia. E você não me odeia, glyka mou. Ambos sabemos disso.
— Errado — retrucou Maria no mesmo tom. — Mas por que deveria descontar neles? — Pousou a mão suavemente no braço musculoso, inspirou fundo e deixou que ele a guiasse pelos degraus.
— E então... — dizia a princesa Kitty. — Alex me convenceu de que, como um membro da realeza, eu tinha a obrigação de espiar na despensa de nossa casa em Kionia, para descobrir o que nossos pais haviam comprado para nos dar de Natal. — E voltando-se para Maria. — Ele comentou com você sobre nossa casa em Kionia? Oh, é uma incrível faixa de terra que dá vista para o Strait of Poseidon, que nos separa de Calista.
— E por que está aborrecendo nossa convidada com as peraltices que faziam quando crianças? — indagou Aegeus em tom áspero.
A sala de jantar imergiu em silêncio. A face oval e bela de Kitty se tornou rubra.
— Claro, srta. Santos, peço-lhe desculpas.
— Oh, por favor, não se desculpe. — Em um gesto impensado, Maria esticou a mão e tocou a da princesa. — E agradável ouvir histórias como essa. Minha infância não foi muito divertida. Não tinha irmãos ou irmãs. — De repente, percebeu que todos os olhos se focavam nela e que ainda segurava a mão da princesa. Corando, ela a soltou. — Quero dizer... Foi uma noite muito agradável... Foram todos tão.. Tão...
— O prazer foi nosso, srta. Santos — retrucou a rainha em tom gentil.
— Por favor, por que não me chama de Maria?
— Maria — repetiu Tia, sorrindo. — Espero que pretenda explorar nossa ilha um pouco mais nas próximas semanas.
Maria voltou o olhar a Alex, que se encontrava bebericando, calmamente, seu café.
— Se tiver oportunidade.
— Estou fascinada com a ideia de uma moça tão franzina desenhar jóias de maneira tão magnífica. Soube que Alex equipou uma oficina para você na casa que ele possui na costa.
— Sim, é verdade.
— Ficou a seu gosto? Qual seria o sentido de mentir?
— Muito, vossa majestade. Na verdade, está mais bem equipada do que minha própria oficina em Nova York.
— Ótimo. Se precisar de qualquer outra coisa...
— Na verdade, preciso. Uma ou duas coisas...
— Como, por exemplo?
— Para começar, algumas informações. Soube que o rei Christos ordenou que o diamante Stefani, a peça central da coroa de Adamas, fosse dividida em duas. — Maria podia quase sentir a tensão pairando sobre a sala de jantar.
— Não consegui entender por que a história de Adamas deveria entrar em discussão — aparteou o rei em tom severo.
Maria clareou a garganta.
— Não tive intenção de me intrometer, Vossa Majestade, mas saber a história do diamante irá me ajudar a criar o colar.
— Bobagem. Ouro e diamantes é que a ajudarão, não histórias ultrapassadas sobre o diamante Stefani e as ilhas de Aristo e Calista.
Silêncio. E então Maria sentiu a mão de Alex cobrir a dela sob a toalha da mesa.
— Maria é uma artista, pai. Suas criações são, de algum modo, representações de energia espiritual. Nesse caso, a celebração do aniversário da mamãe, bem como a continuidade de nosso povo. Ela está apenas tentando adquirir conhecimento sobre nosso reino, não é, Maria?
— Sim — concordou ela, fitando-o, extasiada por Alex ter compreendido o que a maioria das pessoas não conseguia entender. — Histórias, lendas... Essas são algumas das informações que meu trabalho deve transmitir.
— Muito bem, nossa história não é muito complicada — manifestou-se Sebastian em tom amável. — O reino de Adamas data da Roma e Grécia antigas.
— Aristo era a ilha que abrigava o reino. Prosperou com a rota de comércio com a Grécia, Turquia e Egito — acrescentou Andreas. — Calista tinha, quer dizer, tem minas de diamantes. Diamantes rosa. Muito raros, mas, obviamente, sabe disso.
Alex lhe apertou a mão para lhe transmitir confiança.
— A família Karedes, ou seja, nossa família, enriqueceu comercializando esses diamantes na Europa. — Ele sorriu, sarcástico. — Como pode imaginar, os calistan não gostaram disso. Meu avô...
— O rei Christos — completou Maria.
— Sim. Ele tentou aliviar a tensão, mas não conseguiu. Sendo assim, anunciou que após sua morte Aristo seria governada por meu pai e Calista por minha tia, Anya.
— E as pessoas aceitaram isso?
— O que mais poderiam fazer? — interveio Sebastian. — Mas Christos sempre esperou por uma reconciliação. Parte do que disse, quando anunciou sua decisão, era que desejava que as duas metades do diamante Stefani fossem unidas e, quando isso acontecesse, as duas ilhas também seriam reunidas em uma única nação. A nação de Adamas. Chamamos isso de Legado de Christos.
Kitty anuiu.
— Mas isso não aconteceu.
— Deve ter sido um tempo difícil para todo mundo. — Maria voltou o olhar ao rei. — Especialmente para o senhor e sua irmã.
— Isso pertence ao passado — disparou Aegeus. — E não entendo por que devo discuti-lo com uma estranha. — Dizendo isso atirou o guardanapo sobre a mesa. — Tem apenas de fazer um colar para a rainha, srta. Santos. Não escrever a história de nossa família.
— Espere um minuto — começou Alex, mas Maria falou primeiro.
— Meu único interesse é fazer do colar o presente mais significativo e perfeito possível, senhor. — Ela soava tranquila, mas Alex percebeu o leve erguer desafiador do queixo delicado. — Sinto muito se não consegue ver por esse ângulo.
Alex disfarçou um sorriso. Sua Maria podia ter ficado nervosa por jantar com a realeza, mas certamente tinha coragem de enfrentar Aegeus. Os irmãos também tentavam não sorrir. Kitty parecia prestes a se erguer do assento, voar sobre a mesa e beijar Maria. A rainha tossiu de modo suave, cobrindo a boca com o guardanapo. Por fim, Aegeus anuiu, empurrou a cadeira para trás e se ergueu. O jantar havia terminado.
— Talvez eu tenha exagerado, srta. Santos. De qualquer modo, um presente perfeito também é meu desejo. E agora, se não há mais nada que queira...
— Na verdade, senhor — começou Maria, cautelosa. — Eu quero.
Aegeus fitou-a em silêncio, como todos os demais.
— Quer mesmo? — indagou ele em tom frio.
Maria parecia determinada, mas estava trêmula. Bastava, decidiu Alex e, a despeito de todos os olhares focados na convidada, inclinou-se em direção a ela e deslizou o braço por seus ombros. A princípio, Maria tensionou. Depois, recostou-se a ele.
— É... Um pedido, senhor. — Maria respirou fundo. — Gostaria de ver a coroa de Aristan.
— Você já a viu — retrucou o rei em tom impessoal. — Meu povo lhe forneceu fotos.
— Fotos não são a mesma coisa, Vossa Majestade.
— Impossível. Por motivos de segurança, a coroa é mantida no cofre real.
— Certamente pode ser retirada de lá, pai — sugeriu Alex em tom calmo.
— Não há necessidade.
— Oh, há sim, senhor — contra-argumentou Maria. — Preciso me certificar de que o diamante central no colar, o grande e rosa, terá a tonalidade correta. A verdadeira cor de um diamante nunca pode ser retratada em uma foto, não importa a qualidade dela.
— Mencionou a cor em sua proposta. Por essa razão lhe entreguei duas grandes pedras rosa em vez de uma. — Os lábios do rei se retorceram. — Certamente percebeu isso.
— Claro que sim, Vossa Majestade. E apreciei muito seu gesto atencioso.
— Atencioso e caro, srta. Santos.
— Foi muito generoso, senhor. — Maria suspirou profundamente. — Mas há sutis variações de cores nos dois diamantes rosa. Por essa razão lhe peço para ver a coroa.
— Aludirei mais uma vez às fotos. Fui informado de que as digitais são bastante acuradas.
— Não quando se trata de cores — argumentou Maria, determinada. — Além disso, preciso ver e tocar a metade Aristan do diamante Stefani. As pedras têm seu modo de se comunicar com aqueles que trabalham com elas. Sei que pode parecer estranho...
— Estranho? — resfolegou Aegeus. — Parece que eu tinha razão em temer que essa jovem fosse uma hippie artesã remanescente. — O rei falava para ninguém em particular. — Em vez de uma designer de jóias.
— Na verdade, pai — atalhou Alex, em tom frio —, Maria é as duas coisas. — Sentiu o corpo de Maria empurrar o dele. Deliberadamente, puxou-a mais para perto. — É uma artista e temos sorte de ela ter concordado em criar o colar. — Os olhos do príncipe encontraram os do pai. — Acho que lhe deve um pedido de desculpas.
A face do rei se tornou rubra. Ninguém se pronunciou pelo que pareceu uma eternidade. E então, a rainha clareou a garganta, ergueu-se e tomou o braço do marido.
— Aegeus, Alexandros. Por favor, não estraguemos os maravilhosos planos para a celebração de meu aniversário. Estou muito animada com esse colar. — E dirigindo-se ao marido — Pense, Aegeus, o mundo todo estará assistindo quando o entregar a mim. O colar deveria ser, de fato, tão perfeito quanto quer a srta. Santos, não acha? Resplandeceria com a mesma luz que a coroa de Aristan, ainda mais quando a estará usando naquela noite.
Silêncio. Um músculo se contraiu na mandíbula de Alex. Em seguida, ele anuiu.
— Mamãe tem razão. Desculpe-me se pareci rude, mas fui sincero. O talento de Maria garantirá que povos de todos os lugares falem, por muitos anos, sobre Aristo e sua coroa que faz conjunto com o colar da rainha.
O rei permaneceu imóvel como uma estátua. Por fim, anuiu com um gesto de cabeça.
— Tomarei as providências. A srta. Santos terá cinco minutos com a coroa e o diamante Stefani. Nada mais que isso. Fui claro?
Maria se desvencilhou do braço de Alex, que lhe envolvia os ombros, se ergueu e executou uma profunda cortesia.
— Foi, senhor. E obrigada. Não se arrependerá de sua decisão.
Ao fitá-la, uma sombra pareceu perpassar o semblante de Aegeus.
— Espero que não — retrucou o rei, antes de se retirar. A viagem de volta à mansão transcorreu em silêncio.
Os portões se escancararam e a Ferrari deslizou pelo longo caminho. Quando chegaram em frente à casa, Alex desligou o motor, saiu do carro e abriu a porta do passageiro para que Maria descesse do veículo, pensando em como aquela mulher era extraordinária.
Brilhante. Talentosa. Forte. E adorável. Incrivelmente adorável à luz da lua.
E ficaria ainda mais adorável em sua cama. Nua. Os olhos de Maria fixos em seu corpo, enquanto ele se despia. Encontraria um modo de fazê-la admitir o quanto o desejava. E ainda assim, naquele momento, o que mais queria era desfazer com um beijo a ruga profunda entre os olhos de Maria.
Alex lhe estendeu a mão.
— Chegamos em casa — anunciou em tom suave.
Maria assentiu, aceitando a mão estendida e desceu do carro.
— Provavelmente seu pai me mandará de volta para os Estados Unidos amanhã.
Alex sorriu.
— Não corre esse risco — assegurou ele, enquanto se encaminhavam à porta. — Ele caiu na armadilha. Minha mãe, como uma mulher inteligente que é, lembrou-o de que o mundo estará assistindo à celebração de seu aniversário.
— Não tente fazer parecer que não me comportei como uma tola!
— Eu usaria a palavra corajosa.
— Não sei o que deu em mim. Simplesmente...
— O que aconteceu — começou Alex, girando-a para que o encarasse — foi que libertou essa paixão ígnea que faz de tudo para esconder.
— Não escondo nada. Apenas...
— E consegue muito bem. Até que aconteça algo que faça seu sangue ferver. — Alex abriu a porta da casa imersa em silêncio e se voltou mais uma vez para ela, enrolando um dedo em um cacho dos cabelos macios. — Esta noite, o estopim foi o comportamento ridículo de um rei.
— Não. Eu quis dizer que apenas...
— E a dedicação que tem por sua arte.
— É... Muito gentil de sua parte dizer isso, mas fiz todos se sentirem embaraçados...
— E eu. — O tom de voz de Alex era rouco. Deslizou a mão pela nuca delicada, enterrou os dedos na massa de cabelos cacheados e ergueu a face de Maria em sua direção. — Esquento o seu sangue, agape mou. Assim como esquenta o meu. — Dizendo isso, inclinou a cabeça e a beijou. Um contato suave. O roçar quase etéreo dos lábios quentes sobre os dela o fez gemer. — Maria — sussurrou e a sentiu estremecer. — Maria — murmurou outra vez. Os braços delicados lhe envolveram o pescoço. Ela se ergueu na ponta dos pés, suspirou o nome dele e Alex a beijou outra vez. Profundamente, deixando que o sabor daquela mulher impregnasse todos os seus sentidos, a proximidade dela alimentasse sua alma...
E soube, sem dúvidas, que não poderia manter a maquiavélica barganha que haviam feito.
Gentilmente, colocou a mão em concha sobre a face de Maria e recuou. Ela abriu os olhos devagar e os ergueu para fitá-lo. As pupilas escurecidas e dilatadas pelo desejo ou talvez pelas lágrimas. Não saber a diferença o matava.
— É tarde — disse ele. — Muito tarde para discutirmos isso esta noite. — O olhar de Alex se fixou nos lábios tentadores. Ansiava por beijá-la outra vez, mas não o faria.
— É capaz de encontrar o caminho para seu quarto sozinha?
— Mas pensei que... Você disse...
— Sei o que eu disse. — Deixou escapar um suspiro exasperado e, em seguida, a beijou outra vez. — Não sou um santo, Maria — sussurrou Alex contra os lábios macios.
— Mas também não sou o bastardo que ambos pensamos que eu fosse.
Um som que se assemelhava a um soluço se originou na garganta de Maria.
— Não consigo entender, Alexandros. O que quer de mim? Alex meneou a cabeça e a deixou ali, parada, sozinha, enquanto saía para a noite.
Não sabia o que queria dela. E aquele era o maldito problema.
O que devia um homem fazer quando estava obviamente perdendo a sanidade?
Só podia estar louco, pensou Alex enquanto caminhava de um lado para outro do quarto. Devia consultar um psiquiatra, porque naquele exato momento, em vez de se consumir de frustração, podia estar na cama com uma mulher que trouxera do outro lado do oceano com aquele explícito propósito.
— Idiota! — resmungou, chutando uma pedra para fora de seu caminho.
O que o levara a tomar aquela atitude? Maria estava tão disposta a fazer sexo quanto ele. Não era uma inocente. Nada do que tivesse feito a chocaria.
Alex voltou o olhar à janela ainda iluminada de seu quarto. Poderia estar lá em menos de um minuto.
Esqueça. Tomara sua decisão. Voltar atrás seria demonstração de fraqueza.
Precisava de sexo, não de Maria. Aquilo pôs a situação em perspectiva. Bastava discar um dos números gravados na memória do telefone celular e meia dúzia de lindas mulheres pulariam em seu pescoço. Ou poderia dirigir de volta à cidade. O bar do Grand Hotel vivia repleto de mulheres deslumbrantes.
Porém, não desejava outra mulher. Queria Maria, e acabara de lhe virar as costas.
Alex chutou outra pedra e se dirigiu apressado à Ferrari.
Transpôs o portão e rumou para a estrada costeira em uma velocidade que o fazia ultrapassar voando os poucos veículos que trafegavam àquela hora.
Talvez aquilo esfriasse o sangue que lhe queimava nas veias.
O que não aconteceu. Duas horas depois, transpôs os portões da mansão outra vez e estacionou o carro com Maria ainda lhe preenchendo os pensamentos.
Aquela mulher estava impregnada em seu cérebro e nada conseguia arrancá-la de lá.
Possuí-la seria a solução. Arrancar-lhe as roupas, desnudando-a somente para seus olhos, mãos e boca. Segurar-lhe os punhos acima da cabeça para que ela não tivesse outra escolha senão deixá-lo tocá-la em todos os lugares secretos daquele corpo macío até fazê-la gritar de desejo. E então, iria penetrá-la. Fundo. Mover-se dentro dela até que Maria gritasse seu nome e se entregasse ao arrebatamento do prazer.
Um gemido de raiva, desejo e algo parecido com insanidade emergiu da garganta de Alex. Segurando o volante com as duas mãos, arremessou a cabeça contra ele. Minutos depois, saiu do carro e se encaminhou para a casa.
Os cômodos estavam silenciosos e escuros. A mobília lançava sombras nas paredes. Alex era um homem que cresceu em um mundo de privilégios. Onde podia ter tudo que desejasse. Especialmente, mulheres. Quanto mais belas e famosas, mais se atiravam a seus pés. Suplicavam para que ele as possuísse. Não eram como Maria, que não lhe pedira nada e enchera uma mala de jeans para usar enquanto desempenhasse o papel de sua amante.
Porém, ficara deslumbrante naquele vestido. Quando ela abriu a porta... Deus! Tivera vontade de arrastá-la de volta ao quarto, atirá-la sobre a cama e fazer amor com Maria até que ela não tivesse outra escolha senão admitir que também sonhava com aquilo.
Afastou-se da escadaria, marchou pela casa silenciosa em direção ao seu escritório, serviu-se de uma dose de conhaque e fez o que estivera fazendo no jardim horas atrás. Caminhou de um lado para outro.
A sto diavolo! Para o inferno com aquilo! Estava cansado daquele jogo. Estava na hora de pôr um fim nele.
Subiu a escada de dois em dois degraus, atravessou o corredor, estacou em frente à porta do seu quarto e ergueu o punho para bater... Bater? Em sua própria porta? Xingou em tom baixo e girou a maçaneta, pronto para colocar a porta abaixo se fosse necessário.
Porém, ela se abriu facilmente. Maria não estava lá. O vestido esmeralda se encontrava em uma rodilha sobre uma cadeira. As sandálias pretas de salto alto, pousadas no chão a pouca distância.
A cama, intocada. A raiva que o consumia desapareceu, cedendo lugar ao medo. Onde estaria ela? Teria partido? Tudo indicava que não. Teria que chamar um táxi e o veículo não transporia os portões sem alertar a segurança. Teria decidido fazer uma caminhada? Os lábios de Alex se comprimiram. Ela não faria aquilo. Não àquela hora e em um lugar que não conhecia bem. Além disso, os detectores de movimento teriam sido acionados. Então aonde...?
A casa de hóspedes!
Desceu apressado a escada e se precipitou pela porta de saída. A raiva fervilhando em seu íntimo como nunca. Pensaria ela que podia lhe escapar? Sim. Havia uma luz frouxa refletida da janela da casa de hóspedes.
Maria se encontrava enroscada no sofá de dois lugares iluminado pela luz bruxuleante de uma vela. Trajava jeans e camiseta larga. Os pés estavam enfiados debaixo do corpo. Quando o viu, ergueu a cabeça e o fitou com a face pálida, os olhos dilatados e úmidos pelas lágrimas.
— Desculpe-me, Alexandros — disse ela em um sussurro trêmulo. — Desculpe-me por tudo. Não deveria ter vindo para cá. Sei que fiz um acordo com você, mas não posso cumpri-lo.
Alex já havia cruzado o espaço que os separava e a tomou nos braços.
— Não — protestou ela.
Ignorando a súplica, ele sussurrou palavras de conforto em grego do mesmo modo que o faria com uma criança amedrontada. Acariciou-lhe os cabelos e a balançou contra o corpo,enquanto Maria dava vazão ao pranto.
— Sei que concordei em... Ser sua amante, mas não posso fazer isso, mesmo que signifique perder a oportunidade de minha vida. Pensei que pudesse, mas...
— Não, claro que não pode. — Alex a colocou em seu colo. — Shh, glyka mou. Não vou magoá-la. Nunca poderia. Por favor, não chore.
— Não sabia quem você era naquela noite, Alexandros. Juro. Concordei em fazer amor com você porque... Porque... Não consigo explicar. Nunca tinha feito aquilo antes. Nem sequer havia... — Maria suspirou profundamente. -— Sei que não vai acreditar, mas... Mas nunca tinha estado com outro homem antes. — Oh, Deus do céu! A doce e triste confissão o fez se sentir um bastardo, mas também o encheu de alegria. Acreditava nela. A verdade era que, bem em seu íntimo, soubera daquilo o tempo todo. Sua bela Maria lhe entregara a inocência. Diabos! Ele a havia tirado dela. E era óbvio que ela não sabia sua verdadeira identidade. Maria seria incapaz daquele tipo de subterfúgio. Como pudera ter sido tão estúpido a ponto de julgá-la baseado na opinião que tinha sobre outras mulheres que haviam tentando enredá-lo com sua mentiras? Porém, Maria não era como as outras. Era... Era doce, inteligente e corajosa, e ele a fizera sofrer. — Recomendarei um profissional de excelente gabarito para me substituir — prosseguiu ela em tom de voz baixo. — Poderá deixá-lo usar meu desenho. Devo isso à sua mãe, mas...
Alex impediu o fluxo de palavras com um beijo suave.
— Não deve nada a ninguém, glyka mou. E por que eu permitiria que alguém a substituísse? — Sorrindo, ele afastou uma mecha de cabelos da fronte de Maria. — Não há ninguém que possa substituí-la, querida. Como seus desenhos, você é única.
— Mas acabei de lhe dizer, eu não posso...
— Maria — começou ele, emoldurando-lhe a face com ambas as mãos. — Eu a estou libertando de nosso acordo. Ficará aqui, criará o colar que o mundo todo admirará, mas não porque fizemos amor. — Alex inspirou profundamente. — Eu a desejo, kardia mou. Quero-a tanto que chega a doer, mas nunca iria exigir de você algo que não está disposta a dar. — Os lábios de Alex se retorceram. — Fiz isso uma vez e nunca me perdoarei por...
Maria pousou os dedos sobre os lábios dele.
— Eu me entreguei a você naquela noite porque quis. Desejava-o. — Engoliu em seco e deslizou a língua pelo lábio inferior. — Como o desejo agora.
Poderiam as doces palavras de uma mulher fazer o mundo estremecer?
— Querida. Sabe o que está dizendo? Maria deixou escapar uma risada breve.
— Sei exatamente o que estou dizendo. É por isso que não posso ficar aqui. Desejo-o, apesar de sua opinião sobre mim. Isso não é terrível? Admitir algo que despedaça meu orgulho?
Alex a beijou.
-— Shh! —- sussurrou ele.
— É verdade. Se eu tivesse um pingo de orgulho não o teria acompanhado a Aristo. Nem concordaria em dormir com você. Porque... Não era pelo trabalho. Era por estar com você...
Alex a beijou outra vez. Desejava que fosse algo gentil e foi assim que começou, mas os lábios de Maria se entreabriram em um doce convite. E quanto ela deslizou os braços em torno do pescoço largo e o puxou para perto, Alex lutou pelo último resquício de sanidade.
— Maria — ofegou ele contra os lábios macios. — Querida, quero que esteja certa do que está fazendo.
— Nunca tive tanta certeza de uma coisa em minha vida. Alex gemeu, tomou-a nos braços e a carregou para a cama sob a luz da lua.
Aquela cama não era como a dele.
Era menor e mais simples. Feita em madeira de oliveira secular. Encontrava-se coberta com um lençol de algodão fabricado no tear de um vilarejo vizinho.
— Alexandros — suspirou Maria erguendo os braços para recebê-lo.
Mergulhando naquele abraço, ele lhe tomou os lábios em um beijo profundo.
Dois meses atrás, que pareciam uma eternidade, haviam feito amor de modo feroz. Rasgara-lhe as roupas no frenesi de imergir dentro dela.
Aquilo fora sexo. No momento, era algo mais.
Alex a beijou repetidas vezes até que os lábios de Maria se tornassem macios como pétalas de rosa e se moldassem aos dele. Emoldurou-lhe a face com as mãos, enterrando os dedos na massa espessa de cabelos cacheados. Beijou-lhe o pescoço, mordiscou a pele macia da clavícula e, quando ela gemeu de prazer, podia jurar que seu coração flutuou dentro do peito.
Lentamente, Alex a sentou. Retirou-lhe a camiseta pela cabeça e descobriu, deleitado, que Maria não usava nada por baixo dela ou da calça jeans, a qual também descartou.
Despida, aquela mulher se assemelhava a uma oferenda aos deuses.
Linda. Perfeita. Extremamente feminina.
Sem desviar o olhar do dela, Alex lhe acariciou os contornos do corpo. Os seios, o abdome, as coxas. Maria suspirava e gemia, emitindo vários tipos de sons que lhe diziam, assim como o sensual arquear do quadril, que as carícias a estavam agradando.
Ainda assim, tinha de perguntar.
-— Gosta disso? — sussurrou ele, sugando-lhe o mamilo enrijecido. — E isso? — indagou em seguida, ao beijar os pelos encaracolados e macios na junção das coxas sedosas.
— Alexandros — murmurou ela. — Oh, Deus! Gentilmente ele lhe separou as pernas. Com as mãos sob as nádegas firmes, ergueu-a em direção à face e beijou a intimidade úmida e macia de Maria. Os gritos de prazer que ela emitia cortavam o silêncio da noite.
Aquilo foi demais para ele. Estava próximo de explodir. Todas aquelas semanas desejando-a e, embora pudesse parecer loucura, todos aqueles anos desejando-a o haviam levado ao limite.
— Alexandros — sussurrou ela. Alex lhe beijou a boca, o pescoço, sabendo que, como Paris ao roubar Helena, séculos antes, não era capaz de obedecer às regras do mundo civilizado. Aquilo era exatamente o que desejava. Aquela mulher. Aquela amante. E Paris fizera tudo para tê-la.
Alex daria tudo para sentir o sabor de mel naqueles lábios macios. A sedosidade dos mamilos róseos. A curva sinuosa do quadril curvilíneo.
Deteve-se a lhe beijar a intimidade quente e macia até que mais uma vez Maria fosse arrebatada em um ciclone de prazer.
Dessa vez, quando ela gritou, estendeu os braços e o puxou para si.
— Por favor, Alexandros — sussurrou Maria. — Quero-o dentro de mim.
Rapidamente, Alex arrancou as próprias vestes. Voltando-se para perto dela, esticou a mão para o blazer, rezando para encontrar um preservativo nos bolsos internos. Quando o achou, rasgou a embalagem e colocou o preservativo, que esquecera de usar da primeira vez que fizeram amor, tão cego de desejo estava. Dessa vez também se encontrava a ponto de perder o controle. Aquilo sempre acontecia quando estava com Maria.
Alex se moveu sobre ela, tomou-a nos braços e a beijou profundamente, deixando que Maria sentisse o sabor da paixão que os unia. As mãos delicadas acariciaram-lhe as costas, os ombros, o peito e desceram pelo abdome até que uma delas quase se fechou em torno do membro rígido. A respiração de Alex se tornou irregular.
— Maria — disse ele em tom de advertência. — Maria, glyka mou... — Porém, ela o acariciou mesmo assim. A mão descendo e subindo ao longo da ereção. Alex gemeu e lhe tomou a mão, impedindo-a de continuar por saber que não iria aguentar. — Olhe para mim, agape mou. Assista enquanto a faço minha.
Os cílios longos se ergueram. Os olhos de cor indefinida o fitaram. Alex lhe segurou ambas as mãos, entrelaçando os dedos nos dela, e a penetrou.
Maria atingiu o clímax quase que instantaneamente, arqueando o corpo e gritando seu abandono no silêncio que os envolvia. Alex continuou penetrando-a cada vez mais fundo e veloz, até que se tornassem um. Carne e alma, fundidas.
— Maria — ofegou ele. — Maria, kardia mou, agape mou...
Soluçando ela lhe tomou os lábios em um beijo profundo quando os músculos internos de Maria se contraíram em torno dele Alexandros deixou a cabeça pender para trás e se satisfez no doce calor da mulher que, naquele momento, soube que lhe pertencia.
Por um longo instante, o mundo pareceu parar. O corpo forte de Alex se encontrava esparramado sobre o dela. A face, enterrada no pescoço delicado. Os corações de ambos, ainda batendo descompassados. As peles úmidas pelo suor da paixão. A brisa da noite, que os fustigava suavemente através da porta ainda aberta, era fria. Mas quando Alex fez menção de recuar, ela apertou os braços em torno do torso reto.
— Não saía — murmurou Maria, sentindo os lábios dele se curvarem em um sorriso.
— Não vou muíto longe. — Alex esticou a mão para a coberta dobrada ao pé da cama, puxou-a sobre eles, rolou para o lado e a levou consigo no aconchego de seus braços.
— Você está bem?
Foi a vez de Maria sorrir.
— Sim. Estou ótima.
De maneira suave, ele afastou o emaranhado de cachos da testa de Maria.
— Desculpe-me, agape mou.
— Por quê?
— Por não ter feito amor com você dessa maneira da primeira vez.
Maria meneou a cabeça e pousou a mão sobre o peito musculoso.
— A primeira vez foi fantástica.
Um sorriso puramente masculino lhe curvou os lábios.
— Obrigado, mas você era virgem. Deveria ter ido mais devagar.
— Você não sabia.
— Deveria ter percebido. — Alex esfregou a face na mão delicada e lhe beijou a palma. — Por sua docilidade e inocência, glyka mou. O modo como me tocava e respondia às minhas carícias. — Deslizou a mão pelo corpo macio, segurando-lhe o seio e, em seguia, traçando-lhe o contorno da curva do quadril. — Recordei aqueles momentos centenas de vezes — prosseguiu ele. — Como foi senti-la, ouvir seus gritos de prazer, perceber o modo como corou quando eu a despi. — Os lábios de Alex se comprimiram. — E como arruinei tudo com minhas acusações.
Maria o calou com um dedo sobre os lábios.
— Não foi um homem sábio que disse um dia que o passado deve ser deixado no passado? — Maria suspirou extasiada.
— Alexandros...
— Amo a forma com que pronuncia meu nome.
— Alexandros, Alexandros, Alexandros... — repetiu ela.
E então Alex estava dentro dela outra vez e a noite os envolveu em seu manto mágico.
Pouco antes do amanhecer, quando a grama brilhava coberta com uma camada de orvalho, ambos se vestiram e retornaram a casa. Temerosa que os criados os vissem, Maria deu voz à sua preocupação.
— Todos são exemplo de discrição — garantiu-lhe Alex, carregando-a nos braços para o quarto.
Claro. Por que não seriam?, indagou-se Maria. Não havia por que se constranger com aquela situação. Outras mulheres deviam ter dormido ali com Alex...
— Não.
— Não, o quê? — indagou ela, erguendo o olhar para fitá-lo.
— Nenhuma outra mulher, querida. Não aqui. — Alex percebeu a surpresa estampada na face delicada. E a satisfação. Pousou-a no chão, pressionando-Ihe suavemente as costas contra a madeira maciça da porta e lhe emoldurando a face com as mãos. — Só você. O que significa — prosseguiu em tom solene, porém com um brilho maroto no olhar. — Que teremos de comemorar. Estrear minha cama de maneira apropriada. — Inclinou a cabeça e roçou os lábios aos dela. — Champanhe. Velas. Pétalas de rosa. Que tal?
— Parece maravilhoso — retrucou ela, movendo-se para pressionar o corpo contra o dele. -— Mas não levará muito tempo para conseguir todas essas coisas?
Maria percebeu o brilho da excitação masculina fazer com que a bela estrutura do rosto do príncipe ficasse ainda mais pronunciada.
— Maria — sussurrou ele em tom rouco. — Deus do céu, Maria...
Não conseguiram chegar à cama. Não daquela vez, mas em várias outras subsequentes, até que o sol de Aristan brilhasse quente no perfeito azul do céu.
Quando Alex despertou, o lugar ao lado dele na cama encontrava-se vazio. Sentou-se, deixando que as cobertas deslizassem para sua cintura.
— Maria? — Despido, dirigiu-se ao toalete e encontrou a porta trancada. Ouviu som de água correndo e depois o silêncio. — Maria? — chamou outra vez, batendo à porta.
— Estou bem — gritou ela, mas o som fraco da voz lhe dizia o contrário. Alex sentiu o coração contrair. Era a terceira vez que Maria se sentia mal. — Abra a porta, por favor.
Depois de um longo instante, ouviu o barulho da maçaneta girando. A porta se abriu para revelar uma Maria sorridente, porém pálida, com um tubo de pasta de dentes na mão, fitando-o através do espelho.
— Kardia mou — disse ele em tom urgente, estacando atrás dela e a envolvendo nos braços. — Está passando mal outra vez?
Maria anuiu.
— Um pouco.
— Isso está acontecendo com muita frequência.
— Estou apenas gripada.
— Não é verdade. Eu e Andreas ficamos gripados no último inverno. É diferente. Com a gripe, ficamos doentes e depois melhoramos. Você não está melhorando. Vou levá-la ao meu médico.
— Não seja bobo.
— Ele a examinará, glyka mou, e lhe prescreverá um antibiótico.
— Antibióticos não curam viroses e gripe é uma virose.
— Muito lógico — disparou Alex, tentando soar zangado quando na verdade sentia medo. — Venha cá — disse ele, puxando-a ainda mais para perto. — Não quero que fique doente. Deixe-me cuidar de você.
— Estou bem. Sinceramente.
— Thee mou, é uma mulher muito teimosa! Muito bem. Nada de médicos. Mas, ao menos, deixe-me levá-la para cama para que descanse um pouco.
Alex a carregou para cama, beijou-a ternamente, e acariciou-lhe as costas e, inevitavelmente, enquanto a mantinha próximo ao corpo, a ternura deu lugar ao desejo.
— Tem certeza que está bem? — sussurrou ele, enquanto a tocava. — Quer que eu pare?
— Não pare — sussurrou Maria de volta. — Nunca pare.
A próxima vez que Alex despertou, ela não estava mais ali.
Um nó de apreensão se formou em seu estômago, mas logo percebeu que a porta do banheiro estava aberta e o quarto vazio.
Tomou uma ducha rápida, vestiu jeans, camiseta branca e mocassins e se dirigiu à cozinha. Lá encontrou Athenia. A criada o informou que Maria havia tomado café da manhã há uma hora e depois se dirigira à oficina na casa de hóspedes.
Alex a encontrou lá, sentada em um banco alto e debruçada sobre a bancada de trabalho. Estava usando jeans e uma blusa azul de cambraia de linho com as mangas enroladas. Os cabelos estavam atados em um rabo de cavalo, os pés descalços. Um apoiado sobre a travessa de madeira que ligava as pernas do banco e o outro, pousado no chão. Encontrava-se concentrada no trabalho.
Alex sorriu e se aproximou por trás, deslizando os braços ao redor dela.
— Kalimera, kardoula mou — sussurrou ele, beijando-lhe a nuca.
— Kalimera, Alexandros — saudou ela, girando a face para beijá-lo.
— Humm — fez Alex. O beijo tinha o sabor irresistível de café e de Maria. — Senti sua falta.
Maria riu, divertida.
— Fico feliz em ouvir isso.
Alex sorriu e a girou para que ficasse de frente para ele.
— Então por que a pressa em sair da minha cama? Maria uniu as mãos atrás da nuca larga.
— Não foi pressa. Acordei e pensei em uma pequena mudança que desejava fazer no colar de sua mãe. Nada que alterará o formato — explicou ela. — Apenas uma correção no modo como planejei a posição da pedra central. Prometo que ela vai gostar.
— Ela vai amar. Achou as fotos do seu trabalho extraordinárias.
A face delicada exibiu um brilho de prazer.
— Fico muito satisfeita. Esse trabalho significa tudo para mim.
O olhar de Alex se fixou nos lábios apetitosos.
— Que mais significa tudo para você? — indagou ele em tom de voz rouco, enquanto as mãos longas deslizavam por baixo da blusa de Maria e lhe massageavam os seios. No mesmo instante percebeu os olhos cor de avelã se tornarem marrom escuros e, em seguida, quase negros.
— Isso — retrucou ela, cobrindo as mãos dele por cima do tecido da blusa. — Oh, isso...
Alex a carregou para a cama e mais uma vez fizeram amor com ternura e intensidade. E quando acabaram, ela soube que o que lhe dissera era apenas parte da verdade. O sexo entre eles significava tudo para ela, mas apenas porque... Porque... O amava.
Desfrutaram de um brunch, ao qual Athenia se referia como kolatsio, no terraço que dava vista para o mar. Não se preocuparia com nada naquela manhã, decidiu Maria. Não quando a vida parecia tão perfeita. O dia quente e ensolarado, incomum para aquela época do ano, segundo Alexandros. Bem diferente do tempo que deixara em Nova York.
Na verdade, nada era como havia deixado em Nova York. Nem aquele lugar paradisíaco e muito menos o homem extraordinário, lindo, sexy, forte, engraçado, inteligente e atencioso à sua frente. Ele falava sobre aquela casa com entusiasmo genuíno. Amava aquele lugar. Podia ver na expressão animada do belo rosto masculino. Ele mesmo a construíra, em conjunto com um arquiteto. Contou-lhe que residira no palácio até ir para o internato e depois para a faculdade e, embora amasse a história e elegância da residência dos pais, nunca a sentira como sua casa. Sendo assim, tão logo concluiu o MBA, comprou um apartamento em Ellos e outro em Nova York. Mais tarde, durante um final de semana que a família real passara na residência que possuía em Strait Poseidon, que separava Anisto de Calista, de repente se deu conta de que o que desejava mesmo era uma casa que desse vista para o mar.
— Oh, olhe para você, kardoula mou. Seus belos olhos estão quase se fechando graças a meu discurso interminável. — Alex lhe tomou a mão e a beijou. — O que realmente quero é falar sobre você.
Maria sorriu.
— Minha vida não é nem de longe tão interessante. E meus olhos não estão se fechando. Adoro ouvi-lo falar de si mesmo.
Oh, era verdade. Havia passado do ódio ao amor no que parecia ser o tempo de uma batida do coração, mas a verdade era que havia se apaixonado por aquele homem desde a primeira e fatídica noite.
— Mesmo assim, não vou dizer mais nada enquanto não me falar sobre Maria Santos.
— É uma história enfadonha... Ei! — exclamou ela, quando Alex se levantou da cadeira em um impulso, ergueu-a nos braços e voltou a sentar, dessa vez com ela no colo.
— Muito bem — começou Alex. — Vou falar sobre ela. Maria Santos nasceu há 25 anos. Era o mais belo bebê da maternidade.
Maria riu, divertida.
— Não seja bobo! Fui prematura. Era pequenina, frágil e quase careca.
— Linda, como eu disse.
— Você é louco, Alexandros!
— Louco por você. — Poderia o coração cantar de felicidade? Maria nunca havia escutado palavras tão estimulantes. Seu príncipe. Seu amante. Seu Alexandros estava louco por ela. — E quero saber tudo a seu respeito.
Aquilo era maravilhoso também. Nunca ninguém quisera saber tudo sobre ela. Sorrindo, Maria uniu os lábios aos dele.
— Está bem — começou em tom suave. — Aí vai a história completa e enfadonha. — Nasci no Bronx. Fui para o colégio no Bronx. Escola primária pública e o ensino médio em Saint Mary. Depois fiz faculdade em...
— No Bronx — completou Alex, sorrindo.
— Adivinhou. Lehman College. Estudei...
— Arte!
Maria suspirou e recostou a cabeça no ombro largo.
— Estudei administração de empresas. Foi ideia da minha mãe e odiei. Antes de descobrir que adorava trabalhar com metais e pedras, pensei em ser desenhista de roupas. Quando descobri minha verdadeira vocação, fiz um portfólio e me submeti a uma entrevista no Fashion Institute of Technology. Eles me contrataram e tomei as providências para abrir um financiamento estudantil. Só então dei a notícia à minha mãe, que, ao ouvir minha história e ver meu portfólio, disse-me que eu era uma menina tola cheia de sonhos tolos.
Os braços de Alex se apertaram em torno dela.
— Oh, querida. Desculpe-me. Devia ter imaginado... Quero dizer, na outra noite...
— Não, tudo bem. Talvez eu o ajude a entender por que ela agiu daquele modo quando o conheceu. — Maria suspirou profundamente. — Minha mãe sequer completou o ensino básico. Teve que trabalhar aos 16 anos, como operária em uma fábrica de roupas. Queria que eu seguisse seu caminho e não havia meios de fazê-la ver que eu não desejava terminar daquele jeito.
— E quanto a seu pai?
— Era o dono da fábrica onde minha mãe trabalhava. Um homem que possuía uma grande fortuna, mas também esposa e filhos.
— Sua pobre mãe não sabia...
— Sim, ela sabia. Ele a enganou dizendo que largaria a esposa, mas quando minha mãe contou que estava grávida, ele lhe deu dinheiro para abortar e a mandou embora. — Alex pareceu congelar e ela disfarçou um gemido. O que havia lhe dado para contar tudo aquilo para Alex? Não costumava falar de si mesma. O único que sabia de sua história era Joaquin, mas ambos haviam crescido juntos. Era uma bastarda. A palavra podia ser antiquada em muitos lugares, mas no mundo de Maria aquele rótulo ainda carregava a mancha da desonra. — Muito bem — concluiu em tom jovial. — Chega de histórias do Bronx por hoje. Adorei o intervalo, mas tenho de voltar ao trabalho.
— Ele nunca tentou conhecê-la?
— Não. Por que o faria? Não precisava de nada dele. Não aceitaria nada, mesmo que ele...
— Como um homem pode virar as costas para a mulher que está carregando um filho dele? Ou para a criança que sabe ser sua?
— Não sei, mas...
Alex lhe virou a face para que ela o encarasse, segurou-a com a mão em concha e a beijou.
— Você é uma mulher forte e corajosa, kardia mou — afirmou Alex em tom suave. — Sinto-me honrado em ser seu amante.
Entraram rapidamente em uma rotina. Agiam como amantes que estavam juntos há muito tempo.
Não que o que acontecia na cama tivesse perdido o excitamento. Não quando a simples proximidade daquele homem fazia a pulsação de Maria acelerar e o sorriso dela despertava um desejo quase incontrolável em Alex.
Faziam amor na oficina de trabalho de Maria, no jardim, na privacidade do banco traseiro da limusine. Além disso, riam, conversavam e trabalhavam. Ela na oficina e Alex em seu escritório na casa principal. Acabaram por descobrir tudo que precisavam saber um do outro.
Maria deixou de sentir os enjoos matinais. Havia momentos em que se sentia exausta, mas a gripe sempre deixava as pessoas cansadas.
Os únicos momentos sombrios eram aqueles em que se lembrava de que os dias ao lado de Alex estavam chegando ao fim. O colar estava quase terminado e o aniversário da rainha se aproximava. Uma semana se passou, depois outra, e teve início a última semana de sua estadia.
Quando terminasse, não haveria nada que a prendesse ali. A não ser que Alex lhe pedisse para ficar. Sabia que não conseguiria negar se ele lhe pedisse para permanecer ali.
Mas por que Alex o faria? Era um príncipe, enquanto ela... Era uma filha ilegítima, criada na pobreza. Podia ter um lugar na cama de Alex, mas nunca em sua vida.
Sendo assim, concentrou-se em terminar o colar até que finalmente só teria de colocar uma das fabulosas pedras rosa no centro. Para isso, era essencial ver a coroa de Aristo.
O rei sempre acabava desmarcando aquelas visitas.
Em uma tarde chuvosa, poucos dias antes do aniversário da rainha, Maria decidiu que aquela situação não podia continuar. Alex tinha uma reunião em Ellos. Após sua partida, ela telefonou para o palácio e deixou uma educada mensagem na secretária eletrônica de Aegeus, dizendo que a perfeição do colar da rainha dependia de ela ter acesso à coroa de Aristo.
Desligou o telefone e foi atingida por uma forte náusea, que a tomou de surpresa. Pensou ter superado a gripe.
Precipitou-se para o banheiro e quando os espasmos cederam, escovou os dentes e retornou ao quarto. Foi então que uma forte tontura a fez tropeçar e cair contra o batente da porta. A colisão não foi forte, mas lhe machucou os seios que haviam crescido muito e se tornado demasiado sensíveis. Até mesmo quando fazia amor com Alex, o contato dos lábios em seus mamilos quase a faziam sentir dor...
Oh, Deus!
Seios sensíveis. Enjoos matinais. E, pensou, suprimindo um gemido, seu ciclo estava atrasado. Quanto tempo? Dois meses? Três?
— Não — sussurrou ela. — Por favor, não...
O telefone tocou. Ela tentou ignorá-lo, mas o toque prosseguiu.
— Alô?
Era a secretária do rei. Teria permissão para ver a coroa dentro de uma hora.
— Não posso — retrucou Maria, com a voz trêmula. — Que tal à tarde ou à noite?
— Dentro de uma hora, srta. Santos. — Uma voz autoritária soou do outro lado da linha. — Ou nunca.
Era a voz do rei e ela sabia que Aegeus não voltaria atrás.
— Estarei lá, Vossa Majestade. — Ela e o filho real ilegítimo que agora sabia estar esperando.
Maria tomou uma ducha rápida e secou os cabelos, enquanto tentava não pensar em nada além do encontro que teria com o rei...
Impossível, pensou ao mesmo tempo em que desabou na beirada da cama. Como podia estar grávida? Alex só não usara preservativo na primeira vez em que fizeram amor, há quase três meses.
Após lhe garantir que não tinha nenhuma doença, perguntara-lhe se ela estava tomando pílula. Envergonhada em confessar que aquela era sua primeira vez e por estar no período seguro de seu ciclo, Maria apenas anuiu com um gesto de cabeça.
Por muitas vezes se perguntara como a mãe pudera ter cometido tantos erros. Agora sabia que era pateticamente fácil cometê-los no afã da paixão.
Nunca tivera um ciclo regular, portanto ignorou o que deveria ter sido a maior evidência de sua gravidez. Talvez não estivesse querendo acreditar naquilo.
Desejava chorar, gritar, arremessar os punhos contra a parede, por ela, dentre todas as mulheres, ter cometido um erro tão primário.
Inspirou e expirou várias vezes. A histeria de nada adiantaria. O encontro com o rei e o colar eram prioridade.
Vestiu-se rapidamente, optando por uma calça comprida preta, um suéter de caxemira preta e, sobre ele, uma jaqueta rosa clara. Depois de lhe presentear com o vestido esmeralda, Alex lhe montara um guarda-roupa completo, com peças de estilistas exclusivos encomendadas em Ellos, apesar dos protestos de Maria.
A limusine, que Alex deixava à sua disposição, transpôs os portões do palácio até o pátio dos fundos, onde um camareiro do rei veio receber Maria e a guiou através de um labirinto de corredores até uma sala pouco iluminada.
— A srta. Santos, senhor.
O rei estava sentado em uma mesa pequena com uma saca de veludo com cordel diante dele. Uma cadeira se encontrava puxada do lado oposto. Maria piscou várias vezes. Seria aquela a caixa forte real? Esperara algo mais glamoroso.
Após dispensar o camareiro, o rei apontou para a cadeira.
— Sente-se, srta. Santos — convidou em tom áspero, em contraste com sua aparência abatida.
— O senhor está bem?
— A senhorita é médica além de amante de meu filho? Oh, não se mostre tão chocada. Sei de tudo o que acontece em meu reino.
— Então deve saber que estou aqui como desenhista do presente de aniversário da rainha Tia, nada além disso.
Sabia que tinha ultrapassado os limites entre um plebeu e um rei, mas a última coisa que iria permitir era uma discussão sobre seu relacionamento com Alex.
Para surpresa de Maria, o rei soltou uma gargalhada.
— Posso compreender a empolgação de meu filho. Uma mulher bela, inteligente e espirituosa...
— Vossa majestade, a coroa.
Aegeus empurrou a saca para o centro da mesa, mas deixou a mão sobre ela e consultou o relógio de pulso.
— Tem cinco minutos. Depois disso, seu tempo acabou.
Maria anuiu e abriu a saca, enquanto o rei se recostava para trás na cadeira.
No mesmo instante, prendeu a respiração. A coroa era magnífica. Diamantes brancos reluziam como estrelas de fogo contra a luz frouxa. Sim, pensou satisfeita. Combinava perfeitamente com o colar que confeccionara. A metade do diamante rosa Stefani que Christos havia deixado de herança para o filho, Aegeus, e para o reino de Aristo, predominava na coroa.
— Lindo! — elogiou Maria em tom suave.
Aegeus anuiu.
— Sim — concordou em tom brusco, esticando a mão para pegar a coroa.
— Espere — disse Maria, mantendo a coroa fora do alcance do rei.
— Esqueceu com quem está falando, srta. Santos?
— Por favor, espere, vossa majestade — corrigiu ela. — Quero comparar o diamante rosa com... — Maria pegou a pequena bolsa de seda da sacola de couro que sempre carregava quando transportava pedras preciosas, abriu e o par de diamantes rosa, um dos quais se tornaria a peça central do colar da rainha, tombou sobre a mesa. — Estes.
O rei sequer voltou o olhar às pedras.
— As duas combinam. A cor é a mesma. Maria meneou a cabeça em negativa.
— Não, não são.
— Claro que são e seus cinco minutos estão...
Porém, Maria não o estava escutando. Uma pedra de gelo pareceu percorrer sua espinha.
— Há alguma forma de se obter mais luz nessa sala, senhor? —Não.
— Mas certamente poderíamos levar a coroa até a sala do mostruário.
— Claro que não — retrucou Aegeus em tom frio. — O que está fazendo?
As mãos de Maria tremiam enquanto ela guardava os diamantes rosa que trouxera e pegava uma pequena lanterna e uma lupa de joalheiro. Com movimentos ágeis, colou a lupa em um dos olhos e acendeu a lanterna.
— Srta. Santos! O diamante Aristan tem valor inestimável, não permito que...
— E falso! — A voz de Maria pareceu explodir no confinamento da pequena sala. Ela ergueu o olhar, horrorizada. — Essa metade do diamante Stefani não é um diamante.
A face, antes pálida, do rei tornou-se fantasmagórica.
— Dê-me a coroa!
— Senhor, a pedra é falsa. É um zircão cúbico ou outra coisa. Uma falsificação excelente, mas... Tenho algumas ferramentas em minha oficina. Poderia fazer alguns testes, mas tenho certeza de que...
— Dê-me a coroa! — rosnou o rei ao mesmo tempo em que a arrancava das mãos de Maria e a enfiava dentro da saca de veludo. De repente, um som gutural se formou em sua garganta. Os olhos de Aegeus se arregalaram ao mesmo tempo em que levava a mão ao peito. A saca caiu sobre a mesa e o rei tombou para trás na cadeira.
— Socorro! — gritou Maria. — Por favor, alguém ajude! O rei teve um colapso!
Maria se recostou à parede. Alguém tirou tudo que estava sobre a mesa. A lupa, a lanterna e a saca de veludo. Colocou tudo dentro da sacola de couro, entregou a ela e a guiou rapidamente para fora do palácio em direção à limusine de Alex que a aguardava.
Só quando estava de volta à casa de hóspedes foi que percebeu que a coroa de Aristo havia voltado com ela.
O que fez quando evadiu com a coroa real?, perguntou-se Maria.
Encontrava-se sentada no banco alto em frente à bancada de trabalho, fitando a coroa e tentando atinar no que havia acontecido naquele dia.
Estaria Aegeus morto? Teria sua revelação o matado?
Telefonara em vão para o palácio. O telefone da secretária particular da rainha estava na secretária eletrônica. Desesperada por distrair a mente dos últimos acontecimentos, preencheu o tempo fazendo testes no diamante rosa da coroa e rezando para que sua impressão inicial estivesse errada. Porém, sempre chegava à mesma conclusão: a pedra fulgurante era uma linda falsificação. Enganaria a qualquer um, exceto um perito.
Ainda assim poderia estar errada. Estaria esquecendo de algum teste? Tudo era possível, pensou enquanto se dirigia ao telefone para contatar ao Joaquin. O amigo de infância não era um gemólogo graduado como ela, mas sua experiência e conhecimento eram excelentes. Contou-lhe o que descobrira, descreveu os testes que fizera e Joaquin corroborou a descoberta que ela fizera.
Após se despedirem de modo afetuoso, Maria desligou e girou para encontrar Alex parado ao batente da porta, com os braços cruzados, as pernas separadas e uma expressão fria no rosto.
— Alexandros! Não o ouvi chegar.
— Claro que não. Não queria interrompê-la quando, evidentemente, estava no meio de um telefonema importante.
Maria deslizou para fora do banco e se aproximou de Alex. Ele não se moveu ou sorriu. Tampouco reagiu quando ela pousou a mão em seu ombro.
— Seu pai...
— Sei tudo sobre meu pai.
— Ele está bem?
— Está no hospital. Teve um ataque cardíaco. — Os lábios de Alex se comprimiram em uma linha fina. — Graças a você.
— Não tive intenção...
— O que disse a ele? Que estava dormindo comigo apesar de ter deixado um amante em Nova York? Não! Por que faria isso se teve tanto cuidado em ocultar essa informação de mim?
— Alexandros! Não tenho nenhum...
— Mentirosa! — Alex a segurou com força pelos ombros. — Era o mesmo homem com quem caminhava naquela manhã há três meses? — Quando Maria não lhe voltou resposta, ele a sacudiu. — Diga-me! Admita!
— Sim, eu estava falando com Joaquin, mas...
— Não pode ficar sem ele mais alguns dias?
— Alexandros. — A voz de Maria tremeu. — Está enganado.
— Sim, enganei-me com você.
— Eu já lhe disse. Joaquin trabalha para mim. Ele é casado.
— E que importância teria isso para uma mulher como você?
Maria sentiu o insulto lhe transpassar o coração como uma lâmina. Desvencilhou-se das mãos fortes com a face pálida e os olhos cheios de lágrimas.
— Não mereço isso — sussurrou ela.
Sim, merecia, pensou Alex. Isso e muito mais. Havia deixado que aquela mulher entrasse em sua vida. Dividido sua intimidade com ela nas últimas semanas. Tolo! Havia a desejado mais do que desejara qualquer coisa ou alguém em toda sua vida. Imaginara até mesmo... Mantê-la em sua vida depois que o trabalho dela tivesse terminado.
Alex virou de costas, tentando recobrar a compostura. Maria era apenas mais uma mulher. A mais bonita, inteligente e espirituosa, talvez, mas no fim era como as outras. Estava com ele por causa de seu título e poder. Era apenas sua amante. Comprada e paga. Respirou fundo e girou para encará-la.
— O que disse a meu pai? — indagou em tom frio. — Ele estava bem até se encontrar com você.
— Não, não estava. Parecia extremamente pálido.
— Responda à pergunta. O que fez para que ele tivesse um colapso?
Maria o encarou por um longo instante. Alex a fitava como se fosse um autocrata e ela estivesse sob seu comando. A expressão denotava escárnio. Talvez merecesse aquilo. Dormira com um homem que deixara claro que tudo que desejava era sua sexualidade, nada mais. E ela se apaixonara.
Oh. Deus! Como deixara aquilo acontecer? O que faria a seguir? Ter a criança? Criá-la sozinha, como sua mãe fizera? Só nos contos de fada o belo príncipe se casava com a mulher do povo e ambos viviam felizes para sempre.
— Estou esperando, Maria.
Envolvendo o corpo com os braços, ela ergueu o queixo, forçando-se a encará-lo.
— Deixei escapar algo sobre a coroa e aquilo o aborreceu...
— O que deixou escapar? Diga logo. Maria engoliu em seco.
— Disse-lhe que a metade do diamante Stefani que está na coroa é falsa.
Por um longo instante, nada aconteceu. Em seguida, Alex soltou uma risada, assustando-a.
— Disse ao rei que uma pedra de valor inestimável não era verdadeira? — A risada terminou tão rápido quanto começou. — E o que ele lhe disse? Que era uma mentirosa? Uma idiota?
— Ele não é verdadeiro — afirmou Maria. — É uma falsificação quase perfeita, mas ainda assim uma falsificação.
O rosto de Alex se tornou sombrio.
— Ele deveria tê-la expulsado de lá por ter dito tamanha asneira!
— Ouça, Alex...
— Não, glyka mou, escute-me você. Não sei o que pretende com essa mentira...
— A pedra é uma imitação! — Maria ergueu a coroa da banca junto com a pilha de papéis e jogou tudo nas mãos dele. — Aqui está.
— Você retirou a coroa do palácio?
— Não planejei trazê-la... Não se preocupe com os detalhes. Veja minhas anotações. Fiz uma bateria de testes. Foi por isso que telefonei para Joaquin. Para saber se talvez tivesse esquecido algo, mas não há mais testes a fazer. O diamante rosa Aristan não é um diamante!
Alex começou a vasculhar os papéis, a princípio rápido e depois mais devagar, absorto nas anotações. Observou a coroa e, por fim, ergueu o olhar para encará-la.
— Não consigo entender. Quem faria isso? A coroa está na caixa forte do palácio há anos.
— Não tenho respostas. A única coisa que sei é que o diamante é falso.
Alex pousou a coroa e os papéis e deslizou a mão pelos cabelos.
— Tem certeza? Não há possibilidade de erro?
— Sou uma gernóloga graduada — começou Maria em tom suave. — Já avaliei muitos diamantes. Trabalhei inclusive para uma companhia de seguros em um caso que envolvia um diamante que valeria milhões, caso fosse verdadeiro. — Fez uma pausa. — Telefonei para Joaquin porque é um profissional capaz e confiável.
— Imagino.
— Não seja tolo! Telefonei para Joaquin naquela manhã em seu apartamento para lhe dizer que tinha uma boa chance de vencer a competição porque sabia o quanto aquilo importava para ele e a esposa. E agora o contatei por sua perícia. Ele não é meu amante. Nunca foi. É casado com minha melhor amiga e é meu amigo também. Consultei-o por que sei que guardará segredo sobre isso... Ou estou errada em pensar que não quer que o povo de Aristo saiba a verdade pelas páginas dos jornais? — Um músculo contraiu mandíbula de Alex. Maria estava certa quanto à necessidade de discrição. O diamante não era apenas uma pedra de valor inestimável, mas também um símbolo. Nenhuma lei em Aristan poderia ser validada sem ela. Havia também o pronunciamento de seu avô, chamado de o Legado de Christos, que garantia que as duas metades do diamante Stefani teriam de ser unidas na coroa de Adamas se algum dia os dois reinados de Calista e Aristo fossem reunidos. E depois havia Maria. A mulher que lhe trouxera o tipo de felicidade que nunca esperara encontrar. O que dissera a si mesmo minutos atrás era uma mentira. Ela estava ali por que ambos desejavam estar. Não imaginava terminar o dia sem dividir alguns momentos de paz com Maria. E quanto a Joaquin... Afinal o que vira? Um homem com a mão no ombro de uma mulher? Um beijo de amigos? Deus! Era um tolo em acusá-la de coisas que, no fundo do coração, sabia serem falsas. — Queria apenas — prosseguiu ela — ter dado a notícia a seu pai de outro modo. Talvez se eu...
— Está tudo bem, glyka mou.
— Não, não está. Eu o aborreci. O coração dele...
— Não foi atingido. Está no hospital, mas acordado e lúcido.
— Oh, graças a Deus! — exclamou Maria antes de dar vazão ao pranto.
— Oh, querida. — Alex a tomou nos braços. — Não chore. — O choro se intensificou. As lágrimas molhando o tecido da camisa do príncipe. — Desculpe-me por tê-la culpado pelo que aconteceu. Saber que a pedra era falsa foi um choque. Falei sem pensar — justificou Alex, emoldurando-lhe a face com as mãos. — É um péssimo hábito que tenho. Pode perguntar a meus irmãos. — Ergueu-lhe a face e a beijou de leve nos lábios. — Pode me perdoar?
Seus olhares se encontraram. Como não perdoá-lo? Amava aquele homem com toda a força de seu coração.
E estava gerando um filho dele. Sabia que tinha de lhe contar. Haviam concebido aquela vida juntos. Não importava as consequências, Alex tinha o direito de saber.
— Sabe que o perdoarei — afirmou ela em tom suave, sorrindo através das lágrimas.
Alex deixou escapar um suspiro.
— Querida, temos que conversar sobre nós.
— Sim, temos.
— Mas não agora. — Alex a puxou mais para perto. — Os próximos dias serão agitados. Terei de contar à minha família sobre o diamante Stefani. E depois há o aniversário de minha mãe.
— Não será melhor adiar a cerimônia? Com seu pai nesse estado...
— Ele insiste que a celebração ocorra como está prevista. É um acontecimento nacional, querida. As responsabilidades reais para com o povo vêm em primeiro lugar. — Alex franziu o cenho. — Se alguma coisa acontecer a ele e outro rei tiver de ser coroado... Não será possível se o verdadeiro diamante não for encontrado.
Maria anuiu. Ao contrário do que sempre lera nos contos de fadas que tanto adorava, os reis, rainhas, príncipes e princesas não tinham uma vida tão fácil.
— O que foi, agape mou?
— Nada. — Maria se apressou em dizer. — Estava pensando no quanto todos estarão ocupados nos próximos dias.
— Conseguiremos resolver tudo. Eu, principalmente, por tê-la a meu lado. — Alex inclinou a cabeça e lhe tomou os lábios em um beijo terno.
Maria deslizou as mãos pelo pescoço largo. Agora. Não importa se não há tempo para conversar. Deixe-o pedir para que fique e conte-lhe sobre o bebê.
Naquele instante, o telefone celular de Alex tocou.
— Ne? — disse ele em tom brusco.
Era Andreas. A conversa foi breve. Quando terminou, ele a puxou mais para perto.
— Tenho de ir, querida. Há muitas coisas que eu e meus irmãos temos de discutir. Será uma boa oportunidade para lhes contar sobre o diamante.
Maria assentiu com um gesto de cabeça.
— Diga-lhes o quanto lamento.
— Não tem nada a lamentar, glyka mou. — Dizendo isso, beijou-a com mais intensidade, sussurrando algo que a fez corar.
— Vejo-a hoje à noite.
Mas as noites se sucederam. O mistério do diamante, a doença do rei, o aniversário da rainha se aproximando... Com Alex absorto na política e nos assuntos do palácio, não houve tempo para mais nada.
O dia da celebração do aniversário da rainha foi atípico. Estavam no inverno, quando ventos frios e chuva costumavam açoitar Aristo. Mas aquele dia se apresentava claro e quente.
Porém, Alex quase não notou. Não voltara para casa desde o dia em que deixara Maria na casa de hóspedes. Devolvera a coroa à sala dos mostruários na caixa-forte do palácio e, desde então, estivera ocupado com os irmãos.
Tentava encontrar respostas. Onde estaria o diamante desaparecido? Quem e quando o haviam roubado? Por onde começariam a procurar a pedra verdadeira? E, acima de tudo, como poderiam manter o assunto em sigilo? As consequências políticas que aquela notícia acarretaria eram o que mais os preocupavam. E se o sheik de Calista de alguma forma tivesse o controle sobre o diamante? Poderia distorcer o significado do Legado de Christos, juntar a pedra Aristan ao da coroa de Calista e exigir o direito de governar ambos os reinos?
Sentia terrivelmente a falta de Maria. Seu sorriso. A sensação de tê-la nos braços. Telefonava-lhe sempre que possível. Até mesmo o tom suave da voz de Maria era um oásis de calmaria no meio da tempestade.
Maria também sentia saudades dele, mas entendia que a presença de Alex era premente no palácio. Sendo assim, em vez de afligi-lo com seus problemas, dizia que sentia muito falta mas que estava muito ocupada com os últimos detalhes do colar da rainha.
Embora detestasse ficar longe dele, a última coisa de que Alex necessitava no momento era de uma mulher que lhe cobrasse atenção. Ele e os irmãos se encontravam imersos em problemas. Elissa acabara de voltar para casa. Ela e Kitty ajudavam a rainha a se preparar para a festa.
O rei retornara ao palácio contra a vontade dos médicos. O ataque cardíaco não lhe deixara sequelas, mas precisavam fazer uma nova bateria de exames. Porém, Aegeus insistia em que estava bem.
Estaria? Os filhos achavam que ele parecia muito abatido. Na verdade, o rei estava pálido e tinha, constantemente, a fronte coberta por gotículas de suor. Porém, o mais estranho era o fato de ele nunca mencionar o diamante.
Se pudessem apenas passar por aquela celebração em paz, poderiam empreender uma verdadeira busca à pedra desaparecida.
Dispunha de apenas meia hora para ir para casa, tomar um banho e trocar de roupa, porém combinou com Maria que aproveitariam aquele tempo ao máximo. Precisava daqueles poucos minutos. Não só para fazer amor com ela, mas para terminar o que começara a lhe dizer três dias atrás. O que deveria ter dito semanas antes. Que não queria que ela partisse.
No último mês, Maria se tornara parte dele. Às vezes, quando a segurava nos braços, desejava lhe dizer que...
— Alex. — Andreas vinha correndo em sua direção. — Mudança de planos. Emergência de última hora. Sebastian se encontrará com o repórter da BBC, eu darei entrevista para a CNN. Kitty lidará com o New York Times. Lissa iria falar com o pessoal do Newsweek, mas mamãe precisa dela para resolver problemas relativos à festa. Pode substituí-la?
Alex consultou o relógio e hesitou por instantes. Que outra opção lhe restava? Tinha de cumprir seu dever. Esperava apenas que Maria compreendesse.
Porém, ela fez mais do que compreender. Concordou prontamente, alegando ter de fazer as unhas e os cabelos para a festa.
O que ele não sabia era que Maria também ficara decepcionada. Havia contado as horas para a chegada dele. Além disso, tinha de encontrar o momento certo para lhe contar sobre a gravidez. Mas quando?
Afinal, Alex era um homem que carregava nos ombros todas as responsabilidades de uma vida completamente diferente da sua. Deveria vê-la como uma amante excitante, mas era só.
Sentiu a garganta apertar. Talvez fosse melhor não contar sobre o bebê. Não até encontrar a hora certa.
A noite começou deslumbrante.
Uma dúzia de arautos reais tocou as trombetas no topo da escadaria de mármore que levava ao grande salão de baile. Uma cortina de veludo ao fundo se abriu e a rainha emergiu de braços dados com o rei. As centenas de convidados sorriram e aplaudiram sua entrada. Todos os olhos estavam focados na radiante Tia.
Com exceção do olhar de Alex, que se encontrava no lado oposto do imenso salão, aguardando e procurando por Maria. Onde estaria ela?
— Alexandros — sussurrou uma voz. Ele girou e lá estava ela. Parada atrás dele. Deslumbrante em um vestido de seda cor de cereja, os cabelos escuros caindo em uma profusão de cachos sobre os ombros e as costas, realçados por pequenas estrelas de diamantes e rubis que ele lhe havia enviado. Alex prendeu a respiração.
Sem pensar ou hesitar, ele lhe tomou as mãos, abriu caminho entre a multidão e a guiou para o terraço, onde a segurou nos braços e a beijou.
O corpo de Maria se colou ao dele.
— Kardoula mou — sussurrou ele. — É a mais bela mulher do mundo.
Os lábios de Maria se curvaram contra os dele.
— E você, meu príncipe, é o mais belo homem do planeta.
— Eu a esperava antes de a celebração começar.
Maria lhe explicou que o pneu da limusine furou no caminho e por isso havia se atrasado.
— O que importa é que está aqui agora. Entregou o colar a meu pai?
Maria anuiu.
-— Ele pareceu gostar. Disse que o daria para sua mãe à meia-noite. O rei está bem? Parece doente.
Alex lhe explicou sobre a teimosia do pai em deixar o hospital e, em seguida, puxou-a mais para perto.
— Tenho algo importante a lhe dizer.
Era hora de confessar que também tinha algo relevante a revelar.
— Maria — começou ele, afastando-lhe de maneira gentil um cacho dos cabelos macios da fronte. — Sei que deve... Quer dizer, concordou em... — Alex gemeu. — Sei que estou fazendo uma confusão, glyka mou, mas o que quero dizer...
— Vossa alteza! Príncipe Alexandros!
Um dos arautos corria em direção a ele. Alex soube, antes de o homem pronunciar qualquer palavra, que ele trazia notícias de seu pai.
— O rei?
O arauto anuiu.
— Ele esta passando mal, senhor.
Alex se precipitou em direção ao salão de baile. Maria recolheu a saia do vestido e seguiu em seu encalço. O arauto o guiou até a sala do trono e o informou de que um helicóptero estava a caminho.
— Vossa Majestade. — O arauto o puxou pela manga do smoking. O gesto tomou até mesmo Maria de surpresa. — O rei quer falar com a srta. Santos.
— Comigo? — indagou ela, surpresa. —- Não pode ser.
A família Karedes estava reunida do lado de fora das portas fechadas da sala do trono com as faces pálidas e perplexa quando Maria hesitou, a rainha fez um gesto para que ela fosse em frente.
— Por favor, Maria, não há tempo a perder.
— Vá — pediu Alex em tom suave, tocando-lhe a face. As portas maciças se fecharam atrás dela com um baque,
Aquela era a primeira vez que Maria visitava a sala do trono. Não era tão ampla como imaginara, mas extremamente elegante, com um tapete vermelho que se estendia em direção a duas cadeiras ornadas que se encontravam em uma plataforma. Porém, os tronos se encontravam vazios.
— Aqui — chamou uma voz fraca.
O rei estava sozinho, deitado em um sofá de veludo vermelho, com a cabeça apoiada em uma almofada de seda azul.
Maria caminhou lentamente em direção a ele com o coração descompassado. Aquele homem estava morrendo, pensou.
Como se tivesse lido seus pensamentos, o rei ergueu a cabeça da almofada.
— Ainda não estou morto, srta. Santos. Venha até aqui. Não era para ter ficado sabendo que o diamante da coroa é falso.
Maria prendeu a respiração.
— O senhor sabia?
O rei fez uma careta de dor e ela girou para se dirigir à porta em busca de socorro, mas Aegeus a segurou pelo punho.
— Meu filho está apaixonado por você. — E diante da expressão surpresa de Maria. — Ele a ama, srta. Santos. Mas não deve retribuir esse amor.
Maria sacudiu a cabeça.
— Vossa Majestade, por favor, o senhor está passando mal.
— Mais uma razão para prestar atenção no que estou dizendo. Deve saber que não há lugar para o amor na vida de um membro da realeza.
— Senhor, essa não é a hora...
— Um príncipe nasce para servir seu povo e nação, srta. Santos. Tem uma vida de compromisso, responsabilidade e obrigações. — Aegeus inspirou profundamente. — Um dia, meus filhos se casarão com jovens que pertençam à nobreza e que entendem o que é esperado delas.
Maria se ajoelhou ao lado do sofá. Podia sentir as lágrimas lhe banhando os olhos e piscou, furiosa, para disfarçá-las.
— Eu amo o seu filho — sussurrou ela. — E entendo que ele tenha responsabilidades. Posso ajudá-lo a carregá-las.
— Se realmente o ama, abrirá mão dele.
— Não! Não pode me pedir isso. Se Alexandros me ama...
— A obrigação dele é para com seu povo, sua mãe e para comigo. Um príncipe que se apaixona pela mulher errada pode destruí-la e também a sua nação. Se ama o meu filho como afirma, deixe-o. E não lhe diga a razão. Alexandros nunca deverá saber que o ama.
As lágrimas rolaram pela face de Maria.
— Está me pedindo muito — disse ela. — Não tem o direito!
— Amo meu país e meu povo. E embora possa pensar o contrário, amo meus filhos. — O rei lutou por ar. — Alex pensa que o fará feliz, mas está enganado. Seu amor pode destruí-lo. Deve deixá-lo.
— Vossa Majestade...
— Maria — Aegeus sussurrou com dificuldade.
— Alguém ajude!
As portas se abriram. Passos ressoaram contra o chão de mármore. Aegeus tomou a mão de Maria.
— Prometa-me! — pediu em tom firme. — Jure que fará o que sabe que deve fazer.
Chorando, Maria fitou a face distorcida do rei... E soube que ele estava certo. Não havia lugar para ela na vida de Alexandros. Ele era um príncipe e ela, ninguém.
— Eu juro.
Um sorriso curvou os lábios de Aegeus antes de ele desfalecer sobre a almofada. A família o rodeou. A rainha lhe tomou a mão, agachou-se no chão e deu vazão ao pranto.
— Ele está morto! Ele está morto! — repetia ela.
Alex a ergueu gentilmente do chão. Os outros dois irmãos se acercaram dela. Kitty e Elissa se inclinaram sobre o pai e choraram.
E Maria fez a única coisa que podia. O que Aegeus lhe pedira.
Saiu da sala, do palácio... E da vida de Alexandros.
A morte de um monarca deixava um vazio que devia ser preenchido com urgência pela segurança e estabilidade do reino e de seu povo.
A princípio, tudo era confusão.
Apesar da doença, a morte de Aegeus fora repentina. Em meio ao cenário desolador —, a perda do pai, as lágrimas da mãe, os soluços das irmãs e seu próprio pesar —, Alex se descobriu procurando por sobre as cabeças daqueles que lotavam a sala. Onde estava Maria? Precisava dela. E, certamente, ela também precisava dele. Estivera sozinha com seu pai nos momentos que precederam sua morte. Certamente necessitava de seu consolo.
Os guardas tentavam impedir um repórter e dois fotógrafos de entrar. Teriam forçado Maria a sair?
Sentia urgência em procurá-la, mas Tia estava inconsolável. Não podia deixá-la até que se acalmasse. Disse a si mesmo para não se preocupar. Sua Maria era uma mulher esperta. Encontraria o motorista e lhe pediria para que a levasse para casa ou o estaria esperando em alguma esquina do palácio.
Em breve a encontraria e revelaria tudo que ia em seu coração nas últimas semanas. Que a amava e não conseguia imaginar a vida sem ela.
Não queria apenas que permanecesse em Aristo, mas que se tornasse sua esposa.
Um dos aspectos da morte, pensou enquanto guiava a mãe para fora da sala do trono, era fazer com que um homem percebesse o que de fato era importante. E a única coisa que importava era Maria.
Em face do luto da nação, a tradição se tornava o único consolo. O esquife de Aegeus seria exposto à visitação pública por três dias. O Conselho Real se reuniria para formalizar a nomeação de Sebastian como príncipe regente, embora, segundo o decreto de Christos, não pudesse haver nenhuma coroação enquanto o diamante Stefani não fosse devolvido à coroa Aristan. O Conselho Privado também se reuniria para que seus membros pudessem certificar a declaração de sucessão.
Andreas coordenava essas reuniões. Sebastian imergiu em conferências diplomáticas. Recaiu sobre Alex a função de finalizar os planos para o funeral real. Ainda assim, quando retornou a casa um pouco antes de raiar o dia, encontrava-se consumido de preocupação por Maria.
Não a encontrara em nenhum lugar. Ninguém a vira. Ela não havia deixado nenhuma mensagem em seu celular e tampouco respondera a seus inúmeros telefonemas e às mensagens que lhe deixara.
Quando chegou em casa, constatou que Maria não estava lá. Indagou sobre seu paradeiro a Athenia, mas a criada se limitou a sacudir a cabeça e mordiscar o lábio inferior. Desesperado, Alex disparou em direção à casa de hóspedes. Porém, tanto a oficina quanto o restante da casa se encontravam vazios e silenciosos. Aquilo fez o coração de Alex bater na garganta. Retornou correndo à casa principal, subiu a escada de dois em dois degraus, escancarou a porta do quarto e acendeu a luz...
E, no mesmo instante, soube que Maria havia partido.
De repente, o cômodo se tornou gelado. As malas que ela trouxera não estavam mais lá. As roupas caras que lhe comprara encontravam penduradas nos cabides como tristes lembranças do passado.
Que diabos teria acontecido? Para onde teria ido sua Maria? Deslizou o olhar em torno do aposento e avistou o envelope deixado sobre a cama.
Alex pegou o bilhete que havia dentro, abriu-o e o leu. Era uma mensagem curta, em que Maria afirmava lamentar profundamente a perda de seu pai. Dizia que apesar de ter encontrado o rei apenas algumas vezes, aprendera a respeitá-lo. Que gostaria muito de ter dito aquilo pessoalmente, mas que a morte de Aegeus significava que, dali em diante, ele estaria imerso em deveres e obrigações e que não via razão para se preocupar também com ela, já que estava voltando para Nova York devido ao término de suas obrigações ali.
Alex ergueu a face, perplexo. Dormir com ele teria sido apenas parte de suas obrigações ali? Estaria tão ansiosa por deixá-lo que não pôde esperar sequer para dizer adeus?
Releu o bilhete repetidas vezes e então deixou escapar um rugido de raiva nascido do fundo de sua alma, antes de rasgar o papel em pedaços.
Um funeral público não era uma coisa simples.
Felizmente sempre existira planos para eventos como aquele.
O caixão de Aegeus ficou disponível para visitação pública por três dias. Família, amigos, o povo de Aristo e turistas prestaram suas homenagens.
Até mesmo Zakari, o sheik de Calista, um homem rude e orgulhoso, fizera comentários apropriados para a imprensa.
Em reunião privada com a família Karedes, no entanto, seus comentários eram preocupantes. O sheik parecia saber que metade do diamante Stefani havia desaparecido.
Obviamente a notícia chegara a Calista, e aquilo era perigoso. Já que Sebastian não poderia ser coroado sem o verdadeiro diamante, a preocupação de Alex, de que a pedra caísse nas mãos do sheik de Calista e o trono de Aristan fosse usurpado parecia cada vez mais plausível.
Lissa e Kitty se encontravam devastadas com a morte do pai e se apegaram a Andreas. Tia, inconsolável, procurava o suporte e consolo de Alex.
Sebastian, agora príncipe regente, incumbia-se de liderá-los nas formalidades necessárias.
Com tudo aquilo, Alex não tinha tempo para pensar. porém, durante a noite, permanecia acordado nas acomodações do palácio, odiando Maria e a si mesmo. Convencendo-se de que fora um tolo em ter pensado que a amava quando aquilo não havia sido verdade. Claro que não a amara.
Contava os dias para os funerais do pai terminarem. Tinha trabalho a fazer, investidores para encontrar e assegurar a normalidade em Aristo. Também se encontrava totalmente envolvido em organizar a busca ao diamante desaparecido. Tão logo os funerais findassem, não teria tempo de pensar em Maria. Uma mentira.
Aos poucos, a vida retornou ao normal. Alex encontrava-se ocupado desde a manhã até tarde da noite. E pensava nela o tempo todo. Precisava confrontá-la e provar a si mesmo que Maria representara para ele o mesmo que ele representara para ela. Mas aquilo implicava procurá-la e não ia se submeter a tal humilhação.
Estranhamente, ninguém da família de Alex perguntou sobre Maria, até uma certa manhã em que a mãe o convidou para tomar o desjejum com ela e, em meio a assuntos triviais, perguntou-lhe à queima-roupa por que Maria havia partido.
— Por que não deveria? — indagou Alex dando de ombros. — Maria terminou seu colar. O trabalho dela estava concluído.
— Não estou me referindo ao trabalho e sim ao sentimento que tinham um pelo outro.
— Está enganada, mãe. Nós não...
— Alex, sou sua mãe e também mulher. Sei reconhecer o amor quando o vejo. Maria estava apaixonada por você. Sendo assim, por que a deixou partir?
— Eu não deixei — confessou Alex em tom de voz baixo. —- Ela partiu. Gostou do tempo que passamos juntos, mas...
— Bobagem. Ela o ama. Todos percebemos isso.
— Uma ova que ama! — disparou Alex, erguendo-se em um impulso. — Maria partiu no dia da morte de papai. O que eu podia fazer? Ir atrás dela? Abandonar minhas obrigações e tentar convencê-la a não me deixar?
— Suas obrigações — começou Tia em tom suave. — Sim. Elas sempre se interpõem no caminho. — Ergueu o olhar para fitar o filho. — Alguma vez lhe disse que a amava?
Os lábios de Alex se comprimiram.
— Não.
— Talvez — disse Tia, cautelosa — devesse ter dito. Sim, pensou Alex. Deveria ter dito. Sabia do sentimento que nutria em seu coração. Por que não o assumiu desde o início? Agora era tarde demais.
— Nunca é tarde — retrucou a mãe. Só então Alex percebeu que dera voz a seu pensamento. — Alexandros, o amor é um presente precioso. Não o atire pela janela.
— Como sabe disso, mãe? Sei que respeitava o papai, mas não acredito que o amasse verdadeiramente — disparou Alex, arrependendo-se em seguida. — Oh, desculpe-me, não devia...
— O que disse é verdade, meu filho. Nós não nos amávamos verdadeiramente. — Os olhos da rainha se encheram de lágrimas. — E é por isso que o aconselho a não deixar que o amor lhe escorregue entre os dedos. Até mesmo um membro da realeza tem direito a ser feliz.
O tempo em Nova York estava causticante. Neve, granizo e céus cinzentos eram o reflexo do desespero de Maria. Ansiava por Alexandros, Aristo e a felicidade que encontrara junto a ele naquele lugar.
Era bom estar ocupada. Lojas que lhe negaram oportunidade no passado agora clamavam por seus desenhos. Além disso, havia outro incentivo em sua vida. Um milagre que a princípio a assustara, mas que agora lhe enchia o coração de alegria.
Em uma visita ao médico, confirmara a gravidez. Esperava uma menina, filha de Alexandros. Amaria aquela criança por ela e por Alex, embora ele não fizesse mais parte de sua vida.
Alex e Aristo haviam seguido em frente. Sebastian era o príncipe regente, mas ninguém comentava sobre o diamante desaparecido. Acompanhara os funerais pela televisão. Ao que parecia, Alex era o esteio da mãe.
A simples visão dele provocara-lhe um aperto na garganta, Nunca deixaria de amá-lo.
Em compensação, amaria aquela que era o fruto do amor de ambos. Quando Alexandra tivesse idade suficiente para entender, iria lhe dizer que o pai fora um homem extraordinário e amoroso.
— Maria, você está bem?
Ergueu o olhar para fitar Joaquin. Ele e Sela haviam sido extraordinários. Embora soubessem sobre o bebê, não lhe haviam feito perguntas.
Os olhos de Maria se encheram de lágrimas, mas quando o amigo a questionou sobre o motivo, deu a desculpa de que um pingo da cera com que trabalhava lhe caíra nos olhos. Em seguida, propôs a Joaquin que dessem aquele dia de trabalho por encerrado.
Quando se viu sozinha em seu loft, perguntou-se por que estava chorando? Terminara o relacionamento de maneira direta para que Alex não a procurasse. E conseguira.
Uma batida à porta a fez franzir o cenho. Ergueu a bainha do avental de trabalho e enxugou os olhos. Teria Joaquin esquecido algo? Talvez fosse um repórter. Eles não a deixam em paz, pedindo entrevistas sobre sua vida em Aristo e a morte do rei.
A batida se repetiu. Maria deixou escapar um suspiro, fixou um sorriso polido no rosto e rumou para a porta.
— Quem é? -— Nenhuma resposta. Maria revirou os olhos. — Ouça, já disse que não quero dar entrevistas, portanto...
— Abra a porta, Maria. — Ela sentiu o coração dar um salto. Não podia ser! — Não me escutou? Abra a porta!
Maria sacudiu a cabeça, como se Alex a pudesse ver.
— Vá embora — retrucou ela com voz trêmula.
— Não vou a lugar algum. Se não abrir a porta, eu a arrombarei.
Sim, ele o faria. Estava furioso. Percebia no tom de voz semelhante ao que escutara na primeira noite em que Alex estivera ali.
Bam! A porta, pesada como um bloco de metal, estremeceu sob o impacto.
— Não quero vê-lo. — Maria umedeceu os lábios ressequidos.
— Joaquin está aqui. Disse que...
— Disse que fui um tolo e ele tem razão. Maria fitou a porta.
— Conversou com Joaquin?
— Agora mesmo. Na escada. — O tom de voz de Alex se suavizou. Ela teve de colar o ouvido à porta para escutar.
— Ele tem sido um bom amigo para você. Tem sorte de poder contar com Joaquin. Maria, glyka mou, deixe-me entrar.
Maria engoliu em seco. Em seguida, puxou o fecho da tranca e abriu porta.
— Não quero falar com você — começou a dizer, mas a visão de Alexandros, alto, poderoso e exatamente igual ao amante que deixara em Aristo, roubou-lhe as palavras. Para seu martírio, sentiu os olhos se encherem de lágrimas outra vez. Não podia deixar que ele a visse chorar. Espalmou as mãos contra a porta e começou a fechá-la outra vez. Porém, Alex foi mais rápido. Calçou a porta com os ombros e a empurrou. Maria cambaleou para trás, a porta se escancarou e ele entrou no loft.
Alex tivera muito tempo para planejar como conduziria aquele encontro. O voo de Aristo havia demorado mais do que de costume devido ao mau tempo. Portanto, detivera-se no aeroporto Charles de Gaulle por algumas horas. O atraso lhe dera tempo para pensar.
Confeccionara uma lista de perguntas mentalmente e um pequeno discurso no qual faria Maria saber que uma mulher não o abandonava sem explicações. Seria cauteloso ao expressar seus sentimentos, não obstante a insistência da mãe de que ele e Maria estavam apaixonados um pelo outro.
Se ela o amava, por que o deixara? Uma mulher apaixonada não abandona o seu amor sem ao menos um aperto de mão.
Tampouco tinha certeza de seu amor por ela. Por que um homem deveria amar uma mulher que o abandonara? Que era tão independente? A lógica era perfeita. Porém, quanto mais se aproximava da rua de Maria, mais acelerava o ritmo das batidas de seu coração. Todas as horas de planejamento e dúvida haviam se dissolvido como a neve nas ruas. Quando colidira com um homem no corredor, soubera de imediato que se tratava de Joaquin e que o amigo de Maria sabia quem ele era. Pelo olhar dele, percebeu que o homem tinha vontade de esmurrá-lo. Não podia culpá-lo. Faria o mesmo se estivesse em seu lugar.
Os dois haviam se fitado por um longo instante.
— Você é o príncipe? — Joaquin perguntou, quebrando o silêncio. Ante a anuência de Alex, os lábios do outro se contraíram. — Ela o ama, seu idiota. E você não a merece.
Alex sorriu.
— Tem razão -— concordou ele. Após alguns segundos, Joaquin sorriu também. Trocaram um aperto de mão. Em seguida o amigo de Maria se afastou para o lado e Alex continuou subir a escada em direção à porta do loft até que o horror o paralisou. Certo de tudo, convicto de nada, recorreu à raiva...
E foi então que se deu conta.
Faria de tudo para conquistar o coração de Maria. Fitando-a nos olhos, soube, assolado por uma onda de alegria, que o coração daquela mulher sempre lhe pertencera. Maria o amava. Ele a amava. E não se chamaria Alexandros se a perdesse de novo.
E então, por fim, as perguntas desapareceram de sua mente. Bem como as dúvidas e o discurso. Restara apenas um homem, despindo sua alma ao dar um passo à frente e abrindo os braços para uma mulher. E, graças a Deus! Aquela mulher era Maria, que com os olhos cheios de lágrimas se entregou a seu abraço.
Ele a beijou. Por um longo tempo. A boca macia, os imensos olhos cor de café e os cachos de cabelos macios.
— Por que me abandonou? — indagou Alex.
— Por que não tenho lugar em sua vida — retrucou ela, retribuindo cada beijo, cada carinho e cada suspiro.
— Eu a amo. Você é minha vida.
O coração de Maria se contraiu enquanto ela meneava a cabeça.
— Não pode ser.
— Você me ama?
Como poderia mentir para aquele homem? Como negar o que ardia em seu coração?
— Sim — confessou ela em tom suave. — Eu o amo. Eu o adoro, Alexandros. Mas não posso fazer parte de sua vida. Não sou talhada para... Ser uma amante.
— Claro que não — concordou Alex daquele modo imperativo que ela aprendeu a amar. — Irá se casar comigo e ser minha esposa.
Aquelas palavras eram mais preciosas do que qualquer diamante da coroa de Aristo. Sabia que iria guardá-las para sempre, mesmo que o que Alexandros acabara de lhe dizer nunca, pudesse se transformar em realidade.
— Não posso casar com você — sussurrou ela.
— Por quê?
— Porque é um príncipe. Tem obrigações, deveres.
— Não tenho nada se não tenho você, glyka mou. Você é meu coração, minha alegria e meu amor.
Oh, como seria fácil ceder! Concordar em se casar com ele.. Mas não podia. Amava-o muito para estragar a vida dele.
— Alexandros, ouça-me. As palavras que seu pai me disse eram verdadeiras.
Os olhos de Alex escureceram.
— Do que está falando?
— Na noite em que ele morreu, disse-me que eu era a mulher errada para você e, que se o amasse, tinha de deixá-lo. Disse também...
— Foi por isso que pediu para falar com você? — O tom de Alex era áspero.
— Não. Sim. Foi mais que isso. Disse-me que queria o melhor para você.
— Você é o melhor para mim, glyka mou.
— E também... Achei que ele sabia alguma coisa sobre o diamante. Tive a impressão de que seu pai tinha algo a ver com a troca do diamante verdadeiro pelo falso.
— Não quero falar sobre o diamante agora — declarou Alex em tom firme. — Tudo o que importa somos nós. O que sentimos um pelo outro. A vida que construiremos juntos... O quê?
Maria estava rindo. Ou talvez chorando. Não sabia dizer. A única coisa de que tinha certeza era que algo que dissera a afetara. E então, Alex soube. Prontamente, ele a segurou pelos ombros, mantendo-a distante o suficiente para fitá-la da cabeça aos pés. Maria estava diferente a face arredondada. Os seios mais fartos. E, sob o avental de sarja, podia notar o ventre ligeiramente abaulado. Tudo lhe veio à mente ao mesmo tempo. Os enjoos matinais, a exaustão e, agora, as mudanças na silhueta que a tornavam ainda mais bonita.
— Maria — começou, sentindo um sorriso começar a lhe curvar os lábios. — Meu coração, minha alma, você está grávida?
— Sim — confessou ela em tom suave.
Um sorriso luminoso se estampou no rosto de Alex. Em seguida, ergueu-a nos braços e lhe cobriu a face de beijos.
— Grávida — repetiu ele, como se fosse o primeiro homem no mundo a receber tal notícia. — Meus Deus, querida, estamos grávidos! — Procurou o olhar de Maria. — Diga-me que me ama como eu a amo e que me dará a honra de se tornar minha esposa.
Maria pensou em como tudo havia mudado. Pouco tempo atrás, Alexandros teria questionado a paternidade daquela criança. Pensou no fato de ele ter cruzado o oceano para vir até ela e na advertência do rei Aegeus.
— Alexandros — começou ela. Se a vida não valesse os riscos, então qual seria o sentido dela? — Eu o amo. E é você que me honra, meu amado, em me pedir em casamento.
Alex a fitou de modo solene.
— Isso... — hesitou por alguns instantes. — É um sim? Maria riu, divertida, embora as lágrimas lhe rolassem pela face. Dessa vez, chorava de felicidade.
— Sim — confirmou Maria. — Sim, sim, sim! Alexandros a beijou e, em seguida, fechou a porta com o pé, carregando-a nos braços para a cama.
Sandra Marton
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